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CBI of Miami 
 
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Tutela e Curatela 
Renata Tibyriçá 
 
1. Tutela 
A tutela é cabível para menores de 18 anos em duas situações: quando 
pais falecerem ou forem julgados ausentes nos termos do Código Civil ou 
quando forem destituídos do poder familiar. 
Os pais, antes de falecerem (desde que tivessem o poder familiar), podem 
deixar testamento ou outro documento autêntico com a nomeação do tutor (art. 
1.729 CC). Caso os pais não deixem nomeado, caberá aos parentes 
consanguíneos da criança ou adolescente, pela ordem: aos ascendentes, 
preferindo o de grau próximo ao mais remoto; aos colaterais até o terceiro grau, 
preferindo os mais próximos aos mais remotos, e, no mesmo grau, os mais 
velhos aos mais moços. Juiz escolherá o mais apto a exercer a tutela. 
Cabe ao tutor, de acordo com o art. 1740 do Código Civil, cuidar da 
educação da criança ou adolescente, defendê-lo, entrando inclusive com ações 
judiciais, e sustentá-lo. Também cabe cumprir com todos os deveres que cabem 
aos pais, ouvindo a opinião do adolescente. Além disso, tem atribuição de 
administrar os bens da criança ou adolescente e receber rendas e pensões e 
representar o tutelado até os 16 anos e assisti-lo dos 16 aos 18 anos. O tutor 
tem dever de prestar contas de 2 em 2 anos, de acordo com Código Civil, mas 
juiz pode fixar prazo menor. 
A tutela cessa, conforme art. 1763 e seguintes do Código Civil, pela 
condição do tutelado: quando completa 18 anos, se emancipa ou o poder familiar 
for retomado seja pelos próprios pais ou pela adoção. No entanto, a tutela pode 
cessar antes quando houver o término das funções do tutor: quando termina o 
prazo fixado (que são de 2 anos, mas pode ser ampliado), por escusa legítima, 
por ser removido. Também é possível a cessação do tutor quando for negligente, 
prevaricador ou se tornar incapaz. 
 
 
 
 
 
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2. Curatela 
A curatela, de acordo com a Lei Brasileira de Inclusão, é medida protetiva 
extraordinária (art. 84, § 3.º), devendo ser proporcional às necessidades e às 
circunstâncias de cada caso e durará o menor tempo possível. 
A curatela afeta tão somente atos relacionados aos direitos de natureza 
patrimonial e negocial (art. 85 da LBI) e não alcança direito ao próprio corpo, à 
sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e 
ao voto. 
Estão sujeitos à curatela os maiores de 18 anos que, por outra causa 
transitória ou permanente, não puderem exprimir a sua vontade, os ébrios 
habituais e os viciados em tóxicos e os pródigos conforme art. 1767 do Código 
Civil, pela nova redação dada pela Lei Brasileira de Inclusão. Assim, foram 
excluídos do rol dos curatelados: aqueles que, por enfermidade ou deficiência 
mental, não tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil e os 
excepcionais sem completo desenvolvimento mental. 
Por outro lado, podem pedir a curatela (art. 1768 e 1769 do Código Civil): 
pais ou tutores, cônjuge ou qualquer parente. O Ministério Público, conforme 
nova redação da Lei Brasileira de Inclusão, só poderá pedir nas seguintes 
situações: deficiência mental ou intelectual, se não existir ou não promover a 
interdição alguma das pessoas designadas e se cônjuge ou parentes forem 
menores ou incapazes. Além disso, passou a ser previsto que a própria pessoa 
possa solicitar a curatela. 
Podem ser curador o cônjuge ou companheiro, desde que não separado 
ou o pai ou a mãe, quando não houver cônjuge ou companheiro. Na falta de pai 
ou mãe será o descendente mais apto, preferindo sempre os mais próximos aos 
mais remotos. Não havendo nenhuma destas pessoas acima, o juiz escolherá. 
No caso de pessoa com deficiência o juiz poderá estabelecer curatela 
compartilhada de mais de uma pessoa. 
Aplicam-se à curatela as mesmas regras do exercício da tutela que vimos 
acima, porém a curatela deve respeitar as potencialidades da pessoa, devendo 
ser explicitados os limites da curatela. Deverá haver prestação anual de contas 
pelo curador ao Juiz, conforme art. 84, parágrafo 4.º da Lei Brasileira de Inclusão. 
E, ainda, as pessoas que estão sujeitas à curatela receberão todo o apoio 
 
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necessário para ter preservado o direito à convivência familiar e comunitária, 
sendo evitado o seu recolhimento em estabelecimento que os afaste desse 
convívio (art. 1777 do CC). 
 
3. Interpretação da Curatela à luz da Convenção Internacional sobre os 
Direitos das Pessoas com Deficiência 
À luz da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com 
Deficiência a curatela deve ser interpretada como apoio para pessoa com 
deficiência e nunca como substituição de vontade. Neste sentido no processo de 
curatela devem ser analisados 3 (três) requisitos: a possibilidade de expressão 
da vontade; se a causa é transitória ou permanente; e se a pessoa precisa deste 
apoio de outra pessoa para realização de atos relacionados aos direitos de 
natureza patrimonial e negocial. 
Assim, deve-se garantir a expressão da vontade por meio de tecnologia 
assistiva e por comunicação alternativa. Não restringindo a capacidade se 
houver esta possibilidade, ou seja, se houver possibilidade de apoios 
comunicacionais ou tecnológicos para garantir a expressão da vontade não pode 
haver a restrição da capacidade. Além disso, deve-se verificar a relação da 
pessoa com deficiência com o pretenso curador. 
Não deve ser analisada a capacidade mental da pessoa com deficiência, 
que de acordo com o Comentário Geral n.º 01 do Comitê sobre os Direitos das 
Pessoas com Deficiência da ONU não se confunde com capacidade jurídica, 
sendo conceitos distintos: 
[...] os déficits da capacidade mental, sejam presumidos ou reais, não devem ser 
utilizados como justificação para negar a capacidade jurídica [...] 
O conceito de capacidade mental é, por si, muito controvertido. A 
capacidade mental não é, como se pretende normalmente, um fenômeno 
objetivo, científico e natural, mas que depende dos contextos sociais e políticos, 
assim como das disciplinas, profissões e práticas que desempenham um papel 
predominante na sua análise. 
 
 
 
 
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4. Curatela, BPC, Casamento e Tratamento Médico 
Ainda de acordo com o Comentário Geral n.º 01 do Comitê de Direitos das 
Pessoas com Deficiência da ONU a capacidade jurídica é indispensável para o 
exercício dos direitos civis, políticos, económicos, socias e culturais, e adquirem 
uma importância especial para as pessoas com deficiência quando tem que 
tomar decisões fundamentais com respeito a sua saúde, sua educação e seu 
trabalho. 
Assim, o Comitê afirma que a negação da capacidade jurídica às pessoas 
com deficiência tem feito com que se vejam privadas de muitos direitos 
fundamentais como direito ao voto, direito de casar-se e formar uma família, os 
direitos reprodutivos, o poder familiar, o direito de outorgar seu consentimento 
para as relações íntimas e o tratamento médico e o direito à liberdade. 
Desta forma, a curatela não é requisito para concessão de benefício da 
prestaçãocontinuada (BPC) conforme vem expresso no art. 18 do Decreto 
6214/2007 que regulamenta o BPC: “a concessão do Benefício da Prestação 
Continuada independe da interdição judicial do idoso ou da pessoa com 
deficiência”. Além disso, conforme o art. 493, parágrafo 2.º da Instrução 
Normativa n.º 77/2015 do INSS “não caberá ao INSS fazer exigência de 
interdição do beneficiário, seja ela total ou parcial, consistindo em ônus dos pais, 
tutores, cônjuge, de qualquer parente, ou do Ministério Público, conforme art. 
1.768 do Código Civil.” 
Quanto ao casamento, de acordo com o art. 1548 do CC, pela nova 
redação da Lei Brasileira de Inclusão, não é nulo o casamento pela pessoa com 
deficiência intelectual ou mental, porém é anulável o casamento do incapaz de 
consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento (art. 1550, IV, do 
CC). Deste modo, a pessoa com deficiência mental ou deficiência intelectual em 
idade núbia poderá contrair matrimônio, expressando à vontade diretamente ou 
por meio de seu responsável ou curador (Art. 1550, § 2.º do CC). Além disso, 
não pode haver revogação da autorização pelos curadores (art. 1518 do CC – 
NR da LBI). Neste sentido, a jurisprudência do TJ/SP: 
APELAÇÃO CÍVEL – Ação de interdição transitada em julgado – Pedido 
superveniente de alvará para casar – Não demonstração de recusa, restrição ou 
exigência por parte do Cartório de Registro Civil – Ademais, deficiência mental 
 
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(moderada, no caso concreto) que não obsta o matrimônio (inteligência do artigo 
1.550, parágrafo 2º do Código Civil, introduzido pela lei 13.146/15) - Recurso 
desprovido. 
(TJSP; Apelação Cível 0003427-13.2005.8.26.0072; Relator (a): José Carlos 
Ferreira Alves; Órgão Julgador: 2ª Câmara de Direito Privado; Foro de 
Bebedouro - 1ª. Vara Judicial; Data do Julgamento: 22/09/2020; Data de 
Registro: 23/09/2020) 
 
A pessoa com deficiência não poderá ser obrigada a se submeter a 
intervenção clínica ou cirúrgica ou a tratamento ou a institucionalização forçada. 
Porém, o consentimento da pessoa em situação de curatela pode ser suprido na 
forma da lei nos termos do art. 11, caput e parágrafo único da LBI. Ademais, o 
consentimento prévio, livre e esclarecido de pessoa com deficiência é 
indispensável para a realização de tratamento, procedimento, hospitalização e 
pesquisa científica e mesmo em caso de pessoa em situação de curatela deve 
ser assegurada sua participação, no maior grau possível, para obtenção do 
consentimento (art. 12, caput, e parágrafo 1.º da LBI). 
Por fim, a pesquisa cientifica que envolva pessoa com deficiência em 
situação de tutela ou curatela deve ser realizada, em caráter excepcional, 
apenas quando houve indícios de direito para sua saúde ou para a saúde de 
outras pessoas com deficiência e desde que não haja outra opção de pesquisa 
de eficácia comparável com participantes não tutelados ou curatelados (art. 12, 
parágrafo 2.º da LBI).

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