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Fichamento Texto: Caras e modos dos migrantes e imigrantes1. Katherine Lopes Ferreira2 No capítulo 6, intitulado Caras e Modos dos migrantes e imigrantes, Luiz Felipe de Alencastro e Maria Luiza Renaux tratam o tema imigração e migração, no período pós fim do tráfico de escravos, momento que surge um projeto de trazer para o Brasil, imigrantes com duas finalidades, uma de resolver a deficiência da mão-de-obra e outra para formar uma nação de povos brancos, através da miscigenação, e assim “qualificados” para a nação, como uma espécie de ato civilizatório. Revelam detalhes sobre estes imigrantes, que vão desde a sua naturalidade, até a maneira como se adaptaram a um país diferente e como introduziram seus costumes e hábitos alimentares, bem como as suas práticas sociais e religiosas no Brasil. O autor Luiz Felipe de Alencastro é que trata a primeira parte do texto. O chinês Indolente • “Na câmara, um deputado havia declarado: “quando procurávamos escoimar a nossa civilização da barbárie africana, [vamos] colonizar o império como indolente asiático, escravo da rotina e da superstição.” (pp.296) • “Para o jornal governista, o atraso na agricultura devia-se aos africanos. Só colonos europeus poderiam regenerá-la.” (pp.297) Foram os chineses os primeiros imigrantes a vir para o Brasil, mas estes não eram bem quistos pelo governo e sua ideologia da embranquecimento, já que os chineses eram tidos como povos inferiores, os amarelos. Colonos luxuosamente vorazes • “O fazendeiro protestou, alegando que os imigrantes “luxuosamente vorazes, começaram a exigir maior soma de alimentos [...] pretendendo igualmente que o proprietário os tratasse com iguarias delicadas e bebidas alcoólicas.” (pp.301) 1 ALENCASTRO, Luiz Felipe., & RENAUX, Maria Luiza. Caras e modos dos migrantes e imigrantes. In: História da vida privada no Brasil: Império, A corte e a modernidade nacional. Coord. Geral da Coleção: Fernando Novais. 9ª Reimpressão, Vol. 2. São Paulo - SP, Cia. das Letras, 2008. (pp. 292- 335). 2 Discente do curso de Licenciatura em Ciências Sociais do Instituto Federal de Goiás, Câmpus Formosa. Fichamento elaborada como requisito parcial de avaliação da disciplina de História Social e Politica do Brasil II, ministrada ao 4º período noturno, sob a orientação do Prof. Ms. Gabriel de Paula. • “(...) de maneira organizada, na fazenda Martin de Sá, um fenômeno tão extravagante que nem tinha nome, o pacto rebelde dos colonos alemães, tachado pelo fazendeiro de “pacto de ociosidade”: a greve de trabalhadores rurais.” (pp.301) Esses grupos de trabalhadores livres estrangeiros nas fazendas, apresentou, desde o início vários problemas além do próprio choque social. Por um lado, fazendeiros acostumados a proporcionar péssimas condições de trabalho, por outro, imigrantes, que embarcaram convencidos por uma ilusão de enriquecimento. O pão “Alimento de primeira necessidade” • “(...) a influência dos modos de vida e dos hábitos alimentares e culturais europeus será propagada pelos núcleos coloniais, e não pelos trabalhadores estrangeiros diretamente incorporado ao eito das fazendas.” (pp.303) • “(...) o pão incorporou-se definitivamente às mesas brasileiras, mudando os hábitos nutritivos do país. (...) Os vetores principais dessa mudança nos hábitos alimentares foram os imigrantes portugueses, consumidores e fabricantes de pães” (pp 304) O choque cultural, por sua vez não causaram menor impacto na vida desses imigrantes. Para os fazendeiros, seus hábitos alimentares e seus desejos por determinadas bebidas alcoólicas, parecia uma afronta. Celibato forçado dos comerciantes estrangeiros • “Se o comerciante estrangeiro tivesse filhos no Brasil, os juízes de órfãos, numa interpretação nacionalista dos interesses das crianças, incorporavam os bens sob a guarda dos pais à herança do menor. (...) recebiam das matrizes ordens para se cuidas, retirando-se dos portos do império nos períodos de epidemias. Recebiam também instruções para não casar nem ter filhos com brasileiras.” (pp.306) Os comerciantes se viam nessa situação de “celibato forçado” pois tinham o receio de que ao se casarem e terem filhos, em caso de morte seus bens não serem herdados pelos familiares em seus países de origem. A imigração portuguesa • “Em alguns momentos a lusofobia atingiu as raias do delírio psicanalítico. O português aparecendo como o grande estuprador da ex-colônia, que ameaçava até a virilidade dos brasileiros. ” (pp.309) Os portugueses que aqui ficaram, após a independência, nacionalizaram-se brasileiros, criando um estereótipo negativo contra os imigrantes portugueses que aqui chegavam, disseminando um pavor geral contra portugueses, como uma forma de negação ao seu antigo eu. A descoberta do proletariado europeu • “(...) o levante místico, até então restrito as antigas áreas de colonização afro-luso-brasileira do Nordeste e, por isso mesmo, atribuída a instabilidade psicológica dos mestiços, irrompia no seio da comunidade imigrante mais prestigiada pela administração imperial.” (pp. 312) • “Todos esses incidentes com os imigrantes estrangeiros levam a classe dirigente brasileira a reelaborar sua própria visão do país. Os imigrantes aqui chegados, não aceitavam serem tratados como escravos, nem se quer se misturar a eles, isso ligado as más condições de trabalho, resultou em várias revoltas. Gente e números • “(...) 5 milhões de europeus, levantinos e asiáticos entram no território brasileiro entre 1850 e 1950.” (pp.314) • “(...) no senso de 1872, africanos, portugueses e alemães ocupavam as três primeiras posições no contingente estrangeiro. Nessa altura, os italianos totalizavam apenas 6 mil pessoas. (...) em 1887 desembarcam 32 mil imigrantes e, em 1888 com a abolição já concluída, essa cifra salta para 92 mil.” (pp.314) Aqui, Luiz Felipe de Alencastro apresenta alguns dos números da imigração brasileira. As falsas Europas: Colônias alemãs no sul do império Deste ponto em diante Maria Luiza Renaux assume o texto tratando das colônias alemãs. A reconstrução das tradições • “De fato boa parte do contingente de 350 mil alemães que chegou ao império a partir de 1824, (...) não tinham a mesma procedência regional, nem os mesmos hábitos.” (pp.317) • “(...) tornava alguém sem terra o mesmo que alguém sem pátria, com a consequente condição de desgarramento ou ausência de sentimento comunitário.” (pp.318) A travessia marítima apresentava uma nova situação a esses povos, o isolamento, que trazia consigo a perca de suas identidades sociais, deixando de possuir uma ideia de pátria. Hermann Hering “Condes e barões, mendigos e vagabundos não existem em nossa colônia” • “Condes, barões, mendigos e vagabundos da Alemanha são nivelados a uma mesma categoria de perturbadores da ordem comunitária, ordem que se tentava recriar, no sul do império.” (pp. 321) Os imigrantes alemães vieram com o anseio de não terem que trabalhar para terceiros, eles acreditavam que conquistariam uma autonomia econômica. Tentaram recriar aqui as condições de sua vida anterior. A solidão das mulheres • “Ficou a recordação de uma forte saudade da velha pátria e não raramente levam a vida deprimidas até a morte.” (pp. 324) As mulheres imigrantes, sofriam com a diferença cultural e sobre tudo com a falta de contato social, o que as deprimiam e eventualmente as levavam a morte. A leitura nos bosques • “As primeiras associações foram as das escolas, igrejas, destacando se também as destinadas a promover o convívio social.” (pp.326) • “Como a maioria deles eram de fé luterana, foram luteranas as primeiras comunidades religiosas a formar-se nas colônias do Sul.” (pp. 326) Dos alemães que chegaram em 1852 no Rio Grade do Sul, chegaram muitos intelectuais, professores e jornalistas. Essesimigrantes se uniam em séries de associações que foram criadas com o objetivo de manter seus costumes. A leitura da bíblia e a privacidade • “Todas essas práticas religiosas nas colônias alemãs levaram o protestantismo a ser fator de preservação da cultura germânica no exterior.” (pp. 329) • “As mulheres e os homens participavam ativamente dos cultos religiosos e do cotidiano eclesiástico. ” (pp.330) • “O cooperativismo desenvolvido entre os imigrantes, manifestou-se no plano econômico, aqui entendido como expressão da vida privada pelo simples fato de os colonos terem sido entregues à própria sorte depois de instalados em seus lotes de terra. ” (pp.331) Enquanto as famílias brasileiras usavam a bíblia, quase como uma agenda velha, deixada no canto com a finalidade única de se anotar determinadas datas, notava-se que o principal livro de leitura nas escolas dos imigrantes, era a bíblia. Maneira de educar • “O segundo pilar em que repousavam as colônias alemãs era a escola” (pp.332) • “(...) o livro, portanto, a escrita era uma maneira de manter viva a unidade cultural germânica. ” (pp.332) • “Os imigrantes implantaram a escola em casa, daí nascendo as escolas comunitárias, nas quais em geral o professor era escolhido entre os próprios colonos. ” (pp.332) • “As cartilhas escolares, deixavam claro que o que se queria promover nas escolas era a consciência de uma comunidade nacional alemã, ao mesmo tempo que da cidadania brasileira, afirmando-se com isso a inclusão da população de origem alemã no Estado brasileiro.” (pp.333) Os alemães conseguiram formular um método de educação que favoreceu a formação de uma nova ideia de comunidade, de pertencimento, sem abandonar, o aprendizado trazido de sua pátria-mãe. Conclusão Hoje, vemos que os imigrantes supriram a mão de obra a qual se destinavam, mas o fizeram com organização e se organizando, partiu desses trabalhadores os primeiros sindicatos brasileiros, por tanto, em muito contribuíram para a construção de direitos do Brasil. No Sul, vimos que lutaram contra a perca de suas identidades culturais, atribuindo-as à cultura brasileira. Quanto aos ideais do Estado acerca do ato civilizatório, os imigrantes alemães do Sul do império, contribuíram bastante com a ideia da construção vida privada, muito mais por conta do protestantismo, ainda assim, no que trata da política de embranquecimento, não obteve êxito algum.