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CAPÍTULO 1 Fundamentos de eletricidade O atual período da nossa história é frequentemente chamado de “A era da informação”, pois os circuitos elétricos e eletrônicos podem coletar, armazenar e analisar uma vasta quantidade de dados. Através do uso de sistemas computadorizados, os circuitos eletrônicos são utilizados para controlar virtualmente todos os sistemas encontrados nas aeronaves modernas. A eletrônica é uma aplicação especial da eletricidade em que a manipulação precisa dos elétrons é empregada. As aeronaves atuais usam muito mais computadores, eletrônica e circuitos elétricos do que antes. É correto dizer que nem as aeronaves de última geração, nem os veículos espaciais poderiam voar sem o uso da eletricidade/eletrônica. Os sistemas elétricos têm duas funções básicas nas aeronaves modernas: (1) alimentar os sistemas, como luzes e motores, e (2) coletar e analisar informações, como em sistemas computadorizados. O termo eletricidade refere-se aos circuitos de potência, e o termo eletrônica normalmente refere-se aos sistemas transistorizados e computadorizados. Os técnicos e os engenheiros de hoje devem conhecer de forma ampla todas as facetas da eletrônica, pois geralmente esse conhecimento será utilizado durante o projeto, a inspeção, a instalação e a reparação da aeronave. Antes do século passado, pouco se sabia sobre a natureza da eletricidade. No entanto, os modernos conceitos teóricos, a matemática e as leis básicas da física têm explicado como a eletricidade funciona. Agora podemos prever com extrema precisão praticamente todos os aspectos da eletricidade, tanto pela matemática quanto por observação e documentação dos efeitos elétricos. As formas precisas pelas quais a eletricidade age do jeito que age podem ser debatidas por muito tempo; enquanto isso, continuaremos fazendo da eletricidade uma ferramenta útil prevendo suas ações. Em aeronaves modernas, a eletricidade executa muitas funções, incluindo a ignição de combustíveis em motores de pistão ou turbina, o funcionamento dos sistemas de comunicação e navegação, o movimento dos controles de voo e a análise de desempenho de sistemas. Assim como uma casa ou um escritório, as aeronaves tornaram-se informatizadas e os sistemas de bordo comunicam-se através de conexões de dados semelhantes à Ethernet. Esses sistemas informatizados tornam as viagens aéreas mais confortáveis, altamente eficientes e mais seguras. A TEORIA DO ELÉTRON A estrutura atômica da matéria determina as formas de pro- dução e transmissão de energia elétrica. Toda matéria contém partículas microscópicas feitas de elétrons e prótons. As forças que mantêm essas partículas unidas para criar a matéria são as mesmas forças que criam o fluxo de corrente elétrica e produ- zem a energia elétrica. Nas aeronaves, cada gerador, alternador e bateria, bem como todos os componentes elétricos, funcionam de acordo com a teoria do elétron. A teoria do elétron descre- ve especificamente as forças moleculares internas da matéria no que se refere à energia elétrica. A teoria do elétron é, portanto, uma base vital sobre a qual se constrói o entendimento de eletri- cidade e eletrônica. Moléculas e átomos A matéria é definida como qualquer coisa que ocupa espaço; portanto, tudo o que podemos ver e sentir é considerado ma- téria. Está universalmente aceito que a matéria é composta de moléculas, as quais, por sua vez, são compostas de átomos. Se uma quantidade de alguma substância comum, como a água, é dividida ao meio, e uma das metades também é dividida ao meio, e a quarta parte resultante também é dividida ao meio, e assim por diante, será alcançado um ponto em qualquer divisão que mudará a natureza da água e a transformará em algo dife- rente. Quando o composto atinge a sua última divisão, a menor partícula restante que mantém a sua identidade é chamada de molécula. Se a molécula de uma substância é dividida, as partícu- las resultantes serão chamadas de átomos. Um átomo é a menor partícula possível de um elemento. Um elemento é uma substân- cia única que não pode ser separada em diferentes substâncias. Na época em que esse texto foi escrito, existiam 118 ele- mentos conhecidos. Apesar de alguns elementos serem radioati- vos e muito instáveis, existem 80 elementos estáveis, os quais são também conhecidos como elementos comuns. O ferro, o cobre, o chumbo, o ouro, o zinco, o oxigênio, o hidrogênio são exemplos de elementos comuns. Qualquer elemento puro consiste em um tipo de átomo e tem propriedades específicas desse elemento. Por _Livro_Eismin.indb 1_Livro_Eismin.indb 1 29/04/16 15:3629/04/16 15:36 2 Eletrônica de Aeronaves exemplo, o elemento cobre é constituído de um ou mais átomos; cada átomo tem as propriedades específicas do cobre. Um composto é uma combinação química de dois ou mais elementos diferentes e a menor partícula possível de um composto é uma molécula. Por exemplo, uma molécula de água (H2O) é constituída por dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio. Um diagrama que representa uma molécula de água é mostrado na Figura 1-1. Elétrons, prótons e nêutrons Um átomo é constituído por partículas extremamente peque- nas, de energia conhecida, como os elétrons, os prótons e os nêutrons. Toda matéria é constituída por dois ou mais desses componentes básicos. O mais simples é o átomo de hidrogênio, formado por um elétron e um próton, como representado no diagrama da Figura 1-2a. A estrutura de um átomo de oxigê- nio está indicada na Figura 1-2b. Esse átomo tem oito prótons, oito nêutrons e oito elétrons. Os prótons e os nêutrons formam o núcleo do átomo; os elétrons giram em torno do núcleo em ór- bitas cujos formatos vão desde o elíptico ao circular e podem ser comparados aos planetas e à maneira como se movem ao redor do Sol. Cada próton é um portador de carga positiva, o nêutron não possui carga e cada elétron é um portador de carga negativa. As cargas transportadas por cada elétron e cada próton são iguais em magnitude, mas opostas em natureza. Um átomo que possui o mesmo número de prótons e elétrons é eletricamente neutro, isto é, a carga transportada pelos elétrons é equilibrada pela car- ga transportada pelos prótons. Como já foi explicado, um átomo carrega duas cargas opostas: os prótons do núcleo têm uma carga positiva e os elé- trons têm uma carga negativa. Quando a carga do núcleo é igual às cargas combinadas dos elétrons, o átomo é neutro; mas, se o átomo tiver uma escassez de elétrons, ele se tornará carregado positivamente. Por outro lado, se o átomo tiver um excesso de elétrons, ele se tornará carregado negativamente. Um átomo carregado positivamente é chamado de íon positivo, e um átomo carregado negativamente é chamado de íon negativo. Moléculas carregadas são também chamadas de íons. É importante obser- var que os prótons permanecem dentro dos núcleos; apenas os elétrons são adicionados ou removidos de um átomo, criando, assim, um íon positivo ou negativo. Esse movimento dos elé- trons é a base para toda a energia elétrica. Estrutura atômica e elétrons livres O caminho de um elétron em torno do núcleo de um átomo des- creve uma esfera imaginária ou camada. Átomos de hidrogênio e o de hélio têm apenas uma camada, mas os átomos mais com- plexos têm numerosas camadas. A Figura 1-2 ilustra esse con- ceito. Quando um átomo possui mais de dois elétrons, ele deve ter mais do que uma camada, uma vez que a primeira camada irá acomodar apenas dois elétrons. Isso é mostrado na Figura 1-2b. O número de camadas em um átomo depende do número total de elétrons ao redor do núcleo. A estrutura atômica de uma substância determina o quão bem ela pode conduzir uma corrente elétrica. Certos elemen- tos, principalmente metais, são conhecidos como condutores porque uma corrente elétrica flui através deles facilmente. Os átomos desses elementos cedem ou recebem elétrons nas órbi- tas externas com pouca dificuldade. Os elétrons que se movem de um átomo para outro são chamadosde elétrons livres. O movimento dos elétrons livres a partir de um átomo para outro está indicado no diagrama da Figura 1-3, e será notado que eles passam da camada externa de um átomo para a camada externa do próximo. O diagrama mostra somente os elétrons das órbitas exteriores. O movimento de elétrons livres nem sempre constitui uma corrente elétrica. Muitas vezes, há vários elétrons livres se movimentado aleatoriamente através dos átomos de qualquer condutor. A corrente elétrica só irá existir quando esses elétrons livres se moverem na mesma direção. Uma fonte de alimenta- ção, como uma bateria, normalmente cria uma diferença de po- tencial de uma extremidade a outra de um condutor (Figura 1-3). Uma forte carga negativa na extremidade de um condutor e uma carga positiva na extremidade oposta desse mesmo condutor é um meio de se criar um fluxo de elétrons, comumente chamado “corrente elétrica”. Átomo de oxigênio Núcleo Elétrons Átomos de hidrogênio + ++ FIGURA 1-1 Uma molécula de água Núcleo (1 próton) Átomo de hidrogênio (a) Átomo de oxigênio (b) Elétron ++ Núcleo (8 prótons 8 nêutrons) FIGURA 1-2 Estrutura dos átomos. E E E E E E E Movimento normal do fluxo de elétrons (fluxo de corrente) Condutor Carga positiva Carga negativa Provável caminho do elétron 1,5 V Bateria +– FIGURA 1-3 Diferença de potencial (tensão) criando um movimento de elétrons através do condutor _Livro_Eismin.indb 2_Livro_Eismin.indb 2 29/04/16 15:3629/04/16 15:36 Capítulo 1 Fundamentos de eletricidade 3 Uma substância pode ser condutora, não condutora (iso- lante) ou semicondutora, de acordo com o número de elétrons na camada de valência de seus átomos. A camada de valência de qualquer átomo é a órbita (camada) mais externa do átomo. Os elétrons em órbita na camada de valência são conhecidos como elétrons de valência. Todos os átomos tendem a ter a sua cama- da de valência completamente preenchida por elétrons, e, quanto menos elétrons na camada de valência de um átomo, mais fá- cil será aceitar elétrons extras. Portanto, átomos com menos da metade de seus elétrons de valência tendem a aceitar (receber) facilmente os elétrons provenientes de um fluxo de corrente elé- trica. Tais materiais são chamados condutores. Materiais que têm mais da metade dos seus elétrons de valência são chamados isolantes. Isolantes não aceitam facilmente elétrons extras. Ma- teriais com exatamente a metade de seus elétrons de valência são semicondutores. Semicondutores apresentam uma resistência muito alta à passagem da corrente elétrica quando estão no seu estado puro; no entanto, quando quantidades exatas de elétrons são adicionadas ou removidas desse material, o mesmo oferece uma resistência muito baixa ao fluxo de corrente elétrica. Semicondutores podem funcionar como um condutor ou um isolante, dependendo do tipo de carga externa que é inserida no material. Os semicondutores são a matéria prima utilizada na produção de transistores e circuitos integrados. Dois dos melhores condutores são o ouro e a prata; suas órbitas de valência são quase vazias, contendo apenas um elé- tron cada. Dois dos melhores isolantes são o néon e o hélio; seus átomos possuem órbita de valência completa. É comum a subs- tituição de materiais condutores e isolantes por outros materiais “menos perfeitos” com o objetivo de reduzir custos e aumentar a capacidade de manuseio dos mesmos. Os condutores mais co- muns são o cobre e o alumínio; os isolantes mais comuns são o ar, o plástico, a fibra de vidro e a borracha (ver Figura 1-4). Os dois semicondutores mais comuns são o germânio e o silício; ambos os materiais têm exatamente quatro elétrons em suas ór- bitas de valência. Como mostrado na Figura 1-5, átomos com quatro elétrons de valência são semicondutores; átomos com menos de quatro elétrons de valência são condutores; e aqueles com mais de quatro elétrons de valência são isolantes. Apenas por ser um condutor, o material não cria automati- camente o movimento de elétrons. É necessária uma força exter- na além das forças moleculares presentes dentro dos átomos do condutor. Em uma aeronave, essas forças externas são geralmen- te fornecidas pela bateria, pelo gerador, ou pelo alternador. As forças internas dos átomos são causadas pela repulsão de dois corpos carregados com cargas semelhantes, como dois elétrons ou dois prótons, e a atração de dois corpos carregados com car- gas diferentes, como um elétron e um próton. Quando dois elétrons estão próximos um do outro e não estão sob a influência de uma carga positiva, eles se repelem com uma força relativamente grande. Diz-se que, se dois elé- trons pudessem ser ampliados para o tamanho de ervilhas e fos- sem colocados a uma distância de 300 metros um do outro, eles iriam se repelir mutuamente com toneladas de força. Essa é a força que faz os elétrons se moverem através de um condutor. É importante lembrar que a força de atração exercida pelos prótons em seu núcleo sobre os elétrons em suas órbitas cria a estabilida- de em um átomo sempre que uma carga neutra estiver presente. Elétrons de valência Ouro Cobre Prata (a) Ferro Alumínio Au Cu Ag Fe Al (b) O Si O Fibra de vidro é um exemplo de um isolante. Ele é composto de um átomo de silício e dois átomos de oxigênio. Ao redor dos três átomos existem 16 elétrons que compartilham suas camadas eletrônicas externas. FIGURA 1-4 O número de elétrons na órbita mais externa de um átomo determina se o material é um condutor ou um isolante: (a) os condutores comuns têm menos de quatro elétrons, (b) os isolantes têm mais de 4 elétrons. _Livro_Eismin.indb 3_Livro_Eismin.indb 3 29/04/16 15:3629/04/16 15:36 4 Eletrônica de Aeronaves Se um elétron extra entra na órbita exterior do átomo, o átomo torna-se muito instável. É essa força de repulsão instável entre os elétrons em órbita que causa o movimento desses elétrons através do condutor. Quando um elétron extra entra na órbita ex- terna de um átomo, a força de repulsão provoca imediatamente o deslocamento de outro elétron para fora da órbita desse átomo em direção à órbita de outro. Se o material é um condutor, os elétrons vão se mover facilmente de um átomo para outro. Direção do fluxo de corrente Demonstrou-se que a corrente elétrica é o resultado do movi- mento de elétrons através de um condutor. Uma vez que um cor- po carregado negativamente apresenta excesso de elétrons e um corpo carregado positivamente, uma deficiência de elétrons, é óbvio que o fluxo de elétrons será a partir do corpo de carga negativa para o corpo de carga positiva, quando os dois estão ligados por um condutor. Portanto, pode-se dizer que a eletrici- dade flui do negativo para o positivo. Em muitos casos, assume-se que a corrente elétrica flui de positivo para negativo. Nesses casos, define-se o fluxo de cor- rente como “fluxo de corrente convencional”. Uma vez que os nomes das polaridades de cargas elétricas foram arbitrariamente atribuídos a elas (positivos e negativos), a direção do fluxo da corrente real é difícil de distinguir sem a verdadeira natureza da corrente elétrica ser considerada. Ao estudar-se a natureza molecular da eletricidade, é necessário considerar o verdadeiro sentido do fluxo de elétrons, mas, para todas as aplicações elétri- cas normais, pode ser considerado o sentido do fluxo em ambas as direções, desde que a teoria seja usada de forma consistente. Muitos textos aderem à teoria convencional de que a corrente flui do positivo para o negativo; no entanto, iremos considerar que o fluxo de corrente irá fluir do negativo para o positivo. Re- gras elétricas e diagramas são organizados em conformidade com esse princípio, a fim de evitar confusão e dar ao aluno um verdadeiro conceito de fenômenos elétricos. A Administração Federal de Aviação (FAA – Federal Aviation Administration) adere ao conceito de que a corrente flui do negativo para o posi- tivo; portanto, a maioria da indústria da aviaçãotambém segue essa convenção. Na maioria das aplicações, não é importante saber qual é a direção exata do fluxo (negativo para positivo ou positivo para o negativo). Se a bateria e a carga estiverem corretamente conec- tadas, haverá um fluxo de corrente e o circuito deverá operar, ver Figura 1-6. No entanto, se a bateria ficar desconecta da carga, o circuito não funciona. Assim, na maioria dos casos, o técnico Elétrons de valência Germânio Ge Si Silício FIGURA 1-5 Semicondutores têm exatamente quatro elétrons na órbita mais externa do átomo. 1,5 V Bateria Lâmpada O fluxo de elétrons é do negativo para o positivo Lâmpada ligada (a) +_ 1,5 V Bateria Lâmpada Lâmpada ligada (b) +_ O fluxo de elétrons é do negativo para o positivo 1,5 V Bateria Lâmpada Lâmpada apagada (c) Circuito desconectado Devido a um fio partido não há fluxo de elétrons (corrente) e a luz está apagada. FIGURA 1-6 Um circuito completo acende a luz: (a) fluxo de elétrons do negativo para o positivo, (b) sentido convencional da corrente do positivo para o negativo, (c) circuito desconectado – não há fluxo de elétrons/corrente. _Livro_Eismin.indb 4_Livro_Eismin.indb 4 29/04/16 15:3629/04/16 15:36 Capítulo 1 Fundamentos de eletricidade 5 está preocupado que a corrente flua no circuito, não na direção da corrente. A localização específica das ligações positivas e negativas em um dado circuito é chamada de polaridade. Por exemplo, ao substituir-se uma bateria de uma calculadora simples, é preciso inserir a bateria na posição correta. O lado positivo da bateria deve ser colocado na conexão positiva e o lado negativo deve ser colocado na conexão negativa. Isso assegura que a bateria seja instalada com a polaridade correta. A calculadora é sensível à polaridade e só irá funcionar com a bateria instalada correta- mente. Para a maioria das instalações elétricas em aeronaves, observar a polaridade correta é muito importante. Uma das mais recentes teorias que definem a direção do fluxo de corrente afirma que os elétrons fluem em uma direção e as lacunas fluem na direção oposta. Uma lacuna é o espaço cria- do pela ausência de um elétron. Como os elétrons se movem do negativo para o positivo, as lacunas se movem do positivo para o negativo. Esse conceito é muitas vezes usado quando se estuda o fluxo de corrente interna nos semicondutores. No entanto, para aplicações gerais de fluxo de corrente, as lacunas não precisam ser consideradas. É importante não deixar que esse conceito de direção do fluxo de corrente confunda o entendimento da eletricidade. Bas- ta ser coerente e lembrar-se, ao ler este texto, ou qualquer mate- rial da FAA, de que a corrente flui do negativo para o positivo. ELETRICIDADE ESTÁTICA Eletrostática O estudo do comportamento da eletricidade estática é chamado de eletrostática. A palavra estática significa cargas estacioná- rias ou em repouso, e cargas elétricas que estão em repouso são chamadas de eletricidade estática. Um material com átomos que contém um número igual de elétrons e prótons é eletricamente neutro. Se o número de elétrons em um material aumenta ou diminui, o material fica com uma carga estática. Um excesso de elétrons cria um corpo carregado negativamente, uma deficiência de elétrons cria um corpo carregado positivamente. Esse excesso ou essa deficiência de elétrons podem ser causados pelo atrito entre duas substân- cias diferentes ou pelo contato entre um corpo neutro e um corpo carregado. Se o atrito entre duas substâncias produz uma carga estática, a natureza dessa carga é determinada pelo tipo dessas substâncias. A listagem de substâncias a seguir é chamada de série elétrica. Essa lista está disposta de modo que cada subs- tância é positiva em relação a seguinte, quando as duas estão em contato. 1. Cabelo 6. Algodão 11. Metais 2. Flanela 7. Seda 12. Cera de vedação 3. Marfim 8. Couro 13. Resinas 4. Cristais 9. O corpo 14. Guta-percha (resina de borracha) 5. Vidros 10. Madeira 15. Nitrocelulose Se, por exemplo, uma vareta de vidro é friccionada contra o cabelo, a haste torna-se carregada negativamente, mas, quando friccionada com seda, ela torna-se carregada positivamente. Quando um material não condutor é esfregado em um ma- terial diferente, as cargas permanecem nos pontos onde o atri- to ocorreu, porque os elétrons não podem se mover através do material não condutor. Quando um material condutor está car- regado, ele pode se descarregar facilmente, porque os elétrons viajam livremente através dos materiais condutores. Uma carga elétrica pode ser produzida num condutor por indução se ele estiver devidamente isolado. Imagine que a esfera de metal isolada mostrada na Figura 1-7 seja carregada negati- vamente e levada próxima a uma das extremidades de uma haste metálica, também isolada de outros condutores. Os elétrons que constituem a carga negativa da esfera irão repelir os elétrons na extremidade da haste e levá-los até o final do lado oposto. A has- te então passará a ter uma carga positiva na extremidade mais próxima da esfera carregada e uma carga negativa na extremida- de oposta. Isso pode ser demonstrado através de esferas menores colocadas suspensas em pares, a partir do meio e nas extremi- dades da haste, por meio de fios condutores. Nas extremidades, as esferas menores irão se repelir no momento em que a esfera carregada é aproximada de uma das extremidades da haste. As esferas perto do centro não se separam porque, no centro, a carga é nula. À medida que a esfera carregada é afastada da haste, as esferas menores retornam às suas posições originais, indicando assim que as cargas na haste se neutralizaram. A força criada entre dois corpos carregados é chamada de força eletrostática. Essa força pode ser atrativa ou repulsiva, dependendo da carga de cada corpo. Cargas iguais se repelem mutuamente. Cargas diferentes se atraem. A força eletrostática é semelhante às forças que existem dentro de um átomo entre elé- trons e prótons. No entanto, a força eletrostática é considerada em uma escala muito maior, lidando com objetos inteiros, e não entre partículas atômicas. A quantidade de carga estática contida dentro de um corpo irá determinar a força do campo eletrostáti- co. Cargas fracas produzem campos eletrostáticos fracos e vice- -versa. Precisamente, a intensidade de um campo eletrostático entre dois corpos é diretamente proporcional à intensidade das cargas presentes sobre esses corpos. A Figura 1-8a demonstra esse conceito. A intensidade da força eletrostática é também afetada pela distância entre os dois corpos carregados. Se a distância entre os dois corpos aumenta, diminui a força eletrostática; se a distância diminui, a força au- menta. Precisamente, a força eletrostática entre dois corpos car- regados é inversamente proporcional ao quadrado da distância entre esses dois corpos, isto é, quando a distância torna-se duas vezes maior entre os corpos, a força eletrostática é dividida por quatro. Esse conceito é demonstrado na Figura 1-8b. A descarga elétrica estática ocorre em todos os corpos carregados. Qualquer desequilíbrio de carga tende ao equilíbrio. FIGURA 1-7 Carga por indução. _Livro_Eismin.indb 5_Livro_Eismin.indb 5 29/04/16 15:3629/04/16 15:36 6 Eletrônica de Aeronaves Normalmente é preciso o contato com outro objeto para neutra- lizar a carga estática. Se um corpo carregado entra em contato com um corpo neutro, ambos os objetos passam a compartilhar a carga original. Um exemplo dessa descarga ocorre quando uma pessoa toma um choque ao tocar na maçaneta de uma porta co- mum. Se a pessoa está carregada com uma carga estática (nor- malmente ocorre durante a caminhada sob um tapete em condi- ções de ar seco), a descarga ocorre quando o indivíduo entra em contato com a parte de metal da fechadura. Se o corpo neutro é suficientemente grande, como a Terra, praticamente toda a carga será neutralizada, ou absorvida, pelo corpo maior. Adescarga estática tornou-se um grande problema para a microeletrônica moderna. A miniaturização dos sistemas in- formatizados modernos fez com que eles se tornassem extrema- mente delicados. A descarga de eletricidade estática pode facil- mente danificar esses componentes. Componentes eletrônicos sensíveis a descargas eletrostáticas são conhecidos como com- ponentes ESDS. Qualquer pessoa que projeta, instala ou repara sistemas eletrônicos de aeronaves deve seguir os procedimentos adequados para evitar danos devido à descarga estática. Técnicas de prevenção ESDS serão discutidas mais adiante. UNIDADES DA ELETRICIDADE Corrente A corrente elétrica é definida como um fluxo de elétrons através de um condutor. No início deste capítulo, foi mostrado que os elétrons livres se movimentam dentro de um material condutor de um átomo para outro, como resultado da atração de cargas diferentes e a repulsão de cargas iguais. Se os terminais de uma bateria estão ligados às extremidades de um fio condutor, o ter- minal negativo força os elétrons através do fio e o terminal posi- tivo atrai esses elétrons. Consequentemente, enquanto a bateria estiver conectada, existirá um fluxo contínuo de corrente através do fio, até que a bateria se descarregue. Como cada elétron tem massa e inércia, o fluxo de elé- trons é capaz de realizar trabalho, como ligar motores, acender lâmpadas e esquentar aquecedores. Assim como a água em mo- vimento pode girar uma roda de pá primitiva para moer trigo, elétrons em movimento podem fazer o mesmo. Mesmo se mo- vendo à velocidade da luz, um único elétron não poderia realizar muito trabalho. No entanto, se grandes quantidades de elétrons são colocadas em movimento, grandes quantidades de trabalho podem ser realizadas usando a eletricidade. Muitas vezes, é difícil de entender que os elétrons em movimento podem realizar um trabalho útil, mas lembre-se que os elétrons têm massa e qualquer massa em movimento pode realizar trabalho. Diz-se que uma corrente elétrica viaja à velocidade da luz, aproximadamente 299.000 quilômetros por segundo (km/s). Na verdade, seria mais correto dizer que o efeito, ou a força, da ele- tricidade viaja a essa velocidade. Elétrons individuais movem-se a uma velocidade relativamente lenta de um átomo a outro den- tro de um condutor, mas a influência de uma carga é “sentida” ao longo de todo o comprimento do condutor instantaneamente. Uma ilustração simples vai explicar esse fenômeno. Ao se encher completamente um tubo com bolas de tênis, como mostrado na Fi- gura 1-9, e, em seguida, empurrar uma bola adicional em uma das extremidades do tubo, uma bola irá cair para fora na outra extremi- dade. Isso é semelhante ao efeito dos elétrons, conforme eles são forçados em um condutor. Quando a pressão elétrica é aplicada em uma das extremidades do condutor, isso é imediatamente sentido na outra extremidade. Deve-se lembrar, porém, que, na maioria das condições, os elétrons devem ter um caminho completo de condu- ção antes que eles possam entrar ou sair do condutor. Quando é necessário medir o fluxo de um líquido através de um tubo, a taxa de fluxo é frequentemente medida em litros por minuto. O litro é uma quantidade determinada de líquido e pode ser chamado de unidade de quantidade. A unidade de quantidade de energia elétrica é o coulomb (C), em homenagem a Charles A. Coulomb (1736-1806), físico francês que realizou muitos experimentos com cargas elétricas. Um coulomb é a quantidade de eletricidade que, quando passa por uma solução de nitrato de prata padrão, fará com que 0,001118 gramas (g) de prata se deposite sobre um eletrodo. (Um eletrodo é um ter- minal, ou polo, de um circuito elétrico.) Um coulomb é também definido como 6,28 × 1018 elétrons, ou seja, 6,28 bilhões de bi- lhões de elétrons. Para situações práticas, a corrente elétrica é medida em uma unidade chamada de ampère. Um ampère é a taxa de fluxo de 1 coulomb por segundo. O ampère foi nomeado em home- nagem ao cientista francês André M. Ampère (1775-1836). O termo corrente é simbolizado pela letra I. Corrente é taxa de fluxo ou movimento de elétrons. A corrente é medida em ampères, muitas vezes abreviado para amps. + +d = 1 polegada Força = 1 Corpos carregados – – + d = 1 polegada Força = 4 – + d = 2 polegada Força = 1 – + + + + – – – – d = 1 polegada Força = 2 (a) (b) FIGURA 1-8 A intensidade da força eletrostática. (a) Dobrando-se o valor da carga estática dobra-se também a força estática. (b) Quando a distância entre as cargas é dobrada, o valor da força estática é dividido por quatro. FIGURA 1-9 Demonstração do fluxo de corrente. Um elétron entrando no condutor significa, instantaneamen- te, um elétron saindo do condutor. _Livro_Eismin.indb 6_Livro_Eismin.indb 6 29/04/16 15:3629/04/16 15:36 Capítulo 1 Fundamentos de eletricidade 7 Tensão e força eletromotriz Da mesma forma que a água flui num tubo quando existe uma diferença de pressão nas extremidades do tubo, uma corrente elétrica flui num condutor devido a uma diferença de pressão elétrica nas extremidades do condutor. Se dois tanques que con- têm água em níveis diferentes são ligados por um tubo com uma válvula, como mostrado na Figura 1-10a, a água flui a partir do tanque com o nível mais elevado para o outro tanque quando a válvula é aberta. A diferença na pressão da água ocorre em fun- ção do nível de água mais elevado em um dos tanques. Pode-se afirmar que, num circuito elétrico, um grande nú- mero de elétrons em um ponto vai fazer com que uma corrente flua para outro ponto onde há um pequeno número de elétrons, se os dois pontos estiverem ligados por um condutor (ver Figura 1-10b). Em outras palavras, quando o nível de elétrons é maior em um ponto do que em qualquer outro ponto, existe uma dife- rença de potencial entre esses dois pontos. Quando os pontos estão ligados por um condutor, elétrons irão fluir a partir do pon- to de maior potencial para o ponto de menor potencial. Existem várias analogias simples que podem ser usadas para ilustrar a di- ferença de potencial. Por exemplo, quando um pneu de automó- vel é inflado, existe uma diferença de potencial (pressão) entre o interior do pneu e o lado de fora. Quando a válvula é aberta, o ar escapa para fora. Nesse caso, o ar dentro do pneu representa um excesso de elétrons, um potencial elevado, ou uma carga negati- va. O ar exterior do pneu representa uma deficiência de elétrons, um potencial baixo, ou uma carga positiva. A força que faz com que os elétrons fluam através de um condutor é chamada de força eletromotriz, abreviada de fem. A FEM pode ser vista como uma força motriz de elétrons. A unida- de prática para a medição de FEM ou diferença de potencial é o volt (V). A palavra volt é derivada do nome do famoso pesquisa- dor da eletricidade, o italiano Alessandro Volta (1745-1827), que muito contribuiu para o conhecimento da eletricidade. Um volt é a fem necessária para provocar um fluxo de corrente de 1 ampère através de uma resistência de 1 ohm. O termo ohm será definido mais adiante neste capítulo. Força eletromotriz e diferença de potencial podem ser consideradas iguais para todos os efeitos práticos. Quando existe uma dife- rença de potencial, ou diferença de pressão elétrica, entre dois pontos significa simplesmente que existe um campo ou uma for- ça que tende a mover elétrons de um ponto a outro. Se os pontos estão ligados por um condutor, os elétrons irão fluir enquanto a diferença de potencial existir. Em termos práticos, uma bateria carregada irá fornecer corrente a um circuito enquanto a bateria permanecer carregada. Sempre que a bateria está carregada, há uma tensão (força eletromotriz) pronta para “empurrar” elétrons através de um circuito. Em referência à Figura 1-11, pode ser visto que a tensão – diferença de potencial na bateria – cria um fluxo de elétrons da mesma forma que pressão interna de um balão – a diferen- ça de pressão em relação à atmosfera– cria um fluxo de ar. A tensão (pressão elétrica) causa um fluxo de elétrons através do condutor. Isso não é um mistério. Qualquer objeto, incluindo os elétrons, tende a se mover quando uma pressão é aplicada em uma certa direção. Força eletromotriz, a qual é a força que faz os elétrons se moverem, também pode ser considerada potencial elétrico ou pressão. O termo tensão, que é medido em volts, normalmente é substituído por fem. A tensão é simbolizada pela letra E, e o volt, pela letra V.Alta pressão Baixa pressão Fluxo (a) (b) 1,5 V Bateria Fluxo de alta para baixa pressão Lâmpada acesa +_Alta pressão Baixa pressão FIGURA 1-10 Pressão (força) cria movimento (a) a água flui de alta para baixa pressão; (b) os elétrons fluem de alta para baixa pressão. 10 psi Fluxo de ar Alta pressão Maior potencial Baixa pressão Menor potencial Condutor Fluxo de corrente 10V Bateria +– FIGURA 1-11 Comparação da tensão com a pressão do ar. _Livro_Eismin.indb 7_Livro_Eismin.indb 7 29/04/16 15:3629/04/16 15:36 8 Eletrônica de Aeronaves Resistência A resistência é a propriedade de um condutor que tende a se opor, ou restringir, o fluxo de uma corrente elétrica; está pre- sente em todos os circuitos. A resistência pode ser denominada fricção elétrica, porque afeta o movimento dos elétrons de for- ma semelhante ao efeito da fricção em objetos mecânicos. Por exemplo, se o interior de uma tubulação de água está muito ru- gosa, por causa da ferrugem ou algum outro material, um fluxo menor de água vai fluir através do tubo, em uma determinada pressão, em relação ao fluxo no interior do tubo limpo e liso. A tubulação rugosa oferece maior resistência, ou fricção, do que a tubulação lisa. A unidade usada na eletricidade para mensurar a resistên- cia é o ohm, nome dado em homenagem ao físico alemão Georg S. Ohm (1789-1854), que descobriu a relação entre grandezas elétricas conhecida como lei de Ohm. A resistência é a oposição ao fluxo de corrente e é simbolizada pela letra R. Ela é medida em ohms, cujo símbolo é a letra grega ômega, Ω. Anteriormente, foi explicado que os materiais com um pequeno número de elétrons de valência, menos de quatro, são condutores. Condutores têm uma resistência relativamente bai- xa, porque aceitam facilmente elétrons extras (fluxo de corren- te). Se uma tensão é aplicada a um condutor, uma corrente elé- trica fluirá, assumindo que um circuito completo está presente. Como visto na Figura 1-12a, se uma caixa de madeira pesada é empurrada em um piso bem polido, esta deslizará facilmente, porque o piso oferece baixa resistência, ou oposição baixa, ao movimento. Se a mesma caixa é colocada em um piso de concre- to áspero e empurrada outra vez, com a mesma força, pouco ou nenhum movimento ocorrerá, devido à alta resistência oferecida pelo chão rugoso. Agora compare a caixa na Figura 1-12a com o circuito na Figura 1-12b. Um circuito de baixa resistência com uma tensão de 5 V aplicada moverá facilmente os elétrons. A mesma 5 V aplicada a um circuito de alta resistência – interrup- tor aberto, por exemplo – não é capaz de mover os elétrons. Ob- serve que a resistência de um interruptor aberto é tão grande que nenhuma corrente fluirá. Um interruptor aberto é considerado uma resistência infinita. Os isolantes são materiais que têm mais de quatro elé- trons de valência. Os isolantes não aceitam facilmente os elé- trons extras da corrente e são caracterizados por possuir uma re- sistência relativamente alta. Se uma tensão moderada é aplicada a um isolante, não haverá nenhuma corrente elétrica. Não existe um isolante perfeito, mas muitas substâncias têm uma resistên- cia tão alta que pode ser dito que elas praticamente impedem a passagem de corrente. Substâncias que têm boas qualidades isolantes são: o ar seco, o copo de vidro, a mica, a porcelana, a borracha, o plástico, o amianto e as composições de fibra. A resistência dessas substâncias varia até certo ponto, mas pode ser dito que todas elas bloqueiam a passagem de corrente, efetiva- mente. É dito que esses isolantes têm uma resistência infinita na maioria dos casos. De acordo com a teoria do elétron, os átomos de um isolante não cedem elétrons facilmente. Quando uma ten- são é aplicada a tal substância, as órbitas dos elétron exteriores são deformadas, mas, assim que a tensão se afastada, os elétrons voltam às suas posições normais. Porém, se a tensão aplicada é tão forte que atrai a estrutura atômica além de seu limite elástico, os átomos perdem elétrons e o material se torna um condutor. Quando isto acontece, é dito que o material foi rompido. Um exemplo deste fenômeno é quando um raio comum viaja pelo ar durante uma tempestade de chuva. O raio produz uma tensão tão alta que a corrente é forçada pelo ar, que é um isolante na maioria das situações. TEORIA DE MAGNETISMO O ímã Quase todo mundo já testemunhou os efeitos de magnetismo, e muitos possuem ímãs permanentes simples, como o ilustrado na Figura 1-13. Porém, poucas pessoas percebem a importância de magnetismo e a sua relação com a eletricidade. Na comunidade científica, é comum o pensamento de que eletricidade não exis- tiria sem o magnetismo. Um ímã pode ser definido como um Baixa resistência Alta resistência Movimento Força Pouco atrito (piso polido) Movimento de elétrons 5 V (força) 5 V (força) Baixa resistência elétrica (circuito fechado) Alta resistência elétrica (circuito aberto) +– Sem movimento de elétrons +– Força Muito atrito (piso rugoso) Sem movimento (a) (b) FIGURA 1-12 Comparação entre resistência e atrito. Armadura ferromagnética N S FIGURA 1-13 Um ímã permanente. _Livro_Eismin.indb 8_Livro_Eismin.indb 8 29/04/16 15:3629/04/16 15:36 Capítulo 1 Fundamentos de eletricidade 9 objeto que atrai metais ferrosos como o ferro ou o aço. Produz um campo magnético externo para si mesmo e reage com subs- tâncias magnéticas. É aceito que um campo magnético consiste em linhas invisíveis de força que deixam o polo norte do ímã e entram no polo sul. A direção dessa força só é suposta para estabelecer regras e referências para a sua utilização. Se existe algum mo- vimento real da força do polo norte ao polo sul de um ímã, este não é conhecido, mas sabe-se que a força age em uma direção definida. Isso é indicado pelo fato de que um polo norte repele outro polo norte, mas é atraído por um polo sul. Polos iguais se repelem e polos distintos se atraem. Um ímã permanente é um tipo de imã que mantém um campo mag- nético quase constante, sem a aplicação de qualquer força magne- tizadora. A maioria dos ímãs permanentes apresenta praticamente perda de força magnética ao longo um período de vários anos. Um ímã natural é um ímã achado na natureza; ele é cha- mado de lodestone ou pedra principal. O ímã natural recebeu esse nome porque era usado pelos primeiros navegantes para de- terminar a direção. O lodestone é composto de um óxido de ferro chamado magnetita. Quando foi descoberto, verificou-se que o lodestone tinha propriedades peculiares. Quando era suspenso livremente, um lado sempre apontava para uma direção ao norte. Por essa razão, uma ponta do lodestone foi nomeada o norte-seguidor e a outra ponta, o sul-seguidor. Esses termos foram encurtado s para nor- te e sul, respectivamente. A razão por que um ímã livremente suspenso assume uma posição norte-sul é que a Terra é um ímã gigante e o campo magnético da Terra se manifesta sob toda a superfície. As linhas de força do ímã suspenso interagem com o campo magnético da Terra e alinham o ímã adequadamente. De acordo com a definição, o polo magnético perto do polo norte geográfico da Terra é, de fato, o polo magnético sul da Terra. Isso pode ser demonstrado suspendendo um ímã em um fio e ob- servando a direção em que polo de norte aponta. O polo norte do ímã aponta para o norte geográfico da terra, mas, por definição, norte deveria repelir norte; então, o polo magnético sul da terra está realmente maispróximo do norte geográfico da terra. Esse conceito é demonstrado na Figura 1-14. Para eliminar qualquer confusão, a direção para a qual o polo norte de um ímã aponta é chamada de polo norte da Terra. Na realidade é o sul magnético. Os polos magnéticos da Terra não ficam situados nos po- los geográficos. O polo magnético no hemisfério do norte é si- tuado a leste do norte geográfico. O polo sul magnético é situado a oeste do sul geográfico, como ilustrado na Figura 1-14. A di- ferença entre os polos geográficos e magnéticos é chamada de variação magnética. A variação magnética às vezes é chamada de declinação magnética. Em geral, esse princípio de variação magnética não afeta os fenômenos elétricos; porém, ele se torna muito importante ao navegar uma aeronave usando uma bússola magnética. A verdadeira natureza de magnetismo não é entendida totalmente, embora seus efeitos sejam bem conhecidos. Uma teoria que parece fornecer uma explicação lógica do magne- tismo assume que os átomos, ou as moléculas de substâncias magnéticas, são, na realidade, pequenos ímãs. É discutido que os elétrons que se movem em torno do núcleo de um átomo criam campos magnéticos pequenos. Em substâncias magnéticas como o ferro, supõe-se que a maioria dos elétrons está se movendo em uma direção geral ao redor dos núcleos; consequentemente esses elétrons produzem um campo magnético notável em cada átomo, e cada átomo ou molécula se torna um ímã minúsculo. Quando a substância não é magnetizada, as moléculas movem- -se em todas as direções no material, como mostrado em Figura 1-15a, e os seus campos tendem a cancelar um ao outro. Quando a substância é colocada em um campo magnético, as moléculas se alinham com o campo e os campos das moléculas acrescen- tam à força do campo magnetizador. Um diagrama de uma subs- tância magnetizada é mostrado em Figura 1-15b. Quando um pedaço de ferro-doce é colocado em um cam- po magnético, quase todas as moléculas no ferro se alinham com o campo, mas, assim que o campo magnetizador é afastado, a maioria das moléculas retorna para suas posições aleatórias, e a substância já não está mais magnetizada. Pelo fato de algumas das moléculas tenderem a permanecer na posição alinhada, toda substância magnética retém uma quantidade pequena de magne- tismo depois de ter sido magnetizada. Esse magnetismo retido é chamado de magnetismo residual. Certas substâncias, como o aço duro, são mais difíceis de magnetizar que ferro-doce, por causa do atrito interno en- tre as moléculas. Se tal substância é colocada em um campo magnético muito forte, as moléculas são alinhadas com o cam- po. Quando a substância é afastada do campo magnético, ela Polo norte geográfico Polo sul geográfico Variação magnética Polo sul magnético Polo norte magnético Campo magnético da Terra S N FIGURA 1-14 O campo magnético da Terra. Desmagnetizado Magnetizado (a) (b) FIGURA 1-15 Teoria do magnetismo. _Livro_Eismin.indb 9_Livro_Eismin.indb 9 29/04/16 15:3629/04/16 15:36 10 Eletrônica de Aeronaves retém seu magnetismo; consequentemente ela é chamada de ímã permanente. O aço duro e certas ligas metálicas, como o Alnico (uma liga que contém níquel, alumínio e cobalto), têm a habilidade de reter o magnetismo. Ímãs permanentes retêm o seu magnetismo pela mesma razão que eles são difíceis de magnetizar, ou seja, as moléculas não trocam as suas posições facilmente. Quando as moléculas estão alinhadas, todos os po- los norte das moléculas apontam na mesma direção e produzem o polo norte do ímã. De certa forma, os polos sul das moléculas produzem o polo sul do ímã. Muitas substâncias não têm nenhuma propriedade mag- nética apreciável. Os átomos dessas substâncias aparentemen- te têm órbitas de elétrons em posições tal que os seus campos cancelam um ao outro. Entre essas substâncias estão o cobre, a prata, o ouro e o chumbo. A capacidade de um material de se magnetizar é chamada de permeabilidade. Um material com permeabilidade alta é fá- cil de magnetizar ou desmagnetizar. Um material com permeabi- lidade baixa é difícil de magnetizar ou desmagnetizar. Materiais com permeabilidade alta, como ferro-doce, são mais úteis como ímãs temporários. Materiais com baixa permeabilidade, como o Alnico, são mais apropriados como ímãs permanentes. Os materiais magnéticos descobertos mais recentemente são conhecidos como elementos de terras raras. Esses elemen- tos de terras raras (ou metais de terras raras) são um conjunto de 17 elementos químicos que ocorrem naturalmente na Terra. Ape- sar do nome, a maioria elementos de terras raras é relativamente abundante na crosta terrestre. Porém, estes elementos são muito dispersos e não são facilmente encontrados em formas concen- tradas e economicamente viáveis. Quando um elemento de terras raras é transformado em um ímã, ele é geralmente chamado de ímã de terras raras. Em geral, a maioria dos metais de terras raras pode ser usada na fabricação de imãs muito fortes e es- ses metais ficaram populares em muitos componentes elétricos modernos, devido às suas forças relativas. Por exemplo, muitos motores compactos, mas ainda assim poderosos, usam ímãs de terras raras para ajudar a criar uma força rotativa. Propriedades de magnetismo O campo de força que existe entre os polos de um ímã é chama- do de campo magnético. O padrão desse campo pode ser visto colocando um papel duro em cima de um ímã e borrifando li- malhas de ferro no papel. Como mostrado na Figura 1-16, as limalhas de ferro se alinharão com as linhas de força magnética. Nota-se então que as linhas diretamente entre os polos são re- tas, mas as linhas mais distantes são curvadas. Essa curvatura acontece por causa da repulsão de linhas que viajam na mesma direção. Se limalhas de ferro forem borrifadas em um papel co- locado sobre os dois polos norte, o campo terá o padrão mostra- do na Figura 1-17. Aqui as linhas de força dos dois polos saem e se curvam para longe umas das outras. A força magnética, também chamada de fluxo magnéti- co, viaja do norte para sul em linhas invisíveis. Assumindo uma direção, nós damos uma referência pela qual podem ser feitos cálculos e determinados os efeitos magnéticos. Um vez que as limalhas de ferro, em um campo magnético, se organizam em linhas, é lógico dizer que força magnética existe em linhas. Um espaço ou uma substância atravessados por linhas de força magnéticas são chamados de circuito magnético. Se uma barra de ferro-doce é colocada nos polos de um ímã, quase todas as linhas magnéticas de força (fluxo) passam pela barra e o cam- po externo será muito fraco. O campo externo de um ímã é distorcido quando qual- quer substância magnética é colocada nesse campo, pois é mais fácil que as linhas de força viajem pela substância magnética do que pelo ar (veja Figura 1-18). A oposição de um material ao fluxo magnético é chamada de relutância e compara-se à resistência em um circuito elétrico. Como na corrente elétrica, o material que resistirá completamente às linhas de fluxo mag- nético é desconhecido. Porém, algunsmateriais aceitarão linhas de fluxo mais facilmente que outros. Revisando, as propriedades de ímãs são as seguintes: (1) O polo que tende a apontar para o norte geográfico da Terra é chama- do de polo norte do ímã. O lado oposto é o polo sul. (2) Polos mag- néticos iguais repelem um ao outro e polos distintos atraem um ao outro. (3) Um campo magnético está estabelecido ao redor de cada ímã e contém linhas de fluxo magnéticas. Essas linhas de fluxo são diretamente responsáveis pelas propriedades magnéticas do material. (4) A força de qualquer ímã é diretamente proporcional à densidade do campo de fluxo. Quer dizer, um ímã mais forte terá um número relativamente maior de linhas de fluxo concentradas em uma determinada área. (5) Campos magnéticos são mais fortes N S FIGURA 1-16 Um campo magnético. N N FIGURA 1-17 Um campo magnético entre dois polos magnéticos iguais. Ferro-doce N S FIGURA 1-18Um campo distorcido por uma substância magnética. _Livro_Eismin.indb 10_Livro_Eismin.indb 10 29/04/16 15:3629/04/16 15:36 Capítulo 1 Fundamentos de eletricidade 11 perto dos polos do ímã. Isto acontece devido à concentração de linhas de fluxo em cada polo. (6) Por definição, as linhas de fluxo magnético fluem do polo norte para o polo sul em qualquer ímã. Essa propriedade se torna importante ao estudar certas relações do magnetismo. (7) Linhas de fluxo nunca se cruzam. Isto porque as linhas de fluxo se repelem com uma força relativamente intensa. (8) Linhas de fluxo magnético sempre passam pelo caminho de menor resistência, como quando elas preferem passar por um pe- daço de ferro-doce ao invés de passar pelo ar. DISPOSITIVOS MAGNÉTICOS Eletroímãs Os eletroímãs, em várias formas, são itens muito úteis e já se tor- naram comuns nas aeronaves modernas. Os eletroímãs, como in- sinua o nome, são produzidos usando uma corrente elétrica para criar um campo magnético. Ao redor de todo condutor pelo qual passe uma corrente elétrica, existe um campo magnético. A Figu- ra 1-19a mostra uma bússola usada para detectar o campo magné- tico adjacente a um condutor de corrente. Este campo magnético é criado devido ao movimento de elétrons pelo condutor. Tipica- mente esse campo magnético é tão pequeno que fica despercebi- do. Porém, se a corrente é muito intensa ou o condutor forma uma bobina, há um aumento de força do campo magnético. A maioria dos eletroímãs é construída de uma bobina de fio com centenas de voltas para criar a força de campo magnético desejada. Na Figura 1-19b, o círculo sombreado representa uma seção atravessada de um condutor com a corrente fluindo para dentro do papel. A corrente está fluindo do negativo para o posi- tivo. Quando a corrente flui como indicado, o campo magnético está na direção do ponteiro do relógio. Isso é facilmente deter- minado pelo uso da regra da mão esquerda. Quando um fio é segurado na mão esquerda com o dedo polegar apontando do ne- gativo para o positivo, o campo magnético ao redor do condutor está na direção em que os dedos estão apontando. Se um fio condutor de corrente está curvado ou enrolado, a bobina assume as propriedades de um ímã; quer dizer, um lado da volta será o polo norte e o outro lado será o polo sul. Lembre- -se de que os eletroímãs são feitos de uma bobina de fio, não de um único fio. Quando um fio é enrolado e conectado a uma fonte de energia elétrica, os campos gerados pelas voltas separadas se unem e passam por toda a bobina, como mostrado na Figu- ra 1-20a. A Figura 1-20b mostra a seção transversal da mesma bobina. Note que as linhas de força produzidas por uma volta se juntam com as linhas de força das outras voltas e passam pela bobina, isso faz com que a bobina assim adquira uma polarida- de magnética. A polaridade da bobina é facilmente determinada pelo uso da regra da mão esquerda para bobinas: Quando uma bobina é segurada na mão esquerda com os dedos apon- tados na direção da corrente, isso é, do negativo para positivo, o dedo polegar apontará na direção do polo norte da bobina. A maioria dos eletroímãs tem um fio enrolado ao redor de um material com núcleo de ferro doce (bobina). O núcleo fornece a estrutura na qual o fio de cobre é enro- lado. E o núcleo ajuda a direcionar os fluxos do campo magné- tico para uma determinada área. Claro que o fio na bobina deve ser separado de forma que não haja curto-circuito entre as voltas da bobina. Um eletroímã típico é feito torcendo muitas voltas de fio isolado em um torno de um núcleo de ferro-doce que foi envolvido com um material isolante. As voltas de fio são feitas mais próximas possível umas das outras para ajudar a impedir que linhas de força magnética passem entre as voltas. A Figura 1-21 é um desenho da seção transversal de um eletroímã. 1,5 Volts Motor Há um campo magnético ao redor de todo condutor que conduz uma corrente Esta vista da seção transversal de um condutor mostra o fluxo do campo magnético. Nota: A corrente flui em direção ao papel. (a) (b) Fluxo de corrente +– FIGURA 1-19 O elétron (corrente) cria um campo magnético: (a) o campo magnético pode ser medido nas adjacências de um fio que conduz uma corrente; (b) o fluxo de campo magnético em torno de um condutor. _Livro_Eismin.indb 11_Livro_Eismin.indb 11 29/04/16 15:3629/04/16 15:36 12 Eletrônica de Aeronaves A força de um eletroímã é diretamente proporcional (1) à intensidade da corrente que flui pela bobina eletromagnética e (2) ao número de voltas de fio da bobina eletromagnética. O crescimento da corrente na bobina ocorre quando o aumento do número de voltas de fio ao redor da bobina aumenta. Além disso, o uso de um material de permeabilidade alta aumentará a força de um eletroímã. O mesmo eletroímã que usa um núcleo de baixa permea- bilidade teria uma força magnéticadiminuída. Outros fatores também afetam a força de um eletroímã, embora eles sejam des- prezíveis para a maioria das aplicações de uso geral. A força exercida em um material magnético por um ele- troímã é inversamente proporcional ao quadrado da distância entre o polo do ímã e o material. Por exemplo, se um ímã exerce uma força de atração de 1 lb [0,4536 kg] em uma barra de ferro quando a barra está a ½ in. [1,27 cm] do ímã, então a força de atração será somente de ¼ lb [0,1134 kg] quando a barra está a 1 in. [2,54 cm] do ímã. Por essa razão, a distância na qual a força magnética tem que agir merece atenção especial em um projeto de equipamento elétrico que usa a atuação eletromagnética. Solenoides Foi explicado que uma bobina de fio, ao conduzir uma corrente, terá as propriedades de um ímã. Frequentemente essas bobinas são utilizadas para atuar em vários tipos de mecanismos. Se uma barra de ferro-doce é colocada no campo de uma bobina condu- tora de corrente, a barra será magnetizada e será puxada para o centro da bobina, tornando-se, assim, o núcleo de um eletroímã. Por meio de um acoplamento adequado, o núcleo móvel pode ser usado para executar muitas funções mecânicas, como uma fechadura de porta eletricamente operada. Um eletroímã com um núcleo móvel é chamado de solenoide. Um solenoide típico usa um núcleo oco; uma parte do nú- cleo é um revestimento exterior não magnético fixado perma- nentemente dentro das bobinas. A outra parte do núcleo é livre para deslizar dentro desse revestimento externo fixo, como mos- trado na Figura 1-22. Geralmente a mola mantém a parte móvel do núcleo parcialmente distante de uma das extremidades da bobina eletromagnética. Quando a bobina é energizada, a força do eletroímã puxa o núcleo móvel para a parte oca, opondo-se à força da mola. Isso cria um movimento através de uma haste de ligação com o acoplamento mecânico. Solenoides são frequentemente utilizados para controlar contatos elétricos, válvulas, disjuntores e vários tipos de dispo- sitivos mecânicos. A principal vantagem dos solenoides é que eles podem ser colocados quase em qualquer lugar de um avião e podem ser controlados remotamente por pequenos interruptores ou unidades eletrônicas de controle. Embora o uso de solenoides seja limitado a operações nas quais apenas uma pequena quanti- dade de movimento é requerida, eles têm uma faixa muito maior de movimento, resposta mais rápida e melhor força que eletroí- mãs de núcleo fixo. A maioria dos solenoides encontrados nas aeronaves é usada para operar contatos elétricos. Como visto na Figura 1-23, um circuito de corrente baixa é usado para ativar o eletroímã do solenoide. Quando o eletroímã é energizado (fechando o inter- ruptor #1), o material do núcleo e os contatos elétricos movem- -se devido ao campo magnético dentro da bobina. Neste circuito, os contatos elétricos são usados para fechar um segundo circuito que aciona um motor. Um solenoide pode ser usado para ligar ou desligar um circuito quando a bobina está energizada. Na a maioria dos casos, o solenoide contém dois circuitos indepen-dentes: (1) o circuito controlador e (2) o circuito controlado. Relés Eletroímãs que contêm um núcleo fixo e um acoplamento mecâni- co articulado são chamados relés. Os relés são normalmente usa- (a) (b) + N – S N S FIGURA 1-20 O campo eletromagnético de uma bobina. Núcleo de ferro-doce Enrolamento Condutores elétricos Arroela de fibra FIGURA 1-21 Um eletroímã. Conexão para contatos elétricos ou acoplamento mecânico M o vi m en to Enrolamento Núcleo móvel Luva não magnética Mola Núcleo fixo FIGURA 1-22 Um solenoide. _Livro_Eismin.indb 12_Livro_Eismin.indb 12 29/04/16 15:3629/04/16 15:36 Capítulo 1 Fundamentos de eletricidade 13 dos para comutação de aplicações com corrente baixa. A Figura 1-24 ilustra um típico relé de comutação. Note que o núcleo de ele- troímã de um relé é estacionário, diferentemente de um solenoide. A parte do relé que é atraída pelo eletroímã para abrir ou fechar os contatos é chamada de armadura. Há vários tipos de armadura na área de eletricidade, mas, em todos os casos, será visto que uma armadura consiste, em parte, de uma haste ou nú- cleo de um material que pode ser atraído por um campo magné- tico. Em um relé, a armadura é atraída pelo eletroímã, e o seu movimento fecha ou abre os pontos de contato. Em alguns casos, o eletroímã opera vários contatos simultaneamente. Há muita confusão cercando a terminologia dos relés e dos solenoides, por causa das semelhanças entre eles. Relés são frequentemente chamados de solenoides e vice-versa. Pela fina- lidade deste texto, e como é geralmente aceito na indústria de aeronaves, um solenoide é um eletroímã com um material de nú- cleo móvel, e um relé é um eletroímã com um núcleo fixo. Essas definições determinam se o eletroímã é usado para a comutação elétrica ou para outras funções mecânicas. A Figura 1-25 mostra as fotografias de um relé e de um solenoide. Note as diferen- ças: (1) o solenoide tem um núcleo móvel, enquanto o núcleo de relé é estacionário; (2) o solenoide é usado para controlar circui- tos de corrente alta, e o relé é usado para controlar circuitos de corrente baixa. Devido ao núcleo imóvel, um solenoide é muito mais forte que um relé. Por esse motivo, os solenoides são tipi- camente usados para o controle de sistemas mecânicos, como um trinco mecânico. Também são usados solenoides (não relés) para controlar circuitos com corrente alta, como motores de par- tida. Para ajudar a eliminar alguma confusão, muitos fabricantes de aeronaves substituíram o termo contator ou disjuntor por so- lenoides de comutação ou relés. MÉTODOS DE PRODUÇÃO DE TENSÃO Como discutido anteriormente, tensão é a força, ou pressão, que cria o movimento do elétron. A tensão deve estar presente em todos os circuitos para produzir uma corrente. Mas o que cria tensão? A tensão é criada através de limitadas formas, e apenas dois métodos produzem quase 100 por cento de toda a energia elétrica consumida por uma aeronave típica. A fricção é um método de produzir tensão através do sim- ples ato de esfregar dois materiais diferentes. Isto, normalmente, produz eletricidade estática, que não é tipicamente uma for- ma útil de energia. Na realidade, a maior parte da eletricidade estática encontrada na aeronave se torna um incomodo para os sistemas de comunicação e de navegação, como também aos dis- positivos eletrônicos avançados. A pressão é outro meio de produzir tensão. A piezeletri- cidade é a eletricidade criada aplicando pressão em certos ti- pos de cristais. Uma vez que somente pequenas quantidades de energia são produzidas usando piezeletricidade, as aplicações são limitadas. Alguns microfones usados em comunicação via rádio empregam o efeito piezelétrico para converter ondas sono- ras em energia elétrica. A maioria dos dispositivos piezelétricos usa materiais cristalinos, como o quartzo, para produzir tensão. Quando uma força é aplicada a certos cristais, as suas estruturas moleculares deformam e elétrons podem ser emitidos para um condutor. Cristais piezelétricos também são usados em alguns equipamentos de navegação e em vários sistemas de sensores. Isso será discutido posteriormente neste texto. A luz é uma fonte de energia que também pode ser con- vertida em eletricidade. O efeito fotoelétrico produz uma tensão quando a luz é emitida sobre certas substâncias. O zinco é um típico material fotossensível. Se exposto a raios ultravioletas, em condições apropriadas, o zinco produzirá uma tensão. Em- bora dispositivos fotoelétricos sejam limitados nas aeronaves modernas, astronaves e satélites dependem muito de fotocélulas (células solares) e do sol como uma fonte de energia. Algumas aeronaves usam sensores de luz nos sistemas de tela das cabines de comando modernas. Esses sensores operam usando o efeito fotoelétrico. Quanto mais de luz que alcança o sensor, mais ten- são é produzida, veja Figura 1-26. O calor também pode ser usado para produzir tensão. A eletricidade produzida pela junção de dois metais diferentes, sob temperaturas normais, é chamada de efeito termoelétrico. Por exemplo, cobre e zinco que se mantêm unidos produzem ten- são quando submetidos a aquecimento. Esta combinação de dois metais diferentes é chamada de termopar. Os termopares são usados em praticamente qualquer sensor de temperatura eletrô- nico existente em uma aeronave. Isso inclui a descarga de gás e os sensores de temperatura da cabeça dos cilindros, equipa- mentos eletrônicos de monitoramento de temperatura e alguns detectores de fogo. A reação química ocorre em todas as baterias para produ- zir eletricidade para os sistemas da aeronave. Uma bateria é en- contrada em praticamente todas as aeronaves, produzindo tensão a partir da reação entre duas ou mais substâncias químicas dife- rentes. Quando duas ou mais das substâncias químicas corretas entram em contato, as suas estruturas são alteradas e uma tensão é produzida. A maioria das aeronaves contém uma bateria usada +V +V –V Chave #1 Circuito controlador de corrente baixa (1 A) –V Circuito controlado de corrente alta (40 A) Núcleo móvel Bobina Contatos Solenoide M Motor FIGURA 1-23 Um solenoide tem dois circuitos indepen- dentes, um circuito “controlador” de corrente baixa e um circuito “controlado” de corrente alta. Eletroímã Pontos de contato Parada com isolante ArmaduraPivô Mola FIGURA 1-24 Chave eletromagnética: relé. _Livro_Eismin.indb 13_Livro_Eismin.indb 13 29/04/16 15:3629/04/16 15:36 14 Eletrônica de Aeronaves para a partida do motor e os procedimentos de emergência. As aeronaves grandes e modernas contêm várias baterias para serem usadas na alimentação de uma variedade de equipamentos. O magnetismo é usado para produzir a maioria de toda a energia elétrica. A indução eletromagnética é o processo onde tensão é produzida movendo-se um condutor por um campo magnético. INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA Princípios básicos A transferência de energia elétrica sem conexões elétricas é chamada de indução. Quando energia elétrica é transferida por meio de um campo magnético, isso é chamado de indu- ção eletromagnética. Esse tipo de indução é universalmente empregado na geração de energia elétrica. Quase toda energia elétrica é produzida por indução eletromagnética, usando um dispositivo conhecido como gerador ou alternador. Geradores e alternadores serão discutidos posteriormente neste texto. In- dução eletromagnética também é o princípio que torna possível o funcionamento de transformadores elétricos e a transmissão de sinais de rádio. Foto sensor FIGURA 1-26 Um típico foto sensor montado em uma placa de circuito. (a) +V +V Circuito controlador –V Circuito controlado Circuito controlado Conectores da bobina (circuito controlador) Núcleo móvel Bobina Contatos Conectores da bobina Solenoide Para a carga Para a carga (b) +V +V Circuito controlador –V Circuito controlado Núcleo fixoBobina Bobina ContatosPivô Para a carga Contatos Núcleo fixo FIGURA 1-25Comparação entre um solenoide e um relé: (a) um diagrama e uma foto de um solenoide; (b) um diagra- ma e uma foto de um relé. _Livro_Eismin.indb 14_Livro_Eismin.indb 14 29/04/16 15:3629/04/16 15:36 Capítulo 1 Fundamentos de eletricidade 15 Indução eletromagnética ocorre sempre que há um movi- mento relativo entre um condutor e um campo magnético. Para se produzir energia, o condutor move-se através das linhas de força magnética (não paralelo a elas). O movimento relativo pode ser causado por um condutor estacionário e um campo em movimento ou por um condutor em movimento em um campo estacionário. As duas classificações gerais da indução eletromagnética são ação geradora e ação motora. Ambas as ações são eletrica- mente as mesmas, mas os métodos de operação são diferentes. A ação motora será discutida em um próximo capítulo deste texto. Ação geradora O princípio básico da ação geradora é mostrado na Figura 1-27. Enquanto o condutor se move pelo campo, uma tensão é indu- zida nele. A mesma ação ocorre se o condutor for estacionário e o campo magnético for movido. A direção da tensão induzida depende da direção do campo e pode ser determinada usando a regra da mão esquerda para geradores: Estenda o dedo pole- gar, o dedo indicador e dedo médio da mão esquerda, de forma que eles formem ângulos retos entre eles, como mostrado na Fi- gura 1-28. Vire a mão de forma que a ponta do dedo indicador aponte na direção do campo magnético e o dedo polegar aponte na direção de movimento do condutor. Então o dedo médio esta- rá apontando na direção da tensão induzida. A Figura 1-29 ilustra outro tipo de ação geradora. Aqui uma barra de ímã é empurrada para dentro de uma bobina de fio. Um medidor sensível conectado na bobina mostra que a corrente flui em certa direção quando o ímã se move para dentro da bobi- na. Assim que o ímã deixa de se mover, a corrente cessa. Quando o ímã é retirado, o medidor mostra que a corrente está fluindo na direção oposta. A corrente induzida na bobina é causada pelo campo do ímã assim que ele atravessa as voltas do fio na bobina. Em geral, para produzir uma tensão por indução eletro- magnética, deve haver um campo magnético, um condutor e o movimento relativo entre os dois. O campo magnético pode ser produzido por um ímã permanente ou um eletroímã. Tipica- mente, eletroímãs são usados por causa das suas vantagens no aumento de força magnética. O condutor usado normalmente é enrolado na forma de uma bobina, que produz uma maior tensão induzida. O movimento pode ser criado deslocando o ímã ou o condutor. Tipicamente, isto é feito girando uma bobina dentro de um campo magnético ou girando um campo magnético dentro de uma bobina de fio. Direção da corrente Direção do movimento Condutor Direção da corrente S N FIGURA 1-27 Ação geradora. Corrente M ovimento F E M FIGURA 1-28 Regra da mão esquerda para geradores. Ímã move-se para dentro da bobinaN S(Ímã) + (a) – Ímã move-se para fora da bobinaN S(Ímã) Nota: fluxo da corrente muda de direção – (b) + FIGURA 1-29 Corrente induzida por um campo magnético em movimento: (a) o ímã move-se para dentro da bobina – note a polaridade do medidor; (b) o ímã move-se para fora da bobina – note a polaridade do medidor. _Livro_Eismin.indb 15_Livro_Eismin.indb 15 29/04/16 15:3629/04/16 15:36 16 Eletrônica de Aeronaves QUESTÕES DE REVISÃO 1. Descreva as propriedades de um ímã permanente. 2. Qual é a diferença entre as substâncias necessárias para os ímãs permanentes e aquelas utilizadas para ímãs temporários? 3. Defina permeabilidade e relutância. 4. Quando a direção de uma corrente que passa por uma bobina é conhecida, como você determina a polaridade da bobina? 5. Como se dá a atração de um imã por um pedaço de aço a 1 polegada de distância comparada à atração a 2 polegadas de distância? 6. Compare um solenoide com um eletroímã. 7. Descreva um relé. 8. Quais condições são necessárias para produzir indução eletromagnética? 9. Como você determina a direção de uma corrente? 10. De acordo com o FAA, em que direção a corrente flui? 11. Quais efeitos indesejáveis são causados pela eletricidade estática durante a operação de um avião? 12. Defina molécula e átomo. 13. Quais partículas são encontradas em um átomo? 14. Explique a diferença entre um relé e um solenoide. 15. Qual é o outro nome para um átomo carregado? 16. O que faz com que algumas substâncias sejam condutoras, isolantes ou semicondutoras? 17. Qual força é exigida para fazer elétrons se moverem em um condutor? 18. Explique a natureza das cargas estáticas. 19. O que é uma corrente elétrica? 20. Qual é o nome dado à unidade de força eletromotriz? 21. A qual força física a tensão pode ser comparada? 22. Qual é a unidade de uma corrente elétrica? 23. Descreva o processo de indução eletromagnética. 24. Defina o que é resistência e dê a sua unidade. 25. Quais os fatores que determinam a resistência de um condutor? _Livro_Eismin.indb 16_Livro_Eismin.indb 16 29/04/16 15:3629/04/16 15:36