Prévia do material em texto
Questões ambientais a nível de bairro Apresentação No planejamento urbano, é importante considerar os aspectos ambientais a nível de bairro, uma vez que é necessária a conscientização de que os aspectos locais produzem impactos expressivos na vida dos moradores. O conhecimento dos resultados da impermeabilização do solo, do deslocamento por meio de modais e do manejo dos resíduos sólidos são aspectos que, em conjunto, são os mais relevantes para a vida nas cidades. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender sobre os impactos da impermeabilização do solo no meio ambiente, bem como sobre a disponibilidade e diversidade de meios de transporte e o armazenamento, coleta e destinação final dos resíduos sólidos urbanos. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Avaliar a permeabilidade do solo.• Justificar deslocamentos em diferentes modais.• Organizar o manejo de resíduos sólidos.• Desafio O parâmetro urbanístico, que determina uma taxa de permeabilidade nos terrenos da cidade, tem por objetivo reservar uma área livre sem pavimentação para que a água das chuvas seja facilmente absorvida. Cada município determina a sua taxa, considerando os aspectos e particularidades de localização do terreno, tamanho e usos. O escritório de arquitetura onde você trabalha necessitava de uma revisão na taxa de permeabilidade aplicada em determinado terreno. Você é o arquiteto responsável por realizar a conferência e sugerir espaços permeáveis no terreno. Considerando que o terreno analisado tem 250m2 e uma taxa de permeabilidade de 13%: a) Calcule a área permeável mínima exigida para o terreno. b) Sugira duas alternativas para implementar as áreas permeáveis no terreno. c) Quais são os impactos da impermeabilização do solo urbano? Infográfico Compreender as etapas do trajeto dos resíduos sólidos, bem como o seu manejo e armazenagem, contribui para a formação da nossa consciência ambiental e compreensão do nosso papel como agentes transformadores do espaço. Para os arquitetos, essa compreensão proporciona uma visão holística, com foco na geração de resíduos sólidos, de como a urbanização pode impactar nas cidades e na produção espacial. A seguir, no Infográfico, veja as principais etapas do processo de manejo e destinação final dos resíduos sólidos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Conteúdo do livro O planejamento urbano é uma disciplina que visa compreender e propor soluções para as cidades a nível micro e macro, considerando as suas conectividades, infraestrutura e as necessidades decorrentes do uso do espaço urbano pelos seus habitantes. O manejo dos resíduos sólidos, o aumento da impermeabilização do solo com a pavimentação excessiva dos terrenos e espaços abertos e a disponibilidade de modais de transporte são alguns dos aspectos que produzem impacto expressivo no meio ambiente. Leia o capítulo Questões ambientais a nível de bairro, da obra Planejamento Urbano e Regional: Unidade de Vizinhança, e veja algumas ferramentas capazes de solucionar os problemas decorrentes de tais aspectos se aplicadas com conhecimento do contexto e das necessidades municipais. Boa leitura. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: UNIDADE DE VIZINHANÇA Cássia Morais Mano Questões ambientais a nível de bairro Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Avaliar a permeabilidade do solo. Justificar deslocamentos em diferentes modais. Organizar o manejo de resíduos sólidos. Introdução Para que o planejamento urbano de determinada cidade atenda às neces- sidades dos seus habitantes, é necessário compreender, além das questões socioeconômicas e políticas, os aspectos ambientais que envolvem o processo de urbanização. Podemos citar como alguns dos mais relevantes a questão da impermeabilização dos solos e os seus impactos sobre a drenagem urbana, os diferentes meios de transportes utilizados para deslocamento e o manejo de resíduos sólidos. Cada um desses aspectos tem particularidades que devem ser consideradas durante o planejamento urbano, de maneira a visar a uma cidade sustentável para todos. Neste capítulo, você vai aprender sobre a relevância de questões ambientais a nível de bairro para o planejamento das cidades, sua ca- racterização e impactos. Permeabilidade do solo No último século, observa-se um aumento expressivo da população residindo em áreas urbanas, o que tende a densifi car cada vez mais o espaço urbano (maior número de habitantes por m2), podendo ocasionar a insufi ciência e o sobrecarregamento da infraestrutura disponível (GAUDARD; BARRETO, 2016; SANTOS; RUFINO; BARROS FILHO, 2017). Dentre os aspectos in- fl uenciados pelo processo de urbanização está a permeabilidade do solo, que consiste na capacidade de infi ltração da água, ou seja, à medida que o solo se torna mais impermeável, menor será a quantidade de água absorvida por unidade de tempo, aumentando o escoamento superfi cial. A impermeabilização do solo ocorre por meio da retirada da cobertura vegetal e das modifi cações nos sistemas de drenagem (como a retifi cação e a canalização dos cursos d’água) e acarreta em inundações (Figura 1), uma vez que “as enchentes aumentam a sua freqüência e magnitude em razão da impermeabilização do solo e da construção da rede de condutos pluviais” (TUCCI, 2008, documento on-line). Ao leitor do material impresso: para visualizar as figuras deste capítulo em cores, acesse o link ou o código QR a seguir. https://qrgo.page.link/7xbQG Figura 1. Enchente em Santa Catarina, Brasil. Fonte: Antoine (2011, documento on-line). Questões ambientais a nível de bairro2 Outro efeito decorrente da substituição da cobertura vegetal pelo concreto e pelo asfalto é a progressiva elevação da temperatura de áreas urbanas cen- trais em relação às áreas rurais, denominada “ilha de calor” (TUCCI, 2002, documento on-line). Nesse sentido, entende-se que a permeabilidade do solo urbano é uma diretriz a ser implantada e fomentada no planejamento, de forma a garantir a diminuição das enchentes e ilhas de calor nas cidades. Fonte: Adaptado de Tucci (2002, documento on-line). Processo de urbanização Impermeabilização do solo Inundações e ilhas de calor Alteração na cobertura do solo e nos sistemas de drenagem De que maneira os planejadores urbanos e os gestores públicos podem implementar diretrizes que promovam a manutenção de áreas permeáveis nas cidades? Existem algumas soluções que podem ser adotadas tanto em áreas públicas como privadas: o uso de materiais alternativos, como pavimentos permeáveis (blocos vazados para piso – Figura 2a, asfaltos porosos e concreto permeável); a reserva de áreas permeáveis intralotes, estabelecendo, por meio de parâmetros urbanos, uma porcentagem mínima em metros quadrados livre de área edificada; e estruturas alternativas, como o uso de cisternas para coleta de água das chuvas e coberturas verdes (Figura 2b). 3Questões ambientais a nível de bairro Figura 2. (a) Blocos vazados de concreto (pisograma). (b) Exemplo de cobertura verde. Fonte: a) Betonart ([2019?], documento on-line); b) Sunflowerey/Shutterstock.com. (a) (b) Como funciona a taxa de permeabilidade? A taxa de permeabilidade é um parâmetro urbanístico defi nido pela municipa- lidade, que exige uma porcentagem de área livre de qualquer edifi cação e/ou pavimentação, a fi m de reservar áreas permeáveis dentro dos lotes privados Questões ambientais a nível de bairro4 e públicos (Figura 3a). O arquiteto deve conhecer a taxa de permeabilidade. Cada município tem autonomia para determinar qual será esse índice e quais espaços serão considerados áreas permeáveis, visto que nem sempre são com- putadas áreas cobertas por beirais, piscinas, quadras esportivas, calçamentos e estacionamentos. Por exemplo, uma cidade que prevê uma porcentagem mínima de 15% do lote para área permeável em um terrenoque contém 100 m2, a área permeável será de 15 m2. A taxa de permeabilidade é regulamentada e exigida para a aprovação de projetos arquitetônicos, logo, deve ser apresentado o seu cálculo na planilha de áreas do projeto e, em alguns municípios, as áreas permeáveis devem ser hachuradas em planta baixa (Figura 3b). Figura 3. (a) Área permeável no terreno. (b) Exemplo do cálculo de área permeável mínima. Área ocupada Área permeável Área do terreno Taxa de permeabilidade 15% 15m2 Área total do terreno 100m2 20m 5m (a) (b) 5Questões ambientais a nível de bairro A permeabilidade do solo é um aspecto que deve ser exigido por meio de instrumentos urbanísticos, especialmente em regiões chuvosas como o sudeste do Brasil (MINUZZI et al., 2007). Sabe-se que os aumentos graduais na temperatura das superfícies decorrem da modificação da morfologia urbana, cuja preocupação deve atingir o planejamento urbano para que ele seja um instrumento capaz de estimular cidades sustentáveis e adequadas ao meio am- biente (SOUZA; CRUZ; TUCCI, 2012). É comum pensarmos que intervenções isoladas não promoverão um impacto significativo, porém, a sua atuação em conjunto pode modificar o conforto visual, térmico e acústico de determinado local. Outra solução mais simples para promover a permeabilidade dos solos é a destinação de áreas de vegetação nas cidades que, além de filtrar a água, estabilizam a terra e qualificam esteticamente os espaços. Nesse sentido, um projeto arquitetônico de qualidade deve considerar o seu impacto no meio ambiente e as ferramentas disponíveis para mitigar essa interferência, para atingir uma excelência em termos urbanísticos e ambientais. Os problemas com enchentes e inundações assolam as cidades brasileiras há anos, como, por exemplo, Rio do Sul, em Santa Catarina, que teve registros expressivos no aumento das chuvas e inundações no ano de 2011. Tais enchentes acabam causando problemas de mobilidade urbana e grandes prejuízos para a população. As instituições fomentadoras de pesquisa no Brasil, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), têm desenvolvido soluções tecnológicas para informar a população sobre as áreas de risco de inundação via aplicativos no celular. Para tanto, pontos de monito- ramento para o controle do nível das águas dos rios foram implementados em Rio do Sul-SC. Esse sistema informa quando os moradores podem retornar em segurança para as suas residências, além de possibilitar a identificação de qual rio contribui mais para as inundações no sentido de desenvolver políticas públicas urbanas para reduzir e evitar maiores problemas na cidade. Questões ambientais a nível de bairro6 As alternativas tecnológicas para o desenvolvimento de materiais que permitam maior absorção da água nas pavimentações têm sido objeto de estudo no Brasil. Uma das iniciativas é o desenvolvimento do asfalto poroso, feita pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), cujo teste de aplicação em estacionamento teve como resultado a absorção de 100% das águas das chuvas. O material apresenta aspecto similar ao asfalto comum, porém contém em sua estrutura espaços vazios que permitem a passagem da água. A imagem a seguir ilustra o sistema do asfalto permeável. Fonte: Pinheiro (2019, documento on-line). 7Questões ambientais a nível de bairro Deslocamentos urbanos e modais A urbanização acelerada fez com que os planejadores urbanos voltassem a atenção para a efi ciência e a capacidade dos sistemas de transportes disponí- veis. Particularmente, nos anos 1930, a preocupação era com a inserção do automóvel no sistema de circulação, logo, a cidade modernista previa auda- ciosos projetos de autoestradas e rodovias elevadas para que a circulação dos carros fosse agilizada em detrimento dos pedestres. Em alguns locais, esse modelo foi implementado em larga escala (Figura 4), ocasionando o declínio do movimento de pedestres nas ruas e o esvaziamento de determinadas áreas centrais das cidades. Hoje, o movimento que ocorre no urbanismo é o oposto: cidades que valorizam distintos meios de transporte e priorizam a experiência do pedestre (GEHL, 2013). Figura 4. Rodovias. Os elementos predominantes na imagem da cidade das pessoas são as ruas. Elas estabelecem a conexão entre os diferentes espaços, permitindo a realização dos deslocamentos diários entre casa, trabalho, lazer e equipamentos urbanos. Segundo Wall e Waterman (2012), as ruas são importantes elementos de conexão e reunião de pessoas, principalmente quando são limitadas por Questões ambientais a nível de bairro8 edificações com os mais variados usos. Os deslocamentos na cidade são realizados a pé ou por meio de meio de transporte, citando os mais utiliza- dos: bicicleta, patinete, motocicleta, ônibus, táxi, aplicativos de ridesharing, metrô, carro e, inclusive, barcas (transporte fluvial). O tecido urbano de um município diz muito sobre os modais de transporte mais privilegiados. Por exemplo, cidades com vias de tráfego largas e sem espaço exclusivo para ônibus priorizam o carro particular, enquanto uma cidade com plano de ciclovias implantado demonstra uma preocupação com diferentes modais (Figura 5). A disponibilidade de um sistema de transportes eficiente, principalmente se for público, porque transporta muito mais pessoas de um local ao outro, facilita a vida dos habitantes e promove uma cidade mais eficiente. Figura 5. Ciclovias. Fonte: Rouiller (2017, documento on-line). As modalidades de transporte se referem aos diferentes deslocamentos realizados na cidade, de acordo com o sistema de circulação tanto de passa- geiros como de transporte de cargas (WALL; WATERMAN, 2012). Imagine que você precisa chegar até a sua casa e, para isso, é necessário utilizar o ônibus e o metrô, sendo assim, você utiliza o modal rodoviário e ferroviário, além de caminhar do ponto de ônibus até a sua residência. No Quadro 1, você verá os tipos de modais mais comuns nas cidades. 9Questões ambientais a nível de bairro Fonte: Adaptado de Beatriz (2018, documento on-line). Rodoviário Amplamente utilizado no Brasil. É o modal que mais recebe investimento. Possibilita rotas flexíveis. Ferroviário Permite o transporte de grandes cargas e número elevado de pessoas. Necessidade de transbordos. Aéreo Atende longas distâncias com menor tempo. Custo mais elevado em relação aos outros modais. Aquaviário Baixo risco de assalto ou sinistros. Demanda terminais específicos na carga e descarga. Dutoviário Canos/dutos subterrâneos para transporte de gases, líquidos, etc. Custo de implantação elevado. Quadro 1. Tipos de modais Dentro de cada modal de transporte é possível englobar distintos veículos de locomoção, os quais necessitam de faixas específicas de rolamento. Por exemplo, no modal rodoviário podemos ter, além das faixas para automóveis e calçadas, as ciclovias e os corredores de ônibus, onde “algumas dessas vias ou faixas podem ser adjacentes, e outras ficarão completamente isoladas. Os modos de transporte são separados por motivos de segurança e eficiência” (WALL; WATERMAN, 2012, p. 103). Pode-se dizer que alguns modais de transporte estão mais expostos e vulneráveis, como é o caso do pedestre e do ciclista, logo, deveriam ter maior atenção e prioridade no planejamento urbano. Porém, o que se observa nas cidades brasileiras é o predomínio das ruas para automóveis, dificultando a circulação dos pedestres e estimulando, cada vez mais, a busca pela aquisição de um veículo particular. Para muitos gestores, solucionar os problemas de mobilidade urbana é sinônimo de abertura de mais ruas e pavimentação. Houve queda da demanda por ônibus, cerca de 50,3% entre os anos de 1994 e 2017, cujas reclamações dos usuários incidem sobre a morosidade nos deslocamentos, demora para chegar o transporte nos pontos, desconforto dentro dos ônibus, como a falta de ar-condicionado, ou condições mínimas deacomodação (ESTADÃO, 2019). Contudo, pesquisas demonstram que a solução mais viável consiste em disponibilizar transporte público e alternativas modais de qualidade que promovam o deslocamento do maior número de pessoas por equipamento. Questões ambientais a nível de bairro10 Imagine que muitos dos carros que circulam na cidade transportam de 1 a 2 pessoas, enquanto um ônibus de linha comum comporta, aproximadamente, 46 passageiros sentados e 23 em pé, ou seja, as melhorias aplicadas no transporte público beneficiam todos, transportam mais pessoas e ocupam menos espaço nas vias. Outras alternativas de deslocamento também devem ser estimuladas, como o uso de ciclovias e melhorias nas calçadas. Quer saber um pouco mais sobre como priorizar os pedestres na cidade? Leia a ma- téria Prioridade semafórica para travessia de pedestres... em Londres, na qual a lógica de circulação é invertida: são os carros que devem parar para os pedestres (SOARES, 2018). https://qrgo.page.link/gRoU2 Resíduos sólidos Dentre os impactos ambientais ocasionados pela urbanização, a geração de resíduos sólidos tem sido motivo de preocupação internacional devido ao con- sumo desenfreado, ao descarte inadequado de lixo e às toneladas de resíduos produzidos diariamente pela população. A defi nição de resíduo sólido é o que “resulta de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nessa defi nição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipa- mentos e instalações de controle de poluição” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004, documento on-line). Observa-se que existe uma diferença entre resíduo sólido e lixo, sendo o segundo qualquer produto ou material que não pode ser reaproveitado. Logo, papel, plástico, vidro e metal, por exemplo, podem ser reintegrados na cadeia produtiva para serem reutilizados ou reciclados (ROSA; FRACETO; MOSCCHINI-CARLOS, 2012). Segundo a NBR 10.004 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004), os resíduos sólidos podem ser classificados em: Classe I – Resíduos perigosos: apresentam algum risco para a saúde pública ou o meio ambiente, caso não sejam manejados adequadamente 11Questões ambientais a nível de bairro (inflamáveis, corrosivos, reativos, tóxicos ou patogênicos). Exemplos: resíduos provenientes de hospitais, latas com resto de tinta, resíduos com solvente, filtros de óleo, papéis sujos com graxa, etc. Classe II – Resíduos não perigosos: não oferecem risco. Exemplos: resíduos de madeira, tecido, minerais não metálicos, borracha e areia de fundição ou bagaço de cana. Classe II A – Resíduos não inertes: podem apresentar propriedades como biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água, porém não se enquadram como Classe I (perigosos) ou II B (inertes). Exemplos: vidro de para-brisa, pó de polimento, varreduras, lamas de tratamento de água, dentre outros. Classe II B – Resíduos inertes: aqueles resíduos que “não são solubi- lizados em água em concentrações superiores às estabelecidas para os padrões de potabilidade” (ROSA; FRACETO; MOSCCHINI-CARLOS, 2012, p. 348). Exemplos: entulhos ou sucatas de ferro. Um dos serviços básicos mais importantes prestados nas cidades é a coleta de lixo e cabe ao gerador dos resíduos (privado ou público) armazená-los adequadamente até que sejam recolhidos. Estima-se que cada brasileiro pro- duza, aproximadamente, 387 kg de lixo por ano (PEREIRA; COSTA; JORGE, [2017?]). Para que os cidadãos possam contribuir com a separação correta, é importante que a prefeitura informe sobre os processos de reciclagem (se houver) e estabeleça horários fixos de coleta. Após a coleta, o manejo dos resíduos sólidos pode variar conforme a destinação final. Os vazadouros ou lixões são locais onde o lixo é simplesmente jogado a céu aberto sem nenhum cuidado, atraindo animais transmissores de doenças e poluindo o meio ambiente (Figura 6a). Os aterros controlados são locais onde os resíduos são cobertos de tempos em tempos para a contenção de cheiro e vetores, contudo, não há um cuidado nos subprodutos gerados com o aterro (metano e chorume), os quais, muitas vezes, acabam por contaminar o solo (ROSA; FRACETO; MOSCCHINI-CARLOS, 2012). Os aterros sanitários são os locais com destinação apropriada, onde observa-se a impermeabilização do terreno com mantas plásticas, drenos e compactação final do lixo (Figura 6b). Os centros de triagem são para onde os resíduos orgânicos misturados com recicláveis são destinados e, também, separados manualmente por funcionários ou por meio de esteiras e peneiras. Os centros de compostagem fazem a transfor- mação da matéria orgânica em adubos para o solo e, por fim, os centros de incineração descartam material baseado em carbono por meio de combustão. Questões ambientais a nível de bairro12 Figura 6. (a) Lixão a céu aberto. (b) Aterro sanitário. Fonte: a) Inovar Ambiental (2017, documento on-line); b) DedMityay/Shutterstock.com. (a) (b) O Brasil contém, aproximadamente, 3 mil lixões em condições precárias de destinação final dos resíduos sólidos e a produção de lixo teve aumento de 28% de 2010 a 2017. Nesse sentido, é imprescindível que as políticas públicas urbanas atuem para conscientizar os cidadãos do seu papel como geradores de resíduos, para evitar o consumo em excesso, que gera muitas embalagens que seguem diretamente para o lixo. Segundo o Instituto Lixo Zero Brasil, Brasília é a maior produtora de lixo, cerca de 4,5 toneladas por dia, e é a cidade que menos recicla os seus resíduos. Estima-se que as regiões mais nobres da cidade, consequentemente as maiores consumidoras, produzem a maior quantidade 13Questões ambientais a nível de bairro de resíduos. Uma das alternativas da cidade para melhorar esse panorama é conscientizar os seus moradores, capacitando professores que podem atingir os seus alunos e as famílias desses. Atualmente, ações sustentáveis pontuais têm sido implantadas nas redes de transporte (rodoviária, metrô, principais ruas da cidade) para atingir o maior número de pessoas possível. As cidades sustentáveis devem promover uma mudança no comportamento de seus ha- bitantes, uma conscientização da necessidade de destinarmos corretamente os resíduos sólidos e evitarmos o consumo desenfreado de produtos com embalagens desnecessárias que, muitas vezes, nem podem ser reaproveitadas. Quer aprender um pouco mais sobre o panorama geral do lixo produzido no Brasil? O blog Comunica Que Muda desenvolveu um dossiê contemplando todas as problemáticas do descarte inadequado dos resíduos sólidos urbanos. No link a seguir, você poderá acessar gratuitamente o material (PEREIRA; COSTA; JORGE, [2017?]). https://qrgo.page.link/P2RRQ A separação dos resíduos sólidos pode ser feita na sua residência de maneira organizada, facilitando o trabalho da coleta seletiva. Algumas das principais legislações que versam sobre os resíduos sólidos no Brasil são: Lei nº. 12.305/2010 Política nacional de resíduos sólidos. NBR 13.221 Transporte terrestre de resíduos. NBR 10.004 Classificação de resíduos sólidos. Questões ambientais a nível de bairro14 ANTOINE, N. Pessoas são resgatadas de área completamente alagada na cidade de Blume- nau, Santa Catarina. 2011. 1 fotografia. Disponível em: https://veja.abril.com.br/brasil/ mais-um-capitulo-da-tragedia/. Acesso em: 3 set. 2019. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004:2004: resíduos sólidos - classificação. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. BEATRIZ, A. Conheça os principais tipos de modais de transporte de cargas. CargoX, [s. l.], 28 fev. 2018. Disponível em: https://cargox.com.br/blog/conheca-os-principais- -tipos-de-modais-de-transporte-de-cargas. Acesso em: 3 set. 2019. BETONART. Pisograma. [2019?]. 1 fotografia. Disponível em: http://www.betonart.com. br/detalhe-produto/pisograma/104/?id=0. Acesso em: 3 set. 2019. ESTADÃO. Transporte público abandonado.Estadão, São Paulo, 24 ago. 2019. Disponível em: https://opiniao.estadao.com.br/noticias/notas-e-informacoes,transporte-publico- -abandonado,70002980121. Acesso em: 3 set. 2019. GAUDARD, J. G. P. de S.; BARRETO, A. G. Permeabilidade do solo à luz de um desenvolvi- mento urbano mais sustentável. Engenharia Ambiental: pesquisa e tecnologia, Espírito Santo do Pinhal, v. 13, n. 2, p. 57-67, jul./dez. 2016. Disponível em: http://ferramentas. unipinhal.edu.br/engenhariaambiental/include/getdoc.php?id=3253&article=1306& mode=pdf. Acesso em: 3 set. 2019. GEHL, J. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. INOVAR AMBIENTAL. Lixão. 2017. 1 fotografia. Disponível em: https://www.inovaram- biental.com.br/mais-da-metade-brasil-continua-descartar-lixo-ceu-aberto/. Acesso em: 3 set. 2019. MINUZZI, R. B. et al. Climatologia do comportamento do período chuvoso da região sudeste do Brasil. Revista Brasileira de Meteorologia, São José dos Campos, v. 22, n. 3, p. 338-344, dez. 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbmet/v22n3/07.pdf. Acesso em: 3 set. 2019. PEREIRA, B.; COSTA, C. T.; JORGE, S. (coord.). Dossiê CQM: lixo. [S. l.]: Nova/sb, [2017?]. Disponível em: https://s18628.pcdn.co/wp-content/themes/comunica/dist/dossie-lixo/ dossie-lixo.pdf. Acesso em: 3 set. 2019. PINHEIRO, I. Sistema do asfalto permeável. 2019. 1 ilustração. Disponível em: https:// www.inovacivil.com.br/asfalto-permeavel/. Acesso em: 3 set. 2019. PIZA, P. T. Termômetro de rua da Paulista registra 37 graus na tarde desta sexta-feira. 2014. 1 fotografia. Disponível em: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2014/02/sp-registra- -recorde-de-temperatura-para-o-mes-de-fevereiro.html. Acesso em: 4 set. 2019. ROSA, A. H.; FRACETO, L. F.; MOSCCHINI-CARLOS, V. (org.). Meio ambiente e sustentabili- dade. Porto Alegre: Bookman, 2012. 15Questões ambientais a nível de bairro ROUILLER, A. Costa do Estoril Cascais. 2017. 1 fotografia. Disponível em: https://pt.wikipedia. org/wiki/Ciclovia. Acesso em: 3 set. 2019. SANTOS, K. A.; RUFINO, I. A. A.; BARROS FILHO, M. N. M. Impactos da ocupação urbana na permeabilidade do solo: o caso de uma área de urbanização consolidada em Cam- pina Grande - PB. Engenharia Sanitária Ambiental, Rio de Janeiro, v. 22, n. 5, p. 943-952, set./out. 2017. DOI: 10.1590/S1413-41522016146661. Disponível em: http://www.scielo. br/pdf/esa/v22n5/1809-4457-esa-s1413-41522016146661.pdf. Acesso em: 3 set. 2019. SOARES, R. Prioridade semafórica para travessia de pedestres... em Londres. Jornal do Commercio, Recife, 29 ago. 2018. Caderno Move Cidade. Disponível em: https://qrgo. page.link/gRoU2. Acesso em: 3 set. 2019. SOUZA, C. F.; CRUZ, M. A. S.; TUCCI, C. E. M. Desenvolvimento urbano de baixo impacto: planejamento e tecnologias verdes para a sustentabilidade das águas urbanas. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, Porto Alegre, v. 17, n. 2, p. 9-18, abr./jun. 2012. DOI: 10.21168/ rbrh.v17n2.p9-18. Disponível em: https://abrh.s3.sa-east-1.amazonaws.com/Sumarios /62/1361c5cc630781dc57b7a74787e9d9ce_bc8f77c71c3ef1a7b0e0fc3cd3a2679f.pdf. Acesso em: 3 set. 2019. TEIXEIRA, M. A. N. Reposição da permeabilidade dos solos: desafios para o urbanismo futuro. 2005. Dissertação (Mestrado em Planeamento e Projecto do Ambiente Urbano) - Universidade do Porto, Porto, 2005. Disponível em: https://repositorio-aberto.up.pt/ bitstream/10216/11613/2/Texto%20integral.pdf. Acesso em: 4 set. 2019. TUCCI, C. E. M. Águas urbanas. Estudos Avançados, São Paulo, v. 22, n. 63, p. 97-112, 2008. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142008000200007. Disponível em: http://www. scielo.br/pdf/ea/v22n63/v22n63a07.pdf. Acesso em: 3 set. 2019. TUCCI, C. E. M. Gerenciamento da drenagem urbana. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 5-27, jan./mar. 2002. DOI: 10.21168/rbrh.v7n1.p5-27. Disponível em: https://abrh.s3.sa-east-1.amazonaws.com/Sumarios/99/6137a1ef8fc1c04f81a9a6b 46a3093dd_c80b83451c8ed0911a8b63bc1f8850cd.pdf. Acesso em: 3 set. 2019. WALL, E.; WATERMAN, T. Desenho urbano. Porto Alegre: Bookman, 2012. Questões ambientais a nível de bairro16 Dica do professor Antes de iniciar um projeto arquitetônico na cidade, é importante que o arquiteto esteja a par de toda a legislação que envolve o processo construtivo, essencialmente o Plano Diretor, que trata das questões urbanas e ambientais a serem atendidas no projeto. A seguir, na Dica do Professor, veja alguns parâmetros urbanísticos importantes a serem observados antes de iniciar o projeto em um terreno. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/bf9d52743251aeff0fea0b91a8b51e43 Exercícios 1) Uma das questões ambientais relevantes no meio urbano é o aumento progressivo de áreas com impermeabilização do solo, o que impacta tanto na temperatura quanto na capacidade de absorção de água. “Os usos do solo que têm lugar em meio urbano são altamente transformadores do comportamento hidrológico local, tendo efeitos na redução da infiltração das águas no solo e consequentemente no aumento das águas de escoamento superficial. ” (TEIXEIRA, 2005, p. 7). Tendo como referência seus estudos sobre as questões ambientais a nível de bairro e considerando o trecho acima, avalie as afirmações a seguir: I. Uma consequência grave da impermeabilização do solo são as inundações, uma vez que aumentam de frequência e magnitude em razão da diminuição da capacidade de absorção de água nas cidades. II A impermeabilização do solo ocorre por meio da inserção de cobertura vegetal nas cidades e das modificações nos sistemas de drenagem III. Uma diretriz a ser implantada e fomentada no planejamento seria a permeabilidade do solo urbano, a fim de diminuir as enchentes e ilhas de calor nas cidades. Resposta: A) As afirmações I, II e III são verdadeiras. B) As afirmações I e II são falsas e a III é verdadeira. C) As afirmações I e III são verdadeiras e a II é falsa. D) As afirmações II e III são verdadeiras e a I é falsa. E) As afirmações I e II são verdadeiras e a III é falsa. 2) Dentre os desafios urbanos pode-se citar a eficiência dos meios de transporte, fazendo com que as pessoas circulem com maior facilidade e menor custo de tempo. Os sistemas de transporte de uma cidade permitem o acesso aos serviços e equipamentos disponíveis aos habitantes, logo, a cidade ____________é aquela que possui modais eficientes para todos. As políticas públicas urbanas deveriam questionar a importância dada ao carro particular em detrimento do transporte público. Ainda, os meios de transporte deveriam possuir uma _________________ entre si, permitindo deslocamentos contínuos a longas distâncias. Escolha a alternativa que preenche corretamente as lacunas acima: A) modernista – conectividade B) modernista – hierarquia C) sustentável – hierarquia D) sustentável – conectividade E) brasileira – hierarquia 3) Há diversas maneiras de circular pela cidade e o planejamento urbano deve considerar suas particularidades para promover um sistema de circulação adequado. Em relação ao quesito vulnerabilidade, escolha a ordem crescente correta de modal de transporte que deve ser priorizada: A) ônibus → pedestre → bicicleta → automóvel B) pedestre → bicicleta →automóvel →ônibus C) ônibus →automóvel →bicicleta →pedestre D) bicicleta →pedestre →automóvel →ônibus E) automóvel →ônibus →pedestre →bicicleta 4) As cidades facilitaram a vida das pessoas, trazendo acessibilidade à infraestrutura e aos serviços, além de proporcionar experiências e abrigar suas necessidades. Contudo, o processo de urbanização resultou em uma série de impactos negativos ao meio ambiente que devem ser reduzidos para que futuramente exista um espaço adequado para todos. Um dos impactos negativos é a produção vertiginosa de resíduos sólidos urbanos. Assinale a alternativa correta acerca dos resíduos sólidos: A) Cabeao poder público armazenar corretamente os resíduos antes da destinação final. B) O manejo dos resíduos sólidos independe de armazenamento específico. C) O Brasil conseguiu extinguir os lixões a céu aberto, substituindo-os por aterros controlados. D) Existem três classes de resíduos: perigosos, não perigosos e recicláveis. E) Uma destinação final adequada dos resíduos sólidos é o aterro sanitário. 5) O planejamento urbano visa desenvolver diretrizes para qualificar o espaço urbano, considerando desde a infraestrutura até os aspectos sociais e econômicos que o envolvem. A falta de planejamento urbano pode incorrer no descaso com questões ambientais e de infraestrutura da cidade. Observe a imagem abaixo e assinale a alternativa correta que indique dois impactos decorrentes da ausência de planejamento urbano: A) Ilha de calor e sombreamento excessivo. B) Ilha de calor e impermeabilização do solo. C) Ilha de calor e diversidade de modais. D) Cobertura vegetal abundante e impermeabilização do solo. E) Cobertura vegetal abundante e diversidade de modais. Na prática A destinação final dos resíduos sólidos pode ser realizada de várias maneiras, contudo o aterro sanitário é considerado um dos projetos mais eficientes e com menor risco à saúde das pessoas e ao meio ambiente. Devido à produção de matéria orgânica decorrente da degradação e decomposição do lixo (chorume e metano) é preciso uma estrutura preparada para receber e armazenar estes materiais. A seguir, no Na Prática, veja os principais desafios na adequação de um aterro sanitário na cidade de Paula Freitas, no Paraná. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/c97f7737-9c81-4714-9f7b-9a9cfb5b7c48/88ac9978-4ae9-4b93-9c81-326d3d1a732c.png Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Análise da ocupação espacial urbana nos fundos de vale do município brasileiro de Americana/SP A permeabilidade do solo é fundamental para garantir um bom escoamento das águas superficiais, sua ausência acarretando em problemas urbanos como as inundações. Neste artigo, você vai se aprofundar sobre o processo de urbanização e as enchentes em Americana/SP. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Dez recomendações para o transporte de cidades sustentáveis A importância dos transportes para uma cidade sustentável é agenda da Organização das Nações Unidas, que levantou recomendações sobre o tema para qualificar as cidades. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Clima + mobilidade + resíduos + consumo = “E eu com isso?” Assista ao vídeo em que as palestrantes Ana e Pedro Avzaradel tratam da importância de ter um olhar preocupado com o ambiente construído e seus impactos no meio ambiente. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. http://observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal12/Geografiasocioeconomica/Geografiaurbana/287.pdf https://thecityfixbrasil.com/2016/11/18/onu-destaca-papel-do-transporte-para-a-sustentabilidade-e-faz-dez-recomendacoes/ https://www.youtube.com/embed/evX4KcdSRdk