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Importante destacar que, dentre outras abordagens que serão seguidas, uma das principais é apresentar da maneira mais direta possível um pouco do contexto histórico de como as pessoas com deficiência eram vistas para que se consiga alcançar a compreensão do atual momento. Afinal, para melhor se entender o presente e construir um bom futuro é primordial que se tenha a melhor noção de tudo que já foi vivido. Em meio a esse contexto, perceber-se-á que o passar do tempo – conjuntamente as lições aprendidas pelas experiências anteriormente vividas e, bem como com a evolução tecnológica – apresentaram uma nova visão sobre a pessoa com deficiência e que veio a ser reconhecida e absorvida mundo a fora. Antes de se adentrar nas falas de cada um dos períodos que nos propomos a apresentar aqui – convém destacar que a humanidade passou a ver a pessoa com deficiência por meio de outros paradigmas – que em geral foram gradativamente sendo cada vez mais inclusivos... Por se falar em paradigma, identificamos que é importante trazer para vocês uma melhor compreensão do que vem a ser dita expressão. Paradigma: Se for para falar de forma bem superficial – podemos dizer que ele seria um conceito das ciências e da epistemologia que define um exemplo típico ou modelo de algo. Dentro da perspectiva científica – o ‘entendimento de PARADIGMA’ mais conhecido é o do Professor Thomas Kuhn e ele “Considera como 3 CBI of Miami “paradigmas” as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência” Mas para que não haja o desvirtuamento desta nossa experiência de apresentação deste módulo – iremos tratar do PARADIGMA de uma forma mais linear e objetiva – onde ele poderia ser simplesmente compreendido como a representação de um padrão a ser seguido dentro de um determinado contexto analisado. Como se vê e já devem ter percebido o quão os ditos ‘paradigmas’ foram se modificando – sendo construídos e reconstruídos em vários campos e setores da sociedade com o passar do tempo... E isto não foi diferente no contexto da pessoa com deficiência – e isto será bem percebido a medida em que nas aulas for se conversando sobre a construção e reconstrução dos entendimentos de como elas eram compreendidas em meio a nossa sociedade no decorrer do tempo Enfim – cremos que ficará suficientemente esclarecido que - até mesmo pela lógica e compreensão de como as coisas aconteceram (e, também, é claro, buscando ao máximo seguir o roteiro da ementa de nossa disciplina) – trataremos do histórico da pessoa com deficiência no decorrer do tempo. Obviamente não iremos esgotar todos os seus conteúdos – não conseguiríamos exaurir todos os detalhes com a riqueza de detalhes que gostaríamos – mas acreditamos que conseguiremos trazer uma análise suficientemente clara de como eram e como passaram a ser vistos este nosso público que estudamos. Pois vamos em frente. Período Primitivo Na verdade, basicamente não se tem registros de como o ser humano primitivo interagia com as pessoas com deficiência. Mas acreditamos que considerando que o ser humano era nômade – sempre em busca de abrigo e alimentos – vivia em condições que hoje consideramos precárias e que durante um bom tempo não se tem notícias que 4 CBI of Miami eles viviam em ‘sociedade’ (por mais incipiente que fosse) – possivelmente quaisquer pessoas com deficiência não conseguiriam sobreviver – afinal de contas nem poderiam se defender e – considerando todas as dificuldades da época – certamente não conseguiriam, também, ser sempre defendidas e amparadas pelos seus pares. Posteriormente a humanidade – ainda primitiva – mas já mais bem organizada – passou a se socializar através de pequenos grupos cada vez maiores e que foram sempre se agrupando e com isso nascendo ‘os embriões das tribos’ – onde certamente já havia melhor organização – o cultivo de bens que podiam ser ingeridos e até a criação de animais para abate... Pensa-se que neste momento ainda tão rudimentar também não havia muito espaço para quem estivesse ‘fora dos padrões de ser considerado útil ao grupo’ – e não sendo considerado um ‘peso’ ou ‘fardo’ – em razão da situação constituída... Logo, traçando-se até um paralelo do que sabemos da maciça maioria das tribos indígenas que ocuparam a terra – sobretudo em períodos mais remotos – é bem provável que as pessoas com deficiência também não sobrevivessem – mas desta vez por um abandono ou até sacrifício – lembrando-se que em muitos momentos isto se dava também até por crenças de que elas seriam alguma punição dos deuses / divindades e, por conseguinte – deveriam ser “eliminados” da sociedade até para não serem mais um ‘peso’ a se suportar a situações que já não eram das melhores e, também, para evitar a perpetuação das alegadas ‘maldições’. Importante destacar que daquilo que se tem notícia histórica (e lembremos que estamos aqui fazendo um grande recorte daquilo que melhor possa auxiliar a contextualizar o objeto desta disciplina) e que nos agrega melhor compreensão do conteúdo para esta aula é o que será prioritariamente abordado aqui e é óbvio que algum detalhe ou até alguma informação mais pormenorizada não será tratada e acredito que as razões já tenham sido compreendidas por vocês – mas que certamente será complementado pelo material de apoio. Ainda em períodos remotos – a exemplo do HOMÉRICO (que também é antes de Cristo) já se havia a percepção de que pessoas que não estivesse 5 CBI of Miami dentro do modelo estético e funcional admitido como ‘aceitável’ ou ‘adequado’ – seriam ignoradas e desvalorizadas... Tanto que neste período – as pessoas com deficiência não só não tinham espaço – mas sequer eram considerados como parte da comunidade e, portanto, devendo também ser excluídas/eliminada... De forma análoga se dava na IDADE ANTIGA... Pois compreendiam que apenas deveriam ser cuidados e atendidos pela medicina aqueles que fossem considerados ‘cidadãos de bem que devem ser tratados’ – já os ‘defeituosos de corpo’ serão deixados ‘à morte’ – sendo o melhor para eles, para os seus e para a cidade. Ou seja: havia uma busca e incentivo de homogeneização com base no que “não teria defeito”. No EGITO antigo – por sua vez – as evidências sempre apontam para a participação da pessoa com deficiência na sociedade... Não se sabe ao certo se elas sofriam algum grau de discriminação – mas, caso sofressem, comparativamente era algo em uma escala mais sutil do que a que até então comentamos. Já na GRÉCIA antiga – existia o fomento à eliminação – quer seja por abandono – quer sejam lançados do alto de alguma montanha/precipício... Lembremos que na Grécia – cidades como Esparta – havia uma seleção rigorosa para se escolher os mais fortes e hábeis para vir compor o seu exército e proteger sua cidade. Já ROMA antiga – também havia a predominância da PERMISSÃO de eliminação de todos os que fossem “defeituosos” já desde o nascimento pelos seus pais (em geral por afogamento. Também havia o abandono deles em cestos ou pequenas canoas nos rios para que ficassem à sua sorte... Aqueles que por acaso nãofossem ‘eliminados’ muitas vezes passaram a ser pedintes nas ruas e demais ambientes da cidade – bem como poderiam servir como “artistas de rua” ou de “circos” – deixando-se claro que em geral se aproveitando da sua característica física ou mental para chamar a atenção... 6 CBI of Miami Já na ERA CRISTÃ – a Igreja passou a compreender que aquelas pessoas tinham alma – logo, não mais se admitia sua ‘eliminação’ – mas, mesmo vivos – não tinham os mesmos direitos civis de quaisquer outros (era como se fossem uma ‘categoria à parte’). Sendo assim tais pessoas passaram a ser ‘preservados’ (a vida) – porém ou eram como uma ‘propriedade’ de cuidadores da Igreja – de forma segregada da sociedade... Fala-se que poderiam até não morrer no contexto físico, porém havia uma ‘morte’ social – em razão de serem segregados do convívio... Noutras vezes ficavam à disposição na corte (até mesmo para fins de animação/diversão da própria corte – como ‘bobo da corte, por exemplo – ser cuidador ou ‘companhia’ de crianças ou de nobres – em geral acontecia com anões). Considerando as situações anteriormente expostas – não se pode negar que houve algum avanço – mas isto sem que houvesse inclusão – afinal as pessoas com deficiência continuavam sendo vistos como um castigo experimentado por sua família – um peso para a sociedade – uma maldição demoníaca ou algo do tipo. Neste período, dizem alguns estudiosos do tema, a ‘Igreja’ – se valeu disto para conseguir aumentar seus dízimos – aumentar suas arrecadações/doações etc., considerando que usavam do argumento de – por estar agindo ‘altruisticamente’ – deveria ter mais ajuda para as ‘causas da Igreja’... EXPLORAVAM O SENTIMENTO DE ‘CULPA’ DA FAMÍLIA (QUE ACREDITAVA ESTAR SENDO AMALDIÇOADA E, PORTANTO, DEVERIA ELA COMPENSAR COM OBRAS E CARIDADE PARA A IGREJA PARA NÃO SE MANTER OU PERPETUAR A “MALDIÇÃO”) ... Também é importante lembrar que existia também o ‘aproveitamento da pessoa com deficiência’ em serviços secundários da própria Igreja – dentro de suas condições (tocar o sino etc.) foi um dos artifícios utilizados para trazer o convencimento de que pela Igreja havia a socialização... Importante destacar que a atuação da Igreja com relação as pessoas com deficiência se valiam sobretudo de se olhar e observar eles como “vítimas das circunstâncias” (e isto independentemente de os considerarem 7 CBI of Miami amaldiçoados ou o que for) – fala-se, inclusive, amigos que boa parte do estigma que ainda se tem de identificar a pessoa com deficiência como um “coitado” ... O estigma de ‘ser digno de pena’ – em verdade é muito ligado à influência da Igreja – afinal foi a partir dela que se passou a perceber a pessoa deficiência não como alguém a ser erradicado do mundo – mas sim, de ser ‘digno de pena’ e de ajuda por quem se dispuser a ajudar (e neste contexto – seria a Igreja). Também é importante lembrar que em meio a este período também se usaram as pessoas com deficiência para serem cobaias de experimentos médicos e científicos... O que aqui paramos para refletir era que só os usavam como tal pôr os considerar ‘pessoas de outro padrão’ (no contexto capacitista) ... Logo, já que eles não ‘serviam’ para pertencer à sociedade – que fossem então cobaias dos mais variados experimentos... Medicamentosos – experiências de transferência (amputação e implante) de membros – estudos de como funcionam os cérebros etc. Curioso perceber que boa parte de situações como estas também terem acontecido em períodos mais recentes – a exemplo de utilização de cobaias humanas em campos de concentração – em escravos etc. Período/Idade MODERNA... Neste momento houve prontamente uma mudança dos paradigmas da sociedade como um todo... A partir de então passou a haver uma maior influência de ideais ‘humanistas’ – muita influência da revolução francesa – e outras tantas particularidades – como o incentivo e promoção à ciência a fim de promover trazer a humanidade a um ‘outro nível’ ou perspectiva. Foi neste período que nos deparamos com várias inovações que no contexto geral trouxeram auxílios relevantes às pessoas com deficiência. Surgiram os meios/métodos alternativos de comunicação com pessoas surdas (sinais, leitura labial etc.), e com isso os alfabetizando e colaborando 8 CBI of Miami para sua maior participação junto à sociedade (sobretudo quando esta sociedade, por sua vez, não acreditava que eles seriam capazes disso). Também houve a criação do Método Braille – inovações na medicina – sobretudo no tocante a pessoas que tiveram membros perdidos em guerra (suturas – reconectando artérias e veias – ao invés de simplesmente cauterizar com brasa ou óleo quente). Também houve a criação de setores ou locais especializados para tratar de danos motores de sequelas de guerra, bem como o atendimento às pessoas cegas e surdas – com o intuito de tentar tratar sua condição. Neste período ainda existia um tratamento violento e brutal com maciça parte das pessoas com perturbações mentais (transtornos etc.) – Destaca-se o papel de Philippe Pinel que defendia arduamente que tais pessoas deveriam ser ‘tratadas’ (tal qual doentes) – e não ojerizados e até agredidos – como se via. Fazendo um recorte maior – passemos a falar um pouco das mudanças ocorridas no último Século XX... Neste período verificamos muitos avanços sobretudo no aspecto de técnicas ou elementos assistivos (inclusive tecnológicos) visando melhor auxiliar as pessoas com deficiência... Tais inovações e melhorias àquilo que já existia também foi fomentado pelo fato de ter surgido um significativo número sequelados de guerra que precisavam de apoio. Desde o início do século passado que em muitos lugares da Europa passaram a criar institutos voltados não só para cuidar – mas sim, para habilitar as PcDs a fim de que elas se tornassem parte ativa na sociedade. Fala-se que inspirados pela história de Peter Pan (que de forma lúdica e fantasiosa trata de uma criança que não quer crescer) serviu de incentivo para a discussão sobre as crianças inválidas e com a meta de os ‘incluir’ na sociedade – e não apenas os manter institucionalizados... A Alemanha, por sua vez, realizou o primeiro censo demográfico voltado às pessoas com deficiência com a finalidade de – com base nestes dados passar a melhor organizar e preparar o Estado para não só atender – mas, também, ter estas pessoas devidamente inseridas no contexto social. 9 CBI of Miami Nos EUA – também no início do século passado também houve a Conferência da Casa Branca sobre os cuidados de crianças deficientes – bem como também algumas indústrias passaram a tentar organizar turmas de trabalho protegido de pessoas com deficiência nas empresas. Em meio ao tempo e às guerras, surgiu a necessidade de se buscar reabilitação (e até habilitação/capacitação) de pessoas sequeladas de guerra... Houve, posteriormente – a grande depressão (quebra da bolsa em 1929) que trouxe a maior recessão da história do mundo e, pouco após isto podemos destacar – nos EUA – o exemplo do seu então Presidente – que era pessoa com deficiência (paraplegia): Franklin Roosevelt e serviu de exemplo para demonstrar que – desde que com as devidas condições e adaptações do meio – as pessoas com deficiência podem alcançar vitórias equivalentes às de pessoas sem deficiência. Indispensável trazermos o recorte histórico da segunda grande guerra mundial – onde a Alemanha Nazista eliminou não apenas judeus – mas também outras tantas pessoas – inclusive pessoas com deficiência – bem como muitos familiares destas pessoas – sob a alegação de possível carga hereditária ‘negativa’ – foram esterilizadas – TUDO ISTO SOB A POLÍTICA DE PURIFICAÇÃO DA RAÇA (ARIANA)... Com o final da segunda grande guerra – o mundo estava muito impactado – inclusive no contexto econômico... Neste período surgiram entidades que tinham a finalidade de orientar e auxiliar a todos os países do mundo a resolverem problemas motrizes do seu cotidiano e isto se dava atravésde agências especializadas que – inclusive se criou uma devotada à pessoa com deficiência. Algum tempo depois nasceu a Declaração Universal dos Direitos do Homem que em seu artigo 25 traz menção expressa à pessoa com deficiência (com a expressão “invalidez’’ – tendo em vista que nomenclatura ‘inválido’ era a utilizada naquela época). Percebam – o que já falamos anteriormente – é fato que não obstante estarem mudando os exemplos – os modelos (paradigmas) ainda existiam (e ainda existem) fortes resquícios de antigos paradigmas que não aceitam o que não é considerado padrão / estético ou socialmente admitidos... 10 CBI of Miami O preconceito da miscigenação de raças – de existência de ‘sub-raças’ ou raças inferiores aos outros ainda é uma constante no mundo – não obstante em uma intensidade muito menor do que já se foi... Se vocês, assim como eu, prestaram bem a atenção com o histórico que de forma tão superficial falamos – decerto podem muito bem perceber o quão diferente já estamos em dias atuais – apesar de ainda existir muito resquício instalado... O ‘paradigma’ atual veio por uma construção baseada nas experiências que vivemos – sendo estas muitas vezes assertivas e outras nem tanto... Vivemos ainda com “paradigmas inconclusos”, afinal ainda experimentamos muita influência de modelos anteriores (sobretudo culturais e comportamentais) que ainda dificultam a promoção da verdadeira inclusão que deve existir... Dentre as novas perspectivas que se vislumbram – compreendemos ser muito válido refletir e distinguir as nomenclaturas direcionadas a este público... Anteriormente – e vocês devem lembrar – falamos a expressão ‘inválido’..., mas esta não é a única que veio no passar dos tempos. Dentro do contexto histórico que já tratamos superficialmente, reconhecemos – vimos que as pessoas com deficiência já foram vistas como amaldiçoadas, bruxas ou vítimas de bruxaria... Endemoniadas, débeis – malditos etc. Talvez estas expressões sejam as mais pejorativas e ofensivas que se atribuíram às pessoas com deficiência... Mas ainda existem outras... “Débil ou débil mental”; ‘retardado’; doido – coxo, aleijado, ceguinho, perneta, ‘môco’ – cotó, zarolho e tantos outros – inclusive com metáforas com requintes de sadismo que preferimos não compartilhar. Porém, em meio a tantos com alto grau de agressividade – surgiram alguns que ao menos à sua época não eram considerados como maldosos... Além da expressão ‘inválido’ que já mencionamos – já também foi usado ‘deficiente’ – Portador de Deficiência – também é uma expressão que não é mais (não se deve) entendida como correta – pois, assim como as anteriores – traz uma carga de preconceito – tendo em vistas que a deficiência não é algo que se ‘porta’ ou ‘transporta’ – mas sim, é uma característica humana que existe para alguns indivíduos... 11 CBI of Miami Logo, mesmo não sendo propriamente (a nosso ver) a expressão a ser considerada ‘definitiva’ – a mais adequada ao contexto do que estamos falando é: PESSOA COM DEFICIÊNCIA... Compreendemos também ser importante destacar que algumas características destas pessoas são muito marcantes e sua nomenclatura não é propriamente levada como pejorativa... A exemplo de chamar de “cego” à pessoa com deficiência visual e de “surdo” para quem é PcD auditivo... Observemos que mesmo sendo por muitos considerada uma ‘alcunha’ correta – é importante sempre observarmos o contexto e o tom usado na utilização da expressão – pois, hipoteticamente, a depender do contexto – poderemos perceber malícia na sua utilização. De fato, a utilização correta (para alguns: ‘politicamente correta’) da expressão com relação a este público é sempre algo muito delicado – afinal de contas nem sempre as pessoas sabem se referir adequadamente àquilo que é considerado ‘diferente’ e isto não é uma exclusividade das PcDs – mas sim de vários segmentos genericamente chamados de ‘minoria’ (quanto a sua raça, orientação sexual etc.). Ainda sobre conceitos/nomenclaturas – lembremos que também temos as PNE – Pessoas com Necessidades Especiais – que já se utilizou bastante para se referir às PcDs – porém, não seria ‘PNE’ a melhor forma de se referir às pessoas com deficiência – afinal – pessoas com necessidades especiais são muito além do público com deficiência – pois englobam gestantes, idosos, obesos – bem como quaisquer pessoas ou segmentos que possuam algum tipo de “necessidade especial” em algum campo de sua vida. .... Tratando agora dos ‘tipos de deficiência’ e suas regulamentações e enquadramento médico – podem destacar que os segmentos são: A. Deficiência Física – onde se caracteriza pela alteração e comprometimento de alguma funcionalidade de ordem física – quer seja total ou parcialmente – como um todo ou em parte do corpo; B. Deficiência Auditiva; C. Deficiência Visual; 12 CBI of Miami D. Deficiência Intelectual - Funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos 18 anos e limitações associadas a duas ou mais habilidades adaptativas; E. Deficiência Mental / Psicossocial – inclui-se o TEA; Deficiência Mental (ex: esquizofrenia e transtornos psicóticos); Síndromes Epilépticas; Déficits cognitivos originados após os 18 anos (traumas etc.). F. Deficiência Múltipla; G. Reabilitado. Em continuidade – convém também refletirmos um pouco e em conjunto – ainda sobre o perfil da pessoa com deficiência no contexto da sua vida social e o olhar da sociedade. Peço licença a vocês para me valer um pouco da arte para também contextualizar o que agora vamos abordar... Na música SAMPA, de Caetano Veloso fala que “Narciso acha feio o que não é espelho” ... E de fato esta expressão traduz muito bem o que se passa com as minorias também em nosso país... Se fizermos um teste social e formos a um shopping – por exemplo – certamente cruzaremos pelos seus corredores com várias pessoas e das mais variadas características... Existirão pessoas que passarão completamente despercebidas – pois não tem nada que nos chame a atenção – mas também – provavelmente – também cruzaremos com outras que nos chamarão a atenção – quer seja por algo agradável que nos chama a atenção – ou algo ‘jocoso’ (talvez até por resquícios ou influência da cultura preconceituosa que vivemos) – ou ainda algo que nos chama a atenção de forma negativa... Acreditem – todos nós, sem exceção, já vivenciamos ou vivenciaremos isto e possivelmente, também, envolvendo alguma pessoa com deficiência etc. Mesmo com tamanhas campanhas, leis, decretos etc., ainda é muito frequente se ver pessoas que ao se deparar com alguma pessoa com 13 CBI of Miami deficiência – tenha para ela o olhar sentimental de piedade... De pena... Guardando em seu íntimo (ou até verbalizando) o pensamento de que aquela pessoa é uma “coitada” ... De que jamais será “normal” – que sempre será dependente e/ou que sempre será um “peso” para sua família. Certamente este comportamento (mesmo que não venha a ser verbalizado/demonstrado) é resquício de nossa criação que, por sua vez, veio por influência dos nossos Pais – que também foram criados assim e assim sucessivamente... É patente reconhecer os resquícios daquilo que vimos – historicamente – pela Igreja – pois viam as pessoas com deficiência como uma ser humano desafortunado e que – se não for pela misericórdia da própria igreja ou entidades afins – não teria condições de receber cuidados – cuidados estes que não possuíam fins de reabilitação ou habilitação. Tais resquícios são ainda muito presentes – sobretudo por atitudes excludentes que se vê ao se desrespeitar os espaços reservados às PcDs – ao não respeito em filas de bancos ou demais estabelecimentos... No trato cotidiano com eles – na forma de interação dos municípios, estados e da união com relação a eles... Mas vejam... Aqui não estamos falando de ausência de Leis... Porque isto não falta no nosso País – talvez sejamos um dos países com maior quantidade de Leis de bom conteúdopara o público com deficiência... Porém ainda nos deparamos, e muito com barreiras ATITUDINAIS... São calçadas não preparadas – ausência de rampas, sinais sonoros, piso táctil – preservação de espaços destinados as PCDs etc. Ainda hoje nossa sociedade em muitos momentos age em conformidade à ‘Lenda de Procusto’ – que imagino que vocês devam lembrar de quando falamos dela em aula. Isto se dá por atitudes positivas e negativas nos deparamos com situações similares – a exemplo de não permitir acessos e vias transitáveis e adequadamente sinalizadas e preparadas para que este público também usar do seu direito de ir e vir de forma independente... 14 CBI of Miami A ausência/inexistência de cardápios em braile – a “permissão” de receber os alunos com alguma deficiência na escola – mas não ser ela preparada estruturalmente e nem com seu pessoal para o incluir e por aí em diante. O ‘efeito procusto’ é muito presente – pois – apesar de falarmos em aceitação – respeito – inclusão etc., nem sempre nos deparamos com as adequações e adaptações a se receber e conviver com o ‘diferente’ – nem mesmo no aspecto comportamental de muitas pessoas. A bem da verdade o que nos deparamos é que não se tem em nosso país a inclusão... Que, a propósito – passaremos agora a tratar dela. Para melhor compreender – é interessante também conhecer outras situações que também já foram (e ainda o são) vivenciadas pelas pessoas com deficiência... SEGREGAÇÃO/EXCLUSÃO: historicamente foi a que mais se vivenciou... Afinal as PCDs não eram aceitas pela comunidade/sociedade e, portanto, eram abandonados, assassinados etc. Ainda nos deparamos com isto – mas obviamente não mais no contexto das mortes – mas sim – por não permitirem que as PCDs vivam ou convivam socialmente – no pleno gozo de sua independência e cidadania – tendo em vistas que ainda percebemos preconceitos – negativas de matrícula de escola, por exemplo e outros tantos exemplos... A exclusão/segregação ainda é algo muito real e cotidiano no Brasil – sobretudo quando se observa barreiras físicas e atitudinais que impedem o gozo de plena cidadania. Outros pontos a se dialogar é o que vem a ser INTEGRAÇÃO e INCLUSÃO... Talvez num primeiro momento – sem parar para refletir – imagine-se que é a mesma coisa – mas de fato não o é... A INTEGRAÇÃO é quando alguém não sofre resistências de sua tentativa de participação em determinado ambiente/contexto – porém, esta pessoa jamais será vista ou reconhecida por suas particularidades – mas sim, como uma pessoa tal qual às demais – sem sua percepção única e de que necessita. 15 CBI of Miami Já por sua vez a INCLUSÃO é algo bem diferente da integração. Na integração existe uma verdadeira ‘normalização’ da PCD para que ela venha a compor os espaços preparados tão-somente para as pessoas que não sofrem com as mesmas barreiras físicas e atitudinais... Costumo dizer que na integração é como se eu fosse uma visita na casa de alguém que constantemente me fala: “minha casa – minhas regras” ... Enfim... Pela integração verificamos que não é o mundo que te aceita – mas você que se se convence que este é o mundo que eu devo pedir para compor e me encaixar – poder-se-ia dizer que é uma ‘normalização’ ou nivelamento dos comportamentos para se participar de algo – e isto independentemente de quaisquer particularidades que o ingressante venha a ter. Já por sua vez a inclusão tem uma percepção bem mais ampla (e democraticamente participativa) que a integração – pois nela existe a percepção prévia de que - antes de tudo – tratamos de PESSOAS e que elas devem ser aceitas de quem realmente a pessoa é e existe sua completa aceitação - independentemente de suas caraterísticas individuais ou não. A inclusão abrange o reconhecimento e valorização da diversidade como um Direito Humano, o que situa os seus objetivos como prioritários em todos os níveis... Nesta – é como se existisse um convite para que quem quiser venha participar – aceitamos o todo – aceitamos, inclusive, aquilo que ainda não conhecemos tão bem – mas que pertence à diversidade humana. 16 CBI of Miami