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Copyright © 2024 por Tamires Barcellos
Todos os direitos reservados.
Revisão: Raquel Moreno
Capa: Tamires Barcellos
Diagramação: Tamires Barcellos
É proibida a reprodução de parte ou totalidade da obra
sem a autorização prévia da autora.
Todos os personagens desta obra são fictícios.
Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência.
Nota da Autora e Aviso de Gatilhos
Nota de Autora 2
Dedicatória
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Epílogo
Capítulo Bônus
Agradecimentos
Olá, leitor! Como é bom ter você aqui comigo mais uma vez, prestes
a conhecer a história de amor de Benjamin e Aubrey.
Antes de iniciar, preciso avisar que “Plano Perfeito” é o terceiro livro
de “Acordo Perfeito”. O segundo livro da trilogia se chama “Proposta
Perfeita”. Podem ser lidos fora de ordem, mas acredito que você vai se
apaixonar pela história dos dois primeiros casais, então, se chegou até aqui
e ainda não conhece Logan e Avalon, James e Norah, corre para saber mais
sobre eles.
“Plano Perfeito” é uma comédia romântica, porém, tem algumas
situações que podem causar desconforto durante a leitura.
O livro vai abordar uso de drogas e abandono parental, mas sem
cenas explícitas.
Espero que goste deste romance e que se divirta!
Beijos!
Peço para que levem em consideração que este é um livro de ficção e
que entendam que usei da liberdade poética para criar uma cena específica
com os protagonistas no início da história. Leiam, entrem na fantasia e
sejam felizes.
Beijos da Tatah.
Dedico esse livro à todas as leitoras apaixonadas pelo universo de
Acordo Perfeito e que, desde o início, viram que Benjamin e Aubrey eram
almas gêmeas. Obrigada por amarem tanto esses personagens como eu.
Essa história é toda de vocês.
Beijos!
Ser profundamente amado por alguém lhe dá força. Amar alguém
profundamente lhe dá coragem.
Lao Tzu
San Francisco – Califórnia
Pela primeira vez em muito tempo — desde que eu era um
adolescente virgem, provavelmente —, acordei sozinho em minha cama
estando fora da temporada de futebol. Não era como se eu fosse o rei dos
devassos ou alguma merda assim, apesar de esse ter sido o título de uma
matéria sensacionalista sobre mim na internet há alguns meses, mas eu
gostava de aproveitar a minha vida e a minha liberdade.
Estar fora da temporada de futebol era sinônimo de liberdade.
Apesar dos treinos intensos, das viagens e da rotina regrada, dos
meus contratos com patrocinadores e eventos em que era obrigado a
comparecer, aquele era o meu tempo livre. Onde eu poderia simplesmente
acordar e decidir que iria para Cancún passar o final de semana com os
meus amigos solteiros, já que meus dois melhores amigos de toda a vida
aceitaram por livre e espontânea vontade colocar uma algema dourada no
dedo.
Perdi Logan e James quando ainda estávamos na faculdade. Quem
em sã consciência decide se casar na melhor época da sua vida, porra?!
Meus amigos. E o pior? Eu não pude fazer nada para os impedir. Pelo
contrário, se não fosse por mim, eles provavelmente não teriam mudado de
estado civil, mas essa era uma história que eles precisavam contar. O que
importava, era que eu deveria ganhar o título de melhor amigo do mundo,
afinal, não tentei dissuadi-los da ideia terrível de assinar seus próprios
atestados de óbito e continuava ao lado deles mesmo depois de terem me
abandonado como o único solteiro do trio.
Não que ser o único solteiro me incomodasse, pelo contrário. Eu
pretendia continuar assim até o fim dos meus dias.
Ouvi uma nova notificação de mensagem no meu celular e me virei
na cama, tirando o aparelho debaixo do meu travesseiro. Demorei um pouco
para conseguir focar a visão e ver que era uma mensagem da esposa de
Logan.
Avalon: Não esqueça do bolo, Benjamin!
Eu: Bom dia para você também, Sra. Miller.
Sua resposta chegou enquanto eu pedia para a Alexa abrir as cortinas
do meu quarto.
Avalon: Desculpa, Ben. Minha casa está de pernas para o ar, tem
balão rosa e dourado espalhado por todo canto, gente que nem conheço
andando de um lado para o outro e o seu amigo inventou de contratar
um DJ em cima da hora! Estou ficando cega com todos os testes de luz
neon que estão espelhando pelo jardim!
Eu soltei uma risada, imaginando como Avalon deveria estar irritada
com Logan. A vida deles não era nem um pouco monótona. Enquanto
James e Norah quase não brigavam e, quando acontecia, sempre resolviam
tudo na base da conversa — ou de uma disputa de videogame —, Logan e
Avalon protagonizavam as melhores discussões.
Sempre que podia, eu acompanhava as brigas pessoalmente, sentado
no sofá da casa deles ao lado de Aubrey. Nós dois apostávamos quanto
tempo Logan levaria para voltar a chamar Avalon de Valente e convencê-la
a conversar no quarto — a conversa era apenas uma desculpa para resolver
a discussão na cama. Aquele era o momento em que eu levava Aubrey para
comer alguma coisa fora de casa e deixávamos os pombinhos em paz.
Foi assim que descobri que a irmã mais nova de Avalon era viciada
em doces e começamos a nossa saga pelas confeitarias de San Francisco.
Nosso objetivo era encontrar o bolo mais gostoso da cidade e concluímos a
missão há pouco mais de dois meses, quando resolvemos entrar em uma
confeitaria pequena e escondida no final de uma rua sem saída. Era final de
tarde e caía uma chuva de verão torrencial. A dona da loja, uma mulher de
aproximadamente cinquenta e cinco anos, chamada Lucy, estava prestes a
virar a plaquinha de aberto para fechado na porta quando nos viu
atravessando a rua correndo e permitiu que entrássemos.
Geralmente, quando eu ia a locais públicos como restaurantes ou
bares, sempre era reconhecido pelas pessoas. Ser o running back do San
Francisco 49ers e estar sempre ativo nas redes sociais me fizeram adquirir o
status de celebridade. O mesmo aconteceu com Logan e James, meus
companheiros de time. Vivíamos o sonho de adolescentes e jogávamos
juntos desde que deixamos a faculdade e passamos pelo Draft, mas eu podia
afirmar que eu era o mais ativo de nós três — afinal, era o único solteiro, o
que fazia com que eu fosse reconhecido não apenas pelos torcedores do
49ers, mas por muitas mulheres também.
A Sra. Lucy não era uma delas. Após pedir para que nos
acomodássemos em uma das três mesas pequenas e redondas que ocupavam
a pequena confeitaria decorada em tons pastéis, ela sumiu pelas portas que
levavam à cozinha e voltou minutos depois com duas toalhas enormes para
que nos secássemos e nos ofereceu uma xícara de chá. Eu não era um
grande fã da bebida, mas aceitei mesmo assim. Foi o melhor chá que tomei
na minha vida. Uma mistura de amora com hortelã que eu nunca pensei que
fosse funcionar. Em seguida, ela nos ofereceu o melhor bolo red velvet da
porra de San Francisco — segundo Aubrey e eu.
Foi assim que eu cheguei à conclusão de que o ditado que dizia que
os melhores perfumes estavam nos menores frascos era verdade. Voltei com
Aubrey à confeitaria da Sra. Lucy pelo menos umas cinco vezes desde
aquele dia e agora eu tinha a missão de ir buscar o bolo que encomendei
com ela para hoje à tarde. Era aniversário de dezoito anos de Aubrey e sua
despedida da Califórnia. A princesa voltaria para o Alabama para cursar a
faculdade e Logan e Avalon mal podiam se conter de preocupação e
saudade.
Se eu fosse sincero comigo mesmo, precisaria me incluir naquele
pacote. Também estava preocupado. Por mais que o pai e a avó de Logan
morassem a trinta minutos do campus, Aubrey estaria sozinha pela primeira
vez na vida. Eu sabia como ela era responsável, mas tambémsabia como
era fácil se esquecer de ser responsável na faculdade.
Sacudi a cabeça e me levantei da cama após afirmar para Avalon que
eu não me esqueceria de buscar o bolo. Aubrey não era uma menininha
inconsequente, pelo contrário. Avalon a criou muito bem após a morte da
mãe das duas e agora elas tinham uma família — e eu fazia parte dela.
Poderia estar longe de ser o exemplo de moral para qualquer pessoa, mas se
James e Logan não desistiram de mim após todos aqueles anos de amizade,
era porque confiavam no meu caráter de alguma forma. Se Aubrey
precisasse de mim para qualquer coisa, eu a ajudaria.
Fui até a cozinha e liguei para o meu pai enquanto colocava uma
cápsula de café expresso na máquina. Com a xícara em uma mão e o celular
na orelha, me aproximei das paredes de vidro na sala que me davam uma
vista perfeita para o mar e a ponte Golden Gate conforme tentava arrancar
mais do que duas palavras do meu pai.
Robert Ryan era um bom homem, que passou pelo menos quarenta
anos da sua vida servindo à comunidade como Xerife. Nós estávamos bem
longe de ser ricos como James ou Logan, mas sempre vivemos bem e
confortavelmente. Meus avós eram donos de prédios comerciais em
Tuscaloosa e deixaram tudo para o meu pai quando morreram, portanto, não
vivíamos apenas com o seu salário de homem da lei. Para mim, isso sempre
foi o suficiente. Nossa vida sempre foi o suficiente, mas para a mulher por
quem o meu pai sempre foi apaixonado, o que ele tinha a oferecer sempre
foi muito pouco.
— E como está a ONG? O dinheiro que enviei foi o suficiente para
esse mês? O senhor sabe que não precisa hesitar em me pedir se precisar de
mais.
— Sim, o dinheiro que você enviou foi mais do que suficiente, mas
você sabe qual é um dos objetivos de uma ONG, não é, Benjamin? É
inspirar outras pessoas as serem solidárias. Elas também podem ajudar,
você não precisa bancar nada sozinho, filho. Não quero que gaste todo o
seu dinheiro com isso.
Eu sorri e tomei um gole de café.
— Pai, o senhor sabe quanto eu ganhei na última semana após fechar
o contrato com aquela marca de tênis esportivo?
— Não sei e não quero saber. É o seu trabalho, Ben, eu não tenho
nada a ver com isso...
— Seis milhões de dólares — respondi mesmo assim e pude ouvir o
suspiro do meu pai do outro lado da linha. Ele não pareceu nada
impressionado, como sempre. — E se hoje eu tenho contratos milionários
como esse, é porque o senhor passou os últimos vinte anos da minha vida
investindo na minha educação e na minha carreira como jogador de futebol.
Eu nunca vou me esquecer disso, entendeu? Se eu tiver que gastar toda a
minha grana com o senhor, vou fazer isso sorrindo.
— Eu sei que sim, filho, mas não precisa. Você já faz mais do que
suficiente. Concluímos a obra no abrigo e resgatamos mais alguns animais,
no próximo mês, vamos fazer uma nova feira de adoção. Acredito que
vamos bater o recorde da última edição e muitos animais ganharão novos
lares.
— Tenho certeza de que sim, o senhor faz um trabalho incrível, pai,
sempre fez. Depois me passa a data da feira, ok? Vou divulgar nas minhas
redes sociais.
— Da última vez que você fez isso, vieram tantos fãs do 49ers, que
me senti dentro do estádio de futebol no meio de um mar de camisas branca
e vermelha.
— Mas valeu a pena, não? A maioria levou a causa a sério e adotou
um animal.
— Sim, valeu muito a pena. Tenho muito orgulho de você, Ben. Sabe
disso, não sabe?
Eu engoli o nó que começou a se formar em minha garganta e foquei
na ponte que atravessava a baía de San Francisco. O dia estava lindo
naquele dia, sem a costumeira névoa que cercava a ponte. Pensar nisso me
distraiu da emoção que pressionou rapidamente o meu peito. Forcei um
sorriso, mesmo sabendo que meu pai não conseguiria ver.
— Eu sei disso. Amo você, velho.
Fiquei mais tranquilo quando consegui arrancar uma risada dele do
outro lado da linha.
— Também amo você, moleque.
Nós desligamos e eu fiquei mais um tempo parado no mesmo lugar,
pensando que era daquela forma que meu pai vivia há quase vinte anos.
Parado. Fazendo todos os dias a mesma coisa, principalmente depois de ter
se aposentado. Robert Ryan sempre amou animais e dedicou boa parte da
sua vida como voluntário em ONGs, resgatando cachorros, gatos, às vezes
até mesmo espécies silvestres, que viviam em situação de rua ou maus-
tratos de seus antigos tutores. Apenas quando se aposentou foi que meu pai
decidiu abrir a sua própria ONG. Sempre trabalhei ao seu lado, mesmo
quando entrei na faculdade, mas agora conseguia ser mais ativo
financeiramente.
Eu não me importava de bancar todos os custos da ONG, inclusive as
obras que meu pai fazia. Não menti quando falei que daria toda a minha
grana se ele precisasse. A questão era que meu pai não se importava de
fazer outra coisa da vida. Desde que ela foi embora, sua rotina se resumiu a
mim e ao trabalho. Então, eu saí de casa para estudar, e sua rotina se
resumiu às ONGs que ajudava e à sua função como Xerife. Agora que
estava aposentado, sua vida era os animais. Aquilo me preocupava e me
deixava com ainda mais raiva da mulher que quebrou o seu coração.
Meu pai era um bom homem e merecia muito mais do que a vida
dava para ele. Se dependesse de mim, ele entenderia isso um dia e
finalmente começaria a viver.
Passei a próxima hora respondendo e-mails e trocando mensagens
com meu assessor e agente. Tinha uma viagem marcada para Nova York no
dia seguinte, o que significava que perderia a despedida de Aubrey no
aeroporto, mas infelizmente era um compromisso que não poderia adiar. Ser
embaixador de algumas marcas me fazia ser obrigado a comparecer a
eventos chatos e com pessoas que eu mal conhecia. Pelo menos sempre saía
acompanhado por alguma mulher bonita. Até os compromissos mais chatos
tinham as suas vantagens.
Perto das quatro da tarde, deixei o meu apartamento e fui até a
confeitaria da Sra. Lucy. Ela me recebeu com um sorriso enorme e só faltou
me bater quando ameacei tirar o celular do bolso e gravar alguns stories
falando sobre a sua loja. Sra. Lucy não entendia muito de redes sociais, mas
assim que Aubrey contou quem eu era, ela deixou bem claro que não queria
que eu fizesse propaganda da sua confeitaria para os meus milhões de
seguidores. Segundo ela, sua rotina era perfeita daquele jeito. Ela gostava
da sua loja pequena com clientes fiéis e não tinha pretensão de aumentar
seu público, muito menos ser obrigada a fazer mais doces ou procurar um
local maior para comportar mais pessoas. Sra. Lucy era, com certeza, a
dona de loja menos empreendedora que eu conhecia na vida, mas aquele era
só mais um dos seus charmes.
Coloquei a caixa enorme com o bolo no carro e dirigi até a mansão
de Logan, que ficava ao lado da mansão de James. Eu já podia ouvir o som
alto do DJ contratado pelo QB, ainda que a festa fosse começar apenas às
cinco da tarde. Eu havia chegado com pelo menos meia hora de
antecedência. Assim que entrei, Logan foi a primeira pessoa que vi. Já
vestido para a festa, ele se afastou do chefe da sua equipe de segurança
assim que percebeu a minha presença.
— Se você esquecesse esse bolo, Avalon arrancaria as suas bolas!
— Eu acordei com uma mensagem dela me lembrando sobre o bolo,
como se eu fosse esquecer. Mas a impressão que tive, era que você estava
correndo o risco de perder as bolas.
Logan coçou a cabeça e olhou rapidamente à nossa volta.
— Valente acha que exagerei com a decoração e o DJ.
Dei a caixa com o bolo na mão de um dos funcionários do bufê e
reparei melhor no ambiente. Estava a cara de Aubrey, tudo rosa com
detalhes dourados, muitos balões, inclusive na piscina, arranjos de flores
sobre as mesas dos convidados, uma pista de dança montada e a mesa do
bolo grandiosa. Não consegui conter o sorriso e abracei meu amigo pelo
ombro.
— Está incrível, cara. Aub vai amar!
— Foi o que eu disse para Valente! Aubrey nunca teve uma festa
assim, preferiu fazer aquela viagem para Europa quando completou
dezesseis anos do que ter uma festa como as meninas da idade dela... Tenho
certeza de que vai amar.
— Claro que vai.E onde ela está?
— Na casa da melhor amiga, Harper.
— Aquela que tem um irmão gêmeo chamado Henry?
— Ela mesmo.
Dessa vez, precisei conter um sorriso. Logan provavelmente nem
imaginava, mas Aubrey e o tal Henry estavam ficando há algumas semanas.
Como eu sabia disso? A princesinha sempre soltava a língua quando tinha
uma fatia de bolo nas mãos. E também parecia confiar em mim para falar
sobre garotos, o que ainda me surpreendia. Até hoje não tinha me
recuperado de quando Aubrey me contou que deu o seu primeiro beijo no
quarterback do time de futebol da sua antiga escola.
Para o desespero de Logan, Aub era a líder de torcida e o contato
com os jogadores era inevitável — assim como foi inevitável me engasgar
com a cerveja quando ela soltou a bomba sobre o seu primeiro beijo na
cozinha da sua casa.
— Você não esqueceu o bolo! — Avalon surgiu de repente e me deu
um abraço rápido e apertado, me arrancando uma risada.
— Claro que eu não esqueci. Da forma como vocês falam, parece que
eu sou um irresponsável.
— Não diria que você é irresponsável, apenas desatento —
respondeu Logan.
— Isso não é verdade!
— Claro que é verdade. Já perdi a conta de quantas vezes cheguei no
seu apartamento e encontrei camisinha usada no chão.
— Isso mostra o quanto sou responsável, afinal, usei camisinha. —
Sorri com orgulho e Avalon revirou os olhos ao rir.
— Você é nojento, Benjamin!
— Mas não tenho IST, então, estou no lucro.
— O tempo passa e você continua falando merda. — Logan deu um
tapinha em minha nuca. — Quando você vai crescer, idiota?
— Se eu crescer mais, as mulheres vão começar a sentir medo de sair
comigo e não aguentar toda a minha potência.
— Meu Deus. É melhor ouvir isso do que ser surda, não é?
— Posso falar coisa melhor no seu ouvido, Valente — disse Logan ao
abraçar a esposa pela cintura. Foi a minha vez de revirar os olhos quando
Avalon soltou uma risadinha.
— Você não estava irritada com ele por causa do DJ ou alguma
merda assim?
— Já passou. Olha como a festa ficou incrível! Minha irmã vai amar
tudo isso. — Avalon abraçou Logan pela nuca. — Eu te amo.
— Não tanto quanto eu amo você, Valente.
Os dois se beijaram e eu suspirei, desviando o olhar. Não sentia
inveja do meu amigo — porra, eu estava bem longe de sentir algo do tipo
—, mas às vezes, só às vezes, eu me perguntava como deveria ser amar
alguém como ele amava Avalon. E ser amado de volta, é claro. Nunca me
apaixonei — tinha o orgulho de dizer que nunca permiti que qualquer
sentimento semelhante à paixão se infiltrasse no meu peito — e não tinha a
menor curiosidade em ficar de quatro por alguém, mas a alegria que eu via
em Logan e Avalon e em James e Norah era quase contagiante e me fazia
sentir falta de algo que nunca tive.
Afastei-me dos dois e fui buscar uma bebida. A cerveja sempre me
ajudava a espantar aquele sentimento estranho e voltar a ser o Benjamin
avesso a relacionamentos que eu sempre fui.
Os convidados começaram a chegar e eu fui me sentar com James e
Norah pouco antes de Avalon anunciar que Aubrey havia acabado de chegar
com a melhor amiga e o gêmeo que eu ainda não conhecia. A festa em si
não era surpresa, mas a grandiosidade do que Logan e Avalon armaram,
com certeza era. Levantei-me da cadeira a tempo de ver Aubrey entrar e
parar chocada perto da pista de dança, observando tudo com os olhos
arregalados e um sorriso enorme.
Ela estava linda em um vestido rosa que era um pouco mais curto do
que costumava usar e os cabelos ruivos soltos e caindo em ondas até parar
no meio das costas. Seus olhos verdes e marejados percorreram cada
convidado, passando por mim e parando em Logan e Avalon, que se
aproximaram para abraçá-la. Eu observei tudo com um sorriso no rosto, me
dando conta, pela primeira vez, de que Aubrey não era mais uma garotinha.
Ela era maior de idade agora. Estava indo para a faculdade e iniciaria
a vida adulta. Os últimos anos passaram com a velocidade de um piscar de
olhos e eu nem percebi. Deixei que ela terminasse de falar com alguns
convidados, inclusive o pai e a avó de Logan que tinham vindo apenas para
a sua festa de aniversário, e me aproximei logo depois. Aubrey poderia
estar com dezoito anos agora, mas ainda era uma baixinha de 1,56m e
precisou ficar na ponta dos pés para me abraçar pelo pescoço quando fechei
a nossa distância.
— Feliz aniversário, princesa. Quero deixar claro que tomei para
mim a responsabilidade de comprar o bolo e que a Sra. Lucy fez com muito
carinho.
— Está brincando! O bolo é da confeitaria dela? — Aubrey se
afastou rapidamente apenas para olhar para a mesa onde o bolo estava. Um
gritinho escapou da sua garganta quando ela voltou a me abraçar. — Ben,
você é o melhor de todos!
— Eu sei disso.
— Também é o mais convencido.
— Eu também sei disso. — Sorri e deixei um beijo em seus cabelos
antes de me afastar. — Não preciso pedir para você ter juízo ao iniciar essa
nova fase da sua vida, porque sei que é uma garota responsável.
— Mas...? — Ela arqueou as duas sobrancelhas delicadas.
— Mas se por um acaso você estiver em apuros e não quiser levar
esporro do Logan e da sua irmã, é só me ligar e eu vou te socorrer.
Aubrey gargalhou e todo o seu rosto se iluminou. A coluna graciosa
da sua garganta chamou a minha atenção conforme ela jogava o rosto para
trás ao rir.
— E se eu fizer isso, você não vai me dar esporro?
— Depende da merda que você fizer. Se for algo colossal, com
certeza vou te passar um sermão. Meu pai é um policial aposentado, você
deve imaginar que eu cresci ouvindo muito discurso sobre boa conduta,
certo? Tenho uma ou duas coisas para te ensinar.
— Você? Quer me ensinar boa conduta? Justo o cara que tinha um
número só para garotas na faculdade?
— Você nunca vai se esquecer disso?
— Claro que não. Eu estou, inclusive, pensando em vender essa
informação para algum perfil de fofoca. Vai ser bom ir para a faculdade
com um dinheiro que seja realmente meu e não fruto da mesada que minha
irmã me dá.
— Não faça isso, você está indo para a faculdade agora e eu não
quero que os novos alunos se espelhem em mim. Os anos se passaram, mas
eu continuo sendo uma lenda no campus, sabia?
Aubrey me deu um olhar condescendente.
— O pior é que eu não posso discordar. — Ela revirou os olhos. —
Imagino que vou esbarrar com muitos “Benjamin Ryans” no campus.
— Aí você está errada, porque só existe um Benjamin Ryan,
princesa. — Passei meu braço pelos ombros delicados dela e Aubrey
precisou erguer a cabeça para me olhar. Seu rosto ficava na altura do meu
peitoral. — E ele está bem aqui, com você. Olha que privilégio!
— Não acredito que ouvi isso.
Aub deu um soquinho em minha barriga e eu ri conforme via um
garoto olhar na nossa direção. Percebi que era o irmão da sua melhor amiga
apenas porque eles eram gêmeos e tinham a cor de cabelo e dos olhos
idênticos.
— Seu futuro namorado não tira os olhos daqui — comentei mais
baixo e Aubrey franziu o cenho antes de olhar para Henry.
— Ele não é meu futuro namorado.
— Não? Mas vocês não estavam ficando?
— Terminei tudo com ele. Henry vai para a UCLA, assim como a
Harper, não tinha como dar certo.
Eu me afastei de Aubrey e parei na sua frente, olhando em seus olhos
verdes e maquiados.
— Você não parece triste com esse término.
— Não estou. Eu estava curtindo ficar com ele, mas não estou
apaixonada. — Aubrey me deu um sorrisinho. — Acho que sou como você,
Ben. Difícil de me apegar.
Aquilo me deixou mais preocupado do que aliviado, pois significava
que, na faculdade, Aubrey não seria nem um pouco parecida com Norah —
alguém que tinha o sonho de encontrar o cara perfeito para namorar. O
príncipe encantado. O que Aubrey seria? Pegadora? Porra.
— O que foi? Você ficou quieto de repente.
— Nada. — Sorri para ela e sacudi de leve a cabeça.
Aquilo era besteira. Aubrey era jovem e merecia curtir a vida. Sem
contar que ela poderia, sim, se apaixonar e encontrar um cara incrível na
faculdade, ainda que eu achasse que qualquer um seria um idiota para ela,
porque a garota era incrível. Um grupo de meninas chegou e Aubreyabriu
um sorriso enorme. Percebi que aquele era o momento certo para me afastar
e deixar que curtisse a sua festa.
— Vai falar com as suas amigas e se divertir, princesa. Amanhã uma
nova fase da sua vida vai começar.
Aubrey sorriu e me deu um abraço apertado antes de se afastar. Eu a
observei por um tempo, pensando na promessa que fiz. Se precisasse de
mim, eu atravessaria o país para ajudá-la com o que fosse preciso. Não
estaríamos a um voo de distância, mas, sim, a uma mensagem longe um do
outro.
Pelo menos foi no que acreditei naquele momento, na sua festa de
aniversário, sem nem imaginar que dali a alguns meses tudo iria mudar.
Meses depois – Tuscaloosa, Alabama
Vi o campo de futebol virar rapidamente de cabeça para baixo
quando Ashley e Andy me impulsionaram pelas panturrilhas e me fizeram
dar uma pirueta. Pousei com os pés bem firmes no chão na frente das duas,
erguendo os pompons e vendo Summer e Katy darem piruetas simultâneas e
pararem ao meu lado. Soltamos a última estrofe do grito de guerra do
Alabama Crimson Tide a plenos pulmões e encerramos o ensaio daquela
sexta-feira fria de inverno.
Eu simplesmente amava a minha vida de universitária e líder de
torcida.
— Arrasamos demais hoje! — Andy esbarrou o ombro no meu antes
de erguer as duas mãos para que eu batesse as minhas contra as suas palmas
levemente suadas. — E os meninos do time mal conseguiram tirar os olhos
da gente.
Avistei os jogadores reservas do time sentados a poucos metros de
onde estávamos no campo. O treino deles começaria em breve, mas eles
não precisavam ficar em campo com tanta antecedência. Poderiam esperar
no vestiário, onde com certeza o clima estava mais agradável por conta do
aquecedor.
— Homens. Só eles ficariam aqui fora, no frio, para ficar de olho
enquanto a gente ensaia — resmunguei e virei as costas para eles antes que
pensassem que eu estava dando mole ou algo do tipo. Andy riu.
— Não podemos esperar muito deles, não é? Apesar de terem duas
cabeças, geralmente, os homens usam a que é menos racional.
— Isso diz muito sobre eles estarem aqui e não em um lugar com
aquecedor — disse Ashley conforme saíamos do campo em direção ao
nosso vestiário. — Mas agora que estamos longe o bastante deles, posso
dizer que achei o inside linerbacker reserva bem lindinho. Qual é o nome
dele?
— Andrew, eu acho — Summer respondeu e olhamos para ela com
uma sobrancelha arqueada. — O que foi? Eu gosto de me enturmar e acabei
conversando com eles no sábado passado quando fui ao Maeve’s Bar.
Um sorrisinho surgiu em meus lábios quando a imagem do bar mais
amado pelos torcedores do Crimson veio à minha mente. Apesar de eu
visitar Maeve quase toda semana, sentia uma falta imensa dela. A
considerava como uma madrinha e sentia um apego por ela e pelo bar que
era completamente diferente do que os torcedores sentiam.
— E por que não contou para gente sobre o que conversaram? —
perguntou Andy.
— Não achei que fosse importante ou que uma de vocês estivesse
interessada em um deles. — Summer deu de ombros. — A maioria tem a
nossa idade e eu sei que vocês ficam de olho nos alunos mais velhos do
campus.
— “Vocês” engloba muita gente. Eu, por exemplo, gosto dos caras
que têm a minha idade — afirmou Katy. — E sei que Aubrey também.
— Nunca fiquei com um cara mais velho — falei e as meninas
soltaram risadinhas. — E desde que entrei para a faculdade, só me
aproximei de garotos que têm a minha idade. Não tenho culpa se não atraio
os homens com mais de vinte anos.
— É essa sua cara de menininha que não ajuda muito. — Summer
cutucou as minhas costelas, me fazendo sentir cócegas.
— Idiota! — Dei um tapa na bunda dela. — Deve ser por causa da
minha altura. Ter um metro e meio não deve ser muito atraente para os
caras.
— Isso é besteira. Você atrai muitos olhares quando a gente sai
juntas, mas o fato de estar sempre acompanhada espanta os homens — disse
Andy.
Nós finalmente entramos no vestiário e eu senti imediatamente a falta
do vento frio do lado de fora, pois ainda estava com calor por conta do
ensaio. Fui direto para o meu armário, mas me virei para responder Andy
enquanto destrancava a porta de ferro pintada de vermelho.
— Eu sou boa em flertar — admiti e nem consegui sentir vergonha
por isso. As garotas riram. — Mas isso não quer dizer que eu sou a maior
pegadora do nosso grupo.
— Se você não é a maior pegadora, quem é então, Aub? — Ashley
perguntou.
— Summer — respondi e a minha melhor amiga no campus se virou
para mim com a boca aberta.
— Eu? Perto de você, eu sou uma santa, Aubrey Banks!
— Essa é a maior mentira que eu já ouvi desde que te conheci,
Summer. — Desviei-me da sua toalha quando ela jogou a peça em minha
direção. — Viu só? Você não tem defesa.
— Não tenho culpa se os homens caem aos meus pés, ok? — Ela se
defendeu, mas não parecia nem um pouco ofendida, pelo contrário.
Summer era a garota mais alto astral e incrível do mundo! Ela foi a
primeira menina a me receber na fraternidade Delta Gamma Nu, onde fui
aceita depois de passar no teste para ser líder de torcida. A mansão abrigava
todas as meninas que faziam parte da equipe de animadoras do Crimson e
logo peguei amizade com a maioria, mas meu relacionamento com Summer
foi quase como um encontro de almas. Cursávamos Publicidade, o que nos
aproximou ainda mais, e nossos quartos eram colados um no outro.
Ela me lembrava muito de Harper, minha melhor amiga que agora
estudava na UCLA. Depois que Logan foi draftado pelo 49ers junto com
James e Benjamin, precisamos nos mudar para a Califórnia e minha irmã
foi convidada pelo tio Miller — pai de Logan — para ser umas das
advogadas em seu escritório em San Francisco. Minha vida mudou
radicalmente naquela época. Afastar-me dos meus amigos na minha antiga
escola no Alabama não foi fácil, me ver longe de Maeve quebrou o meu
coração, mas eu abracei aquela nova vida com todas as minhas forças.
Eu, mais do que ninguém, sabia como era sentir medo de
simplesmente não ter mais tempo para apreciar cada oportunidade que a
vida poderia oferecer. Por isso, gostava de viver cada experiência ao
máximo e, apesar da tristeza por ter que abandonar o Alabama, retornar à
Califórnia trouxe um novo sentido para a minha vida.
Minha história e a de Avalon não foi nada fácil quando ainda
morávamos no oeste dos EUA. Mesmo quando minha mãe era viva,
passávamos por dificuldade e minha saúde sempre frágil não dava qualquer
descanso para as duas. A forma como fomos embora foi um pouco
traumática e eu via o nosso retorno para a Califórnia como uma chance de
criarmos novas memórias. E foi o que fizemos.
Eu amava a minha vida em San Francisco, amava ainda mais a
companhia da minha irmã e de Logan e poder fazer parte do relacionamento
maravilhoso que eles tinham. O casamento dos dois era mágico e o que
mais me encantava, era observar como Logan era capaz de fazer a minha
irmã feliz. Avalon merecia viver exatamente a vida que tinha agora e eu
agradecia a Deus todos os dias por ter cruzado o caminho dela com o do
meu cunhado favorito.
Não estávamos mais sozinhas no mundo. Tínhamos uma família que
ia muito além de Logan ou de seu pai, sua irmã e sua avó — que eu também
considerava como minha. Tínhamos James e Benjamin e eu era muito grata
por ter cada um deles na minha vida.
Estar distante agora era difícil, mas a tecnologia ajudava. Conversava
com a minha irmã todos os dias por videochamada e sempre trocava
mensagens com o resto do pessoal, principalmente com Ben, que adorava
me fazer inveja quando ia à nossa confeitaria favorita sem mim. Talvez eu
sentisse mais falta do bolo red velvet da Sra. Lucy do que dele — pelo
menos, era o que eu sempre falava por mensagem, o que arrancava uma
risada do idiota, pois ele sabia que eu estava mentindo.
Além de Ben, eu conversava muito com Harper e gostava de saber
que a distância não havia afetado a nossa amizade. Nós nos encontraríamos
no dia seguinte, quando eu fosse para Las Vegas com Summer, e mal podia
esperar para apresentar as duas. Tinha certeza de que elas se dariam muito
bem.
Tomeium banho rápido, ouvindo a conversa animada das meninas, e
Summer se aproximou de mim enquanto eu terminava de calçar minhas
botas sentada no banco extenso que atravessava o vestiário.
— Nós vamos na festa do Travis, não vamos? — Summer parecia
prestes a cruzar as mãos na frente do rosto e implorar. — Você sabe que eu
preciso ir, Travis me chamou pessoalmente, o que quer dizer que ele quer
muito a minha presença.
— Você sabe que eu não recuso uma festa, mas precisamos acordar
cedo amanhã...
— Eu dou a minha palavra de que não vamos perder o voo! — A
danada pousou uma mão no peito e ergueu a outra na altura do ombro. —
Juro, solenemente, não colocar uma gota de álcool na boca e não perder a
hora.
— Como você pode prometer isso quando está deixando explícito
que vai passar a noite com Travis?
— Eu não deixei nada explícito. — Um sorriso surgiu em seu rosto.
— Talvez eu tenha deixado implícito, o que é diferente.
— Summer, se eu perder esse voo, Avalon e Logan vão me matar.
— Não vamos perder, eu juro! Vem na festa comigo, por favor, Aub.
Summer piscou como se fosse o gato de botas e eu não resisti. A
verdade era que queria ir à festa, mas estava tentando ser a garota
responsável que minha irmã pensava que eu era e ainda não tinha decidido
se ia ou não. Sorri e confirmei com a cabeça, ouvindo o gritinho estridente
de Summer conforme ela me abraçava pelos ombros e chamava atenção das
outras meninas no vestiário.
— Você sempre será a melhor amiga do mundo, Aub!
Revirei os olhos para ela e dei um tapinha em sua bunda quando nos
levantamos. Juntas, deixamos o vestiário e entramos em meu carro — quase
um ano havia se passado e eu ainda não acreditava que Logan e Avalon me
deram um carro no meu aniversário de dezoito anos. Em poucos minutos,
eu estava estacionando em frente à mansão da Delta e indo com Summer
até o seu quarto para ajudá-la na saga do vestido perfeito.
Joguei-me em sua cama enquanto ela vasculhava o closet e peguei
meu celular. Respondi rapidamente algumas mensagens pendentes,
ignorando dois garotos que me perguntaram se eu ia à festa naquela noite.
Aquela era a parte ruim de dar meu telefone. Geralmente, os caras não
entendiam quando era a hora de parar de enviar mensagens. Ouvi Summer
resmungar que não tinha roupa para sair e a ignorei, pois sabia que ela tinha
roupa suficiente e que em cinco minutos deixaria uma pilha de vestidos ao
meu lado na cama. Concentrei-me novamente no celular e vi que Benjamin
havia me mandado três mensagens mais cedo.
Ben: Talvez eu esteja esperando você em Vegas com um presente.
Ben: Não vou contar o que é, pois é uma surpresa.
Ben: Mas eu posso te dizer a primeira letra do presente se você
quiser.
Soltei uma risada. Benjamin era a pessoa mais ansiosa que eu
conhecia. Deitei-me de bruços na cama para poder responder.
Eu: Por que eu acho que você vai me contar antes de o meu voo
pousar em Vegas amanhã?
Para a minha surpresa, sua mensagem chegou segundos depois.
Ben: Eu jamais faria isso. Sei fazer surpresas, ok?
Eu: Você não sabe, não.
Ben: Claro que eu sei. Só que você é curiosa e sei que deve estar
louca para saber o que é o presente. Posso te dar dicas, se quiser.
Como eu sabia que ele estava louco para contar — e, claro, eu
também estava louca para saber —, respondi:
Eu: Ok, me dê as dicas.
Ben: É vermelho.
Eu: Vermelho? Não me diga que é uma camisa do time com o seu
nome, pois eu já tenho tanto a vermelha quanto a branca. Vou levar as
duas.
Ben: Não, não é de vestir. Quer outra dica?
Eu: É claro!
Ben: É algo que eu amo.
Eu: Que você ama? O presente é para mim ou para você,
Benjamin Ryan?
Ben: Pensando bem, acho que é para nós dois.
Aquilo me pegou de surpresa e tentei pensar em algo que poderia
servir para nós dois. Benjamin acabou clareando a minha mente.
Ben: É de comer.
Ben: Porra, não acredito! Agora ficou muito fácil, princesa!
Eu dei um pulo na cama, abrindo o maior sorriso do mundo enquanto
digitava:
Eu: É o bolo da Lucy? De red velvet!
Ben: Acertou! Você é muito espertinha.
Eu: E você é muito linguarudo! Não acredito que comprou o bolo
e levou para Vegas. Não vai ficar ruim?
Ben: Não, Sra. Lucy disse que eu poderia congelar. Coloquei no
frigobar da minha suíte, te entrego depois do jogo.
Eu: Não, nós vamos comer juntos depois do jogo para
comemorar vitória do 49ers! Se você me deixar sozinha para ir para
farra, Benjamin, eu nunca mais vou falar com você!
O idiota me enviou uma figurinha rindo.
Ben: Eu jamais faria isso, princesa. Temos um compromisso
marcado, então. O que vai fazer hoje à noite?
Eu: Vou a uma festa.
Ben: Outra? Você não tem moral alguma para falar sobre mim,
Aubrey. Quem vive na farra é você, eu sou um jogador responsável.
Eu: Responsável? Esqueceu que saíram fotos suas saindo de uma
boate com uma modelo na semana passada?
Ben: Um homem também tem o direito de se divertir, princesa.
Eu: E uma jovem universitária também tem o mesmo direito.
Ben: Eu não disse que não tinha. Cuide-se, ok? E coloque todos
os babacas para correr.
Eu: Pode deixar. Eu não me envolvo com babacas.
Ben: Qualquer cara é um babaca para você, princesa. Agora eu
preciso ir, tenho uma reunião com os treinadores. Divirta-se mais tarde.
Eu: Está bem. Um beijo!
Ben: Beijo.
Eu sorri e deixei o celular de lado, sentindo uma falta imensa de
Benjamin. Eu adorava James, mas era inegável que eu era mais próxima de
Ben, talvez por ele ser o único amigo solteiro de Logan e ser sempre
incrível comigo. Estar perto dele naquele final de semana seria perfeito.
— Pronto! Escolhi alguns vestidos, agora só preciso achar o modelo
perfeito para hoje à noite — disse Summer ao colocar as peças ao meu lado
na cama e começar a se vestir.
Passei a próxima meia hora em seu quarto, ajudando-a a achar o
vestido perfeito, e depois fui para o meu quarto terminar de arrumar a
minha mala. O San Francisco 49ers disputaria o Super Bowl naquele
domingo em Las Vegas contra o Kansas City Chiefs. O time de Logan,
James e Benjamin vinha de uma temporada impecável, mas o Chiefs não
estava atrás e eu tinha certeza de que seria um jogo difícil, muito acirrado,
mas confiava nos meus meninos.
Eles ergueriam a taça, eu tinha certeza.
E eu estaria lá para torcer e comemorar mais uma vitória daquele trio
de amigos que eu tanto amava.
O vento gelado que vinha do mar tocava o meu rosto quase como
uma carícia, me arrancando um sorriso. Tinha meses que eu não caminhava
com os pés descalços na areia e sentia o cheiro da maresia. Sentia falta de
muita coisa depois que me mudei de volta para o Alabama, mas a praia,
depois dos meus familiares e amigos, era do que mais sentia saudade. Era o
único lugar onde eu não tinha vergonha de ficar sem blusa, justamente por
ser um local tão diverso, com pessoas de diferentes corpos, cores e
tamanhos.
Fechei os olhos por um segundo, apenas apreciando o barulho do
mar, mas algo pousando em minha nuca me fez ficar em alerta. A sensação
se repetiu por vários segundos, como se as asas de uma borboleta
estivessem tocando a minha pele ao longo da nuca e descendo para o
pescoço. Senti um toque áspero na cintura, subindo lentamente pela lateral
do meu corpo e levantando a minha blusa, alcançando as minhas costelas...
Abri os olhos e não vi a areia da praia ou o mar, mas, sim, uma
parede branca e impessoal. Demorei dois segundos para entender que eu
estava sonhando, mas que o toque que sentia era muito real. Real demais. E
os dedos estavam prestes a tocar o meu seio.
Dei um pulo na cama e me virei a tempo de ver Brian se sentando ao
meu lado de uma maneira preguiçosa e com um sorriso no rosto.
— Bom dia, gata. Resolvi te acordar com uns beijos, porque você
não despertava nunca.
Olhei à minha volta e percebi que eu estava em um quarto que não
era meu, minhas botas, calça jeans e calcinha estavam espalhadas pelo
chão, misturadas às roupas de Brian, mas pelo menos eu ainda usava a
minha blusa. O tecido enrolado até as minhas costelas me fez lembrar
exatamente do que Brian estava fazendo.
— Pedi para que não tentasse tirar a minha blusa— falei, colocando
a peça de roupa no lugar e escondendo a cicatriz no meu lado esquerdo.
Brian parecia não ter visto a marca da incisão cirúrgica.
— Não tentei tirar, só estava fazendo um carinho em você. — Ele
voltou a se deitar na cama, colocando as mãos atrás da cabeça. O
movimento deixou os braços com os músculos mais torneados, mas foi o
seu abdômen que chamou a minha atenção, apesar de o seu pau estar duro e
banhado pela luz do dia que entrava pela janela. Brian estava forçando para
que os músculos abdominais ficassem mais evidentes e aquilo quase me
arrancou uma risada. — Nossa noite foi incrível e eu já quero repetir. — Ele
desceu a mão direita até a ereção. — Senta aqui, Aubrey, eu ainda tenho
mais uma camisinha.
A noite não tinha sido tão incrível assim e eu não estava com a
menor vontade de ficar com Brian de novo em um espaço tão curto de
tempo, por isso, esquivei-me quando ele tentou tocar a minha cintura e me
levantei da cama, procurando o meu celular e tentando arrumar uma
desculpa convincente para negar mais uma rodada de sexo com o estudante
de Engenharia. Ou seria de Direito? Eu não sabia muito bem.
— Preciso ir, estou atrasada. Viu o meu celular?
— Quem precisa de celular quando tem um pau duro pra caralho
esperando você sentar?
Eu parei por um momento. Ele tinha mesmo dito aquilo? Revirei os
olhos.
— É sério, Brian, eu preciso ir embora. — Peguei a minha calcinha
do chão e vesti a lingerie. Deixaria para tomar banho quando chegasse em
casa. Agarrei a minha calça jeans.
— Você vai mesmo me deixar aqui desse jeito, Aubrey?
Virei-me a tempo de ver Brian se sentar na cama e me dar um olhar
indignado. Vesti a calça correndo e forcei um sorriso para ele.
— Eu queria muito continuar, mas tenho um compromisso inadiável.
— Que compromisso? Hoje é sábado.
Achei minha bolsa jogada perto de uma poltrona e soltei um suspiro
aliviado ao encontrar o meu celular dentro dela.
— Encontrei você! — murmurei conforme a tela se desbloqueava
com o reconhecimento facial. Desci a barrinha de notificações e passei
direto por curtidas no Instagram e algumas mensagens no WhatsApp, até
parar em uma notificação específica que tirou o chão sob os meus pés. —
Puta merda, eu não acredito!
Talvez eu tenha gritado, porque vi de relance Brian se levantar
assustado e começar a vir em minha direção, mas ignorei completamente a
sua nudez e a sua ereção conforme eu pegava as minhas botas e saía do
quarto, fechando a porta com um baque que fez os meus tímpanos doerem.
Olhei para o corredor extenso, com pelo menos sete portas brancas e
tentei adivinhar em qual daqueles quartos Summer deveria estar com
Travis. A única coisa que eu sabia, era que os pais dele não moravam mais
no Alabama e que o garoto rico dividia a mansão com mais três amigos.
Como a casa era da sua família, imaginei que ele deveria ocupar a suíte
master, por isso, fui até a última porta no corredor e bati com toda a minha
força, quase colocando-a abaixo.
— Summer! Pelo amor de Deus, se você estiver aí, acorde agora!
Temos uma hora para chegar no aeroporto!
Uma hora era exagero da minha parte. Tínhamos, no máximo,
quarenta minutos, pois ainda precisávamos passar em casa para pegar as
malas. O banho ficaria para outra hora. Teríamos que pegar o avião
cheirando a sexo, bebida — apesar de eu não ter colocado uma gota de
álcool na boca — e maconha — mesmo que eu não fumasse.
Pensar naquilo me fez sentir um pouco mais de raiva de mim mesma.
Se eu ao menos bebesse, poderia colocar a culpa da minha
irresponsabilidade no álcool. Agora, estava correndo um sério risco de
perder o voo para Las Vegas.
— Summer! — Larguei as botas no chão e bati com os dois punhos
na porta. — Acorda, caramba! Eu vou te deixar aí, juro!
Testei maçaneta, mas, para a minha surpresa, a porta se abriu sem
que eu fizesse esforço. Uma Summer descabelada, com cara de sono e
terminando de ajeitar o vestido, apareceu na minha frente.
— Desculpa! Eu sei que prometi não me atrasar, mas acho que não
coloquei o celular para despertar e...
— Eu também acordei agora, se isso te conforta. Precisamos ir!
— Ah, graças a Deus! — Eu a olhei conforme me abaixava para
pegar as botas e Summer saía do quarto, fechando a porta silenciosamente.
— O que foi? Pelo menos não vai poder colocar a culpa toda em mim.
— Você poderia ter acordado mais cedo.
— Você sabe que de nós duas, você é a mais responsável, Aub.
— Sou mesmo? — Summer balançou a cabeça. — Então nós duas
estamos ferradas.
Minha amiga soltou uma risada que quase tirou a tensão dos meus
ombros, mas eu estava preocupada demais para poder corresponder. Enfiei
as botas nos pés e a puxei pela mão para irmos em direção à escada. Foi
Brian quem nos interceptou no meio do caminho quando saiu do quarto
vestindo apenas uma cueca.
— Você vai mesmo embora, Aubrey?
— Sim. Tenho que estar dentro de um avião em menos de uma hora.
A gente se fala depois.
— Tudo bem. Você tem o meu número, sabe que pode me ligar a
qualquer momento.
Ergui o polegar para ele e saí correndo junto com Summer. Não
estava nos meus planos ligar para Brian, mas algo me dizia que ele me
mandaria mensagem em breve. A cada dia que passava, eu achava menos
idiota a ideia de Benjamin sobre ter um número só para garotas. Talvez, eu
devesse ter um número só para os caras da faculdade.
— Espero que sua noite tenha sido tão boa quanto a minha —
Summer disse assim que entramos em meu carro. Havia um sorriso imenso
no seu rosto. — Pelo menos vai compensar o fato de ter perdido a hora.
— Não foi uma noite ruim.
Vi de relance uma careta surgir em seu rosto conforme eu colocava o
carro em movimento.
— Aquele babaca não te fez gozar?
— Ele não sabe direito onde fica o clitóris, precisei mostrar.
— Ah, não! Voltamos ao ensino médio?
Eu apenas dei de ombros e acelerei, pedindo para que Summer me
contasse detalhes da sua noite incrível, já que a minha estava entrando, mais
uma vez, para a lista de decepções. Não que eu fosse uma garota que
transava muito — Brian era o quarto cara com quem eu ia para a cama
desde que perdi a virgindade com Christopher, estudante de Marketing que
conheci no início da faculdade e com quem quase comecei um
relacionamento meses atrás —, mas, se fosse elencar todas as experiências
que tive até agora, apenas Chris cumpriu todos os requisitos que as
mulheres procuravam.
Ele era lindo, charmoso e gentil. Tinha um sorriso que sempre tirava
o meu fôlego e que deixava seus olhos castanhos apertadinhos. Em um dos
nossos amassos em meu quarto, me senti confortável o suficiente para ir
além e ele foi extremamente carinhoso comigo. Respeitou a minha vontade
de continuar de blusa, arrasou no sexo oral e foi cuidadoso ao me penetrar,
pois sabia que era a minha primeira vez. Depois daquela noite, passamos a
transar com frequência e ele era sempre gentil comigo na cama, o sexo era
gostoso e eu sempre gozava.
Infelizmente, Christopher precisou trancar a faculdade, pois sua avó,
que o criou depois que os pais faleceram em um acidente, ficou muito
doente. Ele retornou para sua cidade natal no Texas e eu não sabia se um dia
voltaria para o Alabama. Conversávamos até hoje e eu o considerava um
grande amigo. Com o seu afastamento, entendi que eu gostava muito de
Christopher, mas ainda não me sentia apaixonada, pelo menos não como
Avalon era por Logan. Talvez, eu tivesse nascido com algum defeito, pois,
se não consegui me apaixonar por Christopher, provavelmente não me
apaixonaria por ninguém.
Demorei algum tempo para ter coragem de passar a noite com um
cara e foi uma decepção. Estava começando a perceber que transar com
garotos que eu conhecia em festas de fraternidade era uma furada,
principalmente porque eu não ingeria bebidas alcoólicas e todos eles
estavam sempre alterados pelo álcool.
Estacionei em frente à mansão e só tive tempo de gritar um “bom
dia” para as meninas antes de subir com Summer para pegar a nossa mala.
Deixei a bolsa de festa em cima da minha cama e peguei a outra que já
estava arrumada com o meu documento e cartões de crédito, enfiandoo
celular no bolso da calça em seguida. Eu poderia ser um pouco
irresponsável quando o assunto era horário, mas pelo menos era organizada.
Pude sentir o celular vibrar com uma ligação e sabia que era minha
irmã, provavelmente para saber se eu já estava no aeroporto, por isso, decidi
ignorar. Mandaria uma mensagem para ela quando estivesse dentro do
avião. Desci correndo as escadas, quase não conseguindo segurar a minha
mala por conta do peso, e vi Summer vir logo atrás de mim já sem o vestido
da festa. Como ela havia conseguido trocar de roupa tão rápido era um
mistério.
Sopramos um beijo para as garotas, que desejaram sorte para o 49ers,
e pedi um carro de aplicativo. Em poucos minutos estávamos dentro do
Uber, mas o nosso voo partiria em menos de meia hora.
— Não vai ter nenhum engarrafamento pelo caminho — disse
Summer, tomando minhas mãos nas suas. — Confia, amiga.
Era a única coisa que eu podia fazer, confiar.
Mas é claro que o destino não estava do meu lado naquela manhã.
Um acidente na principal rodovia que ligava ao aeroporto fez com que um
congestionamento enorme se formasse. Sacudi a cabeça, derrotada, e o
motorista olhou para mim e para Summer com uma expressão de pesar.
— Sinto muito, garotas.
— Não é culpa sua — falei.
A culpa era minha e da minha falta de noção!
Antes que meu celular voltasse a tocar mais uma vez com uma
ligação de Avalon, peguei o aparelho e pesquisei por passagens para Las
Vegas. Summer se aproximou para espiar a tela e me deu um olhar
arregalado.
— Aubrey, você vai comprar uma passagem de última hora?
— Claro que sim! Vamos perder esse voo, Summer, mas eu preciso
estar em Vegas até amanhã antes do jogo.
Não me perdoaria se eu perdesse o Super Bowl dos meninos.
— Eu não tenho grana para comprar uma passagem agora, Aub.
Deve estar custando uma fortuna!
— Summer...
— Sei que seu cunhado é rico, mas a minha família não tem tanta
grana assim e eu ainda não arrumei um emprego.
— Sei disso, não estou cobrando de você. Considere como um
presente de aniversário adiantado, ok? — Tomei a sua mão na minha. —
Não quero ir sozinha, por favor, aceite.
Eu nem sabia como Avalon reagiria quando visse a fatura do meu
cartão de crédito. Assim como Summer, eu também queria arrumar um
emprego — apesar da insistência de Logan para que eu focasse apenas nos
estudos —, mas, enquanto não encontrava nada, usava a mesada que ele e
minha irmã me davam para poder me sustentar no Alabama e comprar tudo
o que eu precisava. A fatura do meu cartão — que era sempre irrisória, pois
eu só usava em caso de emergência — nunca foi uma preocupação, mas se
tornaria quando minha irmã visse o rombo que eu causaria ao comprar duas
passagens de última hora para o destino mais procurado do país.
Isso se eu achasse algum voo com assento disponível. Não queria
nem pensar sobre isso. Summer deu um suspiro.
— Tudo bem, mas se você aparecer com algum presente para mim no
dia do meu aniversário, eu não vou aceitar, Aubrey!
— Juro que não vou te dar nada! — Estiquei-me e dei um beijo em
sua bochecha. — Agora, me ajude a encontrar um voo, porque não posso
perder esse jogo, amiga.
— Você não vai perder! Estará lá para dar sorte para Logan, James e
o gostoso do Benjamin.
Fiz uma careta ao ouvir Summer falar aquilo.
— Não fale assim do Ben. Se ele ouvir, é capaz de te chamar para
passar a noite com ele no seu quarto de hotel.
Summer soltou uma risada e eu fiquei toda arrepiada só de imaginar
ela e Benjamin juntos. Não era uma imagem que me agradava, apesar de eu
não saber o porquê.
— Eu até aceitaria, se não estivesse sentindo algo mais por Travis. —
Olhei para Summer sem acreditar naquilo e ela me deu um sorriso faceiro.
— Mas isso é conversa para depois que acharmos nossa passagem para
Vegas. Foco, Aubrey Banks!
Deixei que a espertinha escapasse naquele momento, mas não a
deixaria em paz até me contar que história era aquela sobre estar se
apaixonando por Travis.
Conseguimos um voo para aquela tarde com uma escala no Colorado.
De lá, pegaríamos um outro voo para Las Vegas e chegaríamos à cidade
pouco depois das nove da noite. Apesar de todo o transtorno e cansaço,
fiquei aliviada por ter a certeza de que não perderia o jogo. Passei pelo
menos quarenta minutos com Avalon no telefone, explicando o motivo do
nosso atraso para o aeroporto — talvez eu tenha colocado a culpa apenas no
acidente e deixado de lado o fato de que eu havia perdido a hora, em um ato
puro de covardia — e me senti um pouco culpada por não ter ouvido dela o
sermão que eu merecia.
Summer e eu resolvemos ficar no aeroporto, para não corrermos o
risco de nos atrasar mais uma vez, e tivemos acesso a sala VIP onde
pudemos tomar um banho, comer e esperar — um privilégio que a bandeira
do cartão de crédito permitia para mim e mais um acompanhante.
Era em momentos como aquele que eu pensava em como a minha
vida havia mudado radicalmente. Quando mais nova, minha mãe e Ava mal
tinham dinheiro para os meus medicamentos, agora, eu frequentava salas
VIPs de aeroportos. Meu objetivo na vida era continuar saudável e poder
trabalhar para bancar privilégios como aquele com o meu dinheiro e não
mais com o dinheiro da minha irmã e de Logan.
Pegamos o voo para o Colorado e dormimos o tempo todo,
acordando apenas quando o avião estava pousando. No outro aeroporto,
esperamos até o horário do voo para Vegas e fiquei acompanhando Summer
trocando mensagens com Travis. Aparentemente, o estudante de
Arquitetura estava tão interessado em Summer quanto ela nele. Minha
amiga não merecia alguém menos do que incrível.
Eu ignorei as mensagens de Brian e fiquei surpresa quando recebi
uma resposta de Benjamin pouco tempo antes de embarcar.
Ben: Como assim você ainda não chegou em Vegas?
Eu: A culpa não foi minha.
Assim que enviei a mensagem, percebi que para Benjamin eu não
precisaria mentir. Se tinha alguém que iria me entender, essa pessoa era ele.
Eu: Quer dizer, a culpa foi minha sim... Mais ou menos.
Ben: Mais ou menos? Ou a culpa foi sua, ou não foi, princesa.
Conta logo o que aconteceu, pois tenho um jantar com o time daqui a
pouco e não vou conseguir ficar no celular.
Eu: Perdi a hora, essa é verdade.
Ben: E perdeu a hora por quê? Saiu tarde da festa?
Fiquei surpresa por Benjamin se lembrar de que eu ia à festa de
Travis.
Eu: Na verdade, eu passei a noite lá. Sabe, com um cara. Esqueci
de colocar o celular para despertar e acordei atrasada.
Minutos se passaram e a resposta de Benjamin não chegou. Por um
momento, pensei que poderia ter o deixado sem palavras, mas logo tirei
aquilo da minha cabeça. Benjamin era o maior pegador que eu conhecia,
jamais me julgaria por causa daquilo. Provavelmente, o haviam chamado
para alguma coisa ou ele precisou deixar o celular.
Aproveitei aqueles minutos antes do voo para ir rapidamente ao
banheiro e quando estava saindo, senti meu celular vibrar no bolso da calça.
Era uma resposta de Benjamin.
Ben: Obrigado por ter jogado essa bomba no meu colo, princesa.
Eu: Bomba? Que bomba?
Ben: De que você não é mais virgem.
Aquilo poderia ser uma novidade para Benjamin, mas para a minha
irmã, por exemplo, não era. A primeira coisa que fiz ao acordar no dia
seguinte, após Christopher ter ido embora, foi contar tudo para Avalon em
uma videochamada. Sua maior preocupação, além de saber se eu realmente
queria ter perdido a virgindade naquele momento e se Chris fora gentil, era
sobre se eu havia me cuidado e usado preservativo. Eu poderia ser um
pouco irresponsável quanto a pontualidade, mas jamais colocaria a minha
saúde em risco.
Eu: Estou na faculdade, Ben. Achou mesmo que eu permaneceria
virgem para sempre?
Ben: Eu não achei nada, nem pensei nisso. Quer dizer, pensei
sim, mas, não muito. Só quero que você tome cuidado e que não deixe
qualquer idiota se aproximar, ok?
Eu: Eu tomo cuidado, não se preocupe com isso.
Ben: Sempre vou me preocupar com você, princesa.
Foi inevitável sorrir ao ler aquilo. Era muito bom saber o quanto eu
era especial para Benjamin, um cara que, para muitas pessoas, era
desapegado,mas que comigo sempre fora incrível.
Eu: Sei disso, por isso que te amo. Agora preciso ir, meu voo está
próximo.
Ben: Venha cuidado, estou te esperando. Sobre o bolo... Talvez
ele não te espere.
Eu: Fique longe do meu bolo, Benjamin Ryan!
Ele enviou uma figurinha rindo.
Ben: Vou pensar no seu caso. E eu também te amo, mesmo
quando tenta me matar do coração.
Soltei uma risada ao ler aquilo e me despedi dele antes de encontrar
com Summer do lado de fora do banheiro, perto do balcão da companhia
aérea. Apesar de todo o transtorno e do caos, logo estávamos dentro da
aeronave, a caminho de Vegas.
A primeira pessoa que vi ao entrar no hotel, foi Avalon. Minha irmã,
que estava sentada em uma poltrona na recepção, digitando rapidamente em
seu MacBook, se levantou assim que me viu. Nós nos abraçamos bem forte
e eu quase senti meu coração explodir no peito. Não fazia ideia de como
estava sentindo falta de estar entre os seus braços até aquele momento. Ela
se afastou, mas manteve as mãos em meus ombros.
— Como pode você continuar a mesma e ainda assim parecer tão
diferente?
Eu soltei uma risada baixinha.
— Não faço ideia do que você está querendo dizer com isso.
— Não nos vemos apenas há alguns meses, mesmo assim, você
mudou. Está parecendo mais adulta.
— Acho que ela está te chamando de velha — Summer disse ao meu
lado, me cutucando e rindo da minha cara. Avalon riu junto com ela.
— Não está mais velha na aparência, mas no olhar. Enfim, acho que
estou divagando. Você quase me matou do coração com esse atraso,
Aubrey!
— Desculpa, não apenas pelo atraso, mas por ter precisado comprar
as passagens em cima da hora — falei, querendo logo mudar de assunto. Se
continuasse a falar sobre o atraso, eu acabaria cuspindo a verdade no colo
da minha irmã e tinha certeza de que sua compreensão acabaria na hora. —
Onde está Logan? Pensei que ele estaria aqui me esperando com você.
— Ele está no banho, acabou de voltar do jantar com o time e os
técnicos. — Avalon se virou para Summer e a abraçou com carinho. — É
muito bom ter você aqui conosco, Summer. Obrigada por não ter deixado
minha irmã viajar sozinha.
— Avalon, você acabou de falar que estou parecendo mais velha e
agora está me fazendo parecer uma criança.
— Você sempre será uma criança para mim.
A filha da mãe teve a ousadia de apertar a minha bochecha na frente
de todo mundo na recepção chique do hotel, quase me fazendo morrer de
vergonha, enquanto Summer ria da minha cara.
— Para com isso! — reclamei, dando um tapinha em sua mão.
— Eu que agradeço o convite, Avalon. Vai ser a primeira vez que vou
assistir o Super Bowl no estádio! Mal posso esperar por isso.
— Você vai amar — garanti. — Principalmente porque os 49ers vão
ganhar!
Avalon concordou com a cabeça e eu entrelacei meu braço no de
Summer enquanto nos dirigíamos à recepção. Após fazermos o check-in,
fomos para o nosso andar e entramos na suíte que compartilharíamos pelas
próximas duas noites. Meu corpo pedia cama depois daquele dia cansativo,
mas, enquanto Summer tomava banho — depois de surtar com o tamanho
da banheira de hidromassagem —, lembrei-me das mensagens que troquei
com Ben e do bolo que me aguardava no seu quarto.
Eu: Já estou no hotel! Posso ir até aí comer o meu presente?
Enviei a mensagem para ele e me joguei na cama, fechando os olhos
só por alguns minutinhos. Acho que cochilei, pois acordei assustada com
uma notificação do meu celular. Peguei o aparelho esperando por uma
resposta de Ben, mas sorri ao ver que era Harper respondendo à mensagem
que enviei para ela assim que o avião aterrissou no aeroporto de Vegas.
Harper: Finalmente você chegou! Já coloca o seu vestido mais
bonito e me encontre no lobby do hotel em uma hora! Meu tio é dono
da melhor boate de Las Vegas e temos pulseiras VIPs para curtir hoje à
noite! É claro que Summer está mais do que convidada.
Harper: P.S.: Não aceito recusas ao meu convite!
Geralmente, eu estaria pulando de alegria com aquele tipo de
mensagem, mas a ideia de virar a noite em uma boate não estava me
agradando em nada naquele momento. Fiz uma careta para a tela do celular
e deixei aparelho de lado, me obrigando a sentar na cama quando Summer
saiu do banheiro enrolada em uma toalha.
— Que cara é essa?
Diferente de mim, Summer parecia estar cheia de energia. Passou a
viagem toda do aeroporto até o hotel falando que deveríamos andar um
pouco pela cidade e procurar um lugar legal para comer. Eu preferia aquele
tipo de programa, precisava confessar. E adoraria encerrar a noite na suíte
de Benjamin, comendo bolo com ele e ouvindo todas as fofocas sobre os
jogadores do time.
— Harper acabou de me enviar uma mensagem. Disse que está com
pulseiras VIPs para a melhor boate de Vegas. O tio dela é o dono.
— Ah. Meu. Deus! — Summer soltou um gritinho e pulou igual a
uma doida perto da porta do banheiro, até parar com as mãos na cintura. —
E por que você está com essa cara de quem chupou limão azedo?
— Existe algum tipo de limão que não seja azedo?
Summer revirou os olhos.
— Você entendeu.
— Estou cansada. Preferia sair para comer alguma coisa e depois
dormir.
Summer estreitou os olhos e caminhou em minha direção, parando na
minha frente com as mãos ainda na cintura.
— Aubrey Banks, quantos anos você tem?
— Até onde eu sei, dezoito.
— E quantos anos eu tenho?
— Dezenove.
— Exatamente. Sabe quando entraríamos em uma boate em Vegas
sem precisar de um documento falso? Nunca! Essa é uma oportunidade
única, garota! — Ela sorriu e tomou meu rosto nas mãos. — Escuta,
acordamos atrasadas, perdemos o nosso voo, tivemos a sorte de encontrar
dois assentos disponíveis em voos com escala para hoje, gastamos uma
fortuna para estar aqui, e você tem a coragem de dizer que quer recusar esse
convite porque está cansada? A Aubrey que eu conheço já estaria
escolhendo um vestido e me arrastando para um carro de aplicativo!
Suas palavras me fizeram lembrar de uma Aubrey mais jovem, que
saía e entrava de hospitais, fraca e com a possibilidade de não estar mais
viva em poucas semanas. Aquela Aubrey me obrigou a fazer a seguinte
promessa: caso eu sobrevivesse, viveria ao máximo todas as experiências
que pudesse e nunca mais deixaria qualquer bobagem me limitar.
Não querer curtir aquela noite com as minhas duas melhores amigas
por estar cansada era uma bobagem e a Aubrey de anos atrás jamais me
perdoaria se eu ficasse naquele quarto de hotel. Sorrindo para Summer, me
levantei e dei um beijo na bochecha dela.
— Você tem razão! Vou tomar um banho e me arrumar, faça o
mesmo.
— É assim que se fala, garota! — Ela deu um tapinha em minha
bunda conforme sorria. — Vamos arrasar em Vegas!
— Enquanto você ainda é solteira... — Pisquei para ela e fui direto
para o banheiro.
Não sabia como iria aguentar uma Summer apaixonada e toda melosa
ao meu lado, mas o meu papel como amiga era apoiá-la e eu sentia que
Travis retribuía os seus sentimentos. Eles formariam o par perfeito.
Tomei um banho que relaxou todos os meus músculos e levei a
próxima meia hora para me arrumar. O clima não estava tão frio quanto no
Alabama, portanto, escolhi uma blusa cinza que terminava alguns
centímetros acima do meu umbigo, a saia listrada de cintura alta que herdei
da Avalon há alguns meses e uma bota de salto de cano longo, que
terminava perto da minha coxa. Achei importante ir de salto, pois a minha
altura não ajudava muito a passar credibilidade quando eu saía à noite.
Optei por uma maquiagem leve, destacando os olhos com delineador
preto. Estava terminando de passar o batom quando ouvi duas batidas na
porta da suíte e a voz de Logan atrás no corredor. Summer correu para
atender, pois terminara de se arrumar minutos antes, e o QB entrou em
nosso quarto acompanhado pela minha irmã. Eles se cumprimentaram
rapidamente e eu ouvi a risada de Logan assim que corri para abraçá-lo com
força.
— Isso tudo é saudade, Aub? — perguntou ele conforme retribuía.
— Engraçado, não recebi um abraço tão entusiasmado assim... —
Avalon comentou.
— Deixa de ser mentirosa, sua ciumenta. — Dei línguapara minha
irmã como se eu tivesse dez anos e me afastei de Logan. Ele ainda parecia o
mesmo cara bonitão que arrasava corações em sua época de faculdade, mas,
assim como minha irmã, parecia mais maduro. — E sim, eu estava com
saudades, assim como eu sei que você estava morrendo de saudades de
mim.
— Eu estava mesmo. Nossa casa ficou vazia demais sem você, tem
certeza de que não quer pedir transferência para a UCLA?
— Já conversamos sobre isso, cunhadinho. — Toquei em seu nariz e
ele soltou um suspiro. — Se eu aceitasse ir para a UCLA, nunca me tornaria
independente.
— Eu disse que compraria um apartamento perto da faculdade para
você.
— E onde isso se encaixa na palavra “independente”? Eu te amo,
Logan Miller III, mas não quero que gaste mais do que o necessário
comigo, assim como minha irmã — falei, vendo os olhos de Avalon
brilharem com orgulho. — E eu decidi que vou arrumar um trabalho de
meio período, ok? Com isso, vocês poderão cortar a minha mesada.
— Você não precisa trabalhar, Aubrey, já disse isso. Quero que foque
apenas nos estudos — disse minha irmã. Apesar de sentir orgulho de mim,
ela sempre falava que eu deveria aproveitar o privilégio que tinha e me
preocupar apenas com a faculdade.
Eu a entendia. Avalon precisou trabalhar durante toda a faculdade
porque tinha muitas despesas, principalmente comigo, mas eu não queria
viver como uma princesinha mimada. Agradecia por ter o apoio financeiro
dos dois, mas se queria ser independente de verdade, precisava começar por
algum lugar. Arrumar um emprego seria o meu segundo passo, o primeiro
foi convencer Logan a não comprar um apartamento para mim em
Tuscaloosa ou ainda pior, expulsar o inquilino que alugara a mansão onde
ele morava com James, Norah e Benjamin na época da faculdade.
Por isso lutei muito para passar como líder de torcida do Crimson
Tide. A posição me garantiria um lugar na mansão da fraternidade e eu não
dependeria de Logan e Avalon para ter uma moradia.
— Não vamos conversar sobre isso agora, ok? Eu ainda não tenho
nada em vista, de qualquer forma, então, essa é uma discussão
desnecessária — falei com um sorriso para tirar a careta de frustração do
rosto da minha irmã. — Summer e eu vamos sair com Harper, tudo bem?
Só então os dois pareceram perceber que minha amiga e eu
estávamos prontas para curtir a noite na cidade do pecado.
— E para onde vocês vão? — Avalon perguntou.
— O tio da Harper é dono de uma boate e deu algumas pulseiras
VIPs para gente.
Logan fechou os olhos por um momento, como se uma dor tivesse
acabado de surgir em sua cabeça.
— Não acho que seja uma boa ideia.
— Claro que é uma boa ideia — rebati.
— Vocês ainda não têm vinte e um anos — a advogada em minha
irmã fizera questão de nos lembrar daquele detalhe.
— Mas esse é o privilégio de ter contatos, não é? Ninguém vai barrar
a sobrinha do dono da boate e suas amigas — falei.
Summer acompanhava tudo calada, com os olhos correndo entre mim
e o casal como se estivesse assistindo a uma partida ping-pong.
— Vocês vão com o motorista que contratamos e voltarão com ele,
entenderam? — perguntou Logan.
— Claro! — acatei na hora.
— E serão acompanhadas por um segurança.
— O quê? Segurança? — Summer finalmente falou alguma coisa,
externando exatamente o que eu estava pensando.
— Sim, um segurança. A cidade está lotada de torcedores e os mais
fanáticos sabem quem você é, Aubrey. Não vou brincar com a sua
segurança.
— Isso é totalmente desnecessário! O que vão fazer comigo? Pedir
uma foto? — Eu ri só de imaginar algo como aquilo.
Apesar de eu ganhar seguidores diariamente em minhas redes sociais
quando descobriam que eu era cunhada de Logan, pensar que algum
torcedor poderia se aproximar de mim era algo extremo demais.
Aparentemente, só eu pensava assim, pois Avalon concordou com o marido.
— Logan tem razão, Aubrey. Em circunstâncias normais, eu também
acharia um exagero, mas estamos às vésperas do Super Bowl e você não é
tão anônima quanto pensa. Vamos pedir para o segurança ser discreto.
Summer e eu trocamos um olhar meio assustado. Eu ainda achava
toda aquela proteção exagerada demais, no entanto, se deixaria Avalon e
Logan mais calmos, era lógico que eu aceitaria. Meu cunhado se afastou
para pedir um segurança para a equipe que sempre o acompanhava nas
viagens e Avalon se aproximou de mim e de Summer com um sorriso.
— Tenham juízo, entenderam? Nada de aceitar bebida de estranhos
e...
— Ava, não somos crianças e já sabemos de tudo isso.
— Eu sei, mas não custa nada lembrar. — Logan voltou a se
aproximar, afirmando que o motorista e o segurança estavam esperando no
lobby. — Divirtam-se.
— Mas não muito — completou meu cunhado.
Revirei os olhos para ele, mas deixei um beijo em sua bochecha e
outro na bochecha de minha irmã. Summer e eu deixamos a suíte e
encontramos com Harper, que me abraçou com força por longos minutos,
antes de eu apresentá-la à Summer. As duas se deram bem logo de cara,
como sempre achei que aconteceria, e fomos juntas até o carro que nos
aguardava do lado de fora do hotel, acompanhadas por Wayne, um homem
enorme vestido de terno, mas muito simpático.
Conversamos durante todo o caminho até a boate e Harper contou
que Henry, seu irmão gêmeo, estava namorando. Ela não parecia estar
muito contente com isso e choramingou enquanto dizia que queria que eu
fosse sua cunhada. Ela ainda tinha o sonho de que eu e seu irmão
voltaríamos a ficar juntos, o que me fazia rir. Eu não negava, porque não
queria desapontá-la, mas a verdade era que minha história com Henry foi
algo bobo, nada mais do que uma aventura de adolescente. Ficamos juntos
algumas vezes, foi legal, mas não era nada que eu queria repetir.
A fila de espera na porta da boate estava enorme, mas o motorista
contratado por Logan nos deixou no local indicado por Harper, uma entrada
exclusiva para quem tinha a pulseira VIP. Entramos sem qualquer
problema, acompanhadas por Wayne, e a música que tocava logo me
envolveu.
A área VIP da boate ocupava todo o segundo andar e dava uma vista
privilegiada para a pista de dança no térreo. Tinha um bar exclusivo, uma
mesa cheia de aperitivos gostosos e dois corredores, um levava aos
banheiros, e o outro levava a uma sala reservada. Senti um certo frio na
barriga quando Harper começou a explicar melhor para o que ela servia.
— É um dark room. Literalmente uma sala escura, onde você pode
entrar sozinha ou acompanhada. — Ela piscou para mim e para Summer,
deixando subentendido o que acontecia lá dentro. — Fica um segurança na
porta, para garantir o bem-estar de quem está lá dentro. Se ele desconfiar de
que algo errado está acontecendo, tem o poder de invadir a sala a qualquer
momento.
— E isso já aconteceu alguma vez? — Summer perguntou.
— Não que eu saiba. Quem entra no dark room sabe muito bem o
que quer.
Senti novamente aquele frio na barriga, mas decidi ignorar a
sensação e a pontinha enorme de curiosidade que eu sentia. Se era uma sala
escura, eu não veria nada, certo? Então, não faria o menor sentido entrar lá.
Decidimos ir até o bar pegar uma bebida e o barman fez um drinque bem
docinho e sem álcool para mim. A pista da área VIP estava ocupada, mas a
do térreo estava bem mais animada, por isso, decidimos descer. Wayne nos
acompanhou, mas, como Avalon prometera, ele era bem discreto e, assim
que pisei na pista, me esqueci completamente de que estava sendo
observada por ele.
A dança sempre foi algo que fez parte de mim. Desde pequena eu
adorava colocar música e me movimentar. Na maioria das vezes, nem sabia
o que estava fazendo, mas seguir o ritmo e a batida era algo quase natural,
instintivo. Nunca pensei em fazer da dança a minha profissão, por isso, me
encontrei como líder de torcida e entendi que a dança para mim era uma
válvula de escape.
Na infância, ela me fazia esquecer que eu não tinha pai, pois ele
morrera quando eu ainda era muito pequena.
Na adolescência, ela me fazia sentir viva, mesmo quando meu corpo
estava cansado. Apesar das limitações, sempre me pegava dançando em
meu quarto quando a fadiga nãoera maior do que tudo.
E agora, estando adulta e curada, ela me fazia sentir livre. Era como
se eu pudesse realizar todos os meus sonhos e o mundo estivesse ao alcance
das minhas mãos.
Só parei quando senti o suor escorrer pela minha nuca e percebi que
eu precisava de mais uma bebida. Voltei com as meninas para o andar de
cima e percebi que as duas já haviam bebido um pouco mais do que deviam
— afinal, ao contrário de mim, ficaram indo até o bar da pista de dança
juntas para pegar mais drinques. Pedi duas águas para elas e tomei um gole
da minha bebida docinha e sem álcool, vendo-as olharem para algo atrás de
mim.
— O que foi? — perguntei, olhando para onde elas estavam
encarando. Um garoto muito bonito, que não parecia ser muito mais velho
do que nós três, olhava para a nossa direção.
— Aquele gostoso não tira os olhos de você desde que subimos! —
disse Summer e Harper concordou com a cabeça.
— É verdade! Ele devia estar observando você desde lá de cima.
— Impossível, tem um mar de gente lá embaixo — falei, voltando a
olhar para trás. O garoto ergueu a cerveja que estava tomando em um
cumprimento para mim. Voltei a olhar para as meninas. — Ah, meu Deus,
ele está me olhando mesmo!
— Eu não falei?! — Summer riu. — Sabe o que eu acho?
— Tenho até medo de perguntar — comentei.
— Acho que você deveria ir até o dark room. Tenho certeza de que
ele vai te seguir até lá.
— O quê? — Ainda bem que eu não estava bebendo, ou iria cuspir o
drinque em cima dela. — Você enlouqueceu?
— Pois eu acho que Summer está certa! Amiga, ele é um gato! E não
precisa rolar nada de mais, só uns beijos e uma mão boba, sabe? — Harper
soltou um suspiro. — Tem tempo que eu não sei o que é isso.
— Quanto tempo? — Summer perguntou com curiosidade.
— Dois dias.
As duas começaram a rir, talvez levadas pelo álcool, e eu acabei
rindo junto com elas conforme voltava a olhar para o garoto. Bem, ele não
era exatamente um garoto, mas um homem feito, apesar de aparentar ter uns
vinte anos. Era alto, estava bem-vestido com uma calça jeans de grife e
camisa preta de botões. Seu cabelo castanho-escuro estava levemente
bagunçado e ele tinha uma barba por fazer. Para a minha surpresa, ele
começou a se aproximar de onde estávamos.
— Vai logo para o dark room agarrar esse homem, Aubrey! Vai ser a
minha vingança contra o idiota do meu irmão por ter perdido você!
As palavras de Harper me arrancaram uma risada sincera, mas foi o
olhar de Summer que me deu coragem. Ela era a única na faculdade que
sabia sobre o meu histórico de saúde e a minha gana por viver. Parecia me
dar coragem silenciosamente para que eu viesse aquela nova aventura. Por
isso, sem ousar pensar demais, deixei minha taça em cima do balcão do bar,
olhei para o gostoso que ainda vinha em minha direção, e segui para o
corredor do dark room sem olhar para trás.
O segurança na porta perguntou se eu tinha certeza de que queria
entrar e deixou claro que eu poderia sair a qualquer momento. Informou,
inclusive, que havia botões iluminados por uma luz vermelha, onde eu
poderia apertar caso precisasse de ajuda. Saber daquilo me deu mais
segurança e eu aceitei entrar.
A porta levava a um corredor parcialmente iluminado por led azul-
escuro, que apenas guiava o caminho até a sala privada. Assim que entrei
no local, constatei que era realmente uma sala escura, mas ainda dava para
enxergar alguma coisa depois que a visão se adaptava. A música chegava
sem qualquer ruído ali e era alta o suficiente para abafar qualquer gemido
mais alto. Pude enxergar silhuetas próximas às paredes e avancei um pouco
mais, não me distanciando muito do corredor.
Tentei observar melhor quantas pessoas estavam por ali, mas assim
que senti a presença de alguém atrás de mim, me virei em direção ao
corredor. Apertei os olhos e vi o momento em que o homem alto entrou na
sala, mas não consegui distinguir muito as suas feições. Minha mente me
alertou para o fato de que ele poderia ser qualquer pessoa e não o cara por
quem eu esperava, mas não fazia nem três minutos que eu havia entrado no
dark room e deixei bem claro para o desconhecido para onde eu estava
indo. Só podia ser ele.
Tomando coragem, me aproximei, percebendo que ele parecia meio
perdido. Não dava para distinguir a cor da sua roupa nem o tom do seu
cabelo, mas ficou bem claro como ele era alto. Não que isso fosse uma
surpresa, qualquer pessoa era mais alta do que os meus 1,56m, mesmo eu
ganhando alguns centímetros a mais com o salto. E foi justamente o calçado
que quase me fez ir de cara no chão. A ponta da minha bota se agarrou ao
que parecia ser um carpete e senti um vazio tomar a minha barriga
conforme meu corpo tombava para frente. Preparei-me para conter a queda
com os meus braços, quando senti mãos fortes e grandes segurarem a minha
cintura com força e me erguerem com uma facilidade impressionante.
O chão sumiu dos meus pés, mas foi por um motivo completamente
diferente da queda e os meus seios ficaram pressionados contra um peitoral
forte e largo enquanto o homem me segurava de encontro ao seu corpo, me
deixando toda arrepiada. Ofeguei com o contato, apoiando minhas mãos em
seus ombros fortes pra caramba.
— Peguei você. — Sua voz soou mais máscula e rascante em meu
ouvido do que eu imaginei que seria. E mais grave também, como se
estivesse falando em dois tons mais baixo para que apenas eu o ouvisse,
apesar da música alta. — Finalmente peguei você depois de passar todo
esse tempo te observando de longe.
Era ele.
Só então eu relaxei totalmente de encontro ao seu corpo conforme ele
me colocava de volta no chão, mas não deixou de segurar a minha cintura.
Minhas mãos escorregaram dos seus ombros até o peitoral muito definido.
Pude sentir os botões em sua camisa, o que me deu ainda mais certeza de
quem ele era. Sorri.
— Então você conseguiu me ver na pista de dança? — Precisei
perguntar depois de Harper colocar a pulga atrás da minha orelha.
Senti seu rosto se aproximar do meu e ele pareceu inclinar um pouco
os joelhos para ficar mais ou menos da minha altura.
— Eu te vi desde o momento em que você chegou com as suas
amigas. — Seu nariz roçou o meu e eu fechei os olhos ao sentir o contato.
O cheiro do seu perfume me atingiu. Não era uma fragrância desconhecida
por mim, mas eu não estava em condições de pensar de onde eu conhecia
aquele aroma. — Sabia que não podia deixar você escapar. Qual é o seu
nome?
Abri os olhos e pensei nas palavras de Avalon e Logan sobre eu não
ser tão anônima assim. Era óbvio que eu não era a única Aubrey que existia
no mundo, mas nem sabia se um dia veria aquele cara de novo e, quando
saíssemos do dark room, não ia querer dar meu celular para ele ou algo do
tipo, por isso, fui enfática:
— Acho que não precisamos falar os nossos nomes. Tudo o que
acontecer aqui, vai ficar aqui.
Apesar não conseguir enxergar, pude sentir seus olhos em cima de
mim, me analisando. Eu esperei ansiosa pela sua resposta, sentindo uma
excitação diferente. Era como se eu estivesse flertando com o proibido,
apesar de aquilo não fazer o menor sentido. As mãos grandes e de dedos
longos apertaram minha cintura e pude sentir seus lábios tocarem a minha
orelha quando ele se inclinou em direção ao meu pescoço para responder:
— Eu aceito, contanto que me diga até onde eu posso ir.
Eu realmente não queria transar em uma sala escura, com várias
pessoas à minha volta, mas resolvi não deixar isso explícito.
— Eu vou deixar claro quando você ameaçar passar do limite.
Pude sentir o seu sorriso em meu pescoço e aquilo me deixou
arrepiada pra caramba, quase me fazendo estremecer.
— E eu vou parar no momento em que você pedir.
A certeza em sua voz me deixou com as pernas bambas, mas foi o
modo como enroscou uma mão em meu cabelo perto da nuca e atacou a
minha boca com fome, que me desestabilizou completamente.
Eu já tinha sido beijada várias vezes, afinal, beijar na boca era algo
que inevitavelmente acontecia quando eu ia a uma festa ou a boates com as
meninas da faculdade. No entanto, eu nunca fui beijada daquele jeito, como
se estivessesendo engolida.
Sua língua passeou em minha boca com uma destreza e confiança
impressionantes e, por um momento, eu me senti uma menininha
inexperiente. Não sabia dizer se ele percebeu a minha surpresa, mas com
certeza sentiu o impacto que deixou em mim, pois sorriu entre os meus
lábios ao enlaçar um braço em minha cintura e começar a me guiar pela sala
escura. Seus dentes prenderam meu lábio inferior quando minhas costas se
encontraram com uma parede e pisquei em meio à escuridão.
O beijo daquele cara...
Puta merda, eu estava começando a repensar a minha ideia de não
pegar o número do seu celular quando saíssemos dali.
Ele substituiu os dentes pelo seu polegar e senti seus olhos sobre
mim mesmo sem enxergar quase nada dentro do dark room. Ele era uma
presença massiva e constante. Não por estar com o corpo alto e forte
pressionado contra o meu, mas por sua intensidade. Aquele sentimento me
despertou. Seu toque em meu lábio inferior inchado fez uma conexão direta
com as partes mais sensíveis do meu corpo e não pude conter um gemido
que saiu do fundo da minha garganta.
Rihanna começou cantar Only Girl (In The World) e a letra
praticamente descreveu como ele estava me fazendo sentir naquele
momento.
E então, eu o ataquei.
Tomei seu pescoço largo entre as minhas mãos, com veias grossas
sob a pele quente, e fiquei na ponta dos pés para voltar a beijá-lo. Por
alguns segundos, ele apenas deixou que eu comandasse o beijo.
Correspondeu a tudo o que eu fazia e gemeu rouco em minha boca, fazendo
meu clitóris ficar ainda mais sensível sob a calcinha, até tomar o controle de
novo. Uma mão tomou a minha bunda com força e a outra voltou a se
enroscar em meu cabelo, erguendo a minha cabeça em sua direção e
deixando meu pescoço exposto.
Ele aproveitou o movimento para descer com os lábios melados de
saliva pelo meu queixo até a linha da minha garganta, espalhando beijos e
esfregando a barba por fazer, até fechar os lábios em minha jugular. Seu
chupão deixou meus mamilos duros e doloridos e melou a minha calcinha,
mas percebi que eu não era a única afetada. Sua ereção enorme pressionada
em minha barriga deixava bem claro que o tesão tomava conta de nós dois.
Ter aquele conhecimento me deixou ainda mais excitada e, por um
momento, pensei que não faria mal transar com ele ali. Seria uma aventura
que eu certamente não repetiria e ficaria em minha memória para sempre.
O pensamento passou rápido pela minha cabeça e se perdeu quando
senti seus lábios subirem até a minha orelha. Ele mordiscou o lóbulo e tirou
a mão da minha bunda, levando os dedos longos até a minha coxa, muito
perto da virilha. Sem pensar demais, eu afastei minhas pernas e pude ouvir
a sua risada rouca ao pé do meu ouvido, antes de ele deixar um beijo na
linha da minha mandíbula e voltar à minha boca.
— Seu cheiro... Porra, seu cheiro está me deixando viciado pra
caralho — disse ele entre os meus lábios. Minhas pálpebras tremeluziram,
se fechando sozinhas quando seus dedos tocaram a renda da minha calcinha
por debaixo da saia.
— O seu gosto está fazendo o mesmo comigo — consegui responder
e a voz rouca que saiu da minha garganta não parecia pertencer a mim.
Nunca me senti assim.
— O seu gosto é melhor. — Seus dedos colocaram a lingerie para o
lado e eu prendi a respiração, ansiando o seu toque. — Mas tenho certeza
de que essa sua bocetinha é ainda mais gostosa do que a sua boca.
Meus lábios se abriram em choque e em busca de ar, mas tudo o que
saiu do fundo da minha garganta foi um novo gemido quando seu dedo
grosso se enfiou entre os lábios da minha vagina e encontraram o meu
clitóris sem qualquer dúvida de onde ficava. Minhas unhas se fincaram em
seu pescoço quando a sensação louca de prazer me fez perder o controle,
mas ele mal pareceu sentir a picada de dor. Manteve uma mão ainda em
meus cabelos, me segurando firme, e rodeou o meu clitóris com delicadeza,
mantendo um ritmo lentamente cruel.
— Porra, você está toda meladinha. — Seus lábios roçaram os meus
conforme ele falava, me fazendo estremecer. — Preciso sentir seu gosto.
Meus olhos se abriram na esperança de conseguirem o enxergar
tirando a mão do meio das minhas pernas e enfiando o dedo na boca, mas
não foi isso que ele fez. Sua mão deixou o meu cabelo e, de repente, seu
corpo enorme e quente já não estava mais pressionado contra o meu. Minha
mente nublada pelo tesão só entendeu o que realmente estava acontecendo
quando senti seu hálito quente em minha virilha e sua língua abrindo
caminho entre os lábios sensíveis da minha boceta.
Meus joelhos fraquejaram, mas suas mãos me mantiveram firmes
pela cintura e me pressionaram contra a parede, me deixando presa
enquanto ele começava a me chupar. Seus lábios se fecharam em meu
clitóris após sua língua rodear o nervo sensível, me deixando sem voz, sem
ar, com a mente em branco preenchida apenas pelo prazer. Escorei uma mão
na parede e levei a outra à sua cabeça, mantendo-o exatamente ali, entre as
minhas coxas, e deixei para pensar no fato de que um desconhecido estava
com a minha boceta na boca quando estivesse sozinha embaixo dos lençóis.
Eu apenas me permiti viver aquilo. E foi gostoso pra caral...
Joguei a cabeça para trás, perdendo a linha de raciocínio quando ele
meteu a língua em minha entrada e simulou o movimento de penetração
conforme passava o nariz em meu clitóris. Sua barba roçando em meus
lábios internos e sensíveis só aumentou o prazer e senti que eu poderia
gozar bem naquele momento. Uma pressão se formou no pé da minha
barriga e se espalhou por cada terminação nervosa, me deixando chocada.
Eu não era do tipo que gozava rápido, portanto, por poucos segundos,
me senti perdida com as reações do meu próprio corpo. Não acreditei que
eu estava prestes a ter um orgasmo até sentir os lábios dele se fechando
novamente em meu clitóris e me fazendo atingir o clímax. A sala ainda
estava escura, mas milhares pontinhos de luz explodiram por trás das
minhas pálpebras fechadas conforme eu gemia mais alto do que deveria e
rebolava em sua boca, roçando minha boceta em sua barba e seu nariz. Ele
parecia gemer também, pois senti a vibração da sua voz entre as minhas
pernas, potencializando o orgasmo e me fazendo estremecer.
Realmente pensei que iria cair quando meus músculos relaxaram,
mas ele foi rápido ao se erguer e me pegar no colo. Minhas pernas
enlaçaram a sua cintura de forma automática, mas a forma como retribuí o
seu beijo foi instintiva. Eu quis beijá-lo mais do que tudo naquele momento,
quis provar o meu gosto em sua boca, quis sentir o meu cheiro em sua pele
e tudo aquilo me encheu de tesão.
Gememos juntos quando seu pau muito duro ainda coberto pelo jeans
pressionou a minha boceta, me deixando ainda mais excitada. Fiquei
surpresa quando ele começou a rebolar de encontro ao meu corpo, me
segurando firme pela bunda por debaixo da saia.
— Quero que goze de novo — murmurou de encontro a minha boca,
pressionando minhas costas na parede. — Mas você precisa me dizer se
quer fazer isso com o meu pau dentro ou fora de você.
Suspirei de encontro aos seus lábios e por um segundo eu quase disse
que o queria dentro de mim, mas algo me segurou. Nunca havia me
aventurado daquela maneira, mesmo quando tinha casos de uma noite só,
era com caras que eu já conhecia e que mantinha um contato constante. Não
me sentia pronta para ir tão longe. Acho que ele sentiu isso, pois beijou o
canto dos meus lábios com uma gentileza que deixou meu peito ainda mais
ofegante e sorriu de encontro à minha bochecha antes de enfiar o rosto em
meu pescoço e sussurrar ao pé do meu ouvido:
— Então só imagine o meu pau dentro de você, comendo essa
bocetinha deliciosa, indo até o fundo e voltando. — Ele pressionou a ereção
contra a minha boceta excitada e senti um fio grosso de lubrificação
escorrer até a minha calcinha. Gemi em seu ouvido e arranhei suas costas,
fechando os olhos e imaginando, praticamente sentindo-o dentro de mim.
— Pense em como seria se eu saísse de dentro de você e roçasse só a
cabeça do meu pau no seu clitóris, antes de voltara te comer bem gostoso,
aumentando os movimentos até você gozar.
— Ah, meu Deus... — Apertei minhas coxas ao redor da sua cintura
e estremeci, sentindo pequenos choques se espalharem em minha boceta
conforme mais uma onda de orgasmo se aproximava. — Me beija!
Tomei seu rosto em minhas mãos e sua língua penetrou a minha boca
com fome, em um ritmo furioso como o do seu quadril entre as minhas
pernas. Seu membro grosso e aparentemente enorme se encaixou
completamente entre os lábios da minha boceta por cima da minha calcinha
e o atrito se tornou mais forte, exigente. Engolimos o gemido um do outro
quando o mundo à nossa volta pareceu desaparecer e a minha alma caiu em
um abismo conforme eu gozava.
S eu corpo tremeu com força de encontro ao meu. Senti isso
vagamente, pois a sensação de prazer me deixou tensa e depois entorpecida.
Meu corpo relaxou, mas ele me segurou como se eu não pesasse nada e
voltou a buscar a minha boca em um beijo calmo e com gosto de despedida.
Parecia loucura — e realmente era —, mas senti a sua falta imediatamente.
Como eu poderia dizer a ele que aquele momento entre nós dois foi
mais marcante do que todas as minhas transas juntas?
Não precisei encontrar uma resposta, pois era claro que eu não diria
coisa alguma. Não queria que ele pensasse que eu era uma doida
emocionada e não fazia sentido contar algo tão íntimo quando nunca mais
veríamos um ao outro.
Seus lábios deixaram os meus e eu sorri, me sentindo suada e melada
entre as pernas, no entanto, muito satisfeita. Até algo saltar em minha
mente.
— Você gozou?
A pergunta tirou uma risada curta do fundo da sua garganta e eu
fiquei curiosa.
— Se eu disser que gozei na calça como se fosse um adolescente,
isso estragaria a nossa noite?
Eu arregalei os olhos, surpresa, mas o choque logo foi substituído por
um sorriso. Um sorriso orgulhoso. Nunca fiz um homem gozar na calça
antes e saber que eu tinha o poder de fazer um cara forte e aparentemente
experiente como ele perder o controle, me fez sentir uma supermulher.
— Acho que agora eu fiquei com mais tesão.
Sua gargalhada saiu mais alta daquela vez.
— Não fala isso. Eu nem deveria estar aqui e sinto que se ficar mais
um minuto com você, vou tentar convencê-la a passar a noite comigo.
— Eu diria não.
— Você diria mesmo, não é? — Seus lábios roçaram os meus e ele
ainda sorria, assim como eu. — Vamos sair daqui. Preciso ter mais um
vislumbre de você antes de me despedir.
Ele deixou um beijo cálido em meus lábios antes de me colocar no
chão e ajeitar a minha saia em um gesto surpreendentemente gentil. Só
soltou a minha cintura quando se certificou de que eu não estava mais com
as pernas bambas e pareceu arrumar a blusa na frente da calça antes de me
dar a mão e me guiar pelo dark room. Eu já estava perdida, mas ele parecia
conhecer o lugar, pois logo encontrou o corredor com luz de led, que
iluminava pouca coisa, e nos levou em direção à porta.
Ele abriu e me deixou sair primeiro. Precisei ficar alguns segundos
com os olhos fechados para poder me acostumar à claridade e o ouvi falar
algo com o segurança. Quando o homem disse “sou muito seu fã”, eu franzi
o cenho. Ele era alguém conhecido e eu não sabia? Abri os olhos e pisquei
algumas vezes, percebendo que eu estava de costas para os dois, e me virei
a tempo de ouvir o segurança pedir uma foto.
Então, eu paralisei.
O segurança estava de frente para mim e ele estava de costas. Mas eu
reconheceria aquele homem de quase 1,90cm, com uma montanha
músculos no lugar dos ombros, cabelos loiros e porte de jogador em
qualquer lugar.
Menos no escuro, obviamente.
Senti que eu ia desmaiar, mas minhas pernas se mantiveram
surpreendentemente firmes conforme o choque me fazia falar:
— Eu não acredito que nós fizemos isso, Benjamin!
Sempre dizem que há uma hora em nossa vida em que vemos
momentos específicos da nossa história passarem como um filme em nossa
mente. Geralmente, esse momento acontece quando estamos prestes a
cruzar a linha de chegada, quando sentimos que está na hora de ir para outro
plano, quando nosso coração acena e fala que aquela é a sua última batida.
Ou seja, quando estamos morrendo.
Mas eu não estava morrendo.
Então, por que eu sentia que minha vida começaria a passar como um
filme em minha cabeça enquanto o segurança da boate me dava um olhar
confuso, com o celular estendido em minha direção, e minha mente me
alertava que aquela voz, que eu passei os últimos minutos ouvindo —
minutos esses maravilhosos e inesquecíveis, aliás —, era de uma garota que
eu conhecia muito bem?
Eu pisquei e o segurança arqueou uma sobrancelha para mim.
Lentamente, senti meus pés girando no chão de carpete do corredor, meu
corpo virando de forma automática em direção à mulher baixinha que eu
beijei, chupei e que me fez gozar na calça como se eu tivesse quinze anos.
Eu a vi — lógico que a vi, afinal, não era cego —, mas não a enxerguei.
Porque a mulher na minha cabeça era loira e eu tinha quase certeza
de que tinha olhos castanhos. Ela era desconhecida e tinha um sorriso
bonito. A forma como balançava o corpo ao ritmo da música era
hipnotizante. Ela era baixa, mas não tão baixa e com certeza tinha mais de
vinte e um anos.
Aquela que estava na minha frente agora era alguém completamente
diferente. E eu não queria acreditar que era com ela que eu estive até aquele
momento.
— O que você está fazendo aqui?!
A minha voz saiu levemente esganiçada, tinha que confessar, e pude
ouvir o segurança atrás de mim limpar a garganta como se estivesse
tentando esconder uma risada. Os olhos verdes — que, novamente, eu
conhecia muito bem! —, se arregalaram ainda mais.
— O que eu estou fazendo? O que você está fazendo aqui,
Benjamin?!
Aubrey colocou as mãos na cintura e eu a olhei de cima a baixo como
se fosse a primeira vez que fazia isso. Ela estava levemente descabelada —
por minha causa —, com os lábios vermelhos e inchados, com um chupão
enorme no pescoço, a saia amarrotada e o rosto prestes a pegar fogo.
Por minha causa.
Minha causa, minha causa, minha causa.
Caralho, eu ia desmaiar.
— O senhor está se sentindo bem?
Só percebi que eu havia cambaleado para trás quando senti as mãos
do segurança me firmando pelos ombros. Assustada, Aubrey correu em
minha direção e pousou as mãos delicadas em meu rosto, me encarando em
um misto de raiva e preocupação.
— Ben, o que houve? Fala comigo.
Falar com ela?
Meu Deus, como eu poderia falar com ela depois de ter enfiado a
minha língua no meio da sua boceta?
— Ah, caralho. Eu tô fodido pra cacete!
Desvencilhei-me dos dois e dei alguns passos para longe, querendo
respirar. O ar não vinha. Era como se uma corda estivesse em meu pescoço,
apertando sem parar, me sufocando. Passei a mão pelo peito, sentindo meu
coração muito acelerado. Eu ia infartar. Aquela era a única certeza que eu
tinha. Eu ia morrer no meio de uma boate em Vegas, depois de ter chupado
a irmã de consideração do meu melhor amigo, uma madrugada antes do
Super Bowl.
Não foi essa a vida que meu pai sonhou para mim.
Porra, esse seria o meu legado?
Não. Não, não, não.
— Benjamin Ryan, olhe para mim agora! — O rosto de Aubrey
apareceu novamente em meu campo de visão, dessa vez, bem mais perto.
Ela segurava o meu rosto de novo, mas tudo o que eu conseguia ver era a
sua boca. Eu havia beijado aquela boca. Merda. Mas era uma boca linda pra
caralho. Bem-desenhada, lábios cheios, macios e o sabor era incrível... —
Isso, quero os seus olhos em mim. Agora tente respirar junto comigo.
Assim...
Aubrey fechou os olhos e puxou o ar lentamente. Sem perceber, me
vi seguindo o seu gesto, e finalmente o oxigênio voltou a entrar em meus
pulmões e chegou ao cérebro. Aos poucos, fui recuperando o que restara da
minha sanidade. Já não era muita coisa antes, mas agora eu estava em uma
situação crítica.
Fechei os olhos e soltei o ar.
Eu era o mais velho ali. Eu tinha que ser o responsável. Era para
Aubrey estar surtando e não eu!
Voltei a abrir os olhos e encontrei os dela ainda preocupados comigo.
Quase sorri, afinal, Aubrey era a porrada garota mais fofa que eu conhecia,
mas me obriguei a focar naquele momento. O agora era mil vezes mais
importante e sério. Olhei de soslaio para o segurança e tomei a mão dela.
— Tem alguma sala privada nesse corredor? Vou precisar usar por
cinco minutos.
— Sim, senhor. Última porta à esquerda, a senha é 2243 e está vazia.
Eu me aproximei do homem e apertei rapidamente o seu ombro.
— Muito obrigado. Qual é o seu nome?
— Luke Cole, senhor.
— Dê o seu nome amanhã na entrada do estádio. Vai ter uma cadeira
para você na primeira fila da arquibancada.
Pensei que o segurança ia chorar, mas não tinha tempo para ficar ali
esperando a sua reação. Forcei um sorriso quando ele começou a me
agradecer e fui com Aubrey até a sala privada, que nada mais era do que um
cômodo todo em veludo vermelho, com uma cama forrada com cetim e uma
mesa cheia de preservativos e lubrificante. Olhei tudo sem prestar muita
atenção e Aubrey parou no meio do quarto com o cenho franzido. De todas
as coisas que ela poderia falar, o que saiu da sua boca foi:
— Você pode distribuir ingressos assim, do nada?
— É realmente com isso que você está preocupada, Aubrey?
Ela piscou e endireitou a postura, passando a mão pela saia
amarrotada. Por alguns minutos, apenas encaramos um ao outro. Eu ainda
estava tentando assimilar o fato de que a mulher em meus braços momentos
atrás, era ela. Aubrey. A garota que eu vi se transformar em adulta, que se
tornou uma amiga especial — a única mulher amiga que eu tinha — e que
nunca, em momento algum, despertou qualquer interesse sexual em mim.
E agora eu sabia qual era o seu gosto mais íntimo.
Merda, eu sentia que minha mente ia explodir.
— Olha, não surta de novo, tá legal? Se você fizer isso, eu vou
começar a surtar também — disse ela.
Apertei a ponte do nariz, bem próximo aos olhos, e respirei fundo
mais uma vez. Tudo o que senti foi o seu cheiro. Aquele aroma de frutas
vermelhas que eu conhecia muito bem, mas que minha mente idiota não
conseguiu identificar que era dela.
— Vamos por partes. O que você está fazendo aqui, Aubrey?
— Eu poderia fazer essa mesma pergunta para você. — Eu apenas a
encarei e ela suspirou. — O dono da boate é tio da Harper.
Tentei buscar em minha mente quem era Harper.
— A gêmea do garoto que você beijou quando era mais nova?
— Isso foi muito específico da sua parte, mas, sim, ela mesmo. Eu
não estava muito a fim de vir, mas o tio dela nos deu pulseiras VIPs e, bem,
eu não tive como recusar. — Observei a pulseira em seu pulso, a mesma
que eu também usava. — Agora me diz o que você está fazendo aqui. Não
deveria estar em concentração no hotel, Ben?
— Sim, eu deveria, mas um amigo me chamou para vir à boate, eu
prometi a mim mesmo que seria algo rápido, por isso deixei a concentração.
Aubrey sacudiu a cabeça e, para minha surpresa, riu.
— Isso é bem a sua cara. Certas coisas nunca mudam, não é mesmo?
Eu apenas dei de ombros, porque ela tinha razão. Eu era muito
dedicado ao esporte e à minha carreira, mas havia momentos em que me
sentia preso e sufocado. Festas e mulheres sempre me tiravam dessa onda
de desespero que adorava me dominar quando eu estava às vésperas de
algum evento importante. Todo mundo achava que eu era irresponsável —
talvez eu fosse um pouco —, mas no fundo apenas eu sabia o que realmente
sentia. Balancei a cabeça, expulsando aqueles pensamentos intrusivos, e
voltei a focar em Aubrey.
— E em que momento você achou que era uma boa ideia ir até o
dark room?
— No momento em que eu vi um cara bonito e decidi ficar com ele
— respondeu bem na minha cara, como se aquilo não fosse nada, e ainda
arqueou uma sobrancelha. Princesinha abusada. — Logicamente, ele não
era você.
Aquilo não deveria me afetar, mas afetou, e eu nem entendia o
porquê. Pensar em Aubrey com outro cara naquela sala escura estava me
causando sentimentos esquisitos demais.
— Se fosse eu, ficaria bastante preocupado.
— Eu não inflaria o seu ego desse jeito, Ben. — Aubrey me deu um
sorrisinho e eu me senti insultado. — Imagino que você foi até o dark room
com a mesma intenção que eu.
— Sim, e é claro que não foi para ficar com você — retruquei,
porque era verdade.
— Parece que foi uma coincidência, então.
— Uma coincidência muito infeliz! — completei.
— Concordo. — Aubrey finalmente perdeu um pouco da postura
confiante e mordeu a pontinha do lábio parecendo incerta. — O que vamos
fazer agora?
Eu encarei a cama e me sentei na beirada, precisando de um segundo
para pensar. Nada veio à minha mente.
— Essa é a pergunta de um milhão de dólares. — Voltei a olhar para
Aubrey e a peguei encarando o meio das minhas pernas. — O que foi?
Segui o seu olhar e vi que minha camisa de botões havia subido um
pouco, deixando à mostra a mancha de porra em minha calça jeans. Aquele
foi só mais um lembrete da loucura que acabara de acontecer e eu me senti
completamente dividido entre o arrependimento e o tesão, porque o que
aconteceu naquela sala escura foi bom pra caralho.
— Porra... — Soltei um palavrão baixinho enquanto arrumava a
camisa no lugar, escondendo a mancha. Aquilo era um absurdo! Eu não
tinha que estar dividido porra alguma, tinha que sentir apenas
arrependimento e pronto!
— Desculpa, eu não deveria ter olhado — disse Aubrey, chamando a
minha atenção.
Eu apenas balancei a cabeça, sem querer falar que eu não estava puto
por ela ter visto minha calça manchada de porra — afinal, Aubrey sabia que
aquilo havia acontecido, eu mesmo disse para ela na sala escura —, mas,
sim, porque eu estava confuso com tudo o que estava sentindo. Aubrey se
sentou ao meu lado e o calor do seu corpo envolveu o meu.
— Acho que eu sei o que devemos fazer — disse ela olhando para as
unhas pintadas de rosa.
— O quê?
— Não contar para ninguém.
Eu soltei uma risada sem humor.
— Acha mesmo que vou conseguir olhar para o Logan e fingir que
nada aconteceu?
— Prefere olhar para ele e contar o que aconteceu? — Aubrey me
encarou e eu percebi que aqueles meses na faculdade haviam tirado dos
seus olhos a inocência de menina que ela tinha. Aubrey não era mais uma
garota, era uma mulher. — Não fizemos nada de propósito, Ben. Você não
sabia que era eu, eu não fazia ideia de que era você. Isso deve contar para
alguma coisa, certo?
Será que contava mesmo? O fato de não ter sido intencional não
tirava o peso da culpa que eu sentia.
Ainda me lembrava nitidamente de como Logan reagiu quando
descobriu que James, nosso melhor amigo, estava com a sua irmã. E entre
eles dois havia sentimento. Como ele reagiria se soubesse que eu havia
tocado em Aubrey? Ela era tão importante para ele quanto Norah.
Logan jamais me perdoaria, principalmente porque sabia que eu não
sentia nada mais do que um carinho de amigo por Aubrey. Ele me pegaria
na porrada, depois me expulsaria da sua vida, e eu ficaria perdido. Minha
família se resumia ao meu pai e aos meus melhores amigos. Não podia
perdê-los.
— Ei. —  Aubrey segurou a minha mão e entrelaçou os nossos
dedos. Eu me senti um cachorro com uma pata imensa sendo tocado por
uma gatinha. — Eu sei que você está arrependido, Ben. Acredite em mim,
eu também estou. O que aconteceu não foi culpa sua, ok?
— Eu deveria ter notado que era você. Como pude não perceber?
Conheço você há anos, Aubrey.
— Eu também conheço você há anos e não o reconheci. A música, a
sensação de estar imerso na escuridão, devem mexer com os nossos
sentidos de alguma forma, Ben. Por isso não notamos nada. Sem contar que
você não sabia que eu estava aqui e eu nem sonhava que você tinha furado a
concentração como fazia quando jogava pelo Crimson. Não foi nossa culpa.
Puxei o ar com força, tentando me apegar às suas palavras.
Racionalmente, eu sabia que Aubrey tinha razão, mas havia uma voz em
meu subconsciente que adorava me espezinhar e que com certeza usaria
tudo isso contra mim em algum momento. Eu também sentia que a
inocência que existia dentro de mim quando o assunto era Aubrey se
quebrara. Olhar para ela agora nunca mais seria a mesma coisa.
Pelo menos nós morávamos em estados diferentes e só víamosum ao
outro em ocasiões especiais. Em algum momento, toda essa situação caótica
se transformaria em uma sombra no nosso passado.
— Você tem razão, princesa — afirmei e Aubrey sorriu.
— Claro que eu tenho. O que os olhos não veem o coração não sente,
não é o que dizem? Sem contar que Logan é meio tapado, ele nunca vai
desconfiar de nada.
Eu ri alto ao ouvir aquilo e parte da tensão que eu sentia foi embora.
Era como se estivéssemos novamente na confeitaria da Sra. Lucy, dividindo
uma fatia de bolo, enquanto Aubrey ria das besteiras que eu falava. Ela
poderia não saber, mas aqueles momentos eram especiais para mim.
— A sua sorte, é que eu não posso contar nada para ele, do contrário,
a primeira coisa que eu ia fazer, era falar que te vi indo para o dark room
com um babaca.
— Você não faria isso. — Eu apenas arqueei uma sobrancelha e
Aubrey me olhou horrorizada. — Você dizia que era meu amigo, Benjamin!
— Sou amigo do Logan primeiro.
— Homens! Vocês sempre vão preferir um ao outro. — Ela revirou
os olhos e se levantou. Foi quase instintivo olhar para ela de cima a baixo e
reparar como estava linda com uma blusinha curta na cor cinza, saia xadrez
e botas de cano longo. — Acho melhor irmos embora, você tem um jogo
importantíssimo amanhã e eu estou morta depois do dia de hoje.
— Pelo menos você vai dormir relaxada, já que gozou duas vezes. —
Aubrey arregalou os olhos e eu dei um tapa em minha boca assim que me
dei conta da merda que havia acabado de falar. Senti meus dentes sofrerem
com o impacto. Pousei a mão em meu peito. — Desculpa, princesa.
Prometo, solenemente, nunca mais fazer piadinhas de cunho sexual na sua
presença.
Aubrey piscou e um sorriso pequeno se abriu em seus lábios.
— Desculpas aceitas, mas o que me conforta, é saber que você
também vai dormir relaxado, afinal, precisa descansar mais do que eu. —
Ela olhou rapidamente para onde a minha blusa cobria a mancha de sêmen e
se virou em direção à porta. — Vamos embora.
Eu me ergui da cama, me obrigando a olhar para as costas de Aubrey
e não para a bunda firme que minhas mãos tocaram mais cedo, e fui atrás
dela. Acenamos para Luke e nem me dei ao trabalho de procurar por
Sebastian quando voltamos para a área VIP, o amigo que me convidara para
a boate naquela noite, pois sabia que ele deveria estar com alguma mulher
bem longe dali, ou no dark room.
Estávamos a caminho do bar quando Aubrey parou de repente na
minha frente, quase me fazendo trombar com ela. Segurei os seus ombros e
perguntei em seu ouvido:
— O que foi?
Ela apontou em direção a um casal que se pegava perto da escada que
levava ao andar principal da boate.
— Aquele era o cara com quem eu queria ficar quando fui ao dark
room. Parece que ele não sentiu a minha falta.
Eu apertei os olhos, pois as luzes pulsavam demais e eu já estava
ficando com dor de cabeça. Percebi que o cara era alto — mas eu era mais
—, forte, — porra, eu era mil vezes mais — e tinha um cabelo castanho
sem graça.
— Sério mesmo que você me confundiu com aquele merdinha? —
perguntei em seu ouvido, meus lábios tocando em sua orelha sem querer.
Aubrey estremeceu, mas eu fingi que não senti. — Estou insultado,
princesa.
Aubrey inclinou a cabeça para cima e eu me abaixei um pouco para
ouvir sua voz.
— Talvez ele beijasse melhor do que você.
Aquilo me arrancou uma risada sincera. Olhei em seus olhos e
aproveitei que estávamos próximos para poder responder:
— Tenho certeza de que não. — Meus olhos voltaram para o babaca
que queria pegar a minha princesa e eu franzi o cenho ao notar quem estava
com ele. Não me esqueceria daqueles cabelos loiros tão cedo. — Se te
conforta, ele está com a mulher com quem eu queria ficar no dark room.
Aubrey fez uma careta e cruzou os braços.
— Sou infinitamente mais bonita e gostosa do que ela — comentou
com desdém e eu sorri.
— Você é, sim — respondi e senti a sua surpresa. Dei um beijo em
sua testa e me afastei, pegando a sua mão. — Vamos logo, precisamos ir
para a cama.
— Você disse que não faria mais piadinhas de cunho sexual.
Eu franzi o cenho e só então entendi do que ela estava falando.
— Não foi uma piada de cunho sexual. Você vai para a sua cama, na
sua suíte, e eu vou para a minha.
Aubrey concordou com a cabeça e fomos juntos em direção às suas
amigas, que já estavam tão bêbadas, que nem sequer perceberam que algo
acontecera entre nós dois. Aubrey disse para elas que havia me encontrado
na pista de dança e que iríamos embora todos juntos. Minutos depois, elas
estavam apagadas no banco de trás do carro, cada uma escorada em um
ombro de Aubrey, e eu estava no banco da frente. O segurança que as
acompanhou e o meu vinham no carro de trás, onde eu viera mais cedo.
No hotel, eu as acompanhei até o andar onde estavam e ajudei
Aubrey e o segurança a colocarem as duas dorminhocas na cama. O
funcionário saiu e Aub me acompanhou até o elevador.
— Não esqueci do meu bolo, ok? Amanhã vamos comer juntos
depois da vitória do 49ers. Isso se você não for convidado para alguma festa
superimportante e se esquecer de mim...
Eu ri e a puxei para os meus braços, sentindo sua cabeça chegar um
pouco acima do meu peito por conta dos saltos enormes que usava.
— Temos um encontro marcado, e não, essa não foi uma piada de
cunho sexual — falei mais baixo, ouvindo sua risada. Ouvi o barulho do
elevador chegando e dei um beijo em seus cabelos. — Boa noite, princesa.
— Boa noite, Ben.
Entrei no elevador e fiquei olhando para Aubrey até as portas se
fecharem. Sozinho dentro da caixa de aço, eu me olhei no espelho e vi o
mesmo Benjamin de sempre, mas sentia que o que acontecera naquela noite
me mudaria para sempre.
As portas do elevador se abriram no andar reservado para os
jogadores e eu respirei fundo antes de sair. Só queria um banho e a minha
cama, mas, ao mesmo tempo, eu sentia que ficar preso sozinho dentro da
minha suíte só faria com que o caos em minha cabeça se tornasse ainda
maior. O que eu poderia fazer, no entanto? Não era como se eu pudesse
desabafar com os meus amigos sobre o que acontecera na boate.
Nenhum deles poderia saber. Nunca.
— Não acredito que você escapou da concentração, Ben!
Parei no meio do corredor, sentindo meu coração chegar à garganta.
Pressionei o meu peito com medo de que o órgão simplesmente pulasse
para fora do meu corpo.
— Seu filho da mãe! Quer me matar de susto?
James soltou uma risada baixa e cruzou os braços. Ele estava na
frente da porta do meu quarto, usando apenas uma regata branca e um short
de dormir.
— Parece que voltamos à época da faculdade.
— Tenho certeza de que você adoraria se tivéssemos voltado —
resmunguei, tirando minha carteira do bolso traseiro da calça e puxando o
cartão-chave de dentro dela.
— Na verdade, não. Sou mais feliz agora sendo um homem casado.
— E por que você está em frente à porta do meu quarto e não com a
sua esposa?
Entramos juntos e as luzes se acenderam por conta do sensor de
movimento. James fechou a porta e logo me acompanhou até o centro da
suíte.
— Deixei o meu necessaire de remédios com você, lembra? Norah
está um pouco enjoada e não consegue dormir.
— E eu pensando que você e Logan iam usufruir do privilégio de
ficarem com suas esposas no quarto de hotel um dia antes do jogo.
— Claro que você acharia isso, afinal, só pensa em sexo.
— Isso é mentira, eu penso em outras coisas além de sexo — falei,
indo até o closet para poder pegar o seu necessaire. — Penso que jamais
vou me casar, porque dizem que a rotina acaba com a vida sexual do casal.
James apareceu na porta do closet e eu joguei a bolsinha de remédios
em sua direção. Ele a pegou no ar e riu.
— E isso não é pensar em sexo?
Eu parei por um momento, me dando conta de que sim, era pensar
em sexo. Dei de ombros e comecei a desabotoar a minha camisa, louco por
um banho.
— Tecnicamente, sim — resmunguei. James estreitou os olhos.
— O que você tem? Achei que voltaria mais animado depois dessa
fuga característica de um adolescente.
— Eu estou ótimo — menti, jogando a blusa de lado e abrindo a
gaveta onde colocara minhasroupas íntimas. Eu era meticuloso com as
minhas roupas e sapatos. Não gostava de nada espalhado ou guardado em
malas. — Por que a pergunta?
— Porque você está claramente de mau humor. O que houve? Não
tinha nenhuma mulher interessante aonde você foi? Afinal de contas, para
onde você foi?
— Fui a uma boate com Sebastian. E sim, tinha muitas mulheres
bonitas e...
— Eu não acredito nisso.
— O quê?
Voltei a encará-lo e encontrei James com os olhos arregalados e um
sorriso de gato começando a se abrir em seus lábios. Ele não olhava em
meus olhos ou para o meu rosto, mas, sim, para baixo. Para a minha calça
jeans. Eu demorei para entender o que estava acontecendo, inclusive
quando ele jogou a cabeça para trás e começou a gargalhar.
— Posso saber o que é tão engraçado, seu babaca?
— Você gozou nas calças! Você gozou nas calças, porra!
James se curvou, rindo da minha cara até perder o ar, e eu olhei para
baixo vendo a mancha que deixava claro que aquela noite não havia sido
um pesadelo. Eu riria junto com James em qualquer outra situação. Aquele
era um momento em que nós, homens, zoávamos um ao outro, mesmo
sabendo que qualquer um de nós poderia passar por algo semelhante. A
questão é que não havia muita graça, porque eu sabia para quem havia
gozado e o peso da culpa deixava um gosto amargo em minha boca.
Apesar disso, forcei uma risada, porque não queria que James
percebesse como eu estava fodido.
— Você não tem moral alguma para rir de mim — retruquei enquanto
o babaca se esforçava para respirar.
— Eu sei, mas, cara, eu perdi o controle com a Norah na primeira vez
em que ficamos juntos — disse ele. Ainda me lembrava quando me contou
aquela história anos atrás, enquanto bebíamos em meu apartamento. — Eu
estava emocionado, ok? Era muito sentimento envolvido, mas você... Porra,
você gozou nas calças com uma desconhecida?
Eu soltei um suspiro de pesar, querendo muito falar que era com uma
desconhecida, pois, em minha cabeça, naquele momento, ela era. E eu só
conseguia pensar em como um amasso com aquela mulher estava
superando quase todas as transas que tive em minha vida inteira. Nunca
senti tanto tesão e meu pau se manteve dentro da calça o tempo todo.
Particularmente, eu amava gozar. A sensação do orgasmo era uma
das melhores do mundo e sempre conseguia silenciar a minha cabeça, mas
havia algo melhor do que simplesmente chegar ao clímax. Eu sentia prazer
em ver a mulher que me acompanhava perdendo o controle e se entregando
a mim, confiando em mim para satisfazê-la. Isso me deixava com mais
tesão do que simplesmente meter sem sentido. Dentro do dark room, eu
estava me sentindo assim, cheio de tesão, porque senti como ela estava se
entregando e confiando em mim, me deixando guiá-la até o prazer absoluto
sem nem me conhecer ou me enxergar.
Teria sido uma das melhores noites da minha vida, mesmo sem sexo,
se não fosse pela descoberta que fiz ao sair do quarto escuro.
— Sim, foi com uma desconhecida. Ela não quis transar e ficamos só
nos amassos.
— Entendi. — James ainda sorria. — Ela devia ser incrível então
para você ter aceitado ficar só nos amassos. Pegou o telefone dela?
Tenho o telefone dela há anos.
— Claro que não. — Passei por ele para sair do closet. — Você sabe
o que pegar o telefone significa, James.
— Sim, eu sei, assim como sei o que significa para um homem adulto
aceitar não transar com uma mulher desconhecida e ficar só nos beijos e na
mão boba. Geralmente, os homens caem fora quando elas não querem algo
mais. Eu sei que você é desse tipo.
Ele tinha razão, eu era mesmo. Gostava de casos de uma noite só,
portanto, não fazia sentido continuar com uma mulher quando ela não
estava na mesma página que eu. Jamais forçaria uma situação. O não era
não e ponto final, se ela não queria, eu respeitava, mas naquela noite tudo
foi diferente, desde o início. Eu simplesmente quis curtir aquele momento e
quando entendi que ela não queria transar de fato, não quis me afastar.
Eu queria... Permanecer ali. Com ela. Beijando a sua boca, sentindo
seu cheiro e o calor do seu corpo enroscado ao meu. Eu quis fazê-la gozar
de novo e acabei perdendo o controle e gozando junto. Não foi intencional
e, talvez por isso, tenha sido tão bom.
Na verdade, foi gostoso pra caralho. E ter aquela certeza era algo
terrível.
— Não sei explicar o que houve, simplesmente aconteceu. Sei que
posso ser previsível, mas me respeite um pouco, às vezes eu saio da minha
rotina.
— Quando o assunto é mulher? Ah, mas não sai mesmo. — O idiota
riu. — Seja sincero, Ben, ela mexeu com você de uma forma diferente.
Admitir isso não vai te matar.
Bem, iria me matar sim, se Logan descobrisse.
— James, eu nunca a vi antes, a conheci em uma boate, ficamos
juntos e agora acabou. Já disse que esse lance de romantismo não funciona
comigo.
— E eu já disse que você é um ser humano como qualquer outro e
que pode acabar se apaixonando em algum momento. Ninguém está imune
a isso.
— Eu estou imune. Sigo invicto desde que nasci! — Sorri para ele,
orgulhoso. — Não vai ser essa mulher que vai mudar isso.
E não mudaria mesmo. Aubrey nunca deixaria de ser quem ela era
para mim: a cunhada de Logan, praticamente sua irmã, e minha amiga. Eu
esqueceria cada minuto que passei com ela naquela sala escura, até o gosto
da sua boca e da sua boceta desaparecer completamente da minha cabeça.
Nunca mais pensaria no que aconteceu.
— Sabe o que eu aprendi depois de passar muito tempo negando o
que eu sentia por Norah? — Eu apenas cruzei os braços e James continuou:
— Que não adianta fugir do que já está predestinado a acontecer, Ben. Se
essa mulher tiver que entrar nesse seu coração de pedra, ela fará isso, e você
só se dará conta quando estiver de quatro por ela.
— Eu nunca mais a verei depois de hoje, James.
Pelo menos, não do modo como a “vi” e senti dentro daquela sala
escura.
— Isso só o destino pode nos dizer, meu amigo. — Ele se aproximou
e deu um tapinha em meu ombro. — Agora vai descansar, precisamos de
você inteiro para amanhã.
— Digo o mesmo para você. Melhoras para Norah.
James acenou e saiu do meu quarto, me deixando sozinho, mas ainda
com a sensação de que estava no mesmo cômodo que eu. Logo entendi que
era o peso das suas palavras. Balancei a cabeça e fui direto para o banheiro,
obrigando-me a esquecer toda aquela besteira e voltar a ser um homem
racional.
Foi difícil pegar no sono, mas quando finalmente consegui, tive
sonhos confusos a noite toda e acordei com o pau duro e todo melado
dentro da cueca. Racionalmente, eu sabia com quem havia sonhado, mas
não queria pensar naquilo. Não queria admitir aquela merda, por isso, tomei
um banho gelado e me recusei a bater punheta. Meu pau teve que ficar mole
na marra, porque eu não ajudaria aquele ser irracional a ter prazer pensando
em Aubrey.
Porra, só o nome dela já ameaçava me dar calafrios.
Assim que me deitei na cama, prometi a mim mesmo que não
voltaria a pensar no que acontecera no dark room. Eu acordaria e seguiria
com a minha vida normalmente como se nada tivesse acontecido. Precisava
manter minha mente limpa e organizada para o jogo, pois sair como
campeão era a única coisa que verdadeiramente importava naquele dia.
Depois que erguesse a taça, eu voltaria para a Califórnia, Aubrey seguiria
para o Alabama e nosso relacionamento seguiria como sempre foi, apenas
amizade e nada mais.
Eu só não contava que o meu subconsciente e o meu pau tivessem
vontade própria e que essa vontade fosse tão diferente da minha.
— Será que nunca vou me esquecer do que aconteceu? Sei que não
sou um homem muito religioso, mas o Senhor poderia me ajudar, Deus —
pedi conforme entrava sozinho no elevador.
Um dos restaurantes do hotel estava reservado para o time e eu sabia
que todos já deveriam estar lá tomando o café da manhã. Não estava com
muito apetite, culpa da tensão que me impedia de relaxar, mas seguiria com
o protocolo do nutricionista e faria o meu desjejum normalmente. Pelo
menos por fora eu tinha que apresentar alguma normalidade.
Entrei no restaurante e a primeira coisa que viforam cabelos
vermelhos que desciam como ondas por costas definidas e delicadas.
Infelizmente, aquela profusão de fios ruivos não era de Avalon. Aubrey já
estava acordada, tomando o café da manhã ao lado da irmã e de Norah em
uma mesa com mais três cadeiras livres. Eu sabia que uma delas era para
mim, mas me perguntei se achariam estranho se eu decidisse me sentar com
os outros jogadores do time.
Normalidade, Benjamin. Você disse que agiria com normalidade.
Respirei fundo e fui direto ao bufê. Servi-me de ovos mexidos,
bacon, torradas e peguei uma xícara de café preto sem açúcar.
Cumprimentei alguns dos meus companheiros de time que estavam por ali e
me virei para seguir em direção à mesa, vendo que James e Logan já
estavam sentados ao lado de suas esposas. Só havia mais uma cadeira livre
ao lado de Aubrey, porque o que já estava ruim, sempre podia piorar.
—  Bom dia — saudei a todos e me sentei ao lado de Aubrey.
Ela tentou disfarçar, vi seus ombros ficando mais rígidos conforme
me desejava bom dia por trás da xícara de café.
— Que história é essa de que você gozou na calça ontem à noite? —
perguntou Logan de repente, acabando com o silêncio à mesa.
Aubrey se engasgou e quase cuspiu todo o café. Seu rosto começou a
ficar vermelho conforme tossia e tentava respirar. Avalon se levantou
correndo, assim como eu e todos os outros, e começamos a bater em suas
costas. Logan levantou os braços dela, e seus olhos verdes desesperados e
cheios de lágrimas encontraram os meus.
Merda. Mil vezes merda!
— Com todo mundo em cima dela desse jeito, Aubrey não vai
conseguir respirar! — Norah foi a voz da sabedoria e James foi o primeiro a
se afastar, seguido por Logan, que soltou o braço de Aubrey.
Avalon massageou o peito da irmã e eu toquei em suas costas, vendo
Aubrey apertar o canto dos olhos enquanto ainda soltava tossidas
esporádicas. Por fim, ela conseguiu puxar um pouco mais de ar e falou com
a voz rouca:
— Estou bem...
— Você não está nada bem — Avalon murmurou com angústia.
— Estou sim, Ava, juro. O café... — Ela tossiu mais uma vez. —
Desceu pelo lugar errado. Foi só isso.
— Tem certeza?
— Sim. — Aubrey sorriu e tossiu de novo, abanando a mão. — Pode
voltar a se sentar, já passou.
Avalon ficou por mais alguns segundos ao lado da irmã antes de
voltar a se sentar ao lado de Logan, olhando feio para a cara dele. O babaca
forçou um sorriso olhando para ela e depois para mim enquanto eu voltava
a me sentar.
— Desculpa, a curiosidade foi maior do que o meu bom senso.
— Você não teria sido tão sem noção se James tivesse se mantido de
boca fechada! — falei entredentes e James arregalou os olhos.
— Eu pedi para que Logan mantivesse isso em segredo!
— Igual como você manteve em segredo quando isso aconteceu
comigo anos atrás? — Logan questionou.
— Mas eu pensei que podia contar para Benjamin, assim como
acreditei que podia contar a situação dele para você. Não somos melhores
amigos?
— Então por que você não conta para Logan que também gozou nas
calças quando ficou com Norah pela primeira vez? — retruquei, pois tinha
certeza de que Logan não fazia ideia sobre aquilo.
— É o quê? — Logan quase se levantou da cadeira, mas Avalon foi
mais rápida e deu um tapa na mesa, fazendo-o ficar no lugar e praticamente
chamando a atenção de todos no restaurante.
— Parem com isso! Vocês parecem três crianças, pelo amor de Deus!
— Seu rosto estava vermelho e fiquei com medo de que ela resolvesse dar
uns tapas na gente ao invés de bater só na mesa. — Esse não é o tipo de
assunto a ser tratado na mesa de café da manhã.
— Eu concordo — disse Norah e pude perceber que ela também não
estava muito feliz.
— Sinto muito, Norah, fui um idiota — admiti, afinal, acabei
expondo a intimidade dela sem querer. — Mas foi James quem começou.
— Você pede desculpas e depois joga a culpa em mim?
— Sim, porque é você que tem uma língua que não cabe na boca —
acusei, olhando para Logan em seguida. — E você é outro fofoqueiro do
caralho.
— Não sou fofoqueiro, só estou curioso, mas depois você me conta
melhor o que aconteceu...
— Não! — Aubrey disse de repente, alto o suficiente para voltar a
chamar a atenção dos outros no restaurante. Ela me olhou com as bochechas
vermelhas, em seguida, encarou a todos na mesa forçando um sorriso. —
Quer dizer, por que quer saber disso? Vocês deveriam estar focados no jogo
e não na vida sexual do Benjamin, que com certeza nem deve ser tão
interessante quanto imaginam.
— E como você sabe disso, mocinha? — Avalon perguntou.
— Eu não sei, só estou deduzindo.
— Pois saiba que a minha vida sexual é muito interessante, princesa
— falei, vendo seus olhos encontrarem os meus. Ela os estreitou.
— Parabéns para você, mas ninguém se interessa por isso.
— Na verdade, até eu fiquei um pouco curiosa — disse Norah,
chamando a nossa atenção enquanto pescava uma uva no meio da salada de
frutas que comia. — Ela era bonita? Devia ser linda para, sabe, fazer você
perder o controle.
Aubrey me olhou com uma sobrancelha arqueada e um sorrisinho,
como se me desafiasse a responder.
— Ela era linda, sim — respondi, olhando para Aubrey por um
segundo antes de focar em Norah. — Mas como nunca mais ficarei com ela,
isso é irrelevante.
— Você acabou de chamá-la de irrelevante? — Aubrey me
questionou.
— Não, eu não a chamei de irrelevante. O que eu quis dizer, é que o
que aconteceu ontem foi irrelevante, porque não voltará a se repetir.
— Tenho certeza de que ela também pensa assim.
— Ótimo, então eu e ela estamos na mesma página. Agora vamos
encerrar esse assunto. — Enfiei uma porção de ovos na boca e perguntei a
primeira coisa que surgiu em minha mente assim que engoli. — E as suas
amigas? Estão com ressaca depois de terem bebido tanto ontem?
Eu senti que havia feito a pergunta errada assim que Aubrey
tensionou a mandíbula e Logan perguntou com curiosidade:
— Como sabe que elas beberam ontem à noite?
Quase me engasguei.
— Co-como eu sei? — Precisei tomar um gole de café. Desceu
quente como o inferno pela minha garganta. Decidi não mentir. — Eu
estava na mesma boate que Aubrey ontem à noite e nos encontramos
quando eu estava indo embora. Até ajudei Wayne a subir com as meninas,
pois elas beberam além da conta.
— Que coincidência! — Norah comentou e vi que acreditava
genuinamente naquilo.
Foi mesmo uma coincidência, eles só não poderiam começar a
desconfiar que a mulher com quem eu estive era Aubrey.
— Vocês poderiam ter se encontrado antes, assim Aubrey passaria
para gente a fofoca completa sobre a sua noite — disse James com um
sorriso idiota.
— Eu não faria isso, estava me divertindo, não ficaria tomando conta
de Benjamin como se fosse uma babá.
— Eu ficaria decepcionado se você perdesse a sua noite fazendo isso.
— Logan riu.
— Na verdade, ela curtiu muito ontem, até ficou com um cara que,
em um consenso geral, todo mundo diria que é gostoso — comentei e
Aubrey me encarou boquiaberta. — Eu os vi juntos antes de me aproximar
e falar com ela.
— Sobre isso você não me contou! — Avalon disse, se esticando
para dar um tapinha na mão de Aubrey sobre a mesa.
— Meus ouvidos sangram quando ouço esse tipo de coisa —
resmungou Logan. — Não quero saber de mais nada.
— Você é tão dramático, irmãozinho — Norah riu.
Para a minha sorte, o técnico se aproximou da mesa e disse que nos
encontraríamos em uma hora para irmos para o estádio. Suas palavras
fizeram com que o assunto à mesa se voltasse para a partida de mais tarde e
eu fiquei aliviado. Logo terminamos a refeição e vi quando Aubrey se
afastou após avisar que pegaria um pouco de café para as amigas. Resolvi
esperar por ela e vi a sua surpresa quando me encontrou sozinho na porta do
restaurante.
— Vou te acompanhar — anunciei e ela arqueou uma sobrancelha.
— É mesmo, gostosão?
Eu ri baixinho ao ouvir aquilo e caminhei ao lado dela até chegarmos
ao elevador. Só voltei a responder quando estávamos dentro da caixa de
aço, sozinhos.
— Eu não contei nada para o James, não quero que pense que sou um
fofoqueiro. Quando cheguei no nosso andar ontem, eleestava em frente à
porta do meu quarto. Nós conversamos por um tempo dentro da suíte e ele
acabou vendo a mancha na minha calça.
Para a minha surpresa, Aubrey riu.
— Deve ter sido engraçado.
— Não tanto quanto parece — falei. — Ele nem imagina que tudo
isso envolve você.
— Eu sei que não, combinamos que não contaríamos para o Logan,
mas imagino que isso quer dizer que não diremos nada para ninguém,
certo? — Eu apenas concordei com a cabeça. — Eu também não falei nada.
Isso ficou óbvio quando Avalon disse que não sabia que eu tinha ficado
com alguém ontem.
Fiz uma careta, me sentindo meio idiota. Quis massagear o meu ego
e perturbar Aubrey, mas não pensei nas consequências.
— Sinto muito, fui um babaca.
Aubrey balançou a cabeça.
— Você teria sido um babaca se dissesse que eu sou irrelevante.
Sem pensar muito, aproximei-me de Aubrey e toquei em seu queixo
com a ponta dos dedos. Aquele cheiro de frutas vermelhas, que agora eu
jamais esqueceria, me atingiu com tudo e fez uma conexão direta com
aquela parte do meu corpo que eu estava mais do que disposto a ignorar.
— Você nunca será irrelevante para mim, princesa — afirmei, pois
aquela era a única verdade que eu sabia. Aubrey soltou um suspiro audível
quando deixei um beijo em sua testa. — Entendeu?
— Entendi — respondeu baixinho com o rosto próximo demais do
meu e aqueles olhos verdes levemente arregalados.
O barulho do elevador parando foi o que me fez sair do magnetismo
que Aubrey me envolvia. Afastei-me e ela engoliu em seco, abrindo um
sorriso e dando um passo para perto da porta.
— Nos vemos mais tarde, Ben. Sei que seremos campeões hoje.
— Essa é a única certeza que eu tenho, princesa.
Aubrey piscou para mim e saiu do elevador, deixando-me sozinho,
mas com o seu cheiro ainda no ar.
— A minha cabeça quer me matar. — Foi a primeira coisa que
Harper murmurou assim que se sentou na cama.
Ao seu lado, com os olhos ainda fechados, Summer soprava o café
que eu havia levado para as duas. Eu apenas as observei, sentada na beira
da cama — precisei pedir a ajuda de Wayne para poder juntar a minha cama
à de Summer, pois ela e Harper deitadas juntas poderiam cair de cara no
chão durante a madrugada —, pensando que não poder beber era uma
bênção. Na minha cabeça, não fazia sentido sofrer daquela forma na manhã
seguinte.
— Na mesinha de cabeceira tem água e analgésico — informei a
elas.
— Você é a melhor amiga de todas, Aub — resmungou Summer,
finalmente abrindo os olhos. — Mas estou com um pouco de inveja por
você estar tão bem enquanto estou me sentindo um caco.
— Esse é um dos benefícios de se manter sóbria. — Sorri. — Daqui
a pouco vocês estarão bem.
— Deus te ouça. Como chegamos aqui? Eu não me lembro de nada.
— Isso é preocupante, Harper. O que seria de vocês duas sem mim?
— Nada — Summer respondeu. — Agora mate a nossa curiosidade.
— Não se lembram de nada mesmo?
As duas sacudiram a cabeça, me dando a esperança de que talvez não
se lembrassem de ter visto Benjamin ontem à noite. Não esconderia das
duas que ele viera embora conosco, mas preferia que não se lembrassem de
que eu e ele aparecemos juntos logo depois de eu ter passado um tempo
dentro do dark room. Harper franziu o cenho.
— Acho que tenho uma vaga lembrança de que Benjamin Ryan me
carregou no colo, mas isso com certeza foi um sonho.
— Um sonho incrível. Garota sortuda. — Summer riu, dando uma
cotovelada de leve em Harper, que soltou uma risada.
— Eca, ele é muito velho! Pode ser gostoso, mas já tem quase trinta
anos.
— E daí? — Summer perguntou.
— E daí que eu prefiro os garotos da minha idade.
Summer revirou os olhos.
— Você e Aubrey são iguais. Ela também não fica com homens mais
velhos.
Não ficava, quase respondi, mas consegui segurar a minha língua.
Harper começou a elencar seus motivos para não ficar com homens com
mais de vinte e um anos, mas minha mente traiçoeira me levou, pelo que
poderia ser a milésima vez, para a noite de ontem. Eu quase podia sentir as
mãos firmes de Benjamin em meu corpo, sua pegada decidida, sua barba
por fazer roçando a minha pele e aquele lugar maravilhoso entre as minhas
pernas, sua língua habilidosa dentro da minha boca e da minha boce...
Sacudi a cabeça com força e me levantei da cama, sentindo dois
pares de olhos em cima de mim. Harper se interrompeu no meio da frase e
eu quase me bati por ter chamado a atenção dela e de Summer.
Parabéns, Aubrey!
— O que foi? — Summer questionou.
— Nada. Tomei muito café, eu acho. Estou agitada. — Disfarcei,
erguendo os braços acima da minha cabeça e começando a me alongar. —
Sobre o Ben, você não sonhou, Harper. Ele veio embora conosco e ajudou
Wayne a trazer vocês duas para o quarto. Não foi exatamente no colo, pois
você ainda conseguia andar, mas sua mente não está te pregando peças.
— Sério? — Seu rosto começou a ficar vermelho, mas ela
rapidamente o escondeu com as duas mãos. —Meu Deus, que vergonha!
Nunca troquei mais do que duas palavras com ele e agora vou ficar
conhecida para sempre como a sua amiga bêbada!
— Você pelo menos já o conhecia pessoalmente, e eu? Fala sério! —
Summer bufou e se levantou, parecendo frustrada.
— Não tem motivo para vocês ficarem assim, meninas. Benjamin
não é santo, ele sabe muito bem qual é o efeito do álcool no organismo de
uma pessoa — falei, esticando-me até alcançar a ponta dos meus pés com
facilidade. — E não as julgou em nenhum momento.
— Você poderia ter nos contado que ele estava na boate — Summer
resmungou.
— Eu não sabia. Encontrei-o quando estava indo chamar vocês para
ir embora. Como também está hospedado nesse hotel, ele resolveu vir com
a gente.
— Está perdoada, então. — Harper sorriu e decidiu começar a tomar
o café que levei para ela. — Agora você precisa nos contar todos os
detalhes sobre o que aconteceu no dark room!
— Verdade! Nossa, eu tinha quase me esquecido! — Summer voltou
a se sentar na cama e me olhou de forma ávida, quase quicando sobre o
colchão. — O que aconteceu lá dentro? O cara tinha pegada? Eu lembro
que ele era lindo!
Eu parei com as mãos na cintura, sem saber o que exatamente contar
para elas. A única certeza que eu tinha, era de que jamais admitiria que
fiquei com Benjamin. Não porque não confiava em minhas amigas, sabia
que elas guardariam segredo, mas porque falar em voz alta deixaria tudo
ainda mais real e eu queria esquecer o que havia acontecido. Pelo bem da
minha sanidade, era melhor que apenas Benjamin e eu fôssemos os únicos a
ter conhecimento do que acontecera naquela sala escura.
Por isso, dei a elas todos os detalhes que queriam, mas deixei que
pensassem que eu ficara com o homem desconhecido. Era melhor assim.
Aquele seria um segredo que eu levaria para o túmulo. Nunca, em
hipótese alguma, alguém saberia do que aconteceu e aquele erro jamais
voltaria a se repetir.
O Allegiant Stadium estava lotado. Uma profusão de blusas brancas e
vermelhas — cores dos dois times — tomava conta das arquibancadas. Do
camarote, Harper, Summer e eu víamos a montagem surpreendentemente
rápida da estrutura onde o cantor da noite se apresentaria. O Super Bowl era
o evento mais importante do futebol americano e o Halftime Show era quase
como uma consagração para um artista da música.
Aproveitando que a equipe ainda estava trabalhando no gramado, fui
até o banheiro exclusivo do nosso camarote e usei um dos dois reservados
rapidamente. Eu estava empolgada para a apresentação, mas também um
pouco preocupada.
O 49ers estava perdendo por apenas dois pontos para o Chiefs.
Encontrei com Avalon do lado de fora do reservado e ela me deu um
sorriso antes de passar o braço pelos meus ombros.
— Está nervosa?
— Um pouco. Você não está?
— Muito. — Ela deu uma risadinha. — Mas eu conheço o Logan, ele
não sairá daqui sem o título de campeão.
— Tenho certeza disso. Vamos comemorar muito hoje à noite!
— Vamos sim, principalmente depois que eu contar uma novidade
para ele.
— Que novidade?
Avalon se afastou um pouco de mim e tirou o celular do bolso,
mexendo rapidamente no aparelho. Vi de relance quando ela abriu o
aplicativo defotos, mas escondeu a tela do meu campo de visão por alguns
segundos, antes de entregar o aparelho em minha mão. Olhei para a foto na
tela, demorando um tempinho para assimilar o que eu estava vendo.
Então, eu compreendi. E senti que meu coração poderia sofrer uma
parada a qualquer momento.
— Ah, meu Deus! Isso é o que eu estou pensando que é? — Avalon
apenas sorriu com os olhos cheios de lágrimas e eu soltei um gritinho que
poderia facilmente ter chamado a atenção de todos do lado de fora. —
Minha nossa, Ava, você está grávida?!
Avalon apenas assentiu de novo, com um sorriso enorme no rosto, e
eu gritei mais uma vez antes de abraçá-la muito forte. Eu não conseguia
acreditar. Estava sentindo tanta coisa, choque pela notícia, felicidade por
saber que me tornaria tia e uma emoção indescritível pela minha irmã.
Ela se tornaria mãe.
Não que já não fosse, pois depois da morte da nossa mãe, ela me
criou e tomou esse papel na minha vida, mas agora era diferente. Havia um
bebezinho dentro dela, uma mistura sua com o Logan, e eu sabia que os
dois seriam os melhores pais do mundo.
— Para de chorar, sua boba! — Ela pediu em meu ouvido e eu nem
percebi que estava chorando.
Afastei-me e soltei uma risada emocionada ao ver que ela também
chorava.
— Você não pode falar nada de mim, olha o seu estado.
— São os hormônios. — Avalon sacudiu a mão na frente do rosto,
mas eu logo a impedi de continuar e limpei suas lágrimas com meus dedos.
— Não acredito que vou ser uma grávida chorona.
— Quando descobriu? E por que não me contou assim que soube?
— Fiz o teste antes de vir para cá. Se eu fizesse antes, ia querer
contar para Logan na hora e temi que a notícia atrapalhasse a sua
concentração no jogo.
— Acho que ele ia jogar com ainda mais garra.
— Ou desmaiaria e daria um desfalque no time. — Nós rimos, pois
era mais provável que aquilo acontecesse mesmo.
— Ele vai ficar eufórico, Ava.
— Será mesmo? Logan sempre deixou claro que queria ter filhos,
mas não planejamos essa gravidez. E se for muito cedo? E se não
soubermos o que fazer? E se eu for uma péssima mãe?
— Ei, pare com isso! — pedi, vendo a insegurança nublar um pouco
a felicidade em seus olhos. Toquei em seus ombros com delicadeza. —
Logan vai amar essa notícia, Ava. O sonho dele sempre foi ter uma família
com você. E esse bebê veio na hora certa, vocês dois estão casados há quase
cinco anos, já realizaram seus sonhos profissionais, e, acima de qualquer
coisa, se amam profundamente. O meu sobrinho ou sobrinha só está vindo
para somar — falei, tocando a sua barriga sem qualquer sinal de gravidez.
— E você será a melhor mãe do mundo. Como pode pensar em algo
diferente depois de tudo o que fez por mim?
— Eu fiz o que qualquer irmã faria.
— Não, você fez muito mais, Ava. Você lutou por mim e me amou.
Você salvou a minha vida e foi a mãe que a nossa mãe não teve tempo de
ser para mim. — Sequei as novas lágrimas que escaparam dos seus olhos,
sentindo os meus ainda mais marejados. — Sem você, eu não seria nada, eu
nem mesmo estaria aqui. Tudo o que sou, devo a você.
— Não é justo você me falar tudo isso agora, sinto que nunca mais
vou parar de chorar.
— Mas é um choro de alegria, não é?
— Sim. A época da tristeza já passou. Eu tenho tudo o que nunca
imaginei que teria, Aubrey. Você viva e saudável, um homem incrível ao
meu lado, uma carreira consolidada, e agora vou ser mãe. Como poderia
estar triste? Sou muito grata por tudo, mas, principalmente, por ter você. Eu
te amo, pirralha.
— Eu te amo mais, rabugenta — brinquei com o apelido que dei para
ela quando eu era criança e ela vivia pegando no meu pé.
Rimos e eu a abracei mais forte, sentindo uma felicidade que não
cabia no meu peito. Avalon merecia exatamente a vida que tinha agora. Nós
ficamos mais um tempo no banheiro, até os fogos que anunciavam o show
começarem a explodir no céu. Secamos as lágrimas e retocamos a
maquiagem rapidinho. Antes de sairmos, Avalon pediu para que eu
guardasse segredo sobre a gravidez, como se eu fosse mesmo tirar dela e de
Logan o privilégio de dar a notícia para toda a família — que, inclusive,
estava no camarote naquela noite.
O pai e a avó de Logan, os pais de James e sua avó, o pai de
Benjamin, todos estavam presentes para testemunhar a mais uma vitória dos
meninos.
O show foi incrível e curti muito ao lado das minhas amigas, de
Avalon e Norah. Tempos depois, os meninos entraram novamente em
campo e o jogo começou. Eu me aproximei do parapeito do camarote,
vendo Logan receber a bola e jogar para James que estava mais próximo.
James correu com tudo de si, evitando os defensores do time adversário,
avançando jardas até chegar bem próximo da end zone. Senti o estádio
estremecer quando ele fez o touchdown que virou o placar e deixou o 49ers
na frente do Chiefs.
Avalon me agarrou e nós gritamos juntas. Vi todos no camarote
vibrarem, principalmente o pai de James, que parecia estar prestes a sofrer
uma síncope. Norah chorava e vovó Meredith e vovó Emory pareciam rezar
baixinho.
O jogo continuou e o Chiefs não pontuou, até que chegou a última
jogada do 49ers. Logan recebeu a bola e Benjamin se movimentou em
campo, bloqueando o linebacker que estava tentando avançar para cima do
QB e impedir o seu passe.
Então, tudo aconteceu muito rápido.
Pelo menos dois jogadores, que eu não me lembrava da posição,
avançaram para cima de Benjamin, empurrando-o com violência. Apesar de
aquele ser um jogo de contato e de ser normal os jogadores da linha
defensiva se jogarem sobre os jogadores de ataque, senti um peso ruim no
peito quando vi Benjamin cair no chão, sendo enterrado pelos corpos
gigantes dos outros jogadores.
O jogo foi paralisado e os defensores do Chiefs saíram de cima do
Ben, só naquele momento nos dando uma visão clara de como ele estava no
campo.
Minha respiração parou em algum lugar entre a minha traqueia e os
meus pulmões.
Benjamin parecia berrar sob o capacete, já sem o protetor bucal,
conforme segurava o joelho esquerdo e se balançava sem parar, como se seu
corpo não suportasse a dor que ele estava sentindo.
Então, o running back desmaiou e o estádio pareceu desmoronar.
Minha mente misturava as lembranças das últimas horas e fazia tudo
passar diante dos meus olhos como um grande borrão.
A equipe médica entrando no campo e tirando Benjamin às pressas
do gramado. Jornalistas correndo de um lado para o outro tentando saber
notícias e filmar tudo, os jogadores assustados, James e Logan impedidos
de seguirem os socorristas, os dois com uma expressão claramente de
desespero no rosto, nosso camarote se tornando um caos. O pai de
Benjamin foi o primeiro a sair de onde estávamos, tentando encontrar
alguém que pudesse passar informações do filho, e nós logo o seguimos.
O pai de Logan, que sempre conseguia manter a calma e ser mais frio
em momentos como aquele, tomou à frente e logo conseguiu falar com
alguém importante dentro do time. Nos passaram o nome do hospital para
onde Benjamin fora levado e eu acompanhei Robert, pai de Ben, junto com
as minhas amigas e o pai de Logan. Avalon, Norah, vovó Meredith, a avó e
os pais de James ficaram no estádio, pois o jogo ainda não tinha finalizado.
Não queria imaginar como estava a cabeça de James e Logan naquele
momento, mas torci para que eles dessem tudo de si, assim como Benjamin
havia dado.
E eles deram. O 49ers foi campeão do Super Bowl, mas ninguém
estava em clima de comemoração. Na internet não se falava de outra coisa
que não fosse Benjamin, vídeos do momento da sua lesão estavam sendo
compartilhados aos montes, de diversos ângulos. Alguns torcedores mais
aflorados queriam que os jogadores do time adversário fossem penalizados,
mas ficara bem claro que o contato ocorrido não infringia as regras da liga.
Fomos realocados em uma outra sala de espera quando todo mundo
chegou ao hospital. Fui rapidamente até Avalon, preocupada com a sua
palidez, mas ela me garantiu que fora o enjoo causado pelo nervosismo, não
estava sentindo mais nada. Acreditei nela e voltei a me sentar ao lado do pai
de Ben, quenão parava de mexer as pernas desde que chegamos ao
hospital.
Eu conhecia Robert Ryan, mas não tanto quanto gostaria. Diferente
do filho, ele era um homem recluso, que só ia à Califórnia em datas e
eventos importantes. Segundo Benjamin, ele era um Xerife aposentado e
agora vivia para a ONG de animais da qual era dono. Ele era como uma
imagem de Benjamin mais velho. Com quase sessenta anos, Robert era
forte, tinha fios grisalhos em meio ao cabelo castanho-claro, um pouco mais
escuro do que os fios loiros de Benjamin, e leves rugas em volta dos olhos,
que eram da mesma cor dos de Ben. Tomando coragem, toquei em sua mão
no braço da cadeira e apertei de leve os seus dedos gelados.
— Vai ficar tudo bem, Sr. Ryan. Benjamin é muito forte, além de
teimoso. Ele não vai se deixar abater.
Seus olhos sérios e angustiados encontraram os meus. Estávamos há
pelo menos duas horas no hospital e tudo o que sabíamos, era que Benjamin
estava passando por uma cirurgia no joelho esquerdo. Aquela palavra tão
temida por jogadores nos deixou ainda mais preocupados. Pelo desmaio de
Ben, eu imaginava que ele havia se lesionado de uma forma mais séria, mas
não a ponto de precisar de uma cirurgia.
Benjamin tinha apenas vinte e cinco anos. Era jovem e estava no
auge da carreira. Nosso maior medo era de que ele nunca mais voltasse aos
campos, mas eu não queria deixar que aquele pensamento se enraizasse em
minha mente.
— Por favor, me chame apenas de Rob — pediu ele com a voz tensa
e eu assenti. — Sei que Benjamin é forte, mas dependendo do nível da
lesão, ele pode nunca mais voltar a jogar. Isso destruiria a sua vida.
— Sei que pode parecer clichê, mas precisamos ter pensamento
positivo. O fato de ele estar em uma cirurgia nos assusta, mas não será nada
grave a ponto de ele nunca mais poder jogar futebol.
— Se Deus quiser. — Ele tentou dar um sorriso. — Ben já me falou
bastante sobre você.
Não consegui impedir que minhas sobrancelhas se arqueassem de
surpresa.
— É mesmo? Espero que tenha falado bem.
— Muito bem. Ele me disse que você é a única amiga mulher que ele
possui.
Minha risada soou inapropriada demais para o ambiente onde
estávamos.
— Isso é a cara do Ben, mas preciso alertar que ele mentiu. Além de
mim, ele tem Avalon e Norah como amigas.
— Ele as chama de cunhadas. — Rob deu um pequeno sorriso,
sincero daquela vez. — Antes de ir para a faculdade, Benjamin não tinha
muitos amigos. Ele era um garoto recluso na escola e se envolvia em mais
confusões do que eu gostaria.
— Benjamin? Um adolescente recluso? — Aquilo me surpreendeu de
verdade. — Estamos falando da mesma pessoa?
— Sim, estamos. Você não imagina como Benjamin era entre os seus
quinze e dezoito anos. Boa parte desse cabelo branco que tenho hoje, é por
culpa dele. — Uma risada grave escapou do fundo da sua garganta. — Mas
ele mudou quando conseguiu a bolsa para entrar na UA e conheceu Logan e
James. Foi a primeira vez que vi meu filho se abrindo para pessoas
desconhecidas.
A curiosidade me deixou tensa sobre a cadeira. Queria interrogar o
pai de Benjamin e pedir para que me contasse cada detalhe da adolescência
aparentemente conturbada do filho, mas me contive, pois sabia que não era
o momento para fazer perguntas tão pessoais.
— Ele realmente mudou. Até onde sei, Benjamin era muito popular
na faculdade e tinha muitos amigos.
Robert sacudiu levemente a cabeça.
— Não, Benjamin não tinha muitos amigos. Ele tinha colegas de
faculdade, pessoas que o conheciam por causa do futebol e das festas que
frequentava, mas amigos de verdade? Apenas aqueles dois. — Ele apontou
para Logan e James, que conversavam baixinho com os pais e dois
representantes técnicos do time. — E agora você.
As palavras de Robert me causaram emoções distintas. Fiquei feliz
por saber que Benjamin realmente me via como amiga e já tinha até mesmo
falado de mim para o seu pai, mas fiquei pensativa sobre como as
aparências poderiam enganar, mesmo quando fazíamos parte da vida de
uma pessoa.
Convivi com Ben durante boa parte da minha adolescência e sempre
o vi cercado de pessoas. Poucos eram os finais de semana que ele passava
em casa quando ainda estava na faculdade e depois de nos mudarmos para a
Califórnia, sua agenda sempre lotada de compromissos me dava a sensação
de que ele nunca estava sozinho e que tinha muitos amigos. Ao que parecia,
eu estava enganada.
A entrada do médico na sala de espera fez com que todos se
levantassem. Ele tinha um semblante sério, que não dava qualquer dica do
que estava prestes a falar.
— Como está o meu filho, doutor? — Robert perguntou ao meu lado,
o tom levemente descontraído havia desaparecido.
Por favor, nos dê boas notícias.
— Benjamin sofreu uma entorse do ligamento cruzado anterior. —
Meus olhos correram imediatamente para Logan e James. Os dois estavam
pálidos, mas foi a expressão de pesar no rosto do meu cunhado que me
deixou com aperto no peito. — Houve uma ruptura em um dos principais
ligamentos do seu joelho esquerdo e precisamos fazer um enxerto, usando
os tendões dos músculos isquiotibiais.
Não fazia ideia de que músculos eram aqueles, mas não me dei ao
trabalho de pensar naquilo. Não quando havia coisas mais urgentes para
perguntar.
— E o que tudo isso significa, doutor? Benjamin vai ficar bem? Ele
vai poder voltar a jogar? — As perguntas pularam da minha boca antes
mesmo que Robert pudesse tomar a palavra de novo.
— Precisamos ser cautelosos agora. Antes de dar qualquer resposta
definitiva, é preciso que Benjamin se recupere. Começaremos um
tratamento longo e conservador com fisioterapia e reabilitação.
— Quanto tempo, doutor? — Logan perguntou.
— A lesão de Benjamin foi realmente muito grave e a recuperação
vai ser longa. Não posso dar um tempo concreto, mas estimo que de oito
meses a um ano. Só então faremos uma avaliação para ter a certeza de que
ele estará apto para voltar a jogar.
Senti minhas pernas ficarem fracas e me sentei novamente. Oito
meses a um ano. Era muito tempo. Benjamin perderia a próxima temporada
de futebol justamente agora que o 49ers estava em seu auge, vencendo dois
Super Bowl seguidos.
Ouvi por alto o médico dando mais informações sobre como foi a
cirurgia e fiquei mais confiante por ele ter dito que foi um sucesso, mas,
mesmo sendo leiga, eu sabia que o maior problema não era a cirurgia em si,
mas a recuperação total de Benjamin, e em nenhum momento o médico deu
a certeza de que ele voltaria para o campo.
Ben ainda estava desacordado por conta da cirurgia, por isso,
voltaríamos no dia seguinte para visitá-lo. Do lado de fora do hospital,
repórteres e fãs faziam vigília, e o time anunciou que informaria o boletim
médico de Benjamin em breve. Voltamos para o hotel cercados por
seguranças e, dentro da suíte, o clima estava totalmente diferente da noite
anterior. Sentada entre Harper e Summer na cama, eu finalmente deixei a
angústia me invadir.
— E se Ben nunca mais voltar a jogar?
Só percebi que eu estava chorando quando lágrimas grossas
desceram pelas minhas bochechas e as duas me abraçaram. Eu queria seguir
o conselho que dei para o pai de Ben, mas agora estava com medo de
verdade. O caso dele era bem mais sério do que eu pensava e as palavras de
Robert voltaram com tudo em minha mente.
“Sei que Benjamin é forte, mas dependendo do nível da lesão, ele
pode nunca mais voltar a jogar. Isso destruiria a sua vida.”
— Aubrey, não fique assim. Já viu o tamanho do Benjamin? O
homem é forte como um touro, não vai ser essa lesão que irá derrubá-lo —
Summer me confortou.
— Exatamente, Aub. E é preciso ter em mente que esse é um
momento em que Benjamin vai precisar muito do apoio de vocês e de
palavras de incentivo. Você não pode se deixar levar pelo medo.
— Sei disso — murmurei em resposta, pois sabia que elas tinham
razão. — Não quero ser pessimista, mas o fato de o médico não ter dado
qualquer resposta definitiva me deixa apreensiva.
— É normal que se sinta assim, acredito que todo mundo está com
essa mesma sensação, mas Benjamin vai se recuperar. Outros jogadores já
sofreram lesões gravese hoje jogam normalmente — disse Harper.
— Com o tratamento adequado, Benjamin vai voltar a jogar como se
nada tivesse acontecido — assegurou Summer com uma voz que pingava
bom ânimo.
Eu confiei em minhas amigas, mesmo sabendo que nenhuma delas
poderia me dar qualquer garantia. Aquele era um momento em que palavras
de esperança traziam acalento e prometi a mim mesma que não deixaria
qualquer dúvida tomar conta de mim enquanto eu estivesse na presença de
Benjamin.
Nós três nos ajeitamos para dormir e Harper decidiu passar mais
aquela noite conosco. Não quis ligar a TV, pois tinha certeza de que
estariam reprisando o momento em que Benjamin foi levado ao chão pelos
jogadores do outro time, mas foi só entrar nas redes sociais, que entendi que
não tinha como fugir. As pessoas só falavam sobre aquilo. Eu esperava que
Benjamin não tivesse acesso a um celular tão cedo, principalmente porque
havia comentários desanimadores.
As pessoas pareciam fazer questão de destilar veneno na internet.
Apesar de a maioria estar desejando boa recuperação para Benjamin, alguns
eram infelizes a ponto de falar que ele jamais voltaria a jogar e que sua
carreira terminara. Percebi que muitos se escondiam atrás de perfis falsos e
foi isso que me segurou para não responder cada comentário maldoso que
eu via.
Decidi sair das redes e tentei dormir. As meninas já estavam
apagadas, cada uma de um lado do meu corpo, mas eu não conseguia nem
mesmo me manter de olhos fechados. A cada vez que piscava, a imagem de
Ben sendo soterrado por aqueles brutamontes voltava à minha mente. Sua
expressão de dor, a forma com gritava, me faziam sentir uma dor quase
física. Não pude escutar o som da sua voz por conta da distância, mas
minha imaginação era bem fértil e eu conseguia o ouvir dentro da minha
cabeça. 
Não me esqueceria daquele momento tão cedo. Talvez nunca.
Fui dormir muito tarde, mas acordei no primeiro toque do
despertador. Corri para o banheiro e deixei as meninas dormindo, pois a
visita era permitida apenas para familiares e amigos mais íntimos.
Arrumada, saí da suíte e encontrei com todos no restaurante reservado para
os jogadores. O café da manhã constrangedor parecia ter acontecido há
séculos e não há apenas um dia. Sentar-me à mesa e ter a cadeira de
Benjamin vazia ao meu lado me deixou com o peito apertado.
— Não vai dar bom dia para o papai mais gato desse país? — Logan
perguntou e ver o brilho em seus olhos me arrancou o primeiro sorriso do
dia.
Vi James e Norah emocionados e entendi que eles haviam acabado de
contar para os dois. Levantei-me da cadeira e dei um abraço apertado em
Logan, soltando uma risada ao sentir o seu coração acelerado.
— Você não vai sofrer um infarto, vai?
— Estou me perguntando isso desde ontem à noite, depois de Valente
ter me contado que vou ser pai. — Logan se afastou, mas me segurou pelos
ombros. — Eu vou ser pai, Aub! Como isso é possível?
— Quer mesmo que eu explique como isso é possível, Logan Miller
III?
Ele piscou e fez uma careta.
— Na verdade, não, eu não quero. — Logan voltou a sorrir e me
abraçou mais uma vez. — Você será a melhor tia do mundo.
— Tia não, madrinha — corrigi. — Todo mundo sabe que Norah e eu
seremos madrinhas.
— Exatamente, não sei por que estão fazendo todo esse suspense —
concordou Norah.
— Assim como Ben e eu seremos os padrinhos — disse James. —
Essa notícia vai o deixar muito feliz, tenho certeza.
— Espero que sim. Achei que estaríamos todos juntos comemorando
hoje — Avalon comentou e eu me distanciei de Logan para poder deixar um
beijo na bochecha dela antes de me sentar novamente.
— Nós iremos comemorar em breve. Benjamin deve ser transferido
hoje mesmo para a Califórnia, mas não deve ficar muito tempo no hospital.
Assim que ele tiver alta, vamos reunir a família e contar a novidade para
todo mundo. — Logan parecia já ter tudo planejado e suas palavras
acenderam um alerta em minha cabeça.
Eu estaria longe durante a recuperação de Benjamin. Não pensara
naquilo ainda e senti uma tristeza que não sabia explicar. Não queria ficar
distante enquanto ele claramente precisaria de toda companhia e ajuda
possíveis, mas como poderia ficar ao lado dele quando a minha faculdade
ficava no Alabama? Talvez eu pudesse ir para Califórnia a cada quinze dias.
Tinha certeza de que minha irmã e Logan não reclamariam do gasto com
passagem aérea.
Tomamos café rapidamente e partimos para o hospital. O pai de
Benjamin se recusara a ir embora, mesmo com o nosso apelo, e, assim que
chegamos, descobrimos que ele havia dado um jeito de entrar no quarto de
Ben fora do horário de visitas. No pouco tempo em que conversamos,
percebi que Robert parecia ser tão persuasivo quanto o filho, portanto, não
me espantei por ele ter conseguido burlar as regras do hospital.
Recebemos a permissão para entrar no quarto um tempo depois. O
pai de Logan e os pais de James visitariam Ben mais tarde, mas o quarto era
tão grande, que caberia facilmente dez pessoas. Encontramos Benjamim na
maca, com a perna esquerda enfaixada desde a coxa até a panturrilha. Seu
pai se afastou para que pudéssemos nos aproximar e fiquei assustada com a
palidez em seu rosto e as olheiras sob seus olhos.
— Ben... — Fui a primeira a falar e tomei a frente de todo mundo ao
parar do lado da sua maca, na altura do seu rosto. Toquei de leve o seu peito
e fiquei surpresa ao sentir o seu coração começar a ficar acelerado. —
Como você está?
Era uma pergunta terrível, eu sabia, mas queria realmente saber, e
não apenas sobre o seu físico. Eu sabia como estar em uma cama de
hospital podia mexer com a nossa cabeça, no entanto, Ben me deu a
resposta mais genérica possível.
— Estou bem.
— Ele disse que não está sentindo dor, o médico falou que é por
conta dos analgésicos fortes que está recebendo na veia — explicou Robert
diante da apatia do filho.
— Você sabe que vai sair daqui e vai voltar a jogar com a gente, não
é? — James perguntou e Benjamin soltou uma risada amarga.
— Será que vou mesmo? O médico foi bem sincero comigo, James.
— Sincero como? — perguntei. Será que o médico tinha escondido
alguma informação da gente na noite anterior?
— Ele disse que não pode afirmar se vou voltar a jogar ou não —
respondeu quase entredentes, seu coração ficando mais acelerado sob a
palma da minha mão. Acariciei o seu peito em uma tentativa de acalmá-lo.
— Qualquer jogador com meio neurônio sabe o que isso significa.
— Isso significa que você pode, sim, voltar a jogar, Ben — afirmou
Logan com muita certeza. — O que você não pode fazer, é se entregar e
começar a acreditar que não vai voltar para o campo conosco.
— Voltar para o campo com vocês? Logan, minha recuperação vai
levar mais de um ano! Um ano! Você sabe o que isso significa!
— O time pode encerrar o contrato com você? — Norah perguntou,
mas foi Avalon quem respondeu.
— Não pode, Ben renovou o contrato no final do ano passado, assim
como Logan e James, e tem validade de três anos. O time vai esperar por
você, Ben — Ava assegurou e fiquei mais aliviada.
— O time pode esperar por mim, mas eu não sei se vou poder voltar
para ele.
— Benjamin, olha para mim — pedi, tirando a mão do seu peito e
tocando em seu rosto. Ele soltou um suspiro meio impaciente, mas me
obedeceu. — Você não pode agir dessa forma. Sei que está frustrado e com
raiva, mas ter pensamento positivo nesse momento é muito importante!
— Pensamento positivo nunca me trouxe nada de concreto, Aubrey.
Tudo o que tenho hoje, foi porque corri atrás.
— Acredite em mim, pensamento positivo é muito importante sim!
Já estive no seu lugar, deitada em uma cama de hospital, tendo a
consciência de que eu só poderia sobreviver se recebesse uma doação de
rim. Em nenhum momento eu me entreguei ou deixei de acreditar que eu
ganharia um órgão compatível. E você sabe o que aconteceu, Ben. Eu
ganhei esse rim. Se eu deixasse de ter esperança, se eu desistisse no
primeiro obstáculo, será que eu estaria aqui agora?
Ele ficou durante segundos longos demais em silêncio, com os olhos
castanhos arregalados e os lábios entreabertos.Por fim, trancou a
mandíbula e respondeu baixinho:
— Ninguém pode te dar essa resposta, Aubrey.
— Verdade, ninguém pode, mas eu posso afirmar para você que é a
esperança que nos dá força para lutar contra tudo aquilo que tenta nos
derrubar ou nos tirar algo que é intrinsicamente nosso. A doença quase tirou
a minha vida, mas não conseguiu. Essa lesão pode te deixar com medo de
nunca mais pisar em um campo de futebol, mas ela não vai conseguir,
Benjamin. Só bastar você acreditar e não desistir do tratamento ou da sua
recuperação.
Ouvi alguém fungar baixinho, mas não sabia dizer se era Avalon com
os hormônios aflorados por conta da gravidez ou qualquer outra pessoa,
pois mantive meus olhos em Benjamin. Ele também não deixou de me fitar,
pelo contrário. Manteve os olhos em mim e os estreitou bem devagar.
— Você é muito geniosa, princesa. Eu tinha me esquecido disso. —
Um leve sorriso tomou forma no canto dos seus lábios, mas logo
desapareceu. — Eu não vou desistir do tratamento, muito menos da minha
recuperação. Em nenhum momento eu disse isso.
— Mas é o que está parecendo com esse seu discurso — disse James.
— Só estou frustrado e com raiva — Ben continuou a falar. Tirei
minha mão do seu rosto e fiquei surpresa quando ele esticou o braço livre
do acesso e entrelaçou nossos dedos. — Fui um idiota, baixei a guarda e
aqueles babacas vieram para cima de mim de repente, me derrubando de
lado. Meu pé continuou plantado no chão, mas meu joelho virou todo para o
lado esquerdo. Sei que foi isso que ocasionou a lesão. A culpa por eu estar
nessa cama não é de ninguém, apenas minha.
— Ben, qualquer um de nós está sujeito a sofrer algo assim. Ficar se
culpando não vai te ajudar em nada — Logan aconselhou. — Esse é o
momento para você encontrar de novo as suas forças e se recuperar. Você
não estará sozinho, ficaremos do seu lado o tempo todo.
— É verdade, Ben. Somos a sua família, esqueceu? — Norah
perguntou com um sorriso.
— Vai nos aturar mesmo se não quiser. — James riu.
— Na verdade, ele não tem escolha — disse Avalon.
— Ele nunca teve escolha desde que aceitou ser nosso amigo. —
Logan sorriu. — A única certeza que eu tenho, Ben, é que você vai se
recuperar totalmente e que nosso trio nunca vai se se separar, seja na vida
ou no campo. E que você ainda vai me ajudar a ensinar meu filho ou filha a
jogar bola junto com James.
Ben deu um sorriso pequeno, mas emocionado.
— Claro que eu vou ajudar, mas para isso vocês precisam me dar
sobrinhos.
— Se esse era o único problema, a solução está bem aqui. — Avalon
se aproximou um pouco mais da maca e parou ao lado de Logan, que
colocou a mão sobre a barriga dela. Eu quase chorei. A cena era linda. —
Você será titio, Benjamin.
Se Benjamin estivesse comendo alguma coisa, ele teria se engasgado.
Seus dedos quase esmagaram os meus e seus olhos arregalados me
encararam, como se esperassem que eu confirmasse aquela notícia.
— Isso é sério? Avalon está grávida?
— Eu sou o pai e você pergunta isso para Aubrey? — Logan
perguntou com uma gargalhada.
— Claro! Não posso confiar em você, vai que interpretou errado o
resultado do teste de gravidez?
Todo mundo riu dentro do quarto, inclusive Robert, que se mantivera
mais distante, dando espaço para que conversássemos com o filho.
— É verdade, Ben. Logan finalmente acertou o alvo — brinquei e
Logan soltou um suspiro indignado.
— Eu nunca errei alvo nenhum, Valente que tinha um time de defesa
que me incapacitava.
— Deve ser um time de defesa igual ao da Norah — James
resmungou e Benjamin sorriu.
— Enfraqueça logo essa defesa, Norah. Eu quero mais sobrinhos.
— Deixe a minha temporada na Broadway acabar, então, talvez, eu o
enfraqueça — Norah respondeu e James deu um beijo estalado em sua
boca, murmurando algo incompreensível para todos nós.
— Estou muito feliz por vocês, de verdade. — Benjamin esticou a
mão livre para Logan e Avalon, mantendo a outra ainda entrelaçada à
minha. — Espero que venha trigêmeos para compensar a demora.
— Vire essa boca para lá!
Minha irmã fez o sinal da Cruz, mesmo não sendo uma pessoa
religiosa, e Logan ficou levemente pálido, como se não tivesse pensado
ainda naquela possibilidade. Nós passamos mais um tempo com Benjamin,
mas precisei pedir licença para ir ao banheiro. Ben soltou a minha mão e eu
saí do quarto quando Robert, que saíra para pegar um café, estava voltando.
Ele sorriu para mim e parou em frente à porta fechada, ainda no corredor.
— Entendeu agora por que eu disse que você, além dos meninos, é a
única amiga que meu filho tem? — Rob perguntou e eu apenas franzi o
cenho, sem entender aonde ele queria chegar. — Você é importante para
Benjamin, menina. Se não fosse, suas palavras teriam entrado por um
ouvido e saído pelo outro, e ele ainda estaria agindo com toda aquela
teimosia. Obrigado por se importar de verdade com o meu garoto.
Robert sorriu para mim mais uma vez e entrou no quarto, me
deixando sozinha no corredor e impactada pelas suas palavras.
Eu não deveria estar deitado como um inútil na porra daquela cama!
Há quatro dias, minha vida mudara completamente. O que era para
ser a melhor noite da minha carreira, se transformou em um pesadelo.
Diziam que nossa mente sofria um apagão quando algum momento
traumático acontecia, mas a minha provavelmente era masoquista, pois eu
me lembrava de tudo e ficava revendo os detalhes da minha queda como se
fosse um espectador de fora da cena, acompanhando tudo em câmera lenta.
Era inevitável pensar em como eu poderia ter evitado aquele
confronto. Se eu estivesse mais atento, se corresse um pouco mais rápido,
se tivesse tirado a porcaria do meu pé do chão e caído da forma correta, que
aprendi anos atrás quando ainda era um garoto no ensino médio... Tudo
seria diferente agora.
Os “e se” me perturbavam mais do que a lembrança da dor lancinante
que senti antes de apagar no meio do gramado.
— Ben? — Meu pai abriu a porta do meu quarto e entrou com uma
bandeja. — Trouxe um pouco de comida para você.
Robert Ryan era um homem acostumado a ter uma rotina regrada.
Mais de quarenta anos trabalhando na polícia o moldou para ser um cara
prático, objetivo e determinado. Ele acordava antes das cinco da manhã,
fazia uma série de exercícios físicos, tomava o seu café da manhã e, na
época em que ainda estava na ativa, ia para a delegacia. Agora que estava
aposentado, ele mantinha o ritual, mas ia para a ONG de animais depois de
tomar o desjejum e ler o jornal — impresso — com as últimas notícias.
Saber que eu estava atrapalhando até mesmo a vida do meu pai
estava me deixando mais puto ainda.
Voamos de Vegas para a Califórnia há duas noites e, depois de passar
mais um dia no hospital, finalmente tive alta. Pensei que ficaria mais calmo
quando chegasse em casa, mas perceber que eu não ficaria sozinho como
estava acostumado, me irritou. Alex Brown, meu empresário e braço-
direito, achou que seria uma ótima ideia deixar uma equipe com enfermeiro
e fisioterapeuta plantada na porra do meu apartamento. E meu pai, que
poderia muito bem ter voltado para a sua vida pacata no Alabama, decidira
ficar ao meu lado por tempo indeterminado.
Eu não queria soar ingrato. Amava a companhia do meu pai e sempre
pedi para que passasse mais tempo comigo na Califórnia, que aproveitasse
as praias e o clima quente que sempre fazia por aqui na primavera e no
verão, mas ele sempre recusava. Não porque não me amava ou algo do tipo
— eu sabia que se tinha alguém que me amava de verdade, era o meu pai
—, mas porque ele amava o estilo de vida que levava e a sua rotina.
Tê-lo aqui agora era a cereja do bolo para que eu me sentisse mais
inútil ainda, porque, primeiro, meu pai não estaria ao meu lado se eu não
tivesse sofrido essa lesão, e, segundo, eu realmente precisava dele ali,
porque não conseguia nem mesmo mijar sem ter o auxílio de alguém.
Era degradante e eu não sabia até quando conseguiria suportar aquela
situação.
— Não estou com fome — respondi em um grunhido, voltando a
olhar para a parede de vidro em meu quarto. O cômodo seguia o mesmo
estilo da salae me dava uma visão privilegiada da cidade, que estava
colorida em púrpura e laranja por conta do pôr do sol.
— Acho que você não me ouviu perguntando se você queria comer
ou não.
Eu respirei fundo, me obrigando a ser o menos ríspido possível.
— Pai, eu não sou mais uma criança.
— Então pare de agir feito uma! — Sua voz soou mais grave e eu
quase me senti como o Benjamin adolescente, que vivia levando esporro do
pai por ter se metido em encrenca na escola. — Entendo que ainda esteja
com raiva e frustrado, Ben, mas não é agindo assim que você vai melhorar.
— Só vou poder começar o tratamento e a fisioterapia quando tirar a
porcaria desses pontos, pai. Então, com certeza, eu não vou melhorar agora.
— Você não vai melhorar em momento algum se começar a se
recusar a comer. — Meu pai deixou a bandeja na mesa de refeição
adaptável à cama que Alex comprara naquela manhã e se aproximou,
sentando-se ao meu lado no colchão. — Benjamin, você realizou o seu
maior sonho, se tornou um dos maiores atletas da atualidade. Sua história,
filho, inspira os meninos que sonham em estar no seu lugar um dia, e vai
continuar inspirando as gerações que virão. Sabe o que esses garotos vão
sentir quando conhecerem você? Que não importa quão difícil seja o
caminho ou os obstáculos que eles tenham que enfrentar, nada será forte o
suficiente para os parar, porque, hoje, nada é forte o suficiente para parar
você, a não ser você mesmo. Não se torne o seu maior inimigo agora, Ben.
Senti o impacto das palavras do meu pai como um soco bem no meio
da minha cara, da mesma forma que senti quando Aubrey jogou um monte
de verdades em cima de mim no hospital no dia seguinte ao jogo. Ela estava
certa naquele momento e meu pai também tinha razão agora.
Racionalmente, eu sabia disso, mas o problema era a voz persistente em
minha cabeça que me culpava por ter sido um idiota em campo e dado
brecha para que essa lesão grave acontecesse.
A possibilidade de nunca mais voltar a jogar me aterrorizava mais do
que eu gostaria de admitir. O futebol, depois do meu pai e dos meus amigos,
era a coisa mais importante da minha vida. Foi o que realmente me salvou
de não ir por um caminho errado quando eu era moleque e estava perdido.
Se eu não pudesse mais pisar em um campo, não sabia o que faria da minha
vida.
— O senhor tem razão — murmurei e meu pai soltou um suspiro
misturado a uma risada seca.
— Quando eu não tenho?
Quis revirar os olhos para a sua resposta, mas não o fiz, porque
geralmente meu pai sempre tinha razão. Ele não havia sido um dos
melhores Xerifes de Tuscaloosa à toa.
— O que trouxe para mim?
— A enfermeira disse que seria melhor se você comesse algo leve
como uma sopa, mas eu sabia que você odiaria isso, então, trouxe macarrão
com queijo. Seu prato favorito quando criança.
Como eu poderia não sorrir ao ouvir aquilo? Meu pai arrastou a mesa
para perto de mim, deixando na altura ideal para que eu conseguisse comer.
O cheiro do macarrão com queijo derretido me fez perceber que até mesmo
a fome poderia ser afetada pelo nosso psicológico, pois senti o meu
estômago roncar.
— Não imaginava que você ainda sabia fazer macarrão com queijo.
— Passei pelo menos quinze anos da minha vida cozinhando isso
para você, Benjamin. Como poderia esquecer? — Ele me deu um olhar
levemente ansioso enquanto eu colocava a primeira garfada na boca. — E
então? Ainda tem gosto de infância?
— Pode apostar que sim — respondi com a boca cheia e ri baixinho
ao ver o seu olhar me repreendendo.
Passei os próximos minutos comendo em silêncio, com meu pai
observando melhor os detalhes do meu quarto. Eu nunca fiz o estilo
acumulador, fosse de objetos ou de móveis. Era muito organizado — apesar
de na época da faculdade ter relaxado um pouco, o que fazia Norah ficar de
cabelo em pé quando eu deixava meus sapatos espalhados pela casa —, por
isso, meu quarto seguia o mesmo estilo dos outros cômodos da casa, com
exceção para a sala, onde fiz uma prateleira enorme para exibir todos os
prêmios que ganhara durante a vida.
No cômodo onde estávamos agora, havia uma mesa com alguns
porta-retratos e um computador de última geração que eu usava para jogar
online quando estava entediado, minha cama, feita sob medida para o meu
tamanho, uma TV enorme na parede, uma poltrona confortável perto da
parede de vidro, seguida por um divã em couro escuro, um espelho ao lado
do closet e o banheiro. Estava bem longe de ser um quarto impessoal e eu
gostava dele exatamente daquele jeito.
Podia imaginar o que meu pai estava pensando. Ele não era muito fã
da arquitetura moderna, por isso, se recusara a sair da casa onde sempre
morou quando quis comprar algo maior para ele. A única coisa que aceitou,
foi a reforma que ofereci, pois a casa não via uma obra decente desde a
década de noventa, mas não quis mudar nada em seu estilo ou decoração —
com exceção para novos eletrodomésticos e eletrônicos, que não deixei que
ele recusasse.
Ele devia estar sentindo falta da sua casa e da ONG e pensar naquilo
quase tirou o gosto da comida.
— Pai, sei que já conversamos sobre isso no hospital, mas volto a
repetir. O senhor não precisa ficar aqui. Eu estou bem assistido pela equipe
que Alex contratou, não ficarei sozinho em momento algum e...
— Benjamin, não vamos discutir isso de novo. Você é meu único
filho e precisa de mim agora. Onde acha que eu estaria?
— Mas a ONG é importante para o senhor.
— Não mais do que você, filho. E não é como se os animais
estivessem sozinhos, tenho voluntários, esqueceu? E Nicholas sempre toma
a frente de tudo quando eu preciso ficar ausente por um tempo. — Nicholas
era seu melhor amigo, um policial também aposentado e seu braço-direito
na instituição. — Está tudo sob controle. — Assegurou com aquele seu jeito
taciturno de sempre. — Termine de comer, vou pegar um pouco de suco de
laranja para você.
Meu pai deu um apertão de leve na minha perna boa e saiu do quarto,
me deixando sozinho. Eu sabia que seria praticamente impossível fazer com
que ele mudasse ideia, pois Robert era o homem mais cabeça-dura que eu
conhecia, mas não custava nada tentar. A verdade, era que além de não
querer atrapalhar a vida do meu pai, eu não queria o magoar de alguma
forma com o meu humor oscilando daquele jeito.
Ninguém — além de mim — tinha culpa do que havia acontecido.
Não era justo que eu fosse ignorante com qualquer pessoa à minha volta por
causa disso. Duas batidas na porta me fizeram franzir o cenho e trancar a
mandíbula logo em seguida. Meu pai teria entrado direto, portanto, só podia
ser a enfermeira ou o fisioterapeuta, que eu ainda não havia decorado os
nomes. Pensei em não responder, mas como seria muito infantil da minha
parte, pedi para que entrasse.
Parei com o garfo a caminho da minha boca quando a porta se abriu e
Aubrey entrou carregando um copo de suco e uma caixa rosa de uma
confeitaria que eu conhecia muito bem.
— Espero que eu não esteja atrapalhando, mas se estiver, não me
importo. — Ela fechou a porta com a lateral do quadril e se aproximou da
cama quase saltitando. — Seu pai me pediu para que eu trouxesse isso.
Segundo ele, você poderia se engasgar com a refeição se não tivesse nada
para beber.
Estreitei os olhos.
— Ele não disse isso. — Não era do feitio do meu pai fazer
brincadeiras.
— Não, ele não disse. — Aubrey sorriu e deixou o suco sobre a mesa
ao lado do meu prato. — Mas como você é um bebezão, tenho certeza de
que era isso que estava passando pela mente dele.
Contra todas as possibilidades, um sorriso de verdade se abriu em
meus lábios pela primeira vez naquele dia. Claro que meu pai havia me
arrancado um sorrisinho uma vez ou outra, mas nada parecido com que
aquela garota podia fazer comigo. Bati ao meu lado na cama e Aubrey se
sentou, deixando a caixa rosa ao seu lado.
Sem que eu esperasse, ela empurrou um pouco a mesa, que tinha
rodinhas, pelo tampo de madeira, afastando-a da frente do meu corpo, e se
esticou para me dar um abraço, acomodando a cabeça diretamente em meu
peito. Eu estava sem camisa, mas agora era tarde demais parame
incomodar sobre isso. Abracei-a de volta, enfiando meus dedos nos fios do
seu cabelo como fiz naquela noite fatídica dentro do dark room. A
lembrança de nós dois juntos era ainda mais nítida do que o momento em
que caí no meio do campo.
— O que está fazendo aqui, Aub? Pensei que já estava no Alabama.
— Achou mesmo que eu ia embora sem me despedir de você de
verdade? — Ela se afastou do meu peito, apenas um pouco, e meus dedos
se mantiveram entre os fios ruivos do seu cabelo. — Assim você me
ofende, Benjamin Ryan.
O soquinho que deu em meu peitoral me arrancou uma risada curta.
— Pelas minhas contas, você perdeu quatro dias de aula.
— E daí?
— E daí que eu não valho todo o seu esforço, princesa.
Aubrey revirou os olhos, exatamente do jeito que imaginei que faria.
— Não pensei que a sua autoestima estaria tão baixa assim.
Geralmente, você é bastante egocêntrico.
— Ainda sou um grande gostoso, mas as circunstâncias não me
permitem ser eu mesmo nesse momento.
— Isso é bobagem. Se aparecesse alguma mulher bonita na sua frente
agora, você entraria no modo conquistador em dois segundos.
— Tem uma mulher bonita na minha frente agora. — Escorreguei
meus dedos pela sua mandíbula até tocar em seu queixo delicado. — E eu
não entrei no modo conquistador.
As bochechas de Aubrey ficaram ligeiramente avermelhadas, mas ela
disfarçou bem ao sorrir.
— Porque você sabe que eu não cairia no seu papinho.
— Será que não? — Arqueei uma sobrancelha e Aubrey estreitou os
olhos para mim. Eu ri e apertei seu queixo com carinho. — Estou
brincando.
Eu estava mesmo, mas, depois do que havia acontecido, eu tinha
certeza de que sempre ficaria com uma pulga atrás da orelha sobre aquilo.
Aubrey me deu mais um sorriso e se afastou, pegando a caixa
pequena nas mãos.
— Passei na Sra. Lucy e ela mandou um bolo pequeno para você de
presente. Minha intenção era comprar, mas ela não aceitou, e estimou a sua
melhora — disse conforme abria a tampa.
O bolo pequeno, no formato famoso de bentô cake, apareceu em meu
campo de visão e eu salivei. Realmente, a minha falta de apetite era
consequência psicológica.
— Preciso ligar para ela e agradecer — falei, vendo duas colheres
dentro da caixa. — Se o bolo é meu, por que tem duas colheres aí?
— Porque eu pedi para que ela colocasse. Achou mesmo que ia
comer sozinho, principalmente depois de me deixar com água na boca em
Vegas?
— Isso foi quase uma piada de cunho sexual, Aubrey — brinquei e
ela ficou boquiaberta por um segundo.
— Não foi nada! Você que tem a mente suja.
— Isso eu nunca neguei.
Pisquei para ela e tirei o prato de cima da mesa, deixando-o sobre a
mesinha de cabeceira ao meu lado e abrindo espaço para que Aubrey
colocasse o bolo ali. Era bom perturbá-la, sempre foi, na verdade. Aubrey
era fácil de cair nas minhas provocações.
— Parece que a lesão na perna não afetou em nada essa sua cabeça
imunda, Benjamin.
— Se isso tivesse acontecido, eu tenho certeza de que você se
afundaria em tristeza, princesa.
— Claro, eu nem me levantaria da cama de tanta depressão —
ironizou, entregando uma colher para mim. Antes que eu pudesse pegar o
talher, ela o afastou. — Tem certeza de que não quer que eu te dê na boca?
Posso fazer aviãozinho e tudo mais.
— Tenho certeza, não estou tão inútil assim. — Apesar de eu estar
rindo, Aubrey ficou mais séria enquanto me entregava a colher.
— Não fique falando isso, inútil é um termo muito pesado, Ben.
Peguei uma colherada generosa do bolo e mastiguei devagar para me
dar tempo para responder. Não queria sair do clima leve que Aubrey
trouxera consigo.
— Eu sei disso, mas é como me sinto no momento — falei,
observando-a pegar uma porção bem menor que a minha. Meus olhos se
detiveram em seus lábios se fechando em torno da colher por um momento
longo demais. Limpei a garganta e continuei: — Mas não vou ficar desse
jeito para sempre, Aub. Pode ficar tranquila.
— Talvez seja melhor você conversar com um profissional. Um
psicólogo, sabe? Logan disse que o time disponibiliza.
— Não acho que seja necessário.
— Mas não custa se consultar pelo menos uma vez, não acha? —
Seus olhos verdes focaram nos meus. — Na época em que fiquei internada,
tive algumas consultas com uma psicóloga e sempre me senti muito bem
depois de conversar com ela. Tenho certeza de que com você não será
diferente, Ben.
Sempre que Aubrey mencionava a época em que estava doente, eu
sentia dificuldade de relacionar a pessoa saudável que ela era agora, cheia
de energia e disposição, a uma menina frágil que necessitava de inúmeros
cuidados. Conhecê-la depois que a pior fase da sua vida passou despertara
em mim um sentimento de proteção que eu não conseguia explicar direito,
mas tinha certeza de que o sentimento seria bem mais forte se eu a tivesse
conhecido antes do transplante.
— Você deveria tentar — continuou depois de comer mais um
pedaço do bolo. O corante estava deixando seus lábios mais avermelhados,
assim como a sua língua, e eu deveria parar de prestar atenção naquilo. —
Por mim.
— Por você? — perguntei com surpresa e Aubrey concordou com a
cabeça.
— Exatamente. Eu estarei no Alabama, a três mil e seiscentos
quilômetros de distância, e quero ter a certeza de que você está bem aqui —
seus dedos tocaram em minha têmpora antes de descerem para a minha
perna enfaixada, tocando em minha coxa — e não apenas aqui. A saúde
mental é tão importante quanto a saúde física, Ben. Você não pode
negligenciá-la.
Eu encarei aquela garota — não, aquela mulher — de quase
dezenove anos e me senti um idiota. Sim, eu me senti um idiota, porque,
por um momento, Aubrey parecia ter o dobro da minha idade com toda
aquela inteligência e eloquência.
— Às vezes eu me pergunto se você tem mesmo apenas dezoito anos.
Aubrey riu com a colher ainda na boca. Ela lambeu aquela porcaria e
eu precisei pigarrear de novo, porque senti um movimento dentro da minha
cueca que era inapropriado pra caralho.
— Isso é um elogio?
— Pode ter certeza de que sim. Você é madura demais, Aubrey,
sempre foi.
— Isso significa que você acha que eu tenho razão e que vai aceitar
se consultar com um psicólogo?
Eu não queria conversar com ninguém sobre o que vinha sentindo,
mas as palavras de Aubrey e do meu pai se repetiam em minha mente.
Apesar de ele não ter aconselhado que eu me consultasse com um
profissional, eu sabia que em algum momento pediria isso. E, no fundo, eu
acreditava que precisava entender melhor tudo o que estava acontecendo
dentro da minha cabeça.
— Vou fazer isso, princesa. — Aubrey abriu um sorriso enorme, que
deixou o meu coração acelerado. Eu sabia que ela se importava de verdade
comigo e eu valorizava aquilo, não queria que ficasse preocupada estando
tão longe, por isso, garanti: — Por mim e por você.
Aubrey se interessou mais em conhecer a enfermeira e o
fisioterapeuta do que eu. Após comermos o bolo, a enfermeira na casa dos
quarenta anos, que agora eu sabia que se chamava Mary, perguntou se eu
gostaria de tomar um banho. Eu queria mesmo tomar uma chuveirada, mas
não com a ajuda dela nem com a ajuda de ninguém, mas não estava na
posição de negar. Ainda assim, ficou bem claro em minha expressão que
precisar de apoio para ser levado ao banheiro e fazer algo tão básico me
irritava. Ao meu lado, Aubrey resmungou:
— Deixa esse orgulho bobo de lado, Bem. Você só vai precisar de
auxílio por um tempo, daqui a pouco, voltará a sua vida normal.
— Aubrey tem razão. — Arqueei uma sobrancelha quando Ethan, o
fisioterapeuta, falou olhando diretamente para Aubrey, que estava de pé ao
lado da minha cama. Ele levou um tempo para olhar para mim e continuar:
— E Mary não precisa ficar com você no banheiro. Vamos apenas enfaixar
e deixar a sua perna posicionada de modo que não corra o risco de molhar o
curativo. Você vai poder tomar banho sozinho.
— Viu só? — Aubrey sorriu para mim e passou a mão em meus
cabelos. — Ninguém vai lavar a sua bunda, Bem.
— Nem você? — Não sabia por que aquelas palavras saíram da
minha boca, mas Aubrey levou na brincadeira, pois começou a rir.
— Sei que eu prometiajudar você com o que fosse necessário, mas
acho que lavar a sua bunda já é um pouco demais.
— Isso me deixou bastante chateado, princesa.
— Você vai superar.
Meu pai, que estava perto da porta acompanhando a conversa em
silêncio, pigarreou e se aproximou da cama.
— Sendo assim, vou ajudar Ethan a levar você para o banheiro.
Aubrey se afastou, dando espaço para que meu pai e o fisioterapeuta
se aproximassem. Como era formado em primeiros socorros por conta da
sua antiga profissão, meu pai soube exatamente como me pegar, junto com
Ethan, e os ajudei a me levarem para o banheiro deixando a maior parte do
meu peso na perna direita e não sobre os ombros dos dois, onde estavam os
meus braços. Mary deixou a cadeira de banho posicionada dentro do box e
me despiu do short e cueca que eu usava antes que me colocassem sentado.
Em poucos minutos, ela e Ethan enfaixaram a minha perna e a
posicionaram em um banco, deixando bem longe da direção onde ficava o
chuveiro. Mary explicou que seria melhor se eu tomasse banho com ducha
higiênica, para garantir de fato que eu não molhasse a perna lesionada, e
logo saiu do banheiro junto com Ethan e meu pai. Eu precisaria de auxílio
para me vestir, mas pelo menos o banho conseguiria tomar sozinho.
Senti falta imediatamente de sentir a pressão da água caindo sobre os
meus ombros e relaxando os músculos, mas resolvi não me torturar
pensando naquilo. Agarrei-me às palavras de Aubrey sobre aquela situação
ter um prazo de validade e tomei um banho relativamente rápido após lavar
o cabelo com xampu e condicionador.
Consegui me secar parcialmente bem e só então chamei por meu pai.
Ele entrou no banheiro junto com Mary e Ethan e os três me ajudaram a
sentar em uma cadeira em frente à pia após me vestirem uma cueca limpa e
um outro short. Vesti minha camisa sem o auxílio deles e pedi para que me
deixassem sozinho para que eu pudesse pentear o cabelo e escovar os
dentes. Meu pai deixou a porta encostada daquela vez e pude ouvir a risada
contida de Aubrey e a voz grave do fisioterapeuta. Demorei mais tempo do
que deveria para pentear o cabelo enquanto tentava ouvir o que os dois
conversavam.
— Você gosta de futebol, então? Ou só é apaixonada por ser líder de
torcida?
Ele teve tempo suficiente para descobrir que Aubrey era líder de
torcida? Porra, eu tinha demorado mais tempo do que imaginava no banho.
— Lógico que gosto de futebol, mas confesso que só fui entender
melhor sobre o esporte depois que minha irmã começou a namorar com
Logan.
— E quando surgiu o interesse por ser líder de torcida?
— Depois que passei a frequentar os jogos. Consegui uma vaga na
equipe de líderes de torcida na época da escola e se tornou meu objetivo
entrar para a equipe do time da faculdade.
— Isso é incrível, Aub. — Aub? Mas que porra era aquela? — Você
é muito talentosa, adorei o vídeo que me mostrou.
Aubrey mostrara um vídeo dela para Ethan? Deixei o pente de cabelo
sobre a pia e comecei a escovar os dentes rapidamente, ainda com os
ouvidos atentos à conversa dos dois.
— Obrigada. Você deveria assistir a um jogo do Crimson Tide
quando a temporada começar.
— Se eles vierem jogar aqui na Califórnia, com certeza irei. Vou ter
um motivo a mais para ir além do futebol.
Aquele babaca estava mesmo dando em cima de Aubrey dentro da
porra do meu quarto? Bati o armário onde guardava minha escova de dentes
com um pouco mais de força do que deveria e chamei por meu pai com a
mandíbula trancada. Ele logo entrou no banheiro, seguido pelo
fisioterapeuta. Senti mais raiva daquele idiota abusado do que da minha
situação. Não sabia dizer se ele percebeu algo ao olhar para a minha cara
fechada, mas eu esperava que sim.
Os dois me deixaram novamente em minha cama, onde Mary havia
afofado e ajeitado os travesseiros, e resmunguei com pouca paciência:
— Podem me deixar sozinho agora. — Senti os olhos de Aubrey
sobre mim e a encarei com os olhos estreitos. — Você fica.
Aubrey franziu o cenho e ficou em silêncio enquanto Mary, Ethan e
meu pai saíam. Por fim, cruzou os braços e perguntou:
— É impressão minha ou o seu humor piorou depois do banho?
— Por que aquele idiota estava dando em cima de você?
A boca de Aubrey se abriu e fechou pelo menos duas vezes,
mostrando claramente que ela estava sem palavras. Eu apenas a encarei,
realmente querendo saber que merda era aquela. Naquele momento, eu não
estava sendo muito racional.
— Ethan e eu estávamos apenas conversando.
— Não, vocês estavam flertando. — A última palavra saiu por entre
os meus dentes.
— E daí?
— Como assim “e daí”?
— Isso mesmo, Benjamin. E daí? Estou proibida de flertar agora e
não fiquei sabendo? Você se tornou o meu pai, por acaso?
Foi a minha vez de abrir a boca e ficar sem palavras. Sentia uma
raiva esquisita. Não tinha nada a ver com a minha situação, muito menos
era uma emoção que eu já havia sentido antes. Talvez por isso fosse algo
tão difícil de controlar.
Que merda estava acontecendo comigo?
— Estou longe de ser o seu pai e você sabe muito bem disso — falei
sério e Aubrey ajeitou a postura, pois sabia o que as minhas palavras
significavam.
— Também está longe de ser alguém com autoridade para dizer o que
devo ou não fazer.
Suas palavras me deixaram em choque por um momento.
— Não é isso que estou fazendo, Aubrey...
— Então o que, exatamente, você está fazendo, Benjamin? —
Aubrey descruzou os braços e se aproximou da cama. Ela subiu no colchão
e ficou de joelhos ao meu lado. Seu cheiro de frutas vermelhas era tudo o
que eu conseguia respirar. — Eu não quero que o que aconteceu entre a
gente naquela boate mude a nossa relação.
— E não vai mudar. Sei que não conversamos direito sobre isso, mas
o nosso objetivo é fingir que nada aconteceu, certo?
— Sim.
— Então você tem a sua resposta. Nossa relação continuará a mesma.
— Tem certeza disso? Porque parece que você está com ciúmes de
mim.
Eu apenas a encarei por um momento, sem ter certeza de que eu
ouvira direito. Era como se Aubrey tivesse acabado de falar em um idioma
desconhecido por mim. O choque por ter ouvido aquele absurdo logo se
transformou em uma risada que surgiu do fundo do meu peito.
— Eu? Com ciúmes de você? — Joguei a cabeça para trás e tive
certeza de que todo mundo do lado de fora do meu quarto conseguiu ouvir a
minha risada.
— Não sei onde está a graça. Não contei nenhuma piada! — Aubrey
resmungou entredentes.
— Desculpa, princesa, você é muito importante para mim, mas não
desse jeito. Eu nem sei como é sentir ciúmes de uma mulher ou de qualquer
outra pessoa. — Sacudi a cabeça, ainda rindo. — Pode ter certeza de que
não é ciúme que eu estou sentindo.
— E o que você está sentindo, então? Estou confusa, Bem!
Parei de rir e estiquei minha mão para Aubrey. Ela me olhou
desconfiada por um tempo, mas aceitou colocar a mão sobre a minha e me
permitiu entrelaçar os nossos dedos.
— Eu só... me preocupo com você. — Finalmente encontrei a palavra
certa para descrever o que eu sentia. — Mal conheço esse Ethan. E se ele
for um babaca? Não quero nenhum idiota brincando com você, princesa.
Aubrey abriu um sorrisinho.
— É mais fácil eu brincar com ele. — Ela piscou para mim, mas eu
não senti graça. No fundo, ainda estava um pouco irritado, não com ela,
mas com a audácia daquele fisioterapeuta. — Já sou bem grandinha e sei
me cuidar, Bem. Não precisa se preocupar comigo.
— Sempre vou me preocupar com você. — Dei um beijo em sua mão
e vi os pelos finos do seu braço ficarem arrepiados. — Então, me peça
qualquer coisa, menos isso.
Aubrey abriu a boca para responder, mas o toque do meu celular a
impediu de falar. Peguei o aparelho em cima da mesinha de cabeceira e
atendi ao ver que era Alex.
— Oi, Alex. Pode falar.
— Como você passou o dia, Bem?
Olhei para a parede de vidro do meu quarto, só então percebendo que
já havia anoitecido.
— Sobrevivi, se é isso que quer saber. — Aubrey estreitou os olhos
para mim e eu sorri para ela. — Estou bem, Alex. Na medida do possível.
— É bom saber disso. Estou ligando para lembrar a você de gravar
aqueles stories que combinamosmais cedo. Os veículos de imprensa estão
divulgando que você já está na Califórnia e que vai começar o tratamento
em breve, mas seus fãs estão esperando por um vídeo seu, afirmando que
está tudo bem.
Não era apenas os meus fãs que estavam esperando, mas as marcas
que me patrocinavam, também. Eu era muito assíduo nas redes sociais e
aquele era o meio por onde eu fazia algumas publicidades, fosse por posts
no feed ou stories. Não estava com a menor vontade de aparecer na internet
naquele momento, mas sabia que era importante.
— Vou fazer isso agora, não se preocupe.
— Ótimo! Amanhã irei 1isita-lo novamente. Em breve você estará de
volta à ativa, Bem.
Nós nos despedimos e Aubrey me encarou com curiosidade.
— O que foi?
— Preciso gravar uns stories, mas estou sem muita paciência para
isso.
— As marcas estão te pressionando? Sei que ainda estou no início da
faculdade de Publicidade, mas já tenho uma noção básica de como essa
dinâmica funciona.
— Não estão me cobrando ainda, mas irão, em algum momento. Para
evitar isso, é melhor fazer logo o que elas querem. E preciso assegurar aos
meus fãs de que estou bem. Confesso que me importo mais com eles do que
com os contratos que tenho assinado.
— Porque você não visa só o dinheiro, Bem. Também se importa
com aqueles que admiram você. — Havia uma afeição em sua voz que
deixou os pelos da minha nuca arrepiados. Aubrey apontou para o celular
em minha mão. — Quer que eu te ajude?
Concordei, pensando que seria bem melhor ter alguém comigo
naquele momento, assim eu não ficaria tão perdido sobre o que falar.
Acertei alguns pontos com Aubrey sobre o comunicado que queria fazer e
ela me ajudou a montar um roteiro básico, por fim, tomou o celular da
minha mão e começou a me gravar, sem pegar a minha perna.
Tentei ser o mais otimista possível e tranquilizar a todos que me
seguiam. Falei que a cirurgia tinha sido um sucesso e que, agora, eu
começaria o processo de recuperação. Deixei bem claro que o meu foco era
voltar a jogar, por isso, levaria a sério o tratamento e faria de tudo para estar
de volta o mais rápido possível ao time. Por fim, agradeci a todo apoio que
vinha recebendo e garanti que apareceria em breve para dar mais detalhes
sobre o meu processo de recuperação.
Aubrey finalizou a gravação e assistimos ao vídeo juntos, com ela
sentada ao meu lado na cama. Apesar do meu olhar claramente abatido, eu
não estava tão mal assim. Isso me deu uma brecha para falar:
— Continuo gostoso mesmo com a perna fodida. Eu deveria ganhar
um prêmio por isso.
Aubrey riu e se esticou para bagunçar o meu cabelo.
— Impressionante como o seu ego se recupera rápido. Espero que a
sua perna fique com inveja e reaja da mesma forma.
— Ela fará isso, pode ter certeza.
Observei seu sorriso por mais tempo do que deveria e mandei o vídeo
para Alex em seguida. Ele logo me deu um ok e eu postei em meus stories.
Com a missão cumprida, deixei o celular de lado e liguei a TV.
— Vamos procurar um filme para assistir — falei e passamos pelo
menos meia hora tentando decidir o que assistiríamos.
Aubrey queria uma comédia romântica e eu queria um filme de ação.
Por fim, optamos por um filme de suspense que fora lançado há pouco
tempo. Diminuí a iluminação do quarto por comando de voz e Aubrey
encostou a cabeça em meu ombro quando o filme começou.
Acabei pegando no sono em algum momento, pois despertei com um
toque em meu ombro. Abri os olhos e levei um tempo para ver meu pai ao
meu lado.
— Bem, já está muito tarde. A menina vai dormir aqui?
Tomei um susto ao me lembrar de Aubrey e a encontrei ainda na
mesma posição, deitada em meu ombro, mas aconchegada um pouco mais a
mim. Sua perna estava entrelaçada a minha. Graças a Deus que era a perna
boa.
— Preciso do meu celular — falei baixinho e meu pai pegou o
aparelho sobre a mesinha de cabeceira. Vi que Logan me mandara duas
mensagens quarenta minutos atrás, perguntando se Aubrey ainda estava em
meu apartamento, pois ela não atendia o celular. Respondi que sim e que ela
passaria a noite comigo. — Pronto, avisei a Logan que Aubrey vai dormir
aqui.
— Não é melhor ela dormir no quarto de hóspedes por causa da sua
perna? Mary e Ethan já foram embora, eu posso ficar no sofá.
Por morar sozinho, eu tinha apenas um quarto de hóspedes, que
quase nunca era utilizado. A preocupação do meu pai era válida, mas, além
de eu não querer que ele dormisse no sofá, também não queria que Aubrey
se afastasse. Ela estava muito bem acomodada ao meu lado.
— Não precisa, pai. Vou tomar cuidado com a perna.
Seus olhos sérios me analisaram.
— Tem certeza? — Eu apenas concordei com a cabeça. — Tudo
bem. Qualquer coisa, é só me gritar.
Meu pai deixou um beijo na minha testa, como fazia quando eu era
um garoto, e saiu do meu quarto. Observei Aubrey deitada em meu ombro,
sentindo sua respiração contra a pele do meu pescoço. Nossas mãos
estavam entrelaçadas e eu nem tinha me dado conta disso. Senti meu peito
ficar aquecido. Era bom tê-la ali comigo e eu aproveitaria aquele momento,
pois sabia que em breve ela precisaria voltar para o Alabama e nossas vidas
voltariam a seguir caminhos diferentes.
Acomodando-me melhor nos travesseiros, passei meu braço pelos
ombros dela e acomodei sua cabeça em meu peito. Desliguei a TV e
apaguei a luz do quarto pelo aplicativo do celular, pegando no sono
enquanto sentia o cheiro único de Aubrey.
Ouvi alguém ressonando baixinho ao meu lado e abri os olhos
confusa. Após me adaptar à claridade que iluminava um pouco o lugar onde
eu estava, tudo o que enxerguei foi um peitoral coberto por uma regata
branca. Um peitoral bem forte, inclusive. Ergui um pouco a cabeça e
arregalei os olhos ao entender em cima de quem eu estava dormindo.
Benjamin estava apagado ao meu lado, com o braço em minhas
costas e a mão pesada em minha cintura nua. A blusa que eu usava havia
subido em algum momento e o contato da sua palma calejada diretamente
em minha pele me deixou toda arrepiada. Por sorte, era do lado direito e
não esquerdo, onde eu tinha a cicatriz da cirurgia. Minha mão estava sobre
o seu peito e minha perna estava por cima da dele sob o edredom, que nos
cobria até a barriga.
Meu coração disparou.
Era uma posição íntima demais. E se Benjamin pensasse que eu
estava me aproveitando dele?
Um pouco assustada, tentei me afastar, mas fiquei estática quando
seus dedos apertaram a minha cintura de leve.
— Vai fugir sem me dar bom dia, princesa?
Aquele filho da mãe! Benjamin não estava dormindo coisa nenhuma.
Ele abriu apenas um olho e um lado da sua boca bonita se arqueou em um
sorriso.
— Eu... Eu não ia fugir.
— Não era o que parecia.
— Só fiquei com medo de continuar deitada praticamente em cima
de você e sentir algo que não deveria. — Ele arqueou uma sobrancelha,
curioso, e eu continuei porque, aparentemente, o filtro que existia entre a
minha cabeça e a minha boca não havia despertado ainda. — Como a sua
ereção matinal, por exemplo.
Eu não era uma garota tímida, pelo contrário. Sempre fui muito
comunicativa, o que me fazia sentir confiante com os homens, mas
Benjamin... Caramba, ele era o único que me deixava com a sensação de
que meu rosto poderia explodir de vergonha ou raiva. Naquele momento,
minhas bochechas pegavam fogo de tanto embaraço enquanto o idiota
soltava uma gargalhada muito alta.
— Aubrey Banks, eu não acredito que você falou isso!
Desistindo de ficar olhando para ele enquanto ria da minha cara,
escondi meu rosto em seu peito e falei abafado:
— Nem eu, mas a culpa é sua.
— Minha? Como pode a culpa ser minha?
— Perto de você o meu cérebro para de funcionar e eu acabo falando
e fazendo muita besteira.
— Acho que me sinto lisonjeado em saber disso. — Senti seus dedos
se infiltrarem em meus cabelos na nuca e um frio assolou a minha barriga.
— Olhe para mim, princesa.
— Não.
— É sério, pode olhar. — Sacudi a cabeça e Benjamin riu antes de
confidenciar baixinho: — Eu não estou de pau duro.
— Benjamin, eu não quero ouvir nada disso!
— Desculpa. — O ouvi limpar a garganta. — Meu pênis não está
enrijecido. Melhorassim?
Ergui a cabeça e o encontrei ainda rindo da minha cara. Pelo menos
sua feição estava melhor naquele dia, sem as olheiras e os olhos radiantes.
Sua pele estava até corada, mas devia ser por conta do esforço que estava
fazendo ao rir de mim.
— Eu preferia não ter conhecimento disso.
— Só queria que você parasse de ficar preocupada.
— Como você é gentil — debochei e ele continuou a sorrir conforme
massageava a minha nuca. Quase fechei os olhos.
— Meu pai me criou para ser um cavalheiro, princesa. — Ben piscou
para mim e aquele frio esquisito tomou conta da minha barriga de novo. —
Dormiu bem?
— Não como gostaria. Você ronca bastante.
— Pelo menos eu não babei em você — retrucou e eu arregalei os
olhos, procurando por alguma mancha de saliva em sua camisa. Não
encontrei nada.
— Seu mentiroso, eu não babei em cima de você!
— Não? Me enganei, então. É que você dormiu tão bem em cima de
mim, que pensei que poderia babar.
Segurei-me para não beliscar o braço dele e fomos surpreendidos
com uma batida na porta. Seu pai abriu e colocou a cabeça pela fresta,
dando um olhar curioso para nós dois. Aproveitei para poder finalmente sair
de cima de Ben e me sentei na cama ao seu lado.
— Estou preparando o café da manhã e vim saber se vocês já
estavam acordados. Ovos com bacon?
— Seria ótimo, pai.
Robert olhou para mim, como se esperasse a minha resposta.
— Sim, eu aceito. Estou faminta!
— Vou trazer para vocês.
— Deixe-me ajudá-lo — pedi, já saindo da cama, mas Robert fez um
gesto com a mão para que eu permanecesse no lugar.
— Não precisa. Eu volto já.
O Ryan mais velho saiu do quarto e Benjamin riu baixinho enquanto
cruzava os braços sobre a barriga. Seus músculos ficaram mais rígidos e
fiquei dividida entre me sentir humilhada — afinal, seu braço era do
tamanho da minha coxa — e obcecada, mal conseguindo desviar o olhar.
— Não leve meu pai a mal.
Pisquei, forçando-me a voltar a olhar para o rosto de Benjamin. Ele
franziu levemente o cenho.
— O que você disse?
— Pedi para que você não leve o meu pai a mal. Ele é um homem
acostumado a ser proativo e tomar à frente de qualquer situação, por isso
não aceitou a sua ajuda.
— Entendi. — Engoli o excesso de saliva que se acumulara em
minha boca e me obriguei a desviar os olhos de cima de Benjamin. Limpei
a garganta e apontei para o banheiro: — Posso usar rapidinho?
— Claro. Tem uma escova de dentes ainda na embalagem em uma
das gavetas da bancada.
Murmurei um obrigada e me refugiei dentro do banheiro, passando a
chave na porta como se aquilo fosse me proteger, não de Benjamin, mas de
mim mesma. Encarei-me no espelho, observando uma Aubrey levemente
descabelada, com os olhos arregalados e uma vermelhidão que descia das
bochechas até o pescoço. Joguei água gelada em meu rosto para ver se a
sensação de estar prestes a pegar fogo diminuía.
O que estava acontecendo comigo?
Aquela não era a primeira vez que eu dormia ao lado de um homem.
E nem tinha rolado nada entre mim e Benjamin daquela vez.
Mas rolou antes e você não consegue esquecer isso.
Tranquei a mandíbula ao ouvir aquela voz insistente em minha
cabeça, que voltara com tudo agora que eu tinha certeza de que Benjamin
estava bem. Imagens da noite de ontem voltaram para me atormentar. A
forma como Ben saiu do banheiro, a certeza que eu senti de que ele estava
com ciúmes de mim. Ele gargalhou e garantiu que entendi tudo errado. Eu
deveria sentir apenas alívio ao saber disso, mas aquela não era a única
emoção que envolvia o meu peito.
Estava confusa de uma forma que nunca me senti antes. Eu realmente
esperava que Benjamin sentiria ciúmes de mim só porque ficamos juntos
naquela boate? Ele nem sabia que era a minha boca que estava beijando. Eu
nem imaginava que era com ele que estava ficando. Então, por que estava
tão afetada daquela forma?
— É melhor você voltar ao normal e esquecer tudo o que aconteceu
naquela noite de uma vez por toda, Aubrey — murmurei para mim mesma,
com as mãos apoiadas na bancada.
Summer pegara o voo de Vegas direto para Tuscaloosa ainda na
segunda-feira, mas eu decidi vir para a Califórnia. Não queria me afastar de
Ben naquele momento, por isso enrolei para voltar para o Alabama. Logan
e Avalon entenderam que eu queria me certificar de que Benjamin estava
bem, afinal, ele era importante demais para mim, e não ficaram pegando no
meu pé por eu estar faltando aula.
Eu queria permanecer aqui, com Benjamin, por tempo
indeterminado, mas sabia que não podia. E talvez eu realmente não deveria
ficar. Ir embora era o mais sensato a se fazer. A distância faria com que eu
parasse de me lembrar constantemente do que acontecera naquele dark
room e faria os meus sentimentos por Benjamin voltarem ao normal.
Encarei-me novamente no espelho e tomei uma decisão. Eu voltaria
para o Alabama no dia seguinte e retomaria a minha vida. Benjamin voltaria
a ser apenas meu amigo e tudo o que rolara entre nós dois ficaria no
passado, enterrado para sempre.
Senti-me mais tranquila após decidir aquilo e usei rapidamente o
banheiro. Escovei os dentes com a escova nova que encontrei na gaveta e
meu coração foi desacelerando aos poucos. Entre Avalon e eu, ela com
certeza era a irmã mais racional, mas eu não ficava muito atrás, pelo menos
não quando o assunto era homem. Nenhum deles me desestabilizava ou
dominava os meus pensamentos e emoções. Nem mesmo Christopher, meu
quase ex-namorado, tivera aquele poder. Não seria Benjamin que me
bagunçaria daquele jeito.
Saí do banheiro e encontrei Robert deixando uma bandeja de café da
manhã sobre a cama. Havia muito mais do que bacons e ovos ali, mas
waffles e salada de frutas também, além de café e suco. Ele pediu licença,
avisando que buscaria o jornal na portaria, e deixou Benjamin e eu
sozinhos. Sentei-me na cama, um pouco mais distante de Ben, e dei uma
garfada generosa nos ovos mexidos.
— Nossa, está uma delícia — falei após engolir.
— Meu pai é um bom cozinheiro.
— Diferente de você.
— Sim, diferente de mim. — Benjamin riu. — Eu avisei a Logan que
você passaria a noite aqui. Ele disse que te ligou, mas você não atendeu.
— Meu Deus! — Olhei à nossa volta e percebi que deixara a minha
bolsa na sala. Não pensei em pegar o meu celular dentro dela em momento
algum. — Que droga, meu celular ficou na minha bolsa. Quando você falou
com ele?
— No início da madrugada. Você já estava dormindo.
— Obrigada, Ben. — Agradeci, então, algo me ocorreu. — Por que
não me acordou para que eu fosse embora?
— Porque eu também peguei no sono, foi meu pai quem me acordou
para avisar que já estava muito tarde. Só então mandei a mensagem para
Logan.
— Podia ter me acordado, eu ia embora mesmo assim.
— Não ia deixar você sair daqui tão tarde, Aubrey, ainda mais
sozinha. — Ele comeu o waffle quase todo em uma mordida e meus olhos
ficaram presos em seus lábios melados de manteiga. — E eu sei que você
amou dormir comigo, não precisa mentir.
— Acho que prefiro você com a autoestima baixa — ironizei e
Benjamin riu. — Vou embora amanhã.
Benjamin parou com o resto do waffle a caminho da boca e arregalou
levemente os olhos.
— Amanhã? Tão rápido assim?
— Faltei cinco dias de aula, esqueceu? — Forcei um sorriso. —
Preciso voltar para casa.
— Lá não é a sua casa, pelo menos não de verdade. Sua casa é aqui,
comigo. — Meu coração disparou e Benjamin rapidamente limpou a
garganta. — Conosco, quero dizer. Você sabe, com Logan, Avalon e todo
mundo.
Ele parecia meio atrapalhado e aquilo me arrancou um sorriso.
— Sim, eu sei disso. Minha casa de verdade é aqui. — Toquei
rapidamente em sua mão. — Mas preciso voltar para o Alabama e focar de
novo na faculdade. Nem quero pensar na quantidade de matéria acumulada
que me aguarda, nem no trabalho que terei para pegar os novos passos da
coreografia das líderes de torcida.
— Você vai aprender bem rápido, é inteligente e talentosa.
— Sei disso — brinquei e Benjamin sorriu mais uma vez, antes de
perguntar:
— Precisa mesmo voltar amanhã? É sábado, Aubrey. Pensei que iria
apenas no domingo.
Eu queria muito ficar, mas lembrei-mede toda a confusão que estava
sentindo e percebi que deveria me manter firme em minha decisão.
Benjamin estava sendo bem assistido e seu pai estava do seu lado. Eu
manteria contato com ele por mensagens e chamadas de vídeo, não me
afastaria de verdade, apenas fisicamente, que era o que eu mais precisava
naquele momento.
— Vou precisar desses dois dias para me organizar e dar uma olhada
nas matérias da semana passada. Se algum professor passou um trabalho ou
prova, eu preciso de um tempo para me preparar e estudar.
Não era totalmente uma mentira, mas estava bem longe de ser o
verdadeiro motivo pelo qual eu precisava voltar para o Alabama. Benjamin
me olhou por um tempo e senti meu peito apertado enquanto tentava
adivinhar o que estava passando pela sua cabeça.
— Vou sentir a sua falta, princesa.
Foi tudo o que ele disse e um nó esquisito se formou em minha
garganta. Precisei tomar um pouco de suco para ver se a sensação passava.
— Eu não vou desaparecer, Ben. Estarei a uma mensagem de
distância.
— Eu sei disso, mas vou sentir saudade mesmo assim.
— Também sentirei saudade — confessei. — Por favor, me prometa
que vai deixar esse Benjamin rabugento de lado e que vai focar na sua
recuperação.
— Rabugento? Isso é uma ofensa, Aubrey!
— Pois era assim que você estava ontem.
— Eu estava com raiva, confesso, mas você melhorou o meu humor.
— Tenho mesmo esse poder, mas não pense que vai me enrolar. Vou
ficar em cima de você, entendeu? E eu tenho o número do seu pai também,
se você mentir para mim, eu vou descobrir.
— Sim, senhora. Mais alguma recomendação? — Ele estava mesmo
achando graça de mim.
— Não desista da consulta com o psicólogo. É muito importante,
Ben.
— Sim, eu sei disso, não vou desistir — falou enquanto limpava as
mãos com um guardanapo. — Só acho que se você realmente se importasse
e me amasse como diz, pediria transferência para a UCLA e ficaria do meu
lado nesse momento tão difícil da minha vida...
— Está mesmo fazendo chantagem emocional, Benjamin? — O
interrompi e ele riu.
— Se estiver funcionando, sim.
— Não acredito, eu deveria ter gravado isso para usar contra você em
algum momento.
— Retiro o que disse. Você é sádica, princesa. Quer se vingar de mim
mesmo agora, enquanto estou com a perna fodida e preciso de ajuda até
para mijar.
— Acho que para isso você não precisa de ajuda, tenho certeza de
que consegue segurar seu pau sozinho.
Benjamin gargalhou e, para a minha surpresa, passou o braço pelo
meu ombro. Ele me puxou para mais perto do seu corpo e deixou um beijo
demorado em meus cabelos.
— Não existe ninguém como você, princesa. Realmente vou sentir a
sua falta.
Eu fechei os olhos e afundei meu rosto em seu peitoral de novo. Só
mais uma vez. Respirei fundo o seu cheiro e prometi a mim mesma que eu
voltaria a ser a Aubrey que sempre fui quando pisasse novamente no
Alabama.
Já tive muitas despedidas na minha vida. A mais dolorosa, com
certeza, foi quando precisei me despedir da minha mãe quando ela morreu.
Aquela era uma dor que nunca passava, principalmente para uma criança,
mas a gente se acostumava a conviver com a sensação e a saudade. Já
precisei me despedir de amigos quando saí da Califórnia durante a
adolescência e fui para o Alabama, assim como precisei me despedir dos
amigos que fiz no Alabama para retornar à Califórnia.
Nenhuma dessas experiências me preparou para me despedir da
minha irmã grávida.
Era como se eu fosse completamente leiga em dizer um até logo.
Fiquei agarrada à Avalon o máximo de tempo que consegui no caminho
para o aeroporto e chorei como uma boba antes de ir para a sala de
embarque. Eu sabia da existência daquele bebê há poucos dias, mas já
sentia uma ligação tremenda com ele. Com certeza, passaria horas fazendo
chamadas de vídeo com a minha irmã para me certificar de que estava tudo
bem e voaria mais vezes ao Alabama para poder visitá-la.
O que me tranquilizava, era saber que ela tinha ao seu lado um
homem incrível como Logan e uma família maravilhosa, que ficou
exultante com a notícia da gravidez. Minha irmã merecia tudo aquilo e
muito mais.
Cheguei à mansão da Delta no início da tarde e Summer me ajudou a
subir com as minhas malas. A maioria das meninas estava fora,
aproveitando aquele dia de sábado, enquanto outras ainda dormiam, pois
chegaram da festa de um dos estudantes de Medicina durante a madrugada.
— E você não foi à festa? — perguntei assim que entramos em meu
quarto.
— Sim, eu fui, mas Travis e eu resolvemos ir embora mais cedo.
— Você e Travis, é? — Abri um sorrisinho e me joguei na cama,
vendo Summer fazer o mesmo enquanto soltava uma risadinha boba. —
Avisa a ele que para namorar com você, precisa me pedir primeiro.
— É mesmo, mamãe? — Summer me deu um cutucão no ombro, o
que me arrancou uma risada. — Acho que estou me apaixonando de
verdade, Aub, e sinto que Travis sente o mesmo por mim. É claro que não
quero me iludir, mas ele veio me buscar a semana inteira para irmos juntos
para a faculdade, sempre que acordo ele já me mandou mensagem de bom
dia e até me levou para jantar na quarta-feira. Um homem não faria tudo
isso se não se estivesse sentindo nada, não é?
— Você sabe que o mais próximo que cheguei de ter um
relacionamento, foi com Christopher, e eu sentia que ele gostava muito mais
de mim do que eu dele, justamente porque ele demonstrava esse tipo de
interesse e cuidado. Eu realmente acredito que Travis retribui os seus
sentimentos, amiga.
— Ah, meu Deus! — Summer escondeu o rosto entre as mãos e
começou a soltar gritinhos histéricos enquanto se sacudia em cima da minha
cama. — Não acredito que estou como uma adolescente sentindo frio na
barriga e ansiedade por causa de um cara! Isso é tão louco!
Eu apenas a observei por um momento assim que Summer
mencionou sobre o frio na barriga. Sabia que era loucura da minha cabeça
querer comparar a situação, mas acabei me lembrando de como me senti ao
acordar ao lado de Benjamin na manhã passada. O frio na barriga que me
invadiu diversas vezes.
Esqueça isso, Aubrey. Você prometeu a si mesma que tudo voltaria
ao normal quando pisasse no Alabama!
— Ei, está me ouvindo? — Summer estalou os dedos na frente do
meu rosto e eu pisquei, saindo do transe maluco em que a minha mente
opressora me colocou.
— Sim! — Forcei um sorriso grande demais e Summer estreitou os
olhos. — Claro que estou ouvindo.
— E em que posição eu dei para Travis na noite passada?
— De quatro — respondi prontamente. — É a sua posição favorita,
inclusive.
— Sim, é mesmo, mas não era sobre isso que eu estava falando, sua
mentirosa! — Summer agarrou uma almofada e jogou em mim. Só tive
tempo de erguer a mão para pegar o objeto no ar, ficando orgulhosa dos
meus reflexos. Summer riu. — Posso saber onde você estava com a cabeça?
Deixe-me adivinhar... — Ela pousou dois dedos no queixo. — Em um lugar
bem longe daqui, especificamente na Califórnia, onde está um jogador de
futebol lesionado... Acertei?
O meu coração parou por um segundo. Como Summer sabia disso?
Será que ela desconfiava do que havia acontecido na boate? Ela não estava
bêbada e garantiu que não se lembrava de nada? Ao invés de demonstrar o
meu desespero, forcei uma risada e me sentei na cama, precisando de tempo
para disfarçar. Infelizmente, a única atriz da família era Norah e nós não
compartilhávamos o mesmo sangue, portanto, eu não tinha o seu talento do
meu lado.
— Como você adivinhou, espertinha? — Agarrei a almofada e
esperei Summer se sentar de frente para mim para poder continuar. — Sim,
estou mesmo com a cabeça na Califórnia, mas não apenas por causa do
Ben. Avalon está grávida, esqueceu? Foi difícil me despedir dela hoje.
— Eu sei como isso é difícil, sou a caçula de duas irmãs, lembra? E
elas me deram sobrinhos lindos, que me deixaram de coração partido
quando precisei me mudar para estudar. Sei que a distância é difícil, mas
sua irmã tem o Logan, que é o melhor marido de todos os tempos. Ela vai
ficar bem.
— Sobre isso eu não tenho dúvida, o problema maior é só a saudade
mesmo e o fato de que não estarei presentepara acompanhá-la nas
consultas e ajudá-la a comprar o enxoval... — Suspirei. Se eu imaginasse
que Avalon engravidaria no meu primeiro ano de faculdade, teria escolhido
ficar na UCLA. — Pelo menos tenho a tecnologia a meu favor.
— Exatamente. E sobre o Benjamin? Como ele está?
— Está bem, na medida do possível. A lesão é bem grave e o maior
medo dele é não poder voltar a jogar, mas precisamos manter a esperança.
Benjamin é forte, tenho certeza de que ele vai se recuperar totalmente.
— Sim, ele é forte mesmo...
Joguei a almofada nela e Summer se esquivou a tempo de ela bater
em seu rosto.
— Sua safada! Deixe Travis ouvir isso.
— Mas eu menti? Benjamin é realmente um homem muito forte. —
A danada sorriu. — E se eu não estivesse apaixonada, talvez até me
aproveitaria da nossa amizade para poder me aproximar dele.
— Eu não deixaria isso acontecer.
Não era a primeira vez que Summer falava sobre a possibilidade de
se aproximar de Benjamin, assim como não era a primeira vez que o meu
cérebro automaticamente rejeitava aquela ideia absurda.
— Não deixaria? Por quê?
Por quê?
Aquela vozinha insuportável me fez a mesma pergunta. Ignorei-a e
respondi diretamente para Summer.
— Porque Benjamin é do tipo que pega e não se apega, eu não
deixaria você se aproximar dele e correr o risco de sair com o coração
partido por ele não se apaixonar por você.
— Engraçado, Benjamin me lembra muito uma certa ruiva de dezoito
anos, que está sentada à minha frente neste exato momento. — Summer
tocou em meu queixo e eu revirei os olhos. — Vocês são quase almas
gêmeas, se a gente for parar para pensar. Têm tudo em comum!
— Cala a boca, Summer.
— É verdade, Aub! Preste atenção. — A doida ficou de joelhos e se
posicionou na minha frente, fechando as duas mãos em punho. — Aqui está
você. — Ergueu a mão esquerda. — E aqui está Benjamin. — Fez o mesmo
com a mão direita, em seguida, começou a levantar os dedos das duas mãos,
começando pelo indicador. — Você é desapegada e ele também. Você sente
dificuldade em se apaixonar e ele também. Você ama bolo red velvet e ele
também...
— Pelo menos oitenta por cento da população desse país ama esse
bolo, Summer. — A interrompi.
— De onde você tirou esse dado tão específico?
— Inventei — admiti e Summer bufou. — Mas com certeza a
porcentagem é bem parecida com essa, talvez maior.
— Pare de me atrapalhar, Aubrey Banks! — Ela brigou sério comigo
e eu resolvi ficar quieta para que terminasse logo com aquela loucura. —
Você adora futebol e ele também. Agora vem a última parte, que eu não
posso afirmar que se encaixa com Benjamin, mas não ficaria surpresa se
encaixasse.
— Tenho até medo de ouvir...
— Você sentiu ciúmes porque eu falei que poderia me aproximar
dele. Resta saber se Benjamin sente ciúmes de você também.
— Eu não senti ciúmes coisa nenhuma! — Talvez a minha voz tenha
soado um pouco mais alta do que deveria. Summer apenas arqueou uma
sobrancelha e cruzou os braços. Limpei a garganta e continuei: — Você está
ficando doida.
— Não estou, não!
— Claro que está. Estar apaixonada está alterando a química do seu
cérebro. Está enxergando flores e corações em tudo, Summer.
— Eu só estou dizendo que você e Benjamin combinam, Aub.
— E eu estou dizendo que isso é loucura da sua cabeça. Benjamin é
melhor amigo do Logan, além de ser sete anos mais velho do que eu. Acha
mesmo que ele se interessaria pela garota que o seu amigo enxerga como
uma irmã caçula?
— James se interessou pela Norah — disse ela como se aquilo
explicasse tudo.
— James e Norah se conheciam desde pequenos. Eles, sim, têm tudo
em comum, mas Ben e eu? Tudo o que nos conecta tem a ver com amizade,
não com romance.
Summer bufou mais uma vez e voltou a se sentar ao meu lado com a
cara emburrada.
— Ok, talvez você tenha mesmo razão. — Ela me olhou com uma
careta. — Eu viajei agora, não é? Será que a paixão está mesmo corroendo
o meu cérebro? Eu não quero enxergar possíveis casais a cada pessoa que
eu encontrar pelo campus, Aubrey!
Apesar de ainda estar com o coração acelerado por conta daquela
conversa insana, eu ri e me deitei com a cabeça no ombro de Summer.
— Talvez esse seja um sintoma comum para os recém-apaixonados.
— Dei um tapinha em sua mão. — Uma hora vai passar.
— Espero que sim, não quero ser inconveniente.
— Você não foi inconveniente comigo.
— Claro que eu não fui. Sou sua melhor amiga, eu tenho passe livre
para ser louca e exagerada com você.
Aquilo me tirou uma risada sincera e quase acalmou os pensamentos
nervosos que corriam pela minha mente.
— Eu te amo, sabia? Ter a sua amizade é importante demais para
mim, Summer.
— Ah, Aub! Você está mesmo sensível depois de ter se despedido da
sua irmã, nunca te vi tão emocional.
— Falando dessa forma, parece que eu sou uma ogra.
— Você é, mas só um pouco. — Ela me abraçou forte. — Eu também
te amo, garota.
Nós ficamos por um tempinho daquele jeito e eu quase abri a boca e
despejei em seu colo tudo o que acontecera entre mim e Ben, mas algo me
impediu. O medo. Medo de que Summer interpretasse errado tudo o que
aconteceu e começasse a achar que Benjamin e eu formaríamos um casal.
Era lógico que aquilo jamais aconteceria. Eu passaria os próximos
quatro anos da minha vida no Alabama. Tanta coisa poderia acontecer no
meio desse tempo. Eu poderia conhecer um cara incrível que derreteria o
meu coração de gelo ou Benjamin poderia finalmente se apaixonar, se casar
e se tornar um pai de família.
Fiz uma careta com a cena que minha mente criou, mas logo me
repreendi. Eu não tinha o direito de sentir nada ao pensar em Benjamin com
outra mulher.
Ele era livre e eu também. Estava na hora de focar nisso e esquecer
de todo o resto.
Eu seria madrinha — agora era oficial — de uma menina.
Insisti para que Avalon aceitasse fazer o chá revelação, que
continuava na moda em todas as redes sociais, no dia do meu aniversário, já
que eu comemoraria em sua casa. Portanto, foi em um sábado no meio de
maio, com o céu tingindo de rosa e coral, que Logan desmaiou ao descobrir
que teria uma filha.
Assim que o bolo saiu na tonalidade rosa, ele foi com tudo de
encontro ao chão. Eu fiquei paralisada, sem reação, Avalon começou a
gritar, e James e tio Miller foram correndo acudi-lo. Benjamin, que estava
andando com a ajuda de muletas para não forçar demais a perna, ficou
desesperado sem poder ajudar. Por fim, um dos amigos do pai de Logan,
que era médico, pediu para que todo mundo se afastasse e atendeu o papai
emocionado.
Foi apenas uma queda de pressão. Logan acordou em poucos
minutos, brevemente desorientado, mas quando se lembrou de tudo, se
levantou, agarrou minha irmã e começou a chorar. Suas palavras
continuavam se repetindo em minha mente mesmo depois de horas após a
revelação.
— Não acredito que você vai me dar uma filha, Valente. Eu ainda sou
muito novo para morrer. Você tem certeza? — Logan preferiu não esperar
pela resposta da minha irmã ao ver a cara assassina dela e logo emendou:
— Estou só brincando, meu amor. Estou muito feliz. Prometo que serei o
melhor pai do mundo para a nossa princesa e que vou matar todo filho da
puta que ousar em tocar em um fio de cabelo dela. Ela vai ser a garota mais
amada e protegida do mundo. Eu te amo, Valente.
Foi um discurso fofo — apesar da ameaça de morte a garotos
imaginários — e logo os dois estavam se beijando e sendo ovacionados por
todos os convidados. Talvez eu tenha chorado — algo que vinha
acontecendo com mais frequência do que gostaria de admitir a cada vez que
falava com a minha irmã e ela me mostrava a evolução da sua barriga, do
enxoval e do quarto da minha sobrinha —, porque a emoção era demais
para aguentar, mas a verdade era que eu estava muito feliz.
Os últimos três meses foram incríveis. Eu estava indo muito bem na
faculdade, tinha a nova coreografia das líderes de torcida gravada em minha
mente e fiz novas amizades. Voltara a ser a mesma Aubrey de antes e
pensar no que havia acontecido entre mim e Ben não me afetava mais.
Quer dizer, quase não me afetava mais. Uma parte de mim não
conseguia esquecerde verdade e era masoquista a ponto de comparar o
beijo dele com cada beijo que eu dava em outros garotos. E nenhum
superava. Havia também a questão da pegada, a voz rouca, a barba por
fazer em minha pele, sua boca e língua entre as minhas pernas e...
— Aubrey?
Eu dei um pulo no banco e a próxima coisa que senti, foi o líquido
gelado do meu drinque sem álcool caindo todo no meu colo. O choque da
baixa temperatura me fez soltar um gemido de susto e ficar toda arrepiada.
— Ai, droga!
Levantei-me e vi de soslaio Benjamin fechar completamente a nossa
distância usando as muletas. Ele parou na minha frente, apoiou as muletas
debaixo das axilas e pegou um rolo de papel-toalha que estava em cima do
balcão.
— Merda, princesa, sinto muito. Não quis assustar você.
Estava nítido em seu rosto o arrependimento, mas eu nem o culpava.
Quer dizer, eu o culpava, sim. Por que ele não saía da minha cabeça? Era
meio injusto que continuasse a me perturbar depois de todos aqueles meses,
quando certamente Benjamin nem devia se lembrar do que acontecera
naquele dark room.
— Não precisa se desculpar. — Aceitei os papéis que estendeu em
minha direção e comecei a secar o meu colo e um pouco do meu vestido. O
tecido era branco e agora estava levemente rosado por conta da bebida. —
Eu que estava distraída.
— Distraída e sozinha. — Ben me surpreendeu ao passar um papel-
toalha em meu pescoço. — Por que veio se esconder na cozinha?
— Não estava me escondendo, vim atender uma ligação. O som está
alto lá fora e não estava conseguindo ouvir nada. A ligação acabou caindo,
inclusive. — Deixei os papéis usados em cima do balcão e puxei o banco
atrás de Benjamin. — Sente-se, Ben. Sei que ainda não pode ficar muito
tempo em pé.
Benjamin soltou o ar pela boca com pouca paciência, mas me
obedeceu.
— Eu não sou um inválido ainda, sabia?
— Verdade, não é mesmo. Só é chato — resmunguei e Benjamin
abriu um sorriso.
Minha barriga... Ela ficou gelada pelo que poderia ser a décima vez
apenas naquele dia.
Merda.
— Isso eu não posso negar — disse ele. — Como se sente tendo
dezenove anos?
— Não sei definir muito bem. Como você se sentiu quando fez
dezenove?
— Invencível. — Seu sorriso ficou mais largo. Seus dentes eram tão
certinhos, que eu sentiria inveja, se não estivesse ocupada demais tentando
entender o efeito que o seu sorriso me causava. — Eu estava no meu
primeiro ano de faculdade e era o running back titular do Crimson Tide, ia
disputar meu primeiro campeonato e tinha certeza de que seria campeão.
Foi a primeira vez que me senti verdadeiramente feliz em muito tempo.
— Sério? Por que diz isso?
Benjamin desviou os olhos dos meus e seu sorriso diminuiu aos
poucos. Sua reação à minha pergunta me deixou mais ansiosa, mas, ao
mesmo tempo, fiquei me perguntando se eu não estava sendo intrometida
demais. Estava quase abrindo a boca para dizer que ele não precisava falar
nada se não quisesse, quando Ben respondeu:
— Minha adolescência foi um pouco conturbada, mas o futebol, e o
meu pai, é claro, me salvaram. Ter ganhado a bolsa para estudar por causa
do esporte, me mostrou que eu realmente era bom no que fazia, me deu uma
nova perspectiva, então, agarrei essa chance com unhas e dentes e não
desperdicei. Prometi a mim mesmo que teria o futuro que comecei a sonhar
quando ainda era um garoto que ficava deslumbrado em frente à TV
assistindo aos jogos de futebol e corri atrás para alcançar esse objetivo.
Eu estiquei a mão para tocar a dele por cima do balcão e um arrepio
levantou os pelinhos do meu braço ao sentir o toque da sua pele quente e
áspera. Benjamin havia me abraçado quando chegara à minha festa, mas
não passamos muito tempo juntos porque eu estava com os meus amigos e
ele estava com os jogadores do 49ers que marcaram presença por conta do
chá revelação. Mesmo tendo a lembrança do seu toque bem vívida em
minha mente, sentir de verdade deixava bem claro que nenhuma memória
era real o suficiente.
— Isso é incrível, Ben. Na verdade, você é incrível. Alguma vez eu
já te disse isso?
Benjamin sorriu — um sorriso de garoto tímido que eu quase nunca
via em seu rosto — e aqueceu o meu peito.
— Acho que não.
— Pois estou falando agora. Você é incrível, sua história de vida é
inspiradora e eu tenho certeza de que, em breve, você estará de volta ao
time para conquistar tudo o que o futuro ainda reserva para você.
— Para com isso, vai me fazer chorar, princesa. — Achei que ele
estava brincando, mas seus olhos estavam mesmo levemente úmidos. — É
seu aniversário, é você quem precisa ganhar elogios, não eu.
— Isso é bobagem.
— Não, não é bobagem. — Seus olhos ficaram mais sérios e
desceram lentamente pelo meu rosto e colo. Eles se detiveram ali por um
segundo, antes de se arregalarem e voltarem para os meus. Benjamin
limpou a garganta. — Seu vestido está um pouco transparente.
Eu olhei para o mesmo lugar que Benjamin olhara antes e tomei um
susto ao ver que o vestido estava colado em meus mamilos. O tecido não
era tão fino assim, mas molhado parecia que era um papel. Senti minhas
bochechas ficarem quentes e me levantei do banco em um pulo, quase
caindo por conta dos saltos finos, mas Ben me firmou antes que eu pisasse
em falso de verdade.
Suas mãos em minha cintura, me segurando daquele jeito, me
levaram de volta àquela memória proibida. Meu coração disparou e minhas
mãos foram parar em seu peitoral, que continuava surpreendentemente forte
e musculoso mesmo com Benjamin fora da ativa. Eu sabia que tinha que
sair de perto dele. Racionalmente, eu já deveria estar impondo distância,
mas os olhos de Benjamin dentro dos meus me mantiveram no lugar. Ele
não olhava para os meus mamilos que apareciam visivelmente sob o vestido
nem para o decote que dava uma visão boa dos meus seios.
Benjamin olhava para mim. Ele me consumia e eu nunca, em toda a
minha vida, sentira algo como aquilo.
Foi o toque do meu celular que me salvou. O barulho estridente me
fez dar um passo para trás e Ben também pareceu sair do mesmo transe em
que estava, finalmente soltando a minha cintura. Ele limpou novamente a
garganta e eu peguei o aparelho em cima do balcão.
— Preciso atender. Era a ligação que eu estava esperando. Do
Christopher, sabe, meu ex-namorado. — Cala a boca, Aubrey, você não
está falando nada com nada. — Eu vou ao banheiro me limpar e falar com
ele. A gente se vê depois.
Saí da cozinha em um passo relativamente calmo — pelo menos, foi
o que pensei, mas cheguei ao banheiro mais rápido do que aconteceria
normalmente. Encostei-me contra a porta trancada e respirei fundo.
Christopher e eu nem namoramos de verdade. Por que eu falei aquilo
para Benjamin?
Por que ele me desestabilizava daquele jeito?
— Meu Deus, Aubrey, se controla!
Respirei fundo e atendi Christopher.
Aubrey tinha um ex-namorado. Eu não fazia ideia do motivo para
essa informação estar martelando em minha cabeça, mas o fato era que eu
não conseguia parar de pensar nisso.
Passei um tempo na cozinha depois de ela ter saído, ainda
processando os últimos minutos em sua companhia. Tê-la tão perto me fez
reviver aquele momento fatídico no dark room, que eu havia me obrigado a
parar de pensar e relembrar nos últimos meses. Devia confessar que Aubrey
estar morando no Alabama me ajudara bastante, além do foco na minha
recuperação.
Eu estava me dedicando cem por cento ao tratamento, fazendo
sessões de fisioterapia, exames de imagens para ver a evolução da lesão e
utilizando de todo recurso possível para acelerar a minha recuperação.
Além disso, tinha voltado a me exercitar aos poucos, apenas da cintura para
cima, e isso também me ajudava a manter a mente ocupada — além das
sessões com o psicólogo duas vezes por semana.
Eu me sentia bem fisicamente, apesar das limitações que ainda me
irritavam, e já não estava mais tão mal-humorado. Meu pai continuava do
meu lado, mesmo com a minha insistência para que voltasse à sua vida
normal agora que eu tinha mais mobilidade e não precisava ser carregado
de um lado para o outro. Ele devia saber que a sua presença me fazia bem.
Eu sentia quea nossa conexão estava ainda mais forte agora e percebi que
sentia falta de passar um tempo ao seu lado, pois desde que saí de casa para
estudar, nunca mais moramos juntos.
Eu me mantinha ocupado durante o dia com o tratamento e exercícios
e à noite jantava com o meu pai e maratonava alguma série ou assistia filme
policial ao seu lado. Era ao me deitar que minha mente gostava de começar
a me torturar. Eu me lembrava da minha rotina de antes da lesão, do que
estaria fazendo se não estivesse afastado do time. Eu teria aproveitado a
vitória do Super Bowl e depois teria curtido as minhas férias.
Provavelmente, viajaria para algum resort com praia, onde descansaria sob
o sol, sentiria a água salgada na pele e encontraria alguma diversão à noite
em casas noturnas.
Então, voltaria para a Califórnia e começaria a me preparar para a
próxima temporada. Todos os meus companheiros de time já estavam
reunidos e começando a treinar, mas eu estava de fora e continuaria assim
por pelo menos mais oito meses. Esse pensamento sempre me causava
ansiedade, pois o medo de simplesmente não poder voltar a jogar me
deixava aterrorizado.
As consultas com o psicólogo vinham me ajudando bastante nessa
questão. Ele sempre me dizia que pensar no futuro era algo positivo, mas
que precisávamos trabalhar o medo e a ansiedade que os pensamentos
negativos me causavam. Eu vinha tratando isso e a cada dia mais agradecia
Aubrey por ter me aconselhado a procurar um profissional. Sempre a
atualizava de como eu estava e a tranquilizava sobre eu continuar com as
sessões.
O problema era que o medo do futuro não era a única coisa que me
desestabilizava. Aubrey era o segundo motivo que me fazia perder algumas
horas de sono durante a noite. Nas primeiras semanas após o seu retorno
para o Alabama, fiquei na corda bamba entre a dor que ainda sentia por
conta da lesão, a sensação grogue dos analgésicos, as oscilações de humor e
a lembrança da sua boca colada à minha e do seu gosto mais íntimo em
minha língua.
Continuava a manter aquela noite em segredo até mesmo do meu
psicólogo, por isso, comecei a fazer um exercício comigo mesmo, que era,
basicamente, acompanhar Aubrey nas redes sociais e ver que ela estava
vivendo a sua vida normalmente. Ela era bastante ativa, postava stories
sobre a sua rotina e nos finais de semana, sempre postava vídeos onde
estava em alguma festa ou balada com as amigas. Eu assistia a tudo como
um viciado e, antes de dormir, conversava comigo mesmo sobre seguir o
exemplo de Aubrey e começar a viver como se nada tivesse acontecido.
O problema era que era fácil esquecer do que acontecera naquele
dark room quando você podia sair e curtir a noite com seus amigos. Quando
podia beijar na boca e transar. Eu não trepava há mais de três meses! Era a
porra de um recorde. A última boca que beijei foi justamente a da garota
proibida para mim e aquilo estava afetando o meu psicológico.
Assistir a rotina de Aubrey era também uma tortura. Eu não queria
pensar que ela estava beijando ou trepando por aí. Apesar de nunca ter
postado nada tão íntimo, eu não era idiota. Aubrey era linda e eu já tive a
idade dos filhos da puta que a cercavam na faculdade. Era lógico que ela
chamava atenção e despertava o desejo daqueles idiotas que mal sabiam
colocar uma camisinha.
E agora eu descobria que ela tinha um ex-namorado.
Logan sabia daquilo? Era bem provável que não, ou ele já teria
surtado e contado para mim e para James. Será que Avalon sabia? Talvez
sim. Será que ela conhecia aquele tal de Christopher?
Quem ele era, afinal?
E como foi idiota a ponto de perder uma garota como Aubrey?
Eram muitas perguntas e eu queria a resposta para todas elas, mesmo
sabendo que não tinha direito algum de me meter na vida de Aubrey.
Éramos amigos, ela me contara que não era mais virgem, mas interrogá-la
sobre relacionamentos ultrapassava um pouco os limites. O problema era
que eu estava com uma sensação opressora no peito, que nem sabia nomear,
mas que estava prestes a me fazer tomar atitudes impulsivas.
— O que está acontecendo, Benjamin? — perguntou meu pai sentado
ao meu lado. — Está mal-humorado desde que voltou do banheiro.
Meu intuito ao entrar na mansão de Logan era realmente ir ao
banheiro, mas quando vi Aubrey sozinha na cozinha, meio cabisbaixa, não
pude deixar de ir até ela. Agora que eu sabia que ela estava daquela forma
por causa daquele tal de Christopher, só ficava mais furioso ainda. Ele a
tinha magoado? Era por isso que ela estava estranha daquele jeito? Se sim,
eu mesmo arrebentaria a cara do idiota e Logan nem precisaria sujar as
mãos.
Com a perna fodida ou não, eu acabaria com aquele babaca que
brincou com os sentimentos da minha garota.
Vi Aubrey se afastar em direção à piscina sozinha. Já era tarde da
noite e seus amigos tinham ido embora há alguns minutos, inclusive sua
amiga Summer, que viera com o namorado que eu esqueci o nome. Avalon
e Logan estavam conversando com Brady, jogador do 49ers, e a esposa
dele, que também estava grávida, e os outros caras do time estavam falando
sobre a série de treinos daquela semana.
Eu não queria ouvir nada sobre aquilo, afinal, não estaria com eles,
por isso, decidi ficar com meu pai — que passara boa parte da festa
conversando com Sra. Lucy, dona da confeitaria, que finalmente aceitou o
convite de Aubrey para comparecer ao seu aniversário. Só que agora que
estava com a mente atribulada com tantas perguntas, precisava ir atrás de
Aubrey. Levantei-me com o auxílio das muletas e falei por cima do ombro.
— Vou ficar com Aubrey um pouco.
Não esperei pela resposta do meu pai e segui em frente. Agora que
estava acostumado a andar com as muletas, conseguia me movimentar
relativamente rápido. Não reclamava, pois era bem melhor do que precisar
do auxílio de outras pessoas ou de uma cadeira de rodas. Encontrei Aubrey
sentada em umas das espreguiçadeiras. Ela agora usava um vestido verde,
que realçava a cor dos seus cabelos, e a mesma sandália de salto alto e fino.
Continuava distraída, sem mexer no celular, mas olhando para a água da
piscina.
Dessa vez, Aubrey me sentiu chegar, mas pareceu surpresa ao me
ver. Tentei ordenar em minha cabeça o que queria perguntar para ela, mas
assim que me aproximei, a primeira coisa que saiu da minha boca foi:
— Sei que eu não tenho direito de querer saber nada sobre a sua vida,
Aubrey, mas preciso que você me responda apenas uma coisa.
Aubrey piscou, ainda mais surpresa do que antes, e fiquei sem saber
se era por conta do que falei ou do modo como minha voz soou grave e
urgente.
— O que quer que eu responda?
— Esse tal de Christopher magoou você? — Aubrey piscou de novo
antes de arregalar os olhos. — Por favor, seja sincera comigo. Se ele tiver
machucado você, princesa, da forma que for, eu juro por Deus que vou
fretar um jatinho agora mesmo e vou bater na casa desse arrombado. E ele
não vai gostar nada da minha visita.
Aubrey abriu a boca, mas nenhum som saiu dos seus lábios. Ela
estava sem palavras e eu estava a um passo de ligar para um contato que eu
tinha, que era investigador, e mandar que descobrisse tudo sobre aquele tal
de Christopher.
— Por que você acha que Christopher me magoou? De onde tirou
isso, Ben?
— Pela forma como você estava na cozinha. Sozinha, triste,
esperando uma ligação dele. Se esse babaca brincou com os seus
sentimentos, eu preciso saber, Aubrey.
Aubrey se levantou da espreguiçadeira e se aproximou de mim com
passos calmos demais, o que me deixou mais agitado. Firmei-me melhor
nas muletas, mas não adiantou de nada, pois meus nervos ficaram mais
agitados ao sentir o toque de Aubrey em meus braços. Sem que eu
esperasse, ela sorriu.
— Ben, fique tranquilo. Christopher não fez nenhum mal para mim,
pelo contrário.
Pelo contrário? Aubrey achava que eu tinha nascido ontem?
— Aubrey, não precisa proteger esse filho da put...
— Não estou protegendo e Christopher não é um filho da puta. Na
verdade, ele é um ótimo filho e neto. Juro, ele é um menino de ouro.
— Não acredito nisso pela forma como você estava enquanto
esperavauma ligação dele — falei com frustração e raiva.
— Eu não estava triste, Ben. Talvez cabisbaixa e pensativa, mas não
triste, muito menos por conta do Chris. — Chris. Quase revirei os olhos,
mas me segurei. — É melhor a gente se sentar para ter essa conversa.
Daquela vez, eu não reclamei, pois realmente não era fácil ficar
muito tempo de pé com as muletas. Fomos até a mesa que ficava em frente
à piscina, pois a espreguiçadeira era baixa demais para mim, e nos
sentamos. Respirei com um pouco mais de alívio ao sentir os músculos dos
braços relaxarem.
— Continue — pedi. — Em que momento você arranjou um
namorado e eu não fiquei sabendo?
Bom, parecia que eu ia, sim, interrogar Aubrey. Senti-me um idiota,
mas ela apenas riu e respondeu:
— Eu exagerei, nós não namoramos de fato. É que Christopher foi o
único cara com quem eu tive algo mais sério, digamos assim. Foi no início
da faculdade, mas ele precisou trancar a matrícula e voltar para a cidade
natal, pois sua avó ficou muito doente e ela é a sua única parente viva. Hoje
nós somos apenas amigos e ele é muito especial para mim.
Foi a minha vez de piscar, surpreso. Esperava que ela me dissesse
que Christopher era mesmo um idiota que brincou com seus sentimentos,
mas tudo o que recebi foi a informação de que ele era mesmo uma boa
pessoa. Um menino de ouro. Porra.
— Bom... — Resmunguei, mas parei para poder encontrar as
palavras certas. — Acho que entendi tudo errado, então.
— Sim, entendeu, mas confesso que achei fofa a sua reação.
— Fofa? Eu disse que fretaria um jatinho para ir atrás dele, Aubrey.
— Sim, e isso é bem fofo da sua parte. Gostei saber que faria uma
loucura assim apenas para vingar o meu coração partido. — Ela tocou o
próprio peito do lado esquerdo, mantendo aquele sorriso abusado no rosto.
— Apesar de saber que você estava apenas exagerando.
— Não, eu não estava exagerando. Realmente faria isso, Aubrey. Não
quero que um idiota acredite que possa brincar com você e sair impune.
— Você é meu cavalheiro de armadura prateada, então? Ou um
cavalheiro de asas, já que fretaria um jatinho apenas para isso.
— Descreva como quiser, princesa, mas o fato é que eu me importo
demais com você e quebraria a cara de qualquer filho da puta que brincasse
com o seu coração.
Aubrey suspirou e arrastou a cadeira para mais perto de mim,
parando na minha frente. Seus joelhos ficaram entre os meus e suas mãos
tocaram o meu rosto com carinho.
— Obrigada por se importar de verdade comigo, Ben. — Ela se
esticou em minha direção e deixou um beijo demorado em meu rosto. Meu
cérebro registrou algumas coisas: seu cheiro, que eu estava morrendo de
saudade, a sensação dos seus lábios em minha pele e o fato da sua boca
estar longe demais da minha. — Mas acho que é mais fácil eu brincar com
o coração dos homens do que o contrário. — Sua voz saiu em um sussurro e
meu pau despertou na cueca.
Puta merda.
Aubrey se afastou, mas manteve o sorriso no rosto. Eu fiquei em
silêncio, processando tudo e tentando acalmar aquela parte do meu corpo
que simplesmente não sabia a hora de ficar em repouso. Meu pau não tinha
um pingo de noção, porra!
— Por que acha isso?
— Lembra do que falei para você? Sou difícil de me apegar. —
Aubrey deu de ombros. — Assim como você.
— Assim como eu. — Sorri, mas não foi tão sincero assim. — Você
é terrível, princesa. E perigosa.
— Perigosa? Por quê?
— Você mesma já respondeu essa pergunta ao afirmar que é mais
fácil brincar com o coração dos homens do que o contrário. Quase sinto
pena dos idiotas da sua faculdade.
— Quase sente pena?
— Sim, quase. Eles vão sair magoados ao perceberem que você não
se apaixonou, mas esse vai ser o castigo por se aproximarem de você.
— Castigo? Agora você está parecendo o Logan falando — disse ela
ao cruzar os braços.
Porra, eu estava? Sim, estava mesmo. Aquilo acendeu um alerta em
minha cabeça. Logan era ciumento, eu, não. Como disse para Aubrey meses
atrás em meu quarto, eu nem sabia como era sentir ciúmes. Lembrar disso
me fez relaxar automaticamente.
— Não estou parecendo o Logan, estou apenas constatando um fato.
Isso não é algo ruim, pelo contrário. Tem muito cara babaca na faculdade,
eles merecem sofrer um pouco também.
— Você fala com tanta propriedade... — Ela me provocou.
— Eu não era exatamente um babaca, sempre deixei bem claro o que
as garotas poderiam esperar de mim.
Aubrey revirou os olhos.
— Você é o homem mais antirromântico que conheço, Ben.
— Assim você me machuca, princesa — brinquei e consegui um
novo sorriso dela. — Tome cuidado, ok? E continue sendo mais esperta do
que os idiotas que se acham espertos.
— Pode deixar. — Aubrey se aproximou de mim e tocou o meu nariz
com o dedo indicador. — Ainda vou te dar muito orgulho, Benjamin Ryan.
Aubrey deixou um novo beijo em minha bochecha e eu quase
retribuí, mas decidi manter a minha boca bem longe de qualquer parte do
corpo dela.
Era melhor assim.
Consegui acompanhar Avalon em uma consulta com a sua obstetra
antes de retornar ao Alabama e foi memorável ver a minha afilhada pela
tela através da ultrassonografia 4D[1]. Não era uma imagem totalmente
nítida, mas com certeza era bem mais definida do que as ultrassonografias
comuns, onde a tela era toda azul e a gente praticamente só via a silhueta do
bebê.
Quando o som do coração começou a ecoar na sala, eu chorei mais
do que o Logan. Ele precisou me amparar, o que era bastante contraditório,
já que a pessoa mais emocionada do mundo era ele. Avalon ficou rindo da
nossa cara — apesar de estar com lágrimas nos olhos também — e
deixamos o consultório em meio a uma discussão sobre com quem a criança
se parecia mais.
Eu tinha certeza de que o nariz dela era como o meu — e como o de
Avalon, já que tínhamos aquele traço em comum —, mas Logan jurava que
o nariz era dele, assim como a boca e o formato dos olhos — que nem dava
para ver direito na imagem. Desisti de tentar ter lugar de fala no meio da
discussão dos dois e encerrei a minha participação afirmando que minha
afilhada seria ruiva.
Ao ouvir aquilo, Logan rapidamente se esqueceu da longa lista de
características que a criança compartilharia com ele e afirmou ter certeza de
que a garotinha seria uma miniValente. Foi assim que ele conseguiu
arrancar um sorriso bobo da minha irmã e a briga dos dois terminou em um
beijo cinematográfico no meio do estacionamento do prédio onde ficava o
consultório.
Apesar de estar com quase seis meses de gestação, minha irmã às
vezes apresentava alguns episódios de enjoo. A barriga também já estava
começando a pesar, por isso, Logan e eu a obrigamos a ficar deitada na sala
assistindo a um filme e fomos para a cozinha preparar o jantar, já que a chef
que preparava a refeição dos dois precisou tirar o dia de folga. Eu
melhorara bastante os meus dotes culinários, pois na mansão as meninas
não gostavam de cozinhar muito e eu gostava de ter uma dieta balanceada,
por isso, foi fácil dominar o fogão e fazer uma massa com os ingredientes
que eles tinham em casa.
Meu ponto fraco, no entanto, era a organização. Por sorte, Logan
resolveu deixar a comida por minha conta e passou a lavar a louça e guardar
todos os utensílios conforme eu ia terminando de usar. Quando percebeu
que a quantidade de comida seria grande demais para apenas nós três,
Logan mandou uma mensagem para James e Norah, que eram seus
vizinhos, e para Benjamin, convidando-os para jantar conosco.
Ben aceitou e senti novamente o frio na barriga que só ele me
causava. Ainda não entendia por que eu ficava ansiosa — e até um pouco
nervosa, precisava confessar — a cada vez que sabia que ficaria em sua
presença. Se era por conta do que acontecera em Vegas, eu precisava
superar isso.
Avalon ajudou Logan a colocar a mesa — mesmo sob os protestos
dele — e eu fui tomar um banho rápido para poder me livrar do cheiro dos
temperos usados para a preparação da massa e do salmão, uma das poucas
proteínas que Avalon conseguia comer sem enjoar. Quando desci, James e
Norah já estavam na sala com a minha irmã e Logan estava abrindo a porta
para Benjamin.Algo estranho demais aconteceu com as minhas pernas. Elas ficaram
bambas. Precisei parar entre o hall da casa e a sala para poder esperar a
sensação passar e Ben acabou me vendo por cima do ombro de Logan
enquanto eles se cumprimentavam com um abraço. Como se fosse possível,
o jogador estava mais bonito do que na noite anterior em minha festa.
Vestido em um jeans casual e uma camisa básica branca, que abraçava seus
músculos dos braços, Benjamin estava gostoso. As muletas não
atrapalhavam em nada a sua beleza.
E pensar nele naquele termo era errado pra caramba da minha parte.
— Soube que você fez um jantar em minha homenagem, princesa. —
Um sorrisinho safado se abriu em seus lábios. — Foi só por isso que eu
vim.
Logan soltou uma risada e me deu um olhar divertido, claramente
esperando pela minha resposta. Engoli em seco e me obriguei a tirar
qualquer pensamento intrusivo e estranho da minha cabeça.
— Não sei quem te contou isso, mas saiba que é fake news.
— Aubrey, eu estou lesionado! Não se fala assim com um homem
com uma perna fodida como a minha.
— Ele usa a perna como desculpa para tudo. — Logan suspirou e deu
um tapa no ombro de Benjamin. — Ninguém cai mais nesse seu papinho,
Ben.
— Isso só demonstra como vocês não me amam de verdade.
— Está para nascer um idiota mais dramático do que você, cara. —
James apareceu no hall e cumprimentou o amigo rapidamente. — A sua
sorte é que a gente realmente te ama, do contrário, já teríamos desistido de
você.
— Porra, eu saí de casa para ser tratado assim? Vão tomar no cu
vocês dois.
Eu rapidamente fui esquecida enquanto os três implicavam um com o
outro e não pude deixar de rir enquanto acompanhava aquele embate que
não levaria a lugar algum. Sentia muita falta daquilo e já estava prevendo
como iria sofrer quando precisasse me despedir de todos eles mais uma vez
na manhã seguinte.
Resolvi deixar a tristeza para depois e logo estávamos à mesa. O
jantar foi divertido, como sempre era quando todos nós nos reuníamos e,
pela primeira vez, eu me senti mais adulta perto deles. Antes, eu era apenas
uma adolescente que se achava madura, agora, eu era realmente uma
mulher e todos ali pareciam me ver assim. Não que antes me tratassem
como criança ou não levassem a minha opinião em consideração, mas agora
era diferente.
O assunto à mesa não foi apenas futebol ou o trabalho de Avalon e o
musical de Norah. Houve interesse pela minha vida no Alabama, sobre o
meu curso na faculdade e até mesmo a minha posição como líder de torcida.
Os cinco me olhavam com orgulho e eu fiquei verdadeiramente feliz por
saber que despertava aquela emoção neles.
Foi um jantar muito especial e, quando acabou, fomos todos para a
sala. Passava alguma reprise de jogo na TV e senti Benjamin ficar tenso ao
meu lado no sofá. Se eu não estivesse tão atenta a ele, certamente aquilo
passaria despercebido por mim, assim como passou para James e Logan,
que conversavam sobre o novo carro que James queria comprar, e Norah e
Avalon, que falavam sobre roupinhas para a nova integrante da família.
— Está tudo bem? — perguntei baixinho para ele e Ben relaxou um
pouco mais a expressão.
— Sim, é claro. Por que não estaria?
— Não sei, estou te achando um pouco calado desde que viemos para
sala.
— Você está sempre atenta a tudo, me esqueci disso.
— O que eu posso fazer? É um dom. — Dei uma cotovelada de leve
em seu braço e Benjamin riu. — É por causa do jogo que está passando na
TV?
Ben ficou por um momento em silêncio e olhou para todos na sala.
Após ter certeza de que a atenção não estava sobre nós dois, ele respondeu
em um tom um pouco mais baixo, o que tornou a sua voz mais grave, como
no dark room, fazendo um arrepio descer pela minha coluna:
— Tenho evitado assistir canais de esporte. Antes era porque eles só
falavam sobre mim, agora, é porque já estão começando a falar sobre a
preparação dos times para a nova temporada e isso me deixa irritado pra
caralho.
— Porque você está fora desse campeonato — concluí e Benjamin
apenas concordou com a cabeça. — Ben, é normal se sentir assim, mas
acho que você não deve se afastar totalmente do futebol. Você ama esse
esporte, deve voltar a sentir prazer sobre isso, seja assistindo a uma reprise
de jogo ou a um noticiário.
— Meu pai me disse basicamente a mesma coisa e meu psicólogo
também, mas ainda não consigo. Há um certo... bloqueio dentro de mim —
murmurou e a tensão em sua voz me deixou com o peito apertado. — Meu
psicólogo disse que, no momento, minha mente “enxerga” o futebol como
um gatilho. Eu penso em tudo o que aconteceu naquela noite do Super
Bowl e em tudo o que estou perdendo por causa disso. Há também o medo
do futuro. Enfim, é complicado.
— Eu sei que é, mas você não precisa enfrentar nada disso sozinho.
Sabe o que podemos fazer?
— O quê?
— Quando você se sentir melhor para discutir sobre futebol,
podemos fazer uma videochamada e conversar. Eu posso te contar detalhes
do treino do Crimson, te mandar algumas estratégias do time para você
analisar... O que acha?
— Acha que isso me ajudaria com alguma coisa?
— Claro que sim. Você não ama apenas jogar futebol, Ben, mas ama
o esporte em si. Eu vi como você se inteira totalmente desse assunto, como
faz comentários pertinentes e como ama estudar as estratégias de cada time.
Lembra das reuniões que você, James e Logan faziam aqui mesmo, nessa
sala, para ver os jogos dos adversários e encontrar seus pontos mais fracos?
Isso mostra que você não se preocupa apenas com a sua performance em
campo, mas com o seu time como um todo. Talvez você precise enxergar o
outro lado do futebol para se reconectar com o dom que há aqui dentro —
falei, apontando para o seu peito.
Benjamin voltou a ficar em silêncio e eu fiquei com medo de ter
falado alguma coisa errada. E se estivesse o pressionando demais? Eu
estava longe de ser psicóloga, talvez, devesse ficar quieta. Estava quase
pedindo para que esquecesse tudo o que falei, quando ele finalmente
respondeu:
— Acho que você tem razão, princesa. — Um sorrisinho se abriu no
canto dos seus lábios e mexeu com algo dentro de mim. — Vou levar essa
ideia para o meu psicólogo e ver o que ele acha.
— Ótimo! Se ele falar que eu não estou viajando, vamos começar
com a nossa chamada de vídeo para conversar sobre futebol. Quando você
se sentir preparado, é claro.
— Você vai mesmo perder o seu tempo comigo, Aubrey? Tenho
certeza de que você tem coisas mais legais para fazer em Tuscaloosa.
— Não há nada mais legal do que ajudar aqueles com quem nos
importamos, Ben. Sei que estou distante, mas me importo muito com você.
Eu o considero como o meu melhor amigo, não vou te deixar sozinho
nunca, entendeu?
Seus olhos castanhos percorreram os meus lentamente e senti uma
vontade absurda de olhar para a sua boca. Consegui me controlar, mas
comecei a sentir minhas bochechas ficarem quentes de vergonha. O que
estava acontecendo comigo?
— Entendi, princesa. — Benjamin tomou a minha mão na sua e deu
um beijo no dorso, sem se importar com o fato de que estávamos na frente
de outras pessoas na sala. — Eu aceito a sua ajuda.
O Crimson Tide perdeu o primeiro jogo da temporada.
A ansiedade de todos era gigantesca para a estreia do time no
campeonato. O estádio estava lotado naquele penúltimo sábado de agosto e
os torcedores gritavam conosco o grito de guerra do Crimson enquanto nos
apresentávamos. O clima antes do jogo era de expectativa e certeza de que
o time levaria adiante o legado deixado por Logan, Benjamin, James e
todos os outros jogadores que se formaram e foram draftados junto com
eles.
No ano passado, o Crimson chegou à final, mas perdeu por poucos
pontos. Foi uma disputa de gigantes e, apesar de não ter saído com a taça e
o título, o time com certeza não terminou a temporada com a sensação de
terem feito um péssimo campeonato. Começar aquele ano com uma derrota
ia na contramão do que os torcedores esperavam do time.
Foi um final de semana triste, onde Maeve precisou fechar o bar mais
cedo, por falta de movimento, e os torcedores propagavam discursos
ofensivosna internet. Eu não queria me deixar abater, por isso, antes de ir
para a faculdade na segunda-feira, aproveitei que Ashley, presidente da
fraternidade, fez uma reunião com as meninas sobre o treino daquela
semana e pedi a palavra. Falei para elas que deveríamos confiar no nosso
time e que não podíamos mostrar qualquer desânimo.
Aquele era o papel de uma verdadeira líder de torcida. Trazer a
alegria necessária em campo e ter o amor pelo time no coração.
Entregamos o nosso máximo durante o treino naquela semana, assim
como os jogadores em campo. Pude acompanhar o trabalho do time técnico
com eles e anotei alguns detalhes para conversar com Benjamin. Ele estava
mais aberto para falar sobre futebol e sempre tinha conselhos incríveis para
dar, além de um olhar técnico apurado. Quando se aposentasse, ele poderia
com certeza se tornar treinador e faria um trabalho incrível.
Estava abrindo a porta do meu armário no vestiário quando ouvi o
toque do meu celular dentro da minha bolsa de treino. Sorri ao ver que era
Avalon.
Avalon: Hoje acordei com a sensação de que estavam enfiando
uma faca na parte de cima do meu abdome, mas era só a sua afilhada
se ajeitando em minha barriga e enfiando o pé (só pode ser o pé,
segundo a posição em que ela está agora) embaixo das minhas costelas.
Logan acordou achando que eu já estava parindo. Sabia que a minha
vagina está inchada? A médica disse que é normal nessa fase da
gravidez, mas achei que passaria ilesa por isso. Boa tarde, maninha!
Fiquei em frente ao meu armário sem saber se eu dava risada ou se
ficava preocupada com a minha irmã. Desde que eu voltara para o
Alabama, Avalon me atualizava sobre a gestação todos os dias. No início,
as notícias eram sempre as mesmas: um pouco de enjoo, desejo por uma
comida específica que eles nunca tinham em casa e Logan tinha que se virar
para comprar, a bebê se mexendo — jamais me esqueceria de que ela fez
questão de se mexer para mim quando Avalon e Logan foram me deixar na
área privada do aeroporto.
No entanto, com o passar dos meses, as notícias foram se tornando
mais específicas, digamos assim. Começando por: seios inchados, escape de
leite, duas estrias que saíram no pé da sua barriga, o fato de Avalon não
conseguir ver mais a própria vagina... Lembrar-me disso me fez perguntar:
Eu: Como você sabe que a sua vagina está inchada, se não
consegue mais vê-la?
Ava me respondeu enquanto eu terminava de guardar meu uniforme.
Avalon: Foi Logan que me disse ontem à noite.
Eu: Eca! Eu não precisava dessa informação, Avalon.
Avalon: Foi você quem perguntou.
Eu: Você podia ter inventado uma mentira.
Avalon: Por que eu faria isso? Você sabe muito bem como a sua
afilhada foi feita, Aubrey Banks.
Eu: Você não precisava me lembrar disso também.
Eu: Agora, me diz uma coisa, uma grávida de nove meses pode
transar?
Avalon: Claro que sim.
Avalon: Graças a Deus por isso, aliás.
Era bom saber que minha irmã era uma grávida sexualmente ativa,
mas eu podia ter passado a vida sem ter aquela informação. Conversamos
por mais um tempo, até eu me dar conta de que o vestiário estava quase
vazio e que apenas Summer esperava por mim, também entretida no celular.
Pelo sorrisinho em seu rosto, com certeza estava conversando com Travis.
Para a minha sorte, minha melhor amiga sabia conciliar muito bem o tempo
que tinha entre mim e o namorado. Eu havia deixado bem claro que cortaria
o pau de Travis se Summer ameaçasse me trocar por ele.
— E então, como está a sua irmã? — perguntou ela assim que saímos
do vestiário.
— Bem e com a boceta inchada.
Summer parou no meio do corredor e me olhou completamente
horrorizada.
— Como é que é?
— Se eu soube dessa informação, você vai saber também.
— Meu Deus! Mas isso é normal?
— A médica dela disse que sim.
— Fico mais tranquila, então. — Continuamos a andar, mas Summer
ainda parecia assustada. — Coitada da sua irmã.
— Não precisa sentir pena dela, Ava está melhor do que a gente.
Quer dizer, melhor do que eu, já que você e Travis parecem dois coelhos,
assim como ela e Logan. — Revirei os olhos e Summer soltou uma risada.
— Você não transa porque não quer.
— Isso não é verdade.
— Não é verdade? — Summer parou na minha frente com os olhos
estreitos e os braços cruzados. — Nós saímos semana passada, você ficou
com um cara gostoso, que Travis não me ouça, mas resolveu ir embora para
casa mesmo depois de me contar que ele beijava muito bem.
— Eu ia ficar menstruada a qualquer momento — repeti o mesmo
motivo que dera para ela naquele dia.
— E na semana retrasada? Você também ficou com um gato e não
quis passar a noite com ele. Opção não te falta, Aub, mas você está dizendo
não para cada homem que aparece na sua frente.
Eu engoli em seco ao ouvir aquilo, pois era verdade. Mas como eu
poderia falar para Summer que a cada boca que beijava, ficava comparando
com o beijo de Ben? Que nenhuma pegada era igual a dele? Que o sexo oral
que recebi de um cara no mês passado não chegava aos pés da chupada de
Benjamin e que isso me fizera recuar e encerrar a noite antes mesmo de o
cara ficar pelado?
— Eles só não são bons o suficiente a ponto de me fazer querer mais
— respondi e tentei voltar a andar pelo corredor, mas Summer se colocou
em meu caminho de novo.
— Sabe o que eu acho?
— Falar que tenho medo de ouvir já seria um eufemismo —
resmunguei e Summer me ignorou.
— Eu acho que você ficou viciada na pegada daquele cara de Vegas e
que não consegue tirá-lo da cabeça. — Nossa. Eu cheguei a dar um passo
para trás, de tão certeira que Summer foi. — Só que foi você quem escolheu
não saber o nome dele, Aub, então, precisa tirar o homem da cabeça e voltar
a curtir a sua vida.
— Eu não fiquei viciada nele! — defendi-me, mas Summer
claramente não acreditou em mim. — E eu posso provar!
— É mesmo? Como?
Tirei o meu celular da bolsa e abri o Instagram. Fui até a parte das
mensagens e Summer arregalou os olhos quando viu com quem eu estava
conversando há alguns dias.
— Esse é Jake Evans? Quarterback do Crimson Tide?
— Sim, ele mesmo. Começamos a trocar mensagem depois da festa
que nós duas fomos semana passada. Ele estava lá, me viu dançando,
descobriu o meu nome e começou a me seguir no Instagram. Ontem à noite
me chamou para sair e eu vou responder agora aceitando. — Escrevi para
ele a mensagem e enviei. — Viu só? Se eu estivesse viciada no cara de
Vegas, não estaria prestes a sair com o QB.
— Aubrey, sua danada! — Summer me deu um tapa na bunda, me
arrancando uma risada. — Você é incrível, garota! Jake é um gostoso e
dizem por aí que é uma delícia na cama. Eu quero todos os detalhes, ouviu
bem?
— Sim, senhora. Mais alguma recomendação?
— Se joga, amiga! — Summer passou o braço pelos meus ombros.
— Você merece se divertir depois de meses na seca.
Precisava concordar, mas, acima disso, eu precisava ter uma noite
incrível de sexo para poder esquecer Benjamin de uma vez por todas!
Estar sozinho novamente em meu apartamento ainda era estranho.
Meu pai retornara ao Alabama há um mês, mas eu quase podia ouvir
sua voz grave ecoando pelos cômodos e sentir o cheiro do bacon e dos ovos
mexidos que ele não ficava um único dia sem comer. Eu finalmente me
livrara das muletas há pelo menos dois meses, mas Robert Ryan
permaneceu ao meu lado até ter a certeza de que eu realmente conseguiria
me virar sozinho.
Ainda tinha pelo menos seis meses de tratamento pela frente, mas eu
já conseguia andar sem precisar de qualquer ajuda e em breve poderia
voltar a dirigir. Eu me sentia quase inteiro de novo ao ter a minha
independência de volta. Era mais um passo em direção à vida que eu levava
antes da lesão.
Sentia-me mais otimista também. Apesar de o medo de não poder
voltar a jogar ainda persistir dentro de mim, ele já não tinha mais tanta
força, e eu devia isso não apenas a mim mesmo e a minha força de vontade
para não me deixar levar por pensamentos negativos, mas também ao meu
pai, meus amigos, toda a minha equipe e Philip Smith, meu fisioterapeuta
— aquele tal de Ethan nunca mais colocou os pés em meu apartamento
depois daquelaprimeira noite —, meu psicólogo e, é claro, Aubrey.
Nós nos falávamos todos os dias e não apenas por mensagem. Já
conhecíamos a rotina um do outro e eu sabia que ela chegava em casa no
meio da tarde após o ensaio com as líderes de torcida, por isso, assim que
anoitecia, eu ligava para ela ou ela para mim. Conversávamos sobre tudo,
desde assuntos sérios como a minha recuperação, até a fofoca mais banal
sobre celebridades. Aubrey sempre conseguia arrancar uma risada minha a
cada poucos minutos e eu me sentia cada vez mais confiante para seguir o
conselho que me dera na última vez em que nos vimos pessoalmente na
casa de Logan.
Meu psicólogo achou a ideia de Aubrey excelente e disse que tentar
buscar prazer em outras áreas do futebol poderia me ajudar bastante. Levei
um tempo para pensar sobre aquilo e decidi começar aquele exercício aos
poucos, sem muita pressão. Durante as ligações com Aubrey, eu perguntava
sobre o treinamento do Crimson, principalmente após a derrota do time no
primeiro jogo da temporada, e, a cada vez que nos falávamos, ela surgia
com mais detalhes e pedia a minha opinião. Aquilo me encorajou a voltar a
conversar com James e Logan sobre as novas táticas do nosso time e
percebi que Aubrey tinha razão.
Eu amava o futebol como um esporte. O sentimento ia além do que
eu fazia dentro de campo e eu sentia meu horizonte se expandir a cada vez
que me permitia olhar para o futebol por novos ângulos.
Perdi a noção do tempo assistindo uma série de suspense e só percebi
que já havia anoitecido, quando meu celular vibrou ao meu lado no sofá,
notificando uma nova mensagem. Pensei que pudesse ser Aubrey, mas me
surpreendi ao ver que era Owen Peterson, um ator que se tornara um colega
com quem eu saía para curtir a noite antes de tudo acontecer.
Owen: Sei que você ignorou minhas últimas mil mensagens, mas
estou passando aqui mais uma vez para te lembrar da minha festa de
aniversário que vai acontecer hoje. Vou mandar a localização da boate
para você. Não aceito recusas ao meu convite, Ben!
Eu não estava com a menor disposição para sair de casa, muito
menos ir para uma boate. O Benjamin de antes da lesão estaria nesse
momento dando um soco na minha cara e me olhando como se não me
conhecesse, mas eu podia o entender. O Ben que agora estava sentado no
sofá, no meio da sua sala escura iluminada apenas pela TV e com uma
cerveja pela metade em cima da mesinha de centro não tinha nada a ver
com o Benjamin que nunca negaria uma festa privada em uma casa noturna.
Ignorei Owen mais uma vez. Era melhor do que responder que eu
não iria. Ele não era muito conhecido por ter bom senso e poderia
simplesmente bater na porta do meu apartamento, já que o seu nome estava
na minha lista de convidados na portaria. Eu precisava reavaliar aquela
lista, havia muitas pessoas lá que eu não fazia mais questão de ter em minha
vida — principalmente aquelas que diziam se importar comigo, mas que
nem uma mensagem mandaram para saber se eu estava bem após ter sofrido
a lesão.
Pelo menos Owen me visitou algumas vezes e manteve um contato
constante comigo. Talvez eu devesse ir à festa dele apenas por gratidão,
afinal de contas, ele esteve do meu lado, mesmo do seu jeito meio maluco e
descontraído.
Precisava da opinião de alguém sobre aquele assunto.
Peguei novamente o meu celular e liguei para Aubrey. Era sexta-feira
à noite, mas ainda estava cedo para os padrões de festas que ela costumava
frequentar. Desliguei a TV, fui para o meu quarto e me joguei de costas na
cama enquanto ouvia a ligação chamar até cair na caixa postal.
Tirei o celular do ouvido e encarei a tela com o cenho franzido, como
se ali estivesse o motivo para Aubrey não me atender. Liguei novamente e
quando pensei que cairia mais uma vez na caixa de mensagens, ouvi a voz
ofegante de Aubrey do outro lado da linha. Automaticamente me sentei na
cama e perguntei com — muito — receio:
— Por favor, me diga que você estava se exercitando e não fazendo o
que eu não quero pensar que você estava fazendo.
— O quê? — Sua voz saiu levemente falhada e eu engoli em seco. —
Eu não entendi nada do que você disse, Ben.
— Você está sozinha?
— Espere um segundo. — Ouvi barulhos demais do outro lado da
linha e Aubrey xingando baixinho, o que me deixou ainda mais aflito e me
fez levantar da cama. Porra. Aubrey não estava com alguém, estava? — É
claro que eu estou sozinha. Por que a pergunta?
— Sua voz está ofegante, Aubrey!
— E daí? — Ela ficou em silêncio mais uma vez, antes de me
surpreender com uma risada alta demais. — Jesus Cristo, Benjamin, você
achou que eu estava transando?
— Não foi isso o que eu disse!
— Mas foi isso que pensou. Eu não acredito! Espere aí.
A ligação foi encerrada e eu voltei a encarar o celular com confusão,
sentindo uma miríade de emoções que eu desconhecia. Segundos depois, o
aparelho começou a vibrar em minha mão e a tela se acendeu com uma
chamada de vídeo. Atendi com certo receio e tudo o que vi foi uma parede
de azulejo branco, antes de Aubrey aparecer no centro da tela.
Usando apenas uma toalha rosa.
Perdi a força nas pernas e voltei a me sentar na cama.
— Eu estava ofegante porque saí correndo do banho quando ouvi o
meu celular tocar. — Aubrey esclareceu, mas eu mal ouvi as suas palavras.
Seu cabelo estava molhado e caía solto pelos ombros. Os fios mais
curtos da sua franja, que chegavam um pouco abaixo da linha da
mandíbula, deixavam gotas de água caírem pela sua pele. Acompanhei o
trajeto de uma gota que desceu pelo seu pescoço e colo até sumir na junção
dos seios escondidos pela toalha.
— Ben? Está me ouvindo ou a conexão está ruim? Acho que a sua
imagem está travada.
Era porque eu estava travado, observando-a feito um homem
obcecado e sem conseguir ter qualquer outra reação. Tirei o celular da
frente do meu rosto e respirei fundo, prendendo o ar no fundo dos meus
pulmões e soltando aos poucos, torcendo para que aquilo ajudasse a limpar
a minha mente. Ouvi Aubrey me chamar de novo e forcei um sorriso no
rosto antes de voltar a posicionar o celular de modo que conseguíamos ver
um ao outro.
— Oi, princesa. A conexão está melhor agora.
— Estava quase desligando e te mandando um áudio. — Ela se
esticou e pegou algo em cima do que parecia ser a bancada do seu banheiro.
Logo vi que era uma escova de cabelo e Aubrey começou a pentear os fios.
— Satisfeito em saber que eu estou desacompanhada, Sr. Ryan?
— Sr. Ryan é o meu pai. E, sim, estou bastante satisfeito. — Talvez
até mais do que deveria.
— Eu sei que sou um pouco impulsiva...
— Impulsiva? Você, princesa? Eu jamais diria isso.
Aubrey apenas me olhou através da tela e voltou a falar enquanto
penteava o cabelo. Controlei o impulso quase irresistível de parar de olhar
para o seu rosto perfeito e encarar os seios escondidos pela toalha.
— Mas jamais atenderia você se estivesse transando com alguém. Na
verdade, acho que só atenderia a Avalon, e isso porque ela está prestes a
dar à luz. Eu não sou tão sem noção assim, Ben.
— Bom, porque não quero ter essa imagem na minha cabeça,
Aubrey. Nunca.
Seus olhos verdes com os cílios úmidos voltaram a focar nos meus.
— Por quê? Minha imagem nua é tão broxante assim?
— Não, princesa, tenho certeza de que você é gostosa pra caralho
sem roupa, não é essa a questão.
Aubrey deixou a escova de cabelo sobre a pia e se apoiou na pedra da
bancada, inclinando um pouco o tronco na direção do celular. Eu engoli em
seco, pois o nó da toalha pareceu afrouxar um pouco, o que me deu uma
visão e tanto do seu decote.
— Então qual é a questão, Ben?
— Você sabe muito bem qual é a questão, Aubrey. — Minha voz
soou mais grave e eu não tive tempo de limpar a garganta. Na verdade, eu
nem quis, e não soube exatamente o porquê. — Não quero pensar em você
nua com algum filho da puta que com certeza não merece tocar em um fio
de cabelo seu.
Os olhos de Aubrey pareceram ficar ainda mais amplos e eu observei
cada detalhe da sua reação. As pupilas dilatando, suas bochechas ficando
coradas, o peito subindo com a respiração agitada e aquele decoteque me
dava uma visão perfeita da parte de cima dos seus seios.
Eles eram pequenos, isso era visível para qualquer um, mas tinham
um volume considerável e eu senti os mamilos rígidos contra o meu peitoral
naquela noite na boate. Com nossos corpos tão colados, eu senti tudo, cada
curva de Aubrey, cada tremor em seus músculos, cada arrepio em sua pele
quente e cheirosa. A memória veio ainda mais nítida e eu precisei apertar a
roupa de cama ao meu lado com a mão livre para tentar me controlar.
Meu pau estava ficando duro e aquilo era errado em níveis
incompreensíveis.
— Você sabe que não vou ficar solteira para sempre, não é? Uma
hora vai aparecer alguém que mereça tocar em mim.
— Não acho que esse cara já nasceu e nem se vai nascer um dia.
Você é especial demais, Aubrey.
— E você está massageando muito o meu ego. — Ela tirou o celular
da bancada e saiu do banheiro, indo direto para o quarto. Eu já tive um
vislumbre do lugar onde ela dormia nas outras vezes em que fizemos
chamada de vídeo. Tirando as fotos espalhadas pelo lugar, tudo parecia
muito impessoal. — Mas eu agradeço, principalmente por ter dito que eu
sou gostosa.
— Eu disse isso? — perguntei, arqueando uma sobrancelha.
— Sim, você disse.
— Não, eu disse que você deve ser gostosa.
— Nua. Não se esqueça desse pequeno detalhe. — Aubrey entrou no
closet e deixou o celular apoiado em algum lugar que me dava uma visão
total do seu armário de roupas e dela mesma, se desse mais alguns passos
para trás. Foi exatamente o que ela fez e pude notar que a toalha era curta
demais e mal chegava ao meio das suas coxas. — Quer que eu tire a toalha
para você dar o seu veredito?
A filha da mãe levou as mãos ao nó da toalha e eu me engasguei com
a minha própria saliva. A crise de tosse me fez soltar o celular no colchão e
me erguer da cama em busca de ar. Pude ouvir a risada de Aubrey do outro
lado da tela e sua voz me chamando, mas eu estava ocupado demais
tentando parar de tossir e levar oxigênio para o meu cérebro, que não
conseguia parar de pensar em como Aubrey seria por debaixo daquela
toalha pequena e infeliz.
Dei um tapa forte em meu peito, tentando me apegar a uma dor física
que ia além do meu pau completamente duro dentro do short de moletom
que eu usava, e finalmente consegui respirar melhor. Esperei mais alguns
segundos antes de voltar a pegar o celular e encontrei o semblante
preocupado de Aubrey.
— Achei que você tivesse desmaiado.
— Algo que poderia mesmo ter acontecido. Nunca mais faça isso,
Aubrey!
Seus olhos se arregalaram e eu fiquei culpado por ter falado de modo
tão ríspido com ela. Qualquer traço de humor saiu do seu rosto.
— Sinto muito, Ben, eu não pensei que você reagiria assim. Era
lógico que eu estava brincando, jamais ficaria nua na sua frente.
“Jamais ficaria nua na sua frente.”
Ouvir isso, por mais idiota que pudesse parecer, me deixou mais
irritado.
— Tudo bem. Acho melhor deixar você terminar de se vestir. Ligo
novamente mais tarde.
— Não vou conseguir falar com você mais tarde.
— Por quê?
— Porque eu vou sair daqui a pouco. Tenho um encontro.
Fiquei em silêncio mais uma vez, completamente sem reação. A parte
racional do meu cérebro sabia que Aubrey era uma mulher solteira e livre.
Ela era linda e com certeza devia ter muitos pretendentes. Ainda assim, eu
não me preparara para ouvir aquilo. Que ela tinha um encontro.
Enquanto falava comigo enrolada na toalha e eu dizia que não queria
imaginá-la nua com um merdinha, ela estava penteando o cabelo para ir a
um encontro.
Aquela emoção estranha que senti quando ouvi Ethan dando em cima
dela bem aqui, no meu quarto, meses atrás, surgiu novamente em meu peito,
mas de uma forma mais opressora. Senti que queria me controlar, dominar
cada parte da minha mente, mas eu fui mais forte. Eu lutei contra o que quer
que fosse aquilo e tudo o que falei, foi:
— Tudo bem, então. Também tenho uma festa de um amigo meu
para ir. Parece que nós dois vamos nos divertir essa noite, princesa.
A surpresa no rosto de Aubrey ficou evidente.
— Você vai a uma festa?
— Foi isso que eu disse.
— Sozinho?
— Sim, mas talvez eu não saia de lá sozinho.
Que merda eu estava dizendo?
Aubrey ficou em silêncio, com os braços esticados ao lado do corpo.
Seus olhos se estreitaram e vi o seu rosto ganhar um tom avermelhado nas
bochechas, que desceu para o pescoço.
— Divirta-se, então.
— Você também.
Aubrey sempre se despedia de mim com carinho e me mandando um
beijo, o que me fazia ficar sorrindo feito um idiota mesmo depois de a nossa
ligação ter se encerrado há vários minutos. Daquela vez, no entanto, ela
apenas acenou com a mão e desligou na minha cara após murmurar um
“tchau” muito mal-educado.
O meu quarto foi tomado pelo silêncio e eu fiquei sentado em minha
cama encarando o nada, mas processando toda a nossa conversa e cada
reação que Aubrey despertava em mim. Com ela eu me sentia...
descontrolado.
Eu não era o Benjamin de antes da lesão.
Muito menos era o Benjamin pós-lesão.
Eu era um Benjamin completamente diferente, que eu ainda não
conhecia, muito menor sabia como lidar. Essa versão de mim era passional
demais, se alegrava com pouca coisa e sentia uma saudade absurda daquela
garota quando ficávamos muito tempo sem conversar. Esse Benjamin reagia
de forma intensa às coisas mais impensáveis, como um sorriso de Aubrey
ou às palavras que deixavam aquela boca esperta.
Esse Benjamin era um cara que me assustava pra caramba.
— Acho que preciso mesmo sair de casa ou vou enlouquecer.
Levantei-me da cama, ignorando a ereção incômoda, que eu sentia
melar o meu short, e fui direto para o banheiro. Música alta, pessoas em
clima de festa e, talvez, uma mulher bonita, fariam com que eu voltasse a
ser o velho e confortável Benjamin Ryan.
Benjamin tinha mesmo ido a uma festa!
Eu não deveria estar no banheiro vendo os stories de Benjamin
quando Jake estava do lado de fora esperando por mim. Resolvemos nos
encontrar na festa que estava rolando na fraternidade de um dos seus
amigos do seu curso de Engenharia. Não era o meu lugar favorito para um
primeiro encontro, mas como eu não estava com muito humor para algo
mais intimista como um pub, aceitei.
Pensei que ele me buscaria em casa, mas após afirmar que seu carro
estava na oficina, resolvi pegar um carro de aplicativo e o encontrei direto
na festa. A casa estava lotada, como sempre, e Jake não parecia muito
preocupado com o fato de que o Crimson jogaria contra o Texas no dia
seguinte, pois já estava com uma cerveja na mão e parecia alegrinho
demais, mesmo a festa tendo começado há menos de uma hora.
Eu fui ficando cada vez mais inquieta no meio dele e dos seus amigos
— que não eram jogadores do Crimson, pois assim eu ao menos teria algum
assunto em comum com eles — e resolvi pedir licença para ir ao banheiro.
Deixei-o com os amigos e agora estava trancada no banheiro fedendo
a maconha e stalkeando Benjamin como se fosse uma obcecada. Ele em si
não postara nada, mas, desde que chegara à tal festa — que agora eu sabia
que era de um ator bem famoso por fazer filmes de comédia misturado com
ação — parecia que ele era o aniversariante. Todo mundo estava tirando
foto com ele e postando nas redes sociais, então, Bem estava apenas
repostando os stories em que estava sendo marcado.
Não entendi ao certo porque ainda estava tão irritada. Eu mesma
vivia falando para Benjamin que ele deveria voltar a sair. Nunca incentivei
que fosse a uma boate — onde eu sabia que ele estava agora —, porque
acreditava que seria melhor ele voltar à sua vida social em eventos mais
calmos como jantares ou reuniões de amigos que não fossem Logan ou
James, mas Benjamin parecia ter levado a sério demais os meus conselhos.
Enfiei meu celular na bolsa e respirei fundo tentando controlar aquela
fúria idiota. A maioria das fotos era com mulheres, o que me impedia de
esquecer o que ele dissera para mim durante a nossa chamada de vídeo.
Será que Benjamin sairia acompanhado da boate?
— Você não tem nada a ver com isso, Aubrey! — murmurei para o
meu reflexo no espelho.— Tem um cara gostoso lá fora esperando por
você. Esqueça Benjamin e foque na sua noite!
Retoquei o meu batom e deixei o banheiro. Jake, que agora estava
sozinho e mexendo no celular, rapidamente guardou o aparelho e sorriu
para mim quando viu que eu estava me aproximando de onde o deixei perto
da piscina. Ele era realmente um homem muito bonito. Tinha vinte anos e
estudava Engenharia Civil. Era alto, forte, tinha cabelos castanhos e um
sorriso que molhava muitas calcinhas.
Eu deveria estar mais animada por estar saindo com ele. Não que eu
me vangloriasse por sair com homens populares, mas porque Jake parecia
ser um cara interessante e tinha uma beleza que fazia muitas garotas
suspirarem. A excitação que eu deveria sentir não estava presente naquele
momento.
— Peguei uma bebida para você — disse ele, apontando para
mesinha alta onde estava um balde com gelo e, agora, uma bebida de cor
vermelha que eu não conseguia identificar. Jake logo se prontificou em
explicar: — É gin com energético de frutas vermelhas.
Eu tinha duas regras quando ia a qualquer festa ou encontro.
A primeira: nunca, em hipótese alguma, aceitar bebidas de estranhos
ou de um cara que eu estivesse conhecendo.
A segunda: não ingerir qualquer gota de álcool.
— Eu não bebo nada alcoólico. Contei isso para você quando
começamos a conversar, lembra?
Pela careta que surgiu no rosto de Jake, ele claramente não se
lembrava.
— Desculpa, gata, eu esqueci totalmente. — Ele pegou o copo
transparente e jogou o líquido todo no gramado. — Vamos pegar algo sem
álcool para você beber. Sei que não te dei a atenção devida, mas agora sou
todo seu.
Jake tinha uma mania de sorrir apenas com o lado esquerdo da boca,
o que deixava seu olho esquerdo um pouco menor do que o direito. Era
meio sensual, mas eu conhecia alguém que também sorria com o canto dos
lábios e ficava ainda mais bonito do que ele.
Por favor, Aubrey, não comece a comparar Jake com Benjamin!
Aceitei a mão do quarterback e fui com ele até a cozinha, me
obrigando a parar de pensar no melhor amigo do meu cunhado, que deveria
estar curtindo a festa do seu amigo sem qualquer peso na consciência,
agarrado a uma mulher bonita, mesmo depois de ter afirmado que eu
deveria ser gostosa pra caralho — palavras dele! — nua.
Eu deveria me esquecer dessa conversa estranha também.
Aceitei apenas o energético de frutas vermelhas e tomei um gole da
bebida doce e levemente gaseificada, vendo Jake me olhar mais uma vez
dos pés à cabeça. Eu estava usando uma blusa de ombro a ombro preta, com
mangas compridas, e uma saia curta de pregas rosa. Nos pés, uma sandália
de salto que prometia valorizar um pouco a minha altura. Jake se aproximou
e tomou a minha cintura com a mão livre, ainda segurando uma garrafa de
cerveja com a outra.
— Sei que já disse isso quando chegou, mas você está linda, Aubrey.
Gostosa pra caralho. — Ele sorriu e eu me forcei a não comparar como me
sentia ao ouvir aquelas mesmas palavras saindo da boca de Bem. — Ainda
não acredito que aceitou se encontrar comigo. Na semana passada, quando
te vi dançando, pensei em me aproximar, mas ver você beijando aquele
outro cara me deteve. Não gosto de dividir as minhas garotas.
— Caleb não era nada meu, nós apenas ficamos — falei enquanto
passava minha mão pelo seu peitoral por cima da blusa vermelha que usava.
— E eu não sou nada sua, Jake.
Ele soltou uma risada grave conforme enfiava os dedos por debaixo
da minha blusa na altura das minhas costas.
— Você é geniosa, gosto disso, Aubrey. — Seu nariz tocou o meu e
eu senti o cheiro de álcool e cigarro de maconha nele. Jake havia fumado?
— Significa que a nossa relação nunca ficará monótona.
Sua boca tomou a minha e eu retribuí o beijo esperando sentir
qualquer coisa. Não podia mentir, Jake era habilidoso. Ele se livrou da
cerveja em poucos minutos e me puxou em sua direção com uma mão em
minha nuca e a outra no meio das minhas costas, ainda sob a blusa que eu
usava, e colou todo o corpo ao meu. Sua pegada era boa, mas não tão boa.
Seu beijo era bom, mas não tão bom.
Ainda assim, aceitei ser beijada por ele naquele momento e também
no meio da pista de dança na sala, quando ele me chamou para dançar.
Tocava uma música pop qualquer e seu peitoral estava grudado em minhas
costas, sua mão estava em minha barriga e sua boca grudada em meu
pescoço. Eu nem fiquei arrepiada. Foi naquele momento que entendi que
não rolaria mais nada entre mim e Jake naquela noite.
Eu poderia ser persistente, mas não era idiota. Não ia me forçar a
transar com alguém que eu não estava a fim. Não sabia o que Bem fizera
comigo naquela boate, mas eu pelo menos esperava que com ele estivesse
acontecendo o mesmo.
Enquanto Jake sussurrava uma cantada qualquer em meu ouvido,
torci para que o pau de Benjamin não subisse para nenhuma mulher naquela
noite.
Era o mínimo que ele merecia!
Jake me virou novamente de frente para o seu corpo e tentou me
beijar mais uma vez, no entanto, recuei. Vi suas sobrancelhas se franzirem e
me estiquei para falar em seu ouvido por cima da música alta:
— Sinto muito, Jake, mas não vai rolar.
— O quê?
— Não vai rolar — falei mais alto e ele pareceu surpreso de verdade.
— Você é incrível, mas eu não estou no clima. Sinto muito.
— Sente muito? Não está no clima? Como assim? — Jake afastou a
boca do meu ouvido e pegou a minha mão. Começamos a nos dirigir à
frente da casa e só paramos quando estávamos perto da calçada, longe de
toda a agitação. — Eu fiz algo que você não gostou?
— Não, Jake, é claro que não. Se fosse isso, eu falaria.
— Então por que não vai rolar?
— Já falei, não estou no clima...
— Está de TPM?
Aquela pergunta realmente me irritou.
— Não, Jake, não estou de TPM. Eu simplesmente não quero.
Entendeu agora?
Jake passou a mão pela cabeça e me deu um olhar irritado. Se eu
estivesse sozinha com ele, longe de qualquer pessoa, até temeria aquela
reação, mas estar em uma festa com gente transitando para lá e para cá me
deixou mais segura. Isso e o spray de pimenta que nunca saía da minha
bolsa.
— Então você apenas me fez perder o meu tempo? É isso?
— Perder o seu tempo? — Eu ri ao ouvir aquilo. — Jake, por favor,
não seja cínico. Estamos em uma festa, há um monte de garotas solteiras à
sua espera e nós dois sabemos disso.
— Sim, mas eu reservei a noite de hoje para você!
— Eu deveria ficar honrada? — Ele fechou ainda mais a cara diante
do meu deboche, mas eu não poderia me importar menos com aquilo. —
Pelo visto você é um babaca.
— E você acha que tem uma boceta de ouro. Caleb disse que você
não quis trepar com ele.
— Caleb disse isso a você? Então, vocês dois se conhecem.
Jake deu um sorrisinho soberbo que o fez perder toda beleza que
tinha.
— Querida, eu sou o quarterback do Crimson Tide. Todo mundo me
conhece e ninguém me nega qualquer tipo de informação.
— É mesmo? Então, já que você adora receber informação, aqui vai
mais uma. — Aproximei-me dele e ergui o rosto para olhar em seus olhos.
— A minha boceta não é de ouro, QB, ela é de diamante, e só toca nela
quem eu quiser que toque. Você nunca vai tocar. Contente-se com os beijos
que fiz o favor de te dar e nunca mais olhe na minha direção.
Eu dei as costas para Jake sem esperar por sua resposta, já tirando o
meu celular de dentro da bolsa. Chamei um carro de aplicativo e, em menos
de cinco minutos, já estava a caminho de casa. Eu me senti uma boba!
Sabia que não deveria ficar daquele jeito, principalmente por não ter
permitido que aquele babaca me humilhasse, mas o sentimento foi
inevitável.
Meu nome estava na boca dos caras do campus? Agora eles
compartilhavam quando eu transava com alguém ou não? Que direito eles
achavam que tinham para fazer isso comigo?
Pensei em ligar para Summer e desabafar, mas ela estava com Travis
e não queria atrapalhar. Harper estava viajando com a família, pois era
aniversário da sua mãe naquele final de semana, e Avalon estava com nove
meses de gravidez, se eu ligasse para ela aquela hora da madrugada, era
capaz de parir a bebê apenas com o susto do toque do telefone.Meu dedo deslizou pelos contatos e parou em Benjamin. Ele me
ouviria, eu tinha certeza e, se tivesse mesmo falado a verdade na noite do
meu aniversário, fretaria um jatinho apenas para arrebentar a cara de Jake.
Só que Benjamin estava em uma festa privada em uma boate,
provavelmente acompanhado, e nem escutaria a minha ligação.
Agradeci ao motorista e entrei em casa, vendo tudo escuro. Algumas
meninas saíram mais cedo, outras já estavam descansando, portanto, não
tinha ninguém, acordado naquela casa. Fui direto para o meu quarto, tomei
um banho quente, querendo me livrar do toque nojento de Jake, e escovei os
dentes duas vezes para tirar seu gosto da minha boca, fazendo bochecho
com o enxaguante bucal em seguida.
Assim que me deitei, só pude pensar que eu tinha que agradecer a
Deus e a mim mesma por ter personalidade forte e não me forçado a passar
a noite com aquele idiota.
Eu com certeza me arrependeria pelo resto da vida se tivesse ido para
a cama com Jake.
— Sua vagabunda!
Acordei de repente e só percebi que estava prestes a ter o meu couro
cabeludo arrancado quando caí de bunda no chão. Demorei para entender o
que estava acontecendo. A dor irradiou pelo cóccix até a nuca, em uma
linha reta pela cintura, me fazendo ver estrelas. Alguém puxou o meu
cabelo mais uma vez, quase me fazendo deitar de costas no chão.
— Sua piranha! Olha para mim, sua fura-olho! Vagabunda!
— Para! Para com isso! — gritei com a voz ainda rouca pelo sono.
Consegui fincar minhas unhas no pulso de quem puxava o meu
cabelo e a garota gritou, finalmente me soltando. Aproveitei aquele segundo
de liberdade e consegui me levantar do chão, cambaleando ao ficar de pé.
Tomei um susto ao ver que quase todas as meninas estavam dentro do meu
quarto, algumas paradas em frente à porta. A maioria me olhava como se eu
fosse um amontoado de lixo, outras pareciam confusas. Procurei por
Summer, mas ela não estava por ali, e percebi que eu estava completamente
sozinha.
Foi o meu reflexo e uma reação instintiva de proteção que me livrou
de levar um tapa de mão aberta na cara. Consegui segurar o pulso da garota
no ar e só então percebi que quem estava me atacando era Ashley, a
presidente da fraternidade e das líderes de torcida, uma pessoa que, até
antes de eu dormir, considerava como uma amiga.
— O que está acontecendo com você? — Empurrei-a para longe e ela
cambaleou para trás. Não parecia ser tão boa de luta quando a sua
adversária estava acordada. — Por que está fazendo isso?
— Por que estou fazendo isso? Não é possível que você seja tão
sonsa, porra! — Ashley tentou vir para cima de mim de novo, mas eu fui
mais rápida e pulei em cima do colchão, indo para o outro lado e deixando a
cama entre nós duas. Ela riu. — Isso, foge feito a covarde que você é!
— Só estou fazendo isso porque não quero te machucar, Ashley. E se
você tocar em mim de novo, eu vou te machucar — avisei. Não apanharia
quieta, ainda mais sem saber do que eu estava sendo acusada. — Alguém
pode me explicar o que está acontecendo?
Foi Andy quem se aproximou de mim com um celular na mão. Ela
jogou o aparelho em minha direção e ele caiu perto de mim no colchão. Eu
o peguei, ficando confusa assim que encarei o vídeo na tela.
— É isso que está acontecendo! — disse Andy com a voz pingando
raiva.
Observei o vídeo com atenção. Alguém tinha filmado Jake e eu
ontem à noite, nós dois trocando um beijo na sala enquanto dançávamos
juntos. O que havia de tão errado naquela filmagem? E por que alguém
havia gravado aquilo?
— Qual é o problema com esse vídeo?
— Qual é problema? — Ashley riu de novo e eu fiquei apreensiva de
verdade. Algo me dizia que eu não ia gostar do que ela estava prestes a
dizer. — Você é realmente mais sonsa do que eu pensava, Aubrey! Jake é
meu namorado!
O celular caiu da minha mão e eu dei um passo para trás, sentindo
suas palavras me atingirem com mais força do que o impacto do meu cóccix
com o chão. Algumas meninas demonstraram surpresa, mas percebi que a
maioria continuou a me encarar com raiva. Porque elas sabiam.
Como aquilo era possível?
— Eu... eu não sab...
— Não sabia? Como você não sabia se eu postei ontem à noite uma
foto minha com Jake no Instagram?!
Fui correndo pegar o meu celular debaixo do meu travesseiro.
Percebi que havia muitas mensagens de Summer, todas de pelo menos meia
atrás, assim como ligações perdidas, mas as ignorei e fui direto ao
aplicativo da rede social. Minhas mãos tremiam tanto, que senti dificuldade
em digitar o nome de Ashley na lupa, mas o perfil dela foi o primeiro que
apareceu para mim.
Assim como a última foto publicada.
Ela e Jake juntos, dando um beijo na boca, com o pôr do sol como
testemunha. Ambos vestiam o uniforme do Crimson Tide e pareciam
insuportavelmente apaixonados. Na legenda, Ashley escrevera: “Não posso
acreditar que finalmente encontrei a minha cara-metade. Você é tudo o que
eu sempre esperei, um amor que vou levar para toda a vida.”
Brega pra caramba.
E real demais para que eu pudesse fingir que tudo aquilo não passava
de um pesadelo.
— Ashley, eu realmente não sabia. Eu não fazia ideia — falei com
toda humildade e verdade que existiam dentro do meu peito. — Por favor,
você precisa acreditar em mim...
— Acreditar em você? Eu te considerava uma amiga! Na verdade,
como uma irmã, pois é isso que todas nós somos! — A maior parte das
garotas começou a concordar. Eu podia contar nos dedos de uma mão
quantas me olhavam com certa empatia. — E mesmo assim você seduziu o
meu namorado!
Eu dei outro passo para trás, afetada novamente pelas suas palavras.
— O quê? Eu seduzi o seu namorado?
— Isso mesmo! Jake me contou o que aconteceu! Ele disse que vocês
trocaram mensagens amigáveis nos últimos dias e que você achou que ele
estava te dando alguma abertura, então, apareceu de surpresa na festa do
melhor amigo dele e o beijou à força!
— Como é que é? — Foi a minha vez de rir como Ashley fizera
antes. — Isso é mentira! Foi Jake que me convidou para ir à festa e eu
posso provar!
Fui até a parte de mensagens no Instagram e cliquei na conversa com
Jake. Ele tinha me bloqueado, percebi isso pela falta da sua foto de perfil,
mas o que me surpreendeu foi que as últimas mensagens que ele enviara
para mim haviam desaparecido.
Ele tinha apagado as suas mensagens do dia anterior. Eu sabia que
havia um prazo para apagar uma mensagem enviada, mas jamais imaginei
que ele se daria aquele trabalho.
Eu deveria saber. Um homem que mente daquela forma descarada
para a namorada era capaz de tudo.
— Ele apagou as mensagens que me enviou ontem, me convidando
para a festa — murmurei em choque. — Mas você pode ler as mensagens
que trocamos ao longo da semana e verá que não estou mentindo! Jake em
momento algum disse que estava se relacionando com você e desde sempre
mostrou interesse em ficar comigo. Veja, Ashley.
Dei a volta na cama e estendi o celular em sua direção, mas Ashley
simplesmente deu um tapa no aparelho, fazendo-o ir com tudo no chão. Eu
fiquei tão chocada com a sua atitude, que nem tive reação. Apenas fiquei
olhando para ela boquiaberta e assustada.
— Eu não quero ler nada, pois acredito no meu namorado! E não
apenas nele, mas nos amigos dele, que me confirmaram que você o beijou à
força. Não preciso ler nem ouvir nada que venha de você!
— Jake e os amigos dele estão te enganando! Pergunte a qualquer
outro convidado da festa, Jake é o quarterback do time, todos o conhecem e
vão confirmar o que estou dizendo! Eu não o beijei à força, Ashley! E só
não passei a noite com Jake porque eu não quis, pois o objetivo dele era me
levar para a cama!
A mão de Ashley atingiu a minha cara de repente, nem tive tempo de
prever. A sensação ardida se espalhou por todo o lado direito da minha face,
e a reação que tive, daquela vez, não foi nada apática. Eu bati nela de volta
e seus dedos tentaram agarrar o meu cabelo, mas alguém se colocou entre
nós duas e me empurrou para trás. Só percebi que era Summer quando sua
voz ecoou alta demais pelo quarto:
— Pare com isso, Ashley! Você não vai tocar na minha amiga,porra!
Principalmente por causa daquele babaca que chama de namorado!
— Então você está do lado dela, Summer? É isso?!
— É lógico que sim! Eu vi as mensagens que Jake enviou para
Aubrey, foi ele quem a convidou para a festa, eu sou testemunha!
— Suas palavras não valem de nada, você é a melhor amiga da
Aubrey, é claro que vai ficar do lado dela — disse Andy segurando Ashley
pelos ombros.
— Estou do lado dela porque conheço o caráter da Aub! — Summer
disse ainda mais alto. — Todas aqui sabem quem Aubrey é! Vão mesmo
acreditar na versão de um babaca que até ontem era o maior pegador do
campus e não na nossa amiga?
Todas ficaram em silêncio. Apenas Riley, Alisson e Heather
murmuram suas dúvidas, mas não alto o suficiente. Aquilo me magoou de
uma forma tão profunda, que senti vontade de chorar.
Minha palavra não servia de nada, mas a de um homem safado, que
não tinha um pingo de caráter, sim.
— Eu conheço Jake, conheço o coração puro dele e sei que me ama.
Ele jamais me trairia, ao contrário de você, Aubrey! — disse Ashley com o
nariz empinado enquanto jogava os cabelos loiros e bagunçados para trás.
— Por isso, você será expulsa dessa fraternidade!
Pelo menos daquela vez, todo mundo pareceu em choque. O
burburinho cresceu dentro do quarto e eu senti o sangue ser completamente
drenado do meu rosto.
— Expulsa? Isso não pode acontecer! Aubrey não infringiu nenhuma
regra da fraternidade! — Summer saiu em minha defesa.
— Mas eu sou a presidente, a minha palavra basta!
— Não basta, não! Se precisamos votar até para mudar a cor de uma
parede, então, precisamos votar para isso também! Como eu disse antes,
Aubrey não infringiu nenhuma regra específica, portanto, não pode ser
expulsa sem uma votação!
Ashley sorriu, como se aquilo não fosse nada, e se virou de frente
para as meninas.
— Nós somos uma família e isso deve prevalecer, Summer tem toda
razão. Precisamos pensar no bem comum e em quem colocamos dentro da
nossa casa, para conviver não apenas conosco, como com nossos amigos e
namorados. Então, vamos votar. Quem aqui acha que essa sonsa traíra
precisa ser expulsa?
Eu já sabia o resultado antes mesmo que a maioria erguesse a mão.
Senti um peso tão grande em meus ombros e peito, que parecia que eu ia
sufocar, mas não abaixei a cabeça. Eu me mantive firme e olhei nos olhos
de cada uma que estendeu a mão para que eu fosse expulsa. Meninas que eu
considerava especiais, que me receberam tão bem quando entrei para a
equipe como líder de torcida e que nunca neguei qualquer ajuda quando
precisaram de mim.
E agora, cada uma delas, tirando Summer, Riley e Heather — pois
até mesmo Alisson, que parecia em dúvida, votara a favor — estava
erguendo a mão para que eu fosse expulsa da fraternidade por algo que eu
não tinha culpa.
O mais absurdo era saber que todas elas eram mulheres. E todas elas
estavam me dando às costas porque a palavra de um homem, que elas mal
conheciam, tinha mais valor do que a minha.
Engoli o choro e não permiti que as lágrimas que enchiam os meus
olhos descessem pelo meu rosto enquanto Ashley se virava em minha
direção e dava um sorriso satisfeito.
— Já temos o nosso resultado.
Era isso.
Eu havia acabado de ser expulsa da Delta Gamma Nu.
Sentei-me na beira da cama quando cada menina saiu do meu quarto
e fiquei olhando para o nada. Eu ainda queria chorar, mas parecia que toda
energia havia sido drenada do meu corpo.
Talvez, eu estivesse em choque. No fundo, algo dentro de mim não
conseguia acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo.
— Aub, amiga... — Summer se ajoelhou na minha frente e tocou em
meu rosto com as duas mãos. — Nós precisamos fazer com que Ashley leia
a sua conversa com Jake. Só assim ela vai acreditar na sua palavra e revogar
essa expulsão ridícula!
— Não, Summer. — Minha voz saiu abafada por conta do embargo
em minha garganta. — Ashley não vai querer ler nada que eu mostrar a ela.
— Então me dê o seu celular. Eu vou mostrar! Vou fazer aquela
defensora de macho escroto engolir cada mensagem que Jake te enviou!
— Não quero. — A resposta veio do fundo do meu peito, direto
daquele buraco cheio de mágoa que começou a se abrir em meu coração
quando cada menina virou as costas para mim.
— Como assim você não quer? Aubrey, isso que está acontecendo é
uma injustiça! Não podemos permitir que Ashley e as outras meninas
continuem pensando mal de você!
Uma parte do meu cérebro conseguiu registrar que Summer estava se
incluindo naquela luta por mim e que em nenhum momento me deixou
sozinha. Eu agradeceria a ela depois.
— E esse é o motivo do porquê eu não quero provar nada a elas.
Cada uma dessas meninas me conhece há quase um ano, Summer. Eu
pensei que me vissem como uma amiga, uma irmã de fraternidade ou
qualquer coisa assim, mas percebi que elas não sabem quem eu sou e que
não se importam comigo. A palavra de um homem como Jake teve mais
valor do que a minha. Acha mesmo que vou querer continuar perto de
pessoas assim? E se algum outro babaca armar para mim de novo? Elas vão
acreditar nele. Não quero correr o risco de ser magoada dessa forma mais
uma vez.
Summer ficou em silêncio e percebi que estava pensando nas minhas
palavras e levando em consideração a forma como eu me sentia. Ela soltou
um suspiro e se ergueu do chão para poder se sentar ao meu lado na cama.
A forma como me abraçou e colocou a minha cabeça em seu peito quebrou
todas as minhas barreiras e, antes que eu pudesse conter, as lágrimas já
estavam molhando o meu rosto e a sua camisa.
Eu estava profundamente chateada. Talvez aquele termo fosse muito
raso. Eu estava triste, magoada e me sentindo traída e arrependida. Se
pudesse voltar atrás, nunca teria saído de casa na noite de ontem. Nunca
teria respondido ao primeiro direct de Jake e demonstrado qualquer
interesse por ele.
Como pude ser tão burra?!
— Eu entendo você, amiga. Mesmo achando que é um absurdo que
elas continuem pensando mal de você, eu entendo o seu lado. — Summer
acariciou o meu braço e eu fui me acalmando aos poucos. — Só tenho uma
coisa para te dizer.
— O quê? — perguntei ainda com o rosto contra o seu peito.
— Se você vai sair da Delta, eu também vou!
Ergui a cabeça tão rápido que senti até tontura. Através das lágrimas,
vi a expressão decidida no rosto de Summer e fiquei horrorizada.
— Não! Você não pode fazer isso, Summer.
— Não apenas posso, como vou fazer. Não vou ficar nessa casa
cercada por essas baba-ovo de macho escroto, que não pensaram duas vezes
antes de humilhar e expulsar a minha melhor amiga! Eu me recuso!
Eu fiquei boquiaberta, completamente sem palavras por longos
segundos.
— Mas, Summer... Para onde você vai?
Os pais de Summer não moravam em Tuscaloosa e ela não tinha
nenhum parente próximo.
Assim como você, Aubrey. Para onde você vai?
Ah, meu Deus. Eu não tinha pensado sobre aquilo. Eu simplesmente
não tinha para onde ir.
Como eu daria aquela notícia para Avalon? Ela estava prestes a dar à
luz, não podia ficar nervosa. Do jeito que era, minha irmã seria capaz de
fretar um jatinho e vir para o Alabama apenas para dar uma surra em
Ashley. Jesus Cristo, eu não podia deixar que Avalon fizesse qualquer
loucura.
— Já tem um tempo que Travis vem pedindo para eu ir morar com
ele, mas eu achava que estava muito cedo. Eu ainda acho, na verdade, mas
posso ficar com ele por um tempo, até encontrar um emprego e conseguir
alugar um quarto em uma república — disse Summer com tudo já
arquitetado em sua cabeça. E ela nem havia sido expulsa, ao contrário de
mim. — E você também pode ficar conosco até se ajeitar, Aub!
— O quê? — Comecei a sacudir a cabeça com certo nervosismo. —
Não posso aceitar isso, Summer, a casa é do Travis e eu sei que ele divide o
lugar com alguns amigos. Não quero atrapalhar.
— Você não vai atrapalhar nada e Travis não vai negar te receber por
um tempo, eu tenho certeza!
— Não, Summer...
— Ei, escuta. — Summer pegou as minhas mãos e as apertou de
leve. — Vai dar tudo certo, Aub, e será apenas por um tempinho. Pelo
pouco que conheço da sua irmã e do seu cunhado, eles não vão deixarvocê
ficar na casa de uma pessoa que eles não conhecem por muito tempo.
Talvez aquele apartamento que você tanto negou antes de se mudar para o
Alabama, seja o que você precisa agora.
Eu sentia vontade de me coçar inteira só em pensar naquilo. Amava
Avalon e Logan, era muito grata por tudo o que eles faziam por mim, mas
os dois já pagavam a minha faculdade e me sustentavam no Alabama. Eu
simplesmente não podia aceitar que me dessem um apartamento! Não
queria ser uma sanguessuga na vida dos dois, mesmo sabendo que eram
ricos.
Tentei traçar um plano rápido e Maeve apareceu em minha mente
como uma luz no fim do túnel. Eu sabia que ela não poderia me dar um
emprego no bar, pois eu ainda não tinha vinte e um anos, mas talvez o
apartamento onde morei com Avalon ainda estivesse vago. Se não estivesse,
eu tinha certeza de que Maeve não me negaria um espaço em sua casa. Eu
me sentiria mais confortável passando um tempo com ela do que na casa de
Travis, que era uma pessoa que eu gostava, mas com quem ainda não tinha
tanta intimidade.
Era isso! Eu só precisava ligar para Maeve, conversar com ela e...
Meu celular começou a tocar em algum canto do quarto e precisei me
levantar da cama para recuperá-lo no chão. Soltei um suspiro de alívio ao
ver que a tela estava intacta e atendi assim que vi o nome de Logan. Tentei
acalmar o tom da minha voz, mas Logan não me deixou nem mesmo falar
“alô”.
— Aub, a bebê vai nascer! Puta merda, a bebê vai nascer agora!
Estou indo com Valente para o hospital... — Pude ouvir um gemido
estridente da minha irmã do outro lado da linha e fiquei tão nervosa, que
senti vontade de vomitar. — Calma, meu amor, vai dar tudo certo! Você é
forte, Valente, lembra disso?
— Eu nunca mais vou deixar você me engravidar, Logan Miller III.
Porra, isso dói pra caralhooooo!
Fiquei mais nervosa ao ouvir Avalon xingando com tanta veemência.
— Meu Deus, Logan! Eu... Eu estou indo para o aeroporto agora
mesmo!
— Sim, faça isso. Meu pai conseguiu um assento para você no
próximo voo, o embarque é em uma hora, já está tudo no seu e-mail. Vem
logo, Aub, porque Valente precisa de você.
Logan desligou e eu fiquei encarando o celular em minha mão em
choque. Senti o toque de Summer em meu ombro.
— O que aconteceu, Aub?
— Minha irmã... Minha irmã está parindo.
Jesus Cristo, minha irmã estava parindo!
— Puta merda, preciso ir logo para a Califórnia!
Summer me levou para o aeroporto com o meu carro porque eu
estava nervosa demais para dirigir. Cheguei em cima do laço no portão de
embarque, apenas com uma mochila onde joguei algumas peças de roupas,
e pedi para que a minha amiga arrumasse todas as minhas coisas na Delta,
pois quando eu retornasse ao Alabama, não ia querer pisar novamente
naquele lugar.
Passei o voo inteiro pedindo a Deus para que desse a minha irmã um
parto tranquilo. Avalon pesquisou bastante sobre todos os tipos de partos
existentes e optou por dar à luz de forma humanizada, ou seja, natural, mas
disse que não negaria uma anestesia caso a dor fosse insuportável. Pela
forma como a ouvi gritar enquanto falava com Logan, com certeza ela
pediria a anestesia, o que me aliviava. Não queria que minha irmã sentisse
dor desnecessária, quando a medicina já estava tão avançada.
Pousei no Alabama e peguei um Uber direto para o hospital. Tentei
falar com o pai de Logan e Norah, mas nenhum deles me atendeu, o que me
deixou mais preocupada. Por fim, pensei em Benjamin e James. Eu tinha
certeza de que eles não deixariam Logan sozinho naquele momento e que
deveriam estar no hospital. Liguei para Ben primeiro e ele me atendeu no
segundo toque.
Ouvir a sua voz imediatamente me acalmou. Acho que até o
motorista, que era um senhorzinho simpático, percebeu, pois me olhou pelo
retrovisor e deu um sorrisinho como se tivesse entendido tudo. O que ele
entendera, eu não fazia ideia. Benjamin me tranquilizou, disse que estava
tudo bem com Avalon, mas que a bebê não nascera ainda. No final, me fez
dar um sorriso ao afirmar que a criança estava esperando eu chegar para
poder vir ao mundo. Avisei que estava a poucos minutos do hospital e nos
despedimos.
— Quando minha Mary me liga, eu também fico assim, sorrindo
feito um bobo — disse o motorista. Ele era do tipo que gostava de
conversar, mas eu estava tão nervosa, que mal dei a atenção a ele. Me senti
culpada.
— Mary? Quem é ela?
— Minha esposa. — Ele ergueu a mão esquerda e apontou para a
aliança com orgulho. — Completamos quarenta anos de casados na última
semana.
— Uau, parabéns! Isso é incrível!
— Eu também acho. Hoje em dia os casamentos não duram, mas é
porque os homens não sabem valorizar a mulher que tem em casa. — Eu
concordei com a cabeça e o senhor sorriu mais uma vez. — Espero que esse
rapaz te valorize, menina.
— O rapaz com quem eu estava falando no celular? — O motorista
assentiu e eu ri. — Ah, não, ele não é meu namorado. Somos apenas
amigos.
— Mas é exatamente assim que tudo começa. — Ele me olhou pelo
retrovisor. — Na maioria das vezes.
Para a minha sorte, já estávamos na rua do hospital e eu não tive
tempo de responder. Agradeci ao senhor pela corrida e desci do carro sem
querer pensar demais no que ele dissera. Era apenas um homem apaixonado
pela sua esposa, que via romance em tudo. Um senhor fofo demais.
No hospital, fui direto para a recepção e recebi uma etiqueta com
identificação antes de ser informada em que sala todos estavam. O elevador
levou uma eternidade para chegar ao andar e eu quase me perdi ao ver
tantas portas iguais, mas logo encontrei a correta e entrei, vendo todos na
sala de espera, menos Logan. Seu pai, que andava de um lada para o outro
perto da porta, foi o primeiro a me dar um abraço.
— Que bom que você chegou, Aub. Logan veio aqui há poucos
minutos, disse que sua irmã está perguntando por você toda hora.
— Eu posso ir vê-la?
— Infelizmente, ela só pode ficar com um acompanhante, mas Logan
está com o celular agora. Ligue para ele, talvez Avalon precise ouvir a sua
voz.
Eu concordei com a cabeça e acenei para todo mundo rapidamente,
prometendo dar um abraço em todos depois, e fui até o canto da sala, perto
de onde Benjamin estava sentado. Ele se levantou e fez a gentileza de pegar
a minha mochila, dando uma piscadinha para mim antes de voltar a se
sentar. Meu coração disparou, mas coloquei a culpa no nervosismo. Peguei
o meu celular e liguei para Logan, que atendeu rapidamente.
— Oi, Logan, acabei de chegar.
— Graças a Deus, Aub. Espere um segundo, Valente quer falar com
você.
Pude ouvir Logan murmurar algo do outro lado da linha antes de
escutar a voz da minha irmã. Meus olhos se encheram de lágrimas
automaticamente.
— Aub, você chegou mesmo?
— Cheguei, Ava. — Ela suspirou audivelmente e eu ri. — Por um
acaso você estava me esperando chegar para poder parir?
— Não sei se consigo controlar isso, mas acho que sim. Não podia
fazer isso sem você, irmã. — A voz dela ficou embargada e eu comecei a
chorar. — Sempre foi nós duas juntas contra o mundo, lembra?
— Eu nunca vou me esquecer disso, Ava. Eu te amo demais, você é a
mulher mais forte que eu conheço.
— Sim, eu sou forte, mas isso dói pra caramba. Precisei da
anestesia.
Só Avalon era capaz de me fazer rir ao mesmo tempo em que me
fazia chorar.
— Eu imagino que doa, mas você vai conseguir trazer a minha
afilhada ao mundo. As mulheres Banks são uma força da natureza, não era
isso que a mamãe sempre dizia?
— Sim, é verdade. — Avalon fungou e eu também. — Ah, meu Deus,
está vindo outra contração. Acho que agora ela vai nascer. Beijos, Aub, eu
amo você. Puta merda, isso dói...
A voz dela foi se distanciando e Logan murmurou algo ininteligível
antes de desligar. Enfiei o celular no bolso e senti braços forte me puxarem
para um abraço que eu conhecia bem demais.
— Como é bom ter você aqui, princesa. Sua irmã precisava muito
disso — Ben sussurrou.
Algo dentro de mim dizia que ele tinha razão.
Uma hora depois, Logan entrou correndo na sala onde estávamos,
todo suado, vermelho e emocionado, avisando que Avalon tinha dado à luz
a uma garotinharuiva, pequenininha, com pouco mais de três quilos e
quatrocentos gramas.
Eu só consegui chorar de felicidade e pensar que minha irmã salvara
o meu dia mais uma vez.
Meu melhor amigo era pai.
Minha mente ainda estava tentando assimilar aquela informação
enquanto Logan se aproximava de onde estávamos, agora em uma sala
anexa ao quarto onde Avalon estava, com uma trouxinha rosa nos braços e
um sorriso babão que ia de orelha a orelha. O filho da mãe ainda estava
chorando. O nariz vermelho e os cílios úmidos eram provas disso.
— Vejam como ela é linda... — Ele disse baixinho e Aubrey logo se
aproximou para poder afastar um pouco a manta que cobria a bebê. — É a
minha cara.
— Não diga isso, minha afilhada é bonita, ao contrário de você —
James sussurrou.
— Ela é linda mesmo, porque se parece comigo — disse Aubrey.
— Acho que ela lembra a mim — afirmou Norah.
— Na verdade, ela não se parece com ninguém, é só um bebê — falei
e todos eles olharam em minha direção. — O que foi? Ela é linda, isso é
inegável, mas até se parecer com um de vocês, vai demorar um tempo.
Agora, se ela tivesse a minha genética, com certeza seria a minha cara.
Logan revirou os olhos e James deu um soquinho em meu braço
enquanto ria e falava:
— Cala a boca, idiota.
— Ei, não xingue na frente da minha filha! — Logan deu o seu
primeiro esporro como um pai e James ergueu as mãos.
— Sinto muito, prometo que isso nunca mais vai acontecer.
A porta se abriu atrás de mim e a avó de Logan entrou junto com o
filho. Os dois logo cercaram meu amigo e paparicaram um pouco a bebê,
mas quem mal conseguia se conter de ansiedade era Aubrey. Assim que a
matriarca da família Miller devolveu a neném para o pai, Aub perguntou:
— Posso pegá-la um pouco?
Logan passou a filha para Aubrey com cuidado e meu coração
disparou. Não porque eu sentia medo de que Aubrey deixasse o bebê cair
no chão — isso era algo que eu com certeza faria, não ela —, mas porque
eu não estava preparado para vê-la com algo tão pequeno e delicado nos
braços. O sorriso de Aubrey era o maior e mais emocionado que eu já tinha
visto. Ela estava tão feliz, que eu só percebi que estava sorrindo como um
idiota, quando James cutucou as minhas costelas com o cotovelo.
— Mudou de ideia e quer ter um bebê também?
— O quê? — Eu pisquei pelo menos três vezes, tentando assimilar o
que ele queria dizer. — Eu? Ter um bebê com a Aubrey? — Minha voz saiu
em um fio baixo e tenso. — Ficou maluco?
Para a minha surpresa, James riu.
— Acho que é você que está ficando maluco, cara. Não falei nada
sobre você ter um filho com a Aubrey, especificamente. De onde tirou isso?
— Ela está com a criança no colo!
— Sim, mas eu interpretei a expressão no seu rosto como admiração
pelo bebê... — James estreitou levemente os olhos. — Ou estou errado e
não era para a filha de Logan que você estava olhando?
Eu abri a boca para responder, mas percebi que qualquer coisa que eu
falasse, poderia dar margens para que James pensasse alguma besteira. Por
fim, apertei levemente a ponte do nariz e murmurei:
— Acho que você está vendo coisas demais, James. Eu estou apenas
feliz por Logan e Avalon, por isso estava sorrindo, assim como todo mundo
nessa sala.
— Calma, não precisa ficar todo nervosinho. — O idiota debochou
de mim com um sorriso no rosto.
— Não estou nervoso!
— Acho que está, sim. — Ao ver a minha cara fechada, James riu e
passou o braço pelos meus ombros. — Está tudo bem, Benjamin. Relaxa.
Vamos curtir o nascimento da nossa afilhada, ok?
Eu apenas concordei com a cabeça e Norah me salvou de continuar
aquela conversa irritante ao chamar James quando Aubrey passou a bebê
para o colo dela. A neném começou a passar de mão em mão, até parar em
mim. Eu me sentia ansioso e com medo de pegá-la em meu colo, mas a avó
de Logan pediu para que eu me sentasse em um dos sofás dispostos na sala
e logo aquela trouxinha rosa estava em meus braços, dormindo
tranquilamente como se não corresse um sério risco de vida.
— Ela não é perfeita? — Aubrey perguntou baixinho conforme se
sentava ao meu lado. Com o dedo indicador, acariciou a penugem ruiva na
cabeça do bebê, que se mexeu levemente e me assustou pra caramba.
Aubrey riu. — Acalme-se, Ben, você não vai deixá-la cair.
— Será mesmo? Ela é toda molinha, parece que vai escorregar dos
meus braços a qualquer momento.
— Você está indo muito bem, sei que antes de ela cair no chão, você
se jogaria para amparar a queda.
— Eu tentaria com toda a certeza. — As sobrancelhas, que mal
passavam de uma leve sombra acima dos olhos pequenos e fechados, se
mexeram de leve, me fazendo sorrir. — Ainda não acredito que Logan
ajudou a fazer algo tão lindo e delicado quanto ela.
— Eu ouvi isso, babaca! — Logan resmungou do outro lado da sala e
logo fez uma careta. — Droga, preciso policiar a minha boca.
— Bom saber que eu não sou o único — James disse.
— Com o tempo você aprende — o pai de Logan garantiu.
Eles continuaram a conversar e eu tirei os meus olhos da bebê
adormecida para poder olhar a madrinha babona, que não parara de sorrir
desde que viu a afilhada pela primeira vez. Aubrey continuou a acariciar a
cabecinha da criança e quando sentiu o meu olhar, soltou uma gargalhada
baixa e levemente constrangida.
— Pareço uma boba, não é?
— Não, você está linda, princesa. Mais linda do que nunca com esses
olhos brilhando de felicidade e esse sorriso bonito no rosto. — A forma
como fui sincero assustou até mesmo a mim e Aubrey pareceu surpresa.
— Obrigada. Nunca imaginei que o dia de hoje terminaria assim.
— O que quer dizer?
Antes que Aubrey pudesse responder, a enfermeira saiu do quarto e
avisou que Avalon já podia receber visita. Logan pegou a filha dos meus
braços e fomos todos juntos para onde a mais nova mamãe estava. Avalon
estava sentada na maca, com os cabelos úmidos do banho recente e com um
sorriso que era ainda maior do que o de Aubrey, que foi logo correndo para
abraçar a irmã.
A união das duas era algo muito bonito de se ver. Durante longos
minutos, elas ficaram apenas abraçadas, mas logo percebi que Aubrey
estava falando algo no ouvido da irmã, que ficou emocionada. Quando se
afastaram, uma limpou as lágrimas da outra, e Aubrey se afastou para que
todos nós pudéssemos falar com Avalon.
Eu a abracei com carinho e a parabenizei pelo parto e pela filha tão
linda. Prometi, mais uma vez, que eu seria um padrinho incrível, e emendei:
— Logicamente, eu serei o padrinho favorito e todos aqui sabem
disso.
— Só nos seus sonhos, seu cuz... — James se interrompeu antes de
terminar o xingamento e limpou a garganta. — Só nos seus sonhos —
concluiu.
— O nome disso é inveja, James — falei enquanto me afastava de
Avalon.
— Na verdade, o nome disso é bom senso.
— Estou pensando em reavaliar a nossa escolha para padrinhos —
resmungou Logan enquanto passava a filha para os braços da esposa.
Aquela cena... Caralho, aquela cena ficaria marcada na minha
memória para sempre. Não era todo dia que eu via meu melhor amigo
entregando a sua filha para a sua esposa.
— E vai colocar quem no lugar, se você só tem nós dois de melhores
amigos? — perguntei ao parar ao lado de Aubrey e passar o braço pelos
ombros dela. — Ninguém vai fazer par com a Aubrey, só eu.
— E ninguém vai fazer par com a Norah, afinal, ela é minha esposa.
Contente-se com isso, Logan Miller III.
— Acho que não temos para onde fugir, estrelinha dourada. —
Avalon riu.
— Vem cá, vocês não estão se esquecendo de nada? — Aubrey
perguntou, atraindo a atenção de todos na sala. — Como o nome da minha
afilhada, por exemplo?
— É verdade! Dei tanta sugestão de nome e eles não aceitaram
nenhum — disse vovó Meredith.
— Precisam resolver logo isso, afinal, minha neta tem que ser
registrada em cartório amanhã. E então, qual será o nome dela?
Logan e Avalon se olharam, ambos com aquela expressão
apaixonada, e Ava respondeu:
— Depois de muito pensar, Logan e eu encontramos o nome perfeito.
Algo que consegue descrever como a nossa vida se transformou depois que
encontramos um ao outro.
— E que nome é esse? — perguntouNorah. — Digam logo, não
aguento mais chamar a minha afilhada de bebê ou neném!
— Aurora — Logan anunciou com orgulho e certa emoção. —
Significa nascer do sol. Avalon e eu estávamos em um momento difícil e
obscuro das nossas vidas quando nos conhecemos, mas tudo se iluminou
depois que nos apaixonamos. Nada mais justo que a nossa filha represente o
nascer do sol nas nossas vidas.
— Ah, meu Deus! É maravilhoso! — Aubrey disse com a voz
levemente embargada e eu finalmente entendi.
— É um lindo nome, filho — disse o pai de Logan ao abraçar
rapidamente o filho. O homem mais velho estava visivelmente emocionado.
— Estou muito orgulhoso de você. De vocês dois.
Eu apertei Aubrey entre os meus braços e a ouvi fungar baixinho,
assim como Norah abraçada a James e vovó Meredith, que agora abraçava o
neto. Era mesmo um nome muito bonito e a prova de que aquela garotinha
seria muito amada.
Logo a pequena Aurora ficou de saco cheio de apenas dormir e
demonstrou que nascera com uma garganta potente. A menininha começou
a chorar e uma enfermeira se aproximou para auxiliar Avalon com a
amamentação. Resolvemos deixar Logan e a esposa a sós naquele momento
e saímos todos do quarto. Eu estava morrendo de fome, assim como todos
ali, e decidimos ir até o restaurante que ficava no último andar do hospital e
era exclusivo para os acompanhantes e visitantes.
Estávamos saindo do elevador quando o meu celular começou a
tocar. Logo me lembrei do meu pai, que me ligara mais cedo pedindo
notícias de Avalon. Prometi a ele que avisaria assim que a bebê nascesse,
mas me esqueci completamente. Pedi para que todo mundo seguisse para o
restaurante e fiquei no corredor para atender a ligação, mas fiquei surpreso
ao ver o contato na tela do celular.
Não era meu pai, mas, sim, Michael Coben, ex-treinador do Crimson
Tide.
— Treinador Coben, como vai?
— Benjamin, eu estou bem, e você?
— Estou ótimo, treinador, e surpreso com o seu telefonema, preciso
confessar.
— Eu imagino que sim, rapaz. — Sua risada grave, que só ouvíamos
quando terminávamos uma partida como campeões, me fez sentir certa
nostalgia. — Fiquei com você em minha mente desde que nos encontramos
por acaso na semana passada. Nossa conversa durante aquele almoço foi
espetacular, Ben.
— Uau, eu fico muito honrado em saber disso, treinador.
Alex, meu assessor, marcou um almoço comigo em um dos meus
restaurantes favoritos e, por coincidência, o treinador Coben estava lá com
dois amigos, que também foram treinadores em outras universidades. Por
um problema de saúde com o seu filho mais novo, Alex precisou cancelar o
almoço em cima da hora e o treinador Coben me convidou para me juntar a
ele e seus amigos.
Eu fiquei aliviado por nenhum deles ter focado a conversa sobre a
minha lesão. Obviamente, conversamos sobre a minha recuperação, mas,
fora isso, o assunto à mesa foi o futebol como um todo. Em dado momento,
treinador Coben, que agora estava aposentado, demonstrou preocupação
com o time do Crimson Tide após a derrota no primeiro jogo da temporada.
Eu assisti apenas a reprise na TV e, baseado na partida e nas poucas
conversas que tive com Aubrey sobre o treinamento do time, pude dar a
minha opinião com um pouco mais de embasamento sobre a situação do
Crimson.
Percebi que não apenas o treinador Coben, mas seus amigos, ficaram
bastante impressionados comigo, mas não deixei aquilo subir à minha
cabeça. Eu entendia sobre futebol e tudo o que falei, para eles, com certeza
era apenas o óbvio.
— Ficou bem claro não só para mim, como para os meus amigos à
mesa, como você tem um olhar apurado e consegue traçar uma linha de
jogo muito clara. Por isso, acabei agindo de forma impulsiva e liguei para
Dawson Kennedy, o novo treinador do time. Ele comentara comigo que
estava precisando de um técnico auxiliar e eu acredito que você é a pessoa
certa para ocupar esse cargo. Indiquei o seu nome para ele, Ben.
— O... O quê? — Eu mal conseguia raciocinar naquele momento. —
O que quer dizer com isso, treinador?
— Quero dizer que você tem um talento nato não apenas como
jogador, Benjamin, e que pode aproveitar esse tempo de recuperação para
poder ajudar o time que o ajudou a chegar aonde você está agora. Você
sabe que o Crimson Tide precisa de você, Ben. Dawson disse que o comitê
entrará em contato com você na próxima semana para fazer o convite e, se
você aceitar, a vaga já é sua.
— Eu... Caramba, eu nem sei o que dizer. — Eu estava sorrindo,
mas, a verdade, era que ainda estava chocado. — Nunca passou pela minha
cabeça fazer parte do corpo técnico de qualquer time, treinador Coben, e
nem sei se tenho potencial para...
— Não termine essa frase, Benjamin Ryan. Você é um dos melhores
jogadores da atualidade e eu o conheço desde que era um moleque. Sei do
que estou falando. Você tem potencial e se aceitar esse convite, vai ajudar a
colocar o Crimson Tide no topo novamente, lugar de onde o nosso time
nunca deveria ter saído!
Eu me calei, pois, apesar do elogio, eu sabia quando o treinador
Coben estava nos dando uma bronca.
— Está certo. Eu vou pensar, tudo bem?
— É claro, não esperava que você me desse uma resposta agora,
rapaz. — Ele riu mais uma vez. — Use esse final de semana para pensar,
mas saiba que entrarão em contato com você em breve. Já sabe a minha
opinião. Seu lugar é lá, Ben, pelo menos enquanto se recupera.
Nós nos despedimos e eu fiquei um tempo parado no corredor vazio,
tentando entender tudo aquilo. Ainda estava em choque. Será mesmo que eu
tinha potencial para ser técnico auxiliar? Era muita responsabilidade. E se
eu terminasse de foder com o time?
— Levou tudo para a casa do Travis? — A voz de Aubrey soou às
minhas costas e eu me virei em sua direção. Ela estava saindo do
restaurante com o celular na orelha e deu um sorriso meio triste ao me ver
por ali. — Tem certeza, Summer? Não deixou nem uma calcinha minha lá,
certo? Conferiu tudo?
Calcinha dela? Franzi o cenho tentando entender que merda estava
acontecendo. Onde Aubrey deixara uma calcinha? Ela pareceu ficar
aliviada com o que Summer respondeu do outro lado da linha.
— Você é demais, amiga! Muito obrigada. Já disse que te amo hoje?
— Apesar do tom de brincadeira, seu semblante ainda estava triste, em um
contraste enorme com a felicidade que sentia no quarto onde estava a nova
família de Logan. — Sim, minha irmã está ótima e a bebê também. Eu te
ligo depois para dar mais notícias, ok? E obrigada por ter esclarecido para a
treinadora o porquê de eu ter faltado o jogo de hoje. Eu te devo a minha
vida, Summer. Te amo!
Aubrey desligou e só então me dei conta de que era sábado, noite de
jogo do Crimson Tide. Pela forma como o treinador falara do time ao
telefone, eu nem precisava pesquisar para saber qual foi o resultado. Com
certeza saímos com uma derrota, mas não era com aquilo que eu estava
preocupado no momento.
— Está tudo bem, Aub?
Não gostei suspiro que ela soltou, parecia cheio de cansaço e
decepção.
— Aconteceram algumas coisas antes de eu vir para cá, mas já estou
resolvendo — respondeu de forma vaga, o que me deixou mais preocupado
ainda.
— Como assim? O que aconteceu?
— Nada de muito importante. — Aubrey guardou o celular no bolso
da calça e me olhou com curiosidade. — Quem era no telefone? Seu pai?
Estou com saudades dele.
Deixei passar a sua tentativa de mudar de assunto apenas porque
precisava compartilhar aquela novidade com ela.
— Não, não foi o meu pai, mas duvido você adivinhar quem era.
— Não faço ideia. Alguma mulher que você conheceu ontem? —
perguntou de repente e vi suas bochechas ficarem levemente avermelhadas.
— Desculpa, não tenho nada a ver com isso. Nem sei por que perguntei
isso, na verdade.
— Para a sua curiosidade, não, não era nenhuma mulher que eu
conheci ontem.
Ela cruzou os braços e me deu aquele olhar genioso que lembrava a
Avalon.
— Eu não estava curiosa.
— Engraçado, parecia que estava.
— Você entendeu errado.
— Tudo bem, princesa. — Aproximei-me dela com um sorriso e
Aubrey precisou erguer um pouco o rosto para continuar olhando em meus
olhos. — Seique se preocupa com a minha honra.
— Você é muito ridículo, Benjamin.
— E você fica linda quando está com raiva — falei, tocando a
pontinha do seu nariz. Aubrey desarmou um pouco a postura e revirou os
olhos. — Não conheci nenhuma mulher ontem, Aub. Voltei sozinho para
casa da mesma maneira que saí.
Seus olhos me observaram de cima a baixo, levemente desconfiados,
em seguida, ela deu de ombros.
— Não sei o que quer que eu diga. Que sinto muito por você não ter
transado? — Eu gargalhei e a risada ecoou pelo corredor vazio, fazendo-a
se sobressaltar e olhar para os lados. — Benjamin, estamos em um hospital!
— Desculpa, não pude me conter. Você não soaria sincera nem se
quisesse, Aubrey. O que está acontecendo? Quer que eu fique eternamente
na seca?
— Por que eu ia querer isso? Você fala cada coisa! — Seu rosto ficou
ainda mais vermelho e não saí da sua frente quando tentou me empurrar
pelos ombros. — Vamos logo para o restaurante, nosso prato já deve ter
chegado.
— Nosso prato? Você pediu para mim?
— Sim. Eles servem filé mignon com salada aqui, lembrei que você
gosta.
— Você me conhece muito bem, princesa. Obrigado. — Toquei na
ponta dos seus cabelos e ela tentou esconder um sorriso. — Deixe-me
contar quem me ligou antes de ir. Acho que você vai ficar tão chocada
quanto eu fiquei.
Comecei a explicar para ela sobre o almoço com o treinador Coben,
que havia me esquecido de contar durante as nossas ligações, e emendei
com o telefonema que acabara de receber dele. A boca de Aubrey caiu
aberta quando citei sobre vaga de técnico auxiliar e o convite que o comitê
do time me enviaria em breve.
— Meu Deus, Benjamin! Isso é incrível! Você vai aceitar, não vai?
— Confesso que ainda não sei. Nunca me imaginei na posição de
técnico, Aubrey.
— Pois é melhor mudar esse pensamento. Ben, nós perdemos hoje de
novo, e se continuarmos assim, podemos dar adeus ao título novamente.
Não podemos deixar o Crimson perder por dois anos consecutivos! E eu
acho que faria muito bem a você voltar a se envolver com o futebol nessa
nova função, acho que você pode descobrir uma nova paixão e sentir prazer
novamente com o esporte que tanto ama enquanto se recupera para voltar
aos campos!
O entusiasmo de Aubrey me tocou mais profundamente do que as
palavras do treinador Coben. Eu ainda não queria dar uma resposta
definitiva, por isso, falei:
— Eu vou pensar com muito cuidado e conversar com Alex, ver o
que ele pensa sobre isso... Não posso tomar uma decisão como essa sem
consultar a minha equipe.
— Tem razão, mas acho que eles não serão contra. — Um sorriso
animado voltou a se abrir em seus lábios bonitos e levemente rosados,
atraindo o meu olhar. — Vai ser incrível ter você no Alabama! Nós seremos
praticamente vizinhos de novo! — Aub gargalhou. — Eu nunca mais vou te
deixar em paz!
Aubrey cruzou o braço no meu e fomos juntos para o restaurante. Foi
inevitável sorrir com a sua excitação e percebi que a ideia de ficar mais
perto dela me animava muito mais do que ser técnico do Crimson Tide.
Encerrei a ligação com Maeve sentindo vontade de chorar.
Após passarmos quase uma hora no celular, onde iniciei a ligação
contando para ela que Avalon dera à luz, descobri que o apartamento onde
morei com a minha irmã estava ocupado há pouco mais de três meses e que
a irmã mais nova do seu marido, junto com o filho adolescente, estava
passando uma temporada em sua casa.
Por mais incrível que Maeve fosse, eu tinha o mínimo de bom senso
e recusei imediatamente o seu convite para que eu passasse um tempo como
sua hóspede. Sua casa era pequena e tinha apenas dois quartos, eu jamais
aceitaria ficar ocupando o seu sofá por tempo indeterminado, atrapalhando
a rotina da sua família e tirando a privacidade de todo mundo.
Pelo visto, teria que aceitar a oferta de Summer e ficar um tempo na
casa do seu namorado. Era isso ou usar o pouco de dinheiro que eu tinha
guardado para poder alugar um quarto em uma república — o que eu faria
se não conseguisse arranjar um emprego até o próximo mês.
Uma coisa era certa: eu não ficaria morando de favor na casa de
Travis por muito tempo.
Apesar de ter aquele objetivo claro em minha mente, foi difícil pegar
no sono. Estava sozinha na casa de Logan, pois ele e Avalon passariam
mais duas noites no hospital, e o silêncio em meu antigo quarto era
opressor. Liguei a TV para diminuir a sensação de solidão, mas o barulho
não ajudou a distrair a minha mente, que repetia as imagens daquela manhã
sem cessar.
Eu estava muito feliz com o nascimento da minha afilhada e aquele
novo ciclo que se iniciara na vida da minha irmã, mas havia aquela parte
que estava profundamente magoada. Não fazia ideia de como seria o clima
dos ensaios a partir de agora, mas com certeza eu não iria desistir do meu
lugar na equipe, principalmente por algo que não era culpa minha.
As meninas poderiam estar me odiando e achando que eu era uma
amiga traidora, mas precisariam me engolir. Eu tinha um gênio forte e era
determinada; apesar de estar chateada, nada me tiraria daquele lugar que eu
conquistei a partir dos meus méritos, assim como todas elas.
Poderiam me expulsar da fraternidade, mas jamais me expulsariam
da equipe de líder de torcida.
Passei a tarde de domingo com a minha irmã no hospital e ver
Avalon amamentando me provou que, no fundo, eu era apenas uma
manteiga derretida que se escondia atrás de uma máscara de garota durona.
Fiquei toda emocionada enquanto a minha querida irmã mais velha ria da
minha cara. Não sabia como era possível, mas Avalon estava ainda mais
bonita. Ela reluzia. Claro que estava cansada e ainda se recuperando do
parto recente, mas havia uma felicidade em sua expressão que fazia os seus
olhos brilharem.
Por isso tive a certeza de que não contaria a ela nada do que vinha
acontecendo comigo, pelo menos não naquele momento. Talvez eu poderia
contar dali a alguns meses, quando Avalon estivesse bem emocionalmente e
eu estivesse bem no Alabama, com um emprego e um apartamento que eu
pudesse pagar com o meu dinheiro. Ela provavelmente ia querer me matar
por eu ter escondido a verdade, mas me perdoaria em algum momento.
O que importava, era que minha irmã passasse por aquela fase sem
qualquer estresse ou emoções conflitantes. Ela merecia ter um pós-parto em
paz.
Deixei o hospital junto com James, Norah e Benjamin no início da
noite e decidimos comer uma pizza junto com o casal na residência dos
dois. Eu queria conversar com Ben e saber se ele tinha pensado na proposta
que recebera para ser técnico do Crimson Tide, mas ainda não tivera
oportunidade. A possibilidade o ter tão perto de mim de novo estava me
deixando muito entusiasmada! Além disso, eu realmente acreditava que
faria bem a Benjamin voltar a se envolver com o futebol de uma outra
forma.
Como se estivesse ouvindo os meus pensamentos, Ben começou a
contar sobre o convite para James e Norah quando nos sentamos à mesa
para comer. Norah ficou muito feliz por Ben e James tinha uma opinião
muito parecida com a minha. Benjamin ouviu o amigo atentamente, e eu
soube que para ele era muito importante saber o que James pensava, assim
como Logan. Ele com certeza devia estar esperando apenas que Avalon e
Aurora tivessem alta para poder conversar com o meu cunhado.
— Eu vi a reprise do jogo ontem à noite quando chegamos em casa e,
realmente, o Crimson precisa de ajuda, cara. O ataque está uma porcaria e a
defesa não existe. Não há entrosamento entre o quarterback e o resto do
time, é como se eles estivessem perdidos — disse James enquanto
acariciava o cabelo de Norah, que estava com o rosto encostado em seu
peito.
Eles formavam um casal tão bonito que era até difícil desviar o olhar.
Claramente nasceram um para o outro. Não conseguia entender até hoje
porque relutaram tanto para ficar juntos e porque Logan pareceu tão
chocado quando descobriu tudo.
— Eu percebi isso quando assisti o primeiro jogo, mas achei que
conseguiriam consertar durante o treinamento para a segunda partida da
temporada — comentou Benjamin antes de olhar para mim. — Acho quenunca perguntei a você sobre isso... Como é a relação dos jogadores fora de
campo, princesa?
Pensar nos jogadores fazia com que Jake viesse à minha mente, o que
me fez tentar conter um arrepio de horror e raiva. Precisei tomar um pouco
mais do meu suco antes de responder.
— Até onde sei, eles se dão bem. Já houve uma ou outra briga, mas,
geralmente, o treinador Dawson consegue conter os ânimos rapidamente.
— Deve ter aprendido com Coben. — James riu, mas Ben fez uma
careta.
— Se tivesse aprendido mesmo, o time não estaria como está agora.
— Talvez a culpa não seja totalmente do treinador. Não houve uma
mudança no time para essa temporada? — perguntou Norah. Ela sempre
gostou muito de futebol e era apaixonada pelo Crimson, não era surpresa
que se mantivesse inteirada sobre o time mesmo depois de formada.
— Sim. Alguns jogadores saíram, mas acho que a principal mudança
foi o quarterback. Se não me engano, ele entrou esse ano, não foi, Aub? —
perguntou Benjamin.
— Ele foi anunciado assim que terminou a última temporada —
corrigi sem querer citar o nome daquele babaca.
— E como ele é? Tem espírito de liderança? Ou é só um babaca que
gosta de estar cercado por puxa-sacos? — questionou James.
— Não o conheço muito bem. — Fui vaga, mas percebi que
precisava melhorar aquela resposta ao sentir os olhos de Benjamin sobre
mim. Nós conversávamos bastante sobre o time, não dava para fingir que eu
não sabia como Jake agia, pois sempre deixei claro para Ben que eu tinha
uma boa relação com todos os jogadores. — Mas sei que ele se dá bem com
a maioria dos jogadores e que sempre recebeu muitos elogios quando era o
quarterback reserva do time.
— Precisamos estudar melhor o estilo de jogo dele, então —
concluiu Benjamin e James deu um sorriso faceiro para ele.
— Precisamos, é? Já está falando como um técnico auxiliar.
— Não estou nada, seu idiota. — Ben jogou o guardanapo de pano na
direção de James com uma risada.
— Concordo com James. Você sempre foi um grande estrategista,
Ben. Lembra quando reunia os jogadores da linha de ataque na casa onde
morávamos? Você conseguia explicar as táticas de jogo de uma forma bem
clara e objetiva, isso sempre fortaleceu o time — disse Norah. — Você
deveria aceitar esse convite e ajudar o Crimson a fazer história mais uma
vez.
Eu apenas olhei para ele com a minha melhor expressão de “eu não
sou a única a pensar isso” e Benjamin soltou um suspiro ao meu lado,
relaxando os ombros tensos.
— Eu quero aceitar, essa é a verdade — admitiu, o que me deixou
mais feliz do que previa. — Só tenho medo de fazer alguma cagada muito
grande.
— Ben, não esqueça que você estará lá para ajudar, mas a decisão
final ainda será do treinador do time. Não coloque tanta responsabilidade
sobre os seus ombros — James pediu.
— Sei disso, mas quando eu aceitar o convite, os olhos de todo
mundo estarão sobre o time por minha causa. Sempre tive uma ótima
relação com os torcedores do Crimson, depois de duas derrotas seguidas,
eles podem me enxergar como uma luz no fim do túnel e tenho medo de eu
não conseguir mudar a realidade do time como todos esperam.
— Pois eu tenho certeza de que você vai chegar para somar e que a
sua contribuição vai mudar o rumo do time nessa temporada — falei com
toda a convicção que eu sentia. — Cadê a sua autoconfiança, Benjamin
Ryan? Você sofreu uma lesão no joelho, não na parte inteligente do seu
cérebro. Não se esqueça disso.
— É isso aí, Aub! — Norah ergueu a taça de vinho quase vazia e,
pelos seus olhos levemente pesados, percebi que estava ficando um pouco
embriagada, o que me fez rir. — Você sempre soube como colocar a cabeça
de Benjamin no lugar.
— Acho que é a única pessoa que sabe fazer isso — disse James.
— O que eu posso fazer? — Virei-me para Benjamin e soprei um
beijo para ele. — É um dom, não tenho controle sobre isso.
—  Engraçadinha. — Benjamin tocou em meu queixo com a ponta
dos dedos, mas não deixou de sorrir. — Marquei um almoço com Alex para
amanhã e vou conversar sobre tudo isso com ele.
— Tenho certeza de que ele vai te apoiar, Ben.
— Espero que sim. Vou ter que conversar melhor com o meu pai,
também. Lembram do apartamento que eu queria comprar para ele e o
velho recusou? — Benjamin perguntou e todos nós dissemos que sim. —
Eu acabei efetuando a compra do mesmo jeito há alguns meses, mas deixei
trancado porque precisava ir até lá pessoalmente com um arquiteto para
estudar um projeto legal para o apartamento. O lugar está provavelmente
cheio de poeira, o que significa que vou ter que passar um tempo morando
com o meu pai ou em algum imóvel alugado até tudo ficar pronto.
— Se esse era o único problema, eu já tenho a solução — anunciou
Norah com um entusiasmo surpreendente para quem estava alta pelo vinho.
— Lembra do inquilino que estava ocupando a casa onde morávamos? O
contrato dele se encerrou mês passado e Logan pediu para que eu ficasse
com as chaves. Você pode ficar lá pelo tempo que precisar, Ben.
Eu arregalei os olhos ao ouvir aquilo e senti minha mente começar a
se embrenhar pelo labirinto sem saída onde estive nos últimos dois dias.
— É sério? Isso é ótimo, Norah. Fico mais tranquilo, porque não
queria atrapalhar a rotina do meu pai mais uma vez e sair à procura de um
apartamento demandaria mais tempo. Não estou com paciência para isso.
— Está percebendo, Benjamin? — James chamou a nossa atenção ao
apontar para o teto. — O universo está conspirando para que você se mude
para o Alabama, cara. Você precisa salvar o nosso time do coração.
Benjamin concordou com a cabeça, parecendo ficar mais confiante, e
eu fui juntando algumas peças em minha mente, como se estivesse diante de
um enorme quebra-cabeças que, até aquele momento, parecia impossível de
ser montado.
Quando Norah anunciou que queria abrir mais uma garrafa de vinho,
nós percebemos que era hora de ir embora, apesar dos protestos dela e de
James. Nós nos despedimos e Benjamin, que estava de carro, me ofereceu
uma carona. Dava para ir a pé até a casa de Logan, pois o condomínio era
fechado e seguro, mas eu aceitei apenas porque queria passar mais tempo ao
seu lado. Assim que entramos no carro, Ben perguntou:
— O que houve? Você ficou calada de repente.
Eu havia me esquecido de como Benjamin podia ser observador.
Tentando disfarçar, eu apenas sacudi a cabeça.
— Não aconteceu nada.
— Tem certeza? — Ele colocou o carro em movimento e eu fiquei
muito feliz por ver como Benjamin estava voltando à sua vida normal aos
poucos. — Você sabe que pode se abrir comigo, princesa. Não sabe?
Meu coração ficou um pouco apertado enquanto eu olhava para ele.
— Sim, eu sei disso.
— Então, me conte o que está acontecendo. Você está estranha desde
o dia em que chegou na Califórnia. — Ao longe na rua, pude ver a casa de
Logan e fiquei em dúvida se queria que chegássemos logo para eu poder
fugir mais rápido ou se queria que a viagem demorasse mais para que eu
pudesse jogar tudo sobre o colo de Benjamin. — Não me leve a mal, sei que
está feliz pelo nascimento da Aurora e por sua irmã, mas sinto que tem algo
te incomodando. Talvez eu esteja errado, mas...
— Não, você não está errado — respondi e Benjamin me deu um
daqueles olhares intensos e preocupados.
— Você disse que aconteceram algumas coisas antes de vir para cá. É
isso que está te deixando assim?
Benjamim parou o carro em frente à mansão de Logan e eu percebi
que não tinha mesmo como fugir. E eu nem queria. Não agora que eu havia
saído daquele labirinto que parecia não ter saída e que um plano estava se
formando em minha mente.
— Eu fui expulsa da fraternidade.
Pensei que os olhos de Benjamin saltariam das órbitas e rolariam
pelo assoalho do carro.
— Como é que é? Por quê?
— Não foi por minha culpa, isso eu posso garantir.
— Com certeza não foi por sua culpa. O que você poderia fazer para
ser expulsa da porra de uma fraternidade?
Talvez Benjamin estivesse um pouco revoltado.
— Pegar o namorado da presidente. — Soltei a bomba e Benjamin
me encarou boquiaberto, completamente sem reação. Eu logo me adiantei:
— Mas foi semquerer! Eu não sabia que eles estavam namorando, eu juro,
Ben! Preciso que você acredite em mim.
Droga, eu não tinha pensado sobre a possibilidade de Benjamin
acreditar que eu era uma traidora. E se ele pensasse que eu sabia que Jake e
Ashley estavam namorando? Não fazia ideia de como lidaria com mais
aquela decepção. Ver as meninas virando as costas para mim doeu pra
caramba, mas se Benjamin fizesse o mesmo? Minha nossa, eu não
suportaria. Ele ficou calado por um tempo e eu comecei a me desesperar.
— Benjamin, eu não estou mentindo. Eu posso provar que ele me
enganou e...
As palavras ficaram presas em minha garganta quando Ben tocou em
meu rosto de repente, com uma delicadeza que poucos jogadores de futebol
deveriam ter.
— Não precisa me provar nada, eu acredito em você, Aubrey. Como
poderia não acreditar? Há quanto tempo nós nos conhecemos? Uma garota
que brigou comigo por ter um número de celular só para mulheres e que me
fez enxergar como isso era escroto pra caralho, jamais trairia uma amiga. É
lógico que você foi uma vítima desse filho da puta! — Sua voz foi
engrossando gradativamente e uma ruga surgiu entre suas sobrancelhas
franzidas. — Quem ele é? Eu juro por Deus que vou acabar com a vida
desse imbecil!
Minha língua coçou para contar que era Jake e que ele era o
quarterback do Crimson Tide, mas me segurei no último segundo. Eu não
podia contar que era ele, não por me preocupar com aquele babaca, mas por
me preocupar com Benjamin. Se ele se tornasse técnico auxiliar do
Crimson, poderia levar para o lado pessoal o que Jake fizera comigo. Eu
jamais me perdoaria se isso prejudicasse Benjamin ou o time.
— Não importa quem ele é.
— Como não importa? É claro que importa, Aubrey! Esse filho da
puta mexeu com você, acha mesmo que não vou fazer nada sobre isso?
— Sim, eu acho, não porque ele não merece, mas porque não quero
que você suje as mãos com um merda como ele. Não vale a pena,
Benjamin.
As mãos de Ben ainda seguravam o meu rosto com cuidado, por isso,
senti quando elas tremeram levemente. Seu cenho se franziu ainda mais,
daquela forma feroz como quando ele ficava irritado com algo no meio de
uma partida.
— Preciso que entenda uma coisa, Aubrey. — A voz de Benjamin
soou grave e pareceu fazer um eco dentro do meu peito. — Por você,
princesa, qualquer coisa vale a pena. Se um dia eu descobrir o nome desse
filho da puta, eu vou arrebentar a cara dele e quebrar cada um dos seus
dedos, para que ele entenda que tocar em você é um privilégio que ele
nunca mais terá na porra da vida.
Algo dentro de mim, bem no fundo do meu ser, se quebrou em várias
partes e pareceu mudar completamente. Senti tanta coisa, que nem sabia
definir o que era tudo aquilo. Emoção por saber como Benjamin se
importava de verdade comigo, ansiedade por ver a raiva em seus olhos e
algo que era mais preocupante do que qualquer outra coisa.
Tesão.
Um tesão inexplicável que aqueceu a minha barriga, deixou os meus
seios sensíveis e fez uma conexão direta com o meio das minhas pernas.
Precisei apertar as coxas para tentar fazer a sensação passar.
— Você entendeu, Aubrey? — Benjamin perguntou com os olhos
sondando os meus.
Ele não conseguia sentir o que estava fazendo comigo? Era uma
sensação tão intensa, que parecia ser quase uma terceira presença dentro
daquele carro.
— E-eu entendi. — Minha voz saiu em um sussurro praticamente
inaudível, por isso, repeti: — Eu entendi, Ben.
— Ótimo. — Ele deixou um beijo na ponta do meu nariz, que
acelerou ainda mais o meu coração, e se afastou. Senti falta do seu toque
imediatamente. — Vamos dar um jeito nisso, ok? Você não será expulsa
porra nenhuma. Quando voltar para o Alabama, seu lugar dentro da
fraternidade estará lá, esperando por você.
Ouvir aquilo me obrigou a colocar a minha cabeça no lugar.
— Não, Ben. Summer já tirou todas as minhas coisas e desocupou o
quarto onde eu dormia.
— E desde quando isso é um problema? Você arruma tudo de novo,
eu te ajudo, se quiser.
Aquilo me fez rir.
— Isso é muito gentil da sua parte, mas eu não quero voltar para lá.
Não vou ficar morando com pessoas que não acreditam no meu caráter e
que viraram as costas para mim. — Pude ver um brilho de compreensão em
seus olhos. — Eu não me sentiria bem.
Benjamin batucou o volante e concordou com a cabeça.
— Tem razão. Vou conversar com Logan e logo você terá um
apartamento só seu, o que era para ter acontecido desde o início.
— Eu não quero isso também. Não vou aceitar um apartamento do
Logan e da minha irmã, Ben.
— Que tal um apartamento meu? Como presente de Natal adiantado?
Ele não podia estar falando sério, mas percebi que estava, sim.
— Eu nem vou te responder, Benjamin!
— Onde você vai morar, então? Se disser que vai ser em uma
república, eu juro por Deus que vou te dar uns tapas nessa bunda bonita,
Aubrey! 
As palavras saíram levemente por entre os seus dentes e aquilo não
deveria me deixar com a calcinha molhada, mas deixou, o que me fez
pensar se o que eu estava prestes a falar era mesmo uma boa ideia.
Resolvi ignorar o resto de bom senso que ainda existia em mim e
prossegui:
— Vou morar com você.
— Como é que é?
Eu só podia ter ouvido errado. Aquela era a única explicação.
Observei Aubrey tirar os cabelos dos ombros e dar para mim um
sorriso angelical que não combinava em nada com a verdadeira diaba que
ela era.
— Norah vai te dar as chaves da casa onde vocês moraram na época
da faculdade e eu sei que o lugar é gigante. Tem quantos quartos? Quatro?
Você não precisa de tanto espaço e eu estou sem lugar para morar, então,
podemos ficar juntos! Até o seu apartamento ficar pronto, eu já vou ter
arrumado um emprego e vou poder me sustentar sozinha. É o plano
perfeito, Ben!
O silêncio imperou dentro do carro depois que Aubrey terminou de
falar. Eu sabia que deveria dizer alguma coisa, mas estava sem palavras.
Não conseguia ter qualquer reação, apesar de os pensamentos estarem
correndo de um lado para o outro dentro do meu cérebro.
Aubrey e eu juntos e sozinhos a mais de três mil quilômetros de
distância de Logan, Avalon, James e Norah. Antes de Vegas, eu aceitaria
aquele plano maluco sem pensar duas vezes, mas agora que sabia como era
o gosto da sua boca — para não pensar em uma área mais proibida onde
havia metido a minha língua — e que me sentia um pouco desestabilizado
quando passávamos poucas horas juntos?
Porra, nem pensar!
Eu tomava decisões impulsivas quando era um moleque imaturo, mas
agora eu era um homem e, mesmo afirmando para mim mesmo que o que
acontecera em Vegas ficaria apenas em Vegas, eu não podia dar uma chance
tão grande para o azar.
— Essa é uma péssima ideia, Aubrey.
Eu odiei ver o sorriso sumindo aos poucos dos seus lábios e o brilho
em seus olhos se apagando.
Caralho, eu era mesmo um filho da puta.
— Por quê?
— Porque sim.
— Essa não é uma resposta aceitável, Ben.
— Claro que é.
— Não é, não. — O gênio rebelde de Aubrey deu o ar da graça e ela
ficou ainda mais bonita ao cruzar os braços e franzir o cenho com carinha
de brava. — Nós somos amigos e sempre nos demos muito bem juntos. Por
que morarmos um tempo sob o mesmo teto não daria certo?
Eu sabia a resposta, mas não tinha coragem de formulá-la nem para
mim mesmo dentro da minha cabeça. Falar em voz alta seria impossível,
por isso, apertei o volante e resolvi dar a resposta mais óbvia para poder
tirar aquela ideia absurda da mente de Aubrey.
— Logan jamais permitiria que morássemos juntos, Aubrey. Acho
que até mesmo sua irmã seria contra.
— Por quê?
— Você sabe o porquê. Minha fama com as mulheres não é nada boa
e Logan ainda tem trauma com o que aconteceu entre James e Norah.
— É sério que você acha que Logan vai pensar que você não vai
conseguir manter o pau dentro da calça apenas porque vamos morar juntos?
— Aubrey arqueou uma sobrancelha e ver aquela boquinha falar palavras
tão sujas realmente mexeu com aquela parte do meu corpo que ela havia
acabado de citar. — Você não é um ser irracional, Ben.
Mas o meu pau era, pelo visto. O filho da mãe se tornara totalmente
irracional pertode Aubrey depois daquela noite fatídica.
— É verdade, eu não sou, mas não sei se Logan vai pensar assim
quando ouvir essa sua ideia absurda.
— Não é uma ideia absurda! — Aubrey voltou a franzir as
sobrancelhas. — E não tem motivo para Logan pensar algo assim. Ele nem
imagina o que aconteceu entre nós dois naquela boate para poder temer
alguma coisa, Ben.
— Se ele soubesse o que aconteceu, nós nem estaríamos aqui tendo
essa conversa, princesa.
Aubrey revirou os olhos e soltou um suspiro alto demais.
— Como você é dramático. Não apenas você, mas Logan também. —
Ainda de braços cruzados, Aubrey virou o rosto em direção à janela ao lado
do seu banco e fechou rapidamente os olhos. Eu mal conseguia piscar,
querendo observar cada uma das suas reações. — Não acredito que vou ter
mesmo que passar um tempo na casa de Travis.
Um alerta se acendeu em minha cabeça quando percebi que eu
conhecia aquele nome de algum lugar.
— Na casa de quem?
— De Travis, namorado da Summer. — Aub voltou a me olhar. —
Você não acredita no que ela fez. Summer não aceitou o que as meninas
fizeram comigo e saiu da Delta também.
— Ela fez mesmo isso?
Se fosse verdade, Summer apenas provaria que era uma amiga
incrível para Aubrey.
— Sim, ela fez, mesmo eu pedindo para que reconsiderasse. Assim
que voei para cá, ela tirou todas as suas coisas e as minhas da fraternidade e
levou tudo para a casa de Travis. Disse que eu posso ficar com eles pelo
tempo que eu precisar. Eu não queria, não porque não gosto de Travis, mas
porque ele divide a casa com alguns amigos e não me sinto bem em
atrapalhar a rotina deles. Pensei em Maeve, mas ela não vai poder me
receber... Pelo visto, vou ter que aceitar a oferta de Summer até ter um lugar
para ficar.
Merda.
Ouvir o tom de pesar em sua voz acabou comigo. Por um lado, quis
pegar Aubrey pelos ombros, fazer com que olhasse em meus olhos e
entendesse que aceitar o apartamento que Logan e Avalon queriam dar para
ela não era nenhum crime, muito menos um gasto desnecessário. Meu
amigo era milionário e sua esposa construíra uma pequena fortuna nos
últimos anos quando conquistou o controle do principal escritório da
família Miller aqui na Califórnia. Aquele dinheiro não faria falta para eles.
No entanto, eu entendia Aubrey. Assim como eu, ela não nascera em
um berço de ouro, pelo contrário. Já passou dificuldade com a irmã,
principalmente depois da morte da mãe e enquanto ainda era doente, por
isso, não se sentia bem em aceitar um presente tão caro quanto um
apartamento. Aubrey era uma jovem mulher cheia de princípios e que tinha
o sonho de ter a sua própria autonomia sem depender de ninguém.
Como eu poderia ser egoísta e pensar apenas em mim quando ela
precisava da minha ajuda?
Quis me dar mais um soco, mas por um motivo diferente. Eu poderia
lidar com o que aconteceu entre nós dois naquela boate. Era um homem
adulto, minha vida já estava voltando ao normal, o que significava que o
tempo sem sexo estava com dias contados. Aubrey era linda e sensual pra
caralho, mas, acima de tudo, era minha amiga e alguém especial demais
para mim.
Eu não ultrapassaria qualquer limite com ela. Prometi que o que
acontecera naquela noite nunca mais iria se repetir e eu cumpriria com a
minha palavra.
— Você não vai ficar na casa de Travis, Aubrey. Nem casa de Maeve
ou de qualquer outra pessoa.
Aubrey me encarou levemente atônita.
— Mas você disse que...
— Eu sei o que eu disse, mas mudei de ideia. — Olhei em seus olhos
e falei com convicção: — Se eu for mesmo para o Alabama, você vai morar
comigo, princesa.
Alex leu atentamente o e-mail que recebi do comitê técnico do
Alabama Crimson Tide. Marquei com ele um almoço em minha casa,
alegando uma reunião de urgência e, após contar sobre a conversa que tive
com o treinador Coben, mostrei o convite que recebi naquela manhã de
segunda-feira.
— Eu nem preciso perguntar se você pensa em aceitar esse convite.
Se a sua resposta fosse não, nem teria marcado essa reunião comigo —
disse Alex enquanto me entregava o meu iPad. — E consigo ver em seus
olhos que parece animado com a ideia.
— Está tão óbvio assim?
— Eu te conheço muito bem, Benjamin, sei quando algo desperta o
seu interesse.
Como meu assessor, era seu dever ser atento a mim daquele jeito,
mas eu sabia que Alex estava falando para além da relação profissional que
existia entre nós dois.
— E o que você acha de tudo isso? — perguntei.
— Acho que se é algo que você quer fazer, deve aceitar. Sua agenda
profissional para os próximos meses está bem tranquila, podemos realocar
tudo para o Alabama, mas o principal é a sua recuperação. Você não pode
perder o foco, Ben.
— E eu não vou, pode ter certeza disso. Vou conversar com Philip
hoje mesmo e pedir que me indique um fisioterapeuta da sua confiança no
Alabama para que eu possa continuar com o tratamento.
— Ótimo. Você vai ficar com o seu pai ou vai morar no apartamento
que comprou há alguns meses?
— Nenhuma dessas opções. Vou morar na mesma casa onde passei
os quatro anos de faculdade. — Alex desviou os olhos do seu laptop, onde
ele digitava alguma coisa importante, e me encarou com uma sobrancelha
arqueada. — O que foi?
— Quer mesmo voltar às raízes ou é impressão minha?
Eu ri ao ouvir aquilo.
— Não é nada disso. Não quero atrapalhar o meu pai e o apartamento
ainda precisa de reformas para se tornar um lugar habitável. Enquanto isso
acontece, vou ficar nessa casa — respondi, mas ao me lembrar de tudo o
que vivi naquele lugar, complementei: — Mas confesso que há sim um
sentimento de nostalgia. Vai ser interessante passar um tempo naquele lugar
de novo.
Eu sabia que a casa permanecia igual, portanto, cada cômodo me
traria uma memória, mas, ao mesmo tempo, seria tudo diferente. A
possibilidade de morar com Aubrey nunca passou pela minha cabeça e, toda
vez que me lembrava da nossa conversa no carro, eu sentia um arrepio de
ansiedade e um frio estranho na barriga.
Nós dois sob o mesmo teto, sozinhos e distante de todos... Aquilo
daria certo? Eu só podia esperar que sim.
Como se sentisse que eu estava pensando nela, meu celular vibrou
sobre a mesa com uma mensagem de Aubrey. Enquanto Alex voltava a
digitar, provavelmente alterando toda a minha agenda, eu comecei a ler o
que me enviara:
Aubrey: Vamos conversar com Logan e minha irmã hoje?
Pelo visto ela estava mais ansiosa do que eu.
Eu: Boa tarde para você também, princesa.
Eu: Acabei de conversar agora com meu assessor e decidi que
vou aceitar o convite do Crimson, o que significa que você não vai
poder fugir de mim e terá que me aguentar pelos próximos meses. Para
a sua sorte, eu não tenho chulé e sou muito organizado. Em
compensação, sou capaz de queimar até mesmo a água. Vou pedir para
que Alex contrate um chef para cozinhar para nós dois.
Eu: E, respondendo a sua pergunta, sim, vamos encarar essas
duas feras hoje. Espero sair vivo da casa de Logan e com o meu pau no
lugar. Vai que ele queira arrancar o pobre coitado apenas para garantir
que ele não fique duro por você? Não posso dar qualquer brecha para o
seu cunhado ciumento.
Sorri ao enviar a mensagem e tirei os olhos do celular quando Alex
começou a falar:
— Você tem uma sessão de fotos para a marca de tênis esportivo
daqui a duas semanas. Acabei de enviar um e-mail para eles explicando a
sua mudança de endereço e solicitando que o ensaio seja feito no Alabama.
Preciso que me encaminhe o e-mail da comissão técnica do time para que
eu responda e marque uma reunião. Precisamos conversar com eles sobre o
anúncio dessa parceria de vocês para a imprensa. Pode ter certeza de que
receberemos uma chuva de convites para entrevistas e exclusivas com você,
Ben.
— Eu quero responder ao e-mail pessoalmente, mas vou te
encaminhar para que você passar marcar com eles a reunião. Sobre
exclusivas, você sabe que não tenho o menor interesse por isso, Alex.
Recusei assim que comecei o meu tratamento e vou recusar mais uma vez.
Faça uma nota, deixe claro que estou muito honrado com o convite e que
está sendo um prazer retornar para o time, e envie paraeles. Depois vou
fazer um vídeo e postar nas minhas redes sociais falando sobre a minha
volta para o Crimson.
Eu não gostava muito de dar entrevistas. No início da minha carreira,
era praticamente obrigado a ceder porque era um jogador novato, mas agora
fugia da imprensa sempre que possível. Respeitava muito cada profissional,
mas me sentar em frente a uma câmera e ser entrevistado era algo que eu
evitava sempre que possível.
— Está bem, farei isso. — Ele digitou mais um pouco e fechou o
laptop. — Acho que encerramos por aqui. Não esqueça de me encaminhar o
e-mail do time e vamos conversando ao longo da semana sobre a sua
agenda. Quando quer fazer a mudança oficialmente?
— O mais rápido possível, talvez ainda neste final de semana.
Alex, que estava prestes a se levantar da cadeira, me olhou com
curiosidade.
— Por que tão rápido? Achei que o time daria a você algumas
semanas para se preparar.
E daria, como era de praxe, mas não era por causa do time que eu
tinha pressa. Não queria que Aubrey passasse nem uma noite na casa do
namorado da amiga, já que era algo que não a deixava confortável. Quanto
antes eu partisse para o Alabama, mais rápido ela estaria acomodada.
— Quero ter tempo para ajeitar tudo na casa antes de me apresentar
ao time — respondi.
Alex não precisava saber, ainda, que eu não moraria sozinho como de
costume. Ele aceitou bem a minha resposta e se despediu de mim. Sozinho
novamente, levei nossos pratos sujos para a cozinha e senti o meu celular
vibrar no bolso da minha bermuda enquanto colocava tudo na máquina de
lavar louças.
Aubrey: Desculpa a minha falta de educação, Ben. Boa tarde,
dormiu bem? Espero que sim.
Na verdade, eu dormi mal pra caramba após passar boa parte da noite
rolando na cama, com a cabeça tumultuada pela conversa que tive com ela
em meu carro e o fato de que moraríamos juntos por tempo indeterminado.
Voltei a ler a sua mensagem.
Aubrey: Você vai mesmo aceitar? Isso é incrível, Ben! Estou
muito feliz e nem é pelo fato de que agora tenho um teto sobre a minha
cabeça, mas, sim, porque sei como vai ser importante para você! Eu
não sou tão organizada quanto gostaria, mas posso compensar
cozinhando. Esqueça essa história de contratar uma chef de cozinha.
Aubrey: Sobre o seu pau, não acho que Logan seria tão radical,
talvez ele compre apenas um cinto de castidade. Acho que isso deve
bastar. Que horas você chega?
Só Aubrey era capaz de me fazer rir com a possibilidade de usar a
porra de um cinto de castidade. Respondi que eu ia pensar sobre aquela
história de ela cozinhar para nós dois todos os dias e avisei que passaria na
casa de Logan no final da tarde. Avalon e Aurora receberam alta naquela
manhã e eu não queria atrapalhar o descanso das duas durante a tarde.
Tentei não ficar tão tenso ao pensar na conversa que teria com o meu
melhor amigo e a sua esposa e fui atender o meu fisioterapeuta que acabara
de chegar.
Aurora dormiu aconchegada em meu colo depois de mais uma
mamada. Foi a minha primeira vez colocando um bebê para arrotar e eu
achei a experiência incrível — apesar do medo de ela golfar e me deixar
com cheiro de leite azedo, o que não aconteceu. Agora a neném mais linda
do mundo estava apagada em meu colo, com as bochechas gordinhas e o
semblante de quem não tinha nenhuma preocupação ou contas para pagar.
— Que inveja — sussurrei para ela enquanto passava o dedo pela
penugem ruiva em sua cabeça. — Eu também queria estar tranquila assim,
mas a verdade é que a dinda está se cagando de medo de seus pais
encrencarem com a ideia que tive sobre morar com Benjamin. Não vai
acontecer nada entre nós dois, isso nem mesmo é uma possibilidade. Eu me
sinto um pouco atraída por ele? Sim, eu me sinto... Não conte para
ninguém, por favor — pedi para a bebê como se ela pudesse simplesmente
abrir a boca e falar. — Eu não me sentia, mas isso mudou depois daquela
noite... Que noite? Não posso falar, você não tem idade para ouvir os
detalhes. Mas o que importa é que isso não vai influenciar a nossa relação.
Meses se passaram e nada mudou entre nós dois. Por que mudaria agora
que vamos passar um tempo juntos?
Aurora apenas continuou a dormir e eu resolvi me calar antes que
Avalon ou Logan aparecessem de repente. Minha irmã aproveitou a soneca
da filha para tomar um banho e Logan precisou ir ao escritório para dar um
telefonema importante. Eu poderia colocar Aurora no carrinho que estava
ao lado do sofá, mas queria aproveitar cada minuto com ela, principalmente
porque sabia que precisaria ir embora em breve. Meu peito se apertava de
saudade só de pensar nisso.
O barulho de passos vindo do hall da casa me tirou dos meus
pensamentos e ergui os olhos a tempo de ver Benjamin entrando na sala
acompanhado por Grace, governanta da casa, que provavelmente o
recebera. Ela pediu licença e nos deixou a sós, sem fazer a menor ideia de
que meu coração estava acelerado no peito apenas por estar na presença do
jogador. Por qual motivo aquilo continuava a acontecer eu não fazia ideia,
mas com certeza a reação inapropriada passaria em algum momento quando
eu estivesse morando com Ben e acostumada a vê-lo todos os dias.
Ele me deu um sorriso lindo ao se sentar ao meu lado no sofá com os
seus olhos passeando entre mim e Aurora em meu colo.
— Vocês ficam lindas juntas. — Ben se esticou e deixou um beijo em
meu rosto antes de deixar outro na cabeça de Aurora, que nem se mexeu. —
Acabei de conhecer a única garota que fica indiferente aos meus encantos.
— Com certeza você deve estar falando de mim e não de Aurora.
Benjamin me encarou com as sobrancelhas arqueadas, ainda perto de
mais do meu rosto.
— Estou falando sobre a única que está dormindo como um anjo. —
Ben tocou o meu queixo com delicadeza, mas meu cérebro sempre levava
tudo ao extremo quando o assunto era ele e minha pele ficou toda arrepiada.
— E você está longe de ser um anjo, princesa.
— Essa é a maior mentira que eu já ouvi, Benjamin.
— Eu duvido muito disso. — Benjamin me deu um sorriso cafajeste
e se afastou, recostando-se no sofá e cruzando os braços fortes. — Onde
estão Logan e Avalon?
— Logan está no escritório e Ava está no banho.
— Ótimo, isso nos dá tempo para esclarecer alguns pontos. — Ele
ficou mais sério. — Já contou para os dois que você foi expulsa da
fraternidade?
— Então... Eu não vou contar.
Benjamin franziu o cenho e me deu um olhar confuso.
— Como assim não vai contar?
— É isso mesmo, não vou contar — falei em voz baixa. — Não
quero que minha irmã fique estressada justo agora, Ben. Pode ser perigoso
para ela e eu conheço muito bem a Avalon, ela não vai ficar em paz se eu
falar o que aconteceu.
— Entendi... Você tem razão. — Benjamin coçou o queixo, passando
a ponta dos dedos pela barba rente. Meus olhos ficaram presos naquela ação
e minha mente me fez o favor de me lembrar de como era a sensação da
barba dele em meu pescoço. — E o que dirá para eles dois então?
Precisei desviar o olhar para poder focar novamente em nossa
conversa.
— Vou dizer que me desentendi com a presidente da fraternidade e
que preferi me mudar.
— Acha que eles vão acreditar nisso?
— Por que não acreditariam? Nunca dei motivos para que
desconfiassem de mim — falar aquilo em voz alta me deixou ainda mais
culpada, porque agora eu estava dando motivos para que Ava e Logan não
acreditassem mais em minha palavra. Tentei tirar um pouco o peso da
minha consciência ao afirmar: — Mas eu vou contar a verdade para eles
assim que Avalon se recuperar do parto.
— Tudo bem. — Benjamin apertou levemente o meu joelho. —
Vamos torcer para que dê certo então.
Concordei com a cabeça e vi Avalon descendo as escadas que levava
ao segundo pavimento da casa. Ela sorriu assim que viu Benjamin, que se
levantou para poder cumprimentá-la. Como se estivesse sincronizado com a
esposa, Logan surgiu do corredor que levava ao escritório e eu fiquei um
pouco mais nervosa ao ver todos juntos.
Senti meus músculos levemente trêmulos e resolvi colocar Aurora no
berço, que fez uma careta de leve quando a deitei, mas não despertou.
Grace deixousobre a mesinha uma bandeja com sucos e sanduíches depois
de todos se sentarem e eu agradeci internamente quando Benjamin começou
a contar para Logan e Avalon sobre o convite do Crimson Tide. Pela forma
como me olhou antes de iniciar o assunto, Ben sabia que eu precisava de
um tempinho para poder me preparar para aquela conversa.
Meu cunhado e minha irmã ficaram muito felizes por Ben, como eu
sempre soube que aconteceria, e deixaram claro que ele tinha feito bem em
aceitar o convite.
— Isso quer dizer que você vai se mudar para o Alabama — refletiu
Logan.
— Sim. Seria inviável ficar indo e vindo. Eu moraria no aeroporto.
— Isso me deixa mais tranquilo, assim Aubrey terá alguém de
confiança por perto, caso precise de alguma ajuda. — As palavras de Logan
me surpreenderam e me deixaram cheia de esperança.
— Verdade, não tinha pensado por esse lado — minha irmã
concordou.
— Vocês sabem que eu não preciso de babá, não é? — perguntei em
tom de brincadeira e Benjamin riu ao meu lado.
— Princesa, eu estou bem longe de ser uma babá, mas cuidarei de
você mesmo assim.
— Vai cuidar mesmo, até porque, eu vou morar com você.
A sala caiu em um silêncio repentino e senti os olhos de todos eles
sobre mim. Benjamin me encarava como se estivesse tentando entender o
porquê de eu ter jogado a notícia daquele jeito, coisa que eu não saberia
explicar, e Avalon soltou uma risada confusa.
— Como assim vai morar com Benjamin?
Resolvi arrancar o Band-Aid de uma vez por todas.
— Eu me desentendi com a presidente da Delta Gamma Nu e decidi
que não quero mais morar na fraternidade.
— Se desentendeu? Como assim? Explique isso direito, Aub —
Logan pediu. — A garota fez algo contra você?
Senti Benjamin ficar rígido ao meu lado e vi de soslaio sua
mandíbula tensa. Ele provavelmente estava se segurando para não falar a
verdade para Logan e Avalon.
— Ela não fez nada contra mim diretamente — menti e Benjamin
cruzou os braços. Se saísse vapor pelas suas orelhas, eu nem iria me
surpreender. — Mas implica muito com tudo o que eu faço na casa. Eu não
me sinto mais à vontade lá, por isso preferi sair.
— E quando foi que você decidiu isso, Aubrey? Por que não me
contou? — perguntou minha irmã.
— Porque a briga que Ashley e eu tivemos aconteceu no dia em que
a Aurora nasceu, Ava. Eu não ia te encher com os meus problemas no dia
mais importante da sua vida. — Minha irmã pareceu entender, mas pude ver
que ainda estava consternada por eu não ter dito nada antes. — Fique
tranquila porque não dormi na rua nem nada do tipo. Só aconteceu tudo
muito rápido. Pedi para que Summer tirasse minhas coisas de lá no sábado e
levasse tudo para a casa do namorado dela.
— Para a casa do namorado dela? O que isso significa? Que você vai
morar com ele? — Avalon soltou uma pergunta atrás da outra.
— Claro que ela não vai morar com ele, não tem necessidade alguma
disso — afirmou Logan.
— Não tem mesmo, porque, como Aubrey falou, ela vai morar
comigo. — A sala caiu no silêncio novamente e agora Avalon e Logan, que
estavam sentados no sofá de frente onde Ben e eu estávamos, olhavam
diretamente para o jogador ao meu lado. — Vocês já sabem que vou ficar na
casa onde moramos na época da faculdade e lá tem espaço suficiente para
Aubrey e eu.
— Exatamente! — falei antes que pudessem contestar. — Eu
continuo com a mesma posição de antes, não quero que me deem um
apartamento, portanto, nem iniciem esse assunto. — Logan, que estava
prestes a falar alguma coisa, fechou a boca. — Eu ficarei com Benjamin só
por um tempo. Depois que arrumar um emprego e tiver grana suficiente
para me manter sozinha, vou me mudar.
— Ou talvez eu me mude antes, caso meu apartamento fique pronto
— disse Benjamin.
Nós finalmente nos calamos e vimos Logan e Avalon trocarem um
olhar longo demais. Senti minhas mãos ficarem suadas e as sequei
discretamente em meu short jeans. Queria muito saber o que eles estavam
pensando.
— Parece que vocês já têm tudo planejado — disse minha irmã ao
me dar o seu melhor olhar de advogada. Era como se ela pudesse ver tudo
dentro de mim como se fosse um Raio-X.
— Nós conversamos bastante nos últimos dias — afirmei sem
demonstrar o receio que sentia.
— Percebi isso, mas não sei se é uma boa ideia — disse Logan e
Benjamin o encarou com as sobrancelhas erguidas.
— Por que não? Você mesmo disse que ficaria mais tranquilo ao
saber que eu estaria perto da Aubrey.
— Perto, mas não morando sozinho na mesma casa! — A voz de
Logan saiu grave.
— O que quer dizer, Logan? Que confia em mim só até certo ponto e
não em tudo?
Logan se calou e vi que pareceu arrependido por ter deixado aquela
suspeita no ar. Meu peito ficou apertado e dividido. Logan não tinha
motivos para desconfiar de Benjamin, mas, ao mesmo tempo, o que
aconteceu naquele dark room era uma lembrança constante de como algo
entre nós dois poderia, sim, ir por um outro caminho.
Você pensou que Benjamin era outra pessoa, Aubrey, assim como ele
acreditou no mesmo. Não se esqueça disso!
Em circunstâncias normais, aquela noite nunca teria acontecido.
— É claro que confio em você, Ben! Porra, eu te amo como um
irmão! Mas, depois do que aconteceu com o James e a Norah...
— James e Norah se amavam desde sempre, Logan — falei,
chamando a atenção dos três. — O que há entre mim e Ben é só amizade.
Logan passou os dedos pelos cabelos e resmungou:
— Acho que preciso de uma bebida.
— Ótimo, eu também preciso. Vou com você — disse Benjamim e
saber que ele não ficou chateado com Logan me deixou mais aliviada.
Logan deixou um beijo em Avalon e se levantou. Havia um bar
completo em sua sala de jogos e os dois se encaminharam para lá. Assim
que ficamos sozinhas, Ava se sentou ao meu lado e segurou as minhas
mãos.
— Você tem certeza de que quer mesmo morar com Benjamin,
Aubrey?
— Sim, eu tenho. Se não tivesse, nem pensaria nessa possibilidade,
Ava.
— Eu confio em você, Aub, não quero que pense o contrário, tudo
bem? — Eu apenas concordei com a cabeça, porque ouvir aquilo me deixou
um pouco mais culpada do que antes. — Sei que você e Benjamin são
amigos e que nutrem muito carinho um pelo outro, mas precisa ter em
mente que morar junto com ele pode fazer com que ambos confundam o
que sentem, entende o que quero dizer?
— Claro que entendo, mas isso não vai acontecer, Ava. Você conhece
o Ben, ele foge de relacionamentos, e eu também não tenho a menor
pretensão de namorar ninguém agora. — Apertei a sua mão de volta. — Eu
sou adulta e sei o que estou fazendo, irmã. Pode ficar tranquila.
— Ficar tranquila? — Avalon riu e percebi que estava sentindo graça
mesmo, não era uma risada sarcástica. — Você está a quilômetros de
distância de mim, eu acabei de me tornar mãe e agora descubro que vai
morar sozinha com Benjamin. Como quer que eu fique tranquila?
— Você acabou de dizer que confia em mim.
— E eu confio, Aub, mas sei que o nosso coração não segue regras e
nem é racional. Eu acreditei fielmente que namorar de mentira com Logan
não me afetaria e olha onde estou agora. — Ela olhou para a aliança em seu
dedo e depois para Aurora, que ainda dormia. — O que quero dizer com
tudo isso, é que você pode ser maior de idade, madura e independente, mas
não terá controle sobre tudo. Tenho medo de que se machuque.
Eu entendia minha irmã. Ela teve a sorte de se apaixonar por um
homem incrível como Logan, mas, e se ele fosse mais um idiota em sua
vida? Eu tinha uma resposta para aquela pergunta.
— Benjamin jamais me machucaria, Ava.
— Não propositalmente — disse ela. — Disso eu tenho certeza.
— Então, não precisa temer. Meu coração vai ficar intacto. E se
algum dia um idiota ousar machucá-lo, eu faço pior com ele.
Fiquei feliz ao ouvir a risada sincera da minha irmã. Ela me puxou
para um abraço muito forte e me senti acolhida imediatamente.
— Sabe que pode contar comigo para tudo, não sabe? Acima de
qualquer coisa, eu sempre serei sua melhor amiga. Então, se precisar de
ajuda ou conselho, não hesite em me ligar. Eu não vou te julgar, Aubrey,
não importa o que aconteça.
Suas palavras pareceram quasecomo um presságio e eu as guardei no
fundo do meu peito, pois sabia que sempre poderia contar com a minha
irmã para tudo.
A alegria na voz do meu pai ao saber que eu voltaria para o Alabama
foi substituída pela surpresa assim que contei que Aubrey moraria comigo.
Ele demorou alguns segundos para me responder após saber da novidade,
mas senti a mudança em seu tom quando perguntou:
— Tem certeza de que é uma boa ideia, filho?
Aparentemente, todo mundo tinha aquela dúvida. O mesmo
aconteceu com James assim que contei tudo a ele. Norah foi a única que
pareceu não pensar em um suposto lado negativo e disse que daria tudo
certo porque, segundo ela, Aubrey e eu combinávamos em tudo.
— Por que não seria, pai? — perguntei, apesar de eu ter respondido
de pronto para Aubrey que aquela era uma péssima ideia. — Aubrey e eu
somos amigos.
— Não duvido da amizade de vocês, pelo contrário. Sei como gostam
um do outro e como a menina é encantada por você. Minha preocupação
não é essa.
— Com o que o senhor está preocupado?
— Estou preocupado que situações como a daquela noite em seu
apartamento voltem a se repetir.
— Do que está falando, pai?
— De vocês dois dormindo juntos, Ben.
Foi a minha vez de ficar em silêncio quando a lembrança de Aubrey
dormindo sobre o meu peito voltou à minha mente. Sacudi a cabeça para
espantar aquela imagem e a sensação que me causava.
— Cada um de nós terá o seu quarto, pai. Aquilo não vai se repetir.
Pude ouvir o seu suspiro do outro lado da linha.
— Se você acredita mesmo nisso, então, não direi mais nada. Estou
ansioso para que chegue logo, filho. Vai ser bom ter você por perto mais
uma vez.
Nós conversamos mais um pouco e, assim que encerramos a ligação,
fiquei um tempo com as suas palavras em minha cabeça. Logo percebi que
meu pai estava olhando aquela situação por um outro ângulo. Não
aconteceu nada entre mim e Aubrey naquela noite, nós apenas pegamos no
sono juntos enquanto assistíamos um filme, mas Robert Ryan podia ser bem
dramático quando queria.
Resolvi ignorar aquilo e foquei nos preparativos para a minha
mudança.
Os dias passaram rapidamente e, como Aubrey precisava ir para o
Alabama o mais rápido possível, pois não podia perder mais aulas e
ensaios, ela foi embora antes de mim e levou consigo as chaves da casa.
Assim que chegou, me enviou uma foto na sala, no mesmo sofá onde dormi
várias vezes depois de chegar bêbado de festas de fraternidade, e senti uma
nostalgia daquela época da minha vida.
Eu curti tudo o que a faculdade poderia oferecer para alguém. Levei a
sério os estudos e me formei com honras em Física — sempre fui um
amante das exatas —, aproveitei toda festa que podia, foquei totalmente no
futebol. Foram anos maravilhosos, onde senti a minha vida mudar
completamente e percebi que, se não fosse pela bolsa que ganhei através do
esporte e o apoio incondicional do meu pai para que eu ingressasse na
faculdade, eu teria me perdido.
Voltar para aquela casa faria com que eu me reconectasse comigo
mesmo.
Terminei de fechar a última mala e observei meu apartamento mais
uma vez. Meu voo era na manhã seguinte e eu passaria meses sem entrar
naquele lugar que se tornara meu lar nos últimos anos. Sentiria falta do
clima quente da Califórnia, das praias e da vista da Golden Gate.
O barulho da campainha soando pelo apartamento me fez sair de
perto da parede de vidro e ir em direção à porta. Não estava esperando por
nenhuma visita naquela hora da noite, mas não foi exatamente uma surpresa
ver que era Logan através do olho mágico. Algo me diria que ele me faria
uma última visita, mesmo que tenhamos almoçado juntos em sua casa na
companhia de James e Norah. Fiquei emocionado em saber que se juntaram
para se despedirem de mim.
Foi um momento incrível entre os meus amigos, apesar de, às vezes,
eu pegar os olhos de Avalon sobre mim. Não fazia ideia do que passava
pela cabeça dela, mas acreditava que o fato de não ter sido mais incisiva
sobre a decisão da sua irmã de morar comigo, mostrava que ela confiava em
mim para estar tão perto de Aubrey.
Abri a porta e Logan me deu um abraço após entrar em meu
apartamento. Um assobio saiu da sua boca ao ver tantas malas espalhadas
pela minha sala.
— Você arrumou tudo isso sozinho?
— Não conseguiria nem se tentasse muito. Alex contratou uma
equipe para arrumar a maior parte das minhas coisas, eu fiquei responsável
apenas por fechar a mala com os meus itens pessoais. Terminei quase agora,
inclusive.
— Ainda não acredito que isso está mesmo acontecendo. — Logan
me deu um sorriso incrédulo. — Você vai voltar para a nossa casa, Ben!
Isso é incrível.
— Quando paro para pensar, tenho essa mesma sensação. É claro
que, se eu pudesse escolher, estaria com vocês treinando para a próxima
temporada e me dedicando ao máximo, mas confesso que estou feliz por
poder passar os próximos meses com o time que me ajudou a chegar aonde
estou hoje.
— E você vai fazer a diferença assim que chegar lá, Ben. — A
certeza nos olhos de Logan me encheu de confiança. — Mas não foi apenas
sobre isso que vim falar com você.
— Eu imaginei que não. — Fui em direção à cozinha, que era em
conceito aberto, e senti Logan me seguir. — Quer uma cerveja?
— Sim, mas não posso demorar muito, porque Avalon está sozinha
com Aurora. Minha filha parece perceber quando chega a hora de dormir e
é nesse momento que ela quer ficar agitada e resolve chorar de uma em uma
hora para mamar.
Aproximei-me da bancada da cozinha e dei uma long neck para
Logan. Nós brindamos e eu comentei com uma risada logo após dar o
primeiro gole na bebida gelada.
— Aurora está certa. Vocês são os pais dela, quem mais ela poderia
perturbar?
— Você? — Ele apontou para mim com a cerveja. — Não disse que
seria o padrinho favorito dela?
— E serei... Quando ela começar a falar, andar e puder comer sorvete
escondida dos pais.
— Você será uma ótima influência — ironizou.
— É claro que serei! Ainda duvida disso?
Logan soltou uma risada curta, mas logo me deu um olhar mais sério.
Preparei-me para a pedrada que jogaria em mim.
— Quero pedir desculpas para você.
Parei com a cerveja a caminho da boca. Eu esperava ouvir tudo,
menos aquilo.
— Me pedir desculpas? Por quê?
— Por ter dado a entender que não confio em você com relação a
Aubrey.
Porra!
Eu não merecia ouvir aquilo de Logan. Não merecia mesmo.
— Esqueça isso, Logan, como falei com você naquele dia na sua sala
de jogos, eu não fiquei chateado — falei, lembrando da conversa que
tivemos quando Aubrey e eu contamos que moraríamos juntos.
A preocupação de Logan era compreensível, por isso realmente não
fiquei aborrecido com o que disse. Não esperava que ele viesse ao meu
apartamento para bater naquela tecla mais uma vez.
— Mas eu fiquei irritado comigo mesmo e senti que precisava vir
aqui falar com você uma última vez. Eu amo Aubrey assim como amo
Norah, você sabe como ela é importante para mim, Ben, por isso tive aquela
reação idiota.
— Não foi uma reação idiota, em seu lugar, acho que faria o mesmo.
Eu sei o quanto você se importa e se preocupa com a Aubrey, Logan, e
preciso que saiba que eu jamais a machucaria de alguma forma ou agiria de
modo errado com ela.
— Eu não duvido disso, Ben — disse ele com os olhos levemente
arregalados.
— Sei que não, mas preciso reafirmar, principalmente porque eu me
importo muito com a Aubrey. Eu a amo, Logan, a considero como uma
amiga. Machucá-la seria o mesmo que machucar você ou James.
— Sei que você a ama e que cuidará dela, Ben. Só peço uma coisa.
— O quê?
— Tenha muita certeza do que sente por ela antes de tomar qualquer
atitude que um amigo não tomaria. — Seus olhos ficaram bem sérios ao
focarem nos meus. — Não quero ter que quebrar a sua cara, caso você se
confunda.
O jatinho pousou no aeroporto em Tuscaloosa às onze horas da
manhã de um domingo levemente ensolarado. O outono já estava dando as
caras e senti a mudança de temperatura assim que desci do avião fretado.
Uma equipe contratada por Alex já estava me esperando no aeroporto para
poder transportar as minhas bagagens e um carroparticular me levaria para
casa. Sairia naquela semana a notícia de que eu estava de volta ao time,
agora como técnico auxiliar, e eu me sentia empolgado para começar a
trabalhar.
Desde que me mudei para a Califórnia, nunca mais fiz o caminho
para a antiga casa onde morei na época da faculdade, portanto, pude notar
algumas mudanças no bairro e nas casas vizinhas. Era um lugar tranquilo,
basicamente formado por universitários, o que significava que, em alguns
finais de semana, era possível ouvir o barulho da música alta e sentir o
cheiro de maconha no ar quando rolava alguma festa.
O Benjamin de vinte anos amava aquilo, eu não sabia como o
Benjamin de quase trinta reagiria, apesar de eu curtir a noite em boates e
festas privadas antes da lesão.
Assim que o carro parou em frente à antiga mansão onde morei com
meus dois melhores amigos por quatro anos, percebi que nada, de fato,
havia mudado. A fachada continuava a mesma, a grama na calçada
continuava bem-cuidada e, se eu fechasse os olhos, quase conseguia ouvir a
risada de Logan, alguma discussão idiota de James e Norah por causa de
jogo de videogame ou o barulho das festas que nós costumávamos dar após
uma vitória do Crimson Tide.
Onde a festa acontecia agora? Perguntaria para Aubrey depois, apesar
de saber que o clima entre o time e os torcedores deveria estar péssimo após
mais uma derrota do Crimson na noite anterior. Soltei um suspiro enquanto
descia do carro. Eu teria muito trabalho pela frente com aquele time.
A porta da casa se abriu e Aubrey saiu correndo usando apenas um
pijama rosa minúsculo, quase me fazendo ter uma parada cardíaca. Ela
soltou uma risada de felicidade e se jogou em meus braços, tirando todo o
ar do meu peito — não por causa do impacto do seu corpo com o meu, mas
simplesmente por ser ela. E por estar vestida daquele jeito enquanto pelo
menos seis homens tiravam minhas malas da van executiva atrás de mim e
colocavam tudo na calçada.
— Até que enfim você chegou! Não aguentava mais ouvir apenas o
som da minha própria voz ecoando nas paredes! — Ela se afastou apenas
um pouco, mantendo as mãos em meus ombros enquanto ficava na ponta
dos pés. — Fez um bom voo?
Era mesmo com aquilo que ela estava preocupada?
— Aubrey, você está praticamente seminua!
Minha voz saiu com mais irritação do que eu esperava e Aubrey
tentou se afastar de mim para olhar para si mesma, mas não deixei e puxei o
seu corpo para mais perto. Um dos funcionários que acabara de colocar a
última mala na calçada desviou rapidamente o olhar da bunda dela quando
eu ergui a cabeça em sua direção.
Filho da puta!
— Desculpa, fiquei entusiasmada quando ouvi o barulho do carro
estacionando e esqueci que estava de pijama. — Aub me deu um sorriso de
quem sentia muito e se esticou para deixar um beijo na minha bochecha. —
Vou correndo me trocar!
A danada escapou dos meus braços com a leveza de uma pluma e
saiu correndo para dentro da casa. Queria dizer que fiquei aliviado, mas a
verdade era que eu mal consegui tirar os olhos da bunda dela dentro daquele
short curto e apertado, o que me deixou aflito.
Eu nem havia entrado na casa ainda e já estava praticamente suando
frio por vê-la rapidamente de pijama. Onde mesmo eu estava com a cabeça
quando aceitei aquela ideia maluca de Aubrey para que morássemos juntos?
— Senhor, podemos entrar com as malas? — perguntou o chefe da
equipe.
Fiquei com medo de que Aubrey ainda estivesse na sala e pedi para
que esperassem do lado de fora. Assim que encontrei o cômodo vazio,
permiti que entrassem e os guiei até o andar de cima, onde ficava o meu
antigo quarto. O lugar parecia igual. As paredes ainda tinham o mesmo tom
azul, a cama continuava no mesmo lugar, mas as prateleiras onde eu
deixava meus prêmios estavam vazias e, agora, se tornaram pequenas para
tudo o que conquistei ao longo dos anos.
Faltava uma TV e eu precisaria comprar uma mesa para colocar meu
laptop, mas aquilo eu arrumaria depois. Os funcionários deixaram minhas
malas perto do closet e dei uma gorjeta para cada um — até mesmo para o
infeliz que ficou secando a bunda de Aubrey — antes voltarmos ao
primeiro pavimento. Aubrey já estava à nossa espera, dessa vez, usando um
vestido que parava no meio das coxas e que parecia ter sobre mim o mesmo
efeito do pijama rosa.
Ela acenou para os funcionários e fechou a porta assim que eles
saíram. Seu sorriso entusiasmado acabou com o aborrecimento idiota que
eu ainda sentia.
— Fiz um café da manhã especial para gente! — Aub me puxou pela
mão em direção à cozinha e encontrei sobre a ilha um café da manhã
completo, com direito a panquecas e cookies. — Só estava esperando você
para poder comer.
— Princesa... — Apesar do choque, eu não conseguia parar de sorrir.
— Que horas você acordou para preparar tudo isso?
— Não foi tão cedo assim — disse ela ao se afastar e pegar um
cookie antes de voltar em minha direção. — O Crimson perdeu ontem de
novo, portanto, não teve qualquer festa de comemoração. Vim direto para
casa e acabei dormindo cedo, por isso acordei com tanta disposição. E
pensei que você provavelmente chegaria faminto. Prove!
Teve serviço de bordo durante o voo particular, mas não quis falar
aquilo e deixá-la chateada. Além do mais, eu realmente estava com fome e
jamais faria uma desfeita como aquela para Aubrey. Peguei o cookie da sua
mão e dei uma mordida, soltando um gemido ao perceber que estava no
ponto perfeito, levemente crocante por fora e macio por dentro.
— E então? Aprovado?
— Está uma delícia, princesa. Um dos melhores cookies que já comi
e não estou mentindo para te agradar. — Dei mais uma mordida e olhei para
a ilha. — Vou ficar mal-acostumado, Aubrey.
— Ah, mas não vai mesmo. Acha que vou fazer um café da manhã
como esse todos os dias?
— Você disse que eu não precisaria contratar uma chef, pois iria
cozinhar.
— E eu vou, mas esse aqui é um café da manhã especial, o que
significa que é uma exceção, bobinho. — Aubrey apertou levemente a
minha bochecha antes de voltar a me pegar pela mão.
— Então isso aqui é uma propaganda enganosa — concluí ao me
sentar ao seu lado em frente à ilha. — Estou repensando se vai valer a pena
essa história de morarmos juntos.
— É claro que vai. Você terá o privilégio de ter a minha companhia.
O que mais poderia querer?
O que mais eu poderia querer? Olhei para Aubrey enquanto ela
colocava ovos e bacons em seu prato e sorri, me esquecendo do episódio na
calçada e de como me senti quando flagrei aquele babaca olhando para a
sua bunda.
Eu não queria mais nada.
— Como foi a sua primeira noite morando com o gostoso —
Summer sussurrou a palavra “gostoso” — do Benjamin? Dormiu sozinha
ou no quarto com ele, sua danadinha?
Summer era, com certeza, a pessoa mais entusiasmada com a minha
nova realidade. Eu realmente acreditava que ela estava mais feliz do que eu
mesma. Assim que contei que moraria com Benjamin, Summer passou a
criar cenários apocalípticos em sua cabeça, onde um romance digno de um
livro aconteceria entre mim e o jogador.
Eu apenas ria das besteiras que dizia, mas agora estava começando a
ficar preocupada com o que aquela mente maluca dela estava criando.
— Por que eu dormiria com Benjamin se aquela casa tem mais três
quartos desocupados, Summer?
— Por que ele é um gostoso? — Sua pergunta era real e eu soltei
uma risada incrédula. — Fala sério, Aubrey, você não é cega!
— Claro que eu não sou cega e, sim, Benjamin é gostoso, mas ele é
apenas meu amigo — falei enquanto entrávamos na sala para a nossa
primeira aula. — Não vai acontecer nada entre nós dois, Summer.
Ela se jogou na cadeira e soltou o ar pela boca com uma expressão
frustrada.
— Isso é um absurdo, sabia? Vocês dois são solteiros e estão
morando juntos! Não é possível que não role um clima!
Tirei o meu iPad da bolsa com cuidado e liguei o aparelho para poder
acessar a matéria. Enquanto Summer fazia o mesmo ao meu lado, deixei
que as memórias do dia anterior voltassem à minha mente.
Eu estava ansiosa demais para que Benjamin chegasse em casa, mas,
logo após o nosso café da manhãjuntos, chegou uma equipe composta por
duas mulheres e um homem para desarrumar as quinhentas malas dele e
colocar tudo em seu lugar. Pensei que faríamos aquilo juntos, pois eu não
me importaria de ajudar, mas levei um balde de água fria. Tudo piorou
quando Benjamin disse que ia passar a tarde com o pai logo após os
funcionários irem embora, e que voltaria apenas à noite.
Ele me convidou para o acompanhar, mas achei melhor ficar em casa,
pois não queria atrapalhar aquele momento entre pai e filho. Sabia que eles
não se viam há algumas semanas e que provavelmente queriam ficar a sós.
Quando Benjamin chegou, eu já estava pronta para dormir, e assim que
acordei, encontrei um recado dele na geladeira, avisando que precisou sair
bem cedo, pois tinha uma reunião com o comitê do time.
Ou seja, estávamos morando juntos, mas mal passamos um tempo
juntos de verdade, e aquilo estava me frustrando mais do que eu gostaria de
admitir.
— Não está rolando clima nenhum — respondi a Summer depois de
arrumar tudo sobre a carteira. — E nem vai rolar. Tire essas besteiras da sua
cabeça, amiga.
— Farei o possível, mas não me culpe. Vocês ficam lindos juntos e
tenho certeza de que dariam muito certo como um casal... — Eu apenas
olhei para Summer e ela ergueu as duas mãos. — Ok, não está mais aqui
quem falou.
— Ótimo. Vamos encerrar esse assunto, senhorita romântica. Esse
namoro com Travis não está fazendo nada bem à sua saúde mental.
— É o contrário! Essa semana foi tão perfeita, Aub! — Summer
suspirou ao meu lado como uma verdadeira apaixonada. — Fiquei me
perguntando por que demorei tanto para aceitar morar com ele.
— Sabia que você estava usando a minha expulsão da Delta apenas
como um pretexto — brinquei, mas Summer foi rápida em negar.
— Nunca, amiga! Eu saí de lá porque não aceitei o que fizeram com
você. Faria isso até mesmo se Travis não tivesse me feito o convite. Claro
que não seria tão rápido, porque eu precisaria arrumar um outro lugar para
ficar, mas eu não continuaria a morar com elas.
— Ei, eu sei disso, Summer, estava apenas brincando. — Toquei em
sua mão rapidamente para confortá-la. — E sou muito grata por ter me
defendido dessa maneira, mesmo arriscando o clima entre você e as
meninas.
— O clima entre mim e elas ficaria horrível de qualquer forma, Aub,
porque eu não apoio o que fizeram com você. Mesmo se continuasse na
fraternidade, ficaria sem olhar na cara daquelas idiotas. O que aconteceu
com você poderia ter acontecido com qualquer uma de nós, mas em
nenhum momento elas pensaram isso. Nunca vi tanta falta de empatia!
Eu concordei com cabeça, mas não consegui responder nada, porque
a professora de Mídias Sociais entrou na sala e iniciou a aula. Enquanto
abria a apostila digital em meu iPad, fiquei pensando em como estava
sendo difícil conviver com as meninas depois de tudo o que havia
acontecido.
Para a minha surpresa, fui convocada para uma reunião com o comitê
das líderes torcida para poder explicar o porquê de eu não estar mais na
fraternidade. Apesar de não serem os responsáveis pela nossa moradia, era
de interesse deles que a harmonia do grupo não fosse afetada por brigas. Fui
sincera e contei exatamente o que havia acontecido, deixando claro que eu
não sabia que Jake e Ashley estavam em um relacionamento, mas que
mesmo assim houve uma votação e a maioria decidiu que eu deveria deixar
a fraternidade.
Percebi que o fato de eu ter faltado no segundo jogo, mesmo com
justificativa, não os agradou, e senti que se eu cometesse qualquer deslize,
poderia dar adeus a minha vaga na equipe. Do que dependesse de mim,
aquilo jamais aconteceria. Reiterei a minha responsabilidade com o comitê
e o grupo e afirmei que nenhuma briga pessoal entre mim e Ashley
atrapalharia a harmonia da equipe.
Fui liberada e, ao entrar no centro de treinamento do time e encontrar
as meninas na sala que usávamos para ensaiar, percebi que não seria tão
fácil assim manter a harmonia com elas. Apenas Heather e Riley me
cumprimentaram, mas não se aproximaram para conversar comigo, e fiquei
isolada do grupo junto com Summer antes de iniciarmos o ensaio.
Em tempos normais, as meninas estariam à minha volta querendo
detalhes de como Logan e Avalon estavam após o nascimento de Aurora,
pois durante toda gestação, eu comentei com elas sobre como estava feliz
por estar prestes a ganhar uma afilhada. Elas adoravam saber alguns
detalhes da vida dos jogadores do 49ers através de mim e ficaram nas
nuvens quando consegui ingresso para todas quando o time veio jogar no
Alabama na última temporada, mas agora era como se eu não existisse.
Fiquei me perguntando até que ponto realmente me enxergavam
como amiga ou se a relação que tinham comigo era apenas baseada em
interesse por eu ser cunhada de Logan e não percebi.
De qualquer forma, não demonstrei como estava abalada por estar
sendo ignorada por todas elas. Dediquei-me ao máximo nos ensaios,
principalmente porque estava um pouco atrasada na coreografia por conta
dos dias que fiquei na Califórnia, e ignorei todos os olhares enviesados e
alguns cochichos que ouvi no vestiário.
Até onde sabia, Ashley e Jake estavam juntos para que todos
pudessem ver e a única coisa que senti pela presidente da Delta, foi pena.
Se Jake fora capaz de traí-la no mesmo dia em que assumiram um
relacionamento, não queria imaginar o que faria com ela com um tempo
maior de namoro.
Como aquilo não era da minha conta, foquei em minha nova rotina e
aproveitei os dias sozinha antes de Benjamin chegar para poder arrumar
todas as minhas coisas no antigo quarto de Norah, que agora era meu. Ele
era o mais feminino da casa e combinava muito comigo. Mantive contato
com a minha irmã, assegurei que estava bem instalada e passei o tempo
livre estudando as matérias acumuladas e tentando não ficar tão ansiosa
com o fato de que dividiria aquele teto com Benjamin.
Se soubesse que não passaríamos nem mesmo o primeiro dia juntos,
teria me poupado do nervosismo, mas esperava que aquele dia fosse
diferente.
Após as aulas, almocei rapidamente com Summer e fomos direto
para o centro de treinamento do Crimson Tide. Assim que entramos,
percebemos algo diferente. Havia mais pessoas transitando pelo prédio a
caminho da sala onde discutiam as táticas do time e logo pensei em
Benjamin. Provavelmente, estavam anunciando a chegada dele para os
jogadores e os demais componentes do Crimson.
— O que está fazendo? — Summer perguntou em sussurro quando a
puxei pelo braço.
— Acho que estão falando sobre a chegada do Ben ao time. Quero
ver isso de perto.
— Será que vamos poder entrar?
— Não sei, mas talvez possamos ver alguma coisa da porta.
Summer me deu um olhar animado e seguimos juntas. Vi dois
jogadores do time reserva entrarem na sala e aproveitei para poder espiar
pela porta, que estava aberta. A sala era grande, mas com todos ali dentro,
estava lotada. Mesmo assim, pude ver Benjamin de pé na frente da mesa ao
lado do treinador Dawson e um outro homem que eu sabia ser alguém
importante dentro do comitê técnico. Era ele quem estava falando sobre o
histórico de Benjamin dentro do time.
Como se tivesse sentido o meu olhar, Ben ergueu a cabeça e me viu
espiando perto da porta ao lado de Summer. Ele me deu um sorriso que me
deixou levemente de pernas bambas e me fez esquecer o pouco da
frustração que ainda sentia por termos passado tão pouco tempo juntos.
Sorri de volta para ele e dei um aceno antes de dar uma olhada geral para
todo mundo na sala. Meus olhos esbarraram em Jake, que estava de costas
para mim, e reprimi uma careta. Não nos encontrávamos desde aquela noite
fatídica e eu esperava que continuasse assim.
Para não dar o azar de ser vista por ele, resolvi sair logo dali. Acenei
uma última vez para Benjamin, que me deu uma piscadela, e me afastei
junto com Summer, que soltou um suspiro ao meu lado.
— O que foi?
— Nada.
— Desde quando você mente para mim?
Summer revirou os olhos e fez uma careta enquanto seguíamos para
o vestiário.
— Se eu falar alguma coisa, você vai dizer que é besteira minha,
então, prefiro

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