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As perspectivas de desenvolvimento humano: A teoria do desenvolvimento psicossocial de Sigmund Freud Profª Me Patrícia Machado Domingues 1 Introdução à teoria. Vida e obra de Sigmund Freud (1856 – 1939) Sigmund Freud - Austríaco, médico (neurologista-neuropsiquiatria) - 1856 – 1939 Freud ingressou na faculdade de Medicina em 1873. Mais tarde, estudou o funcionamento da mente e desenvolvimento da personalidade. Na Europa ocidental, considerava-se a condição que diferencia os seres humanos dos demais mamíferos em 2 tendências: Espiritualista (religiosa): mente = alma = imortal Materialista (mecanicista): mente = corpo = cérebro Freud - Pesquisador – iniciou seu trabalho de pesquisa no laboratório de neuroanatomia e fisiologia e depois estudou sobre histeria e técnica de hipnose com o médico Charcot em Paris. 2 Estudos sobre a histeria Iciou seu trabalho clínico c 3 Sigmund Freud iniciou seu trabalho clínico com as histéricas. O encontro com Charcot o levou a se interessar pelas manifestações da mente, pelo afeto, emoções e sentimentos. Histeria era uma doença física, sem um determinante físico. Manifestação de diversos sintomas, tais como: paralisia, afasia, cegueira, convulsões (Ex: A pessoa não conseguia mexer a perna, mas não havia uma causa física, uma lesão cerebral, muscular, ou nervosa que justificasse neurologicamente a paralisia) Charcot passou a hipnotizar seus pacientes histéricos que eram, na maioria, mulheres. Sob hipnose os sintomas desapareciam, o que comprovava não ser uma causa orgânica, mas psicológica. Traumas psíquicos. Antes de Freud trauma se referia a uma quebra física. Freud descobre que existe também uma quebra psíquica. (Ex: Eu posso deixar de movimentar minha perna porque caí e quebrei ou porque alguém gritou comigo e causou um impacto na minha realidade psicofísica.) Primeiro Freud se deparou com os traumas psíquicos no tratamento das pacientes histéricas, depois descobriu o inconsciente. Charcot e a histeria Em 1886 – com Charcot e as pacientes histéricas Freud considerou que se os sintomas deixavam de existir com sugestão , eles não eram de origem orgânica e sim psicológica. Esta hipótese revolucionou o pensamento de Freud. Trabalhos com Breuer (1842-1925) por 10 anos usando a hipnose para tratar das histéricas. Anna O. paciente de Breuer, foi fundamental para Freud , teve seu caso exposto em Estudos sobre a histeria – histérica sofre de reminiscências. Método baseado na catarse = limpeza da chaminé = cura pela fala MÉTODO CATÁRTICO Psicanálise é um processo em que a pessoa tem a possibilidade de se lembrar, e, ao se lembrar, se curar. O método catártico e a cura pela fala Após a experiência com Charcot, Freud retorna a Viena onde trabalha por 10 anos em parceria com o médico Josef Breuer usando o método da hipnose. Descobriram que os sintomas histéricos tinham na censura de fantasias e desejos vivenciados na primeira infância. Esses conteúdos ficavam reprimidos e as pacientes não tinham consciência de sua existência, mas sob hipnose, falavam sobre suas fantasias sexuais na infância. Freud chamou isso de mecanismo de repressão. Anna O. foi paciente de Breuer e depois de Freud. (Estudos sobre a histeria, 1895). Ela se referia ao tratamento como limpeza da chaminé (quando rememorava as fantasias e desejos reprimidos durante a sessão de hipnose, limpando sua mente) e cura pela (o desaparecimento dos sintomas, ou cura, após rememorar seus traumas de infância). Método catártico: Breuer definiu esse processo como catarse: quando a pessoa hipnotizada fala tudo o que vem a sua mente e depois sente um grande alívio emocional. A partir dessas experiências, Freud descobriu que esse processo mental envolve conflitos internos frutos de desejos percebidos apenas em parte pela consciência, a outra parte, reprimida, ficaria encoberta no inconsciente. A descoberta do inconsciente Freud criou sua teoria original da mente e inventou o método da psicanálise a partir da clínica das pacientes histéricas, em especial o caso Anna O. Sua grande descoberta foi o inconsciente, que mais tarde foi associado à sexualidade infantil como principais fatores das neuroses. Para Freud, o que nos diferencia dos demais mamíferos é nossa capacidade de sentir prazer e desejo como algo que não é apenas instintivo e biológico. Segundo ele, todas as experiências vividas pela criança de forma perturbadora (seja um fato ou uma fantasia) seria a causa dos sintomas neuróticos e da histeria. Ao conter um impulso e não realizar o desejo, pela censura e a culpa, a mente adoece e desenvolve um sintoma. (Ex: uma criança que sente muito ciúme do irmão recém-nascido e tem vontade de machuca-lo, reprime esse desejo pelo sentimento de culpa e desenvolve uma grave constipação intestinal. Ao invés de ser punida pelos pais pelos pensamentos e atos agressivos contra o irmão será cuidada por eles e terá sua atenção) Repressão é a força que impede o desejo de ser realizado, possui significados e dinâmicas subjetivas, de acordo com a história pessoal e familiar de cada um. Essa força que mantém a lembrança encoberta, no início ele chamou de censura e depois de repressão. A descoberta do inconsciente Inconsciente: instância da atividade mental que não é percebida, não é consciente. Contudo carrega toda a nossa vivência e nossa história. Representa a força dos nossos desejos, satisfeitos ou insatisfeitos, que nos move o tempo todo. “Somos estranhos em nossa própria morada” Ambivalência: a criança apresenta sentimentos ambíguos em relação aos pais, irmãos ou parentes adultos. Amor, ódio, atração e repulsa são vividos o tempo todo por ela. É no meio familiar que a criança vai viver suas primeiras experiências de contato com o outro, de prazer e desejo que são próprios da espécie humana. O inconsciente é uma força atuante e constitutiva da vida mental. Nossa mente trabalha o tempo todo com os conflitos internos inconscientes, e a maneira como lida com eles pode promover o sintoma e a doença, ou o desenvolvimento da pessoa. Sigmund Freud, museu de cera Fases do desenvolvimento infantil ou fases da evolução da libido O período inicial em que o sujeito aprende a lidar com a sua realidade física e constrói sua realidade psíquica Freud tinha uma visão biopsicossocial do ser humano Psicanálise Estrutura e Funcionamento da Personalidade: 1ª Teoria: Consciente Pré-consciente Inconsciente 2ª Teoria: Id Ego Superego 1ª Teoria O inconsciente exprime o “conjunto dos conteúdos não presentes no campo atual da consciência”. É constituído por conteúdos reprimidos, que não têm acesso aos sistemas pré-consciente/consciente, pela ação de censuras internas. O pré-consciente refere-se ao sistema onde permanecem aqueles conteúdos acessíveis à consciência. É aquilo que não está na consciência, neste momento, e no momento seguinte pode estar. • O consciente é o sistema do aparelho psíquico que recebe ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e as do mundo interior. Na consciência, destaca-se o fenômeno da percepção, principalmente a percepção do mundo exterior, a atenção, o raciocínio. 2ª Teoria id é onde se “localizam” as pulsões inatas. Essas pulsões são energias determinadas biologicamente e determinantes de desejos e necessidades que não reconhecem qualquer norma socialmente estabelecida. O id não é socializado, não respeita convenções, e as energias que o constituem buscam a satisfação incondicional do organismo. ego é o eu que mantém contato com o ambiente e a realidade exterior. Tenta estabelecer o equilíbrio entre as exigências do id, as exigências da realidade e as “ordens” do superego. É um regulador, a busca do prazer pode ser substituída pelo evitamento do desprazer. As funções básicas do ego são: percepção, memória, sentimentos, pensamento. superego origina-se com o complexo de Édipo, a partir da internalização das proibições, dos limites e da autoridade. A moral, os ideais são funções do superego. O conteúdo do superegorefere-se a exigências sociais e culturais. 12 Neurose No conflito entre o id e o superego, as pulsões, desejos, medos, instintos do id são reprimidos pelo superego e permanecem inconscientes. Mas pulsões não se contentam em ficar esquecidas e soterradas lá, pois são energias que continuam a pressionar o superego para chegar ao nível consciente. Assim surgem os sintomas da neurose, os sonhos, os atos falhos, a sublimação. SONHO “O conjunto de conteúdos que forma o sonho traduz a trama de desejos não satisfeitos contidos no inconsciente da pessoa. Sonhar, portanto, é a realização de um desejo reprimido. Trata-se, é claro, de realização imperfeita e incompleta porque a ação do superego impede que as imagens oníricas explicitem com clareza o desejo inconsciente. A falta de clareza do sonho é exigência feita pelo superego que libera as energias do id desde que estas tenham sua forma alterada e não cheguem ao plano consciente tal como elas realmente são. O superego garante, assim, o cumprimento de sua função repressora, ao mesmo tempo em que alivia, de certo modo, a pressão oriunda do id.” (CUNHA, 2008 p.03) O sonho é o resultado da luta entre o id e o superego. A interpretação dos sonhos (1900) Freud publicou “A interpretação dos Sonhos” em 1900. A técnica de interpretação consistia em relacionar um conteúdo manifesto num sonho com seu conteúdo latente. O conteúdo latente do sonho seria o desejo inconsciente do sonhador. O analista interpreta para o analisando a relação entre o sonho e o desejo inconsciente dentro do processo de análise. O fenômeno da transferência no processo de análise consiste na repetição, do paciente com o analista, dos desejos, sentimentos e atitudes vividos com os pais na infância e que permaneciam inconscientes. ATOS FALHOS E SUBLIMAÇÃO ATOS FALHOS: Um lapso na fala ou na escrita, um esquecimento, um chiste podem ser manifestações de um desejo inconsciente e reprimido que obteve satisfação por uma fresta nas defesas do superego. Ex: o amante apaixonado que, “sem querer querendo”, troca o nome da esposa pela mãe. SUBLIMAÇÃO: também expressa o resultado das tensões entre o id e o superego. Energias reprimidas transformam-se e são canalizadas para um único objetivo, possibilitando ao ego exercer uma atividade socialmente aceita. O indivíduo destaca-se em um determinado setor da vida social, seja ele artístico, esportivo ou intelectual, dada à concentração de energia psíquica que ali se forma. A origem das neuroses As pulsões continuam a pressionar o superego para chegar ao nível consciente: sonhos, atos falhos e sublimação. Neurose: resultado de desejos reprimidos que chegam à consciência como sintomas. Ex: angústia, ansiedade, pensamentos e atitudes recorrentes, causando sofrimento. O sintoma neurótico O sintoma neurótico – um desequilíbrio que se manifesta na vida consciente da pessoa – é o resultado visível de desejos que, reprimidos pelo superego, tornam-se inconscientes e procuram uma “válvula de escape” para ascenderem ao plano consciente. A pessoa neurótica percebe que há algo errado com ela – uma angústia indefinida, um pensamento ou um ato recorrente – mas não sabe a causa dos sintomas que a afligem, pois esta se encontra no inconsciente, região inacessível ao ego. Ao contrário de um sonho, uma neurose é algo que sempre causa sofrimento. Curar ou, ao menos, minimizar tal sofrimento era o objetivo de Freud. Para isso, ele criou uma técnica terapêutica, uma psicoterapia denominada psicanálise. 20 Fases da evolução da libido Fase oral – 0 aos 2 anos Fase anal – 2 aos 3 anos Fase fálica – 4 aos 6 anos: complexo de Édipo Fase de latência – idade escolar Fase genital – adolescência e vida adulta Contribuições e aplicações sociais da psicanálise A psicanálise auxilia no autoconhecimento para lidar com o sofrimento, criar mecanismos de superação das dificuldades e dos conflitos buscando uma produção humana mais autônoma, criativa e gratificante de cada indivíduo, dos grupos, das instituições. Durante muito tempo, a prática nesta área que se restringia, exclusivamente, ao consultório e era associada ao divã e tratamento individual e elitista. Contudo, há várias décadas é possível constatar a contribuição da Psicanálise e dos psicanalistas em várias áreas da saúde mental. Atualmente a psicanálise contribui com o trabalho com crianças e adolescentes em instituições — hospitais, creches, abrigos. Psicanálise e Educação Os fenômenos nas escolas são humanos e não apenas técnicos. Foco na pessoa do aluno. Para a psicanálise, as questões técnicas – metodologia, didática - são tão importantes quanto a relação professor- aluno. Vivência humanizadora, compreensão do outro, busca de boas relações com o indivíduo e consigo mesmo. Busca os motivos ocultos que direcionaram seu relacionamento com os alunos e sua escolha profissional. Valoriza mais a livre expressão das crianças e dos jovens. Diálogo Ressalta a importância da pessoa e sua personalidade. O professor psicanaliticamente orientado deve observar suas atitudes e de seus alunos, procurando desvelar os desejos escondidos por trás delas. Ex: Por que será que aquele aluno me incomoda tanto? Ou por que eu tenho tanto carinho e identificação por este aluno? O que leva este aluno ser tão agressivo comigo? “O professor que aceita o paradigma psicanalítico está sempre interessado em ir além de ministrar uma boa aula – no sentido técnico da expressão. Seu olhar volta-se constantemente para os motivos desconhecidos que o levam a estar ali, as possíveis razões que o motivam a relacionar-se com seus alunos desta ou daquela maneira.” (CUNHA, 2008 p. 4) O professor que conhece a Psicanálise sabe que o conhecimento está sempre permeado pelo desejo. Se os fenômenos que dizem respeito ao ensino e à aprendizagem possuem, por um lado, componentes inscritos no campo intelectual, possuem também toda uma carga emocional, em grande parte inconsciente. E isso tem a ver tanto com o universo psíquico do professor, detentor e transmissor dos saberes formalizados, quanto com o do aluno, para quem estes saberes são destinados. Ao mostrar que os fenômenos da sala de aula são mais humanos do que técnicos, o paradigma psicanalítico abre um caminho diferente e frutífero para os professores, o caminho da vivência humanizadora, da compreensão do outro, da busca de boas relações do indivíduo consigo mesmo e com os que o cercam. Solicita-se, então, menos ênfase no método e mais preocupação com a pessoa Limites e possibilidades da psicanálise na educação O professor possui objetivos, conceitos e valores que deseja ver refletidos nas pessoas que educa e sente-se frustrado, muitas vezes, por não conseguir fazer valer o seu exemplo de vida. Seus alunos não são as pessoas que ele gostaria que fossem. Professor precisa abrir mão da sua onipotência e da ideia de que pode moldar a personalidade do aluno, ou controlar seus comportamentos ou processos subjetivos de aprendizagem. A psicanálise contribui para a compreensão do ser humano, mas não apresenta um referencial teórico e metodológico educacional. Educação e Sociedade Para Freud, a educação visa reprimir a energia sexual para convertê-la em sentimentos que possam ser empregados em prol da harmonia social. Para vivermos coletivamente precisamos aprender sentimentos como solidariedade, fraternidade e cooperação. Estes sentimentos se aprendem, pois não são próprios do ser humano. Como são resultados de aprendizagem, precisam ser ensinados, pela família e pela escola. A criança nasce com pulsões egoístas, que buscam exclusivamente o prazer a qualquer preço. Essas energias que formam o id precisam ser reprimidas para que parte delas possa ser convertida – sublimada – em favor da vivência grupal. Contexto Freud x Contexto atual Renúncia ao princípio do prazer em nome do bem-estar coletivo (recalcamento e contenção dos impulsos individuais sobre pressão do social)x Renúncia ao princípio de realidade em prol do prazer e interesse individual Repressão sexual (Histeria) e social x Liberdade sexual Valorização do ócio criativo x Horror ao tédio e necessidade de diversão e produção Excesso de proibições x Excesso de ofertas e opções de escolhas Especialização x Multitarefas e habilidades Família nuclear x Famílias diversas Aceitação das normas e regras x Contestação das normas e regras Prazer em servir x Obrigação de ter prazer Maior tolerância à frustração x Imediatismo Tempo de elaboração do luto e perdas x Não tem tempo para viver o luto Histeria – doença do século x Depressão – doença do século Trabalha para viver x Vive para trabalhar Para refletir A virada de 1920: Freud passou a escrever textos sobre sociedade e cultura e implementa a clínica social e gratuita. Num contexto de pós-guerra e pandemia (gripe espanhola), Freud se depara com o sofrimento humano coletivo e não só individual, morte, destruição, medo, incertezas, angústias. Desde 2020, cem anos depois, passamos por uma pandemia e, em 2022 uma guerra. O que repetimos? O que não aprendemos? Freud é necessário nos dias atuais? Freud e o futuro Que perspectivas têm a psicanálise e as ideias de Freud, incluindo conceitos como inconsciente, pulsões, complexo de Édipo, teoria da mente e transferência? Freud, como um clássico, nunca morrerá, sendo pensado e transformado pelas futuras gerações: Klein, Abraham, Ferenczi, Winnicott, Bion, Lacan Psicanálise contemporânea - o sujeito contemporâneo Pandemia Guerra Psicanálise- uma nova área do conhecimento que trabalha com um saber simbólico e se relaciona com outras áreas: literatura, poesia, arte, ciências sociais. Mudança na narrativa médica, biologista para história simbólica. (corpo x mente, biologia e cultura) Teoria do inconsciente e descoberta da sexualidade infantil na formação da mente “Precisamos amar, para não adoecer!” Sigmund Freud Referência CUNHA, M.V. Psicologia da Educação. Rio de Janeiro: Editora Lamparina, 2008. ISBN-13: 9788598271507. (sic) LIMA, Luiz Tenorio Oliveira. FREUD. São Paulo: Publifolha, 2001 image1.jpeg image2.jpeg image3.jpeg image4.jpeg image5.jpeg image6.jpeg image7.jpeg image8.jpg image9.jpeg image10.jpeg image11.jpg image12.jpg image13.png image14.jpeg image15.jpeg image16.jpeg image17.jpeg image18.jpeg image19.jpeg image20.jpeg image21.jpeg image22.jpeg image23.jpeg image24.png image25.jpeg image26.jpeg image27.jpeg