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CBI of Miami
Inclusão e Direitos da Pessoa com Deficiência
Paulo da Luz
Ementa da Disciplina Pessoa com Deficiência e Inclusão: Aspectos
Históricos, Sociais e Normativos
Está disponibilizada para todos, porém convém informar que nossa
missão é tentar, em respeito à diversidade da formação dos alunos, encontrar a
forma mais acessível e clara para apresentar a matéria para todos.
Importante destacar que, dentre outras abordagens que serão seguidas,
uma das principais é apresentar da maneira mais direta possível um pouco do
contexto histórico de como as pessoas com deficiência eram vistas para que se
consiga alcançar a compreensão do atual momento. Afinal, para melhor se
entender o presente e construir um bom futuro é primordial que se tenha a
melhor noção de tudo que já foi vivido.
Em meio a esse contexto, perceber-se-á que o passar do tempo –
conjuntamente as lições aprendidas pelas experiências anteriormente vividas e,
bem como com a evolução tecnológica – apresentaram uma nova visão sobre
a pessoa com deficiência e que veio a ser reconhecida e absorvida mundo a
fora.
Antes de se adentrar nas falas de cada um dos períodos que nos
propomos a apresentar aqui – convém destacar que a humanidade passou a
ver a pessoa com deficiência por meio de outros paradigmas – que em geral
foram gradativamente sendo cada vez mais inclusivos...
Por se falar em paradigma, identificamos que é importante trazer para
vocês uma melhor compreensão do que vem a ser dita expressão.
Paradigma:
Se for para falar de forma bem superficial – podemos dizer que ele seria
um conceito das ciências e da epistemologia que define um exemplo típico ou
modelo de algo.
Dentro da perspectiva científica – o ‘entendimento de PARADIGMA’ mais
conhecido é o do Professor Thomas Kuhn e ele “Considera como
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“paradigmas” as realizações científicas universalmente reconhecidas que,
durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma
comunidade de praticantes de uma ciência”
Mas para que não haja o desvirtuamento desta nossa experiência de
apresentação deste módulo – iremos tratar do PARADIGMA de uma forma
mais linear e objetiva – onde ele poderia ser simplesmente compreendido como
a representação de um padrão a ser seguido dentro de um determinado
contexto analisado.
Como se vê e já devem ter percebido o quão os ditos ‘paradigmas’
foram se modificando – sendo construídos e reconstruídos em vários campos e
setores da sociedade com o passar do tempo... E isto não foi diferente no
contexto da pessoa com deficiência – e isto será bem percebido a medida em
que nas aulas for se conversando sobre a construção e reconstrução dos
entendimentos de como elas eram compreendidas em meio a nossa sociedade
no decorrer do tempo
Enfim – cremos que ficará suficientemente esclarecido que - até mesmo
pela lógica e compreensão de como as coisas aconteceram (e, também, é
claro, buscando ao máximo seguir o roteiro da ementa de nossa disciplina) –
trataremos do histórico da pessoa com deficiência no decorrer do tempo.
Obviamente não iremos esgotar todos os seus conteúdos – não
conseguiríamos exaurir todos os detalhes com a riqueza de detalhes que
gostaríamos – mas acreditamos que conseguiremos trazer uma análise
suficientemente clara de como eram e como passaram a ser vistos este nosso
público que estudamos.
Pois vamos em frente.
Período Primitivo
Na verdade, basicamente não se tem registros de como o ser humano
primitivo interagia com as pessoas com deficiência.
Mas acreditamos que considerando que o ser humano era nômade –
sempre em busca de abrigo e alimentos – vivia em condições que hoje
consideramos precárias e que durante um bom tempo não se tem notícias que
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eles viviam em ‘sociedade’ (por mais incipiente que fosse) – possivelmente
quaisquer pessoas com deficiência não conseguiriam sobreviver – afinal de
contas nem poderiam se defender e – considerando todas as dificuldades da
época – certamente não conseguiriam, também, ser sempre defendidas e
amparadas pelos seus pares.
Posteriormente a humanidade – ainda primitiva – mas já mais bem
organizada – passou a se socializar através de pequenos grupos cada vez
maiores e que foram sempre se agrupando e com isso nascendo ‘os embriões
das tribos’ – onde certamente já havia melhor organização – o cultivo de bens
que podiam ser ingeridos e até a criação de animais para abate...
Pensa-se que neste momento ainda tão rudimentar também não havia
muito espaço para quem estivesse ‘fora dos padrões de ser considerado útil ao
grupo’ – e não sendo considerado um ‘peso’ ou ‘fardo’ – em razão da situação
constituída...
Logo, traçando-se até um paralelo do que sabemos da maciça maioria
das tribos indígenas que ocuparam a terra – sobretudo em períodos mais
remotos – é bem provável que as pessoas com deficiência também não
sobrevivessem – mas desta vez por um abandono ou até sacrifício –
lembrando-se que em muitos momentos isto se dava também até por crenças
de que elas seriam alguma punição dos deuses / divindades e, por conseguinte
– deveriam ser “eliminados” da sociedade até para não serem mais um ‘peso’ a
se suportar a situações que já não eram das melhores e, também, para evitar a
perpetuação das alegadas ‘maldições’.
Importante destacar que daquilo que se tem notícia histórica (e
lembremos que estamos aqui fazendo um grande recorte daquilo que melhor
possa auxiliar a contextualizar o objeto desta disciplina) e que nos agrega
melhor compreensão do conteúdo para esta aula é o que será prioritariamente
abordado aqui e é óbvio que algum detalhe ou até alguma informação mais
pormenorizada não será tratada e acredito que as razões já tenham sido
compreendidas por vocês – mas que certamente será complementado pelo
material de apoio.
Ainda em períodos remotos – a exemplo do HOMÉRICO (que também é
antes de Cristo) já se havia a percepção de que pessoas que não estivesse
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dentro do modelo estético e funcional admitido como ‘aceitável’ ou ‘adequado’
– seriam ignoradas e desvalorizadas... Tanto que neste período – as pessoas
com deficiência não só não tinham espaço – mas sequer eram considerados
como parte da comunidade e, portanto, devendo também ser
excluídas/eliminada...
De forma análoga se dava na IDADE ANTIGA... Pois compreendiam
que apenas deveriam ser cuidados e atendidos pela medicina aqueles que
fossem considerados ‘cidadãos de bem que devem ser tratados’ – já os
‘defeituosos de corpo’ serão deixados ‘à morte’ – sendo o melhor para eles,
para os seus e para a cidade.
Ou seja: havia uma busca e incentivo de homogeneização com base no que
“não teria defeito”.
No EGITO antigo – por sua vez – as evidências sempre apontam para a
participação da pessoa com deficiência na sociedade... Não se sabe ao certo
se elas sofriam algum grau de discriminação – mas, caso sofressem,
comparativamente era algo em uma escala mais sutil do que a que até então
comentamos.
Já na GRÉCIA antiga – existia o fomento à eliminação – quer seja por
abandono – quer sejam lançados do alto de alguma montanha/precipício...
Lembremos que na Grécia – cidades como Esparta – havia uma seleção
rigorosa para se escolher os mais fortes e hábeis para vir compor o seu
exército e proteger sua cidade.
Já ROMA antiga – também havia a predominância da PERMISSÃO de
eliminação de todos os que fossem “defeituosos” já desde o nascimento
pelos seus pais (em geral por afogamento.
Também havia o abandono deles em cestos ou pequenas canoas nos
rios para que ficassem à sua sorte...
Aqueles que por acaso nãofossem ‘eliminados’ muitas vezes passaram
a ser pedintes nas ruas e demais ambientes da cidade – bem como poderiam
servir como “artistas de rua” ou de “circos” – deixando-se claro que em geral se
aproveitando da sua característica física ou mental para chamar a atenção...
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Já na ERA CRISTÃ – a Igreja passou a compreender que aquelas
pessoas tinham alma – logo, não mais se admitia sua ‘eliminação’ – mas,
mesmo vivos – não tinham os mesmos direitos civis de quaisquer outros (era
como se fossem uma ‘categoria à parte’).
Sendo assim tais pessoas passaram a ser ‘preservados’ (a vida) –
porém ou eram como uma ‘propriedade’ de cuidadores da Igreja – de forma
segregada da sociedade... Fala-se que poderiam até não morrer no
contexto físico, porém havia uma ‘morte’ social – em razão de serem
segregados do convívio...
Noutras vezes ficavam à disposição na corte (até mesmo para fins de
animação/diversão da própria corte – como ‘bobo da corte, por exemplo – ser
cuidador ou ‘companhia’ de crianças ou de nobres – em geral acontecia com
anões).
Considerando as situações anteriormente expostas – não se pode negar
que houve algum avanço – mas isto sem que houvesse inclusão – afinal as
pessoas com deficiência continuavam sendo vistos como um castigo
experimentado por sua família – um peso para a sociedade – uma maldição
demoníaca ou algo do tipo.
Neste período, dizem alguns estudiosos do tema, a ‘Igreja’ – se valeu
disto para conseguir aumentar seus dízimos – aumentar suas
arrecadações/doações etc., considerando que usavam do argumento de – por
estar agindo ‘altruisticamente’ – deveria ter mais ajuda para as ‘causas da
Igreja’... EXPLORAVAM O SENTIMENTO DE ‘CULPA’ DA FAMÍLIA (QUE
ACREDITAVA ESTAR SENDO AMALDIÇOADA E, PORTANTO, DEVERIA ELA
COMPENSAR COM OBRAS E CARIDADE PARA A IGREJA PARA NÃO SE
MANTER OU PERPETUAR A “MALDIÇÃO”) ...
Também é importante lembrar que existia também o ‘aproveitamento da
pessoa com deficiência’ em serviços secundários da própria Igreja – dentro de
suas condições (tocar o sino etc.) foi um dos artifícios utilizados para trazer o
convencimento de que pela Igreja havia a socialização...
Importante destacar que a atuação da Igreja com relação as pessoas
com deficiência se valiam sobretudo de se olhar e observar eles como “vítimas
das circunstâncias” (e isto independentemente de os considerarem
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amaldiçoados ou o que for) – fala-se, inclusive, amigos que boa parte do
estigma que ainda se tem de identificar a pessoa com deficiência como um
“coitado” ...
O estigma de ‘ser digno de pena’ – em verdade é muito ligado à
influência da Igreja – afinal foi a partir dela que se passou a perceber a pessoa
deficiência não como alguém a ser erradicado do mundo – mas sim, de ser
‘digno de pena’ e de ajuda por quem se dispuser a ajudar (e neste contexto –
seria a Igreja).
Também é importante lembrar que em meio a este período também se
usaram as pessoas com deficiência para serem cobaias de experimentos
médicos e científicos...
O que aqui paramos para refletir era que só os usavam como tal pôr os
considerar ‘pessoas de outro padrão’ (no contexto capacitista) ... Logo, já que
eles não ‘serviam’ para pertencer à sociedade – que fossem então cobaias dos
mais variados experimentos... Medicamentosos – experiências de transferência
(amputação e implante) de membros – estudos de como funcionam os
cérebros etc.
Curioso perceber que boa parte de situações como estas também terem
acontecido em períodos mais recentes – a exemplo de utilização de cobaias
humanas em campos de concentração – em escravos etc.
Período/Idade MODERNA... Neste momento houve prontamente uma
mudança dos paradigmas da sociedade como um todo... A partir de então
passou a haver uma maior influência de ideais ‘humanistas’ – muita influência
da revolução francesa – e outras tantas particularidades – como o incentivo e
promoção à ciência a fim de promover trazer a humanidade a um ‘outro nível’
ou perspectiva.
Foi neste período que nos deparamos com várias inovações que no
contexto geral trouxeram auxílios relevantes às pessoas com deficiência.
Surgiram os meios/métodos alternativos de comunicação com pessoas
surdas (sinais, leitura labial etc.), e com isso os alfabetizando e colaborando
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para sua maior participação junto à sociedade (sobretudo quando esta
sociedade, por sua vez, não acreditava que eles seriam capazes disso).
Também houve a criação do Método Braille – inovações na medicina –
sobretudo no tocante a pessoas que tiveram membros perdidos em guerra
(suturas – reconectando artérias e veias – ao invés de simplesmente cauterizar
com brasa ou óleo quente). Também houve a criação de setores ou locais
especializados para tratar de danos motores de sequelas de guerra, bem como
o atendimento às pessoas cegas e surdas – com o intuito de tentar tratar sua
condição.
Neste período ainda existia um tratamento violento e brutal com maciça
parte das pessoas com perturbações mentais (transtornos etc.) – Destaca-se o
papel de Philippe Pinel que defendia arduamente que tais pessoas deveriam
ser ‘tratadas’ (tal qual doentes) – e não ojerizados e até agredidos – como se
via.
Fazendo um recorte maior – passemos a falar um pouco das mudanças
ocorridas no último Século XX...
Neste período verificamos muitos avanços sobretudo no aspecto de
técnicas ou elementos assistivos (inclusive tecnológicos) visando melhor
auxiliar as pessoas com deficiência... Tais inovações e melhorias àquilo que
já existia também foi fomentado pelo fato de ter surgido um significativo
número sequelados de guerra que precisavam de apoio.
Desde o início do século passado que em muitos lugares da Europa
passaram a criar institutos voltados não só para cuidar – mas sim, para
habilitar as PcDs a fim de que elas se tornassem parte ativa na sociedade.
Fala-se que inspirados pela história de Peter Pan (que de forma lúdica e
fantasiosa trata de uma criança que não quer crescer) serviu de incentivo para
a discussão sobre as crianças inválidas e com a meta de os ‘incluir’ na
sociedade – e não apenas os manter institucionalizados...
A Alemanha, por sua vez, realizou o primeiro censo demográfico
voltado às pessoas com deficiência com a finalidade de – com base nestes
dados passar a melhor organizar e preparar o Estado para não só atender –
mas, também, ter estas pessoas devidamente inseridas no contexto social.
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Nos EUA – também no início do século passado também houve a
Conferência da Casa Branca sobre os cuidados de crianças deficientes – bem
como também algumas indústrias passaram a tentar organizar turmas de
trabalho protegido de pessoas com deficiência nas empresas.
Em meio ao tempo e às guerras, surgiu a necessidade de se buscar
reabilitação (e até habilitação/capacitação) de pessoas sequeladas de
guerra... Houve, posteriormente – a grande depressão (quebra da bolsa em
1929) que trouxe a maior recessão da história do mundo e, pouco após isto
podemos destacar – nos EUA – o exemplo do seu então Presidente – que era
pessoa com deficiência (paraplegia): Franklin Roosevelt e serviu de exemplo
para demonstrar que – desde que com as devidas condições e adaptações do
meio – as pessoas com deficiência podem alcançar vitórias equivalentes às de
pessoas sem deficiência.
Indispensável trazermos o recorte histórico da segunda grande guerra
mundial – onde a Alemanha Nazista eliminou não apenas judeus – mas
também outras tantas pessoas – inclusive pessoas com deficiência – bem
como muitos familiares destas pessoas – sob a alegação de possível carga
hereditária ‘negativa’ – foram esterilizadas – TUDO ISTO SOB A POLÍTICA DE
PURIFICAÇÃO DA RAÇA (ARIANA)...
Com o final da segunda grande guerra – o mundo estava muito
impactado – inclusive no contexto econômico...
Neste período surgiram entidades que tinham a finalidade de orientar e
auxiliar a todos os países do mundo a resolverem problemas motrizes do seu
cotidiano e isto se dava atravésde agências especializadas que – inclusive se
criou uma devotada à pessoa com deficiência.
Algum tempo depois nasceu a Declaração Universal dos Direitos do
Homem que em seu artigo 25 traz menção expressa à pessoa com deficiência
(com a expressão “invalidez’’ – tendo em vista que nomenclatura ‘inválido’ era
a utilizada naquela época).
Percebam – o que já falamos anteriormente – é fato que não obstante
estarem mudando os exemplos – os modelos (paradigmas) ainda existiam (e
ainda existem) fortes resquícios de antigos paradigmas que não aceitam o que
não é considerado padrão / estético ou socialmente admitidos...
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O preconceito da miscigenação de raças – de existência de ‘sub-raças’
ou raças inferiores aos outros ainda é uma constante no mundo – não obstante
em uma intensidade muito menor do que já se foi...
Se vocês, assim como eu, prestaram bem a atenção com o histórico que
de forma tão superficial falamos – decerto podem muito bem perceber o quão
diferente já estamos em dias atuais – apesar de ainda existir muito resquício
instalado...
O ‘paradigma’ atual veio por uma construção baseada nas experiências
que vivemos – sendo estas muitas vezes assertivas e outras nem tanto...
Vivemos ainda com “paradigmas inconclusos”, afinal ainda experimentamos
muita influência de modelos anteriores (sobretudo culturais e comportamentais)
que ainda dificultam a promoção da verdadeira inclusão que deve existir...
Dentre as novas perspectivas que se vislumbram – compreendemos ser
muito válido refletir e distinguir as nomenclaturas direcionadas a este público...
Anteriormente – e vocês devem lembrar – falamos a expressão
‘inválido’..., mas esta não é a única que veio no passar dos tempos.
Dentro do contexto histórico que já tratamos superficialmente,
reconhecemos – vimos que as pessoas com deficiência já foram vistas como
amaldiçoadas, bruxas ou vítimas de bruxaria... Endemoniadas, débeis –
malditos etc. Talvez estas expressões sejam as mais pejorativas e ofensivas
que se atribuíram às pessoas com deficiência...
Mas ainda existem outras... “Débil ou débil mental”; ‘retardado’; doido –
coxo, aleijado, ceguinho, perneta, ‘môco’ – cotó, zarolho e tantos outros –
inclusive com metáforas com requintes de sadismo que preferimos não
compartilhar.
Porém, em meio a tantos com alto grau de agressividade – surgiram
alguns que ao menos à sua época não eram considerados como maldosos...
Além da expressão ‘inválido’ que já mencionamos – já também foi usado
‘deficiente’ – Portador de Deficiência – também é uma expressão que não é
mais (não se deve) entendida como correta – pois, assim como as anteriores –
traz uma carga de preconceito – tendo em vistas que a deficiência não é algo
que se ‘porta’ ou ‘transporta’ – mas sim, é uma característica humana que
existe para alguns indivíduos...
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Logo, mesmo não sendo propriamente (a nosso ver) a expressão a ser
considerada ‘definitiva’ – a mais adequada ao contexto do que estamos falando
é: PESSOA COM DEFICIÊNCIA...
Compreendemos também ser importante destacar que algumas
características destas pessoas são muito marcantes e sua nomenclatura não é
propriamente levada como pejorativa... A exemplo de chamar de “cego” à
pessoa com deficiência visual e de “surdo” para quem é PcD auditivo...
Observemos que mesmo sendo por muitos considerada uma ‘alcunha’
correta – é importante sempre observarmos o contexto e o tom usado na
utilização da expressão – pois, hipoteticamente, a depender do contexto –
poderemos perceber malícia na sua utilização.
De fato, a utilização correta (para alguns: ‘politicamente correta’) da
expressão com relação a este público é sempre algo muito delicado – afinal de
contas nem sempre as pessoas sabem se referir adequadamente àquilo que é
considerado ‘diferente’ e isto não é uma exclusividade das PcDs – mas sim de
vários segmentos genericamente chamados de ‘minoria’ (quanto a sua raça,
orientação sexual etc.).
Ainda sobre conceitos/nomenclaturas – lembremos que também temos
as PNE – Pessoas com Necessidades Especiais – que já se utilizou bastante
para se referir às PcDs – porém, não seria ‘PNE’ a melhor forma de se referir
às pessoas com deficiência – afinal – pessoas com necessidades especiais
são muito além do público com deficiência – pois englobam gestantes, idosos,
obesos – bem como quaisquer pessoas ou segmentos que possuam algum tipo
de “necessidade especial” em algum campo de sua vida.
....
Tratando agora dos ‘tipos de deficiência’ e suas regulamentações e
enquadramento médico – podem destacar que os segmentos são:
A. Deficiência Física – onde se caracteriza pela alteração e
comprometimento de alguma funcionalidade de ordem física – quer seja total
ou parcialmente – como um todo ou em parte do corpo;
B. Deficiência Auditiva;
C. Deficiência Visual;
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D. Deficiência Intelectual - Funcionamento intelectual significativamente
inferior à média, com manifestação antes dos 18 anos e limitações
associadas a duas ou mais habilidades adaptativas;
E. Deficiência Mental / Psicossocial – inclui-se o TEA; Deficiência Mental
(ex: esquizofrenia e transtornos psicóticos); Síndromes Epilépticas; Déficits
cognitivos originados após os 18 anos (traumas etc.).
F. Deficiência Múltipla;
G. Reabilitado.
Em continuidade – convém também refletirmos um pouco e em conjunto
– ainda sobre o perfil da pessoa com deficiência no contexto da sua vida social
e o olhar da sociedade.
Peço licença a vocês para me valer um pouco da arte para também
contextualizar o que agora vamos abordar...
Na música SAMPA, de Caetano Veloso fala que “Narciso acha feio o que
não é espelho” ... E de fato esta expressão traduz muito bem o que se passa
com as minorias também em nosso país...
Se fizermos um teste social e formos a um shopping – por exemplo –
certamente cruzaremos pelos seus corredores com várias pessoas e das mais
variadas características...
Existirão pessoas que passarão completamente despercebidas – pois
não tem nada que nos chame a atenção – mas também – provavelmente –
também cruzaremos com outras que nos chamarão a atenção – quer seja por
algo agradável que nos chama a atenção – ou algo ‘jocoso’ (talvez até por
resquícios ou influência da cultura preconceituosa que vivemos) – ou ainda
algo que nos chama a atenção de forma negativa...
Acreditem – todos nós, sem exceção, já vivenciamos ou vivenciaremos isto e
possivelmente, também, envolvendo alguma pessoa com deficiência etc.
Mesmo com tamanhas campanhas, leis, decretos etc., ainda é muito
frequente se ver pessoas que ao se deparar com alguma pessoa com
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deficiência – tenha para ela o olhar sentimental de piedade... De pena...
Guardando em seu íntimo (ou até verbalizando) o pensamento de que aquela
pessoa é uma “coitada” ... De que jamais será “normal” – que sempre será
dependente e/ou que sempre será um “peso” para sua família.
Certamente este comportamento (mesmo que não venha a ser
verbalizado/demonstrado) é resquício de nossa criação que, por sua vez, veio
por influência dos nossos Pais – que também foram criados assim e assim
sucessivamente...
É patente reconhecer os resquícios daquilo que vimos – historicamente
– pela Igreja – pois viam as pessoas com deficiência como uma ser humano
desafortunado e que – se não for pela misericórdia da própria igreja ou
entidades afins – não teria condições de receber cuidados – cuidados estes
que não possuíam fins de reabilitação ou habilitação.
Tais resquícios são ainda muito presentes – sobretudo por atitudes
excludentes que se vê ao se desrespeitar os espaços reservados às PcDs – ao
não respeito em filas de bancos ou demais estabelecimentos... No trato
cotidiano com eles – na forma de interação dos municípios, estados e da união
com relação a eles...
Mas vejam... Aqui não estamos falando de ausência de Leis... Porque
isto não falta no nosso País – talvez sejamos um dos países com maior
quantidade de Leis de bom conteúdopara o público com deficiência... Porém
ainda nos deparamos, e muito com barreiras ATITUDINAIS...
São calçadas não preparadas – ausência de rampas, sinais sonoros, piso táctil
– preservação de espaços destinados as PCDs etc.
Ainda hoje nossa sociedade em muitos momentos age em conformidade
à ‘Lenda de Procusto’ – que imagino que vocês devam lembrar de quando
falamos dela em aula.
Isto se dá por atitudes positivas e negativas nos deparamos com
situações similares – a exemplo de não permitir acessos e vias transitáveis e
adequadamente sinalizadas e preparadas para que este público também usar
do seu direito de ir e vir de forma independente...
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A ausência/inexistência de cardápios em braile – a “permissão” de receber os
alunos com alguma deficiência na escola – mas não ser ela preparada
estruturalmente e nem com seu pessoal para o incluir e por aí em diante.
O ‘efeito procusto’ é muito presente – pois – apesar de falarmos em
aceitação – respeito – inclusão etc., nem sempre nos deparamos com as
adequações e adaptações a se receber e conviver com o ‘diferente’ – nem
mesmo no aspecto comportamental de muitas pessoas.
A bem da verdade o que nos deparamos é que não se tem em
nosso país a inclusão... Que, a propósito – passaremos agora a tratar
dela.
Para melhor compreender – é interessante também conhecer outras
situações que também já foram (e ainda o são) vivenciadas pelas pessoas com
deficiência...
SEGREGAÇÃO/EXCLUSÃO: historicamente foi a que mais se
vivenciou... Afinal as PCDs não eram aceitas pela comunidade/sociedade e,
portanto, eram abandonados, assassinados etc.
Ainda nos deparamos com isto – mas obviamente não mais no contexto
das mortes – mas sim – por não permitirem que as PCDs vivam ou convivam
socialmente – no pleno gozo de sua independência e cidadania – tendo em
vistas que ainda percebemos preconceitos – negativas de matrícula de escola,
por exemplo e outros tantos exemplos...
A exclusão/segregação ainda é algo muito real e cotidiano no Brasil –
sobretudo quando se observa barreiras físicas e atitudinais que impedem o
gozo de plena cidadania.
Outros pontos a se dialogar é o que vem a ser INTEGRAÇÃO e
INCLUSÃO...
Talvez num primeiro momento – sem parar para refletir – imagine-se que
é a mesma coisa – mas de fato não o é...
A INTEGRAÇÃO é quando alguém não sofre resistências de sua
tentativa de participação em determinado ambiente/contexto – porém, esta
pessoa jamais será vista ou reconhecida por suas particularidades – mas sim,
como uma pessoa tal qual às demais – sem sua percepção única e de que
necessita.
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Já por sua vez a INCLUSÃO é algo bem diferente da integração.
Na integração existe uma verdadeira ‘normalização’ da PCD para que
ela venha a compor os espaços preparados tão-somente para as pessoas que
não sofrem com as mesmas barreiras físicas e atitudinais...
Costumo dizer que na integração é como se eu fosse uma visita na casa de
alguém que constantemente me fala: “minha casa – minhas regras” ...
Enfim... Pela integração verificamos que não é o mundo que te aceita –
mas você que se se convence que este é o mundo que eu devo pedir para
compor e me encaixar – poder-se-ia dizer que é uma ‘normalização’ ou
nivelamento dos comportamentos para se participar de algo – e isto
independentemente de quaisquer particularidades que o ingressante venha a
ter.
Já por sua vez a inclusão tem uma percepção bem mais ampla (e
democraticamente participativa) que a integração – pois nela existe a
percepção prévia de que - antes de tudo – tratamos de PESSOAS e que elas
devem ser aceitas de quem realmente a pessoa é e existe sua completa
aceitação - independentemente de suas caraterísticas individuais ou não.
A inclusão abrange o reconhecimento e valorização da diversidade
como um Direito Humano, o que situa os seus objetivos como prioritários em
todos os níveis... Nesta – é como se existisse um convite para que quem quiser
venha participar – aceitamos o todo – aceitamos, inclusive, aquilo que ainda
não conhecemos tão bem – mas que pertence à diversidade humana.
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