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Traduzido do Espanhol para o Português - www.onlinedoctranslator.com
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Capítulo 1
Infâncias trans e destinos da 
diferença sexual: novos existenciais,
teorias renovadas
Facundo Blestcher
¿Verdadeiramenteprecisamos de sexoverdadeiro?
MICHEL FOUCAULT
Freud, em “Sobre as teorias sexuais infantis”, propõe uma situação 
conjectural:
Se pudéssemos considerar as coisas desta Terra com novos olhos, renunciando à nossa corporeidade, como 
seres dotados apenas de pensamento vindo de outros planetas, talvez nada nos chamasse mais a atenção do 
que a existência de dois sexos entre os homens, que, tão semelhantes quanto estão em tudo o resto, mas 
marcam a sua diferença com os sinais mais notáveis (Freud, [1908] 1986: 189).
Mais de um século depois desta proposta, o convite ao desdobramento de 
imaginários possíveis pode ser interessante se nos levar a um descentramento em 
relação aos próprios pontos de vista, por mais permeados que sejam pelas modalidades 
do senso comum e pelas interpretações rotineiras que parecem não exija nenhuma 
revisão. A teoria literária dos formalistas russos cunhou a noção deostraneniedesignar o 
processo de estranhamento ou desfamiliarização necessário à análise de um texto, a fim 
de despojá-lo das leituras mecanizadas pelas convenções de uso corrente. Tal 
desautomatização é uma atitude desejável quando nos propomos a considerar os 
fenômenos específicos da nossa área, não apenas para chegar a outras respostas, mas 
também para formular novas questões. Essa suspensão de nossos pressupostos pode 
nos surpreender onde menos esperamos e provocar um efeito de sentido que inaugura 
compreensões inesperadas.
Para além da reivindicação de uma visão despojada de preconceitos, a hipótese 
freudiana está impregnada em sua própria formulação pela lógica tradicional. 
Suponha que o visitante pararia em uma série de dados observáveis,
vinte e um
como se estes já estivessem dados sob toda a luz óbvia, ignora que provêm de um recorte 
cultural produzido por um imaginário sócio-histórico. O universalismo que fundamenta esta 
suposição, a ponto de projetar uma forma de organização do pensamento para habitantes 
extraplanetários fictícios, expõe o viés de uma antropologia moderna, eurocêntrica e colonial 
que gozou de notável força quando este texto foi publicado e ainda sobrevive em algumas 
perspectivas. As tramas de dominação cultural estendem-se até atingir as estruturas íntimas 
dos colonizados, moldando as suas ideias, forjando os seus pertencimentos e orientando as 
suas adesões, como se pode notar até na nossa própria disciplina nesta parte do mundo.
Agora, colocando entre parênteses esta e outras objeções que exigiriam uma análise 
mais exaustiva para identificar as tensões entre a psicanálise e a antropologia, aceitemos 
o desafio de nos perguntar se no estado atual da humanidade, e aos olhos de um 
observador supostamente desapaixonado , a diferença de sexo constituiria a 
peculiaridade mais notável. Como a nossa percepção da realidade é organizada segundo 
categorias discursivas, é enigmático conceber a que coordenadas significativas aquele 
visitante recorreria para compreender a nossa condição. Para o ser humano, a percepção 
é estruturada não apenas por categorias lógicas, mas fundamentalmente por 
construções simbólicas que produzem a captação do real nas tramas de sentido. A 
realidade humana, tal como existe para o sujeito, é sempre uma realidade significada ou 
significativa.
Contudo, seguindo jocosamente o convite de Freud, poderíamos presumir que esse 
olhar não se deteria necessariamente na diferença entre os sexos – cujos correlatos 
genitais geralmente não são visíveis, pelo menos desde que a humanidade cobriu a sua 
nudez – mas poderia recair sobre uma pluralidade de indícios de das mais variadas 
naturezas que respondem a marcas de gênero, etnia ou classe social, entre muitas 
outras, dependendo da forma como tais elementos sinalizam ao intérprete.
Em sintonia com o caráter relativo dessa suposta evidência sexual, o próprio Freud 
reduz o alcance de tais expectativas: “Ora, não parece que as crianças também 
escolham esse fato básico como ponto de partida para suas investigações sobre 
problemas sexuais” (Freud, [ 1908] 1986: 189). Contudo, o que chama a atenção é que a 
questão da diferença sexual vem ganhando um lugar prioritário – e até exclusivo – não 
mais na pesquisa sexual infantil, mas nas teorias sexuais da psicanálise.
Numa fase de conceituação psicanalítica, de mãos dadas com a teoria da castração – que 
é apenas mais uma na série de teorias sexuais infantis, embora tenha sido elevada a pilar 
estrutural da conformação do sujeito – a diferença anatômica entre o os sexos se tornam 
destino. “Destino” é válido aqui em seu duplo sentido: como meta a que conduz uma 
teleologia e como sucessão fatal de acontecimentos. O reconhecimento da diferença entre os 
sexos torna-se uma encruzilhada decisiva na qual deverá ser determinado o destino do 
sujeito em relação à castração. Toda a estrutura subjetiva parece neste ponto 
irremediavelmente comprometida e cristaliza-se numa irreversibilidade que se assemelha 
muito a uma frase. Sem ignorar a distinção no
22
conformação biológica dos sexos, parece-nos pertinente questionar o seu alcance e a sua 
suposta equivalência com a diferença simbólica.
A diferença como destino ou destino da diferença: aí podemos localizar uma 
questão fecunda para a psicanálise em nosso tempo. Para enfrentá-lo não é preciso 
ser estrangeiro em terras desconhecidas. Como destacou Silvia Bleichmar (2005a), 
somos obrigados a restringir nossos paradigmas e a nos livrar do peso das aporias 
e das hipóteses adventícias que já não nos oferecem ferramentas produtivas para a 
compreensão das subjetividades atuais.
DESARRANJOS DE SEXUALIDADE E DISCURSO
PSICANALÍTICO
Assistimos a uma transformação nos modos de trocas sexuais e nos dispositivos 
histórico-sociais que procuram regulá-las. A sanção de novos quadros legais e a 
expansão do reconhecimento de direitos – como as leis do casamento igualitário e da 
Identidade de Género, com o seu impacto nos regimes conjugais, filiatórios e adotivos – 
têm alimentado controvérsias que se ligam aos próprios fundamentos da ordem. 
patriarcal.
EmHerculine Barbin, chamada Alexina B., Foucault resgata do anonimato a história de 
um hermafrodita que sofre todas as restrições e crueldades de uma sociedade repressiva e 
que acaba se suicidando pela impossibilidade de sustentar a própria existência. Em sua 
análise ele destaca:
As teorias biológicas sobre a sexualidade, as concepções jurídicas sobre o indivíduo e as formas de controle 
administrativo nos Estados modernos levaram gradualmente à rejeição da ideia de uma mistura dos dois sexos 
num único corpo e, consequentemente, à restrição da livre escolha de sujeitos duvidosos. Doravante, para cada 
um um sexo e um só. A cada um a sua identidade sexual primeira, profunda, determinada e determinante; Os 
elementos do outro sexo que possam aparecer têm de ser acidentais, superficiais ou mesmo simplesmente 
ilusórios (Foucault, 1985: 12-13).
O binarismo que Foucault descreve e a impossibilidade de superar uma disjunção 
exclusiva ainda hoje subjazem aos discursos médicos, jurídicos e administrativos. 
Apesar disso, as transformações nas subjetividades sexuais e nas localizações 
desejantes e identitárias vão delineando, não sem nuances, novas constelações 
individuais, familiares e sociais que alteram o regime heterossexista, heteronormativo e 
falocêntrico estabelecido.
Até que ponto esta abordagem gera ressonância para aqueles de nós que inscrevem a 
nossa práxis na psicanálise? As perturbações do instituído não afetam apenas os 
significados sociais, mas também os imaginários psicanalíticos. A sexualidade – 
inevitavelmente – mais uma vez impõe uma exigência de trabalho a quem pretende operar 
na causalidade psíquica: desconstruirteorizações escleróticas, submeter pré-conceitos que 
se tornaram formulações canônicas para a segurança, rever nossos
23
intervenções clínicas para superar os obstáculos (epistemológicos, éticos e políticos) que 
empobrecem o alcance da nossa prática.
Em primeiro lugar, podemos estender esta apreciação foucaultiana das concepções 
de sexualidade a algumas teorizações psicanalíticas e expandir o campo dos problemas 
ao conjunto das diversidades sexuais, alertando que a tentativa de estabelecerum sexo 
de verdadeele permanece eficiente, mesmo que possa se disfarçar em trajes 
acadêmicos.
Este mesmo pressuposto insiste na patologização das sexualidades que não se 
enquadram no prescritivo dominante, sejam elas caracterizadas como erro, desvio, 
perversão, desordem, disforia ou o termo mais ou menos politicamente correto 
utilizado em todos os momentos. Esta categorização revela um preconceito que não 
encontra respaldo na metapsicologia, podendo ser interpretado como uma repressão 
do pensamento –correlacionada a uma repressão na própria coisa, ou seja, uma 
repressão sexual– que leva a uma inibição do poder simbolizante. inteligência.
Foucault também nos alertou que a subversão freudiana poderia se diluir e acabar 
convergindo como mais uma engrenagem nos mecanismos de disciplinamento da 
sexualidade. Para evitar esta degradação, é necessário reconhecer que a tensão entre 
abertura e fechamento atravessa tanto os processos históricos como a nossa compreensão 
dos seres humanos e das suas formas de sofrimento. Essa oscilação é inevitável em toda 
produção teórica, pois reproduz a própria posição do sujeito em relação ao inconsciente: os 
modos que permitem a captura do recalcado também podem levar a fechamentos 
prematuros do enigma. Declarações tranquilizadoras, fórmulas simplificadoras e apelos à 
autoridade são oferecidos como recursos para mitigar a ansiedade diante do desconhecido. 
Sustentar a tarefa de autoteorização de si mesmo sem buscar uma síntese harmoniosa e livre 
de contradições – renunciando à construção de um sistema que nega seu status ao inédito – 
dá conta da posição subjetiva a que conduz toda análise. Tal renúncia à onipotência do 
pensamento também é esperada na produção do conhecimento e na forma como, a partir da 
psicanálise, nos posicionamos diante dos grandes problemas humanos.
Se o pensamento de Freud promoveu uma crítica à moral sexual cultural e denunciou os 
desconfortos e inibições produzidos pelos dispositivos repressivos que buscavam submeter 
a sexualidade ao controle social, médico ou religioso, é perturbador notar, em certos 
estabelecimentos psicanalíticos, a persistência de uma dificuldade em submeter mandatos 
conservadores infiltrados em suas teorizações. Esta verdadeira anomalia (Kuhn, 1980) 
acarreta um obstáculo epistemológico (Bachelard, 1972) que não só perturba o progresso 
da teoria, mas também reforça os significados dominantes e as desigualdades sociais entre 
géneros.
Esse impasse pode ser entendido como uma resistênciadopsicanálise (Derrida, 1998) e 
é apresentado sob duas posições paradigmáticas que, apesar do seu aparente 
antagonismo, conduzem a um idêntico movimento de fechamento: um estruturalismo a-
historicista para o qual não há novidade, pois todo fenômeno é redutível ao
24
possibilidades combinatórias da estrutura de partida, ou um relativismo historicista para o 
qual o fluxo dos fenômenos não pode ser vedado em suas determinações e é anulada toda 
possibilidade de construção de uma teoria com certa pretensão de racionalidade e 
permanência. Ambas as posições levam a um beco sem saída, mesmo quando seus efeitos 
não são percebidos e o que mais parece uma mascarada é mascarado por um rosto –
supostamente analítico–. Tentar superar a falsa antinomia entre essas alternativas obriga-
nos a trabalhar as insuficiências das teorias psicanalíticas em relação aos processos de 
produção da subjetividade sexual e à incidência dos imaginários sociais na sua conceituação.
Uma análise como a que propomos é inseparável de uma crítica ao impacto das 
lógicas e convenções patriarcais, tanto nos processos de subjetivação como na 
organização das trocas sociais. O discurso psicanalítico não ficou à margem dos 
procedimentos históricos que garantiram o domínio da figura do pai e contribuíram para 
a sua propagação. Numerosas concepções e categorias têm funcionado como 
representações sexuais da dominação masculina (Bourdieu, 2000), perpetuando – em 
contradição com os objectivos de qualquer processo analítico – a sujeição aos ideais e 
imperativos do regime social.
A exigência é então imposta para distinguir entrea teoria psicanalítica da 
sexualidadeeteorias sexuais infantiscom a qual os seres humanos – também 
psicanalistas –, em diferentes momentos de sua constituição subjetiva e de sua 
história, encontraram formas de responder às nossas questões, desde
Inevitavelmente, na medida em que a prática psicanalítica se estabelece no quadro dos fantasmas e dos 
enunciados de quem a pratica – dos dois lados do divã – suas teorizações ficam impregnadas dos modos 
históricos de produção da subjetividade dos sujeitos que a nutrem. (Bleichmar, 2014: 252).
Confirmando que a acumulação não é necessariamente riqueza (Bleichmar, 2005b), 
o deslizamento que leva das formas de fantasmatização da sexualidade inconsciente à 
sua elevação como teoria oficial da psicanálise promoveu uma proliferação 
improdutiva de “teorias-mito” (Laplanche, 2001) que dificultam a compreensão da 
singularidade por referência a pressupostos universais que se baseiam em 
estruturalismos de vários tipos, sejam biológicos, antropológicos ou linguísticos.
Em contradição com a afirmação freudiana de que no empreendimento científico não 
havia lugar para o horror face ao novo, dada a angústia da ignorância e o seu impacto 
distanciador sobre as certezas zelosamente estabelecidas, o fácil recurso a uma 
patologização dos processos de sexuação que parecem contradizer os arranjos tradicionais, 
revela-se como uma operação defensiva que ataca o nosso aparelho de pensamento.
A reviravolta dos pressupostos que sustentavam a teleologia da sexualidade no ideal 
heteronormativo levou progressivamente ao abandono – principalmente na teoria oficial, 
embora não tenha sido totalmente erradicada das práticas – da homologação entre 
homoerotismo e patologia, ou mais especificamente entre homossexualidade e 
perversão. Tal deslocamento já estava presente no
25
desenvolvimentos freudianos e deu conta de uma perspectiva ousada que desmantelou as 
doutrinas patologizantes da ciência e da moralidade vitoriana. Infelizmente, muitos 
desenvolvimentos pós-freudianos, apoiados numa leitura e interpretação tendenciosa da obra, 
foram incapazes de preservar tal coerência teórica e ética: submeteram o homoerotismo a um 
novo julgamento e condenaram-no ao confinamento no campo do desvio. Esta decisão atingiu 
também os psicanalistas homossexuais, cuja formação e reconhecimento foram durante muito 
tempo negados por diferentes instituições oficiais (Abelove, 2000).
Embora hoje muitas dessas concepções tenham sido abandonadas ou moderadas 
no discurso psicanalítico oficial, as teoriasqueermostraram que sempre existe uma 
homofobia latente pronta para ser revivida em muitos conceitos, práticas e 
apresentações clínicas (Sáez, 2004), mesmo que estejam escondidas atrás de galicismos 
espirituosos.
Tal escotoma torna-se eficaz na patologização imediata de qualquer posição genérica que 
não esteja subordinada às classificações restritivas da masculinidade ou feminilidade 
convencional. No que diz respeito às diversidades sexuais, os critérios habituais de 
inteligibilidade exigem a eliminação de toda a ambiguidade e a redução das diferenças à 
lógica binária para expulsar para o campo da anormalidade todas aquelas apresentações que 
contradizem o caso hegemónico. A equivalência entre travestismo e perversão, ou entre 
transexualismo e psicose – estruturalmente definida pela dominância dos mecanismos denegação ou foraclusão, que determinariam a localização do sujeito antes da castração –, para 
citar apenas duas formulações prototípicas, acarreta tanto uma simplificação abusiva e 
justificada em parâmetros metapsicológicos como uma proposta dessubjetivadora que não 
respeita a complexidade das determinações desejantes, fantasmáticas, ideológicas e 
históricas em que se inscrevem os processos de constituição sexual (Blestcher, 2009). Tal 
concepção não é compartilhada por nós que temos a experiência de acompanhar travestis, 
transexuais ou pessoas trans no decorrer de suas análises, uma vez que – como em todos os 
sujeitos – as formas de exercício da sexualidade ou suas posições identitárias não definem 
por em si a sua estruturação psíquica nem a sua eventual dominância psicopatológica.
Há um século, com a publicação deTrabalha em metapsicologia, Freud ([1915] 1986) 
alcançou uma formidável síntese teórica, ao mesmo tempo em que, através de uma opção 
endógena, ocorria uma perda biologizante que fechava a teoria sexual em seus aspectos 
menos interessantes (Laplanche, 1998). Contudo, a pulsão escapa irredutivelmente a 
qualquer desejo de domesticação, tanto do sujeito quanto de suas teorias. EmAlém do 
Princípio do Prazer(Freud, [1920] 1986), a compulsão à repetição ressituou o distanciamento 
da sexualidade, como pulsão de morte, e assim forçou um novo processo de abertura e 
recomposição daquilo que havia sido sufocado no decorrer da teorização. Parafraseando a 
expressão generalizada: o que está inscrito e que nunca deixa de ser transcrito surge como 
uma ameaça real ao quadro vinculativo do eu.
Apesar disso, e embora possa parecer paradoxal, a patologização da
26
as diversidades sexuais correm paralelamente a outra perda: uma progressiva 
dessexualização da psicanálise (Bleichmar, 2014). Este processo é reconhecível numa diluição 
da sexualidade instintiva, cada vez mais subordinada ao registo do narcisismo, ao desejo de 
reconhecimento e exigência. O espiritualismo desejante que anima esta direção restringe a 
pulsão a uma montagem e omite seu caráter excitante em relação à erogeneidade inscrita a 
partir do impacto da sexualização precoce no corpo. Esta concepção é indissociável de uma 
proposta de resubjetivação do inconsciente que liquide a heterogeneidade das 
materialidades psíquicas baseadas no imperialismo do significante.
Se a etiologia sexual das neuroses e a descoberta das suas fontes infantis 
revelaram, nas origens, o carácter erógeno, parcial e paragenital da sexualidade 
pulsional, hoje o problema das diversidades sexuais e das novas cartografias 
desejantes oferece-nos a oportunidade de desmantelar as soluções sintomáticas para 
que nossas próprias concepções nos arrastaram.
A explosão de estereótipos relacionados com as subjetividades sexuais exige não só a 
procura de novas formas de designação – que as siglas dos grupos de diversidade sexual 
refletem na sua permanente expansão – mas também a revisão de categorias e sistemas de 
classificação com aqueles que procuravam enquadrar a sexualidade sob a domínio de 
padrões tão restritivos quanto esterilizantes. O que resta da confortável oposição entre 
homo e heterossexualidade como tendências exclusivas face à multiplicidade de orientações 
desejantes nas quais diferentes correntes eróticas podem coexistir ou alternar sem 
contradição dolorosa? Podemos continuar a apelar para noções como “bissexualidade 
constitutiva”, “homossexualidade reprimida” ou “contra-identidade inconsciente”, como se 
fossem cartas selvagens jogadas conforme apropriado, para dar conta de realidades tão 
diferentes como os travestismos, as transexualidades, as intersexualidades, as ansiedades 
homossexuais de pessoas heterossexuais ou fantasias heteroeróticas de sujeitos 
homossexuais? Como preservar o leito de Procusto de uma teoria simplista da diferença 
sexual quando as subjetividades trans desafiam as aspirações cartesianas das ideias claras e 
distintas com as quais a soldagem entre sexo, gênero e escolha objetal foi concebida de 
forma linear?
Para uma primeira ordenação dos problemas que se colocam, distinguimos, 
seguindo as teorizações de Silvia Bleichmar, entreprodução de subjetividadee
constituição da psique. Enquanto esta última dá conta dos processos constitutivos do 
funcionamento psíquico que se mantêm para além das mutações históricas, a produção 
da subjetividade diz respeito à construção social do sujeito e à incidência dos 
significados e arranjos discursivos do imaginário social instituído e instituinte. Embora 
ambas as dimensões participem de forma indissociável na formação subjetiva, a sua 
demarcação permite-nos determinar as ordens de relevância das nossas intervenções. O 
que um sujeito é ou não é, o que deveria ou não ser, a forma como ele se reconhece 
como ser são definidos na intersecção entre desejos – instintivos e narcisistas – e modos 
de produção subjetiva (Bleichmar, 2009).
27
O abalo das topografias tradicionais do patriarcado (Butler, 2006) insere-se num 
contexto de crise nas coordenadas de inteligibilidade da sexualidade vigentes até hoje. 
A emergência de zonas intermédias, transicionalidades e hibridizações até agora 
desconhecidas ou invisíveis explodem os limites, taxonomias e práticas legitimadoras 
do aparelho conservador (Fernández e Siqueira Péres, 2013). Para a psicanálise, esta 
perturbação exige a tarefa de discernir aqueles conceitos que não são apenas 
insuficientes, mas francamente errôneos. Entendemos que se a práxis psicanalítica 
demonstrou sua capacidade de transformar o sofrimento humano, não é porque 
tenhaAtualizadacompatibilizá-lo com os discursos da época, mas submeter suas 
próprias afirmações à revisão e questionamento de sua clínica, apoiando a 
fecundidade de suas propostas.
CRIANÇAS EM MANTILLAS: INFÂNCIAS TRANS E 
A CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE SEXUAL
As crescentes consultas de meninas, meninos e adolescentes que apresentam formas de 
posicionamento identitário aparentemente discordantes com o sexo anatômico atribuído desde o 
início, ou com as representações genéricas que definem a bipartição entre masculino e feminino 
de acordo com os dispositivos de produção de subjetividade, convocam declarações de perguntas 
há muito sedimentadas, tanto na moral quanto na teoria.
Soma-se a isso que no contexto social tem havido pedidos de redesignação de gênero em 
meninas e meninos trans, com a consequente mudança de nome e registro civil nos cartórios 
estaduais, tornando visível o sofrimento precoce que essas situações geram e incentivando 
uma série de preocupações sobre sua constituição subjetiva e seu futuro. Muitas destas 
preocupações podem ser compreensíveis e muitas outras podem surgir de suspeitas, mas o 
maior problema das controvérsias que surgem reside em limitar todo o problema à 
identificação genérica sem contemplar a complexidade da constituição psíquica e das suas 
determinações em termos mais abrangentes. A estruturação psíquica nos tempos da infância 
não se define apenas pela colocação em termos de gênero, nem pelo encaminhamento da 
orientação do desejo no sentido da escolha do objeto, mas estes configuram aspectos - entre 
tantos outros - de uma organização do tema cuja compreensão requer parâmetros 
metapsicológicos.
Se considerarmos que a clínica não é o lugar onde a teoria é produzida, mas sim o 
espaço a partir do qual as questões são abertas (Bleichmar, 2000), inaugura-se uma 
oportunidade para rever nossas conceituações sobre a constituição da identidade 
sexual durante a infância.
“Crianças em mantilhas” (1) é o nome da epígrafe com a qual Lacan introduz seu 
conhecido escrito de 1957 “A instância da letra no inconsciente ou na razão desde 
Freud”. Extraído doBloco de anotaçõesde Leonardo da Vinci, a referência expõe
28
a subjugação de um povo por outro como alegoria da condição do ser humano no que 
diz respeito à linguagem. A seguir, com a intenção de marcar os efeitos do significante 
na ordem simbólica, tomará o conhecido exemplo da segregaçãourinária na separação 
de portas identificadas como “senhoras” e “senhores”:
Um trem chega a uma estação. Um menino e uma menina, irmão e irmã, num compartimento estão 
sentados frente a frente, do lado onde a janela voltada para fora permite ver os prédios da plataforma onde 
o trem para: “Olha, diz o irmão, nós estão em Damas! – Seu idiota!, responde a irmã, você não vê que 
estamos em Caballeros? […]. Os Cavaleiros e as Damas serão a partir desse momento para estas duas 
crianças duas pátrias para as quais as suas almas puxarão cada uma com asas divergentes, e sobre as quais 
será tanto mais impossível para eles fazerem um acordo porque, sendo na verdade os mesmos, nenhum 
deles poderá ceder à preeminência de um sem atacar a glória do outro (Lacan, 1988: 480).
Aqui novamente há um reforço do binarismo que parece fazer parte de um legado 
difícil de desconstruir. Insistimos que não se trata de rejeitar ou negar a diferenciação 
dos sexos, mas sim de alertar que não estamos perante um facto natural, mas sim uma 
distinção produzida material e simbolicamente a partir de discursos que a constroem 
como diferença.
Na ilustração que Lacan traz, interessa que a bipartição entre “cavalheiros” e 
“senhoras”, diante da qual se colocam irmã e irmão, não deriva diretamente da diferença 
anatômica dos sexos, mas de uma localização subjetiva cujo valor pode ser definido 
posicionalmente. Contudo, não pode ser reduzido a um mero jogo do significante dentro 
do sistema linguístico, mas sim esse posicionamento é influenciado pela coagulação das 
representações sociais com as quais a masculinidade e a feminilidade são definidas num 
determinado momento.
As possibilidades de superação do binarismo permanecem em discussão. Numa primeira 
aproximação, as próprias legalidades pelas quais se governam os processos pré-conscientes 
supõem a negação, a disjunção e a contradição da lógica identitária conjuntista (Castoriadis, 
1986). Neste ponto, a existência de categorias diferenciais ou oposicionais parece irredutível 
ao funcionamento do pensamento estruturado pelo código da linguagem. Contudo, a 
questão da diferença não se refere apenas aos princípios lógicos, mas também à ordem dos 
discursos e aos significados sociais que nela estão condensados. Neste nível, a diferença 
sexual tem sido marcada por afirmações dicotômicas que propõem desigualdade, 
subordinação e hierarquização em termos de poder, reconhecimento, valorização e até 
respeito pela existência. Este registro é o que suscita as disputas epistemológicas, políticas e 
éticas mais relevantes neste momento histórico.
A consideração da dupla “senhoras” e “senhores” como posições subjetivas que se 
constroem a partir das propostas oferecidas pela cultura, a respeito das quais os sexos 
também podem ser entendidos como produtos de uma construção histórica, esbarra na 
abordagem daqueles que sobrepõem diferença simbólica e anatomia sexual. Muitos 
argumentos sobre a natureza patológica das identidades trans na infância baseiam-se na já 
mencionada homologação entre diferença de sexo e diferença simbólica, como se o registro 
derivasse diretamente do reconhecimento da primeira.
29
desta.
Neste ponto, é paradoxal que, depois de uma formidável operação de 
dessubstancialização, pela qual se tentou despojar a subjetividade de todos os resíduos 
essencialistas, o processo de sexuação seja explicado como uma suposta “identificação 
com o ideal do próprio sexo”, visto que esta formulação restaura o que antes se 
pretendia superar. Que caráter teria tal identificação senão como incorporação psíquica 
dos imperativos e arranjos historicamente sedimentados no registro de instâncias ideais? 
Que ideal e que sexo podem ser tomados como padrão para uma formulação normativa 
deste tipo sem produzir uma dobradura entre as noções psicanalíticas e os esquemas do 
sistema sexo/género? Christophe Dejours o mantém nos seguintes termos:
Que significado deve ser dado à diferença entre os sexos na teoria sexual? Muitos autores não se colocam 
esta questão porque estão instalados, mesmo sem o saberem, numa posição essencialista: existem dois 
sexos, masculino e feminino, que são dados pela natureza e ou são reconhecidos como tais ou repudiados 
(Dejours, 2003: 55).
A reintrodução da dimensão do sexo como medida de subjetividade acarreta uma série 
de incidentes: ou leva a um desvio que legitima e coagula prescrições historicamente 
constituídas e arranjos tradicionais tanto nos papéis de gênero como na distribuição dos 
prazeres na anatomia sexual, ou. caso contrário, introduz o risco de subordinação à biologia, 
destruindo o fato de que a sexualidade humana nunca redescobre os caminhos da natureza, 
e de que toda identidade é estabelecida por inscrição simbólica, mesmo no que diz respeito 
à anatomia sexual, cujas representações são sempre descontínuas mesmo em suas 
intersecções.
Ressituar os problemas da constituição sexual infantil requer estabelecer uma série de 
esclarecimentos para fundamentar metapsicologicamente a compreensão dos fenômenos 
clínicos. Para fazer isso, podemos começar seguindo Laplanche em uma caracterização 
esquemática:
O gênero é plural. Geralmente é duplo, com masculino-feminino, mas não é por natureza. Muitas vezes é 
plural, como na história das línguas e da evolução social […]. O sexo é duplo. Tanto pela reprodução sexual 
quanto pela sua simbolização humana, que fixa essa dualidade de forma estereotipada: presença/
ausência, fálico/castrado [...]. O sexual é múltiplo, polimorfo. A descoberta fundamental de Freud encontra 
seu fundamento na repressão, no inconsciente, na fantasia. É o objeto da psicanálise (Laplanche, 2007: 
153).
Uma articulação que reúna esses elementos numa teoria da constituição do sujeito 
psíquico obriga-nos a considerar que a sexualidade do outro está na sua origem. As 
transformações nas subjetividades sexuais não devem nos fazer esquecer que, para além 
dos significados imaginários e de seus modos de inscrição no tópico psíquico, a 
sexualidade que constitui o vetor de nossas teorizações refere-se ao excedente de prazer, 
irredutível à autopreservação biológica, constituído da pulsação primária do outro. De 
uma perspectiva exogenista, a sexualidade é inscrita a partir de
30
a implantação do outro no início da vida. Sua instalação dá origem à fonte pulsional do 
objeto e explode prematuramente as linhas adaptativas, curto-circuitando qualquer 
possibilidade de resolução da excitação por vias biológicas.
A função sexualizante do adulto introduz um excedente que vem de sua própria 
sexualidade inconsciente e que se infiltra nos primeiros cuidados que ele presta à prole. 
A partir daí, com a pulsão inscrita como motora do psíquico, não só se funda a vida 
representacional no psiquismo incipiente, mas se desencadeiam os processos de 
transcrição e retranscrição que organizarão seus destinos em um tema destinado ao 
trauma edepois do golpe.
Recuperar a concepção ampliada de sexualidade permite perceber que sua 
domesticação completa é irredutível. O caráter parcial e paragenital da pulsão, com o 
recalcamento original ainda instalado que enterra no inconsciente seus representantes 
autoeróticos, ameaça permanentemente os ligamentos do ego. Por isso, se existe 
diversidade sexual em sentido estrito –além das referências identitárias a que o self recorre 
no que se refere à sexuação–, é devido a esse quadro pulsional e aos seus destinos únicos 
em cada psiquismo.
Ao contrário de uma simplificação evolutiva,
A sexualidade não é um percurso linear que vai da pulsão parcial à assunção de identidade, passando pela fase 
fálica e pelo Édipo como marcos em sua jornada, mas antes se constitui como um movimento complexo de 
agenciamentos e ressignificações, de articulações provenientes de dos vários estratos da vida psíquica e da cultura, 
das incidências da ideologia e dos movimentos desejantes, sendo então necessário dar a cada elemento o seu peso 
específico (Bleichmar, 2014: 254).
A sexualidade ultrapassa os arranjossociais que norteiam o binômio masculino/feminino e a 
genitalidade atravessada pela diferença entre os sexos. Tampouco é normativizada ou 
subsumida aos significados coletivos que moldam os processos de produção da subjetividade.
Quanto à chamada identidade de gênero, como qualquer identidade, ela 
corresponde ao tema do eu. A atribuição de gênero remonta às propostas de 
identificação que partem da fantasmagização dos atributos sexuais no imaginário 
parental. Tal atribuição é da ordem da cultura e não é determinada exclusivamente 
pela biologia, mas por um conjunto de significados.
Através desta atribuição de género, o adulto, sabendo ou não, confronta a criança com tudo o que pode ser 
ambíguo na diferença anatómica dos sexos e na sexual, e isto devido às suas próprias ambivalências, 
incertezas e conflitos internos (Dejours,. 2003: 61).
A atribuição de gênero não é uma simples determinação social transmitida pela 
autoridade parental, nem é determinada apenas por suas constelações narcísicas, mas é 
comprometida pela sexualidade inconsciente do outro como sujeito psíquico dividido 
(Laplanche, 2007).
Do lado do psiquismo infantil, a assunção do gênero como elemento estruturante 
opera antes do reconhecimento da diferença anatômica dos sexos, e permanece
31
por ele ressignificado uma vez ocorrido o seu registro.
O self, constituído em relação ao estabelecimento da repressão originária que funda o 
inconsciente, sustenta-se como um conglomerado representacional no qual os atributos de 
gênero ocupam posição central. Estas situam o sujeito na sua referência às categorias sociais 
que cada época oferece de acordo com os modos de construção subjetiva, mas não 
subsumem ou esgotam definitivamente uma sexualidade pulsional, cuja regulação sem 
restos se verifica como impossível. O facto de tais categorias genéricas serem arbitrárias, 
moldadas historicamente e sujeitas a transformação, não implica que a sua inscrição não seja 
necessária em termos da constituição psíquica.
A identificação revela-se como a operação fundamental que origina as condições de 
constituição da subjetividade e estrutura a base sobre a qual a identidade se afirma como um 
conjunto de enunciados nos quais o sujeito se reconhece no quadro do vínculo libidinal com 
o próximo (Bleichmar, 1995). ). Meninas e meninos não se identificam com o objeto real, mas 
com o projeto e as formas representacionais com as quais se organiza a circulação simbólica 
e libidinal com os adultos. Não há homotecia entre a estrutura edipiana inicial – instância 
parental – e a psique infantil, mas sim transformação, trauma e metabolismo.
Os enunciados que irão configurar a identidade de gênero, por meio da identificação 
primária, configuram conteúdos centrais da representação do ego. Portanto, uma vez 
inscritos metabolicamente e estabilizando a argamassa representacional do eu, não podem 
ser desmontados, mas correm o risco de desencadear uma desestruturação psíquica. Daí a 
preeminência dos componentes ideacionais da representação de si sobre o sexo anatômico 
atribuído no nascimento.
É necessário salientar, ainda, que a identidade sexual não se estabelece como 
resultado da escolha do objeto, mas sim seus pré-requisitos remontam aos enunciados 
nucleares que organizam a instância do ego, submetida a remontagens e 
ressignificações a partir da sexuação que articula atributos de gênero e de sexo. A 
formação da identidade sexual é o resultado da complexa montagem de inscrições 
erógenas primárias, representações de gênero, sexuação articulada pela diferença entre 
os sexos e pelas modalidades dominantes da orientação do desejo;
entre biologia e gênero, a psicanálise introduziu a sexualidade em suas duas formas: instintiva e objetal, que não 
se reduzem à biologia nem aos modos dominantes de representação social, mas são justamente aquelas que a 
fazem entrar em conflito com os enunciados atributivos com os quais uma regulação que é sempre ineficiente, 
sempre no limite pretendido (Bleichmar, 1999: 41).
Vale esclarecer que nossa proposta de examinar teorias sobre a formação da 
identidade sexual na infância não implica, no desejo de estar em sintonia com os avanços 
sociais e históricos, renunciar à compreensão psicopatológica. Despatologizar as 
diversidades sexuais, e não assumir que elas sejam em si indicadores de falhas ou 
distúrbios na constituição psíquica, não implica suprimir a psicopatologia ou as 
conceituações que construímos para dar conta do sofrimento psíquico e suas causas, 
mas sim submetê-lo à nossa metapsicológica. teste
32
formulações, evitando sua ideologização.
O exercício do diagnóstico como instrumento de patologização pode ser pensado como 
um dispositivo sintomático que visa sustentar o binarismo do sistema sexo/gênero. Judith 
Butler afirma que
Esta violência emerge de um desejo profundo de manter a ordem binária de género natural ou necessária, de 
transformá-la numa estrutura, seja natural, cultural, ou ambas, contra a qual nenhum ser humano pode opor-se e 
permanecer humano (Butler, 2006: 59).
Do nosso ponto de vista, as formas de travestismo e transexualismo infantil não podem ser 
sancionadas como processos patológicos em si mesmas, nem determinam por si mesmas toda 
a estruturação da psique. Para compreender o seu carácter, é necessário realizar uma análise 
aprofundada do valor que cada elemento assume na estruturação psíquica e nos seus modos 
de estabilização, o que nos permite determinar se existem aspectos falhados ou actuais da vida 
mental que não foram encontrados. uma forma de organização alcançada.
Levando em conta a constituição psíquica no transexualismo infantil, observamos que a 
identidade encontrou uma estruturação alcançada, e que se existem formações 
psicopatológicas, elas não são explicáveis pela organização das identificações de gênero. 
Meninas e meninos transexuais apresentam uma estrutura de ego em que atributos 
genéricos se enraízam na representação de si e sustentam a estabilidade da identidade de 
forma satisfatória, distanciando-se até mesmo do sexo atribuído no nascimento com base no 
dimorfismo anatômico. Aqui a identificação opera de forma metabólica, configurando o 
tecido representacional que sustenta o sujeito. Isso porque “ser menina” ou “ser menino” 
refere-se à representação que cada sujeito tem de si mesmo, como produto de identificações 
primárias e não como delegação direta de qualquer determinação biológica. Posteriormente, 
as identificações secundárias deverão incorporar atributos que enriquecerão a 
representação do ego, bem como imperativos e modelos que moldarão as instâncias ideais. 
Essas formas de transexualismo podem ser acompanhadas de travestismos secundários que 
buscam correlacionar a identificação do próprio gênero com a aparência e manifestação 
externa socialmente definidas.
Contudo, os casos de travestismo infantil primário que tomamos em tratamento não 
respondem às mesmas determinações que acabamos de apontar, e revelam modalidades 
restaurativas de aspectos falidos na organização do eu. Nestas situações não se trata de 
identidade de género, mas de falhas na organização da representação de si, que podem ser 
pensadas metapsicologicamente em termos de perturbações (Bleichmar, 1992). O 
travestismo pode ser interpretado como a busca de um envelope real que integre 
ortopedicamente, na superfície do próprio corpo, a unificação psíquica que não foi alcançada 
simbolicamente (Bleichmar, 2005b). Subjacentes a esta forma falhada de restituição estão 
profundas ansiedades de desintegração, fragmentação e fragmentação corporal que 
expressam défices iniciais na constituição subjectiva.
33
Como se vê claramente, os transexualismos e travestismos infantis correspondem a 
fenômenos psíquicos que possuem diferentes estatutos metapsicológicos e diferentes 
implicações psicopatológicas. Clinicamente, não podem ser confundidos com o polimorfismo 
sexual infantil ou com modos de seleção de objetos em termos homo ou heteroeróticos.
A distinçãometapsicológica entreEU IAemimesePode proporcionar um caminho fecundo 
que oriente a compreensão clínica dos diferentes processos de constituição psíquica na 
infância e seu destino. A noção demimese,identificação miméticaqualquer identificação 
adesiva(Melzer, 1979; 1986) permite reconhecer a existência de fenômenos imitativos que 
adotam um caráter defensivo diante de estados de desmembramento, ansiedade 
catastrófica ou desmantelamento passivo por falha na instalação da função vinculante do 
objeto.
A partir disso, o travestismo infantil primário se apresenta como um fenômeno mimético 
de adesão ao corpo do outro, na forma de um envoltório superficial que busca suprir as 
falhas de organização da membrana do ego. Este tipo de imitação do outro sem 
transformação ou recomposição simbólica assume a forma de uma “segunda pele” (Bick, 
1968). Como afirma Silvia Bleichmar, “quanto maior o nível de mimese, menor o nível de 
metabolismo”, uma vez que faltam os traços básicos que sustentam a estruturação 
identitária do sujeito.
No que diz respeito à possibilidade de adiamento da atribuição de género na infância 
enquanto se aguarda uma suposta definição posterior pelo próprio sujeito, é necessário 
indicar uma série de questões. Em primeiro lugar, parece improvável que, de acordo com os 
modos de subjectivação no actual estado da civilização, qualquer atribuição em que 
intervenham declarações de género possa ser anulada. Devido à natureza nuclear que a 
identificação sexual tem para a representação do ego, os efeitos de tal afirmação podem 
comprometer a constituição psíquica da criança. Em segundo lugar, admitindo a 
flexibilidade e a variabilidade de tais propostas de identificação, é essencial não esquecer 
que tanto a identidade como a orientação do desejo não são o produto de uma decisão 
individual, mas sim o precipitado de uma causalidade complexa. O campo de escolha se 
desdobra em relação à posição que o sujeito adota uma vez configuradas essas 
determinações.
Quando um sujeito se situa em torno de uma das categorias que procuram definir a sua 
localização sexual, tenta dar conta de si, ao mesmo tempo que apela ao reconhecimento do 
outro, alertando que “esse ‘eu’ já está envolvido numa temporalidade social”. que excede as 
suas próprias capacidades narrativas” (Butler, 2009: 18-19). O eu não está fora da matriz das 
normas sociais e dos mandatos culturais que o cercam e criam condições de conflito. Longe 
de se reduzir a uma função de ignorância e defesa em relação ao inconsciente, refere-se a 
um plano de crença necessário ao investimento de uma existência que possa ser habitável. A 
permanência a que o eu aspira não se reduz ao nível da autopreservação biológica, mas 
refere-se antes à preservação narcísica das representações que o definem como sujeito. 
Essas declarações centrais de identidade estabelecem um sistema de crenças cuja realidade 
funda um posicionamento subjetivo singular tanto em relação a si mesmo
3. 4
o mesmo que acontece com a realidade compartilhada.
Nossas intervenções clínicas devem contemplar os processos que conduzem a vida 
psíquica a um funcionamento regulado que a liberte da compulsão repetitiva e do caráter 
desengajante da pulsão de morte. Por isso mesmo,
Qualquer estabilização que implique a possibilidade de obter prazer e evitar riscos maiores tornará desnecessária a 
consulta de um ser humano para modificá-lo [...]. A estabilização estrutural, uma vez alcançada, deve ser 
respeitada, a menos que coloque em risco o sujeito ali instalado (Bleichmar, 2006: 112).
Se o direito à identidade pode ser apresentado como o direito de ser você mesmo 
(Rotenberg, 2009), o quadro identitário em que o sujeito se estabelece, tanto na relação com 
o inconsciente como com o outro e o coletivo social, deve ser respeitado como. uma condição 
de equilíbrio estrutural e apenas questionada quando é causa de empobrecimento e de 
sintomas que acarretam elevados níveis de sofrimento, apostando nas suas melhores 
possibilidades de realização subjetiva:
Como em todo ser humano, a identidade funciona como uma espécie de “impressão” invertida: proposta pelo outro, 
metabolizada de uma forma ou de outra, a forma como se estabelece a complexa combinatória entre desejos e 
referências discursivas definirá o seu destino. A identidade sexual, sempre ameaçada pelos desejos contraditórios 
que o inconsciente impulsiona, deve, no entanto, alcançar uma certa estabilidade que não depende da escolha 
amorosa ou genital do objeto amoroso, mas das formas como o sujeito se institui dentro de uma rede simbólica 
que sustenta sem sufocá-lo (Bleichmar, 2006: 215).
SUBJETIVIDADES NÓMADAS E NOVOS EXISTENCIÁRIOS:
UMA DEMANDA DE TRABALHO
O nomadismo das subjetividades contemporâneas (Braidoti, 2001) e a fluidez e 
variabilidade de suas existenciais revelam o poder criativo da atividade humana como 
imaginação radical (Castoriadis, 1986; 1998). A criação de realidades inéditas está ligada 
à construção permanente de novos mundos animados pelo desejo. Habitar uma 
identidade, encontrar um lugar confortável para a representação de si mesmo, é uma 
tarefa árdua, mas necessária para “ser e sentir-se real”, segundo a conhecida expressão 
de Winnicott para descrever a convicção de um eu que se vivencia. como verdadeiro.
A diversidade dos existenciais sexuais convida-nos a analisar o valor atribuído à diferença 
sexualcomo determinante primário e fundamental da constituição do sujeito e de sua 
equiparação com odiferença simbólica. Que a diferença entre os sexos tenha sido o parâmetro 
que, no contexto das relações familiares do século XX, estruturou o sistema de bipartição de 
género e as suas assimetrias posicionais, não é comparável ao reconhecimento da alteridade nem 
identificável como pedra angular de todo o conjunto. ordem simbólica. Isso também requer 
submetergenealogização(Fernández, 2007) o significado dado ao operadorcastraçãocomo 
articulador decisivo da estruturação subjetiva
35
e reposicionando-o em torno do reconhecimento da incompletude ontológica (Bleichmar, 
2009).
A fractura das matrizes tradicionais de subjectivação (com o surgimento de modalidades 
dissidentes, alternativas, contraculturais ou inovadoras), a pluralidade de posições 
identitárias (para as quais se torna inevitável uma produção constante de novas formas de 
nomeação), as mudanças na ordenação das relações sexuais as trocas (que delineiam 
escolhas móveis, instáveis e não subsumidas numa trajetória unitária inflexível) destacam a 
desregulamentação das prescrições normativas dos dispositivos dominantes. Os 
procedimentos de segregação oferecem um parapeito protetor e materializam uma 
operação dessubjetivadora de natureza bilateral: por um lado, socialmente sustentada na 
criminalização das diferenças; por outro, reproduzidas especularmente na patologização 
daquelas identidades e práticas sexuais que escapam aos parâmetros estabelecidos.
Uma concepção normativa e disciplinar da sexualidade e do género pode desfazer a própria pessoa, 
minando a sua capacidade de continuar a viver uma vida habitável (Butler, 2006: 13).
Afirmar, por exemplo, que a convicção subjetiva de uma jovem transexual de “ser 
mulher em corpo de homem” constitui uma certeza delirante que é produto de uma 
alteração do princípio de realidade – que a lança sem estações intermediárias ao o 
destino final da psicose revela uma pobreza conceitual extraordinária. Entre outras 
questões, desconsidera que a convicção sobre a própria identidade é constitutiva e 
constitutiva, em todos os casos, da representação de si na sua existência e permanência. 
Por outro lado, se o que se formula como patológico é a discordância entre identidade de 
gênero e sexo anatômico, sob o pressuposto de que ambos devem necessariamente 
coincidir, anulam-se os modos representacionais com os quais a vida psíquica se organiza 
em descontinuidade com a natureza, mesmo em situações. onde eles aparentemente 
concordam. Argumento semelhante foi levantado por certos dispositivosmédicos contra 
as intersexualidades, propondo moldar com a força de um bisturi aqueles corpos que 
escapam à morfologia prescrita como natural. Por fim, se o princípio da realidade 
encontra o seu apoio no real biológico, como se fosse um fundamento último, cuja 
existência bastasse por si só, toda a dimensão ideológico-discursiva que define as ordens 
de sentido da realidade como construção cultural.
É preocupante então que, após os valentes esforços psicanalíticos para 
dessubstanciar radicalmente o sujeito, reduzindo-o ao instante fugaz de uma 
emergência discreta na evanescência do discurso, se proponha a reentrada da biologia 
ou da anatomia sexual como critério de normalidade. Como salientamos, a 
patologização das diversas sexualidades pode ser interpretada como um sintoma que 
manifesta as tensões não resolvidas da teoria e reproduz os estereótipos sedimentados 
do patriarcado ocidental.
Muitas das mutações históricas do século XX levaram a um papel crescente das 
mulheres com base na denúncia das desigualdades do patriarcado e
36
Disputaram a posse da palavra e a distribuição do poder, com resultados heterogêneos, 
mas desestabilizando a hegemonia masculina fortemente estabelecida nas 
subjetividades e nas instituições sociais. Atualmente, o ponto de ruptura parece ser 
expresso como ofim do dogma paterno(Delito, 2008). O Pai é uma construção histórica, 
sustentadora das formas tradicionais de dominação masculina, que tem assegurado aos 
homens o monopólio da função simbólica. A psicanálise participou da solução paterna, 
replicando e legitimando esse arranjo de relações de poder entre os sexos. E 
especialmente algumas leituras previram a demolição total da ordem simbólica baseada 
no chamadodeclinação do pai. Esta catástrofe é atribuída, entre outras, às diversidades 
sexuais que destruiriam as diretrizes estabelecidas sobre o sistema de sexos e a 
diferença sexual.
Os esforços para sustentar a marca patriarcal – apesar dos seus notórios sinais de 
esgotamento – orientam-se para a repetição de uma lógica binária que atribui uma valência 
diferencial aos sexos e estabelece a predominância do princípio masculino (Benjamin, 1996). 
O feminino passa a fazer parte de um campo semântico marcado pela desigualdade e pela 
subordinação no qual também se agrupam meninas e meninos, homossexuais, travestis, 
transexuais e transgêneros, minorias étnicas e qualquer outro grupo que esteja 
hierarquicamente colocado em posição de dependência.
No entanto, a crise de certos discursos dominantes não pode ser confundida com uma 
demolição global do regime social e a sua substituição por uma ordem original. As fissuras 
nas concepções monolíticas do patriarcado marcam pontos de fissura e conduzem a 
diversas soluções sintomáticas que visam, como em qualquer formação de compromisso, 
restaurar uma ordem anterior baseada num movimento repressivo (Blestcher, 2015).
É então apropriado rever certas categorias, comoNome do paieLei do Pai
desassociá-los das figurações da “solução paterna”. A ficção do pai e a sua função de 
logos separador que permite a exogamia baseada na proibição do incesto, e permite a 
entrada na cultura, constitui um acoplamento extraordinário entre o Direito e a 
autoridade e, embora se afirme o seu carácter formal, fomenta a confusão entre o 
processo pelo qual um sujeito se estabelece por referência ao simbólico com a 
presença de um pai real nos vínculos primários:
O pai, se conservado como função, é uma instância dentro de cada sujeito psíquico, qualquer que seja a 
definição de género que adopte e a escolha sexual do objecto que o convoca (Bleichmar, 2006: 2-4).
Dessedimentar a versão estruturalista do pai da lei e da mãe narcisista exige colocar 
o eixo na função terciária que impõe ao adulto a renúncia à apropriação alegre da 
criança, para além da adesão aos modelos familiares tradicionais.
Este reposicionamento visando preservar os núcleos de verdade da descoberta 
psicanalítica obriga-nos a reconhecer o “deslocamento familiarista” que sofreu a 
teorização de Édipo. Este desvio é compatível com a perpetuação do mito do pai e 
dificulta a compreensão da realidade atual. Recuperar o seu significado requer 
discernir entreEstrutura de Édipo, que na perspectiva levistraussiana
37
define a regulação das trocas sexuais entre gerações e a inserção simbólica na cultura;
Complexo de Édipo, tempo de ordenação da sexualidade infantil e suas constelações 
desejantes e amorosas a partir das orientações do adulto; eorganização familiar, como 
agrupamento social baseado em relações de aliança, filiação e parentesco em 
determinado momento histórico. Resgatar o seu significado exige colocar o centro do 
Édipo nas orientações que cada cultura exerce sobre a apropriação do corpo da criança 
como lugar de fruição do adulto (Bleichmar, 2000; 2011).
Neste ponto é necessário considerara ética do analista como sujeito socialea ética 
da psicanálisesobre a aplicação do método. Tentar despojar a situação analítica das 
tensões éticas que se resolvem no laço social constitui uma força artificial sustentada 
num ideal ascético de realização impossível – mesmo quando tenta reduzir o analista 
a uma mera função ou desejo que confunde neutralidade com ausência de 
envolvimento. A neutralidade benevolente (Laplanche, 1990) coloca a ética como 
vetor fundamental da produção da transferência e do direcionamento da cura, pois 
supõe uma recepção tolerante e a priori favorável a todas as manifestações do 
sujeito, mas não uma indiferença ao seu sofrimento.
O poder transformador da psicanálise e sua capacidade de resolução do sofrimento 
psíquico não advêm da sua subordinação a enunciados adaptativos que promovem a 
alienação do sujeito no preceito vigente. A validade dos seus paradigmas e a preservação 
da sua fecundidade obrigam-nos a repensar a implicação das práticas no horizonte da 
lógica colectiva, a fim de banir qualquer álibi ou justificação que, em vez de denunciar as 
formas de agitação social actuais e promover a relativa autonomia dos sujeito, reforça as 
operações de segregação e exclusão.
Esta tarefa transcende a dimensão individual para inserir-se no fluxo das transformações 
históricas e participar das esperanças coletivas (Fernández, 2007). Também para os analistas, 
que na nossa escuta são obrigados a examinar as nossas próprias determinações ideológicas, 
a nossa prática pode situar-se num horizonte político em que a aplicação do método é 
animada pela convicção de que
O confronto com novos problemas deve encontrar-nos com lucidez suficiente para que as nossas teorias de partida 
nos lancem para novos conhecimentos como guias que nos permitem articular hipóteses e não como muros que 
estreitam um universo que se expande cada vez mais (Bleichmar, 2006: 125). .
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	Des-arreglos de la sexualidad y discurso psicoanalítico
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	Subjetividades nómades y nuevos existenciarios: una exigencia de trabajo
	Bibliografía

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