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ECONOMIA MARXISTA I Variação de grandeza do preço da força de trabalho e da mais-valia (Livro I, cap. 15) Apresentação do problema “Suponha que: 1) as mercadorias sejam vendidas por seu valor; 2) o preço da força de trabalho suba eventualmente acima de seu valor, porém jamais caia abaixo dele. “Isso suposto, vimos que as grandezas relativas do preço da força de trabalho e do mais-valor estão condicionadas por três circunstâncias: 1) a duração da jornada de trabalho ou a grandeza extensiva do trabalho; 2) a intensidade normal do trabalho ou sua grandeza intensiva, de modo que determinada quantidade de trabalho é gasta num tempo determinado; 3) finalmente, a força produtiva do trabalho, de forma que, dependendo do grau de desenvolvimento das condições de produção, a mesma quantidade de trabalho fornece uma quantidade maior ou menor de produto no mesmo tempo.” (I, p. 587) I. Grandeza da jornada de trabalho e intensidade do trabalho constantes (dadas); força produtiva do trabalho variável JT vn total Q π vn unit. 1 12h 6 12 1 0,50 2 12h 6 18 1,5 0,33 3 12h 6 9 0,75 0,67 JT = jornada de trabalho vn = valor novo Q = quantidade produzida π = produtividade do trabalho “Sob esse pressuposto, o valor da força de trabalho e o mais-valor são determinados por três leis.” (I, p. 588) “Primeira lei : a jornada de trabalho de grandeza dada representa-se sempre no mesmo produto de valor, seja qual for a variação da produtividade do trabalho, a correspondente massa de produtos e, portanto, o preço da mercadoria individual.” (I, p. 588) “Segunda lei: o valor da força de trabalho e o mais-valor variam em sentido inverso. Variando a força produtiva do trabalho, seu aumento ou diminuição atuam em sentido inverso sobre o valor da força de trabalho e em sentido direto sobre o mais-valor.” (I, p. 588) JT vn total Q π vn unit. vft TN m MT m’ 1 12h 6 12 1 0,50 3 6h 3 6h 100% 2 12h 6 18 1,5 0,33 2 4h 4 8h 200% 3 12h 6 9 0,75 0,67 4 8h 2 4h 50% vft = valor da força de trabalho TN = trabalho necessário MT = mais-trabalho m = massa de mais-valia m’ = taxa de mais-valia “Terceira lei: o aumento ou a diminuição do mais-valor é sempre efeito, e jamais causa do aumento ou diminuição correspondentes do valor da força de trabalho.” (I, p. 589) JT vn total Q π vn unit. vft TN pft TN m MT m’ 1 12h 6 9 0,75 0,67 4 8h 4 8h 2 4h 50% 2 12h 6 12 1 0,50 3 6h 3 6h 3 6h 100% 3 12h 6 12 1 0,50 3 6h 3,5 7h 2,5 5h 71,4% pft = preço da força de trabalho “De acordo com a terceira lei, a variação da grandeza do mais-valor pressupõe um movimento do valor da força de trabalho causado pela variação na força produtiva do trabalho. O limite daquela variação é determinado pelo novo limite do valor da força de trabalho. É possível, no entanto, mesmo quando as circunstâncias permitem que a lei atue, a realização de movimentos intermediários. [...] O grau da queda [...] depende do peso relativo que, de um lado, a pressão do capital, de outro, a resistência do trabalhador exercem no prato da balança.” (I, p. 590) Com o aumento da produtividade do trabalho, existe a possibilidade de crescimento do salário real, embora o salário relativo diminua: JT vn total Q π vn unit. vft TN pft TN m MT m’ 1 12h 6 12 1 0,50 3 6h 3 6h 3 6h 100% 2 12h 6 24 2 0,25 1,5 3h 3 6h 3 6h 100% 3 12h 6 24 2 0,25 1,5 3h 2,5 5h 3,5 7h 140% “O valor da FT é determinado pelo valor de certa quantidade de meios de subsistência. O que varia com a força produtiva do trabalho é o valor desses meios de subsistência, não sua massa. A própria massa, com o aumento da força produtiva do trabalho, pode crescer ao mesmo tempo e na mesma proporção para o capitalista e o trabalhador, sem qualquer variação de grandeza entre o preço da FT e o mais-valor. [...] Com o aumento da força produtiva do trabalho, o preço da FT poderia cair continuamente, acompanhado de um crescimento simultâneo e contínuo da massa dos meios de subsistência do trabalhador. Relativamente, porém, isto é, comparado com o mais-valor, o valor da FT diminuiria continuamente, ampliando, assim, o abismo entre as condições de vida do trabalhador e as do capitalista.” (I, p. 590) II. Jornada de trabalho constante; força produtiva do trabalho constante; intensidade do trabalho variável “A intensidade cada vez maior do trabalho supõe um dispêndio aumentado de trabalho no mesmo espaço de tempo. A JT mais intensiva se incorpora em mais produtos do que a jornada menos intensiva de igual número de horas. Com uma força produtiva aumentada, a mesma JT fornece mais produtos. No último caso, porém, o valor do produto singular cai pelo fato de custar menos trabalho que antes; no primeiro caso, ele se mantém inalterado porque o produto custa a mesma quantidade de trabalho de antes. O número de produtos aumenta, aqui, sem que caia seu preço. Com seu número aumenta também a soma de seus preços, ao passo que, no outro caso, a mesma soma de valor se representa numa massa aumentada de produtos. Se o número de horas se mantém constante, a JT mais intensiva se incorpora num produto de valor mais alto [...]. Seu produto de valor varia com os desvios que sua intensidade apresenta em relação ao grau socialmente normal.” (I, p. 591-592) JT vn total Q π vn unit. vft TN pft TN m MT m’ 1 12h 6 12 1 0,50 3 6h 3 6h 3 6h 100% 2 12h 8 16 1,33 0,50 3 4,5h 3 4,5h 5 7,5h 167% 3 12h 8 16 1,33 0,50 4 6h 4 6h 4 6h 100% 4 12h 8 16 1,33 0,50 4 6h 3,33 5h 4,67 7h 140% “É claro que se o produto de valor da JT varia [...], ambas as partes desse produto de valor, o preço da força de trabalho e o mais-valor, podem aumentar ao mesmo tempo, seja em grau igual ou desigual. Se o produto de valor sobe de 6 para 8 xelins, o preço da força de trabalho e o mais-valor podem ambos aumentar de 3 para 4 xelins. O aumento do preço da força de trabalho não implica aqui, necessariamente, um aumento de seu preço acima de seu valor. Ao contrário, ele pode vir acompanhado de uma queda abaixo de seu valor. Esse é o caso sempre que a elevação do preço da força de trabalho não compensa seu desgaste acelerado.” (I, p. 592) III. Força produtiva e intensidade do trabalho constantes; jornada de trabalho variável a) Redução da jornada de trabalho: “A redução da JT sob as condições dadas, isto é, mantendo-se constantes a força produtiva e a intensidade do trabalho, deixa inalterado o valor da força de trabalho e, por conseguinte, o tempo de trabalho necessário. Ela reduz o mais-trabalho e o mais-valor. [...] “Todas as fraseologias tradicionais contra a redução da JT supõem que o fenômeno ocorra sob as circunstâncias aqui pressupostas, ao passo que, na realidade, as variações na produtividade e intensidade do trabalho ou são anteriores à redução da JT, ou a sucedem imediatamente.” (I, p. 593) b) Prolongamento da jornada de trabalho: “Se a JT for prolongada [...] e o preço da força de trabalho se mantiver inalterado, aumentará, juntamente com a grandeza absoluta do mais-valor, sua grandeza relativa. Embora a grandeza de valor da força de trabalho permaneça inalterada em termos absolutos, ela cairá em termos relativos. [...] “Como o produto de valor no qual se representa a JT aumenta com o próprio prolongamento desta última, o preço da força de trabalho e o mais-valor podem aumentar simultaneamente, seja com um incremento igual ou desigual. [...] “Com a JT prolongada, o preço da força de trabalho pode cair abaixo de seu valor, embora nominalmente se mantenha igual, ou mesmo suba.” (I, p. 593-594) JT vn total Q π vn unit. vft TN pft TN m MT m' 1 12h 6 12 1 0,50 3 6h 3 6h 3 6h 100% 2 10h 5 10 1 0,50 3 6h 3 6h 2 4h 67% 3 14h 7 14 1 0,50 3 6h 3 6h 4 8h 133% 4 14h 7 14 1 0,50 3,5 7h 3,5 7h 3,5 7h 100% 5 14h 7 14 1 0,50 3,5 7h 3,25 6,5h 3,75 7,5h 115% IV. Variações simultâneas na duração, força produtiva e intensidade do trabalho 1) Força produtiva decrescente do trabalho com simultâneo prolongamento da jornada de trabalho JT vn total Q π vn unit. vft TN pft TN m MT m' 1 12h 6 12 1 0,50 3 6h 3 6h 3 6h 100% 2 14h 7 14 1 0,50 4 8h 4 8h 3 6h 75% 3 16h 8 16 1 0,50 4 8h 4 8h 4 8h 100% “Em caso de decréscimo da força produtivado trabalho e concomitante prolongamento da JT, a grandeza absoluta do mais-valor pode permanecer inalterada, ainda que diminua sua grandeza proporcional; sua grandeza proporcional pode permanecer inalterada, ainda que sua grandeza absoluta aumente, e, a depender do grau do prolongamento, ambas podem aumentar.” (I, p. 595) 2) Intensidade e força produtiva do trabalho crescentes e simultânea redução da jornada de trabalho “A força produtiva aumentada do trabalho e sua intensidade crescente atuam uniformemente na mesma direção. Ambas ampliam a massa de produtos obtida em cada período de tempo. Ambas reduzem, assim, a parte da JT necessária para que o trabalhador produza seus meios de subsistência ou o equivalente a eles.” (I, p. 596)