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UNIDADE 1 - Ética - É uma ciência, uma disciplina filosófica que estuda os valores e os princípios morais de uma sociedade e seus grupos, e procura refletir sobre eles buscando encontrar um equilíbrio, associada a um sentimento de justiça social, porém não pode ser confundida com lei. - A ética tem por objetivo discutir, problematizar, investigar e interpretar os valores morais. Adquirida pelo comportamento humano diante de diversas situações cotidianas. - Para os antigos era uma maneira de educar o sujeito moral (seu caráter) com o objetivo de propiciar uma harmonia entre o indivíduo e os valores coletivos. ● Ética x Bioética - A ética é uma ciência, uma crítica reflexiva sobre o que é bom ou mau, sobre o comportamento humano. - Ela não estabelece regras como a moral e o direito, ela analisa criticamente as regras impostas pela moral e pelo direito. - Subsidia uma discussão teórica justa sobre um determinado tema. Bioética: ética aplicada. ● Por que estudar e conhecer a Bioética? - Avanços científicos e tecnológicos das últimas décadas vêm acompanhados de crescentes e difíceis dilemas éticos que devem ser enfrentados e discutidos nesta importante fase da formação profissional; - Reprodução assistida, o projeto genoma humano e a medicina preditiva, os transplantes, a eutanásia e o prolongamento da vida; - Fundamental importância dos aspectos normativos relacionados com a ética em pesquisa e principalmente o detalhado conhecimento da Resolução n. 466/12. ● Histórico - Hipócrates de Cós (século IV a.C.): considerado o “pai da medicina”, as camadas sociais eram bem definidas em formato de pirâmide. Na base da pirâmide encontrava-se a grande maioria das pessoas (escravos, prisioneiros de guerras), no meio estavam os cidadãos (artesãos, agricultores) e no topo da pirâmide estavam governantes, sacerdotes e médicos. - Médicos tinham a função de curar pessoas e eram considerados “semideuses”, atribuindo a eles uma atitude “paternalista” que se identifica em muitos profissionais até hoje! - Médicos assumem o papel de “pai” perante os pacientes, atribuindo a eles uma atitude “paternalista”, ou seja, não permitem que o paciente exponha a sua vontade (autonomia). - A fragmentação do saber levou ao entendimento de que o paciente é uma pessoa única e que deve ser considerado em sua totalidade e em todas as suas dimensões e não em partes. - No século XIX com a evolução dos microscópios, vários microrganismos foram descobertos e mudou-se o foco do “paciente” para a “doença”. - Preocupação em estudar o que causava a doença do que as consequências que essa doença podia ocasionar ao paciente. - Exploração de recursos e o aparecimento de novas tecnologias colocaram em risco a vida no planeta – necessário criar um campo de conhecimento que proporcionasse ao ser humano um questionamento sobre suas ações perante os seres vivos como um todo. - Van Rensellaer Potter: pesquisador da área de oncologia. Com os avanços tecnológicos e científicos, ensejou a criação de um ramo que auxiliasse as pessoas a pensar nas implicações positivas e/ou negativas dos avanços sobre a vida dos seres vivos. - Estabelecer diálogo entre as ciências da vida (bios) e a sabedoria prática (ethos) – Bioética. ● Bioética - Criada por Potter em 1970: compromisso global com o equilíbrio e a preservação da relação dos seres humanos com o ecossistema e com a própria sobrevivência no planeta. - Estudo interdisciplinar das ciências da vida e da atenção à saúde voltado para a análise de decisões, formulação de juízos práticos e políticos sobre decisões e atos voltados aos princípios morais, envolvendo domínios acadêmicos, profissionais, técnicos e científicos. - Termo Bioética – 1927, proposto por Fritz Jahr no periódico Kosmos, no artigo Bioética: uma revisão do relacionamento ético dos humanos em relação aos animais e plantas. - “Ética da vida”. - Norteia a tomar decisões importantes, mostra-nos como nos relacionar com o paciente de forma ética e humanizada. - Guia em nossas angústias e dilemas durante a prática clínica. - Sem os conceitos básicos da Bioética, dificilmente conseguiremos enfrentar um dilema de maneira ética/humanizada. ● Conceito de Bioética - Um dos conceitos que definem Bioética é que essa é a ciência que tem como objetivo indicar os limites e as finalidades da intervenção do homem sobre a vida. - Ciência que estuda o impacto das novas tecnologias sobre a vida. - Como área de pesquisa, necessita ser estudada por meio de uma metodologia interdisciplinar – profissionais de diversas áreas (profissionais da educação, do Direito, da sociologia, da economia, da teologia, da psicologia, da medicina etc.). - A Bioética como nova ciência ética combina humildade, responsabilidade e uma competência interdisciplinar, intercultural, que potencializa o senso de humanidade. ● Objetivos - Indicar os limites e as finalidades da intervenção do homem sobre a vida; - Identificar os limites das intervenções da tecnologia sobre a vida; - Estabelecer uma ponte entre o conhecimento humanístico e tecnológico; - Denunciar os riscos das aplicações de determinadas tecnologias; - Estabelecer um diálogo inter e transdisciplinar. ● Questões éticas: uso de células-tronco ● Questões éticas: aborto ● Questões éticas: clonagem humana a) A pessoa é única. Isso significa que as pessoas são diferentes, têm suas características, seus anseios, suas necessidades, e esse patrimônio, essa identidade, merece ser respeitado. Reconhecer que “o outro é diferente de mim” não significa que uma pessoa é melhor que a outra. Uma pessoa não vale mais que a outra. Somos iguais a todos no que se refere à dignidade (IDENTIDADE, UNICIDADE). b) A pessoa humana é provida de uma “dignidade”. Isso significa que a pessoa tem valor pelo simples fato de ser pessoa. c) A pessoa é composta de diversas dimensões: dimensão biológica, dimensão psicológica, dimensão social ou moral e dimensão espiritual. Por isso, falamos que a pessoa é uma totalidade, pois todas essas dimensões juntas compõem a pessoa. Quando nos relacionamos com uma pessoa e não a respeitamos em todas as suas dimensões, essa pessoa (que pode ser nosso paciente ou não) se sentirá desrespeitada e ficará insatisfeita! DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA É um princípio onipresente no Direito. Varia no tempo e no espaço, sofrendo o impacto da história e da cultura de cada povo, bem como de circunstâncias políticas e ideológicas. “[...] a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos” Interatividade O sujeito ético-moral é somente aquele que preencher os seguintes requisitos: a) Ser consciente de si, mas não reconhecer os outros como sujeitos éticos iguais a si. b) Saber o que faz, conhecer as causas e os fins de sua ação, o significado de suas intenções e de suas atitudes e a essência dos valores morais. c) Não precisa controlar interiormente seus impulsos, suas inclinações, deixando-as fluir livremente. d) Dizer o que as coisas são, como são e por que são. Enunciar, pois, juízos de fato. e) Ser responsável, mas não precisa reconhecer-se como autor da sua própria ação nem avaliar os efeitos e as consequências dela sobre si e sobre os outros. ● Princípios da Bioética - Beneficência: fazer o bem; realização de atos de bondade, misericórdia estando relacionado à benevolência – agir beneficamente a favor do outro. Toda vez que um tratamento for proposto a um paciente, devemos reconhecer a sua dignidade e respeitar o paciente em todas as dimensões, desejando o melhor para o paciente para promover saúde, reestabelecersaúde ou para prevenir um mal maior. - - Não maleficência: não acarretar mal ou dano ao paciente por meio do seu tratamento. Antes de tudo, não prejudicar (primum non nocere). Obrigação de não causar dano de forma intencional. - Autonomia: capacidade de autodeterminação de uma pessoa; capacidade de decisão livre de influências externas que a controlam como de limitações pessoais que a impeçam de realizar. A pessoa deve ser livre para decidir e estar livre de pressões externas que podem ocasionar um prejuízo em sua capacidade de decisão. - Justiça: o que é devido a uma pessoa. Igualdade de tratamento, levando em consideração a equidade, ou seja, a cada pessoa deve ser dado àquilo que lhe é devido de acordo com suas necessidades. É preciso respeitar o direito de cada um com imparcialidade, ou seja, a decisão não deverá prejudicar nem o profissional e nem o paciente. ● Virtudes essenciais - Compaixão: consideração pelo bem-estar de uma pessoa combinando simpatia, ternura, misericórdia e desconforto com o sofrimento do outro. Vontade de ajudar o próximo a superar problemas, dando suporte emocional, aliviar o sofrimento de outra pessoa. - Discernimento: capacidade de tomar decisões sem se deixar levar por apegos pessoais, medos, dentre outros. Ser imparcial aos sentimentos, sabendo respeitar o momento do paciente e familiares após, por exemplo, uma comunicação de uma má notícia. - Confiabilidade: fé no caráter moral e na competência de outra pessoa. Essa virtude é muito importante no ambiente de saúde, pois os pacientes se encontram em situação de vulnerabilidade e a confiança no profissional fará a diferença em seu tratamento, decisões. - Integridade: ser objetivo, imparcial e fiel às normas morais. Possui um caráter moral e uma fidelidade às regras morais e as defende quando necessário. Um profissional da saúde íntegro pressupõe-se que seja confiável. - Consciência: uma pessoa consciente faz o certo “porque é o certo” em favor de seus pacientes e da ciência. ● Bioética no Brasil No Brasil teve um início tardio, surgindo apenas após promulgação da Constituição de 1988. Os experimentos terríveis ocorridos na época das Guerras Mundiais passaram a ser conhecidos e questionados, já que não existia a censura da ditadura militar. No início de 1995, surge a Sociedade Brasileira de Bioética (SBB), presidida e fundada pelo Dr. Willian Saad Hossne – agregou pessoas das mais diversas áreas do conhecimento que tinham interesse na Bioética, afirmando que o conhecimento da Bioética não está restrito apenas à categoria de pesquisadores e profissionais, mas sim a toda a sociedade, ciência e religião. ● Atualmente Nos dias de hoje, os conceitos de Bioética não são específicos apenas das áreas da medicina e da saúde, pois foram incorporados também pela antropologia, sociologia, filosofia, Direito, educação, engenharia genética, entre outros. Questões emergentes e problemas éticos pertinentes ao início e fim da vida, novos métodos de fecundação, da seleção de sexo, da engenharia genética, da maternidade substituta, das pesquisas em seres humanos, dos transplantes de órgãos, dos pacientes terminais, das formas de eutanásia, entre outros temas atuais. ● Pesquisa com seres humanos – Segunda Guerra Mundial - Experimentos científicos cruéis, massacres, torturas, perseguição, destruição e mutilação em massa que foram classificados como grandes atrocidades e torturas; - Prisioneiros de guerra e menos favorecidos eram usados como “cobaias” nesses experimentos que acarretaram algumas descobertas, porém com sofrimento humano; - Experimentos eram realizados sem o consentimento do participante, sem privacidade ou alguma garantia; - Submetidos a contaminação, situações insalubres, procedimentos degradantes. - Dr. Josef Mengele, o “anjo da morte” – contaminava judeus com o bacilo do tifo, no intuito de criar vacinas (antídotos), experimentos em gêmeos. - Utilizava injeções de tinta de cor azul nos olhos de crianças que possuíam olhos escuros ● Caso Tuskegee – EUA - 400 a 600 homens negros foram recrutados com a promessa de tratamento médico, alimentação e moradia; - Não eram informados que tinham sífilis, apenas que tinham um “sangue ruim”; - Passaram a receber remédios para tratamento sem efeito (placebo), mesmo após a descoberta da penicilina indicada para o tratamento da sífilis. No Brasil - Movimento também ganhou força, e médicos, engenheiros e outros, considerados a elite intelectual, viram na eugenia uma forma de acelerar o desenvolvimento do país. - Acreditavam que negros, imigrantes asiáticos e pessoas com deficiência de qualquer origem deveriam ser banidos, mantendo apenas os brancos com descendência europeia no país. - Elite relacionava as epidemias brasileiras como culpa do “negro recém-liberto” com a abolição da escravidão. - Eugenia seria a solução para acabar com essas epidemias, o que seria uma espécie de higiene social. Interatividade A ética serve para que se possa existir certo equilíbrio e funcionamento social de qualidade, fazendo com que ninguém saia prejudicado. Nesse ponto de vista, a ética, embora não possa ser confundida com as leis, está diretamente voltada com: a) A educação das pessoas. b) O sentimento de justiça social. c) O medo da sociedade de errar. d) A educação dada na infância. e) O pensamento de pessoas que possuem conhecimentos profundos. ● Ética em pesquisa - Os experimentos realizados ou assistidos por médicos no período de guerra foram considerados como atrocidades, pois obrigavam as pessoas a participarem e tinham um cunho de pesquisa que exterminava, mutilava e incapacitava sem poderem expressar a sua autonomia. - Observada a necessidade da elaboração de documentos para nortear essas pesquisas com o intuito de proteger e respeitar a dignidade das denominadas “cobaias humanas”. - “Guias éticos” para proteção a essas pessoas, bem como para guiar o “pesquisador”. ● Código de Nuremberg: julgamento sobre os crimes dos médicos nazistas - Tribunal militar internacional para julgamento de médicos e pessoas importantes do alto escalão nazista que realizaram essas pesquisas a serem julgados quanto ao crime contra a humanidade; - Julgamento iniciou em dezembro de 1946 até julho de 1947; - Dos 24 réus, 2 cometeram suicídio antes do término do julgamento, 3 foram absolvidos e 19 foram condenados a penas que variavam de 10 anos de prisão ao enforcamento; - Elaborado pelos juízes de Nuremberg, que tinham conhecimento da importância do juramento hipocrático em que consta a obrigatoriedade da não maleficência ● Princípios Definir algumas normas de experimentação em seres humanos, destacando-se: a) a importância do consentimento livre e esclarecido do participante; b) a necessidade da experimentação animal realizada antes da experimentação com seres humanos; c) a importância da ausência de risco na aplicação das técnicas em seres humanos e que o experimento possa ser interrompido a qualquer momento. ● Princípios do código - O consentimento voluntário do ser humano é absolutamente essencial. - O experimento deve ser tal que produza resultados vantajosos para a sociedade. - O experimento deve ser baseado em resultados de experimentação animal e no conhecimento da evolução da doença ou outros problemas em estudo e os resultados conhecidos previamente devem justificar a experimentação. - O experimento deve ser conduzido de maneira a evitar todo o sofrimento e danos desnecessários, físicos ou mentais. - Nenhum experimento deve ser conduzido quando existirem razões para acreditar numa possível morte ou invalidez permanente. - O grau de risco aceitável deve ser limitado pela importância humanitária do problema. - Cuidados especiais para proteger o participante do experimento de qualquer possibilidade, mesmo remota, de dano, invalidez ou morte. - O experimento deve ser conduzido apenas por pessoas cientificamente qualificadas. - Durante o experimento, o participante deve ter plena liberdade de se retirar, em qualquer momento, caso sinta que há possibilidadede qualquer dano com sua continuidade. - Durante o experimento, o pesquisador deve estar preparado para suspender os procedimentos em qualquer estágio, se ele tiver motivos para acreditar que a continuação do experimento causará provável dano, invalidez ou morte para o participante. ● Declaração de Helsinque - Apesar da elaboração do Código de Nuremberg, algumas pesquisas ainda estavam sendo realizadas sem que os participantes tivessem sua autonomia e dignidade respeitadas pelos médicos pesquisadores. - Surgiu a necessidade da elaboração de outro documento que estabelecesse condutas éticas aos médicos pesquisadores no realizar de suas pesquisas. - Documento redigido pela Associação Médica Mundial (AMM), na 18ª Assembleia Geral da Associação Médica Mundial, na cidade de Helsinque, Finlândia, 1964. - Objetivo de nortear as pesquisas com seres humanos - Necessidade de cumprimento dos princípios éticos, oferecer ao participante as informações sobre os riscos e os benefícios – assegurando aos participantes acompanhamento após o término da pesquisa e condenando o uso do placebo quando já existe tratamento eficaz; - Distinção entre experimento envolvendo pacientes e pesquisa com sujeitos saudáveis; - Propôs uma avaliação ética prévia realizada por um comitê independente; - Previu a possibilidade de estudos médicos não serem realizados sem consentimento informado, sem o emprego, em nenhum de seus dispositivos, da linguagem dos direitos humanos ou a expressão da dignidade humana. A proteção dos direitos dos participantes da pesquisa estaria relacionada ao seu direito de não participar ou de se retirar do experimento a qualquer momento e os médicos deveriam respeitar a autonomia dos participantes; Porém: Quatro anos após a adoção da Declaração de Helsinque, Henry Beecher, pesquisador da Escola Médica de Harvard, publicou em artigo no New England Journal of Medicine a ocorrência de 22 experimentos que colocaram em risco a saúde dos sujeitos participantes. ● Absurdos cometidos Willowbrook State School of New York, crianças com deficiência intelectual foram infectadas com cepas de hepatite sob a alegação de estarem sendo imunizadas, sendo que um grupo recebia o tratamento e o outro não. Em 1972, estourou o escândalo do caso Tuskegee, experimento de anos levado a cabo no Sul dos Estados Unidos, no qual homens afro-americanos pobres, portadores de sífilis, foram deixados sem tratamento para que fosse observado o curso natural da doença. Interatividade A relação de prioridade na autonomia profissional mostra dimensão autoritária ou paternalista dessa relação e pode possibilitar a expansão da autonomia à medida que se avança o processo terapêutico. Qual o primeiro documento que enfatizou a importância da autonomia do paciente? a) Declaração de Helsinque. b) Código de Nuremberg. c) Código de Ética Médica. d) Declaração Universal dos Direitos Humanos. e) Resolução n. 196/96. ● Declaração Universal dos Direitos Humanos - Elaborada por uma comissão de representantes da Organização das Nações Unidas entre 1946 e 1948. - Documento composto de 30 artigos que determinam os direitos básicos de todo ser humano independente de sua condição social, de sua raça e religião. - Dignidade da pessoa humana e sua liberdade sobre si mesmo, da sua essência, do seu corpo, consagrando o princípio da autonomia individual. - Busca garantir direitos iguais entre os povos mencionando questões como liberdade, igualdade, direitos culturais, sociais, civis, econômicos e políticos, respeitando a legislação interna de cada país. - Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade. - Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nessa Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição. - Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. - Ninguém será mantido em escravidão ou servidão. A escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas. - Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. - Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei. - Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, à igual proteção da lei. Todos têm direito à igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. - Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado. Aprovada em outubro de 2005 na 33ª sessão da Assembleia Geral da Unesco. Apontou-se o caráter social da bioética e suas discussões foram definitivamente ampliadas para além da temática biomédica e biotecnológica, abrangendo aspectos políticos, sociais e ambientais. Respeito à dignidade humana e às suas liberdades fundamentais para o desenvolvimento dos princípios bioéticos contidos nessa Declaração, ressaltando a importância da bioética como uma ferramenta capaz de auxiliar na resolução de conflitos éticos que atentem contra os direitos humanos. Conhecida como uma declaração contra a clonagem humana e o abuso do uso do genoma humano contra a dignidade humana. Cada indivíduo tem direito ao respeito de sua dignidade e direitos, independente de suas características genéticas. A pesquisa do genoma humano e de suas aplicações contribui para o progresso e o aprimoramento da saúde das pessoas e da humanidade como um todo – pesquisas utilizando o genoma devem respeitar a dignidade humana plenamente, bem como a liberdade e os direitos humanos, além de coibir qualquer ato de discriminação baseado em características genéticas. ● Resolução n. 196/96 - Pesquisa com seres humanos no Brasil. - Fundamentada em importantes documentos relacionados à ética e à pesquisa em seres humanos, tais como Código de Nuremberg, Declaração de Helsinque e Constituição brasileira. - Primeiro documento nacional da ética aplicada à pesquisa e estabeleceu diretrizes e normas regulamentadoras que nortearam as pesquisas envolvendo seres humanos - Incorporou os princípios bioéticos tendo como base a Constituição para pesquisas que envolvessem medicamentos, diagnóstico, tratamento, reprodução assistida, populações vulneráveis (como a indígena). - Resolução n. 196/96 QUAL A INFLUÊNCIA NO BRASIL? • Resolução n. 196/96, 10 de outubro de 1996 • Protocolo de pesquisa (descrição) • Consentimento livre e esclarecido (autorização) • Comitês de Ética em Pesquisa (parecer) - Criado sistema regulador de pesquisa que perdura até os dias de hoje: o Sistema CEP/Conep. - O Ministério da Saúde, por meio do Conselho Nacional da Saúde (CNS), também teve uma participação significativa na criação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e da Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (Conep). - O CEP e o Conep foram essenciais para a institucionalização da Bioética, passando a mobilizar pesquisadores, patrocinadores de pesquisa, instituições acadêmicas e os próprios sujeitos de pesquisa com o objetivo de discutir o melhor exercício humano da ciência no Brasil. ● CEP X Conep - O CEP – Comitê de Ética em Pesquisa – é um colegiado interdisciplinar e independente presente nas instituições que realizam pesquisas com seres humanos, criado com o objetivo de defender a integridade e a dignidade dos participantes de pesquisa e para contribuir para o desenvolvimento da pesquisa dentro dos padrões éticos evitando abusos. - O Conep – Comissão Nacional de Ética e Pesquisa – vinculado ao Ministério da Saúde e diretamente ligado ao Conselho Nacional de Saúde (CNS), tem caráter deliberativo, normativo e consulti - vo independente. ● Resolução n. 466/12 A ética em pesquisa deve visar: - Respeito ao participante em sua dignidade e autonomia, reconhecendo a sua vulnerabilidade. - Participante, por meio do consentimentolivre e esclarecido, irá expressar sua vontade de participar ou não da pesquisa e esse direito deve ser respeitado. - Ser ponderados os riscos e os benefícios da pesquisa, sendo que os benefícios devem se sobressair aos riscos. - Garantir aos participantes que previsíveis danos serão evitados durante a realização da pesquisa, a qual deve ter uma relevância social. ● TCLE - Informações contidas no TCLE devem ser expressas em uma linguagem acessível e apropriada à cultura, faixa etária, condição socioeconômica e autonomia dos participantes. - Conter informações: como será a pesquisa, em que local, qual o objetivo, quais os possíveis desconfortos e/ou riscos e como eles serão minimizados pelo pesquisador, a justificativa da realização da pesquisa, os benefícios que essa pesquisa pode trazer ao participante. - Garantia de plena liberdade ao participante de retirar o seu consentimento ou de recusar a participar da pesquisa em qualquer fase de sua execução. - Garantia de sigilo também deve estar explícita nesse documento e o participante deve receber uma cópia desse termo. - Crianças, pessoas com transtorno ou deficiência intelectual, adolescentes ou em situações em que haja uma redução na sua capacidade de decisão, deverá haver uma justificativa clara da escolha dessa população e quando pertinente deve ser aprovada pelo CEP ou Conep. Nesse caso, o TCLE deve ser assinado pelo responsável. - A liberdade de consentimento deve estar garantida aos participantes que estejam expostos a condicionamentos específicos ou à influência de autoridades, mesmo que sejam plenamente capazes, caracterizando situações em que a autonomia do participante pode estar limitada (estudantes, militares, presidiários etc.) garantindo a plena liberdade de participar ou não da pesquisa, sem a presença de represálias. Interatividade De acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de: a) Amor. b) Compaixão. c) Fraternidade. d) Felicidade. e) Discriminação. Unidade 2- Bioética e início da vida Novos desafios: Clonagem – ovelha Dolly – Indivíduo igual ao outro; - A vida pode ser reproduzida? - Células-tronco; Genética; Influenciaram como passamos a pensar a vida humana! Vida humana em risco devido às nossas próprias ações? ● Alguns questionamentos que impactam as relações humanas Reflexão gera a ética. Portanto, questiona-se: Há limites para a investigação científica? O progresso é sempre desejável? O progresso traz, apenas, benefícios? O que é a vida? - Quando falamos em vida devemos pensar no meio ambiente, nos animais e nos seres humanos. - Os seres humanos devem existir quando há condições de uma vida com qualidade. - O aborto pode ser moralmente permitido e legalmente também. - Anencefalia, doenças que impedirão uma vida com qualidade, risco para a gestante. - Gravidez não desejada – princípio da não maleficência (proíbe), em contraposição com a autonomia da mulher (permite). Ninguém é capaz, sequer, de explicar o que é a vida! - Esteve sempre associado a um conceito cristão, onde a vida estaria relacionada ao divino e seria uma criação de Deus e, portanto, apenas Ele teria o direito de dar a vida a alguém ou, até mesmo, tirá-la. - Expressões como “proveta” e “manipulação genética” estão cada vez mais presentes no cotidiano, e a polêmica sobre o que é a vida, e quando ela começa, guia e guiará a sociedade em que vivemos. - Nem a Biologia e nem a Filosofia conseguem definir o que é a vida! Por que definir a vida? Definir quando começa a vida será importante para: - Determinar se aborto é crime ou não; - Se é ético manipular os embriões humanos para a cura de doenças crônicas e deficiências físicas; - Ex.: embrião ficou congelado por 27 anos (embrião foi congelado em 1992, até 2020). Quando a vida começa? - Visão genética: começa na fertilização, quando o espermatozoide e o óvulo se encontram e combinam os seus genes para formar um indivíduo com um conjunto genético único. - Visão embriológica: começa na terceira semana de gravidez, quando é estabelecida a individualidade humana; até 12 dias após a fecundação, o embrião, ainda, é capaz de se dividir e dar origem a duas ou mais pessoas. - Visão neurológica: ela começa quando o feto apresenta a atividade cerebral igual à de uma pessoa e cessa quando não há mais atividade cerebral. - Visão ecológica: capacidade de sobreviver fora do útero é que faz do feto um ser independente e determina o início da vida (bebê prematuro só se mantém vivo se tiver pulmões prontos, o que acontece entre a 20ª e a 24ª semana de gestação). - Visão metabólica: discussão sobre o começo da vida humana é irrelevante, uma vez que não existe um momento único no qual a vida tem início; já que os espermatozoides e os óvulos são tão vivos quanto qualquer pessoa. Zigoto X embrião X feto Zigoto não é um amontoado de células – é totipotente e detém não só a capacidade de se desenvolver em um organismo completo, como, também, a aptidão de gerar qualquer célula do corpo humano. Carrega toda a informação genética que nos constitui fisicamente. O embrião e o feto são formas humanas posteriores do desenvolvimento do zigoto. No sentido religioso – Alguns exemplos - Catolicismo: a vida começa na concepção, quando o óvulo é fertilizado, formando um ser humano. - Judaísmo: “A vida começa, apenas, no 40° dia, quando o feto começa a adquirir a forma humana” – permite a pesquisa com células-tronco e o aborto, quando a gravidez envolve o risco de vida para a mãe ou resulta de estupro. - Islamismo: acontece quando a alma é soprada por Alá no feto, cerca de 120 dias após a fecundação. Muçulmanos condenam o aborto, mas muitos aceitam a prática, principalmente, quando há risco de vida para a mãe. E tendem a apoiar o estudo com as células-tronco embrionárias. E a dignidade humana? - “Os direitos humanos são a expressão direta da dignidade da pessoa humana, a obrigação dos Estados de assegurarem o respeito que decorre do próprio reconhecimento dessa dignidade” (UNESCO, 1948) – Declaração Universal dos Direitos Humanos. - Implicações no âmbito dos direitos econômicos, sociais e culturais, indispensáveis à concretização dessa dignidade. - Fundamental na abordagem de novos problemas de bioética e de uma ética do ambiente – a dignidade se relaciona com o respeito, as desigualdades sociais e econômicas impedem que as sociedades modernas respeitem a si mesmas. A ética e o embrião - Embrião humano deve ser considerado como pessoa e pertence à comunidade moral; desde a concepção, o óvulo fertilizado se torna membro da comunidade moral humana. - Embrião humano é uma “coisa” – devido às novas técnicas sobre a reprodução artificial (embrião in vitro pode ser transferido, congelado, estocado, utilizado com os fins de pesquisa). - Filósofo Peter Singer – Se a vida humana termina com a desaparição definitiva das funções cerebrais, ela deve iniciar com a aparição das primeiras funções cognitivas ligadas à organogênese cerebral: se a Medicina reconhece que a perda funcional do cérebro é uma base suficiente para declarar que não há mais uma pessoa viva no corpo; então, por que não utilizar o mesmo critério na outra extremidade da existência? O embrião em estágio muito precoce de desenvolvimento é vida? - Cientistas como René Frydman, professor da Universidade de Paris, preferem definir o embrião como a “potencialidade de pessoa”, “um quase nada” que pode se tornar “um quase tudo”. “Portador de um projeto de família, ele é sagrado. Sem projeto, sem futuro, ele não é um nada, mas ‘um quase nada’”. Interatividade As células-tronco totipotentes: a) São tipos de células encontradas, mais facilmente, no nosso corpo e responsáveis pela renovação de certos órgãos. b) Não pode originar os tecidos extraembrionários e possui a capacidade, apenas, de gerar as células dos folhetos embrionários, ou seja, do ectoderma, mesoderma e endoderma.c) Podem diferenciar-se em, apenas, alguns tipos celulares. d) São células bem diferenciadas que originam um único órgão. e) Podem formar qualquer célula imaginável, incluindo os tecidos extraembrionários, como é o caso da placenta ● A ética e o feto - O feto ganha status moral, gradualmente, durante a gestação; obrigações em relação a ele crescem durante a gestação e fica mais difícil justificar o aborto com a evolução da gestação. - O feto tem status moral e direito à vida a partir do momento da concepção. O aborto só seria justificado para proteger a vida da mãe ou em decorrência de anomalias fetais incompatíveis com a vida. - O feto como paciente, com direitos a partir de sua viabilidade, tem a sua capacidade de sobrevida fora do útero. ● Quando começa a pessoa? - Complexo, ainda, é determinar quando começa a pessoa, e se essa distinção entre a vida humana e a vida pessoal tiver alguma relevância. - A Igreja Católica – a pessoa existe desde a fertilização, quando aparece um genótipo distinto do pai e da mãe. Qual é o momento em que o embrião deve ser considerado como pessoa? Até hoje, nem a Ciência nem a Teologia têm uma resposta exata. A pessoa existe como pessoa, somente, quando é reconhecida por outras pessoas? ● Como a bioética se propõe a estabelecer novas reflexões sobre a vida humana? - Com os avanços da Ciência e da Medicina – novas formas de reflexão que possibilitem uma moralidade a altura dos avanços tecnológicos e também dos excessos do séc. XX. - A forma de vida do ser humano não é a mesma de séculos anteriores – por isso, uma nova forma de ética. - Hans Jonas (1903-1993) – O princípio da vida; O princípio da responsabilidade Hans Jonas - “Atuar de forma que os efeitos de suas ações sejam compatíveis com a permanência de uma humanidade genuína” – responsabilidade que o ser humano tem perante a humanidade. - Como estabelecer uma vida humana que respeite a própria dignidade. - Agir de forma a sermos, de fato, seres humano e olhar para além do ser humano. - Agir de forma coletiva e adquirir uma responsabilidade coletiva – e, portanto, respeitar a vida humana. - Pensar as soluções éticas e morais – vida humana de forma geral – olhar além de mim mesmo, daqueles que gosto – olhar para a vida humana em todo o planeta. - A bioética tem aspecto de voltar-se para pensar sobre a vida humana. Principialismo: reflexões que devem gerar novas reflexões - 4 princípios – bioética que garanta uma ética voltada a plenitude. - Não maleficência – não causar o mal ao paciente (Hipócrates) – entender o que é mal para o paciente, como pode ser respeitado em sua dignidade; respeitar o paciente e a família. - Beneficência – benefício do paciente – aquilo que faz bem ao paciente. - Autonomia – paciente tem autonomia para tomar as decisões, principalmente, no que diz respeito à sua vida – “esquecer” o paternalismo – TCLE. - Justiça – o que é justo para o paciente. Levar em consideração a autonomia da decisão compartilhada com os familiares e os pacientes. Respeitar o conhecimento. O médico e o paciente podem conversar para chegarem a melhor decisão referente ao tratamento. Aborto - Segundo a OMS: aborto, do latim ab-ortus (“privação do nascimento”), refere-se à interrupção da gestação com a extração ou expulsão do embrião, ou do feto de, até, 500 gramas antes do período perinatal (que data entre a 22ª semana completa e os 7 dias completos após o nascimento. - O aborto pode ser precoce, quando ocorre antes da 13ª semana de gravidez, ou tardio, entre a 13ª e a 22ª semana). - De acordo com o dicionário médico, o procedimento deve ocorrer antes que o feto seja viável; isto é, o nascituro não consegue sobreviver, ainda, fora do útero; após esse período, denomina-se como parto prematuro. - O aborto espontâneo ocorre quando há a interrupção natural da gravidez pelo próprio organismo da gestante. - O aborto acidental também acontece de forma involuntária e resulta de uma experiência traumática vivenciada pela gestante, exigindo, assim, a presença de um fator externo. - O aborto induzido é quando se realiza um procedimento para interromper a gravidez (autonomia da gestante, gestação decorrente de estupro, risco à saúde da mãe, máformação congênita). Código Penal Brasileiro - Art. 124 – Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos. - Art. 125 – Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena – reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos. - Art. 126 – Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. Parágrafo único – Aplica-se a pena do Artigo anterior, se a gestante não é maior de 14 (quatorze) anos, ou é alienada, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. - Art. 127 – As penas cominadas nos dois Artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre uma lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. - Art. 128 – Não se pune o aborto praticado por médico: Aborto necessário I – Se não há outro meio de salvar a vida da gestante; Aborto sentimental II – Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante, ou, quando incapaz, de seu representante legal. Más-formações incompatíveis com a vida - Anencefalia. - Trissomia do 13 ou Anomalia de Patau – múltiplas más-formações (defeitos faciais, cardiopatias, anomalias renais, polidactilia, entre outras. - Agenesia renal bilateral – anomalia incurável. Não apresenta a formação de urina; hipoplasia pulmonar bilateral. - Osteogênese imperfeita tipo II – traumas de parto podem gerar hemorragias intracranianas, natimorto ou morte súbita, após os primeiros dias de vida ou as primeiras semanas. Interatividade Em relação ao aborto no Brasil, ele é permitido, exceto, em casos de: a) Anencefalia. b) Estupro. c) Risco para a vida materna (risco de morte materna). d) Síndrome de Down. e) Osteogênese imperfeita tipo II. Fim da vida – Finitude - Cada um de acordo com as suas crenças e os seus valores, tem um conceito sobre a morte e, muitas vezes, este conceito não condiz com a situação que se está vivenciando, principalmente, os profissionais da saúde que devem refletir sobre o processo de morrer e o conceito de morte. - A única certeza que há na vida é a morte. Não se sabe como e quando ela vai acontecer, mas ela chegará para todos, e, portanto, deve-se conviver com esta certeza e lidar com o medo. O medo da morte está associado ao medo da solidão, da tristeza, da separação e do desconhecido. - A morte se tornou um “tabu”, pois com o avanço tecnológico deseja-se que os pacientes e entes queridos adquiram a imortalidade e não aceitamos que a morte é um processo natural ao qual todos irão se deparar em algum momento da vida. - Profissional da saúde: a morte é grande adversária, levando o profissional lutar contra ela a todo custo utilizando-se de todo arsenal tecnológico, terapêutico e medicamentoso. Porém, esta luta incessante contra a morte, acaba por ferir a dignidade do paciente em uma situação de terminalidade de vida ocasionada por uma doença fora da possibilidade terapêutica de cura Conceitos relacionados à morte - A morte ocasionada pelo término das funções vitais – parada circulatória e respiratória irreversíveis. - A morte ocasionada pelo término das atividades do tronco e do córtex cerebral – a chamada morte encefálica. Perda definitiva e irreversível das funções do encéfalo, por uma causa conhecida, comprovada e capaz de provocar o caso clínico. Morte encefálica Dilema dos profissionais da saúde e familiares. A detecção de uma morte encefálica não é tão simples. De acordo com a Resolução do CFM n. 2.173/17, o protocolo para a detecção de morte encefálica deve ser iniciado para os pacientes que estejam em coma não perceptivo, ausência de reatividade supraespinhal e apneia persistente, em que são realizados: a) Doisexames clínicos que confirmem o coma não perceptivo e a ausência de função do tronco encefálico; b) Teste de apneia que confirme a ausência de movimentos respiratórios, após a estimulação máxima dos centros respiratórios; c) Exame complementar que comprove a ausência de atividade encefálica Eutanásia - O termo surgiu em 1623, idealizado por Francis Bacon. O termo estava relacionado com o tratamento adequado para as doenças incuráveis e, portanto, o médico deveria utilizar os seus conhecimentos não, apenas, como método curativo, mas, também, como uma forma de minimizar o sofrimento e as dores de uma enfermidade. - Definida como uma ação médica que tem por finalidade a abreviação da vida por atos misericordiosos, morte antecipada e sem dor. Continua presente no mundo contemporâneo gerando os dilemas e as discussões na comunidade médica. Eutanásia no Brasil No Brasil, a eutanásia em humanos é considerada um crime de acordo com o Código Penal, porém, na Medicina Veterinária ela é permitida e muita utilizada pelos profissionais com o objetivo de cessar o sofrimento dos animais. Outros países, como: a Bélgica, a Holanda e, em alguns estados dos Estados Unidos, os pacientes com as doenças fora da possibilidade de cura e terapêutica podem solicitar a eutanásia para a equipe médica como forma de cessarem o seu sofrimento. Suicídio assistido Associado ao tema da eutanásia não podemos deixar de falar sobre o suicídio assistido, onde o próprio paciente recebe das mãos de um profissional o fármaco que lhe causará a morte, e o ingere de forma espontânea e autônoma. Ele é diferente da eutanásia. Distanásia É o oposto da eutanásia; a eutanásia tem como objetivo acelerar a morte, e a distanásia tem como objetivo retardar o processo de morte com o auxílio da tecnologia. Os profissionais da saúde que trabalham em UTI se deparam com esta situação diariamente. Pode ser definida como um prolongamento exagerado da agonia, do sofrimento e da morte de um paciente, podendo, também, ser utilizado como o sinônimo de tratamento fútil e inútil, que traz como consequência uma morte lenta e prolongada, cercada de sofrimento. Prolongamento do processo de morrer de pacientes com as doenças fora da possibilidade de cura e terapêutica, que é realizado através do uso de tecnologias cada vez mais avançadas associado a um excesso de medidas terapêuticas – que não são capazes de alterar o quadro de morbidade do paciente, mas culmina com a dor e o sofrimento de pacientes, familiares e profissionais de saúde. Interatividade Paciente oncológico em fase terminal, consciente, hipersecretivo, relata sentir-se cansado, com dores e pede ao fisioterapeuta para não realizar a terapia neste dia. O fisioterapeuta, após explicar a importância do procedimento ao mesmo, comunica a equipe que não realizará as suas condutas, naquele momento. Neste caso, qual dos princípios da bioética foi respeitado? a) Autonomia. b) Beneficência. c) Não maleficência. d) Justiça. e) Equidade. Ortotanásia A morte ortotanásica não é resultado de uma prática médica, mas sim o resultado do curso natural de uma doença, uma situação de terminalidade. Trata-se de permitir que a vida siga o seu curso natural. A ortotanásia, onde “orto” significa “correto”, no seu sentido etimológico, significa “morte no tempo certo”, sem abreviações ou prolongamentos desnecessários do processo de morrer. A ortotanásia deve ser almejada em situações em que a morte é iminente e inevitável; não podemos falar em cura. O cuidado oferecido pelo profissional de saúde: amparar, proteger e acolher o paciente, aliviando a dor, o sofrimento e as angústias tanto do paciente quanto dos familiares. A comunicação se torna essencial; os familiares e pacientes devem estar cientes de todo o processo da doença que culminará no processo de morrer. O paciente terá uma humanização de sua morte, uma morte digna através da ortotanásia. Cuidados paliativos Cuidados que melhoram a qualidade de vida dos doentes e familiares, abordando os problemas associados à doença, prevenindo e aliviando o sofrimento, através da identificação precoce, e da avaliação minuciosa da dor e outros problemas físicos, psicológicos, sociais e espirituais. Processo natural de morte, integrando os aspectos psicológicos e espirituais ao cuidado do paciente, oferecendo um suporte para a manutenção da funcionalidade, até o momento da morte, além de oferecer o suporte para auxiliar os familiares no decorrer da doença do paciente e a enfrentar o luto. - A abordagem é multiprofissional, focada nas necessidades dos pacientes e familiares, incluindo a fase do luto. - O fisioterapeuta participa da equipe multidisciplinar de cuidados paliativos e exerce um papel fundamental na manutenção da funcionalidade e no alívio da dor. - Objetivos: controle da dor, melhora da ansiedade, menor tempo de internação hospitalar, alívio do sofrimento, qualidade de vida para os paciente e familiares, manutenção da funcionalidade, entre outros. Não têm o objetivo de acelerar o processo de morte por atos misericordiosos, mas sim de respeitar o curso natural da doença, aguardando o momento de uma morte natural, respeitando a dignidade do paciente e proporcionando a qualidade de vida até o último segundo, procurando atender aos últimos desejos do paciente, transformando o processo de morte em algo natural. Mistanásia A mistanásia é considerada como uma morte social devido à pobreza, violência, falta de infraestrutura básica, como: saneamento básico, educação, moradia. É considerada como uma morte excludente, uma morte infeliz em nível coletivo. Três fatores contribuem para a mistanásia: Discriminação de certas pessoas, podendo levá-las à exclusão ou à marginalização; Segregação social – isolamento espacial de determinado grupo de indivíduos; Exclusão social – separação de pessoas através de fatores socioeconômicos. Brasil: observa-se que os pacientes ficam horas em longas filas, falta de materiais, de profissionais capacitados e a falta de local para a acomodação dos pacientes que, muitas vezes, são dispostos em cadeiras, macas e, até, em colchões espalhados pelo chão e pelos corredores. As pessoas são tratadas com desrespeito, sem empatia, sem cuidado e sem acolhimento pelos profissionais de saúde que estão despreparados para acolher um paciente nesta situação. Deontologia e Código de Ética da Fisioterapia No campo profissional, as leis auxiliam os profissionais em suas decisões, pois acabam limitando-os aos direitos e deveres, pois uma conduta profissional que esteja fora da lei compromete a sua ética profissional, social e a sua moralidade. Os indivíduos devem ser éticos perante a si mesmo e perante à sociedade, seja em seu campo pessoal ou profissional. A ética profissional está relacionada aos princípios e valores que comandam os comportamentos do profissional em seu ambiente de trabalho. O Código de Ética Profissional: documento específico de cada profissão que contém as normas e diretrizes que norteiam a execução ética da profissão. Este código contém os direitos e deveres relacionados ao profissional e à profissão que são, moralmente, aceitas por uma sociedade. - A Fisioterapia foi reconhecida como um curso superior e regulamentada no dia 13 de outubro de 1969, por meio do Decreto-Lei n. 938/69. Apenas, em 1978, por meio da Resolução n. 424/13, o primeiro Código de Ética da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional foi elaborado. Em 2013, através da Resolução n. 424, de 08 de julho de 2013, o Código de Ética passou por revisões e adequações, em seus capítulos e artigos, e a Fisioterapia passou a ter um Código de Ética exclusivo de sua profissão, ou seja, o Coffito separou as duas profissões e, diferentemente do que ocorreu em sua primeira versão, cada profissão passou a ter o seu Código de Ética Profissional. Interatividade J. P., 55 anos de idade, sexo masculino, morador de rua, foi encontrado morto na madrugada do dia 20 de julho de 2020, sendo que, nesta noite, a temperatura chegou a 3 °C. Suspeita-se que a causa da morte tenha sidodecorrente do frio extremo. Neste caso, pode-se considerar que houve a: a) Eutanásia. b) Mistanásia. c) Ortotanásia. d) Distanásia. e) Eutanásia voluntária