Prévia do material em texto
CONTABILIDADE E GESTÃO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS AULA 1 Prof.ª Daiane Lolatto CONVERSA INICIAL Nesta etapa, vamos tratar dos seguintes temas sobre a Contabilidade e Gestão de Micro e Pequenas Empresas: • Conceitos e enquadramento de Microempresário Individual (MEI), Microempresa (ME) e Pequenas e Médias Empresas (PMEs); • Sobrevivência das Micro e Pequenas Empresas (MPEs); • Fatores essenciais para continuidade e crescimento das MPEs; • Estratégias empresariais e competitividade para micro e pequenas empresas (redes); • Startups. CONTEXTUALIZANDO Empreender nem sempre é uma tarefa fácil. O empreendedor deve ser capaz de identificar uma oportunidade no ambiente e transformar ideais em negócios. Então, para prosperar, ele precisa realizar um estudo prévio de tudo que será necessário para a efetiva criação do negócio. Esse estudo deve envolver a autoanálise do empreendedor, a definição dos objetivos que devem ser atingidos, as estratégias que devem ser adotadas para alcançar os objetivos, o montante de recursos que o negócio vai demandar e de que forma o empreendedor vai conseguir esses recursos. Assim, frustações podem ser evitadas, riscos podem ser previstos e providências podem ser tomadas. Diante disso, nesta etapa, vamos conhecer como as empresas são enquadradas em relação ao porte e número de empregados e entender os principais fatores de continuidade e descontinuidade dos negócios. Da mesma forma, trataremos algumas estratégias empresariais para a sobrevivência do negócio no mercado. Esta etapa é fundamental para compreendermos os próximos assuntos. Por isso, é imprescindível se atentar a todos os temas e detalhes descritos. Iniciaremos abordando o enquadramento das empresas. 3 TEMA 1 – CONCEITOS E ENQUADRAMENTO DE MICROEMPRESÁRIO INDIVIDUAL (MEI), MICROEMPRESA (ME) E PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS (PMES) A microempresa é uma pequena pessoa jurídica (ou seja, faz parte do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ). A terminologia de microempresa surgiu no final dos anos 1970 como resultado das políticas de desburocratização para estimular o desenvolvimento de pequenos negócios (Lemes; Pisa, 2019). A definição legal de microempresa foi criada pela Lei n. 7.256, em novembro de 1984, posteriormente revogada pela Lei n. 9.841, em outubro de 1999, e mais tarde alterada pela Lei Complementar n. 123, em dezembro de 2006, e pela Lei n. 155, em outubro de 2016. Os critérios adotados para classificar uma empresa como Microempresa (ME) ou Empresas de Pequeno Porte (EPP), podem variar bastante. Um dos enquadramentos mais utilizados é o estabelecido pela Lei Complementar n. 123/2006, no art. 3º, que leva em consideração o faturamento bruto anual ou receita bruta anual. Este também é um dos critérios que as pessoas jurídicas consideram para uma potencial adesão ao Simples Nacional, que é um dos regimes tributários disponíveis para as empresas. Conforme estabelecido pela Lei Complementar n. 123/2006, art. 3º, as MEs são aquelas que têm receita bruta anual de até R$ 360.000,00 ao final de cada ano-calendário, enquanto as EPPs são aquelas que têm receita bruta anual superior a R$ 360.000,00 e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00. A receita bruta compreende a venda de bens e serviços nas operações por conta própria, o valor dos serviços prestados e o resultado nas operações por conta de terceiros, excluindo vendas canceladas, devoluções de vendas e descontos incondicionais concedidos, conforme estabelecido pela Lei Complementar n. 123/2006, art. 3º, parágrafo 1º, e pela Superintendência Regional da Receita Federal, 10.ª Região Fiscal. As operações de conta própria se referem às operações com bens e serviços de propriedade da empresa. Em contrapartida, as operações em conta alheia são aquelas com bens e serviços de outras empresas, que permanecem à disposição da empresa contratante para venda, mediante acordo contratual, como é o caso da consignação mercantil e da representação comercial, conforme estabelecido na legislação. 4 A Lei Complementar n. 123/2006, art. 3º, parágrafo 2º, estabelece ainda que, caso a empresa tenha menos de um ano de funcionamento, o limite anual de receita bruta será proporcional ao número de meses em que a microempresa ou empresa de pequeno porte tenha exercido atividade, incluindo as frações de meses. Por exemplo, uma empresa constituída em julho de 2021 não poderá ter uma receita bruta superior a R$ 2.400.000,00 (R$ 4.800.000,00 / 12 meses x 6 meses) para ser considerada uma empresa de pequeno porte. Em 1º julho de 2009, entrou em vigor a Lei Complementar n. 128, de 19 de dezembro de 2008, que criou a figura do Microempreendedor Individual (MEI). Para ser enquadrado como MEI, o empreendedor pode ter obtido uma receita bruta anual de até R$ 81 mil no ano-calendário anterior, o que equivale a uma média de R$ 6.750,00 por mês. As empresas também podem ser enquadradas como Pequenas e Médias Empresas (PMEs). A legislação não estabelece de forma precisa a receita bruta anual de uma empresa de médio porte, mas é possível inferir com base na Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007, que define uma empresa de grande porte como aquela que, no exercício social anterior, tenha um ativo total superior a R$ 240.000.000,00 ou receita bruta anual superior a R$ 300.000.000,00. Portanto, a empresa de médio porte está situada entre a grande e a pequena empresa, ou seja, aquela que tem uma receita bruta anual maior que R$ 4.800.000,00 e menor ou igual a R$ 300.000.000,00. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também classifica as empresas em virtude da receita operacional bruta anual ou renda anual a fim de atuar prontamente na concessão de linhas de créditos, programas e condições específicas para cada porte de empresa. Segundo o BNDES, as microempresas têm uma renda anual igual ou inferior a R$ 360.000,00, as pequenas empresas têm uma renda anual superior a R$ 360.000,00 e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00, as médias empresas têm uma renda anual superior a R$ 4.800.000,00 e igual ou inferior a R$ 300.000.000,00, e as grandes empresas têm uma renda anual superior a R$ 300.000.000,00. Dessa forma, podemos concluir que o enquadramento com base na receita bruta anual estabelecida pela legislação é a mesma dada pelo BNDES. No Quadro 1, a seguir, podemos verificar essa classificação. 5 Quadro 1 – Enquadramento por porte Enquadramento Receita bruta anual/Renda anual Microempreendedor (MEI) Menor ou igual a R$ 81.000,00 Microempresa (ME) Menor ou igual a R$ 360.000,00 Empresa de Pequeno Porte (EPP) Maior que R$ 360.000,00 e menor ou igual a R$ 4.800.000,00 Média empresa Maior que R$ 4.800.000,00 e menor ou igual a R$ 300.000.000,00 Grande empresa Maior que R$ 300.000.000,00 Fonte: Lolatto, 2023. Ainda, as empresas podem ser enquadradas com base no número de empregados. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae (2017) classifica as empresas por número de empregados conforme disposto no Quadro 2 a seguir. Quadro 2 – Enquadramento por número de empregados Enquadramento Setores Indústria Comércio e Serviços Microempresa Até 19 pessoas ocupadas Até 9 pessoas ocupadas Pequena empresa De 20 a 99 pessoas ocupadas De 10 a 49 pessoas ocupadas Média empresa De 100 a 499 pessoas ocupadas De 50 a 99 pessoas ocupadas Grande empresa 500 pessoas ocupadas ou mais 100 pessoas ocupadas ou mais Fonte: Sebrae, 2017. Sendo assim, uma empresa pode ser enquadrada como microempresa em função de sua receita bruta anual e pode ser enquadrada como uma pequena empresa em razão do número de empregados. A metodologia de enquadramento dependerá da finalidade de classificação. Cada situação, nesse caso, deverá ser analisada para posteriormente definir pelomelhor método de enquadramento. TEMA 2 – SOBREVIVÊNCIA DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (MPES) De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (Brasil, 2021), apenas 22,9% das unidades locais nascidas em 2009 conseguiram sobreviver após dez anos, e menos da metade (41,6%) conseguiu sobreviver após cinco anos de sua criação. O IBGE ainda destaca que, quanto maior o porte da empresa, maior é a taxa de sobrevivência. Empresas de maior porte tendem a ter uma estrutura organizacional mais robusta e maior capital disponível (Sebrae, 2016). 6 Segundo o Sebrae (2016), considerando as empresas brasileiras constituídas em 2012 e as informações disponíveis na Secretaria da Receita Federal (SRF) até 2014, a taxa de sobrevivência das empresas com até dois anos no Brasil foi de 76,6%. Para as empresas de pequeno porte constituídas em 2012, a taxa de sobrevivência foi de 98%, igualando-se às médias empresas (98%) e sendo superior à das grandes empresas, que foi de 97%. Em contrapartida, a taxa de sobrevivência das microempresas constituídas em 2012 foi de apenas 55% para até dois anos. No caso dos Microempreendedores Individuais (MEI), a taxa de sobrevivência foi de 87%. Logo, as microempresas acabam contribuindo para a redução da taxa de sobrevivência das empresas com até dois anos, demonstrando que enfrentam mais dificuldades para se manterem no mercado em comparação aos MEI. A formalização dos microempreendedores, com menos burocracia e custos mais baixos para registro, abertura e manutenção, apresenta uma significativa chance de sobrevivência, pelo menos nos primeiros dois anos de atividade (Sebrae, 2016). Mas o que leva essas empresas a encerrarem suas atividades? Os principais fatores que podem causar o fechamento prematuro das empresas estão relacionados à situação do empresário antes da abertura, ao planejamento do negócio, à gestão do negócio e à capacitação dos proprietários em gestão empresarial (Sebrae, 2016). No Quadro 3 a seguir, é possível verificar os fatores relevantes que influenciam a sobrevivência e a mortalidade das empresas. 7 Quadro 3 – Perfil das empresas (exemplos de casos extremos) Fatores Empresas sobreviventes Empresas fechadas ANTES DA ABERTURA Era empregado no mesmo ramo Estava desempregado Abriu por oportunidade Abriu por necessidade Desejava ter o próprio negócio Abriu por exigência de cliente/fornecedor PLANEJAMENTO/ RECURSOS Planejou por mais tempo (11 meses) e com mais qualidade Planejamento deficiente (8 meses) Negociou prazos com fornecedores Não negociou prazos com fornecedores Obteve empréstimo em bancos Não obteve empréstimo em bancos GESTÃO DO NEGÓCIO Aperfeiçoava produtos com frequência Não aperfeiçoava produtos Investia na capacitação da mão de obra e dos sócios Não investia na capacitação da mão de obra e dos sócios Estava sempre atualizado com respeito às novas tecnologias do setor Não se atualizava Acompanhamento rigoroso receitas/despesas Não fazia acompanhamento rigoroso receitas/despesas Diferenciava produtos e serviços Produtos sem diferencial CAPACITAÇÃO Fez curso para melhorar o conhecimento sobre como administrar um negócio, enquanto tinha a empresa Não fez nenhum curso sobre gestão do negócio Fonte: Sebrae, 2016. Conforme apresentado no Quadro 3 anterior, o planejamento é um fator essencial na abertura de um negócio. As empresas que conseguem sobreviver são aquelas que são planejadas, em média, três meses a mais do que as que encerram suas atividades (Sebrae, 2016). Esse planejamento abrange todas as atividades relacionadas à constituição do negócio, desde a concepção do produto ou serviço até a definição do público-alvo, estratégias de marketing, localização da empresa, contato com fornecedores, distribuidores, financiadores e outros agentes relacionados ao negócio (Lemes; Pisa, 2019). De acordo com Lemes e Pisa (2019), as causas que podem levar à mortalidade de micro e pequenas empresas incluem falta de planejamento antes da abertura do negócio, falta de conhecimento de mercado, falta de identificação do público-alvo, falta de inovação, descuido com o cliente e suas necessidades, replicação de modelos da concorrência, elaboração inadequada do plano de negócio, falta de experiência do empreendedor, falta de qualificação dos funcionários, desconhecimento de práticas de gestão de pessoas, falta de 8 controles financeiros e de custos, falta de controle do fluxo de caixa, crescimento sem planejamento das despesas operacionais, erros no controle de qualidade, práticas de marketing equivocadas, falta de gerenciamento da marca, descontrole financeiro, falta de uso de tecnologia, falta de acompanhamento da legislação e dos tributos, e uso dos recursos da empresa para pagamento de despesas pessoais. Os empreendedores aprendem com seus próprios erros e com os erros dos outros, evitando assim a repetição das mesmas práticas. Nesse sentido, no Gráfico 3 a seguir, é possível observar os motivos alegados pelos empreendedores para o fechamento de suas empresas, de acordo com pesquisa realizada pelo Sebrae (2016). Gráfico 3 – Motivos alegados pelos empreendedores para que a empresa deixasse de funcionar Fonte: Sebrae, 2016. Para aqueles que estão iniciando um novo negócio, é de extrema importância estar atento a tudo que acontece no mercado, identificando e avaliando as tendências e selecionando oportunidades de negócios com potencial de crescimento, evitando entrar em mercados saturados que possam estar em declínio (Lemes; Pisa, 2019). O fechamento de micro e pequenas empresas causa impactos significativos na economia local, regional e nacional, uma vez que deixam de gerar renda e aumentam o número de desempregados, contribuindo para o aumento da informalidade. Além disso, o fechamento dessas empresas impacta na arrecadação de tributos pelo governo, reduzindo os investimentos em 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% força maior / doença / aposentadoria falta de apoio localização / ponto outros motivos diversos tempo (carga horária / incomplatibilidade) problemas pessoais / família burocracia crise (econômica / do país / financeira) mão de obra / funcionários / preparo outra oportunidade / não precisou mais da empresa / fim da empresa, contrato problemas financeiros / inadimplência / falta de linhas de crédito / capital de giro gestão / problemas administrativos e contábeis / incapacidade / sociedade / logística vendas / pouca procura, demanda, clientes / forte concorrência impostos / custos / despesas / juros 9 benefício da sociedade e aumentando os déficits no sistema previdenciário (Morais; Carneiro, 2017). TEMA 3 – FATORES ESSENCIAIS PARA CONTINUIDADE E CRESCIMENTO DAS MPES As variáveis ambientais internas e externas e as características dos empreendedores são fatores essenciais a serem considerados ao abrir um novo negócio. Os empreendedores precisam avaliar, por exemplo, a resistência dos concorrentes aos novos entrantes no mercado e o nível de sazonalidade do segmento em que desejam atuar. Esses fatores podem impactar os resultados da empresa e comprometer sua continuidade no curto ou longo prazo (Lemes; Pisa, 2019). Vamos supor que um empreendedor esteja iniciando um pequeno negócio de sorvetes em um local que tem estações bem definidas, ou seja, no verão o clima é quente e seco e no inverno o clima é frio e chuvoso. Para ter sucesso em seu negócio, o empreendedor precisa considerar a sazonalidade do segmento, já que as vendas tendem a oscilar em razão do clima. Agora, vamos supor que existam mais dois concorrentes potenciais nas proximidades. Que estratégia o empreendedor deve adotar? Certamente, o produto deve ter um diferencial, seja em qualidade ou preço. Segundo Lemes e Pisa (2019), mesmo em ambientes com poucacompetitividade e baixa sazonalidade, fatores relacionados ao ambiente interno também podem levar ao fechamento do negócio. Em relação ao ambiente interno, Boog (1991) destaca que toda empresa tem três pilares principais e distintos de sustentação: financeiro, marketing e operações. O resultado financeiro envolve o lucro, o retorno e o acréscimo do patrimônio líquido da empresa. O resultado do marketing é mensurado pelo que o mercado estabelece, como volume de vendas, fidelização de clientes, imagem da empresa, dos produtos e serviços oferecidos, e assistência pós-vendas. O resultado das operações compreende os números relacionados à produção, métodos e processos, comercialização, produtividade, qualidade do produto e estoque de máquinas e instalações (Boog, 1991). Outro aspecto interno que interfere na sobrevivência e no crescimento da empresa está associado ao empreendedor, ao seu nível de experiência e aos 10 conhecimentos obtidos antes da abertura do negócio, como pode ser observado na Figura 1 a seguir. Figura 1 – Aspectos de sobrevivência e crescimento da empresa associados ao empreendedor Fonte: elaborada por Lolatto, 2023, com base em Sebrae, 2016. Assim como as variáveis ambientais internas, como gestão adequada, experiência e motivação do empreendedor, as variáveis ambientais externas também interferem na continuidade e no crescimento das micro e pequenas empresas. As variáveis externas estão relacionadas, especialmente, às ações governamentais e de instituições voltadas para o estímulo do empreendedorismo (Lemes; Pisa, 2019). Os incentivos fiscais oferecidos pelo governo, por exemplo, podem garantir a continuidade e o crescimento das micro e pequenas empresas, pois reduzem o custo operacional. O governo também pode contribuir com o fornecimento de financiamento público gerando fluxos de caixa e de investimentos para essas empresas. As demais instituições, como universidades, incubadoras, investidores anjos e grandes empresas, podem contribuir com recursos financeiros ou não financeiros, ou seja, podem injetar dinheiro nas micro e pequenas empresas ou dar suporte técnico, gerencial e de formação para o empreendedor. Situação do empreendedor antes da abertura • Ocupações exercidas • Experiência no ramo • Motivação pessoal para abertura do negócio Capacidade de planejamento do negócio • Tempo de planejamento do negócio • Negociação de prazos com fornecedores • Obtenção de empréstimos Capacidade de gestão do negócio • Aperfeiçoamento frequente dos produtos • Investimento em capacitação • Atualização constante de novas tecnologias • Acompanhamento das receitas e despesas • Diferenciação dos produtos e serviços Capacidade do empreendedor em gestão empresarial • Capacitação em administração de negócios 11 TEMA 4 – ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS E COMPETITIVIDADE PARA MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (REDES) A globalização dos mercados está cada vez mais intensa e empresas de todos os tamanhos e setores estão competindo em um mercado internacionalizado. Mesmo pequenas empresas que tenham um nicho de mercado local bem estabelecido estão enfrentando ameaças de empresas estrangeiras em seu mercado tradicional (Casarotto Filho; Pires, 2020). Vamos imaginar uma pequena empresa que comercializa cosméticos e tem uma loja física. Ela contém um número significativo de clientes, a maioria deles morando nas proximidades. A empresa acompanha as tendências de mercado e projeta resultados favoráveis para os próximos anos. No entanto, será que essa pequena empresa pode estar ameaçada pela globalização? E quais estratégias ela poderia adotar para se manter no mercado? Com a globalização da economia e o avanço tecnológico, especialmente nas comunicações, as mudanças nos conceitos de marketing e produção se tornaram mais rápidas. Como resultado, os riscos dos negócios aumentaram. Isso significa que outra empresa em qualquer lugar do mundo pode começar a produzir um produto similar, com melhor qualidade e preço mais baixo, e ter acesso aos mesmos mercados (Casarotto Filho; Pires, 2020). Na perspectiva empresarial, os aspectos qualitativos na determinação das estratégias de negócios se tornaram mais relevantes do que as estratégias quantitativas de avaliação de projetos. E quando se trata de negócios, e não apenas de fábricas isoladas, uma forma de reduzir os riscos e ganhar cooperação é por meio da formação de alianças entre empresas, especialmente entre pequenas empresas (Casarotto Filho; Pires, 2020). Conforme descrito por Casarotto Filho e Pires (2020), a era do projeto de fábrica foi substituída pela era do projeto de negócio. Um projeto de negócio ou plano de negócio envolve estratégia competitiva, mercado, marca, parcerias com fornecedores, parcerias com clientes e parcerias com concorrentes, terceirizações, franquias, fabricação, logística, gestão e equacionamento econômico-financeiro. Em contrapartida, um projeto de fábrica ou plano de fábrica abrange apenas componentes de mercado, produção, localização, administração e equacionamento econômico-financeiro 12 (Casarotto Filho; Pires, 2020). Assim, podemos observar que o projeto de negócio é mais abrangente do que o projeto de fábrica. Vale destacar que a estratégia competitiva é fundamental para o sucesso do negócio. Segundo Casarotto Filho (2016), as pequenas empresas têm três possibilidades competitivas: diferenciação do produto, liderança de custo e participação em redes de empresas flexíveis. Nesse sentido, vamos entender como ocorre a formação de redes como orientação estratégica. 4.1 Formação de redes como orientação estratégica As pequenas empresas enfrentam dificuldades e limitações para competir de forma isolada, e a transição de pequeno para grande porte pode ser arriscada. Assim, a pequena empresa pode optar por se tornar fornecedora em uma rede top-down ou ser integrante de uma rede flexível de pequenas empresas (Casarotto Filho; Pires, 2020). Na rede top-down, a pequena empresa pode se tornar fornecedora ou subfornecedora de uma empresa-mãe. A empresa-mãe define as estratégias, e a pequena empresa fornecedora tem pouca ou nenhuma flexibilidade de negociação. Por exemplo, uma empresa-mãe de grande porte que produz e comercializa vestuário pode terceirizar parte de seus processos produtivos para empresas subcontratadas de pequeno porte. Dessa forma, a empresa-mãe e a empresa de pequeno porte podem competir por liderança de custos no mercado (Casarotto Filho; Pires, 2020). De acordo com Casarotto Filho e Pires (2020), a liderança em custos envolve a produção em grande escala, com padronização, visando à obtenção de preços finais baixos, com ênfase na utilização de tecnologia de processo. Na Figura 2 a seguir, é possível visualizar a formação de uma rede top-down. Figura 2 – Rede top-down Fonte: Casarotto Filho; Pires, 2020, p. 18. Empresa-mãe 1ª linha 2ª linha 13 A segunda forma de rede que pode ser estabelecida por pequenas empresas é a rede flexível, que ocorre por meio de um consórcio de empresas, no qual empresas com atividades diferentes ou com a mesma atividade se unem com um interesse comum para realizar um negócio por um período determinado. A formação de um consórcio é prevista na Lei das Sociedades por Ações (Lei n. 6.404/1976), art. 278, que estabelece: “As companhias e quaisquer outras sociedades, sob o mesmo controle ou não, podem constituir consórcio para executar determinado empreendimento.”. Por exemplo, em um consórcio de produção de calçados, várias empresas podem produzir diferentes partes de um calçado, que é comercializado, divulgado e acompanhado tecnicamente pelo consórcio. Isso significa que uma empresa pode produzir solados, outra palmilhas e outra cadarços, formando assim um consórcio. Esse consórcio simula a administração de uma grande empresa, mas apresenta mais flexibilidadepara atender a pedidos diferenciados, o que resulta em uma agregação de valor. Na Figura 3 a seguir, é possível visualizar a formação de uma rede flexível. Figura 3 – Rede flexível Fonte: Casarotto Filho; Pires. 2020, p. 18. Segundo Casarotto Filho e Pires (2020), a formação de consórcios é uma tendência mundial para a sobrevivência das pequenas empresas e o desenvolvimento equilibrado da sociedade. TEMA 5 – STARTUPS O termo startup teve origem há algumas décadas nos Estados Unidos, mas ficou conhecido durante os anos de 1990, época em que ocorreu um avanço 14 significativo da internet. Nesse período, diversas “empresas.com” foram constituídas, em sua maioria no Vale do Silício (Lemes; Pisa, 2019). No Brasil, as primeiras startups surgiram no início do século XXI, mas foi a partir do ano de 2010 que houve um crescimento notável, conforme dados da Associação Brasileira de Startups – ABStartups (Lemes; Pisa, 2019). Em 1.º de junho de 2021, foi instituído o marco legal das startups e do empreendedorismo inovador por meio da Lei Complementar n. 182. Mas, afinal, o que são startups? De acordo com Lemes e Pisa (2019), são empresas constituídas normalmente de uma base tecnológica, que têm o propósito de difundir produtos e modelos de negócios inovadores e que passam por um período de experimentação, denominado “startup”. Os autores destacam que a inovação é uma característica fundamental para que as empresas sejam denominadas startups, mas também deve haver um cenário de alto risco e incerteza para que sejam diferenciadas das demais. Para Vilenky (2021), as características básicas desse formato de empresa consistem em ser inovadora, escalável, dinâmica e automatizada. A inovação deve existir desde a criação do bem ou serviço até a entrega final ao consumidor. Vamos tomar como exemplo o caso do Uber. O Uber é um modelo de negócio que transformou a maneira como as pessoas se locomovem. Escolhemos a forma de pagamento, sabemos previamente o valor da corrida, podemos compartilhar o carro para diminuir o custo, sabemos quando o carro vai chegar e quem vai ser o motorista, podemos avaliar o atendimento e ainda podemos trabalhar para a empresa para aumentar nossa renda. A escalabilidade das startups é maior do que a escalabilidade das empresas tradicionais, porque as startups conseguem aumentar sua receita sem aumentar seus custos na mesma proporção, elevando assim o seu resultado financeiro (Vilenky, 2021). O próprio Uber é um exemplo de escalabilidade, pois não demorou muito para a empresa ampliar seus serviços de mobilidade de pessoas para a mobilidade de objetos ou qualquer outro tipo de carga de um lado para o outro. A dinâmica das startups também é uma característica marcante segundo Vilenky (2021). Esse formato de empresa possibilita que as decisões sejam tomadas rapidamente, ou seja, há uma flexibilidade na forma de trabalhar. Além disso, gostam de assumir riscos e mudar o rumo dos negócios se adequando às necessidades do mercado quase que instantaneamente. Um exemplo disso é o 15 Airbnb, que não demorou para inovar durante a pandemia da Covid-19, quando verificou que a busca pela locação de hospedagens pela internet diminuiu. O Airbnb incluiu no rol de serviços o anúncio de carros, bicicletas ou qualquer outro item para locação. Para se tornar automatizada, uma empresa precisa ter a capacidade de entregar o mesmo produto ou serviço em larga escala, ou seja, em nível nacional e/ou internacional, de forma simultânea e com características e formato consistentes, em todos os locais (Vilenky, 2021). O Google é talvez um dos melhores exemplos de uma startup com essa característica, pois está presente em mais de 150 países, e demonstra que não existem mais barreiras de língua ou culturais para a comunicação entre as pessoas, possibilitando a busca de informações de qualquer tipo com base em sua tecnologia. Dessa forma, as startups podem ser descritas como empresas de alta tecnologia criadas para resolver problemas em áreas nas quais a solução não é evidente e o sucesso não é garantido nem contínuo (Lemes; Pisa, 2019). A definição formal de startup, segundo Lemes e Pisa (2019), compreende uma organização nova no mercado, em estágio inicial de implantação, mas com potencial de crescimento. Além disso, são capazes de inovar no curto prazo, mesmo com recursos limitados. No entanto, uma das definições mais conhecidas e aceitas entre os especialistas é a de Steve Blank, citado por Lemes e Pisa (2019), que define uma startup como um grupo de pessoas em busca de um modelo de negócios repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza. Assim, podemos concluir que esse formato de empresa é diferente das demais, pois trabalha em um ambiente de incertezas, resolvendo problemas inéditos. Futuramente, vamos estudar algumas formas de investimentos para startups. TROCANDO IDEIAS Vamos supor que um novo bairro esteja sendo construído distante da área central da cidade. Um empreendedor identifica uma excelente oportunidade para abrir um mercado que atenda aos moradores desse bairro, estuda o perfil dos moradores e define uma margem de lucro líquido de aproximadamente 2% sobre seus produtos. Assim, os preços são competitivos em relação aos praticados por outros estabelecimentos, embora não ofereça uma variedade de produtos. 16 Nesse contexto, quais estratégias o empreendedor poderia adotar para se manter no mercado? NA PRÁTICA Agora que conhecemos um pouco sobre as micro e pequenas empresas, que tal exercitarmos os conhecimentos adquiridos? • Questão 1: Sobre a definição de ME e EPP. A Lei Complementar n. 123/2006, em seu art. 3.º, estabelece as definições de microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP) com base na receita bruta anual ou no faturamento bruto anual. Essa mesma lei também adota a receita bruta anual como um dos critérios para adesão ao Simples Nacional, que é um dos regimes tributários disponíveis para as empresas. Sendo assim, as microempresas são aquelas que auferem receita bruta anual: a) menor ou igual a R$ 81.000,00. b) menor ou igual a R$ 360.000,00. c) entre R$ 360.000,01 e R$ 4.800.000,00. d) entre R$ 4.800.000,01 e R$ 300.000.000,00. e) maior que R$ 300.000.000,00. • Questão 2: Sobre a definição de ME e EPP. De acordo com o Sebrae (2017), as empresas podem ser classificadas como microempresa, pequena empresa, média empresa e grande empresa com base tanto na receita bruta anual quanto no número de empregados. Dessa forma, uma empresa pode ser enquadrada como microempresa com base em sua receita bruta anual, e como pequena empresa levando em consideração o número de empregados. Sendo assim, as microempresas industriais são aquelas que apresentam: a) até 9 pessoas ocupadas. b) até 19 pessoas ocupadas. c) de 20 a 99 pessoas ocupadas. d) de 10 a 49 pessoas ocupadas. e) de 50 a 99 pessoas ocupadas. • Questão 3: Sobre as causas de mortalidade das micro e pequenas empresas. De acordo com dados do Sebrae (2016), a taxa de sobrevivência das empresas brasileiras constituídas em 2012 com até 17 dois anos é de 76,6%. Além disso, o IBGE aponta que a taxa de sobrevivência é geralmente maior em empresas de maior porte, uma vez que estas apresentam uma estrutura organizacional mais robusta e um maior volume de capital. Nesse sentido, analise as afirmativas a seguir sobre as causas que levam à mortalidade das micro e pequenas empresas e assinale a alternativa correta. I. Falta de determinação do público-alvo. II. Falta de controles financeiros e de custos. III. Alto investimento em capacitação da mão de obra. IV. Ausência de planejamento antes da abertura do negócio. Assinale a alternativa correta: a) Apenas as afirmativas I e II estão corretas. b) Apenas as afirmativas II e III estão corretas. c) Apenasas afirmativas II e IV estão corretas. d) Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. e) Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas. • Questão 4: Sobre a definição das startups. A expressão startup surgiu algumas décadas atrás nos Estados Unidos, porém se popularizou durante a década de 1990, período em que houve um grande avanço da internet. Essas empresas, na fase inicial, geralmente enfrentam despesas maiores do que suas receitas, o que demanda diversas fontes de financiamento para se sustentarem. Nesse sentido, assinale a alternativa que contempla a melhor definição de startups. a) Empresas que surgiram no início do século XXI, principalmente no Brasil, e têm como característica principal a inovação constante. b) Empresas com alto risco e incerteza que trabalham em um ambiente de escalabilidade e automatização. c) Empresas com recursos limitados que buscam um modelo de negócio repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza. d) Empresas que atuam exclusivamente na área de tecnologia e são caracterizadas pela rápida tomada de decisões e capacidade de adaptação ao mercado. 18 e) Empresas constituídas com base tecnológica que têm o propósito de difundir produtos e modelos de negócios inovadores, passando por um período de experimentação. FINALIZANDO Nesta etapa, estudamos o enquadramento das empresas por porte e por número de empregados, os motivos que levam as empresas a fecharem e a permanecerem em atividade e as estratégias empresariais a serem adotadas para sua continuidade no mercado. Estudamos também as principais características das startups. Futuramente, estudaremos as obrigatoriedades contábeis e tributárias para Microempresário Individual (MEI), Microempresa (ME) e Pequenas e Médias Empresas (PMEs). 19 REFERÊNCIAS BRASIL. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES. Porte de empresa. Disponível em: <https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/ home/financiamento/guia/porte-de-empresa>. Acesso em: 26 maio 2023. _____. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Demografia das empresas e estatísticas de empreendedorismo: estudos e pesquisas. Rio de Janeiro, 2021. (Informação Econômica, n. 35). Disponível em: <https://biblioteca. ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101863.pdf>. Acesso em: 24 abril 2023. BOOG, G. G. O desafio da competência. São Paulo: Best Seller, 1991. CASAROTTO FILHO, N. Elaboração de projetos empresariais: análise estratégica, estudo de viabilidade e plano de negócio. 2. ed. Paulo: Atlas, 2016. CASAROTTO FILHO, N.; PIRES, L. H. Redes de Pequenas e Médias Empresas e Desenvolvimento Local. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2020. LEMES JÚNIOR, A. B.; PISA, B. J. Administrando Micro e Pequenas Empresas: Empreendedorismo e Gestão. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2019. MORAIS, L. C.; CARNEIRO, L. F. R. Mortalidade de micro e pequenas empresas na cidade de Naviraí-MS: estudo de caso. In: ENCONTRO INTERNACIONAL DE GESTÃO, DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO. Anais… 2017. SERVIÇO DE APOIO A MICRO E PEQUENAS EMPRESAS – SEBRAE (Org.). Anuário do Trabalho nos Pequenos Negócios 2017. Brasília: Dieese, 2017. Disponível em: <https://www.dieese.org.br/anuario/2017/anuarioPequeno Negocio2017.html>. Acesso em: 26 maio 2023. SERVIÇO DE APOIO A MICRO E PEQUENAS EMPRESAS – SEBRAE. Sobrevivência das Empresas no Brasil. Disponível em: <https://www.sebrae. com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/sobrevivencia-das-empresas-no-brasil- relatorio-apresentacao-2016.pdf>. Acesso em: 26 maio 2023. VILENKY, R. Startup: transforme problemas em oportunidades de negócio. São Paulo: Saraiva, 2021. 20 GABARITO Gabarito da questão da seção “Trocando Ideias” Resposta: Para ter sucesso em seu negócio sem oferecer uma ampla variedade de produtos, o empreendedor precisa conhecer as marcas e mercadorias preferidas do seu público-alvo, buscando ser mais assertivo em suas vendas. Gabarito dos exercícios da seção “Na prática” • Questão 1: Correta: b) Menor ou igual a R$ 360.000,00. Quadro 1 – Enquadramento por porte Enquadramento Receita bruta anual/Renda anual Microempreendedor (MEI) Menor ou igual a R$ 81.000,00 Microempresa (ME) Menor ou igual a R$ 360.000,00 Empresa de Pequeno Porte (EPP) Maior que R$ 360.000,00 e menor ou igual a R$ 4.800.000,00 Média empresa Maior que R$ 4.800.000,00 e menor ou igual a R$ 300.000.000,00 Grande empresa Maior que R$ 300.000.000,00 Fonte: a autora, 2023. • Questão 2: Correta: b) Até 19 pessoas ocupadas. Quadro 2 – Enquadramento por número de empregados Enquadramento Setores Indústria Comércio e Serviços Microempresa Até 19 pessoas ocupadas Até 9 pessoas ocupadas Pequena empresa De 20 a 99 pessoas ocupadas De 10 a 49 pessoas ocupadas Média empresa De 100 a 499 pessoas ocupadas De 50 a 99 pessoas ocupadas Grande empresa 500 pessoas ocupadas ou mais 100 pessoas ocupadas ou mais Fonte: Sebrae, 2017. • Questão 3: Correta: d) Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. Existem diversos motivos que causam o encerramento das atividades das micro e pequenas empresas. Lemes e Pisa (2019) descrevem as seguintes causas: 21 • ausência de planejamento antes da abertura do negócio; • falta de conhecimento do mercado; • falta de determinação do público-alvo; • falta de inovação; • descuido com o cliente e com o que ele deseja; • réplica de modelos da concorrência; • elaboração errada do plano de negócio; • falta de experiência do empreendedor; • falta de qualificação do pessoal; • falta de conhecimento de práticas de gestão de pessoas; • falta de controles financeiros e de custos; • ausência de controle do fluxo de caixa; • crescimento sem planejamento das despesas operacionais; • erros no controle de qualidade; • práticas de marketing erradas; • ausência do gerenciamento da marca; • descontrole financeiro; • falta do uso de tecnologia; • falta de acompanhamento da legislação e tributos; e, • pagamento das contas pessoais com recursos da empresa. • Questão 4: Correta: e) Empresas constituídas com base tecnológica que têm o propósito de difundir produtos e modelos de negócios inovadores, passando por um período de experimentação. As startups são caracterizadas por serem empresas inovadoras que utilizam a tecnologia como base para a criação e difusão de produtos e modelos de negócios disruptivos. Elas passam por um período de experimentação, buscando encontrar um modelo de negócio escalável e sustentável. Além disso, as startups enfrentam incertezas e riscos inerentes ao ambiente de negócios, mas têm como propósito a inovação e a busca por soluções criativas para problemas existentes. CONTABILIDADE E GESTÃO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS AULA 2 Profª Daiane Lolatto CONVERSA INICIAL Nesta etapa, vamos tratar sobre obrigatoriedades contábeis e tributárias para Microempresário Individual (MEI), Microempresa (ME) e Pequenas e Médias Empresas (PMEs), e para tanto, estudaremos os seguintes temas: • Obrigatoriedades contábeis e tributárias (obrigações acessórias) para MEI, ME e PMEs; • LC 123 – Regras societárias para ME; • LC 123 – Regras tributárias para EPP; • NBC TG 1002 – Regras contábeis para ME; • NBC TG 1001 – Regras contábeis para EPP. Aproveite a leitura e exercite os conhecimentos adquiridos resolvendo as atividades. Lembre-se de que a melhor forma de aprender é exercitando. CONTEXTUALIZANDO O sistema tributário no Brasil é complexo e demanda muito estudo. Com o objetivo de facilitar o processo de abertura e tributação das micro e pequenas empresas, o Governo criou o regime tributário do Simples Nacional. Isso não impede as empresas de aderirem a outros regimes tributários, mas, como veremos nesta etapa, realmente há vantagensna escolha por esse regime. Em relação às normas contábeis, a partir do dia 1º de janeiro de 2023 passamos a aplicar a NBC TG 1000 (R1), NBC TG 1001 e NBC TG 1002. A NBC TG 1001 estabelece as regras contábeis para as pequenas empresas e a NBC TG 1002 estabelece as regras contábeis para as microentidades. Vamos ver que as microempresas e empresas de pequeno porte recebem classificações contábeis e tributárias diferentes. Diante disso, nesta etapa, vamos conhecer as leis que regem o Microempresário Individual (MEI), a Microempresa (ME) e as Pequenas e Médias Empresas (PMEs). Da mesma forma, trataremos algumas particularidades contábeis, societárias e tributárias relacionadas a elas. Esta etapa é fundamental para compreendermos o próximo conteúdo. Por isso, é imprescindível atentar para todos os temas e detalhes descritos. Iniciaremos falando sobre as obrigatoriedades contábeis e tributárias (obrigações acessórias) para MEI, ME e PMEs. 3 TEMA 1 – OBRIGATORIEDADES CONTÁBEIS E TRIBUTÁRIAS (OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS) PARA MEI, ME E PMES O Microempresário Individual (MEI), a Microempresa (ME) e as Pequenas e Médias Empresas (PMEs) possuem regras contábeis e tributárias específicas. A Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006, principal lei das Micro e Pequenas Empresas (MPEs), facilitou a abertura dessas empresas, aumentando a formalidade e sua chance de sobrevivência no mercado (Lemes Jr.; Pisa, 2019, p. 244). Com a alteração dessa lei em 2008, foi criada a figura do MEI, facilitando ainda mais o processo de abertura de negócios e reduzindo o ônus tributário sobre os empresários individuais. A empresa de médio porte não é abrangida pela Lei Complementar n. 123/2006, pois seu faturamento bruto anual supera R$ 4.800.000,00 e é menor ou igual a R$ 300.000.000,00. Segundo Lemes e Pisa (2019, p. 244), o Brasil possui uma legislação rica e avançada no âmbito de organizações societárias e tem sido inovador na desburocratização dos processos de abertura de empresas, na simplificação da apuração e recolhimento de tributos e na redução da carga tributária das MPEs. No entanto, mesmo com as facilidades de abertura de empresas disposta na Lei Complementar n. 123/2006, o empreendedor brasileiro ainda persiste na informalidade. Em um primeiro momento, a informalidade pode ser atrativa, mas conforme a empresa cresce, passa a ser conhecida e ganha mercado, isso será mais uma dificuldade do que uma comodidade. Uma empresa informal não possui CNPJ, nota fiscal, qualquer documentação, que lhe permita negociar com médias e grandes empresas ou participar de licitações públicas, dentre outras situações (Lemes Jr.; Pisa, 2019, p. 244). Agora vamos conhecer as obrigatoriedades contábeis e tributárias (obrigações acessórias) para MEI, ME e PMES. 1.1 Obrigações contábeis e tributárias para MEI De acordo com a Lei Complementar n. 123/2006, especificamente nos arts. 18-A a 18-C, para um empreendedor se enquadrar como Microempreendedor Individual (MEI), ele deve ter uma receita bruta anual igual ou inferior a R$ 81.000,00, no máximo um empregado que receba exclusivamente um salário-mínimo ou o piso salarial da categoria profissional, não ter participação como sócio ou titular em outra empresa, e exercer uma 4 atividade permitida pela legislação (Brasil, 2006). Se o empreendedor não iniciar suas atividades em janeiro, o limite da receita bruta anual será proporcional aos meses restantes do ano. O empreendedor que atender a essas condições pode se formalizar gratuitamente no Portal do Empreendedor. Nesse processo, ele obtém o CNPJ, número de inscrição na Junta Comercial, número de inscrição no INSS e o documento de alvará que equivale ao alvará de funcionamento, tudo de forma instantânea, gerando um documento único chamado Certificado da Condição de Microempreendedor Individual – CCMEI. O processo de formalização não tem nenhum custo associado. No entanto, após a formalização, o MEI passa a recolher mensalmente os seguintes valores a partir de maio de 2023: R$ 66,00 para a Previdência Social (correspondente a 5% do salário-mínimo reajustado anualmente); R$ 1,00 fixo por mês para o Estado (ICMS) se a atividade for comércio ou indústria; e R$ 5,00 fixos por mês para o Município (ISS) se a atividade for de prestação de serviços. Esses valores são pagos por meio de um único documento chamado DAS (Documento de Arrecadação do Simples Nacional), conforme estabelecido na Lei Complementar n. 123/2006. No Quadro 1, é possível observar os valores a serem recolhidos para cada atividade no ano de 2023. Quadro 1 – DAS MEI 2023 Atividade INSS ISS e ICMS TOTAL Comércio e indústria R$ 66,00 R$ 1,00 R$ 67,00 Serviços R$ 66,00 R$ 5,00 R$ 71,00 Comércio/indústria e serviços R$ 66,00 R$ 6,00 R$ 72,00 Fonte: Lolatto, 2023. Assim, mesmo que o MEI não tenha faturamento mensal, ele deve recolher os valores fixos mensais informados no Quadro 1 aos cofres públicos. O DAS é emitido pelo Portal do Empreendedor ou pelo aplicativo do MEI. Em relação aos aspectos fiscais, o MEI está dispensado de emitir nota fiscal para consumidores pessoa física (CPF), mas é obrigado a emitir nota fiscal quando vender para destinatários pessoa jurídica (CNPJ). Saiba mais Outra obrigação fiscal do MEI é a declaração anual, que pode ser entregue pelo próprio MEI no Portal do Empreendedor: 5 DECLARAÇÃO Anual de Faturamento – DASN. Portal do Empreendedor, S.d. Disponível em: <https://www.gov.br/empresas-e- negocios/pt-br/empreendedor/servicos-para-mei/declaracao-anual-de- faturamento>. Acesso em: 29 jun. 2023. É importante destacar que o MEI (pessoa jurídica) e o empreendedor (pessoa física) são pessoas distintas e devem enviar a declaração nos prazos estabelecidos. A distribuição de lucros da pessoa jurídica para a pessoa física segue a mesma regra aplicada às empresas optantes pelo lucro presumido, conforme disposto na Lei n. 9.249/1995 (art. 15) e Lei n. 9.430/1996 (art. 1º e 25, Inciso I). Vamos considerar a seguinte situação: um MEI obteve uma receita de R$ 80.000,00 em suas atividades comerciais, e suas despesas operacionais totalizaram R$ 20.000,00, resultando em um lucro de R$ 60.000,00. Como o MEI não realiza escrituração contábil, é necessário calcular o lucro que pode ser distribuído de forma isenta do imposto sobre a renda. Para isso, devemos multiplicar a receita bruta anual da atividade pelo percentual de presunção do lucro presumido, que é de 8% para a atividade comercial. Assim, temos R$ 80.000,00 x 8% = R$ 6.400,00. Caso o MEI opte por apresentar a Declaração de Ajuste Anual (embora não seja obrigatório apenas com esses rendimentos), ele deverá informar o valor de R$ 6.400,00 como rendimentos isentos e não tributáveis. Em relação às obrigações contábeis, o MEI não é obrigado a realizar a contabilidade formal, como o livro diário, o livro razão e o livro caixa, conforme determina o Código Civil, art. 1.179, parágrafo 2º (regulação contábil e tributária) (Brasil, 2002). No entanto, o empreendedor tem a obrigação tributária de registrar mensalmente o total de suas receitas em um formulário simplificado, de acordo com o Anexo XII da Resolução CGSN 140/2018 (Brasil, 2018). Saiba mais O formulário está disponível no Portal do Empreendedor: RELATÓRIO Mensal de Receitas Brutas. Portal do Empreendedor, S.d. Disponível em: <https://www.gov.br/empresas-e-negocios/pt- br/empreendedor/servicos-para-mei/relatorio-mensal>. Acesso em: 29 jun. 2023. Caso o empreendedor (pessoa física) opte por contratar um profissional contábil para manter a contabilidade do MEI (pessoa jurídica) em ordem, gerando os livros comerciais devidamente registrados no órgão competente, 6 assim como ocorre com as demais empresas optantes por outros regimes tributários (RIR/2018, art. 35 inciso IV), a distribuição de lucros para oempreendedor será realizada de forma isenta e sem qualquer imposto adicional, conforme previsto na Lei Complementar n. 123/2006, art. 14 (Brasil, 2006), e na Resolução CGSN n. 140/2018, art. 145, parágrafo 3º (Brasil, 2018). Além disso, uma contabilidade adequada proporciona uma gestão financeira de qualidade, ou seja, o MEI pode acompanhar de perto seus resultados, identificar oportunidades de melhorias e otimizar o desempenho financeiro da organização. Dentre as vantagens do MEI, destacam-se a facilidade no processo de abertura da empresa, com menos burocracia e custos reduzidos; o custo mensal fixo e simplificado da tributação; a declaração anual simplificada, o que diminui a carga de trabalho contábil; a cobertura previdenciária do INSS, que oferece benefícios como aposentadoria, auxílio doença, auxílio maternidade, auxílio reclusão para o empreendedor (pessoa física) e pensão por morte para a família; a possibilidade de contratar um empregado para auxiliar no crescimento do negócio; o acesso facilitado a crédito e linhas de financiamento; além da dispensa da obrigatoriedade de contabilidade para o MEI (pessoa jurídica) e emissão de nota fiscal em algumas situações. No entanto, apesar das diversas vantagens, o MEI também apresenta algumas desvantagens. O faturamento é limitado a R$ 81.000,00 por ano, o que pode restringir o crescimento do negócio. Caso o valor do faturamento anual ultrapasse o limite em até 20%, atingindo R$ 97.200,00 de faturamento no ano, o MEI deverá fazer a transição de sua condição de MEI para uma Microempresa (ME), cujo limite de faturamento anual é de até R$ 360.000,00. Além da mudança de categoria, será necessário efetuar o recolhimento do valor excedente por meio de um DAS complementar, emitido na Declaração Anual do Simples Nacional do MEI (DASN-SIMEI). Se o MEI ultrapassar o limite em mais de 20%, alcançando um valor superior a R$ 97.200,00, ocorrerá automaticamente a exclusão da categoria, e será realizada a cobrança retroativa de impostos sobre o valor total faturado durante o ano, com a aplicação das alíquotas de uma microempresa, acrescido de juros e multa (Lei Complementar n. 123/2006, art. 18-A, parágrafo 7º, inciso III). Outra desvantagem em ser um MEI envolve o limite de contratação de funcionários, sendo permitido apenas um empregado. Ainda, a linha de crédito disponível para o MEI também pode ser reduzida em comparação a outras 7 categorias de empresa, o que pode dificultar o acesso a financiamentos. Outro ponto a ser considerado é que, se a pessoa física (CPF) que tiver MEI também estiver atuando profissionalmente em regime CLT for dispensado, ele não terá direito ao seguro-desemprego, uma vez que o governo considera que o MEI possui outra fonte de renda. Com suas vantagens e desvantagens, o MEI é uma oportunidade para que os empreendedores tenham um respaldo social. Na sequência, vamos conhecer as obrigações contábeis e tributárias para as microempresas, outro enquadramento de empresa. 1.2 Obrigações contábeis e tributárias para ME Assim como o MEI, a ME também segue as regras da Lei Complementar n. 123/2006 em virtude do enquadramento por porte, porém possui obrigações contábeis e tributárias diferentes. Mas qual é a principal diferença entre o MEI e a ME? O MEI é aquele que tem uma receita bruta anual igual ou inferior a R$ 81.000,00, enquanto a ME é aquela com uma receita bruta anual igual ou inferior a R$ 360.000,00. Enquanto o MEI recolhe um valor fixo mensal, a ME pode optar por diferentes regimes tributários, como o Simples Nacional, Lucro Presumido ou Lucro Real, dependendo do resultado do planejamento tributário. As obrigações tributárias estão diretamente relacionadas ao regime de tributação. Vamos analisar, inicialmente, as obrigações tributárias principais (arrecadação) das microempresas optantes pelo Simples Nacional. No Simples Nacional, o contribuinte (ME) deve recolher mensalmente, em um único Documento de Arrecadação do Simples Nacional (DAS), os seguintes tributos: Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), Programa de Integração Social e Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/Pasep), Contribuição Previdenciária Patronal (CPP), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e Imposto Sobre Serviços (ISS). O valor arrecadado mensalmente pelo Simples Nacional será determinado mediante aplicação das alíquotas efetivas, calculadas com base nas alíquotas nominais constantes das tabelas dos Anexos I a V desta Lei Complementar n. 123/2006. 8 Vamos supor que uma empresa comercial obtenha mensalmente receita bruta igual a R$ 130.000,00. Você pode visualizar a apuração da alíquota efetiva e do DAS no Quadro 2. Quadro 2 – Exemplo de apuração do Simples Nacional – Comércio Faturamento mensal R$ 130.000,00 Receita bruta acumulada 12 meses R$ 1.560.000,00 Anexo I – alíquota nominal 10,7% Valor a deduzir R$ 22.500,00 Alíquota efetiva (1.560.000,00 𝑥 10,7%) − 22.500,00 1.560.000,00 = 166.920 1.560.000.00 = 0,0926 𝑥 100 = 9,26% Valor a pagar no DAS (R$ 130.000,00 x 9,26%) R$ 12.035,00 Fonte: Lolatto, 2023. Vamos considerar o caso em que a mesma empresa optou pelo regime tributário do Lucro Presumido. De acordo com a Lei n. 12.814, de 16 de maio de 2013, ela pode escolher esse regime, uma vez que o limite de receita bruta total anual é de R$ 78.000.000,00 ou R$ 6.500.000,00 multiplicado pelo número de meses de atividade do ano-calendário anterior (Brasil, 2013). Uma característica principal desse regime é a presunção da base de cálculo do IRPJ e CSLL, que leva em consideração a atividade exercida pela empresa, conforme previsto no art. 592 do Regulamento do Imposto de Renda de 2018 (RIR/2018) e no art. 22 da Lei n. 10.684, de 30 de maio de 2003. O recolhimento é feito trimestralmente e o pagamento da primeira parcela dos tributos é considerado pelo Fisco como a escolha pelo Lucro Presumido. A apuração do ICMS ocorre mensalmente pelo regime não cumulativo, de acordo com a legislação de cada Estado. A apuração do PIS/Pasep e da Cofins é feita pelo regime cumulativo, aplicando-se as alíquotas de 0,65% e 3%, respectivamente, sobre a receita bruta mensal. No regime tributário do Lucro Real, a base de cálculo para apuração do IRPJ e da CSLL é o lucro real, ou seja, o lucro contábil ajustado pelas adições e exclusões definidas no RIR/2018. Também é possível realizar a compensação de prejuízos fiscais apurados em exercícios anteriores, limitado a 30% do lucro real antes da compensação. A legislação permite apurar o lucro real trimestralmente ou anualmente. O ICMS, PIS/Pasep e Cofins devem ser apurados mensalmente pelo regime não cumulativo. As empresas que faturarem 9 mais que R$ 78.000.000,00 estão automaticamente obrigadas a apuração pelo Lucro Real, conforme disposto no art. 257 do RIR/2018, sendo facultativo para as demais empresas. Assim, observa-se que o MEI realmente possui um ônus tributário menor em relação às empresas que optam pelo regime tributário do Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real. Os únicos tipos de empresas que podem aderir ao Simples Nacional são as MEs e EPPs, porém ME e EPP podem optar pelo Lucro Presumido ou pelo Lucro Real. As obrigações tributárias acessórias variam em função do regime tributário e da atividade desenvolvida pela empresa. Assim, o profissional contábil deve analisar a legislação vigente para cumprir com essas obrigações. De acordo com a Lei das Sociedades por Ações (Lei das S.A.), Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e suas alterações posteriores, no art. 176, é estabelecido que as empresas, com exceção do MEI, são obrigadas a apresentar as seguintesdemonstrações contábeis ao fim de cada exercício social: a. Balanço Patrimonial (BP); b. Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA); c. Demonstração do Resultado do Exercício (DRE); d. Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC); e. Se companhia aberta, Demonstração do Valor Adicionado (DVA); f. Notas Explicativas (NE) (Brasil, 1976). A Lei das S.A., art. 176, parágrafo 6o, ainda determina que a empresa de capital fechado, cujo patrimônio líquido na data do balanço seja inferior a R$ 2.000.000,00, não terá a obrigação de elaborar e publicar a demonstração dos fluxos de caixa (Brasil, 1976). Cada demonstração possui normas específicas para sua elaboração. Agora vamos estudar as obrigações contábeis e tributárias para as PMEs. 1.3 Obrigações contábeis e tributárias para PMES As Empresas de Pequeno Porte (EPP) são aquelas que auferem receita bruta anual maior a R$ 360.000,00 e menor ou igual a R$ 4.800.000,00. Considerando essa faixa de faturamento anual (receita bruta anual), elas se enquadram nas regras dispostas na Lei Complementar n. 123/2006 e podem 10 optar pelo regime tributário do Simples Nacional ou optar pelos regimes tributários do Lucro Presumido (Lei n. 12.814/2013) e Lucro Real (RIR/2018). Em contrapartida, as médias empresas não se enquadram nas regras estabelecidas pela Lei Complementar n. 123/2006, pois o faturamento bruto anual dessas empresas é maior que R$ 4.800.000,00 e menor ou igual a R$ 300.000.000,00. Desta forma, elas só podem escolher entre o Lucro Presumido e o Lucro Real. A lógica de tributação (obrigações principais) das PMEs em relação ao regime tributário é a mesma lógica das microempresas. No regime tributário do Simples Nacional, o valor arrecadado mensalmente será determinado em função da aplicação das alíquotas efetivas, calculadas com base nas alíquotas nominais constantes das tabelas dos Anexos I a V desta Lei Complementar 123/2006. No Lucro Presumido, a base de cálculo do IRPJ e CSLL é presumida de acordo com a atividade exercida pela empresa. A apuração do ICMS ocorre mensalmente pelo regime não cumulativo e em conformidade com a legislação de cada Estado. A apuração do PIS/Pasep e da Cofins se dá pelo regime cumulativo, aplicando-se as alíquotas de 0,65% e 3%, respectivamente, sobre a receita bruta mensal. No regime tributário do Lucro Real, a base de cálculo para apuração do IRPJ e da CSLL é o lucro real, ou seja, o lucro contábil ajustado pelas adições e exclusões definidas no RIR/2018, sendo possível realizar a compensação de prejuízos fiscais apurados em exercícios anteriores, limitado a 30% do lucro real antes da compensação. A legislação permite apurar o lucro real trimestralmente ou anualmente. O ICMS, PIS/PASEP e Cofins devem ser apurados mensalmente pelo regime não cumulativo. As obrigações acessórias (declarações) das empresas podem variar de acordo com o regime tributário e a atividade desenvolvida pela empresa. Assim, as empresas devem cumprir as legislações vigentes. As demonstrações contábeis obrigatórias para as PMEs, assim como para as ME, estão relacionadas na Lei n. 6.404/76, art. 176 (Brasil, 1976). As regras para elaboração das demonstrações contábeis podem ser encontradas no CPC PME aderida pelo Conselho Federal de Contabilidade mediante divulgação da NBC TG 1000 (R1) (Norma Brasileira de Contabilidade Técnica Geral 1000 (Revisão 1)). Enquanto a NBC TG 1000 (R1) equivale ao CPC PME, que é o conjunto de normas contábeis aplicadas as médias empresas, a NBC TG 1001 11 é destinada para as pequenas empresas e a NBC TG 1002 é destinada para as microentidades. Agora vamos estudar com mais detalhes a Lei Complementar n. 123/2006, que trata das questões tributárias e societárias das MPEs, e as normas técnicas de contabilidade NBCs 1001 e 1002 que estabelecem os critérios e procedimentos contábeis para essas empresas. TEMA 2 – LC 123 – REGRAS SOCIETÁRIAS PARA ME A Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, também conhecida como Estatuto Nacional das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte, foi estabelecida pela Lei Complementar n. 123/2006, ou LC 123/2006. Essa legislação definiu normas gerais, tanto societárias quanto tributárias, que visam proporcionar tratamento diferenciado e favorecido às Microempresas (ME) e às Empresas de Pequeno Porte (EPP) em âmbito federal, estadual, distrital e municipal, em conformidade com os arts. 146, 170 e 179 da Constituição Federal (Lemes Jr.; Pisa, 2019). De acordo com Lemes Jr. e Pisa (2019), a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas trouxe diversos benefícios, como a unificação do regime de tributação e simplificação das obrigações fiscais acessórias, redução do ônus tributário em receitas de exportação e substituição tributária, desobrigação de certas obrigações trabalhistas e previdenciárias, facilidade no processo de abertura, alteração e encerramento de MPEs, simplificação do acesso ao crédito e mercado, prioridade nas compras públicas, incentivo à inovação tecnológica, estímulo ao associativismo e consórcios, regulamentação do pequeno empresário, parcelamento de dívidas tributárias para enquadramento no Simples Nacional, entre outros benefícios. Dessa forma, a Lei Geral das MPEs passou a contribuir efetivamente com a construção de um ambiente sustentável para o desenvolvimento e crescimento dos pequenos negócios. A categoria de Microempresário Individual (MEI), que não se enquadra como ME ou EPP, foi criada com base na alteração da LC 123/2006 realizada por meio da Lei Complementar n. 128, de 19 de dezembro de 2008. O MEI possui benefícios mais amplos que as MPEs, entre os quais a garantia de que todos os custos relacionados à abertura, alvará, funcionamento, alterações, entre outros, estão reduzidos a zero. 12 Mas quais são as regras societárias relativas às microempresas dispostas na LC n. 123/2006? A Lei Complementar n. 123/2006, em seu art. 3º, parágrafo 4º, estabelece algumas regras e limites no âmbito societário para as microempresas e empresas de pequeno porte do Simples Nacional, como descrito a seguir: 1. Não pode ter participação de outras empresas em seu capital; 2. Não pode ter sede no exterior ou filial, sucursal, agência ou representação no país; 3. Sócio (pessoa física) pode participar do capital de outras empresas do Simples Nacional desde que o faturamento bruto anual não ultrapasse R$ 4.800.000,00; 4. Sócio (pessoa física) com até 10% de participação em empresa fora do Simples Nacional não tem o faturamento somado como critério de impedimento, mas acima de 10% é somado e não pode ultrapassar R$ 4.800.000,00; 5. Sócio ou titular (pessoa física) que atuar como administrador em outra empresa terá a receita bruta global somada, não podendo ultrapassar R$ 4.800.000,00; 6. Empresa constituída como cooperativa, exceto cooperativas de consumo, não pode aderir ao Simples Nacional; 7. A empresa do Simples Nacional não pode ser sócia do capital de outra pessoa jurídica; 8. Empresas que desenvolvam atividades específicas, como instituições financeiras, não podem fazer parte do Simples Nacional; 9. Empresas que tenham realizado cisão, fusão ou incorporação nos últimos cinco anos não podem fazer parte do Simples Nacional; 10. Sociedades por ações não podem aderir ao Simples Nacional; 11. Sócio ou titular não pode ter relação de pessoalidade, subordinação e habitualidade com o contratante do serviço, como no caso de pejotização (Brasil, 2006). Considerando os benefícios de ser enquadrado no Simples Nacional, é fundamental compreender as regras societárias. A seguir, conheceremos as regras tributárias aplicáveis às empresas de pequeno porte que possuem um tratamento jurídico diferenciado previsto na LC n. 123/2006. 13 TEMA 3 – LC 123 - REGRAS TRIBUTÁRIAS PARA EPP A principal diferença entre as ME e EPP compreendeo limite máximo que cada uma delas pode faturar anualmente. Segundo a LC n. 123/2006, uma ME pode faturar até R$ 360.000,00 por ano, enquanto uma EPP deve ter um faturamento anual entre R$ 360.000,00 e R$ 4.800.000,00. O faturamento bruto ou receita bruta corresponde ao valor total obtido pela empresa com a venda de bens e serviços, antes dos descontos referentes a despesas e tributos. As MEs e as EPPs que se enquadram nesses limites podem aderir a um a um regime tributário simplificado, denominado de Simples Nacional, que é um regime exclusivo para MEs e EPPs. O cálculo do tributo a pagar mensalmente é realizado com base no faturamento bruto da empresa por meio do DAS, conforme estudado anteriormente. A adesão ao Simples Nacional é facultativa, visto que as MEs e EPPs também podem optar pelo Lucro Presumido ou Lucro Real. No Lucro Presumido, o cálculo do IRPJ e da CSLL é feito com base no lucro presumido, ou seja, aplica- se percentuais de presunção sobre a receita bruta trimestral. No Lucro Real, o lucro líquido contábil é ajustado a fim de aplicar as alíquotas do IRPJ e da CSLL. A natureza jurídica das MEs e EPPs também é um dos critérios para aderir ao regime tributário do Simples Nacional. Enquanto o porte está associado ao faturamento da empresa, a natureza jurídica define as regras de abertura e direitos dos sócios. A LC n. 123/2006, art. 3º, determina que, para se enquadrar no Simples Nacional, as MEs e as EPPs devem ter natureza jurídica de Sociedade Limitada, Empresário Individual ou Sociedade Simples (Brasil, 2006). Mas o que quer dizer cada uma dessas naturezas jurídicas? A Sociedade Limitada é uma forma de sociedade contratual que pode ser de pessoas ou de capital, conforme definido no contrato social. O contrato social de uma Sociedade Limitada de pessoas inclui cláusulas de controle para a entrada de terceiros estranhos à sociedade, por exemplo, condicionar a cessão de cotas sociais à aprovação dos demais cotistas ou proibir a sucessão dos herdeiros por morte de um sócio. Se o contrato social não estabelecer restrições à entrada de terceiros, seja por sucessão ou cessão de cotas, então a Sociedade Limitada será considerada de capital (Vido, 2022, p. 85). 14 O Empresário Individual é uma pessoa física que exerce uma atividade empresarial sem ter sócios. Nesse caso, o empresário assume o risco total pela atividade exercida, ou seja, não há separação entre o patrimônio empresarial e pessoal. Portanto, em caso de dívidas empresariais ou pessoais, o patrimônio único do empresário pode ser utilizado para responder por tais obrigações (Vido, 2022). A Sociedade Simples é uma forma de sociedade utilizada para atividades que não são consideradas empresariais, como é o caso de sociedades formadas por profissionais intelectuais. Por exemplo, consultórios médicos, escritórios de advocacia e atividades similares podem optar pela constituição de uma Sociedade Simples (Vido, 2022). Diante disso, ao aderir ao Simples Nacional, a empresa deve identificar as tabelas de apuração dos tributos. O Simples Nacional dispõe de cinco anexos diferentes e cada anexo possui tabelas especificas para apuração do DAS. O Anexo I é aplicado na atividade comercial, o Anexo II é utilizado na atividade industrial, o Anexo III é empregado nas receitas de locação de bens móveis e de prestação de serviços não relacionados no parágrafo 5º-C do art. 18 da LC 123/2006, o Anexo IV é aplicado nas receitas decorrentes da prestação de serviços relacionados no parágrafo 5º-C do art. 18 da LC 123/2006 e o Anexo V é empregado nas receitas decorrentes da prestação de serviços relacionados no parágrafo 5º-I do art. 18 da LC 123/2006 (Brasil, 2006). Agora que compreendemos o aspecto tributário das micro e pequenas empresas com mais profundidade, vamos conhecer os aspectos contábeis. As NBCs TG 1001 e 1002 são as normas destinadas para as microentidades e pequenas empresas. TEMA 4 – NBC TG 1002 – REGRAS CONTÁBEIS PARA ME A NBC TG 1002 entrou em vigor a partir de 1º de janeiro de 2023, revogando a ITG 1000. Essa norma contábil é aplicada às microentidades. De acordo com a norma, as microentidades são aquelas empresas com finalidade de lucros, que possuem receita bruta anual de até R$ 4.800.000,00. Para o Conselho Federal de Contabilidade, as microentidades compreendem as microempresas e empresas de pequeno porte descritas na legislação fiscal. As microentidades que ultrapassarem o limite de receita bruta anual de R$ 15 4.800.000,00 por dois anos seguidos passarão, obrigatoriamente, a seguir a NBC TG 1001. De acordo com a NBC TG 1002, as demonstrações contábeis têm o objetivo de apresentar informações sobre a posição financeira (balanço patrimonial) e o desempenho (resultado) da empresa. Para isso, as informações devem atender unicamente às características qualitativas (princípios gerais) da compreensibilidade, relevância (materialidade), confiabilidade, prudência e comparabilidade. As demonstrações contábeis obrigatórias para as microentidades são o Balanço Patrimonial (BP), a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) e a Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA) e devem ser apresentadas de forma comparativa às demonstrações do ano anterior (NBC TG 1002). É importante observar que as contas são denominadas de forma diferente nas microentidades quando comparadas às pequenas e médias empresas. Por exemplo, nas microentidades temos no BP as contas caixa e bancos e nas pequenas empresas temos disponibilidades. A NBC TG 1002 também trata de mudanças de políticas contábeis, mudanças de estimativas e retificação de erros, tratamento contábil de instrumentos financeiros, estoques, investimentos, imobilizado, intangível, arrendamentos e aluguéis, passivos e provisões, patrimônio líquido, receitas, despesas financeiras, benefícios a empregados e administradores, tributos sobre o lucro e transações em moeda estrangeira. Na sequência, vamos ver algumas particularidades para esse tipo de empresa. Os estoques podem ser avaliados pelo método do Primeiro a Entrar, Primeiro a Sair (PEPS), ou pelo método do custo médio ponderado, de forma consistente ao longo do tempo e aplicado da mesma forma para estoques de natureza e uso parecido (NBC TG 1002). O método Último a Entrar, Primeiro a Sair (UEPS) não pode ser utilizado para fins contábeis por essas entidades, diferentemente do que ocorre nas grandes empresas. Para fins tributários, o método UEPS não pode ser aplicado. Os investimentos societários realizados por microentidades devem ser avaliados exclusivamente pelo método de custo, não sendo aplicável o método de equivalência patrimonial. Desta forma, os lucros distribuídos por essas entidades investidas serão reconhecidos como receitas de dividendos ou de lucros recebidos. Se houver uma clara desvalorização do investimento, essa 16 perda deve ser registrada como um débito no resultado (NBC TG 1002). A restrição do uso da equivalência patrimonial é aplicada apenas para as microentidades. O imobilizado nas microentidades inclui propriedade para investimento. A propriedade para investimento consiste na propriedade física, como um terreno que o proprietário mantém para ter rendas e/ou valorizar o capital (NBC TG 1002). Vamos observar que o registro da propriedade para investimento ocorre da mesma forma nas pequenas empresas e difere das médias empresas. Os bens do ativo imobilizado devem ser reconhecidos pelo custo de aquisição e devem ser depreciados pelo método da linha reta, considerando o prazo de vida útil definido pela Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil. Caso uma alternativa diferente proporcione uma apresentação do balanço e um desempenho substancialmente melhores, ela poderá ser adotada. As partes e peças de substituição nas microentidades devem ser contabilizadascomo despesa do período em que ocorrer a substituição (NBC TG 1002). Vamos ver que o reconhecimento das partes e peças de substituição nas médias empresas recebe um tratamento diferenciado. O ativo intangível deve ser contabilizado pelo custo de aquisição, o qual compreende o preço de compra à vista, os tributos não recuperáveis e demais custos diretamente associados à compra. Os gastos com pesquisa e desenvolvimento devem ser reconhecidos como despesa. A amortização do ativo intangível deve ocorrer no prazo máximo de 5 anos, sendo iniciada quando o ativo estiver disponível para uso ou quando o projeto estiver concluído (NBC TG 1002). Vamos observar que o prazo limite de amortização nas pequenas empresas difere das microentidades. De acordo com a NBC TG 1002, as contraprestações dos arrendamentos em microentidades são contabilizadas como despesa pelo arrendatário e como receita pelo arrendador, sem distinção entre arrendamento operacional e arrendamento financeiro. O mesmo tratamento é dado às pequenas empresas. As microentidades devem reconhecer as receitas quando transferirem para o comprador os riscos e benefícios do ativo, puderem mensurar a receita com confiabilidade e for provável seu recebimento. No entanto, elas podem, por expediente prático, reconhecer as receitas no momento da emissão da nota fiscal, desde que representem adequadamente a posição patrimonial e o 17 desempenho da empresa (NBC TG 1002). O expediente prático se aplica apenas às microentidades. De acordo com a NBC TG 1002, as microentidades devem apresentar a despesa com tributos sobre o lucro (IRPJ e CSLL) na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) antes do resultado líquido do exercício, caso sejam optantes pelo Lucro Real e Lucro Presumido (CFC, 2021b). Porém, se forem optantes pelo Simples Nacional, os tributos podem ser evidenciados como dedução da receita bruta. Essa opção de reconhecimento dos tributos sobre o lucro pelo Simples Nacional é tratada como expediente prático para as pequenas empresas. As normas de contabilidade aplicadas às microentidades são mais simples do que as normas aplicadas às demais entidades. Em seguida, analisaremos as normas aplicadas às pequenas empresas. TEMA 5 – NBC TG 1001 – REGRAS CONTÁBEIS PARA EPP A NBC TG 1001 entrou em vigor a partir de 1º de janeiro de 2023. Essa norma contábil é aplicada às pequenas empresas que antes eram objeto de estudo da NBC TG 1000. De acordo com a norma, as pequenas empresas são aquelas empresas com finalidade de lucros, com receita bruta anual acima de R$ 4.800.000,00 até R$ 78.000.000,00. Na legislação fiscal, as empresas que se encontram dentro dessa faixa de faturamento são classificadas como empresas de médio porte. As empresas de pequeno porte que ultrapassarem o limite da receita bruta anual de R$ 78.000.000,00 por dois anos seguidos passarão, obrigatoriamente, a seguir a NBC TG 1000 (R1). De acordo com a NBC TG 1001 (CFC, 2021a), o limite de R$ 4.800.000,00 está vinculado ao inciso II do art. 3º da Lei Complementar n 123/2006 (Simples Nacional) e o limite de R$ 78.000.000,00 está associado ao art. 13 da Lei n. 9.718/1998 (Lucro Presumido). Se o limite das referidas Leis for alterado, considera-se também alterado o limite da Norma. A NBC TG 1001 não pode ser aplicada de forma parcial, exceto quando não houver tratamento contábil específico para determinada situação. Então, se a NBC TG 1001 não especificar como contabilizar um evento, o profissional contábil deve recorrer à NBC TG 1000 (R1) e se a NBC TG 1000 (R1) não descrever como contabilizar, o profissional contábil deve adotar os CPCs de maneira geral. 18 A NBC TG 1001 não se aplica às entidades que possuem responsabilidade pública de prestação de contas, como é o caso das companhias abertas e das instituições financeiras que precisam prestar contas à Comissão de Valores Mobiliários. O objetivo das demonstrações contábeis, segundo a NBC TG 1001, é apresentar informações sobre a situação patrimonial e financeira (BP), o desempenho (DRE) e os fluxos de caixa da entidade, assim como informações qualitativas em notas explicativas e relatórios adicionais que contribuem para a tomada de decisões dos usuários. Dessa forma, as demonstrações contábeis obrigatórias para as empresas de pequeno porte são as seguintes: a. Balanço Patrimonial (BP); b. Demonstração do Resultado do Exercício (DRE); c. Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL); d. Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC); e. Notas Explicativas (NE), contendo o resumo das políticas contábeis mais relevantes e outras informações explanatórias. As informações das demonstrações contábeis devem conter as características qualitativas (princípios gerais) da compreensibilidade, relevância (materialidade), confiabilidade, primazia da essência sobre a forma, prudência e comparabilidade. A NBC TG 1001, em relação à NBC TG 1002, introduziu o princípio da primazia da essência sobre a forma, registrando os eventos com base na essência, e não apenas na sua forma legal, por exemplo, na depreciação mensal com base na vida útil real do bem. Agora vamos entender mais algumas particularidades para esse tipo de empresa. A entidade deve apresentar no BP os grupos do ativo circulante e não circulante, passivo circulante e não circulante e patrimônio líquido de forma separada, assim como ocorre com os demais tipos de empresa. No entanto, as contas que compõem o balanço recebem denominações diferentes das microentidades e que devem ser observadas nas normas. Por exemplo, as microentidades devem registrar a conta caixa e bancos no ativo circulante, enquanto as pequenas empresas devem registrar a conta Disponibilidades. Em contrapartida, para as médias empresas, é adotada a denominação Caixa e Equivalentes de Caixa. Na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), as despesas são agrupadas por função e não por natureza, o que significa que a empresa não 19 precisa especificar na demonstração quais são as despesas administrativas (como pessoal, materiais, depreciações, entre outros). A entidade tem a opção de fornecer informações adicionais por meio de notas explicativas (NBC TG 1001). Ainda, nas pequenas empresas, a DRE deve iniciar com a receita líquida, e as informações anteriores (receita bruta e deduções e abatimentos) podem ser explicadas nas notas explicativas, pois essas entidades são obrigadas a elaborar essas notas. Em contrapartida, as microentidades devem começar a DRE com a informação da receita bruta, e a demonstração é apresentada de forma mais detalhada, uma vez que não é obrigatória a elaboração das notas explicativas. A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) pode ser substituída pela Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA). Isso ocorre quando há apenas movimentação das contas de lucros e prejuízos acumulados, ou seja, quando não há integralização de capital ou movimentação de contas entre reservas (NBC TG 1001). A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) deve ser apresentada pelo método indireto, baseando-se no resultado líquido do período e analisando a movimentação das contas patrimoniais e de resultado. A DFC deve detalhar os fluxos de atividades operacionais, de investimentos e de financiamentos. A NBC TG 1001 especifica, por exemplo, que os juros e dividendos recebidos devem ser lançados nas atividades de investimentos e os juros e dividendos pagos devem ser registros nas atividades de financiamos (CFC, 2021a). Essa é uma diferença importante da NBC TG 1000 (R1), pois as médias empresas devem analisar a característica da operação para realizar o registro. As Notas Explicativas (NEs) devem conter apenas informações relevantes aos usuários e podem ser apresentadas em ordem de maior relevância, maior risco ou agrupadas por função na estrutura patrimonial,com a obrigação de declarar a conformidade com a NBC TG 1001. As demonstrações devem ser apresentadas de forma comparativa às demonstrações do ano anterior. Os investimentos feitos por pequenas empresas devem obrigatoriamente ser avaliados pelo método da equivalência patrimonial, ao contrário das microempresas, que utilizam o método de custo para avaliar seus investimentos. A equivalência patrimonial consiste na atualização do valor do investimento com base em quaisquer mudanças no Patrimônio Líquido da empresa investida, levando em consideração a participação efetiva do investidor (Santos et al., 2022, p. 99). 20 A propriedade para investimento das pequenas empresas recebe o mesmo tratamento contábil das microempresas, ou seja, é reconhecida como imobilizado pelo custo de aquisição, e o valor registrado não é ajustado ao valor justo ao longo do tempo (NBC TG 1001) (CFC, 2021a). O imobilizado nas pequenas empresas é reconhecido pelo custo de aquisição e deve ser depreciado pelo método da linha reta. A depreciação, ao contrário das microempresas, deve ser registrada com base na vida útil que melhor represente o uso do imobilizado, ou conforme definido pela Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil (expediente prático) (NBC TG 1001) (CFC, 2021a). As partes e peças de substituição do imobilizado nas pequenas empresas devem ser contabilizadas como despesa no período em que ocorrer a substituição, exceto quando as partes e peças adicionarem benefícios futuros à entidade. Nesse caso, a entidade deve adicionar o custo ao bem e baixar o valor contábil das partes substituídas contra o resultado (NBC TG 1001) (CFC, 2021a). Podemos observar que, nas pequenas empresas, há a opção de incluir as partes e peças de substituição como parte do ativo imobilizado, enquanto nas microentidades elas devem ser reconhecidas diretamente no resultado. Assim como nas microentidades, as pequenas empresas devem registrar os ativos intangíveis pelo custo de aquisição, e os gastos com pesquisa e desenvolvimento devem ser reconhecidos como despesa. No entanto, as pequenas empresas devem amortizar os intangíveis de acordo com o período de vigência dos direitos contratuais ou outros direitos legais. Caso a amortização não possa ser realizada com base nesses critérios, a vida útil estimada pela administração não deve ultrapassar o limite de dez anos, e somente poderá ser menor do que cinco anos se devidamente justificado (NBC TG 1001) (CFC, 2021a). Conforme a NBC TG 1001, as contraprestações de arrendamentos de pequenas empresas devem ser contabilizadas como despesa pelo arrendatário e como receita pelo arrendador, independentemente de serem arrendamentos operacionais ou financeiros, assim como ocorre para as microentidades (CFC, 2021a). A classificação de um instrumento como passivo ou patrimônio líquido deve refletir a essência do acordo contratual. Por exemplo, adiantamentos feitos pelos sócios para aumento de capital devem ser reconhecidos como patrimônio 21 líquido, uma vez que se entende que esses valores não serão revertidos. Ainda, a emissão de ações ou outros títulos patrimoniais, as ações ou quotas em tesouraria, reservas de capital e reservas de lucros devem ser reconhecidos no patrimônio líquido. Já os valores a serem distribuídos aos sócios devem ser reconhecidos como passivo (NBC TG 1001) (CFC, 2021a). O tratamento para os tributos sobre o lucro (IRPJ e CSLL) na NBC TG 1001 é semelhante à NBC TG 1002, ou seja, as entidades optantes pelo Lucro Real e Lucro Presumido devem apresentar os tributos sobre o lucro na DRE antes do resultado líquido do exercício. E, caso a pequena empresa seja optante pelo Simples Nacional, ela pode evidenciar os tributos como dedução da receita bruta. Diante desse contexto, a aplicação das normas contábeis pode ser resumida conforme apresentado no Quadro 3. Quadro 3 – Aplicação das normas contábeis Tipo de entidade Porte da entidade Norma a ser aplicada Alternativa permitida Empresas de grande porte (Sociedades por Ações) Ativo total > R$ 240 milhões ou Receita bruta anual > R$ 300 milhões 1 Todos os CPCs Não há Médias empresas Ativo total até R$ 240 milhões ou Receita bruta anual entre R$ 78 milhões a R$ 300 milhões CPC PME (NBC TG 1000 (R1)) Todos os CPCs Pequenas empresas Receita bruta anual entre R$ 4,8 milhões a R$ 78 milhões NBC TG 1001 CPC PME (NBC TG 1000 (R1)) ou Todos os CPCs Microempresas Receita bruta anual < R$ 4,8 milhões NBC TG 1002 NBC TG 1001 ou CPC PME (NBC TG 1000 (R1)) ou Todos os CPCs 1. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007, art. 3º, parágrafo único Fonte: Lolatto, 2023. O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) é responsável pela tradução das Normas Internacionais de Contabilidade, as IFRS (International Financial Reporting Standards). Os pronunciamentos emitidos são aplicados, na maioria das vezes, pelas empresas de grande porte, e quando as NBCs não abordarem determinado assunto. As normas são hierarquizadas de acordo com o conteúdo apresentado no Quadro 3, quarta coluna. 22 O profissional da contabilidade deve estar atento a todas as normas e as mudanças que ocorrem constantemente a fim de que as informações representam a real situação econômico-financeira da empresa. TROCANDO IDEIAS Vamos supor que você tenha uma indústria que produza produtos de higiene. A empresa está enquadrada como EPP pela LC 123/2006. Então, ao realizar um estudo sobre o regime tributário mais vantajoso, você identifica que o Simples Nacional gerará um ônus tributário menor. A indústria apresenta um faturamento bruto mensal de R$ 100.000,00 e deve aplicar o Anexo II da referida Lei. Sendo assim, apure o valor do DAS mensal a recolher com base nos dados apresentados a seguir: Quadro 4 – Alíquotas Receita Bruta em 12 Meses (em R$) Alíquota Valor a Deduzir (em R$) 1a Faixa Até 180.000,00 4,50% - 2a Faixa De 180.000,01 a 360.000,00 7,80% 5.940,00 3a Faixa De 360.000,01 a 720.000,00 10,00% 13.860,00 4a Faixa De 720.000,01 a 1.800.000,00 11,20% 22.500,00 5a Faixa De 1.800.000,01 a 3.600.000,00 14,70% 85.500,00 6a Faixa De 3.600.000,01 a 4.800.000,00 30,00% 720.000,00 Fonte: Brasil, 2006, Anexo II. Quadro 5 – Partilha do Simples Nacional Faixas Percentual de Repartição dos Tributos IRPJ CSLL Cofins PIS/Pasep CPP IPI ICMS 1a Faixa 5,50% 3,50% 11,51% 2,49% 37,50% 7,50% 32,00% 2a Faixa 5,50% 3,50% 11,51% 2,49% 37,50% 7,50% 32,00% 3a Faixa 5,50% 3,50% 11,51% 2,49% 37,50% 7,50% 32,00% 4a Faixa 5,50% 3,50% 11,51% 2,49% 37,50% 7,50% 32,00% 5a Faixa 5,50% 3,50% 11,51% 2,49% 37,50% 7,50% 32,00% 6a Faixa 8,50% 7,50% 20,96% 4,54% 23,50% 35,00% - Fonte: Brasil, 2006, Anexo II. NA PRÁTICA Agora que conhecemos um pouco sobre as regras tributárias, societárias e contábeis das micro e pequenas empresas, que tal exercitarmos os conhecimentos adquiridos? Questão 1 – Sobre o MEI 23 A Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006, é a principal lei das micro e pequenas empresas. A instituição dessa lei favoreceu as empresas que se encontram em situação de irregularidade, pois tornou o processo de abertura e tributação mais simples. O Microempresário Individual (MEI) é uma das figuras mais beneficiadas com a lei. Nesse sentido, analise as assertivas a seguir sobre os benefícios de ser MEI e assinale a alternativa correta. I. O tributo mensal a pagar é fixo e está associado a atividade desenvolvida. II. A contabilidade e a emissão de nota fiscal não são obrigatórias. III. Há a possibilidade de contratar no máximo dois empregados. IV. Há cobertura previdenciária do INSS. Assinale a alternativa correta: a. Apenas as afirmativas I e II estão corretas. b. Apenas as afirmativas II e III estão corretas. c. Apenas as afirmativas II e IV estão corretas. d. Apenas as afirmativas I,II e IV estão corretas. e. Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas. Questão 2 – Sobre o ME A Microempresa (ME), pela Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006 (Simples Nacional), é aquela que aufere receita bruta anual menor ou igual a R$ 360.000,00. O valor a recolher mensalmente pelas MEs optantes pelo Simples Nacional é determinado mediante aplicação das alíquotas efetivas, calculadas com base nas alíquotas nominais constantes nas tabelas dos Anexos I a V da referida Lei. Nesse sentido, considere que uma empresa comercial aufere receita bruta mensal igual a R$ 110.000,00. Assinale a alternativa que corresponde ao valor do DAS a recolher. a. R$ 8.455,00. b. R$ 9.295,00. c. R$ 9.895,00. d. R$ 11.770,00. e. R$ 18.740,00. Questão 3 – Regras societárias para ME 24 A Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006, art. 3º, parágrafo 4º, estabelece algumas regras e limites no âmbito societário para as microempresas e empresas de pequeno porte do Simples Nacional. Quando essas regras não são cumpridas, a empresa é desenquadrada do Simples Nacional. Assim, analise as assertivas a seguir sobre os requisitos societários para a empresa ser enquadrada no Simples Nacional e assinale a alternativa correta. I. A empresa não pode ter em seu capital participação de outras empresas. II. A empresa não pode ter sede no exterior e filial no País. III. A empresa não pode ser sócia do capital de outra pessoa jurídica. IV. A empresa não pode constituída sob a forma de cooperativas de consumo. Assinale a alternativa correta: a. Apenas as afirmativas I e II estão corretas. b. Apenas as afirmativas II e III estão corretas. c. Apenas as afirmativas II e IV estão corretas. d. Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas. e. Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas. Questão 4 – Regras contábeis para ME De acordo com a NBC TG 1002, o objetivo das demonstrações contábeis consiste em apresentar informações sobre a posição financeira (balanço patrimonial) e o desempenho (resultado) da empresa. Dessa forma, as informações devem atender às características qualitativas (princípio gerais) da compreensibilidade, relevância (materialidade), confiabilidade, prudência e comparabilidade. Sendo assim, analise as assertivas a seguir sobre os princípios gerais e assinale a alternativa correta. I. O princípio da relevância prevê que as informações contábeis devem ser capazes de fazer a diferença na tomada de decisões. II. O princípio da confiabilidade determina que a informação contábil não deve ser tendenciosa. III. O princípio da comparabilidade estabelece que os ativos e receitas devem ser mensuradas pelo menor valor e os passivos e despesas pelo maior valor. 25 IV. O princípio da prudência determina que as informações podem ser comparadas ao longo do tempo ou com outras entidades do mesmo setor. Assinale a alternativa correta: a. Apenas as afirmativas I e II estão corretas. b. Apenas as afirmativas II e III estão corretas. c. Apenas as afirmativas II e IV estão corretas. d. Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas. e. Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas. FINALIZANDO Nesta etapa, estudamos sobre obrigatoriedades contábeis e tributárias para Microempresário Individual (MEI), Microempresa (ME) e Pequenas e Médias Empresas (PMEs). Conhecemos as normas aplicáveis e modelos e planos de contas e de demonstrações contábeis. Os temas tratados nesta etapa foram os seguintes: • Obrigatoriedades contábeis e tributárias (obrigações acessórias) para MEI, ME e PMEs; • LC 123 - Regras societárias para ME; • LC 123 - Regras tributárias para EPP; • NBC TG 1002 – Regras contábeis para ME; • NBC TG 1001 – Regras contábeis para EPP. Posteriormente, estudaremos sobre as regras de elaboração e apresentação das demonstrações contábeis das médias empresas. 26 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 15 dez. 2006. BRASIL. Lei Complementar n. 128, de 19 de dezembro de 2008. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 22 dez. 2008. BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 17 dez. 1976. BRASIL. Comitê Gestor do Simples Nacional. Resolução CGSN n. 140, de 22 de maior de 2018. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 24 maio 2018. BRASIL. Lei n. 12.814, de 16 de maio de 2013. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 17 maio 2013. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. NBC TG 1000 (R1). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 1 nov. 2016. _____. NBC TG 1001. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 9 dez. 2021. _____. NBC TG 1002. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 9 dez. 2021. LEMES JR, A. B.; PISA, B. J. Administrando Micro e Pequenas Empresas – Empreendedorismo e gestão. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2019. MARION, J. C. Contabilidade básica. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2022. SANTOS, A. dos et al. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades: de acordo com as normas internacionais e do CPC. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2022. VIDO, E. Curso de direito empresarial. São Paulo: SaraivaJur, 2022. 27 GABARITO Resposta do exercício da seção Trocando Ideias Quadro 6 – Apuração do Simples Nacional – Indústria Faturamento mensal R$ 100.000,00 Receita bruta acumulada 12 meses R$ 1.200.000,00 Anexo I – alíquota nominal 11,20% Valor a deduzir R$ 22.500,00 Alíquota efetiva (1.200.000,00 𝑥 11,20%) − 22.500,00 1.200.000,00 = 111.900 1.200.000.00 = 0,09325 𝑥 100 = 9,33% Valor a pagar no DAS (R$ 100.000,00 x 9,33%) R$ 9.325,00 Fonte: Lolatto, 2023. Gabarito dos exercícios da seção Na prática Questão 1 Correta: d. Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. Dentre as vantagens do MEI, temos: • Facilidade no processo de abertura da empresa; • Custo mensal reduzido a valores fixos (tributação); • Declaração anual simplificada; • Cobertura previdenciária do INSS, como aposentadoria, auxílio doença, auxilio maternidade, auxilio reclusão e pensão por morte para a família; • Possibilidade de contratar um empregado; • Crédito facilitado; • Contabilidade e emissão de nota fiscal não são obrigatórias. Questão 2 Correta: c. R$ 9.895,00. Quadro 7 – Apuração do Simples Nacional – Comércio Faturamento mensal R$ 110.000,00 Receita bruta acumulada 12 meses R$ 1.320.000,00 Anexo I – alíquota nominal 10,70% Valor a deduzir R$ 22.500,00 Alíquota efetiva (1.320.000,00 𝑥 10,70%) − 22.500,00 1.320.000,00 = 118.740 1.320.000.00 = 0,09325 𝑥 100 = 9,33% 28 Valor a pagar no DAS (R$ 110.000,00 x 9,00%) R$ 9.325,00 Fonte: Lolatto, 2023. Questão 3 Correta: d. Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas. A empresa, para aderir ao Simples Nacional, não pode ter em seu capital participação de outras empresas; não pode ter sede no exterior e filial no país; não pode ser sócia do capital de outra pessoa jurídica; e não pode ser constituída sob a forma de cooperativas, com exceção as de consumo. Questão 4 Correta: a. Apenas as afirmativas I e II estão corretas. O princípio da relevância prevê que as informações contábeis devem ser capazes de fazer a diferença na tomada de decisões. O princípio da confiabilidade determina que a informação contábil não deve ser tendenciosa. O princípio da prudência estabelece que os ativos e receitas devem ser mensuradas pelo menor valor e os passivos e despesas pelo maior valor. O princípio da comparabilidade determina que as informações podem ser comparadas ao longo do tempo ou com outras entidades do mesmo setor. CONTABILIDADE E GESTÃO DEMICRO E PEQUENAS EMPRESAS AULA 3 Prof.ª Daiane Lolatto 2 CONVERSA INICIAL Nesta abordagem, trataremos especificamente da Norma Brasileira de Contabilidade Técnica Geral n. 1.000 (Revisão 1) – NBC TG 1000 (R1) (CFC, 2016). E, para tanto, estudaremos os seguintes tópicos: • NBC TG 1000 (R1): contabilidade para médias empresas • NBC TG 1000 (R1): políticas contábeis, instrumentos financeiros e estoques • NBC TG 1000 (R1): investimentos, imobilizado e intangível • NBC TG 1000 (R1): provisão, subvenções, impairment • Por que adotar a NBC TG 1000 (R1) Aproveite esta leitura e exercite os conhecimentos adquiridos resolvendo as atividades propostas. Lembre-se: a melhor forma de aprender é exercitando! Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO As NBCs direcionadas às médias empresas são de extrema importância para o desenvolvimento e crescimento sustentável dessas empresas. Essas normas têm como objetivo principal padronizar e regularizar as práticas contábeis dessas empresas, garantindo maior transparência e confiabilidade nas informações financeiras apresentadas por elas. A aplicação das NBCs também oferece benefícios para o mercado como um todo, visto que as informações contábeis padronizadas permitem uma melhor avaliação e análise da saúde financeira das empresas, o que pode influenciar nas decisões de investimentos e de crédito. Diante disso, nesta abordagem vamos conhecer as diretrizes para a elaboração e apresentação das demonstrações contábeis. A NBC TG 1000 (R1) (CFC, 2016) produziu, afinal, diversas mudanças na elaboração dessas informações, e este conteúdo é fundamental para entendermos o próximo conteúdo. Por isso, é imprescindível você se atentar a todos os tópicos e detalhes descritos. Iniciaremos falando sobre a contabilidade para médias empresas. 3 TEMA 1 – NBC TG 1000 (R1): CONTABILIDADE PARA MÉDIAS EMPRESAS A NBC TG 1000 (R1), que anteriormente era aplicado às pequenas e médias empresas, agora se aplica exclusivamente às médias empresas. Essa mudança ocorreu em dezembro de 2021 com a publicação da NBC TG 1001, que passou a ser a norma aplicável às empresas de pequeno porte, como mencionado anteriormente (CFC, 2016, 2021a). As empresas de médio porte são aquelas com uma receita bruta anual entre R$ 78 milhões a R$ 300 milhões ou um ativo total de até R$ 240 milhões. Embora a NBC TG 1000 (R1) não defina especificamente um intervalo de receita bruta ou ativo total para classificar uma empresa como de médio porte, outras normas e contábeis e tributárias permitem essa definição. Com base na alteração da Lei das Sociedades por Ações pela Lei n. 11.638/2007, art. 3º, parágrafo único, são consideradas empresas de grande porte aquelas que, no exercício social anterior, obtiveram receita bruta anual superior a R$ 300 milhões ou possuem ativo total superior a R$ 240 milhões. Essas empresas devem seguir as normas contábeis específicas, editadas pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Por outro lado, a NBC TG 1001 deve ser aplicada às pequenas empresas com receita bruta anual entre R$ 4,8 milhões e R$ 78 milhões (CFC, 2016, 2021a; Brasil, 1976, 2007). Portanto, empresas que possuem receita bruta anual entre R$ 78 milhões a R$ 300 milhões ou ativo total de até R$ 240 milhões são consideradas empresas de médio porte. É importante ressaltar que a definição de médias empresas pode variar de acordo com a legislação e as normas contábeis vigentes em cada país. No Quadro 1, podemos acompanhar a aplicação das normas para cada tipo de entidade. Quadro 1 – Aplicação das normas contábeis Tipo de entidade Porte da entidade Norma a ser aplicada Alternativa permitida Empresas de grande porte (sociedades por ações) Ativo total > R$ 240 milhões ou receita bruta anual > R$ 300 milhões (Lei n. 11.638/2007) Todos os pronunciamentos técnicos do CPC Não há 4 Médias empresas Ativo total até R$ 240 milhões ou receita bruta anual entre R$ 78 milhões a R$ 300 milhões NBC TG 1000 (R1) Todos os pronunciamentos técnicos do CPC Pequenas empresas Receita bruta anual entre R$ 4,8 milhões a R$ 78 milhões NBC TG 1001 NBC TG 1000 (R1) ou os pronunciamentos técnicos do CPC Microempresas Receita bruta anual < R$ 4,8 milhões NBC TG 1002 NBC TG 1001 ou NBC TG 1000 (R1) ou os pronunciamentos técnicos do CPC Fonte: Elaborado com base em Brasil, 2007; CFC, 2016, 2021a, 2021b. Sendo assim, vamos analisar algumas regras dispostas na NBC TG 1000 (R1). Segundo a norma, o objetivo das demonstrações contábeis é fornecer informações relevantes sobre a posição financeira da empresa (balanço patrimonial), seu desempenho (resultado e resultado abrangente) e fluxos de caixa. Essas informações são úteis para os usuários, de forma geral, que podem não ter condições de solicitar relatórios personalizados para atender às suas necessidades específicas de informação. As características qualitativas da informação compreendem compreensibilidade, relevância (restrição da materialidade), confiabilidade, primazia da essência sobre a forma, prudência, integralidade, comparabilidade, tempestividade e equilíbrio entre custo e benefício. Vamos comparar, no Quadro 2, o volume de características que as informações contábeis das médias empresas devem ter em relação às pequenas empresas e microentidades. 5 Quadro 2 – Conceitos e princípios gerais NBC TG 1000 (R1) Médias empresas NBC TG 1001 Pequenas empresas NBC TG 1002 Microentidades Compreensibilidade Compreensibilidade Compreensibilidade Relevância/materialidade Relevância/materialidade Relevância/materialidade Confiabilidade Confiabilidade Confiabilidade Primazia da essência Essência sobre a forma Prudência Prudência Prudência Comparabilidade Integralidade Comparabilidade Comparabilidade Tempestividade Custo x benefício Fonte: Elaborado com base em CFC, 2016, 2021a, 2021b. Podemos observar que as informações geradas pelas médias empresas possuem mais pré-requisitos do que as informações geradas pelas pequenas empresas e microentidades. Adicionalmente, as informações devem ser íntegras (completas), tempestivas, e o custo da geração da informação deve ser inferior aos benefícios gerados por ela. De acordo com a NBC TG 1000 (R1), o conjunto completo de demonstrações contábeis que devem ser apresentadas pelas empresas de médio porte são: a. Balanço Patrimonial (BP); b. Demonstração do Resultado do Exercício (DRE); c. Demonstração do Resultado Abrangente (DRA); d. Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL); e. Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC); f. Notas Explicativas (NE), compreendendo o resumo das políticas contábeis significativas e outras informações explanatórias. A NBC TG 1000 (R1) especifica a estrutura básica de cada uma dessas demonstrações (CFC, 2016). Assim, as empresas de médio porte devem recorrer à norma para elaborarem e apresentarem suas demonstrações. Vamos comparar a obrigatoriedade das demonstrações contábeis para as médias 6 empresas em relação às empresas de pequeno porte e às microentidades, no Quadro 3. Quadro 3 – Obrigatoriedade das demonstrações contábeis NBC TG 1000 (R1) Médias empresas NBC TG 1001 Pequenas empresas NBC TG 1002 Microentidades BP BP BP DRE DRE DRE DRA DMPL/DLPA DLPA DMPL/DLPA DFC Declaração de conformidade DFC NE NE (menor rigidez) Fonte: Elaborado com base em CFC, 2016, 2021a, 2021b. Diante disso, vamos estudar, na sequência, algumas particularidades da geração da informação contábil das médias empresas. De antemão, é importante destacar que as regras para essas empresas são mais robustas que as regras aplicadas às pequenas empresas e microentidades e devem ser analisadas com bastante atenção.TEMA 2 – POLÍTICAS CONTÁBEIS, INSTRUMENTOS FINANCEIROS E ESTOQUES As políticas contábeis são importantes para garantir que as informações financeiras de uma empresa sejam apresentadas de maneira clara e consistente. Algumas das políticas contábeis envolvem depreciação de ativos, reconhecimento de receita e registro de despesas. Os instrumentos financeiros abrangem uma variedade de ativos e passivos, como ações, títulos e outros. Nas médias empresas, os instrumentos financeiros costumam ser utilizados para gerenciar riscos e obter recursos. A gestão adequada desses instrumentos financeiros contribui para o sucesso do negócio. Os instrumentos financeiros mais comuns nas médias empresas abrangem empréstimos bancários, linhas de crédito e contas a receber de clientes. 7 Os estoques (bens destinados à revenda, produção ou consumo) representam ativos relevantes para as médias empresas. Logo, é essencial ter políticas adequadas para a sua gestão, incluindo o método de avaliação dos estoques e divulgação adequada das informações financeiras relacionadas a esses ativos. Sendo assim, vamos entender qual o tratamento contábil dado às médias empresas a respeito de suas políticas contábeis, instrumentos financeiros e estoques. 2.1 Políticas contábeis, mudanças de estimativa e retificação de erros A NBC TG 1000 (R1) estabelece que as situações que não forem tratadas por essa norma devem ser contempladas de forma que resultem em informações relevantes e confiáveis. A administração pode considerar as exigências e diretrizes das normas completas (os pronunciamentos contábeis do CPC) ao lidar com questões similares ou relacionadas. A mudança nas políticas contábeis que já estão em uso somente pode ocorrer quando houver uma exigência normativa (algo de teor obrigatório); ou quando gerar demonstrações contábeis que apresentem informações mais pertinentes e confiáveis acerca dos efeitos de transações, eventos ou circunstâncias na situação patrimonial e financeira, no desempenho e nos fluxos de caixa da entidade (algo que é voluntário) (CFC, 2016). No que diz respeito à aplicação da mudança de política contábil obrigatória, em alguns casos pode haver normas transitórias. Se as normas transitórias apresentarem a forma de aplicação inicial, essas normas específicas devem servir como base para registrar uma mudança de política contábil. Caso não existam normas transitórias ou se a mudança for voluntária, a aplicação da mudança deverá ser retrospectiva (CFC, 2016). De acordo com a norma, a mudança retrospectiva envolve a aplicação de uma nova política contábil para transações, eventos e condições, considerando a data mais antiga em que for possível, como se essa nova prática contábil sempre tivesse sido aplicada. Caso seja impossível determinar os efeitos da mudança em um único período, para informações comparativas de períodos anteriores a empresa deve aplicar a nova forma contábil aos valores contábeis dos ativos e passivos no início do período mais antigo em que a aplicação retrospectiva for possível. Além disso, a entidade deve ajustar o saldo de 8 abertura de cada componente do patrimônio líquido afetado para esse período, conforme a nova prática contábil (CFC, 2016). Um exemplo de aplicação retrospectiva ocorre quando uma empresa decide adotar um novo método de avaliação de estoques, como o método conhecido como primeiro a entrar, primeiro a sair (Peps) ou a média ponderada. Nessa situação, a empresa recalcula o valor dos estoques de períodos anteriores de acordo com o novo método e ajusta as demonstrações financeiras passadas de acordo com essa nova avaliação. Na Figura 1, podemos observar as regras de aplicação das mudanças de política. Figura 1 – Aplicação das mudanças políticas obrigatórias e voluntárias Fonte: Elaborado com base em CFC, 2016. As estimativas contábeis mencionadas pela NBC TG 1000 (R1) são utilizadas para se lidar com a incerteza relacionada às atividades das empresas e às práticas de mercado, sendo uma parte essencial do processo de reconhecimento e mensuração contábil. Vários elementos patrimoniais da entidade não podem ser medidos com precisão e, portanto, estimativas confiáveis devem ser adotadas para refletirem adequadamente a realidade dos negócios. No decorrer do tempo, essas estimativas podem sofrer alterações. Um exemplo disso é o aumento da provisão de garantias em razão do aumento nas vendas de bens com defeito ou a redução da vida útil de um ativo imobilizado devido à obsolescência tecnológica do bem (CFC, 2016). Padoveze, Benedicto e Leite (2014, p. 251) associam a mudança de estimativa a alterações de circunstâncias, surgimento de novas informações e maior experiência em relação à estimativa. Assim, as estimativas contábeis podem exigir revisão à medida que as condições em que foram realizadas Mudança de política obrigatória Exigência das normas Conforme normas transitórias Mudança de política voluntária Informações mais pertinentes e confiáveis Aplicação retrospectiva Quando não houver disposições transitórias 9 sofrerem alterações ou surgirem novas circunstâncias que não foram previstas. Conforme a NBC TG 1000 (R1), a mudança de estimativa contábil deve ser reconhecida de forma prospectiva (CFC, 2016). Caso a entidade seja capaz de estimar o impacto da mudança em um ou mais exercícios subsequentes, é necessário que essa estimativa seja divulgada em notas explicativas. Por exemplo, vamos supor que a empresa tenha um equipamento industrial e, inicialmente, tenha estimado que ele duraria dez anos, antes de ser substituído. No entanto, após uma análise mais detalhada, percebe-se que a vida útil real desse equipamento é de apenas oito anos. Diante dessa constatação, a empresa deve fazer um ajuste na forma como calcula a depreciação do equipamento, a partir do exercício corrente em diante (prospectivamente). Diferentemente da mudança das políticas e estimativas contábeis, os erros envolvem omissões ou incorreções nas informações contábeis. Esses erros podem ocorrer durante registro, mensuração, apresentação ou divulgação das informações contábeis (CFC, 2016). A contabilização de um ativo por um valor superior ou inferior e a omissão do registro em um período específico são alguns exemplos de erros. Existe diferença na forma de correção de erros materiais e imateriais, e essa diferença se dá pela forma como os erros afetam as demonstrações contábeis. Quando a entidade identifica erros materiais de períodos anteriores, deve fazer o ajuste retroativo, nas primeiras demonstrações contábeis autorizadas para emissão após sua descoberta, como aconteceu no caso das Americanas, na operação de risco sacado, também conhecida como forfait ou financiamento a fornecedores. Os erros imateriais intencionais também devem ser corrigidos retroativamente, pois decorrem de fraude (CFC, 2016). Por exemplo, deixar de reconhecer uma despesa para aumentar o resultado líquido é um caso de erro imaterial intencional. Por outro lado, os erros imateriais involuntários, que não afetam significativamente a tomada de decisões do usuário da informação contábil, não precisam ser corrigidos retrospectivamente. Sendo assim, podemos resumir a aplicação das mudanças nas políticas e estimativas contábeis e a retificação de erros conforme demonstrado no Quadro 4. 10 Quadro 4 – Mudanças nas políticas e estimativas contábeis e a retificação de erros Operação Aplicação Mudança de política contábil Retrospectiva Mudança de estimativa contábil Prospectiva Retificação de erro Retrospectiva Fonte: Elaborado com base em CFC, 2016. 2.2 Instrumentos financeiros O instrumento financeiro corresponde a um contrato que resulta em um ativo financeiro para a entidade e um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade (CFC, 2016). Isso querdizer que um instrumento financeiro é um acordo que estabelece direitos e obrigações financeiras entre duas partes. Por exemplo, se uma empresa empresta dinheiro a outra empresa por meio de um contrato de empréstimo, esse contrato é considerado um instrumento financeiro. A empresa que empresta o dinheiro possui um ativo financeiro, pois tem o direito de receber o valor emprestado com juros, no futuro. Por outro lado, a empresa que recebe o empréstimo possui um passivo financeiro, pois está obrigada a devolver o valor emprestado dentro do prazo estabelecido. A norma classifica os instrumentos em dois grandes grupos: instrumentos financeiros básicos e instrumentos financeiros mais complexos. No Quadro 5, podemos verificar essa classificação. Quadro 5 – Instrumentos financeiros básicos e complexos Instrumentos financeiros básicos (aplicação da Seção 11 da NBC TG 1000 (R1)) Instrumentos financeiros complexos (aplicação da Seção 12 da NBC TG 1000 (R1)) Caixa (dinheiro físico) Títulos mobiliários lastreados em ativos, tais como hipotecas garantidas, contratos de recompra e pacotes de recebíveis garantidos 11 Depósitos à vista e a prazo fixo, quando a entidade é o depositante (por exemplo, contas bancárias) Opções, direitos, garantias, contratos a termo, contratos futuros e swaps de taxa de juros, que podem ser quitados em caixa ou pela troca com outro instrumento financeiro Títulos e letras negociáveis (ações, certificados de depósito bancário, entre outros) Instrumentos financeiros que se qualificam e são designados como instrumentos de hedge Contas, títulos e empréstimos a receber e a pagar Compromissos de conceder empréstimo para outra entidade Títulos de dívida e instrumentos semelhantes (debêntures, empréstimos, entre outros) Compromissos de receber empréstimo se houver possibilidade de quitação em caixa Investimentos em ações preferenciais não conversíveis e em ações ordinárias e ações preferenciais não resgatáveis Compromissos de receber empréstimo se o compromisso não puder ser quitado em caixa Fonte: Elaborado com base em CFC, 2016. Os instrumentos financeiros básicos são reconhecidos e mensurados inicialmente pelo custo da transação ou pelo valor presente dos futuros pagamentos de caixa descontados sob taxa de juros de mercado, se envolverem uma transação de financiamento. Após o reconhecimento inicial, os instrumentos financeiros básicos são avaliados pelo custo amortizado, pelo valor justo ou pelo custo menos redução ao valor recuperável, de acordo com as normas contábeis aplicáveis. Os ativos financeiros são baixados quando os direitos contratuais para os fluxos de caixa vencem ou são liquidados, e os passivos financeiros são baixados quando a obrigação é paga, cancelada ou vencida. Os ativos e passivos financeiros mais complexos são reconhecidos pelo valor justo e mensurados subsequentemente pelo valor justo, com as variações sendo reconhecidas no resultado. A contabilidade de hedge tem como objetivo proteger operações financeiras específicas, como variação na taxa de juros, na taxa de câmbio ou no preço de uma mercadoria, e é regulamentada pelas normas contábeis aplicáveis (CFC, 2016). 2.3 Estoques Segundo a NBC TG 1000 (R1), os estoques são ativos mantidos para venda no decorrer das operações comerciais normais, ativos em processo de 12 produção para venda ou ativos consolidados na forma de materiais ou suprimentos a serem consumidos no processo de produção ou prestação de serviços. A entidade deve avaliar seus estoques pelo menor valor entre o custo e o preço de venda estimado, deduzido dos custos para finalizar a produção e das despesas de pôr os produtos para venda. O custo do estoque envolve todos os custos de aquisição, custos de transformação e outros custos incorridos para colocar os estoques no seu local e nas condições atuais (CFC, 2016). Os custos de aquisição se referem aos gastos envolvidos na compra de um bem. Isso inclui o preço de compra, o recolhimento de impostos de importação e outros tributos (exceto aqueles que podem ser recuperados posteriormente pela empresa), os custos de transporte, manuseio e outros custos diretamente relacionados à aquisição. Para determinar o custo de aquisição, são deduzidos descontos comerciais, abatimentos e itens semelhantes. Já os custos de transformação englobam os gastos necessários para transformar matérias-primas em produtos acabados. Isso inclui tanto os custos diretos, como com a mão de obra, quanto a alocação sistemática dos custos indiretos de produção, sejam eles fixos, sejam variáveis. Os custos indiretos fixos de produção são aqueles que permanecem constantes, como a depreciação e a manutenção de instalações e equipamentos, além dos custos administrativos relacionados à gestão de uma fábrica. Os custos indiretos variáveis de produção variam de acordo com o volume de produção, como os materiais indiretos e o consumo de energia (CFC, 2016). De acordo com a NBC TG 1000 (R1), a entidade deve avaliar o custo de estoques utilizando o método do Peps ou o método do custo médio ponderado. Esse mesmo tratamento é dado pela NBC TG 1001 e pela NBC TG 1002. O método intitulado último a entrar, primeiro a sair (Ueps) não é permitido pela norma. Entretanto, essa restrição ao método Ueps não é imposto às grandes empresas ou empresas que adotam os pronunciamentos contábeis do CPC, de um modo geral (CFC, 2016, 2021a, 2021b). No final de cada exercício social, a empresa deve verificar se seus estoques precisam ser reduzidos ao seu valor recuperável. Isso ocorre quando o valor contábil dos estoques não pode ser completamente recuperado, tornando necessária a avaliação de possíveis perdas (CFC, 2016). 13 Vamos continuar tratando das regras contábeis para as médias empresas. Na sequência, vamos compreender o tratamento contábil dado aos investimentos, ao imobilizado e ao intangível. TEMA 3 – NBC TG 1000 (R1): INVESTIMENTOS, IMOBILIZADO E INTANGÍVEL Os investimentos, o imobilizado e o intangível se referem a um conjunto de ativos que são imprescindíveis para as empresas. Esses ativos podem incluir investimentos em outras empresas ou empreendimentos conjuntos, além de bens e equipamentos fixos utilizados para a produção de bens ou serviços. O ativo intangível pode ser representado por patentes, marcas, softwares e outros direitos de propriedade intelectual importantes para a criação e manutenção da vantagem competitiva de uma empresa. O gerenciamento desses ativos é fundamental para o sucesso da empresa, pois afeta a sua capacidade de inovação e crescimento no mercado. Sendo assim, é necessário compreender as regras contábeis desses ativos. Na sequência, vamos entender algumas de suas especificidades contábeis. 3.1 Investimentos As entidades que possuem investimentos em outras empresas devem atender a alguns critérios específicos na elaboração das suas demonstrações contábeis. O investimento da empresa pode ser realizado em outra que seja controlada ou coligada àquela. De acordo com a NBC TG 1000 (R1), coligada é uma entidade na qual o investidor possui influência significativa, mas que não é controlada pelo investidor e também não se configura como um investimento em empreendimento controlado em conjunto. A influência significativa se refere ao poder de participar das decisões relacionadas à política financeira e operacional da entidade coligada. Segundo a norma, se o investidor possuir 20% ou mais do poder de voto da entidade coligada, presume-se que ele tenha influência significativa, a menos que seja claramente comprovado o contrário. Se o investidor possuir menos de 20% do poder de voto, presume-se que não tenha influência significativa, a menos que seja claramente comprovado o contrário. A 14 propriedade de parte substancial ou majoritáriapor parte de outro investidor não impede que um investidor tenha influência significativa (CFC, 2016). Quando a legislação societária brasileira permitir outras opções além do método da equivalência patrimonial, o investidor deverá registrar todos os seus investimentos em entidades coligadas de acordo com uma das seguintes alternativas: método do custo, método da equivalência patrimonial e método do valor justo, conforme determina a NBC TG 1000 (R1). O método do custo consiste em registrar o investimento pelo valor pago na aquisição, com ajustes posteriores para recuperação ou reconhecimento de perdas de valor. O método da equivalência patrimonial é aplicado quando o investidor possui influência significativa sobre a coligada ou controlada, registrando-se o investimento pelo valor contábil da participação ajustado pelo resultado líquido da coligada ou controlada. O método do valor justo é utilizado quando há informações de mercado disponíveis para se precificar o investimento, registrando-o pelo valor justo de mercado na data do balanço, obtido por meio de cotações em bolsas de valores ou outras avaliações de mercado (CFC, 2016; Santos et al., 2022). Controladora é a entidade que detém o controle de uma ou mais empresas controladas. No balanço individual das controladas, deve-se aplicar tudo o que se refere a investimento em coligada, exceto quando houver disposição em contrário (CFC, 2016). O investimento em empreendimento controlado em conjunto (joint venture) tem se tornado uma nova tendência mundial. Trata-se de uma alternativa interessante para obter capital necessário para se expandir e manter as atividades econômicas, assim como para agregar atributos importantes ao negócio, como tecnologia, capacidade gerencial ou mercadológica, rede de distribuição, entre outros, detidos por acionistas distintos. Além disso, o compartilhamento do controle é uma maneira de distribuir os possíveis riscos de um negócio entre os acionistas envolvidos. Essa divisão de controle é normalmente definida no estatuto ou contrato social da empresa ou por meio de documentos complementares, como um acordo de acionistas (Santos et al., 2022). Assim como ocorre nos investimentos em empresa controlada e coligada, nos investimentos em empreendimento controlado em conjunto as participações devem ser mensuradas pelo método do custo, pelo método de equivalência patrimonial ou pelo método do valor justo (CFC, 2016). 15 3.2 Propriedade para investimento Propriedade para investimento é um tipo de investimento imobiliário em que um investidor adquire um imóvel com o objetivo de obter retorno financeiro a longo prazo. Essa propriedade pode ser alugada ou vendida, com o objetivo de se gerar renda ou se obter lucro com a valorização do imóvel (Santos et al., 2022). A propriedade para investimento mantida por um arrendatário por meio de arrendamento operacional pode ser classificada e contabilizada como propriedade para investimento, desde que atenda à definição de propriedade para investimento e o arrendatário possa avaliar seu valor justo de forma contínua, sem custos ou esforços excessivos. Essa classificação alternativa deve ser analisada individualmente para cada propriedade (CFC, 2016). Propriedades de uso misto devem ser separadas entre propriedade para investimento e ativo imobilizado. No entanto, se o valor justo do componente de propriedade para investimento não puder ser avaliado de forma confiável, sem custos ou esforços excessivos, toda a propriedade deve ser contabilizada como ativo imobilizado (CFC, 2016). 3.3 Imobilizado De acordo com a NBC TG 1000 (R1), os ativos imobilizados são ativos tangíveis (materiais) mantidos para uso na produção ou fornecimento de bens ou serviços, para locação a terceiros ou para fins administrativos, e que se espera que sejam utilizados por um período superior a um ano. Por exemplo, um prédio usado para fins comerciais, o maquinário de uma fábrica ou equipamentos de informática que servem a fins administrativos podem ser considerados ativos imobilizados (CFC, 2016). O reconhecimento inicial dos bens do ativo imobilizado ocorre pelo custo de aquisição, o qual inclui todos os gastos necessários para colocar o bem em condições de uso. Após esse reconhecimento inicial, o ativo imobilizado pode ser mensurado pela entidade por meio do método do custo ou método da reavaliação, caso isso seja permitido por lei. No método do custo, o item deve ser apresentado no balanço pelo seu custo original, subtraído da depreciação acumulada e das perdas estimadas por redução ao valor recuperável (impairment). No método da reavaliação, quando permitido por lei (o que não é 16 o caso no Brasil), um item do imobilizado pode ser apresentado pelo seu valor reavaliado, que representa seu valor justo no momento da reavaliação, deduzido da depreciação acumulada e das perdas estimadas por redução ao valor recuperável (CFC, 2016; Santos et al., 2022). De acordo com a Lei das Sociedades por Ações, a depreciação é uma forma de contabilizar os desgastes ou perdas de utilidade por uso, ação da natureza ou obsolescência dos ativos imobilizados (Brasil, 1976). Vamos supor que uma empresa tenha adquirido um veículo por R$ 60 mil para realizar a entrega de suas mercadorias. Conforme o veículo é utilizado, ele sofre depreciação, ou seja, ocorre uma redução do seu valor contábil, ao longo do tempo. Se a vida útil estimada do veículo é de 4 anos e a empresa decide adotar o método linear de depreciação, a cada ano, o veículo será depreciado em R$ 15 mil (R$ 60 mil / 4 anos). A empresa também pode fazer uso de outros métodos de depreciação, como descrito na sequência. A NBC TG 1000 (R1) estabelece que, caso as partes principais de um item do Ativo Imobilizado apresentem padrões de consumo de benefícios econômicos significativamente diferentes, o custo inicial do ativo deve ser alocado para suas partes principais e depreciado separadamente, ao longo das vidas úteis dessas partes. Os outros ativos devem ser depreciados como um único item, ao longo de toda a sua vida útil. Os métodos de depreciação que as entidades de médio e grande porte podem optar compreendem o método da linha reta ou linear, o método dos saldos decrescentes e o método das unidades produzidas (CFC, 2016). A NBC TG 1001 e a NBC TG 1002 restringem a apuração da depreciação pelo método de linha reta (CFC, 2021a, 2021b). A baixa do ativo imobilizado pode ser realizada em razão da venda ou quando não existir expectativa de benefícios econômicos futuros pelo seu uso ou venda (alienação). A entidade deve registrar ganho ou perda na baixa do ativo imobilizado e não classificar esse ganho como receita ou essa perda como despesa. O ganho é reconhecido como outras receitas na DRE e a perda, como outras despesas. Enquanto as receitas e despesas decorrem da atividade principal da empresa, os ganhos e perdas são oriundos de atividades não operacionais. Vamos imaginar que uma empresa possua um veículo registrado no ativo imobilizado no valor de R$ 50 mil e que já tenha sido depreciado em R$ 25 mil. Então, a empresa decide vender o veículo por R$ 40 mil. Nesse caso, a empresa deve reconhecer um ganho na DRE no valor de R$ 15 mil (R$ 40 mil – 17 R$ 25 mil). Os valores registrados no BP devem ser baixados, em virtude da venda. 3.4 Intangível De acordo com a NBC TG 1000 (R1), o ativo intangível é um ativo não monetário (que não pode ser diretamente convertido em dinheiro, nem representa um direito a receber dinheiro), identificável, que não tem substância física, como uma marca registrada, uma patente ou um software (CFC, 2016). Esse tipo de ativo intangível pode ser identificado de duas maneiras. Primeiramente, quando pode ser separado da empresa e negociado, transferido, licenciado, alugado ou trocado. Um exemplo disso é quando umaempresa desenvolve e registra legalmente uma marca, adquirindo direitos exclusivos de uso. Essa marca pode ser vendida, licenciada ou transferida para terceiros, representando um ativo intangível separável. Em segundo lugar, um ativo intangível pode ser proveniente de direitos contratuais ou outros direitos legais, independentemente de sua possibilidade de separação ou transferência da empresa. Por exemplo, uma empresa pode obter uma patente para proteger uma invenção ou processo exclusivo. Essa patente confere à empresa o direito legal de explorar e comercializar a invenção, mesmo que essa não possa ser separada da empresa. A entidade deve avaliar o valor inicial de um ativo intangível pelo seu custo. O custo de um ativo intangível adquirido separadamente envolve o preço de compra acrescido de tributos de importação e tributos de compra não recuperáveis, com dedução de descontos comerciais e abatimentos. A mensuração do valor de um ativo intangível adquirido em uma combinação de negócios deve ser realizada com base no valor justo na data da sua aquisição. Após o seu reconhecimento de valor inicial, o ativo intangível deve ser mensurado pelo custo menos qualquer amortização acumulada e qualquer perda acumulada por redução ao valor recuperável (impairment). A vida útil do ativo intangível é finita; logo, a amortização vai compreender o período de vigência dos direitos contratuais ou outros direitos legais (CFC, 2016). O valor da amortização de um ativo intangível deve ser distribuído de forma sistemática, ao longo de sua vida útil. A despesa referente à amortização deve ser reconhecida em cada período contábil, salvo se o custo do ativo intangível for reconhecido como parte do custo de um ativo, como estoques ou 18 ativo imobilizado. O início da amortização do ativo intangível ocorre quando este está disponível para uso, ou seja, quando se encontra no local e em condições necessárias para ser utilizado conforme planejado pela administração. A amortização cessa quando o ativo passa a não ser mais reconhecido como tal. É responsabilidade da entidade escolher o método de amortização que melhor reflita o consumo esperado dos benefícios econômicos futuros do ativo. Caso a entidade não consiga determinar esse padrão de maneira confiável, o método de linha reta deve ser utilizado (CFC, 2016). A entidade deve assumir que o valor residual de um ativo intangível é zero, exceto se houver um compromisso de terceiro independente para comprar o ativo ao final da sua vida útil ou se houver um mercado para o ativo (CFC, 2016). O valor residual de um ativo intangível é o valor estimado que o ativo terá no final de sua vida útil ou período de uso. A baixa do ativo intangível é realizada da mesma forma que o ativo imobilizado: pode ser realizada em razão da venda ou quando não existir expectativa de benefícios econômicos futuros pelo seu uso ou venda (alienação). Na sequência, vamos continuar tratando de algumas particularidades da contabilidade das médias empresas. Esta abordagem não esgota o assunto, apenas destaca os principais critérios de reconhecimento contábil. TEMA 4 – NBC TG 1000 (R1): PROVISÃO, SUBVENÇÕES, IMPAIRMENT As empresas enfrentam, diariamente, diversas incertezas em relação às suas operações e finanças, o que pode lhes gerar riscos financeiros significativos. Para lidarem com esses riscos, as empresas precisam contar com elementos que lhes permitam reconhecer e gerenciar essas incertezas. Nesse sentido, a provisão, as subvenções e o impairment são elementos contábeis que auxiliam as empresas na gestão de seus riscos financeiros. A provisão é uma forma de reconhecimento contábil de operações que ainda não se concretizaram, mas que são consideradas prováveis. As subvenções correspondem a pagamentos ou benefícios concedidos por entidades públicas ou privadas para apoiar atividades específicas, como pesquisa e desenvolvimento ou expansão de negócios. Por fim, o impairment é um ajuste contábil que deve ser feito quando o valor contábil de um ativo é superior ao seu valor recuperável, a fim de se refletir a nova realidade do ativo. 19 Essas ferramentas são essenciais para as empresas, especialmente para as médias empresas, que precisam gerenciar seus riscos financeiros e garantir sua sustentabilidade a longo prazo. Sendo assim, vamos estudar um pouco mais o registro dessas operações. 4.1 Provisões, passivos contingentes e ativos contingentes As provisões são uma forma de passivo que envolve prazo ou valor incerto. Elas devem ser reconhecidas quando a entidade tem uma obrigação, na data das demonstrações contábeis, decorrente de um evento passado, sendo provável que, por isso, a entidade tenha que transferir benefícios econômicos para a liquidação dessa obrigação e o valor da obrigação possa ser estimado com confiabilidade (CFC, 2016). As provisões mais comuns para as médias empresas compreendem provisão para contingências trabalhistas e provisão para garantias. Vamos supor que um fabricante venda seus produtos com garantia e se comprometa, de acordo com os termos do contrato de venda, a reparar ou substituir os produtos com defeitos que surgirem dentro de três anos a partir da data da venda. Com base em experiências anteriores, é provável que ocorram algumas reclamações durante o período de garantia. Isso cria uma obrigação presente devido a um evento passado, em que é provável que haja uma saída de recursos, e o valor dessa obrigação pode ser estimado com base em experiências anteriores. Portanto, a entidade reconhece uma provisão com a melhor estimativa dos custos necessários para reparar os produtos com defeitos vendidos antes da data das demonstrações contábeis (CFC, 2016). De acordo com a NBC TG 1000 (R1), a entidade tem a responsabilidade de revisar suas provisões em cada data das demonstrações contábeis e ajustar os valores devidos com base na estimativa mais precisa para liquidá-las naquela data. Esses ajustes devem ser registrados como despesas no resultado, a menos que a provisão tenha sido registrada como parte do custo de algum ativo (CFC, 2016). O passivo contingente compreende uma obrigação possível, mas incerta, ou uma obrigação presente que não pode ser reconhecida por não ser provável uma saída de recursos e/ou o valor da obrigação não puder ser mensurado com confiabilidade (CFC, 2016). Um exemplo de passivo contingente ocorre quando uma empresa enfrenta um processo judicial movido por terceiros. Nessa 20 situação, a empresa pode ser considerada responsável e ter a obrigação de pagar uma indenização, mas o resultado final do processo ainda é incerto e o valor exato do passivo não pode ser determinado no momento. A entidade deve divulgar, na data das demonstrações contábeis, breve descrição da natureza do seu passivo contingente e, quando praticável, a estimativa do seu efeito financeiro, a indicação das incertezas referentes ao valor ou o prazo da saída de recursos e a possibilidade de qualquer reembolso. Essa divulgação é dispensada apenas se a saída de recursos for de possibilidade remota (CFC, 2016). Nesse sentido, podemos classificar as obrigações em três níveis de possibilidade: provável, possível e remota. No Quadro 6, temos um resumo do tratamento contábil relacionado à probabilidade de ocorrência de desembolso futuro da entidade. Quadro 6 – Tratamento contábil das provisões e do passivo contingente Probabilidade de ocorrência do desembolso Tratamento contábil Provável Mensurável mediante estimativa confiável Uma provisão é reconhecida e é divulgada em notas explicativas Não mensurável por inexistência de estimativa confiável Divulgação em notas explicativas Possível Divulgação em notas explicativas Remota Não divulgação em notas explicativas Fonte: Elaborado com base em CFC, 2016. O ativo contingente, por sua vez, correspondea um ativo possível, que decorre de eventos passados e cuja realização será confirmada somente pela ocorrência ou não de um ou mais eventos futuros incertos, que não estão completamente sob o controle da entidade (CFC, 2016). Um exemplo de ativo contingente seria quando uma empresa possui uma reclamação de seguro em andamento. Nessa situação, a empresa tem a esperança de receber uma indenização, porém a concretização desse ativo está sujeita à aprovação da seguradora. 4.2 Subvenção governamental Subvenção governamental é uma ajuda fornecida pelo governo na forma de transferência de recursos para uma entidade, em troca do cumprimento de 21 condições relacionadas às suas atividades operacionais, tanto no passado quanto no futuro (CFC, 2016). Alguns exemplos de subvenção governamental são: subvenção para aquisição de equipamentos ou maquinários para produção; subvenção para pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias; subvenção para construção ou reforma de instalações; subvenção para incentivo à adoção de práticas ambientalmente sustentáveis; e subvenção para apoio ao setor agrícola. O reconhecimento das subvenções governamentais depende da forma em que elas são concedidas. A subvenção que não impõe condições de desempenho futuro à entidade beneficiária é reconhecida como receita quando os valores da subvenção forem líquidos e certos. Vamos supor que uma empresa de médio porte que receba uma subvenção governamental para aquisição de equipamentos. Nesse caso, a subvenção não exige que a empresa atenda a metas ou requisitos adicionais para receber o valor. Após a aprovação da subvenção, a empresa recebe os recursos financeiros diretamente em sua conta bancária. Nesse momento do recebimento do recurso, a subvenção é reconhecida como receita. A subvenção que impõe condições específicas de desempenho futuro à entidade beneficiária é reconhecida como receita somente quando as condições de desempenho são cumpridas. As subvenções recebidas antes do cumprimento dos critérios de reconhecimento de receita são reconhecidas como um passivo (CFC, 2016). Vamos considerar o caso de uma empresa que recebe uma subvenção governamental para desenvolver um projeto de pesquisa e desenvolvimento. A subvenção é concedida com a condição de que a empresa atinja certos marcos e entregue resultados específicos ao longo do tempo. Assim, a empresa reconhece a subvenção como passivo e, conforme cada etapa do projeto é concluída e as metas são alcançadas, a parte correspondente da subvenção é reconhecida como receita em suas demonstrações contábeis. 4.3 Impairment A mensuração dos ativos nem sempre está em consonância com seu real valor. Por esse motivo é que surge o teste de impairment. Impairment é uma redução no valor contábil de um ativo, em que o valor contábil do ativo excede seu valor recuperável. A redução ao valor recuperável de ativos é aplicável a todos os itens registrados no Ativo, exceto sobre tributos diferidos ativos, ativos 22 provenientes de benefícios a empregados, instrumentos financeiros básicos e complexos, propriedade para investimento mensurada pelo valor justo, ativos biológicos e produtos agrícolas e ativos provenientes de contratos de construção (CFC, 2016). No caso dos estoques, as empresas devem avaliar, na data de divulgação das demonstrações contábeis, se seus estoques estão desvalorizados. Para tanto, é necessário comparar o valor contábil de cada item de estoque (ou grupo de itens similares) com o preço de venda líquido menos os custos para completar e vender. Caso seja constatado que algum item de estoque (ou grupo de itens similares) está desvalorizado, a empresa deve ajustar o valor contábil do estoque (ou do grupo) ao preço de venda líquido menos os custos para completar e vender. Esse ajuste é conhecido como perda por desvalorização e deve ser registrado imediatamente no resultado (CFC, 2016). Quando o valor recuperável dos demais ativos (exceto estoques) for menor que seu valor contábil, a entidade deve reduzir o valor contábil do ativo para seu valor recuperável. Nesse caso, o valor recuperável é o maior valor entre o valor justo menos a despesa para vender (valor líquido de venda) e o seu valor em uso. A NBC TG 1000 (R1) especifica como ativos que devem ser reduzidos ao valor recuperável os estoques, o ativo imobilizado (incluindo propriedade para investimento contabilizada pelo método do custo), os ágios, os ativos intangíveis (exceto o ágio por expectativa de rentabilidade futura), os investimentos em coligadas e os investimentos em empreendimentos controlados em conjunto (CFC, 2016). Após compreendermos diversas regras contábeis específicas direcionadas às médias empresas, vamos analisar por que essas empresas devem seguir a NBC TG 1000 (R1) (CFC, 2016). TEMA 5 – POR QUE ADOTAR A NBC TG 1000 (R1) A primeira revisão da NBC TG 1000 foi publicada pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) em dezembro de 2016 e entrou em vigor a partir do primeiro dia de 2017. Essa norma é aplicável a todas as empresas cuja receita bruta seja inferior a R$ 300 mil e cujos ativos sejam inferiores a R$ 240 mil. Embora existam normas contábeis específicas às microentidades (NBC TG 1002) e pequenas empresas (NBC TG 1001), essas empresas também têm a opção de aderirem à NBC TG 1000 (R1). Essa possibilidade permite que elas 23 adotem uma estrutura contábil mais abrangente, alinhada às melhores práticas internacionais, caso desejem. Dessa forma, ao optarem por seguirem a NBC TG 1000 (R1), as empresas podem elevar o nível de suas práticas contábeis, o que pode resultar em uma gestão mais eficiente, melhor governança corporativa e uma imagem mais sólida perante o mercado. Esses aspectos positivos podem contribuir para o crescimento sustentável e o sucesso a longo prazo das empresas (CFC, 2016, 2021a, 2021b). Diante disso, podemos concluir que o objetivo principal das normas é padronizar e regularizar as práticas contábeis das empresas, garantindo maior transparência e confiabilidade nas informações financeiras por elas apresentadas. Contudo, é importante destacar que a implementação das normas contábeis pode representar um desafio para as médias empresas, especialmente para aquelas que não possuem uma equipe de contadores qualificados. Por isso, é fundamental que essas empresas busquem se capacitar e buscar a ajuda de profissionais especializados a fim de procederem a uma adequada aplicação das normas contábeis. TROCANDO IDEIAS As mudanças nas políticas contábeis podem ter um impacto significativo nas demonstrações financeiras de uma empresa, especialmente em termos de sua relevância, confiabilidade e comparabilidade. Nesse contexto, como as mudanças nas políticas contábeis podem afetar as demonstrações financeiras de uma empresa e quais são as implicações dessas mudanças para a sua análise e interpretação? As mudanças nas políticas contábeis podem ter efeitos significativos nas informações financeiras apresentadas pela empresa, por exemplo: uma mudança na política de depreciação pode afetar diretamente o valor líquido contábil de um ativo e, consequentemente, o lucro líquido e o fluxo de caixa da empresa. Além disso, essas mudanças podem tornar as demonstrações financeiras menos comparáveis ao longo do tempo e com outras empresas do mesmo setor. Por outro lado, é importante considerar que as mudanças nas políticas contábeis muitas vezes são necessárias para refletir melhor a realidade da empresa e/ou a mudança nas condições de mercado. Por exemplo, uma empresa pode optar por mudar sua política contábil de reconhecimento de 24 receita para se adequar às novas normas regulatórias ou para refletir melhor a natureza do seu negócio. Diante desse cenário, é fundamental que as empresas comuniquem claramente as mudanças havidas nas políticas contábeisnas suas demonstrações financeiras, explicando as razões para elas e seus efeitos nas informações apresentadas. Além disso, os analistas financeiros devem estar atentos a essas mudanças e avaliar seus impactos para uma análise mais precisa e confiável das demonstrações financeiras das empresas. NA PRÁTICA Agora que conhecemos um pouco sobre as regras contábeis das médias empresas, que tal exercitarmos os conhecimentos adquiridos respondendo às seguintes quatro questões? 1. Sobre a depreciação pelo método das unidades produzidas, o método de depreciação conhecido como unidades produzidas considera o número de unidades que o ativo produzirá durante toda a sua vida útil. Esse método de depreciação assume que o desgaste do ativo está diretamente relacionado ao número de unidades que ele produz. Sendo assim, considere que uma empresa adquiriu uma máquina por R$ 120 mil, com uma vida útil estimada de 50 mil unidades produzidas. No final do ano, a empresa produziu 10 mil unidades. Qual é o valor da depreciação anual utilizando-se o método das unidades produzidas? a. R$ 24 mil. b. R$ 30 mil. c. R$ 36 mil. d. R$ 42 mil. e. R$ 48 mil. 2. Sobre o reconhecimento do ativo intangível, conforme definido pela NBC TG 1000 (R1), o intangível compreende um ativo que não possui substância física e que pode ser identificado de duas maneiras. Primeiro, se puder ser separado da entidade e vendido, transferido, licenciado, alugado ou trocado; segundo, se for proveniente de direitos contratuais ou outros direitos legais, independentemente de esses direitos poderem 25 ser transferidos ou separados da entidade. Diante disso, assinale a alternativa que contemple um ativo intangível: a. Maquinário para produção. b. Equipamentos de uso administrativo. c. Software desenvolvido para comercialização. d. Software para operação de uma máquina específica. e. Aquisição de uma licença de software para uso da empresa. 3. Sobre o reconhecimento das provisões, as empresas se deparam constantemente com diversas incertezas relacionadas às suas operações, o que pode lhes gerar riscos financeiros consideráveis. Para lidar com esses riscos, é necessário que as empresas possuam mecanismos capazes de identificar e gerenciar tais incertezas, como as provisões. Nesse sentido, qual é a definição de provisão, segundo a NBC TG 1000 (R1) (CFC, 2016)? a. Uma obrigação presente que surge de eventos passados, cuja liquidação é incerta e cujo valor pode ser mensurado de forma confiável. b. Uma obrigação presente que surge de eventos futuros, cuja liquidação é certa e cujo valor pode ser mensurado de forma confiável. c. Uma obrigação presente que surge de eventos passados, cuja liquidação é certa e cujo valor não pode ser mensurado de forma confiável. d. Uma obrigação presente que surge de eventos futuros, cuja liquidação é incerta e cujo valor pode ser mensurado de forma confiável. e. Uma obrigação presente que surge de eventos futuros, cuja liquidação é incerta e cujo valor não pode ser mensurado de forma confiável. 4. Sobre o impairment, a mensuração dos ativos nem sempre está de acordo com seu real valor. Por essa razão é que surge o teste de impairment. Impairment é uma redução no valor contábil de um ativo, em que o valor contábil do ativo supera seu valor recuperável. Sendo assim, qual é a perda por impairment que uma empresa deve reconhecer em um imóvel que possui valor contábil de R$ 500 mil, valor em uso de R$ 250 mil e valor justo de venda de R$ 400 mil, com custo de desmontagem e venda de R$ 50 mil? a. R$ 50 mil. b. R$ 100 mil. c. R$ 150 mil. 26 d. R$ 250 mil. e. R$ 300 mil. FINALIZANDO Neste conteúdo, estudamos a NBC TG 1000 (R1) e conhecemos as diretrizes para a elaboração e apresentação das demonstrações contábeis. Estes são os tópicos tratados nesta abordagem: • NBC TG 1000 (R1): contabilidade para médias empresas • NBC TG 1000 (R1): políticas contábeis, instrumentos financeiros e estoques • NBC TG 1000 (R1): investimentos, imobilizado e intangível • NBC TG 1000 (R1): provisão, subvenções, impairment • Por que adotar a NBC TG 1000 (R1) Na próxima abordagem, estudaremos a contabilidade como uma ferramenta de controle da gestão das micro e pequenas empresas. 27 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Brasília, 17 dez. 1976. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404compilada.htm>. Acesso em: 4 jul. 2023. _____. Lei n. 11.638, de 27 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, Brasília, 28 dez. 2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm>. Acesso em: 4 jul. 2023. CFC – Conselho Federal de Contabilidade. NBC TG 1000 (R1): contabilidade para pequenas e médias empresas. Diário Oficial da União, Brasília, 1 nov. 2016. Disponível em: <https://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/NBCTG1000(R1).pdf>. Acesso em: 4 jul. 2023. _____. NBC TG 1001 (R1): contabilidade para pequenas empresas. Diário Oficial da União, Brasília, 9 dez. 2021a. Disponível em: <https://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/NBCTG1001.pdf>. Acesso em: 4 jul. 2023. _____. NBC TG 1002 (R1): contabilidade para microentidades. Diário Oficial da União, Brasília, 9 dez. 2021b. Disponível em: <https://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/NBCTG1002.pdf>. Acesso em: 4 jul. 2023. PADOVEZE, C. L.; BENEDICTO, G. C. de; LEITE, J. da S. J. Manual de contabilidade internacional: IFRS – US Gaap – BR Gaap – teoria e prática. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2014. SANTOS, A. dos et al. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2022. 28 RESPOSTAS 1. a. R$ 24.000,00. O método das unidades produzidas é utilizado quando a vida útil do ativo está relacionada ao seu uso produtivo e não ao tempo. Para se calcular a depreciação anual, é necessário primeiro calcular o custo de depreciação por unidade produzida. Isso é feito subtraindo-se o valor residual do custo original do ativo e dividindo esse resultado pelo número de unidades produzidas estimadas. No caso da questão, o custo de depreciação por unidade produzida é de R$ 2,40 (R$ 120.000,00 - R$ 0,00 ÷ 50.000 unidades). Como a empresa produziu 10.000 unidades no ano, o valor da depreciação anual será de R$ 24.000,00 (R$ 2,40 x 10.000 unidades produzidas). 2. e. Aquisição de uma licença de software para uso da empresa. O ativo intangível compreende um bem que não possui matéria, é separável, mensurável e que vai gerar benefício econômico futuro para a empresa, como a aquisição de uma licença de software. Maquinários para produção, equipamentos de uso administrativo e software para operação de uma máquina específica se referem a imobilizados. O software desenvolvido para comercialização deve ser reconhecido no estoque, pois permanece na empresa por um período curto de tempo. 3. a. Uma obrigação presente que surge de eventos passados, cuja liquidação é incerta e cujo valor pode ser mensurado de forma confiável. 4. c. R$ 150.000,00. A perda por impairment que a empresa deve reconhecer em um imóvel é de R$ 150.000,00 (valor contábil/valor recuperável). Nesse caso, o valor recuperável é o maior entre o valor em uso (R$ 250.000,00) e o valor justo de venda descontado dos custos de desmontagem e venda (R$ 350.000,00 = R$ 400.000,00 – R$ 50.000,00). Portanto, a perda por impairment é de R$ 150.000,00 (R$ 500.000,00 – R$ 350.000,00). CONTABILIDADE E GESTÃO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS AULA 4 Prof.ª Daiane Lolatto Conversa inicial Nesta aula, vamos tratar da contabilidade como ferramenta de controle da gestão em micro e pequenas empresas, e, para tanto, estudaremos os seguintes temas: • Contabilidade como ferramenta decontrole da gestão de micro e pequenas empresas – MPEs; • Planejamento e controle orçamentário para micro e pequenas empresas; • Lucro (resultado econômico) × fluxo de caixa (resultado financeiro); • Ciclo operacional x ciclo econômico x ciclo financeiro; • Liquidez e risco. Vamos, então, aproveitar a leitura e exercitar os conhecimentos adquiridos resolvendo as atividades. Contextualizando Segundo Lemes Júnior e Pisa (2019), “administração financeira é a arte e ciência de cuidar do dinheiro, mitigar os riscos e agregar valor para a empresa.”. No Brasil, os recursos financeiros são escassos, caros e os prazos nem sempre são adequados, o que torna ainda mais difícil a vida dos empreendedores, principalmente os das pequenas e médias empresas. Assim, a administração financeira assume um papel fundamental para garantir a sustentabilidade financeira das empresas. O objetivo principal da administração financeira é criar valor para a empresa e maximizar a riqueza de seus proprietários, sejam eles empreendedores individuais, sócios ou acionistas. Diante disso, nesta aula, vamos conhecer a importância da contabilidade como ferramenta de controle da gestão em micro e pequenas empresas. Esta aula é fundamental para nossos estudos futuros, por isso é imprescindível se atentar a todos os temas e detalhes descritos. Iniciaremos falando sobre a contabilidade para pequenas e médias empresas. TEMA 1 – CONTABILIDADE COMO FERRAMENTA DE CONTROLE DA GESTÃO EM MPES A contabilidade desempenha um papel fundamental na gestão de micro e pequenas empresas (MPEs), fornecendo informações úteis para a tomada de decisões. Embora a contabilidade tenha evoluído ao longo dos anos, é importante destacar que a publicação da obra de Luca Pacioli, em 1494, foi um 3 marco no meio empresarial e acadêmico, em decorrência da introdução do registro pelo método das partidas dobradas (Silva; Marion, 2013). Atualmente, há uma discussão sobre o papel da contabilidade na gestão de negócios e na solução de problemas das empresas. Para se manter relevante, a contabilidade deve abandonar a visão tradicional de simples registros contábeis e adotar uma abordagem gerencial das informações, fazendo uso dos avanços tecnológicos disponíveis (Silva; Marion, 2013). A contabilidade pode ser dividida em duas grandes áreas, contabilidade financeira e contabilidade gerencial. Conforme Atkinson et al. (2015), a contabilidade financeira tem um caráter retrospectivo; uma vez que resume em termos financeiros os resultados de decisões e transações passadas, é voltada principalmente para os stakeholders externos, como investidores, financiadores, reguladores e autoridades fiscais, e deve seguir as normas estabelecidas por órgãos emissores de padrões. Em contrapartida, a contabilidade gerencial é retrospectiva, ao fornecer feedback sobre operações passadas, e prospectiva, ao incorporar previsões e estimativas sobre eventos futuros. Ela está direcionada para atender às necessidades de tomada de decisão dos funcionários e gerentes das organizações e não tem formas ou normas prescritivas sobre seu conteúdo, como o conteúdo deve ser desenvolvido e como deve ser apresentado (Atkinson et al., 2015). Essa flexibilidade possibilita que a contabilidade gerencial se adapte às necessidades de cada empresa e setor, fornecendo informações personalizadas que ajudam a identificar problemas, oportunidades e tendências no desempenho financeiro e operacional. A contabilidade gerencial pode ser usada para monitorar indicadores de desempenho, avaliar a rentabilidade de produtos ou serviços, identificar custos desnecessários e melhorar a eficiência operacional (Iudícibus, 2020). Iudícibus (2020) associa a avaliação de desempenho à análise de balanços. Ao analisar os balanços, é possível identificar indicadores financeiros relevantes, como a liquidez, a rentabilidade, a solvência, entre outros. Esses indicadores podem ajudar na avaliação do desempenho da empresa em relação a metas e objetivos estabelecidos, assim como na identificação de possíveis oportunidades de melhoria ou ajustes necessários para garantir a saúde financeira da organização. 4 Vamos considerar uma empresa que apresenta um ativo circulante de R$ 580.000,00 em 20X1 e de R$ 650.000,00 em 20X2. Durante esse período, o passivo circulante foi de R$ 340.000,00 e R$ 280.000,00, respectivamente. Com essas informações, é possível calcular a liquidez corrente da empresa, que é obtida pela divisão do ativo circulante pelo passivo circulante. Em 20X1, a liquidez da empresa foi de 1,70 e, em 20X2, foi de 2,32. Isso significa que, para cada R$ 1,00 de dívida no curto prazo, a empresa tinha R$ 1,70 em 20X1 e R$ 2,32 em 20X2. No entanto, essa análise pode ser insuficiente. Embora o índice de liquidez seja favorável para a empresa, ele pode ser composto principalmente por estoques, o que indica que a empresa tem dinheiro parado no estoque e pode não estar gerenciando seu capital de forma eficiente. Por isso, é importante analisar vários outros indicadores financeiros para uma avaliação mais precisa da saúde financeira da empresa. As empresas devem buscar o maior número possível de informações gerenciais para tomar decisões assertivas. A análise dos índices financeiros deve ser considerada em conjunto com outras informações relevantes, como o desempenho operacional e as estratégias de negócios da empresa. Somente assim será possível obter uma visão completa de sua situação financeira e tomar decisões mais precisas e embasadas. Além disso, as informações de custos têm um papel fundamental no processo de tomada de decisão. As informações de custos podem ser utilizadas na fixação de preços, análise de rentabilidade, tomada de decisões de investimentos, controle de custos e planejamento orçamentário (Atkinson et al., 2015). De acordo com Silva e Marion (2013), as empresas de pequeno e médio porte têm utilizado pouco as informações contábeis presentes nos relatórios contábeis devido à linguagem técnica empregada, que muitas vezes dificulta o entendimento dos usuários. É necessário rever essa questão para garantir que as informações sejam eficientes, eficazes e úteis aos usuários. A contabilidade é uma ferramenta crucial para a gestão de MPEs, pois fornece informações importantes para a tomada de decisões financeiras e gerenciais. A adoção de uma perspectiva gerencial das informações e o uso de tecnologia são fundamentais para aprimorar a eficácia da contabilidade e garantir a continuidade dos negócios. 5 TEMA 2 – PLANEJAMENTO E CONTROLE ORÇAMENTÁRIO PARA MICRO E PEQUENAS EMPRESAS A utilização mais frequente das informações de custos é provavelmente na elaboração do orçamento, que é uma ferramenta da contabilidade gerencial que visa projetar ou antecipar os custos em diferentes níveis de produção e atividade de vendas. Os orçamentos são essenciais para o planejamento, pois estabelecem a direção da organização durante um período orçamentário específico. Eles servem como base para previsões de lucros que os executivos sêniores compartilham com o mercado acionário (Atkinson et al., 2015). Para Frezatti (2023), o orçamento é o plano financeiro que visa colocar em prática a estratégia da empresa para um determinado período. Ele não se trata apenas de uma estimativa, mas sim de um compromisso dos gestores em relação às metas a serem alcançadas. O orçamento reflete as prioridades e a direção da organização, fornecendo condições para avaliar o desempenho da empresa, suas áreas internas e seus gestores. De acordo com Sardinha (2008), o orçamento é uma ferramenta que transmite a estratégia para todos os níveis gerenciais, detalhando os planos de cada centro de responsabilidade. Ainda, coordena as diversas atividades da organização, evitando a duplicação de esforços, bem como estabelece responsabilidades,autoriza limites de gastos e informa o desempenho esperado. É um instrumento de avaliação, ou seja, um contrato ou acordo com os gestores com o objetivo de utilizar os planos como base para avaliar o desempenho tanto deles quanto da empresa como um todo. A análise do orçamento não ocorre apenas em um momento específico, mas durante todo o processo de desenvolvimento do orçamento. Quando o cronograma é definido, ao se estabelecer datas para a elaboração do orçamento, o departamento de orçamento analisa se é viável e exequível. Depois que as datas são estabelecidas, esse mesmo departamento orçamento verifica se as áreas estão cumprindo os prazos limite e toma as medidas necessárias quando isso não ocorre (Crepaldi; Crepaldi, 2019). Após a elaboração do orçamento, é importante realizar uma análise dos valores apresentados na demonstração de resultados e no balanço projetado, visando otimizar os resultados e identificar possíveis distorções causadas pelas premissas e objetivos considerados na elaboração do orçamento (Crepaldi; Crepaldi, 2019). 6 Nessa análise crítica, são utilizadas técnicas de análise econômico- financeira como ponto de equilíbrio ou da relação custo-volume-resultado e a análise da taxa de retorno sobre o investimento. Essas técnicas são fundamentais para avaliar a situação econômico-financeira da empresa, sua filosofia operacional, decisões de investimentos em ativos permanentes e a estrutura de capitais (Crepaldi; Crepaldi, 2019). O orçamento de financiamento identifica as necessidades de recursos de terceiros para financiar novos investimentos ou a reestruturação da estrutura de capital. Por fim, o orçamento geral é um resumo dos planos da empresa, no qual são definidas metas específicas para atividades de vendas, produção, distribuição e financiamento, que geralmente resulta na elaboração do orçamento do resultado e do fluxo de caixa projetado (Crepaldi; Crepaldi, 2019). Segundo Crepaldi e Crepaldi (2019), ainda não existe uma metodologia formal para análise de orçamentos. Em empresas que têm um sistema de orçamentos bem desenvolvido, são utilizados métodos próprios e específicos, de acordo com o estilo e a habilidade conceitual de sua administração. Quando a área de orçamentos recebe as premissas, elas são analisadas e confrontadas com os objetivos da direção e comparadas com as do ano anterior. Essas premissas são utilizadas na elaboração de simulações. A direção selecionará a alternativa que melhor reflita os objetivos da empresa. Geralmente, são realizados três tipos de simulações, a simulação otimista, a simulação realista e a simulação pessimista (Crepaldi; Crepaldi, 2019). A análise de variações é o processo de comparar os resultados reais com os objetivos orçados. Esse processo possibilita que a administração avalie o desempenho e identifique as variações, para que possa agir em relação às execuções. Se uma variação for significativa, é importante analisá-la cuidadosamente para identificar as causas e tomar medidas corretivas ou preventivas apropriadas (Crepaldi; Crepaldi, 2019). Ao investigar uma variação, é necessário considerar vários fatores. Inicialmente, é preciso avaliar a relevância da variação e determinar o grau de importância. Em seguida, é fundamental examinar os dados do orçamento e os dados reais para garantir que não haja erros de informação (Crepaldi; Crepaldi, 2019). Outro fator a ser considerado é se a variação é resultado de uma decisão da administração, como a realização de um projeto publicitário não planejado 7 previamente. Além disso, muitas variações podem ser explicadas pelo efeito de fatores não controláveis, como a inflação (Crepaldi; Crepaldi, 2019). Por fim, se a causa da variação não for conhecida, é necessário analisá- la com cuidado e tomar medidas corretivas. Essas variações são exceções e geralmente exigem ações imediatas para que a administração possa lidar com elas adequadamente (Crepaldi; Crepaldi, 2019). No Quadro 1 a seguir, podemos acompanhar um exemplo prático de análise de variação do valor orçado com o valor real. Quadro 1 – Análise de variação do orçamento Discriminação R$ % Orçado Real Favorável/Desfavorável Vendas 30.000,00 27.600,00 –2.400,00 –8% Custo produtos vendidos 18.000,00 18.300,00 300,00 2% Margem bruta 12.000,00 9.300,00 –2.700,00 –23% Promoção e propaganda 4.500,00 4.200,00 –300,00 –7% Margem de contribuição do produto 7.500,00 5.100,00 –2.400,00 –32% Fonte: Lolatto, 2023. Podemos observar que há uma variação significativa entre o valor orçado e o valor real. Logo, a empresa deve identificar as causas dessa variação e tomar medidas para corrigi-las. O orçamento tem duas funções complementares e indissociáveis, o planejamento e o controle. Planejar significa definir previamente as ações a serem realizadas e atribuir os recursos necessários para alcançar as metas e objetivos estabelecidos, considerando todas as funções da empresa e todos os fatores que possam influenciá-la, tanto internos quanto externos. O controle é uma ação que complementa o planejamento realizado anteriormente. É necessário ter um planejamento traçado previamente para poder fazer o controle, pois somente com parâmetros claros e objetivos é possível realizar comparações (Correia Neto, 2022). Em conclusão, o planejamento e controle orçamentário são fundamentais para o sucesso das micro e pequenas empresas. Com uma visão clara dos recursos financeiros disponíveis e uma gestão eficiente dos gastos, as empresas podem tomar decisões mais estratégicas e garantir a continuidade do negócio. 8 Além disso, o controle orçamentário possibilita uma análise constante do desempenho financeiro da empresa, facilitando a identificação de oportunidades de crescimento e a correção de possíveis problemas. Portanto, investir em planejamento e controle orçamentário é uma medida importante para a gestão financeira saudável e sustentável de micro e pequenas empresas. TEMA 3 – LUCRO (RESULTADO ECONÔMICO) × FLUXO DE CAIXA (RESULTADO FINANCEIRO) Os conceitos de lucro (econômico) e fluxo de caixa (financeiro) são extremamente importantes na gestão empresarial e podem causar muita confusão para novos empreendedores. Por isso, é essencial dedicar um tópico específico para entendê-los e compreender o mundo das finanças empresariais, familiares ou pessoais. O lucro (resultado econômico) é o resultado obtido quando se subtrai as receitas dos custos e despesas. Esse resultado econômico pode ser positivo (lucro) ou negativo (prejuízo). Em contrapartida, o fluxo de caixa (resultado financeiro) é a diferença entre as entradas e saídas de dinheiro. Esse resultado financeiro pode ser superavitário (entrada maior que saída) ou deficitário (saída maior que entrada) (Lemes Júnior; Pisa, 2019). Empreendedores inexperientes enfrentam grandes desafios para gerenciar seus negócios em razão da dificuldade de entender essa diferença entre lucro e fluxo de caixa. É possível uma empresa ter lucros significativos e não ter dinheiro suficiente para pagar suas contas, assim como é possível ter prejuízos consideráveis e ter dinheiro suficiente para honrar seus compromissos (Lemes Júnior; Pisa, 2019). Uma empresa pode obter lucros, mas, ao mesmo tempo, investir em ativos como terrenos, máquinas e equipamentos que levam tempo para gerar fluxo de caixa. Isso significa que, mesmo que a empresa esteja registrando lucros contábeis, o dinheiro proveniente desses investimentos pode levar meses ou até mesmo anos para se materializar em entrada de caixa (Lemes Júnior; Pisa, 2019). Por isso, as empresas não podem imobilizar seus recursos por muito tempo. Ou seja, não podem investir em ativos que não tenham liquidez e que demoram para se tornar dinheiro. Por exemplo, não é viável investir em uma fábrica que demora quatro ou cinco anos para gerar entradasde caixa que 9 cubram esse investimento, se não for possível negociar prazos compatíveis com os fornecedores e bancos (Lemes Júnior; Pisa, 2019). É necessário sincronizar a velocidade com que os ativos geram dinheiro e a velocidade com que o dinheiro será usado para pagar as contas. Os empresários precisam cuidar tanto do lucro quanto do fluxo de caixa positivo. Para dar lucro, a empresa precisa inovar em produtos ou serviços que resolvam os problemas dos clientes, gerenciar custos e despesas operacionais, evitar financiamentos inadequados e fazer um bom planejamento tributário. Para gerar fluxo de caixa positivo, é preciso ter resultados econômicos (lucros) e elaborar um planejamento financeiro eficiente, gerenciando estoques, contas a receber e prazos de pagamento de fornecedores e financiadores (Lemes Júnior; Pisa, 2019). O demonstrativo de resultados é um demonstrativo contábil que mostra o resultado econômico, enquanto o fluxo de caixa ou orçamento de caixa, preparado pelo gerente financeiro, é um demonstrativo financeiro que mostra a diferença entre as entradas e saídas de dinheiro (Lemes Júnior; Pisa, 2019). 3.1 Fluxo de caixa O fluxo de caixa é uma ferramenta indispensável para o gerenciamento financeiro de uma empresa em curto e médio prazo. Ele consiste em registrar diariamente saldos, entradas e saídas de dinheiro, além de controlar contas a pagar e a receber em um período específico (Lemes Júnior; Pisa, 2019). O fluxo de caixa possibilita o planejamento, gerenciamento e controle das entradas e saídas de caixa, assim como das aplicações de saldos e da captação de empréstimos e financiamentos. Ele geralmente é estruturado para um horizonte de tempo anual ou semestral, dividido em meses, semanas e dias. Por exemplo, a primeira semana deve ser desdobrada em dias, o primeiro mês em semanas e o ano deve ser dividido em meses (Lemes Júnior; Pisa, 2019). O controle eficiente do fluxo de caixa é fundamental para garantir a disciplina financeira necessária para sua sobrevivência e crescimento. Essas empresas geralmente contam com recursos financeiros limitados provenientes do empreendedor ou de familiares, especialmente em suas fases iniciais, tornando a prática ainda mais importante (Lemes Júnior; Pisa, 2019). Vamos acompanhar, na Figura 1 a seguir, os dois ramos da gestão financeira conforme descrito por Lemes Júnior e Pisa (2019). 10 Figura 1 – Gestão econômico-financeira e fluxo de caixa Fonte: Lemes Júnior; Pisa, 2019, p. 211. Administrar o fluxo de caixa adequadamente é necessário para a administração e continuidade de uma empresa. Essa afirmação é válida para empresas de todos os tamanhos, mas para uma Micro e Pequena Empresa (MPE) é uma questão de sobrevivência (Lemes Júnior; Pisa, 2019). Segundo Lemes Júnior e Pisa (2019), os fluxos de caixa podem ser um importante instrumento de tomada de decisão gerencial, pois possibilitam: • comparar os montantes de entradas e saídas de caixa de um determinado período; • antecipar possíveis falta ou excesso de dinheiro; • identificar antecipadamente a necessidade de capital de giro, de modo a possibilitar que sejam negociadas melhores taxas do que em situações de urgência; • planejar as aquisições da empresa de forma que os pagamentos dos fornecedores sejam realizados após o recebimento dos valores pelos clientes (situação ideal); Gestão Econômica Gestão Financeira Receitas Entradas Gastos (Custos + Despesas) Saídas Resultado Econômico Lucro e Prejuízo Resultado Financeiro Superávit e Déficit Fluxo de Caixa receitas, gastos e resultados considerados no momento em que ocorrem receitas, gastos e resultados considerados no momento da movimentação do caixa 11 • tomar decisões sobre a concessão de prazos mais longos para o pagamento pelos clientes; • identificar problemas de formação de preço de venda, caso as entradas de caixa não cubram os pagamentos correspondentes; • identificar os melhores momentos para realizar compras, levando em consideração os prazos e a capacidade de pagamento; • possibilitar a realização de compras à vista com preços melhores ou aplicar os excedentes financeiros em investimentos. Na administração do caixa, é importante garantir que os prazos de recebimento das vendas sejam menores do que o período de rotação do estoque e o período de pagamento das contas. Nesse sentido, vamos compreender como funciona os ciclos operacional, econômico e financeiro das empresas. TEMA 4 – CICLO OPERACIONAL X CICLO ECONÔMICO X CICLO FINANCEIRO O ciclo operacional de uma empresa compreende o tempo decorrido desde a aquisição de matérias-primas, insumos ou produtos até o recebimento das vendas. Para gerenciar efetivamente os recursos que entram e saem do caixa da empresa, é importante entender como e quando essas transações ocorrem. Identificar o ciclo operacional ajuda na administração do caixa e possibilita antecipar a necessidade de capital de giro, tornando a gestão financeira mais eficiente (Crepaldi; Crepaldi, 2019; Lemes Júnior; Pisa, 2019). O ciclo operacional é composto pelo ciclo econômico e financeiro. Ao representá-los graficamente, é possível identificar os diferentes prazos envolvidos na administração financeira, desde a aquisição da matéria-prima ou mercadoria até o recebimento das vendas. Isso possibilita a adaptação desses prazos em benefício do caixa. Na Figura 2 a seguir, ilustramos essa situação. Figura 2 – Ciclo operacional x ciclo econômico x ciclo financeiro Fonte: Lolatto, 2023. Ciclo Operacional (CO) Compra Prazo Médio de Estocagem (PME) Prazo Médio de Pagamentos (PMP) Prazo Médio de Recebimentos (PMR) Ciclo Econômico (CE) Ciclo Financeiro (CF) 12 As fórmulas do ciclo operacional correspondem a: 𝐶𝐶𝐶𝐶 = 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 + 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 ou 𝐶𝐶𝐶𝐶 = 𝐶𝐶𝑃𝑃 + 𝐶𝐶𝐶𝐶. O ciclo econômico compreende o tempo que a empresa leva para renovar seus estoques. Começa com a aquisição de matérias-primas, insumos ou produtos e termina com a venda do produto ou mercadoria, não considerando o recebimento das vendas (Crepaldi; Crepaldi, 2019; Lemes Júnior; Pisa, 2019). Sabemos que manter estoques representa um custo financeiro e, quanto menor for o estoque e maior a rotatividade, melhor para a empresa. A fórmula do ciclo econômico corresponde a: 𝐶𝐶𝑃𝑃 = 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 O ciclo financeiro começa quando a empresa realiza o pagamento aos fornecedores e termina com o recebimento das vendas (Crepaldi; Crepaldi, 2019; Lemes Júnior; Pisa, 2019). Se os fornecedores concedem prazos mais longos e os clientes realizam pagamentos em períodos mais curtos, a empresa terá mais dinheiro disponível em caixa e não dependerá tanto de empréstimos ou de pagamento de juros bancários (Crepaldi; Crepaldi, 2019). Para encontrarmos o ciclo financeiro da empresa, podemos aplicar as fórmulas: 𝐶𝐶𝐶𝐶 = 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 + 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 – 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 ou 𝐶𝐶𝐶𝐶 = 𝐶𝐶𝐶𝐶 – 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃. 4.1 Estudo de caso dos ciclos Para entendermos melhor o ciclo operacional, econômico e financeiro, vamos imaginar uma empresa que fabrica e vende camisetas personalizadas. O ciclo operacional da empresa começa com a aquisição das matérias- primas, como tecidos e tintas, e insumos necessários para a produção das camisetas. Em seguida, a empresa realiza a produção das camisetas personalizadas, que são disponibilizadas para venda. O ciclo operacional termina quando a empresa recebe o pagamento das vendas realizadas. O ciclo econômico da empresa corresponde ao tempo necessário para renovar seus estoques. Nesse caso, a empresa precisará realizar a aquisição de novos tecidos, tintas e insumos para a produção das camisetas personalizadas. Esse ciclo termina com a venda das camisetas e não leva em consideração o recebimento do pagamento das vendas. O ciclo financeiro começa quando a empresa realiza o pagamento aosfornecedores pela aquisição das matérias-primas e insumos, e termina quando a empresa recebe o pagamento das vendas realizadas. Se os fornecedores concedem prazos mais longos para o pagamento das compras realizadas, e os clientes realizam pagamentos em períodos mais curtos, a empresa terá mais 13 dinheiro disponível em caixa e não dependerá tanto de empréstimos ou pagamento de juros bancários. Suponhamos que a empresa compra R$ 10.000,00 em matéria-prima para a produção das camisetas, concedendo um prazo de 30 dias para pagamento aos fornecedores. Nesse caso, o ciclo financeiro será de 30 dias, pressupondo que a empresa venda todas as camisetas produzidas no mesmo período, ou seja, sem considerar um prazo adicional para o recebimento das vendas. Se a empresa conseguir vender todas as camisetas no prazo de 20 dias, por exemplo, o ciclo financeiro será de 10 dias. Dessa forma, é importante que a empresa compreenda o ciclo operacional, econômico e financeiro para gerenciar efetivamente seus recursos e antecipar a necessidade de capital de giro, o que oportuniza uma gestão financeira mais eficiente e sustentável no longo prazo. TEMA 5 – LIQUIDEZ E RISCO A compreensão dos conceitos de liquidez e risco são de suma importância na gestão financeira. Liquidez é a habilidade de converter ativos, como estoques, contas a receber, máquinas e equipamentos, em dinheiro (caixa). Liquidez também se refere à capacidade de pagar as contas. Os proprietários de micro e pequenas empresas devem ser cuidadosos em relação à falta de liquidez, pois isso pode levar a empresa a grandes dificuldades financeiras, como recuperação judicial, recuperação extrajudicial e até mesmo falência (Lemes Júnior; Pisa, 2019). Existem vários motivos que podem levar à falta de liquidez, como vendas insuficientes, excesso de investimentos em estoques e em contas a receber, muitos investimentos em ativos imobilizados, como terrenos, prédios, equipamentos e veículos. Em alguns casos, é preferível fazer financiamentos no BNDES, por exemplo, e programar pagamentos em longo prazo, optar por leasing, ou até mesmo adiar os investimentos (Lemes Júnior; Pisa, 2019). Risco é a probabilidade de algo desfavorável ocorrer. Uma concessão de crédito malfeita com alta inadimplência, falta de seguros contra sinistros, dívidas em dólares, quebra de um grande cliente, entre outros, podem provocar perdas significativas para a empresa. A previsão de riscos é um assunto muitas vezes negligenciado, tanto no início de um novo negócio quanto no dia a dia dos que já estão funcionando. Ninguém gosta de ser pessimista e imaginar que algo 14 errado possa acontecer, mas os riscos existem e devem ser avaliados e previstos (Lemes Júnior; Pisa, 2019). Lemes Júnior e Pisa (2019) classifica os riscos em financeiro, operacional, de mercado, ambiental, de acidente e desastres naturais. Os riscos financeiros podem estar associados ao retorno do investimento (rentabilidade que um investimento gera em relação ao valor investido), lucro (resultado financeiro positivo obtido após deduzir todas as despesas), capital de giro (recursos financeiros necessários para manter a operação de uma empresa em funcionamento), investimento e aplicações financeiras (formas de investir recursos financeiros em diferentes ativos), sonegação de tributos e encargos sociais (prática de não declarar os tributos devidos ao governo). Os riscos operacionais podem envolver a falta de matéria-prima ou a quebra de equipamentos. Os riscos de mercado podem estar relacionados a vendas fracas, fornecedores que não cumprem prazo, inadimplência dos clientes, perda de cliente importante. Os riscos ambientais podem compreender a contaminação do meio ambiente e consequente multa. Os riscos de acidente podem estar associados com o pessoal ou com máquinas e equipamentos. Por fim, os riscos de desastres ambientais podem estar relacionados com inundação e vendaval (Lemes Júnior; Pisa, 2019). De acordo com Lemes Júnior e Pisa (2019), é possível mitigar os riscos contratando seguros para o imóvel, veículos e pessoal, fazendo aplicações seguras em bancos de primeira linha, pagando os tributos com regularidade, participando de programas de saúde, higiene e segurança no trabalho e adotando políticas de responsabilidade social e ambiental. Seguindo essas práticas, é possível prevenir acidentes e incidentes que possam prejudicar a continuidade dos negócios. Ainda, segundo Lemes Júnior e Pisa (2019), existem alguns riscos críticos para a sobrevivência das empresas, como o de não vender e o de não receber. Vejamos os motivos envolvidos. • Risco de não vender: decorre principalmente da falta de pesquisa de mercado e de planejamento. Isso pode ser resultado de diversos fatores, como o preço acima da concorrência, a obsolescência do produto, a falta de reconhecimento da marca, um mercado mal avaliado em que os consumidores não desejam o produto, uma localização inadequada com falta de estacionamento ou próxima de concorrentes poderosos, 15 características demográficas mal avaliadas como idade, renda e classe social, qualidade abaixo do esperado, ausência de políticas de prazos para pagamento e forte reação dos concorrentes por meio de promoções. • Risco de não receber: ocorre em razão de políticas inadequadas na negociação de prazos de pagamento com fornecedores, do estabelecimento de prazos de recebimento dos clientes mais longos do que os obtidos para pagamento dos fornecedores (ciclo operacional mal planejado e mal negociado), à impontualidade ou inadimplência, que podem ser causadas por crises nacionais ou mundiais, problemas financeiros dos clientes, falência ou concordata dos clientes, falta de consulta básica (SPC, Serasa), falta de formalização de contrato ou não fornecimento de nota fiscal, o que dificulta a adoção de medidas judiciais. Na Figura 3 a seguir, mostramos como os riscos devem ser gerenciados quando não é possível ignorá-los ou eliminá-los completamente. Figura 3 – Avaliação de riscos Fonte: Lemes Júnior; Pisa, 2019, p. 219. Uma maneira de avaliar e controlar os efeitos dos riscos é criar cenários, definindo eventos e suas respectivas probabilidades. Assim, é possível identificar os possíveis impactos dos riscos e estabelecer medidas preventivas e corretivas para lidar com eles. Riscos Avaliação A quais riscos a empresa está exposta? Qual a probabilidade de ocorrerem? Quais as perdas ecustos decorrentes? Controle Estabelecer cenários: otimista, provável e pessimista Aceitar o risco ou tomar medidas para reduzir seus efeitos Plano de contingência 16 Trocando ideias O ciclo operacional é composto pelo ciclo econômico e financeiro. O ciclo econômico compreende o tempo que a empresa leva para renovar seus estoques. O ciclo financeiro começa quando a empresa realiza o pagamento dos fornecedores e termina com o recebimento das vendas. Sendo assim, como esses ciclos podem afetar a gestão financeira e o desempenho do negócio? Esses ciclos são importantes para a gestão financeira da empresa, pois podem impactar diretamente o fluxo de caixa e a necessidade de financiamento. Se o ciclo financeiro for maior que o ciclo operacional, a empresa pode enfrentar dificuldades financeiras, pois terá que arcar com as despesas antes de receber o dinheiro das vendas. Em contrapartida, se o ciclo financeiro for menor que o ciclo operacional, a empresa terá um fluxo de caixa positivo e poderá utilizar o dinheiro excedente para investir em novos projetos ou pagar dívidas. Portanto, é fundamental que a empresa faça uma gestão adequada do seu ciclo operacional, econômico e financeiro, para garantir a sustentabilidade financeira e o sucesso do negócio. Isso pode incluir estratégias como a negociação de prazos de pagamento e recebimento, a otimização do estoque e a buscapor fontes de financiamento mais adequadas às necessidades do negócio. Na prática Agora que conhecemos um pouco sobre algumas questões relacionadas à administração financeira, que tal exercitarmos os conhecimentos adquiridos? Questão 1: Sobre a contabilidade A contabilidade desempenha um papel fundamental na gestão de micro e pequenas empresas (MPEs), fornecendo informações úteis para a tomada de decisões. Ela pode ser dividida em duas grandes áreas, contabilidade financeira e contabilidade gerencial. Sendo assim, analise as afirmativas a seguir sobre a contabilidade financeira e gerencial e assinale a alternativa correta. I. A contabilidade financeira é voltada especialmente para a tomada de decisão dos funcionários e gerentes das organizações. II. A contabilidade gerencial é direcionada principalmente para os stakeholders externos. 17 III. A contabilidade financeira deve seguir as normas estabelecidas por órgãos emissores de padrões. IV. A contabilidade gerencial fornece informações personalizadas às empresas. Assinale a alternativa correta: a. Apenas as afirmativas I e II estão corretas. b. Apenas as afirmativas II e III estão corretas. c. Apenas as afirmativas III e IV estão corretas. d. Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. e. Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas. Questão 2: Planejamento e controle orçamentário Os orçamentos são fundamentais para o planejamento, pois estabelecem a direção da organização durante um período orçamentário específico. Eles servem de referência para previsões de lucros que os executivos sêniores compartilham com o mercado acionário. Sendo assim, analise as afirmativas a seguir sobre o orçamento e assinale a alternativa correta. I. O orçamento tem a função de transmitir a estratégia para todos os níveis gerenciais. II. O orçamento visa coordenar as diversas atividades da organização, o que possibilita a duplicação de esforços. III. O orçamento estabelece responsabilidades, autoriza limites de gastos e informa o desempenho esperado. IV. O orçamento é um instrumento de avaliação de desempenho da empresa como um todo. Assinale a alternativa correta: a. Apenas as afirmativas I e II estão corretas. b. Apenas as afirmativas II e III estão corretas. c. Apenas as afirmativas III e IV estão corretas. d. Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. e. Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas. 18 Questão 3: Lucro (resultado econômico) × fluxo de caixa (resultado financeiro) O resultado econômico e o resultado financeiro são indicadores importantes do desempenho de uma empresa, mas se referem a aspectos distintos da gestão financeira. Nesse sentido, qual é a diferença entre resultado econômico e resultado financeiro? a. O resultado econômico é a diferença entre as entradas e saídas de dinheiro, enquanto o resultado financeiro é o resultado obtido quando se subtrai as receitas dos custos e despesas. b. O resultado econômico é o resultado obtido quando se subtrai as receitas dos custos e despesas, enquanto o resultado financeiro é a diferença entre as entradas e saídas de dinheiro. c. Resultado econômico é o lucro obtido pela empresa, enquanto resultado financeiro é o valor total dos ativos da empresa. d. Resultado econômico é o valor total dos ativos da empresa, enquanto resultado financeiro é o lucro obtido pela empresa. e. Resultado econômico é a capacidade da empresa de gerar caixa, enquanto resultado financeiro é a rentabilidade do negócio. Questão 4: Ciclo operacional x ciclo econômico x ciclo financeiro A gestão financeira é um aspecto essencial em qualquer empresa, independentemente do porte ou ramo de atividade. Entre as diversas métricas utilizadas para medir a saúde financeira de uma organização, destaca-se o ciclo financeiro. Sendo assim, qual é a fórmula para calcular o ciclo financeiro de uma empresa? a. Ciclo Financeiro = Prazo médio de estocagem + Prazo médio de recebimento b. Ciclo Financeiro = Prazo médio de estocagem – Prazo médio de recebimento c. Ciclo Financeiro = Prazo médio de estocagem + Prazo médio de pagamento d. Ciclo Financeiro = Prazo médio de recebimento – Prazo médio de pagamento e. Ciclo Financeiro = Prazo médio de pagamento – Prazo médio de estocagem 19 Gabarito dos exercícios da seção “Na prática” • Questão 1: Correta: c) Apenas as afirmativas III e IV estão corretas. A contabilidade financeira é direcionada principalmente para os stakeholders externos e deve seguir as normas estabelecidas por órgãos emissores de padrões. A contabilidade gerencial é voltada especialmente para a tomada de decisão dos funcionários e gerentes das organizações e fornece informações personalizadas às empresas. • Questão 2: Planejamento e controle orçamentário. Correta: e) Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas. De acordo com Sardinha (2008), o orçamento é uma ferramenta que transmite a estratégia para todos os níveis gerenciais, detalhando os planos de cada centro de responsabilidade. Além disso, coordena as diversas atividades da organização, evitando a duplicação de esforços, bem como estabelece responsabilidades, autoriza limites de gastos e informa o desempenho esperado. É um instrumento de avaliação, ou seja, um contrato ou acordo estabelecido com os gestores, com o objetivo de utilizar os planos como base para avaliar o desempenho deles e da empresa como um todo. • Questão 3: Lucro (resultado econômico) × fluxo de caixa (resultado financeiro). Correta: b) O resultado econômico é o resultado obtido quando se subtrai as receitas dos custos e despesas, enquanto o resultado financeiro é a diferença entre as entradas e saídas de dinheiro. O resultado econômico é a medida do desempenho financeiro da empresa e representa o lucro ou prejuízo obtido após subtrair as despesas e custos das receitas. Em contrapartida, o resultado financeiro é uma medida do fluxo de caixa da empresa, representando a diferença entre as entradas e saídas de dinheiro em um determinado período. É importante distinguir os dois conceitos, pois uma empresa pode ter um resultado financeiro positivo (mais entradas do que saídas de dinheiro) e um resultado econômico negativo (mais despesas e custos do que receitas), o que pode indicar uma situação de insustentabilidade financeira no longo prazo. • Questão 4: Ciclo operacional x ciclo econômico x ciclo financeiro. Correta: a) Ciclo Financeiro = Prazo médio de estocagem + Prazo médio de recebimento. 20 A fórmula correta para calcular o ciclo financeiro de uma empresa é Ciclo Financeiro = Prazo médio de estocagem + Prazo médio de recebimento. Essa fórmula leva em conta o tempo médio que a empresa leva para vender seus produtos (prazo médio de estocagem) e o tempo médio que ela leva para receber os pagamentos das vendas (prazo médio de recebimento). FINALIZANDO Nesta aula, estudamos a contabilidade como ferramenta de controle da gestão em micro e pequenas empresas. Compreendemos como elaborar um controle orçamentário, a diferença entre lucro econômico e financeiro, ciclo operacional e econômico, liquidez e risco. Futuramente, em nossos estudos, estudaremos as principais fontes de captação de recursos das micro e pequenas empresas, os métodos de avaliação de investimentos e o desenvolvimento e planejamento estratégico dessas empresas. REFERÊNCIAS ATKINSON, A. et al. Contabilidade gerencial. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2015. CORREIA NETO, J. F. Planejamento e controle orçamentário: abordagem prática elaborar orçamentos empresariais. Rio de Janeiro: Alta Books, 2022. CREPALDI, S. A.; CREPALDI, G. S. Contabilidade gerencial: teoria e prática. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2019. FREZATTI, F. Orçamento empresarial: planejamento e controle gerencial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2023. IUDÍCIBUS, S. de. Contabilidade gerencial:da teoria à prática. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2020. LEMES JÚNIOR, A. B.; PISA, B. J. Administrando micro e pequenas empresas: empreendedorismo e gestão. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2019. SARDINHA, J. C. Orçamento e controle. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2008. SILVA, A. C. R. da; MARION, J. C. Manual de Contabilidade para pequenas e médias empresas. São Paulo: Atlas, 2013. CONTABILIDADE E GESTÃO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS AULA 5 Profª Daiane Lolatto CONVERSA INICIAL Nesta etapa, trataremos das principais fontes de captação de recursos das micro e pequenas empresas, os métodos de avaliação de investimentos e o desenvolvimento e planejamento estratégico dessas empresas; para tanto, estudaremos os seguintes tópicos: • Fontes potenciais de captação de recursos; • Métodos de avaliação de investimentos; • Desenvolvendo o planejamento estratégico em PMEs; • A implementação e os órgãos de governança nas PMEs; • O processo sucessório. Aproveite a leitura e exercite os conhecimentos adquiridos resolvendo as atividades. Lembre-se, a melhor forma de aprender é exercitando. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO As micro e pequenas empresas podem obter recursos para desenvolver suas atividades por meio de diversas fontes, como empréstimos bancários, financiamentos governamentais, investidores privados, entre outras opções de captação de recursos. Para isso, é importante que as micro e pequenas empresas tenham um planejamento estratégico bem-definido, para orientar suas atividades e decisões. Isso inclui a definição de objetivos claros, análise dos ambientes interno e externo e identificação dos recursos necessários que possam influenciar no sucesso da empresa. Diante disso, vamos conhecer como as Micro e Pequenas empresas obtêm recursos para desenvolverem suas atividades, os métodos de avaliação de investimentos e o desenvolvimento e planejamento estratégico dessas empresas. Este conteúdo é fundamental para entender o próximo conteúdo. Por isso, é imprescindível se atentar a todos os tópicos e detalhes descritos. Iniciaremos falando sobre a contabilidade para pequenas e médias empresas. 3 TEMA 1 – FONTES POTENCIAIS DE CAPTAÇÃO DE RECURSOS Começar um negócio utilizando apenas recursos próprios costuma ser a melhor opção, uma vez que não há a necessidade de pagar juros. Contudo, isso não é tarefa fácil, pois exige um planejamento cuidadoso para acumular os recursos necessários e uma disciplina financeira rigorosa. Muitas vezes, as empresas precisam recorrer a outras fontes de recursos, como recursos pessoais, de amigos e familiares, investidores anjos, capital semente, venture capital e private equity, financiamento coletivo (crowdfunding), agências de fomento, incubadoras, hotéis tecnológicos e bancos (Lemes, 2019). Na sequência, vamos entender os cuidados que devem ser tomados pelos empreendedores na hora de captar recursos, com o objetivo de alertá-los sobre erros comuns que podem ocorrer nessa decisão. 1.1 Recursos pessoais, de amigos e familiares A melhor forma de as empresas obterem recursos, normalmente, é por meio de amigos e familiares, pois, em geral, não exigem garantias e cobram juros baixos ou nenhum juro. Eles também são mais flexíveis em relação a prazos de pagamento (Lemes, 2019). No entanto, a possibilidade de contar com recursos de amigos e familiares depende de vários fatores que nem sempre estão sob controle do empreendedor, como a disponibilidade financeira dessas pessoas, sua disposição em investir na ideia do empreendedor, e até mesmo a estabilidade dos relacionamentos pessoais. Quando possível, é importante tomar cuidado para não prejudicar os relacionamentos (Lemes, 2019). Caso os recursos pessoais, de amigos e familiares, não sejam viáveis, ou insuficientes, os empreendedores devem buscar outras formas de financiamento. 1.2 Investidores anjos Investidores anjos são uma ótima alternativa de financiamento para micro e pequenas empresas, especialmente para startups. Eles são pessoas físicas que investem seu próprio capital em projetos na fase inicial, auxiliando no desenvolvimento do negócio (Losada, 2020). Geralmente, são empresários, executivos e profissionais liberais experientes, com boas redes de 4 relacionamento e habilidades de avaliação de oportunidades. Os investimentos anjos são realizados geralmente por um grupo de 2 a 10 investidores, e o investimento típico varia entre R$ 50.000,00 e R$ 600.000,00 (Lemes, 2019). Empresas como Kroton, Bossa Nova Investimentos, TOTVS, IGC Partners são exemplos de investidores que procuram investir em startups. Além de obterem retorno financeiro, investidores e empreendedores contribuem para a economia como um todo, impulsionando empresas inovadoras e de alto potencial, criando empregos qualificados e contribuindo para o crescimento do país (Lemes, 2019). O momento de saída é importante para esses investidores. Eles podem optar por uma saída estratégica, investir em fundos de venture capital, vender para outros investidores anjos ou recomprar sua participação (Lemes, 2019). Por outro lado, segundo Lemes (2019), o empreendedor, ao vender sua participação, deve refletir sobre: • projeções de crescimento: é importante que tanto o investidor quanto o empreendedor sejam realistas na hora de vender um negócio. As previsões devem ser otimistas, mas não exageradas, para evitar questionamentos do comprador; • investimento necessário e uso dos recursos: para crescer ainda mais, é preciso saber quanto e onde investir os recursos. Além disso, é importante pensar na perenidade da empresa e na saída do investidor; • EBITDA e margem EBITDA: o empreendedor deve entender a importância dessas métricas na avaliação do negócio; • retorno sobre capital investido: é importante que o comprador entenda qual será o retorno sobre o investimento feito na empresa; • endividamento: o nível de endividamento da empresa deve ser condizente com seu tamanho e uma dívida inteligente não é um problema, mas uma dívida excessiva pode ser. 1.3 Capital semente Capital semente é um tipo de financiamento de longo prazo fornecido por fundos de investimento a startups em seu estágio inicial de desenvolvimento ou que ainda estão em fase de concepção. Esse tipo de financiamento é muito procurado por empreendedores, pois pode gerar estabilidade financeira para a 5 empresa até que ela se torne sustentável. Os fundos de capital semente buscam altos retornos e estão dispostos a assumir riscos significativos, investindo em empresas inovadoras e de base tecnológica, podendo aplicar quantias substanciais em comparação aos investidores anjos (Lemes, 2019). Muitas vezes, as empresas apoiadas pelos fundos de capital semente são apenas ideias ou projetos no papel, e os recursos ajudam o empresário a cobrir gastos iniciais, com desenvolvimento do produto ou serviço, pesquisas de mercado, formação da equipe e aprimoramento do plano de negócios. O primeiro passo dos gestores de fundos de capital semente é selecionar os projetos que receberão os investimentos, avaliando as oportunidades do mercado, os produtos e serviços propostos, a equipe envolvida, a estratégia de atuação e o modelo de negócios (Lemes, 2019). O financiamento de capital semente também pode ser destinado a negócios que já possuem uma base sólida de produtos ou serviços e uma pequena clientela. Nesses casos, os recursos são utilizados para expandir a estrutura, aumentar a produção e as vendas, consolidar a marca e, acima de tudo, atrair a atenção de fundos de investimento com maior capacidade financeira (Lemes, 2019). Os investidores de capital semente geralmente formam fundos que arrecadam recursos de outros investidores e investem em várias empresas iniciantes para reduzir os riscos. Após avaliarcerca de mil projetos, aproximadamente dez são escolhidos para a próxima fase, que envolve apresentar a empresa ao comitê de investimento do fundo. O grupo então realiza uma análise e decide se aprova ou não o investimento. Depois disso, durante dois a três meses, os empreendedores e os membros do fundo se encontram para discutir e negociar a participação dos novos sócios (Lemes, 2019). Para conseguir esse tipo de investimento, é preciso mais do que ideias promissoras e boa argumentação. É recomendado documentar parte do plano de negócios e projetar o modelo de negócios, evidenciando maiores probabilidades de retorno para os investidores interessados. A participação em eventos voltados para as startups e a convivência em ambientes de inovação e empreendedorismo podem proporcionar aos empreendedores maiores chances de estabelecer uma rede de contatos com investidores de fundos, possibilitando a viabilização de seu negócio (Lemes, 2019). 6 No Brasil, as principais instituições governamentais que atuam no âmbito do capital semente são a Finep, responsável pelo financiamento de estudos e projetos, e o Fundo Criatec, mantido pelo BNDES e Banco do Nordeste do Brasil (BNB). Para aqueles que desejam ter acesso a fundos privados de capital semente, é possível consultar organizações que fomentam e representam as startups brasileiras, como a Associação Brasileira de Startups (ABStartups) (Lemes, 2019). 1.4 Venture capital e private equity Em uma fase mais avançada do novo empreendimento, há a possibilidade de receber investimentos de todos os tipos de investidores de risco. Esses fundos normalmente investem em empresas de médio porte, que tenham alcançado um faturamento significativo e que precisam dar um grande salto. Os investimentos compreendem venture capital e private equity (Lemes, 2019). O venture capital é uma forma de financiamento para empresas que envolvem a troca de participação societária, resultando em responsabilidades conjuntas para investidores e empreendedores. Ele é destinado a startups que testaram seus produtos e estão prontas para crescer, trazendo investidores como sócios para o empreendimento (Lemes, 2019; Losada, 2020). O venture capital investe em empresas estabelecidas, mas de pequeno e médio portes, com potencial de crescimento, fornecendo recursos financeiros para as primeiras expansões e levando o negócio a novos patamares no mercado. Assim como no capital semente, o foco está em empresas inovadoras, em setores como biotecnologia e tecnologia. A seleção dos projetos também passa por avaliação, apresentação ao comitê de investidores e negociação (Lemes, 2019). O private equity é uma atividade de investimentos em participações privadas. O objetivo desses recursos consiste em fornecer um impulso financeiro à empresa para que ela se prepare para abrir capital na bolsa de valores, por exemplo (Lemes, 2019; Losada, 2020). As empresas de capital aberto também podem receber recursos do private equity. Nesse caso, o capital é destinado a mudanças financeiras, operacionais ou estratégicas, visando a um novo posicionamento no mercado aberto (Lemes, 2019). 7 1.5 Financiamento coletivo (crowdfunding) O financiamento coletivo (crowdfunding) é uma forma de financiamento empresarial em que várias pessoas podem contribuir com pequenas quantias para viabilizar uma ideia, negócio ou projeto, podendo ou não receber uma contrapartida em troca. É uma maneira rápida e relativamente simples de arrecadar fundos para a realização de uma ideia ou projeto popular, com uma baixa contrapartida (Coelho, 2018; Lemes, 2019; Losada, 2020). O financiamento coletivo é uma forma de financiar ideias, testar produtos/serviços e construir uma comunidade. O empreendedor define metas financeiras e um prazo de 90 a 180 dias, por exemplo, para arrecadação. Cada pessoa contribui com o que puder e, em troca, recebe recompensas. Se a meta mínima for alcançada, o projeto se torna realidade e todos os contribuintes recebem suas recompensas. Se a meta não for alcançada, todos recebem seu dinheiro de volta (Lemes, 2019). No Brasil, a Resolução n. 88, de 27 de abril de 2022, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) trata dessa modalidade de captação. 1.6 Agências de fomentos Agência de fomento é uma instituição financeira não bancária regulada pelo Banco Central do Brasil, cujo principal objetivo é financiar investimentos de capital fixo e de giro para projetos empreendedores incluídos em programas de desenvolvimento na unidade da Federação onde a agência está sediada. Essas agências buscam substituir os bancos de desenvolvimento e reduzir a participação do estado no sistema financeiro (Lemes, 2019). As agências de fomento oferecem linhas de crédito mais baratas e vantajosas para micro, pequenas e médias empresas que desejam investir em setores estratégicos para o desenvolvimento regional, como infraestrutura, indústria, comércio, agronegócio, turismo e informática. Esses recursos são provenientes de fontes estaduais ou do BNDES (Lemes, 2019). Os empreendedores podem acessar essas linhas de crédito para investir em capital de giro, máquinas e equipamentos, inovação e franquias. Há também opções de crédito para profissionais autônomos, microempreendedores individuais e, em alguns casos, até mesmo para grandes empresas, dependendo do estado (Lemes, 2019). 8 As agências de fomento também realizam outras atividades, como prestação de garantias em operações compatíveis com seu objeto social, serviços de consultoria financeira, aplicação de disponibilidades de caixa em títulos públicos federais, cessão de créditos, aquisição de créditos oriundos de operações compatíveis com seu objeto social e financiamento para empreendimentos de pequeno porte (Lemes, 2019). Embora as agências de fomento não sejam fáceis de acessar, suas linhas de financiamento podem ser a melhor opção para obter capital para sua empresa. É importante conhecer as diferentes agências, linhas e programas existentes e acompanhar os editais para aproveitar essas oportunidades. As principais agências de fomento do Brasil são o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e as Fundações de Amparo à Pesquisa dos Estados (FAPs) (Lemes, 2019). 1.7 Incubadoras Incubadora de empresas é uma instituição que tem como objetivo fornecer suporte aos empreendedores para que possam desenvolver ideias inovadoras e transformá-las em empreendimentos de sucesso, oferecendo suporte técnico, gerencial e formação complementar. Existem diferentes tipos de incubadoras, como as de base tecnológica, tradicionais, mistas e sociais (Lemes, 2019). As incubadoras oferecem infraestrutura, capacitação aos empreendedores e redes de relacionamento que favorecem o crescimento do negócio e o acesso ao mercado. As empresas incubadas são aquelas que estão passando pelo processo de incubação, recebendo suporte de uma incubadora para o seu desenvolvimento. O tempo médio de incubação é de três anos e, ao se graduar, a empresa está preparada para o mercado (Lemes, 2019). Por outro lado, um parque tecnológico é um complexo industrial e de serviços de base científico-tecnológica que agrega empresas cuja produção se baseia em pesquisa tecnológica, visando promover a cultura da inovação e da competitividade. Os parques tecnológicos beneficiam os empreendimentos neles localizados, a região e a economia como um todo, facilitando o fluxo de conhecimento e tecnologia, gerando empregos qualificados e impulsionando a atividade empreendedora (Lemes, 2019). 9 1.8 Hotéis tecnológicos O Hotel Tecnológico é uma iniciativa que funciona como uma pré- incubadora de projetosde base tecnológica, com o objetivo de apoiar alunos, ex- alunos e servidores universitários no desenvolvimento de seus projetos. Ainda, busca estimular e incentivar a criação de empresas, permitindo que as ideias se tornem negócios caracterizados pela aplicação tecnológica (Lemes, 2019). Conhecido também como Programa Hotel de Projetos no Instituto Federal de São Paulo, esse programa tem como objetivo principal apoiar o desenvolvimento de projetos empreendedores, levando em conta a viabilidade mercadológica de produtos, processos e serviços e a capacidade física de hospedagem no IFSP dos projetos (Lemes, 2019). Assim como uma incubadora, o Hotel Tecnológico busca promover os projetos hospedados, oferecendo formação empresarial, estimulando a postura empreendedora e incentivando a criação de empresas com produtos/serviços inovadores de base tecnológica, fortalecendo a relação entre o meio acadêmico e o mercado (Lemes, 2019). 1.9 Bancos Quando um empreendedor enfrenta dificuldades financeiras, geralmente considera solicitar um empréstimo ou financiamento. No entanto, o empreendedor deve entender a diferença entre esses conceitos. No caso do financiamento, o dinheiro é destinado a uma finalidade específica, como a compra de um equipamento ou veículo. No empréstimo, o tomador tem a liberdade de usar o dinheiro como quiser. Antes de recorrer a bancos, é recomendável explorar outras opções, visto que os empréstimos e financiamentos são bastante onerosos no Brasil (Lemes, 2019). Para negociar com as instituições financeiras, é aconselhável elaborar um plano de negócios que especifique como os recursos serão usados, quanto é necessário e como será feito o pagamento. Existem vários tipos de bancos, mas para empreendedores iniciantes, os mais acessíveis são os bancos de desenvolvimento e comerciais (Lemes, 2019). O BNDES é um banco público federal que apoia investimentos de longo prazo em diversos setores econômicos, incluindo agricultura, indústria, infraestrutura, comércio e serviços, além de investimentos sociais em áreas 10 como educação, saúde e agricultura familiar. O banco oferece várias opções de crédito para pequenas empresas, incluindo linhas de investimento para implantação, ampliação e modernização, aquisição de máquinas e equipamentos nacionais, além de capital de giro, microcrédito e financiamento para produtores rurais e exportadores (Lemes, 2019). TEMA 2 – MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE INVESTIMENTOS O objetivo de um investimento é obter um retorno que supere o valor investido, a fim de compensar o risco de trocar um valor presente garantido por um valor futuro que pode não ser recuperado. Essa diferença entre o retorno obtido e o valor investido é conhecida como rentabilidade do investimento, e representa uma espécie de prêmio por investir. É esse prêmio que fundamenta a existência dos juros, que são pagos como uma compensação pelo serviço prestado ao investidor pelo ato de emprestar dinheiro a terceiros (Padoveze; Benedicto, 2010). De acordo com Lemes (2019), os principais métodos utilizados para avaliação de investimentos são o Payback, o Valor Presente Líquido (VPL) e a Taxa Interna de Retorno (TIR). Na sequência, vamos entender como apurar o resultado utilizando esses métodos. 2.1 Payback – Períodos de Retorno do Investimento O Payback fornece uma estimativa de quantos períodos (normalmente em anos) serão necessários para que o investimento inicial seja recuperado (Padoveze; Benedicto, 2010). Vamos supor que uma empresa esteja avaliando a possibilidade de investir em um novo projeto que exigirá um investimento inicial de R$ 100.000,00 e que tenha uma projeção de fluxo de caixa anual de R$ 30.000,00. Para calcular o Payback, é necessário identificar em quantos anos o fluxo de caixa anual será capaz de recuperar o investimento inicial de R$ 100.000,00. Dividindo o investimento inicial pelo fluxo de caixa anual, temos: 𝑃𝑎𝑦𝑏𝑎𝑐𝑘 = Investimento Inicial / Fluxo de Caixa Anual 𝑃𝑎𝑦𝑏𝑎𝑐𝑘 = R$ 100.000,00 / R$ 30.000,00 𝑃𝑎𝑦𝑏𝑎𝑐𝑘 = 3,33 anos 11 Portanto, nesse caso, o Payback é de 3,33 anos, o que significa que o investimento inicial será recuperado em um período de aproximadamente 3 anos e 4 meses. Conforme Lemes (2019), se o Payback for menor ou igual ao padrão definido pela empresa, ela deve aceitar o projeto e se o Payback for maior que o padrão definido pela empresa, ela deve rejeitar o projeto. Esse método apresenta vantagens como facilidade de compreensão, orientação para a liquidez e facilitação da análise de risco. Por outro lado, suas desvantagens incluem a falta de consideração ao valor do dinheiro no tempo, a subjetividade na definição do período de retorno do investimento, a não consideração das consequências após o período de retorno do investimento e a penalização de projetos de longo prazo, que podem ser estrategicamente importantes (Lemes, 2019). 2.2 Valor Presente Líquido (VPL) O método do Valor Presente Líquido (VPL) consiste em calcular a diferença entre o valor presente das entradas de caixa e o valor presente das saídas de caixa, ambos descontados ao custo de capital. Esse cálculo permite visualizar quanto cada projeto pode contribuir em termos financeiros para maximizar a riqueza dos acionistas (Lemes, 2019; Padoveze; Benedicto, 2010). A fórmula para calcular o VPL é a seguinte: 𝑉𝑃𝐿 = (𝐹𝐶0) + (𝐹𝐶1) (1 + 𝑘) + (𝐹𝐶2) (1 + 𝑘)2 + (𝐹𝐶3) (1 + 𝑘)3 + (𝐹𝐶4) (1 + 𝑘)4 + ⋯ + (𝐹𝐶𝑛) (1 + 𝑘)𝑛 Em que: 𝑉𝑃𝐿 = Valor Presente Líquido; 𝐹𝐶0 = Valor do Investimento Líquido; 𝐹𝐶1…𝑛 = Fluxo de Caixa Livre de cada ano; 𝑘 = Custo de Capital. Vamos supor que uma empresa esteja avaliando a possibilidade de investir R$ 50.000,00 em um novo projeto que promete gerar fluxos de caixa de R$ 10.000,00 por ano durante 5 anos. A empresa estima que o custo de capital é de 10% ao ano, ou 0,1 ao ano. 12 Para calcular o VPL, precisamos descontar cada fluxo de caixa futuro para o valor presente usando a taxa de desconto (custo de capital) de 10%. Fazendo isso, teremos: 𝑉𝑃𝐿 = (𝑅$ 50.000,00) + (𝑅$ 10.000,00) (1 + 0,1) + (𝑅$ 10.000,00) (1 + 0,1)2 + (𝑅$ 10.000,00) (1 + 0,1)3 + (𝑅$ 10.000,00) (1 + 0,1)4 + (𝑅$ 10.000,00) (1 + 0,1)5 𝑉𝑃𝐿 = (𝑅$ 50.000,00) + 𝑅$ 9.090,91 + 𝑅$ 8.264,46 + 𝑅$ 7.513,15 + 𝑅$ 6.830,13 + 𝑅$ 6.209,21 𝑉𝑃𝐿 = (𝑅$ 12.092,13) O resultado negativo indica que o projeto não é viável, uma vez que o valor presente dos fluxos de caixa não cobre o investimento inicial de R$ 50.000,00. Assim, se o VPL for maior ou igual a 0, o projeto é viável e deve ser aceito e se o VPL for menor que 0, o projeto não é viável e não deve ser aceito (Lemes, 2019; Padoveze; Benedicto, 2010). O método do VPL apresenta vantagens, como a possibilidade de somar VPLs positivos de diversos projetos, a utilização exclusiva dos fluxos de caixa e do custo de capital, além da consideração do valor do dinheiro no tempo. Em contrapartida, suas desvantagens incluem a dificuldade em definir o custo de capital, interpretação mais difícil por ser dado em valor absoluto e dificuldade em ajustar o risco dos projetos (Lemes, 2019). 2.3 Taxa Interna de Retorno (TIR) A Taxa Interna de Retorno (TIR) é uma variação do método do VPL. A TIR iguala os valores presentes das entradas e saídas de um projeto. Quanto maior a TIR, mais vantajoso é o projeto. A TIR permite calcular uma única taxa de retorno que resume o mérito do projeto. Ela é denominada “interna” porque sua obtenção não depende de qualquer outra informação além do fluxo de caixa livre do projeto (Lemes, 2019; Padoveze; Benedicto, 2010). A fórmula para calcular a TIR é a seguinte: (𝐹𝐶0) + (𝐹𝐶1) (1 + 𝑇𝐼𝑅) + (𝐹𝐶2) (1 + 𝑇𝐼𝑅)2 + (𝐹𝐶3) (1 + 𝑇𝐼𝑅)3 + (𝐹𝐶4) (1 + 𝑇𝐼𝑅)4 + ⋯ + (𝐹𝐶𝑛) (1 + 𝑇𝐼𝑅)𝑛 = 0 13 Em que:𝑇𝐼𝑅 = Taxa Interna de Retorno; 𝐹𝐶0 = Valor do Investimento Líquido; 𝐹𝐶1…𝑛 = Fluxo de Caixa Livre de cada ano. O objetivo é encontrar a taxa TIR que faz com que a soma dos fluxos de caixa presentes seja igual a zero. Para encontrar essa taxa, a fórmula deve ser resolvida por meio de tentativa e erro, variando o valor da TIR até que a soma dos fluxos de caixa presentes seja igual a zero. Existem softwares e calculadoras financeiras que podem calcular a TIR automaticamente a partir dos fluxos de caixa fornecidos. Suponha que você está considerando investir em um projeto que requer um investimento inicial de R$ 10.000,00 e que gera fluxos de caixa anuais de R$ 2.500,00 nos próximos 5 anos. Aplicando a fórmula da TIR, temos: (𝑅$ 10.000,00) + (𝑅$ 2.500,00) (1 + 𝑇𝐼𝑅) + (𝑅$ 2.500,00) (1 + 𝑇𝐼𝑅)2 + (𝑅$ 2.500,00) (1 + 𝑇𝐼𝑅)3 + (𝑅$ 2.500,00) (1 + 𝑇𝐼𝑅)4 + (𝑅$ 2.500,00) (1 + 𝑇𝐼𝑅)5 = 0 A apuração por meio de uma planilha eletrônica (como o Excel) pode ser realizada conforme Figura 1. Figura 1 – Apuração TIR pelo Excel Fonte: Lolatto, 2023. Isso significa que, com base nas informações fornecidas, a taxa de retorno anual do projeto seria de 8%. Ou seja, se a rentabilidade esperada é maior do que o custo de oportunidade do investimento, o projeto seria uma boa opção para investir. Assim, se a TIR for maior ou igual ao custo de capital, o projeto é viável e deve ser aceito e se o VPL for menor que o custo de capital, o projeto não é viável e não deve ser aceito (Lemes, 2019; Padoveze; Benedicto, 2010). 14 O método da Taxa Interna de Retorno (TIR) apresenta diversas vantagens, como a consideração do valor do dinheiro ao longo do tempo, sua base exclusiva nos fluxos de caixa e no custo de capital, a possibilidade de comparar a taxa de retorno do projeto com as taxas de mercado e a facilidade de compreensão e comunicação. Entretanto, é importante ressaltar que o método TIR também apresenta algumas desvantagens, como a sua dependência na determinação do custo de capital, a possibilidade de múltiplas respostas caso os fluxos de caixa sejam não convencionais e a potencial propensão a decisões equivocadas em investimentos mutuamente exclusivos (Lemes, 2019). TEMA 3 – DESENVOLVENDO O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM PMES Tanto na teoria quanto na prática dos negócios existem diversas técnicas e ferramentas disponíveis para a realização de diagnósticos do ambiente empresarial. Vamos abordar duas delas, a análise SWOT e a análise das cinco forças de Porter. 3.1 Análise SWOT A análise SWOT é uma das principais ferramentas utilizada no planejamento estratégico. Para criá-la, é necessário identificar e avaliar informações do ambiente interno e externo da empresa, com o objetivo de definir as estratégias de negócios mais apropriadas (Lemes, 2019). Essa ferramenta foi desenvolvida por Albert Humphrey, pesquisador norte-americano que trabalhou em um projeto na Universidade de Stanford entre as décadas de 1960 e 1970. Para criar a análise SWOT, Humphrey utilizou dados da Revista Fortune 500, que publica o ranking das maiores empresas americanas. A sigla SWOT é formada pelas primeiras letras dos termos em inglês Strengths (Forças), Weaknesses (Fraquezas), Opportunities (Oportunidades) e Threats (Ameaças) (Chiavenato; Sapiro, 2020; Lemes, 2019). Na análise interna de uma empresa, são identificadas suas forças e fraquezas, enquanto na análise externa são identificadas oportunidades e ameaças (Kuazaqui, 2016; Lemes, 2019). • Forças: são fatores internos da empresa, como seus recursos e características dos produtos, que proporcionam vantagens estratégicas; 15 • Fraquezas: são fatores internos da empresa, como seus recursos e características dos produtos, que resultam em desvantagens estratégicas; • Oportunidades: são elementos do macroambiente que não podem ser controlados, mas que favorecem a empresa; • Ameaças: são elementos do macroambiente que não podem ser controlados, mas que prejudicam a empresa em determinado período. Segundo Lemes (2019), para realizar uma análise SWOT completa, é importante considerar cinco fatores principais de autoanálise, como os recursos disponíveis, as necessidades ou carências de capacidades e competências, as características internas da empresa, incluindo suas forças e fraquezas, as causas e motivos subjacentes às forças e fraquezas identificadas, assim como a comparação do desempenho da empresa com o desempenho de seus concorrentes. A seguir, podemos verificar algumas perguntas que a empresa pode responder para fins de elaboração da matriz SWOT, segundo Lemes (2019). Exemplos de perguntas para identificar pontos fortes: • Quais são as habilidades e competências da empresa? • Como podemos aumentar ainda mais a visibilidade da empresa? • O que os concorrentes, clientes, fornecedores e funcionários dizem que a empresa faz bem? • Como podemos aplicar e aproveitar os recursos disponíveis? • Qual é o nível de inovação da empresa em relação aos concorrentes? Em que aspectos a empresa se destaca? Exemplos de perguntas para identificar pontos fracos: • Em que aspectos os produtos, processos ou gestão da empresa ficam atrás dos concorrentes? • O que precisa ser melhorado na empresa? • Onde podemos buscar novos recursos para atender às necessidades internas? • O que os concorrentes, clientes, fornecedores e funcionários dizem que a empresa faz mal? • Qual é o nível de inovação da empresa em relação aos concorrentes? Em que aspectos a empresa precisa melhorar? 16 Exemplos de perguntas para identificar ameaças: • Quais leis, regulamentações, concorrentes ou inovações podem ter um impacto negativo na empresa? • Quais são os pontos fortes dos concorrentes que podem prejudicar o nosso negócio? • Existe a possibilidade de surgirem barreiras externas que afetem os produtos da empresa? • Estamos passando por um período de recessão econômica? Exemplos de perguntas para identificar oportunidades: • Quais são as oportunidades externas que a empresa pode identificar? • Quais são as novas demandas dos clientes que podem se tornar boas oportunidades de negócio? • Que tendências globais a empresa é capaz de aproveitar? • Estamos passando por um período de crescimento econômico? Diante disso, acompanhe no Figura 2 um exemplo prático de análise SWOT de uma empresa do ramo de vestuário. Figura 2 – Análise SWOT de uma empresa do ramo de vestuário Fonte: Lolatto, 2023. • Crescimento do mercado de vestuário masculino • Expansão para o mercado de vestuário feminino • Possibilidade de vendas on-line • Concorrência acirrada • Mudanças nas tendências da moda • Aumento dos custos de produção • Dependência de um único fornecedor • Falta de diversificação dos produtos • Problemas de comunicação interna • Marca reconhecida no mercado • Boa qualidade dos produtos • Equipe de vendas experiente Forças Fraquezas OportunidadesAmeaças 17 Após analisar os pontos fortes e fracos que afetam os fatores internos e externos da empresa, é hora de criar a matriz SWOT, como é mostrada no Quadro 1. Quadro 1 – Diagnóstico da empresa de vestuário com base na análise SWOT Oportunidades • Crescimento do mercado de vestuário masculino. • Expansão para o mercado de vestuário feminino. • Possibilidade de vendas on-line. Ameaças • Concorrência acirrada. • Mudanças nas tendências da moda. • Aumento dos custos de produção. Pontos fortes • Marca reconhecida no mercado. • Boa qualidade dos produtos. • Equipe de vendas experiente. Potencializar • Aumentar a visibilidade da marca, investindo em campanhas publicitárias mais amplas ou em patrocínios de eventos importantes na área de vestuário. • Explorar novas oportunidades de mercado, lançando linhas de roupas esportivas ou moda praia. Minimizar •Buscar novos fornecedores e estabelecer parcerias com empresas que oferecem matéria-prima de qualidade a preços competitivos. • Investir em tecnologia e automação para reduzir a falta de diversificação dos produtos e melhorar a produção. Pontos fracos • Dependência de um único fornecedor. • Falta de diversificação dos produtos. • Problemas de comunicação interna. Transformar • Criar linhas de roupas para crianças ou tamanhos especiais, por exemplo. • Adotar práticas mais eficazes de comunicação entre os departamentos da empresa. Defender • Proteger sua marca reconhecida no mercado, a empresa pode adotar medidas legais contra a concorrência desleal ou investir em estratégias de marketing que fortaleçam a fidelidade dos clientes. • Acompanhar de perto as tendências e inovar em suas coleções. • Reduzir o desperdício de material e de energia, assim como renegociar os contratos com fornecedores e transportadoras. Fonte: Lolatto, 2023. 3.2 Análise de Porter A análise de Porter é uma ferramenta de análise estratégica desenvolvida por Michael Porter, que ajuda as empresas a entenderem a dinâmica competitiva de seu setor de atuação e a identificar suas forças e fraquezas em relação aos concorrentes (Lemes, 2019). Essa análise é baseada em cinco forças que moldam a competição em um mercado específico: 18 1. A ameaça de novos entrantes: o quão fácil é para novas empresas entrarem no mercado e competirem com as empresas já estabelecidas; 2. O poder de negociação dos fornecedores: o quão forte é a posição dos fornecedores em relação às empresas, o que pode afetar o preço e a qualidade dos insumos utilizados; 3. O poder de negociação dos compradores: o quão forte é a posição dos compradores em relação às empresas, o que pode afetar o preço e a qualidade dos produtos oferecidos; 4. A ameaça de produtos substitutos: o quão fácil é para os consumidores substituírem os produtos oferecidos pelas empresas por outros produtos similares; 5. A intensidade da rivalidade entre os concorrentes: o quão forte é a concorrência entre as empresas já estabelecidas no mercado. Ao analisar essas cinco forças, as empresas podem identificar as oportunidades e os desafios do seu mercado, além de elaborar estratégias para enfrentar a concorrência. Por exemplo, se a ameaça de novos entrantes é alta, uma empresa pode investir em barreiras de entrada para impedir a entrada de novos concorrentes. Se o poder de negociação dos fornecedores é alto, uma empresa pode buscar novos fornecedores ou até mesmo verticalizar a sua produção para ter maior controle sobre os insumos utilizados (Lemes, 2019). No entanto, é importante ressaltar que a análise de Porter não é uma solução única para todas as empresas, e as estratégias elaboradas devem ser adaptadas às características e necessidades específicas de cada negócio. Ainda, essa análise não leva em consideração fatores externos ao mercado, como mudanças tecnológicas ou regulatórias, que podem afetar significativamente a dinâmica competitiva. TEMA 4 – A IMPLEMENTAÇÃO E OS ÓRGÃOS DE GOVERNANÇA NAS PMES A ideia de Governança Corporativa (GC) está ligada a um conjunto de regulamentos sobre como as empresas devem ser gerenciadas e supervisionadas. É o resultado de normas, tradições e padrões comportamentais que cada empresa desenvolve, não sendo apenas um modelo genérico que possa ser copiado ou exportado. A concepção de GC surgiu a partir da separação entre a propriedade e a gestão da empresa. Seu enfoque está na 19 definição de uma estrutura de governança que otimize a relação entre o retorno dos acionistas e os benefícios obtidos pelos seus executivos. Desse modo, a GC envolve geralmente a estratégia do negócio, as operações, a criação de valor e a distribuição dos resultados (Chiavenato; Sapiro, 2020). De acordo com o Rossetti e Andrade (2022), a governança corporativa está fundamentada em quatro valores: • Fairness (Equidade): a adoção de um senso de justiça e tratamento justo dos acionistas, com respeito aos direitos dos minoritários e sua participação equitativa nos resultados corporativos, bem como em assembleias gerais; • Disclosure (Transparência): a divulgação transparente das informações relevantes que afetam os negócios, incluindo resultados, oportunidades e riscos; • Accountability (Responsabilidade): prestação de contas responsável, baseada nas melhores práticas contábeis e de auditoria; • Compliance (Conformidade regulatória): adesão às normas regulatórias expressas nos estatutos sociais, regulamentos internos e leis do país. Os valores fundamentais da governança corporativa são essenciais para garantir a efetividade do sistema. Ainda, a GC busca promover a transparência e a confiança dos investidores e do mercado em geral. Para tanto, as empresas devem adotar práticas de GC que possibilitem o alinhamento dos interesses dos acionistas, dos executivos e dos demais stakeholders, assim como a criação de valor de forma sustentável (Chiavenato; Sapiro, 2020). Para que a GC seja efetiva, deve haver o comprometimento da alta administração e do conselho de administração em sua implementação e manutenção. É preciso que a empresa estabeleça uma estrutura de governança que contemple a definição de papéis e responsabilidades, a elaboração de políticas e diretrizes, a avaliação de desempenho e o monitoramento dos processos (Kuazaqui, 2016). Além disso, a empresa deve promover a capacitação e o desenvolvimento dos seus colaboradores e a criação de canais de comunicação transparentes e efetivos com os stakeholders. Dessa forma, a empresa poderá identificar riscos e oportunidades de forma mais rápida e precisa, permitindo uma tomada de decisão mais assertiva (Kuazaqui, 2016). 20 Em resumo, a governança corporativa é um tema de extrema relevância para as empresas, especialmente em um contexto em que a transparência e a responsabilidade são cada vez mais valorizadas pelos investidores e pela sociedade em geral. A adoção de práticas de GC pode contribuir significativamente para a criação de valor de forma sustentável e para a construção de relações de confiança com os stakeholders. TEMA 5 – O PROCESSO SUCESSÓRIO No que se refere à transferência de propriedade, o ponto principal é o momento da sucessão, quando ocorre a transferência da gestão do negócio para os herdeiros. Nessa ocasião, há o risco de cada um administrar sua parte de forma independente, o que pode levar a conflitos que, por sua vez, podem levar ao fechamento ou venda do negócio. Os herdeiros devem discutir claramente questões como quem, quando e como ocorrerá a sucessão, para que a gestão futura conte com o apoio da família no momento da transição (Lemes, 2019). Os romanos diziam que a morte põe fim a tudo, expresso pela frase "mors omnia solvit". Essa ideia foi incorporada pelo Direito Brasileiro, conforme descrito no art. 1.784 do Código Civil, que estabelece que no momento em que alguém falece, todos os seus bens passam automaticamente para seus herdeiros, sejam eles legítimos ou nomeados por testamento (Mamede; Mamede, 2015). No que diz respeito ao processo de sucessão, é importante que ele seja iniciado muito antes de o empreendedor deixar o comando da empresa. O proprietário deve iniciar o processo e indicar o sucessor no momento adequado. Ao agir com antecedência para preparar bem o sucessor, o fundador (ou seus sucessores) contribui de forma eficaz para garantir a continuidade da empresa na família (Lemes, 2019). Não é sempre que o empreendedor/empresário tem a disponibilidade e a paciência necessárias para formar o sucessor. O importante é que ele saiba conduzir esse processo da melhor maneira possível (Lemes, 2019). Para garantir uma sucessão bem-sucedida, é importante que o fundador da empresa desenvolva um plano estratégico abrangente,identificando os potenciais sucessores e seus respectivos papéis e responsabilidades. A comunicação clara e aberta entre o fundador, o sucessor e outros membros da família também é importante para evitar conflitos e garantir uma transição suave e bem-sucedida. Por fim, é importante lembrar que o processo de sucessão seja 21 visto como um processo contínuo de desenvolvimento e adaptação da empresa familiar às mudanças e desafios do mercado e da sociedade. TROCANDO IDEIAS Começar um negócio pode ser um desafio, especialmente quando se trata de reunir os recursos financeiros necessários para iniciar as operações. Algumas pessoas optam por usar apenas seus próprios recursos para iniciar um negócio e outras recorrem a recursos de terceiros. Nesse sentido, você concorda que começar um negócio utilizando apenas recursos próprios é a melhor opção? Quais cuidados você acredita que um empreendedor deve tomar ao buscar outras fontes de recursos para o seu negócio? Resposta: iniciar um empreendimento com seus próprios recursos é geralmente a escolha mais vantajosa, pois evita-se o pagamento de juros. No entanto, essa abordagem não é simples e requer um planejamento minucioso para juntar os recursos necessários, bem como uma disciplina financeira rígida. Ao buscar outras fontes de recursos para seu negócio, um empreendedor deve tomar alguns cuidados para garantir que está fazendo a melhor escolha possível. Alguns desses cuidados incluem avaliar a real necessidade do negócio, pesquisar as opções disponíveis, analisar os custos e benefícios de cada opção, ter um plano de negócios sólido, estabelecer acordos claros com as fontes de recursos escolhidas, ter um bom planejamento financeiro e, em alguns casos, consultar profissionais especializados. É fundamental que o empreendedor tome esses cuidados para garantir a segurança e o sucesso do seu negócio. NA PRÁTICA Agora que conhecemos um pouco sobre algumas questões relacionadas ao planejamento estratégico, que tal exercitarmos os conhecimentos adquiridos? Questão 1: Sobre capital semente Muitas vezes, as organizações necessitam de fontes de financiamento. Algumas das fontes de financiamento compreendem recursos próprios, ajuda de conhecidos e familiares, investidores anjos, capital semente, venture capital e private equity, financiamento coletivo (crowdfunding), agências de fomento, incubadoras, hotéis tecnológicos e bancos. 22 Nesse sentido, qual é a principal característica do financiamento de capital semente? a) Os fundos de capital semente buscam retornos moderados. b) É um investimento de baixo risco para os fundos de investimento. c) É um financiamento de curto prazo para startups que são sustentáveis. d) É fornecido por bancos em estágios iniciais de desenvolvimento de startups. e) Os fundos de capital semente buscam altos retornos assumindo altos riscos. Questão 2: Sobre venture capital e private equity Em um estágio posterior do novo empreendimento, pode-se ter a chance de atrair investimentos de diversos tipos de investidores de risco. Geralmente, esses fundos investem em empresas de tamanho médio que já tenham alcançado um faturamento expressivo e que necessitem dar um salto significativo. Os investimentos podem incluir venture capital e private equity. Nesse contexto, qual a diferença entre venture capital e private equity? a) O venture capital é voltado para startups em estágio inicial, enquanto o private equity investe em empresas mais maduras. b) O venture capital implica troca de participação societária, enquanto o private equity não. c) O private equity é exclusivo para empresas que desejam abrir capital na bolsa de valores, enquanto o venture capital não. d) O venture capital é mais arriscado que o private equity, pois investe em empresas menos estabelecidas. e) O private equity é uma forma de financiamento de empresas com fins lucrativos, enquanto o venture capital é voltado para negócios sociais. Questão 3: Sobre Payback O propósito de um investimento consiste em buscar uma rentabilidade que ultrapasse o montante investido, com o intuito de compensar o risco de trocar um valor presente seguro por um valor futuro que pode não ser recuperado. Para avaliar investimentos, são utilizados principalmente os métodos de Payback, Valor Presente Líquido (VPL) e Taxa Interna de Retorno (TIR). Sendo assim, qual é a definição de Payback em um projeto de investimento? a) O período necessário para que o fluxo de caixa acumulado do projeto se iguale ao investimento inicial. 23 b) O período em que o projeto deve ser concluído para garantir seu sucesso. c) A quantidade de dinheiro que o projeto irá gerar após sua conclusão. d) A taxa de desconto utilizada para calcular o retorno do projeto. e) O lucro líquido gerado pelo projeto em cada período. Questão 4: Sobre VPL O Valor Presente Líquido (VPL) é uma das ferramentas mais importantes da análise de investimentos. Essa medida financeira é utilizada para avaliar a viabilidade econômica de um projeto, considerando o valor do dinheiro no tempo. Sendo assim, qual é a definição correta de Valor Presente Líquido (VPL)? a) É o valor que se obtém a partir da soma de todos os fluxos de caixa futuros de um investimento, descontados a uma taxa de juros apropriada. b) É o valor que se obtém subtraindo o investimento inicial do fluxo de caixa acumulado em um determinado período. c) É o valor que se obtém multiplicando o investimento inicial pela taxa interna de retorno do investimento. d) É o valor que se obtém dividindo o fluxo de caixa acumulado em um determinado período pelo investimento inicial. e) É o valor que se obtém somando o investimento inicial ao fluxo de caixa líquido gerado pelo investimento. FINALIZANDO Nesta etapa, estudamos as principais fontes de captação de recursos das Micro e Pequenas empresas, os métodos de avaliação de investimentos e o desenvolvimento e planejamento estratégico dessas empresas. Os tópicos tratados foram: • Fontes potenciais de captação de recursos; • Métodos de avaliação de investimentos; • Desenvolvendo o planejamento estratégico em PMEs; • A implementação e os órgãos de governança nas PMEs; • O processo sucessório. Na próxima etapa estudaremos sobre inovação, sustentabilidade e crescimento dos negócios. Bons estudos e até a próxima! 24 REFERÊNCIAS CHIAVENATO, Idalberto; SAPIRO, Arão. Planejamento estratégico: da intenção aos resultados. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2020. COELHO, Caio Sasaki Godeguez. Crowdfunding: natureza e regime jurídico. São Paulo: Almedina, 2018. CVM. Resolução nº 88, de 27 de abril de 2022. Disponível em: <https://conteudo.cvm.gov.br/legislacao/resolucoes/resol088.html>. Acesso em: 29 mar. 2023. KUAZAQUI, Edmir. Planejamento estratégico. São Paulo: Cengage, 2016. LEMES JR, Antônio Barbosa; PISA, Beatriz Jackiu. Administrando Micro e Pequenas Empresas – Empreendedorismo e Gestão. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2019. LOSADA, Bruna. Finanças para startups: o essencial para empreender, liderar e investir em startups. 1. ed. São Paulo: Saint Paul Editora, 2020. MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Planejamento sucessório: introdução à arquitetura estratégica – patrimonial e empresarial – com vista à sucessão causa mortis. São Paulo: Atlas, 2015. PADOVEZE, Clóvis Luís; BENEDICTO, Gideon Carvalho de. Análise das demonstrações financeiras. 3. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2010. ROSSETTI, J. P.; ANDRADE, A. Governança Corporativa. São Paulo: Atlas, 2022. 25 GABARITO DOS EXERCÍCIOS DA SEÇÃO NA PRÁTICA Questão 1: Sobre capital semente Correta: e) Os fundos de capital semente buscam altos retornos assumindo altos riscos. O capital semente é um tipo de investimento de longo prazo que é oferecido por fundos de investimento para startups em seus estágios iniciais dedesenvolvimento ou ainda em fase de concepção. Esse tipo de financiamento é bastante procurado por empreendedores, uma vez que pode proporcionar estabilidade financeira para a empresa até que ela se torne sustentável. Os fundos de capital semente buscam obter altos retornos e estão dispostos a assumir riscos elevados, investindo em empresas inovadoras e de base tecnológica, podendo aplicar valores significativamente maiores do que os investidores anjo. Questão 2: Sobre capital semente Correta: a) O venture capital é voltado para startups em estágio inicial, enquanto o private equity investe em empresas mais maduras. O venture capital é direcionado para empresas em fase inicial, com grande potencial de crescimento, enquanto o private equity investe em empresas mais maduras e consolidadas no mercado. Além disso, a troca de participação societária é uma característica comum no venture capital, o que não acontece necessariamente no private equity. As demais alternativas apresentam informações incorretas sobre as duas formas de investimento. Questão 3: Sobre Payback Correta: a) O período necessário para que o fluxo de caixa acumulado do projeto se iguale ao investimento inicial. Payback é o tempo necessário para que o fluxo de caixa acumulado de um projeto de investimento se iguale ao investimento inicial. É uma medida de análise de investimentos que se concentra no prazo de recuperação do investimento inicial e, portanto, ajuda a avaliar a rapidez com que o investimento inicial será recuperado. Questão 4: Sobre VPL Correta: a) É o valor que se obtém a partir da soma de todos os fluxos de caixa futuros de um investimento, descontados a uma taxa de juros apropriada. 26 O Valor Presente Líquido (VPL) corresponde ao valor que se obtém a partir da soma de todos os fluxos de caixa futuros de um investimento, descontados a uma taxa de juros apropriada. O VPL é uma medida financeira utilizada para avaliar a viabilidade de um investimento, levando em consideração o valor do dinheiro no tempo. Ao descontar os fluxos de caixa futuros, o VPL considera a taxa de juros que seria necessária para trazer esses fluxos de volta ao valor presente. CONTABILIDADE E GESTÃO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS AULA 6 Profª Daiane Lolatto 2 CONVERSA INICIAL Nesta etapa, vamos tratar de inovação, sustentabilidade e crescimento dos negócios. Para tanto, estudaremos os seguintes tópicos: • Inovação: tipos, processos e gestão da inovação; • Design Thinking (DT): um modelo mental a serviço da inovação; • Inovação e sustentabilidade; • Incentivos à inovação no Brasil; • Oportunidade e tecnologia. Aproveite a leitura e exercite os conhecimentos adquiridos resolvendo as atividades. Lembre-se, a melhor forma de aprender é exercitando. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO A inovação é um tema fundamental para o crescimento e desenvolvimento das empresas e da sociedade em geral. Isso porque, por meio da inovação, é possível criar novas soluções e melhorias, gerando valor para os consumidores e contribuindo para o aumento da produtividade e competitividade. No entanto, a inovação não se limita apenas ao desenvolvimento de novos produtos ou serviços, mas também pode ser aplicada em diferentes áreas, como processos, marketing e organização. Nesse contexto, a gestão da inovação torna-se crucial para o sucesso das empresas, uma vez que envolve a identificação de oportunidades, análise de riscos, definição de estratégias e implementação de ações para o desenvolvimento de soluções criativas e eficientes. Uma das abordagens que tem se destacado nos últimos anos é o Design Thinking (DT), que coloca o usuário no centro do processo criativo, buscando entender suas necessidades e desejos para desenvolver soluções que atendam de forma eficiente e criativa. Além disso, a inovação também está diretamente ligada à sustentabilidade, uma vez que o desenvolvimento de soluções sustentáveis pode trazer benefícios econômicos e ambientais de longo prazo. No Brasil, há incentivos à inovação, como leis de incentivo fiscal, que visam estimular as empresas a investir em pesquisa e desenvolvimento. Por fim, as oportunidades e tecnologias emergentes também têm impulsionado a inovação, criando novas 3 possibilidades para o desenvolvimento de soluções criativas e eficientes que possam atender às necessidades dos consumidores de forma inovadora. Diante disso, vamos conhecer os tipos, processos e gestão da inovação, a metodologia Design Thinking, os incentivos à inovação no Brasil e a aplicação da tecnologia no negócio. TEMA 1 – INOVAÇÃO: TIPOS, PROCESSOS E GESTÃO DA INOVAÇÃO Nos mercados atuais, altamente competitivos em escala global, a habilidade de inovar pode ser o fator determinante para a sobrevivência das empresas. Apenas aquelas que souberem inovar terão a chance de continuar existindo. A inovação tem ganhado grande relevância desde a década de 1980, quando Schumpeter (1982), considerado o pai da inovação, identificou-a como a principal característica dos empreendedores que, ao combinar recursos de novas e diferentes maneiras, promovem o desenvolvimento e o crescimento econômico (Lemes, 2019). Drucker (1987) define inovação como a capacidade de criar riqueza (recursos). O Decreto n. 5.798, de 7 de junho de 2006, que regulamenta a Lei n. 11.196, de 21 de novembro de 2005 (Lei do Bem), define a inovação como a criação de um novo produto ou processo de fabricação, assim como a adição de novas funcionalidades ou características ao produto ou processo que leve a melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade, resultando em uma maior competitividade no mercado. No entanto, segundo Lemes (2019), é importante distinguir os conceitos de inovação, criatividade e invenção. • Criatividade: refere-se à geração de novas ideias e identificação de oportunidades. • Invenção: é a materialização da criatividade, podendo ser a criação de protótipos ou modelos, combinando ideias inéditas. • Inovação: segundo a definição do Manual de Oslo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de 2018, é a concretização de uma invenção em um novo ou substancialmente aprimorado produto, serviço, processo, método de marketing ou organização de negócios, local de trabalho ou relações externas. 4 Na Figura 1, podemos observar a relação entre os conceitos de inovação, criatividade e invenção, importantes para o desenvolvimento de um negócio. Figura 1 – Criatividade – Invenção – Inovação Fonte: elaborado com base em Lemes, 2019. Nesse sentido, vamos estudar na sequência os tipos de inovação, como realizar a gestão da inovação e qual o processo de inovação. Vamos ver o quão importante é inovar para se manter competitivo no mercado. 1.1 Tipos de inovação A inovação impulsiona o crescimento da empresa, gerando resultados financeiros satisfatórios quando planejada e implementada de forma adequada. Ela pode contribuir para a redução dos custos de produção ou prestação de Inovação • Criar algo útil • Agregar valor Invenção • Criar algo novo Criatividade • Ideia/visão 5 serviços mediante a introdução de novos processos, conquistar novos mercados não explorados ao lançar um produto ou serviço novo ou substancialmente melhorado, e ainda representar um diferencial diante da concorrência (Lemes, 2019). Por ser um conceito universal, a inovação pode afetar todos os processos de uma empresa, mas sua extensão depende do grau de mudança que se deseja introduzir (Lemes, 2019). O Quadro 1 apresenta as características de quatro tipos de inovação. Quadro 1 – Os três principais tipos de mudanças e suas características Tipos da mudança Características Radical De acordo com o Manual de Oslo (2018), a definição de inovaçãoinclui a criação de novos negócios ou expansão para novas indústrias por meio da introdução de novos produtos ou serviços, além de causar uma mudança significativa em toda a indústria e tendencialmente criar novos valores de mercado. Um exemplo é a disponibilidade de serviços bancários on-line e outras facilidades proporcionadas pelas novas tecnologias e pela Internet. Disruptiva O Manual de Oslo (2018) define como revoluções aquelas inovações que surpreendem a maioria das pessoas, criando algo novo ou satisfazendo uma necessidade até então desconhecida. Geralmente, essas grandes revoluções geram usos e efeitos que vão além do que os inventores tinham previsto. Esse tipo de inovação pode criar novas indústrias ou transformar as já existentes. Um exemplo disso é o Iphone. Incremental Aprimoramentos, alterações, otimizações, simplificações e consolidações de produtos, processos, serviços e atividades de produção e distribuição já existentes são considerados como a maior parte das inovações observadas em produtos e serviços. Um exemplo disso é a constante evolução anual dos automóveis em relação às versões dos anos anteriores. Fonte: elaborado com base em Lemes, 2019. A inovação surge a partir da percepção de novas oportunidades no ambiente em que a empresa está inserida. Segundo a OCDE (2018), existem quatro tipos de inovação, que podem ser completamente novas ou trazer melhorias em algo existente, o que Schumpeter (1934) conceituou como inovação incremental. Esses tipos de inovação trazem mudanças na forma de trabalhar ou produzir, visando aumentar a produtividade e o desempenho. O Quadro 2 apresenta os quatro tipos de inovação adotados pela OCDE (2018). 6 Quadro 2 – Os quatro tipos de inovação segundo a OCDE Tipos de inovação Conceito Inovação de produto Implementação de um bem ou serviço inovador, seja completamente novo ou com melhorias substanciais em suas características e funcionalidades, incluindo aprimoramentos nas especificações técnicas, componentes, materiais, software ou outras características funcionais. Inovação de processo Desenvolvimento de um novo método de produção ou distribuição ou aprimoramento significativo de um método existente, com mudanças nas técnicas, tecnologia, equipamentos e/ou software. Inovação de marketing Modificações nos métodos de marketing que envolvem aprimoramentos no design do produto ou embalagem, preço, distribuição e promoção, que podem representar uma mudança significativa em relação aos métodos de marketing existentes. Inovação organizacional Implementação de uma nova prática de negócio, organização do trabalho ou relacionamento externo que busca melhorar o desempenho da empresa. Fonte: elaborado com base em Lemes, 2019. Depois de apresentar todos esses conceitos formais, podemos resumir de forma simples que inovação é observar a empresa e o produto e fazer mudanças. É entender que, se não houver mudança no produto, ele ficará ultrapassado. É ouvir o cliente e perguntar o que ele quer. É monitorar as novidades que a concorrência está trazendo e mudar ainda mais, prevendo tendências (Lemes, 2019). Nesse sentido, inovar é fazer as mudanças necessárias para que a empresa aumente seus lucros. Ainda, é tornar essa prática um hábito para todos os funcionários, para que possam trazer suas ideias e que elas sejam ouvidas e avaliadas pelo empresário e colocadas em prática quando viáveis. E não se trata apenas de produto ou serviço, a inovação pode ocorrer nos processos utilizados, na forma de fazer as coisas e até na descoberta de novos mercados até então não explorados. Às vezes, um pequeno investimento no produto ou serviço abre novos e promissores mercados que geram maior valor para a empresa (Lemes, 2019). Dessa forma, o processo de inovação é amplo e tem sempre como objetivo introduzir algo novo que aumente a lucratividade e fortaleça a atuação no mercado. A Figura 2 abaixo ilustra essa perspectiva. 7 Figura 2 – Objetivos do processo inovador Fonte: elaborado com base em Lemes, 2019. 1.2 Gestão da inovação A gestão da inovação é um conjunto de práticas gerenciais que guiam todo o processo inovador. Em primeiro lugar, é importante estabelecer uma cultura inovadora na empresa, eliminando barreiras e renovando práticas e hábitos. Inovar sem a devida gestão pode representar um grande risco, por isso, é necessário planejamento, controle e avaliação dos resultados. A gestão deve ser ampla e envolver tanto as atividades estratégicas como as operacionais da empresa, com todos os colaboradores alinhados para atender às necessidades do mercado (Lemes, 2019). As empresas, especialmente as micro e pequenas empresas (MPEs), estão buscando inovação para se destacarem e se manterem no mercado. Para alcançar esse objetivo, é fundamental adotar uma nova cultura organizacional, Objetivos do processo Inovador Alcançar novos mercados Fortalecer a marca Estimular a competitividade Fidelizar clientes Reduzir custos Aumentar lucros Agregar valor Crescer 8 que envolva ferramentas capazes de proporcionar uma visão ampliada e sistêmica do negócio, como a análise SWOT e de mercado (Lemes, 2019). A adoção de uma gestão inovadora pode contribuir para a integração e o controle eficiente dos recursos, gerando benefícios em termos de qualidade e produtividade. Nas MPEs, o lema da inovação deve ser “fazer mais com menos e melhor”, pois o aumento dos lucros virá como consequência do valor agregado ao negócio (Lemes, 2019). É importante lembrar que uma inovação só pode ser caracterizada como tal se gerar valor para a empresa e satisfação para os clientes, atendendo às suas expectativas de custo-benefício (Lemes, 2019). 1.3 O processo de inovação Uma empresa inovadora é aquela que consegue implementar com sucesso um processo formal de inovação e escolher o momento adequado para fazê-lo, o que não é uma tarefa fácil. Decidir o momento certo para introduzir uma inovação em um produto ou serviço é uma escolha difícil e arriscada, que envolve riscos internos e externos. Para implementar inovações de sucesso em uma empresa, é crucial realizar uma análise minuciosa tanto do ambiente externo quanto interno, com atenção às tendências do mercado e às capacidades da empresa, inclusive em termos financeiros. É fundamental compreender que a implementação de uma inovação demanda mudanças significativas, investimentos em capacitação e motivação dos colaboradores, além de recursos financeiros (Lemes, 2019). Geralmente, nas micro e pequenas empresas, os processos de inovação são conduzidos informalmente e sem um planejamento adequado, o que pode gerar diversas dificuldades para o sucesso da inovação introduzida. As MPEs enfrentam obstáculos como a falta de conhecimento sobre o mercado em que atuam, a falta de acompanhamento das mudanças tecnológicas do setor, a falta de conhecimento sobre entidades de apoio para gestão e financiamento, a escassez de recursos financeiros, capacitação e qualificação do pessoal, a aquisição de novas máquinas ou equipamentos e o estabelecimento de parcerias estratégicas para inovação (Lemes, 2019). O modelo mais difundido para implantar um processo de inovação é o modelo de Tidd e Bessant (2015), que apresenta um plano de metas, objetivos e etapas bem definidas e pode ser utilizado por qualquer empresa, seja na 9 produção de bens ou na prestação de serviços, conforme demonstrado no Quadro 3 (Lemes, 2019). Quadro 3 – Processo de inovação: plano de metas, objetivos e etapas Etapa Descrição Buscar É importante estar atento aos indicadores do mercado que possam sinalizar mudanças que afetem a empresa, seja para explorar novas oportunidades ou para se preparar diante de pressões políticas ou da concorrência. Selecionar Selecionar as oportunidades tecnológicas e/ou mercadológicas que melhor se alinhem às estratégias,conhecimento, capacidade e recursos da empresa. Implementar Realizar a implementação das escolhas (ideias) selecionadas que levarão ao desenvolvimento e lançamento de um novo produto ou à adoção de um novo processo ou modelo de negócio. Aprender e “reinovar” Rever minuciosamente todo o processo de inovação, a fim de identificar e aprender com os erros cometidos, de modo a orientar as decisões futuras. A “reinovação”, nesse caso, tem como ponto de partida o sucesso anterior, permitindo que alguns erros conhecidos possam ser evitados e o processo seja aprimorado a cada nova inovação adotada. Fonte: elaborado com base em Tidd; Bessant, 2015. De acordo com o modelo proposto por Tidd e Bessant (2015), existem dois modos complementares para introduzir a inovação. Primeiro, “fazer o que sabemos, mas melhor” e, segundo, “fazer diferente”. O processo de inovação é influenciado pelo tamanho da empresa. As micro e pequenas empresas, por exemplo, geralmente apresentam maior flexibilidade e agilidade, além de tomarem decisões por meio de uma ou poucas pessoas. No entanto, podem enfrentar dificuldades para financiar a inovação, o que torna a inovação incremental mais adequada para essas empresas. Essa modalidade permite que a inovação seja introduzida em etapas, possibilitando melhorias graduais nos produtos ou serviços, sem ultrapassar a capacidade e os recursos disponíveis (Lemes, 2019). É importante destacar que essa recomendação não é aplicável às startups, que buscam inovações radicais ou disruptivas para oferecer soluções inovadoras ou altamente específicas (Lemes, 2019). Na sequência, vamos estudar o Design Thinking (DT) como um modelo mental amplamente utilizado para fomentar a inovação. Esse modelo tem como objetivo impulsionar o sucesso de empresas e organizações em um cenário cada vez mais complexo e competitivo, promovendo a criação de soluções inovadoras para os desafios contemporâneos. 10 TEMA 2 – DESIGN THINKING (DT): UM MODELO MENTAL A SERVIÇO DA INOVAÇÃO Não há uma tradução exata do termo Design Thinking (DT) para a língua portuguesa, uma vez que a sua tradução literal “pensar como um design” não captura totalmente o seu significado real. Por isso, a utilização do termo em inglês parece ser mais adequada (Lemes, 2019). Tim Brown, um dos idealizadores da abordagem, define o Design Thinking como uma disciplina que emprega a sensibilidade e os métodos dos designers para atender às necessidades das pessoas com soluções tecnicamente viáveis. Além disso, ele emprega estratégias de negócios viáveis para converter essas soluções em valor para o cliente e oportunidades de mercado (Brown, 2018). O objetivo do Design Thinking é encontrar soluções inovadoras para os problemas das pessoas, concentrando-se em suas reais necessidades. Isso é alcançado por meio do compartilhamento de conhecimentos, trabalho em equipe e materialização de pensamentos e processos, utilizando ferramentas gráficas como o modelo Canvas e Mapas Mentais (Lemes, 2019). Como o Design Thinking é uma abordagem colaborativa centrada nas pessoas, muitas empresas tiveram sucesso em seus projetos ao adotá-la. Para formalizar uma estrutura de aplicação do processo do DT, foram criados três fluxos principais: compreender, explorar e materializar. Esses fluxos comportam, juntos, seis fases ou etapas, incluindo compreensão, definição, geração de ideias, prototipagem, teste e implementação. A Figura 3 representa a estrutura do processo do Design Thinking (Lemes, 2019). 11 Figura 3 – Etapas do Design Thinking Fonte: elaborado com base em Kumar, 2013. A abordagem do Design Thinking permite que, em qualquer fase do processo, seja possível voltar às fases anteriores e reiniciar o processo com melhorias introduzidas. Por exemplo, durante a fase de teste do protótipo, pode ser necessário voltar a uma fase anterior para ajustar alguma hipótese falha. O significado detalhado de cada etapa é apresentado no Quadro 4 (Lemes, 2019). Quadro 4 – Detalhamento das etapas do Design Thinking Etapa Descrição Compreender Como o Design Thinking é centrado nas pessoas, o processo começa com a observação e compreensão de suas necessidades. Durante essa fase, busca-se conhecer seus pensamentos, sentimentos, ações e desejos. O objetivo é compreender as pessoas para as quais as soluções serão propostas e entender como elas lidam com o problema. Definir As informações coletadas na fase anterior são consolidadas e analisadas para identificar as necessidades. Com base nisso, começa-se a busca por soluções inovadoras. O objetivo dessa etapa é definir clara e objetivamente o problema e identificar os motivos que deram origem às necessidades. Idealizar Depois de identificar o problema e suas motivações, começa-se a fase de busca compartilhada e coletiva por soluções. Nessa fase, ocorre o brainstorming (tempestade de ideias), em que o maior número possível de pessoas interessadas na solução se reúnem para propor ideias livremente. Todas as ideias são anotadas, pois muitas vezes a solução vem da combinação de várias delas. O objetivo é identificar soluções criativas para resolver o problema e, com isso, introduzir inovações no processo. Prototipar Nesta fase ocorre a materialização da(s) ideia(s) escolhida(s). Pode-se construir um protótipo simulado através de desenhos, maquetes ou uma versão inicial do produto para iniciar o processo de prototipagem do DT. Embora o protótipo possa ser imperfeito Compreender Definir Idear Prototipar Testar Implementar Compreender Explorar Materializar 12 ou incompleto, ele permite testar as primeiras hipóteses, introduzir melhorias necessárias e, se necessário, descartar a solução proposta. Testar Depois de construir o protótipo e avaliar as primeiras impressões, chega o momento de testar a ideia (ou solução) na prática. É importante realizar testes com as pessoas que apresentaram o problema a ser resolvido. Com base nos comentários e sugestões desses participantes (feedback), é necessário avaliar novamente se as soluções propostas são válidas ou não. Se for identificado que não são eficazes, é necessário reiniciar o ciclo a partir das fases anteriores. Implementar A fase de teste e validação da solução proposta é essencial para garantir que o produto ou serviço esteja pronto para ser lançado no mercado. No entanto, essa fase não deve ser vista como o fim do processo, mas sim como mais uma etapa na busca pela evolução da ideia. A qualquer momento, com base no acompanhamento do desempenho e nas críticas dos vários envolvidos, como a equipe do projeto, clientes, fornecedores e outros colaboradores, é possível retomar qualquer uma das fases do DT e introduzir melhorias, tornando essa etapa um processo compartilhado de desenvolvimento contínuo e incremental. Fonte: elaborado com base em Kumar, 2013. Ao descrever as etapas do Design Thinking, torna-se mais claro seu caráter inovador, que se fundamenta na mudança do relacionamento com o cliente e na empatia ao se colocar no lugar do outro para entender melhor sua visão de mundo. Ao se concentrar nas pessoas e em suas necessidades, soluções inovadoras podem ser oferecidas de acordo com suas expectativas. Além disso, todo o processo traz benefícios para a empresa ao conquistar uma vantagem competitiva significativa. As micro e pequenas empresas podem e devem aplicar a abordagem do DT, uma vez que a inovação é um fator crucial para a sobrevivência no mercado altamente competitivo de hoje. Oferecer mais do mesmo não é mais suficiente para garantir a continuidade dos negócios, é preciso inovar (Lemes, 2019). Segundo Lemes (2019), o DT apresenta as seguintes vantagens: • Baixo investimento necessário: o DT é um processo colaborativo entre pessoas com diferentes formações, pontos de vista e perspectivas, que trabalham em equipe para encontrar soluções inovadoras.• Possibilidade de aprendizagem na prática: a experimentação permite aprender com os erros e reiniciar o processo introduzindo melhorias até conseguir o produto desejado pelos envolvidos no processo, dentro da capacidade técnica da empresa e da viabilidade do negócio. 13 • A participação de clientes e outros parceiros na geração de ideias para encontrar a solução para o problema, tudo isso amparado pelos feedbacks obtidos nas diferentes fases do processo. Na sequência, vamos compreender a importância da sustentabilidade no processo de inovação. A sustentabilidade é um tema cada vez mais relevante na sociedade atual, e isso se reflete também no mundo dos negócios e da inovação. A busca por soluções sustentáveis não é apenas uma questão ética e moral, mas também uma necessidade para a sobrevivência das empresas no longo prazo. TEMA 3 – INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE Uma empresa que busca inovação não pode se limitar a preocupações com o mercado, produtos e clientes em seu planejamento estratégico. É preciso adotar práticas eficazes que levem consideração não apenas a viabilidade financeira, mas também o impacto da empresa na sociedade e no meio ambiente (Lemes, 2019). De acordo com a Organização Não Governamental Brasileira, chamada World Wide Fund for Nature, esse desenvolvimento sustentável é definido como a capacidade de suprir as necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade de atender às necessidades das futuras gerações, levando em consideração a preservação dos recursos naturais para o futuro (WWF, 2015). Para alcançar a sustentabilidade, é fundamental reconhecer que os recursos naturais são finitos e que muitos deles estão em situação crítica, como o uso da água e a poluição de mares e rios. Para promover a sustentabilidade, é preciso reduzir a exploração dos recursos não renováveis e incentivar a adoção de substitutos renováveis, além de respeitar o tempo de regeneração próprio de cada tipo de recurso renovável. As emissões de resíduos poluentes também devem ser reduzidas ao máximo, para que não ultrapassem a capacidade de regeneração ou absorção pelos ecossistemas (Lemes, 2019). O desenvolvimento sustentável é um tema que tem sido cada vez mais discutido e regulado por leis, visando equilibrar o uso dos recursos ambientais com o necessário desenvolvimento econômico. Isso implica em adotar uma nova postura inovadora na utilização dos recursos, que promova o crescimento 14 econômico do negócio e a redução do impacto ao meio ambiente, sem deixar de gerar lucros (Lemes, 2019). Nesse sentido, a inovação deve considerar os impactos sociais e ambientais, como por exemplo incluir representantes da comunidade, escolas, universidades e organizações governamentais ou não governamentais ligadas ao meio ambiente na fase de geração e seleção de ideias, aproveitando o conceito de Design Thinking. Com essas práticas, a empresa poderá contribuir para a economia de sua localidade e ter sua marca valorizada como ecologicamente correta (Lemes, 2019). 3.1 Contribuição das pequenas empresas com a sustentabilidade As pequenas empresas podem praticar a sustentabilidade ambiental por meio de ações simples, como a separação de resíduos recicláveis, o reaproveitamento de água, a reutilização de rejeitos e a parceria com empresas de reciclagem. Além disso, elas podem conscientizar os funcionários sobre a economia de água e energia elétrica, não só para reduzir custos, mas também para beneficiar o meio ambiente (Lemes, 2019). Micro e pequenas empresas podem adotar essas ações sem gastar muito, criando uma cultura de cuidado com o meio ambiente e a sociedade. No que se refere à responsabilidade social, é importante seguir normas de higiene e segurança do trabalho, cuidar da saúde dos funcionários e cumprir os horários e tempos de descanso previstos em lei (Lemes, 2019). Os três pilares da sustentabilidade empresarial — econômico, social e ambiental — podem ser visualizados na Figura 4 para melhor compreensão do seu conceito. 15 Figura 4 – Os três pilares da sustentabilidade empresarial Fonte: elaborado com base em Lemes, 2019. Crédito: anntavi/Shutterstock; elenabsl/Shutterstock; Anson_/Shutterstock. 3.2 Motivos para as MPEs se tornarem sustentáveis A conscientização da sociedade em geral e dos consumidores em particular sobre questões ambientais tem aumentado. Empresas no Brasil e em todo o mundo entenderam que a sustentabilidade se tornou uma questão estratégica e pode impactar seus negócios no curto, médio e longo prazo (Lemes, 2019). O crescente interesse do consumidor em práticas sustentáveis tem feito as empresas mudarem sua postura em relação ao tema, não apenas em suas falas, mas em suas práticas, adotando métodos de produção que preservam o meio ambiente e respeitam seus funcionários e as comunidades em que operam. As empresas que lideram esse movimento estão aproveitando a oportunidade para fortalecer suas marcas, associando-as ao rótulo de empresas sustentáveis, que adotam boas práticas em relação à natureza e à sociedade. Isso resulta em vantagem competitiva e compensa os custos da mudança (Lemes, 2019). O Gráfico 1 apresenta os resultados de uma pesquisa de mercado realizada pela Opinion Box em 2019, que mostra dados sobre a percepção dos Su st en ta bi lid ad e Ec on ôm ic a •Expansão de mercado como estratégia de negócio. • Benefício competitivo. • Reputação da empresa no mercado. • Práticas inovadoras. • Oportunidades de negócio. • Opções de financiamento. • Redução de custos. • Excelência e sustentabilidade nos negócios. Su st en ta bi lid ad e So ci al •Cuidado com o funcionário (Saúde e Segurança do Trabalho). •Respeito às leis trabalhistas. •Fornecer um ambiente de trabalho respeitoso para o indivíduo. •Eliminar práticas discriminatórias de qualquer tipo. •Participação em projetos sociais na comunidade. •Ouvir a comunidade em relação aos seus produtos ou serviços e buscar melhorias. Su st en ta bi ld ia de A m bi en ta l •Aproveitar ao máximo insumos de fontes renováveis. • Destinar adequadamente os rejeitos gerados. • Adotar tecnologias limpas. • Diminuir o desperdício e a produção de lixo. • Reutilizar: não descartar o que não é lixo. Usar para outros fins (vender, doar). • Reciclar: transformar materiais usados em matéria-prima. • Produzir com menor gasto de energia. • Reduzir as emissões de poluentes. 16 consumidores brasileiros em relação à sustentabilidade e ao engajamento social das empresas. Gráfico 1 – Percepção dos brasileiros sobre a sustentabilidade e o engajamento social nas empresas Fonte: elaborado com base em Opinion Box, 2019. TEMA 4 – INCENTIVOS À INOVAÇÃO NO BRASIL No Brasil, existem medidas de incentivo à inovação, como a criação de fundos e a promulgação de leis. A Lei n. 10.973, de 2 de dezembro de 2004, conhecida como Lei da Inovação, é uma dessas leis que estabelece políticas e medidas para estimular a pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, visando aprimorar a capacitação tecnológica, alcançar a autonomia tecnológica e promover o desenvolvimento do sistema produtivo do país em nível nacional e regional (Lemes, 2019). Essa lei é estruturada em três eixos: estabelecimento de parcerias entre empresas e universidades e institutos tecnológicos para criar um ambiente propício à inovação, incentivo à participação dos Institutos de Ciência e Tecnologia no processo de inovação e estímulo direto à inovação nas empresas (Lemes, 2019). 33% 53% 9% 55% 15% 58% 52% 50% 7% Se preocupam muito com práticas sustentáveis quando compram um produto Se preocupam pelo menos um pouco Não se preocupam com a sustentabilidade Sempre ou com frequência preferem marcas reconhecidas por cuidar do meio ambiente Nunca ou raramente escolhem a marca pelo cuidadoda empresa com o meio ambiente Deixariam de comprar uma marca se ela estiver envolvida com trabalho escravo Deixariam de comprar produtos de empresa que polua o meio ambiente Deixariam de comprar produtos de empresa envolvida em escândalos de corrupção Nenhum dos fatores listados faria o entrevistado desistir da compra. 17 O Decreto n. 9.283, de 02 de fevereiro de 2018, regulamenta a Lei da Inovação e estabelece medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica. De acordo com o Decreto, a Administração Pública (incluindo suas agências reguladoras e as de fomento) pode encorajar o desenvolvimento de projetos de colaboração entre empresas, Instituições Científicas, Tecnológicas e de Inovação (ICT) e entidades privadas sem fins lucrativos, com foco na criação de produtos, processos e serviços inovadores, bem como na transferência e disseminação de tecnologia (Lemes, 2019). A Lei do Bem (Lei n. 11.196/2005) estabelece incentivos fiscais à inovação para empresas que realizem pesquisa e desenvolvimento de inovação tecnológica. Para ter acesso a esses incentivos fiscais, os projetos de inovação tecnológica devem se enquadrar no seguinte conceito, estabelecido pela legislação brasileira: “concepção de novo produto ou processo de fabricação, bem como a agregação de novas funcionalidades ou características ao produto ou processo que implique melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade, resultando maior competitividade no mercado” (Lemes, 2019). Outros requisitos são necessários para acessar os incentivos fiscais da Lei do Bem. As empresas devem: estar no regime de Lucro Real; ter lucro fiscal no ano-base; ter regularidade fiscal em relação à quitação de tributos federais e outros créditos inscritos na Dívida Ativa da União (emitindo CND ou CPD-EN); investir em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D); e, registrar seus projetos de inovação no Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) (Lemes, 2019). Uma vez obtidos os créditos tributários, eles devem ser utilizados dentro do ano-calendário e não podem ser utilizados posteriormente a este prazo. Também é definido o conceito de pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica, de acordo com as atividades elencadas a seguir. A Lei do Bem traz benefícios fiscais para empresas que realizam pesquisa e desenvolvimento tecnológico, incluindo deduções de despesas, redução de impostos, depreciação integral e amortização acelerada. Para ter acesso a esses benefícios, a empresa precisa atender a pré-requisitos, como estar no regime de Lucro Real, ter regularidade fiscal, investir em P&D e cadastrar projetos de inovação no MCT. Além disso, existem outras formas de financiamento e fomento à inovação, como BNDES e FINEP (Lemes, 2019). 18 4.1 Inovação como estratégia de crescimento A inovação é um dos principais impulsionadores do crescimento de uma empresa. Empresas inovadoras costumam superar seus concorrentes e permanecer no mercado por mais tempo. O grande risco de não inovar é que o produto se torne obsoleto e o risco de não crescer é ficar estagnado (Lemes, 2019). No caso das MPEs, muitas delas ainda não perceberam a importância da inovação para a sua sobrevivência. Mesmo que percebam, muitas vezes não possuem conhecimento e recursos para implementá-la. Por isso, é importante que haja políticas de financiamento e organismos de apoio técnico, conforme mencionado anteriormente (Lemes, 2019). Para crescer de forma sustentável, é preciso se preparar, traçar planos, detalhar estratégias e objetivos a serem alcançados, além de quantificar os recursos necessários, de onde eles virão e qual será o custo. Em resumo, é necessário fazer um planejamento estratégico para o crescimento. É preciso olhar para dentro da empresa, examinar as alternativas de crescimento, buscar novos mercados ou investir em aumentar a participação no mercado atual, investir em novos produtos ou aumentar as vendas dos produtos atuais (Lemes, 2019). Ferramentas de análise como a matriz SWOT e as forças competitivas de Porter são bastante úteis. Além disso, há outra ferramenta que tem sido utilizada há muitos anos e ainda é muito útil para auxiliar nas decisões de crescimento da empresa: a matriz de crescimento Produto-Mercado, conhecida como matriz Ansoff, nome do seu idealizador (Lemes, 2019). A matriz Ansoff define quatro estratégias de crescimento empresarial, cada uma com seu próprio grau de investimento, retorno e risco (Lemes, 2019). • Penetração de mercado: consiste em aumentar as vendas de produtos ou serviços existentes nos mercados onde a empresa atua. Isso pode ser alcançado por meio de técnicas de fidelização, liquidações e promoções, por exemplo, com o objetivo de reduzir custos e aumentar o volume de vendas. • Desenvolvimento de produtos: envolve a criação de novos produtos ou serviços em mercados já existentes. Essa estratégia exige inovação e 19 melhorias tecnológicas para introduzir novos conceitos, como a introdução de versões light ou diet em linhas de iogurte e refrigerantes. • Desenvolvimento ou ampliação de mercado: refere-se à venda de produtos ou serviços existentes em novos mercados, que podem ser geográficos — vendas para outros estados, cidades ou países — ou por meio da introdução de novas utilizações para um produto já existente para ampliar o público-alvo, como focar as vendas em novas faixas etárias, sexo ou condições financeiras diferentes. • Diversificação: é a criação de novos produtos para novos mercados e representa a estratégia mais arriscada e inovadora, pois a empresa está introduzindo um produto completamente novo em um mercado desconhecido. Startups costumam atuar nessa área, buscando novas oportunidades de negócios. A representação gráfica para avaliar a estratégia mais adequada da matriz Ansoff é ilustrada na Figura 5. Figura 5 – Matriz Ansoff Produtos Existentes Novos M er ca do s Ex is te nt es Penetração de Mercado Risco Baixo Desenvolvimento de Produtos Risco Médio N ov os Desenvolvimento de Mercado Risco Médio Diversificação Risco Alto Fonte: elaborado com base em Ansoff, 1979. É fundamental compreender que as empresas precisam constantemente buscar o aumento de sua participação no mercado. Em setores estagnados com produtos pouco diferenciados, a competição por preço é intensa, o que pode prejudicar os resultados e reduzir a lucratividade (Lemes, 2019). A compreensão do valor da inovação como estratégia de crescimento é simples: a introdução de diferenciais competitivos no produto e a redução de Aum ento Aumento do risco 20 custos por meio de inovações no processo produtivo geram aumento da lucratividade da empresa (Lemes, 2019). No entanto, inovar não é uma tarefa fácil, pois requer investimentos em pesquisa e desenvolvimento, o que muitas vezes não é viável para empresas de pequeno porte. É necessário criar um ambiente propício à mudança e focado na observação e aprendizado, capaz de promover as transformações necessárias para tornar a empresa mais competitiva (Lemes, 2019). TEMA 5 – OPORTUNIDADE E TECNOLOGIA Se as empresas não procurarem adquirir conhecimentos e investir em tecnologia, a sua sobrevivência será cada vez mais difícil. O mercado está se transformando em um ambiente digital, o que traz novas oportunidades para as empresas que se antecipam e as aproveitam (Lemes, 2019). O Sebrae (2013) destaca a importância de um planejamento estratégico para identificar os objetivos de adotar a tecnologia digital. Sem um objetivo claro, o resultado pode ser o oposto do desejado e afastar os clientes que a empresa possui. Isso acontece porque no ambiente digital as empresas estão expostas a críticas e o feedback é imediato. No entanto, muitas das facilidades tecnológicas estão relacionadas à Internet, que é acessívela todos que querem utilizá-la para melhorar o marketing da empresa e qualificar pessoas e processos. Ainda, há muitas outras oportunidades nas redes sociais, blogs de tecnologia, entidades de apoio ao empreendedorismo e consultorias. Com tantas possibilidades para os negócios, os custos de implantação são baixos e se pagam em pouco tempo (Lemes, 2019). A internet trouxe muitas novas tecnologias que podem ampliar os mercados e as vendas de empresas de todos os tamanhos. Para aquelas que ainda têm dúvidas, a recomendação é começar a pensar no assunto, pois a busca pelo cliente está cada vez mais ligada ao mundo virtual (Lemes, 2019). Conforme Lemes (2019), as ferramentas mais populares, que podem ser um primeiro contato para a empresa aprofundar de acordo com seus interesses e disponibilidade, compreendem: vendas on-line, marketing de redes sociais, marketing de conteúdo em blog, computação em nuvem ou cloud computing, Internet das Coisas (IoT) e Big Data. 21 Entretanto, há outras tecnologias mais avançadas e com custos variados que são utilizadas em áreas como gestão financeira, recursos humanos, gestão de estoques, controle de qualidade, logística, automação de produção, impressão 3D, drones, entre outras (Lemes, 2019). TROCANDO IDEIAS É possível praticar a sustentabilidade ambiental em pequenas empresas por meio de ações simples, como a separação de resíduos recicláveis e a reutilização de água e rejeitos. Sendo assim, qual é o papel das pequenas empresas na promoção da sustentabilidade ambiental? Além das ações mencionadas, quais outras iniciativas as pequenas empresas podem adotar para minimizar seu impacto no meio ambiente? Como a adoção de práticas sustentáveis pode contribuir para a imagem e reputação da empresa perante seus clientes e stakeholders? As pequenas empresas têm um papel fundamental na promoção da sustentabilidade ambiental, uma vez que, juntas, representam uma parcela significativa da economia e podem ter um grande impacto positivo no meio ambiente por meio de suas práticas diárias. Além das ações mencionadas na afirmação, as pequenas empresas podem adotar outras iniciativas, como a utilização de materiais reciclados em seus produtos, a redução do consumo de água e energia elétrica por meio da adoção de tecnologias mais eficientes e a eliminação de produtos químicos nocivos em suas atividades. A adoção de práticas sustentáveis pode contribuir para a imagem e reputação da empresa perante seus clientes e stakeholders, uma vez que demonstra compromisso com a responsabilidade social e ambiental. Além disso, pode gerar economias significativas a longo prazo, tanto em termos financeiros quanto de recursos naturais, contribuindo para a viabilidade e sustentabilidade do negócio a longo prazo. NA PRÁTICA Agora que conhecemos um pouco sobre algumas questões relacionadas à inovação e à sustentabilidade, que tal exercitarmos os conhecimentos adquiridos? 22 • Questão 1: Tipos de inovação. A inovação pode ter impacto em todos os processos de uma empresa, porém o quanto ela irá influenciar depende do nível de transformação que se deseja implementar (Lemes, 2019). O Manual de Oslo classifica a mudança em três tipos: radical, disruptiva e incremental. Qual é a definição de inovação segundo o Manual de Oslo (2018) e qual é um exemplo de inovação radical descrito nele? a) A definição de inovação inclui apenas aprimoramentos e otimizações de produtos e serviços já existentes. Um exemplo de inovação radical é a evolução anual dos automóveis em relação às versões dos anos anteriores. b) A definição de inovação inclui a criação de novos negócios ou expansão para novas indústrias. Um exemplo de inovação radical é a disponibilidade de serviços bancários on-line. c) A definição de inovação inclui apenas invenções de novos produtos e serviços. Um exemplo de inovação radical é a constante evolução anual dos automóveis em relação às versões dos anos anteriores. d) A definição de inovação inclui apenas alterações em processos de produção. Um exemplo de inovação radical é o iPhone. e) A definição de inovação inclui revoluções que criam algo novo ou satisfazem uma necessidade até então desconhecida. Um exemplo de inovação radical é o iPhone. • Questão 2: Tipos de inovação. A inovação tem origem na percepção de novas oportunidades no ambiente empresarial. De acordo com a OCDE (2018), há quatro categorias de inovação, que podem ser completamente novas ou introduzir melhorias: inovação de produto, inovação de processo, inovação de marketing e inovação organizacional. Nesse sentido, qual é a definição de inovação de processo? a) Implementação de um bem ou serviço inovador. b) Desenvolvimento de um novo método de marketing. c) Aprimoramentos no design do produto ou embalagem. 23 d) Aprimoramento nas especificações técnicas, componentes, materiais, software ou outras características funcionais. e) Implementação de uma nova prática de negócio, organização do trabalho ou relacionamento externo que busca melhorar o desempenho da empresa. • Questão 3: O processo de inovação. O modelo mais difundido para implantar um processo de inovação é o modelo de Tidd e Bessant (2015), que apresenta um plano com metas, objetivos e etapas bem definidos e pode ser utilizado por empresas de diversos setores, incluindo a produção de bens e a prestação de serviços. Esse processo inclui as etapas de busca, seleção, implementação e aprendizado, além da necessidade de se “reinovar” constantemente a partir dos erros cometidos. Sendo assim, qual é a importância de rever minuciosamente todo o processo de inovação, identificando e aprendendo com os erros cometidos, para orientar as decisões futuras? a) Identificar os indicadores do mercado que possam sinalizar mudanças. b) Selecionar as oportunidades tecnológicas e/ou mercadológicas que melhor se alinhem às estratégias, conhecimento, capacidade e recursos da empresa. c) Realizar a implementação das escolhas (ideias) selecionadas que levarão ao desenvolvimento e lançamento de um novo produto ou à adoção de um novo processo ou modelo de negócio. d) Buscar novas oportunidades no mercado e se preparar diante de pressões políticas ou da concorrência. e) Aprender com os erros cometidos, evitá-los em futuras inovações e aprimorar o processo de inovação a cada nova adoção. • Questão 4: O modelo mental do Design Thinking. O Design Thinking oferece a flexibilidade de revisitar as fases anteriores do processo e aprimorá-lo. As etapas incluem compreender as necessidades, definir claramente o problema, idealizar soluções criativas, prototipar, testar e implementar a solução. Nesse sentido, o objetivo da fase de “Definir” no Design Thinking consiste em: 24 a) Realizar testes com as pessoas que apresentaram o problema a ser resolvido. b) Identificar soluções criativas para resolver o problema e introduzir inovações no processo. c) Materializar a(s) ideia(s) escolhida(s) por meio da construção de um protótipo. d) Consolidar e analisar as informações coletadas para identificar as necessidades. e) Lançar o produto ou serviço no mercado e garantir que esteja pronto para uso. As respostas estão na seção Gabarito, após as Referências. FINALIZANDO Nesta etapa, estudamos a inovação, sustentabilidade e crescimento dos negócios. Os tópicos tratados foram: • Inovação: tipos, processos e gestão da inovação; • Design Thinking (DT): um modelo mental a serviço da inovação; • Inovação e sustentabilidade; • Incentivos à inovação no Brasil; • Oportunidade e tecnologia. Bons estudos e até a próxima! 25 REFERÊNCIAS ANSOFF, H. Igor. Estratégia empresarial. São Paulo: McGraw Hill. 1979 BRASIL. Decreto n. 5.798, de 7 de junho de 2006. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2006/decreto/d5798.htm>.Acesso em: 13 jun. 2023. _____. Decreto n. 9.283, de 7 de fevereiro de 2018. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2018/decreto/d9283.htm>. Acesso em: 13 jun. 2023. _____. Lei n. 10.973, de 2 de dezembro de 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.973.htm>. Acesso em: 13 jun. 2023. _____. Lei n. 11.196, de 21 de novembro de 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11196.htm>. Acesso em: 13 jun. 2023. BROWN, T. Design Thinking: uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias. Rio de Janeiro: Alta Books, 2018. DRUCKER, P. F. Inovação e espírito empreendedor: práticas e princípios. São Paulo: Pioneira, 1986. KUMAR, V. 101 Design Methods: a structured approach for driving innovation in your organization. New Jersey: John Wiley & Sons, 2013. LEMES JR., A. B.; PISA, B. J. Administrando micro e pequenas empresas: empreendedorismo e gestão. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2019. OECD/EUROSTAT. Oslo Manual 2018: Guidelines for Collecting, Reporting and Using Data on Innovation, 4th Edition, The Measurement of Scientific, Technological and Innovation Activities, OECD Publishing, Paris/Eurostat, Luxembourg. Disponível em: <https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o- mcti/indicadores/paginas/manuais-de-referencia>. Acesso em: 13 jun. 2023. OPINION BOX. Sustentabilidade: os consumidores estão preocupados com ações sustentáveis? Disponível em: <https://blog.opinionbox.com/pesquisa-de- mercado-sustentabilidade>. Acesso em: 13 jun. 2023. 26 SCHUMPETER, J. The Theory of Economic Development: An Inquiry into Profits, Capital, Credit, Interest and the Business Cycle. Cambridge: Harvard University Press, 1934. SEBRAE. Pequenas empresas nas redes sociais. 2013. Disponível em: <https://www.sebraemg.com.br/atendimento/bibliotecadigital/documento/cartilh a-manual-oulivro/pequenas-empresas-nas-redes-sociais>. Acesso em: 13 jun. 2023. TIDD, J.; BESSANT, J. Gestão da inovação. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2015. WORLD WIDE FUND FOR NATURE BRASIL (WWF-BRASIL). WordWide Fund For Nature. Brasília, 2015. Disponível em: <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/desenvolvime nto_sustentavel>. Acesso em: 13 jun. 2023. 27 GABARITO • Questão 1: Sobre os tipos de inovação. Correta: e) A definição de inovação segundo o Manual de Oslo inclui revoluções que criam algo novo ou satisfazem uma necessidade até então desconhecida. Um exemplo de inovação radical descrito no manual é o iPhone. De acordo com o Manual de Oslo, a definição de inovação inclui revoluções que criam algo novo ou satisfazem uma necessidade até então desconhecida, o que é descrito como inovação disruptiva. Um exemplo de inovação radical descrito no manual é o iPhone, que revolucionou a indústria de telefones móveis e criou novos valores de mercado. As demais alternativas estão incorretas, pois não correspondem à definição de inovação descrita no manual ou apresentam exemplos inadequados de inovação radical. • Questão 2: Tipos de inovação. Correta: d) Aprimoramento nas especificações técnicas, componentes, materiais, software ou outras características funcionais. Inovação de processo é o desenvolvimento de um novo método de produção ou distribuição, ou o aprimoramento significativo de um método já existente, com mudanças nas técnicas, tecnologia, equipamentos e/ou software. Ou seja, essa categoria de inovação está relacionada a melhorias na forma de produzir ou distribuir um produto ou serviço, visando aumentar a produtividade e o desempenho da empresa. As outras opções apresentadas na questão se referem às outras categorias de inovação: inovação de produto, inovação de marketing e inovação organizacional. • Questão 3: O processo de inovação. Correta: e) Aprender com os erros cometidos, evitá-los em futuras inovações e aprimorar o processo de inovação a cada nova adoção. A revisão minuciosa de todo o processo de inovação é fundamental para identificar e aprender com os erros cometidos, permitindo que esses erros sejam evitados em futuras inovações e o processo seja aprimorado a cada nova adoção. Essa “reinovação” tem como ponto de partida o sucesso anterior e visa orientar as decisões futuras, buscando um processo de inovação cada vez mais eficiente e eficaz. 28 • Questão 4: O modelo mental do Design Thinking. Correta: d) Consolidar e analisar as informações coletadas para identificar as necessidades. Na fase de “Definir” do Design Thinking, o objetivo é justamente consolidar e analisar as informações coletadas na fase anterior (Compreender) para identificar clara e objetivamente o problema e os motivos que deram origem às necessidades. Essa etapa é essencial para garantir que a equipe tenha uma compreensão precisa do problema e possa direcionar as ideias criativas da fase seguinte (Idealizar) para soluções relevantes e eficazes. As outras alternativas se referem a outras etapas do processo. Conversa inicial Contextualizando TEMA 1 – CONTABILIDADE COMO FERRAMENTA DE CONTROLE DA GESTÃO EM MPES TEMA 2 – PLANEJAMENTO E CONTROLE ORÇAMENTÁRIO PARA MICRO E PEQUENAS EMPRESAS TEMA 3 – LUCRO (RESULTADO ECONÔMICO) × FLUXO DE CAIXA (RESULTADO FINANCEIRO) 3.1 Fluxo de caixa TEMA 4 – CICLO OPERACIONAL X CICLO ECONÔMICO X CICLO FINANCEIRO 4.1 Estudo de caso dos ciclos TEMA 5 – LIQUIDEZ E RISCO Trocando ideias Na prática FINALIZANDO REFERÊNCIAS CONVERSA INICIAL CONTEXTUALIZANDO TEMA 1 – INOVAÇÃO: TIPOS, PROCESSOS E GESTÃO DA INOVAÇÃO 1.1 Tipos de inovação 1.2 Gestão da inovação 1.3 O processo de inovação TEMA 2 – DESIGN THINKING (DT): UM MODELO MENTAL A SERVIÇO DA INOVAÇÃO TEMA 3 – INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE 3.1 Contribuição das pequenas empresas com a sustentabilidade 3.2 Motivos para as MPEs se tornarem sustentáveis TEMA 4 – INCENTIVOS À INOVAÇÃO NO BRASIL 4.1 Inovação como estratégia de crescimento TEMA 5 – OPORTUNIDADE E TECNOLOGIA TROCANDO IDEIAS NA PRÁTICA FINALIZANDO REFERÊNCIAS GABARITO