Prévia do material em texto
SSEEMMIINNÁÁRRIIOO DDEE EESSCCUUTTAA SSOOBBRREE UUNNIIVVEERRSSIIDDAADDEE IINNDDÍÍGGEENNAA TTEERRRRIITTÓÓRRIIOOSS EETTNNOOEEDDUUCCAACCIIOONNAAIISS DDOO AAMMAAZZOONNAASS 2222//0077//22002244 –– MMAANNAAUUSS 2255//0077//22002244 –– TTAABBAATTIINNGGAA 2299//0077//22002244 –– SSÃÃOO GGAABBRRIIEELL DDAA CCAACCHHOOEEIIRRAA REALIZAÇÃO: PROPOSIÇÃO DA UNIVERSIDADE INDÍGENA DO BRASIL (UnIND) Programação dos Seminários Regionais Julho /2024 8h - Abertura (cerimonial e rituais) I. 8h15 - Plenária 1. Apresentação dos objetivos do seminário: vídeos de autoridades do MEC e MPI. 2. Breve exposição da proposta do seminário (possível constituição de um núcleo/polo regional da rede da UnIND) e da metodologia para os trabalhos da jornada. Apresentação da Equipe Moderadora. 3. Desafios a criação da UnIND do ponto de vista da gestão pública: representantes do MEC e MPI. 4. Saudação aos/às participantes pelos/as representantes das organizações indígenas da região. 5. Apresentação de breve quadro de informações sobre iniciativas existentes, no Brasil e na região, de formação superior para indígenas na graduação. Equipe de consultores/as do MEC. II. 10h – Trabalho em grupos Organizar a composição dos grupos por povo e/ou região em função do conjunto de pessoas participantes. Organizar os grupos para dar visibilidade a diferentes experiências e pontos de vista sobre a proposta da universidade indígena: estudantes de diferentes idades e experiências professores/as de diferentes idades e experiências lideranças políticas e lideranças tradicionais reconhecidas em suas comunidades mulheres e conhecedores/as tradicionais com diferentes experiências Definir uma pessoa para coordenação e uma pessoa para relatoria em cada grupo. 12h - almoço 14h – Plenária Final 1. Apresentação da relatoria de cada grupo. 2. Debates e ajustes para proposição final do documento da região. 3. Síntese prévia e participativa com indicação da possível unidade nucleadora da UnIND. PROPOSTA DA UNIVERSIDADE FEDERAL INTERCULTURAL INDÍGENA MARCO CONCEITUAL 1 INTRODUÇÃO Ao longo das últimas décadas, o incremento do acesso de indígenas à educação superior é inconteste. Em 2003/2004, em torno de 1.800 alunos indígenas matriculados, sobretudo, em instituições particulares, recebiam subsídios da Fundação Nacional do Índio (Funai) para pagar mensalidades e se manter. Passamos a um quadro, em 2019, com mais de 70.000 estudantes indígenas em variados cursos de graduação (cf. INEP, 2020), além da presença em cursos de pós- graduação. A criação da Universidade Federal Intercultural Indígena é reivindicação do movimento indígena reapresentada ao Ministro da Educação, no início de 2023, como parte das propostas consideradas prioridade no VI Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena, realizado em dezembro de 2022. Essa reivindicação resulta das experiências que vêm ocorrendo de forma crescente nos últimos 25 anos, marcadas pela presença e participação de indígenas no ensino superior como discentes, docentes e pesquisadores. Esse fenômeno também tem sido em outros países, em especial, na América Latina, em instituições referidas como universidades interculturais e/ou universidades indígenas. No Brasil, vivemos dias em que os direitos indígenas à terra e a um modo de vida culturalmente diferenciado, garantidos pela Constituição Federal de 1988, encontram-se ameaçados por interesses variados presentes no mundo capitalista global. Estudantes indígenas à frente da luta pelos direitos de seus povos veem suas vidas ameaçadas e se defrontam com a possibilidade de criminalização nos planos locais e regionais. A discriminação e os preconceitos ainda marcam grande parte das relações com os povos indígenas, inclusive nas experiências de formação universitária já em curso. Os agravos à situação de saúde indígena se somam também às ameaças aos direitos à sustentabilidade, às dificuldades surgidas pela precária articulação entre os distintos níveis da federação na execução de políticas para os povos indígenas. Essa conjuntura coloca o cenário da educação indígena, com os problemas que possa ter, num dos poucos espaços positivos para a construção de alternativas de futuro a partir do suporte de políticas governamentais. Dessa maneira, a Universidade Federal Intercultural Indígena (UnIND)irá ao encontro das necessidades e expectativas de afirmação humana e intelectual dos povos indígenas no Brasil. CONCEPÇÃO A Universidade Federal Intercultural Indígena será pública, gratuita e referenciada na interculturalidade e intercientificidade indígena entendida aqui como a construção de um amplo diálogo entre os diferentes povos indígenas e entre esses e as sociedades não-indígenas com as quais se encontram em interação. Terá como missão a formação universitária, a geração de conhecimentos e das práticas necessárias para o desenvolvimento dos projetos de bem-viver e promoção da cooperação. As bases para essa missão incluem: a solidariedade, o protagonismo, a autonomia e diversidade entre os povos e culturas indígenas do Brasil. Além disso, pretende ser lócus do estudo e difusão das culturas dos povos indígenas brasileiros e da América Latina, respeitando e valorizando as identidades e diversidades culturais. A Universidade Federal Intercultural Indígena formará cidadãos compromissados com o desenvolvimento autônomo, democrático, justo e solidário dos povos indígenas do Brasil e da sociedade brasileira como um todo e seus projetos de bem-viver, em atividades de ensino, pesquisa e extensão voltados para atender às suas demandas e estará comprometida com a garantia dos direitos indígenas e com a formação de lideranças políticas, culturais e acadêmicas. Essa universidade promoverá, ainda, por meio de ações de ensino, pesquisa e extensão, atividades voltadas para a valorização dos patrimônios epistemológicos, culturais e linguísticos dos povos indígenas, considerando-se suas demandas e necessidades, e terá como âmbito de atuação fundamental a articulação e cooperação entre os diferentes sistemas de conhecimentos indígenas com os sistemas de conhecimentos acadêmico-científico não indígenas. A UnIND deverá se constituir no principal espaço de formação em nível de educação superior dos povos indígenas brasileiros e funcionará como instituição articuladora de uma rede de centros de estudos e formação de universidades brasileiras parceiras. Essa rede dará a UnIND conformação semelhante a de uma universidade multicampi com unidades distribuídas por todo o território brasileiro e em todos os Territórios Etnoeducacionais onde a universidade se fizer necessária. Além de ser uma instituição formadora nas diversas áreas do conhecimento, a UnIND promoverá a pesquisa e a divulgação das línguas, culturas, histórias, tradições e conhecimentos indígenas, em seus processos e seus produtos, valendo-se de modalidades de registro e transmissão de conhecimentos que respeitem e valorizem os procedimentos próprios das diferentes tradições culturais dos diversos povos indígenas. As línguas indígenas serão reconhecidas como línguas de formação, de instrução e de apresentação de trabalhos acadêmico-científicos nas modalidades e nas formas de registro previamente discutidas e concordadas com os povos indígenas diretamente envolvidos. Para tanto será prevista a contratação de pessoal qualificado para que se efetive essa progressiva construção, preferencialmente, profissionais indígenas e com notório saber. A interlocução com as coletividades de origem de seus estudantes será tomada como um princípio diferenciado de organização, gestão e articulação mais geral de suas atividades,seja nos planos da pesquisa, do ensino, da extensão ou da assistência universitária. Também se propõe a gerar sinergia e colaboração em diferentes níveis visando à criação de novas metodologias e processos de produção, registro e transmissão de conhecimentos, tendo em vista os desafios do mundo contemporâneo. A fim de favorecer a sua integração e parcerias com instituições universitárias congêneres, a UnIND será implementada em amplo diálogo com outras experiências similares no Brasil, nas Américas e em outros continentes, assim como experiências inovadoras atentas para os desafios contemporâneos que se colocam para todos os povos do planeta. A UnIND será parte do sistema federal de educação superior e deverá ser implementada por meio de uma fundação de direito pública para dar celeridade à realização das ações relativas ao cumprimento de sua missão institucional. A Universidade Federal Intercultural Indígena será constituída de um câmpus-sede, no Distrito Federal, e conformará uma rede de Institutos de Formação Indígena de universidades federais, em locais e Territórios Etnoeducacionais a serem especificados. Estes institutos serão criados a partir de regras específicas com mediação e integral apoio logístico e material do Ministério da Educação, que garantirá que os campi dessa universidade sejam plenamente equipados de maneira a dinamizar, de diferentes maneiras, os distintos processos de formação no nível da educação superior. A escolha do Distrito Federal deve-se a vários fatores, entre os quais destacamos: aspectos organizacionais visto que o câmpus-sede será o ponto focal da universidade; aspectos logísticos haja vista a facilidade de deslocamento existente entre Brasília e outras regiões do Brasil; facilidade de articulação com órgãos do governo e instituições ligadas à educação superior etc. Essa organização em rede facilitará a criação de câmpus da UnIND que terão a orientação em campos de saberes específicos nos locais onde já exista uma base acadêmica consolidada nas áreas de interesse. Tanto o câmpus-sede quanto os câmpus-rede poderão desenvolver todos os níveis de atividades acadêmicas a serem previstos para a UnIND. A Universidade Federal Intercultural Indígena poderá estabelecer parcerias com centros de pesquisas e formação indígenas, e outras instituições. Por meio dessas parcerias, ela deverá ampliar sua capacidade de interagir com os variados contextos de vida e de produção/reprodução de conhecimentos dos diferentes povos indígenas e não indígenas, assim como poderá potencializar sua capacidade de responder e interagir com a diversidade de demandas e possibilidades de trabalho e colaboração que poderá surgir em sua rede de atuação . Uma dimensão fundamental dessa rede de formação será a mobilidade docente – de forma a potencializar a qualidade da formação, integrando as diferentes competências presentes em toda a rede; e a mobilidade discente – de forma a oportunizar uma experiência enriquecida pelo convívio e aprendizado nos diferentes contextos formativos que constituem a rede. 1 Proposta elaborada pelo Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena (FNEEI), tomando como referência o documento elaborado, em 2015, por uma comissão designada pelo MEC. 1 DOCUMENTO BASE UNIVERSIDADE FEDERAL INTERCULTURAL INDÍGENA ..................................................................................2 JUSTIFICATIVA PARA A CRIAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL INTERCULTURAL INDÍGENA ................................................................ 3 APRESENTAÇÃO E MISSÃO .................................................................................................................................................................................................. 4 A UNIVERSIDADE ORGANIZADA COMO UMA REDE NACIONAL DE FORMAÇÃO INDÍGENA ......................................................................... 5 ORGANIZAÇÃO ACADÊMICA ............................................................................................................................................................................................... 6 ACESSO, PERMANÊNCIA E SUCESSO ................................................................................................................................................................................. 7 Observatório da Vida Estudantil.............................................................................................................................................................. 8 ORGANIZAÇÃO DA FORMAÇÃO: GRADUAÇÃO, PÓS-GRADUAÇÃO E EDUCAÇÃO AO LONGO DA VIDA..................................................... 9 FORMAÇÃO EM PROGRAMAS DE GRADUAÇÃO ........................................................................................................................................................... 9 Inserção na vida universitária .........................................................................................................................................................................................10 Formação geral .....................................................................................................................................................................................................................10 Formação básica ...................................................................................................................................................................................................................11 Formação profissional/específica ..................................................................................................................................................................................11 Inserção na vida profissional e no mundo do trabalho .........................................................................................................................................11 A arquitetura curricular dos programas de graduação ..............................................................................................................11 PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO ....................................................................................................................................................................................... 13 FORMAÇÃO EM PROGRAMAS DE EXTENSÃO, EDUCAÇÃO CONTINUADA E AO LONGO DA VIDA ............................................................. 13 INFRAESTRUTURA FÍSICA, MATERIAL E TECNOLÓGICA PARA APOIO AO ENSINO ...................................................................................... 14 GESTÃO COMPARTILHADA: GOVERNANÇA E ADMINISTRAÇÃO ........................................................................................................................ 15 VIDA UNIVERSITÁRIA E DOCÊNCIA NA UnIND .................................................................................................................15 TÓPICOS A DESENVOLVER ................................................................................................................................................................................................. 16 Certificação e reconhecimento de conhecimentos e de saberes de outros espaços de aprendizagem ......................16 2 Universidade Federal Intercultural Indígena (documento de trabalho: 27 de julho de 2015) A Universidade Intercultural Indígena será uma nova universidade federal constituída para favorecer a formação em nível de graduação e pós-graduação de estudantes indígenas brasileiros. Essa universidade será organizada como uma rede de instituições de formação indígena com sede em Brasília e centros de formação conveniados em várias universidades federais. Ela será pública, gratuita e referenciada na interculturalidadeindígena entendida aqui como a construção de um amplo diálogo entre os diferentes povos indígenas e entre esses e as sociedades não-indígenas com as quais seencontram em interação. Terá como missão a formação universitária, a geração de conhecimento e das práticas necessárias para o desenvolvimento dos projetos de bem- viver e promoção da cooperação. As bases para essa missão incluem: a solidariedade, a autonomia e diversidade entre os povos e culturas indígenas do Brasil. Além disso, pretende ser lócus do estudo e difusão das culturas dos povos indígenas brasileiros e da América Latina, respeitando e valorizando as identidades e diversidades culturais. A universidade deverá ser um espaço acadêmico plural e democráticos para valorização, registro e difusão das culturas e dos saberes indígena e de outras culturas e saberes não indígenas. Os estudantes oriundos de povos indígenas residirão em um dos vários centros de formação da universidade, em cursos que preveem a residência no câmpus universitário e em cursos em regime modular, com atividades desenvolvidas também nas aldeias, permitindo, assim, a formação em tempo completo e o convívio em diferentes contextos formativos, a aprendizagem e a interação sociocultural. A interação dinâmica entre diferentes sistemas de conhecimento será o eixo orientador da universidade intercultural indígena, cujas práticas de investigação serão desenvolvidas a partir de pesquisas em colaboração envolvendo conhecedores tradicionais e pesquisadores acadêmicos indígenas e não-indígenas. As temáticas de pesquisa deverão dialogar com os projetos societários dos povos indígenas envolvidos, assim como se dará especial atenção aos processos tradutórios envolvidos nessas interações. Os primeiros cursos de graduação e pós-graduação serão definidos a partir da demanda dos povos indígenas que vêm indicando inicialmente as áreas de Formação de Professores, Engenharia e Tecnologias, Saúde, Gestão Ambiental e Territorial, Gestão de Políticas Públicas, Direito e Agroecologia. As políticas de formação serão inovadoras e contemporâneas, prevendo uma abordagem interdisciplinar desde o início da formação e a realização da pesquisa e extensão de forma integrada ao ensino e inteiramente pertinente à realidade de origem dos estudantes. Prevê-se uma etapa de acolhimento intelectual, cultural e linguístico no ano de entrada dos estudantes na universidade e 3 como etapa final do curso, a realização de trabalhos de graduação nas comunidades de origem dos estudantes e um processo de inserção no mundo do trabalho. Justificativa para a criação da Universidade Federal Intercultural Indígena. Ao longo da última década, o incremento do acesso de indígenas à educação superior é inconteste. Em 20022/2023, em torno de 1.800 alunos indígenas matriculados, sobretudo, em instituições particulares, recebiam subsídios da Fundação Nacional do Índio (Funai) para pagar mensalidades e se manter. Passamos a um quadro atual de em torno de mais de 57.000 estudantes indígenas em variados cursos de graduação e pós- graduação. Muitos desses estudantes integram os corpos discentes de universidades federais e estaduais, principalmente, em cursos de licenciaturas interculturais fomentados pelo Programa de Licenciaturas Interculturais Indígenas (Prolind). Outros são alunos cotistas ou acederam ao ensino superior via vestibulares específicos, configurando-se num rico mosaico de articulações institucionais com diferentes formatos. Hoje alguns recebem bolsas permanência ou outras formas de fomento ou, matriculados em instituições particulares, usufruem bolsas do Programa Universidade para Todos (Prouni), ou ainda, bolsas das próprias instituições em que estão matriculados. Tal cenário evidencia um avanço significativo em face da pauta de reivindicações históricas dos movimentos indígenas no Brasil, conquanto esteja ainda longe do ideal desejável. Em profundo contraste com esse cenário, vivemos dias em que os direitos indígenas à terra e a um modo de vida culturalmente diferenciado, garantidos pela Constituição Federal de 1988, encontram-se ameaçados por interesses variados presentes no mundo capitalista global. Estudantes indígenas à frente da luta pelos direitos de seus povos veem suas vidas ameaçadas e se defrontam com a possibilidade de criminalização nos planos locais e regionais. A discriminação e preconceitos ainda marcam grande parte das relações com os povos indígenas, inclusive nas experiências de formação universitária já em curso. Os agravos à situação de saúde indígena se somam também às ameaças aos direitos à sustentabilidade, às dificuldades surgidas pela precária articulação entre os distintos níveis da federação na execução de políticas para os povos indígenas. Essa conjuntura coloca o cenário da educação indígena, com os problemas que possa ter, num dos poucos espaços positivos para a construção de alternativas de futuro a partir do suporte de políticas governamentais. Dessa maneira, a Universidade Federal Intercultural Indígena irá ao encontro das necessidades eexpectativas de afirmação humana e intelectual dos povos indígenas no Brasil e a busca de alternativas para a continuidade e qualificação do diálogo com as sociedades não- indígenas. 4 Apresentação e missão. A Universidade Federal Intercultural Indígena (UnIND) formará cidadãos compromissados com aautonomia dos povos indígenas do Brasil e seus projetos de bem- viver, em atividades de ensino, pesquisa e extensão voltados para atender às suas demandas e estará comprometida com a garantia dos territórios indígenas e com a formação de lideranças políticas, culturais e acadêmicas. A UnIND deverá promover e coordenar as iniciativas de formação na educação superior dos povos indígenas do Brasil. Promoverá ainda, por meio de ações de ensino, pesquisa e extensão, atividades voltadas para a valorização dos patrimônios epistemológicos, culturais e linguísticos dos povos indígenas, considerando-se suas demandas e necessidades, e terá como âmbito de atuação fundamental a articulação entre os diferentes sistemas de conhecimento indígenas com os sistemas de conhecimento acadêmico-científico não indígenas. A UnIND deverá se constituir no principal espaço de formação em nível de educação superior dos povos indígenas brasileiros e funcionará como instituição articuladora de uma rede de centros de estudos e formação de universidades federais brasileiras parceiras. Esta rede dará a UnIND a conformação semelhante a de uma universidade multi- câmpus com unidades distribuídas por todo o território brasileiro onde a universidade se fizer necessária. Além de ser uma instituição formadora nas diversas áreas do conhecimento, a UnIND promoverá a pesquisa e a divulgação das línguas, culturas, histórias, tradições e conhecimentos indígenas, em seus processos e seus produtos, valendo-se de modalidades de registro e transmissão de conhecimentos que respeitem e valorizem os procedimentos próprios das diferentes tradições culturais dos diversos povos indígenas. As línguas indígenas serão utilizadas como línguas de formação, de instrução e de apresentação de trabalhos acadêmico-científicos nas modalidades e nas formas de registro previamente discutidas e concordadas com os povos indígenas diretamente envolvidos. Para tanto será prevista a contratação de pessoal qualificado para que se efetive essa progressiva construção. A interlocução com as coletividades de origem de seus estudantes será tomada como umprincípio diferenciado de organização, gestão e articulação mais geral de suas atividades, seja nos planos da pesquisa, do ensino, da extensão ou da assistência universitária. Também se propõe a gerar sinergia e colaboração em diferentes níveis visando à criaçãode novas metodologias e processos de produção, registro e transmissão de conhecimentos, tendoem vista os desafios do mundo contemporâneo. A fim de favorecer a sua interação com instituições universitárias congêneres, a UnIND será implementada em amplo diálogo com outras experiências similares nas Américas e em outros continentes, assim como experiências inovadoras atentas para os desafios contemporâneos que se colocam para todos os povos do planeta. 5 A UnIND será parte do sistema federal de educação superior e deverá ser implementada por meio de uma fundação de direito pública para dar celeridade à realização das ações relativas ao cumprimento de sua missão institucional. A Universidade organizada como uma rede nacional de formação indígena. A Universidade Federal Intercultural Indígena será constituída de um câmpus sede, no Distrito Federal, e conformará uma rede de Institutos de Formação Indígena de universidades federais, em locais e estados a serem especificadas. Esses institutos serão criados a partir de regras específicas com mediação e integral apoio logístico e material do Ministério da Educação, que garantirá que os câmpus da universidade sejam plenamente equipados de maneira a dinamizar, de diferentes maneiras, os distintos processos de formação no nível da educação superior. Essa rede será conformada como um consórcio entre um conjuntode universidades federais e a UnIND que atuará como ponto focal, como vetor dinamizador e orientador da rede. Em cada uma das universidades federais participantes do consórcio,um Instituto de Formação Indígena será uma unidade acadêmica da universidade conveniada que atuará como um câmpus da UnIND. Assim, cada Instituto de Formação Indígena de universidades nesse convênio terá organização e gestão acadêmica ambivalentes e deverá cumprir regras específicas a serem estabelecidas. A escolha do Distrito Federal deve-se a vários fatores, entre os quais destacamos: aspectos organizacionais, visto que o câmpus sede será o ponto focal da universidade; aspectos logísticos, haja vista a facilidade de deslocamento existente entre Brasília e outras regiões do Brasil; facilidade de articulação com órgãos do governo e instituições ligadas à educação superior etc. Os termos de pactuação entre a Universidade Federal Intercultural Indígena e as universidades federais que conformaram a rede da UnIND serão especificados pelo MEC a partir das demandas dos Territórios Etnoeducacionais. O número de universidades federais que conformarão a rede da UnIND bem como suas escolhas deverão ser objeto de estudos da comissão de implantação. As diversas atividades acadêmicas da UnIND poderão ocorrer no seu câmpus sede e nos seus câmpus rede em cada universidade do consórcio. Do ponto de vista acadêmico, cada um dos câmpus rede situado em uma universidade federal conveniada atuará como um câmpus da Universidade Federal Intercultural Indígena de acordo com a organização acadêmica desta. Essa organização em rede facilitará a criação de câmpus da UnIND que terão a orientação em campos de saberes específicos nos locais onde já exista uma base acadêmica consolidada nas áreas de interesse. Tanto o câmpus sede quanto os câmpus 6 rede poderão desenvolver todos os níveis de atividade acadêmica a serem previstos para a UnIND. A Universidade Federal Intercultural Indígena poderá estabelecer parcerias com centros de pesquisas eformação indígenas, e outras instituições. Por meio dessas parcerias, ela deverá ampliar sua capacidade de interagir com os variados contextos de vida e de produção/reprodução de conhecimentos dos diferentes povos indígenas e de outros povos, assim como poderá potencializar sua capacidade de responder e interagir com a diversidade de demandas e possibilidades de trabalho e colaboração que poderá surgir em sua rede de atuação. Uma dimensão fundamental dessa rede de formação será a mobilidade docente – de forma a potencializar a qualidade da formação, integrando as diferentes competências presentes em toda a rede; e a mobilidade discente – de forma a oportunizar uma experiência enriquecida pelo convívio e aprendizado nos diferentes contextos formativos que constituem a rede. Organização Acadêmica. Do ponto de vista acadêmico, a universidade será baseada em uma organização sistêmica constituída de três tipos unidades: 1. Centro de Estudos Universitários. 2. Centros de Formação Específica. 3. Órgãos Complementares. O Centro de Estudos Universitários (CEU) atuará como uma unidade acadêmica e estará presente em todos os câmpus e será o ambiente acadêmico no qual os estudantes ingressantes na universidade serão acolhidos e receberão a formação geral e básica necessárias ao desenvolvimento de uma formação específica ou profissional nas etapas seguintes do processo de formação na graduação. Algumas características acadêmicas e atividades deste Centro estão descritas a seguir: ● Organização acadêmica interdisciplinar e intercultural; ● Docentes experientes e altamente qualificados; ● Uso intensivo de tecnologias e metodologias de apoio à aprendizagem, recorrendo a diferentes tradições não-indígenas e indígenas; ● Coordenação das atividades de acolhimento dos estudantes ingressantes na universidade e desenvolvimento de ações que favoreçam o processo de afiliação ao novo contexto de vida universitária; ● Coordenação das atividades de educação aberta e aprendizagem ao longo da vida nos campi universitários e nas aldeias; ● Promoção de atividades formativas junto aos sábios indígenas; 7 ● Competência para avaliação e certificação de estudos e saberes obtidos em outros espaços indígenas e não-indígenas; ● Realização de pesquisas colaborativas com os conhecedores tradicionais, estudos avançados e pós-graduação de característica interdisciplinar e intercultural. De forma conceitual, as funções do Centro de Estudos Universitários incluem: ● Atividades de acolhimento, formação geral e básica dos estudantes; ● Organização da formação de maneira que o primeiro ano da universidade também possa ser realizado de forma semi-presencial, próxima às aldeias; ● Realização da formação geral e básica a fim de preparar os estudantes para uma fase de posterior de formação específica (ou profissional) e continuar aprendendo ao longo da vida; ● Formação intercultural sobre os povos e comunidades indígenas no Brasil, nas Américas e em diferentes partes do mundo; ● Formação básica seletiva em áreas tronco de formações específicas. Após receberem a formação geral e básica realizada no CEU, os estudantes desenvolverão seus estudos específicos ou profissionais nos Centros de Formação Específica nas áreas de atuação da universidade. Em todas as atividades desenvolvidas a comunidade acadêmica utilizará serviços e equipamentos institucionais para favorecer o processo formativo, de produção de conhecimento e de prática de extensão. Esses serviços de apoio às atividades acadêmicas serão prestados por Órgãos Complementares específicos, como bibliotecas, centros de informática, moradias universitárias, editora, laboratório audiovisual, centro de convenções, etc. A Universidade Federal Intercultural indígena será dotada de recursos especificamente alocados para pesquisa e extensão, envolvendo docentes e estudantes, e privilegiando temas vinculados aos projetos indígenas de bem-viver. Os indicadores de produtividade de pesquisa e extensão serão consonantes com as prioridades de temas e modalidades de formação próprios da universidade indígena. Serão previstos cursos para estudantes residentes nos câmpus e para estudantes residentes nas aldeias. Acesso, permanência e sucesso. Deve-se garantir a democratização do acesso à universidade por meio de políticas que garantam o maior nível possível de equidade. Nos processos seletivos, além do conhecimento relativo ao ensino médio, será considerada essencial a etapa de indicação dos candidatos pelas comunidades,assim como se objetivará medir e considerar fortemente a aptidão, motivação e potencial para estudos universitários. As avaliações dos estudantes no processo seletivo deverão ser usadas para conhecer e, eventualmente, superar as deficiências de formação do ensino médio nos estudantes ingressantes na universidade. A UnIND poderá prever, de acordo com as demandas indígenas, a 8 possibilidade de oferta de vagas a não indígenas. É fundamental o pleno suporte à vida estudantil, atendendo às necessidades básicas de moradia, alimentação, saúde, livros e equipamentos acadêmicos para a realização da etapa de formação na universidade. As avaliações de aprendizado (de caráter certificador) deverão ser planejadas, organizadas e realizadas no intuito de garantir a realização das políticas de ensino de toda a universidade e dos currículos dos cursos. A Universidade Federal Intercultural Indígena contará com recursos e mecanismos próprios para definição das formas de acesso, de programas de bolsas permanência e acadêmicas, assim como definirá indicadores de avaliação consonantes com as especificidades de seu público e de seus cursos. Incumbe à UnIND a realização das ações necessárias que garantam o êxito acadêmico dos estudantes, incluindo sua inserção no mundo do trabalho. Observatório da Vida Estudantil. Uma das ações que deverá dar suporte a permanência e favorecer o sucesso dos estudantes será o Observatório da Vida Estudantil que reunirá informações sobre as condições de vida e estudos dos estudantes da universidade. Deve-se reunir informações sobre condições de acesso, inserção à vida universitária, desenvolvimento acadêmico, saúde, moradia, cultura, lazer, artes, inserção no mundo do trabalho, etc. Esse observatório permitirá realizar diagnósticos importantes sobre os vários eixos da vida estudantil, e assim, permitir o reordenamento e as correções necessárias para garantir a qualidade de vida e de formação dos estudantes. A gestão desse observatório deverá ser tripartite: administração da universidade, docentes pesquisadores, comitê de estudantes. São aspectos a serem tratados nesse observatório: ● Elaboração e aplicação de questionários nos processos seletivos; ● Conhecimento do perfil dos interessados em estudar na UnIND; ● Desenho de uma política de assistência estudantil desenhada e implementada em articulação com os estudantes e fundamentada nos estudos realizados; ● Questionários aplicados em vários momentos da vida estudantil; ● Desenvolvimento de metodologia para verificar a inserção dos estudantes no mundo do trabalho; e ● Implementação de ações de comunicação entre os estudantes indígenas; entre esses e a comunidade acadêmica. 9 Organização da Formação: graduação, pós-graduação e educação ao longo da vida. A Universidade desenvolverá programas de formação em três eixos: ● Graduação. ● Pós-graduação. ● Educação continuada e ao longo da vida (Estudantes Externos egressos da própria UnIND, público externo indígena e não-indígena e cursos de Especialização). Esses programas levarão a certificados e diplomas ao final do processo em que o estudante estiver engajado. Formação em Programas de Graduação Algumas das diretrizes que deverão orientar a formação na graduação na UnIND incluem: ● Desenvolvimento da autonomia de aprendizagem. ● Articulação da pesquisa-extensão e dos processos de aprendizagem referenciados nos territórios e nas diferentes realidades dos povos indígenas. ● Alta flexibilidade curricular de caráter interdisciplinar e intercultural. ● Desenvolvimento de competências gerais e profissionais necessárias para atuação junto às comunidades indígenas, na mediação com a sociedade não-indígena, e no mundo do trabalho de forma mais ampla. ● Diálogo permanente entre os diferentes sistemas de conhecimento. ● Diálogo, capacidade de comunicação e mediação intercultural e interdisciplinar para atuar em equipes de profissionais indígenas e não-indígenas. De um ponto de vista conceitual, propõe-se uma estratégia de formação dos estudantes nos programas de graduação que leva em consideração cinco etapas: 1. Inserção à vida universitária: início da formação, processo de afiliação à vida universitária, desenvolvimento de competências gerais. 2. Formação geral: continuação do desenvolvimento da formação geral, formação geral universitária e em culturas humanística, científica e artística. 3. Formação básica: formação propedêutica relacionada à área de formação do estudante, formação nas bases conceituais relacionadas à área em que o estudante realizará sua formação específica. 4. Formação profissional/específica: atividades curriculares para o desenvolvimento das competências específicas ou profissionais, atividades acadêmicas relacionadas à complementação da formação do estudante. 5. Inserção no mundo do trabalho: internatos curriculares com trabalhos de conclusão de curso nos espaços de extensão universitária articulados com a universidade; estágios orientados com diversos tempos de duração e formas de inserção. 10 Essas etapas não são necessariamente anos ou períodos letivos. Em cada uma delas serão abordados conteúdos articulados com o desenvolvimento de competências, habilidades e valores a serem previstos no projeto pedagógico institucional da universidade. Os programas de formação da universidade serão concebidos segundo uma estratégia de formação em ciclos em que as cinco etapas formativas sejam consideradas. O desenvolvimento dos conteúdos curriculares deverá ocorrer em todos esses ciclos, ou seja, não deve haver uma seriação previamente estabelecida das atividades e disciplinas. Inserção na vida universitária. Tendo em vista o caráter crucial que esta etapa de formação tem em relação ao sucesso em todas as outras etapas de formação, uma atenção maior será dispensada à inserção à vida universitária. As principais dimensões a serem tratadas no primeiro ano dos estudantes na universidade são: ● A vida cotidiana: valores e vivência; ● Buscando conhecer: curiosidade e pensamento crítico; ● Aprendendo a aprender: recursos e métodos de estudo; ● Os grandes desafios: desafio do diálogo entre diferentes sistemas de conhecimentos, linguagens e epistemologia das grandes áreas do conhecimento e das diferentes culturas; ● Difusão de práticas como: elaboração de ensaios, textos; apresentação oral; debates. ● Participação na organização de atividades em sua comunidade e na UnIND com o envolvimento de conhecedores tradicionais e sábios indígenas para estabelecer as bases do diálogo entre universidade e aldeias. Na sequência, apresentamos uma tabela em que se sintetizam as etapas formativas dentro da UnIND. O desenvolvimento e organização dos tempos dessas etapas, assim como a distribuição/ordem das atividades deve ser feito de forma a atender diferentes perfis dos estudantes ingressantes, contemplando aqueles que já tenham alguma familiaridade com o meio urbano e com as estruturas universitárias, assim como aqueles que terão sua primeira inserção em ambiente externo às aldeias. Formação geral Seguem exemplos de atividades relacionadas à etapa de formação geral: ● Desenvolvimento de comunicação oral e escrita. ● Formação política e sobre direitos indígenas em nível introdutório. ● Formação inicial sobre povos indígenas no Brasil e América Latina. ● Formação em Filosofia da Ciência e Metodologias Científicas. 11 ● Formação em culturas científica, artística e humanística e nas diferentes tradições de conhecimento indígenas. ● Desenvolvimento de competências em ferramentas de informática. ● As línguas e literaturas indígenas de tradição oral e escritas no Brasil. ● Aprendizado de uma língua estrangeira moderna. ● Aprendizado de uma língua indígena como disciplina opcional. Formação básica ● Conjunto de atividades curricularesessenciais para o domínio das competências e habilidades necessárias à formação do graduando. ● Formação política e sobre direitos indígenas em nível avançado. ● O estudante terá liberdade de compor o conjunto de atividades necessárias para seucurrículo, sempre em comum acordo com seu orientador acadêmico. ● Cada curso definirá o conjunto de atividades básicas – as quais poderão ser cursadas juntamente com estudantes de outros cursos. Formação profissional/específica ● Conjunto de atividades curriculares necessárias ao desenvolvimento das competências e habilidades necessárias à formação profissional. ● Formação política e sobre direitos indígenas com referência ao campo de atuação profissional. ● Cada curso, a partir das diretrizes curriculares e das exigências legais do campo de atuação, definirá as grandes áreas de conteúdos, cabendo ao estudante com a parceria do orientador acadêmico, compor seu currículo – ou seja, cada estudante deve elaborar seu próprio plano de estudos que será submetido aos Colegiados de curso. Inserção na vida profissional e no mundo do trabalho ● Conjunto de atividades a serem desenvolvidas ao longo do curso que permitam a imersão na realidade, para caracterização de problemas, análise (entram os conteúdos que ajudam a analisar e resolver problemas detectados na realidade) e encaminhamento de soluções que deverão ser formalizadas na forma de um texto ou comunicação científica. ● Internatos curriculares com trabalhos de conclusão de curso, no último ano, em regiões de origem dos estudantes ou espaços de extensão da universidade. A arquitetura curricular dos programas de graduação. Do ponto de vista da arquitetura curricular e do desenvolvimento dos programas de graduação a formação se dará em ciclos de formação em coerência com a visão das etapas formativas apresentadas anteriormente. 12 O primeiro ciclo de formação na graduação compreende as três primeiras etapas formativas apresentadas anteriormente e pode levar à obtenção de um diploma de Bacharelado Interdisciplinar ou de Licenciatura Interdisciplinar. Esse primeiro ciclo formativo deverá ocorrer tipicamente em três anos de estudos. Uma vez concluído o primeiro ciclo, o estudante poderá seguir sua formação na área básica de estudos do segundo ciclo. Neste ciclo, os estudantes poderão aprofundar seus estudos em uma área específica ou profissional para obtenção do diploma correspondente em um período de mais um ou dois anos. Deve-se ressaltar que este tipo de formação em ciclos já ocorre em 20 universidades federais brasileiras desde 2008 e que os Bacharelados Interdisciplinares conformam uma modalidade de curso superior reconhecida pelo Parecer 266/2011/CNE, aprovado em 6/7/2011 e homologado pelo MEC em 14/10/2011. A UnIND oferecerá cursos de graduação organizados em regimes de ciclos, a fim de favorecer a mobilidade discente nas diferentes etapas de sua formação, desde a formação básica até a especializada; desde experiências de sua formação próximas ou em suas próprias aldeias a experiências formativas em locais distantes de suas coletividades de origem. Os cursos serão ofertados em modalidade que prevê a residência dos estudantes indígenas nos campi, e em regime modular, para estudantes residentes nas aldeias. Além do sistema de formação em ciclo nos programas de graduação, os principais elementos da arquitetura curricular incluem: ● Sistema de créditos baseado em atividades acadêmicas realizadas pelos estudantes nos programas de formação em graduação; ● Unidades de Aprendizagem (UAs – disciplinas) organizadas em eixos: etapa formativa, campo do saber, complexidade; ● Formação baseada no desenvolvimento de competências múltiplas gerais (transversais, por etapa formativa); ● Obtenção de créditos em UAs e a verificação de desenvolvimento de competências múltiplas gerais. A Universidade Federal Intercultural Indígena será uma universidade plena com programas de formação em todas as áreas. Inicialmente estão previstos cursos que contemplem as demandas indígenas nas áreas de saúde, educação, gestão territorial e ambiental, agroecologia, gestão cultural, gestão de políticas públicas, tecnologias, direito, antropologia e arqueologia. 13 Pesquisa e Pós-Graduação. No que tange às políticas de pesquisa e pós-graduação, a UnIND aponta para os princípios de: ● Pesquisa em colaboração entre sábios e conhecedores tradicionais indígenas com pesquisadores acadêmicos indígenas e não-indígenas; ● Desenvolvimento da pesquisa como base da formação acadêmica em todos os níveis; ● Produção de conhecimento baseada na sustentabilidade e comprometida com as demandas sociais dos povos indígenas, em particular, e do Brasil, em geral; ● Valorização e uso de ferramentas/inovações tecnológicas em consonância com o contexto ambiental, social e político; ● Cooperação solidária. As linhas de pesquisa a serem implantadas e progressivamente desenvolvidas deverão ser discutidas em cada núcleo da rede, em função das áreas de conhecimento e competências que possam servir de referência inicial em cada IES e, principalmente, em função das demandas discutidas e negociadas com os povos indígenas diretamente envolvidos, tendo em vista os diferentes contextos ambientais e socioculturais de suas terras e territórios e seus projetos de bem-viver. Os temas relacionados à biodiversidade e diversidade sociocultural e linguística, assim como os direitos indígenas são indicados como eixos prioritários, a serem melhor detalhados nos programas de pesquisa a serem desenvolvidos. Caberá à sede central da UnIND orquestrar o conjunto das propostas de pesquisa de modo a articular e dinamizar o potencial do conjunto da rede quanto à produção de conhecimento e à formação para jovens indígenas – desde a educação básicaaté a formação na pós-graduação – de forma que a pesquisa possa efetivamente ser a baseda formação em todos os níveis, assim como se faça presente no diálogo com as atividadesde extensão desenvolvidas junto às comunidades e associações indígenas. A Universidade Federal Intercultural Indígena implementará cursos de pós- graduação, em diálogo com o sistema de pós-graduação existente, mas dotada de recursos específicos, de forma a garantir a formação de quadros docentes e profissionais indígenas para atuar nas IES e em diversas outras instituições. Além disso, instituirá cátedras de conhecimentos indígenas que receberão sábios e conhecedores tradicionais, segundo as modalidades e demandas definidas junto aos povos indígenas diretamente envolvidos. Formação em programas de extensão, educação continuada e ao longo da vida. A educação continuada e ao longo da vida estará contemplada nas políticas de formação da UnIND e serão realizadas, por meio de programas de cursos de especialização e também por meio da abertura de vagas em todas as Unidades de Aprendizado (UAs – disciplinas) em nível de graduação para estudantes externos à universidade. 14 Para possibilitar a realização do programa de educação continuada para estudantes externos à universidade, 10% de todas as vagas em UAs de graduação serão reservadas para matrícula de estudantes da educação básica indígena. Esses estudantes não serão “estudantes ouvintes” ou “alunos especiais”. De fato, terão a possibilidade de compor sequências de Uas, que poderão levar a certificados de curso superior em complementação de estudos, ou a diplomas de curso sequencial de formação específica. Para viabilizar essa alternativa, a universidade deverá organizar planos de estudos quepossibilitem a realização de cursos sequenciais de formação específica, de acordo com a legislação em vigor. Essa possibilidade permite o acesso aberto da sociedade à universidade. Além disso, o objetivo maior é o de possibilitar a realização de atividades que re-integrem as diferentes componentesetárias em atividades formativas conjuntas, que envolvam pessoas de diferentes idades e competências, procurando combater a fragmentação provocada pela seriação/hierarquização do sistema formativo dominante. No caso dos cursos de especialização, a universidade preparará planos de estudos e abrirá inscrições, mediante processo seletivo para portadores de diplomas de curso de graduação. Infra-estrutura física, material e tecnológica para apoio ao ensino A UnIND será concebida para que os elementos da tecnologia da informação e comunicação sejam de uso intensivo e de larga disponibilidade de maneira a aproximar distâncias e facilitar o aprendizado. Será concebida também para contemplar espaços de convivência cotidiana, assim como espaços de realização de rituais. Nesse contexto alguns aspetos relacionados ao processo ensino-aprendizagem deverão ter disponíveis: ● Sistema de biblioteca digital de alta disponibilidade (livros digitais, objetos de aprendizagem, vídeos educativos etc.); ● Sistema de TV-Educativa (interno aos câmpus) com vários canais temáticos relacionando a programação com as atividades de aprendizado; ● Alta disponibilidade de internet em todo os câmpus; ● Sistema de Tecnologias de Apoio a Aprendizagem ; ● Todo material de aulas expositivas gravado e publicamente disponível (transparência acadêmica). Nas moradias estudantis e de professores, planeja-se também: ● Nos apartamentos: Cabeamento de telefonia, rede, TV a Cabo do Câmpus, Rede Wi- Fi, energia elétrica; ● Áreas comuns: Espaços Áreas estudo e leitura. Na biblioteca e centros de aprendizagem deve-se ter a disponibilidade: ● Em todo o prédio: Cabeamento de telefonia, rede, TV a Cabo do Câmpus, Rede Wi- Fi, energia elétrica; 15 ● Salas para acesso à Midiateca; ● Salas de projeção; ● Salas para apoio à tutoria e monitoria; ● Sala para apoio à Informática; ● Salas para estudo em grupo; ● Área com mesas para estudos e consulta; ● Área para serviços de impressão e cópias; ● Área para exposições (Arte/Cultura); ● Cinema / Teatro; ● Área para manifestações culturais abertas; ● Espaço para alimentação. Nas salas de aula e auditórios de conferência planeja-se: ● Em todas as salas: Cabeamento de telefonia, rede, TV a Cabo do Câmpus, Rede Wi- Fi, internet, energia elétrica; ● Anfiteatros para aulas expositivas – Pequenos (30 estudantes), Médios (60 estudantes), Grandes (180 estudantes): Equipamentos de projeção, vídeo-conferência, aulas online e gravadas; ● Salas para seminários e trabalhos em grupo: equipamentos de projeção. Nos laboratórios específicos de cada área, o planejamento terá lugar na medida em que os projetos dos cursos avancem ao ponto de interagirem com os requisitos arquitetônicosna universidade. A UnIND, em seus diversos câmpus, sede e os Centro de Formação Indígena conveniados, terá uma estrutura residencial de modo a acolher os estudantes deacordo com sua diversidade sociocultural e de acordo com a modalidade de curso que frequenta (residência nos câmpus; residência nas aldeias). Gestão compartilhada: governança e administração A UnIND será gerida por um Conselho superior de caráter colegiado, com representantes de instituições e fóruns indígenas A Universidade Federal Intercultural Indígena será dotada de recursos diferenciados e específicos para favorecer seu processo de implementação, pelos órgãos federais de fomento da educaçãosuperior, por dez anos desde sua criação. Vida universitária e docência na UnIND. Para a composição do quadro docente, será dada prioridade à contratação de profissionais indígenas e não indígenas com perfis que atendam às características das atividades e à missão que define a UnIND. 16 A docência na UnIND será marcada pela novidade da atuação alternada entre os câmpus e as aldeias. A vida universitária dos estudantes indígenas será marcada pela novidade do convívio no câmpus universitário. O quadro docente da universidade indígena, seja aquele alocado na sede, seja o alocado nos institutos das universidades conveniadas, deverá atuar em toda a rede em função das demandas das atividades de ensino, pesquisa e extensão, e para tanto serão garantidos os mecanismos de mobilidade docente que permitam o planejamento e execução das atividades em toda a sua rede.As atividades de extensão serão igualmente valorizadas como as de ensino e pesquisa. TÓPICOS A DESENVOLVER. Certificação e reconhecimento de conhecimentos e de saberes de outros espaços de aprendizagem A UnIND deverá estabelecer regras e critérios ágeis para o reconhecimento e certificação de conhecimentos e de saberes de outros espaços de aprendizagem. PROPOSIÇÃO DA UNIVERSIDADE INDÍGENA DO BRASIL (UnIND) Proposta de roteiro para subsidiar as discussões julho /2024 DOCUMENTO PARA GRUPOS DE DISCUSSÃO 1. Sobre a proposição da Universidade Indígena: Nós queremos a universidade para quem e para quê? Qual universidade indígena queremos? O que esperamos e o que queremos alcançar com a universidade indígena? Como queremos que ela funcione? Qual o perfil que queremos formar nessa Universidade Indígena? Para ajudar os nossos territórios? Ou para sair dos nossos territórios? 2. Desafios e demandas das regiões Quais são os principais desafios/problemas enfrentados pelas comunidades em nossos territórios? Como a Universidade Indígena e outras universidades podem trabalhar nas atividades de ensino, pesquisa e extensão, com atividades nas comunidades para ajudar a resolver esses problemas? 3. Cursos e outras atividades oferecidas pelas Universidades. Quais as universidades que atuam na nossa região? E quais os cursos de formação que elas oferecem? Essas universidades têm desenvolvido alguns cursos/ações nas nossas aldeias/comunidades? Se sim, quais são esses cursos? Esses cursos têm formado profissionais indígenas para atuar em suas aldeias ou regiões? Ou para sair de nossos territórios? Qual seria o perfil dos profissionais da universidade indígena? Descrever indicando pontos positivos e dificuldades encontradas com o objetivo de identificar e definir a configuração INICIAL da Rede da Universidade Indígena. 4. Tipos de formação/inovações que queremos. Quais são os temas (indígenas e não indígenas) que devem ser discutidos/estudados/ aprimorados na Universidade indígena? Com quais modalidades? O que não queremos? 5. Indígenas x Universidades. Como foi sua experiência na Universidade? Foi boa? por quê? Não foi boa? por quê? O que e como as Universidades deveriam fazer para ajudar na formação dos estudantes indígenas? 6. Sobre o nome: qual o nome seria dado ao Ensino Superior Indígena/ Universidade Indígena...?