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ANÁLISE DE CENÁRIOS ECONÔMICOS E APLICAÇÕES ESTRATÉGICAS FABRÍCIO PESSATO FERREIRA Sumário AULA 1 INTRODUÇÃO A CENÁRIOS ECONÔMICOS E INDICADORES SOCIAIS I ....................................... 7 I. Introdução ....................................................... 9 II. Lei da Escassez ................................................ 9 III. Fluxo Circular de Renda ................................. 11 IV. Ciclos Econômicos e Formação de Expectativas .................................. 15 AULA 2 INTRODUÇÃO A CENÁRIOS ECONÔMICOS E INDICADORES SOCIAIS II .................................... 18 I. Introdução ..................................................... 20 II. PIB ................................................................. 20 III. PIB per capita ................................................ 23 IV. Juros .............................................................. 24 V. Taxa de Desocupação .................................... 24 VI. Inflação .......................................................... 26 VII. Taxa de câmbio .............................................. 28 VIII. Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) ..................................................... 28 IX. Índice de Gini ................................................ 30 AULA 3 INTRODUÇÃO A CENÁRIOS ECONÔMICOS E INDICADORES SOCIAIS III ................................... 32 I. Introdução ..................................................... 34 II. Escolaridade .................................................. 35 III. Sistema tributário brasileiro .......................... 36 IV. Regressividade tributária .............................. 40 V. Considerações finais ...................................... 42 AULA 4 POLÍTICA FISCAL E MONETÁRIA I ...................... 43 I. Introdução ..................................................... 45 II. As Políticas Macroeconômicas ...................... 47 III. A Política Fiscal .............................................. 47 AULA 5 POLÍTICA FISCAL E MONETÁRIA II ..................... 52 I. Execução dos gastos públicos ....................... 53 II. O déficit público ............................................ 55 III. O endividamento público .............................. 55 AULA 6 POLÍTICA FISCAL E MONETÁRIA III .................... 62 I. As Funções da Moeda e a Política Monetária 64 II. O Banco Central e os Agregados Monetários 65 III. Instrumentos de Política Monetária .............. 67 IV. Sistema de Metas de Inflação e COPOM ....... 72 V. Mecanismos de transmissão da Política Monetária ........................................................... 73 AULA 7 CONTAS EXTERNAS E COMÉRCIO INTERNACIONAL I ............................................... 77 I. Taxa de câmbio .............................................. 78 II. Mercado cambial .......................................... 79 III. Taxa de câmbio e as contas externas ............ 81 AULA 8 CONTAS EXTERNAS E COMÉRCIO INTERNACIONAL II .............................................. 91 I. Introdução ..................................................... 93 II. Balança comercial ......................................... 95 III. Balança de serviços ....................................... 97 IV. Renda primária .............................................. 98 V. Renda secundária ........................................ 102 VI. Saldo das transações correntes (ou conta corrente) ........................................................... 102 VII. Conta capital e conta financeira .................. 105 VIII. Reservas cambiais ou reservas internacionais ..................................... 109 AULA 9 CONTAS EXTERNAS E COMÉRCIO INTERNACIONAL III ........................................... 112 I. Impacto da política cambial sobre as contas externas ............................................................ 114 II. Benefícios do comércio internacional ......... 117 III. Protecionismo ............................................. 119 IV. Dumping ...................................................... 122 V. Do GATT à OMC ........................................... 124 VI. Blocos comerciais ........................................ 128 AULA 10 A NOVA ECONOMIA E A TRANSFORMAÇÃO DIGITAL I ............................................................. 132 I. Hipertrofia financeira .................................. 133 II. Globalização: a “Nova Economia” e a bolha das “Empresas Ponto-Com” .................................... 136 III. Do Mundo VUCA à Economia Digital .......... 138 IV. Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) e Ciência e Tecnologia (C&T) .............................................. 144 AULA 11 A NOVA ECONOMIA E A TRANSFORMAÇÃO DIGITAL II ............................................................ 150 I. Blockchain .................................................. 152 II. Criptomoedas .............................................. 158 AULA 12 A NOVA ECONOMIA E A TRANSFORMAÇÃO DIGITAL III .......................................................... 164 I. Da posse ao acesso ..................................... 166 II. Inteligência Artificial ................................... 170 III. Economia criativa ........................................ 173 IV. Veículos autônomos e drones para pessoas 175 V. O fim dos empregos na indústria 4.0 .......... 177 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................... 180 AULA 1 INTRODUÇÃO A CENÁRIOS ECONÔMICOS E INDICADORES SOCIAIS I CONCEITO DE ECONOMIA, LEI DE ESCASSEZ, CICLOS ECONÔMICOS, CONTEXTO GEOPOLÍTICO E PERSPECTIVAS ECONÔMICAS GLOBAIS DE CURTO E MÉDIO PRAZO I. INTRODUÇÃO A palavra “economia” advém do grego, “oikos”, que significa “lar” e do latim “nomus” que significa “norma”. Assim, quem estuda Economia busca sistematizar as normas que explicam as condições de nosso lar. As escolas de pensamento econômico estão relacionadas aos pressupostos teóricos ligados aos princípios ideológicos de quem analisa. Portanto, a Economia é indissociável da política. Daí a expressão política econômica, quando se referem às práticas das autoridades de Estado responsáveis pela condução dos rumos da Economia. II. LEI DA ESCASSEZ Um dos principais preceitos econômicos é a lei da escassez. A lei da escassez pressupõe que os recursos são escassos no sentido de que são finitos. Como os recursos poderiam ser finitos? Para ilustrar, tomemos a população mundial é de aproximadamente 7,6 bilhões de pessoas o número de adultos aproximadamente 5,8 milhões. A população dos Estados Unidos é de aproximadamente 325 milhões de pessoas, o que 9 representa aproximadamente 4% da população mundial. O número de adultos nos Estados Unidos é de cerca de 241 milhões de pessoas. E eis que surge a questão: o que aconteceria se os 7,6 bilhões de pessoas no mundo tivessem o mesmo padrão de consumo dos habitantes dos Estados Unidos? Para atender tal demanda, em princípio, seriam necessários de 4 (quatro) a 5 (cinco) planetas Terra. Seria necessário quintuplicar a produção mundial de energia elétrica. Haveria cerca de 5,8 bilhão de automóveis – atualmente há cerca de 850 milhões. Em um ano seriam consumidas todas as reservas de petróleo. Seria necessário aumentar em 80% a extração de minério de ferro, o equivalente a 4 mineradoras como a Vale. As reservas mundiais de ferro se esgotariam em menos de um século. Seria necessário triplicar a produção mundial de alimentos e não há áreas disponíveis para tanto. As emissões de CO2 (dióxido de carbono) aumentaram em 500% até 2050. Os recursos hídricos entrariam em colapso em função do consumo humano e, principalmente, da irrigação na agricultura e na criação animal da pecuária. Haveria contaminação do solo e subsolo por lixo. 10 III. FLUXO CIRCULAR DE RENDA Portanto é razoável dizer que os recursos naturais são escassos. Nessa condição de escassez, a humanidade, por meio do sistema econômico mundial, precisaresponder às perguntas: O QUE PRODUZIR? EM QUE QUANTIDADE PRODUZIR? COMO PRODUZIR? PARA QUEM PRODUZIR? E tendo como base a premissa de que os recursos são escassos, há que se responder: COMO SISTEMA PRODUZ? COMO O SISTEMA CONSOME AQUILO QUE PRODUZ? Todas essas perguntas são respondidas por meio do fluxo circular da renda, formado por: 11 FLUXO REAL DA ECONOMIA FLUXO MONETÁRIO DA ECONOMIA O Fluxo Real da Economia mostra como são produzidos os bens e serviços do sistema econômico, bem como de que forma são adquiridos os fatores de produção, sendo estes os itens necessários para se produzir e se prestar os serviços. Os fatores de produção e seus respectivos remuneradores são apontados a seguir: FATOR DE PRODUÇÃO REMUNERAÇÃO TRABALHO SALÁRIO CAPITAL JURO TERRA/PROPRIEDADE ALUGUEL TECNOLOGIA ROYALTY CAPACIDADE EMPRESARIAL LUCRO No fluxo real da economia, as empresas e as famílias ora agem como consumidores, ora como vendedores. A figura, a seguir, ilustra o Fluxo Real 12 da Economia. FLUXO REAL DA ECONOMIA Demanda Oferta Oferta Demanda MERCADO DE BENS E SERVIÇOS FAMÍLIAS EMPRESAS MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO O fluxo monetário mostra como as famílias e as empresas serão remuneradas. Na ilustração a seguir, identifica-se o fluxo monetário da economia. Neste, as famílias transferem recursos monetários para compra de bens e serviços por meio dos salários e as empresas os recebem para, no momento subsequente, remunerar os fatores de produção. 13 FLUXO MONETÁRIO DA ECONOMIA PAGAMENTO DE BENS E SERVIÇOS FAMÍLIAS EMPRESAS REMUNERAÇÃO DOS FATORES DE PRODUÇÃO Da interação entre o fluxo real e o fluxo monetário surge o fluxo circular da renda o fluxo responde àquelas perguntas iniciais, conforme se identifica no gráfico a seguir: 14 FLUXO CIRCULAR DE RENDA O que produzir? Quanto produzir? Para quem produzir? Como produzir? Oferta de bens e serviços Demanda de bens e serviços Demanda de serviços dos fatores de produção Oferta de serviços dos fatores de produção MERCADO DE BENS E SERVIÇOS MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO FAMÍLIAS EMPRESAS IV. CICLOS ECONÔMICOS E FORMAÇÃO DE EXPECTATIVAS O fluxo circular da renda descreve de que forma a economia mundial cresce. Contudo, esse crescimento não se dá de forma linear. Eventualmente, a economia pode entrar em um processo de estagnação, eventualmente de recessão e, na pior das hipóteses, depressão. A ilustração, a seguir, apresenta os ciclos econômicos ao longo do tempo, bem como as 15 fases de cada ciclo. Pr od ut o* Tempo *Dados hipotéticos DEPRESSÃO RECESSÃO ESTAGN AÇÃO BO O M EXPAN SÃO Por que ocorrem os ciclos econômicos? Em geral, devido à saturação do consumo das famílias ou uma crise cíclica endógena dos investimentos das 16 empresas. A compreensão dos ciclos econômicos ajuda na formação das expectativas dos agentes, facilitando a construção de cenários. Antecipar uma crise, por exemplo, pode ser a diferença entre uma empresa investir na alta do ciclo ou no momento em que se aproxima de um ciclo de estagnação, o que inevitavelmente, neste último caso, levaria a empresa à capacidade ociosa, podendo levar a prejuízos. Uma forma de acompanhar as tendências do mercado é observando o que diz o relatório Focus do Banco Central do Brasil. Esse documento, disponível no site do Banco Central, apresenta a síntese das expectativas que as instituições financeiras, corretoras e empresas de relevância fazem sobre os principais indicadores econômicos, tais como a expectativa de crescimento, inflação e taxa de câmbio para este e os próximos anos. O relatório Focus é divulgado gratuitamente toda segunda-feira. O endereço direto do Relatório Focus é: https://www.bcb.gov.br/publicacoes/focus 17 https://www.bcb.gov.br/publicacoes/focus AULA 2 INTRODUÇÃO A CENÁRIOS ECONÔMICOS E INDICADORES SOCIAIS II INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS: PIB, RENDA, JUROS, TAXA DE DESEMPREGO, INFLAÇÃO, TAXA DE CÂMBIO, IDH E ÍNDICE DE GINI I. INTRODUÇÃO Nesta aula, serão abordados alguns indicadores para situar alguns dos problemas socioeconômicos brasileiros. Os indicadores socioeconômicos permitem compreender a situação de um país, bem como analisar a efetividade das políticas públicas para a melhoria das condições da sociedade. II. PIB O PIB é a soma da riqueza produzida em um país ao longo de um intervalo de tempo (mês, trimestre, semestre, ano). O PIB pode ser medido pelo lado da produção. Nesses termos, será calculado tudo o que foi produzido pelos três setores da economia: PRIMÁRIO (agropecuária, pesca, caça e extrativismo vegetal) SECUNDÁRIO (indústria de transformação e construção civil) TERCIÁRIO (serviços) 20 O PIB também pode ser calculado pelo lado do dispêndio, que são os gastos. Neste caso, o cálculo compreende tudo o que foi despendido em: Consumo das famílias; Investimentos das empresas ou formação bruta de capital fixo; Gastos do governo; Exportações de bens e serviços; Importações de bens e serviços. A tabela a seguir mostra qual foi o PIB do Brasil nos anos de 2017 e 2018 e o crescimento real do produto interno em cada um dos setores e das variáveis da economia. 21 Período 2017 (R$ bilhões) 2018 (R$ bilhões) cresc. real 2018 Agropecuária 304 298 0,1% Indústria 1.203 1.259 0,6% Serviços 4.134 4.276 1,3% Valor Agregado 5.641 5.833 1,1% Imposto 913 995 1,4% PIB 6.554 6.828 1,12% Consumo das Famílias 4.193 4.392 1,9% Consumo do Governo 1.309 1.346 0,0% Formação Bruta de Capital Fixo 982 1.081 4,1% Var. de Estoques 4 -28 Exportação 824 1.011 4,1% Importação -758 -975 8,5% Fonte: IBGE, disponível em: ftp://ftp.ibge.gov.br/Contas_Nacionais/ Contas_Nacionais_Trimestrais/Tabelas_Completas/Tab_Compl_CNT. zip, acesso em março de 2019. 22 ftp://ftp.ibge.gov.br/Contas_Nacionais/Contas_Nacionais_Trimestrais/Tabelas_Completas/Tab_Compl_CNT.zip ftp://ftp.ibge.gov.br/Contas_Nacionais/Contas_Nacionais_Trimestrais/Tabelas_Completas/Tab_Compl_CNT.zip ftp://ftp.ibge.gov.br/Contas_Nacionais/Contas_Nacionais_Trimestrais/Tabelas_Completas/Tab_Compl_CNT.zip III. PIB PER CAPITA O PIB per capita é obtido pela divisão do Produto Interno Bruto pelo número de habitantes do país. O PIB per capita dá a noção de como a riqueza é dividida – em média – pela sociedade. Oferece a possibilidade de comparação entre o tamanho de uma economia e sua respectiva população. O gráfico, a seguir, ilustra o PIB per capita no Brasil para um período selecionado. PIB PER CAPITA NO BRASIL (VALORES CORRIGIDOS A PREÇOS DE 2019 [IPCA] – R$) 30.543 30.592 34.437 35.756 35.428 36.307 36.387 36.862 34.515 33.702 33.842 30.000 31.000 32.000 33.000 34.000 35.000 36.000 37.000 Fonte: 2012 e 2013: IBGE, http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/ projecao/index.html, acesso em abril de 2019. 2008, 2009 e 2011: IBGE, http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/ 23 http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/index.html http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/index.html http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=261&z=t&o=1&i=P protabl.asp?c=261&z=t&o=1&i=P, acesso em abril de 2019. 2010: IBGE, http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl. asp?c=202&z=t&o=1&i=P, acesso em abril de 2019. 2014 a 2018, disponível em: ftp://ftp.ibge.gov.br/Contas_Nacionais/ Contas_Nacionais_Trimestrais/Tabelas_Completas/Tab_Compl_CNT. zip, acesso em março de 2019. IPCA: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/precos/ inpc_ipca/ipca-inpc_201602_1.shtm, acesso em 2019. IV. JUROS Juro é o “preço” que se paga por não ter todo o dinheiro de que se precisa à vista. É como se fosse um aluguel. O principal é o dinheiro que pertence ao emprestador. Os juros pagos correspondem a esse “aluguel”. Na teoria, o “preço” da taxa de juros é formado pelo sistema de mercado, pela interação entre oferta e demanda por dinheiro. Na prática da política econômica,os juros básicos são determinados pelo Banco Central e, a partir desse valor, todo o sistema bancário incorpora uma margem à taxa básica. V. TAXA DE DESOCUPAÇÃO Frequentemente no Brasil, a taxa de desocupação é usada como sinônimo de taxa de desemprego. Mas há uma diferença importante entre os dois conceitos. Uma pessoa ocupada nem sempre 24 http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=261&z=t&o=1&i=P http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=202&z=t&o=1&i=P http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=202&z=t&o=1&i=P ftp://ftp.ibge.gov.br/Contas_Nacionais/Contas_Nacionais_Trimestrais/Tabelas_Completas/Tab_Compl_CNT.zip ftp://ftp.ibge.gov.br/Contas_Nacionais/Contas_Nacionais_Trimestrais/Tabelas_Completas/Tab_Compl_CNT.zip ftp://ftp.ibge.gov.br/Contas_Nacionais/Contas_Nacionais_Trimestrais/Tabelas_Completas/Tab_Compl_CNT.zip http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/precos/inpc_ipca/ipca-inpc_201602_1.shtm http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/precos/inpc_ipca/ipca-inpc_201602_1.shtm está empregada. Pode estar ocupada por conta própria, por exemplo. A ocupação pressupõe que todo o setor informal da economia seja contado. Já uma pessoa empregada, é aquela que foi contratada por uma empresa ou por um trabalhador por conta própria. O gráfico, a seguir, mostra a taxa de desocupação do Brasil entre 2012 e 2018. 7,9% 8,0% 6,2% 6,5% 9,0% 13,7% 11,6% 12,4% 5,5 6,5 7,5 8,5 9,5 10,5 11,5 12,5 13,5 14,5 Fonte: IBGE, disponível em ftp://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_ Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_Amostra_de_Domicilios_ continua/Mensal/Tabelas/pnadc_201902_mensal.xlsx, 2019. 25 ftp://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_Amostra_de_Domicilios_continua/Mensal/Tabelas/pnadc_201902_mensal.xlsx ftp://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_Amostra_de_Domicilios_continua/Mensal/Tabelas/pnadc_201902_mensal.xlsx ftp://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_Amostra_de_Domicilios_continua/Mensal/Tabelas/pnadc_201902_mensal.xlsx VI. INFLAÇÃO Inflação é definida como o aumento generalizado e contínuo dos preços. Esse aumento decorre de vários fatores. Há basicamente três tipos de inflação: DE DEMANDA DE CUSTOS INERCIAL O gráfico, a seguir, mostra os números do indicador da inflação oficial do Brasil: o IPCA – índice de preços ao consumidor amplo – medido pelo IBGE. 26 22,41 9,56 5,22 1,65 8,94 5,97 7,67 12,53 9,30 7,60 5,69 3,14 4,46 5,90 4,31 5,91 6,50 5,84 5,91 6,41 10,67 6,29 2,95 0% 5% 10% 15% 20% 25% 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 Fonte: IBGE. Sistema de Contas Nacionais Trimestrais - SCNT. Disponível em: ftp://ftp.ibge.gov.br/Contas_Nacionais/Contas_ Nacionais_Trimestrais/Tabelas_Completas/Tab_Compl_CNT.zip, acesso em 2018. 27 ftp://ftp.ibge.gov.br/Contas_Nacionais/Contas_Nacionais_Trimestrais/Tabelas_Completas/Tab_Compl_CNT.zip ftp://ftp.ibge.gov.br/Contas_Nacionais/Contas_Nacionais_Trimestrais/Tabelas_Completas/Tab_Compl_CNT.zip VII. TAXA DE CÂMBIO Taxa de câmbio é a razão matemática por meio da qual se troca moeda doméstica por moeda estrangeira. A taxa de câmbio de referência das operações internacionais brasileiras é medida pelo valor do dólar. Uma taxa de câmbio elevada significa que são necessários mais reais para comprar um dólar. Portanto, um câmbio desvalorizado. VIII. ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH) O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um número entre 0 e 1 que considera a média harmônica entre três indicadores: RENDA PER CAPITA EXPECTATIVA DE VIDA AO NASCER NÍVEL DE ESCOLARIDADE Todos esses indicadores retornam uma base numérica entre 0 e 1, de modo que quanto mais próximo de 1 for o IDH de um país, mais alto é 28 o grau de desenvolvimento deste. Na tabela, a seguir, pode-se verificar quais são os dez países que têm o mais alto grau de desenvolvimento humano do mundo e o Brasil na posição de número 79. posição País IDH Expectativa de vida ao nascer Anos de estudo Renda per capita 1º Noruega 0,949 81,7 anos 12,7 anos US$ 67.614 2º Austrália 0,939 82,5 anos 13,2 anos US$ 42.822 2º Suíça 0,939 83,1 anos 13,4 anos US$ 56.364 4º Alemanha 0,926 81,1 anos 13,2 anos US$ 45.000 5º Dinamarca 0,925 80,4 anos 12,7 anos US$ 44.519 5º Cingapura 0,925 83,2 anos 11,6 anos US$ 78.162 7º Holanda 0,924 81,7 anos 11,9 anos US$ 46.326 8º Irlanda 0,923 81,1 anos 12,3 anos US$ 43.798 9º Islândia 0,921 82,7 anos 12,2 anos US$ 37.065 10º Canadá 0,92 82,2 anos 13,1 anos US$ 42.582 10º Estados Unidos 0,92 79,2 anos 13,2 anos US$ 53.245 79º Brasil 0,754 74,7 anos 7,8 anos US$ 14.145 Fonte: UNDP, 2018. UNDP. Human Development Report 2016, disponível em: http://hdr. undp.org/sites/default/files/2016_human_development_report.pdf, acesso em agosto de 2018. 29 http://hdr.undp.org/sites/default/files/2016_human_development_report.pdf http://hdr.undp.org/sites/default/files/2016_human_development_report.pdf IX. ÍNDICE DE GINI O Índice de Gini é um indicador de concentração de riqueza do país. A metodologia de cálculo retorna um valor entre 0 e 1, sendo que: • ZERO: representa uma situação ideal de máxima distribuição de renda ou mínima desigualdade. • UM: extremo oposto, é a situação em que há máxima concentração de renda e, portanto, máxima desigualdade social. CURVA DE LORENZ 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0% 10 % 20 % 30 % 40 % 50 % 60 % 70 % 80 % 90 % 10 0% Brasil Alemanha EUA Fonte: Banco Mundial, 2015. WORLD BANK. World Development Indicators: Distribution of 30 income or consumption. Disponível em: http://wdi.worldbank.org/ table/2.9 (acesso em março de 2015), 2014. O Índice de Gini é calculado com base na Curva de Lorenz, pela área medida na “barriga” que traça a distribuição da renda da população em decis, começando pelas pessoas de mais baixa renda até as de mais alta renda. Acima, tem-se a Curva de Lorenz para três países selecionados: Brasil, Estados Unidos e Alemanha. 31 http://wdi.worldbank.org/table/2.9 http://wdi.worldbank.org/table/2.9 AULA 3 INTRODUÇÃO A CENÁRIOS ECONÔMICOS E INDICADORES SOCIAIS III REDUÇÃO DA DESIGUALDADE ECONÔMICA E SOCIAL I. INTRODUÇÃO Nas aulas 1e 2 falamos, foram abordados dois conceitos que serão resgatados aqui: FLUXO CIRCULAR DA RENDA ÍNDICE DE GINI O FLUXO CIRCULAR de renda mostra como os recursos da economia real – a produção de bens e prestação de serviços – e os recursos monetários fluem das empresas para as famílias. O ÍNDICE DE GINI, formado pela curva de Lorenz, mostra quão concentrada é a renda de um país. Conforme pode ser visualizado no gráfico a seguir, a renda no Brasil é bastante. E, portanto, mal distribuída. OS 10% MAIS RICOS DETÊM 42% da renda nacional 30% da renda nacional 24% da renda nacional 0% 10% 20% 30% 40% 50% Brasil EUA Alemanha Fonte: Banco Mundial, 2015. 34 WORLD BANK. World Development Indicators: Distribution of income or consumption. Disponível em: http://wdi.worldbank.org/ table/2.9 (acesso em março de 2015), 2014. Quando se analisa o gráfico acima, identifica-se que, na Alemanha, os 10% mais ricos detêm 24% da renda Nacional, enquanto nos Estados Unidos detêm 30% da renda nacional e no Brasil 42% da renda. Quais são os fatores que explicam essa desigualdade? II. ESCOLARIDADE Uma das causas da desigualdade social está na baixa escolaridade média do brasileiro. Em todos os países do mundo, identifica-se a correlação positiva entre anos de estudo e nível de renda. O que significa dizer que, quanto mais anos de estudo, em média, a pessoa tem, maior tende a ser o nível de renda. O nível médio de escolaridade da população ainda é muito baixo. Dados do IBGE para 2018 mostram que 45% da população brasileira adulta não têm nem o ensino fundamental completoe pouco mais da metade da população adulta 35 http://wdi.worldbank.org/table/2.9 http://wdi.worldbank.org/table/2.9 tem apenas ensino fundamental completo. Assim, mais da metade da população brasileira está sujeita a ocupações que demandam pouca capacidade intelectual e tendem a proporcionar baixos salários. 11,2% 34,3% 8,3% 6,8% 23,6% 4,3% 11,5% Sem instrução Fund. incompl. Fund. compl. Méd. incompl. Méd. compl. Sup. incompl. Sup. compl. Fonte: IBGE, disponível em https://sidra.ibge.gov.br/tabela/5919, 2019. III. SISTEMA TRIBUTÁRIO BRASILEIRO Outro fator que explica a desigualdade de renda tem a ver com o sistema tributário brasileiro. Os tributos são divididos em dois grupos os tributos diretos e indiretos: 36 https://sidra.ibge.gov.br/tabela/5919 TRIBUTOS DIRETOS: incidem sobre renda, lucro ganho de capital e sobre a propriedade. TRIBUTOS INDIRETOS: são aqueles que incidem sobre o consumo. Os TRIBUTOS DIRETOS estão embutidos no preço final dos produtos e dos serviços pelos quais a população paga. O sistema tributário brasileiro é excessivamente concentrado em tributos sobre o consumo. Quase a metade da arrecadação tributária do país, advém dos tributos que incidem sobre o consumo de bens e serviços: 49,4% dos tributos incidem sobre bens e serviços apenas 18,3% de tributos que incidem sobre a renda. O Brasil é um dos países do mundo que mais arrecada tributos sobre o consumo, considerando o percentual da carga tributária sobre o PIB. Por outro lado, o Brasil arrecada pouco com relação à renda, lucro e ganhos de capital, conforme os gráficos a seguir ilustram. 37 CARGA TRIBUTÁRIA SOBRE O CONSUMO COMO PERCENTUAL SOBRE O PIB 17,2 15,8 15,5 15,0 14,6 14,2 14,1 13,3 13,3 12,6 12,3 12,0 12,0 11,8 11,7 11,7 Hungria Brasil Grécia Dinamarca Eslovênia Finlândia Estônia Turquia Portugal Nova Zelândia Suécia Israel Latívia Islândia Itália Áustria Fonte: RECEITA FEDERAL. Carga Tributária no Brasil 2016. Disponível em: http://idg.receita.fazenda.gov.br/dados/receitadata/estudos-e- tributarios-e-aduaneiros/estudos-e-estatisticas/carga-tributaria-no-brasil/ carga-tributaria-2016.pdf, acesso em 2018. 38 CARGA TRIBUTÁRIA SOBRE RENDA, LUCRO E GANHOS DE CAPITAL COMO PERCENTUAL SOBRE O PIB 10,5 10,4 10,2 9,9 9,7 8,7 7,9 7,6 7,5 7,5 7,2 6,9 6,9 6,8 6,6 6,1 5,9 Holanda Japão Irlanda Israel Espanha Grécia Estónia Coreia do Sul Chile Latívia República Tcheca República Eslováquia Hungria México Eslovénia Turquia Brasil Fonte: RECEITA FEDERAL. Carga Tributária no Brasil 2016. Disponível em: http://idg.receita.fazenda.gov.br/dados/receitadata/estudos-e- tributarios-e-aduaneiros/estudos-e-estatisticas/carga-tributaria-no- brasil/carga-tributaria-2016.pdf, acesso em 2018. 39 http://idg.receita.fazenda.gov.br/dados/receitadata/estudos-e-tributarios-e-aduaneiros/estudos-e-estatisticas/carga-tributaria-no-brasil/carga-tributaria-2016.pdf http://idg.receita.fazenda.gov.br/dados/receitadata/estudos-e-tributarios-e-aduaneiros/estudos-e-estatisticas/carga-tributaria-no-brasil/carga-tributaria-2016.pdf http://idg.receita.fazenda.gov.br/dados/receitadata/estudos-e-tributarios-e-aduaneiros/estudos-e-estatisticas/carga-tributaria-no-brasil/carga-tributaria-2016.pdf IV. REGRESSIVIDADE TRIBUTÁRIA As características do Sistema tributário brasileiro geram o que é conhecido como regressividade tributária, caracterizada pelo fato de que quem ganha mais pagar menos tributos, seja isso em termos absolutos, ou em termos relativos. A regressividade tributária tende a causar dois efeitos sobre a economia: EFEITO SOCIAL EFEITO ECONÔMICO Para entender o efeito social, considere-se um exemplo hipotético. Suponha que duas pessoas, Pedro e João, irão comprar uma televisão que custa R$ 1.000. Pedro ganha R$ 2.000 por mês e João R$ 40.000. A televisão tem aproximadamente 40% de TRIBUTOS INDIRETOS embutidos no preço final, ou seja, R$ 400. Nessa situação Pedro, terá pago 20% da renda ao adquirir a televisão, enquanto João Acará com apenas 1% da renda. Isto é: quem ganha menos e proporcionalmente mais em tributos ao consumir. 40 REGRESSIVIDADE TRIBUTÁRIA Pedro Renda: R$ 2.000 TV: R$ 1.000 Tributos: R$ 400 (40% de alíquota) 20% da renda de Pedro João Renda: R$ 40.000 TV: R$ 1.000 Tributos: R$ 400 (40% de alíquota) 1% da renda de João 41 O efeito econômico diz respeito ao fato de que ao se tributar excessivamente os mais pobres retira poder de compra de aproximadamente 65 milhões de pessoas. Com base no fluxo circular de renda, quanto mais o governo tributa o consumo, menos dinheiro os mais pobres têm disponível para comprar os bens e serviços produzidos pelas empresas. As empresas, por sua vez, deixam de gerar empregos e renda. V. CONSIDERAÇÕES FINAIS Portanto políticas de desconcentração de renda são necessárias, tanto para melhorar a justiça social, como para potencializar a eficiência do fluxo circular da renda de forma a promover o crescimento econômico do país. Para promover políticas de desconcentração de renda, o governo deve diminuir a carga tributária sobre o consumo e aumentar a carga tributária progressivamente sobre a renda, os ganhos de capital e sobre a propriedade. Promover políticas públicas que aumentem o grau de escolaridade da população é outra forma de melhorar a distribuição de renda do país. 42 AULA 4 POLÍTICA FISCAL E MONETÁRIA I POLÍTICA FISCAL: EQUILÍBRIO FISCAL, ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA, GASTOS PRIMÁRIOS, RESULTADO PRIMÁRIO, GASTOS COM JUROS, RESULTADO FISCAL, POLÍTICA FISCAL E O NÍVEL DE ATIVIDADE ECONÔMICA, POLÍTICA FISCAL E O CONTROLE SOBRE A INFLAÇÃO, MECANISMOS DE TRANSMISSÃO DA POLÍTICA FISCAL I. INTRODUÇÃO Inicia-se esta unidade de estudos descrevendo o FLUXO DA RENDA NACIONAL. O Fluxo da Renda Nacional é um sistema dinâmico e permanente que movimenta a economia do país. A ilustração a seguir mostra como funciona. Consumo das Famílias Poder de Compra Lucro Emprego Salário Renda Capital Compra de máquinas, equipamentos, terrenos, material de construção... Investimento das empresas Contratação de funcionários 45 O fluxo da renda Nacional começa com o investimento das empresas. Estas compram máquinas equipamentos, constroem em terrenos, adquirem material de construção e contratam funcionários, gerando empregos que pagam salários e renda, o que se torna o poder de compra para o consumo das famílias. O consumo das famílias gera lucro às empresas, retornando ao ciclo de capital e investimentos. Mas falta um personagem nessa ilustração: o governo. O governo participa ativamente desse circuito, sendo responsável por potencializar o crescimento econômico, contudo, sem se descuidar da estabilidade dos preços. A figura, a seguir, descreve a participação do governo no fluxo da renda nacional. Gastos públicos Lucro Capital Investimento das empresas Funcionários públicos Consumo das Famílias Poder de Compra Salário Compras do governo, obras públicas Contratação de empresas Tributos Renda Emprego 46 II. AS POLÍTICAS MACROECONÔMICAS Como se pode ver, o governo tem um papel decisivo no funcionamento da Economia, de forma que, ao intervir diretamente no fluxo da renda nacional, tem de cumprir dois objetivos na efetivação das políticas macroeconômicas. • Crescimento econômico para a geração de empregos e renda. • Assegurar a estabilidade da moeda e, portanto dos preços. E como o governo executa as políticas macroeconômicas para alcançar tais objetivos? Por meio de dois “braços” independentes: • Política Fiscal. • Política Monetária. III. A POLÍTICA FISCAL A política fiscal consiste basicamente no equilíbrio entre a arrecadação tributária e os gastos do governo, o que se constitui na essência do equilíbrio fiscal. No Brasil, a política fiscal é de responsabilidade do Ministério da Economia naesfera do poder executivo, sendo que o Congresso 47 Nacional examina e aprova o orçamento enviado por este ministério, conforme se verá adiante. A equação da política fiscal é basicamente a seguinte: (+) Arrecadação Tributária (–) Gastos primários (=) Resultado primário (–) Gastos com juros da dívida pública (=) Resultado fiscal O que é tributo? Tributo é o conjunto que abrange: IMPOSTOS CONTRIBUIÇÕES TAXAS A TAXA é como um serviço prestado pelo governo pelo qual se paga imediatamente a contrapartida monetária por tal serviço. Por exemplo, taxa de limpeza urbana e taxa de iluminação pública. Portanto, o fato gerador – o evento que deflagra a cobrança do tributo – de uma taxa coincide com o destino dos recursos. A CONTRIBUIÇÃO tem um fato gerador distinto do destino dos recursos. Todavia, uma 48 contribuição tem um destino pré-estabelecido para os recursos arrecadados. Por exemplo, a Contribuição Social Sobre Lucro Líquido (CSLL) tem como fato gerador o lucro das empresas, sobre o qual incide uma alíquota de 9%. O destino desses recursos é a Seguridade Social. O IMPOSTO não tem destino pré-estabelecido para os recursos arrecadados. Quem determina onde serão gastos os recursos dos impostos são os parlamentos, quando votam a Lei Orçamentária Anual (LOA) e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDB). Exemplos de impostos: • Âmbito MUNICIPAL: IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano) e ISSQN (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza). O destino desses impostos é decidido pelas Câmaras de Vereadores dos 5.567 municípios brasileiros. • Âmbito ESTADUAL: ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e o IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores). As assembleias legislativas estaduais decidem onde os recursos desses impostos serão empregados. • Âmbito FEDERAL: IRPF (Imposto de Renda da Pessoa Física), IRPJ (Imposto de Renda da 49 Pessoa Jurídica) e IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). O Congresso Nacional – Câmara dos Deputados e Senado Federal – decide para onde vai o dinheiro desses impostos. Os gastos primários consistem em itens tais como: • Compras diretas do governo: material de escritório, combustível, merenda escolar, etc. • Despesas com o funcionalismo público: pagamento dos salários dos funcionários públicos. • Seguridade social: gastos com aposentadorias, pensões, licença maternidade, seguro acidente, saúde pública, etc. • Obras públicas: construção de prédios públicos, moradias populares, estradas, portos, aeroportos, obras de infraestrutura, etc. • Investimentos em empresas públicas: quando estes advêm do orçamento público, mas não quando são reinvestimentos de lucros das empresas estatais. Como funciona na prática a equação do equilíbrio fiscal? Vejamos, por exemplo, os dados de 2018. 50 (+) Arrecadação Tributária ≈ + R$2,176 trilhões (–) Gastos primários ≈ – R$2,228 trilhões (=) Resultado primário = – R$112,3 bilhões (–) Gastos com juros da dívida pública = – R$393,4 bilhões (=) Resultado fiscal = – R$505,7 bilhões Fonte: Banco Central do Brasil, 2019. Isso significa que, mesmo arrecadando R$ 2,176 trilhões, o governo não conseguiu cobrir os gastos primários, incorrendo em déficit primário de R$112,3 bilhões. Considerando os juros da dívida interna e externa de R$ 393,4 bilhões, o resultado fiscal equivaleu, em 2018, a um déficit de R$505,7 bilhões. 51 AULA 5 POLÍTICA FISCAL E MONETÁRIA II POLÍTICA MONETÁRIA: OBJETIVOS, BASE MONETÁRIA, INSTRUMENTOS DE POLÍTICA MONETÁRIA: DEPÓSITO COMPULSÓRIO, OPERAÇÕES DE REDESCONTO E OPERAÇÕES DE MERCADO ABERTO I. EXECUÇÃO DOS GASTOS PÚBLICOS Os gastos públicos definidos no orçamento são executados segundo o princípio de caixa, isto é, conforme a arrecadação tributária vai sendo realizada. O governo define o orçamento público com base na Lei Orçamentária Anual e na Lei de Diretrizes Orçamentárias. Os gastos executados são disponibilizados por lei ao público. Por exemplo, por meio do Portal da Transparência. O gráfico, a seguir, apresenta o Orçamento Executado pela União no ano de 2018 por áreas selecionadas. Os dados estão em R$ bilhões. 29,9 117,1 159,0 786,4 279,4 627,9 509,7 Bolsa Família Saúde Educação Amortização/Refinanciamento da Dívida Juros e Encargos da Dívida Previdência Outros Fonte: Portal da Transparência, disponível em: http://www. portaldatransparencia.gov.br/orcamento/lista-consultas, acesso em junho de 2019. 54 http://www.portaldatransparencia.gov.br/orcamento/lista-consultas http://www.portaldatransparencia.gov.br/orcamento/lista-consultas II. O DÉFICIT PÚBLICO Quando as despesas públicas são maiores do que os gastos, o país incorre em déficit público. O déficit público é geralmente medido como um percentual em proporção ao PIB. A tabela, a seguir, apresenta o resultado primário corrigido pelo IPCA acumulado, assim como os valores corrigidos pelo IPCA para o pagamento de juros internos, juros externos da dívida pública e o resultado fiscal entre 2002 e 2018 no Brasil. Os dados da tabela mostram que o Brasil fez um esforço fiscal acumulado entre 2002 e 2018 de R$ 1,316 trilhão. Ou seja, a arrecadação tributária menos gastos primários obteve um resultado acumulado positivo, apesar de ter sido negativo no quadriênio 2014-2018. Ainda assim, tal esforço foi insuficiente para pagar os R$ 6,065 trilhões de juros da dívida interna e os mais de R$ 210 bilhões da dívida externa. O resultado fiscal foi um déficit acumulado de R$ 4,959 trilhões, que correspondem às necessidades de financiamento do setor público. III. O ENDIVIDAMENTO PÚBLICO Quanto maior o descontrole financeiro por parte do Estado, mais ele se endivida. O descontrole financeiro pode ocorrer por um aumento dos 55 gastos correntes, ou por frustração de receitas. A frustração de receitas é comum acontecer em períodos de queda na atividade econômica em função de uma recessão do ciclo. ano Resultado Primário corrigido (IPCA acumulado 2019) R$ bilhões Juros Internos corrigido (IPCA acumulado 2019) R$ bilhões Juros Externos corrigido (IPCA acumulado 2019) R$ bilhões Resultado Fiscal corrigido (IPCA acumulado 2019) R$ bilhões 2002 133,7 273,9 44,9 -185,1 2003 139,0 316,3 45,3 -222,6 2004 165,2 255,6 38,5 -128,9 2005 172,8 306,4 29,7 -163,3 2006 152,7 309,1 16,6 -173,0 2007 171,8 315,9 1,2 -145,3 2008 193,4 313,6 -4,6 -115,6 2009 114,2 301,8 -0,3 -187,3 2010 171,9 328,7 1,5 -158,3 2011 205,4 379,4 -1,6 -172,4 2012 157,3 322,1 -1,6 -163,2 2013 129,3 352,2 0,2 -223,1 2014 -43,5 415,2 1,1 -459,8 2015 -139,8 627,7 2,7 -770,2 2016 -176,9 460,5 1,5 -638,9 2017 -118,1 427,1 1,0 -546,2 2018 -112,3 359,3 34,1 -505,7 Total 1.316,1 6.064,8 210,2 -4.958,9 56 Fonte: BANCO CENTRAL DO BRASIL. NFSP - Usos. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_ especiais/Nfspusop.xls. Acesso em: julho de 2019. Uma medida importante do endividamento do Estado é a Dívida Líquida do Setor Público. “A Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) consolida o endividamento líquido do setor público não financeiro e do Banco Central junto ao setor privado (títulos públicos), ao setor financeiro e ao resto do mundo”. (p. 16). Fonte: BANCO CENTRAL DO BRASIL. Indicadores Fiscais. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/conteudo/home-ptbr/FAQs/FAQ%20 04-Indicadores%20Fiscais.pdf. [Acesso em: julho de 2019], junho de 2016. No Brasil, as próprias taxas de juros acabam determinando muitas vezes uma elevação da dívida líquida do setor público, mesmo se houver retração dos gastos. Quando os juros são elevados, o Estado entra em uma ciranda financeira, tomando empréstimos novos cada vez mais caros para pagar os financiamentos a vencer. O gráfico, a seguir, apresenta a dívida líquida do setor público do Brasil em períodos selecionados. 57 https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/Nfspusop.xlshttps://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/Nfspusop.xls https://www.bcb.gov.br/conteudo/home-ptbr/FAQs/FAQ%2004-Indicadores%20Fiscais.pdf https://www.bcb.gov.br/conteudo/home-ptbr/FAQs/FAQ%2004-Indicadores%20Fiscais.pdf DÍVIDA LÍQUIDA DO SETOR PÚBLICO (% DO PIB) 31,4% 42,7% 45,8% 60,4% 54,8% 46,5% 45,9% 38,0% 37,6% 32,6% 32,5% 39,2% 41,4% 53,3% 30% 35% 40% 45% 50% 55% 60% 65% 1996 2º ano FHC1 1998 fim FHC1 1999 início FHC2 2002 fim FHC2 2003 início Lula1 2006 fim Lula1 2007 início Lula2 2010 fim Lula2 2011 início Dilma1 2014 fim Dilma1 2015 início Dilma2 2016 fim Dilma2 2016 início Temer 2018 fim Temer Evolução da Dívida Líquida do Setor Público (período selecionado). Fonte: BANCO CENTRAL DO BRASIL. Série histórica da Dívida líquida e bruta do governo geral. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/ ftp/notaecon/Divggp.zip. Acesso em: julho de 2019. Uma observação importante: nem sempre um país com uma dívida elevada está em uma situação financeira ruim. Depende muito também de dois aspectos importantes: • O perfil da dívida • A taxa de juros da dívida Se a dívida for elevada, mas o prazo de pagamento é longo e os juros são baixos, é possível que o país tenha uma situação financeira relativamente confortável, mesmo se a dívida for elevada. O gráfico, a seguir, ilustra a Dívida Líquida do Setor Público como percentual do PIB para países selecionados. 58 https://www.bcb.gov.br/ftp/notaecon/Divggp.zip https://www.bcb.gov.br/ftp/notaecon/Divggp.zip 33,9% 44,9% 46,0% 46,0% 46,8% 51,6% 77,9% 78,8% 85,0% 87,5% 119,5% 154,9% Bolívia Alemanha Países Baixos México África do Sul Brasil Reino Unido Estados Unidos Espanha França Itália Japão Fonte: FMI, disponível em: https://www.imf.org/external/pubs/ft/ weo/2018/02/weodata/weoselgr.aspx, acesso em junho de 2019. (Cor cinza: estimativas do FMI). A política fiscal, na prática, pode ser usada para alcançar os objetivos pré-estabelecidos: • Auxiliar no crescimento econômico • Controle da Inflação Por exemplo, se o governo quiser usar os gastos públicos para impulsionar o crescimento econômico, poderá elevar os gastos públicos. Neste caso, o mecanismo de transmissão da política fiscal tenderá a ocorrer da forma que é descrita na figura a seguir: 59 https://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2018/02/weodata/weoselgr.aspx https://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2018/02/weodata/weoselgr.aspx Lucro das empresas Consumo das Famílias Poder de Compra Emprego Salário Renda disponível Capital Investimento das empresas Gastos públicos Compras do governo, obras públicas Contratação de empresas Esse mecanismo pode produzir na Economia o que John Maynard Keynes denominou “Efeito Multiplicador”. O efeito multiplicador pressupõe que um aumento de gastos públicos pode levar a um aumento do PIB mais do que proporcional. Por exemplo, o governo aumenta os gastos em R$10 bilhões e o impacto no PIB é de R$80 bilhões. Nesse caso, o efeito multiplicador seria de 8 vezes. ▲G = R$10 bilhões → ▲PIB = R$80 bilhões α = 8 → efeito multiplicador Todavia, o descontrole nos gastos públicos tende a causar um excesso de dinheiro em circulação, o que pode deflagrar o fenômeno da inflação. 60 Nesse caso, para reequilibrar as finanças públicas, o governo deve efetuar uma política contracionista reduzindo os gastos públicos, política mais conhecida como Ajuste Fiscal. Visando o controle da inflação, o mecanismo de transmissão da política fiscal ocorrerá da seguinte forma: Estoques involuntários Consumo das Famílias Poder de Compra Emprego Salário Renda disponível Preços INFLAÇÃO Gastos públicos Compras do governo, obras públicas Contratação de empresas Ajustes fiscais costumam ser impopulares, porque tendem a elevar a taxa de desemprego. O Efeito Multiplicador descrito acima tende a funcionar tanto para cima, como para baixo. O que significa dizer que um corte de gastos de R$10 bilhões, retomando o exemplo anterior, pode levar a uma queda no PIB de R$80 bilhões. ▲G = R$10 bilhões → ▲PIB = R$80 bilhões α = 8 → efeito multiplicador 61 AULA 6 POLÍTICA FISCAL E MONETÁRIA III SELIC E O SISTEMA DE METAS DE INFLAÇÃO, CONCEITO DE INFLAÇÃO, MEDIDAS DE INFLAÇÃO NO BRASIL, TIPOS DE INFLAÇÃO, MECANISMOS DE TRANSMISSÃO DA POLÍTICA MONETÁRIA I. AS FUNÇÕES DA MOEDA E A POLÍTICA MONETÁRIA Política monetária é o expediente por meio do qual o governo efetua o controle sobre a quantidade de moeda em circulação. Basicamente, a moeda cumpre 3 funções: • MEIO DE PAGAMENTO: a moeda facilita as trocas, tornando desnecessário que o adquirente de um bem tenha obrigatoriamente de entregar outro bem, o que caracterizaria uma economia de escambo (troca de mercadoria por mercadoria). • UNIDADE DE VALOR: esta função refere-se à capacidade que a moeda tem de estabelecer parâmetros para as trocas. Por exemplo, 1 vaca = 1.000 unidades monetárias, 1 galinha = 5 unidades monetárias. Assim, em uma economia de escambo, 1 vaca = 200 galinhas Esse parâmetro oferecido pela moeda torna desnecessária a medição em termos de mercadorias e a própria moeda oferece a unidade de valor. • RESERVA DE VALOR: refere-se à capacidade de preservar o poder de compra ao longo do tempo. Assim, se hoje 1 vaca = 1.000 unidades monetárias e daqui a um ano 1 vaca = 1.200 unidades monetárias, para este item específico 64 – vacas – a moeda não preservou o poder de compra. Se todos os bens e serviços da economia ficarem mais caros, sabe-se que a moeda perdeu em parte a capacidade de cumprir a função de reserva de valor. E por que o governo deve controlar a quantidade de moeda em circulação? Imagine-se a seguinte situação hipotética: o que aconteceria se, de repente, milhões de pessoas recebem dezenas de milhares de reais da noite para o dia? As pessoas sairiam às compras todas ao mesmo tempo. Haveria o que é chamado de choque de demanda. Os empresários, aproveitando-se da repentina “enxurrada” de dinheiro na economia, aumentariam seus preços. Resultado: haveria inflação. A moeda, assim, perderia a função de reserva de valor. E isso decorreria do fato de haver muita moeda em circulação, muito acima das reais capacidades da própria Economia. Por isso, o governo não pode permitir que haja um excesso de moeda em circulação. II. O BANCO CENTRAL E OS AGREGADOS MONETÁRIOS O Banco Central é a autarquia do governo responsável pela execução da política monetária. 65 A atenção do Banco Central é sempre voltada para os bancos comerciais, que são potenciais criadores de moeda quando concedem crédito. Em outras palavras, os bancos comerciais captam recursos dos depositantes de recursos financeiros e emprestam parte desses recursos a juros. Quando concede um crédito, um banco comercial está – do ponto de vista da teoria monetária – criando moeda. Basicamente, a atenção dos responsáveis pela condução da política está nos agregados monetários da Economia. Dentre os agregados monetários, o que requer mais atenção é a base monetária M1, que constitui na seguinte equação: M1 = PMPP + DV onde PMPP é o papel moeda em poder do público e DV são os depósitos à vista. Os bancos comerciais captam os recursos de depósitos a prazo, como os certificados de depósitos bancários (CDBs) e emprestam estes recursos aos tomadores de empréstimos. Por lei é vetado aos bancos comerciais emprestar recursos advindos de depósitos à vista. Contudo, quando um banco comercial empresta dinheiro ele amplia o volume total de depósitos à vista. 66 III. INSTRUMENTOS DE POLÍTICA MONETÁRIA Os três instrumentos usados pelo Banco Central para o controle sobre o volume de moeda em circulação são: DEPÓSITO COMPULSÓRIO OPERAÇÕES DE REDESCONTO OPERAÇÕES DE MERCADO ABERTO DEPÓSITO COMPULSÓRIO O Banco Central é “o banco dos bancos” comerciais. O Banco Central é a instituiçãoresponsável pela emissão de papel moeda que será distribuída aos bancos comerciais e chegará aos proprietários das contas correntes e depósitos a prazo. E para funcionar como o banco dos bancos, o banco central obriga por força de lei os bancos comerciais depositem um percentual dos depósitos efetuados pelos correntistas no próprio banco central. O depósito compulsório. 67 EMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE PAPEL MOEDA 68 DEPÓSITOS COMPULSÓRIOS Quanto maior for o percentual do depósito compulsório, menos recursos monetários os bancos comerciais terão à disposição para emprestar a juros. Portanto, sempre que o BC aumenta as exigibilidades do compulsório, está dando um recado aos bancos: “emprestem menos”. Ao emprestar menos, há uma redução do volume de recursos em circulação. 69 OPERAÇÕES DE REDESCONTO Redesconto é o termo usado para designar a concessão de empréstimos do Banco Central aos bancos comerciais. Eventualmente, um banco comercial pode identificar uma insuficiência momentânea de liquidez. Quando isso ocorre, pode tomar recursos emprestados de outros bancos, pagando a taxa de juros do sistema interbancário, conhecida como CDI – certificado de depósito interbancário. Ou pode tomar recursos emprestados diretamente do BC, por meio da taxa de juros das operações de redesconto. Quando o BC aumenta a taxa de juros do redesconto, está transmitindo uma mensagem aos bancos: “exponham-se menos, porque, se tiverem dificuldades de liquidez, pagarão mais caro”. Assim, os bancos tendem a ser mais seletivos na concessão de crédito, o que possibilita a redução de moeda em circulação na Economia. OPERAÇÕES DE MERCADO ABERTO O Banco Central oferece a possibilidade de pessoas físicas e jurídicas adquirirem, por meio do Tesouro Nacional, títulos da dívida pública. E o 70 faz nas chamadas operações de mercado aberto, sendo esta a forma mais eficiente de diminuir a liquidez – ou seja, o excesso de moeda em circulação – da Economia. A figura a seguir ilustra a situação. TÍTULOS DA DÍVIDA PÚBLICA MOEDA ($) TESOURO NACIONAL PÚBLICO As operações de mercado aberto no Brasil têm como referência a taxa de juros básica chamada Selic, que significa “Sistema Especial de Liquidação e Custódia”. 71 IV. SISTEMA DE METAS DE INFLAÇÃO E COPOM O Sistema Especial de Liquidação e Custódia é um “sistema informatizado que se destina à custódia de títulos escriturais de emissão do Tesouro Nacional, bem como ao registro e à liquidação de operações com os referidos títulos”. (Banco Central do Brasil. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/htms/selic/ selicintro.asp?idpai=SELIC&frame=1, acesso em agosto de 2019). As operações de mercado aberto no Brasil fazem parte do controle do nível de preços intitulado “Sistema de Metas de Inflação” que são definidas pelo Banco Central. Para atingir as metas de inflação, com base no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) calculado pelo IBGE, o valor da taxa básica de juros, Selic, é definido periodicamente pelo Comitê de Política Monetária (Copom). 72 https://www.bcb.gov.br/htms/selic/selicintro.asp?idpai=SELIC&frame=1 https://www.bcb.gov.br/htms/selic/selicintro.asp?idpai=SELIC&frame=1 V. MECANISMOS DE TRANSMISSÃO DA POLÍTICA MONETÁRIA A Política Monetária é usada para atingir um dos objetivos já abordados anteriormente: CONTROLE DA INFLAÇÃO AUXILIAR NO CRESCIMENTO ECONÔMICO Por exemplo, se o Banco Central identifica que há uma tendência a um aumento do centro da inflação que pode ultrapassar o teto da meta, por meio do Copom, aumenta a taxa de juros básica, Selic. A figura, a seguir, ilustra o mecanismo de transmissão. 73 Volume de moeda em circulação Taxa SELIC Bancos Comerciais Banco Central (Copom) Aquisição de títulos do governo Público Empréstimos Recursos disponíveis para empréstimos Consumo das famílias PreçosINFLAÇÃO Estoques involuntários Na figura acima, o Banco Central, por meio do COPOM, aumenta a taxa básica de juros, SELIC. O público aumenta o interesse pela aquisição dos títulos públicos, o que diminui o volume de moeda em circulação. Os bancos centrais têm menos recursos disponíveis para empréstimo e o volume de empréstimos diminui, em função do encarecimento dos juros ao consumidor, fazendo com que o consumo das famílias também diminua. A queda no consumo agregado faz aumentar os estoques involuntários, o que faz com que os preços diminuam e, portanto, diminuindo a inflação. 74 A alta da Selic é eficiente no controle da inflação. No entanto, a tendência é que a alta dos juros tenha um efeito colateral na Economia: a queda dos investimentos privados por duas razões: 1. ESCOLHA DO EMPRESÁRIO: o empresário tem de decidir entre um investimento que renda X% ao ano ou adquirir um título do governo com rendimento de Y% ao ano. Se Y > X, o empresário tende a preferir a aquisição dos títulos públicos. 2. ENCARECIMENTO DO CRÉDITO AO EMPREENDEDOR: se o volume de recursos disponíveis aos bancos comerciais para empréstimos diminui, os investimentos que precisariam ser alavancados têm o cálculo revisado para baixo. O custo de captação de empréstimo para alavancar um investimento pode torná-lo inviável. A política monetária pode ser utilizada também no estímulo à atividade econômica, para ajudar no crescimento do PIB e no combate ao desemprego. Neste caso, o mecanismo de transmissão da política monetária funciona da forma ilustrada a seguir. 75 Volume de moeda em circulação Taxa SELIC Bancos Comerciais Banco Central (Copom) Aquisição de títulos do governo Público Empréstimos Recursos disponíveis para empréstimos Consumo das famílias DESEMPREGO Investimentos privados Conforme é ilustrado acima, o Banco Central, por meio do Copom, diminui a taxa básica de juros, SELIC. O público, por sua vez, diminui o interesse pela aquisição dos títulos do governo, o que tende a levar a um aumento do volume de moeda em circulação. Os bancos comerciais terão mais recursos disponíveis para empréstimos, fazendo com que as taxas de juros para o crédito pessoal diminua e, portanto, o volume de empréstimos às pessoas físicas aumente. Consequentemente, o consumo das famílias tenderá a aumentar, elevando também os investimentos privados, o que leva à redução do desemprego. 76 AULA 7 CONTAS EXTERNAS E COMÉRCIO INTERNACIONAL I TAXA DE CÂMBIO: CONCEITO, REGIMES CAMBIAIS E MERCADO CAMBIAL NO BRASIL I. TAXA DE CÂMBIO Taxa de câmbio é definida como a relação na qual se troca moeda local por moeda estrangeira. O câmbio representa o valor de determinada moeda com relação ao padrão internacionalmente adotado. No Brasil, usamos o dólar como moeda reserva e como referência nas operações com mercado internacional. Dentre os regimes cambiais possíveis destacam- se dois: o regime de câmbio fixo e o regime de câmbio flutuante. CÂMBIO FIXO: o governo determina qual será a paridade, ou seja, a cotação da moeda. CÂMBIO FLUTUANTE: o mercado determina a cotação da moeda estrangeira. Por exemplo, no Brasil entre 1994 e 1998, era estabelecida pelo governo, que determinava que a paridade entre o real e o dólar era US$1 ↔ R$1. A partir de janeiro de 1999, o Brasil adotou o sistema de câmbio flutuante. Neste regime, o mercado determina qual será a cotação da moeda estrangeira baseado simplesmente na relação entre oferta e demanda por dólares. II. MERCADO CAMBIAL O mercado cambial? Quem participa do mercado cambial? OFERTA DE DÓLARES ● Exportadores ● Investidores estrangeiros ● Bancos internacionais ● Banco Central ● Importadores ● Empresas multinacionais ● Pagamento de empréstimos ● Banco Central DEMANDA POR DÓLARES 79 Em primeiro lugar, os dólares são trazidos ao mercado cambial pelos exportadores de mercadorias e de serviços. Por exemplo, quando um agricultor exporta soja para China, recebe em dólares e traz esses dólares ao Brasil para serem trocadospor reais. Ou seja, esse exportador está ajudando a compor a oferta por dólares. Também ofertam dólares no mercado cambial os investidores estrangeiros. Por exemplo, quando investidores diretos resolvem abrir uma filial de uma empresa multinacional no Brasil. Os bancos internacionais eventualmente oferecem empréstimos às empresas brasileiras. Quando estas empresas recebem os empréstimos, estes empréstimos são contabilizados como uma oferta de dólares no mercado cambial. Enfim, o banco central participa da oferta no mercado cambial quando vende dólares das suas reservas. E quem faz parte da demanda por dólares no mercado cambial? Os IMPORTADORES, quando compram produtos do exterior, são obrigados a pagar por esses produtos em dólares. E os importadores precisam 80 comprar dólares no mercado cambial para poder trazer os produtos do exterior. Logo, os importadores demandam dólares. Da mesma forma, as EMPRESAS MULTINACIONAIS, quando têm lucros, parte desses lucros é remetida ao exterior. Para enviar os lucros ao exterior, as empresas precisam comprar dólares no mercado cambial. Quando as EMPRESAS BRASILEIRAS que obtiveram empréstimos dos bancos internacionais forem pagar amortização e juros desses empréstimos, as empresas que tomaram crédito precisam comprar moeda estrangeira. E também o BANCO CENTRAL muitas vezes compra dólares no mercado de câmbio para compor as suas reservas cambiais. III. TAXA DE CÂMBIO E AS CONTAS EXTERNAS Como a taxa de câmbio influencia nas contas externas do país? Por exemplo, suponha que o dólar hoje esteja na cotação de US$1 = R$4. Suponha ainda que uma empresa brasileira fabrica um produto que custa 81 R$270 já descontados os tributos. Quanto custará esse produto em dólares? Fazendo uma regra de três: US$ 1 R$ 4,00 US$ x R$ 270,00 x = US$ 67,50 Agora, imaginemos que o dólar aumente a cotação para US$1 é igual a R$5. O mesmo produto continua custando R$270. Mas agora quanto esse produto custará em dólares? Fazendo a regra de três: US$ 1 R$ 5,00 US$ y R$ 270,00 y = US$ 54,00 Quando a taxa de câmbio aumenta de US$4 para US$5 dizemos que houve uma desvalorização cambial. Na desvalorização cambial é necessária mais moeda local para comprar moeda estrangeira, ou seja, há uma perda do poder aquisitivo da nossa moeda em relação ao dólar. Quando ocorre a DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL, o produto que o Brasil vende no exterior fica mais barato em dólares. Como no exemplo em que o produto diminuiu de valor de US$67,50 para 82 US$54. Nessa situação com preço mais baixo pela situação de oferta e demanda pela lei de oferta e demanda. A tendência é que o consumidor estrangeiro compre mais deste produto cujo preço em dólares diminuiu. Exemplo: SITUAÇÃO INICIAL US$ 1 R$ 4,00 US$ 67,50 400.000 unid. US$ 67,50 x 400.000 unid. = US$ 27,0 milhões US$ 27 mi → US$1 R$4,00 R$ 108 milhões COM A DESVALORIZAÇÃO A demanda aumenta: US$ 1 R$ 5,00 US$ 54,00 450.000 unid. US$ 54,00 x 450.000 unid. = US$ 24,3 milhões Diminuiu??? US$ 24,3 mi → US$1 R$5,00 R$ 121,5 milhões 83 Vamos supor que na paridade US$1 R$4 o produto que custava US$67,50 alcançasse um volume de vendas de 400.000 unidades. A receita da empresa em dólares será US$67,50 vezes 400 mil unidades é igual a 27 milhões de dólares. E a receita em reais será de 27 milhões de dólares vezes R$4, totalizando 108 milhões de reais. Com a desvalorização, a demanda aumenta. Suponhamos que na cotação de US$1 para R$5, ou seja, o produto custando US$54, haja um aumento nas vendas para 450.000 unidades do produto. US$54 vezes 450.000 unidades perfaz um total de receita em dólares de 24,3 milhões de dólares. Aí você pergunta: diminuiu? Na verdade, o exportador não está preocupado com o valor em dólares, já que suas contas serão pagas em reais. Ao converter os 24,3 milhões de dólares na cotação de US$1 para R$5, a receita será de 121,5 milhões de reais, contra uma receita de 108 milhões de reais na cotação de US$1 para R$4. Ou seja, houve um aumento da receita para o exportador no montante de 13 milhões e 500 mil reais. As desvalorizações cambiais, portanto, tendem a aumentar o volume das exportações, o que aumenta a receita das empresas brasileiras em reais. E, conforme verificamos na contabilidade 84 internacional no cálculo do PIB, um aumento das exportações significa um estímulo à produção doméstica, o que tende a gerar mais empregos e renda. DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL E EXPORTAÇÕES ● Aumenta o VOLUME de exportações. ● Aumenta a RECEITA das empresas brasileiras em REAIS. ● Estimula a PRODUÇÃO doméstica, gerando mais empregos e mais renda. Todavia a taxa de câmbio também tem efeitos sobre as importações. Suponha que o dólar hoje esteja na cotação de US$1 = R$4. Suponha também que uma empresa brasileira importa um insumo que custe US$60 já descontados os tributos. Quanto este insumo custa em reais? 85 US$ 1 R$ 4,00 US$ 60 R$ z z = R$ 240,00 Agora se a cotação aumenta para US$1 igual a R$5, isto é, uma desvalorização cambial, insumo que custa US$60 irá custar: US$ 1 R$ 5,00 US$ 60 R$ w w = R$ 300,00 A DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL, portanto, leva a um aumento do custo dos produtos adquiridos do exterior. As importações ficam mais caras em reais, o que aumentará o custo da fabricação dos produtos brasileiros que dependem dos insumos Importados. Assim como aumenta o preço ao consumidor dos bens de consumo importados. A desvalorização cambial tende, portanto, a aumentar o aumento dos preços em escala nacional, o leva ao conhecido o fenômeno da inflação. 86 DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL E IMPORTAÇÕES ● Produto adquirido do exterior fica mais caro em reais. ● Importações mais caras em reais aumentará o custo de fabricação dos produtos brasileiros que dependam de insumos importados. ● Preços ao consumidor final tendem a subir. ● INFLAÇÃO! Quando acontece a VALORIZAÇÃO CAMBIAL é o inverso. Por exemplo, se o produto fabricado no Brasil que custa R$ 270, for exposto a uma cotação cambial de US$1 = R$ 3, o chegará ao exterior custando US$ 90. Aos olhos dos estrangeiros o produto ficará mais caro e estes deixaram de comprá-los. Por outro lado, o insumo que custa US$60, com a cotação de US$1 a R$ 3, chega ao Brasil custando R$ 180, mais barato para o fabricante nacional. 87 A valorização cambial, portanto, desestimula as exportações e estimula as importações. A valorização cambial descontrolada tende a causar o que é conhecido na economia como desindustrialização. Porque fica mais barato comprar do exterior do que comprar da indústria nacional. VALORIZAÇÃO CAMBIAL E EXPORTAÇÕES: ● Diminui o VOLUME de exportações. ● Diminui a RECEITA das empresas brasileiras em REAIS. ● Desestimula a PRODUÇÃO doméstica, gerando menos empregos e menos renda. 88 VALORIZAÇÃO CAMBIAL E IMPORTAÇÕES: ● Produto adquirido do exterior fica mais barato em reais. ● Importações mais baratas em reais reduzirá o custo de fabricação dos produtos brasileiros que dependam de insumos importados. ● Preços ao consumidor final tendem a cair. ● QUEDA DA INFLAÇÃO! Ainda que a valorização cambial ajude no controle da inflação, no médio a longo prazo, ela pode levar à quebra de empresas da indústria nacional e ao desemprego no setor industrial. Por todas essas razões, oscilações na taxa de câmbio tendem a causar instabilidades na economia como um todo. O governo, ciente desse risco, muitas vezes é obrigado a intervir no mercado de câmbio via Banco Central. Por exemplo, se a cotação do dólar começar 89 a cair muito, isto é, começar a se valorizar excessivamente, o banco central compra dólares no mercado cambial retirando assim dólares de circulação e forçando uma alta na cotação. Caso contrário se a moeda tende a se desvalorizar excessivamente frente ao dólar, o banco central pode vender dólares no mercado cambial de maneira a forçar uma queda na cotaçãopor meio do excesso de dólares no mercado cambial. 90 AULA 8 CONTAS EXTERNAS E COMÉRCIO INTERNACIONAL II BALANÇO DE PAGAMENTOS: BALANÇA COMERCIAL, BALANÇA DE SERVIÇOS, CONTA DE RENDAS PRIMÁRIAS E SECUNDÁRIAS, O SALDO DE TRANSAÇÕES CORRENTES (CONTA CORRENTE) E A POUPANÇA EXTERNA, CONTA CAPITAL E FINANCEIRA, O RESULTADO DO BALANÇO E AS RESERVAS CAMBIAIS I. INTRODUÇÃO Conforme informa o Banco Central do Brasil, “O balanço de pagamentos é o registro estatístico de todas as transações – fluxo de bens e direitos de valor econômico – entre os residentes de uma economia e o restante do mundo, ocorridos em determinado período de tempo”. Fonte: Banco Central do Brasil, disponível em: https://www4.bcb. gov.br/pec/series/port/metadados/mg152p.htm, acesso em 2019. 93 https://www4.bcb.gov.br/pec/series/port/metadados/mg152p.htm https://www4.bcb.gov.br/pec/series/port/metadados/mg152p.htm https://www4.bcb.gov.br/pec/series/port/metadados/mg152p.htm O Banco Central estrutura a série temporal de balanço de pagamentos do Brasil seguindo as diretrizes conceituais estabelecidas na 6ª edição do Manual de Balanço de Pagamentos do Fundo Monetário Internacional, conhecido como BPM6. Em outras palavras, todas as transações que o Brasil faz com o restante do mundo são registradas no Balanço de Pagamentos, que se constitui na base das contas externas de um país. O Balanço de Pagamentos é dividido em subcontas de acordo com a natureza da operação efetuada. Os principais grupos de subcontas são os seguintes: BALANÇA COMERCIAL SERVIÇOS RENDA PRIMÁRIA RENDA SECUNDÁRIA CONTA CAPITAL CONTA FINANCEIRA 94 II. BALANÇA COMERCIAL A balança comercial reflete o resultado das vendas menos as compras de mercadorias ao exterior. O resultado da balança comercial corresponde a exportações menos importações. O termo FOB, que significa “livre para embarcar” (Free on Board), contabiliza apenas o valor da mercadoria vendida e os não serviços prestados para desembaraço aduaneiro e transporte da mercadoria. No gráfico a seguir você ver as exportações e as importações brasileiras para um período selecionado. O melhor resultado das exportações brasileiras ocorreu no ano de 2011 com 255,5 bilhões de dólar. O valor mais alto das importações correspondeu ao ano de 2013 cerca de 241 trilhões de dólares. Veja o efeito da crise econômica iniciada em 2008 sobre as exportações e as importações brasileiras no ano seguinte, 2009. E note que a partir de 2015 o Brasil obteve um volume significativamente menor de importações. Essa queda nas importações reflete a crise econômica pela qual o Brasil passou no período. De fato, em 2018 o nível das importações corresponde ao valor próximo ao do que era no ano de 2010. 95 EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES DO BRASIL (PERÍODO SELECIONADO) 19 8, 4 15 3, 6 25 5, 5 23 9, 0 17 4, 6 12 8, 7 18 2, 8 24 1, 2 23 0, 7 17 2, 4 13 9, 4 15 3, 2 18 5, 4 0 50 100 150 200 250 300 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 20 17 20 18 U S$ b ilh õe s Exportações Importações Fonte: Banco Central do Brasil, disponível em https://www.bcb.gov. br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx, acesso em agosto de 2019. A partir de 2015, é possível identificar que o resultado positivo que o Brasil obteve na conta comercial do período se deve pelo baixo nível das importações, refletindo o baixo nível do consumo das famílias no Brasil. 96 https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx III. BALANÇA DE SERVIÇOS A conta de serviços reflete operações que o Brasil fez com exterior principalmente em termos de Transportes, viagens, propriedade intelectual, aluguel de equipamentos, entre outros serviços. Por exemplo, se o exportador de soja contrata os serviços da marinha mercante da Inglaterra para levar um carregamento de soja do Brasil até a China, o valor pago a essa transportadora corresponderá a uma saída de recursos. E, portanto, sinal negativo na conta de serviço de Transportes. Quando brasileiros viajam ao exterior, levam dólares para fora e quando os estrangeiros fazem viagens de turismo ou negócios ao Brasil trazem dólares. Caso uma empresa brasileira pague royalties referentes à patente de uma empresa estrangeira, esse pagamento corresponderá a uma saída de recursos via conta propriedade intelectual. Os dados que a seguir correspondem à conta de serviços do Brasil no período recente. Verifica- se que a conta de serviços é estruturalmente deficitária no Brasil. 97 SALDO DE SERVIÇOS DO BRASIL (PERÍODO SELECIONADO) -9 ,8 -7 ,0 -7 ,2 -7 ,6 -4 ,8 -4 ,7 -4 ,3 -7 ,9 -9 ,4 -1 3, 1 -1 6, 9 -1 9, 6 -3 0, 2 -3 7, 2 -4 0, 2 -4 6, 4 -4 8, 1 -3 6, 9 -3 0, 4 -3 3, 9 -3 3, 9 -60 -50 -40 -30 -20 -10 0 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 20 17 20 18 U S$ b ilh õe s Fonte: Banco Central do Brasil, disponível em https://www.bcb.gov. br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx, acesso em agosto de 2019. IV. RENDA PRIMÁRIA A conta renda primária corresponde às transferências de recursos que são feitas ao exterior, ou obtidas do exterior em termos de remuneração de funcionários, remessa de lucros dividendos e pagamentos de juros em operações bancárias com o resto do mundo. Por exemplo, conforme se pode identificar na tabela a seguir, no ano de 2018 o Brasil enviou um valor líquido ao exterior de 19,8 bilhões de 98 https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx dólares em lucros e dividendos das empresas multinacionais instaladas no Brasil. Assim como enviou 15,7 bilhões de dólares em função de renda de investimento de carteira, como ações de empresas brasileiras listadas na Bovespa e títulos do governo brasileiro, além de quase 7,9 bilhões de dólares em pagamento de juros ao exterior. O Brasil aplica parte das suas reservas cambiais em títulos do governo dos Estados Unidos, o que justifica o valor 6,4 bilhões de dólares de reservas obtidas do exterior. OBTENÇÃO VERSUS REMESSA DE RENDAS AO EXTERIOR PELO BRASIL EM 2018 (dados em US$ bilhões) 2018 Renda primária -36,67 Remuneração de empregados 0,25 Renda de investimento direto -19,84 Renda de investimentos em carteira -15,65 Renda de outros investimentos (juros) -7,88 Renda de reservas – receitas 6,44 Fonte: Banco Central do Brasil, disponível em https://www.bcb.gov. br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx, acesso em agosto de 2019. 99 https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx O gráfico a seguir mostra que o Brasil também tem um problema estrutural na conta de rendas primárias. Isso se deve ao fato de que há muito mais empresas multinacionais estrangeiras no Brasil do que empresas brasileiras no exterior, o que desequilibra a balança. SALDO LÍQUIDO DE REMESSAS DE RENDA AO EXTERIOR DO BRASIL (PERÍODO SELECIONADO) -1 7, 8 -1 8, 5 -1 7, 5 -1 9, 3 -1 7, 7 -1 8, 1 -2 0, 1 -2 5, 6 -2 7, 0 -2 9, 0 -4 1, 8 -3 5, 0 -7 0, 2 -6 9, 7 -6 3, 9 -3 7, 5 -4 9, 4 -3 8, 0 -4 1, 5 -4 0, 0 -3 6, 7 -80 -70 -60 -50 -40 -30 -20 -10 0 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 20 17 20 18 U S$ b ilh õe s Fonte: Banco Central do Brasil, disponível em https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx, acesso em agosto de 2019. De fato, a situação das contas externas brasileiras no quesito remessa de lucros e pagamento de juros ao exterior é complicada, conforme se pode 100 https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx ver no quadro a seguir. ENTRE 1973 E 2018: Remessa de lucros: US$ 518,6 bilhões Pagamento de juros: US$ 631,1 bilhões Subtotal: US$ 1,15 trilhão Receita de juros e lucros advindos do exterior: US$ 121,3 bilhões; Déficit líquido: US$ 995,6 bilhões. Fontes: Banco Central do Brasil, disponível em: http://www.bcb.gov.br/ftp/ notaecon/balpagabpm5.zip, acesso em fevereiro de 2016. Banco Central do Brasil, disponível em https://www.bcb.gov.br/ content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx, acesso em agosto de 2019. Boreau of Labor Statistics, disponível em: http://www.bls.gov/data/ inflation_calculator.htm, acesso em agosto de 2019. Conforme se vê no quadro acima, entre 1973 e 2018, o Brasil enviou ao exterior na forma de remessa de lucros US$518,6 bilhões e pagou em juros aos bancos estrangeiros US$631,1 bilhões. Somando-se as remessas de lucros com os pagamentos de juros entre 1973 e 2018, totalizam US$1,15 trilhão. No mesmo período as 101 http://www.bcb.gov.br/ftp/notaecon/balpagabpm5.zip http://www.bcb.gov.br/ftp/notaecon/balpagabpm5.zip https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx http://www.bls.gov/data/inflation_calculator.htm http://www.bls.gov/data/inflation_calculator.htm receitas que o Brasil obteve do exterior em lucros e juros foi de apenas US$121,3 bilhões. Um déficit líquido de US$995,6 bilhões – quase US$1 trilhão – em 45 anos. V. RENDA SECUNDÁRIA A conta “renda secundária” refere-se aos pagamentos e recebimentos efetuados com o exterior sem que haja a contrapartida de um serviço de qualquer natureza, bem como a obrigatoriedade de compensações futuras. Compreendem doações, verbas a fundo perdido e remessas de patrimônio de imigrantes, entre outros. O Brasil obteve do exterior 2,5 bilhões de dólares em 2018 de renda secundárias. VI. SALDO DAS TRANSAÇÕES CORRENTES (OU CONTA CORRENTE) A soma da balança comercial, da conta de serviços, renda primária e renda secundária totaliza o saldo das transações correntes. O saldo das transações correntes é a principal variável para se avaliar a saúde financeira de um país com relação às contas externas. Se o saldo das 102 transações correntes for positivo, significa que o país é um formador de poupança externa e potencializa a obtenção de crédito com restante do mundo. Caso contrário, se o saldo da conta corrente for negativo, o país será um tomador de poupança externa e precisará obter recursos do exterior para “fechar as contas” do balanço de pagamentos. A tabela a seguir apresenta a situação da conta corrente do Brasil no ano de 2018. SALDO EM TRANSAÇÕES CORRENTES DO BRASIL EM 2018 (dados em US$ bilhões) 2018 Balança Comercial 53,59 Balança de Serviços -33,95 Renda primária -36,67 Renda secundária 2,52 Transações Correntes -14,51 Fonte: Banco Central do Brasil, disponível em https://www.bcb.gov. br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx, acesso em agosto de 2019. 103 https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx Conforme pode ser visualizado na tabela, para o ano de 2018, somando-se a balança comercial que teve um superávit de US$53,6 bilhões, com o déficit da balança de serviços que foi de US$33,95 bilhões, o déficit da renda primária de US$36,67 bilhões e o superávit da renda secundária de US$2,52 bilhões, totaliza um saldo de transações correntes de US$14,51 bilhões. Isso significa que o Brasil, em 2018, foi um tomador de poupança externa. No gráfico a seguir é possível verificar os resultados das transações correntes do Brasil para um período selecionado. De fato o Brasil só teve valor positivo das transações correntes no período selecionado entre 2003 e 2007. Nos demais períodos, sempre se verificaram déficits em conta corrente, sendo o pior resultado ocorrido no ano de 2014, no valor de mais de US$101 bilhões. 104 RESULTADO DAS TRANSAÇÕES CORRENTES (PERÍODO SELECIONADO) -3 3, 9 -2 5, 9 -2 4, 8 -2 3, 7 -8 ,1 3, 8 11 ,3 13 ,5 13 ,0 0, 4 -3 0, 6 -2 6, 3 -7 9, 0 -7 6, 3 -8 3, 8 -7 9, 8 -1 01 ,4 -5 4, 5 -2 4, 0 -7 ,2 -1 4, 5 -120 -100 -80 -60 -40 -20 0 20 40 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 20 17 20 18 U S$ b ilh õe s Fonte: Banco Central do Brasil, disponível em https://www.bcb.gov. br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx, acesso em agosto de 2019. VII. CONTA CAPITAL E CONTA FINANCEIRA A conta capital refere-se as transações envolvendo compra e venda de ativos não financeiros. Não produzidos. E das transferências de Capital entre companhias. Em 2018 o saldo da conta capital foi de US$440 milhões. A conta financeira refere-se as captações e concessões que o país faz com o restante do 105 https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx mundo em termos de investimento direto investimentos em carteira derivativos e outros investimentos como empréstimos bancários e ativos de reserva. Por exemplo quando uma empresa estrangeira resolve abrir uma filial no Brasil ao trazer os recursos ao Brasil esses dólares são registrados como um investimento direto. Na sexta edição do manual de balanço de pagamentos do fundo monetário internacional, esses valores são registrados com sinal negativo, embora sejam positivos para o país. Portanto as concessões líquidas ao exterior têm sinal positivo. Enquanto as captações que o Brasil obtém do exterior tem sinal negativo. Os números a seguir referem-se à conta financeira do ano de 2018. 106 CONTA FINANCEIRA DO BRASIL EM 2018 (dados em US$ bilhões) 2018 Investimento direto (líquido) -74,26 Investimentos em carteira (líquido) 8,89 Derivativos (líquido) 2,75 Outros investimentos (líquido) 51,94 Ativos de reserva 2,93 Conta financeira: Concessões líquidas (+) / Captações líquidas (-) -7,75 Fonte: Banco Central do Brasil, disponível em https://www.bcb.gov. br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx, acesso em agosto de 2019. O Brasil obteve “investimentos diretos líquidos” do exterior de US$74,26 bilhões. Isto é, considerando tudo aquilo que as empresas estrangeiras investiram no Brasil, menos todos os investimentos que empresas brasileiras fizeram ao exterior, resultou em um saldo positivo para o país de US$74,26 bilhões. Já os “investimentos em carteira” tiveram uma saída líquida de US$8,89 bilhões. Assim 107 https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx como derivativos de US$2,75 bilhões e “outros investimentos” – como empréstimos e amortizações de empréstimos – uma saída líquida de US$51,94 bilhões. Os ativos de reserva totalizaram US$2,3 bilhões – neste caso positivo para o país, o que significa um acúmulo de reservas cambiais. Quando a soma do saldo de transações correntes e das captações financeiras líquidas – descontadas as concessões – é positiva, o país acumula reservas cambiais ou reservas internacionais. No ano de2018, por exemplo, houve um resultado positivo no balanço de pagamentos e um acúmulo líquido de reservas cambiais. CONTA FINANCEIRA DO BRASIL EM 2018 (dados em US$ bilhões) 2018 Transações Correntes -14,51 Conta capital 0,44 Conta financeira 7,75 Erros e omissões 6,32 Fonte: Banco Central do Brasil, disponível em https://www.bcb.gov. br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx, acesso em agosto de 2019. 108 https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagA.xlsx VIII. RESERVAS CAMBIAIS OU RESERVAS INTERNACIONAIS Reservas cambiais são os recursos que os bancos centrais detêm em moeda estrangeira derivados do superávit do balanço de pagamentos. O gráfico, a seguir, apresenta a evolução das reservas cambiais de janeiro de 2000 até junho de 2019. RESERVAS CAMBIAIS DO BRASIL (PERÍODO SELECIONADO) 37 ,8 20 6, 5 37 4, 3 38 6, 2 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 20 17 20 18 20 19 U S$ b ilh õe s Fonte: Banco Central do Brasil, disponível em https://www. bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/ DemonstrReservas_M.xls, acesso em agosto de 2019. 109 https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/DemonstrReservas_M.xls https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/DemonstrReservas_M.xls https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/DemonstrReservas_M.xls https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/DemonstrReservas_M.xls https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/DemonstrReservas_M.xls Por exemplo, em janeiro de 2003 o Brasil detinha US$37,8 bilhões em reservas cambiais. Em outubro de 2008 chegou a US$206,5 bilhões, atingindo US$374,3 bilhões em maio de 2012. Em junho de 2019 totalizou US$ 386,2 bilhões. Esse volume de reservas permite certo conforto para manter a estabilidade cambial, evitando que o câmbio se desvalorize abruptamente, o que poderia levar à inflação. Além de permitir estabilizar as transações brasileiras com o restante do mundo. A China, por sua vez, detém mais de 3 trilhões de dólares em reservas cambiais, sendo atualmente o país com mais reservas cambiais do mundo. Essas reservas são constituídas principalmente por títulos da dívida do governo dos Estados Unidos. Assim como as reservas brasileiras. No gráfico, a seguir, é possível identificar que as reservas brasileiras de julho de 2019, que totalizaram quase 386 bilhões de dólares, estão 96,6% denominadas em títulos do tesouro dos Estados Unidos. 110 COMPOSIÇÃO DAS RESERVAS CAMBIAIS DO BRASIL EM JULHO DE 2019 96,6% 0,8% 1,0% 0,8% 0,8% 1. Títulos do governo dos EUA 2. Posição de reserva no FMI 3. Direito Especial de Saque 4. Ouro (inclusive depósitos de ouro) 5. Outros ativos de reserva Fonte: Banco Central do Brasil, disponível em https://www. bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/ DemonstrReservas_M.xls, acesso em agosto de 2019. 111 https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/DemonstrReservas_M.xls https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/DemonstrReservas_M.xls https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/DemonstrReservas_M.xls https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/DemonstrReservas_M.xls https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/DemonstrReservas_M.xls AULA 9 CONTAS EXTERNAS E COMÉRCIO INTERNACIONAL III IMPACTO DA POLÍTICA CAMBIAL SOBRE AS CONTAS EXTERNAS. BLOCOS COMERCIAIS E ACORDOS DE LIVRE COMÉRCIO I. IMPACTO DA POLÍTICA CAMBIAL SOBRE AS CONTAS EXTERNAS As oscilações na taxa de câmbio têm impactos sobre as contas externas do país. Conforme visto na aula anterior, as desvalorizações da taxa de câmbio tendem a aumentar as exportações e a encarecer as importações. Aos olhos dos estrangeiros, a mercadoria fica mais barata, o que estimula o aumento do consumo lá fora e os exportadores são beneficiados, enquanto do ponto de vista dos residentes do país, importar uma mercadoria torna-se mais caro, o que pode levar a um aumento no índice de preços. Mas as oscilações na taxa de câmbio também têm impacto nas demais contas. Desvalorizações cambiais na conta de serviços tendem a diminuir a demanda por serviços estrangeiros. Viajar ao exterior, contratar serviços de transporte e seguros, bem como os demais serviços do exterior torna-se muito mais caro. Isso leva aos residentes a evitar contratar serviços do exterior. Assim como as desvalorizações tendem a diminuir as remessas de lucros ao exterior. As 114 empresas multinacionais podem preferir esperar remeter parte dos lucros das filiais à matriz, para minimizar as perdas com a desvalorização cambial, caso haja expectativa de que a desvalorização seja temporária e reversível. Quanto ao pagamento de juros, as desvalorizações cambiais tendem a ter pouco efeito se os contratos já são pré-estabelecidos. Contudo, se houver uma desvalorização forte e descontrolada, o país pode ter dificuldade em pagar juros da dívida externa e, numa situação extrema, entrar em situação de moratória. Sob a ótica do tomador, os juros pagos, medidos em moeda local, acabam ficando mais caros, ainda que o valor em dólares ou euros permanecesse constante. Contudo, dependendo do tamanho da desvalorização, alguns créditos podem se tornar impagáveis, diminuindo os envios de dólares ao exterior. Já investimentos diretos advindos do exterior podem aumentar com as desvalorizações cambiais. A moeda local desvalorizada aumenta o poder de compra da moeda internacional no país destino dos investimentos. Isso tende a melhorar a retorno sobre investimento de recursos em dólares – novamente, ressalte- se – se a expectativa for de reversão da 115 desvalorização cambial. Por outro lado, as valorizações cambiais também podem ter efeitos sobre a economia. Por exemplo, se os produtos importados se tornam sistematicamente mais baratos do que os nacionais, os fabricantes nacionais podem ter que fechar as portas. Isso levaria a um fenômeno chamado DESINDUSTRIALIZAÇÃO, que costuma ser acompanhado por desemprego e pela redução da capacidade do país de gerar valor agregado nos produtos que fabrica. Por todos esses motivos, o governo muitas vezes é obrigado a ter uma política cambial intervencionista. Para evitar que as oscilações cambiais bruscas tenham impacto nas contas externas, na inflação e no crescimento econômico. Eventualmente, o Banco Central intervém no mercado cambial, vendendo dólares quando a taxa de câmbio se desvaloriza; ou comprando dólares quando a taxa de câmbio se valoriza. Essas operações de compras e vendas de dólares pelo Banco Central alteram o nível das reservas cambiais. Além disso, existem produtos financeiros, tais 116 como swaps e seguros cambiais, que funcionam como hedge, isto é, proteção para evitar perdas com operações envolvendo taxa de câmbio. II. BENEFÍCIOS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL O comércio exterior tem efeitos positivos sobre a economia dos países por diversas razões. Um dos aspectos benéficos tem a ver com fatores geográficos, como o acesso a gêneros agrícolas de países com climas diferentes. Outro aspecto tem a ver com os ganhos de produtividade. A especialização tende a potencializar o desenvolvimento de técnicas e procedimentos que levam a ganhos mútuos de produtividade aos países que comercializam. Nessas condições, há um volume consideravelmente maior de bens à disposição da população, a preços mais baixos e qualidade superior. O comércio multilateral potencializa também o desenvolvimento do sistema de empréstimosinternacionais. Quando os empresários de um país têm acesso a um número maior de instituições que ofertam empréstimos, a tendência é que haja uma queda nas taxas de 117 juros. Taxas de juros mais baixas possibilitam um volume maior de investimentos produtivos, otimizando os recursos financeiros disponíveis em favor da produção de bens de consumo e serviços. O comércio exterior também possibilita o aprimoramento da força-de-trabalho. Ainda que as práticas comuns na Europa e nos Estados Unidos em relação aos fluxos migratórios sejam frequentemente repressivas, a teoria econômica prevê que tais fluxos são positivos. O conhecimento de diversas formas de condução de processos e tarefas permite a escolha dos mais eficientes. Ademais, permite a ascensão social de diversas camadas da população e que os salários pagos reflitam especificamente os ganhos de produtividade efetivos. Por fim, permite a minimização dos riscos. O intercâmbio de ativos de risco entre os países – tais como títulos de dívida e ações de empresas – potencializa que os riscos inerentes desses ativos sejam minimizados. Portanto, quando o comércio mundial se expande, o PIB mundial tende a aumentar e a melhorar as condições da população ao acesso global de bens e serviços. 118 III. PROTECIONISMO Se o comércio mundial é tão benéfico ao desenvolvimento socioeconômico, por que, os países frequentemente adotam medidas contra o comércio internacional? Para responder a essa pergunta, lembremo-nos da equação do PIB pelo lado do dispêndio, que vimos na aula 2: PIB = (+) Consumo das famílias (+) Investimentos das empresas (+) Gastos do governo (+) Exportações de bens e serviços (–) Importações de bens e serviços. Imaginemos o PIB de um país com os seguintes valores: 119 SITUAÇÃO 1 Consumo das famílias = +4.300 Gastos do Governo = +1.300 Formações Bruta de Capital Fixo = +1.000 Exportações = +1.100 Importações = -900 PIB = +6.800 Agora, suponha que as exportações do país aumentem para 1.200, mas que todas as demais variáveis permanecem constantes, condição conhecida como ceteris paribus ou coeteris paribus. O que aconteceria com o PIB? 120 SITUAÇÃO 2 Consumo das famílias = +4.300 Gastos do Governo = +1.300 Formações Bruta de Capital Fixo = +1.000 Exportações = +1.100 Importações = -1.200 PIB = +6.500 Comparando-se a situação 1 com a situação 2, o PIB diminuiu de 6.800 para 6.500 em função do aumento das importações. Os países sabem, portanto, que, se aumentarem as importações sem aumentarem as demais variáveis, poderão ter uma queda no PIB. Porque essa seria uma situação na qual estariam “exportando empregos” e prejudicando a agropecuária e a indústria nacional. E é por essa razão que os países se lançam em práticas chamadas de protecionistas. São práticas protecionistas: • a adoção de barreiras e limites à importação de bens e serviços que concorrem diretamente 121 com similares fabricados no país, • bem como a adoção de subsídios aos produtores locais para estes terem seus produtos barateados em relação aos exportados, • ou concessão de subsídios aos exportadores visando aumentar a fatia de mercado internacional. IV. DUMPING Outra palavra frequentemente usada de forma negativa no comércio internacional é o “dumping”. Dumping é a exportação de mercadorias a preços abaixo do valor efetuado no mercado interno. Os tratados internacionais respaldados pela Organização Mundial do Comércio têm sido contundentes no combate às práticas de dumping, sintetizados pelos Direitos Anti-Dumping. As modalidades mais nocivas de dumping são as seguintes: • PREDATÓRIO: o objetivo dessa forma de dumping é eliminar os concorrentes, situação em que uma empresa – ou um país – executa a venda de produtos com preços abaixo do custo de produção, com a finalidade óbvia de eliminar os concorrentes e passar a deter poder de monopólio. 122 • SOCIAL: causado pelas desigualdades, no que diz respeito à remuneração e direitos trabalhistas, entre países ricos e pobres. — Nos países atrasados, o custo do produto é determinado principalmente pelo valor da mão-de-obra. Nessas circunstâncias, as nações em desenvolvimento obtêm vantagem em relação aos países desenvolvidos. O dumping social é frequentemente foco de investigação por parte da Organização Internacional do Trabalho (OIT). • AMBIENTAL: utilizada em larga escala pelos países europeus e pelos Estados Unidos, caracteriza-se pela utilização de fontes de energia não-renováveis. — Também ocorre, com frequência, a transferência de empresas que geram grande quantidade de resíduos poluentes dos países com exigências mais severas em relação ao meio-ambiente para nações com legislação mais permissiva (em geral, países atrasados). • CAMBIAL: possibilitado pela prática recorrente de taxas de câmbio desvalorizadas, o que encarece as importações e barateia – aos olhos dos países do resto do mundo – as exportações. 123 V. DO GATT À OMC Apesar do frequente protecionismo praticado pela maior parte dos países, desde o final da Segunda Guerra Mundial o mundo se lançou na busca por melhores condições de livre comércio. Embora haja dissenso em relação à efetividade de políticas comerciais intervencionistas como instrumento para promover o desenvolvimento, é consenso de que o comércio exterior tende a melhorar o bem-estar das nações. É fato, também, que o protecionismo irrefletido e indiscriminado tende a causar males diversos. Contudo, as disputas políticas internas dos países, desde a década de 1930, iniciou-se um movimento mais incisivo em favor da redução das tarifas e barreiras não tarifárias. Há certo consenso de que a lei tarifária “Smoot- Hawley” de 1930, nos Estados Unidos, promoveu um retrocesso econômico no país e foi um dos possíveis fatores que agravou a Grande Depressão naquela década. Muitos países promoveram uma espécie de retaliação aos Estados Unidos, aumentando paulatinamente as alíquotas de importação sobre produtos estadunidenses. A existência de fortes lobbies no Congresso Americano foi uma das causas de entrave ao 124 comércio exterior daquele país, razão pela qual se iniciou o movimento de NEGOCIAÇÕES BILATERAIS. As negociações bilaterais consistiam em acordos de concessões entre dois países, de sorte que ambos baixavam, simultaneamente, as tarifas de importação de um produto de importância na pauta do parceiro comercial. Por exemplo, os Estados Unidos aceitavam reduzir a alíquota de importação do café mediante a redução, pelo Brasil, das taxas dos automóveis exportados pelos estadunidenses. Contudo, esse mecanismo continha uma falha intrínseca. Eventualmente, outro país que não assinara o acordo acabava sendo beneficiado pela redução de alíquotas entre os dois países. Seguindo o exemplo anterior, a redução do imposto de importação do café, pelos Estados Unidos, beneficiavam o Brasil, mas também a Colômbia, que não havia se comprometido com a redução de tarifa sobre qualquer produto importante na pauta de importações americanas. Após a Segunda Guerra Mundial, a diplomacia internacional, sob a ótica da Economia Internacional, voltou as atenções para a consolidação de um organismo multilateral que supervisionasse o comércio mundial. O consenso 125 então estabelecido foi o de que a redução coordenada de tarifas e barreiras alfandegárias, em todos os países, era condição primordial para que as relações econômicas internacionais trouxessem os benefícios prometidos pela teoria econômica. Baseado nessa prerrogativa, iniciaram-se as rodadas de negociação do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio, conhecido simplesmente pela sigla, em inglês, GATT (General Agreement on Tariffs and Trade). Ao todo, oito rodadas foram concluídas e ainda há uma em andamento. Entre os principais temas abordados, foram aprovadas as seguintes restrições: 1. PROIBIÇÃO DE CONCESSÃO a subsídios às exportações: os países signatáriosficam proibidos de conceder subsídios às exportações. Os Estados Unidos, contudo, conseguiram impor uma cláusula que abria exceção para os produtos agrícolas; 2. PROIBIÇÃO DE IMPOSIÇÃO de cotas de importação: de acordo com o tratado, os países não podem impor cotas unilaterais sobre as importações. O acordo também dispõe de uma cláusula de exceção, que se traduz na possibilidade de adotar as cotas quando houver o risco de “ruptura de mercado”. A expressão 126 é obviamente vaga, que pode ser interpretada de várias formas, mas que tem sido usada para situações em que existe a possibilidade de que os concorrentes externos possam eliminar os concorrentes no plano doméstico. 3. COMPENSAÇÃO DE TARIFAS: o aumento de uma alíquota de importação deverá ser compensada pela redução de outras tarifas para compensar os países exportadores que possam ser prejudicados pela medida. Entre todos os grupos de negociação, destaca-se a Rodada Uruguai. Com a participação e a adesão de 123 países, a Rodada Uruguai definiu as bases para a constituição da Organização Mundial do Comércio, em 1994. Além de tarifas, a Rodada Uruguai abordou temas controversos, como a questão de reservas de mercado para gastos governamentais e a regulamentação internacional com relação à propriedade intelectual. Os acordos internacionais sobre redução de tarifas beneficiavam todos os países que exportavam a mesma mercadoria. É o que se convencionou denominar tarifas não discriminatórias. Após a Segunda Guerra Mundial, contudo, as dificuldades em torno de consolidação de uma legislação internacional comum levaram alguns países a optar por 127 um caminho alternativo. Emerge assim o conceito de “Nação Mais Favorecida”, segundo o qual, adquire-se o status formal de que os exportadores de determinados pagarão tarifas não maiores do que a de outros. A evolução da ideia de favorecimento implica ACORDOS COMERCIAIS PREFERENCIAIS, em que um conjunto de tarifas aplicadas sobre os produtos dos demais países é maior do que as alíquotas sobre os mesmos produtos importados do país preferencial. VI. BLOCOS COMERCIAIS Ainda que o GATT proibisse esse tipo de prática, segundo o estatuto fundamental, efetivamente o século 20 foi marcado por exceções que beneficiavam principalmente aos EUA e Europa. Alguns países promoveram o desenvolvimento de acordos comerciais preferenciais e estabeleceram BLOCOS COMERCIAIS, que podem se constituir de duas formas: 128 BLOCOS COMERCIAIS 1 ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO 2 UNIÃO ALFANDEGÁRIA A ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO é o estágio inicial de um bloco econômico. Uma área de livre comércio é caracterizada pela comercialização de mercadorias sem alíquotas de importação a todos os países membros. Todavia, os signatários do acordo podem estabelecer tarifas sobre produtos importados de nações fora da área de livre comércio de forma independente. Uma UNIÃO ALFANDEGÁRIA está um estágio à frente. Caracteriza-se como um acordo em que, além de ser uma área de livre comércio, obriga a que todos os signatários do tratado estabeleçam uma alíquota unificada para os produtos importados de países não pertencentes à união alfandegária. A Zona do Euro, por exemplo, está no estágio mais avançado de um bloco econômico. Iniciou- se como um plano de acordos comerciais preferenciais, a Comunidade Econômica Europeia, no tratado de Roma de 1957. Em 1992, tornou-se 129 uma área de livre comércio, o Mercado Comum Europeu, por meio do Tratado de Maastricht (na Holanda), que, em paralelo à eliminação das últimas restrições alfandegárias entre os países membros, iniciou as negociações para a consolidação do plano da adoção da moeda única. As exigências de resultados fiscais austeros nas contas dos governos dos países membros, quase inviabilizaram a implantação da moeda comum. Em 1º de janeiro de 2002, foi lançada a moeda única, o Euro. O lançamento da moeda única consolidou a União Europeia como um bloco econômico que em 2018 alcançou um PIB de €11,6 trilhões, cerca de US$12,8 trilhões. O Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) teve início em 1988, com a assinatura do Canadá e dos Estados Unidos. Em 1991, o Acordo de Liberação Econômica instituiu a formalização do tratado para constituição do bloco econômico. A entrada no bloco do México ocorreu em 13 de agosto de 1992. O NAFTA passou a vigorar efetivamente em 1º de janeiro de 1994, estabelecendo o prazo de quinze anos para a eliminação das barreiras alfandegárias. O Mercado Comum do Sul (Mercosul) começou a ser instituído por meio de dois tratados: o Tratado de Assunção de 26 de março de 1991, e o Protocolo de Ouro Preto em 17 de dezembro de 130 1994. Reuniu inicialmente quatro países, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Atualmente, são membros efetivos do Mercosul: Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela (2012 e suspensa em dezembro de 2016). Há também os membros associados do Mercosul: Bolívia (1996), Chile (1996), Peru (2003), Colômbia (2004), Equador (2004), Guiana (2013) e Suriname (2013). E os membros observadores: México (2006) e Nova Zelândia (2010). O principal objetivo do bloco foi criar um mercado comum com livre circulação de mercadorias, serviços e de fatores de produção – portanto, uma área de livre comércio. No ato da implantação, também havia objetivos mais audaciosos, como a implementação de uma política externa comum e a coordenação das políticas macroeconômicas, o que se configuraria uma união alfandegária. O Mercosul, hoje, enfrenta problemas estruturais. Frequentes disputas entre Brasil e Argentina em diversos segmentos e acordos bilaterais do Paraguai com a Ásia têm colocado em xeque a viabilidade política do bloco. As pressões dos Estados Unidos pela adesão ao que seria uma Área de Livre Comércio das Américas também tem sido um fato desagregador nos países membros. 131 AULA 10 A NOVA ECONOMIA E A TRANSFORMAÇÃO DIGITAL I A TRANSIÇÃO DA NOVA ECONOMIA PARA A ECONOMIA DIGITAL – MUNDO VUCA E O IMPACTO DAS EMPRESAS DIGITAIS PARA A ECONOMIA E INDUSTRIA 4.0 I. HIPERTROFIA FINANCEIRA Para entender o que está acontecendo no mundo hoje, precisamos voltar um pouco no tempo. Entre os anos 1980 e 1990, o mundo passou a vivenciar o que o economista francês, François Chesnais, qualificou como “hipertrofia financeira”. Na tabela a seguir, é possível ver que as operações transnacionais de ações e títulos explodiram de cerca de 7% do PIB para mais de 100% do PIB entre 1980 e 1992. Operações transnacionais de ações e títulos como percentual do PIB (países selecionados). 1980 1992 EUA 9,3 109,3 Alemanha 7,5 90,8 Itália 1,1 118,4 Canadá 9,6 111,2 Fonte: BIS, 1996. (Citado por CHESNAIS, F. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996. Isso significa que aquela forma tradicional que os bancos tinham de ganhar dinheiro, emprestando às famílias e às empresas, deixou de ser a principal fonte de lucro. O ganho passou a ser muito mais da compra e venda de papéis de empresas e governos pelo mundo. A economia financeira se “descolou” da economia real. O que significa esse descolamento? Para ilustrar a situação, em 2012, recorra-se ao gráfico a seguir. 134 US$ 225,0 trilhões US$ 71,3 trilhões Ativos financeiros PIB mundial Fonte: McKinsey Global Institute analysis, 2014. Citado por SILVA e ÁVILA. Instabilidade financeira recente e crise subprime: uma abordagem a partir de Minsky. Disponível em: https:// www.fee.rs.gov.br/wp-content/uploads/2014/10/20141015td- 125-instabilidade-financeira-recente-e-crise-subprime_-uma- abordagem-a-partir-de-minsky.pdf, acesso em 2019. Conforme se observa no gráfico, o PIB mundial em 2012 foi de US$71,3 trilhões, enquanto que o volume mundial de ativos financeiros foi de US$225 trilhões. De fato, é possível visualizar essa hipertrofia financeira neste gráfico, quando comparamos o volume mundial de ativos financeiros com o PIB mundial.Mesmo em períodos de crise, como em 2008 e 2011, essa proporção não retornou aos patamares dos anos 1990. 135 https://www.fee.rs.gov.br/wp-content/uploads/2014/10/20141015td-125-instabilidade-financeira-recente-e-crise-subprime_-uma-abordagem-a-partir-de-minsky.pdf https://www.fee.rs.gov.br/wp-content/uploads/2014/10/20141015td-125-instabilidade-financeira-recente-e-crise-subprime_-uma-abordagem-a-partir-de-minsky.pdf https://www.fee.rs.gov.br/wp-content/uploads/2014/10/20141015td-125-instabilidade-financeira-recente-e-crise-subprime_-uma-abordagem-a-partir-de-minsky.pdf https://www.fee.rs.gov.br/wp-content/uploads/2014/10/20141015td-125-instabilidade-financeira-recente-e-crise-subprime_-uma-abordagem-a-partir-de-minsky.pdf https://www.fee.rs.gov.br/wp-content/uploads/2014/10/20141015td-125-instabilidade-financeira-recente-e-crise-subprime_-uma-abordagem-a-partir-de-minsky.pdf VOLUME MUNDIAL DE ATIVOS FINANCEIROS COMO PERCENTUAL DO PIB MUNDIAL 263% 256% 310% 331% 345% 355% 307% 339% 335% 312% 312% 250% 270% 290% 310% 330% 350% 370% 1990 1995 2000 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Fonte: McKinsey Global Institute analysis, 2014. Citado por SILVA e ÁVILA. Instabilidade financeira recente e crise subprime: uma abordagem a partir de Minsky. Disponível em: https:// www.fee.rs.gov.br/wp-content/uploads/2014/10/20141015td- 125-instabilidade-financeira-recente-e-crise-subprime_-uma- abordagem-a-partir-de-minsky.pdf, acesso em 2019. II. GLOBALIZAÇÃO: A “NOVA ECONOMIA” E A BOLHA DAS “EMPRESAS PONTO-COM” No final dos anos 1980, começou-se a usar muito a palavra Globalização. A Globalização está associada: • ao conjunto das transformações financeiras 136 https://www.fee.rs.gov.br/wp-content/uploads/2014/10/20141015td-125-instabilidade-financeira-recente-e-crise-subprime_-uma-abordagem-a-partir-de-minsky.pdf https://www.fee.rs.gov.br/wp-content/uploads/2014/10/20141015td-125-instabilidade-financeira-recente-e-crise-subprime_-uma-abordagem-a-partir-de-minsky.pdf https://www.fee.rs.gov.br/wp-content/uploads/2014/10/20141015td-125-instabilidade-financeira-recente-e-crise-subprime_-uma-abordagem-a-partir-de-minsky.pdf https://www.fee.rs.gov.br/wp-content/uploads/2014/10/20141015td-125-instabilidade-financeira-recente-e-crise-subprime_-uma-abordagem-a-partir-de-minsky.pdf https://www.fee.rs.gov.br/wp-content/uploads/2014/10/20141015td-125-instabilidade-financeira-recente-e-crise-subprime_-uma-abordagem-a-partir-de-minsky.pdf iniciadas na década de 1970; • e ao aumento da velocidade de transmissão de dados por meio eletrônico, a partir dos anos 1980. De fato, a informática potencializou a integração dos mercados financeiros mundiais, intensificando as transações financeiras mundiais em escala jamais imaginada. Com a popularização da internet em meados dos anos 1990, inicia- se o que passou a ser conhecida como a “NOVA ECONOMIA”. Proliferam empresas que passaram a ser conhecida como “ponto-com”. Com as empresas “ponto-com”, houve uma profunda transformação econômica, social e até cultural. Empresas como E-Bay e Amazon revolucionavam a forma de fazer compras. Na segunda metade dos anos 90, as pessoas acessavam esses sites, comparavam preços e escolhiam os melhores produtos e recebiam em casa pelo correio. A Napster, criada em 1999, devastaria a indústria fonográfica mundial ao permitir o compartilhamento de músicas no formato MP3. Se nos anos 80 o compartilhamento das 137 músicas acontecia por meio de gravações das antigas fitas K7, agora, milhões de músicas eram transformadas em MP3 e compartilhadas por meio da plataforma digital da Napster. A Nova Economia tinha lançado a humanidade em um patamar jamais imaginado. E que parecia inabalável. Parecia. Mas no dia 15 de abril de 2000, o Índice Dow Jones caiu 5,6% e o Nasdaq caiu 9,6%. Era o início do que seria conhecido como o “Estouro da Bolha das Empresas Ponto- Com”. Centenas de empresas de médio e grande porte faliram. A fé na “Nova Economia” estava abalada. Mas o pior ainda estaria por vir. III. DO MUNDO VUCA À ECONOMIA DIGITAL Os atentados às Torres Gêmeas no dia 11 de setembro de 2001 marcam o início do que passou a ser conhecido como “Mundo VUCA”. VUCA é o acrônimo formado pelas iniciais em inglês: volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. 138 V.U.C.A. V = volatilidade (volatility) U = incerteza (uncertainty) C = complexidade (complexity) A = ambiguidade (ambiguity) Em um documento do Exército dos Estados Unidos de 1998, o Tenente Coronel Wayne Whiteman usou o termo VUCA empregado por Robert Murphy, que descrevia o seguinte: “Em situações caracterizadas por condições voláteis, incertas, complexas e ambíguas (VUCA), torna-se necessário estruturar as organizações de maneira a atender aos desafios apresentados pelo ambiente”. (Robert M. Murphy, “Overview of Strategic Management” Leading and Managing in the Strategic Arena: A Reference Text (Carlisle Barracks, PA: U.S. Army War College, 1996-1997), 454. Após os atentados às torres gêmeas, o termo VUCA passou a ser amplamente empregado para 139 descrever as condições da sobrevivência das empresas no século 21. Mas a “Nova Economia” não desapareceu. As bases permaneceram fortes nos anos 2000. Até que, em 2007, uma verdadeira revolução se iniciou. É o ano do lançamento do iPhone pela empresa Apple. No ano seguinte ao lançamento do iPhone, a Google lançou o Android, sistema operacional livre que seria usado nos aparelhos celulares da maioria dos concorrentes da Apple. Esses eventos marcam o início da era dos smartphones, o que revolucionaria a “Nova Economia”. Nos anos seguintes, conforme pode ser visualizado no gráfico a seguir, o número de aplicativos disponíveis aumentou exponencialmente, o que originou um novo segmento da economia e potencializou a proliferação das chamadas “Empresas Digitais”. 140 NÚMERO DE APPS DISPONÍVEIS PARA ANDROID 30.000 38.000 70.000 100.000 200.000 250.000 300.000 400.000 450.000 500.000 600.000 675.000 700.000 850.000 1.000.000 1.300.000 1.400.000 1.600.000 1.800.000 2.000.000 2.400.000 2.600.000 2.800.000 3.000.000 3.300.000 3.500.000 3.600.000 3.300.000 2.600.000 2.600.000 2.600.000 2.700.000 0 1.000.000 2.000.000 3.000.000 4.000.000 mar/2010 abr/2010 jul/2010 out/2010 abr/2011 jul/2011 ago/2011 dez/2011 fev/2012 mar/2012 jun/2012 set/2012 out/2012 abr/2013 jul/2013 jul/2014 fev/2015 jul/2015 nov/2015 fev/2016 set/2016 dez/2016 mar/2017 jun/2017 set/2017 dez/2017 mar/2018 jun/2018 set/2018 dez/2018 mar/2019 jul/2019 141 Fonte: Statista. Disponível em: https://www.statista.com/ statistics/266210/number-of-available-applications-in-the-google- play-store/, acesso em 2019. Entre as dez marcas mais valiosas de empresas do mundo do ano de 2018, a 2ª e a 3ª maiores são empresas digitais: Google e Amazon. E a maior, a Apple, foi a principal responsável pela economia digital que caracteriza o sistema atual. AS 10 MARCAS MAIS VALIOSAS DO MUNDO EM 2018 (US$ BILHÕES) 43,4 45,2 48,6 53,4 59,9 66,3 82,7 100,8 155,5 214,5 McDonalds Facebook Mercedes Benz Toyota Samsung Coca-Cola Microsoft Amazon Google Apple Fonte: Interbrand, disponível em https://www.interbrand.com/best- brands/best-global-brands/2018/ranking/, acesso em agosto de 2019. Dez anos antes, a marca mais valiosa era 142 https://www.statista.com/statistics/266210/number-of-available-applications-in-the-google-play-store/ https://www.statista.com/statistics/266210/number-of-available-applications-in-the-google-play-store/ https://www.statista.com/statistics/266210/number-of-available-applications-in-the-google-play-store/ https://www.statista.com/statistics/266210/number-of-available-applications-in-the-google-play-store/ https://www.interbrand.com/best-brands/best-global-brands/2018/ranking/ https://www.interbrand.com/best-brands/best-global-brands/2018/ranking/fabricante de refrigerantes. Parece ser uma tendência de que cada vez mais empresas ligadas à tecnologia de ponta detenham a liderança mundial. AS 10 MARCAS MAIS VALIOSAS DO MUNDO EM 2008 (US$ BILHÕES) 28,4 30,6 31,3 32,0 32,3 34,9 47,8 56,6 60,2 68,7 Disney Intel Toyota Google McDonalds Nokia G.E. Microsoft IBM Coca-Cola Fonte: Interbrand, disponível em https://www.interbrand.com/best- brands/best-global-brands/2008/ranking/, acesso em agosto de 2019. De acordo com a Forbes Digital 100, as 10 maiores empresas digitais do mundo têm, como unidade de negócios, serviços e softwares de tecnologia da informação, equipamentos e tecnologia de hardware, semicondutores e mídia. 143 https://www.interbrand.com/best-brands/best-global-brands/2018/ranking/ https://www.interbrand.com/best-brands/best-global-brands/2018/ranking/ 1ª Amazon 2ª Netflix 3ª NVIDIA 4ª Salesforce 5ª Service Now 6ª Square 7ª Analog Devices 8ª Palo Alto Networks 9ª Splunk 10ª Adobe Systems Fonte: Forbes, disponível em https://forbes.uol.com.br/ listas/2018/09/10-maiores-empresas-do-segmento-digital- de-2018/, acesso em agosto de 2019. IV. PESQUISA & DESENVOLVIMENTO (P&D) E CIÊNCIA E TECNOLOGIA (C&T) Nesse cenário, as empresas precisam investir cifras vultosas em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Por exemplo, a empresa chinesa Huawei, líder mundial na tecnologia 5G e pivô de uma disputa internacional com os Estados Unidos, aumentou os investimentos em P&D de US$13,23 144 https://forbes.uol.com.br/listas/2018/09/10-maiores-empresas-do-segmento-digital-de-2018/ https://forbes.uol.com.br/listas/2018/09/10-maiores-empresas-do-segmento-digital-de-2018/ https://forbes.uol.com.br/listas/2018/09/10-maiores-empresas-do-segmento-digital-de-2018/ https://forbes.uol.com.br/listas/2018/09/10-maiores-empresas-do-segmento-digital-de-2018/ bilhões em 2017 para quase US$20 bilhões em 2018. Os países que quiserem atravessar o século 21 em condições de competir no mercado internacional precisam investir em Ciência e Tecnologia (C&T). No Brasil, os investimentos em C&T são historicamente baixos, conforme pode ser visualizado no gráfico a seguir. EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA DO MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA, INOVAÇÕES E COMUNICAÇÕES (MCTIC), 2000-2018 (EM VALORES DO IPCA – 2019) R$ 5 ,8 b ilh õe s R$ 1 3, 3 bi lh õe s R$ 1 6, 0 bi lh õe s R$ 9 ,1 b ilh õe s R$ 1 1, 0 bi lh õe s 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 20 17 20 18 Fonte: Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Disponível em: https://www.mctic.gov.br/mctic/opencms/ 145 https://www.mctic.gov.br/mctic/opencms/indicadores/detalhe/recursos_aplicados/governo_federal/2_2_4.html https://www.mctic.gov.br/mctic/opencms/indicadores/detalhe/recursos_aplicados/governo_federal/2_2_4.html indicadores/detalhe/recursos_aplicados/governo_federal/2_2_4. html, acesso em 2019. Considerando-se a taxa de câmbio de US$1 ↔ R$4, a empresa chinesa Huawei investiu quase oito vezes mais do que todo o Brasil investiu no ano de 2018. P&D C&T 2018: R$ 80 bilhões 2018: R$ 11 bilhões Países que negligenciarem a tecnologia e apostarem em produtos de baixo valor agregado estão fadados ao atraso. Para ter uma ideia, ilustremos a situação a seguir: 146 https://www.mctic.gov.br/mctic/opencms/indicadores/detalhe/recursos_aplicados/governo_federal/2_2_4.html https://www.mctic.gov.br/mctic/opencms/indicadores/detalhe/recursos_aplicados/governo_federal/2_2_4.html 1 chip U$ 1.700 Intel® Core™ i9-9980XE Extreme Edition Processor 1 brushel de soja US$ 8,57 1 brushel > 27,215 kg 1 tonelada de soja US$ 315 1 chip vale 5,4 toneladas de soja Fontes: (1) Intel. Acesso em https://www.intel.com/content/www/us/en/ products/processors/core/x-series.html, acesso em 02/09/2019. (2) Notícias Agrícolas. Disponível em: https://www.noticiasagricolas. com.br/cotacoes/soja/soja-bolsa-de-chicago-cme-group, acesso em 02/09/2019. De acordo com a ilustração, um chip de computador valia, em setembro de 2019, US$1.700. Já um bushel de soja, equivalente a 27 quilos, valia, no mesmo período, US$8,57. Isto é, no dia em que foi feita a ilustração, o Brasil precisaria exportar 5,4 toneladas de soja para 147 https://www.intel.com/content/www/us/en/products/processors/core/x-series.html https://www.intel.com/content/www/us/en/products/processors/core/x-series.html https://www.intel.com/content/www/us/en/products/processors/core/x-series.html https://www.noticiasagricolas.com.br/cotacoes/soja/soja-bolsa-de-chicago-cme-group https://www.noticiasagricolas.com.br/cotacoes/soja/soja-bolsa-de-chicago-cme-group https://www.noticiasagricolas.com.br/cotacoes/soja/soja-bolsa-de-chicago-cme-group importar um único chip de computador. Isso evidencia um velho conhecido da economia: a “deterioração dos termos de troca”. O que equivale a dizer que precisamos exportar cada vez mais commodities para conseguir importar cada vez menos componentes com alta tecnologia. E a tecnologia de ponta que está sendo empregada na produção industrial dos países mais avançados faz parte do que está sendo chamado de “indústria 4.0”, o que equivale à 4ª Revolução Industrial. Sistemas de armazenamento de dados em nuvem, inteligência artificial, sistemas autônomos integrados à automação industrial que são capazes de prever e corrigir falhas de produção, internet das coisas, comunicação “máquina para máquina” (a chamada M2M), Big Data, Sistemas Ciberfísicos... Mais do que expressões, já são realidade na indústria 4.0 em muitos países. 148 INDÚSTRIA 4.0 SISTEMAS DE ARMAZENAMENTO DE DADOS EM NUVEM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL SISTEMAS AUTÔNOMOS INTEGRADOS À AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL INTERNET DAS COISAS (IOT) COMUNICAÇÃO “MÁQUINA PARA MÁQUINA” (M2M) BIG DATA SISTEMAS CIBERFÍSICOS 149 AULA 11 A NOVA ECONOMIA E A TRANSFORMAÇÃO DIGITAL II MERCADOS E CRIPTOMOEDAS I. BLOCKCHAIN Para falar das criptomoedas, é importante entender o conceito de blockchain, que, na tradução literal significa “cadeia de blocos” ou “corrente de blocos”. Blockchain é antes de tudo um sistema descentralizado de registro de informações. Esse sistema descentralizado tem sido empregado principalmente para o registro das informações contábeis e financeiras. Uma das características do nosso sistema econômico é operar de forma centralizada. Nosso modelo mental de séculos reproduz esse modelo centralizado. Por exemplo, vimos na aula 6 como funciona a emissão e distribuição de papel moeda pelo Banco Central. 152 EMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE PAPEL MOEDA PELO BANCO CENTRAL De fato, quando os Estados Absolutistas começaram a se unificar no século 16, uma das providências que os reis tomaram para a unificação é assegurar que somente o Banco Central emitiria o papel moeda que circularia no reinado, diferentemente do modelo descentralizado em que várias unidades feudais emitiam diferentes registros de moeda. 153 Assim, durante quase cinco séculos entendemos que o sistema de emissão de moeda é centralizado. Mas não somente a emissão. Qualquer registro contábil no modelo anterior à indústria 4.0 é centralizado. Por exemplo, imagine que uma pessoa compre um carro de outra e faz a transferência do dinheiro por meio de uma TED bancária do smartphone. Mesmo que essa operação seja ágil, digital e envolvendo uma tecnologia de ponta, ainda assim, trata-se de uma operação centralizada, pelo fato de as pessoas precisarem do banco para intermediar a operação financeira. O banco fará a transação e dela terá o registro, guardando a informação do seu acontecimento. Registro que poderá ser requisitado a qualquer momento por 154 quem o executou. No caso, a pessoa que efetuou a compra do carro. Inúmeras operações acontecem dessa forma, passando por um intermediário central que efetua a operaçãoe é encarregado de guardar seu respectivo registro. 155 Agora, imagine se, ao invés de um sistema centralizado, houvesse uma cadeia de blocos contendo as informações das operações financeiras. E que todos os integrantes dessa rede distribuída fossem igualmente responsáveis por certificar a ocorrência das operações. Uma das vantagens desse sistema é a segurança. Em um sistema centralizado, um hacker poderia, em tese, invadir a central de dados do banco e alterar as informações para, por exemplo, efetuar uma fraude transferindo dinheiro do banco para a conta pessoal dele. Em um sistema de cadeia de blocos, isso não seria possível, porque, como o sistema não é centralizado, o hacker teria que invadir cada 156 um dos blocos que fazem parte do sistema para consumar a fraude. Lembrando que se tratam de milhões de blocos na cadeia de informações. Agora, imagine que essa cadeia de blocos não sirva apenas para atestar as operações e manter o registro das informações, mas também que essa cadeia de blocos resolva “emitir” a moeda virtual que fará as operações do próprio sistema. Ou seja, é uma moeda emitida não mais por uma instituição centralizada – o Banco Central que 157 vimos na aula 6. Dessa forma, o governo não teria mais qualquer controle sobre essa moeda, tanto sobre a emissão, como principalmente sobre as transações efetuadas com essa moeda, tanto internamente, como além das barreiras nacionais. II. CRIPTOMOEDAS As moedas emitidas dentro desse sistema de cadeias de blocos (blockchain) são chamadas “CRIPTOMOEDAS”. A primeira criptomoeda de que se tem notícia é o Bitcoin, criada em 2008 e sua criação é atribuída a uma personalidade oculta chamada Satoshi Nakamoto. Essa personalidade pode ser uma pessoa ou um conjunto de pessoas 158 sob esse pseudônimo. O fato é que ninguém sabe quem ou o que é Satoshi Nakamoto. Há vários mistérios e histórias curiosas envolvendo os bitcoins. Uma das mais interessantes é o relato da primeira compra em bitcoins, realizada em 2010. Um programador chamado Laszlo Hanyecz comprou duas pizzas na rede Papa John’s por US$30, pagando 10 mil bitcoins. Essa operação, em dólares pela cotação do bitcoin em maio de 2019, equivaleria a US$80 milhões de dólares. Existem hoje milhares de criptomoedas e um mercado crescente ao redor delas. Para os governos do mundo todo, a preocupação com as criptomoedas deve-se ao fato de que elas praticamente não são rastreáveis. Assim, não é possível controlar o tipo de transação econômica que se faz com as criptomoedas. De fato, as criptomoedas têm facilitado a lavagem de dinheiro oriundo de tráfico de drogas e de armas, terrorismo e outras atividades criminosas. Outra preocupação óbvia é com fato de que os governos, ao não conseguirem rastrear as criptomoedas, estão mais vulneráveis à evasão fiscal. Dependendo do volume que as operações em criptomoedas tomar, partindo-se de uma hipótese distópica no mundo VUCA, em um futuro 159 não muito distante isso poderia comprometer até o equilíbrio fiscal dos países em função de uma possível queda de arrecadação tributária. Outra coisa, conforme o número cada vez maior de pessoas físicas e jurídicas passe a aceitar operações com criptomoedas, mais difícil tenderá a ser a autonomia do Banco Central na execução da política monetária. Em dimensão internacional, os bancos centrais podem perder a capacidade de coordenação das políticas monetárias de forma cooperativa para evitar ataques especulativos, o que poderá provocar fortes oscilações dos preços das moedas no mundo inteiro, colocando em xeque o mercado financeiro. As reservas cambiais de posse dos bancos centrais também poderão perder valor, em função de operações de exportação e importação cada vez mais frequente em criptomoedas. Outro risco inerente à proliferação das criptomoedas é a possibilidade de fortes oscilações do valor das próprias criptomoedas na cotação com as moedas tradicionais, como dólar e euro. Se grandes detentores de criptomoedas promoverem vendas massivas, isso poderá levar a fortes quedas no valor das criptomoedas, sem qualquer possibilidade de intervenção por parte dos governos. Isso poderia levar milhões de pessoas a terem perdas financeiras significativas. 160 Há uma controvérsia sobre a possibilidade de as criptomoedas, particularmente o bitcoin, estar vivendo uma bolha financeira. O bitcoin tem despertado a atenção de pequenos investidores interessados em obter ganhos no bitcoin como uma aplicação financeira comum. De fato, no gráfico que se pode verificar a seguir, o valor do bitcoin obteve uma valorização expressiva desde a sua criação. VALOR DO BITCOIN EM DÓLARES 6 188 1.010 19.187 3.283 12.876 10 .6 61 0 4.000 8.000 12.000 16.000 20.000 fe v/ 20 12 ou t/ 20 12 ju n/ 20 13 fe v/ 20 14 ou t/ 20 14 ju l/2 01 5 m ar /2 01 6 no v/ 20 16 ju l/2 01 7 ab r/ 20 18 de z/ 20 18 ag o/ 20 19 Fonte: Investing.com, disponível em: https://br.investing.com/ crypto/bitcoin/btc-usd-historical-data, acesso em setembro de 2019. A título de exemplo, no dia 3 de fevereiro de 2012, 1 bitcoin valia apenas US$6. Em novembro de 2013, ultrapassou a barreira dos US$1.000 pela primeira vez. No dia 16 de dezembro de 161 https://br.investing.com/crypto/bitcoin/btc-usd-historical-data https://br.investing.com/crypto/bitcoin/btc-usd-historical-data https://br.investing.com/crypto/bitcoin/btc-usd-historical-data 2017, alcançou o valor máximo histórico de US$19.187. Quem comprou 1 bitcoin no dia 3 de fevereiro de 2012 e vendeu no dia 16 de dezembro de 2017, obteve uma valorização de 319.683%, um rendimento médio de 12,2% ao mês. Apesar disso, entre o valor do dia 16 de dezembro de 2017 e 14 de dezembro de 2018, o bitcoin teve uma desvalorização de 83%, uma perda de 13,7% ao mês. Essas oscilações bruscas no valor do bitcoin revelam que essa criptomoeda realmente se tornou nos últimos tempos: mais um ativo financeiro especulativo, como outros tantos. As pessoas compram com o desejo de obter ganhos na “moeda física”, denominada em dólares, euros ou reais. Contudo, as criptomoedas parecem ter outra função em um futuro próximo. Elas podem se tornar o meio de pagamento no mundo da indústria 4.0 e revolucionar o sistema econômico de uma forma que ainda não há como prever. Mas há uma pista: se milhões de pessoas passarem a comprar e vender diretamente usando as criptomoedas, sem passar pelo sistema bancário tradicional, é possível que surja um sistema financeiro internacional completamente diferente deste que existe agora. 162 Nesse novo sistema, o poder de mercado dos bancos pode diminuir consideravelmente. No limite, é possível especular que os bancos tradicionais podem até desaparecer, porque eles não teriam em princípio como controlar o funcionamento das criptomoedas. Ou pode ocorrer o contrário. Os bancos comerciais podem se unir para construir um sistema próprio de criptomoedas e passarem a deter um poder econômico ainda maior do que aquele que detêm hoje, sem ter acesso à regulamentação dos bancos centrais. Enfim, não há como saber. Pode-se até especular, mas verdadeiro papel das criptomoedas na indústria 4.0, apenas o futuro dirá. 163 AULA 12 A NOVA ECONOMIA E A TRANSFORMAÇÃO DIGITAL III TENDÊNCIAS EM ECONOMIA CRIATIVA E COLABORATIVA I. DA POSSE AO ACESSO A economia colaborativa promoverá uma verdadeira revolução na humanidade. Para entender essa revolução, é necessário abordar um dos preceitos do sistema econômico capitalista. Um dos pilares do capitalismo é a PROPRIEDADE PRIVADA. A propriedade privada está associada com a POSSE que o ser humano tem sobre as coisas. A relação de posse guarda uma relação direta com o instinto animal, um elemento fisiológico presente em quase todas as espécies, que nos faz lutar por espaço físico, comida, água, sexo, etc... Esse instinto animal, no sistema capitalista, acabase reproduzindo com o sentimento que temos a respeito dos bens de consumo de maneira geral. Para definir a personalidade, o ser humano precisa “ter”, possuir. Logicamente, faz sentido ter a posse de alguns itens. Por exemplo, a comida que iremos ingerir inevitavelmente exige a posse. Assim como alguns itens de uso individual, tais como roupas e calçados. Agora: faz sentido ter a propriedade sobre a moradia? Essa é uma pergunta interessante. O pensamento do brasileiro médio, por uma questão de precaução, é o de ter a posse da própria moradia. 166 Na eventualidade da pessoa ficar desempregada, a posse da moradia dá a sensação de segurança de pelo menos ter onde morar. Já a posse sobre um veículo dá a sensação de independência de poder se deslocar. Na economia colaborativa, a posse tende a se tornar desnecessária. O importante é o acesso. Acesso à moradia, acesso ao transporte, acesso ao entretenimento. Acesso é a palavra chave. ECONOMIA COLABORATIVA POSSE ACESSO Trata-se de uma questão de racionalidade econômica. O carro, por exemplo, quais são os gastos para mantê-lo? IPVA, seguro, manutenção, combustível, depreciação, entre outros gastos, são somente a ponta do iceberg. Há outros gastos em que se incorre para manter um veículo que certamente a maioria das pessoas não se lembra. Por exemplo, a área construída na residência para manter o carro na garagem, o valor do 167 estacionamento em que se deixa o automóvel enquanto se vai trabalhar ou nos momentos de lazer. GASTOS PARA SE MANTER UM VEÍCULO: ● IPVA ● seguro ● manutenção ● combustível ● depreciação ● custo do m² da garagem ● estacionamento Ademais, o automóvel representa também um gasto morto em termos sociais. Em média nos grandes centros urbanos, as pessoas usam o carro no máximo de 1 a 3 horas por dia enquanto se deslocam para o trabalho e voltam para casa. No restante do dia, o carro está parado e ocupando um espaço inútil. Isto é, o carro parado na maior parte do dia gera um gasto fixo. 168 Pensemos agora no custo social de milhões de automóveis, na necessidade de vias cada vez mais largas, de cada vez mais espaços públicos destinados aos veículos. Espaços esses que poderiam ser áreas de lazer, áreas verdes, lugares para convívio entre as pessoas. Que ora são asfaltadas, levando à impermeabilização do solo, o que produz alagamentos nos períodos em que o índice pluviométrico é elevado, calor excessivo pelo asfalto, entre outros problemas. COMPARAÇÃO ENTRE AS ÁREAS OCUPADAS PELO MESMO NÚMERO DE PESSOAS EM: ÔNIBUS, BICICLETAS E AUTOMÓVEIS Fonte: CYCLING PROMOTION. Canberra Transport Photo. Disponível em: https://www.cyclingpromotion.org, acesso em 2019. 169 https://www.cyclingpromotion.org Quando empresas como Uber e Cabify possibilitaram a integração entre aplicativos como o Waze ou Google Maps para que as pessoas pudessem dirigir em qualquer lugar, oferecendo acesso ao transporte a outras pessoas, há uma tendência a um sistema de colaboração. Os veículos passam a ser usados de forma compartilhada pelo proprietário do veículo com uma pessoa que precisa se deslocar e acessa a plataforma. Essa lógica possibilitará uma verdadeira revolução nos meios de transporte das grandes cidades. E é o fato de as pessoas não precisarem mais deter a posse sobre itens de consumo que está no cerne dessa revolução. A transformação pela qual a humanidade passa é possibilitada pela revolução tecnológica que se iniciou a partir de meados dos anos 2000. Os aplicativos de celulares criados a partir de 2007/2008 possibilitaram o início de uma mudança na percepção da necessidade de se obter a posse sobre as coisas. II. INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL A digitalização que então se iniciou é o grande fenômeno do século 21, um processo profundamente disruptivo, revolucionário. E a revolução está apenas começando. A inteligência 170 artificial ainda está na fase inicial, mas logo promoverá uma profunda transformação na indústria 4.0 e na forma como as relações econômicas acontecerão no futuro. Robôs dotados de Inteligência Artificial (I.A.) executarão praticamente todas as atividades que hoje são exercidas por humanos. De fato Inteligência Artificial será capaz de efetuar análises econômicas, administrativas, contábeis, advocatícias. Terá aplicações diretas na engenharia, medicina, odontologia, entre outras tantas profissões. Fonte: Fortune. IBM Watson. Disponível em https://fortune. com/2016/01/09/ibm-bringing-watson-wine/, acesso em 2019. Por falar em profissões, ainda não há como 171 saber quais serão as profissões daqui a 10, 15 anos. Mas certamente a maioria dos postos de trabalho tais como conhecemos hoje serão sumariamente extintos. Professores, economistas, advogados, administradores, contadores, engenheiros todos esses profissionais podem estar com os dias contados. As profissões da indústria 4.0 ainda não existem, não sabemos quais serão. Só para fazer um paralelo, por exemplo, no início da década de 1950 não existia a função de programador de sistemas de informação para computadores. Assim como trabalho braçal foi praticamente extinto na chamada Terceira Revolução Industrial, em que as linhas de montagem, ao incorporar automação industrial, substituíram o trabalho manual em larga escala, a maior parte do trabalho mental poderá ser extinto na indústria 4.0. Não há como saber quais serão as profissões do futuro. Mas, por enquanto, as máquinas não são capazes de substituir o trabalho criativo: música, literatura, artes plásticas, teatro... 172 A PROFISSÃO DE TORNEARIA MECÂNICA FOI EXTINTA QUANDO A INDÚSTRIA PASSOU A USAR A AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL (3ª REVOLUÇÃO INDUSTRIAL) Fonte: The Future of Technology by Kuka Industries Robot & Automatic. Disponível em: https://youtu.be/BcItrKUgTnY, acesso em 2019. III. ECONOMIA CRIATIVA A capacidade de conceber novos modelos de colaboração está associada à criatividade. Por isso, as escolas deveriam estar incentivando mais a criatividade e a capacidade de reflexão crítica em crianças e adolescentes. 173 https://youtu.be/BcItrKUgTnY https://youtu.be/BcItrKUgTnY As escolas deveriam estar incentivando mais a criatividade e a capacidade de reflexão crítica em nossas crianças e adolescentes. E qual o impacto que isso tudo terá na economia? Há algumas perspectivas positivas. Na primeira aula foi abordada a LEI DA ESCASSEZ, enfatizando-se o fato de que o ser humano está operando no limite da capacidade do planeta Terra. A economia colaborativa tende a introduzir novos padrões de comportamento de forma a reduzir drasticamente o consumo dos recursos naturais. Além disso, a inteligência artificial poderá ser decisiva na viabilidade econômica da plena reciclagem em escala mundial, de forma a praticamente eliminar a produção de resíduos industriais e residenciais. As técnicas de dessalinização da água poderão levar a acesso de água potável à população. As energias 100% limpas e renováveis, principalmente eólica e solar, poderão estar igualmente acessíveis. O emprego da tecnologia da indústria 4.0 com inteligência artificial na agricultura poderá levar ao desenvolvimento de novas técnicas agricultáveis, de forma a erradicar a fome no mundo com mínimo impacto sobre o meio ambiente. A impressora 3D poderá dar acesso às pessoas 174 a produção dos próprios bens de consumo, também com mínimo impacto ambiental e com custo tendendo a zero em termos de transporte e logística. IMPRESSORA 3D SENDO USADA EM UMA CONSTRUÇÃO NA FRANÇA Fonte: BBC. The world’s first family to live in a 3D-printed home. Disponível em: https://www.bbc.com/news/technology-44709534, (acesso em 2019), 06/07/2018. IV. VEÍCULOS AUTÔNOMOS E DRONES PARA PESSOAS A mudança no padrão de comportamento com relação à posse de automóveis poderá levar a uma profunda mudança no sistema de 175 https://www.bbc.com/news/technology-44709534 transportes. Os veículos funcionarãode forma autônoma, dirigidos por inteligência artificial de forma autônoma, o que pode praticamente erradicar acidentes de trânsito, evitando milhões de mortes por ano. Os congestionamentos urbanos poderão ser coisa do passado. VEÍCULOS AUTÔNOMOS + COMPARTILHAMENTO: O FIM DOS ENGARRAFAMENTOS? Os transportes ocorrerão por terra e por ar. Já há drones para o transporte de pessoas. Em breve o uso intensivo desses drones revolucionará os meios de transportes em todo mundo. Já há protótipos inclusive de drones autônomos. Atualmente, drones já são usados para entregas em domicílio de comidas, o que provavelmente substituirá os motociclistas em um intervalo de tempo relativamente curto. 176 DRONE PARA TRANSPORTE DE PESSOAS Fonte: DW BRASIL. Primeiro drone de passageiros faz voo na China. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=sRrCp7JV86A, acesso em 2019. V. O FIM DOS EMPREGOS NA INDÚSTRIA 4.0 Uma das grandes preocupações são os empregos. De fato, em todas as revoluções tecnológicas houve desemprego em massa. E com a indústria 4.0 não deverá ser diferente. No tocante ao fluxo circular de renda abordado na aula 1, a pergunta é: de que forma as pessoas consumirão se não tiverem empregos? O fluxo circular de renda “quebrado”: sem 177 https://www.youtube.com/watch?v=sRrCp7JV86A https://www.youtube.com/watch?v=sRrCp7JV86A empregos, como as famílias consumirão os produtos e serviços ofertados pelas empresas? FLUXO CIRCULAR DE RENDA NA ERA DA I.A. Oferta de bens e serviços Demanda de bens e serviços Demanda de serviços dos fatores de produção Oferta de serviços dos fatores de produção MERCADO DE BENS E SERVIÇOS MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO FAMÍLIAS EMPRESAS O desaparecimento dos empregos tal como conhecemos é uma possibilidade. Em um mundo em que o trabalho humano praticamente desapareça, como prover o acesso aos recursos básicos às pessoas? Possivelmente, os governos serão obrigados a criar algum novo modelo de transferência de renda. E esse novo modelo enfrentará um problema adicional: 178 as criptomoedas terão um papel decisivo na forma como funcionaram os governos. Uma possibilidade é que as famílias passem a prover os próprios recursos. O acesso às impressoras 3D poderá tornar a indústria de transformação prescindível. Como e quando isso tudo acontecerá? A única certeza é que as mudanças virão. E é bom estarmos preparados para tais mudanças. 179 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BONAVIDES, P. Teoria do Estado. 7ª Edição. São Paulo: Malheiros Editores, 2008. CARDIM DE CARVALHO, F. et. ali. Economia Monetária e Financeira, teoria e prática. Rio de Janeiro: Campus, 2000. CARNEIRO, R. (org.) Os clássicos da Economia. São Paulo: Editora Ática, vol. 2. DORNBUSCH, R. et. ali. Macroeconomia. 11ª Edição. São Paulo: McGrawHill, 2010. EATON, B. C. EATON, D. F. Microeconomia. 3ª Edição. São Paulo: Saraiva, 1999. GIAMBIAGI, F. ALÉM, A. C. D. Finanças Públicas. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000. GREMAUD, A. P. et. ali. Manual de Economia. 4ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2003. HUNT, E. K. História do Pensamento Econômico, 7ª Ed. Rio de Janeiro: Campus, 1981. KEYNES, J. M. Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. São Paulo: Atlas, 1982 (edição original: 1936). KRUGMAN, P. OBSTFELD. M Economia Internacional. Teoria e Política. 5ª Edição. São Paulo: Makron Boonks, 2001. KUPFER, D. HASENCLEVER L. Economia Industrial: Fundamentos Teóricos e Práticas no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 2002. MARX, K. O Capital: crítica da Economia política, 2ª Ed. São Paulo: Nova Cultural, 1985 (original publicado em 1867). PAULANI, L. M. BRAGA, M. B. A nova contabilidade social: uma introdução à macroeconomia. 3ª Edição. São Paulo: Saraiva 2007. PINDYCK, R. S. RUBINFELD, D. L. Microeconomia, 5ª ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002. SACHS, J. LARRAIN, B. Macroeconomia - em uma economia global. São Paulo. MAKRON Books, 2000. STEVAN JÚNIOR, S. L. LEME, M. O. SANTOS, M. M. D. Indústria 4.0: fundamentos, perspectivas e aplicações. São Paulo: Érica, 2018. Sumario01 Sumario02 Sumario03 Sumario04 Sumario05 AULA 1 Introdução a cenários econômicos e indicadores sociais I I. Introdução II. Lei da Escassez III. Fluxo Circular de Renda IV. Ciclos Econômicos e Formação de Expectativas AULA 2 Introdução a cenários econômicos e indicadores sociais II I. Introdução II. PIB III. PIB per capita IV. Juros V. Taxa de Desocupação VI. Inflação VII. Taxa de câmbio VIII. Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) IX. Índice de Gini AULA 3 Introdução a cenários econômicos e indicadores sociais III I. Introdução II. Escolaridade III. Sistema tributário brasileiro IV. Regressividade tributária V. Considerações finais AULA 4 Política Fiscal e Monetária I I. Introdução II. As Políticas Macroeconômicas III. A Política Fiscal AULA 5 Política Fiscal e Monetária II I. Execução dos gastos públicos II. O déficit público III. O endividamento público AULA 6 Política Fiscal e Monetária III I. As Funções da Moeda e a Política Monetária II. O Banco Central e os Agregados Monetários III. Instrumentos de Política Monetária IV. Sistema de Metas de Inflação e COPOM V. Mecanismos de transmissão da Política Monetária AULA 7 Contas Externas e Comércio Internacional I I. Taxa de câmbio II. Mercado cambial III. Taxa de câmbio e as contas externas AULA 8 Contas Externas e Comércio Internacional II I. Introdução II. Balança comercial III. Balança de serviços IV. Renda primária V. Renda secundária VI. Saldo das transações correntes (ou conta corrente) VII. Conta capital e conta financeira VIII. Reservas cambiais ou reservas internacionais AULA 9 Contas Externas e Comércio Internacional III I. Impacto da política cambial sobre as contas externas II. Benefícios do comércio internacional III. Protecionismo IV. Dumping V. Do GATT à OMC VI. Blocos comerciais AULA 10 A Nova Economia e a Transformação Digital I I. Hipertrofia financeira II. Globalização: a “Nova Economia” e a bolha das “Empresas Ponto-Com” III. Do Mundo VUCA à Economia Digital IV. Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) e Ciência e Tecnologia (C&T) AULA 11 A Nova Economia e a Transformação Digital II I. Blockchain II. Criptomoedas AULA 12 A Nova Economia e a Transformação Digital III I. Da posse ao acesso II. Inteligência Artificial III. Economia criativa IV. Veículos autônomos e drones para pessoas V. O fim dos empregos na indústria 4.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Sumario14: Master sumario1: Page 9: Off Page 101: Off Page 112: Off Page 123: Off Page 134: Off Page 145: Off Page 156: Off Page 167: Off Page 178: Off Page 209: Off Page 2110: Off Page 2211: Off Page 2312: Off Page 2413: Off Page 2514: Off Page 2615: Off Page 2716: Off Page 2817: Off Page 2918: Off Page 3019: Off Page 3120: Off Sumario2: Sumario15: Master sumario2: Page 34: Off Page 351: Off Page 362: Off Page 373: Off Page 384: Off Page 395: Off Page 406: Off Page 417: Off Page 428: Off Page 459: Off Page 4610: Off Page 4711: Off Page 4812: Off Page 4913: Off Page 5014: Off Page 5115: Off Page 5416: Off Page 5517: Off Page 5618: Off Page 5719: Off Page 5820: Off Page 5921: Off Page 6022: Off Page 6123: Off Sumario16: Sumario17: Master sumario6: Sumario06: Master sumario3: Page 64: Off Page 651: Off Page 662: Off Page 673: Off Page 684: Off Page 695: Off Page 706: Off Page 717: Off Page 728: Off Page 739: Off Page 7410: Off Page 7511: Off Page 7612: Off Page 7913: Off Page 8014: Off Page 8115: Off Page 8216: Off Page 8317: Off Page 8418: Off Page 8519: Off Page 8620: Off Page 8721: Off Page 8822: Off Page 8923: Off Page 9024: Off Page 9325: Off Page 9426: Off Page 9527: Off Page 9628: Off Page 9729: Off Page 9830: Off Page 9931: Off Page 10032: Off Page 10133: Off Page 10234: Off Page 10335: Off Page 10436: Off Page 10537:Off Page 10638: Off Page 10739: Off Page 10840: Off Page 10941: Off Page 11042: Off Page 11143: Off Sumario07: Master sumario7: Sumario08: Sumario09: Master sumario4: Page 114: Off Page 1151: Off Page 1162: Off Page 1173: Off Page 1184: Off Page 1195: Off Page 1206: Off Page 1217: Off Page 1228: Off Page 1239: Off Page 12410: Off Page 12511: Off Page 12612: Off Page 12713: Off Page 12814: Off Page 12915: Off Page 13016: Off Page 13117: Off Page 13418: Off Page 13519: Off Page 13620: Off Page 13721: Off Page 13822: Off Page 13923: Off Page 14024: Off Page 14125: Off Page 14226: Off Page 14327: Off Page 14428: Off Page 14529: Off Page 14630: Off Page 14731: Off Page 14832: Off Page 14933: Off Sumario010: Master sumario8: Sumario011: Master sumario5: Page 152: Off Page 1531: Off Page 1542: Off Page 1553: Off Page 1564: Off Page 1575: Off Page 1586: Off Page 1597: Off Page 1608: Off Page 1619: Off Page 16210: Off Page 16311: Off Page 16612: Off Page 16713: Off Page 16814: Off Page 16915: Off Page 17016: Off Page 17117: Off Page 17218: Off Page 17319: Off Page 17420: Off Page 17521: Off Page 17622: Off Page 17723: Off Page 17824: Off Page 17925: Off Sumario12: