Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais
Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 1
proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão 
proteção igualdade liberdade dignidade férias vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão 
proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão 
proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão 
proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão 
 vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade
saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção lazer seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias 
seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção 
seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção 
seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção 
seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer transporte repouso aposentadoria assistência proteção 
saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção 
saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias 
saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias 
saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias 
proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão 
proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão 
proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão 
integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania 
integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania 
proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão 
proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão 
integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania proteção 
integridade liberdade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania 
integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade cidadania liberdade dignidade vida honra cidadania 
liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade 
integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania 
integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania 
Aula 2
A tutela jurisdicional dos diferentes 
tipos de direitos fundamentais
Tutela jurisdicional dos
direitos fundamentais 
José dos Santos Carvalho Filho
CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais
Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 2
Sumário
Introdução .........................................................................................3
1. Teoria geral dos direitos fundamentais ..............................4
1.1 Direitos de primeira dimensão ..............................................5
1.2 Direitos de segunda dimensão ...........................................6
1.3 Direitos de terceira dimensão ..............................................9
Hora da revisão e conclusão ......................................................13
Referências ......................................................................................15
Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais
Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 3
Introdução
 Olá, aluno(a)!
 Seja bem-vindo(a) novamente!
 Na primeira aula deste curso, nós refletimos sobre a legitimidade da justiça 
constitucional, tema central para compreender os limites e as possibilidades de tutela 
jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais. 
 Estabelecidas as nossas primeiras premissas teóricas, notadamente em relação 
ao suposto conflito entre jurisdição constitucional e democracia, agora podemos 
avançar em nosso estudo e nos debruçar sobre a evolução histórica dos direitos 
fundamentais. Esse assunto é essencial para melhor compreender o contexto em que 
surgiram e a função que desempenham os diferentes tipos de direitos fundamentais.
 Embora os direitos fundamentais sejam complexos e assumam características 
plurais, a doutrina apresenta uma taxonomia desses direitos bastante didática, 
classificando-os em três blocos ou dimensões: as liberdades civis e políticas; os 
direitos sociais, culturais e econômicos; e os direitos transindividuais (coletivos e 
difusos).
 Essa categorização auxilia a compreender as características predominantes 
nos diferentes tipos de direitos fundamentais. Igualmente, a taxonomia evidencia 
que a efetivação dos direitos fundamentais pelo Estado e a tutela jurisdicional desses 
direitos variam, conforme estejamos diante de direitos de primeira, de segunda ou 
de terceira dimensão.
 Esse é o tema da nossa aula atual. Vamos começar?
Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais
Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 4
1. Teoria geral dos direitos fundamentais
Pintura A liberdade guiando o povo, de Eugène Dlacroix.
 Diante do êxito da Revolução, influenciado pelas ideias iluministas, o Estado 
tornou-se representativo ou Estado de Direito, cuja característica básica é a limitação 
do poder estatal, tanto pelo estabelecimento de liberdades individuais como pela 
divisão orgânica de suas funções. 
 Essa fórmula de limitação ao absolutismo consta do art. 16 da Declaração de 
Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789: “Qualquer sociedade em que não esteja 
assegurada a garantia dos direitos, nem estabelecida a separação dos poderes não 
tem Constituição”.
 Assim, tivemos uma passagem do Estado Absolutista para o Estado de Direito, 
em que as liberdades individuais são legalmente reconhecidas e as funções estatais 
repartidas como meio de limitação da atuação do Estado. 
 O Estado tal como é conhecido hoje, 
Estado nacional ou moderno, composto por 
território, poder político e população, nasceu 
absolutista. A vontade do rei era lei, e as 
regras jurídicas definidoras do poder eram 
exíguas, vagas e não reduzidas a escrito. 
Remonta a esse período a notória frase de 
Luiz XIV da França “O Estado sou eu”.
 Os abusos cometidos nessa conjuntura 
estimularam movimentos revolucionários 
cujo escopo foi romper com esse paradigma, 
como a Revolução Francesa de 1789.
Estado absolutista Estado de Direito 
(liberdades individuais + separação de poderes)
https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/414/2018/10/1789.pdf
https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/414/2018/10/1789.pdfAula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais
Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 5
1.1 Direitos de primeira dimensão
 Diante desse quadro, perceba que os primeiros direitos fundamentais que 
surgiram – os quais a doutrina classicamente apresenta como direitos de primeira 
geração ou dimensão – são relativos às liberdades civis e políticas, como as liberdades 
de locomoção, de expressão, de religião, de pensamento etc.
 Esses direitos exigem, predominantemente, um não agir ou uma abstenção do 
Estado para que sejam observados. Funcionam como verdadeiro escudo de proteção 
contra arbitrariedades estatais.
 Ilustrativamente, o direito à liberdade de locomoção no Brasil resguarda 
os cidadãos, estabelecendo que ninguém será privado da liberdade sem o devido 
processo legal (art. 5º, LIV, da Constituição de 1988). Consequentemente, o Estado 
não pode restringir a liberdade de locomoção de maneira indiscriminada; ao contrário, 
deve respeitar diversas condições, como a condução de prévio processo judicial, em 
que sejam garantidos julgamento imparcial, ampla defesa, contraditório, existência 
de defesa técnica etc.
 Pare para refletir comigo… se, eventualmente, ocorre uma prisão arbitrária, 
a jurisdição constitucional pode ser acionada para tutelar o direito fundamental à 
liberdade de locomoção, por meio de habeas corpus. Caso se reconheça que a restrição 
à liberdade viola o direito fundamental, a tutela jurisdicional consiste em determinar 
que o Estado se abstenha da prática do ato questionado.
 Relativamente ao uso de algemas, o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula 
Vinculante 11, segundo a qual:
Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado 
receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, 
por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por 
escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente 
ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que 
se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.
USO DE ALGEMAS 
(Súmula Vinculante 11)
Regra: É ilícito 
Exceção: PRF 
perigo à integridade física
Resistência
Fuga
https://portal.stf.jus.br/jurisprudencia/sumariosumulas.asp?base=26&sumula=1220
https://portal.stf.jus.br/jurisprudencia/sumariosumulas.asp?base=26&sumula=1220
Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais
Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 6
 Assim, a tutela jurisdicional dos direitos fundamentais de primeira dimensão 
consiste em determinação compulsória do Estado-juiz para que seja observado um 
dever de abstenção, decorrente do reconhecimento de uma liberdade civil como 
direito fundamental.
1.2 Direitos de segunda dimensão
 Um novo contexto de crise instalado na Europa e nos Estados Unidos, em razão 
da quebra da bolsa de valores de Nova York em 1929, colocou em evidência que o 
Estado não poderia mais se contentar com comportamentos abstencionistas para 
efetivar os direitos fundamentais.
 Percebeu-se que, em alguns casos, é preciso que o Estado forneça prestação 
material, por meio de políticas públicas, para enfrentar crises e reduzir instabilidades 
e vulnerabilidades sociais.
 Foi nessa conjuntura que surgiu a concepção de Estado de Bem-Estar Social 
(Welfare State) ou Estado Social de Direito. Nesse modelo, o termo “Social” é 
incorporado ao tradicional “Estado de Direito”, para enfatizar o dever estatal em 
fornecer prestações materiais para efetivação de direitos sociais.
Uso abusivo de algemas Concessão da ordem de habeas corpus
 Nesse contexto, o uso abusivo de algemas justifica a intervenção da jurisdição 
constitucional para coibir a prática. Concorda? 
Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais
Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 7
 Assim, paralelamente às liberdades civis e políticas clássicas (direitos de 
primeira dimensão), são desenvolvidos os direitos sociais, culturais e econômicos 
– DESC (direitos de segunda dimensão).
 Os DESC pressupõem conduta ativa do Estado, transformando-o em Estado 
Assistencial, cuja função é tentar propiciar a igualdade dos cidadãos em sentido 
substancial. 
 A Constituição brasileira de 1988 estabelece, no art. 6º, os direitos sociais à 
educação, à saúde, à alimentação, ao trabalho, à moradia, ao transporte, ao lazer, à 
segurança, à previdência social, à proteção à maternidade e à infância e à assistência 
aos desamparados.
 Você consegue perceber a forte correlação do Estado Social de Direito com 
as políticas públicas (policies)? É por meio delas que são implementados os direitos 
sociais no plano concreto. 
 Por serem os direitos sociais, culturais e econômicos direitos prestacionais, 
a doutrina costuma apresentar uma dificuldade central para a sua efetivação: o seu 
custo.
 Sobre o tema, recomendo a leitura da obra Os custos dos 
direitos: por que a liberdade depende dos impostos, de Sthephen 
Holmes e Cass Sustein (2019).
 Nesse livro, os professores ponderam que a 
implementação de direitos fundamentais custa bastante 
dinheiro ao Estado. O impacto orçamentário é ainda mais 
significativo quando se está diante de direitos sociais. 
DICA DE 
LEITURA
 É importante pontuar que nem todos os direitos 
sociais, culturais e econômicos dependem de dispêndio 
público elevado para sua implementação. Basta lembrar do 
combate ao racismo ou da promoção dos direitos à igualdade 
de gênero, que podem ser efetivados, por exemplo, por meio 
de políticas públicas educacionais ou pela elaboração de leis 
para garantir a igualdade material, instrumentos que não são 
tão onerosos.
FICA A 
DICA
Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais
Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 8
 Porém, a doutrina tem razão quando adverte que os DESC têm 
predominantemente custo de implementação alto, em especial quando se compara 
com os custos dos direitos de primeira dimensão (liberdades civis e políticas). 
 A implementação de direitos sociais, culturais e econômicos ainda depara 
com um paradoxo intransponível: enquanto as necessidades humanas tendem ao 
infinito, o orçamento público é limitado. Por isso, é preciso enfrentar uma questão 
pragmática de gestão de recursos finitos.
 Esse paradoxo acarreta uma dificuldade de governabilidade, que foi acentuada 
pelo extenso rol de direitos sociais previstos na Constituição brasileira de 1988. 
Manoel Gonçalves Ferreira Filho (1995) pondera que a Constituição agravou a 
governabilidade brasileira, na medida em que sobrecarregou o Estado de tarefas, 
sem providenciar os recursos necessários; preocupou-se mais com a distribuição 
das riquezas do que com a sua produção.
 Assim, diante da limitação orçamentária, o Estado, às vezes, depara com o 
dever de fazer escolhas trágicas. O que é mais urgente: 
 Construir um novo hospital ou uma nova escola? 
 Investir em mobilidade urbana ou em publicidade educativa? 
 Redistribuir renda aos mais necessitados ou desonerar a economia para 
produzir riqueza? 
 A resposta a essas questões não é fácil e tampouco uníssona. Depende muito 
do interlocutor. Por isso, a reflexão que deve ser feita é anterior e consiste em saber a 
quem compete a tomada de decisão sobre a alocação de recursos públicos limitados. 
 Em que medida o Poder Judiciário pode interferir nessa decisão? 
 Pelo princípio da separação dos poderes vigente no Brasil, a escolha sobre 
a melhor alocação dos recursos finitos compete às instituições políticas clássicas 
(Poderes Legislativo e Executivo) e se operacionaliza por meio de normas 
regulamentadoras e políticas públicas. A tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 
ocorre apenas de maneira subsidiária, quando há insuficiência de um dos outros 
Poderes no exercício de suas atribuições, para solucionar conflitos de interesses.
 Cada vez mais, o Judiciário temsido acionado para rever decisões políticas 
sobre alocação de recursos para a implementação de direitos fundamentais 
sociais. Esse fenômeno é conhecido como judicialização das políticas públicas, e 
a judicialização da saúde é o exemplo mais notório. Esse tema será estudado mais 
adiante no curso. Por ora, para uma contextualização geral, sugiro a leitura do artigo 
A crescente judicialização e aumento da influência do Judiciário no sistema de saúde, de 
Luiz Felipe Conde.
https://www.conjur.com.br/2019-dez-18/judicializacao-influencia-judiciario-sistema-saude
Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais
Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 9
 Essas considerações revelam a delicadeza da questão, pois a posição adotada 
pelo Judiciário (autocontenção ou ativismo) impacta consideravelmente no modo de 
fruição de direitos fundamentais sociais pelos jurisdicionados, tanto em perspectiva 
individual como coletiva. 
 A temática da judicialização das políticas públicas – e assuntos correlatos, 
como as teorias da reserva do possível, das normas programáticas e do mínimo 
existencial – será abordada em aula autônoma. Por enquanto, o que se pretende 
é apenas problematizar um fato: a tutela jurisdicional dos direitos sociais é mais 
complexa do que a defesa das liberdades civis e políticas clássicas, na medida em 
que a implementação desses direitos enfrenta vicissitudes extras, como o custo 
financeiro elevado em um contexto de orçamento limitado.
1.3 Direitos de terceira dimensão
 No histórico de desenvolvimento dos direitos fundamentais, não podem ser 
negligenciados os direitos de terceira dimensão, cuja titularidade é coletiva. São 
direitos como o meio ambiente equilibrado, a paz e a autodeterminação dos povos. 
 O contexto propício à sistematização jurídica desses direitos transindividuais 
surgiu após a Revolução Industrial, que conduziu à sociedade de massas, caracterizada 
pela aglomeração de pessoas em centros urbanos, onde há produção de larga escala 
em indústrias, graças à substituição do trabalho manual por máquinas.
 Ao votar em processo-paradigma da repercussão 
geral (RE 566.471 – Tema 6) sobre a responsabilidade 
do Estado em fornecer medicamentos de alto custo 
não inseridos em política pública do Sistema Único 
de Saúde (SUS), o ministro Alexandre de Moraes 
ponderou que provimentos judiciais favoráveis a um 
número limitado de pessoas, por mais importantes que 
sejam seus problemas, comprometem o orçamento 
total destinado a milhões de cidadãos que dependem 
do sistema público de saúde. Afirmou que “não 
há mágica orçamentária e não há nenhum país do 
mundo que garanta acesso a todos os medicamentos 
e tratamentos de forma generalizada”.
https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2565078
Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais
Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 10
 Nesse novo modelo de organização social, os indivíduos passaram a enfrentar 
problemas comuns, tanto em razão da origem como em decorrência da indivisibilidade 
do bem a ser tutelado. Nessa conjuntura, o Estado percebeu a necessidade de tratar 
dessas demandas comunitárias de forma generalizada.
 Assim, ao lado das liberdades individuais clássicas e dos direitos sociais, o Direito 
passou a tutelar interesses ou direitos coletivos, categoria que, segundo a professora 
Ada Pellegrini Grinover (1984, p. 30), compreende interesses que não encontram 
apoio em relação-base bem definida, reduzindo-se o vínculo entre as pessoas a fatores 
conjunturais ou extremamente genéricos, a dados de fato frequentemente acidentais 
ou mutáveis: habitar a mesma região, consumir o mesmo produto, viver sob dadas 
condições socioeconômicas, sujeitar-se a certos empreendimentos, etc.
 No Brasil, o Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990) sistematiza 
os tipos de diretos coletivos: 
 direitos individuais homogêneos; 
 direitos coletivos em sentido estrito; e 
 direitos difusos:
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das 
vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I – interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos 
deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam 
titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos 
deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja 
titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a 
parte contrária por uma relação jurídica base; 
III – interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos 
os decorrentes de origem comum.
 O fato é que, com o reconhecimento dos direitos coletivos, rompe-se a 
lógica subjetivista e individualista dos direitos fundamentais. Os litígios de direitos 
fundamentais afastam-se da bipolaridade clássica (Estado v. indivíduos) e passam a 
assumir uma multiplicidade de interesses.
 Como corolário desse fato, a função tradicional de tutela dos direitos 
fundamentais pelo Poder Judiciário também é redefinida. Na medida em que a 
jurisdição constitucional não depara mais apenas com interesses contrapostos, 
mas também com demandas complexas de interesse público, os juízes precisam 
assumir posicionamentos mais colaborativos, dialógicos e proativos para promover 
a efetivação de direitos fundamentais.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm#:~:text=LEI%20N%C2%BA%208.078%2C%20DE%2011%20DE%20SETEMBRO%20DE%201990.&text=Disp%C3%B5e%20sobre%20a%20prote%C3%A7%C3%A3o%20do%20consumidor%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias.&text=Art.,da%20Constitui%C3%A7%C3%A3o%20Federal%20e%20art.
Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais
Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 11
Sobre os processos estruturais no contexto da Covid-19, 
recomendo a leitura do breve artigo Covid-19, processo 
estrutural e ativismo judicial, do professor Osmar Paixão.
 Na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, 
o exemplo mais notório em que a Corte se debruçou 
sobre o tema foi a Arguição de Descumprimento 
de Preceito Fundamental 347, rel. min. Marco 
Aurélio, na qual a Corte reconheceu o estado de 
coisas inconstitucional (ECI) do sistema carcerário 
brasileiro, diante de falhas estruturais e da falência de 
políticas públicas criminais, cuja modificação depende 
de medidas abrangentes de natureza normativa, 
administrativa e orçamentária.
 Nesse cenário, ganham relevância ações e processos estruturais, por meio 
dos quais o Judiciário adota uma função performativa, que lhe permite expandir o 
terreno do judicializável para alcançar práticas que estariam fora do que previamente 
se entendia possível de consubstanciar um debate judicial.
DICA DE 
LEITURA
 Veja a ementa do referido julgado:
CUSTODIADO. INTEGRIDADE FÍSICA E MORAL. SISTEMA 
PENITENCIÁRIO. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO 
FUNDAMENTAL. ADEQUAÇÃO. Cabível é a arguição de descumprimento 
de preceito fundamental considerada a situação degradante das 
penitenciárias no Brasil. SISTEMA PENITENCIÁRIO NACIONAL. 
SUPERLOTAÇÃO CARCERÁRIA. CONDIÇÕES DESUMANAS DE 
CUSTÓDIA. VIOLAÇÃO MASSIVA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS. 
FALHAS ESTRUTURAIS. ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL. 
CONFIGURAÇÃO. Presente quadro de violação massiva e persistente 
de direitos fundamentais, decorrente de falhas estruturais e falência de 
políticas públicas e cuja modificação depende de medidas abrangentes 
de natureza normativa, administrativa e orçamentária, deve o sistema 
penitenciário nacional ser caraterizado como “estado de coisas 
inconstitucional”. FUNDO PENITENCIÁRIO NACIONAL. VERBAS. 
CONTINGENCIAMENTO. Ante a situação precária das penitenciárias, o 
https://www.migalhas.com.br/depeso/324478/covid-19--processo-estrutural-e-ativismo-judicialhttps://www.migalhas.com.br/depeso/324478/covid-19--processo-estrutural-e-ativismo-judicial
Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais
Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 12
interesse público direciona à liberação das verbas do Fundo Penitenciário 
Nacional. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA. OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA. 
Estão obrigados juízes e tribunais, observados os artigos 9.3 do Pacto 
dos Direitos Civis e Políticos e 7.5 da Convenção Interamericana de 
Direitos Humanos, a realizarem, em até noventa dias, audiências de 
custódia, viabilizando o comparecimento do preso perante a autoridade 
judiciária no prazo máximo de 24 horas, contado do momento da prisão. 
(ADPF 347 MC, rel. min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 
9-9-2015, DJE 19-2-2016)
 A efetivação de direitos fundamentais por meio de ações estruturais é alvo 
de diversas críticas, como as alegações de violação ao princípio democrático e à 
separação dos poderes, a ausência de capacidade institucional do Judiciário e a 
excessiva discricionariedade judicial na intervenção em políticas públicas etc. 
Para aprofundar os conhecimentos sobre o tema, indico a 
obra do professor Eduardo Dantas Ações estruturais e o estado 
de coisas inconstitucional: a tutela dos direitos fundamentais em 
casos de graves violações pelo poder público.
DICA DE 
LEITURA
 O que pretendemos nesta aula, diante de todo o arcabouço teórico apresentado, 
é evidenciar que a forma de tutela jurisdicional de direitos fundamentais varia 
bastante, em razão do tipo de direito a ser resguardado. A intervenção do Judiciário 
para tutelar liberdades civis e políticas clássicas é menos complexa e problemática 
do que a defesa em juízo de direitos prestacionais e coletivos, que envolvem custos 
elevados e ações estruturais.
 A despeito das vicissitudes enfrentadas, o Supremo Tribunal Federal tem 
adotado posição altiva na defesa de direitos fundamentais de todos os tipos, 
notadamente após a Constituição de 1988. 
Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais
Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 13
 Convido você a assistir ao vídeo com as provocações da professora Luciana 
Gross Cunha a respeito das demandas contemporâneas apresentadas ao Poder 
Judiciário.
 Podemos perceber, portanto, que os problemas contemporâneos do 
contencioso constitucional, especialmente no que diz respeito à tutela jurisdicional 
dos direitos fundamentais, são bastante complexos e impõem grandes desafios à 
atuação do Poder Judiciário.
 Diante dessa realidade brasileira, alguns doutrinadores, como Pérez Luño 
(2002), afirmam que o modelo de Estado em que vivemos atualmente é o do Estado 
Constitucional de Direito, nosso próximo tema de estudo. Mas, antes de abordá-lo, 
vamos recapitular o que aprendemos neste encontro.
Hora da revisão e conclusão
 Os direitos fundamentais apresentam peculiaridades que repercutem na 
forma como o Estado os efetiva e também no modo de tutela jurisdicional. Diante 
dessa constatação, a doutrina os classifica em três grupos ou dimensões de direitos 
fundamentais: as liberdades civis e políticas clássicas (direitos de primeira dimensão); 
os direitos sociais, culturais e econômicos (direitos de segunda dimensão); e os 
direitos transindividuais (direitos de terceira dimensão).
VÍDEO
Vídeo da palestra Judicialização da política, realizado em 26-07-2017.
https://www.youtube.com/watch?v=EPYMgGO6EnA
https://www.youtube.com/watch?v=EPYMgGO6EnA
https://www.youtube.com/watch?v=EPYMgGO6EnA
Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais
Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 14
 A efetivação de liberdades civis e políticas, em regra, ocorre por meio de uma 
abstenção (p. ex. ninguém será privado da liberdade sem o devido processo legal); 
e, em caso de violação, o Judiciário pode determinar uma abstenção compulsória 
(p. ex. a Súmula Vinculante 11, que determina o relaxamento da prisão no caso de 
uso de algemas não justificado pela demonstração de perigo à integridade física, 
resistência ou fuga).
 Por outro lado, os direitos sociais, culturais e econômicos se efetivam, 
habitualmente, por meio de políticas públicas, que envolvem custos elevados (p. 
ex. política pública de dispensação de medicamentos à sociedade). Em caso de 
descumprimento de um direito social, o Judiciário pode ser acionado a efetuar a 
tutela do direito, porém o contexto é bastante delicado, diante da interferência em 
uma decisão política sobre alocação de recursos.
 Quanto à efetivação de direitos coletivos e difusos, sua implementação ocorre 
por meio de ações estruturais e colaborativas do Estado e da sociedade civil. Em caso 
de descumprimento, o Judiciário é chamado a desenvolver posicionamento dialógico 
e colaborativo com diversas instituições.
 Perceba, portanto, que o tipo de direito fundamental pode repercutir na 
forma como o Estado o efetiva, bem como nos limites e nas possibilidades de tutela 
jurisdicional desse direito.
 É importante esclarecer, como conclusão, que a taxonomia apresentada leva 
em consideração as características predominantes, porém os direitos fundamentais 
são complexos e podem assumir qualidades diversas. De qualquer forma, é fato que 
o Poder Judiciário está diante de desafios distintos, conforme ele precise tutelar um 
direito à abstenção ou um direito prestacional.
 Essa problemática será mais desenvolvida nas próximas aulas. Até lá!
Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais
Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 15
Referências
DANTAS, Eduardo Sousa. Ações estruturais e o estado de coisas inconstitucional: 
a tutela de direitos fundamentais em casos de graves violações pelo poder público. 
[Curitiba]: Juruá, 2019.
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Constituição e governabilidade: ensaio sobre 
a (in)governabilidade brasileira. São Paulo: Saraiva, 1995.
GRINOVER, Ada Pellegrini. A tutela dos interesses difusos. São Paulo: Max Limonad, 
1984.
HOLMES, Stephen; SUNSTEIN, Cass. Os custos dos direitos: por que a liberdade 
depende dos impostos. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2019.
PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique. La universalidad de los derechos humanos y el estado 
constitucional. Bogotá: Universidad Externado de Colombia, 2002.
Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais
Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 16
proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão 
proteção igualdade liberdade dignidade férias vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão 
proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão 
proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão 
proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão 
 vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade
saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias 
saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias 
seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção 
seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção 
seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção 
seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer transporte repouso aposentadoria assistência proteçãoassistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção 
saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias 
saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias 
proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão 
proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão 
proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão 
integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania 
integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania 
proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão 
proteção igualdade liberdade vida honra cidadania integridade dignidade segurança integridade proteção educação livre expressão 
 livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania proteção integridade segurança integridade proteção educação 
integridade liberdade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania 
integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade cidadania liberdade dignidade vida honra cidadania 
liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade 
integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania 
integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania 
	Introdução
	1. Do Estado absolutista ao Estado de direito
	1.1 Direitos de primeira dimensão
	1.2 Direito de segunda dimensão
	1.3 Direitos de terceira dimensão
	Hora da revisão e conclusão!
	Referências

Mais conteúdos dessa disciplina