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1 PRÁTICA CLÍNICA Prática clínica MANEJO DERMATOLÓGICO ORIENTADO AOS DIFERENTES TIPOS DE PELE Sumário 03 05 08 11 13 Pele Oleosa Pele Acneica Pele Seca Pele Sensível Pele Negra Clique no número para ir para a página. PRÁTICA CLÍNICA Pele Oleosa É definida pela produção excessiva de sebo pelas glândulas sebáceas na unidade pilossebácea (pelo + glândula). Apesar de seu padrão vital na manutenção da homeostase da pele, em situação de hiperprodução, a presença aumentada de sebo facilita a piora da acne, sendo uma das principais queixas do público juvenil, dado o papel do aumento da produção hormonal própria da fase puberal. A identificação deste tipo de pele é guiada, primordialmente, pela presença de aspecto brilhoso na zona-T, ou seja, áreas de alta produção sebácea, concentradas em testa, nariz e bochechas. Características Clínica do Paciente 3 4 PRÁTICA CLÍNICA Este tipo de pele promove as mais diversas queixas, devido ao seu impacto na rotina e seus desafios para o controle da oleosidade, sendo as mais frequentes: Aspecto oleoso pouca horas após lavagem; Aspecto irregular e não aderente de base durante uso de maquiagem; Incapacidade de ambientação ao uso de protetor solar facial com frequente piora do aspecto oleoso à aplicação do produto. Cuidados com a Pele Oleosa A pele oleosa é, naturalmente, propensa a inflamações e surgimento de acne, por este motivo é necessário o controle a fim de evitar exacerbações e progressão do quadro. Para isso, temos como principais orientações: Lavar o rosto 2x ao dia com agentes de limpeza específicos para controle de oleosidade; Hidratar o rosto com emolientes específicos; Escolher um filtro solar toque seco; Avaliar a necessidade de ácidos noturno (azelaico, retinoico e derivados, glicólico entre outros); Alimentação saudável entre outras mudanças de estilo de vida. Observação: Evitar, na grande maioria dos casos, sabonetes muito adstringentes; Não lavar o rosto com sabonete mais do que duas vezes ao dia; Evitar realizar muitas esfoliações; Não utilizar produtos ou maquiagens fora da validade. PRÁTICA CLÍNICA Pele Acneica A acne ocorre devido a um conjunto de fatores, sendo eles: Hiperprodução sebácea; Hiperqueratinização folicular (obstrução folicular com sebo e queratinócitos); Colonização dos folículos por Cutibacterium acnes; Inflamação. É principal queixa dos pacientes nos atendimentos dermatológicos. 5 6 PRÁTICA CLÍNICA Clínica do Paciente Fatores de agravo Cuidados com a Pele Acneica Comedões (cravos); Pápulas (lesões sólidas arredondadas, endurecidas e eritematosas); Pústulas (lesões com pus); Nódulos (lesões caracterizadas pela inflamação, que se expandem por camadas mais profundas da pele e podem levar à destruição de tecidos, causando cicatrizes) Cistos (maiores que as pústulas, inflamados, expandem-se por camadas mais profundas da pele, podem ser muito dolorosos e deixar cicatrizes). Pode ocorrer piora relacionada: Situações de estresse; Alterações hormonais; Período menstrual; Certos medicamentos como corticoides, vitaminas do complexo B; Exposição exagerada ao sol; Contato com óleos, graxas ou produtos gordurosos; Manipulação das lesões (“espremer cravos e espinhas”). Além dos cuidados orientados ao paciente de pele oleosa, devemos complementar com seguintes orientações: Orientar alimentação e mudança de estilo de vida; Investigar doenças de base, como síndrome dos ovários policístico ou disfunções tireoidianas; Investigar uso de medicações ou suplementos que possam piorar o quadro. 7 PRÁTICA CLÍNICA Tratamento Medicamentoso Varia conforme o grau de acometimento e perfil do paciente: Os ativos devem ser combinados e a escolha do tratamento deve ser individualizada para cada paciente. Medicamentos Tópicos Medicamentos Via Oral Principais ativos: Retinoides tópicos (primeira linha de tratamento) Peróxido de Benzoíla e ácido salicílico podem ser utilizados em agentes de limpeza, tônicos e emolientes Alfa-hidroxiácidos (AHA): ácido glicólico ou mandélico Ácido azelaico Antibióticos tópicos, como a clindamicina (sempre associada a outros ativos para evitar a resistência bacteriana Antibioticoterapia sistêmica: Principalmente as Tetraciclinas (nunca em monoterapia para reduzir o risco de resistência bacteriana) Nos casos mais graves, refratários, múltiplas cicatrizes: avaliar o uso de isotretinoína Na acne da mulher adulta: Avaliar o uso de Espironolactona PRÁTICA CLÍNICA Pele Seca Existem diversos fatores que levam à piora da xerose cutânea: banhos quentes e demorados, ausência de hidratação diária, uso frequente de substâncias como álcool. Essa condição afeta mais áreas do corpo com baixa densidade de glândulas sebáceas como membros superiores e, inferiores e torso. Características 8 9 PRÁTICA CLÍNICA O primeiro sinal clínico de pele seca é o aumento da opacidade da pele somado ao acinzentamento (menor reflexão da luz) e aumento das marcas topográficas naturais da pele. A formação de escamas sugere um quadro mais reservado e quando ocorre sua deterioração pode-se perceber formação de fissuras e rachaduras cutâneas. À palpação, é percebida uma redução da flexibilidade da pele, com perda da elasticidade e turgor característicos. A maioria dos pacientes que se queixam de pele seca não possuem doença de base, mas sim uma habilidade inadequada em lidar com os agressores naturais e hábitos de vida que ocasionam pele seca. Clínica do Paciente A utilização de hidratantes com componentes oclusivos (que intensificam a barreira transdérmica) e umectantes pode minimizar os sintomas, aliando- se aos emolientes para suavizar a superfície seca. Frequentemente, estes contém lipídios como ceramidas, ácidos graxos, glicerina e colesterol. Cuidados com a Pele Seca 10 PRÁTICA CLÍNICA Agentes Oclusivos Excelente opção para o tratamento da pele seca, visto que além de contribuírem para a redução da perda de água por transpiração são dotados de efeito emoliente. Normalmente, estes são combinados em formulações contendo umectantes. Exemplos: • Petrolatos (Padrão Ouro); • Lanolina; • Óleos Minerais (Lauril sulfato sódico); • Óleos Naturais (Óleo de girassol, óleo de coco). Agentes Umectantes São materiais solúveis em água e com alto poder de absorção hídrica, ou seja, “seguram” a água da atmosfera na pele (ao contrário dos oclusivos, que impedem a água da pele de sair). Em condições de baixa umidade atmosférica, os umectantes podem atrair água de camadas mais profundas da epiderme e da derme. Tem maior eficácia quando aliados à hidratação oclusiva. Exemplos: • Glicerina (glicerol); • Sorbitol; • HIaluronato sódico; • Ureia; • Propilenoglicol; • Alfa-hidroxiácidos; • Açúcares (ácido hialurônico). Agentes Emolientes São substâncias que penetram nos espaços existentes entre os corneócitos em descamação, o que aumenta a coesão intercelular e torna a superfície da pele mais macia e suave. Muitos agentes oclusivos e umectantes atuam como emolientes (ex: petrolato, lanolina). PRÁTICA CLÍNICA Pele Sensível Como o nome sugere, a pele sensível denota uma hiperreatividade às intempéries (ambiente, cosméticos, alimentos). Cerca de metade dos pacientes que chegam com queixas de pele sensível não apresentaram sinais visíveis de inflamação ou lesões de pele. Características 11 A apresentação clínica dependerá do tipo de pele sensível apresentada pelo paciente e se este apresenta alguma doença dermatológica associada. Queixas frequentes: Vermelhidão; Sensação de queimação; Descamação; Pápulas ou pústulas; Intolerância a diversos produtos de skincare/ medicamentos; Piora do quadro relacionada a certos alimentos, emoções, comportamentos e clima. Clínica do Paciente 12 PRÁTICA CLÍNICA Cuidados com a Pele Sensível Cerca de 85% dos relatos de sensibilidade da pele ocorrem em face, podendo se apresentar em outros locais de forma isolada ou concomitante: 58% nas mãos; 36%no couro cabeludo; 34% nos pés; 27% no pescoço; 23% no torso e 21% nas costas. Condutas: Realizar a limpeza do rosto com agentes de limpeza suaves, como os sabonetes syndets. Optar por filtro solar para peles sensíveis ou físicos, como os produtos à base de óxido de zinco e/ou dióxido de titânio Usar diariamente hidratantes com ativos calmantes Orientar banhos curtos, com água morna, sabonete suaves e evitar buchas e esponjas Evitar mais de um banho por dia Sempre introduzir um produto por vez, para caso ocorra reação se possa saber qual ativo desencadeou o processo Sempre testar produtos novos antes no punho ou região posterior da orelha, caso não ocorre reação o paciente pode, então, aplicar o produto na face Avaliar, diagnosticar e tratar doença de base associada, como dermatite atópica ou rosácea Oriento alimentação e hábitos de vida PRÁTICA CLÍNICA Presença de fibroblastos maiores, bi ou multinucleados, em maior número e hiperativos, o que, combinado à diminuição da atividade da colagenase, pode originar a formação de quelóide, de incidência maior em negros. Maior padrão de secreção das glândulas sudoríparas e sebáceas na pele negra, com predisposição à formação de acne. A abordagem da pele negra é carregada de estereótipos que promovem uma rotina pobre em cuidados e permitem erros de conduta capazes de garantir a permanência de marcas, possivelmente, evitáveis. Por isso, o primeiro passo para o manejo e cuidado desse tipo de pele é reconhecer o que a diferencia das demais, sendo possível reconhecer diversas especificidades, como: Maior quantidade de melanina, não associada a maior quantidade de melanócitos. Presença de melanossomas maiores, com número aumentado na camada basal e distribuídos por todas as camadas da epiderme, em oposição ao que se apresenta na pele branca. Pele Negra 13 14 PRÁTICA CLÍNICA Alterações pigmentares Alterações em geral • Melasma • Hiperpigmentação e hipopigmentação pós-inflamatória • Pitiríase alba • Hipomelanose gutata idiopática • Vitiligo • Acne • Dermatose papulosa negra • Quelóide • Úlceras na perna por anemia falciforme • Pseudoacantose nigricante • Dermatite Seborréica • Pseudofoliculite da barba • Acne queloideana da nuca ou foliculite da nuca • Foliculite dissecante do couro cabeludo • Alopecias (tração, por alisantes, cicatriciais) A partir do reconhecimento do que a diferencia, podemos atestar possíveis achados a serem buscados no exame clínico destes pacientes, com predomínio de algumas patologias ou alterações cutâneas, sejam elas: Clínica do Paciente 15 PRÁTICA CLÍNICA Cuidados com a Pele Negra Evite água quente Resseca a pele do corpo , pioram ressecamento dos fios, podem levar a oleosidade rebote no couro cabeludo e rosto) Utilize sabonetes, espumas de controle de oleosidade ácido salicílico, glicólico para o rosto e Sabonetes , com substâncias hidratantes,suaves para o corpo Limpeza de pele Máscara de argila verde ou branca( efeito antiinflamatório, adstringente) Dieta balanceada Evitar alimentos com alto índice glicêmico Hidrate bem a pele Produtos a base de ácido hialurônico, pantenol, manteiga de karité Observar veículo(gel, oil free) para o rosto Use protetor solar Observar o veículo utilizado Produtos a base de vitamina c, ácido glicólico, ácido dioico, kojico, ferulico, tranexâmico Evite procedimentos agressivos no verão 16 PRÁTICA CLÍNICA Referências Zaenglein AL, Pathy AL, Schlosser BJ, Alikhan A, Baldwin HE, Berson DS, Bowe WP, Graber EM, Harper JC, Kang S, Keri JE, Leyden JJ, Reynolds RV, Silverberg NB, Stein Gold LF, Tollefson MM, Weiss JS, Dolan NC, Sagan AA, Stern M, Boyer KM, Bhushan R. Guidelines of care for the management of acne vulgaris. J Am Acad Dermatol. 2016 May;74(5):945-73. e33. doi: 10.1016/j.jaad.2015.12.037. Epub 2016 Feb 17. Erratum in: J Am Acad Dermatol. 2020 Jun;82(6):1576. PMID: 26897386. Oliveira CMM, Almeida LMC, Bonamigo RR, Lima CWG, Bagatin E. Consensus on the therapeutic management of rosacea --- Brazilian Society of Dermatology. An Bras Dermatol. 2020;95(S1):53---69. Cosmetic dermatology: principles and practice. Leslie Baumann. McGraw-Hill medical. New York, 2009.