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As teorias dos ciclos sistêmicos de acumulação e da estabilidade hegemônica:
uma análise comparada
Thesis · July 2013
DOI: 10.13140/RG.2.2.36059.98088
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1 author:
Vinícius Mendes
Radboud University
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS 
FACULDADE DE CIÊNCIAS APLICADAS 
 
 
 
 
 
 
 
MARCOS VINICIUS ISAIAS MENDES 
 
 
AS TEORIAS DOS CICLOS SISTÊMICOS DE ACUMULAÇÃO 
E DA ESTABILIDADE HEGEMÔNICA: 
 Uma Análise Comparada 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Limeira 
2013
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS 
FACULDADE DE CIÊNCIAS APLICADAS 
 
 
 
 
 
 
 
MARCOS VINICIUS ISAIAS MENDES 
 
 
AS TEORIAS DOS CICLOS SISTÊMICOS DE ACUMULAÇÃO 
E DA ESTABILIDADE HEGEMÔNICA: 
 Uma Análise Comparada 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
como requisito parcial para a obtenção do 
título de bacharel em Gestão de Comércio 
Internacional à Faculdade de Ciências 
Aplicadas da Universidade Estadual de 
Campinas. 
 
Orientador: Prof. Dr. Eduardo Barros Mariutti 
Co-orientador: Prof. Dr. Cristiano Morini 
 
 
 
Limeira 
2013
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA PROF. DR. DANIEL JOSEPH HOGAN 
DA FACULDADE DE CIÊNCIAS APLICADAS 
 
 
M522t 
Mendes, Masrcos Vinícius Isaías 
 As teorias dos ciclos sistêmicos de acumulação e da estabilidade hegemônica: 
uma análise comparada / Marcos Vinícius Isaias Mendes. - Limeira, SP: [s.n.], 
2013. 
 49 f. 
 
 Orientador: Eduardo Barros Mariutti 
 Co-orientador: Cristiano Morini 
 Monografia (Graduação) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de 
Ciências Aplicadas 
 
 1. Capitalismo. 2. Hegemonia. 3. Estados Unidos. 4. História Econômica. I. 
Mariutti, Eduardo Barros. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de 
Ciências Aplicadas. III. Título. 
 
 
 
 
Título em inglês: Theories of systemic cycles of accumulation and hegemonic 
stability: a compared analysis. 
Keywords: - Capitalism; 
 - Hegemony; 
 - United States; 
 - Economic History. 
 
Titulação: Bacharel em Gestão de Comércio Internacional. 
Banca Examinadora: Prof. Dr. Cristiano Morini 
 Prof. Dr. Marcos José Barbieri 
 
Data da defesa: 03/07/2013.
 
 
FOLHA DE APROVAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
Na preparação deste trabalho eu contei com a ajuda e o apoio de um número grande de 
pessoas. Contudo, desde que cheguei à Unicamp e ao longo de todo o meu processo de 
formação no curso, a quantidade de pessoas que me ajudaram foi bem maior, e seria um erro 
não lembrá-las. Portanto, nesta folha de Agradecimentos, citarei todos os que contribuíram 
para que eu chegasse nessa fase final do curso. 
Agradeço à minha família, especialmente à minha vó, Francisca, à minha mãe, Ivanir, e ao 
meu irmão, Felipe. Vocês me inspiraram e me fizeram mais forte para superar as dificuldades! 
Agradeço às minhas professoras dos Ensinos Fundamental e Médio, Alba, Luciene e Zina. 
Vocês me incentivaram e me ajudaram a chegar aqui! 
Agradeço aos meus amigos: Marcela, Manoela e Roberto, com quem convivi e aprendi muitos 
nos últimos anos. 
Agradeço ao Anderson e ao Alexander (Sander) pelas dicas e orientações indiretas neste 
trabalho. 
Agradeço à equipe com quem trabalhei no Centro de Computação, principalmente à Sueli e ao 
Fernando, que me ajudaram imensamente nos momentos mais corridos da graduação, e ao 
Bruno, pelas ideias e ajuda no início da preparação deste trabalho. 
Agradeço ainda aos meus colegas da Cosin, onde trabalho, por terem me ajudado sempre que 
precisei, nesses meses finais de graduação. Agradeço especialmente ao Rafael e à Renata. 
Agradeço também, e como não poderia deixar de ser, a todos os professores da Faculdade de 
Ciências Aplicadas da Unicamp, que ministraram as disciplinas que cursei. Aprendi muito, e 
vocês foram essenciais para isso! 
Agradeço ainda às professoras Maria Eugênia e Stefany, da Universidad Santo Tomás, na 
Colômbia, que me ensinaram muito sobre Economia e Espanhol, nos meses em que vivi em 
Bucaramanga. 
Agradeço, por fim, ao meu orientador, Prof. Mariutti, e ao meu co-orientador, Prof Morini, 
pela orientação e apoio desde o início deste trabalho. Sem vocês eu não teria conseguido. 
 
MENDES, Marcos Vinícius Isaias. As Teorias dos Ciclos Sistêmicos de Acumulação e da 
Estabilidade Hegemônica: Uma Análise Comparada. 2013. 47f. Trabalho de Conclusão de 
Curso (Graduação em Gestão de Comércio Internacional) – Faculdade de Ciências Aplicadas, 
Universidade Estadual de Campinas, Limeira, 2013. 
 
 
RESUMO 
 
 
O sistema capitalista vem se desenvolvendo ao longo dos séculos, e a maneira como os 
Estados se estruturaram na busca por poder foi um fator importante para esse 
desenvolvimento. Ao longo dos cinco últimos séculos quatro potências, uma após a outra, 
conseguiram se sobressair, construindo cadeias de produção e acumulação nunca vistas 
anteriormente. Tais potências ascenderam e, exceto a mais recente, foram substituídas 
seguindo um padrão histórico semelhante, constituído de uma fase de expansão produtiva 
seguida de uma fase de acumulação financeira e posterior declínio. A esse padrão recorrente 
de ascensão, declínio e substituição de potências o sociólogo italiano Giovanni Arrighi 
denominou Ciclos Sistêmicos de Acumulação. O ciclo sistêmico mais atual é o dos Estados 
Unidos e foi com base no poder hegemônico global dessa potência que, em meados da década 
de 1970, foi criada a Teoria da Estabilidade Hegemônica. Essa teoriaanalisa o papel de 
hegemons como os EUA no cenário global, e procura avaliar os impactos positivos e 
negativos de sua existência. Essa foi a primeira e mais relevante teoria desenvolvida dentro do 
recente campo de estudo da Economia Política Internacional. Neste trabalho é feita uma 
análise comparativa entre as duas teorias em questão, numa tentativa de entender quais os 
pontos em comum entre ambas, e de que maneira eles ajudam a explicar o funcionamento do 
Sistema Internacional. 
 
 
 
 
Palavras-chave: Capitalismo. Hegemonia. Estados Unidos. História Econômica. 
MENDES, Marcos Vinícius Isaias. The Theories of Systemic Cycles of Accumulation and 
of the Hegemonic Stability: A Compared Analysis. 2013. 47f. Trabalho de Conclusão de 
Curso (Graduação em Gestão de Comércio Internacional) – Faculdade de Ciências Aplicadas, 
Universidade Estadual de Campinas, Limeira, 2013. 
 
 
ABSTRACT 
 
 
Capitalism has been developing for centuries. The way in which states structured themselves 
in order to be more powerful was an important factor in this development. In the last 500 
years, four world powers stand out for their building of production and accumulation chains. 
These nations became more powerful, and except in the case of the last one, were replaced 
according to predictable historical pattern. This pattern consists of a phase of productive 
economic expansion, followed by a phase of financial accumulation and then finally decline. 
Italian sociologist Giovanni Arrighi coined the term Hegemonic Cycles of Accumulation to 
describe this phenomenon. The current cycle is headed by the United States because of its 
global hegemonic power and formed the basis for the Theory of Hegemonic Stability which 
was devised in the mid-1970's. The theory analyses the role of a hegemon, such as the United 
States, at a global level and attempts to evaluate its positive and negative impacts. This was 
the first and most notable theory developed within the field of International Political 
Economy. In this work a comparative analysis between these two theories is made, in a search 
of understand the links between them, and in which way they help us to explain how the 
International System works. 
 
 
 
 
 
Keywords: Capitalism. Hegemony. United States. Economic History. 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 9 
2. A TEORIA DOS CICLOS SISTÊMICOS DE ACUMULAÇÃO .......... 11 
2.1. As Bases da Teoria dos Ciclos Sistêmicos de Acumulação ..................... 11 
2.2. O Ciclo Genovês ....................................................................................... 17 
2.3. O Ciclo Holandês ...................................................................................... 21 
2.4. O Ciclo Britânico ...................................................................................... 24 
2.5. O Ciclo Norte-Americano ......................................................................... 27 
3. A TEORIA DA ESTABILIDADE HEGEMÔNICA ............................... 33 
3.1. Império-Mundo versus Hegemonia .......................................................... 33 
3.2. As Bases da Teoria da Estabilidade Hegemônica ..................................... 34 
3.3. A Teoria da Estabilidade Hegemônica e o caso dos Estados Unidos ....... 36 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 43 
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 48 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
O que seria o Capitalismo? Em que locais ele se desenvolveu 
destacadamente entre os séculos XV e XIX? Quais os principais atores que 
contribuíram para esse desenvolvimento? Essas são perguntas cruciais para a primeira 
parte deste trabalho, e busco respondê-las principalmente com base na obra O Longo 
Século XX, escrita pelo sociólogo italiano Giovanni Arrighi e publicada em 1994. 
Essa primeira parte do trabalho trata da teoria dos Ciclos Sistêmicos de 
Acumulação, desenvolvida por Arrighi, com base em obras de autores clássicos da 
Economia Histórica, como Fernand Braudel e Karl Marx. A análise aqui feita parte de 
uma descrição do que chamo ‘as bases da teoria’, na qual são abordados os pontos 
específicos do pensamento de Marx e de Braudel, utilizados por Arrighi na descrição 
de seus ciclos. É explicada a estrutura geral do ciclo sistêmico, suas principais 
características e as origens de seu desenvolvimento. Em seguida, é feita uma breve 
análise dos quatro ciclos sistêmicos que, de acordo com o autor, ocorreram ao longo 
dos últimos quinhentos anos: o Genovês, o Holandês, o Britânico e o Norte-
Americano. 
E ao longo do século XX, que fatores contribuíram para o desenvolvimento 
do capitalismo? Como e por quê, ao longo desse século, os Estados Unidos 
alcançaram tanto poder em escala mundial? 
A segunda parte desse trabalho trata de analisar essas questões. A teoria aí 
estudada é a Teoria da Estabilidade Hegemônica, ou THE, que tem como principais 
autores Charles Kindleberger e Robert Gilpin. A obra em que baseio essa segunda 
parte é International Political Economy: an intelectual history, do economista político 
Benjamin Cohen. 
O capítulo 3, dedicado à THE, é iniciado com uma breve explicação dos 
conceitos de Império-Mundo e Hegemonia, principalmente usando os conceitos de 
Immanuel Wallerstein. Tal diferenciação de conceitos se faz necessária para o 
entendimento da teoria que se propõe a explicar. Em seguida, é realizada uma 
descrição das ‘bases’ dessa teoria, seção na qual se remonta ao surgimento da 
Economia Política Internacional, ou EPI, como campo de estudo, realizando-se um 
breve comparativo das escolas norte-americana e britânica da EPI. Cabe ressaltar que 
a Teoria da Estabilidade Hegemônica foi a primeira e mais importante teoria 
desenvolvida dentro desse campo de estudo. Por fim são aplicados os conceitos 
10 
 
estudados para o caso Estados Unidos, principalmente através de um descritivo 
histórico de como esse país alcançou e como administra a hegemonia global que 
atualmente detém. 
Por fim, no capítulo intitulado Considerações Finais é feito um breve 
comparativo de semelhanças e diferenças entre as duas teorias. 
Aqui, utilizarei principalmente conceitos de Economia e de Relações 
Internacionais para descrever as duas teorias do sistema capitalista de que trata este 
trabalho. A metodologia utilizada é a leitura de obras de grande relevância sobre ditas 
teorias, as quais são citadas ao longo do texto. Desse modo, a metodologia consiste de 
duas técnicas principais: estudo exploratório e pesquisa bibliográfica. 
O objetivo deste trabalho é, pois: realizar uma comparação entre as teorias 
dos Ciclos Sistêmicos de Acumulação e da Estabilidade Hegemônica. Como objetivos 
específicos, tem-se: (a) descrever a primeira teoria, revisando os principais autores que 
a estudam; (b) descrever a segunda teoria, através da mesma metodologia; (c) aplicar 
os conceitos da segunda teoria ao caso dos Estados Unidos e (d) sumarizar as 
semelhanças e diferenças entre ambas. 
A justificativa é o fato de que a compreensão do desenvolvimento dos países 
hegemônicos ao longo da história pode ser útil para prever de alguma forma o 
surgimento atual ou futuro de novos países hegemônicos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
2. A TEORIA DOS CICLOS SISTÊMICOS DE ACUMULAÇÃO 
 
2.1. As Bases da Teoria dos Ciclos Sistêmicos de Acumulação 
O estudo do sistema de produção capitalista apresenta várias vertentes ou 
escopos de análise, boa parte delas formuladas a partir da obra seminal de Karl Marx, 
O Capital. Alguns estudam esse sistema em seu aspecto mais econômico, analisando 
as trocas comerciais e seu entrelaçamento com as finanças, como é o caso de François 
Chesnais, comseu estudo sobre as empresas multinacionais, e John Dunning, teórico 
da internacionalização de empresas e do Investimento Direto Externo. Outros 
estudam-no sob o aspecto das classes sociais, divisão do trabalho e da riqueza e 
relações de dominação dos mais pobres pelos mais abastados, fato que ocorreria 
devido ao desenvolvimento natural do referido sistema. Há ainda os que vêem o 
Capitalismo através de sua ligação com a política, analisando as relações entre 
desenvolvimento econômico e os aspectos de regulação Intra-Estatais e/ou Inter-
Estatais, geralmente recorrendo à História e à evolução do sistema no tempo. Dentre 
esses autores está Giovanni Arrighi, teórico que desenvolveu o conceito de ciclos 
hegemônicos, analisado neste trabalho. 
Em seu livro O Longo Século XX, Arrighi estuda o padrão de formação, 
comportamento e declínio do modo de produção capitalista em diversos tempos 
históricos. Para essa análise, ele desenvolve o conceito de Ciclos Sistêmicos de 
Acumulação, e adota como principais referências os conceitos de Capitalismo de Marx 
e a trilogia de livros do historiador francês Fernand Braudel, intitulada Civilização 
Material, Economia e Capitalismo. 
A principal base de discussão do autor, em relação aos padrões do sistema 
capitalista, são as fases produtivas e financeiras que, necessariamente, seguiriam o 
sistema em todas as suas fases históricas. 
A esse respeito Gonçalves constata que: 
Todos os ciclos são marcados por uma primeira fase, na qual há uma perspectiva de 
lucro comercial e industrial, culminando em uma ampliação da produção e do 
comercio e, portanto, estabilidade. Quando começa a retração dessa perspectiva, 
passa-se à fase financeira, que indicaria o momento do declínio do ciclo, marcado 
pela instabilidade. (GONÇALVES, 2009, p. 13) 
 
12 
 
 Para sustentar a ideia de que as fases produtivas são seguidas das 
financeiras, num ciclo, para uma dada economia capitalista, ao final do qual uma outra 
economia emerge, Arrighi começa relembrando a famosa fórmula de Marx, DMD’. 
Segundo essa fórmula, o dinheiro D é utilizado na produção de uma mercadoria M, 
para a qual contribuem capital-trabalho e matérias-primas. Tal mercadoria, após 
vendida, por uma quantidade de dinheiro D’, maior que D, trará lucros extraordinários 
aos agentes capitalistas responsáveis pela produção. Esses lucros extraordinários 
seriam o que Marx chama de mais valia. Para Arrighi 
O capital dinheiro (D) significa liquidez, flexibilidade e liberdade de escolha. O 
capital-mercadoria (M) é o principal investido numa dada combinação de insumo-
produto, visando ao lucro; portanto, significa concretude, rigidez e um estreitamento 
ou fechamento das opções. D’ representa a ampliação da liquidez, da flexibilidade e 
da liberdade de escolha. (ARRIGHI, 1996, p. 5) 
Após isso, o autor argumenta que os capitalistas tendem a perseguir a 
liquidez e a sua liberdade de escolha, sempre angariando o maior lucro possível. De 
modo que, “quando os agentes capitalistas não têm expectativa de aumentar sua 
própria liberdade de escolha, ou quando essa expectativa é sistematicamente frustrada, 
o capital tende a retomar as suas formas mais flexíveis de investimento” (ARRIGHI, 
1996, p. 5); acima de todas essas formas está a monetária, ou DD’. Desse modo, a 
fórmula reduzida DD’ se torna cada vez mais frequente em ambientes de maior 
instabilidade econômica e de maior risco aos agentes, como é, para Arrighi, o final dos 
ciclos de acumulação. Arrighi escreve, a esse respeito: 
(...) a fórmula geral do capitalismo apresentada por Marx (DMD’) pode ser 
interpretada como retratando não apenas a lógica dos investimentos capitalistas 
individuais, mas também um padrão reiterado do capitalismo histórico como sistema 
mundial. O aspecto central desse padrão é a alternância de épocas de expansão 
material (fases DM de acumulação de capital) com fases de nascimento e expansão 
financeiros (fases MD’). Nessas fases de expansão material, o capital monetário 
“coloca em movimento” uma massa crescente de produtos (que inclui a força de 
trabalho e dádivas da natureza, tudo isso transformado em mercadorias); nas fases 
de expansão financeira, uma massa crescente de capital monetário “liberta-se” de 
sua forma mercadoria, e a acumulação prossegue através de acordos financeiros 
(como na fórmula abreviada de Marx, DD’). Juntas, essas duas épocas, ou fases, 
constituem um completo ciclo sistêmico de acumulação (DMD’). (ARRIGHI, 1996, 
p. 6) 
O estudo de Arrighi se presta, então, de maneira mais específica, a fazer 
uma análise dos sucessivos ciclos de acumulação, buscando identificar “os padrões de 
recorrência e evolução, que se reproduzem na atual fase de expansão financeira e 
reestruturação sistêmica” e “as anomalias dessa atual fase de expansão financeira, que 
podem levar a um rompimento com padrões anteriores de recorrência e evolução” 
(ARRIGHI, 1996, p.6). Aí o autor já deixa claro que, através do estudo dos diversos 
13 
 
ciclos, o seu objetivo maior é analisar o ciclo atual, contemporâneo, que segundo ele 
encontra-se em sua fase de expansão financeira (ou fase final). 
QUADRO 1: Características das fases produtiva de financeira dos ciclos sistêmicos de 
acumulação. 
F
a
se
 
P
ro
d
u
ti
v
a
 
 Fase inicial do ciclo de acumulação. 
 Perspectiva de lucros comerciais e industriais. 
 Movimentação de massa crescente de produtos. 
 Estabilidade sistêmica. 
 Fase DM de Marx. 
F
a
se
 
F
in
a
n
ce
ir
a
  Fase final do ciclo de acumulação. 
 Acordos financeiros prevalecem sobre acordos comerciais. 
 Maior risco aos agentes. 
 Instabilidade sistêmica. 
 Fase DD’ de Marx. 
 Fonte: Elaboração própria 
 
A outra referência basilar utilizada por Arrighi é Braudel, com a sua divisão 
da Sociedade em três camadas. A primeira, uma camada inferior, por ele chamada de 
vida material, caracterizada como uma “economia extremamente elementar e 
basicamente auto-suficiente”. A segunda, a economia de mercado, com “muitas 
comunicações horizontais entre os diferentes mercados”. E a terceira, superior às 
outras, que abarca o que Braudel chama de antimercado, o verdadeiro “lar do 
capitalismo” e onde vigora a “lei da selva”. (BRAUDEL, 1982, p.21-2, 229-30 apud 
ARRIGHI, 1996, p.10). Assim, para Braudel, o Capitalismo é a camada superior da 
Sociedade. 
O capitalismo é visto por Braudel como a “camada superior não 
especializada da hierarquia do mundo do comercio”. Nela se fazem os lucros em 
“larga escala” e nela “os lucros não são grandes apenas porque a camada capitalista 
‘monopolize’ as atividades econômicas mais lucrativas”. O capitalismo tem a 
flexibilidade como sua característica mais importante, porque assim o capitalista é 
capaz de “deslocar continuamente seus investimentos das atividades econômicas que 
estejam enfrentando uma redução dos lucros para as que não se encontrem nessa 
situação” (BRAUDEL, 1982, p. 22, 231, 228-30 apud ARRIGHI, 1996, p.8) 
É nesse contexto que Braudel defende a ideia da existência de expansões 
financeiras recorrentes na história econômica, como uma etapa na qual o capitalista 
14 
 
desloca recursos de uma atividade que enfrenta redução de lucros (Produção), para 
uma que apresenta maiores lucros (Finanças). Arrighi explica como se chagaria à fase 
de expansão financeira: 
As expansões financeiras são tomadas como sintomáticas de uma situação em que o 
investimento da moeda na expansão do comercio e da produção não mais atende, 
com tanta eficiência quanto as negociações puramente financeiras, ao objetivo de 
aumentar o fluxo monetário que vai para a camada capitalista. Nessa situação, o 
capital investido no comercio e na produção tende a retornar a sua forma monetária 
e a se acumular mais diretamente,como na fórmula marxista abreviada (DMD’). 
(ARRIGHI, 1996, p. 8) 
É essa recorrência intermitente entre fases de expansão produtiva e fases de 
expansão financeira acompanhada de declínio que aproxima a teoria de Braudel da de 
Arrighi. Cabe ressaltar, entretanto, que Arrighi elabora mais o seu conceito de ciclos, 
colocando que nas fases DM, nas quais a expansão comercial e produtiva é mais 
evidente, os ciclos ocorrem de uma maneira mais contínua e previsível, com pouca 
instabilidade. Por conseguinte, nas fases MD’ ou de expansão financeira, as 
características principais são a elevada instabilidade do sistema, crescimento 
descontínuo e um “deslocamento” da economia capitalista mundial, através de 
“reestruturações e reorganizações radicais”. 
Quanto à ideia de ciclos e sua relação com o sistema capitalista e a 
formação dos Estados, ainda referenciando Braudel, Arrighi esclarece: 
Toda essa construção (a dos ciclos hegemônicos de acumulação) apoia-se na visão 
braudeliana, nada convencional, da existência de uma relação ligando a criação e a 
reprodução ampliada do capitalismo histórico, como sistema mundial, aos processos 
de formação de Estados, de um lado, e de mercados, do outro. A visão convencional 
das ciências sociais, do discurso político e dos meios de comunicação de massa, é 
que o poder do Estado é oposto a ambos. Braudel, ao contrário, encara a emergência 
e a expansão do capitalismo como absolutamente dependentes do poder estatal, 
constituindo-se esse sistema na antítese da economia de mercado. (cf. Wallerstein, 
1991, cap.14-15). (ARRIGHI, 1996, p. 10) 
Atentemos, pois, para a importância da citação acima. De acordo com a 
ideia de Braudel, defendida por Arrighi, o sistema interestatal foi imprescindível para 
a constituição e manutenção do sistema capitalista, de modo que os ciclos sistêmicos 
de acumulação devem ser considerados não apenas como modelos de surgimento e 
expansão desse sistema, mas também como uma maneira de analisar a importância dos 
Estados, ditando regras e padronizando o crescimento organizado do Capitalismo, pelo 
menos nas fases iniciais dos ciclos. 
Nesse contexto, Arrighi ilustra a inter-relação vital entre Estado e 
desenvolvimento capitalista, afirmando que a competição inter-estatal e as disputas 
15 
 
entre as forças econômicas capitalistas foram essenciais para a manutenção do 
“equilíbrio” do sistema. Para ele, foi a emergência de “blocos de organizações 
governamentais e empresariais que conduziram a economia capitalista mundial por 
suas sucessivas fases de expansão material.” (ARRIGHI, 1996, p. 12-13) Ainda nesse 
sentido, o autor argumenta que as grandes expansões materiais só ocorreram 
Quando um novo bloco dominante acumulou poder mundial suficiente para ficar em 
condições não apenas de contornar a competição inter-estatal, ou erguer-se acima 
dela, mas também de mantê-la sob controle, garantindo um mínimo de cooperação 
entre os Estados. (ARRIGHI, 1996, p. 13) 
De acordo com Arrighi, ao longo dos últimos quinhentos anos, houve quatro 
blocos dotados de poder político para coordenar essa expansão material: Veneza, as 
Províncias Unidas (Holanda), Reino Unido e Estados Unidos. Esses países foram, 
segundo ele, “grandes potências das sucessivas épocas durante as quais seus grupos 
dominantes desempenharam, ao mesmo tempo, o papel de líderes dos processos de 
formação do Estado e de acumulação de capital.” (ARRIGHI, 1996, p. 14) 
Dentre essas potências “hegemônicas”, uma relação que se mantém é que 
cada sucessora, na sequência citada, abarca um “território mais vasto e uma maior 
variedade de recursos que os de seu predecessor”, bem como aumentam a sua “escala” 
e o alcance de suas “redes de poder e acumulação”, possibilitando que elas “se 
reorganizem e passem a manter o controle do sistema mundial em que operam”. 
(ARRIGHI, 1996, p.14) 
Antes de descrever e caracterizar cada ciclo, algumas definições sobre 
hegemonia, capitalismo e territorialismo são necessárias, pois, segundo Arrighi, o 
conhecimento delas é fundamental para o entendimento de toda a discussão que se dá 
em torno da origem e evolução dos ciclos. 
Resumidamente, hegemonia seria uma situação na qual certa potência 
mantém controle sobre uma região (que pode ser o mundo todo, caso em que ocorreria 
uma hegemonia mundial), não de maneira meramente autocrática ou visando 
benefícios apenas para si própria, mas buscando organizar tal região, através de 
padrões harmônicos de desenvolvimento, de maneira que haja um progresso geral. 
Capitalismo, conforme já discutido, seria um mecanismo de expansão visando aos 
lucros extraordinários, explorando a força do trabalho e progredindo no tempo através 
de expansões materiais (produtivas e comerciais) e financeiras. Territorialismo, por 
16 
 
fim, seria um mecanismo de expansão focado essencialmente no aumento dos 
domínios territoriais. 
 De acordo com o conceito de hegemonia, observa-se que a expansão do 
poder do Estado, podendo culminar em uma hegemonia regional e depois mundial, 
está atrelada à necessidade de proteção dos cidadãos, quer seja proteção dos direitos de 
segurança, de exercer atividades que gerem lucro ou mesmo o simples direito de 
pertencer a um país politicamente autônomo, de possuir uma pátria. Quando o Estado 
não consegue suprir essa necessidade, ocorrem crises e revoluções sociais, ameaçando 
o status da potência dominante. É o que Arrighi chama de caos sistêmico, um dos 
elementos presentes na fase final dos ciclos. 
Especial atenção deve ser devotada para não se confundir o conceito de caos 
sistêmico, visto acima, com o de anarquia. Esta é definida como um sistema de 
governo em que coexistem unidades politicamente independentes e autônomas, os 
países, sendo que não existe um governo central a quem elas devam se reportar. 
É através da inter-relação entre os conceitos de caos sistêmico e de anarquia 
que Arrighi explica o surgimento do hegemon, isto é, o país que detém a hegemonia 
sobre determinada região. Para o autor, a hegemonia surge quando se está diante de 
uma situação de caos sistêmico, quando é necessária a ação de algum estabilizador 
para a manutenção da ordem e criação de um ambiente que possibilite o 
desenvolvimento regional. Entretanto, perceba-se que a existência de uma hegemonia 
não significa que os países ficarão sem autonomia política. Os países continuarão 
autônomos politicamente e, por esse motivo, mesmo com a hegemonia, continuará a 
vigorar anarquia no sistema interestatal. Assim, pode-se dizer que o hegemon é 
apenas um estabilizador do sistema mundial, e não um governante mundial. 
 
 FIGURA 1: Surgimento do hegemon segundo Giovanni Arrighi. 
 
 
 
 
 
 
17 
 
A figura 1 acima ilustra como se dá o processo de surgimento do hegemon, 
para Arrighi. Segundo ele, chega um momento em que a potência hegemônica entra 
em declínio pela existência de um caos sistêmico, quando o hegemon não mais 
consegue promover a estabilização econômica da região sob a qual detém hegemonia, 
ocasionando rebeliões e insatisfação popular dentro do território. Em contrapartida, a 
potência em ascensão possui recursos financeiros e influência, oriundos de sua fase de 
acumulação produtiva e de expansão territorial. Esta potência, com o apoio estatal, 
caminha na direção de substituir o atual hegemon em seu papel de estabilizador do 
sistema. 
 
2.2. O Ciclo Genovês 
O primeiro dos ciclos está situado na história entre o final do século XIII e 
meados do século XVI, sendo o resultado de um processo anterior de “súbita 
intensificação da concorrência intercapitalista” (ARRIGHI, 1996, p. 90), que levou 
algumas cidades do norte italiano ao desenvolvimento de amplas e lucrativas cadeias 
comerciais e a um posterior processo de expansão financeira. 
Nessas cidades, observa-se que o desenvolvimento da primeira fase genérica 
dos ciclos de acumulação, a dasredes de expansão material, deu-se de maneira 
cooperativa, com a presença marcante de quatro grandes cidades-Estado, cada uma 
dominando um nicho de mercado específico. Eram elas: Gênova, Milão, Florença e 
Veneza, que, segundo Arrighi, dividiam as cadeias comerciais do seguinte modo: 
Florença e Milão empenhavam-se, ambas, na manufatura e no comércio terrestre 
com o noroeste da Europa; mas, enquanto Florença se especializava no comércio de 
produtos têxteis, Milão especializava-se no de metais. Veneza e Gênova 
especializavam-se no comércio marítimo com o Oriente; mas, enquanto Veneza 
especializava-se nos negócios com o circuito sul-asiático, baseados no comércio de 
especiarias, Gênova especializava-se no circuito centro-asiático, baseado no 
comércio de seda. (ARRIGHI, 1996, p. 90) 
 
 Essa junção de vários centros autônomos, todos situados em uma mesma 
região, mas dominando esferas mercadológicas distintas, possibilitou um amplo 
conhecimento do mercado em que atuavam e a transferência de informações entre os 
centros, fato que contribuiu para a redução dos riscos e dos custos das operações 
comerciais. Entretanto, esse padrão de desenvolvimento cooperativo estava fadado a 
não durar, devido ao desenvolvimento natural da competição entre esses centros, 
quando algum deles se projetasse em um nível mais alto abrangência de mercados, 
alcançando status que ameaçasse os nichos dominados pelos outros. 
18 
 
E foi o que de fato ocorreu, como explica Arrighi: 
Mas tão logo surgiu uma desproporção expressiva e duradoura entre a massa de 
capital que buscava investimento no comércio, de um lado, e aquilo que era possível 
investir dessa maneira, sem precipitar uma redução drástica nos lucros do capital, de 
outro, a concorrência entre os centros transformou-se numa ‘briga entre irmãos 
hostis’(ARRIGHI, 1996, p. 92) 
 
 
A partir daí, a luta capitalista pelo domínio de mercados começou a fazer 
parte da realidade dessas cidades, de modo que as guerras tornaram-se cada vez mais 
frequentes, bem como os altos gastos militares. Por não ser uma situação lucrativa e 
por não possibilitar o incremento dos mercados, essa não era uma situação desejada. 
De fato, uma vez que esses conflitos começaram a concorrer para gastos acima dos 
aceitáveis, houve um retorno do mecanismo de cooperação entre essas cidades, com o 
intuito de promover a retomada de uma situação pacífica, na qual houvesse lucros 
comuns. Tem-se, então, um princípio do desgaste da expansão material, à medida em 
que se acentua a expansão financeira. 
Nessa fase de declínio da expansão material, a expansão financeira alcançou 
relevância estratégica, e um de seus mais expressivos canais de investimento foi a 
“indústria cultural”, conforme demonstra Arrighi: 
Em parte, o consumo ostensivo de produtos culturais foi um resultado direto da 
conjuntura comercial adversa, que transformou os investimentos no patrocínio das 
artes numa forma mais útil ou até mais lucrativa de utilização do excedente de 
capital do que seu reinvestimento no comércio (Lopez, 1962, 1963). Em parte, ele 
foi um fenômeno impulsionado pela oferta, associado à invenção de identidades 
coletivas míticas como um meio de mobilização popular na guerra entre as cidades-
Estado (cf. Baron, 1955). E, em parte, foi um resultado direto da luta pelo status, 
entre facções rivais de mercadores, mediante a qual “erigir construções magníficas 
tornou-se uma estratégia para distinguir algumas famílias de outras” (Burke, 1986, 
p. 228). (ARRIGHI, 1996, p.97) 
 
 Mas, entre todas as cidades-Estado italianas, uma se sobressaiu: Gênova. E 
esse é o motivo da denominação do ciclo. Na realidade, nessa cidade o processo de 
acumulação capitalista se deu de maneira mais flexível, baseado em empréstimos a 
alguns governos europeus (especialmente o Espanhol) e em outras atividades mais de 
cunho rentista que em investimentos comerciais propriamente ditos, como ocorreu nas 
outras cidades-Estado italianas. Arrighi descreve as diferenças entre a acumulação 
genovesa e a dessas outras cidades do seguinte modo: 
(...) o capitalismo genovês do século XV desenvolveu-se por um caminho que 
divergia radicalmente do de todas as outras grandes cidades-Estado italianas. Em 
graus diferentes e de diferentes maneiras, o capitalismo milanês, veneziano e 
florentino vinha-se desenvolvendo no sentido da gestão do Estado e de estratégias e 
estruturas cada vez mais ‘rígidas’ de acumulação de capital. O capitalismo genovês, 
19 
 
em contraste, moveu-se em direção à formação do mercado e a estratégias e 
estruturas de acumulação cada vez mais ‘flexíveis’. (ARRIGHI, 1996, p. 113) 
 
Uma característica diferenciadora de Gênova foi a formação de uma 
aristocracia rural, como estratégia de obtenção de controle sobre o maior número 
possível de territórios e recursos demográficos, para um futuro aproveitamento dos 
recursos daí advindos. As outras cidades estavam voltadas para a formação de classes 
mercantis urbanas, interessadas na expansão das redes comerciais e não no aumento de 
seus territórios. Essa aristocracia rural genovesa “controlava os meios da violência e as 
fontes do arrendamento de terras das cidades circunvizinhas, continuando a participar 
dos processos governamentais e comerciais das cidades, se e quando isso convinha aos 
seus interesses” (ARRIGHI, 1996, p. 115) 
Outra característica de Gênova foi a busca por um padrão monetário de 
trocas, através da constituição de uma “moeda boa”, que facilitasse os pagamentos e 
garantisse certa estabilidade à sua economia. Foi através desses “instrumentos e 
técnicas monetários” que Gênova garantiu a competitividade e a liquidez de sua 
moeda, convertendo-a em forte meio de pagamento. Isso somente foi possível devido 
ao grande sucesso comercial dessa cidade, ocorrido entre os séculos XIII e XIV, que 
possibilitou enorme acumulação financeira por parte de suas empresas. 
Posteriormente, com o declínio dessas rotas comerciais, em parte causado 
pelo aumento da concorrência das outras cidades-Estado, Gênova passou a deter 
grandes reservas de capital circulante, levando-a a uma “crise de hiper-acumulação”. 
Uma solução encontrada pela aristocracia rural da cidade foi investir esse capital em 
propriedades e exércitos, pela ausência de altos riscos e pela real possibilidade de 
valorização e ganhos monetários futuros. 
Outro canal para os investimentos genoveses, e esse de especial relevância, 
surgiu em meados do século XIV, com a derrocada dos principais bancos espanhóis, 
impossibilitando-os de manter suas estruturas de financiamento aos governos ibéricos. 
Esse canal de investimentos abriu-se a Gênova em virtude de alguns fatores 
específicos, a saber: as bases comerciais mais produtivas que essa cidade possuía 
ficavam nessa península; essas bases possibilitariam a expansão de suas rotas 
comerciais para outros domínios, como o norte-africano e o Oriente, pelo Atlântico; a 
península ibérica possuía ainda potenciais sócios “produtores de proteção”, que eram 
os governantes territorialistas dos emergentes Portugal e Espanha. (ARRIGHI, 1996, 
p. 120-1). 
20 
 
Com respeito a esse início de relacionamento entre Gênova e as províncias 
ibéricas, mais especificamente com a Espanha, Kindleberger cita: 
O relacionamento de Gênova com a Espanha começou com a venda de navios para a 
Inglaterra e para Flandres, cessando com a rota de Barcelona, Sevilha, e Lisboa em 
Portugal. Os marinheiros e mercadores genoveses despertaram comercialmente a 
Espanha, bem como a Inglaterra e Flandres. Alguns fixaram-se em colônias 
portuguesas e em Lisboa, especialmente na Andaluzia, na Espanha, a província na 
qual Sevilha estava situada, onde eles casavam suas filhas com nobres catalães e 
estimulavam o comércio de vinho, atum, óleo de oliva e mercúrio. O Ouro da 
África Ocidental foi transferido de Lisboa e Sevilha para Gênova. Quando os 
marinheiros genovesesforam se esgotando, os navios genoveses foram aos poucos 
sendo substituídos pelos de Portugal, da Galícia e de Vizcaya, na costa norte da 
Espanha. Estes primeiros relacionamentos comerciais abriram caminho para as 
finanças na parte final do século XVI. (HEERS, 1964, p. 99-100 apud 
KINDLEBERGER, 1996, p. 61) (tradução própria) 
 
Esse entrelaçamento entre a finança advinda dos banqueiros genoveses e a 
administração dos Estados ibéricos traz à discussão uma importante ideia, já adiantada 
no final do item anterior: o caráter dicotômico da expansão do capital, em parte 
proporcionada pelo impulso financeiro e empresarial comum nas classes burguesas e 
comercias (aqui representadas pelos banqueiros genoveses) e em parte proporcionado 
pelos Estados, em sua multiplicidade de sistemas jurídicos que, concorrendo uns com 
os outros, levam ao desenvolvimento natural do sistema. 
Segundo Arrighi: 
(...) a expansão material do primeiro ciclo sistêmico de acumulação (o genovês) foi 
promovida e organizada por um agente dicotômico, formado por um componente 
aristocrático territorialista (ibérico) – que se especializou no fornecimento de 
proteção e na busca de poder – e por um componente burguês capitalista (genovês), 
que se especializou na compra e venda de mercadorias e na busca de lucro. 
(ARRIGHI, 1996, p. 124) 
 
Essa espécie de simbiose entre as finanças e o Estado proporcionou, como a 
relação mutualística supõe, benefícios para ambos os lados; a parte capitalista recebia 
proteção e possibilidade de aumentos de suas redes comerciais, através dos domínios 
possuídos pelo Estado, ao passo que este recebia o financiamento necessário às suas 
expansões territorialistas. Isso foi especialmente relevante no caso ibérico, uma vez 
que essa era a época das Grandes Navegações portuguesas e espanholas. 
A época de maior vigor desses financiamentos ocorreu entre os anos de 
1557 e 1627, período que Braudel chama de “era dos genoveses”, na qual “o domínio 
foi exercido através da organização, controle e administração de um vínculo invisível 
entre a oferta de capital monetário no norte da Itália, mais abundante do que nunca, e 
os permanentes apertos financeiros da Espanha Imperial” (ARRIGHI, 1996, p. 128) 
21 
 
Mesmo com essa fase áurea, a dominação genovesa sobre as finanças 
globais chegou a um fim, por volta do final do século XVI, quando não foi mais 
possível manter o financiamento às potências imperialistas ibéricas. De acordo com 
Kindleberger, o declínio do ciclo genovês se deu graças a alguns fatores principais, 
que foram: 
(...) deterioração dos termos de troca, do comércio e da manufatura; a perda dos 
monopólios para a concorrência internacional de outras cidades-Estado; 
esgotamento da madeira; mudança do comércio para as trocas e para as finanças, 
bem como para o status rentista; presença de Estados territorialistas; consumismo 
conspícuo; prestígio dos serviços públicos. (KINDLEBERGER, 1996, p. 63) 
(tradução própria) 
 
Passemos agora à análise do próximo ciclo, o Holandês. 
2.3. O Ciclo Holandês 
O ciclo holandês, cuja fase inicial se confunde com a fase final do genovês, 
tem seu início em meados do século XVII. Em alguns aspectos pode-se considerá-lo 
uma verdadeira réplica do ciclo anterior, por conta de algumas características que não 
se modificaram. Pelo contrário, tais características intensificaram-se com a chegada da 
hegemonia das Províncias Unidas. Dentre essas características estão: a presença do 
capitalismo comercial como modelo básico de acumulação, a sua figuração como 
potência hegemônica regional, atingindo maiores proporções que a hegemonia das 
cidades italianas, além de iniciativas inovadoras na promoção da diplomacia, em vista 
de esse ser o meio básico de conquista de fornecedores e clientes para os bens 
comercializados. 
 O começo da afirmação da Holanda como poderio comercial se deu em 
1556, quando as potências ibéricas, em suas “grandes navegações” tentaram invadir a 
Holanda, para impor tributações. Esse país, entretanto, reverteu esse processo, através 
de seus “rebeldes” que “fizeram-se ao mar e desenvolveram habilidades 
extraordinárias, não só na evasão fiscal, mas em impor às finanças da Espanha uma 
espécie de ‘arrocho’ fiscal invertido, através da pirataria e da pilhagem”. Nessas lutas, 
a “fonte primordial da riqueza e do poder holandeses foi o controle do abastecimento 
de cereais e os suprimentos navais”, essenciais em vista do “esgotamento dos 
suprimentos concorrentes, provindos do Mediterrâneo”. (ARRIGHI, 1996, p. 135-6) 
Nesse sentido, Arrighi descreve da seguinte forma o mecanismo de “busca 
de lucros capitalistas” utilizado pelos holandeses: 
22 
 
(...) tudo que os negociantes holandeses tiveram que fazer para se tornar líderes do 
processo de acumulação de capital foi “deixar-se levar pelo vento que estivesse 
soprando e [aprender] a manobrar suas velas de modo a tirar proveito dele”. 
(ARRIGHI, 1996, p. 136) 
 
A Holanda não seguiu, pois, um modelo de expansão completamente 
diferenciado do genovês. Ela seguiu os pontos já esboçados pelas cidades italianas, 
aproveitando-se dos mesmos modelos de negócios e de gestão do Estado que essas 
cidades inicialmente desenvolveram. Houve distinções entre os dois ciclos, porém, e, 
para Arrighi, “a grande diferença entre os holandeses e seus predecessores italianos foi 
a precocidade com que os negociantes holandeses transformaram-se numa classe 
rentista” (ARRIGHI, 1996, p. 138) 
Havia outras diferenças cruciais. Por exemplo, a Holanda possuía maior 
capacidade bélica, desenvolvida através do domínio de técnicas militares que 
remetiam aos modelos clássicos. Tinha também um modelo de gestão da guerra e do 
Estado mais eficiente que o de Veneza, além de fazer maiores investimentos em frotas 
de navios, o que facilitou as buscas por mais mercados e ocasionou a expansão dos 
caminhos marítimos do comercio. 
Uma outra distinção diz respeito aos interesses oligárquicos holandeses, que 
se chocavam mais com os interesses do governo (representado pelo papa e imperador, 
os poderosos defensores das pretensões imperialistas da Espanha, que ameaçavam a 
Holanda) do que ocorrera com Veneza (ameaçada mormente pelos estados do sul e do 
noroeste da Europa). 
Uma característica comum entre os dois ciclos foi que tanto genoveses 
quanto holandeses tinham um consumo de produtos culturais relativamente forte, 
principalmente por parte dos holandeses. 
Com relação à expansão e ao alcance do sistema comercial holandês, 
Arrighi afirma que ele foi impulsionado pela “combinação de três orientações políticas 
correlatas”. A primeira dessas orientações dizia respeito ao estabelecimento de 
Amsterdam como o “entreposto central do comércio europeu e do mundo”, através do 
que “a classe capitalista holandesa desenvolveu aptidões sem precedentes e sem 
paralelo para regular e lucrar com os desequilíbrios da economia mundial europeia.” 
(ARRIGHI, 1996, p. 141) 
A segunda orientação foi “a política de transformar Amsterdam não apenas 
no armazém central do comércio mundial, mas também no mercado central de moeda 
e capital da economia europeia” (ARRIGHI, 1996, p. 142). A esse respeito o autor 
23 
 
afirma que as bolsas de valores não foram uma invenção holandesa, já que de fato 
“elas haviam florescido em Gênova, nas feiras de Leipzig e em muitas cidades 
hanseáticas no século XV”. Entretanto, a particularidade de Amsterdam “foram o 
volume, a flexibilidade do mercado e a publicidade que ele recebeu, além da liberdade 
especulativa das transações” (BRAUDEL, 1982, p. 100-1 Apud ARRIGHI, 1996, p. 
132). 
A terceira orientação “consistiu no lançamento de companhia de comércio e 
navegação de grande porte, credenciadas pelo governo holandês para exercer direitos 
exclusivos de comércio e soberania em imensos espaços comerciais ultramarinos”. 
(ARRIGHI, 1996, p. 143) Essas companhias: 
(...) eram, aum tempo, beneficiárias e instrumentos da contínua centralização do 
comércio e das altas finanças mundiais em Amsterdam: beneficiárias, porque essa 
centralização lhes garantia o acesso privilegiado a mercados lucrativos para a 
colocação de seus produtos e as fontes econômicas onde obter seus insumos, 
inclusive mercados ou fontes para se desfazer do capital excedente ou obtê-lo, 
dependendo de seu estágio de desenvolvimento e das oscilações de seu patrimônio. 
Mas elas também foram instrumentos poderosos de expansão global das redes 
comerciais e financeiras holandesas, sendo impossível exagerar, sob esse ponto de 
vista, seu papel na estratégia global de acumulação dos holandeses. (ARRIGHI, 
1996, p. 143) 
 
O final dessa expansão comercial, como de praxe nos ciclos, foi uma 
guinada da expansão financeira, através da troca do comércio de revenda pelos 
empréstimos lucrativos. O estopim dessa troca foi o surgimento do Mercantilismo, que 
acirrou as disputas pelas vias mundiais do comércio, forçando a Holanda a sair fora 
desse ciclo. Assim, “no fim do século XVII o sucesso do mercantilismo inglês e 
francês já impunha sérias restrições à capacidade do sistema de comércio mundial 
holandês de continuar a expandir sua escala e seu alcance”. (ARRIGHI, 1996, p. 145) 
Para Arrighi, essa fase final da expansão material, trocada pela financeira, 
em virtude do mercantilismo, é explicada nos seguintes termos: 
Não havia nada que os comerciantes holandeses pudessem fazer para conter, e muito 
menos reverter, essa onda sísmica de mercantilismo. Contê-la estava muito além de 
sua capacidade organizacional. Mas, o que estava além desta e que, a bem da 
verdade, era o curso de ação mais sensato que eles poderiam adotar nessas 
circunstâncias, era retirar-se do comércio e se concentrar nas altas finanças, a fim de 
tirar proveito da difusão do mercantilismo, em vez de sucumbir a ela. (ARRIGHI, 
1996, p. 146) 
 
Enquanto a Holanda retirava-se das cadeias “materiais” do capitalismo, uma 
nova potência surgia com força e com uma estratégia de cunho capitalista-
territorialista: a Grã-Bretanha. O próximo sub-capítulo descreve essa ascensão inglesa 
e os caminhos tomados por esse novo ciclo sistêmico. 
24 
 
2.4. O Ciclo Britânico 
A fase final do ciclo holandês foi marcada pelas guerras anglo-holandesas, 
nas quais a Inglaterra disputou o domínio local, através de uma tentativa de incorporar 
o estado holandês, bem como as cadeias comerciais que ele detinha. Entretanto, tais 
disputas não trouxeram ganhos para a potência inglesa, que, por esse motivo, 
juntamente com a França, se engajou numa estratégia diferente: incorporar somente as 
fontes da riqueza ao invés de incorporar o próprio estado holandês. 
Nesse contexto, França e Inglaterra passam a lutar pelo controle do 
Atlântico, numa tentativa de ultrapassar os que chegaram primeiro - portugueses, 
espanhóis e holandeses -, aprimorando e incrementando a escala do Mercantilismo, já 
iniciado por esses últimos. A escravatura teve uma importância grande nesse processo, 
tanto porque o comercio de escravos tornou-se uma atividade extremamente lucrativa 
quanto pelo aumento do fator de dominação, não mais restrita a alguns países da 
Europa, mas a todos os países provedores de escravos, presentes na África, Ásia e 
América. 
Assim, Arrighi afirma que há duas grandes distinções entre o ciclo britânico 
e os dois anteriores, uma primeira relacionada ao “imperialismo” e a outra ao “livre-
cambismo”. Com relação à primeira, o autor escreve: 
(...) na época em que declinou a expansão do comércio mundial de meados do 
século XIX, o poder britânico no sistema mundial como um todo estava em seu 
auge. Na Criméia, a Rússia czarista acabara de ser posta em seu lugar; na França, 
que havia participado da guerra da Criméia, fora colocada em seu lugar, logo depois, 
pela Prússia. O domínio britânico sobre o equilíbrio de poder europeu foi 
suplementado e complementado pela consolidação do império territorial da Grã-
Bretanha na Índia, depois do chamado Grande Motim de 1857. (ARRIGHI, 1996, p. 
169) 
 
Com relação ao segundo fator de diferenciação, o mesmo autor 
complementa: 
Ao mesmo tempo, o regime britânico unilateral de livre comércio ligou o mundo 
inteiro à Grã-Bretanha. Esta se tornou o “mercado” mais conveniente e eficiente 
para obter meios de pagamento e de produção e para colocar produtos primários (...). 
Além disso, como em todos os ciclos sistêmicos de acumulação anteriores, a 
intensificação das pressões competitivas acarretada pela fase de expansão material 
associou-se, desde o início, a uma grande guinada do comércio e da produção para 
as finanças, por parte da classe capitalista britânica. (ARRIGHI, 1996, p. 169) 
 
Em contrapartida, o autor julga o ciclo britânico em certo modo bastante 
parecido com o genovês, especialmente em termos das teias globais de finanças que, 
nos dois ciclos, sustentaram impérios capitalistas. 
25 
 
No ciclo britânico, portanto, o investimento não se dava apenas na expansão 
dos caminhos do comercio, mas no fortalecimento dos poderes político e financeiro da 
Inglaterra, na produção maciça de bens manufaturados e na imposição desses produtos 
aos demais países, inicialmente aos europeus. Tal imposição era reforçada pelo grande 
poder imperial inglês, conquistado graças a uma série de fatores que propiciavam à 
Inglaterra certas vantagens em relação às cidades italianas e às Províncias Unidas. 
Dentre essas vantagens a mais relevante era o fato de ser uma ilha, com 
ausência de vizinhos próximos e, por consequência, de lutas frequentes por expansão 
territorial. Isso proporcionou com que os outros Estados europeus, envolvidos em 
conflitos territoriais, deixassem margem para a expansão marítima inglesa. Tal 
expansão se deu de maneira relativamente rápida, em virtude de o processo 
expansionista ter-se iniciado anteriormente, pelas já citadas potências comerciais 
italiana e holandesa. 
Nesse contexto de conflitos entre os demais estados europeus, voltou a 
tomar força o fenômeno, já definido anteriormente, conhecido como caos sistêmico, 
marcado por guerras internas, pesados impostos, insatisfação popular, confluindo para 
uma ameaça de queda dos governantes estatais. Tal processo se intensifica não apenas 
na Europa, mas também nas colônias, marcadamente nos EUA, levando-os ao seu 
precoce processo de independência, que mais tarde influenciará os processos de 
emancipação de outras colônias, bem como contribuirá para a ascensão desse país 
como potência global. 
Diante desse caos, fazia-se necessário um novo padrão de governança 
interestatal, que nesse momento somente a Inglaterra poderia fornecer. Mesmo com a 
independência estadunidense, a Inglaterra continuava lucrando enormemente com os 
impostos cobrados da ex-colônia, bem como das demais, além dos lucros com as 
vendas de mercadorias manufaturadas, já que era praticamente a única fornecedora 
mundial. 
Em vista disso, Londres se tornou o principal centro financeiro mundial e a 
potência inglesa dominou de vez o que Braudel chama de “entidade metafísica 
controladora do mundo”: os mercados mundiais. Houve uma espécie de contrabalanço 
entre o controle dos mercados e o controle das finanças especulativas, ou haute finace, 
com o qual o país teve de lidar o tempo todo. 
A potência tornou-se responsável, então, por não permitir nem que a 
produção e as vendas deixassem de se expandir, e nem que os lucros especulativos, ou 
26 
 
DD’ de Marx, transformassem-se no principal fator de lucro, sobrepujando a produção. 
Esse controle foi feito não apenas internamente, mas também ao nível internacional, 
com a Inglaterra ‘fiscalizando’ os demais países europeus, a fim de manter o 
contrabalanço entre finanças e produção a um nível ótimo. Isso sem esquecer, é claro, 
do compromisso com a liberalização dos mercados e da manutenção crescente de 
clientespara seus produtos. 
Todo esse processo de sobrevalorização da finança frente à produção e ao 
comércio levou à Inglaterra a aceitar os processos e independência de suas colônias, e 
até a incentivá-lo. Isso devido ao incremento de mercados consumidores que esse 
processo representava. Assim, a potência que dominava grande parte do mundo no 
começo do século XX estava fadada a retrair seus domínios territoriais, como bem 
explica Hobsbawm: 
Embora houvesse um poderoso bloco de empedernido imperialismo na Grã-
Bretanha, do qual Winston Churchill se fez porta voz, a opinião efetiva da classe 
dominante britânica após 1919 era de que em última análise seria inevitável alguma 
forma de autogoverno indiano semelhante ao “status de domínio”, e o futuro da Grã-
Bretanha na Índia dependia de um acordo com a elite indiana, incluindo os 
nacionalistas. O fim do domínio unilateral britânico na índia a partir daí era apenas 
uma questão de tempo. Como a Índia era o núcleo de todo o império britânico, o 
futuro desse império como um todo, portanto, agora parecia incerto, a não ser na 
África e nas ilhas dispersas do Caribe e do Pacífico, onde o paternalismo ainda 
reinava inconteste. Nunca uma área tão grande do globo estivera sob controle 
britânico, formal ou informal, quanto entre as duas guerras, mas jamais os 
governantes da Grã-Bretanha haviam sentido tão pouca confiança na manutenção de 
sua supremacia imperial. Esse foi um dos grandes motivos pelos quais, quando a 
posição se tornou insustentável após a Segunda Guerra Mundial, os britânicos, em 
geral, não resistiram à descolonização. (HOBSBAWM, 1994, p. 209) 
 
Por fim, Arrighi caracteriza o final do ciclo britânico como “semelhante” a 
todos os encerramentos dos outros ciclos sistêmicos anteriores, de modo que os 
capitais rentistas sobrepunham-se em valor aos reais produtos materiais que deveriam 
representar, assim como os investimentos de curto prazo multiplicavam-se no mundo 
inteiro, em especial em Londres. Tudo isso numa expansão financeira que basicamente 
diferenciava-se das anteriores em termos de volumes de capital. Sobre esse 
pensamento, o autor completa: 
Como nas fases de encerramento de todos os ciclos sistêmicos de acumulação 
anteriores, as nações iniciaram uma competição acirrada pelo capital circulante que 
fora retirado do comércio e começava a se tornar disponível sob a forma de crédito. 
A partir da década de 1880, os gastos militares das potências europeias começaram a 
aumentar exponencialmente – subindo o total da Grã-Bretanha, França, Alemanha, 
Rússia, Austro-Hungria e Itália de £132 milhões em 1880 para £205 milhões em 
1900 e £397 milhões em 1914 (HOBSBAWM, 1987, p. 350 Apud ARRIGHI, 1996, 
P. 176) 
 
Em seguida, aborda-se o ciclo norte-americano. 
27 
 
2.5. O Ciclo Norte-Americano 
Diferentemente do capitalismo britânico descrito anteriormente, o 
capitalismo norte-americano é chamado por Arrighi de “capitalismo de corporações”, 
devido à importância fundamental das organizações empresariais na preparação do 
terreno, em termos financeiros principalmente, para a subida do império americano. 
Antes de descrever essas corporações e a sua importância nesse ciclo, passaremos a 
uma sucinta análise histórica do processo de crescimento da importância global dos 
EUA. 
Conforme citado no item anterior, o processo de independência dos EUA, 
ocorrida no ano de 1776, foi o fato inicial que confluiu para a ascensão desse país 
como potência hegemônica mundial. Imediatamente após a independência, o país 
realizou um esforço grande para a expansão do mercado interno, através do estímulo à 
migração, que comporia tanto os produtores de bens agrícolas e industriais quanto os 
consumidores desses bens, todos engajados na exploração do novo território. Havia, 
portanto, uma lógica territorialista agindo em conjunto com uma capitalista, no 
sentindo de conformar um território grade e dinâmico, com agentes empreendedores e 
consumidores ao mesmo tempo. 
Com relação à importância desse mercado “grande e dinâmico”, formado 
por territórios e pessoas ávidas por consumir, Arrighi escreve: 
(...) o controle e a supressão da concorrência, num mercado grande e dinâmico, são 
mais problemáticos do que num mercado menor e menos dinâmico. Mas um 
mercado grande e dinâmico, dotado de toda complementação de recursos naturais 
necessária para satisfazer as necessidades do consumidor, oferece maiores 
oportunidades de superar a concorrência pela integração vertical do que um mercado 
menor, menos dinâmico e não tão bem dotado. (ARRIGHI, 1996, p. 301) 
 
 Esse processo de ocupação e desenvolvimento da nova nação se deu ao 
mesmo tempo em que a Inglaterra ia perdendo sua força como hegemon, processo para 
o qual contribuíram “a concorrência da Alemanha, o aumento da proteção tarifária e o 
fim do padrão-ouro” (ALMEIDA, 1996), bem como as duas guerras mundiais que 
ocorreriam mais à frente, que se constituíram no fator decisivo para a queda da 
hegemonia britânica. 
Com relação à 1ª Guerra Mundial, e sua importância no processo de 
ascensão da hegemonia norte-americana, Hobsbawm argumenta: 
(...) a Primeira Guerra Mundial foi o primeiro conjunto de acontecimentos que 
abalou seriamente a estrutura do colonialismo mundial, além de destruir dois 
impérios (o alemão e o otomano, cujas antigas possessões foram divididas entre os 
britânicos e os franceses), e derrubar temporariamente um terceiro, a Rússia (que 
28 
 
recuperou suas dependências asiáticas dentro de poucos anos). As tensões da guerra 
nas regiões dependentes, cujos recursos a Grã-Bretanha precisou mobilizar, geraram 
agitação. O impacto da revolução de Outubro e o colapso geral de velhos regimes, 
seguidos pela independência irlandesa de fato para os 26 condados do sul (1921), 
fizeram pela primeira vez os impérios parecerem mortais. (HOBSBAWM, 1994, pg. 
208) 
 
A fase entre guerras acabou com esse caos, ao contrário, apenas estimulou e 
aumentou a insatisfação popular, diante dos terrores da guerra recém-terminada, da 
insegurança e da possibilidade iminente de outra. Após 1929, essa insegurança apenas 
cresceu, devido à grave crise financeira ocorrida. Tudo isso contribuiu para a 
manutenção das tensões, que levaram o mundo à segunda grande guerra. 
Entretanto, importante ressalva deve ser feita com relação ao período 
anterior à 1ª Guerra, no sentido da situação em que a potência norte-americana 
encontrava-se em relação à britânica. Ocorre que, a esse tempo, a Grã-Bretanha era o 
maior credor dos EUA. Tal situação foi basicamente invertida ao final da guerra, 
conforme descreve Arrighi: 
No fim da guerra, portanto, os Estados Unidos haviam recomprado por uma 
pechincha alguns dos investimentos maciços que tinham construído a infraestrutura 
de sua própria economia doméstica no século XIX e, além disso, haviam acumulado 
imensos créditos. Ademais, nos primeiros anos do conflito, a Grã-Bretanha fizera 
empréstimos enormes a seus aliados mais pobres, sobretudo a Rússia, enquanto os 
Estados Unidos, ainda neutros, haviam tido plena liberdade para substituir com 
rapidez a Grã-Bretanha como principal investidor estrangeiro e intermediário 
financeiro da América Latina e em partes da Ásia. Terminada a guerra, esse processo 
tornara-se irreversível. A maior parte dos US$ 9 bilhões de créditos líquidos de 
guerra dos Estados Unidos era devida pela Grã-Bretanha e pela França, 
relativamente solventes; porém, mais de 75% dos créditos líquidos de guerra da Grã-
Bretanha eram devidos pela falida (e revolucionária) Rússia, e tiveram que ser 
majoritariamente cancelados como incobráveis (ARRIGHI, 1986, p. 279). 
 
Porém, não se deve confundir uma balança de pagamentos superavitária 
com controle financeiro mundial por parte dos EUA, já que, após a 1ª Guerra, segundo 
Arrighi: 
O controle de uma parcela substancial da liquidez mundial não dotou os Estados 
Unidos de capacidadede administrar o sistema monetário mundial. Em termos 
organizacionais, as instituições financeiras norte-americanas simplesmente não 
estavam à altura dessa tarefa. (ARRIGHI, 1996, p. 280) 
 
 
E nesse cenário passou-se a buscar um retorno em termos monetários à 
situação pré-1914, com o apoio da maioria dos países ocidentais (inclusive dos EUA), 
à manutenção de Londres como centro financeiro mundial e à retomada da força do 
padrão ouro internacional. Esse esforço, porém, não foi suficiente, uma vez que o 
“pesadelo da auto-suficiência monetária dos países” levou esses países a buscarem 
estabilidade para suas moedas, isso através de medidas como “quotas de importação, 
29 
 
moratórias e acordos de suspensão, sistemas de liberação e tratados de comércio 
bilaterais, acordos de trocas, embargos sobre as exportações de capital e controle do 
comércio exterior.” (ARRIGHI, 1996, p. 282). Desse modo, a Inglaterra não conseguiu 
retornar aos padrões e gestão das finanças mundiais que tinha anteriormente, já que 
não tinha mais tanta liquidez e suas reservas em ouro não eram suficientes para 
lastrear o sistema monetário cada vez mais especulativo. 
 Em vista dessa busca pela estabilização das moedas e levando em conta que 
a libra britânica estava cada vez mais desacreditada, os países passaram a constituir 
reservas na única moeda que naquele momento poderia fazer frente à libra: o dólar 
americano. 
À medida que as reservas em dólares foram crescendo em valor e em 
importância, também começaram o ocorrer “crescentes desequilíbrios estruturais dos 
pagamentos mundiais”, de modo que “os investimentos de capital que cruzavam as 
fronteiras estatais assumiram um caráter cada vez mais especulativo”. Passou-se, 
assim, a uma situação em que “uma alta ou uma baixa especulativas repentinas nos 
Estados Unidos resultariam numa suspensão dos empréstimos externos e no 
desmoronamento de toda a complexa estrutura em que se baseava o restabelecimento 
no comércio internacional” (ARRIGHI, 1996, p. 282) 
Assim, chegou-se à quebra de Wall Street e à depressão da economia norte-
americana, quando a interrupção dos empréstimos e investimentos externos 
estadunidenses se consumou de vez. Nessa época, segundo Arrighi, “o protecionismo 
exacerbou-se furiosamente, a busca de moedas estáveis foi abandonada e o 
“capitalismo mundial retraiu-se nos iglus de suas economias de Estados nacionais e 
dos impérios que lhes estavam associados” (HOBSBAWM, 1991, p. 132 apud 
ARRIGHI, 1996, p. 283) 
A Segunda Guerra Mundial trouxe mais revolução popular e mais 
segregação entre países ocidentais e não ocidentais, ao passo que aos poucos transferiu 
o poder político das potências europeias para os Estados Unidos, grande financiador 
da guerra (desde a anterior) e estruturalmente menos abalado que as potências que se 
enfrentavam desde o início. Com respeito à fase final e aos resultados da 2ª Guerra, 
Arrighi cita Kennedy: 
(...) A cartada alemã pelo domínio da Europa estava desmoronando, o mesmo 
acontecendo com a do Japão no Extremo Oriente e no Pacífico. A Grã-Bretanha, 
apesar de Churchill, estava entrando em declínio. O mundo bipolarizado, tantas 
vezes previsto no século XIX e no início do século XX, enfim havia chegado; a 
ordem internacional, nas palavras de DePonte, mudou-se então “de um padrão para 
30 
 
outro”. Somente os Estados Unidos e a União Soviética tinham importância (...) e, 
entre os dois, a “superpotência” norte-americana era imensamente superior. 
(KENNEDY, 1987, p. 357 Apud ARRIGHI, 1996, p. 284) 
 
Assim, estava posta a hegemonia norte-americana. Hegemonia que se deveu 
inicialmente ao fato de essa potência tomar as rédeas da governança global, 
restabelecendo o padrão de Westfália, através de uma política de estímulo à ajuda 
mútua entre as nações e à reconstrução do mundo, em especial da Europa, destruída 
pelas guerras. Foi com base nessa estratégia que foram fundados o FMI e o BIRD, que 
mais tarde se converteu no Banco Mundial. O objetivo dos EUA era colocar, ao menos 
no plano teórico, todas as nações do mundo, inclusive as não ocidentais e as não 
proprietárias, em pé de igualdade. Isso pode ser constatado pela fundação da ONU, um 
organismo com o fim de estabelecer mecanismos diplomáticos de ajuda mutua entre as 
nações, uma espécie de governança global. 
Entretanto, a estratégia norte-americana estava assim arranjada apenas na 
teoria, porque na realidade houve uma busca sem precedentes pelo controle das 
finanças e do poderio militar globais, de modo que os valores de igualdade e 
fraternidade entre as nações aos poucos foram substituídos por uma famigerada busca 
de poder. Na realidade, a desigualdade nunca deixou de existir, de modo que as 
instituições criadas em Bretton Woods e a ONU serviram apenas para mascarar uma 
falsa busca por igualdade ou para dar alguma esperança de melhores condições às 
nações mais pobres. Seu resultado, contudo, foi pouco efetivo. 
De acordo com Arrighi, esse sistema de governança global criado em 
Bretton Woods foi muito mais que um conjunto de acordos com o fim de estabilizar a 
paridade entre moedas nacionais através de “uma taxa de câmbio fixa entre o dólar 
norte-americano e o ouro”. Para ele, por baixo disso tudo houve “uma grande 
revolução no agente e no modo de ‘produzir’ o dinheiro mundial” (ARRIGHI, 1996, p. 
287). Essa revolução está bem definida no excerto abaixo. 
Em todos os sistemas monetários mundiais anteriores – inclusive o britânico -, os 
circuitos e redes de altas finanças tinham sido firmemente controlados por 
banqueiros e financistas privados, que os organizavam e administravam para obter 
lucros. O dinheiro existente no mundo, portanto, era um subproduto de atividades 
com fins lucrativos. No sistema monetário mundial criado em Bretton Woods, em 
contraste, a “produção” do dinheiro mundial foi assumida por uma rede de 
organizações governamentais, primordialmente movidas por considerações de bem-
estar, segurança e poder – em princípio, o FMI e o Banco Mundial e, em prática, o 
Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos, agindo em concerto com os bancos 
centrais dos aliados mais íntimos e mais importantes do país. Assim, o dinheiro 
mundial tornou-se um subproduto das atividades de gestão do Estado. (ARRIGHI, 
1996, p. 287; grifos meus) 
31 
 
 
Para Arrighi, um dos fatores primordiais da Hegemonia Norte-Americana 
foi a empresa capitalista moderna, surgida nos EUA, com algumas características já 
existentes desde o ciclo Holandês. Para o autor, a característica inovadora das 
empresas capitalistas do ciclo norte-americano foi a internalização dos custos de 
transação. De fato, enquanto os holandeses “levaram os processos de acumulação em 
escala mundial um passo adiante dos genoveses, ao internalizar os custos de proteção” 
e os britânicos, por sua vez, levaram esses custos “um passo além dos holandeses, ao 
internalizar os custos de produção”, os americanos, “ao internalizar os custos de 
transação” conseguiram elevar as empresas capitalistas a um padrão de atuação, 
lucratividade, escala de operações e territórios de abrangência nunca vistos antes. 
(ARRIGHI, 1996, p. 247) 
Esse novo padrão de empresas capitalistas, com atuação através de 
“economias de velocidade, e não de tamanho”, com padrão de gerenciamento 
encabeçado por executivos altamente bem preparados, “especializados no 
monitoramento e regulação dos mercados e dos processos de trabalho”, com processos 
de distribuição e produção verticalmente integrados, e com elevadas barreiras de 
entrada, representadas mais pelo “padrão de organização que pela tecnologia”, ganhou 
‘vida própria’, nas palavras de Werner Sombart. (ARRIGHI, 1996, p. 247-51) Foi esse 
padrão de empresas, que mais à frente começaram a se internacionalizar, tornando-se 
conhecidas por empresas transnacionais, que deu a efetiva base econômico-financeira 
ao império global norte-americano,que crescia. 
Assim, empresas transnacionais adquirem personalidade cada vez mais 
global e em alguns casos sobrepõem seu poder ao das nações em que estão alocadas, 
além de muitas vezes possuírem mais recursos financeiros que estas. De acordo ainda 
com Arrighi, essas corporações globais foram quem efetivamente promoveu a 
“superação do capitalismo financeiro britânico”, porque, segundo ele: 
O agente principal e dominante dessa superação não foi o capitalismo financeiro 
como tal, em nenhuma de suas variantes, mas o capitalismo de corporações que 
emergiu nos Estados Unidos através da formação de empresas com diversas 
unidades, dotadas de integração vertical e administração burocrática. Uma vez que 
essas empresas se consolidaram no espaço econômico amplo, diversificado, auto-
suficiente, dinâmico e bem protegido que o Estado norte-americano abrangia, elas 
passaram a desfrutar de vantagens competitivas decisivas na economia mundial 
como um todo, tanto em relação ao capitalismo de mercado de estilo britânico 
quanto ao capitalismo de corporações de estilo alemão. (ARRIGHI, 1996, p. 303) 
 
32 
 
Ocorre, nessa fase mais atual do ciclo, a crescente instabilidade global, tanto 
em termos da sobrevalorização da finança, e com isso, da instabilidade, em detrimento 
da segurança dos investimentos lastreados. Há, assim, o crescimento exagerado da 
insegurança social e nacional, com ameaças terroristas frequentes, muitas vezes 
existentes apenas em pensamento, promovidas muitas vezes por conflitos religiosos, 
que por sua vez levam à necessidade, por precaução, do desenvolvimento de armas 
químicas, biológicas, dentre outras. A sociedade americana se torna, assim, um tanto 
paranoica com relação a essas novas ameaças, cada vez mais onipresentes. O professor 
Fiori expressa bem essa ideia no excerto seguinte, que conclui este subcapítulo: 
O novo inimigo dos Estados Unidos, portanto, já não seria mais uma nação ou 
aliança de Estados terroristas, nem mesmo uma rede terrorista internacional, seriam 
as próprias “vulnerabilidades” dos norte-americanos. Mas quais são essas 
vulnerabilidades? Quem as define? Em que campo se situam? O próprio Rumsfeld 
[Donald Rumsfeld, ex-secretário de Defesa dos Estados Unidos] tenta esclarecer o 
problema ao defender (...) a construção de um sistema inexpugnável contra qualquer 
coisa que possa ameaçar os norte-americanos; contra o “desconhecido, o incerto, o 
inesperado”. Uma ameaça que pode vir do espaço e ser nuclear, mas também pode 
ser cibernética, biológica, química e pode estar no ar, na terra, na água, nos 
alimentos, enfim, em centenas de veículos ou lugares diferentes, porque é pouco 
provável que alguém queira rivalizar ou competir com os Estados Unidos numa 
guerra convencional. (FIORI, 2007, p. 127) 
 
QUADRO 2: Características de cada ciclo de acumulação. 
 Fonte: Elaboração Própria 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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  Final do século XIII e meados do século XVI. 
 Principais cidades: Gênova, Milão, Florença e Veneza. 
 Indústria cultural como canal de investimento. 
 Empréstimos a governos europeus, especialmente ao Espanhol. 
 Declínio de rotas comerciais e crise de hiper-acumulação. 
 Aliança com governos ibéricos, em busca de proteção. 
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  Início em meados do século XVII. 
 Expansão marítima, pirataria e pilhagem, grande capacidade bélica. 
 Classe rentista precoce. 
 Interesses oligárquicos chocando-se com os governamentais. 
 Amsterdam: entreposto central do comércio, mercado de moedas. 
 Expansão limitada pelo Mercantilismo inglês e francês. 
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  Ocorrência entre os séculos XVIII e XIX. 
 Mercantilismo em grande escala. 
 Imperialismo intra e extra europeu. 
 Livre comércio e busca de competitividade internacional. 
 Sem lutas de expansão territorial, foco na expansão marítima. 
 Final: incentivo à descolonização, Londres como centro financeiro. 
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  Independência, territorialismo e empreendedorismo. 
 Formação de mercado interno grande e dinâmico. 
 1ª e 2ª GM contribuem para ascensão produtiva e financeira. 
 Instituições de Bretton Woods suportam a escalada imperial. 
 Empresas transnacionais. 
 Instabilidade, terrorismo e paranoia. 
33 
 
3. A TEORIA DA ESTABILIDADE HEGEMÔNICA 
 
Enquanto no capítulo anterior tratei do processo de ascensão e queda de 
algumas nações que detiveram a hegemonia mundial em certos períodos históricos, 
neste capítulo o foco será em caracterizar a situação denominada Hegemonia. Para 
tanto, será feita uma breve descrição da Teoria da Estabilidade Hegemônica, ou THE, 
como a chamarei de agora em diante. Em seguida, será aprofundado o caso da 
hegemonia dos Estados Unidos. 
3.1. Império-Mundo versus Hegemonia 
 
De acordo com o Immanuel Wallerstein, há duas situações nas quais uma 
potência exerce dominância a nível internacional: Império-Mundo e Hegemonia. 
Segundo ele, um Império-Mundo seria: “uma estrutura na qual há uma única 
autoridade política para todo o sistema” (WALLERSTEIN, 2004a, p.57). Wallerstein 
acredita que nos últimos quinhentos anos houve três grandes tentativas de conformar 
um império global (a de Charles V no século XIV, a de Napoleão Bonaparte, no século 
XIX e a de Hitler em meados do século XX), nenhuma delas bem sucedida. 
Por outro lado, o mesmo autor observa que nos últimos cinco séculos houve 
três potências que se tornaram hegemônicas: as Províncias Unidas, em meados do 
século XVII, o Reino Unido, no século XIX e os Estados Unidos, a partir de meados 
do século XX. Segundo ele, 
(...) o que nos permite chamar essas potências de hegemônicas é o fato de que, por 
certo período de tempo, elas foram capazes de estabelecer as regras do jogo no 
sistema interestatal, de dominar a economia mundial (em termos de produção, 
comercio e finanças), conseguir seus objetivos políticos com um mínimo uso de 
força militar (...), e formular a linguagem cultural na qual se discutiu o mundo. 
(WALLERSTEIN, 2004, p.58) (tradução própria) 
 
Segundo Wallerstein, nunca houve um Império-Mundo porque essa 
conformação não seria interessante para o sistema capitalista, uma vez que haveria um 
único sistema político em todo o mundo, tão forte que seria capaz de barrar a 
acumulação infinita de capital. Entretanto, existiram Hegemonias porque elas puderam 
ser úteis ao Capitalismo, uma vez que proporcionaram estabilização do ambiente 
político-econômico e as estruturas necessárias para a economia mundial prosperar. 
Dado que se tem claro o conceito de hegemonia, passemos à análise da 
THE. 
34 
 
3.2. As Bases da Teoria da Estabilidade Hegemônica 
 
Na realidade, o que suscitou a origem dessa teoria foi a necessidade de se 
entender a relação entre economia e política na atuação dos países. Para essa origem, 
os principais contribuintes foram acadêmicos norte-americanos e britânicos, que 
desenvolveram em paralelo as bases da THE. 
 Para os cientistas políticos norte-americanos, o principal componente 
explicativo das relações entre países era o Poder, por algumas razões básicas. Primeiro 
porque, na Escola norte-americana, os cientistas políticos foram os primeiros a ‘tomar 
as rédeas’ do nascente campo de estudo da Economia Política Internacional, e para 
eles “parecia natural pensar primeiro sobre política e sobre o papel do Estado 
soberano” (COHEN, 2008, p.67). Segundo porque, após a 2ª Guerra Mundial, os 
Estados Unidos foram um claro exemplo de hegemonia global, tornando confortável 
para os acadêmicos norte-americanos considerarem a “hegemonia como um fator 
central de mudança”(COHEN, 2008, p.67), embora essa hegemonia já estivesse sendo 
questionada no momento da criação da THE. 
Opinião distinta tinha uma boa parte da Escola britânica de Economia 
Política Internacional, que considerou as premissas acima um tanto exageradas, 
alegando que o único interesse dos acadêmicos norte-americanos era dar visibilidade 
para seu próprio país. 
Oficialmente, a THE foi desenvolvida pelo economista Charles 
Kindleberger, juntamente com os cientistas políticos Robert Gilpin e Stephen Krasner, 
em meados da década de 70. Dentre estes, o primeiro a desenvolver ideias que mais 
tarde conformariam a teoria foi Kindleberger. No excerto de seu livro The World in 
Depression, 1929-1939, este autor deixa clara a lógica dessa teoria: 
Os sistemas econômico e monetário internacionais necessitam liderança, um país 
que seja preparado, consciente ou inconscientemente, sob um sistema de regras que 
ele próprio cria, para estabelecer padrões de conduta para os outros países; e buscar 
com que os outros o sigam, para assumir e desfazer parte dos encargos do sistema, e 
em particular fornecendo suporte nos períodos de adversidade, aceitando 
commodities redundantes, mantendo um fluxo de capital investido e descontando o 
seu papel (KINDLEBERGER, 1973, p.28 Apud COHEN, 2008, p.71) (tradução 
própria) 
 
Neste livro, o autor explica que a crise de 1929 ocorreu porque faltou uma 
potência hegemônica para estabilizar o sistema internacional. De fato, como vimos no 
capítulo anterior, a Inglaterra exerceu o papel de hegemon global durante todo o século 
XIX, até princípio do século XX. Entretanto, após a 1ª Guerra, esse país deixou de 
35 
 
exercer esta função, por conta das perdas sofridas, tanto de poder quanto de influência 
(fim do imperialismo na Índia, endividamento de guerra, ascensão político-econômica 
dos EUA). Ao mesmo tempo, os Estados Unidos se recusavam a exercer o papel de 
hegemon, por razões políticas. Dessa forma, por não haver um agente estabilizador 
capaz de controlar o sistema internacional, a crise foi impossível de conter. 
De acordo com Benjamim Cohen (COHEN, 2008), há duas maneiras de se 
enxergar a THE: uma de cunho liberal, que destaca a estabilidade hegemônica como 
um fator promotor de bem estar global, e outra de cunho realista, que foca nos 
benefícios que o hegemon adquire ao exercer o controle do sistema internacional. 
A estabilidade hegemônica, na visão de Kingdleberger, seria um bem 
público, por apresentar duas características fundamentais: não-exclusividade e não-
concorrência. Segundo Cohen, “não-exclusividade significa que outros podem ser 
beneficiados do bem, mesmo que não contribuam para a sua provisão” (COHEN, 
2008, p.72), ao passo que a não-concorrência significa que “o uso do bem por alguém 
não diminui a quantidade disponível para os outros” (COHEN, 2008, p.72). 
Adicionalmente, Kindleberger defende a existência de três características 
mandatórias para a estabilidade: manutenção de um mercado aberto para importações, 
empréstimos acíclicos de longo-prazo e provisão de financiamento de curto-prazo em 
períodos de crise (COHEN, 2008, p.88). Segundo Cohen, 
Dado que essas (três) funções podem ser custosas, o hegemon pode ter de suportar 
uma desproporcional parcela de carga, especialmente se os outros países escolhem 
caminhar sozinhos. Mas, para Kindleberger, este é simplesmente o preço a ser pago 
pela responsabilidade da liderança. Sua versão da THE poderia então ser 
caracterizada como benevolente, um exercício benigno do poder. (COHEN, 2008, 
p.72) 
 
Assim, Cohen define a visão de Kindleberger a respeito da THE como de 
cunho liberal. 
Há, entretanto, uma segunda visão para a THE, como referido 
anteriormente. Essa outra visão analisa a teoria sob uma perspectiva mais realista, 
buscando explicar que muitas das ações do hegemon são motivadas por interesses 
próprios. O poder econômico é visto como um meio, e não um fim. Um meio para o 
hegemon exercer o controle sob: fluxos de mercadorias, concessão de empréstimos, 
promoção de ações de segurança onde julgar necessário, execução de punições para 
aqueles países que desobedecerem aos seus comandos, dentre outros fins. Muitos 
desses interesses-fins são obtidos sem aprovação de outros atores internacionais. É 
36 
 
esse tipo de poder mais coercitivo que benevolente que caracteriza a atuação do 
hegemon, para os adeptos desse raciocínio. 
Para essa linha de visão, dois autores de cunho realista foram os principais 
contribuintes: Robert Gilpin e Stephen Krasner. 
Gilpin trabalhou encima das ideias de Kindleberger, considerando a 
premissa de que o mundo precisaria de um estabilizador para ser estabilizado. 
Entretanto, adicionou a ideia de mudança histórica à THE. Incluiu o debate sobre a 
natureza da transformação sistemática da economia mundial, para o qual “a mudança 
histórica foi dirigida (ao longo do tempo) pelo comportamento egoísta dos estados 
poderosos” (COHEN, 2008, p.73). Tal pensamento é ilustrado no seguinte excerto: 
Uma estrutura social (...) é criada para atender aos interesses de seus membros mais 
poderosos. Ao longo do tempo, entretanto, enquanto a distribuição de capacidades 
muda, novas potências buscarão alterar as regras do jogo de maneira a favorecer 
seus próprios interesses, e continuarão a fazer isso sempre que os benefícios da 
mudança excederem seu custo.(COHEN, 2008, p.73) (tradução própria) 
 
Assim, o sistema mundial seria estável somente nos momentos em que não 
houvesse potências em ascensão, que visualizassem meios de adquirir vantagens sobre 
as potencias dominantes, mudando as regras do jogo em benefício próprio. 
Por outro lado, Krasner estudou as influências da hegemonia na 
configuração das estruturas de comércio internacional. Segundo ele, “há uma relação 
sistemática entre hegemonia e abertura no sistema de comércio internacional” 
(COHEN, 2008, p.74), e que essa abertura seria mais visível nos momentos iniciais da 
escalada da potência hegemônica na direção de exercer o controle mundial. A visão 
realista, e negativa, de Krasner, com relação à estabilidade hegemônica, é que a 
estrutura do comércio internacional é determinada pelo poder e interesses dos estados, 
que atuam para maximizar seus resultados individuais. 
 
3.3. A Teoria da Estabilidade Hegemônica e o caso dos Estados Unidos 
 
Uma das premissas adotadas pela THE foi a de que a hegemonia dos 
Estados Unidos entrara em declínio a partir da década de 1970, com o fim do padrão 
ouro e o colapso do sistema de Bretton Woods. De acordo com Cohen, era lógico para 
os acadêmicos adotar essa premissa, dadas as condições pelas quais o país passava 
naquele momento histórico. Tais condições são descritas no excerto: 
37 
 
Naquela época, a evidência para o declínio da hegemonia (norte-americana) parecia 
óbvia. Em 1950, os Estados Unidos contavam por um expressivo um terço de toda a 
produção mundial de bens e serviços. Vinte e cinco anos depois, sua participação era 
de menos de um quarto. Na manufatura o declínio foi ainda mais íngreme, passando 
de quase metade do total mundial na metade do século para menos de um terço nos 
anos 1970s. Em geral, o crescimento econômico dos Estados Unidos nos anos 
1950s e 1960s foi significativamente abaixo do crescimento da Europa continental e 
do Japão. A participação dos Estados Unidos no comércio mundial caiu de 
aproximadamente 33 por cento em 1948 para menos de 24 por cento, em meados 
dos anos 1970s. Em 1971, déficits persistentes na balança de pagamentos forçaram 
Washington a acabar com a conversibilidade do dólar em ouro, precipitando o 
colapso do sistema de Bretton Woods. (COHEN, 2008, p.75) (tradução própria) 
 
O colapso do sistema de Bretton Woods foi fundamental para a perda de 
credibilidade dos acadêmicos na Hegemonia dos Estados Unidos, principalmente 
porque o valor do dólar e, por consequência, a liquidez desse país,foram de certa 
forma minados após esse evento. 
O modelo criado em Bretton Woods após a 2ª Guerra Mundial era baseado 
na força do dólar como motor de transações financeiras internacionais e, por 
consequência, como sustentáculo do crescimento econômico mundial. Duas das 
características fundamentais do acordo foram: a fixação das taxas de câmbio e a 
criação de um ‘lastro monetário’ do dólar em ouro. Assim, a emissão de dólares estava 
condicionada às reservas de ouro norte-americanas. 
Esse modelo vinha dando certo, até que, “após 1967, as coisas começaram a 
mudar com a desvalorização da libra, que vinha proporcionando alguma proteção ao 
dólar” (GILPIN, 1987, p. 135). Além disso, outros fatores contribuíram para a 
deterioração do modelo: “grande escala da Guerra do Vietnã e a consequente 
deterioração da balança de pagamentos norte-americana, (...) crescimento da inflação 
mundial, crescente instabilidade monetária, ataques especulativos ao dólar” (GILPIN, 
1987, p.135). Todos esses fatores contribuíram para o desequilíbrio na balança de 
pagamentos dos EUA, para a emissão de dólares sem o respectivo lastro em ouro (para 
manutenção da liquidez e do crescimento econômico mundial, ambos completamente 
dependentes da moeda norte-americana) e, consequentemente, para a instabilidade no 
sistema financeiro. 
Ainda assim, o sistema Bretton Woods sobreviveu por mais alguns anos, 
graças a “uma firme fundamentação política” (GILPIN, 1987, p. 136), ocorrida entre 
os três principais motores da economia internacional na época: Estados Unidos, 
Europa Ocidental e Japão. Os dois últimos concordaram em financiar os déficits na 
balança de pagamentos do primeiro, com a condição de que este permitisse àqueles “o 
38 
 
uso do sistema para promover sua própria prosperidade econômica, mesmo que isso 
acontecesse largamente às custas dos Estados Unidos” (GILPIN, 1987, p. 136). 
Com algum tempo de operação desse acordo, duas assimetrias básicas 
surgiram: 
Por um lado, o papel do dólar como principal moeda internacional proporcionou 
privilégios econômicos e políticos aos EUA, libertando o país de preocupações com 
sua balança de pagamentos na condução de sua política internacional e na 
administração de sua economia interna. Por outro lado, os EUA, em contraste com 
outras economias, não podiam desvalorizar o dólar com relação a outras moedas, 
com o intuito de melhorar sua posição comercial e de pagamentos. Era assumido que 
qualquer desvalorização do dólar para melhorar a posição competitiva dos EUA 
seria imediatamente seguida por desvalorizações paralelas da libra, do marco, e de 
outras moedas. (GILPIN, 1987, p.137) (tradução própria) 
 
Inicialmente, tanto os EUA como a Europa Ocidental e o Japão souberam 
lidar com essas assimetrias, uma vez que os benefícios se contrabalanceavam. 
Entretanto, cada vez mais os EUA foram se aproveitando dessa situação de ‘livre 
criação de moeda’ para manter sua posição de hegemon global. O uso deliberado desse 
privilégio fez-se perceber através da “manutenção de tropas militares na Europa 
Ocidental e em vários locais em torno da periferia soviética e chinesa, do 
financiamento de ajudas internacionais e da Guerra do Vietnã, além da compra de 
empresas estrangeiras” (GILPIN, 1987, p.136-7). Todo esse processo culminaria mais 
adiante perda de confiabilidade no dólar e no aumento exagerado dos níveis 
inflacionários globais, levando à crescente desestabilização do sistema financeiro 
internacional. 
De fato, em 15 de Agosto de 1971 foi anunciada uma nova política 
econômica para os EUA, que acabaria de vez com o sistema criado em Bretton Woods. 
Os principais pontos da nova política são descritos no excerto: 
Primeiro, o Presidente suspendeu a conversibilidade do dólar em ouro e, assim, 
colocou o sistema monetário global em um puro padrão dólar. Segundo, ele impôs 
uma sobretaxa às importações norte-americanas com o intuito de forçar os europeus 
e japoneses a revalorizar suas moedas em relação ao dólar. E terceiro, instituiu 
controle sobre preços e salários, como um meio de suspender a acelerada taxa de 
inflação norte-americana. (GILPIN, 1987, p.140) (tradução própria) 
 
De acordo com Gilpin, o principal motivo para os EUA acabarem com o 
padrão ouro e com as taxas fixas de câmbio foi a preservação de sua autonomia 
política. O crescente poder da Europa Ocidental e do Japão, que possuíam enormes 
reservas em dólares, poderia diminuir a autonomia norte-americana em relação à 
autonomia dessas potências, e isso necessitava ser extinto, mesmo que às custas do fim 
do sistema de Bretton Woods. (GILPIN, 1987, p.140-1). A legalização das taxas de 
39 
 
câmbio flutuantes ocorreu de fato em 1976, na Conferência da Jamaica, acabando de 
vez com o sistema de Bretton Woods. 
Além do colapso de Bretoon Woods, há outros fatores que levaram os 
acadêmicos a acreditar que a hegemonia norte-americana está em extinção. Para 
Wallerstein, há quatro símbolos que ilustram que dita hegemonia está definitivamente 
sendo minada: a guerra do Vietnã, as revoluções de 1968, a queda do muro de Berlim 
em 1989 e os ataques terroristas de setembro de 2001 (WALLERSTEIN, 2004b, p.25). 
Wallerstein argumenta que a guerra do Vietnã é um símbolo tão poderoso 
porque “Washington foi suficientemente insensato para investir no combate todo o seu 
poderio militar – e, apesar disso, perder”. Ademais, “O conflito foi dispendioso e 
praticamente esgotou as reservas de ouro dos Estados Unidos, que eram abundantes 
desde 1945”. (WALLERSTEIN, 2004b, p.26). O autor explica que a guerra ocorreu 
numa fase em que a Europa Ocidental e o Japão estavam no auge de uma forte 
retomada econômica, de maneira que o conflito acabou com a superioridade 
econômica dos EUA a nível global. 
Com relação às revoluções de 1968, Wallerstein defende que dois fatores 
foram essenciais para o declínio do poder americano: (a) a crítica dos revolucionários 
com relação ao conluio Estados Unidos – União Soviética, para a ‘administração’ do 
mundo pós-segunda guerra e (b) o ataque dos revolucionários à ‘velha esquerda’, 
representada pelos “movimentos de libertação nacional no Terceiro Mundo, 
movimentos socialdemocratas na Europa Ocidental, e democratas no New Deal dos 
Estados Unidos” (WALLERSTEIN, 2004b, p.27), todos acusados de apoiarem o 
referido conluio americano-soviético e, por conseguinte, os interesses imperialistas 
dos Estados Unidos. Segundo o autor, tais pontos são importantes porque minaram a 
posição do liberalismo centrista como “única ideologia global legítima”. 
(WALLERSTEIN, 2004b, p.27). 
O terceiro símbolo de declínio é a queda do muro de Berlim, que nada mais 
foi do que um símbolo da queda definitiva do regime comunista como um todo. A 
União Soviética e seu império comunista no leste europeu caíram por conta da referida 
“desilusão popular com a velha esquerda, combinada com os esforços de Mikhail 
Gorbachev para salvar seu regime (...) através da liberalização interna” 
(WALLERSTEIN, 2004b, p.29) e do final dos acordos americano-soviéticos de 
divisão do mundo pós-segunda guerra. Segundo Wallerstein, o colapso do comunismo 
também significou o colapso do liberalismo, por “eliminar a única justificação 
40 
 
ideológica para a hegemonia dos Estados Unidos, uma justificação tacitamente 
sustentada pelo ostensivo opositor ideológico do liberalismo” (WALLERSTEIN, 
2004b, p.29). 
Por fim, os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 são outro símbolo 
do fim da hegemonia americana. Entre a Guerra do Golfo (1990) e o 11 de setembro 
os EUA exerceram marcado papel diplomático nos Bálcãs e no Oriente Médio, 
entretanto não conseguiram pôr fim nos processos de etnificação e violência contra os 
direitos humanos que ocorriam nesses locais, “não por falta de vontade ou esforço, 
mas por falta de verdadeiro poder” (WALLERSTEIN, 2004b, p.30). Até que 
ocorreram os ataques de 11 de setembro,demonstrando que (a) as nações (ou boa 
parcela da população) do Oriente Médio não estavam satisfeitas com a atuação dos 
EUA na região e (b) a rede terrorista Al-Qaeda, mesmo não representando uma 
potência militar, foi capaz de promover um ataque de tal magnitude ao solo americano, 
representado uma falta de preparação das estruturas de proteção do país. 
Depois do referido ataque vieram as conhecidas intervenções dos EUA no 
Afeganistão e no Iraque, ambas como forma de contra-ataque do governo às tentativas 
árabes de enfraquecer a potência norte-americana. Wallerstein aponta que tais contra-
ataques trouxeram grandes despesas militares ao país, num momento em que sua 
situação econômica não era das melhores. O autor conclui que o que estava ocorrendo 
era “mais velha história na vida das potências hegemônicas: a potência dominante 
concentra-se no aspecto militar; o candidato a sucessor concentra-se no aspecto 
econômico” (WALLERSTEIN, 2004b, p.35), referenciando o fato de que na época o 
Japão estava investindo fortemente em tecnologias de apoio ao progresso econômico, 
ao passo que os EUA mantinham um dispendioso apoio às tecnologias de 
desenvolvimento de armas. 
Contudo, há autores que não concordam com o posicionamento de 
Wallerstein, e afirmam que a hegemonia dos EUA está longe de seu fim. José Luis 
Fiori, Franklin Serrano e Maria da Conceição Tavares são alguns exemplos. 
Segundo Fiori, a hegemonia norte-americana ainda está longe do declínio, 
exemplificando algumas razões para acreditar nisso: 
(a) Todos os sinais indicadores de que a crise de 1970 representara o 
declínio dos EUA foram convertidos no seu contrário, de modo que o papel de grande 
‘devedor’ da economia mundial foi fundamental para a potência americana alavancar 
essa mesma economia, nos 40 anos seguintes à crise; 
41 
 
(b) O fim do padrão ouro e adoção do padrão dólar-flexível “permitiu aos 
EUA exercerem um poder monetário e financeiro internacional sem precedente na 
história da economia e do ‘sistema mundial moderno’”; 
(c) A desregulação do mercado financeiro americano, inicialmente vista 
como um fator negativo, transformou-se na “mola mestra da globalização vitoriosa do 
capital financeiro norte-americano”; 
(d) A derrota na guerra do Vietnã foi benéfica para os interesses 
imperialistas dos EUA, uma vez que por conta dela foi formada uma aliança 
estratégica com a China, contribuindo vigorosamente para o fim da União Soviética e 
da Guerra Fria, além de influenciar na “estratégia tecnológico-militar que contribuiu 
para a vitória americana na Guerra do Golfo, em 1991”; 
(e) A crise hipotecária de 2008, mesmo tendo-se evoluído à categoria de 
crise financeira mundial, “não prejudicou a centralidade do dólar, dos títulos da dívida 
e da economia americana”; 
(f) O fracasso político no Iraque não diminuiu o poder militar dos EUA; 
(g) A alta capacidade de inovação tecnológica e de produção e controle da 
maioria da informação do mundo ainda prevalecem. (FIORI, 2008, p.17-9) 
 
O autor finaliza a lista acima explicando que: 
As dificuldades políticas e econômicas dos Estados Unidos, no final da primeira 
década do século XXI, poderão se aprofundar, mas, do nosso ponto de vista, com 
certeza não se trata do fim do poder americano, muito menos da economia 
capitalista. (FIORI, 2008, p.19) 
 
Franklin Serrano também defende que a hegemonia americana não está em 
crise, enfatizando que a “crise de 2008 nada teve de ver com o papel internacional do 
dólar, mas com as deficiências a na regulação dos mercados financeiros privados 
americanos” (SERRANO, 2008, p.164). Segundo ele, a despeito da crise financeira de 
2008, 
Ainda restam, ao Estado e às classes proprietárias dos Estados Unidos, uma 
substancial capacidade de influir decisivamente, e com frequência até certo ponto 
controlar, os seguintes fatores estratégicos: a classe trabalhadora americana; a 
tecnologia de ponta mundial na área militar e civil; a moeda mundial; o preço 
internacional dos alimentos e o preço e o acesso às principais reservas de energias 
das quais o resto do mundo depende. (SERRANO, 2008, p.165) 
 
Tavares utiliza dois fatos históricos já referidos neste trabalho para justificar 
a manutenção do poder dos EUA: a crise do petróleo de 1973 e o fim do padrão ouro e 
42 
 
adoção do padrão dólar flexível, com o fim do sistema de Bretton Woods. Segundo ela, 
as intervenções maciças da potência americana para a estabilização dos conflitos no 
oriente médio tinha duas funções: resolver a geopolítica da área e a geoeconomia do 
petróleo, em período em que as potências locais ameaçavam obter o controle global 
dessa commodity, tornando-se um risco para a economia norte-americana e global. 
Com respeito à instabilidade pela qual o dólar passava no período, a solução foi 
encontrada com a “diplomacia do dólar forte” do governo Reagan, seguida da 
utilização do iene japonês, país que possuía grandes reservas de moeda americana, 
como “moeda de ajuste” ao dólar flexível. De acordo com isso, para Tavares: 
“Nos dois "mercados flexíveis", o dólar e o petróleo, os EUA deixaram de arcar 
internamente com o ônus da desregulação, que caracterizou o período de transição 
1973/85 e passaram a uma economia de comando, na qual a política norte-americana 
faz unilateralmente as intervenções preventivas ou corretivas, segundo a conjuntura. 
Sem regras gerais auto-aplicáveis e sem consideração pelas regras dos organismos 
internacionais que eles mesmos ajudaram a criar, os norte-americanos, com seu 
intervencionismo preventivo, expandiram como nunca o seu poder global.” 
(TAVARES, 2004) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
43 
 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
No inicio deste trabalho, antes mesmo de se iniciar a escrevê-lo, numa fase 
de estruturação do que de fato seria estudado, havia uma ideia de se escrever sobre os 
Estados Unidos. Entretanto, ao longo da pesquisa por referências que tratassem da 
história e do papel político-econômico desse país, foi percebido que havia duas teorias 
que tratavam dele em perspectiva história, sob o âmbito das Relações Internacionais: a 
teoria dos Ciclos Sistêmicos de Acumulação e a da Estabilidade Hegemônica. Apesar 
de tais teorias terem um escopo de análise bem mais amplo que somente os EUA, elas 
tinham esse país como um dos pontos comuns de estudo e, por esse motivo, o escopo 
de trabalho sofreu uma mudança. Ao invés de trabalhar apenas os EUA, seria feita 
uma análise comparativa entre as duas teorias, e aquele país seria tratado sempre que 
pertinente, dentro da análise de cada teoria. Foi o que foi feito. 
Após o estudo das duas teorias em questão, chegou-se a duas conclusões 
principais: (a) ambas têm um escopo de estudo diferente, buscando explicar 
fenômenos distintos, embora sejam observados sob uma mesma óptica; (b) há pontos 
de conexão entre as teorias, que as tornam complementares no estudo do sistema-
mundo. Esses dois tópicos serão desenvolvidos nesse capítulo de considerações finais. 
Em primeiro lugar, será analisado o tópico (a). Ao longo deste trabalho 
percebeu-se que as duas teorias em estudo apresentam escopos bastante distintos, 
diferentemente do que se imaginava de início. Enquanto o estudo dos Ciclos Sistêmico 
de Acumulação tem por alvo o desenvolvimento do sistema capitalista ao longo do 
tempo, a teoria da Estabilidade Hegemônica estuda primariamente o papel da 
Economia e da Política nas relações entre os países. 
Nesse sentido, muito do que foi descrito na seção de ‘bases’ da primeira 
teoria não encontra o respectivo correspondente na seção ‘bases’ da segunda teoria. 
Por exemplo, a descrição das duas fases do ciclos de acumulação (a de acumulação 
produtiva e a financeira) é central para o entendimento da transição de um ciclo para 
outro. Entretanto, no estudo da estabilidade hegemônica não foi encontrada nenhuma 
descrição de fases da hegemoniade um país. Na realidade, como essa última teoria foi 
desenvolvida na década de 1970, na qual os EUA já detinham o título de hegemon 
global, a bibliografia encontrada tem grande foco nesse país, e não foi identificada 
uma preocupação na descrição de ‘fases’ de hegemonias já finalizadas. 
44 
 
Outro aspecto importante é a diferença de visão em relação a quem seria o 
principal beneficiário do hegemon, se ele próprio ou o se sistema internacional. Na 
descrição dos ciclos sistêmicos, Arrighi foca no papel benéfico do hegemon, na sua 
função de estabilizador do caos sistêmico, promotor do crescimento econômico e 
facilitador de relações comerciais e políticas entre países. Não há um esforço para 
descrever os pontos negativos da atuação do hegemon. Por outro lado, na THE há uma 
forte oposição de visão entre aqueles que analisam a hegemonia sob a óptica liberal, 
enfatizando a sua contribuição para o bem estar político-econômico do mundo e para a 
manutenção das boas relações entre as nações, e aqueles que a analisam sob a óptica 
realista, enfocando no interesse imperialista do hegemon e em seu papel de 
manipulador do sistema interestatal sempre em favor de seus interesses. 
Há ainda a questão do escopo primário de estudo de cada teoria. Como o 
interesse do estudo dos ciclos de acumulação é o capitalismo, uma boa parte da obra O 
Longo Século XX (Giovanni Arrighi), principal referência utilizada no capítulo 2 deste 
trabalho, é dedicada ao aspecto mais econômico dos ciclos: utilização do conceito 
marxista de mais valia para descrever a acumulação ‘infinita’ de capital; descrição dos 
principais produtos de comércio de cada potência hegemônica; enfoque no aspecto 
financeiro da economia e na importância das principais moedas como meios de troca e 
expansão global em termos de território e influência. Já no caso da estabilidade 
hegemônica, cujo foco é o estudo das relações entre países, há uma análise mais 
focada na Economia Política Internacional: estudo de interesses particulares dos 
países, em especial do hegemon, na definição de suas estratégias de ação no cenário 
internacional; estudos de guerras e seus desdobramentos políticos; desenvolvimento 
tecnológico, militar, educacional e econômico em geral na definição do papel que cada 
país desempenha no sistema internacional. 
Será analisado agora o tópico (b), sobre as principais semelhanças que se 
identificou entre as teorias. 
Para ambas as teorias é fundamental a existência de anarquia no sistema 
internacional para a existência do hegemon, já que este é apenas um estabilizador do 
sistema internacional, e não um governante global. Portanto, é essencial que haja uma 
multiplicidade de países autônomos politicamente para que o hegemon exerça sua 
‘influência’ sobre eles, mas sem ‘controlá-los oficialmente’, como no regime de 
colonialismo. Obviamente esta é apenas uma premissa teórica, uma vez que se sabe 
que o controle sempre foi e ainda é exercido de forma indireta em muitos momentos. 
45 
 
Por exemplo, quando os EUA se utilizam do poder de seu cambio para promover 
desvalorizações ou valorizações em outras moedas internacionais. Ou quando exigem 
apoio militar de outro país para invadir determinada região, sob o pretexto de cortar 
relações comerciais com o tal país, se este não o apoiar. 
Foi identificada ainda outra semelhança, com respeito à visão das teorias 
aqui estudadas sobre a fase atual dos EUA. Para as duas, a hegemonia dos EUA está 
em declínio. De acordo com a divisão do ciclo sistêmico em fases de expansão 
produtiva, auge financeiro e declínio, para a teoria dos Ciclos Sistêmicos de 
Acumulação os EUA estão numa fase de expansão financeira, exatamente anterior ao 
declínio definitivo. Essa teoria também propõe que dita fase é marcada pela 
instabilidade sistêmica e pela sobrevalorização da finança em termos da produção, o 
que de fato vem ocorrendo nos EUA, corroborando a proposição de que sua 
hegemonia está prestes a declinar. A visão dos principais teóricos da Estabilidade 
Hegemônica é bastante semelhante. Wallerstein, por exemplo, defende que há quatro 
pontos que confirmam a fase final da hegemonia da águia americana: a guerra do 
Vietnã, as revoluções de 1968, a queda do muro de Berlim e os ataques de 11 de 
setembro. Além disso, para alguns desses teóricos, a derrubada dos acordos de Bretton 
Woods, principalmente o fim do padrão dólar fixo, foi outro acontecimento marcante 
para o princípio desse declínio. 
Cabe observar que essa visão não é uníssona, uma vez que existem autores 
que não concordam que a liderança global dos EUA está em sua fase final. Neste 
trabalho foram citados três autores que compartilham dessa visão: Fiori, Tavares e 
Serrano. Os três confirmam que o país vem passando por uma série de turbulências 
internas e no cenário político internacional desde a década de 1970, mas isso não 
chegou nem próximo de minar a sua influência, nem de ameaçar seu título de hegemon 
global. 
Essa comparação entre teorias está resumida na Tabela 1, a seguir. Nessa 
tabela foram criados oito indicadores de comparação, considerados relevantes para 
demonstrar as semelhanças e diferenças entre ambas. Nem todos os indicadores têm 
correspondentes nas duas teorias, é o caso do indicador presença de fases, que só tem 
sentido para a Teoria dos Ciclos Sistêmicos de Acumulação, que apresenta fases bem 
definidas para os ciclos, ao passo que não há referências sobre fases na teoria da 
Estabilidade Hegemônica. 
 
46 
 
TABELA 1: Comparação entre as duas teorias. 
 
 Fonte: Elaboração própria 
 
Os outros sete indicadores apresentam correspondentes para ambas as 
teorias. Os indicadores principais autores e principais obras são bastante pontuais, e 
resumem as obras e pensadores mais relevantes para cada teoria, de acordo com a 
bibliografia estudada. O indicador principais disciplinas relacionadas foi preenchido 
com as disciplinas-base para cada teoria, de acordo com a bibliografia lida. Esses três 
indicadores são mais genéricos, pois tratam das teorias sob uma perspectiva geral, sem 
enfocar em pontos específicos de cada uma. 
Já os indicadores foco de estudo, principais beneficiários da potência 
hegemônica, papel do Estado e opinião com relação ao declínio da hegemonia dos 
EUA são específicos, comparando as teorias em pontos que exigem uma leitura mais 
detalhada para serem entendidos. 
Sumarizando, os objetivos geral e específicos do trabalho foram atingidos, 
de forma que foi feito o comparativo entre as duas teorias, e identificado que há pontos 
Teoria dos Ciclos Sistêmicos de Acumulação Teoria da Estabilidade Hegemônica
Principais autores Giovanni Arrighi, Fernand Braudel
Charles Kindleber, Robert Gilpin e 
Stephen Krasner
Principais Obras
(a)O Longo Século XX - Arrighi, 1994; (b) 
Civilização Material, Economia e Capitalismo: 
séculos XV-XVIII - Braudel, 1979
(a)International Economy and 
International Relations: a case of 
mutual neglect - Susan Strange, 
1970; (b) The World in Depression, 
1929-1939 - Kindleberger, 1986; (c) 
The Political Economy of 
International Relations - Gilpin, 
1987
Foco de estudo
Desenvolvimento do Sistema Capitalista ao 
longo da história
Papel da Economia e da Política na 
relação entre os países. Foco na 
hegemonia dos EUA.
Principais disciplinas 
relacionadas
História e Economia
Economia, Política, Relações 
Internacionais
Presença de fases Sim: Fases Produtiva e Financeira - 
Principal beneficiário da 
potência hegemônica
O sistema capitalista internacional
Há autores que defendem que é o 
sistema internacional, e outros que 
afirmam ser o próprio hegemon.
Papel do Estado
Crucial para o desenvolvimento do 
capitalismo
Importante, mas não crucial. Há 
atores internacionais tão 
importantes quanto os Estados:ONU, World Bank, OMC
Opinião com relação ao 
declínio da hegemonia 
dos EUA
Concordância
Alguns autores concordam, outros 
discordam
TEORIA
IN
D
IC
A
D
O
R
ES
 D
E 
C
O
M
P
A
R
A
Ç
Ã
O
47 
 
de convergência e de divergência. Foram criados indicadores de comparação, através 
dos quais se fez uma análise mais pontual de semelhanças e diferenças entre as teorias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
48 
 
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