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Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 1 proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade férias vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção lazer seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer transporte repouso aposentadoria assistência proteção saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania proteção integridade liberdade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade cidadania liberdade dignidade vida honra cidadania liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania Aula 2 A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais José dos Santos Carvalho Filho CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 2 Sumário Introdução .........................................................................................3 1. Teoria geral dos direitos fundamentais ..............................4 1.1 Direitos de primeira dimensão ..............................................5 1.2 Direitos de segunda dimensão ...........................................6 1.3 Direitos de terceira dimensão ..............................................9 Hora da revisão e conclusão ......................................................13 Referências ......................................................................................15 Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 3 Introdução Olá, aluno(a)! Seja bem-vindo(a) novamente! Na primeira aula deste curso, nós refletimos sobre a legitimidade da justiça constitucional, tema central para compreender os limites e as possibilidades de tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais. Estabelecidas as nossas primeiras premissas teóricas, notadamente em relação ao suposto conflito entre jurisdição constitucional e democracia, agora podemos avançar em nosso estudo e nos debruçar sobre a evolução histórica dos direitos fundamentais. Esse assunto é essencial para melhor compreender o contexto em que surgiram e a função que desempenham os diferentes tipos de direitos fundamentais. Embora os direitos fundamentais sejam complexos e assumam características plurais, a doutrina apresenta uma taxonomia desses direitos bastante didática, classificando-os em três blocos ou dimensões: as liberdades civis e políticas; os direitos sociais, culturais e econômicos; e os direitos transindividuais (coletivos e difusos). Essa categorização auxilia a compreender as características predominantes nos diferentes tipos de direitos fundamentais. Igualmente, a taxonomia evidencia que a efetivação dos direitos fundamentais pelo Estado e a tutela jurisdicional desses direitos variam, conforme estejamos diante de direitos de primeira, de segunda ou de terceira dimensão. Esse é o tema da nossa aula atual. Vamos começar? Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 4 1. Teoria geral dos direitos fundamentais Pintura A liberdade guiando o povo, de Eugène Dlacroix. Diante do êxito da Revolução, influenciado pelas ideias iluministas, o Estado tornou-se representativo ou Estado de Direito, cuja característica básica é a limitação do poder estatal, tanto pelo estabelecimento de liberdades individuais como pela divisão orgânica de suas funções. Essa fórmula de limitação ao absolutismo consta do art. 16 da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789: “Qualquer sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos, nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição”. Assim, tivemos uma passagem do Estado Absolutista para o Estado de Direito, em que as liberdades individuais são legalmente reconhecidas e as funções estatais repartidas como meio de limitação da atuação do Estado. O Estado tal como é conhecido hoje, Estado nacional ou moderno, composto por território, poder político e população, nasceu absolutista. A vontade do rei era lei, e as regras jurídicas definidoras do poder eram exíguas, vagas e não reduzidas a escrito. Remonta a esse período a notória frase de Luiz XIV da França “O Estado sou eu”. Os abusos cometidos nessa conjuntura estimularam movimentos revolucionários cujo escopo foi romper com esse paradigma, como a Revolução Francesa de 1789. Estado absolutista Estado de Direito (liberdades individuais + separação de poderes) https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/414/2018/10/1789.pdf https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/414/2018/10/1789.pdfAula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 5 1.1 Direitos de primeira dimensão Diante desse quadro, perceba que os primeiros direitos fundamentais que surgiram – os quais a doutrina classicamente apresenta como direitos de primeira geração ou dimensão – são relativos às liberdades civis e políticas, como as liberdades de locomoção, de expressão, de religião, de pensamento etc. Esses direitos exigem, predominantemente, um não agir ou uma abstenção do Estado para que sejam observados. Funcionam como verdadeiro escudo de proteção contra arbitrariedades estatais. Ilustrativamente, o direito à liberdade de locomoção no Brasil resguarda os cidadãos, estabelecendo que ninguém será privado da liberdade sem o devido processo legal (art. 5º, LIV, da Constituição de 1988). Consequentemente, o Estado não pode restringir a liberdade de locomoção de maneira indiscriminada; ao contrário, deve respeitar diversas condições, como a condução de prévio processo judicial, em que sejam garantidos julgamento imparcial, ampla defesa, contraditório, existência de defesa técnica etc. Pare para refletir comigo… se, eventualmente, ocorre uma prisão arbitrária, a jurisdição constitucional pode ser acionada para tutelar o direito fundamental à liberdade de locomoção, por meio de habeas corpus. Caso se reconheça que a restrição à liberdade viola o direito fundamental, a tutela jurisdicional consiste em determinar que o Estado se abstenha da prática do ato questionado. Relativamente ao uso de algemas, o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula Vinculante 11, segundo a qual: Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. USO DE ALGEMAS (Súmula Vinculante 11) Regra: É ilícito Exceção: PRF perigo à integridade física Resistência Fuga https://portal.stf.jus.br/jurisprudencia/sumariosumulas.asp?base=26&sumula=1220 https://portal.stf.jus.br/jurisprudencia/sumariosumulas.asp?base=26&sumula=1220 Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 6 Assim, a tutela jurisdicional dos direitos fundamentais de primeira dimensão consiste em determinação compulsória do Estado-juiz para que seja observado um dever de abstenção, decorrente do reconhecimento de uma liberdade civil como direito fundamental. 1.2 Direitos de segunda dimensão Um novo contexto de crise instalado na Europa e nos Estados Unidos, em razão da quebra da bolsa de valores de Nova York em 1929, colocou em evidência que o Estado não poderia mais se contentar com comportamentos abstencionistas para efetivar os direitos fundamentais. Percebeu-se que, em alguns casos, é preciso que o Estado forneça prestação material, por meio de políticas públicas, para enfrentar crises e reduzir instabilidades e vulnerabilidades sociais. Foi nessa conjuntura que surgiu a concepção de Estado de Bem-Estar Social (Welfare State) ou Estado Social de Direito. Nesse modelo, o termo “Social” é incorporado ao tradicional “Estado de Direito”, para enfatizar o dever estatal em fornecer prestações materiais para efetivação de direitos sociais. Uso abusivo de algemas Concessão da ordem de habeas corpus Nesse contexto, o uso abusivo de algemas justifica a intervenção da jurisdição constitucional para coibir a prática. Concorda? Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 7 Assim, paralelamente às liberdades civis e políticas clássicas (direitos de primeira dimensão), são desenvolvidos os direitos sociais, culturais e econômicos – DESC (direitos de segunda dimensão). Os DESC pressupõem conduta ativa do Estado, transformando-o em Estado Assistencial, cuja função é tentar propiciar a igualdade dos cidadãos em sentido substancial. A Constituição brasileira de 1988 estabelece, no art. 6º, os direitos sociais à educação, à saúde, à alimentação, ao trabalho, à moradia, ao transporte, ao lazer, à segurança, à previdência social, à proteção à maternidade e à infância e à assistência aos desamparados. Você consegue perceber a forte correlação do Estado Social de Direito com as políticas públicas (policies)? É por meio delas que são implementados os direitos sociais no plano concreto. Por serem os direitos sociais, culturais e econômicos direitos prestacionais, a doutrina costuma apresentar uma dificuldade central para a sua efetivação: o seu custo. Sobre o tema, recomendo a leitura da obra Os custos dos direitos: por que a liberdade depende dos impostos, de Sthephen Holmes e Cass Sustein (2019). Nesse livro, os professores ponderam que a implementação de direitos fundamentais custa bastante dinheiro ao Estado. O impacto orçamentário é ainda mais significativo quando se está diante de direitos sociais. DICA DE LEITURA É importante pontuar que nem todos os direitos sociais, culturais e econômicos dependem de dispêndio público elevado para sua implementação. Basta lembrar do combate ao racismo ou da promoção dos direitos à igualdade de gênero, que podem ser efetivados, por exemplo, por meio de políticas públicas educacionais ou pela elaboração de leis para garantir a igualdade material, instrumentos que não são tão onerosos. FICA A DICA Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 8 Porém, a doutrina tem razão quando adverte que os DESC têm predominantemente custo de implementação alto, em especial quando se compara com os custos dos direitos de primeira dimensão (liberdades civis e políticas). A implementação de direitos sociais, culturais e econômicos ainda depara com um paradoxo intransponível: enquanto as necessidades humanas tendem ao infinito, o orçamento público é limitado. Por isso, é preciso enfrentar uma questão pragmática de gestão de recursos finitos. Esse paradoxo acarreta uma dificuldade de governabilidade, que foi acentuada pelo extenso rol de direitos sociais previstos na Constituição brasileira de 1988. Manoel Gonçalves Ferreira Filho (1995) pondera que a Constituição agravou a governabilidade brasileira, na medida em que sobrecarregou o Estado de tarefas, sem providenciar os recursos necessários; preocupou-se mais com a distribuição das riquezas do que com a sua produção. Assim, diante da limitação orçamentária, o Estado, às vezes, depara com o dever de fazer escolhas trágicas. O que é mais urgente: Construir um novo hospital ou uma nova escola? Investir em mobilidade urbana ou em publicidade educativa? Redistribuir renda aos mais necessitados ou desonerar a economia para produzir riqueza? A resposta a essas questões não é fácil e tampouco uníssona. Depende muito do interlocutor. Por isso, a reflexão que deve ser feita é anterior e consiste em saber a quem compete a tomada de decisão sobre a alocação de recursos públicos limitados. Em que medida o Poder Judiciário pode interferir nessa decisão? Pelo princípio da separação dos poderes vigente no Brasil, a escolha sobre a melhor alocação dos recursos finitos compete às instituições políticas clássicas (Poderes Legislativo e Executivo) e se operacionaliza por meio de normas regulamentadoras e políticas públicas. A tutela jurisdicional dos direitos fundamentais ocorre apenas de maneira subsidiária, quando há insuficiência de um dos outros Poderes no exercício de suas atribuições, para solucionar conflitos de interesses. Cada vez mais, o Judiciário temsido acionado para rever decisões políticas sobre alocação de recursos para a implementação de direitos fundamentais sociais. Esse fenômeno é conhecido como judicialização das políticas públicas, e a judicialização da saúde é o exemplo mais notório. Esse tema será estudado mais adiante no curso. Por ora, para uma contextualização geral, sugiro a leitura do artigo A crescente judicialização e aumento da influência do Judiciário no sistema de saúde, de Luiz Felipe Conde. https://www.conjur.com.br/2019-dez-18/judicializacao-influencia-judiciario-sistema-saude Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 9 Essas considerações revelam a delicadeza da questão, pois a posição adotada pelo Judiciário (autocontenção ou ativismo) impacta consideravelmente no modo de fruição de direitos fundamentais sociais pelos jurisdicionados, tanto em perspectiva individual como coletiva. A temática da judicialização das políticas públicas – e assuntos correlatos, como as teorias da reserva do possível, das normas programáticas e do mínimo existencial – será abordada em aula autônoma. Por enquanto, o que se pretende é apenas problematizar um fato: a tutela jurisdicional dos direitos sociais é mais complexa do que a defesa das liberdades civis e políticas clássicas, na medida em que a implementação desses direitos enfrenta vicissitudes extras, como o custo financeiro elevado em um contexto de orçamento limitado. 1.3 Direitos de terceira dimensão No histórico de desenvolvimento dos direitos fundamentais, não podem ser negligenciados os direitos de terceira dimensão, cuja titularidade é coletiva. São direitos como o meio ambiente equilibrado, a paz e a autodeterminação dos povos. O contexto propício à sistematização jurídica desses direitos transindividuais surgiu após a Revolução Industrial, que conduziu à sociedade de massas, caracterizada pela aglomeração de pessoas em centros urbanos, onde há produção de larga escala em indústrias, graças à substituição do trabalho manual por máquinas. Ao votar em processo-paradigma da repercussão geral (RE 566.471 – Tema 6) sobre a responsabilidade do Estado em fornecer medicamentos de alto custo não inseridos em política pública do Sistema Único de Saúde (SUS), o ministro Alexandre de Moraes ponderou que provimentos judiciais favoráveis a um número limitado de pessoas, por mais importantes que sejam seus problemas, comprometem o orçamento total destinado a milhões de cidadãos que dependem do sistema público de saúde. Afirmou que “não há mágica orçamentária e não há nenhum país do mundo que garanta acesso a todos os medicamentos e tratamentos de forma generalizada”. https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2565078 Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 10 Nesse novo modelo de organização social, os indivíduos passaram a enfrentar problemas comuns, tanto em razão da origem como em decorrência da indivisibilidade do bem a ser tutelado. Nessa conjuntura, o Estado percebeu a necessidade de tratar dessas demandas comunitárias de forma generalizada. Assim, ao lado das liberdades individuais clássicas e dos direitos sociais, o Direito passou a tutelar interesses ou direitos coletivos, categoria que, segundo a professora Ada Pellegrini Grinover (1984, p. 30), compreende interesses que não encontram apoio em relação-base bem definida, reduzindo-se o vínculo entre as pessoas a fatores conjunturais ou extremamente genéricos, a dados de fato frequentemente acidentais ou mutáveis: habitar a mesma região, consumir o mesmo produto, viver sob dadas condições socioeconômicas, sujeitar-se a certos empreendimentos, etc. No Brasil, o Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990) sistematiza os tipos de diretos coletivos: direitos individuais homogêneos; direitos coletivos em sentido estrito; e direitos difusos: Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I – interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; III – interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum. O fato é que, com o reconhecimento dos direitos coletivos, rompe-se a lógica subjetivista e individualista dos direitos fundamentais. Os litígios de direitos fundamentais afastam-se da bipolaridade clássica (Estado v. indivíduos) e passam a assumir uma multiplicidade de interesses. Como corolário desse fato, a função tradicional de tutela dos direitos fundamentais pelo Poder Judiciário também é redefinida. Na medida em que a jurisdição constitucional não depara mais apenas com interesses contrapostos, mas também com demandas complexas de interesse público, os juízes precisam assumir posicionamentos mais colaborativos, dialógicos e proativos para promover a efetivação de direitos fundamentais. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm#:~:text=LEI%20N%C2%BA%208.078%2C%20DE%2011%20DE%20SETEMBRO%20DE%201990.&text=Disp%C3%B5e%20sobre%20a%20prote%C3%A7%C3%A3o%20do%20consumidor%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias.&text=Art.,da%20Constitui%C3%A7%C3%A3o%20Federal%20e%20art. Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 11 Sobre os processos estruturais no contexto da Covid-19, recomendo a leitura do breve artigo Covid-19, processo estrutural e ativismo judicial, do professor Osmar Paixão. Na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o exemplo mais notório em que a Corte se debruçou sobre o tema foi a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 347, rel. min. Marco Aurélio, na qual a Corte reconheceu o estado de coisas inconstitucional (ECI) do sistema carcerário brasileiro, diante de falhas estruturais e da falência de políticas públicas criminais, cuja modificação depende de medidas abrangentes de natureza normativa, administrativa e orçamentária. Nesse cenário, ganham relevância ações e processos estruturais, por meio dos quais o Judiciário adota uma função performativa, que lhe permite expandir o terreno do judicializável para alcançar práticas que estariam fora do que previamente se entendia possível de consubstanciar um debate judicial. DICA DE LEITURA Veja a ementa do referido julgado: CUSTODIADO. INTEGRIDADE FÍSICA E MORAL. SISTEMA PENITENCIÁRIO. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. ADEQUAÇÃO. Cabível é a arguição de descumprimento de preceito fundamental considerada a situação degradante das penitenciárias no Brasil. SISTEMA PENITENCIÁRIO NACIONAL. SUPERLOTAÇÃO CARCERÁRIA. CONDIÇÕES DESUMANAS DE CUSTÓDIA. VIOLAÇÃO MASSIVA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS. FALHAS ESTRUTURAIS. ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL. CONFIGURAÇÃO. Presente quadro de violação massiva e persistente de direitos fundamentais, decorrente de falhas estruturais e falência de políticas públicas e cuja modificação depende de medidas abrangentes de natureza normativa, administrativa e orçamentária, deve o sistema penitenciário nacional ser caraterizado como “estado de coisas inconstitucional”. FUNDO PENITENCIÁRIO NACIONAL. VERBAS. CONTINGENCIAMENTO. Ante a situação precária das penitenciárias, o https://www.migalhas.com.br/depeso/324478/covid-19--processo-estrutural-e-ativismo-judicialhttps://www.migalhas.com.br/depeso/324478/covid-19--processo-estrutural-e-ativismo-judicial Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 12 interesse público direciona à liberação das verbas do Fundo Penitenciário Nacional. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA. OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA. Estão obrigados juízes e tribunais, observados os artigos 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e 7.5 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos, a realizarem, em até noventa dias, audiências de custódia, viabilizando o comparecimento do preso perante a autoridade judiciária no prazo máximo de 24 horas, contado do momento da prisão. (ADPF 347 MC, rel. min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 9-9-2015, DJE 19-2-2016) A efetivação de direitos fundamentais por meio de ações estruturais é alvo de diversas críticas, como as alegações de violação ao princípio democrático e à separação dos poderes, a ausência de capacidade institucional do Judiciário e a excessiva discricionariedade judicial na intervenção em políticas públicas etc. Para aprofundar os conhecimentos sobre o tema, indico a obra do professor Eduardo Dantas Ações estruturais e o estado de coisas inconstitucional: a tutela dos direitos fundamentais em casos de graves violações pelo poder público. DICA DE LEITURA O que pretendemos nesta aula, diante de todo o arcabouço teórico apresentado, é evidenciar que a forma de tutela jurisdicional de direitos fundamentais varia bastante, em razão do tipo de direito a ser resguardado. A intervenção do Judiciário para tutelar liberdades civis e políticas clássicas é menos complexa e problemática do que a defesa em juízo de direitos prestacionais e coletivos, que envolvem custos elevados e ações estruturais. A despeito das vicissitudes enfrentadas, o Supremo Tribunal Federal tem adotado posição altiva na defesa de direitos fundamentais de todos os tipos, notadamente após a Constituição de 1988. Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 13 Convido você a assistir ao vídeo com as provocações da professora Luciana Gross Cunha a respeito das demandas contemporâneas apresentadas ao Poder Judiciário. Podemos perceber, portanto, que os problemas contemporâneos do contencioso constitucional, especialmente no que diz respeito à tutela jurisdicional dos direitos fundamentais, são bastante complexos e impõem grandes desafios à atuação do Poder Judiciário. Diante dessa realidade brasileira, alguns doutrinadores, como Pérez Luño (2002), afirmam que o modelo de Estado em que vivemos atualmente é o do Estado Constitucional de Direito, nosso próximo tema de estudo. Mas, antes de abordá-lo, vamos recapitular o que aprendemos neste encontro. Hora da revisão e conclusão Os direitos fundamentais apresentam peculiaridades que repercutem na forma como o Estado os efetiva e também no modo de tutela jurisdicional. Diante dessa constatação, a doutrina os classifica em três grupos ou dimensões de direitos fundamentais: as liberdades civis e políticas clássicas (direitos de primeira dimensão); os direitos sociais, culturais e econômicos (direitos de segunda dimensão); e os direitos transindividuais (direitos de terceira dimensão). VÍDEO Vídeo da palestra Judicialização da política, realizado em 26-07-2017. https://www.youtube.com/watch?v=EPYMgGO6EnA https://www.youtube.com/watch?v=EPYMgGO6EnA https://www.youtube.com/watch?v=EPYMgGO6EnA Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 14 A efetivação de liberdades civis e políticas, em regra, ocorre por meio de uma abstenção (p. ex. ninguém será privado da liberdade sem o devido processo legal); e, em caso de violação, o Judiciário pode determinar uma abstenção compulsória (p. ex. a Súmula Vinculante 11, que determina o relaxamento da prisão no caso de uso de algemas não justificado pela demonstração de perigo à integridade física, resistência ou fuga). Por outro lado, os direitos sociais, culturais e econômicos se efetivam, habitualmente, por meio de políticas públicas, que envolvem custos elevados (p. ex. política pública de dispensação de medicamentos à sociedade). Em caso de descumprimento de um direito social, o Judiciário pode ser acionado a efetuar a tutela do direito, porém o contexto é bastante delicado, diante da interferência em uma decisão política sobre alocação de recursos. Quanto à efetivação de direitos coletivos e difusos, sua implementação ocorre por meio de ações estruturais e colaborativas do Estado e da sociedade civil. Em caso de descumprimento, o Judiciário é chamado a desenvolver posicionamento dialógico e colaborativo com diversas instituições. Perceba, portanto, que o tipo de direito fundamental pode repercutir na forma como o Estado o efetiva, bem como nos limites e nas possibilidades de tutela jurisdicional desse direito. É importante esclarecer, como conclusão, que a taxonomia apresentada leva em consideração as características predominantes, porém os direitos fundamentais são complexos e podem assumir qualidades diversas. De qualquer forma, é fato que o Poder Judiciário está diante de desafios distintos, conforme ele precise tutelar um direito à abstenção ou um direito prestacional. Essa problemática será mais desenvolvida nas próximas aulas. Até lá! Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 15 Referências DANTAS, Eduardo Sousa. Ações estruturais e o estado de coisas inconstitucional: a tutela de direitos fundamentais em casos de graves violações pelo poder público. [Curitiba]: Juruá, 2019. FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Constituição e governabilidade: ensaio sobre a (in)governabilidade brasileira. São Paulo: Saraiva, 1995. GRINOVER, Ada Pellegrini. A tutela dos interesses difusos. São Paulo: Max Limonad, 1984. HOLMES, Stephen; SUNSTEIN, Cass. Os custos dos direitos: por que a liberdade depende dos impostos. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2019. PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique. La universalidad de los derechos humanos y el estado constitucional. Bogotá: Universidad Externado de Colombia, 2002. Aula 2 - A tutela jurisdicional dos diferentes tipos de direitos fundamentais Tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 16 proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade férias vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer transporte repouso aposentadoria assistência proteçãoassistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias saúde transporte lazer repouso aposentadoria assistência proteção seguro-desemprego décimo terceiro repouso férias proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade vida honra cidadania integridade dignidade segurança integridade proteção educação livre expressão livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania proteção integridade segurança integridade proteção educação integridade liberdade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade cidadania liberdade dignidade vida honra cidadania liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania integridade segurança integridade proteção educação livre expressão proteção igualdade liberdade dignidade vida honra cidadania Introdução 1. Do Estado absolutista ao Estado de direito 1.1 Direitos de primeira dimensão 1.2 Direito de segunda dimensão 1.3 Direitos de terceira dimensão Hora da revisão e conclusão! Referências