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CADERNO LITERATURA ENEM 2009 a 2018 133 novocadernoenem@gmail.com (PEIXOTO, J. Livro. São Paulo: Cia. das Letras, 12) No texto, observa-se o uso característico do português de Portugal, marcadamente diferente do uso do português do Brasil. O trecho que confirma essa afirmação é: A) “Pela primeira vez na vida teve pena de ha- ver tantos assuntos no mundo que não compre- endia e esmoreceu.” B) “Os assuntos que não compreendia eram uma espécie de tontura, mas o Ilídio era forte.” C) “Essa certeza dava-lhe forças para protestar mais, para gritar até, se lhe apetecesse.” D) “Se calhar estava a falar de tratar da cabra: nunca esqueças de tratar da cabra.” E) “O Ilídio não gostava que a mãe o mandasse tratar da cabra.” Questão 361 (2017.2) TEXTO I DUCHAMP, M. Roda de bicicleta. Aço e madei- ra, 1,3 m x 64 cm x 42 cm, 1913. Museu de Arte Moderna de Nova York. (DUCHAMP, M. Roda de bicicleta. Barcelona: Polígrafa, 1995) TEXTO II Ao ser questionado sobre seu processo de cria- ção de ready mades, Marcel Duchamp afirmou: — Isto dependia do objeto; em geral, era preci- so tomar cuidado com o seu look. É muito difícil escolher um objeto porque depois de quinze dias você começa a gostar dele ou a detestá-lo. É preciso chegar a qualquer coisa com uma indiferença tal que você não tenha nenhuma emoção estética. A escolha do ready-made é sempre baseada na indiferença visual e, ao mesmo tempo, numa ausência total de bom ou mau gosto. (CABANNE, P. Marcel Duchamp: engenheiro do tempo perdido. São Paulo: Perspectiva, 1987 - adaptado) Relacionando o texto e a imagem da obra, en- tende-se que o artista Marcel Duchamp, ao criar os ready-mades, inaugurou um modo de fazer arte que consiste em: A) designar ao artista de vanguarda a tarefa de ser o artífice da arte do século XX. B) considerar a forma dos objetos como ele- mento essencial da obra de arte. C) revitalizar de maneira radical o conceito clás- sico do belo na arte. D) criticar os princípios que determinam o que é uma obra de arte. E) atribuir aos objetos industriais o status de obra de arte. Questão 362 (2017.2) Chamou-me o bragantino e levou-me pelos corredores e pátios até ao hospício propriamen- te. Aí é que percebi que ficava e onde, na se- ção, na de indigentes, aquela em que a imagem do que a Desgraça pode sobre a vida dos ho- mens é mais formidável. O mobiliário, o vestuá- rio das camas, as camas, tudo é de uma pobre- za sem par. Sem fazer monopólio, os loucos são da proveniência mais diversa, originando-se em geral das camadas mais pobres da nossa gente pobre. São de imigrantes italianos, portu- gueses e outros mais exóticos, são os negros roceiros, que teimam em dormir pelos desvãos das janelas sobre uma esteira esmolambada e uma manta sórdida; são copeiros, cocheiros, moços de cavalariça, trabalhadores braçais. No meio disto, muitos com educação, mas que a falta de recursos e proteção atira naquela geena social. (BARRETO, L. Diário do hospício e O cemitério dos vivos. São Paulo: Cosac & Naify, 2010) No relato de sua experiência no sanatório onde foi interno, Lima Barreto expõe uma realidade social e humana marcada pela exclusão. Em seu testemunho, essa reclusão demarca uma: A) medida necessária de intervenção terapêuti- ca. B) forma de punição indireta aos hábitos desre- grados. C) compensação para as desgraças dos indiví- duos. CADERNO LITERATURA ENEM 2009 a 2018 134 novocadernoenem@gmail.com D) oportunidade de ressocialização em um novo ambiente. E) conveniência da invisibilidade a grupos vul- neráveis e periféricos. Questão 363 (2017.2) O exercício da crônica Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo pro- sa fiada, como faz um cronista; não a prosa de um ficcionista, na qual este é levado meio a tapas pelas personagens e situações que, azar dele, criou porque quis. Com um prosador do cotidiano, a coisa fia mais fino. Senta-se diante de sua máquina, acende um cigarro, olha atra- vés da janela e busca fundo em sua imaginação um fato qualquer, de preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera, em que, com as suas artimanhas peculiares, possa injetar um sangue novo. (MORAES, V. Para viver um grande amor: crônicas e poemas. São Paulo: Cia. das Letras, 1991) Nesse trecho, Vinicius de Moraes exercita a crônica para pensá-la como gênero e prática. Do ponto de vista dele, cabe ao cronista: A) criar fatos com a imaginação. B) reproduzir as notícias dos jornais. C) escrever em linguagem coloquial. D) construir personagens verossímeis. E) ressignificar o cotidiano pela escrita. Questão 364 (2017.2) Inspiração no lixo O paulistano Jaime Prades, um dos precursores do grafite e da arte urbana, chegou ao lixo por sua intensa relação com as ruas de São Paulo. “A partir da década de 1980, passei a perceber o desastre que é a ecologia urbana. Quando a gente fala em questão ambiental, sempre se refere à natureza, mas a crise ambiental urbana é forte”, diz Prades. Inspirado pela obra de Frans Krajcberg, há quatro anos Jaime Prades decidiu construir uma árvore gigante no Parque do Ibirapuera ou em outro local público, feita com sobras de madeira garimpadas em caçam- bas. “Elas são como os intestinos da cidade, são vísceras expostas”, conta Prades. “Percebi que cada pedaço de madeira carregava a me- mória da árvore de onde ela veio. Percebi que não estava só reciclando, e sim resgatando”. Sua árvore gigante ainda não vingou, mas a ideia evoluiu. Agora, ele pretende criar uma plataforma na internet para estimular outros artistas a fazer o mesmo. "Teríamos uma flores- ta virtual planetária, na qual se colocariam es- sas questões de forma poética, criando uma discussão enriquecedora.” (VIEIRA, A. National Geographic Brasil, n. 65-A, 15) O texto tematiza algumas transformações das funções da arte na atualidade. No trabalho cita- do, do artista Jaime Prades, considera-se a: A) reflexão sobre a responsabilidade ambiental do homem. B) valorização da poética em detrimento do conteúdo. C) preocupação com o belo encontrado na natu- reza. D) percepção da obra como suporte da memó- ria. E) reutilização do lixo como forma de consumo. Questão 365 (2017.2) O último refúgio da língua geral no Brasil No coração da Floresta Amazônica é falada uma língua que participou intensamente da his- tória da maior região do Brasil. Trata-se da lín- gua geral, também conhecida como nheengatu ou tupi moderno. A língua geral foi ali mais fala- da que o próprio português, inclusive por não índios, até o ano de 1877. Alguns fatores contri- buíram para o desaparecimento dessa língua de grande parte da Amazônia, como perseguições oficiais no século XVIII e a chegada maciça de falantes de português durante o ciclo da borra- cha, no século XIX. Língua-testemunho de um passado em que a Amazônia brasileira alargava seus territórios, a língua geral hoje é falada por mais de 6 mil pessoas, num território que se estende pelo Brasil, Venezuela e Colômbia. Em 2002, o município de São Gabriel da Cachoeira ficou conhecido por ter oficializado as três lín- guas indígenas mais usadas ali: ali: o nheenga- tu, o baníua e o tucano. Foi a primeira vez que outras línguas, além do português, ascendiam à condição de línguas oficiais no Brasil. Embora a oficialização dessas línguas não tenha obtido todos os resultados esperados, redundou no ensino de nheengatu nas escolas municipais daquele município e em muitas escolas estadu- ais nele situadas. É fundamental que essa lín- gua de tradição eminentemente oral tenha ago- ra sua gramática estudada e que textos de di- versas naturezas sejam escritos, justamente para enfrentar os novos tempos que chegaram. (NAVARRO, E. Estudos Avançados, n. 26, 2012) O esforço de preservação do nheengatu, uma língua que sofre com o risco de extinção, signifi- ca o reconhecimento de que: A) as línguas deorigem indígena têm seus pró- prios mecanismos de autoconservação. CADERNO LITERATURA ENEM 2009 a 2018 135 novocadernoenem@gmail.com B) a construção da cultura amazônica, ao longo dos anos, constituiu-se, em parte, pela expres- são em línguas de origem indígena. C) as ações políticas e pedagógicas implemen- tadas até o momento são suficientes para a preservação da língua geral amazônica. D) a diversidade do patrimônio cultural brasilei- ro, historicamente, tem se construído com base na unidade da língua portuguesa. E) o Brasil precisa se diferenciar de países vizi- nhos, como Venezuela e Colômbia, por meio de um idioma comum na Amazônia brasileira. Questão 366 (2017.2) Dois parlamentos Nestes cemitérios gerais não há morte pessoal. Nenhum morto se viu com modelo seu, especial. Vão todos com a morte padrão, em série fabricada. Morte que não se escolhe e aqui é fornecida de graça. Que acaba sempre por se impor sobre a que já medrasse. Vence a que, mais pessoal, alguém já trouxesse na carne. Mas afinal tem suas vantagens esta morte em série. Faz defuntos funcionais, próprios a uma terra sem vermes. (MELO NETO, J. C. Serial e antes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 - fragmento) A lida do sertanejo com suas adversidades constitui um viés temático muito presente em João Cabral de Melo Neto. No fragmento em destaque, essa abordagem ressalta o(a): A) inutilidade de divisão social e hierárquica após a morte. B) aspecto desumano dos cemitérios da popu- lação carente. C) nivelamento do anonimato imposto pela mi- séria na morte. D) tom de ironia para com a fragilidade dos cor- pos e da terra. E) indiferença do sertanejo com a ausência de seus próximos. Questão 367 (2017.2) — Recusei a mão de minha filha, porque o se- nhor é... — Eu? — O senhor é um homem de cor!... Infelizmente esta é a verdade... Raimundo tornou-se lívido. Manoel prosseguiu, no fim de um silêncio: — Já vê o amigo que não é por mim que lhe recusei. Ana Rosa, mas é por tudo! A família de minha mulher sempre foi muito escrupulosa a esse respeito, e como ela é toda a sociedade do Ma- ranhão! Concordo que seja uma asneira; con- cordo que seja um prejuízo tolo! O senhor po- rém não imagina o que é por cá a prevenção contra os mulatos!... Nunca me perdoariam um tal casamento; além do que, para realizá-lo, teria que quebrar a promessa que fiz a minha sogra, de não dar a neta senão a um branco de lei, português ou descendente direto de portu- gueses! (AZEVEDO, A. O mulato. São Paulo: Escala, 2008) Influenciada pelo ideário cientificista do Natura- lismo, a obra destaca o modo como o mulato era visto pela sociedade de fins do século XIX. Nesse trecho, Manoel traduz uma concepção em que a: A) miscigenação racial desqualificava o indiví- duo. B) condição econômica anulava os conflitos raciais. C) discriminação racial era condenada pela sociedade. D) escravidão negava o direito da negra à ma- ternidade. E) união entre mestiços era um risco à hegemo- nia dos brancos. Questão 368 (2017.2) MÚKHINA, V. Operário e mulher kolkosiana. Aço inoxidável, 24,5 m. Moscou, 1937. CADERNO LITERATURA ENEM 2009 a 2018 136 novocadernoenem@gmail.com Essa escultura foi produzida durante o período da ditadura stalinista, na ex-União Soviética, e representa o(a): A) luta do proletariado soviético para sua eman- cipação do sistema vigente. B) trabalhador soviético retratado de acordo com a realidade do período. C) exaltação idealizada da capacidade de traba- lho do povo soviético. D) união de operários e camponeses soviéticos pela volta do regime czarista. E) sofrimento de trabalhadores soviéticos pela opressão do regime stalinista. Questão 369 (2017.2) PICASSO, P. Guitar, Sheet Music, and Glass, Fall. Papel colado, guache e carvão, 48 x 36,5 cm. McNay Art Museum, San Antonio, Texas, 1912. (FOSTER, H. et al. Art since 1900: Modernism, Anti- modernism,Postmodernism. Nova York: Thames & Hudson, 2004) Inovando os padrões estéticos de sua época, a obra de Pablo Picasso foi produzida utilizando características de um movimento artístico que: A) dispensa a representação da realidade. B) agrega elementos da publicidade em suas composições. C) valoriza a composição dinâmica para repre- sentar movimento. D) busca uma composição reduzida e seus elementos primários de forma. E) explora a sobreposição de planos geométri- cos e fragmentos de objetos. Questão 370 (2017.2) Sou um homem comum brasileiro, maior, casado, reservista, e não vejo na vida, amigo nenhum sentido, senão lutarmos juntos por um mundo melhor. Poeta fui de rápido destino Mas a poesia é rara e não comove nem move o pau de arara. Quero, por isso, falar com você de homem para homem, apoiar-me em você oferecer-lhe meu braço que o tempo é pouco e o latifúndio está aí matando [...] Homem comum, igual a você, [...] Mas somos muitos milhões de homens comuns e podemos formar uma muralha com nossos corpos de sonhos e margaridas. (FERREIRA GULLAR. Dentro da noite veloz. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013 - fragmento) No poema, ocorre uma aproximação entre a realidade social e o fazer poético, frequente no Modernismo. Nessa aproximação, o eu lírico atribui à poesia um caráter de: A) agregação construtiva e poder de interven- ção na ordem instituída. B) força emotiva e capacidade de preservação da memória social. C) denúncia retórica e habilidade para sedimen- tar sonhos e utopias. D) ampliação do universo cultural e intervenção nos valores humanos. E) identificação com o discurso masculino e questionamento dos temas líricos. Questão 371 (2018.1) Quebranto às vezes sou o policial que me suspeito me peço documentos e mesmo de posse deles me prendo e me dou porrada às vezes sou o porteiro não me deixando entrar em mim mesmo a não ser pela porta de serviço CADERNO LITERATURA ENEM 2009 a 2018 137 novocadernoenem@gmail.com [...] às vezes faço questão de não me ver e entupido com a visão deles sinto-me a miséria concebida como um eterno começo fecho-me o cerco sendo o gesto que me nego a pinga que me bebo e me embebedo o dedo que me aponto e denuncio o ponto em que me entrego. às vezes!... (CUTI. Negroesia. Belo Horizonte: Mazza. 2007 - fragmento) Na literatura de temática negra produzida no Brasil, é recorrente a presença de elementos que traduzem experiências históricas de pre- conceito e violência. No poema, essa vivência revela que o eu lírico: A) incorpora seletivamente o discurso do seu opressor. B) submete-se à discriminação como meio de fortalecimento. C) engaja-se na denúncia do passado de opres- são e injustiças. D) sofre uma perda de identidade e de noção de pertencimento. E) acredita esporadicamente na utopia de uma sociedade igualitária. Questão 372 (2018.1) TEXTO I ALMEIDA, H. Dentro de mim, 2000. Fotografia p/b. 132 cm x 88 cm. Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa TEXTO II A body art põe o corpo tão em evidência e o submete a experimentações tão variadas, que sua influência estende-se aos dias de hoje. Se na arte atual as possibilidades de investigação do corpo parecem ilimitadas – pode-se escolher entre representar, apresentar, ou ainda apenas evocar o corpo – isso ocorre graças ao legado dos artistas pioneiros. (SILVA, P R. Corpo na arte, body art, body modifica- tion: fronteiras. II Encontro de História da Arte: IFCH-Unicamp, 2006 - adaptado) Nos textos, a concepção de body art está rela- cionada à intenção de: A) estabelecer limites entre o corpo e a compo- sição. B) fazer do corpo um suporte privilegiado de expressão. C) discutir políticas e ideologias sobre o corpo como arte. D) compreender a autonomia do corpo no con- texto da obra. E) destacar o corpo do artista em contato com o expectador. Questão373 (2018.1) ‘’Somente uns tufos secos de capim empedra- dos crescem na silenciosa baixada que se per- de de vista. Somente uma árvore, grande e esgalhada mas com pouquíssimas folhas, abre- se em farrapos de sombra. Único ser nas cer- canias, a mulher é magra, ossuda, seu rosto está lanhado de vento. Não se vê o cabelo, coberto por um pano desidratado. Mas seus olhos, a boca, a pele - tudo é de uma aridez sufocante. Ela está de pé. A seu lado está uma pedra. O sol explode. Ela estava de pé no fim do mundo. Como se andasse para aquela baixada largando para trás suas noções de si mesma. Desapossada e des- pojada, não se abate em auto acusações e re- morsos. Vive. Sua sombra somente é que lhe faz companhia. Sua sombra, que se derrama em traços grossos na areia, é que adoça como um gesto a clarida- de esquelética. A mulher esvaziada emudece, se dessangra, se cristaliza, se mineraliza. Já é quase de pedra como a pedra a seu lado. Mas os traços de sua sombra caminham e, tomando- se mais longos e finos, esticam-se para os far- rapos de sombra da ossatura da árvore, com os quais se enlaçam.” (FRDES, L Vertigens obra reunida, Rio de Janeiro: Rocco, 1998) Na apresentação da paisagem e da persona- gem, o narrador estabelece uma correlação de sentidos em que esses elementos se entrela- çam. Nesse processo, a condição humana figu- ra-se: CADERNO LITERATURA ENEM 2009 a 2018 138 novocadernoenem@gmail.com A) amalgamada pelo processo comum de de- sertificação e de solidão. B) fortalecida pela adversidade extensiva à terra e seres vivos. C) redimensionada pela intensidade da luz e da exuberância local. D) imersa num drama existencial de identidade e de origem. E) imobilizada pela escassez e pela opressão do ambiente. Questão 374 (2018.1) Vó Clarissa deixou cair os talheres no prato, fazendo a porcelana estalar. Joaquim, meu pri- mo, continuava com o queixo suspenso, baten- do com o garfo nos lábios, esperando a respos- ta. Beatriz ecoou a palavra como pergunta, "o que é lésbica?". Eu fiquei muda. Joaquim sabia sobre mim e me entregaria para a vó e, mais tarde, para toda a família. Senti um calor letal subir pelo meu pescoço e me doer atrás das orelhas. Previ a cena: vó, a senhora é lésbica? Porque a Joana é. A vergonha estava na minha cara e me denunciava antes mesmo da delação. Apertei os olhos e contraí o peito, esperando o tiro. [...] [...] Pensei na naturalidade com que Taís e eu levávamos a nossa história. Pensei na minha insegurança de contar isso à minha família, pensei em todos os colegas e professores que já sabiam, fechei os olhos e vi a boca da minha vó e a boca da tia Carolina se tocando, apesar de todos os impedimentos. Eu quis saber mais, eu quis saber tudo, mas não consegui pergun- tar. (POLESSO, N. B. Vó, a senhora é lésbica? Amora. Porto Alegre. Não Editora. 2015 - fragmento) A situação narrada revela uma tensão funda- mentada na perspectiva do: A) conflito com os interesses de poder. B) silêncio em nome do equilíbrio familiar. C) medo instaurado pelas ameaças de punição. D) choque imposto pela distância entre as gera- ções. E) apego aos protocolos de conduta segundo os gêneros. Questão 375 (2018.1) O trabalho não era penoso: colar rótulos, meter vidros em caixas, etiquetá-las, selá-las, envolvê- las em papel celofane, branco, verde, azul, con- forme o produto, separá-las em dúzias… Era fastidioso. Para passar mais rapidamente às oito horas havia o remédio: conversar. Era proi- bido, mas quem ia atrás de proibições? O pa- trão vinha? Vinha o encarregado do serviço? Calavam o bico, aplicavam-se ao trabalho. Mal viravam as costas, voltavam e taramelar. As mãos não paravam, as línguas não paravam. Nessas conversas intermináveis, de linguagem solta e assuntos crus, Leniza se completou. Isabela, Afonsina, Idália, Jurete, Deolinda — foram mestras. O mundo acabou de se desven- dar. Leniza perdeu o tom ingênuo que ainda podia ter. Ganhou um jogar de corpo que convi- da, um quebrar de olhos que promete tudo, à toa, gratuitamente. Modificou-se o timbre de sua voz. Ficou mais quente. A própria inteligência se transformou. Tornou-se mais aguda, mais trepi- dante. (REBELO,M. A estrela sobe. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009) O romance, de 1939, traz à cena tipos e situa- ções que espelham o Rio de Janeiro daquela década. No fragmento, o narrador delineia esse contexto centrado no: A) julgamento da mulher fora do espaço domés- tico. B) relato sobre as condições de trabalho do Estado Novo. C) destaque a grupos populares na condição de protagonistas. D) processo de inclusão do palavrão nos hábi- tos de linguagem. E) vínculo entre as transformações urbanas e os papéis femininos. Questão 376 (2018.1) Eu sobrevivi do nada, do nada Eu não existia Não tinha uma existência Não tinha uma matéria Comecei existir com quinhentos milhões e quinhentos mil anos Logo de uma vez, já velha Eu não nasci criança, nasci já velha Depois é que eu virei criança E agora continuei velha Me transformei novamente numa velha Voltei ao que eu era, uma velha (PATROCÍNIO, S. In; MOSÉ, V, (Org.). Reino dos bichos e dos animais é meu nome. Rio de Janeiro: Azougue, 2009) Nesse poema de Stela do Patrocínio. a singula- ridade fie expressão lírica manifesta-se na: A) representação da infância, redimensionada resgate da memória. B) associação de imagens desconexas, articu- ladas por uma fala delirante. CADERNO LITERATURA ENEM 2009 a 2018 139 novocadernoenem@gmail.com C) expressão autobiográfica, fundada no relato de experiências de alteridade. D) incorporação de elementos fantásticos, expli- citada por versos incoerentes. E) transgressão à razão, ecoada na desconstru- ção de referências temporais. Questão 377 (2018.1) TEXTO I Também chamados impressões ou imagens fotogramáticas [...I, os fotogramas são, numa definição genérica, imagens realizadas sem a utilização da câmera fotográfica, por contato direto de um objeto ou material com uma super- fície fotossensível exposta a uma fonte de luz. Essa técnica, que nasceu junto com a fotografia e serviu de modelo a muitas discussões sobre a ontologia da imagem fotográfica, foi profunda- mente transformada pelos artistas da vanguar- da, nas primeiras décadas do século XX. Re- presentou mesmo, ao lado das colagens, foto- montagens e outros procedimentos técnicos. a incorporação definitiva da fotografia à arte mo- derna e seu distanciamento da representação figurativa. (COLUCCI, M. B. Impressões fotogramáticas e vanguardas: as experiências de Man Ray. Studium, n 2, 2000) TEXTO II RAY, M. Rayograph, 1922. 23.9 x 29,9 cm. MOMA, Nova York. (Disponível em: www.moma.org. Acesso em: 18 abr. 2018 - adaptado) No fotograma de Man Ray, o "distanciamento da representação figurativa" a que se refere o Tex- to I manifesta-se na: A) ressignificação do jogo de luz e sombra, nos moldes surrealistas. B) imposição do acaso sobre a técnica, como crítica à arte realista. C) composição experimental, fragmentada e de contornos difusos. D) abstração radical, voltada para a própria linguagem fotográfica. E) imitação de formas humanas, com base em diferentes objetos. Questão 378 (2018.1) A imagem integra uma adaptação em quadri- nhos da obra Grande sertão: veredas, de Gui- marães Rosa. Na representação gráfica, a inter- relação de diferentes linguagens caracteriza-se por: A) romper com a linearidade das ações da nar- rativa literária B) ilustrar de modo fidedigno passagens repre- sentativas da história. C) articular a tensão do romance à desproporci- onalidade das formas. D) potencializar a dramaticidade do episódio com recursos das artes visuais. E) desconstruir a diagramação do texto literário pelo desequilíbrio da composição. CADERNO LITERATURA ENEM 2009 a 2018 140 novocadernoenem@gmail.comQuestão 379 (2018.1) (Fotografia: LUCAS HALLEl. Disponível em: www.flickr.com.Acessoem: 16 abro 2018 - adaptado) O grupo O Teatro Mágico apresenta composi- ções autorais que têm referências estéticas do rock, do pop e da música folclórica brasileira. A originalidade dos seus shows tem relação com a ópera europeia do século XIX a partir da: A) disposição cênica dos artistas no espaço teatral. B) integração de diversas linguagens artísticas. C) sobreposição entre música e texto literário. D) manutenção de um diálogo com o público. E) adoção de um enredo como fio condutor. Questão 380 (2018.1) A trajetória de Liesel Meminger é contada por uma narradora mórbida, surpreendentemente simpática. Ao perceber que a pequena ladra de livros lhe escapa, a Morte afeiçoa-se à menina e rastreia suas pegadas de 1939 a 1943. Traços de uma sobrevivente: a mãe comunista, perse- guida pelo nazismo, envia Liesel e o irmão para o subúrbio pobre de uma cidade alemã, onde um casal se dispõe a adotá-los por dinheiro. O garoto morre no trajeto e é enterrado por um coveiro que deixa cair um livro na neve. É o primeiro de uma série que a menina vai surrupi- ar ao longo dos anos. O único vínculo com a família é esta obra, que ela ainda não sabe ler. A vida ao redor é a pseudorrealidade criada em torno do culto a Hitler na Segunda Guerra. Ela assiste à eufórica celebração do aniversário do Führer pela vizinhança. A Morte, perplexa diante da violência humana, dá um tom leve e divertido à narrativa deste duro confronto entre a infância perdida e a crueldade do mundo adulto, um sucesso absoluto – e raro – de crítica e público. (Disponível em: www.odevoradordelivros.com. Acesso em: 24 jun. 2014) Os gêneros textuais podem ser caracterizados, dentre outros fatores, por seus objetivos. Esse fragmento é um(a): A) reportagem, pois busca convencer o interlo- cutor da tese defendida ao longo do texto. B) resumo, pois promove o contato rápido do leitor com uma informação desconhecida. C) sinopse, pois sintetiza as informações rele- vantes de uma obra de modo impessoal. D) instrução, pois ensina algo por meio de expli- cações sobre uma obra específica. E) resenha, pois apresenta uma produção inte- lectual de forma crítica. Questão 381 (2018.1) o que será que ela quer essa mulher de vermelho alguma coisa ela quer pra ter posto esse vestido não pode ser apenas uma escolha casual podia ser um amarelo verde ou talvez azul mas ela escolheu vermelho ela sabe o que ela quer e ela escolheu vestido e ela é uma mulher então com base nesses fatos eu já posso afirmar que conheço o seu desejo caro watson, elementar: o que ela quer sou euzinho sou euzinho o que ela quer só pode ser euzinho o que mais podia ser (FREITAS, A. Um útero é do tamanho de um punho. São Paulo: Cosac Naify, 2013) No processo de elaboração do poema, a autora confere ao eu lírico uma identidade que aqui representa a: A) hipocrisia do discurso alicerçado sobre o senso comum. B) mudança de paradigmas de imagem atribuí- dos à mulher. C) tentativa de estabelecer preceitos da psico- logia feminina. CADERNO LITERATURA ENEM 2009 a 2018 141 novocadernoenem@gmail.com D) importância da correlação entre ações e efei- tos causados. E) valorização da sensibilidade como caracterís- tica de gênero. Questão 382 (2018.1) TEXTO I GRIMBERG, N. Estrutura vertical dupla. (Disponível em: www.normagrimberg.com.br. Acesso em: 13 dez. 2017) TEXTO II Urna cerimonial marajoara. Cerâmica. 1400 a 400 a.C. 81 cm. Museu Nacional do Rio de Janeiro. (Disponível em: www.museunacional.ufrj.br. Acesso em: 11 dez. 2017) As duas imagens são produções que têm a cerâmica como matéria-prima. A obra Estrutura vertical dupla se distingue da urna funerária marajoara ao: A) evidenciar a simetria na disposição das pe- ças. B) materializar a técnica sem função utilitária. C) abandonar a regularidade na composição. D) anular possibilidades de leituras afetivas. E) integrar o suporte em sua constituição. Questão 383 (2018.1) O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás de casa. Passou um homem e disse: Essa volta que o rio faz por trás de sua casa se chama enseada. Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás de casa. Era uma enseada. Acho que o nome empobreceu a imagem. (BARROS, M. O livro das ignorãças. Rio de Janeiro: Best Seller, 2008) O sujeito poético questiona o uso do vocábulo “enseada” porque a: A) terminologia mencionada é incorreta. B) nomeação minimiza a percepção subjetiva. C) palavra é aplicada a outro espaço geográfico. D) designação atribuída ao termo é desconheci- da. E) definição modifica o significado do termo no dicionário. Questão 384 (2018.1) A Casa de Vidro Houve protestos. Deram uma bola a cada criança e tempo para brincar. Elas aprenderam malabarismos incrí- veis e algumas viajavam pelo mundo exibindo sua alegre habilidade. (O problema é que mui- tos, a maioria, não tinham jeito e eram feios de noite, assustadores. Seria melhor prender essa gente – havia quem dissesse.) Houve protestos. Aumentaram o preço da carne, liberaram os preços dos cereais e abriram crédito a juros baixos para o agricultor. O dinheiro que sobras- se, bem, digamos, ora o dinheiro que sobrasse! Houve protestos. Diminuíram os salários (infelizmente aumentou o número de assaltos) porque precisamos com- bater a inflação e, como se sabe, quando os CADERNO LITERATURA ENEM 2009 a 2018 142 novocadernoenem@gmail.com salários estão acima do índice de produtividade eles se tornam altamente inflacionários, de mo- do que. Houve protestos. Proibiram os protestos. E no lugar dos protestos nasceu o ódio. Então surgiu a Casa de Vidro, para acabar com aquele ódio. (ÂNGELO, I. A casa de vidro. São Paulo: Círculo do Livro, 1985) Publicado em 1979, o texto compartilha com outras obras da literatura brasileira escritas no período as marcas o contexto em que foi produ- zido, como a: A) referência à censura e à opressão para ale- gorizar a falta de liberdade de expressão carac- terística da época. B) valorização de situações do cotidiano para atenuar os sentimentos de revolta em relação ao governo instituído. C) utilização de metáforas e ironias para ex- pressar um olhar crítico em relação à situação social e política do país. D) tendência realista para documentar com ve- rossimilhança o drama da população brasileira durante o Regime Militar. E) sobreposição das manifestações populares pelo discurso oficial para destacar o autoritaris- mo do momento histórico. Questão 385 (2018.1) TEXTO I (BRACCO, A; LOSCHI, M. Quando rotas se tornam arte. Retratos: a revista do IBGE. Rio de Janeiro, n. 3, set. 2017 - adaptado) TEXTO II Stephen Lund, artista canadense, morador em Victoria, capital da Colúmbia Britânica (Canadá), transformou-se em fenômeno mundial produzin- do obras de arte virtuais pedalando sua bike. Seguindo rotas traçadas com o auxílio de um dispositivo de GPS, ele calcula ter percorrido mais de 10 mil quilômetros. (Disponível em: www.booooooom.com. Acesso em: 9 dez. 2017 - adaptado) Os textos destacam a inovação artística propos- ta por Stephen Lund a partir do(a): A) deslocamento das tecnologias de suas fun- ções habituais. B) perspectiva de funcionamento do dispositivo de GPS. C) ato de guiar sua bicicleta pelas ruas da cida- de. D) análise dos problemas de mobilidade urbana. E) foco na promoção cultural da sua cidade. Questão 386 (2018.2) Uma língua, múltiplos falares Desde suas origens, o Brasil tem uma lín- gua dividida em falares diversos. Mesmo antes da chegada dos portugueses, o território brasi- leiro já era multilíngue. Havia cerca de 1,2 mil línguas faladas pelos povosindígenas. O portu- guês trazido pelo colonizador tampouco era uma língua homogênea, havia variações de- pendendo da região de Portugal de onde ele vinha. Há de se considerar também que a che- gada de falantes de português acontece em diferentes etapas, em momentos históricos es- pecíficos. Na cidade de São Paulo, por exem- plo, temos primeiramente o encontro linguístico de portugueses com índios e, além dos negros da África, vieram italianos, japoneses, alemães, árabes, todos com suas línguas. “Todo este processo vai produzindo diversidades linguísti- cas que caracterizam falares diferentes”, afirma um linguista da Unicamp. Daí que na mesma São Paulo pode-se encontrar modos de falar distintos como o de Adoniran Barbosa, que eternizou em suas composições o sotaque típi- co de um filho de imigrantes italianos, ou o chamado erre retroflexo, aquele erre dobrado que, junto com a letra i, resulta naquele jeito de falar “cairne” e “poirta” característico do interior de São Paulo. (MARIUZZO, P. Disponível em: www.labjor.unicamp.br. Acesso em: 30 jul. 2012) A partir desse breve histórico da língua portu- guesa no Brasil, um dos elementos de identida- CADERNO LITERATURA ENEM 2009 a 2018 143 novocadernoenem@gmail.com de nacional, entende-se que a diversidade lin- guística é resultado da: A) imposição da língua do colonizador sobre as línguas indígenas. B) interação entre os falantes de línguas e cultu- ras diferentes. C) sobreposição das línguas europeias sobre as africanas e indígenas. D) heterogeneidade da língua trazida pelo colo- nizador. E) preservação dos sotaques característicos dos imigrantes. Questão 387 (2018.2) Para que serve a tecnologia Computador “Com os computadores e a internet, mudei muito. A Lian de hoje é totalmente diferente daquela de antes da informática. Me abriu por- tas e, além de tudo, fui aceita por pessoas que achava que não iriam me aceitar. Com a inter- net, viajei o mundo. Fui até Portugal e à África. Eu nem sabia que lá a realidade era tão forte. Perto deles, estamos até muito bem.” – Tânia “Lian” Silva, 26, índia pankararu. TV “Eu gosto muito de televisão. Assisto às novelas, me divirto muito. Mas, ao mesmo tem- po, sei que aquilo tudo que passa lá não é ver- dade. É tudo uma ilusão.” – Valentina Maria Vieira dos Santos, 89, índia fulni-ô da aldeia Xixi a cla. MP3 Player “Cuido do meu tocador de MP3 como se fosse um tesouro. É um pen drive simples, mas é muito especial para mim. Nele ouço músicas indígenas e bandas da própria aldeia. Ele vive emprestado porque acaba sendo a diversão da aldeia inteira. Uso até para exibir uns vídeos que baixo da internet. Basta colocar no aparelho de DVD com entrada USB que tenho.” – Jailton Pankararu, 23, índio pankararu. (Disponível em: www2.uol.com.br. Acesso em: 1 ago. 2012) Os depoimentos apresentados no texto retratam o modo como diferentes gerações indígenas relatam suas experiências com os artefatos tecnológicos. Os comentários revelam: A) uma preferência pela possibilidade de uso do computador. B) um elogio à utilidade da tecnologia no cotidi- ano indígena. C) uma crítica à própria identidade antes da inclusão digital. D) o gosto pela ilusão em telenovelas transmiti- das na TV. E) o desejo de possuir um aparelho importado. Questão 388 (2018.2) Quantos há que os telhados têm vidrosos E deixam de atirar sua pedrada, De sua mesma telha receiosos. Adeus, praia, adeus, ribeira, De regatões tabaquista, Que vende gato por lebre Querendo enganar a vista. Nenhum modo de desculpa Tendes, que valer-vos possa: Que se o cão entra na igreja, É porque acha aberta a porta. (GUERRA, G. M. In: LIMA, R. T. Abecê de folclore. São Paulo: Martins Fontes, 2003 - fragmento) Ao organizar as informações, no processo de construção do texto, o autor estabelece sua intenção comunicativa. Nesse poema, Gregório de Matos explora os ditados populares com o objetivo de: A) enumerar atitudes. B) descrever costumes. C) demonstrar sabedoria. D) recomendar precaução. E) criticar comportamentos. Questão 389 (2018.2) O tradicional ornato para cabelos, a tiara ou diadema, já foi uma exclusividade feminina. Na origem, tanto “tiara” quanto “diadema” eram palavras de bom berço. “Tiara” nomeava o adorno que era o signo de poder entre os pode- rosos da Pérsia antiga e povos como os frísios, os bizantinos e os etíopes. A palavra foi incorpo- rada do Oriente pela Grécia e chegou até nós por via latina, para quem queria referir-se à mi- tra usada pelos persas. Diadema era a faixa ou tira de linho fino colocado na cabeça pelos anti- gos latinos, herança do derivado grego para diádo (atar em volta, segundo o Houaiss). No Brasil, a forma de arco ou de laço das tiaras e alguns usos específicos (o nordestino “gigolete” faz alusão ao ornato usado por cafetinas, ver- sões femininas do “gigolô”) produziram novos sinônimos regionais do objeto. (Os sinônimos da tiara. Língua Portuguesa, n. 23, 2007 - adaptado) No texto, relata-se que o nome de um enfeite para cabelo assumiu diferentes denominações ao longo da história. Essa variação justifica-se pelo(a):