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Subsídio para aprofundamento 2 GUARDAR A IDENTIDADE DA RCC PARA QUE O MUNDO SEJA BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO 1- PENTECOSTES: UMA EXPLOSÃO DE LOUVOR “Profundamente impressionados, todos manifestavam sua admira- ção: não são porventura galileus todos estes que falam? Ouvimo-los publi- carem em nossas línguas as maravilhas de Deus!” (At 2, 7.11) 1 – Um dos mais impactantes sinais do derramar do Espírito no dia de Pentecostes foi a vi- tória sobre o espírito de discórdia e confusão. Homens de todas as nações, separados pela diversi- dade dos idiomas, se reuniram no louvor do Senhor, escutando em sua própria língua os apóstolos que “publicavam as maravilhas de Deus”! Cumpria-se então a palavra do salmo 39: “Pôs-me nos lábios um novo cântico, um hino à glória do nosso Deus. Muitos verão essas coisas e prestarão homenagem a Deus, e confiarão no Senhor” (Sl 39, 4). O Espírito Santo quis manifestar que são necessárias todas as línguas do mundo para anunciar os benefícios que o Senhor nos fez. Assim, o louvor e a gratidão se tornaram o lugar do reencontro dos homens renascidos no Espírito. No dia de Pentecostes, o louvor dos discípulos foi expressão do toque transformador do Espírito nos corações. Como nos ensina uma antiga oração ao Espírito Santo, Ele nos faz “apreciar retamente todas as coisas”. Em Pentecostes, os olhares de todos estavam voltados para as mara- vilhas do Senhor. Tudo se fez novo e tudo foi visto com novas lentes. Nos nossos grupos de oração, oferecemos aos irmãos a chance de olhar para a vida com as lentes do louvor. Então, eles veem a glória de Deus! Quando isso acontece, divisões e confusões são desfeitas. Mais unidos a Deus, tor- namo-nos capazes de compreender uns aos outros. Desde Pentecostes, a Igreja do Senhor reúne seus filhos para a adoração e o louvor de Deus: “Devolve-os! – dirão ao setentrião e ao meio dia -: não os retenhas! Traze meus filhos de longín- quas paragens, e minhas filhas dos confins da terra; todos aqueles que trazem meu nome, e QUE CRIEI PARA A MINHA GLÓRIA” (Is 43, 6-7). Criados para o louvor da Sua glória (Ef 1, 3-14), somos ensinados e capacitados pelo Espírito Santo a concentrar nossa atenção no Senhor e nos seus ma- ravilhosos feitos. O louvor, expressão mais pura de amor a Deus, nos faz reconhecer Sua fidelidade e perfeição em meio a todas as circunstâncias da vida, preservando nosso foco n’Ele, mesmo que as circunstâncias sejam adversas. Ainda hoje, o louvor é o melhor antídoto para a confusão que tantas vezes nos cerca. GUARDAR A IDENTIDADE DA RCC PARA QUE O MUNDO SEJA BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO Subsídio para aprofundamento 3 2 – A experiência do dia de Pentecostes é necessária também para os dias de hoje. Ela se torna acessível a todos pelo batismo no Espírito Santo. O batismo no Espírito é um revestimento de poder. Poder sobre o pecado, para “que não domine mais sobre nós” (Rm 6, 12-14) e nos torne- mos, assim, semelhantes ao Filho Jesus; poder para anunciar o Evangelho e sermos testemunhas do Cristo Senhor (At 1, 8). Como vimos no relato de Pentecostes, esse poder é exercitado pelo lou- vor da glória de Deus, o qual cria uma atmosfera de reconhecimento e fé. Nossos grupos de oração são lugares onde as pessoas recebem poder de Deus para ven- cer o pecado, ser transformadas à semelhança de Cristo Jesus e capacitadas para testemunhar o evangelho. Para isso, é preciso que respiremos a atmosfera do louvor, que nos faz reconhecer o quanto somos abençoados e como Deus está presente e atuante em nosso meio. O louvor faz crescer a fé expectante e abre os corações para novas obras do Senhor. 3 – O louvor nos faz exercitar o poder transformante de Deus, que nos liberta do pecado e nos assemelha a Jesus. Em sua raiz, todo pecado é gerado pela desconfiança com relação ao amor cuidadoso do Pai. Quando louvamos a Deus, em meio a qualquer circunstância, reconhecemos que Ele é nosso Pai amoroso e tornamo-nos mais parecidos com Jesus, o “Filho bem amado”. O caminhar de Cristo sobre a terra foi feito entre louvores e ações de graças. Se procurarmos no Novo Testamento, vamos ver que muitos milagres operados por Jesus tiveram o seu começo numa palavra de louvor. Basta lembrar as vezes em que Ele multiplicou pães para o povo em lugares de- sertos. Os evangelistas nos dizem que, chegando às mãos de Jesus a pouca provisão conseguida pelos apóstolos, sua primeira reação foi “dar graças” (cf. Mt 14, 13-21). O que em outros poderia despertar um sentimento de insuficiência ou preocupação, para Jesus era motivo de gratidão ao Pai Celestial. E aí começavam os milagres. Em outra ocasião, ainda mais dramática, vemos Jesus dar graças diante da sepultura de um querido amigo. Todos conhecemos o relato da ressurreição de Lázaro (Jo 11, 1-44), em Betânia. O evangelista nos diz que, diante do sepulcro, Jesus orou com essas palavras: “Pai, rendo-te graças porque me ouviste. Eu bem sei que sempre me ouves...”. A gratidão de Jesus ao Pai manifesta, ao mesmo tempo, a Sua imensa confiança: ‘eu bem sei que sempre me ouves; até aqui, diante da sepultura do meu tão querido amigo’. Que palavras gloriosas são essas, que nós também podemos repetir diante de qualquer dor e provação. O louvor é a ma- nifestação de que o Espírito de Cristo Jesus está operando em nosso interior. Subsídio para aprofundamento 4 GUARDAR A IDENTIDADE DA RCC PARA QUE O MUNDO SEJA BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO 4 – A oração de louvor, grito de fé em meio a toda tribulação, carrega um poder de liber- tação e consagração. A expressão “sacrifício de louvor”, que aparece tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, manifesta isso. Na Carta aos Hebreus, no capítulo 13, versículo 15, ela apare- ce do seguinte modo: “Por Ele (Jesus) oferecemos a Deus sem cessar sacrifícios de louvor, isto é, o fruto dos lábios que celebram o Seu nome.” Podemos imaginar que a expressão possui dois sentidos. Em primeiro lugar (poder de li- bertação), o nosso constante sacrifício de louvor é o vinho doce que o Espírito Santo extrai do nosso coração ferido, mas ainda cheio de confiança em Deus. Quantas vezes, entre lamentos ou expressões de sofrimento, ouvimos dos lábios de alguém alguma palavra de rendição ou gratidão a Deus, tal como se fosse um verdadeiro milagre do Espírito nesse coração. É certo que, nesse momento, realiza-se concretamente algo que todos conhecemos como um exorcismo, inscrito na chamada “Cruz de São Bento”: “É mau o que tu me ofereces: bebe tu mesmo dos teus venenos”. Quando, sendo triturados pelas provas da vida, abrimos nossos lábios para louvar e engrandecer a fidelidade do Senhor, ao invés de praguejar ou amaldiçoar a vida, estamos fazendo com que o inimigo beba, ele mesmo, dos venenos mortais com os quais desejava nos vencer. Na hora do luto ou do pranto, ele vem para nos oferecer o fel da revolta, da desesperança, do desânimo. Mas, eis aí uma pessoa que está renovando sua mente com o poder do Espírito Santo e da Palavra de Deus! Ela recorda que só se salvará da tristeza e do azedume se der graças ao Senhor, oferecendo um sacrifício de louvor. E então louva! E se entrega ao Autor e Consumador da sua fé! E satanás não entende nada do que está acontecendo. E ele, que se tinha posto de guarda para se intrometer na nossa aliança com Deus na hora da prova, bebe dos seus venenos, derrotado pelo poder do louvor. O louvor é uma tremenda oração de libertação e um poderoso exorcismo. O segundo sentido (poder de consagração) que podemos perceber na expressão “sacrifí- cio de louvor” é que o louvor e a adoração a Deus tem o poder de transfigurar, consagrar, até nos- sas dores e sofrimentos. A palavra “sacrifício” significa “tornar algo santo, tornar algo consagrado”. Quando, em meio às lutas de cada dia, oferecemos a Deus um sacrifício de louvor, nossa adoração, nossa gratidão ao Senhor tem o poder de consagrar, santificar aquilo que estamos vivendo. Não temos controle sobre muitascoisas que a vida nos impõe de maneira inesperada: enfermidades, desemprego, luto. Mas, se é verdade que não escolhemos muito daquilo que nos acontece, tam- GUARDAR A IDENTIDADE DA RCC PARA QUE O MUNDO SEJA BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO Subsídio para aprofundamento 5 bém é verdade que escolhemos o modo como viveremos tudo o que temos diante de nós. Nos- sos sofrimentos podem ser apenas nossos, e vamos suportando-os e arrastando-os pelo caminho segundo as nossas próprias forças, ou podem se tornar sofrimentos consagrados, entregues nas mãos do Senhor. Essa é uma escolha que devemos fazer diante de tudo que a vida nos traz a cada dia. No início de cada jornada, temos uma escolha a realizar: continuar nos debatendo na cruz desse dia ou cobri-la com o nosso louvor ao Senhor, pela Sua fidelidade, pelos Seus propósitos que são mais altos que os nossos, e então experimentar viver uma dor consagrada, dedicada ao Senhor pelo louvor. Nossa mente, assim direcionada pela adoração e pela gratidão, será colocada no rumo de novos horizontes, novas esperanças. Nossos grupos de oração são oficinas onde aprendemos, pelo louvor, a transformar a cruz de cada dia em instrumento de vitória sobre o inimigo e ocasião para uma nova entrega a Deus. 5 - Na oração eucarística, a Igreja nos ajuda a redescobrir o valor curador do louvor, fazen- do-nos rezar assim: “Ainda que nossos louvores não vos sejam necessários, vós nos concedeis o dom de vos louvar. Eles nada acrescentam ao que sois, mas nos aproximam de vós por Jesus Cristo, vosso Filho e Senhor nosso”. (Prefácio Comum IV) Poder louvar a Deus com o coração reconhecido é um dom, que nos foi oferecido por Ele mesmo. Nossos louvores não tornam Deus maior, mas nos aproximam dele em todas as circuns- tâncias que vivemos. Percebemos tudo com um novo olhar; o olhar daqueles que se reconhecem abençoados. Padre Slavko, apóstolo de Nossa Senhora em Medjugorje, gostava de dizer aos pe- regrinos: “É a gratidão que prepara a chegada da paz. Nossa paz será sempre restaurada pela gratidão.” Também a oração litúrgica nos ensina que dar graças a Deus “é nosso dever e NOSSA SALVAÇÃO”. Por uma graça particular do Senhor, a Renovação Carismática compreendeu desde sempre essa verdade: o louvor salva! O Espírito nos deu à Igreja e ao mundo nesse tempo para que aprendamos e ensinemos que podemos ser salvos de conflitos e discórdias mortais quando nos encontramos juntos na adoração e no louvor a Deus. O milagre de Pentecostes é perene e neces- sário também agora. Se desejar encontrar mais sobre o poder do louvor, leia e partilhe: 1Ts 5, 18; Sl 33, 2-4 (o louvor é oração para todo tempo); Sl 8, 3 (o louvor dos pequeninos é arma de combate); Sl 49, 14 (o Subsídio para aprofundamento 6 GUARDAR A IDENTIDADE DA RCC PARA QUE O MUNDO SEJA BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO sacrifício de louvor); Sl 85, 12-13 (louvor é reconhecimento da bondade do Senhor). 6 – “Hoje é tempo de louvar a Deus”! Faça agora um exercício de louvor ao Senhor. Certa- mente temos muitos motivos, por tudo que Ele é e faz por nós. Louvemos ao Senhor! 2- BATISMO NO ESPÍRITO SANTO São João Batista, em sua pregação, nos diz que ele (João) batizava em água, mas que de- pois dele viria Aquele que nos batizaria no Espírito Santo e em fogo (cf. Mt 3,11; Mc 1,8; Lc 3,16), referindo-se a Jesus. Portanto, é Jesus quem nos batiza no Espírito Santo, cumprindo o desejo do Pai, que é derramar o Espírito Santo sobre todo ser vivo (cf Jl. 3,1). Já no Livro dos Atos dos Apóstolos, Capítulo 1, versículos 4 e 5, o próprio Jesus, na iminên- cia de ascender aos céus retornando para o Pai, deu uma ordem clara aos discípulos, seguida de uma Promessa: “não vos afasteis de Jerusalém, mas aguardai aí o cumprimento da promessa do Pai, porque João batizou em água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo daqui há poucos dias.” Sabemos que o termo “batizar” significa mergulhar. Importante entender que trata-se de mergulhar para preencher profundamente, para impregnar, para impactar com o poder do Espírito Santo. Significa, portanto, nos impregnar e preencher todas as áreas do nosso interior com o Espí- rito Santo, trazendo-nos a consciência de Sua presença em nós e implicando-nos nas consequên- cias maravilhosas desta presença e ação. Batismo no Espírito Santo é a experiência impactante de preenchimento profundo do amor que flui eternamente entre o Pai e o Filho, que nos ensina a amar e a adorar a Deus de um modo novo, um preenchimento de amor que nos dá um novo sentido de vida, que abre diante de nós uma nova perspectiva, amplia a nossa visão, desvia o nosso olhar do mundo e nos faz olhar para o céu. É o Espírito Santo nos envolvendo com sua sombra, gerando Jesus de uma maneira nova em nossos corações, em nossa vida. Aí verdadeiramente Jesus passa a ser o Senhor Absoluto! É seguramente um marco na vida cristã. Como costuma testemunhar David Mangan – o 1º jovem a ser batizado no Espírito Santo no Retiro de Duquesne –, o batismo no Espírito Santo é GUARDAR A IDENTIDADE DA RCC PARA QUE O MUNDO SEJA BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO Subsídio para aprofundamento 7 como uma dinamite que implode o nosso interior e nos preenche totalmente do Amor de Deus, isto é, é uma experiência profundamente impactante da graça de Pentecostes que abala as nossas es- truturas – não em nosso desfavor – e faz novas todas as coisas dentro de nós, comprometendo-nos firmemente com a santidade, a alta medida da vida cristã. Nesse sentido, tomando por empréstimo as palavras de Santo Agostinho, podemos dizer que o batismo no Espírito Santo é um verdadeiro encontro de duas liberdades: Deus na Sua infini- ta Misericórdia e amor sempre está a se derramar sobre nós, sempre vem ao nosso encontro, Seu coração está sempre inclinado para nós; quando nós, em nosso livre arbítrio buscamos o Senhor e nos abrimos a Ele, então há esse maravilhoso encontro, esse choque bendito de amor, em que a natureza divina se torna sensível à consciência humana, santificando-nos. Aí o Espírito do qual somos templos (cf. I Cor 6,19), verdadeiramente domina sobre nós – com o nosso assentimento – e opera interiormente, de modo mais dinâmico, a Obra da Salvação. É por isso que o Cardeal Léo-Josef Suenens vai dizer: o batismo no Espírito Santo não é um superbatismo espiritual, uma espécie de suplemento do Batismo Sacramental recebido. A novidade do BES é de tipo particular; trata-se de uma nova vinda do Espírito já presente, de uma efusão que não vem de fora, mas que jorra a partir de dentro. É como nos diz Jesus: Do seio daquele que crer fluirão rios de água viva. Trata-se, portanto, de um jorrar, de uma florescência, de uma ação do Espírito que desprende e liberta energias interiores latentes. Trata-se de uma tomada de consciência mais acentuada da sua presença e do seu poder. (Suenens, Cardeal. A Renovação Carismática, Um Novo Pentecostes? Editora Paulus, 3ª Ed. 1999, p. 87). O próprio Documento de Malines I assim define: quando os católicos romanos usam esta ex- pressão (batismo no Espírito Santo), normalmente significa uma irrupção da experiência consciente do Espírito que foi dado na iniciação. (McDonnell, OSB. Rumo a Um Novo Pentecostes Para Uma Nova Evangelização – Documento de Malines I, Editora Leão XIII, 1ª Ed. 2021, p. 79). Na mesma linha, a Comissão Doutrinal do ICCRS (Serviços Internacionais para a Renovação Carismática Católica) – substituído em 2018 pelo CHARIS – elaborou um Documento no qual ensi- na: O BES é uma graça que renova toda a vida cristã... O Batismo no Espírito Santo é uma experiência transformadora de vida com o amor de Deus derramado no coração da pessoa pelo Espírito Santo, Subsídio para aprofundamento 8 GUARDAR A IDENTIDADE DA RCC PARA QUE O MUNDO SEJA BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO recebido através da submissão ao senhorio de Jesus Cristo. Ele atualiza o Batismo e o Crisma sacra- mentais, aprofunda a comunhão com Deus e com os outroscristãos, reaviva o fervor evangelístico e equipa as pessoas com carismas para o serviço e a missão... Através do batismo no Espírito, a expe- riência do primeiro Pentecostes está presente de maneira nova em nossos tempos. Ser batizado no Espírito é ser preenchido com o Amor que eternamente flui entre o Pai e o Filho na Trindade Santa, um amor que torna as pessoas, no nível mais profundo de seu ser, capazes de amar a Deus em resposta. (Comissão Doutrinal do ICCRS, Batismo no Espírito Santo, Editora Leão XIII, 1ª Ed. 2013, p. 15). Portanto, estamos tratando de uma experiência de verdadeiro avivamento, de liberação da graça em nós, de efusão, ou seja, uma implosão maravilhosa que rompe as nossas represas interiores desencadeia uma inevitável mudança de rota, uma grande metanoia. O Espírito Santo vem de um modo novo dando-nos a capacidade de viver as graças já recebidas nos Sacramentos do Batismo e da Crisma. Pelo batismo no Espírito Santo brota uma nova alegria interior e também força do Alto para sermos testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia, Samaria e até os confins do mundo, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias de nossa vida. Força para quê? Força, têmpera para sermos santos (e esta é a vontade de Deus a nosso respeito), para abraçarmos a cruz de cada dia com amor e com louvor, para amarmos como vasos transbordantes do amor de Deus, para termos vigor missionário utilizando os carismas a serviço dos irmãos, para sermos sal da terra e luz do mundo no nosso dia a dia. Nesse sentido, convém acentuar que o batismo no Espírito Santo não é uma espécie de Ente ou uma experiência estática a ser cultuada ou algo a simplesmente se fazer apologia; ao con- trário, é uma experiência que deve perpassar todas as áreas da vida humana, garantindo a medida alta da vida cristã, isto é, a vida no Espírito ou segundo o Espírito. Não podemos cair no risco de fundamentar e simplesmente falar muito sobre o batismo no Espírito Santo e não vivê-lo em suas diversas nuances, já que é uma fonte inesgotável. Importante asseverar que o batismo no Espírito Santo é experiência que perpassa a vida, a existência do homem. Até onde temos deixado que o Espírito Santo opere em nós? O batismo no Espírito Santo é experiência pela qual o próprio Espíri- to realiza em nós a Salvação conquistada por Jesus, lapidando-nos e preparando-nos para o céu. Portanto, o eixo central da identidade da RCC é o batismo no Espírito Santo e suas consequ- GUARDAR A IDENTIDADE DA RCC PARA QUE O MUNDO SEJA BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO Subsídio para aprofundamento 9 ências. Precisamos desejar, pedir e nos abrir a esta experiência fundamental do Amor de Deus que nos envolve e nos preenche de maneira irresistível e mesmo inexprimível. Contudo, embora seja a experiência fundante da identidade da RCC, o batismo no Espírito Santo é experiência que deve nos introduzir em algo mais amplo, isto é, na vida no Espírito, para a qual devem tender todos os homens. Nesse sentido, a identidade da RCC não se esgota no batismo no Espírito Santo, mas numa coerente vida segundo o Espírito. (Simões, Vinícius. Eu te constituí Sentinela na Casa de Israel. Editora Leão XIII. 1ª Ed. 2020, p. 55/56). Com efeito, São Paulo nos exorta a vivermos e andarmos de acordo com o Espírito (cf. Gl 5, 25). De igual modo o Catecismo da Igreja Católica nos ensina que a Vida no Espírito realiza a vocação do homem (n. 1699). Resta-nos, portanto, entender um pouco o que significa “Vida no Espírito” ou “Vida segundo o Espírito”. Ainda no Capítulo 5 da Carta aos Gálatas, São Paulo nos dá importantes ensinamentos a este respeito: “deixai-vos conduzir pelo Espírito”, “deixai-vos guiar pelo Espírito”, “andai de acordo com o Espírito”. Portanto, Vida no Espírito significa uma vida total- mente aberta e dócil à ação poderosa do Espírito Santo. Nesse sentido, unamo-nos à oração que a pioneira Patti Mansfield fez durante o Retiro do Fim de Semana de Duquesne: “Senhor, se o Teu Espírito pode fazer mais em mim, eu quero!” 3- PRÁTICA DOS CARISMAS Tendo ressuscitado, Jesus apareceu aos seus discípulos e lhes deu o mandato de irem por todo o mundo anunciar o Evangelho a toda a criatura, e lhes fez a promessa de que milagres acom- panhariam os que cressem. Eles acreditaram, partiram e pregaram por toda parte, evangelizando todo o mundo conhecido da época, e o Senhor cooperava com eles e confirmava a sua palavra com os milagres que a acompanhavam. (cf. Mc 16, 16-20) Antes disso, na última ceia, Jesus já havia feito promessa semelhante: “Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas, porque vou para junto do Pai”. (Jo14,12) Sinais da presença de Jesus vivo e ressuscitado acompanham os que creem nele e na sua promessa: “Descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força e sereis minhas testemunhas em Je- rusalém, em toda Judeia e Samaria e até os confins do mundo”. (Atos 1,8) Subsídio para aprofundamento 10 GUARDAR A IDENTIDADE DA RCC PARA QUE O MUNDO SEJA BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO Quando Jesus estava corporalmente neste mundo Ele curava a todos, perdoava os peca- dores, infundia neles ânimo e coragem para começarem uma vida nova cheia de propósito; Ele se movia de compaixão pelos doentes, pobres, marginal izados, pecadores. Depois que Jesus voltou para o Pai, o próprio amor do Pai e do Filho toca nas pessoas e cura-as no poder do Espírito Santo que age através de nós com seus dons e carismas. Através dos carismas Deus revela que continua agindo em nosso meio e deseja tornar as pessoas plenas novamente, para se conectarem com quem realmente são, na plenitude do propósito para o qual foram criadas. São Paulo, em 1 Coríntios dedica três capítulos para falar dos carismas. O capítulo 12, no qual cita os carismas de serviço (versículos 4 a 11); o capítulo 14 no qual ele dá uma verdadeira formação sobre os carismas e seu uso nas assembleias; e entre esses dois capítulos, unindo-os e determinando o que deve nos motivar a usá-los está o capítulo 13 que fala da caridade, mostrando que o amor deve regular o uso de todos os carismas. Deus busca corações que acreditam nas promessas de Jesus e se deixam mover de compai- xão pelas pessoas, corações que o buscam na oração para receber dele este amor poderoso que Ele infunde naqueles que têm intimidade com Ele. É sobre estas pessoas que Deus derrama a sua unção e dota de carismas. O Senhor pode fazer de nós, vasos de barro que somos, instrumentos de seu amor que salva e cura. Não precisamos ser especiais ou dotados de talentos humanos, mas precisamos nos encontrar com o amor de Deus primeiro para podermos ser canais do seu amor. O Concílio Vaticano II diz que os dons do Espírito Santo são para todos os fiéis: “O Espírito Santo distribui aos fiéis de todas as classes, individualmente e a cada um, conforme entende, os seus dons, e as graças especiais que os tornam aptos e disponíveis para assumir os diversos cargos e ofícios úteis à renovação e maior incremento da Igreja., segundo aquelas palavras: ‘A cada qual se concede a manifestação do Espírito para utilidade comum’ (1 Cor 12,7). Devem aceitar-se estes carismas com ações de graças e consolação, pois todos, desde os mais extraordinários aos mais simples e comuns, são perfeitamente acomodados e úteis às necessidades da Igreja”. (Lumen Gentium, 12) Portanto, cada um de nós, ao cultivar um relacionamento profundo com Deus, que inclui amizade e confiança autênticas, poderá ser um vaso de Deus que Ele usa para derramar o seu amor sobre as demais pessoas, para anunciar Cristo vivo e ressuscitado ao mundo. A vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo e o Espírito Santo que Jesus envia para estar eternamente conosco e nos ajudar no anúncio da salvação não é um acontecimento do passado, mas um acontecimento que se torna atual sempre que Jesus Cristo se manifesta,seja na pregação do Evangelho, seja na GUARDAR A IDENTIDADE DA RCC PARA QUE O MUNDO SEJA BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO Subsídio para aprofundamento 11 prática dos carismas que atestam a sua presença viva no meio de nós. Os apóstolos e discípulos de Jesus na Igreja primitiva foram poderosamente assistidos pelo Espírito Santo porque humildemente se colocavam à sua disposição, se deixavam conduzir pelo Espírito com absoluta confiança de que Ele se manifestaria quando se colocassem a serviço do anúncio da Boa Nova. Em todo o livro dos Atos dos Apóstolos nós vemos o Espírito Santo agindo poderosamente para confirmar a missão dos apóstolos e discípulos de Jesus. Eles sabiam que eram assistidos na sua missão pela força do Espírito Santo e isso lhes dava coragem. Quando sofriam perseguições e passavam por perigos eles sabiam o que pedir a Deus: “Agora, pois, Senhor, olhai para as suas ameaças e concedei aos vossos servos que com todo o desassombro anunciem a vossa palavra. Estendei a vossa mão para que se realizem curas, milagres e prodígios pelo nome de Jesus, vosso servo! Mal acabavam de rezar, tremeu o lugar onde estavam reunidos. E todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciaram com intrepidez a palavra de Deus”. (Atos 4,29-31) Assim também conosco, se acreditarmos e nos deixarmos conduzir pelo Espírito, Ele agirá no meio de nós e confirmará o nosso serviço e o nosso anúncio com sinais, milagres e prodígios. As pessoas virão aos nossos grupos de oração e serão curadas, terão suas vidas restauradas e pode- rão, também elas, se tornar testemunhas de que Jesus está vivo e age no meio de nós. O Espírito Santo não procura vasos de ouro e de prata como receptáculos de seus dons, Ele usa os vasos de barro. O que isto quer dizer? Significa que Ele procura pessoas humildes, que sa- bem que os dons são do Espírito e que Ele os distribui conforme lhe apraz, pessoas que sabem que sem o poder do Espírito não podem fazer nada e, por isso, o buscam incessantemente na oração e numa vida submissa ao Senhorio de Jesus, pessoas enfim, que se deixam usar pelo Espírito Santo, que são dóceis à sua condução. Saber tudo sobre o Espírito Santo e seus dons não adianta nada se a pessoa não faz a experiência de Deus na sua vida, se ela não é batizada no Espírito, se ela não teve o amor de Deus derramado no seu coração. Não existe nenhum poder que vem de Deus que seja separado do seu amor. Como dom que procede do amor de Deus precisamos sempre pedir a Ele que nos preencha do seu amor e nos conceda os carismas para servir e edificar o seu corpo, a Igreja. Subsídio para aprofundamento 12 GUARDAR A IDENTIDADE DA RCC PARA QUE O MUNDO SEJA BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO “Dons de oração, conhecimento, profecia, cura e outros carismas de serviço são para a cons- trução do corpo de Cristo, eles capacitam seus membros a criar a comunhão da qual a Igreja é des- tinada a ser e a proclamar a sua mensagem de amor, justiça e paz para o mundo. O dom do Espírito, que é o amor infinito de Deus (Rm 5, 5), nunca pode ser totalmente apropriado e, por este motivo, é preciso ser buscado repetidamente por meio da oração (At 4, 23-31); de fato, às vezes é preciso ser es- timulado ou reavivado (2 Tm 1,6-7).” (McDonnell, Kilian, Documento de Malines 1, Rumo a Um Novo Pentecostes Para Uma Nova Evangelização, Editora RCCBRASIL, 2021, p. 38) Para entendermos melhor como os carismas são dados para o bem comum, isto é, para a edificação do Corpo de Cristo, vejamos alguns dons que normalmente se manifestam no grupo de oração, como o dom de línguas, por exemplo. Deste São Paulo diz que é para edificação pessoal, mas se as pessoas não forem apresentadas ao dom, se não o recebem e não sabem o que ele faz na vida de quem o exercita, não vão desejá-lo, nem pedir que lhes seja dado. Quando o Espírito San- to é derramado em nossos corações como puro dom de Deus, como favor, como benefício, como dom gratuito, Ele nos revela o amor de Deus Pai, nos revela Jesus como nosso Salvador e Senhor e o nosso coração se enche de júbilo e quer louvar e bendizer a Deus. E quando faltam palavras, o Espírito Santo começa a orar em nós. Isso é o dom de línguas, a alegria do Espírito Santo, o vinho novo na nossa alma, o próprio Espírito Santo orando em nós e por nós. Sobre o dom de línguas São Paulo nos ensina: 1 Cor 14,2: “Aquele que fala em línguas não fala aos homens, senão a Deus, fala coisas misteriosas sob a ação do Espírito Santo”. (1 Cor 14,2) O que acontece quando se fala “coisas misteriosas” sob a ação do Espírito? Glorificamos a Deus, pois sempre e em tudo o Espírito Santo vai proclamar a Ressurreição de Jesus, vai declarar que Ele é Senhor, vai proclamar a sua vitória sobre o mal. Quando oramos em línguas o Espírito Santo estará confrontando as situações que lhe apresentamos em oração com a vitória de Jesus sobre o mal. São Paulo diz também que o Espírito Santo vem em auxílio à nossa fraqueza e intercede por nós com gemidos inefáveis. Isso nos leva a crer que quando nós choramos e gememos no meio de nossas dores e tribulações, o Espírito Santo, cheio de compaixão, geme junto conosco, mas o seu gemido não é um lamento, ele se transforma em intercessão por nós. “mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis”. (cf. Rom 8, 26). Precisamos falar do dom de línguas no grupo de oração e abrir espaço para o seu exercício GUARDAR A IDENTIDADE DA RCC PARA QUE O MUNDO SEJA BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO Subsídio para aprofundamento 13 a fim de levar as pessoas a desejarem o dom autêntico, fazê-las ter um desejo profundo de que o Espírito Santo, através deste dom tão simples e tão lindo, possa colocar palavras misteriosas de louvor a Deus em suas bocas e possa gemer em intercessão por suas dores e necessidades. Os carismas são sinais da presença de Deus e nos despertam para o mistério de Deus que age na vida das pessoas. Por isso, seria bom sempre fazer um momento de escuta após a oração em línguas, pois é um momento propício para a manifestação dos dons de profecia, ciência e sa- bedoria quando muitas graças são reveladas. O dom da profecia é falar sob a influência direta e sobrenatural do Espírito Santo, é dei- xar-se usar pelo Espírito Santo para ser porta-voz de Deus, declarando seus pensamentos, conse- lhos, consolações. Ela vem diretamente do coração do Pai, de sua bondade, do seu amor, da sua compaixão. O profeta transmite o que Deus lhe revela, a profecia vem de Deus e não da mente daquele que fala. “Jamais uma profecia foi proferida por efeito de uma vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus.” (2 Pe 1, 21). A profecia autêntica toca profundamente na vida das pessoas e as transforma. “Aquele que profetiza fala aos homens, para edificá-los, exortá-los e consolá-los”. (1Cor 12,3) O dom da palavra de ciência é a clareza que Deus dá para penetrar na origem de uma situa- ção, de um sentimento ou condição interior que Ele quer transformar. É como trazer à luz do amor de Deus a algo que estava nas trevas. A palavra de ciência tem uma força incrível de cura interior. O dom da palavra de sabedoria é Deus partilhando o que fazer em determinada situação, ou sobre determinado problema ou condição, é a sabedoria de Deus partilhada conosco para nos mostrar o que fazer a fim de que as coisas que nos perturbam possam ser colocadas em ordem, para que saibamos nos relacionar bem com Deus, conosco mesmos, com os outros. Assim como todos os demais dons, a palavra de sabedoria é um modo de Deus alcançar as nossas vidas com seu amor eterno e redentor. Estes são apenas alguns dos carismas que se manifestam no meio de nós, citados para fins de ilustração, existem outros, mas todos manifestam a presença de Jesus que continua a tocar no seu povo através dos dons do Espírito Santo. A essência dos carismas é a própria natureza de Jesus Cristo sendo transferida para um ser Subsídiopara aprofundamento 14 GUARDAR A IDENTIDADE DA RCC PARA QUE O MUNDO SEJA BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO humano através do poder do Espírito Santo. Participar da natureza de Cristo significa que não es- tamos limitados por nossas fraquezas ou nossas forças, por nossa personalidade, dons, talentos, ou ausência deles, por nossas emoções e opiniões, temos um Deus vivo que possui toda força, sabedoria e poder. A natureza do sobrenatural não depende dos talentos do homem, mas sim do amor sobrenatural de Deus sendo transferido para nós, vasos de barro. A oração do servo é tentar descobrir por que esse maravilhoso Deus o escolheu para vir à terra neste momento, e depois pedir a Deus para lhe revelar o seu coração de Pai e capacitá-lo com o Espírito Santo para poder comunicar a todos os que Ele lhe enviar esse amor tão imenso que não cabe na compreensão humana, mas que pode ser manifestado pelo poder do Espírito. “Àquele que, pela virtude que opera em nós pode fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou entendemos, a ele seja dada glória na Igreja, e em Cristo Jesus, por todas as gerações de eternidade. Amém.” (Ef 3,20) 4- Vivência Fraterna Criando o ser humano à própria imagem e semelhança, Deus o criou para a comunhão. O Deus criador que se revelou como Amor, Trindade, comunhão, chamou o homem a entrar em ínti- ma relação com Ele e à comunhão interpessoal, isto é, à fraternidade universal. Essa é a mais alta vocação do homem: entrar em comunhão com Deus e com os outros homens, seus irmãos. (A Vida Fraterna em Comunidade, 9) A experiência pessoal com Jesus, a partir do Batismo no Espírito Santo, muda radicalmente a nossa vida. Nasce em nosso coração o desejo de ser comunidade, de estar com os irmãos. Não conseguimos mais viver a nossa fé da mesma forma, sozinhos, no isolamento, mas somos impul- sionados a estar com os irmãos. A palavra “Irmão” começa a ter maior sentido em nossa vida. É assim que começamos a nos chamar, a nos tratar, e é isso que somos, irmãos em Cristo, Filhos do Mesmo Pai. No Grupo de Oração formamos uma pequena comunidade de irmãos, uma família! Uma família onde cada um tem um jeito de ser, onde um completa o outro, onde o amor de Deus transborda de coração para coração. GUARDAR A IDENTIDADE DA RCC PARA QUE O MUNDO SEJA BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO Subsídio para aprofundamento 15 Podemos dizer com todo o nosso coração: Amor de Cristo nos uniu! Sim é o amor de Jesus, derramado em nossos corações, que faz com que nos amemos uns aos outros! Assim foi nas primeiras comunidades cristãs conforme nos relata São Lucas: “Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, nas reuniões em comum, na fração do pão e nas orações. De todos eles se apoderou o temor, pois pelos apóstolos foram feitos também muitos prodígios e milagres em Jerusalém, e o temor estava em todos os corações. Todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e os seus bens, e dividiam-nos por todos, segundo a necessidade de cada um. Unidos de coração, frequentavam todos os dias o templo. Partiam o pão nas casas e tomavam a comida com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e cativando a simpatia de todo o povo. E o Senhor cada dia lhes ajuntava outros, que estavam a caminho da salvação. ” (At 2, 42-47) As primeiras comunidades cristãs são como um espelho para nós. Comunidades onde os carismas se manifestavam, onde viviam unidos na oração, cheios da força do Espírito Santo. O louvor estava sempre em seus lábios e em seu coração. Comunidades que vivam a graça da comu- nhão, do amor fraterno. E esse amor que transbordava de coração para coração atraia as pessoas que estavam de fora, cada dia mais e mais pessoas se juntavam a eles, queriam viver daquela forma. Tertuliano, padre da Igreja no século II, ao falar dos primeiros Cristãos, dizia que os pagãos se admiravam ao ver como os cristãos se tratavam e zelavam uns pelos outros, exclamavam entre eles: “Vede como eles se amam! ” No Grupo de Oração podemos viver como os primeiros cristãos: a fraternidade, o amor, o cuidado, estar juntos, rezar juntos, aprender juntos, ajudar o outro, conhecer a necessidade do outro. “As pessoas não vão ao Grupo de Oração para serem mudadas; elas vão ao Grupo de Ora- ção para serem amadas! É que a transformação pessoal da vida é a iniciativa do Espírito Santo; a nós cabe amar, acolher, respeitar, considerar, escutar, evangelizar, promover”! (Vinícius Simões, no livro Eu te constitui Sentinela da Casa de Israel.) Subsídio para aprofundamento 16 GUARDAR A IDENTIDADE DA RCC PARA QUE O MUNDO SEJA BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO “Amor a Deus e o amor ao próximo fundem-se num todo: no mais pequenino, encontramos o próprio Jesus e, em Jesus, encontramos Deus” (Encíclica Deus Caritas Est, 15). O amor de Deus transforma toda a nossa vida, é um amor incondicional, paciente, fiel, misericordioso, um Deus que não se cansa de nos amar! Da mesma forma somos chamados a experimentar entre nós aquilo que acontece em nosso relacionamento com Deus. “Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros.” (Jo 13,34). Assim também, “se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê. Temos de Deus este mandamento: o que amar a Deus, ame também a seu irmão.”(IJo 4,20-21). Quantas ve- zes cantamos “Amar-Te mais que a mim mesmo... com minhas forças, com minha alma, de todo o coração, viverei eu só pra Te amar...” e não olhamos para o lado, não percebemos a presença Deus na pessoa que está conosco. O Papa Bento XVI nos ensina que o Cristianismo não é uma ideia, uma moral ou um rito. Cristianismo é relacionamento. É preciso convivência, estar juntos. Como posso dizer que amo alguém que não conheço? Não podemos ser “irmãos” somente no dia do nosso Grupo de Oração, nas poucas horas que passamos juntos na Igreja. Relacionamento implica em convivência, em conhecer a vida do outro, a necessidade do outro, é uma construção diária. No relato das primeiras comunidades cristãs diz que eles “vendiam as suas propriedades e os seus bens, e dividiam-nos por todos, segundo a necessidade de cada um”. (Cf. At 2, 45) At Vi- vência fraterna não era só no tocante da espiritualidade, da fé, da doutrina. Vai muito além, é ser presença na vida do outro “fora das paredes da Igreja”. É saber se aquela pessoa tem o necessário para ter uma vida digna, se sua família está precisando de ajuda material, de ajuda nos seus rela- cionamentos, etc. Sabemos que cada um de nós é único, fomos criados por Deus assim. Cada indivíduo tem sua personalidade, seu temperamento, da mesma forma que cada pessoa tem um dom, um caris- ma dado por Deus. Não somos iguais, mas nossas diferenças são riquezas, um completa o outro dentro da comunidade. Quando não vemos dessa forma, podem ocorrer conflitos, desentendimentos dentro dos GUARDAR A IDENTIDADE DA RCC PARA QUE O MUNDO SEJA BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO Subsídio para aprofundamento 17 nossos Grupos de Oração, gerando competição, partidos, ciúmes, invejas, criando um grande abis- mo entre os irmãos. Aí é preciso parar e consertar as redes, aparar as arestas, diminuir as distân- cias. Pois “um reino dividido não subsiste” (Cf. Mt 12,25) Não é possível falar em vivência fraterna sem falar sobre o perdão. Reconhecer que erra- mos, que é preciso muitas vezes dar o primeiro passo em busca da reconciliação. Perdoar é amar muito. Só amamos verdadeiramente quando vivermos o verdadeiro sentido do perdão. “O perdão não implica esquecimento. Antes, mesmo que haja algo que de forma alguma pode ser negado, relativizado ou dissimulado, todavia podemos perdoar. Mesmo que haja algo que jamais deve ser tolerado, justificado ou desculpado, todavia podemos perdoar. Mesmo quando houver algo que por nenhum motivo devemos permitir-nosesquecer, todavia podemos perdoar. O perdão livre e sincero é uma grandeza que reflete a imensidão do perdão divino. Se o perdão é gratuito, então pode-se perdoar até a quem resiste ao arrependimento e é incapaz de pedir perdão.” (Encíclica Fratelli Tutti, 250) O Espírito Santo é quem promove a comunhão. Ele nos dá a graça para vivermos o verda- deiro amor, Ele é o Amor do Pai e do Filho, a fonte do amor divino. E é por meio dele que somos impulsionados a sair do “eu” para viver o “nós”. Nenhum de nós sozinho e tão bom na evangelização como todos nós juntos. Nosso traba- lho para o Senhor é como uma grande orquestra, cada instrumento produz um tipo de som, um completa o outro. A beleza da orquestra é ver a grande quantidade de instrumentos e o som que todos juntos produzem. São Paulo nos ensina que “há diversidade de dons, mas um só é o Espírito” (Cf. ICor 12,4) Tudo o que aprendemos sobre unidade, será inútil se a nossa vivência não for de comu- nhão, de fraternidade. Precisamos zelar para que nossos Grupos de Oração vivam a unidade e o amor. No ano de 2017 o Conselho Nacional da RCC, inspirado pelo Senhor Jesus, viveu um Retiro na Terra Santa e no primeiro momento o Senhor fez um chamado à unidade. “Sem unidade não há crescimento fraterno”. O Senhor falou ainda em profecia: “Eu vos trouxe aqui para vos ensinar a servir, a serem irmãos, a serem família, a lavarem os pés uns dos outros, a serem disponíveis ao Subsídio para aprofundamento 18 GUARDAR A IDENTIDADE DA RCC PARA QUE O MUNDO SEJA BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO serviço, como Minha Mãe se disponibilizou à sua prima Isabel”. Ser família Renovação Carismática Católica, esse é o nosso chamado! Família Grupo de Oração! Família de perto e de longe! Na família somos “nós mesmos”, não temos “máscaras”, ali revelamos quem somos de verdade e como estamos. Podemos até tentar esconder o que estamos sentindo, mas não por muito tempo, pois pela nossa forma de agir as pessoas que moram conosco sabem como estamos. Assim deve ser com aqueles que convivem conosco no Grupo de Oração, um olhar já basta para entendermos o que queremos expressar. Isso se dá pela convivência, pela vivência fraterna. A vida fraterna é algo essencial, tão importante quanto a nossa vida de oração. O amor que o Senhor nos chama a viver nos impele a irmos além de nós mesmos, de nossos limites e a doarmos tudo, até mesmo a nossa própria vida pelo irmão. Nosso maior exemplo desta entrega é o próprio Jesus e é Ele mesmo quem nos ensina que “ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Cf. Jo 15,13). No evangelho de São João, capítulo 13, versículo 35 nos diz “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. Era dessa forma que os discípulos eram reconhecidos! Isso não quer dizer que entre eles não haviam conflitos, pelo contrário, a própria Pa- lavra de Deus nos relata em Atos dos apóstolos (Cf. At 5, 1-11; 10; 11 e 15), mas a maturidade deles os levava a amar acima dos erros alheios e das diversidades de pensamentos. Amar é decisão de um coração que entendeu que o amor não é concordar com tudo e to- dos, não é pensar igual a todos, mas é escolher submeter tudo ao Amor Perfeito, que é o Amor de Cristo, e inflamados desse Amor Perfeito, inflamaremos outros! Só seremos testemunhas de Cristo, nossa missão será eficaz, só estaremos corresponden- do ao nosso chamado se vivermos o amor. Será o nosso testemunho de amor que atrairá as pesso- as para o Grupo de Oração, para os braços do Senhor! Vede como eles se amam! “Quem ama, faz sempre comunidade; não fica nunca sozinho”. (Santa Tere- sa d’Ávila) GUARDAR A IDENTIDADE DA RCC PARA QUE O MUNDO SEJA BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO Subsídio para aprofundamento 19 5- A Palavra de Deus Introdução A Palavra de Deus é viva e eficaz, ela é a voz do próprio Deus, que tanto no Antigo Testamen- to, através dos profetas, quanto no Novo Testamento em seu Filho Único Jesus Cristo, nos falou e diariamente permite nosso contato com esta carta de amor que Ele mesmo nos escreveu. Uma das primeiras coisas que devemos levar em consideração é que: “a graça do Batismo no Espírito Santo nos conduz a um encontro profundo com a Palavra de Deus. Gerando em nós intimidade com a mesma. Temos visto no decorrer destes tempos o seu efeito, tanto na vida de cada pessoa quanto no que esta mesma Palavra tem realizado em nossos Grupos de Oração. E é sobre ela, a “Palavra de Deus”, que não cessamos de repetir o que nos diz o livro dos Atos dos Apóstolos “ Pois não podemos, nós, deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos”(Cf. At 4, 20). I-A Palavra na vida pessoal A oração do Senhor (Pai nosso) é o modelo completo de oração que o próprio Cristo nos ensinou e nós a conhecemos porque está registrada nas Sagradas Escrituras. A oração é o encontro entre a sede deste Pai amoroso e a nossa. Deus tem sede de que te- nhamos sede dele. Quando oramos com a Palavra, oramos com as palavras que o próprio Senhor nos deu. Tipos de Oração na Sagrada Escritura. • Oração de louvor ( Cf. Ef 1, 14) • Oração de ação de graças (Cf. Cl 4,2) • Oração de adoração (Cf. Jo.4, 23) • Oração em línguas ( Cf. Ef 6,18) • Oração de esculta (Cf. Jo 10,27) Subsídio para aprofundamento 20 GUARDAR A IDENTIDADE DA RCC PARA QUE O MUNDO SEJA BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO • Oração de súplica ( Cf. Mt 7, 7-11) • Oração de entrega ( Cf. Sl 36, 5) • Oraça de Intercessão( Cf. 1 Tm 2,1-3) • Oração de cura ( Cf. 16, 15-18) Sendo assim, a Palavra de Deus deve se fazer presente cotidianamente na vida de todos os servos. Todos eles devem diariamente: • Ler a Palavra • Conhecer a Palavra • Rezar com a Palavra • Conformar-se à Palavra, obedecendo-a • Deixar se guiar pela Palavra II-A Palavra no Grupo de oração Sabemos que o grupo de oração acontece em três momentos: 1) Reunião de Núcleo: (At 2,1-4) A preparação e escuta para a reunião de Oração. Aqui é o primeiro momento, oportunidade para escutar o Senhor e ruminar a sua Palavra(Jr 33,3). Os servos do núcleo são os primeiros a debruçarem-se sobre a Palavra. Rezam com ela e pedem ao Espírito Santo que venha, como veio em Pentecostes, utilizan- do-se para isto de diversos textos da Sagrada Escritura. 2) Reunião de Oração: (At 2, 5-41) Onde a assembleia se reúne e é evangelizada. É na Reunião de Oração que todos experi- mentam a ação de Deus, testemunham os carismas, têm seus corações tocados. O centro desse momento é o louvor, a pregação da Palavra realizada com unção e no poder do Espírito e o clamor pela efusão do Espírito Santo. 3) Grupo de Perseverança: (At 2, 42-47) GUARDAR A IDENTIDADE DA RCC PARA QUE O MUNDO SEJA BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO Subsídio para aprofundamento 21 A Igreja Primitiva perseverava, na doutrina dos Apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão nas orações em comum. Assim deverá ser o Grupo de Perseverança. Sabemos que a Palavra de Deus está enraizada em todo processo formativo e não poderia ser diferente no Grupo de Perseverança. Esta Palavra se destaca especialmente em dois capítulos do módulo 1 do GP. Como nos temas: Lectio Divina e Introdução a Sagrada Escritura, por exemplo. III-A inspiração para a vida e pregação vem da Palavra Sabemos que a pregação é um dos momentos mais importantes da reunião de oração. Ela motiva o povo a rezar e gera a fé. A palavra deve ser anunciada de forma querigmática e isto não deve ser mudado. Esta palavra proclamada com autoridade deve gerar na vida do povo o que nos relata os Atos dos Apóstolos: Pedro, cheio do Espírito Santo, se destaca dos demais e com voz forte, anuncia o evangelho aos que se ajuntavam ali com corações compungidos, perguntaram o que deveriam fazer para receber o dom do Espírito Santo. Assim também deve acontecer em nossas reuniões de oração. A Palavra de Deus proclamada deve levar o povo a uma verdadeira mudança de vida.IV-A Palavra de Deus no processo formativo I- Seminário de Vida no Espírito Santo O SVES é uma estratégia do próprio Senhor para conduzir o seu povo a uma fecunda evan- gelização. No SVES, os participantes experimentam semanalmente, de forma profunda, uma experi- ência com a pessoa de Jesus através das pregações querigmáticas. Nele, a pessoa durante 9 semanas, terá um encontro com Jesus a partir de sua Palavra proclamada e testemunhada. Cada participante experimenta a graça de mergulhar nas Sagradas Escrituras em doses homeopáticas. Podemos dizer: aqui se inicia um encontro amoroso entre o participante e a Palavra de Deus. Subsídio para aprofundamento 22 GUARDAR A IDENTIDADE DA RCC PARA QUE O MUNDO SEJA BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO II - Experiência de Oração O poder da Palavra ministrada, em um fim de semana, promoverá uma experiência com o Senhor Jesus vivenciando os quatro capítulos de Atos dos Apóstolos. Este era o alegre anúncio dos primeiros cristãos cheios do Espírito Santo. A experiência de oração nos possibilita uma grande experiência com esta Palavra viva que gera em nós a verdadeira vida. O que acontecia no início do cristianismo é atualizado hoje em nós. Como exemplo fundante, vemos isto no Retiro do final de semana de Duquesne, com aque- les jovens e continuamos hoje e vislumbrando essas mesmas experiências. Assim como aconteceu com eles, como nos contam os relatos “aplicaram se eles a ler e a meditar os Atos dos Apóstolos e a rezar pedindo que o Espírito Santo fizesse acontecer o Pentecos- tes em suas vidas.” Deve continuar a acontecer conosco, seus servos. A palavra de Deus tem o poder de transformar interiormente e exteriormente as nossas vi- das e neste final de semana, chamado experiência de oração, diferente do SVES, permite viver de forma mais efusiva o cumprimento da Palavra de Deus . III-Aprofundamento de Dons Este é o terceiro momento da fase querigmática. Um Aprofundamento de Dons tem como objetivo levar o participante à experiência da re- descoberta dos dons infusos, ferramentas do Espírito para nossa santificação pessoal, bem como entender e experienciar os dons carismáticos como graças especiais que nos são dadas pelo Espí- rito Santo. E para termos um bom entendimento destes dons carismáticos devemos, entre outros tex- tos sagrados, debruçarmo-nos na Carta que o Apóstolo Paulo escreve à comunidade de Coríntios, a respeito destes dons (cf. I Cor 12-por exemplo). Obviamente que, assim como processo querigmático citado acima, a Palavra de Deus será o poderoso instrumento do Senhor para formar o povo catequeticamente no Módulo Básico e es- pecificamente nos módulos dos ministérios. GUARDAR A IDENTIDADE DA RCC PARA QUE O MUNDO SEJA BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO Subsídio para aprofundamento 23 Palavra que gera Santidade Encontramos na Sagrada Escritura um roteiro de vida santa a partir do que escreve São Mateus no Sermão da montanha conhecido como As bem-aventuranças. Elas ultrapassam nossa inteligência e nossa força humana. Bem aventurados os pobres de espírito porque deles é o Reino dos Céus (Mt 5, 3) Bem-aventurados o que choram porque serão consolados (Mt 5, 4) Bem-aventurados os mansos porque herdarão a terra (Mt 5, 5) Bem aventurado os que tem fome e sede de justiça, porque serão saciados (Mt 5, 6) Bem aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia (Mt 5, 7) Bem aventurados os puros, porque verão a Deus (Mt 5, 8) Bem-aventurados os que promovem a paz porque serão chamados filhos de Deus (Mt 5, 9) Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus (Mt 5, 10)