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BIBLIOTECA DE CIÊNCIAS SOCIAIS PAUL M. SWEEZY
Teoria do
Desenvolvimento
Capitalista
Princípios de Economia Política Marxista
Tradução de
W ALTENSm DuTRA
.•. Segunda edição
ZAHAR EDITORES
RIO DE J ANEffiO
I
CAPÍTULO VI I
Tendência Decrescente
da Taxa de Lucro
1. Formulação Marxista da Lei
V IMOS NO ÚLTIMO CAPÍTULO que a acumulação do capital é acom
panhada pela mecanização progressiva do processo de produção.
A mesma quantidade de trabalho, operando com equipamento
mais complexo e mais eficiente, pode processar maior volume
de material e produzir um número crescente rtigos. Dêsse
ponto de vista, isso significa que a rbduti~ida e do trabalho
cresce continuamente; de outro ponto, 'g-aif' que a composi
ção orgânica do capital (a razão entre o investimento e:rilillate
rial e máquina e o investimento total) também demonstra uma
tendência para crescer firmemente. Dessas tendências indiscutí
veis, Marx deduziu sua famosa "lei da tendência decrescente da
_taxa de lu_cro".
Já vimos que a taxa de lucro pode ser expressa em têrmos
da taxa de mais-valia e a composição orgânica do capital na
fórmula seguinte:
p = m'(l-q)
Segue-se daí que, supondo-se a taxa de mais-valia ( m') como
constante, a taxa de lucro ( p) varia inversamente à compo
~ção orgânica do capital ( q ) . Em outras palavras, à medida que
se eleva, p d eve cair. Mas já estabelecemos que q demonstra
uma tendência crescente no curso do desenvolvimento capitalista;
portanto, deve haver pelo menos a tendência de que p caia.
TENDÊNCIA DECRESCENTE DA TAXA DE LUCRO 125
Veremos agora que isso não pode ser mais do que uma simples
tendência, pois as modificações em m' compensam, ou super
compensam, os efeitos da modificação em q.
A taxa de lucro é a fôrça que compele a produção capitalista, e só
são produzidas coisas que proporcionam lucro. Daí o receio dos economistas
inglêses quanto ao declínio da taxa de lucro, cuja simples possibilidade
preocupava Ricardo. Isso mostra sua profunda compreensão das condições
da produção capitalista. A acusação que lhe é feita, de que tinha olhos
• apenas para o desenvolvimento das fôrças produtivas. . . a despeito dos
sacrifícios de sêres humanos e valôres capitais, atinge precisamente seu
ponto forte. O desenvolvimento das fôrças produtivas do trabalho social é
tarefa histórica e privilégio do capital. 11: precisamente dessa forma que êle
cria incon)ici~ntemente as necessidades materiais de um modo superior de
produção. ,.0 que preocupa Ricardo é o fato de que a taxa de lucro, o
princí io estimulador da rodução capitalista, a premissa fundamental e ~
fôrça motora ã acumulação, 's~a posta em risco pelo desenvolvimento da
pró ria rodução. E a . ..J!roporção qvantitativa significa tudo no caso. Há
realmente algo mais p1;'ofundo que isso, que êle percebe vagamente. De
monstra-se aqui, de forma puramente econômica, ou seja do ponto de vista
burguês, dentro dos limites do entendimento capitalista, do ponto de vista
da própria produção capitalista, que existe uma barreira, que ela é relativa,
que não é um modo de prõaução absoluto, mas apenas ~istórico, corres- "\
pondente a uma época d efinida e limitada, no desenvolv1mento d s co 1
dições materiais de produção.123 rf' f\._,
~--/
2.' As Causas Contrabalançadoras
Marx enumero sel~)'~ausas contrabalançadoras" que "impe
dem e anulam" a lei'-eral d taxa aecrescen e e lucro, "deixan----......_. __ .!..g - ~
m O Capital, 111, p. 304 .
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126 TEORIA DO DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA
do-lhe meramente um caráter de tendência". 124 Uma delas, a
- -----sexta, ocupa-se realmente da forma pela qual a taxa de lucro é
calculada, e dela não trataremos. As outras dnco podem ser clas
sificadas segul!do seu efeito de man er reduziôaacomposição
orgânica o capl!_al ou de elevar taxa e valor exce en e. 125
Em primeiro lugar com o B~rateamente dos Elementos do Capi
tal Constante, e em segundo encontramos a Elevação da ~
sidade da Ex loração, D r são de Sal' · Abaixo de Seu
a or, a SuperEopu ação Relativa. Uma causa, o Comérc10 x er
no, é incluída sob ambos os títulos. Examinemos ràpidamente
como funcionam êsses vários fatôres.
1 Barateamento dos Elementos do Capital Constante - O uso
crescente de · maquinaria pelo aumento da produtividade do tra
balho reduz o valor por unidade do capital constante. "Dessa
forma o valor do capital constante, embora continuamente au
mentado, não pode crescer na mesma proporção de seu volume
material, ou seja, o volume material dos meios de produção postos
em movimento pela mesma quantidade de capacidade de tra
balho. Em casos excepcionais, a massa dos elementos do capital
constante pode mesmo aumentar, ao passo que seu valor continua
o mesmo, ou cai." 126 m outras alavras um determinado au
mento na composiçã r amca ap.ital, embora r uzindo o
valo do ca 'tal constante, em certa medida atua como seu pró
pr.ie-eor-retoiv{;). Como indica arx, o resu t elo po e se benrsubs
tancial, indo mesmo a ponto de cancelar totalmente o aumento
inicial.
Elevação da Intensidade da Exploração - Aqui Marx ressal
ta a extensão da jornada de trabalho e aquilo a que hoje chama
ríamos de "aceleração" e "extensão". 0 O aumento de horas do
dia de trabalho aumenta diretamente 1a taxa de mais-valia aumen
tando a quantidade de trabalho exceaente sem afetar a quanti
dade de trabalho necessário. A aceleração e a extensão, por outro
lado, elevam a taxa de mais-valia comprimindo o trabalho neces-
,.. Ibld., p . 272. r ~
1215 Recordando a fórmula f~= m'( 1- q)J podemos ver que tôdas as fôrças atuan
tes sôbre a taxa de lucro podem ser colocadas numa ou noutra dessas classificações. •
ue O Capital, III, p. 277.
o uspeed-up" e "stretch-out", respectivamente, que significam aumento da pro
duçllo sem correspondente aumento do salário e atribuição de maior número de má
quinas ou funções a um operário, também sem o correspondente aumento de salário.
(N. do T . )
TENDÊNCIA DECRESCENTE DA TAXA DE LUCRO 127
sário num tempo menor e deixando portanto maior proporção de
um dia de trabalho não-modificado para o trabalho excedente.
O efeito em qualquer caso é elevar a taxa de lucro em relação
ao que teria sido, de outra forma. f:sses métodos de aumentar
a taxa de mais-valia não estão necessàriamente ligados a uma
crescente composição orgânica do capital, constituindo antes re
cursos adotados pelos capitalistas para sustar uma decrescente
taxa de lucro, se forem exeqüíveis, e quando o forem.
Depressão dos Salários Abaixo de Seu Valor - A prática
da redução de salários, que os capitalistas estão prontos a empre
gar sempre que possível, é simplesmente mencionada de passa
gem por Marx, que pa1te da su osição geral_jle que todos os
preços e salários são_ determinados elõillercado, e essa suposição
afasta a possibilidade de uma política e sa nõSãgressiva da
parte dos capitalistas. Tal fator, observa êle, "nada tem a ver
com a análise geral do capital, fazendo parte de um quadro da
concorrência que não apresentamos neste trabalho". 127
uperpopulação Relativa- Já vimos no último capítulo como
o uso crescente da maquinaria, que em si mesmo significa uma
composição org~nica superior do capital, libera os trabalhadores,
criando assim uma ':su e opulação relativa", ou o exército de
reserva. Marx •acentua o fato de que a existência de trabalhadore
desempre-gâaos leva ao aparecimento de novas indústrias com uma
composição orgânica de .capital relativamente baixa, e portanto
a uma taxa de lucro relativamente alta. Quando essas taxas de
lucro são postas em média com as taxas obtidas nas velhas indús
trias, elevam a taxa geral do lucro. 128 Parece, entretanto, que o
feito mais impmtante do exército de reserva é o examinado no
capítulo anterior, ou seja, reduzir as escalas de salários através
da conQOrrência, no mercado,com a fôrça de trabalho ativa,
•levando assim a taxa de mais-valia. Por êsse motivo classifica-
mos a superpopulação relativa como um dos fatôres tendentes a
•levar a taxa de mais-valia.
r.: omércio Externo - Freqüentemente é possível, pelo co
mércio externo, adquirir matérias-primas e artigos de necessida-
UT Ibid., p. 276.
,.. A formação de uma taxa geral de lucro será examinada no capitulo seguinte.
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128 TEORIA DO DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA
de mais baratos do · que seria possível produzi-los internamente.
"Na ropor ão_ em u~ o comércio externo barateia em parte
os elementos do capital c tante, arte os amgos enecessi
da~ pelos uais o capital variável é tr~o, exerce a tendência
de elevar S-taxa de lucro, elevando a taxa e mais-vali~du
zindo o ~lor do capital c~nte." 129 f:sse -futor, portanto, per
tence a ambas as classificações de causas contrabalançadoras.
Devemos observar novamente que não há nenhuma ligação ne
cessária entre as possibilidades de comércio externo e as modi
ficações na composição orgânica do capital, de forma que a
inclusão do comércio externo, a essa · altura, deve ser considerada
como uma nota, ao invés de parte integrante da análise.
Percebe-se logo por êsse sumário das principais causas con
trabalançadores qu a análise de Ma.l.]f_ não é sist~a nem
~ exaustiva. Como muitos outros pontos d<!_y..olume UI laJicou
maca a a, e podemos concluir com segurança que se Marx tivesse
vivido o bastante para preparar o origina1 para impressao e1ia
feito acréscimo'"Se revisões em vários pontos. Talvez n ão seja,
portanto, fora de lugar dedicarmos maior consideração ao pro
blema da tendência da taxa de lucro, à luz de todo o sistema teó
rico de Marx. Isso é ainda mais necessário porquanto a lei da
tendência decrescente da taxa de lucro tem sido objeto de nume
rosas críticas, tanto de adeptos como de adversários de Marx.
3. Crítica da Lei
Vimos que as fôrças atuantes sôbre a taxa de lucro podem ser
resumidas numa fórmula contendo duas variáveis bastante com
plicadas, a taxa de mais-valia e a composição orgânica do capital.
Vinros também que a tendência decrescente da taxa de lucro é
deduzida por Marx na suposição de que a composição orgânica
do capital se eleva, ao passo que a taxa de _!!!_ais-valia pf2!!p.aneoe
constante. Parece não haver dúvida quanto a oportunidade da
suposição de uma crescente composição orgânica do capital. · Será
justificável, porém, supor ao mesmo tempo uma taxa constante
de mais-valia?
129 O Capital, III, p. 278.
TENDÊNCIA DECRESCENTE DA TAXA DE LUCRO 129
E necessário sermos claros sôbre as consegüências dessa última
hipótese. Uma crescente composição orgânica do capital vai
lado a lado com a crescente produtividade do trabalho. Se a taxa
de mais-valia permanece constante, isso significa que ocorre uma
elevação nos salários reais, sendo exatamente proporcional ao
aumento na produtividade do trabalho. Suponhamos que a pro
dutividade do trabalho seja duplicada, isto é, que no mesmo
tempo o trabalho produza duas vêzes mais do que antes. Nesse
caso, como uma taxa de mais-valia inalterada significa que o ope
rário trabalha a mesma quantidade de tempo para si e a mesma
quantidade de tempo para o capitalista do que antes, segue-se que
tanto a produção física representada pelo salário como a produção
física representada pela mais-valia também duplicaram. Em
outras palavras, o operário e o capitalista se beneficiam igualmente
da maior produtividade de seu trabalho. Embora não possa
haver objeção lógica a uma suposição que leva a tais resultados,
há, não obstante, razões para duvidarmos de que seja adequada.
Em p1imeiro lugar, tôda a nossa análise até agora leva-nos a
esperar uma taxa crescente de mais-valia. Uma das concomitan
tes da maior produtividade do trabalho em condições capitalistas
é a criação de um exército da reserva industrial que exerce um
efeito Q.epressivo sôbre os salários e com isso tende a elevar a taxa
de mai~ · valia. Essa é precisamente uma das características do
·· capitalismo, ou seja, que o trabalho realizado na forma de capital
constante faz concçrrência ao trabalho vivo, obstando suas preten
sões. A suposição/'de uma taxa constante de mais-valia com a
crescente produtividade parece desprezar êsse efeito. Podemos
dizer que Marx levou em conta êsse problema incluindo a super
população relativa ent:J;e as causas contrabalançadoras da taxa
decrescente de lucro, e do ponto de vista formal isso é certo.
Mas •arece ouco udente-tr.at-ar: 'soladamente e como fator neu
tralizante uma parte integrante do Erocesso de rod · · di..cres
cente. Será -melhor reconhecer de início que a produtividade
crescente tende a provocar uma taxa mais alta de mais-valia.
E o que Marx faz habitualm(:)nte. Duas citações de partes dife
rentes do volume I ilustrarão sua forma de tratar normalmente
essa questão:
Como todo aumento na produtividade do trabalho, a máquina tem o
objetivo de baratear as mercadorias e, red~1zindo aquela par·te do dia de
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130 TEORIA DO DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA
trabalho na qual o operário trabalha para si, aumenta a outra parte que
êle dá, sem um equivalente, ao capitalista. Em suma, é um meio de produzir
mais-valia. 130
E essa outra, ainda mais enfática, sôbre a mesma questão:
Mas lado a lado com a ·cFescent produti~ade do trabalho vai, como
já vimos, o barateamento do operário, e portanto uma taxa maior de mais
-valia, m esmo quando os salários reais aumentam. Estes últimos nunca au
._mentam proporcionalmente à fôrça produtiva do trabalho. 131
Poderíamos acrescentar muitos outros trechos expressando a
mesma opinião geral; na realidade, talvez não seja exagêro dizer
que a Parte IV do volume I ("A Produção de Mais-Valia Rela
tiva") que compreende mais de 200 páginas é em grande parte
dedicada a demonstrar a relação íntima entre a produtividade
do trabalho e a taxa de mais-valia.
Pareceria, portanto, que Marx não estava certo, mesmo em
têrmos d e seu próprio sistema teórico, ao supor uma taxa de
mais-valia constante simultâneamente com uma maior compo
sição orgânica do capital. Uma elevação na composição orgânica
do capital deve significar um aumento na produtividade do tra
balho, e temos a própria palavra de Marx de que a produtivi
dade maior é invariàvelmente acompanhada de uma taxa maim
na mais-valia. No caso geral, portanto, devemos supor que a
maior composição orgânica do capital se processa pari passu com
a maior taxa de mais-valia.
Se tanto a composição orgânica do capital como a taxa
de mais-valia forem consideradas variáveis, como acreditamos que
devam, então a direção na qual a taxa de lucro se modifica torna-se
indeterminada. Só podemos dizer que a taxa de lucro cairá se o
aumento percentual na taxa de mais-valia fôr inferior ao decrés
cimo percentual na proporção do capital variável para o total. 132
(A proporção do capital variável para o capital total é igual a l
1ao Ibid ., I , p . 405.
131 Ibid., p. 662. O grifo é nosso.
132 Temos p = m'(l- q). Que 1- q, razíio do capital variável em relação ao
total, seja revresentada por q'. Então a equação poderá ser p = m'q'. Ora,
dp = m'dq' + q dm'. Pmtanto, dp é negativo, ou seja, a taxa de lucro cai se m'dq'
(que é essencialmente negativa) fôr numericamente superior a q'dm' (que é essencial
mente positiva). Essa situação também pode ser escrita ldm'!m'l<ldq'/q'l que é a
forma dada no texto.
TENDÊNCIA DECRESCENTE DA TAXA DE LUCRO 131
menos a composição orgânica do capital. Quando a composição
orgânica aumenta, a proporção do capital variável para o total
decresce. ) X -
Poderemos dizer que essa ~ondição seja, de modo geral, sa
tisfeita ? Em outras palavras, será legítimo supor que as modi
ficações na composição orgânica do capital serão usualmente rela:
tivamente maiores do que as modificações na taxade mais-valia,
de modo que as primeiras constituam os movimentos dominantes
na taxa de lucro ? S'e assim fôr, a hipótese de Marx de um!l
taxa constante de mais-valia poderia ser considerada como um
recurso útil para focalizar a atenção no elemento mais importante
da situação, e o tratamento das modificações na taxa de mais
-valia como "causa contrabalançadora" se justificaria.
O próprio Marx provàvelmente pensou nesses têrmos ao for
mular assim o problema da taxa de lucro. Autores marxistas pos
teriores aparentemente' ~eguiram a mesma orientação, pois a im
pressão geral que se tem de suas obras é que, num período de
tempo considerável, as modificações na composição orgânica do
capital serão enormes, tão grandes que superarão qualquer efeito
compensador possível das modificações na taxa de mais-valia. 133
E~s~' opinião nos parece insustentável. Em têrmos físicos,
é exato.que a quantidade de maquinaria e material por operário
-· tendeu a crescer numa proporção muito rápida, pelo menos
no último século e .meio. as a com osi ão or ânica do ca11ital é
U.Efa e'Pr•essão de )balar, e devido à crescente P.fOdutividade do
trabalho, o crescimento do volume de maquinaria e material ~
operário não deve ser considerado como índice da modificação
da composição orgânica.do capital. Na verdâde, a impressão geral
de rapidez do crescimento aessa composição parece ser conside
r~velmente exagerada.
Devemos notar que estamos examinando modificações na
composição orgânica do capital, depois que conéedermos tôdas
133 Essa atitude pode ser p ercebida claramente, por exemplo, no esquema de re
produção ampliada apresentado por Otto BAUER ( "Die Akkumulation des Kapitals",
Neue Zeít, Jhrg. 31, Bd. 1) no qual se presume que o capital constante cresce duas
vêzes mais ràpidamente do que o capital variável, ao passo que a taxa de mais-valia
permanece inalterada. E:sse esquema foi aproveitado por Henryk GnossMANN, Das
Akkumulations- und Zusammenbruchsgesetz des kapitalistischen Systems, C. L. Hirschfeld,
Leipzig, 1929, que dêle fêz a base de sua teoria do colapso capitalista. 11: claro que
tanto Bauer como Grossmann aceitaram as conseqüências do esquema no que se rela
ciona com o crescimento extremamente rápido na composição orgânica do capital.
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132 TEORIA DO DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA
as margens ao barateamento dos elementos do capital constante
que Marx trata, novamente, ·como uma "causa contrabalançado
ra". Poderia parecer preferível examinar primeiro o que se po
deria chamar de aumento "original" na composição orgânica, e
observar os efeitos disso na taxa de lucro, para somente então
levar em conta o barateamento dos elementos do capital cons
tante que é, em si mesmo, provocado pela elevação da produti
vidade associada ao aumento "original". Poder-se-ia alegar que
com isso a taxa de aumento da composição orgânica pareceria
muito maior e que tal fato não transparece nas estatísticas apenas
devido a uma das "causas contrabalançadoras". É duvidoso, porém,
se qualquer finalidade útil pode ser atendida por essa tentativa
de preservar a distinção implícita de Marx entre a principal ele
vação da composição orgânica e a queda contrabalançadora (mas
menor ) devido ao barateamento dos elementos do capital cons
tante. +-Tudo o que se pode observar é a modificação líquida na
composição orgânica que resulta de ambas as fôrças. Parece
melhor, portanto, usar a expressão "modificação na composição
orgânica do capital" apenas no sentido que leva em conta o
barateamento dos elementos do capital constante. Com isso, ha
verá talvez menos tentação de considerar essa composição em
têrmos físicos, ao invés de fazê-lo em têrmos de valôres.
Se êsses argumentos forem válidos, segue-se que não há uma
suposição geral de que as modificações na composição orgânica
do capital sejam relativamente tão maiores do que as modificações
na taxa de mais valia, a ponto de dominarem os movimentos
na taxa de lucro. Pelo contrário, parece que devemos considerar r
as duas variáveis como de importância mais ou menos coordena
dora. Por êsse motivo, a formulação marxista da lei da tendência
decrescente da taxa de lucro não é muito convincente. Ao mesmo ,.1
tempo, podemos observar que as tentativas feitas para demons
trar que uma crescente composição orgânica do capital deve ser
acompanhada de uma crescente taxa de lucro não são igualmente
convincentes. 134
1M A mais interessante delas foi a de BoRTKIEWICZ ( "Wertrechnung und Preisre
chnung im Marxschen System", loc. cit.), que afirmou: "o êrro na' prova de Marx
para sua lei da taxa decrescente de lucro consiste principalmente em deixar fora de
consideração a relação matemática entre a produtividade do trabalho e a taxa de
mais-valia", e tentou provar que se êsse fator fôr considerado o resultado deve ser
uma taxa de lucro crescente. A prova consiste essencialmente na suposição de que os
capitalistas não introduziriam métodos de produção que demandam uma composição
orgânica de capital mais alta a menos que o efeito fôsse elevar a taxa de lucro. Isso
TENDÊNCIA DECRESCENTE DA TAXA DE LUCRO 133
Isso não significa a ausência de tendência de queda da taxa
do lucro. Não só Marx mas também os teóricos clássicos e mo
dernos consideraram a tendência decrescente da taxa de lucro uma
característica básica do capitalismo. O ue est rando
mostrar é a impossibilidade de evidenciar uma tendência decres
cente da taxa de lucro inicmndo-se a análise ela crescente com
posição orgânica o capi~a_. \Um~ ~ez que se ~omp,reenda? porem, l
que a crescente composrçao orgamca do capital e em s1 apenas ~
um elo numa cadeia causal de influências que agem sôbre a taxa
de lucro, o aparente dile desa arece. Atrás da comi!osição
orgânica do capital está o c~ss e acumula ão, é aqui que
devemos procurar as fôrças que tendem a reduz1r a taxa de
lucro.
Exp icamos no último capítulo como a acumulação do capital,
tomada em si, opera no sentido de aumentar a procura do traba
lho e, portanto, elevar os salários. Não havendo outras modifi
cações, êsse aumento de salários leva à redução da taxa de mais
-valia e esta, por sua vez, se expressa numa queda da taxa de
lucro. Como "o processo capitalista de produção é essencialmente
um processo de acumulação",135 tal como Marx insiste, segue-se
que dêsse fato apenas surge uma tendência persistente para a
queda da-taxa de lucro. Observou-se também no último capítulo,
porém, qae os capitalistas não se submetem de boa-vontade à
redução da taxa do lucro, provocada pela sua própria acumulação.
Lutam, com a introqução de máquinas e outros recursos econo
mizadores de trabalhb, para manter a taxa de lucro em seu nível,
ou mesmo aumentá-la. É aí que surge a crescente composição
orgânica do capital. Se essa atitude consegue restaurar a taxa de
lucro, ou se age apenas para retardar sua queda, é um problema
que não pode ser solucionado com bases ~xclusivamente teóri~as
e gerais, se a análise aqui apresentada estiver certa: _Uma ,co.Isa
P,Orém P.arece bastante certa: o aumento na comf!OS1Çao orgamca
ocorre ao capitalista individualmente, mas para a classe capitalista como um .todo a
modificação na taxa de lucro é o resultado de suas ações, que pode ser bem d~er~nte
do que pretendia cada capitalista isolado. Da mesma forma , quando o.s capitalistas
elevam o preço da fôrça de trabalho, cada qual pensa em melhorar sua slluaçao, e n o
entanto o resultado é a piora da situação de todos.
O leitor interessado em seguir essa questão deve consultar o seguinte: K~J
SmBATA "On the Law of Decline in the Rate of Profit" , Kyoto University Econom1c
Review 'julho de 1934· "On the General Profit R ate", ibid., janeiro de 1939; H ans
NEISSE~, "Das Ges etz der Fallenden Profitrate als Krisen- und Zusammenb1ucbsgesetz",
Die Gesellschaft, janeiro de 1931.
"'' O Capital, IH, p. 255.
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Nota
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ALEXRealce
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134 TEORIA DO DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA
do ca_eital tende a restaurar a taxa de mais-valia e portanto aum~
.taJ;..a..massa de rpais-v11lia....acima do que seria na ausência da ele
vação na com]2_osição orgânica do caJ?i.!al. J>ort to :m se_ o
efeito ~ a depressão da taxa_de lucro ain_dª mjlis, o comp,ortamento
do capitalistas ele ando~m osição or ânica do capital tem
.cert j1,1 · ·c i jeti~m d p_Q:_nto de vista d ela e ca~italistl'\
como um todo.
Não será possível acentuar demais que os argumentos desta
parte de nosso estudo se relacionem com as bases teóricas da
tendência decrescente da taxa de lucro. Não houve qualquer pre
tensão de negar a existência ou a fundamental importância dessa
tend~ncia. Nem foi nossa intenção negar a validade das "causas
contrabalançadoras" de Marx. Na prática, uma delas, ou seja,
a crescente intensidade da exploração ("intensificação", "exten
são", taylorização, etc.) é particularmente importante. Trata-se
de um método de comprimir mais trabalho numa dada quantida
de de tempo. Por exemplo, o trabalho que demandava cinco
horas passa a ser realizado em quatro, como resultado do aumento
de velocidade das máquinas. Como o dia de trabalho· permanece
o mesmo, digamos, dez horas, onde o trabalho necessário empre
gava cinco horas e o trabalho excedente outras cinco, a razão
será agora de ·quatro horas _de trabalho necessário e seis horas
dé trabJ;tlho excedente. A taxa de mais-valia aumentou de 100
para 150%. Os ~meros são puramente ilustrativos, mas as gran
dezas mencionadas não estão fora da realidade, e mostram que
modificações relativamente grandes na taxa de mais-valia podem
resultar de modificações aparentemente pequenas na velocidade
do trabalho. Os ·capitalistas têm sem re a tentação de elevar a
taxa~d mai - a ia por esse proc.ê_SO, e não p ee ha-ver- dúvida
dLqu a..a....Q_bstrução resultante~ôbre a ten encia decresceu e ã
taxa de lucro é continua e poClJL,p.or vezes ser su stmrcía·l-. - Nin
guém que despreze êsse fator compreenderá integralmente as ten
dências contemporâneas da produÇão capitalista.
Finalmente, antes de deixarmos a questão dos movimentos na
taxa de lucro, devemos assinalar que existem outras fôrças além
das mencionadas, e que são, ·sob êsse aspecto, importantes. ~em
ser-classifiGadas como as ue tendem a re uzir taxa de_ lucro,
e as qu. mtdem a elevá-la. Entre as primeiras se incluem:
1) sindicatçs e 2) ac;ão estatal destinada a bepeficiar o triibalho.
TENDÊNCIA DECRESCENTE DA TAXA DE LUCRO 135
Entre as fôrças que tendem á elevar a taxa de lucro podemos
mencionar: 3) as organizações dos empregadores, 4) a exporta
ção de capital, 5) a formação de monopólios, 6) a ação estatal
destinada a beneficiar o capital. (Essa enumeração está, evi
denteme~te, longe de ser completa.) Consideremos ràpidamente
cada um dêsses itens. "f ,
I. Sindicatos - Ao combater a tendência decrescente da
taxa de lucro os capitalistas se empenham igualmente em reduzir
os salários. Como já vimos, seu principal aliado nessa guerra é
a reserva industrial. Se a concorrência dessa reserva no mercado
de trabalho pudesse operar livremente ou sem obstáculos, os
salários reais dos trabalhadores poderiam ser mantidos num J?-Ível
baixo de subsistência, ao passo que os capitalistas colheriam todos
os benefícios do aumento da produtividade, tendo ao mesmo tem
po uma parte maior do valor da produ~ão e to?o o aur_ne~to
ocorrido na renda real. Assim, a reserva e o obstaculo mais Im
pmtante no caminho da participação do trabalhador nos lucros
do desenvolvimento industrial. A fim de superar êsse obstáculo,
o~ trabalhadores se unem em sindicatos e dessa forma asseguram,
na medida do possível, o contrôle da oferta de fôrça de trabalho.
Os sindicatos são portanto o instrumento mais importante pelo
qual os trab~Jí;adores lutam para melhorar sua condição no reg~me
de produção ,cftpitalista. Ao mesmo tempo e pelas mesmas razoes,
porém; exercem uma influência redutora sôbre a taxa de lucro.
2. Ação Estatal Destinada a Beneficiar o Trabalho - É fator
de grande importância, :bujas raízes serão discutidas mais detalha
damente no Capítulo XIII. Toma muitas formas: por exemplo, a
limitação legal do dia de trabalho, a assistência contra o desem
prêgo, e recentemente, nos Estados Unidos, a legislação destin~da
a proteger o direito de negociarem os trabalhadores co~ehva
mente.- A primeira d essas medidas geralmente ( embora nao ne
cessàriamente) reduz a taxa de mais-valia, ao passo que a segunda
e terceira são d e grande ajuda aos trabalhadores em seus esforços
para a manutenção de salários-padrões. Muitas outras medidas
estatais poderiam ser mencionadas, a maioria das quais tende cla
ramente a reduzir a taxa de lucro.
3. Organizações dos Empregadores - Na medida em que
tais organizações operam para melhorar a capiicidade de ne-
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136 TEORIA DO DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA
gociação coletiva do capital frente a frente com o trabalho, evi
dentemente exercem uma influência benéfica sôbre a taxa de
lucro.
4. Exportação de Capital - É um fator a que Marx dedi
cou pouca atenção, não porque seja destituído de importância,
mas porque êle não viveu o bastante para completar seu sistema
teórico. Em seu efeito direto sôbre a economia interna, a expor
tação de capital atua no sentido de aliviar a pressão sôbre o
mercado interno de trabalho e dessa forma ,impede a acumulação
de sentir seus efeitos depressivos na taxa de lucro. O exame mais
detalhado da exportação de capital pertence à teoria de uma eco
nomia mundial, a que voltaremos no Capítulo XVI.
5. Formação de MonopóliQs - Os capitalistas individual
mente criam monopólios evidentemente com a esperança de me
lhorar a taxa de seu próprio lucro. Além disso, o efeito pode
ser uma elevação da taxa de lucro em geral. A influência do
monopólio sôbre a taxa de lucro, porém, é questão complicada,
que deve ser examinada mais tarde, no Capítulo XV.
6. Ação Estatal Destinada a Beneficiar o Capital - Exemplo
óbvio disso são as tarifas protetoras. Como no caso dos monopó
lios, podem elevar a taxa geral de lucro, mas seus efeitos com
pletos constituem complexo que deve ser tratado mais adiante, no
Capítulo XVI.
Essa enumeração dos fatôres que atuam sôbre a taxa de lucro,
embora não exaustiva, pode servir para mostrar que uma grande
variedade de fôrças díspares e aparentemente desligadas têm um
centro comum em seus efeitos sôbre a taxa de lucro. Se a opinião
marxista de que os movimentos na taxa de lucro dominam em
última análise o funcionamento do sistema capitalista é correta,
temos então nisso um princípio unificador da maior importância.
Na análise do capitalismo, tudo deve ser cuidadosamente exami
nado e testado, buscando-se sua influência na taxa de lucro.
Quando isso é feito, a Economia Política torna-se uma arma de
compreensão coerente e poderosa. ~
I CAPÍTULO VII\
Transformação
de V alôres em Preços
1. Exposição do Problema
C REGAMOS AO MOMENTO de examinar detalhadamente um pro
blema que tem ocupado uma posição central na maioria d_as dis
cussões da Economia marxista, desde que Engels pubhcou o
volume III de O Capital em 1894.
Em todo o volume I Marx desenvolveu sua análise como se
a lei do y~for controlasse' diretamente os preços de tôdas as mer
cadorias. , .. Jsso é legítimo enquanto se presumir que em todo
tà.mo de produção a composição orgâni?a do capital é .a. mesma.
Uma vez posta de laqp tal suposição, porem, surge uma d1flculdade
séria que para algun$ é mesmo fatal.
Dividamos a indústria em três ramos principais, correspon
dentes à dupla divisão empregada na Seção 1 do Capítulo V.
O ramo I produz os meios de produção, o ramo li os bens de
consumo do trabalhador (mercadorias de salário) e o ramo III
os bens de consumo do capitalista (mercadorias de luxo). Para
simplificar, vamos supor que tôdasas indústrias dentro de um
mesmo ramo têm idêntica composição orgânica do capital. Para
ilustrar as condições em que a lei do valor pode ser empregada,
supomos que também entre os ramos a com~osiç~o orgânica do
capital é idêntica. Tomando a taxa de ma1s-vaha como 100%,
temos então a situação apresentada no Quadro I.
Tudo está, evidentemente, em ordem. Tôdas as mercadorias
são vendidas pelos seus valôres. As condições da reprodução sim-
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