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1. Soneto de Fidelidade (1946), de Vinicius de Moraes
Um dos mais famosos poema de amor da literatura brasileira é o queridinho de muitos apaixonados ao longo de gerações. Escrito pelo poetinha Vinicius de Moraes, ao contrário do habitual na lírica amorosa, aqui o eu-lírico não promete amor eterno nem garante que permanecerá apaixonado até o fim dos seus dias.
Antes, o sujeito poético promete amar em absoluto, na sua plenitude e com todas as suas forças enquanto o afeto durar. Ao longo dos versos ele garante a entrega (mas não necessariamente a longevidade da relação). Ao comparar o seu amor ao fogo, o eu-lírico reconhece que o sentimento é perecível e que, assim como a chama, se apagará com o tempo.
Mas o fato de ser uma ligação provisória não retira a beleza do sentimento, antes pelo contrário: por ser efêmero é que o sujeito poético proclama a necessidade de ser intenso e aproveitar cada momento.
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Saiba mais sobre o Soneto de Fidelidade.
Se você gostou de conhecer um pouquinho dos versos apaixonados desse grande escritor, experimente descobrir também Os melhores poemas de Vinicius de Moraes.
2. Poema No Meio do Caminho (1928), de Carlos Drummond de Andrade
O polêmico poema de Carlos Drummond de Andrade publicado em 1928 foi inicialmente pouco compreendido e até mesmo repudiado devido ao excesso de repetições (afinal, dos dez versos, sete contém a famosa expressão "tinha uma pedra").
Fato é que o poema em pouco tempo acabou por entrar no imaginário coletivo principalmente por tratar de uma circunstância comum a todos nós: quem é que nunca encontrou uma pedra no meio do seu caminho?
Os versos tratam dos empecilhos que vão surgindo ao longo do nosso percurso e de como escolhemos lidar com esses pequenos (ou grandes) imprevistos que nos deslocam do nosso itinerário inicialmente idealizado.
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Descubra mais sobre o poema No meio do caminho.
Já é fã de carteirinha do poeta? Então relembre também os grandes poemas de Carlos Drummond de Andrade.
3. Vou-me embora pra Pasárgada (1930), de Manuel Bandeira
Quem é que um dia não teve vontade de mandar tudo para o espaço e fazer as malas rumo à Pasárgada? O poema lançado em 1930 fala diretamente a cada um de nós que, um belo dia, diante de um aperto, teve vontade de desistir e partir em direção à um lugar distante e idealizado.
Mas afinal, você sabe onde fica Pasárgada? A cidade não é propriamente imaginária, ela de fato existiu e foi a capital do Primeiro Império Persa. É pra lá que o eu-lírico pretende escapar quando a realidade presente o sufoca.
O poema de Bandeira é marcado portanto por um desejo de escapismo, o sujeito poético anseia alcançar liberdade e descanso em um lugar onde tudo funciona em plena harmonia.
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe - d’água.
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Conheça também o artigo Vou-me embora pra Pasárgada de Manuel Bandeira.
4. Poema sujo (1976), de Ferreira Gullar
O Poema sujo é considerado a obra-prima do poeta Ferreira Gullar e foi concebido no ano de 1976, quando o criador estava no exílio, em Buenos Aires.
A extensa criação (são mais de dois mil versos) narra um pouco de tudo: desde a origem do poeta, até as suas crenças políticas, o seu percurso pessoal e profissional e o seu sonho de ver o país encontrar a liberdade.
Marcadamente autobiográfico, o Poema sujo é também um retrato político e social do Brasil dos anos setenta marcado pela ditadura militar.
Que importa um nome a esta hora do anoitecer em São Luís
do Maranhão à mesa do jantar sob uma luz de febre entre irmãos
e pais dentro de um enigma?
mas que importa um nome
debaixo deste teto de telhas encardidas vigas à mostra entre
cadeiras e mesa entre uma cristaleira e um armário diante de
garfos e facas e pratos de louças que se quebraram já
um prato de louça ordinária não dura tanto
e as facas se perdem e os garfos
se perdem pela vida caem pelas falhas do assoalho e vão conviver com ratos
e baratas ou enferrujam no quintal esquecidos entre os pés de erva-cidreira
Ficou curioso para descobrir mais sobre esse clássico da literatura brasileira? Então conheça mais detalhadamente o Poema sujo.
5. Saber viver (1965), de Cora Coralina
Simples e singela, essas são as características-chave da lírica da goiana Cora Coralina. A poeta começou a publicar os seus versos quando tinha 76 anos de idade, também por esse motivo vemos no seu trabalho um tom de sabedoria do vivido, de quem passou pela vida e recolheu conhecimento ao longo do percurso.
Saber viver é um exemplar típico da poética da escritora e condensa em alguns poucos versos o que lhe parece essencial para o leitor. Trata-se de uma reflexão sobre a vida feita a partir de um vocabulário descomplicado e com uma sintaxe informal. É como se o eu-lírico se sentasse ao lado do leitor e partilhasse com ele aquilo que extraiu de conhecimento ao longo do caminho.
Vemos nos versos o destaque para a vida em comunidade, para a partilha, para o sentimento de entrega e comunhão com o outro - é justamente a partir desse encontro que surgem os momentos de maior fruição.
Não sei…
se a vida é curta
ou longa demais para nós.
Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo:
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
não seja nem curta,
nem longa demais,
mas que seja intensa,
verdadeira e pura…
enquanto durar.
Conheça também Cora Coralina: poemas essenciais para compreender a autora.
6. Retrato (1939), de Cecília Meireles
A poesia de Cecília é assim: intimista - quase como uma conversa a dois -, autobiográfica, autorreflexiva, construída a partir de uma relação de intimidade com o leitor. A sua lírica também gira muito em torno da transitoriedade do tempo e de uma reflexão mais aprofundada acerca do sentido da vida.
Em Retrato encontramos um poema que oferece ao leitor uma visão do eu-lírico autocentrado, congelado no tempo e no espaço através de uma fotografia. É a partir da imagem que a reflexão é tecida, e, fomentada por essa criatura retratada na fotografia, são despertados os sentimentos de melancolia, de saudadee de arrependimento.
Encontramos nos versos pares opositores: o passado e o presente, o sentimento de outrora e a sensação de desamparo atual, o aspecto que se tinha e o que se têm. O sujeito poético tenta entender ao longo da escrita como essas transformações bruscas se deram e como lidar com elas.
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Conheça também os Os poemas imperdíveis de Cecília Meireles.
7. Com licença poética (1976), de Adélia Prado
O poema mais famoso da escritora mineira Adélia Prado é Com licença poética, que foi incluído no seu livro de estreia chamado Bagagem.
Como era até então desconhecida do grande público, o poema faz uma breve apresentação da autora em poucas palavras.
Além de falar de si mesma, os versos também mencionam a condição da mulher na sociedade brasileira.
Vale lembrar que o poema é uma homenagem e faz referência a Carlos Drummond de Andrade porque usa uma estrutura semelhante ao seu consagrado Poema das Sete Faces. Drummond, além de ter sido um ídolo literário para Adélia Prado, era também um amigo da poetisa novata e impulsionou muito a escritora principiante no início da carreira.
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
Gostou de ler Com licença poética? Em poemas encantadores de Adélia Prado você encontrará mais exemplares dessa lírica tão especial.
8. Incenso fosse música (1987), de Paulo Leminski
Leminski foi um poeta recentemente redescoberto pelo grande público que provocou o encantamente imediato da audiência. Sua lírica é construída a partir de uma sintaxe simples e de um vocabulário cotidiano e aposta na partilha com o leitor para se construir um espaço de comunhão.
Incenso fosse música talvez seja o seu poema mais celebrado. Incluído no livro Distraídos venceremos, o poema é composto por apenas cinco versos e parece ser como uma pílula de sabedoria, apresentando um conhecimento de vida num espaço muito concentrado.
A composição trata da questão da identidade e da importância de sermos nós mesmos, sem nos deixarmos abater diante dos obstáculos que se apresentam. O eu-lírico convida o leitor a mergulhar dentro de si próprio e a seguir em frente, apesar dos percalços, prometendo um futuro promissor.
isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além
Aproveite e conheça também Os melhores poemas de Leminski.
9. Morte e Vida Severina (1954-1955), de João Cabral de Melo Neto
Um grande clássico da literatura brasileira, a obra Morte e vida Severina é a mais famosa do escritor do Recife João Cabral de Melo Neto. Ao longo de muitos versos, o poeta nos narra a história do retirante Severino, um brasileiro como tantos outros que fugia da fome em busca de um lugar melhor.
Severino é um símbolo para falar de uma série de imigrantes nordestinos que precisaram sair do seu lugar de origem, o sertão, para procurarem uma oportunidade de trabalho na capital, no litoral.
O poema, trágico, é conhecido pela sua forte pegada social e é uma das obras-primas do regionalismo brasileiro.
Conheça um breve trecho do longo poema:
— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Descubra a criação mais famosa de João Cabral de Melo Neto lendo o artigo Morte e vida Severina.
10. O tempo (1980), de Mario Quintana
Mario Quintana está entre os poetas mais populares da literatura brasileira e talvez o seu enorme sucesso se deva a simplicidade dos seus versos e a capacidade de identificação com o público leitor.
O famoso poema O tempo tinha como título original Seiscentos e Sessenta e Seis, uma referência aos números contidos dentro dos versos que ilustram a passagem implacável do tempo e também uma alusão bíblica ao número do mal.
Encontramos aqui um eu-lírico que, já ao final da vida, olha para trás e procura extrair sabedoria das experiências que viveu. Como não pode voltar no tempo e refazer a sua história, o sujeito poético tenta transmitir através dos versos a necessidade de se aproveitar a vida sem se preocupar com o que é desnecessário.
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente…
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
Conheça mais a fundo o Poema O Tempo de Mario Quintana.
Descubra também poemas preciosos de Mario Quintana.
11. Amavisse (1989), de Hilda Hilst
Hilda Hilst é uma das maiores poetisas brasileiras e recentemente começou a ser mais divulgada. Suas composições em geral giram em torno do sentimento amoroso romântico e abordam aspectos como o medo, a posse e o ciúme.
Amavisse é uma boa prova da sua lírica não só porque aborda o seu tema principal como também porque denuncia o tom de entrega do eu-lírico.
O título escolhido inclusive é uma palavra latina que quer dizer "ter amado". Os versos dão conta de um amor fulminante, de uma paixão absoluta que domina o sujeito poético por completo.
Como se te perdesse, assim te quero.
Como se não te visse (favas douradas
Sob um amarelo) assim te apreendo brusco
Inamovível, e te respiro inteiro
Um arco-íris de ar em águas profundas.
Como se tudo o mais me permitisses,
A mim me fotografo nuns portões de ferro
Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima
No dissoluto de toda despedida.
Como se te perdesse nos trens, nas estações
Ou contornando um círculo de águas
Removente ave, assim te somo a mim:
De redes e de anseios inundada.
Que tal ler o artigo Os melhores poemas de Hilda Hilst?
12. Versos íntimos (1912), de Augusto dos Anjos
O poema mais famoso de Augusto dos Anjos é Versos íntimos. A obra foi criada quando o escritor tinha 28 anos e está publicado no único livro lançado pelo autor (chamado Eu). Pesado, o soneto carrega um tom fúnebre, um ar de pessimismo e de frustração.
Através dos versos podemos perceber como é a relação com aqueles que estão ao redor e como o sujeito se sente decepcionado com o comportamento ingrato dos que o cercam.
No poema não há uma saída possível, uma possibilidade de esperança - os versos compostos por Augusto dos Anjos em Versos íntimos são inteiramente negros.
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de sua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
NA PONTA DOS DEDOS E NA PONTA DA LÍNGUA
Língua: primeira manifestação cultural de qualquer sociedade. Expressão maior do ser humano, em diferentes maneiras: verbal e não-verbal; escrita e falada;culta e variante; musical e visual. Enfim, Língua Portuguesa, Língua Brasileira, língua estrangeira: sem ela, a sociedade não sobreviveria.
MODELOS DE DISSERTAÇÃO EM PROSA - TEXTOS DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVOS
A FALTA DE VONTADE POLÍTICA QUANTO À VIOLÊNCIA
Antigamente, quando se falava em assalto, todos ficavam apavorados, sabendo que se tratava de uma situação específica e que dificilmente voltaria a repetir-se; hoje esse ato já é considerado “normal”, e essa normalidade têm tornado as autoridades desmotivadas a resolver, de fato, a situação. Simples: não lhes interessa que as pessoas fiquem sossegadas, sem depender dos discursos e falatórios em época de campanha.
Se todos estivessem em situação de paz, se o número de assaltos e de delitos fosse pequeno e , portanto, não houvesse preocupação, o que os candidatos proporiam em época de eleição? Qual seria o argumento para se pedir voto? É visível o desinteresse e a “desresponsabilização” daqueles que deveriam garantir aquilo a que nossos impostos se destinam. O Governo Federal culpa os Estados que culpam o Governo Federal, e os Municípios, estes nem reclamar podem e, se o fazem, não são ouvidos.
Resolver o problema da violência é tarefa quase impossível. Por mais que se fale que a educação previne a violência, a abordagem atual é de solucionar algo que se arrasta há muito tempo, portanto, medida emergencial. Mas, havendo vontade política, esse quadro alarmante de insegurança da população poderá mudar muito nos próximos anos. É preciso entender que a educação já deveria ter sido valorizada antes para que o drama não ocorresse hoje. Mas, como isto se dá a longo prazo, atitudes firmes precisam ser, urgentemente, tomadas.
A população precisa arregaçar as mangas e tomar uma posição frente ao descaso da segurança. Chega de ser lesado o tempo todo, com falácias inconcretas, que não eliminam tal realidade. Mobilizar-se, cobrar das autoridades, organizar-se civilmente seria uma sugestão interessante de se seguir. Caso contrário, daqui a dez anos, talvez nem estejamos vivos para reivindicar.
MERCADO DE TRABALHO: QUALIFICAÇÃO E INICIATIVA
O mercado de trabalho nunca foi uma expressão tão utilizada como agora. A preocupação por um futuro promissor, mais do que nunca, tem sido muito percebida nos dias atuais, em que se exige muita qualificação profissional e capacidade de iniciativa.
(INTRODUÇÃO)
Ser profissional não é simplesmente atuar numa área de trabalho, ter um emprego e exercer algumas funções. Quem não procura melhorar naquilo que realiza, obtendo cada vez mais informações para otimizar o serviço prestado tem a iminência do desemprego à sua frente. Não se admite mais o trabalho baseado no senso comum, sem o mínimo de conhecimento técnico-científico que permita a esse profissional satisfazer as necessidades contemporâneas, inclusive sendo versátil, quando preciso.
(DESENVOLVIMENTO – 1º ARGUMENTO)
Outro elemento decisivo para a manutenção do emprego é a iniciativa. E ela está intimamente ligada ao trabalho em equipe. Colaborar para que uma tarefa seja realizada, mesmo não sendo diretamente ligada àquilo que se faz, contribui para o fortalecimento daquele grupo, empresa, instituição pública ou qualquer outra esfera. Eis aí um dos fatores mais importantes para ser absorvido pelo mercado de trabalho, cuja ausência provoca um efeito contrário, de conseqüências traumáticas.
(DESENVOLVIMENTO – 2º ARGUMENTO) 
Nos dias atuais, o profissional que quiser ser bem-sucedido precisa reunir uma série de características, trabalhar em vários campos, relacionar-se bem com as pessoas e ser completamente dedicado. A situação em que se encontra a economia não dá chances a deslizes, por menores que sejam, e cabe a todo profissional a busca incessante para que o tal mercado de trabalho deixe de ser um monstro e passe a ser a solução.
(CONCLUSÃO – SUGESTÃO OU SOLUÇÃO)
REALITY SHOWS: É SÓ MUDAR DE CANAL
Os reality shows dividem a  opinião dos brasileiros, alimentando uma antiga discussão sobre a programação de nossas emissoras, especialmente no gênero entretenimento. No debate, é costume focar-se na questão que envolve a exposição demasiada da vida dos participantes, apelo sexual e conflitos por uma vaga na final, com a chance de se faturar uma premiação excepcional em dinheiro, principal objetivo dos integrantes.
Hoje, o mais famoso desses programas é o BBB - Big Brother Brasil. Iniciado há cerca de dez anos, o atrativo já viveu dias de maior credibilidade. O questionamento mais fervoroso deu-se no início de 2012, quando foi veiculado vídeo contendo cenas de sexo entre Monique e Daniel, supostamente sem o consentimento dela. Fatos dessa natureza reforçam a tese dos que se dizem contra esse tipo de programação, por se apresentar vulgar e com maus exemplos de conduta. 
Na verdade, as emissoras de TV que oferecem esse modelo de atração lucram bastante com os anunciantes e não estariam nem um pouco dispostos a substituí-los por programas educativos, culturais, o que seria bem melhor para o país. Por esse mister, tal idéia é incogitável. No entanto, aqueles que - por acaso - nao afinam com tal atração têm - hoje muito mais do que antes - opções abundantes para escolher gêneros diferentes, sem se incomodarem com os reality shows.
Logo, apesar de se conceber como uma programação que de fato não acrescenta muito para quem deseja algo com mais conteúdo cultural ou educativo, bani-la seria enfatizar a censura dos tempos ditatoriais, atitude que não fazer parte dos dias atuais. Afinal, se o telespectador não suporta tais programas têm - democraticamente - a liberdade de ignorá-los. É só mudar de canal, e o Estado Democrático de Direito reinará quase que absoluto.
O BRASIL COMO 6ª ECONOMIA MUNDIAL: CONTRADIÇÃO
Não há como negar que o Brasil tem sido observado de modo diferente no cenário econômico internacional. Em pouco mais de uma década, o salto dado pelo País começou a provocar o interesse de investidores e tornou-se possível não somente superar a grande crise mundial, mas também conquistar o posto de 6º lugar entre os países mais industrializados. Contraditoriamente, tal avanço não foi convertido ainda em melhorias concretas à população.
Um dos pontos que explicam tal paradoxo é a falta de investimento em educação e tecnologia, problema eternamente insolúvel, mesmo agora com a situação favorável. Escolas ainda sem equipamentos de informática, professores sem formação e, consequentemente, mal remunerados; áreas de ciências exatas (física, química e matemática) sem profissionais disponíveis; cidadãos sem o mínimo nível de leitura e compreensão textual. Tais aspectos travam o desenvolvimento do país, especialmente quando se sabe que o Governo facilita a entrada nas universidades, sem ter-se focado no ensino básico, inversão prejudicial ao crescimento.
Outro fator que se torna contrastante ao bom momento econômico que o Brasil atravessa é a má distribuição de renda, mais um crônico problema. A riqueza existente foi parar nas mãos de pouquíssimos indivíduos, enquanto grande parte da população brasileira vive - se não de esmolas como antes - mas do Programa Bolsa Família, cujo valor global é gigantesco, porém individualmente é irrisório.
Nessa perspectiva, a dualidade reforça a idéia de que não basta estar entre os mais ricos; é preciso que isso se converta em mais educação, mais cultura, maior qualificação. Quando se têm esses bens acessíveis, a distribuição de renda passa a ser mais justa e a diferença entre ricos e pobres diminui. Dessa forma, seria vantajoso ter a 6ª economia mundial. Do contrário, só os que já são privilegiados continuarão a se beneficiar.
ABORTO DE ANENCÉFALOS: O TRIBUNAL ACERTOU?
Como se sabe, o Brasil é um país predominantemente cristão, o que acaba interferindo nos posicionamentos sobre assuntos polêmicos, como aborto, união homossexual, divórcio. A descriminalização do aborto de anencéfalos provocou reações da sociedade, em que alguns perderam a real noção do papel atribuído ao STF, como se aquele Colegiado tivesse de levar em conta aspectoscomo religiosidade, moralidade, compaixão.
A Justiça, em vários casos, já aprovou inúmeros procedimentos para retirada de fetos nascidos com anencefalia (sem partes do cérebro). O que o Supremo Tribunal Federal fez simplesmente foi tornar lícito esse ato, sem a necessidade de autorização judicial, como ocorria antes da votação. Se uma mãe comprovar a anencefalia de seu embrião, não precisará ficar a espera vários meses até que um juiz sensível resolva a situação. Isso alivia a situação de muita gente que precisava passar pela provação de 9 meses, sabendo que o filho poderia morrer assim que nascesse.
Como o Brasil é um país cuja religiosidade é notória, faz-se compreensível que haja questionamentos de segmentos contrários à prática do aborto em qualquer circunstância. No entanto, tais grupos devem ter em mente o sofrimento que uma família atravessa ao ser dignosticada a anencefalia. O órgão máximo de justiça brasileiro não teve por finalidade incentivar a prática indiscriminada desse procedimento, como muitos afirmam, visto que tal decisão é individual e intransferível, sendo respeitados os posicionamentos de cada cidadão.
Como se pode observar, a decisão do Tribunal Supremo não se trata de uma afronta à vida. A votação por 8 x 2 considerou aspectos jurídicos, baseados na cessão do direito à livre escolha que, segundo os juízes, não afeta a vida, visto que ela ainda não se constitui quando se trata de feto. A decisão foi, sim, acertada, especialmente porque faculta à mãe, proprietária do corpo e do embrião, a realizar ou não, conforme seu desejo, o aborto de anencéfalo.
O STF RATIFICA A CONSTITUIÇÃO: IGUALDADE PARA TODOS
A aprovação da união civil entre homossexuais, como se poderia esperar, tem causado posicionamentos extremos pela sociedade, cuja população discute o acerto ou equívoco por parte do Tribunal máximo do País, à maioria das vezes com bases religiosas e moralistas. 
Alguns pontos não devem ser esquecidos, que são a amoralidade, arreligiosidade e neutralidade total do STF. Colegiado de caráter jurídico, os ministros votaram a matéria, tomando como base princípios defendidos e - melhor - garantidos pela Constituição Federal, segundo a qual todos têm os mesmos direitos enquanto cidadãos brasileiros. Isso inclui negros, brancos, homens, crianças, crédulos, incrédulos, heteros e homossexuais, sem distinção, os quais, constituindo família, devem assegurar tudo o que lhes for devido, durante tal "contrato matrimonial". 
Embora alguns segmentos motrem-se contrários à decisão, por princípios religiosos e morais, especialmente - os quais também precisam ser respeitados - não podem esquecer-se que a moral e a religião devem primar pela equidade e pela justiça, aspectos fundamentais na construção de um Estado Democrático de Direito. Em nenhum momento, é viável pensar num incentivo à prática homossexual, mesmo porque não é competência de um plenário jurídico ocupar-se de temas ligados estritamente à sexualidade.
Nessa perspectiva, o Supremo Tribunal Federal, a despeito de muitos questionamentos que possa haver cumpriu o papel que dele se espera sempre: garantir que os cidadãos de uma nação - independentemente de qualquer particularidade - vivam dignamente sem distinção qualquer que venha a afrontar os seus direitos, enquanto parte de um país democrático.
Três bons exemplos de textos narrativos
         
          A coluna "A palavra é toda sua" inicia em grande estilo. Estamos postando aqui o resultado de uma atividade proposta em sala de aula e que se baseava em três temas narrativos diferentes. Parabéns a seus criadores e esperamos que a leitura possa lhe ser agradável.
          Participe enviando sugestões ou comentando.
          E agora a palavra é toda sua!
Tema 1
Quando a criatura encantada lhe disse que ele teria direito a apenas um único desejo, ele, muito esperto, soube instantaneamente o que pediria.
— Se é assim, quero ter o dom de poder realizar todos os meus desejos, bastando para isso apontar apenas o meu dedo.
— Que assim seja, mestre! — disse a criatura com um sorriso irônico.
Crie uma narrativa na qual esse trecho seja inserido coerentemente.
Cuidado com o que se deseja
Ex-aluna do CFS
Pedro era um garoto muito arrogante; sempre reclamava de tudo e queria que as coisas fossem feitas a sua maneira. Queria que todos ao seu redor fossem condescendentes com seus caprichos e, quando as coisas não saíam ao seu contento, tinha ataques tão terríveis, que muitas vezes seus vizinhos pensaram em chamar a polícia para contê-lo.
Um belo fim de tarde, logo depois da escola, Pedro estava caminhando pela rua quando se deparou com uma garrafa de formato anormal em cima do meio-fio; abaixou-se, pegou-a e, como era afobado, em vez de admirar o peculiar acabamento da garrafa, começou a sacudi-la para ver se havia algo dentro. Porque não ouviu nenhum som, concluiu que deveria estar vazia. Quando estava prestes a jogá-la fora, percebeu ranhuras no casco, que era feito de vidro fosco, e levantou a garrafa contra a luz. Forçando a vista, percebeu alguns sinais que aos poucos foram se convertendo em letras. Pôde ler então a mensagem: “Abra-me!”.
O menino, convencido de que se tratava de uma brincadeira, decidiu não obedecer ao comando de uma estúpida garrafa. Ainda com o objeto na mão, caminhou mais um quarteirão e estacou no meio do caminho. A curiosidade ainda persistia. Escondeu-se atrás de um muro, olhou para todos os lados e, quando se convenceu de que estava sozinho, abriu a garrafa.
De dentro dela, saiu uma fumaça rosada que, ao se dissipar, revelou uma estranha criatura encantada que lhe disse que ele teria direito a um desejo; apenas um desejo. Pedro, muito esperto, soube instantaneamente o que desejaria.
— Se é assim, quero ter o dom de poder realizar todos os meus desejos, bastando para isso apontar simplesmente o meu dedo.
— Que assim seja, mestre! — disse a criatura com um sorriso irônico, desaparecendo logo em seguida.
Pedro correu para casa, doido para começar a realizar seus desejos, agora que possuía esse fantástico poder.
Ao dobrar uma esquina, deu um encontrão em uma menina. Refazendo-se do susto, ele viu que não era apenas uma menina; era simplesmente a menina mais cobiçada do bairro, a mais linda da região, pela qual Pedro era apaixonado.
— Agora vou me dar bem! — maquinou o menino, murmurando para si.
Pedro, discretamente, apontou o dedo para a menina e, baixinho, disse:
— Apaixone-se por mim.
A bela menina, como se estivesse em transe hipnótico, lançou sobre Pedro um olhar de malícia e gemeu docemente:
— Ai, meu Deus! Que gato!
O menino, apesar de ter sido atendido em seu desejo, mas ainda surpreso com o efeito que presenciava, encabulado, apontou o dedo para si mesmo e disse:
— Gato? Eu?
A partir desse dia, a bela menina, quando andava pelas ruas dali, era perseguida e assediada por um gatinho branco e fofo, sempre a miar e a ronronar em volta de suas pernas. E Pedro, menino caprichoso e malcriado, para estranheza de toda a vizinhança, nunca mais foi visto.

Tema 2
Era a nova vizinha; e era muito, muito bonita. Vivia só e não gastava conversa com ninguém dali. Mas, todas as noites, havia um entra-e-sai esquisito de rapazes muito alinhados do seu apartamento. Minha tia, muito puritana e fiscal da vida alheia, resolveu xeretar.
Crie uma narrativa cômica na qual esse trecho seja inserido coerentemente.
Minha tia xereta e a nova vizinha
Al. Douglas Gautério Gonçalves da Silva (BEP/2010)
Eu morava com minha tia em um condomínio muito pacato, desses nos quais todos os vizinhos se conhecem e sabem da vida uns dos outros. Um dia surgiu ali uma pessoa que, por seu comportamento, acabou destoando dessa característica local.
Era a nova vizinha; e era muito, muito bonita. Vivia só e não gastava conversa com ninguém dali. Mas, todas as noites, havia um entra-e-sai esquisito de rapazes muito alinhados de seu apartamento. Minha tia Adelaide, muito puritana e fiscal da vida alheia, resolveu xeretar.
A rotina era sempre a mesma: por volta das vinte horas, iniciava-se a chegadados rapazes. Em seguida, luzes começavam a piscar de forma irregular, pessoas conversavam e faziam todo tipo de barulho. Minha tia, de sua janela, ia ficando cada dia mais intrigada.
— Eles chegam de noite, fazem a baderna deles e, lá pelas vinte e três horas, saem, dizendo estarem cansados, que é cansativo, mas que vale a pena... Alguns chegam a sair ajustando as roupas! Que pouca vergonha!
Duas semanas foi o tempo que minha tia levou para tomar coragem e ligar para a polícia, solicitando uma intervenção.
— Tem um apartamento muito suspeito aqui e está incomodando a todos.
Na verdade, era apenas titia quem estava se sentindo incomodada.
— Por favor, façam logo alguma coisa! Aquilo lá mais parece um bordel!
— Pois não, madame. Estamos enviando uma viatura para aí agora mesmo. Mas antes a senhora, por gentileza, me passe os seus dados.
Menos de dez minutos depois, minha tia, debruçada em seu observatório, a janela, acompanha excitada a chegada da polícia.
— Vianinha! — Vianinha era eu. — Vianinha, corre aqui, meu filho! Venha ver, que agora é que vão pegar a sirigaita!
Fui até onde ela se encontrava. Dali pudemos acompanhar o desembarque de dois policiais que se encaminharam para o edifício. Poucos minutos depois, os dois deixaram o prédio e atravessaram serenamente a rua, em direção à portaria de nosso bloco. A campainha tocou, e minha tia, como uma adolescente descontrolada, correu para abrir a porta.
— Boa noite, senhora — cumprimentou um dos policiais. — A senhora é a Dona Adelaide?
— Sim, sou eu mesma — empertigou-se titia.
Os dois policiais se entreolharam. Depois um deles, com expressão grave, disse:
— Parabéns! A senhora acaba de nos fornecer um flagrante...
Minha tia, não aguentando mais de expectativa, o interrompeu:
— E então? Fale logo! Vão levar a prostituta?
— Como eu ia dizendo, a senhora nos forneceu um flagrante. Um flagrante de um estúdio fotográfico de modelos. A moça, na verdade, estuda moda à tarde e, durante a noite, tira fotografias de modelos masculinos. Se a senhora continuar achando isso vergonhoso ou algo assim, pode ligar; não para a polícia, mas para um psicólogo. No mais, faça-nos um grande favor, sim? Deixe a moça trabalhar em paz.
Pena que por perto não havia nenhum balde para eu enfiar a minha cabeça.
Tema 3
Meu pai me pedira para guardar aquela pequena caixa de madeira escura por tempo indeterminado e me fez jurar que eu jamais a abriria sem o seu consentimento.
Crie uma narrativa de mistério na qual esse trecho seja inserido coerentemente.
O maior de todos os presentes
Al. Fabiano de Oliveira dos Santos Matias (SGS/2010)
Era noite. A chuva que caía não dava trégua e se lançava sobre nossa casa torrencialmente. Como sempre acontece em noites de tempestade, a energia acabou. Eu, criança ainda, só poderia estar nervoso e muito assustado; e as estranhas formas tremulantes que o brilho das velas formava nas paredes simplesmente pioravam tudo, o que me levava a perguntar a todo instante:
— Pai, quando a luz vai voltar?
— Em breve, meu filho — dizia meu pai, puxando-me para perto de si. — Logo, logo a chuva vai diminuir, e a luz vai acabar voltando. Tem que ter paciência.
— Eu queria que a mamãe estivesse aqui — eu gemi.
— Sim, filho; eu sei. Eu também gostaria muito. Mas, de alguma forma, ela está aqui conosco. Temos de ser pacientes.
Meu pai ficara viúvo muito cedo. Eu não conheci minha mãe, e era ele quem tinha de fazer os dois papéis; ele era muito cuidadoso comigo. Foi por ver minha aflição é que hoje eu tenho certeza de que ele fez o que fez.
Deixando-me sozinho por uns instantes, foi até o quarto e voltou de lá com algo na mão. Reconheci logo o pequeno objeto: era uma caixa de madeira escura que ele mantinha em sua escrivaninha. Eu tinha curiosidade em saber o que havia ali dentro, pois ele já havia me falado que fora vovô quem lhe presenteara com ela ainda em sua mocidade.
— O tempo passa rápido, não é, filho? — ele perguntou.
— Passa, papai; que nem flecha, né?
— Pois é. Hoje você já está com dez anos e já é quase um homem, não é?
— Sim, papai.
— Pois, então, é hora de lhe passar esse presente.
Naquele momento, ele me entregou a caixa de madeira. Eu já não me agüentava de curiosidade e já ia abri-la, quando ele me fez jurar que eu jamais a abriria sem o seu consentimento. Mesmo contrariado, eu sabia que tinha de obedecer. A luz ainda demorou algum tempo para voltar, mas, de alguma forma, meu medo desapareceu.
Vinte anos se passaram. A misteriosa caixa se manteve em meu poder. Sempre que eu passava por uma situação difícil na escola, no trabalho, em minha vida conjugal, eu me recordava daquela noite de tempestade com papai. A doença de meu filho caçula foi o pior de todos os momentos. Os médicos só diziam que eu devia ter paciência que o tratamento demoraria e que mesmo assim o resultado era incerto. Tive de ter um autocontrole que eu não conhecia em mim. Meu pai acompanhou tudo de perto. Até que um dia, finalmente, meu filho recebeu alta do tratamento. Nesse dia meu pai, estando em nossa casa para nos felicitar pela melhora, me pediu:
— Filho, você ainda tem aquela caixa?
— Sim, papai.
— Pode apanhá-la, por favor?
Corri até o segundo andar da casa e voltei como uma flecha para a sala. Ele me disse:
— Agora você já pode abrir.
Nervoso, eu atendi ao seu comando. Fiquei atordoado por alguns segundos. O silêncio que se formou então só foi quebrado por uma brejeira gargalhada dele, seguida de um abraço forte e carinhoso.
— Foi a mesma cara que eu fiz quando seu avô me mandou abrir esse negócio. Esse é o maior tesouro de um homem. E, hoje, vejo que esse homem está bem na minha frente!
Aquela velha caixa não possuía nenhuma pedra preciosa, nenhum objeto valioso. Na verdade, ela estava vazia. Mas através dela percebi que já havia ganhado o meu maior presente: o autocontrole de saber aguardar pelo momento certo; a paciência do saber esperar.

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