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DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO AMBIENTAL
GRALL PARA PROVA ORAL DO 30° CPR – 03/2023
Organizado por Gustavo Nitzsche
Sumário
1A. Conceito, objeto e fontes do Direito Administrativo. Direito Administrativo Constitucional.	4
1B. Improbidade administrativa: sujeitos e atos. Lei nº 8.429/1992. (Redação dada pela Lei nº 14.230/2021). Acordo de não persecução cível.	8
1C. Meio ambiente e direitos fundamentais. Bens ambientais.	39
2A. Proteção jurídica da fauna	44
2B. Classificação dos Atos Administrativos. A Responsabilização por Atos Lesivos à Administração Pública Nacional e Estrangeira de Acordo com a Lei nº 12.846/2013.	49
2C. Limitações administrativas. Ocupação temporária. Requisição. Servidão. Parcelamento, edificação ou utilização compulsórios	56
3A. Funções (atividades) administrativas. Função consultiva. Função de regulação. Função de controle. Função de fomento	60
3B. Vícios ou defeitos dos atos administrativos. A teoria das nulidades no Direito Administrativo. Atos administrativos nulos, anuláveis e inexistentes.	62
3C. Proteção jurídica da flora	63
4A. Princípios de Direito Ambiental.	69
4B. Teoria dos motivos determinantes. Teoria do desvio de poder. Acordo de leniência da Lei nº 12.846/2013.	76
4C. Licitações. Princípios. Modalidades. Dispensa e inexigibilidade de licitação.	78
5A. Competências ambientais na Federação Brasileira. Ações de Cooperação.	103
5B. Revogação, anulação, cassação e convalidação do ato administrativo.	110
5C. Desconcentração e Descentralização administrativa. Privatização.	111
6A. Personalidade de Direito Público. Pessoas administrativas. Autarquia. Sociedade de economia mista. Empresa pública. Fundação pública. Consórcios públicos. Outros entes.	113
6B. Contratos administrativos	121
6C. Instrumentos de incentivo à conservação do meio ambiente. Instrumentos econômicos, instrumentos governamentais. Serviços ambientais. Servidão ambiental.	135
7A. Desapropriação. Espécies. Indenização. Direito de extensão. Retrocessão. Desapropriação Indireta.	139
7B. Teoria do órgão. Representação judicial das pessoas de Direito Público.	144
7C. Responsabilidade administrativa por danos ambientais. Infrações e sanções administrativas ambientais.	147
8A. Administração Pública direta. A estrutura da Administração Pública Federal.	153
8B. Licitação: procedimento, fases, revogação e anulação. Controle administrativo e jurisdicional.	155
8C. Sistema nacional do meio ambiente. Política nacional do meio ambiente.	164
9A. Vinculação e discricionariedade. Atos administrativos vinculados e discricionários. O mérito do ato administrativo.	166
9B. Execução do contrato administrativo. Alteração unilateral. Teoria do fato do príncipe. Teoria da imprevisão. Caso Fortuito e força maior. Equilíbrio econômico-financeiro.	171
9C. Ordenamento urbano. Estatuto das Cidades. Cidades sustentáveis.	181
10A. Controle interno e externo da Administração Pública. Ombudsman. Procurador Federal dos Direitos do Cidadão.	191
10B. Extinção do contrato administrativo. Adimplemento e inadimplemento.	198
10C. Espaços Territoriais Especialmente Protegidos e Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC)	203
11A. Controle Jurisdicional da Administração Pública. Sistemas. A teoria da reserva do possível.	212
11B. Convênios e consórcios administrativos. Contratos de gestão. Prestação de contas e tomada de contas especial.	222
11C. Proteção jurídica do patrimônio cultural brasileiro. Instrumentos: tombamento, inventários, registros e outras formas de acautelamento e preservação.	229
12A. Estatuto do Ministério Público Federal.	232
12B. Hierarquia. Delegação e avocação de competências. Regime diferenciado de contratação (RDC)	235
12C. Povos e comunidades tradicionais. Acesso ao território e garantias territoriais. Diversidade biológica e patrimônio genético. Proteção e acesso ao conhecimento tradicional associado.	239
13A. Princípios da Administração Pública. Poder Regulamentar. Espécies de Regulamento. Controle sobre a atividade regulamentar.	248
13B. Utilização dos bens públicos: autorização, permissão e concessão de uso; concessão de direito real de uso; concessão de uso especial para fins de moradia; aforamento de bens; cessão de uso.	256
13C. Recursos Hídricos. Política Nacional de Recursos Hídricos. Instrumentos de gestão de recursos hídricos. Regime jurídico das águas. Águas subterrâneas.	261
14A. Agências executivas e agências reguladoras. Ordens e conselhos profissionais. Serviços sociais autônomos. Fundações de apoio.	264
14B. Serviço Público. Conceito. Classificação. Regime Jurídico. O Usuário do Serviço Público. Remuneração. Direitos e Deveres dos Usuários.	273
14C. Política Nacional de Biossegurança: pressupostos doutrinários; regime jurídico; instrumentos. Biossegurança, prevenção, precaução e informação.	279
15A. Responsabilidade patrimonial do Estado: evolução histórica e fundamentos jurídicos. Teorias da culpa administrativa, do serviço e do risco. Responsabilidade por ação e por omissão. Dano indenizável. Causas excludentes. Direito de regresso.	281
15B. Responsabilidade fiscal.	292
15C. Licenciamento ambiental. Avaliação de impactos ambientais. Estudos ambientais. Audiências públicas.	296
16A. Setor público não-estatal. Organizações sociais. Organizações da sociedade civil de interesse público.	300
16B. Proteção da probidade administrativa. Instrumentos de atuação. As sanções na Lei nº 8.429/1992. Prescrição.	304
16C. O dano ambiental e sua reparação: responsabilidade civil.	312
17A. Fatos da Administração Pública: atos da Administração Pública e fatos administrativos. Elementos e atributos do ato administrativo.	322
17B. Poder de polícia administrativa. Poder de polícia e direitos fundamentais.	326
17C. Zoneamento ambiental. Natureza jurídica. Princípios. Características	332
18A. Agentes públicos. Natureza da relação de emprego público. Agentes Políticos. Garantias. Estabilidade e Vitaliciedade. Estágio probatório. Cargo em comissão. Agente de fato. Regime previdenciário do servidor estatutário. Normas e princípios constitucionais. As regras de transição. O novo regime previdenciário. O sistema de previdência complementar.	334
18B. Parcerias público-privadas	340
18C. Política Nacional de Resíduos Sólidos. Objetivos e princípios. Planos de resíduos sólidos. Responsabilidade civil e resíduos sólidos. Responsabilidade compartilhada. Licenciamento ambiental e resíduos sólidos	344
19A. Concessão de serviço público. Natureza jurídica e conceito. Regime financeiro. Extinção da concessão de serviço público. Reversão dos bens. Permissão e autorização	346
19B. Regime jurídico do concurso público e seu controle administrativo e judicial	353
19C. Gestão de florestas públicas. Uso e exploração. Concessão florestal.	356
20A. Direitos, deveres e responsabilidades do servidor público. Regime disciplinar e processo administrativo-disciplinar.	359
20B. A Administração Pública sob os aspectos orgânico, formal e material. Administração Pública e governo. Responsabilidade do Estado por atos legislativos e judiciais.	368
20C. Proteção jurídica do Meio Ambiente e a exploração mineral. Mineração e impactos ambientais. Licenciamento. Deveres ambientais relativos à exploração mineral.	374
21A. Bens públicos. Classificação. Natureza jurídica do domínio público	377
21B. Validade, vigência e eficácia do ato administrativo. Autoexecutoriedade do ato administrativo	382
21C. Poder de polícia ambiental. Competências.	386
22A. Provimento e vacância dos cargos públicos	396
22B. Ética na Administração Pública. Dever de transparência e de informação	400
22C. Desenvolvimento sustentável. Normas internacionais em matéria ambiental. Aquecimento global.	404
23A. Domínio público terrestre. Evolução do regime jurídico das terras públicas no Brasil. Faixa de fronteira. Vias públicas. Domínio público do subsolo. Recursos minerais. Potenciais de energia hidráulica. Domínio público aéreo	407
23B. Processo e procedimento administrativo. A instância administrativa. Representação e reclamação administrativas. Pedido dereconsideração e recurso hierárquico próprio e impróprio. Prescrição administrativa.	413
23C. Instrumentos processuais para a tutela do meio ambiente.	421
ANEXOS DE DIREITO ADMINISTRATIVO	446
ANEXO I – Enunciados da 1ª CCR – Direitos Sociais e Fiscalização de Atos Administrativos em Geral	432
ANEXO II – Enunciados da 5ª CCR – Combate à Corrupção	438
ANEXO III – REGRA DE TRANSIÇÃO DO RPPS – EC 103/19	445
ANEXO IV – Artigo 40 e 41, CF, com redação dada pela EC 103/19	454
ANEXO V – Lei n. 12.618/12, com redação dada pela Lei n. 14.463/22	458
ANEXO DE DIREITO AMBIENTAL	469
ANEXO VI – Enunciados da 4ª CCR – Meio Ambiente e Patrimônio Cultural	469
1A. Conceito, objeto e fontes do Direito Administrativo. Direito Administrativo Constitucional.
Camus 27/03/2023
Conceito: a) Para José dos Santos Carvalho Filho, Direito Administrativo é um ramo do Direito Público, compreendendo o conjunto de normas e princípios que, visando sempre ao interesse público, regem as relações jurídicas entre as pessoas e órgãos do Estado e entre este e as coletividades a quem deve servir; b) Para Odete Medauar: conjunto de normas e princípios que regem a atuação da Administração Pública; c) Para Celso Antonio Bandeira de Melo: “direito administrativo é o ramo do direito público que disciplina a função administrativa e os órgãos que a exercem” (p. 37, 2007).
Outros critérios: 1 - Critério do serviço público. É a Escola de Bordeaux que considera que o direito administrativo tem como objeto a disciplina jurídica dos serviços públicos. A crítica a esse critério é que ele se mostra insuficiente para definir o objeto do direito administrativo uma vez que a Administração Pública moderna desempenha muitas atividades de outra natureza, como o poder de polícia, por exemplo. 2 - Critério do Poder Executivo. Disciplina a atuação do Poder Executivo, cuja crítica é que despreza o fato de que os outros poderes do Estado também exercem a atividade administrativa. 3 Critério das relações jurídicas. Conjunto de regras que disciplinam as relações entre a Administração e os administrados. A crítica a esse critério reside no fato de que todos os ramos do direito público possuem relações jurídicas semelhantes, sem falar que há atuações administrativas unilaterais, que não possuem vínculo intersubjetivo. 4 - Critério teleológico. Sistema de princípios jurídicos que regula as atividades concretas do Estado, para cumprimento de seus fins, na busca do interesse público. A crítica a esse critério decorre da dificuldade em definir quais são os fins do Estado 5 - Critério negativo ou residual. O Direito Administrativo deve ser observado em dois sentidos diferentes: no sentido positivo (representa os institutos jurídicos pelos quais o Estado busca a realização dos seus objetivos) e no sentido negativo (representa uma forma de definição de seus objetos, o que se faz por exclusão, afastando-se as demais funções do Estado, a legislativa e a jurisdicional, além das atividades regidas pelo direito privado). Marcelo Caetano afirma que esse critério ao invés de dizer o que é o direito administrativo diz o que não é. 6 - Critério da administração pública: o Direito Administrativo é o conjunto de princípios que regem a Administração Pública. 7. Critério da hierarquia: cabe ao Direito Administrativo o estudo dos órgãos públicos inferiores, destituídos de autonomia e dotados de atribuições meramente executórias. O direito constitucional estudaria os órgão públicos superiores, que são autônomos ou independentes e com atribuições decisórias. A crítica é que deixa fora do direito administrativo toda a estrutura estatal descentralizada como as autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista. 8. Critério da atividade não-contenciosa: o direito administrativo estudaria o conjunto de atividades estatais não litigiosas (não-conteciosas ou não-resistidas) enquanto ao direito processual caberiam as atuações estatais que envolvem alguma espécie de lide. Crítica: no processo disciplinar a litigiosidade é inegável e é uma função administrativa. Critério técnico-científico: é o critério hoje dominante. O direito administrativo é composto por institutos específicos e princípios informativos. 
Objeto do Direito Administrativo: Com fundamento no critério funcional, estudo da disciplina normativa da função administrativa e da organização e estrutura da Administração Pública. Objeto imediato: princípios e normas que regulam a função administrativa, enquanto objeto mediato é a disciplina das atividades, agentes, pessoas e órgãos da Administração Pública.
Administração burocrática x administração gerencial x Estado em rede: a administração pública burocrática (ou racional) é centrada na legalidade, relações hierarquizadas, controle de fins, ênfase em processos e meios. Prevista no texto originário da CF/88. Ex.: licitação, concurso público, processo disciplinar. A administração gerencial atribui maior agilidade e eficiência na atuação administrativa, foca no resultado em detrimento de processos e ritos, com fundamento constitucional na EC 19/98. Exemplos: contrato de gestão, agencias executivas, descentralização administrativa, OSCIPs, OS, redução de custos com pessoal e princípio da eficiência. No Estado em rede há um choque de gestão para estimular o desenvolvimento, a gestão é aberta à cidadania (gestão participativa), o cidadão como titular de direitos participa da decisão administrativa, torna-se protagonista na definição das estratégias governamentais. O Estado em rede vem superar a polarização burocracia x gerencialismo.
Fontes do Direito Administrativo: (a) Lei - abrangendo as normas constitucionais, a legislação infraconstitucional, os regulamentos administrativos e os tratados internacionais; (b) Costumes – repetição de condutas (elemento objetivo) com convicção de sua obrigatoriedade (elemento subjetivo). Parte da doutrina nega a qualidade de fonte do direito aos costumes, considerando que sua observância depende do seu acolhimento pela lei, tal qual ocorre no direito tributário (art. 100 do CTN). Para Lúcia Valle Figueiredo, os costumes não são fontes. Não se admite os costumes contra legem, em razão do princípio da legalidade, mas sim os secundum legem (conforme a lei) e os praeter legem (além da lei); (c) Jurisprudência – seu papel é reforçado pelo fenômeno da judicialização do Direito e pelo reconhecimento da força vinculante de determinadas decisões. A súmula vinculante tem força normativa primária para o direito administrativo, por força do art. 103-A, CF/88; (d) Doutrina; (e) Princípios; (f) Precedentes Administrativos – prática reiterada e uniforme de atos administrativos em situações similares, sendo necessário garantir a segurança jurídica. Há hipóteses nas quais o caráter vinculante dos precedentes administrativos tem previsão legal expressa, como ocorre no art. 40, §1º, da LC 73/93 (Lei Orgânica da AGU), ao dispor que o parecer aprovado e publicado com o despacho presidencial vincula a Administração Federal, bem como o art. 43 da mesma lei que disciplina as súmulas administrativas vinculantes no âmbito da AGU e o art. 85 do Regimento Interno do TCU. Vale ressaltar o art. 30 da LINDB que impõe às autoridades administrativas a obrigatoriedade de atuarem “para aumentar a segurança jurídica na aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a consultas” e mais a frente estabelece que esses instrumentos terão caráter vinculante em relação ao órgão ou entidade a que se destinam. O professor Floriano Peixoto Marques afirma que o art. 30 da LINDB tem como objetivo aplicar a técnica da “stare decisis” (vinculação aos precedentes) às decisões administrativas. De acordo com tal teoria, terá o julgador de, preliminarmente, definir o “holding” (precedente), assim considerado como a norma a ser extraída do caso concreto, que deverá vincular futuras decisões. Sua identificação passa pela identificação dos fatos (“material facts”) e dos fundamentos necessários à constituição do precedente (“racionale”), excluindo-se,porém o “obiter dictum”, que são as considerações marginais ao julgado paradigma, que não terão efeitos vinculantes. Com essa sistemática, preserva-se a isonomia do tratamento dos administrados (“treat like cases alike”), observa-se as decisões proferidas (“backward-looking”) e se constrói os futuros precedentes (“foward-looking”). Firmado o precedente vinculante (“holding”) a autoridade somente poderá deixar de aplicar a solução se proferir decisão fundamentada em que mostre existir diferenças substanciais entre o precedente e o caso atual que justifique decisão diversa (“distinguishing”), ou a necessidade de aprimoramento ou superação do precedente, seja por razões jurídicas, econômicas ou pela mudança da situação de fato (“overruling”).
Direito administrativo x Ciência da Administração: Ciência da Administração é o estudo das técnicas e estratégias para melhor planejar, organizar, dirigir e controlar a gestão governamental (não é ramo jurídico, não é lei).
Administração Pública Introversa (Conjunto relação jurídica entre o Poder Público e seus agentes, órgãos e entidades administrativas = Intra) x Administração Pública Extroversa: Nesta é o conjunto de relações jurídicas externas, entre o Poder Público e os administrados.
Direito Administrativo Constitucional: O Direito Constitucional é o ramo do direito com maior intimidade com o Direito Administrativo, sendo certo que o Direito Constitucional fornece as diretrizes mestras, bases e parâmetros do Direito Administrativo, tais como Princípios, normas gerais sobre servidores públicos, competências dos poderes, normas sobre desapropriação, concessões e permissões de serviços públicos, dos contratos administrativos e licitações, bem como a responsabilidade extracontratual do Estado. O Direito Administrativo Constitucional é o Ramo do Direito Administrativo com fundamento na Constituição.
Nesse ponto, também merece destaque o fenômeno da constitucionalização do direito administrativo, que abalou alguns dogmas deste ramo, gerando (Rafael Carvalho, 2015, p. 8): a) a redefinição da ideia de supremacia do interesse público sobre o privado e a ascensão do princípio da ponderação de direitos fundamentais; b) a superação da concepção do princípio da legalidade como vinculação positiva do administrador à Lei e a consagração da vinculação direta à Constituição; c) a possibilidade de controle judicial da discricionariedade a partir dos princípios constitucionais, deixando-se de lado o paradigma da insindicabilidade do mérito administrativo; d) a releitura da legitimidade democrática da Administração, com a previsão de instrumentos de participação dos cidadão na tomada de decisões administrativas (consensualidade na Administração). Releitura constitucional dos institutos do Direito Administrativo.
Relação com outros ramos: Direito constitucional, civil, processual civil, trabalho, penal, processo penal, tributário, financeiro, econômico, urbanístico, ambiental, empresarial, internacional público.
1B. Acordo de não persecução cível. Improbidade administrativa: sujeitos e atos. Lei nº 8.429/1992. (Redação dada pela Lei nº 14.230/2021). Acordo de não persecução cível. 
(Subponto ampliado pela Resolução do 30º CPR) 
Gustavo Nitzsche e Luciane Lehmkuhl 01/04/2023
Acordo de não persecução cível.
Definição
O ANPC deve ser compreendido como: (i) negócio jurídico visando à aplicação célere e proporcional das sanções previstas na Lei de Improbidade; e (ii) meio de obtenção de provas, desde que o beneficiado pela composição colabore efetivamente com as investigações ou o processo, dependendo do momento. Disso, se extrai que não existe direito subjetivo do agente infrator ao ANPC, que será firmado pelo legitimado segundo seu juízo de conveniência e oportunidade diante dos fatos ímprobos praticados.
O acordo de não persecução civil tem por finalidade impedir o início de uma ação civil pública por ato de improbidade administrativa mediante a aceitação de algumas condições e aplicação de sanções aos agentes responsáveis pela prática dos supostos atos de improbidade administrativa, como forma de tornar mais célebre e efetiva a reparação do dano eventual causado ao erário. Assim, pode-se verificar que tal alteração busca trazer mais efetividade e celeridade na punição em razão da prática de ato de improbidade administrativa, modificação que se coaduna com o moderno direito administrativo que cada vez mais abre espaço para a utilização dos meios de solução alternativa de conflitos, trilhada também no Código de Processo Civil de 2015. 
Ademais, segundo parte da doutrina, a evidente relação dos bens jurídicos tutelados pela LIA com o interesse público era incompatível com o art. 841 do CC/02, segundo o qual “só quanto a direitos patrimoniais de caráter privado se permite a transação”. Afinal, todo acordo envolve concessões mútuas, e os legitimados para a propositura da ação de improbidade não poderiam fazer concessões com interesses considerados alheios a sua esfera de disponibilidade, como a moralidade administrativa. Muito embora esse entendimento tenha se mantido firme desde a promulgação da LIA, alguns institutos negociais começaram a ser incorporados ao ordenamento jurídico ao longo dos anos, evidenciando que a melhor tutela do interesse púbico também pode ser alcançada por meios consensuais.
Com efeito, parte da doutrina sustentava que a referida vedação não mais encontrava respaldo, tendo em vista que leis criminais posteriores à lei de improbidade administrativa previam a possibilidade de realização de acordos que afastavam a punibilidade em crimes de menor potencial ofensivo, a exemplo da transação penal prevista na Lei n.º 9.099/95 e até, em alguns casos, onde havia previsão de aplicação da pena mais graves, como ocorria em relação à Lei n.º 12.850/13 que dispõe sobre as organizações criminosas, onde o julgador pode deixar de aplicar a pena caso seja celebrado acordo de colaboração premiada que atenda aos requisitos previstos na referida lei e ainda a Lei n.º 12. 846/13 que dispõe sobre a responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira, mais conhecida como lei anticorrupção. Reforçando tal argumento, a doutrina admitia a celebração de acordo nas ações civis públicas pela prática de improbidade administrativa sob o fundamento de que o referido diploma legal (Lei n.º 8.429/92) integra, juntamente com a Lei n.º 4.717/65 (ação popular), Lei n.º 7.374/85 (ação civil pública) e a Lei 12.846/13 um microssistema de combate à corrupção, em observância às diretrizes dos tratados internacionais sobre o tema, os quais o Brasil ratificou. 
Além disso, a vedação a qualquer tipo de transação ou acordo em sede de improbidade administrativa reforçava a contradição em que caia o aparato normativo que constituía o microssistema de tutela do patrimônio público, na medida em que um mesmo fato poderia ser objeto de solução consensual em relação a suas repercussões criminais, sem, contudo, poder ser objeto de acordo em relação à dimensão tocada pela regulamentação estabelecida pela LIA. Todas essas ponderações clarearam a noção segundo a qual a solução consensual também nas hipóteses de improbidade administrativa não só não compromete adequada proteção da probidade administrativa e do patrimônio público, mas pode muito bem servir para melhor protegê-los (TRF4-AG: 5023972- 66.2017.4.04.0000, Relator: Vânia Hack de Almeida, julgado em 22/08/2017, 3ª Turma).
Disposição legal.
O artigo 17-B cuida do acordo de não persecução civil. Houve uma nítida transição do modelo original da ação de improbidade em que havia o dogma de que não se poderia transigir com aqueles que praticaram improbidade para o reconhecimento de que o sistema punitivo estatal precisa ter coerência, e se você tem possibilidade de transação no âmbito penal e se você tem possibilidade de transação na lei de corrupção por meio do acordo de leniência deveria ter transação na improbidade administrativa. Então, o pacote anticrimefoi aprovado para permitir a transação, o acordo de não persecução civil. É importante registrar que o CNMP antes mesmo do pacote de crimes editou uma resolução sobre TAC (resolução 179), em que o CNMP já possibilitava o acordo de não persecução civil antes mesmo da lei e estabelecia alguns parâmetros:
Art. 1º, parágrafo 2º Resolução 179 CNMP. É cabível o compromisso de ajustamento de conduta nas hipóteses configuradoras de improbidade administrativa, sem prejuízo do ressarcimento ao erário e da aplicação de uma ou algumas das sanções previstas em lei, de acordo com a conduta ou o ato praticado. 
Desde a Resolução 179, já se condicionava o acordo ao ressarcimento do dano ao erário e aplicação de ao menos uma sanção. Com o pacote anticrime, houve autorização do acordo só que a parte que detalhava o acordo foi vetada e, aí, agora com a reforma da lei de improbidade, passamos a ter um detalhamento maior dos limites para a celebração desse acordo. 
Portanto, antes mesmo da alteração legal, já se apontava a incompatibilidade da vedação inserta no art. 17 da LIA com o princípio da eficiência, estabelecido no caput do art. 37 da CF/88 e com o princípio da razoável duração do processo, previsto no art. 5º, inc. LXXVIII. No âmbito do MPF, quando o Pacote Anticrime ainda estava em tramitação no Congresso Nacional, foi editada a Nota Técnica Conjunta nº 17/2019, entre a 2ª e a 5ª CCRs, que, a respeito do projeto de lei, assinalou o seguinte:
Portanto, a título de ênfase, no âmbito da esfera de responsabilização por atos de improbidade administrativa, o Ministério Público manifesta-se a favor da celebração de acordos de colaboração como negócios jurídicos atípicos no processo de improbidade administrativa, nos
termos do disposto no art. 190 do Código de Processo Civil c/c o art. 4º da Lei 12.850/2013, não evidenciando qualquer inconstitucionalidade em relação ao princípio da legalidade; à indisponibilidade de bens e interesses públicos; ou aos efeitos em relação às demais ações de improbidade movidas pelos mesmos fatos, dada a legitimidade concorrente para a demanda.
Legitimidade para proposição
Art. 17-B L. 8.429. O Ministério Público poderá, conforme as circunstâncias do caso concreto, celebrar acordo de não persecução civil, desde que dele advenham, ao menos, os seguintes resultados: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) 
I - o integral ressarcimento do dano; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) 
II - a reversão à pessoa jurídica lesada da vantagem indevida obtida, ainda que oriunda de agentes privados. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) 
Pelo inciso II, aquela pessoa que foi lesada tem que receber as vantagens indevidas ainda que recebidas por terceiro. 
OBS: O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que entes públicos que tenham sofrido prejuízos em razão de atos de improbidade também estão autorizados a propor ação e celebrar acordos de não persecução civil em relação a esses atos. Por maioria de votos, o Plenário declarou inválidos dispositivos da Lei 14.230/2021, que conferiam ao Ministério Público, (MP) legitimidade exclusiva para a propositura das ações por improbidade. A decisão se deu no julgamento das Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIS) 7042 e 7043, em que os pedidos formulados pela Associação Nacional dos Procuradores dos Estados e do Distrito Federal (Anape) e pela Associação Nacional dos Advogados Públicos Federais (Anafe) foram julgados parcialmente procedentes. A maioria do colegiado acompanhou o voto do relator, ministro Alexandre de Moraes, e entendeu que a Constituição Federal prevê a legitimidade ativa concorrente entre o Ministério Público e os entes públicos lesados para ajuizar esse tipo de ação. Para o ministro, a supressão dessa legitimidade fere a lógica constitucional de proteção ao patrimônio público. Ainda de acordo com a decisão, a administração pública fica autorizada, e não obrigada, a representar judicialmente o agente que tenha cometido ato de improbidade, desde que norma local (estadual ou municipal) disponha sobre essa possibilidade. Ao votar na sessão de hoje, Fux ressaltou que os titulares do direito têm legitimação ordinária para defesa do seu patrimônio, sem prejuízo das hipóteses de legitimação extraordinária, que é o caso do MP quando promove ação de improbidade para pleitear um direito alheio. A ministra Cármen Lúcia, por sua vez, frisou que eventuais excessos ou abuso de autoridade no manejo dessas ações devem ser devidamente punidos, sem alterar o sistema normativo em que a probidade e a moralidade são princípios obrigatórios.
Requisitos
Na segunda parte do art. 17-B, caput, o legislador nos apresenta as condições “não negociáveis” do acordo. Em outras palavras, enumeram-se, nos incisos desse dispositivo, as duas hipóteses que identificamos como direitos indisponíveis não transacionáveis, a saber: (i) ressarcimento integral do dano causado; e (ii) reversão da vantagem indevida obtida à pessoa jurídica lesada, mesmo que oriunda de agentes privados. Pode-se concluir que a celebração de ANPC em discordância com uma dessas duas hipóteses acarretará a nulidade absoluta do ato. Observe-se que a lei menciona expressamente a “reversão” dos valores, razão pela qual será nula qualquer convenção no sentido de destinar a verba oriunda da “vantagem indevida” a outras instituições públicas ou privadas. Também não é possível a isenção da penalidade de suspensão dos direitos políticos nas hipóteses de inelegibilidade fixadas pela Lei da Ficha Limpa (LC nº 135/2010).
Art. 17-B, parágrafo 2º L. 8.429. Em qualquer caso, a celebração do acordo a que se refere o caput deste artigo considerará a personalidade do agente, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do ato de improbidade, bem como as vantagens, para o interesse público, da rápida solução do caso. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021).
Em um caso de improbidade gravíssima que houve comoção nacional, foi noticiado nos jornais. Isso tem que ser considerado na hora de fazer uma boa gestão, pois senão a sociedade não vai aceitar e não vai acreditar mais no sistema punitivo estatal. 
Então, são os elementos que são considerados na dosimetria também acabam sendo considerados na celebração do acordo.
Art. 17-B, parágrafo 3º L. 8.429. Para fins de apuração do valor do dano a ser ressarcido, deverá ser realizada a oitiva do Tribunal de Contas competente, que se manifestará, com indicação dos parâmetros utilizados, no prazo de 90 (noventa) dias. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021).
Trata-se da discussão de quem vai dizer o valor integral do dano, quem vai apurar isso. A Advocacia Pública apura o valor, o tribunal de conta depois diz que o valore está menor, maior. A lei foi bem ao dar ao tribunal de contas a competência para se manifestar sobre o valor do dano e vai ter o prazo de 90 dias para se manifestar. Então, se deixar passar o prazo, isso tudo vai ser considerado na hora do acordo. Agora, se fixar um valor dificilmente a parte que vai celebrar o acordo vai divergir daquele montante apurado pelo tribunal de contas. 
Momento da celebração
Art. 17-B, parágrafo 4º L. 8.429. O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá ser celebrado no curso da investigação de apuração do ilícito, no curso da ação de improbidade ou no momento da execução da sentença condenatória. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021).
Esse parágrafo quarto ele é importantíssimo porque acaba com qualquer dúvida sobre o eventual limite para a realização do acordo. O STJ já tinha decidido que não pode limitar assim e agora ficou claro que pode ocorrer a qualquer momento. Isso faz sentido porque como é que o Estado vai se recusar a fazer um acordo se o acordo ainda que numa fase adiantada do processo se mostrar como a medida mais vantajosa para a administração pública do ponto de vista da racionalidade, eficiência, economicidade, vai ser mais rápido, eventualmente até no acordo a parte indica outros atores que também contribuíram para a improbidade. Não faz sentido limitar o tempo e na faseprocessual a possibilidade de realização do acordo e a lei corrobora esse entendimento. 
Na etapa extrajudicial, antes da propositura da ação de improbidade, o acordo de não persecução cível pode ser formalizado por meio de termo de ajustamento de conduta, com natureza de título executivo extrajudicial, nos termos da LACP. Nestes casos, será remetido para homologação da 5ª CCR/MPF. A possibilidade de celebração do ANPC no curso do processo vem indicada no § 10-A do art. 16 da LIA, segundo o qual “havendo a possibilidade de solução consensual, poderão as partes requerer ao juiz a interrupção do prazo para a contestação, por prazo não superior a 90 (noventa) dias”. Assim, firmado o acordo, ele será submetido à homologação judicial, convertendo-se em título executivo judicial, nos termos
do art. 515 do CPC/15.
Na ausência de maiores definições sobre um marco temporal peremptório para a celebração do acordo em ações de improbidade já ajuizadas, se abriu a discussão sobre a possibilidade de celebração do ANPC em fase recursal. Regulamentando a possibilidade, a Orientação nº 10 da 5ª CCR/MPF, estabeleceu que a inciativa para celebração do ANPC poderá partir da Procuradoria Regional da República, quando o processo estiver tramitando em segunda instância, que poderá negociar quaisquer das sanções aplicadas na sentença, desde que observada a intangibilidade do ressarcimento integral ao erário, conforme já exposto nesta oportunidade. Nesses casos, deve haver a desistência de quaisquer pretensões recursais na ação de improbidade ajuizada. A cláusula de desistência do recurso, já exaustivamente discutida por ocasião da regulamentação dos acordos de colaboração premiada, é expressão do non venire contra factum proprium, não sendo, portanto, incompatível com o ordenamento jurídico.
O cumprimento dos termos acordados em fase recursal será fiscalizado pelo Procurador da República responsável pela ação de improbidade proposta na primeira instância e o seu descumprimento importará na perda dos benefícios negociados. Não obstante a regulamentação dada no âmbito do MPF, a 1ª Turma do STJ veio a reconhecer, por unanimidade, a possibilidade de celebração do ANPC na fase recursal. Na oportunidade, foi estabelecido como marco final para a celebração do ANPC o trânsito em julgado da condenação, de modo que, ainda que o réu conte com confirmação da sentença condenatória em segunda instância, continuará sendo possível a celebração de solução consensual sobre a condenação, com a consequente extinção do processo com resolução de mérito (STJ. 1ª Turma. AREsp 1.314.581/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 23/02/2021). Interessante observar que, no Recurso Especial nº 1.659.082, também a 1ª Turma do STJ chegou a indeferir questão de ordem suscitada pelo réu para, diante da possibilidade de acordo, sobrestar o processo, nos termos do art. 17, § 10-A. Entretanto, na ocasião, o indeferimento se deu não sobre a possibilidade de ANPC na segunda instância, mas sim sobre o requerimento de sobrestamento que, segundo entendeu o colegiado, deve ocorrer até a apresentação da contestação.
Portanto, dos recentes julgados do STJ podemos extrair dois limites temporais relevantes para fins de celebração do ANPC: (i) o sobrestamento do processo para negociação do acordo, que só poderá ocorrer até a apresentação da contestação; (ii) a própria celebração do ANPC, que poderá se dar até o trânsito em julgado.
Art. 17-B, parágrafo 6º L. 8.429. O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá contemplar a adoção de mecanismos e procedimentos internos de integridade, de auditoria e de incentivo à denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica, se for o caso, bem como de outras medidas em favor do interesse público e de boas práticas administrativas. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) 
O acordo pode ir além da transação em relação às sanções e pode prever obrigações a serem atribuídas pela parte que está sendo investigada, especialmente se for a pessoa jurídica, que vai ter eventualmente de adotar procedimentos e mecanismos e sistemas de integridade, código de ética. 
OBS: Penso ser interessante citar esse dispositivo em uma eventual pergunta na parte de penal, tendo em vista ser assunto de predileção do Gueiros.
Art. 17-B, parágrafo 7º L. 8.429. Em caso de descumprimento do acordo a que se refere o caput deste artigo, o investigado ou o demandado ficará impedido de celebrar novo acordo pelo prazo de 5 (cinco) anos, contado do conhecimento pelo Ministério Público do efetivo descumprimento. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021).
O desincentivo ao descumprimento do acordo você tem um prazo de cinco anos de proibição de celebração de um novo acordo na hipótese de descumprimento. 
OBS: Apesar de representar um avanço na normativa referente ao acordo de não persecução cível, as reformas promovidas pela Lei 14.230/21 ainda não esclarecem pontos relevantes que podem influenciar o grau de interesse dos agentes privados no acordo. Na ausência de previsão legal que aponte melhor esses pontos, multiplicam-se as portarias e orientações internas nos mais variados órgãos públicos, como o Ministério Público dos estados e federal, e ainda a advocacia geral dos estados e da União. Essa diversidade de orientações não promove a difusão do acordo, mas acaba reduzindo a previsibilidade e segurança jurídica do pactuado. Pode-se inclusive levantar dúvidas sobre a competência desses órgãos internos para regulamentar a matéria, como ocorreu no caso da Resolução 181 do Conselho Nacional do Ministério Público sobre o equivalente penal do acordo cível. 
Ilustrativamente, um dos pontos que podem concretamente influenciar o grau de interesse dos agentes privados na realização do acordo é o requisito da confissão expressa. Não está previsto na Lei de Improbidade Administrativa que o agente deve confessar a prática dos atos de improbidade para acessar o acordo de não persecução cível. Mas é possível condicionar o acordo à admissão da participação em atos de improbidade? O questionamento surge na medida em que o equivalente penal ao acordo cível exige, expressamente, a confissão do agente (artigo 28-A, Código de Processo Penal). A própria Advocacia-Geral da União, na Portaria Normativa nº 18, de 16 de julho de 2021, indicou como um dos requisitos do acordo a "admissão da participação nos atos ilícitos" (artigo 5º, I). Porém, é no mínimo controverso condicionar o acordo a um requisito que não foi expresso em lei e que não tem correspondente em qualquer das sanções já elencadas na Lei de Improbidade Administrativa. 
Contudo, o entendimento majoritário e no sentido de que a confissão do ilícito, por sua vez, pode ser extraída do diálogo entre os demais institutos previstos no âmbito do microssistema de tutela do patrimônio público, que guardam a confissão como elemento necessário à formalização de soluções consensuais. Nesse sentido, podemos citar o (i) artigo 16, § 1º, III, da Lei 12.846/2013 (Lei Anticorrupção Empresarial); (ii) artigo 86, § 1º, IV, da Lei 12.825/2011 (Lei do CADE); e (iii) artigo 28-A do Código de Processo Penal, incluído pela Lei Anticrime (Lei 13.964/2019).
OBS: O agente público celebra ANPC e o particular não. A ação de improbidade administrativa poderá ser proposta ou poderá prosseguir somente contra o particular, malgrado o entendimento pacificado de que o polo passivo deve ser ocupado, concomitantemente, por agente público? Nesse caso, o acordo celebrado pelo agente público será considerado como prova da prática do ato, de sorte que sua presença no polo passivo da ação será dispensada? Parece que o ANPC não poderá produzir efeitos a terceiros que dele não participem, embora o celebrante, ao contribuir, possa apresentar provas que naturalmente serão utilizadas para a persecução de quem não celebrou o acordo. Nesse caso, o acordo deverá integrar a ação de improbidade administrativa não somente como elemento de prova, sujeito, é claro, ao crivo judicial, como também comporáa relação processual, de modo a suprir a ausência do agente público, que poderia impedir a propositura ou o prosseguimento da ação. 
Jurisprudência:
Primeira Seção homologa acordo de não persecução cível em ação de improbidade na fase recursal 
Para a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ), é possível a homologação judicial de acordo de não persecução cível no âmbito de ação de improbidade administrativa em fase recursal. Com a decisão, unânime, o colegiado homologou acordo entre o Ministério Público do Rio Grande do Sul e uma empresa condenada pela prática de ato de improbidade previsto no artigo 10 da Lei 8.429/1992. Segundo o processo, a empresa assinou contrato para a coleta de lixo no município de Pelotas (RS) por preço superior ao que seria devido, causando prejuízo ao erário. Alteração no regramento da improbidade administrativa O relator, ministro Gurgel de Faria, afirmou que a Primeira Turma, diante de recentes alterações legislativas, tem reconhecido a possibilidade de homologação dos acordos de não persecução cível na instância recursal. 
Ele explicou que essa posição da jurisprudência decorre das mudanças trazidas pela Lei 13.964/2019 – o chamado Pacote Anticrime –, que alterou o parágrafo 1º do artigo 17 da Lei 8.429/1992. A nova lei também introduziu o parágrafo 10-A ao artigo 17 da Lei de Improbidade Administrativa, para estabelecer que, "havendo a possibilidade de solução consensual", as partes poderão requerer ao juiz a interrupção do prazo para a contestação, por não mais do que 90 dias. O ministro ressaltou que a Lei 14.230/2021, "que alterou significativamente o regramento da improbidade administrativa", incluiu o artigo 17-B à Lei 8.429/1992, trazendo previsão explícita quanto à possibilidade do acordo de não persecução cível até mesmo no momento da execução da sentença. Segundo o relator, a empresa condenada por ato ímprobo foi punida com a imposição do ressarcimento do dano ao erário e com a proibição de contratar com o poder público pelo período de cinco anos, mas, no acordo celebrado com o Ministério Público, foi fixada multa civil de R$ 2,5 milhões em substituição à proibição de contratar. 
 Ao homologar o acordo, a Primeira Seção extinguiu o processo com resolução do mérito e julgou prejudicados os embargos de divergência que haviam sido interpostos pela empresa de coleta de lixo. 
Improbidade
Gustavo Nitzsche 31/03/2023
Conceito
Não há definição legal de probidade/improbidade, mas a doutrina majoritária tende a conceituar a expressão como especificação do princípio da moralidade administrativa do art. 37 da CRFB/88. GARCIA e ALVES indicam que a definição da probidade não passa unicamente pelo princípio da moralidade, mas pressupõe o cotejo da conduta do sujeito com o princípio da juridicidade, termo genérico que abarca todos os princípios administrativos explícitos (art. 37 CF) e implícitos (proporcionalidade, razoabilidade...), e com as regras definidas em norma infraconstitucional. Predomina o entendimento de que o conceito de improbidade não é equivalente ao de moralidade, sendo aquele muito mais abrangente que esse. Com efeito, é possível que alguém pratique um ato de improbidade administrativa mesmo quando não haja violação ao princípio da moralidade, como é o caso, por exemplo, do agente que nega publicidade a atos oficiais, exceto em razão de sua imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado ou de outras hipóteses instituídas em lei; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) (art. 11, IV, da LIA).
Âmbito de aplicação
Entende-se que a Lei de Improbidade Administrativa – LIA é de âmbito nacional, obrigatória a todas as esferas de governo, salvo em relação a alguns poucos dispositivos de conteúdo estritamente administrativo, como o art. 13, que impõe a declaração de bens como requisito para a posse e o exercício de agente público, prevendo a pena de demissão a bem do serviço público em caso de recusa, e as normas sobre processo administrativo do art. 14, § 3º (DI PIETRO, 2019, p. 1029). 
Para o STJ, a Lei 8.429/02 somente pode ser aplicada aos fatos praticados após a sua vigência (3 de junho de 1992), tendo em vista o princípio da irretroatividade da lei. ADMINISTRATIVO. LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. APLICAÇÃO RETROATIVA A FATOS POSTERIORES À EDIÇÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. IMPOSSIBILIDADE. 1. A Lei de Improbidade Administrativa não pode ser aplicada retroativamente para alcançar fatos anteriores a sua vigência, ainda que ocorridos após a edição da Constituição Federal de 1988. 2. A observância da garantia constitucional da irretroatividade da lei mais gravosa, esteio da segurança jurídica e das garantias do cidadão, não impede a reparação do dano ao erário, tendo em vista que, de há muito, o princípio da responsabilidade subjetiva se acha incrustado em nosso sistema jurídico. (...). (STJ, REsp 1.129.121/GO, j. 3.5.12) 
O advento da Lei 14.230/21 traz polêmica de grande relevo no âmbito do direito intertemporal, haja vista o silêncio normativo quanto ao momento em que devem ser aplicadas as novas disposições. As Regras processuais da Lei 14.230/21 aplicam-se imediatamente, em face do princípio tempus regit actum (os atos jurídicos são regidos pela lei da época em que ocorreram), materializado na inteligência do art. 14 do CPC e do art. 2º do CPP, os quais preveem a aplicação imediata de norma processual aos processos em curso. 
Uma corrente chegou a sustentar que, uma vez incidentes os princípios constitucionais do Direito Administrativo sancionador (art. 1º, § 4º), passa a ser aplicável a regra constitucional da retroatividade benéfica ao réu (que não seria exclusiva do Direito Penal, incidindo no campo do Direito Administrativo sancionador). STJ: “(...) O art. 5º, XL, da Constituição da República prevê a possibilidade de retroatividade da lei penal, sendo cabível extrair-se do dispositivo constitucional princípio implícito do Direito Sancionatório, segundo o qual a lei mais benéfica retroage no caso de sanções menos graves, como a administrativa. Precedente (...).” (AgInt no REsp 1602122/RS, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 07/08/2018. 
Entretanto, Resolvendo a polêmica, no dia 18.8.22, ao julgar o ARE 843.989, o STF fixou as seguintes teses de repercussão geral: 1) É necessária a comprovação de responsabilidade subjetiva para a tipificação dos atos de improbidade administrativa, exigindo-se - nos artigos 9º, 10 e 11 da LIA - a presença do elemento subjetivo – DOLO; 2) A norma benéfica da Lei 14.230/2021 - revogação da modalidade culposa do ato de improbidade administrativa -, é IRRETROATIVA, em virtude do artigo 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal, não tendo incidência em relação à eficácia da coisa julgada; nem tampouco durante o processo de execução das penas e seus incidentes; 3) A nova Lei 14.230/2021 aplica-se aos atos de improbidade administrativa culposos praticados na vigência do texto anterior da lei, porém sem condenação transitada em julgado, em virtude da revogação expressa do texto anterior; devendo o juízo competente analisar eventual dolo por parte do agente; 4) O novo regime prescricional previsto na Lei 14.230/2021 é IRRETROATIVO, aplicando-se os novos marcos temporais a partir da publicação da lei.
OBS: A Lei nº 8.429/1992 – Lei de Improbidade Administrativa (LIA), passou por alteração substancial com o advento da Lei nº 14.230/2021. Inclusive, a doutrina fala em “Nova Lei de Improbidade Administrativa”. 
O artigo 1º, caput e § 4º, da LIA dispõe que o sistema de responsabilização por atos de improbidade administrativa tutelará a probidade na organização do Estado e no exercício de suas funções, como forma de assegurar a integridade do patrimônio público e social, nos termos desta Lei, sendo aplicáveis os princípios do direito administrativo sancionador. 
Art. 1º O sistema de responsabilização por atos de improbidade administrativa tutelará a probidade na organização do Estado e no exercício de suas funções, como forma de assegurar a integridadedo patrimônio público e social, nos termos desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
[...] 
§ 4º Aplicam-se ao sistema da improbidade disciplinado nesta Lei os princípios constitucionais do direito administrativo sancionador. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Sujeitos passivos da improbidade (vítimas do ato)
 
principais: entes da Administração Pública Direta; entidades da Administração Pública Indireta; secundários: entidade privada que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de entes públicos ou governamentais; entidade privada para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra no seu patrimônio ou receita atual. No caso dos sujeitos passivos secundários, a tutela incide apenas sobre o patrimônio e a sanção patrimonial se limita à repercussão do ilícito sobre a parcela oriunda do erário.
De acordo com a doutrina, enquadram-se, ainda, nas hipóteses do art. 1º da LIA: a) as entidades do terceiro setor, que recebem incentivos e recursos orçamentários do Estado (serviços sociais autônomos, organizações sociais, organizações da sociedade civil de interesse público e outras) (DI PIETRO, 2019, p. 1031); CARVALHO FILHO (2019, p. 1150-1) aduz que os serviços sociais autônomos se enquadram na noção de sujeitos passivos de improbidade, por serem destinatários de contribuições parafiscais instituídas por lei. Por outro lado, as organizações sociais e as organizações da sociedade civil de interesse público poderão, ou não, ser sujeitos passivos, dependendo de eventuais benefícios que lhes sejam concedidos pelo Poder Público b) os sindicatos, que são destinatários das contribuições sindicais; e c) os partidos políticos, pois recebem recursos de natureza pública, oriundos do Fundo Partidário. Lei 13.467/2017 e ADI 5.794, j. 29.6.18. *Art. 23-C da LIA: “Atos que ensejem enriquecimento ilícito, perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação de recursos públicos dos partidos políticos, ou de suas fundações, serão responsabilizados nos termos da Lei nº 9.096, de 19 de setembro de 1995”. Esse dispositivo foi suspenso que Min. Alexandre de Morais: Segundo o relator, o tratamento diferenciado dado a esses casos desrespeita o princípio constitucional da isonomia. (ADI 7236).
Não se enquadram como sujeitos passivos em ato de improbidade administrativa os concessionários e permissionários de serviços públicos, pois a instituição e o custeio de tais entidades não dependem do erário, tampouco recebem subvenção, mas tão somente a remuneração pela prestação dos serviços (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1152). 
OBS: A pessoa física nunca poderá ser sujeito passivo de ato de improbidade; este só pode ser sempre pessoa jurídica (art. 1º, §§ 5º, 6º e 7º, da Lei 8.429/92). 
OBS: Não há mais diferenciação entre empresas para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido com mais ou menos de 50% do patrimônio ou da receita anual. Em qualquer caso, o ressarcimento de prejuízos limita-se à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos (art. 1º, § 7º). Assim, em relação ao prejuízo que ultrapassar as contribuições dos cofres públicos, as entidades privadas referidas deverão buscar o ressarcimento desse montante por outra via, distinta da ação de improbidade. 
Art.1º 
[...]
§ 5º Os atos de improbidade violam a probidade na organização do Estado e no exercício de suas funções e a integridade do patrimônio público e social dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como da administração direta e indireta, no âmbito da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 6º Estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade privada que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de entes públicos ou governamentais, previstos no § 5º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 7º Independentemente de integrar a administração indireta, estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade privada para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra no seu patrimônio ou receita atual, limitado o ressarcimento de prejuízos, nesse caso, à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Sujeitos ativos da improbidade (responsáveis pela prática do ato ímprobo)
 (a) agentes públicos de direito (agentes políticos, servidores públicos estatutários, celetistas e temporários, bem como particulares em colaboração) ou de fato (putativos e necessários). Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se agente público o agente político, o servidor público e todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades referidas no art. 1º desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)Parágrafo único. No que se refere a recursos de origem pública, sujeita-se às sanções previstas nesta Lei o particular, pessoa física ou jurídica, que celebra com a administração pública convênio, contrato de repasse, contrato de gestão, termo de parceria, termo de cooperação ou ajuste administrativo equivalente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (art. 2º da LIA). Notários e registradores estão abrangidos no amplo conceito de "agentes públicos", na categoria dos "particulares em colaboração com a Administração". (REsp 1186787/MG). O estagiário que atua no serviço público, ainda que transitoriamente, remunerado ou não, está sujeito a responsabilização por ato de improbidade administrativa. (REsp 1352035-RS). Os agentes políticos, com exceção do Presidente da República, encontram-se sujeitos a um duplo regime sancionatório, de modo que se submetem tanto à responsabilização civil pelos atos de improbidade administrativa, quanto à responsabilização político-administrativa por crimes de responsabilidade (STF, Pet 3240 AgR); (b) terceiros: Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra dolosamente para a prática do ato de improbidade. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) § 1º Os sócios, os cotistas, os diretores e os colaboradores de pessoa jurídica de direito privado não respondem pelo ato de improbidade que venha a ser imputado à pessoa jurídica, salvo se, comprovadamente, houver participação e benefícios diretos, caso em que responderão nos limites da sua participação. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 2º As sanções desta Lei não se aplicarão à pessoa jurídica, caso o ato de improbidade administrativa seja também sancionado como ato lesivo à administração pública de que trata a Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021). 
Somente é possível a análise da responsabilização de particular, por ato de improbidade administrativa, se este for atribuído, concomitantemente, a agente público, restando inviável o ajuizamento de ação civil pública de improbidade administrativa exclusivamente em face do eventual terceiro beneficiário. (AgInt no REsp 1442570/SP). Inexiste litisconsórcio necessário entre o agente público e os terceiros beneficiados com o ato ímprobo. A pessoa jurídica tem legitimidade para figurar no polo passivo de ação de improbidade, ainda que desacompanhada de seus sócios (REsp 1186389/PR). A Lei 14.230/21 modificou a redação do dispositivo, que antes mencionava, ainda, aquele que do ato de improbidade “se beneficiasse sob qualquer forma direta ou indireta”, além de ter tornado expresso que o terceiro sempre deverá agir dolosamente. 
O STJ entende ilegítima a propositura de ação civil pública em face exclusivamente do particular para ressarcimento ao erário, ou seja, “somente é possível a análise da responsabilização de particular, por ato de improbidade administrativa, se este for atribuído, concomitantemente, aagente público” (AgInt no REsp 1.442.570/SP, j. em 9.5.17). Contudo, mostra-se viável o prosseguimento de ação de improbidade administrativa exclusivamente contra particular quando há pretensão de responsabilizar agentes públicos pelos mesmos fatos em outra demanda conexa (AREsp 1.402.806-TO, 1ª Turma, j. 19.10.21). 
Os membros da Magistratura e do Ministério Público também se incluem no conceito. Inclusive, para o STJ, “a aplicação da sanção de perda do cargo público aos membros do Ministério Público, decorrente de condenação pela prática de ato de improbidade administrativa não depende do ajuizamento de ação específica, tratando-se de hipótese autônoma àquela prevista no art. 38, § 1º, inciso I, da Lei n. 8.625/93” (REsp 1.534.126/MG, j. em 22/11/2016).
 Os agentes políticos municipais se submetem aos ditames da Lei de Improbidade Administrativa, sem prejuízo da responsabilização política e criminal estabelecida no Decreto-Lei 201/1967 (STJ, AgRg no REsp 1.425.191/CE, j. em 10.3.15 – Jurisprudência em teses). 
Os parlamentares podem responder por ato de improbidade administrativa, caso não incida a imunidade material (CF, art. 53, caput). O STF já decidiu que “a ação civil pública por ato de improbidade administrativa que tenha por réu parlamentar deve ser julgada em Primeira Instância” (Pet 3.067 AgR, j. em 19/11/2014). No entanto, DI PIETRO (2019, p. 1033) defende que aos exercentes de mandato político na órbita federal ou estadual não pode ser aplicada a sanção de perda da função pública, que implicaria a perda do mandato, já que a medida é de competência da Casa Parlamentar (CF, art. 55; art. 27, § 1º). Essa mesma restrição não é imposta pela CF aos vereadores 
Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se agente público o agente político, o servidor público e todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades referidas no art. 1º desta Lei.        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Parágrafo único. No que se refere a recursos de origem pública, sujeita-se às sanções previstas nesta Lei o particular, pessoa física ou jurídica, que celebra com a administração pública convênio, contrato de repasse, contrato de gestão, termo de parceria, termo de cooperação ou ajuste administrativo equivalente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.
Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra dolosamente para a prática do ato de improbidade. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 1º Os sócios, os cotistas, os diretores e os colaboradores de pessoa jurídica de direito privado não respondem pelo ato de improbidade que venha a ser imputado à pessoa jurídica, salvo se, comprovadamente, houver participação e benefícios diretos, caso em que responderão nos limites da sua participação. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 2º As sanções desta Lei não se aplicarão à pessoa jurídica, caso o ato de improbidade administrativa seja também sancionado como ato lesivo à administração pública de que trata a Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Atos ímprobos
 A Lei nº 8429/92 agrupou os atos de improbidade em três categorias, de acordo com os bens jurídicos afetados pela conduta, em ordem decrescente de gravidade: atos que importem enriquecimento ilícito (art. 9º), atos que causem prejuízo ao erário (art. 10º) e atos que atentem contra os princípios da Administração Pública (art. 11). No caput de cada um desses dispositivos, está descrita a conduta genérica configuradora da improbidade e, em seus incisos, condutas específicas, exemplificadoras da conduta do caput. O legislador utilizou a técnica legislativa dos conceitos jurídicos indeterminados, e não das tipificações cerradas do direito penal.
A configuração do ato de improbidade administrativa exige a presença de quatro elementos: a) sujeito passivo: uma das entidades mencionadas nos §§ 5º, 6º e 7º do art. 1º da LIA; b) sujeito ativo: agente público ou terceiro que induza ou concorra dolosamente para a prática do ato (arts. 2º e 3º); c) ocorrência de ato danoso descrito na lei (arts. 9º, 10 e 11 da LIA; art. 52 da Lei 10.257/01); d) elemento subjetivo: dolo (exclusivamente). 
Antes da Lei 14.230/21, os arts. 9º, 10 e 11 traziam a expressão “notadamente” no caput, dando a entender que as condutas mencionadas nos incisos seriam apenas exemplos de atos de improbidade, mas que existiriam outras que poderiam se encaixar na arquitetura do caput. E a nova redação dos arts. 9º e 10 (exceção ao art. 11) ainda mantém a expressão “notadamente”. Por isso, há doutrina que aponta o caráter exemplificativo das condutas elencadas nos arts. 9º e 10, e o caráter taxativo das condutas do art. 11 da LIA (NEVES; OLIVEIRA, 2022, p. 26-36). 
Deve-se distinguir entre ato meramente ilegal e ato ímprobo, exigindo para este uma qualificação especial: a ilegalidade qualificada. STF, RE 976.566, j. 13.9.19: “A norma constitucional prevista no § 4º do art. 37 exigiu tratamentos sancionatórios diferenciados entre os atos ilícitos em geral (civis, penais e político-administrativos) e os atos de improbidade administrativa, com determinação expressa ao Congresso Nacional para edição de lei específica (Lei 8.429/1992), que não punisse a mera ilegalidade, mas sim a conduta ilegal ou imoral do agente público voltada para a corrupção, e a de todo aquele que o auxilie, no intuito de prevenir a corrosão da máquina burocrática do Estado e de evitar o perigo de uma administração corrupta caracterizada pelo descrédito e pela ineficiência”. 
A Lei 14.230/21 confirmou essa ideia mediante duas importantes inovações: (a) A principal e mais comentada mudança na LIA é a impossibilidade de responsabilização do sujeito ativo por culpa, o que antes era permitido nas hipóteses do art. 10 (atos que causam lesão ao erário) (art. 1º, § 1º e § 3º; art. 17-C, § 1º); (b) Adicionalmente, exige-se sempre dolo específico, não bastando mais a condenação por dolo genérico. Exige-se a presença de um “especial fim de agir”, como indicam o art. 1º, § 2º (“não bastando a voluntariedade do agente”) e o art. 11, § 1º (“quando for comprovado na conduta funcional do agente público o fim de obter proveito ou benefício indevido para si ou para outra pessoa ou entidade”), e, de maneira ainda mais intensa, é o que se observa dos tipos previstos nos arts. 9º, 10 e 11, que trazem invariavelmente uma finalidade para cada conduta tipificada. É necessária a comprovação de responsabilidade subjetiva para a tipificação dos atos de improbidade administrativa, exigindo-se — nos artigos 9º, 10 e 11 da LIA — a presença do elemento subjetivo — DOLO STF. Plenário. ARE 843989/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/8/2022 (Repercussão Geral – Tema 1.199) (Info 1065). 
OBS: Não configura improbidade a ação ou omissão decorrente de divergência interpretativa da lei, baseada em jurisprudência, ainda que não pacificada, mesmo que não venha a ser posteriormente prevalecente nas decisões dos órgãos de controle ou dos tribunais do Poder Judiciário (art. 1º, § 8º). Cuida-se da consagração da impossibilidade do denominado “delito de hermenêutica”, mas agora no âmbito da improbidade administrativa. Uma interpretação a contrario sensu do dispositivo permitiria, contudo, a configuração da improbidade em casos de decisões administrativas que contrariem súmulas vinculantes e decisões definitivas proferidas pelo STF em ações de controle objetivo com efeitos erga omnes (NEVES; OLIVEIRA, 2022, p. 12). Porém, conforme o Min. Alexandre de Morais, que suspendeu o disposotivo: embora a intenção tenha sido proteger a boa-fé do gestorpúblico, o critério é excessivamente amplo e gera insegurança jurídica.O ministro assinala que há muitos juízes e tribunais competentes para julgar os casos de improbidade administrativa, além de vários tipos de procedimentos. Assim, haverá diversas sentenças que não servem para definir o entendimento do Poder Judiciário como um todo. (ADI 7236).
 
CAPÍTULO II
Dos Atos de Improbidade Administrativa
Seção I
Dos Atos de Improbidade Administrativa que Importam Enriquecimento Ilícito
Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa importando em enriquecimento ilícito auferir, mediante a prática de ato doloso, qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, de mandato, de função, de emprego ou de atividade nas entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:  (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público;
II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por preço superior ao valor de mercado;
III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o fornecimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de mercado;
IV - utilizar, em obra ou serviço particular, qualquer bem móvel, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta Lei, bem como o trabalho de servidores, de empregados ou de terceiros contratados por essas entidades;  (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem;
VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para fazer declaração falsa sobre qualquer dado técnico que envolva obras públicas ou qualquer outro serviço ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das entidades referidas no art. 1º desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, de cargo, de emprego ou de função pública, e em razão deles, bens de qualquer natureza, decorrentes dos atos descritos no caput deste artigo, cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda do agente público, assegurada a demonstração pelo agente da licitude da origem dessa evolução; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a atividade;
IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou aplicação de verba pública de qualquer natureza;
X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou declaração a que esteja obrigado;
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei;
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei.
Seção II
Dos Atos de Improbidade Administrativa que Causam Prejuízo ao Erário
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão dolosa, que enseje, efetiva e comprovadamente, perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente: (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;
I - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a indevida incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, de rendas, de verbas ou de valores integrantes do acervo patrimonial das entidades referidas no art. 1º desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que de fins educativos ou assistências, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie;
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas, por preço inferior ao de mercado;
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por preço superior ao de mercado;
VI - realizar operação financeira sem observância das normas legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea;
VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los indevidamente, acarretando perda patrimonial efetiva; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou regulamento;
X - agir ilicitamente na arrecadação de tributo ou de renda, bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio público; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular;
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidor público, empregados ou terceiros contratados por essas entidades.
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por objeto a prestação de serviços públicos por meio da gestão associada sem observar as formalidades previstas na lei; (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem suficiente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar as formalidades previstas na lei. (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)
XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incorporação, ao patrimônio particular de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administração pública a entidades privadas mediante celebração de parcerias, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)
XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administração pública a entidade privada mediante celebração de parcerias, sem a observânciadas formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;  (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014)     (Vigência)
XVIII - celebrar parcerias da administração pública com entidades privadas sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;  (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)
XIX - agir para a configuração de ilícito na celebração, na fiscalização e na análise das prestações de contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas;  (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
XX - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular. (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014, com a redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)    
XXI - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
XXII - conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou tributário contrário ao que dispõem o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 1º Nos casos em que a inobservância de formalidades legais ou regulamentares não implicar perda patrimonial efetiva, não ocorrerá imposição de ressarcimento, vedado o enriquecimento sem causa das entidades referidas no art. 1º desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 2º A mera perda patrimonial decorrente da atividade econômica não acarretará improbidade administrativa, salvo se comprovado ato doloso praticado com essa finalidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Seção II-A
Dos Atos de Improbidade Administrativa Decorrentes de Concessão ou Aplicação Indevida de Benefício Financeiro ou Tributário
(Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016)  (Produção de efeito)      (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 10-A.  Constitui ato de improbidade administrativa qualquer ação ou omissão para conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou tributário contrário ao que dispõem o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003.  (Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016)  (Produção de efeito)        (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021)
OBS.: A CONDUTA QUE ESTAVA PREVISTA NO ART. 10-A PASSOU PARA O INCISO XXII DO ART. 10, TENDO SIDO O ART. 10-A REVOGADO PELA LEI 14.230/2021. 
Seção III
Dos Atos de Improbidade Administrativa que Atentam Contra os Princípios da Administração Pública
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública a ação ou omissão dolosa que viole os deveres de honestidade, de imparcialidade e de legalidade, caracterizada por uma das seguintes condutas:  (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência;
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;
II - (revogado);  (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva permanecer em segredo;
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva permanecer em segredo, propiciando beneficiamento por informação privilegiada ou colocando em risco a segurança da sociedade e do Estado;  (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
IV - negar publicidade aos atos oficiais;
IV - negar publicidade aos atos oficiais, exceto em razão de sua imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado ou de outras hipóteses instituídas em lei; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
V - frustrar a licitude de concurso público;
V - frustrar, em ofensa à imparcialidade, o caráter concorrencial de concurso público, de chamamento ou de procedimento licitatório, com vistas à obtenção de benefício próprio, direto ou indireto, ou de terceiros;  (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo, desde que disponha das condições para isso, com vistas a ocultar irregularidades; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço.
VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização e aprovação de contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas.  (Vide Medida Provisória nº 2.088-35, de 2000)  (Redação dada pela Lei nº 13.019, de 2014)  (Vigência)
IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de acessibilidade previstos na legislação.  (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
IX - (revogado);  (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
X - transferir recurso a entidade privada, em razão da prestação de serviços na área de saúde sem a prévia celebração de contrato, convênio ou instrumento congênere, nos termos do parágrafo único do art. 24 da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990.               (Incluído pela Lei nº 13.650, de 2018)
X - (revogado);  (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas; (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
XII - praticar, no âmbito da administração pública e com recursos do erário, ato de publicidade que contrarie o disposto no § 1º do art. 37 da Constituição Federal, de forma a promover inequívoco enaltecimento do agente público e personalização de atos, de programas, de obras, de serviços ou de campanhas dos órgãos públicos. (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 1º Nos termos da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, promulgada pelo Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro de 2006, somente haverá improbidade administrativa, na aplicação deste artigo, quando for comprovado na conduta funcional do agente público o fim de obter proveito ou benefício indevido para si ou para outra pessoa ou entidade. (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 2º Aplica-se o disposto no § 1º deste artigo a quaisquer atos de improbidade administrativa tipificados nesta Lei e em leis especiais e a quaisquer outros tipos especiais de improbidade administrativa instituídos por lei.     (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º O enquadramento de conduta funcional na categoria de que trata este artigo pressupõe a demonstração objetiva da prática de ilegalidade no exercício da função pública, com a indicação das normas constitucionais, legais ou infralegais violadas. (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 4º Os atos de improbidade de que trata este artigo exigem lesividade relevante ao bem jurídico tutelado para serem passíveis de sancionamento e independem do reconhecimento da produção de danos ao erário e de enriquecimento ilícito dos agentes públicos. (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 5º Não se configurará improbidade a mera nomeação ou indicação política por parte dos detentores de mandatos eletivos, sendo necessária a aferição de dolo com finalidade ilícita por parte do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
OBS: No caso do Art. 10, Apesar de sempre ter sido exigida a comprovação da lesão ao erário – porforça da literalidade da redação legal –, o STJ entendia pela existência de dano presumido (dano in re ipsa) em algumas hipóteses, a exemplo da constante do inciso VIII do art. 10 (“frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los indevidamente”) (AREsp 1.507.319/PB, j. 5.3.20). A partir da reforma promovida pela Lei 14.230/21, exige-se perda patrimonial efetiva e comprovada (art. 10, caput e § 1º). Art. 10, § 1º: “Nos casos em que a inobservância de formalidades legais ou regulamentares não implicar perda patrimonial efetiva, não ocorrerá imposição de ressarcimento, vedado o enriquecimento sem causa das entidades referidas no art. 1º desta Lei”. Esse dispositivo confirma a noção de que a mera ilegalidade não se confunde com a improbidade administrativa. 
OBS: Art. 10, § 2º: “A mera perda patrimonial decorrente da atividade econômica não acarretará improbidade administrativa, salvo se comprovado ato doloso praticado com essa finalidade”. Isso significa que os eventuais prejuízos ou insucessos de empresas estatais e entidades que recebam subvenção, benefício ou incentivo da Administração Pública, ainda que venham a causar lesão ao erário, enquadram-se como erros de gestão, e não improbidade administrativa, salvo se comprovado o dolo dos agentes públicos envolvidos (NEVES; OLIVEIRA, 2022, p. 32). 
OBS: continua-se entendendo que o ato de improbidade administrativa previsto no art. 11 da Lei 8.429/92 não requer a demonstração de dano ao erário ou de enriquecimento ilícito, exigindo, contudo, a demonstração de dolo. Pela posição tradicional do STJ, bastava que o dolo fosse genérico (AgRg nos EDcl no AREsp 33.898/RS, j. 2.5.13). A partir da reforma promovida pela Lei 14.230/11, deverá ser comprovado o dolo específico, isto é, a finalidade indicada em cada um dos incisos do art. 11. O rol passa a ser taxativo; 
Elemento subjetivo
 a improbidade é ilegalidade tipificada e qualificada pelo elemento subjetivo da conduta do agente. Conforme o artigo 1º, § 1º, da LIA o elemento subjetivo dos atos de improbidade administrativa é o DOLO. “§ 1º Consideram-se atos de improbidade administrativa as condutas dolosas tipificadas nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, ressalvados tipos previstos em leis especiais. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)”. “§ 2º Considera-se dolo a vontade livre e consciente de alcançar o resultado ilícito tipificado nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, não bastando a voluntariedade do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)”. 
Art. 1º [...]
§ 1º Consideram-se atos de improbidade administrativa as condutas dolosas tipificadas nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, ressalvados tipos previstos em leis especiais. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 2º Considera-se dolo a vontade livre e consciente de alcançar o resultado ilícito tipificado nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, não bastando a voluntariedade do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º O mero exercício da função ou desempenho de competências públicas, sem comprovação de ato doloso com fim ilícito, afasta a responsabilidade por ato de improbidade administrativa. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
	
OBS: A natureza das medidas previstas no art. 37, § 4º, da CF não é penal, tampouco administrativa. Caracterizam ilícitos de natureza civil e, para alguns, também política (DI PIETRO, 2019, p. 1028), nada obstando que o ato de improbidade também seja capitulado como crime ou como infração administrativa.Na AO 1.933. j. 10.4.18, o STF consignou que os atos de improbidade administrativa possuem natureza civil, e, no RE 598.588 AgR, j. 2.2.10, anotou que são civis as sanções impostas pelo art. 12 da Lei 8.429/1992. Entre as sanções impostas pela lei estão a suspensão dos direitos políticos (matéria de direito eleitoral), a indisponibilidade de bens e o ressarcimento de danos (matéria de direito civil) e a perda da função pública (sanção com forte conteúdo político-penal) (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1148). Todos esses temas são de competência privativa da União (CF, art. 22, I) .
OBS: A ação de improbidade administrativa, segundo parcela da doutrina, tem natureza de ação civil pública, sendo-lhe aplicável a Lei 7.347/1985 no que não contrariar as regras específicas da lei de improbidade (DI PIETRO, 2019, p. 1044). A própria Lei 7.437/1985, inclusive, é cabível para as ações de responsabilidade por danos causados “a qualquer outro interesse difuso ou coletivo” (art. 1º, IV), na esteira do texto constitucional (CF, art. 129, III). Outros entendem, contudo, que se trata de ações diversas, com procedimentos distintos (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1178-9). Assim, na ação de improbidade, permitia-se a busca pela condenação do autor às sanções legais de natureza punitiva, mas autorizava-se, também, sanções de natureza repressivo-reparatória (caso da “sanção” de ressarcimento ao erário) e a veiculação de pretensão constitutivo negativa, a exemplo da anulação de um contrato originado de uma licitação fraudada (ANDRADE; MASSON; ANDRADE, 2020, v. 1, p. 980). Nesse sentido, o STJ fixou a seguinte tese: “É lícita a cumulação de pedidos de natureza condenatória, declaratória e constitutiva na ação civil pública por ato de improbidade administrativa” (Jurisprudência em Teses, ed. 186, de 19.11.21). 
Natureza jurídica da ação de improbidade administrativa: está prevista no artigo 17-D da LIA, incluído pela Lei nº 14.230/2021, que dispõe: 
Art. 17-D. A ação por improbidade administrativa é repressiva, de caráter sancionatório, destinada à aplicação de sanções de caráter pessoal previstas nesta Lei, e não constitui ação civil, vedado seu ajuizamento para o controle de legalidade de políticas públicas e para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos.       (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Parágrafo único. Ressalvado o disposto nesta Lei, o controle de legalidade de políticas públicas e a responsabilidade de agentes públicos, inclusive políticos, entes públicos e governamentais, por danos ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, a qualquer outro interesse difuso ou coletivo, à ordem econômica, à ordem urbanística, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos e ao patrimônio público e social submetem-se aos termos da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
A partir das inovações, é imperioso concluir que a ação de improbidade administrativa é ação de natureza meramente repressiva, de caráter exclusivamente sancionatório, não servindo para controle de legalidade ou irregularidade de atos do poder público nem se confundindo com uma simples ação de ressarcimento ao erário (embora esta seja uma consequência lógica das sanções de improbidade). 
Recebimento da inicial e legitimidade ativa para propositura da ação de improbidade: estão previstos no artigo 17, § 7º da LIA, com redação dada pela Lei nº 14.230/2021. 
Art. 17. A ação para a aplicação das sanções de que trata esta Lei será proposta pelo Ministério Público e seguirá o procedimento comum previsto na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), salvo o disposto nesta Lei.  (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)   (Vide ADI 7042)  (Vide ADI 7043)
§ 7º Se a petição inicial estiver em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a citação dos requeridos para que a contestem no prazo comum de 30 (trinta) dias, iniciado o prazo na forma do art. 231 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).   (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 8º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 9º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Observação: a Lei nº 14.230, passou a prever como legitimado ativo para propor a ação de improbidade, apenas o Ministério Público. No entanto, o STF, no julgamento da Medida Cautelana ADI 7042, de relatoria do Ministro Alexandre de Moraes, concedeu interpretação conforme a Constituição Federal ao caput e e §§ 6º-A, 10-C e 14, do artigo 17 da Lei Nº 8.429/92, com a redação dada pela Lei nº 14.230/2021, no sentido da existência de legitimidade ativa concorrente entre o Ministério Público e as pessoas jurídicas interessadas para a propositura da ação por ato de improbidade administrativa. Tese: a redução da legitimidade para a ação de improbidade é inconstitucional, em violação ao art. 129, § 1º, da CF, o qual dispõe que a legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas nesse artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto na própria Constituição e na lei. Apesar da inegável margem de conformação atribuída ao legislador infraconstitucional para a disciplina da legitimação desses terceiros, deve-se observar o dever de coerência e racionalidade nesse exercício, em prol da eficiência no combate à corrupção e proteção ao patrimônio público. Os órgãos e entes diretamente atingidos pela conduta ímproba devem ter papel ativo na conservação do patrimônio público e na salvaguarda da Constituição (CF, art. 23, I), sob pena de retrocesso quanto ao imperativo constitucional de combate à improbidade administrativa. Por fim, no julgamento do mérito das ADIs 7.042 e 7.043, em 31.8.22, o Plenário do STF, por maioria, assentou que “os entes públicos que sofreram prejuízos em razão de atos de improbidade também estão autorizados, de forma concorrente com o Ministério Público (MP), a propor ação e a celebrar acordos de não persecução civil em relação a esses atos”. Prevaleceu que, nas ações de improbidade administrativa, a atuação do MP é extraordinária na defesa do patrimônio público em sentido amplo. Já a atuação da pessoa jurídica lesada ─ que foi quem sofreu os efeitos gravosos dos atos ímprobos ─ é ordinária, pois objetiva a proteção, em seu próprio nome, daquilo que lhe é inerente: seu patrimônio. 
Antes da reforma promovida pela Lei 14.230/21, não havia regra específica que tratasse da competência do foro na LIA, razão pela qual se aplicava o art. 2º da Lei da Ação Civil Pública, que determina a competência do foro do local do dano como absolutamente competente para o julgamento das ações civis públicas (STJ, AgRg no REsp 1.043.307/RN, j. 24.3.09; AgInt no REsp 1.796.801/PR, j. 7.11.19). Art. 17, § 4º-A: a ação de improbidade deverá ser proposta perante o foro do local onde ocorrer o dano ou da pessoa jurídica prejudicada. O dispositivo consagrou, portanto, foros concorrentes entre o foro do local do dano e o foro da sede da pessoa jurídica prejudicada.
Jurisprudência do Graal do 29º CPR: Existindo meros indícios de cometimento de atos enquadrados como improbidade administrativa, a petição inicial da ação de improbidade deve ser recebida pelo juiz, pois, na fase inicial prevista no art. 17, §§ 7º, 8º e 9º da Lei nº 8.429/92, vale o princípio do in dubio pro societate, a fim de possibilitar o maior resguardo do interesse público (AgRg no REsp 1.317.127-ES).
Indisponibilidade de bens: a matéria é disciplinada pelo artigo 16 da LIA, que passou por significativa alteração com a edição da Lei nº 14.230/2021. É cabível o pedido de indisponibilidade de bens dos réus, em caráter antecedente ou incidente, para garantir a integral recomposição do erário ou do acréscimo patrimonial resultante de enriquecimento ilícito. 
A LIA prevê expressamente duas espécies de medidas cautelares: (a) a indisponibilidade de bens prevista no art. 7º; (b) o afastamento temporário de cargo, emprego ou função, no art. 20, parágrafo único. Nada impede, contudo, a concessão de cautelares atípicas (poder geral de cautela). 
Antes da reforma, o STJ entendia cabível a medida cautelar também nas hipóteses do art. 11 (violação aos princípios da Administração Pública), para possibilitar o pagamento da multa civil sancionatória (STJ, REsp 1.438.344/SP, j. 2.10.14; REsp 1.862.792-PR, 1ª Seção, j. 25.8.21 – Tema 1055). O novel § 10, incluído pela Lei 14.230/11, afasta esse entendimento ao dispor que “a indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem exclusivamente o integral ressarcimento do dano ao erário, sem incidir sobre os valores a serem eventualmente aplicados a título de multa civil ou sobre acréscimo patrimonial decorrente de atividade lícita”. 
O STJ permitia ao juiz determinar a indisponibilidade de bens em valor superior ao indicado na petição inicial pelo autor (Súmula 533-STJ), bem como de bens adquiridos antes da prática do ato de improbidade (AgRg no AREsp 698.259/CE). Ademais, a jurisprudência do STJ havia pacificado orientação no sentido de que a decretação de indisponibilidade prevista no art. 7º, parágrafo único, da LIA não depende da individualização dos bens pelo Parquet, podendo recair, inclusive, sobre bens de família (EDcl no AgRg no REsp 1.351.825/BA). Art. 16, § 5º: se houver mais de um réu na ação, a somatória dos valores declarados indisponíveis não poderá superar o montante indicado na petição inicial como dano ao erário ou como enriquecimento ilícito. Art. 16, § 6º: o valor da indisponibilidade considerará a estimativa de dano indicada na petição inicial, permitida a sua substituição por caução idônea, por fiança bancária ou por seguro-garantia judicial, a requerimento do réu, bem como a sua readequação durante a instrução do processo. Art. 16, § 7º: a indisponibilidade de bens de terceiro dependerá da demonstração da sua efetiva concorrência para os atos ilícitos apurados ou, quando se tratar de pessoa jurídica, da instauração de incidente de desconsideração da personalidade jurídica, a ser processado na forma da lei processual. Art. 16, § 14: veda a decretação de indisponibilidade do bem de família do réu, salvo se comprovado que o imóvel seja fruto de vantagem patrimonial indevida, conforme descrito no art. 9º da Lei. Art. 16, § 13: é vedada a decretação de indisponibilidade da quantia de até 40 (quarenta) salários mínimos depositados em caderneta de poupança, em outras aplicações financeiras ou em conta-corrente, na esteira do que dispõe o art. 833, X, do CPC, com a ampliação interpretativa que vinha sendo empreendida pelo STJ (AgInt no REsp 1.893.441/SP, j. 13.12.21). Art. 16, § 3º: exige que o deferimento do pedido de indisponibilidade de bens seja condicionado à demonstração no caso concreto de perigo de dano irreparável ou de risco ao resultado útil do processo, desde que o juiz se convença da probabilidade da ocorrência dos atos descritos na petição inicial com fundamento nos respectivos elementos de instrução, após a oitiva do réu em 5 (cinco) dias. Apesar de a oitiva prévia do réu constituir regra, o novel § 4º do art. 16 dispõe que a indisponibilidade de bens poderá ser decretada sem a oitiva prévia do réu, sempre que o contraditório prévio puder comprovadamente frustrar a efetividade da medida ou houver outras circunstâncias que recomendem a proteção liminar, não podendo a urgência ser presumida. 
Conforme dispõe o art. 20, parágrafo único, a autoridade judicial competente poderá determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo, do emprego ou da função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida for necessária à instrução processual ou para evitar a iminente prática de novos ilícitos. A doutrina entendia que o afastamento poderia perdurar até o final da instrução probatória, mas o STJ já chegou a limitar o afastamento dos cargos ao prazo de 180 dias (AgRg na SLS 1.957/PB, j. 17.12.14; HC 465.074/PB, j. 13.12.18). Agora, o novel § 2º dispõe que o afastamento será de até 90 (noventa) dias, prorrogáveis uma única vez por igual prazo, mediante decisão motivada. 
	Art. 16. Na ação por improbidade administrativa poderá ser formulado, em caráter antecedente ou incidente, pedido de indisponibilidade de bens dos réus, a fim de garantir a integral recomposição do erário ou do acréscimo patrimonial resultante de enriquecimento ilícito. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230,de 2021)
§ 1º-A O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere o caput deste artigo poderá ser formulado independentemente da representação de que trata o art. 7º desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 2º Quando for o caso, o pedido de indisponibilidade de bens a que se refere o caput deste artigo incluirá a investigação, o exame e o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações financeiras mantidas pelo indiciado no exterior, nos termos da lei e dos tratados internacionais. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere o caput deste artigo apenas será deferido mediante a demonstração no caso concreto de perigo de dano irreparável ou de risco ao resultado útil do processo, desde que o juiz se convença da probabilidade da ocorrência dos atos descritos na petição inicial com fundamento nos respectivos elementos de instrução, após a oitiva do réu em 5 (cinco) dias. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 4º A indisponibilidade de bens poderá ser decretada sem a oitiva prévia do réu, sempre que o contraditório prévio puder comprovadamente frustrar a efetividade da medida ou houver outras circunstâncias que recomendem a proteção liminar, não podendo a urgência ser presumida. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 5º Se houver mais de um réu na ação, a somatória dos valores declarados indisponíveis não poderá superar o montante indicado na petição inicial como dano ao erário ou como enriquecimento ilícito.  (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 6º O valor da indisponibilidade considerará a estimativa de dano indicada na petição inicial, permitida a sua substituição por caução idônea, por fiança bancária ou por seguro-garantia judicial, a requerimento do réu, bem como a sua readequação durante a instrução do processo.  (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 7º A indisponibilidade de bens de terceiro dependerá da demonstração da sua efetiva concorrência para os atos ilícitos apurados ou, quando se tratar de pessoa jurídica, da instauração de incidente de desconsideração da personalidade jurídica, a ser processado na forma da lei processual. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 8º Aplica-se à indisponibilidade de bens regida por esta Lei, no que for cabível, o regime da tutela provisória de urgência da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 9º Da decisão que deferir ou indeferir a medida relativa à indisponibilidade de bens caberá agravo de instrumento, nos termos da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).        (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 10. A indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem exclusivamente o integral ressarcimento do dano ao erário, sem incidir sobre os valores a serem eventualmente aplicados a título de multa civil ou sobre acréscimo patrimonial decorrente de atividade lícita. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 11. A ordem de indisponibilidade de bens deverá priorizar veículos de via terrestre, bens imóveis, bens móveis em geral, semoventes, navios e aeronaves, ações e quotas de sociedades simples e empresárias, pedras e metais preciosos e, apenas na inexistência desses, o bloqueio de contas bancárias, de forma a garantir a subsistência do acusado e a manutenção da atividade empresária ao longo do processo.  (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 12. O juiz, ao apreciar o pedido de indisponibilidade de bens do réu a que se refere o caput deste artigo, observará os efeitos práticos da decisão, vedada a adoção de medida capaz de acarretar prejuízo à prestação de serviços públicos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 13. É vedada a decretação de indisponibilidade da quantia de até 40 (quarenta) salários mínimos depositados em caderneta de poupança, em outras aplicações financeiras ou em conta-corrente.  (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 14. É vedada a decretação de indisponibilidade do bem de família do réu, salvo se comprovado que o imóvel seja fruto de vantagem patrimonial indevida, conforme descrito no art. 9º desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Jurisprudência do Graal do 29º CPR: A indisponibilidade pode recair sobre bens adquiridos tanto antes quanto depois da prática do ato de improbidade (REsp 1301695/RS). É desnecessária a individualização dos bens sobre os quais se pretende fazer recair a indisponibilidade (AgRg no REsp 1307137/BA). A decretação da indisponibilidade e do sequestro de bens em improbidade administrativa é possível antes do recebimento da ação (AgRg no REsp 1317653/SP). A medida constritiva deve recair sobre o patrimônio dos réus em ação de improbidade administrativa, de modo suficiente a garantir o integral ressarcimento de eventual prejuízo ao erário, levando-se em consideração, ainda, o valor de possível multa civil como sanção autônoma (REsp 1176440/RO).
Processo judicial da ação de improbidade administrativa: é regido pelo artigo 17 da LIA, com importantes acréscimos trazidos pela Lei nº 14.230/2021, in verbis:
Art. 17. A ação para a aplicação das sanções de que trata esta Lei será proposta pelo Ministério Público e seguirá o procedimento comum previsto na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), salvo o disposto nesta Lei. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)   (Vide ADI 7042)     (Vide ADI 7043)
§ 1º (Revogado).  (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 2º (Revogado).  (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º (Revogado).  (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 4º (Revogado).  (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 4º-A  A ação a que se refere o caput deste artigo deverá ser proposta perante o foro do local onde ocorrer o dano ou da pessoa jurídica prejudicada. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 5º A propositura da ação a que se refere o caput deste artigo prevenirá a competência do juízo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 6º A petição inicial observará o seguinte: (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - deverá individualizar a conduta do réu e apontar os elementos probatórios mínimos que demonstrem a ocorrência das hipóteses dos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei e de sua autoria, salvo impossibilidade devidamente fundamentada; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - será instruída com documentos ou justificação que contenham indícios suficientes da veracidade dos fatos e do dolo imputado ou com razões fundamentadas da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas, observada a legislação vigente, inclusive as disposições constantes dos arts. 77 e 80 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).       (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 6º-A O Ministério Público poderá requerer as tutelas provisórias adequadas e necessárias, nos termos dos arts. 294 a 310 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil      (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)   (Vide ADI 7042)      (Vide ADI 7043)
§ 6º-B A petição inicial será rejeitada nos casos do art. 330 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), bem como quando não preenchidos os requisitos a que se referem os incisos I e II do § 6º deste artigo, ou ainda quando manifestamente inexistente o ato de improbidade imputado. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 7º Se a petição inicial estiver em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a citação dos requeridos para que a contestem no prazo comum de 30 (trinta) dias, iniciado o prazo na forma do art. 231 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).  (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 8º (Revogado).  (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 9º (Revogado).  (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 9º-A Da decisão que rejeitar questões preliminares suscitadas pelo réu em sua contestação caberá agravo de instrumento.  (Incluído pela Leinº 14.230, de 2021)
§ 10. (Revogado).  (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 10-A. Havendo a possibilidade de solução consensual, poderão as partes requerer ao juiz a interrupção do prazo para a contestação, por prazo não superior a 90 (noventa) dias.  (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 10-B. Oferecida a contestação e, se for o caso, ouvido o autor, o juiz:  (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - procederá ao julgamento conforme o estado do processo, observada a eventual inexistência manifesta do ato de improbidade; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - poderá desmembrar o litisconsórcio, com vistas a otimizar a instrução processual. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 10-C. Após a réplica do Ministério Público, o juiz proferirá decisão na qual indicará com precisão a tipificação do ato de improbidade administrativa imputável ao réu, sendo-lhe vedado modificar o fato principal e a capitulação legal apresentada pelo autor. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)   (Vide ADI 7042)      (Vide ADI 7043)
§ 10-D. Para cada ato de improbidade administrativa, deverá necessariamente ser indicado apenas um tipo dentre aqueles previstos nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 10-E. Proferida a decisão referida no § 10-C deste artigo, as partes serão intimadas a especificar as provas que pretendem produzir.       (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 10-F. Será nula a decisão de mérito total ou parcial da ação de improbidade administrativa que:  (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - condenar o requerido por tipo diverso daquele definido na petição inicial; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - condenar o requerido sem a produção das provas por ele tempestivamente especificadas. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 11.  Em qualquer fase do processo, reconhecida a inadequação da ação de improbidade, o juiz extinguirá o processo sem julgamento do mérito.  (Vide Medida Provisória nº 2.088-35, de 2000)        (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)
§ 11. Em qualquer momento do processo, verificada a inexistência do ato de improbidade, o juiz julgará a demanda improcedente.        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 12.  Aplica-se aos depoimentos ou inquirições realizadas nos processos regidos por esta Lei o disposto no art. 221, caput e § 1o, do Código de Processo Penal.    (Vide Medida Provisória nº 2.088-35, de 2000)    (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)
§ 12. (Revogado).        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 13.  Para os efeitos deste artigo, também se considera pessoa jurídica interessada o ente tributante que figurar no polo ativo da obrigação tributária de que tratam o § 4º do art. 3º e o art. 8º-A da Lei Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003.        (Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016)
§ 13. (Revogado).         (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 14. Sem prejuízo da citação dos réus, a pessoa jurídica interessada será intimada para, caso queira, intervir no processo.          (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)   (Vide ADI 7042)    (Vide ADI 7043)
§ 15. Se a imputação envolver a desconsideração de pessoa jurídica, serão observadas as regras previstas nos arts. 133, 134, 135, 136 e 137 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).      (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 16. A qualquer momento, se o magistrado identificar a existência de ilegalidades ou de irregularidades administrativas a serem sanadas sem que estejam presentes todos os requisitos para a imposição das sanções aos agentes incluídos no polo passivo da demanda, poderá, em decisão motivada, converter a ação de improbidade administrativa em ação civil pública, regulada pela Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985.       (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 17. Da decisão que converter a ação de improbidade em ação civil pública caberá agravo de instrumento.        (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 18. Ao réu será assegurado o direito de ser interrogado sobre os fatos de que trata a ação, e a sua recusa ou o seu silêncio não implicarão confissão.         (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 19. Não se aplicam na ação de improbidade administrativa:         (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor em caso de revelia;        (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - a imposição de ônus da prova ao réu, na forma dos §§ 1º e 2º do art. 373 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil);       (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
III - o ajuizamento de mais de uma ação de improbidade administrativa pelo mesmo fato, competindo ao Conselho Nacional do Ministério Público dirimir conflitos de atribuições entre membros de Ministérios Públicos distintos;      (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
IV - o reexame obrigatório da sentença de improcedência ou de extinção sem resolução de mérito.          (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 20. A assessoria jurídica que emitiu o parecer atestando a legalidade prévia dos atos administrativos praticados pelo administrador público ficará obrigada a defendê-lo judicialmente, caso este venha a responder ação por improbidade administrativa, até que a decisão transite em julgado.        (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)    (Vide ADI 7042)     (Vide ADI 7043)
§ 21. Das decisões interlocutórias caberá agravo de instrumento, inclusive da decisão que rejeitar questões preliminares suscitadas pelo réu em sua contestação. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 17, § 10-D: para cada ato de improbidade administrativa, deverá necessariamente ser indicado apenas um tipo dentre aqueles previstos nos arts. 9º, 10 e 11 da LIA. Segundo NEVES e OLIVEIRA (2022, p. 80), o dispositivo não permite que um mesmo ato tenha mais de uma tipificação legal como de improbidade, mas admite, sim, uma cumulação de diferentes atos, cada qual com sua tipificação única. 
Se a petição inicial estiver em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a citação dos requeridos para que a contestem no prazo comum de 30 (trinta) dias, iniciado o prazo na forma do art. 231 do CPC (art. 17, § 7º). Da decisão que rejeitar questões preliminares suscitadas pelo réu em sua contestação caberá agravo de instrumento (art. 17, § 9º-A). Pelo § 10-A, havendo a possibilidade de solução consensual, poderão as partes requerer ao juiz a interrupção do prazo para a contestação, por prazo não superior a 90 (noventa) dias. 
OBS: § 10-C: após a réplica do Ministério Público, o juiz proferirá decisão na qual indicará com precisão a tipificação do ato de improbidade administrativa imputável ao réu, sendo-lhe vedado modificar o fato principal e a capitulação legal apresentada pelo autor. § 10-F: será nula a decisão de mérito total ou parcial da ação de improbidade administrativa que: I - condenar o requerido por tipo diverso daquele definido na petição inicial ; II - condenar o requerido sem a produção das provas por ele tempestivamente especificadas. “O pacífico entendimento do STJ é no sentido de que não há ofensa ao princípio da congruência quando a decisão judicial enquadra os supostos atos de improbidade em dispositivo diverso daquele trazido na exordial, uma vez que os réus se defendem dos fatos que lhes são imputados, competindo ao juízo, como dever de ofício, sua qualificação jurídica, vigendo em nosso ordenamento jurídico os brocardos iura novit curia e o da mihi factum, dabo tibi ius.” (STJ, AgInt no AREsp 1.415.942/SP, j. 17.11.20). 
Sentença da ação de improbidade administrativa e respectivo cumprimento: trata-se de matéria disciplinada pelos artigos 17-C, 18 e 18-A da LIA, que assim dispõem: 
Art. 17-C. A sentença proferida nos processos a que se refere esta Lei deverá, além de observar o disposto no art. 489 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil): (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - indicar de modo preciso os fundamentosque demonstram os elementos a que se referem os arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, que não podem ser presumidos; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - considerar as consequências práticas da decisão, sempre que decidir com base em valores jurídicos abstratos; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
III - considerar os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados e das circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado ou condicionado a ação do agente; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
IV - considerar, para a aplicação das sanções, de forma isolada ou cumulativa:  (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
a) os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
b) a natureza, a gravidade e o impacto da infração cometida;  (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
c) a extensão do dano causado; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
d) o proveito patrimonial obtido pelo agente;  (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
e) as circunstâncias agravantes ou atenuantes; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
f) a atuação do agente em minorar os prejuízos e as consequências advindas de sua conduta omissiva ou comissiva; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
g) os antecedentes do agente;  (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
V - considerar na aplicação das sanções a dosimetria das sanções relativas ao mesmo fato já aplicadas ao agente; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
VI - considerar, na fixação das penas relativamente ao terceiro, quando for o caso, a sua atuação específica, não admitida a sua responsabilização por ações ou omissões para as quais não tiver concorrido ou das quais não tiver obtido vantagens patrimoniais indevidas; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
VII - indicar, na apuração da ofensa a princípios, critérios objetivos que justifiquem a imposição da sanção. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 1º A ilegalidade sem a presença de dolo que a qualifique não configura ato de improbidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 2º Na hipótese de litisconsórcio passivo, a condenação ocorrerá no limite da participação e dos benefícios diretos, vedada qualquer solidariedade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º Não haverá remessa necessária nas sentenças de que trata esta Lei.  (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
[...]
Art. 18. A sentença que julgar procedente ação civil de reparação de dano ou decretar a perda dos bens havidos ilicitamente determinará o pagamento ou a reversão dos bens, conforme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo ilícito.
Art. 18. A sentença que julgar procedente a ação fundada nos arts. 9º e 10 desta Lei condenará ao ressarcimento dos danos e à perda ou à reversão dos bens e valores ilicitamente adquiridos, conforme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo ilícito. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 1º Se houver necessidade de liquidação do dano, a pessoa jurídica prejudicada procederá a essa determinação e ao ulterior procedimento para cumprimento da sentença referente ao ressarcimento do patrimônio público ou à perda ou à reversão dos bens. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 2º Caso a pessoa jurídica prejudicada não adote as providências a que se refere o § 1º deste artigo no prazo de 6 (seis) meses, contado do trânsito em julgado da sentença de procedência da ação, caberá ao Ministério Público proceder à respectiva liquidação do dano e ao cumprimento da sentença referente ao ressarcimento do patrimônio público ou à perda ou à reversão dos bens, sem prejuízo de eventual responsabilização pela omissão verificada. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º Para fins de apuração do valor do ressarcimento, deverão ser descontados os serviços efetivamente prestados. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 4º O juiz poderá autorizar o parcelamento, em até 48 (quarenta e oito) parcelas mensais corrigidas monetariamente, do débito resultante de condenação pela prática de improbidade administrativa se o réu demonstrar incapacidade financeira de saldá-lo de imediato. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 18-A. A requerimento do réu, na fase de cumprimento da sentença, o juiz unificará eventuais sanções aplicadas com outras já impostas em outros processos, tendo em vista a eventual continuidade de ilícito ou a prática de diversas ilicitudes, observado o seguinte: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - no caso de continuidade de ilícito, o juiz promoverá a maior sanção aplicada, aumentada de 1/3 (um terço), ou a soma das penas, o que for mais benéfico ao réu; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - no caso de prática de novos atos ilícitos pelo mesmo sujeito, o juiz somará as sanções.  (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Parágrafo único. As sanções de suspensão de direitos políticos e de proibição de contratar ou de receber incentivos fiscais ou creditícios do poder público observarão o limite máximo de 20 (vinte) anos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
	
O art. 18-A cuida da possibilidade de unificação de sanções impostas em processos diferentes de improbidade administrativa. Na redação do enunciado normativo, a requerimento do réu, na fase de cumprimento da sentença, o juiz unificará eventuais sanções aplicadas com outras já impostas em outros processos, tendo em vista a eventual continuidade de ilícito ou a prática de diversas ilicitudes, observado o seguinte: I - no caso de continuidade de ilícito, o juiz promoverá a maior sanção aplicada, aumentada de 1/3 (um terço), ou a soma das penas, o que for mais benéfico ao réu; II - no caso de prática de novos atos ilícitos pelo mesmo sujeito, o juiz somará as sanções. E pelo parágrafo único, as sanções de suspensão de direitos políticos e de proibição de contratar ou de receber incentivos fiscais ou creditícios do poder público observarão o limite máximo de 20 (vinte) anos. 
Penalidades
O magistrado não está obrigado a aplicar cumulativamente todas as penas do art. 12 da LIA, podendo fixá-las e dosá-las segundo a natureza, a gravidade e as consequências da infração. As sanções por improbidade independem da aprovação ou rejeição das contas por controle interno ou Tribunal de Contas (art. 21, II, LIA). Ainda que não haja dano ao erário, é possível a condenação por ato de improbidade administrativa que importe enriquecimento ilícito (art. 9º da Lei nº 8.429/92), excluindo-se, contudo, a possibilidade de aplicação da pena de ressarcimento ao erário (REsp 1412214-PR). Não existe autorização na lei para estipular sanções abaixo do patamar legal (REsp 1582014-CE). A demissão por ato de improbidade administrativa de membro do Ministério Público não só pode ser determinada pelo trânsito em julgado de sentença condenatória em ação específica, cujo ajuizamento foi provocado por procedimento administrativo e é da competência do Procurador-Geral, como também pode ocorrer em decorrência do trânsito em julgado da sentença condenatória proferida em ação civil pública prevista na Lei n. 8.429/1992 (REsp 1191613/MG). As penalidades aplicadas em decorrência da prática de ato de improbidade administrativa podem ser revistas em recurso especial desde que esteja patente a violação aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. (EREsp 1.215.121-RS). Em se tratando de matéria de Direito Sancionador e revelando-se patente o excesso ou a desproporção da sanção aplicada, pode o Tribunal reduzi-la, ainda que não tenha sido alvo de impugnação recursal. (REsp 1293624-DF).Não configura bis in idem a coexistência de título executivo extrajudicial (acórdão do TCU) e sentença condenatória em ação civil pública de improbidade administrativa que determinam o ressarcimento ao erário e se referem ao mesmo fato, desde que seja observada a dedução do valor da obrigação que primeiramente foi executada no momento da execução do título remanescente. (REsp 1413674-SE). - Perda da função pública. Ao lado da suspensão dos direitos políticos,esta sanção só pode ser aplicada após o trânsito em julgado (art. 20). Para o STJ, nem todo ato de improbidade levará à perda da função, devendo ser valorada a espécie de ato e quais os propósitos pretendidos pela sua prática (REsp 1.220.007/PR, j. 1º.12.11). A partir de reforma promovida pela Lei 14.230/21, somente os atos de improbidade que importam em enriquecimento ilícito e os que causam prejuízo ao erário permitem a aplicação da sanção de perda da função pública. Os atos de improbidade que atentam contra os princípios da Administração Pública não autorizam essa sanção (tampouco a de suspensão dos direitos políticos). 
OBS: A independência entre as instâncias é reforçada pelos parágrafos do art. 21 da LIA, mas não de forma absoluta. Pelo § 1º, os atos do órgão de controle interno ou externo serão considerados pelo juiz quando tiverem servido de fundamento para a conduta do agente público. § 2º: as provas produzidas perante os órgãos de controle e as correspondentes decisões deverão ser consideradas na formação da convicção do juiz, sem prejuízo da análise acerca do dolo na conduta do agente. § 3º: as sentenças civis e penais produzirão efeitos em relação à ação de improbidade quando concluírem pela inexistência da conduta ou pela negativa da autoria. § 4º: intensifica os casos de comunicação entre as instâncias penal e de improbidade. Pela redação do dispositivo, a absolvição criminal em ação que discuta os mesmos fatos, confirmada por decisão colegiada, impede o trâmite da ação da qual trata esta Lei, havendo comunicação com todos os fundamentos de absolvição previstos no art. 386 do Código de Processo Penal. § 5º: sanções eventualmente aplicadas em outras esferas deverão ser compensadas com as sanções aplicadas nos termos desta Lei. 
OBS: Discutia-se se a função que seria perdida seria aquela exercida pelo agente ímprobo no momento da prática do ato ou aquela exercida por ele no momento do trânsito em julgado, mesmo que diferente daquela exercida à época em que foi praticado o ato de improbidade. Prevalecia esse segundo entendimento, tanto na doutrina quanto no STJ (por todos: REsp 924.439/RJ, j. 6.8.09). Art. 12, § 1º: “A sanção de perda da função pública, nas hipóteses dos incisos I e II do caput deste artigo [arts. 9º e 10], atinge apenas o vínculo de mesma qualidade e natureza que o agente público ou político detinha com o poder público na época do cometimento da infração, podendo o magistrado, na hipótese do inciso I do caput deste artigo [art. 9º], e em caráter excepcional, estendê-la aos demais vínculos, consideradas as circunstâncias do caso e a gravidade da infração”. Contudo, esse dispositivo também foi suspenso: No entendimento do relator, a defesa da probidade administrativa impõe a perda da função pública independentemente do cargo ocupado no momento da condenação. Além disso, ele considerou que a medida pode eximir determinados agentes da sanção por meio da troca de função ou no caso de demora no julgamento da causa. (ADI 7236).
OBS: Prevalece não ser possível a perda ou cassação da aposentadoria como sanção de ação de improbidade, por ausência de previsão legal no art. 12 da LIA (AgInt no REsp 1.761.937/SP, j. 17.12.19; EDv nos EREsp 1.496.347, j. 26.2.21), o que não impede a aplicação dessa sanção por meio de processo administrativo disciplinar. 
OBS: Segundo o STJ, “a pena de suspensão dos direitos políticos por ato de improbidade administrativa alcança qualquer mandato eletivo que esteja sendo ocupado à época do trânsito em julgado da condenação” (REsp 1.813.255-SP, j. 3.3.20 – Info 678). A Lei 14.230/21 incluiu o § 10 no art. 12, o qual estabelece que, “para efeitos de contagem do prazo da sanção de suspensão dos direitos políticos, computar-se-á retroativamente o intervalo de tempo entre a decisão colegiada e o trânsito em julgado da sentença condenatória”. Porém, o Ministro Alexandre de Morais também suspendeu tal dispositivo: Para o ministro, os efeitos dessa alteração podem afetar a inelegibilidade prevista na Lei de Inelegibilidade (Lei Complementar 64/1990).Ele observou que a suspensão dos direitos políticos por improbidade administrativa (artigo 37, parágrafo 4º, da Constituição) não se confunde com a inelegibilidade da Lei de Inelegibilidade (artigo 1º, inciso I, alínea l, da LC 64/1990). Apesar de complementares, são previsões diversas, com diferentes fundamentos e consequências, que, inclusive, admitem a cumulação. (ADI 7236).
O princípio da insignificância é aplicável à improbidade, na fase de investigação (arquiva-se o inquérito civil) ou na fase judicial (em parecer ou alegações finais, propugna-se pelo desprovimento da ação). Ademais, o § 4º do art. 11 dispõe que os atos de improbidade ali tratados exigem lesividade relevante ao bem jurídico tutelado para serem passíveis de sanção, o que ratifica o reconhecimento do princípio da insignificância em ações de improbidade; 
Aplicação: a Lei 8.429 não pode alcançar fatos anteriores a sua vigência, ainda que ocorridos após a edição da Constituição Federal de 1988 (REsp 1129121/GO). Nesse caso, o o controle dos atos lesivos ao erário deve ser feito com fundamento no art. 159 do CC/16 ou nas Leis 4.717/65 e 7.347/85 (REsp 1197330).
Reexame necessário: nos termos do inciso IV, do § 19, da Lei nº 8.429/1992, incluído pela Lei nº 14.230/2021, “§ 19. Não se aplicam na ação de improbidade administrativa: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) IV - o reexame obrigatório da sentença de improcedência ou de extinção sem resolução de mérito.  (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)”
5ª CCR: Enunciado 13: ARQUIVAMENTO DE PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS POR AJUIZAMENTO DE AÇÃO. Proposta ação penal e/ou ação de improbidade administrativa, é desnecessária a remessa do Procedimento Administrativo correlato à 5ª CCR, com vistas à homologação do seu arquivamento, exceto quando restar matéria ou imputação não incluída na pretensão deduzida no processo judicial. Referência: L.C. 75/93, art. 62, IV, e 6º, XX; L. 7.347/85, art. 9º. Enunciado 23: PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTO POR PRESCRIÇÃO QUANDO INVESTIGADO PREFEITO MUNICIPAL OU GOVERNADOR DE ESTADO. A promoção de arquivamento, de procedimento administrativo ou inquérito civil público, em que apurada eventual improbidade administrativa atribuída a prefeito municipal ou governador de Estado, em razão de prescrição, deve registrar a ocorrência ou não de reeleição. (penso ter perdido o objeto, tendo em vista os novos marcos da prescrição). Enunciado 24: ATUAÇÃO MINISTERIAL NAS AÇÕES POR ATO DE IMPROBIDADE PROPOSTAS POR ENTE NÃO FEDERAL. Nas ações por ato de improbidade administrativa propostas por entidades não federais por lesão a bens ou interesses federais, se a petição inicial atender aos pressupostos legais e não houver outro defeito processual, deve o Ministério Público Federal ingressar no polo ativo, para garantir a tramitação do feito na Justiça Federal. Enunciado 25: ATUAÇÃO MINISTERIAL NAS AÇÕES POR ATO DE IMPROBIDADE PROPOSTAS POR ENTE NÃO FEDERAL. Nas ações por ato de improbidade administrativa propostas por entidades não federais por lesão a bens ou interesses federais, havendo inépcia ou outro defeito processual grave, compete ao Procurador oficiante: a) se sanável o defeito, ingressar no polo ativo; b) se insanável o defeito, manifestar-se como custos legis pela extinção e ajuizar nova ação ou instaurar procedimento administrativo no MPF. Enunciado 29: SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. RESPONSABILIDADE PENAL, POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E DA LEI ANTICORRUPÇÃO. PREJUÍZO AO CAPITAL DE ENTE FEDERAL. ATRIBUIÇÃO DO MPF. O Ministério Público Federal tem atribuição para promover medidas tendentes à responsabilização penal e por improbidade administrativa e, também, as previstas na Lei 12.846, de 2013, em face de atos lesivos a sociedade de economia mista cuja acionista majoritária seja a União, sempre que evidenciado o interesse direto desta, como no caso em que o prejuízo sofrido pela sociedade empresarial repercuta ou possa repercutir no capital do ente político federal. Enunciado35: SONEGAÇÃO E NÃO REPASSE DE CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. A persecução dos atos de improbidade administrativa relativos à sonegação de contribuições previdenciárias ou não repasse destas à Previdência Social, quando imputados a agente público das esferas estadual e municipal, é da atribuição do Ministério Público Estadual se efetivado o pagamento ou se existir parcelamento dos respectivos débitos. 	Enunciado 41: A prática de assédio moral por agente público federal pode configurar ato de improbidade administrativa. Enunciado 42: O representante legal do estabelecimento credenciado no Programa Farmácia Popular do Brasil é equiparado a agente público para os efeitos da Lei Improbidade Administrativa.
1C. Meio ambiente e direitos fundamentais. Bens ambientais. Características 
Germano 01/04/2023
Laiz Mello
(atualizado e reorganizado por Meiriel Albarelo em 08/10/2022)
I. Meio ambiente e direitos fundamentais
	O esverdeamento das Constituições (“greening”) constitui fenômeno político decorrente do caráter cada vez mais analítico da maioria das constituições sociais, assim como da importância da elevação das regras e princípios do meio ambiente ao ápice dos ordenamentos, a fim de conferir maior segurança jurídico-ambiental. 
	Os benefícios da constitucionalização do Direito Ambiental podem ser subdivididos da seguinte forma: 
	1) Subjetivamente: i) estabelecimento de um dever constitucional genérico de não degradar; ii) base do regime de explorabilidade limitada e condicionada; iii) ecologização da propriedade e da sua função social; iv) a proteção ambiental como direito fundamental; v) a legitimação constitucional da função estatal reguladora; vi) a redução da discricionariedade administrativa e a ampliação da participação pública;
	2) Formalmente: i) máxima preeminência (superioridade) e proeminência (perceptibilidade) dos direitos ambientais; ii) deveres e princípios ambientais; iii) a segurança normativa; iv) a substituição do paradigma da legalidade ambiental para a constitucionalidade ambiental; v) controle de constitucionalidade da lei e o reforço exegético pró-ambiente das normas infraconstitucionais. 
	O legislador constituinte reconheceu expressamente o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito fundamental (art. 225, caput), de terceira dimensão, pois coletivo, transindividual, com aplicabilidade imediata, vez que sua incidência independe de regulamentação[footnoteRef:1]. [1: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.] 
	Consoante Frederico Amado, o bem ambiental é autônomo, imaterial e de natureza difusa, transcendendo à tradicional classificação dos bens em públicos (das pessoas jurídicas de direito público) e privados, pois toda a coletividade é titular desse direito (bem de uso comum do povo). Assim, o meio ambiente ecologicamente equilibrado foi afetado ao uso comum do povo, não podendo ser desafetado, sob pena de violação constitucional. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é, ainda, condição para a realização da dignidade da pessoa humana, base dos demais direitos fundamentais. Por ser direito fundamental, há vedação ao retrocesso ecológico.
	No artigo “Jurisdição Constitucional Ambiental no Brasil” (p. 829 e seguintes), Walter Claudius Rothenburg afirma que o tema do ambiente deve ser considerado materialmente constitucional por se tratar de direito humano, seja por sua vinculação à saúde, à cultura, à democracia (participação e informação), seja como bem jurídico autônomo. A ligação do meio ambiente com a dignidade do ser humano é evidente. O direito a um ambiente ecologicamente equilibrado é considerado um direito social, de marcante feição prestacional, dito de terceira dimensão. Sua positivação nas constituições e em equivalentes internacionais, bem como sua afirmação por tribunais que realizam jurisdição constitucional, tudo isso mostra seu fortalecimento, sua possível passagem de direito humano frágil para direito humano forte.
	Édis Milaré também coloca o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito constitucional fundamental e explica sua evolução: 
	“(...) ainda que sem previsão expressa, os diversos países, inclusive o nosso, promulgaram (e promulgam) leis e regulamentos de proteção do meio ambiente. Isso acontecia porque o legislador se baseava no poder geral que lhe cabia para proteger a “saúde humana”. Aí está, historicamente, o primeiro fundamento para a tutela ambiental, ou seja, a saúde humana, tendo como pressuposto, explícito ou implícito, a saúde ambiental.
	Nos regimes constitucionais modernos, como o português (1976), o espanhol (1979) e o brasileiro (1988), a proteção do meio ambiente, embora sem perder seus vínculos originais com a saúde humana, ganha identidade própria, porque é mais abrangente e compreensiva. 	Nessa nova perspectiva, o meio ambiente deixa de ser considerado um bem jurídico per accidens e é elevado à categoria de bem jurídico per se, isto é, com autonomia em relação a outros bens protegidos pela ordem jurídica, como é o caso da saúde humana.
	De fato, a Carta brasileira erigiu-o à categoria de um daqueles valores da ordem social, dedicando-lhe, a par de uma constelação de regras esparsas, um capítulo próprio que, definitivamente, institucionalizou o direito ao ambiente sadio como um direito fundamental do indivíduo.
	Deveras, a Constituição define o meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito de todos e lhe dá a natureza de bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo a corresponsabilidade do cidadão e do Poder Público pela sua defesa e preservação (art. 225, caput).
	Ao proclamar o meio ambiente como “bem de uso comum do povo”, foi reconhecida a sua natureza de “direito público subjetivo”, vale dizer, exigível e exercitável em face do próprio Estado, que tem também a missão de protegê-lo.
(…)
	Lembrando que a proteção do meio ambiente é pressuposto para o atendimento de outro valor fundamento – o direito à vida –, cuidou o ordenamento constitucional de prescrever uma série de garantias ou mecanismos capazes de assegurar a cidadania os meios de tutela judicial daquele bem (dentre outros: ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, ação civil pública, ação popular constitucional; mandado de segurança coletivo; mandado de injunção)” (Édis Milaré, 2007, p. 142/143).
	Em suma, o meio ambiente ecologicamente equilibrado é formalmente direito fundamental (previsão normativa) e materialmente direito fundamental (condição indispensável para a realização da dignidade da pessoa humana, fonte da qual provêm todos os direitos fundamentais). Dessa forma, possui todas as características dos direitos fundamentais: a) historicidade (decorre de conquistas por lutas dos povos em prol da defesa do meio ambiente); b) universalidade (dirige-se a toda a população mundial); c) irrenunciabilidade (o povo não pode abrir mão do direito ao equilíbrio ambiental); d) inalienabilidade (está fora do comércio); e) limitabilidade (são direitos relativos, pois nenhum direito fundamental é absoluto); e f) imprescritibilidade (não prescrevem pelo não exercício).
	Ademais, o meio ambiente ecologicamente equilibrado é presente no Brasil na dimensão objetiva e na subjetiva. A objetiva impõe diretrizes ambientais aos poderes constituídos e a toda a coletividade no sentido de respeitar a normatização para a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável. Logo, houve a irradiação desse direito fundamental às relações privadas, bem como a sua elevação à categoria de princípio constitucional. Da mesma forma, deflagrou-se a eficácia vinculante aos três Poderes da República, a sua aplicabilidade direta e eficácia imediata, inclusive entre terceiros, ou seja, entre seus pares, e não só entre particular e Estado. Por conseguinte, é possívelconcluir pela eficácia dirigente do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (pois este vincula os três Poderes do Estado na busca de sua efetivação) e pela eficácia irradiante (que norteia a interpretação e aplicação das disposições infraconstitucionais), da qual decorre a eficácia horizontal que alonga tal direito ao plano privado. Já a dimensão subjetiva fez nascer um direito prestacional positivo e negativo ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, em que todos os integrantes da sociedade brasileira são simultaneamente credores e devedores, obrigando-se a prestações de fazer ou não fazer, conforme prescrito pelas leis ambientais.
	São efeitos importantes do reconhecimento como direito fundamental[footnoteRef:2]: i) imprescritibilidade da pretensão de reparação do dano ambiental, em decorrência da imprescritibilidade dos direitos fundamentais; ii) vedação ao retrocesso ecológico e previsão de um mínimo existencial ecológico; iii) criação de deveres ambientais por simples ato regulamentar: efeito da eficácia imediata dos direitos fundamentais. [2: O STF já reconheceu, na ADPF n° 101, a existência dos “Princípios constitucionais (art. 225) a) do desenvolvimento sustentável e b) da equidade e responsabilidade intergeracional”, bem como que “a busca de desenvolvimento econômico sustentável” é um preceito fundamental. No julgamento, ratificou-se o entendimento manifestado na ADI 3.540-MC, no sentido de que a preservação do meio ambiente goza de regime de proteção especial, decorrente de sua própria expressão constitucional, enquanto direito fundamental que assiste à generalidade das pessoas. Ao final, o STF entendeu que a importação de pneus usados ou remoldados afronta os preceitos constitucionais de saúde e do meio ambiente ecologicamente equilibrado (arts. 170, inc. I e VI e seu parágrafo único, 196 e 225 da Constituição do Brasil).] 
Jurisprudência:
- É inconstitucional a revogação de Resolução do Conama que protegia o meio ambiente sem que ela seja substituída ou atualizada por outra que também garanta proteção O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado se configura como direito fundamental da pessoa humana. A mera revogação de normas operacionais fixadoras de parâmetros mensuráveis necessários ao cumprimento da legislação ambiental, sem sua substituição ou atualização, aparenta comprometer a observância da Constituição Federal, da legislação vigente e de compromissos internacionais. (STF. Plenário. ADPF 747 MC-Ref/DF, ADPF 748 MC-Ref/DF e ADPF 749 MC-Ref/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 27/11/2020 – Inf. 1000).
- Reconhecimento do status supralegal de tratado internacional ambiental (STF):
1) Segundo assinalou a Ministra Rosa Weber no seu voto, “porque veiculadoras de regimes protetivos de direitos fundamentais, as Convenções nº 139 e 162 da OIT, bem como a Convenção de Basileia, assumem, no nosso ordenamento jurídico, status de supralegalidade (...)” STF, ADI 4066/DF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Rosa Weber, j. 24.08.2017;
2) “O Poder Executivo tem o dever constitucional de fazer funcionar e alocar anualmente os recursos do Fundo Clima, para fins de mitigação das mudanças climáticas, estando vedado seu contingenciamento, em razão do dever constitucional de tutela ao meio ambiente (CF, art. 225), de direitos e compromissos internacionais assumidos pelo Brasil (CF, art. 5º, § 2º), bem como do princípio constitucional da separação dos poderes (CF, art. 2º, c/c o art. 9º, § 2º, LRF).” Voto do relator: “(...) 17. Na mesma linha, a Constituição reconhece o caráter supralegal dos tratados internacionais sobre direitos humanos de que o Brasil faz parte, nos termos do seu art. 5º, § 2º. E não há dúvida de que a matéria ambiental se enquadra na hipótese. Como bem lembrado pela representante do PNUMA no Brasil, durante a audiência pública: “Não existem direitos humanos em um planeta morto ou doente” (p. 171). Tratados sobre direito ambiental constituem espécie do gênero tratados de direitos humanos e desfrutam, por essa razão, de status supranacional. Assim, não há uma opção juridicamente válida no sentido de simplesmente omitir-se no combate às mudanças climáticas.” (STF, ADPF 708, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 04/07/2022).
II. Bens Ambientais
	Os bens ambientais são de uso comum do povo e têm como características serem autônomos, imateriais e de natureza difusa. A doutrina os classifica em: a) Meio Ambiente Natural (ou físico): são os elementos que existem mesmo sem a influência do homem. Art. 225, CRFB/88, Ex. solo, água, ar, fauna, flora; b) Meio Ambiente Artificial: são os elementos criados pelo homem, na interação com a natureza. Ex.: casa, prédio, art. 182, CRFB/88; c) Meio Ambiente Cultural: são os elementos criados ou utilizados pelo homem, mas que detém valor especial para a sociedade. Ex.: valor científico, turístico, cultural, arqueológico, ligado à cultura, à memória arts. 215 e 216, da CRFB/88; d) Meio Ambiente do Trabalho: consiste no ambiente de trabalho onde o homem exerce suas atividades laborais, podendo ser um espaço fechado ou aberto. Esse meio ambiente está previsto na CF no artigo 220, inciso VIII, tendo sido expressamente reconhecido pelo STF no julgamento da ADI 3540; e) Meio ambiente genético (controverso): o meio ambiente genético é composto pelos organismos vivos do planeta Terra, que formam a sua diversidade ecológica. A maioria da doutrina o entende abarcado no meio ambiente natural, contra Celso Antônio Pacheco Fiorillo e Terence Trennepohl.
	Discorrendo sobre bens ambientais, Édis Milaré destaca o seguinte:
	“a) O meio ambiente, bem de uso comum do povo, é bem público essencial considerado communes omnium, consistente no equilíbrio ecológico e na higidez do meio e dos recursos naturais. É bem comum, geral, difuso, indissociável da qualidade dos seus constitutivos e, por conseguinte, indivisível, indisponível e impenhorável. Esse bem é alvo necessário da solicitude do Poder Público e da coletividade, que devem, em conjunto, zelar continuamente por ele.
	b) Os recursos naturais de origem biótica ou abiótica, que ordinariamente mantêm inter-relações se inseridos num determinado ecossistema, são bens ambientais considerados res communes omnium; significa que são bens tangíveis, reificados ou “coisificados”, vale dizer, são “coisas”. E, na medida em que se inserem no bem maior, que, no caso, é a qualidade ambiental decorrente do equilíbrio entre as partes, eles são objetos de legislação específica, no que tange à propriedade, à preservação, à manutenção, ao domínio, ao usufruto, à sustentabilidade e a outros itens mais. Da proteção desses bens depende a qualidade geral do meio ambiente.
	c) Os bens chamados de culturais, que, sem dúvida, integram o patrimônio ambiental nacional, devem ser definidos como tais por meio de atos jurídicos e de gestão ambiental e, por isso, protegidos, mantidos e perpetuados. Sem embargo, devem ser tratados como res communes omnium, na medida em que traduzem criações especiais do espírito humano e da sociedade, representam a memória nacional, alimentam valores de ordem cultural e espiritual e contribuem para a qualidade de vida tomada como fato biológico ou como fato existencial.
	d) Em virtude da visão holística do meio ambiente, é necessário rever o conceito de “bens ambientais”: são os que integram o Patrimônio Ambiental Nacional, não apenas os “naturais”. Assim, todo recurso ou bem natural é ambiental; porém, nem todo bem ambiental é natural. De fato, o patrimônio ou os bens culturais não figuram no elenco dos elementos naturais, embora constituam objeto do Direito e da Gestão do Ambiente, sendo também alvo das políticas ambientais e da avaliação de impactos (...)”.
Inovações Legislativas: 
Constituição Federal
- Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1ºPara assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
(...)
VIII	- manter regime fiscal favorecido para os biocombustíveis destinados ao consumo final, na forma de lei complementar, a fim de assegurar-lhes tributação inferior à incidente sobre os combustíveis fósseis, capaz de garantir diferencial competitivo em relação a estes, especialmente em relação às contribuições de que tratam a alínea "b" do inciso I e o inciso IV do caput do art. 195 e o art. 239 e ao imposto a que se refere o inciso II do caput do reserava5 desta Constituição. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 123, de 2022)
Constituição Federal
Art. 20. São bens da União:
(...)
§ 1º É assegurada, nos termos da lei, à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 102, de 2019)
2A. Proteção jurídica da fauna
Gustavo Nitzsche (27/03/2023)
Conceito de fauna: conjunto de animais próprios de uma região ou de um período geológico (Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa). CF protege a fauna no art. 225, § 1º, VII, mas não a definiu. O inciso VII é de inspiração biocêntrica, com a proteção da fauna e da flora contra as intervenções humanas que coloquem em risco sua existência ou provoquem crueldade.
STF adota teoria do antropocentrismo mitigado ou moderado: desenvolvimento sustentável (utilização dos recursos naturais sem comprometer as gerações futuras) + bem-estar dos animais.
OBS: O Bürgerliches Gesetzbuch (BGB) − Código Civil alemão − dispõe sobre três gêneros: a pessoa, a coisa e o animal. Essa divisão resulta da natureza senciente do animal, bem como nós, seres humanos, proibindo, portanto, que ele receba o status de "coisa". (Pensa falar isso numa prova oral!)
	Visão antropocêntrica
	Visão biocêntrica
	Visão ecocêntrica
	Bem ambiental está voltado para a satisfação das necessidades humanas, protegendo “indiretamente” outras formas de vida.
	Animais não devem ser usados apenas com a finalidade do lucro. Deve-se proteger os seres vivos, analisando a natureza dos pontos de vista filosófico, econômico e jurídico.
	A natureza existe em si mesma e deve prevalecer sobre o homem. Trata da proteção da natureza do ponto de vista da Lei Espiritual que não pode ser tratada como um objeto útil em benefício do homem. Natureza não pode servir como meio de lucro, porque o valor intrínseco do mundo natural não nos pertence. Visão absolutamente contrária à antropocêntrica.
	CF, art. 225
Não impede que haja proteção de qualquer outra forma de vida, pois a proteção do meio ambiente ecologicamente equilibrado protege o próprio ser humano.
	CF, art. 225, § 1°, VII
+
Lei 6.938/81 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente)
	
Competência administrativa (material): comum (art. 23, VII, CF).
Competência legislativa: concorrente, com legislação suplementar municipal, cfe interesses locais.(arts. 24, VI e 30, I e II, CF).
STF (Pleno, jun/2017): Município tem competência para legislar sobre meio ambiente e controle da poluição, quando se tratar de interesse local. A competência para legislar sobre o meio ambiente é concorrente, cfe. art. 24, VI e VIII.
OBS: É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício ritual de animais em cultos de religiões de matriz africana (STF. Plenário. RE 494601/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 28/3/2019 (Info 935).
OBS: STF valida lei do RJ que proíbe testes em animais na indústria de higiene pessoal e limpeza. O colegiado entendeu que as regras estão dentro da competência dos entes federados para legislar sobre proteção ao meio ambiente e ao consumidor. O colegiado, contudo, invalidou trechos da mesma lei que proíbem a comercialização, no estado, de produtos derivados de testes animais vindos de outras unidades da federação e exigem que os rótulos informem que não houve testagem em animais. Por 6 votos a 5, prevaleceu o entendimento de que a lei invadiu a competência da União para legislar sobre comércio interestadual ​e sobre a discriminação de informações nos rótulos dos produtos. A ação ajuizada pela Associação Brasileira da indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), sob o argumento de que a Lei estadual 7.814/2017 contrariaria a Lei Arouca (Lei 11.794/2008), norma federal que autoriza pesquisas com animais para fins científicos. Para a associação, a lei invade a competência normativa da União para legislar sobre normas gerais em relação à proteção da fauna, e a proibição de venda de produtos de outros estados que não adotem as mesmas regras interfere indevidamente no comércio interestadual. O relator da ADI, ministro Gilmar Mendes, rechaçou o argumento do conflito legislativo. Ele explicou que a norma estadual tem objeto diverso da federal e lembrou que, na ADI 5996, o STF reconheceu a constitucionalidade de lei do Amazonas que também proíbe testes em animais para o desenvolvimentos dos mesmo produtos. Em seu entendimento, as leis estaduais que vedam a utilização de animais são legítimas, pois, além de não haver lei federal sobre o assunto, elas apenas estabelecem um patamar de proteção à fauna superior ao da União, mas dentro de suas competências constitucionais suplementares. Em relação à proibição de comercialização de produtos testados em animais sem a distinção de sua origem, Mendes considera que a norma invade a competência da União para legislar sobre comércio interestadual. O relator também julgou inválido o dispositivo que exige a informação, no rótulo do produto, de que não houve testes em animais. Segundo ele, essa regra entra na competência federal para legislar sobre produção e consumo, pois há diversas normas federais tratando da matéria. Essa vertente foi acompanhada pelos ministros Alexandre de Moraes, Roberto Barroso, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski e, suplementarmente, pelo ministro Nunes Marques. (ADI 5995).
Competências cfe LC 140/11:
→ União (art. 7º)
XVI - listar espécies da fauna e da flora ameaçadas de extinção e de espécies sobre-exploradas no território nacional, mediante laudos e estudos técnico-científicos, fomentando as atividades que conservem essas espécies in situ;
XVII - controlar a introdução no País de espécies exóticas potencialmente invasoras que possam ameaçar os ecossistemas, habitats e espécies nativas;
XVIII - aprovar a liberação de exemplares de espécie exótica da fauna e da flora em ecossistemas naturais frágeis;
XIX - controlar a exportação de componentes da biodiversidade brasileira na forma de espécimes silvestres da flora, micro-organismos e da fauna, partes ou produtos deles derivados;
XX - controlar a apanha de espécimes da fauna silvestre, ovos e larvas;
XXI - proteger a fauna migratória e as espécies inseridas na relação prevista no inciso XVI.
→ Estados/DF (art. 8º)
XVII - elaborar a relação de espécies da fauna e da flora ameaçadas de extinção no respectivo território, mediante laudos e estudos técnico-científicos, fomentando as atividades que conservem essas espécies in situ;
XVIII - controlar a apanha de espécimes da fauna silvestre, ovos e larvas destinadas à implantação de criadouros e à pesquisa científica, ressalvado o disposto no inciso XX do art. 7º;
XIX - aprovar o funcionamento de criadouros da fauna silvestre;
Obs.: no que diz respeito à fauna, não houve previsão expressa de competência administrativa municipal, o que não impede a atuação dos Municípios, pois se trata de competência comum.
Composição da fauna: 
	Animais silvestres
	Aqueles de quaisquer espécies, em qualquer fase de desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do seu cativeiro (art. 1°, Lei 5.197/67), sendo de propriedade do Estado, por disposição legal. Ainda quehaja indivíduos domesticados em determinada espécie, os outros da mesma espécie não perderão o atributo de silvestre.
Prevalece o entendimento de que são bens da União.
	Animais exóticos
	Aqueles cuja distribuição geográfica não inclui o território brasileiro.
	Animais domésticos
	Aqueles que vivem em cativeiro e dependentes do convívio humano.
Lei de Proteção à Fauna (Lei 5.197/67): restringiu tutela da fauna à silvestre e não à fauna doméstica. Logo, não é toda a fauna objeto de tutela. Tal limitação encontra guarida na CF, já que art. 225, § 1º, VII, protege a fauna na forma da lei, sendo esta integrada por meio da Lei 5.197/67. CF afirma que é lei ordinária quem define o conceito de fauna, sendo possível ampliar-se o conceito atual.
Justifica-se a tutela da fauna
 quando:
1) as espécies estão ameaçadas de extinção;
2) imprescindível à sua proteção ecológica; e
3) a lesão for praticada por meio de tratamento cruel.
É proibida a crueldade contra animais (CF não trouxe nenhuma exceção) mesmo em:
- rinhas de galo
- farra do boi
- vaquejadas (STF, Pleno, 6 x 5, out/2016 – apenas para lei do Ceará)
- manifestações religiosas
- benefício da ciência e da evolução do ser humano
- práticas alimentares (foie gras).
Após a declaração de inconstitucionalidade da lei cearense pelo STF, o Congresso aprovou a EC 96/2017. Esta é um claro exemplo de efeito backlash: reação conservadora de parcela da sociedade ou das forças políticas (em geral, do parlamento) diante de uma decisão liberal do Judiciário em um tema polêmico.
OBS: O backlash constitucional ocorre quando a Suprema Corte decide em um sentido, causando um efeito no outro sentido. Menciona-se a pena de morte nos EUA, onde, após ser proibida pela Suprema Corte, ganhou ainda mais força. Esse fenômeno costuma ocorrer com temas polêmicos, que dividem a sociedade. A partir dessa divisão, o grupo derrotado se organiza para tentar deslegitimar a decisão da Corte Constitucional e buscar com que ela não prevaleça, por intermédio de leis e políticas públicas em sentido contrário.
EC 96/2017 é inconstitucional?
Polêmico. Sim, se a EC ofender cláusula pétrea ou processo legislativo para edição de EC.
	
A proibição de que animais sofram tratamento cruel é considerada como uma garantia individual (art. 60, § 4º, IV)?
Sim, segundo o Prof. Márcio, do “Dizer o Direito”. Direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é direito fundamental de 3ª geração, não podendo ser abolido nem restringido, ainda que por EC. (aproximação de uma visão ecocêntrica do meio ambiente).
Outro precedente que carece de destaque, dispõe que o longo convívio com animal silvestre, como um papagaio, pela razoabilidade, legitima que o particular com ele permaneça. Nesse sentido, posicionou-se o STJ, em julgado de 2017 (AgInt no REsp n0 1.389.418/PB, rel. Min. Og Fernandes), afirmando que não é plausível a apreensão do animal se verificada “a longa permanência da ave no convívio doméstico com a autora, a ausência de maus-tratos e o evidente prejuízo para o animal na hipótese de reintegração ao seu habitat natural”, posto que a Lei de Caça prevê que os animais silvestres são bens da União e que, em tese, se for cumprida a letra fria da lei, haveria a apreensão do animal. Portanto, o direito de apreensão do animal não é razoável, exclusivamente sob a ótica da estrita legalidade. Há que se perquirir sobre o propósito e finalidade da Lei Ambiental. De maneira teleológica, bem como o ECA deve atender ao melhor interesse da criança, o Direito Ambiental deve atender à melhor proteção do animal. Salienta-se que há outros precedentes do STJ na mesma linha (REsp n0 1.425.943/RN, 2014, rel. Min. Herman Benjamin), afirmando que “o particular que, por mais de vinte anos, manteve adequadamente, sem indício de maus- tratos, duas aves silvestres em ambiente doméstico, pode permanecer na posse dos animais”. No entendimento explicitado, deixou-se de aplicar o art. 1º da Lei nº 5.197/1967, diploma legal da fase fragmentária, que se preocupava com o valor econômico e dispunha que o animal era propriedade do Estado. No âmbito criminal, o STJ, em casos de guarda doméstica de animais por vários anos, tem aplicado o perdão judicial previsto no art. 29, § 2º, da Lei nº 9.605/1998. Ressalta-se que, nos termos da Súmula nº 18 do STJ, o perdão judicial é causa de extinção da punibilidade e, por conseguinte, não há qualquer efeito condenatório.
Caça:
No Brasil, a caça profissional é proibida (Lei 5.197/67, art. 2º), sendo possível a autorização de:
1) caça amadorista (finalidade esportiva): argumenta-se que este tipo de caça deveria ser proibido, pois a CF veda práticas que submetam os animais à crueldade, adotando um viés biocentrista. Atualmente, só Rio Grande do Sul regulamentou a caça esportiva, mas seu exercício está suspenso desde 2005.
2) caça de controle: visa à destruição de animais silvestres nocivos à agricultura ou à saúde pública.
Por sua vez, o art. 14 da Lei 5.197/67 permite a caça científica (esta se subdivide em letal ou não letal).
A caça de subsistência ou de sobrevivência não está prevista explicitamente pela lei. Praticam-na as populações indígenas nas reservas reconhecidas, como as populações interioranas que não têm acesso fácil aos produtos oriundos da fauna domesticada, sendo também permitida.
OBS: Norma estadual pode proibir a caça em seu território. Não afronta a competência legislativa da União o dispositivo de constituição estadual que proíbe a caça em seu respectivo território. (STF. Plenário. ADI 350/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 18/6/2021 (Info 1022)).
Comercialização da fauna silvestre: 
É proibido o comércio de espécimes da fauna silvestre e de seus produtos e objetos, exceto os provenientes de criadouros previamente legalizados (Lei 5.197/67, art. 3º).
Também é proibida a inserção de espécie no Brasil sem licenciamento ambiental, de competência do IBAMA, bem como proibida a exportação de peles e couros de anfíbios e répteis, em bruto.
Utilização de animais em ensino e pesquisa:
É possível uso de animais em pesquisas científicas. Deve haver minimização da dor e do sofrimento. Deve obedecer aos critérios estabelecidos na Lei 11.794/2008, que restringe a utilização em atividades educacionais em estabelecimentos de ensino superior e em estabelecimentos de educação profissional técnica de nível médio da área biomédica.
Pesca: depende de autorização do órgão ambiental competente. Há proibição:
I – em épocas e locais definidos pelo órgão competente;
II – quanto às espécies que devam ser preservadas ou com tamanhos não permitidos pelo órgão competente;
III – sem licença, permissão, concessão, autorização ou registro expedido pelo órgão competente;
IV – em quantidade superior à permitida pelo órgão competente;
V – em locais próximos ao lançamento de esgoto nas águas, com distância estabelecida em norma específica;
VI – em locais que causem embaraço à navegação;
VII – mediante a utilização de explosivos ou técnicas com efeito semelhante, substâncias tóxicas e métodos não permitidos ou predatórios (Lei nº 11.959/09, art. 5º, §1º).
Obs.: também é proibida a pesca de cetáceos no Brasil, a exemplo das baleias, botos e golfinhos (Lei 7.643/87).
Práticas vedadas: colocam em risco a função ecológica ou provocam extinção de espécies da fauna.
(a) caça profissional;
(b) pesca clandestina com explosivos; e
(c) introdução de espécies exóticas ou alienígenas (atualmente, esta é a 2ª causa mais significativa de perda de biodiversidade, superada somente pelo desmatamento).
Fonte: Direito Ambiental. Frederico Amado, 2017, 5ª ed.
Elaborado por Robert Rigobert Lucht.
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OBS: Não é permitido o abate de animais apreendidos em situação de maus-tratos (STF. Plenário. ADPF 640 MC-Ref/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/9/2021 (Info 1030)). Segundo Gilmar, o parágrafo 2º do artigo 25 da Lei 9.605/98 firmao dever do poder público de zelar pelo "bem estar físico" dos animais apreendidos, até a entrega às instituições adequadas como jardins zoológicos, fundações ou entidades assemelhadas. Portanto, o ministro concluiu que se observa a instrumentalização da norma de proteção constitucional à fauna e de proibição de práticas cruéis, com a adoção de decisões que violam o artigo 225, parágrafo 1º, VII, da CF/88, invertendo a lógica de proteção dos animais apreendidos em situação de maus tratos para estabelecer, como regra, o abate.
2B. Classificação dos Atos Administrativos. A Responsabilização por Atos Lesivos à Administração Pública Nacional e Estrangeira de Acordo com a Lei nº 12.846/2013.
Germano 27/03/2023
I. Classificação dos Atos Administrativos
1. Classificação pelo Critério da Intervenção da Vontade Administrativa (=classificação quanto à formação do ato): 
a) Atos Simples: emanam da vontade de um só órgão (ainda que colegiado) ou agente. A manifestação de vontade deste órgão/agente basta para a perfeição do ato.
b) Atos Complexos: segundo CARVALHO FILHO, “são aqueles cuja vontade final da Administração exige a intervenção de agentes ou órgãos diversos, havendo certa autonomia, ou conteúdo próprio, em cada uma das manifestações. A segunda vontade é elemento de existência do ato, há conjugação de vontades entre os órgãos administrativos. Exemplo: a investidura do Ministro do STF se inicia pela escolha do Presidente da República; passa, após, pela aferição do Senado Federal; e culmina com a nomeação (art. 101, parágrafo único, CF)”. Nesse caso, os órgãos concorrem para a formação de um único ato, sendo outro exemplo a aposentadoria dos servidores públicos, que depende de manifestação da entidade administrativa e do tribunal de contas. 
Obs.: Súmula Vinculante nº 03: “Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão”. Explicação: sendo o ato de aposentadoria um ato complexo, ele apenas se perfectibiliza com a manifestação do Tribunal de Contas. Por isso, o prazo decadencial referido na Lei 9.487/99, o qual apenas começa a fluir com a publicação dessa manifestação (STF, MS 25.552, Tribunal Pleno, 2008). Registre-se que, em homenagem ao princípio da segurança jurídica, o STF fixou o entendimento de que o TCU deverá assegurar a ampla defesa e o contraditório nos casos de controle externo de legalidade para o registro de aposentadorias e pensões, quando for ultrapassado o período de cinco anos da chegada do processo administrativo no TCU sem que haja a sua manifestação (STF, MS 24.781, Tribunal Pleno, 2011). A jurisprudência do STF, antes do RE 636553/RS (Tema 445), havia construído uma exceção à SV 3: se o Tribunal de Contas tivesse demorado mais do que 5 anos para analisar a concessão inicial da aposentadoria, ele teria que permitir contraditório e ampla defesa ao interessado. Essa exceção deixou de existir com o julgamento do RE 636553/RS. O STF passou a dizer que, se o Tribunal de Contas demorar mais que 5 anos para julgar a aposentadoria, reforma ou pensão, o ato é considerado definitivamente registrado. “Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de Contas estão sujeitos ao prazo de cinco anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte de Contas. STF. Plenário. RE 636553/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/2/2020 (repercussão geral – Tema 445) (Info 967).”
Obs2. Cabe pontuar também que, “tratando-se, na impetração, de ato complexo, já aperfeiçoado, tem- se, como autoridade coatora, aquela que atuou na última etapa, formalizando-o” (STF, MS 24.872/DF). 
c) Atos Compostos: também são formados pela manifestação de dois órgãos, contudo um define o conteúdo do ato (ato principal) e o outro órgão verifica sua legitimidade (ato acessório). Para alguns, a segunda vontade é condição de exequibilidade, o ato já existe, é válido e eficaz. - “Enquanto a vontade do primeiro órgão é a responsável pela elaboração do ato, a manifestação do segundo órgão possui caráter instrumental ou complementar (ex.: parecer elaborado por agente público que depende do visto da autoridade superior para produzir efeitos)”, consoante leciona Rafael Carvalho (p. 292, 2015). CARVALHO FILHO: “não se compõem de vontades autônomas, embora múltiplas. Há, na verdade, uma só vontade autônoma, ou seja, de conteúdo próprio. As demais são meramente instrumentais, porque se limitam à verificação de legitimidade do ato de conteúdo próprio. Exemplo: um ato de autorização sujeito a outro ato confirmatório, um visto”. Vale salientar que Celso Antônio Bandeira de Mello e Diógenes Gasparini não fazem referência aos atos compostos. 
2. Classificação quanto à Formação: 
a) Ato Unilateral: é aquele que se forma com a manifestação de vontade de uma única parte (ex.: demissão de um funcionário, multas, autorizações, o ato do CSMPF que homologa a vitaliciedade do Procurador da República). Não afeta a unilateralidade a circunstância de o ato depender, para a sua produção ou para os seus efeitos, do concurso da vontade do particular, seja solicitando-lhe a prática, seja aceitando os seus efeitos (p. ex.: um pedido de alvará de licença para edificar ou de autorização para o porte de arma ou de aceitação da outorga de um prêmio, de uma comenda etc.).
b) Ato Bilateral: é aquele formado por um acordo de vontade entre as partes. São os atos convencionais (ex.: contrato administrativo, concessão de serviço público); 
c) Ato Multilateral: é aquele formado pela manifestação de vontade de várias partes (ex.: convênio). 
3. Classificação pelo Critério dos Destinatários: 
a) Atos Individuais (concretos): destinam-se a um ou vários sujeitos determinados. Havendo apenas um destinatário, trata-se de ato individual único/singular. Sendo dois ou mais destinatários, temos um ato individual plúrimo/múltiplo. Ex.: decreto que declara a utilidade pública de imóvel para fins de desapropriação. Basta a comunicação ao atingido, não dependem de publicação para produzir efeitos.
b) Atos Gerais (normativos): “possuem como destinatários pessoas indeterminadas que se encontram na mesma situação jurídica (ex.: decreto que regulamenta a legislação ambiental)”. Dependem de publicação.
4. Classificação quanto à estrutura:
a. Atos concretos: regula apenas um caso, esgotando-se após essa aplicação. Ex.: desapropriação de determinado imóvel.
b. Atos abstratos ou normativos: regula quantidade indeterminável de situações concretas. Tem sempre aplicação continuada. Ex.: regulamento.
5. Classificação quanto ao objeto:
a. Atos de império: praticados pela Administração em posição de superioridade ao particular. Ex.: multa.
b. Atos de gestão: praticados pela Administração em posição de igualdade ao particular. São regidos pelo direito privado. Ex.: locação de imóvel.
c. Atos de expediente: dão andamento a processos administrativos, são de rotina interna. São praticados por agente subalternos sem competência decisória. Ex.: numeração dos autos do processo.
6. Classificação quanto aos efeitos:
a. Atos constitutivos: criam situação jurídica nova. Ex. exoneração de servidor.
b. Atos declaratórios: afirmam direito preexistente, reconhecendo-o com efeitos retroativos. Ex.: aposentadoria compulsória.
II. A Responsabilização por Atos Lesivos à Administração Pública Nacional e Estrangeira de Acordo com a Lei nº 12.846/2013
1. Noções Gerais
A Lei nº 12.846/2013 (Lei Anticorrupção Empresarial - LAE) disciplina os ilícitos praticados por pessoas jurídicas contra a Administração Pública nacional ou estrangeira. A LAEfoi influenciada pela “Convenção sobre o Combate à Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais” - OCDE - (vigência no Brasil: 2000) e pela “Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção - Convenção de Mérida” (vigência no Brasil: 2006). A LAE faz parte do microssistema de tutela coletiva. Os bens jurídicos tutelados são parecidos com os da LIA, cujos campos de proteção são convergentes, apesar de não serem iguais. A LAP e a LIA tutelam o patrimônio público nacional; a LAE também tutela o patrimônio público estrangeiro, sendo inovadora. O patrimônio público tutelado abrange a parcela econômica e não-econômica.
A referida lei traz uma responsabilização objetiva da pessoa jurídica nos âmbitos administrativo e civil. Os dirigentes, administradores, bem como qualquer pessoa natural autora, coautora ou partícipe do ato ilícito, respondem subjetivamente e sua responsabilidade se limita à dimensão ressarcitória. Não há litisconsórcio passivo necessário (Art. 3º, § 1º da LAE).
As pessoas jurídicas que funcionam como sujeitos ativos do ato lesivo podem ser nacionais ou estrangeiras, sendo sociedades empresárias, sociedades simples, personificadas ou não, independentemente da forma de organização ou modelo societário adotado, bem como quaisquer fundações, associações de entidades ou pessoas, ou sociedades estrangeiras que tenham sede, filial ou representação no território brasileiro, constituídas de fato ou de direito, ainda que temporariamente. A LAE se aplica às empresas estatais de forma mitigada: as infrações administrativas podem ser aplicadas, já as judiciais somente o perdimento dos bens, direitos ou valores que representem vantagem ou proveito direta ou indiretamente obtidos da infração, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé (Estatuto das Estatais, Art. 94. Aplicam-se à empresa pública, à sociedade de economia mista e às suas subsidiárias as sanções previstas na Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, salvo as previstas nos incisos II, III e IV do caput do art. 19 da referida Lei).
A regra é a aplicação da LAE para fatos ocorridos em território nacional (territorialidade), mas há hipótese de extraterritorialidade (Art. 28. Esta Lei aplica-se aos atos lesivos praticados por pessoa jurídica brasileira contra a administração pública estrangeira, ainda que cometidos no exterior). Utiliza-se o critério da nacionalidade ativa (a LAE só alcança condutas praticadas no exterior por empresas brasileiras). Parte da doutrina entende tratar-se de extraterritorialidade incondicionada; outros entendem pela extraterritorialidade condicionada, utilizando-se por analogia os critérios da lei penal, com adaptações necessárias (previsão da infração no país em que praticada; ausência de absolvição no exterior etc.).
Importante destacar que a responsabilidade da pessoa jurídica subsiste mesmo nas hipóteses de alteração contratual, transformação, incorporação, fusão ou cisão societária. No entanto, nas hipóteses de fusão e incorporação, a responsabilidade da sucessora será restrita à obrigação de pagamento de multa e reparação integral do dano causado, até o limite do patrimônio transferido, não lhe sendo aplicáveis as demais sanções previstas na lei decorrentes de atos e fatos ocorridos antes da data da fusão ou incorporação, exceto no caso de simulação ou evidente intuito de fraude, devidamente comprovados.
Além disso, as sociedades controladoras, controladas, coligadas ou, no âmbito do respectivo contrato, as consorciadas serão solidariamente responsáveis pela prática dos atos previstos na Lei nº 12.846/2013, restringindo-se tal responsabilidade à obrigação de pagamento de multa e reparação integral do dano causado.
No que se refere ao sujeito passivo do ato lesivo, este pode ser a Administração Pública nacional ou estrangeira. Segundo a lei, consideram-se Administração Pública estrangeira os órgãos e entidades estatais ou representações diplomáticas de país estrangeiro, de qualquer nível ou esfera de governo, bem como as pessoas jurídicas controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público de país estrangeiro. Para os efeitos da lei, equiparam-se à Administração Pública estrangeira as organizações públicas internacionais.
Saliente-se que a aplicação das sanções da Lei nº 12.846/2013 não afeta os processos de responsabilização e aplicação de penalidades decorrentes de ato de improbidade administrativa (Lei nº 8.429/1992) nem de atos ilícitos alcançados pela Lei nº 8.666/1993 (atual Lei n. 14.133/21) ou outras normas de licitações e contratos da administração pública, inclusive no tocante ao Regime Diferenciado de Contratações Públicas - RDC instituído pela Lei nº 12.462/2011. OBS. LIA, art. 3º (...) § 2º As sanções desta Lei não se aplicarão à pessoa jurídica, caso o ato de improbidade administrativa seja também sancionado como ato lesivo à administração pública de que trata a Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)	
2. Atos Lesivos
O art. 5º, da Lei Anticorrupção, traz os atos lesivos passíveis de sancionamento. As duas hipóteses de responsabilização (civil e administrativa) são decorrentes da prática das infrações previstas em tal rol. 
Art. 5o  Constituem atos lesivos à administração pública, nacional ou estrangeira, para os fins desta Lei, todos aqueles praticados pelas pessoas jurídicas mencionadas no parágrafo único do art. 1o, que atentem contra o patrimônio público nacional ou estrangeiro, contra princípios da administração pública ou contra os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, assim definidos: I - prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a agente público, ou a terceira pessoa a ele relacionada; II - comprovadamente, financiar, custear, patrocinar ou de qualquer modo subvencionar a prática dos atos ilícitos previstos nesta Lei; III - comprovadamente, utilizar-se de interposta pessoa física ou jurídica para ocultar ou dissimular seus reais interesses ou a identidade dos beneficiários dos atos praticados; IV - no tocante a licitações e contratos: a) frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o caráter competitivo de procedimento licitatório público; b) impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer ato de procedimento licitatório público; c) afastar ou procurar afastar licitante, por meio de fraude ou oferecimento de vantagem de qualquer tipo; d) fraudar licitação pública ou contrato dela decorrente; e) criar, de modo fraudulento ou irregular, pessoa jurídica para participar de licitação pública ou celebrar contrato administrativo; f) obter vantagem ou benefício indevido, de modo fraudulento, de modificações ou prorrogações de contratos celebrados com a administração pública, sem autorização em lei, no ato convocatório da licitação pública ou nos respectivos instrumentos contratuais; ou g) manipular ou fraudar o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos celebrados com a administração pública; V - dificultar atividade de investigação ou fiscalização de órgãos, entidades ou agentes públicos, ou intervir em sua atuação, inclusive no âmbito das agências reguladoras e dos órgãos de fiscalização do sistema financeiro nacional.
3. Responsabilização Administrativa e Processo Administrativo de Responsabilização
A Lei 12.846/13 regulamenta duas sanções a serem aplicadas à pessoa jurídica na esfera administrativa. 
Nesta linha, na esfera administrativa, é possível a aplicação da sanção de multa, sendo que essa multa vai ser de 0,1% a 20% do faturamento bruto no último exercício anterior ao da instauração do processo administrativo, excluídos os tributos. 
Contudo, consoante a lei, quando não for possível aferir o faturamento bruto da pessoa jurídica nos moldes requeridos pela Lei nº 12.846/2013, serão substituídos os valores percentuais por valores fixos e aí, nesse caso, a sanção de multa vai variar de 6.000 reais a 60 milhões de reais.
Independentemente do critério, a multa nunca poderá ser inferior à vantagemauferida.
Além da multa, a lei prevê a sanção de publicação extraordinária da condenação. 
A lei define que compete ao administrador público, fundamentadamente e justificadamente, dentro do livre convencimento motivado, determinar a aplicação dessas sanções administrativas de multa e publicação extraordinária da condenação de forma isolada ou cumulativa. 
Saliente-se que essas sanções de multa e de publicação extraordinária da condenação não impedem o dever reparação do dano.
A responsabilidade administrativa depende de um processo administrativo, que é regulamentado pela própria Lei nº 12.846/2013. 
A autoridade máxima de cada órgão ou entidade dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário tem a competência para instaurar e julgar o processo administrativo, admitindo a lei a possibilidade de delegação e vedando a subdelegação. A Lei nº 12.846/2013 atribui igual competência à Controladoria-Geral da União, no âmbito do Poder Executivo, podendo a CGU avocar processos instaurados por outras autoridades, para análise de sua regularidade ou para corrigir seu andamento. 
O processo é conduzido por comissão, composta por dois ou mais servidores estáveis, designada pela autoridade instauradora. Deve ser concluído no prazo de 180 dias, prorrogável mediante ato fundamentado da autoridade instauradora. O processo administrativo segue o seguinte trâmite: instauração (fase de competência da autoridade instauradora), defesa, apresentação de relatório sobre os fatos, com sugestão de responsabilização da pessoa jurídica e das sanções a serem aplicadas e julgamento (fase de competência da autoridade instauradora). 
Após o julgamento, as sanções administrativas podem ser aplicadas de imediato, sem prejuízo da instauração de processo administrativo para reparação integral do dano. Concluído o processo e não havendo pagamento, o crédito apurado será inscrito em dívida ativa da fazenda pública.
A lei regulamenta também a possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica todas as vezes que a pessoa jurídica tiver sido criada como uma forma de fraudar, de abusar do direito. Saliente-se que não é possível desconsiderar a pessoa jurídica pura e simplesmente pelo ato lesivo à Administração Pública. Para que seja possível a desconsideração da personalidade jurídica, é preciso que a pessoa jurídica tenha sido criada com o propósito de fraudar a lei.
DECRETO Nº 11.129/22: regulamenta a LAE em âmbito federal, disciplinando também os chamados “PROGRAMAS DE INTEGRIDADE” (COMPLIANCE), baseados no tripé prevenção, detecção e punição dos desvios. Tais programas não são obrigatórios para as empresas, mas sua existência pode funcionar como atenuante de penas. (Art. 56.  Para fins do disposto neste Decreto, programa de integridade consiste, no âmbito de uma pessoa jurídica, no conjunto de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e na aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta, políticas e diretrizes, com objetivo de: I - prevenir, detectar e sanar desvios, fraudes, irregularidades e atos ilícitos praticados contra a administração pública, nacional ou estrangeira; e II - fomentar e manter uma cultura de integridade no ambiente organizacional. Parágrafo único.  O programa de integridade deve ser estruturado, aplicado e atualizado de acordo com as características e os riscos atuais das atividades de cada pessoa jurídica, a qual, por sua vez, deve garantir o constante aprimoramento e a adaptação do referido programa, visando garantir sua efetividade).
4. Responsabilização Judicial
A Lei 12.846/13 também regulamenta a responsabilização judicial da pessoa jurídica. A responsabilização judicial é uma responsabilização civil.
Necessariamente, para que haja a responsabilização civil dessa pessoa jurídica, tem que haver uma ação judicial. A lei prevê a competência da União, Estados, DF e Municípios para, por meio das respectivas Advocacias Públicas ou órgãos de representação judicial ou equivalente, bem como do Ministério Público, ajuizar tal ação, que seguirá o rito da Lei nº 7.347/1985 (Lei da Ação Civil Pública) – legitimidade concorrente e disjuntiva. Quando não for o autor, o MP atuará como fiscal da ordem jurídica (art. 5º, § 1º, LACP).
Além da reparação do dano (que é possível tanto na esfera administrativa, como na esfera civil), a lei regulamenta, no art. 19, algumas sanções civis que podem ser aplicadas, isolada ou cumulativamente, por meio de decisão judicial. São elas: 
I - perdimento dos bens, direitos ou valores que representem vantagem ou proveito direta ou indiretamente obtidos da infração, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé;
II - suspensão ou interdição parcial de suas atividades;
III - dissolução compulsória da pessoa jurídica;
IV - proibição de receber incentivos, subsídios, subvenções, doações ou empréstimos de órgãos ou entidades públicas e de instituições financeiras públicas ou controladas pelo poder público, pelo prazo mínimo de 1 (um) e máximo de 5 (cinco) anos.
A sanção de dissolução compulsória da pessoa jurídica somente poderá ser aplicada quando comprovado: a) ter sido a personalidade jurídica utilizada de forma habitual para facilitar ou promover a prática de atos ilícitos; ou b) ter sido constituída para ocultar ou dissimular interesses ilícitos ou a identidade dos beneficiários dos atos praticados.
Importante mencionar que é possível a aplicação das sanções administrativas (vistas no tópico 3) em sede de ação civil. Se, na esfera administrativa, não forem aplicadas as sanções administrativas (multa e publicação extraordinária da decisão condenatória) em razão de uma inércia da Administração, o juiz pode aplicar essas sanções, caso a ação judicial tenha sido proposta pelo Ministério Público.
5. Acordo de Leniência
A Lei Anticorrupção traz a possibilidade de ser firmado um acordo de leniência. No entanto, tal temática é objeto do subponto 4.b.
6. Cadastro Nacional de Empresas Punidas – CNEP
O art. 22, da Lei nº 12.846/2013, cria, no âmbito do Executivo Federal, o Cadastro Nacional de Empresas Punidas – CNEP, que tem o propósito de dar publicidade às sanções impostas às pessoas jurídicas infratoras. 
Depois de decorrido o prazo estabelecido no ato sancionador ou do cumprimento integral do acordo de leniência e da reparação do dano causado, os registros das sanções e acordos de leniência serão excluídos. 
7. Prescrição
Tanto na esfera administrativa, como na esfera judicial, o prazo prescricional para apuração das infrações é de cinco anos, contados da ciência da infração ou, no caso de infração permanente ou continuada, do dia em que houver cessado. A interrupção da prescrição, também nas duas searas, acontece com a instauração de processo que tenha como objeto a apuração da infração (art. 25, paragrafo único). A celebração do acordo de leniência também interrompe a prescrição (art. 16, § 9º)
2C. Limitações administrativas. Ocupação temporária. Requisição. Servidão. Parcelamento, edificação ou utilização compulsórios
Gustavo Nitzsche (27/03/2023)
Limitações administrativas são limitações impostas por ato administrativo genérico, não destinado a propriedades determinadas, visando atender ao interesse público por meio de obrigações de não fazer ou fazer. Atingem o caráter absoluto do direito de propriedade (o poder de usar, gozar e dispor da coisa). A limitação não acarreta o direito de indenização, salvo se indevida ou ilegal, gerando a apuração da responsabilidade civil e o consequente dever de indenizar o prejuízo causado. também é possível a indenização se a limitação esvazia economicamente a propriedade.
 Exemplo: obrigação de limpar terrenos (positiva) e proibição de construir além de determinado número de andares (negativa). A propósito, “a pretensão reparatória do esvaziamento do conteúdo econômico da propriedade decorrente de limitações administrativas prescreve em cinco anos, nos termos do art. 10, parágrafo único, do Decreto-Lei n. 3.365/1941” (STJ, AgRg no REsp 1.317.806-MG,j. 6.11.12).
OBS: As limitações administrativas alcançam apenas bens imóveis, jamais bens móveis. “O poder de polícia corresponde à atividade estatal por meio da qual são impostas condições, vedações ou limitações ao exercício de bens, direitos e atividades. 
As limitações administrativas correspondem a um dos aspectos por meio do qual o poder de polícia atua. Seu âmbito de alcance é, todavia, mais restrito, e alcança tão somente o exercício da propriedade imobiliária.
Ocupação temporária corresponde ao aproveitamento de propriedade imóvel particular para utilização temporária pelo Poder Público, para a execução de obras, serviços ou atividades públicas ou de interesse público. Tem previsão no art. 36 do Decreto-Lei nº 3.365/41, o qual determina que somente imóveis não edificados poderão ser ocupados.
 A indenização é condicionada à ocorrência de prejuízo ao proprietário. A instituição ocorre pelo ato da autoridade administrativa competente, que deverá fixar, desde logo, a indenização devida (se for o caso). Sua extinção se dá com a conclusão da obra ou serviço. Pode ser transferida para a Administração indireta. Para José dos Santos Carvalho Filho, a ocupação temporária é a forma de intervenção pela qual o Poder Público usa transitoriamente imóveis privados como meio de apoio à execução de obras e serviços públicos (ex.: utilização de terrenos particulares contíguos a estradas). Difere da requisição pelo fato de que nesta há uma situação emergencial de perigo público. Na ocupação vinculada à desapropriação haverá indenização (art. 36, Decreto-lei 3.365/41) e o ato não terá autoexecutoriedade; na desvinculada, somente indeniza-se havendo comprovado prejuízo.
Requisição ATENÇÃO! ESSE ASSUNTO CAIU NA QUESTÃO N°32 DO 30° CONCURSO DO MPF.
“É o ato pelo qual o Estado, em proveito de um interesse público, constitui alguém, de modo unilateral e autoexecutório, na obrigação de prestar-lhe um serviço ou ceder-lhe transitoriamente o uso de uma coisa “in natura”, obrigando-se a indenizar os prejuízos que tal medida efetivamente acarretar ao obrigado” (JSCF, p. 912).Todos os entes poderão efetivar a requisição administrativa, desde que presentes os requisitos constitucionais e legais. No entanto, somente a União pode sobre ela legislar (art. 22, III, CR). É possível nos casos de iminente perigo público, tempo de guerra, ou quando haja outra autorização legal. O STJ considerou como requisição a retenção das quantias depositadas em cadernetas de poupança, quando da implementação do Plano Collor (Lei nº 8.024/90) (REsp 178.073/RS, Rel. Ministro Humberto Gomes de Barros, 1ª T, j. 05/10/1999, DJ 29/11/1999, p. 124). Somente haverá indenização ulterior e condicionada à existência de prejuízo. Ela pode ser decretada de imediato, não dependendo de prévia autorização judicial. Sua extinção se dá assim que desapareça a situação de perigo público iminente ou a situação que ensejou a requisição. Ela é um ato de império do Poder Público, discricionária quanto ao objeto e oportunidade, mas condicionada à existência de perigo público iminente e vinculada à lei quanto à competência da autoridade requisitante, à finalidade do ato e ao procedimento adequado. É possível a requisição a título definitivo de bens móveis fungíveis. No caso da requisição definitiva de bens móveis infungíveis há, em verdade, desapropriação.
OBS: Jurisprudência recente do STF:
O art. 5º, XXV CF menciona que poderá a requisição incidir sobre a propriedade particular, entretanto, a Lei do SUS (lei nº 8.080) prevê, em seu art. 15, que a requisição pode atingir bens e serviços públicos. Entretanto, O Supremo Tribunal Federal (STF) julgou procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3454 e reafirmou entendimento de que constitui ofensa ao princípio federativo a requisição administrativa de bens ou serviços por uma unidade federativa a outra. A possibilidade de requisição pela União de bens públicos afetados ao desempenho de competências dos entes federativos diversos subverte a própria repartição constitucional de competências administrativas em desfavor da autonomia e equilíbrio do pacto federativo sendo, portanto, flagrantemente inconstitucional. 
Servidão administrativa “é o direito real que ssujeita um bem [imóvel] a suportar uma utilidade pública, por força da qual ficam afetados parcialmente os poderes do proprietário quanto ao seu uso ou gozo” (CABM). Na servidão há um verdadeiro sacrifício, embora parcial, do direito. Nelas atingem-se bens concreta e especificamente determinados. Nas servidões administrativas há um ônus real, de tal modo que o bem gravado fica em um estado de especial sujeição à utilidade pública, proporcionando um desfrute direto, parcial, do próprio bem (singularmente fruível pela Administração ou pela coletividade em geral). Nelas há uma obrigação de suportar. Por ser direito real, deverá ser averbada no Cartório de Registro de Imóveis a fim de produzir eficácia erga omnes. Seguindo procedimento semelhante ao da desapropriação (art. 40 do DL 3365/41), as servidões exigem prévia declaração de utilidade pública e podem ser instituídas por acordo administrativo entre o Poder Público e o particular (por escritura pública), ou por sentença judicial, no caso de dissenso. Caso o Poder Público instale a servidão sem acordo prévio (servidão manu militari), caberá ao proprietário pleitear judicialmente o reconhecimento da servidão, pedindo a indenização cabível. Deverão ser citados nessa ação os proprietários e os eventuais possuidores, já que suas esferas jurídicas serão afetadas. As servidões devem ser indenizadas sempre que impliquem real declínio da expressão econômica do bem ou subtraiam de seu titular uma utilidade que frua. A indenização será prévia nunca poderá corresponder ao valor do imóvel, já que a servidão não é causa de perda da propriedade. Entretanto, poderá ocorrer que o Poder Público dissimule a desapropriação como se servidão fosse, esvaziando o proveito econômico proporcionado pela propriedade. Nesse caso, caberá indenização integral, já que configurada a desapropriação indireta. 
Pontue-se que, conforme Súmula 56/STJ, “Na desapropriação para instituir servidão administrativa são devidos os juros compensatórios pela limitação de uso da propriedade. Carvalho Filho entende que, por força do art. 40 do DL 3365/41, aplica-se às servidões, o art. 2, § 2, do referido Decreto-lei, que diz que “Os bens do domínio dos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios poderão ser desapropriados pela União, e os dos Municípios pelos Estados, mas, em qualquer caso, ao ato deverá preceder a autorização legislativa”. 
Havendo concomitâncias, deve prevalecer a servidão da União. O artigo adota o critério da abrangência do interesse, havendo um escalonamento: nacional, regional e local (assim, município não pode instituir servidão sobre bem da União). A servidão é permanente, e se mantém até a consecução definitiva dos objetivos originários de sua criação. Entretanto, caso o bem se perca, caso seja incorporado ao patrimônio público ou desapareça o interesse público, a servidão se extinguirá. O prazo prescricional da pretensão indenizatória é de 5 anos. O art. 10, §único do DL 3.365, prevê que: Parágrafo único. Extingue-se em cinco anos o direito de propor ação que vise a indenização por restrições decorrentes de atos do Poder Público. 
O tombamento busca proteger o patrimônio cultural, artístico, estético, histórico e paisagístico. Poderá recair tanto sobre bens móveis quanto imóveis devendo ser corpóreos. Pode ser geral (ex: Ouro Preto) ou de um bem específico. Em regra, não enseja indenização. Se acarretar a impossibilidade total de exercício dos poderes inerentes ao domínio, será ilegal e implicará desapropriação indireta, dando direito à indenização integral dos prejuízos sofridos. O tombamento pode ser voluntário (o proprietário consente ou solicita o tombamento), compulsório (há resistência do proprietário) ou de ofício (sobre bem público – processa-se mediante notificação à entidade proprietária). Pode,ainda, ser definitivo (após a conclusão do processo administrativo e inscrição do bem no livro do tombo) ou provisório (no curso do processo administrativo, a partir da notificação da Administração Pública). O tombamento definitivo será inscrito no Registro de Imóveis. “Como o tombamento não implica em transferência da propriedade, inexiste a limitação constante no art. 1º, § 2º, do DL 3.365/1941, que proíbe o Município de desapropriar bem do Estado” (STJ, RMS 18.952/RJ). Após efetivado o tombamento (que se aperfeiçoa com o registro no livro de tombamento, pois, de acordo com o TRF1, o registro no cartório de imóveis está relacionado apenas à segurança jurídica de terceiros), o proprietário: não pode destruir o bem; somente poderá repará-lo com autorização da Administração; deverá conservar o bem tombado, salvo se não tiver recursos, devendo, em tal caso, comunicar ao Poder Público, que custeará a obra ou desapropriará a coisa (se não o fizer, o particular pode requerer o cancelamento do tombamento).
Conforme o STJ, “o instituto do tombamento provisório não é fase procedimental precedente do tombamento definitivo. Caracteriza-se como medida assecuratória da eficácia que este poderá, ao final, produzir. A caducidade do tombamento provisório, por excesso de prazo, não prejudica o definitivo. Inteligência dos arts. 8o, 9o e 10o, do Decreto Lei 25/37.” (RMS 8252 - DJ 24/02/2003). 
Consoante o STF, não há vedação ao tombamento feito por ato legislativo, porque tal providência possui caráter provisório, ficando o tombamento permanente, este sim, restrito a ato do Executivo.
Questão polêmica: o Judiciário pode determinar o tombamento de bens?
Nem o STF nem o STJ possuem decisão firmada a respeito sobre a possibilidade – ou não – do Judiciário determinar o tombamento. Entretanto, na prática, isso tem ocorrido com certa frequência. O Ministério Público – em especial o MPF – tem ajuizado ação civil pública requerendo o tombamento de bens, particulares ou públicos (por exemplo, de uma praça abandonada); a consequência da condenação (tombar o bem) é que a parte ré fica obrigada a conservar o bem tombado. 
OBS: O art. 1.072, I, do NCPC revogou expressamente o art. 22 do Decreto-Lei no 25/37, que versava sobre o direito de preferência na alienação do bem tombado: 
Art. 22. Em face da alienação onerosa de bens tombados, pertencentes a pessoas naturais ou a pessoas jurídicas de direito privado, a União, os Estados e os municípios terão, nesta ordem, o direito de preferência. (Revogado pela Lei n º 13.105, de 2015)
O direito de preferência é tratado nos arts. 889, VIII e 892 §3º, ambos do NCPC, subsistindo apenas nas alienações judiciais: 
Art. 889. Serão cientificados da alienação judicial, com pelo menos 5 (cinco) dias de antecedência: (…) VIII – a União, o Estado e o Município, no caso de alienação de bem tombado. Art. 892. § 3º No caso de leilão de bem tombado, a União, os Estados e os Municípios terão, nessa ordem, o direito de preferência na arrematação, em igualdade de oferta.
 
O tombamento não impede o proprietário de gravar seu bem com ônus real. É proibida a realização de construções no entorno que prejudiquem visibilidade do bem. No RE 219.292.
 O STF afirmou que o chamado tombamento de uso (restringir a utilização do imóvel apenas à atividade cultural) deve ser considerado desapropriação. Cabe registrar que, para Celso Antônio Bandeira de Mello, o tombamento é espécie de servidão, porque “sempre que seja necessário um ato específico da Administração impondo um gravame, por conseguinte criando uma situação nova, atingiu-se o próprio direito e, pois, a hipótese é de servidão. Por este motivo entendemos que tanto o tombamento pelo Patrimônio Histórico quanto a declaração de que uma determinada área particular é de reserva florestal são casos de servidão e não de limitação administrativa, como normalmente se afirma”. A Constituição Federal de 1988 estabeleceu, expressamente, o tombamento de todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos. Mesmo sem ter ocorrido a individualização da área e documentos tombados, a preservação dos referidos documentos e locais passou a ser inquestionável com mencionada previsão constitucional, independentemente de regulamentação normativa ou de providência administrativa específica (artigo 216, § 5º).
Por fim, o parcelamento, a edificação ou utilização compulsórias são espécies de limitações administrativas. Incidem apenas sobre imóveis situados em área inclusa no plano diretor de desenvolvimento urbano do Município para a qual haja lei municipal específica autorizando exigir que os proprietários promovam adequada utilização do bem. Os referidos proprietários serão notificados pelo Poder Executivo municipal para o cumprimento da obrigação, devendo a notificação – que se pode fazer por edital – ser averbada no cartório de Registro de Imóveis.
Os prazos para o cumprimento de tais obrigações não poderão ser inferiores a um ano, a partir da notificação, para que seja protocolado o projeto no órgão municipal competente, ou dois anos, a partir da aprovação do projeto, para iniciar as obras do empreendimento. A transmissão do imóvel, por ato inter vivos ou causa mortis, posterior à data da notificação, transfere as obrigações de parcelamento, edificação ou utilização, sem interrupção de quaisquer prazos. Deve ser cumprida a seguinte ordem: a) parcelamento ou edificação compulsória; b) IPTU progressivo; c) desapropriação, que só pode ocorrer cinco anos após a cobrança do ITPU progressivo (arts. 5o, 6o e 8o, Lei 10.257/01).
3A. Funções (atividades) administrativas. Função consultiva. Função de regulação. Função de controle. Função de fomento
Camus 27/03/2023
A Função Consultiva da administração abrange os atos que visam auxiliar, esclarecer e sugerir providências a serem adotadas. Ela é exercida mediante a elaboração de pareceres prévios e individualizados, de caráter essencialmente técnico. Na esfera federal, esta tarefa cabe à AGU (art. 131, CF) e nos Estados e DF, a incumbência é das respectivas Procuradorias (art. 132, CF). O STF classificou os pareceres quanto à sua obrigatoriedade da seguinte maneira: (i) quando a consulta é facultativa, a autoridade não se vincula ao parecer proferido, sendo que seu poder de decisão não se altera pela manifestação do órgão consultivo; (ii) quando a consulta é obrigatória, a autoridade administrativa se vincula a emitir o ato tal como submetido à consultoria, com parecer favorável ou contrário, e se pretender praticar ato de forma diversa da apresentada à consultoria, deverá submetê-lo a novo parecer; (iii) quando a lei estabelece a obrigação de decidir à luz de parecer vinculante, essa manifestação de teor jurídica deixa de ser meramente opinativa e o administrador não poderá decidir senão nos termos da conclusão do parecer ou, então, não decidir. Na ocasião, decidiu que o parecer meramente opinativo não é capaz de gerar responsabilização do parecerista, a não ser que se prove culpa ou erro grosseiro. Por outro lado, no parecer vinculante, há responsabilidade, pois a manifestação é parte do ato administrativo. No caso do atraso, o processo terá seguimento sem o parecer não-vinculante e deverá aguardar o parecer vinculante. Di Pietro sustenta que o parecer que aprova as minutas de editais e contratos tem caráter vinculante, para fins de responsabilidade, por força da Lei 8.666. O art. 30 da LINDB (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro), em seu parágrafo único determina, expressamente, que os regulamentos, as súmulas administrativas e as respostas a consultas “terão caráter vinculante em relação ao órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão”.
A Função de Regulação, segundo Marçal Justen Filho, citado por Maria Sylvia Zanella di Pietro, “[...] consiste na atividade estatal de intervenção indireta sobre a conduta dos sujeitos públicos e privados, de modo permanente e sistemático, para implementar as políticas de governo”(DI PIETRO, 2011, p. 55). Após,a autora define como “conjunto de regras de conduta e de controle da atividade econômica pública e privada e das atividades sociais não exclusivas do Estado, com a finalidade de proteger o interesse público”. A função abrange as atividades de normatizar, julgar (obviamente sem prejudicar o direito de acesso ao Poder Judiciário) e executar. Afirma, ainda, que a regulação pode ser dirigir à ordem econômica ou à ordem social. José dos Santos Carvalho Filho aponta que as expressões “regulamentar” e “regular” não guardam sinonímia: aquela significa complementar, especificar, e pressupõe sempre que haja norma de hierarquia superior suscetível de complementação; esta, de sentido mais amplo, indica disciplinar.
A Função de Fomento, por outro lado, é a “atividade de incentivo à iniciativa privada de utilidade pública, e segundo Fernando Andrade de Oliveira (RDA 120/14) abrange os auxílios financeiros ou subvenções através dos orçamentos públicos, os financiamentos, os favores fiscais que estimulem atividades consideradas particularmente benéficas ao progresso material do país e as desapropriações que favoreçam entidades privadas sem fins lucrativos, que realizem atividades úteis à coletividade, como os clubes desportivos e as instituições beneficentes.” (DI PIETRO, 55/56).
A Função de Controle é “[...] o poder de fiscalização e correção que a Administração Pública (em sentido amplo) exerce sobre sua própria atuação, sob os aspectos da legalidade e mérito, por iniciativa própria ou mediante provocação” (DI PIETRO, 2011, p. 737). Trata-se, como se vê, do controle administrativo. O controle pode ser tanto da legalidade dos processos internos, como de sua eficiência.
3B. Vícios ou defeitos dos atos administrativos. A teoria das nulidades no Direito Administrativo. Atos administrativos nulos, anuláveis e inexistentes.
Germano 27/03/2023
Caroline Araújo
VÍCIOS OU DEFEITOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS. De acordo com DI PIETRO, “os vícios podem atingir os cinco elementos do ato, caracterizando os vícios quanto à competência e à capacidade (em relação ao sujeito), à forma, ao objeto, ao motivo e à finalidade.” (p. 246). O vício de competência ocorre quando o ato é praticado por agente sem atribuição, seja por excesso de poder, seja por exercer função de fato, seja por usurpar função pública. O vício de objeto ocorre quando o objeto do ato é ilícito, impossível ou indeterminado. Para a doutrina, quando se está diante de um objeto único, seu vício será insanável, já se estiver diante de objeto plúrimo, o vício será sanável. O vício de forma decorre da inobservância da formalidade exigida para o ato. O vício de finalidade, também chamado desvio de finalidade ou desvio de poder, ocorre quando o ato, em vez de buscar a satisfação de um interesse público, é praticado com o fim de atender a um interesse particular. O vício de finalidade gera ato nulo, insanável. Por fim, o vício de motivo ocorre quando: i) inexistir o motivo exigido para o ato; ii) o motivo alegado for falso; ou iii) o fundamento for desconexo com a finalidade do ato. Os vícios do motivo geram um ato nulo, insanável.
TEORIA DAS NULIDADES: a) Teoria Monista: entende que o vício acarreta sempre a nulidade do ato. É a posição de Hely Lopes Meirelles, Diógenes Gasparini, Regis Fernandes de Oliveira e Sérgio Ferraz, por exemplo. b) Teoria Dualista: sustenta que os atos administrativos podem ser nulos ou anuláveis. É a posição de Celso Antônio Bandeira de Mello, Cretella Júnior, Lucia Valle Figueiredo e José dos Santos Carvalho Filho. c) Teoria Tricotômica: Seabra Fagundes defende a divisão em nulos, anuláveis e irregulares;
Todos negam relevância jurídica à espécie de atos inexistentes, indicando que, de direito, equivalem aos atos nulos.
ATOS ADMINISTRATIVOS NULOS, ANULÁVEIS E INEXISTENTES.
Se uma destas espécies for declarada, todos os efeitos da invalidação se operam. A maior distinção destas modalidades de invalidação está nas suas causas.
INEXISTÊNCIA: ocorre quando se está diante de condutas puramente criminosas, dando ensejo à legítima defesa (resistência manu militari). Tal ato é ineficaz, porque a existência é condição da eficácia; não gera obrigatoriedade, podendo ser ignorado; não tem presunção de legitimidade, sendo possível a mencionada reação de particulares contra a tentativa de execução; não admite convalidação; não se submete a prazo prescricional ou decadencial. “Consistem em comportamentos que correspondem a condutas criminosas ofensivas a direitos fundamentais da pessoa humana, ligados à sua personalidade ou dignidade intrínseca e, como tais, resguardados por princípios gerais de Direito que informam o ordenamento jurídico dos povos civilizados” (MELLO, 2011, p. 473). Ex: autorização para abrir casa de prostituição;
NULIDADE: embora não corresponda a uma conduta criminosa, em razão de seus efeitos, não pode ser convalidada. Entretanto, poderão os atos nulos, em certas situações, ser convertidos. Eles são prescritíveis (05 anos) e não admitem resistência manu militari (só admitem resistência por decisão judicial ou por conta e risco do administrado). Podem ser invalidados de ofício pelo juiz, ou mediante provocação do Ministério Público. São nulos os atos assim declarados por lei e os em que é impossível a convalidação sem a repetição do vício.
ANULABILIDADE: consiste num vício que pode ser convalidado. Os atos anuláveis são prescritíveis (05 anos) e convalidáveis. Não admitem, entretanto, resistência manu militari. (CUNHA JR, 116). Só podem ser invalidados a requerimento dos interessados. São aqueles assim declarados por lei e aqueles que podem ser convalidados sem repetição do vício (incompetência e vício de forma), desde que não sejam lesivos ao interesse público, nem causem prejuízo a terceiros. Obs: o STJ decidiu que há nulidade na remoção de servidor por interesse da Administração, sem motivação. Contudo, como a ausência de motivação é vício de forma, entendeu que o vício pode ser corrigido em momento posterior, tal como a prestação de informações em mandado de segurança (STJ, RMS 40.427). A invalidação produz efeitos ex tunc (CARVALHO FILHO, 2011, p. 149).  Celso Antônio Bandeira de Mello, contudo, afirma que os atos restritivos devem ser invalidados com efeitos ex tunc, e os atos ampliativos devem ser invalidados ex nunc (MELLO, 2011, p. 484).
JURISPRUDÊNCIA: STF, Plenário. ADI 6019/SP. Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 12.04.2021. É inconstitucional lei estadual que estabeleça prazo decadencial de 10 anos para anulação de atos administrativos reputados inválidos pela Administração Pública estadual. Em regra, o prazo decadencial para que a Administração Pública anule atos administrativos inválidos é de 5 anos, aplicável a todos os entes federativos, por força do principio da isonomia.
STF, Plenário. MS 26860/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 02.04.2014. O prazo decadencial do art. 54 da Lei n. 9784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta diretamente a CF. Não existe direito adquirido à efetivação na titularidade de cartório quando a vacância do cargo ocorre na vigência da CF/88, que exige a submissão a concurso público (art. 236, § 3º). O art. 236, § 3º, da CF é uma norma constitucional autoaplicável. Logo, mesmo antes da edição da Lei n. 8935/94 ela já tinha plena eficácia e o concurso público era obrigatório como condição para o ingresso na atividade notarial e de registro.
3C. Proteção jurídica da flora
Gustavo Nitzsche (27/03/2023)
Conceitos: 
Flora: conjunto das espécies vegetais de uma determinada localidade (Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa).
Florestas Públicas: florestas, naturais ou plantadas, localizadas nos diversos biomas brasileiros, em bens sob o domínio da União, dos Estados, dos Municípios, do DF ou das entidades da administração indireta (Lei 11.284/06).
Vegetação: cobertura vegetal de certa área do país.
Competência material: comum (art. 23, VII, CF).
Competência legislativa: concorrente, com legislação suplementar municipal, cfe interesse local.(arts. 24, VI e 30, I e II, CF)
Competências cfe LC 140/11:
→ União (art. 7º)
XVI - listar espécies da fauna e da flora ameaçadas de extinção e de espécies sobre-explotadas no território nacional;
XVII - controlar a introdução no País de espécies exóticas potencialmente invasoras;
XVIII - aprovar a liberação de exemplares de espécie exótica da fauna e da flora em ecossistemas naturais frágeis;
XIX - controlar a exportação de componentes da biodiversidade brasileira.
→ Estados (art. 8º)
XVI - aprovar o manejo e a supressão de vegetação, de florestas e formações sucessoras em: 
a) florestas públicas estaduais ou unidades de conservação do Estado, exceto em Áreas de Proteção Ambiental; 
b) imóveis rurais, observadas as atribuições previstas no inciso XV do art. 7°; e 
c) atividades ou empreendimentos licenciados ou autorizados, ambientalmente, pelo Estado;
XVII - listar espécies da fauna e da flora ameaçadas de extinção no respectivo território.
Princípios no código florestal (Lei 12.651/2012):
Art. 1º-A. Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação, áreas de Preservação Permanente e as áreas de Reserva Legal; a exploração florestal, o suprimento de matéria-prima florestal, o controle da origem dos produtos florestais e o controle e prevenção dos incêndios florestais, e prevê instrumentos econômicos e financeiros para o alcance de seus objetivos. Parágrafo único. Tendo como objetivo o desenvolvimento sustentável, esta Lei atenderá aos seguintes princípios: I – afirmação do compromisso soberano do Brasil com a preservação das suas florestas e demais formas de vegetação nativa, bem como da biodiversidade, do solo, dos recursos hídricos e da integridade do sistema climático, para o bem estar das gerações presentes e futuras; II – reafirmação da importância da função estratégica da atividade agropecuária e do papel das florestas e demais formas de vegetação nativa na sustentabilidade, no crescimento econômico, na melhoria da qualidade de vida da população brasileira e na presença do País nos mercados nacional e internacional de alimentos e bioenergia; III – ação governamental de proteção e uso sustentável de florestas, consagrando o compromisso do País com a compatibilização e harmonização entre o uso produtivo da terra e a preservação da água, do solo e da vegetação; IV – responsabilidade comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, em colaboração com a sociedade civil, na criação de políticas para a preservação e restauração da vegetação nativa e de suas funções ecológicas e sociais nas áreas urbanas e rurais; V – fomento à pesquisa científica e tecnológica na busca da inovação para o uso sustentável do solo e da água, a recuperação e a preservação das florestas e demais formas de vegetação nativa; VI – criação e mobilização de incentivos econômicos para fomentar a preservação e a recuperação da vegetação nativa e para promover o desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis.
OBS: Interessante destacar que a novel legislação, ao dispor sobre suas diretrizes como princípios, correlaciona-os com outros princípios do Direito Ambiental, como o princípio do desenvolvimento sustentável, previsto nos incisos II e III do dispositivo em comento. O inciso VI é de grande importância, uma vez que traz a tributação ecológica, novo assunto a ser amplamente estudado pelas disciplinas de Direito Ambiental e de Direito Tributário, como um instrumento em prol da preservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado, como em relação ao imposto territorial rural (ITR), além dos benefícios econômicos, como o crédito de carbono.
Disposições constitucionais: Cabe ao Poder Público preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas, bem como instituir espaços territoriais ambientais especialmente protegidos (art. 225, §1º, I e III, da CF), a exemplo da área de reserva legal (ARL), das APPs e das unidades de conservação (UC). A Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, o Pantanal Mato-Grossense, a Serra do Mar e a Zona Costeira são “patrimônio nacional”. Cerrado e Caatinga NÃO são patrimônio nacional.
No dia 28 de fevereiro de 2018, o STF, no julgamento da ADC nº 42 e das ADIs nº 4.901, 4.902, 4.903 e 4.937, analisou diversos artigos do Código Florestal de 2012. Vide o que ficou decidido em controle concentrado:
Como ponto mais polêmico do julgamento, pode-se citar o que tange ao Programa de Recuperação Ambiental (PRA), pois implica uma anistia a infrações penais e administrativas se o particular assinar um termo de compromisso e recompor a vegetação desmatada até 22.07.2008, arts. 59 e 60. Como placar, o PRA foi considerado constitucional por 6 votos a 5. Os cinco votos contrários, inclusive do relator, defendiam que o PRA é uma anistia inconstitucional. Já os seis votantes vencedores disseram que ele é constitucional. Portanto, se for cobrada a matéria em prova, deve-se responder que o PRA é constitucional, nos termos do decidido pelo STF.
Julgou inconstitucional as seguintes expressões em destaque:
Art. 3º (...)
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, estende-se o tratamento dispensado aos imóveis a que se refere o inciso V deste artigo às propriedades e posses rurais com até 4 (quatro) módulos fiscais que desenvolvam atividades agrossilvipastoris, bem como às terras indígenas demarcadas e às demais áreas tituladas de povos e comunidades tradicionais que façam uso coletivo do seu território.
- (O argumento é que não se faz necessária a demarcação, tendo em vista ser essa apenas declaratória e também por não fazer sentido puir duplamente as referidas comunidades, em razão da mora em demarcar. De mesma maneira, os imóveis rurais de até quatro módulos fiscais têm o tratamento dispensado aos imóveis do inciso V do art. 3º. O tratamento favorecido a esses imóveis que representam a pequena propriedade não pode ser restrito apenas às áreas demarcadas e tituladas. No entanto, deve incluir terras indígenas demarcadas ou não, devendo-se fazer a supressão dos termos “tituladas” e “demarcadas”).
STF (Pleno, fev/2018): Declarou a inconstitucionalidade das expressões “gestão de resíduos” e “instalações necessárias à realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais”, contidas no art. 3º, VIII, b, do Cód. Florestal. Não se pode aceitar que um Estado conceba a gestão de resíduos (construção de aterros sanitários) e o lazer como hipóteses de intervenção e supressão de vegetação em APPs e em áreas de uso restrito. Em outras palavras, é incompatível com a CF autorizar-se a relativização da proteção da vegetação nativa protetora de nascentes, por exemplo, para “gestão de resíduos” ou para a realização de competições esportivas.
Proferiu interpretação conforme a CF/1988 aos seguintes dispositivos:
Art. 3º:
 Incisos VIII e IX – condicionar a intervenção excepcional em APP por interesse social ou utilidade pública à inexistência de alternativa técnica ou locacional à atividade proposta; 
Inciso XVII – os entornos de nascentes e olhos d’água intermitentes configuram APP; 
- O STF, na verdade, utiliza-se de um dispositivo constante da alínea “g” do art. 3º, IX, e o transporta como requisito de todas as hipóteses do art. 3º, VIII e IX. Assim, tudo o que é utilidade pública e interesse social somente pode ocorrer havendo a inexistência de alternativa técnica ou locacional à atividade proposta. Do contrário, não se tocará na área.
Outro dispositivo foi o art. 3º, XVII, que dispõe o seguinte: “XVII – nascente: afloramento natural do lençol freático que apresenta perenidade e dá início a um curso d’água”. O STF entendeu não ser razoável limitar a proteção somente aoentorno e na nascente de água perene. Isso porque, ao se conceituar nascente, que se sabe ser um afloramento natural do lençol freático, podem-se apresentar perenidade ou intermitência, a exemplo do Pantanal, que ora está seco, ora não, também merecendo proteção.
Art. 4º:
 Inciso IV – entornos de nascentes e de olhos d’água intermitentes são áreas de preservação ambiental;
Da mesma maneira, no art. 4º, IV, que traz as APPs, há uma parte em que no código antigo era contado do nível de cheia, adotando o novo código o nível regular. Dessa maneira, pode-se dizer que a área protegida, no Código de 1965, era maior que a área protegida no Código de 2012. Contudo, decidiu o STF que é constitucional dentro da ideia de deferência ao legislador no tocante ao não retrocesso. Porém, O STF deu interpretação conforme. Ou seja, a proteção engloba os olhos d’água perenes ou não.
 Art. 48, § 2º A CRA só pode ser utilizada para compensar Reserva Legal de imóvel rural situado no mesmo bioma da área à qual o título está vinculado. Neste caso, o STF entendeu que a cota de reserva ambiental (CRA) somente pode ser compensada entre áreas com identidade ecológica.
OBS: No REsp. nº 1.532.719 (Informativo nº 679), o STJ entendeu que a “compensação de danos ambientais ocorridos em reserva legal em data anterior à vigência da Lei n. 12.651/2012 não precisa ser feita na mesma microbacia, sendo suficiente que ocorra no mesmo bioma do imóvel a ser compensado”.
A outra interpretação, conforme o art. 59, §§ 4º e 5º, refere-se ao regulamento do PRA. Segundo o STF, não corre a prescrição dos crimes e das infrações administrativas enquanto não concluído o PRA, em que se compromete a recuperar a área desmatada antes de 2008, ganhando o benefício da não persecução criminal ou administrativa. Segundo o STF, nesse lapso temporal em que não se poderá realizar a persecução penal ou administrativa, restará interrompida a prescrição, sendo a mesma lógica do direito tributário quando se tem um crédito. Ocorrendo o lançamento, não há de se falar em prescrição ou decadência, já que não se tem exigibilidade.
Uso alternativo do solo: substituição da vegetação nativa e formações sucessoras por outras coberturas do solo, como atividades agropecuárias, assentamentos urbanos, atividades industriais, etc. Só é possível fora das áreas ambientais protegidas e deve ser amparado em licença. 
Competência para instituir florestas: é do Poder Público, por meio do Legislativo ou Executivo de todas as esferas da Federação, a competência para a criação de áreas especiais protegidas, de APPs e de unidades de conservação, bem como do particular para criar reserva legal e servidão ambiental.
Proibição do uso de fogo e do controle dos incêndios (art. 38 a 40 do Cód. Florestal): 
Regra: proibição. Exceções:
i) queima controlada autorizada, inclusive em UC de acordo com o plano de manejo;
ii) pesquisa científica;
iii) prevenção e combate a incêndio;
iv) agricultura de subsistência. Responsabilização exige prova do nexo causal (ação do proprietário/preposto e dano).
OBS: Sob a vigência da Lei n. 4.771/1965, é lícita a queima da palha de cana-de-açúcar em atividades agroindustriais, desde que devidamente autorizada pelo órgão ambiental competente e com a observância da responsabilidade civil por eventuais danos de qualquer natureza causados ao meio ambiente ou a terceiros. (REsp 1.443.290-GO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 19/04/2022, DJe 28/04/2022)
STF (Pleno, mar/2015): Município é competente para legislar sobre o meio ambiente, assim como União e Estados, no limite do seu interesse local e desde que esse regramento seja harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI, c/c o art. 30, I e II, da CF/88). STF julgou inconstitucional lei municipal que proíbe, sob qualquer forma, o emprego de fogo para fins de limpeza e preparo do solo no referido município, inclusive para o preparo do plantio e para a colheita de cana-de-açúcar e de outras culturas. Fundamentos: 
- Proteção do meio ambiente x preservação dos empregos: prepondera este último.
- Normas federais preveem extinção gradativa do uso do fogo para corte da cana (art. 40, Cód. Florestal + Decr. 2.661/98). Entendeu-se que seria necessário ponderar, de um lado, a proteção do meio ambiente obtida com a proibição imediata da queima da cana e, de outro, a preservação dos empregos dos trabalhadores que atuem neste setor. No caso, o STF entendeu que deveria prevalecer a garantia dos empregos dos trabalhadores canavieiros, que merecem proteção diante do chamado progresso tecnológico e da respectiva mecanização, ambos trazidos pela pretensão de proibição imediata da colheita da cana mediante uso de fogo.
Além disso, as normas federais que tratam sobre o assunto apontam para a necessidade de se traçar um planejamento com o intuito de se extinguir gradativamente o uso do fogo como método despalhador e facilitador para o corte da cana. Nesse sentido: Lei 12.651/2012 (art. 40) e Decreto 2.661/98.
Comércio e exportação de plantas vivas e outros produtos oriundos da flora nativa (art. 37): dependerão, respectivamente, de licença dos órgãos estadual e federal competente do Sisnama e de registro no Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais.
Cadastro Ambiental Rural (CAR) (arts. 29 e 30): inovação do Cód. Florestal. Trata-se de registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento. O CAR não será considerado título para fins de reconhecimento do direito de propriedade ou posse, tampouco elimina outros cadastramentos necessários.
Tem a finalidade de integrar informações ambientais quanto às propriedades e posses rurais. Assim, o poder público poderá acompanhar se determinado imóvel rural está, de fato, observando as regras previstas na legislação ambiental. A obrigatoriedade de inscrição no CAR recai como exigência sobre as instituições financeiras para conceder linhas creditícias aos proprietários que tenham inscrito suas propriedades rurais no referido cadastro.
CAR contém:
i) identificação do proprietário/possuidor e comprovação da posse ou propriedade (título);
ii) situação ambiental (plantas, memorial descritivo, coordenadas, APPs, etc.). Dispensada se imóvel < 4 módulos fiscais.
Cota de Reserva Ambiental (“CRA”): A compensação da Reserva Legal é um mecanismo previsto no Código Florestal segundo o qual o proprietário ou possuidor que não estiver cumprindo os percentuais de Reserva Legal em sua propriedade poderá regularizar a situação adquirindo (comprando) CRAs.
Quem tem uma propriedade que cumpre os percentuais de Reserva Legal e possui vegetação excedente (“a mais” do que exige a lei) pode emitir CRA e quem tem déficit de Reserva Legal pode compensá-lo comprando CRA.
O novo Código Florestal adotou o critério do bioma para fins de compensação da Reserva Legal. 
Contudo, STF (Pleno, fev/2018) deu ao art. 48, § 2°, do Cód. Florestal interpretação conforme a CF para permitir compensação apenas entre áreas com identidade ecológica (bioma + identidade ecológica como critérios). Assim a aquisição de uma área no mesmo bioma é insuficiente como mecanismo de compensação. Isso porque pode acontecer de, dentro de um mesmo bioma, existir uma alta heterogeneidade de formações vegetais. Em outras palavras, não basta que a área seja do mesmo bioma, é necessário também que haja identidade ecológica entre elas. Por força da Lei nº 13.887, de 17/10/2019, restou previsto que os proprietários e possuidores dos imóveis rurais que os inscreverem no CAR até o dia 31 de dezembro de 2020 terão direito à adesão do Programa de Regularização Ambiental (STF. Plenário. ADC 42/DF, ADI 4901/DF,ADI 4902/DF, ADI 4903/DF e ADI 4937/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 28/2/2018 (Info 892)).
- O art. 15 da Lei nº 12.651/2012, que admite o cômputo da área de preservação permanente no cálculo do percentual de instituição da reserva legal do imóvel, não retroage para alcançar situações consolidadas antes de sua vigência. Em matéria ambiental, deve prevalecer o princípio tempus regit actum, de forma a não se admitir a aplicação das disposições do novo Código Florestal a fatos pretéritos, sob pena de retrocesso ambiental. (STJ. 1ª Turma (REsp 1646193-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Gurgel de Faria, julgado em 12/05/2020 (Info 673)) 
Programa de Regularização Ambiental (“PRA”) Federal: objetivo de regularizar atividade produtiva em descompasso com o antigo Código Florestal. A assinatura do termo de compromisso suspende as sanções e a punibilidade por crimes definidos nos arts. 38, 39 e 48 da Lei 9.605/98 enquanto o TC estiver sendo cumprido, impede novas autuações por infrações cometidas antes de 22.7.09 em APP, RL e uso restrito. O cumprimento do TC implica na regularização do uso e, se houver multa já aplicada, esta é convertida em serviços de preservação do meio ambiente, extinguindo a punibilidade.
Principais alterações do Novo Código Florestal:
(i) estendeu as APPs ao redor de lagos e lagoas naturais e reservatórios artificiais (art. 4°, I e III);
STF (Pleno, fev/2018) deu ao art. 3º, XVII e ao art. 4º, IV, do Cód. Florestal, interpretação conforme a CF para dizer que os entornos das nascentes e dos olhos d´água intermitentes configuram APP. A definição de nascente envolve perenidade (característica do que é perene = duradouro). Assim, a interpretação deve ser a de que os entornos das nascentes e dos olhos d´água, mesmo que intermitentes, também configuram APP.
(ii) dispensou o estabelecimento das faixas de APPs no entorno das acumulações naturais ou artificiais de água com superfície inferior a 1 hectare;
(iii) beneficiou, em inúmeras situações, a produção na pequena propriedade ou posse rural familiar, conceituada como “aquela explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar e empreendedor familiar rural, incluindo os assentamentos e projetos de reforma agraria, e que atenda ao disposto no art. 3° da Lei 11.326/2006”;
(iv) instituiu o CAR no âmbito do SINIMA;
(v) inovou, ao dispor que o registro da ARL no CAR desobriga a averbação no Cartório de Registro de Imóveis; permitiu ao proprietário/possuidor computar as APPs existentes em sua propriedade no cálculo da ARL;
 (vi) apresentou às propriedades rurais instrumentos compensatórios em caso de ARL com percentual inferior ao mínimo exigido em lei. Um deles, nos casos de propriedades rurais contíguas, é a denominada Reserva Legal condominial;
(vii) previu o DOF – Documento de Origem Florestal, documento que formaliza o licenciamento ambiental necessário para o transporte, por qualquer meio, e o armazenamento de madeira, lenha, carvão e outros produtos ou subprodutos florestais oriundos de florestas de espécies nativas, para fins comerciais ou industriais (art. 36, caput e parágrafos).
4A. Princípios de Direito Ambiental
Fábio Milhas (30/09/2018)
(atualizado e reorganizado por Meiriel Albarelo em 08/10/2022)
(atualizado por Daniel Pedrosa em 30/03/2023)
1. Princípio do meio ambiente como direito humano fundamental 
Apesar de não estar contido no rol do art. 5º da CRFB/88, o meio ambiente é considerado um direito fundamental, sendo uma extensão do direito à vida e necessário à pessoa humana, previsto no artigo 225 da Constituição. Cabe mencionar que, em vários momentos, a Constituição da República refere-se a princípios e normas-princípio de conteúdo ambientalista, instituindo uma ordem constitucional ambiental, preocupada com a sadia qualidade de vida e a dignidade da pessoa humana. 
Romeu Thomé fala em “princípio do ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental da pessoa humana”. Esse direito foi reconhecido como direito humano pela Declaração de Estocolmo das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano (1972). A Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992) reafirmou essa visão (“Princípio 1: Os seres humanos estão no centro das preocupações com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza.”). O STF, no julgamento do RE 654.833/AC (Tema 999 da Repercussão Geral), reconheceu expressamente a fundamentalidade desse direito: “4. O meio ambiente deve ser considerado patrimônio comum de toda humanidade, para a garantia de sua integral proteção, especialmente em relação às gerações futuras. Todas as condutas do Poder Público estatal devem ser direcionadas no sentido de integral proteção legislativa interna e de adesão aos pactos e tratados internacionais protetivos desse direito humano fundamental de 3ª geração, para evitar prejuízo da coletividade em face de uma afetação de certo bem (recurso natural) a uma finalidade individual”.
2. Princípio da prevenção
Previsto implicitamente no art. 225, da CRFB/88, traz a ideia de que se há base científica para prever os danos ambientais decorrentes de determinada atividade lesiva ao meio ambiente, deve-se impor ao empreendedor condicionantes no licenciamento ambiental para mitigar ou eliminar os prejuízos. A ideia é evitar que o dano chegue a ser produzido, em razão do caráter frequentemente irreversível dos prejuízos causados ao meio ambiente. O princípio trabalha com a ideia de risco certo, conhecido ou concreto. Ao lado do princípio do poluidor-pagador, forma a base sobre a qual o Direito Ambiental foi construído. Está previsto na Declaração de Estocolmo (1972 – Princípios 6 e 21) e na Declaração do Rio (ECO 92 – Princípio 2). Já a Política Nacional do Meio Ambiente faz alusão à manutenção do equilíbrio ecológico (art. 2º, I) e à proteção dos ecossistemas e das áreas ameaçadas de degradação (art. 2º, IV e IX, da Lei 6.938/81). O princípio também está expresso da Política Nacional de Resíduos Sólidos (art. 6º, I, da Lei 12.305/10) e na Lei da Mata Atlântica (art. 6º, p. ú., da Lei 11.428/06). Além disso, a CRFB/88, no art. 225, §1º, IV dispõe sobre a obrigatoriedade de EIA em obras ou atividades potencialmente causadoras de significativa degradação ao meio ambiental.
3. Princípio da precaução (“vorsorgeprinzip”)
Assim como o princípio da prevenção, o da precaução baseia-se na ideia de que evitar a concretização de danos ambientais é preferível a repará-los. Diferencia-se dele, porém, pelo fato de que o princípio da precaução se fundamenta na certeza científica do dano, enquanto o da precaução é considerado uma garantia contra riscos potenciais que, de acordo o estado atual do conhecimento, não podem ser identificados com precisão. Assim, se determinado empreendimento puder, dentro de uma base razoável de probabilidade, causar danos ambientais sérios ou irreversíveis, apesar da inexistência de certeza científica sobre os efeitos dos danos e sua extensão, o empreendedor deverá ser compelido a adotar medidas de precaução para reduzir ou eliminar os riscos ambientais para a população. Este princípio se volta ao risco incerto, desconhecido ou abstrato, incidindo a máxima in dubio pro natura ou salute, pois, quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve servir como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental. Foi previsto expressamente na Declaração do Rio (ECO 92 – “Princípio 15: Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.”). A primeira lei que o previu de forma expressa foi a de Biossegurança (Lei 11.105/05 – art. 1º). Há, ainda, duas convenções internacionaispromulgadas pelo Brasil que inseriram o princípio da precaução em seus textos: a CONVENÇÃO DA DIVERSIDADE BIOLÓGICA e a CONVENÇÃO QUADRO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE A MUDANÇA DO CLIMA. O princípio da precaução também foi consagrado pelo STJ na Súmula nº 618: “A inversão do ônus da prova aplica-se às ações de degradação ambiental”, de modo que, diante da probabilidade de dano, cabe ao autor potencial provar, com anterioridade, que a atividade a ser desenvolvida não causará aquele dano presumido. Cabe esclarecer que existem três correntes que diferenciam o conteúdo, a extensão e a acepção desse princípio: 1) radical: não tolera qualquer risco; 2) minimalista: exige a presença de riscos sérios e irreversíveis; e 3) intermediária: o risco deve ser baseado na ciência e ser crível, mas não exclui a moratória e adota a teoria dinâmica da distribuição do ônus da prova.
4. Princípio do desenvolvimento sustentável ou do ecodesenvolvimento
O desenvolvimento sustentável tem como pilar a harmonização das seguintes vertentes: crescimento econômico, preservação ambiental e equidade social. Logo, o aludido princípio prega que haja um desenvolvimento econômico que observe a capacidade máxima de suporte dos ecossistemas, pois as presentes gerações deverão consumir as parcelas necessárias dos recursos naturais sem privar as futuras gerações das suas porções. Numa visão ecointegradora, trata-se de estabelecer um liame entre o direito ao desenvolvimento, em todas as suas dimensões (humana, física, econômica, política, cultural, social), e o direito a um ambiente sadio, edificando condições para que a humanidade possa projetar seu amanhã. O conceito de desenvolvimento sustentável é fornecido pelo chamado Relatório Brundtland (“Nosso Futuro Comum”), produzido em 1987 pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Comissão da ONU), como sendo “um desenvolvimento que faz face às necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras na satisfação de suas próprias necessidades”. A Constituição, por sua vez, alberga esse princípio, no art. 170, caput e inc. VI, e no art. 225, caput. E muito antes do Texto Constitucional, a Lei 6.938/81 já elencava entre os objetivos da PNMA, a compatibilização do desenvolvimento econômico e social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico (art. 4º, I). A Declaração de Estocolmo, no Princípio 4, enfatiza que os Estados, ao planejarem o desenvolvimento econômico, devem atribuir atenção especial à conservação da natureza, evitando-se, ao mesmo tempo, o risco de esgotamento dos recursos naturais (Princípio 5). A Declaração do Rio de Janeiro de 1992 seguiu essa mesma diretriz. O desenvolvimento sustentável traz em si o reconhecimento de que os recursos naturais não são inesgotáveis. As concepções sobre a sustentabilidade podem ser resumidas em três correntes, trazidas por Renn, citado por Romeu Thomé: a) antropocentrismo utilitarista: considera a natureza como a principal fonte de recursos para atender as necessidades humanas. Predominante desde a Revolução Industrial até meados da década de 1950; b) antropocentrismo protecionista (atual corrente): tem a natureza como bem coletivo essencial que deve ser preservado como garantia de sobrevivência e bem-estar do homem. Impõe-se, por conseguinte, o equilíbrio entre as atividades humanas e os processos ecológicos essenciais; c) ecocêntrica: entende que a natureza pertence a todos os seres vivos, e não apenas ao homem, exigindo uma conduta de extrema cautela em relação à proteção dos recursos naturais, com clara orientação holística. Predomina o entendimento de que o nosso ordenamento jurídico adotou a visão antropocêntrica protecionista, tal como a maioria das normas ambientais nacionais e internacionais. Romeu Thomé destaca que as atuais Constituições do Equador (2008) e da Bolívia (2009), influenciadas pelo “constitucionalismo andino” (que resgata os valores e tradições dos povos ancestrais, em especial quanto à relação do homem com seu entorno), apresentam uma proposta ecocêntrica.
5. Princípio do poluidor-pagador ou da responsabilidade ou da reparação
Previsto no art. 225, § 3º, da CRFB/88: o empreendedor deverá responder pelos custos sociais da degradação causada por sua atividade impactante, devendo-se agregar esse valor no custo produtivo da atividade, para se evitar que se privatizem os lucros e se socializem os prejuízos ambientais, que também deverão ser internalizados (internalização das externalidades negativas). Está voltado, em especial, aos grandes poluidores. Cumpre esclarecer que este princípio não deverá ser interpretado de forma que haja abertura para a poluição incondicionada, desde que se pague (não é pagador-poluidor), só podendo o poluidor degradar o meio-ambiente nos limites de tolerância previstos na legislação ambiental, após regular licenciamento ambiental. Oportuno mencionar que tal princípio também foi previsto na Declaração do Rio de 1992 (Princípio 16). Por fim, há o Enunciado nº 22 da 4ª CCR/MPF sobre o tema: “As Ações Civis Públicas relativas a meio ambiente e a patrimônio cultural deverão contemplar, em atenção ao princípio do poluidor-pagador, o repasse ao infrator de todos os custos administrativos, inclusive do trabalho pericial.” 
6. Princípio do usuário-pagador
Por esse princípio, as pessoas que utilizam os recursos naturais (escassos) devem pagar pela sua utilização, mesmo que não haja danos ao meio ambiente. A ideia é de definição de valor econômico ao bem natural com intuito de racionalizar o seu uso e evitar o desperdício. Trata-se de evolução do princípio do poluidor-pagador, sendo oportuno observar que o uso gratuito de recursos naturais às vezes pode representar enriquecimento ilícito por parte do usuário, pois a comunidade que não usa ou usa em menor escala fica onerada. Como os recursos naturais são de titularidade coletiva, o uso desses bens deve assegurar uma compensação financeira revertida em benefício da coletividade. Não deve ser encarado como punição, pois poderá ser implementado mesmo sem haver comportamento ilícito (art. 4º, VII, da Lei 6.938/81: A PNMA visará: (...) à imposição (...) ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos). No mesmo sentido, a Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433/97) define a água como “recurso natural limitado, dotado de valor econômico” (art. 1º, II) e estabelece os objetivos da cobrança pelo seu uso (art. 19).
7. Princípio do protetor-recebedor
É a outra face da moeda do princípio do poluidor-pagador, e defende que os indivíduos responsáveis pela proteção do meio ambiente devem ser agraciados com benefícios de alguma ordem, pois estão colaborando com toda a sociedade, tendo previsão expressa no art. 6º, II, da Lei 12.305/10 (Política Nacional de Resíduos Sólidos), bem como no Código Florestal (art. 1-A). Frederico Amado: “(...) em aplicação a esse princípio, deve haver uma compensação pela prestação de serviços ambientais em favor daqueles que atuam em defesa do meio ambiente, como verdadeira maneira de se promover a justiça ambiental, (...) No Brasil, ainda são tímidas as medidas nesse sentido, mas é possível identificar a sua presença quando o artigo 10, § 1º, inciso II, da Lei 9.393/1996 excluiu da área tributável do ITR alguns espaços ambientais especialmente protegidos”.
8. Princípio da cooperação entre os povos
É um dos princípios reitores da atuação da República Federativa do Brasil nas relações internacionais travadas pela (art. 4º, IX, da CRFB/88). A integração e a cooperação no campo da proteção do meio ambiente determinam a conjugação de esforços entre sociedade e Estado, no sentido da realização de uma política ambiental consentânea com o valor a ser protegido. Nessa mesma linha, o caráter transfronteiriço do processo de degradação ambiental aponta para a necessidade de implementação de mecanismos de cooperação internacional, mediante a inspiração desse princípio. A cooperação internacional no campo da proteção domeio ambiente encontra-se prevista na Declaração sobre o Ambiente Humano (Conferência de Estocolmo, 1972), ou a Agenda 21 e nos Princípios 7, 9, 12, 18, 19 e 27 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO/1992).
9. Princípio da solidariedade intergeracional ou princípio da equidade intergeracional
O princípio surge na década de 1980, relacionado às mudanças globais que caracterizaram a segunda metade do século XX, como o vertiginoso aumento populacional, os efeitos relacionados à diminuição da camada de ozônio, a depleção de recursos ambientais, e a constatação de sua escassez. Inspirado na parte final do art. 225, caput, da CRFB/88, e previsto no Princípio 3 da Declaração do Rio de 1992, prevê que as presentes gerações devem preservar o meio ambiente e adotar políticas ambientais para a presente e as futuras gerações, não podendo utilizar os recursos ambientais de maneira irracional de modo a privar seus descendentes do seu desfrute.
10. Princípio da natureza pública da proteção ambiental ou princípio da obrigatoriedade da proteção ambiental ou princípio da obrigatoriedade da intervenção (atuação) estatal
Decorre da Declaração de Estocolmo (1972), estando previsto na CRFB/88 (art. 225, caput – dever de defender e preservar o meio ambiente), na Declaração do Rio de 1992 (Princípio 11) e no art. 2º, inc. I, da Lei 6.938/81. Por esse princípio, é dever irrenunciável do Poder Público promover a proteção do meio ambiente, por ser bem difuso e indispensável à vida humana sadia e da coletividade, devendo a dimensão coletiva preponderar, via de regra, sobre os interesses individuais. Nos termos do art. 17, § 2º, da LC 140/11, “nos casos de iminência ou ocorrência de degradação da qualidade ambiental, o ente federativo que tiver conhecimento do fato deverá determinar medidas para evitá-la, fazer cessá-la ou mitigá-la, comunicando imediatamente ao órgão competente para as providências cabíveis”.
“O Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) destinado à ampliação e ao fortalecimento da interação entre o Estado e a iniciativa privada (MP 727/2016, convertida na Lei nº 13.334/2016) não afronta os princípios da Administração Pública e da proteção do meio ambiente e dos índios (art. 23, VI, art. 37, caput e art. 231, § 2º, da CF/88)”. (STF. Plenário. ADI 5.551/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 13/3/2021 – Info 1009).
11. Princípio da participação comunitária/cidadã/popular ou princípio democrático. 
Possui previsão no caput do art. 225 da CRFB/88 (dever da coletividade de defender e preservar o meio ambiente) e na Declaração do Rio de Janeiro de 1992 (Princípio 10), dispondo que as pessoas têm o direito de participar ativamente das decisões políticas ambientais, em decorrência do sistema democrático semidireto, uma vez que os danos ambientais são transindividuais. Esse princípio se concretiza, por exemplo, com a iniciativa popular nos procedimentos legislativos, com as audiências públicas em licenciamentos ambientais complexos (EIA/RIMA) e com a atuação de representantes da sociedade civil em órgãos dotados de poderes normativos e deliberativos, como conselhos e comitês, atuantes na área ambiental.
“São inconstitucionais decretos que restrinjam a participação da sociedade civil em órgãos ambientais - São inconstitucionais as normas que, a pretexto de reestruturarem órgãos ambientais, afastam a participação da sociedade civil e dos governadores do desenvolvimento e da formulação de políticas públicas, bem como reduzem, por via de consequência, o controle e a vigilância por eles promovidos. Com base nesse entendimento, o STF declarou a inconstitucionalidade: • do art. 5º do Decreto nº 10.224/2020, que extinguiu a participação da sociedade civil no Conselho Deliberativo do Fundo Nacional do Meio Ambiente; e • do Decreto nº 10.239/2020, especificamente no ponto em que excluída a participação de governadores no Conselho Nacional da Amazônia Legal; e • do inciso CCII do art. 1º do Decreto nº 10.223/2020, especificamente no ponto em que se extinguiu o Comitê Orientador do Fundo Amazônia”. (STF. Plenário. ADPF 651/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 28/4/2022 – Info 1052).
12. Princípio da função socioambiental da propriedade 
O direito de propriedade é relativo e deve ser exercido em consonância com a sua função social, em especial a função socioambiental (art. 186, II, CRFB/88: “utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente”), sendo o princípio que justifica serem consideradas propter rem as obrigações ambientais. Nos termos do art. 1.228, § 1º, do Código Civil, “o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.” Frederico Amado, reportando-se a lição doutrinária de José Afonso da Silva, afirma que houve uma “ecologização da propriedade”, pois “a função social (ou socioambiental) não se configura como simples limitação ao exercício do direito de propriedade, e sim tem caráter endógeno, apresentando-se como quinto atributo ao lado do uso, gozo, disposição e reivindicação”. A função social se manifesta, portanto, na própria configuração estrutural do direito de propriedade (não é uma limitação ou fator externo).
Súmula 623, STJ: As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível cobrá-las do proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor. 
13. Princípio da informação ou da publicidade
Segundo esse princípio, intimamente relacionado com o da participação comunitária, o Poder Público deve propiciar à sociedade o pleno acesso às informações relativas às políticas públicas sobre meio ambiente, bem como sobre atividades potencialmente nocivas ao bem-estar das comunidades. A Lei 10.650/03, que “dispõe sobre o acesso público aos dados e informações existentes nos órgãos e entidades integrantes do SISNAMA”, estabelece que “qualquer indivíduo, independentemente da comprovação de interesse específico, terá acesso às informações de que trata esta Lei, mediante requerimento escrito, no qual assumirá a obrigação de não utilizar as informações colhidas para fins comerciais, sob as penas da lei civil, penal, de direito autoral e de propriedade industrial, assim como de citar as fontes, caso, por qualquer meio, venha a divulgar os aludidos dados” (art. 2º, § 1º). Na mesma linha, um dos instrumentos da PNMA é o Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente – SINIMA (art. 9º, VII, da Lei 6.938). Devem ser resguardados o sigilo industrial e os direitos autorais.
Direito à informação ambiental e obrigação do Estado com a transparência 
Tese A) O direito de acesso à informação no Direito Ambiental brasileiro compreende: i) o dever de publicação, na internet, dos documentos ambientais detidos pela Administração não sujeitos a sigilo (transparência ativa); ii) o direito de qualquer pessoa e entidade de requerer acesso a informações ambientais específicas não publicadas (transparência passiva); e iii) direito a requerer a produção de informação ambiental não disponível para a Administração (transparência reativa); 
Tese B) Presume-se a obrigação do Estado em favor da transparência ambiental, sendo ônus da Administração justificar seu descumprimento, sempre sujeita a controle judicial, nos seguintes termos: i) na transparência ativa, demonstrando razões administrativas adequadas para a opção de não publicar; ii) na transparência passiva, de enquadramento da informação nas razões legais e taxativas de sigilo; e iii) na transparência ambiental reativa, da irrazoabilidade da pretensão de produção da informação inexistente; 
Tese C) O regime registral brasileiro admite a averbação de informações facultativas sobre o imóvel, de interesse público, inclusive as ambientais; 
Tese D) O Ministério Público pode requisitar diretamente ao oficial de registrocompetente a averbação de informações alusivas a suas funções institucionais.
(STJ. 1ª Seção. REsp 1.857.098/MS, Rel. Min. Og Fernandes, j. 11/05/2022 – Tema IAC 13 – Info 737).
14. Princípio do limite ou controle do poluidor pelo Poder Público
Cuida-se de dever estatal de editar e efetivar normas jurídicas que instituam padrões máximos de poluição, a fim de mantê-la dentro de bons níveis para não afetar o equilíbrio ambiental e a saúde pública, tendo previsão no art. 225, § 1º, V da CRFB/88 e no art. 9º, inc. I, da Lei 6.938/81 (a PNMA tem, como um dos seus instrumentos, “o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental”).
15. Princípio da correção, prioritariamente na fonte ou princípio do produtor-eliminador ou princípio da autossuficiência ou princípio da proximidade (José Joaquim Gomes Canotilho)
Para o autor, o aludido princípio relaciona-se, de certo modo, com o princípio da prevenção, pelo qual se deve buscar o desenvolvimento de ações preventivas para corrigir, já na origem, tanto quanto possível, os fatos geradores de degradação ambiental. Está previsto expressamente no art. 174, 2., do Tratado que Institui a Comunidade Europeia (Art. 174. “2. A política da Comunidade no domínio do ambiente terá por objectivo atingir um nível de protecção elevado, tendo em conta a diversidade das situações existentes nas diferentes regiões da Comunidade. Basear-se-á nos princípios da precaução e da acção preventiva, da correcção, prioritariamente na fonte, dos danos causados ao ambiente e do poluidor-pagador.”)
16. Princípio da reparação integral
Invocado pelo STJ em seus julgados (ex: REsp 1.328.753/MG), o princípio em questão indica que se deve conduzir o meio ambiente e a sociedade a uma situação equivalente à anterior ao dano, na medida do possível.
17. Princípio da vedação do retrocesso ecológico (José Joaquim Gomes Canotilho) ou ambiental ou efeito cliquet/catraca ambiental
O fundamento desse princípio encontra-se na necessidade de preservação da vida. Como o direito ao meio ambiente equilibrado é dotado de status de direito fundamental, as garantias de proteção ambiental, uma vez conquistadas, não podem retroceder, sendo inadmissível o recuo da salvaguarda ambiental para níveis de proteção inferiores aos já consagrados, a não ser que as circunstâncias de fato sejam significativamente alteradas.
18. Princípio da responsabilidade comum, mas diferenciada (trazido por Frederico Amado)
Apresenta feição internacional, decorrendo do princípio da isonomia. Segundo esse princípio, “todas as nações são responsáveis pelo controle da poluição e a busca da sustentabilidade, mas os países mais poluidores deverão adotar as medidas mais drásticas, pois são os principais responsáveis pela degradação ambiental na Biosfera”. Está previsto no art. 4º, item 1, do Protocolo de Kyoto e no art. 3º da Lei 12.187/09, que aprovou a Política Nacional de Mudança do Clima.
19. Princípio da ubiquidade (Celso Antônio Pacheco Fiorillo)
Para o autor, “o objeto de proteção do meio ambiente, localizado no epicentro dos direitos humanos, deve ser levado em consideração toda vez que uma política, atuação, legislação sobre qualquer tema, atividade, obra etc. tiver que ser criada e desenvolvida”. A ubiquidade é a qualidade do que está por toda parte (onipresença), de modo que o direito fundamental ao meio ambiente equilibrado deverá nortear toda a atuação dos três Poderes, com vistas ao desenvolvimento sustentável.
20. Princípio da educação ambiental
Previsto no art. 225, § 1º, IV, da CRFB/88 (... “incumbe ao Poder Público:” “VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;”) e no art. 2º, X, da Lei 6.938/81, como princípio da PNMA (X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente). Nesse sentido, a Lei 9.795/1999 instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental. Trata-se de princípio essencial à efetiva participação dos cidadãos no controle do Estado e da iniciativa privada com vistas à preservação do meio ambiente.
4B. Teoria dos motivos determinantes. Teoria do desvio de poder. Acordo de leniência da Lei nº 12.846/2013.
Atualizado em 18/03/2023 por Ivanise Nunes Pereira.
Atualização anterior: Vanessa Andrade
	Motivo é a situação de fato (circunstâncias de fato) por meio da qual é deflagrada a manifestação de vontade da Administração.	Motivação é a justificativa do pronunciamento tomado. Exprime de modo expresso e textual todas as situações de fato que levaram o agente à manifestação da vontade. Pode ser contextual (no próprio bojo do ato administrativo) ou aliunde (está em local ou instrumento diverso.).
	A teoria dos motivos determinantes, desenvolvida no Direito Francês, baseia-se na ideia de que o motivo do ato administrativo deve sempre guardar compatibilidade com a situação de fato que gerou a manifestação da vontade. Se o motivo se conceitua como a própria situação de fato que impele a vontade do administrador, a inexistência dessa situação provoca a invalidação do ato. A teoria explicita que a administração pública está sujeita ao controle administrativo e judicial relativo à existência e pertinência/adequação dos motivos – fático e legal – que declarou como causa determinante. Comprovada a não ocorrência o ato será nulo. Aplica-se tanto aos vinculados como aos discricionários. Mesmo não exigindo expressa motivação, se existir passa a vincular o agente aos termos em que foi mencionada. Exemplos: férias requeridas por servidor e indeferida por falta de pessoal; se comprovado que há excesso de pessoal, o ato é viciado. Exoneração de servidor comissionado em razão da sua inassiduidade; se comprovado que não faltava nem atrasava o ato será inválido.
	STJ: “O motivo do ato administrativo não se confunde com a sua motivação, que é a manifestação escrita das razões que dão ensejo ao ato, exigida quando a lei expressamente determina, mormente nos atos vinculados. O ato administrativo, ainda quando haja margem de decisões opcionais pelo administrador (discricionariedade), sempre terá um motivo, podendo, neste último caso não ser expresso. A teoria dos motivos determinantes estabelece que, em havendo motivação escrita, ainda que não a lei não determine, passa o administrador a estar vinculado àquela motivação.” (AgInt no RMS 53.434/PE).
	Lei 4.717/65 (Ação Popular). Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de: d) inexistência dos motivos; Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as seguintes normas: d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou juridicamente inadequada ao resultado obtido;
	Teoria do desvio de poder
	Abuso de poder: é conduta ilegítima do administrador, quando atua fora dos objetivos expressa ou implicitamente traçados na lei. Formas de abuso de poder: excesso e desvio de poder.
	Excesso de Poder: o agente atua fora dos limites de sua competência administrativa, invade ou se arroga o exercício de atividade que a lei não lhe confere.
	Desvio de Poder é a modalidade de abuso em que o agente busca alcançar fim diverso daquele que a lei lhe permitiu. Se o agente atua em descompasso com esse fim desvia-se de seu poder. Por isso é que tal vício é também denominado de desvio de finalidade. É mais visível nos atos discricionários, e por isso difícil é obtenção de prova porque a ilegitimidade vem dissimulada sob a aparência de legalidade.
	Lei 4.717 (Ação Popular):Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de: (...) e) desvio de finalidade. Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as seguintes normas: (...) e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente,na regra de competência.
	O termo “regra de competência” expresso na lei 4.717/65 é empregada como sinônimo de “lei”. O desatendimento pode ser da finalidade 1) geral: finalidade alheia ou contrária ao interesse público; ou 2) específica: agente pratica ato condizente com interesse público, mas lei não prevê aquela finalidade específica para o tipo de ato praticado. (Ex. servidor removido a fim de punição, ainda que o local para onde foi removido haja necessidade de pessoal.) Não pode ser convalidado.
	STJ: “Nos atos discricionários, a vontade do agente administrativo deve se submeter à forma como a lei regulou a matéria, de sorte que, se as razões que levaram o agente à prática do ato, forem viciadas de favoritismos e perseguições, o ato há de ser tido como nulo, em face de sua contradição com a mens legis. (…) O instituto de remoção dos Servidores por exclusivo interesse da Administração não pode, em hipótese alguma, ser utilizado como sanção disciplinar, inclusive por não estar capitulado como penalidade no art. 127 da Lei 8.112/90 e significar arbítrio inaceitável.” (RMS 26.965/RS)
	Acordo de leniência da Lei nº 12.846/2013.
	Competência para celebrar o acordo de leniência da LAC: cabe à autoridade máxima de cada órgão ou entidade pública celebrar o acordo com a PJs responsáveis pela prática dos atos contra a Administração Pública (art. 16). No âmbito do Poder Executivo federal e no caso de atos lesivos praticados contra a Administração Pública estrangeira, o órgão competente para celebrar tais acordos será a CGU.
	Requisitos cumulativos: estão previstos no §1º do art. 16, a saber: I - a pessoa jurídica seja a primeira a se manifestar sobre seu interesse em cooperar para a apuração do ato ilícito; II - a pessoa jurídica cesse completamente seu envolvimento na infração investigada a partir da data de propositura do acordo; e III - a pessoa jurídica admita sua participação no ilícito e coopere plena e permanentemente com as investigações e o processo administrativo, comparecendo, sob suas expensas, sempre que solicitada, a todos os atos processuais, até seu encerramento.
	Resultado da colaboração: a colaboração deve resultar na identificação dos demais envolvidos na infração (quando couber) e na obtenção célere de informações e documentos que comprovem o ilícito sob apuração.
	Efeitos: estão previstos no §2º do art. 16, quais sejam: isenção da PJ das sanções da publicação extraordinária da decisão e da proibição de receber recursos públicos, bem como reduzirá em até 2/3 (dois terços) o valor da multa aplicável.
O acordo de leniência não exime a pessoa jurídica da obrigação de reparar integralmente o dano causado.
4C. Licitações. Princípios. Modalidades. Dispensa e inexigibilidade de licitação. 
Atualização realizada por Ivanise Nunes Pereira em 25/03/2023.
Atualização realizada por Viviane de Andrade Freitas em 11/2022.
Resumo construído conforme inovações da lei n° 14.133/2021.
A lei n° 14.133/2021 entrou em vigor na data de sua publicação, em 01/04/2021, permanecendo vigente, paralelamente, a lei n° 8.666/93, a lei n° 10.520/02 (Pregão) e os arts. 1º a 47-A da lei n° 12.642/11 (RDC), pelo período de 2 anos.
Desse modo, durante referido período de transição de 2 anos (01/04/2022 a 01/04/2023), a Administração Pública pode optar por licitar conforme a Lei nº 14.133/2021 ou conforme as leis anteriores, devendo a opção escolhida vir expressamente no edital licitatório. 
Assim, as Leis nº Lei nº 8.666/93, a Lei nº 10.520/02, e os arts. 1º a 47-A da Lei nº 12.462/11, permanecem em vigor até 01/04/2023.
A nova lei de licitações  revogou imediatamente somente as disposições criminais previstas na Lei nº 8.666/93. Em substituição, inseriu no Código Penal os artigos 337-E a 337-P, tipificando os delitos em licitações e contratos administrativos. 
Conceito: 
Licitação é o procedimento administrativo vinculado, por meio do qual os entes da Administração Pública e aqueles por ela controlados selecionam a melhor proposta entre as oferecidas pelos vários interessados, com dois objetivos – a celebração do contrato, ou a obtenção do melhor trabalho técnico, artístico ou científico (José dos Santos Carvalho Filho).
A licitação tem base constitucional no art. 37, inciso XXI, da CF/88. A competência para legislar sobre normas gerais aplicáveis a licitação e contratos administrativos é privativa da União. Todavia os Estados, DF, e Municípios podem legislar sobre questões específicas dessas matérias.
Objetivos da licitação:
a) assegurar a seleção da proposta apta a gerar o resultado mais vantajoso para a Administração, inclusive no que se refere ao ciclo de vida do objeto;
b) assegurar tratamento isonômico entre licitantes;
c) evitar contratações com sobrepreço ou com preços manifestamente inexequíveis e superfaturamento;
d) incentivar a inovação e o desenvolvimento nacional sustentável.
Definições expressas na Lei 14.133/21:
- Serviços contínuos com regime de dedicação exclusiva de mão de obra: a execução contratual exige, entre outros requisitos, que:
a) os empregados do contratado fiquem à disposição nas dependências do contratante para a prestação dos serviços;
b) o contratado não compartilhe os recursos humanos e materiais disponíveis de uma contratação para execução simultânea de outros contratos;
c) o contratado possibilite a fiscalização pelo contratante quanto à distribuição, controle e supervisão dos recursos humanos alocados aos seus contratos.
- Matriz de riscos: cláusula definidora de riscos e de responsabilidades entre as partes e caracterizadora do equilíbrio econômico-financeiro inicial, em termos de ônus financeiro decorrente de eventos supervenientes à contratação, contendo, no mínimo:
a) listagem de possíveis eventos supervenientes à assinatura do contrato que possam causar impacto em seu equilíbrio econômico-financeiro e previsão de eventual necessidade de termo aditivo;
b) no caso de obrigações de resultado, estabelecimento das frações do objeto com relação às quais haverá liberdade para os contratados inovarem em soluções metodológicas ou tecnológicas;
c) no caso de obrigações de meio, estabelecimento preciso das frações do objeto com relação às quais não haverá liberdade para os contratados inovarem em soluções metodológicas ou tecnológicas.
- Empreitada por preço unitário: contratação da execução da obra ou do serviço por preço certo de unidades determinadas.
- Empreitada por preço global: contratação da execução da obra ou do serviço por preço certo e total.
- Empreitada integral: contratação de empreendimento em sua integralidade sob inteira responsabilidade do contratado até sua entrega ao contratante em condições de entrada em operação.
- Contratação por tarefa: contratação de mão de obra para pequenos trabalhos por preço certo, com ou sem fornecimento de materiais.
- Contratação integrada: obras e serviços de engenharia em que o contratado é responsável por elaborar e desenvolver os projetos básico e executivo, executar obras e serviços de engenharia, fornecer bens ou prestar serviços especiais e realizar montagem, teste, pré-operação.
- Contratação semi-integrada: obras e serviços de engenharia em que o contratado é responsável por elaborar e desenvolver o projeto executivo, executar obras e serviços de engenharia, fornecer bens ou prestar serviços especiais e realizar montagem, teste, pré-operação.
- Catálogo eletrônico de padronização de compras, serviços e obras: sistema informatizado, de gerenciamento centralizado e com indicação de preços, destinado a padronização de itens a serem adquiridos pela Administração e que estarão disponíveis para licitação.	
- Contrato de eficiência: o objeto é a prestação de serviços, que pode incluir a realização de obras e o fornecimento de bens, com o objetivo de proporcionar economia ao contratante, na forma de redução de despesas correntes, remunerado o contratado com base em percentual da economia gerada.
- Sobrepreço: preço orçado para licitação ou contratado em valor expressivamente superior aos preços de mercado, seja de apenas 1 item, sea licitação ou a contratação for por preços unitários de serviço, seja do valor global do objeto, se a licitação ou a contratação for por tarefa, empreitada por preço global ou empreitada integral, semi-integrada ou integrada.	
- Superfaturamento: dano provocado ao patrimônio da Administração caracterizado por:
a) medição de quantidades superiores às efetivamente executadas ou fornecidas;
b) deficiência na execução de obras e de serviços de engenharia que resulte em diminuição da sua qualidade, vida útil ou segurança;
c) alterações no orçamento de obras e de serviços de engenharia que causem desequilíbrio econômico-financeiro do contrato em favor do contratado;
d) outras alterações de cláusulas financeiras que gerem recebimentos contratuais antecipados, distorção do cronograma físico-financeiro, prorrogação injustificada do prazo contratual com custos adicionais para a Administração ou reajuste irregular de preços.
- Reajustamento em sentido estrito: forma de manutenção do equilíbrio econômico-financeiro de contrato consistente na aplicação do índice de correção monetária previsto no contrato, que deve retratar a variação efetiva do custo de produção, admitida a adoção de índices específicos ou setoriais.	
- Repactuação: forma de manutenção do equilíbrio econômico-financeiro de contrato utilizada para serviços contínuos com regime de dedicação exclusiva de mão de obra ou predominância de mão de obra, devendo estar prevista no edital com data vinculada à apresentação das propostas, para os custos decorrentes do mercado, e com data vinculada ao acordo, à convenção coletiva ou ao dissídio coletivo ao qual o orçamento esteja vinculado, para os custos decorrentes da mão de obra.
- Obras, serviços e fornecimentos de grande vulto: valor estimado supera R$ 200 milhões.
Quando a contratação se referir a obras e serviços de grande vulto ou forem adotados os regimes de contratação integrada e semi-integrada, o edital obrigatoriamente contemplará matriz de alocação de riscos entre o contratante e o contratado.
É obrigatória a implantação de programa de integridade pelo vencedor em 6 meses após a celebração do contrato nas contratações de obras, serviços e fornecimentos de grande vulto.
O seguro-garantia será de até 30% do valor inicial do contrato em obras e serviços de engenharia de grande vulto.
	- Agente de contratação: pessoa designada pela autoridade competente, entre servidores efetivos ou empregados públicos dos quadros permanentes da Administração, para tomar decisões, acompanhar o trâmite da licitação, dar impulso ao procedimento licitatório e executar outras atividades ao bom andamento do certame até a homologação. Será auxiliado por equipe de apoio e responderá individualmente pelos atos que praticar, salvo quando induzido a erro pela atuação da equipe.
Em licitação que envolva bens ou serviços especiais, o agente de contratação poderá ser substituído por comissão de contratação formada por, no mínimo, 3 membros, que responderão solidariamente, ressalvado o membro que expressar posição individual divergente fundamentada e registrada em ata.
Em licitação que envolva bens ou serviços especiais cujo objeto não seja rotineiramente contratado pela Administração, poderá ser contratado, por prazo determinado, serviço de empresa ou de profissional especializado para assessorar os agentes públicos responsáveis pela condução da licitação.
Pregão: agente responsável é o pregoeiro. 
Diálogo competitivo: comissão com 3 servidores ou empregados públicos.
A advocacia pública promoverá a defesa do agente público demandado em razão de ato praticado com base em parecer jurídico, ainda que não ocupe mais o cargo em que praticado o ato.
Âmbito de aplicação:
A Lei estabelece normas gerais de licitação e contratação para as Administrações Públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e abrange os órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário da União, dos Estados e do Distrito Federal e os órgãos do Poder Legislativo dos Municípios, quando no desempenho de função administrativa; bem como os fundos especiais e as demais entidades controladas direta ou indiretamente pela Administração Pública.
A Lei n 14.133/21 não se aplica a empresas públicas e sociedades de economia mista, e as suas subsidiárias.
Também não se subordinam ao regime desta Lei: 
- contratos que tenham por objeto operação de crédito, interno ou externo, e gestão de dívida pública, incluídas as contratações de agente financeiro e a concessão de garantia relacionadas a esses contratos;
- contratos sujeitos à legislação própria.
A lei n° 14.133/2021 é aplicável nos seguintes casos:
I - alienação e concessão de direito real de uso de bens;
II - compra, inclusive por encomenda;
III - locação;
IV - concessão e permissão de uso de bens públicos;
V - prestação de serviços, inclusive os técnico-profissionais especializados;
VI - obras e serviços de arquitetura e engenharia;
VII - contratações de tecnologia da informação e de comunicação.
	Microempresas e empresas de pequeno porte:
A comprovação de regularidade fiscal e trabalhista das microempresas e das empresas de pequeno porte somente será exigida para efeito de assinatura do contrato.
Será assegurada, como critério de desempate, preferência de contratação para as microempresas e empresas de pequeno porte.
Esses benefícios não se aplicam na:
I - licitação para aquisição de bens ou contratação de serviços em geral, ao item cujo valor estimado for superior à receita bruta máxima admitida para fins de enquadramento como EPP;
II - contratação de obras e serviços de engenharia, às licitações cujo valor estimado for superior à receita bruta máxima admitida para fins de enquadramento como EPP.
	Os benefícios são exclusivos a ME e EPP que, no ano-calendário da licitação, ainda não tenham celebrado contratos com a Administração cujos valores somados extrapolem a receita bruta máxima admitida para fins de enquadramento como EPP.
Nas contratações com prazo de vigência superior a 1 ano, será considerado o valor anual do contrato na aplicação dos limites.
Princípios:
Legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, interesse público, probidade administrativa, igualdade, planejamento, transparência, eficácia, segregação de funções, motivação, vinculação ao edital, julgamento objetivo, segurança jurídica, razoabilidade, competitividade, proporcionalidade, celeridade, economicidade e desenvolvimento nacional sustentável.
Princípio do julgamento objetivo: critérios objetivos para definição do vencedor definidos no art. 33: I - menor preço; II - maior desconto; III - melhor técnica ou conteúdo artístico; IV - técnica e preço; V - maior lance, no caso de leilão; VI - maior retorno econômico.
Princípio da publicidade: os atos praticados no processo licitatório são públicos, ressalvadas as hipóteses de informações cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.
A publicidade será diferida:
I - quanto ao conteúdo das propostas, até a respectiva abertura;
II - quanto ao orçamento da Administração. O orçamento estimado da contratação poderá ter caráter sigiloso, sem prejuízo da divulgação do detalhamento dos quantitativos e das demais informações necessárias para a elaboração das propostas, e, nesse caso, o sigilo não prevalecerá para os órgãos de controle interno e externo.
Princípio da economicidade
O princípio da economicidade decorre do princípio da eficiência da Administração Pública, segundo o qual o administrador deve se empenhar na obtenção do melhor resultado, mediante o mínimo de recursos. 
Considerando que a atividade administrativa gera custos e diante da escassez dos recursos públicos, o administrador tem o dever de utilizá-los de modo a garantir os melhores resultados econômicos, quantitativa e qualitativamente. Com efeito, uma das maneiras de atingir essa economicidade é mediante o procedimento licitatório. 
Todavia, frise-se que a busca pela proposta mais vantajosa na licitação não se confunde meramente com a procura pelomenor preço, pois a economicidade, vantagem e eficiência na esfera da Administração Pública abrange vários fatores, de maneira que proposta vencedora no procedimento licitatório poderá ter maior custo financeiro, porém ser a mais vantajosa em outros aspectos. 
Princípio da isonomia
Além de se tratar de um princípio regente da licitação, a isonomia configura uma das finalidades do procedimento licitatório. Não é admissível qualquer tratamento diferenciado que objetive beneficiar ou a prejudicar algum dos licitantes. 
Decorre do princípio da isonomia que os critérios de julgamento da licitação serão objetivos e os requisitos exigidos para a participação no certame apenas poderão ser aqueles previamente previstos em lei e essenciais para a sua realização. 
É vedado admitir situações que comprometam o caráter competitivo, inclusive nos casos de participação de cooperativas; bem como estabelecer tratamento diferenciado entre empresas brasileiras e estrangeiras, inclusive no que se refere a moeda, modalidade e local de pagamento, mesmo quando envolvido financiamento de agência internacional.
Cabe ressaltar que a isonomia da licitação há de ser compreendida em seu aspecto material, ou seja, tratar igual os iguais, e de forma diferenciada os desiguais, na medida de suas desigualdades. 
Configuram mecanismos de tratamento diferenciado, de modo a contemplar a isonomia material:
i) tratamento diferenciado às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte;
ii) preferências para a aquisição de produtos manufaturados ou serviços nacionais; e de bens reciclados, recicláveis ou biodegradáveis (cf. artigo 26 da Lei nº 14.133/2021). 
Princípio da segregação de funções
De acordo com o princípio da segregação de funções, cada etapa do procedimento da licitação deverá ser feita por um agente público diferente. Ou seja, separam-se as funções de autorização, aprovação, execução, controle e contabilização. Evita-se que o mesmo servidor execute e fiscalize o contrato.
Além da especialização e de direcionamento das funções, objetiva-se evitar equívocos, fraude, emprego irregular de verbas públicas e atuação em funções que sejam incompatíveis. 
Assim, é vedada a designação do mesmo agente público para atuação simultânea em funções mais suscetíveis a riscos, de modo a reduzir a possibilidade de ocultação de erros e de ocorrência de fraudes na contratação. Também se aplica aos órgãos de assessoramento jurídico e de controle interno da Administração.
Princípio da segurança jurídica
O princípio da segurança jurídica consubstancia uma garantia de estabilidade das relações jurídicas, bem como da proteção à confiança. É dizer, objetiva-se que os cidadãos não sejam surpreendidos por alterações na legislação, tampouco na interpretação ou aplicação das normas. 
	Tipos de Licitação:
Critérios para julgamento das propostas da licitação.
I - menor preço;
II - maior desconto;
III - melhor técnica ou conteúdo artístico;
IV - técnica e preço;
V - maior lance, no caso de leilão;
VI - maior retorno econômico.
	Modalidades de Licitação:
Estrutura procedimental do certame licitatório.
I - pregão;
II - concorrência;
III - concurso;
IV - leilão;
V - diálogo competitivo.
	Procedimentos auxiliares das licitações e das contratações:
I - credenciamento;
II - pré-qualificação;
III - procedimento de manifestação de interesse;
IV - sistema de registro de preços;
V - registro cadastral.
Tipos de licitação: 
a) Menor Preço: a administração deve escolher a proposta de preço mais baixo dentre competidores. Referido tipo é empregado quando o produto buscado pela Administração não possuir nenhuma condição especial ou quando as condições especiais são estabelecidas como requisitos mínimos para contratação. 
Considerará o menor dispêndio para a administração, atendidos os parâmetros mínimos de qualidade.
Os custos indiretos, relacionados com as despesas de manutenção, utilização, reposição, depreciação e impacto ambiental do objeto licitado, entre outros fatores vinculados ao seu ciclo de vida, poderão ser considerados para a definição do menor dispêndio, sempre que objetivamente mensuráveis. 
b) Maior Desconto: a seleção da proposta terá como referência o preço global fixado no edital licitatório, e o aludido desconto deverá ser estendido aos eventuais termos aditivos. 
Considerará o menor dispêndio para a administração, atendidos os parâmetros mínimos de qualidade.
c) Melhor Técnica ou Conteúdo Artístico: considerará exclusivamente as propostas técnicas ou artísticas apresentadas pelos licitantes, e o edital deverá definir o prêmio ou a remuneração que será atribuída aos vencedores.
Esse critério de julgamento poderá ser utilizado para a contratação de projetos e trabalhos de natureza técnica, científica ou artística.
d) Técnica e preço: deverá ser realizada uma análise do preço (quantitativa) e da técnica (qualitativa). Será apreciada a pontuação obtida pelo licitante a partir de uma ponderação entre as notas obtidas no critério técnica e no critério preço. 
Considerará o menor dispêndio para a administração, atendidos os parâmetros mínimos de qualidade.
O tipo de licitação técnica e preço se aplica nas licitações para contratação de:
I - serviços técnicos especializados de natureza predominantemente intelectual, caso em que o critério de julgamento de técnica e preço deverá ser preferencialmente empregado;
II - serviços majoritariamente dependentes de tecnologia sofisticada e de domínio restrito;
III - bens e serviços especiais de tecnologia da informação e de comunicação;
IV - obras e serviços especiais de engenharia;
V - objetos que admitam soluções específicas e alternativas e variações de execução, com repercussões significativas e concretamente mensuráveis sobre sua qualidade, produtividade, rendimento e durabilidade, quando essas soluções e variações puderem ser adotadas à livre escolha dos licitantes, conforme critérios objetivamente definidos no edital de licitação.
e) Maior Lance: a licitação por maior lance é realizada para venda de bens e direitos. Trata-se do tipo de licitação apropriado para o leilão.
f) Maior Retorno Econômico: é utilizado exclusivamente para a celebração de contratos de eficiência, considerará a maior economia para a Administração, sendo que a remuneração dever ser fixada em percentual que incidirá de forma proporcional à economia efetivamente obtida na execução do contrato. 
Modalidades de licitação:
A Lei 14.133/2021:
- proíbe a criação ou a combinação de novas modalidades licitatórias. 
- suprimiu as modalidades de convite e de tomada de preço;
- o valor deixou de ser um critério adotado para definição da modalidade licitatória;
- suprimiu-se o Regime Diferenciado de Contratações (RDC), previsto na Lei 12.462/11;
- foi criada a modalidade denominada diálogo competitivo.
	Lei 8.666/93
	Lei 14.133/21
	a) concorrência.
b) tomada de preços.
c) convite.
d) concurso.
e) leilão.
	1) concorrência;
2) concurso;
3) leilão;
4) pregão;
5) diálogo competitivo.
Modalidades de licitação da Lei 8.666/93:
a) concorrência: obras e serviços de engenharia com valor acima de R$ 3.300.000,00, compras e demais serviços com valor acima de R$ 1.430.000,00, sendo que, para os consórcios públicos, aplicar-se-á o dobro desse valor, se formado por até 3 entes da Federação, e o triplo, quando formado por maior número. 
Em alguns casos, a Lei exige a concorrência em razão da natureza do futuro contrato, independentemente do valor – concessões de direito real de uso, licitações internacionais, compra/alienação de bens imóveis, ressalvados os casos previstos no art. 19, bem como concessão de serviço público. 
b) tomada de preços: contratações de médio vulto econômico. Podem participar os “interessados devidamente cadastrados ou que atenderem a todas as condições exigidas para cadastramento até o terceiro dia anterior à data do recebimento das propostas, observada a necessária qualificação”.
c) convite: modalidade menos formal, para contratações de menor vulto econômico, podendo participar os convidados (cadastrados ou não) e não convidados, cadastrados,que manifestarem interesse com 24h de antecedência da apresentação das propostas. A Administração deve convidar, no mínimo, 3 pessoas. Prevalece a interpretação no sentido de que não basta enviar a carta-convite a três pessoas, é necessário receber, efetivamente, no mínimo três propostas.
d) concurso: seu objetivo é escolher trabalho técnico, científico ou artístico, mediante a instituição de prêmios ou remuneração aos vencedores. O concurso não depende do valor estimado do contrato e permite a participação de todos os interessados.
e) leilão: adotado para a alienação de bens móveis inservíveis, de produtos legalmente apreendidos ou penhorados e de imóveis adquiridos em procedimentos judiciais ou mediante dação em pagamento. O bem deve ser avaliado, para definição do valor mínimo de arrematação, sagrando-se vencedor aquele que oferecer o maior lance, igual ou superior à avaliação.
Já o pregão é a modalidade prevista na Lei 10520/2002, para aquisição de bens e serviços comuns, pela União, Estados, DF, e Municípios, independentemente do valor estimado do futuro contrato. O fato que define a sua utilização é a natureza do objeto da contratação – aquisição de bens ou serviços comuns. Bens e serviços comuns: aqueles cujos padrões de desempenho e qualidade possam ser objetivamente definidos pelo edital, por meio de especificações usuais no mercado. Na modalidade pregão sempre se adota como critério de julgamento o menor preço da proposta. É realizado por propostas e lances em sessão pública. O autor da oferta de valor mais baixo e os das ofertas com preços até 10% superiores a ela poderão fazer novos lances verbais e sucessivos, até a proclamação do vencedor. Outra característica do pregão é que há uma inversão das fases de habilitação e julgamento das propostas. No pregão a habilitação é sempre posterior à fase de julgamento e classificação. Há duas modalidades de pregão: o presencial e o eletrônico (Decreto 5.450/05). A Administração não pode exigir garantia de proposta, nem a aquisição do edital pelos licitantes como condição para participar do certame ou pagamento de taxas e emolumentos. A adjudicação do objeto ao vencedor é anterior à homologação do procedimento. Para a União, vale o seguinte: “nas licitações para aquisição de bens e serviços comuns será obrigatória a modalidade pregão, sendo preferencial a utilização da sua forma eletrônica”. O pregão ainda deve ser utilizado na forma eletrônica, salvo nos casos de comprovada inviabilidade, a ser justificada pela autoridade competente.
Por fim, a consulta (art. 37 da Lei 9986/2000) foi prevista para licitações realizadas por agências reguladoras, quando não for possível o pregão, sem relação com o valor estimado do futuro contrato.
Modalidades de licitação da lei 14.133/21:
1) concorrência: contratação de bens e serviços especiais e de obras e serviços comuns e especiais de engenharia. 
Critérios de julgamento: a) menor preço; b) melhor técnica ou conteúdo artístico; c) técnica e preço; d) maior retorno econômico; e) maior desconto.
Sistema de registro de preços: concorrência ou pregão.
Concessão de serviço público: concorrência ou diálogo competitivo.
Concessão de serviço público precedida da execução de obra pública: concorrência ou diálogo competitivo.
Parceria público-privada: concorrência ou diálogo competitivo.
2) concurso: modalidade de licitação para escolha de trabalho técnico, científico ou artístico, cujo critério de julgamento será o de melhor técnica ou conteúdo artístico, e para concessão de prêmio ou remuneração ao vencedor.
Deve ser indicado no edital: I - a qualificação exigida dos participantes; II - as diretrizes e formas de apresentação do trabalho; III - as condições de realização e o prêmio ou remuneração a ser concedida ao vencedor.
Nos concursos destinados à elaboração de projeto, o vencedor deverá ceder à Administração todos os direitos patrimoniais relativos ao projeto e autorizar sua execução conforme juízo de conveniência e oportunidade das autoridades competentes.
Matheus Carvalho (2022, p. 591) ensina que: “O concurso demonstra o interesse da Administração Pública em selecionar trabalhos técnicos, científicos ou artísticos com certas capacidades personalíssimas para incentivar o desenvolvimento cultural. Nesta modalidade, há instituição de prêmios ou remuneração aos vencedores, nos moldes definidos pelo art. 30 da Lei 14.133/21”. 
Além disso (2022, p. 592): “Pode-se citar como exemplo, um concurso para escolha do melhor projeto arquitetônico para revitalização do centro de uma cidade, ou concurso de monografias em determinada área do conhecimento de interesse do órgão público. Em ambos os casos, a Administração Pública escolherá um trabalho a ser premiado conforme estipulado no edital.”
3) leilão: modalidade de licitação para alienação de bens imóveis ou de bens móveis inservíveis ou legalmente apreendidos a quem oferecer o maior lance.
O leilão poderá ser cometido a leiloeiro oficial ou a servidor designado. 
Se optar pela realização de leilão por de leiloeiro oficial, a Administração deverá selecioná-lo mediante credenciamento ou pregão e adotar o critério de julgamento de maior desconto para as comissões a serem cobradas.
O leilão não exigirá registro cadastral prévio, não terá fase de habilitação e deverá ser homologado assim que concluída a fase de lances, superada a fase recursal e efetivado o pagamento pelo licitante vencedor.
A alienação de bens imóveis da Administração Pública cuja aquisição tenha sido derivada de procedimentos judiciais ou de dação em pagamento dispensará autorização legislativa e exigirá apenas avaliação prévia e licitação na modalidade leilão.
4) pregão: modalidade de licitação obrigatória para aquisição de bens e serviços comuns, cujo critério de julgamento poderá ser o de menor preço ou o de maior desconto.
Matheus Carvalho (2022, p. 594) ensina que: “Inicialmente, o pregão foi instituído como modalidade específica das agências reguladoras, uma vez regulado pela Lei 9.472/97, que instituiu a ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações), a Lei nº 9.7478/97, que instituiu a ANP(Agência Nacional do Petróleo). 
Tais diplomas legais estabeleciam que essas autarquias em regime especial realizariam procedimento licitatório nas modalidades pregão e consulta. Em 2000, foi editada a Medida Provisória 2.026/2000 que estendeu a sua aplicação aos órgãos e entidades da União Federal, não sendo, ainda, possível a utilização de pregão para as licitações em âmbito estadual, distrital e municipal. Após várias reedições, chegou-se na atual Lei 10.520/02, em que o Pregão teve sua atuação estendida para todos os entes da Administração Pública, em todas as esferas de poder. 
Com a edição da lei 14.133/21, o pregão se mantém como uma modalidade geral. 
O Pregão surgiu para aperfeiçoar o regime de licitações levando a uma maior competitividade e ampliando a oportunidade de participar das licitações, contribuindo para desburocratizar os procedimentos para a habilitação e etapas do procedimento, por ser mais célere e também visando a busca pelas contratações de preços mais baixos pelos entes da Administração Pública. Desta forma, o pregão, ao mesmo tempo, garante maior agilidade nas contratações públicas e contribui para a redução de gastos.
Com a edição da lei 14.133/21, essa sistemática é totalmente modificada, haja vista não haver diferença legal entre os procedimentos do pregão e da concorrência.
Com efeito, o pregão, assim como a concorrência, atualmente é realizado de forma a acirrar as disputas pelas contratações com o Estado, admitindo, em seu procedimento, a realização de lances verbais, com o intuito de permitir sempre a contratação de menor custo, observadas as disposições referentes aos requisitos mínimos de qualidade.” 
Verifica-se que o pregão não estava regulamentado na Lei nº 8.666/93, visto que suas regras estavam previstas em lei específica. Na Lei nº 14.133/2021, por seu turno, o pregão tem previsão na lei geral de licitações, assim como as demais modalidades licitatórias.
O agente responsávelpela condução do certame será designado pregoeiro.
O pregão será adotado sempre que o objeto possuir padrões de desempenho e qualidade que possam ser objetivamente definidos pelo edital, por meio de especificações usuais de mercado.
Não se aplica o pregão às contratações de serviços técnicos especializados de natureza predominantemente intelectual e de obras e serviços de engenharia, exceto os serviços comuns de engenharia.
Serviço comum de engenharia: todo serviço de engenharia que tem por objeto ações, objetivamente padronizáveis em termos de desempenho e qualidade, de manutenção, de adequação e de adaptação de bens móveis e imóveis, com preservação das características originais dos bens.
Contratação de leiloeiro oficial: credenciamento ou pregão (maior desconto para as comissões).
5) diálogo competitivo: modalidade de licitação para contratação de obras, serviços e compras em que a Administração Pública realiza diálogos com licitantes previamente selecionados mediante critérios objetivos, com o intuito de desenvolver uma ou mais alternativas capazes de atender às suas necessidades, devendo os licitantes apresentar proposta final após o encerramento dos diálogos.
Matheus Carvalho (2022, p. 595) explica que: “Nesses casos, a Administração Pública reconhece a importância de contratação de um determinado objeto, mas não sabe a melhor forma de suprir essa necessidade da forma mais adequada, dada a sua complexidade, e, para tanto, precisa de auxílio dos particulares. Assim, essa modalidade permite que seja implementado um diálogo entre o ente estatal e seus fornecedores para encontrarem a melhor solução para atender às necessidades do poder público. Isso ocorre porque, muitas vezes, os produtos ou serviços disponíveis no mercado não atendem à necessidade da Administração e precisam ser adaptados caso a caso. 
Então, suponha que o ente público precisa resolver um problema de abastecimento de água em um pequeno município do interior em que há fornecimento de água encanada pela concessionária. Cabe, nesse caso, a realização do diálogo como forma de definir qual a forma mais idônea a garantir o referido abastecimento. Nesse caso, juntamente com o particular, se decidirá se será feita a construção de cisterna, poço artesiano, desvio do curso de algum rio da região, etc.”
Com efeito, essa fase de negociação, que acontecerá somente no início da definição do objeto da licitação, é reflexo de uma nova visão contemporânea da Administração Pública dialógica. Nesse panorama, o ente público deve estar aberto ao diálogo, à participação dos particulares (por meio de audiências públicas, participação popular, licitação na modalidade de diálogo competitivo), sempre objetivando alcançar o interesse público do melhor modo. 
O diálogo competitivo é restrito a contratações em que a Administração:
I - vise a contratar objeto que envolva as seguintes condições:
a) inovação tecnológica ou técnica;
b) impossibilidade da administração ter sua necessidade satisfeita sem a adaptação de soluções disponíveis no mercado; e
c) impossibilidade das especificações técnicas serem definidas com precisão suficiente pela Administração;
II - verifique a necessidade de definir e identificar os meios e as alternativas que possam satisfazer suas necessidades, com destaque para os seguintes aspectos: a) a solução técnica mais adequada; b) os requisitos técnicos aptos a concretizar a solução já definida; c) a estrutura jurídica ou financeira do contrato.
No edital de licitação, a Administração apresentará suas necessidades e as exigências já definidas e estabelecerá prazo mínimo de 25 dias úteis para manifestação de interesse na participação da licitação.
Serão admitidos todos os interessados que preencherem os requisitos objetivos estabelecidos.
A Administração não poderá revelar a outros licitantes as soluções propostas ou as informações sigilosas comunicadas por um licitante sem o seu consentimento.
A fase de diálogo poderá ser mantida até que a Administração identifique a solução ou as soluções que atendam às suas necessidades.
O edital poderá prever a realização de fases sucessivas, caso em que cada fase poderá restringir as soluções ou as propostas a serem discutidas.
Ao declarar que o diálogo foi concluído, a Administração deverá juntar aos autos do processo licitatório os registros e as gravações da fase de diálogo, iniciar a fase competitiva com a divulgação de edital contendo a especificação da solução que atenda às suas necessidades e os critérios objetivos a serem utilizados para seleção da proposta mais vantajosa e abrir prazo, não inferior a 60 dias úteis, para todos os licitantes pré-selecionados apresentarem suas propostas, que deverão conter os elementos necessários para a realização do projeto.
A Administração definirá a proposta vencedora de acordo com critérios divulgados no início da fase competitiva, assegurada a contratação mais vantajosa como resultado.
O diálogo competitivo será conduzido por comissão de contratação composta de pelo menos 3  servidores efetivos ou empregados públicos pertencentes aos quadros permanentes da Administração, admitida a contratação de profissionais para assessoramento técnico da comissão.
Procedimentos auxiliares das licitações e das contratações:
I - credenciamento;
II - pré-qualificação;
III - procedimento de manifestação de interesse;
IV - sistema de registro de preços;
V - registro cadastral.
I - Credenciamento 
Trata-se de processo administrativo de chamamento público em que a Administração Pública convoca interessados em prestar serviços ou fornecer bens para que se credenciem no órgão ou na entidade para executar o objeto quando convocados. O edital de chamamento deverá prever as condições padronizadas de contratação. O leiloeiro oficial pode ser escolhido por credenciamento ou pregão. É inexigível licitação quando os objetos que devam ou possam ser contratados por meio de credenciamento. 
O credenciamento poderá ser usado nas seguintes hipóteses:
I - paralela e não excludente: quando viável e vantajosa para a Adm. a realização de contratações simultâneas em condições padronizadas. Deverão ser adotados critérios objetivos de distribuição da demanda. O edital deve definir o valor da contratação.
II - com seleção a critério de terceiros: a seleção do contratado está a cargo do beneficiário direto da prestação. O edital deve definir o valor da contratação.
III - em mercados fluidos: quando a flutuação do valor da prestação e das condições de contratação inviabiliza a seleção por meio de licitação.
Administração deve divulgar e manter em site edital de chamamento de interessados permitindo o cadastramento permanente de novos interessados.
Será admitida a denúncia por qualquer das partes nos prazos fixados no edital.
Jurisprudência: 
O credenciamento é uma hipótese de inexigibilidade de licitação na qual “a Administração aceita como colaborador todos aqueles que, atendendo as motivadas exigências públicas, manifestem interesse em firmar contrato ou acordo administrativo.” (TORRES, Ronny Charles Lopes de. Leis de Licitações Públicas comentadas. Salvador: Juspodivm, 2019, p. 348). Desse modo, o credenciamento é um procedimento por meio do qual a Administração Pública anuncia que precisa de pessoas para fornecer determinados bens ou para prestarem algum serviço e que irá contratar os que se enquadrem nas qualificações que ela exigir. Após esse chamamento público, os interessados podem se habilitar para serem contratados. Fala-se que é uma hipótese de inexigibilidade de licitação porque não haverá competição (disputa) entre os interessados. Todos os interessados que preencham os requisitos anunciados serão considerados “credenciados” e estarão aptos a serem contratos. O Banco do Brasil publicou edital para credenciamento de advogados para prestar serviços advocatícios. Ocorre que o edital de credenciamento publicado previu um critério de pontuação, de forma que os advogados e escritórios que se inscrevessem iriam ser avaliados e organizados segundo uma ordem de classificação baseada no currículo,experiência etc. O TCU e o STJ entendem que isso não é válido. O estabelecimento de critérios de classificação para a escolha de licitantes em credenciamento é ilegal. O credenciamento é considerado como uma espécie de inexigibilidade de licitação justamente pelo fato de não ser possível, em tese, a competição entre os interessados. Logo, a previsão de critérios de pontuação entre os interessados contraria a natureza do processo de credenciamento. Assim, no credenciamento só se admite a existência de requisitos mínimos. Se o interessado preencher, ele está credenciado; se não atender, encontra-se eliminado. Os critérios permitidos são, portanto, meramente eliminatórios (e não classificatórios). STJ. 1ª Turma. REsp 1.747.636-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 03/12/2019 (Info 662).
II - Pré-qualificação:
Procedimento seletivo prévio à licitação destinado à análise das condições de habilitação dos interessados ou do objeto. A pré-qualificação objetiva selecionar os licitantes que reúnam condições de habilitação para participar de futura licitação OU selecionar bens que atendam às exigências técnicas ou de qualidade estabelecidas pela administração. O procedimento de pré-qualificação ficará permanentemente aberto para a inscrição de interessados. Os bens e os serviços pré-qualificados deverão integrar o catálogo de bens e serviços da administração.
A pré-qualificação terá validade:
I - de 1 ano, no máximo, e poderá ser atualizada a qualquer tempo;
II - não superior ao prazo de validade dos documentos apresentados pelos interessados.
A licitação que se seguir à pré-qualificação poderá ser restrita a licitantes ou bens pré-qualificados.
III - Procedimento de manifestação de interesse:
Iniciado com a publicação de edital de chamamento público para a realização de estudos, investigações, levantamentos e projetos de soluções inovadoras que contribuam com questões de relevância pública.
Os estudos, as investigações, os levantamentos e os projetos estarão à disposição dos interessados, e o vencedor da licitação deverá ressarcir os dispêndios correspondentes.
Os estudos, investigações, levantamentos e projetos em razão do procedimento de manifestação de interesse:
I - não atribuirá ao realizador direito de preferência no processo licitatório;
II - não obrigará o poder público a realizar licitação;
III - não implicará, por si só, direito a ressarcimento de valores envolvidos em sua elaboração;
IV - será remunerada somente pelo vencedor da licitação, vedada, em qualquer hipótese, a cobrança de valores do poder público.
O procedimento poderá ser restrito a startups (microempreendedores individuais, ME e EPP, de natureza emergente e com grande potencial, que se dediquem à pesquisa, ao desenvolvimento e à implementação de novos produtos ou serviços baseados em soluções tecnológicas inovadoras que possam causar alto impacto).
IV – Sistema de registro de preços:
Conjunto de procedimentos para realização, mediante contratação direta ou licitação nas modalidades pregão ou concorrência, de registro formal de preços relativos a prestação de serviços, a obras e a aquisição e locação de bens para contratações futuras.
As propostas ficam registradas em ata para futuras e eventuais contratações na medida das necessidades administrativas. O objetivo é racionalizar as contratações (economicidade). Ao invés de realizar uma licitação para cada compra de produtos e serviços do dia a dia, a Administração realiza um único certame, para registrar os preços e realizar, futura e discricionariamente, as contratações.
SRP não constitui modalidade de licitação, mas procedimento auxiliar.
O planejamento de compras deverá considerar a expectativa de consumo anual e observar o processamento por meio de sistema de registro de preços, quando pertinente.
O edital de licitação para registro de preços deverá dispor sobre:
I - as especificidades da licitação e de seu objeto, inclusive a quantidade máxima de cada item que poderá ser adquirida;
II - a quantidade mínima a ser cotada de unidades de bens ou, no caso de serviços, de unidades de medida;
III - a possibilidade de prever preços diferentes:
a) quando o objeto for realizado ou entregue em locais diferentes;
b) em razão da forma e do local de acondicionamento;
c) quando admitida cotação variável em razão do tamanho do lote;
d) por outros motivos justificados no processo;
IV - a possibilidade de o licitante oferecer ou não proposta em quantitativo inferior ao máximo previsto no edital, obrigando-se nos limites dela;
V - o critério de julgamento da licitação, que será o de menor preço ou o de maior desconto sobre tabela de preços praticada no mercado;
VI - as condições para alteração de preços registrados;
VII - o registro de mais de um fornecedor ou prestador de serviço, desde que aceitem cotar o objeto em preço igual ao do licitante vencedor, assegurada a preferência de contratação de acordo com a ordem de classificação;
VIII - a vedação à participação do órgão ou entidade em mais de uma ata de registro de preços com o mesmo objeto no prazo de validade daquela de que já tiver participado, salvo na ocorrência de ata que tenha registrado quantitativo inferior ao máximo previsto no edital;
IX - as hipóteses de cancelamento da ata de registro de preços e suas consequências.
É permitido registro de preços com indicação limitada a unidades de contratação, sem indicação do total a ser adquirido, apenas nas seguintes situações:
- quando for a 1ª licitação para o objeto e o órgão não tiver registro de demandas anteriores;
- no caso de alimento perecível;
- no caso em que o serviço estiver integrado ao fornecimento de bens.
Nesse caso, é obrigatória a indicação do valor máximo da despesa e é vedada a participação de outro órgão ou entidade na ata.
O SRP poderá ser usado para a contratação de bens e serviços, inclusive de obras e serviços de engenharia, desde que exista projeto padronizado, sem complexidade técnica e operacional e necessidade permanente ou frequente de obra ou serviço a ser contratado.
Também poderá ser utilizado nos casos de inexigibilidade e de dispensa de licitação para a aquisição de bens ou para a contratação de serviços por mais de um órgão ou entidade.
A existência de preços registrados implicará compromisso de fornecimento nas condições estabelecidas, mas não obrigará a Administração a contratar, facultada a realização de licitação específica para a aquisição pretendida, desde que devidamente motivada.
O prazo de vigência da ata de registro de preços será de 1 ano e poderá ser prorrogado, por igual período, desde que comprovado o preço vantajoso.
O órgão ou entidade gerenciadora deverá, na fase preparatória do processo licitatório, para fins de registro de preços, realizar procedimento público de intenção de registro de preços para possibilitar a participação de outros órgãos ou entidades na respectiva ata e determinar a estimativa total de quantidades da contratação.
Carona: se não participarem desse procedimento, os órgãos e entidades poderão aderir à ata de registro de preços na condição de não participantes, observados os seguintes requisitos:
I - apresentação de justificativa da vantagem da adesão, inclusive em situações de provável desabastecimento ou descontinuidade de serviço público;
II - demonstração de que os valores registrados estão compatíveis com os valores praticados pelo mercado;
III - prévias consulta e aceitação do órgão ou entidade gerenciadora e do fornecedor.
As aquisições ou as contratações adicionais não poderão exceder, por órgão ou entidade, a 50% dos quantitativos dos itens do instrumento convocatório registrados na ata de registro de preços para o órgão gerenciador e para os órgãos participantes.
O quantitativo decorrente dessas adesões não poderá exceder, na totalidade, ao dobro do quantitativo de cada item registrado na ata de registro de preços para o órgão gerenciador e órgãos participantes, independentemente do número de órgãos não participantes que aderirem.
A adesão à ata de registro de preços de órgão ou entidade gerenciadora do PoderExecutivo federal por órgãos e entidades da Administração Pública estadual, distrital e municipal poderá ser exigida para fins de transferências voluntárias, não ficando sujeita ao limite acima (dobro) se destinada à execução descentralizada de programa ou projeto federal e comprovada a compatibilidade dos preços registrados com os valores praticados no mercado.
Para aquisição emergencial de medicamentos e material de consumo médico-hospitalar por órgãos e entidades da Administração Pública federal, estadual, distrital e municipal, a adesão à ata de registro de preços gerenciada pelo Ministério da Saúde não estará sujeita ao limite total (dobro).
Será vedada aos órgãos e entidades da Administração Pública federal a adesão à ata de registro de preços gerenciada por órgão ou entidade estadual, distrital ou municipal.
V - Registro Cadastral
A administração deve utilizar o sistema de registro cadastral unificado disponível no Portal Nacional de Contratações Públicas, para efeito de cadastro unificado de licitantes.
O sistema de registro cadastral unificado será público e deverá ser amplamente divulgado e estar permanentemente aberto aos interessados, e será obrigatória a realização de chamamento público pela internet, no mínimo anualmente, para atualização dos registros existentes e para ingresso de novos interessados.
É proibida a exigência de registro cadastral complementar para acesso a edital e anexos.
A Administração poderá realizar licitação restrita a fornecedores cadastrados. Nesse caso, será admitido fornecedor que realize seu cadastro dentro do prazo previsto no edital para apresentação de propostas.
Situações licitatórias especiais: Empresas Estatais, Conselhos de classe/OAB e convênios 
Empresas Estatais: o art. 1º, §1º, da Lei nº 14.133/2021 dispõe que as empresas públicas, as sociedades de economia mista e as suas subsidiárias não são abrangidas por esta lei, sendo regidas pela Lei nº 13.303/2016. Desse modo, embora não sejam regidas pela Lei 14.133/2021, as empresas estatais têm o dever de licitar. Cabe salientar que a Lei nº 13.303/2016 regulará o procedimento de licitação das empresas estatais independentemente de exercerem atividade econômica ou atuarem na prestação de serviço público.
O procedimento licitatório simplificado não é ausência de licitação, trata-se de norma constitucional que impõe um modelo mais compatível com as necessidades do mercado, para as chamadas “estatais”.  A Lei das Estatais trouxe expressamente a possibilidade de tais entidades se valerem do procedimento de manifestação de interesse privado (PMI). O PMI deverá ser utilizado para “atender necessidades previamente identificadas”, o autor do projeto poderá participar da futura licitação; o financiador do projeto poderá ser ressarcido dos custos, devidamente aprovados pela empresa estatal, nos quais tiver incorrido para a realização dos estudos, caso não vença a futura licitação e desde que ceda os direitos autorais à entidade promotora do certame e há a possibilidade de aplicação do PMI a todos os empreendimentos que venham a ser contratados pelas empresas estatais, e não apenas pela empresa que solicitou o projeto.  O que hoje se convencionou chamar de “inversão das fases” nas licitações passou a ser a regra na Lei das Estatais. O caput de seu artigo 51 estipula que a fase de habilitação será realizada após a apresentação, julgamento e negociação dos lances ou propostas. 
Conselhos de classe e OAB: os conselhos de classe possuem natureza jurídica de autarquia, conforme a decisão do STF na ADI 1.717. Desse modo, por se enquadrarem como autarquias, têm o dever de licitar, conforme o disposto no art. 1º da Lei nº 14.133/2021. 
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por seu turno, não possui natureza jurídica de autarquia, mas sim de entidade sui generis no ordenamento brasileiro. Uma vez que se trata de ente sui generis não sujeito ao controle da Administração Pública, verifica-se que a OAB não tem o dever de licitar. 
Convênios: não se confunde a celebração de convênios com a celebração de contratos, tratam-se de institutos jurídicos distintos. No convênio os interesses são convergentes, enquanto que nos contratos os interesses são divergentes. Por conseguinte, a celebração de convênios independe de prévia licitação. 
Serviços de publicidade: A Lei n. 12.232/10, de incidência nacional, estabelece normas gerais sobre licitações e contratações de serviços de publicidade prestados por intermédio de agências de propaganda, isto é, as atividades realizadas “com o objetivo de promover a venda de bens ou serviços de qualquer natureza, difundir ideias ou informar o público em geral”. Não seguem o procedimento dessa lei as contratações de as atividades de assessoria de imprensa, comunicação e relações públicas ou relacionadas à realização de eventos festivos, que seguiram os procedimentos normais (art. 2º, § 2º). A lei faculta que a Administração, mediante justificativa no processo de licitação, realize a adjudicação do objeto a mais de uma agência de propaganda. Essa “multiadjudicação” é promovida para, em seguida, permitir que o órgão ou entidade contratante institua procedimento de seleção interna entre as contratadas. Trata-se de uma licitação dentro da licitação. O rito licitatório especial definido pela lei deve obrigatoriamente observar os critérios de “melhor técnica” ou “técnica e preço”. Assim como no pregão, na licitação para contratação dos serviços de publicidade o julgamento das propostas antecede a habilitação (art. 11, X e XI).
Agentes da Licitação 
Via de regra, quando um órgão vai realizar uma licitação, a autoridade máxima fica encarregada de elaborar o edital, bem como de expor os motivos da contratação. Porém, será o agente da licitação quem ficará responsável pela realização dos trâmites no âmbito do procedimento licitatório.
Matheus Carvalho (2022, p. 588) explica que: “A necessidade de agentes de contrato existe porque a autoridade máxima do órgão não realiza o procedimento licitatório, apesar de ser responsável pela elaboração do edital e exposição de motivos da contratação. Logo, normalmente quem procede à licitação é um servidor público especialmente designado por essa autoridade, responsável pela realização dos trâmites do procedimento. 
A legislação anterior previa a necessidade de uma comissão de licitação que, no regramento atual não é necessária, em regra, sendo suficiente a designação do agente de contratação. 
O ato de designação é um ato jurídico que pode ser formalizado por decreto, portaria, resolução ou ato da diretoria conforme a natureza da entidade, sempre realizado pela autoridade competente do órgão ou entidade licitante.” (grifo no original)
- Ato de designação: consiste no ato jurídico realizado pela autoridade competente do órgão ou entidade que realiza a licitação. 
- Função: realizar a condução de todo o procedimento licitatório. O agente da licitação poderá ter o auxílio de uma equipe de apoio. 
A existência de um agente de licitação não configura infringência ao princípio da segregação das funções, porque o agente atuará somente numa etapa.
- Qualificação: preferencialmente, será designado servidor efetivo ou empregado público dos quadros permanentes da Administração Pública que possuam atribuições relacionadas a licitações e contratos ou tenham formação compatível ou qualificação atestada mediante certificação profissional expedida por escola de governo que seja criada e mantida pelo poder público.
- Impedimentos: não ser cônjuge ou companheiro de licitantes ou contratados habituais da Administração tampouco ter com eles vínculo de parentesco, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, ou de natureza de ordem técnica, comercial, econômica, financeira, trabalhista e civil.
Comissão de licitação na Lei 14.133/2021: 
Matheus Carvalho (2022, p. 590) leciona que: “Em licitação que envolva bens ou serviços especiais, o agente de contratação poderá ser substituído por comissão de contratação formada de, no mínimo, 3 membros, que responderão solidariamente por todos osatos praticados pela comissão, ressalvado o membro que expressar posição individual divergente fundamentada e registrada em ata lavrada na reunião em que houver sido tomada a decisão”. 
Ademais, na hipótese de se tratar de certames licitatórios envolvendo bens ou serviços especiais, cujo objeto não seja contratado pela Administração de forma rotineira, poderá ocorrer a contratação, por prazo determinado, de serviço de empresa ou profissional especializado para assessorar os agentes públicos que sejam responsáveis pela condução da licitação. 
Pessoa jurídica na licitação
Pessoa jurídica poderá participar de licitação em consórcio, mediante compromisso público ou particular de constituição. Deve indicar a empresa líder.
Habilitação técnica: admite-se o somatório dos quantitativos de cada consorciado.
Habilitação econômico-financeira: admite o somatório dos valores de cada consorciado. O edital deve prever acréscimo de 10% a 30% sobre o valor exigido de licitante individual para a habilitação econômico-financeira. Esse acréscimo não se aplica aos consórcios compostos em sua totalidade de ME e EPP.
Empresa consorciada não pode participar, na mesma licitação, de mais de um consórcio ou de forma isolada.
Responsabilidade solidária dos integrantes pelos atos praticados em consórcio.
O licitante vencedor é obrigado a promover, antes da celebração do contrato, a constituição e o registro do consórcio.
O edital de licitação poderá estabelecer limite máximo para o número de empresas consorciadas.
A substituição de consorciado deverá ser autorizada pelo órgão.
Inexigibilidade e dispensa de licitação
a) Pressuposto lógico: trata-se da pluralidade de bens e de fornecedores. Não será possível realizar a competição caso exista um único fornecedor ou bem seja singular.
b) Pressuposto jurídico: refere-se à demonstração da existência de interesse público na realização do procedimento licitatório. É dizer, quando a realização de licitação for contrária ao interesse público, será caso de inexigibilidade. 
c) Pressuposto fático: cuida-se da desnecessidade de contratação específica. Assim, uma vez evidenciada a necessidade de contratação de bem ou serviço específico, a licitação não será exigível, visto que não haverá competição. 
A diferença básica entre as duas hipóteses está no fato de que, na dispensa, há possibilidade de competição que justifique a licitação; de modo que a lei faculta a dispensa, que fica inserida na competência discricionária da Administração. 
Nos casos de inexigibilidade, não há possibilidade de competição, porque só existe um objeto ou uma pessoa que atenda às necessidades da Administração; a licitação é, portanto, inviável.
Existem, contudo, casos de dispensa que escapam à discricionariedade administrativa, por estarem já determinados por lei; é o que decorre do artigo 17, incisos I e II, da Lei nº 8.666/93 (...)” (DI PIETRO, 2014, p. 395). Os casos do art. 17 são conhecidos como de licitação dispensada e dizem respeito à alienação de bens móveis e imóveis da Administração Pública. A doutrina tradicional entende que a licitação dispensada é uma dispensa legal – a decisão de não licitar já foi tomada pelo legislador, não subsistindo qualquer discricionariedade para o administrador, vide DI PIETRO.
As hipóteses de dispensa estão taxativamente previstas em lei, dividindo-se em quatro categorias: a) em razão do pequeno valor; b) em razão de situações excepcionais; c) em razão do objeto; d) em razão da pessoa.
As hipótese de inexigibilidade de licitação decorrem da ausência do seu pressuposto lógico - a competição. A inviabilidade de competição advém de duas situações: impossibilidade fática (quantitativa), quando o produto ou o serviço é fornecido por apenas um fornecedor, ou impossibilidade jurídica (qualitativa), quando não há critérios objetivos para definir a melhor proposta. O rol é exemplificativo.
A inexigibilidade e a dispensa devem ser sempre expressamente motivadas, com o apontamento das causas que levaram a Administração Pública a concluir pela impossibilidade jurídica de competição. 
	Licitação dispensada
	Licitação dispensável
	Licitação inexigível
	Atuação vinculada do administrador – a lei obriga contratação direta.
	Atuação discricionária – a lei autoriza a não realização de licitação. Se preferir, pode licitar.
	Atuação vinculada – a lei obriga contratação direta diante da impossibilidade de competição.
	Rol taxativo.
	Rol taxativo.
	Rol exemplificativo.
	Ex. alienação de imóveis decorrentes de dação em pagamento.
	Ex. a aquisição ou restauração de obras de arte e objetos históricos.
	Ex. contratação de artista consagrado para fazer um show; serviço singular para restaurar obra de arte.
	Art. 74. É inexigível a licitação quando inviável a competição, em especial nos casos de:
I - aquisição de materiais, de equipamentos ou de gêneros ou contratação de serviços que só possam ser fornecidos por produtor, empresa ou representante comercial exclusivos; vedada a preferência por marca.
II - contratação de profissional do setor artístico, diretamente ou por meio de empresário exclusivo, desde que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública; afastada a inexigibilidade se for empresário com representação restrita a evento ou local específico.
III - contratação dos seguintes serviços técnicos especializados de natureza predominantemente intelectual com profissionais ou empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação: (é vedada a subcontratação de empresas ou profissionais distintos daqueles que tenham justificado a inexigibilidade)
a) estudos técnicos, planejamentos, projetos básicos ou projetos executivos;
b) pareceres, perícias e avaliações em geral;
c) assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras ou tributárias;
d) fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou serviços;
e) patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas;
f) treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;
g) restauração de obras de arte e de bens de valor histórico;
h) controles de qualidade e tecnológico, análises, testes e ensaios de campo e laboratoriais, instrumentação e monitoramento de parâmetros específicos de obras e do meio ambiente e demais serviços de engenharia;
IV - objetos que devam ou possam ser contratados por meio de credenciamento;
V - aquisição ou locação de imóvel cujas características de instalações e de localização tornem necessária sua escolha. Requisitos: a) avaliação prévia do bem; b) certificação da inexistência de imóveis públicos vagos e disponíveis que atendam ao objeto; c) justificativas que demonstrem a singularidade do imóvel a ser comprado ou locado pela Administração e que evidenciem vantagem para ela.
	Art. 75. É dispensável a licitação (rol taxativo):
I - contratação que envolva valores inferiores a R$ 100.000,00, no caso de obras e serviços de engenharia ou de serviços de manutenção de veículos automotores;
II - contratação que envolva valores inferiores a R$ 50.000,00, no caso de outros serviços e compras;
III - para contratação que mantenha todas as condições definidas em edital de licitação realizada há menos de 1 ano, quando se verificar que naquela licitação:
a) não surgiram licitantes interessados (licitação deserta) ou não foram apresentadas propostas válidas;
b) as propostas apresentadas consignaram preços manifestamente superiores aos praticados no mercado ou incompatíveis com os fixados pelos órgãos oficiais competentes (licitação fracassada);
IV - para contratação que tenha por objeto:
a) bens, componentes ou peças de origem nacional ou estrangeira necessários à manutenção de equipamentos, a serem adquiridos do fornecedor original desses equipamentos durante o período de garantia técnica, quando essa condição de exclusividade for indispensável para a vigência da garantia;
b) bens, serviços, alienações ou obras quando as condições ofertadas forem manifestamente vantajosas;
c) produtos para pesquisa e desenvolvimento, limitada a contratação, no caso de obras e serviçosde engenharia, ao valor de R$ 300.000,00;
d) transferência de tecnologia ou licenciamento de direito de uso ou de exploração de criação protegida, nas contratações realizadas por instituição científica, tecnológica e de inovação (ICT) pública ou por agência de fomento, desde que demonstrada vantagem para a Administração;
e) hortifrutigranjeiros, pães e outros gêneros perecíveis, no período necessário para a realização dos processos licitatórios correspondentes, quando a contratação será realizada diretamente com base no preço do dia;
f) bens ou serviços produzidos ou prestados no País que envolvam, cumulativamente, alta complexidade tecnológica e defesa nacional;
g) materiais de uso das Forças Armadas, com exceção de materiais de uso pessoal e administrativo, quando houver necessidade de manter a padronização requerida pela estrutura de apoio logístico;
h) bens e serviços para atendimento dos contingentes militares das forças singulares brasileiras empregadas em operações de paz no exterior, hipótese em que a contratação deverá ser justificada quanto ao preço e à escolha do fornecedor ou executante e ratificada pelo comandante da força militar;
i) abastecimento ou suprimento de efetivos militares em estada eventual de curta duração em portos, aeroportos ou localidades diferentes de suas sedes, por motivo de movimentação operacional ou de adestramento;
j) coleta, processamento e comercialização de resíduos sólidos urbanos recicláveis ou reutilizáveis, em áreas com sistema de coleta seletiva de lixo, realizados por associações ou cooperativas formadas exclusivamente de pessoas físicas de baixa renda reconhecidas pelo poder público como catadores de materiais recicláveis, com o uso de equipamentos compatíveis com as normas técnicas, ambientais e de saúde pública;
k) aquisição ou restauração de obras de arte e objetos históricos, de autenticidade certificada, desde que inerente às finalidades do órgão ou com elas compatível;
l) serviços especializados ou aquisição ou locação de equipamentos destinados ao rastreamento e à obtenção de provas (captação ambiental e interceptação de comunicações), quando houver necessidade justificada de manutenção de sigilo sobre a investigação;
m) aquisição de medicamentos destinados exclusivamente ao tratamento de doenças raras definidas pelo MS;
V - para contratação com vistas ao cumprimento do disposto nos arts. 3º, 3º-A, 4º, 5º e 20 da Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004, observados os princípios gerais de contratação constantes da referida Lei;
VI - para contratação que possa acarretar comprometimento da segurança nacional, nos casos estabelecidos pelo Ministro de Estado da Defesa, mediante demanda dos comandos das Forças Armadas;
VII - nos casos de guerra, estado de defesa, estado de sítio, intervenção federal ou de grave perturbação da ordem;
VIII - nos casos de emergência ou de calamidade pública, quando caracterizada urgência de atendimento de situação que possa ocasionar prejuízo ou comprometer a continuidade dos serviços públicos ou a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou particulares, e somente para aquisição dos bens necessários ao atendimento da situação emergencial ou calamitosa e para as parcelas de obras e serviços que possam ser concluídas no prazo máximo de 1 ano, contado da data de ocorrência da emergência ou da calamidade, vedadas a prorrogação dos contratos e a recontratação de empresa já contratada com base no disposto neste inciso; preço compatível com o praticado no mercado
IX - para a aquisição, por pessoa jurídica de direito público interno, de bens produzidos ou serviços prestados por órgão ou entidade que integrem a Administração Pública e que tenham sido criados para esse fim específico, desde que o preço seja compatível com o praticado no mercado;
X - quando a União tiver que intervir no domínio econômico para regular preços ou normalizar o abastecimento;
XI - para celebração de contrato de programa com ente federativo ou com entidade de sua Administração Pública indireta que envolva prestação de serviços públicos de forma associada nos termos autorizados em contrato de consórcio público ou em convênio de cooperação;
XII - para contratação em que houver transferência de tecnologia de produtos estratégicos para o SUS;
XIII - para contratação de profissionais para compor a comissão de avaliação de critérios de técnica, quando se tratar de profissional técnico de notória especialização;
XIV - para contratação de associação de pessoas com deficiência, sem fins lucrativos e de comprovada idoneidade, por órgão ou entidade da Administração Pública, para a prestação de serviços, desde que o preço seja compatível com o praticado no mercado e os serviços contratados sejam prestados exclusivamente por pessoas com deficiência;
XV - para contratação de instituição brasileira que tenha por finalidade estatutária apoiar, captar e executar atividades de ensino, pesquisa, extensão, desenvolvimento institucional, científico e tecnológico e estímulo à inovação, inclusive para gerir administrativa e financeiramente essas atividades, ou para contratação de instituição dedicada à recuperação social da pessoa presa, desde que o contratado tenha inquestionável reputação ética e profissional e não tenha fins lucrativos;
XVI - para aquisição, por pessoa jurídica de direito público interno, de insumos estratégicos para a saúde produzidos por fundação que tenha por finalidade apoiar órgão da Administração em projetos de ensino, pesquisa, extensão, desenvolvimento institucional, científico e tecnológico e de estímulo à inovação, inclusive na gestão administrativa e financeira necessária à execução desses projetos, ou em parcerias que envolvam transferência de tecnologia de produtos estratégicos para o SUS, e que tenha sido criada para esse fim específico em data anterior à entrada em vigor desta Lei, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado.
Aferição dos valores (incisos I e II) deverão ser observados:
I - o somatório do que for despendido no exercício financeiro pela respectiva unidade gestora;
II - o somatório da despesa realizada com objetos de mesma natureza, entendidos como tais aqueles relativos a contratações no mesmo ramo de atividade.
Não se aplica às contratações de até R$ 8.000,00 de serviços de manutenção de veículos automotores de propriedade do órgão ou entidade contratante, incluído o fornecimento de peças.
Os valores referidos nos incisos I e II serão duplicados para compras, obras e serviços contratados por consórcio público ou por autarquia ou fundação qualificadas como agências executivas.
As contratações de que tratam os incisos I e II serão preferencialmente precedidas de divulgação de aviso em sítio eletrônico oficial, pelo prazo mínimo de 3 dias úteis, com a especificação do objeto pretendido e com a manifestação de interesse da Administração em obter propostas adicionais de eventuais interessados, devendo ser selecionada a proposta mais vantajosa.
Incisos I e II: preferencialmente pagas por meio de cartão de pagamento.
	Alienação de bens imóveis
Prévia avaliação.
Autorização legislativa (inclusive autarquia ou fundação) e leilão.
Autorização legislativa é prescindível no caso de procedimentos judiciais ou de dação em pagamento.
O licitante que comprove ocupação tem direito de preferência.
Dispensada licitação nos casos de:
a) dação em pagamento;
b) doação, exclusivamente para outro órgão ou entidade da Administração, de qualquer esfera de governo;
Cessadas as razões da doação, serão revertidos ao patrimônio da PJ doadora, vedada sua alienação pelo beneficiário. Doação com encargo será licitada.
c) permuta por outros imóveis, desde que a diferença apurada não ultrapasse a metade do valor do imóvel ofertado pela UF;
d) investidura;
e) venda a outro órgão ou entidade da Administração de qualquer esfera de governo;
f) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito real de uso, locação e permissão de uso de bens imóveis residenciais construídos, destinadosou usados em programas de habitação ou de regularização fundiária de interesse social;
g) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito real de uso, locação e permissão de uso de bens imóveis comerciais de âmbito local, com área de até 250 m² destinados a programas de regularização fundiária de interesse social;
h) alienação e concessão de direito real de uso, gratuita ou onerosa, de terras públicas rurais da União e do INCRA;
i) legitimação de posse; j) legitimação fundiária.
	Alienação de bens móveis
Prévia avaliação. Licitação na modalidade leilão.
Dispensada licitação nos casos de:
a) doação, exclusivamente para fins e uso de interesse social, após avaliação de oportunidade e conveniência socioeconômica em relação à escolha de outra forma de alienação;
b) permuta, exclusivamente entre órgãos da Adm.;
c) venda de ações, que poderão ser negociadas em bolsa;
d) venda de títulos;
e) venda de bens produzidos ou comercializados por entidades da Administração Pública;
f) venda de materiais e equipamentos sem utilização previsível por quem deles dispõe para outros órgãos Adm.
Jurisprudência licitações
É constitucional o art. 2º da Lei nº 5.615/70, com redação dada pela Lei nº 12.249/2010, que dispensa a licitação a fim de permitir a contratação direta do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), pela União, para prestação de serviços de tecnologia da informação considerados estratégicos, assim especificados em atos de ministro de Estado, no âmbito do respectivo ministério. Há evidente interesse público a justificar que serviços de tecnologia da informação a órgãos como a Secretaria do Tesouro Nacional e a Secretaria da Receita Federal, integrantes da estrutura do Ministério da Economia, sejam prestados com exclusividade por empresa pública federal criada para esse fim, como é o caso do Serpro. STF. Plenário. ADI 4829/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 20/3/2021 (Info 1010).
Súmula 281 TCU: É vedada a participação de cooperativas em licitação quando, pela natureza do serviço ou pelo modo como é usualmente executado no mercado em geral, houver necessidade de subordinação jurídica entre o obreiro e o contratado, bem como de pessoalidade e habitualidade.
A União detém competência para legislar sobre as normas gerais de licitação, podendo os Estados e Municípios legislar sobre o tema para complementar as normas gerais e adaptá-las às suas realidades. Assim, lei municipal pode proibir que os agentes políticos do município (e seus parentes) mantenham contrato com o Poder Público municipal. STF. 2ª Turma. RE 423560/MG, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 29/5/2012 (Info 668).
É inconstitucional lei estadual que exija Certidão negativa de Violação aos Direitos do Consumidor dos interessados em participar de licitações e em celebrar contratos com órgãos e entidades estaduais. Esta lei é inconstitucional porque compete privativamente à União legislar sobre normas gerais de licitação e contratos (art. 22, XXVII, da CF/88). STF. Plenário. ADI 3.735/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 8/9/2016 (Info 838).
A Lei nº 8.666/93 prevê o seguinte: "Art. 7º (...) § 2º As obras e os serviços somente poderão ser licitados quando: III — houver previsão de recursos orçamentários que assegurem o pagamento das obrigações decorrentes de obras ou serviços a serem executadas no exercício financeiro em curso, de acordo com o respectivo cronograma;" Para que seja atendido o inciso III do § 2º do art. 7º da Lei de Licitações, não se exige a disponibilidade financeira, mas tão somente que haja previsão destes recursos na Lei Orçamentária. STJ. 2ª Turma. REsp 1.141.021-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 21/8/2012 (Info 502).
O edital da licitação poderá exigir que a empresa a ser contratada tenha, em seu acervo técnico, um profissional que já tenha conduzido serviço de engenharia similar àquele previsto para a licitação. Além disso, o edital também poderá exigir que a própria empresa já tenha atuado em serviço similar. STJ.2ª Turma. RMS 39.883-MT, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 17/12/2013 (Info 533).
O art. 24, II da Lei nº 8.666/93 prevê que o administrador público não precisa fazer licitação se for para contratar compras ou serviços (que não sejam de engenharia) que não ultrapassem 8 mil reais. Se a Administração Pública contrata uma empresa privada para organizar um concurso e esse contrato prevê que a empresa receberá 5 mil reais e mais o dinheiro arrecadado com as inscrições dos candidatos, esta situação não se enquadra no art. 24, II da Lei. Ainda que os valores recolhidos como taxa de inscrição não sejam públicos, a adequada destinação deles é de interesse público primário. Mesmo que a contratação direta de banca realizadora de concurso sem licitação não afete o interesse público secundário (direitos patrimoniais da Administração Pública), é contrária ao interesse público primário, pois a destinação de elevado montante de recursos à empresa privada ocorrerá sem o processo competitivo, violando, dessa maneira, o princípio da isonomia. STJ. 2ª Turma. REsp 1.356.260-SC, Rel. Min. Humberto Martins, j. em 7/2/2013 (Info 516).
O STF julgou denúncia contra ex-prefeito pela prática do delito previsto no art. 89 da Lei 8.666/93. Para ser válida, a contratação direta de escritório de advocacia por inexigibilidade de licitação precisa atender aos seguintes requisitos: a) é necessário que se instaure um procedimento administrativo formal;  b) deverá ser demonstrada a notória especialização do profissional a ser contratado;  c) deverá ser demonstrada a natureza singular do serviço;  d) deverá ser demonstrado que é inadequado que o serviço a ser contratado seja prestado pelos integrantes do Poder Público (no caso, pela PGM); e e) o preço cobrado pelo profissional contratado deve ser compatível com o praticado pelo mercado. Sendo cumpridos esses requisitos, não há que se falar em crime do art. 89 da Lei 8.666/93. Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade: Pena — detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa. STF. 1ª Turma. Inq 3074/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 26/8/2014 (Info 756).
Nos casos de contratos que importem na entrega de bens pela Administração, dos quais o contratado ficará depositário, ao valor da garantia deverá ser acrescido o valor desses bens.
Se um servidor público for sócio ou funcionário de uma empresa, ela não poderá participar de licitações realizadas pelo órgão ou entidade ao qual estiver vinculado este servidor público (art. 9º, III, da Lei nº 8.666/93). O fato de o servidor estar licenciado do cargo não afasta a referida proibição, considerando que, mesmo de licença, ele não deixa possuir vínculo com a Administração Pública. Assim, o fato de o servidor estar licenciado não afasta o entendimento segundo o qual não pode participar de procedimento licitatório a empresa que possuir em seu quadro de pessoal servidor ou dirigente do órgão contratante ou responsável pela licitação. Info 602 STJ.
TCU: Não existe vedação legal à participação, no mesmo certame licitatório, de empresas do mesmo grupo econômico ou com sócios em relação de parentesco, embora tal situação possa acarretar quebra de isonomia entre as licitantes. A demonstração de fraude à licitação exige a evidenciação do nexo causal entre a conduta das empresas com sócios em comum ou em relação de parentesco e a frustração dos princípios e dos objetivos da licitação.
As regras gerais previstas na Lei nº 8.666/93 podem ser flexibilizadas no Programa Minha Casa Minha Vida, por força do art. 4º, parágrafo único, da Lei nº 10.188/2001, desde que se observem os princípios gerais da administração pública. STJ. 2ª Turma. REsp 1.687.381-DF, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 17/04/2018 (Info 624).
Sociedade empresária em recuperação judicial pode participar de licitação, desde que demonstre, na fase de habilitação, a sua viabilidade econômica.  STJ. 1ª Turma. AREsp 309.867-ES, Rel. Min.Gurgel de Faria, julgado em 26/06/2018 (Info 631). Como o art. 31, II, da Lei de Licitações não foi alterado para substituir certidão negativa de concordata por certidão negativa de recuperação judicial, a Administração não pode exigir tal documento como condição de habilitação, haja vista a ausência de autorização legislativa. Assim, as empresas submetidas à recuperação judicial estão dispensadas da apresentação da referida certidão. Vale ressaltar que o art. 52, I, da Lei nº 11.101/2005, que é posterior à Lei de Licitações, prevê a possibilidade de as empresas em recuperação judicial contratarem com o Poder Público (devendo apresentar ao Poder Público as certidões positivas de débitos). Ora, se tais empresas podem contratar com o poder público, devemos interpretar que o legislador permitiu que elas participassem de licitações, considerando que, em regra, só se pode contratar com a Administração Pública após prévio procedimento licitatório.
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), empresa pública federal, pode ser contratada sem licitação, com fundamento no art. 24, VIII, da Lei nº 8.666/93, para a prestação de serviços de logística: Art. 24 (...) VIII - para a aquisição, por pessoa jurídica de direito público interno, de bens produzidos ou serviços prestados por órgão ou entidade que integre a Administração Pública e que tenha sido criado para esse fim específico em data anterior à vigência desta Lei, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado; A ECT preenche todos os requisitos legais necessários à possibilidade de sua contratação direta, haja vista integrar a Administração e ter sido criada em data anterior à da Lei nº 8.666/93 para prestação de serviços postais, dentre os quais se incluem os serviços de logística integrada. STF. 2ª Turma. MS 34939/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/3/2019 (Info 934).
Os editais de licitação ou pregão não podem conter cláusula prevendo percentual mínimo referente à taxa de administração, sob pena de ofensa ao art. 40, X, da Lei nº 8.666/93. O edital de licitação não pode fixar um preço mínimo a ser oferecido pelos licitantes (art. 40, X, da Lei nº 8.666/93). Só um preço máximo. Essa vedação se justifica porque o objetivo da licitação é o de selecionar a proposta mais vantajosa. Ocorre que algumas propostas apresentadas são claramente inexequíveis, ou seja, o licitante não conseguirá custear o bem ou prestar o serviço e ainda ter lucro. Isso significa que, mais a frente, haverá transtornos para a Administração Pública com a inexecução do contrato. Diante disso, alguns entes públicos passaram a exigir algo que denominaram de “taxa de administração”. Essa taxa é o percentual de remuneração que a empresa irá obter com aquela venda ou serviço. Se a taxa for equivalente a zero ou mesmo negativa, a proposta é claramente inexequível considerando que não haverá lucro para a empresa. Assim, alguns editais passaram a exigir um percentual mínimo de taxa de administração (ex: a empresa deverá demonstrar que, na planilha de custos que gerou o preço, está prevista a sua remuneração em, no mínimo, 1%). Essa prática é válida? O ente público pode estipular cláusula editalícia em licitação/pregão prevendo percentual mínimo de taxa de administração como forma de se resguardar de eventuais propostas inexequíveis? Não. A fixação de percentual mínimo de taxa de administração em edital de licitação/pregão fere expressamente a norma contida no inciso X do art. 40 da Lei nº 8.666/93. A taxa de administração é uma forma de remuneração do contratado pela Administração Pública, integrando, portanto, o conceito de preço. Logo, ao exigir um percentual mínimo de taxa de administração, o edital está fixando um preço mínimo. Sendo o objetivo da licitação selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração (art. 3º da Lei nº 8.666/93), a fixação de um preço mínimo atenta contra essa finalidade. A Lei de Licitações prevê outros mecanismos de combate às propostas inexequíveis em certames licitatórios, permitindo que o licitante preste garantia adicional, tal como caução em dinheiro ou em títulos da dívida pública, seguro-garantia e fiança bancária. STJ. 1ª Seção. REsp 1.840.113-CE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/09/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1038) (Info 683).
O regime de licitação e contratação previsto na Lei nº 8.666/93 é inaplicável às sociedades de economia mista que explorem atividade econômica própria das empresas privadas, concorrendo, portanto, no mercado. Não é possível conciliar o regime previsto na Lei nº 8.666/93 com a agilidade própria desse tipo de mercado que é movido por intensa concorrência entre as empresas que nele atuam. STF. Plenário. RE 441280/RS, Rel. Min. Dias Tofolli, julgado em 6/3/2021 (Info 1008).
Obs. Fracionamento da licitação está relacionado à divisão da despesa para adoção de dispensa ou modalidade de licitação menos rigorosa que a determinada para a totalidade do valor do objeto a ser licitado. Fracionamento é espécie de fraude buscando dispensa indevida de licitação e/ou adoção de modalidade diversa de licitação. Difere-se do parcelamento, que é a divisão do objeto em parcelas (itens ou etapas), ou seja, em partes menores e independentes. O parcelamento do objeto, aplicável às compras, obras ou serviços, acarreta a pluralidade de licitações, pois cada parte, item, etapa ou parcela representa uma licitação isolada em separado (ex.: construção que pode ser dividida em lotes). A nova Lei de Licitações (Lei nº 14.133/2021) permite o parcelamento do objeto, cuja adoção deverá ser justificada na fase preparatória do processo licitatório (art. 18, VIII). A norma é expressa em permitir o parcelamento de compras e serviços, desde que seja tecnicamente viável e economicamente vantajoso (art. 40, V, “b” e 47, II).
No parcelamento das compras deverá ser levado em consideração: a) a viabilidade da divisão do objeto em lotes; b) o aproveitamento das particularidades do mercado local, visando à economicidade; e, c) o dever de buscar a ampliação da competição e de evitar a concentração de mercado (art. 40, § 2º).
O parcelamento das compras é vedado quando: a) a economia de escala, a redução de custos de gestão de contratos ou a maior vantagem na contratação recomendar a compra do mesmo item do mesmo fornecedor; b) o objeto a ser contratado configurar sistema único e integrado e houver a possibilidade de risco ao conjunto do objeto pretendido; e c) o processo de padronização ou de escolha de marca levar a fornecedor exclusivo (art. 40, § 3º). 
5A. Competências ambientais na Federação Brasileira. Ações de Cooperação.
Camus 01/04/2023
Elaborado por Robert Rigobert Lucht.
Fonte: Direito Ambiental. Frederico Amado, 2017, 5ª ed.
(atualizado e reorganizado por Meiriel Albarelo em 08/10/2022)
Competência administrativa (material): comum (art. 23, III, IV, VI, VII e XI, da CF). Fiscalização pelo IBAMA (autarquia federal), órgãos estaduais e municipais.
Excepcionalmente:
	Competências exclusivas da União
(art. 21, IX, XVIII, XIX, XX e XXIII, CF)
	Competência exclusiva dos Municípios
(art. 30, VIII, da CF)
	IX - planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social;
XVIII - defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente secas e inundações;
XIX - sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e critérios de outorga de direitos de seu uso;
XX - diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos;
XXIII - serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional;
b) no regime de permissão, é autorizado comércio de radioisótopos para pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais;c) no regime de permissão, é autorizado comércio de radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a 2 hs; e
d) responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa.
	Promoção do adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano.
Competência legislativa: concorrente, com legislação suplementar municipal, conforme interesse local.
(arts. 24, VI, VII e VIII e 30, I e II, CF)
STF (Pleno, jun/2017): Município tem competência para legislar sobre meio ambiente e controle da poluição, quando se tratar de interesse local. A competência para legislar sobre o meio ambiente é concorrente, cfe. art. 24, VI e VIII.
STF (ADI/MC 1893, de 18/12/1998): Meio ambiente do trabalho está fora da competência legislativa concorrente.
Não há competência concorrente para legislar sobre águas, energia, jazidas, minas e outros recursos minerais, cabendo privativamente à União tratar do tema (art. 22, IV, XII, XXVI, da CF).
Alcance da expressão “direito de águas”: CF diz que é competência privativa da União. Contudo, Cid Tomanik Pompeu defende a competência legislativa dos Estados em alguns casos, pois estes entes são proprietários das águas, nos termos do art. 26, I, da CF.
- O Município é competente para legislar sobre o meio ambiente juntamente com a União e com Estado-membro, no limite do seu interesse local e desde que tal regramento seja harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI c/c o art. 30, I e II, da CF/88). Justamente por isso, é inconstitucional interpretação do art. 264 da Constituição do Estado do Ceará de que decorra a supressão da competência dos Municípios para regular e executar o licenciamento ambiental de atividades e empreendimentos de impacto local. (STF. Plenário. ADI 2142/CE, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 24/6/2022 (Info 1060)).
- Inconstitucionalidade de lei municipal que proíbe a queima da cana. O Município é competente para legislar sobre o meio ambiente, juntamente com a União e o Estado-membro/DF, no limite do seu interesse local e desde que esse regramento seja harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI, c/c o art. 30, I e II, da CF/88). (STF. Plenário. RE 586224/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. em 5/3/2015 (repercussão geral) (Info 776).)
- É inconstitucional lei estadual que remete o regramento do cultivo comercial e das atividades com organismos geneticamente modificados à regência da legislação federal (STF. Plenário. ADI 2303/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/9/2018 (Info 914)).
- Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município. (STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgados em 11/10/2018 (Info 919).)
- É inconstitucional lei estadual que legitime ocupações em solo urbano de área de preservação permanente (APP) fora das situações previstas em normas gerais editadas pela União. (STF. Plenário. ADI 5675/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 17/12/2021 (Info 1042)).
- É inconstitucional norma de constituição estadual que disponha sobre o depósito de lixo atômico e a instalação de usinas nucleares A Constituição do Estado do Piauí, ao estabelecer uma vedação ao depósito de resíduos nucleares no respectivo território, violou a competência privativa da União para legislar sobre a matéria. (STF. Plenário. ADI 6909/PI e ADI 6913/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 17/9/2021 (Info 1030)).
- É inconstitucional norma estadual que dispõe sobre a implantação de instalações industriais destinadas à produção de energia nuclear no âmbito espacial do território estadual. (STF. Plenário. ADI 330/RS, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 9/10/2020 (Info 994)).
- São formalmente inconstitucionais as leis estaduais que interferem em matérias relacionadas à atividade nuclear e à energia, uma vez que, ao disporem sobre os assuntos, incorrem em indevida invasão da competência privativa da União para explorar tais serviços e legislar a seu respeito (art. 21, XII, “b”, XIX e XXIII e art. 22, IV e XXVI, da CF/88). (STF. Plenário. ADI 7076/PR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 24/6/2022 (Info 1060)).
- A possibilidade de complementação da legislação federal para o atendimento de interesse regional não permite que Estado-Membro simplifique o licenciamento ambiental para atividades de lavra garimpeira. STF. (Plenário. ADI 6672/RR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 14/9/2021 (Info 1029)).
- É inconstitucional norma estadual que estabelece hipóteses de dispensa e simplificação do licenciamento ambiental para atividades de lavra a céu aberto por invadir a competência legislativa da União para editar normas gerais sobre proteção do meio ambiente, nos termos previstos no art. 24, §§ 1º e 2º, da Constituição Federal.
Vale ressaltar também que o estabelecimento de procedimento de licenciamento ambiental estadual que torne menos eficiente a proteção do meio ambiente equilibrado quanto às atividades de mineração afronta o caput do art. 225 da Constituição por inobservar o princípio da prevenção. STF. (Plenário. ADI 6650/SC, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/4/2021 (Info 1014)).
- É inconstitucional lei estadual que preveja que o pescador semiprofissional ou esportivo, para o exercício da atividade, deverá se cadastrar e se habilitar na Federação de Pescadores do Estado. Também é inconstitucional a norma estadual que afirme que a taxa de cadastro e o fornecimento da habilitação para exercer a atividade de pescador semiprofissional ou esportivo será definida em Assembleia Geral da Federação de Pescadores do Estado. (STF. Plenário. ADI 3829/RS, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/4/2019 (Info 937)).
- É inconstitucional lei estadual que, ao tratar sobre matéria de competência concorrente (art. 24 da CF/88), simplesmente determina que devem ser observadas as regras previstas na lei federal. A competência para legislar sobre as atividades que envolvam organismos geneticamente modificados (OGM) é concorrente (art. 24, V, VIII e XII, da CF/88). No âmbito das competências concorrentes, cabe à União estabelecer normas gerais e aos Estados-membros editar leis para suplementar essas normas gerais (art. 24, §§ 1º e 2º). Determinado Estado-membro editou lei estabelecendo que toda e qualquer atividade relacionada com os OGMs naquele Estado deveria observar “estritamente à legislação federal específica”. O STF entendeu que essa lei estadual é inconstitucional porque significou uma verdadeira “renúncia” ao exercício da competência legislativa concorrente prevista no art. 24, V, VIII e XII, da CF/88. Em outras palavras, o Estado abriu mão de sua competência suplementar prevista no art. 24, § 2º da CF/88.Essa norma estadual remissiva fragiliza a estrutura federativa descentralizada, e consagra o monopólio da União, sem atentar para nuances locais. Assim, é inconstitucional lei estadual que remete o regramento do cultivo comercial e das atividades com organismos geneticamente modificados à regência da legislação federal. (STF. Plenário. ADI 2303/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/9/2018 (Info 914)).
LC 140/11 regulamentou a competência administrativa comum:
U, E, DF e M: devem harmonizar suas políticas e ações administrativas, para evitar a sobreposição de atuação.
As competências da União, dos Estados e dos Municípios foram listadas nos arts. 7, 8 e 9, respectivamente (LER).
Principais critérios definidores da competência material para licenciamento ambiental:
a) dimensão do impacto ambiental (decorre do princípio da preponderância do interesse)
	- impacto regional ou nacional: da União. Ex.: destinação dos rejeitos radioativos está sujeita a licenciamento exclusivamente federal, independentemente da titularidade dos terrenos selecionados para depósitos finais.
	- impacto estadual: do Estado
	- impacto local: do Município
b) dominialidadedo bem público: ente que possui o domínio tem a competência.
Exceções:
- caso se trate de competência para licenciamento em unidades de conservação (salvo Áreas de Preservação Ambiental – APAs): critério do ente federativo instituidor (ente que instituiu, licencia).
- caso se trate de licenciamento em APAs, a competência do licenciamento será:
	Do IBAMA
	Dos Estados
	Dos Municípios
	- no Brasil + país limítrofe
- no mar
- em mais de um Estado
- de caráter militar
- estabelecida por ato do Executivo.
	Atribuição residual
	Impacto local
Outro critério, que é residual, é o da atuação supletiva (a seguir).
Conceitos importantes da LC 140/2011: 
a) atuação supletiva: ação do ente da Federação que se substitui ao ente federativo originariamente detentor das atribuições. Ocorre quando:
I – Inexiste órgão ambiental no Estado ou no DF: União deve desempenhar as ações administrativas estaduais; 
II – Inexiste órgão ambiental no Município: Estado deve desempenhar as ações administrativas municipais; e 
III – inexiste órgão ambiental no Estado e no Município: União deve desempenhar as ações administrativas.
b) atuação subsidiária: ação do ente da Federação que visa a auxiliar no desempenho das atribuições decorrentes das competências comuns, quando solicitado pelo ente federativo originariamente detentor das atribuições definidas na LC.
Ações de cooperação: LC 140/2011 estabeleceu as normas de cooperação no que pertine às competências ambientais e possibilitou a delegação, mediante convênio, da execução das ações administrativas, condicionada à existência de estrutura adequada do ente delegatário. Os instrumentos de cooperação são:
a) consórcios públicos – celebrados pelas entidades políticas (Lei 11.107/05);
b) convênios – ajustes realizados entre PJs de direito público ou entre estas e particulares, com interesses convergentes. Pode ser por prazo indeterminado;
c) fundos públicos e privados, podendo ser citado o Fundo Nacional do Meio Ambiente (foi criado pela Lei 7.797/89);
d) delegação de atribuições ambientais de um ente a outro, mediante convênio, desde que o destinatário de delegação possua órgão ambiental capacitado a executar as ações administrativas e conselho de meio ambiente;
e) comissões com poderes para deliberar sobre a competência para promoção de licenciamento ambiental.
Órgão que licencia e autoriza empreendimento  fiscaliza e lavra auto de infração. Mas é possível também a fiscalização por outros entes federativos de atribuição comum. Prevalecerá auto de infração ambiental lavrado por órgão que detenha a atribuição de licenciamento ou autorização.
Lei 9.873/99 (estabelece prazo de prescrição para o exercício de ação punitiva pela Administração Pública Federal, direta e indireta, e dá outras providências) se aplica às ações administrativas punitivas dos Estados e Municípios?
Não. Trata-se de Lei Federal, cfe art. 1° (STJ, ago/2017).
5B. Revogação, anulação, cassação e convalidação do ato administrativo.
Atualizado em 18/03/2023 por Ivanise Nunes Pereira.
Atualização anterior: Caroline Araújo
REVOGAÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO
É a extinção de um ato administrativo lícito ou de seus efeitos por outro ato administrativo, efetuada por razões de conveniência e oportunidade (poder discricionário), respeitando-se os efeitos precedentes. Produz efeitos ex nunc.
Não podem ser revogados:   a) atos que a lei declara irrevogáveis; b) atos já exauridos; c) atos vinculados, enquanto o sejam; d) atos administrativos puros (atos enunciativos), como as certidões, pois os efeitos deles decorrem da lei e não de uma criação administrativa; e) atos de controle, pois a competência em relação a cada caso examinado exaure-se uma vez expedido o ato; f) atos complexos; g) atos que geram direito adquirido; h) atos que integram procedimento administrativo (preclusão); i) ato ilegal.
ANULAÇÃO
Pode ser conceituada como “sendo a forma de desfazimento do ato administrativo em virtude da existência de vício de legalidade”. Quanto ao prazo da anulação, estabelece o art. 54 da Lei 9.784: “o direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé. § 1o  No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento”.  A anulação opera efeitos ex tunc. A anulação pode ser feita de ofício ou mediante provocação e poderá ser feita pelo Judiciário, no exercício da função jurisdicional. 
CASSAÇÃO
“[...] é a forma extintiva que se aplica quando o beneficiário de determinado ato descumpre condições que permitem a manutenção do ato e de seus efeitos” (CARVALHO FILHO, José dos Santos, 2011, p. 141).
A cassação constitui ato de natureza sancionatória e de caráter vinculado.
CONVALIDAÇÃO
“É o processo de que se vale a Administração para aproveitar atos administrativos com vícios superáveis, de forma a confirmá-lo no todo ou em parte” (CARVALHO FILHO, José dos Santos, 2011, p. 151).  Está prevista no art. 55 da Lei 9.874/99. Divide-se em: i) ratificação (correção de defeito de competência ou de forma); ii) reforma (manutenção da parte válida de um ato, com a exclusão da parte inválida) e iii) conversão (prática de um novo ato com a parte válida do ato anterior, acrescida de uma nova parte). Diogo de Figueiredo Moreira Neto acrescenta ainda a possibilidade de uma conversão legislativa, promovida por força de lei.  
Apenas poderá haver convalidação de vícios de competência, em razão do sujeito (ratificação) e de forma não essencial à validade (reforma ou conversão). Excepcionalmente, o vício de objeto, quando houver conteúdo plúrimo.
São insanáveis, impedindo a convalidação: vícios no motivo, no objeto (quando único), na finalidade e na falta de congruência entre o motivo e o objeto do ato.
O Judiciário não pode convalidar atos administrativos.
5C. Desconcentração e Descentralização administrativa. Privatização.
Atualizado em 18/03/2023 por Ivanise Nunes Pereira.
Atualização anterior: Caroline Araújo
Desconcentração, centralização e descentralização são técnicas de organização administrativa.
DESCONCENTRAÇÃO ADMINISTRATIVA
É a “distribuição interna de plexos de competências decisórias, agrupadas em unidades individualizadas”. Na desconcentração (ou descentralização hierárquica ou material), tem-se uma especialização de funções dentro da própria estrutura estatal, sem criação de nova pessoa jurídica. Criam-se centros de competências denominados órgãos públicos, dentro de uma mesma estrutura hierárquica (ex.: Ministérios, Secretarias). Em outras palavras, o Estado (entes federativos) desmembra ÓRGÃOS internos (é a própria Administração Pública Direta) para propiciar melhorias na sua organização territorial tomando por base critério material, grau hierárquico ou territorial. NÃO CRIA NOVAS pessoas jurídicas, mas meros órgãos de execução direta sem personalidade jurídica. Em razão do mencionado vínculo de hierarquia, é estabelecida uma relação de controle entre os órgãos, chamada de controle hierárquico ou por subordinação, abrangendo todos os atos praticados pelo órgão subordinado. O mencionado controle não depende de previsão legal. Da mesma forma, a interposição de recurso administrativo contra atos do órgão subordinado não depende de previsão legal, embora obedeça as disposições genéricas da Lei 9.784/99.
DESCONCENTRAÇÃO POLÍTICA – distribui funções internamente e dá origem aos poderes Legislativo, Judiciário e Executivo.
DESCONCENTRAÇÃO ADMINISTRATIVA – distribui funções internamente na mesma pessoa jurídica e cria órgãos.
Súmula 525-STJ: A Câmara de vereadores não possui personalidade jurídica, apenas personalidade judiciária, somente podendo demandar em juízo para defender os seus direitos institucionais.
Súmula 628-STJ: A teoria da encampação é aplicada no mandado de segurança quando presentes, cumulativamente, os seguintes requisitos: a) existência de vínculo hierárquico entre a autoridade que prestou informações e a que ordenoua prática do ato impugnado; b) manifestação a respeito do mérito nas informações prestadas; e c) ausência de modificação de competência estabelecida na Constituição Federal. STJ. 1ª Seção. Aprovada em 12/12/2018, DJe 17/12/2018.
DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
O Estado delega, por meio de lei, a atividade a outras entidades com personalidade jurídica própria (Administração Pública Indireta). Assim descentralização pressupõe o recurso a pessoas jurídicas distintas da Administração Direta, buscando maior eficiência e especialização no exercício da função pública. A descentralização administrativa é dividida em: a) descentralização territorial ou geográfica: ocorre com entidade local geograficamente delimitada, dotada de personalidade jurídica própria de direito público, com capacidade administrativa genérica para exercer a totalidade ou maior parte dos encargos públicos de interesse da coletividade. Refere-se a criação de territórios; b) descentralização por serviços, funcional ou técnica: verificada quando a Administração Direta cria uma pessoa jurídica de direito público ou privado e a ela transfere a titularidade e a execução de determinado serviço público. (art. 37, XIX, CF) c) descentralização por colaboração ou por delegação: ocorre quando a Administração transfere a execução de determinado serviço público à pessoa jurídica de direito privado previamente existente (art. 175, CF). Nessa hipótese, o Poder Público conserva a titularidade do serviço, podendo dispor sobre ele de acordo com o interesse público; d) descentralização por outorga: parte da doutrina entende que haverá descentralização por outorga quando a competência é distribuída para pessoas de direito público.
Tratando-se de pessoas jurídicas diferentes, não há qualquer vínculo hierárquico. Assim, a interposição de recurso contra a decisão da pessoa descentralizada exige previsão legal expressa (trata-se do chamado recurso hierárquico impróprio). Apesar disso, Administração Central exerce sobre a pessoa descentralizada a chamada supervisão ministerial. Trata-se de um controle finalístico, isto é, controle quanto ao objetivo das atividades desenvolvidas, por parte da Administração que instituiu o ente da Administração Pública indireta.
DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICA – VERTICAL – cria entes políticos, pessoas jurídicas de direito público interno (União, Estados, DF e Municípios) – Administração Pública Direta.
DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA – HORIZONTAL – cria a Administração Pública Indireta (Autarquias, Empresas Públicas, Fundações e Sociedade de Economia Mista).
Pode-se dizer que a centralização é sinônimo de Administração Pública Direta e a descentralização da Administração Pública indireta. Assim, a administração pode ser: a) descentralizada e desconcentrada: administração indireta criando órgãos; b) descentralizada e concentrada: administração indireta extinguindo órgãos; c) centralizada e desconcentrada: administração direta criando órgãos; d) centralizada e concentrada: administração direta extinguindo órgãos.
PRIVATIZAÇÃO EM SENTIDO AMPLO
Abrange todas as medidas adotadas com o objetivo de reduzir a presença do Estado e compreende: a) desregulação (diminuição da intervenção do Estado no domínio econômico); b) desmonopolização de atividades econômicas; c) a venda de ações de empresas estatais ao setor privado ; d) a concessão de serviços públicos (com a devolução da qualidade de concessionário à empresa privada e não mais a empresas estatais, como vinha ocorrendo); e) os contracting out (como forma pela qual a Administração Pública celebra acordos de variados tipos para buscar a colaboração do setor privado, podendo-se mencionar, como exemplos, os convênios e os contratos de obras e prestação de serviços, inclusive terceirização).
PRIVATIZAÇÃO EM SENTIDO ESTRITO
Por outro lado, para Autora, privatização em sentido estrito, “abrange apenas a transferência de ativos ou de ações de empresas estatais para o setor privado”. Tal conceito é o que decorre do art. 11 da Lei 9.491/97 (a lei deu os moldes atuais do Plano Nacional de Desestatização – PND).
DESESTATIZAÇÃO
O objetivo da desestatização, nos termos da mencionada lei, foi transferir aos particulares atividades exploradas pelo poder público de forma ineficiente e deficitária, para fortalecer o setor econômico e o mercado de capitais, reduzir a dívida pública e permitir que a Administração “concentre seus esforços nas atividades em que a presença do Estado seja fundamental para a consecução das prioridades nacionais”.
Por outro lado, a Lei 9.491/97, em seu art. 2º, § 1°, define como gênero, que abrange empresas, serviços e bens: “a) a alienação, pela União, de direitos que lhe assegurem, diretamente ou através de outras controladas, preponderância nas deliberações sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores da sociedade; b) a transferência, para a iniciativa privada, da execução de serviços públicos explorados pela União, diretamente ou através de entidades controladas, bem como daqueles de sua responsabilidade; c) a transferência ou outorga de direitos sobre bens móveis e imóveis da União, nos termos desta Lei.”
É desnecessária, em regra, lei específica para inclusão de sociedade de economia mista ou de empresa pública em programa de desestatização. Para a desestatização de empresa estatal é suficiente a autorização prevista em lei que veicule programa de desestatização. Autorização legislativa genérica é pautada em princípios e objetivos que devem ser observados nas diversas fases deliberativas do processo de desestatização. (ADI 6241, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 08/02/2021, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-054 DIVULG 19-03-2021 PUBLIC 22-03-2021)
6A. Personalidade de Direito Público. Pessoas administrativas. Autarquia. Sociedade de economia mista. Empresa pública. Fundação pública. Consórcios públicos. Outros entes.
Eduarda 27/03/2023
Atualizado por: Daniela Nadia Wasilewski Rodrigues
Obras Consultadas: Graal 28º CPR – Graal 29º CPR – Site Dizer o Direito
A personalidade de Direito Público confere privilégios e obrigações previstas na legislação, de modo que as pessoas jurídicas de direito público assumem uma posição de superioridade sobre o particular (supremacia do interesse público). 
Pessoas administrativas são os entes da Administração Pública incumbidos da execução das políticas públicas (entidades da Administração Indireta). Distinguem-se das pessoas políticas, que têm poder de criar o direito, definindo as políticas públicas a serem seguidas (entes federados).
Autarquia: é pessoa jurídica criada por lei específica para a prestação atividades típicas do Estado (função de polícia, prestação de serviços públicos, intervenção na ordem econômica e/ou social e fomento público). Possui personalidade jurídica de direito público. Seu regime é público (são obrigadas a licitar; submetidas à responsabilidade objetiva; seus bens são inalienáveis (bens públicos), imprescritíveis e impenhoráveis; débitos sujeitos ao regime de precatórios; privilégios processuais; não sofrem falência, possuem imunidade tributária, submetem-se ao prazo prescricional quinquenal, submetem-se à execução fiscal etc.).  Não há subordinação hierárquica da autarquia com a entidade estatal a que pertence, mas mera vinculação, com controle administrativo exercido nos limites da lei. As autarquias em regime especial, com destaque para as agências reguladoras e executivas são objeto do tópico 14 A.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT detém competência para a fiscalização do trânsito nas rodovias e estradas federais, podendo aplicar, em caráter não exclusivo, penalidade por infração ao Código de Trânsito Brasileiro, consoante se extrai da conjugada exegese dos arts. 82, § 3º, da Lei n. 10.233/10 e 21 da Lei n. 9.503/97 (CTB). STJ, 1ª Seção. Resp 1.588.969-RS. Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 28.02.2018 (recurso repetitivo).
Fundação Pública: Há 03 entendimentos distintos sobre seu regime jurídico: 1. CABM: toda fundação pública deve seguirregime de direito público, sendo espécie de autarquia, chamada de AUTARQUIA FUNDACIONAL. 2. HELY: antes dizia que toda fundação pública deveria ser de direito privado (DL 200/67). Com a CF/88 mudou de opinião afirmando que a fundação pública será de direito público. Com a EC/19 muda de opinião dizendo que pode ter a fundação pública o regime de direito privado, tendo em vista que a lei autoriza a sua instituição. 3. MSZP: a fundação pública poderá ter regime de direito público ou regime de direito privado, o que será definido pelo administrador no momento de sua instituição. Fundação pública de direito público é uma espécie de autarquia, sendo a ela aplicado o regime autárquico. Fundação instituída sob o regime de direito privado seguirá o mesmo regime das empresas públicas e sociedades de economia mista ligadas à prestação de serviços públicos, são as chamadas: FUNDAÇÕES GOVERNAMENTAIS.
A fundação instituída pelo Estado pode estar sujeita ao regime público ou privado, a depender do estatuto da fundação e das atividades por ela prestadas. A qualificação de uma fundação instituída pelo Estado como sujeita ao regime público ou privado depende: i) do estatuto de sua criação ou autorização e ii) das atividades por ela prestadas. As atividades de conteúdo econômico e as passíveis de delegação, quando definidas como objetos de dada fundação, ainda que essa seja instituída ou mantida pelo poder público, podem se submeter ao regime jurídico de direito privado. STF. Plenário. RE 716378/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 1o e 7/8/2019 (repercussão geral) (Info 946). Observa-se que a fundação pública de direito público deve ser criada por lei, enquanto a fundação pública de direito privado deve ser autorizada por lei. As atividades econômicas passíveis de delegação só poderão ser delegadas às fundações públicas que atuem como pessoa jurídica de direito privado.
A estabilidade especial do art. 19 do ADCT não se aplica para empregados das fundações públicas de direito privado (abrange apenas os servidores das pessoas jurídicas de direito público). A estabilidade especial do art. 19 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) não se estende aos empregados das fundações públicas de direito privado, aplicando-se tão somente aos servidores das pessoas jurídicas de direito público. O termo “fundações públicas”, utilizado pelo art. 19 do ADCT, deve ser compreendido como fundações autárquicas, sujeitas ao regime jurídico de direito público. Ex: empregados da Fundação Padre Anchieta não gozam dessa estabilidade do art. 19 do ADCT em razão de se tratar de uma fundação pública de direito privado. STF. Plenário. RE 716378/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 1o e 7/8/2019 (repercussão geral) (Info 946). 
	
	Fundação Pública de Direito Público
	Fundação Pública de Direito Privado
	Criação
	Por lei
	Lei autoriza.
É necessário o registro dos atos constitutivos
	Extinção
	Por lei
	Lei autoriza.
É necessário o cancelamento do registro
	Objeto
	Prestação de serviço público
	Prestação de serviço público
Exercício da atividade econômica
	Falência
	Não sofre
	Não sofre
	Imunidade Tributária
	Possui
	Possui
	Custas Processuais
	Tem isenção
	Não tem isenção
	Pessoal
	Funcionário público
	Pode adotar regime celetista
Sociedade de Economia Mista e Empresa Pública: De acordo com o art. 173 da CF, as estatais (sociedade de economia mista e empresa pública) somente podem existir quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo. Além disso, por força do art. 173, § 1º, II o regime jurídico das estatais, no que tange às obrigações trabalhistas, tributárias, civis e comerciais é o mesmo das empresas privadas, pois, conforme o § 2º do mesmo artigo “As empresas públicas e as sociedades de economia mista não poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos às do setor privado”. O enunciado 13 do CJF defende que as empresas estatais se submetem à Lei de Acesso à Informação (Lei n. 12.527/11). Conforme a definição na Lei 13.303/2016: 
- “Art. 3º.  Empresa pública é a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, com criação autorizada por lei e com patrimônio próprio, cujo capital social é integralmente detido pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios. Parágrafo único.” 
- “Art. 4º. Sociedade de economia mista é a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, com criação autorizada por lei, sob a forma de sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em sua maioria à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios ou a entidade da administração indireta.” 
EMPRESAS ESTATAIS: Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista: características comuns: 
· Criação autorizada por lei: publicação de lei autorizadora e depois edição de Decreto pelo executivo que vai regulamentar a criação dos entes e após são registrados atos constitutivos em cartório (atenção: EP e SEM não são criadas por lei, mas têm sua criação autorizada por lei). 
· sofrem controle pelo TCU, inclusive SEM; 
· regime jurídico de direito privado, mas precisam de concurso público para contratação de pessoal; 
· regime jurídico celetista de emprego público; 
· remuneração em princípio não se submete ao teto, salvo se receberem recursos públicos para pagamento de despesas com pessoal e custeio em geral; 
· devem contratar bens e serviços através de licitação, observada a Lei 13.303/16, aplica-se subsidiariamente a Lei de licitações.
· Ambas podem prestar serviços públicos ou explorar atividades econômicas. Quando exploram atividade econômica somente podem visar a segurança nacional e interesse coletivo (art.173/CF). Nesse caso não têm de licitar na sua atividade fim, pois competem com a iniciativa privada.
O regime é privado, mas com regras do regime público (regime misto/híbrido). As EPs tem capital exclusivamente público, embora não precise ser de um único ente; podem ser constituídas por qualquer forma empresarial e as causas que as envolvem são julgadas perante a Justiça Federal (art. 109/CF). As SEMs podem ser constituídas com capital misto, mas a maioria votante tem que ser do poder público; somente podem ser constituídas sob a forma de S/A e são julgadas pela Justiça Estadual. 
Sobre a falência das estatais, há divergência. CABM sempre defendeu que é necessário distinguir as EP e SEM prestadoras de serviço público das exploradoras de atividades econômicas, para ele, deve-se entender que a falência somente será possível em casos de empresas estatais que exercem estritamente atividade econômica empresarial. JSCF entende que não se aplica o regime falimentar a essas pessoas paraestatais, independentemente da atividade que desempenhem. Isso porque o art. 2º, I, da Lei 11.101/05 dispôs que esta não se aplica a EP e SEM. No tocante a criação de subsidiárias, entende-se que pode ser realizado pela mesma lei que autorizou a criação da empresa principal, conforme ADI 1649. Quanto a extinção, o STF na ADI 6241 decidiu que não é necessário, em regra, lei específica para inclusão de sociedade de economia mista ou de empresa pública em programa de desestatitzação, basta autorização legal genérica. Porém, caso a lei instituidora exija lei específica, nesse caso, a desestatização também deverá se dar por lei específica.
A alienação do controle acionário de empresas públicas e sociedades de economia mista exige autorização legislativa e licitação. Por outro lado, não se exige autorização legislativa para a alienação do controle de suas subsidiárias e controladas. Nesse caso, a operação pode ser realizada sem a necessidade de licitação, desde que siga procedimentos que observem os princípios da administração pública inscritos no art. 37 da CF/88, respeitada, sempre, a exigência de necessária competitividade. STF. Plenário. ADI 5624 MC-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 5 e 6/6/2019 
Petrobrás pode criar subsidiárias e, em seguida, alienaro controle acionário delas sem licitação e sem autorização legislativa específica. a Petrobrás elaborou um plano de desinvestimento por meio do qual ela decidiu vender 8 refinarias. Para isso, a Petrobrás criou subsidiárias que passaram a ser as proprietárias dessas refinarias e, em seguida, o controle acionário dessas subsidiárias será alienado, sem licitação e sem prévia autorização legislativa. Desse modo, na prática, é como se a Petrobrás estivesse alienando as refinarias. O STF afirmou que essa prática é legítima. A específica autorização legislativa somente é obrigatória na hipótese de alienação do controle acionário de sociedade de economia mista (empresa-mãe). Não há necessidade dessa prévia e específica anuência para a criação e posterior alienação de ativos da empresa subsidiária, dentro de um elaborado plano de gestão de desinvestimento, voltado para garantir maiores investimentos e, consequentemente, maior eficiência e eficácia da empresa-mãe. Isso porque a inexistência de expressa proibição ou limitação de alienação societária em relação à autorização legislativa genérica para a criação de subsidiárias corresponde à concessão, pelo Congresso Nacional ao Poder Executivo, de um importante instrumento de gestão empresarial, para garantir a eficiência e a eficácia da sociedade de economia mista no cumprimento de suas finalidades societárias. Portanto, na criação ou extinção de subsidiárias, o preceito maior de gestão empresarial que deve ser seguido é garantir a melhor atuação, eficiência e eficácia da empresa-mãe. STF. Plenário. Rcl 42576 MC/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 30/9 e 1o/10/2020 
Não é ilegal a terceirização de serviços jurídicos pela Caixa Econômica Federal (CEF). A CEF, embora vinculada como empresa pública ao Estado, executa uma atividade econômica em ambiente de concorrência. A terceirização pela CEF dos serviços jurídicos não se revela ilegal, considerando que esses serviços não estão relacionados com a atividade fim da empresa. STJ, 2ª Turma. Resp 1.3318.740-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, julgado em 16.10.2018.
É dispensável a autorização legislativa para a alienação de controle acionário de empresas subsidiárias. É desnecessária a autorização legislativa expressa para a criação de subsidiárias quando houver autorização legislativa da criação de empresa pública ou sociedade de economia mista e nesta constar permissão genérica da possibilidade de criação de subsidiárias. Assim, não se exige lei específica para autorizar a criação de subsidiária. Com base no paralelismo das formas, como não é exigida lei específica para criar a subsidiária, também não é necessária lei específica para alienar o seu controle acionário.  Em palavras mais simples: como não se exige lei específica para criar, também não se exige lei específica para “vender”.
STF. Plenário. ADPF 794/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/5/2021 (Info 1018).
É desnecessária, em regra, lei específica para inclusão de sociedade de economia mista ou de empresa pública em programa de desestatização. O art. 37, XIX, da CF/88 afirma que é necessária a edição de uma lei específica para se autorizar a instituição de uma sociedade de economia mista ou uma empresa pública. Para que ocorra a desestatização da empresa estatal também necessária lei específica ou basta uma autorização genérica prevista em lei que veicule programa de desestatização? A Lei nº 9.491/97 tratou sobre o Programa Nacional de Desestatização e autorizou a desestatização de empresas estatais. Essa lei genérica é suficiente?
Em regra, sim. É desnecessária, em regra, lei específica para inclusão de sociedade de economia mista ou de empresa pública em programa de desestatização. Não se aplica o princípio do paralelismo das formas. Exceção: em alguns casos a lei que autorizou a criação da empresa estatal afirmou expressamente que seria necessária lei específica para sua extinção ou privatização. Nesses casos, obviamente, não é suficiente uma lei genérica (não basta a Lei nº 9.491/97), sendo necessária lei específica.
STF. Plenário. ADI 6241/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 6/2/2021 (Info 1004).
Distinção entre empresas estatais prestadoras de serviços públicos e exploradoras de atividades econômicas:
	Diferenças
	Prestadora de Serviço Público
	Exploradora de atividade econômica
	1. Responsabilidade Civil
	Teoria objetiva (CF, art. 37, §6º).
	Teoria subjetiva.
	2. Responsabilidade Subsidiária
	O Estado responde subsidiariamente
	O Estado não responde subsidiariamente, com base no artigo 173, §1º, CF.
	
3. Falência
	
NÃO se submetem ao regime falimentar
	Se submetem ao regime falimentar (ressalvada a opinião de JSCF, para quem está também não se submete ao referido
regime).
	
4. Bens
	CABM e MSZDP entendem que os bens quando vinculados ao serviço são públicos. Os demais são particulares. JSCF defende que todos os bens são particulares, recaindo, entretanto, sobre os afetados ao serviço, a característica da impenhorabilidade.
	
São particulares (CC, art. 98).
	
5. Licitação
	
Deve licitar para atividade- meio, dispensada na atividade-fim.
	Deve licitar para atividade- meio, dispensada na atividade-fim. Segundo o STF poderão fazer suas licitações com base em regulamento próprio, que pode ser editado por decreto (CF, art. 173, §1º, III).
CABM, MSZDP e o TCU entendem que se aplica a Lei n.º 8.666/93, pois somente lei em sentido formal pode estabelecer o regulamento próprio
Lei n. 13.303/16 (Lei das Estatais): é aplicada tanto para as prestadoras de serviço como para as exploradoras de atividades econômicas. Prevê a possibilidade de EP e SEM de pequeno porte (possuam receita operacional bruta do ano anterior inferior a R$ 90 milhões. A empresa pública não pode (i) lançar debêntures ou outros títulos ou valores mobiliários, conversíveis em ações; (ii) emitir partes beneficiárias (art. 11). Tanto a EP como a SEM devem (art. 12): (i) divulgar toda e qualquer forma de remuneração dos administradores; (ii) adequar constantemente suas práticas ao Código de Conduta e Integridade e a outras regras de boa prática de governança corporativa, na forma estabelecida na regulamentação da lei das estatais. A SEM pode solucionar, mediante arbitragem, as divergências entre acionistas e a sociedade ou entre acionistas controladores e acionistas minoritários, desde que previsto em seu estatuto social.
Consórcios Públicos: “são ajustes celebrados entre os entes federados para gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos” (Rafael Carvalho, 2015, p. 132). Sua fonte constitucional é o art. 241. O tema foi tratado na Lei 11.108/2005 e no Decreto 6017/2007. É preciso autorização legislativa para que o Executivo celebre consórcios públicos. Além disso, o consórcio precisa ser personificado com a instituição de uma pessoa jurídica de direito público (associação pública, autarquia interfederativa ou multifederada) ou de uma pessoa jurídica de direito privado (associação civil), para a execução do contrato de consórcio. A nova entidade passa a integrar todos os entes federados que dela participarem. Para Di Pietro e Marçal Justen Filho, a associação pública é uma nova entidade da Administração Indireta. Para Carvalho Filho, trata- se de espécie de autarquia.
O processo de criação constitui-se de 3 fases: a) subscrição de protocolo de intenções; b) publicação do protocolo na imprensa oficial; c) promulgação de lei por cada um dos integrantes ratificando o protocolo; d) celebração do correspondente contrato. Se possuir personalidade de direito público a constituição em relação a cada ente se inicia com a promulgação de cada lei ratificadora do protocolo de intenções. Caso tenha personalidade de direito privado, o contrato deve ser registrado no cartório, nos termos do artigo 45 do CC.Contratos de rateio e programa: A lei nº 11.107 prevê 2 tipos de contratos firmados entre os entes associativos: contrato de rateio e contrato de programa. O primeiro refere-se ao instrumento a partir do  qual os entes consorciados entregarão  os  recursos  ao  consórcio  público  (deve  haver  previsão orçamentária - §5º do art. 8º  da Lei). Já o contrato de programa constitui as obrigações que cada ente deve assumir para o alcance dos fins perseguidos. Para fins de controle, deverá ser designado um dos Chefes dos Poderes Executivos para ser o representante legal do consórcio. O controle contábil, operacional e patrimonial caberá ao tribunal de contas competente para apreciar as contas do chefe designado, sem prejuízo do controle externo realizado sobre o quantum aportado por cada ente, estabelecido no contrato de rateio.
Os consórcios possuem algumas prerrogativas, tais como firmar convênios, contratos, acordos, receber auxílios, subvenções e contribuições; promover desapropriações e instituir servidões (art. 2º, §1º, II); contratar com a Administração por dispensa de licitação e limites mais elevados para contratação (art. 2º, §1º, III); outorgar concessão, permissão, autorização de obras ou serviços públicos, desde que previstos no contrato de consórcio)
A União somente poderá participar de consórcio em que figure Município caso o Estado em que este se situe também seja consorciado.
Outros entes. Ver ponto 14.a. Agências executivas e agências reguladoras. Ordens e conselhos profissionais.
Serviços sociais autônomos. Fundações de apoio. Além do ponto 16.a., que trata das OS/OSCIP.
JURISPRUDÊNCIA
A justiça comum, federal ou estadual, é competente para julgar a abusividade de greve de servidores públicos celetistas da Administração pública direta, autarquias e fundações públicas. STF. Plenário. RE 846854/SP, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, j. 1º/8/17 (repercussão geral) (Info 871).
As empresas públicas e sociedades de economia mista com patrimônio próprio e autonomia administrativa que exerçam atividade econômica sem monopólio e com finalidade de lucro não têm direito à prerrogativa de execução via precatório. STF. 1ª Turma. RE 851711 AgR/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 12/12/17 (Info 888) e RE 892727/DF, julgado em 07.08.2018 (Info 910). Em regra, as empresas estatais estão submetidas ao regime das pessoas jurídicas de direito privado (execução comum). No entanto, é possível sim aplicar o regime de precatórios para empresas públicas e sociedades de economia mista que prestem serviços públicos e que não concorram com a iniciativa privada. Assim, é aplicável o regime dos precatórios às empresas públicas e sociedades de economia mista prestadoras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial. STF. 1ª Turma. RE 627242 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão Min. Roberto Barroso, j. 02/05/2017. STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 23/3/2017 (Info 858). STF, Plenário, ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17.10.2018 (Info 920).
A Lei 12.514/11, que trata sobre as contribuições (anuidades) devidas aos Conselhos Profissionais, é constitucional. Sob o ponto de vista formal, esta Lei, apesar de ser fruto de uma MP que originalmente dispunha sobre outro assunto, não pode ser declarada inconstitucional porque foi editada antes de o STF declarar ilegítima a prática do “contrabando legislativo” (ADI 5127/DF).  Ainda quanto ao aspecto formal, esta Lei não trata sobre normas gerais de Direito Tributário, motivo pelo qual não precisava ser veiculada por lei complementar. Sob o ponto de vista material, a Lei respeitou os princípios da capacidade contributiva, da vedação ao confisco e da legalidade. STF. Plenário. ADI 4697/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 06/10/16 (Info 842). 
Os Conselhos Profissionais, apesar de sua natureza autárquica, não estão isentos do pagamento de custas judiciais, conforme previsão expressa do art. 4º, parágrafo único, da Lei nº 9.289/96. Assim, o benefício da isenção do preparo conferido aos entes públicos previstos no art. 4º, caput, da Lei 9.289/1996 é inaplicável aos Conselhos de Fiscalização Profissional. STF. 1ª Turma. RMS 33572 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 09/08/2016. STJ. 1ª Seção. REsp 1338247/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 10/10/2012  (recurso repetitivo)
É inconstitucional a suspensão do exercício profissional em razão do inadimplemento de anuidades devidas à entidade de classe. O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê que o advogado que deixar de pagar as contribuições devidas à OAB (anuidades) pratica infração disciplinar (art. 34, XXIII, da Lei nº 8.906/94) e pode ser suspenso do exercício, ficando proibido de exercer a advocacia enquanto não pagar integralmente a dívida, com correção monetária (art. 37, § 2º). O STF entendeu que esses dispositivos são inconstitucionais porque representam medida desproporcional que caracteriza sanção política, além de ofender a livre iniciativa e a liberdade profissional. É inconstitucional a suspensão realizada por conselho de fiscalização profissional do exercício laboral de seus inscritos por inadimplência de anuidades, pois a medida consiste em sanção política em matéria tributária. STF. Plenário. RE 647885, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 27/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 732) (Info 978)
Informativos de Teses/MPF
AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA. ILEGITIMIDADE ATIVA. ESTADO-MEMBRO. DESCUMPRIMENTO DE CONVÊNIO. EMPRESA PÚBLICA ESTADUAL E UNIÃO FEDERAL. PERSONALIDADE JURÍDICA PRÓPRIA. Não detém legitimidade
ativa estado-membro para ajuizamento de ação cível originária que objetiva resguardar eventuais direitos de pessoa jurídica participante de sua administração indireta, na hipótese de inscrição de empresa pública estadual em Sistema Integrado de Administração Financeira (SIAFI), em razão de descumprimento de convênio firmado entre esta e a União Federal, pois, além da existência de personalidade jurídica própria, é necessária a observância do princípio da intranscendência subjetiva.
Questões de concurso: TRF 3 /2013 
73. Assinale a alternativa incorreta: 
a) Autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações governamentais e consórcios públicos personalizados integram a Administração Pública Indireta. 
b) Autarquias são pessoas jurídicas de direito público, com capacidade exclusivamente administrativa, e podem, quanto à sua estrutura ou base, serem apartadas em corporativas ou fundacionais. 
c) Fundações governamentais são, todas elas, integrantes da Administração Pública Indireta, e submetem-se ao mesmo regime jurídico porque são igualmente pessoas jurídicas de direito privado; 
d) Organizações Sociais, Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público e Consórcios Públicos são espécies de pessoas jurídicas, as duas primeiras com personalidade de direito privado, e a terceira podendo revestir-se de personalidade de direito público ou de direito privado, nos termos da lei, dependendo da forma como forem organizadas; 
e) Empresas governamentais constituem gênero compreensivo das espécies empresas públicas e sociedades de economia mista, dotadas de personalidade de direito privado, que se submetem a regime jurídico parcialmente de direito público, exigindo-se autorização legislativa específica para criação de cada qual.
Objetiva 29-CPR
65. EM RELAÇÃO AO CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA – CADE E AO SISTEMA BRASILEIRO DE DEFESA DA CONCORRÊNCIA – SBDC, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: 
a) ( ) O CADE é formado exclusivamente pelo Tribunal Administrativo de Defesa Econômica e pelo Departamento de Estudos Econômicos. 
b) ( ) O CADE é uma autarquia federal, com sede no Distrito Federal, vinculada ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
c) ( ) A Superintendência-Geral, um dos órgãos do CADE, será gerido por um Superintendente Geral, que terá como uma de suas atribuições, a solicitação ao Departamento de Estudos Econômicos de estudos e pareceres técnicos. 
d) ( ) O MinistérioPúblico Federal não dispõe qualquer meio de manifestação em processos administrativos que corram junto ao CADE, por este ser um órgão autônomo
6B. Contratos administrativos 
Gustavo Nitzsche 31/03/2023
 CONTRATOS ADMINISTRATIVOS E CONTRATOS DA ADMINISTRAÇÃO 
Prefacialmente, é necessário destacar que há três correntes doutrinárias sobre a existência e definição dos contratos administrativos, conforme os ensinamentos de Matheus Carvalho (2022, p. 765-766): 
· “A que nega a existência de contratos administrativos – posição defendida por Oswaldo Aranha Bandeira de Melo. O autor defende que estes contratos violariam a autonomia da vontade, bem como o pacta sunt servanda, haja vista a possibilidade de mutação da avença por vontade unilateral de uma das partes, bem como a rescisão contratual a qualquer tempo. Sendo assim, a doutrinha dispunha que as cláusulas regulamentares dos contratos administrativos decorreriam de atos unilaterais e as avenças referentes ao equilíbrio econômico financeiro seriam celebradas por força de contratos privados. 
· A que defende que todos os contratos celebrados pela Administração são contratos administrativos – esta doutrina toma por base o entendimento de que, em qualquer acordo celebrado com o Estado, estarão presentes as regras e princípios decorrentes da supremacia do interesse público sobre o interesse privado e, portanto, estariam todos esses instrumentos sujeitos ao regime jurídico administrativo. 
· A que aceita a existência de contratos administrativos como uma das espécies de contratos celebrados pela administração – é a posição majoritária, adotada nesta obra que defende que os contratos administrativos são aqueles contratos celebrados pela Administração Pública sob o regime de direito público, com prerrogativas e vantagens decorrentes da supremacia estatal. Sendo assim, a Administração Pública pode celebrar contratos regidos pelo direito privado, como locação, permuta e compra e venda, quando então atuaria sem prerrogativas em face do particular contratado, com a regência do Direito Civil. Ressalte-se que, mesmo nos contratos privados, a Administração Pública deve respeitar os princípios inerentes à sua atuação, como o dever de licitar e de garantir a isonomia nas contratações.”
(CARVALHO, MATHEUS. Manual de Direito Administrativo. 10. ed. São Paulo: JusPODIVM, 2022, p. 765-766). 
Referidas correntes doutrinárias podem ser sintetizadas no seguinte quadro: 
	“1ª Corrente: Nega a existência de contratos administrativos”
	“Defendida por Oswaldo Aranha Bandeira de Melo, aduz que os contratos administrativos violariam a autonomia da vontade e o pacta sunt servanda, ante a possibilidade de alteração e rescisão unilateral dos contratos.”
	
“2ª Corrente: Todos os contratos celebrados pela Administração são contratos administrativos”
	“Em qualquer contrato celebrado pelo Estado estarão presentes as regras e princípios decorrentes da supremacia do interesse público.”
	
“3ª Corrente: O contrato administrativo é uma das espécies de contratos celebrados pela Administração”
	“É a posição majoritária na doutrina. Os contratos administrativos seriam aqueles celebrados pela Administração Pública sob o regime de direito público.”
Fonte: Material Ciclos Método de Estudo, 2022
Desse modo, levando-se em consideração a adoção da terceira corrente, a qual é majoritária na doutrina, faz-se necessário diferenciar contratos administrativos de contratos da Administração: 
• Contratos da Administração são todos aqueles celebrados pela Administração Pública, incluindo os contratos disciplinados pelo direito privado. Contrato da Administração constitui gênero, do qual os contratos administrativos são espécie.
• Contratos administrativos são os contratos firmados entre a Administração Pública, agindo nessa qualidade, e terceiros, ou apenas entre entidades administrativas, sendo o ajuste submetido ao regime jurídico-administrativo visando a consecução de objetivos de interesse público.
Cabe ressaltar que é possível, mesmo nos contratos administrativos, a aplicação subsidiária do direito privado, principalmente da da teoria geral dos contratos. Nesse sentido, o artigo 89 da Lei 14.133/20221 preconiza que: 
Art. 89. Os contratos de que trata esta Lei regular-se-ão pelas suas cláusulas e pelos preceitos de direito público, e a eles serão aplicados, supletivamente, os princípios da teoria geral dos contratos e as disposições de direito privado.
Porém, no tocante aos contratos da administração disciplinados pelo direito privado, o ajuste será regulado totalmente pelo Direito Civil, de forma que o Poder Público atuará sem as prerrogativas de Estado. 
Fonte: Material Ciclos Método de Estudo, 2022
Os contratos da administração, tanto regidos pelo regime de Direito Público quanto de Direito Privado, estão sujeitos a:
· Controle orçamentário e financeiro feito pelo Tribunal de Contas
· Realização de procedimento licitatório
· Prazo determinado
· Previsão orçamentária
· Celebração com a finalidade de atingir o interesse público
2. CONCEITO DE CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
A principal característica dos contratos administrativos consiste na possibilidade de existir tratamento desigual entre a Administração (atuando com prerrogativas públicas) e o contratado, por exemplo, a possibilidade de o Poder Público extinguir o contrato unilaterlamente. Existe uma verticalidade na relação entre a Administração Pública e o particular contratado, diante da supremacia do Poder Público. 
Matheus Carvalho (2022, p. 767) ensina que: “os contratos administrativos são as manifestações de vontade entre duas ou mais pessoas visando à celebração de negócio jurídico, havendo a participação do Poder Público, atuando com todas as prerrogativas decorrentes da supremacia do interesse público, visando sempre à persecução de um fim coletivo. Este contrato é regido pelo direito público, sendo inerentes a ele todas as prerrogativas e limitações de Estado”. (grifei) 
Tais prerrogativas acarretam a existência de cláusulas exorbitantes, que encontram previsão no art. 104 da Lei 14.133/2021, que estão presentes, de forma implícita, em todos os contratos administrativos. Frise-se que, via de regra, nos contratos privados celebrados pela Administração não se aplicam estas cláusulas exorbitantes, exceto em situações excepcionais, quando eleas devem estar previstas de forma expressa no instrumento do acordo. 
3. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA SOBRE LICITAÇÕES E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS: CF/1988 E LEI 14.133/2021
A União possui a competência privativa para criar normas gerais sobre licitação e contratos administrativos, conforme dispõe o art. 22, inciso XXVII, da CF/1988, in verbis: 
 Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
Logo, a União estabelecerá as regras gerais, ao passo que Estados e Municípios poderão editar normas suplementares sobre licitação e contratação. 
Ao exercer a competência constitucional, a União editou a Lei nº 14.133/2021 (Lei de Licitações e Contratos Administrativos), objetivando substituir a legislação anterior, isto é, a Lei nº 8.666/1993. 
4. CARACTERÍSTICAS DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
Além da busca pelo interesse público, é possível afirmar que todo contrato administrativo será caracterizado por ser: 
i) Comutativo: gera direitos e deveres previamente estabelecidos para ambas as partes, inexistindo a submissão a álea por parte dos contratantes. Não existem contratos sujeitos a risco no Direito Administrativo.
ii) Consensual: a formalização do contrato decorre do simples consenso entre as partes. Não é preciso a transferência do bem para ele se tornar perfeito. Nestas hipóteses, a transferência do

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