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Atividade diagnóstica 1 - Ricardo De Luca Rossetto Tema: Acordo de não persecução penal 1) Quais os requisitos legais para o ANPP (acordo de não persecução penal)? Os requisitos para a oferta de Acordo de Não Persecução Penal pelo Ministério Público são os presentes no artigo 28-A do CPP na sua íntegra. Para além, o referido artigo dispõe sobre a possibilidade de celebração de acordos de não persecução penal em crimes sem violência ou grave ameaça à pessoa, com previsão legal introduzida pela Lei nº 13.964/2019 (conhecida como "Pacote Anticrime"). Os requisitos legais para a oferta de acordo de não persecução penal são os seguintes: • Que o crime imputado ao investigado ou acusado tenha pena máxima não superior a 4 (quatro) anos de prisão; • Que o investigado ou acusado não tenha sido condenado por outro crime doloso nos últimos 5 (cinco) anos; • Que o investigado ou acusado confesse formal e circunstanciadamente a prática do crime; • Que o investigado ou acusado aceite cumprir, cumulativa ou alternativamente, as condições previstas no acordo de não persecução penal proposto pelo Ministério Público, que podem incluir o pagamento de multa, a prestação de serviços à comunidade, a reparação do dano causado, entre outras medidas; • Que o Ministério Público considere que as condições do acordo são adequadas e suficientes para prevenir novas infrações penais e para promover a justiça criminal. É importante lembrar que a celebração do acordo de não persecução penal é uma faculdade do Ministério Público, ou seja, não há direito subjetivo do investigado ou acusado à sua concessão. Além disso, o acordo deve ser homologado pelo juiz competente para produzir seus efeitos legais. 2) Quais as diferenças entre a suspensão condicional do processo e o acordo de não persecução penal? E, na sua opinião, qual dessas medidas de política criminal alternativa é mais benéfica? Por quê? A suspensão condicional do processo e o acordo de não persecução penal são duas medidas alternativas de política criminal previstas no Código de Processo Penal brasileiro, com o objetivo de desafogar o sistema de justiça criminal e promover uma resposta mais ágil e efetiva aos crimes de menor potencial ofensivo. Embora possam parecer semelhantes, existem diferenças significativas entre elas. A suspensão condicional do processo (também conhecida como "sursis processual") é uma medida que permite a suspensão do processo criminal por um prazo determinado, desde que o acusado atenda a determinadas condições, como a reparação do dano causado ou a prestação de serviços à comunidade, por exemplo. Durante esse período, o acusado fica sob observação do juiz, que pode determinar a revogação da suspensão se ele descumprir alguma das condições impostas. Se ao final do prazo determinado, o acusado tiver cumprido todas as condições impostas, o processo é extinto e ele não sofrerá condenação. Já o acordo de não persecução penal é uma medida mais recente, introduzida pela Lei nº 13.964/2019 (conhecida como "Pacote Anticrime"), que permite ao Ministério Público oferecer ao investigado ou acusado a celebração de um acordo para evitar a persecução penal. Para que o acordo seja oferecido, é necessário que o crime imputado tenha pena máxima não superior a 4 anos de prisão e que o investigado ou acusado confesse formal e circunstanciadamente a prática do crime, além de aceitar cumprir as condições previstas no acordo, que podem incluir pagamento de multa, prestação de serviços à comunidade, reparação do dano causado, entre outras. Se o acordo for aceito e cumprido pelo investigado ou acusado, o processo será extinto e ele não sofrerá condenação. Na minha opinião, o acordo de não persecução penal é mais benéfico, pois permite uma resposta mais ágil e efetiva aos crimes de menor potencial ofensivo, sem a necessidade de iniciar e levar adiante um processo criminal, o que muitas vezes acaba sobrecarregando o sistema de justiça. Além disso, o acordo de não persecução penal estimula a confissão e a reparação do dano causado, o que pode ser importante para a ressocialização do investigado ou acusado. No entanto, é importante ressaltar que a celebração do acordo deve ser feita de forma criteriosa e responsável, levando em conta as particularidades do caso concreto e garantindo que as condições impostas sejam adequadas e suficientes para prevenir novas infrações penais e para promover a justiça criminal. 3) Em agosto de 2017, o MPF ofereceu denúncia contra um homem de 37 anos, residente de Viamão (RS), pela prática do crime de adquirir, guardar e introduzir em circulação moeda falsa, previsto no artigo 289, parágrafo 1º, do Código Penal. De acordo com o MPF, em novembro de 2015, o acusado utilizou oito cédulas falsas, sendo sete delas de R$ 50,00 e uma de R$ 100,00, para comprar um aparelho celular. Segundo a acusação, logo após a transação, a vítima percebeu que as notas recebidas não eram verdadeiras e as entregou à Polícia. A denúncia foi aceita pelo juízo da 11ª Vara Federal de Porto Alegre, tornando o acusado réu em ação penal. Após ter ocorrido o seu trâmite, o processo ficou concluso para a sentença em novembro de 2019. No entanto, em fevereiro deste ano, o juízo de primeira instância determinou a suspensão do curso do processo para que o MPF e a defesa do réu negociassem a possibilidade de fechar um ANPP. Pergunta-se: foi correto o entendimento judicial? Justifique. Sim, foi correto o entendimento judicial que determinou a suspensão do curso do processo para que o MPF e a defesa do réu negociassem a possibilidade de fechar um ANPP. O ANPP é uma medida prevista no artigo 28-A do Código de Processo Penal, introduzido pela Lei nº 13.964/2019 (conhecida como "Pacote Anticrime"), que permite ao Ministério Público oferecer ao investigado ou acusado a celebração de um acordo para evitar a persecução penal. No caso em questão, o crime imputado ao réu tem pena máxima prevista de até 12 anos de prisão, o que indica que o processo não se enquadra como de menor potencial ofensivo. No entanto, como a denúncia foi oferecida em agosto de 2017 e o processo ficou concluso para a sentença em novembro de 2019, antes da entrada em vigor da Lei nº 13.964/2019, não foi possível ao Ministério Público oferecer o ANPP antes do juízo de primeira instância proferir a decisão de suspensão do curso do processo. A suspensão do curso do processo para negociação do ANPP é uma medida que está em conformidade com o atual entendimento do Supremo Tribunal Federal, que tem se posicionado favoravelmente ao uso de medidas alternativas de política criminal para crimes de menor potencial ofensivo. Além disso, a negociação do ANPP pode ser benéfica para ambas as partes, pois permite ao réu evitar uma possível condenação e cumprimento de pena, enquanto o Ministério Público garante a reparação do dano causado pelo crime e a adoção de medidas que visem à prevenção de novas infrações penais. Dessa forma, a suspensão do curso do processo para negociação do ANPP pode ser uma medida adequada para promover uma resposta mais ágil e efetiva ao caso concreto, desde que as partes negociem de forma responsável e criteriosa, garantindo que as condições impostas sejam adequadas e suficientes para prevenir novas infrações penais e para promover a justiça criminal. No entanto para crimes praticados após a vigência do pacote anticrime, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul entende que: APELAÇÃO-CRIME. FURTO QUALIFICADO MAJORADO TENTADO. ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO. REPOUSO NOTURNO. 1. PRELIMINAR. ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL. ART. 28-A DO CPP. PLEITO DE REMESSA DOS AUTOS À ORIGEM PARA DELIBERAÇÃO QUANTO AO OFERECIMENTO DA MEDIDA. INDEFERIMENTO. O Acordo de Não Persecução Penal, introduzido no ordenamento jurídico pormeio da Lei nº. 13.964/2019, denominada “Pacote Anticrime”, é instituto voltado à fase pré- processual, que, na cronologia dos atos procedimentais, antecede ao oferecimento e recebimento da denúncia e, por consequência a própria instauração da ação penal. Dado o seu caráter de medida despenalizadora, constitutiva de nova causa de extinção da punibilidade (art. 28-A, §13 do CPP), está-se diante de norma híbrida, abarcada pelo princípio da retroatividade da norma penal mais benéfica, portanto aplicável aos fatos anteriores à sua vigência. Sobre a matéria, debatem-se a doutrina e a jurisprudência na definição das fases processuais em que cabível a avaliação do Acordo, surgindo já algumas correntes, a primeira limitando o cabimento do ANPP aos processos sem recebimento da denúncia, e as demais admitindo a retroatividade da norma depois de instaurada a ação penal, todavia divergindo quanto ao momento, se até a prolação da sentença condenatória ou o trânsito em julgado da condenação. A questão está sendo discutida pelo E. STF nos autos do HC nº 185.913/DF, ainda em tramitação. Tenho, assim, que a interpretação que melhor se amolde ao já afirmado caráter híbrido do instituto do ANPP é aquela que limita a sua aplicação à fase pré-processual, admitindo a retroatividade da norma até o recebimento da denúncia. A regra do art. 28-A do CPP é preponderantemente processual, visto que, ao fim e ao cabo, tem como finalidade precípua a não sujeição do investigado a processo criminal. Nessa moldura, mostra-se inviável a ampla retroatividade da norma, sob pena de se subverter as características ínsitas do instituto. Precedentes. Ausência de pressuposto autorizador da incidência do art. 28-A do CPP. Hipótese em que o acusado foi denunciado e a denúncia recebida em 20.05.2020, já na vigência do “Pacote Anticrime”, a defesa insurgindo-se quanto ao não oferecimento de ANPP somente nas razões recursais, de modo que já estava deflagrada a ação penal. Não bastasse isso, como destacado no parecer ministerial, em momento algum o réu confessou “formal e circunstancialmente” a prática do delito, porquanto permaneceu em silêncio em sede inquisitorial e, no contraditório, fez-se revel, carecendo a pretensão de condição essencial para a oferta do ANPP, conforme o disposto no art. 28-A, do Código de Processo Penal. Situação fático-jurídica que não autoriza o oferecimento da medida. Preliminar rejeitada. (...) PRELIMINAR REJEITADA. APELO DEFENSIVO PARCIALMENTE PROVIDO. PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE IMPOSTA AO RÉU REDIMENSIONADA PARA 10 MESES E 20 DIAS DE RECLUSÃO, SUBSTITUÍDA POR APENAS UMA RESTRITIVA DE DIREITOS, CONSISTENTE EM PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE. PENA DE MULTA CUMULATIVA REDUZIDA PARA 10 DIAS-MULTA. DEMAIS DISPOSIÇÕES SENTENCIAIS MANTIDAS. Apelação Criminal, Nº 50065166920208210072, Oitava Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Fabianne Breton Baisch, Julgado em: 17-02- 2023) Ou seja, diante da discricionariedade da oferta, e por se tratar de um instituto pré processual, o processo deveria ser julgado.