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Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre-UFCSPA Disciplina de Farmacologia VIAS DE ADMINISTRAÇÃO Objetivos: - Identificar as principais vias de administração de fármacos - Descrever as vantagens das principais vias de administração - Descrever as desvantagens das principais vias de administração Introdução: v.o.; s.c. e.v. conjuntival inalatório Com algumas exceções, não conseguimos administrar um fármaco diretamente no tecido em que desejamos que ocorra a ação do mesmo (tecido suscetível). Ele chega primeiro à corrente circulatória e depois ao tecido desejado, ou entra em contato primeiramente com um tecido intermediário denominado receptáculo e que pode ser, por exemplo, um músculo. Daí o fármaco distribui-se em tecidos indiferentes, onde fica armazenado e não tem ação; vai ao tecido suscetível, onde realiza sua ação farmacológica, entra em contato com o tecido biotransformador onde sua estrutura química é modificada; e depois vai ao tecido emunctório e sofre excreção. A biodisponibilidade de um medicamento depende da via de administração e da formulação farmacêutica disponível. Formulação farmacêutica e via de administração são associadas entre si. Além disto, ambas podem ser fatores importantes na adesão do paciente ao tratamento. sangue tecido indif. receptáculo tecido biotransformador ativação ou inativação tecido emunctório tecido suscetível EXCREÇÃO Conceito: Chama-se via de administração o local onde o fármaco entra em contato com o organismo. Classificação: As vias de administração podem ser classificadas em: VIA ENTERAL - oral - sublingual - retal - bucal VIA PARENTERAL - intravascular intravenosa Direta intra-arterial - intramuscular - subcutânea - intradérmica - intracardíaca - intratecal - intra-articular - cutânea Indireta - respiratória - conjuntival - rino e orofaríngea - genitourinária Via oral É a mais usada e a mais conveniente. Os medicamentos dados por via oral podem ficar retidos na boca e serem absorvidos pela mucosa oral, ou serem deglutidos e absorvidos pela mucosa gastrintestinal. Substâncias irritantes não podem ser dadas por via oral pelo efeito emético. Está contra-indicada em pacientes em condições inadequadas como vômitos, síndrome de má absorção e inconsciência. A absorção de substâncias pelo trato gastrointestinal (TGI) é em sua maior parte explicável em termos de simples difusão de formas lipossolúveis não ionizadas. Mas ocorre também transporte ativo de certas substâncias, como glicídios, íons inorgânicos e orgânicos, etc. O epitélio é pouco ou nada permeável às formas ionizadas das drogas. Além das propriedades dos fármacos, influenciam sua absorção outros fatores como o esvaziamento gástrico. Pode-se esperar que alterações no esvaziamento gástrico tenham efeitos opostos na absorção de ácidos fracos e bases fracas por causa da diferença de pH no estômago e no intestino. Mas, por causa da grande superfície de absorção a partir do intestino, a absorção da maioria dos medicamentos é reduzida se o esvaziamento gástrico é retardado. Também afetam a absorção de uma substância a sua solubilidade nos líquidos gastrintestinais e a concentração da solução administrada. A absorção pode ser retardada ou diminuída se a substância ingerida é instável no líquido gastrintestinal ou se ela se liga a alimentos ou outros conteúdos do TGI. Exemplos Vantagens Desvantagens Via sublingual Permite absorção rápida de alguns medicamentos, pela mucosa oral. Pode ser alcançada uma concentração medicamentosa mais elevada no sangue do que quando a absorção ocorre em porção mais baixa do TGI, porque é evitado o metabolismo de primeira passagem pelo fígado, e porque não há interação da droga com o suco gástrico, nem formação de complexos com os alimentos. Exemplos Vantagens Desvantagens Via retal Está indicada para pessoas que estejam impossibilitadas de deglutir fármacos (inconsciência ou êmese) e quando se deseja evitar a ação do suco gástrico. Todavia, a absorção por essa via é com frequência irregular e incompleta e muitas substâncias causam irritação da mucosa retal. Exemplos Vantagens Desvantagens Vias parenterais Em alguns casos esta via é essencial para a droga ser absorvida de forma ativa; a absorção é geralmente mais rápida e mais previsível, sendo que a dose eficaz pode ser acuradamente selecionada. Nas emergências esta via é muito útil. Em pacientes inconscientes, incapacitados de reter qualquer medicamento na boca ou naqueles que não cooperam esta via é uma necessidade. As desvantagens apresentadas por esta via são inúmeras também. Para evitar infecções devemos manter assepsia estrita; injeções extra-vasculares não intencionais podem ocorrer; o paciente pode apresentar dor; há dificuldade de automedicação. A terapia parenteral é também mais cara e menos segura que a v.o. Via venosa As drogas em solução aquosa, que não precipitam ou hemolisam eritrócitos podem ser administradas diretamente na circulação por esta via. A absorção por esta via é evitada e a concentração sanguínea desejada é obtida rápida e precisamente, de forma que a ação da droga manifesta-se em seguida. Se a infusão for contínua é possível manter níveis estáveis constantes. Soluções irritantes e hipertônicas só podem ser aplicadas por esta via, já que as paredes dos vasos são relativamente insensíveis e o medicamento dilui-se no sangue, se lentamente injetado. Os perigos apresentados por esta via são reações desfavoráveis, mais propensas de ocorrer do que quando qualquer outra via é usada. Depois de injetado, não há como retirar o medicamento; diferente, por exemplo, da via subcutânea na qual a absorção pode ser interrompida pela oclusão do retorno venoso a partir do ponto de injeção. As injeções repetidas dependem de veias potentes. Há riscos da própria técnica, por isso, a agulha deve ter bisel afiado e curto e devemos evitar a transfixação da veia. A introdução da agulha deve ser por uma extensão mínima de 1 cm e, em infusões demoradas a agulha deve ser mantida firme com esparadrapo. Sendo assim, as aplicações intravenosas têm indicações específicas. Não é apropriada para medicamentos oleosos e de depósito. Exemplos Vantagens Desvantagens Via arterial Algumas vezes o fármaco é injetado diretamente em uma artéria a fim de localizar seu efeito em um local ou órgão em particular. Agentes antineoplásicos são aplicados dessa maneira, muitas vezes para tratar tumores localizados. Esta aplicação requer grande cuidado e deve ficar sob a responsabilidade de especialistas. Via intramuscular Injeta-se a droga profundamente no tecido muscular. As drogas em solução aquosa são rapidamente absorvidas. Podemos dissolver ou suspender substâncias em óleos o que faz sua velocidade de absorção ser mais lenta e uniforme. Substâncias de baixa solubilidade são também lentamente absorvidas a partir desta via. Exemplos Vantagens Desvantagens Via subcutânea Usada apenas para drogas não irritantes dos tecidos, do contrário pode ocorre formação de escaras. A velocidade de absorção após injeção subcutânea de uma substância é com frequência uniforme e lenta, de modo a prover efeito razoavelmente constante. A velocidade de absorção pode ser variada por diferentes técnicas. A injeção subcutânea de uma substância em um veículo no qual ela é insolúvel; a adição de um agente vasoconstritor e substâncias sob a forma de cápsulas (sólidos implantados sob a pele) provocam absorção mais lenta do fármaco. Bombas mecânicas programáveistambém podem ser utilizadas por esta via. Exemplos Vantagens Desvantagens Via intradérmica É pouco distensível, suportando volume de 1 cm no máximo. É usada para testes de sensibilidade e vacinas. Exemplos Vantagens Desvantagens Via intracardíaca Uso exclusivo para manobras de reanimação cardíaca (injeção direta de adrenalina). Há riscos de perfuração pulmonar com pneumotórax, injeção na própria parede cardíaca e distribuição de vasos coronarianos. Utilizada somente em serviços especializados. Via dérmica/transdérmica Como a pele é coberta por queratina torna-se difícil à penetração da droga através da pele intacta. Para que ocorra absorção são necessários procedimentos que facilitem a penetração, como fricção e o uso de substâncias queratolíticas. Para o fornecimento contínuo de medicamentos, em baixas concentrações plasmáticas, são utilizados adesivos (emplastros). A velocidade de absorção varia com as características físicas de pele. A via é cômoda mas, eventualmente, a estética do procedimento é discutida. Exemplos Vantagens Desvantagens Via conjuntival Não é usada para se obter níveis sistêmicos. Não há uma grande absorção devido a pequena área. Geralmente são usados colírios, pomadas e soluções em geral. Há riscos de irritação, contaminação, ulceração de córnea por vasoconstrição ou pela perda de reflexos. Exemplos Vantagens Desvantagens Via inalatória Gases e drogas voláteis podem ser inalados e absorvidos através do epitélio pulmonar ou pela membrana mucosa do trato respiratório e assim atingem a circulação rapidamente. Pós são eventualmente aspirados para que se depositem na mucosa nasal de onde são rapidamente absorvidos (via intranasal). Soluções de drogas podem ser atomizadas e pequenas gotas inaladas no ar (aerossol); as partículas da névoa para chegarem ao pulmão devem ter tamanho menor do que 5 micra. As vantagens do método são a quase instantânea absorção de uma substância e quando presente uma doença pulmonar, aplicação local da droga no sítio patológico. As desvantagens são a pouca capacidade de regulação da dose, métodos de aplicação incômodos e o fato de que muitas substâncias gasosas e voláteis provocam irritação do epitélio pulmonar. Exemplos Vantagens Desvantagens Via intraperitoneal A cavidade peritoneal oferece grande superfície de absorção a partir da qual as substâncias entram rapidamente na circulação. A absorção se faz melhor através do peritônio visceral; parte da droga passa pelo fígado e sofre metabolização antes de atingir a circulação sistêmica. A injeção i.p. é comumente utilizada em experimentação animal, mas raramente usada na clínica. Há perigos de infecção e formação de aderências. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: • Hardmann, J.G.; Limbird, L.E. & Gilman, A.G. Goodman & Gilman’s. The Pharmacology Basis of Therapeutics, 12th ed, NY: Guanabara Koogan, 2011. • Rang, H.P.; Dale, M.M. & Litter, J.M. Pharmacology, 8 th ed, Churchill Livingston, 2016. • Fuchs, F.D.; Wannmacher, L. Farmacologia Clínica: Fundamentos daTerapêutica Racional, 3ª ed., Guanabara Koogan, 2010.