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TECNOLOGIA DOS MATERIAIS CURSO TÉCNICO EM MECÂNICA Profª Polyana Borges 2 ÍNDICE Capítulo 1 – Introdução ................................................................................................ 4 1.1 – Importância Científica e Tecnológica dos Materiais ................................ 4 1.2 - Classificação dos Materiais Metálicos e Não Metálicos ........................... 4 Capítulo 2 – Propriedades dos Materiais ....................................................................... 8 2.1 – Propriedades Mecânicas ............................................................................ 8 2.1.1 – Tensão ..........................................................................................8 2.1.2 – Deformação ..................................................................................9 2.1.3 - Diagrama Tensão x Deformação .................................................10 2.1.4 - Coeficiente de Segurança ............................................................12 2.2 – Propriedades Térmicas ..............................................................................13 2.3 – Propriedades Elétricas ...............................................................................13 2.4 – Propriedades Químicas ..............................................................................14 2.5 – Propriedades Óticas ...................................................................................14 Capítulo 3 – Estrutura dos Materiais ..............................................................................15 3.1 – Átomos e Ligações Atômicas ....................................................................15 3.1.1 – Ligações Atômicas .....................................................................15 3.2 – Estados e Arranjos Atômicos da Matéria ..................................................18 3.3 – Principais Sistemas Cristalinos dos Materiais ...........................................19 3.3.1 – Sistema Cúbico Simples (CS) .....................................................19 3.3.2 – Sistema Cúbico de Corpo Centrado (CCC) ................................19 3.3.3 – Sistema Cúbico de Face Centrada (CFC) ..................................20 3.3.4 – Sistema Hexagonal Compacto ...................................................20 3.3.5 – Alotropia e Polimorfismo ..........................................................21 3.3.6 – Estrutura Amorfa .......................................................................22 3.3.6.1 – Gases ..........................................................................22 3.3.6.2 – Líquidos .....................................................................22 3.3.6.3 – Vidros .........................................................................22 3.3.7 – Fases Cristalinas e Amorfas ......................................................23 3.4 – Defeitos Subestruturais ...........................................................................23 3.4.1. Formação da Estrutura Cristalina ...............................................23 3.4.2. Classificação dos Defeitos na Estrutura Cristalina ....................24 3.4.3. Imperfeições Associadas à Composição Química.....................25 3.4.4 - Defeitos de Ponto .....................................................................27 3.4.5. Defeitos Lineares ......................................................................28 3.4.6. Defeitos Planares ......................................................................30 Capítulo 4 – Noções de Siderurgia .............................................................................32 4.1 – Os Processos de Redução .......................................................................33 4.2 – Aciaria .....................................................................................................36 4.2.1 – Conversores a Oxigênio ...........................................................37 4.2.2 – Forno Elétrico a Arco ..............................................................38 4.2.3 – Desoxidação .............................................................................39 3 4.2.4 – Processos de Refino Secundário ............................................39 Capítulo 5 – Noções de Ensaios dos Materiais ............................................................41 5.1 – Ensaio de Tração ....................................................................................41 5.2 – Ensaio de Dureza.......................................................................................46 5.3 – Ensaio de Impacto ......................................................................................55 5.4 – Ensaio de Fluência .....................................................................................60 5.5 – Ensaio de Fadiga ........................................................................................64 Capítulo 6 – Materiais Metálicos Não Ferrosos .............................................................69 6.1 - Alumínio e suas Ligas ................................................................................69 6.2 – Cobre e suas Ligas .....................................................................................73 4 Capítulo 1 – Introdução 1.1 – Importância Científica e Tecnológica dos Materiais Nas últimas décadas, sensíveis mudanças ocorreram na Tecnologia dos Materiais. Essas mudanças forçaram a introdução de novos materiais adaptados as condições de melhor desempenho e economia energética dos sistemas. Com isso os automóveis tornaram-se mais econômicos, as turbinas de aviões mais eficientes, as plataformas de petróleo mais resistentes e as embalagens mais leves. A competição internacional pelo mercado de produtos com alta tecnologia embutida, onde se obtém comparativamente os maiores lucros, tornou-se extremamente dependente dos novos materiais, quer sejam eles componentes de circuitos eletrônicos, partes estruturais de veículos, produtos químicos ou até implantes biológicos. As fases de evolução da humanidade são divididas em função dos tipos de materiais utilizados: idade da pedra, do bronze, do ferro, etc. As necessidades tecnológicas do mundo moderno têm levado os cientistas a estudar e a compreender o comportamento dos materiais de um modo mais científico. Assim, hoje, é de extrema importância procurar através das inter-relações entre estrutura e propriedade, entender os materiais do ponto de vista do seu desempenho, bem seja este mecânico, químico, elétrico, etc. Para que um profissional possa utilizar a potencialidade dos novos materiais nos sistemas de alta tecnologia é necessário ter um razoável conhecimento dos fundamentos teóricos e práticos aplicáveis a qualquer material. Isto implica em conhecer desde a estrutura atômica da matéria até as maneiras de fabricação e de modificação das propriedades. Torna-se, portanto, essencial para o técnico de manutenção entender a inter-relação entre os seguintes três aspectos: a Estrutura dos Materiais, as suas diversas Propriedades e as respectivas Tecnologias de Processamento. Conhecimentos esses que são de importância fundamental no desenvolvimento de novas tecnologias, escolha de um projeto, seleção de materiais, indicação de custo-benefício, etc. 1.2 – Classificação dos Materiais Metálicos e Não Metálicos Os materiais utilizados na construção mecânica preenchem dois grandes grupos: - Materiais Metálicos São os materiais que essencialmente apresentam ligações metálicas entre seus átomos. Correspondem a todos os elementos conhecidos como metais na tabela periódica bem como suas respectivas ligas, isto é, soluções sólidas com outros elementos metálicos ou não metálicos. São extraídos dos minérios que os contém por processosmetalúrgicos. A maioria dos metais, à temperatura ambiente, se apresenta em estado sólido. Os metais podem ser ferrosos ou não ferrosos. O metais ferrosos podem ainda ser divididos entre metais preciosos (ouro, paládio, platina e prata), metais básicos (são a maioria: alumínio, cobre, estanho, zinco, etc.), metais estratégicos (tório, silício, urânio) e metais refratários (tungstênio, vanádio, tântalo e nióbio). 5 Materiais refratários são materiais que resistem bem ao calor e por isso são muito usados em revestimento de fornos. Normalmente são cerâmicos. Já os metais refratários são metais que possuem alta temperatura de fusão. Dos 40 metais empregados comercialmente, somente 8 são aproveitados na Engenharia. O cobre, o ferro, o chumbo e o estanho vêm sendo usados através dos séculos seja sob a forma metálica seja na forma de ligas. Os demais, o alumínio, o magnésio, o níquel e o zinco são relativamente recentes. Em adição aos metais da engenharia, existem 13 elementos metálicos de grande importância na indústria metalúrgica, que são: antimônio, berílio, cádmio, cromo, cobalto, colômbio, manganês, mercúrio, molibidênio, titânio, tungstênio, vanádio e zircônio. As ligas industrialmente comercializadas estão limitadas aquelas que apresentam melhor desempenho. As mais importantes ligas de ferro para a indústria contêm carbono. A quantidade de elemento de liga que se mistura com o metal principal normalmente não deve ultrapassar certos limites. No exemplo do carbono adicionado ao ferro, a quantidade máxima é de 2% para ainda se ter uma liga denominada Aço. Além deste limite de 2% de carbono forma-se um outro tipo de liga chamada Ferro Fundido, com utilização mais restrita que o aço. Acima de 6,7% de carbono não existe interesse industrial nas ligas Fe-C. Outras ligas conhecidas: o zinco adicionado ao cobre forma uma liga genericamente conhecida como latão. O cobre adicionado ao estanho forma a liga chamada de bronze. - Materiais Não Metálicos Como o próprio nome diz, são todos aqueles que não pertencem ao grupo dos metais. São constituídos de um só tipo de elemento. Sua utilização vem aumentando muito nos últimos anos. As principais vantagens buscadas são, baixo peso, resistência a corrosão, resistência a alta temperatura, resistência dielétrica e relativa facilidade de fabricação. Podem ser gasosos a temperatura ambiente (oxigênio, nitrogênio, flúor, cloro) ou sólidos (boro, carbono, silício, fósforo). Os principais materiais não metálicos são a madeira, a borracha, o algodão, o plástico, o couro, o vidro, as tintas, entre outros. O custo destes materiais pode variar muito comparado aos metais. Existem basicamente três categorias gerais de materiais não-metálicos de interesse geral: • Polímeros, • Cerâmicas, • Compósitos. A palavra polímero significa “muitas partes”. Os polímeros são moléculas orgânicas de cadeias muito longas baseadas em moléculas de carbono. Podemos citar o exemplo do PVC. Suas macromoléculas são formadas pela repetição do mero: 6 Essa repetição feita dezenas de milhares de vezes forma as cadeias: Nestas condições tem-se um material polimérico rígido com empregos bem conhecidos, como em tubulações. No entanto, se o mero dessa configuração atômica fosse repetido só 3 vezes, o material formado seria gasoso e sem interesse prático. Os polímeros podem ser naturais ou artificiais (sintetizados). - Polímeros naturais: são os polímeros encontrados na natureza, não havendo a intervenção do homem na sua síntese. Exemplos: madeira, material orgânico composto basicamente por celulose e lignina; cera; borracha natural. Fig. 1 – Lignina - Polímeros artificiais: grande parte dos polímeros utilizados hoje nos projetos é sintetizada pelo homem. Suas propriedades podem ser feitas sob medida em uma larga faixa por copolimerização com outros compostos ou pela formação de ligas com dois ou mais polímeros. Exemplos: polietileno, teflon. 7 Fig. 2 – Teflon Os polímeros podem ser classificados em duas classes: • Termoplásticos: São mais flexíveis e podem ser repetidamente fundidos e solidificados. Ex.: celulósicos, etilênicos, poliamidas, poliacetatos, policarbonatos. • Termofixos (ou Termorígidos): Devido a ocorrência de ligações cruzadas, são mais resistentes e mais rígidos. Ex.: aminas, elastômeros, epóxis, fenólicos, poliésteres, silicones, uretanos. Os cerâmicos são materiais que estão cada vez mais sendo utilizados na área de engenharia. As cerâmicas de engenharia são tipicamente, compostas de elementos metálicos e não metálicos. Podem ser óxidos simples de um metal, misturas de óxidos metálicos, carbetos, boretos, nitretos entre outros. As principais propriedades destes materiais são: alta resistência à compressão, dureza elevada, resistência química e à altas temperaturas entre outras. Normalmente são formados por compactação de pó e então queimados, ou sinterizados para formar ligações. Em geral são bons isolantes elétricos e térmicos. Os cerâmicos podem ser naturais (pedra, areia, quartzo, argila, talco, mármore, mica, etc.) ou industrializados (vidro, tijolos, cimento, refratários, porcelana, abrasivos, etc.). Os compósitos são aqueles fabricados pela união de dois ou mais tipos diversos de materiais formando uma estrutura com propriedades comparativamente mais vantajosa para determinados usos tecnológicos. Ex: concreto (pedra + areia + cimento + água), fibra de vidro (lã + resina polimérica). São constituídos por uma fase dispersa, chamada de reforçador, com maior resistência mecânica, embutida numa fase continua, chamada matriz, que confere ductilidade ao compósito. 8 Capítulo 2 – Propriedades dos Materiais Considere-se a variedade de materiais usados na manufatura de um automóvel: ferro, aço, vidro, plásticos, borracha, apenas para citar alguns. E, somente para o aço, há cerca de 3000 tipos ou modificações. Com que critério é feita a escolha do material adequado para uma determinada peça? Ao fazer a escolha, devem-se levar em conta propriedades tais como resistência mecânica, condutividade elétrica e/ou térmica, densidade e outras. Além disso, deve considerar o comportamento do material durante o processamento e o uso, onde plasticidade, usinabilidade, estabilidade elétrica, durabilidade química, deve ser utilizada. Muitos projetos avançados em engenharia dependem do desenvolvimento de materiais completamente novos. Por exemplo, o transistor nunca poderia ter sido construído com os materiais disponíveis há 40 anos; o desenvolvimento da bateria solar requereu um novo tipo de semicondutor; e, embora os projetos de turbinas à gás estejam muito avançados, ainda se necessita de um material barato e que resista a altas temperaturas, para as pás da turbina. Desde que, obviamente, é impossível ter um conhecimento detalhado dos milhares de materiais agora disponíveis, assim como manter-se a par dos novos desenvolvimentos, deve-se ter um conhecimento adequado dos princípios gerais que governam as propriedades de todos os materiais. Dentre estas propriedades, podem-se destacar as propriedades: mecânicas; físicas; químicas; tecnológicas; térmicas; elétricas; eletromagnéticas e ópticas. 2.1 – Propriedades Mecânicas São aquelas relacionadas a habilidade dos materiais resistirem a forças mecânicas. Exemplos: resistência mecânica, elasticidade, ductilidade, fluência, dureza e tenacidade. 2.1.1 – Tensão Tensão é definida como a força por unidade de área, e é calculada simplesmente dividindo-se a força pela área na qual atua. σ= P A = tensão A unidade de tensão no SI é o Pascal (Pa), que corresponde a carga de 1 N atuando sobre uma superfície de 1 m2. Utiliza-se com freqüência os múltiplos do Pascal: - MPa (Mega Pascal) = 106 Pa - kPa (Quilo Pascal) = 103 Pa Outras unidades também são comuns, como kgf/mm2. Ex: Qual a peça é solicitada por maior tensão: (a)uma barra de alumínio, de seção reta 0,97 mm x 1,21 mm solicitada por uma carga de 16,75 kgf, ou (b) uma barra de aço de seção circular de diâmetro 0,505 mm sob uma carga de 10,8 kgf? Resposta: 9 a) σ a= P A = 16,75 0,97�1,21 = 14 ,3 kgf/mm2 b) σb= P A = 10,8 (π /4)�(0,505)2 = 54 kgf/mm2 Podemos afirmar que uma peça está submetida a esforços de tração quando uma carga normal P atuar sobre a área de seção transversal da peça, na direção do eixo longitudinal. Quando a carga atuar com o sentido dirigido para o exterior da peça, a mesma estará tracionada. Quando o sentido da carga estiver dirigido para o interior da peça, a barra estará comprimida. 2.1.2 – Deformação Como efeito da tensão, tem-se a deformação. Expressa como o comprimento deformado como uma porcentagem do comprimento original. Pode ser elástica ou plástica. ε ( )= ∆L L0 Ex: Em uma haste de cobre são marcados dois traços que distam entre si 50 mm. A haste é tensionada de forma que a distância entre os traços passa a ser de 56,7 mm. Calcular a deformação. Resposta: ε= 56,7− 50 50 = 0,135mm/mm ou 13,5% A deformação elástica é reversível: desaparece quando a tensão é removida. É praticamente proporcional à tensão aplicada. Define-se Módulo de Elasticidade (E) como sendo o quociente entre a tensão aplicada e a deformação elástica resultante. Ele está relacionado à rigidez do material. E= σ ε Esta fórmula representa a relação linear entre tensão e deformação na região de elasticidade. Foi descoberta por Robert Hooke em 1676, e por isso é chamada de Lei de Hooke. __ ____________ X % 10 Quanto maior o módulo, maior a rigidez do material, e menor será a deformação elástica resultante. A liga A é mais rígida que a liga B. Deformação plástica é a deformação permanente provocada por tensões que ultrapassam o limite de elasticidade do material. Ductilidade é a deformação plástica total até o ponto de ruptura. Uma segunda medida da ductilidade é a estricção, que é a redução na área da seção reta do corpo, imediatamente antes da ruptura. Materiais altamente dúcteis sofrem grande redução na área da seção reta antes da ruptura. 2.1.3 - Diagrama Tensão x Deformação - Propriedades analisadas: 11 - Limite elástico: Nessa fase os metais obedecem a Lei de Hooke (deformações diretamente proporcionais as tensões). Se o ensaio for interrompido antes do ponto A, o CP volta a sua forma original. - Limite de proporcionalidade: Representado pelo ponto A’, a partir do qual a deformação deixa de ser proporcional a carga aplicada. Na prática, coincide com o limite de elasticidade. É o ponto onde começa a deformação permanente. Difícil de detectar, convenciona-se 0,2% para metais e ligas em geral. - Escoamento: Ocorre no início da fase plástica. A carga oscila entre valores muito próximos uns dos outros. - Limite de resistência: Valor máximo de tensão alcançada (ponto B). - Limite de ruptura: Tensão no ponto onde o material se rompe (ponto C). É menor que o limite de resistência, pois há diminuição de área no CP após a tensão máxima. - Estricção (ou formação do pescoço): Redução percentual de área da seção transversal do corpo, na região onde vai ocorrer a ruptura. Quanto maior for a estricção, mais dúctil será o material. O limite de resistência à tração de um material é calculado dividindo-se a carga máxima suportada por ele pela área da seção reta inicial. A dureza é a resistência da superfície do material à penetração. A escala de dureza Brinell é um índice de medida de dureza, calculado a partir da área de penetração de uma bilha (esfera de aço dura) no material. Outras escalas também são utilizadas, como a Rockwell e a Vickers. Tenacidade é a medida da energia necessária para romper o material. Está intimamente ligada a área sob a curva tensão x deformação. Um material dúctil com a mesma resistência de um material frágil irá requerer maior energia para ser rompido e portanto é mais tenaz. 12 2.1.4 - Coeficiente de Segurança Membros estruturais ou de máquinas devem ser dimensionados de modo a trabalharem com tensões que não ultrapassem a tensão admissível do material para aquela determinada aplicação. O profissional recém formado encontra muita dificuldade na escolha do Coeficiente de Segurança a ser utilizado nas diversas aplicações práticas. Se utilizar um CS alto, estará fora de mercado pelo alto custo do seu projeto e, se utilizar um CS muito baixo, poderá estar colocando em risco a segurança do seu projeto. Como orientação, sugerimos que estes se baseiem em projetos semelhantes que tenham obtido sucesso e nas Normas Técnicas específicas para aquela aplicação. O mais importante é ter bom senso nesta escolha. 13 2.2 – Propriedades Térmicas Propriedades térmicas estão vinculadas às características dos materiais quando submetidos á variações de temperatura. É extremamente importante a distinção entre calor e temperatura. Temperatura é um nível de atividade térmica, enquanto que calor é a energia térmica. Dentre as principais propriedades térmicas destacam-se: Condutividade térmica: São propriedades que possuem certos corpos de transmitir mais ou menos calor. Neste caso, materiais bons condutores de calor, na ordem decrescente de condutibilidade: Ag, Cu, Al, latão, Zn, Aço e Pb. Corpos maus condutores de calor, na ordem decrescente de condutibilidade: pedra, vidro, madeira, papel, etc. Dilatação: Propriedade pela qual um corpo aumenta quando submetido à ação do calor. A capacidade de dilatação de um material está relacionada ao chamado coeficiente de dilatação térmica, que pode ser: linear, superficial e volumétrico. Esta característica dos materiais deve ser considerada quando o mesmo é submetido a variações consideráveis de temperatura. Ponto de fusão e de ebulição: Para qualquer componente químico de um material, o ponto de fusão e o ponto de ebulição são temperaturas importantes, pois correspondem a transição entre diferentes arranjos estruturais dos átomos no material. Capacidade térmica: é a energia requerida para aumentar de 1ºF a temperatura de 1 libra de água. Calor específico: é o quociente entre a capacidade térmica do material e o da água. Calor latente de fusão e calor latente de vaporização: são os calores requeridos, respectivamente, para a fusão e a vaporização. Cada um destes processos envolve uma mudança interna no material que passa de um arranjo atômico para outro. Difusividade térmica (h): depende da condutividade térmica (k), da capacidade térmica (cp) e da densidade (ρ): h = k / cp . ρ 2.3 – Propriedades Elétricas A mais conhecida propriedade elétrica de um material é a condutividade elétrica. A condutividade elétrica é a propriedade que possuem certos materiais de permitir maior ou menor capacidade de transporte de cargas elétricas. Os corpos que permitem a eletricidade passar são chamados condutores, sendo uma característica dos materiais metálicos. Já os que não permitem tal fenômeno são os chamados materiais isolantes. O cobre e suas ligas e o alumínio conduzem bem a eletricidade, sendo empregados na fabricação de linhas elétricas e aparelhagens; as ligas Cr-Ni, Fe-Ni conduzem mal, servido para construção de resistências elétricas, como reostatos. A resistividade elétrica é o inverso da condutividade. É uma medida da oposição de um material ao fluxo de corrente elétrica. Quanto mais baixa for a resistividade mais facilmente o material permite a passagem de uma carga elétrica. Em contraste com os condutores elétricos, que transferem cargas elétricas, muitos materiais são usados como dielétricos ou não condutores. Um dielétrico é uma substância que possui alta resistência ao fluxo da corrente elétrica. Nesses materiais os 14 elétrons estão fortemente ligados ao núcleo dos átomos, ou seja, as substâncias dielétricas não possuemelétrons livres. Dessa forma, não há possibilidade de passagem de corrente elétrica através dos dielétricos, os quais podem ser: borracha, porcelana, vidro, plástico, madeira e muitos outros. 2.4 – Propriedades Químicas Resistência à corrosão: Quase todos os materiais são suscetíveis de corrosão por ataque químico. Para alguns materiais, a solubilização é importante. Em outros casos, o efeito da oxidação direta de um metal ou de um material orgânico como a borracha é o mais importante. Além disso, a resistência do material à corrosão química, devido ao meio ambiente, é da maior importância. Desde que freqüentemente, o ataque pela corrosão é irregular, é muito difícil medi-la. A unidade mais comum para a corrosão é polegadas de superfície perdida por ano. 2.5 – Propriedades Óticas Quando a luz incide em uma superfície, uma fração r do total incidente é refletida. Outra fração a é absorvida dentro do material configurando-se em um ganho de energia e finalmente uma última parcela t pode ser transmitida no caso de superfícies transparentes ou translúcidas. É importante notar que novos tipos de vidros tem sido estudados de forma a aumentar a transmissão de luz natural bem como potencializar o efeito de reflexão da radiação térmica. Índice de Refração (n): é a razão entre a velocidade da luz no vácuo c e a velocidade da luz no material, Vm. n = c / Vm 15 Capítulo 3 – Estrutura dos Materiais 3.1 – Átomos e Ligações Atômicas Todos os materiais utilizados para fins industriais são formados de elementos cuja menor parte estruturada que ainda mantém características próprias do tipo individual da matéria é o átomo. Recentes descobertas da Física Moderna revelaram uma complexa participação de partículas na construção da matéria. Essas partículas se dividem em três grupos: - Leptons: partículas que podem se mover por conta própria como os elétrons; - Quarks: partículas que constituem as outras maiores e pesadas como os prótons e nêutrons dentro do núcleo atômico; - Bósons: partículas fundamentais que transmitem as forças da natureza como os gluons responsáveis pela forte interação entre os quarks. Além disto, cada partícula elementar possui uma correspondente antimatéria como o pósitron em relação ao elétron. O comportamento dos materiais pode ser compreendido através de um modelo atômico simples que consiste na existência de: 1) Um núcleo composto de prótons e nêutrons Os prótons e nêutron são partículas com massa que somadas constituirão praticamente toda a massa do átomo, ou seja, a massa atômica. O próton possui carga elétrica que se convenciona positiva, enquanto o nêutron é eletricamente neutro. 2) Camadas de elétrons orbitando em torno do núcleo Os elétrons podem ser considerados como um estado de transição entre a matéria e a radiação eletromagnética, pois se comportam tanto como massa quanto como uma onda eletromagnética. A massa do elétron é relativamente muito pequena, e por esta razão pode ser considerada desprezível no cálculo da massa atômica. A carga elétrica do elétron é numericamente igual a do próton, mas com sinal oposto, logo, convenciona-se como sendo negativa. A força que mantém os elétrons orbitando em torno do núcleo é a atração elétrica ou Coulombiana em relação aos prótons. 3.1.1 – Ligações Atômicas Os átomos podem se reunir em estruturas mais complexas formando a matéria ou outras estruturas ainda mais complexas, como as galáxias. A união entre átomos se dá pelo fato deles não possuírem orbitais eletrônicos preenchidos, como acontece com todos os elementos, exceto os gases nobres. Eles se tornam mais estáveis se puderem ficar com configurações de menor energia, seja recebendo elétrons, perdendo elétrons, compartilhando elétrons com outro átomo vizinho ou consorciando os mesmos com todos os outros átomos. Estes quatro processos produzem fortes ligações entre os átomos, conhecidas como ligação iônica, ligação covalente e ligação metálica. Outro tipo de ligação, mais fraca, é a ligação de Van der Waals. A estabilidade das ligações atômicas deve-se à existência de um valor mínimo de energia, correspondente a uma certa distância interatômica, onde ocorre um balanço entre as forças de atração e de repulsão. A natureza das forças de atração entre os átomos depende do tipo de ligação 16 atômica. As forças de repulsão crescem à medida que os átomos aproximam suas camadas de elétrons mais externas, que se repelem por serem ambas de carga negativa. A figura 3.1 ilustra este tipo de interação considerando-se a temperatura igual a 0oK. Diminuindo-se a distância entre átomos inicialmente afastados tem-se a princípio uma força resultante de atração, uma situação de equilíbrio e, em seguida, o predomínio das forças de repulsão. Figura 3.1 – Relação entre a força (a) ou a energia de ligação (b) com a distância entre os centros de dois átomos. As ligações resultantes desses processos são conhecidas como: - Ligação Iônica Nesse caso um átomo cede elétron para outro que recebe resultando configurações atômicas mais estáveis. Exemplo: cloreto de sódio (NaCl): o sódio cede o último elétron de seu último nível para o cloro, que completará sua última camada de elétrons ficando mais estável. 17 Figura 3.2 – Ligação Iônica - Ligação Covalente Neste tipo de ligação os átomos compartilham de elétrons aos pares, ou seja, um átomo coloca um ou mais elétrons a disposição de outro, que procede da mesma maneira. Os pares de elétrons de ambos os átomos circulam simultaneamente na camada externa eletrônica propiciando uma configuração eletrônica estável para os dois átomos. Exemplo: molécula do oxigênio, formada por dois átomos, cada um cede 2 elétrons formando dois pares com um total de 4 elétrons que circulam pela camada eletrônica externa, passando de um átomo para outro. Figura 3.3 – Ligação Covalente - Forças de Van Der Waals São forças de ligação com intensidade relativamente baixa decorrentes da formação de dipolos (conjuntos nos quais uma extremidade é negativa e a outra é 18 positiva). Embora fracas, essas forças permitem a união entre as grandes moléculas de materiais poliméricos. - Ligação Metálica Nos metais, os elétrons da banda de valência da última camada ficam livres quando muitos átomos estão em contato. Isto permite que os elétrons de valência se movimentem a vontade entre eles constituindo uma nuvem eletrônica. A relativa liberdade dos elétrons de valência na ligação metálica é responsável por importantes propriedades dos metais, como a condução elétrica. - Combinação de Ligações Em muitos materiais as ligações atômicas se processam por uma combinação das acima mencionadas. Assim, certos compostos, como o ácido clorídrico, dependendo do estado em que se encontram (líquido ou gasoso), apresentam predominância de ligações covalentes ou iônicas. 3.2 – Estados e Arranjos Atômicos da Matéria A matéria pode existir em 4 estados: - sólido - líquido - gasoso - plasmático Os dois últimos constituem condições de matéria não condensada, ou seja, não existem estruturas envolvendo grande número de átomos ou moléculas. Nos plasmas a liberação de elétrons em situações especiais, como elevadíssimas temperaturas, produz íons cuja excitação não permite nenhum tipo de ligação. Nos gases, mesmo a baixas temperaturas, cada átomo ou molécula está suficientemente afastado para ser considerada independente, a não ser por eventuais colisões. Os gases podem ter grande interesse prático, como o ar comprimido no acionamento de máquinas. Os plasmas também são utilizados cada vez mais, como, por exemplo, em soldas especiais. Os líquidos têm grande fluidez por não apresentarem resistência ao cisalhamento, mas, fora isto, são muito parecidos com os sólidos, sendo considerado um estado condensado da matéria, que apresenta inclusive coordenação e estrutura atômica. Essaestrutura, entretanto, é de curto alcance e não caracteriza periodicidade ou cristalinidade de longa distância. Por isto os líquidos são considerados materiais amorfos. Os sólidos também podem ser amorfos, sendo chamados genericamente de vidros, comportando-se como líquidos super resfriados. A maioria dos sólidos apresenta estrutura com repetição sistemática dos átomos por distâncias relativamente longas, sendo denominados cristais. Sua estrutura também pode se apresentar como uma estrutura intermediária entre cristalina e amorfa. Esse é o caso das macromoléculas, onde existe posicionamento atômico repetitivo em uma só direção no espaço causado por ligações covalentes. É importante saber que os tipos de ligações e arranjos atômicos guardam uma associação com as classes de materiais utilizadas tecnicamente. Assim, os plásticos são 19 compostos orgânicos a base de carbono e constituído de macromoléculas, possuem ligações predominantemente covalentes. Os metais são formados por ligações metálicas. Os cerâmicos que são compostos formados por átomos metálicos e não metálicos, tem ligações iônicas ou covalentes. Os materiais não metálicos (grafite, enxofre) apresentam ligações covalentes. 3.3 – Principais Sistemas Cristalinos dos Materiais Cristais são estruturas com arranjos atômicos de uma unidade básica (que são repetições) nas três dimensões. No caso dos metais, existem 3 tipos principais de cristais, que com sua repetição no espaço tridimensional dão origem as principais estruturas de cristalização dos metais. A maior parte dos cristais que serão vistos cai dentro do sistema cúbico, como a maioria dos metais comuns. A exceção são o magnésio e o zinco, que são hexagonais. 3.3.1 – Sistema Cúbico Simples (CS) Esta estrutura é hipotética para metais puros. Nela, as três dimensões axiais (a) são iguais, e os três eixos são mutuamente perpendiculares. Figura 3.4 – Célula Unitária Cúbica Simples A estrutura contém um átomo metálico por célula unitária. Apenas um oitavo de cada um dos átomos cai dentro da célula. Esta é a razão pela qual os metais não se cristalizam na estrutura cúbica simples. Se dividirmos o volume dos átomos pelo volume da célula unitária, temos o chamado “fator de empacotamento”. Na célula cúbica simples, será de: F. E. = (4πr3/3) / (2r)3 = 0,52 3.3.2 – Sistema Cúbico de Corpo Centrado (CCC) Um exemplo típico de metal que se cristaliza nesse sistema é o ferro na temperatura ambiente. Sua célula unitária tem um átomo em cada vértice do cubo e um outro átomo no centro do cubo. 20 Figura 3.5 – Célula Unitária Cúbica de Corpo Centrado Há dois átomos por célula unitária, um está no centro do cubo e oito oitavos nos vértices. Seu fator de empacotamento é de 0,68. A distância entre os átomos (a) é denominado parâmetro. O parâmetro aumenta com o aumento da temperatura. Além do ferro na temperatura ambiente, outros exemplos de metais que se cristalizam no sistema CCC são o cromo e o tungstênio. 3.3.3 – Sistema Cúbico de Face Centrada (CFC) Nesse sistema, além de um átomo em cada vértice da célula unitária, há um no centro de cada face, e nenhum no centro do cubo. Figura 3.6 - Célula Unitária Cúbica de Face Centrada Estruturas CFC nos metais são mais comuns que a CCC. Alguns exemplos são alumínio, cobre, chumbo, prata e níquel. Cada célula unitária dessa estrutura possui 4 átomos, oito oitavos dos vértices (somando 1 átomo) e seis metades nos centros das faces (somando 3). Seu fator de empacotamento é de 0,74. Porém, quando mais de um tipo de átomo está presente, como no caso do NaCl, o fator de empacotamento é afetado. 3.3.4 – Sistema Hexagonal Compacto A figura 3.6 apresenta a célula unitária da estrutura cristalina hexagonal compacta, que possui um átomo em cada vértice do prisma hexagonal, um átomo no 21 centro das bases e três átomos no centro do prisma. O número de átomos na célula unitária é igual a: 2 x 1/2 = 1 (átomos dos centros das bases) 12 x 1/3 x 1/2 = 2 (átomos dos vértices do prisma) 3 (átomos no centro do prisma) Total de átomos na célula unitária = 1 + 2 + 3 = 6 Figura 3.7 - Célula Unitária Hexagonal Compacta 3.3.5 – Alotropia e Polimorfismo Alotropia é o fenômeno que consiste no fato de um elemento apresentar duas ou mais formas cristalinas, obedecendo tanto para aquecimento quanto para resfriamento a mesma mudança da forma cristalina. Polimorfismo é o fenômeno que consiste no fato de um elemento apresentar 2 ou mais formas cristalinas, não obedecendo para o resfriamento a mesma mudança cristalina do aquecimento. As mudanças de forma cristalina se dão sempre no estado sólido. É um fenômeno isotérmico (a temperatura constante). 22 3.3.6 – Estrutura Amorfa São materiais que não apresentam regularidade interna dos cristais. Incluem os gases, os líquidos e o vidro. 3.3.6.1 – Gases Não há qualquer estrutura dentro de um gás a não ser a estrutura inerente as moléculas individuais. Cada átomo ou molécula está a uma distância suficiente dos outros átomos ou moléculas, para que possa ser considerado independentemente. Como os átomos podem se mover independentemente, um gás, que preenche um determinado espaço, exerce uma pressão sobre as suas vizinhanças. A pressão P depende do volume V, da temperatura T e do número de mols n que estão presentes, através da expressão: PV = nRT Onde R é a constante dos gases (0,082 atm.l/K). É, portanto, possível calcular a densidade de um gás em uma dada temperatura e em pressões relativamente baixas. É possível também calcular o fator de empacotamento para um gás. Esse valor é extremamente baixo para pressões até 10 atm. 3.3.6.2 – Líquidos Assim como os gases, os líquidos são fluidos que não apresentam a ordem encontrada em grandes distâncias nos cristais. Mas a similaridade com os gases é só essa. A estrutura dos líquidos tem muito em comum com a dos cristais. Suas densidades e, portanto, seus fatores de empacotamento, diferem de apenas alguns porcentos. Um cristal tem, usualmente, um empacotamento atômico mais eficiente que um líquido, pois há uma redução de energia durante a solidificação e ocorre uma contração. 3.3.6.3 – Vidros Os vidros são considerados, muitas vezes, como sendo líquidos super resfriados. Na prática, apenas poucos líquidos podem ser realmente super resfriados, formando vidros. Em temperaturas elevadas, os vidros formam líquidos verdadeiros. Os átomos movem-se livremente e não há resistência para tensões de cisalhamento. Quando um AL 23 vidro comercial, na sua temperatura de líquido, é super resfriado, há contração térmica causada pelo rearranjo atômico, para produzir um empacotamento mais eficiente dos átomos. Abaixo de uma certa temperatura denominada de temperatura de transformação, cessam os rearranjos atômicos e a contração que persiste é resultado de vibrações térmicas mais fracas. Os vidros são materiais que apresentam uma curva de dilatação térmica como a figura abaixo: Figura 3.8 – Curva de dilatação térmica do vidro 3.3.7 – Fases Cristalinas e Amorfas Uma fase pode ser definida como uma parte estruturalmente homogênea de um sistema material. Cada fase de um material possui seu próprio arranjo atômico. Uma fase cristalina tem um arranjo atômico definido, com uma estrutura repetitiva que se estende por muitas distâncias atômicas. Uma fase amorfa tem apenas ordem em pequenas distâncias. A figura abaixo mostra a diferença de uma estrutura amorfa (a) e outra cristalina (b). Como as fases amorfas não tem ordem em grandes distâncias, seus arranjos atômicos são menos definidos e permitem maiores diferenças na composição que as fases cristalinas. Figura 3.9 – Estrutura Amorfa (a) e Cristalina (b) 3.4 – Defeitos Subestruturais 3.4.1. Formação da Estrutura Cristalina Quando um metal, ou liga no estado líquido é resfriado até seu ponto de fusão, inicia-se a solidificação,através da formação de cristais em pontos da massa líquida. A 24 cristalização irá formar estruturas cristalinas que são dependentes do metal ou da composição da liga conforme será visto mais adiante. Conforme exemplificado na figura 3.10, ao se considerar o resfriamento do metal no estado líquido dentro de um molde, surgem, em vários locais, núcleos para a solidificação. Os cristais crescem a partir destes núcleos até que começam a se encontrar uns com os outros na fase final da solidificação, produzindo interfaces como a indicada na figura 3.11. Denomina-se grão cada cristal individual do material. No caso do material policristalino, cada grão encontra-se cercado por vários outros. A superfície de encontro de dois grãos é denominada contorno de grão. Figura 3. 10 – Solidificação dos grãos e formação do material policristalino 25 Figura 3.11 - Contorno de grão. A região de transição que acomoda a diferença de orientação na estrutura cristalina de grãos adjacentes é estreita, bastando poucos espaços atômicos para tal 3.4.2. Classificação dos Defeitos na Estrutura Cristalina A estrutura cristalina real apresenta defeitos que podem ser observados a olho nu (defeitos macroscópicos) ou que requerem para a sua observação um microscópio ótico (defeitos microscópicos) ou um microscópio eletrônico (defeitos submicroscópicos). Como ilustração destas classes de defeito tem-se alguns exemplos, a seguir. a) Defeitos macroscópicos - Porosidades (bolhas - gás retido: vazios - vácuo); - Trincas; - Inclusões; - Segregações. b) Defeitos microscópicos - Contornos de grão; - Outros contornos. c) Defeitos submicroscópicos ou subestruturais - Defeitos térmicos: - Lacunas; - Discordâncias; - Outros átomos em solução sólida. Esta classificação possui a desvantagem de que o mesmo defeito pode ser de um tipo ou de outro, dependendo do seu tamanho. Por exemplo, uma trinca ou um contorno de grão poderiam ser visíveis a olho nu ou não. Os defeitos na estrutura cristalina mais importantes são os submicroscópicos, que serão a seguir estudados na escala atômica, dentro da classificação abaixo, proposta por Huntington em 1942. a) Defeito de ponto São correspondentes a variações na estrutura cristalina que envolvem poucas posições atômicas englobadas num pequeno volume aproximadamente esférico. b) Defeitos de linha As irregularidades se estendem por um volume aproximadamente cilíndrico, ao longo de uma linha reta ou curva. c) Defeitos de superfície Correspondem a irregularidades ao longo de uma superfície, contendo os átomos que lhe são vizinhos. Além dos defeitos inerentes ao próprio reticulado cristalino, existem as imperfeições devidas à presença de átomos de outros elementos na estrutura. Estes 26 átomos são denominados impurezas quando sua presença é conseqüência do processo de fabricação, e elementos de liga quando são adicionados com o propósito de se obter propriedades desejadas. 3.4.3. Imperfeições Associadas à Composição Química Os átomos de outros elementos, sejam impurezas ou elementos de liga, podem acomodar-se na estrutura cristalina de um dado metal formando uma solução sólida. Chama-se matriz à estrutura cristalina do metal considerado, que é denominado solvente. Os outros elementos, cujos átomos estão na solução sólida, são denominados solutos. Os átomos solutos podem estar em solução sólida substitucional, quando ocupam posições dos átomos da matriz na estrutura cristalina, ou em solução sólida intersticial, quando ocupam interstícios na estrutura cristalina. As figuras 3.12 e 3.13 ilustram estes casos. Figura 3.12 - Solução sólida substitucional (a) Átomos maiores; (b) Átomos menores que os da matriz Figura 3.13 - Solução Sólida Intersticial A distorção na estrutura cristalina, provocada pelos átomos em solução, significa um afastamento dos átomos da sua posição de equilíbrio. Os átomos que se encontram nesta região de distorção possuem, portanto, um nível energético mais elevado que os átomos que constituem as porções perfeitas da rede cristalina. Assim como nas soluções em fase liquida, as soluções sólidas também apresentam um limite de solubilidade, isto é, valores máximos para o teor de soluto na matriz. Nas soluções substitucionais o limite de solubilidade é função da relação entre os tamanhos atômicos, número de elétrons no último nível, estrutura cristalina de cada 27 elemento e eletronegatividade. Se a diferença entre os tamanhos atômicos de dois elementos for inferior a cerca de 15% pode-se esperar que haja grande solubilidade entre eles. Na solução sólida intersticial, os átomos do soluto ocupam posições na estrutura cristalina onde há um maior espaço para sua acomodação. Por exemplo, considerando-se a estrutura CFC do ferro, os vazios octaédrico e tetraédrico possuem raio interno de 0,52 e 0,28 angstroms respectivamente. Os átomos de carbono ou de nitrogênio que ocupem estas posições estarão provocando distorção na rede cristalina, porque seus raios atômicos são maiores 0,8 e 0,7 angstroms, respectivamente que o espaço dos interstícios. Na estrutura CCC do ferro, o interstício tetraédrico (r = 0,36 A) é maior que o octaédrico (r = 0,19 Â), porém menor que o octaédrico na estrutura CFC (r = 0,52 Â). Portanto, como conseqüência, tem-se que a estrutura CFC tem maior possibilidade que a CCC de dissolver átomos de carbono ou nitrogênio em solução intersticial, mesmo sendo uma estrutura mais compacta. 3.4.4 - Defeitos de Ponto Podem ser dos seguintes tipos: a) Átomos Solutos Correspondem a existência de átomos diferentes daqueles que caracterizam a matriz. Estes átomos podem ser considerados impurezas (decorrentes do processo de fabricação) ou elementos de liga (adicionados para melhorar propriedades). Os átomos solutos podem não alterar a cristalografia da matriz, ficando dispersos aleatoriamente em posições que podem ser: - Substitucionais: o átomo soluto toma a posição de um átomo da matriz; - Intersticiais: o átomo soluto ocupa vazios correspondentes a estrutura cristalina da matriz. As figuras 3.12 e 3.13 vistas anteriormente ilustram estes defeitos. b) Lacunas Lacunas são espaços vazios na estrutura cristalina que poderiam estar preenchidos por um átomo. São também chamados de vazios ou vacâncias e constituem defeitos de ponto importantes, dada a sua relação com o fenômeno da difusão, como será estudado mais adiante. Caso essa ausência de átomos ocorra em um material iônico, ela será chamada de “Defeito de Schottky”. Com o aumento da temperatura, a quantidade de lacunas aumenta exponencialmente, sendo geradas a partir de outros defeitos na estrutura cristalina, como por exemplo, os contornos de grão. As vibrações atômicas decorrentes do aumento da temperatura permitem a troca de posição de um átomo com uma lacuna, como ilustra a figura 3.14. As lacunas podem também ocorrer associadas, aos pares ou em grupos maiores. 28 Figura 3.14 – Movimento de Lacuna na Malha c) Interstícios Correspondem a átomos da própria matriz deslocado para posições vazias (intersticiais). Para isto é necessário um processo envolvendo grandes energias como, por exemplo, intensa radiação atômica. Por isso este tipo de defeito é pouco provável e tende a aniquilar-se com o tempo. d) Pares de Defeitos Os mais comuns são: bi-lacunas, lacuna-átomo intersticial, átomo intersticial- átomo intersticial e condensação de lacunas em uma pequena região. Qualquer desses defeitos acarreta sempre um estado predominantemente normal de tensão na malha. A figura 3.15 ilustra alguns tipos de defeito de ponto. Figura 3.15 - Defeitos de ponto. (a) Lacuna; (b) Bilacuna; (c) Defeito de Schottky; (d) Átomo em interstício; (e) Defeito de Frenkel 3.4.5. Defeitos Lineares Os defeitos lineares são denominados discordâncias ou deslocações e possuem fundamental importânciana deformação plástica dos metais, em função da sua atuação no deslizamento entre porções do cristal. As discordâncias podem ser de 2 tipos: a) Discordânica Aresta Pode ser visualizada pelas distorções atômicas ao longo de uma linha (cilindro) como se existisse um semi-plano atômico extra (figura 3.16). 29 Figura 3.16 – Discordância aresta. A linha da discordância é a perpendicular ao plano do papel, correspondente à aresta do semiplano adicional. b) Discordância Espiral Pode ser visualizada pelas distorções atômicas ao longo de uma linha como se os planos cristalinos se desenvolvessem em uma hélice perpendicularmente a linha. O modelo de blocos da figura 3.17 ilustra a ocorrência de uma discordância espiral na malha cristalina. Figura 3.17 – Modelo de blocos de uma discordância espiral O deslocamento de uma discordância da sua posição para a próxima posição equivalente é denominado vetor de Burgers da discordância, representado pela letra "b". Conforme o semiplano esteja acima ou abaixo do plano de deslizamento, a discordância aresta é dita positiva ou negativa. A discordância simbolizada na figura 3.18 é, por exemplo, uma discordância aresta positiva. 30 Figura 3.18 - O esforço de cisalhamento F produz pequenos movimentos atômicos e troca das ligações entre os átomos. A discordância se movimenta produzindo um degrau correspondente a uma distância atômica (para o sistema cúbico simples). 3.4.6. Defeitos Planares As irregularidades na estrutura cristalina associadas à superfícies são os defeitos planares, que serão a seguir abordados e que incluem as superfícies livres do metal os contornos de grão, outros contornos (maclas, interfaces com outras fases presentes) e as falhas de empilhamento. a) Superfícies livres Os átomos do metal que constituem superfícies livres do metal, como a superfície de bolhas ou porosidades, ou a superfície em contacto com a atmosfera, encontram-se num nível energético mais elevado do que os átomos que se encontram no interior do cristal. Isto se dá porque os átomos superficiais têm vizinhos apenas de um lado, causando um desbalanceamento das camadas de elétrons e originando um efeito de tensão superficial e de energia de superfície. 31 Ao se considerar um processo de fratura num metal, tem-se que uma parcela da energia necessária para a fratura será empregada como energia superficial associada à criação das superfícies da fratura. A figura 3.19 apresenta um esquema dos átomos superficiais de um metal. Figura 3.19 - Os átomos na superfície livre encontram-se num nível energético mais elevado que os átomos do interior, porque não estão completamente circundados por outros átomos. b) Contornos de grão As diferentes orientações entre os cristais desenvolvidos a partir de núcleos distintos, formam, como ilustrado pelas figuras 3.10 e 3.11, superfícies constituídas por átomos que acomodam estas diferenças. A figura 3.20 apresenta contornos de grão vistos ao microscópio ótico e um modelo atômico indicando a desordem na superfície de fronteira entre os grãos vizinhos. Figura 3.20 - (a) contornos de grão de molibdênio vistos no microscópio ótico (b) modelo atômico indicando a variação nas distâncias entre os átomos dos contornos de grão. Os contornos de grão possuem outros defeitos subestruturais ou submicroscópios, como lacunas e discordâncias. Como as distâncias interatômicas nos contornos de grão diferem da posição de equilíbrio já vista na figura 3.1, tem-se que os átomos pertencentes aos contornos de grão possuem nível energético superior ao dos átomos no interior dos grãos. Isto os torna mais suscetíveis de sofrer modificações, como participar de reações químicas (correndo-se) ou metalúrgicas (nucleando uma segunda fase). 32 Capítulo 4 – Noções de Siderurgia O aço é definido como uma liga ferro-carbono com até 2% de carbono. Essa é a solubilidade máxima do carbono no ferro com estrutura CFC (austenita). Ligas com maiores teores de carbono são chamadas de ferro fundido, tendo ponto de fusão mais baixo e sendo adequadas a fundição. Enquanto o aço é a liga mais amplamente empregada, a produção de ferros fundidos representa cerca de 70% de toda a produção mundial de fundidos. A capacidade de se obter ferro de seus minérios e produzí-lo em estado líquido viabilizou a produção em escala significativa do ferro e, posteriormente, do aço. Após o século XIV foram desenvolvidos fornos capazes de reduzir o óxido de ferro a ferro metálico, e também fundi-lo, permitindo que o produto metálico fosse facilmente retirado do forno na forma líquida e fundido na forma desejada. O ferro líquido assim produzido é rico em carbono e contém impurezas indesejadas, o que torna suas propriedades um tanto quanto limitadas. Mas com o desenvolvimento da fundição ferrosa, também se desenvolveram processos de refino para a produção de aços. A combinação de um processo de redução de minérios com processo de refino do metal levou ao modelo atual de usina siderúrgica, apresentado a seguir: Figura 1 - Modelo atual de usina siderúrgica A indústria siderúrgica abrange todas as etapas necessárias para, a partir das matérias-primas, produzir-se ferro e aço. O processo clássico para a redução do minério de ferro é o do alto-forno, cujo produto consiste numa liga ferro-carbono de alto teor de carbono, denominado ferro gusa, o qual, ainda no estado líquido, é encaminhado a aciaria, onde, em fornos adequados, é transformado em aço. Este é vazado na forma de lingotes que são submetidos a transformação mecânica por intermédio de laminadores, resultando blocos, tarugos e placas. Estes, por fim, ainda por intermédio de laminadores, 33 são transformados em formas estruturais e em outros produtos siderúrgicos importantes, como trilhos, chapas e barras. As matérias-primas da indústria siderúrgica são: - minério de ferro - carvão (coque) - calcário O minério de ferro é a matéria-prima essencial, pois dele se extrai o ferro. Os principais óxidos de ferro são a magnetita (Fe3O4), a hematita (Fe2O3) e a limonita (2Fe2O3 3H2O). O beneficiamento do minério de ferro tem como objetivo alterar suas características físicas ou químicas e torná-los mais adequados para sua utilização no alto-forno. Os métodos de aglomeração consistem de: sinterização, pelotização, briquetagem e nodulização. O carvão atua em três sentidos simultaneamente: como combustível, como redutor do minério e como fornecedor do carbono, principal elemento de liga dos produtos siderúrgicos. Pode ser do tipo coque ou carvão de madeira. O coque é obtido pelo processo de coqueificação, que consiste no aquecimento do carvão mineral a altas temperaturas em câmaras fechadas. É o resíduo resultante da destilação do carvão, sendo uma substância porosa, celular e heterogênea. O carvão vegetal é fabricado por pirólise da madeira (quebra das moléculas complexas em moléculas mais simples), mediante calor. Sua resistência mecânica é relativamente baixa, e os alto-fornos a carvão vegetal possuem capacidade bem menor do que os baseados em coque. O calcário atua como “fundente”, ou seja, reage, pela sua natureza básica, com as substâncias estranhas ou impurezas contidas no minério e no carvão, diminuindo seu ponto de fusão e formando a “escória”, subproduto do processo do alto-forno. O principal fundente é o calcário (CaCO3). 4.1 – Os Processos de Redução Existem duas vias de produção de ferro a partir de minério de ferro: o alto-forno e os processos de redução direta, que transformam o ferro oxidado em ferro metálico. - Alto-forno Processo clássico de redução do minério de ferro. Nele, o óxido de ferro é reduzido por gases gerados a partir do coque (um produto da destilação controlada do carvão mineral) ou carvão vegetal e adições de carvão pulverizado. O aquecimento ocorre pelo sopro de ar pela região inferior doforno, que queima parte do carbono introduzido no forno. O produto da redução é obtido sob a forma líquida em um cadinho na parte inferior do forno. O alto-forno é uma estrutura cilíndrica, de grande altura, que compreende uma fundação e o forno propriamente dito. O forno é composto por 3 partes: cadinho, rampa e cuba, como indica a figura a seguir. 34 Figura 2 – Alto-forno No cadinho se acumulam o metal fundido e a escória. Tem forma cilíndrica e é constituído em chapa grossa de aço revestido internamente com material refratário. Entre a chapa e o revestimento existem placas de ferro fundido que contém tubos de água para o resfriamento. Seu diâmetro é de cerca de 10 m e sua altura é superior a 4 m. A cerca de 1 m do fundo do cadinho fica o furo de corrida do gusa, e acima deste furo fica o furo de corrida da escória. Na parte superior do cadinho (a cerca de 3,25 m) situam-se as ventaneiras, onde o ar pré-aquecido é soprado sob pressão. A rampa tem formato tronco-cônico, e suas dimensões variam desde o diâmetro do cadinho até 10,5 m ou mais, com altura que pode superar 4 m. De certo modo, é a zona mais quente, e sua inclinação é da ordem de 80° a 82º da horizontal. A cuba, também de formato tronco-cônico, tem seção menor voltada para cima, no topo. Sua altura pode superar 25 m. Dessa forma, a altura total do alto-forno, compreendendo cadinho, rampa e cuba, a partir do fundo do cadinho, supera 30 m, os quais deve-se juntar cerca de 4,5 a 5 m do fundo do cadinho ao piso do chão. No topo do alto-forno situa-se o sistema de carregamento, sendo o mais comum chamado “copo e cone”, que distribui a carga uniformemente e evita a evasão de gases para a atmosfera. A carga, constituída de minério de ferro, carvão, calcário e minério de manganês, é pesada e despejada em carros, que são levados ao topo. A operação do alto-forno é iniciada após o processo de secagem e preparo preliminar. 35 Figura 3 – Seção transversal de um alto-forno As condições reinantes no interior do forno são tais que uma parcela significante do fósforo presente no minério e do enxofre presente nos carvões e coque usados se incorpora ao metal produzido, o gusa, embora parte significativa das impurezas carregadas no forno seja eliminada sob a forma de escória. As diferenças de densidade e de tensão superficial entre o metal líquido e a escória favorecem a separação das fases, permitindo a retirada independente do metal e da escória, do forno, por orifícios diferentes. Os processos que se passam no interior do alto-forno são bastante complexos e somente a partir da década de 1960 começou a se estabelecer uma compreensão relativamente clara de como se passam. Gaseificação do coque, combustão, redução do minério no estado sólido pelo gás, seguida de redução de óxidos líquidos, assim como as importantes interações entre metal líquido e óxidos líquidos são algumas das complexas etapas que influenciam o resultado global do que ocorre no interior do alto- forno, onde o tempo de residência do metal pode chegar a doze horas. - Processos de Redução Direta Alternativamente ao que ocorre no alto-forno, o processo de redução pode se passar em condições que o metal reduzido seja produzido no estado sólido. Tais processos são chamados de processos de redução direta. Eles foram criados antes do 36 alto-forno, mas não puderam evoluir para grandes escalas de produção e foram ultrapassados pelo alto-forno. Este processo consiste em tratar os óxidos de ferro praticamente puros a temperaturas entre 950 e 1050 ºC, na presença de uma substância redutora, resultando numa massa escura e porosa conhecida como “ferro esponja”. Como o produto da redução direta é sólido, parte significativa das impurezas do minério é retida no produto final. Modernamente, todo o produto da redução direta é utilizado como carga para processos de refino em aciaria, notadamente aciarias elétricas. 4.2 – Aciaria Por volta de meados do século XIX, Sir Henry Bessemer desenvolveu e patenteou um processo para “converter” o gusa em aço, através de insuflação de ar sob pressão no gusa líquido. O processo se passava em um forno cilíndrico e o ar era insuflado por ventaneiras situadas no fundo do forno. O processo foi desenvolvido, posteriormente, para operar com refratários básicos e permitir o uso de escórias também básicas. A insuflação de ar, porém, tinha dois inconvenientes: o metal produzido era rico em nitrogênio (indesejáveis para as propriedades mecânicas do aço), e havia grande perda de energia associada ao calor perdido com o nitrogênio gasoso que deixava o forno. O balanço térmico desse conversor também impossibilitava a fusão de sucata. A figura a seguir mostra um esquema de operação do conversor Bessemer. Figura 4 – Conversor Bessemer 37 Na mesma época, William Siemens, na Inglaterra, desenvolveu um forno que aproveitava, através de trocadores de calor estáticos, o calor dos gases de combustão e permitia pré-aquecer o ar usado na combustão. Com o uso dessa tecnologia, na França, Martin desenvolveu um forno capaz de atingir temperaturas suficientemente altas para manter o aço de baixo carbono no estado líquido, que veio a ser conhecido como Siemens-Martin. Embora o refino do gusa até aço nestes fornos fosse muito mais lento que em conversores, a possibilidade de fundir sucata e a capacidade de dessulfurar o aço produzido mantiveram esse forno viável por mais de um século. A operação de um forno Siemens-Martin é dividida em 3 etapas: carregamento e fusão da carga, período de trabalho ou de refino e acabamento da corrida. Geralmente o tempo total da operação é de cerca de 10 horas para fornos com capacidade de até 200 t. Nos aços produzidos pelo processo Siemens-Martin, o carbono pode variar de 0,2 a pouco acima de 1%. Durante a corrida, procura-se manter o carbono pouco abaixo do teor especificado, de modo a permitir que seu aumento, devido a adição final de ferro-ligas, não ultrapasse o especificado. A temperatura do banho deve situar-se em torno de 1600 ºC para os “aços acalmados”, e pouco acima para os “aços efervescentes”. Os “aços acalmados”, geralmente de maior teor de carbono, são utilizados quando se deseja, por exemplo, produzir peças forjadas a partir dos lingotes resultantes. A técnica consiste numa desoxidação mais intensa pela adição de Fe-Si e Fe-Mn. Os “aços efervescentes” são de carbono abaixo de 0,20%, utilizados na produção de chapas e arames. Não são suficientemente desoxidados, de modo que, no instante do vazamento, contém quantidade razoável de FeO dissolvido, o qual, ao reagir com o carbono do aço, forma bolhas de CO que produz uma efervescência nas lingoteiras. Há também os aços “semi-acalmados”, intermediários entre os dois anteriores, destinados a fabricação de perfis estruturais e chapas grossas. O advento da produção de oxigênio em escala industrial (que passou a ser injetado em conversores) e o aumento do custo dos combustíveis empregados nos fornos Siemens-Martin os condenaram ao desaparecimento no final da década de 70. 4.2.1 – Conversores a Oxigênio O primeiro conversor capaz de aproveitar o oxigênio produzido em escala industrial foi o conversor LD (Linz-Donawitz), desenvolvido na Áustria (figura 5). Nestes conversores o oxigênio é soprado por uma lança refrigerada, situada sobre o banho metálico. O sopro produz a formação de escória rica em óxido de ferro, e em seguida a formação de uma emulsão entre metal, gás e escória, onde as reações de refino se passam de forma extremamente rápida. 38 Figura 4.5 – Conversor LD No início do uso do oxigênio industrial, não foi possível empregar o sopro de oxigênio pelo fundo dos conversores, devido a rápida oxidação altamente exotérmica, que ocorria próxima ao fundo do forno, causava uma combinação de alta temperatura e presença de óxido de ferro (FeO), extremamente danoso aos refratários. Posteriormente, desenvolveram-setécnicas de refrigeração localizada, com a injeção de diferentes hidrocarbonetos, que viabilizaram, no final da década de 1950, conversores com sopro de oxigênio pelo fundo (sopro por baixo), sendo o mais conhecido o processo Q-BOP. 4.2.2 – Forno Elétrico a Arco É o instrumento mais versátil de produção de aço, e vem se tornando também, nas últimas décadas, um dos mais eficientes. Algumas de suas vantagens são: - Tem alta eficiência energética; - Permite produzir praticamente qualquer tipo de aço, em função do controle do aquecimento virtualmente independente de reações químicas; - É um aparelho extremamente versátil, no que tange a carga, podendo ser operado com 100% de carga sólida; - Permite operação intermitente e mudanças rápidas na produção em escalas desde dezenas até centenas de toneladas. Durante um longo tempo, os fornos elétricos a arco foram os equipamentos preferidos para a produção dos aços que precisavam ser submetidos a refino mais cuidadoso. A evolução tecnológica destes fornos, entretanto, conduziu a sua otimização como instrumentos de fusão. Assim, o uso do forno elétrico como equipamento de refino (tratamento do aço já completamente fundido) tornou-se cada vez menos econômico, transferindo parte das operações de refino para outros equipamentos (de metalurgia secundária). Dentre os processos secundários de refino, desenvolveram-se especialmente fornos auxiliares, chamados “fornos-panela”, com capacidade de aquecimento elétrico, para onde o aço líquido pode ser transferido para a realização das 39 atividades de refino, liberando o forno elétrico para fusão, descarburação e desfosforação. Os fornos elétricos a arco são os principais consumidores de sucata de aço. Conversores empregam cada vez menos sucata, uma vez que as usinas integradas se tornam mais eficientes, com menor geração de sucata interna. Como a separação de sucatas não é perfeita, e a sucata de ferro é barata, é comum que alguma contaminação por outros metais esteja presente. Como ainda não existem processos economicamente viáveis para remover do ferro o estanho, zinco, cobre e as impurezas a ele associadas, e estes resíduos podem ser indesejáveis em alguns produtos do aço, cabe ao operador do forno elétrico compor sua carga com um balanço de metálicos que permita diluir o teor destes elementos na sucata e atingir os valores especificados. 4.2.3 – Desoxidação Depois das reações de oxidação do aço é necessário reduzir o teor de oxigênio em solução a um nível aceitável para o produto sólido (que não exceda a solubilidade no ferro sólido), e, consequentemente, cause o aparecimento de óxido de ferro de baixo ponto de fusão. Vários elementos tem maior afinidade pelo oxigênio do que o ferro, sendo os mais comumente empregados o alumínio, silício e manganês, e uma combinação destes dois últimos. A conseqüência do emprego de desoxidantes é a formação de produtos sólidos ou líquidos de uma reação de desoxidação. Esses produtos de desoxidação devem se separar do aço líquido, senão ficarão no produto sob a forma de inclusões não metálicas, afetando as propriedades do aço. Como os conversores operam em condições bastante oxidantes, a desoxidação é tradicionalmente realizada durante ou após o vazamento do aço do conversor para uma panela. No forno elétrico a arco é possível realizar a desoxidação dentro do próprio forno, mas somente se não comprometer a eficiência econômica da aciaria. 4.2.4 – Processos de Refino Secundário A dificuldade de controlar as variáveis termodinâmicas de forma adequada a favorecer as reações de refino desejadas, assim como a necessidade de otimizar, economicamente, a produção de aço, levou ao desenvolvimento de processos de refino secundário. Nestes processos o aço líquido proveniente dos processos primários (conversores e forno elétrico a arco) é submetido a operações de refino e ajuste de composição química e temperatura, principalmente. Os primeiros processos de refino secundário desenvolvidos em ampla escala foram os processos de desgaseificação, que são tratamentos do aço sob vácuo para reduzir o teor de hidrogênio, que causam problemas ao aço. 40 Figura 4.6 – Processos de desgaseificação de aços: no lingotamento, em panela e por circulação RH (na seqüência da esquerda para a direita) Posteriormente foram desenvolvidos os fornos panela, visando transferir para outro equipamento as atividades de refino que mais consumiam tempo no forno. 41 Capítulo 5 – Noções de Ensaios dos Materiais 5.1 - Ensaio de Tração • Ensaios dos Materiais - Verificam se os materiais apresentam propriedades adequadas ao seu uso. • Ensaios Mecânicos dos Materiais - Procedimentos padronizados que compreendem testes, cálculos, gráficos e consultas a tabelas, tudo isso em conformidade com normas técnicas. - Realizar um ensaio consiste em submeter um objeto já fabricado ou um material que vai ser processado industrialmente a situações que simulam os esforços que eles vão sofrer nas condições reais de uso, chegando a limites extremos de solicitação. - Local onde são realizados: laboratórios. - Utiliza-se protótipos, o próprio produto final ou um corpo de prova (CP). - Devem seguir normas estabelecidas (ABNT, ASTM, ISO, etc). - Ensaios destrutivos: deixam algum sinal na peça ou CP, mesmo que não fiquem inutilizados. Ex: fadiga, fluência, dureza e tração. - Ensaios não-destrutivos: não deixam nenhum sinal. Ex: líquido penetrante, partícula magnética, ultra-som. - Tipos de esforços a que os materiais podem ser submetidos: • Ensaio de Tração - Fornece dados quantitativos das características mecânicas dos materiais. Um CP de dimensões padronizadas por normas é submetido a esforço longitudinal, que tende a alongá-lo até a ruptura. 42 - Realizado em máquina universal: - Principais parâmetros de teste: Tensão: σ = F/A (unidade: Pa) Deformação: ε = (l0 – l)/l0 = ∆l / l0 (adimensional) Módulo de elasticidade: E = σ / ε (unidade: Pa) - O CP é fixado nas garras, a velocidade de aplicação da força é ajustada de acordo com a Norma utilizada, e a escala é selecionada. Um extensômetro é acoplado. - Durante o ensaio, a força de tração aplicada produz uma deformação no corpo, diminuindo a área da sua seção longitudinal e aumentando seu comprimento (alongamento A). Forma-se um “pescoço” no CP. A = (lf – l0)/l0 Quanto maior for o alongamento, maior será sua capacidade de deformar. 43 - Deformação elástica: Não é permanente. O material volta a sua forma original quando os esforços cessam. - Deformação plástica: Permanente. Após cessarem os esforços, o material recupera a parte elástica da deformação, mas fica com uma deformação residual plástica, não voltando a sua forma original. • Diagrama Tensão x Deformação - Propriedades analisadas: - Limite elástico: Nessa fase os metais obedecem a Lei de Hooke (deformações diretamente proporcionais as tensões). Se o ensaio for interrompido antes do ponto A, o CP volta a sua forma original. - Módulo de Elasticidade: É a medida da rigidez do material. A razão σ / ε em qualquer ponto é constante na fase elástica. - Limite de proporcionalidade: Representado pelo ponto A’, a partir do qual a deformação deixa de ser proporcional a carga aplicada. Na prática, coincide com o limite de elasticidade. É o ponto onde começa a deformação permanente. Difícil de detectar, convenciona-se 0,2% para metais e ligas em geral. - Escoamento: Ocorre no início da fase plástica. A carga oscila entre valores muito próximos uns dos outros. 44 - Limite de resistência: Valor máximo de tensão alcançada (ponto B). - Limite de ruptura: Tensão no ponto onde o material se rompe (ponto C). É menor que o limite de resistência, pois há diminuição de área no CP após a tensão máxima. - Estricção(ou formação do pescoço): Redução percentual de área da seção transversal do corpo, na região onde vai ocorrer a ruptura. Quanto maior for a estricção, mais dúctil será o material. Módulo de Elasticidade: - Quanto maior o módulo, maior a rigidez do material, e menor será a deformação elástica resultante. A liga A é mais rígida que a liga B. Resiliência: - É a capacidade de um metal absorver energia quando deformado elasticamente, isto é, dentro da zona elástica, e liberá-la quando descarregado. - O módulo de resiliência é calculado através da área sob a parte elástica da curva σ x ε. Tenacidade: - É a capacidade do metal de absorver energia na zona plástica. O módulo de tenacidade é a quantidade de energia absorvida por unidade de volume até a fratura (área total sob a curva σ x ε). 45 Fratura dos Corpos de Prova sob Tração a) Fratura frágil b) Fratura muito dúctil c) Fratura dúctil Exemplo de relatório de ensaio de tração: Exercício Um corpo de prova circular (r = 5 mm) foi testado a tração. O comprimento inicial de teste (l0 = 100 mm) foi elongado até atingir a deformação de 1 mm. Neste instante a força medida era de F1 = 5,498 x 104 N. Em seguida atingiu a deformação de 3 mm, a uma força de F2 = 1,649 x 105 N. Determine: 46 a) A deformação nos instantes de medida: ε1 = ∆l1 / l0 = 1 / 100 = 0,01 ε2 = ∆l2 / l0 = 3 / 100 = 0,03 b) A tensão nos instantes de medida: A = πr2 = π x (0,005)2 = 7,854 x 10-5 m2 σ1 = F1 / A = (5,498 x 104) / (7,854 x 10-5) = 7,0 x 108 Pa σ2 = F2 / A = (1,649 x 105) / (7,854 x 10-5) = 2,1 x 109 Pa c) O módulo de elasticidade: E = ∆σ / ∆ε = 5.2 - Ensaio de Dureza · Na área da metalurgia, considera-se dureza como a resistência à deformação plástica permanente. Isso porque uma grande parte da metalurgia consiste em deformar plasticamente os metais. · Na área da mecânica, é a resistência à penetração de um material duro no outro, pois esta é uma característica que pode ser facilmente medida. Ou seja, a dureza não é uma propriedade absoluta. Só tem sentido falar em dureza quando se comparam materiais, isto é, só existe um material duro se houver outro mole. Tipos de Ensaios de Dureza: - Dureza Brinell - Dureza Rockwell - Dureza Vickers - O primeiro método padronizado de ensaio de dureza do qual se tem notícia, baseado no processo de riscagem, foi desenvolvido por Mohs, em 1822. - Este método deu origem à escala de dureza Mohs, que apresenta dez minérios-padrões, ordenados numa escala crescente do grau 1 ao 10, de acordo com sua capacidade de riscar ou ser riscado. (2,1x109)− (7,0x108) 0,03− 0,01 = 1,4x109 0,02 = 70 x109 Pa= 70GPa 47 - Esta escala não é conveniente para os metais, porque a maioria deles apresenta durezas Mohs 4 e 8, e pequenas diferenças de dureza não são acusadas por este método. Por exemplo, um aço dúctil corresponde a uma dureza de 6 Mohs, a mesma dureza Mohs de um aço temperado. - As limitações da escala Mohs levaram ao desenvolvimento de outros métodos de determinação de dureza, mais condizentes com o controle do aço e de outros metais. Um deles é o ensaio de dureza Brinell. Dureza Brinell - O ensaio de dureza Brinell consiste em comprimir lentamente uma esfera de aço temperado, de diâmetro D, sobre uma superfície plana, polida e limpa de um metal, por meio de uma carga F, durante um tempo t, produzindo uma calota esférica de diâmetro d . - A dureza Brinell é representada pelas letras HB. Esta representação vem do inglês Hardness Brinell, que quer dizer “dureza Brinell”. 48 - A dureza Brinell (HB) é a relação entre a carga aplicada (F) e a área da calota esférica impressa no material ensaiado (Ac). Em linguagem matemática: - A área da calota esférica é dada pela fórmula: πDp, onde p é a profundidade da calota e D é o diâmetro da esfera. Substituindo Ac pela fórmula para cálculo da área da calota, temos: - Devido à dificuldade técnica de medição da profundidade (p), que é um valor muito pequeno, utiliza-se uma relação matemática entre a profundidade (p) e o diâmetro da calota (d) para chegar à fórmula matemática que permite o cálculo da dureza HB, representada a seguir: Exemplo: Uma amostra foi submetida a um ensaio de dureza Brinell no qual se usou uma esfera de 2,5 mm de diâmetro e aplicou-se uma carga de 187,5 kgf. As medidas dos diâmetros de impressão foram de 1 mm. Qual a dureza do material ensaiado? HB= F AC HB= F π Dp HB= 2F πD( D−√D2− d2) __ ______________ _____ 49 - Representação dos resultados: O número de dureza Brinell deve ser seguido pelo símbolo HB, sem qualquer sufixo, sempre que se tratar do ensaio padronizado, com aplicação da carga durante 15 segundos. Em outras condições, o símbolo HB recebe um sufixo formado por números que indicam as condições específicas do teste, na seguinte ordem: diâmetro da esfera, carga e tempo de aplicação da carga. Exemplificando: Um valor de dureza Brinell 85, medido com uma esfera de 10 mm de diâmetro e uma carga de 1.000 kgf, aplicada por 30 segundos, é representado da seguinte forma: 85HB 10/1000/30 - Vantagens e limitações: 50 • O ensaio Brinell é usado especialmente para avaliação de dureza de metais não ferrosos, ferro fundido, aço, produtos siderúrgicos em geral e de peças não temperadas. • É o único ensaio utilizado e aceito para ensaios em metais que não tenham estrutura interna uniforme. • É feito em equipamento de fácil operação. • Por outro lado, o uso deste ensaio é limitado pela esfera empregada. Usando-se esferas de aço temperado só é possível medir dureza até 500 HB, pois durezas maiores danificariam a esfera. Dureza Rockwell Neste método, a carga do ensaio é aplicada em etapas, ou seja, primeiro se aplica uma pré-carga, para garantir um contato firme entre o penetrador e o material ensaiado, e depois aplica-se a carga do ensaio propriamente dita. A leitura do grau de dureza é feita diretamente num mostrador acoplado à máquina de ensaio, de acordo com uma escala predeterminada, adequada à faixa de dureza do material. - Tipos de Penetradores: Os penetradores utilizados na máquina de ensaio de dureza Rockwell são do tipo esférico (esfera de aço temperado) ou cônico (cone de diamante com 120º de conicidade). 51 A escala do mostrador é construída de tal modo que uma impressão profunda corresponde a um valor baixo na escala e uma impressão rasa corresponde a um valor alto na escala. Desse modo, um valor alto na escala indica que se trata de um material de alta dureza. Equipamento utilizado: 52 - Um material ensaiado numa escala só pode ser comparado a outro material ensaiado na mesma escala. - Representação: O número de dureza Rockwell deve ser seguido pelo símbolo HR, com um sufixo que indique a escala utilizada. Veja, por exemplo, a interpretação do resultado 64HRC: · 64 é o valor de dureza obtido no ensaio; · HR indica que se trata de ensaio de dureza Rockwell; 53 · a última letra, no exemplo C, indica qual a escala empregada. Dureza Vickers O ensaio Rockwell mostra algumas limitações, como, por exemplo, o fato de suas escalas não terem continuidade. Por isso, materiais que apresentam dureza no limite de uma escala e no início de outra não podem ser comparados entre si quanto à dureza. O ensaio de dureza Vickers leva em conta a relação ideal entre o diâmetro da esfera do penetrador Brinell e o diâmetro da calota esférica obtida, e vai além porque utiliza outro tipo de penetrador, que possibilita medir qualquer valor de dureza, incluindo desde os materiais mais duros até os mais moles. A dureza Vickers se baseia na resistência que o material oferece à penetração de uma pirâmide de diamante de base quadrada e ângulo entre faces de 136º, sob uma determinada carga. O valor de dureza Vickers (HV) é o quocienteda carga aplicada (F) pela área de impressão (A) deixada no corpo ensaiado. Essa relação, expressa em linguagem matemática é a seguinte: A máquina que faz o ensaio Vickers não fornece o valor da área de impressão da pirâmide, mas permite obter, por meio de um microscópio acoplado, as medidas das diagonais (d1 e d2) formadas pelos vértices opostos da base da pirâmide. Conhecendo as medidas das diagonais, é possível calcular a área da pirâmide de base quadrada (A), utilizando a fórmula: HV = F A A= d2 2sen(136o 2 )_____ 54 Voltando à fórmula para cálculo da HV, e substituindo A pela fórmula anterior, temos: Na fórmula anterior, a força deve ser expressa em quilograma-força (kgf) e o “d” corresponde à diagonal média, ou seja: e deve ser expresso em milímetro (mm). Se a máquina der o resultado em mícron (µ), esse valor deve ser convertido em milímetro. - Representação: A dureza Vickers é representada pelo valor de dureza, seguido do símbolo HV e de um número que indica o valor da carga aplicada. A representação 440 HV 30 indica que o valor da dureza Vickers é 440 e que a carga aplicada foi de 30 kgf. O tempo normal de aplicação da carga varia de 10 a 15 segundos. Quando a duração da aplicação da carga é diferente, indica-se o tempo de aplicação após a carga. Por exemplo, na representação: 440 HV 30/20, o último número indica que a carga foi aplicada por 20 segundos. - Cargas usadas no ensaio Vickers Neste método, ao contrário do que ocorre no Brinell, as cargas podem ser de qualquer valor, pois as impressões são sempre proporcionais à carga, para um mesmo material. Deste modo, o valor de dureza será o mesmo, independentemente da carga utilizada. 55 Por uma questão de padronização, as cargas recomendadas são: 1, 2, 3, 4, 5, 10, 20, 30, 40, 60, 80, 100, 120 kgf. Para cargas muito altas (acima de 120 kgf), em vez do penetrador de pirâmide de diamante pode-se também usar esferas de aço temperado de 1 ou 2 mm de diâmetro na mesma máquina. Neste caso, o ensaio feito na máquina Vickers é o ensaio de dureza Brinell. - Comparando Brinell e Vickers O ensaio Vickers produz valores de impressão semelhantes aos da dureza Brinell. Isso ocorre porque o ângulo de 136º da ponta de diamante produz uma impressão que mantém a relação ideal de 0,375 entre o diâmetro da calota esférica (d) e o diâmetro da esfera do penetrador Brinell (D), seja qual for a carga aplicada. É isso o que mostra o desenho abaixo. O uso de cargas diferentes é necessário para se obter uma impressão regular, sem deformação e de tamanho compatível com o visor da máquina. - Vantagens e limitações: • O ensaio Vickers fornece uma escala contínua de dureza, medindo todas as gamas de valores de dureza numa única escala. • As impressões são extremamente pequenas e, na maioria dos casos, não inutilizam as peças, mesmo as acabadas. • O penetrador, por ser de diamante, é praticamente indeformável. • Este ensaio aplica-se a materiais de qualquer espessura, e pode também ser usado para medir durezas superficiais. • Por outro lado, devem-se tomar cuidados especiais para evitar erros de medida ou de aplicação de carga, que alteram muito os valores reais de dureza. • Quando se usam cargas menores do que 300 kgf, pode haver recuperação elástica, dificultando a medida das diagonais. • A máquina de dureza Vickers requer aferição constante, pois qualquer erro na velocidade de aplicação da carga traz grandes diferenças nos valores de dureza. 5.3 - Ensaio de Impacto • Veículos brasileiros têm, em geral, suspensão mais reforçada do que a dos similares europeus. 56 • As condições de nossas estradas e ruas requerem esse reforço, para que os veículos possam enfrentar, com menores riscos de quebra, os choques provocados pelos buracos e outras irregularidades do asfalto ou do terreno. O ensaio de impacto se caracteriza por submeter o corpo ensaiado a uma força brusca e repentina, que deve rompê-lo. Imagine outra situação: se você colocasse um tijolo de barro, desses comuns, sobre uma mesa com tampo de vidro, com exceção da sujeira, nada mais aconteceria. O vidro suportaria sem problemas a força equivalente ao peso do tijolo. Mas o que ocorreria se o mesmo tijolo despencasse de uma altura de 2 metros sobre a mesa de vidro? Um desastre... A diferença está na velocidade de aplicação da força, ou seja, no impacto do tijolo contra o tampo da mesa. A maioria dos ensaios que estudamos não avalia o comportamento dos materiais submetidos a esforços dinâmicos. No caso da fadiga, embora os esforços sejam dinâmicos, o ensaio correspondente leva mais em conta o fato de serem cíclicos. Porém, a maioria das máquinas e equipamentos, quando em funcionamento, está submetida a esforços dinâmicos. - Fratura frágil As fraturas produzidas por impacto podem ser frágeis ou dúcteis. As fraturas frágeis caracterizam-se pelo aspecto cristalino e as fraturas dúcteis apresentam aparência fibrosa. Os materiais frágeis rompem-se sem nenhuma deformação plástica, de forma brusca. Por isso, esses materiais não podem ser utilizados em aplicações nas quais sejam comuns esforços bruscos, como em eixos de máquinas, bielas etc. Para estas aplicações são desejáveis materiais que tenham capacidade de absorver energia e dissipá-la, para que a ruptura não aconteça, ou seja, materiais que apresentem tenacidade. Esta propriedade está relacionada com a fase plástica dos materiais e por isso se utilizam as ligas metálicas dúcteis neste tipo de aplicação. Porém, mesmo utilizando ligas dúcteis, com resistência suficiente para suportar uma determinada aplicação, verificou-se na prática que um material dúctil pode romper-se de forma frágil. - Fatores que influenciam o comportamento frágil dos materiais dúcteis Um material dúctil pode romper-se sem deformação plástica apreciável, ou seja, de maneira frágil, quando as condições abaixo estiverem presentes: · velocidade de aplicação da carga suficientemente alta; · trinca ou entalhe no material; · temperatura de uso do material suficientemente baixa. Alguns materiais são mais afetados pela velocidade alta do choque, apresentando uma sensibilidade que é chamada sensibilidade à velocidade. 57 Uma trinca promove concentração de tensões muito elevadas, o que faz com que a maior parte da energia produzida pela ação do golpe seja concentrada numa região localizada da peça, com a conseqüente formação da fratura frágil. A existência de uma trinca, por menor que seja, muda substancialmente o comportamento do material dúctil. Esta característica do material dúctil, de comportar-se como frágil devido à trinca, é freqüentemente chamada de sensibilidade ao entalhe. A temperatura tem um efeito muito acentuado na resistência dos metais ao choque, ao contrário do que ocorre na resistência estática. - Descrição do ensaio de impacto Um dos ensaios que permitem estudar os efeitos das cargas dinâmicas é o ensaio de impacto. Este ensaio é usado para medir a tendência de um metal de se comportar de maneira frágil. O choque ou impacto representa um esforço de natureza dinâmica, porque a carga é aplicada repentina e bruscamente. No impacto, não é só a força aplicada que conta. Outro fator é a velocidade de aplicação da força. Força associada com velocidade traduz-se em energia. O ensaio de impacto consiste em medir a quantidade de energia absorvida por uma amostra do material, quando submetida à ação de um esforço de choque de valor conhecido. O método mais comum para ensaiar metais é o do golpe, desferido por um peso em oscilação. A máquina correspondente é o martelo pendular. O pêndulo é levado a uma certa posição, onde adquire uma energia inicial. Ao cair, ele encontra no seu percurso o corpo de prova, que se rompe. A sua trajetória continua até certa altura, que corresponde à posição final, onde o pênduloapresenta uma energia final. A diferença entre as energias inicial e final corresponde à energia absorvida pelo material. De acordo com o Sistema Internacional de Unidades (SI), a unidade de energia adotada é o joule. Em máquinas mais antigas, a unidade de energia pode ser dada em kgf · m, kgf · cm ou kgf · mm. 58 A máquina é dotada de uma escala, que indica a posição do pêndulo, e é calibrada de modo a indicar a energia potencial. A fórmula para o cálculo da energia potencial (Ep) é: Ep = m x g x h onde: m = massa g = aceleração da gravidade h = altura No ensaio de impacto, a massa do martelo e a aceleração da gravidade são conhecidas. A altura inicial também é conhecida. A única variável desconhecida é a altura final, que é obtida pelo ensaio. - Corpos de prova Nos ensaios de impacto, utilizam-se duas classes de corpos de prova com entalhe: o Charpy e o Izod. Os corpos de prova Charpy compreendem três subtipos (A, B e C), de acordo com a forma do entalhe. A figura a seguir mostra as formas e dimensões desses três tipos de corpos de prova e dos respectivos entalhes. As diferentes formas de entalhe são necessárias para assegurar que haja ruptura do corpo de prova, mesmo nos materiais mais dúcteis. Quando a queda do martelo não provoca a ruptura do corpo de prova, o ensaio deve ser repetido com outro tipo de corpo de prova, que apresente entalhe mais severo, de modo a garantir a ruptura. Dos três tipos apresentados, o C é o que apresenta maior área de entalhe, ou seja, o entalhe mais severo. 59 O corpo de prova Izod tem a mesma forma de entalhe do Charpy tipo A, localizada em posição diferente (não centralizada). O corpo de prova Charpy é apoiado na máquina e o Izod é engastado, o que justifica seu maior comprimento. Corpos de prova de ferro fundido e ligas não ferrosas fundidas sob pressão não apresentam entalhe. A única diferença entre o ensaio Charpy e o Izod é que no Charpy o golpe é desferido na face oposta ao entalhe e no Izod é desferido no mesmo lado do entalhe. A energia medida é um valor relativo e serve apenas para comparar resultados obtidos nas mesmas condições de ensaio. Isso explica por que os resultados desse ensaio não têm aplicação nos cálculos de projetos de engenharia. Mesmo tomando-se todos os cuidados para controlar a realização do ensaio, os resultados obtidos com vários corpos de prova de um mesmo metal são bastante diversos. Para chegar a conclusões confiáveis a respeito do material ensaiado, é recomendável fazer o ensaio em pelo menos três corpos de prova. Em condições de temperatura diversas da temperatura ambiente, os resultados deste ensaio variam sensivelmente. 60 5.4 - Ensaio de Fluência • É o fenômeno de deformação plástica, lenta e progressiva das ligas metálicas, que ocorre, a medida que a temperatura aumenta, sob carga constante. • De um modo geral, a fluência é definida como a deformação crescente, com o tempo, sob carga constante. • As variáveis que estão em jogo são: - Tensão - Deformação - Tempo - Temperatura Sabemos que todo corpo submetido a um esforço mecânico sofre uma deformação elástica antes de apresentar deformação plástica ou de se romper. Há sempre uma quantidade de esforço que não produz deformação permanente. Se o esforço é aliviado neste estágio, as dimensões da peça voltam ao original. Mas será que isso significa que um produto construído para suportar um esforço estático abaixo de seu limite elástico vai durar para sempre? A resposta é não! No estudo da fluência, três aspectos devem ser ressaltados de início: - Deformação total por fluência, num dado tempo, que inclui deformação plástica devido a carga e deformação plástica mais lenta, durante o fenômeno; - Velocidade de fluência, sob condições estáveis; - Tempo até a ruptura. Existem metais que exibem o fenômeno de fluência mesmo à temperatura ambiente, enquanto outros resistem a essa deformação mesmo a temperatura elevadas. A necessidade de testar novos materiais, expostos a altas temperaturas ao longo do tempo, define a importância deste ensaio. - Equipamento para ensaio de fluência Na maioria dos casos, avalia-se a fluência de um material submetendo-o ao esforço de tração. Os corpos de prova utilizados nos ensaios de fluência são semelhantes aos do ensaio de tração. O equipamento para a realização deste ensaio permite aplicar uma carga de tração constante ao corpo de prova. O corpo de prova fica dentro de um forno elétrico, de temperatura constante e controlável. Um extensômetro é acoplado ao equipamento, para medir a deformação em função do tempo. 61 Gráfico relativo a deformação por fluência em função do tempo a temperatura constante: São notados três estágios: - Estágio I → fluência primária ou transitória → de 0 a t1 - Estágio II → fluência secundária ou constante → de t1 a t3 - Estágio III → fluência terciária, até a ruptura → de t3 a t4 O terceiro estágio, dependendo da carga e da temperatura, nem sempre se faz presente. No estágio primário, a velocidade de fluência é rápida, até atingir o estágio secundário, quando decresce, para novamente aumentar a uma velocidade cada vez maior, até que ocorra a fratura. A fratura típica de fluência é intercristalina, ou seja, no interior dos grãos. A fluência ocorre devido à movimentação de falhas, que sempre existem na estrutura cristalina dos metais. Não haveria fluência se estas falhas não existissem. A temperatura aumenta a velocidade de fluência, pois facilita o escorregamento de planos: a mobilidade dos átomos aumenta, as discordâncias adquirem igualmente maior mobilidade, e novos mecanismos de deformação intervêm. 62 O início da fratura sob fluência ocorre no contorno do grão, pelo aparecimento de pequenas cavidades que, com o tempo, crescem e se aglutinam, formando uma fratura que leva a ruptura. As primeiras fissuras são produzidas nos contornos de grãos, e se originam por deslizamento ao longo dos contornos de grãos, o que produz uma concentração de tensão no ponto O da figura. A temperatura em que ocorre a inversão do comportamento do contorno de grão, no sentido de facilitar o movimento das discordâncias e para a qual a fratura muda de “intra” para “intergranular” ou “intercristalina”, é chamada temperatura “equicoesiva”. Para aços de baixo carbono, essa temperatura é da ordem de 450º C. Abaixo da temperatura equicoesiva pode ocorrer um endurecimento causado pela deformação (encruamento). No caso desse encruamento tornar-se predominante, o segundo estágio da fluência torna-se uma linha horizontal. A temperaturas superiores a equicoesiva, a velocidade de escorregamento sobrepuja o efeito do encruamento e a fluência tem continuidade, mesmo sob baixas tensões. - Influência da temperatura Nos ensaios de fluência, o controle da temperatura é muito importante. Verificou-se que pequenas variações de temperatura podem causar significativas alterações na velocidade de fluência. Exemplo disso é o aço carbono submetido ao ensaio de fluência, a uma tensão de 3,5 kgf/mm2, durante 1.000 horas: à temperatura de 500ºC, apresentou uma deformação de 0,04% e à temperatura de 540ºC apresentou uma deformação de 4%. Imagine a importância desta característica para os foguetes, aviões a jato, instalações de refinarias de petróleo, equipamentos de indústria química, instalações nucleares, cabos de alta tensão etc., nos quais os esforços são grandes e as temperaturas de trabalho oscilam em torno de 1.000ºC. - Resistência a fluência É a tensão a uma dada temperatura que produz uma velocidade mínima de deformação de determinado valor. O ensaio de resistência a fluência fornece dados que são lançados num gráfico log-log relacionando tensão e velocidade mínima de fluência. Obtém-se linhas retas. 63 Esseensaio é geralmente realizado sob tensões baixas para evitar o estágio terciário e raramente o tempo de ensaio chega a 10.000 horas (cerca de 1,1 ano). Às vezes, quando não é possível esperar muito tempo, utilizam-se extrapolações, isto é, o ensaio é feito durante um tempo mais curto e, a partir da deformação obtida nesse intervalo, estima-se o comportamento do material por um tempo mais longo (vida útil do produto) e avalia-se a quantidade de deformação esperada ao longo deste tempo. - Resistência a ruptura por fluência Corresponde a tensão que, a uma certa temperatura, é necessária para produzir um tempo para ruptura, geralmente 100, 1.000 ou 10.000 horas. O ensaio é semelhante ao de resistência à fluência, com a diferença que é levado até a ruptura do material. Nele, empregam-se cargas maiores, resultando maiores velocidades de fluência. Esse ensaio geralmente não supera um tempo de 1.000 horas. O dado básico que se obtém nesse ensaio “tempo necessário para causar ruptura, sob a ação de uma determinada tensão, a uma temperatura constante”. Esse ensaio é realizado quando se deseja avaliar o comportamento de um material para emprego em condições de vida relativamente curta. Por isso, fornece informações mais úteis que as curvas comuns de fluência. Gráfico tensão – tempo de ruptura em escala logarítmica As linhas obtidas são geralmente retas. Quando há mudança de inclinação, esta deve-se ao fato de terem ocorrido fenômenos estruturais no material, como mudança de fratura transgranular para intergranular, oxidação, recristalização, crescimento de grão, etc. - Ensaio de relaxação Na sua forma mais simples, o ensaio de relaxação é feito mantendo a deformação constante, por meio da redução da tensão aplicada ao corpo de prova ao longo do tempo. O resultado é justamente a queda da tensão ao longo do tempo, que mantém a velocidade de deformação constante, num dado valor. Produz dados sobre velocidade de fluência/tensão numa gama variada de velocidades, com apenas um corpo de prova. 64 A maioria dos ensaios de relaxação duram de 1.000 a 2.000 horas. Os resultados não têm relação direta com aplicação prática e são extrapolados empiricamente para situações reais. A principal desvantagem deste ensaio prende-se às exigências do equipamento, cujo sistema de medição de força deve permitir medições precisas de pequenas variações de carga ao longo do tempo. - Considerações finais sobre o ensaio de fluência Nos últimos anos, muitas ligas metálicas especiais têm sido desenvolvidas para suportar as condições de serviço que caracterizam a fluência, em componentes de aviões a jato, turbinas a gás, mísseis, foguetes e reatores nucleares. O estudo da fluência tem sido baseado em tensões de tração. Contudo, outros tipos de tensões devem ser considerados, como de dobramento, compressão, torção, além da presença de esforços combinados. A determinação das propriedades de fluência é essencial para uma mais adequada seleção das ligas a serem empregadas a temperaturas acima da ambiente. 5.5 - Ensaio de Fadiga • Em condições normais de uso, os produtos devem sofrer esforços abaixo do limite de proporcionalidade, ou limite elástico, que corresponde à tensão máxima que o material pode suportar. • Em geral, os fabricantes especificam o produto para suportar esforços acima desse limite, ensaiam os materiais, controlam o processo de produção e tomam todos os cuidados para que o produto não apresente qualquer problema. • Apesar de todas essas precauções, é possível que, após algum tempo de uso normal, de repente, sem aviso prévio e sem motivo aparente, o produto simplesmente venha a falhar, deixando o usuário na mão. • Essa falha é típica de um fenômeno chamado fadiga. • O ensaio de resistência à fadiga é um meio de especificar limites de tensão e de tempo de uso de uma peça ou elemento de máquina. É utilizado também para definir aplicações de materiais. • É sempre preferível ensaiar a própria peça, feita em condições normais de produção. Molas, barras de torção, rodas de automóveis, pontas de eixo etc. são exemplos de produtos normalmente submetidos a ensaio de fadiga. • Quando não é possível o ensaio no próprio produto, ou se deseja comparar materiais, o ensaio é feito em corpos de prova padronizados. - Definição: Fadiga é a ruptura de componentes, sob uma carga bem inferior à carga máxima suportada pelo material, devido a solicitações cíclicas repetidas. - Mecanismo: A ruptura por fadiga começa a partir de uma trinca (nucleação) ou pequena falha superficial, que se propaga ampliando seu tamanho, devido às solicitações cíclicas. Quando a trinca aumenta de tamanho, o suficiente para que o restante do material 65 não suporte mais o esforço que está sendo aplicado, a peça se rompe repentinamente. A fratura por fadiga é típica: geralmente apresenta-se fibrosa na região da propagação da trinca e cristalina na região da ruptura repentina. A estrutura metálica é constituída de um conjunto de cristais com orientações a esmo. Numa peça sob tensão, alguns cristais podem atingir e ultrapassar seu limite elástico antes que outros, devido a orientação que permita o escorregamento de planos cristalográficos. Essa situação é agravada pela aplicação de esforços cíclicos ou repetidos. A falha também pode ser devida ao fato da distribuição de tensões de um cristal a outro não ser uniforme. Essas anomalias, mais a existência dos pontos “origem de tensões” e outros fatores, desde que aliados a existência de esforços alternados e repetidos, podem conduzir a formação de pequenas fissuras as quais, com as sucessivas tensões repetidas, se desenvolvem com o tempo, a partir dos núcleos onde surgiram, atingindo toda a seção. Mudanças bruscas de seções, como riscos superficiais, pequenas inclusões, pequenas bolhas de gás, seções de roscas e outros tipos de defeitos, induzem ao aparecimento de tensões localizadas. O início da fratura é geralmente precedido por faixas de escorregamento. O aparecimento dessas faixas leva a um escorregamento mais concentrado e direcional que nos casos de esforços normais. Produz ainda um efeito de movimentação de discordâncias, em planos adjacentes e próximos a superfície do material. O fenômeno resultante é mostrado na figura abaixo: Escorregamento devido a ação estática (a) ; Formação de reentrâncias (b) ou saliências (c) devido ao movimento de vaivém. Você pode observar aproximadamente o que acontece na fadiga, dobrando repetidamente um pedaço de arame de aço. Após dobrar algumas vezes, se você observar atentamente, notará algumas pequenas trincas. Se continuar dobrando, observará que a trinca aumenta de tamanho até ocorrer a ruptura do arame. O estudo da fadiga é importante porque a grande maioria das falhas de componentes de máquinas, em serviço, se deve à fadiga. E a ruptura por fadiga ocorre sem nenhum aviso prévio, ou seja, num dado momento a máquina está funcionando perfeitamente e, no instante seguinte, ela falha. - Tensões cíclicas Na definição de fadiga, destacou-se que ela se deve a esforços cíclicos repetidos. De maneira geral, peças sujeitas a fadiga estão submetidas a esforços que se repetem com regularidade. Trata-se das tensões cíclicas. - Tipos de ensaio de fadiga 66 Os aparelhos de ensaio de fadiga são constituídos por um sistema de aplicação de cargas, que permite alterar a intensidade e o sentido do esforço, e por um contador de número de ciclos. O teste é interrompido assim que o corpo de prova se rompe. O ensaio é realizado de diversas maneiras, de acordo com o tipo de solicitação que se deseja aplicar: - torção; - tração-compressão; - flexão; - flexão rotativa. O ensaio mais usual, realizado em corpos de prova extraídos de barras ou perfis metálicos, é o de flexão rotativa. Este ensaio consiste em submeter um corpo de prova a solicitações de flexão, enquantoo mesmo é girado em torno de um eixo, por um sistema motriz com contagiros, numa rotação determinada e constante. - Curva S-N Os resultados do ensaio de fadiga geralmente são apresentados numa curva tensão- número de ciclos, ou simplesmente curva S-N. O S vem da palavra inglesa stress, que quer dizer “tensão”, e N representa o número de ciclos. 67 Supondo que, para uma certa solicitação de flexão S1 o corpo de prova se rompa em um certo número de ciclos N1, e para uma solicitação S2 se rompa em N2 ciclos, e assim por diante, pode-se construir o diagrama S-N, com a tensão no eixo das ordenadas e o número de ciclos no eixo das abscissas. Observando a curva obtida, nota-se que, à medida que se diminui a tensão aplicada, o corpo de prova resiste a um maior número de ciclos. Nota-se, também, que diminuindo a tensão a partir de um certo nível - em que a curva se torna horizontal - o número de ciclos para o rompimento do corpo de prova torna-se praticamente infinito. Esta tensão máxima, que praticamente não provoca mais a fratura por fadiga, chama-se limite de fadiga ou resistência à fadiga do metal considerado. Para a maioria dos materiais, especialmente os metais não ferrosos como o alumínio, a curva obtida no diagrama S-N é decrescente. Portanto, é necessário definir um número de ciclos para obter a correspondente tensão, que será chamada de resistência à fadiga. - Fatores que influenciam a resistência à fadiga Uma superfície mal acabada contém irregularidades que, como se fossem um entalhe, aumentam a concentração de tensões, resultando em tensões residuais que tendem a diminuir a resistência à fadiga. Defeitos superficiais causados por polimento (queima superficial de carbono nos aços, recozimento superficial, trincas etc.) também diminuem a resistência à fadiga. Tratamentos superficiais (cromeação, niquelação etc.) diminuem a resistência à fadiga, por introduzirem grandes mudanças nas tensões residuais, além de conferirem porosidade ao metal. Por outro lado, tratamentos superficiais endurecedores podem aumentar a resistência à fadiga. O tratamento térmico adequado aumenta não somente a resistência estática, como também o limite de fadiga. O encruamento dos aços dúcteis aumenta o limite de fadiga. O meio ambiente também influencia consideravelmente o limite de fadiga, pois a ação corrosiva de um meio químico acelera a velocidade de propagação da trinca. 68 A forma é um fator crítico, porque a resistência à fadiga é grandemente afetada por descontinuidades nas peças, como cantos vivos, encontros de paredes, mudança brusca de seções. - Como melhorar a resistência a fadiga - Sempre que possível, deve-se evitar a concentração de tensões. Por exemplo, um rasgo de chaveta num eixo é um elemento que concentra tensão e, conseqüentemente, diminui a resistência à fadiga. - Os projetos devem prever tensões contrárias favoráveis (opostas às tensões principais aplicadas), por meio de processos mecânicos, térmicos ou similares. Uma compensação deste tipo é encontrada em amortecedores de vibrações de motores a explosão. - Defeitos metalúrgicos como inclusões, poros, pontos moles etc. devem ser eliminados. - Deve-se selecionar os materiais metálicos de acordo com o ciclo de tensões: para aplicações com baixas tensões cíclicas, onde a deformação pode ser facilmente controlada, deve-se dar preferência a ligas de alta ductilidade. Para aplicações com elevadas tensões cíclicas, envolvendo deformações cíclicas predominantemente elásticas, deve-se preferir ligas de maior resistência mecânica. - Microestruturas estáveis, isto é, que não sofrem alterações espontâneas ao longo do tempo, apresentam maior resistência à fadiga. - Evitar concentração de tensões, sempre que possível. - Introduzir tensões de compressão residuais favoráveis, por meio de processos mecânicos, térmicos - Eliminar defeitos metalúrgicos (inclusões, poros, pontos moles). - Introduzir elementos de liga que reduzam a formação de saliências e reentrâncias resultantes da movimentação de discordâncias e escorregamento. - Por fim, a indústria tem que se preocupar com a fadiga antes de lançar o produto no mercado, pois este ensaio fornece informações que afetam diretamente a segurança do consumidor. 69 Capítulo 6 - Materiais Metálicos Não Ferrosos 6.1 - Alumínio e Suas Ligas O alumínio metálico é obtido pela redução eletrolítica da alumina (Al2O3) dissolvida em criolita líquida. As primeiras aplicações do alumínio foram objetos de decoração como molduras de espelhos, travessas e utensílios domésticos. Com o tempo, cresceu a diversidade das aplicações do alumínio, de maneira que, praticamente, todos os aspectos da vida moderna são afetados diretamente ou indiretamente pelo seu uso. Recentemente, verificou-se que os maiores mercados para as ligas de alumínio são: • Embalagens para alimentos e medicamentos - 34%; • Indústria automobilística e de transportes - 21%; • Construção civil (fachadas, pontes, tanques de estocagem) - 17%; • Cabos e componentes elétricos - 9%; • Bens duráveis - 8%; • Indústria de equipamentos e maquinaria - 7% e • Outros - 4%. Principais características do Alumínio: - Baixo peso; - Excelente condutividades elétrica e térmica, sendo vantajoso seu emprego em trocadores de calor, evaporadores, aquecedores, cilindros e radiadores automotivos; - Resistente à corrosão atmosférica, à corrosão em meio aquoso (inclusive água salgada), à óleos e diversos produtos solventes; - Ductilidade elevada (estrutura CFC) permitindo conformação de componentes com elevados valores de deformação; - Não é ferromagnético (característica importante para aplicações eletroeletrônicas); - Não é tóxico e, portanto, é largamente empregado em embalagens; - A resistência mecânica do alumínio puro é baixa (~90MPa), entretanto, nele, podem ser empregados alguns mecanismos de endurecimento; - A principal limitação do alumínio é a sua baixa temperatura de fusão (660 °C), o que limita a temperatura de trabalho de suas ligas. Tipos de Ligas Os principais elementos de liga das ligas de alumínio incluem combinações dos seguintes elementos: • Cobre (Cu); • Magnésio (Mg); • Silício (Si); • Manganês (Mn) e • Zinco (Zn). 70 De acordo com o produto a ser feito, as ligas de alumínio podem ser divididas em dois grupos: - LIGAS PARA TRABALHO E CONFORMAÇÃO (wrought alloys) – ligas destinadas à fabricação de produtos semi-acabados, como laminados planos (placas, chapas e folhas), laminados não planos (tarugos, barras e arames) perfis extrudados e componentes forjados. - LIGAS PARA FUNDIÇÃO (cast alloys) – ligas destinadas a fabricação de componentes fundidos. Somando-se as ligas conformáveis e as ligas para fundição, existem mais de 600 ligas reconhecidas industrialmente. Estes dois grupos se subdividem em: - LIGAS NÃO-TRATÁVEIS - Não são endurecíveis por meio de tratamento térmico; - LIGAS TRATÁVEIS TERMICAMENTE – São endurecidas por meio de tratamentos térmicos. - Nomenclatura das Ligas Alumínio >99% de pureza 1XXX Cobre 2XXX Manganês 3XXX Silício 4XXX Magnésio 5XXX Magnésio e Silício 6XXX Zinco 7XXX Outros elementos 8XXX APLICAÇÕES DAS LIGAS DE ALUMÍNIO - SÉRIE 1XXX Alumínio comercialmente puro, não ligado, com pureza igual ou superior à 99% de Al. Fe e Si são as principais impurezas. As ligas da série 1000 são caracterizadas pela excelente resistência à corrosão, alta condutibilidade térmica e elétrica, baixa resistência mecânica e elevada ductilidade. Aplicações: • Equipamentosde industria química; • Refletores; • Trocadores de calor; • Condutores elétricos e capacitores; • Embalagens (papel alumínio) e • Painéis decorativos para uso na construção civil. - SÉRIE 2XXX O COBRE é o elemento de liga principal e, na maioria das ligas, o Mg é o elemento de liga secundário. A resistência à corrosão das ligas da série 2xxx é inferior a de outras 71 ligas de alumínio. As ligas desta série apresentam boa usinabilidade e características de soldagem limitadas (exceto a liga 2219). Aplicações: • Componentes com elevada relação resistência/peso, sujeitos a temperaturas inferiores à 130ºC; • Rodas forjadas para a indústria aeronáutica e de caminhões ; • Fuselagem e componentes estruturais de aeronaves; • Componentes de suspensão de automóveis. - LIGAS DE ALUMÍNIO-COBRE-MAGNÉSIO As ligas alumínio – cobre – magnésio endurecidas por precipitação foram as primeiras a serem descobertas. A tabela apresentada abaixo lista as 19 composições químicas e aplicações típicas para as mais importantes ligas de Al-Cu-Mg. - SÉRIE 3XXX O MANGANÊS é o elemento de liga principal. As ligas desta série não são tratáveis termicamente, entretanto, apresentam resistência 20% superior que ligas da série 1xxx. Devido a baixa solubilidade de Mn no Al (de até 1,8%) existem poucas da série 3xxx. Entretanto três delas são largamente empregadas na indústria: 3003, 3004 e 3105. Aplicações: • Componentes de resistência mecânica baixa que exijam elevada ductilidade; • Latas de bebidas; • Utensílios de cozinha; • Trocadores de calor; • Tanques de armazenamento; • Sinalização rodoviária; • Painéis decorativos e telhados para uso na construção civil. - SÉRIE 4XXX O SILÍCIO é o elemento de liga principal. A maior parte das ligas desta série não são tratáveis termicamente. O Si pode ser adicionado para abaixar a temperatura de fusão sem provocar fragilidade excessiva, assim, ligas Al-Si são utilizadas em arames de 72 solda ou como ligas para brazagem de Al (soldagem de Al). A liga 4032 é empregada na fabricação de pistões forjados devido ao baixo coeficiente de expansão e sua alta resistência ao desgaste Ligas contendo entre 4 e 7% de Si apresentam cores que variam do cinza ao negro após serem submetidas a anodização e assim são utilizadas em painéis decorativos na construção civil. Aplicações: • Uso em arquitetura e construção civil; • Fios, arames e pós para brazagem. - SÉRIE 5XXX O MAGNÉSIO é o elemento de liga principal. O Mg é um dos elementos mais efetivos no endurecimento do Al. Quando utilizado como elemento principal ou em conjunto com o Mn, o resultado são ligas não tratáveis com resistência moderada à elevada. O Mg é considerado mais efetivo que o Mn como endurecedor, (0,8% de Mg tem o mesmo efeito sobre a resistência que 1,25% de Mn) e ainda, pode ser adicionado em quantidades elevadas (~15%). Ligas desta série possuem boas características de soldagem e resistência à corrosão em atmosfera marinha. Aplicações: • Uso em arquitetura e decoração; • Embalagens (tampas de latas de Al); • Suportes para iluminação pública; • Peças de barcos e navios; • Tanques para criogenia; • Componentes de guindastes e automotores. - SÉRIE 6XXX O MAGNÉSIO e o SILÍCIO são os elementos de liga principais. A proporção de Mg e Si visa a formação da fase Mg2Si, formando ligas tratáveis termicamente. As ligas da série 6xxx apresentam boa ductilidade, boas características de soldagem e de usinagem e boa resistência à corrosão. As ligas da série 6xxx apresentam boa ductilidade, boas características de soldagem e de usinagem e boa resistência à corrosão. Aplicações: • Uso em arquitetura e decoração; • Quadros de bicicletas; • Estruturas soldadas. - SÉRIE 7XXX O ZINCO é o elemento de liga principal, adicionado em quantidades entre 1 e 8%. Adições em conjunto com Mg resultam em ligas tratáveis termicamente com resistência mecânica elevada. Normalmente, Cu e Cr também são adicionados em pequenas quantidades. 73 Aplicações: • Componentes da indústria aeronáutica como estruturas, peças móveis e componentes de alta resistência. - SÉRIE 8XXX As ligas da série 8xxx envolvem um grande número de composições com uma miscelânea de elementos de liga. As ligas conformadas contendo Li (2,4% a 2,8%) foram desenvolvidas para uso aeroespacial e criogenia. 6.2 - Cobre e Suas Ligas O cobre é normalmente usado em sua forma pura, mas também pode ser combinado com outros metais para produzir uma enorme variedade de ligas. Cada elemento adicionado ao cobre permite obter ligas com diferentes características tais como: maior dureza, resistência a corrosão, resistência mecânica, usinabilidade ou até para obter uma cor especial para combinar com certas aplicações. As principais matérias-primas são o sulfeto de cobre e ferro (CuFeS2) e o sulfeto de cobre (Cu2S). O gráfico abaixo relaciona as ligas do cobre: a) Cobre e Zinco Esta combinação pertence ao grupo dos latões e o conteúdo de zinco varia de 5% a 45%. Esta liga é utilizada em moedas, medalhas, bijuterias, radiadores de automóvel, ferragens, cartuchos, diversos componentes estampados e conformados etc. Ligas de cobre e zinco com pelo menos 50% de cobre são chamadas de “Latão”. b) Cobre e Estanho A combinação destes metais forma o grupo dos bronzes e o conteúdo de estanho pode chegar a 20%. É utilizado em tubos flexíveis, torneiras, varetas de soldagem, válvulas, buchas, engrenagens etc. Os bronzes com 10 % ou mais de estanho são usados em aplicações para mancais, que exigem elevada resistência mecânica para poder suportar pesadas cargas e o desgaste mecânico, o que só é possível devido ao significativo efeito de endurecimento por solução sólida (resistência mecânica). 74 c) Cobre e Alumínio Esta liga normalmente contém mais de 10% de alumínio. É utilizada em peças para embarcações, trocadores de calor, evaporadores, soluções ácidas ou salinas etc. Também chamadasde “Bronze de Alumínio”. d) Cobre e Níquel Esta liga é conhecida como cuproníquel e o conteúdo de níquel pode variar de 10% a 30%. É utilizada em cultivos marinhos, moedas, bijuterias, armações de lentes etc. As ligas que normalmente contém entre 45% a 70% de cobre, e de 10% a 18% de níquel, sendo o restante constituído por zinco, recebem o nome de alpacas. Por sua coloração, estas ligas são facilmente confundidas com a prata. São utilizadas em chaves, equipamentos de telecomunicações, decoração, relojoaria, componentes de aparelhos óticos e fotográficos etc. e) Cobre e Ouro O ouro 18 quilates: mistura de 75% de ouro e 25% de cobre (a quantidade de ouro na liga é indicada em quilates: o ouro puro é o ouro 24 quilates, portanto, quanto mais baixo for o número de quilates, menor será a quantidade de ouro). f) Cobre e Silício Também conhecidas como bronzes de silício, as ligas Cu-Si de interesse industrial contêm de 1 a 4 % de silício e pequenos teores de outros elementos de liga, como o estanho, o zinco, o manganês, o níquel e o ferro. Propriedades do Cobre 1 – Condutividade O cobre proporciona uma maior capacidade de conduzir corrente elétrica para um mesmo diâmetro de fio ou cabo do que qualquer outro metal de engenharia usualmente empregado como condutor elétrico. 2 - Compatível com Conectores e Outros Dispositivos Resistência mecânica, flexibilidade e resistência à corrosão tornam o cobre ideal para ligações a conectores, realização de soldas etc. 3 - Resistência e Ductilidade Esta única combinação faz do cobre o metal ideal para condutores. Normalmente quanto mais resistente é um metal, menos flexibilidade ele terá. Isto não ocorre com o cobre. Assim você terá as vantagens de durabilidade e ductilidade quando especificar o cobre como material condutor. 4 - Fácil de Instalar A resistência, dureza e flexibilidade do condutor de cobre asseguraao mesmo tempo facilidade de manuseio e instalação, reduzindo assim os custos de mão de obra associados. Quando você puxa um condutor de cobre através de um eletroduto, ele resiste ao estiramento e não quebra. Podemos dobrá-lo ou torcê-lo, e ele ainda resiste à quebra. 75 5 - Resiste a Corrosão O cobre puro (>99,9% de cobre), usado em condutores elétricos, é um metal nobre que quando em contato com outros metais (ferro, aço etc.) não está sujeito à corrosão galvânica. Os fios de cobre também resistem à corrosão por umidade, poluição industrial e outras influências atmosféricas que possam causar danos ao sistema. 6 - Econômico Numa primeira avaliação, o condutor de alumínio é algumas vezes mais barato que o condutor de cobre, mas economia não é medida somente pelo custo inicial de aquisição. O custo ao longo do tempo, que inclui ferramentas extras de instalação, procedimentos, materiais, serviços, reparos e potencial para expansão do sistema, deve ser também avaliado. Estes custos normalmente são esquecidos numa primeira avaliação. Então considere todas as questões envolvidas e você descobrirá que o cobre é o condutor mais econômico. Com fios e cabos de cobre você obtém: · Capacidade de corrente superior com menos seções; · Fácil instalação, não necessita de conectores especiais, ferramentas, procedimentos etc; · Maior quantidade de fios por eletroduto; · Elevada resistência ao estiramento, a fluência, a corrosão, a quebra e a diminuição de seção do condutor; · Ausência de manutenção; · Extra proteção contra possíveis problemas durante a operação do sistema. Propriedades das Ligas de Cobre 1 – Bronzes À medida que o teor de estanho aumenta, também aumenta a resistência mecânica da liga até 15 % de estanho, porém a ductilidade diminui sensivelmente, principalmente a partir de 5 % de estanho. Entretanto, as propriedades mecânicas podem ser melhoradas com a adição de até 0,4 % de fósforo, o qual também atua como desoxidante, originando o chamado bronze fosforoso. Outra propriedade importante dos bronzes é a sua elevada resistência á corrosão, o que faz com que muitas de suas aplicações baseiem-se nesta propriedade. Em teores limitados o chumbo pode ser adicionado para melhorar as propriedades antifricção, a usinabilidade e a estanqueidade no caso de peças fundidas, enquanto a adição do zinco é importante para desoxidação (também no caso de peças fundidas) e para melhorar a resistência mecânica. 2 – Cobre e Alumínio A solubilidade máxima do alumínio no cobre é relativamente alta, então, espera-se boa resistência mecânica para as ligas Cu-Al mesmo como soluções sólidas. De fato o alumínio é um eficiente agente de endurecimento e existem duas ligas comerciais, com teores de 5 e 8 % de alumínio, que são soluções sólidas, então seu tratamento térmico resume-se à homogeneização convencional da liga fundida e o recozimento da liga trabalhada. 76 3 – Cobre e Silício A liga Cu-Si com cerca de 1 % de silício e 2 % de estanho possui elevada ductilidade e mantém boa ductilidade mesmo após trabalho mecânico (encruamento, deformação) severo, o que faz com que seja um material adequado para a fabricação de parafusos e porcas, uma vez que suportam bem a estampagem e usinagem mesmo encruado. A adição de silício aumenta a resistência a corrosão, particularmente em meios ácidos, e também melhora a soldabilidade, por permitir a desoxidação do metal fundido durante a operação de soldagem. 4 – Cobre e Zinco (Latão) Um dos principais usos do cobre está na fabricação de peças com formato complexo por deformação mecânica, como no assim chamado processo de embutimento. O latão alia a vantagem de ser facilmente deformado com uma resistência mecânica mais alta do que a do cobre comercialmente puro. Aplicações das Ligas de Cobre 1 – Cobre e Estanho (Bronze) • Liga com 2% Sn - Muito utilizada em aplicações elétricas, como contatos de aparelhos de telecomunicações, molas condutoras, e na construção mecânica em tubos flexíveis, parafusos encabeçados por recalque a frio, rebites e varetas de soldagem. • Liga com 4% Sn - Utilizada em aplicações arquitetônicas como ganchos de chapas de revestimento, em aplicações elétricas como molas, componentes de interruptores, chaves, contatos e tomadas, e na construção mecânica como molas, diafragmas, parafusos encabeçados por recalque a frio, rebites, porcas e escovas metálicas. • Liga com 5% Sn - usada na fabricação de ganchos de chapas de revestimento, tubos para condução de águas ácidas, componentes para a indústria têxtil, química e de papel, molas condutoras e componentes de interruptores e tomadas, molas e diafragmas, parafusos, rebites, porcas, escovas, tubos de manômetros, varetas e eletrodos de soldagem. • Liga com 10% Sn – Usada na construção de instalações da indústria de papel e na fabricação de molas para serviços pesados. 2 – Cobre e Alumínio • Liga com 5% de Al - Utilizada na indústria química, em peças que estão em contato com água, ácidos e soluções salinas, em tubos de condensadores, evaporadores e trocadores de calor, componentes de equipamentos usados na indústria de papel, em caixas d’água e reservatórios. • Liga com 8% de Al - Utilizada na forma de produtos planos e barras em aplicações na indústria química, em autoclaves, instalações criogênicas, recipientes e ganchos para instalações de decapagem, componentes de torres de resfriamento, em instalações para tratamento de esgoto urbano, sendo também usada para a fabricação de moedas e medalhas, eletrodos de soldagem e em componentes usados na indústria naval. 77 3 – Cobre e Silício As principais aplicações das ligas Cu-Si trabalhadas ou fundidas estão na construção de instalações de indústria química e de papel, em tanques, tubulações e cestos de decapagem; na construção mecânica em eletrodos de soldagem, parafusos, porcas, rebites, buchas e ganchos; na construção naval em eixos de hélices e na construção aeronáutica em linhas hidráulicas e de pressão. 4 – Cobre e Zinco (Latão) • Ligas com 5% de Zn - Muito utilizadas na fabricação de moedas, medalhas, emblemas, jóias e placas, sendo também usada como base para aplicação de ouro e de esmaltes vítreos. • Ligas com 10% de Zn - Usadas em arquitetura (ferragens, condutos e peças ornamentais) e na fabricação de objetos decorativos. Além disso, é usada em algumas aplicações específicas na fabricação de munição. • Ligas com 15% de Zn - Fabricação de zíper para vestimentas, muito embora também seja utilizado na fabricação de bijuteria e de alguns componentes eletro- eletrônicos. • Ligas com 20% de Zn - Fabricação de objetos decorativos (estojos e componentes de relógios) obtidos pelos processos de conformação mecânica e brasagem. Reciclagem do Cobre Devido a seu alto valor intrínseco e sua fácil reciclagem, o cobre é o material renovável por excelência. Ao contrário da maioria dos outros materiais, o cobre pode reutilizar-se uma e outra vez. Virtualmente não há limites para a quantidade de vezes que o cobre pode ser reciclado em novos produtos. Estima-se que até 40% da demanda mundial anual de cobre é satisfeita com cobre reciclado. Uso Mundial Estimado de Cobre Refinado e Reciclado Fonte: Relatório Ambiental Outokumpu, 2000, p17 Ano Toneladas de Cobre Refinado Toneladas de Cobre Reciclado 1949 3,0 milhões 1,8 milhões 1959 4,0 milhões 2,5 milhões 1969 7,5 milhões 5,0 milhões 1979 10,0 milhões 5,8 milhões 1989 11,0 milhões 6,5 milhões 1999 14,5 milhões 7,5 milhões