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Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6643-8 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 4 3 8 Código Logístico 59437 A lessand ra A p arecid a Pereira C haves E d u cação A m b ie n tal Educação Ambiental Alessandra Aparecida Pereira Chaves IESDE BRASIL 2020 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: ponsulak/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ C438e Chaves, Alessandra Aparecida Pereira Educação ambiental / Alessandra Aparecida Pereira Chaves. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 124 p. : il. Inclui bibliografia IISBN 978-85-387-6643-8 1. Educação ambiental. 2. Educação ambiental - História. 3. Desenvol- vimento econômico - Aspectos ambientais. 4. Política ambiental. I. Título. 20-64085 CDD: 363.7 CDU: 502.1 Alessandra Aparecida Pereira Chaves Doutora em Tecnologia e Sociedade pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Mestre em Tecnologia pela mesma instituição. Bacharel e licenciada em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Licenciada em Pedagogia pelo Centro Universitário Campos de Andrade (Uniandrade). Atua no ensino fundamental há 18 anos. É autora de artigos científicos na área de meio ambiente, tecnologia e educação. Atualmente, é pedagoga da Secretaria Municipal da Educação de Curitiba, onde atua com formação continuada de professores e pedagogos do ensino fundamental. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Natureza e sociedade 9 1.1 Relação entre ser humano e natureza 9 1.2 Transformações nos processos produtivos 15 1.3 A Era Industrial e os impactos ambientais 20 2 Consumo, consumismo e meio ambiente 26 2.1 Consumo e consumismo 26 2.2 Resíduos sólidos urbanos e impactos ambientais 34 2.3 Preservação e conservação ambientais 39 3 História da educação ambiental 47 3.1 Movimentos ambientalistas mundiais: entre as décadas de 1960 e 1970 47 3.2 Movimentos ambientalistas mundiais: a partir de 1980 50 3.3 Movimentos ambientalistas no Brasil: primeiros passos 55 3.4 Movimentos ambientalistas no Brasil: a partir de 1960 58 3.5 Início da educação ambiental 63 4 Políticas de educação ambiental 71 4.1 Marcos legais ambientais internacionais 71 4.2 Legislação ambiental brasileira 77 4.3 Objetivos da educação ambiental 83 4.4 Correntes epistemológicas de educação ambiental 87 5 Educação ambiental e sustentabilidade 96 5.1 Educação ambiental para a sustentabilidade 97 5.2 Práticas de educação ambiental nas residências 103 5.3 Práticas de educação ambiental nas instituições de ensino 106 5.4 Práticas de educação ambiental nas empresas 110 Gabarito 115 A educação ambiental é um instrumento poderoso para a melhoria da qualidade de vida de todos que habitam o planeta. Por meio da educação, efetiva-se a formação de cidadãos críticos, capazes de reconhecer e atuar sobre os problemas ambientais que assolam a sociedade. O atual estágio de degradação ambiental requer sensibilização e conhecimento de que as mudanças são necessárias e a sobrevivência dos seres vivos depende delas. Os saberes da educação ambiental constituem um campo teórico em construção, o que requer diálogo entre as áreas do conhecimento e os saberes ditos tradicionais, além dos que são frutos do cotidiano e das experiências. Ao equilibrar os conhecimentos populares, bem como aqueles oriundos das pesquisas científicas, constroem-se novos caminhos que podem levar a transformações benéficas para o meio ambiente. Cada capítulo foi pensado e organizado de modo a permitir, ao leitor, fazer análises de seu contexto, de sua própria trajetória de vida, de sua relação com o meio ambiente e das mudanças que são passíveis de serem inseridas no cotidiano de cada um. Iniciamos com a história da humanidade voltada para os aspectos do consumo, passando pela Revolução Industrial e a produção em larga escala. Em seguida, abordamos as consequências do consumismo, que desencadeou uma série de eventos, debates, acordos e legislações sobre o meio ambiente. Finalizamos apresentando a educação ambiental como uma possibilidade para promover mudanças no cotidiano da sociedade. Neste livro, optamos por usar uma linguagem acessível, sem deixar de ser científica, com o objetivo de levar a uma reflexão que possa promover mudanças. Além disso, ao final dos capítulos, há atividades desafiadoras para que os assuntos abordados possam ser retomados e, mais uma vez, provoquem indagações sobre os desafios que se colocam na atualidade. Em suma, esta obra não tem a pretensão de esgotar o assunto, o que seria impossível devido à amplitude do debate ambiental, mas sim de trazer as informações básicas para a compreensão geral da educação ambiental, com o intuito de aguçar a curiosidade para novas leituras que instiguem a sensibilização para os problemas ambientais. Bons estudos! APRESENTAÇÃO Natureza e sociedade 9 1 Natureza e sociedade Neste capítulo, faremos um giro histórico pelos primórdios da humanidade, apresentando um panorama da formação das pri- meiras sociedades e as mudanças na relação do ser humano com a natureza. O estado de evolução em que se encontra a humani- dade é fruto de experiências, descobertas, observações, deduções, tentativas, acertos e erros de muitas gerações. Graças à curiosida- de, à necessidade e à criatividade dos nossos antepassados, foram desenvolvidos utensílios, ferramentas, armas, remédios, meios de comunicação e de transporte que permitiram à humanidade ultra- passar as fronteiras do tempo e do espaço. Cada tempo histórico, em cada região do mundo, tem sua importância e cooperou para que os saberes humanos fossem aprofundados. O progresso levou ao comércio do excedente e à industrialização, culminando na exploração exacerbada dos recur- sos naturais, cujas consequências são sentidas pelos seres huma- nos e pelos demais seres. Assim, neste capítulo, não se pretende esgotar esses assuntos, mas promover uma breve contextualiza- ção de modo a possibilitar uma melhor compreensão da narrativa histórica dos temas que serão abordados. 1.1 Relação entre ser humano e natureza Vídeo Nos primórdios do desenvolvimento humano, com base nos regis- tros históricos, houve uma época em que as populações eram compos- tas de caçadores-coletores e escolhiam ocupar áreas onde a natureza lhes permitisse sobreviver. No período chamado de Paleolítico, entre 2,7 milhões de anos até 10.000 a.C., também conhecido como Idade da Pedra Lascada, ocorreu a domesticação do fogo, que era utilizado para iluminação, aquecimento e cozimento dos alimentos. Nesse período, os seres humanos eram nômades e habitavam as cavernas. Para caçar, utilizavam ferramentas de ossos e pedras. 10 Educação Ambiental Com o passar do tempo, as pessoas foram se organizando em pe- quenos grupos e passaram de sociedade nômade para sedentária, além de cultivar algumas espécies de plantas e domesticar determinados animais. Ainda era comum buscar outro lugar para viver, quando os ali- mentos ficavam escassos em uma determinada área, o que impedia o acúmulo de muitos pertences e de constituir uma comunidade fixa. Em tempos de perigo, as crianças muito pequenas eram bastante afetadas. Por serem dependentes, quando era preciso fugirou aban- donar determinada região que sofria algum tipo de ameaça, natural ou de outro grupo, as crianças podiam ser abandonadas à própria sorte. Aqui, é importante observar que as relações humanas de afeto e apego também foram mudando ao longo do tempo. É no período chamado de Mesolítico, entre 10 mil e 5 mil a.C., que as pessoas começam a abandonar as cavernas e passam a construir abri- gos. Com o desenvolvimento de ferramentas mais sofisticadas, a caça de animais se torna mais precisa, o que garante um consumo maior de proteínas, além da utilização da pele dos animais para aquecimento em temperaturas mais frias. A simples coleta de plantas dava lugar ao cultivo de alimentos que sustentassem mais e que agradassem ao pala- dar. Os seres humanos foram experimentando as plantas a que tinham acesso e descobrindo o que era venenoso, o que ficava mais agradável com o cozimento e o que era digerido com mais facilidade. Povos de distintas regiões do mundo deram início à produção de alimentos em variados tempos da Pré-História. Diamond (2009) relata que a seleção de plantas silvestres para a domesticação se dava pelo tamanho e pelo gosto. “Entre as primeiras árvores frutíferas domesti- cadas no Mediterrâneo estavam as oliveiras” (DIAMOND, 2009, p. 118). Com o passar do tempo, as pessoas foram desenvolvendo formas de estocar alimentos para períodos de escassez e começaram a se fixar em pequenas comunidades, com o objetivo de se proteger e dividir tarefas. Em consequência dessa nova organização e com mais alimento disponível, aumentavam a reprodução e a sobrevivência humana. Ao selecionar e cultivar as poucas espécies de plantas e animais que podemos comer [...], obtemos um volume muito maior de calorias por hectare. Em consequência disso, um hectare pode alimentar muito mais criadores e agricultores [...], do que o mé- todo dos caçadores-coletores. Nas sociedades humanas que possuíam animais domésticos, eles alimentavam mais gente de quatro maneiras distintas: ao fornecer carne, leite e fertilizantes, e ajudando a arar a terra (DIAMOND, 2009, p. 86). É importante destacar que, nos seis continentes da Terra, havia coi- sas acontecendo de diferentes formas. Nem todos os povos deixaram de ser nômades ao mesmo tempo, tampouco a domesticação do fogo ocorreu em todos os lugares na mesma época. Havia diferentes rit- mos de desenvolvimento humano. Em distintas regiões, comunidades continuavam caçadoras-coletoras de alimentos, utilizando artefatos rudimentares feitos de pedras, e, em outras regiões, já desenvolviam técnicas e tecnologias mais avançadas que permitiam driblar e domi- nar a natureza e levar uma vida mais sedentária. Na história da evolução da espécie humana, as sociedades que utiliza- vam os utensílios de metal conquistaram ou exterminaram outras socie- dades que não se encontravam no mesmo estágio de desenvolvimento. Os povos antigos buscavam resolver as tarefas diárias de maneira criativa, sem se preocupar com a degradação ambiental. Com o passar do tempo e o crescimento da população, os atos, antes inofensivos, passaram a causar impactos ambientais devido à necessidade de mais recursos. As pessoas foram desenvolvendo formas de ter acesso a ali- mentos, água, vestimentas e abrigo. Assim, aquilo que faltasse para seu conforto poderia ser produzido e comercializado por outros indivíduos. Inicialmente, o comércio se baseava em trocas. Com o aumento da pro- dução, havia maior extração de recursos naturais, abate de animais e consumo de água. À medida que a população aumentava, as tarefas diárias se torna- vam mais complexas. O que antes era feito somente para si, passa a ser feito para vender ou como prestação de serviço. As técnicas da indústria e da agricultura foram se apri- morando, refletindo na melhoria da qualidade alimentar, no aumento da produção agrícola e no controle das pestes, pragas e doenças. O livro Armas, germes e aço: os destinos das socie- dades humanas apresenta uma viagem histórica de 13.000 anos da huma- nidade. O livro mostra as diferentes fases de desenvolvimento em que se encontravam os povos dos seis continentes da Terra. Para o autor, são os fatores ambientais os reais responsáveis pelos acontecimentos. Sugerimos a leitura do capítulo 13, “A mãe da necessidade”, no qual o autor apresenta como as sociedades aceitam os novos inventos e os in- tegram ao seu cotidiano, criando, muitas vezes, uma necessidade que antes não existia. DIAMOND, J. Rio de Janeiro: Record, 2009. Livro Utensílios de metal antigos Stanislav Khokholkov/Shutterstock Natureza e sociedade 11 12 Educação Ambiental Algumas sociedades tentavam conservar suas es- truturas agrícolas, mas o processo de industrializa- ção foi inevitável. Esse processo colocou no mercado diferentes produtos, o que fez com que as pessoas passassem a ter necessidade de obter os utensílios que poderiam facilitar o dia a dia, usando menos for- ça e ganhando mais tempo. Com pessoas circulando por diferentes partes do mundo, levando suas próprias moedas, “a economia de subsistência e de trocas naturais tendia a ser su- plantada pela economia monetária, a influência das cidades passou a prevalecer sobre os campos, e a di- nâmica do comércio a forçar a mudança e a ruptura das corporações” (GOMES, 2020). Apesar do avanço da poluição e da devastação ambiental, a produção e o abastecimento das cidades não podiam ser interrompidos. Em Portugal, por exemplo, no século XIV, ocorreu a ex- ploração das riquezas naturais de forma desordenada. “O desequilíbrio entre a procura de madeira e a oferta com origem nacional acentuou-se, o que dificultou a regeneração da floresta portuguesa” (REBOREDO; PAIS, 2012, p. 34). Ainda segundo os autores, para construir navios que eram de madeira, era necessário ter áreas florestais próximas aos estaleiros. Alguns tipos de pinheiros, como o pinho nórdico, ficaram escassos por- que seus troncos mais altos eram utilizados para construir os mastros dos navios e por causa do grande número de navegações tornaram-se imprescindíveis. Além disso, a madeira era matéria-prima fundamental na construção civil. A madeira era utilizada para a elaboração de diferentes elemen- tos construtivos, como soalhos, pisos e elementos decorativos, mas também na execução e reparação de portas e janelas, es- cadas, paredes divisórias interiores e estruturas do telhado. [...] podia servir para revestir de forma genérica o interior de alguns compartimentos (madeirar). [...] era ainda utilizada para o fabrico e reparação de utensílios de construção [...], mas também para a construção de andaimes (MELO; RIBEIRO, 2013, p. 234-235). A demanda pela madeira era grande e, por isso, muitas florestas da Europa foram devastadas, fazendo com que fosse necessário explorar novas áreas no além-mar. Entre os séculos XV e XVI, o enriquecimento He nn ad ii H/ Sh ut te rs to ck Evolução da tecnologia agrícola. Natureza e sociedade 13 de alguns países europeus foi ampliado devido à exploração das colônias na América. As grandes navegações impulsionaram o comércio internacional, dando início à globalização de pro- dutos. No Brasil, que começou a ser colonizado no início do século XVI, os colonizadores exploravam suas rique- zas naturais, em especial pau-brasil, ouro e diamantes. “A exploração do Pau-Brasil foi a primeira atividade econômica do país, logo após o descobrimento pelos portugueses, em 1500. A madeira foi a primeira rique- za que saltou aos olhos dos portugueses que aqui chegaram” (SILVA, 2020). No século XVIII, a Inglaterra passou a se afirmar como potência mundial, época em que Portugal se firmava como intermediário comercial entre várias co- lônias e nações. Já, no século XIX, surgiram os grandes centros de produção artesanal, os entrepostos comer- ciais, as exposições internacionais de comércio e os primei- ros bancos. As denominadas Exposições Universais, ou Feiras Mundiais, duravam cerca de 15 dias e promoviam amostra de várias mercadorias de diferentes partes do mundo, com o objetivo de fortalecer um comércio mais estável e permanente entre as nações. As Exposições Universais, ou Feiras Mundiais, foram auto repre- sentações populares da elite industrial, ricas em ideias e plenas em criatividade, uma demonstração da transformação nas rela- ções comerciais do mercado mundial, do progresso visível e do início de um processo de auge econômico dos países industria- lizados tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. O objetivo dessas exposições era mostrar a força e a consolidação do siste- ma fabril ao grande público e às outras nações (GOMES, 2020). O evento ocorria em grandes pavilhões, com espaço suficiente para a exposição de máquinas, matérias-primas, plantas e inventos, como o telefone. “Para expor, eram convidados países e pessoas do setor industrial, principalmente donos de fábricas, os quais enviavam as amostras do que desenvolviam, a fim de fechar algum negócio ou sim- plesmente divulgar seus produtos” (GUIMARÃES; LEMOS, 2016, p. 640). A presença dos líderes dos países era bastante comum. Foi em uma dessas exposições que Dom Pedro II conheceu o telefone e o trouxe para o Brasil. Árvore de pau-brasil. Afren/Wikimedia Commons 14 Educação Ambiental No ano de 1862, o Brasil foi convidado a participar da Exposição Universal de Londres e apresentou-se como um promissor fornecedor de matéria-prima. Em 1889, na exposição de Paris, o país demonstrou seu potencial na produção de café e açúcar, que eram seus principais produtos de exportação. A famosa Torre Eiffel foi construída apenas para ser uma estrutura temporária, uma espécie de porta de entrada da exposição de 1889. Contudo, passado o evento, ela foi reconhecida como um potencial ponto para a instalação de uma antena de rádio e acabou não sendo demolida. Paris sediou mais uma vez a exposição, no ano de 1900. A imagem a seguir mostra uma visão panorâmica da área do evento. Ev er et t H is to ric al /S hu tte rs to ck Vista panorâmica da Exposição Universal de Paris. O Brasil foi sede da exposição em 1922. As Exposições Universais acontecem até os dias atuais. A exposição de 2020 foi programada para acontecer em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, com duração previs- ta para seis meses. As exposições se consolidaram como eventos mundiais de comércio de produtos dos países e promovem o intercâmbio cultural e comercial entre as nações. Além disso, há também a possibilidade de apresentar suas comidas típicas, o que deu origem às praças de alimentação com restaurantes especializados, tais como conhecemos. Com o passar do tempo, as exposições ganharam importância e se tornaram mais tec- Natureza e sociedade 15 nológicas. O evento é sempre muito aguardado e estima-se que a par- ticipação, na atualidade, aproxima-se de 40 milhões de pessoas. Os países mais periféricos têm grande possibilidade de fazer negó- cios durante o evento, tendo em vista que dependem, em muito, da tecnologia e do capital estrangeiro para comprar maquinários, moder- nizar-se e competir no mercado internacional. Assim, muitas nações se consolidam como exportadoras de matéria-prima e importadoras de produtos de alta tecnologia agregada. Vimos até aqui como a relação do ser humano com o meio ambien- te foi evoluindo até chegar à visão de que a natureza é fornecedora de recursos naturais, tidos como infindáveis e comercializáveis. Nessa lógica, há pouca preocupação com os ciclos naturais e com as demais espécies de seres vivos. A produção e o comércio se tornam a base das relações humanas. Dando continuidade a essa discussão dos processos produtivos e das relações de consumo com o meio ambiente, na próxima seção, ve- remos as transformações sociais a partir da Revolução Industrial, que mudou, por completo, as relações de trabalho, aumentou a disposição de mercadorias e elevou o consumo. Como consequência, o meio am- biente sofreu com a poluição e a degradação. 1.2 Transformações nos processos produtivos Vídeo No período que vai do século XVII até o final do século XIX, os no- vos inventos possibilitaram a produção em larga escala, aumentando a oferta de bens de consumo. Com o aumento da população mundial, a produção de mercadorias teve de ser ampliada para atender às novas demandas. Não era mais possível comercializar somente o excedente, era preciso produzir mais e criar um mercado consumidor. As ativida- des econômicas passaram a transformar os recursos naturais em pro- dutos manufaturados, em grande escala. A utilização de maquinário fabril exigia mão de obra especializada, além de matéria-prima e ener- gia para movimentar as máquinas. O comércio se tornou mais intenso e muitos bairros operários surgiram nos arredores das fábricas. As condições de vida dos chamados proletariados eram rudimenta- res. Muitos chegavam à exaustão por trabalhar por horas, sem descan- so (até 16 horas por dia). Eles moravam em cortiços, sem água potável e sistema de esgoto, e sua alimentação era pobre em nutrientes. O traba- 16 Educação Ambiental lho, muitas vezes, era trocado por mantimentos, abrigo e ferramentas. Também era comum as crianças pequenas trabalharem, complemen- tando a renda de seus pais. As mulheres mais pobres abandonaram os serviços domésticos e passaram a trabalhar nas fábricas também. As primeiras máquinas e as ferramentais mais sofisticadas permitiram ultrapassar a produção artesanal para as manufaturas, que eram gran- des oficinas onde os artesãos se juntavam para produzir, porém eles não eram empresários, eram subordinados aos proprietários da manufatura. A produção de mercadorias ou, em termos mais explícitos, de objetos necessários ao consumo, não fornecidos diretamente pela natureza, é o objeto de toda indústria. Portanto, por grande indústria é preciso entender, antes de mais nada, uma certa or- ganização, um certo regime de produção. Mas seus efeitos se es- tendem a toda ordem econômica e, por consequência, à ordem social (MANTOUX, 1989, p. 1). A Revolução Industrial, que ocorreu, inicialmente, na Inglaterra, es- palhando-se para França, Itália, Alemanha, Rússia e outros países da Europa, levou as linhas de montagem para as fábricas, com implicações globais, como a fragmentação e especialização do trabalho. Esse novo modelo aumentou a produtividade e, consequentemente, o consumo de mercadorias industrializadas pelas classes que detinham recursos financeiros para sua aquisição. A imagem a seguir mostra uma linha de montagem de uma fábrica têxtil, onde cada trabalhador é responsável pela produção de uma parte do produto. Ev er et t H is to ric al /S hu tte rs to ck Sobre as condições precárias dos trabalhado- res industriais, sugeri- mos assistir ao filme A classe operária vai para o paraíso, que descreve as condições dos operá- rios de uma fábrica de motores. Os empregados eram levados à exaustão, trabalhando em pé por horas, tendo em vista que tinham metas a serem atingidas. O filme mostra o adoecimento físico e psíquico dos funcioná- rios e as lutas de classe decorrentes dos conflitos das relações de trabalho. Direção: Elio Petri. Itália: Euro Internacional Films, 1971. Filme Mulheres trabalhando em máquinas têxteis, na American Woolen Company, Boston, EUA. Natureza e sociedade 17 A indústria algodoeira se destacou pelas máquinas de fiar e tear que aumentaram a produção e o co- mércio têxtil, grande propulsor da Revolução Industrial. O algodão, matéria-prima dessas indústrias, era produzido nas colônias britâ- nicas, com isso, os campos eram forçados a aumentar a produção, o que demandava mais terras para seu plantio, bem como o uso de água e de mão de obra. O cultivo de plantas utilizava-se de técni- cas rudimentares, como a monocultura e as queimadas para a limpeza do terreno, além de os detritos serem lançados diretamente nos rios ou em locais ambientalmente incorretos. Não havia preocupação com os rejeitos das fábricas, tampouco com seu destino.O importante era livrar-se deles. O sucesso do algodão se deve ao seu aproveitamento para a con- fecção de produtos e subprodutos. A matéria-prima da indústria algo- doeira vinha dos campos, mas as fábricas estavam concentradas nos grandes centros urbanos da época. Até o século XVIII, era comum os centros urbanos mesclarem comércio, indústria, criação de animais e moradia. As relações comerciais, sociais e culturais foram se desen- volvendo, sem planejamento urbano. Essa combinação de atividades colaborava para a propagação de doenças e a poluição ambiental, con- tudo as famílias mais ricas podiam escolher construir suas casas nos arredores das cidades, em busca de ar puro, limpeza e espaço. É impor- tante destacar que nessa época não havia coleta de lixo e tratamento do esgoto doméstico e industrial como conhecemos hoje. O aumento da densidade demográfica trouxe preocupações com a saúde, a higiene e o saneamento para os administradores urbanos. Naquela época, o ferro e o vidro passaram a ser empregados nas cons- truções de casas, palácios e consultórios médicos, dando a sensação de limpeza, claridade e estética. Entre os anos de 1860 e 1900, teve início a utilização do aço como matéria-prima, o que mudou, radicalmente, a construção civil, a indústria naval, os meios de transporte e as linhas de produção. Modelo da máquina de fiar mecânica do Museu do Início da Industrialização, em Wuppertal, Alemanha. Markus Schweiß/Wikimedia Commons > 18 Educação Ambiental Embora o grande comércio se concentrasse nas cidades, os povoados mais afastados recebiam mer- cadorias por meio dos vendedores ambulantes que levavam artigos variados e novidades. No Brasil, esses vendedores ficaram conhecidos como mascates. Es- sas mercadorias alteravam a vida simples das pessoas que moravam em lugares mais remotos, despertando o desejo de morar na cidade e acessar as novidades. A Revolução Industrial acelerou os processos pro- dutivos e a especialização de ofícios até então ma- nuais ou parcialmente mecanizados. As fábricas passaram a produzir em excesso, a custos mais bai- xos, gerando a necessidade da criação de um merca- do consumidor. Com a introdução de novas tecnologias e novos métodos de produção, a indús- tria foi pressionada para se mecanizar, baixar os cus- tos e reduzir a mão de obra. Essas medidas fizeram aumentar a produção e as exportações, bem como o desemprego das pessoas menos qualificadas. Para o aprofundamento da abordagem sobre a Revolução Industrial, sugerimos assistir ao filme Tempos modernos, com Charlie Chaplin, que mostra a relação do personagem com as máquinas, na vida moderna dos anos 1930. Em determinado momento do filme, o personagem se integra às máquinas passando a ser mais um componente da linha de montagem. Além disso, ele realiza tantos trabalhos repetitivos que os repete em sua vida pessoal. O filme é uma provocação a pensar de forma crítica sobre o ca- pitalismo e o modo de produção fragmentado. Direção: Charlie Chaplin. EUA: Charlie Chaplin Corporation, 1936. Filme Fábricas químicas em Ludwigshafen, Alemanha, 1881. Robert Friedrich Stieler/Wikimedia Commons A Segunda Revolução Industrial é caracterizada pela chega- da da energia elétrica e utilização do petróleo como combustível e matéria-prima. Os segmentos fabris que mais se desenvolveram foram a siderurgia, a metalurgia, a petroquímica e os meios de transporte. Outro avanço foi a invenção dos motores de combustão que, embora tenham facilitado a produção e o transporte, aumen- taram a poluição do ar. A extração do petróleo de depósitos na- turais, seu transporte, refino e consumo trouxeram como consequência a pro- dução de gases que poluem a atmos- fera. Ainda hoje o mundo é bastante dependente dos derivados e das ati- vidades da indústria petrolífera, ainda que pesquisadores busquem outras ma- Natureza e sociedade 19 trizes energéticas menos poluentes e mais eficazes. Do processamento industrial dos produtos do petróleo, obtém-se produtos sintéticos como: tecidos, inseticidas, medicamentos, tintas, plástico e explosivos, que fa- zem parte, irremediavelmente, do cotidiano das pessoas. O desenvolvimento de produtos derivados do petróleo mudou radi- calmente as relações de consumo. As ferrovias foram expandidas em muitas regiões no mundo, permitindo escoar as mercadorias com maior rapidez, além de as pessoas poderem se deslocar mais facilmente. As produções agrícolas também foram modificadas pela introdução de má- quinas que substituíram vários trabalhadores, os quais acabaram indo para as cidades em busca de empregos. Essas pessoas chegavam aos centros urbanos sem formação para o trabalho nas indústrias, o que contribuiu para o aumento da pobreza, da violência e da exploração dos trabalhadores, devido à disponibilidade abundante de mão de obra. No século XIX, o capitalismo se fortaleceu e os países periféricos e as colônias continuaram a fornecer matérias-primas e alimentos, rece- bendo produtos industrializados. Os objetivos da época eram racionali- zar os processos de produção, comercializar e obter lucros. No Brasil, a população não estava tão concentrada nas grandes cidades e era, pre- dominantemente, rural, o que dificultava a expansão e o fortalecimen- to de um mercado consumidor interno. A partir de 1880, as indústrias brasileiras começaram a passar de manufatureiras para mecanizadas, principalmente nas capitais da região Sudeste. A economia brasileira estava concentrada, preponderantemente, na indústria cafeeira, cana-de-açúcar e extração de minérios. Ainda hoje, é possível encontrar áreas que foram degradadas pela extração predatória dos minérios, atividade que perdura até os dias atuais. O Brasil seguiu as tendências mundiais e, a partir do final do século XIX e início do século XX, as multinacionais inseriram uma cultura em- presarial estrangeira no país. Entre as empresas, havia algumas “vol- tadas para a produção e a distribuição de energia elétrica, quer para a iluminação de vias e transporte público, quer para a iluminação par- ticular de residências e sua utilização em indústrias e serviços essen- ciais” (OLIVEIRA, 2012, p. 1). Instalaram-se no país, também, indústrias para a fabricação de automóveis, até então, importados. Para muitos industriais era dispendioso mecanizar por completo as fábricas, pois o maquinário utilizado no Brasil vinha de fora e, muitas 20 Educação Ambiental vezes, era de segunda mão. Isso tornava a indústria brasileira atrasada e seus produtos, caros. A industrialização e a urbanização brasileiras se aceleraram a partir da década de 1930, e, após a Segunda Guerra Mundial, houve a am- pliação das estradas de ferro no Brasil. Para isso, houve o aumento do desmatamento de extensas áreas para a instalação das linhas férreas. Além disso, ocorreu a ampliação das estradas de rodagem, que interli- garam várias regiões do país, possibilitando o escoamento mais rápido das produções agrícolas e de mercadorias. Com o aumento da população e do deslocamento para o trabalho, o comércio e o lazer, foi necessário organizar o trânsito e a logística de distribuição de alimentos, serviços de saúde, educação e segurança. O acesso a bens e serviços exigiu mudanças na estrutura das cidades e alterou o modo como as pessoas interagiam com o ambiente natural, que passou a simbolizar atraso. Nesse processo, foi, e é, comum a de- vastação das áreas naturais sem medir as consequências. Desse modo, o meio natural acabou se tornando a antítese do desenvolvimento. O pensamento de que o meio ambiente natural representa atraso social, cultural e econômico perdura até os dias atuais. Vimos até aqui como as transformações nos processos produtivos alteraram a relação do ser humano com a natureza. Nessa nova rela- ção não é mais possível esperar a natureza seguir seu curso, tampouco retirar dela somente o necessário para a sobrevivência. Os recursos naturais passaram a ser explorados com vistas à obtenção de lucros. Napróxima seção, serão apresentados alguns impactos ambientais causados pelo processo de industrialização e suas consequências, que podem ser devastadoras para o meio ambiente e para a vida humana. 1.3 A Era Industrial e os impactos ambientais Vídeo O processo de industrialização e urbanização cooperou para a consti- tuição de uma sociedade de consumo. O crescimento da população nos grandes centros urbanos gerou agravamento da pobreza e das desigual- dades sociais, disputa por espaços e, consequentemente, aumentou o consumo e a geração de problemas ambientais em escala global. Com a expansão das multinacionais, no mundo globalizado, as na- ções passaram a disponibilizar produtos iguais, colocados no mercado Natureza e sociedade 21 a preços, razoavelmente, acessíveis. As grandes corporações disputa- ram os consumidores, lançando pequenas modificações nos apare- lhos. Com isso, cria-se uma falsa necessidade de trocá-los. A geração de resíduos eletrônicos vem aumen- tando na mesma velocidade que as inovações. As pessoas são estimuladas a consumir produtos ele- trônicos com prazo de validade, a chamada obsoles- cência programada. Isto é, os produtos que poderiam durar mais, estragam ou ficam ultrapassados. Assim, as pessoas descartam os antigos aparelhos, sem ne- nhum critério, para adquirir os novos. Devido ao avanço da circulação de pessoas que seguem para o trabalho, constroem suas moradias e fazem compras, o consumo preva- lece e o desperdício acaba se naturalizando. Além disso, o aumento do número de indústrias coincide com a poluição do ar e dos rios. Os rios urbanos de todo o mundo sofrem com o descarte de lixos industriais e domésticos, bem como o esgoto não tratado. Muitas in- dústrias despejam seus rejeitos diretamente nos rios, solos e mares. Substâncias como mercúrio, chumbo e outros metais pesados são facilmente derramados nas águas, condenando os animais e plantas aquáticas e as comunidades que dependem do rio para sua sobrevi- vência. É comum ver nos noticiários a redução de peixes em algumas áreas em que antes ocorria a pesca em abundância. A captação de água para consumo e irrigação também é afetada. O lançamento de esgoto não tratado aumenta a contaminação das pessoas por doenças, como hepatite e cólera. Os solos também são afetados pelo depósito de materiais tóxicos industriais, além dos lixões em regiões em que não há aterro sanitário. Embora muitas pessoas tenham conhecimento de que essas atitudes são erradas e acarretam problemas ambientais, muitas vezes irreversí- veis, como a extinção de espécies animais e vegetais, ainda perdura o pensamento de que na natureza tudo se regenera rápido e facilmente. Os meios de comunicação, hoje, muito mais abrangentes que outrora, divulgam informações sobre poluição, erosão do solo, chuvas ácidas, seca, desmatamento, desertificação, entre tantos outros impactos am- bientais, mas essas notícias parecem não atingir a maioria das pessoas. Nem sempre as informações corretas são as que mais repercutem. Cristian Dina/Shutterstock 22 Educação Ambiental Os sites, as rádios, os canais de televisão, os jornais e as redes so- ciais mudaram substancialmente as formas de consumo de todo o mundo, possibilitando às pessoas conhecer produtos nunca imagina- dos. Incialmente, a TV, por exemplo, não tinha o objetivo de alertar para os problemas ambientais. Isso só ocorreu a partir da década de 1970, em que o mundo começou a presenciar movimentos que denun- ciavam problemas ambientais. Os meios de comunicação tiveram e têm grande importância na divulgação de informações, mas concentram-se nas propagandas de produtos e serviços. As pessoas são seduzidas por marcas, facilidades, prestígio, status e novidades, sem a preocupação sobre toda a cadeia produtiva que está por trás daquilo que é anunciado. Ainda não existe uma consciência coletiva sobre os impactos ambientais causados pelas escolhas de consumo. É como se o problema e a solução estivessem sempre nas mãos de outra pessoa. A indústria e o comércio se beneficiam da falta de informações e de conscientização por parte dos consumidores. As pessoas continuam consumindo os produtos de uma determinada fábrica, mesmo saben- do que ela mantém seus funcionários em condições análogas à escra- vidão, emprega crianças, explora os recursos naturais até exauri-los e polui as águas, o ar e o solo. Mas não é só a indústria de produtos de consumo que causa impactos ambientais, a atividade agropecuária também desencadeia danos ao meio ambiente. A agricultura é reconhecida como a base da economia de países fornecedores de alimentos e de insumos, como o Brasil. Contudo, sa- be-se que a atividade agrícola, apesar de imprescindível, utiliza-se de produtos químicos como fertilizantes, adubos, defensivos agrícolas e maquinário pesado que degradam grandes áreas naturais. Além disso, práticas como queimadas, monoculturas, desmatamento e compacta- ção do solo ainda são comuns. A atividade agropecuária acaba por desequilibrar os ciclos naturais de espécies de seres vivos, como insetos, pássaros e anfíbios. Outra situação preocupante é o desmatamento, que pode provocar a dizima- ção de várias espécies animais, muitas em risco de extinção. Os rejeitos de produtos químicos lançados nos rios e lagos prejudicam os animais e plantas aquáticos, assim como as comunidades que deles dependem para seu sustento. Natureza e sociedade 23 A agropecuária moderna se caracteriza pelo grande uso de máqui- nas e insumos que aumentam a produtividade e sustentam o mundo. Nas grandes metrópoles, é grande o consumo de alimentos e de todos os produtos que estejam disponíveis. Aqueles que não produzem, ou seja, que apenas consomem, pouco sabem do processo produtivo e dos impactos ambientais causados para que os produtos cheguem às prateleiras de lojas e supermercados. A produção de um celular, hoje tão comum nas mãos das pessoas, exige a extração de diversos recur- sos, como lítio, tântalo, estanho, cobalto, platina, assim como uso de água, cola, plástico e vidro (QUAIS..., 2020). Outro ponto impactante ao meio ambiente são os elementos de terras raras que são utilizados para a fabricação de imãs, ba- terias, luzes de LED, alto-falantes, placas de circuito impresso e telas de vidro polido. O mercado mundial desses elementos é do- minado pela China que, ao extrai-los, causa fortes impactos ao meio ambiente. Os resíduos de sua extração incluem o arsênio, bário, cádmio, chumbo, fluoretos e sulfatos - a partir de uma to- nelada de minério, 75 mil litros de efluentes ácidos são gerados, além de uma enorme quantidade de efluente gasoso e pouco menos de uma tonelada de resíduos radioativos (QUAIS..., 2020). Devido à alta produtividade e às transformações nos processos de fabricação, o século XX foi campeão de lançamento de poluentes na atmosfera, em especial, o gás carbônico, gerado pela queima de com- bustíveis fósseis, como carvão, gasolina e óleo diesel, ocasionando, en- tre outros problemas, o efeito estufa. Como consequência, podem ser citados a elevação da temperatura, o derretimento das geleiras e calotas polares, a extinção de espécies e as alterações nas dinâmicas naturais. Os países mais desenvolvidos são campeões de produção e consu- mo e, assim sendo, lideram a exploração e a degradação dos recursos naturais e a poluição do ar, da água e do solo. Os problemas ambien- tais desencadeados pela expansão do capitalismo culminam na exaus- tão dos recursos naturais e da poluição do ambiente urbano e rural. Para atender à demanda de consumo e de produção, aumentam-se as lavouras, pastagens, mineração e extração vegetal. Os elementos naturais são vistos como recursos econômicos, em um pensamento de que a natureza é infindável. Portanto, o consumo causa impacto direto e indireto ao meio natu- ral. As escolhas que fazemos na hora de consumir trazem consequên- cias ao meio ambiente, em escala local e global, e isso deve nos fazer repensar nossas escolhas e ações. https://www.ecycle.com.br/1912-terras-raras.htmlhttps://www.ecycle.com.br/1912-terras-raras.html https://www.ecycle.com.br/component/content/article/35/428-mercurio-cadmio-e-chumbo-os-inimigos-intimos-presentes-nos-eletronicos.html 24 Educação Ambiental CONSIDERAÇÕES FINAIS Vimos nesse capítulo que as atividades humanas e o consumo causam impactos ao meio natural. As consequências podem ser sentidas por to- dos, em menor ou maior grau, por meio da poluição ambiental presente nos grandes centros urbanos. Do mesmo modo, percebe-se nas áreas rurais a escassez de água, o processo de desertificação em determina- das regiões, a diminuição de peixes em áreas pesqueiras, o avanço de espécies animais nas áreas urbanas e a elevação da temperatura, medida pelos cientistas. A crise ambiental que se instala pelos processos de industrialização e de consumo pode servir como disparador para repensarmos as atitudes diante do nosso planeta, a fim de garantir a sobrevivência humana e das demais espécies de maneira equilibrada. Passos iniciais de reflexão pre- cisam ser dados, de modo a não naturalizar as relações de consumo e de exploração dos recursos naturais. ATIVIDADES 1. Neste capítulo, mostramos que a relação inicial do ser humano com a natureza era a de exploração dos recursos naturais para a sobrevivência. Sabemos que ainda há povos que se relacionam dessa forma com a natureza, como os indígenas, por exemplo. Discorra sobre como é possível, nos tempos atuais, existirem grupos humanos que vivem isolados, sobrevivendo apenas do meio natural. 2. A indústria algodoeira se destacou no início da Revolução Industrial. Seu cultivo se dava por meio de técnicas rudimentares que degradavam o meio ambiente. Na atualidade, a agricultura utiliza técnicas e maquinários modernos e mais eficientes. O que mudou quanto ao cuidado com o meio ambiente? 3. Na atualidade, as pessoas podem ter acesso a informações sobre o que acontece no mundo, em tempo real. Para isso, basta, por exemplo, ligar a TV, acessar a internet, ouvir notícias pelo rádio, enfim, as opções são diversas. De que modo os meios de comunicação podem colaborar para a disseminação de informações que possam ajudar na reflexão dos impactos ambientais causados pela humanidade? Natureza e sociedade 25 REFERÊNCIAS DIAMOND, J. Armas, germes e aço: os destinos das sociedades humanas. Rio de Janeiro: Record, 2009. GOMES, A. C. Exposições Universais ou Feiras Mundiais. Algosobre, 2020. Disponível em: https://www.algosobre.com.br/historia/exposicoes-universais-ou-feiras-mundiais.html. Acesso em: 27 abr. 2020. GUIMARÃES, F. V.; LEMOS, L. H. A contribuição das exposições universais para a sociedade da informação. 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Estudaremos que os hábitos de consumo se naturalizaram e muitas relações humanas foram substituídas pelo prazer por compras, o qual caminha com indivi- dualismo, egoísmo, culto ao novo, ao sucesso, à satisfação e busca constante pela felicidade. Além disso, os hábitos de consumo e a geração de resíduos têm impacto direto na conservação e na pre- servação ambientais, o que denota a importância de ações urgen- tes para minimizar os impactos ambientais no planeta. 2.1 Consumo e consumismo Vídeo O século XXI está se consolidando como altamente tecnológico, o que interfere nas relações de consumo e direciona as interações humanas e a construção de suas identidades, delimitando espaços e pertencimento a grupos sociais. A tecnologia caminha com o consumo, o qual se confi- gura como atividade central das sociedades capitalistas. Na compreen- são de Bauman (2008, p. 37), o consumo se constitui em uma “condição, e um aspecto permanente e irremovível, sem limites temporais ou histó- ricos; um elemento inseparável da sobrevivência biológica que nós hu- manos compartilhamos com todos os outros organismos vivos”. A rápida produção de bens e a oferta de serviços tornam a vida humana mais fácil e provocam inquietações na busca constante pelo novo e moderno. Tudo que é produzido tem por objetivo ser consumi- do e, para isso, são necessários consumidores ativos e aptos a comprar o que o mercado almeja, passando ao consumismo. Assim, explora-se Consumo, consumismo e meio ambiente 27 a valorização do novo e moderno, em detrimento do antigo, usado, ve- lho. Isso vale, também, para as relações sociais que mudaram a ponto de não serem estáveis e duráveis. O consumo, nesse sentido, expressa o individualismo, o egocentrismo e a indiferença. O limite entre o consumo e o consumismo é tênue, pois o que para muitos pode representar consumismo, devido às suas condições finan- ceiras, para outros não passa de um consumo básico. Por consumismo pode-se entender o ato de adquirir produtos sem um critério mínimo, sem refletir sobre a real necessidade e utilidade do produto, muitas vezes, supérfluo. Para Bauman (2014, p. 96), atualmente, consumismo “não diz respeito à satisfação de necessidades – nem mesmo as mais sublimes, distantes. [...] o desejo tem a si mesmo como objeto constan- te, e por essa razão está fadado a permanecer insaciável”. Há teóricos que cunham o termo sociedade de consumo para os tem- pos em que vivemos, em que ter é mais importante do que ser. Para as autoras Aguiar e Nascimento (2018, p. 2), a sociedade de consumo tem como características “o culto ao novo; o descarte e o desprezo ao velho ou ultrapassado; a obsolescência e efemeridade dos produtos, com a crescente brevidade de seu tempo de vida útil ou valor social e a mercantilização da vida”. O artigo Consumismo, obsolescência programada e a qualidade de vida da sociedade moderna, de Edevaldo da Silva, Habyhabanne Maia de Oliveira e Patrícia Maria da Silva, faz uma provocação que nos leva a pensar sobre o consumo ser mais importante que o ser e o existir. Os autores também abordam a obsolescência programada dos produtos, que instiga as pessoas a consumir e ocasiona a geração de mais resíduos. Acesso em: 6 maio 2020. http://www.revistaea.org/pf.php?idartigo=2108 Artigo A imagem de consumo está atrelada à felicidade pela qual a bus- ca ocorre continuamentepor meio do consumo de novidades que se tornam obsoletas, ultrapassadas e descartáveis em um curto espaço de tempo. Essa busca pela felicidade é típica da sociedade hedonista, que se agarra aos prazeres imediatos e tem no consumo um meio para satisfazer seus desejos. Nesse processo, são atribuídos às mercado- rias valores sociais como felicidade, jovialidade, sensualidade e beleza. O consumo passa a carregar a função de entregar aos consumidores sociedade hedonista: segun- do Lipovetsky (2015) é centrada no divertimento, na distração, no espetáculo, no lazer, na emoção, nos afetos e nas sensações. Essa sociedade busca o prazer em suas atividades, não deixando espaço para a frustração, a insatisfação e a infelicidade. Glossário 28 Educação Ambiental esses valores, independentemente de suas condições físicas, sociais, econômicas e culturais. São representações construídas pelo imaginá- rio social. A possibilidade de consumo gera uma falsa sensação de poder, de superioridade, além de dependência. Contudo, o poder que o consumi- dor verdadeiramente tem é transferido por ele para a publicidade, que decide o que ele vai comprar por meio da oferta de produtos. O mercado de consumo existe porque a produção em larga escala o sustenta, produzindo mais do que as pessoas precisam, desencadean- do a desvalorização dos bens de consumo e dos consumidores. Os produtores controlam os comportamentos do mercado consumidor, inserindo necessidades, por vezes, dispensáveis e superficiais. ki ko vic /S hu tte rs to ck O que está à venda não são somente produtos, mas experiências, sensações, prazeres e conquistas. Além disso, as pessoas despendem tempo e dinheiro com lazer, diversão e serviços. Não só os produtos físicos são objetos de desejo, mas também a beleza, a juventude, o prazer e o conforto. Aqueles que não conseguem acessar esses bens e serviços sentem-se excluídos dos grupos sociais (e muitas vezes de fato são). Silva (2014) chama a atenção para as compras que são feitas por impulso, que têm como objetivo a satisfação imediata de uma vonta- de. Segundo a autora, o comércio depende das compras feitas por im- pulso, sem planejamento. Há compradores que passam das compras Consumo, consumismo e meio ambiente 29 impulsivas para as compras compulsivas, que podem se tornar uma patologia. Para ela “a compulsão por compras deve ser reconhecida como uma doença crônica que, sem tratamento, tende a evoluir de ma- neira crescente e devastadora. Ela funciona como qualquer outro tipo de dependência (ou vício)” (SILVA, 2014, p. 47). O valor simbólico dos produtos os associa a determinado padrão de vida almejado por grupos que desejam ascender social e econo- micamente. Valores humanos como respeito, honestidade, empatia, senso de justiça, solidariedade e ética são desconsiderados na aqui- sição de produtos. Novos valores são criados como o culto ao novo e ao moderno, a rapidez e a atualização. A procedência do que se está comprando, em geral, não é questionada, o importante é comprar o produto desejado. O apelo publicitário para o consumo busca incutir a sensação de se estar fora de moda, pela comparação entre as pessoas. A satisfação com as compras é diferente de uma pessoa para outra. Para algumas pessoas, a satisfação se dá pelo atendimento às necessidades básicas, como se vestir, morar, comer, e outras se satisfazem com isso e com viagens, carros de luxo, joias e mansões. Leivas (2006) trata das condições que o ser humano precisa para desenvolver, de modo livre, seu projeto de vida, atendendo às necessi- dades essenciais que tornam a vida mais agradável. Para ele, é preciso um mínimo existencial para desenvolver as condições econômicas, so- ciais e culturais. O mínimo existencial é a parte do consumo corrente de cada ser humano, seja criança ou adulto, que é necessário para a con- servação de uma vida humana digna, o que compreende a ne- cessidade de vida física, como a alimentação, vestuário, moradia, assistência de saúde etc. (mínimo existencial físico) e a necessi- dade espiritual-cultural, como educação, sociabilidade etc. (LEI- VAS, 2006, p. 135) O consumo humano vem ultrapassando esses itens básicos, que trariam conforto e bem-estar, para enaltecer aquilo que dá pra- zer e que pode ser apresentado. Roldão (2018, p. 5) destaca a teo- ria da necessidade, conhecida como Pirâmide de Maslow, segundo a qual “pessoas trabalham para garantir a sua sobrevivência e neces- sidade de segurança”. A figura a seguir representa a hierarquia das necessidades. 30 Educação Ambiental Figura 1 Pirâmide de Maslow Necessidade de autorrealização Necessidades de estima Necessidades fisiológicas Necessidades sociais Necessidades de segurança Moralidade, criatividade, autodesenvolvimento e prestígio. Autoconfiança, reconhecimento, conquistas, respeito dos outros, confiança. Alimentação, sono, abrigo, água. Amizades, socialização. Proteção contra a violência, proteção para a saúde e recursos financeiros. Fonte: Elaborada pela autora com base em Roldão, 2018, p. 5. A democratização do consumo e o desejo de consumir provocam reconfigurações sociais, nas quais as pessoas são induzidas a comprar por impulso, sem necessidade, atraídas pelas imagens que os produtos e suas marcas carregam. A marca está cheia de símbolos, de repre- sentações que foram atribuídas a ela pelo seu idealizador ou por seus compradores. Esses símbolos e representações são reconfigurados pela publicidade, que reforça a imagem de qualidade, conforto, inclu- são social, status e durabilidade do produto. A aquisição de um produto ou serviço pode ocorrer por indução do sistema capitalista. Esse sistema, por meio da publicidade, cria pseudonecessidades momentâneas, fazendo com que a produção e o consumo se retroalimentem. Quando alguém desenvolve um pro- duto, cria, também, um modo de consumo e, consequentemente, um modo de viver. Para movimentar a engrenagem do consumo, os produtos postos à venda não são desenvolvidos para durar muito. Eles são pensados para serem trocados assim que uma novidade for agregada ao modelo an- terior. A vida útil de um produto deve ser o tempo suficiente para que a pessoa o use, enjoe dele e o descarte, o que não significa que o pro- Consumo, consumismo e meio ambiente 31 duto esteja velho ou avariado. A publicidade cumpre a sua função de mostrar o novo e criar as necessidades, depreciando, subjetivamente, o antigo, fazendo-o parecer símbolo do atraso, do feio e do inútil. O novo promete felicidade, status e inserção social. Aqueles cidadãos que não podem consumir com muita frequência acabam por se sentir excluídos dos círculos sociais. O que cada um consome, reflete aquilo que o sujeito é ou aquilo que quer representar. Por meio daquilo que veste, come, bebe, lê, escuta e posta em suas redes sociais, a pessoa constrói a identidade pela qual quer ser reconhecida. A possibilidade de escolher algo para comprar traz a sensação de independên- cia, de estar exercendo a cidadania por meio da liberdade de escolha. Mas, na ver- dade, a pessoa está seguindo os passos que lhe foram determinados, para fazer a máquina da economia girar e garan- tir o lucro dos que detêm o capital. Por um lado, temos o consumo popular da classe trabalhadora que, além de alimentos e remédios, se esforça para comprar roupas, carros, casa e eletroeletrônicos parcelados em muitas vezes. Por outro lado, existem os mais ricos que, embora não sejam em grande número, acu- mulam a maior parte das riquezas do mundo. Para eles, existem arti- gos de luxo que os diferenciam das demais pessoas. “O quintil mais rico da população mundial responde por 86% do total de despesas com consumo privado. Em contraste, o quintil mais pobre responde a 1,3%” (CONTEXTO..., 2020, p. 1). Também é importante abordar que existem pessoas miseráveis que não têm condições financeiras para consumir e, ainda, dependem da caridade alheia para acessar alimentos, remé- dios e abrigos. Osprofissionais de venda conhecem bem as artimanhas para atrair cada nicho de mercado e, muitas vezes, fazem a classe trabalhadora se iludir, achando que faz parte de um nível hierárquico superior de consumo, ao promover a venda de produtos que as classes mais abas- Monkey Business Images/Shutterstock 32 Educação Ambiental tadas já não apresentam interesse. Há grifes de roupas que preferem queimar as peças que não foram vendidas a vender por preços mais acessíveis. Isso vem provocando reações de ativistas, ambientalistas e acionistas das empresas, que exigem mudanças. Os produtores usam essa estratégia para proteger a imagem das marcas, mas não levam em consideração a poluição ambiental gera- da pela queima, além do desperdício de toda a matéria-prima que foi utilizada na produção das peças. O que está em jogo é o lucro que se obtém com o mercado de luxo, cujo público não quer que os produ- tos exclusivos possam ser usados por pessoas menos endinheiradas. É uma espécie de segregação social e econômica. Pode-se dizer que o consumo é induzido e naturalizado pelas cam- panhas publicitárias. Os anúncios perpassam todas as áreas da vida social, não distinguindo gênero, idade, situação socioeconômica e cul- tural. Cada grupo social atribui diferentes significados e sentidos ao que é publicado, de acordo com sua realidade, sua vivência e suas ex- pectativas. Os meios de comunicação divulgam a ideia de que a felicida- de está atrelada ao consumo, vendendo a imagem de que pessoas que consomem são bonitas, bem-sucedidas e felizes. Há pessoas que, por vezes, em busca de prazer e felicidade, para continuar consumindo, acabam se endividando, isso pode gerar sen- sações e sentimentos contrários, como insatisfação, dependência e an- siedade; sem contar os impactos ambientais causados pelo consumo desenfreado, como a demanda por mais recursos naturais e a geração de resíduos. Sabe-se que o consumo é indispensável para sustentar os sistemas capitalistas em movimento. O consumismo, por sua vez, vai além: mantém as pessoas poderosas cada vez mais ricas, concentran- do nas mãos de poucos a maior parte das riquezas do mundo. O consumismo é constantemente realimentado de maneira que os consumidores se sintam sempre insatisfeitos com o que já possuem. Isso ocorre, principalmente, por meio das ações de marketing que bus- cam se antecipar às necessidades, oferecendo o produto certo para o cliente apto a comprá-lo, concretizando os negócios. Essas ações são definidas por profissionais que estudam o comportamento dos con- sumidores, as tendências de mercado e as políticas econômicas. Para Algumas marcas estão as- sumindo o compromisso de repensar estratégias mais sustentáveis em suas linhas de produção. Paula De Boni De Lucchi fez um estudo sobre a marca de moda Burberry com o objetivo de com- preender as estratégias diferenciadas do merca- do de luxo. Esse estudo mostra que, embora a marca realize ações para ser considerada socialmente responsável, ainda tem dificuldade de renunciar a hábitos que podem prejudicar a sua reputação. Disponível em: https://www. lume.ufrgs.br/bitstream/hand- le/10183/192966/001087569. pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 7 maio 2020. Conforme mostra a re- portagem Burberry quei- ma R$ 143,79 milhões em produtos para proteger sua marca, essa prática ainda é bastante comum. A justificativa, por parte da marca, para a des- truição de estoque seria uma medida visando preservar a propriedade intelectual e impedir a falsificação dos produtos. De acordo com Orsola de Castro, especialista em moda sustentável e ética, o ato da Burberry não é ecologicamente correto e não existe uma maneira de se desfazer dessa quantidade de roupas sem ser ambientalmente invasiva. Disponível em: https:// oglobo.globo.com/ela/moda/ burberry-queima-14379-mi- lhoes-em-produtos-para-proteger- -sua-marca-22901776. Acesso em: 7 maio 2020. Saiba mais https://oglobo.globo.com/ela/moda/burberry-queima-14379-milhoes-em-produtos-para-proteger-sua-marca-22901776 https://oglobo.globo.com/ela/moda/burberry-queima-14379-milhoes-em-produtos-para-proteger-sua-marca-22901776 https://oglobo.globo.com/ela/moda/burberry-queima-14379-milhoes-em-produtos-para-proteger-sua-marca-22901776 https://oglobo.globo.com/ela/moda/burberry-queima-14379-milhoes-em-produtos-para-proteger-sua-marca-22901776 https://oglobo.globo.com/ela/moda/burberry-queima-14379-milhoes-em-produtos-para-proteger-sua-marca-22901776 Consumo, consumismo e meio ambiente 33 viabilizar os negócios são traçadas estratégias que vão do design do produto, propagandas que serão veiculadas nos meios de comunica- ção até como o produto será exposto nas vitrines das lojas. O comércio organiza suas vitrines de modo que os consumidores se- jam seduzidos pelos produtos, preços e condições de pagamento. Nas lojas de departamentos, há ainda a possibilidade de tocar os produtos, experimentá-los e decidir o que comprar de maneira autônoma, sem a interferência de um vendedor. Além disso, o comércio conta com profis- sionais especializados em organizar vitrines, chamados vitrinistas, que preparam os produtos mesclando-os com outros materiais. Esses pro- fissionais precisam ter noções de comunicação visual, marketing e arte. Os objetos e a composição dessas vitrines estão impregnados de ideias e elementos conceituais que pretendem fortalecer a iden- tificação da marca ou despertar emoções e sensações relacio- nadas a ela, nos consumidores. O objetivo final dessas vitrines, então, é criar associações e critérios de identificação e valoração de produtos e marcas (DRIESSEN, 2015, p. 12). Com o advento da internet, as vitrines que eram vistas somente nos comércios físicos, passaram a ter suas versões virtuais. Os produtos que antes ficavam nas lojas, hoje, estão à disposição nos computadores e celulares. Nos sites de compras, os consumidores podem pesquisar sobre as características dos produtos, opiniões de quem já os comprou e comparar preços, tudo isso sem precisar sair de casa. Como notamos, a sociedade está imersa na cultura do consumo e é preciso pensar em possibilidades para mudar a concepção de consumo de maneira responsável. Esse modo de pensar passa pelas questões ambientais. Ao consumir, as pessoas acabam desconside- rando a realidade e os princípios que estruturam as fontes de recur- sos naturais. O consumo para a sobrevivência abre espaço para o consumis- mo e coloca em risco a preservação e a conservação ambientais. Os conhecimentos científicos e saberes históricos podem colaborar para as tomadas de decisões com possibilidades de transformar a realidade atual. Daí a importância de promover debates sobre o con- sumo responsável que vise à sustentabilidade ambiental, de modo a provocar a sensibilidade de que todos os seres têm direito a um ambiente saudável. 34 Educação Ambiental 2.2 Resíduos sólidos urbanos e impactos ambientais Vídeo O consumo e o consumismo da sociedade atual configuram-se em uma inquietação para aqueles que se preocupam com as condições do meio ambiente. A capacidade de resiliência de muitos ecossistemas é constantemente pesquisada devido aos impactos ambientais causados pelas ações humanas no planeta, que apresenta suas limitações. O dis- curso econômico instiga o consumo de bens materiais, ideias, estilos e prestação de serviços. O dilema de continuar a produzir e consumir se confronta com a necessidade de repensar os hábitos humanos que estão comprometendo os recursos naturais. As novas formas de produção utilizam grande quantidade de mate- rial sintético, alterando a decomposição do que está sendo descartado. O que antes era feito pelas pessoas em suas casas, na atualidade, é comprado pronto, embalado ou é encomendado de um prestador de serviço. Com isso, aumenta-se a demanda por matéria-prima e por re- cursos naturais e tecnológicos. O desperdício de recursos materiais e financeiros ocorre nas ca- deiasprodutivas. Costabile (2017, p. 41) chama a atenção para o fato de que, no Brasil, por exemplo, estima-se que a perda anual seja de “R$ 2,7 bilhões a cada safra com o derrame de grãos devido às más condições das estradas, a inadequação do transporte utilizado, insufi- ciência na rede de armazenagem e mão de obra desqualificada”. Isso ocorre no plantio, na colheita, no transporte e no armazenamento. Depois disso, há desperdício por parte dos consumidores, que com- pram mais do que necessitam e não dão destino correto aos resíduos sólidos urbanos. A Lei n. 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Só- lidos, define os resíduos sólidos urbanos como aqueles originários das atividades domésticas e de varrição, limpeza de ruas e outras limpezas da cidade (BRASIL, 2010). Esse tipo de resíduo é composto de papel, vidro, metais, papelão, matéria orgânica, plástico, garrafas PET, isopor e óleos. Deve-se acrescentar, ainda, os resíduos dos estabelecimentos comerciais, industriais, de serviços de saúde, da mineração, da constru- ção civil e os resíduos tóxicos. O vídeo Antes & Depois da Lei #26 – Política Nacional de Resíduos Sólidos, publi- cado pelo canal Superior Tribunal de Justiça (STJ), exibe um panorama da produção de resíduos e suas consequências para o meio ambiente. Além disso, apresenta as legis- lações que tratam dos resíduos sólidos e como a Justiça vem trabalhando para implementá-las. São abordados, também, as- pectos da separação dos resíduos e da responsa- bilização dos produtores de mercadorias, por meio da logística reversa. É um convite a repensarmos nossas atitudes frente à geração de resíduos e o que cada um pode fazer para mudar essa realidade. Disponível em: https://www.you- tube.com/watch?v=yh2itUQ4K0A. Acesso em: 6 maio 2020. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=yh2itUQ4K0A https://www.youtube.com/watch?v=yh2itUQ4K0A Consumo, consumismo e meio ambiente 35 A referida lei regulamentou a destinação final dos resíduos sóli- dos, buscando proteger o ambiente natural e a saúde das pessoas. Essa legislação estabeleceu novos instrumentos de gestão ambien- tal, responsabilizando desde o produtor até o consumidor final. Além de incentivar a reciclagem e a compostagem como formas de diminuir o volume de resíduos que segue para os aterros, proibiu seu descarte em locais abertos, sem tratamento adequa- do, os chamados lixões. Os lixões nada mais são do que espaços sem nenhum preparo, nos quais são depositados os resíduos. Eles se tornaram um grande problema ambiental, pois o chorume re- sultante da decomposição do lixo pode atingir lençóis freáticos. Outro problema é que adultos e crianças invadem esses lugares em busca de materiais recicláveis e alimentos. Essas pessoas ficam expostas à contaminação por doenças como leishmaniose, leptospirose, hepatite B e pelo contato com objetos cortantes, seringas e preservativos. É importante destacar que, no Brasil, há vários lixões abandona- dos, sem nenhum tratamento. Esses espaços podem até não estar mais recebendo lixo, mas continuam poluindo a natureza por anos. Estima-se que alguns materiais possam levar décadas ou séculos para se decomporem, como o metal (mais de 100 anos) e o plástico (de 30 a 40 anos), enquanto outros materiais, como a borracha, levam um tempo indeterminado. Há registros, também, de bairros popula- res que são construídos sobre o que antes era um lixão. Esses bair- ros apresentam grande potencial para sofrer com a decomposição do lixo que pode se compactar e tem a possível liberação de gases tóxicos. Nesses locais, evidentemente, habitam as camadas pobres da população. Os aterros controlados, por sua vez, são mais eficientes que os lixões, pois ocorre, ao menos, maior controle. O lixo é coberto com terra, o que impede que as pessoas o revirem e é possível con- trolar vetores de doenças, como ratos, moscas e outros agentes transmissores. kanvag/Shutterstock> 36 Educação Ambiental Embora a melhor opção seja a menor geração possível de resí- duos, o que se tem de mais eficaz para a disposição do lixo são os aterros sanitários. Esses espaços são preparados previamente para a recepção dos resíduos. O solo recebe várias camadas protetoras para que o chorume e outros materiais não entrem em contato diretamente com o solo, há a instalação de dutos para os gases resultantes da decomposi- ção dos materiais, e a camada superficial de resíduos recebe, constantemente, uma co- bertura de terra. Os locais em que são instalados os ater- ros sanitários são pensados para ficarem longe da área urbana, dos rios e mananciais e são cercados e vigiados para que somen- te os caminhões e funcionários autorizados os adentrem. Por enquanto, esse é o meio mais eficiente para o depósito dos resíduos, uma vez que controla a polui- ção do ar, do solo e das águas. Como se vê, a disposição dos resíduos é uma grande preocupação para os municípios. Além disso, toda a logística de coleta, transpor- te até os aterros e tratamento dos resíduos é dispendiosa e cria um passivo ambiental 1 que pode durar anos. A separação dos resíduos pela população é uma opção para minimizar os impactos causados pelo grande volume de lixo que é gerado diariamente. Contudo, não basta a população separar se não houver estrutura municipal para o destino correto. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, estima-se que apenas 18% dos brasileiros contam com sistema de coleta seletiva. “Com a separação é possível: a reutilização; a reciclagem; o melhor valor agregado ao material a ser reciclado; as melhores condições de trabalho dos catadores ou classificadores dos materiais recicláveis” (RIBEIRO, 2012). O incentivo e o fomento à reciclagem são importantes aliados para a redução da extração de recursos naturais, redução do consumo de água e energia, além de diminuir os índices de poluição da água, do ar e do solo. Há pessoas que podem se beneficiar de maneira digna da reciclagem, com a geração de trabalho e renda. Daniel Jedzura/Shutterstock Dano causado ao meio ambiente devido à exploração comercial ou industrial de determinada área natural. As empresas passam a ter obrigações que vão desde recuperar áreas degradadas até o pagamento de multas. Além disso, assumem preservar, recuperar e proteger o meio ambiente. 1 Consumo, consumismo e meio ambiente 37 Quando se fala em resíduos sólidos urbanos, não se trata apenas de problemas ambientais, mas também de problemas sociais e econô- micos. É comum, nas grandes cidades, vermos catadores de materiais recicláveis caminhando com seus carrinhos pelas ruas. Esses trabalha- dores prestam um serviço de grande importância para as pessoas e para a natureza, pois recolhem, diariamente, toneladas de materiais recicláveis e os encaminham para empresas recicladoras. Outro problema que deve ser considerado é o aumento da popu- lação urbana que, no Brasil, constitui-se de aproximadamente 84,72% (IBGE, 2020). Embora a geração de resíduos ocorra tanto no campo como na cidade, nos centros urbanos é maior, devido à concentração de pessoas e aos hábitos de consumo. Nas cidades é comum o con- sumo de alimentos industrializados, mantimentos que utilizam grande quantidade de embalagem descartável, assim como transportes mo- vidos a combustíveis fósseis, grandes causadores de poluição do ar. Ocorre, também, o descarte de lixo em locais inapropriados, como nas ruas, nos rios e em áreas inabitadas. Isso pode acarretar infestação de animais vetores de doenças e entupimento de bueiros e galerias plu- viais, o que pode resultar em enchentes em épocas de chuvas. A geração de resíduos é um problema mundial. Há casos em que os países mais ricos exportam seu lixo para os países periféricos, acen- tuando ainda mais as desigualdades socioeconômicas. Embora se evi- dencie os seres humanos como os maiores causadores da degradação ambiental, o que se nota são ações para manter o atual nível de consu- mo, buscando novas fontesde recursos naturais. Surgiram ideias como as sacolas oxibiodegradáveis que, no primeiro momento, pareceram eficazes, mas se tornaram um engano, pois elas se desmancham em partículas que podem contaminar o solo e as águas (partes de plástico já foram encontradas por cientistas constituindo animais aquáticos). Jones (2019), ao pesquisar os problemas ambientais ocasionados pelas partículas de plástico, destaca que componentes de embalagens que podem alterar o funcionamento do sistema hormonal estão sendo encontrados nas águas. Além de fragmentos microscópicos, há aqueles cuja dimensão está na escala de nanômetros (menores que 1 milésimo de milímetro), capazes, em tese, de entrar na corrente sanguínea e atingir órgãos como fígado, rins e cérebro. [...] Além dos efeitos físicos, como a possível obstrução do trato digestivo de organismos menores, preocupam os cientistas os efeitos químicos das micropartículas 38 Educação Ambiental ingeridas ou inaladas por humanos e animais, uma vez que elas podem ser vetores de microrganismos e contaminantes, como poluentes orgânicos persistentes [...], compostos sintéticos resis- tentes à degradação no ambiente (JONES, 2019, n.p.). Mesmo com amplo acesso a informações, muitas pessoas ainda não se sensibilizaram para a urgência na mudança de hábitos nocivos ao meio ambiente. No entanto, embora a população tenha res- ponsabilidade sobre a geração e o descarte dos resíduos, é o poder público que deve fomentar ações com vistas a ga- rantir o destino correto, por meio de ações, legislações e campanhas, pois o impacto ambiental causado pela ge- ração e descarte incorreto dos resíduos domésticos e industriais é desastroso para a natureza. O ritmo de vida das pessoas, na atualidade, deixa pouco tempo para práticas como contemplar a natureza, refletir sobre os problemas sistêmicos e pensar em soluções criativas. As mudanças passam pelo consumo consciente que ocorre quando há a compreensão sobre os impactos das ações humanas. Já o consumo responsável, além da compreensão dos im- pactos, tem a intenção de minimizá-los, buscando fontes materiais al- ternativas, como reciclagem, reutilização, compras de objetos usados, encaminhamento correto dos resíduos, busca por produtos orgânicos e que utilizem menos embalagens descartáveis. No consumo respon- sável, há maior comprometimento por parte do consumidor, o qual se preocupa com a procedência do produto, desde sua fabricação até o descarte das embalagens ou do próprio produto. Os dois tipos de con- sumo se complementam, pois não basta estar cons- ciente dos problemas ambientais, é preciso responsabilidade nas ações, visando à sus- tentabilidade ambiental. O termo sustentabilidade tem sido usa- do para se referir ao meio ambiente em que todos possam usufruir das mesmas condições ambientais. Contudo, esse ter- mo pode ser mais abrangente, conside- rando todo o equilíbrio necessário dos ciclos vitais para que, na atualidade e no futuro, as pessoas possam usufruir de um ambiente saudável, myboys.me/Shutterstock dmitriylo/Shutterstock Consumo, consumismo e meio ambiente 39 além das ações que promovam a equidade social. Envolve, ainda, ques- tões econômicas, políticas, culturais e sociais. As condições para vivenciarmos a sustentabilidade ambiental passam por redução do consumo, mudanças de hábitos, sacrifícios dos desejos pessoais, políticas públicas, pesquisas, novos parâmetros para o cresci- mento econômico, novos meios e formas de produção e pela educação. Os problemas ambientais estão presentes no cotidiano das pessoas e seus efeitos degradantes atingem toda a população, em menor ou maior grau. Indagações que ampliem a reflexão e o debate são urgen- tes para que haja compreensão de que todos os seres vivos compõem a natureza, e o desequilíbrio dos ciclos naturais pode ser devastador para muitas espécies vivas. Nesse sentido, as ações devem preconizar a preservação e a conservação dos recursos naturais, a fim de garantir qualidade ambiental para as atuais e as futuras gerações e para todas as manifestações de vida do planeta. 2.3 Preservação e conservação ambientais Vídeo A sociedade contemporânea tem sido a que mais interfere nas condições ambientais, ocasionando problemas como a poluição do ar, da água e do solo. Atualmente, a Terra sustenta cerca de 7,7 bi- lhões de pessoas que precisam comer, vestir-se, morar, trabalhar e locomover-se. Para sustentar tanta gente, os recursos naturais são extraídos diariamente em todo o mundo. Nem todas as pessoas consomem de modo igual. Muitas passam dias sem acesso à água potável e a alimentos, enquanto outras consomem em excesso, pra- ticando a cultura do desperdício, da descartabilidade, do individua- lismo e do consumismo. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo 225 estabelece que “todos têm direito ao meio ambiente eco- logicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletivi- dade o dever de defendê-lo e preservá-lo” (BRASIL, 1988). Embora a lei já tenha mais de 30 anos, sua efetivação ainda não foi completa e não há consenso de que todos podem usufruir dos recursos na- turais de maneira sustentável, convivendo em harmonia com as de- mais espécies vivas. 40 Educação Ambiental À medida que a população aumenta, as intervenções nos meios na- turais se agravam fazendo surgir tensões e conflitos. Devido ao limi- te dos recursos naturais e à capacidade de regeneração da natureza, os problemas ambientais avançam exponencialmente. Esse modo de viver está exaurindo os recursos naturais, e para modificar essa reali- dade é necessário que a humanidade repense seus valores e suas con- dutas. Uma das formas para que isso ocorra se dá pela conservação e preservação ambientais. O preservacionismo e conservacionismo são correntes ambientais que surgiram no final do século XIX, nos Estados Unidos da América (JUNQUEIRA, 2016). Inicialmente, estavam pautados em posicionamen- tos contrários às atividades ambientais predatórias com vistas à prote- ção da natureza. No preservacionismo, o ser humano é o causador dos desequilí- brios ambientais e a natureza deve ser preservada de qualquer tipo de exploração. Os adeptos dessa corrente propõem a demarcação de áreas que não devem sofrer interferências humanas, nem mesmo de pesquisa, turismo ecológico e contemplação. Essas ações podem resul- tar em benefícios para o meio ambiente, pois possibilitam o equilíbrio dos ecossistemas. Desse movimento, surgiram os grandes parques nacionais de todo o mundo. No Brasil, pode-se citar os Parques Nacionais do Igua- çu, da Chapada dos Veadeiros, da Tijuca, da Chapada Diamantina, dos Lençóis Maranhenses, da Serra da Capivara, da Serra do Cipó, da Serra da Canastra, entre outros de igual importância. Nesses locais, são per- mitidas visitações, contudo, há regras rígidas que objetivam proteger a fauna e a flora, bem como as comunidades que vivem em áreas de interesse ambiental. Cataratas do Iguaçu, em Foz do Iguaçu (PR). M ar tin S t-A m an t/ W ik im ed ia C om m on s O filme O poço expõe as diferenças sociais exibindo uma prisão ver- tical, na qual as pessoas que estão nos andares superiores têm acesso primeiro aos alimentos, entregues por meio de uma plataforma, não deixando quase nada ou apenas migalhas para os que estão nos níveis inferiores. Ao assisti-lo, sugere-se refletir sobre as atitudes humanas frente à escassez de recursos e ao egoísmo, independentemente de qual posição se ocupa. Direção: Galder Gaztelu-Urrutia. Espanha; EUA: Netflix, 2020. Filme Consumo, consumismo e meio ambiente 41 Jardim de Maytrea, Chapada dos Veadeiros (GO). Ad el an o Lá za ro / W ik im ed ia C om m on s Floresta da Tijuca, Rio de Janeiro (RJ). G Fu rta do / W ik im ed ia C om m on s Vale do Pati, na Chapada Diamantina (BA). Ca rlo s Pe re z Co ut o/ W ik im ed ia Com m on s Lagoa da Gaivota, no interior dos Lençóis Maranhenses (MA). An to ni o Az ev ed o Fi lh o/ W ik im ed ia C om m on s 42 Educação Ambiental Pedra Furada, na Serra da Capivara (PI). Ar tu r W ar ch av ch ik / W ik im ed ia C om m on s Vale do Travessão, na Serra da Capivara (MG). Ra fa el R od rig ue s Ca m ar go / W ik im ed ia C om m on s Vista parcial da Serra da Canastra (MG). Fa bi an ni L ui z Ri be iro / W ik im ed ia C om m on s Consumo, consumismo e meio ambiente 43 No conservacionismo, é permitida a exploração de determinada área racionalmente, assim como o manejo de espécies. Além disso, as ações de conservação têm por objetivo restaurar áreas poluídas ou de- gradadas pelo uso inadequado do solo, extração de minérios, queima- das e eliminação de florestas. Sauvé (2005) define que essa corrente se centra na conservação dos recursos, como plantas (em especial as comestíveis e medicinais), água, solo, energia e animais, além dos patrimônios genético e construído. Para a autora, “trata-se, sobretudo, de uma natureza-recurso. Encon- tramos aqui uma preocupação com a ‘administração do meio ambien- te’, ou, melhor dizendo, de gestão ambiental” (SAUVÉ, 2005, p. 20-21). A conservação dos recursos naturais para garantir o desenvolvi- mento sustentável deve envolver os diferentes segmentos sociais nas tomadas de decisão, isso inclui a participação de jovens, indígenas, representantes da sociedade civil organizada, entidades de classe, instituições educacionais, pesquisadores, empresários e políticos. No Brasil, existe legislação específica que define a denominada unidade de conservação. No artigo 2º da Lei n. 9.985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras provi- dências, consta que se entende por: unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos am- bientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características na- turais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção; [...] conservação da natureza: o manejo do uso humano da natureza, compreendendo a preservação, a manutenção, a uti- lização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente natural, para que possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações, mantendo seu potencial de sa- tisfazer as necessidades e aspirações das gerações futuras, e ga- rantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral. (BRASIL, 2000, grifos nossos) Essa legislação é essencial para a garantia de que as áreas e os re- cursos ambientais sejam utilizados corretamente, não permitindo o uso predatório. A compreensão de que os recursos da Terra são finitos não emerge naturalmente na sociedade, é preciso que o poder público e as entidades de ciência, tecnologia e educação fortaleçam as ações 44 Educação Ambiental que buscam a conservação da natureza. As legislações, campanhas e ações devem objetivar a reciclagem, a redução do desperdício de re- cursos naturais que já foram extraídos e a destinação correta dos resí- duos, bem como o respeito e o cuidado com todos os seres vivos. el en ab sl / S hu tte rs to ck As iniciativas de preservação e conservação são importantes, cada uma à sua forma. É necessário que grandes áreas sejam destinadas so- mente à fauna e à flora, sem a intervenção humana, deixando fluírem os ciclos naturais. Por outro lado, é da natureza que os seres humanos retiram o sustento e extraem a matéria-prima para a produção de tudo que é preciso para viver, sendo necessário estabelecer limites entre o que deve ser preservado e o que deve ser conservado, de maneira a ga- rantir também às gerações futuras o acesso ao que estamos usufruin- do na atualidade. Assim, é necessário repensar os atos de consumo e realizar o descarte correto dos resíduos sólidos urbanos, para obter a harmonia e o equilíbrio tão desejados. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode-se afirmar que o consumo e o consumismo vêm influenciando de modo significativo as questões ambientais. Com o aprimoramento das técnicas de produção de bens de consumo, a disposição de mercadorias passou a ser abundante e foi preciso criar um mercado consumidor dis- posto a adquirir os mais variados produtos. Os problemas gerados pelo consumo denotam que o atual modelo de desenvolvimento, que explora os recursos naturais de maneira pre- datória, precisa ser repensado em busca do equilíbrio entre os meios de produção, a vida humana e as demais manifestações de vida. O consumo deve ser social e ambientalmente responsável, não ultrapassando os limi- tes da natureza. Consumo, consumismo e meio ambiente 45 A extração dos recursos naturais para atender ao mercado de consu- mo necessita ser repensada por meio da instituição de políticas públicas que regulem a produção e o consumo. As inovações tecnológicas e as pesquisas científicas podem colaborar para a disseminação de ideias so- bre a coletividade, a alteridade, ou seja, o reconhecimento das diferenças e da interdependência entre os seres humanos, e, também, a equidade, que pode ser compreendida como igualdade no reconhecimento dos di- reitos, buscando equalizar as trajetórias. Com o advento da internet, as possibilidades de obter informações e se comunicar aumentaram, bem como as possibilidades de consumo. As pessoas não precisam mais sair de casa para consumir, os objetos de desejo estão a apenas alguns cli- ques de distância. A responsabilidade de cada cidadão nas escolhas de consumo que in- fluenciam o comportamento dos produtores de mercadorias, assim como o respeito pelos demais seres, deve ser incentivada a fim de promover mudanças nas relações pessoais e de consumo. Faz-se necessário sen- sibilizar a humanidade para a preservação e a conservação ambientais, garantindo espaços para todos os seres vivos, uma vez que compõem a natureza, e alcançando a sustentabilidade ambiental. ATIVIDADES 1. Como as pessoas podem agir para minimizar os impactos causados pelo consumismo? 2. O que é possível fazer para reduzir a geração de resíduos sólidos urbanos, com o objetivo de extrair menos recursos da natureza e diminuir o volume encaminhado para os aterros sanitários? 3. De que forma o poder público e as entidades de ciência, tecnologia e educação podem colaborar para o fortalecimento das ações de conservação da natureza? REFERÊNCIAS AGUIAR, D. C. V.; NASCIMENTO, F. D. S. Consumo, consumismo e seus aspectos transversais: uma revisão de literatura. Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, v. 52, 2018. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/revistacfh/article/download/2178-4582.2018. e54740/40084. Acesso em: 24 abr. 2020. BAUMAN, Z. Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Trad. Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. 46 Educação Ambiental BRASIL. Constituição Federal (1988). 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Percebendo essas consequências, pessoas se sensibilizaram e se posicionaram em defesa do meio ambiente. Neste capítulo, estudaremos como os movimentos ambienta- listas buscaram e buscam chamar a atenção para os problemas ambientais ocasionados pela extração desmedida de recursos naturais, degradação, descarte indevido de resíduos, guerras, desi- gualdades sociais, pobreza e desastres ambientais. Contudo, mo- vimentos isolados ou eventuais não são suficientes para proteger a Terra das ambições humanas. Diante dessa realidade, a educa- ção ambiental se desenvolve como uma opção para sensibilizar as pessoas de que é necessário mudar as atitudes em relação aos recursos naturais. 3.1 Movimentos ambientalistas mundiais: entre as décadas de 1960 e 1970 Vídeo Devido à grande exploração dos recursos naturais e ao aumento da população humana, os problemas ambientais foram se agravando e vozes de protesto em defesa do meio ambiente ergueram-se. No final dos anos 1960 – época em que a industrialização se intensificava, as tecnologias digitais se consolidavam e os meios de comunicação passa- vam a ter maior alcance –, emergiram movimentos ambientalistas em todo o mundo, de maneira individual ou coletiva. Foi no ano de 1962 que a bióloga Rachel Carson escreveu o livro Primavera Silenciosa. Nessa obra, ela alertava sobre os perigos do uso agrícola do Dicloro-difenil-tricloroetano, popularmente conhecido como DDT, que era utilizado, também, para o combate aos mosquitos 48 Educação Ambiental da malária, tifo e febre amarela. A substância, que foi proibida no Brasil somente em 2009, pode causar câncer nos seres humanos e interferir nos ciclos naturais dos animais. Ainda hoje, são comuns anúncios de dedetização, uma alusão ao DDT, para a aplicação de inseticidas, mos- trando o quão relevante foi o uso da substância. Embora existam apoiadores do uso do DDT, devido ao seu baixo cus- to e alto rendimento, Rachel Carson demonstrou coragem ao enfrentar o poderoso mercado de defensivos agrícolas, em uma época em que a população mundial crescia e a demanda por alimentos aumentava. O crescimento populacional foi motivo de preocupação para o Clu- be de Roma, que foi organizado em 1968 por um grupo de indústrias e cientistas de países desenvolvidos, tendo como objetivo discutir temas relativos ao consumo e aos recursos naturais não renováveis. O grupo organizou um documento chamado Relatório do Clube de Roma, que apresentava a proposta de crescimento zero para a população, o que não agradou aos capitalistas, mas chamou a atenção para os proble- mas ambientais. Outro documento publicado pelo grupo foi o relatório Os limites do crescimento, elaborado por Dennis Meadows, o qual apontava que se a população mundial não parasse de aumentar, problemas como o aumento do nível de poluição e a exaustão dos recursos naturais po- deriam se tornar caóticos. É importante destacar que, até o início dos anos 1970, o imaginário social concebia o meio ambiente como fonte inesgotável de recursos e, para muitos, o ser humano ocuparia posição central no mundo. Essa forma de compreensão desencadeou a cultura de que os re- cursos naturais estão a serviço exclusivo dos seres humanos. Contudo, pessoas em todo o mundo começaram a se sensibilizar com a devas- tação ambiental e as suas consequências para o próprio ser humano. Os movimentos ainda eram modestos, mas suficientes para colocar o assunto em debate. Com o objetivo de fortalecer as ações individuais, em 1971, foi cria- da a organização sem fins lucrativos chamada Greenpeace, na cidade de Vancouver, no Canadá. A entidade não aceita doações de governos ou partidos políticos. Suas ações são pautadas na não violência,utili- zando métodos criativos para confrontos pacíficos, na tentativa de cha- mar a atenção para os problemas ambientais. História da educação ambiental 49 Até hoje, o Greenpeace é atuante e respeitado em todo o mundo, che- gando a impedir testes atômicos e caça às baleias. Em 1972, aconteceu em Esto- colmo, na Suécia, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. Os países mais desenvolvidos do mundo participaram do evento e propu- seram a criação de um programa internacional para a conservação dos recursos naturais e genéticos. Também foram abordados os efeitos nocivos das mudanças climáticas e a importância do equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e o meio ambiente. Após os debates, foram construídos documentos como a De- claração sobre o Ambiente Humano ou Declaração de Estocolmo e o Plano de Ação Mundial, os quais tiveram como objetivo orien- tar o uso dos recursos naturais, além de estabelecer princípios para o tratamento da problemática ambiental mundial que po- dem envolver direitos humanos, gestão de recursos naturais e poluição (SENADO FEDERAL, 2020). As prioridades foram as ca- tástrofes ambientais, a manutenção dos ecossistemas e o uso de substâncias tóxicas. Foi criado durante o evento o Programa das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (PNUMA), com a pretensão de monitorar os pro- blemas ambientais mundiais. É importante destacar que foi a partir desse evento que muitos países passaram a organizar seus minis- térios do meio ambiente. Além disso, com a criação da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, deu-se início às primeiras discussões referentes ao direito ambiental internacional. Para criar legislações, muitos ambientalistas se organizaram em par- tidos políticos. O primeiro Partido Verde de que se tem conhecimento surgiu na Austrália, mais precisamente na ilha da Tasmânia, quando um grupo de ecologistas se juntou para defender uma área prevista para se Arctic Sunrise é o nome do navio quebra-gelo do Greenpeace, que também é usado pela ONG para investigações e pesquisas. As campanhas de sensi- bilização e de tentativas de impedimentos de atos contra o meio ambiente se utilizam de estraté- gias publicitárias com o objetivo de fortalecer o engajamento voluntário. As imagens do Greenpea- ce misturam dimensões variadas, o real e o utópi- co, os problemas e suas causas, buscando a refle- xão de que as mudanças dependem de cada pes- soa. Na mesma linha de chamar a atenção para os problemas ambien- tais, o WWF apresenta campanhas impactantes, mesclando imagens e frases reflexivas. Nos links a seguir são mostrados exemplos dessas campa- nhas publicitárias. Disponíveis em: https://plugcitarios. com/blog/2013/08/04/15-anun- cios-do-greenpeace-que-deve- riam-mudar-o-mundo/; https://www.funverde.org.br/blog/ 17-imagens-da-wwf-que-vao-te- -fazer-refletir-sobre-o-planeta-ver- dadeiro-choque-de-realidade/. Acessos em: 19 maio 2020. Curiosidade Roberta F./Wikimedia Commons https://plugcitarios.com/blog/2013/08/04/15-anuncios-do-greenpeace-que-deveriam-mudar-o-mundo/ https://plugcitarios.com/blog/2013/08/04/15-anuncios-do-greenpeace-que-deveriam-mudar-o-mundo/ https://plugcitarios.com/blog/2013/08/04/15-anuncios-do-greenpeace-que-deveriam-mudar-o-mundo/ https://plugcitarios.com/blog/2013/08/04/15-anuncios-do-greenpeace-que-deveriam-mudar-o-mundo/ https://www.funverde.org.br/blog/17-imagens-da-wwf-que-vao-te-fazer-refletir-sobre-o-planeta-verdadeiro-choque-de-realidade/ https://www.funverde.org.br/blog/17-imagens-da-wwf-que-vao-te-fazer-refletir-sobre-o-planeta-verdadeiro-choque-de-realidade/ https://www.funverde.org.br/blog/17-imagens-da-wwf-que-vao-te-fazer-refletir-sobre-o-planeta-verdadeiro-choque-de-realidade/ https://www.funverde.org.br/blog/17-imagens-da-wwf-que-vao-te-fazer-refletir-sobre-o-planeta-verdadeiro-choque-de-realidade/ 50 Educação Ambiental tornar uma usina hidrelétrica. Inicialmente, o grupo se autodenomi- nou United Tasmanian Group. Embora as suas ações tivessem obtido grande repercussão, não conseguiram impedir a instalação da usina. No entanto, eles não desistiram de lutar pelas causas ambientais e, em 1972, o grupo passou a se chamar Green Party. Posteriormente, outros partidos verdes surgiram pelo mundo, com o propósito de defender as causas ambientais. Em decorrência da Conferência de Estocolmo, deu-se a Confe- rência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, em Tbilisi, na Geórgia, em 1977. Durante o evento, os debates referentes ao meio ambiente recomendaram a educação ambiental como necessária e fundamental para debater as questões ambientais, partindo das si- tuações locais para as globais (COLLEGE, 2005). 3.2 Movimentos ambientalistas mundiais: a partir de 1980 Vídeo As ações e debates sobre o tema foram ampliados e, em 1980, o PNUMA em conjunto com a World Wildlife Fund (WWF), elaboraram a I Estratégia Mundial para a Conservação, constituindo-se em um plano para a conservação dos recursos biológicos do planeta. Nes- se documento aparece o termo desenvolvimento sustentável para se referir a um possível equilíbrio entre desenvolvimento e meio ambiente. Embora ocorra violência contra ativistas em todo o mundo, ainda há pessoas corajosas que erguem vozes em defesa de causas ambientais e humanas. Muitas delas são mulheres jovens, como a sueca Greta Thunberg, que se destacou por sua força e liderança ao protestar sobre as mudanças climáticas e exigir de seu país a implantação de ações que possam reduzir as emissões de carbono. A jovem ativista foi aclamada em vários países e recebeu prêmios e reconhecimento por sua coragem e por evidenciar os problemas ambientais. Outra ativista que merece destaque é a indiana Vandana Shiva, a qual, por meio de sua ONG, Navdanya, defende a manutenção da biodiversidade de se- mentes, além dos direitos dos agricultores. Ela já foi homenageada por lutas e por defender a antiglobalização e pela preservação de florestas de seu país. No Brasil, temos o exemplo da militante indígena Sônia Guajajara, que defende a responsabilidade humana sobre os ecossistemas e a biodiversidade nacional e tem sido a voz da luta pelas terras indígenas, alvo de exploração pelo agronegó- cio. Acesse o link a seguir para conhecer mais essas ativistas. Disponível em: https://nossacausa.com/greta-thunberg-ativistas-ambientais/. Acesso em: 19 maio 2020. Saiba mais O texto PNUMA lista 6 fatos sobre coronavírus e meio ambiente, publicado no site da ONU, faz uma provocação sobre as ações humanas e as mu- danças ambientais que modificam a estrutura populacional da vida sel- vagem, além de reduzir a biodiversidade, tornando o ambiente favorável para a multiplicação de hospedeiros e vetores de doenças. Disponível em: https://nacoesuni- das.org/pnuma-lista-6-fatos-so- bre-coronavirus-e-meio-ambiente/ amp/. Acesso em: 19 maio 2020. Leitura Balão de ar quente da WWF no México, em 2013. Gabriel Balderas/Wikimedia Commons https://nacoesunidas.org/pnuma-lista-6-fatos-sobre-coronavirus-e-meio-ambiente/amp/ https://nacoesunidas.org/pnuma-lista-6-fatos-sobre-coronavirus-e-meio-ambiente/amp/ https://nacoesunidas.org/pnuma-lista-6-fatos-sobre-coronavirus-e-meio-ambiente/amp/ https://nacoesunidas.org/pnuma-lista-6-fatos-sobre-coronavirus-e-meio-ambiente/amp/ História da educação ambiental 51 Com o objetivo de avaliar e apresentar propostas referentes ao meio ambiente e ao desenvolvimento, em 1983, a Organiza- ção das Nações Unidas (ONU) formou a Comissão Mundial so- bre o Meio Ambiente, presidida por Gro Harlem Brundtland, a primeira-ministra da Noruega, na época. Em 1987, foi publicado o relatório Nosso Futuro Comum que ficou conhecido como Relatório Brundtland. No relatório, foi aprofundado o conceito de desenvol- vimento sustentável como uma possibilidade para garan- tir as necessidades do presente sem comprometer o futuro. “O conceito de desenvolvimento sustentável tem, é claro, limites – não limites absolutos, mas limitaçõesim- postas pelo estágio atual da tecnologia e da organização social, no tocante aos recursos ambientais” (CMMAD, 1988, p. 11). Além das questões ambientais, o relatório cha- mava a atenção para pobreza, fome, saúde e ha- bitação. À época de sua publicação, o documento foi inovador e trouxe reflexões importantes sobre potencial produtivo, ecossistema e o rápido cresci- mento da população que pressionaria a extração de recursos naturais. O desenvolvimento sustentável não é um estado perma- nente de harmonia, mas um processo de mudança no qual a exploração dos recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do desenvolvimento tecnológico e a mudança insti- tucional estão de acordo com as necessidades atuais e futu- ras. Sabemos que este não é um processo fácil, sem tropeços (CMMAD, 1988, p. 10). O Relatório Brundtland constitui-se em um importante documento, o qual, além de trazer dados importantes sobre as condições ambien- tais mundiais, evidencia a necessidade de mudanças que possibilitem equilíbrio entre produção, consumo e qualidade de vida. Em 1988, o PNUMA e a Organização Meteorológica Mundial criaram o Painel Inter- governamental para as Mudanças Climáticas (IPCC), tendo como prin- cipal objetivo gerar e fornecer informações científicas relacionadas às mudanças climáticas (ONU BRASIL, 2020). Gro Harlem Brundtland presidiu a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente entre 1983 e 1987. Ha rry W ad /W ik im ed ia C om m on s 52 Educação Ambiental O IPCC divulga relatórios de avaliação sobre as variações climáticas, nos quais apresenta evidências das causas do aumento do nível do mar pelo derretimento de neve e gelo ocasionado pelo aumento da tempe- ratura média global que, entre os anos 1880 e 2012, foi de 0,85°C (ONU BRASIL, 2020). Dadas as concentrações atuais e as emissões contínuas de gases de efeito estufa, é provável que o final deste século registre um aumento de 1 a 2°C na temperatura média global [...]. Os oceanos do mundo se aquecerão e o derretimento do gelo continuará. [...] A maioria das consequências da mudança climática persistirá por muitos séculos, mesmo se as emissões forem interrompidas (ONU BRASIL, 2020). Embora os relatórios divulgados pelo IPCC apontem para situações caóticas que podem ocorrer em pouco tempo, os problemas ambien- tais continuam se agravando devido ao aumento da população e dos processos industriais, além da exploração desenfreada dos recursos naturais, exigindo a continuidade das discussões e tomadas de deci- sões em nível mundial. Em 1992, aconteceu, na cidade do Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que oficial- mente recebeu a denominação de Cúpula da Terra, mas ficou conhe- cida como Eco 92 ou Rio 92. O evento reuniu líderes mundiais com o propósito de deliberar sobre as ações que seriam assumidas e desen- volvidas em todo o mundo. Na conferência, foram aprovados cinco acordos oficiais interna- cionais: Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; Agenda 21 e os meios para sua implementação; Convenção sobre di- versidade biológica; Convenção da desertificação; e Declaração de flo- restas. A partir desse evento, o mundo percebeu que era preciso traçar um novo caminho para a garantia de sobrevivência da humanidade e de toda a diversidade natural, buscando equilíbrio entre o desenvolvi- mento econômico, as necessidades humanas e o meio ambiente. A Agenda 21 traz como objetivos a erradicação da pobreza e a mu- dança nos padrões de produção e consumo dos recursos naturais. Além disso, inclui ações referentes a desmatamento, desertificação, po- luição da água e do ar, proteção da atmosfera, resíduos tóxicos, dívida externa dos países em desenvolvimento e direitos das mulheres, dos povos tradicionais, das crianças e dos jovens. O vídeo INPE – O futuro que queremos, publicado pelo canal Proimagem FullService, é um desenho animado que apresenta os problemas ambientais ocasionados pelas ações humanas, como o efeito estufa e as mudanças climáticas. Além disso, apresenta maneiras para mudar o mundo, preconi- zadas pela ONU. Disponível em: https://www.you- tube.com/watch?v=w0sJuhWpvrc. Acesso em: 19 maio 2020. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=w0sJuhWpvrc https://www.youtube.com/watch?v=w0sJuhWpvrc História da educação ambiental 53 Cinco anos mais tarde, foi realizado outro evento chamado de Cúpula da Terra + 5, que teve como objetivo revisar os debates e acor- dos da Eco 92, bem como a implementação da Agenda 21. Do evento, resultaram novos compromissos, como a redução das emissões de ga- ses de efeito estufa, além dos pré-requisitos para o desenvolvimento sustentável, como a erradicação da pobreza, a distribuição de renda e a produção e uso de energia. No mesmo ano ocorreu, no Japão, a VI Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, na qual foi assinado o Protocolo de Kyoto. Esse protocolo estabelece diretrizes para comprometer as nações a reduzir as emissões de gases que con- tribuem para o efeito estufa. No ano de 2002, foi realizada na África do Sul, na cidade de Joha- nesburgo, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, que ficou conhecida como Rio+10, com o objetivo de avaliar a situação do meio ambiente global. Do evento, resultaram os documentos Decla- ração Política e Plano de Implementação. Também foram analisados os resultados alcançados nos dez anos que sucederam à Eco 92 e os desafios a serem superados. Em 2012, a cidade do Rio de Janeiro sediou mais um evento, a Con- ferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, mais conhecida como Rio+20. Seu objetivo foi renovar o compromisso político firmado referente ao desenvolvimento sustentável, por meio de dois temas centrais: a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza; e a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável que, na ocasião, foi definido como “o mo- delo que prevê a integração entre economia, sociedade e meio am- biente. Em outras palavras, é a noção de que o crescimento econômico deve levar em consideração a inclusão social e a proteção ambiental” (RIO+20, 2020). Essa conferência promoveu debates sobre a implementação dos compromissos internacionais que foram assumidos pelas nações, além de compartilhar práticas e experiências referentes à proteção ambien- tal. Também estiveram em pauta segurança alimentar e nutricional, sa- neamento, energia, cidades sustentáveis, saúde, redução de riscos de desastres, mudanças climáticas, biodiversidade, florestas e educação (RIO+20, 2020). Marco Carrasco/ Wikimedia Commons Em 2015, ocorreu nos Estados Unidos da América, na cidade de Nova York, na sede da Organização das Nações Unidas, a Cúpula de Desenvolvimento Sustentável. Na ocasião foram definidos os Objeti- vos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para 2030. A Agenda 2030 contém 17 objetivos, nos quais constam 169 metas para acabar com a pobreza, articular crescimento econômico e proteção ambiental, ga- rantir educação, saúde, proteção social, trabalho, energia, superar as desigualdades, melhorar a infraestrutura e garantir o equilíbrio da bio- diversidade (ONU BRASIL, 2020). A nova agenda de desenvolvimento sustentável baseia-se no re- sultado da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável de 2002, da Cúpula de 2010 sobre os ODM, o resultado da Con- ferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentá- vel de 2012 (Rio+20) e os pontos de vista de pessoas em todo o mundo (ONU BRASIL, 2020). Entre os 17 objetivos da Agenda 2030 destacam-se: o de número seis, que busca assegurar disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos; o de número oito, o qual visa promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos; e o de número quin- ze, que objetiva proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemasterrestres, gerir de modo sustentável as florestas, com- bater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda da biodiversidade (ONU BRASIL 2020). Os ODS foram assumidos por chefes de Estado e governo, os quais se comprometeram a implementá-los e efetivá-los até 2030. As suas três dimensões – econômica, social e ambiental – guiam ações dos países que buscam cons- truir sociedades justas e inclusivas, garantindo a proteção do plane- ta. Assim, nações como o Brasil não podem deixar de proteger os recursos ambientais, possi- bilitando o desenvolvimento sustentável. É um grande de- safio que exige o compromisso de todos. Jovens com cartazes dos ODS, no Peru, em 2017. 5454 Educação AmbientalEducação Ambiental 3.3 Movimentos ambientalistas no Brasil: primeiros passos Vídeo Desde sua colonização, o Brasil é reconhecido como um país de grandes riquezas naturais, pois “conta com a maior biodiversidade do mundo; a maior extensão de floresta tropical e 12% das reservas de água doce do planeta” (BRASIL, 2020b). Até o século XIX, as riquezas naturais do país foram exploradas sem preocupação com o futuro. O passivo ambiental deixado pela exploração predatória dos recursos na- turais ainda é visível em áreas degradadas pelas atividades industriais, como a mineração. O bioma 1 brasileiro que mais sofreu com as ativi- dades humanas foi a Mata Atlântica, a qual, na atua- lidade, conta apenas com 8% de sua área original. Esse remanescente é reconhecido em todo o mundo “como uma das maiores e mais importantes flores- tas tropicais do continente sul-americano. [...] Ape- sar de toda devastação, esse bioma ainda abriga um dos mais importantes conjuntos de biodiversidade de todo o planeta” (BRASIL, 2020a, n.p.). A importância de sua preservação está na presta- ção de “serviços ambientais, principalmente relacionados à produção e à conservação de recursos hídricos” (BRASIL, 2020a, n.p.). Entende-se por bioma um conjunto de ecossistemas, entre os quais, no Brasil, destacam-se Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e os Pampas. 1 O mapa mostra a localização da Mata Atlântica. O tucano- -de-bico-preto e o muriqui-do-norte são espécies típicas das florestas desse bioma. Pa ul o B. C ha ve s/ W ik im ed ia C om m on s NA SA a nd M ig ue lra ng el jr/ W ik im ed ia C om m on s Claudiovidri/Shutterstock Ana_Cotta/Wikimedia Commons História da educação ambientalHistória da educação ambiental 5555 56 Educação Ambiental Diante do cenário de devastação que se acen- tuou no século XX, os movimentos ambientalistas, no Brasil, embora tímidos, começaram a despon- tar e a exigir legislações que preservassem e con- servassem os biomas brasileiros. É importante destacar que os primeiros ambientalistas brasilei- ros acabaram por se tornar funcionários das re- partições públicas criadas para gerir as questões ambientais. Com isso, os movimentos ambientais iniciais se mesclam com as primeiras legislações e políticas referentes aos recursos naturais. A revolução brasileira que ocorreu em 1930 disparou uma reforma política no país. Entre os mais antigos documen- tos referentes à proteção ambiental que se tem acesso está o Código das Águas, o qual foi publicado sob o Decreto n. 24.643, em 1934, e de- finiu o direito de propriedade e exploração dos recursos hídricos para serem utilizados na irrigação, navegação, abastecimento, geração de energia e indústria. Esse decreto foi um marco para o país, que estava em meio ao seu processo de industrialização e dependia da água para muitas ativida- des industriais. Quem o descumprisse receberia sansões, como o pa- gamento de multas. Art. 109. A ninguém é lícito conspurcar [poluir] ou contaminar as águas que não consome, com prejuízo de terceiros. Art. 110. Os trabalhos para a salubridade das águas serão exe- cutados à custa dos infratores, que, além da responsabilidade criminal, se houver, responderão pelas perdas e danos que cau- sarem e pelas multas que lhes forem impostas nos regulamentos administrativos (BRASIL, 1934a). No mesmo ano, foi publicado o Decreto n. 24.642, que ficou conhe- cido como o Código de Minas, definindo quais e como seriam as ativi- dades de exploração do subsolo permitidas no país. Além de exigir que se evitasse a poluição do ar e da água, objetivava a conservação das fontes de águas naturais. Art. 67. No caso em que as águas dos mananciais, dos córregos ou dos rios forem poluídas por efeito da mineração, suscitan- do reclamações dos proprietários e populações, vizinhas, o Go- verno, ouvidas as repartições competentes da Saúde Pública e outras, providenciará por instruções e medidas que forem ne- cessárias para evitar os males públicos, em vista, quanto possí- vel, as condições econômicas da lavra da mina (BRASIL, 1934b). O Parque Estadual da Graciosa, no Paraná, é uma área de proteção ambiental que faz parte da Mata Atlântica. Victor Oliveira Sartório/Wikimedia Commons Os decretos citados procuravam organizar a exploração dos recursos naturais que já apresentavam exaustão e geravam poluição. Os sítios ar- queológicos do país também sofriam com a exploração pela mineração e com a subtração indevida de peças e objetos que contam a história dos nossos antepassados. O Decreto-lei n. 25, publicado em 1937, pas- sou a organizar o Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, incluindo o patrimônio arqueológico, que passaria a estar protegido de explorações. É importante destacar que essas explorações podem ocorrer pela inicia- tiva privada e por obras públicas, como a abertura de estradas. As terras indígenas também sofreram com a implantação de rodo- vias e ferrovias, com atividades agropecuárias e com as consequências da poluição da água. As lutas dos movimentos indígenas foram e ainda são intensas devido à desvalorização que há em relação aos povos tra- dicionais e seus modos de vida. No Brasil, há diversos movimentos que lutam pelos direitos indígenas, tendo em vista que: até os anos 1970, a demarcação das terras indígenas, ampara- da na Lei 6001/73 (Estatuto do Índio) pautava-se pelo modelo da sociedade dominante, qual seja, a moradia fixa associada exclu- sivamente ao trabalho agrícola, desconsiderando que a subsis- tência de vários povos baseia-se na caça, na pesca e na coleta, atividades que exigem extensões mais amplas que o contorno imediato das aldeias (FUNAI, 2020). Devido às inúmeras tribos indígenas e suas diferentes línguas, mui- tos foram os movimentos para proteger suas terras e culturas. Com o objetivo de unificar as lutas, foi criada a Articulação dos Povos Indí- genas do Brasil (APIB). Entre as suas principais causas se destacam a demarcação, a desintrusão e a proteção das terras indígenas. O texto Ruas vazias e freio na poluição: meio ambiente se beneficia com expansão do coronavírus, de Renato Grandelle, faz uma avaliação sobre os efeitos positivos para o meio ambiente que estão ocorrendo devido ao iso- lamento social. Com me- nos pessoas circulando e consumindo, as emissões de gases resultantes da queima de combustíveis das indústrias e dos auto- móveis foram reduzidas, tornando possível visuali- zar, por meio de imagens divulgadas pela NASA, a diminuição dos gases poluentes na atmosfera. Disponível em: https://oglobo. globo.com/sociedade/coronavirus/ ruas-vazias-freio-na-poluicao- -meio-ambiente-se-beneficia- -com-expansao-do-coronavi- rus-24324162. Acesso em: 19 maio 2020. Leitura desintrusão: retirada de ocupantes não indígenas. Glossário Valter Campanato/ABr/Wikimedia Commons Indígenas das tribos Bororo, Ricbacta, Tapirapé e Assurini do Xingu. Agência Brasil/Wikimedia Commons Agência Brasil/Wikimedia Commons Agência Brasil/Wikimedia Commons Va lte r C am pa na to /A Br /W ik im ed ia C om m on s História da educação ambientalHistória da educação ambiental 5757 https://oglobo.globo.com/sociedade/coronavirus/ruas-vazias-freio-na-poluicao-meio-ambiente-se-beneficia-com-expansao-do-coronavirus-24324162https://oglobo.globo.com/sociedade/coronavirus/ruas-vazias-freio-na-poluicao-meio-ambiente-se-beneficia-com-expansao-do-coronavirus-24324162 https://oglobo.globo.com/sociedade/coronavirus/ruas-vazias-freio-na-poluicao-meio-ambiente-se-beneficia-com-expansao-do-coronavirus-24324162 https://oglobo.globo.com/sociedade/coronavirus/ruas-vazias-freio-na-poluicao-meio-ambiente-se-beneficia-com-expansao-do-coronavirus-24324162 https://oglobo.globo.com/sociedade/coronavirus/ruas-vazias-freio-na-poluicao-meio-ambiente-se-beneficia-com-expansao-do-coronavirus-24324162 https://oglobo.globo.com/sociedade/coronavirus/ruas-vazias-freio-na-poluicao-meio-ambiente-se-beneficia-com-expansao-do-coronavirus-24324162 Em 1958, foi criada a Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza. Segundo Franco e Drummond (2009, p. 63), a entidade foi uma das mais influentes na luta pela conservação ambiental no país e “representou um esforço para enfrentar, organizadamente, os apelos desenvolvimentistas do governo do presidente Juscelino Kubitschek”. Seus integrantes tinham receio de que o desenvolvimentismo pregado pelo presidente, de crescer 50 anos em 5, ameaçasse o uso racional dos recursos naturais. As lutas da entidade concentraram-se na funda- ção de parques nacionais e na garantia de equilíbrio da biodiversidade nas áreas conservadas. 3.4 Movimentos ambientalistas no Brasil: a partir de 1960 Vídeo O ambientalismo, no Brasil, fortaleceu-se na década de 1960, quan- do um grande parque industrial foi implantado no país, momento em que o desenvolvimento estava baseado no industrialismo. Várias in- dústrias multinacionais começaram a ingressar no país, criando pro- blemas ambientais, uma vez que objetivavam obter lucros e explorar os recursos naturais. Diante da exploração desmedida que ocorria, foi divulgado, em 1964, o Estatuto da Terra, sob a Lei n. 4.504, que definiu a função social da ter- ra, exigindo a conservação dos recursos naturais e racionalizando a ativi- dade agropecuária. Um ano depois, o Código Florestal (Lei n. 4.771/1965) reconheceu as florestas e outras formas de vegetação como bens públi- cos e estabeleceu critérios para sua preservação permanente e para a demarcação de parques e reservas biológicas. Além disso a refe- rida lei criou áreas de preservação ambiental 1 . Na década de 1970, a WWF entra com suas ações no país. Tem início, também, a Associação Gaúcha de Proteção ao Meio Ambiente, a Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza e a União Mundial para a Conservação, além da pu- blicação do Manifesto Ecológico Brasileiro. No ano de 1971, foi criado, na cidade do Rio de Janeiro, o Programa de Conservação do mico-leão-dourado, auxiliando, mais tarde, nos anos 1980, a reconhecida Fundação Projeto Tamar. Extensa área natural reservada para proteção e conservação da fauna e flora, além das comunidades e ecossistemas regionais, sendo permitidas atividades humanas que não causem impactos ambientais ou que causem o mínimo possível. 1 O mico-leão-dourado pode ser visto atualmente na Reserva Biológica Poço das Antas e na Reserva Biológica União, ambas no estado do Rio de Janeiro. Jeroen Frans en /W iki m ed ia Co mmons 5858 Educação AmbientalEducação Ambiental História da educação ambiental 59 Essa fundação, em parceria com universi- dades nacionais e do exterior e com empre- sas, desenvolve pesquisas e projetos sobre proteção e manejo de espécies de tartarugas marinhas encontradas no Brasil. São estabe- lecidas “ações prioritárias para a conserva- ção e pesquisa das tartarugas marinhas no Brasil, criando diretrizes capazes de otimizar o trabalho em rede com colaboradores diver- sos” (TAMAR, 2020). As ações buscam neutra- lizar ou eliminar qualquer tipo de ameaça contra as tartarugas marinhas. Com o objetivo de institucionalizar e centralizar as ações referentes ao meio ambiente, em 1973, foi criada a Secretaria Especial do Meio Ambiente, vinculada ao Ministério do Interior, que, em 1975, adotou o Sistema de Licenciamento de Atividades Poluidoras e tornou público o Decreto-Lei n. 1.413, que controla a emissão de poluentes no país. A partir da década de 1980, as legislações brasileiras referentes às questões ambientais avançaram nos temas de zoneamento industrial, estações ecológicas, áreas de proteção ambiental, estudo de impacto ambiental, gerenciamento costeiro e agrotóxicos. Em 1981, foi publicada a Lei n. 6.902, que regulamentou a criação de Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental, e a Política Na- cional do Meio Ambiente, sob a Lei Federal n. 6.938, inserindo o meio ambiente na legislação brasileira como mundo natural, conjunto de condições, leis, influências e interações física, química e biológica. Além disso, dispôs sobre desenvolvimento econômico e preservação am- biental e criou o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). Nesse mesmo ano, foi instituído o Conselho Nacional do Meio Am- biente (Conama) como órgão consultivo e deliberativo do Sisnama. O Conama estabelece normas e critérios de licenciamentos de atividades poluidoras, além de normas e padrões para o controle da poluição causada por automóveis, aviões e embarcações. Até o ano de 2019, o Conama já havia publicado 493 resoluções. A Fundação SOS Mata Atlântica foi criada em 1986 para defender o que ainda restava da Mata Atlântica do Brasil. Sua proposta era a con- servação ambiental da mata, por meio de educação, profissionalização, Tartaruga marinha, em um tanque de pesquisa do Projeto Tamar. Ce ls o M ar gr af /S hu tte rs to ck 60 Educação Ambiental políticas públicas, uso de tecnologias e formação de uma rede para consolidar o movimento socioam- biental brasileiro. Ao longo de sua trajetória, a fundação lançou campanhas como “Estão tirando o verde da nossa Terra”, “Despoluição do Tietê”, “Mata Atlântica: vote para proteger” e “A mata é a nossa casa”. Atualmen- te, a fundação apoia as políticas públicas de con- servação da Mata Atlântica e o desenvolvimento de estudos, projetos e monitoramento do referido bio- ma (SOS MATA ATLÂNTICA, 2020). Além das iniciativas da sociedade civil organizada, há também aquelas desenvolvidas por ativistas individuais, como o seringuei- ro Chico Mendes, que, entre os anos 1975 e 1988, defendeu a conservação dos seringais da Amazônia e a criação de reservas extrativistas em que os seringueiros poderiam explorar as plan- tas de maneira sustentável. O ambientalista, que recebeu o prêmio Global 500 da ONU, foi assassinado em 1988, a mando de fazendeiros que não con- cordavam com sua luta. É importante destacar que o Bra- sil ocupa o primeiro lugar, no mundo, no ranking dos países mais letais para ativistas ambientais, ou seja, é o país que mais mata os defensores do meio ambien- te, segundo a ONG britânica Global Witness (O BRASIL..., 2018). No ano de 2017, entre as vítimas estavam: líderes locais, encarregados de proteger a flora e a fauna selva- gens, ou “pessoas comuns”, que defendem suas terras. O agro- negócio foi o setor mais perigoso, ultrapassando a mineração pela primeira vez, com 46 defensores mortos protestando contra a maneira como os bens que consumimos estão sendo produzi- dos. A oposição a operações de mineração e petróleo deixou 40 mortos, a luta contra a caça ilegal e a extração de madeira teve 23 ativistas mortos cada. (O BRASIL..., 2020). Embora as mortes de Chico Mendes e de tantos outros tenham se tornado emblemáticas, não foram suficientes para que outros ativistas deixassem de ser assassinados, como aconteceu com a irmã Dorothy Mae Stang, morta, em 2005, por defender o uso sustentável da terra. Chama a atenção nos dois casos o fato de terem ocorrido em regiões Logotipo feito com materiais recicláveis. Chico Mendes em 1988. Rcandre/ Wikimedia Commons Miranda Smith/ Wikimedia Commons Ag ên ci a Br as il/ W ik im ed ia C om m on s de floresta amazônica e ambos terem suas lutas reconhecidas e pre- miadas. Ainda na mesma região,a ativista quilombola Maria do So- corro Silva segue sua luta contra o racismo e a destruição ambiental causada na maior refinaria de alumínio no Pará. A ativista contabiliza ameaças e tentativas de intimidações, além de mortes de companhei- ros de luta (WATTS, 2018). Quase 20 anos após a morte de Chico Mendes, em reconhecimento ao ativista, o governo federal criou o Instituto Chico Mendes de Conser- vação da Biodiversidade, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente. O instituto executa programas de pesquisa, proteção, preservação e conservação da biodiversidade (ICMBIO, 2020). O país seguiu as tendências mundiais em defesa das questões eco- lógicas e passou a ter seu Partido Verde, criado na década de 1980. Inicialmente, sua bandeira era o impedimento da instalação de usinas nucleares no país. Com o passar dos anos, sua ideologia voltou-se, tam- bém, para temas que divergiam do conservadorismo brasileiro, como racismo e homofobia. Com a reabertura política no Brasil, em que o país abandona o re- gime militar ditatorial e retoma a democracia, os movimentos ambien- talistas se intensificam e se fortalecem. Esse período coincide com a ampliação da agenda ambientalista internacional. Em 1989, o Conama instituiu o Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas para formar um banco de dados referentes às entidades não governamentais de defesa ao meio ambiente. As entidades cadastradas podem ser convi- dadas a participar de projetos e convênios com o governo federal. No início dos anos 1990, o Greenpeace iniciou suas atividades no Brasil. Suas ações se concentraram em campanhas para que o país não recebesse lixo radioativo vindo de usinas nucleares de outros paí- ses. A organização também participou de campanhas contra a explora- ção ilegal de madeira da Floresta Amazônica. Esses acontecimen- tos foram simultâneos à Rio 92, em que foi utilizada, pela pri- meira vez, a internet em um evento no país. Protesto do Greenpeace, em Brasília. História da educação ambientalHistória da educação ambiental 6161 Para garantir segurança às autoridades que chegavam ao Brasil para participar da Conferência, tanques de guerra foram colocados nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, além do bloqueio de vias. Tudo isso para proteger personalidades como Fidel Castro, Dalai Lama, George Bush, Jane Fonda e Al Gore. Havia um segundo evento paralelo acon- tecendo. Ativistas se organizaram nos espaços fora do Riocentro para protestar contra a exploração predatória do meio ambiente. Vinte anos mais tarde, o Brasil voltou a sediar uma conferência in- ternacional sobre desenvolvimento sustentável, a Rio+20. Além dos re- presentantes da sociedade civil, estiveram presentes 193 delegações de todo o mundo. O Brasil, que presidiu o evento, organizou uma Co- missão Nacional para a Rio+20, a qual buscou o diálogo com a socie- dade para construir um consenso sobre a posição brasileira durante a conferência. Na ocasião, foi definida como economia verde a aplicação de políticas e programas para o fortalecimento do desenvolvimento sustentável nos âmbitos econômico, social e ambiental, bem como para a redução das desigualdades. As nações assumiram compromissos como a erradicação da po- breza extrema, e muitos aderiram aos ODS. Também foi lançado, no evento, o Fórum Político de Alto Nível sobre Desenvolvimento Susten- tável. Diferentemente da Rio 92, a Rio+20 não se configurou como uma conferência legislativa, ou seja, não era a intenção deixar como legado documentos para a promoção do desenvolvimento sustentável, mas promover o debate (RIO+20, 2020). O grande resultado da Rio+20 foi a reafirmação dos princípios esta- belecidos na Rio 92 e em outras conferências realizadas nos últimos 50 anos. Outro legado do evento foi o desenvolvimento sustentável como Líderes mundiais na foto oficial da Rio + 20, em 2012. Roberto Stuckert Filho/ Wikimedia Commons 6262 Educação AmbientalEducação Ambiental História da educação ambiental 63 objetivo final da comunidade internacional, tendo como foco a eco- nomia verde. O Brasil, assim como outras nações, tinha a aspiração de formatar um conjunto de indicadores e metas que permitissem o desenvolvimento sustentável. Contudo, o que se conseguiu foi ado- tar os ODS a partir de 2015. Pode-se dizer que o maior legado da Rio+20 foi provocar a reflexão sobre o atual modelo de desenvolvi- mento (RIO+20, 2020). Os movimentos ambientalistas, nacionais e internacionais, são de extrema importância para a defesa do meio ambiente. Por meio deles, a sociedade tem a oportunidade de acessar pesquisas, movimentos in- ternacionais, debates e reflexões. Contudo, essas movimentações são eventuais e exigem amplos esforços e investimentos para acontecer. Em seus intervalos, a temática ambiental não pode ficar adormecida aguardando pelo próximo evento. Nesse sentido, a educação ambien- tal se apresenta como uma possibilidade para manter debates, refle- xões e proposições de ações de proteção ambiental, podendo atingir os vários segmentos sociais e promover mudanças de curto, médio e longo prazo. 3.5 Início da educação ambiental Vídeo A educação ambiental é um campo teórico que se constrói e se reconstrói à medida que o planeta demonstra seus limites. Diante da crise socioambiental que se apresenta, surgem novas inquietações e a necessidade de desenvolver teorias que explicam a problemática ambiental, promovendo o debate, a reflexão, a sensibilização e a pro- dução e disseminação de novos conhecimentos. Os eventos, as políticas, as instituições educacionais e de pes- quisas, os movimentos sociais e as iniciativas pessoais contribuíram para a construção da educação ambiental, a qual transita pelos vá- rios segmentos sociais e pelas diferentes áreas do conhecimento, buscando contribuir para a minimização dos problemas ambientais, colaborando para a qualidade de vida humana e não humana. Galli (2009), ao estudar a história da educação ambiental, observa que o ser humano possui uma grande capacidade para reagir diante das adversidades, o que fortalece as possibilidades de agir ante aos pro- blemas ambientais. 64 Educação Ambiental Nesta conjuntura, a educação ambiental pode ser capaz de rea- lizar o resgate de valores éticos precípuos que sirvam de base para a formação de pessoas mais conscientes da sua condição de parte integrante do meio, cujas atitudes se reflitam positi- vamente no meio ambiente, que é indivisível, pessoas que, em decorrência disso, têm direitos e responsabilidades para com a natureza e todos os seus ecossistemas, os quais lhes permitem a existência (GALLI, 2009, p. 19). Buscando sintonia entre os problemas ambientais e as possibili- dades de minimizá-los, o termo educação ambiental foi cunhado pela primeira vez, ao que se tem registro, no Encontro de Paris, em 1948. Entretanto, foi na Conferência de Estocolmo que se inseriu o uso do termo na agenda internacional de defesa do meio ambiente. No ano de 1975, foi lançado o Programa Internacional de Educação Ambiental, definindo princípios e orientações que serviram como diretrizes para ações no futuro. Durante a Conferência Intergovernamental sobre Educação Am- biental em Tbilisi, na Georgia, discutiram-se e foram definidos princí- pios, estratégias, objetivos, funções, características e recomendações para a educação ambiental que, na ocasião, foi compreendida como transformadora ao possibilitar a aquisição de conhecimentos. Da con- ferência resultou a consolidação do Programa Internacional de Educa- ção Ambiental da Unesco. Em Belgrado, foi estabelecido um Programa Mundial de Educação Ambiental. O Brasil acompanhou as tendências mundiais e, na década de 1970, já dava seus primeiros passos na definição da educação ambiental nacional. Inicialmente, os movimentos conservacionistas lideraram o processo, o que fazia sentido para aquele momento político e econô- mico do país, em que a natureza era vista como fonte de recursos. No ano de 1973, no Brasil, foram dados os primeirospassos rumo à educação ambiental, por meio da criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema). Em 1981, o governo federal estabeleceu, no âmbito legislativo, a inclusão da educação ambiental em todos os níveis de ensino, por meio da Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), sob a Lei n. 6.938 (BRASIL, 2014). No ano de 1988, a educação ambiental recebeu um capítulo específico na Constituição Federal, que dispõe o seguinte: 65 Chinnapong/Shutterstock Capítulo VI Do Meio Ambiente Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equi- librado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: [...] VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensi- no e a conscientização pública para a preservação do meio am- biente (BRASIL, 1988, grifos do original). Durante a Rio 92, foi publicado o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, que foi or- ganizado pela sociedade civil. O documento estabeleceu os princípios fundamentais da educação ambiental para o fortalecimento de socie- dades sustentáveis, por meio da criticidade, coletividade e solidarieda- de, prevendo ações interdisciplinares e multidisciplinares. Além disso, resultou da conferência a Carta da Terra e a Agenda 21 que funciona como um plano de ação global. A Agenda 21 reforça: a atribuição de poder aos grupos comunitários por meio do princípio da delegação de autoridade, assim como o estímulo à criação de organizações indígenas com base na comunidade, de organizações privadas de voluntários e de outras formas de en- tidades não governamentais, capazes de contribuir para a redu- ção da pobreza e melhoria da qualidade de vida das famílias de baixa renda (BRASIL, 2014, p. 16). A Carta da Terra é uma declaração de responsabilidade da socieda- de com o planeta e busca a sensibilização para o desenvolvimento de uma sociedade sustentável global, respeitando a natureza, os direitos humanos universais e instaurando a cultura de paz. A carta chama a atenção para a preservação da biosfera de maneira saudável, respei- tando todos os sistemas ecológicos. “O meio ambiente global com seus recursos finitos é uma preocupação comum de todas as pessoas. A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagra- do” (A CARTA..., 1992). História da educação ambiental 66 Educação Ambiental Durante a Conferência Rio 92 e, após os debates, foi escrita a Carta Brasileira para a Educação Ambiental que foi reconhecida como um instrumento viabilizador para a sustentabilidade. Ainda naquele mes- mo ano, o Ministério da Educação promoveu o I Encontro Nacional de Centros de Educação Ambiental, para debater propostas pedagógicas para a Educação Ambiental (BRASIL, 2014). Em 1993, o Ministério da Educação criou a Coordenação-Geral de Educação Ambiental, que tinha como objetivo instituir a política de Edu- cação Ambiental do Sistema Nacional de Meio Ambiente. O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente formou Núcleos de Educação Ambiental, nos estados, para fomentar processos educativos de gestão ambiental (BRASIL, 2014). O Programa Nacional de Educação Ambiental (Pronea) foi criado em 1994, com a incumbência de capacitar gestores e educadores, de- senvolver ações educativas, bem como instrumentos e metodologias (BRASIL, 2014). Além disso, o Pronea determina diretrizes para as políti- cas públicas que envolvam vários segmentos da sociedade e esferas de governo para a educação ambiental. Em 1997 aconteceu, na Grécia, a Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente e Sociedade: educação e consciência pública para a sustentabilidade, na qual os conceitos debatidos durante a Rio 92 fo- ram aprofundados, devido ao consenso de que o desenvolvimento da educação ambiental havia sido insuficiente, cobrando da sociedade e das nações atuações referentes à sustentabilidade, identidade cultural e diversidade, mobilização e participação. No mesmo ano, o Ministério da Educação lançou os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), como subsídio para os profissionais da educação abordarem temas como meio ambiente, ética, pluralidade cultural, orientação sexual, trabalho e consumo, além de procedimen- tos, atitudes e valores no convívio escolar. Os PCNs tornaram-se um marco para o tratamento de temas que, antes, não encontravam espa- ço no currículo escolar. A Lei Federal n. 9.795/1999 instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental e a tornou obrigatória em todos os níveis de ensino formal da educação brasileira. Nessa lei, a educação ambiental ficou defini- da como “processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade No link a seguir, pode-se baixar um vídeo que faz um convite à reflexão sobre o mundo que queremos, as mudanças necessárias para um mundo mais justo e sus- tentável, o qual respeite os direitos humanos e as liberdades fundamen- tais. Além disso, chama a atenção para que as ações de consumo e os estilos de vida sejam mais sustentáveis, respeitando os limites da natureza, as culturas dos povos e a democracia. Disponível em: https://www.mma. gov.br/responsabilidade-socioam- biental/agenda-21/carta-da-terra. html. Acesso em: 20 maio 2020. Vídeo https://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21/carta-da-terra.html https://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21/carta-da-terra.html https://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21/carta-da-terra.html https://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21/carta-da-terra.html História da educação ambiental 67 Ienetstan/Shutterstock constroem valores sociais, conhecimentos, habi- lidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade” (BRASIL, 1999). Além disso, foram definidos princípios, objetivos e di- retrizes para a educação ambiental no país. Com o intuito de colaborar para que as populações desenvolvessem atitudes, ha- bilidades e conhecimentos para a tomada de decisões referentes ao meio ambiente, a década de 2005 a 2014 foi declarada como a Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável. O período foi importante para a educação am- biental, que passou a ter maior projeção no cenário internacional, sendo reconhecida como aliada ao enfrentamento dos problemas ambientais. As políticas também foram potencializadas, assim como os programas e ações educativas voltados para o meio ambiente. A educação ambiental foi se desenvolvendo ao longo dos movi- mentos ambientalistas, das legislações e dos acontecimentos so- cioambientais. Embora, na atualidade, existam muitas teorias sobre a educação ambiental, é na prática, no cotidiano das ações, que ela é moldada e ganha contornos para se adequar aos vários segmentos sociais, às atividades políticas e econômicas, à educação formal e aos espaços de lazer e de cultura. A formalização do tratamento das ques- tões ambientais permitiu uma nova visão sobre o meio ambiente, le- vando o sujeito a ser um agente transformador do meio em que vive. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como vimos, a trajetória dos movimentos ambientais caminha com eventos, desastres ecológicos, disputas e legislações. Em meio a isso, es- pecialistas de todo o mundo perceberam que, para além de chamar a atenção para os problemas ambientais, seria necessário desenvolver me- canismos formais e abrangentes para buscar o tão almejado desenvolvi- mento sustentável. 68 Educação Ambiental Os movimentos ambientalistas, que ocorreram no Brasil e no Mundo, co- laboraram para a definição de políticas e estratégias de defesa do meio am- biente. A agenda ambiental global permitiu colocar os problemas ambientais em debate, chamando todos para a reflexão e paramudanças de hábitos. A educação ambiental, nesse sentido, consolidou-se como aliada para a inserção da temática ambiental na complexidade social, uma vez que permite diferentes e variadas abordagens no enfrentamento da ques- tão ambiental, ultrapassando as barreiras do preservacionismo e do conservacionismo. Aderir à educação ambiental pode transformar as pessoas e, conse- quentemente, o meio em que vivem, mesmo diante da multiplicidade de acontecimentos que se instalam no cotidiano, no qual as condições na- turais seriam responsáveis pelas ações humanas. A educação ambiental deve ser considerada um instrumento facilitador para multiplicação de informações, experiências, lutas, políticas públicas e ações que colaborem para a materialização do desenvolvimento sustentável. A compreensão e a colaboração para a mudança deve partir de cada um, em simples atitu- des que, certamente, poderão fazer a diferença para melhorar a qualida- de de vida no planeta. Assim, a educação ambiental – pautada nos direitos humanos, na cul- tura de paz, no respeito à diversidade e a todas as manifestações de vida, no combate à pobreza, no empoderamento das mulheres e das minorias e no desenvolvimento sustentável – pode se consolidar com um meio para modificar os comportamentos das pessoas frente ao meio ambiente do qual fazem parte. É dever de todos agir e reagir sobre os problemas am- bientais, responsabilizando-se e sentindo-se parte do projeto societário de mudanças necessárias, que garantam qualidade de vida para a atual e para as futuras gerações, assim como o tão almejado equilíbrio ambiental. ATIVIDADES 1. Os movimentos ambientalistas que ocorreram no mundo demonstraram potencialidades e fragilidades da sociedade para resolver os problemas ambientais. Discorra sobre como a sociedade civil organizada pode colaborar para mitigar os impactos ambientais causados pela humanidade. 2. Ao estudar sobre as legislações ambientais do início do século XIX, no Brasil, observa-se que a visão conservacionista predomina. Argumente sobre como as legislações impactam a exploração dos recursos naturais. História da educação ambiental 69 3. A educação ambiental se apresenta como uma possibilidade para a implantação de mudanças na concepção de que a natureza é apenas fornecedora de recursos para os seres humanos. Reflita e registre como a educação ambiental pode colaborar para formar cidadãos críticos no que diz respeito ao meio ambiente. REFERÊNCIAS A CARTA da Terra. 1992. Disponível em: https://www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_ arquivos/carta_terra.pdf. Acesso em: 20 maio 2020. BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao. htm. Acesso em: 20 maio 2020. BRASIL. Decreto n. 24.643, de 10 de julho de 1934. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 10 jul. 1934a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/ D24643.htm. Acesso em: 20 maio 2020. BRASIL. Decreto n. 24.642, de 10 de julho de 1934. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 19 jul. 1934b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto/1930-1949/D24642.htm. Acesso em: 20 maio 2020. BRASIL. Educação Ambiental: por um Brasil sustentável. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Educação, 2014. BRASIL. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 18 abr. 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9795. htm. Acesso em: 4 maio 2020. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, 2020a. Mata Atlântica. Disponível em: https://www. mma.gov.br/informmmoxa/item/825-mata-atlantica. Acesso em: 20 maio 2020. BRASIL. Ministério das Relações Exteriores, 2020b. O Brasil e o meio ambiente. 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Outro assunto que abordaremos são as principais legislações ambientais brasileiras, que são amplas devido à diversidade e à dimensão do território na- cional, mas buscam equilibrar crescimento econômico e conserva- ção ambiental para alcançar o desenvolvimento sustentável. Além das legislações ambientais, serão discutidas as leis especí- ficas da educação ambiental e seus objetivos, mostrando a impor- tância do trabalho efetivo na educação formal e não formal. Para finalizar, serão apresentadas as principais correntes epistemológi- cas da educação ambiental, que se construíram a partir do processo de reflexão sobre as ações e reações humanas, e do reconhecimen- to de sua indissociabilidade da natureza. As correntes demonstram que os elementos da natureza estão interligados em uma relação de interdependência, demonstrando que a responsabilidade pelos problemas ambientais é de todos os segmentos da sociedade. 4.1 Marcos legais ambientais internacionais Vídeo A problemática ambiental resultou em eventos e acordos institu- cionais e internacionais que normatizaram ações que dizem respeito ao meio ambiente. O direito ambiental internacional emerge dessas discussões e de debates em universidades, cortes, fóruns, câmaras, congressos, entretantos outros espaços propícios para construir e em- 72 Educação Ambiental Spiff~enwiki/W ikimedia Com mon s basar legislações que venham a colaborar com a preservação e a con- servação da natureza e seus recursos. Os tratados e convenções internacionais referentes ao meio ambien- te destacam-se a partir da década de 1940 e se fortalecem, principal- mente, entre as décadas de 1970 e 1990, momento em que as relações consumistas se expandem e os problemas ambientais se aprofundam. As matérias das legislações ambientais internacionais, em geral, constituem-se de: mudanças climáticas; poluição; desmatamento; de- sertificação; extinção de espécies; produção e disposição de resíduos; biodiversidade; biopirataria; água, energia e armas nucleares; educa- ção ambiental; extinção da fome no mundo; e catástrofes e acidentes ambientais. As pesquisas e os conhecimentos científicos são levados em consideração na definição dos direitos ambientais, mas deve-se ponderar a interposição e influência da política, da economia, dos inte- resses privados e da hegemonia de algumas nações. As organizações internacionais e intergovernamentais contribuem para a formulação das legislações e movimentam-se para que sejam cumpridas, aplicando sanções internacionais no caso de descumpri- mento. Entre essas organizações, podemos citar a Organização das Nações Unidas (ONU), que desempenha importante papel na garantia e defesa de direitos. Os programas da ONU exercem bas- tante influência na área ambiental. O Programa das Nações Unidas para o Meio Am- biente (PNUMA), por exemplo, tem o objetivo de intermediar as ações internacionais referentes ao meio ambiente e intervém em três domínios: “avalia- ção do meio ambiente (avaliação, análise, pesquisas); gestão de meio ambiente (objetivos, consultas e acor- dos internacionais) e medidas de sustentação (educa- ção e formação profissional, informação, organização)” (SILVA, 2002, p. 69). No Brasil, o PNUMA difunde informações referentes aos acor- dos ambientais, programas, metodologias e conhecimentos com o objetivo de promover participação e contribuição de especialistas e instituições brasileiras em fóruns e ações internacionais (ONU BRASIL, 2020). Essa promoção da participação em eventos é importante, pois hegemonia: supremacia ou influência preponderante exerci- da por uma nação em relação a outras julgadas inferiores. Glossário Emblema da ONU. Políticas de educação ambiental 73 eles têm grande potencial para a inserção de normas para o uso dos recursos naturais mundiais, como a Declaração de Estocolmo, que es- tabeleceu princípios para o direito ambiental internacional, dentre os quais se destacam: Princípio 1 - O homem tem o direito fundamental à liberdade, igualdade e adequadas condições de vida, num meio ambien- te cuja qualidade permita uma vida de dignidade e bem-estar, e tem a solene responsabilidade de proteger e melhorar o meio ambiente, para a presente e as futuras gerações. [...] Princípio 21 - Os Estados têm, de acordo com a Carta das Nações Unidas e os princípios do direito internacional, o direito sobera- no de explorar seus próprios recursos, conforme suas próprias políticas relativas ao meio ambiente, e a responsabilidade de as- segurar que tais atividades exercidas dentro de sua jurisdição, não causem danos ao meio ambiente de outros Estados ou a áreas fora dos limites da jurisdição nacional. [...] Princípio 22 - Os Estados cooperarão para progressivamente desenvolver o direito internacional, relativamente a responsa- bilidade e reparação às vítimas da poluição e outros danos am- bientais, causados por atividades geradas dentro das áreas de jurisdição ou controle de tais Estados, a áreas fora da jurisdição deles. (ONU BRASIL, 2020) Quando foi criada a Organização das Nações Uni- das para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), seu objetivo era buscar formas de garantir a paz e a se- gurança, democratizando o acesso à educação, ciência, cultura e cooperação entre as nações, além de auxiliar os Estados-membros a buscar soluções para os proble- mas mundiais. Com o passar dos anos, a organização incluiu em suas ações o desenvolvimento de progra- mas internacionais, nos quais envolve avaliação, ad- ministração e proteção dos recursos naturais, além do fortalecimento das pesquisas científicas referentes a alternativas sustentáveis de desenvolvimento. Jardim da Paz, na sede da Unesco em Paris. Esse jardim foi doado pelo governo do Japão. Foi projetado pelo escultor americano-japonês Isamu Noguchi, em 1958, e instalado pelo jardineiro japonês Toemon Sano. M ich el Ra va ss ar d/ W iki m ed ia Co m m on s A organização tem forte influência nas tomadas de decisões mundiais e auxilia a formulação de políticas públicas. Na atualida- de, a Unesco propõe ações que envolvem educação, ciências sociais, humanas e naturais “capazes de induzir a transformação social, a conservação ambiental e o desenvolvimento sustentável, [...] e con- solidação de Reservas da Biosfera e Sítios do Patrimônio Mundiais” (ONU BRASIL, 2020). Durante os grandes eventos mundiais, a ONU lança a denomina- da convenção-quadro, que é um tratado internacional com objetivos específicos a depender de seu tema. A Convenção-Quadro das Na- ções Unidas sobre Mudanças Climáticas (CQNUMC), conhecida como Convenção do Clima, lançada durante a Rio 92, tem entre suas atri- buições estabilizar as emissões e concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera para assegurar que a produção de alimentos não seja afetada. Ela se baseia em dados gerados pelo Painel In- tergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) para definir os compromissos e as obrigações para as nações. Da Convenção do Clima resultou a elaboração do Protocolo de Quioto, que fixou normas para a redução de gases de efeito estu- fa, além de metas a serem atingidas pelos países signatários. Esse tratado foi aberto para assinaturas em 11 de dezembro de 1997 e, para entrar em vigor, precisou ser ratificado 1 por 55 nações, repre- sentando pelo menos 55% das emissões de gases que provocam o efeito estufa. Ta kv er /W ik im ed ia C om m on s Foto organizada pelo Greenpeace durante a CQNUMC, em 2016. Ao lado das bandeiras, na entrada, há uma faixa gigante dizendo “Vamos seguir em frente”. Depois de ratificado, ou seja, validado, as regras do tratado entraram em vigor nos países que o assinaram. 1 74 Educação AmbientalEducação Ambiental A Agência Internacional de Energia Atô- mica (AIEA), fundada em 1957, faz parte da ONU e tem como objetivo promover o uso pacífico de energia atômica, além de fisca- lizar a fabricação de armas nucleares. As fiscalizações consistem na averiguação do cumprimento de resoluções e tratados in- ternacionais que regem a utilização de ener- gia atômica e armas nucleares. Outra organização que merece desta- que é a Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência especializada da ONU para assuntos referentes a tempo e clima, hidrologia operacional e ciências geofísicas. Seu objetivo é facilitar e garantir cooperação mundial para o estabelecimento de redes de estações para observações meteorológi- cas, hidrológicas e geofísicas (MARINHA DO BRASIL, 2020b). Além dos programas próprios da ONU, há aqueles que são por ela reconhecidos por sua importância para a garantia de direitos, como a Comissão Internacional da Baleia (CIB), que funciona como um fórum que define estratégias para a conservação das baleias. Seu objetivo consiste em regulamentar a caça desses animais, garantindo sua conservação e reprodução (BRASIL, 2020). Além disso, a comissão colhe informações e dados para gerar estatísticas referentes à atual si- tuação das baleias e de publicar relatórios. Os paí- ses são inspecionados e os que cometem infrações são punidos. A Organização Marítima Internacional (OMI), que trata do direito do mar, é um organismo da estrutura da ONU, especializado na promoção de segurança marítima e prevenção de poluição,ma- nuseio de cargas perigosas e informações hidrográ- ficas (MARINHA DO BRASIL, 2020a). Além das organizações que têm alcance mun- dial, existem aquelas que atuam em determinadas regiões do mundo, como a União Europeia, que é uma união econômica que envolve 27 países da Eu- ropa com o objetivo de promover a paz, favorecer o Sede da AIEA, localizada em Viena, na Áustria. Sede da OMM em Genebra, na Suíça, onde também fica o Secretariado do IPCC. Ko ns ta nt in kn ol l/W ik im ed ia C om m on s M ar k Pa rs on s/ W ik im ed ia C om m on s Políticas de educação ambientalPolíticas de educação ambiental 7575 76 Educação Ambiental desenvolvimento sustentável, lutar contra a exclusão e a discriminação e estabelecer a união econômica e monetária (UNIÃO EUROPEIA, 2020). Outro exemplo é a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que tem como objetivo elaborar e implementar as políticas re- ferentes à produção e venda de petróleo. Na América do Sul temos o Mercado Comum do Sul (Mercosul), uma organização intergovernamental que estabelece a integração entre os países-membros: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, além dos países associados: Chile, Bolívia, Peru, Colômbia, Equador, Guiana e Suriname. Santos, Cárcamo e Varela (2016) destacam a importância dessa união de nações, tendo em vista que o território do Mercosul envolve 56% da área da América do Sul, espaço rico em biodiversidade, recursos minerais e bacias hidrográficas. Entre os acordos, tratados e protocolos legitimados pelos envolvi- dos, destaca-se o Tratado de Assunção, o qual prevê a aceleração dos processos de desenvolvimento eco- nômico com justiça social, devendo ser alcançado utilizando de modo mais eficaz os “recursos disponíveis, a preservação do meio ambiente, o melhoramento das interconexões fí- sicas, a coordenação de políticas ma- croeconômicas e a complementação dos diferentes setores da economia” (BRASIL, 1991). Outro acordo é a Declaração de Ca- nela, assinada por Estados-membros do Mercosul, na qual se constata que as transações comerciais devem incluir os custos ambientais nas etapas produtivas, pois a crise ambien- tal ameaça a sobrevivência dos seres vivos. Entre os tratados e acordos do Mercosul, entraram em pauta adoção de práticas que não degra- dem o meio ambiente; adoção de manejo sustentável para o aprovei- tamento dos recursos naturais renováveis; minimização ou eliminação do lançamento de poluentes; e monitoramento das atividades que ge- ram impactos ambientais. No ano de 2001, foi aprovado o Acordo-Quadro sobre o Meio Am- biente com o objetivo de equilibrar as legislações dos países membros Sessão Plenária da 48ª Cúpula do Mercosul, que aconteceu em Brasília, em 2015. Ag ên ci a Br as il/ W ik im ed ia C om m on s Políticas de educação ambiental 77 no que diz respeito às políticas ambientais e comerciais. O acordo pre- vê a instalação de políticas setoriais para a proteção do meio ambiente e fortalecimento da integração do Mercosul, além da: c) promoção do desenvolvimento sustentável por meio do apoio recíproco entre os setores ambientais e econômicos [...]; d) tratamento prioritário e integral às causas e fontes dos proble- mas ambientais; e) promoção da efetiva participação da sociedade civil no trata- mento das questões ambientais. (BRASIL, 2004) São muitas as ações intergovernamentais que buscam minimi- zar os impactos ambientais sem comprometer o desenvolvimento econômico. Os ordenamentos jurídicos, em geral, refletem a neces- sidade e importância da proteção ambiental, contudo, devido às as- simetrias políticas, culturais e econômicas, chegar a um consenso entre as nações envolvidas na implementação de medidas ambien- tais pode ser dificultado. Os avanços para uma política mais abrangente, que inclua os povos tradicionais, a luta pela terra, a redução da fome, da pobreza e das desigualdades socioeconômicas, são demorados, pois os interesses políticos e econômicos se interpõem nesse percurso. Como possibili- dade para alcançar o desenvolvimento sustentável, os países possuem legislações próprias em conformidade com suas necessidades e características. O Brasil possui um grande rol de leis, decretos, resolu- ções e demais normas jurídicas que visam proteger suas riquezas natu- rais e seu povo, como será apresentado na seção seguinte. 4.2 Legislação ambiental brasileira Vídeo O meio ambiente é matéria presente em muitas das legislações bra- sileiras, tendo em vista a vasta área do território nacional e a diversida- de ambiental do país. Aspectos da fauna, da flora, da água e do uso do solo foram integrando as legislações devido à exploração econômica e à evolução da crise ambiental. A princípio, as normas inseriram temas ambientais abordando-os em um viés mais ecológico e biológico. Com o aprofundamento da crise e dos conhecimentos científicos acerca da problemática ambiental, percebeu-se a necessidade de in- serir as questões ambientais de modo mais amplo, perpassando pelas áreas do conhecimento humano e pelos diversos segmentos sociais. O 78 Educação Ambiental direito ambiental foi se constituindo e aliou-se à ética para promover o tão almejado desenvolvimento sustentável, que pode ser impulsionado pela sensibilização, educação e responsabilidade, que objetivam evitar ou reverter a degradação ambiental. Em 1967, a Lei n. 5.197, que dispõe sobre a proteção da fauna, trouxe uma inovação em seu artigo 35 ao determinar que os livros es- colares deveriam abordar temas relativos à fauna e que os programas de rádio e televisão deveriam incluir textos ou programas de cinco mi- nutos semanais também referentes à fauna (BRASIL, 1967). A referida lei não detalhou como o tratamento do assunto deveria ocorrer, mas pode ser considerada inovadora para uma época em que não havia uma preocupação profunda com as questões ambientais. Mais tarde, a Lei n. 6.938/1981, que dispõe sobre a Política Na- cional do Meio Ambiente (PNMA), objetivou a preservação, melho- ria e recuperação da qualidade ambiental, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser protegido para que possa ser usado coletivamente. Bem como, a norma versou sobre a racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar e a proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas represen- tativas (BRASIL, 1981). Essa lei inovou ao trazer a educação ambiental como um prin- cípio assegurado a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente (BRASIL, 1981). Galli (2009, p. 136) salienta que “a educação ambiental – até então considerada apenas em nor- mas internacionais, ou de maneira indireta em normas brasileiras – ganha status a que faz jus”. Ainda nessa lei, foram definidos os seguintes termos: I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e in- terações de ordem física, química e biológica, que permite, abri- ga e rege a vida em todas as suas formas; II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente; III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; [...] IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou pri- vado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causa- dora de degradação ambiental; Políticas de educação ambiental 79 V - recursos ambientais, a atmosfera, as águas interiores, superfi- ciais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o sub- solo e os elementos da biosfera. (BRASIL, 1981) No ano de 1988 foi promulgada a nova Constituição Federal, que inseriu em seu bojo um artigo destinado às questões ambientais. O artigo 225 define que “todos têm direito ao meio ambiente ecologica- mente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida” (BRASIL, 1988). No referidoartigo consta ainda que compete ao poder público a preservação e restauração dos processos ecológicos essenciais, a conscientização para a preservação do meio ambiente, além da proteção da fauna e da flora (BRASIL, 1988). No ano seguinte foi divulgada a Lei n. 7.797, de 10 de julho de 1989, que criou o Fundo Nacional de Meio Ambiente (FNMA) com a finalidade de desenvolver projetos referentes ao uso racional e sustentável dos recursos com base nos fundamentos de que a água é um bem de do- mínio público e um recurso natural limitado. Em 1997, o Ministério da Educação lançou um conjunto de livros que marcou a educação brasileira, os Parâmetros Curriculares Nacio- nais (PCNs), que foram concebidos como um referencial para orientar e garantir que “a educação possa atuar, decisivamente, no processo de construção da cidadania, tendo como meta o ideal de uma crescente igualdade de direitos entre os cidadãos, baseado nos princípios demo- cráticos” (BRASIL, 1997). Entre seus volumes destaca-se o de Meio Ambiente, que promove reflexões importantes acerca da exploração dos recursos naturais, do consumo, da satisfação das necessidades humanas, da industrializa- ção, do uso de defensivos agrícolas, dos avanços tecnológicos e da me- canização da agricultura, além disso, afirma que a questão ambiental é tema de relevância internacional. A forma de organização das sociedades modernas constitui-se no maior problema para a busca da sustentabilidade (e estão embutidas aqui as profundas diferenças entre países centrais e periféricos do mundo). A crise ecológica — a primeira grande crise planetária da história da humanidade — tem dimensão tal que, a despeito das dificuldades, e até impossibilidade de pro- mover o desenvolvimento sustentável, essas sociedades se veem forçadas a desenvolver pesquisas e efetivar ações, mesmo que em pequena escala, para garantir minimamente a qualidade de vida no planeta. (BRASIL, 1997) 80 Educação Ambiental Em 1998, a Lei n. 9.605 determinou as sanções penais e administra- tivas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, a qual definiu como crime contra a fauna: “matar, perseguir, caçar, apa- nhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migra- tória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida” (BRASIL, 1998), sob pena de detenção de seis meses a um ano e multa. Sobre os crimes contra a flora, a lei os considera quando há destrui- ção ou danos contra “floresta considerada de preservação permanen- te, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção”, sendo a pena “detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente” (BRASIL, 1998). Em 1999 foi promulgada a Lei n. 9.795, que dispõe sobre a educação ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). Nessa lei, a educação ambiental foi definida como processos pelos quais as pessoas “constroem valores sociais, conhecimentos, habili- dades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade” (BRASIL, 1999). Essa lei representa um marco para o meio ambiente, pois a formalização de sua abordagem na educação formal e não formal garantiu a educação ambiental como componente permanente da educação nacional. A educação ambiental deve ser tratada em todos os níveis e modalidades do processo educativo, devendo o poder público definir as políticas públicas e promover a educação ambien- tal para a conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente. Instituiu-se também que os meios de comunicação deveriam trans- mitir informações e práticas educativas sobre o meio ambiente. De acordo com a norma, cabe: V - às empresas, entidades de classe, instituições públicas e pri- vadas, promover programas destinados à capacitação dos tra- balhadores, visando a melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do pro- cesso produtivo no meio ambiente; VI - à sociedade como um todo, manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a identifi- cação e a solução de problemas ambientais. (BRASIL, 1999) Políticas de educação ambiental 81 A referida lei determina os princípios básicos para a educação am- biental, que deverão partir das perspectivas humanista, holística, de- mocrática e participativa. Prevê também que o meio ambiente deve ser visto em sua integralidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da susten- tabilidade e da abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais, e respeitando a pluralidade e a diversida- de individual e cultural (BRASIL, 1999). Com o objetivo de orientar a implementação do que foi determina- do pela Constituição Federal e pela Lei n. 9.795/1999, o Conselho Na- cional da Educação publicou a Resolução n. 2/2012, que estabeleceu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental a serem seguidas pelos sistemas e instituições de ensino de educação básica e de ensino superior. A resolução, como norma jurídica, tem o objetivo de explicar e detalhar as referidas legislações, bem como estimular a inserção da educação ambiental na formulação, execução e avaliação dos projetos institucionais e pedagógicos das instituições de ensino, para que a concepção de educação ambiental seja fortalecida e com- preendida por todos (BRASIL, 2012c). No ano 2000, a Lei n. 9.985 instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) e estabeleceu critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação. Essa lei definiu a conservação da natureza como: manejo do uso humano da natureza, compreendendo a preser- vação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente natural, para que possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações, man- tendo seu potencial de satisfazer as necessidades e aspirações das gerações futuras, e garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral. (BRASIL, 2000) É importante destacar que os resíduos também possuem norma própria a ser cumprida por meio da Lei n. 12.305/2010, que insti- tuiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) para prevenir e reduzir a geração de resíduos por meio de hábitos de consumo sustentável, aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos e destinação ambientalmente adequada dos rejeitos. Além disso, institui a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos (BRASIL, 2010). holístico: entendimento integral dos fenômenos. Glossário 82 Educação Ambiental Em 2012, entrou em vigor a Lei n. 12.651, que dispõe sobre a pro- teção da vegetação nativa e estabelece normas para a proteção da vegetação, das áreas de Preservação Permanente 2 e das áreas de Re- serva Legal 3 . Além disso, possibilita a exploração florestal, respeitan- do os princípios da “criação e mobilização de incentivos econômicos para fomentar a preservação e a recuperação da vegetação nativa e para promover o desenvolvimento de atividades produtivas sustentá- veis” (BRASIL, 2012a). A Lei n. 13.123/2015, trata de questões relativas ao patrimônio ge- nético e, também, dispõe sobre a repartição de benefícios para con- servar e usar a biodiversidade de maneira sustentável. Nessa lei, o patrimônio genético foi definido como “informação de origem gené- tica de espécies vegetais, animais, microbianas ou espécies de outra natureza, incluindo substâncias oriundas do metabolismo destes se- res vivos” (BRASIL, 2015). A lei também trata do conhecimento tradicional de povos indí- genas, agricultores tradicionais e comunidades tradicionais, que se constitui de práticas sobre as propriedades ou uso direto ou associa- do ao patrimôniogenético. Ela define comunidade tradicional como grupo de cultura diferenciada que “possui forma própria de organiza- ção social e ocupa e usa territórios e recursos naturais como condição para a sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômi- ca, utilizando conhecimentos, [...] transmitidas pela tradição” (BRASIL, 2015). Há muitas legislações ambientais referentes à proteção do meio ambiente no Brasil, mas os crimes ambientais ainda se propagam pelo país. Não raramente, os noticiários divulgam informações de invasão de terras indígenas, desmatamento da Floresta Amazônica e de áreas de preservação ambiental, derramamento de óleo, lixões clandesti- nos, caças proibidas, desperdício de água, corrupção e assassinatos de ambientalistas. Podemos afirmar que não há falta de normas no Brasil, mas as fiscalizações ainda são insuficientes devido à extensão do país. Disso depreende-se a importância da educação ambiental para a implemen- tação de mudanças que promovam o equilíbrio entre as necessidades humanas e o meio ambiente. A Lei n. 12.651/2012 define Área de Preservação Permanente (APP) como aquela “protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas” (BRASIL, 2012a). 2 A Área de Reserva Legal (ARL) é definida pela Lei n. 12.651/2012 como toda área “localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da bio- diversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa” (BRASIL, 2012a). 3 Em notícia publicada no site do jornal O Globo, ambientalistas chamam a atenção para o desmata- mento da Floresta Ama- zônica, que aumentou 64% em abril de 2020, em relação ao mês de março, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Disponível em: https:// oglobo.globo.com/sociedade/ sustentabilidade/desmatamen- to-da-amazonia-aumenta-64-em- -abril-aponta-inpe-24417995. Acesso em: 2 jun. 2020. Saiba mais https://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/desmatamento-da-amazonia-aumenta-64-em-abril-aponta-inpe-24417995 https://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/desmatamento-da-amazonia-aumenta-64-em-abril-aponta-inpe-24417995 https://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/desmatamento-da-amazonia-aumenta-64-em-abril-aponta-inpe-24417995 https://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/desmatamento-da-amazonia-aumenta-64-em-abril-aponta-inpe-24417995 https://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/desmatamento-da-amazonia-aumenta-64-em-abril-aponta-inpe-24417995 Políticas de educação ambiental 83 Na notícia publicada no site UOL, de autoria de Hanrrikson de Andrade, líderes indígenas relatam como é viver em terras sob ameaça de invasão de grileiros armados que avançam sobre reservas indígenas e ameaçam seus povos. Além das ameaças, os invasores fazem demarcações próprias e praticam atividades irregulares como a extração de madeira e de minerais. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/07/31/lideres-relatam-como-e-viver-em-terras- -indigenas-sob-ameaca-de-invasao.htm. Acesso em: 2 jun. 2020. Saiba mais No artigo Educação ambiental: origem e perspectivas, publicado no perió- dico Educar em Revista (Curitiba, n. 18, p. 201-218) em 2001, Elisabeth Christmann Ramos faz uma análise referente à educação ambiental e suas implicações teóricas e sociais, além dos seus pressupostos epistemológicos. A leitura possibilita conhecer um novo ponto de vista dos eventos mundiais sobre o meio ambiente que deram início à educação ambiental. Acesso em: 2 jun. 2020. https://www.scielo.br/pdf/er/n18/n18a12.pdf Artigo 4.3 Objetivos da educação ambiental Vídeo A crise ambiental pela qual a humanidade passa é fruto de um pro- cesso contínuo de devastação ambiental que se acumulou ao longo do tempo, mas se intensificou, principalmente, no século XX. O almejado de- senvolvimento sustentável encontra obstáculos nas políticas, nas relações comerciais e na cultura do desperdício, o que impede o fortalecimento da equidade social e do equilíbrio ambiental. Diante desse cenário, a educação ambiental se faz importante para que haja maior sensibilização da sociedade sobre os limites da natureza e sobre a necessidade de mudanças de comportamentos, a fim de mini- mizar os impactos já causados. A educação ambiental, na compreensão de Loureiro (2008, p. 92) insere-se em um “contexto maior, que produz e reproduz as relações da sociedade as quais, para serem transformadas, dependem de uma educação crítica e de uma série de outras modifica- ções nos planos político, social, econômico e cultural”. A construção social que alicerça a educação é repleta de subjetividade perpassada por valores sociais, políticos e econômicos. A educação am- biental, por sua vez, é um campo teórico em construção, que se constitui e reconstitui diariamente, ao mesmo tempo em que espécies entram em https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/07/31/lideres-relatam-como-e-viver-em-terras-indigenas-sob-ameaca-de-invasao.htm https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/07/31/lideres-relatam-como-e-viver-em-terras-indigenas-sob-ameaca-de-invasao.htm 84 Educação Ambiental Ra wp ix el .c om /S hu tte rs to ck extinção, áreas são desmatadas e aumenta-se a poluição. Nesse processo, Leff (2008, p. 245) observa que esse conhecimento em construção é atra- vessado por “diversas formas de significação”. Para o autor, a educação ambiental inscreve-se assim dentro de um processo estratégico que estimula a reconstrução coletiva e a reapropriação subjetiva do saber. Isto implica que não há um saber ambiental feito e já dado, que se transmite e se insere nas mentes dos edu- candos, mas um processo educativo que fomenta a capacidade de construção de conceitos pelos alunos a partir de suas “significações primárias”. (LEFF, 2008, p. 245-246) Nesse sentido, a construção das bases teóricas e conceituais da edu- cação ambiental busca aportes nas diversas áreas do conhecimento, nas culturas dos povos tradicionais, nas legislações, na ciência e na tecnologia. A Educação Ambiental enquanto conhecimento sistematizado en- contra-se em franco processo de construção de suas bases teóri- cas e conceituais que reflete o que acumulamos e aprendemos de forma muitas vezes não-linear e contraditória. [...] A Educação Am- biental [...] deve ser entendida como um conceito em construção, mas que deve conduzir a uma contextualização de uma práxis edu- cativa transformadora da realidade ambiental em que se encontra. (SILVA, 2011, p. 119-120) A finalidade da educação ambiental é construir valores, conceitos, habilidades e atitudes que venham a colaborar com a proteção do meio ambiente, garantindo que as atuais e as futuras gerações possam usufruir de um meio ambiente saudável. Loureiro (2008, p. 69) observa que a educação ambiental contribui para a “implementação de um pa- drão civilizacional e societário distinto do vigente, pautado numa nova Políticas de educação ambiental 85 ética da relação sociedade-natureza”. Observa-se o papel estratégico da educação ambiental nas mudanças das relações sociais e destas com os elementos naturais. A educação ambiental é fundamental para a renovação de valo- res e da percepção frente à crise ambiental, tendo em vista que es- timula a sensibilização para a mudanças de atitudes. Nesse sentido, configura-se em um processo para a construção de uma nova sensi- bilidade com vistas ao desenvolvimento sustentável. Loureiro (2008, p. 72) considera a educação ambiental “parte inerente do movimento social contemporâneo derediscussão da relação sociedade-natureza e de construção da cidadania ecológica e planetária 4 ”. Os objetivos da educação ambiental, no Brasil, começaram a ser de- lineados em 1981 com a promulgação da Lei n. 6.938/1981, que definiu a PNMA. No inciso X, artigo 2º, estabeleceu que a educação ambiental deve fazer parte do currículo de todos os níveis de ensino. Em 1996, a Lei n. 9.394 estabeleceu as Diretrizes e Bases da Educa- ção Nacional (LDB), intencionando que na formação básica seja garan- tido o entendimento do ambiente natural e social. Definiu também que os currículos do ensino fundamental e médio englobem o mundo físico e natural e que no ensino superior seja desenvolvida a compreensão do meio em que vivemos. Embora a educação ambiental já tivesse sido inserida na legislação brasileira, somente em 1999 foi publicada uma lei específica para tratar a educação ambiental formal e não formal. A Lei n. 9.795/1999 determi- na objetivos básicos para que se desenvolva o entendimento do meio ambiente de maneira integrada em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo conceitos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científi- cos, culturais e éticos (BRASIL, 1999). O vídeo História da edu- cação ambiental mostra como a educação e a na- tureza são compreendi- das por diferentes povos e culturas, em diferentes tempos e contextos. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=zLnso1jI- G1I. Acesso em: 2 jun. 2020. Vídeo Loureiro (2008, p. 76) define cidadania planetária como “um conceito utilizado para expressar a inserção da ética ecológica e seus desdobramentos no cotidiano, em um contexto que possibilita a tomada de cons- ciência individual e coletiva das responsabilidades tanto locais e comunitárias quanto globais”. 4 Ra wp ix el . c om /S hu tte rs to ck VIDRO papel metal plastico https://www.youtube.com/watch?v=zLnso1jIG1I https://www.youtube.com/watch?v=zLnso1jIG1I https://www.youtube.com/watch?v=zLnso1jIG1I 86 Educação Ambiental A referida lei também objetivou que as práticas de educação ambiental possam estimular e fortalecer a criticidade sobre a pro- blemática ambiental e social, além de incentivar a participação indi- vidual e coletiva responsável, para a garantia do equilíbrio do meio ambiente, pautada nos princípios da liberdade, igualdade, solidarie- dade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilida- de (BRASIL, 1999). No ensino formal, que abrange educação infantil, ensino funda- mental, ensino médio, ensino superior, educação especial, educação profissional e educação de jovens e adultos, a educação ambiental deve ser trabalhada de maneira integrada, contínua e permanente, concomitantemente aos conteúdos curriculares. A educação ambiental não formal, por sua vez, configura-se em ações e práticas educativas que estimulem a sensibilização da co- letividade em relação às questões ambientais. Esse estímulo pode ocorrer por intermédio dos meios de comunicação, de programas e campanhas educativas, ações de empresas públicas e privadas. A escola, a universidade e as organizações não governamentais po- dem contribuir para a difusão de informações, além de formular e executar programas e atividades relacionados à educação ambiental para além do currículo formal. A Resolução n. 1, de 30 de maio de 2012, do Conselho Nacional de Educação, estabeleceu as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos e definiu que a sustentabilidade socioambiental é um dos princípios para a educação em direitos humanos (BRASIL, 2012b). As legislações e teorias que embasam a educação ambiental se apresentam buscando abarcar toda a complexidade socioambiental da atualidade. A educação ambiental tem a potencialidade de esta- belecer o diálogo entre os saberes, consolidando os conhecimentos já existentes e criando substrato para a construção de novos conhe- cimentos que permitam reflexões acerca da realidade e promovam mudanças profundas na sociedade. Assim, há de se considerar que a educação ambiental não possui uma abordagem única, mas múlti- plas abordagens pautadas em teorias e correntes epistemológicas 5 que se constituíram ao longo de seu desenvolvimento. As correntes epistemológicas procuram esclarecer as ativi- dades científicas em relação a teoria e experiência, razão, fatos e métodos. Para Tesser (1994, p. 92), “a tarefa principal da epis- temologia consiste na reconstru- ção racional do conhecimento científico, conhecer, analisar, todo o processo da ciência do ponto de vista lógico, linguístico, sociológico, interdisciplinar, político, filosófico e histórico”. 5 Políticas de educação ambiental 87 4.4 Correntes epistemológicas de educação ambiental Vídeo A educação ambiental como campo teórico em formação se refe- rencia em filósofos, biólogos, historiadores, antropólogos, geógrafos, engenheiros, juristas, educadores e em áreas do conhecimento que buscam compreender e teorizar os assuntos que perfazem esse cam- po amplo e em constante debate. Na história da construção teórica da educação ambiental, encontramos vários autores que buscaram de- fender suas ideias para além do ativismo ambiental, buscando bases filosóficas, científicas e antropológicas para explicar a crise ambiental pela qual passa a humanidade. Em suas indagações e cogitações, filósofos e outros estudiosos bus- caram compreender o funcionamento dos elementos da natureza; a reprodução humana, dos animais e das plantas; como ocorria o dia e a noite; as estações climáticas do ano; o movimento da Terra; a influência da fases da lua nas marés; enfim, buscavam compreender o mundo e a sua existência. Entre os filósofos mais antigos que contribuíram para a constru- ção da filosofia, podemos citar Aristóteles, que viveu entre 384 a.C. e 322 a.C., na Grécia, e defendeu a ideia de que o ser humano é parte da natureza. “A natureza nada faz em vão: eis um dos lemas centrais da filosofia aristotélica. Isso significa que o acaso não pode ser colocado entre as causas e os princípios” (CHAUÍ, 2002, p, 416). Aristóteles dedicou-se a defender teorias sobre os movimentos dos animais, a evolução da história natural e os movimentos dos plane- tas. Seus estudos foram aprofundados por outros filósofos ao longo da história humana. Embora a filosofia grega não tenha se dedicado de modo espe- cial à questão do meio ambiente, a concepção grega de integra- ção do ser humano com o mundo natural é considerada um dos pontos de partida do pensamento ecológico contemporâneo. É sobretudo o modo de pensar grego que, ao definir o ser humano como um microcosmo que é parte do macrocosmo, abre cami- nho para a visão do equilíbrio necessário entre o ser humano e a natureza. (MARCONDES, 2006, p. 36) 88 Educação Ambiental O filósofo francês Descartes, que viveu no século XVII, acreditava que os seres humanos eram senhores e possuidores da natureza. Para ele, o ser humano é o sujeito que pode pensar a si como quem reor- dena e reorganiza o mundo, e o mundo é seu objeto. A denominada visão cartesiana acredita que o racionalismo é a única fonte do conheci- mento e da verdade. Para alcançar a verdade, ele defendia que os pen- samentos e as dúvidas deveriam ser organizados, dos assuntos mais fáceis para os mais difíceis, até chegar à verdade absoluta. Essa forma de organizar os conhecimentos influenciou a maneira de fazer ciência, pesquisar e ensinar no mundo moderno. No século XVIII, o filósofo Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling elaborou uma filosofia da natureza, na qual é ela contemplada como uma totalidade orgânica dotada de um desenvolvimento progressivo. A natureza a qual o filósofo está se referindo não é natureza compos- ta de plantas, animais, água, rochas, entre outros elementos, é algo mais profundo. “A natureza tem vida, dinamicidade, se encerra por si mesma, produz a si mesma, é dotada de uma força configuradora que a compõe por ela mesma como uma inteligência pura inerente à sua própriaconstituição” (LOPES, 2007, p. 49). O filósofo não queria explicar os fenômenos da natureza, mas indagar sobre as relações de causa e efeito que permitissem ao ser humano elevar-se acima do simples domínio da natureza. O filósofo australiano Richard Routley, em 1972, escreveu o texto “Há necessidade de uma nova ética, uma ética ambiental?”. Em seus es- critos, o autor questiona o entendimento de que a natureza está a ser- viço dos seres humanos e pode ser considerada importante somente quando apresenta um valor instrumental, ou seja, quando possui uma utilidade imediata (ROHDEN, 2006). São argumentos controversos, mas que estimulam a reflexão e o debate. Esses e outros filósofos indagaram sobre a relação entre o ser hu- mano e a natureza, colocando-o como um ser à parte. Dessas e de outras reflexões desenvolveram-se correntes epistemológicas de edu- cação ambiental, apresentando preocupações comuns com o meio am- biente e sobre o papel da educação para a melhoria da relação do ser humano com a natureza. As ações educativas praticadas por diferentes atores partem de seus contextos, de suas formações e experiências. Lima (2008) chama a atenção para o fato de que a educação am- biental se caracteriza por diversas ações e teorias que se fundamentam O livro Pensar o Ambiente: bases filosóficas para a Educação Ambiental apresenta contribuições teórico-conceituais refe- rentes às visões de vários filósofos sobre a natu- reza. Suas indagações refletem o tempo em que viveram, mas muitas visões, como o mecanicis- mo de Descartes, ainda permeiam as maneiras de fazer ciência até os dias atuais. É uma boa leitura para refletir e relacionar aspectos da natureza, cultura e meio ambiente. CARVALHO, I. C. M.; GRÜN, M.; TRAJBER, R. (orgs.). Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabeti- zação e Diversidade, Unesco, 2006. Disponível em: http://portal.mec. gov.br/dmdocuments/publicacao4. pdf. Acesso em: 2 jun. 2020. Livro http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao4.pdf http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao4.pdf http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao4.pdf Políticas de educação ambiental 89 em várias posturas políticas e visões de mundo que, segundo o autor, para alguns pode até parecer a mesma linguagem, mas ao observar-se atentamente o diverso e múltiplo campo da EA, podemos perceber que as aparências escondem diferenças sutis e essenciais com relação aos meios e, sobretudo, às finalidades da EA. Essa constatação, portanto, justifica a necessidade cres- cente de se diferenciar internamente o campo da EA, com a identificação e discernimento dos conteúdos que informam suas principais tendências, permitindo, dessa forma, a visualização dos futuros prováveis que cada uma dessas tendências aponta. (LIMA, 2008, p. 119) Sauvé (2005) propõe como estratégia de apreensão das teorias do campo em construção da educação ambiental, a elaboração de um mapa desse território pedagógico, o que ela chama de correntes de edu- cação ambiental. O termo corrente é utilizado pela autora como uma maneira de conceber e praticar a educação ambiental que apresenta diversas proposições. Embora as correntes sejam várias, a depender dos contextos, outras correntes podem surgir. Contudo, apresentare- mos, aqui, apenas as mais conhecidas e citadas na literatura sobre edu- cação ambiental. A corrente preservacionista teve como um dos seus principais defensores John Terborgh, que argumenta que a natureza tem valor intrínseco e deve ser preservada pelo seu valor e não como reserva de recursos naturais a serem explorados pelos seres humanos. Consiste em preservar “intactos os processos vitais que mantêm a diversida- de biológica em ecossistemas livres de distúrbios” (CUNHA; COELHO, 2009, p. 64). Essa defesa se pauta na necessidade que alguns animais têm por grandes áreas para se alimentarem e se reproduzirem. Na visão de Terborgh (1999), a maior dificuldade em preservar áreas consiste na superpopulação humana, nas desigualdades socioeconô- micas, na sobreposição do crescimento econômico em detrimento da natureza, na exploração de recursos naturais até exauri-los e no des- cumprimento de legislações na área ambiental. Em paralelo ao preservacionismo está a corrente conservacionis- ta, chamada também de recursista, que defende a proteção da estru- tura e funcionamento das florestas. Nessa concepção, permite-se a conciliação entre a manutenção dos serviços ambientais e a explora- ção dos recursos naturais. Seus defensores a compreendem como a 90 Educação Ambiental corrente mais próxima do desenvolvimento sustentável, pois permite o uso produtivo dos recursos naturais, possibilitando o crescimento econômico e fortalecendo os modos de vida das comunidades locais (CUNHA; COELHO, 2009). Geralmente dá-se ênfase ao desenvolvimento de habilidades de gestão ambiental e ao ecocivismo. Encontra-se aqui imperativos de ação: comportamentos individuais e projetos coletivos. Re- centemente, a educação para o consumo, além de uma perspec- tiva econômica, integrou mais explicitamente uma preocupação ambiental da conservação de recursos, associada a uma preocu- pação de equidade social. (SAUVÉ, 2005, p. 20) A corrente naturalista centra-se na relação do ser humano com a natureza, com a qual pode-se aprender, experimentar e criar. Os valo- res da natureza são reconhecidos para além de simples fornecedora de recursos para o ser humano. Nessa corrente, pressupõe-se que se compreenda como funciona a natureza a fim de poder interagir com ela. A natureza é reconhecida como educadora e como meio para a aprendizagem sobre o mundo natural (SAUVÉ, 2005). A corrente resolutiva foi desenvolvida concomitantemente ao au- mento da gravidade dos problemas ambientais disparados na déca- da de 1970. Nessa linha, o meio ambiente é visto como conjunto que engloba vários problemas sociais e biofísicos que, para sua resolução, necessita levar informações às pessoas sobre as questões ambientais para buscar soluções que modifiquem os comportamentos e os proje- tos coletivos. Nessa corrente, a educação ambiental está voltada para estudar as problemáticas ambientais, buscando fazer um diagnóstico da situação para encontrar a melhor solução. A corrente sistêmica trabalha com o conhecimento e a compreen- são da realidade e dos problemas ambientais, distinguindo as relações de um sistema ambiental e evidenciando as relações entre elementos biofísicos e sociais, possibilitando uma visão global da realidade. A corrente científica busca abordar as questões ambientais dentro do rigor da ciência, identificando as relações de causa e efeito. Com base nas observações levantam-se hipóteses que levam a novos en- foques. Seus desdobramentos ocorrem por meio de pesquisas inter- disciplinares e transdisciplinares, nas quais o meio ambiente é objeto de estudo e conhecimento, que exigem observação e experimentação. Políticas de educação ambiental 91 Sauvé (2005) destaca que o autor Louis Goffin e outros colaboradores (GOFFIN; BONIVER, 1985) propuseram: um modelo pedagógico centrado na seguinte sequência, que in- tegra as etapas de um processo científico: uma exploração do meio, a observação de fenômenos e a criação de hipóteses, a verificação de hipóteses, a concepção de um projeto para resol- ver um problema ou melhorar uma situação. Este modelo adota igualmente um enfoque sistêmico e interdisciplinar, na confluên- cia das ciências humanas e das ciências biofísicas, o que lhe dá uma maior pertinência. (SAUVÉ, 2005, p. 23) A corrente humanista está voltada para a dimensão humana do meio ambiente, que é compreendido como um meio de vida, compos- to de dimensões históricas, culturais, políticas, estéticas, econômicas e sociais. À compreensão de patrimônio natural acrescenta-se o cultural. A paisagem, que pode ser natural ou modelada pelas atividades huma- nas, é o meio usado para instigar o estudo sobre o meio ambiente. São realizadas leituras da paisagem,observações, pesquisa e apresentação dos resultados, além de sua avaliação, que permitam conhecer o meio ambiente e com ele se relacionar melhor. A corrente moral/ética considera que a relação do ser humano com o meio ambiente fundamenta-se na ética, carregada de valores ambien- tais. Nessa relação, adota-se uma moral ambiental que prescreve um código de comportamentos socialmente aceitos. A corrente holística considera as múltiplas e complexas dimensões das realidades socioambientais que se relacionam entre si e permite cada ser vivo falar por si, a partir de sua própria natureza. A corrente biorregionalista pauta-se no desenvolvimento da rela- ção regional com o meio local que desperte o sentimento de pertença e de valorização da biorregião em que se vive. A corrente práxica dá ênfase na ação, pela ação e em sua melhoria. Tem como objetivo realizar mudanças em determinado meio, seja para pessoas ou para o meio ambiente, envolvendo pessoas na ação. Sauvé (2005, p. 29) observa que “a práxis consiste essencialmente em integrar a reflexão e a ação, que assim, se alimentam mutuamente”. A corrente de crítica social está voltada para as ciências sociais e envolve a educação nas análises das dinâmicas sociais nas quais ocor- rem os conflitos ambientais. Sauvé (2005, p. 31) chama a atenção para biorregião: espaço geográfico com características naturais. Glossário 92 Educação Ambiental a “importância do diálogo dos saberes: saberes científicos formais, saberes cotidianos, saberes de experiência, saberes tradicionais etc. É preciso confrontar estes saberes entre si, não aceitar nada em de- finitivo, abordar os diferentes discursos com um enfoque crítico para esclarecer a ação”. A corrente feminista é voltada para as relações entre as mulheres e a natureza, dando enfoque às relações afetivas, simbólicas, artísticas, intuitivas e espirituais. Embora o foco esteja nas mulheres, essa corren- te tem como objetivo “reconstruir as relações de gênero harmoniosa- mente, por meio da participação em projetos conjuntos, nos quais as forças e os talentos de cada um e de cada uma contribuam de maneira complementar” (SAUVÉ, 2005, p. 33). Dá-se ênfase ao cuidado, ao reco- nhecimento da essência de humano e à atenção. A corrente etnográfica considera os costumes locais na rela- ção com o meio ambiente, respeitando a cultura das populações e das comunidades envolvidas nas ações que devem ser adaptadas às diferentes realidades, não devendo impor novas formas de ver o mundo. Essa corrente realiza o intercâmbio de culturas, na medida que se inspira em diversas culturas e leva experiências de uma co- munidade para outra. A corrente da ecoeducação é voltada para a educação aprovei- tando a relação com o meio ambiente para desenvolvimento pessoal responsável. Considera-se que o meio ambiente é propício para as in- terações humanas. A corrente da sustentabilidade envolve o desenvolvimento eco- nômico e o desenvolvimento humano de maneira indissociável. O uso racional dos recursos ambientais deve assegurar as necessidades das próximas gerações, e a educação ambiental é a ferramenta essencial para seu desenvolvimento. Como foi visto, são várias as correntes de educação ambiental defendidas, principalmente, por Sauvé. Outros autores tratam a educação ambiental como possibilidade para defender algum ponto de vista ou algum projeto societário. Contudo, o cerne da educação ambiental está em promover uma relação harmoniosa entre o ser humano e a natureza, a fim de proteger os recursos ambientais da devastação e garantir que as futuras gerações possam usufruir de um ambiente saudável. Políticas de educação ambiental 93 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os debates sobre as questões ambientais perpassam por acordos e legislações nos âmbitos nacionais e internacionais. Embora as nações te- nham soberania para decidir como agir diante de seu patrimônio natural, os países não são isolados e suas ações impactam o meio ambiente de todo o mundo. As organizações internacionais visam proteger o mundo de ações que possam comprometer a humanidade e causar impactos irreversíveis ao meio ambiente. As legislações nacionais e internacionais são discutidas considerando o crescimento econômico, os interesses políticos e as culturas, buscando equilíbrio entre economia e natureza. Não se pode desconsiderar a gama de normas existentes em todo o mundo, porém, ainda perdura o descaso com o meio ambiente, perpetuando ideias e concepções de que os recur- sos naturais são infindáveis. A educação ambiental se apresenta como uma opção para a implanta- ção de mudanças na atual crise ambiental. Há de se considerar que a edu- cação ambiental não é imperativa ou mandatória, mas configura-se como uma possibilidade para interações mais saudáveis e equitativas que prezam pela colaboração, comunidade, criatividade, solidariedade, respeito, diversi- dade, democracia e cidadania. Assim, espera-se que a educação ambiental possa promover mudanças profundas que sensibilizem a sociedade a refle- tir sobre a projeto societário que está em desenvolvimento, abdicando de hábitos nocivos e desenvolvendo uma nova forma de conceber o mundo. ATIVIDADES 1. A Constituição Federal de 1988 trouxe um artigo específico para tratar dos assuntos relativos ao meio ambiente: o artigo 225. Explique a importância desse artigo para a proteção do meio ambiente e como você observa o cumprimento da legislação ambiental. 2. Em 1999, a Lei n. 9.795 garantiu que a educação ambiental passasse a ser abordada no ensino formal e não formal no Brasil. Discorra sobre a aplicação dessa lei e sobre as ações relacionadas à educação ambiental. 3. As correntes epistemológicas apontam para formas de abordar os conteúdos de educação ambiental, que são amplos e diversos. O preservacionismo e o conservacionismo são as abordagens mais debatidas e reconhecidas. Como essas abordagens podem ocupar seus espaços no atual modelo de sociedade capitalista/consumista? 94 Educação Ambiental REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Baleias – Convenção Internacional para a Regulamentação da Pesca da Baleia (CIB). Disponível em: https://mma.gov.br/assuntos- internacionais/cooperacao/item/880-baleias.html. Acesso em: 2 jun. 2020. BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao. htm. Acesso em: 2 jun. 2020. BRASIL. Decreto n. 350, de 21 de novembro de 1991. 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Acesso em: 2 jun. 2020. 96 Educação Ambiental 5 Educação ambiental e sustentabilidade As transformações pelas quais a humanidade está passando exigem novos olhares para o meio ambiente, os quais permitam a compreensão de que seus recursos são finitos e, portanto, necessitam ser conservados e preservados. A relação do ser hu- mano com a natureza deve ultrapassar velhos paradigmas de extração de recursos para suprir as necessidades de consumo, conforto e enriquecimento. Valores éticos, responsabilidade, equidade e empatia precisam prevalecer sobre quaisquer ou- tros que não priorizem a coletividade e todas as manifestações de vida presentes no planeta. A tão almejada sustentabilidade só pode ser efetivada se houver consenso de que as mudanças são necessárias e urgen- tes e que delas dependem toda a vida existente na Terra. Além disso, a vida das futuras gerações está atrelada à maneira como agimos na atualidade, em especial, em relação à natureza. Para que mudanças ocorram, a humanidade precisa se unir e inserir, em suas práticas do cotidiano, novas formas de se re- lacionar com o meio ambiente. Para isso, as empresas, as in- dústrias, as instituições de ensino, o poder público, os meios de comunicação e a população, em geral, podem e devem pro- vocar reflexões por meio de ações que transformem as atitu- des humanas para alcançar a sustentabilidade. Nesse sentido, abordaremos algumas possibilidades de ações que podem ser desenvolvidas por cada um de nós, a depender do papel social que exercemos e do quanto valorizamos e compreendemos a importância de proteger a natureza. Educação ambiental e sustentabilidade 97 5.1 Educação ambiental para a sustentabilidade Vídeo A educação ambiental é uma importante ferramenta para garantir que as atuais e as futuras gerações de todas as espécies vivas possam usufruir do ambiente saudável. O desenvolvimento de habilidades e competências para o exercício da cidadania pode e deve ocorrer em di- versos locais, como empresas, instituições de ensino, ONGs, entidades religiosas e espaços públicos. O compartilhamento de responsabilidades e consequências das ações humanas pode torná-las mais eficazes e alcançar maior sucesso. A educação ambiental pode ser a propulsora para esse movimento e para o desenvolvimento de projetos que reconfiguram as culturas das instituições. As empresas e indústrias, por exemplo, podem reprogra- mar suas linhas de produção e de prestação de serviços, de maneira a reaproveitar sobras de materiais, encaminhar embalagens para a reci- clagem, implantar em suas capacitações noções de educação ambien- tal e incentivar seus colaboradores e clientes a exercitar a cidadania plena, que leve à sustentabilidade. O documentário Seremos história? apresenta três anos de uma viagem pelo mundo, feita pelo ator Leonardo DiCaprio, nomeado mensageiro da paz pela ONU. O ator buscarespostas para as causas e as conse- quências das mudanças climáticas. Há entrevistas com Barack Obama e o Papa Francisco, que falam sobre o tema. Direção: Fisher Stevens. EUA: National Geographic Documentary Films, 2016. Filme O artigo Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável: desvendando as sobreposições e alcances de seus significados, de Alexandre André Feil e Dusan Schreiber, publicado no Cadernos EBAPE, em 2017, trata dos termos sustentável, sustentabilidade e desenvolvi- mento sustentável com o objetivo de contribuir para a compreensão de seus conceitos. Acesso em: 25 maio 2020. https://www.scielo.br/pdf/cebape/v15n3/1679-3951-cebape-15-03-00667.pdf Artigo Capra (2006b, p. 41) destaca que “a terra sustenta todas as formas de vida e seu esgotamento tem que ser evitado para que ela possa manter-se saudável e capaz de prover o sustento de uma geração após a outra”. A educação ambiental para a sustentabilidade requer reco- nhecimento de que as atitudes humanas causam impactos ambientais e trazem consequências. A sustentabilidade é um termo que expressa a preocupação com a qualidade de um sistema que diz respeito à integração indissociável (ambiental e humano), e avalia suas propriedades e características, abrangendo os aspectos ambientais, sociais e econômicos. [...] A avaliação é operacionalizada por meio de indicadores e/ou índices, e resulta em informações quantitativas, possibilitando o estabeleci- mento de objetivos ou metas a serem alcançados por meio de es- tratégias de longo prazo. (FEIL; SCHREIBER, 2017, p. 674, grifo nosso) 98 Educação Ambiental As estratégias a serem desenvolvidas devem abranger aspectos sociais, culturais, religiosos 1 , ambientais, econômicos, educacionais e políticos. Ao envolver os vários segmentos da sociedade, há uma pers- pectiva de que ocorra a adoção de práticas que visem à sustentabilida- de e à mudança na cultura de que os recursos naturais são infinitos. A promoção de campanhas educativas e debates os quais despertem a sensibilização de que a sociedade se encontra em meio a uma crise ambiental deve ser contínua e objetivar atingir todos os cidadãos. O entendimento de que o atual modelo de desenvolvimento é insustentável e tende a exaurir os recursos naturais e dizimar espé- cies deve ser a base para os debates. O velho modelo de educação ambiental em que as crianças desenhavam flores ou as pessoas se reuniam para plantar uma árvore não serve para o contexto atual em que prevalecem os interesses pessoais. Quando a economia e o capitalismo se sobressaem em relação a qualquer outro aspecto social, os conflitos emergem e as sensações de insegurança e de desigualdade afloram, a ponto de o ser humano buscar se proteger, individualmente. Isso contribui para atos egoístas, individualistas e, muitas vezes, irresponsáveis. CO UL AN GE S/ Sh ut te rs to ck Ne il Pa lm er /C IA T/ W ik im ed ia C om m on s M at th ew R om ac k/ W ik im ed ia C om m on s M ic ha el G äb le r/ W ik im ed ia C om m on s M ic ha el G äb le r/ W ik im ed ia C om m on s M ar k Gr ee n/ Sh ut te rs to ck As religiões lidam com os fenômenos naturais de maneira diferente e isso influencia a for- ma com que os povos interagem com a natureza. 1 Os recursos naturais da Terra são finitos. A Floresta Amazônica é um exemplo de recurso natural. O mapa mostra a ecorregião amazônica, onde habitam várias espécies, como a araracanga e o sapo-boi-azul (que é venenoso). Entre os maiores predadores das espécies da região estão a onça-pintada, o jacaré-açu e a sucuri (anaconda). Educação ambiental e sustentabilidade 99 Disso, depreende-se que o papel da educação ambiental é impor- tante e deve estar presente na sociedade desde a infância, com o ob- jetivo de desenvolver as novas gerações sensibilizadas para a proteção ambiental e para hábitos diferentes dos tempos atuais. Compreende- -se que a educação ambiental voltada para a sustentabilidade consi- dera, em sua prática, os aspectos éticos, estéticos, morais, culturais, religiosos, científicos, cívicos e ambientais, de maneira integrada, tendo em vista que o ser humano é social e complexo. Diante das diferenças culturais do mundo, não é possível forma- tar uma educação ambiental única que atenda a todos e às diferentes realidades. Deve-se levar em consideração as condições de vida dos diferentes povos da Terra. Desenvolver uma prática de educação am- biental voltada para a redução do consumo e da geração de resíduos em uma comunidade isolada não tem o mesmo sentido que teria para uma comunidade urbana. É necessário reconhecer as diferenças e pla- nejar ações, a fim de agregar aos conhecimentos locais novas formas de interagir com a natureza, sem, no entanto, entrar em conflito com manifestações culturais que, muitas vezes, são seculares, como rituais, oferendas, culinária, brincadeiras, contos, dança e confecção de obje- tos e artesanatos. O Brasil é um país ainda novo se comparado com países da Europa ou da Ásia. Nossas tradições foram se desenvolvendo, misturando as culturas dos povos imigrantes com as dos povos que já habitavam o território brasileiro. Em todo o país, há culturas locais que compõem a riqueza cultural brasileira. Nos sites a seguir é possível conhecer essa diversidade. • Instituto Tear – desde 1980 vem atuando nas áreas de arte/educação e cultura, buscando construir uma sociedade sustentável, justa e solidária. Disponível em: http://institutotear.org.br/arte-e-cultura-popular/. Acesso em: 15 jun. 2020. • Tucum Brasil – o nome vem de uma palmeira encontrada em todo o território brasileiro, da qual das folhas é extraída uma fibra com que se tecem redes. A Tucum promove a arte e a cultura dos povos da floresta. Disponível em: https://www.tucumbrasil.com/p/quem-somos. Acesso em: 15 jun. 2020. • Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) – é uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Turismo cuja função é preservar os bens culturais do Brasil, garantindo que possam ser desfrutados pelas gerações presentes e futuras. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/. Acesso em: 15 jun. 2020. • Fundação Palmares – é uma instituição pública vinculada ao Ministério da Cidadania voltada a proteger valores culturais, históricos, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira. Disponível em: http://www.palmares.gov.br/. Acesso em: 15 jun. 2020. Saiba mais http://institutotear.org.br/arte-e-cultura-popular/ https://www.tucumbrasil.com/p/quem-somos http://portal.iphan.gov.br/ http://www.palmares.gov.br/ 100 No artigo Brasil, um país que não reconhece sua riqueza: a pluralidade dos povos indíge- nas, de Laura Rachid, publicado na Revista Educação, em 12 de setembro de 2019, o indígena Daniel Munduruku, escritor e pós-doutor em Linguística pela UFSCar, comenta que os indígenas de 305 etnias, com suas mais de 200 línguas, sofrem com a falta de respeito aos seus costumes e com a reprodução de estereótipos. Essas etnias, por vezes, são forçadas a se integrar às culturas não indígenas e acabam por perder suas identidades, o que demonstra o não reconhecimento de suas raízes e da pluralidade cultural do nosso país. Acesso em: 9 jun. 2020. https://revistaeducacao.com.br/2019/09/12/pluralidade-indigenas/ Artigo A sustentabilidade surge como uma alternativa passível de ser colo- cada em prática se houver apoio e interesse por parte dos detentores do poder. Os movimentos e iniciativas sociais são importantes, mas po- dem ser calados se não houver legislações, fiscalizações e medidas pu- nitivas para aqueles que transgridem as regras. Outro empecilho que pode se impor é a cultura do consumismo, que assola as sociedades contemporâneas. As pessoas estão tão acostumadas a consumir, até mesmo de maneira desnecessária, que qualquer impedimento nesse sentido pode causar desconforto e atritos. Consumir é visto por nosso cérebrocomo uma recompensa, uma premiação, tal qual sentíamos quando obtínhamos a carne da caçada ou os frutos e as verduras da colheita. [...] No entanto, as compulsões produzem alívio temporário, e em pouco tempo os pensamentos obsessivos retornam e, com eles, novamente as compulsões. (SILVA, 2014, p. 56-57) Silva (2014) chama a atenção para o fato de que há pessoas compulsivas por con- sumo e, para elas, isso é um jeito de viver. Desse consumo, que muitas vezes atende aos caprichos humanos, resulta exploração maior de recur- sos do que a Terra pode recompor em seus ciclos naturais. Tudo o que é consumido é produzido com recursos da Terra e deixa um rastro de exploração e degradação ambiental, o que pode ser cha- mado de pegada ecológica. Tra dit ion /S hu tte rst oc k Educação Ambiental Educação Ambiental O termo pegada ecológica foi criado por Mathis Wackernagel e Wil- liam Rees, como a avaliação da “capacidade ecológica necessária para sustentar o consumo de produtos e até mesmo os estilos de vida. Cal- cula-se uma pegada ecológica somando os fluxos de material e ener- gia requeridos para sustentar qualquer economia” ou seus segmentos (HAWKEN; LOVINS, A.; LOVINS, H., 2007, p. 47). A pegada ecológica co- munica, de maneira simples, o quanto retiramos da Terra para atender nossas necessidades. Os fluxos são convertidos em medidas do que é exigido em terra e água para a produção. Pegada é a superfície total de terra necessária para sustentar uma determinada atividade ou um produto. Em todo o mundo, o solo produtivo disponível per capita declinou de 5.6 hectares, em 1900, para 1.4, dos quais menos de 0.4 é arável. Por outro lado, a quantidade de terra exigida para sustentar as populações dos países industrializados aumentou de um hectare por pessoa, em 1900, para uma média de quatro, atualmente. [...] Para que todo o mundo tenha o padrão de vida de um americano ou um cana- dense, são necessários dois ou quatro planetas Terra. (HAWKEN; LOVINS, A; LOVINS, H., 2007, p. 47-48) Ao tomarmos consciência do impacto que nossos modos de vida causam no meio ambiente, podemos nos esforçar para introduzir, em nosso cotidiano, pequenas mudanças, como a separação de resíduos, a redução do consumo, a escolha por produtos que utilizem pouca em- balagem descartável, a compra de produtos orgânicos, a reutilização de coisas que já possuímos e a prática da carona solidária ou escambo com colegas ou grupos específicos. Para se chegar à sustentabilidade, é preciso reconhecer a crise ambiental e agir de modo coletivo para sua resolução. O direito ao ambiente saudável passa pela com- preensão de que a manutenção da biodiversidade é fundamental para a sobrevivência dos seres vivos. É im- portante que o poder público planeje a ocupação do solo, as áreas destina- das à preservação e à conservação ambientais, as áreas para moradia, as áreas rurais, as zonas industriais, a malha viária das cidades e os espaços de convívio e lazer. Durante o período de isolamento social devido à pandemia de Covid-19, as pessoas mudaram hábitos de compras. Por causa da redução na renda de muitas famílias, os recursos financeiros foram destinados às des- pesas essenciais como alimentação, pagamento de água, energia e gás, e remédios. Para quem não sofreu tanto o impacto financeiro e pôde conti- nuar consumindo, uma opção foi comprar pela internet. O texto Hábito de consumo adquirido na pandemia deve permane- cer após Covid-19, escrito por Flávia Albuquerque e publicado em 18 de maio de 2020, no site da Agência Brasil, apresenta informações sobre o aumento das compras pela internet e faz uma estimativa de que esses hábitos vão perdurar para além do período de pandemia. Disponível em: https:// agenciabrasil.ebc.com.br/ economia/noticia/2020-05/ habito-de-consumo-adquirido-na- pandemia-deve-permanecer-pos- covid-19. Acesso em: 6 jun. 2020. Curiosidade studiovin/Shutterstock Educação ambiental e sustentabilidadeEducação ambiental e sustentabilidade 101101 https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2020-05/habito-de-consumo-adquirido-na-pandemia-deve-permanecer-pos-covid-19 https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2020-05/habito-de-consumo-adquirido-na-pandemia-deve-permanecer-pos-covid-19 https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2020-05/habito-de-consumo-adquirido-na-pandemia-deve-permanecer-pos-covid-19 https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2020-05/habito-de-consumo-adquirido-na-pandemia-deve-permanecer-pos-covid-19 https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2020-05/habito-de-consumo-adquirido-na-pandemia-deve-permanecer-pos-covid-19 https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2020-05/habito-de-consumo-adquirido-na-pandemia-deve-permanecer-pos-covid-19 102 Educação Ambiental As políticas públicas de planejamento urbano devem considerar o meio ambiente em sua totalidade ao planejar as ações para seus ter- ritórios. Partindo de um diagnóstico que identifique os problemas, as causas e as possíveis soluções urbanas, essas políticas podem adotar medidas eficazes ao introduzir práticas mais sustentáveis. A ausência de uma boa política urbana resulta na produção de cidades com vários problemas socioambientais: déficit habitacio- nal; assentamentos precários; escassez de água potável; esgotos a céu aberto; ausência ou insuficiência de áreas verdes e de es- paços de uso comum de lazer como praças e parques ou desti- nados à prestação de serviços públicos, como escolas, delegacias e postos de saúde; despejos de lixos sobre vias públicas e/ou terrenos baldios; edificações insalubres, sem insolação, mal ven- tiladas e sem privacidade; moradias em áreas sujeitas à dissemi- nação de doenças contagiosas e a acidentes como alagamentos, deslizamentos e incêndios; poluição do solo, da atmosfera e dos recursos hídricos, além da poluição sonora; ruas estreitas e insu- ficientes para o volume de tráfego (saturação do sistema viário, congestionamento); transporte público precário; calçadas de má qualidade e sem acessibilidade universal. (MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ, 2020) Para exigir o cumprimento das legislações e os direitos de cada cidadão, é necessário minimamente conhecê-los, e a educação con- figura-se em um meio apropriado para a disseminação e a reflexão sobre direitos e deveres. A educação pode se articular “a diferen- tes dimensões e espaços da vida social sendo, ela própria, elemen- to constitutivo e constituinte das relações sociais mais amplas. [...] perpassada pelos limites e possibilidades da dinâmica pedagógica, econômica, social, cultural e política de uma dada sociedade” (DOU- RADO; OLIVEIRA 2009, p. 202). A educação, seja ela formal ou não formal, pode introduzir mu- danças na sociedade, com a intenção de produzir novos hábitos que respeitem a vida e o bem comum. A formação de um sujeito-cidadão que seja capaz de atuar em sua realidade de maneira coerente e justa requer o engajamento da sociedade para que todos tenham acesso a uma educação que forme visando à justiça, à coletivida- de e ao respeito. A educação ambiental, por sua vez, centra-se nas questões ambientais de modo global, reconhecendo que todos têm direito a um ambiente saudável, tanto a atual geração como aquelas que ainda virão. Assim, o exercício pleno da cidadania ocorre quando as pessoas se compreendem como responsáveis por suas ações, legitimando-as no seu cotidiano. Esse exercício de cidadania pode ocorrer em diversos espaços, como empresas, escolas, em casa e em espaços públicos. DJTaylor/Shutterstock Educação ambiental e sustentabilidadeEducação ambiental e sustentabilidade 103103 5.2 Práticas de educação ambiental nas residências Vídeo As práticas de educação ambiental podem ocorrer em qualquer contexto, não se restringindo ao espaço escolar, assumindo, assim, sua função principal de proporcionar, aos indivíduos e à coletividade, a possibilidade de construir “valores sociais, conhecimentos, habilida-des, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio am- biente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade” (BRASIL, 1999). A educação ambiental deve começar em casa, com ações simples, mas que podem fazer a diferença para o planeta. As mudanças de hábitos do cotidiano contribuem para a redução de emissão de gases poluentes, ex- tração de matéria-prima e economia de água e energia. Nesse sentido, a educação ambiental assume o compromisso de promover mudanças nos comportamentos, percepções e atitudes referentes ao meio ambiente. Um dos grandes problemas de desperdício doméstico é, certamente, a água potável. Hawken, A. Lovins e H. Lovins (2007) observam que os estoques não renováveis de água doce estão se esgotando. As descar- gas, segundo os autores, gastam 26% do consumo de água doméstico, os chuveiros consomem 18% e as máquinas de lavar roupa consomem 23% de toda água consumida em casa. “Serve-se de água potável de altíssima qualidade para quase todos os fins, inclusive na descarga de banheiros ou na lavagem do chão” (HAWKEN; LOVINS, A; LOVINS, H., 2007, p. 200). Uma possibilidade apontada pelos autores para utilizar menos água potável é colher, em cisternas, a água da chuva e água resultante de banhos e da lava- gem de roupa. Essa água poderia ser utili- zada para a lavagem de calçadas e carros. Pode ser instalado também, em uma residência, um sistema que pode reverter essa água para a des- carga do vaso sanitário. A água armazenada em cisternas pode ser reaproveitada para outras atividades. 104 Educação Ambiental Outro problema que ainda está dentro dos lares (tam- bém no comércio e na indústria) são as geladeiras e freezers mais antigos, que contém clorofluorcarbono (CFC) 2 , substância destruidora da camada de ozônio. Esses aparelhos foram produzidos no Brasil até 2001 (BRASIL, 2020). No entanto, para muitas famílias, não é possível substituí-los por outros mais modernos, tornando-se importante fazer a manutenção correta, evitando o vaza- mento de gases. Os refrigeradores mais modernos trazem, como benefício, a eco- nomia de energia elétrica. Aparelhos novos possuem o Selo Procel de Economia de Energia, que foi desenvolvido pelo Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica em 1993. Esse selo permite ao consumidor saber quais são os aparelhos “mais eficientes e que consomem me- nos energia” (PROCEL, 2020). Após a criação do selo, foram firmadas parcerias com o Inmetro e com: associações de fabricantes, pesquisadores de universidades e laboratórios, com o objetivo de estimular a disponibilidade, no mercado brasileiro, de equipamentos cada vez mais efi- cientes. Para isso, são estabelecidos índices de consumo e desempenho para cada categoria de equipamento. Cada equipamento candidato ao Selo deve ser submetido a ensaios em labo- ratórios indicados pela Eletrobras 3 . Apenas os produtos que atingem esses índices são con- templados com o Selo Procel (PROCEL, 2020). Além do Selo Procel, os aparelhos podem conter a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE). A função da etiqueta é informar ao consumidor sobre o desempenho energético dos aparelhos, veículos e edificações. A ENCE faz parte do Programa Brasileiro de Etiquetagem, o PBE, criado em 1984 pelo então Ministério da Indústria e do Comér- cio (MIC) e pelo Ministério de Minas e Energia (MME). O PBE é coordenado, desde então, pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), que é ligado hoje (até o mo- mento da publicação deste IEI Explica) ao Ministério da Economia (IEI BRASIL, 2020). Composto de carbono, cloro e flúor, já foi muito usado como aerossol e gás para refrigeração. 2 Representação de colheita de água da chuva para sistema de reutilização doméstica. Eletrobras é nome comercial da empresa Centrais Elétricas Brasileiras S.A., que é de controle acionário do governo federal brasileiro e coordena todas as empresas do setor elétrico. 3 Figura 1 Selo Procel Fonte: PROCEL, 2020. Educação ambiental e sustentabilidade 105 A redução no consumo de energia é impor- tante, pois, para sua geração, há necessidade de explorar os recursos naturais, o que pode causar danos ao meio ambiente. Por isso, é necessário economizar energia, trocando lâm- padas incandescentes por fluorescentes 4 , dei- xando luzes acesas somente quando estiver usando o ambiente, diminuindo o tempo dos banhos, fazendo as manutenções necessárias em eletrodomésticos, juntando o máximo de roupa para lavar e passar, além de cuidar dos automóveis. Cada pessoa pode fazer a diferença ao trans- formar hábitos nocivos ao meio ambiente em hábitos sustentáveis. Devido à dinâmica da vida moderna, pode parecer que não é possível fugir das embalagens descartáveis, do uso dos auto- móveis, da comida industrializada e do consu- mismo. Porém, viver de modo sustentável é uma opção e um exercício diário que só pode ser colo- cado em prática com a vontade de cada pessoa. Repensar as escolhas e modificar a forma de viver e conceber o mundo é o início de uma transformação radical na sociedade e é nossa responsabi- lidade concretizar essa aparente utopia. A produção e a venda de lâmpadas incandescentes foram proibidas no Brasil a partir de 30 de junho de 2016. A alternativa foi trocá-las por lâmpadas fluorescentes. Apesar de inicialmente o preço ser superior ao das incandescentes, a economia com energia elétrica mostrou-se em torno de 75%, trazendo benefícios financeiros e para o meio ambiente (CRAIDE, 2016). 4 As lâmpadas fluorescentes têm maior eficiência e economizam mais energia do que as incandescentes. Syda Productions/Shutterstock Figura 2 Modelo de ENCE Fonte: IEI BRASIL, 2020. 106 Educação Ambiental 5.3 Práticas de educação ambiental nas instituições de ensino Vídeo As instituições de ensino têm papel fundamental de proporcionar condições para que os estudantes possam adquirir conhecimentos e habilidades que os ajudem a desenvolver atitudes pertinentes à defesa do meio ambiente, reconhecendo as causas e as consequências dos problemas ambientais. Essas instituições constituem-se em espaços apropriados para a compreensão dos fenômenos da natureza, das alterações ambientais ocasionadas pelas ações humanas. Elas também podem proporcionar o desenvolvimento de novas posturas e valores, os quais visem à con- solidação de uma sociedade que reconheça a importância do equilíbrio ambiental. A mudança mais radical e importante a ser provocada pela educa- ção ambiental é a compreensão de que todas as formas de vida do planeta dependem do equilíbrio ambiental. Capra (2006a), ao escrever sobre a crise da percepção em um tempo em que os problemas globais se agravam e danificam a biosfera e a vida dos seres humanos, destaca que não é possível compreendê-los isoladamente. São problemas sistêmicos, o que significa que estão interliga- dos e são interdependentes. [...] Há soluções para os principais problemas do nosso tempo, algumas delas até mesmo simples. Mas requerem uma mudança radical em nossas percepções, no nosso pensamento e nos nossos valores. [...] A partir do ponto de vista sistêmico, as únicas soluções viáveis são as soluções “sus- tentáveis”. O conceito de sustentabilidade adquire importância- -chave no movimento ecológico. (CAPRAa, 2006, p. 23-24) A compreensão fragmentada do mundo não permite o estabele- cimento de relações equilibradas entre os indivíduos e a sociedade e destes com a natureza. Romper com esse modo reducionista de conce- ber a realidade abre a possibilidade de construir uma sociedade mais equilibrada, justa, equitativa e sustentável. A educação ambiental, nes- se sentido, contribui para o processo de transformação da realidade socioambiental desconstruindo práticas nocivas ao meio ambiente para dar espaço a novas propostas que tragam, em seu cerne, o respei- to, a tolerância, a compreensão, a empatia e o protagonismo. A educação ambiental,ao problematizar a realidade, colabora para sua compreensão e instrumentaliza os sujeitos para o desenvolvimento de ati- tudes críticas frente à crise ambiental, que resultem em transformações individuais e coletivas. Essas transformações passam por valores, hábitos e atitudes que são moldados com base nas vivências de cada um. Ao desenvolver práticas que fortaleçam o reconhecimento da diversi- dade cultural, biológica, étnica e social, os conceitos básicos de educação ambiental são trabalhados de maneira a desenvolver um novo olhar para o ambiente. Essas práticas de educação ambiental devem ser sistêmicas, considerando toda a diversidade e as adversidades que se impõem. A nova racionalidade se constitui de interesses, necessidades, arranjos e urgências e, por vezes, desconsidera a inter-relação e a interatividade dos elementos que constituem o mundo, sejam eles naturais ou sociais. Para desenvolver atividades de educação ambiental é preciso rom- per com o velho paradigma de trabalhar com materiais recicláveis e com datas comemorativas. Com o passar do tempo esse modelo se tornou ineficiente, possuindo um fim nele mesmo. A educação ambiental, na atualidade, requer que o educador possua conhecimentos prévios, com embasamento teórico e objetivos bem planejados, pois as atividades de- senvolvidas com os estudantes adentram suas casas e eles se tornam multiplicadores de ideias e práticas. As escolas podem incitar o debate sobre a ameaça de extinção de es- pécies, a disposição irregular de resíduos, o uso de defensivos agrícolas, o desmatamento e as poluições. A arara-azul, o jacaré-de-papo- amarelo, o tamanduá-bandeira, o lobo-guará, o peixe-boi, o boto-cor-de-rosa, o mico-leão- dourado e a onça-pintada estão entre as espécies da fauna brasileira que estão ameaçadas de extinção (IBGE, 2001). Educação ambiental e sustentabilidadeEducação ambiental e sustentabilidade 107107 Hank Gillette/W ikim edia Com m ons Hank Gillette/W ikim edia Com m ons Leonardo M ercon/Shutterstock Leonardo M ercon/Shutterstock COULANGES/Shutterstock Andrea Izzotti/Shutterstock Andrea Izzotti/Shutterstock Sage Ross/W ikim edia Com m ons Sage Ross/W ikim edia Com m ons Fernando Flores/W ikim edia Com m ons Fernando Flores/W ikim edia Com m ons 108 Educação Ambiental A educação ambiental não é neutra e é permeada por valores que dependem de seu contexto, contudo ela não pode perder a sua essên- cia, a qual é gerar mudanças estruturais na sociedade. O trabalho com a educação ambiental pode ser muito produtivo se o educador abordar os temas de maneira interdisciplinar. O termo interdisciplinaridade tanto pode se referir genericamen- te ao processo de interação entre campos diferentes do saber, quanto poderá dizer, mais restritamente, sobre determinada forma específica de como ocorre tal interação, havendo certa ideia de gradação. [...] referir-nos-emos à interdisciplinaridade, em sua primeira acepção acima, em sua forma processual, em seu sentido de aproximação e diálogo entre campos disciplinares diversos, levando a uma espécie de interdependência entre as disciplinas e tendo como consequência a transformação mútua desses campos. (MENEZES; YASUI, 2012, p. 1.820, grifo nosso) Assim, a interdisciplinaridade é ferramenta primordial para o de- senvolvimento da educação ambiental nas instituições de ensino. Por meio dela, é possível abordar temas que são comuns a mais de uma disciplina e possibilitar ao estudante uma compreensão integrada do mundo. A escola deve trabalhar com métodos efetivos para instigar a apreensão dos fenômenos naturais, das ações humanas e das conse- quências para o meio ambiente. O trabalho interdisciplinar possibilita abordar temas que fazem parte da realidade dos estudantes, de sua comunidade e, com base neles, buscar a compreensão mais global. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento mandatório que define o conjunto de competências gerais que consubstanciam o direito à aprendizagem e ao desenvolvimento, institui que “a educação deve afirmar valores e estimular ações que contribuam para a trans- formação da sociedade tornando-a mais humana, socialmente justa e, também, voltada para a preservação da natureza” (BRASIL, 2018, p. 8). O documento apresenta competências baseadas em direitos éticos, es- téticos e políticos para a formação integral do estudante. Uma das competências se refere à existência de relações entre os direitos, os temas ambientais e o consumo, cabendo ao estudante: argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e deci- sões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. (BRASIL, 2018, p. 9) Em 2018, o Instituto Chico Mendes de Conser- vação da Biodiversidade (ICMBio) lançou uma coleção de livros sobre as espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção. São 4.200 páginas distribuídas em sete volumes que retra- tam a situação atualizada do risco de extinção da fauna, o que pode causar grande impacto para a biodiversidade brasileira. A coleção completa está disponível no site do ICMBio. BRASIL. Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção. Brasília, DF: ICMBio/MMA, 2018. Disponível em: https://www. icmbio.gov.br/portal/component/ content/article/10187. Acesso em: 15 jun. 2020. Leitura https://www.icmbio.gov.br/portal/component/content/article/10187 https://www.icmbio.gov.br/portal/component/content/article/10187 https://www.icmbio.gov.br/portal/component/content/article/10187 Educação ambiental e sustentabilidade 109 goodluz/Shutterstock Para chegar a esse patamar de conviver com os outros e desenvol- ver habilidades e competências, é necessário acesso a informações, co- nhecimentos, estudos, debates, reflexões, compreensão da realidade e respeito às diferenças. Os projetos de educação ambiental desenvolvidos nas instituições de ensino necessitam de fundamentação teórica, a qual aponte a linha epistemológica das atividades e a metodologia que será utilizada. Es- ses projetos devem ter como objetivo principal a sensibilização para as mudanças de hábitos. As atividades podem ocorrer por meio de pales- tras, oficinas, debates, produção de textos, dramatizações, produção de materiais para divulgação, campanhas temáticas e visitas a espaços que possam contribuir para a reflexão sobre o tema. A educação ambiental tem incidência tanto individual quanto coletiva para a emancipação dos sujeitos que possam atuar de maneira crítica e autônoma no mundo. Além disso, pode auxiliar as pes- soas a refletirem sobre os desafios e as possibilidades que se interpõem, coope- rando para a construção de um projeto societário que almeja justiça, equidade, respeito e redução da pobreza e violência. Envolver a comunidade também é impor- tante para o fortalecimento das ações, pois, com outros atores, tem-se a possibili- dade de agregar conhecimentos e saberes, além de ampliar a abrangência da dissemi- nação dos conhecimentos. São grandes os desafios de uma educação ambiental que pro- mova mudanças na relação do ser humano com a natureza e que possibilite sua atuação na realidade socioambiental de maneira comprometida com a vida de todos os seres, superando a hegemo- nia humana. Assim, a educação ambiental deve consolidar seus ob- jetivos legais e teóricos, ocupando-se da vida, gerando expectativas de que haverá um novo mundo em que a coletividade predominará, em que não haverá discriminação e os direitos de todos serão sal- vaguardados. É um grande desafio que se põe diante de todos nós, sem exceção. 110 Educação Ambiental 5.4 Práticas de educação ambiental nas empresas Vídeo O comprometimento da sociedade precisa ser motivado e for- talecido de modo a repercutir na sensibilização sobre a necessidade de protegero meio ambiente. Enquanto a sociedade não assumir que as mudanças de hábitos são necessárias e urgentes, o meio am- biente sofrerá as consequências das ações humanas que continuam desmedidas. O modelo de crescimento econômico que possibilitou a ex- pansão da produção é fator preponderante de degradação ambiental. A exploração irracional dos recursos naturais resultou em ambientes hostis para a vida, em muitas partes do mundo, e as indústrias são responsáveis por grande parte do desequilíbrio ambiental. Em virtude disso, empresas e indústrias mais respon- sáveis passaram a preocupar-se com as questões ambientais. Para tanto, foram desenvolvidas estra- tégias para inserir novas culturas corporativas. Essas estratégias podem ser legislações, normas, acordos, campanhas, certificados e selos. As empresas que buscam desenvolver uma estrutura que permita e fomente a proteção ambiental podem aderir à norma da As- sociação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) NBR 5 ISO 6 14001, a qual especifica as condições necessárias para um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) que seja estratégico e vislumbre o desenvolvimento sustentável da empresa. Agrega-se a isso a preocupação com o ciclo de vida das espécies e a redução do consumo de recursos. Além disso, ao implantá-la, as empresas reduzem custos e objetivam a utilização correta dos recursos, além da preservação da biodiversidade. A versão atualizada da ISO 14001 entende como foco principal a melhoria do desempenho ambiental e não a melhoria do desem- penho do sistema de gestão, dessa forma, serão analisados de forma mais enfática as reais reduções de emissões, efluentes e resíduos que a empresa obteve com a implementação do siste- ma de gestão ambiental. Ainda nesse item, existe a preocupação com o gerenciamento dos aspectos ambientais durante o ciclo de vida do produto ou serviço da organização (TEMPLUM, 2020). NBR é utilizado para representar a expressão norma técnica. 5 “Organização Internacional de Normalização, com sede em Genebra, na Suíça. Foi criada em 1946 e tem como associados organismos de normalização de cerca de 160 países. A ISO tem como objetivo criar normas que facilitem o comércio e promo- vam boas práticas de gestão e o avanço tecnológico, além de disseminar conhecimentos. Suas normas mais conhecidas são a ISO 9000, para gestão da qualidade, e a ISO 14000, para gestão do meio ambiente” (INMETRO, 2020). 6 Quarta/Shutterstock Educação ambiental e sustentabilidade 111 Para a empresa conseguir o certificado ISO 14001, é necessário cumprir as legislações ambientais brasileiras e passar por um proces- so de avaliação. Diferentemente da ISO 14001 7 , a qual não contem- pla responsabilidades sociais em suas normas, a ISO 26000 exige que se integrem ações de promoção de comportamento socialmente res- ponsável para as empresas que desejam incorporar “considerações socioambientais em seus processos decisórios e a responsabilizar-se pelos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente. Isso implica em um comportamento ético e transparente que contribua para o desenvolvimento sustentável” (INMETRO, 2020). Contudo, a ISO 26000 não gera uma certificação, são apenas diretrizes para uso voluntário. Além da certificação, as empresas podem realizar o Estudo de Im- pacto Ambiental (EIA), o qual consiste em um documento técnico em que são avaliados os impactos ambientais de uma obra que será executada. Existem resoluções do Conselho Nacional de Meio Am- biente (CONAMA) que estabelecem quais são os tipos de empreen- dimentos que necessitam solicitar licenciamento ambiental, como: mineração, rodovias, ferrovias, aterros sanitários e estações de tra- tamento de água ou esgoto. O licenciamento permite aos órgãos governamentais ambientais acompanhar as atividades que podem interferir no meio ambiente. “No EIA são abordados os aspectos técnicos necessários à avaliação dos impactos ambientais a serem gerados pelo empreendimento. O EIA deve ser elaborado por equipe técnica multidisciplinar habilitada” (BRASIL, 2020). As empresas também devem apresentar o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), um documento que aponta as consequências am- bientais para a implantação de determinado projeto. O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e adequada a sua compreensão, a fim de propiciar maior compreensão e clareza para população quanto às características do empreendimento, os impactos ambientais gerados, as propostas de mitigação dos im- pactos, entre outros aspectos da implantação e operação do em- preendimento. As informações devem ser traduzidas em linguagem acessível, ilustradas por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação visual, de modo que se possam entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as conse- quências ambientais de sua implementação. (BRASIL, 2020) A Série ISO 14000 é composta de várias normas: 14001: Sistema de Gestão Ambiental; 14004: Sistema de Gestão Ambiental, uso interno; 14010: Auditorias Ambientais; 14031: Desempenho Ambiental; 14020: Rotulagem Ambiental; 14040: Análise do Ciclo de Vida (TEMPLUM, 2020). 7 112 Educação Ambiental Além dos estudos e planeja- mentos formais que as empresas devem fazer para reduzir os impac- tos ambientais causados por suas atividades, elas podem instituir medidas simples em seu cotidiano, como reciclar os resíduos que são gerados no processo produtivo. Para tanto, é necessário classificar os tipos de resíduos, acondicioná- -los em local adequado para serem reciclados ou encaminhados para outra empresa que o faça. Esses resíduos podem ser vendidos ou doados, mas é preciso lembrar que haverá um custo com armazena- mento, funcionários e transporte, o que pode fazer com que muitas empresas não adotem esses procedimentos. Um cuidado fundamental que deve ser tomado, principalmen- te pelas indústrias, é com uso da água. Sabe-se que a água é vital para os processos produtivos e por isso há a necessidade de usá-la racionalmente. A indústria pode dar contribuições positivas; por exemplo: loca- lizando as operações que utilizam muita água em regiões onde o seu suprimento seja suficiente, adotando práticas conservacio- nistas tais como o uso de águas cinzentas 8 nos processos que não exigem água de melhor qualidade, e melhorando a quali- dade da água esgotada após o uso. Só o recurso à reciclagem pode reduzir o consumo de muitas indústrias em 50% ou mais, com a vantagem adicional de diminuir a poluição resultante (SELBORNE, 2002, p. 36). Empresas, indústrias e comércio podem colaborar sobremanei- ra para a economia da água inserindo em seus processos maqui- nários mais modernos, alterando a maneira de prestar os serviços, incentivando seus colaboradores e clientes a utilizarem a água com mais cuidado e promovendo campanhas que visem à economia des- se recurso natural. Esses são apenas alguns exemplos de como as organizações podem colaborar para um mundo mais sustentável, garantindo seus lucros, mas também mantendo um olhar atento e sensível para a natureza. Águas cinzentas ou águas cinzas são aquelas provenientes de chuveiros, pias de banheiros e máquinas de lavar roupa. As chamadas águas negras são resultantes do uso de bacias e vasos sanitários. 8 Rawpixel.com/Shutterstock Educação ambiental e sustentabilidade 113 CONSIDERAÇÕES FINAIS Um dos maiores desafios para a educação ambiental é o envolvimento de toda a sociedade em ações que visem à preservação e à conservação ambientais. Existem múltiplas possibilidades para o desenvolvimento da educação ambiental em diferentes contextos, o que deveria facilitar sua prática. As instituições, corporações, empresas e demais organizações po- dem e devem inserir a educação ambiental em sua rotina. Contudo, ain- da temos espaços resistentes que não consideram a educação ambiental como importante, mas os que a desenvolvem provocam alterações impor- tantes para o meio ambiente. Essas instituiçõesestão promovendo transformações de paradigmas societários que refletirão no futuro. A disseminação de informações e de conhecimentos é importante para que cheguem até a pessoas, de maneira adequada, façam-nas refletir e promovam mudanças. Sabe-se que os desafios aumentam na mesma proporção em que cresce a po- pulação mundial e, consequentemente, exigem a extração de novos re- cursos naturais. O desenvolvimento de sociedades mais sustentáveis é a grande es- perança para a atualidade, pois almeja-se a compreensão da urgência de proteger a natureza, garantindo que a atual e as futuras gerações de seres vivos possam usufruir de um ambiente minimamente saudável. ATIVIDADES 1. Os desafios para a efetivação da educação ambiental são muitos e aumentam na mesma proporção em que a população mundial cresce. Diante desse contexto, como a educação escolar pode colaborar para a promoção de mudanças? 2. As empresas possuem grande responsabilidade para a minimização dos impactos ambientais. Em seu local de trabalho ou de estudo, o que poderia ser feito diferente para colaborar com a proteção ambiental? 3. Vimos que a água ou a falta dela é motivo de grande preocupação para a manutenção das atividades empresariais e domésticas. Como as instituições de ensino podem trabalhar com esse tema de modo a provocar mudanças nas atitudes humanas? 114 Educação Ambiental REFERÊNCIAS BRASIL. 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Há, no entanto, locais em que é uma escolha viver no isolamento, com suas próprias regras e recursos. As comunidades Amish, nos Estados Unidos, por exemplo, vivem como se estivessem no século XVIII. Seus membros são avessos a tecnologia, roupas industrializadas, telefone, automóveis e energia elétrica. Diferente de outros povos, eles possuem recursos financeiros, mas seu modo de vida é uma escolha. É importante desmistificar os determinismos, aos quais se atribui a responsabilidade pelo modo de vida às tecnologias, à política e aos meios de produção. A reflexão sobre outras formas de viver se faz importante para a compreensão de que mudanças de hábitos são viáveis e necessárias para a garantia da sobrevivência humana e dos demais seres. 2. Na atualidade, há indústrias que demonstram preocupação com o meio ambiente e inserem em sua linha de produção práticas ambientalmente corretas, por exemplo, instalando estações para o tratamento da água utilizada no processo industrial, e filtros na chaminés das fábricas, de modo a diminuir os poluentes que são lançados no ar. Outro meio de minimizar os impactos ambientais decorrentes dos processos industriais é a construção de indústrias que utilizem pelo maior tempo possível a luz e a ventilação naturais, economizando, assim, energia elétrica e utilizando menos o ar-condicionado. Saber como a matéria-prima foi plantada, adubada, cultivada, colhida e transportada também deve ser uma preocupação para a indústria. Não basta fazer corretamente apenas o seu processo, toda a cadeia produtiva precisa ser repensada e renovada de maneira a produzir o menor impacto ambiental. O aproveitamento das matérias-primas deve ser otimizado. Assim, deve-se repensar o que fazer com partes que, em geral, não 116 Educação Ambiental são utilizadas pelas indústrias. Partes de alimentos podem virar adubo ou ração. As fibras podem ser utilizadas para a fabricação de vasos e solados de sapatos. As sobras dos vidros podem ser recicladas. Enfim, há pesquisas que mostram que é possível aproveitar e reaproveitar muitos materiais que estão sendo desperdiçados. Desse modo, há a diminuição da extração dos recursos naturais, da poluição e do desperdício. 3. Sabe-se que as questões ambientais não dizem respeito somente à natureza, mas se correlacionam com a política, economia, religião, cultura, tecnologia, educação e saúde. Esses assuntos permeiam os debates diários veiculados nos meios comunicação, que são propagadores de informações e ideias que podem influenciar a modificação de hábitos relacionados ao meio ambiente. A interação e o compartilhamento rápido de informações têm grande potencial para a disseminação deatitudes positivas que estão acontecendo pelo mundo. Na atualidade, pessoas comuns são produtoras de notícias e informações, por meio de sites, blogs e redes sociais. Nem todas as informações são de fontes seguras e imparciais. As análises não podem ser simplistas, levando em consideração apenas alguns aspectos. Daí a importância de saber pesquisar e averiguar os fatos e não reproduzir inverdades. Para o meio ambiente, é importante que as informações sejam corretas, o que pode significar salvar vidas, evitar queimadas, consumir de modo sustentável determinados produtos, por exemplo. Assim, os meios de comunicação sérios, que propagam informações confiáveis, ao se referirem ao meio ambiente, o fazem de forma articulada, colaborando para o equilíbrio ambiental. 2 Consumo, consumismo e meio ambiente 1. As necessidades de consumo, na atualidade, são estimuladas pelos meios de comunicação que impõem ideias e desencadeiam desejos por produtos e serviços. A realização dos desejos e necessidades fazem com que as pessoas alcancem diferenciação social e naturalizem o consumo. Nessa direção, o consumismo se consolidou como uma prática comum nos vários estratos sociais, e os estilos de vida foram padronizados, tendo o consumo como guia e norte impostos pelo sistema capitalista. Refletir sobre as consequências das ações de consumo requer sensibilização de que mudanças são necessárias. Para isso, é preciso reconhecer os problemas ambientais causados pelo consumo e pelo consumismo, como a poluição, a degradação ambiental, o risco de extinção de espécies e as já perceptíveis mudanças climáticas, além das Gabarito 117 enchentes. Para cada produto consumido foram extraídos recursos da natureza, salvo aqueles que são produzidos com materiais reciclados. A extração desses recursos causa impactos diretos e indiretos, como o assoreamento de rios, a redução dos animais e plantas aquáticas, o desmatamento que coopera para aumentar a poluição do ar, bem como pode interferir na captação de água para consumo humano e atingir aquelas comunidades que sobrevivem da pesca, do artesanato e das pequenas propriedades rurais. É urgente mudar as formas de consumo, consumindo menos, conhecendo a procedência das mercadorias, cobrando dos poderes públicos ações de combate ao extrativismo predatório, à falta de tratamento dos esgotos domésticos e industriais e dos resíduos sólidos urbanos. A medida mais poderosa e mais fácil a ser tomada é a redução do consumo de supérfluos, que pode ser feita por cada um de nós e independe de outros agentes. A responsabilidade de minimizar os impactos ambientais causados pelo consumismo é de todos os cidadãos e passa pela sensibilização, conscientização e responsabilidade. 2. Os aterros sanitários estão lotados de resíduos sólidos e algumas municipalidades já apresentam dificuldade em encontrar novas áreas para construir futuros aterros. Manter esses espaços é dispendioso e exige monitoramento ambiental constante, mesmo após o encerramento de suas atividades. Reconhecer que essas situações são nocivas para o meio ambiente pode resultar em mudanças nos hábitos de consumo. As escolhas de produtos precisam ser repensadas, a fim de reduzir a utilização de embalagens descartáveis. Outra ação é o conserto de aparelhos avariados, uma vez que vivemos na cultura do descarte e do efêmero. São ações simples, mas que têm impactos positivos para o meio ambiente, devendo ser praticadas na cotidianidade. Reduzir a geração de resíduos sólidos ou eliminar o desperdício é uma ação que está ao alcance de todos. Em várias partes do mundo existem pessoas que passam fome, enquanto há nações em que o desperdício de alimentos é uma atitude natural. As mudanças de atitudes com o objetivo de gerar menos resíduos sólidos são de responsabilidade de cada um e devem ser compartilhadas por todos. 3. A conservação dos recursos naturais depende de vários fatores e entre eles estão as atitudes humanas que são as mais nocivas para o meio ambiente. Além das ações individuais e coletivas que considerem a finitude dos recursos, o poder público e as instituições de ciência, de tecnologia e de educação devem ser acionados para 118 Educação Ambiental garantir da conservação dos recursos naturais. As instituições têm responsabilidade social e ambiental, devendo organizar ações em defesa da conservação ambiental. Entre elas podem ser citadas: a fiscalização, campanhas publicitárias que abordem temas diversos nesse sentido, como reciclagem, poluição, doenças, enchentes e risco de extinção. Podem ainda ser desenvolvidas ações mais próximas das comunidades mais carentes ou mais afastadas, com o objetivo de geração de renda. Outra medida é o cumprimento das legislações existentes. As instituições de fomento à ciência, à tecnologia e à cultura podem, e devem, investir em pesquisas que visem encontrar matrizes energéticas mais eficazes e menos poluentes, materiais mais duradouros, alternativas para a reciclagem e melhoria das condições de vida das pessoas. As possibilidades são muitas e cada instituição pode colaborar de acordo com a natureza de suas pesquisas, garantindo o cumprimento de sua responsabilidade social e retorno para a sociedade. 3 História da educação ambiental 1. A sociedade civil organizada tem grande potencial para a proposição de sugestões que objetivem a mitigação dos impactos ambientais causados pelas ações humanas. Quando a sociedade se une para buscar soluções para problemas que são comuns, a responsabilidade é compartilhada por todos, bem como os resultados obtidos. Estudamos que os movimentos ambientalistas tiveram início por intermédio de pessoas que se sensibilizaram com os danos causados ao meio ambiente pelas atividades agroindustriais, pelo crescimento desordenado da população e pelo consumo. Com as iniciativas desses grupos, que não tiveram receio em desbravar em suas lutas, as entidades e os governos se manifestaram e ampliaram o debate. As instituições sem fins lucrativos também são exemplo de como a sociedade civil pode se organizar e fortalecer as causas ambientais, obtendo maior alcance e visibilidade. Ao longo da história, as lutas coletivas obtiveram grandes conquistas, como igualdade de direitos entre homens e mulheres, redemocratização de países, direito ao voto e a frequentar a escola, além da luta pela terra. Sabe-se que a defesa do meio ambiente não é tarefa fácil e exige coragem, saberes, conhecimentos e desprendimento, pois a bandeira erguida deve condizer com os atos e hábitos de seus defensores. As lutas são muitas e não podem cessar, pois delas dependem a continuidade da vida, o equilíbrio ambiental e a garantia de que as futuras gerações poderão usufruir de um ambiente saudável. Gabarito 119 2. As legislações brasileiras do início do século XX, referentes às questões ambientais, trataram de normatizar o uso de áreas e recursos naturais, como a água, o solo, a extração de minérios e a produção de madeira. A preocupação inicial era organizar as atividades industriais e comerciais. As sanções para quem descumprisse os poucos artigos que previam a preservação e conservação dos recursos naturais eram brandas. Com isso, acabou se desencadeando uma cultura de que a natureza é fornecedora incansável de recursos naturais e seus ciclos de reposição independem das ações humanas. Na atualidade, é possível testemunhar atos políticos pretensores de diminuição de reservas ecológicas, redução das terras indígenas, extração predatória de madeira de florestas que deveriam ser preservadas, redução da mata ciliar e uso indiscriminado de defensivos agrícolas. O lucro se coloca acima dos ciclos naturais que precisam ser mantidos para a garantia da vida. No Brasil, existe a chamada “bancada ruralista”, que é composta de políticos eleitos que representam os interesses dos produtores rurais, buscam financiamentos e posicionam-se contra a reforma agrária e pelo afrouxamento da legislação ambiental.Diante desse cenário, conclui-se que as legislações são fundamentais para garantir o desenvolvimento sustentável. É preciso equilíbrio nas normatizações de maneira que os danos ambientais já existentes possam ser mitigados, danos futuros sejam evitados e os biomas brasileiros possam ser preservados e conservados. É importante salientar que a democracia exige resiliência e respeito à coletividade, além de garantir os direitos básicos daqueles que não podem se defender. Só assim, a sociedade pode ser considerada justa e igualitária. 3. A educação ambiental, ao possibilitar o diálogo com várias áreas do conhecimento e com os diversos segmentos sociais, colabora para despertar o entendimento da importância do enfrentamento dos problemas ambientais. Para tanto, é necessário reconhecer a crise ambiental pela qual passa o planeta. Essa crise envolve, além das questões ambientais e naturais, questões éticas, morais, políticas, econômicas, culturais e sociais. O meio ambiente não é algo além do ser humano, e envolve a compreensão de que todos são partes integrantes do planeta. A emergência do desenvolvimento de um olhar mais sensível para os problemas ambientais requer que os sujeitos tenham acesso a informações e conhecimentos e possam participar das tomadas de decisões. A educação ambiental configura-se como aliada nesse processo de construção de uma nova racionalidade social. A formação de sujeitos críticos exige romper com o determinismo e compreender que as mudanças são possíveis e dependem 120 Educação Ambiental da mobilização social. A educação ambiental deve caminhar em consonância com as transformações econômicas, políticas, culturais, sociais, educativas, tecnológicas, bem como naturais. Para formar cidadãos críticos, precisa haver o entendimento de que o ser humano constitui e é constituído por essas dimensões. Disso depreende-se a importância de a educação ambiental ser trabalhada de modo sistêmico, respeitando às outras manifestações de vida e buscando o equilíbrio entre a vida humana e a natureza. 4 Políticas de educação ambiental 1. As legislações brasileiras referentes ao meio ambiente são muitas, o que não impede a devastação ambiental que aumenta em todo o país. Após a promulgação da Constituição Federal, outras normas foram editadas ao mesmo tempo em que os problemas ambientais se agravaram. O artigo 225 da Constituição, ao inserir a temática ambiental em seu texto, aponta a dimensão da importância de tratar os assuntos ambientais pelo poder público e fazer cumprir as legislações vigentes. O cumprimento da legislação exige fiscalização e punição para aqueles que não a cumprem. Contudo, o poder público não consegue estar em todos os lugares no momento em que ocorrem descumprimentos das leis. Nesse sentido, a sociedade pode colaborar denunciando sempre que observar alguma irregularidade. Ao constatar ou desconfiar de problemas, como desperdício de água, depósito irregular de detritos e lixo em terrenos baldios, abandono ou maus tratos de animais, ocupação irregular de áreas de proteção ambiental ou mata ciliar, poluição do ar ocasionada por empresas ou veículos, queimadas e ligação clandestina de esgoto na rede pluvial, qualquer cidadão pode e deve denunciar aos órgãos competentes e acompanhar seus desdobramentos. Desse modo, a sociedade poderá contribuir para a proteção ambiental e para o cumprimento das legislações. Para tanto, é necessário sensibilização e conhecimento sobre a importância de cuidar dos recursos naturais, respeitar as culturas e os espaços dos povos tradicionais, repensar os atos de consumo e as relações humanas que devem ser mais solidárias e sustentáveis. O compromisso deve ser individual e coletivo e vislumbrar a sustentabilidade, a justiça e a equidade social. 2. Ao aprovar uma legislação específica sobre educação ambiental, o Brasil fortaleceu a abordagem dos temas referentes ao meio ambiente em espaços formais e não formais de ensino. Ao estabelecer o entendimento conceitual do que é educação ambiental, a norma Gabarito 121 garantiu unidade em seu tratamento de modo que seja compreendida a importância do uso racional e sustentável dos recursos naturais, garantindo que as atuais e as futuras gerações possam usufruir do meio ambiente saudável. Nos 20 anos desde a promulgação da Lei n. 9.795/1999, a exploração dos recursos naturais no Brasil e no mundo aumentou. A importância de uma legislação que torna obrigatória a abordagem da necessidade de estabelecer uma nova relação com a natureza pode fazer com que as pessoas reflitam mais sobre suas ações. Na educação formal, a obrigatoriedade do tema pode resultar em transformações sociais essenciais para a proteção do meio ambiente, em diferentes realidades, devido ao alcance das instituições de ensino. As ações de educação ambiental podem ser desenvolvidas em diferentes contextos, não se restringindo apenas aos espaços escolares. Qualquer instituição pode e deve desenvolver ações e parcerias com o intuito de melhorar a qualidade ambiental de seus colaboradores e de sua comunidade. O equilíbrio ambiental de todo o planeta depende de ações simples e locais, e isso dá a dimensão da responsabilidade de cada um de nós ao sermos ambientalmente educados. São as pequenas ações que trazem grandes transformações. 3. As correntes epistemológicas de educação ambiental são importantes instrumentos para a sistematização das práticas ambientais. O conservacionismo tem sua importância ao defender o uso dos recursos naturais de modo racional, equilibrando exploração ambiental e economia. O preservacionismo, por sua vez, possui uma abordagem mais radical ao defender que as áreas preservadas não devem sofrer nenhuma intervenção humana, o que para alguns ambientalistas seria improvável e improdutivo. As duas abordagens têm sua importância, pois há estudos que mostram que é necessário preservar grandes áreas para que determinadas espécies de plantas e animais possam se reproduzir e manter o ciclo natural da vida. Ao manter áreas preservadas, garante-se que espécies da flora que ainda não foram descobertas e, por consequência, não tiveram suas propriedades estudadas, possam ser pesquisadas no futuro. Em um país com as dimensões territorial e ambiental como o Brasil, há muitas espécies que ainda são desconhecidas e a possibilidade de entrarem em extinção ameaça o patrimônio genético e natural do país. O conservacionismo é mais defendido, principalmente por aqueles que dependem da exploração das riquezas naturais como fonte de recurso econômico. O uso mais racional dos recursos naturais que possa equilibrar a conservação da natureza com as atividades econômicas está na base do desenvolvimento sustentável, pois os seres humanos dependem 122 Educação Ambiental do que é extraído da natureza para sobreviver. Não existe outra fonte de recursos, por isso a importância de conservá-los. Ao contrário do que pode ser compreendido, as duas abordagens se complementam e têm sua importância para a sustentabilidade do planeta. 5 Educação ambiental e sustentabilidade 1. A educação escolar tem grande responsabilidade na mudança de hábitos de seus estudantes. As atividades que são desenvolvidas no interior da escola alcançam as famílias e a comunidade de seu entorno, por isso a importância de se trabalhar a educação ambiental de maneira sistêmica, mostrando que tudo está interligado e que cada ação provoca consequências, em menor ou maior grau. A educação ambiental promove a sensibilização, oportunizando, ao sujeito, o contato com a realidade ambiental que o cerca, refletindo sobre os impactos causados pelas ações humanas. Ao inserir a temática ambiental em suas práticas, a instituição de ensino promove a ampliação dos conhecimentos que os estudantes já possuem previamente, construindo novos saberes que possam ser aplicados em seu dia a dia, em sua comunidade, e que provoquem mudanças. Além de sensibilizar os sujeitos para os problemasambientais, é importante desenvolver o comprometimento com a mudança e com atitudes responsáveis e sustentáveis. Assim, a educação escolar constitui-se na maneira mais eficaz para levar a educação ambiental ao maior número possível de crianças e jovens. Os trabalhos devem ser diversificados para atender às diferenças regionais e culturais, não se restringindo apenas a acessar conhecimentos, mas concretizando ações que possam garantir um futuro mais sustentável. 2. Todos os setores da sociedade têm responsabilidade em relação ao meio ambiente, e as empresas podem colaborar para a disseminação de informações e práticas de educação ambiental. É no local de trabalho ou de estudo que passamos boa parte de nossas vidas e, portanto, é um bom espaço para desenvolver soluções para os problemas ambientais. As empresas mais responsáveis já inseriram, em sua cultura, ações de economia de água e de energia, incentivando seus colaboradores a utilizar de modo adequado os ambientes. Na linha de produção, há empresas que buscam soluções para minimizar qualquer desperdício de matéria-prima, o que aumenta seus lucros e reduz a necessidade de maior extração de recursos naturais. Outra possibilidade é a reutilização de materiais, além do investimento em maquinário mais duradouro e eficiente, que emita menos gases Gabarito 123 poluentes e gere menos resíduos. As empresas que desejam ser reconhecidas como sustentáveis tomam outras iniciativas, como a disponibilização de copos ou canecas reutilizáveis, a disposição de lixeiras seletoras, a utilização dos dois lados dos papéis para impressão, imprimindo o mínimo possível, a instalação de torneiras e interruptores com temporizadores para evitar o desperdício, a preferência para luz e ar naturais e o incentivo à carona solidária entre os funcionários. As responsabilidades social e ambiental são uma importante marca que deve ser explorada pelos empresários e replicada por seus colaboradores e clientes. 3. A água é elemento vital para a manutenção de todas as formas de vida do planeta. Conservá-la é obrigação de todos, pois dela dependem a vida e o desenvolvimento econômico. Mesmo assim, esse recurso natural ainda é muito desperdiçado e tratado como um recurso infinito. As instituições de ensino já têm inserido, em seus currículos, a abordagem do tema sob diferentes enfoques: estado, composição, exploração comercial, rios, mares, geleiras, poluição, enfim, são muitas as possibilidades de abordagem didática. Além dessa abordagem, as instituições de ensino podem trabalhar os aspectos ambientais, sociais e culturais do uso da água, despertando, nos estudantes, a curiosidade e influenciando novas atitudes frente à crise hídrica pela qual muitas localidades já passam. O trabalho pode ocorrer por meio de músicas, vídeos, dramatizações, pesquisas em livros e na internet, visitas aos rios e córregos próximos à instituição e às estações de tratamento de água e esgoto, além de produzir materiais que possam ser divulgados na comunidade. O uso da água faz parte da rotina humana. Alguns possuem maior acesso e outros precisam sair de suas casas e caminhar quilômetros para conseguir um balde de água. Essas diferentes realidades também devem ser trabalhadas com os estudantes a fim de sensibilizá-los para a economia de água e sua valorização, bem como para a compreensão de que sem ela não há riqueza, economia, política ou bens materiais que se sustentem. Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6643-8 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 4 3 8 Código Logístico 59437 A lessand ra A p arecid a Pereira C haves E d u cação A m b ie n tal