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W BA 13 30 _V 1. 0 OPERAÇÕES UNITÁRIAS NA INDÚSTRIA QUÍMICA 2 Eduardo Gouveia Martins Romão Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2023 OPERAÇÕES UNITÁRIAS NA INDÚSTRIA QUÍMICA 1ª edição 3 2023 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR Homepage: https://www.cogna.com.br/ Diretora Sr. de Pós-graduação & OPM Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Coordenador Nirse Ruscheinsky Breternitz Revisor Francine de Mendonça Fábrega Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Romão, Eduardo Gouveia Martins Operações unitárias na indústria química/ Eduardo Gouveia Martins Romão, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2023. 32 p. ISBN 978-65-5903-333-1 1. Processos químicos. 2. Definição de fluxograma na indústria. 3. Decantação e evaporação. I. Título CDD 660 _____________________________________________________________________________ Raquel Torres – CRB 8/10534 R761o © 2023 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Definição de fluxograma na indústria ________________________ 07 Balanços de massa e energia aplicados em operações unitárias __________________________________________ 18 Conceituação do processo de separação em misturas _______ 32 Trocadores de calor _________________________________________ 48 OPERAÇÕES UNITÁRIAS NA INDÚSTRIA QUÍMICA 5 Apresentação da disciplina Olá, aluno! O conhecimento das operações unitárias na indústria química desempenha um papel crucial no desenvolvimento e aprimoramento dos processos de produção. Essas operações são os blocos de construção fundamentais para a manipulação e transformação de matérias-primas em produtos químicos desejados. Compreender as operações unitárias permite otimizar a eficiência dos processos, reduzir custos, melhorar a segurança e minimizar o impacto ambiental. Além disso, o conhecimento dessas operações proporciona uma base sólida para a solução de problemas complexos que possam surgir durante a produção industrial. Como a variedade de processos industriais químicos é enorme, é primordial atentar-se aos detalhes e a cada etapa de processo, considerando os controles e avalições contínuas de forma a buscar a excelência das operações praticadas. Em resumo, o estudo das operações unitárias é essencial para garantir a excelência na indústria química e promover o desenvolvimento sustentável. Dentre as competências e habilidades que se pretende que você, aluno, desenvolva ao longo da disciplina estão: entender os fundamentos das operações unitárias da indústria química, compreender os princípios básicos de funcionamento dos equipamentos industriais, conhecer o fluxo de diferentes processos e detalhes de cada operação unitária, realizar os cálculos dos balanços de massa e energia envolvidos nos processos químicos e conhecer as operações envolvendo transferência de massa. Buscando essas competências, a disciplina contempla conteúdos programáticos que atendam às necessidades de conhecimento necessárias para atuação dentro da Indústria Química e demais setores que possuem alguma conexão. Serão discutidas a utilização de fluxograma na indústria e a representação dos equipamentos, bem como os processos de balanço de massa e energia, os principais 6 processos de separação de misturas, como decantação, filtração, centrifugação, extração, evaporação e destilação, além de trocadores de calor, caldeiras e suas particularidades. Seja protagonista do seu aprendizado. Bons estudos! 7 Definição de fluxograma na indústria Autoria: Eduardo Gouveia Martins Romão Leitura crítica: Francine de Mendonça Fábrega Objetivos • Entender os fundamentos das operações unitárias da indústria química. • Compreender os princípios básicos de funcionamento dos equipamentos industriais. • Conhecer o fluxo de diferentes processos e detalhes de cada operação unitária. • Conhecer os diferentes tipos de fluxogramas, bem como suas aplicações e característica. 8 1.Introdução Você já reparou que as atividades industriais são executadas em sequência? Como exemplo podemos citar a indústria de vidros, em que as matérias-primas são recebidas, moídas, peneiradas e submetidas a um processo de fusão até que haja a transformação para obtenção do vidro plano. Na indústria química como um todo, os processos são constituídos por uma sequência de etapas, denominadas operações unitárias, que determinam um fluxo de fenômenos e transformações que resultam no produto desejado. Para um bom desempenho da produção, esse fluxo de atividades deve ser entendido por todos, além de ser analisado criticamente para que ocorram melhorias contínuas. Por isso, dar luz a esse tema é apresentar a importância do fluxograma dentro da indústria química, que, de forma simples e direta, apresenta as etapas dos processos químicos envolvidos, de forma que todos os envolvidos entendam tais atividades, além de apresentar os principais equipamentos utilizados. Ficou interessado? Então, vamos lá? 2. Operações unitárias nos processos industriais químicos Todos os bens e serviços são produzidos a partir de uma sequência lógica dos processos envolvidos. Dentro da indústria química não é diferente, pois cada etapa de um processo de natureza física a ser executada, é conhecida como operação unitária, a qual envolve 9 transporte físico de matéria ou energia dentro de um processo químico, aplicando-se conhecimentos de Termodinâmica e Fenômenos de Transporte. As operações unitárias podem ser classificas em: operações unitárias de transferência de quantidade de movimento, transferência de calor e transferência de massa. Nas operações unitárias de transferência de quantidade de movimento os equipamentos envolvem o transporte e a separação de fluidos, como os filtros, ciclones, bombas, decantadores, entre outros. As operações unitárias de transferência de calor abrangem a troca térmica entre fluidos, como os trocadores de calor. Finalmente, as operações unitárias de transferência de massa realizam a separação de fluidos miscíveis, como a destilação e a absorção. Uma forma de apresentar tais etapas dá-se através de fluxogramas, os quais, de forma visual, explicam cada uma das atividades envolvidas desde a entrada da matéria-prima até o produto. 3. Fluxograma Por definição, o fluxograma é a ilustração das sequências das atividades (etapas) que envolvem qualquer tipo de processo aplicado a diferentes áreas, porém, nesta aula, os fluxogramas terão o enfoque em processos industriais. É também importante para compreender toda a cadeia de operações envolvidas, possibilitando que melhorias de processos sejam identificadas de forma simples e direta. Além de representar as etapas, é uma forma de dentro e fora da organização visualizar todos os processos e seja uma ferramenta com o objetivo de visualizar melhorias, especificar equipamentos, atualizar e eliminar processo e prever etapas críticas que possam ser 10 acompanhadas com atenção dentro daatividade industrial proposta. Os diagramas de fluxo mais utilizados serão explicados a seguir. Os diagramas de bloco são representados pelo exemplo de fluxograma de um processo industrial químico típico. Atente-se ao sentido das setas, pois será fundamental para a compreensão da sequência operacional (Figura 1). Figura 1 – Processo químico típico Fonte: adaptada de Levenspiel (1999, p.1). A representação na Figura 1 é simplificada, não fornecendo detalhes sobre as etapas envolvidas. Não são descritas as operações de tratamento físico ou químico que serão realizadas, nem são fornecidas outras informações importantes, como fluxo de massa, temperatura, tempo e condições de processo essenciais para o processo ou qualquer atividade de transformação relacionada. Outro exemplo de representação é a Figura 2, que traz um fluxograma de processo simples aplicado ao exemplo do processo do fluxo adiabático da rota catalítica da nafta do petróleo, com o objetivo de melhorar o número de octanagem da gasolina. No exemplo ilustrado na Figura 2, é importante observar que, devido às altas temperaturas envolvidas, se o reator estivesse em funcionamento, poderiam ocorrer reações indesejadas que prejudicariam a eficiência das reações responsáveis pelo aumento da octanagem da gasolina. No entanto, ao dividir os reatores, é possível garantir que as reações intermediárias ocorram adequadamente, permitindo que o processo de catálise aconteça sem obstáculos. Essa divisão dos reatores também 11 facilita o controle individual de cada etapa da operação, possibilitando melhorias contínuas no processo à medida que a operação é executada. Além de se observar todas as etapas do processo, desde seu input (reagentes) até o output (produtos), com a descrição de cada etapa envolvida, o detalhamento do fluxo do processo permite que se veja uma representação esquemática dos componentes e equipamentos envolvidos no processo. Essa representação é definida por normatização, o que permite seu uso de forma universal, facilitando o entendimento e aplicação. Figura 2 – Representação da planta catálise da nafta do petróleo Fonte: adaptado de Ravi, Vinu e Gummadi (2017, p. 8). Fluxogramas de Processo (PFD – Process Flowchart Diagram): é um fluxograma mais detalhado, em que se apresenta além dos equipamentos e do fluxo, as condições de processo (temperatura, vazão, pressão, fração molar etc.), sendo que essas condições devem ser informadas em uma tabela abaixo do diagrama. Mais completo que o PFD é o diagrama de tubulação e instrumentação (P&ID ou PID – Piping and Instrumentation Diagram), pois apresenta informações dos instrumentos, pontos de amostragem, controles, tubulações, a organização dos equipamentos e as conexões entre esses 12 equipamentos, com a descrição da natureza do processo. Aplica-se em projetos complexos e/ou que irão receber maior atenção quanto ao controle das etapas. A Figura 3 apresenta o exemplo genérico de um PID para o processo de produção de separação gás-líquido. Figura 3 – PID de um sistema de separação gás e líquido Fonte: Shutterstock.com. A garantia da segurança da planta, o cumprimento das especificações do produto, o atendimento às normas ambientais e o cumprimento dos requisitos operacionais são fatores que conferem ao Diagrama de Instrumentação e Tubulação (PID) uma vantagem significativa em relação ao PFD (Diagrama de Fluxo de Processo). Além disso, o PID permite minimizar as perdas de processo, tornando-o uma opção mais vantajosa. Nesse aspecto, sistemas que possuem sensores e controladores, que contribuem para apresentação de anomalias possam existir dentro do processo é mais rápida e com isso a tomada de decisão para correções é mais eficaz. Soma-se a isso, que o controle supervisório dentro do PID acompanha toda as etapas do processo auxiliado por sistemas computacionais integrados aos processos. 13 Figura 4 – Produção de ácido nítrico Fonte: Towner e Sinnot (2013, p. 39) No entanto, o fluxograma da produção de ácido nítrico possui de forma detalhada as condições de processo de cada etapa (temperatura e pressão) que podem ser entendidas por um especialista, que por sua vez, poderá intervir e/ou propor alterações para melhoria dos processos, sem comprometer o produto desejado. É fundamental que haja o controle de atualização desse documento, além de representar a total concordância da alta direção quanto à execução das operações, além de que haja entendimento do processo por toda a organização. A International Organization for Standardization (ISO) possui normas que contemplam as representações utilizadas em processos industriais. São elas: • ISO 10628-1:2014: Diagrams for the chemical and petrochemical industry Part 1: Specification of diagrams • ISO 10628-2:2012: Diagrams for the chemical and petrochemical industry Part 2: Graphical symbols 14 Ainda, existem softwares específicos que, de acordo com o processo, podem fornecer as representações pré-definidas de cada etapa para serem utilizadas na construção de fluxogramas de processo. Um desses softwares é o Visio® da Microsoft®, de acordo com a simbologia que segue em concordância com as normas ISO citadas. O Quadro 1 contempla as principais representações aplicadas na indústria química. Quadro 1 – Representações para PFD na indústria química Reatores, vasos, misturadores e tanques Equipamentos trocadores de calor Manuseio de fluidos Manuseio de sólidos 15 Demais símbolos Fonte: adaptada de Towner e Sinnot (2013, p. 36–7). É fundamental o que se observa em alguns tipos de equipamentos, eles possuem simbologia genérica, ou são específicos para os principais equipamentos. Note que alguns tipos de equipamentos possuem símbolos genéricos, bem como uma seleção equivocada do símbolo, o que poderá gerar problemas na leitura do fluxograma. Por exemplo, um misturador, se o símbolo errado for selecionado, isso pode causar confusão para outros engenheiros. Por exemplo, um misturador para manuseio de sólidos é utilizado para misturas de sólidos em um líquido, enquanto para os demais símbolos há um agitador que pode ser utilizado em um tanque de mistura e o responsável pelo projeto saberá destacar as diferenças conforme a sua utilização. De modo geral, processos químicos industriais são divididos/organizados pelas seguintes etapas: 16 • Armazenamento da matéria-prima: dependerá da natureza que é fornecido, da forma que será manuseado, a regularidade de fornecimento e o tempo de disponibilidade da operação. Aqui podemos citar os tanques e reservatórios os quais são projetados de acordo com o material a ser armazenado, pois afeta diretamente no projeto para a seleção do material de confecção além da necessidade ou de proteção como contra a corrosão. • Preparação e purificação: nessa etapa, operações para remover agentes contaminantes que possam ou não afetar o processo são utilizadas, garantindo, dessa forma, que elas sejam utilizadas na etapa de reação. Podem citados os filtros e peneiras, que objetivam a separação de fases, sendo o primeiro, da fase líquido- sólido e o segundo, aplicado para separação de tamanho de partícula. • Reação: principal etapa de qualquer processo industrial químico, a qual, nas condições de operação dentro do reator, será obtido o produto desejado. Essa etapa pode ocorrer em reatores, que são reservatórios projetados nas condições adequadas para que as reações ocorram, especialmente em condições de pressão e temperatura adequadas ao processo, cujos materiais de elevada resistência mecânica e à corrosão devem ser selecionados. • Separação do produto: mesmo após ocorrer a reação, é necessário que ocorra a separação do produto de agentes indesejados, que são partes que não reagiram e consequentemente são contaminantes. Os exemplos para o processo de separação podem ser os decantadores para a separação de um sistema líquido-líquido, filtração para a separação sólido-líquido, trocadores de calorque permitem a separação pela formação de uma fase vapor em uma mistura líquido-líquido. • Purificação: antes da disponibilidade comercial do produto, há a necessidade de atender especificações e critérios técnicos e 17 somente é possível pela etapa de purificação, em que poderá servir para eliminar componentes residuais da separação que poderão ser descartados ou não, conforme a necessidade. Pode- se também, nessa etapa, citar a utilização de trocadores de calor para, como ideia de purificação, ajustar a concentração de soluto em uma solução. • Armazenamento e transporte do produto: nessa etapa, define- se como será comercialmente oferecido o produto, desde a concepção da embalagem, armazenamento e transporte, sendo a quantidade do produto e o mercado consumidor os principais fatores para o tamanho do estoque. O armazenamento pode ocorrer em tanques ou reservatórios que possam ser projetados de acordo com as condições de armazenamento, para que seja evitada a contaminação pelo ambiente externo. Embora um fluxograma possa conter uma ampla gama de informações, a relevância desses detalhes dependerá da prática e experiência dos responsáveis pelo projeto. Essas informações podem ser divididas em itens essenciais e itens opcionais, sendo que os itens essenciais devem sempre estar presentes, enquanto os opcionais aumentam a utilidade do fluxograma, embora nem sempre sejam incluídos. Referências CREMASCO, M. A. Operações unitárias em sistemas particulados e fluido mecânicos. São Paulo: Blücher, 2012. LEVENSPIEL, O. Engenharia das reações químicas. Blücher, 2000. RAVI, R.; VINU, R.; GUMMADI, S. N. Coulson and Richardson’s Chemical Engineering: Chemical and Biochemical Reactors and Reaction Engineering. 4. ed. United Kingdom: Elsevier, 2013. v. 3A. TOWLER, G.; SINNOTT, R. Chemical engineering design: principles, practice, and economics of plant and process design. 2. ed. USA: Elsevier, 2013. 18 Balanços de massa e energia aplicados em operações unitárias Autoria: Eduardo Gouveia Martins Romão Leitura crítica: Francine de Mendonça Fábrega Objetivos • Entender, compreender e realizar os cálculos dos balanços de massa e energia envolvidos nos processos químicos. • Conhecer as operações envolvendo transferência de massa através das operações. • Apresentar os fundamentos dos processos de decantação e evaporação. • Associar as operações unitárias citadas com os mecanismos de transferência de massa e evaporação. 19 1.Introdução: definição de processos Antes de qualquer aplicação nos processos de decantação ou evaporação, é importante definir quais são os tipos de processos que são encontrados na indústria química. Basicamente, existem três tipos de processos: batelada, contínuo e semicontínuo. No processo em batelada, a transformação ocorre do início ao fim e apenas após a conclusão de todas as transformações envolvidas é realizada uma nova alimentação. Por outro lado, no processo contínuo, não se espera o término do processo para a transformação ocorrer. Conforme o próprio nome sugere, a alimentação é feita de maneira contínua, e o processo não é interrompido. Por fim, o processo semicontínuo combina elementos dos dois processos anteriores: alguns componentes são adicionados em batelada, enquanto outros são inseridos de forma contínua. Alguns exemplos de indústrias em que se encontram os três processos: • Batelada: alimentícia e farmacêutica. • Contínuo: petroquímicas, siderúrgicas, fábricas de papel, de automóveis, manufaturas de eletrodomésticos e indústria alimentícia. • Semicontínuo: alguns processos de fermentação. Outro aspecto a ser considerado é quando são abordadas as variáveis de processo, como pressão, temperatura, volume, vazão e outras. Caso não ocorra variação com o tempo, podemos classificar como estado estacionário; do contrário, quando há influência do tempo nas alterações das operações, podemos classificar como regime transiente ou estado não estacionário. Nesse ponto, os processos em batelada e semicontínuos são transientes, pois as operações de partida e finalização de processos devem ocorrer 20 dentro de um intervalo esperado para iniciar a próxima alimentação. No entanto, processos contínuos, por serem de alta escala de produção, são conduzidos de forma mais próxima do estado estacionário normalmente. 2. Balanço de massa aplicado em operações unitárias Os processos de transferência de massa estão baseados na separação de componentes contidos em misturas homogêneas ou heterogêneas. A força motriz para que ocorra a transferência de massa é a diferença de concentração existente entre as espécies envolvidas. A lei da conservação das massas diz que a massa de entrada de todos os materiais em um sistema deve ser a mesma para todos os materiais que deixam o sistema ou são acumulados, seguindo a Equação 1: Equação 1 Em casos que envolvam o balanço de massa, o roteiro a ser seguido seria: a. Faça o esquema do processo apresentando as entradas e saídas. b. Se tiver, escreva a equação química envolvida. c. Verifique qual é o componente a ser utilizado na base de cálculo. d. Realize o balanço de massa com a massa total ou a massa de cada componente caso não haja reação química envolvida. É importante definir que há dois tipos de balanço de massa, que serão descritos. O balanço diferencial, o qual é expresso por taxa temporal (kg/h, g/s etc.), ou, para ficar fácil de entender, é o que ocorre no 21 sistema em um determinado tempo. Por sua vez, o balanço integral descreve o que acontece entre dois instantes de tempo, sendo cada termo do balanceamento uma porção da grandeza balanceada, e essa situação aplicada em processos em batelada e o balanço diferencial em processos contínuos. Por outro lado, quando há em um processo contínuo e estacionário, a equação 1 é ajustada considerando dois aspectos importantes: dentro do sistema é produzido uma parte do produto e ao mesmo tempo que é produzido, é consumido, ou seja, não há acúmulo dentro do sistema. Dessa forma, a Equação 1 pode ser reescrita para a Equação 2: Equação 2 Em regime estacionário, de forma simplificada, pode-se dizer que a Equação 2 fica resumida, considerando que tudo que é gerado é consumido, resultando na Equação 3: Equação 3 Isso somente ocorre quando a massa é não reativa, ou seja, não existe alteração de massa durante a operação unitária. Para um processo em batelada, a Equação 2 pode ser alterada para a seguinte situação apresentada pela Equação 4: Equação 4 A diferença da Equação 4 para a Equação 2 é necessária, pois, na equação anterior, por ser um processo em que há a necessidade da transformação total, para se iniciar a próxima alimentação, e as quantidades da entrada e saída estão balanceadas. Como dito, balancear as entradas e saídas é fundamental pois as massas da entrada do sistema devem ser iguais às massas de saída do sistema. 22 Outro fator importante é a base de cálculo, que é uma quantidade de massa ou em número de mols, até mesmo podendo ser de vazão mássica ou molar, de um dos componentes de uma corrente em um processo. É importante definir a base de cálculo, pois as variáveis desconhecidas são obtidas em relação à base de cálculo utilizada. 2.1. Decantação O processo de decantação também pode ser aplicado em um sistema de mistura sólido-líquido, ou líquido + líquido, que será separado de acordo com a quantidade das fases presentes. O que pode explicar de forma simples a decantação é a hidrostática: ambos os líquidos, em mistura, ingressam no recipiente, e ocorre o fluxo de deslocamento de ambos os fluidos, ocorrendo a separação em duas camadas distintas. Considerando que a resistência ao atrito entre os fluidos é desprezível, a estática dos fluidos pode ser aplicada para analisar esse fenômeno. A Figura 1 ilustra o processo de decantação. Figura 1 – Processo de decantação de dois líquidos imiscíveis Fonte: adaptada de Geankoplis,Hersel e Lepek (2018, p. 97). Percebe-se que, em relação ao líquido A, de massa específica Aρ , o líquido B apresenta menor massa específica, Bρ . Na Figura 1, podemos observar que a altura total, Th , é igual a soma das alturas dos líquidos, A ( 1Ah ) e B ( Bh ). Logo, 23 Equação 5 A saída do líquido A ocorre pela pressão gerada na altura 2Ah , um ponto acima do fundo do reservatório. Com a presença do ar atmosférico, o equilíbrio hidrostático é descrito como apresentado na Equação 6: Equação 6 Ao reescrever a Equação 1 em função da altura do líquido menos denso B, tem-se que . Substituindo, na Equação 2, a altura do líquido A no decantador 1Ah , e, resolvendo, tem-se a Equação 7: Equação 7 A Equação 7 mostra que a altura da interface 1Ah do líquido mais denso é dependente da relação das massas específicas dos líquidos e das alturas totais do tanque Th e de saída do fluido A, 2Ah , sendo esse último termo móvel para ajuste da interface. Para esse fato, considerando a conservação da massa em termos de vazão mássica (quantidade de massa em um intervalo de tempo, simbolizada por m • ), a variante da Equação 1 poderá ser descrita da forma como apresentado na Equação 8: Equação 8 No entanto, como haverá a separação em duas fases, que são dependentes das densidades de ambos os componentes da mistura, a Equação 8 pode ser descrita também em função da vazão volumétrica (volume por unidade de tempo, V • ) Equação 9 24 Como a vazão volumétrica pode ser descrita como sendo VV t • = , a Equação 9 pode ser rearranjada em função do volume ocupado para cada componente após a separação e pelo tempo de separação, t . Equação 10 Dentro do balanço de massa, por ser um processo de separação, pode- se utilizar a decantação combinada com demais processos, como a extração com destilação. A Figura 2 exemplifica a utilização combinada do processo de destilação com outros processos. Figura 2 – Processo de destilação e extração com a mistura água (W) e acetona (A) e metil-isobutilcetona (MIBC – M) Fonte: Felder e Rousseau (2011, p. 240). Percebe-se que há duas etapas de decantação descritas as quais seguem para fases seguintes. No entanto, duas palavras devem ser definidas para efeitos de demais processos que possam aparecer: o termo 25 “rafinado” está relacionado à fase rica em diluente (a água, no caso), enquanto o extrato é a fase rica e solvente (MIBC). 3. Balanço de energia aplicado em operações unitárias A importância da utilização de processos de balanço de energia em operações unitárias está relacionada diretamente com o controle da base energética necessária para um processo. Em outras palavras, qual a quantidade de energia será utilizada, levando em consideração as perdas existentes no processo e quanto tais perdas podem influenciar nas questões técnicas e econômicas com relação ao desempenho da operação unitária. Dentro da aplicação, as formas de energia (que estão presentes em um sistema fechado, no qual a massa não sairá além das fronteiras do sistema) podem ser representadas na forma de calor ou de trabalho, sendo a primeira relacionada com a diferença de temperatura entre a temperatura do sistema e a temperatura da vizinhança e o trabalho que é a resposta de uma força motriz (movimento de um pistão, força, torque ou voltagem), sem que envolva a diferença de temperatura. Essas formas de energias associadas ao sistema são descritas pela primeira Lei da Termodinâmica, na qual estabelece que a energia, ingressa no sistema, e que somada com a taxa de energia que entra no sistema como calor, menos a energia que sai do sistema e menos a taxa de energia que sai do sistema na forma de trabalho. Para um sistema fechado, o balanço de energia pode ser descrito como a Equação 11. - Energia final do sistema Energia de entrada no sistema Energia de saída do sistema= Equação 11 26 A energia final do sistema, considerando o sistema como fechado, pode ser também traduzida como a energia acumulada no sistema. Para um sistema aberto, no entanto, a atenção dada como há transferência de massa pela fronteira, o que ocasiona a geração de trabalho sobre o sistema (entrada) e trabalho sobre a vizinhança (saída). Caso o sistema seja estacionário, de forma simplificada, o balanço de energia é relacionado, como mostrado na Equação 12. = Energia de entrada no sistema Energia de saída do sistema Equação 12 Ou seja, toda a energia envolvida na entrada é convertida em outras formas na saída. 3.1. Evaporação O processo de vaporização (ou evaporação) consiste em aquecer uma mistura de duas soluções miscíveis, e aquela que apresentar menor temperatura de ebulição torna-se vapor e, com isso, é removida e a solução mais concentrada permanece no recipiente, sendo que na maioria dos casos, o processo de evaporação refere-se à remoção de água em uma solução aquosa. Em alguns casos, a solução pode apresentar pequenas concentrações de minerais, logo, é importante o processo de evaporação para que os sólidos estejam livres da presença da água para utilização em outros processos químicos e/ou outras aplicações. Um exemplo é a evaporação da água do mar para obter água potável, a qual o processo foi desenvolvido para uso comercial. Nessas situações, o objetivo primário é concentrar a solução e, após resfriamento, concentrar os cristais de sal formados e separá-los posteriormente. Os principais fatores envolvidos no processo de evaporação são: 27 a. Concentração no líquido: é comum que o líquido esteja diluído em solução, com baixa viscosidade, próximo ao que é a água, e durante o processo de evaporação, a solução torna-se mais concentrada e bastante viscosa, o que contribui para a queda dos coeficientes de transferência de calor. Isso pode ser solucionado com circulação e/ou turbulência no sistema para manter as propriedades de transferência de calor adequadas à evaporação. b. Solubilidade: quando as soluções são aquecidas, as concentrações dos solutos aumentam e, com isso, o limite de solubilidade na solução pode exceder e há a formação de cristais, limitando a concentração em solução que pode ser obtida pela evaporação. Em muitos dos casos, a solubilidade aumenta com a temperatura, o que significa que, em uma solução concentrada de um evaporador, quando resfriada a temperatura ambiente, poderá ocorrer a cristalização. Dessa forma, é importante conhecer as curvas de solubilidade das soluções que irão ser separadas para o estudo com relação às concentrações e à temperatura, como a do exemplo da Figura 3. Figura 3 – Curvas de solubilidade do KNO3 e KCl Fonte: Shutterstock.com. 28 c. Formação de espuma: caso a solução seja composta por soluções cáusticas, soluções alimentícias tais como leite desnatado e algumas soluções de ácidos graxos, pode haver a formação de espuma durante aquecimento. Essa espuma seguirá junto pelo evaporador, gerando perdas por arraste. d. Pressão e temperatura: o ponto de ebulição de uma solução é definido de acordo com a pressão do sistema. Elevadas pressões de operação no evaporador ocasionam o aumento na temperatura de ebulição. e. Deposição de materiais: durante o processo de evaporação, alguns materiais podem se depositar nas superfícies quentes do sistema de evaporação, sendo tais materiais formados pela decomposição de produtos ou pela queda de solubilidade, afetando a transferência de calor. Nesse ponto, é importante a limpeza adequada do evaporador, bem como a construção adequada com seleção de materiais e sem pontos de acúmulo para que seja evitada a incrustação. Para essa situação, um sistema de evaporação com condensador é apresentado na Figura 4. Figura 4 – Sistema de evaporação vertical com condensação de vapor Fonte: adaptada de Mccabe, Smith e Harriott (1993, p. 446). 29 Ao se observar o esquema do sistema de evaporação, é importanteenfatizar que um dos principais objetivos do processo é aumentar a concentração de soluto na solução. Além disso, percebe-se que o sistema de alimentação está contracorrente ao sistema de condensação do vapor. Observando de forma separada cada um dos componentes, tem-se que fluxo de calor necessário para a vaporização qvapor, a vazão mássica de vapor condensado, vm • , não se altera; apenas ocorre a mudança de fase, em que se envolve as entalpias no estado vapor e no estado condensado ( ,v CH H , respectivamente). Como há mudança de fase, o calor latente de condensação ( CL ) também é envolvido no processo. Devemos considerar que apesar das mudanças de estado físico, a energia é conservada para todas as etapas. Dessa forma, no condensador, a uma temperatura CT , tem-se a Equação 13: Equação 13 Na região de evaporação tem-se a ebulição e o calor de ebulição gerado qE , tem-se o equacionamento para balanço energético mostrado pela Equação 14, no qual a temperatura do separado líquido-vapor é igual a temperatura de ebulição (Te ) do líquido a ser destilado. Assim: Equação 14 Considerando que não há perdas na transferência de calor, ou seja, todo o calor do sistema de condensação é transferido para o processo de evaporação, combinando as Equações 13 e 14, tem-se a Equação 15: Equação 15 As entalpias do líquido evaporado, da alimentação e do líquido residual são dependentes das soluções a serem concentradas. 30 No caso de um balanço energético, a taxa total de transferência de calor ( Tq ) é a soma da contribuição da transferência de calor da alimentação ( q ) e da transferência de calor da evaporação ( Eq ). Assim, a Equação 16 pode ser escrita como: Equação 16 Sendo q e Eq representadas pelas Equações 17, juntamente do calor específico, cp, do fluido e da temperatura inicial na alimentação T. Enquanto a Equação 18, demonstra que LL é o calor latente de vaporização do líquido residual, juntamente da vazão mássica da alimentação, , e da vazão mássica do líquido residual, mL . Equação 17 Equação 18 Dessa forma, unindo-se ambas as equações: Equação 19 Se a temperatura da alimentação for superior à de ebulição do líquido, ocorre do evaporador para o líquido residual, a vaporização instantânea. Do contrário, ou seja, quando a temperatura da alimentação é menor que a de ebulição, é necessário um calor adicional para promover a evaporação. Percebe-se que há uma relação direta entre o balanço de energia e a vaporização: considerando o sistema fechado e estacionário, o fluxo de calor do sistema é gerado devido às transformações de fase envolvidas, bem como as variações de temperatura em cada etapa do processo. Dessa forma, os processos de balanço de massa e de energia são fundamentais dentro das Operações Unitárias, pois quando aplicadas dentro das condições e tipos de processo, são definidas as melhores 31 condições para obter produtos dentro de especificação, de acordo com necessidades de mercado e também a garantia que o rendimento alcançado seja o máximo dentro do processo aplicado. Referências FELDER, R. M.; ROUSSEAU, R. W. Princípios elementares dos processos químicos. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2011. FOUST, A. S. et al. Princípios das operações unitárias. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2012. GEANKOPLIS, C. J.; HERSEL, A. A.; LEPEK, D. H. Introduction to engineering principles and units: transport Processes and Separation Process Principles. 5. ed. Hoboken, NJ: Prentice Hall, 2018. GREEN, D. W.; SOUTHARD, M. Z. Perry’s chemical engineers’ handbook. McGraw- Hill Education, 2019. McCABE, W. L.; SMITH, J. C.; HARRIOTT, P. Unit operations of chemical engineering. New York: McGraw-hill, 1993. 32 Conceituação do processo de separação em misturas Autoria: Eduardo Gouveia Martins Romão Leitura crítica: Francine de Mendonça Fábrega Objetivos • Entender os fundamentos das operações unitárias da indústria química. • Compreender os princípios teóricos dos processos industriais de separação em misturas. • Apresentar os principais processos industriais de separação, filtração, destilação, centrifugação, extração, decantação e evaporação. 33 1.Introdução Dentro da indústria química, encontram-se diversos sistemas de misturas, sejam eles imiscíveis ou miscíveis, independentemente do estado físico. Durante os processos, essas misturas precisam passar por etapas de separação, sendo fundamental compreendê-las. A eficiência das etapas subsequentes é fortemente influenciada pelos processos de separação, especialmente pela presença de contaminantes ou componentes que podem ser reaproveitados. Quanto mais eficientes forem esses processos, menor será a necessidade de etapas adicionais de separação, o que resultará em redução de custos. Vamos conhecer esses processos? 2. Decantação O processo de decantação consiste na separação de dois líquidos imiscíveis, devido à diferença de densidade entre eles: o líquido de maior densidade permanece no fundo e o de menor densidade, próximo à superfície. A explicação do fenômeno é pela hidrostática: ambos os líquidos, em mistura, ingressam no recipiente, e ocorre o fluxo de deslocamento de ambos os fluidos, ocorrendo a separação em duas camadas distintas. Considerando que a resistência ao atrito entre os fluidos é desprezível, a estática dos fluidos pode ser aplicada para analisar esse fenômeno. Os decantadores, equipamentos utilizados para o processo de separação líquido-líquido, são projetados para utilização em operações unitárias para processos contínuos (em que outras etapas irão ocorrer posteriormente), mas por outro lado, podem ser utilizados também para processos em batelada (todas as etapas ocorrem dentro do decantador). Diante da breve explicação quanto aos processos contínuos e batelada, 34 os decantadores são construídos de acordo com cada um dos tipos de processo, como será mostrado na Figura 1, a qual representa os dois tipos de reservatórios de decantação, o horizontal (a) e o vertical (b). Figura 1 – Representação dos decantadores (a) horizontal e (b) vertical (a) (b) Fonte: Shutterstock.com. Algumas aplicações da utilização da decantação são citadas: separação de rejeito argiloso, mineração de areia industrial como matéria-prima na indústria cerâmica, separação de rejeitos para a separação no tratamento do caldo da indústria sucroalcooleira, por meio da dosagem de cal hidratado, polímero ácido fosfórico, quando aplicável, e um polímero específico da aplicação. 3. Filtração O processo de filtração consiste em separar duas fases, normalmente, uma no estado líquido e outra no estado sólido. A fase sólida retida é chamada de torta, pois possui uma quantidade de líquido presente, fica retida em um sistema poroso, conhecido como filtro ou meio filtrante, e a fase líquida percola por esse meio. Em alguns casos, há aplicação de filtração para separação de fases gás-sólido, usando meios filtrantes especiais. Trata-se de uma estratégia de filtração para remoção dos 35 sólidos de uma corrente de gás, especialmente quando os sólidos não são de interesse comercial. Como exemplo, podemos considerar que este é o princípio de separação de um aspirador de pó doméstico. Considerando que a filtração é majoritariamente aplicada para a separação sólido-líquido, a Figura 2 esquematiza esse processo, no qual pode ser observado que a separação da fase sólida da líquida ocorre assim que a suspensão é adicionada ao sistema de filtragem, com uma quantidade de sólido úmido retido, chamado de torta, e a passagem da fase líquida em excesso, chamada de filtrado. Isso ocorre devido ao uso do filtro, que é uma das principais peças do sistema do equipamento de filtragem. O filtro é a barreira que permite a passagem dos líquidos e a retenção da maioria dos sólidos, podendo ser uma malha, um tecido, um papel ou um leito de sólidos. O processo de filtração,por exemplo, pode ser aplicado na produção de cerveja e no tratamento de água para consumo. Figura 2 – Processo de filtração sólido-líquido Fonte: Cremasco (2012, p. 356). Quando à classificação, os processos de filtração podem ser classificados de acordo com o tipo de força motriz, o mecanismo de filtração, o objetivo pretendido, o ciclo de operação e a natureza dos sólidos. A seguir, são apresentados maiores detalhes de cada uma das classificações dos processos de filtração: 36 a. A força motriz, que impulsiona o filtrado a passar pelo filtro e é gerada pela pressão hidrostática aplicada acima do filtro, enquanto abaixo dele é aplicada pressão reduzida ou vácuo. Além disso, no processo de filtração, também pode ocorrer a ação de uma centrífuga. b. O mecanismo de filtração, existem dois modelos básicos que são considerados para explicar a teoria do processo de filtração. No primeiro modelo, os sólidos permanecem imóveis na superfície do filtro, empilhando-se uns sobre os outros para formar uma camada de torta que aumenta em espessura. Já no segundo modelo, os sólidos são retidos nos poros, resultando na clarificação do líquido. c. O objetivo da filtração, varia dependendo se diz respeito a sólidos secos ou ao processo de clarificação. No caso dos sólidos secos, a torta resultante é um produto de valor agregado, cuja qualidade pode ser aprimorada por meio da recuperação dos sólidos. Por outro lado, no processo de clarificação, o objetivo é obter um líquido mais transparente, com baixa contaminação. Para esse fim, é importante utilizar técnicas como a filtração em profundidade ou a filtração da torta. d. Ciclo operação, pode ser classificado como intermitente (batelada) ou contínuo. No caso da operação em batelada, a força motriz é gerada através da aplicação de pressão constante ou em ciclos, que variam de acordo com a pressão ou o ciclo da batelada. Esses parâmetros dependem da área do filtro e da carga dos sólidos. e. Natureza dos sólidos: a filtração da torta pode envolver a acumulação de sólidos compressíveis ou incompressíveis. Dentro de um sistema de filtragem, esses sólidos podem ser compostos por partículas deformáveis ou rígidas. O tamanho das partículas pode ser igual ou maior que o tamanho mínimo de um poro do 37 filtro (entre 1 a 10 μm), ou até mesmo menor que 1 μm. Muitos sistemas de filtração lidam com sólidos que abrangem diferentes faixas de tamanho. Nesse caso, os sólidos que possuem tamanhos menores que 1 μm podem ser filtrados diretamente, enquanto os de tamanho superior a 1 μm podem necessitar de agregação antes da filtração, utilizando o meio filtrante ou a ultrafiltração. Quanto aos elementos filtrantes utilizados nos processos de filtração, podemos classificá-los de acordo com o material que constitui o meio filtrante, como segue: a. Tecidos de fibras entrelaçadas: podem incluir materiais como acetato de celulose (com aplicação genérica), acrílicos, fibra de vidro, náilon, poliéster, polietileno, polipropileno, algodão e fluorcarbonos. A seleção desses materiais é feita de acordo com o meio de filtração, levando em consideração características como resistência a ácidos, abrasão, álcalis, solventes e temperatura de operação. b. Telas metálicas: os tecidos utilizados na filtração podem ser compostos de diferentes materiais, tais como níquel, cobre, latão, bronze, alumínio, aço, aço inoxidável, Monel e outras ligas. Esses materiais são aplicados em diversas granulometrias, permitindo o uso em pastas cristalinas grossas, polpas e similares, com aberturas de 400 mesh. Esses tecidos são amplamente empregados em ambientes que exigem boa resistência à corrosão e alta resistência à temperatura, utilizando metais selecionados adequadamente para garantir a eficácia da filtração em aplicações de longa duração. Além disso, a utilização desses filtros é atrativa no manuseio de materiais tóxicos, especialmente em filtros fechados, onde a exposição mínima durante a manutenção é desejável. 38 c. Feltros: meios não tecidos que, mesmo assim, são utilizados com partículas gelatinosas de tintas, soluções de fiação e outros líquidos viscosos. A deposição de partículas ocorre pela deposição das partículas ao longo das fibras. d. Papéis de filtro: possuem ampla faixa de permeabilidade, espessura e resistência. Eles estão disponíveis em formato de folhas, placas, tubos, entre outros, e são compostos por diversos materiais. Esses materiais incluem aço inoxidável sinterizado, outros metais, grafite, óxido de alumínio, sílica, porcelana e certos tipos de plástico. Os processos de filtração ainda podem ser classificados de acordo com a operação, como sendo em batelada ou contínuos. Para operações em batelada, filtros abertos e verticais ou filtros prensas são os mais usados, tais como o modelo de filtro prensa apresentado na Figura 3, onde é ilustrado seu esquema de funcionamento. Figura 3 – Filtro prensa Fonte: Shutterstock.com. O filtro prensa, como apresentado na Figura 3, é constituído por placas ou quadros, que são separados por elementos filtrantes. A suspensão ingressa no sistema, como indicado na figura, pela região central, nesse caso, passando por cada placa, formando a torta sobre o tecido de filtração. A suspensão continua a passar até alcançar a última placa e a alimentação é interrompida quando a torta sobre o tecido atinge a espessura pré-determinada. O líquido clarificado retorna pela parte 39 inferior do filtro prensa, como mostrado na Figura 3 pelas linhas de fluxo verde. Ao atingir a espessura de torta sobre o tecido, após a interrupção da alimentação da suspensão, a pressão é aliviada, o sistema de prensa é aberto e, com isso, as placas são dispostas para remoção das tortas. Por fim, há a lavagem das placas e tecido filtrante e, então, o processo é reiniciado. Em operações contínuas, os filtros porosos ou granulares são mais utilizados, em especial em estações de tratamento de efluentes, pois deseja-se a clarificação da fase líquida, utilizada para reciclagem da água com fins de reuso e tratamento de rejeitos industriais. O mecanismo de filtragem, no caso desses filtros, dependerá das características físico- químicas do material a ser filtrado, bem como a disposição das camadas dos filtros. 4. Centrifugação A centrifugação é baseada nos processos de separação pela ação de duas forças: (1) a força centrípeta do corpo, que é necessária para sustentar um corpo de massa movendo-se ao longo de uma trajetória curva. A força que atua perpendicularmente à direção do movimento e direcionada radialmente ao interior de sedimentação, o que requer que exista a diferença de densidade entre as duas ou três fases presentes (sólido-líquido ou líquido-líquido ou líquido-sólido-líquido ou sólido-líquido-sólido) e (2) as centrífugas de filtração para a separação acelerada de sólido-líquido, nas quais a fase sólida é retida em um filtro e a fase líquida é livre para passar. O processo de centrifugação pode ser explicado pela Figura 4. 40 Figura 4 – Processo de centrifugação Fonte: Shutterstock.com. A Figura 4 descreve que a alimentação da mistura das fases é adicionada ao centro da centrífuga onde há um sistema rotativo. Como o sistema está em rotação, após a alimentação, imediatamente os sedimentos irão para a parede da centrífuga, ocorrendo a ação de duas forças: na vertical, a força gravitacional (separação da menor densidade, acima, da maior densidade, abaixo) e da força centrífuga na horizontal. Como a força centrífuga é muito maior que a gravitacional, essa última pode ser desprezada. Em um processo de centrifugação sólido-líquido, os sólidos tendem a assentar-se horizontalmente e são pressionados na parede vertical do decantador. Para o caso de sistemas líquido-líquido, a fração do líquido de maior densidade estará na parede externa da centrífuga, enquanto o líquido menos denso mais na parte interna. 41 Podem ser utilizados dois tipos de centrífugas:as de sedimentação e de filtragem. Com a ação da força centrífuga, a fase sólida é mais densa que a fase líquida e, dessa forma, aloja-se na superfície de tigela, ocorrendo, assim, a sedimentação. Devido ao processo descrito em uma centrífuga de sedimentação, a separação pode ser na forma de clarificação, pois os sólidos são separados da fase líquida e a clareza da fase líquida é a principal aspecto a ser notado no processo A separação também pode ser em forma de classificação e desagregação, pois nessa última etapa há a separação por tamanho de partícula e densidade, na qual os sólidos mais finos (como o caulim), de menor tamanho ou densidade na pasta de alimentação são separados no concentrado fluxo como produto e os sólidos maiores ou mais densos são considerados rejeito. Dessa forma, a separação se dá por espessamento, onde os sólidos se depositam pela ação da força centrífuga para formar uma corrente com sólidos concentrados na desidratação a fim de produzir uma torta seca com alta consistência de sólidos por centrifugação. Para o caso da centrifugação por filtragem, a separação de sólidos de líquidos não requer uma diferença de densidade entre as duas fases: caso exista, a sedimentação ocorre de forma rápida e a movimentação tanto de ambas as fases se dá pela ação da força centrífuga, porém, os sólidos são retidos pelo meio filtrante, enquanto o líquido flui por meio dos sólidos da torta e do filtro. Outro processo de separação por centrifugação é a separação por ciclones, utilizada para separações de gás-sólido e amplamente empregada em secagem de sistemas particulados ou para remoção de partículas em controle ambiental de emissões atmosféricas. Os ciclones se baseiam no princípio da força centrífuga para separar as partículas sólidas de um fluxo de gás. As partículas são direcionadas para as paredes do ciclone devido à ação da força centrífuga, enquanto o gás mais limpo é direcionado para o centro e expelido pelo topo. A filtração, por outro lado, é um processo no qual partículas são retidas em um meio poroso, como um filtro, enquanto o fluido passa através dele. 42 5. Evaporação A evaporação é uma operação unitária que tem como objetivo concentrar uma solução, composta por solutos e um solvente, que pode ser água ou outro solvente. Esse processo envolve a vaporização do solvente, resultando na sua remoção e na obtenção de uma solução mais concentrada no recipiente. Na maioria dos casos, o processo de evaporação é utilizado para remover água de uma solução aquosa. Consiste em aquecer uma mistura de duas soluções miscíveis, e o componente com menor temperatura de ebulição se transforma em vapor, enquanto a solução mais concentrada permanece no recipiente. Em casos gerais, o processo de evaporação ocorre em simples ou múltiplos efeitos, e para a primeira situação, a operação ocorre na mesma pressão, enquanto a segunda ocorre com múltiplos evaporadores operando em pressões menores. Ao analisar as aplicações do processo de evaporação, torna-se evidente a sua importância em diversos contextos. Um exemplo é a produção de açúcar de cana, em que a evaporação é utilizada para concentrar a sacarose, permitindo assim a formação de cristais de açúcar. Outra aplicação fundamental da evaporação ocorre na produção de celulose, em que o processo de geração do licor negro, ou lixívia, depende da evaporação. Convém apontar também que, dentro da indústria alimentícia, a evaporação quase sempre é aplicada sob vácuo, de modo que se possa operar com menores temperaturas e evitar ou diminuir a degradação de componentes/nutrientes ou proporcionar características sensoriais desejadas. É importante salientar que existem condições que podem favorecer a evaporação. Assim, os principais fatores envolvidos no processo de evaporação são: 43 a. Concentração no líquido: é comum que o líquido esteja diluído em solução, com baixa viscosidade, próximo ao que é a água, e, durante o processo de evaporação, a solução torna-se mais concentrada e bastante viscosa. Isso pode ser solucionado com circulação e/ou turbulência no sistema para manter as propriedades de transferência de calor adequadas à evaporação. b. Solubilidade: quando as soluções são aquecidas, as concentrações dos solutos aumentam e, com isso, o limite de solubilidade na solução pode exceder e há a formação de cristais, limitando a concentração em solução que pode ser obtida pela evaporação. c. Espuma: no caso de soluções cáusticas, como leite desnatado e algumas soluções de ácidos graxos, durante o processo de aquecimento, pode ocorrer a formação de espuma. Essa espuma pode ser arrastada juntamente com o evaporador, resultando em perdas. d. Pressão e temperatura: o ponto de ebulição de uma solução é definido de acordo com a pressão do sistema. Elevadas pressões de operação no evaporador, ocasionam o aumento na temperatura de ebulição. Assim, como o uso do vácuo (redução na pressão de operação) permite que o processo seja operado em temperaturas menores, favorecendo que outros parâmetros sejam atingidos ou mantidos. e. Deposição de materiais: durante o processo de evaporação, pode ocorrer a incrustação sobre as superfícies do evaporador. Nesse caso, alguns materiais podem se depositar nas superfícies quentes do sistema de evaporação, sendo tais materiais formados pela decomposição de produtos ou pela queda de solubilidade, afetando a transferência de calor. Nesse ponto, é importante a limpeza do evaporador, bem como a seleção de materiais no projeto para que seja evitada a corrosão. 44 6. Destilação Em sistemas com fases gás-líquido coexistentes, o equilíbrio de sistemas vapor líquido é restrito pela regra das fases. F = C – P + 2 Equação 1 Em que P é o número de fases, C o número de componentes e F o número de variantes ou, como também é conhecido, graus de liberdade. Um exemplo é o sistema amônia-água, em um sistema líquido-vapor. Para dois componentes e duas fases, tem-se que F = 2, ou dois graus de liberdade. As quatro variáveis são temperatura, pressão e a composição da amônia na fase vapor (yA) e a composição da amônia na fase líquida (xA). A água, por ser bicomponente, também terá a composição na fase vapor (yB) e na fase líquida (xB), portanto, yA + yB = 1 Equação 2 xA + xB =1 Equação 3 Com essa introdução, podemos definir que o processo de destilação é um método para separar vários componentes de uma solução líquida que depende da distribuição desses componentes entre uma fase de vapor e uma fase líquida, em que todos os componentes estão presentes em ambas as fases. A fase de vapor é criada a partir da fase líquida por vaporização no ponto de ebulição. Além disso, o requisito básico para a separação de componentes por destilação é que a composição do vapor seja diferente da composição do líquido com o qual está em equilíbrio no ponto de ebulição do líquido. O foco do processo de destilação é com soluções onde todos os componentes são apreciavelmente voláteis, como soluções de amônia- água ou etanol-água, onde ambos os componentes estarão na fase de 45 vapor. Em contraste, na evaporação de uma solução de sal e água, por exemplo, a água é vaporizada, mas o sal não. O processo de absorção difere da destilação em que um dos componentes em absorção é essencialmente insolúvel na fase líquida. Um exemplo é a absorção de amônia de ar pela água, onde o ar é insolúvel na solução de água- amônia. Pela Figura 2, a alimentação de uma coluna de destilação pode ocorrer em 5 estados diferentes: líquido subresfriado, líquido saturado, líquido + vapor, vapor saturado e vapor superaquecido. Figura 5 – Processo de destilação para uma mistura líquido-líquido Fonte: Shutterstock.com. Os processos de separação em si podem ser classificados em simples, ou estágio único, podendo ser apropriado se (1) a volatilidaderelativa entre os dois componentes a serem separados é muito grande e (2) a recuperação de apenas um componente em um dos dois fluxos de produto ser alcançado, sem levar em conta a separação dos demais componentes; ou (3) apenas uma separação parcial deve ser feita como ocorre separação de gases leves, como hidrogênio e metano e aromáticos. 46 Porém, quando a diferença de volatilidade entre os dois componentes a serem separados é pequena, é necessário utilizar um maior número de estágios. Nesse caso, a destilação extrativa se torna uma opção viável, na qual um agente de separação de massa (MAS) é utilizado para aumentar a volatilidade dos componentes, aprimorando o processo de separação. 7. Extração Para separar um ou mais componentes de uma mistura, a referida mistura é colocada em contato com outra fase. O par bifásico pode ser gás-líquido, vapor-líquido, líquido-líquido; ou fluido-sólido. Alternativas na qual se conhece a extração são extração líquida ou extração de solvente. Comparado à destilação, um processo em que um líquido é parcialmente vaporizado para gerar uma outra fase, a separação dos componentes depende das diferenças de pressão de vapor entre as substâncias envolvidas. Além disso, as fases de vapor e líquido são quimicamente similares. Para a extração líquido-líquido, as duas fases são quimicamente bastante diferentes, o que leva a uma separação dos componentes de acordo com as propriedades físicas e químicas dessas substâncias. Para a extração do solvente, em alguns casos, ela pode ser usada como uma alternativa para a destilação ou evaporação, citando, como exemplo, o ácido acético, que pode ser removido da água por destilação ou por extração com solvente usando um solvente orgânico. Tal solução de solvente orgânico-ácido acético resultante é destilado, sendo que a escolha do processo de destilação ou extração por solvente depende dos custos de cada uma das operações. Mudando de exemplo, para os ácidos graxos de alto peso molecular, a separação dos óleos vegetais por extração com propano líquido ou 47 por destilação a alto vácuo, podem ser realizadas; no entanto, o último processo é mais caro. Na indústria farmacêutica, a penicilina ocorre durante processos de fermentação. Devido à complexidade faz-se necessária a extração líquida para separação. Outro exemplo, são as separações dos metais, os quais utilizam-se extrações em soluções aquosas sendo que muitas separações são realizadas comercialmente por soluções aquosas, tais como cobre-ferro, urânio-vanádio e tântalo-nióbio. Assim, foram apresentados os processos de separação e suas principais características, além das aplicações, especificidades e utilização. É fundamental conhecer de forma detalhada cada um desses processos, de maneira que sejam analisados nos processos industriais existentes, além de compreender melhorias que possam ser aplicadas, visando melhoria dos processos em termos de qualidade, retornos financeiros e inovação. Referências CREMASCO, M. A. Operações unitárias em sistemas particulados e fluido mecânicos. São Paulo: Blücher, 2012. FOUST, A. S. et al. LB Princípios das operações unitárias. 2. ed. LTC, 2012. GEANKOPLIS, C. J.; HERSEL, A. A.; LEPEK, D. H. Introduction to engineering principles and units. Transport Processes and Separation Process Principles. 5. ed. Hoboken, NJ: Prentice Hall, 2018. GREEN, D. W.; SOUTHARD, M. Z. Perry’s chemical engineers’ handbook. McGraw- Hill Education, 2019. MCCABE, W. L.; SMITH, J. C.; HARRIOTT, P. Unit operations of chemical engineering. New York: McGraw-hill, 1993. MEIRELLES, A. J. de A. et al. Operações unitárias na indústria de alimentos, 2016. 48 Trocadores de calor Autoria: Eduardo Gouveia Martins Romão Leitura crítica: Francine Fábrega Objetivos • Apresentar os tipos de trocadores e geradores de calor. • Descrever os sistemas de transferência de calor no modo paralelo e contracorrente. • Utilizar média logarítmica das temperaturas e do número de unidades de transferência (NUT). 49 1.Introdução A troca de calor é um fenômeno físico que pode ocorrer de forma direta ou indireta. Logo não necessariamente é feita por meio de tubulações, pois pode ocorrer diretamente como em torres de resfriamento. Sobre o contato indireto vale lembrar que nem todos os trocadores de calor são tubulares, temos as placas e alguns tipos de aletados. A troca de calor somente é caracterizada como um processo quando for um sistema de resfriamento, caso contrário, é uma etapa de processo, ou seja, uma operação unitária. 2. Trocadores de calor Em essência, um trocador de calor pode ser de passagem única e sua distinção está no sentido do fluxo utilizado: o modo paralelo, no qual o fluido a ser aquecido e a fonte de aquecimento seguem o mesmo sentido, ou o modo contracorrente, no qual o fluido a ser aquecido e a fonte de aquecimento seguem sentidos opostos. Um sistema de passagem única, por projeto, consiste em uma tubulação de casos e tubos. Por outro lado, há a configuração de escoamento cruzado, no qual, de forma perpendicular, os dois fluidos cruzam. A Figura 1 representa os esquemas de trocadores de calor. 50 Figura 1 – Tipos de trocadores de calor: (a) fluxo paralelo (conhecido como corrente ou concorrente); (b) fluxo contracorrente; (c) fluxo cruzado e (d) combinação fluxo cruzado com fluxo concorrente Fontes: Shutterstock.com. Em todo o sistema em que há troca de calor, é importante dizer que se deseja que a transferência de calor entre os fluidos deve ser máxima, ou seja, que haja aproveitamento total da troca térmica. Nos trocadores apresentados na Figura 1, ambos os fluidos apenas possuem contato com a superfície de transferência de calor, sem que haja mistura entre eles. No entanto, como dito, para melhorar a eficiência da troca térmica, o projeto de um trocador de calor pode ser alterado para um trocador de múltiplas passagens, também conhecido como trocador de calor tubo casco, onde um dos fluidos que está ao lado do casco, irá passar apenas uma vez, enquanto o fluido do lado do tubo passará duas vezes. A Figura 2 apresenta o esquema o trocador de calor tubo casco. 51 Figura 2 – Trocador de calor do tipo casco e tubo Fonte: Shutterstock.com. É importante dizer que o fluido que passa pelo casco possui uma melhora na mistura devido à presença de chicanas, pois sem a presença desses elementos no casco, o fluido ficará em estagnação, ou seja, não circulará dentro do sistema, afetando o desempenho do processo de troca térmica. Em geral, duas passagens do trocador de calor pelo lado do casco são as mais utilizadas, podendo haver ainda modelos com uma passagem no casco e uma nos tubos (mais incomum) e outros arranjos como 1 a 2 ou mais passagens nos tubos. Das aplicações existentes, suspensões sólido-líquido, soluções aquosas ou orgânicas e numerosos produtos alimentícios, como margarina e suco de laranja concentrado, são frequentemente resfriados e aquecidos em trocadores de calor que contêm vapor ou líquido de resfriamento e um sistema rotativo que é ajustado por meio de palhetas. No entanto, podem existir outros sistemas, tais como uma ou mais passagem pelos tubos. Pelo fato da análise de eficiência de trocadores de calor ser um assunto bastante complexo, vamos enfatizar os trocadores de calor de estágio simples, com sistema de fluxo paralelo e contracorrente. 52 3. Resistência térmica Quando realizamos a análise de trocadores de fluxo paralelo ou contracorrente, o fluxo de calor que percorre pelas paredes de ambos os trocadores pode apresentar fatores que podem impactar na eficiência do projeto de tais trocadores. Por ter contato com fluidos, há o efeito da transferência de calor por convecção e, devido ao fluxo de calor que sai do fluido quente para o fluido frio, que em contato com a parede da tubulação, deve ser considerado o efeito de condução. Devido às características do fluido e do material da parede do tubo, as característicasenvolvidas, tais como condutividade térmica do material da tubulação e suas dimensões, propriedades térmicas do fluido, como exemplos, afetam na transferência de calor, diretamente na transferência de calor por meio da resistência térmica. Outros fatores que podem afetar também a transferência de calor por meio da resistência térmica são a formação de incrustações, superfícies aletadas, que possuem a função de melhorar a transferência de calor, são pontos de análise e discussão a ser realizada. Para trocadores de calor de duplo tubo, em que a transferência de calor ocorre entre dois fluidos (quente e frio) e a parede da tubulação, envolvendo convecção e condução respectivamente. Dessa forma, a Equação 1 descreve a resistência térmica total da parede de um tubo, envolvida entre dois fluidos, sendo um quente e outro frio. Equação 1 Percebe-se que resistência térmica do tubo é dependente das dimensões do tubo, diâmetros internos — Di , consequentemente, — a área interna Ai , e externo (D0 , a qual tem-se a área externa, A0 ; e comprimento (L)), além de sua condutividade térmica, k. Devido ao contato com a superfície, tanto interna quanto externa ao tubo, a 53 transferência de calor dá-se pelo contato do fluido com tais superfícies. Dessa forma, a Figura 3 descreve o processo de transferência de calor entre dois fluidos pela parede da tubulação. Figura 3 – Representação do sistema de transferência de calor pela parede de um tubo Fonte: ÇENGEL; GHAJAR, 2012, p. 633 Pela Figura 3, percebe-se que a resistência térmica total, R, nesse caso é dada como descrito na Equação 2. Equação 2 As contribuições dos fluidos e da parede do tubo representam a resistência térmica total do sistema (R), porém, convém apontar que a resistência térmica é dependente do fluxo de calor (Q) e da variação da temperatura (ΔT) existente entre os fluidos quente e frio, como mostrado na Equação 3. 54 Equação 3 A grandeza U apresentada na Equação 3 é o coeficiente global de transferência de calor, e As é a área da superfície de contato. O coeficiente global possui similaridade com o coeficiente de transferência de calor por convecção. Rearranjando a Equação 3, após cancelar ΔT, e relacionando o coeficiente global de transferência de calor com a resistência térmica total, tem-se a Equação 4. 1 1 1 parede s i i o o R U A h A h A = + + ⋅ ⋅ ⋅ Equação 4 No caso de áreas aletadas, nas quais a transferência de calor é aumentada, tem-se As como apresentado pela Equação 5. aletadas aleta nãoA A A= + Equação 5 Um aspecto que pode afetar tanto a superfície interna quanto a externa de um trocador de calor é o acúmulo de material nessas superfícies, conhecidas como incrustação, que é a formação e deposição de resíduos das reações químicas ou produtos de produção, por exemplo. Dessa forma, caso haja acúmulo tanto na parte interior (Rf,i) quanto exterior (Rf,o), tem-se o detalhamento mostrado na Equação 6. , ,1 1 1f i f o parede s i i i o o o R R R U A h A A A h A = + + + + ⋅ ⋅ ⋅ Equação 6 3.1 Análise de trocadores de calor Uma das atribuições do Engenheiro é a seleção do melhor trocador de calor, o qual deve atender as condições de escoamento e temperatura em uma condição de vazão mássica e determinar a área de troca térmica. Tais requisitos, podem ser atendidos de acordo com o método de análises: o da média logarítmica das temperaturas (LMTD) a qual é utilizada quando há mudança de uma temperatura específica no 55 escoamento de uma vazão mássica conhecida e o da efetividade, que contempla as temperaturas de saída dos fluidos quente e frio em um trocador de calor. Para o método do logarítmico das diferenças, considerando a taxa global de transferência de calor, descrita na Equação 7, ΔTm , é a variação média da temperatura, que poderá ser determinada conforme o tipo de trocador de calor e o fluxo de fluido (corrente ou contracorrente), no qual contempla-se o fluxo de calor q, o coeficiente global de transferência de calor, U, a área da superfície A mq U A T= ⋅ ⋅∆ Equação 7 No entanto, cada trocador de calor deve ser analisado quanto ao sentido da troca de calor envolvida, o que pode ser visto na Figura 4. Figura 4 – Representação do sistema de entrada e saída de fluido quente (q) e fluido frio (f) de acordo com o escoamento do fluido paralelo e contracorrente Fonte: Welty (2017, p. 448). Dessa forma, o cálculo de ΔTm, pode ser determinado pela Equação 8 para escoamento paralelo e pela Equação 11 para escoamento contracorrente. 56 Equação 8 Sendo que as diferenças de temperatura ΔT1 e ΔT2 são determinadas para as seguintes condições mostradas nas Equações 9 e 10. Equação 9 Equação 10 De forma análoga, a Equação 11, como citado anteriormente, aplica-se ao método contracorrente, como mostrado nas Equações de 11 a 13. Equação 11 Equação 12 Equação 13 Por sua vez, o método da efetividade, evidencia a capacidade térmica tanto para o fluido frio (Cf) quanto para o fluido quente (Cq), o qual para o fluxo de calor gerado deve ser levado em consideração a maior diferença de temperatura e o menor valor de capacidade térmica dos dois fluidos envolvidos no trocador de calor. Ressalta-se que a maior diferença de calor é conhecida: é a diferença da temperatura de entrada do fluido quente (Tq entrada) e a entrada do fluido frio (Tf entrada). Assim sendo, constitui o valor máximo de fluxo calor, como mostrado na Equação 14. Equação 14 A efetividade do sistema é dada pela Equação 15, a qual relaciona o fluxo máximo de calor, considerando que o fluxo de calor do fluido quente e do fluido frio é a mesmo. 57 max q q ε ≡ Equação 15 Dessa forma, o número de unidades de transferência (NUT), utilizado na análise de trocadores de calor, é determinado como apresentado na Equação 16. min U ANUT C ⋅ = Equação 16 De acordo com o tipo de trocadores de calor, há formas diferentes de se determinar o valor de NUT, como demonstrado na Figura 5. Figura 5 – Relações de efetividade de trocadores de calor Fonte: Çengel; Ghajar (2012, p. 656). Na Figura 5 aparece uma constante c que é conhecida como razão de capacidade que é igual a Cmin/Cmax. De forma gráfica, pode-se relacionar a efetividade com o número de unidades de transferência, como na Figura 6. 58 Figura 6 – Curvas de efetividade para os tipos de trocadores de calor Fonte: Çengel; Ghajar (2012, p. 657). Percebe-se que o tema abordado, relacionado aos trocadores de calor, deve priorizar em conhecer como é realizada a forma da transferência de calor, porém, a eficiência devido à forma que tal transferência é realizada além das condições dos fluidos e dimensionamento da tubulação a ser utilizada. 59 Referências ÇENGEL, Yunus A.; GHAJAR, Afshin J. Transferência de Calor e Massa. Porto Alegre: AMGH editora, 2012. WELTY, James R. et al. Fundamentos de transferência de momento, calor e massa. Rio de Janeiro: LTC, 2015 BERGMAN, Theodore L.; LAVINE, Adrienne S. INCROPERA Fundamentos de Transferência de Calor e de Massa. 8ª ed. São Paulo: Grupo GEN, 2019. 60 Sumário Apresentação da disciplina 05 Apresentação da disciplina Definição de fluxograma na indústria Objetivos 1.Introdução 2. Operações unitárias nos processos industriais químicos 3. Fluxograma Referências Balanços de massa e energia aplicados em operações unitárias Objetivos 1.Introdução: definição de processos 2. Balanço de massa aplicado em operações unitárias 3. Balanço de energia aplicado em operações unitárias Referências Conceituação do processo de separação em misturas Objetivos 1.Introdução 2. Decantação 3. Filtração 4. Centrifugação 5. Evaporação 6. Destilação 7. Extração Referências Trocadores de calor Objetivos 1.Introdução 2. Trocadores de calor 3. Resistência térmica Referências