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Energia Solar e Outras Fontes de Energia Apresentação A energia solar é a energia que utiliza a radiação solar para produzir energia elétrica. Quase toda a energia utilizada por nós pode ter sua origem reconstituída até o sol. O carvão, o petróleo (combustíveis fósseis), a madeira, as águas, os ventos, as marés e a biomassa são fontes energéticas que utilizam a energia solar em alguma parte do processo de transformação dessas matérias-primas em energia elétrica. Outras fontes de geração de energia renováveis são a geotérmica, a maremotriz e a utilização das ondas. Apesar de ainda terem um custo elevado, é notável a baixa do seu preço de instalação ao longo dos últimos anos e a crescente preocupação com o meio ambiente como incentivo para o uso dessas tecnologias. O uso desta fonte de energia renovável deve ser cada vez mais utilizado, devido a este tipo de energia não emitir CO2 para a atmosfera e ser abundante no nosso planeta. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar a energia solar e outras fontes de energia. Também serão abordados os diversos tipos de células fotovoltaicas, seu processo de fabricação e os principais componentes de um projeto de energia fotovoltaica. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Comparar as fontes de energia renováveis.• Descrever o sistema de energia solar.• Diferenciar os métodos utilizados na produção de energia solar.• Desafio Em outubro de 2017, pela primeira vez na história desde que as bandeiras tarifárias de energia foram adotadas, o Brasil entrou no segundo nível da bandeira vermelha. A Aneel (Agência de Energia Elétrica) anunciou que, em razão dos baixos níveis dos reservatórios das hidroelétricas naquele período, a melhor medida adotada seria a utilização das usinas térmicas. Um mês depois, o acréscimo subiu ainda mais. Você é o engenheiro responsável pela administração de vários condomínios e residenciais de alto padrão e está muito preocupado com a conta de energia elétrica dos moradores, pois o valor para cada 100 kWh consumidos acaba de subir novamente. Você sabe que a inadimplência também pode refletir no pagamento das mensalidades e, além disso, o verão está chegando. Porém, mesmo com a alta na tarifa de eletricidade, você, pensando em como oferecer um serviço diferenciado aos seus clientes e prezando sempre pela qualidade de vida destes, resolve incentivar o uso de aparelhos de ar-condicionado. Trata-se de uma medida ousada, visto que muitos moradores poderiam optar por desligar o equipamento para diminuir uma boa parte do consumo da energia elétrica. A ideia da instalação de painéis solares nas residências estava sendo cogitada pelos condôminos. Então, ilustre os principais aspectos que você precisou considerar para recomendar a instalação dos painéis solares e quais reforços seriam necessários nas estruturas envolvidas. Infográfico O sol é responsável pelo ciclo hidrológico das águas, ou seja, a evaporação das águas dos mares e oceanos, e também pelas chuvas nas nascentes e leitos dos rios que mantêm o nível dos reservatórios das nossas hidrelétricas. Confira no Infográfico a seguir as diversas formas de energia geradas pelo sol e como elas são utilizadas. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/a90c89c7-a0d6-4bad-aa8d-4527ac8df051/13b0a54c-6f21-471f-b28f-2f9d7e533b6c.jpg Conteúdo do livro Ao longo da história, a humanidade sempre usufruiu da energia gerada pelo sol. Afinal, por meio dele são supridas necessidades básicas de aquecimento, iluminação e alimentação. No livro Instalações elétricas, leia o capítulo Energia solar e outras fontes de energia, que aborda os diferentes métodos utilizados na produção de energia solar. Boa leitura. Conteúdo: INSTALAÇÕES ELÉTRICAS Rodrigo Rodrigues Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 R696i Rodrigues, Rodrigo. Instalações elétricas / Rodrigo Rodrigues, Rafaela Filomena Alves Guimarães, Diogo Braga da Costa Souza ; [revisão técnica: Shanna Trichês Lucchesi]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 98 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-142-6 1. Engenharia elétrica. 2. Instalações elétricas. I. Guimarães, Rafaela Filomena Alves. II. Souza, Diogo Braga da Costa. III. Título. CDU 696.6 Revisão técnica: Shanna Trichês Lucchesi Mestre em Engenharia de Produção Instalações Elétricas_Iniciais_Impressa.indd 2 20/09/2017 11:17:38 Energia solar e outras fontes de energia Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever o sistema de energia solar. Diferenciar os métodos utilizados na produção de energia solar. Comparar as fontes de energia renováveis. É a energia que sustenta as formas de vida do planeta. As ponderações energéticas no âmbito da sustentabilidade requerem, considerando um cenário global, foco preciso nos recursos naturais e nas tecnologias utilizadas pelo ser humano no uso e conservação desses recursos — mais especificamente, direcionado à produção e ao consumo das formas comerciais de energia. Neste texto, você vai estudar os conceitos básicos de geração de energia solar e seus métodos e tecnologias, além de outros sistemas de geração de energia renovável. Geração de energia solar O homem tem se apropriado da energia proveniente do Sol ao longo de toda sua história. Por meio dele, são supridas necessidades básicas de aquecimento, iluminação e alimentação. Contudo, sua utilização como fonte direta para a produção de eletricidade é recente. Com esta fi nalidade, destacam-se duas tecnologias de geração: a fotovoltaica, que converte diretamente a luz em eletricidade; e a heliotérmica, que é um tipo de geração termelétrica, em que um fl uido é aquecido por meio da energia solar para produzir vapor. Introdução Instalações Elétricas_U3C6.indd 83 21/09/2017 10:43:02 A rápida expansão dessas tecnologias nos últimos anos — impulsionada pela forte redução de custos, o grande potencial técnico de aproveitamento e não emissão de poluentes — fez o mundo voltar sua atenção para a energia solar como alternativa para atender o sistema elétrico. Mesmo assim, as duas tecnologias combinadas ainda representam uma parcela pequena da matriz energética global, mas merecem destaque especial pelas suas perspectivas positivas. A fotovoltaica é a que vem se destacando no mercado nos últimos anos, representando 98% da capacidade instalada entre as duas fontes em 2014 (TOLMASQUIM, 2016). Podemos dividir o caminho histórico da tecnologia relacionada à energia solar em quatro fases: no princípio, as células fotovoltaicas eram utilizadas em aplicações espaciais. A segunda fase ocorre na década de 1970: como consequência das crises do petróleo, a energia fotovoltaica começou a atender áreas terrestres isoladas. Alguns países lançaram programas de estímulo à geração fotovoltaica conectada à rede no final da década de 1990. Atualmente, vivemos a última fase de desenvolvimento, com a energia fotovoltaica se tornando competitiva com fontes convencionais de energia na geração centralizada. A geração fotovoltaica apresenta-se como uma tecnologia robusta para atendimento do sistema elétrico. A localização do Brasil favorece uma incidência mais vertical dos raios solares, o que possibilita elevados índices de irradiação em quase todo o território nacional. Além disso, a proximidade com a linha do Equador proporciona pouca variação na incidência solar ao longo do ano, o que possibilita bons níveis de irradiação até no inverno. No Brasil, no final do século passado, iniciou-se o desenvolvimento de programas de eletrificação rural utilizando essa tecnologia. Porém, foi após 2010 que ela começou a ganhar abrangência nacional, com a regulamentação da sua geração ligada à rede de distribuiçãoe a realização de leilões de plantas centralizadas. Essas ações estimularam o financiamento dos projetos e dos geradores, reduzindo seus preços. Energia solar - fotovoltaica O Sol é fonte originária de energia e, também, de vida. É possível dizer que o Sol é a fonte responsável pela maior parte da energia existente na superfície da Terra. A radiação eletromagnética do Sol propicia a produção de calor e potência. Desse modo, é possível obter energia solar por pelo menos dois tipos: a térmica e a fotovoltaica. Energia solar e outras fontes de energia84 Instalações Elétricas_U3C6.indd 84 21/09/2017 10:43:02 A energia solar térmica é a forma mais comum do aproveitamento solar, utilizando coletores que captam a energia do sol e a transferem para a água, dispensando ou reduzindo a necessidade de uso de chuveiros elétricos ou aquecedores. A energia solar fotovoltaica é também coletada por meio de lâminas ou painéis chamados de fotovoltaicos, que são recobertos com um material capaz de capturar a radiação solar e gerar energia elétrica. Essa energia pode ser utilizada imediatamente ou armazenada em baterias para uso nos horários em que não haja sol. A energia solar não requer o uso de turbinas ou geradores, de modo que não polui, mas seu aproveitamento ainda tem custo elevado. O principal desafio ainda é reduzir mais o custo das turbinas. As soluções seriam custos mais efetivos, materiais mais leves, estruturas mais simples etc. O custo pode ser consideravelmente reduzido se forem produzidas grandes quantidades de turbinas (FADIGAS, 2011). A geração fotovoltaica é caracterizada pela conversão direta da energia eletromagnética presente na radiação solar em energia elétrica. Desse modo, qualquer variação na irradiação solar afeta imediatamente a geração fotovol- taica. Podem ser observadas, em dias nublados, variações de potência de ±50% em intervalos de tempo entre 30 e 90 segundos e de ±70% em intervalos de tempo entre 2 e 10 minutos. Em comparação à geração eólica, estima-se que, em intervalos de 30 minutos, a variabilidade da geração fotovoltaica seja cerca de 10 vezes maior. Mesmo que os sistemas elétricos estejam preparados para essas variações de cargas, a incerteza da oferta é um desafio ao planejamento e operação do sistema. A maioria das estruturas dos sistemas são simplificadas, e o calor produzido é utilizado para aquecer água para o uso interno das edificações ou para a piscina. Veja na Figura 1 um esquema simplificado desse tipo de coletor. 85Energia solar e outras fontes de energia Instalações Elétricas_U3C6.indd 85 21/09/2017 10:43:02 Figura 1. Esquema básico de um coletor solar para aquecimento de água. Fonte: Reis (2011). A principal vantagem dessa tecnologia é a ocorrência de poucos impactos socioambientais em comparação a outras fontes. Na geração de energia, não ocorre a emissão de poluentes como o material particulado, NOx, SO2, CO e nem mesmo de gases de efeito estufa, como o CO2, CH4 e N2O, como ocorre em alguns métodos na geração termelétrica, contribuindo com o meio ambiente tanto local quanto globalmente. Energia solar – heliotérmica Comparada à fotovoltaica, a héliotérmica apresenta como vantagem a maior facilidade de funcionar com armazenamento ou em conjunto com outra fonte de backup, o que permite sua operação depois que o Sol se põe. Ela possui maior inércia na geração, sendo menos suscetível às variações da irradiação. Contudo, essa forma de utilização da energia solar ainda possui preços eleva- dos em comparação à fotovoltaica, sendo classifi cada como uma das formas mais caras de produção de energia renovável, o que difi culta sua expansão nas matrizes energéticas. As usinas heliotérmicas são fontes renováveis de energia, e a operação, como ocorre nos módulos fotovoltaicos, não gera emissões de poluentes nem gases de efeito estufa (GEE), ou seja, é uma fonte limpa. Energia solar e outras fontes de energia86 Instalações Elétricas_U3C6.indd 86 21/09/2017 10:43:03 Ao contrário da geração fotovoltaica, na heliotérmica a energia solar é convertida primeiramente em energia térmica, para depois ser convertida em eletricidade. Energia por biomassa Outra fonte renovável de energia é a biomassa, que tem potencial para ser pro- duzida em escala sufi ciente para obter um papel expressivo na matriz energética nacional. O termo biomassa refere-se a várias matérias-primas, como: bagaço, palha e ponta da cana-de-açúcar, lenha, carvão vegetal, resíduos urbanos, biogás, lixívia, óleos vegetais, cascas de arroz e outras culturas plantadas, como capim-elefante, por exemplo. Algumas dessas matérias-primas estão vinculadas a processos industriais e são consideradas resíduos ou subprodutos de outras atividades. Isso ocorre com o bagaço de cana-de-açúcar, que já é utilizado nas usinas de açúcar e etanol para obtenção de energia elétrica e calor (cogeração), e com a lixívia, subproduto da indústria de papel e celulose, também utilizada para cogeração. A biomassa dedicada refere-se a matérias-primas produzidas com a finali- dade específica de geração de energia elétrica, como é o caso da madeira e do capim-elefante. Há também culturas que podem ser cultivadas especificamente para a produção de óleo vegetal, que, convertido em biodiesel, pode ser usado em motores de geração elétrica, puro ou misturado com o diesel de petróleo. O Brasil apresenta condições climáticas bastante favoráveis para a produção de todos os tipos de biomassa. No setor sucroalcooleiro, o aproveitamento do bagaço de cana possibilitaria que a biomassa fosse usada na renovação da matriz elétrica brasileira. No entanto, o que se observa é um desperdício, em termos energéticos, uma vez que a maior parte dos resíduos agropecuários e urbanos não aproveitada. O bagaço resultante da produção de açúcar e álcool pode ser aproveitado nas usinas termelétricas para geração de energia. É um grande potencial, pois a quantidade de bagaço produzida a cada safra representa 30% do volume da cana moída, o que permite que as usinas de cana se tornem autossuficientes em termos de energia, podendo até mesmo vender a eletricidade excedente. Há uma estimativa de que o potencial da cana-de-açúcar seja equivalente à metade da produção gerada em Itaipu, tornando-a a principal biomassa energética do país (VILLELA; ROSA; FREITAS, 2015). 87Energia solar e outras fontes de energia Instalações Elétricas_U3C6.indd 87 21/09/2017 10:43:03 As principais funções no aproveitamento energético da biomassa são agre- gar valor e otimizar o processo produtivo agrícola e minimizar impactos ao meio ambiente decorrentes da geração e da disposição dos resíduos. Para o sistema elétrico, destaca-se o fato de, em geral, usinas termelétricas a bio- massa serem facilmente despacháveis (isto é, a geração não corre tanto risco de ser interrompida, como ocorre com a solar, eólica e hidráulica, até porque pode ser estocada), além de ser possível implantar os projetos relativamente próximos aos centros de carga, reduzindo, assim, a necessidade de construção de extensas linhas de transmissão (LT), evitando perdas e minimizando im- pactos socioambientais. Atualmente, a maior parte da bioeletricidade gerada no Brasil se dá pela queima do bagaço nas usinas de açúcar e etanol. Essa geração acontece durante o período da safra, entre abril e outubro. Isso dife- rencia as usinas que usam madeira de floresta plantada e das usinas a biogás, que não apresentam sazonalidade, isto é, podem estocar combustível o ano todo. Mesmo para as usinas sucroalcooleiras, há soluções tecnológicas para armazenamento de biomassa do bagaço e palha da cana-de-açúcar como, por exemplo, a transformação em pellets. Assim, essa limitação seria solucionada, trazendo benefício ao sistema elétrico, pois possibilitaria que esses projetos operassem na base do sistema, desde que esteja garantido o suprimento de matéria-prima. Energia solar e outras fontes de energia88 InstalaçõesElétricas_U3C6.indd 88 21/09/2017 10:43:03 Pellets são produtos agroenergéticos formados a partir da compactação de biomassa, substutuindo a lenha em aplicações residenciais e industriais. Eles podem ser produ- zidos com resíduos de madeira, arroz, milho, café, algodão, cana-de-açúcar e diversos outros, “evitando que esses materiais sejam deixados para decomposição natural, sem aproveitamento da energia neles contida e gerando passivos ambientais importantes”, conforme ressalta a introdução do documento técnico “Produção de briquetes e péletes a partir de resíduos agrícolas, agroindustriais e florestais”, desenvolvido pela Embrapa Agroenergia. Para saber mais, leia o texto “Embrapa Agroenergia publica documento sobre bri- quetes e pellets” (BIOMASSA & ENERGIA, 2013). Fonte: Mr_Mrs_Marcha/Shutterstock.com. Apesar da queima da biomassa gerar emissões de CO2, considera-se que a quantidade de carbono emitido seria o mesmo que foi absorvido pela planta no processo de fotossíntese. Além disso, é importante ressaltar que, no futuro, caso as tecnologias de Carbon Capture and Storage (CCS) se tornem viáveis e sejam aplicadas em projetos de geração de energia com biomassa, será possível obter um balanço negativo de emissões, isto é, ocorrerá absorção de carbono da atmosfera. 89Energia solar e outras fontes de energia Instalações Elétricas_U3C6.indd 89 21/09/2017 10:43:04 CCS, Carbon Capture and Storage (em português, “Captura e Armazenamento de Carbono”, CAC), são tecnologias de remoção do carbono da atmosfera. O armazena- mento final do dióxido de carbono retirado da atmosfera pode ser feito na hidrosfera, por meio do armazenamento oceânico; na biosfera, por meio do armazenamento por biomassa; e na litosfera, por meio de armazenamento geológico. Para saber mais, leia o texto “Carbon capture and storage” (INTERNATIONAL ENERGY AGENCY, c2017). O processo de transformação da biomassa — seja ela de resíduos, seja de plantações — em energia elétrica se dá em usinas termelétricas. Essas usinas podem funcionar com caldeiras em ciclo rankine (biomassas sólidas) ou turbinas a gás e motores (biogás). Desse modo, pode haver impactos comuns a esses tipos de tecnologias, conforme o tipo de matéria-prima empregada. Assim, sendo a geração à biomassa predominantemente térmica, os impactos socioambientais são mais significativos nas fases de construção e operação da planta, e os aspectos a serem considerados são: Uso e ocupação do solo. Transporte da biomassa. População. Produção de efluentes líquidos. Emissões de gases poluentes. Recursos hídricos. Empregos e receitas. Considerando especificamente a usina termelétrica, pode-se afirmar que os impactos sobre o uso e a ocupação do solo, em geral, não são muito expressivos, pois esse tipo de usina necessita de uma pequena área para a sua implantação. Contudo, de acordo com o local escolhido, pode ser necessária supressão de vegetação ou alterações no solo. Estimam-se, também, impactos sobre a fauna em decorrência da interferência no hábitat natural. Vale lembrar que, no caso dos resíduos da cana-de-açúcar (bagaço e palha) e da indústria de papel e celulose, as usinas de cogeração estão integradas à planta industrial e são consideradas como parte da usina. Independentemente da exportação de energia para a rede, a autoprodução Energia solar e outras fontes de energia90 Instalações Elétricas_U3C6.indd 90 21/09/2017 10:43:04 de calor e energia elétrica é necessária para o funcionamento do processo de produção. A mesma forma de produção é válida para os resíduos sólidos urbanos, em que a coleta e a instalação da usina dos gases gerados no aterro sanitário são feitas na própria área do aterro. Já na usina que usa madeira plantada ou capim-elefante como combustível, a termelétrica é construída especificamente para fins de geração de energia elétrica. Podemos dizer que a lenha é renovável somente quando o ritmo de extração está em equilíbrio com o de reflorestamento. Caso contrário, ela perde seu caráter de renovabilidade, colocando em risco a sobrevivência das florestas. Energia eólica O aproveitamento do vento como um recurso surgiu quando se converteu a energia fornecida por ele em algo útil, por meio do uso de um equipamento transformador como os moinhos de vento, utilizados na moagem de grãos ou elevação de água, e ainda, pelas velas de um barco possibilitando a navegação. Os precursores dos atuais aerogeradores datam de milhares de anos atrás. Contudo, o uso do vento para fi ns elétricos é relativamente recente — mais especifi camente, do fi nal do século XIX —, com a utilização de máquinas que geravam eletricidade a partir do vento, ou aerogeradores na Dinamarca e nos EUA. É importante ressaltar que a eletricidade com fi ns comerciais, semelhante ao que conhecemos hoje, data dessa época. No período entre 1980 e 1990, os EUA e a Europa investiram significa- tivamente em energia eólica, motivados pelo aumento do custo de energia elétrica, pela busca da redução da dependência energética e por políticas de incentivo ao uso de recursos endógenos. Depois de 1990, o mercado se concentrou na Europa, tanto em termos de instalações quanto em fabricantes, decorrentes de incentivos para atender as preocupações já mencionadas e preocupações ambientais com foco na redução das emissões de gases de efeito estufa. Perto dos anos 2000, esse sistema começou a expandir, surgindo instalações e fabricantes na Ásia e de forma embrionária na América Latina e África. Já no meio da década de 2000, a 91Energia solar e outras fontes de energia Instalações Elétricas_U3C6.indd 91 21/09/2017 10:43:04 energia eólica estava espalhada pelo mundo e avançando como uma energia renovável de significativa contribuição para a redução de emissões de gases de efeito estufa de forma competitiva. Em relação aos aspectos técnicos e conceituais, o vento é provocado pelo aquecimento desigual das superfícies da Terra pelo Sol. Assim, a energia eólica é uma forma de energia solar. A variação no aquecimento das regiões, espe- cificamente da atmosfera, causa gradientes de pressão, que são responsáveis por movimentos da massa de ar. Somado às diferenças de pressão, a rotação da Terra (efeito Coriolis), os efeitos físicos de montanhas e outros eventuais obstáculos influenciam o vento. Apenas uma fração do vento está a uma altura próxima o suficiente da superfície da Terra (até 200 m) para ser aproveitada de forma prática. Além disso, não são todas as regiões que possuem um vento adequado para a exploração. Inicialmente, o potencial eólico brasileiro para fins de aproveitamento elétrico apontava o litoral do Nordeste e o arquipélago de Fernando de Noronha como locais mais promissores para o aproveitamento elétrico do vento. Como qualquer outro fluido, o ar, quando em movimento, fornece energia que pode ser aproveitada. No caso do recurso eólico, esse aproveitamento é obtido com o movimento das pás de um aerogerador, que são projetadas para capturar a energia cinética do vento. A geração da energia por meio do vento em um aerogerador é baseada na teoria da quantidade de movimento axial. Essa extração possui um limite teórico, conhecido como limite de Lanchester- -Betz, que estabelece que o potencial máximo de extração de energia de um rotor é estimado em 59% (TOLMASQUIM, 2016). Basicamente, há dois tipos de geração de energia eólica, de acordo com a localização da instalação: onshore (em terra) e offshore (marítima). A primeira predomina em países com grande extensão territorial, enquanto a segunda, em países com pouco espaço disponível para as instalações em terra ou com recursos eólicos substancialmente melhores no mar. A onshore costuma ser dividida em duas subcategorias: a centralizada e a distribuída. A centralizada é caracterizada por grandes aerogeradores (maiores do que 100 kW) organizados em grupo, formando parques eólicos que são ligados aos sistemas elétricos(regionais ou nacionais). A outra subcategoria seriam os sistemas distribuídos, que fornecem energia diretamente para residên- cias, fazendas, empresas e instalações industriais em geral, complementando a necessidade de adquirir uma parte da eletricidade da rede. Elas podem operar de forma independente, pois os pequenos aerogeradores fornecem energia como opção, geralmente mais econômica, ou por necessidade, em áreas rurais onde não há rede de distribuição de energia elétrica. Energia solar e outras fontes de energia92 Instalações Elétricas_U3C6.indd 92 21/09/2017 10:43:04 Os aerogeradores são formados por três elementos principais: rotor, eixo e gerador — e vários elementos secundários que variam conforme o tipo e projeto do aerogerador. De forma simples, podemos dizer que o rotor é o conjunto das pás e o cubo do aerogerador que captura a energia no vento; o eixo é o elo que transfere a energia captada no rotor para o gerador; e o gerador converte a energia mecânica em elétrica. É importante ressaltar que, mesmo sendo considerada uma geração de baixo impacto ambiental, as usinas eólicas necessitam de licenciamento ambiental, e devem ser realizados estudos para avaliar os impactos socioambientais. Conforme o local e o tamanho do empreendimento, as usinas podem passar por processos de licenciamento simplificados. Contudo, há normas que obri- gam usinas planejadas em locais como aqueles com formações dunares ou locais importantes para reprodução de aves, entre outros, a passarem por um processo mais rigoroso de licenciamento. Vantagens da geração de energia eólica A geração de energia por meio da fonte eólica é benéfi ca para a sociedade e o meio ambiente, pois, além de outras vantagens, é uma fonte limpa, re- novável e com custo bastante competitivo. Não há processos de combustão, pois a conversão do vento em energia é feita de forma direta e, assim, não há emissões de gases poluentes, especialmente gases de efeito estufa (GEE) ou resíduos tóxicos. As emissões de GEE no ciclo de vida da geração eólica são estimadas em no máximo 90 g CO2eq/kWh, enquanto do carvão podem ultrapassar 1750 g CO2eq/kWh e da geração oceânica, 20 g CO2eq/kWh — as fontes de geração que mais e menos emitem, respectivamente. Mesmo a necessidade de gerir a variabilidade da fonte eólica e suas consequências para a matriz não minimizam os benefícios da fonte em evitar emissões de GEE. A geração eólica também não exige consumo de água para resfriamento (TOLMASQUIM, 2016). Outra vantagem desse tipo de geração é a possibilidade do uso do solo concomitantemente com outros usos, como a agricultura e a criação de gado, permitindo a coexistência dessa nova atividade com atividades tradicionais, o que diminui a interferência na dinâmica sociocultural local. Além disso, a injeção de investimentos em localidades economicamente estagnadas pode fomentar a economia local. Quando comparada a fontes de energia tradicionais, a implantação de parques eólicos ocorre de forma rápida e, se associada a boas práticas ambien- tais, minimiza a interferência na flora e na fauna. Outro aspecto positivo é a 93Energia solar e outras fontes de energia Instalações Elétricas_U3C6.indd 93 21/09/2017 10:43:04 oferta de empregos decorrente do desenvolvimento e a ampliação da indústria nacional que serve de base para a energia eólica. Os impactos negativos ao meio ambiente associadas à geração de energia eólica são em geral baixos. Contudo, segundo a Resolução CONAMA nº 462/2014, deixam de ser considerados de baixo impacto ambiental empreen- dimentos eólicos que se localizam em: formações dunares e áreas úmidas; no bioma Mata Atlântica — e causem supressão de vegetação primária e secundária no estágio avançado de regeneração; na Zona Costeira — e causem alterações significativas de suas carac- terísticas naturais; em zonas de amortecimento de Unidades de Conservação de proteção integral; em áreas importantes para aves migratórias; em locais em que o empreendimento venha a causar impactos sociocul- turais diretos que impliquem inviabilização de comunidades; em áreas de ocorrência de espécies ameaçadas de extinção e áreas de endemismo restrito. Vantagens e desvantagens entre os sistemas de geração de energia renováveis Entre os sistemas de geração de energia de fontes renováveis, muitos se as- semelham quanto a questões socioambientais, mas é importante avaliar cada sistema para estabelecer o mais viável de acordo com suas características. Veja o comparativo no Quadro 1: Energia solar e outras fontes de energia94 Instalações Elétricas_U3C6.indd 94 21/09/2017 10:43:04 Sistema Vantagens Desvantagens Biomassa Baixo custo; Pode ser reutilizada e transformada em outros produtos, como papel e fertilizantes. Destruição da fauna e da flora, extinguindo algumas espécies; A biomassa é menos eficiente por metro quadrado do que os painéis solares; Contaminação do solo pelo uso de adubos. Energia hidráulica É um recurso renovável e limpo; Aplicável para a produção de eletricidade a custo relativamente mais baixo por cada MW (megawatts) em relação a outras fontes de energia. Forte impacto ambiental por meio da inundação de áreas habitadas pelas populações Destruição da flora e da fauna; Distância considerável entre o ponto de geração e o ponto de consumo; Períodos de clima seco diminuem o volume da água nos tanques, perdendo-se a capacidade de produção de energia. Energia solar É renovável, não polui durante o seu uso e existe em abundância; Fácil instalação e baixa manutenção; Excelente aplicabilidade em lugares remotos ou de difícil acesso; Não requer linhas de transmissão em pequena escala; A vida útil dos painéis solares é de aproximadamente 25 anos. Custo inicial elevado; Variação de produção, pois depende de condições climáticas; Durante a noite, não existe produção; Necessidade de meios de armazenamento da energia produzida durante o dia. Energia Eólica É um recurso renovável e limpo; É abundante na natureza; Usado para a produção de eletricidade e bombeamento de água; O tempo de vida útil das turbinas é, em média, de 20 anos; O terreno ocupado pelos parques eólicos pode ser utilizado para outros fins, como a agricultura. Interferências electromagnéticas; A produção de energia depende da disponibilidade do recurso eólico; Emissão de ruídos; Impacto visual, efeito de sombras em movimento; Impacto ambiental (migração das aves). Quadro 1. Vantagens e desvantagens entre os sistemas de geração de energia renováveis. 95Energia solar e outras fontes de energia Instalações Elétricas_U3C6.indd 95 21/09/2017 10:43:04 Para saber mais sobre energias renováveis, leia o texto “Energia renovável: hidráulica, biomassa, eólica, solar, oceânica” (TOLMASQUIM, 2016). Energia solar e outras fontes de energia96 Instalações Elétricas_U3C6.indd 96 21/09/2017 10:43:05 BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Reso- lução nº 462, de 24 de julho de 2014. Brasília: CONAMA, 2014. Disponível em: <http:// www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=703>. Acesso em: 06 set. 2017. BIOMASSA & ENERGIA. Embrapa Agroenergia publica documento sobre briquetes e pellets. [S.l.]: Biomassa & Energia, 2013. Disponível em: <https://www.biomassabioenergia. com.br/imprensa/embrapa-agroenergia-publica-documento-sobre-briquetes-e- -pellets/20130417-084645-m333>. Acesso em: 06 set. 2017. FADIGAS, E. A. F. A. Energia eólica. Barueri: Manole, 2011. INTERNATIONAL ENERGY AGENCY. Carbon capture and storage. [S.l.]: IEA, c2017. Dispo- nível em: <https://www.iea.org/topics/ccs/>. Acesso em: 04 set. 2017. REIS, L. B. Geração de energia elétrica. Barueri: Manole, 2011. TOLMASQUIM, M. T. (Coord.). Energia renovável: hidráulica, biomassa, eólica, solar, oceânica.. Rio de Janeiro: EPE, 2016. Disponívelem: <http://www.epe.gov.br/Docu- ments/Energia%20Renov%C3%A1vel%20-%20Online%2016maio2016.pdf>. Acesso em: 06 set. 2017. VILLELA, A. A.; ROSA, L. P.; FREITAS, M. A. V. O uso de energia de biomassa no Brasil. Rio de Janeiro: Interciência, 2015. Leituras recomendadas EITLER, K.; LINS, V. (Org.). Textos. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 2012. (Energia que Transforma, v. 3). REIS, L. B. Energia e sustentabilidade. Barueri: Manole, 2016. Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: Dica do professor Neste vídeo, você vai ver um pouco mais sobre energia solar. Assista. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/88d2058982d4de3012e06f58e76e68c0 Exercícios 1) A fonte de energia que utiliza tecnologia fotovoltaica é a: A) eólica. B) solar. C) hidrelétrica. D) termoelétrica. E) biomassa. 2) Qual é o tipo de geração termoelétrica em que um fluido é aquecido por meio da energia solar para produzir vapor? A) Hidrelétrica. B) Eólica. C) Biomassa. D) Fotovoltaica. E) Heliotérmica. 3) Sobre a energia solar fotovoltaica, é correto afirmar que: A) é fonte renovável de energia, porém gera emissões de poluentes e de gases de efeito estufa (GEE). B) é uma tecnologia utilizada na geração de energia eólica. C) é uma das energias renováveis mais caras, o que dificulta sua expansão nas matrizes energéticas. D) é utilizada há séculos como fonte direta para a produção de eletricidade. E) é a energia gerada por meio da conversão direta da luz em eletricidade. 4) Assinale a alternativa verdadeira. A) A produção de energia elétrica a partir da biomassa não emite gás carbônico. B) Para a produção da energia, a biomassa sofre um processo intermediário que pode ser biológico, químico ou fisiológico. C) O biogás, combustível utilizado para a obtenção de energia elétrica, é obtido a partir da eletrólise da biomassa. D) A biomassa é uma fonte de energia renovável produzida artificialmente no processo de fabricação de álcool ou açúcar. E) Não é possível gerar energia elétrica a partir do lixo urbano. 5) Assinale a alternativa verdadeira. A) Para a geração de energia elétrica, a energia geotérmica é utilizada em altas temperaturas. B) A conversão da energia geotérmica em energia elétrica pode ser feita de quatro maneiras: vapor quente, água aquecida, rocha quente e reservatórios pressurizados. O magma não pode ser utilizado para geração de eletricidade. C) A geração de energia elétrica a partir de fontes geotérmicas emite mais gases para a atmosfera do que a geração de energia elétrica a partir de combustíveis fósseis. D) A energia elétrica gerada das ondas do mar é feita por meio da transformação da energia cinética em energia elétrica. A altura das ondas não tem influência na geração de eletricidade. E) A geração de energia elétrica a partir das ondas do mar é um processo que não afeta o ambiente costeiro. Na prática É possível obter energia solar por pelo menos dois tipos: energia térmica e energia fotovoltaica. Mas você sabe como a energia solar fotovoltaica funciona? Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/162a6161-72b7-4fd4-9603-bbc5a8e61908/2c023d26-cf35-46ee-820e-907eb68c422f.jpg Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Matéria sobre energia solar - Globo News Saiba mais sobre o uso de energia solar assistindo a este vídeo produzido pela GloboNews, no programa Cidade e Soluções. Nele, você vai ver duas empresas alimentadas por energia fotovoltaica e uma empresa alimentada por energia eólica, inclusive, sendo com instalação de painel solar no Rio Grande do Sul, região que não possui um índice de radiação solar máximo como em outras regiões, a exemplo do Nordeste do país. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Energia Solar no Brasil e Mundo No link a seguir, escrito na forma de fôlder, do Ministério das Minas e Energia faz uma completa análise do uso da energia solar para geração de energia elétrica e aquecimento de água, exemplifica as vantagens do sistema de geração distribuída em que o proprietário recebe os créditos da energia elétrica excedente cedida ao sistema válidos por até cinco anos. Também aborda as principais usinas no Brasil e no mundo, citando as vantagens do Brasil por possuirmos áreas com intensa radiação solar e com poucas nuvens na maior parte do ano. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Técnicas de Vedação Fotovoltaica na Arquitetura Para aprofundar seus estudos a respeito da energia fotovoltaica, leia o capítulo 01 do Livro de Nuria Martín Chivelet e Ignacio Fernández Solla, Técnicas de vedação fotovoltaica na Arquitetura, p. 33 a 58. Esse capítulo descreve a tecnologia de fabricação das células fotovoltaicas e sua utilização em edifícios e outras construções, com uma incrível quantidade de imagens de https://www.youtube.com/embed/n57x5RlFvbg?rel=0 https://www.portalsolar.com.br/energia-solar-no-mundo construções no mundo inteiro, ilustrando esses módulos aplicados a fachadas, tetos, coberturas, sendo também apresentadas as vantagens e os inconvenientes dessas instalações. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!