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Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Unidade 1 Considerações preliminares da perícia criminal e toxicológica Aula 1 História da perícia criminal e toxicologia Introdução A pericial criminal e a toxicologia forense têm chamado atenção de todos por meio de séries, �lmes ou documentários televisivos, sejam em canais abertos ou em plataformas de distribuição digital. No entanto, não é de hoje que estas ciências existem e são importantes para a resolução de crimes e atentados à integridade individual e coletiva. Nessa aula abordaremos brevemente a história da perícia criminal e toxicologia e suas evoluções enquanto ciências. Será visto que a sua origem data do início da humanidade, em períodos antes de Cristo, permeiam fatos históricos importantes, como as grandes Guerras Mundiais, e como atualmente estão relacionadas a casos de grande destaque e importância. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Considerações iniciais. Evolução histórica O uso de substâncias capazes de causar envenenamento ocorre desde os primórdios da humanidade. Há evidências do uso de �echas envenenadas datadas do período mesolítico no Quênia. No Egito, 1500 a.C., há o registro de uma lista de substâncias ativas, incluindo algumas tóxicas, como chumbo e ópio. Os crimes de envenenamento eram tão comuns durante a Guerra Civil em Roma (82 a.C.) que o ditador Sulla emitiu a Lei Cornélia sobre apunhaladores e envenenadores. Seu objetivo era evitar envenenamentos e quando eles aconteciam, duras penas eram aplicadas, como o afastamento e con�sco de bens (das pessoas da nobreza) ou até mesmo a pena de morte. Ainda em Roma, o imperador César fazia uso do exame do local, como no caso da morte de Aprônia, jogada pela janela, por seu marido e servidor de César, Plantius Silvanius, em um caso em que foi possível observar sinais claros de violência. Estes relatos são algumas evidências do princípio do uso da perícia criminal. Já no século XVII, as atividades dos envenenadores foram redirecionadas para objetivos �nanceiros e conjugais. Madame Toffana (Napoli, Itália), envenenou mais de 600 pessoas com soluções à base de arsênio. Hieronyma Spara (Roma, Itália) conduziu um negócio igualmente lucrativo, sendo que suas clientes eram jovens mulheres casadas. No século XIX, foi a vez de Catherine de Medici (França), em seu negócio, os venenos comercializados incluíam arsênio misturado, ópio, beladona. O método de perícia criminal foi evoluindo ao longo dos anos. Ambrose Paré (1560 – França) falava sobre ferimentos oriundos de armas de fogo. Paolo Zachias (1651 – Roma) publicou Questões médicas e passou a ser considerado o “pai da medicinal legal”, sendo o seu ensino iniciado em 1805 na Áustria, 1807 na Escócia, em 1820 na Alemanha, França e Itália. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Na área da toxicologia destaca-se o médico, alquimista, químico e astrólogo Paracelsus (1493- 1541. Paracelsus foi o primeiro a postular que as substâncias químicas têm efeitos em órgãos especí�cos no corpo. Mais tarde, Felice Fontana (1730-1805) desenvolve melhor o conceito ao atribuir os sintomas do envenenamento por picada de cobra à ação direta do veneno no sangue. Mais tarde Mathieu Joseph Bonaventura de Or�la (1787-1853), considerado pai da toxicologia moderna, estabeleceu métodos, principalmente químicos, para provar as intoxicações letais. Em 1814, publicou Traitè de toxicologie, obra que combinou conhecimentos da toxicologia forense, clínica e química analítica. Outra importante descoberta atribuída a Or�la é a absorção gástricas dos venenos e seu acúmulo em tecidos e órgãos especí�cos. Na 1ª Guerra Mundial (1914-1918), foi desenvolvido o gás mostarda e o gás cloro pelo químico alemão Fritz Haber (1868-1934). O uso destas substâncias resultou na morte de mais de 5000 pessoas em uma cidade belga. Em 1925 foi assinado o Protocolo de Genebra que proibiu o uso de armas químicas. Na 2ª Guerra Mundial, os nazistas �zeram uso de várias técnicas, dentre as quais o monóxido de carbono e os cianetos para execução de aproximadamente 6 milhões de pessoas. Na Guerra do Irã-Iraque (década de 1980), o uso do gás mostarda e o organofosforado Tabun resultou na morte de 7000 pessoas. Videoaula: Considerações iniciais. Evolução histórica Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Assista ao vídeo para aprofundar seus conhecimentos em relação a este bloco. A perícia criminal e toxicologia na atualidade Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica A perícia criminal é uma área multidisciplinar e atualmente está ligada a polícia e é estudada por meio da disciplina de Criminalística. A criminalística, segundo Edimar Cunico (2010), é a ciência forense para o exame do corpo de delito, tem por objetivo a obtenção da prova jurídica, no entanto, os exames da vítima são cabíveis à medicina legal. A perícia criminal pode ocorrer no suposto local do crime, onde o perito criminal buscará vestígios, indícios e provas dos fatos ocorridos. Importante destacar que prova é todo o meio de percepção utilizado com a desígnio de corroborar a verdade de uma alegação. Ou, ainda, pode ser entendida como o conjunto de oportunidades constitucionais e legais oferecidas para a parte, para que, no transcorrer do julgamento, possa demonstrar a verdade dos fatos de que a�rma. Ou seja, é a relação física entre a convicção pessoal e a verdade real dos fatos. Tem o objetivo de elucidar a prática de uma infração penal, sua autoria, no transcorrer do processo criminal ou do inquérito policial. A composição da prova que cabe ao autor da tese defendida procura fornecer elementos na tentativa de reconstruir os fatos em investigação. As perícias podem ter também um objeto especí�co, solicitado pela autoridade policial, para que sejam respondidas questões pontuais, a �m de esclarecer quanto à ilegitimidade dos fatos. Como exemplo tem-se a falsi�cação de cédulas e/ou armas de fogo. As perícias criminais são classi�cadas, segundo Tocchetto e Espíndula (2013), nos seguintes exames periciais: Em locais de crimes contra a vida; Em crimes contra o patrimônio; De revelação de impressões papilares; De acidentes de trânsito; Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica De veículos automotores; De engenharia forense; De balística forense; Em documentoscopia forense; Em informática forense; Em fonética forense; De DNA forense; De toxicologia forense; entre outros. Um exemplo recente da aplicação e desfecho dado graças à toxicologia forense ocorreu em Chicago, nos Estados Unidos (1982), conhecido como o caso do “Tylenol envenenado com cianeto”. Por meio das investigações, foi possível determinar que o Tylenol não foi adulterado na indústria. A suposição postulada foi que quem furtou o medicamento de um determinado almoxarifado o adulterou. É importante enfatizar que os resultados gerados por meio das análises forenses devam ser inequívocos e os laudos, dentro do possível, irrefutáveis. Para isso, todas as etapas da cadeia de custódia (coleta da amostra, identi�cação, conservação e transporte e análise �nal), devem ser realizadas criteriosamente e registradas, a �m de garantir a con�abilidade dos resultados. Nos últimos anos, a �m de fortalecer ainda mais o resultado do laudo pericial, aprovisionando elementos técnicos para as investigações e devidas elucidações na esfera judicial, tem-se mostrado critérios bastante relevantes: a certi�cação de pessoal, a validação de procedimentos, programas de controle de qualidade e a acreditação dos laboratórios, por meio da implementação de sistemas de gerenciamento de qualidade, entre outros. Videoaula: A perícia criminal e toxicologia na atualidade Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Assista ao vídeopara aprofundar seus conhecimentos em relação a este bloco. A perícia criminal e toxicologia: repercussão (casos) Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Crimes envolvendo celebridades sempre geram grandes repercussões e destaque nas mídias. Inclusive, diferentes plataformas de distribuição digital de �lmes, séries e documentários lançam, periodicamente, com grande sucesso, produções baseadas em crimes reais. 1) Caso Richthofen: ocorrido em 31 de outubro de 2002, homicídio do casal Richthofen, executado pelos irmãos Cravinhos a mando da �lha do casal. Foi o trabalho da perícia que conseguiu explicar o assassinato brutal do casal Manfred e Marísia. Os assassinos tentaram simular um latrocínio (roubo seguido de morte), no entanto, deixaram evidências que levaram a polícia a investigar a movimentação das pessoas mais próximas à família. Por meio da investigação, a polícia se baseou nas informações fornecidas pela perícia, encurralando os acusados de modo que os induzissem a confessar o ato e, inclusive, fornecer detalhes ainda não obtidos pela polícia do caso. 2) Caso Nardoni: ocorrido em 29 de março de 2008, em São Paulo, uma menina de cinco anos de idade foi jogada do sexto andar de um edifício. O processo foi rico em laudos periciais, estas que contrapuseram com a inocência dos acusados. As provas periciais como: o exame de corpo de delito, os instrumentos do crime, de local e exame do corpo foram feitas na fase de inquérito, pois havia o risco de se perderem com o tempo. Ressalte-se a produção antecipada das provas é geralmente usada para crimes que deixam vestígios, pois há o real risco de desaparecimento dos vestígios, o que inviabilizaria ou pelo menos di�cultaria a comprovação da prova material e autoria do crime. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica 3) Caso Elize Matsunaga: ocorreu em 19 de maio de 2012, o homicídio do CEO da empresa alimentícia, Marcos Kitano, de 42 anos de idade. Todo o caso girou em torno da perícia, dois terços das quali�cadoras (circunstâncias que determinam a pena do crime) estavam amparadas somente em provas técnicas. Sendo a prova técnica aquela que é feita mediante exame por peritos ou técnicos, uma vez que o juiz não detém todos os tipos de conhecimentos necessários para dar a decisão em um processo judicial. Com o júri mais longo (oito dias) da história da justiça no Brasil, devido às divergências nas análises das peças periciais, pois elas proporcionavam interpretação dúbia dos fatos. Neste caso é notória a importância dos peritos o�ciais e seus laudos, estes que devem sempre estar fundamentados na ciência a �m de esclarecer a verdade e jamais comprometer o resultado alcançado. Do mesmo modo, há na história da toxicologia forense casos de intoxicação de celebridades, tais como: a overdose por barbitúricos da atriz Marilyn Monroe (1926-1962), as mortes por intoxicação por heroína de Jimi Hendrix (1942-1970) e Janis Joplin (1943-1970). A morte por intoxicação por cocaína e álcool da cantora Elis Regina (1945-1982). A morte por intoxicação pelo uso do medicamento analgésico propofol de Michael Jackson (1958-2009). A overdose por cocaína levando a morte do vocalista do Charlie Brown Jr., “Chorão” (1970-2013). Videoaula: A perícia criminal e toxicologia: repercussão (casos) Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Assista ao vídeo para aprofundar seus conhecimentos em relação a este bloco. Estudo de caso Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica A evolução da humanidade e consequentemente da ciência, as responsabilidades de crimes e consequentes penas deixaram de ser atribuídas aos acusados sem qualquer critério racional. Isso porque os valores culturais mudam e evoluem, as instituições sociais, dentre elas as punitivas, seguem o avanço. A correta produção das provas promove a atividade jurisdicional e, por consequência, a prolação de uma decisão justa. Nessa busca por provas capazes de comprovar a existência, ou não, da autoria do fato criminoso, fundamental à investigação policial, cujo �m precípuo é a investigação e a localização de sinais hábeis a �gurar como provas ao processo. Imagine que você é um perito criminal e está sendo solicitada a reabertura de um caso datado da década de 1980. Trata-se do corpo do sexo masculino, na época com 42 anos, encontrado pela polícia no porão de sua o�cina, após a esposa ter relatado seu desaparecimento (após 24 horas). Quais seriam seus passos para uma análise mais precisa e confecção correta do laudo pericial? Resolução do estudo de caso Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Conforme visto na Aula 1, ocorreram muitos avanços na história da perícia criminal e na toxicologia forense. Possíveis passos para uma análise precisa e laudo exitoso: Releitura dos autos do processo e das provas técnicas arquivadas (Exame periciai em documentoscopia forense); Exumação do corpo para observação de marcas e sinais de violência que possam ter sido inobservadas, logo, não registradas pelo legista na época; Análise toxicológica em busca de traços de substâncias tóxicas que os instrumentos e procedimentos disponíveis na época não detectavam. Saiba mais Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Hoje é possível encontrar todo o tipo de conteúdo na internet. E na área criminal e toxicológica não é diferente. Proponho a você conhecer um pouco mais da história, mais precisamente da substância Pervitin, utilizada pelas tropas alemães na Segunda Guerra Mundial, clique nos links abaixo: https://www.instagram.com/p/CUFeVQfrcfm/?utm_source=ig_web_copy_link. Acesso em: 14 nov. 2021. https://www.instagram.com/p/CUdemnurDpF/?utm_source=ig_web_copy_link. Acesso em: 14 nov. 2021 Resumo visual Nessa aula você pode perceber o quanto a perícia criminal e toxicologia permearam, e ainda permeiam, a história. Para �xar melhor o que foi visto nessa aula, vamos observar essa linha do tempo. https://www.instagram.com/p/CUFeVQfrcfm/?utm_source=ig_web_copy_link. https://www.instagram.com/p/CUdemnurDpF/?utm_source=ig_web_copy_link Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Fonte: elaborada pela autora. Referências Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica CUNICO, E. Perícia em locais de morte violenta: criminalística e medicina legal. Curitiba: Edição do Autor, 2010. LIMA, G. P., PAULA, C. T. de. O papel da perícia criminal na busca da verdade real. Revista cientí�ca eletrônica do curso de Direito. 6. ed. 2014. ISSN: 2358-8551. OLIVEIRA, E. P. de S. Q. A IMPORTÂNCIA DA PROVA PERICIAL NO DESLINDE DO “CASO ISABELLA NARDONI”. Monogra�a de conclusão de curso de Direito. UniCEUB. 2014. O outro lado do Espelho - A prova técnica no caso Yoki (Elize Matsunaga). XXIV Congresso Nacional de Criminalística, VII Congresso Internacional de Perícia Criminal e XXIV Exposição de Tecnologias Aplicadas à Criminalística. 2017. ROCHA, R. de O. Toxicologia Forense e-book. 1º ed. Rio de Janeiro, Edição Independente, 2021. ISBN: 978-65-00-15610-2. TOCCHETTO, D. ESPÍNDULA, A. Criminalística: procedimentos e metodologias. 2ª Ed. Porto Alegre: Espindula – Consultoria, cursos & perícias, 2013. VARGAS, J. P. S., KRIEGER, J. R. A Perícia Criminal em Face da Legislação. Revista Eletrônica de Iniciação Cientí�ca. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 5, n.1, p. 382-396, 2014. ISSN: 2236-5044. Aula 2 Perícia criminal como meio de prova Introdução Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica A pericial criminal e a toxicologia forense apresentam alguns pontos que merecem destaque, tais como a hierarquia entre as provas penais e as evidências, pois é por meio delas que se pode demonstrar a existência ou inexistência de fatosde um crime. Assim, ao conjunto de vestígios dá-se o nome de corpo de delito. E não menos importante trataremos da cadeia de custódia, a qual é a documentação de todas as observações que se iniciam no local do crime, passando por todos os passos até a �nalização do laudo pericial, sendo que o seu objetivo é assegurar a validade das provas perante a justiça. Procedimentos para manter e documentar provas (cadeia de custódia) Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica O termo “perícia” signi�ca habilidade especial (do latim peritia). Trata-se de um meio de prova que, na prática, consiste em um exame técnico, executado por uma pessoa habilitada (perito criminal) de capacidade técnica e conhecimento, de acordo com a necessidade do caso. Além disso, ele é um auxiliar da justiça, comprometido, alheio às partes e sem empecilhos ou incompatibilidades para atuar no processo (CAPEZ, 2012). A prova pericial soma princípio cientí�co e técnica adequada. Existem 2 provas periciais: a prova real e a prova material (MANZANO, 2011). A primeira é originária dos sinais deixados pelo crime, tais como um arrombamento de portas e fechaduras, ferimentos e roupas com sangue da vítima, sangue no local ou em possíveis armas de ocorrência do crime (RANGEL, 2013a). Já a prova material são os resquícios físicos que possam ser úteis para persuasão dos fatos, por exemplo os exames de corpo de delito, as perícias e os instrumentos usados no crime (RANGEL, 2013b). No entanto, a prova pericial (LOPES Jr., 2013) não pode ser considerada absoluta, pois ela demonstra apenas um grau de probabilidade de um aspecto de delito, precisa ser discriminada da prova de toda sua complexidade, ou seja, há a necessidade de unir os fatos a partir de outros instrumentos comprobatórios. Sendo assim, o conjunto dos procedimentos realizados no material no local do crime, desde sua coleta, guarda e análise até ser anexado ao material do processo chama-se cadeia de custódia (UNODC, 2010). O objetivo da cadeia de custódia é assegurar a legitimidade da prova perante a justiça. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Segundo a Lei do processo Penal Brasileiro, artigo 158, o rastreamento inicia-se no ato do reconhecimento de uma amostra em potencial no local de um crime e/ou descrição detalhada do local e como a amostra é encontrada, passando pelas próximas etapas de coleta, acondicionamento, transporte, recebimento pelo laboratório forense, registro, manipulação, análise laboratorial e armazenamento, elaboração do laudo pericial e, quando for o caso, devolução do material ou descarte. Todos esses passos devem ser documentados com data e hora, com descrição do remetente e de quem o recebe (BRASIL, 1940). Conforme os artigos 169 e 170 da Lei do Processo Penal Brasileiro, existe a cadeia de custódia interna e a externa. A externa trata do procedimento a ser adotado quando uma autoridade policial chega a uma cena de crime, sendo sua obrigação preservar o local até a chegada da equipe de perícia. Quando o perito chega ao local, bastante atento aos vestígios, além de ter cuidado para não haver contaminação da amostra, esse material deve ser armazenado em recipientes próprios, lacrados e identi�cados, já para o transporte faz-se necessário garantir as condições adequadas para cada tipo de amostra (BRASIL, 1940). A cadeia de custódia interna começa ao receber a amostra no laboratório forense. O primeiro passo é a conferência do material e da documentação que o acompanha. Após os procedimentos executados na amostra devem ser documentados. Além disso, parte da amostra deve ser preservada para eventual reanálise (contra perícia) (BRASIL, 1940). Videoaula: Procedimentos para manter e documentar provas (cadeia de custódia) Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Nesse vídeo abordaremos o formulário da cadeia de custódia, falaremos um pouco de cada campo a ser preenchido e sua importância. Do laudo pericial (estrutura e características) Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Para a elaboração e emissão de um laudo pericial con�ável, o laboratório deve seguir o sistema de qualidade laboratorial, como o ISO e Boas Práticas de Laboratório (BPL) ou ainda empregar o sistema NIDA (National Institute on Drug Abuse) ou pela SOFT (Society of Forensic Toxicologists) e pela American Academy of Forensic Sciences (AAFS), sendo SOFT/AAFS. As principais técnicas empregadas são cromatogra�a em camada delgada (CCD), cromatogra�a gasosa (CG), cromatogra�a líquida de alta e�ciência (CLAE) e espectrometria. Em amostras in natura, as análises são dirigidas para o grupo químico por meio de teste colorimétricos de triagem para posterior con�rmação por meio de técnicas de cromatogra�a. A maioria das matrizes biológicas requer algum tipo de preparo prévio antes da etapa analítica. As etapas poderão ocorrer concomitantemente ou em ordem diferente. É possível categorizar em: 1. Homogeneização; 2. Extração; 3. Concentração e 4. Limpeza da amostra. A primeira etapa tem como objetivo garantir, como o próprio nome diz, homogeneidade da amostra, além de aumentar a superfície de interação da amostra com o material de extração que, normalmente, é a próxima etapa. A segunda etapa consiste no isolamento do analito do restante da amostra. Em amostras complexas, que contenham proteínas e lipídeos, é necessário separá- Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica los do analito, pois as demais substâncias podem interferir na etapa analítica. As técnicas de extração que podem ser utilizadas são: extração líquido-líquido, headspace e técnicas de microextração. Para garantir o ajuste do extrato de acordo com a necessidade das técnicas analíticas e assim melhorar a detecção, é feita a terceira etapa. A quarta e última etapa, limpeza, é utilizada quando a separação não foi e�ciente e alguns componentes da matriz podem estar interferindo na análise. A depender do tipo de amostra, pode-se utilizar cromatogra�a gasosa com diferentes tipos de detectores como: espectrômetro de massas, captura de elétrons e ionização em chamas. Os imunoensaios têm baixo limite de detecção e os resultados são obtidos em poucos minutos, o que os torna uma ferramenta de grande utilidade. O princípio da metodologia é que os antígenos especí�cos (drogas, fármacos, etc. que estão presente na amostra) irão produzir uma reação imunológica formando determinadas proteínas, as quais são chamadas de anticorpos, serão identi�cadas e sua presença con�rma a presença de uma substância-alvo na amostra. No entanto, pode haver reações cruzadas para um grupo de compostos de estrutura química semelhante ao que está sendo estudado. O prazo para elaboração do laudo pericial Segundo a Lei do Processo Penal Brasileiro, artigo 160, “o laudo pericial será elaborado no prazo máximo de dez dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos”. Muitas análises periciais exigem exames extras e/ou mais complexos, e o perito só poderá iniciar a análise completa e a confecção do laudo de posse de todos os resultados, o que exige tempo. Na prática, o prazo de dez dias é incompatível, visto que há acúmulo de serviço, além disso, enquanto os peritos aguardam os resultados de um caso, iniciam a elaboração dos laudos de outras perícias, para assim liberar o mais rapidamente os seus laudos Videoaula: Do laudo pericial (estrutura e características) Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, neste vídeo, nós trataremos sobre um ponto muito importante que diz respeito aos requisitos mínimos necessário para a elaboração de um laudo pericial. O exame de corpo de delito (procedimentos técnico-cientí�cos, evidência e análise) Disciplina Perícia Criminale Toxicológica O capítulo X, da Lei do Processo Penal Brasileiro, trata “Dos indícios”, em seu artigo 239 de�nidos como a ocorrência manifesta e con�rmada que, tendo relação com o fato, aprove, por dedução, concluir-se a ocorrência de um ou mais circunstâncias. É importante saber a diferença entre indícios e vestígios. Indício é todo vestígio que tem relação ou com a vítima, ou com o suspeito, ou com a testemunha ou, ainda, com o fato ocorrido. Os indícios podem ser propositais ou acidentais. Já os vestígios são todas alterações materiais, sejam elas no ambiente ou nas pessoas, relacionadas ao fato delituoso ou seu causador. Estes serão extremamente úteis para o esclarecimento ou direcionamento da autoria e os vestígios podem ser subdivididos em: verdadeiros, forjados ou ilusórios. Ao conjunto de vestígios dá-se o nome de corpo de delito. O artigo 158 da Lei do Processo Penal Brasileiro instrui sobre a imperativa necessidade, mesmo quando há con�ssão do acusado, do exame de corpo de delito, direto ou indireto. O exame de corpo de delito indireto foi criado para ocasiões em que os vestígios estejam ausentes e, ainda assim, por meios diferenciados, seja possível concluir o crime. O exame de corpo de delito indireto continua sob a responsabilidade dos peritos o�ciais, mesmo quando não há correspondência entre este e a prova testemunhal. Ele é executado por perito o�cial ou não o�cial, o primeiro se dá por concurso e o segundo não faz parte dos quadros funcionais do Estado, porém ao ser nomeado assume o mesmo compromisso que o perito o�cial. O conceito do exame de corpo de delito segundo Lopes Jr. (2013): A mais importante das perícias é exatamente o exame de corpo de delito, ou seja, o exame técnico da coisa ou pessoa que constitui a própria materialidade do crime (portanto, somente necessário nos crimes que deixam vestígios, ou seja, os crimes Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica materiais). O corpo de delito é composto pelos vestígios materiais deixados pelo crime. É o cadáver que comprova a materialidade de um homicídio; as lesões deixadas na vítima em relação ao crime de lesões corporais; a coisa subtraída no crime de furto ou roubo; a substância entorpecente no crime de trá�co de drogas; o documento falso no crime de falsidade material ou ideológica etc. O exame de corpo de delito, por meio dos vestígios deixados na cena do crime, tem a �nalidade de veri�car, determinar, explanar e registrar conjunturas, pessoas envolvidas e todas as características do delito. O exame de corpo de delito é o exame pericial em si e é subdividido em todos os outros ramos da perícia criminal. Deste modo, pode-se concluir que um indício é um vestígio o qual tenha sido comprovado, por meio de análise prévia e, assim, estar conectado ao delito. Videoaula: O exame de corpo de delito (procedimentos técnico-cientí�cos, evidência e análise) Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Neste vídeo, por meio de imagens de crime, vamos observar os indícios e vestígios e supor algumas possíveis cadeias de custódias. Estudo de caso Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica No dia 13 de julho de 2019, em Nova Iguaçu (RJ), Cecília de Meireles se dirige à o�cina do pai do seu �lho, Fernando Pessoa, e se mata com um tiro na boca. É encontrada em sua bolsa uma carta de suicídio supostamente escrita por ela, cujo destinatário supostamente é sua mãe. Na carta, ela diz estar ciente dos seus atos e explica o porquê da sua atitude. Na carta refere-se ao fato de ser órfã de pai e por este motivo sentir-se sozinha, além do fato de não ter irmãos e a mãe estar com uma doença terminal. Também cita em sua carta os desgostos matrimoniais já vividos. Durante a investigação foi descoberto que Cecília havia feito, 5 dias antes, um boletim de ocorrência relatando ameaças recebidas por ela e feitas por Fernando. Diante do caso relatado, descreva quais seriam as evidências coletadas e os possíveis passos da cadeia de custódia. Resolução do estudo de caso Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Evidências: carta, boletim de ocorrência, projétil, arma usada, fotos dos respingos de sangue na o�cina. Cadeia de custódia: coleta das evidências, envio para laboratório forense, análise de DNA do sangue encontrado, análise grafológica da carta de suicídio, análise de balística. Confecção do laudo pericial. Saiba mais No link dessa aula apresentamos a Enciclopédia Jurídica da PUC-SP, uma enciclopédia universal e gratuita. Um projeto da Faculdade de Direito da PUCSP que apresenta a toda sociedade textos inéditos de professores doutores do Brasil e do exterior. https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/441/edicao-1/exame-de-corpo-de-delito. Acesso em: 14 nov. 2021 Resumo visual https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/441/edicao-1/exame-de-corpo-de-delito Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Nessa aula você aprendeu sobre aspectos muito importantes e primários quanto à documentação das provas (cadeia de custódia), algumas questões relevantes do laudo pericial, além dos procedimentos técnicos-cientí�cos, evidências e análise exame de corpo de delito. Para a �xação do conteúdo vamos observar infográ�co dos principais conceitos abordados nessa aula. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Fonte: elaborado pela autora. Referências Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica BRASIL. Código de processo penal. Brasil Presidência da República Casa Civil Subche�a para Assuntos Jurídicos, 1940. CAPEZ, F. Curso de processo penal. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2012. LOPES JR., A. Direito processo penal. 10 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. MANZANO, L. F. M. Prova pericial: admissibilidade e assunção da prova cientí�ca e técnica no processo brasileiro. São Paulo: Atlas, 2011. ROCHA, R. O. Toxicologia forense. 1 ed. Rio de Janeiro: Edição Independente, 2021. ISBN: 978-65- 00-15610-2. RANGEL, P. Direito processo penal. 21 ed. São Paulo: Atlas, 2013. RANGEL, P. Direito processo penal. 21 ed. São Paulo: Atlas, 2013. UNODC. Conscientização sobre o local de crime e as evidências materiais em especial para pessoal não-forense. New York: Nações Unidas, 2010. VARGAS, J. P. S., KRIEGER, J. R. A Perícia Criminal em Face da Legislação. Revista Eletrônica de Iniciação Cientí�ca. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 5, n.1, p. 382-396, 2014. ISSN: 2236-5044. Aula 3 Das substâncias e dos principais campos de atuação Introdução Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Nessa aula abordaremos os conceitos fundamentais para o entendimento da perícia criminal e da toxicologia forense. A toxicologia forense é uma ferramenta importantíssima para dosagem de avaliação de diferentes substâncias presentes em casos criminosos. Por exemplo: qual a dosagem de drogas de abuso no organismo de um indivíduo para que se possa caracterizar o estado de consciência do acusado de ter cometido certo crime (como a quanti�cação de álcool etílico no sangue). Logo, serão abordadas as principais substâncias de interesse em toxicologia e os diferentes campos de atuação, que vão desde o exemplo supracitado (toxicologia Ante mortem em indivíduos vivos ou Post-mortem, caso de indivíduos mortos) até a toxicologia ocupacional e ambiental e o antidoping no esporte. Perícia criminal e toxicologia forense (conceitos e de�nições) Para atuar no mercado de trabalho se faz necessário entender melhor os conceitos e de�nições que norteiam a perícia criminal e a toxicologia forense. Perícia: palavra de origem do latim peritia, que signi�ca habilidade especial. Na prática trata-se como meio de prova (técnica ou cientí�ca), que por meio de exame técnicoé usada para solucionar e trazer a verdade em um caso criminal. Prova: todo meio de percepção utilizado com a intenção de corroborar com a verdade de uma argumentação. Prova real: tem origem nos vestígios deixados pelo delito, a prova real está diretamente ligada ao sujeito. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Prova material: são as provas tangíveis que são utilizadas como elemento de persuasão dos fatos ocorridos, são os exames de corpo de delito, as perícias e os utensílios empregados para o crime. Perito: pro�ssional dotado de formação e conhecimento técnico em uma determinada área, também denominado de especialista. Operito criminal é um auxiliar da justiça. Perito o�cial: provação em concurso de provas e títulos, é nomeada e designada no cargo de perito, presta o compromisso de bem e integramente servir e desempenhar a função (CAPEZ, 2012). Perito não o�cial: não pertence aos quadros de funcionários do Estado. Sua nomeação é executada por autoridade policial (fase de inquérito) ou pelo juiz (no processo), essa não pode ser negada, salvo motivo justi�cável. Assim que nomeado, o perito não o�cial também deve prestar o compromisso tal qual o perito o�cial, assumindo ônus processual (CAPEZ, 2012). Assistente técnico: atua a partir de sua admissão pelo juiz, no entanto somente após o �m dos exames periciais e preparação do laudo pelos peritos o�ciais. Trata-se de um cargo público, concursado ou elegido por outro órgão público, ou particular (nesse caso precisa prestar compromisso), indicado pelo Ministério Público estadual (perito o�cial) ou indicado pela vítima ou pelo acusado (perito não o�cial) (MANZANO, 2011). Indícios: relacionam-se com a vítima, com o suspeito, com a testemunha ou ainda com o fato ocorrido. Trata-se de probabilidade, dotada de e�cácia convincente abrandada, logo, é insu�ciente sozinha para situar quanto à verdade dos fatos (COSTA FILHO, 2012). Podem ser propositais ou acidentais. Vestígio: toda adulteração material no ambiente ou na pessoa relacionada com o fato ou o autor do crime, este sim servirá para o esclarecimento ou determinação de sua autoria. São classi�cados em verdadeiros, forjados ou ilusórios. Sendo assim, a totalidade dos vestígios denomina-se corpo de delito (COSTA FILHO, 2012). Corpo de delito direto: composto pelos vestígios materiais deixados pelo crime. Corpo de delito indireto: quando ocorre o desaparecimento dos vestígios, aceitam-se as manifestações dos peritos com base nos elementos de que dispõem. Toxicologia forense: também chamada de corpo de delito laboratorial, é o estudo e a prática da toxicologia para �ns legais, seja para área criminal, cível, desportiva, trabalhista ou ambiental. Há uma relação direta entre toxicologia forense e toxicologia analítica, uma vez que se faz necessário o uso de métodos analíticos de reconhecimento, identi�cação e quanti�cação da extensão da exposição ao agente tóxico, para assim amparar a elucidação dos fatos judiciais. Toxicologia: ciência que lida com propriedades, ações, toxicidade, dose fatal, detecção e estimativa de interpretação dos resultados da análise toxicológica e do tratamento de substâncias tóxicas. Xenobiótico: qualquer substância anormal ao organismo. Veneno: termo popular que se refere a substâncias que causam intoxicação e morte. Agente tóxico: qualquer substância química que interage com o organismo e é capaz de produzir alterações de uma ou mais funções biológicas, podendo levar à morte. Fármaco: tem estrutura química de�nida, tem o objetivo de modi�car, explorar ou diagnosticar. Tem, normalmente, seu mecanismo de ação conhecido. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Videoaula: Perícia criminal e toxicologia forense (conceitos e de�nições) Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Paracelso já dizia que a diferença entre o medicamento e o veneno está na dose. Vamos entender e diferenciar esses termos que são tão usados, muitas vezes, erroneamente. Das substâncias de interesse em toxicologia A toxicologia forense trata dos aspectos médicos e jurídicos dos efeitos nocivos dos produtos químicos nos seres humanos. O veneno é uma substância (sólida, líquida ou gasosa) que, se introduzida no corpo vivo ou colocada em contato com qualquer parte dele, causa problemas de saúde ou leva à morte, por seus efeitos constitucionais, locais ou ambos. A administração de qualquer substância com a intenção de causar ferimentos ou morte, e que causa ferimentos ou morte como resultado, é legalmente su�ciente para a concessão punição, Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica se a substância pode ser chamada de veneno ou não. A lei não faz nenhuma distinção entre assassinato por meio de venenos e assassinato por outros meios. Administração deliberada de veneno prova a intenção do acusado de causar morte, ou outra lesão corporal que seja su�ciente para causar a morte, e trará culpado homicídio no âmbito do homicídio. Envenenamentos acidentais e intencionais são um contribuinte signi�cativo para a mortalidade e morbidade em todo o mundo. Segundo WHO, três milhões de casos de envenenamento agudo com 220.000 mortes ocorrem anualmente. Destas, 90% das intoxicações fatais ocorrem nos países em desenvolvimento, particularmente entre os trabalhadores agrícolas. O envenenamento agudo é uma das mais comuns causas de internações hospitalares de emergência. O padrão de envenenamento em uma região depende de vários fatores, como disponibilidade de venenos, status socioeconômico da população, in�uências religiosas e culturais e disponibilidade de medicamentos. A incidência exata de envenenamento na Índia é incerta devido à falta de dados a nível central, pois a maioria dos casos não é relatada, e como os dados de mortalidade são um indicador pobre de incidência de envenenamento. Estima-se que cerca de 5 a 6 pessoas a cada cem mil morrem devido a envenenamento todo ano. São mais de quatro mil espécies de plantas medicinais crescendo como ervas, arbustos e árvores em Índia, muitos dos quais são venenosos quando administrados em grandes doses. Os princípios tóxicos pertencem aos alcaloides, glicosídeos, toxalbuminas, resinas, canabinoides e polipeptídeos. Casos de intoxicação suicida e homicida são comuns na Índia, pois os venenos podem ser facilmente obtidos e muitas plantas venenosas crescem selvagens, como: datura, oleandros, acônito, nux vomica, etc. Envenenamento acidental ocorre a partir do uso de “poções do amor” e charlatanismo, pois pessoas sem formação em medicina, por exemplo, receitam remédios contendo drogas venenosas e indicam até picadas de cobra. Uma poção do amor é uma droga que supostamente aumenta o amor entre quem dá e quem recebe. Todos os afrodisíacos como cantáridos, arsênico, álcool, ópio, cocaína e cannabis, supostamente, agem como �ltros de amor. Os venenos comuns são inseticidas e pesticidas, tais como organofosforados, hidrocarbonetos clorados, fosforeto de alumínio, carbamatos e piretróides. Outros venenos são corrosivos, sedativos, álcool, datura, oleandros, calotrópicos, cróton e agentes de limpeza. Em crianças, querosene, pesticidas, medicamentos e produtos domésticos produtos químicos estão comumente envolvidos nos acidentes. A causa mais comum de envenenamento em países em desenvolvimento são pesticidas, pois a economia é baseada na agricultura, há pobreza, facilidade disponibilidade de pesticidas altamente tóxicos. Ocupacional envenenamento por pesticidas também é comum em países em desenvolvimento, devido a práticas inseguras, analfabetismo, ignorância e falta de equipamentos de proteção individual. Entre os adultos, o sexo feminino predomina em todas as idades grupos, com evidente preponderância na segunda e terceiras décadas de vida. O envenenamento agudo em crianças é quase totalmente acidental, enquanto em adultos é principalmente suicida. A mortalidade varia de país para país, conformea natureza do veneno e disponibilidade de instalações e tratamento por pessoas quali�cadas. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Videoaula: Das substâncias de interesse em toxicologia Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Vamos conhecer um pouco mais sobre intoxicação por álcool etílico, drogas de abuso e medicamentos. #intoxicação Dos principais campos da toxicologia A toxicologia ocupacional trata dos produtos químicos encontrados no local de trabalho. Pessoas que trabalham em várias indústrias podem ser expostas a diferentes agentes durante a Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica síntese, fabricação ou embalagem dessas substâncias ou por meio de seu uso durante a ocupação. Se o trabalhador contrair qualquer doença especi�cada como uma doença ocupacional característica a esse emprego – como câncer primário da pele, manifestações patológicas devido a raios-X, rádio, etc., envenenamento por chumbo, arsênico, mercúrio, fósforo, etc. – o caso é considerado uma lesão por acidente para �ns de compensação. A toxicologia ambiental trata do impacto potencialmente prejudicial de produtos químicos como os poluentes do meio ambiente, para os organismos vivos. O ambiente inclui especialmente o ar, o solo e a água. Um poluente é uma substância presente no meio ambiente devido à atividade humana e que tem efeito prejudicial sobre a vida dos organismos. Com os avanços da tecnologia, a poluição está aumentando. As principais causas da poluição são a produção e o uso de produtos químicos industriais, aumento do uso de inseticidas, etc., na agricultura e produção e uso de energia. A ecotoxicologia preocupa-se com os efeitos tóxicos de agentes químicos e físicos na vida dos organismos, especialmente em populações e comunidades dentro de ecossistemas de�nidos. Inclui as vias de transferência desses agentes e suas interações com o ambiente. A investigação médico legal, também chamada de análises Post-mortem, é a parte mais antiga da toxicologia forense. Imperativa em eventos de vítimas fatais quando há suposição de morte violenta ou com envolvimento de terceiros, como homicídios, suicídios ou acidentes. Nesse contexto tanto é possível quanto recomendável a pesquisa por drogas de abuso e/ou fármacos em vítimas de assassinato e mortes casuais. A investigação médico legal é importante visto que mortes visivelmente acidentais podem, de fato, esconder mortes oriundas de obras delinquentes. Há ainda a “perícia em indivíduos vivos” ou análise Ante mortem, que é uma análise feita a partir de material biológico oriundo de indivíduos vivos. Fato que há interesse em pesquisar muitos agentes tóxicos em indivíduos vivos, como pesquisa por substâncias psicoativas, que são utilizadas para incapacitar mentalmente a vítima facilitando assim o crime, ou estudo de substâncias que alteram o desempenho psicomotor em indivíduos envolvidos em acidentes de trânsito/direção perigosa. Outro campo da toxicologia que recorrentemente entra em pauta é a dopagem no esporte, a qual se refere ao uso de substâncias ou métodos que proporcionam crescimento muscular ou melhoram desempenho físico e mental e resistência física do atleta. Essas substâncias são proibidas por federações esportivas para tornar as competições mais igualitárias. Os exames de dopagem são realizados com amostra de urina e a veri�cação da presença da substância e/ou metabólito. São 4 os tipos de substâncias ilícitas mais usados: estimulantes do SN; diuréticos, para a eliminação pela urina outras substâncias ilícitas; calmantes e substâncias que aumentam o fôlego e a resistência física. A Agência Mundial Antidoping atualiza periodicamente a lista de substâncias e métodos potencialmente danosos ao atleta. Videoaula: Dos principais campos da toxicologia Este conteúdo é um vídeo! Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Em 2020 veio à tona um fato bastante grave e alarmante, porém pouco surpreendente. As empresas não noti�cam casos de intoxicação por pesticidas entre seus trabalhadores rurais registrados, com contrato CLT. O levantamento foi feito por meio do Sistema de Informação de Agravos de Noti�cação (Sinan) do Ministério da Saúde, de 2010 a 2019, obtido via lei de acesso à informação pela Agência Pública. Vamos conhecer mais sobre esses números? Estudo de caso A toxicologia forense pode ser empregada como instrumento para a averiguação de vários tipos de crime suspeitos que envolvem o uso de substâncias químicas. Na década de 1980, os pais de uma criança foram acusados pela morte do �lho, Marcus, de 2 anos, por overdose de cocaína. A criança tinha quadros de convulsões constantes. Certa vez que Marcus passou mal e foi levado ao pronto-socorro, os médicos suspeitaram de um pó branco em sua boca. Marcus teve três paradas cardiorrespiratórias e depois veio a óbito. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Por meio de um teste rápido, a polícia constatou que o pó encontrado na boca e na mamadeira de Marcus tinha traços de cocaína. Por conta disso, os pais receberam voz de prisão. Você é o perito o�cial nesse caso, caracterize as seguintes questões. Nesse caso, qual é a prova? Qual o corpo de delito? O pó branco na boca da vítima é considerado indício ou vestígio? Qual é o seu campo de atuação? Resolução do estudo de caso Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Você, como perito, atua no campo de toxicologia forense post-mortem, sua prova e o corpo de delito são a própria vítima, a criança. O pó na boca da criança trata-se de um indício e o vestígio nesse caso é a dosagem da substância no sangue, que se trata do medicamento usado para epilepsia. Saiba mais Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Existe um sistema o Sistema de Informação de Agravos de Noti�cação – (Sinan) o qual é sustentado, sobretudo, pela noti�cação e investigação de casos de doenças e agravos de noti�cação compulsória. O sistema também poderá ser utilizado para outros problemas de saúde, como casos de varicela (MG) ou di�lobotríase (SP). Sua utilização contribui para a identi�cação da realidade epidemiológica de determinada área geográ�ca, logo para a democratização da informação. É uma ferramenta auxiliar na gestão e planejamento da saúde, decidir prioridades de intervenção, e mensurar seus impactos. https://portalsinan.saude.gov.br. Acesso em: 15 nov. 2021 Resumo visual https://portalsinan.saude.gov.br/ Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Existem diferentes tipos de envenenamento: (1) Envenenamento agudo: causado por uma dose única excessiva, ou várias doses menores de um veneno tomadas em um curto intervalo de tempo. (2) O envenenamento crônico: causado por menores doses ao longo de um período de tempo, resultando em agravamento. Os venenos que são comumente usados para �ns de envenenamento crônico são arsênio, antimônio, fósforo e ópio. (3) Subagudo: envenenamento mostra características agudas e crônicas envenenamento. (4) O envenenamento: fulminante é produzido por uma dose massiva. Esta morte ocorre rapidamente, às vezes sem sintomas anteriores. Vamos ver agora os venenos domésticos mais comuns. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Fonte: adaptado de Reddy e Murty (2014). Referências Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica CAPEZ, F. Curso de processo penal. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2012. COSTA FILHO, P. E. G. Medicina legal e criminalística. Brasília: Vestcon, 2012. MANZANO, L. F. M. Provapericial: admissibilidade e assunção da prova cientí�ca e técnica no processo brasileiro. São Paulo: Atlas, 2011. ROCHA, R. O. Toxicologia forense e-book. 1 ed. Rio de Janeiro: Edição Independente, 2021. ISBN: 978-65-00-15610-2. REDDY, K.S. N. e MURTY. O.P. The Essentials of Forensic Medicine and Toxicology. 3 ed. 2014. VARGAS, J. P. S.; KRIEGER, J. R. A Perícia criminal em face da legislação. Revista Eletrônica de Iniciação Cientí�ca. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 5, n.1, p. 382-396, 1º Trimestre de 2014. Disponível em: www.univali.br/ricc. Acesso em: 15 nov. 2021. ISSN 2236- 5044. Aula 4 Legislação em vigor Introdução http://www.univali.br/ricc Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Em qualquer pro�ssão se faz necessário conhecer os documentos legais que a norteiam. Com a perícia criminal e toxicológica não seria diferente, ainda mais por se tratar de uma área auxiliar da justiça. Nessa aula iniciaremos com o Código Penal e com o Código do Processo Penal, fazendo-se saber de suas diferenças. Também serão vistas em detalhe as atribuições de um perito criminal, seja ele o�cial ou não. E, por último, mas não menos importante, abrangeremos as leis que citam os crimes contra a saúde pública, como: envenenamento de água, adulteração de produtos alimentares e terapêuticos, e também estudaremos a lei que regulamenta o uso de substâncias e drogas com efeitos psicotrópicos. Código de Processo Penal Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Talvez você já tenha ouvido falar em Código Penal e Código do Processo Penal e se perguntou qual seria a diferença entre eles. Então, nesse primeiro bloco da aula, vamos entender suas particularidades e sua aplicabilidade na atuação do perito criminal e toxicológico. O Código Penal é o conjunto de leis (normas jurídicas) que regulam o poder punitivo do Estado, de�nindo crimes, penas ou medidas de segurança que serão aplicadas aos indivíduos que cometerem algum crime. Sua função é a proteção de bens jurídico-penais, que, segundo a Constituição Federal, são: a vida, a liberdade, o patrimônio, o meio ambiente, a proteção pública. O Código Penal em vigor é o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Já o Código do Processo Penal dita os procedimentos legais para as aplicações de penas aos crimes que são relatados no Código Penal. “Não existe delito sem pena, nem pena sem delito e processo, nem processo penal senão para determinar o delito e impor uma pena” (LOPES JR., 2019). O Código de Processo Penal está estabelecido pelo Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 e suas atualizações. No Capítulo I do Código Penal, o qual trata das penas dadas aos crimes contra a vida, deixa claro que o uso de veneno quali�ca um homicídio, bem como fogo, explosivo, as�xia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, além de motivos torpes ou fúteis. Para entendermos melhor, vamos citar alguns tipos de crimes, conforme o Código Penal brasileiro: Crime simples: matar alguém (Art. 121) sem o uso de substâncias venenosas, armas de fogo ou uso de tortura. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Homicídio quali�cado: quando há uma circunstância a mais, um elemento que agrave o crime original (Art. 121). Por exemplo: o uso de substância tóxica que leve o indivíduo à morte. Homicídio doloso: quando o indivíduo praticante do crime deseja o resultado ou assumiu o risco de fazê-lo (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984). Por exemplo: o uso de substância tóxica com o propósito de tirar a vida da vítima. Homicídio culposo: quando o indivíduo praticante do crime o causou por resultado de sua imprudência, negligência ou imperícia (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984). Imprudência: o agente executa uma ação precipitada e sem cautela, diversa da esperada. Por exemplo: o farmacêutico entrega o medicamento errado ao cliente e esse erro causa danos ao paciente; o primeiro tem a obrigação de conferir a receita a �m de entregar o produto correto. Negligência: o agente deixa de tomar uma ação, seja por descuido, indiferença ou desatenção, que era esperada para a situação. Por exemplo: o farmacêutico permite que o atendente pegue e entregue os medicamentos de controle especial (Portaria 344/98) sem sua conferência. Imperícia: quando o agente é inapto, ignorante ou com falta de quali�cação técnica para executar uma tarefa. No mesmo caso citado no item anterior, a imperícia refere-se ao atendente, que por falta de treinamento ou negligência do farmacêutico, fez a dispensação do medicamento controlado sem o aval do responsável técnico. O exame de corpo de delito, da cadeia de custódia e das perícias em geral, do Código do Processo Penal (Capítulo II) foi atualizado pela Lei n.º 13964/2019. No seu artigo 158-A, conceitua a cadeia de custódia como o conjunto de todos os procedimentos utilizados para sustentação e documentação da história cronológica do vestígio coletado, desde sua posse, manuseio até seu descarte. A cadeia de custódia tem seu início na preservação do local do crime, bem como com a detecção da existência de vestígios. Outro ponto que merece destaque no Código do Processo Penal é o Artigo 34-A o Banco Nacional de Per�s Balísticos, no entanto, apenas em 2021 ocorreram edições desse artigo e de decreto que o institui (Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003), a �m de contribuir com os mecanismos investigativos e aumentar a e�ciência na apuração das infrações penais (BRASIL, 2021). O Código do Processo Penal também cita o Banco Nacional Multibiométrico e de Impressões Digitais (artigo 7), sendo sua criação autorizada (Lei nº 12.037, de 1º de outubro de 2009). Videoaula: Código de Processo Penal Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Nesse vídeo será abortado o que descreve o artigo 158-B do Código de Processo Penal (Decreto- Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941), “Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a con�ssão do acusado” ou seja, todas as etapas da cadeia de custódia. Dos peritos O Código de Processo Penal determinava que 2 (dois) peritos criminais realizassem a perícia, no entanto, em 09/06/2008, a Lei nº 11.690 alterou o artigo 159, não sendo, assim, mais exigido dois agentes. Como o artigo 158 exige a atuação permanente do perito, essa alteração teve o Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica intuito de corrigir a falta de peritos o�ciais capazes de desempenhar todas as funções relacionadas ao cargo, além do aumento exponencial de demanda em todo Brasil. Ademais, o mesmo artigo deixa clara a necessidade do perito, pois uma vez que o crime deixe vestígios, o exame de corpo de delito, direto ou indireto, é obrigatório, não sendo substituível pela con�ssão do acusado, ou seja, há a necessidade de atuação do perito. Um ponto levantado por Tocchetto e Espíndula (2013) é que, na prática, a perícia é realizada por uma equipe de peritos, formada por dois ou mais agentes. Alguns autores discutem as atribuições e particularidades dos peritos criminais. Primeiramente, vejamos o que diz o Código de Processo Penal, ainda em seu artigo 159, “o perito o�cial, com formação superior, é responsável pela realização do exame de corpo de delito e outras perícias”. Para Capez (2012) o perito deve ser um indivíduo estranho às partes, sem empecilhos ou incompatibilidades para atuar no processo, além disso, detentor de um conhecimento técnico- cientí�co especí�co. O mesmo autor, informa a existência e possibilidade de atuação do perito o�cial e não o�cial, e os distingue: a) Perito O�cial: é aquele que presta o compromisso de bem e �elmente servir e exercer a função quando assume o cargo, ou seja, quando, após o regular concurso de provas e títulos, vem a ser nomeado e investido no cargo de perito. Daí a desnecessidade de esseperito prestar compromisso nos processos e investigações em que atua. b) Perito louvado ou não o�cial: Trata-se daquele que não pertence aos quadros funcionais do Estado e que, portanto, uma vez nomeado, deve prestar o aludido compromisso. A nomeação não pode ser recusada pelo perito, salvo motivo justi�cável (CPP, art. 277), pois, sendo auxiliar da justiça, assume ônus processual. Caso não compareça para realizar o exame, poderá ser conduzido coercitivamente (CPP, art. 278). Pode ainda cometer o crime de falsa perícia (CPP, art. 342). A sua nomeação é feita pela autoridade policial na fase de inquérito e pelo juiz, no processo. (CAPEZ, 2012) Tourinho Filho (2011), com base no artigo 159, a�rma: [...] basta um perito o�cial, portador de diploma de curso superior, para proceder aos exames de corpo de delito e às outras perícias. A discussão que havia a respeito perdeu razão de ser, uma vez que a Lei n. 11.690/2008 expressamente exige seja apenas um perito o�cial com diploma de curso superior. Não havendo, “o exame será realizado por duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior, preferencialmente na área especí�ca, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame”. Peritos ino�ciais. O procedimento retrocitado, entretanto, não é absoluto. Admite exceções. Assim, se não houver perito o�cial, o exame será feito por duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior, escolhidas, de preferência, as que tiverem habilitação técnica relacionada à natureza do exame, nos termos do § 1º do art. 159 do CPP. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Videoaula: Dos peritos Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Os peritos criminais têm a função de elaborar o laudo pericial criminal, estabelecendo provas e determinando as causas dos fatos, examinam os locais onde os crimes supostamente ocorreram, buscam evidências, selecionam e coletam indícios materiais e os encaminham para exames especí�cos a cada caso. Agora que você já sabe o que faz um perito, vamos nos aprofundas nos seguintes pontos: Classi�cação Brasileira de Ocupações (CBO) dos peritos criminais. Funções especi�cas. As áreas de formação mais aptas para tornar-se perito. Dos alimentos e medicamentos Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica A perícia toxicológica irá tratar das substâncias tóxicas e dos efeitos causados por elas no organismo. O Código Penal, Capítulo III, cita os crimes contra a saúde pública, em seu artigo 270, declarando como tal a contaminação proposital de água potável (de uso comum ou particular), ou ainda contaminação de produto alimentício ou medicinal com �ns de consumo. A falsi�cação, corrupção, adulteração ou alteração de substâncias e produtos alimentícios está no artigo 272, de produtos para �ns terapêuticos ou medicinais, as quais são enquadradas no artigo 273. Podemos citar alguns exemplos, tais como: grãos de soja coloridos arti�cialmente e vendidos como ervilhas (falsi�cação de produto alimentício), utilização de grãos de milho para a adulteração de café torrado e moído, uma vez que o milho tem um preço abaixo de um décimo do preço do café (OLIVEIRA, MORAES E COELHO, 2021). O uso de processo ou substâncias ilegais, como corantes ou aromatizantes não permitidos por lei encaixa-se no artigo 274. Já o artigo 275 fala sobre a falsa indicação, de substância ausente ou em quantidade menor que a descrita, em alimentos e produtos terapêuticos e medicinais. Muitos produtos milagrosos para o emagrecimento são vendidos pela internet, no entanto, pouco se sabe quais substâncias (e em que quantidades) estão presentes. O artigo 278 deixa clara a culpa de quem trata de qualquer etapa da cadeia logística de quaisquer produtos nocivos à saúde pública, mesmo que estas não se destinem ao uso alimentar ou medicinal. O fornecimento de substância medicinal incompatível com o prescrito na receita médica é exposto no artigo 280. O crime de comercializar, possuir, ou usar entorpecentes ou substância que causem dependência física ou psíquica é relatado no artigo 281, porém maiores detalhes são dados pela Portaria 344/98, que falaremos ainda nesse bloco. Ainda nesse capítulo são tratados os crimes de exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica, no artigo 282, do charlatanismo, artigo 283, e curandeirismo, artigo 284 (BRASIL, 1940). Com certa recorrência, vem à tona notícias de pessoas praticando o exercício ilegal da medicina ou práticas ilegais de curandeirismo. Para a toxicologia forense, o estabelecimento do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), Lei Federal nº 11.343 de 2006, o qual determina de medidas preventivas, de zelo e reinserção social de usuários e dependentes químicos, e estabelece normas para coerção ao trá�co de drogas ilícitas, de�ne os crimes e outras providências. No Título 4, “da repressão à produção não autorizada e ao trá�co ilícito de drogas”, Capítulo 2, "Dos crimes", do artigo 33 ao artigo 38 pondera-se sobre os crimes envolvidos em relação ao porte de substâncias ilícitas, mencionando como crime: “fabricar, adquirir, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar qualquer pessoa, guardar, fornecer, ainda que gratuitamente, �nanciar, colaborar, prescrever ou ministrar”. No artigo 39, da mesma lei, defende-se o crime cometido por conduzir, sob efeito de drogas, embarcação ou aeronave, expondo a vida de outras pessoas ao risco (BRASIL, 2006). Como dito anteriormente, a Portaria 344, de 12 de maio de 1998 é de grande importância para a perícia criminal e toxicológica, visto que lista as substâncias sujeitas ao controle especial, como também as substâncias ilícitas no Brasil, bem como suas atualizações periódicas, que, por meio de RDCs, vão ao encontro do controle de novas substâncias sintéticas psicoativas produzidas e comercializadas mundialmente. Para dar conta dessa demanda bastante dinâmica, a ANVISA e a Polícia Federal têm interface para atualizações periódicas da Portaria 344/98 com o objetivo de Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica conter a comercialização de substâncias psicoativas. Quando a Polícia Federal, por meio da toxicologia analítica, identi�ca uma nova droga no mercado brasileiro, emite um relatório para a ANVISA que adiciona a nova substância na listagem da Portaria. As listas "A1" e "A2" relacionam as substâncias entorpecentes, "A3", "B1" e "B2" psicotrópicas, "C3" imunossupressores, "D1" precursores, "E" plantas que podem originar substâncias entorpecentes e/ou psicotrópicas e lista "F" substâncias proscritas em território nacional (BRASIL, 1998). Os exames toxicológicos também são importantes na �scalização do uso de substâncias psicoativas em condutores de veículos, o Código de Trânsito Brasileiro obriga condutores pro�ssionais a realizem exames toxicológicos, do mesmo modo, os motoristas são proibidos de conduzir veículo sob efeito de álcool e outras drogas (BRASIL,1997). Videoaula: Dos alimentos e medicamentos Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Para que seja possível o entendimento das normas, faz-se necessário elucidar alguns conceitos abordados por tais normas. Nesse vídeo iremos explanar os conceitos abordados na Portaria 344 de 1998, tais como: entorpecente (listas "A1" e "A2"), psicotrópico (listas "A3", "B1" e "B2"), precursores (lista “D1”), substância proscrita (lista "F") entre outras de maior relevância para o entendimento da aula. Estudo de caso Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Entre 2012 e 2016 ocorreu um substancial aumento no cultivo da planta cannabis em 151 países, correspondendo a 192,2 milhões de usuários de maconha em 164 países. Foram apreendidas mais de 4 mil toneladas da ervae mais de 1,5 toneladas da resina em 2016. A apreensão da planta in natura nas Américas correspondeu a 64% do total mundial, sendo a maioria apreendida nos EUA, seguido por México, Paraguai e Brasil (CASTRO, 2016). Nesse contexto também ocorreu um aumento do aparecimento de novas drogas sintéticas mundo afora, incluindo canabinoides sintéticos, os quais compreendem diferentes produtos com estruturas similares à principal substância psicopatológica da cannabis natural, o tetrahidrocannabinol (THC) (CASTRO, 2016). Desse modo, muitos usuários optaram por utilizar as versões sintéticas, pelo fato de as novas substâncias ainda não estarem nas listas restritivas brasileiras. Por conta disso, em maio de 2016, foi publicada a Resolução de Diretoria Colegiada RDC n.º 79, que incluiu estrutura química universal do grupo de canabinoides sintéticos, utilizando o sistema genérico somado à listagem nominal de sustâncias (BRASIL, 2016). Você está no ano de 2016, é perito toxicologista especialista em química analítica, o que você faz a partir da nova publicação da RDC n.º 79/2016? Resolução do estudo de caso Este conteúdo é um vídeo! Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Como perito toxicologista, especialista em química analítica, você precisa estar preparado para proceder análises toxicológicas quando casos que suspeitem de intoxicação por canabinoides sintéticos chegarem até o seu laboratório. Como referenciado nessa aula, o Brasil precisa estar atualizado para o controle de novas substâncias sintéticas psicoativas produzidas e comercializadas mundialmente. Esse controle é relativo à substância isolada, presente em adulterações de outras drogas ou ainda nos �uidos biológicos. Para estar atualizado, você irá buscar nas bases técnico-cienti�cas sobre metodologias de extração, puri�cação e análise das substâncias correlacionadas a estruturas genéricas do grupo de canabinoides sintéticos. Além disso, vale buscar fornecedores dessas substâncias para ter o material de referência para execução das análises toxicológicas. Saiba mais Para saber mais sobre as legislações que tratamos nessa aula, ou outras do seu interesse, acesse o link de busca do Planalto. A partir dele você terá acesso a todos as leis, decretos, Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica portarias que regem o nosso país, bem como suas atualizações. Você pode buscar pelo número, ano, tipo (decreto, lei, portaria) ou ainda por termos. BRASIL. Portal de legislação. Disponível em: http://www4.planalto.gov.br/legislacao/. Acesso em: 26 out. 2021. Também é possível �car a par das atualizações da Portaria 344/98, por meio do link: BRASIL. Lista de substâncias sujeitas a controle especial no Brasil. Atualizações. 2020. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/medicamentos/controlados/lista- substancias. Acesso em: 17 nov. 2021. Resumo visual É de suma importância sabermos qual a hierarquia dos documentos legais (Figura 1). A nossa Constituição Federal (CF) tem abrangência em todo o território nacional e é a de maior poder sobre todas as demais. Já as Instruções Normativas são úteis para nortear a ação de certas atividades do poder público, têm a função de detalhar o conteúdo de uma lei, no entanto, jamais alterarão ou derrubarão ou revogarão uma Portaria ou uma Lei. Uma portaria pode alterar/revogar uma Instrução Normativa, mas não uma Lei; Já uma lei �ca hierarquicamente abaixo apenas da Constituição Federal, ou seja, a lei é incapaz de alterar/revogar a CF, mas poderá alterar/revogar Decretos, Portarias, Instruções Normativas. http://www4.planalto.gov.br/legislacao/ https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/medicamentos/controlados/lista-substancias https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/medicamentos/controlados/lista-substancias Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Figura 1 | Abrangências dos documentos legais no Brasil. Fonte: elaborada pela autora. Referências Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica BRASIL. Código Penal. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. 1940. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-2848-7-dezembro-1940- 412868-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 21 out. 2021. BRASIL. Código de Processo Penal. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Presidência da República Casa Civil Subche�a para Assuntos Jurídicos,1941. BRASIL. Código Brasileiro de Trânsito. Brasil. Presidência da República Casa Civil Subche�a para assuntos jurídicos, 1997. BRASIL. Portaria nº 344, de 12 de maio de 1998. Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saúde, 1998. BRASIL, Lista de substâncias sujeitas a controle especial no Brasil. Atualizações. 2020. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/medicamentos/controlados/lista- substancias. Acesso em: 17 nov. 2021. BRASIL. Lei nº 12.037, de 1º de outubro de 2009. Presidência da República. Casa Civil. Subche�a para Assuntos Jurídicos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007- 2010/2009/Lei/L12037.htm#art7c. Acesso em: 21 out. 2021. BRASIL. Lei nº 11343, de 23 de agosto de 2006. Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad, 2006. BRASIL. Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019. Presidência da República. Secretaria-Geral. Subche�a para Assuntos Jurídicos. Disponível em: planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019- 2022/2019/Lei/L13964.htm#art3. Acesso em: 21 out. 2021. BRASIL. Presidência da República. Planalto. Segurança Pública. Decreto institui o Banco Nacional de Per�s Balísticos. Disponível em: https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o- planalto/noticias/2021/06/decreto-institui-o-banco-nacional-de-per�s-balisticos-o-sistema- nacional-de-analise-balistica-e-o-comite-gestor-do-sistema-nacional-de-analise- balistica#:~:text=O%20Presidente%20da%20Rep%C3%BAblica%2C%20Jair,de%2022%20de%20de zembro%20de. Acesso em: 24 out. 2021. BRASIL. Portal de legislação. Disponível em: http://www4.planalto.gov.br/legislacao/. Acesso em: 26 out. 2021. CASTRO, J. S. Inteligência forense aplicada a lei de drogas e ao estudo de novas substâncias psicoativas. Dissertação. Mestrado. USP. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59138/tde-07082019- 142838/publico/jadesimoescastro_resumida.pdf. 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Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 5, n.1, p. 382- 396, Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica 1º Trimestre de 2014. Disponível em: https://univali.br/graduacao/direito- itajai/publicacoes/revista-de-iniciacao-cienti�ca- ricc/edicoes/Lists/Artigos/Attachments/998/Arquivo%2020.pdf. Acesso em: 21 out. 2021 , Unidade 2 Fundamentos da toxicologia, fases da intoxicação, toxicologia aplicada à medicina legal e dopagem Aula 1 Fundamentos da toxicologia: fases da intoxicação I e II Introdução A Toxicologia é a ciência que investiga a ocorrência, a natureza, os mecanismos e os fatores de risco dos efeitos nocivo de agentes químicos. Os efeitos tóxicos variam desde os mais leves até os mais graves. Nestesentindo, estudar as fases de intoxicação é de extrema importância para Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica os pro�ssionais ligados à área das ciências forenses. A intoxicação é dividida em quatro fases: exposição, toxicocinética, toxicodinâmica e fase clínica. Nesta aula, será estudada a primeira e a segunda fase. O estudo sobre esse tema disponibiliza informações extremamente importantes para o planejamento e interpretação das análises toxicológicas forenses, uma vez que a compreensão da via de administração, distribuição, biotransformação e eliminação do agente tóxico permitem a escolha da matriz biológica, a metodologia analítica e a interpretação dos elementos gerados. Portanto, aproveite nossos materiais e aprofunde seu conhecimento sobre a temática. Fases da Intoxicação -1ª Exposição Você sabia que intoxicação é um problema de importância a nível mundial? Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2012, foi estimado que cerca de 193.460 pessoas morreram em todo mundo devido a intoxicações não intencionais. Em torno de 1.000.000 pessoas morrem a cada ano devido ao suicídio, sendo signi�cante o número relacionado às substâncias químicas e aos pesticidas, os quais foram responsáveis por 370.000 óbitos. Assim, a toxicologia, além da ciência do veneno, é, cada vez mais, a ciência da segurança e do risco da substância química. Trata-se do conhecimento da probabilidade de um agente tóxico causar um efeito adverso no ser humano, no ambiente e nas situações investigadas pelos peritos toxicologistas, onde, de acordo com alguns critérios, podem ser diferenciadas em criminais, acidentais ou voluntárias (SCHWARTZMAN, 2001). Mas o que é um agente tóxico? Entende-se, por agente tóxico ou toxicante, a entidade química capaz de causar dano a um sistema biológico, alterando seriamente uma função ou levando-o à morte, sob certas condições Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica de exposição (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008). Os efeitos tóxicos provocados em um sistema biológico por uma substância química ou pelo seu processo de biotransformação, apenas vão ocorrer se o tempo e a concentração em que o sistema biológico �cou exposto ao agente forem su�cientes. Outro fator importante é a necessidade de o agente atingir o órgão-alvo e, também, a susceptibilidade do indivíduo. A toxicidade é dependente das características físicas e químicas dos agentes, das condições de exposição, do processo de metabolização do agente pelo sistema biológico, e da suscetibilidade global do sistema biológico ou do indivíduo (KLAASSEN; WATKINS, 2012). Sendo assim, é importante estudar as situações de exposição de um agente tóxico a um indivíduo, a frequência, a duração da exposição e as principais vias pelas quais os agentes tóxicos ganham acesso ao organismo, que são a gastrintestinal, a pulmonar, a cutânea e outras vias parenterais, pois a forma de administração possui grande relevância nos efeitos gerados. O material no qual o produto químico está dissolvido e outros fatores de formulação também podem alterar signi�cativamente a absorção. Assim, a exposição pode ser dividida em quatro categorias: aguda, subaguda, subcrônica e crônica (OGA, 2008). Mas, então, qual é a aplicabilidade do estudo da fase de exposição a um agente tóxico para na toxicologia forense? A toxicologia forense utiliza as análises toxicológicas relacionando-as com o procedimento legal, sendo uma importante ferramenta na materialização do crime. Compreender as formas de exposição é preciso para a interpretação dos achados, pois coloca a toxicologia forense como ciência multidisciplinar, necessária para a interpretação do achado e para a perícia criminal (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014) Videoaula: Fundamentos da toxicologia: fases da intoxicação I e II Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Nesta aula, abordaremos o tema relacionado às fases da intoxicação e aprofundaremos nosso conhecimento sobre o agente tóxico e as suas propriedades. Também vamos discutir sobre a importância da primeira fase da intoxicação e quais são os principais fatores que in�uenciam na capacidade de um agente causar toxicidade. Fases da Intoxicação- 2ª Toxicocinética (Etapas 1 e 2) Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica A segunda fase da intoxicação é de�nida como a toxicocinética, que representa o movimento do toxicante dentro do organismo. Todos os processos envolvem reações mútuas entre o toxicante e o organismo. A toxicocinética está relacionada com os processos de absorção, distribuição, biotransformação e eliminação do agente, em função do tempo. Nesta aula, abordaremos duas etapas da toxicocinética: a absorção e a distribuição. A absorção é o processo pelo qual os toxicantes atravessam as membranas corporais e ingressam na corrente sanguínea (CONE, 1998; KLAASSEN; WATKINS, 2012; MCKEEMAN, 1996; OGA CAMARGO; BATISTUZZO, 2008), ou seja, é a transição do toxicante de um meio externo para um meio interno. Os principais locais de absorção são os pulmões, a pele e o sistema digestório. A administração enteral inclui todas as rotas que pertencem ao canal alimentar (oral, sublingual e retal), enquanto a administração parenteral envolve todas as outras rotas (intraperitoneal, intramuscular, subcutânea, intravenosa, etc.) (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008). A disponibilidade do fármaco e seus metabólitos no local de ação têm grande in�uência em diversos fatores, como grau de ionização, extensão de ligação a proteínas plasmáticas, e capacidade de atravessar membranas para alcançar diferentes compartimentos do organismo (CONE, 1998). O agente tóxico é capaz de atravessar a membrana por: transporte especializado, no qual a célula fornece energia para transportar os toxicantes através da membrana; ou transporte passivo, no qual a célula não gasta energia (KLAASSEN; WATKINS, 2012). Já a distribuição é a etapa em que o agente tóxico entra na circulação sanguínea, estende-se pelos tecidos e localiza-se em certos órgãos, dependendo da a�nidade do tóxico por Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica determinados tecidos. Logo, a distribuição necessita de vários fatores. Entre eles, podemos citar o �uxo sanguíneo e linfático nos diferentes órgãos, ligação a proteínas plasmáticas, coe�ciente de partição óleo/água de cada substância e as diferenças regionais de pH. O balanceamento de distribuição é alcançado mais facilmente nos tecidos que recebem grande circulação dos �uídos e mais lentamente nos órgãos pouco irrigados. Porém, não necessariamente (OGA, CAMARGO, BATISTUZZO, 2008). De modo geral, os agentes tóxicos atravessam as membranas de diferentes células, como a �na camada de células dos pulmões ou do sistema digestório, epitélio estrati�cado da pele, o endotélio capilar e células do órgão-alvo ou tecido. As proteínas estão entrepostas na dupla camada, e algumas ultrapassam essas camadas, permitindo a formação de poros aquosos. Para que o efeito de um agente tóxico termine, é necessário que o toxicante passe para as outras etapas da toxicocinética. Porém, pode ocorrer redistribuição do agente tóxico do seu sítio de ação para outros órgãos ou tecidos. No entrando, ele ainda estará presente nestes novos locais de forma ativa e ele só poderá ser eliminado de forma de�nitiva passando pelo processo de biotransformação e excreção. Então, qual é a aplicabilidade do estudo da toxicocinética (etapas de absorção e distribuição) na toxicologia forense? O estudo da toxicocinética disponibiliza informações extremamente importantes para o planejamento das análises e identi�cação dos caminhos percorridos pelo agente tóxico e prevê como o corpo vai agir frente ao toxicante. Videoaula: Fases da Intoxicação- 2ª Toxicocinética (Etapas 1 e 2) Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar osvídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Nesta aula, vamos abordar o tema sobre a segunda fase da intoxicação, que é a toxicocinética. A toxicocinética atua em quatro etapas: a absorção, distribuição, biotransformação e excreção. Por ser um assunto muito amplo, nesta aula vamos aprofundar nossos estudos sobre as duas primeiras etapas e os principais pontos relacionados a estas fases de interesse na perícia criminal e toxicológica. Fases da Intoxicação- 2ª Toxicocinética (Etapas 3 e 4) Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Agora que você já conhece um pouco da toxicocinética e das suas primeiras etapas, vamos abordar as outras duas etapas envolvidas nos processos da toxicocinética, que é a biotransformação e a excreção. Você sabe qual a importância da biotransformação/ metabolização? Ela desempenha um importante papel na eliminação dos agentes tóxicos e impede que estes compostos permaneçam por tempo inde�nido no nosso organismo (LOW, 1998). Para diminuir a probabilidade de um agente desencadear uma resposta tóxica, o sistema biológico possui mecanismos de defesa que procuram reduzir essa quantidade que chega de forma ativa ao tecido-alvo. Para isso, é imprescindível reduzir a difusibilidade do agente tóxico e elevar a velocidade de sua excreção. Então, a biotransformação pode ser descrita como um conjunto de modi�cações químicas ou estruturais que os compostos sofrem no sistema biológico, comumente ocasionadas por processos enzimáticos, com a �nalidade de reduzir ou cessar a toxicidade e facilitar a excreção (RUPPENTHAL, 2013). Os processos químicos envolvidos na biotransformação são enzimaticamente catalisados. A quantidade de toxicante que atinge seu alvo é dependente da quantidade incorporada pelos outros tecidos e da quantidade do toxicante metabolizada antes que esse atinja seu sítio de ação (THOMAS, 2002). As reações metabólicas do processamento de agente tóxicos são classi�cadas como: reações de fase I (via assintética) e as reações da fase II (via sintética). Normalmente, essas reações têm por objetivo a conversão da molécula do tóxico em Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica metabólitos mais hidrossolúveis, que são mais facilmente excretados em comparação à molécula original (SOLOMONS, 2005). Já a excreção é a remoção do agente tóxico do sangue e seu retorno para o ambiente externo. A velocidade e a rota de excreção dependem das propriedades físico-químicas dos agentes tóxicos. Os principais órgãos de excreção são os rins e o fígado. Eles retiram, de forma e�ciente, substâncias altamente hidrofílicas, como bases e ácidos. Os compostos tóxicos e seus produtos de biotransformação também podem ser eliminados pelas glândulas mamárias, leite, excreção biliar, suor e intestino, mas de forma menos e�ciente. A excreção é um mecanismo físico, enquanto a biotransformação é um mecanismo químico para retirada dos agentes tóxicos do organismo (KLAASSEN; WATKINS, 2012). Nos estudos da toxicologia forense, é essencial entender os processos de biotransformação e excreção. Só assim é possível identi�car as drogas e os compostos que são formados durante a biotransformação. Para que você compreenda isso melhor, há, como exemplo, um estudo realizado por Campestrini (2015). A autora avaliou quais eram os principais metabólitos da cocaína encontrados em urina de usuários de droga. Os analitos mais abundantes foram substâncias obtidas através do processo de biotransformação, a benzoilecgonina e o éster metílico da ecgonina. Em relação à benzoilecgonina, as concentrações de cocaína encontradas foram em média trinta vezes mais baixas. Isso mostra que o toxicologista deve entender sobre a toxicocinética dos agentes tóxicos e como é realizado o processo de absorção, distribuição, biotransformação e excreção. Através desse conhecimento, será possível determinar quais compostos buscar nas matrizes biológicas Videoaula: Fases da Intoxicação- 2ª Toxicocinética (Etapas 3 e 4) Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. As duas últimas etapas presentes na toxicocinética são a biotransformação e a excreção. Nesta aula, abordaremos a biotransformação, qual a sua função e as principais reações metabólicas envolvidas no processamento dos agentes tóxicos. Também estudaremos fatores inerentes aos indivíduos que vão in�uenciar no processo de intoxicação. E, por último, trataremos do assunto relacionado ao processo pelo qual a substância é eliminada do organismo, que é a excreção. Estudo de caso Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Na noite no dia 20 de outubro de 2021, por volta das 23:00, o Samu da cidade de Campinas-SP foi acionado por um homem que comunicou que seu amigo tinha administrado alguma substância e estava passando mal. Diante disso, os socorristas foram até o local, procederam com o atendimento e levaram o indivíduo até o hospital. Ele apresentava sinais de alterações psíquica, como euforia, perda da noção de realidade, agitação psicomotora, estado de ansiedade, taquicardia e vômito. No hospital, um dos funcionários também observou que no bolso do indivíduo havia alguns tubos pequenos com um pó branco. De acordo com os sinais, sintomas e o pó branco encontrado, sugere-se que a substância responsável pela intoxicação seja a cocaína. De acordo com as informações obtidas, responda as seguintes questões: 1. Já que primeira fase da intoxicação se trata da exposição, quais são os fatores que deveriam ser avaliados nas situações de exposição a esse agente tóxico? 2. De acordo com as informações contidas no texto, sugere-se que o agente tóxico seja a cocaína. Qual a matriz biológica que deveria ser analisada? E quais compostos deveriam ser buscados? Resolução do estudo de caso Este conteúdo é um vídeo! Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Devido aos sinais apresentados pelo paciente, os tubos encontrados e as outras informações contidas no texto, a hipótese é que seja intoxicação por cocaína. A investigação da intoxicação envolve pelo menos três etapas: Obtenção da história do caso com a maior quantidade possível de informações. Realização das análises toxicológicas nas amostras coletadas. Interpretação dos achados analíticos obtidos. Em relação à primeira fase da intoxicação (exposição), seria importante avaliar a frequência, a duração da exposição e as principais vias que a cocaína poderia ter sido administrada. O material no qual a cocaína estava dissolvida e outros fatores de formulação também poderiam alterar signi�cativamente o processo da toxicocinética. Dessa forma, a avaliação de todos esses fatores traria informações valiosas para determinar a causa da intoxicação. Em relação à matriz biológica e os compostos a serem analisados, a cocaína e os seus metabolitos são eliminados por via urinária, sendo possível recuperar 85 a 90% da droga numa amostra de urina de 24 horas. Assim, cerca de 1 a 5% da droga é eliminada na forma de composto inalterado; e entre 75 e 90%, na forma de benzoilecgonina e éster metílico da ecgonina. Saiba mais Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica O Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) tem como principal atribuição coordenar a coleta, a compilação, a análise e a divulgação dos casos de intoxicação e envenenamento noti�cados no país. Os registros são realizados pela Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Renaciat), composta por diversas unidades presentes em todas as regiões do Brasil. Os resultados do trabalho são divulgados anualmente. Para saber mais, acesse o site: SINITOX - Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas. Fundação Oswaldo Cruz, 2009. Disponível em: https://sinitox.icict.�ocruz.br/materiais-de-divulgacao.Acesso em: 30 nov. 2021. O estudo da toxicocinética ajuda a determinar vários aspectos relacionados com as drogas de abuso, tema muito importante na Toxicologia Forense. A Revista Médica de Minas Gerais publicou um artigo sobre a cocaína, as características da molécula, a lipossolubilidade, e como isto in�uencia na sua distribuição para os tecidos, como a barreira hematoencefálica e placentária. Para saber mais sobre esta droga e sua toxicocinética, acesse o site: CASTRO, R. C. et al. Crack: pharmacokinetics, pharmacodynamics, and clinical and toxic effects. Revista Médica de Minas Gerais, v. 25, n. 2, p. 242-248. Disponível em: http://www.rmmg.org/artigo/detalhes/1782. Acesso em: 30 nov. 2021. Resumo visual https://sinitox.icict.fiocruz.br/materiais-de-divulgacao http://www.rmmg.org/artigo/detalhes/1782 Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Figura | Síntese dos conteúdos trabalhados em aula. Fonte: elaborada pela autora. Referências Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica CAMPESTRINI, I. Determinação de cocaína e metabólitos em amostras de urina de usuários da droga e em amostras ambientais. 2015. Tese (doutorado) - Instituo de Química da UNICAMP, Campinas, 2015. CASTRO, R. C. et al. Crack: pharmacokinetics, pharmacodynamics, and clinical and toxic effects. Revista Médica de Minas Gerais, v. 25, n. 2, p. 242-248. Disponível em: http://www.rmmg.org/artigo/detalhes/1782. Acesso em: 30 nov. 2021. CONE, E. J. Recent discoveries in pharmacokinetics of drug of abuse. Toxicology Letter, v. 102, n. 103, p. 97-101, 1998. SINITOX - Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas. Fundação Oswaldo Cruz, 2009. Disponível em: https://sinitox.icict.�ocruz.br/materiais-de-divulgacao. Acesso em: 30 nov. 2021. KLAASSEN, C.; WATKINS B. J. Fundamentos em Toxicologia de Casarett e Doull. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. LEITE, E. M. A.; AMORIM, L. A. C. 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Rede e-Tec Brasil, 2013. SCHWARTZMAN S. Prefacio. In: KOTAKA E. T.; ZAMBRONE F. A. D. Contribuições para a construção de diretrizes de avaliação do risco toxicológico de agrotóxicos. São Paulo: ILSI, 2001. SOLOMONS, T. W.; GRAHAM FRYHLE, CRAIG B. Química orgânica - volume. 2; 8.ed. Rio de Janeiro: Ltc-Livros técnicos e Cient´�cos, 2005. THOMAS, G. Química Medicinal - Uma Introdução. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. WHO. International Programme on Chemical Safety. Disponível em: Acesso em: 23 out. 2021 Aula 2 Fundamentos da toxicologia: fases da intoxicação III e IV Introdução Neste bloco, vamos estudar sobre as últimas fases da intoxicação, que são a toxicodinâmica e a fase clínica. Relacionado a este aspecto, a toxicologia forense é uma ciência que avalia os diversos efeitos associados com a exposição aos toxicantes, e é exatamente a isso que essas fases dizem respeito. A toxicodinâmica é o estudo dos mecanismos de ação dos agentes tóxicos nos organismos, e na fase clínica há evidências de sinais e sintomas, determinando os efeitos danosos provocados pela interação entre o composto químico e o sistema biológico. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Tal estudo, no âmbito forense, ajudará você a compreender, identi�car e quanti�car substâncias potencialmente danosas aos organismos e aplicar essas habilidades em questões judiciais, considerando a necessidade de reconhecimento, de identi�cação e de quanti�cação do risco relativo à exposição do organismo a agentes tóxicos (RANGEL, 2011; RUPPENTHAL, 2013; OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008). Logo, aproveite esta leitura e aprofunde seu conhecimento sobre o tema. Fases da intoxicação - 3ª fase - toxicodinâmica I Você sabia que o uso de drogas é uma prática humana universal e milenar? Nas sociedades, as drogas eram muito utilizadas para �ns culturais, medicinais e religiosos. Porém, a partir do século XX, o abuso de substâncias se tornou uma preocupação em todo o mundo, porque o uso compulsivo provoca prejuízos à saúde dos indivíduos e à sociedade, em relação ao seu uso e comércio ilegal, o trá�co. Muitas substâncias são distribuídas no mercado com muita facilidade de obtenção, contribuindo, dessa forma, para o início do consumo (MARANGONI; OLIVEIRA, 2012). Além das drogas, outros compostos podem causar toxicidade, como as substâncias presentes no ar, nos alimentos, as toxinas animais e os medicamentos. Assim, a compreensão da toxicodinâmica é fator fundamental para a perícia criminal e toxicológica. A toxicodinâmica Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica estuda os mecanismos de ação tóxica desenvolvida por compostos químicos sobre o organismo, ou seja, sua toxicidade. Essa fase descreve a interação dinâmica entre um agente tóxico e as moléculas-alvo, e os efeitos que esses agentes causam sobre o sistema biológico (IUPAC, 2001; OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008). Pelo alto número de compostos químicos com potencial tóxico, os mecanismos de ação são bem diversi�cados. Não existe um composto químico 100% seguro ou totalmente tóxico. A estimativa do risco exige a compreensão dos mecanismos de processamento dos efeitos tóxicos que fundamentam as classi�cações. Até a água, se ingerida em grandes quantidades, pode causar efeitos deletérios ao organismo (ROZENFELD, 1998). Neste sentido, Paracelsus (1493-1541), revolucionou a história da medicina, sendo considerado o Pai da Toxicologia. Sua máxima marcante e de grande impacto é: “a dose correta é o que diferencia o veneno de um remédio” (SMOLAK; LEVINE, 2001). Assim, por mais que uma substância seja aparentemente inofensiva, se utilizada de forma indiscriminada, tem a capacidade de se tornar letal (GOES, 1998). Vamos entender melhor como os agentes tóxicos interagem com as moléculas-alvo, como exercem seus efeitos tóxicos a nível molecular, e as consequências biológicas dessa interação? Depois desta aula, você começará entender melhor o mecanismo molecular e bioquímico de agentes tóxicos, bem como o local de sua ação. Assim, você estará capacitado a avaliar como os efeitos tóxicos são gerados e a aplicar medidas de identi�cação, prevenção e terapias de intoxicação. Nós abordaremos os mecanismos gerais mais conhecidos. Esta fase será muito importante para que você, como pro�ssional da área de toxicologia, entenda como funciona o agente tóxico em contato com o organismo. Videoaula: Fases da intoxicação - 3ª fase - toxicodinâmica I Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Nesta aula, serão apresentados os princípios básicos da toxicodinâmica. Assim, você será capaz de compreender o mecanismo molecular e bioquímico de agentes tóxicos, bem como o local de sua ação. Também será abordado o tema sobre a seletividade de ação e os tipos de interações que podem ocorrer entre diferentes toxicantes. Fases da intoxicação - 3ª fase - toxicodinâmica II Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Como abordado na aula anterior, a toxicodinâmica envolve a ação do toxicante no organismo,isto é, a sua interação com os órgãos-alvo. Normalmente, eles afetam o funcionamento do organismo com a inibição reversível ou irreversível de sistemas enzimáticos, interferência no transporte de oxigênio, utilização de compostos essenciais e de intermediários metabólicos e com a síntese de compostos letais (LEITE; AMORIM, 2006). Para que um toxicologista forense seja capaz de atuar de forma e�ciente na sua área, aprofundar o conhecimento sobre os mecanismos pelos quais os agentes tóxicos exercem seus efeitos torna-se essencial. Os principais mecanismos são: interações de toxicante com receptores, interferência nas funções de membranas excitáveis, bloqueio da fosforilação oxidativa, perturbação da homeostase cálcica e complexação com biomoléculas. A manutenção e a estabilidade das membranas excitáveis são essenciais à �siologia normal dos tecidos. Os compostos químicos podem modi�car a função das membranas de diversas formas (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008). Também existem diversos toxicantes com capacidade de desenvolver efeitos adversos através da interferência da oxidação de carboidratos na síntese de Adenosina Trifosfato (ATP). Esse fato pode ocorrer por bloqueio de fornecimento de oxigênio aos tecidos. Você lembra do caso da Boate Kiss, em Santa Maria-RS? Ocorreu um incêndio na boate, provocando a morte de diversas pessoas. Mas o que causou tantos óbitos? Ao contrário de que muitos pensam, as pessoas não morreram queimadas. http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2013/05/morre-no-rs-vitima-de-numero-242-do-incendio-na-boate-kiss.html Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica De acordo com as análises periciais, muitas pessoas morreram por intoxicação. As análises toxicológicas con�rmaram que o tipo de espuma usada no teto e nas paredes da casa noturna como revestimento acústico liberou gases tóxicos durante a queima, como cianeto e monóxido de carbono. O cianeto possui a capacidade de ligar-se a íons de ferro, sendo transportado pela corrente sanguínea através das hemácias. No ambiente intracelular, ele se liga à enzima citocromo C oxidase A, bloqueando, por completo, o ciclo respiratório e, por consequência, a formação de ATP. Dessa forma, ocorre uma acidose láctica profunda, havendo óbito dentro de minutos após a exposição a grandes doses (LAWSON-SMITH et al., 2011; O‘BRIEN et al., 2011; ANSEEUW et al., 2013). Os agentes tóxicos também podem agir complexando com biomoléculas, como enzimas, proteínas, lipídios e ácidos nucleicos (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008). Alguns toxicantes ativam moléculas-alvo proteicas, simulando ligantes endógenos, então a função proteica é comprometida quando a conformação ou a estrutura é alterada pela interação com o toxicante. Outras moléculas, como os lipídeos, são suscetíveis à degradação espontânea após ataque químico (KLAASSEN; WATKINS, 2012). Muitos agentes tóxicos também agem perturbando a homeostase cálcica. O cálcio funciona como segundo mensageiro na regulação de muitas funções intracelulares vitais para as células, entre as quais a ativação e inativação de uma série de enzimas, organelas, micro�lamentos, entre outros (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008). As informações apresentadas nesta aula capacitam o pro�ssional da área da perícia criminal e toxicológica a determinar a causa da intoxicação, através dos mecanismos de toxicidades causadas por agentes químicos. Videoaula: Fases da intoxicação - 3ª fase - toxicodinâmica II Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Os agentes tóxicos podem causar efeitos deletérios ao sistema biológico por diversas maneiras. Nesta aula, abordaremos os principais mecanismo de ação dos toxicantes (interações de toxicante com receptores, interferência nas funções de membranas excitáveis, bloqueio da fosforilação oxidativa, perturbação da homeostase cálcica e complexação com biomoléculas) de maneira teórica e prática, através de alguns exemplos. Fases da intoxicação - 4ª fase - fase clínica Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Discutiremos, agora, sobre a última fase da intoxicação: a fase clínica. Ela corresponde à manifestação clínica dos efeitos que resultam da ação tóxica no organismo, os quais são observados no paciente através de evidências do quadro clínico (sintomas, sinais e patologias), diagnosticados por pro�ssionais especializados, determinando, assim, o fenômeno da intoxicação. As intoxicações podem ser classi�cadas, de acordo com a frequência e a persistência da exposição do organismo ao toxicante, como agudas ou crônicas. Intoxicação aguda é a manifestação clínica que é consequência de uma única exposição ou múltiplas exposições ao agente tóxico em um período de até 24 horas; intoxicação crônica é a manifestação clínica, através de sintomas e sinais, decorrente de várias exposições ao agente tóxico por um tempo prolongado (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2006; LEITE; AMORIM, 2006). A intoxicação assumiu grande importância no conjunto dos processos patológicos, já que ela pode resultar não apenas de substâncias estranhas ao organismo, como também de produtos de segregação do próprio organismo – ou, ainda, de toxinas. De modo geral, é possível também classi�car as intoxicações como endógenas ou exógenas, conforme a origem. Sob o aspecto social, as intoxicações exógenas têm maior importância, pois podem ser: intencionais (criminosas, suicidas ou acidentais) ou por imprudência (medicamentosa, ocupacionais, alimentares e microbianas) (SILVA, 2021). Você sabe qual é a importância de ter conhecimentos sobre a fase clínica? O toxicologista tem um papel fundamental na resolução de fatos envolvendo intoxicação causada de forma Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica intencional ou não intencional. A obtenção da história do indivíduo, juntamente com as outras circunstâncias do fato, ajudam a determinar qual substância foi ingerida, a extensão e o tempo de exposição. No caso de uma tentativa de suicídio, os indivíduos podem fornecer informações incorretas. Caso não seja possível encontrar informações diretas do indivíduo, as informações comumente empregadas nessas situações incluem membros da família, amigos, pro�ssionais de atendimento hospitalar e outros que estiveram no local da ocorrência (KLAASSEN; WATKINS, 2012). Dentre as inúmeras situações vivenciadas no atendimento de emergência nas instituições de saúde de interesse na área de perícia criminal e toxicológica, temos as intoxicações decorrentes da ingestão do raticida carbamato, conhecido como “chumbinho”. Nesse caso, pode-se observar uma grande ocorrência de intoxicações agudas, principalmente por ingestão acidental, em crianças, e tentativas de suicídio, em adultos. A absorção desta substância pelo organismo pode ocorrer por meio das vias aérea, oral e cutânea, e sua toxicidade provém da inibição reversível da acetilcolinesterase (responsável pela degradação da acetilcolina). Portanto, a inibição da acetilcolinesterase resulta no acúmulo de acetilcolina nas terminações nervosas, resultando nas manifestações tóxicas. Entre os sinais e sintomas, podemos citar baixo nível consciência, excesso de saliva, sudorese, broncoespasmo e bradicardia. No tratamento das intoxicações por carbamatos, o uso de atropina é essencial, por ser um antagonista competitivo da acetilcolina, tanto no sistema nervoso central quanto no sistema nervoso autônomo (ARAÚJO, 2017; BARDIN et al., 1994). É importante ter em mente que Intoxicação é produzida por qualquer substância tóxica que lesa o corpo devido à sua ação química, podendo ser ingerida, inalada, aplicada à pele ou produzida no corpo. Assim, o toxicologista poderá atuar em diversas áreas, na identi�cação de intoxicações por drogas, medicamentos, alimentos, produtos de uso industrial, intoxicações ocupacionais, etc. (SMELTZER; BARE, 2010). Videoaula: Fases da intoxicação - 4ª fase - fase clínica Este conteúdo é um vídeo!Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Os agentes tóxicos podem produzir diferentes sinais e sintomas em um organismo. Nesta aula, abordaremos, de maneira teórica e prática, com alguns exemplos, como avaliar os sinais e sintomas, a �m de determinar o composto responsável pela intoxicação e se a intoxicação foi causada de forma intencional ou não. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Estudo de caso Júlia, 17 anos, solteira, natural de São Paulo, foi admitida no Hospital Sírio-Libanês com história de intoxicação. Um dia anterior ao ocorrido, familiares disseram que ela teve uma discussão com uma amiga por in�uência das redes sociais, mas que, no dia do ocorrido ela teria encontrado com essa amiga para resolver as diferenças. Júlia passou mal após ingerir um milkshake oferecido pela colega, perto do horário de almoço. Júlia foi encontrada desacordada em casa com copo de milkshake do lado. Ela foi, então, encaminhada à unidade de emergência. No hospital, ela apresentava baixo nível consciência, excesso de saliva, sudorese, broncoespasmo e bradicardia. Foi necessário a intubação da paciente, instalação de ventilação mecânica e realização de lavagem gástrica. Na UTI, a paciente apresentava pupilas puntiformes e estava com bradicardia. A paciente foi mantida em dieta zero, com lavagem gástrica utilizando carvão ativado e foi iniciado suporte com atropina. Infelizmente, Júlia não resistiu e morreu cinco dias após a internação. Na perícia toxicológica, foi realizado exame nas roupas de Júlia, no copo encontrado ao seu lado e no conteúdo gástrico. Foram encontrados vestígios de raticida no vômito presente nas roupas, no copo de milkshake e no conteúdo gástrico. De acordo com as informações do relatório, a substância encontrada no copo com milkshake apresentava forma granulada de cor cinza escuro. Qual foi a substância que provavelmente intoxicou Júlia? Explique sobre a toxicodinâmica e a fase clínica relacionada a esta possível substância. Por que eles utilizaram atropina para reverter o caso? Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Resolução do estudo de caso Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. De acordo com as informações, é provável que a intoxicação foi por carbamatos. O nome popular de um dos carbamatos é o chumbinho. Eles são compostos amplamente utilizados na agricultura e inadequadamente utilizados como raticidas no ambiente doméstico. O acesso fácil a estes compostos resulta num crescente risco de intoxicação por exposição acidental ou intencional (HAYES, 1982). Do ponto de vista da toxicodinâmica, os carbamatos são substâncias que agem inibindo a colinesterase, pois ocupam o sítio catalítico desta enzima. Isso permite que a acetilcolina se acumule e permaneça ativa na sinapse, resultando em constante despolarização do neurônio pós-sináptico (RANG et al., 1994). Em relação à fase clínica, os sintomas geralmente se iniciam em minutos ou horas após o contato com o agente, e o diagnóstico se baseia na história de exposição, achados da síndrome colinérgica e dosagem sérica de colinesterase (HAYES, 1982). Os sinais e sintomas típicos da síndrome colinérgica costumam aparecer quando 60 a 80% da atividade da colinesterase é inibida. A síndrome colinérgica se caracteriza por miose, broncorreia, vômitos, diarreia, salivação excessiva, sudorese profusa, bradicardia e fasciculações. A falência respiratória é uma causa comum de óbito nas intoxicações por carbamato, pois estes compostos provocam broncoespasmo e edema pulmonar com abundante produção de muco e comprometimento severo da musculatura respiratória. No tratamento das intoxicações por carbamatos, o uso de atropina é essencial, por ser um antagonista competitivo da acetilcolina, tanto no sistema nervoso central quanto no sistema nervoso autônomo. (BARDIN et al., 1994). Saiba mais Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Para que você possa aprofundar seus conhecimentos sobre a toxicodinâmica de diversos compostos de interesse na área de perícia criminal e toxicológica, segue um artigo que aborda o tema de Alucinógenos: toxicologia e bases �siológicas. Para saber mais, acesse: FARIA, K. G. O.; ALMEIDA, V. A. F. O.; FRANÇA, R. F. Alucinógenos: toxicologia e bases �siológicas. Revista Saúde em Foco, n. 13, p.127-141, 2021. Disponível em: https://portal.unisepe.com.br/uni�a/wp- content/uploads/sites/10001/2021/03/ALUCIN%C3%93GENOS-TOXICOLOGIA-E-BASES- FISIOL%C3%93GICAS.pdf. Acesso em: 30 nov. 2021 Resumo visual https://portal.unisepe.com.br/unifia/wp-content/uploads/sites/10001/2021/03/ALUCIN%C3%93GENOS-TOXICOLOGIA-E-BASES-FISIOL%C3%93GICAS.pdf https://portal.unisepe.com.br/unifia/wp-content/uploads/sites/10001/2021/03/ALUCIN%C3%93GENOS-TOXICOLOGIA-E-BASES-FISIOL%C3%93GICAS.pdf https://portal.unisepe.com.br/unifia/wp-content/uploads/sites/10001/2021/03/ALUCIN%C3%93GENOS-TOXICOLOGIA-E-BASES-FISIOL%C3%93GICAS.pdf Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Figura | Fases da intoxicação. Fonte: elaborada pela autora. Referências Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica ANSEEUW, K. et al. Cyanide poisoning by �re smoke inhalation: a European expert consensus. European Journal of Emergency Medicine, v. 20, n. 1, p. 2-9, 2013. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22828651/. Acesso em: 30 nov. 2021. ARAÚJO, L. A. et al. Intoxicação por aldicarb (chumbinho) em um felino – Relato de caso. In: Trabalho apresentado no II Simpósio de Pequenos Animais. 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Colégio Técnico Industrial de Santa Maria, Santa Maria: Rede e-Tec Brasil, 2013. SILVA, M. A. F. Intoxicações e Envenenamentos. São Paulo. Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo, 2021. Disponível em: http://www.crfsp.org.br/noticias/9535- intoxica%C3%A7%C3%B5es-e-. Acesso em: 30 nov. 2021. SMELTZER, S. C.; BARE, B. G. Brunner & Suddarth: Tratado de enfermagem médico cirúrgica. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. SMOLAK, L.; LEVINE, M. P. Body image in children. In: THOMPSON J. K.; SMOLAK, L. (Eds.). Bodyimage, eating disorders and obesity in youth: assessment, prevention and treatment. Washington: American Psychological Association, 2001. p. 41-66 Aula 3 Toxicologia aplicada à Medicina Legal Introdução https://sjtrem.biomedcentral.com/articles/10.1186/1757-7241-19-14#citeas https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22336184/ http://medicina.med.up.pt/legal/NocoesGeraisCF.pdf http://www.crfsp.org.br/noticias/9535-intoxica%C3%A7%C3%B5es-e- http://www.crfsp.org.br/noticias/9535-intoxica%C3%A7%C3%B5es-e- Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica A toxicologia forense é extremamente importante no auxílio da Medicina Legal (uma especialidade médica utilizada na elucidação de fatos que interessam à justiça). Em uma investigação criminal, diversas informações a respeito da causa da morte podem ser determinadas através do auxílio do laudo toxicológico. As análises toxicológicas devem apresentar informações quantitativas do agente tóxico a �m de comprovar a causar morte ou de sequelas. Para isso, diferentes amostras biológicas podem ser coletadas em caso de uma necropsia. Posteriormente, as amostras podem ser analisadas por técnicas altamente seletivas, como é o caso da cromatogra�a associada à espectrometria de massas. Deste modo, aproveite nossos materiais e aprofunde seu conhecimento sobre a temática Introdução à Medicina Legal https://pt.wikipedia.org/wiki/Medicina https://pt.wikipedia.org/wiki/Justi%C3%A7a Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica A Medicina Legal é uma especialidade coexistente médica e jurídica que emprega informações técnico-cientí�cos da Medicina para elucidação de fatos importantes para a justiça. Dessa forma, além de ser uma especialidade médica, ela tem ligação com várias áreas. Com o tempo, diversas disciplinas foram atreladas a ela, relacionando essas outras áreas à forense, como é o fato da toxicologia, genética, engenharia, odontologia, entre outras. Todas essas disciplinas, dependendo do crime investigado, estão ligadas ao laudo médico-legal (FRANÇA, 2017). O médico legista tem a responsabilidade de realizar o exame de corpo e delito em pessoas mortas ou vivas. Este pro�ssional associa vários campos do direito e produz laudos que avaliam os fatos que aconteceram no crime. No ramo da Medicina Legal, há diversos seguimentos, dentre os quais podemos citar a traumatologia, antropologia, tanatologia, a toxicologia forense, entre outras (SOARES, 2012). A tanatologia se encarrega do estudo da morte. É a parte da medicina legal que analisa a morte e suas relativas causas. O estudo é realizado através da análise anatômica, por necropsia ou autópsia. Quando ocorre um óbito, o médico deve fazer um atestado por meio da declaração de óbito, porque é ela que a�rma a morte (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014). Já a Antropologia Forense está ligada a vários aspetos da investigação médico-legal relacionada com a morte. Quando o cadáver se encontra em avançado estado de decomposição ou esqueletizado, o antropólogo forense aplica conhecimentos e princípios teóricos e práticos desenvolvidos e utilizados pela antropologia e, também, pela arqueologia para solucionar as questões relacionadas com a identidade, idade, sexo, assim como com as circunstâncias da https://pt.wikipedia.org/wiki/Medicina https://pt.wikipedia.org/wiki/Direito https://pt.wikipedia.org/wiki/Justi%C3%A7a Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica morte, através de avaliações e estudo detalhado dos restos dentários e ósseos do indivíduo e do contexto físico em que ele foi achado (CUNHA, 2017; CARDOSO, 2021; LIPKA, 2017). Há também a traumatologia forense, uma das mais amplas áreas da medicina legal, que estuda os traumatismos e suas implicações jurídicas. Ter conhecimento nesta área é de extrema importância para a execução de grande parte das perícias médico-legais, objetivando fornecer subsídios para a elucidação do diagnóstico e prognóstico das lesões corporais e estados patológicos associados. Lembremos que a medicina legal se aplica não apenas a indivíduos mortos, mas em vivos também, e abrange perícias desde o período de gestação até além da sepultura (SÁLVIA, 2021). Por último, ressaltando a importância da toxicologia forense, você sabe qual a importância dela para a Medicina Legal? As análises toxicológicas são de extrema importância para a realização dos diagnósticos relacionados com intoxicações que podem causar danos ou a morte a um indivíduo. Um exemplo desta aplicação da toxicologia é o uso de “droga facilitadora de crime”, em que compostos psicoativos são ministrados à vítima, sem sua anuência, com o intuito de incapacitá-la de reagir, sendo uma prática comum para realizar roubo, homicídio, sequestro e estupro (MARTON et al., 2019). Na análise toxicológica post mortem, diversas amostras podem ser coletadas e analisadas em caso de uma necropsia, sendo que o toxicologista forense deve ter cautela ao selecionar as amostras a serem coletadas a partir do histórico do caso e os motivos que levaram o indivíduo ao óbito (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014) Videoaula: Introdução à Medicina Legal Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. A medicina legal é uma especialidade com área interdisciplinar, que utiliza de diversas ciências para a elucidação de fatos que interessam à justiça. Nesta aula, vamos aprender os principais conceitos da medicina legal, as principais áreas de atuação e o papel da toxicologia forense no auxílio dessa especialidade. #medicinalegal Aspectos toxicológicos de relevância na Medicina Legal Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Como apresentado no Bloco 1, a equipe de investigação médico-legal é constituída por diferentes pro�ssionais. Dentre eles, há o médico legista, o investigador policial, o patologista forense e o toxicologista forense (MARTINS, 2013). No entanto, não se esqueça de que o médico legista é o responsável por realizar o exame de corpo de delito em indivíduos mortos ou vivos. Uma coisa importante a salientar é que, muitas vezes, ele não consegue concluir a causa da morte prontamente após o exame necroscópico, sendo, assim, necessário a solicitação de exames complementares (FRANÇA, 2017). Isto acontece porque evidências que permitam diferenciar a causa da morte entre natural e de causas externas nem sempre são encontradas com facilidade. Posto isso, muitos centros de medicina forense de�nem protocolos para esta �nalidade, que, além da avaliação médica, incorporam a coleta de amostras para exames complementares toxicológicos e histológicos (COLL et al., 2016; NAJARI; ALIMOHAMMADI; GHODRATI, 2016; RADHESHI et al., 2016; TOIT-PRINSLOO et al., 2013; WILHELM et al., 2015). Com o objetivo de determinar a causa morte ou para a fundamentação das evidênciasdo exame necroscópico, o médico legista solicita procedimentos complementares, visando identi�car agentes químicos que podem estar envolvidos, tanto como agentes causais quanto contributivos nas circunstâncias do óbito (FRANÇA, 2017). Agora você consegue compreender o valor que o pro�ssional toxicologista tem na área forense? O uso de análises ordenadas associadas a técnicas analíticas toxicológicas disponibiliza informações essenciais para uma boa compreensão do papel dos agentes químicos na intoxicação. Falando especi�camente do papel do toxicologista, ele quem vai realizar análises Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica quantitativas e qualitativas, pesquisando agentes tóxicos que possivelmente estão em �uídos biológicos post-mortem, durante a necrópsia. O toxicologista forense precisa, também, interpretar os resultados analíticos obtidos considerando os efeitos comportamentais e �siológicos que os compostos detectados ocasionaram no indivíduo momentos antes de sua morte (KLAASSEN; WATKINS, 2012). Sobre as matrizes biológicas que podem ser analisadas, praticamente qualquer uma delas que tenha tido contato com um toxicante pode ser submetida a exames toxicológicos, com o objetivo de auxiliar na interpretação dos resultados. In vivo, a urina, o sangue, o conteúdo gástrico e o cabelo são as matrizes de maior relevância a serem colhidas. Nos casos post mortem, o humor vítreo, o conteúdo gástrico, os órgãos, a urina e o sangue, são as matrizes mais relevantes (CARVALHO et al., 2010; DINIS-OLIVEIRA; CARVALHO; BASTOS, 2015). Como exemplo de análises em casos post mortem, podemos citar intoxicações ocorridas em festas. Um grande exemplo é o lança-perfume. Também conhecido como loló, se tornou uma das drogas preferidas entre os jovens. De acordo com o G1 (2021), em junho de 2021, uma estudante de 21 anos morreu após inalar lança-perfume. Segundo a Polícia Civil, uma amiga da vítima relatou às autoridades que ela começou a sentir falta de ar após o uso da droga. Para con�rmar causas deste tipo, são necessárias análises toxicológicas com o objetivo de determinar a presença de solventes, como o tricloroetileno e clorofórmio (presentes no lança- perfume). Então, podemos concluir que a determinação da causa da morte é atribuição do médico legista, mas frequentemente essa conclusão só pode ser obtida com resultados emitidos pelo toxicologista. Sem a comprovação laboratorial, o médico legista não pode a�rmar que a morte foi causada por uma substância tóxica, ou poderá ter seu laudo contestado durante o processo (KLAASSEN; WATKINS, 2012). Videoaula: Aspectos toxicológicos de relevância na Medicina Legal Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Nesta aula, abordaremos o papel da perícia criminal e toxicológica em relação à Medicina Legal, os tipos de análises toxicológicas quantitativas e qualitativas, quais são as amostras biológicas, qual a importância delas e como o toxicologista vai ajudar a de�nir a causa da morte entre natural e de causas externas. Análises toxicológicas post mortem Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica As análises toxicológicas abrangem as etapas de detecção, identi�cação e quanti�cação de compostos químicos e interpretação do resultado adquirido na análise. Outro fator de extrema importância é o estabelecimento da relação de causa e efeito, ou seja, se o composto analisado é responsável pelo resultado obtido e, por este motivo, deve ser gerado com qualidade e permitir que os mesmos sejam inequívocos. Assim, o laudo gerado deve ser irrefutável (CHASIN, 2001). Para a produção de análises con�áveis, vários fatores devem ser considerados. Entre eles, podemos citar a cadeia de custódia (envolve a documentação desde a coleta da amostra até a aquisição do resultado �nal da análise) e o correto manuseio das amostras, incluindo a integridade e a correta identi�cação do composto (HAWKS, 1986). A análise na investigação post mortem inclui a análise qualitativa e quantitativa de compostos recolhidos durante a autópsia. Também inclui a interpretação dos resultados analíticos quanto à toxicocinética e toxicodinâmica dos agentes químicos encontrados no cadáver, lembrando que uma análise toxicológica negativa também é importante para de�nir a causa mortis (OGA, 2003). Diferentes amostras biológicas podem ser empregadas para realização destas análises, dentre elas o cabelo, saliva, suor, sangue, urina, mecônio, entre outras. A escolha da matriz depende de diversos fatores que se relacionam com o tipo de amostra, integridade da amostra submetida à análise, o tipo de investigação (ante mortem e post mortem) e as considerações analíticas e de ensaio juntamente com a avaliação dos resultados. Dependendo da matriz selecionada, desa�os especí�cos podem aparecer, como, por exemplo, nos casos post mortem, as alterações que as amostras sofrem nos processos de autólise, redistribuição e putrefação (NEGRUSZ; COOPER, 2008; GALLARDO; QUEIROZ, 2008). A identi�cação inicial de alguns agentes químicos pode ser efetivada através de métodos colorimétricos, uma forma simples e rápida (MOTA; DI VITTA, 2013). A cromatogra�a em camada delgada também pode ser uma técnica usada nesta fase, com a �nalidade de triar os resultados. Contudo, a maioria dos casos necessita da análise quantitativa para posterior interpretação forense. Dessa forma, a próxima etapa passa por con�rmação através de métodos mais especí�cos (MOREIRA, 2015). As técnicas analíticas especí�cas mais utilizadas são a cromatogra�a em fase gasosa e a cromatogra�a em fase líquida acopladas a diferentes detectores, principalmente a espectrometria de massas. Estas técnicas são rotineiramente selecionadas por proporcionarem maior sensibilidade, compatibilidade com as concentrações dos analitos de interesse Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica encontradas nas amostras biológicas e por serem capazes de promover a con�rmação da presença dos analitos (KARCH, 2007; PAWLISZYN, 2002). No entanto, toda técnica analítica, por mais seletiva e sensível que seja, oferece limitações, as quais podem ser diminuídas com um preparo de amostra e�ciente. O preparo da amostra caracteriza-se pelo processo que busca isolar o composto de interesse a partir da matriz, reduzindo ou eliminando os presentes na matriz biológica, além de realizar uma concentração do composto, sendo um processo geralmente indispensável para o emprego de técnicas de detecção e quanti�cação de substâncias de interesse forense (SMERAGLIA; BALDREY; WATSON, 2002; RICHTER, 1999). Assim, para garantir o resultado preciso dos exames toxicológicos, é necessário a escolha da amostra correta, o método analítico ideal e a boa execução do trabalho do toxicologista. Videoaula: Análises toxicológicas post mortem Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. O pro�ssional toxicologista deve possuir grande conhecimento sobre as matrizes biológicas e as técnicas analíticas para análise de substâncias tóxicas. Nesta aula, vamos abordar os principais conceitos dos tipos de amostras, as diversas formas de pré-tratamento da amostra e o emprego das técnicas analíticas para análises forenses. Estudo de caso Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Junior, 23 anos, desmaiou após consumir substâncias psicoativas vendidas em uma festa. Ele recebeu os primeiros socorros, mas morreu na ambulância a caminho do hospital, na cidade de Foz do Iguaçu. Amigos do rapaz relataram ver ele aspirar um pó branco e também inalar certa substância. De acordo com as informações, sugere-se que Júnior tenha feito uso de cocaína e de lança- perfume. O corpo foi levado para necropsia para que o médico legista determinasse a causa da morte. No exame necroscópico, foramobservadas alterações cardíacas. O exame necroscópico é su�ciente para determinar a causa morte? Caso não seja, quais exames complementares deveriam ser solicitados? Explique quais matrizes biológicas deveriam ser analisadas e quais compostos químicos. Resolução do estudo de caso Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Apenas com o exame necroscópico não seria possível determinar a causa da morte, já que é necessário determinar o agente tóxico e a concentração que levaram Júnior à morte. De acordo com as informações disponíveis, é possível que ele tenha feito uso de cocaína e lança- perfume. Dessa forma, seria necessário buscar, no sangue e na urina, a presença de cocaína e seus produtos de biotransformação (benoilecgonina, ecgonina e éster metil ecgonina). Além disso, seria necessário realizar análises toxicológicas para determinar a presença de solventes, como o tricloroetileno e clorofórmio (presentes no lança-perfume). Dessa forma, se os exames toxicológicos apresentassem resultados positivos para estas drogas, eles seriam avaliados juntamente com o exame necroscópico. A partir daí, seria possível determinar que a causa da morte foi o uso excessivo destas substâncias, pois ambas são miocárdio tóxicas e estão associadas à morte súbita de origem cardíaca Saiba mais Para auxiliá-lo nos estudos, segue o link de artigo escrito com o intuito de contribuir com a disseminação de conhecimento entre os envolvidos com provas periciais. O texto fala sobre a importância da análise toxicológica ao se investigar uma morte. Para saber mais, acesse o link: FERRARI JÚNIOR, E. Investigação policial: análise toxicológica post mortem . Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3193, 2012. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/21390 . Acesso em: 1 dez. 2021 https://jus.com.br/artigos/21390/investigacao-policial-analise-toxicologica-post-mortem https://jus.com.br/revista/edicoes/2012 https://jus.com.br/revista/edicoes/2012/3/29 https://jus.com.br/revista/edicoes/2012 https://jus.com.br/artigos/21390 Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Resumo visual Figura | Descrição dos processos envolvidos nas análises toxicológicas. Fonte: elaborada pela autora. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Referências CARDOSO, H. F. V. Antropologia Forense. Associação Portuguesa de Ciências Forenses, 2021. Disponível em: http://apcforenses.org/?page_id=18. Acesso em: 30 nov. 2021. CARVALHO, F. et al. Collection of biological samples in forensic toxicology: Toxicology Mechanisms and Methods. Porto: Universidade do Porto, 2010. CHASIN, A. A. M. Parâmetros de con�ança analítica e irrefutabilidade do laudo pericial em toxicologia Forense. Revista Brasileira de Toxicologia, v. 14, n. 1, p. 40-46, 2001. COLL, M. et al. 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WILHELM, M. et al. Sudden cardiac death in forensic medicine – Swiss recommendations for a multidisciplinary approach. Swiss Medical Weekely, n. 145, p. 14129, 2015 Aula 4 Toxicologia aplicada à dopagem http://dx.doi.org/10.15260/rbc.v8i2.391 http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/ Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Introdução Existem diversos compostos químicos que são utilizados por indivíduos na tentativa de melhorar o desempenho em atividades físicas ou mentais. Eles são conhecidos no mundo do esporte como doping. Entre as classes dos compostos, o uso dos esteróides androgênicos possui grande relevância no estado de saúde. Os esteróides androgênicos são utilizados clinicamente para tratar diferentes doenças. Porém propagou-se o uso não terapêutico por atletas, com intuito de aumentar a massa muscular e melhorar o desempenho físico. O uso de esteróides está associado a diversos efeitos toxicológicos, principalmente cardiovasculares, neuroendócrinos e distúrbios psiquiátricos. Com o objeitvo de reduzir o uso e também para avaliar casos de intoxicação que podem levar o indivíduo à morte, muitos testes toxicológicosforam desenvolvidos. Eles são divididos em testes de triagem e testes mais especí�cos de con�rmação. O toxicologista possui papel fundamental na análise e identi�cação destas substâncias. Introdução aos esteroides Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica As substâncias químicas e os métodos que são utilizados na tentativa de melhorar o desempenho em atividades físicas ou mentais são conhecidos, no mundo do esporte, como doping. O uso de substâncias químicas ou dos métodos endócrinos caracteriza a dopagem (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008). A constituição da antidopagem tem o objetivo de proibir o uso de determinadas substâncias por meio de controles a partir de testes com análises da urina ou do sangue. O atleta deve cumprir uma quantidade de normas, sob pena de ser proibido de competir no esporte. A antidopagem busca, assim, forjar certo tipo de atleta que não use determinadas substâncias proibidas, dentre as quais determinados remédios, hormônios, anabólicos, diuréticos, estimulantes e narcóticos (AQUINO NETO, 2001; OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008; YESALS, 2002). As principais substâncias utilizadas na dopagem são: agentes anabólicos, hormônios, agonistas beta-2, agentes com atividade antiestrogênica, diuréticos, estimulantes, analgésicos narcóticos e canabinóides. Os de maior relevância são os esteroides anabolizantes, pois esse tipo de substância faz com que o atleta tenha uma recuperação mais rápida e ainda estimula o ganho de massa muscular (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008). Dentre todos os elementos vetados pela Agência Mundial Antidoping, este é o mais nocivo. Diante disso, a nossa aula será focada no uso de esteroides. Os esteroides anabólicos androgênicos (EAA) são um grupo de compostos naturais e sintéticos formados a partir da testosterona ou de um de seus derivados, cuja indicação terapêutica clássica está associada a situações de hipogonadismo (CUNHA et al., 2004). A testosterona é o Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica principal hormônio androgênico circulante no organismo humano nos homens. É sintetizado pelas células de Leydig dos testículos, em resposta ao hormônio luteinizante hipo�sário (LH), e pelo ovário nas mulheres. Em ambos os sexos, a testosterona é sintetizada também pelo córtex suprarrenal. A androstenediona e a deidroepiandrostenediona são precursores da testosterona e são considerados androgênicos fracos. As ações da testosterona e dos andrógenos correlatos são divididas em duas categorias principais. A primeira categoria são os efeitos androgênicos (relacionados, especi�camente, com a função reprodutora e com as características sexuais secundárias) e a segunda categoria são os efeitos anabólicos (relacionados à estimulação do crescimento e maturação dos tecidos não reprodutores) (BRUNTON et al., 2012; CUNHA et al., 2004). Você deve estar se perguntando qual é a relação entre os esteroides e a toxicologia forense. Primeiramente, os esteroides, se utilizados de forma inadequada, possuem a capacidade de causar efeitos tóxicos no organismo e podem até levar a óbito. Esse é o primeiro ponto que o toxicologista forense pode atuar. Um outro ponto é o controle antidoping. Muitos atletas usam esteroides baseados em testosterona, com o objetivo de obtenção dos efeitos anabólicos que facilitam o ganho de massa muscular e queima de gordura. Assim, o controle antidoping permite não somente testar amostras nos atletas, mas também a natureza e a frequência das substâncias utilizadas. As análises toxicológicas constam como a maneira mais e�caz de minimizar o doping no esporte (GUEZENNEC, 2001). Videoaula: Introdução aos esteroides Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Nesta aula, abordaremos diversas informações sobre as substâncias que podem ser utilizadas para melhorar o desempenho físico. Discutiremos o mecanismo de ação dos diversos compostos e, de forma mais especí�ca, dos esteroides anabólicos androgênicos. Também veremos conceitos importantes relacionados ao doping e sobre o controle antidoping. Toxicologia dos esteroides e padrão de uso Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Esteroides anabólicos androgênicos (EAA) são hormônios naturais, como testosterona, diidrotestosterona e androstenediona e substâncias sintéticas e semissintéticas relacionadas a esses hormônios sexuais masculinos. Alterações na estrutura química da testosterona foram realizadas no intuito de reduzir os efeitos androgênicos e elevar a capacidade anabolizante; e, também, para obtenção de produtos ativos quando administrados por via oral, ou, ainda, para prolongar a permanência no organismo (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008). Vamos entender um pouco mais da farmacologia e da toxicologia dos esteroides? As formas de administração dos EAA são por via injetável, via oral ou tópica, na forma de cremes ou géis. Em relação ao padrão de uso, eles são usados no tratamento de casos de atrasos na puberdade, osteoporose, endometriose, impotência, anemia ou câncer de mama. Quando utilizados por atletas, fisiculturistas ou praticantes de atividade física, aumentam a massa muscular e reduzem a gordura corporal. Nesses casos, são administradas substâncias em concentrações maiores do que as doses diárias recomendadas, com o objetivo de obtenção de um efeito mais pronunciado (COOPMAN; CORDONNIER, 2012). A molécula de testosterona sozinha não é eficiente quando injetada ou tomada oralmente, pois é muito suscetível à metabolização rápida pelo fígado. Portanto, a estrutura química da testosterona teve que ser modificada para contornar esse problema. Mais comumente, a Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica molécula de testosterona é alquilada na posição 17α para formar esteroides anabólicos orais (retardando o catabolismo hepático da molécula), e esterificada na posição 17β para formar esteroides anabólicos, injetáveis, mais lipofílicos do que a testosterona (SILVA et al., 2002; YESALIS; BAHRKE, 1995; SNYDER, 2001).A testosterona possui efeitos em diversos tecidos. Determinados efeitos acontecem somente após a metabolização da testosterona, que pode gerar dois outros esteroides ativos: a di-hidrotestosterona (DHT) e o estradiol. Tanto a testosterona quanto a DHT agem por meio do mesmo receptor, o receptor de androgênio. Contudo, o receptor tem maior afinidade pela DHT, que ativa a expressão gênica mais eficientemente. Quando o complexo enzimático aromatase está presente no tecido, predominantemente no tecido adiposo e fígado, ocorre a conversão da testosterona em estradiol. Outros compostos biologicamente inativos, como a androsterona e etiocolanona, são formados pela metabolização hepática e pela metabolização da DHT (SILVA et al., 2002; SNYDER, 2001; BRANN; HENDRY; MAHESH, 1995). Em relação ao processo de excreção, os produtos formados pelo processo de biotransformação se tornam mais hidrossolúveis e são excretados na urina da forma livre ou conjugados com o ácido glicurônico (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008). Essas substâncias afetam o eixo hipotálamo-hipofisário-gonodal, resultando num feedback negativo na secreção do hormônio folículo-estimulante e do hormônio luteinizante que, por sua vez, diminuem a produção de testosterona endógena, resultando na redução da espermatogênese (LISE et al., 1999). Entre os efeitos tóxicos sobre o sistema endócrino e reprodutivo, destacam-se, nos homens a menor produção de testosterona, atrofia testicular, a oligo e azoospermia, ginecomastia, carcinoma prostático, priapismo, impotência, alteração do metabolismo glicídico, alteração do perfil tireoidiano (SMURAWA; CONGENI, 2007; GOLDWIRE; PRICE, 1995; GIBSON, 1994). A administração de EAA em mulheres resulta em alterações masculinizantes, semelhantes àquelas observadas na puberdade masculina. Esses efeitos virilizantes indesejados incluem amenorreia, aparecimento de acne, pele oleosa, crescimento de pelos na face, modificaçãona voz. Posteriormente, ocorrem desenvolvimento da musculatura e do padrão de calvície masculino, além de hipertrofia do clitóris e voz grave. Com a administração contínua e prolongada, muitos desses efeitos são irreversíveis (STRAUSS; LIGGETT; LENESE, 1985; HARDMAN; GILMANN; LINBIRD, 1996; RANG; DALE; RITTER, 1997; ROSE; NÓBREGA, 1999). Videoaula: Toxicologia dos esteroides e padrão de uso Este conteúdo é um vídeo! Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. O conhecimento das características físico-químicas dos esteroides é de extrema importância para o toxicologista, já que essas características in�uenciam de forma signi�cativa em todo o processo da toxicologia. Nesta aula, vamos aprender sobre os processos envolvidos na absorção, distribuição, metabolização e excreção dos esteroides e quais são os efeitos tóxicos que eles podem causar no sistema biológico. #anabolizantes Efeitos dos anabolizantes, legislação e análise destes compostos Como já discutimos no bloco anterior, o uso de anabolizantes gera efeitos tóxicos nas mulheres e nos homens, como: distúrbios da função do fígado (hepatite, cirrose, esteatose hepática, entre outros), aumento de acnes, queda do cabelo, tumores no fígado, explosões de ira ou comportamento agressivo, paranoia, alucinações, psicoses, retenção de líquido no organismo, aumento da pressão arterial e coágulos de sangue (KICMAN, 2008). Por representarem riscos à saúde, caso não seja utilizado de forma correta, os anabolizantes se enquadram na portaria nº 344/1998 da ANVISA, na lista C5 – Lista de Substâncias Anabolizantes Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica (sujeitas a controle especial em duas vias). Há quase 30 substâncias controladas por essa portaria, além de seus sais, éteres, ésteres e isômeros (ANVISA, 2012). Em relação à comercialização, de acordo com a Lei nº 9.965, de 27 de abril de 2000, os anabolizantes devem ser comercializados somente com a apresentação da cópia da receita emitida por um médico ou dentista registrados. Dentre os estudos desenvolvidos para análise de anabolizantes, a grande maioria é voltada para matrizes biológicas, como, por exemplo, detecção das substâncias em sangue e urina (MAZZARINO; ORENGIA; BOTRÈ, 2007; POZO et al., 2011). A caracterização da dopagem tem, por base, a identi�cação do composto e/ou seus metabólitos em espécime biológico. A urina é considerada a amostra mais utilizada. Contudo, o sangue, o cabelo, a saliva e suor, também vêm sendo estudados para identi�cação. Em geral, as análises toxicológicas são divididas em duas categorias: triagem e con�rmação. Técnicas de triagem são utilizadas para eliminar amostras com resultados negativos. Amostras que apresentarem resultados positivos na fase de triagem devem ser submetidas à con�rmação com o emprego de técnicas mais especi�cas (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008). Entre as técnicas mais especí�cas, podemos citar a cromatogra�a líquida acoplada a diferentes detectores (CHO et al., 2015; KOZLIK; TIRCOVA, 2016) cromatogra�a gasosa acoplada à espectrometria de massas (NEVES; CALDAS, 1017; PELLEGRINI et al., 2012), espectrometria de massas de alta resolução com ionização por análise direta em tempo real (DART-MS) (PROKUDINA et al., 2015), assim como a utilização das espectroscopias no infravermelho próximo e Raman em um mesmo conjunto de amostras (REBIERE et al., 2016). Agora que você já sabe os principais efeitos dos anabolizantes, os métodos para análises dessas drogas e sobre a legislação brasileira a esse respeito, veremos o exemplo da atuação de um toxicologista que teve grande repercussão em 2021. Na 32ª edição da Olimpíada de verão que aconteceu em 2021, ao menos oito atletas que poderiam fazer parte do Time Brasil em Tóquio tiveram suspensões por doping. Tandara, da seleção feminina de vôlei, foi retirada da competição por causa de uma potencial violação do código antidoping ocorrida ainda no Brasil (CESARINI, B.; VECCHIOLI, 2021). Para a determinação de drogas nesses atletas, foi necessário a atuação do toxicologista, que avaliou se havia algum composto tóxico no organismo. Videoaula: Efeitos dos anabolizantes, legislação e análise destes compostos Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Devido aos diversos efeitos tóxicos que os anabolizantes são capazes de gerar no organismo, veremos informações sobre a legislação que regulamenta esses medicamentos. Além disso, para a �scalização do uso indevido, e a �m de melhorar o desempenho físico, abordaremos as Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica técnicas de detecção e quanti�cação desses compostos e as matrizes selecionadas para análise. #detecçãodeanabolizantes Estudo de caso Júlio, atleta ginasta, estava participando das olimpíadas de Tóquio e teve que realizar exames toxicológicos para comprovar que não fazia uso de nenhuma substância que poderia alterar seu desempenho físico. A Agência Mundial Antidoping divulgou o resultado, que atestou positivo para uma substância de uso restrito. A substância detectada foi um esteroide, o durateston (indicado no tratamento de reposição de testosterona em homens portadores de condições associadas com hipogonadismo). De imediato, Júlio foi suspenso temporariamente. Em seu relato, ele jura que não fez uso de substância alguma e entrou com recurso contra a decisão da Agência Mundial Antidoping. Dessa forma, novas análises foram realizadas por um toxicologista, a �m de provar sua inocência. Os novos resultados apresentaram resultado negativo. Quais efeitos o esteroide identi�cado produz no corpo? Em relação às técnicas analíticas discutidas nas aulas anteriores, quais são os motivos que podem ter levado a um falso positivo? Resolução do estudo de caso Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. O Durateston é composto por uma combinação de quatro tipos de testosteronas. Ele possui atividade anabólica, protege o músculo contra o catabolismo e da ação dos hormônios glicocorticoides, reduzindo a perda de massa muscular. Assim, o resultado é um aumento do tamanho das células musculares (hipertro�a) e formação de novas �bras musculares (hiperplasia) (DURATESTON®: solução injetável. José Luis Moretti Farah. São Paulo: Schering- Plough. Bula de remédio). Como discutido durante as aulas, em geral, as análises toxicológicas são divididas em duas categorias: triagem e con�rmação. Técnicas de triagem são utilizadas para eliminar amostras com resultados negativos. Amostras que apresentarem resultados positivos na fase de triagem devem ser submetidas à con�rmação com o emprego de técnicas mais especi�cas. Assim, os testes de triagem apresentam baixa sensibilidade e podem gerar resultados falsos. Por esse motivo, depois de passar pelos testes de triagem, testes mais seletivos são aplicados nas amostras para garantir o resultado. Saiba mais https://www.guiagerais.com.br/saude-e-fitness/que-e-anabolismo-e-catabolismo/ Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Este artigo sobre a Morbidade hospitalar por ingestão de esteroides anabólico-androgênicos (eaa) no brasil. É muito importante o conhecimento de como o uso de esteroides pode impactar a saúde humana. Para mais informações, acesse o link: https://www.scielo.br/j/rbme/a/g8HrPqvxtQxrzM8cymdBF8s/?format=pdf&lang=pt SILVA JUNIOR, S. H. A. MORBIDADE HOSPITALAR POR INGESTÃO DE ESTEROIDES ANABÓLICO- ANDROGÊNICOS (EAA) NO BRASIL. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 19, n. 2, p. 108- 111, 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbme/a/g8HrPqvxtQxrzM8cymdBF8s/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 1 dez. 2021 Resumo visual https://www.scielo.br/j/rbme/a/g8HrPqvxtQxrzM8cymdBF8s/?format=pdf&lang=pt https://www.scielo.br/j/rbme/a/g8HrPqvxtQxrzM8cymdBF8s/?format=pdf&lang=pt https://www.scielo.br/j/rbme/a/g8HrPqvxtQxrzM8cymdBF8s/?format=pdf&lang=pt Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Figura | Síntese dos conteúdos da aula. Fonte: elaborada pela autora. Referências Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica ANVISA. Resolução da Diretoria Colegiada nº 39. Dispõe sobre a atualização do Anexo I, Listas de Substâncias Entorpecentes, Psicotrópicas, Precursoras e Outras sob Controle Especial, da Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998 e dá outras providências. Diário O�cial da União, Brasília, DF, 9 jul. 2012. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2012/rdc0039_09_07_2012.pdf. Acesso em: 1 dez. 2021. AQUINO NETO, F. R. O papel do atleta na sociedade e o controle de dopagem no esporte. 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Anabolic Steroids: A comtemporary perspective. South Africa Medicine Journal, v. 84, p. 469-479, 1994. GOLDWIRE, M. A.; PRICE, K. O. Sports Pharmacy: Counseling athletes about banned drugs. American Pharmacology, v. 35, n. 5, p. 24-30, 1995. GUEZENNEC, C. Y. Le dopagem: e�cacité, conséquences, prévention. Annales D’Endocrinologie, v. 62, n. 1, p. 33-41, 2001. HARDMAN, J. G.; GILMANN, A. G.; LINBIRD, L. E. (Eds.). Godman and Gilman's: The pharmacological basis of therapeutics. New York: McGraw-Hill, 1996. KICMAN, A. T. Pharmacology of anabolic steroids. British Journal of Pharmacology, v. 154, p. 502- 521, 2008. KOZLIK, P.; TIRCOVA, B. Development of the fast, simple and fully validated high performance liquid chromatographic method with diode array detector for quanti�cation of testosterone esters in an oil-based injectable dosage form. Steroids, v. 115, p. 34-39, 2016. MAZZARINO, M.; ORENGIA, M.; BOTRÈ, F. 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Sports Med, v. 19, n. 5 p. 326-340, 1995 , Unidade 3 Substâncias tóxicas e intoxicação Aula 1 Da intoxicação de naturezas diversas Introdução Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica A toxicologia estuda o efeito de sustâncias toxicas no metabolismo dos organismos vivos. Está relacionada à intoxicação e as substâncias químicas que a provocam. Durante o Renascimento, havia muitos esforços para descobrir novas substâncias tóxicas que fossem indetectáveis do ponto de vista forense, como arma para eliminar o inimigo (ERNST, 2015). As intoxicações geralmente são causadas por agentes químicos, físicos e biológicos. No que abrange a toxicologia, as substâncias químicas são o maior foco dos especialistas para identi�cação e diagnostico da intoxicação. Mesmo quando relacionada a um microrganismo patogênico (agente biológico), por exemplo, esses podem produzir substâncias químicas que atuam como principal agente de toxicidade, ou seja, que causam um efeito nocivo ao organismo. Sobre esta última questão, há um conceito peculiar da toxicologia descrito por Paracelsus (1493- 1541), segundo o qual qualquer substância química pode causar dano a um corpo: o que determina esse efeito é a relação dose-efeito. Nesta aula, você entenderá as diferentes formas e vias de intoxicação associada à natureza das substâncias toxicas. Como pro�ssional da área,terá como base os principais conceitos que facilitarão o reconhecimento imediato dos agentes químicos para a situação-problema que lhe será apresentada e que poderá ser usada na perícia criminal como parte de uma investigação legal. Do metabolismo de substâncias tóxicas Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica O metabolismo de compostos tóxicos pode desempenhar um papel importante na redução ou aumento dos efeitos no organismo, pois uma substância pode produzir sinais de envenenamento porque é toxica ou porque é convertida no corpo em algo nocivo. Entender as variantes que regulam o metabolismo de substâncias toxicas pode ser uma ferramenta importante na regulação da toxicidade de uma variedade de compostos químicos. A intoxicação é um conjunto de efeitos nocivos produzido pela ação do agente tóxico no organismo, gerando um estado patológico às vezes fatal. Agente tóxico ou toxicante é a substância química responsável pela intoxicação do indivíduo. Como pro�ssional da área de perícia criminal e toxicológica, você deverá ser capaz de entender como as diferentes substâncias podem acometer o indivíduo, e como se dá a interação das substâncias tóxicas na esfera biológica e bioquímica. Para �ns didáticos, a intoxicação é classi�cada em diferentes fases ou etapas (Figura 1): Fase de exposição. Fase toxicocinética. Fase toxicodinâmica. Fase clínica. Na fase de exposição, as vias pelas quais as substâncias tóxicas podem entrar em contato com o nosso organismo são, principalmente, três: As vias aéreas, através da inalação. As superfícies do nosso corpo, através da absorção cutânea. A via digestiva (trajetória da boca ao estômago), por meio da ingestão. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Figura 1 | Etapas da intoxicação. Fonte: elaborada pelo autor. A intoxicação por inalação é a mais comum. Muitas vezes, o indivíduo acometido não participa do fenômeno de forma consciente, pois o agente toxicante pode estar em concentrações nocivas dispersas pelo ar, mas imperceptíveis aos sentidos (ver item saiba mais). A intoxicação por absorção cutânea pode ser de forma local ou sistêmica. Na primeira, a substância entra em contato direto com a pele e causa danos à superfície atingida, como irritação, coceira, ferimento, etc. A intoxicação na pele pode atingir níveis sistêmicos quando a substância é levada pela corrente sanguínea, desencadeando sintomas adversos. Na toxicocinética, ocorre a interação biológica do elemento com o organismo. Esta etapa da intoxicação está relacionada ao percurso que o agente tóxico faz no organismo, desde sua absorção pelas diferentes vias de exposição, passando pela distribuição sistêmica (endereçada para os diferentes órgãos e tecidos) até a metabolização (biotransformação). As substâncias tóxicas podem ser biotransformadas e sofrer alterações, gerando um metabolito de efeito letal, o qual chamamos de toxicante (caracterizando a intoxicação), ou podem ser transformadas em metabolitos menos nocivos ou excretadas, limitando, assim, sua duração de ação biológica, caracterizando a fase excreção. A toxicodinâmica está associada à ação bioquímica da molécula, ou seja, o toxicante. Podemos assim chamá-la porque a sustância química que leva à intoxicação do organismo interage com sua molécula alvo no organismo. A toxicodinâmica foca na interação bioquímica ente o toxicante e a molécula alvo. Nas fases da toxicocinética, podemos estudar os conceitos da toxicodinâmica entre as fases de distribuição e biotransformação. A toxicocinética é importante para investigação toxicológica criminal, pois a trajetória de um toxicante que deve ser identi�cado em um caso legal pode levantar dúvidas quanto ao local de exposição ao agente intoxicante e onde ele realmente foi metabolizado pelo organismo, pois uma exposição que aconteceu na pele pode ter sua atuação no fígado por exemplo. Também é importante considerar o tempo de exposição ao agente toxicante: se foi por um longo período, durante anos, ou apenas por alguns minutos. Videoaula: Do metabolismo de substâncias tóxicas Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Explicação detalhada sobre as fases de intoxicação, relacionando a toxicocinética e a toxicodinâmica, além do esclarecimento sobre o conceito de substância química e toxicante. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Das substâncias as�xiantes; corrosivas, orgânicas e inorgânicas Substâncias As�xiantes Os agentes as�xiantes atuam no sistema respiratório e incluem gases que podem ser nocivos, como monóxido de carbono, dióxido de carbono, sulfeto de hidrogênio, óxido de enxofre, cloro, óxido nitroso, etc. Esses tipos de substâncias estão em estado gasoso e, se inalados, di�cultam a o transporte de oxigênio e podem dani�car os tecidos das vias aéreas e os pulmões. Os as�xiantes simples diminuem e/ou deslocam o oxigênio do ar inspirado, resultando em hipoxemia (baixo nível de oxigênio no sangue). Os as�xiantes químicos atuam no sistema de transporte de oxigênio e na respiração celular e, portanto, causam hipóxia dos tecidos. Os sintomas leves de as�xia incluem dor de cabeça, tontura, náusea e vômito. Os sintomas mais graves variam de dispneia, alteração sensorial, disritmia cardíaca, isquemia, convulsão e até morte. Os tóxicos inorgânicos voláteis são mais raros. A intoxicação aguda normalmente acontece por uma exposição muito prolongada (ex.: cianeto, fos�na, arsina, fosgênio, cloreto, etc.). Já os tóxicos orgânicos voláteis: apresentam alta pressão de vapor e baixo ponto de ebulição em temperatura ambiente normal (ex.: etanol, formaldeído e acetaldeído). Vale ressaltar, didaticamente, que as substâncias as�xiantes são caracterizadas por alguns gases nocivos e não por substâncias voláteis. No entanto, os voláteis podem apresentar efeito tóxico, e sua toxicocinética difere da dos gases as�xiantes (potencialmente mais nocivo). Substâncias corrosivas Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica O agente corrosivo é simplesmente um irritante altamente ativo que, além de produzir in�amação, também causa ulceração real dos tecidos. Basicamente, uma substância corrosiva destrói e corrói a superfície com a qual entra em contato, ou seja, sua ação é local. De acordo com essa de�nição, os efeitos de um corrosivo deveriam ser restritos à sua ação local, mas alguns deles produzem efeitos graves de absorção, causando também efeito sistêmico. Certos sais metálicos, como cloreto de sódio, cianeto de potássio e cloreto férrico, atuam como corrosivos. Os agentes corrosivos consistem, principalmente, em bases fortes e ácidos fortes (compreendendo os ácidos orgânicos e inorgânicos). Bases fortes: as soluções de bases fortes em altas concentrações são mais corrosivas do que as ácidas. Porém, em concentrações diluídas, podem causar irritações. As substâncias mais conhecidas são: hidróxido de potássio, hidróxido de sódio (soda cáustica), carbonato de potássio, carbonato de sódio, amônia. Localmente, as bases produzem necrose grave devido à saponi�cação de gorduras e solubilização de proteínas. Ácido forte: esses corrosivos causam necrose coagulativa, pois atuam na desnaturação das proteínas presentes no tecido atingido, enquanto as bases atuam de forma lipossolúvel. A formação do coágulo pode formar uma pequena barreira, gerando uma proteção ao agente tóxico que pode retardar a intensidade da lesão quanto ao tempo de exposição. Isso mostra uma diferença na toxicodinâmica em relação às bases. Ácidos orgânicos: ácido carbólico; ácido fórmico; ácido acético; ácido oxálico. Ácidos inorgânicos: ácido sulfúrico; ácido nítrico; ácido clorídrico. Do ponto de vista forense, são muitos os casos de acidentes domésticos e suicídios com o uso de substâncias corrosivas, pois muitas delas são de fácil acesso, adquiridas como produtos de limpeza, produtos de manutenção de automotores, produtos de beleza, etc. A maioriados acidentes acontece com o uso do acido clorídrico, vendido como produto de limpeza para uso em superfícies esmaltadas. Por ingestão, os corrosivos caracterizados como base atingem mais gravemente o esôfago, em contraste com os ácidos, que afetam substancialmente o estômago. Videoaula: Das substâncias as�xiantes; corrosivas, orgânicas e inorgânicas Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Contextualização das substâncias as�xiantes e corrosivas, relacionando sua importância na perícia criminal. Caracterização dos gases as�xiantes simples e químicos, com exemplos e Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica processo de absorção. Diferença entre a toxicocinética dos agentes corrosivos alcalinos e ácidos. Dos metais (forma, consumo e danos) A intoxicação por metais possui características distintas, pois eles normalmente não são degradados pelos organismos vivos e, consequentemente, causam um efeito progressivo e cumulativo nos tecidos (KSENIA et al., 2017). Esse acúmulo pode ocorrer via cadeia alimentar. Em geral, os metais são elementos sólidos em temperatura ambiente, exceto o mercúrio, que se apresenta em estado líquido. Os metais puros raramente são tóxicos, salvos o chumbo e o mercúrio. A estrutura química metálica que apresenta toxicidade são os sais metálicos, naturalmente encontrados no ambiente, como em águas subterrâneas e minério de metal. Também há resíduos de metais nos dejetos industriais despejados nos rios, nos alimentos contaminados, nas partículas dispersas no ar e na água potável. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Figura 3 | Fontes naturais ou antropogênicas de metais pesados que poluem o meio ambiente. Fonte: adaptada de Fernández- Luqueño et al. (2013). Nem todos os metais são nocivos. alguns são considerados essenciais, cofatores fundamentais no metabolismo dos organismos, e alguns deles englobam os sais minerais (micronutrientes) consumidos para a nossa saúde, como o sódio, cobalto, ferro e zinco. Porém, esses metais podem apresentar toxicidade conforme a dose ingerida. Praticamente todos os metais pesados são tóxicos em quantidades mínimas. No entanto, alguns são de particular interesse por causa de suas concentrações no meio ambiente como o chumbo, mercúrio e arsênio; ou seu uso em intoxicações criminais (arsênio). Para um metal exercer sua toxicidade, ele deve atravessar a membrana e entrar na célula interrompendo os eventos celulares, incluindo crescimento, proliferação, diferenciação e apoptose. A bioacumulação desses metais pesados leva a uma diversidade de efeitos tóxicos em uma variedade de tecidos e órgãos do corpo por agravar os efeitos na saúde em humanos, o que leva à anorexia, conjuntivite, dor abdominal, convulsões, visão prejudicada, dor periférica, neuropatia, entre outras (MAHDI et al., 2021). Os detalhes toxicológicos de alguns metais, como sintomas, suas doses fatais e período de exposição são dados importantes para análises forenses. A seguir, uma tabela de alguns metais e sua ação tóxica: Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Tabela 1 | Metais com capacidade tóxica. Fonte: adaptado de Verma (2018). O conceito de toxicocinética estudada no item de “metabolismo de substâncias tóxicas” é peculiar para a intoxicação por metal. Normalmente provém de um longo período de exposição crônica, e a distribuição sistêmica pode gerar acúmulo em diferentes órgãos e tecidos simultaneamente, ou seja, a intoxicação por metal tem importância forense por trazer evidências sobre sua causa: resultou de exposição aguda ou crônica? O caso foi homicida, suicida ou acidental? A gravidade dos efeitos para a saúde está relacionada com o tipo de metal e sua forma química, que depende exclusivamente do tempo e da dose, e também do seu modo de administração. Videoaula: Dos metais (forma, consumo e danos) Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Contextualização do acúmulo de metais pesados e sua relação com a revolução industrial, associada aos principais resíduos produzidos. Descrição toxicocinética com exemplo para alguns metais como o chumbo, arsênio e mercúrio, com uma abordagem geral da toxicocinética para a maioria dos metais tóxicos. Estudo de caso Como pro�ssional da área de perícia criminal e toxicológica, você e sua equipe policial estão investigando a morte de um trabalhador rural, o Sr. Santana, 55 anos, que trabalhava na lavoura desde os 22 anos de idade. Ele era responsável pela aplicação do agrotóxico (com sulfato de cobre na composição) mediante um pulverizador manual. Sabia-se que esse trabalhador muitas vezes negligenciava o uso dos EPIs. Os familiares suspeitam que a causa mortis foi um infarto fulminante, pois Sr. Santana se queixava de tontura e fraqueza. Qual seria seu palpite para a possível causa da morte? Trace um per�l da toxicodinâmica para o caso. Você pode levantar mais de uma hipótese se quiser. Resolução do estudo de caso Este conteúdo é um vídeo! Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Um dos palpites para a causa da morte do Sr. Santana seria a intoxicação por metais pesados ou algum ácido orgânico geralmente contido nos agrotóxicos. Como ele trabalhava com a aspersão do produto, sua principal forma de exposição foi por inalação, durante longo período. Nos 25 anos de trabalho, como não usava frequentemente o EPI, absorvia mais moléculas da substância química disponível no ambiente de trabalho. Ele também apresentou alguns sintomas como tontura, que podemos interpretar como perda da função cognitiva, quadro clínico do sintoma de intoxicação por cobre. Geralmente, a intoxicação por metal acontece de forma progressiva com o acúmulo da substância ao longo do tempo, até atingir concentrações letais, o que levou à disfunção de algum órgão ou tecido acometido pela toxicante. Uma outra hipótese seria a de que a absorção da substância ocorreria pela pele, que também é uma via de penetração do sulfato de cobre no organismo. Saiba mais Como vimos nesta unidade sobre “Intoxicações de naturezas diversas” existem diferentes naturezas químicas que podem levar à intoxicação, às vezes letal. Agora, você possui Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica ferramentas para entender a relação entre agente tóxico e organismo. Aplicando esses conceitos na perícia criminal, vamos esclarecer um pouco mais o caso de intoxicação dos jogadores juvenis do �amengo, que ocorreu no ano de 2019. Acreditava-se que a causa da morte decorreu do incêndio, mas especialistas em toxicologia levantaram a hipótese de intoxicação por gás cianídrico. Acesse o link e saiba um pouco mais sobre esse caso. Espero que esse caso motive o seu lado criativo e inovador para avaliar um caso que envolve a perícia criminal. NUNES, M. Vítimas do incêndio no CT Flamengo devem ter morrido por intoxicação. Super Esportes, 2019. Disponível em: https://www.df.superesportes.com.br/app/noticias/futebol/�amengo/2019/02/10/noticia_�ame ngo,63600/por-que-cinco-dos-mortos-dormiam-no-quarto-mais-longe-do-comeco-do-inc.shtml. Acesso em: 11 nov. INTERTOX. O que é cianeto de hidrogênio?. Intertox, [s. d.]. Disponível em: https://intertox.com.br/conheca-a-toxicologia-do-cianeto/. Acesso em: 11 nov. 2021. Resumo visual https://www.df.superesportes.com.br/app/noticias/futebol/flamengo/2019/02/10/noticia_flamengo,63600/por-que-cinco-dos-mortos-dormiam-no-quarto-mais-longe-do-comeco-do-inc.shtml https://www.df.superesportes.com.br/app/noticias/futebol/flamengo/2019/02/10/noticia_flamengo,63600/por-que-cinco-dos-mortos-dormiam-no-quarto-mais-longe-do-comeco-do-inc.shtmlhttps://intertox.com.br/conheca-a-toxicologia-do-cianeto/ Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Figura | Síntese dos conteúdos da aula. Fonte: elaborada pela autora. Referências Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica BRESSLER, J. P.; MAERTENS, A.; LOCKE, P. Alternative Testing Models for Testing Chemical Toxicity. Toxicology Testing and Evaluation, v. 9, n. 15, p. 119-126, 2018. Disponível em: https://jhu.pure.elsevier.com/en/publications/alternative-testing-models-for-testing-chemical- toxicity. Acesso em: 11 nov. 2021. COLASSO, C. Gases as�xiantes: os perigos à saúde humana. Chemical Risk, 2019. Disponível em: https://www.chemicalrisk.com.br/gases-as�xiantes/. Acesso em: 11 nov. 2021. COLASSO, C. Produtos corrosivos: qual a toxicidade e os perigos à saúde?. Chemical Risk, 2019. Disponível em: https://www.chemicalrisk.com.br/produtos-corrosivos/. Acesso em: 11 nov.2021. ERNST, S. Pharmaceutical Toxicology. In: WEHLING, M. (Ed.). Principles of Translational Science in Medicine. 2. ed. New York: Elsevier, 2015. p. 249–266. FERNANDEZ-LUQUEÑO, F, et al. Heavy metal pollution in drinking water-a global risk for human health: A review. African Journal of Environmental Science and Technology, v. 7, n. 7, p. 567-584, 2013. Disponível em: https://www.ajol.info/index.php/ajest/article/view/93896. Acesso em: 11 nov. 2021. IBRAHIM, D. et al. (2006). Heavy Metal Poisoning: Clinical Presentations and Pathophysiology. Clinics in Laboratory Medicine, v. 26, n. 1, p. 67–97, 2006. 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Aula 2 Da intoxicação alimentar Introdução https://jhu.pure.elsevier.com/en/publications/alternative-testing-models-for-testing-chemical-toxicity https://jhu.pure.elsevier.com/en/publications/alternative-testing-models-for-testing-chemical-toxicity about:blank about:blank https://www.ajol.info/index.php/ajest/article/view/93896 https://www.researchgate.net/publication/7212503_Heavy_Metal_Poisoning_Clinical_Presentations_and_Pathophysiology https://www.researchgate.net/publication/7212503_Heavy_Metal_Poisoning_Clinical_Presentations_and_Pathophysiology http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/virtual%20tour/hipertextos/up2/envenenamento.html http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/virtual%20tour/hipertextos/up2/envenenamento.html about:blank https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fphar.2021.643972/full https://www.researchgate.net/publication/323829133_Forensic_Aspect_of_Metal_Poisoning_A_Review https://www.researchgate.net/publication/323829133_Forensic_Aspect_of_Metal_Poisoning_A_Review Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Certamente, você já se perguntou: será que posso comer isso? Tal alimento ainda está em condições de consumo? Será que esse fruto do mar não vai me fazer mal? Os subsídios para as respostas a essas e outras perguntas estão contidos na presente aula. Estudaremos, neste momento, o conceito de veneno segundo a doutrina, bem como os processos de envenenamento por alimentos. Para tanto, distinguiremos os microrganismos patogênicos dos deteriorantes e tecnológicos. Seriam os alimentos intoxicantes venenos na acepção da Medicina Legal? A partir da noção de que as doenças alimentares se subdividem em intoxicações e infecções, identi�caremos alimentos perigosos, dentre eles os peixes e outros animais marinhos. De posse dessas informações, o perito criminal passa a ter condições de identi�car certas moléstias e causas de mortes com as quais tiver contato pro�ssional. Então, preste atenção e absorva o máximo de conteúdo, nunca se esquecendo de pesquisar temas correlatos. Do envenenamento por microrganismos em alimentos Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Quando se trata do tema envenenamento, a �gura principal é, por óbvio, o veneno. Há uma certa di�culdade, inclusive na literatura especializada, de conceituar essa classe de substância, haja vista que até mesmo um alimento ou medicamento, ministrado em doses excessivas, ou em circunstâncias especí�cas (ex.: penicilina, para quem é alérgico), pode assumir condição nociva. Do mesmo modo, certa peçonha, consumida em baixas concentrações, pode servir como medicamento. Logo, a maior parte dos autores opta por uma noção ampla, segundo a qual veneno é toda substância que, introduzida por qualquer via, ocasione danos à saúde ou morte. Segundo essa concepção, a cocaína é um veneno, tanto quanto um raticida. Porém, para alguns escritores, as intoxicações alimentares fazem parte das perturbações alimentares, que, por sua vez, são energias de ordem bioquímica (FRANÇA, 2017). Segundo lição desse ilustre professor: As energias de ordem bioquímica são aquelas que se manifestam por ação combinada – química e biológica, atuando lesivamente por meio negativo (carencial) ou de maneira positiva (tóxica ou infecciosa) sobre a saúde, levando em conta ainda as condições orgânicas e de defesa de cada indivíduo. É, portanto, diferente da ação química propriamente dita dos venenos. O envenenamento por microrganismos em alimentos é a situação mais comum, que não se confunde com os envenenamentos (de ordem química), porquanto produzido por mecanismo de Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica ana�laxia quando da ingestão de comidas deterioradas ou contaminadas (FRANÇA, 2017). No contexto alimentar, os microrganismos se apresentam de três modos: Deteriorantes: causam depreciação na cor, sabor, textura e aspecto. Patogênicos: ocasionam doenças ao ser humano. Tecnológicos: transformam positivamente o comestível (ex.: fungos do fermento, na produção de pães) (PERUZZO, 2020). Ao nosso estudo, interessam apenas os microrganismos patogênicos. Não obstante, de acordo com a Associação Portuguesa de Nutrição (2018): Os microrganismos são um conjunto de seres vivos de tamanho microscópico, que habitam de forma ubíqua nos vários ecossistemas (animais, plantas, solo, água e ar), sendo a ciência que os estuda designada de microbiologia.Os alimentos constituem um habitat ótimo para o desenvolvimento de microrganismos pela sua riqueza em nutrientes, água e pH favorável, fatores fulcrais ao seu crescimento e multiplicação. Portanto, são exemplos de microrganismos as bactérias, os protozoários, os vírus, os fungos, as leveduras, as algas unicelulares e os protozoários. França (2017) atesta que: As toxi-infecções alimentares mais comuns são as produzidas pelas salmonelas (salmoneloses), cuja toxina é capaz de produzir uma sintomatologia muito grave, como diarreia, cólicas intestinais intensas, espasmos abdominais, dor de cabeça, náuseas, vômitos e até perda da consciência; pelos bacilos botulínicos (botulismo), encontrados em latas de alimentos em conserva e de toxina neurotrópica, de manifestações sintomáticas gravíssimas, com vômitos, cólicas, diarreia, paralisias oculares, estrabismo divergente, diplopia, arre�exia pupilar, midríase e até mesmo a morte. E, �nalmente, pelos esta�lococos (Microccocus aureus), cuja intoxicação alimentar é sempre de forma benigna, com vômitos raros, diarreia e cólicas intestinais. Como se nota, o envenenamentopor microrganismos em alimentos é um tema amplo, mas de fácil compreensão. Entretanto, é de bom alvitre que você aprofunde sua pesquisa com materiais especí�cos sobre cada agente tóxico. Videoaula: Do envenenamento por microrganismos em alimentos Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. O vídeo em epígrafe aborda o conceito de veneno, atrelando-o ao signi�cado de microrganismos, com o �to de esclarecer como e quando se dá o envenenamento de alimentos por esses seres vivos (bactérias, vírus, protozoários e outros). São esmiuçadas as principais toxinfecções e suas repercussões no corpo humano, com enfoque na perícia criminal. Dos alimentos perigosos Consabido, o ser humano precisa se manter nutrido para viver com saúde e não adoecer. Entretanto, o alimento que nutre pode, em alguns casos, se tornar a causa das mais variadas moléstias. Há elementos que devem ser consumidos, ao passo que outros, naturalmente, não podem ser utilizados como comida. Mas, mesmo aqueles que são saudáveis ao homem têm o condão ser perigosos. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica No entendimento exarado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (2021, p. 1), “perigos são agentes, substâncias ou materiais, de origem biológica, química ou física, que possam causar agravos à saúde ou dano ao consumidor (...) também conhecidos como contaminantes.” Consoante a ANVISA (2015, p. 1): Perigos físicos são elementos estranhos indesejáveis que, em decorrência de falha no processo de manipulação e/ou preparo, acabam indo parar nos alimentos (ex.: pedaços de plástico ou vidro, ossos, pregos etc.). As substâncias tóxicas que, de qualquer modo, entram em contato com o alimento são chamadas de perigos químicos (ex.: água sanitária, detergente, inseticida, lubri�cante etc.). Os perigos biológicos são organismos vivos que, presentes nos alimentos, provocam doenças (bactérias, fungos, parasitas etc.). Você já deve ter se perguntado: esse alimento ainda está bom para ser consumido? A resposta a essa indagação envolve diversos fatores, que vão desde a natureza do alimento a condições de armazenamento (temperatura, umidade, exposição a agentes tóxicos, dentre outras). Há algumas variantes que interferem na proliferação de microrganismos nos alimentos, tais como pH, temperatura, água, nutrientes e atmosfera gasosa (ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO, 2018). As doenças alimentares se subdividem em intoxicações e infecções. As primeiras são produzidas por alimentos impregnados de toxinas, previamente produzidas por bactérias, vírus, protozoários, etc. Já as últimas são ocasionadas pela ingestão de microrganismos vivos, em quantidade su�ciente a causar reação infeciosa no organismo (ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO, 2018). Todavia, alguns alimentos são mais suscetíveis à ação desses agentes nocivos à saúde humana. Exemplos disso são: carne malcozida, queijo, farinha crua, mariscos crus, ovos crus, leite não pasteurizado, vegetais e frutas não lavados, comida enlatada. Como mencionado, os microrganismos necessitam de condições ideais de temperatura, pressão, pH do meio, água, etc. para se desenvolverem. Então, os alimentos perecíveis devem ser armazenados com refrigeração, enquanto os alimentos secos (também chamados de não perecíveis) podem ser mantidos em temperatura ambiente (ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO, 2018). A par desses, são também considerados perigosos os alimentos que, naturalmente, contêm toxinas. Kimura (2016) lista os 23 mais perigosos ao ser humano, dentre os quais se destacam o baiacu (tetrodotoxina), o polvo cru vivo (risco de engasgos) e a água-viva de Nomura (diversas substâncias). Visando erradicar ou, ao menos, diminuir os riscos envolvendo o consumo de alimentos perigosos, a Organização Mundial da Saúde (2006) destaca cinco princípios: manter a limpeza; separar alimentos crus de alimentos cozidos; cozinhar bem os alimentos; manter os alimentos em temperaturas seguras; e utilizar água e matérias-primas seguras. Videoaula: Dos alimentos perigosos Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. No vídeo referente a esse Bloco, são abordados os perigos alimentares aos quais nós, humanos, estamos expostos. Por meio dele, você entenderá a diferença entre os perigos físicos, químicos e biológicos, bem como os seus desdobramentos teóricos e práticos. Não obstante, descobrirá que as doenças alimentares se subdividem em intoxicações e infecções, e quais as implicações que isso acarreta. Da intoxicação por peixes e animais marinhos Pudemos observar, por intermédio do conteúdo abordado nos Blocos 1 e 2, que os alimentos podem ser envenenados, tornando-se impróprios ao consumo humano. Veri�camos, ainda, que existem comidas naturalmente perigosas, que podem levar alguém a enfrentar problemas de saúde e até a morte. Isso não é diferente com os peixes e animais marinhos. Muito pelo contrário, são criaturas dotadas de características especí�cas e que perecem facilmente após abatidas e/ou retiradas do seu habitat natural (muito diferente do ocupado pelos humanos). Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Certas espécies e peixes e frutos do mar são simplesmente impróprias à alimentação humana. Outras, de seu turno, podem ser saboreadas apenas em situações especí�cas (em determinados locais, épocas do ano, ou, até mesmo, após cuidados especiais). De acordo com O’Malley e O’Malley (2020), a ingestão de peixes ósseos pode causar os seguintes tipos de intoxicação: Ciguatera: é produzida por alguns dino�agelados, organismos marinhos ingeridos pelos peixes, de modo que ela �ca impregnada na sua carne (não é eliminada nem com o cozimento do animal). Seus sintomas iniciais são: cólicas abdominais, enjoos, vômitos e diarreia. Após esse período, é possível ocorrer coceira, formigamento, dor de cabeça, dores musculares, alternância de sensações de calor e frio, dores faciais e, durante meses depois, sensações incomuns e nervosismo. O tratamento se dá pela injeção intravenosa de Manitol (diurético). Tetrodotoxina: ocorre tipicamente na ingestão de baiacu, um peixe comum no Japão, mas está presente em mais de 100 outras espécies (marinhas e de água doce). Não é possível eliminar essa toxina por cozimento ou congelamento. Seus primeiros sintomas são (sequencialmente): dormência da face e dos membros, aumento da salivação, náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal, podendo ocorrer paralisia e morte (caso sejam atingidos os músculos responsáveis pela respiração). Escombroide: alguns peixes, como cavala, atum, bonito, peixe-serra e gol�nho azul (mahi- mahi), quando capturados, sofrem decomposição de seus tecidos, o que produz uma substância chamada histamina, capaz de causar, no homem, rubor facial, enjoos, vômitos, dor de estômago e urticária, poucos minutos após o consumo (por isso, muitas vezes, esse estado é confundido com intolerância). O tratamento se da a base de antialérgicos. O consumo de mariscos, em determinadas épocas, pode ser extremamente prejudicial à saúde humana. Durante o período da maré vermelha – que vai de junho a outubro, os mexilhões, as amêijoas, as ostras e as vieiras tendem a se alimentar de dino�agelados venenosos, que se impregnam na sua estrutura, não sendo eliminados nem com o cozimento (O’MALLEY; O’MALLEY, 2020). Ainda segundo O’Malley e O’Malley (2020), a mesma situação se opera com os moluscos, que, por causa dos dino�agelados, transfere ao homem a saxitoxina. O primeiro sintoma é o formigamento em volta da boca, seguido de enjoo, vômito, cólicas abdominais e de fraqueza muscular, podendo acarretar até paralisia (efeito raro). Não se deslembre, porém, de queé possível haver contaminação de peixes e animais marinhos por metais tóxicos (LOBO, 2021). A cognição desses alimentos, bem como dos seus efeitos na saúde humana, é um fator decisivo na identi�cação de doenças e causa mortis. Desta feita, o perito deve buscar sempre o aprimoramento nessa área do conhecimento. Videoaula: Da intoxicação por peixes e animais marinhos Este conteúdo é um vídeo! Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Na presente videoaula, você �cará sabendo de que maneira os peixes e outros animais marinhos (moluscos, ostras, mexilhões, amêijoas, vieiras, etc.) podem afetar a saúde dos seres humanos. Serão abordadas as causas dessa nocividade, as principais toxinas, sua transmissão, métodos paliativos/curativos e, principalmente, seu impacto no organismo humano. Estudo de caso Você e sua equipe pro�ssional foram convocados a auxiliar a polícia no deslinde de um óbito ocorrido na noite do dia anterior. Chegando ao local, se depararam com um homem estirado no sofá de sua residência. Foram informados de que a vítima faleceu por as�xia, mas que, nas horas que antecederam sua morte, experimentou os seguintes sintomas: dormência da face e dos membros, aumento da salivação, náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal e paralisia. Embasado nos conhecimentos absorvidos desta aula, identi�que a possível causa mortis e explique o que motivou sua resposta. Resolução do estudo de caso Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Trata-se de um caso que envolve vítima de as�xia, que, nas horas que antecederam sua morte, teve os seguintes sintomas: dormência da face e dos membros, aumento da salivação, náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal e paralisia. Levando-se em conta os ensinamentos da presente aula, pode-se a�rmar que é provável que o indivíduo tenha sofrido uma intoxicação alimentar por peixe ou animais marinhos, mais precisamente, pela tetrodotoxina, que, possivelmente, causou os sintomas supracitados, notadamente, a paralisia, que culminou na obstrução das vias respiratórias. Saiba mais Em complemento ao conteúdo teórico apresentado na presente aula, é importante que o aluno e, principalmente, o pro�ssional da área pericial se atualize sobre os casos práticos que envolvem a intoxicação alimentar. Por esse motivo, sugere-se a leitura da seguinte notícia jornalística, que Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica relata intoxicação de alunos em sete escolas públicas de Taquarituba/SP, supostamente em virtude do consumo da merenda. Resumo visual Nesta aula, tivemos contato com o conceito de veneno para a doutrina, bem como os processos de envenenamento por alimentos (microrganismos, peixes e outros animais marinhos, etc.). O quadro abaixo destina-se a facilitar a assimilação dos conteúdos ministrados: https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/2021/05/19/alunos-sao-socorridos-com-intoxicacao-em-escolas-de-taquarituba.ghtm Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Figura 1 | Doenças alimentares. Referências Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Boas práticas de manipulação em serviços de alimentação. Governo do Estado de São Paulo, 2015. Disponível em: https://jundiai.sp.gov.br/saude/wp-content/uploads/sites/17/2015/01/Aula-1.pdf. Acesso em: 30 dez. 2021. ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO. Segurança Alimentar: princípios básicos. Porto: Associação Portuguesa de Nutrição, 2018. CROCE, D.; JÚNIOR, D. C. Manual de medicina legal. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. FRANÇA, G. V. Medicina legal. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. KIMURA, G. Os 23 alimentos mais perigosos do mundo. Exame, 2016. 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Acesso em: 30 dez. 2021 Aula 3 Da intoxicação por drogas lícitas Introdução https://jundiai.sp.gov.br/saude/wp-content/uploads/sites/17/2015/01/Aula-1.pdf https://exame.com/casual/os-23-alimentos-mais-perigosos-do-mundo/ https://www.ecodebate.com.br/2011/01/14/peixes-e-contaminacao-por-metais-toxicos-artigo-de-frederico-lobo/ https://www.ecodebate.com.br/2011/01/14/peixes-e-contaminacao-por-metais-toxicos-artigo-de-frederico-lobo/ https://www.msdmanuals.com/pt/casa/les%C3%B5es-e-envenenamentos/envenenamento/intoxica%C3%A7%C3%A3o-por-peixe-e-mariscos https://www.msdmanuals.com/pt/casa/les%C3%B5es-e-envenenamentos/envenenamento/intoxica%C3%A7%C3%A3o-por-peixe-e-mariscos https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/2021/05/19/alunos-sao-socorridos-com-intoxicacao-em-escolas-de-taquarituba.ghtml https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/2021/05/19/alunos-sao-socorridos-com-intoxicacao-em-escolas-de-taquarituba.ghtml https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/2021/05/19/alunos-sao-socorridos-com-intoxicacao-em-escolas-de-taquarituba.ghtml https://www.farmajunior.com.br/sem-categoria/microrganismos-em-alimentos-conheca-os-mais-comuns/ https://www.farmajunior.com.br/sem-categoria/microrganismos-em-alimentos-conheca-os-mais-comuns/ Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Já tivemos a oportunidade de veri�car o que são intoxicações e quais as principais substâncias que causam tais processos no corpo humano. Analisamos, ainda, os sinais deixados nos cadáveres expostos, em vida, à toxidade dos elementos em questão – descobertos mediante a atuação do perito criminal. Nesta aula, estudaremos as intoxicações provocadas por drogas lícitas, ou seja, aquelas cujo uso, embora permitido pela legislação, tem o condão de intoxicar, sobretudo causando males ao coração, perturbações mentais e distúrbios no sistema nervoso central (SNC). Neste material, apresentaremos as principais drogas consentidas em nosso país, que vão desde o tabaco, adquirido em qualquer estabelecimento, até os medicamentos, que podem ou não sofrer restrição de comercialização. A intoxicação por drogas lícitas é a mais corriqueira (malgrado, muitas vezes, não leve ao resultado morte). Consequentemente, deve o perito criminal – assim como os demais pro�ssionais da área – dominar os conhecimentos acerca do tema. Das substâncias cardíacas Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Conforme estudamos anteriormente, é considerada droga qualquer substância apta a proporcionar perturbações no sistema nervoso central (SNC), por intermédio de alterações no seu funcionamento. Essas variações podem ser singelas, como as decorrentes do consumo de uma xícara de café (leve estímulo), ou extremamente notórias, como as causadas pelo usode LSD (falta de percepção da realidade, alucinações, etc.), por exemplo. Nesse sentido, é possível dividir as drogas em: ilícitas e lícitas. As primeiras são aquelas elencadas taxativamente pela Portaria nº 334, de 12 de maio de 1998, da Secretaria de Vigilância em Saúde/Ministério da Saúde, sob autorização da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2003. Já as segundas, por exclusão, são quaisquer outras que não constem dessa lista. Por óbvio, às condutas relacionadas ao uso e trá�co de drogas proibidas (em suas mais diversas formas) são cominadas punições pela Legislação. De outro lado, as drogas permitidas têm o seu consumo e comércio autorizado, livremente ou mediante restrições. O café talvez seja o melhor exemplo de droga lícita de uso e comercialização livres (dado o seu baixíssimo ou inexistente perigo à saúde, quando consumido com moderação). São exemplos de drogas lícitas que sofrem restrição os remédios comercializados apenas sob prescrição médica, como o Bromazepam (2021) e o álcool, vedado aos menores de 18 anos (SÃO PAULO, 2011). A Sociedade Brasileira de Cardiologia alerta sobre os efeitos nocivos que as drogas – lícitas ou ilícitas – têm sobre o aparelho cardiovascular (SBC, 2021). No que diz respeito ao consumo de drogas lícitas, as substâncias cardíacas são aquelas que afetam o coração, podendo alterar o funcionamento do organismo e, até mesmo, causar a morte do indivíduo (ainda que a longo prazo). Um estudo recente demonstrou que o consumo de álcool causa �brilação arterial (A-�b), disfunção arterial que consiste numa espécie de arritmia cardíaca, aumentando o risco de um derrame (O’CONNOR, 2021). Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Conforme a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2021): O álcool também tem efeitos tóxicos, diretos e indiretos, sobre o coração. Indiretos, pois pode trazer alterações lipídicas na composição dos lipídios sanguíneos, com aumento principalmente dos triglicérides, o que, a longo prazo, pode levar a uma alteração pró heterogênica, culminando com a degeneração dos vasos. Em doses elevadas também pode causar arritmias e dano cardíaco. O tabaco (substância presente nos cigarros, cigarrilhas, charutos, dentre outros) é, segundo a Associação Bene�cente Síria (HCOR), um dos maiores causadores de doenças cardiovasculares, pois agride o endotélio (parede de células que recobre os vasos sanguíneos) (HCOR, 2018). Como explica Cury (2021): Essa ação interfere com a produção de uma substância protetora conhecida como óxido nítrico e faz como que as artérias �quem mais vulneráveis ao acúmulo de gordura. Há também uma interferência no mecanismo de contração e relaxamento, o que resulta numa maior di�culdade para o sangue circular. Dentre os efeitos do tabagismo no sistema cardiovascular, podemos destacar: endurecimento das artérias do fumante, redução do consumo de oxigênio e aumento de colesterol, aterosclerose (acúmulo de gordura nas paredes das artérias), ampli�cação do risco de infarto, etc. (HCOR, 2018). Os fármacos, de seu turno, podem causar diversos efeitos no coração, dada a grande gama existente no mercado e seus mais variados usos (analgésicos, antidepressivos, anti- in�amatórios, e vários outros). Contudo, nem sempre os impactos produzidos no corpo humano são negativos. Muito pelo contrário: em se tratando de medicamentos, a tendência é que causem benefícios. Somente haverá prejuízo à saúde de quem os consumir se houver intolerância, predisposição a alguma enfermidade/complicação, ou, ainda, incorreta administração. Algumas medicações atuam diretamente no sistema cardiovascular e costumam ser classi�cadas da seguinte forma: diuréticas (furosemida, clortalidona, hidroclorotiazida); betabloqueadoras (propranolol, metoprolol, atenolol); inibidoras da ECA (captopril, enalapril, benazepril); bloqueadoras do receptor de AT II (losartano, valsartano, candersatano); bloqueadoras de canal de cálcio (verapamil, diltiazem, anlodipino); agonistas alfa de ação central (clonidina, metildopa); alfa bloqueadoras (prazosina, doxazosina); vasodilatadoras diretas arteriais e venosas (hidralazina e Minoxidil); vasodilatadoras coronarianas (dinitrato de isossorbida, mononitrato de isossorbida, nitroglicerina, propatilnitrato) e inibidoras de Renina (alisquireno) (LEONARDI, 2019). Desta sorte, é imprescindível que o perito conheça os efeitos das drogas lícitas (bem como das ilícitas), mormente no que tange às substâncias cardíacas, a �m de que elabore laudos com qualidade e pro�ssionalismo. Videoaula: Das substâncias cardíacas Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Você já aprendeu a diferença entre drogas lícitas e ilícitas. No vídeo desta aula, você poderá conhecer melhor as primeiras e os principais efeitos que produzem no coração, assim como no sistema cardiovascular. Trataremos do álcool, do cigarro (tabaco de modo geral) e dos medicamentos no que diz respeito às substâncias cardíacas. Das substâncias psicotrópicas O termo droga advém da palavra droog, de origem holandesa, que pode ser traduzida como folha seca, pois, nos primórdios da humanidade, os remédios eram naturais, produzidos a partir de ervas e folhas (MATO GROSSO, 2006). Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica A intoxicação por drogas também é chamada de toxicomania, vocábulo de origem grega, composto pelos termos tóxico e mania, que signi�ca, portanto, a utilização aguda (por curto espaç de tempo) ou crônica (de longa duração) de drogas. Para a Organização Mundial de Saúde (1974), a expressão mais adequada é farmacodependência, que corresponde ao estado psíquico e, às vezes, físico causado pela interação entre um organismo vivo e um fármaco, de modo que fármaco ou droga é toda substância que, introduzida no organismo vivo, pode modi�car uma ou mais de suas funções. Para a legislação, a de�nição de drogas se encontra no parágrafo único do art. 1º, da Lei nº 11.343, de 11 de agosto de 2006, que as de�ne como as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especi�cados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União. Trata-se de uma lei penal em branco em sentido estrito, que encontra seu complemento na Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998. Em outras palavras, as substâncias proibidas são elencadas nesse último documento legal. França (2017) explica “tóxico” ou “droga” como “um grupo muito grande de substâncias naturais, sintéticas ou semissintéticas que podem causar tolerância, dependência e crise de abstinência” (grifo do autor). É, praticamente, unânime entre os autores de Medicina Legal a divisão tripartite das drogas em: depressoras do sistema nervoso central; estimulantes do sistema nervoso central; e perturbadoras do sistema nervoso central. Essa é uma das classi�cações apresentadas por Croce e Júnior (2012). Explicita São Paulo (2020) que as drogas depressoras do sistema nervoso central, também chamadas de psicolépticas, deprimem, ou seja, reduzem a atividade cerebral, fazendo com que o usuário �que com o raciocínio lento, distraído e desinteressado. São exemplos desse grupo: álcool, opiáceos (heroína, mor�na, ópio), barbitúricos (anticonvulsivos, sedativos), ansiolíticos (calmantes), solventes (cola de sapateiro, respingo de solda, lança-perfume), dentre outros. Já os estimulantes do sistema nervoso central, conhecidos como psicoanalépticos, nooanalépticos ou timolépticos, aguçam o cérebro, aumentando sua atividade, deixando, por consequência, o usuário em estado de agitação e alerta, sem sono. São eles: nicotina, anfetamina, cocaína, crack, metanfetamina, etc. (SÃO PAULO, 2020). De seu turno, os perturbadores do sistema nervoso central, alucinógenos, psicodélicos, psicoticomiméticos, psicodislépticos, psicometamór�cos ou alucinantes são tóxicos que, como o próprio nome indica, perturbam,ou seja, alteram qualitativamente o funcionamento do cérebro, deixando o indivíduo confuso, com a percepção alterada da realidade e, em alguns casos, com alucinações. Exemplos dessas drogas são: maconha, LSD, cogumelo, cacto, anticolinérgicos, êxtase e outros (SÃO PAULO, 2020). Videoaula: Das substâncias psicotrópicas Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica para assistir mesmo sem conexão à internet. Assista as explicações do vídeo acima. Do álcool e dos depressores da atividade do sistema nervoso central (SNC) A partir da subdivisão abordada no Bloco anterior, o álcool é uma droga depressora do sistema nervoso central. A embriaguez alcoólica, nas palavras de França (2017), “é um conjunto de manifestações neuropsicossomáticas resultantes da intoxicação etílica aguda de caráter episódico e passageiro”. Cuida-se de um estágio (esporádico), que não se confunde com alcoolemia Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica (concentração de álcool por litro de sangue) ou com alcoolismo (dependência do álcool – tratada como doença pela Organização Mundial de Saúde). A ação tóxica do álcool no organismo acarreta manifestações físicas (congestão das conjuntivas, taquicardia, taquipneia, taquies�gmia, hálito alcoólico-acético), neurológicas (falta de equilíbrio, marcha prejudicada, problemas de coordenação motora) e psíquicas (alteração de humor, de senso ético, de atenção, da sensopercepção, falta de concatenação de ideias). Prevalece, quanto às fases da embriaguez alcoólica, na literatura especializada, a classi�cação adotada, dentre outros, por França (2017): 1. excitação: momento em que o sujeito se mostra alegre, bem-humorado, gracejador, falante (até demais, em alguns casos), com olhar animado. 2. Confusão: fase em que o indivíduo começa a demonstrar as perturbações psíquicas e motoras (ex.: andar cambaleante), �ca irritado e com tendência à agressividade, com olhos “baixos”. 3. Sono ou comatose: o embriagado tem di�culdade para se manter em pé, caminhando escorado nas pessoas ou obstáculos, é acometido por vômitos, náusea, sudorese abundante, relaxamento intestinal e, �nalmente, quando cai ou é colocado deitado, não costuma se levantar, “apagando” em sono profundo. Comprova-se a embriaguez pela coleta da urina, da saliva (não recomendada), pelo líquor, pelo exame clínico (de maior valor probante) e pelo ar alveolar (etilômetro/”bafômetro”). França (2017) aponta que a alcoolemia se apresenta em três graus: 1. Intoxicação aparente: 5 decigramas por litro de sangue. 2. Distúrbios tóxicos: de 5 a 20 decigramas por litro de sangue. 3. Embriaguez completa: acima de 20 decigramas por litro de sangue. Todavia, para a legislação brasileira, qualquer nível de intoxicação acima de zero é su�ciente para sujeitar o indivíduo a sanções. Representam também os depressores do SNC os solventes, os sedativos, os barbitúricos, os ansiolíticos e os opiáceos (além de outras substâncias). Os primeiros, também conhecidos como inalantes (pela forma como ingressam no corpo humano), correspondem a uma das drogas mais consumidas pelas crianças em situação de rua, que aspiram colas, aerossóis, tintas, solventes, dentre outros, como forma de enganar a fome (MATO GROSSO, 2006). Ansiolíticos e barbitúricos são fármacos voltados, em síntese, ao combate da ansiedade e da insônia, respectivamente (MATO GROSSO, 2006). Geralmente, são administrados pela via oral, mas também podem ser injetados na corrente sanguínea (mais comum em hospitais e centros de tratamento). É importante que o perito e os demais sujeitos envolvidos na elucidação de crimes tenham pleno conhecimento das drogas depressoras e seus efeitos, sabendo diferenciar, na prática, umas das outras. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Videoaula: Do álcool e dos depressores da atividade do sistema nervoso central (SNC) Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Assista as explicações do vídeo acima. Estudo de caso Conforme debatido em linhas anteriores, são representantes do grupo das drogas lícitas: o álcool, os medicamentos, o cigarro e, até mesmo, o café (além de outros). Veri�cou-se que esses tóxicos podem causar efeitos no corpo humano, principalmente no sistema cardiovascular e, por isso, recebem o nome de substâncias cardíacas. Você, perito criminal, é designado a acompanhar a autoridade policial num caso de óbito envolvendo um famoso artista. Chegando ao local, se depara com a seguinte cena: o recém- Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica falecido está deitado na cama de seu próprio quarto, usando pijamas, rodeado de remédios e próximo a um copo d’água. Não há marcas externas no corpo da vítima (tiros, esganaduras, queimaduras, feridas contusas, etc.) Diante desse contexto, o Delegado de Polícia lhe formula a seguinte indagação: é possível que a vítima tenha morrido em virtude do consumo excessivo de remédios? Em caso positivo, a parada cardíaca é uma causa a se investigar? Videoaula: Resolução do estudo de caso Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Face à pergunta formulada anteriormente, a resposta adequada se dá no sentido de que é possível, sim, que a vítima tenha falecido por causa do consumo excessivo de remédios, desde que seja intolerante a algum fármaco, predisposição a alguma enfermidade/complicação decorrente disso, ou, ainda, incorreta administração. A ocorrência de parada cardíaca é uma das possíveis causas da morte e merece ser investigada, pois, como vimos, a maior parte das substâncias cardíacas atuam no sistema cardiovascular. Saiba mais Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Consoante debatido em linhas anteriores, nem sempre os efeitos das drogas no sistema cardiovascular são deletérios (como é o caso de remédios formulados para impedir infartos, por exemplo). Curiosamente, algumas pesquisas apontam que o álcool, embora consumido em excesso possa causar problemas cardíacos, se utilizado com moderação, pode, inclusive, proteger o coração. É o que sustenta o médico Drauzio Varella, no artigo intitulado O álcool e o coração. Resumo visual https://drauziovarella.uol.com.br/drogas-licitas-e-ilicitas/o-alcool-e-o-coracao-artigo/ Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Consoante exaustivamente debatido no presente material, é de suma importância que o perito – e os demais operadores das ciências criminais – conheçam as drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas, dominando seus principais efeitos no corpo humano e espécimes. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Figura 1 | Classi�cação das drogas e seus efeitos no sistema nervoso central. Referências CROCE, D.; JÚNIOR, D. C. Manual de medicina legal. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. Bromazepam. Curitiba: Neo Química, [s. d.]. Bula de remédio. Disponível em: https://pro.consultaremedios.com.br/bromazepam-neo-quimica? __cf_chl_captcha_tk__=Ms6C0Fpn84MdOkEjDp2pYgGbZxtQODH2m508MS5jdO4-1639576416-0- gaNycGzND-U. Acesso em: 31 dez. 2021. FRANÇA, G. V. Medicina legal. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. HCOR. Associação Bene�cente Síria. Cardiologista do HCor alerta: cigarro é um dos maiores causadores de doenças cardiovasculares. HCOR, 2018. Disponível em: https://www.hcor.com.br/imprensa/noticias/cardiologista-do-hcor-alerta-cigarro-e-um-dos- maiores-causadores-de-doencas-cardiovasculares/. Acesso em: 31 dez. 2021. HERCULES, H. C. Medicina legal: texto e atlas. São Paulo: Atheneu. 2011. LEONARDI, E. ICTQ – Instituto de Ciência Tecnologia e Qualidade. Varejo Farmacêutico. Farmacoterapia e �siopatologia dosistema cardiovascular. ICTQ, 2019 Disponível em: https://ictq.com.br/varejo-farmaceutico/914-farmacoterapia-e-�siopatologia-do-sistema- cardiovascular. Acesso em: 31 dez. 2021. MATO GROSSO. Tribunal de Justiça. Drogas psicotrópicas. TJMT, 2006. Disponível em: https://www.tjmt.jus.br/intranet.arq/cms/grupopaginas/105/988/Drogas_psicotr%C3%B3picas.p df. Acesso em: 31 dez. 2021. https://pro.consultaremedios.com.br/bromazepam-neo-quimica?__cf_chl_captcha_tk__=Ms6C0Fpn84MdOkEjDp2pYgGbZxtQODH2m508MS5jdO4-1639576416-0-gaNycGzND-U https://pro.consultaremedios.com.br/bromazepam-neo-quimica?__cf_chl_captcha_tk__=Ms6C0Fpn84MdOkEjDp2pYgGbZxtQODH2m508MS5jdO4-1639576416-0-gaNycGzND-U https://pro.consultaremedios.com.br/bromazepam-neo-quimica?__cf_chl_captcha_tk__=Ms6C0Fpn84MdOkEjDp2pYgGbZxtQODH2m508MS5jdO4-1639576416-0-gaNycGzND-U https://www.hcor.com.br/imprensa/noticias/cardiologista-do-hcor-alerta-cigarro-e-um-dos-maiores-causadores-de-doencas-cardiovasculares/ https://www.hcor.com.br/imprensa/noticias/cardiologista-do-hcor-alerta-cigarro-e-um-dos-maiores-causadores-de-doencas-cardiovasculares/ https://ictq.com.br/varejo-farmaceutico/914-farmacoterapia-e-fisiopatologia-do-sistema-cardiovascular https://ictq.com.br/varejo-farmaceutico/914-farmacoterapia-e-fisiopatologia-do-sistema-cardiovascular https://www.tjmt.jus.br/intranet.arq/cms/grupopaginas/105/988/Drogas_psicotr%C3%B3picas.pdf https://www.tjmt.jus.br/intranet.arq/cms/grupopaginas/105/988/Drogas_psicotr%C3%B3picas.pdf Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica O’CONNOR. A. Entenda como o consumo de bebida alcóolica, ainda que de forma moderada, pode afetar seu coração. O Globo, 2021. Disponível em: https://oglobo.globo.com/saude/bem- estar/entenda-como-consumo-de-bebida-alcoolica-ainda-que-de-forma-moderada-pode-afetar- seu-coracao-25183886. Acesso em: 15 dez. 2021. OMS - Organizacion Mundial de la Salud. Comité de expertos de la OMS em farmacodependencia (20º informe). Genebra: OMS, 1974. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/38851/WHO_TRS_551_spa.pdf? sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 31 dez. 2021. SÃO PAULO. Secretaria da Justiça e Cidadania. IMESC – Instituto de Medicina Social e de Criminologia. Classi�cação das drogas. IMESC, 2020. Disponível em: https://imesc.sp.gov.br/index.php/classi�cacao-das-drogas/. Acesso em: 31 dez. 2021. SÃO PAULO. Lei nº 14.592, de 19 de outubro de 2011. Proíbe vender, ofertar, fornecer, entregar e permitir o consumo de bebida alcoólica, ainda que gratuitamente, aos menores de 18 (dezoito) anos de idade, e dá providências correlatas. Assessoria Técnico-Legislativa, São Paulo, SP, 19 out. 2011. Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2011/lei-14592- 19.10.2011.html. Acesso em: 31 dez. 2021. SBC - Sociedade Brasileira de Cardiologia. Consumo de drogas e álcool tem efeitos nocivos sobre o aparelho cardiovascular. SBC, 2021. Disponível em: https://www.portal.cardiol.br/post/consumo-de-drogas-e-%C3%A1lcool-tem-efeitos-nocivos- sobre-o-aparelho-cardiovascular. Acesso em: 31 dez. 2021. VARELLA, D. O álcool e o coração. Drauzio, 2011. Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/drogas-licitas-e-ilicitas/o-alcool-e-o-coracao-artigo/. Acesso em: 31 dez. 2021. Aula 4 Da intoxicação por drogas ilícitas Introdução https://oglobo.globo.com/saude/bem-estar/entenda-como-consumo-de-bebida-alcoolica-ainda-que-de-forma-moderada-pode-afetar-seu-coracao-25183886 https://oglobo.globo.com/saude/bem-estar/entenda-como-consumo-de-bebida-alcoolica-ainda-que-de-forma-moderada-pode-afetar-seu-coracao-25183886 https://oglobo.globo.com/saude/bem-estar/entenda-como-consumo-de-bebida-alcoolica-ainda-que-de-forma-moderada-pode-afetar-seu-coracao-25183886 https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/38851/WHO_TRS_551_spa.pdf?sequence=1&isAllowed=y https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/38851/WHO_TRS_551_spa.pdf?sequence=1&isAllowed=y https://imesc.sp.gov.br/index.php/classificacao-das-drogas/ https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2011/lei-14592-19.10.2011.html https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2011/lei-14592-19.10.2011.html https://www.portal.cardiol.br/post/consumo-de-drogas-e-%C3%A1lcool-tem-efeitos-nocivos-sobre-o-aparelho-cardiovascular https://www.portal.cardiol.br/post/consumo-de-drogas-e-%C3%A1lcool-tem-efeitos-nocivos-sobre-o-aparelho-cardiovascular Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica A intoxicação por drogas ilícitas é um mal que a�ige a humanidade desde seus primórdios até os dias atuais. Existem diversos fatores sociais, econômicos, psicológicos e outros que ocasionam o uso de entorpecentes. Todavia, o objeto do nosso estudo são as drogas em espécie e seus efeitos no corpo humano. Já estudamos que essas substâncias atuam sobre o sistema nervoso central, ocasionando alterações comportamentais, além de danos corporais, que vão desde meras disfunções à morte cerebral e falência de órgãos. Na presente aula, conheceremos um pouco mais sobre algumas das drogas mais famosas e consumidas no Brasil e no mundo: a cocaína, a maconha (cannabis sativa) e o LSD (ácido lisérgico). Não é demasiado frisar a relevância do tema na atuação do perito criminal e dos demais pro�ssionais ligados às ciências médicas, biológicas e sociais. Por isso, preste atenção e estude com a�nco, pois os temas versados na presente aula são alvos de provas de concursos e, principalmente, da prática forense. Da cocaína ou anfetaminas Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica O IMESC (Instituto de Medicina Social e Criminologia), atrelado à Secretaria da Justiça e Cidadania do Governo de São Paulo, ordena as drogas nos seguintes grupos: depressores do SNC; estimulantes do SNC; e perturbadores do SNC (SÃO PAULO, 2020). A cocaína é uma droga de caráter básico (alcaloide), cujo princípio ativo é a folha da coca, uma planta nativa da América do Sul. Foi isolada, pela primeira vez, em 1859, pelo químico alemão Albert Niemann e difundida nos Estados Unidos em 1882 (LÓPEZ-MUÑOZ; GONZALES, 2020). Ela também conhecida como poeira divina, pois se apresenta na forma de um pó branco (quando não diluída ou misturada). É uma das drogas mais consumidas no mundo e no Brasil, principalmente entre os artistas e pessoas de classe média alta. Entra no organismo, comumente, pela via nasal, mas também pode ser injetada ou introduzida por outras formas (mediantes cortes na gengiva, pelos orifícios, etc.), sendo que o tempo de absorção varia conforme a via eleita. Segundo Croce e Júnior (2012), os efeitos são: (...) ausência de fadiga (tanto que os indígenas peruanos que mascam folhas de coca aguentam longas caminhadas fatigantes carregando fardos excessivamente pesados sem demonstrar cansaço), carecimento de fome, aceleração do pulso, respiração rápida, insônia, aumento da atividade motora, sentimentos físicos e mentais estereotipados, loquacidade, excitação eufórica com conservação da inteligência e da consciência, e, amiúde, alucinações auditivas, visuais e táteis. Há indícios de que a ideação e a atenção aumentam. Numa fase posterior, cessado o efeito, ocorrem Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica tristeza, melancolia, apatia, inapetência, cefaleia, diminuição do interesse pelo trabalho, falta de ambição, negligência na higiene pessoal, distúrbios cardíacos e respiratórios e uma intensa depressão cortical caracterizada por indisposição mental, exaustão física e di�culdade de concentração que pode, em alguns casos, levar ao suicídio, desenvolvida paulatinamente na mesma ordem em que se instalou a manifestação do estado de exaltação; e, de permeio, comportamento estereotipado, ilusões paranoides, insanidade cocaínica e tendência à violência. Tais consequências podem ser sintetizadas como efeitos principais: Psíquicos – agitação motora, excitação, ansiedade, confusão mental e loquacidade. Neurológicos – afasia, paralisias, tremores e, às vezes, convulsão. Circulatórios – taquicardia, aumento da pressão arterial e dor precordial. Respiratórios – polipneiae até síncope respiratória. Além desses, têm-se os efeitos secundários: náuseas, vômitos e oligúria (FRANÇA, 2017). Outrossim, como leciona França (2017): É tão grave a nocividade dessa droga que, mesmo depois da cura pela desintoxicação, o viciado não se recupera das lesões mais graves do sistema nervoso. Tem estados depressivos e de angústia, alucinações visuais e tácteis, delírios de perseguição e complexo de culpa. Envelhece muito precocemente, e a morte é quase sempre por perturbações cardíacas. Existe uma forma de intoxicação super aguda (extrema) por cocaína que evolui, repentinamente, para o colapso e morte, em virtude da ação tóxica direta da metilec gonanina benzoica sobre a musculatura do coração (CROCE; JÚNIOR, 2012). As anfetaminas assemelham-se muito à cocaína no que tange à intoxicação aguda, que, como bem explicita França (2017), “caracteriza-se pela inquietação psicomotora, incapacidade de atenção, obnubilação da consciência, estado de confusão com manifestações delirantes.” Todavia, elas têm forma diferente (bolinhas ou comprimidos) e ingressam no organismo de modo diverso (por meio de ingestão com água). É possível, outrossim, a introdução intravenosa – assim como a cocaína. Videoaula: Da cocaína ou anfetaminas Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Assista as explicações do vídeo acima. Intoxicação por lisergia (LSD) O LSD ou LSD-25, como prefere a literatura especializada, é uma droga semissintética, pois é extraída da ergotina do centeio (dietilamina do ácido lisérgico) (FRANÇA, 2017) e sintetizada em laboratório. Trata-se de um tóxico extremamente poderoso e alucinógeno, que pode ser consumido em tabletes de açúcar, em fragmentos de papel/cartolina (manchado com a substância) ou dissolvido em água. Descoberto, por acaso, em 1943 pelo químico suíço Albert Hofmann, o LSD se difundiu entre os jovens, principalmente na década de 60, com o movimento hippie, tendo sido, inclusive, propagado por famosos artistas da época, como The Beatles, Jimi Hendrix e Aldous Huxley (GARCÍA-ZIEMSEN, 2021).Partindo da classi�cação tripartite, utilizada em todo o nosso trabalho, a droga em epígrafe é considerada perturbadora do sistema nervoso central. Há autores, porém, que a classi�cam também como um químico despersonalizante (CROCE; JÚNIOR, 2012). França (2017) assevera que “o viciado tem o aspecto de uma pessoa com náuseas. Mostra uma intensa depressão, tristeza e fadiga.” Ele elenca, ainda, as seguintes consequências da intoxicação: Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica O comportamento transforma-se transitoriamente, como se observa nas doenças mentais. Perturbação da percepção do mundo exterior, delírios e alucinações. Crises constantes de convulsões, chegando até ao estado comatoso. Surgem pesadelos terríveis, dos quais a vítima pode �car prisioneira para sempre. É o suicídio do drogado. Curiosamente, o LSD-25 provoca uma sequela denominada feedback, que é o retorno de algumas sensações experimentadas durante o consumo da droga, mas em momentos aleatórios de abstinência (às vezes, anos após o uso). Estudos modernos demonstram que o LSD produz quatro grupos de reações: O primeiro deles con�gura-se pela falsa noção, do intoxicado, de que não há limites para as suas potencialidades (megalomania). É nesse momento que alguns usuários se atiram de prédios, pensando poderem voar. Por sua vez, o segundo opõe-se ao primeiro grupo, eis que se caracteriza pela depressão profunda, angústia, solidão e sentimento de culpa. É o que, comumente, leva o toxicômano ao suicídio. No terceiro grupo ocorrem as perturbações paranoicas. Os drogados se sentem perseguidos, ameaçados pelos que os cercam e, não raras vezes, se tornam violentos, agredindo e matando pessoas que estão à sua volta. Por �m, o quarto grupo de reações, que pode ser rápido ou se prolongar demasiadamente, manifesta-se mediante um estado de confusão geral, com ilusões, alucinações, ideias irracionais, sentimentos absurdos, bem como incapacidade de se orientar no tempo e no espaço (FRANÇA, 2017). De acordo com BRASIL (2010): O LSD-25 é utilizado habitualmente por via oral e bastam alguns microgramas (micrograma é um milésimo de um miligrama que, por sua vez, é um milésimo de um grama) para produzir alucinações. De 10 a 20 minutos após tomá-lo, o pulso pode �car mais rápido, as pupilas podem �car dilatadas, a pessoa produz muito suor e pode sentir uma certa excitação. Fique atento às características e singularidades de cada droga, pois isso será salutar na sua atuação pro�ssional. Videoaula: Intoxicação por lisergia (LSD) Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica para assistir mesmo sem conexão à internet. No vídeo desta aula, serão descritas as principais características da droga conhecida como LSD (ou LSD-25), bem como seus efeitos no corpo humano. Abordar-se-á a divisão quadripartite de grupos de reações provocadas na pessoa que consome essa droga, a �m de que o perito e demais pro�ssionais tenham subsídios para identi�cá-la. Intoxicação por Cannabis Sativa A maconha, também conhecida como diamba, marijuana, erva-do-diabo, dentre outros nomes populares, é a droga obtida a partir das �ores e folhas da cannabis sativa. Conquanto as últimas contenham o princípio ativo em menor quantidade, são prensadas juntamente com as primeiras, a �m de produzir volume, para �ns de comércio. O processo de fabricação é rudimentar e envolve, resumidamente, o cultivo da planta, colheita, secagem das �ores/folhas e prensagem. A substância ativa, obtida das in�orescências verde-escuras, de cheiro acre, do cânhamo da Índia, é chamada de Tetrahidrocanabinol (THC) ou Delta-9-THC (9-gama- transtetrahidrocanabinol) (CROCE; JÚNIOR, 2012). Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica O consumo dessa droga se dá de diversas formas, a depender da �nalidade pretendida. Isso porque, pode ser consumida, inclusive, como medicamento, por pacientes com câncer ou outras doenças que causam dores (propriedades analgésicas e anticonvulsivas). Comumente, a maconha é fumada (inalação da fumaça), por meio de cigarros (baseados, �ninhos) ou cachimbos (maricas) (FRANÇA, 2017). Mas, como mencionado anteriormente, pode ser absorvida pelo corpo humano mediante xaropes, pastilhas, bolos e doces, pastas, pomadas, etc.Partindo da classi�cação tripartite das drogas quanto aos seus efeitos no sistema nervoso central, pode-se a�rmar que a Cannabis sativa é um fármaco perturbador do SNC, pois perturba, ou seja, altera qualitativamente o funcionamento do cérebro, deixando a pessoa confusa, com a percepção alterada da realidade e, em alguns casos, com alucinações (UNIFESP, 2021). Seus efeitos são elencados por França (2017) do seguinte modo: Muitos viciados permanecem em completa prostração, enquanto outros se tornam agitados e agressivos. Traz, como regra, a lassidão, o olhar perdido a distância, um comportamento excêntrico, uma memória afetada e uma falta de orientação no tempo e no espaço. Perdem a ambição, valorizam apenas o presente. Têm uma ilusão de prolongamento de vida e uma sensação de �utuar entre nuvens. Moraes e Silva (2016) abordam as repercussões da maconha no corpo humano, categorizando- as nos agrupamentos abaixo: Gerais: relaxamento, euforia, pupilas dilatadas, conjuntivas avermelhadas, boca seca, aumento do apetite, rinite, faringite. Neurológicos: comprometimento da capacidade mental, alteração da percepção, alteração da coordenação motora, maior risco de acidentes, voz pastosa (mole). Cardiovasculares: aumento dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial. Psíquicos: despersonalização, ansiedade/confusão, alucinações, perda da capacidadede insights, aumento do risco de sintomas psicóticos entre aqueles com história pessoal ou familiar anterior. Em Unifesp (2021), são elencados os mais diversos efeitos – físicos e psicológicos –, a depender do tipo de uso do fármaco: (...) boca seca, dilatação dos vasos da conjuntiva e aumento da frequência cardíaca. (...) diminuição do hormônio sexual masculino e consequentemente infertilidade (...). O uso prolongado provoca redução das defesas imunológicas do organismo. (...) pode provocar euforia e hilaridade, (...) sonolência ou diminuição da tensão. Podem surgir também os efeitos de ilusões, delírios e alucinações. Ocorre também uma perda da noção de tempo e espaço e diminuição da memória (...). Alguns autores apontam que a fase inicial do canabidismo (consumo de maconha) traz ao sujeito uma sensação de equilíbrio à sua angústia existencial. Entrementes, leva a diversos problemas (CROCE; JÚNIOR, 2017). O perito deve, portanto, conhecer os sinais característicos do uso de cannabis sativa, a �m de precisar se determinado sujeito pode ou não estar sob efeito dessa droga. Tem, ainda, a Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica incumbência de identi�car, laboratorialmente, seu princípio ativo, com o �to de solucionar crimes e fatos importantes à vida em sociedade. Videoaula: Intoxicação por Cannabis Sativa Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Assista a explicação do vídeo acima. Estudo de caso Você é perito criminal na comarca de Borebota/RJ e foi convocado a auxiliar o Delegado de Polícia a interpretar o laudo produzido, nos autos de um inquérito policial, por outro perito. Segundo consta, foi apreendida uma substância com as seguintes características: pó branco, Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica proveniente da mistura de uma certa planta com outras substâncias químicas, capaz de causar excitação, taquicardia, aumento da pressão arterial, disposição, euforia, ausência de fadiga, etc. Baseado nos conhecimentos absorvidos na presente aula, indique a qual droga ilícita o documento faz referência. Resolução do estudo de caso Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Com supedâneo nos temas abordados na presente aula, é possível a�rmar, com certeza, que se trata da droga ilícita denominada cocaína (também conhecida como poeira divina, além de outros nomes populares), pois os efeitos que produz no corpo humano são exatamente os elencados no documento. Além disso, a composição do fármaco supracitado nos permite concluir que se trata, de fato, de cocaína. Saiba mais Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Você sabe o que signi�cam os termos body packer e body pusher/stuffer? São expressões norte- americanas utilizadas para designar os indivíduos que carregam drogas – principalmente, cocaína e anfetaminas – respectivamente, no interior do seu intestino ou nas cavidades naturais do corpo (ânus e vagina). Saiba mais lendo o artigo Transporte de drogas por ingestão ou inserção no corpo, de O’Malley e O’Malley (2020). Resumo visual https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/t%C3%B3picos-especiais/drogas-il%C3%ADcitas-e-intoxicantes/transporte-de-drogas-por-ingest%C3%A3o-ou-inser%C3%A7%C3%A3o-no-corpo https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/t%C3%B3picos-especiais/drogas-il%C3%ADcitas-e-intoxicantes/transporte-de-drogas-por-ingest%C3%A3o-ou-inser%C3%A7%C3%A3o-no-corpo Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Na presente Unidade, aprofundamos nossos conhecimentos acerca de algumas drogas comumente encontradas no seio social, quais sejam: a cocaína, o ácido lisérgico e a maconha. O grá�co abaixo ilustra os principais efeitos e características de cada uma delas. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Figura 1 | Principais efeitos das principais drogas ilícitas. Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Álcool e outras drogas. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/alcool_outras_drogas.pdf. Acesso em: 3 jan. 2022. CROCE, D.; JÚNIOR, D. C. Manual de medicina legal. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. FRANÇA, G. V. Medicina legal. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. GARCÍA-ZIEMSEN, R. 1943: Era descoberto o LSD. DW, 2021. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/1943-era-descoberto-o-lsd/a-800116. Acesso em: 3 jan. 2022. LÓPEZ-MUÑOZ, F.; GONZÁLEZ, C. Á. Como a heroína, a cocaína e outras drogas surgiram a partir de remédios convencionais. BBC News Brasil, 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-53201079. Acesso em: 3 jan. 2022. MORAES, A.; SILVA, C. J. Efeitos negativos da maconha. Associação paulista para o desenvolvimento da medicina, 2016. Disponível em: https://www.spdm.org.br/blogs/alcool-e- drogas/item/2322-efeitos-negativos-da-maconha. Acesso em: 3 jan. 2022. O’MALLEY, G.; O’MALLEY, R. Transporte de drogas por ingestão ou inserção no corpo. Manual MSD. 2020. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt/pro�ssional/t%C3%B3picos- especiais/drogas-il%C3%ADcitas-e-intoxicantes/transporte-de-drogas-por-ingest%C3%A3o-ou- inser%C3%A7%C3%A3o-no-corpo. Acesso em: 3 jan. 2022. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/alcool_outras_drogas.pdf https://www.dw.com/pt-br/1943-era-descoberto-o-lsd/a-800116 https://www.bbc.com/portuguese/geral-53201079 https://www.spdm.org.br/blogs/alcool-e-drogas/item/2322-efeitos-negativos-da-maconha https://www.spdm.org.br/blogs/alcool-e-drogas/item/2322-efeitos-negativos-da-maconha https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/t%C3%B3picos-especiais/drogas-il%C3%ADcitas-e-intoxicantes/transporte-de-drogas-por-ingest%C3%A3o-ou-inser%C3%A7%C3%A3o-no-corpo https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/t%C3%B3picos-especiais/drogas-il%C3%ADcitas-e-intoxicantes/transporte-de-drogas-por-ingest%C3%A3o-ou-inser%C3%A7%C3%A3o-no-corpo https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/t%C3%B3picos-especiais/drogas-il%C3%ADcitas-e-intoxicantes/transporte-de-drogas-por-ingest%C3%A3o-ou-inser%C3%A7%C3%A3o-no-corpo Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica SÃO PAULO. Secretaria da Justiça e Cidadania. IMESC – Instituto de Medicina Social e de Criminologia. Classi�cação das drogas. IMESC, 2020. Disponível em: https://imesc.sp.gov.br/index.php/classi�cacao-das-drogas/. Acesso em: 3 jan. 2022. UNIFESP. Maconha. Universidade Federal de São Paulo. Departamento de Psicobiologia UNIFESP/EPM. Disponível em: https://www2.unifesp.br/dpsicobio/drogas/back.htm. Acesso em: 3 jan. 2022. , Unidade 4 Avaliações toxicológicas Aula 1 Dos equipamentos utilizados em análises toxicológicas Introdução da aula A análise toxicológica consiste no diagnóstico, prevenção e tratamento de intoxicações. Somado a isso, ela serve para ajudar a desvendar crimes a partir do fornecimento de dados e informações https://imesc.sp.gov.br/index.php/classificacao-das-drogas/ https://www2.unifesp.br/dpsicobio/drogas/back.htm Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica de origem laboratorial. O laboratório de toxicologia, por sua vez, consiste em uma complexa organização de recursos materiais, tecnológicos e humanos, sendo o farmacêutico analista o pro�ssional responsável pelas análises realizadas no referido ambiente. Sendo o laboratório toxicológico um ambiente complexo e repleto de equipamentos especí�cos, entender quais são os instrumentos utilizados se faz fundamental para compreender a importância deles nas rotinas laboratoriais. Nesse sentido, inicialmente veremos informações basilares para a construção do conhecimento pretendido, de modo a estudarmos os fundamentos do tema em questão. Em seguida, veremos as principais funções do laboratório de toxicologia, e concluiremos aprendendo quais são os recursos e equipamentos necessários. Consideraçõesiniciais - fundamentos Para que seja possível discutir sobre os procedimentos e os equipamentos necessários para a realização das análises toxicológicas, é necessário abordar os fundamentos da toxicologia forense, bem como a importância dos exames toxicológicos para o direito penal e a criminologia. A toxicologia é a ciência que de�ne os limites de segurança dos agentes químicos, analisando a probabilidade de uma determinada substância química produzir danos Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica ao corpo humano em condições especí�cas (ALVES, 2005, p. 21). Até meados do século XX, a toxicologia forense limitava-se a estabelecer qual era a origem tóxica de um determinado crime. O toxicologista, por meio de uma análise direta do cadáver e com mera intenção de pesquisar e identi�car o agente, tentava analisar o envolvimento dos elementos químicos na prática criminosa (ALVES, 2005, p. 24). Na atualidade, a toxicologia forense analisa inúmeros outros fatores, estendendo o campo de atuação para as perícias em indivíduos vivos, em cadáveres e circunstâncias de saúde pública, tais como aspectos da investigação relacionados a eventual falsi�cação ou adulteração de medicamentos e de acidentes massivos envolvendo agentes químicos reativos. Nas análises toxicológicas de pessoas vivas, por exemplo, os exames têm o objetivo de rastrear e con�rmar eventual presença de drogas de abuso para caracterização do estado de toxicodependência e para reconhecer o descumprimento das normas do regime legal da �scalização do uso de substâncias psicoativas nos utilizadores da via pública (ALVES, 2005, p. 25). De acordo com a famosa política instaurada pela “Lei Seca”, considera-se que um motorista está dirigindo sob efeito de álcool para �ns de penalização quando o exame de sangue constatar concentração igual ou superior a seis decigramas de álcool por litro de sangue. A blitz da lei seca é um exemplo de operação que utiliza um aparelho popularmente chamado de “bafômetro”, tecnicamente conhecido como etilômetro ou alcoolímetro, que mede a concentração de álcool etílico na corrente sanguínea de uma pessoa por meio da análise do ar pulmonar profundo. Esta constatação é feita por meio de uma análise toxicológica em vivos, mais especi�camente com a análise do nível de álcool no sangue do indivíduo. Os exames no vivo, de modo geral, têm como objetivo a avaliação da intoxicação como circunstância de enquadramento de um fato como crime, como quali�cadora do delito, como causa de periculosidade ou de inimputabilidade. As análises toxicológicas podem ser feitas em uma gama de amostras, tais como órgãos colhidos na autópsia, �uídos biológicos obtidos do cadáver ou do vivo, e produtos orgânicos e inorgânicos suspeitos (líquidos, sólidos, vegetais, etc.) (ALVES, 2005, p. 25). O caso a ser analisado de�ne qual é a amostra que deve ser coletada e investigada, ao passo que as circunstâncias do fato interferem diretamente nas análises toxicológicas. Nesse sentido, cabe destacar a relevância dos equipamentos utilizados para a realização dos exames da toxicologia forense. Com o avanço da tecnologia e o aperfeiçoamento das ciências, em especial da toxicologia forense, tornou-se possível a realização de análises cada vez mais complexas e detalhadas, além do melhoramento das já existentes. Videoaula: Considerações iniciais - fundamentos Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Nesta videoaula, abordaremos mais sobre os procedimentos para a realização das análises toxicológicas, bem como sobre a importância dos equipamentos utilizados na toxicologia forense para a descoberta dos detalhes de um crime. Trataremos, por exemplo, da pureza das amostras e dos principais tipos de exames. Funções do laboratório de toxicologia Compreender as funções do laboratório de toxicologia, necessariamente, perpassa pelo conceito de análises toxicológicas, as quais consistem em avaliar, detectar, identi�car e, muitas vezes, quanti�car drogas, fármacos e químicas no geral. As análises em comento contribuem para o diagnóstico, a prevenção e o tratamento de intoxicações, por exemplo, mas também para desvendar crimes, sendo este último o objeto da perícia criminal. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica O laboratório de toxicologia consiste em uma complexa organização de recursos materiais, tecnológicos e humanos, a qual obrigatoriamente deve contar com o trabalho especializado do farmacêutico analista, pro�ssional de saúde que desempenha um rol de tarefas rotineiras, realizando análises bioquímicas, imunológicas, microbiológicas, morfológicas, toxicológicas, entre várias outras, de materiais constituintes do organismo humano (CRF-PR, 2015). O farmacêutico analista clínico, também intitulado bioquímico, tem, como função principal, garantir resultados con�áveis e com alto padrão de qualidade, colaborando para o diagnóstico, prognóstico, rastreamento e monitoramento de doenças (CRF-PR, 2015). Um exemplo da responsabilidade que é atuar em um laboratório de toxicologia é que, para trabalhar nesta área, e, especi�camente, no referido ambiente, é necessário ter conhecimentos sobre: biologia molecular, bioquímica básica e clínica, citologia e citopatologia, endocrinologia básica e clínica, �siologia humana, hematologia clínica, imunologia básica e clínica, líquidos biológicos e derrames cavitários, microbiologia básica e clínica, metodologias diagnósticas, toxicologia analítica, além de controle e garantia da qualidade e gestão em laboratórios (CRF-PR, 2015) e inúmeros outros conhecimentos bastante especí�cos. O laboratório de toxicologia tem como função o fornecimento de informações e dados que dizem respeito a todos os campos até aqui explicitados, de modo que podemos perceber que é um ambiente complexo, mas também extremamente rico da perspectiva da análise. Nesse contexto, o laboratório de toxicologia possui diversas funções e �nalidades, mas a sua principal funcionalidade é o diagnóstico de intoxicações, sejam ocasionadas por drogas de abuso, medicamentos, praguicidas, animais peçonhentos ou outros. É importante destacar que o laboratório de toxicologia é peça chave em diversas situações cotidianas, as quais vão da descoberta de autores de crimes até a burla no esporte, conforme veremos. Exemplo das atividades que ocorrem no laboratório de toxicologia são as análises de sangue, plasma, urina e cabelo, as quais são fundamentais para a descoberta de doenças, identi�cação de DNA, antidoping, concursos públicos e inúmeras outras situações. Cabe destacar que incontáveis são as funções do laboratório de toxicologia, motivo pelo qual foram abordadas aqui as principais, voltadas para a perícia criminal, que é o nosso objeto de estudo. Por �m, cabe destacar que, sem o laboratório de toxicologia e suas funções, seria impossível obter várias respostas técnicas do ponto de vista da perícia criminal, de modo que, por exemplo, crimes de estupro não teriam resultados concretos pautados no líquido seminal do delinquente; crimes de homicídio não poderiam ser desvendados a partir do sangue do criminoso deixado na cena do crime e inúmeras outras situações cotidianas que dependem de análise técnica laboratorial. Videoaula: Funções do laboratório de toxicologia Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica para assistir mesmo sem conexão à internet. Nesta videoaula, veremos as principais funções do laboratório de toxicologia, de modo a correlacioná-las com o dia a dia, bem como com a perícia criminal e toxicológica. Falaremos, por exemplo, sobre os intervalos ideais para cada tipo de exame, explicando como o referido período afeta a qualidade dos resultados. Recursose equipamentos necessários Os laboratórios de toxicologia realizam, na atualidade, quatro tipos de exames, sendo eles: exame de sangue, exame de urina, exame de suor e exame de tecidos, popularmente conhecidos como exame do cabelo. Destaque-se que o exame de tecidos não utiliza apenas amostra de cabelos do indivíduo (vivo ou morto), podendo ser feitos em outros tecidos corpóreos. Para a realização dos referidos exames, os laboratórios utilizam recursos e equipamentos indispensáveis para as análises clínicas e toxicológicas. Neste momento, falaremos dos principais instrumentos. Os microscópios são equipamentos indispensáveis para análises toxicológicas, sendo o mais conhecido pelo público. Estes equipamentos (mais utilizado é o óptico) amplia a imagem de objetos minúsculos, fazendo com que o examinador tenha uma imagem nítida do que seria impossível de ser visto a olho nu. O colorímetro, outro equipamento importante para os laboratórios de toxicologia, tem a função de avaliar a concentração de um elemento tomando como base a intensidade da cor do Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica composto formado por uma determinada reação. Eles são digitais e podem ser portáteis ou de bancada. O analisador de bioquímica, por sua vez, é fundamental para qualquer laboratório de análises clínicas e/ou toxicológicas, tendo a função de fornecer análises bioquímicas das amostras. Este equipamento depende de reagentes especí�cos para gerar resultados (recursos). Os agitadores são equipamentos que possuem o papel de homogeneizar soluções. Não existe apenas um tipo de agitador, ao passo que cada um destes equipamentos possui função especí�ca que não pode ser cumprida por outros agitadores. A estufa também é um dos equipamentos essenciais para o funcionamento de qualquer laboratório. Ela possui duas funções: a esterilização de materiais e o cultivo de células, estas que são alcançadas por meio de um processo de manutenção da temperatura e nível de dióxido de carbono (CO2) constantes. Sem uma estufa de qualidade, torna-se impossível o funcionamento de um laboratório de toxicologia. Os exames toxicológicos precisam ser extremamente precisos, sendo indispensável que um laboratório tenha um equipamento de esterilização dos elementos não descartáveis. Esta função é exercida pelo autoclave, equipamento de suma relevância para o laboratório de toxicologia. Também para cumprir com a precisão necessária para a realização dos exames toxicológicos, a balança laboratorial é indispensável. A ideia é que este equipamento seja utilizado para realizar medições de forma precisa, podendo ser uma balança analítica (para maior precisão) ou semianalíticas. O banho-maria também é um dos equipamentos essenciais para montar um laboratório de análises clínicas e/ou toxicológicas. Este equipamento serve para aquecer materiais em temperatura moderada, impedindo que eles percam suas propriedades. Esses equipamentos mencionados são alguns dos principais instrumentos indispensáveis para um laboratório toxicológico. Evidentemente que, quanto maior o porte do laboratório, mais desenvolvidos são os recursos e equipamentos que podem ser utilizados e maior a precisão das análises. Videoaula: Recursos e equipamentos necessários Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Nesta videoaula, falaremos sobre os equipamentos necessários para a construção e manutenção de um laboratório de análises toxicológicas. Trataremos de materiais como a capela, a cabine de segurança e o destilador de água, de forma que você entenderá, de modo didático, o funcionamento deles. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Estudo de Caso Para contextualizar a sua aprendizagem, imagine que você é policial e é um dos membros do grupo responsável pela blitz que �scaliza condutores de veículos da sua cidade. Todo �m de semana ocorre a intensi�cação da referida blitz, intitulada “blitz da lei seca”. Ocorre que, durante uma operação, você se depara com um motorista embriagado, o qual facilmente é percebido na �la por estar conduzido o carro de maneira desgovernada. Ao iniciar o procedimento padrão, você sente um forte cheiro de álcool, percebe a fala atrapalhada e, ao notar o corpo do condutor cambaleando, você questiona se o motorista gostaria de fazer o teste do bafômetro. Porém, ele se recusa a fazê-lo, alegando não estar alcoolizado. Diante disso, em razão das circunstâncias observadas, você o conduz para a delegacia, com receio de que ele cause algum acidente em seu percurso. Ao chegar na delegacia, acreditando que os resquícios do álcool ingerido já haviam sumido, o motorista decide realizar o exame. Diante do exposto, explique: como a toxicologia contribui para o caso em questão? Quais são os equipamentos cotidianamente utilizados nesses casos? Resolução do Estudo de Caso Este conteúdo é um vídeo! Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. No caso em questão, você é policial e é um dos membros da “blitz da lei seca” da sua cidade. Durante uma operação você se deparou com um motorista embriagado, o qual facilmente foi percebido na �la por estar conduzido o carro de maneira desgovernada. Ao iniciar o procedimento padrão, você sentiu forte cheiro de álcool, fala atrapalhada e ao notar o corpo do condutor cambaleando, você questiona se o motorista gostaria de fazer o teste do bafômetro, mas ele se recusa e você o conduz para a delegacia. Ao chegar na delegacia, por acreditar que os resquícios do álcool ingerido já haviam sumido, o motorista decide realizar o exame. Frente ao exposto, você precisa responder: como a toxicologia contribui para o caso em questão? Quais são os equipamentos cotidianamente utilizados nesses casos? A toxicologia é, em apertada síntese, a ciência que estuda os efeitos nocivos relacionados à interação de substâncias químicas com o organismo. A análise toxicológica é realizada em laboratórios toxicológicos e se volta para a detecção de agentes tóxicos em determinado organismo. Nesse sentido, a toxicologia é aliada demasiadamente importante para inúmeras situações do dia a dia. A blitz da lei seca é um exemplo de operação que utiliza um aparelho popularmente chamado de “bafômetro”, tecnicamente conhecido como etilômetro ou alcoolímetro, que mede a concentração de álcool etílico na corrente sanguínea de uma pessoa por meio da análise do ar pulmonar profundo. A partir da referida detecção, o motorista pode sofrer punições previstas na lei, de modo que esse tipo de teste contribui para coibir os motoristas a não dirigirem alcoolizados, de forma a evitar acidentes em razão da redução dos re�exos, sonolência e outros efeitos do álcool. Saiba mais Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Entender a importância dos equipamentos utilizados em análises toxicológicas requer compreender também como a referida análise contribui para a resolução de investigações policiais cotidianas. O artigo “Investigação policial: análise toxicológica post mortem” , Ferrari Júnior, aborda o tema com propriedade, suscitando uma questão bastante especí�ca e que precisa ser discutida: a análise toxicológica post mortem. ______ A toxicologia é a ciência que de�ne os limites de segurança dos agentes químicos, investigando a probabilidade de uma determinada substância química não produzir danos ao corpo humano em condições normais. O laboratório de toxicologia tem inúmeras funções, mas a principal delas é o fornecimento de informações e dados, por meio de análise, de modo a diagnosticar intoxicações, sejam elas ocasionadas por drogas de abuso, medicamentos, praguicidas, animais peçonhentos ou outros. Por �m, no que diz respeito aos recursos e equipamentos indispensáveis para as análises clínicase toxicológicas, os laboratórios toxicológicos contam com vários deles, sendo os principais os microscópios, o colorímetro, o analisador de bioquímica, os agitadores e a estufa. https://jus.com.br/artigos/21390/investigacao-policial-analise-toxicologica-post-mortem https://jus.com.br/artigos/21390/investigacao-policial-analise-toxicologica-post-mortem https://jus.com.br/artigos/21390/investigacao-policial-analise-toxicologica-post-mortem Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Figura | Principais Funções do Laboratório de Toxicologia. Fonte: elaborado pela autora. Referências Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica ALVES, S. R. Toxicologia forense e saúde pública: desenvolvimento e avaliação de um sistema de informações como ferramenta para a vigilância de agravos decorrentes da utilização de substâncias químicas. 2005. 151 f. Tese (Doutorado em Saúde Pública) - Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2005. CRF-PR - Conselho Regional de Farmácia do Estado do Paraná. Análises Clínicas e Toxicológicas: guia da pro�ssão farmacêutica. Curitiba: Conselho Regional de Farmácia do Estado do Paraná, 2015. Disponível em: https://crf- pr.org.br/uploads/pagina/25817/Guia_Analises_Clinicas_e_Toxicologicas.pdf. Acesso em: 1 dez. 2021. Aula 2 Do exame de traços biológicos Introdução da aula Os exames compreendidos pelo estudo da perícia criminal e toxicológica são muitos, diversos e cada um deles possui contribuição especí�ca para a resolução de investigações de natureza criminal. Entender quais são os procedimentos para os referidos exames é extremamente importante para compreender que os seguir ou não pode determinar o sucesso ou o fracasso de determinada análise. https://crf-pr.org.br/uploads/pagina/25817/Guia_Analises_Clinicas_e_Toxicologicas.pdf https://crf-pr.org.br/uploads/pagina/25817/Guia_Analises_Clinicas_e_Toxicologicas.pdf Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Nesse sentido, estudaremos, nesta aula, os procedimentos para o teste de manchas de sangue e líquido seminais, os procedimentos para o exame de sangue, plasma, soro e humor vítreo e os procedimentos para exame de urina, conteúdo estomacal, bile e fígado. Procedimentos para teste de manchas de sangue e líquido seminais Para que seja possível analisar os procedimentos necessários para realizar o teste de manchas de sangue, importa, antes de tudo, apresentar a hematologia forense, ramo da biologia forense que estuda salpicos, manchas e gotas de sangue, com o intuito de fornecer informações sobre o cometimento do crime (local do crime, arma utilizada, golpes desferidos, dentre outros). O sangue, quando cai em pequena quantidade e de certa altura, forma manchas que têm conformação que permitem ao perito apreciar fatores como a direção em que o sangue foi lançado e com que velocidade (POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2002). As manchas de sangue são imprescindíveis para a realização da perícia na hematologia forense, ao passo que o perito, por meio de uma averiguação detalhada, coleta inúmeras informações úteis para a informação do modo em que foi cometido o crime. Para analisar as manchas de sangue encontradas na cena do crime, a perícia deve proceder com a realização de exames de DNA, sorologia, dentre outros procedimentos. Pensemos na seguinte hipótese: uma determinada perícia criminal deixa de realizar exame de DNA nas amostras coletadas, como é possível descobrir de quem é o sangue da amostra coletada? Apenas com a realização de testes de campo e de exames laboratoriais torna-se possível realizar a completa investigação da cena criminal. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica É importante destacar que a mancha de sangue pode estar clara, ou não, na cena do crime, pois o criminoso, na maior parte das vezes, tenta se livrar de todos os elementos que possam vinculá- lo ao crime. Assim, mesmo que ele tente esconder a arma utilizada e outros indícios, ele não consegue limpar todos os vestígios das manchas de sangue, que podem ser identi�cadas através de alguns aparelhos – até mesmo a olho nu. O laudo pericial, ao reconhecer as manchas de sangue e após realizar todos os exames laboratoriais e de campo, estabelecerá a cronologia dos fatos e auxiliará numa possível reconstituição do crime, tornando possível esclarecer se os envolvidos estão falando a verdade, se o transcorrer temporal é compatível com a versão do suspeito e com os elementos fáticos disponíveis. As mesmas análises podem ser feitas com outros vestígios humanos, tais como urina, líquidos seminais, conteúdo estomacal, bile e fígado. As investigações das manchas de líquidos seminais são, em determinados casos, tão importantes quanto as análises das manchas de sangue. Da mesma forma, nas perícias sanguíneas, as análises dos líquidos seminais encontrados nas cenas dos crimes também devem ser instruídas com a realização de exames de DNA, sorologia, dentre outros procedimentos. Os procedimentos para teste de líquidos seminais nos crimes sexuais são de suma importância para que o perito consiga traçar os acontecimentos que culminaram no crime. Videoaula: Procedimentos para teste de manchas de sangue e líquido seminais Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Nesta videoaula, veremos mais sobre os procedimentos para a análise das manchas de sangue e dos líquidos seminais encontrados nas cenas dos crimes. Além disso, aprofundaremos os conhecimentos sobre a detecção e análise de sangue humano em cenas de crimes sexuais simulados. Procedimentos para exame de sangue, plasma, soro e humor vítreo Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica A análise toxicológica forense tem, como objetivo, investigar elementos relacionados aos crimes, de modo a extrair deles respostas, informações e dados que possam contribuir para a resolução dos casos que se apresentam. Os exames de sangue, plasma, soro e humor vítreo são extremamente importantes. Eles possuem procedimentos que devem ser seguidos rigorosamente para que os referidos exames obtenham os resultados mais con�áveis quanto possível, de modo que a violação a qualquer parte do procedimento possa culminar no comprometimento da �dedignidade do resultado obtido. Nesse sentido, o sangue consiste em um �uido complexo, constituído, em grande parte, por água – aproximadamente 80% –, proteínas solúveis, gorduras, sais e células suspensas (BORDIN et al., 2015, p. 3). É importante que você saiba que o sangue é uma matriz convencional, rotineiramente estudada nas análises toxicológicas forenses, ao passo que fornece, de forma apropriada, a correlação da concentração do tóxico no sangue com o estado clínico do indivíduo. Outro ponto importante é que o uso da razão droga/tóxico original/metabólito pode ser bastante útil para informar o lapso temporal desde o uso (BORDIN et al., 2015, p. 3). A primeira etapa do procedimento para a realização do exame de sangue é sua coleta, sendo indispensável a adição de anticoagulante e conservante, dependendo da escolha do anticoagulante dos analitos a serem investigados (BORDIN et al., 2015, p. 3). Outro ponto fundamental para compreendermos o rito procedimental reside no Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica fato de a amostra de sangue poder ser avaliada na forma de sangue total, plasma ou soro (BORDIN et al., 2015, p. 3). O sangue total é o sangue em sua completude, ou seja, antes do fracionamento. O plasma é o sobrenadante proveniente do sangue adicionado de anticoagulante, com o conteúdo precipitado. O soro, por sua vez, é o plasma sem os fatores de coagulação, o qual pode ser obtido a partir da centrifugação do sangue já coagulado. Se o objetivo da análise for compreender a quanti�cação da droga, ou seja, saber a quantidade de droga no sangue, é mais indicada a avaliação em amostra de sangue total, em razão de as drogas apresentarem diferentes a�nidades por proteínas e, assim, podem ser descartadasse investigadas apenas em amostra de plasma ou soro (BORDIN et al., 2015, p. 3). Ademais, existe o humor vítreo, que é o líquido gelatinoso existente no interior do olho, constituído, basicamente, por água, sais e proteína. A importância do procedimento que o utiliza reside no fato de que, nesse �uido, estão ausentes as esterases responsáveis pela rápida deterioração de substâncias como a cocaína, heroína e 6-acetimor�na (BORDIN et al., 2015, p. 7). É importante que você saiba que as drogas e toxinas chegam ao humor vítreo por meio da passagem pela barreira sangue-retina, por meio de transporte ativo e passivo, o que faz dele uma matriz de grande interesse para as análises toxicológicas pós- morte (BORDIN et al., 2015, p. 7). Por �m, percebemos que a escolha do material a ser analisado pode determinar os rumos da análise toxicológica e, inclusive, comprometer ou contribuir com a investigação forense. Videoaula: Procedimentos para exame de sangue, plasma, soro e humor vítreo Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Nesta videoaula, veremos casos emblemáticos sobre como a análise pericial e toxicológica, por meio de exames de líquido seminal, contribuíram para o desfecho de investigações criminais. Procedimentos para exame de urina, conteúdo estomacal, bile e fígado Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Assim como o sangue, a urina é uma matriz biológica de escolha tradicional em análises toxicológicas forenses, e seu uso é bem consolidado. Ela consiste em um ultra�ltrado do sangue composto continuamente pelos rins, a partir do qual foram reabsorvidas substâncias essenciais ao metabolismo do organismo, a exemplo da glicose, dos aminoácidos e da água (BORDIN et al., 2015, p. 3). Na composição da urina, existem substâncias químicas orgânicas, tais como ureia, ácido úrico e creatinina, e inorgânicas, a exemplo dos íons cloreto e sódio, dissolvidas em água. Em razão de ser a principal forma de eliminação de substâncias do organismo, esta matriz é comumente objeto de investigação de metabólitos (BORDIN et al., 2015, p. 3). Por ter um per�l de amostra tradicional para análises toxicológicas, a urina é compreendida como elemento de coleta fácil e não invasiva, além de possuir grandes volumes disponíveis para análise e menor número de interferentes quando comparada a outras matrizes (BORDIN et al., 2015, p. 3). Outro fator que torna a urina objeto de procedimento mais simples é que, congelada, apresenta alta estabilidade, possibilitando o armazenamento em longo prazo de amostras positivas. Contudo, a urina é uma amostra de fácil adulteração, pois a coleta vigiada, apesar de ser a mais segura, não é uma prática comum (BORDIN et al., 2015, p. 3). Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica No que diz respeito ao conteúdo estomacal/conteúdo gástrico, é importante explicar que cerca de 30 mL de homogeneizado do conteúdo gástrico, o que abarca vómito e aspirado gástrico, é extremamente útil em casos de intoxicações por via oral, devendo ser colhida a referida amostra durante a autópsia (LISBOA, 2016, p. 19). A ingestão via oral é a principal forma de administração de muitos medicamentos e substâncias tóxicas, permitindo a detecção das substâncias em comento por meio da análise do conteúdo gástrico, muitas vezes sendo possível encontrar comprimidos e cápsulas ainda não dissolvidos (LISBOA, 2016, p. 19). Acerca da bile, ela consiste em um �uido viscoso produzido pelo fígado e armazenado na vesícula biliar. Ela atua na digestão de gorduras e absorção de nutrientes no intestino. A bile abarca uma gama de substâncias, sendo muito utilizada na determinação qualitativa de opiáceos, benzodiazepinas e cocaína, sendo importante para diagnosticar o consumo crónico, por exemplo (LISBOA, 2016, p. 19). A coleta deve ser considerada, em especial, nos casos em que não é possível coletar uma amostra de urina, sendo diretamente aspirada da vesícula biliar com seringa hipodérmica (LISBOA, 2016, p. 19). Além disso, há o fígado, que, normalmente, é o órgão sólido mais escolhido. Suas vantagens contemplam o fato de ele ser o local onde a maioria das substâncias é metabolizada, além de possuir quantidade su�ciente para análise e de ser relativamente pouco afetado por fenômenos de redistribuição e difusão (LISBOA, 2016, p. 23). É importante destacar que o fígado é útil para diagnosticar antidepressivos tricíclicos e outras substâncias que se vinculam fortemente às proteínas. A análise hepática permite distinguir uma overdose aguda e a toxicidade crónica resultante do uso extensivo de XB com janela terapêutica pequena (LISBOA, 2016, p. 23). Por �m, percebemos que inúmeras são as possibilidades procedimentais, o que permite uma gama de análises, além de contribuir fortemente para a ciência forense. Videoaula: Procedimentos para exame de urina, conteúdo estomacal, bile e fígado Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Nesta videoaula, abordaremos os procedimentos de outros exames, a exemplo do exame de suor, exame de cabelo e exame de �uido oral, de modo a compreender a importância e utilização Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica de cada um. Estudo de Caso Para contextualizar a sua aprendizagem, imagine que você é perito criminal e foi designado como o responsável pela equipe indicada para analisar as manchas de sangue e líquidos seminais de uma determinada cena de crime sexual que ocorreu na sua cidade. Ocorre que, antes de se dirigir até o local, você se reuniu com a sua equipe para passar as diretrizes básicas do procedimento que deve ser adotado pelos peritos. Para sua surpresa, grande parte da equipe informou que não estavam realizando exames laboratoriais dos materiais coletados, ao passo que, segundo eles, este procedimento é completamente dispensável, tendo sido, inclusive, banido pelo perito anteriormente responsável pela equipe. Em razão do posicionamento da equipe, você optou por se dirigir imediatamente à cena do crime e, depois de coletar todas as amostras, informará quais são os procedimentos que devem ser adotados para a realização da perícia. Ao chegar ao local do ocorrido, mais uma surpresa: o local estava completamente limpo! O criminoso, aparentemente, efetuou a limpeza de todo o local, claramente no intuito de esconder qualquer indício da autoria. Diante do exposto, explique: Dispensar os exames laboratoriais dos materiais coletados é um procedimento cabível? O que você deve fazer em uma cena completamente limpa? É possível realizar a perícia? Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Ao ver as fotos da cena do crime, é provável que o juiz aceite a realização de perícia sobre amostras de vestígios humanos se, a olho nu, não é possível ver o material? Resolução do Estudo de Caso Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. No caso em questão, você é perito criminal e foi designado como o responsável pela equipe indicada para analisar as manchas de sangue e líquidos seminais da cena de um crime sexual que ocorreu na sua cidade. Ao se deparar com o local completamente limpo e ao ver qual era o posicionamento da sua equipe sobre a realização de exames laboratoriais, algumas dúvidas surgiram. Em primeiro plano, no que tange à aceitação da perícia pelo juiz, destaque-se que, apesar de não estar vinculado ao parecer do laudo pericial, o juiz, por não ter o conhecimento técnico de um perito, geralmente acompanha a perícia, principalmente no que tange às investigações criminais. Geralmente, o juiz apenas não acompanha a perícia quando há outros laudos periciaisjuntados aos autos que lancem dúvidas sobre a perícia “o�cial” ou quando há qualquer vício no procedimento. Apesar de a cena do crime estar completamente limpa, é provável que se encontrem manchas de sangue ou líquidos seminais, mesmo que não visíveis a olho nu. O criminoso, sem ter o conhecimento técnico necessário, tenta limpar a cena do crime, mas não consegue apagar todos os vestígios, que podem ser identi�cados através de alguns aparelhos e, até mesmo, a olho nu (em determinados casos). Assim, mesmo se a cena criminal estiver aparentemente limpa, é indispensável que seja realizada a perícia para averiguar a existência de manchas de sangue ou líquidos seminais, principalmente nos crimes sexuais e violentos. Por �m, destaque-se que os exames de análise dos materiais coletados são indispensáveis. A perícia deve proceder à realização de exames de DNA, sorologia, dentre outros procedimentos. Estes testes são indispensáveis para saber, por exemplo, de quem é a amostra coletada, o que, muitas vezes, soluciona uma investigação. Saiba mais Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica O estudo dos procedimentos a serem seguidos nos mais diversos tipos de exames toxicológicos nos permite compreender a importância de cada protocolo, amostra e coleta. A monogra�a Matrizes Biológicas de Interesse Forense, da autora Márcia Passadouro Lisboa, traz um apanhado procedimental importante para a compreensão do tema. ______ As manchas de sangue são imprescindíveis para a realização da perícia na hematologia forense, ao passo que o perito, por meio de uma averiguação detalhada, coleta inúmeras informações úteis para reconstituir o modo como foi cometido o crime. As investigações das manchas de líquidos seminais são, em determinados casos, tão importantes quanto as análises das manchas de sangue. Os exames de sangue, plasma, soro e humor vítreo são fundamentais para o desenvolvimento de perícias criminais. Eles possuem procedimentos que devem ser seguidos rigorosamente para que os referidos exames obtenham os resultados mais con�áveis possíveis, de modo que a violação a qualquer parte do procedimento pode culminar no comprometimento da �dedignidade do resultado obtido. Os exames de urina, conteúdo estomacal, bile e fígado são igualmente importantes, tendo, cada um deles, a sua relevância em situações e necessidades especí�cas. https://eg.uc.pt/bitstream/10316/48554/1/M_Marcia%20Lisboa.pdf Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Figura | Principais exames utilizados na perícia criminal e toxicológica. Fonte: elaborada pela autora. Referências Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica BORDIN, D. C. M. et al. Técnicas de preparo de amostras biológicas com interesse forense. Scientia Chromatographica, v. 7, n. 2, p. 125-143, 2015. Disponível em: https://www.iicweb.org/scientiachromatographica.com/�les/v7n2a04.pdf. Acesso em: 2 dez. 2021. LISBOA, M. P. Matrizes Biológicas de Interesse Forense. 2016. 45 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas) - Universidade de Coimbra, Coimbra, 2016. Disponível em: https://eg.uc.pt/bitstream/10316/48554/1/M_Marcia%20Lisboa.pdf. Acesso em: 2 dez. 2021. POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Manual operacional da polícia civil: doutrina, legislação, modelos. QUEIROZ, C. A. M. Q. (Coord.). São Paulo: Delegacia de Polícia, 2002. Aula 3 Análises toxicológicas Introdução da aula Você aprenderá, nesta aula, sobre as análises toxicológicas. É uma etapa fundamental para a resolução de um crime, pois envolve a detecção de substâncias em uma matriz, o preparo da amostra, a quanti�cação e, principalmente, a interpretação dos resultados gerados nessas análises. https://www.iicweb.org/scientiachromatographica.com/files/v7n2a04.pdf https://eg.uc.pt/bitstream/10316/48554/1/M_Marcia%20Lisboa.pdf Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica A partir do conhecimento obtido, será possível identi�car sinais e sintomas gerados pela exposição a um composto especí�co. E, ainda, determinar se a substância em questão é responsável pelo resultado da intoxicação e/ou morte do indivíduo. É necessário compreender que o entendimento de todas as etapas, desde a substância, os resultados de uma autópsia, e quais as matrizes biológicas utilizadas, são fundamentais para uma boa análise. Quanto maior o conhecimento sobre os compostos analisados, menores serão os erros e equívocos na solução de um caso. Dos sinais clínicos em análises toxicológicas A partir das análises toxicológicas, é possível responder questionamentos levantados em uma investigação criminal (FERRARI JÚNIOR, 2021; DORTA et al., 2018), porque o laudo gerado por essas análises fornece informações acerca da intoxicação, presença/ausência de substâncias no organismo do indivíduo, bem como suas respectivas concentrações e, até mesmo, no caso de morte, as circunstâncias do óbito. A intoxicação corresponde ao desequilíbrio do sistema biológico quando em contato com um agente tóxico. Ela pode ser dividida em quatro fases: exposição, toxicocinética, toxicodinâmica e fase clínica. Essa última é caracterizada pela manifestação de sinais e sintomas resultantes da ação tóxica da substância à qual o indivíduo foi exposto (PRITSCH, 2020). Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Assim, a partir de dados da toxicologia clínica, podemos correlacionar alguns sintomas com as possíveis substâncias de exposição. Alterações dérmicas, com a presença de rash cutâneo (erupção cutânea), acompanhada ou não por dermatites de contato, urticária e outros sinais clínicos, podem indicar a exposição a herbicidas. Do mesmo modo, o surgimento de insu�ciência renal e cegueira são resultados da intoxicação por metanol (DORTA et al., 2018; (PRITSCH, 2020). Entretanto, como saber quais sinais e sintomas podem ser indicativos de uma intoxicação por um xenobiótico? Por intermédio de estudos e observações clínicas, alguns manuais foram criados para facilitar a identi�cação dos sintomas que devem despertar o alerta para uma possível intoxicação, como os descritos no Manual da Toxicologia Clínica (2017): alterações neurológicas, presença de odores característicos, alterações cutâneas, oscilações da temperatura corporal, alteração das pupilas, alteração do nível de consciência, alterações cardiovasculares, anormalidades respiratórias e alterações no aparelho digestivo (HERNANDEZ et al., 2017). Ainda assim, qual seria a relação entre esses sinais/sintomas com a substância tóxica? Eles podem indicar, direta ou indiretamente, a utilização ou exposição a compostos tóxicos. O uso da Cannabis sativa L. (maconha), uma das drogas mais consumidas no Brasil, pode induzir alterações neurológicas, como esquizofrenia e comportamentos psicóticos. Outrossim, a presença de hálito etílico, ou seja, a presença de um odor característico, indica o consumo de álcool. E a presença do aroma de alho pode indicar a utilização de inseticidas organofosforados. E ainda, quando analisados em conjunto, esses sinais e sintomas podem identi�car síndromes tóxicas comuns. Destarte, através do entendimento do mecanismo de ação daquela substância, sua metabolização, biotransformação e os sintomas já relatados na literatura, é possível tentar identi�car o possível agente causador do quadro apresentado pelo indivíduo (DORTA et al., 2018; HERNANDEZ et al., 2017). Em janeiro de 2020, ocorreu a contaminação das cervejas da empresa Backer por dietilenoglicol, também denominado DEG ou éter de glicol, que pode causar insu�ciência renal e hepática e levar a óbito (RODRIGUES, 2020; BRASIL, 2020). Através de diversos dados coletados, a presença de sintomas em comum e a identi�cação do consumo do mesmo produto pelos indivíduos contaminados, foi possível identi�car o agente tóxico nas garrafas de cerveja, após a análise pericial. Vale ressaltar que, apesar de parecer uma análise simples, havia diversos elementos e indivíduos para o caso da cervejaria. E, mesmo no caso citado, foram meses de investigações para atingir o resultado �nal (BRASIL, 2020). Geralmente, o Perito Criminal encontra um cenáriosem essa riqueza de dados. E, como é possível observar através das manifestações clínicas citadas, a maioria das substâncias leva a sintomas e lesões inespecí�cos e são amostras complexas. Dessa forma, é imprescindível a realização das análises toxicológicas em conjunto com um bom conhecimento do analista, utilizando métodos analíticos que permitam o isolamento, a identi�cação e a quanti�cação dessas substâncias, e quando for o caso, acompanhado da autópsia. Videoaula: Dos sinais clínicos em análises toxicológicas Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Neste vídeo, abordaremos a ocorrência prática de uma intoxicação por drogas facilitadoras de crime (DFCs). A partir do entendimento do mecanismo de ação e sinais e sintomas que uma DFC pode causar, será possível integrar o conhecimento com todas as etapas de uma intoxicação. Dos resultados da autópsia Uma autópsia toxicológica ideal segue a regra dos 5 Bs: “boa suspeita”, “boa autópsia”, “boas colheitas”, “boa interpretação do resultado” e “bom senso” (DORTA et al., 2018). Conforme podemos observar no �uxograma da Figura 1, a autópsia pode e deve ser feita sob diversos parâmetros. E, através da análise de todos eles: autópsia macroscópia, análises toxicológicas, Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica estudo histológico e, ainda, outras análises complementares. Pode-se chegar à conclusão ou não da morte toxicológica. Assim, deve-se considerar coletar todas as amostras necessárias para a autópsia. Sendo que, desta maneira, evitaria o desaparecimento de qualquer elemento, por constituir uma ação única, que não há como repetir (DORTA et al., 2018). Figura 1 | Fluxograma autópsia. Fonte: adaptada de Dorta et al., (2018, p. 453). Quando há uma autópsia por suspeita de intoxicação, o perito precisa demonstrar e detectar que a concentração da substância tóxica encontrada juntamente com os demais achados seriam a causa mortis, devendo, portanto, constatar que não foi outra a causa da morte, por exemplo, por algum trauma ou causas naturais (DORTA et al., 2018). A existência de diversos compostos que podem causar intoxicação no ser humano e o fato de que essas substâncias podem atuar em conjunto di�cultam a perícia tanatológica. O diagnóstico correto em toxicologia ocorre quando todos os achados e fatores são integrados pelo perito médico e pelo perito toxicologista. E se em uma autópsia não for con�rmada a suspeita toxicológica, isso quer dizer que não há relação alguma com exposição e/ou consumo de substâncias potencialmente tóxicas? Muitas vezes, ocorre um resultado negativo para as análises toxicológicas em relação à substância procurada, mas nem sempre indica que realmente não há nenhuma substância de interesse naquela matriz. Há algumas hipóteses para a ocorrência desse falso negativo. Pode haver uma informação errada acerca do agente tóxico suspeito, o que faz com que o laboratório não consiga detectar nenhum composto; em alguns casos, a metabolização e a sobrevida não permitem que a substância e/ou seus metabólitos sejam detectados; bem como a limitação de equipamentos ou substâncias catalogadas no laboratório impedem a identi�cação da substância Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica de interesse. Há, ainda, outros fatores limitantes, como a concentração insu�ciente, e amostra inviável para detecção. Quando se trata de álcool e algumas drogas de abuso, a di�culdade está em determinar qual é a concentração necessária para ser a única justi�cativa pela morte do indivíduo (DORTA et al., 2018). E se não houver nenhum achado macroscópico, ou seja, lesões teciduais ou em órgãos, além do resultado negativo para as análises toxicológicas? Aqui, pode-se observar a importância da integração e coleta de todo o material possível para as análises. Caso não haja indícios de as�xia, lesões ou nenhum indicativo de intoxicação, indica-se a morte orgânica, ou seja, natural. Porém, uma análise demanda muita responsabilidade, podendo inocentar um indivíduo culpado, ou condenar um inocente. Nesse caso, é importante um exame anatomopatológico robusto, bem como todas as análises plenamente conclusivas e incontestáveis. Assim, diante de uma morte cuja causa não se conhece, faz-se obrigatório coletar as amostras para anatomia patológica, toxicológica, e todas as outras necessárias e complementares, tais como para análises microbiológicas e histológicas (DORTA et al., 2018). A forma de coletar a amostra e sua preparação técnica são outros pontos cruciais que impactam diretamente nas análises e resultados obtidos. Videoaula: Dos resultados da autópsia Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Neste vídeo, serão exempli�cados resultados de uma autópsia realizada para identi�car a utilização de um herbicida. O Paraquat é usado, principalmente, em casos de suicídio. E, ainda, serão correlacionados os achados macroscópicos, anatomopatológicos e toxicológicos, demonstrando a importância de todas as etapas para uma boa análise toxicológica. Das amostras em análises toxicológicas Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Após a morte do indivíduo, podem ocorrer diversas alterações que di�cultam as análises toxicológicas, desde a extrema decomposição até a destruição de órgãos por lesões, sendo esses importantes reservatórios de compostos; assim como a redistribuição de substâncias post mortem (DORTA et al., 2018; FERRARI JÚNIOR, 2021). Assim, um ponto crucial para um bom resultado dessas análises é realizar, de forma adequada, a coleta e armazenamento dessas amostras. Para isso, deve-se conhecer as principais matrizes biológicas e suas limitações (DORTA et al., 2018; FERRARI JÚNIOR, 2021). Fluidos Biológicos Em análises post-mortem, pode-se utilizar diversas matrizes de �uidos biológicos, dependendo da sua disponibilidade, sendo elas: sangue, humor vítreo, urina, conteúdo estomacal, vesícula biliar e liquido cefalorraquidiano. A amostra de sangue periférico normalmente utilizada provém da veia femoral; já o sangue central é obtido a partir das artérias subclávias ou direto do coração. O humor vítreo, que é menos afetado pela atividade bacteriana e pelos processos de putrefação do que o sangue e os tecidos, recomenda-se que seja completamente coletado. A urina é de difícil acesso e, quando presente, é coletada por punção da bexiga. O conteúdo estomacal, crucial em overdoses e envenenamentos, normalmente é coletado através da abertura da cavidade abdominal. A vesícula biliar, importante para detecção de benzodiazepínicos, canabinoides e opiáceos, é removida e coletada na bile. O líquido cefalorraquidiano, retirado por meio de punção na região Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica suboccipital, tem sido importante na Toxicologia forense por sua constituição para análises de diversas substâncias, como álcool, sedativos e anestésicos (DORTA et al., 2018). Tecidos Para uma melhor compreensão das circunstâncias da morte do indivíduo, os tecidos moles têm sido utilizados. Normalmente, indica-se a coleta de cerca de 50g desses tecidos. São utilizados: cérebro, fígado, ossos, músculo esquelético, pulmões, baço e rins (DORTA et al., 2018; FERRARI JÚNIOR, 2021). O cérebro pode ser coletado em diferentes regiões, dependendo das investigações a serem feitas, da substância analisada e seu per�l de distribuição. O Fígado é afetado mais na sua porção esquerda pela redistribuição das substâncias post mortem. Por isso, coleta-se o lado direito. Os ossos são utilizados, principalmente, quando o cadáver se encontra em estado de decomposição avançado. Normalmente são coletados os dentes e a medula óssea. O musculo esquelético pode ser coletado da coxa e utilizadopara analisar a concentração de álcool, estando menos sujeito à degradação (DORTA et al., 2018; FERRARI JÚNIOR, 2021). O pulmão pode ser removido por inteiro para identi�car contaminação por mercúrio. É possível também coletar apenas o ar dos brônquios e da traqueia quando a intoxicação for causada por inalação. O baço é utilizado para comparar a concentração da substância com as outras amostras já coletadas. Os rins podem concentrar compostos orgânicos e metais tóxicos, e, por isso, também podem ser utilizados (DORTA et al., 2018). Matrizes queratinizadas As duas principais matrizes queratinizadas são o cabelo e a unha. Elas são estáveis e começaram a ser utilizadas, principalmente, para a análise de intoxicação por metais tóxicos. O cabelo é coletado a partir do couro cabeludo, dependendo da análise a ser realizada, pode-se utilizar diferentes porções. A coleta da unha é feita pelo corte ou raspagem das bordas livres, ou até mesmo, pela sua remoção completa (DORTA et al., 2018; FERRARI JÚNIOR, 2021). Matrizes alternativas Além de todas as matrizes citadas acima, ainda pode-se utilizar o mecônio e espécies entomológicas. O mecônio é coletado no interior de diferentes segmentos do intestino do feto, e é útil para detectar utilização de drogas ilícitas pela mãe. Já as diferentes espécies entomológicas podem ser utilizadas principalmente para tentar identi�car o intervalo post mortem do cadáver encontrado (DORTA et al., 2018). Videoaula: Das amostras em análises toxicológicas Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica O fenômeno da redistribuição depende da matriz biológica e do tempo decorrido após a morte. Neste vídeo, você aprofundará seus conhecimentos acerca da redistribuição de substâncias, além de compreender a importância de utilizar diferentes matrizes biológicas para a análise toxicológica post mortem. Estudo de Caso Para contextualizar sua aprendizagem, imagine que você é um perito criminal diante do seguinte relato: um homem, 35 anos, deu entrada no hospital. Poucas informações foram coletadas ante mortem. Poucas horas depois, o indivíduo veio a óbito. A polícia foi acionada pelo hospital, devido às circunstâncias suspeitas da morte, e o corpo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal. Apenas a presença de odor de alho e hematomas constavam no laudo ante mortem. Por isso, o patologista sugeriu que somente fosse feita a coleta de sangue para as análises toxicológicas post mortem, pois, com certeza, se tratava de uma intoxicação comum por uma substância conhecida. Você concorda com o patologista? Qual é a substância à qual o patologista se refere? Você seguiria apenas o que o patologista solicitou? Qual é a matriz biológica de interesse? Resolução do Estudo de Caso Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Você aprendeu as principais etapas e quais são os elementos importantes para considerar em uma boa análise toxicológica. A presença de sinais e sintomas característicos são importantes para servir de alerta para tentar identi�car as substâncias no organismo do indivíduo que estão causando o quadro clínico. Porém, agora você já sabe que, muitas vezes, os sintomas são comuns para diversas substâncias, mas às vezes são inespecí�cos, tornando importante a análise conjunta com outros elementos – em muitos casos, com uma boa autópsia. Ressalta-se que é necessário coletar e analisar diferentes amostras post mortem, e que a utilização de diferentes matrizes biológicas torna a investigação mais con�ável. Na situação apresentada, é possível notar que temos a presença de um sintoma clássico de intoxicação por organofosforados: o odor característico. No entanto, diversas situações devem ser consideradas, não apenas uma decisão presuntiva baseada em um elemento isolado. Dessa forma, a maneira correta de se prosseguir seria coletar a amostra para análises toxicológicas. Porém, investigar junto com a análise macroscópica e complementar. A matriz biológica de interesse no caso de intoxicação por organofosforados seria a colheita gástrica. Deve-se também investigar a origem dos hematomas. Saiba mais Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica O link a seguir conduz a um texto publicado na Revista Criminalística e Medicina Legal, Revista CML. As edições desde 2016 estão disponíveis e podem ser acessadas, representando uma ferramenta fundamental para consulta no dia a dia do perito criminal. Pode-se destacar um artigo acerca do estudo dos agentes tóxicos nas ciências forenses, para saber mais acesse o site: Toxicologia forense: o estudo dos agentes tóxicos nas ciências forenses, Izanara Cristine Pritsch, Revista Criminalística e Medicina Legal. ______ Na �gura a seguir, é apresentada uma síntese dos principais pontos de uma análise toxicológica adequada. http://revistacml.com.br/2020/12/15/toxicologia-forense-o-estudo-dos-agentes-toxicos-nas-ciencias-forenses/ Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Figura | Síntese dos conceitos apresentados. Fonte: elaborada pela autora. Referências Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. Apurações Administrativas Cervejaria Backer. Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (Dipov), 2020. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt- br/assuntos/noticias/ministerio-da-agricultura-identi�ca-contaminacao-da-agua-utilizada-pela- backer-na-producao-de-cervejas/ApresentaoEntrevistaColetivasobreCervejariaBacker.pdf. Acesso em: 2 dez. 2021. DORTA, D. J. et al. Toxicologia Forense. São Paulo: Blucher, 2018. FERRARI JÚNIOR, E. Investigação policial: análise toxicológica post mortem. Revista Jus Navigandi, 2012. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/21390. Acesso em: 2 dez. 2021. HERNANDEZ, E. M. M. et al. Manual de Toxicologia Clínica: Orientações para assistência e vigilância das intoxicações agudas. São Paulo: Secretaria Municipal da Saúde, 2017. PRITSCH, I. C. Toxicologia forense: o estudo dos agentes tóxicos nas ciências forenses. Revista Criminalística e Medicina Legal, Curitiba, v. 5, n. 1, p. 19-26, 2020. RODRIGUES, A. Polícia indicia 11 funcionários da cervejaria Backer por contaminação. Agência Brasil, 2020. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-06/policia- indicia-11-funcionarios-da-cervejaria-backer-por-contaminacao. Acesso em: 2 dez. 2021. Aula 4 Preparo de amostras para as análises toxicológicas Introdução da aula https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/ministerio-da-agricultura-identifica-contaminacao-da-agua-utilizada-pela-backer-na-producao-de-cervejas/ApresentaoEntrevistaColetivasobreCervejariaBacker.pdf https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/ministerio-da-agricultura-identifica-contaminacao-da-agua-utilizada-pela-backer-na-producao-de-cervejas/ApresentaoEntrevistaColetivasobreCervejariaBacker.pdf https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/ministerio-da-agricultura-identifica-contaminacao-da-agua-utilizada-pela-backer-na-producao-de-cervejas/ApresentaoEntrevistaColetivasobreCervejariaBacker.pdf https://jus.com.br/artigos/21390 https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-06/policia-indicia-11-funcionarios-da-cervejaria-backer-por-contaminacao https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-06/policia-indicia-11-funcionarios-da-cervejaria-backer-por-contaminacao Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Você aprenderá, nesta aula, sobre o preparo de amostras para as análises toxicológicas. Na sua rotina de perito criminal, é necessário muita atenção e conhecimento para essa etapa crucial.A partir de um bom preparo das amostras, será possível identi�car as substâncias de interesse e resolver o caso em questão de forma justa e ideal. É um processo complexo que envolve desde a seleção de métodos de preparo de amostra adequados, o que requer vasto conhecimento sobre as mais diversas técnicas disponíveis e suas aplicações, até o contínuo aprimoramento dessas técnicas. É importante lembrar que a avaliação das particularidades dos compostos de interesse e as propriedades das matrizes biológicas deve ser minuciosa. Ao adotar uma técnica especí�ca para processar as amostras, o desempenho da análise vai depender dessa escolha, e a elucidação do crime também. Considerações iniciais: Destilação Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica É um desa�o, para o perito toxicologista, identi�car uma substância especí�ca em uma matriz biológica, seja pela complexidade da amostra, sua concentração ou contaminação, além de constituir uma etapa extremamente suscetível a erros. Em geral, as técnicas analíticas utilizadas na Toxicologia Forense para detecção de substâncias exigem o preparo das amostras, pois não são compatíveis com a utilização das amostras in natura. Assim, é necessário que ocorra um processo que precede as análises instrumentais. Mas a�nal, o que seria o preparo da amostra? Ele consiste no processo de isolar e concentrar o analito, ou seja, a substância de interesse, a partir da matriz biológica, independente da matriz, mas atentando às particularidades do preparo de cada uma. Assim, identi�cando e diminuindo os interferentes, sejam eles endógenos ou exógenos, e, consequentemente, evitando comprometer a seletividade e sensibilidade ao composto de interesse na matriz biológica. É uma etapa crucial para a metodologia de detecção e quanti�cação de substâncias de interesse forense, representando cerca de 80% da análise toxicológica. Há algumas condições que a preparação da amostra precisa atender: ampla recuperação do analito; perder a menor quantidade possível de amostra enquanto remove todos os interferentes; utilizar o menor tempo possível a �m de manter a qualidade da análise; e buscar o menor custo. As principais etapas que compreendem o preparo da amostra podem ser observadas na �gura a seguir. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Figura 1 | Principais etapas envolvidas no preparo da amostra para a toxicologia forense. Fonte: elaborada pela autora. Porém, considerando as inúmeras matrizes biológicas (sangue, humor vítreo, urina, etc.) e a in�nidade de ambientes em que elas podem ser coletadas (água, objetos, terra, cadáver, etc.), essas etapas podem aumentar, repetir e adaptar os processos conforme o tipo de análise e matriz especí�cas. Por exemplo, no caso do cabelo, que corresponde a uma matriz biológica queratinizada, primeiramente é necessário que ocorra a digestão da matriz orgânica, porque é indispensável que ocorra a “liberação” do analito que se encontra “dentro” dessa matriz orgânica. Então, é feita sua solubilização para separar os interferentes e contaminantes do analito de interesse. Para compreender melhor, imagine o caso de uma célula. Quando é necessário fazer uma análise de proteínas, faz-se a lise para acessar seu conteúdo interno e, consequentemente, as proteínas, que são os analitos de interesse. Outro exemplo: para fazer um chá, você precisa abrir o recipiente plástico para ter acesso ao composto de interesse. Depois dessa primeira etapa é possível prosseguir com os demais passos, como esquentar a água para extraí-lo. Devemos também considerar que a quantidade de amostra é muito variável, podendo estar em concentrações desde partes por milhão até partes por trilhão. Isso é importante, pois dependendo da situação, será necessário diluir ou concentrar as amostras para as análises. Normalmente, no contexto forense, as amostras são complexas e precisam ser concentradas. Muitas vezes não há conhecimento sobre a substância que está sendo procurada, ou até mesmo sua quantidade naquela matriz, sendo necessário realizar a análise toxicológica sistemática, buscando diversos analitos em uma só matriz. Outro ponto importante é a limpeza do ambiente físico de trabalho e dos materiais utilizados (vidarias, equipamentos), principalmente quando há diversas análises sendo feitas em um Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica mesmo ambiente. Videoaula: Considerações iniciais: Destilação Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. A separação de substâncias é uma etapa crucial para o preparo da amostra. Diversas vezes, você se deparará com uma mistura. Há técnicas de separação ou extração importantes para o contexto forense. Neste vídeo, será abordada a técnica de separação de substâncias denominada destilação. Extração por solvente Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Um dos primeiros passos para o preparo da amostra no contexto forense consiste em obter a substância de interesse a partir da matriz biológica. Para isolar o analito de interesse da matriz, faz-se necessário utilizar uma metodologia de extração. Há diversas técnicas que podem ser aplicadas nessa etapa da preparação da amostra, podendo ser destacado um dos métodos amplamente utilizados: a extração líquido-líquido, também chamada de extração por solvente ou partição. Ela recebe esse nome porque seu mecanismo de ação se dá pela partição da amostra em duas fases imiscíveis, ou seja, que não se misturam, normalmente orgânica e aquosa. Assim, é e�caz em separar um ou mais compostos especí�cos de uma mistura. Para realizar essa técnica, é necessário a utilização de um solvente extrator adicionado à mistura de interesse. Após sua adição, é necessário agitar para que o solvente tenha contato com a mistura. Esse processo gerará duas fases, uma com o extrator e a amostra de interesse e outra com o restante da mistura. Para garantir a separação das fases, realiza-se a centrifugação, e retira-se a fase de interesse para realizar a análise. Mas como isso acontece? Imagine que você está no laboratório forense. Seu composto de interesse é o A. Porém, você está diante de uma solução heterogênea com dois compostos, A e B miscíveis entre si, ou seja, encontram-se misturados. Qual o seu primeiro passo? Sua atitude inicial deve ser tentar separar os compostos. Como você irá fazer isso? Após lembrar da aula sobre extração por solvente, você tem a brilhante ideia de utilizar um solvente extrator. Diante da variedade de possibilidades, qual solvente escolher? Você deve lembrar que se o seu composto Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica de interesse é o A, então é necessário que o solvente seja muito miscível em A, e pouco miscível em B (o ideal seria não ser miscível em B, mas na realidade não há como realizar essa separação completa). Ao adicionar o solvente, ele se misturará com A e formará uma mistura heterogênea, composta pelas fases I (solvente + composto A) e II (composto B). Com o auxílio do funil de separação, agora que você tem duas fases com densidades diferentes, e é possível fazer a separação do composto A do composto B. Um ponto para prestar atenção é o controle do pH, que pode ser utilizado de acordo com a presença de grupos ácidos ou básicos na estrutura da substância analisada. Isso pode otimizar a extração do analito, como, por exemplo, no caso dos benzodiazepínicos, que têm caráter básico. Logo, a escolha do extrator terá de ser condizente com essa característica desse fármaco, caso seja ele que você esteja procurando. Esse processo pode ser utilizado, por exemplo, para a extração de mor�na e codeína a partir da matriz biológica de urina, o solvente orgânico acetato de etila. Assim como, a partir da mesma matriz, e utilizando outro solvente, como o éter etílico, é possível fazer a extração de canabinoides sintéticos da amostra. Essa técnica é amplamente utilizada por apresentar características positivas,como a agilidade para realizá-la. Ela é relativamente simples, pois dispõem de diversos tipos de solventes extratores. Porém, alguns pontos negativos são: a produção de compostos tóxicos derivados dos solventes adicionados que podem gerar prejuízos tanto para o pro�ssional que trabalha com a técnica quanto para o descarte �nal. Videoaula: Extração por solvente Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Para uma análise toxicológica ideal, é necessário que ocorra a extração correta do analito a partir de amostras biológicas. A�nal, você precisa identi�cá-lo, quanti�cá-lo e detectar se aquele composto foi responsável pelo caso que está sendo analisado. Neste vídeo, abordaremos algumas técnicas de extração da substância de interesse. Dos métodos mais utilizados na atualidade Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica A partir da extração do analito de interesse, utilizando a técnica de preparo de amostra e extração ideal para aquela matriz e/ou analito, é necessário utilizar uma técnica de análise para aquele composto. Muitas dessas técnicas são precedidas e exigem essa etapa anterior de extração, puri�cação e concentração da amostra antes da detecção, identi�cação e quanti�cação. Basicamente, há duas etapas para a identi�cação das diferentes substâncias. A primeira compreende a triagem, e a segunda, testes de con�rmação. A triagem corresponde a uma análise qualitativa que indica apenas presença ou ausência da substância. Os imunoensaios são os mais utilizados nessa etapa. Podem identi�car, de forma simultânea, diferentes compostos, desde anfetaminas e opiáceos até benzodiazepínicos. O princípio do teste é a ligação dos antígenos (composto de interesse) ao anticorpo. De acordo com o sinal emitido nessa ligação, comparado com uma amostra conhecida e padronizada, é possível determinar a presença ou ausência do analito na amostra em questão. Também são utilizados os testes colorimétricos. Normalmente, são utilizados para a identi�cação de pós e comprimidos, e, também, para detectar substâncias presentes na urina e conteúdo estomacal. O princípio desses testes é a interação entre grupos funcionais presentes na estrutura química do composto. A maioria deles dispensa o preparo e a puri�cação, ou necessita de um preparo muito simples, rápido e de baixo custo. Seu ponto negativo é a baixa especi�cidade. Já no caso dos testes de con�rmação, é necessário utilizar metodologias com princípios físico- químicos distintos dos utilizados para os testes de triagem. A rotina mais comum consiste na Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica combinação de testes cromatográ�cos para a separação dos analitos da amostra com testes espectroscópicos para a detecção e identi�cação dos analitos separados por cromatogra�a. Faz-se necessário destacar a cromatogra�a gasosa como uma das técnicas cromatográ�cas mais utilizadas. Imagine-se em um cenário com uma amostra. Você quer separar seus componentes. Logo, você pensa em utilizar a cromatogra�a, que consiste em uma técnica em que uma mistura complexa é transportada por um líquido ou gás (chamada fase móvel, no caso da cromatogra�a gasosa, é um gás inerte) em uma coluna. E, nesse movimento, tanto a fase móvel quanto a mistura estão em contato com uma fase estacionária (no caso da cromatogra�a gasosa é líquida, que é o constituinte da coluna), que pode ser liquida ou sólida, promovendo a separação dos diferentes componentes da mistura complexa por meio da distribuição diferencial (cada soluto possui a�nidade diferente com a fase estacionária e a fase móvel). Como assim? Os diferentes componentes da sua amostra apresentam diferentes interações com a fase estacionária. E, quanto maior a a�nidade com a fase estacionária, maior o tempo despendido para sair da coluna, pois a fase móvel irá “arrastá-lo” para fora com mais di�culdade do que os que não estão com uma interação tão alta com a fase estacionária. Extraindo um de cada vez, de acordo com essa interação. Já os métodos espectroscópicos correspondem a técnicas que, a partir da interação da amostra de interesse com a radiação eletromagnética, possibilitam a identi�cação de dados físico- químicos dessas amostras. Dentre eles, o mais utilizado, acoplado à cromatogra�a gasosa, é a espectrometria de massas. Há diferentes detectores para a espectrometria de massas, mas o funcionamento deles é extremamente parecido. Essa combinação de técnicas altamente especí�cas geram uma preparação e análise da amostra extremamente con�áveis. Videoaula: Dos métodos mais utilizados na atualidade Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Agora você já compreendeu que o preparo da amostra é crucial para a análise forense e que a etapa de extração, muitas vezes, é indispensável para a detecção da substância de interesse por métodos de triagem e con�rmação. Neste vídeo, abordaremos o preparo, extração e detecção do alcaloide cocaína. Estudo de Caso Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Para contextualizar sua aprendizagem, imagine que você é um perito criminal diante da seguinte situação: uma amostra foi coletada em uma cena de óbito e chegou ao laboratório para que você e seu colega de trabalho analisassem. Primeiramente, ele sugeriu que não precisaria pensar em nenhuma das opções de preparo da amostra, já que o caso teve ampla repercussão e todos na mídia diziam que a morte ocorreu por overdose de cocaína. Dessa forma, apenas a análise por um teste colorimétrico seria su�ciente para encerrar o caso, a�nal, só seria necessário atestar a presença da substância, que, certamente, teria sido utilizada. Você concorda com o seu colega? Qual a importância do preparo da amostra? Você seguiria apenas o que o seu colega sugeriu? Qual teste colorimétrico você utilizaria? Resolução do Estudo de Caso Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica Você aprendeu as principais etapas do preparo da amostra para o contexto forense. A depender da matriz biológica coletada, o analito que será analisado e as condições da amostra, uma conduta diferente deverá ser adotada. No caso apresentado, surge o questionamento de qual amostra foi coletada. Se for uma amostra de cabelo, é necessário incluir etapas de digestão da amostra. Se forem matrizes heterogêneas, será necessário que ocorra a homogeneização antes. Então, um ponto crítico marca esse momento. Você deve prestar atenção na matriz biológica. Caso isso não seja feito, pode não ocorrer, por exemplo, a extração do composto, e seu resultado �ca negativo para a substância – situação que não pode acontecer, visto que, nesse caso, a substância estava lá, mas, pelo preparo indevido da amostra, não foi possível detectá-la. Dessa forma, não há como considerar apenas os relatos de populares e/ou mídia para realizar a sua análise. Independentemente da situação, a amostra deve ser preparada segundo as diretrizes para o seu caso. Devem ser feitas análises de triagem e con�rmação. E, no caso, o teste colorimétrico poderia ser utilizado com o teste com o reagente de Scott. É sempre importante frisar que o seu papel é imparcial. A análise, em si, depende de um olhar crítico e imparcial que irá interpretar e analisar as provas de acordo com o contexto e as provas cientí�cas. Saiba mais O link a seguir conduz à página da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais. A informação e internalização do conhecimento são as principais ferramentas no seu dia a dia de trabalho. Neste site, é possível acessar diversas edições das revistas publicadas,nas quais https://apcf.org.br/cat/revistas/ Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica contêm diversos temas importantíssimos para o contexto forense, e descrição dos casos da atualidade. Além disso há notícias atualizadas sobre o trabalho da perícia. ______ Na �gura a seguir, é apresentada uma síntese dos principais pontos de uma preparação adequada de amostras de interesse forense. Figura | Síntese dos conceitos apresentados. Fonte: elaborada pela autora. Referências Disciplina Perícia Criminal e Toxicológica BORDIN, D. C. M. et al. Técnicas de preparo de amostras biológicas com interesse forense. Scientia Chromatographica, v. 7, n. 2, p. 125-143, 2015. CALIGIORNE, S. M.; MARINHO, P. A. Cocaína: aspectos históricos, toxicológicos e analíticos – uma revisão. 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