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Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 1 Disciplina: Perícia Ambiental 30 horas Março de 2015 Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 2 SUMÁRIO PLANO DE ENSINO _________________________________________________ 6 PLANEJAMENTO DE AULAS __________________________________________ 9 1º MÓDULO _______________________________________________________ 10 A. AVALIAÇÕES E PERÍCIAS _______________________________________ 11 1. CONCEITOS INTRODUTÓRIOS _________________________________ 11 1.1 Dispositivos processuais _____________________________________ 11 1.2. Diferenças entre laudos, avaliações e perícias ___________________ 13 2. PERÍCIA AMBIENTAL __________________________________________ 13 3. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL _____________________________________ 15 4. LAUDOS PERICIAIS ___________________________________________ 15 4.1. Modelo de Laudo Pericial ____________________________________ 17 5. PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DO PERITO _______________________ 18 B. MÉTODOS E TÉCNICAS DE PERÍCIA AMBIENTAL ___________________ 21 1. MÉTODOS AMOSTRAIS E PROSPECTIVOS _______________________ 21 2. MÉTODOS ANALÍTICOS _______________________________________ 23 3. MÉTODOS BIOLÓGICOS _______________________________________ 26 4. MÉTODOS MATEMÁTICOS _____________________________________ 28 5. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO ECONÔMICA _________________________ 32 5.1. Valoração econômica de impactos ambientais ____________________ 36 5.2. Método da Produtividade Marginal _____________________________ 36 5.3. Despesas de Reposição _____________________________________ 36 5.4. Despesas de Relocalização __________________________________ 36 5.5. Despesas de Prevenção/Mitigação ____________________________ 37 5.6. Despesas de Proteção ______________________________________ 37 5.7. Método de Custo de Viagem _________________________________ 37 5.8. Método de Preços Hedônicos _________________________________ 38 5.9. Método da Valoração Contingente _____________________________ 38 5.11. Grupos de impactos ambientais ______________________________ 39 6. MÉTODOS DE QUALIFICAÇÃO DE AGRAVOS AMBIENTAIS __________ 39 C. LEGISLAÇÕES, FERRAMENTAS E CASOS _________________________ 43 1. CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO ______________________________ 43 2. PLANO DIRETOR DE CASCAVEL ________________________________ 43 3. GEOPORTAL DE CASCAVEL ___________________________________ 43 4. SHOPPING CATUAI – CASCAVEL/PR ____________________________ 43 Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 3 2º MÓDULO _______________________________________________________ 44 A. SUBSÍDIOS PARA A AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE IMPACTOS AMBIENTAIS _______________________________________________________________ 45 1. CONCEITOS INTRODUTÓRIOS _________________________________ 45 2. IMPACTOS AMBIENTAIS NO PRESENTE _________________________ 46 2.1. Tipos de recursos naturais ___________________________________ 47 3. DANOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELA EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS ____________________________________________________ 51 3.1 Danos nas encostas ________________________________________ 52 3.2. Danos nos corpos líquidos ___________________________________ 53 3.3. Danos nas áreas urbanas ____________________________________ 55 3.4. Danos nas áreas rurais ______________________________________ 55 4. FORMA DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL. MANEJO ADEQUADO E RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS _________________________ 57 5. IMPACTOS AMBIENTAIS DE PROJETOS __________________________ 59 5.1. Impactos ambientais do ciclo de vida do produto __________________ 60 5.2. Impactos ambientais do ciclo de vida da instalação ________________ 62 5.3. Impactos ambientais de acidentes _____________________________ 63 5.4. Papel da análise de risco ambiental ____________________________ 64 6. ESTIMATIVA DE CONSEQUÊNCIAS AMBIENTAIS __________________ 67 6.1. Critério de valor mínimo _____________________________________ 68 6.2. Operações normais ________________________________________ 68 6.3. Acidentes ________________________________________________ 69 7. MODELOS DE VALORAÇÃO ____________________________________ 71 7.1. Princípio do poluidor-pagador _________________________________ 71 7.2. Modelo da disposição-a-pagar ________________________________ 72 7.3. Modelo da disposição-a-receber ______________________________ 72 7.4. Modelo de custo-de-viagem __________________________________ 72 7.5. Modelo de valoração mercantil ________________________________ 72 7.6. Modelo de preço hedônico ___________________________________ 73 7.7. Modelo de avaliação direta ___________________________________ 73 7.8. Títulos de poluição ambiental _________________________________ 73 8. ANÁLISES CONCLUSIVAS _____________________________________ 74 B. PERÍCIA DO SEGURO AMBIENTAL ________________________________ 75 1. SEGURO AMBIENTAL _________________________________________ 76 1.1. Responsabilidade civil por danos ambientais _____________________ 76 1.2. Cobertura do seguro ________________________________________ 77 1.3. Rede de cobertura de riscos ambientais ________________________ 80 2. RISCOS, ACIDENTES, DANOS E CUSTO AMBIENTAL _______________ 83 2.1. Acidente ambiental _________________________________________ 83 2.2. Riscos de acidentes ________________________________________ 84 2.3. Avaliação de risco ambiental em empreendimentos marítimos _______ 85 2.4. Riscos de incêndio em unidades de conservação _________________ 86 Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 4 C. QUESITOS JUDICIAIS __________________________________________ 87 PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DO PERITO _________________________ 89 D. MATERIAL DE APOIO_____________________________________________ 91 REFERÊNCIAS ____________________________________________________ 91 Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 5 APRESENTAÇÃO O Curso de pós-graduação lato sensu em Engenharia de Avaliações e Perícias da Faculdade Assis Gurgacz insere-se na área de conhecimento das Engenharias. Em sua proposta de formação conta com a disciplina motivadora da presente publicação, qual seja: Perícia Ambiental . A disciplina possui trinta horas, abarcando conhecimentos teóricos, exercícios e estudos de caso. Visando atingir os conteúdos programáticos da disciplina nos conteúdos teóricos, apresenta-se no presente trabalho trechos de publicações referenciadas. Destaca-se que, pela amplitude e grau de imersão da bibliografia e webgrafia utilizada, os trechos ora apresentados estão longe de esgotar a totalidade dos conteúdos das obras originais. Por tal razão recomenda-se, para ações prático-profissionais e estudos acadêmicos específicos, a leitura das fontes nos originais. Cascavel, 26 de março de 2015 Solange Irene Smolarek Dias Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 6 PLANO DE ENSINO CURSO HABILITAÇÃO PERÍODO Especialização Engenharia de Avaliações e Perícias 2015/1 CÓDIGO DISCIPLINA CARGA HORÁRIA Perícia ambiental 30 horasDOCENTE Solange Irene Smolarek Dias EMENTA: Conceitos de avaliações e perícias. Responsabilidade civil por danos ambientais. Métodos quantitativos aplicados à perícia ambiental Tecnologias e técnicas de campo aplicadas na avaliação ambiental. Legislação e regulação ambiental no Brasil: Código Florestal. Procedimentos para o desenvolvimento de uma perícia ambiental. OBJETIVOS Contextualizar, conceituar e discutir a importância da Perícia Ambiental. Conhecer e exercitar métodos e técnicas de Perícia Ambiental. Relacionar os conteúdos da disciplina Perícia Ambiental com os demais saberes do curso Engenharia de Avaliações e Perícia. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 1º módulo: A. Avaliações e perícias Dia 10/04/15: aula expositiva dialogada, com uso de multimídia, contemplando: 1. Conceitos introdutórios 2. Perícia ambiental 3. Legislação ambiental 4. Laudos Periciais 5. Procedimentos Técnicos do Perito B. Métodos e técnicas de perícia ambiental Dia 11/04/15 no período da manhã: estudos dos métodos em grupos de alunos, contemplando: 1. Métodos Amostrais e Prospectivos 2. Métodos Analíticos 3. Métodos Biológicos 4. Métodos Matemáticos 5. Métodos de Avaliação Econômica 6. Métodos de Qualificação de Agravos Ambientais C. Legislações, ferramentas e casos Dia 11/04/15 no período da tarde, contemplando: 1. Apresentação da Lei Federal nº 12651.2012_Codigo Florestal 2. Conceito de Plano Diretor 3. O caso de Cascavel-Pr: Plano Diretor e Geoportal 4. Estudos de Laudos Periciais Ambientais 2º módulo: A. Subsídios para a avaliação econômica de impactos ambientais Dia 24/04/15: aula expositiva dialogada, com uso de multimídia, contemplando: 1. Conceitos Introdutórios 2. Impactos Ambientais no Presente 3. Danos Ambientais Causados pela Exploração de Recursos Naturais 3.1 Danos nas Encostas 3.2 Danos nos Corpos Líquidos 3.3 Danos nas Áreas Urbanas 3.4 Danos nas Áreas Rurais 4. Forma de Degradação Ambiental, Manejo Adequado e Recuperação de Áreas Degradadas 5. Impactos Ambientais de Projetos 5.1 Impactos Ambientais do Ciclo de Vida do Produto 5.2 Impactos Ambientais do Ciclo de Vida da Instalação Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 7 5.3 Impactos Ambientais de Acidentes 5.4 Papel da Análise de Risco Ambiental 6 Estimativa de Consequências Ambientais 6.1 Critério do Valor mínimo 6.2 Operações Normais 6.3 Acidentes 7 Modelos de Valoração 8 Análises Conclusivas B. Perícia do Seguro ambiental Dia 25/04/15 no período da manhã: aula expositiva dialogada, com uso de multimídia, contemplando: 1. Seguro Ambiental 1.1 Responsabilidade Civil por Danos Ambientais e a Cobertura do Seguro 1.2 Cobertura do Seguro 1.3 Rede de Cobertura de Riscos Ambientais 2. Riscos, Acidentes, Danos e Custo Ambiental 2.1 Acidente Ambiental 2.2 Riscos de Acidentes 2.3 Avaliação de risco Ambiental em empreendimentos Marítimos 2.4 Riscos de Incêndio em Unidades de Conservação C. Quesitos judiciais A ocorrer no dia 25/04/15 no período da tarde, contemplando: 1. Exercício de resposta a quesitos judiciais 2. Exercício de posicionar-se como assistente técnico e/ou perito judicial METODOLOGIA DE ENSINO Recursos metodológicos: • aulas expositivas dialogadas; • pesquisa bibliográfica e webgráfica; • leituras dirigidas em sala de aula; • estudos de casos; • elaboração de exercícios; • orientação dirigida para a abordagem teórico-conceitual sobre os temas desenvolvidos. Recursos materiais: • Quadro • Expositor multimídia • Bibliografia básica e complementar CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO A avaliação do aluno na disciplina ocorrerá em dois momentos (1º e 2º módulos), cada um deles com peso de 50% na avaliação final de seu desempenho e nos seguintes critérios: • Presença em sala de aula = 50% • Participação efetiva do acadêmico em sala de aula = 50% BIBLIOGRAFIA BÁSICA: ALMEIDA, Josimar Ribeiro de. Perícia ambiental, judicial e securitária: impacto, dano e passivo ambiental. 1. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: Thex, 2008. CUNHA, Sandra Baptista da; GUERRA, Antonio José Teixeira (organizadores). Avaliação e perícia ambiental. 9. ed. Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 2009. MAIA NETO, Francisco. Roteiro prático de avaliações e perícias judiciais. Belo Horizonte: Del Rei, 1997. COMPLEMENTAR: ARIZA, Camila Guedes; SANTOS, Douglas Gomes dos. Qualidade ambiental e planejamento urbano. In: Caminhos de Geografia Uberlândia v. 9, n. 26 Jun/2008 p. 224 - 242 Disponível em: <http://www.ig.ufu.br/revista/caminhos.html> Acesso em 30mai.2009. CARDOSO, Artur Renato Albeche; STEIGLEDER, João Paulo; BARBOSA, Nilo. Ação Civil Pública Nº 037/1.04.0002993-4. Porto Alegre, 2008. Disponível em:< http://4ccr.pgr.mpf.gov.br/documentos-e-publicacoes/cursos/curso-de-valoracao- do-dano-ambiental/Laudo_Uruguaiana_1.pdf> Acesso em 07 set 2012. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 8 CÉSAR, Rogério. Avaliação do Estudo De Impacto Ambiental (EIA) Da Usina Vale Verde Empreendimentos Agrícolas, Município de Goiatuba. Goiânia: Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente Perícia Ambiental, 2007. Disponível em: < http://www.mp.go.gov.br/nat_sucroalcooleiro/Documentos/documentos_art/15.pdf > Acesso em 07 set 2012. COSTA, Marcos Vasconcelos; CHAVES, Paulo Sérgio Viana; OLIVEIRA, Francisco Correia de. Uso das Técnicas de Avaliação de Impacto Ambiental em Estudos Realizados no Ceará. In: XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Uerj – 5 a 9 de setembro de 2005. Rio de Janeiro: Intercom, 2005. Disponível em: <gestaoambiental.catolica-to.edu.br/.../AIA%20-%20TIPOS.pdf > Acesso em 26 jul. 2009. DANTAS, Rubens Alves. Engenharia de avaliações: uma introdução à metodologia científica. São Paulo: Pini, 1998. FECOMBUSTÍVEIS. Seguro ambiental precisa sair do papel. Disponível em: <www.fecombustiveis.org.br/revista/meio- ambiente/seguroambiental-precisa-sair-do-papel.html> Acesso em 25 abr.2009. GONZÁLEZ, Marco Aurélio Stumpf. Laudo pericial judicial. UNISINOS [s.d.] Disponível em: <www.exatec.unisinos.br/~gonzalez/valor/pericias/laudo.html> Acesso em: 06 jun. 2009 LEITE, Mauro. Os desafios do seguro ambiental. In: O mundo da usinagem. Ed 8/2007, pgs 36 a 38. Disponível em: < http://www.omundodausinagem.com.br/edicoes/2007/8/36-39> Acesso em 30mai.2009. NIPA. Glossário. In: Núcleo Interdisciplinar de Perícia Ambiental. Disponível em: <http://www.nipa.com.br/glossario.php>. Acesso em: 25abr.2009. PINTO, Monica. Projeto de Lei obriga empresas a contratar seguradora para cobrir danos ao meio ambiente. In: AnbiemteBrasil. Disponível em: <noticias.ambientebrasil.com.br/noticia/?id=22720> Acesso em 25abr.2009. PINTO, Oriana Piske de Azevedo Magalhães. As três vias de responsabilidade por degradação ambiental. 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In: VIII Fórum de Estudantes e Profissionais de Contabilidade do Estado do Espírito Santo – O Marketing e a Valorização do Profissional Contábil - 30/10 a 01/11/2003 no Sesc - Praia Formosa Aracruz - ES Disponível em: <http://www.fucape.br/_admin/upload/prod_cientifica/prod_28_o_seguro.pdf>Acesso em 30mai.2009. RODRIGUES, Waldecy. Valoração econômica dos impactos ambientais da produção de soja e milho nos cerrados brasileiros. [s.l.]. [s.d.] Disponível em: < www.sober.org.br/palestra/12/07O081> Acesso em 26 jul. 2009. SEIBT, Ana Carolina; SEIBT, Taís Carolina. O seguro ambiental no Brasil e a sua implantação dentro de um contexto de responsabilidade civil. In: Engenharia Ambiental – Espírito santo do Pinhal, v. 5, n. 1, pg 007 a 027, jan. abr. 2008. Disponível em: <http://www.unipinhal.edu.br/ojs/engenhariaambiental/include/getdoc.php?id=267&article=118&mode=pdf> Acesso em 30mai.2009. SILVA, Bruno Campos. Perícia múltipla ambiental – premissas relevantes. 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Laboratório de Engenharia de Produção. Campos dos Goytacazes: 2003. TESSLER, Marga Inge Barth. O valor do dano ambiental. Texto-base para a palestra no Curso de Direito Ambiental e do Consumidor, UFRGS/Instituto por um Planeta Verde, out. 2004. Curso de Especialização em Direito Ambiental Nacional e Internacional. Porto Alegre: UFRGS, 2004. Disponível em: < www.tjrs.jus.br/institu/c.../dano_ambiental__ufrgs_out_2004.pdf> Acesso em 26 jul. 2009 VARGAS, Caroline. Área de interesse ambiental: ocupar ou preservar? In: Forma, imagem, texto e contexto: TCC CAUFAG 2008. Disponível em: <http://www.fag.edu.br/graduacao/arquitetura/ >, produção acadêmica, TCC 2008. Cascavel: Smolarek Arquitetura Ltda, 2009. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 9 PLANEJAMENTO DE AULAS CURSO HABILITAÇÃO PERÍODO Especialização Engenharia de Avaliações e Perícias 2015/1 CÓDIGO DISCIPLINA CARGA HORÁRIA Perícia ambiental 30 horas DOCENTE Solange Irene Smolarek Dias Aula Data Conteúdo Planejado - 30 horas Módulo 1 01 T 10/04 01. Apresentação do Plano de Ensino, do Planejamento de Aulas e do Sistema de Avaliação 02 T 10/04 02. Conceitos introdutórios 03 T 10/04 03. Perícia e Legislação ambiental 04 T 10/04 04. Laudos Periciais 05 T 10/04 05. Procedimentos técnicos do perito 06 T 11/04 06. Estudo dirigido, por grupos, de Métodos Amostrais e Prospectivos 07 T 11/04 07. Estudo dirigido, por grupos, de Métodos Analíticos 08 T 11/04 08. Estudo dirigido, por grupos, de Métodos Biológicos 09 T 11/04 09. Estudo dirigido, por grupos, de Métodos Matemáticos e Métodos de Avaliação Econômica 10 T 11/04 10. Estudo dirigido, por grupos, de Métodos de Qualificação de Agravos Ambientais 11 T 11/04 11. Estudo e compreensão do Código Florestal 12 T 11/04 12. Plano Diretor de Cascavel, Geoportal e Perícia Ambiental 13 T 11/04 13. Plano Diretor de Cascavel, Geoportal e Perícia Ambiental 14 T 11/04 14. Estudo de Casos: Laudos Periciais Ambientais 15 T 11/04 15. Estudo de Casos: Laudos Periciais Ambientais Módulo 2 16 T 24/04 16. Conceitos introdutórios de avaliação econômica de impactos ambientais 17 T 24/04 17. Impactos Ambientais no Presente. Danos (encostas, corpos líquidos, áreas urbanas, áreas rurais) 18 T 24/04 18. Formas de Degradação Ambiental, Manejo Adequado e Recuperação de Áreas Degradadas 19 T 24/04 19. Impactos Ambientais: ciclos de vida de produtos e instalação, acidentes, riscos 20 T 24/04 20. Estimativa de Consequências Ambientais (valor mínimo, operações normais, acidentes, modelos de valoração) 21 T 25/04 21. Seguro Ambiental: Responsabilidade Civil por Danos Ambientais e a Cobertura do Seguro 22 T 25/04 22. Cobertura do Seguro e Rede de Cobertura de Riscos Ambientais 23 T 25/04 23. Riscos, Acidentes, Danos e Custo Ambiental 24 T 25/04 24. Avaliação de risco Ambiental em empreendimentos Marítimos 25 T 25/04 25. Riscos de Incêndio em Unidades de Conservação 26 T 25/04 26. Exercício com três quesitos a serem respondidos por assistentes técnicos e peritos judiciais 27 T 25/04 27. Elaboração de respostas aos três quesitos por assistentes técnicos e peritos judiciais 28 T 25/04 28. Apresentação das respostas aos três quesitos por assistentes técnicos e peritos judiciais 29 T 25/04 29. Apresentação de vídeo sobre perícia ambiental 30 T 25/04 30. Avaliação da metodologia de ensino da disciplina Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 10 1º MÓDULO 15 HORAS Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 11 A. AVALIAÇÕES E PERÍCIAS 1. CONCEITOS INTRODUTÓRIOS Definamos, inicialmente, termos. De acordo com Almeida (2008): Laudos: São conclusões escritas e fundamentadas, onde serão apontados circunstâncias e pareceres submetidos a exame do especialista, adotando-se respostas objetivas ao assunto. Avaliação: Dá-se o nome de avaliação ao exame pericial destinado à estimação de valor, em moeda, de coisas, de direitos e obrigações. De acordo com Dantas (1998), tudo o que se pretende fazer na vida merece um momento de reflexão e análise: uma avaliação . Para orientar a tomada de decisão, algumas questões do tipo: O que? Para que? Por quê? Para quem? Por quem? Como? Quando? Quanto? Qual? São levantadas e carecem de respostas. Para o autor, se as tomadas de decisões dizem respeito a valores, custos e alternativas de investimentos, envolvendo bens de qualquer natureza, além de seus frutos e direitos, deve ser utilizada da especialidade da engenharia denominada de Engenharia de Avaliações . Para Dantas (1998), as avaliações devem ser realizadas com base em normas técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, através de aplicação de metodologia apropriada; devem ser praticadas por: engenheiros, arquitetos, agrônomos, etc., cada um obedecendo a sua habilitação profissional de acordo com as leis do Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura – CONFEA; para os efeitos de direito, devem possuir uma Anotação de responsabilidade técnica – ART. Perícia: Para Almeida (2008), entende-se por perícia o exame procedido por pessoa que tenha determinados conhecimentos técnicos, científicos, artísticos ou práticos acerca dos fatos, circunstâncias objetivas ou condições pessoais inerentes ao fato punível a fim de comprová-los. Pericia versa sobre fatos (Código Processo Civil – CPC, art. 420). A perícia não é um simples meio de prova, é um elemento subsidiário, emanado de um órgão auxiliar da Justiça, para a valoração da prova ou solução da prova destinada a descoberta da verdade. A perícia não vincula o juiz que pode decidir contra sua conclusão, desde que fundamente sua decisão. 1.1 Dispositivos processuais Ainda para Almeida (2008), em todas as áreas técnico-científicas do setor humano, sobre as quais o conhecimento jurídico do magistrado não é suficiente para emitir opiniãotécnica a respeito, faz-se necessária uma perícia para apurar circunstâncias e/ou causas relativas a fatos reais, com vistas ao esclarecimento da verdade. A perícia surge normalmente em decorrência de uma demanda, por iniciativa de uma das partes interessadas na busca de provas de atos e fatos por ela levantados para Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 12 fundamentar um direito pleiteado. A perícia pode ainda surgir por iniciativa do juiz, para o conhecimento e esclarecimento de atos e fatos. Nesse Processo, a parte requerente (autor) ajuíza a ação por meio de procuração outorgada a seu advogado contra a parte requerida (réu), assistida por seu advogado de defesa. O juiz nomeia um perito de sua confiança e cada uma das partes indica o seu assistente técnico , profissional legalmente habilitado pelos Conselhos Regionais. Os três profissionais são intimados a comparecer a um cartório e a prestar compromisso em dia, hora e local designado pelo juiz e neste fazem promessa solene de exercer leal e honradamente a sua função. Tais profissionais acompanharão todas as fases da opinião técnica, onde e quando necessário, com absoluta independência, objetivando sempre a busca da verdade. Jurisdição, ação e processo são os conceitos básicos para resolução dos conflitos de interesse pelo Estado. O processo é uma inter-relação jurídica que se estabelece entre as partes (autor e réu) e o juiz, e tem seu desenvolvimento através de sucessivos atos de seus sujeitos, até a solução final do litígio, ou seja, a sentença proferida pelo juiz. O conflito de interesse entre as partes pode ser denominado lide, litígio ou mérito. O Estado proíbe que os conflitos de interesse sejam resolvidos pelos próprios interessados, considerando crime o exercício das próprias razões. Pois, se assim não fosse, os mais fortes obrigariam os mais fracos e não haveria paz social. Somente algumas situações excepcionais, previstas em lei, permitem ao indivíduo resolver os conflitos de interesse sem pedir socorro ao aparelho estatal. Como o que ocorre em casos de estado de necessidade, legítima defesa, desforço pessoal e imediato na posse. Genericamente, jurisdição é o poder do Estado de fazer justiça (jus dicere). A atividade estatal destinada apenas à apreciação e julgamento dos conflitos de interesses é a jurisdição. Em nosso país, a jurisdição é predominantemente exercida pelos órgãos do Poder Judiciário. O direito que todos os interessados têm de solicitar o pronunciamento da função jurisdicional é denominado direito de ação e os juízes não podem negar seu pronunciamento, ainda que seja desfavorável ao interessado. O Estado utiliza o processo para cumprir essa tarefa. Cada processo receberá a denominação específica de civil, penal, trabalhista, administrativo etc., conforme o ramo do Direito perante o qual se instaurou o conflito. O Estado cria normas jurídicas para regular esse método de composição de litígios. Estas normas jurídicas formam o direito processual, também denominado formal ou instrumental. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 13 Nossa área de atuação diz respeito apenas ao Direito Processual Civil, que corresponde ao ramo da ciência jurídica responsável pelo complexo de normas reguladoras do exercício da jurisdição civil. O modo e a forma com que os processos se movimentam e se desenvolvem, por meio de atos processuais, recebe a denominação de procedimento ou rito processual que, neste caso, é regido pelo Código de Processo Civil (CPC) - Decreto- Lei n° 5.869, de II de janeiro de 1973. O processo é o instrumento pelo qual o Estado resolve os conflitos de interesse. É uma relação social prevista pelas normas jurídicas, denominada relação jurídica. Através da relação jurídica o órgão jurisdicional conhece os conflitos de interesse e pronuncia, pelo Estado, a solução que se torna obrigatória para os envolvidos. Com o trânsito em julgado da decisão (sentença) que conheceu a lide, tal decisão passa a ser uma lei individual e concreta para os envolvidos no processo. Os atos processuais são públicos, porém, alguns processos, como os de interesse público, correm em segredo de justiça. A forma dos atos processuais pode ser por ato das partes, do juiz e atos do escrivão ou chefe de secretaria. Os atos das partes são definidos como unilaterais e bilaterais de vontade e produzem de forma imediata a constituição, a modificação ou a extinção dos direitos processuais. Caso haja desistência da ação, a mesma só produzirá efeito após ser homologada por sentença. 1.2. Diferenças entre laudos, avaliações e perícias Em síntese: o documento legal que formaliza um parecer, denomina-se Laudo. O laudo pode ser de avaliação ou pericial. De avaliação, se versar respeito a valores. Pericial, se elaborado por perito judicial ou assistente técnico de uma das partes, que o elaborarão dentro de suas atribuições profissionais, em busca da verdade. Esclarecidas as diferenças, enquadra-se no objetivo da disciplina , qual seja: perícia ambiental em ações civis . 2. PERÍCIA AMBIENTAL Segundo Cunha (2009), existem diversas modalidades de perícia, que se definem pelas especificidades do objeto a ser periciado e pela área de conhecimento que as fundamentam. Existem as perícias: grafológica, contábil, médica, veterinária, de engenharia, entre outras. O Código de Processo Civil regulamenta os procedimentos comuns a todas essas modalidades sem, contudo, agasalhar as especificidades. A perícia ambiental é também um meio de prova utilizado em processos judiciais, sujeita à mesma regulamentação prevista pelo CPC, com a mesma prática forense, Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 14 mas que irá atender a demandas específicas advindas das questões ambientais, onde o principal objeto é o dano ambiental ocorrido, ou o risco de sua ocorrência. A atividade pericial ambiental estará, ainda, vinculada à legislação tutelar do meio ambiente, designada Legislação Ambiental, que regulamenta a proteção ambiental nos níveis federal, estadual e municipal, no âmbito de uma nova disciplina do Direito, denominada Direito Ambiental. Fonte: Almeida, 2008. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 15 3. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL A legislação ambiental apresenta importantes conceitos e definições a serem considerados na delimitação da área de conhecimento da perícia ambiental. Milaré (1993), citado por Cunha (2009) destaca “os três marcos mais importantes da resposta recente que o ordenamento jurídico tem dado ao clamor social pela imperiosa tutela do meio ambiente”. O primeiro marco é a edição da Lei Federal nº 6.938 , de 31.08.81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. O segundo marco é a promulgação da Lei Federal nº 7.347 , de 24.07.85, que disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico turístico e paisagístico (vetado), e dá outras providências. O terceiro marco é a edição da nova Constituição Federal , de 05.10.88, que deu à questão ambiental um significativo impulso. Cunha (2009) acrescenta ainda a Lei Federal nº 8.078 , de 11.09.90 que instituiu o Código de Defesa ao Consumidor que determinou alguns acréscimos à Lei nº 7.347. A partirde 2012, devemos considerar o novo Código Florestal Brasileiro , aprovado através da Lei Federal nº 12.651 , de 25 de maio de 2012. Afora as legislações federais há as estaduais e municipais. No que diz respeito às municipais devem ser citadas: • O Plano Diretor Municipal • A lei de Uso e Ocupação do Solo Urbano e Rural • A Lei do Meio Ambiente • E outras, se houverem. 4. LAUDOS PERICIAIS De acordo com González (s.d.), o Laudo é o parecer técnico resultante do trabalho realizado pelo Perito, via de regra, escrito. Deve ser redigido pelo próprio Perito, mesmo quando existem Assistentes Técnicos. Os colegas devem receber a oportunidade de examinar o texto e emitir suas opiniões. Esta tarefa deve ser realizada em conjunto, de preferência. O Perito ganha tempo e reduz os debates infrutíferos, desta forma. A maioria dos trabalhos resolve- se dentro do campo técnico, sem margem para opiniões pessoais. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 16 Um laudo pericial é uma forma de prova, cuja produção exige conhecimentos técnicos e científicos, e que se destina a estabelecer, na medida do possível, uma certeza a respeito de determinados fatos e de seus efeitos. O Perito fala somente sobre os efeitos técnicos e científicos. O Juiz declara os efeitos jurídicos desses fatos referidos pelo perito e das conclusões deste. O Perito esclarece os efeitos de fato. O Juiz fixa os efeitos de direito. O Perito deve ter o cuidado de descrever e documentar, da forma mais objetiva possível, os fatos com base nos quais pretende desenvolver sua argumentação e, afinal expor suas conclusões. A função do perito guarda muita semelhança com a própria função do Juiz. O Perito examina fatos e emite um julgamento baseado em seu livre convencimento, respeitado, porém, o princípio da racionalidade e da prevalência da argumentação técnica e científica. O objetivo do trabalho pericial é afastar as dúvidas existentes sobre determinados fatos e sobre as suas consequências práticas. O Perito não emite um julgamento ou parecer jurídico, mas seu trabalho deve levar em consideração os efeitos jurídicos que a prova pericial se destina produzir. O laudo pericial é uma peça do processo, que deverá ser interpretada e avaliada pelo Juiz ou Tribunal, como qualquer outro instrumento de prova e de convencimento. É preciso que todos possam compreendê-lo. Seu texto deve ser claro, preciso e inteligível. O bom profissional não escreve de forma que só outros experts o entendam. É importante distribuir adequadamente o trabalho: 1. Inicia apresentando as partes e a Perícia realizada. 2. Prossegue com o enunciado e o exame das questões principais. 3. Responde aos quesitos formulados pelas partes. 4. Conclui ressaltando aspectos importantes. 5. Em anexo devem ser lançados os dados empregados, os documentos consultados, fotografias e outros elementos de interesse não relacionados no corpo do Laudo. Após a entrega do Laudo, o Juiz intima as partes para tomarem conhecimento do mesmo. Há um prazo para que se manifestem. As partes podem concordar com o Laudo ou discordar, contestar, solicitar esclarecimentos, formular quesitos adicionais ou mesmo impugnar o Laudo e pedir a realização de nova perícia. A complementação de perícia busca responder ou resolver as dúvidas remanescentes. A resposta a quesitos adicionais ou suplementares geralmente exige a carga dos autos e novo exame da causa, pelo intervalo de tempo que decorre entre a entrega do Laudo e a intimação para a complementação. O Perito pode ser convocado para prestar esclarecimentos em audiência, verbalmente. As partes devem indicar com antecedência os quesitos a serem respondidos. Não o fazendo, na audiência, o Perito pode alegar a complexidade da questão e solicitar prazo para respondê-los. Além disto, quando o trabalho adicional Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 17 é significativo, exigindo tempo, dedicação e despesas extras, o Perito pode solicitar os honorários correspondentes. 4.1. Modelo de Laudo Pericial EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA........ª VARA CÍVEL DE (CIDADE-ESTADO) AUTOS N°....../..........AÇÃO DE PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVAS REQUERENTES: .......................................................................................... REQUERIDO: ............................................................................................... ............................ <nome>..........,............<graduação>...............,Portador da carteira (conselho de classe) sob n° ..........................., perito judicial nomeado nos presentes Autos, vem mui respeitosamente à presença de Vossa Excelência para apresentar o presente Laudo Pericial. Em relação aos quesitos formulados pelos Requerentes às fls.......a ........ dos presentes Autos, responde-se na mesma ordem. I) R 2) R 3) R 4) R- À disposição de Vossa Excelência para outras informações que julgar pertinentes. (cidade) ................................ _________________________________________ Perito judicial (conselho regional) n° . Anotação ou Registro Responsabilidade Técnica – ART ou RRT n° . Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 18 5. PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DO PERITO Portugal (s.d.) apresenta uma sequência natural para a confecção do Laudo de Perícia Ambiental. O autor esclarece que esta sequência trata-se de um caso hipotético. Na realidade, na maioria dos casos não se tem ou não são necessários todos os elementos abaixo listados. Para cada caso específico são importantes os itens mais relacionados com o problema ambiental em estudo. 1. EXAME DO LOCAL 1.1. Localização da Área : Plotar a área a ser periciada mapograficamente e em escala(s) compatível(s). Utilizar preferencialmente as coordenadas geográficas em UTM. 1.2. Situação Legal da Área : Verificar se a área é pública ou privada, a qual unidade(s) da federação pertence. Descrever sucintamente a que se destina e qual o seu uso atual. 1.3. Clima : Realizar o levantamento climatológico regional. 1.4. Recursos Hídricos : Inventariar os recursos hídricos superficiais subterrâneos e mapear os corpos d’água. 1.5. Geomorfologia e Geologia : Descrever o relevo e relacionar os recursos minerais. 1.6. Solos : Mapear os solos, com considerações sobre a pedologia e a edafologia. 1.7. Vegetação : Descrever a mapear as principais formas de vegetação. Listar as plantas, principalmente as de interesse econômico. Constatar a ocorrência de espécies raras ou endêmicas. 1.8. Fauna : Levantar principalmente os vertebrados, dando ênfase às espécies endêmicas, raras, migratórias e cinegéticas. 1.9. Ecossistemas : Identificar e descrever os principais ecossistemas da área, nos seus componentes abióticos e bióticos. 1.10. Áreas de interesse histórico ou cultural : Listar e descrever locais de interesse histórico, culturais e jazidas fossilíferas que estejam num raio de 50 km. 1.11. Área de Preservação : Constatar se o local descrito está inserido em área protegida por lei (Parques Nacional ou Estadual, Estação Ecológica, Reserva Biológica, etc.). Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 19 1.12. Infraestruturas : Descrever as infraestruturas existentes no local (núcleo habitacional, telefonia, estrada, cooperativas, etc.). 1.13. Atividades previstas, ocorridas ou existentesna ár ea: Relatar as tecnologias a serem utilizadas nas fases de implementação e operação do empreendimento. Listar insumos e equipamentos. 2. DISCUSSÃO 2.1. Diagnóstico Ambiental da área 2.1.1. Uso atual da terra: Constatar o uso atual da terra, dar o percentual utilizado pela agropecuária. 2.1.2. Uso atual da água: Constatar o uso atual da água, bem como obras de engenharia (canal, dique, barragem, drenagem, etc.). Verificar se ocorrem fontes poluidoras. 2.1.3. Avaliação da situação ecológica atual: Realizar o levantamento das ações antrópicas anteriores e atuais, bem como relatar a situação da vegetação e fauna nativas. Com os dados obtidos inferir sobre a estabilidade ecológica dos ecossistemas da área. 2.1.4. Avaliação sócio econômica: Analisar a situação sócio econômica da área, através de uma metodologia compatível com a realidade regional. 2.2. Impactos Ambientais esperados para a área 2.2.1. Impactos ecológicos: Listar e analisar os impactos ecológicos, levando em consideração a saúde pública e a estabilidade dos ecossistemas naturais, principalmente se está em áreas protegidas por lei. 2.2.2. Impactos sócio econômicos: Avaliar os impactos sócio econômicos da área, levando em consideração os aspectos médicos e sanitários. 2.2.3. Perspectivas da evolução ambiental da área: Inferir sobre qual seria a evolução da área com ou sem o empreendimento. 2.3. Considerações Complementares (quando for o caso) 2.3.1. Alternativas tecnológicas e locacionais: Optar por alternativas menos impactantes para o meio ambiente, tanto em termos tecnológicos como locacionais. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 20 2.3.2. Recomendações para minimizar os impactos adversos e incrementar os benéficos: Listar as recomendações específicas para minimizar os impactos negativos e incrementar os benéficos. 2.3.3. Recomendações para o monitoramento dos impactos ambientais adversos: Desenvolver e implantar programas de biomonitoramento, de controle de qualidade da água, de controle de erosão, etc. 2.4. Apreciação dos quesitos : Como geralmente há quesitos formulados pelo Promotor, Juiz ou Delegado, neste subitem eles deverão ser claramente discutidos e esclarecidos. 3. CONCLUSÃO Deve ser elaborada de forma sucinta, mas, sempre que possível, conclusiva, abrangendo os aspectos ambientais anteriormente discutidos. CONSIDERAÇÕES FINAIS O Perito Criminal deve evitar ao máximo de entrar no mérito estritamente legal da questão ambiental, isto é, citar lei, artigo, parágrafo, etc. Qualquer deslize "legal" que o Perito venha por ventura cometer poderá comprometer todo o trabalho durante o julgamento da questão. A Perícia de Meio Ambiente, assim como qualquer trabalho na área ambiental, deve ser preferencialmente efetuada por uma equipe multidisciplinar de Peritos, e que atuem interdisciplinarmente. Em função disto, os Institutos de Criminalística devem procurar diversificar as formações universitárias dos seus membros. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 21 B. MÉTODOS E TÉCNICAS DE PERÍCIA AMBIENTAL Na elaboração do Laudo de Perícia Ambiental, em algumas circunstâncias faz-se necessária a análise e avaliação de impactos, danos e passivos ambientais. O objetivo de tais análises e avaliações é a formação da prova pericial e o nexo causal, entendido como o vínculo entre a conduta ilícita e o dano. Tais análises e avaliações pressupõem atribuição, experiência e larga prática profissional para as mesmas. A título de informação, descreveremos alguns dos métodos passíveis de serem utilizados. A referência para os métodos amostrais e prospectivos, analíticos, biológicos, de avaliação econômica, de qualificação de agravos ambientais é Almeida (2008), na parte 4 da obra referenciada. 1. MÉTODOS AMOSTRAIS E PROSPECTIVOS A amostragem consiste na obtenção de material (solo, ar do solo) para a posterior análise. Depois que o levantamento histórico forneceu referências a substâncias nocivas e a sua posição aproximada, elas devem ser analisadas mais a fundo, para obterem-se os resultados de medição com força de comprovação. Para poder realizar estes levantamentos técnicos e analíticos a baixo custo, o procedimento deve ser bem elaborado e planejado. As falhas cometidas na amostragem (posição, quantidade, representatividade), na preparação das amostras (conservação, recipiente de amostras) e na análise posterior, podem adulterar de forma desfavorável avaliação de uma localidade. A amostragem compõe-se de: • escolha dos pontos de amostragem; • escolha de equipamentos; • executar as perfurações; • coleta das amostras; • divisão das amostras; • conservação; • documentação; • armazenamento; • transporte; • entrega ao laboratório. A amostra de solo deve; • ser representativa para o âmbito de análise ou para o ponto de coleta de amostra. • permitir a identificação de circunstâncias geológicas. • possibilitar informações sobre o tipo, expansão e posição das substâncias nocivas no subsolo. • possibilitar uma estimativa da quantidade do solo contaminado. • elucidar possíveis riscos para a água subterrânea. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 22 Em princípio, na escolha dos pontos de amostragem, pode ser procedido: • informações concretas existentes; • baseado em avaliações; • ou estatisticamente. A quantidade dos pontos de amostragem depende: • da estrutura homogênea ou heterogênea do subsolo; • da quantidade das informações preliminares; • das características físico-químicas das substâncias nocivas suspeitas. Via de regra, inicia-se com poucos pontos de amostragem (grade grosseira, ou pontos definidos), Se as análises confirmarem a presença de substâncias nocivas, são analisados outros pontos de amostragem para a delimitação da fonte de substâncias nocivas, Uma vez que nenhum ponto de amostragem e nenhum perfil de profundidade se equiparam, é muito difícil estabelecer uma regra de validade geral. Sugere-se o seguinte âmbito mínimo de amostragem (por ponto de, amostragem): • uma amostra próxima à superfície; • em aterros, a camada inferior do aterro e a camada superior do solo natural; • em aquíferos protegidos por camadas de baixa permeabilidade, a camada superior e a área superior e inferior do aquífero; • numa distância de passo de amostragem de 0,5 m, analisar cada 3ª e 5ª amostra em aterros, e cada 10ª – 20ª amostra em terreno natural. Em áreas de solo próximas à superfície, sugere-se diversas profundidades de amostragem, em função da utilização e da possível contaminação com substâncias nocivas: • parque infantil: até 35 cm (0-5 cm; 5-15 cm; 15-35 cm) • campo lavrado, jardim: 20-30 cm • campo, gramado: 1 0 cm • solo de florestas, em função das camadas do solo. Além do número de amostras, também a quantidade individual tem uma influência sobre a dispersão dos resultados da análise. A quantidade de amostras deve ser suficiente para a análise das substâncias contidas desejadas. A quantidade mínima é determinada pelo tipo e pela quantidade de parâmetros a serem analisados, bem como pela quantidade de amostras a serem armazenadas. A relação de grandeza entre a quantidade de amostras e partículas isoladas de substâncias nocivas têm uma influência fundamental sobre o nível mensurável de concentração de substâncias nocivas. Quanto maior for a partícula, maior será a concentração na amostra que contémesta partícula. Se uma partícula for relativamente pequena, a concentração da amostra, na qual esta partícula está contida, será somente um pouco superior àquelas amostras sem Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 23 esta partícula contaminada. Além do tamanho, também exercem influência sobre a totalidade da concentração da amostra: • a concentração das substâncias nocivas na partícula; • a distribuição de tamanho de partícula; e • a quantidade das partículas contaminadas. Estas influências devem ser levadas em consideração para a denominação do tamanho mínimo da amostra de solo. Além disso, as substâncias nocivas podem estar enriquecidas seletivamente em determinados tamanhos de grânulos. Neste caso, a distribuição da granulometria na amostra tem uma influência decisiva no teor geral da amostra. A concepção de amostragem e a aplicação são determinadas pela finalidade da análise: • para o registro e identificação de áreas suspeitas de degradação, • como análise paralela para o acompanhamento do desenvolvimento da concentração em ações de recuperação em andamento, • como medição de controle em ações de recuperação finalizadas, Para a constatação dos pontos de amostragem num levantamento técnico devem ser observados e avaliados os seguintes pontos: • decurso temporal do dano, • condições geológicas (estrutura e tipo de subsolo), • utilização antiga e atual do terreno (cabos, munição, tanques, espectro de substâncias nocivas etc.), • posição de poços de monitoramento de água subterrânea, quaisquer poços já existentes com perfis de perfuração. • condições da água subterrânea (nível do lençol freático, direção e velocidade do fluxo, e espessura do aquífera). Disto podem ser derivados: • posição ideal (também profundidade) de pontos de amostragem direcionados, • número dos parâmetros e métodos de análise, • escolha do tipo amostragem. 2. MÉTODOS ANALÍTICOS Na elaboração de um programa para testes analíticos devem ser observados alguns itens, como: • os parâmetros analíticos necessários; • a escolha dos processos analíticos a serem empregados; • os processos de preparação de amostras a serem previstos; • os créditos de escolha das amostras parciais para a análise. Os testes analíticos através de processos químicos e físicos são utilizados sobretudo para identificar e qualificar substâncias que causam danos ao meio ambiente. No Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 24 caso de deposições antigas, ou seja, em regiões que foram utilizadas como depósitos de resíduos, pode ser investigada a composição destes resíduos através dos ensaios analíticos. Uma análise objetiva das substâncias nocivas específicas será facilitada se já estiverem disponíveis informações sobre os resíduos depositados, ou sobre as respectivas características suspeitas. Porém, apesar de em alguns casos haver conhecimento sobre os diversos tipos de resíduos que foram depositados, a princípio os dados abrangentes e detalhados sobre o conteúdo destas deposições não estão disponíveis. Por isso, não é possível antecipar quais substâncias nocivas podem ser encontradas nestas deposições. No solo, nas águas de infiltração e mesmo em aterros, deveriam ser investigadas uma série de substâncias, o que não é possível em função da grande quantidade de áreas suspeitas de contaminação e da quantidade de análises praticamente não executáveis. Sendo assim, é necessário um procedimento ponderado e sistemático para levantar as substâncias nocivas existentes. Em sítios contaminados, ao contrário de deposições antigas, é mais fácil presumir quais substâncias nocivas podem ocorrer, uma vez que geralmente é conhecido o ramo de atividade da área industrial ou o tipo de prestação de serviços anteriormente instalado. Desta circunstância resultam duas diferentes estratégias em testes analíticos: • no caso de haver disponíveis informações preliminares e características suspeitas é possível uma análise objetiva de determinadas substâncias; • para a constatação e identificação de substâncias desconhecidas é necessária uma análise sistemática. Quando se trata de uma localidade com poucas informações preliminares em função dos custos, é analisada uma seleção objetiva de algumas amostras, porém de valor informativo representativo quanto a parâmetros de soma, grupos e orientativos. Estas determinações de visualização geral têm como objetivo delimitar o espectro das substâncias com um dispêndio analítico justificável. Deve ser encontrado um caminho viável, com um custo aceitável para detectar as substâncias nocivas para o meio ambiente. Os parâmetros podem ser classificados da seguinte forma: PARÂMETRO DE SOMA: Registro de substâncias orgânicas com um componente estrutural comum (por exemplo, carbono) ou com característica comum de capacidade de oxidação com consumo de oxigênio (02). PARÂMETRO DE GRUPO: Registro de substâncias semelhantes quanto à sua constituição ou efeito, sem levar em consideração a diferenciação em substâncias individuais. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 25 PARÂMETRO ORIENTATIVO Registro de classes individuais de substâncias ou misturas isômeras, ou de uma substância individual como substância representativa para a respectiva classe. Após o perito ter feito uma seleção das amostras já no local, estas são devidamente acondicionadas em recipientes e rotuladas para serem encaminhadas ao laboratório. Nesta fase é muito importante que seja definido quais parâmetros serão analisados para cada amostra. Considerando que, por exemplo, para a investigação de uma área contaminada de porte médio é necessário coletar até 100 amostras diferentes (ar do solo, água, solo), não devem acontecer enganos. Deve ser definido com o responsável do laboratório: • quais amostras devem ser pesquisadas quanto a parâmetros de soma, grupo ou orientativos, • quais amostras devem ser analisadas quanto a parâmetros individuais, • se, e quantas, amostras devem ser armazenadas (para análises posteriores). As amostras sólidas necessitam de uma preparação prévia para a determinação analítica. O objetivo desta preparação de amostras é: • a produção de uma amostra representativa, • a separação de porção da amostra da matriz original, de modo que a quantidade a ser analisada seja compatível com o método e com o equipamento utilizado, mantendo a representatividade da matriz. • a concentração ou diluição das substâncias em questão, de acordo com a sensibilidade do método analítico utilizado. O procedimento da preparação de amostras depende geralmente do estado de agregação da amostra. Grandes quantidades de amostras devem ser reduzidas e no caso de amostras sólidas o material deve ser misturado e triturado através de várias etapas. A trituração é necessária para produzir uma amostra representativa quando da utilização de apenas uma porção para os ensaios analíticos. Os métodos analíticos são diferenciados em: • determinações organolépticas (odor, cor, turbidez); • métodos químicos - via úmida - (gravimetria, volumetria); • métodos físicos - instrumentais; • métodos biológicos. Os métodos físicos instrumentais podem ser divididos em quatro grupos principais: • eletroquímicos; • espectrométricos; • cromatográficos; • físico-atômicos. Estes métodos são utilizados principalmente para a determinação de traços de compostos orgânicos, através de técnicas e equipamentos especiais. Muitas vezes Faculdade Assis GurgaczEspecialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 26 para se obter respostas adequadas, devido à seletividade e sensibilidade do teste, deve-se utilizar uma combinação de dois processos analíticos diferentes. 3. MÉTODOS BIOLÓGICOS Os métodos biológicos podem ser realizados com os seguintes objetivos: • identificar o tipo da substância nociva (Biomonitoring); • possibilidade de identificar uma eliminação de substâncias nocivas por processos biológicos; • determinar os procedimentos principais da descontaminação ou remediação. A base da participação de reações biológicas no ajuste do equilíbrio no meio contaminado é a disponibilidade biológica das substâncias nocivas. Isto é influenciado pela: • solubilidade em água. • tamanho das moléculas, partículas e poros, • pela estrutura química das substâncias nocivas (por exemplo polaridade, carga). Um dos principais determinantes do efeito de uma substância tóxica em um ecossistema é a concentração da exposição e o tempo em que ela é mantida. Para avaliar a relação entre exposição/duração nestes, é imprescindível considerar as características físicas e químicas do sistema receptor, bem como a natureza e a localização dos organismos presentes. O destino dos produtos químicos que entram em um ecossistema é, em parte, determinado pelas propriedades físico-químicas do elemento ou do composto. A solubilidade, a pressão de vapor e os coeficientes de partição do material estabelecem a concentração da fase e o tempo de residência. Absorção/liberação, volatilização, transformação química devido a reações redox, hidrólise ou degradação fotoquímica e transformações provocadas pela atividade metabólica dos organismos no ecossistema são processos específicos que afetam a concentração de uma substância tóxica em determinado local. As instalações para a realização de testes variam em função do tamanho dos organismos a serem testados. O uso de pequenos invertebrados pode ser facilmente conduzido em uma bancada, embora deva haver espaço adicional no laboratório para sua cultura e o controle da temperatura e do período com luz durante os testes e a cultura sejam críticos. Os peixes são os organismos aquáticos mais utilizados em testes. Sua cultura requer o fornecimento de água não contaminada e espaço suficiente para abrigar os peixes durante sua aclimatação às novas condições. Em testes estáticos os recipientes devem permitir troca com a atmosfera. A concentração de oxigênio em cada câmara de teste deve permanecer entre 60% e 100% de saturação durante as primeiras 48 horas e entre 40% e I00% após esse período. Durante esse tipo de teste, as soluções podem ser suavemente aeradas, Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 27 caso as concentrações de tóxicos nas câmaras de testes aeradas, ao final do teste, não sejam inferiores a 20% daquelas de uma câmara não aerada. Quando se utiliza aeração, deve-se realizar simultaneamente um teste sem aeração, a fim de determinar se ela afeta os resultados. Caso sejam feitos testes com água corrente, as vazões devem ser ajustadas de forma a garantir um mínimo de cinco substituições de 90% do volume de água, em cada câmara de teste, em 24 horas. A taxa de substituição deve manter a concentração de oxigênio necessária. A seleção das concentrações de teste depende do objetivo das análises. Por exemplo, caso o objetivo dos testes seja determinar se a toxidade encontra-se acima ou abaixo de uma concentração específica, bastam um controle e uma concentração. São necessários 30 organismos para conferir a realidade estatística nos resultados desse procedimento de teste. Quando a toxidade é desconhecida, utilizam-se testes para definir seu intervalo ali para identificação. Os testes para determinação do intervalo tóxico empregam de três a cinco concentrações tóxicas bem espaçadas entre si e um controle de cinco organismos com duração de 8 a 24 horas. Os testes para identificação são utilizados em efluentes. Neles, cinco ou dez organismos são expostos a uma concentração de efluente de IOO% por 24 horas. Uma vez realizados os testes para definir o intervalo ou identificar poluentes, seleciona-se a concentração existente. A maior concentração é selecionada com base nos resultados de determinação do intervalo. As espécies selecionadas para testes de toxidade devem obedecer aos seguintes critérios: • ser sensíveis ao material ou aos fatores ambientais: • apresentar vasta distribuição geográfica, abundância e disponibilidade ao longo de todo o ano; • ter importância recreacional, econômica ou ecológica: • haver disponibilidade de métodos para sua cultura e reprodução; • estar em boas condições físicas, livres de parasitas e doenças. Embora boas técnicas laboratoriais possam ter por objetivo os itens 4 e 5, os de I a 3 são igualmente importantes para a seleção de espécies para testes. Essas espécies podem ser indicadoras de orientação para o gerenciamento ou alvo dos estudos (orientação ecossistêmica). Espécies indicadoras são aquelas comumente encontradas, ou não, sob determinadas condições ambientais, cuja presença ou ausência é capaz de "indicar" qualidades ambientais. Espécie indicadora deve apresentar as seguintes características: • capacidade de acumular várias substâncias tóxicas; • ser comum; • apresentar grande distribuição geográfica; • ser facilmente coletada; • ter tamanho adequado, que permita novas amostras de tecido; • estar presente na área de impacto e em áreas não poluídas; • ter correlação com níveis ambientais de substâncias tóxicas. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 28 Espécies ou grupos-alvo são, de maneira geral, indicadores ecológicos. Presume-se que o comprimento de determinados requisitos ambientais das espécies ou grupos- alvo protegerá o ecossistema de base, garantindo a proteção ambiental. Na seleção das espécies ou grupos-alvo deve-se entender que cada espécie responde de maneira diferente a uma substância tóxica, porém os grupos, ou agregados de espécies com características parecidas, podem apresentar respostas similares às mesmas substâncias. A comunidade é o agregado de espécies mais comumente utilizado. Uma definição rápida de comunidade seria que ela é composta por grupos de organismos que interagem entre si em um habitat específico. Avaliações de comunidades normalmente servem de indicador das respostas de um ecossistema. São normais determinações das alterações estruturais e funcionais das condições de uma comunidade. Uma forma de aumentar o realismo ambiental é utilizar diversas espécies. Microcosmos é uma parcela restrita de um ecossistema empregado para experiências laboratoriais e apresenta um passo inicial na direção de teste mais realísticos. Geralmente os microcosmos têm volume total inferior a 10 litros e contém composição definida de espécies adequadas à determinação dos efeitos de substâncias tóxicas e lagos e reservatórios. A natureza definida do microcosmo permite a replicação de testes e o controle experimental, porém a pouca diversidade de espécies presentes e a falta de provisão para alguns processos ecológicos (colonização, por exemplo) reduzem o realismo ambiental dessa técnica de ensaio. Os testes com mesocosmos releem elementos de experimentos controlados, mas não controlam de maneira estrita todas as condições ambientais. No que diz respeito à análise de substâncias tóxicas, eles aumentam o realismo experimental, mas não são facilmente replicáveis. A concepção do programa de coleta de amostras deve obedecer a critérios definidosno sentido de assegurar qualidade aceitável para seus resultados. 4. MÉTODOS MATEMÁTICOS As equações matemáticas representando os processos físicos ou químicos constituem a forma mais abstrata de um análogo. Estas propiciam acessar as técnicas que auxiliam minimizar, embora não eliminar, os riscos da inconsistência lógica em um modelo. Assim como em muitos outros estágios no processo de abstração, elas encontram a simplificação. Dessa maneira, as pressuposições devem ser checadas para avaliar se os processos incluídos são adequadamente descritos e se foram incluídos todos os processos essenciais. A análise de sistema constitui um procedimento para se examinar a inteireza do modelo, focalizando atenção sobre a presença ou ausência de relações entre as partes do mundo real ou dos sistemas estruturados no modelo. A literatura ambiental Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 29 encontra-se cheia de diagramas com caixas-e-setas, os quais representam um ponto de partida para a análise de sistemas. Constituem uma etapa útil na construção de um modelo efetivo para aumentar a compreensão e para propiciar previsões; isto é, um modelo com bases mais físicas do que puramente estatísticas. Os diagramas de caixas-e-setas geralmente representam o primeiro estágio na sequência da elaboração de modelos e, por esse motivo, possuem utilidade limitada a si mesmos. O uso pleno da análise de sistemas é, todavia, instrumento poderoso e amplamente aplicável ao desenvolvimento de modelos de todos os tipos. O acelerado desenvolvimento tecnológico da informática está propiciando recursos técnicos cada vez mais potentes, permitindo que programas específicos possam ser cada vez mais utilizados para se fazer previsões, usando-se a análise de dados por meio de modelos estatísticos padrões e pela construção de modelos de simulação, com base maior ou menor nas informações sobre os processos físicos. Os computadores e os programas oferecem vantagens para a elaboração em qualquer modelo que foi abstraído ao nível das equações matemáticas ou lógica formal, embora não possam facilmente manusear modelos verbalizados. As vantagens dos cálculos rápidos e confiáveis não podem ser superestimadas, mas a relação custo-benefício na construção de modelos direcionou-se fundamentalmente dos modelos concretos em laboratórios para os modelos em computador, começando mais intensamente a serem implementados durante a década de 1970. Os modelos por computador propiciam um espectro muito mais amplo das condições a serem simuladas do que as permitidas nos experimentos de laboratório, e os modelos podem ser rodados e repetidos com crescente facilidade, mas tais vantagens não devem levar à irrelevância nem à substituição das bases lógicas do modelo. A importância de pressupostos apropriados e da estrutura lógica permanece tão relevante como em todos os outros procedimentos. O procedimento guia para a construção de modelos consiste numa sequência de normas, de passos para a caminhada, levando à produção de um modelo, à implementação em algum tipo de linguagem formal, ao estabelecimento de inferências prevendo as consequências do modelo e a avaliação dessas inferências em face da adequabilidade e uso para o qual o modelo foi construído. Subjacentemente, o procedimento encaminha para a obtenção de respostas às quatro indagações cientificas básicas delineadas para a solução de problemas matemáticos: • Compreender o problema (isto é, qual é a questão?); • estabelecer um plano para a solução do problema (isto é, como se pode resolvê-Io?); • executar o plano (isto é, qual é a resposta?); • checar a adequação da resposta (isto é. a resposta está correta?). As etapas relacionadas com o procedimento guia são as seguintes: Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 30 Objetivos : O iniciar do procedimento é representado pelo enunciado dos objetivos ou propósitos do modelo a ser construído. É a fase que demonstra o conhecimento do problema. Se os enunciados para a construção do modelo não forem expressos com clareza há demonstração de que ainda não se possui compreensão adequada do problema e tornar-se-á difícil encontrar as soluções. Os enunciados sobre os objetivos devem constituir respostas às seguintes indagações: • Qual é o sistema a ser modelizado? • Quais são as principais questões a serem focalizadas pelo modelo? (como o modelo poderá ser aplicado?) • Qual é a regra para finalizar a atividade da modelagem? (Qual a eficiência do modelo? Com quais modelos ele deverá ser comparado?) • Como os produtos (outputs) do modelo serão analisados, sumariados e usados? Hipóteses : A segunda etapa consiste em transladar os objetivos e o conhecimento disponível do sistema em enunciados de hipóteses. Geralmente, tais enunciados são verbais, mas também podem expressar relações quantitativas. Exemplo: sob condições climáticas constantes, o aumento da área da bacia hidrográfica implicará em aumento proporcional da vazão média anual. Formulação matemática : As hipóteses qualitativas podem ser convertidas em relações mais específicas, matematizadas. Corresponde ao segundo estágio da proposta, que representa a etapa de estabelecer um plano para o problema. Para as hipóteses formuladas (verbalizadas ou matematizadas), nessa etapa deve-se usar das informações disponíveis para a construção do modelo e avaliar a correção dos enunciados e das equações que descrevem o comportamento dinâmico dos elementos e processos do sistema. Sob a perspectiva da matematização, ela requer que as formulações e os conceitos vagos sejam definidos sob o critério da precisão e do rigor matemáticos. Verificação : A quarta etapa corresponde ao conjunto de atividades necessárias para verificar a precisão dos enunciados e das equações propostas. Um procedimento comum é o uso de técnicas numéricas, o que, na atualidade, significa resolver as questões pelo uso de procedimentos computadorizados. A verificação corresponde ao processo de verificar se os algoritmos e os códigos computacionais estão corretos para as definidas relações matemáticas. Os projetos de modelagem que não necessitam de soluções numéricas das equações ou dos enunciados devem ser verificados pela revisão das atividades realizadas durante o estágio da formulação. Calibragem : Após a implementação do modelo, pode-se estabelecer a fase da produção de resultados. A calibragem do modelo consiste em estabelecer parâmetros para as entradas e condições internas do sistema, a fim de se verificar a adequação das respostas. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 31 Análise e avaliação do modelo : Depois que o modelo foi calibrado, pode-se utilizá-lo para produzir as respostas almejadas nos objetivos que foram especificados. Essa fase corresponde à execução de projeto. Para os modelos numéricos, corresponde ao uso dos programas de computação para registrar os resultados produzidos. Para os modelos qualitativos, a análise deve ser feita em relação aos pressupostos teóricos e ao conhecimento disponíveis sobre a estrutura e os processos do sistema. Para os modelos numéricos e qualitativos, as respostas devem ser avaliadas em sua qualidade de acordo com os objetivos especificados. É a fase da checagem. Os modelos quantitativos podem ser considerados sob três nuances, que não são mutuamente exclusivas: • os de "caixa preta", • os baseados nos balanços de massa e de energia, • os de direcionamento estocástico ou determinístico. Os modelos em "caixa preta"relacionam previsões sobre os output com base nos dados dos inputs, mas sem explicitamente enunciar quais são as relações existentes. Nenhum sistema do mundo real é totalmente conhecido, de modo que sempre haverá algum elemento em "caixa preta" a seu respeito, embora em muitos modelos essa caixa é matizada de "cinza" porque o modelo fisicamente representa pelo menos alguns dos processos internos atuantes. Na perícia de passivos ambientais os modelos matemáticos de transporte das substâncias nocivas (poluentes) constituem atualmente um instrumento útil de avaliação. Nem sempre é possível formar uma imagem suficiente da situação no subsolo mediante a utilização de métodos convencionais de análise, como por exemplo, as perfurações. Prognósticos temporais e espaciais de propagações de poluentes são interessantes em alguns casos. Assim pode, por exemplo, ser interessante no planejamento de recuperações das águas subterrâneas prognosticar a extensão da fronteira de poluentes em relação ao tempo. Pode ser também que se pretenda estimar o tempo necessário para que os poluentes coloquem em risco um bem utilizável. Deve-se atentar para o fato de que modelos matemáticos de transporte de poluentes só podem ser tão bons quanto a qualidade dos dados investigados no local. Esse é também o ponto fraco desses modelos teóricos. Em muitos problemas a serem resolvidos em passivos ambientais os pressupostos da aplicação de soluções matemáticas não existem mais. No caso de relações não- homogêneas no subsolo e no caso de relações complexas de correntezas, isto é, no caso de complexas condições iniciais de entorno, os procedimentos numéricos são utilizados com ajuda de softwares específicos. No caso de modelos numéricos o espaço é decomposto em elementos parciais homogêneos (células ou elementos). Distingue-se aqui diferentes procedimentos de cálculo. No caso do procedimento de diferenças a decomposição de uma área- modelo resulta em células retangulares. Com relação ao período de tempo Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 32 apreciado efetua-se, considerando-se o enunciado de preservação de massa para cada célula, um balanço de massa. Da soma de todos os balanços, das concentrações iniciais e das condições de entorno resulta para o respectivo momento um quadro espacial da distribuição do poluente na área-modelo. 5. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO ECONÔMICA A valoração econômica não é necessariamente expressa em termos monetários, embora, sem dúvida, isso seja desejável. Deve-se ter em vista que frequentemente a obtenção de estimativas monetárias não contribui para uma percepção abrangente das implicações de certo curso de ação envolvendo o ambiente. VaIorar monetariamente os impactos econômicos e sociais de grandes projetos, como usinas hidrelétricas, pode ser virtualmente impossível no que se refere a certos aspectos específicos, a não ser que se admitam hipóteses simplificadoras, através das quais podem ser simulados caminhos alternativos. Ademais, os impactos não podem ser considerados somente no que diz respeito à implantação e operação de empreendimentos. Deve-se levar em conta também, quando for o caso, os impactos indiretos decorrentes do uso dos bens e serviços produzidos. Uma análise abrangente da geração de energia hidrelétrica, por exemplo, deveria considerar, em oposição aos danos ambientais decorrentes da construção e da operação de usinas, os benefícios obtidos pela substituição de outras fontes energéticas, notadamente carvão, lenha e petróleo. Duas dificuldades principais se interpõem à estimação do valor do ambiente e, em especial, aos custos e benefícios da ação antrópica sobre este. Em primeiro lugar, enfrenta-se uma incapacidade teórica da Economia para lidar com a questão, porque tanto a Teoria do Valor Trabalho quanto a Teoria Neoclássica não são suficientes. Quanto à primeira, afirma-se que o valor tem origem exclusivamente no trabalho humano. A consequência teórica disso é que apenas o Ambiente Construído possui valor e toda ação antrópica sobre o Ambiente Natural representa, portanto, aumento de valor. Essa implicação é claramente inaceitável. Quanto à segunda, o valor seria determinado no mercado pela interação entre oferta e procura. Os estudiosos que seguem essa abordagem reconhecem as falhas de mercado na valoração do Ambiente, o que na realidade é o caso geral. Por outro lado, a Economia Ambiental, assim como a Economia da Educação e a Economia da Saúde, enfrenta dificuldades relacionadas à enorme complexidade dos objetos de análise e à virtual impossibilidade de se obterem modelos confiáveis para representar a sequência dinâmica de todos os efeitos decorrentes de certa alteração inicial. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 33 Não se deveria esperar mensurações econômicas precisas e definitivas no estado atual do conhecimento, embora seja internacionalmente reconhecido que as tentativas nesse sentido podem contribuir para melhor orientar a política econômica e, em especial, a própria política ambiental. A questão referente à valoração do ambiente pode ser assim formulada: as espécies vivas e o meio físico em que vive a humanidade possuem valor por si mesmos ou o valor é somente uma relação entre sujeito e objeto? Essa questão pode ser apresentada de forma mais radical como: Na ausência da humanidade, ainda assim o Ambiente apresentaria algum valor? Observa-se entre os economistas uma forte tendência a responder afirmativamente a respeito da existência de valor independente dos usos e das preferências da espécie humana. Entretanto, se, por um lado, há expressivo consenso quanto à existência desse valor do Ambiente por si mesmo, sua expressão em termos monetários é um problema que está longe de receber solução geral. Conforme apresentado na literatura especializada, a Economia Ambiental desagrega o Valor Econômico do Recurso Ambiental (VERA) em Valor de Uso (VU) e Valor de Não Uso (VNU). VERA = (VUD + VUI + VO) + VNU Valor de Uso (VU ): valor que os indivíduos atribuem a um recurso ambiental pelo seu uso presente ou pelo seu potencial de uso futuro. O valor de uso pode ser subdividido em três categorias: • Valor de Uso Direto (VUD): valor que os indivíduos atribuem a um recurso ambiental em função do bem-estar que ele proporciona através do uso direto. Por exemplo, na forma de extração, de visitação ou outra atividade de produção ou consumo direto. • Valor de Uso Indireto (VUI) : valor que os indivíduos atribuem a um recurso ambiental quando o benefício do seu uso deriva de funções ecossistêmicas. Por exemplo, a contenção de erosão, o estoque de carbono nas florestas tropicais. • Valor de Opção (VO) : valor que os indivíduos estão dispostos a pagar para manterem a opção de um dia fazer uso, de forma direta ou indireta, do recurso ambiental. Por exemplo, o benefício advindo de fármacos desenvolvidos com base em propriedades medicinais, ainda não descobertas, de plantas de florestas tropicais . Valor de não uso (VNU) ou valor de existência (VE) , é o valor que está dissociado do uso (embora represente o consumo ambiental) e deriva de uma posição moral, cultural ou ética ou altruística em relação aos direitos de existência de espécies não humanas ou de preservação de outras riquezas naturais, mesmo que estas não representem uso atual ou futuro para o indivíduo. Um exemplo claro deste valor é a grande mobilização da opinião pública para o salvamento dos ursos panda ou das baleias, mesmo em regiões em que a maioria das pessoas nunca poderá estar ou fazer qualquer uso de sua existência. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia deavaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 34 É importante destacar que as pessoas atribuem aos valores acima descritos, a avaliação que fazem da singularidade e da irreversibilidade da destruição do meio ambiente, associadas à incerteza da extensão dos seus efeitos negativos. O Quadro abaixo apresenta uma síntese da classificação dada aos valores do meio ambiente Fonte: Almeida, 2008 Do ponto de vista da economia, é fundamental ressaltar que a deterioração do Ambiente diminui temporária ou definitivamente sua capacidade de desempenhar suas funções. Essas funções podem ser agrupadas em três categorias: • prover materiais e energia; • prover bens e serviços naturais: • assimilar detritos. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 35 Essas funções são concorrentes entre si não apenas enquanto categorias, pois em cada caso os usos alternativos dentro de cada categoria são inúmeros e algumas vezes mutuamente excludentes. Portanto, as alocações que se fazem dos recursos da natureza, além de serem em geral irreversíveis, representam escolhas entre alternativas frequentemente incompatíveis. Por isso, há necessidade de estudos e pesquisas no sentido de levantar e avaliar os seus impactos, de tal forma que os Valores de Uso Direto, de Opção e de Existência sejam levados em conta. As decisões sobre o Ambiente podem ser analisadas segundo o Princípio do Custo de Oportunidade, que incorre em custo de oportunidade sempre que uma decisão é tomada sobre o uso de algum recurso disponível. Nesse caso, o "recurso disponível" é exatamente o Ambiente com sua capacidade atual de desempenhar suas funções. Em uma situação hipotética de escolha sem incerteza e sem riscos, seria possível ordenar as alternativas de uso do Ambiente de acordo com o retorno social de cada uma. O custo de oportunidade de uma decisão seria, então, representado pela melhor oportunidade não escolhida. Percebe-se desde logo que, embora valiosa e elucidativa, a ideia de custo de oportunidade não pode ser aplicada diretamente aos processos de decisão, porque a informação é sempre incompleta e as situações tipicamente envolvem riscos e incertezas, que devem ser levados em conta. A escolha do horizonte temporal constitui outra questão relevante, uma vez que os usos atuais do Ambiente, ao modificar as condições de vida, modificam o padrão de interação entre os sistemas natural e social constituindo uma sequência de efeitos ao longo do tempo. Diante da falta de conhecimento científico capaz de estabelecer com segurança a cadeia de impactos ao longo do tempo, pode-se utilizar técnicas de decisão que consistem em considerar cenários alternativos, aos quais são atribuídas probabilidades, optando-se pela decisão ótima segundo algum critério pré- estabelecido. Entretanto, o fato de os efeitos se distribuírem no tempo faz com que, além de estabelecer os seus valores econômicos, seja necessário calcular os seus valores atuais. A forma de valoração oscilará necessariamente entre avaliações predominantemente tecnocráticas e avaliações coletivas envolvendo as comunidades interessadas. As avaliações baseadas nas comunidades interessadas tendem a se afastar do que seria ideal do ponto de vista tecnocrático, pois essas avaliações refletem aspectos culturais, políticos e sociais. Portanto, o objetivo da valoração econômica de um recurso ambiental consiste em inferir em quanto melhorou ou piorou o bem-estar das pessoas devido às mudanças na quantidade de bens e serviços ambientais, seja na apropriação por uso ou não uso. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 36 Cabe ao analista que vai ora explicitar com exatidão os limites dos valores estimados e o grau de validade de suas mensurações para o fim desejado. A adoção de cada método dependerá: • do objetivo da valoração; • das hipóteses assumidas; • da disponibilidade de dados; • do conhecimento da dinâmica ecológica do objeto que está sendo valorado. 5.1. Valoração econômica de impactos ambientais Adiante se encontra uma revisão dos métodos para valoração econômica de impactos ambientais. A facilidade de utilização e a robustez dos resultados de cada método dependem, em grande parte, da qualidade dos dados disponíveis. Algumas são baseadas em dados de mercado, podendo ser tomadas como medidas dos benefícios ou perdas decorrentes da mudança no recurso ambiental e mais fáceis de obter. 5.2. Método da Produtividade Marginal Busca medir mudanças na produtividade de sistemas resultantes de mudanças nas condições ambientais, frequentemente avaliadas a preços de mercado. Esta abordagem é útil para avaliar impactos ambientais que afetam a produtividade da atividade pesqueira, florestal, agrícola e de outros ativos. 5.3. Despesas de Reposição Consideram os gastos adicionais para a reposição, reparo ou manutenção de ativos físicos em decorrência dos impactos ambientais ou gerenciamento inapropriado, só sendo aplicável em situações em que a magnitude do dano pode ser dimensionada e a medida corretiva é possível. Aplicações em correções de danos a solos agrícolas utilizam-se desta abordagem. 5.4. Despesas de Relocalização São uma variante das despesas de reposição. Aborda o custo de realocar uma atividade produtiva cuja eficiência operacional no local de origem tenha sido prejudicada por mudança da qualidade do meio ambiente. Uma aplicação típica refere-se à movimentação de populações quando da construção de represas, cujos custos devem tentar incluir, ainda que qualitativamente, aspectos psicológicos e sociais da reIocalização. Os métodos acima citados, quando aplicados, apresentam algumas limitações - vieses - pois subestimam o valor total do recurso ambienta!, nos casos onde os valores de opção e existência são significativos: sendo assim, apenas são captados os valores de uso (direto e indireto) do recurso ambienta!. Em relação às despesas de reposição, a validade do resultado encontrado depende da inclusão de todos os Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 37 custos considerados relevantes e de todos os fatores envolvidos na reposição de um recurso ambiental. 5.5. Despesas de Prevenção/Mitigação Avaliam o dano causado pela degradação ambiental de acordo com os gastos que as pessoas têm na tentativa de evitar um dano ambiental ou outras atividades ofensivas ao bem-estar humano ou ao meio ambiente. O estudo das técnicas alternativas de gerenciamento do solo para aumentar a produtividade agrícola demonstra o uso deste método, cujo valor gasto pelo fazendeiro para se prevenir contra a erosão do solo e as perdas com a agricultura devem ser no mínimo maiores que os custos incorridos para a construção de diques. 5.6. Despesas de Proteção Consistem em identificar os comportamentos econômicos que reflitam indiretamente o valor pago para se proteger de algum dano ambiental. Um exemplo clássico é o da demanda por materiais para isolamento acústico na vizinhança do aeroporto de Heathrow, em Londres. Esta abordagem pode subavaliar o dano, pois no caso do aeroporto, por exemplo, o isolamento acústico poderia ser obtido apenas parcialmente e, mesmo assim, em recintos fechados. Na inexistência de mercados específicos para produtos e serviços ambientais, mercados substitutos ou hipotéticos são utilizados para medir diretamente a demanda pela qualidade ambiental. Neste caso, as preferências poderão ser reveladas através de situações reais onde bens e serviçosambientais são afetados por impactos ambientais nos quais os indivíduos fazem uma escolha entre o impacto ambiental e outros bens ou renda. Para este tipo de preferência, utilizam-se os métodos de custo de viagem e de preços hedônicos. Entretanto, existem casos em que os impactos ambientais não podem ser valorados desse modo, mesmo indiretamente através do comportamento do mercado. A alternativa é construir mercados hipotéticos para várias opções de redução de danos ambientais e realizar questionamentos diretos acerca dos impactos aos envolvidos, usando o método da valoração contingente. Esta alternativa revela a preferência associada através de mercados hipotéticos. 5.7. Método de Custo de Viagem É aplicável para locais de acesso público, portanto sem indicação de propensão a pagar por parte dos usuários. Busca derivar uma curva de demanda usando os custos de deslocamento até o local como proxy para os preços de entrada, determinando dessa forma o valor do bem ou serviço ambiental. A identificação do uso efetivo de locais de recreação/lazer/acesso público pode ser mensurada normalmente durante as visitas de turistas que são entrevistados nas áreas de lazer, buscando informações referentes ao local de estada do visitante, distância viajada, frequência e custo de viagem das visitas. Este método se Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 38 apresenta como uma metodologia muito prática quando há um controle do fluxo turístico para áreas naturais, como parques nacionais, estaduais ou municipais. 5.8. Método de Preços Hedônicos Busca medir os impactos ambientais identificando seus efeitos sobre os preços das propriedades. Baseia-se no conceito de que o valor de uma propriedade é diretamente relacionado ao fluxo futuro de benefícios dela esperado. Tem sido amplamente aplicado na avaliação de impactos sobre residências, mas pode ser também utilizado para propriedades rurais e outras. Este método requer um levantamento de dados minuciosos, como informações sobre atributos referentes a propriedade, além dos ambientais, que influenciam o preço desta. Torna-se difícil a utilização, pois os preços de propriedade não internalizam as futuras melhoras (ou pioras) ambientais. É possível que os preços de propriedade sejam subestimados por razões fiscais para reduzir os valores de impostos incidentes. 5.9. Método da Valoração Contingente É aplicável em situações em que não são disponíveis dados de mercado, o que é comum em impactos ambientais. Baseia-se no pressuposto de que os consumidores podem determinar e irão revelar sua disposição em pagar por bens ou serviços para os quais não existe mercado, se colocados diante de um mercado hipotético. . O método da valoração contingente tem merecido atenção crescente como instrumento para avaliação de impactos ambientais, permitindo inclusive a avaliação dos valores de opção e valores de existência dos bens/serviços ambientais, que não poderiam ser obtidos por outros meios, como a diversidade genética. A aplicação desta técnica não é trivial e envolve custos elevados de pesquisa. As preferências reveladas nas pesquisas refletem as decisões que os agentes tomariam de fato caso existisse um mercado para o bem ambiental descrito, que serão expressas em valores monetários. Esses valores são obtidos a partir de informações que são adquiridas de um questionário que revela a disposição a pagar dos indivíduos para garantir a melhoria de bem-estar ou quanto estariam dispostos a aceitar em compensação para suportar uma perda de bem-estar, além de dados socioeconômicos e informações sobre o conhecimento dos entrevistados a respeito da questão ambiental. Alguns vieses afetam a confiabilidade do método, mas podem ser minimizados pelo perfil do questionário e da amostra. Não se deve negar a dificuldade de se realizar a valoração econômica de recursos ambientais, por conta da irreversibilidade das condições ambientais preexistentes, da singularidade dos ecossistemas e do desconhecimento do futuro. Porém, devido a verdadeiros desastres (acidentes, vazamentos etc.) ocorridos no Brasil e no Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 39 mundo, verificou-se a necessidade de se estabelecer formas de contabilizar esses danos ambientais. 5.11. Grupos de impactos ambientais Em um contexto abrangente, os impactos ambientais podem ser classificados em dois grandes grupos: • Impactos Naturais : compreendendo os fenômenos da própria Natureza, como terremotos, inundações, incêndios naturais, ativação de vulcões e tufões. • Impactos Antrópicos : decorrentes da ação do homem sobre a natureza, que correspondem aos impactos provenientes de atividades de produção e consumo que modificam o Ambiente, como implantação de indústrias, projetos de urbanização, construção de usinas hidrelétricas, uso de agrotóxicos e veículos automotores. Os impactos naturais e antrópicos, em princípio, são passíveis de mensuração econômica, embora alguns aspectos, especialmente os mais subjetivos ou abstratos, sejam de difícil mensuração. O processo de valoração econômica de bens e impactos naturais, pressupõem inicialmente a decisão político-administrativa de instrumentar entidades e órgãos governamentais a procederem a valoração. A crescente conscientização geral a respeito da acelerada degradação do ambiente, bem como a exaustão de recursos naturais, serve de base para essa decisão. 6. MÉTODOS DE QUALIFICAÇÃO DE AGRAVOS AMBIENTAIS Devemos considerar os atributos dos dados pesquisados que exercem influência na formação dos preços e, consequentemente, no valor. Os dados amostrais são submetidos à inferência estatística, feitos através de um modelo matemático adequado, conhecido como modelo de regressão que, submetido a diversos testes previstos em Norma, transmite à avaliação a confiabilidade do estatístico. Devido à raridade do bem avaliado e a consequentemente inexistência de amostras que contemplem os atributos inerentes às características especiais do bem e, considerando a necessidade de calcular o valor indenizatório de desapropriação, a metodologia é baseada no método comparativo de dados de mercado. Neste tipo de avaliação, consideramos a existência de dois componentes. quais sejam: Tabela 1 : Cálculo da Avaliação geral VG = VI + VC VG = valor global VI = valor inicial (valor da área, desconsiderando a singularidade VC = Valor cênico (valor da singularidade) Para calcular o valor cênico partimos do valor inicial do imóvel avaliando, fazendo incidir sobre este alguns fatores inerentes à sua situação fática. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 40 VALOR CÊNICO (V C) Para o cálculo de VC, consideramos a existência de três componentes: Tabela 2 : VC = VI X RA X FC VI => valor inicial RA => coeficiente de raridade / atratividade FC = > fator coercitivo Estabelecemos, inicialmente, para definirmos o valor cênico do imóvel avaliando (VC), um coeficiente que represente a raridade do bem e sua atratividade em relação à população (RA). Para isso, foram criados os níveis de representatividade municipal, estadual e nacional. Aos níveis foram estabelecidas notas que expressam o grau de RARIDADE / ATRATIVIDADE e, para caracterizar a influência sobre a população, foram aplicados pesos de 3/6 para municipal, 2/6 para estadual e 1/6 para nacional. Tabela 3: Raridade e Atratividade em Nível Nível Municipal- RAm Nível Estadual- RAe Nível Nacional- RAn 1 = comum 2 = raro 3 = exclusivo Tabela 4 Fonte: Almeida, 2008Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 41 Para exemplo de imóvel avaliando, foram aplicadas as seguintes notas: RAm (raridade/atratividade municipal) => 3 RAe (raridade/atratividade estadual) = > 2 RAn (raridade/atratividade nacional) = > 1 Aplicamos a fórmula: RA = (3 x RAm + 2 x RAc + RAn)/6 Resultados: RA (raridade/atratividade) = 2,33 Utilizamos fatores corretivos (FC), diminutivos ou não, envolvendo quatro variáveis, com seus respectivos percentuais e pesos. Para exemplo de imóvel avaliando, registramos os seguintes dados: Fatores Externos Ac (acessibilidade) = 50% Rt (reputação turística da região) = 25% Fatores Internos Fu (facilidade de uso) = 75% Vp (visual paisagístico) = 50% Aplicamos a fórmula: FC = [(Ac + 2Rt)/3 + (Fu + 2Vp )/3112 Resultado: FC = (fator de correção) = 0,45 Como: VC = V I x RA x FC Tendo em vista os diversos valores reportados, aplicamos a fórmula do valor global: VG = VI + VC A metodologia é bastante simples e divide o ambiente em seis aspectos: ar, água, solo e subsolo, fauna, flora e paisagem. Para cada aspecto do ambiente, são descritos dois tipos de danos. E para cada tipo de dano são descritos e qualificados diversos agravos. O perito-avaliador, ao vistoriar o local do dano, definirá os aspectos do ambiente envolvido e, para cada um deles, os tipos de danos. Feito isso, analisará cada agravo citado, qualificando-os de acordo com os critérios pré-estabelecidos. A definição dos tipos de danos e os critérios de qualificação dos agravos são descritos em separado para cada um dos aspectos do ambiente. De acordo com os critérios de qualificação dos agravos, eles recebem um correspondente numérico que varia de 0 a 3. Ao finalizar a análise, o técnico-avaliador terá, para cada um dos seis aspectos do ambiente, um índice numérico correspondente à qualificação dos agravos e, portanto, corresponde ao dano ambiental que está sendo analisado. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 42 Correlaciona-se os índices numéricos obtidos, com o fator de multiplicação que será utilizado no cálculo da indenização. O perito-avaliador, de posse dos índices numéricos referentes a cada aspecto do ambiente, dará ou obterá, para cada aspecto, um fator de multiplicação. A somatória dos fatores de multiplicação será utilizada no cálculo da indenização, conforme segue: INDENIZAÇÃO = FATOR DE MULTIPLICAÇÃO X VALOR DE EXPLORAÇÃO Como valor de exploração, entendemos o valor de mercado dos bens apropriados ou lesados pelo réu, quando do dano ambiental. Por exemplo: o valor de mercado da tara de lenha proveniente de um desmatamento, ou ainda o valor da areia proveniente da exploração de um porto de areia irregular. Claro está que determinados danos ambientais implicam a degradação de bens que não têm valor de mercado. Como, por exemplo, o ar que é poluído por determinada indústria. Diante da inexistência de um valor de mercado para o bem lesado, como no exemplo, propomos que o valor de exploração seja substituído pelo valor de recuperação do bem ou recurso lesado. Nestes casos, então, o cálculo da indenização deve ser alterado para: INDENIZAÇÃO = FATOR DE MULTIPLICAÇÃO x VALOR DE RECUPERAÇÃO Isto significa dizer que, ainda de acordo com o exemplo citado, no cálculo daquela indenização, multiplicaríamos a somatória dos Fatores de Multiplicação pelo valor monetário da recuperação da qualidade do ar. O perito-avaliador deveria estudar qual o método de recuperação mais adequado para aquela situação e, a partir daí, estimar o custo de recuperação. Não se pode deixar de admitir que alguns tipos de danos ambientais cuja valoração, quer seja através da correlação com o valor de exploração ou com o valor de recuperação, é bastante difícil de mensurar ou até mesmo impossível. Tome-se, por exemplo, o dano causado com a morte de um animal cuja espécie esteja ameaçada de extinção, ou a destruição de um patrimônio tombado. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 43 C. LEGISLAÇÕES, FERRAMENTAS E CASOS 1. CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011- 2014/2012/Lei/L12727.htm 2. PLANO DIRETOR DE CASCAVEL Disponível em: <http://www.cascavel.pr.gov.br/secretarias/seplan/pagina.php?id=60> 3. GEOPORTAL DE CASCAVEL Disponível em: <http://geoportal.cascavel.pr.gov.br:10080/geo-view/faces/sistema/geo.xhtml> 4. SHOPPING CATUAI – CASCAVEL/PR Disponível em: < http://www2.trf4.jus.br/trf4/controlador.php?acao=principal> Agravo de Instrumento Nº 5003209-49.2014.4.04.0000 (Processo Eletrônico - E-Proc V2 - TRF) Originário: Nº 5005069-90.2012.4.04.7005 (Processo Eletrônico - E-Proc V2 - PR) Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 44 2º MÓDULO 15 HORAS Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 45 A. SUBSÍDIOS PARA A AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE IMPACTOS AMBIENTAIS O presente módulo possui como referência Cunha (2009), especialmente no capítulo 5 da obra referenciada, capítulo esse de autoria de Pedro Paulo de Lima e Silva, Antonio José Teixeira Guerra e Luiz Eduardo Duque Dutra. 1. CONCEITOS INTRODUTÓRIOS Uma população mundial de quase seis bilhões de pessoas em contínuo crescimento consiste, por si só, num fator de preocupação. Se considerarmos que cada um dos seis bilhões anseia por melhor qualidade de vida, aquele crescimento potencializa algum tipo de colapso (como um esgotamento da capacidade regenerativa natural) nos sistemas de manutenção da vida que nos fornecem ar, água e solo para sobreviver. Na verdade, algumas pontas desse iceberg de desequilíbrio são observadas em diversas partes do planeta, como a destruição do ecossistema do Lago Vitória, na África, a tendência de desaparecimento do Mar Aral, na Rússia, a falta de água potável em diversas partes do mundo, a destruição da Mata Atlântica e da Floresta Amazônica, no Brasil, entre muitos outros. O problema do Mar Aral, por exemplo, recebeu um considerável aporte financeiro do Banco Mundial (US$ 300 milhões), na tentativa de impedir seu completo desaparecimento e os consequentes efeitos danosos para a população do entorno. Mas a relação seres humanos-ambiente, sem dúvida profundamente preocupante e central, não é feita somente de desastres. Há atividades produtivas de impactos relevantemente positivos: a gestão responsável das unidades de conservação (parques e reservas), o reflorestamento de áreas degradadas, a cultura de plantas e animais (o que minimiza a coleta predatória), os chamados "negócios vertks" (reciclagem, produtos biodegradáveis, serviços de recuperação, etc.) e, por último, mas não menos importante, a gestão responsável do problema ambiental dentro das empresas. O objetivo final é evitar o esgotamento dos estoques naturais, mitigar a geração de rejeitos pelas empresas, e assim responder às necessidades de sustentabilidade do desenvolvimento. O círculo virtuoso de responder prontamente às necessidades de sustentabilidade, sintetizado na composição alerta-ação-resposta-correção, deve ser contínuo, uma vez que as metas desta sustentabilidade estão décadas à frente, com muitas incertezas em jogo. O sistema social, visto comoum todo, ainda age de forma visivelmente insustentável: os estoques de poluentes ainda são crescentes, a taxa de conversão de terras naturais em pastos e plantações também, e o crescimento exponencial da população mais pobre é o problema do século XXI. Se, ao que tudo indica, a relação entre a taxa de crescimento de uma população humana e sua qualidade de vida é inversa (correlação negativa), então as questões macroeconômicas de distribuição de riqueza, recursos e tecnologia progressivamente caminham para o primeiro plano das preocupações mundiais, e deve sobrepujar mesmo questões religiosas, étnicas Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 46 ou disputas territoriais. Aqui analisaremos apenas os impactos ambientais negativos, que são a nossa preocupação do momento. Quando um estudo patrocinado pelo Clube de Roma, em 1972 (Relatório Meadows), afirmou que o mundo poderia entrar num colapso por volta de 2020, dadas determinadas premissas, houve uma avalancha de críticas, a grande maioria qualificando aquelas previsões de fantasiosas e alarmistas. Hoje, 27 anos depois, a maioria dos pesquisadores concorda que o problema da poluição e degradação ambientais foi subestimado, e diversos governos estão mesmo trabalhando no sentido de ajustar seus planejamentos na direção de um desenvolvimento sustentável. A Rio-92, reunião da ONU que trouxe representantes e chefes de estado de 166 nações ao Rio de Janeiro, foi o evento que mais países reuniu em toda a história da humanidade, e vem na sequência de uma série de reuniões e acordos internacionais iniciados na década de 1970, e cuja preocupação principal tem sido a proteção do meio ambiente. Aliado ao crescimento populacional, a pressão ambiental e social fez-se sentir, e trouxe à tona a necessidade de um desenvolvimento que não conduza à exaustão dos recursos naturais, nem degrade perigosamente os sistemas de manutenção da vida. A viabilidade deste projeto de sociedade ocorrerá mais rápida e facilmente se a sociedade, como um todo, incluindo administradores, agentes econômicos e representantes civis, considerar seriamente os custos associados aos danos ambientais. Em outros termos, o planeta é finito, e na verdade está ficando pequeno para os seres humanos. Esta mudança de paradigma em relação ao ambiente e, portanto, dos hábitos sociais, depende, primeiro, da utilização, pela Economia e pelo Planejamento, de métodos da Teoria Geral de Sistemas que permitam identificar as complexas inter- relações ambiente x produção, e assim valorar os custos envolvidos. Em seguida, é necessária a definição de uma estratégia apropriada de utilização de instrumentos econômicos (taxas, tributos e normas) como um mecanismo indireto de proteção do ambiente. Isto exige, porém, uma avaliação correta dos danos ambientais e também uma discussão a nível ético do que deve ou não ser valorado monetariamente. 2. IMPACTOS AMBIENTAIS NO PRESENTE A princípio, qualquer atividade humana causa impactos ambientais. Por conseguinte, a exploração de recursos naturais tem causado uma gama variada de danos ambientais. Diversos têm sido os autores preocupados com essas questões, os quais têm exposto de diversas maneiras, através dos seus trabalhos, a avaliação dos danos oriundos dessa exploração, do que acontece quando não se levam em conta os riscos dos impactos. Atualmente, existe uma preocupação maior com os riscos ambientais do que no século passado. As pontas dos icebergs de desequilíbrio são detectadas aqui e ali, numa grande diversidade de macrofenômenos como o da eventual destruição da Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 47 camada de ozônio em várias partes da atmosfera do planeta. Além disso, questões como o aquecimento global, a poluição das águas, do ar e dos solos também têm sido consideradas pelos pesquisadores. Ou seja, existe uma preocupação constante em como explorar recursos naturais e, ao mesmo tempo, conseguir-se atingir o desenvolvimento sustentável. As mudanças ambientais têm sido tema de estudo em diversos ramos do saber, quer seja na Geologia, Geomorfologia (Geografia), Ecologia (Biologia), Engenharia, Economia, Ciências Ambientais e da Terra, como um todo. O interesse pelas mudanças ambientais tem sido uma consequência dos debates políticos e da percepção da sociedade em relação aos danos que têm ocorrido na Natureza, em especial nas últimas três décadas. Isso tem levado a várias descobertas científicas sobre o funcionamento do ambiente, mas muito ainda se está por descobrir, em especial no que diz respeito às mudanças ambientais. Para se compreender essas mudanças e, ao mesmo tempo, fazer previsões do que poderá ocorrer no futuro, não basta apenas entender a mecânica dos processos de mudanças, mas também as ligações entre os diversos componentes do sistema. Conceitos como limites de mudança, frequência, magnitude, taxas de mudança e de recuperação são de grande relevância para se compreender as mudanças ambientais como um todo. Através dessa base teórico-conceitual, acredita-se poder entender os danos ambientais nas áreas impactadas. Dessa forma, esse item pretende identificar os diversos tipos de recursos naturais existentes, bem como avaliar os danos ambientais causados pela exploração desses recursos, tanto nas encostas como sobre os corpos líquidos, nas áreas urbanas e nas áreas rurais. Finalmente, algumas formas de degradação ambiental serão também abordadas conjuntamente com alguns procedimentos de recuperação dessas áreas. 2.1. Tipos de recursos naturais Os recursos podem ser divididos em renováveis e não-renováveis. A maioria dos recursos naturais da terra são não-renováveis. A exploração indiscriminada de alguns deles tem levando-os à extinção, o que ocorre com espécies vegetais, animais e minerais. Recursos Minerais A grande maioria dos minerais está enquadrada no grupo dos recursos naturais não- renováveis e, portanto, sua exploração deve ser objeto de um planejamento que considere seu caráter finito, aproveitando-o de forma mais eficiente e com menos desperdício. Os recursos minerais estão presentes em quase tudo na nossa vida. Numa típica residência urbana, tudo é feito, direta ou indiretamente, com minerais, desde os materiais de construção (areia, pedra, cimento, ferro, alumínio, argila, vidro, etc.), passando pelos materiais de encanamento (cobre, chumbo e ferro), de pintura (pigmentos como ferro, zinco e titânio), as ferragens para banheiro e cozinha Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 48 (ferro, cobre e muitos outros metais), a mobília (fibras sintéticas feitas de carvão e petróleo, molas de aço, etc.) e outros itens como janelas, lâmpadas, utensílios domésticos, etc. Além disso, os minerais estão presentes também nas nossas vidas através do seu uso, por exemplo, nos remédios, cosméticos, roupas e até alimentos. Os minerais têm também aplicações industriais muito diversas. Na produção de metais e novos materiais, que podem ser abundantes (ferro, alumínio, cromo, manganês, titânio e magnésio) ou escassos (cobre, chumbo, zinco, ouro, prata, platina, urânio, mercúrio e molibdênio). São ainda utilizados como agregados para concreto (rochas, areia e calcário, cimento), argila para telhas e tijolos. Finalmente, existem aqueles utilizados nas indústrias petroquímicas que são a base para a produção de fertilizantes e de pesticidas para agricultura. Dada esta extensiva dependência em relação aos recursos minerais, concorrente com sua natureza finita, critérios cuidadosos devem pautar a suautilização. Além disso, a exploração, o transporte e o manuseio dos minerais podem causar uma série de danos ambientais. Outro elemento a ser considerado é que a exploração deve ser economicamente racional pois, se não o forem, geram um fluxo de caixa positivo apenas por alguns anos, no máximo duas a três décadas, quando as reservas são realmente grandes. Os fatores acima estão particularmente presentes quando se trata de alguns minerais que são fonte de energia, escassos e ainda responsáveis por grande parte da poluição atmosférica e líquida, como o carvão e o petróleo. Observe que, embora finitos, poucos creem que eles se esgotarão. As maiores dificuldades estão relacionadas aos custos sociais envolvidos em sua queima. Incluem-se desde a poluição atmosférica e as chuvas ácidas, até os acidentes de trânsito e as horas perdidas nos congestionamentos. São fundamentais, não só por representarem elevados dispêndios que não param de crescer, mas também porque quem arca com eles não são nem os consumidores nem os produtores, mas a sociedade como um todo, donde seu enquadramento como custo social. Recursos Florísticos Os recursos florísticos, ou vegetais, apesar de serem enquadrados no grupo dos recursos renováveis, podem se esgotar, em especial em áreas onde sua exploração não leve em conta os riscos e os danos associados a um aproveitamento imediatista e irracional. Isso porque as atividades desenvolvidas pelos seres humanos tendem a promover o desmatamento de grandes áreas. A conversão de terras para as atividades agropecuárias na Amazônia é uma ilustração atual. Sabe-se que os organismos vivos podem sobreviver dentro de certos limites, definidos pela co-evolução das espécies e das condições ambientais em processos bastante complexos e específicos. O sistema agrícola maneja as condições naturais, criando artifícios que simulam as características do meio ótimo para uma determinada planta ou animal. Assim, a agricultura irrigada, a calagem, a adubação e as estufas são, efetivamente, alterações do meio para se chegar a condições que estejam dentro do intervalo de tolerância das espécies cultivadas. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 49 O problema é que, constantemente, essas alterações não levam em conta os limites do próprio ambiente. Muitas vezes as consequências são irreversíveis para o meio, como, por exemplo, o desaparecimento de algumas espécies vegetais e a desertificação de amplas regiões, causando desequilíbrios na natureza social e cultural. O que está em questão nesta exploração irracional dos recursos vegetais é a evidente redução da diversidade genética, das espécies e dos ecossistemas. Nunca a biodiversidade, assim entendida, foi tão ameaçada como no presente. Cem por cento das planícies selvagens dos Estados Unidos estão, hoje, perdidas. Noventa por cento, no caso da Nova Zelândia. E o problema não é exclusivo dos países ricos. Oitenta por cento das savanas do Burundi e de Madagascar também estão perdidas. Outro dado estarrecedor é sobre o recuo das zonas úmidas nos países industriais. Na antiga Alemanha do Oeste e nos Países Baixos, mais da metade simplesmente desapareceu entre 1950 e 1980. Estes problemas podem parecer distantes, apesar dos números e da sua dimensão, mas a biodiversidade tem-se revelado também um elemento estratégico. Isto porque, além das perdas na vida selvagem, observa-se em paralelo uma perda significativa entre as variedades vegetais há muito conhecidas pelo homem. Assim, catalogaram-se mais de dez mil espécies e subespécies vegetais cultivadas na História; hoje, no entanto, os agricultores plantam menos que uma centena. Nos Estados Unidos, por exemplo, 96% das variedades classificadas no início do século não são atualmente encontradas nos supermercados, 86% das variedades de maçãs e 88% das de peras igualmente sumiram. A revolução tecnológica trouxe a agricultura de altos rendimentos, mas baseada em um número extremamente reduzido de variedades. A homogeneização genética em excesso, por um lado, aumenta os riscos de ocorrência de parasitos e doenças e, por outro, diminui as possibilidades de enfrentá-los, ao eliminar as milhares de opções antes oferecidas pela natureza. As ameaças à biodiversidade envolvem então uma crescente incerteza: é viável continuar indefinidamente nesta via de uniformização? Uma boa resposta é essencial, uma vez que se trata da segurança alimentar do mundo. No Brasil, sem dúvida, o principal problema hoje são as ameaças à biodiversidade causadas pela expansão da agropecuária na Amazônia. Esta atividade requer sempre grandes extensões de terra para o seu desenvolvimento. Oferece, em contrapartida, pouquíssimas oportunidades de trabalho, o que gera ocupações provisórias e anárquicas. Em geral, é acompanhada por um extrativismo vegetal predatório para a fauna e flora da região, além de não trazer benefícios em longo prazo. Este foi o caso dos ciclos extrativistas no nosso país. Uma recente ilustração deste tipo de mau aproveitamento dos recursos vegetais tem sido dada pela exploração indiscriminada das madeiras de lei. Grandes extensões de florestas são cortadas por madeireiras estrangeiras que visam somente ao mercado externo, sem considerar a capacidade natural de regeneração da floresta, Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 50 e aproveitando-se da carência de controle destas atividades por parte do Estado. A recuperação do estoque dos recursos dessas madeiras torna-se então inexequível, em função de custos impraticáveis. Por fim, as florestas equatoriais e tropicais têm sido grande fonte de recursos para a população nativa, quer seja através da exploração de madeiras, quer seja através do aproveitamento de outras riquezas naturais: borracha, babaçu, castanha-do-pará, carnaúba, erva-mate, etc.; nem todas de forma predatória. Ao contrário, há uma tendência de o pequeno coletor de recursos extrativos vegetais manter o equilíbrio ecológico existente na área de exploração, até porque ele depende diretamente daqueles recursos para sua sobrevivência. Além disso, a conservação das áreas de mata proporciona também a manutenção dos recursos animais ali existentes, dos solos, da qualidade dos mananciais e dos rios e, como consequência, dos ecossistemas como um todo. Recursos Faunísticos Os recursos faunísticos, ou animais, são altamente vulneráveis, e várias espécies têm sido extintas em consequência da caça predatória e das atividades econômicas, que tendem a não levar em conta os riscos de suas extinções. Importante lembrar que a extinção é irreversível, não há recuperação e, portanto, o custo econômico é infinito. Mais uma vez, a agropecuária é uma das atividades que mais causa danos à fauna silvestre, uma vez que requer grandes extensões de terra para desenvolver suas atividades. Sendo assim, o desmatamento generalizado, além de causar impactos à flora, também provoca impactos à fauna, uma vez que uma depende da outra para seu desenvolvimento. Muitos caçadores não se dão conta de que a destruição dos animais é um dos caminhos para a extinção da flora, pois grande parte das plantas depende dos animais para a disseminação de suas sementes. Eventualmente alguns animais conseguem adaptar-se a condições adversas do ambiente. Em muitos casos, apesar dos animais não desaparecerem de uma determinada região, acabam vivendo sob estresse. Deste modo, tornam-se mais suscetíveis a doenças e morte prematura, o que aumenta significativamente seu risco de extinção. AIém disso, o encadeamento das relações naturais é altamente complexo. Um, dentre os inúmeros exemplos, encontra-se no caso do povoamento do Lago Vitória pela percado Nilo. Há vários anos este peixe foi introduzido naquele grande lago do leste da África com o propósito bem intencionado de proporcionar comida adicional para os moradores da região, além de uma receita adicional para a balança comercial. Como simples princípios ecológicos foram ignorados, o resultado foi a virtual destruição de toda a pesca no lago. Até a introdução da perca, o lago sustentava peixes endêmicos de diversas espécies, mas principalmente ciclídeos, que se alimentam de detritos e plantas. A perca do Nilo é carnívora, portanto se alimentando de peixes menores como os ciclídeos. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 51 Como energia é perdida em cada nível da cadeia alimentar (predadores consomem muito mais energia do que presas), peixes predatórios não podem ser produzidos numa taxa tão alta quanto espécies herbívoras; o equilíbrio dinâmico (meta- equilíbrio) não se sustenta dessa forma (observe as populações de predadores e presas em todo ambiente natural; os predadores são sempre em número muito menor do que as presas). Além disso, os ciclídeos do lago não evoluíram com as percas e, portanto, não possuíam qualquer espécie de mecanismo de defesa correspondente. Inevitavelmente a perca aniquilou as populações de ciclídeos, destruindo toda a pesca nativa, incluindo sua própria fonte de alimento. Devido a isso, seus hábitos vorazes trouxeram sua própria derrocada como um peixe comercialmente explorável. É verdade que a pesca local já estava um tanto quanto sobre explorada, consequência da explosão populacional humana local e das tecnologias avançadas de pesca. Contudo, a solução teria sido um adequado manejo dos ciclídeos, e nunca a introdução de um predador eficiente sobre eles. Outras consequências transformaram essa história numa tragicomédia de erros. A carne da perca não é aprovada pela população local, acostumada à textura e sabor dos peixes nativos. Mais ainda: a oleosidade da perca requer defumação para ser preservada, em vez de secagem ao sol, e assim as florestas locais estão sendo rapidamente cortadas para produzir fogueiras. Devido à perca ser maior e mais forte, exige redes mais sofisticadas, e os pescadores locais de subsistência não conseguem competir com estrangeiros mais prósperos, mais bem preparados para a pesca comercial. A lição é trágica, mas simples: os seres humanos são uma parte importante da ecologia do Lago Vitória. A pesca local tradicional manteve-se em harmonia por milhares de anos, até que a explosão populacional e a necessidade de desenvolvimento incitaram a uma decisão ecologicamente insana, que prenuncia um desastre econômico e social. A eventual extinção de certos animais, devido à destruição de seus habitats ou à sua caça predatória, pode ser revertida caso haja uma fiscalização mais rigorosa. O jacaré no Pantanal Mato-grossense é ilustrativo da importância do controle público. Além disso, muitas vezes o estímulo da criação desses animais, com fins comerciais e regulamentados por uma legislação específica, pode reduzir bastante o risco de extinção de certas espécies. A criação de jacaré em cativeiro tem possibilitado tanto o aproveitamento da carne quanto do couro, diminuindo bastante a pressão pre- datória e, consequentemente, diminuindo também os riscos de sua extinção. A ação do Estado, nesse caso, através da regulamentação adequada, foi providencial e decisiva. 3. DANOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELA EXPLORAÇÃO DE REC URSOS NATURAIS As implicações do aquecimento global nos processos geomorfológicos e a sensibilidade dos sistemas a essas mudanças são questões importantes. Uma das Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 52 questões de maior sensibilidade refere-se aos impactos potencialmente irreversíveis, ou, ainda, aos impactos de reversão extremamente difícil, longa e custosa. Este tema, que tem preocupado os pesquisadores e algumas autoridades, relaciona-se em especial às mudanças ambientais em regiões tropicais, ao uso de água em zonas áridas e semiáridas, e à degradação do ambiente como um todo. Ainda não é bem conhecido como o efeito estufa pode interferir com o clima, e consequentemente, afetar a qualidade dos solos em várias partes do mundo. Sendo assim, é relevante a necessidade de se desenvolver uma metodologia que possa ser utilizada para o estudo dos impactos das mudanças climáticas sobre a qualidade dos solos. 3.1 Danos nas encostas As encostas sofrem bastante com a exploração de recursos naturais e com as várias formas de uso que os seres humanos têm dado a elas. Os solos, que são a parte mais externa do relevo, acumulam toda a sorte de danos, em função de não se levar em conta, na maioria das vezes, os riscos associados à sua utilização, o que se torna crítico, por exemplo, nas relações entre as encostas e as calhas fluviais. O que acontece numa encosta acaba se refletindo sobre as calhas fluviais, podendo causar, por exemplo, o assoreamento desses corpos líquidos, diminuindo a qualidade e a quantidade de água. Assim, um corte de encosta para a construção de uma estrada, por exemplo, precisa levar em conta esses fatores, porque do contrário incorrerá em custos de manutenção ou recuperação altíssimos, quando mais tarde a encosta vier a desabar por falta de planejamento adequado e diagnóstico preciso. As características ambientais locais serão, por fim, internalizadas a um custo muito mais elevado. Um caso conhecido no Sudeste brasileiro é o da Estrada Rio-Santos, onde incontáveis desabamentos ocorrem todos os anos. As florestas protegem as encostas contra a ação dos processos erosivos e dos movimentos de massa. O desmatamento de uma área, com fins de sua utilização agropastoril ou para a expansão de uma cidade, ou ainda para a exploração de um determinado recurso natural, por si só pode ser bastante impactante. As relações existentes entre os condicionantes geológicos e geomorfológicos dos movimentos de massa são bem exemplificadas pela série de deslizamentos ocorridos na cidade do Rio de Janeiro por ocasião dos fortes temporais de fevereiro de 1996. Ficou enfatizado também o papel dos seres humanos na desestabilização das encostas, quando fazem cortes de taludes para construírem casas, ruas, prédios, em especial numa cidade que possui morros em quase toda a sua extensão e um regime de chuvas com frequentes temporais nos meses de verão. A cobertura vegetal não é intocável, no entanto, seu corte precisa, decididamente, ser precedido de um diagnóstico das condições ecológicas, pedológicas, geomorfológicas e geológicas locais; ou seja, é preciso conhecer os riscos de deslizamento associados ao uso das encostas. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 53 A cobertura vegetal nas encostas tem um papel preponderante, não só através da proteção contra o impacto direto das gotas de chuva, diminuindo assim a erosão por splash, mas também na produção de húmus (produto da decomposição parcial dos restos vegetais na primeira camada do solo), que proporciona melhor estrutura para os solos. Contribui também para diminuir as taxas de erosão, porque aumenta a bio- porosidade, aumentando em consequência a permeabilidade desses solos; ou seja, graças a isso os solos florestais possuem maior capacidade de infiltração. As raízes igualmente contribuem para a infiltração das águas. Dessa forma, a remoção das florestas nas encostas, quer seja para a agricultura, quer seja para a expansão urbana, tende a promover uma aceleração dos processos erosivos e dos movimentos de massa, tanto em termos de magnitudequanto frequência. A recuperação de uma área erodida, como temos visto em relação às enxurradas frequentes ocorridas no Rio de Janeiro, principalmente a última de 1996, resulta num alto custo econômico (despesas dos governos com recuperações emergenciais), social (perdas de lares e áreas de lazer) e ambiental (perdas de plantas, animais e solo); custo este que poderia ter sido evitado se os riscos inerentes houvessem sido considerados no planejamento da ocupação da terra. 3.2. Danos nos corpos líquidos Há abundância de água na superfície terrestre; o problema está na sua disponibilidade no lugar e hora certos. O volume total é algo de colossal: aproximadamente 1,4 bilhão km3, No entanto, 97% dessas águas são salgadas, o que as torna impróprias ao uso nas residências, nos campos e nas usinas. A água doce representa apenas 3% do total, e não está toda disponível: mais de 80% dela encontram-se presos nas calotas polares, geleiras e lençóis freáticos muito profundos. Assim, descontando os percentuais de água dos oceanos e das geleiras, menos de 1 % está realmente disponível à população mundial através dos rios, lagos, nascentes e águas subterrâneas, o que relativiza bastante a abundância citada acima. Além disso, o consumo de água ao longo do século XX cresceu num ritmo firme e contínuo, entre 4% e 8% ao ano, em razão do acelerado crescimento econômico de algumas regiões. Por conseguinte, nos países mais ricos o uso industrial da água responde atualmente por mais da metade do consumo, enquanto que, na África, é o uso agrícola que responde por mais de 80% do consumo. De fato, apenas 8% da demanda mundial de água correspondem hoje às utilizações doméstica e municipal. É essa utilização cada vez mais intensiva da água como fator de produção que revela a natureza esgotável de um recurso outrora disponível livremente. Os corpos líquidos sofrem toda sorte de danos, resultantes da exploração de recursos naturais e da simples ocupação humana em determinadas áreas. O ciclo hidrológico é totalmente alterado, na maioria das vezes através do mau uso da terra, como desmatamento e uso agrícola, ou sobre a área urbana, que resulta em que as águas tendam a se escoar mais na superfície do que se infiltrar, iniciando processos erosivos. Além disso, o lençol freático pode diminuir em qualidade e quantidade, Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 54 bem como ser contaminado através da poluição. Nesse caso, pode haver o risco de contaminação também de mananciais, pois o lençol d' água abastece os mananciais. Sua recuperação é muito difícil, ou mesmo impossível, pois se trata de água existente em sub-superfície. Com a redução da quantidade de água nos lençóis freáticos, certamente haverá problemas em relação ao seu abastecimento. As áreas em questão acabarão por ser abandonadas, ou, o que é pior, nos países mais pobres a água poluída continuará sendo utilizada. Os riscos de cheias são outro fator que precisa receber atenção. porque essas áreas tendem a sofrer a ação do escoamento superficial, e assim um maior volume de água pode inundar as planícies. Durante o período da estiagem o problema de abas- tecimento de água se agrava, porque o lençol freático não é suficiente para atender à demanda em função de ter tido o seu nível reduzido. A maior fonte das águas subterrâneas são as chuvas que se infiltram no terreno, indo abastecer os lençóis freáticos. Dessa forma, é de fundamental importância que os solos sejam preservados, para que essa água continue a se infiltrar e, consequentemente, continue a abastecer as nascentes e os rios. Neste sentido, os recursos líquidos são ameaçados particularmente de três maneiras: • desmatamento generalizado, diminuindo a infiltração e aumentando o escoamento; • contaminação dos lençóis freáticos, através da poluição dos solos, tanto em áreas urbanas quanto rurais; • em alguns locais, o uso excessivo desses recursos, através do bombeamento para irrigação, ou em grandes empreendimentos indus- triais, e nas cidades. A questão da água já é crítica na Europa desde a década de 1990. A agricultura comercial em larga escala e intensiva em fertilizantes e pesticidas, por um lado, demandou volumes crescentes de água, levando ao esgotamento desses lençóis e, por outro, acabou por contaminar aqueles que ainda subsistiam próximos à superfície. O resultado foi a instituição de uma taxa de utilização da água, onde ela não existia, e uma forte elevação do preço onde já se pagava pelo seu fornecimento. Em todos os casos, a definição de um preço é a evidência objetiva da escassez do recurso. A poluição direta das águas, sejam elas salgadas ou doces, por atividades industriais é outro elemento crucial. Frequentemente, ocorre uma diminuição drástica da qualidade dos recursos hídricos, a ponto de se fazer necessário um grande investimento financeiro para despoluir lagoas, rios e baías. O caso da Baía de Guanabara é um exemplo atual. Os custos de recuperação são quase sempre muito maiores do que os de preservação, e muitas situações são irreversíveis. Essa realidade tende a se agravar em certos microssistemas, se continuarmos tratando esses recursos como se fos- Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 55 sem renováveis, ou seja, na ilusão de que sempre estarão à nossa disposição, mesmo sem um manejo adequado. 3.3. Danos nas áreas urbanas A população mundial tem cada vez mais se urbanizado, em especial no século XX. O crescimento das cidades tem se dado, de maneira geral, da forma a mais desordenada possível, causando naturalmente uma série de impactos ao ambiente. Esses impactos, por sua vez, proporcionam uma gama variada de prejuízos, tanto no que diz respeito ao ambiente urbano, quanto aos próprios habitantes das metrópoles. Na realidade, as cidades têm crescido tanto que, atualmente, possuem seus problemas ambientais particulares, e isso ocorre não só nos países desenvolvidos como também nos países em desenvolvimento. O agravante é que a continuidade do crescimento desordenado, em especial nos países mais pobres, pode acabar por inviabilizar o próprio processo de modernização da sociedade. Os danos ambientais são mais alarmantes nas grandes cidades, onde a densidade de habitantes é bem maior. Elas tendem a atrair cada vez mais habitantes de outras cidades menores e do campo e, no Terceiro Mundo, esta expansão tem sido catastrófica. Como consequência desse crescimento acelerado e desordenado, uma série de impactos tem sido registrada. Para citar um exemplo, temos os grandes deslizamentos ocorridos no Rio de Janeiro, onde o desmatamento e os cortes indiscriminados dos taludes causam diversos impactos, provocando perdas materiais e de vidas humanas. Além disso, o desmatamento associado às construções de prédios e o surgimento de ruas e avenidas causam uma impermeabilização das encostas, fazendo com que as inundações sejam cada vez mais constantes nessas cidades. São Paulo também sofre com os temporais, que em poucos minutos provocam o alagamento de suas ruas e a destruição de casas. O volume de água que cai, não tendo por onde se infiltrar vai se acumulando exponencialmente. Outra consequência grave do crescimento urbano desordenado é a poluição atmosférica. A propósito disso, a cidade de São Paulo tem adotado, desde 1996, uma medida de restrição da circulação de veículos automotivos, que conforme o final da placa tem permissão de transitar somente em determinados dias. No entanto, é importante observar que esta medida aliviou apenas parcialmente o problema. Isto porque, nas áreas urbanas, os problemas tornam-se mais agudos, não só em função da maior densidade populacional,mas porque esta é acompanhada de maior concentração de atividades industriais. 3.4. Danos nas áreas rurais As áreas rurais são bastante afetadas pelos danos ambientais. São aquelas de maior abrangência na transformação do ambiente, pois, via de regra, consomem grandes extensões de terra para as atividades agropecuárias. Isso ocorre, em Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 56 especial, nos países em desenvolvimento, onde estamos diante de extensas lavouras comerciais voltadas para o mercado externo. Um bom exemplo é a cultura da soja, que é praticada no Planalto Central. Grandes extensões do Cerrado são desmatadas para dar lugar a esta lavoura mecanizada, o que acarreta diversos tipos de danos ambientais; desde a erosão dos solos, passando pela contaminação de lençóis freáticos, até o assoreamento de rios. Os custos de recuperação envolvem um volume grande de recursos que, na maioria das vezes, faz com que os proprietários de terra simplesmente abandonem certas fazendas. A recuperação dos rios também se torna praticamente inviável. Os mesmos têm sido cada vez mais poluídos pelos defensivos agrícolas, bem como assoreados pela grande quantidade de sedimentos oriundos dos processos erosivos acelerados, os quais se estabelecem nas encostas. Vários pesquisadores têm demonstrado os riscos causados nas áreas rurais, em função do desmatamento de grandes extensões de terra, sem levar em conta a suscetibilidade dos solos aos processos erosivos. É bastante discutido o que acontece nos solos com a retirada da vegetação e o uso agrícola, sem levar em consideração estratégias de conservação. Em primeiro lugar, desaparece a proteção dos solos, proporcionada anteriormente pela cobertura vegetal, o que é praticamente inevitável diante da necessidade de se cultivar. Daí ser necessária a prática de uma agricultura em curva de nível, com terraceamento, além da utilização de outras técnicas que diminuam consideravelmente os impactos causados pelas águas das chuvas. Em segundo lugar, a retirada da cobertura vegetal aumenta a ação do salpicamento dos agregados dos solos, que se rompem, causando a formação de crostas no topo dos solos. Em consequência, dificulta a infiltração de água e aumenta o escoamento, o qual, por sua vez, provoca a ação dos processos erosivos. As características das encostas são importantes para os processos erosivos, não apenas quanto à declividade, como também quanto ao comprimento e forma. Observa-se que a natureza da vegetação (altura, estrutura e espaçamento) é de extrema relevância no controle dos processos erosivos, reduzindo mais ou menos a quantidade de chuva que chega aos solos, bem como diminuindo correspondentemente o efeito do impacto das gotas de chuva sobre a superfície. Com uma cobertura vegetal natural, há uma menor probabilidade da ocorrência de processos erosivos acelerados, como, por exemplo, as voçorocas. São afundamentos que ocorrem quando canalizações naturais de água se formam em sub-superfície, por exemplo, minando a estrutura do solo. Uma vez estabelecida esta erosão, é necessário que seja feita a sua recuperação, algumas vezes através de obras que envolvem recursos financeiros e tecnologia capazes de não só diminuir o efeito do escoamento, mas também de diminuir o avanço desses fenômenos. Uma solução possível seria através da construção de pequenas barragens, ou diques, dentro das voçorocas, de forma a diminuir a ação do escoamento superficial e, simultaneamente, provocar assoreamento dentro da Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 57 voçoroca. Este assoreamento induzido possibilitaria a criação de uma nova superfície, a qual permitiria, com a ajuda de obras de engenharia, recuperar a área degradada. Mas isso por si só poderia não resolver o problema. É importante conter a energia das águas na área que circunda a voçoroca, para que essa não receba um volume muito grande de água. Caso contrário, sua evolução seria difícil de ser controlada, e as obras sugeridas acima não surtiriam os efeitos desejados. Como vemos, há necessidade de se fazer um diagnóstico ambiental de uma área com fins agropastoris. A partir do conhecimento das propriedades físicas e químicas dos solos, bem como das características das encostas e regime de chuvas, é possível fazer um prognóstico do que deverá ocorrer. A partir deste prognóstico é possível estimar os processos erosivos resultantes e as técnicas conservacionistas necessárias para evitar esses processos ou, pelo menos, minimizar seus efeitos. 4. FORMA DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL. MANEJO ADEQUADO E RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS A degradação ambiental ocorre em toda parte, com maior ou menor intensidade, dependendo das técnicas utilizadas na exploração dos recursos naturais, e da preocupação local com a conservação desses recursos. Isso tem gerado uma série de danos, não só ao ambiente natural, como aos seres humanos, que têm convivido com toda sorte de riscos. Para evitar os danos ambientais é preciso que seja feito um manejo adequado da exploração dos recursos naturais, bem como das outras atividades econômicas desenvolvidas na superfície terrestre. Esse manejo está relacionado ao planejamento do uso da terra, que deve seguir certas regras básicas, prevenindo danos, ou pelo menos os minimizando. Antes que qualquer atividade seja realizada deve ser feito um diagnóstico da área, devendo-se prever os impactos ambientais que possam acontecer, como, por exemplo, riscos de inundações, deslizamentos e erosão dos solos. Devem também ser levados em conta os objetivos do planejamento. Se a ocupação for de uma bacia hidrográfica, por exemplo, o planejamento deve incluir os seguintes aspectos: proteção das vidas humanas e propriedades; proteção da qualidade e reservas de água; proteção da vida selvagem e dos ecossistemas; cuidado com o acesso às áreas mais frágeis e gerenciamento das áreas de lazer dentro de uma perspectiva de sustentabilidade do sítio a ser preservado. Como, na maioria das vezes, os cuidados com o planejamento e manejo ambientais não são seguidos, os danos têm ocorrido cada vez com maior frequência, e, consequentemente, requerem a recuperação das áreas degradadas. Isso envolve, quase sempre, grandes gastos de recursos financeiros para recuperar encostas, rios, baías, lagoas, etc. Os habitantes da cidade do Rio de Janeiro, em particular, e Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 58 da Região Sudeste do Brasil têm observado isso no seu cotidiano. Por exemplo, centenas de encostas têm sido contidas através de muros de arrimo, construídos tanto nas estradas como nas áreas urbanas. Durante as três últimas décadas, um grande esforço tem sido feito no sentido de se mensurar as taxas nas quais os vários tipos de movimentos de massa (movimentos de solos e rochas superficiais) operam. Esta mensuração ainda está sendo feita de forma incipiente no Brasil, e por isso ainda não sentimos seus efeitos em termos práticos, ou seja, os modelos de predição de ocorrência desses movimentos estão sendo pouco utilizados pelo Poder Público. As áreas urbanas sempre são as que mais sofrem com esses processos, em especial porque vidas humanas são perdidas, construções são danificadas e ecossistemas são afetados pelos movimentos de massa. Sua recuperação envolve obras de engenharia, que demandam um grande volume de recursos financeiros. Mesmo assim, uma vez estabelecido um movimento de massa numa determinada encosta, a cicatriz resultante desse processo é uma área de instabilidade, quepode ser reativada no futuro, mesmo que essa encosta tenha passado por obras de recuperação. A dificuldade intrínseca dos problemas ambientais pode ser claramente percebida nas obras de desassoreamento de rios, lagos e reservatórios, necessárias devido ao grande volume de sedimentos que se depositam nesses corpos líquidos. Em geral, essa deposição é função do desmatamento generalizado das encostas destes corpos, ou das encostas dos rios que os alimentam. Isso sem considerar a poluição que compromete a qualidade da água, da flora e da fauna que vivem nessas áreas. Um bom exemplo é o atual Projeto de Despoluição da Baía de Guanabara, que, mesmo restringindo-se a um projeto basicamente de saneamento, vai levar quatro anos para ser completado. Se incluísse efetivamente a despoluição dos sedimentos no fundo da baía, elevaria seus custos a níveis insuportáveis, e seu tempo de execução a décadas. As inundações causadas pelas chuvas têm sido cada vez mais frequentes, em especial nas áreas urbanas de vários países. Devido à ocupação desordenada do solo, pequenas quantidades de chuvas já são suficientes para causar danos ambientais, com perdas de vidas e bens materiais. Isso se deve não só ao desmatamento das encostas, como também à construção em áreas de grande risco, muito próximas aos rios e em áreas de talude (terreno instável na base de uma encosta), sem levar em conta os riscos associados. Concluindo, como nos casos anteriores, os custos com obras de recuperação de áreas afetadas por danos ambientais têm sido cada vez maiores e com a tendência de aumentar, a menos que sejam tomadas medidas preventivas e que o planejamento e manejo ambientais sejam seguidos com rigor. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 59 5. IMPACTOS AMBIENTAIS DE PROJETOS Estimar o impacto ambiental de uma atividade que se encontra na fase de projeto é, até certo ponto, um jogo de adivinhação, o qual requer do analista conhecimento científico, visão abrangente, bom senso e objetividade. Requer, sobretudo, a consciência de que os modelos usados, embora ferramentas poderosas na avaliação dos fenômenos, são sempre uma imitação pobre da realidade, e devem ser aplicados, e seus resultados interpretados à luz do estado da arte, e dentro das limitações impostas pelos próprios modelos e pelas condições de contorno do problema. Podemos classificar os danos ambientais causados por um empreendimento em dois tipos de fenômenos muito diversos: • os impactos advindos da operação normal de uma atividade • os impactos advindos de eventos acidentais. Estes dois tipos de impactos têm intensidades, durações e frequências muito diferentes e, portanto, conduzem a técnicas, metodologias e modelos radicalmente diversos sendo, por isso, tratados em separado. A importância dos acidentes tende a ser sobrevalorizada pelo público em relação aos danos cotidianos, e isso é facilmente explicado pelo impacto que causam na indignação popular os acidentes divulgados na mídia, principalmente se vierem acompanhados de mortes e danos catastróficos. Por outro lado, analisando-se os grandes danos causados à natureza pelas atividades humanas, encontramos florestas derrubadas para agropecuária, rios mortos por poluentes liberados cotidianamente, atmosfera poluída por emissões de gases, e todas estas atividades operando dentro de suas condições "normais" de funcionamento. Em síntese, a maior parte da destruição do ambiente natural da Terra pelos humanos tem sua causa primeira na operação normal das atividades humanas. Assim, seguindo uma abordagem sistêmica, esta avaliação deve atentar tanto para os eventos acidentais quanto para os cotidianos. Uma visão abrangente deve integrar as consequências da geração de produtos e seus rejeitos associados (sólidos, líquidos e gasosos) dentro do "sistema econômico" e liberados no "sistema natural". E, para tanto, a noção de capacidade de suporte dos sistemas naturais é crucial para um melhor entendimento da questão. A geração de produtos e rejeitos associados pelas atividades econômicas não ocorre sob o controle das leis naturais e, portanto, tende a superar a capacidade de recuperação do meio. Este limite, a partir do qual o sistema natural não consegue mais manter ou recuperar suas funções por completo, é denominado de capacidade assimilativa ou de suporte. Refere-se à quantidade máxima de agente externo (poluente) que os sistemas naturais de certa região conseguem regenerar ou reciclar num dado tempo, sem que haja acumulação ou perturbação danosas para suas funções vitais. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 60 Dito de outra forma: a taxa de poluição precisa ser igual ou menor do que a taxa de regeneração do meio e de "metabolização" do poluente. E o volume máximo de poluente transitando no meio natural que manteria tal condição de forma sustentável seria a capacidade de suporte desse meio. Modelos econômicos que consideram isso têm sido desenvolvidos, e estão disponíveis na literatura internacional. A Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) é a denominação moderna do estudo que abrange os impactos ambientais causados por toda a cadeia produtiva relacionada com uma determinada atividade. Inicialmente, esta avaliação focalizava apenas os produtos; mas diversos estudos estenderam-na também para analisar os impactos gerados pelo ciclo de vida da própria instalação, fazendo o que em parte está no espírito do EPIA-RIMA (Estudo Prévio de Impacto Ambiental, Relatório de Impacto no Meio Ambiente), que teoricamente estima o impacto da implantação da instalação, porém se restringe apenas ao sítio principal. As instalações, figurativamente, também nascem, crescem e, eventualmente, morrem. Determinados empreendimentos, mormente na indústria de base, causam significativo impacto durante os processos de "nascimento" (implantação, construção) e "morte" (descomissionamento, desmontagem). Neste texto relativo à poluição, por simplicidade denominaram-se de impacto as cargas de substâncias tóxicas provenientes de efluentes líquidos, sólidos ou gasosos - as doses - e de danos os efeitos nocivos daí decorrentes (mortes, doenças, etc.). Importante observar que, diferentemente da questão da poluição, o consumo de recursos naturais (queimadas para geração de pasto; "consumo de solos", por utilização inadequada de fertilizantes e agrotóxicos; consumo de água doce, etc.) é simultaneamente impacto porque representa interferência humana direta no meio, e danos, porque destrói recursos importantes. Lembramos ainda que, neste texto, tratamos apenas da avaliação dos impactos negativos. 5.1. Impactos ambientais do ciclo de vida do produt o Uma Avaliação de Ciclo de Vida - ACV é, basicamente, uma tentativa de inventariar todos os possíveis danos ambientais causados por um produto e sua cadeia produtiva. Daí ser uma análise focalizada no produto, e denominada assim, convenientemente, de análise "do-berço-ao-túmulo", onde se consideram os impactos ambientais causados desde a obtenção da matéria-prima necessária, passando pela produção em si, pela utilização do produto e, finalmente, os impactos da necessidade de um destino final. Podemos exemplificar essa questão com uma observação sobre o comércio de joias de ouro. O impacto ambiental direto desta atividade é pequeno, mas a consideração da cadeia completa, com a contaminação por mercúrio causada pelos garimpeiros, o desmatamento de florestas, e a modificação do leiro dos rios, torna seu impacto total significativo. Análises prévias do impacto ambiental, de caráter abrangente como uma ACV, objetivam exatamente minimizar os danos potenciais que possam ser previstos, minimizandoassim o custo social das diversas atividades econômicas necessárias ao desenvolvimento da sociedade. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 61 Os usuários têm definido quatro componentes para uma ACV completa: • formulação de escopo e metas , durante a qual os objetivos e as fronteiras da análise são determinadas; • inventário , que identifica as entradas (consumo) e saídas (efluentes) de energia e matéria em cada estágio do ciclo de vida; • avaliação de impacto , que caracteriza e avalia os impactos ambientais - ecológicos e humanos - das entradas e saídas identificadas no inventário; • avaliação de aprimoramentos , que estuda oportunidades de medidas mitigadoras daqueles impactos, não restritas a mitigação em si, mas abrangendo também oportunidades de negócios, como o aproveitamento econômico da reciclagem e uma maior produtividade de tecnologias mais modernas. A ACV tem como uma de suas motivações o fato de que muitos programas de proteção ambiental do passado simplesmente transferiam poluição de um meio para outro, por exemplo, dos efluentes líquidos para os gasosos, 0u dos gasosos para os sólidos. A preocupação mais recente com a prevenção da poluição tem levado as pessoas na indústria a olharem para além de seus muros, tanto para montante como para jusante do processo produtivo - abrangendo todo o ciclo de vida dos produtos e seus constituintes. Identificam-se três componentes, visualizados na figura, na avaliação de impacto ambiental dentro de uma ACV: Fonte: Cunha, 2009 Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 62 • Classificação : o processo de classificar os dados coletados no inventário segundo um padrão de magnitude e severidade de impactos ambientais; • Caracterização : a avaliação quantitativa, dentro das possibilidades, dessa magnitude e severidade dos impactos potenciais; • Valoração : o processo explícito de alocar valores relativos, categorizações, ou atribuir pesos através de métodos formais e informais. Uma definição de impacto para os fins de uma ACV é "uma consequência potencial ou final associada com um processo ou atividade identificada no inventário, a qual pode se manifestar numa mudança no ambiente natural, um efeito na saúde humana, ou uma mudança (possivelmente, uma diminuição) na disponibilidade dos recursos". Esta definição contém duas questões importantes: • A primeira, que avaliação de impacto ambiental para fins de ACV endereça impactos potenciais e não reais. A Avaliação de Ciclo de Vida apenas proporciona uma identificação de impactos que poderiam ocorrer, dadas determinadas condições, e não informações que possam ser usadas para avaliar impacto de áreas já afetadas num determinado local e tempo. • Segundo, a definição não inclui (embora também não exclua) o conceito de risco ou previsão da probabilidade de o impacto ocorrer. As limitações de uma ACV não são difíceis de serem percebidas. Esta atividade é altamente consumidora de tempo e recursos. A obtenção de dados para toda a cadeia produtiva é complexa, exaustiva e custosa, e os dados obtidos podem ser pobres em qualidade e quantidade. A metodologia de avaliação de impacto não está nem totalmente desenvolvida nem padronizada. Mesmo assim, a ACV é uma ferramenta de uso crescente, e à medida que as técnicas de avaliação de impacto evoluírem, tende a se tornar uma poderosa arma para a melhoria do desempenho ambiental de qualquer organização. 5.2. Impactos ambientais do ciclo de vida da instal ação A avaliação de todos os impactos ambientais de um empreendimento inclui efeitos provenientes de muitas atividades relacionadas com ele. Uma visualização dessa ideia é mostrada na figura. Uma parte dos efeitos danosos de empreendimentos, frequentemente relegada a segundo plano pelas partes interessadas, são os danos advindos da implantação ou construção, de um lado, e de descomissionamento, ou desmontagem e encerramento da atividade, de outro. Implantar uma atividade requer a ocupação de uma área, consumo de recursos naturais e geração de poluição, muitas vezes maior do que apenas o funcionamento normal da atividade principal durante sua vida útil. As usinas geradoras de energia elétrica são um exemplo importante desta questão. Um estudo da Agência Internacional de Energia Atômica mostra que, quando o ciclo Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 63 de vida de uma usina hidrelétrica é levado em conta, a emissão atmosférica total do processo de produção de energia pelo meio hídrico gera um impacto por poluição atmosférica usualmente desprezado, porém relevante em comparação com outras formas de geração de energia. Isto se dá porque às emissões de gases de estufa pela represa formada somam-se as emissões realizadas durante o processo de construção de uma barragem. O cimento fabricado para construir uma barragem, assim como o petróleo queimado para a enorme movimentação de terras necessária, somam-se, ou deveriam ser somados, num impacto final significativo. A modelagem desses impactos não é simples, mas métodos aproximados já existem em algumas áreas e têm sido estendidos a outras. Fonte: Cunha, 2009 5.3. Impactos ambientais de acidentes Outra questão relevante sobre a estimativa de impactos potenciais de empreendimentos refere-se à avaliação das consequências dos eventos inesperados, não-planejados ou indesejados, ou seja, os acidentes. Acidentes são Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 64 eventos intrinsecamente ruins, porém funcionam como uma força motriz em direção a uma maior segurança pública e cuidados com o ambiente, porque atingem a indignação popular. É nesses momentos que o público toma consciência dos riscos que a tecnologia impõe à nossa própria espécie, diretamente, e ao nosso planeta. Acidentes são aqueles eventos que não estão programados para ocorrer dentro do processo normal de produção, e que se caracterizam por uma sequência de eventos inicialmente descontrolados, provocados por uma falha qualquer, de equipamento, humana ou externa, e que podem ocasionar danos inesperados, expressados tanto como prejuízos financeiros diretos (perda de produção, destruição de equipamentos, etc.), quanto danos ambientais, incluídas aí as vidas humanas. Os danos acidentais, provocados pelo comissionamento de uma atividade produtiva (início de produção ou fornecimento de serviços), podem ser avaliados através de diversas técnicas, e uma das mais utilizadas é a Análise de Risco. Há várias metodologias por detrás dessas palavras, e alguns esclarecimentos são necessários. Em primeiro lugar, estamos nos referindo aqui aos riscos físicos, e não financeiros. 5.4. Papel da análise de risco ambiental Os pesquisadores, em sua maioria, atribuem o conceito de: • Análise de Risco Ambiental à avaliação dos riscos que as atividades humanas impõem ao ambiente; • Análise de Risco Ecológico visa aos riscos às espécies ou ecossistemas; • Análise de Risco Humano , na área de saúde pública ou na toxicologia, refere-se às probabilidades de efeitos indesejados à saúde humana em função da incorporação de substâncias tóxicas. Existe ainda um quarto conceito de Análise de Risco, muito utilizado na área industrial e militar, usada para avaliar riscos tecnológicos acidentais, denominada aqui de: • Análise de Risco Tecnológico Acidental . Este tipo de análise, utilizado pelas indústrias,restringe-se a avaliar danos humanos. No entanto, uma análise tecnológica poderia ser utilizada como ponto de partida para estimar a frequência esperada de eventos acidentais (explosões, incêndios, liberação de tóxicos, etc.) originados em atividades produtivas, e a partir daí os danos ambientais (incluindo os humanos) poderiam ser estimados. A Análise de Riscos Acidentais é uma metodologia probabilística porque trabalha com variáveis randômicas que são essencialmente as probabilidades de falha dos equipamentos (ou suas frequências esperadas de falha) e probabilidades de falha humana. Essas falhas, quando ocorrem, criam os chamados eventos iniciadores com potencial de dano. Eventualmente, uma sequência de acontecimentos indesejáveis, partindo de um evento iniciador, pode ser interrompida no início, seja porque a falha é inconsequente, seja porque um operador atento corrige o problema antes que se torne grave. No entanto, existe uma probabilidade de que uma Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 65 sequência prossiga num caminho perigoso e, embora as probabilidades de catástrofes sejam baixas, dado um tempo longo de exposição (chance de ocorrer), associado a um número grande de instalações, as catástrofes acontecem. Exemplos retumbantes disso permeiam toda a história humana. Para citar alguns recentes: • tem-se o acidente com o navio Exxon Valdez no Alasca, em 24 de março de 1989, que derramou mais de 40.000 toneladas de petróleo no mar, e custou à Exxon mais de US$ 13 bilhões (exemplo de alto impacto financeiro); • o da fábrica de pesticidas da Union Carbide em Bhopal, Índia, em 3 de dezembro de 1984, que matou mais de 4.000 pessoas imediatamente, e mais de 15.000 até hoje, segundo dados não oficiais. Prejudicou, de alguma forma, mais de 500.000 pessoas que abriram processos criminais (exemplo de alto custo em vidas humanas); • o de Chernobyl, em 26 de abril de 1986, na Ucrânia, que inutilizou uma área de 1.200 km2 por talvez mais de 300 anos para qualquer utilização, além de contaminar os solos e alimentos por uma vasta área de toda a Europa cerca de 25.000 km2 estão com níveis de radioatividade acima dos limites considerados seguros (exemplo de impacto de grande extensão territorial). Uma Análise de Risco pode prever uma série de possibilidades acidentais e, se medidas mitigadoras são tomadas, evitar ou minimizar suas consequências. Serve assim como uma técnica de aprendizado para os responsáveis pela instalação dos riscos envolvidos. Um método muito usado numa Análise de Risco é a avaliação por Árvore de Eventos. Ela começa com a definição e seleção dos eventos iniciadores potencial- mente danosos. Qualquer instalação, por mais simples que seja, possui muitas possibilidades de falhas, que podem chegar aos milhares. Os responsáveis pela instalação, junto com os analistas de risco, discutem e chegam a um consenso, descartando as possibilidades muito remotas, ou que conduzem a consequências nitidamente inócuas e desprezíveis. Após a seleção dos eventos iniciadores, cada um deles é analisado separadamente. Considere a situação hipotética ilustrada na Figura 4. Uma pequena instalação trabalha com um gás altamente inflamável, presente em tanques e tubulações metálicas. O escapamento deste fluido formará uma pluma (nuvem) de gás que, transportada pelo vento, poderia ter quatro consequências: (1) incendiar-se, queimando materiais, vidas, equipamentos, ninhos ou casas porventura em seu caminho; (2) explodir, destruindo tudo; (3) não explodir, nem incendiar-se, por falta de fonte de ignição, e assim prosseguir dispersando-se inofensivamente; (4) explodir ou incendiar-se numa área onde não haja qualquer tipo de vida ou material relevante para ser destruído. A linha pontilhada indica o único dos possíveis. Definido o evento iniciador, associa-se-Ihe uma frequência esperada de ocorrência, através de análise de confiabilidade ou banco de dados disponível. Por exemplo, Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 66 num caso do vazamento, descobre-se que ele pode ocorrer uma vez a cada 30 anos. Daí segue-se pelos ramos da árvore, multiplicando-se a frequência esperada inicial pelas probabilidades no caminho de cada um dos ramos da árvore. Ao final de cada sequência obter-se-á uma frequência esperada ponderada pelas probabilidades daquele caminho. A partir dessa frequência esperada ponderada, pode-se estimar a frequência do dano, multiplicando-se a frequência ponderada deste ramo pelas suas consequências. Se a consequência desse ramo fosse a morte de 10 pessoas, então teríamos (5/1.000) x (morte de 10 pessoas) = 5 mortes a cada 100 anos, que corresponde a 0,05 mortes/ano, ou, como é mais usado em Engenharia, 5,00xl0-2 mortes/ano. Associando cada consequência (neste caso a morte de uma pessoa), a um valor monetário, digamos US$ 10 milhões, facilmente chegaríamos ao custo anual dos acidentes gerados por este evento iniciador, que resultariam em: risco (anual) x custo da consequência = custo anual (0,05 mortes/ano) x (custo da morte, $10 milhões) = US$ 500 mil/ano. Observe-se que o alto valor obtido neste resultado provém principalmente de duas hipóteses básicas: • a de que um único evento provoque a morte de 10 pessoas a cada 30 anos, • que cada morte corresponda ao custo de US$ 10 milhões. Acontece que, se considerarmos o conjunto de eventos acidentais numa dada região industrial, a Baixada Fluminense, por exemplo, esse resultado está em razoável acordo com as estatísticas, não considerando as mortes por acidentes de veículos, que fariam estes números aumentarem multo. Quanto ao valor usado para a vida humana, este varia, segundo as avaliações de riscos em todo o mundo, entre US$ 100 mil e US$ 10 milhões. É evidente, por exemplo, se confirmadas as estimativas sobre o acidente de Bhopal, já citado acima, que matou mais de 4.000 pessoas, os custos para a Union Carbide, somente devidos às mortes, teria sido de mais de US$ 400 milhões, baseando-se no custo mínimo de US$ 100 mil por vida. No entanto, não há notícia sobre a indenização paga pelos mortos. A compensação decidida pela corte indiana de US$ 470 milhões para os reclamantes (vivos até então), distribuiu, teoricamente, cerca de US$ 855 por pessoa, mas não levou em conta todas as consequências neurológicas pós-traumáticas da intoxicação, as anormalidades reprodutivas, nem pelas crianças nascidas desde então com problemas relacionados. Importante considerar que tratava-se de indianos, pobres, e com pouca capacidade de reação, além de uma legislação frágil de defesa de direitos individuais. Na ocorrência de um acidente equivalente num país desenvolvido, por exemplo, poderíamos esperar uma valoração de vidas humanas, muito diferente. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 67 Num estudo de riscos realizado em 1995 para a Petrobrás, com objetivos de alocação e dimensionamento de detectores de gases em plataformas de petróleo no Brasil, o valor de US$ 10 milhões foi utilizado pela empresa consultora, e o estudo aprovado e adotado pela Petrobrás. Mas é fundamental observar que uma coisa é o valor que se atribui à vida humana num estudo de avaliação prévia, outro bem diferente é o valor atribuído quando da ocorrência de um acidente real. Salienta-se a importância da diferença, em termos de consequências ambientais, entre os acidentes e a operação normal. De uma forma geral, os acidentes impõem uma dose aguda, isto é, um efeito pontual no tempo, enquanto a operação normal de uma atividade econômicaimpõe uma dose crônica, ou seja, uma carga tóxica ou fisicamente danosa de caráter contínuo ou bastante frequente. Em geral, um sistema natural pode suportar uma dose aguda (um evento singular) muito mais alta do que uma crônica (evento cotidiano ou proximamente cotidiano) de um elemento tóxico, porque no primeiro caso ele terá tempo para se recuperar dos efeitos, regenerar suas funções e reciclar o tóxico, se for o caso. Isso ocorrerá se os efeitos acidentais não ultrapassarem os limites da capacidade de suporte do ecossistema atingido, ou não consumirem recursos não-renováveis. Em se tratando de impacto ambiental, cada caso é um caso singular. 6. ESTIMATIVA DE CONSEQUÊNCIAS AMBIENTAIS A estimativa dos danos ambientais provenientes de atividades humanas é uma tarefa complexa sob diversos aspectos. Não conhecemos as relações entre dose e efeito de todas as substâncias tóxicas (até porque criamos novas substâncias todos os dias), não conhecemos estas relações sequer de uma única substância para todas as espécies (até porque não conhecemos todas as espécies), e não conhecemos todos os efeitos da perda ou diminuição de uma população qualquer sobre os ecossistemas (até porque não conhecemos com precisão sua dinâmica) e, portanto, estamos muito longe de quantificar sequer aproximadamente todos os danos da poluição ao ambiente. A elaboração de modelos é uma tarefa complexa, que lida sempre com falta de dados e informações insuficientes. Os modelos são imitações pobres da natureza, mas extremamente úteis quando suas limitações são cuidadosamente consideradas, e suas respostas adequadamente interpretadas diante de suas premissas. Começa- se por onde há consenso, e daí em diante as pesquisas fazem o assunto evoluir em direção a resultados mais realistas e complexos. No caso da avaliação de danos futuros, há controvérsias, mas há pleno consenso em relação à existência de danos. E se existem danos, existe um dano mínimo em torno do qual podem-se construir consensos. Por exemplo, existem curvas dose-resposta para um número enorme de substâncias poluentes para os humanos, e relações entre poluição atmosférica e doenças respiratórias em algumas grandes cidades. Assim, podemos utilizar estes efeitos conhecidos em humanos, juntos com efeitos nocivos a algumas espécies Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 68 conhecidas, e quantificar um dano mínimo. Este dano mínimo poderia ser valorado e os resultados utilizados para critérios de licenciamento e normatização. À medida que mais relações espécies-poluentes sejam conhecidas, elas poderão ser agre- gadas aos modelos, tornando-os cada vez mais precisos em direção a resultados mais realistas. 6.1. Critério de valor mínimo O critério do valor mínimo baseia-se na ideia de que, até há pouco tempo, nenhum valor monetário era atribuído aos recursos naturais e, assim, julgados pela sociedade como sendo nulos. À medida que um valor mínimo lhes seja atribuído, os danos aos recursos naturais passarão a ter um custo associado, e poderão ser reclamados, por exemplo, em ações civis públicas, segundo a legislação atualmente em vigor no Brasil, baseada na Constituição Federal de 1988. 6.2. Operações normais Uma avaliação a priori dos danos ambientais de um empreendimento econômico exige a utilização de modelos de previsão de impacto. Estes, como qualquer modelo que pretenda simular uma realidade complexa, têm seus limites de aplicabilidade, e a validade de suas conclusões estará sempre sujeita a uma análise crítica. Para avaliar os danos de operações normais é preciso focalizar a taxa de consumo de recursos naturais e de degradação ambiental causadas pelo empreendimento em análise. O consumo per se de recursos naturais (água, ar, minérios, recursos não- renováveis, etc.) pode ser obtido diretamente do processo produtivo, e passado para os modelos de valoração. Mas é preciso avaliar os efeitos deste consumo nos ecossistemas de onde foram extraídos. Por exemplo, a exploração de minérios provocará, no mínimo, uma perda de área para o ecossistema de onde foi retirado, com suas consequentes perdas de todos os valores associados a isso. Para os diversos tipos de poluição, os modelos fornecem os valores de exposição para os poluentes na área de influência - concentrações médias na atmosfera, solos e águas. Com estes valores podem-se estimar as doses crônicas assimiladas pelo sistema natural da região impactada. Uma matriz poderia então ser montada com as linhas representando cada corpo receptor e as colunas cada poluente previsto. Em cada célula desta matriz de impacto (não confundir com as matrizes de ElA/RIMA) podemos colocar as doses estimadas pelos modelos, tal como mostrado. Local Poluente Espécie Poluente 1 Poluente 2 Poluente 3 Poluente 4 Espécie 1 Valor A Valor B Valor C Valor D Espécie 2 Valor E Valor F Valor G Valor H Espécie 3 Valor I Valor J Valor K Valor L Espécie 4 Valor M Valor N Valor O Valor P Fonte: Cunha, 2009 Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 69 Os modelos geralmente fornecem uma distribuição de concentrações, isto é, concentrações que variam espacialmente e, portanto, há necessidade de uma análise de local a local, classificando-os, por exemplo, de LOCAL#1, LOCAL#2, etc. Com o auxílio de curvas dose-resposta para as espécies (relações entre dose e dano), podemos chegar a um valor de perda ou degradação (por exemplo, em termos de uma fração do ecossistema perdido, uma fração da biodiversidade perdida, etc.). É perceptível que não existem relações simples para a avaliação de danos, mas diversos estudos em andamento indicam que algumas relações entre doses e efeitos no ambiente podem e estão sendo derivadas. A filosofia do dano mínimo também precisa ser aplicada neste caso. Não seria viável avaliar-se perdas nas populações de todas as espécies, até porque não são todas conhecidas, e as curvas dose- resposta só existem para uma pequena fração da fauna e da flora. Assim, espécies relevantes para cada ecossistema, denominadas bio-indicadores, fornecem um índice de saúde daquele ecossistema, e podem ser usadas com este objetivo. Para estas existem diversas curvas dose-resposta, e diversas outras estão sendo levantadas. Em relação especificamente aos riscos humanos, existe uma enorme quantidade de relações semelhantes, cujos danos, como doenças e mortes, possuem modelos de valoração bem sedimentados e aceitos pela sociedade. Esses danos podem ser inseridos em modelos e previstos com base na poluição potencial de um empreendimento. 6.3. Acidentes Cada impacto ambiental tem um efeito específico, e diferentes efeitos eventualmente serão avaliados por diferentes modelos de valoração. Quando os efeitos ambientais de um acidente são "apenas" mortes de pessoas, a avaliação do dano é simples de realizar (deixadas à parte questões éticas e morais). Mas quando esses efeitos incluem a destruição ou degradação de recursos naturais, a complexidade de avaliação dos danos de curto, médio e longo prazos cresce exponencialmente. Para fixar a ideia, vamos exemplificá-la com a queima de uma floresta tropical, com o impacto - incêndio - e o consequente consumo de um recurso natural bastante conhecido em nosso país - as florestas. Cada tipo de floresta tem determinadas características, baseadas nas quais um incêndio se propagará mais ou menos (o que, só para citar um dos possíveis complicadores, é dependente da direção e velocidade do vento), e no mínimo podemos identificar dois atributos dos danos potenciais: • a extensão do dano, que estaria relacionada com o tamanho da área queimada; • a bioabrangência do dano, ou seja, o quanto da biodiversidadeteria sido destruído, que poderia trazer conclusões acerca da capacidade de auto regeneração do ecossistema. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 70 Em relação à extensão do dano, o simples tamanho da área destruída já é um dado para os modelos de valoração em termos de perdas diretas, como a madeira queimada e outras. As perdas quantitativas na biodiversidade podem se dar: • tanto de forma indireta - pela perda de área, em cujo caso poderiam ser estimadas com base em modelos como a Teoria da Biogeografia da Ilha; • quanto de forma direta, pelo modo seletivo com que o fogo destrói a biota e/ou pela resistência das espécies em relação ao fenômeno. O ecossistema do Cerrado, por exemplo, pode resistir a incêndios naturais sem maiores problemas, desde que estes ocorram naturalmente, e não induzidos pelos humanos. Por outro lado, uma clareira aberta no ecossistema da Mata Atlântica pode necessitar de 150 anos para se recuperar e, dependendo do tamanho e posição da área, não se recuperar nunca mais. Estes danos podem ser incorporados a modelos de impacto potencial antes de o empreendimento se concretizar. Neste caso, os danos mínimos podem ser contabilizados em termos de frequência de áreas destruídas por acidentes, danos irreversíveis a ecossistemas, e por conseguinte às espécies endêmicas contidas neles. As mortes humanas também podem ser contabilizadas e incorporadas ao dano mínimo. Proposta de estrutura de análise do impacto ambiental valorável Fonte: Cunha, 2009 À medida que os danos acidentais ao sistema natural forem sendo mais bem conhecidos, os modelos de impactos acidentais serão aprimorados, da mesma maneira que os modelos de impacto de operações normais e, consequentemente, uma avaliação mais realista dos bens naturais degradados será progressivamente Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 71 obtida. Assim, mesmo problemas muito complexos podem ter solução através do critério de dano mínimo. Os danos diretos, visíveis e consensualmente aceitos, podem ser utilizados para quantificar estes danos mínimos, e a partir daí valorá-Ios de acordo com modelos disponíveis. Para finalizar essa análise dos impactos potenciais, é apresentado um quadro que fornece uma proposta de estrutura para aquela parte dos danos ambientais que poderiam ser valorados. Uma vantagem da valoração é que ela permite que os entes valorados sofram uma comparação entre seus custos e seus benefícios, a bem conhecida análise custo-benefício da Economia. Assim, de forma sistêmica, esses complexos fenômenos, fatores e efeitos passam a conectar os mundos econômico e ecológico numa estrutura que explicita suas diversas influências anteriormente des- prezadas. A complexidade pode ser percebida não apenas devido às suas inúmeras vias de impactos, mas também ao fato de esses impactos provirem de fenômenos essencialmente diversos. 7. MODELOS DE VALORAÇÃO A empreitada de valorar bens naturais não é simples, mas nem por isso menos necessária. Uma boa norma de conduta em modelagem é começar estabelecendo modelos simples que, embora não sejam tão abrangentes ou realistas quanto seria desejável, podem ser derivados de início para considerar minimamente a avaliação dos impactos. Modelos assim podem avaliar apenas os danos mais visíveis e óbvios, resultando em valoraçães subdimensionadas, ou seja, a valores monetários menores do que aqueles intuitivamente percebidos. Mas isso é um avanço em relação à antiga prática de considerar tanto o consumo de recursos naturais quanto a produção de poluição como um custo nulo, e, consequentemente, não impondo limites a estas atividades. Atualmente já existem diversas técnicas de valoração dos recursos naturais, e a literatura está plena de propostas, tanto em relação a técnicas propriamente ditas quanto a mecanismos de governo capazes de sinalizar para a sociedade custos ambientais embutidos no funcionamento das diversas atividades produtivas. A propósito, a década de 1990 tem sido pródiga na produção de artigos e livros sobre o tema da Economia Ambiental, dos quais podemos retirar diversos modelos de valoração úteis, mas que devem ser aplicados considerando-se suas limitações. Dentre estas diversas propostas, serão citados alguns princípios e modelos que vêm sendo postos em prática em áreas relativas às questões ambientais: 7.1. Princípio do poluidor-pagador De acordo com este princípio, deve haver uma taxação sobre os poluidores, proporcional ao custo da poluição gerada por eles. Sua intenção é óbvia; inibir a geração de rejeitos através do incipiente de torná-Ia uma atividade custosa, tornando visível o custo da degradação ambiental para o poluidor. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 72 7.2. Modelo da disposição-a-pagar É um dos chamados métodos de contingência e estima o preço implícito das coisas através dos conceitos de substituição e complementaridade. É levado a efeito através de consulta popular e tratamento estatístico dos resultados desta consulta: • primeiro, confronta a pessoa com uma situação de ameaça de perda do bem, forçando-a a decidir-se por uma determinada alternativa (uma opção de contingência); • segundo, a questão é tratada como uma possibilidade (o que está sendo proposto jamais pode tornar-se realidade); • terceiro, depende de cada pessoa consultada e do número de pessoas consultadas. Pode ser usado para fornecer a valoração de um bem natural, tal como um bosque onde as pessoas mantêm atividades de lazer. Basicamente, o modelo busca descobrir o quanto as pessoas estariam dispostas a pagar para não deixar de poder usufruir daquele recurso. O somatório do valor indicado por todas as pessoas consultadas (interessadas na área) fornece um valor monetário para o recurso sendo analisado, ou em outras palavras, é possível assim definir a função de demanda do recurso em questão. 7.3. Modelo da disposição-a-receber Semelhante ao anterior, sendo também de contingência. Porém, inverte de certa forma a proposta do modelo acima, buscando descobrir quanto as pessoas exigiriam receber em troca da perda de um determinado recurso natural. Em outras palavras, por quanto uma população "venderia" aquele recurso natural. Por exemplo, poderia ter sido aplicado ao caso do afogamento do Salto de Sete Quedas pela represa de Itaipu. 7.4. Modelo de custo-de-viagem Desenvolvido por Clawson e Knetsch, entre 1964 e 1966, relaciona o custo para se alcançar um sítio com a disposição das pessoas de pagarem pela conservação do mesmo. Assim, quanto mais longa for a viagem supõe-se que maior seria a disposição-a-pagar. Segundo essa idéia, existe uma relação direta entre o prazer oferecido pelo sítio e o valor que a população atribui ao local, o que o faz apropriado, particularmente, para a valoração de sítios com fins recreacionais. 7.5. Modelo de valoração mercantil Ao invés de valorar um sítio pelo todo, este modelo procura estabelecer o valor econômico dele, através da avaliação dos preços de mercado de cada uma de suas partes constituintes. Por exemplo, no caso de uma reserva florestal, seleciona todos, ou a maioria relevante dos bens existentes numa floresta e que possuem valor de mercado, quantificando-os e, em seguida, buscando seus preços de mercado. Uma floresta inclui árvores, que têm valor pela sua madeira, nutrientes fertilizantes, como o fósforo e o nitrogênio, plantas ornamentais, caça que pode ser coletada e vendida, tanto para alimento como para enfeite e troféu, minerais que porventura existam ali,Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 73 e assim por diante. O somatório de todos estes valores constituiria um valor mínimo para o sítio. 7.6. Modelo de preço hedônico É um método indireto, estatístico, que busca valorar um recurso através do relacionamento de alguns de seus atributos (bela paisagem, alto risco) com o preço da terra ou do trabalho. A partir da diferença nos preços entre bens semelhantes, pode-se inferir estatisticamente o preço de um atributo presente num deles e ausente no outro. Por exemplo, a diferença entre o preço de uma casa com um bosque ao lado e o preço de uma casa semelhante, com um terreno degradado ao lado, pode conduzir a um valor para o bosque. 7.7. Modelo de avaliação direta É um modelo de difícil experimentação, porque precisa de que uma situação real seja criada para que a resposta do público possa ser então avaliada e transformada em valor. É possível, por exemplo, estabelecer uma taxa de cobrança para verificar se o público de uma localidade pagaria a taxa para visitar um sítio natural. Outra aplicação seria, por exemplo, estabelecer em duas cidades próximas uma diferenciação de custos e qualidade da água. Por exemplo, numa cidade poder-se-ia cobrar uma taxa mais alta para fornecer uma água de qualidade bem superior, e em outra água de qualidade inferior por uma taxa mais baixa. A preferência das pessoas por uma ou outra cidade indicaria o quanto elas estariam dispostas a pagar por uma melhor saúde ambiental. 7.8. Títulos de poluição ambiental O órgão regulador do ambiente estabelece um limite para determinados poluentes numa região. Emite títulos que correspondem, no seu conjunto, a toda a poluição que seria admissível na região, derivada de estudos de avaliação da capacidade de suporte para aqueles poluentes. Estas "ações" de poluição são negociadas em bolsa. À medida que uma empresa, a qual adquiriu alguns desses títulos para poder poluir, muda sua tecnologia para uma menos poluente, ela pode revender esses títulos para outra indústria que esteja se estabelecendo na região. Este procedimento tem duas grandes vantagens: • primeira, trabalha com a capacidade de suporte da área, o que guarda uma forte relação com a realidade local, e ainda permite ajustes futuros; • segunda, que abre espaço para que entidades de defesa ambiental adquiram parte dos títulos, efetivamente retirando poluição do mercado. Na prática os títulos vão se valorizando com o tempo, porque a tendência é que mais empresas entrem na área aumentando a disputa pelos títulos, e o consequente aumento do preço dos títulos tende a inibir a geração de mais poluentes. Já está em uso com sucesso em algumas áreas dos Estados Unidos. É natural que cada uma dessas técnicas apresente suas falhas, e todas elas são, de uma forma ou de outra, deficientes na captura de um suposto verdadeiro valor Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 74 atribuído pela sociedade como um todo para um determinado recurso natural. Por exemplo, tanto a disposição-a-pagar quanto a disposição-a-receber têm uma falha óbvia: elas dependem da quantidade de pessoas consultadas, e da quantidade de pessoas interessadas na área específica a ser valorada. Mas não deixam de ser válidos porque são métodos simples que inevitavelmente chegam a um valor, mesmo que não seja de todo preciso. Existem, no entanto, métodos muito mais sofisticados, que buscam agregar valor através da determinação de um preço-sombra (preço que não emergiu das relações de oferta e procura), e que embute funções que consideram, por exemplo, as limitações impostas pela capacidade de suporte de uma região. Modelos assim ainda estão em plena discussão e desenvolvimento, e ainda têm um longo caminho de testes, validações e viabilidades a ser trilhado. Para finalizar, é importante observar que estes modelos, sofisticados ou simples, mais antigos ou ainda recentes, devem ser amplamente aplicados, tanto para valorar as áreas já impactadas, quanto as áreas a serem impactadas por futuros empreendimentos. 8. ANÁLISES CONCLUSIVAS Os impactos ambientais, tanto no que concerne à realidade atual, quanto aos projetos de empreendimentos futuros, foram discutidos de forma a prover uma visão abrangente dessa questão complexa. Alguns insights sobre avaliações de impacto ambiental específicas foram fornecidos, e como pontas de um iceberg procuraram fornecer alguma visibilidade da enorme tarefa da avaliação econômica dos impactos ambientais que nos aguarda à frente. Mas é uma tarefa que deve ser enfrentada com energia, porque, se não fosse considerada em todas as atividades humanas, sustentaria as previsões catastróficas divulgadas na década de 1970, algumas das quais já dolorosamente transformadas em realidade em alguns lugares deste planeta. É importante mesmo alertar para o risco de se cair na armadilha de menosprezar as tentativas sérias de previsão do futuro, desde que cientificamente embasadas. Deve- se considerar que catástrofes de fato ocorrem, previstas ou não, e também que, muitas vezes, alertas sobre catástrofes potenciais tornam-se exatamente uma das causas de seu não-acontecimento. É o exemplo clássico inverso da previsão que se torna ela mesma uma retroalimentação negativa do sistema, impedindo que este entre num desequilíbrio perigoso. Particularmente na problemática ambiental, não se pode correr o risco de que haja uma pequena, mas não desprezível, chance de uma catástrofe acontecer, porque as consequências de danos irreversíveis podem representar custos infinitos e, na prática, impossíveis. Não custa lembrar que extinção é para sempre. A discussão da complexidade da avaliação econômica dos impactos ambientais teve o objetivo de mostrar que uma avaliação precisa, detalhada, abrangente, integrada de toda a imbricada teia de fenômenos naturais não é uma tarefa para poucos, nem Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 75 para curto prazo. É uma tarefa para os cidadãos da pátria Terra; é uma tarefa para muitas gerações. Mas sua grandiosidade não deve desmotivar os trabalhos individuais, cuja integração sinérgica (onde o todo é maior que a soma das partes) pode "virar o jogo", isto é, reequilibrar nossas relações com o planeta, dando condições a ele de sustentar, simultaneamente, nosso bem-estar econômico e a saúde do ecossistema planetário. Há caminhos sendo abertos por pesquisadores, em todo o mundo, sobre uma ava- liação mais precisa, consistente e realista dos impactos ambientais das atividades humanas. Alguns desses caminhos foram comentados, sem perda de generalidade para muitas outras técnicas e teorias, atuais e futuras, na busca de soluções para a sustentabilidade. À medida que um conhecimento maior da extensão dos danos ambientais e de seus mecanismos de atuação for surgindo, os métodos de avaliação e valoração se tornarão mais concretos, precisos, abrangentes e aceitos; uma maior parcela de valores e critérios será progressivamente agregada, fazendo com que o resultado final do "custo ambiental" seja cada vez mais parecido com a realidade percebida do problema, e que, simultaneamente, nossa percepção seja progressivamente mais abrangente. Tudo indica que na área da avaliação dos impactos ambientais caminha-se para uma multidiversidade de critérios, a qual não prescindirá de uma ainda longa e árdua discussão ética e moral sobre o que deve ou não ser valorado monetariamente, e assim considerado adequadamente na Economia e no Planejamento dos países e das organizações. Olhando para o passado, pareceser inútil discutir se o culpado pelos danos ambientais foi a Economia, que falhou em não valorá-Ios corretamente, ou a Engenharia, que falhou em não prevê-Ios corretamente em seus projetos. Tudo leva a crer que trata-se essencialmente de uma crise de percepção humana, incapazes que fomos de atinar para o risco de usar e abusar de um sistema tão complexo quanto o natural, desconsiderando que o metaequilíbrio de Gaia, conseguido através de longas eras de mudanças-reações-ajustes-ações, não poderia ser abalado sem consequências danosas para a biosfera. B. PERÍCIA DO SEGURO AMBIENTAL O presente módulo possui como referência Almeida (2005), especialmente na parte 5 da obra referenciada. Para complementação de conceitos, apresenta-se os definidos pelo Núcleo Interdisciplinar de Perícia Ambiental – NPA. De acordo com a NPA, a Perícia Ambiental tem como principal objeto a diligência sobre o dano ou ameaça ao meio ambiente, visto que, na área ambiental, as informações e documentos não são suficientes para elucidar a verdade, sendo necessária a atuação de profissionais especializados na área, os peritos. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 76 Podem ser peritos os profissionais de nível superior com registro em seus respectivos Conselhos Regionais e que, por qualidades e conhecimentos pessoais, estão aptos a esclarecer fatos ou assuntos que se pretende por em evidência, na busca de uma solução justa e verdadeira. Via de regra, profissionais de todas as áreas de conhecimento podem realizar perícias, o que é desejável, pois, não raramente, faz-se necessário o envolvimento de diversos especialistas para a resolução de um único caso. Cita-se, a titulo de exemplo, os acidentes de trânsito, cuja elucidação pode envolver médicos, engenheiros e profissionais de vários segmentos da área ambiental. Ainda para a NPA, a Perícia Securitária tem por objetivo determinar o valor de indenização de um bem material, levando em consideração a conciliação de valores em risco e da importância segurada. 1. SEGURO AMBIENTAL Praticamente a cobertura para poluição em quase todos os países se limita a acidentes ou descargas repentinas, súbitas e/ou inesperadas, excluindo os danos causados por acumulações graduais/paulatinas. A cobertura mais abrangente envolvendo o risco de poluição gradual é de difícil subscrição pejos Mercados Internacionais de seguros e de resseguros. A cobertura por qualquer responsabilidade relacionada com danos ao meio ambiente é, normalmente, excluída do escopo padrão da cobertura de uma apólice de Responsabilidade Civil Geral, podendo ser coberta de forma acessória em, praticamente, todos os países do mundo. 1.1. Responsabilidade civil por danos ambientais Experiências passadas de extensão mundial cada vez mais comprovam que uma abordagem na avaliação, e tarifação do risco de danos ao meio ambiente é de vital importância para a Seguradora de responsabilidade civil. Alguns aspectos importantes e fundamentais estão dificultando a concessão de coberturas incidentais, implícitas e/ou do tipo cobertura para clientes comerciais/industriais. São eles: • o potencial de determinados locais e propriedades historicamente poluídos, particularmente em mercados onde certas indústrias, tradicionalmente, mantiveram as suas instalações de produção e/ou armazenagem nos mesmos locais durante muitas décadas (exemplo: gás sulfuroso, solventes, óleo (diesel), metal pesado, hidro carbonos clorados, PCB etc.); • problemas relacionados com a avaliação de qual a extensão que os poluidores individuais potenciais contribuíram para danos ambientais específicos; Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 77 • falhas na adoção de padrões adequados antipoluentes, bem como de medidas preventivas individuais; • tendência de uma legislação cada vez mais severa (inclusive responsabilidade objetiva); • riscos de sinistros tardios, inerentes às reclamações por poluição e sua severidade; • medidas cada vez mais sofisticadas para detectar e medir a poluição; • aumento da conscientização do direito de reclamar e da percepção pública. Ainda no tocante às empresas de serviços públicos privatizadas, outros aspectos se somam aos já apresentados: • Infraestruturas velhas e portanto, obsoletas; • a falta de dados estatísticos exatos etc.; • a forte concorrência do mercado. Qualquer cobertura do risco ambiental, mesmo em base limitada, tem de estar sujeita a uma abordagem perfeita de apreciação/avaliação do risco em consideração aos fatores mencionados. Isso é feito em praticamente todo o mundo de seguros/resseguros. A base da aceitação de um risco por meio dos clausulados específicos de cobertura está fundamentada nas informações apresentadas pelo Segurado no Questionário e adicionalmente pelas informações constantes do Relatório de Inspeção Ambiental que contém todos os dados relevantes das (pé-) condições de terrenos/locais e da natureza das substâncias/produtos tratados. manuseados, armazenados e manufaturados pelo Segurado e sob a consideração específica do seu potencial de risco em relação à poluição do ar, da água e do solo. Para a concessão da cobertura para o risco relativo à poluição gradual, inspeções criteriosas são levadas a efeito com maior rigor, por razões óbvias. A cobertura para poluição gradual pode ser encontrada em alguns países, tais como Itália, França, Espanha, Suíça, Bélgica, Suécia, EUA e Alemanha. No Brasil, a responsabilidade civil concernente aos danos causados pela poluição está disciplinada em vários diplomas legais, notadamente pela Constituição Federal de 1988. Há o entendimento de que a legislação ambiental brasileira, com base no art. 14, parágrafo 10 da Lei n° 6.938/81, consagra o princípio da responsabilidade objetiva (independentemente da existência de culpa). A aplicação da responsabilidade objetiva visa pôr um fim na prática da socialização do prejuízo e da privatização do lucro. Dessa forma, aquele que lucra com uma atividade deve também responder pelo risco ou pelas desvantagens dela resultantes. 1.2. Cobertura do seguro O Mercado Segurador Brasileiro oferece uma gama de coberturas pertinentes aos riscos da poluição. Assim como é usual em outros mercados, o risco é alocado em vários ramos de seguros, de acordo com o tipo de atividade do Segurado. Os principais seguros disponíveis hoje no Brasil são: Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 78 • para os riscos de vazamento/poluição, durante o transporte rodoviário de mercadorias. SEGURO: Responsabilidade Civil Facultativa de Veículos - RCFV. • para os riscos de derrame de petróleo c/ou derivados por navios. SEGURO: Cascos (embarcações), com as coberturas acessórias de Responsabilidade Civil e Poluição. • para os riscos decorrentes da prospecção c produção de petróleo. SEGURO: Riscos do Petróleo. • para os riscos decorrentes da produção de energia nuclear. SEGURO: Riscos Nucleares. • para os riscos comerciais/industriais (pela existência, uso e conservação de plantas comerciais e industriais). • para a cobertura exclusiva do risco de poluição súbita: Seguro de Responsabilidade Civil Estabelecimentos Comerciais c/ou Industriais - RCG. • para a cobertura do risco de poluição súbita/gradual: Seguro de Responsabilidade Civil de Poluição Ambiental. A apólice de Seguro RC - Poluição Ambiental, instituída no Brasil em 26.12.91, de natureza estritamente facultativa, oferece as seguintes coberturas: • Poluição Súbita. • Poluição Gradual. • Despesas de Contenção (para neutralizarou limitar as consequências de um acidente, evitando o sinistro propriamente dito). • Custas Judiciais e Honorários Advocatícios (para a defesa do Segurado na esfera cível). • Despesas com a defesa do Segurado na esfera criminal (a critério da Seguradora). A apólice garante a indenização ao Segurado das quantias pelas quais o mesmo vier a ser responsável civilmente, relativas a reparações por danos pessoais ou materiais causados a terceiros, em decorrência de poluição ambiental provocada pelas operações dos estabelecimentos industriais previstos no contrato. Definindo o risco coberto - poluição ambiental- a apólice consagra os termos a seguir: "A emissão, dispersão ou depósito de substância ou produto que venha a prejudicar as condições existentes da atmosfera, das águas e do solo, tais como se apresentavam antes do fato poluente: e/ou A produção de odores, ruídos. vibrações, ondas, radiações. emanações ou variações de temperatura que ultrapassem os limites de tolerância legalmente admitidos, EXCLUÍDOS, CONTUDO, OS DANOS RELACIONADOS COM RADIAÇÕES IONIZANTES OU COM ENERGIA NUCLEAR." A responsabilidade da Seguradora fica limitada ao capital indicado na apólice, sob o título de "Importância Segurada", cujo valor é determinado pelo próprio Segurado, quando da contratação do referido seguro. Para a contratação do Seguro, o Proponente (a Empresa) preenche um questionário padrão, para a análise preliminar Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 79 do risco pela Seguradora. Esta providencia uma inspeção criteriosa (inspeção técnica dos riscos) nos locais que deverão ser abrangidos pelo seguro, constituindo, tal inspeção, uma espécie de "auditoria ambiental". Neste contexto cita-se vários benefícios que podem gerar uma auditoria ambiental para a empresa, tais como: aumento da credibilidade externa em relação à empresa. • estabelece critérios de emergência, no caso de acidentes. • minimiza a produção de resíduos. • assegura aos diretores, acionistas e investidores que medidas estão sendo tomadas para controlar a possibilidade de ocorrer acidentes indesejáveis. • detecta e corrige maus procedimentos em relação à estocagem de produtos perigosos e outros. • proporciona, enfim, segurança à empresa. O Seguro de Responsabilidade Civil - Poluição Ambiental, só pode ser operacionalizado através de uma cooperação conjunta, aberta e verdadeira, entre o Segurador e o Segurado no decorrer de um longo período de tempo. O Segurado deverá forçosamente estar preparado para abrir a sua empresa ao Segurador, revelando todos os dados necessários à análise do risco, assim como deverá processar todas as recomendações feitas visando a melhoria do mesmo. Em geral dano ao meio ambiente é entendido como sendo uma mudança duradoura no estado natural do solo, da atmosfera ou da água, inclusive a água que emana da terra (subsolo), causada pela emissão, descarga, liberação, dispersão, infiltração ou escapamento de elementos contaminantes ou irritantes, sólidos, líquidos ou gasosos, que tenham conexão com as atividades comerciais e industriais desenvolvidas pelo Segurado, no local indicado na apólice e segurado pela mesma. Tal conceito basicamente consta de todas as apólices mundiais. Por constituir uma categoria de risco com tendência de sinistros catastróficos, o custo (tarifação) deste seguro é elevado, no Brasil e no Exterior. Vários são os fatores considerados na análise do risco e na composição do custo dos prêmios correspondentes. Podem ser destacados os seguintes: • LOCALIZAÇÃO DO RISCO SEGURÁVEL o Tipo de Atividade desenvolvida pelo Segurado. o Tipos de Processos aplicados na indústria. o Tipos de Emissões -Atmosfera - Água - Solo. o Tipo de Tratamento aplicado para os resíduos. o Quantidade de Poluentes estocada. o Tipo de utilização dos recursos naturais. o Proteções e Planos Emergenciais disponíveis. • EXTENSÃO PROVÁVEL o Tipo de Vizinhança: Densidade da população existente. o Valores acumulados na circunvizinhança: Naturais e Edificados Serviços Públicos existentes. o Transporte das Emissões: Condições geológicas, hidrológicas e atmosféricas. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 80 A metodologia de avaliação do risco se divide, praticamente. em duas etapas: • A primeira considera os fatores de emissão dos poluentes e os fatores de riscos representados pela empresa em si. • A segunda considera o potencial de sinistros presentes na circunvizinhança da empresa, determinando o impacto de uma possível ocorrência. Tais fatores apresentam uma pontuação e, dependendo do resultado alcançado, o risco será aceito ou não. A pontuação servirá, também, de fator de agravação aplicável ao prêmio básico previamente determinado na tarifa do seguro. 1.3. Rede de cobertura de riscos ambientais O tema da cobertura para os riscos ambientais recomeça a ser questionado com mais propriedade, pois um novo cenário se apresenta no país: • A globalização da economia brasileira. • As fusões e aquisições, com investimentos externos. • A evolução da legislação de proteção ao meio ambiente. a qual exerce extrema força contra o empresário. Exemplo: a Lei de Crimes Ambientais (Lei n° 29.605/98, a qual atendeu recomendações insertas na Carta da Terra e na Agenda 21, aprovadas na Conferência do Rio de Janeiro). A citada Lei prevê, até mesmo, a responsabilidade penal da pessoa jurídica como sujeito ativo do crime ecológico (art. 3°), já adotada por outros países como os Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, França e Venezuela. • A abertura do Mercado de Seguros Brasileiro e a desmonopolização do resseguro. Somados tais fatores de mudança de cenário e considerando-se que a poluição ambiental é de natureza um risco latente, com prescrição vintenária no Brasil, com certeza o que parece tranquilo e pacífico hoje poderá não ser em curto espaço de tempo. O empresariado recomeça a questionar a sua exposição ao risco e o Mercado Segurador Brasileiro precisa apresentar soluções adequadas. Dentre as soluções encontradas por alguns países. desponta o pool de resseguro para a subscrição de riscos ambientais. A subscrição individualizada pela Seguradora apresenta uma série de desvantagens, notadamente neste segmento de risco onde o fator "concorrência" parece ficar em segundo plano, face não só à alta exposição do mesmo, como também pelo fato de requerer investimentos na área de subscritos. A concessão de coberturas mais abrangentes e que vão além da tradicional poluição súbita/acidental, não pode prescindir da técnica adequada sob pena de total fracasso. O ressegurador internacional, com certeza, não apoia iniciativas ousadas nessa área, sem o devido respaldo técnico recomendável, até mesmo pelas experiências negativas já vivenciadas em outros países, em outras épocas. Diante de tais dificuldades, Seguradores e Resseguradores de outros países se alinharam na busca de soluções comuns. Neste sentido, vários pools de Resseguro Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 81 foram formados em alguns países da Europa - França, Itália, Holanda e na Espanha. Algumas vantagens na formação de um pool podem ser destacadas: • maior capacidade de oferta de resseguro para os riscos inerentes. • facilidade de subscrição de riscos e coberturas mais complexas - poluição gradual, por exemplo. • representatividade política perante os Órgãos do Meio Ambiente e outros. • maior possibilidade de compra de excessos de resseguro pelo pool. • uniformização de estatísticas,disposições tarifárias, clausulados etc. • minimização dos custos operacionais e administrativos na subscrição de riscos. Basicamente prevalecem os seguintes pré-requisitos para a formação de um pool: • Adesão de Resseguradores e Seguradoras - cada qual com uma cota ($) de participação. • Administração profissional e independente do Pool - Administrativa, Financeira e Técnica especializadas. • Formação de profissionais técnicos multidisciplinares para as áreas de inspeções de riscos, monitoramento e regulação de sinistros equipe própria a serviço do pool, com a consequente minimização dos custos inerentes a tais atividades. Neste item repousam grande parte dos problemas inerentes a este segmento de seguro - os custos com as inspeções prévias. De maneira isolada, ou seja, cada Seguradora procurando atender aos seus respectivos clientes e contratando firmas especializadas para a realização das inspeções, os custos obviamente serão super-projetados. As inspeções de riscos não podem ser feitas de maneira amadorística e por profissionais não afetos a essa área. Requerem sim, alta especialização e uma equipe multidisciplinar, com o envolvimento de engenheiros, biólogos, sanitaristas, médicos, geólogos, hidrólogos etc. Provavelmente nenhuma Seguradora terá à sua inteira disposição e por conta própria uma equipe assim formada, devendo valer-se de serviços contratados. Os custos iniciais de uma inspeção prévia devem, em princípio, correr por conta do próprio Proponente do seguro. Somente após a solidificação de uma carteira de Seguros RC - Poluição Ambiental é que as Seguradoras poderão, em tese, assumir parte de tais custos. A formação de uma equipe profissional a serviço exclusivo do pool propiciará a minimização dos custos inerentes, resolvendo grande parte dos problemas encontrados nessa área. • Compromisso das Seguradoras aderentes a ressegurarem os riscos no pool. • Estipulação pelo pool dos formulários padronizados de coberturas. Tal pressuposto propiciará a resolução de grande parte dos problemas afetos à subscrição de tal segmento de risco, pois que, além do pool ter mais condições de acompanhar a evolução do tema, modificando sempre que necessário os clausulados pertinentes, evitará também questões polêmicas no âmbito judicial, pois que fatalmente a multiplicação de textos de coberturas para um mesmo segmento sempre conduz às mais diversas interpretações dos juízes. As Seguradoras. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 82 Isoladamente, certamente não estarão atentas às modificações necessárias e no tempo certo. • Subscritos de todos os riscos pelo pool. Diante do conhecimento geral de todos os riscos brasileiros e concentrados em uma mesma base estatística e sendo analisados por um mesmo grupo de subscritos, com certeza a fixação das bases de aceitação dos mesmos poderão ser mais realistas dentro da técnica recomendável. Nesta área toda especial de risco, as Seguradoras que pretenderem comercializá-Io em larga escala e isoladamente, necessitarão manter uma equipe própria de subscritores, dada a especialização requerida e as constantes alterações dos cenários Iegislativo e judiciário, além das inovações tecnológicas introduzidas nos próprios riscos sujeitos às coberturas do seguro. A idealização de um pool brasileiro para a subscrição de riscos ambientais, nos moldes dos europeus, não significa o último recurso a ser almejado pelo mercado segurador do país. O Mercado Brasileiro tem certo ceticismo em relação aos pools. Os pools europeus para riscos ambientais, entretanto, nada se assemelham aos mecanismos brasileiros, gozando de autonomia administrativa, financeira e técnica, Além disso, são de natureza facultativa quanto à adesão aos mesmos, evidentemente técnica. Mesmo naqueles Mercados onde o tema Seguros de RC - Poluição AmbientaI apresenta um estágio muito mais avançado do que no Mercado Brasileiro e até mesmo porque as questões e as necessidades relativas ao desenvolvimento do seguro começaram muito antes que no Brasil, vários problemas são encontrados. A evolução é constante e os Mercados Internacionais alteram as suas bases de aceitação dos riscos de acordo as necessidades que se apresentam. Existe muita ambiguidade nos conceitos encontrados nos termos da legislação mundial pertinente ao meio ambiente. Equacionar tal problema no âmbito do clausulado de uma apólice de seguro RC - Poluição Ambiental não é uma matéria das mais fáceis. Considerando-se o objeto do seguro (a proteção), a relação jurídica (da responsabilidade civil e as bases legais existentes) e o contrato (bases técnicas da apólice de seguro) toma-se difícil conciliar todos esses fatores quando os conceitos legais pertinentes ao meio ambiente são extremamente complexos e nada objetivos, na maioria das vezes. São encontrados, na maior parte da legislação mundial, conceitos abrangentes tais como: "deterioração do meio ambiente", "danos toleráveis" qualquer degradação física, química ou biológica importante do meio ambiente etc. O Conselho da Comunidade Europeia definiu "Meio Ambiente", através do Documento 112, em 20/ 12/73 como sendo "A combinação de elementos cujas complexas inter-relações estabelecem o marco e as condições da vida, tal como são ou como são percebidos, pelos indivíduos e pela sociedade". Por tais razões, não existe um tratamento uniforme entre os países e cada qual adota um procedimento típico em relação aos diversos temas, quando da elaboração dos seus respectivos clausulados de coberturas. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 83 Tal conceito é crucial quanto à abrangência ou não da cobertura de uma apólice de seguro de RC - Poluição Ambiental e tem movimentado os mercados internacionais em acirradas discussões. Entra, basicamente, no aspecto do chamado dano ecológico puro, ou seja, abrange ou não a cobertura relativa a danos ou perdas causados/sofridos por bens sem titularidade e/ou propriedade concreta - exemplo, a fauna de um rio e/ou de um bosque. 2. RISCOS, ACIDENTES, DANOS E CUSTO AMBIENTAL A conceituação de poluição acidental estabelece que a poluição gerada por acidentes causados no transporte, manuseio e armazenagem de produtos perigosos pode pôr em risco a saúde humana e o meio ambiente em geral. Acidente Ambiental, dentro dessa categoria de eventos, é aquele ocorrido durante a manipulação, armazenamento ou transporte de produtos químicos, que promova alterações nas condições do meio ambiente, provocando a degradação da qualidade ambiental e prejudicando a saúde, a segurança e o bem-estar da população, podendo ainda criar condições adversas às atividades econômicas e sociais. Os acidentes que ocorrem dentro das indústrias, nas zonas portuárias, aeroportos etc., somente se consideram nessa categoria de acidentes ambientais, se além da injúria ou danos às pessoas físicas que os manipulam, eles promoverem também danos à população com um todo e ao meio ambiente em geral. Não sendo assim, serão enquadrados numa categoria denominada acidentes de trabalho, cujas normas e regras, atinentes à Saúde Ocupacional, são promovidas e fiscalizadas pelos Ministérios do Trabalho e da Saúde. 2.1. Acidente ambiental Os acidentes com produtos químicos voláteis que se espalham por toda a circunvizinhança de uma fábrica, injuriando os membros da comunidade, são um exemplo muito comum de ocorrências do chamado grupo de acidentes ambientais. Um caminhão-tanque levando produtos a granel que capota em uma rodovia e espalha seu produto na rede de drenagem. e daí para o riacho mais próximo, que vai desaguar num rio que fornece água para a região, configurando o acidente ambiental. O aratmosférico, as águas superficiais e subterrâneas, os mares, as florestas, o solo, o subsolo e a biosfera não pertencem ao Governo, sendo bens que pertencem a todos os cidadãos e fazem parte do patrimônio comum. Pelo Decreto-lei n° 6.938 de 31/08/81, são patrimônio público na forma do artigo 2°, parágrafo I. A Constituição Federal Brasileira, no seu artigo 4° inclui entre os bens da União: as águas (lagos, mares e rios), a plataforma continental e o mar territorial. Fato que dificulta a avaliação de danos ao meio ambiente, é decorrente das dificuldades que existem em verificar as alterações nas propriedades físicas, químicas e biológicas do meio em relação às anteriormente encontradas, pela falta Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 84 de dados de referência, ou seja, dados levantados antes do acidente ambiental. Portanto, a metodologia de análise dos efeitos causados pelo acidente ambiental no meio biofísico (clima, ar, recursos naturais, hidrologia. geologia, solos, flora e fauna etc.), deve atender a alguns requisitos básicos: • ser modelada no sentido de poder avaliar o problema ocorrido pelos seus aspectos mais relevantes; • população afetada; • flora e fauna afetadas; • recursos naturais afetados; • modificações nos sistemas ambientais (quantitativos e qualitativos); • prejuízos imediatos; • outros efeitos a médio e a longo prazos. 2.2. Riscos de acidentes Os acidentes previsíveis são devidos a falhas humanas, defeitos de fabricação de peças, erros de operação etc. São de pequena grandeza, porém se associados, podem provocar danos consideráveis. A Nationaal Regulatory COmmission - NCR separou em classes os acidentes críveis: • Classe I: eventos de moderada frequência (ocorrência de antecipação operacional); • Classe 2: eventos de pequena probabilidade de ocorrência (com pequeno potencial); • Classe 3: potencialmente severos (acidentes de probabilidade extremamente baixa de ocorrência). Eventos nessa categoria são avaliados por suposições conservativas, isto é, múltiplo sistema de falhas. Nos acidentes fortuitos as suposições de sucessivas falhas podem ser levadas ao ponto em que os sistemas de segurança se mostrem insuficientes para fazer frente aos acidentes postulados. Esses acidentes são geralmente de causas naturais incontroláveis. São, portanto, aqueles de ocorrência não prevista, tais como terremotos, furações, inundações, etc., em intensidades anormais. Na teoria dos erros (Gauss) estão assentadas todas as similaridades necessárias à interpretação das ocorrências dos acidentes operacionais. A teoria dos erros é um ramo da estatística que determina numericamente as quantidades físicas a medir, os valores verdadeiros das grandezas em relação aos erros cometidos nas medições, o grau de confiabilidade em termos da probabilidade que se atribui a cada estimativa, e ainda analisa os diversos tipos de erros humanos cometidos, aqueles que podem ser eliminados e os que não podem, pois são frutos da casualidade. Da mesma forma que se erra nas medições, erra-se também na operação e manipulação dos sistemas industriais e de controle. Os acidentes operacionais dentro desses sistemas assemelham-se aos erros grosseiros e sistemáticos da teoria de erros que podem e devem ser eliminados, pois são de causas conhecidas. Eles são decorrentes da falta de cuidado e da imperfeição de métodos operacionais ou de fabricação de peças. Por outro lado, os erros acidentais, ditos randômicos na Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 85 teoria de erros, são aqueles não previstos, de causas desconhecidas, que dão origem à dispersão e seguem a curva normal de Gauss. Os acidentes potencialmente mais severos são aqueles justamente que apresentam a mais baixa probabilidade de ocorrência. À medida que diminuem de severidade, aumenta a probabilidade de ocorrência. Com relação aos riscos, podem ser: • Risco voluntário : aquele que cada um assume voluntariamente. Como exemplo, podemos citar excesso de fumo e excesso de peso. • Risco involuntário: aquele que a sociedade não quer. O risco que a população está submetida por ano é o produto da frequência de ocorrência de determinado evento/ano pela magnitude da ocorrência (consequência por evento). • Risco social : frequência x magnitude; eventos/ano x consequências por evento. Se duas pessoas morrem em média por ano em cada acidente numa determinada linha de trem e, se há em média 10 acidentes por ano, então o risco social será de 20 mortes/ano atribuídas àquela linha de trem. • Risco individual : a probabilidade do evento é a relação do risco social dividido pela população. No exemplo acima, se a população for de 2.500 pessoas, o risco individual é de 0,8%. • Risco Potencial : o maior risco de acidente hipotético (ainda não ocorrido), que poderá vir a ocorrer se não forem tomadas as medidas preventivas necessárias, quando se manipulam ou processam substâncias perigosas. Na fase preventiva dos estudos de risco é que se analisam as ocorrências de acidentes de todos os tipos já ocorridos nos estabelecimentos fabris ou em estabelecimentos similares. Após a ocorrência dos acidentes, faz-se sua contabilização para o cálculo das probabilidades. Os acidentes que envolvem substâncias perigosas e seus riscos ainda têm duas hipóteses de análise de risco que podem ser separadas: • substâncias ou produtos com baixo perigo e com alta probabilidade de ocorrência; • substâncias ou produtos com alto perigo e baixa probabilidade de ocorrência. Na primeira hipótese, os estudos se desenvolvem através de metodologias como a Árvore de Eventos para uma tomada de decisão dentro da indústria. No caso nuclear, seu estudo segue o segundo enfoque. 2.3. Avaliação de risco ambiental em empreendimento s marítimos As recentes demandas advindas dos programas de gestão ambiental, do gerenciamento dos riscos de processo, bem como das certificações internacionais, vêm causando interesse das companhias de petróleo na investigação e conhecimento dos riscos impostos ao meio ambiente. Por exemplo, o governo norueguês, desde 1990, requer que instalações marítimas de petróleo sejam avaliadas quanto aos riscos ao meio ambiente, advindos de vazamentos acidentais. Para tal a operadora deverá definir critérios de aceitação dos riscos, devido às suas Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 86 atividades de exploração ou produção, cujos resultados permitam priorizar ações de mitigação e controle dos riscos. A Avaliação de Risco Ambiental (ARA) estima e classifica os riscos mais prováveis ao meio ambiente, causados por vazamentos acidentais, com base na frequência de ocorrência (agressor x receptor) e na magnitude do impacto ao meio atingido. O risco ambiental, por não estar diretamente relacionado ao risco do trabalhador da instalação marítima, exige tratamento diferenciado: por exemplo, o vazamento submarino no processo de exportação de óleo, não possui repercussão física sobre os ocupantes da instalação. O processo da ARA implica no desenvolvimento de várias etapas, tais como: • Identificação das Fontes Acidentais, • Toxicidade dos Produtos, • Persistência dos Produtos, • Modelagem do Transporte, • Definição da Área de Estudo, • Vulnerabilidade e Recuperação Ambiental, • Critérios de Aceitação dos Riscos. 2.4. Riscos de incêndio em unidades de conservação Os incêndios florestais têm sido uma das maiores preocupações na proteção das unidades de conservação dos biomas, devido à grande probabilidade de ocorrênciaem certas épocas do ano e aos prejuízos irrecuperáveis que ocasionam nestas áreas. Outro grande problema nas unidades de conservação é a questão fundiária nas ocupações nelas existentes, permitindo assim uma vulnerabilidade no monitoramento e no controle de atividades ambientais dentro destas áreas e no entorno. A maior parte dos índices utiliza parâmetros meteorológicos, principalmente precipitação e umidade relativa e temperatura do ar, para determinar as condições da vegetação, pois medidas diretas de unidade de vegetação são complexas e requerem custosas amostragens espaciais. Já o principal problema associado com medidas meteorológicas é a distribuição geográfica esparsa dos pontos de observações. Geralmente as estações estão distantes das áreas estudadas e as interpolações que são realizadas não são adequadas, principalmente para terrenos com topografia complexa. Isso pode fazer com que os índices não expressem os valores corretos para os pontos desejados. De uma forma geral, o risco de incêndios é a medida da probabilidade de ocorrência de incêndios em uma determinada área. O sistema geográfico de informações - GIS - constitui-se numa ferramenta apropriada para responder a essas necessidades, pela associação de dados geográficos a banco de dados alfanuméricos. No mapa de risco, podem-se observar as regiões de maior risco, onde os esforços para prevenção de incêndios devem ser concentrados, reduzindo custos operacionais e diminuindo a chance de novas ocorrências. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Profª Arqª Drª Solange Irene Smolarek Dias 87 C. QUESITOS JUDICIAIS Exercício Pratico Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Professora Arquiteta Solange Irene Smolarek Dias – Drª 88 EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA........ª VARA CÍVEL/CRIMINAL DE (CIDADE-ESTADO) AUTOS N°....../..........AÇÃO DE PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVAS REQUERENTES: .......................................................................................... REQUERIDO: ............................................................................................... ............................ <nome>..........,............<graduação>...............,Portador da carteira (conselho de classe) sob n° ..........................., perito judicial (inserir nome e dados dos assistentes técnicos, se o laudo for conjunto) nomeado(s) nos presentes Autos, vem mui respeitosamente à presença de Vossa Excelência para apresentar o presente Laudo Pericial. Objeto da Perícia: Pista sul da Av. Antonio Kucinski, Cascavel, PR, na obra de transposição do Corrego Bezerra . Em relação aos quesitos formulados pelos Requerentes às fls.......a ........ dos presentes Autos, responde-se na mesma ordem, balizando a resposta pela legislação Federal, Estadual e Municipal. I) Foi alterado o leito do rio, para a obra? Resposta: 2) A obra mantem a faixa de preservação permanente ao longo do Córrego? Resposta: 3) No entorno da obra, está mantida a vegetação nat iva? Resposta: À disposição de Vossa Excelência para outras informações que julgar pertinentes. (cidade) ................................ _________________________________________ Perito judicial (conselho regional) n° . Anotação ou Registro Responsabilidade Técnica – ART ou RRT n° _________________________________________ Assistente técnico - defesa (conselho regional) n° . Anotação ou Registro Responsabilidade Técnica – ART ou RRT n° _________________________________________ Assistente técnico - acusação (conselho regional) n° . Anotação ou Registro Responsabilidade Técnica – ART ou RRT n° Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Professora Arquiteta Solange Irene Smolarek Dias – Drª 89 PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DO PERITO Portugal (s.d.) apresenta uma sequência natural para a confecção do Laudo de Perícia Ambiental. O autor esclarece que esta sequência trata-se de um caso hipotético. Na realidade, na maioria dos casos não se tem ou não são necessários todos os elementos abaixo listados. Para cada caso específico são importantes os itens mais relacionados com o problema ambiental em estudo. 1. EXAME DO LOCAL 1.1. Localização da Área : Plotar a área a ser periciada mapograficamente e em escala(s) compatível(s). Utilizar preferencialmente as coordenadas geográficas em UTM. 1.2. Situação Legal da Área : Verificar se a área é pública ou privada, a qual unidade(s) da federação pertence. Descrever sucintamente a que se destina e qual o seu uso atual. 1.3. Clima : Realizar o levantamento climatológico regional. 1.4. Recursos Hídricos : Inventariar os recursos hídricos superficiais subterrâneos e mapear os corpos d’água. 1.5. Geomorfologia e Geologia : Descrever o relevo e relacionar os recursos minerais. 1.6. Solos : Mapear os solos, com considerações sobre a pedologia e a edafologia. 1.7. Vegetação : Descrever a mapear as principais formas de vegetação. Listar as plantas, principalmente as de interesse econômico. Constatar a ocorrência de espécies raras ou endêmicas. 1.8. Fauna : Levantar principalmente os vertebrados, dando ênfase às espécies endêmicas, raras, migratórias e cinegéticas. 1.9. Ecossistemas : Identificar e descrever os principais ecossistemas da área, nos seus componentes abióticos e bióticos. 1.10. Áreas de interesse histórico ou cultural : Listar e descrever locais de interesse histórico, culturais e jazidas fossilíferas que estejam num raio de 50 km. 1.11. Área de Preservação : Constatar se o local descrito está inserido em área protegida por lei (Parques Nacional ou Estadual, Estação Ecológica, Reserva Biológica, etc.). Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Professora Arquiteta Solange Irene Smolarek Dias – Drª 90 1.12. Infraestruturas : Descrever as infraestruturas existentes no local (núcleo habitacional, telefonia, estrada, cooperativas, etc.). 1.13. Atividades previstas, ocorridas ou existentes na ár ea: Relatar as tecnologias a serem utilizadas nas fases de implementação e operação do empreendimento. Listar insumos e equipamentos. 2. DISCUSSÃO 2.1. Diagnóstico Ambiental da área 2.1.1. Uso atual da terra: Constatar o uso atual da terra, dar o percentual utilizado pela agropecuária. 2.1.2. Uso atual da água: Constatar o uso atual da água, bem como obras de engenharia (canal, dique, barragem, drenagem, etc.). Verificar se ocorrem fontes poluidoras. 2.1.3. Avaliação da situação ecológica atual: Realizar o levantamento das ações antrópicas anteriores e atuais, bem como relatar a situação da vegetação e fauna nativas. Com os dados obtidos inferir sobre a estabilidade ecológica dos ecossistemas da área. 2.1.4. Avaliação sócio econômica: Analisar a situação sócio econômica da área, através de uma metodologia compatível com a realidade regional. 2.2. Impactos Ambientais esperados para a área 2.2.1. Impactos ecológicos: Listar e analisar os impactos ecológicos, levando em consideração a saúde pública e a estabilidade dos ecossistemas naturais, principalmente se está em áreas protegidas por lei. 2.2.2. Impactos sócio econômicos: Avaliar os impactos sócio econômicos da área, levando em consideração os aspectos médicos e sanitários. 2.2.3. Perspectivas da evolução ambiental da área: Inferir sobre qual seria a evolução da área com ou sem o empreendimento. 2.3. Considerações Complementares (quando for o caso) 2.3.1. Alternativas tecnológicas e locacionais: Optar por alternativas menos impactantes para o meio ambiente, tanto em termos tecnológicos como locacionais. Faculdade Assis Gurgacz Especializaçãoem engenharia de avaliações e períci as Professora Arquiteta Solange Irene Smolarek Dias – Drª 91 2.3.2. Recomendações para minimizar os impactos adversos e incrementar os benéficos: Listar as recomendações específicas para minimizar os impactos negativos e incrementar os benéficos. 2.3.3. Recomendações para o monitoramento dos impactos ambientais adversos: Desenvolver e implantar programas de biomonitoramento, de controle de qualidade da água, de controle de erosão, etc. 2.4. Apreciação dos quesitos : Como geralmente há quesitos formulados pelo Promotor, Juiz ou Delegado, neste subitem eles deverão ser claramente discutidos e esclarecidos. 3. CONCLUSÃO Deve ser elaborada de forma sucinta, mas, sempre que possível, conclusiva, abrangendo os aspectos ambientais anteriormente discutidos. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O Perito Criminal deve evitar ao máximo de entrar no mérito estritamente legal da questão ambiental, isto é, citar lei, artigo, parágrafo, etc. Qualquer deslize "legal" que o Perito venha por ventura cometer poderá comprometer todo o trabalho durante o julgamento da questão. A Perícia de Meio Ambiente, assim como qualquer trabalho na área ambiental, deve ser preferencialmente efetuada por uma equipe multidisciplinar de Peritos, e que atuem interdisciplinarmente. Em função disto, os Institutos de Criminalística devem procurar diversificar as formações universitárias dos seus membros. D. MATERIAL DE APOIO Disponível em: http://www2.fag.edu.br/professores/solange/PERICIA_AMBIENTAL/ REFERÊNCIAS ALMEIDA, Josimar Ribeiro de. Perícia ambiental, judicial e securitária: impacto, dano e passivo ambiental. 1. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: Thex, 2008. CUNHA, Sandra Baptista da; GUERRA, Antonio José Teixeira (organizadores). Avaliação e perícia ambiental. 9. ed. Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 2009. DANTAS, Rubens Alves. Engenharia de avaliações: uma introdução à metodologia científica. São Paulo: Pini, 1998. GONZÁLEZ, Marco Aurélio Stumpf. Laudo pericial judicial. UNISINOS [s.d.] Disponível em: <www.exatec.unisinos.br/~gonzalez/valor/pericias/laudo.html> Acesso em: 06 jun. 2009 PORTUGAL, Gil. Aspectos técnicos da perícia ambiental (comp.). [s.l.] [s.d.] Disponível em: www.gpca.com.br/gil/art94.htm. Acesso em 07 jun. 2009. Faculdade Assis Gurgacz Especialização em engenharia de avaliações e períci as Professora Arquiteta Solange Irene Smolarek Dias – Drª 92 VARGAS, Caroline. Área de interesse ambiental: ocupar ou preservar? In: Forma, imagem, texto e contexto: TCC CAUFAG 2008. Disponível em: <http://www.fag.edu.br/graduacao/arquitetura/ >, produção acadêmica, TCC 2008. Cascavel: Smolarek Arquitetura Ltda, 2009.