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1 
 
 
FARMACOEPIDEMIOLOGIA, FARMACOECONOMIA E 
FARMACOVIGILÂNCIA EM ONCOLOGIA CENTRAL 
 
1 
 
Sumário 
NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 
BREVE HISTÓRIA DO ENVOLVIMENTO DA OMS COM A 
MONITORIZAÇÃO DA SEGURANÇA DE MEDICAMENTOS ........................... 3 
BREVE HISTÓRIA DO ENVOLVIMENTO DA OMS COM A 
MONITORIZAÇÃO DA SEGURANÇA DE MEDICAMENTOS ........................... 4 
FARMACOVIGILÂNCIA NA REGULAÇÃO DE MEDICAMENTOS ......... 7 
REGULAÇÃO DE PESQUISAS CLÍNICAS ............................................. 8 
MONITORIZAÇÃO DA SEGURANÇA PÓS-COMERCIALIZAÇÃO ....... 10 
A HARMONIZAÇÃO INTERNACIONAL DAS EXIGÊNCIAS 
REGULATÓRIAS DE MEDICAMENTOS ......................................................... 13 
PROMOVENDO A COMUNICAÇÃO NA ÁREA DE SEGURANÇA DE 
MEDICAMENTOS ............................................................................................ 14 
RISCOS E GERENCIAMENTO DE CRISE ........................................... 15 
FARMACOEPIDEMIOLOGIA DE CAMPO: UMA PROPOSTA PARA AS 
AÇÕES DE FARMACOVIGILÂNCIA NO BRASIL ............................................ 16 
INVESTIGAÇÃO DE EAM ..................................................................... 19 
INVESTIGAÇÃO CASO-A-CASO .......................................................... 19 
EXEMPLOS DE INVESTIGAÇÃO EM FARMACOEPIDEMIOLOGIA DE 
CAMPO NO BRASIL ........................................................................................ 31 
FARMACOECONOMIA ......................................................................... 32 
INTERFACE ENTRE ATENÇÃO FARMACÊUTICA E 
FARMACOECONOMIA .................................................................................... 35 
FARMACOECONOMIA APLICADA À ONCOLOGIA E A 
MONITORIZAÇÃO DO PACIENTE ONCOLÓGICO ........................................ 39 
REFERÊNCIAS ..................................................................................... 42 
 
 
 
2 
 
NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de 
empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de 
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como 
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a 
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua 
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, 
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o 
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
3 
BREVE HISTÓRIA DO ENVOLVIMENTO DA OMS COM A 
MONITORIZAÇÃO DA SEGURANÇA DE MEDICAMENTOS 
Este capítulo introduz os acontecimentos e as ideias que embasaram o 
surgimento e o desenvolvimento inicial da farmacovigilância ao longo dos últimos 
trinta anos, sob a égide da Organização Mundial da Saúde. 
Em 2002, mais de sessenta e cinco países tinham seu próprio centro de 
farmacovigilância. 
A participação no Programa Internacional de Monitorização de 
Medicamentos da OMS é coordenada pelo Centro Colaborador da OMS para 
Monitorização Internacional de Medicamentos, conhecido como the Uppsala 
Monitoring Centre (UMC). 
Descreve-se também a evolução da farmacovigilância nos últimos anos e 
sua importância crescente como ciência crítica da prática clínica efetiva e da 
ciência da saúde pública. 
Os centros nacionais de farmacovigilância tornaram-se influência 
significativa sobre as autoridades regulatórias de medicamento num período em 
que as preocupações com segurança de medicamentos tornaram-se cada vez 
mais importantes na saúde pública e prática clínica. 
A farmacovigilância está agora firmemente apoiada em princípios 
científicos e é parte integrante da prática clínica efetiva. A disciplina precisa se 
desenvolver ainda mais para atender às expectativas públicas e às demandas 
da saúde pública moderna. 
 
Antecedentes 
De acordo com o artigo 2.o da sua constituição, a Organização Mundial 
da Saúde tem autorização de seus Estados-membros para desenvolver, 
estabelecer e promover padrões internacionais com respeito a produtos 
alimentícios, biológicos, farmacêuticos e congêneres. 
Há também uma cláusula no artigo 21 da constituição da Assembleia 
Mundial da Saúde sobre a adoção de regulamentos relacionados a padrões de 
 
4 
segurança, pureza e potência de produtos biológicos, farmacêuticos e 
congêneres existentes no comércio internacional. 
Especialmente depois da tragédia causada pela talidomida, em 1961, 
foram feitos os primeiros esforços internacionais sistemáticos para abordar 
questões de segurança de medicamentos. 
Naquela época, nasceram milhares de crianças com má-formação 
congênita como resultado da exposição, ainda no útero, a um medicamento 
inseguro indicado para uso em mulheres grávidas. 
A décima-sexta Assembleia Mundial da Saúde (1963) adotou uma 
resolução (WHA 16.36) que reafirmou a necessidade de ações imediatas em 
relação à disseminação rápida de informações sobre reações adversas a 
medicamentos e que conduziu, posteriormente, à criação do Projeto de Pesquisa 
Piloto para a Monitorização Internacional de Medicamentos da OMS em 1968. 
Seu propósito era desenvolver um sistema aplicável na esfera 
internacional, para identificar previamente efeitos adversos a medicamentos 
desconhecidos ou pouco estudados. Em seguida, a OMS produziu um relatório 
técnico com base na reunião consultiva realizada em 197. 
 
BREVE HISTÓRIA DO ENVOLVIMENTO DA OMS COM A 
MONITORIZAÇÃO DA SEGURANÇA DE MEDICAMENTOS 
Desse começo, emergiram a prática e a ciência da farmacovigilância. 
Sistemas foram desenvolvidos nos Estados-membros para a coleta e avaliação 
de casos individuais de RAMs. 
A junção das notificações internacionais de RAMs numa base central de 
dados desempenharia a importante função de contribuir para o trabalho das 
autoridades regulatórias nacionais de medicamentos, para melhorar o perfil de 
segurança dos medicamentos e ajudar a evitar outras tragédias. 
 
 
 
5 
Do piloto para a permanência 
As principais realizações da reunião consultiva da OMS em 1971 foram: 
• defender o estabelecimento de centros nacionais para monitorização de 
medicamentos; 
• fornecer diretrizes; e 
• identificar a contribuição que os centros nacionais podem oferecer ao 
sistema internacional. 
Diante disso, esperava-se que o tempo necessário para reconhecer que 
um medicamento produz uma reação adversa poderia ser reduzido, e a 
importância da reação, mais prontamente avaliada. 
Percebeu-se que os dados coletados pelos profissionais da saúde, a 
monitorização sistemática das populações, a revisão das estatísticas da saúde 
e dos dados sobre consumo ou uso de medicamentos e a análise efetiva de 
dados das notificações eram elementos necessários para que os objetivos da 
farmacovigilância fossem alcançados. 
Atenção especial precisaria ser dada aos medicamentos novos. Centros 
de referência especializados seriam requisitados para fornecer dados adicionais 
aos centros nacionais e para investigar problemas específicos de segurança de 
medicamentos. 
Desde o começo do Programa Internacional, em 1968, muito já foi 
realizado: 
• o projeto piloto estendeu seu âmbito de abrangência, compondo o 
Programa Internacional de Monitorização de Medicamentos da OMS, ora 
coordenado pelothe Uppsala Monitoring Centre (UMC) em Uppsala, Suécia, 
com supervisão de um comitê internacional; 
• o Programa expandiu-se para incluir mais de sessenta países-membros; 
• em muitos países, desenvolveram-se centros de notificação, grupos 
interessados, faculdades de medicina e departamentos de farmacologia locais, 
 
6 
dedicados à questão, centros de informações sobre medicamentos e centros de 
intoxicação e outras organizações não-governamentais; 
• a ideia de que centros de farmacovigilância eram um luxo restrito ao 
mundo desenvolvido foi substituída pela consciência de que um sistema 
confiável de farmacovigilância é necessário à saúde pública e ao uso racional, 
seguro de medicamentos e custo-efetivo em todos os países. 
Onde não existe nenhuma infraestrutura regulatória estabelecida, um 
sistema de monitorização de medicamentos é uma forma efetiva e custo-
eficiente de identificar e minimizar os danos aos pacientes e evitar tragédias em 
potencial. 
Os objetivos específicos de farmacovigilância são: 
• melhorar o cuidado com o paciente e a segurança em relação ao uso de 
medicamentos e a todas as intervenções médicas e paramédicas; 
• melhorar a saúde pública e a segurança em relação ao uso de 
medicamentos; 
• contribuir para a avaliação dos benefícios, danos, efetividade e riscos 
dos medicamentos, incentivando sua utilização de forma segura, racional e mais 
efetiva (inclui-se o uso custo-efetivo); e 
• promover a compreensão, educação e capacitação clínica em 
farmacovigilância e sua comunicação efetiva ao público. 
A farmacovigilância se desenvolveu e continuará a se desenvolver como 
resposta a necessidades especiais, pautando-se nos pontos fortes específicos 
dos membros do Programa da OMS e indo além deles. 
Tal influência ativa precisa ser encorajada e nutrida; é uma fonte de vigor 
e originalidade que tem contribuído muito para a prática e os padrões 
internacionais. 
A comunicação e a troca de informações entre a indústria e as autoridades 
regulatórias melhoraram como resultado da organização regional e internacional 
de harmonização que emergiu em anos recentes. A educação profissional 
continuada, a educação do paciente e o patrocínio da indústria às atividades 
 
7 
relativas à informação sobre medicamentos também contribuíram para o seu uso 
seguro. 
 
FARMACOVIGILÂNCIA NA REGULAÇÃO DE MEDICAMENTOS 
Boas medidas regulatórias de medicamentos formam a base cultural em 
âmbito nacional, para a segurança de medicamentos e para a confiança pública 
em medicamentos. 
As questões com as quais as autoridades reguladoras de medicamentos 
têm de tratar, além da aprovação de medicamentos novos, incluem: 
• pesquisas clínicas; 
• segurança de medicamentos complementares e tradicionais, vacinas e 
medicamentos biológicos; 
• desenvolvimento de canais de comunicação entre todas as partes que 
têm interesse em segurança de medicamentos, assegurando que eles estejam 
abertos e aptos a funcionar de forma efetiva, particularmente em períodos de 
crise. 
Os programas de farmacovigilância precisam de fortes ligações com os 
reguladores para assegurar que as autoridades estejam bem informadas sobre 
questões de segurança na prática cotidiana, que podem ser relevantes para as 
ações regulatórias futuras. 
Os reguladores entendem que a farmacovigilância desempenha papel 
especializado e fundamental na garantia contínua da segurança de 
medicamentos. 
Os programas de farmacovigilância precisam ser adequadamente 
apoiados para alcançar seus objetivos. 
Um novo medicamento deve atender a três exigências antes de sua 
aprovação pela autoridade regulatória nacional. 
Exige-se a demonstração de evidências suficientes de que o novo 
medicamento seja 
 
8 
• de boa qualidade; 
• eficaz; e 
• seguro para o objetivo ou objetivos para os quais é proposto. 
Enquanto os primeiros dois critérios devem ser atendidos antes que 
qualquer consideração possa ser feita quanto à aprovação, a questão da 
segurança é menos exata. 
A segurança não é absoluta e pode ser julgada somente em relação à 
eficácia, necessitando-se de análise por parte dos reguladores para decidir 
quanto aos limites aceitáveis de segurança. Há possibilidade de que eventos 
adversos raros, porém graves (como os que ocorrem com a frequência de, 
digamos, um em cinco mil), não sejam identificados no desenvolvimento do 
medicamento anterior ao registro. 
 
REGULAÇÃO DE PESQUISAS CLÍNICAS 
Nos últimos anos, houve aumento significativo no número de pesquisas 
clínicas nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. 
Somente nos Estados Unidos da América, as pesquisas clínicas quase 
dobraram entre 1990 e 1998. 
Com o sequenciamento do genoma humano, as pesquisas clínicas sobre 
terapias potenciais com novos medicamentos provavelmente aumentarão. 
Há também uma crescente aliança entre as universidades e as indústrias 
farmacêuticas e de biotecnologia. Isto tem causado o surgimento de graves e 
difundidas questões com respeito a assuntos éticos e científicos como: 
• o potencial para conflitos de interesse; 
• práticas não-éticas de recrutamento de pacientes; 
• inadequação do consentimento escrito; 
• falta de capacidade para assegurar monitorização contínua das 
pesquisas clínicas e adesão aos princípios de práticas clínicas éticas e idôneas; 
 
9 
• baixo número de notificações e gerenciamento inadequado de eventos 
adversos. 
Para reguladores de medicamentos, as tendências de mudança na 
conduta de pesquisas clínicas durante os últimos anos apresentam desafios 
especiais e urgentes, particularmente quanto ao asseguramento de que os 
direitos e a saúde dos pacientes e suas comunidades sejam protegidos. Para a 
aprovação de pesquisas clínicas, os organismos regulatórios analisam a 
segurança e eficácia dos novos produtos sob investigação. 
Eles também têm de prestar atenção aos padrões gerais de assistência e 
segurança dos sujeitos de pesquisa juntamente com os conselhos institucionais 
de revisão (Institutional Review Boards - IRBs) apropriados. 
Os medicamentos necessários a doenças como tuberculose, malária, 
HIV/AIDS e meningite meningogócica do tipo A e aqueles que tenham perfil de 
efetividade/segurança questionável ou incerto requerem vigilância cuidadosa 
quando introduzidos em grande escala nas comunidades. A complexidade 
crescente das pesquisas clínicas apresenta desafios adicionais aos reguladores. 
A elaboração de estudos frequentemente exige grandes grupos de 
participantes. Em muitos casos, as pesquisas são conduzidas em vários locais 
de diversos países. Os comitês locais de ética e reguladores de medicamentos 
nem sempre estão cientes das experiências de pacientes e investigadores em 
outros locais internacionais. 
As pesquisas clínicas estão cada vez mais limitadas às organizações de 
pesquisas clínicas e agências de recrutamento de pacientes, as quais atuam 
como intermediárias entre os patrocinadores do estudo, os investigadores e os 
pacientes. 
A responsabilidade em assegurar conduta apropriada de pesquisa clínica 
pode, em tais circunstâncias, ser dividida entre as partes. Informações pedidas 
por comitês de ética e reguladores podem ser de difícil obtenção num curto 
período de tempo. 
 
10 
Os reguladores e comitês de ética nem sempre têm capacidade para 
desempenhar efetivamente essas funções. Isto pode acarretar graves 
implicações para a segurança dos pacientes. 
A monitorização da segurança durante pesquisas clínicas é agora 
reconhecida como uma das preocupações principais no desenvolvimento de um 
novo medicamento. 
Essa questão está sendo tratada, atualmente, por um grupo de trabalho 
do CIOMS. Três tópicos principais estão sendo abordados: 
1) a coleta de informações de experiências adversas; 
2) avaliação e monitorização de dados clínicos; 
3) notificação e comunicação de dados clínicos. 
 
MONITORIZAÇÃO DA SEGURANÇAPÓS-COMERCIALIZAÇÃO 
É consenso, atualmente, que parte do processo de avaliação da 
segurança dos medicamentos precisa ocorrer na fase pós-comercialização 
(aprovação), para não perder inovações importantes numa rede regulatória 
indevidamente restritiva. 
A decisão de se e como isso deve ser feito está nas mãos dos 
reguladores. Quanto mais forte for o sistema nacional de farmacovigilância e de 
notificações de RAMs, mais provável será que decisões regulatórias equilibradas 
sejam tomadas para uma pronta liberação de novos medicamentos, com a 
promessa de avanços terapêuticos. 
A legislação que governa o processo regulatório, na maioria dos países, 
permite o estabelecimento de condições para registro, tal como a exigência de 
que deve haver farmacovigilância minuciosa nos primeiros anos da liberação do 
medicamento para o mercado. Porém a monitorização cuidadosa da segurança 
não está limitada aos novos medicamentos ou aos avanços terapêuticos 
significativos. 
 
11 
Ela tem papel importante a desempenhar na introdução de medicamentos 
genéricos e na revisão do perfil de segurança de medicamentos mais antigos já 
disponíveis, em que novas questões de segurança podem ter surgido. Em um 
país em desenvolvimento, estas últimas considerações são, provavelmente, 
mais importantes que os benefícios que uma entidade terapêutica moderna 
possa trazer a um serviço de saúde já limitado. 
Enquanto a notificação espontânea permanece como pedra fundamental 
da farmacovigilância no ambiente regulatório e é indispensável para a 
identificação de sinais, a necessidade de uma vigilância mais ativa também tem-
se tornado cada vez mais clara. Sem informação sobre o uso e a extensão do 
consumo, as notificações espontâneas não possibilitam determinar a frequência 
de uma RAM atribuível a um produto ou sua segurança em relação a um produto 
comparável. 
Métodos epidemiológicos mais sistemáticos e consistentes que levem em 
conta as limitações da notificação espontânea são necessários para que essas 
questões importantes da segurança sejam trabalhadas. 
Eles precisam ser incorporados aos programas de vigilância pós-
comercialização. 
Há outros aspectos da segurança de medicamentos que têm sido 
bastante negligenciados até então, que deveriam ser incluídos na monitorização 
dos efeitos latentes e de longo prazo dos medicamentos. Incluem: 
• identificação das interações do medicamento; 
• medição do impacto ambiental dos medicamentos utilizados em grandes 
populações; 
• avaliação da contribuição dos “componentes inativos” (excipientes) para 
o perfil de segurança; 
• sistemas para comparar perfis de segurança de medicamentos da 
mesma classe terapêutica; 
• vigilância dos efeitos adversos à saúde humana de resíduos de 
medicamentos em animais, e.g., antibióticos e hormônios. 
 
12 
Uma questão mais difícil é se a farmacovigilância tem resultado na 
remoção imprópria do mercado de medicamentos potencialmente úteis, como 
resultado de temores infundados ou falsos sinais. 
Preocupante para a segurança dos medicamentos é o desenvolvimento 
da propaganda “direta ao consumidor”, feita por fabricantes farmacêuticos, 
outros vendedores de medicamentos e outras partes com interesses específicos. 
Os gastos nessa atividade dobraram nos E.U.A. nos últimos quatro anos. 
Apesar da possibilidade de tais propagandas melhorarem a compreensão dos 
pacientes e de estarem de acordo com a necessidade de melhorar o acesso às 
informações sobre os medicamentos, a ausência de confiabilidade e precisão 
pode comprometer a assistência e segurança do paciente. Mesmo nos lugares 
em que a propaganda direta de medicamentos para consumidores é ilegal, a 
Internet possibilita a comunicação além das fronteiras. Isso pode fazer com que 
as regulações nacionais sobre propagangas se tornem inefetivas. 
Atualmente as páginas eletrônicas tornam possível comprar e vender 
medicamentos sem controle, como os benzodiazepínicos. Todo esse 
desenvolvimento em comunicação tem impacto na segurança dos 
medicamentos. 
Todas essas questões sugerem a necessidade de monitorização mais 
completa da segurança de medicamentos e o exame minucioso das 
propagandas. 
Recursos e conhecimento são necessários para assegurar que materiais 
promocionais contenham informações precisas e equilibradas, e que as práticas 
sejam éticas. 
A auto-regulação feita pela indústria é, provavelmente, insuficiente em 
muitos países. A colaboração regional ou internacional na implementação de um 
código regulatório de práticas para propagandas de medicamentos, vigiado por 
um organismo consultivo imparcial, ajudaria nessa questão. 
 
 
 
13 
A HARMONIZAÇÃO INTERNACIONAL DAS EXIGÊNCIAS 
REGULATÓRIAS DE MEDICAMENTOS 
A harmonização de vários elementos das atividades regulatórias de 
medicamentos foi empreendida na última década por várias organizações 
intergovernamentais nos âmbitos regionais e inter-regionais. 
A força motriz desses esforços foi o aumento de comércio global de 
medicamentos e o crescimento, em complexidade, de regulações técnicas 
relacionadas à segurança e qualidade dos medicamentos. Atividades de 
harmonização relacionadas à regulação de medicamentos estão sendo 
estimuladas em todas as regiões da OMS. 
A iniciativa da ICH, que começou em 1990, é uma empreitada inter-
regional, que abrange dezessete países de renda elevada. As diretrizes 
produzidas por esses grupos de especialistas, provenientes das autoridades 
regulatórias e empresas farmacêuticas membros do ICH, representam as ideias 
mais recentes e estão tendo impacto em todos os países. 
A OMS tem o papel de observadora em todas as atividades do ICH. 
Discussões estão em desenvolvimento para considerar as implicações do 
processo do ICH e da globalização de suas diretrizes. 
Isso inclui a descrição dos benefícios do processo e a explicação de 
preocupações com a expansão de sua influência em países que não fazem parte 
do ICH. Se o ICH passar para o campo da farmacovigilância, o grupo deverá ser 
encorajado a aproveitar o trabalho já desenvolvido pela OMS nessa área. 
Todos os países da ICH devem ser encorajados a participar ativamente 
do Programa Internacional de Monitorização de Medicamentos da OMS. 
 
 
 
 
 
14 
PROMOVENDO A COMUNICAÇÃO NA ÁREA DE SEGURANÇA 
DE MEDICAMENTOS 
A sociedade tem grande preocupação com os perigos da vida moderna. 
Os medicamentos estão entre os avanços tecnológicos que proporcionaram 
grandes benefícios e riscos adicionais à sociedade. O conhecimento da 
percepção que o público tem desses riscos é essencial se houver a intenção de 
gerenciá-los efetivamente. Até onde o seguro é seguro o bastante? Que riscos 
são aceitáveis? Essas são duas questões críticas que os provedores de 
medicamentos precisam considerar ao se comunicarem com os pacientes e com 
o público. Reconhecendo que há discrepância entre a visão que os especialistas 
têm de risco e a percepção pública, há necessidade de se analisarem e 
entenderem as diferenças de modo muito mais abrangente. Não é suficiente, 
para os especialistas, estar satisfeito com as evidências de segurança. 
A indústria farmacêutica, governos e provedores de assistência à saúde 
têm de construir a confiança pública por meio de comunicações efetivas dos 
riscos. Isto só pode ser alcançado quando a mentalidade pública for examinada 
e compreendida. 
Algumas autoridades regulatórias estão intensificando a transparência 
com que conduzem seu trabalho. Porém, muitas autoridades continuam sendo 
restringidas por cláusulas sigilosas reais, cuja intenção é proteger os direitos de 
propriedade intelectual dos fabricantes farmacêuticos. 
O problema com o sigilo é que ele cria um ambiente de desconfiança e 
mal-entendidos. Espera-se, agora, dos reguladores, que eles tratem da 
regulação de medicamentos, incluindo questões de segurança, com novo 
comprometimento com a abertura, com a participaçãode pacientes e seus 
representantes no processo. 
Em relação a isso, progresso considerável tem sido alcançado em muitos 
países, particularmente quanto à regulação de medicamentos para HIV/AIDS e 
câncer. Tem havido tendência de que as questões de segurança de 
medicamentos sejam tratadas de forma que se protejam, em primeiro lugar, os 
interesses dos fabricantes farmacêuticos. 
 
15 
Os centros nacionais de farmacovigilância, desde que tenham 
conhecimento e recursos necessários, estão particularmente bem posicionados 
para coletar, avaliar e fazer recomendações sobre segurança de medicamentos, 
livres de influências limitadoras. Deve haver a possibilidade de se proteger o 
sigilo do paciente por meio da aplicação de cuidadosos procedimentos 
operacionais padronizados. 
O maior desafio para os Centros Nacionais e para as autoridades 
regulatórias de medicamentos é promover e manter a comunicação efetiva e 
aberta de informações relativas aos benefícios, danos, efetividade e riscos dos 
medicamentos, incluindo-se a incerteza de conhecimentos nessa área, com o 
público e os profissionais da saúde. 
 
RISCOS E GERENCIAMENTO DE CRISE 
A importância de sistema eficiente para tratar dos riscos e das crises 
relacionadas à segurança de medicamentos tornou-se cada vez mais evidente 
nos últimos anos. As questões de segurança tendem a assumir importância 
internacional rapidamente. A velocidade com que as informações se alastram no 
mundo moderno significa que as questões de segurança de medicamentos já 
não se limitam aos países individualmente. 
Frequentemente, a mídia e o público geral são informados ao mesmo 
tempo, ou, até mesmo, antes que as autoridades regulatórias nacionais. Quando 
as crises surgem, sejam elas reais ou imaginárias, questões ou preocupações 
com a segurança local surgem no exterior, e se espera que as autoridades 
regulatórias as enfrentem de forma aberta, eficiente, rápida e abrangente. Muitas 
autoridades nacionais identificaram a necessidade de desenvolver um plano 
organizacional para gerenciar riscos e para a comunicação e ação durante as 
crises. 
Os próprios reguladores, frequentemente, reagem sob pressão numa 
crise de segurança de medicamentos inserida numa estrutura legislativa ou 
administrativa que seja inadequada ou excessivamente restritiva. Deve haver 
procedimentos operacionais claros, porém flexíveis, de forma que suas reações 
 
16 
não sejam demoradas, desnecessariamente complicadas ou indevidamente 
cautelosas (a precaução imprópria pode resultar na remoção de um produto do 
mercado, até mesmo quando não houver nenhuma justificativa possível e uma 
reação mais racional e menos drástica seja apropriada). 
Em tais circunstâncias, quanto maior a disparidade nas informações sobre 
segurança entre a avaliação pré-registro e a real situação na prática, maior a 
probabilidade de a reação regulatória ser inapropriada. 
Quando as crises surgirem, a autoridade regulatória terá poderes para 
suspender o registro, impor condições especiais ou restringir severamente o uso 
por determinados pacientes ou profissionais. 
A autoridade pode exigir que os fabricantes mudem a informação do 
produto de uma maneira específica. Essas decisões, normalmente, são 
comunicadas por alertas de medicamentos, cartas gerais a médicos e 
farmacêuticos, declarações na imprensa, páginas eletrônicas, boletins 
informativos e periódicos, publicações, dependendo do tipo e urgência da 
mensagem e a quem ela se dirige. 
 
 
FARMACOEPIDEMIOLOGIA DE CAMPO: UMA PROPOSTA 
PARA AS AÇÕES DE FARMACOVIGILÂNCIA NO BRASIL 
A farmacovigilância é definida como sendo um conjunto de atividades 
relativas à detecção, avaliação, compreensão e prevenção de qualquer evento 
adverso relacionado com medicamentos (EAM), tais como reações adversas, 
erros de medicação, uso abusivo/indevido, inefetividade terapêutica, desvio de 
qualidade com consequências danosas a pacientes e intoxicações 
medicamentosas. 
O resultado de tais eventos se expressa como óbito, lesão, incapacidade 
e/ou prolongamento da internação hospitalar de pacientes, resultando em um 
aumento no consumo de recursos sanitários. Entre as principais funções que 
 
17 
devem ser realizadas por sistema de farmacovigilância de qualquer país, 
destacam-se: 
• coleta, processamento, análise e interpretação de dados; 
• investigação em farmacoepidemiologia de campo; 
• recomendação e avaliação de ações de controle; e 
• retroalimentação e divulgação de informações. 
A investigação em farmacoepidemiologia de campo tem a finalidade de 
esclarecer a ocorrência dos EAM e, assim, contribuir para a adoção de medidas 
sanitárias que reduzam o impacto socioeconômico da morbimortalidade por 
esses produtos e a sobrecarga dos serviços de saúde. 
Outros objetivos podem ser: 
• prevenir casos adicionais do problema; 
• ampliar o conhecimento sobre o referido agravo; 
• servir como ferramenta de capacitação em farmacoepidemiologia em 
serviço; 
• avaliar as estratégias de prevenção existentes; e 
• produzir recomendações para a prevenção de EAM futuros similares. 
A "epidemia" de focomelia em recém-nascidos causada pela talidomida 
na Europa entre 1958 e 1962, que resultou em cerca de 10 a 15 mil crianças 
malformadas, pode ser considerada um exemplo de investigação em 
farmacoepidemiologia de campo bem-sucedida. 
Lenz, um médico alemão que vinha acompanhando uma série de casos 
da nova síndrome, estabeleceu, pela primeira vez, a correlação entre o consumo 
da talidomida por gestantes e o aparecimento das malformações congênitas. 
 
18 
Embora tenham acontecido outras tragédias induzidas pelo uso de 
medicamentos antes e depois dessa, nenhuma delas atingiu tantas vidas nem 
teve tamanho impacto sobre os organismos reguladores. 
Em um informe recente da Aliança Mundial para a Segurança do Paciente 
cita-se a necessidade de desenvolver diferentes tipos de investigação para 
melhorar a segurança do paciente com o objetivo de compreender os seguintes 
aspectos: 
• determinar a magnitude do dano e o número e tipos de eventos adversos 
que prejudicam os pacientes; 
• entender as causas fundamentais dos danos ocasionados aos 
pacientes; 
• identificar soluções para alcançar uma atenção sanitária mais segura; e 
• avaliar o impacto das soluções em situações da vida real. 
Neste sentido, a estratégia de desenvolvimento e fortalecimento da 
função de investigação em farmacoepidemiologia de campo pelos organismos 
de vigilância sanitária tem muito a contribuir para o alcance desse objetivo. 
No Brasil, as atividades de farmacovigilância realizadas por autoridades 
de saúde compõem o escopo de atuação das vigilâncias sanitárias nos níveis 
municipal, estadual e federal, sendo que as competências de cada nível 
apresentam especificidades variáveis. Esse tipo de vigilância tem ampliado as 
ações clássicas de vigilância sanitária como educação, controle, 
regulamentação e fiscalização/inspeção para incluir ações de notificação, 
investigação de casos, monitoramento e divulgação de informações, 
características da vigilância epidemiológica no nosso país. 
São poucas as investigações de campo realizadas no país que tiveram 
medicamentos como objeto de estudo. No entanto, essas investigações 
revelaram-se como de grande impacto tanto na saúde pública quanto no 
aprimoramento das ações de vigilância sanitária no país. Os objetivos dessas 
investigações envolvem, geralmente, a confirmação ou o descarte do evento 
notificado (conglomerado ou surto), a descrição do evento por pessoa, tempo e 
lugar, a determinação da existência de outros possíveis fatores associados, a 
identificação do agente implicado e a proposição de medidas de controle e 
prevenção. Além disso, essas investigações objetivam também não apenas 
 
19 
buscar explicações para o problema, mas alterar as condições do risco sanitário 
encontrado. 
O objetivo deste artigoé propor e descrever a investigação em 
farmacoepidemiologia de campo como função primordial de farmacovigilância a 
ser conduzida pelas vigilâncias sanitárias municipais, estaduais e ou federal 
frente à notificação, comunicação e/ou rumores nos meios de comunicação 
social de casos de EAM. 
 
 
INVESTIGAÇÃO DE EAM 
Um aumento de casos inesperados de EAM é o principal fator para o 
desencadeamento de uma investigação em farmacoepidemiologia de campo, 
embora não haja regra definindo o número de casos necessários para a 
realização da mesma. No entanto, a decisão de investigar pode ser influenciada 
por outros fatores como limitações de recursos financeiros e humanos 
qualificados, pressão política local, regional ou nacional e interesses científicos 
e de saúde pública, como magnitude e gravidade do EA. 
A Figura 1 apresenta um fluxo para o estabelecimento da investigação em 
farmacoepidemiologia de campo, tendo como critério o aumento de casos 
inesperados de EAM e destaca a investigação caso-a-caso como uma função 
fundamental de farmacovigilância que antecede a investigação em 
farmacoepidemiologia de campo. 
 
 
INVESTIGAÇÃO CASO-A-CASO 
A investigação caso-a-caso tem a finalidade, entre outras, de melhorar a 
qualidade das notificações de casos a serem registradas em um sistema de 
informação. 
A melhoria é tanto em termos de confiabilidade dos dados quanto do 
preenchimento de todas as variáveis que compõem a ficha de notificação. Essa 
investigação deve ser conduzida, preferencialmente, por entidades que 
compõem a vigilância sentinela (hospitais, farmácias e profissionais da saúde) 
 
20 
e/ou por profissionais da vigilância sanitária local, por exemplo. Esse tipo de 
investigação de rápida execução deve ser realizado toda vez que se recebe uma 
notificação/comunicação de suspeita de EAM ou devido a rumores noticiados 
nos meios de comunicação social. Além disso, a forma criteriosa na sua 
execução pode orientar com mais precisão e confiança a necessidade de novas 
ações a serem adotadas pelo sistema de farmacovigilância, como a investigação 
em farmacoepidemiologia de campo. 
A farmacoepidemiologia de campo pode ser definida como investigação 
realizada na comunidade ou em unidades de saúde em resposta especialmente 
a problemas emergenciais em saúde pública relacionados com medicamentos e 
que se utiliza principalmente dos métodos da farmacoepidemiologia para dar 
respostas às ações de farmacovigilância. Cabe lembrar que a 
farmacoepidemiologia é definida como a aplicação do método epidemiológico 
em estudos sobre o uso clínico de medicamentos nas populações. 
Os achados da investigação em farmacoepidemiologia de campo podem 
sugerir uma relação causal comum entre os casos, complementar a notificação, 
possibilitar a descoberta de novos casos, produzir informações científicas e, 
consequentemente, subsidiar com novas evidências a tomada de decisão em 
vigilância sanitária. 
Originalmente, o termo "surto", utilizado na vigilância epidemiológica, 
caracteriza um aumento inesperado na incidência de uma doença em espaço e 
tempo delimitados. 
A identificação de um surto deve ser comunicada oportunamente às 
diferentes esferas que compõem o sistema de farmacovigilância, e a 
investigação em farmacoepidemiologia deve ser iniciada imediatamente após a 
notificação, com a finalidade de obter dados mais precisos para a análise do 
agravo. 
Por ser uma função de fundamental importância para a farmacovigilância, 
faz-se necessária a capacitação de profissionais em programas de (farmaco) 
epidemiologia de campo, a exemplo do Programa de Treinamento em 
Epidemiologia Aplicada aos Serviços do Sistema Único de Saúde do Ministério 
da Saúde (EPISUS. 
 
21 
Embora a investigação em farmacoepidemiologia de campo possua 
semelhanças com a pesquisa em farmacoepidemiologia, distingue-se desta 
principalmente por três diferenças, descritas a seguir: 
• a investigação inicia-se, com frequência, sem hipótese clara, requerendo 
o uso de estudos descritivos para a formulação de hipóteses que, 
posteriormente, poderão ser testadas por meio de estudos analíticos, como 
estudos de coorte retrospectiva ou de caso-controle; 
• a investigação é demandada imediatamente a partir de problemas 
identificados na rotina das autoridades sanitárias ou dos profissionais de 
serviços de saúde, sendo que a gravidade do evento representa um fator que 
condiciona a urgência no curso da investigação e na implantação de medidas de 
controle; e 
• na maioria das vezes, devido à necessidade urgente de se dispor de 
informações complementares para que possam ser instituídas medidas de 
controle, a investigação para ser realizada não é precedida da elaboração de 
projeto de pesquisa aprovado em comitês de ética em pesquisas, como 
verificado nos estudos de cunho acadêmico. 
Como forma de nortear a investigação em farmacoepidemiologia de 
campo é listado, com algumas variações, um roteiro com doze passos, a saber: 
1. Preparar-se para o trabalho de campo; 
2. Formar uma equipe de investigação "in loco"; 
3. Estabelecer a existência do surto; 
4. Verificar o diagnóstico do evento notificado; 
5. Estabelecer a definição de casos e a busca intensiva de casos; 
6. Tabular os dados segundo tempo, lugar e pessoa; 
7. Implantar e avaliar as medidas de controle; 
8. Formular hipóteses preliminares; 
9. Realizar uma investigação ambiental: caracterização do medicamento 
suspeito e investigação de rastreabilidade; 
10. Providenciar a coleta de amostras para laboratório; 
11. Testar as hipóteses definidas; e 
12. Comunicar os achados. 
A execução desses passos não pressupõe um modelo hierárquico e 
rígido, pois, dependendo da situação, alguns deles podem ser realizados antes 
 
22 
que outros ou até mesmo de forma simultânea. Ademais, nem todos esses 
passos são necessariamente passíveis de serem desenvolvidos em uma 
investigação e os mesmos podem se repetir na medida em que se recebe novas 
informações. 
 
PASSO 1. Preparar-se para o trabalho de campo 
Este passo constitui uma atividade fundamental para iniciar o trabalho de 
investigação e os profissionais designados para a mesma devem atentar para 
os seguintes aspectos: 
 
• Administrativos 
As questões a serem abordadas nesse aspecto envolvem as seguintes 
decisões: 
√ Definir a pertinência de investigar o problema, pois os recursos 
destinados a essa investigação poderão comprometer a oportunidade de 
investigar outros assuntos de maior relevância em termos de saúde pública; 
√ acertar, junto aos superiores, os papéis dos profissionais no processo 
de investigação, principalmente o líder da equipe e o segundo investigador; 
√ gerenciar o deslocamento da equipe de investigação para o local de 
ocorrência do agravo (emissão de passagens, definição de diárias e local de 
estadia); e 
√ estabelecer uma comunicação com as autoridades locais para, entre 
outros aspectos, providenciar a realização de uma reunião inicial com diferentes 
atores do sistema de saúde para a definição de várias ações necessárias à 
investigação, entre elas, o interlocutor com os meios de comunicação social. 
 
• Investigativos 
Após a definição e pactuação da necessidade de investigação do 
problema, a equipe deverá desenvolver pelo menos as seguintes atividades pré-
campo: 
√ buscar informações acerca do problema como forma de prever itens que 
comporão o suporte logístico da investigação; 
√ revisar a literatura sobre aspectos clínicos e (farmaco) epidemiológicos 
do evento a investigar, bem como investigações realizadas de eventos similares. 
 
23 
√ pesquisar sobre a existência de protocolos clínicos e de gerenciamento 
do risco; 
√ preparar uma minuta de protocolo da investigação que deverá ser 
apresentada na reunião inicial pelo líder da equipe a todos os envolvidos direta 
ou indiretamente com o evento, de modo que fique claro o objetivo da 
investigação, particularmentepara os integrantes que comporão a equipe "in 
loco"; e 
√ reunir informações preliminares como especificação da área onde será 
realizada a investigação, incluindo a descrição da infraestrutura do sistema de 
saúde e o número de casos acometidos, entre outros dados pertinentes. 
 
• Logísticos 
Para esse aspecto, os profissionais deverão reunir ou prever materiais e 
equipamentos necessários para a investigação de campo, lembrando que cada 
investigação é única e, por isso, os itens que irão compor o suporte logístico 
variam de acordo com o evento e o local a ser estudado. Como exemplos, contar 
com: 
√ equipamentos de proteção individual (luvas de látex, máscaras 
cirúrgicas e protetores oculares); 
√ medicamentos e insumos para atendimento de primeiros socorros; 
√ materiais e equipamentos para o transporte adequado de amostras 
clínicas ou de medicamentos; 
√ meios de transporte para o deslocamento da equipe; e 
√ equipamentos eletrônicos como computador, telefone e GPS (Sistema 
de Posicionamento Global). 
Alguns itens não previstos poderão ser adquiridos junto aos laboratórios 
de saúde pública ou em departamentos das Secretarias Estaduais e Municipais 
de Saúde, bem como em unidades de saúde. 
 
PASSO 2. Formar uma equipe de investigação "in loco" 
Deve-se formar uma equipe multidisciplinar que inclua representantes das 
diferentes vigilâncias em saúde, bem como dos níveis de gestão do Sistema 
Único de Saúde (SUS). No entanto, o tamanho e a composição da equipe podem 
variar, dependendo da magnitude e complexidade do evento. A equipe deverá 
 
24 
contar com um líder, de preferência com experiência em investigação de campo 
e em (farmaco) epidemiologia, que irá reunir os integrantes, apresentar as 
informações até então disponíveis, esboçar um plano de investigação e 
estabelecer a necessidade de ação conjunta com outras entidades parceiras.. A 
condução da equipe é um fator crítico para o sucesso da investigação, e o líder 
deverá designar função e responsabilidade aos membros da equipe. 
 
PASSO 3. Estabelecer a existência do surto 
Para a confirmação de um surto de enfermidades infecciosas é necessário 
verificar o número de casos observados e comparar com aqueles usualmente 
encontrados na população de estudo para um mesmo período. Em surtos de 
EAM, essa comparação em geral não se faz necessária, uma vez que esses 
eventos não apresentam um comportamento sazonal. Assim, para estabelecer 
a existência do surto deve-se determinar o número real de casos. Para isso, é 
preciso esgotar as fontes de informações do sistema de farmacovigilância, como 
sistemas de informação, consulta a hospitais sentinela e centros de informações 
de assistência toxicológicas, entre outras estratégias que tenham informação 
processada. Não contando com esse tipo de informação, devem ser verificados 
os registros médicos (prontuários, fichas de atendimento) e laboratoriais das 
unidades de saúde. Pode-se, ainda, realizar entrevistas abertas com 
informantes-chaves, como profissionais da saúde que prestaram algum tipo de 
atendimento aos pacientes. Assim, desenvolvidas essas estratégias de busca, 
pode-se estabelecer a existência de surto de importância farmacoepidemiológica 
com os casos identificados. Ressalta-se que algumas dessas estratégias 
poderão ser revisitadas em outro momento da investigação (Passo 5). 
 
PASSO 4. Verificar o diagnóstico do evento notificado 
O diagnóstico do EAM deve ser examinado com precaução e 
fundamentado em evidências clínico-(farmaco) epidemiológicas e ambientais, 
pois o objetivo desse passo é garantir que o problema foi diagnosticado 
corretamente e, assim, dar prosseguimento à investigação. Neste sentido, é 
conveniente identificar informações relevantes, tais como vínculo comum entre 
os casos, sinais e sintomas clínicos semelhantes, e parâmetros laboratoriais com 
resultados similares. Essas informações credenciam a equipe a dar seguimento 
 
25 
à investigação do problema sem o conhecimento definitivo do agente implicado. 
No entanto, se os casos parecerem não estar relacionados e também não 
apresentarem exposição comum, pode-se deduzir não se tratar de 
conglomerado ou surto. 
Até este passo, os investigadores estão à procura de elementos que 
justificarão a continuidade ou não da investigação de forma sistemática e com 
um rigor metodológico a ser seguido. 
 
PASSO 5. Estabelecer a definição de caso e a busca intensiva de 
casos 
Esse passo é essencial para o sucesso da investigação, pois a 
identificação dos casos deve considerar o enquadramento de pacientes em uma 
dada definição de caso. Essa definição, imprescindível para qualquer 
investigação em farmacoepidemiologia de campo, permitirá fazer uma 
discriminação dos casos que pertencerão ao surto daqueles que não o são. A 
definição de caso, em algumas situações, é complexa, particularmente se o 
evento notificado for novo e as manifestações clínicas não forem conhecidas. 
Ademais, deve-se estar atento para que, na definição de caso, não seja incluída 
uma exposição ou fator de risco que se deseje testar em um futuro estudo 
farmacoepidemiológico analítico, lembrando que a definição de caso é única 
para cada situação e deverá incluir características básicas, ou seja: pessoa, 
lugar e tempo. 
Para a elaboração da definição de caso, deve-se considerar os seguintes 
critérios: 
• clínico - sintomas e sinais mais frequentes manifestados pelos pacientes; 
• (farmaco) epidemiológico - o início do evento no tempo, em determinado 
local, as características dos indivíduos acometidos e exposição do caso a 
alguma fonte suspeita. Neste último caso, não se faz necessário realizar estudos 
analíticos; e 
• laboratorial - refere-se à evidência do agravo e inclui amostras clínicas e 
de produtos. 
Os mesmos critérios citados anteriormente também são usados para 
especificar as categorias de casos, que podem variar segundo a situação 
farmacoepidemiológica específica de cada agravo, a saber: 
 
26 
• Suspeito: caracteriza-se por incluir os critérios clínicos e (farmaco) 
epidemiológicos relacionados com o agravo. De todas as categorias de casos, a 
de suspeito é uma definição mais sensível, geralmente, utilizada no início da 
investigação; 
• Provável: caracteriza-se por incluir critérios clínicos e (farmaco) 
epidemiológicos mais específicos, podendo ainda apresentar informações sobre 
dados laboratoriais ou até mesmo de tratamento farmacológico; 
• Confirmado: a principal característica é a inclusão de parâmetros 
laboratoriais para caso suspeito ou provável; e 
• Descartado: indivíduos que, embora enfermos, não satisfazem os 
critérios clínicos ou laboratoriais dos casos sob investigação. 
Uma vez estabelecida a definição de caso, inicia-se a realização da busca 
intensiva dos mesmos com o propósito de determinar a verdadeira magnitude do 
surto. Essa busca deve ocorrer em todos os lugares que tenham tido alguma 
relação com o surto investigado. Para isso, faz-se necessária a elaboração de 
questionário e ou formulário contendo variáveis importantes que consigam a 
captação sistemática dos dados, para posterior análise e formulação de 
hipóteses. As variáveis devem incluir características demográficas, 
socioeconômicas, clínicas e fatores de risco. 
A estratégia de busca intensiva de casos pode ser de dois tipos: "ativa" e 
"passiva". Uma forma ativa requer a solicitação aos centros de saúde e 
laboratórios que notifiquem à equipe de investigação os casos adicionais que 
atendam a definição de caso. Um exemplo de busca passiva, menos agressiva 
e dispendiosa, é examinar a base de dados da vigilância regional ou local para 
identificar casos notificados. Salienta-se que a busca intensiva de casos é 
essencial, pois os casos que até então foram notificados podem representar 
apenas uma pequena fração (ponta do iceberg) do número total de casos 
relacionados com o surto de EAM. 
 
PASSO 6.Tabular os dados segundo tempo, lugar e pessoa 
Uma vez constatada a existência do surto, pode-se iniciar a 
caracterização do mesmo por tempo, lugar e pessoa (farmacoepidemiologia 
descritiva) e de acordo com as diferentes definições de caso utilizadas na 
investigação. Esse passo é importante para a formulação de hipóteses e deverá 
 
27 
ser organizado de tal maneira que permita responder as perguntas apresentadas 
no Quadro 1. 
Salienta-se a importância de se recorrer à elaboração de elementos 
gráficos, como curva epidêmica e mapas. O primeiro, ajuda na caracterização 
de como os casos estão distribuídos no tempo, segundo a data do início dos 
sintomas, bem como a maneira como o agravo se propaga e sua amplitude. O 
período pré-surto deve ser sempre incluído na curva epidêmica como forma de 
ilustrar o número basal de casos. Já os mapas, que identificam os casos por 
lugar de exposição, ajudam a evidenciar locais onde as pessoas têm maior risco 
de adoecimento. Além disso, a caracterização dos casos pode dar pistas sobre 
as pessoas mais susceptíveis de adoecimento. Tais características são: idade, 
sexo, grupo étnico, lugar de residência, profissão, estado civil, situação 
econômica, co-morbidade e uso de medicamentos, entre outras. 
 
PASSO 7. Implantar e avaliar as medidas de controle 
As medidas de controle têm por objetivo reduzir oportunamente o 
aparecimento de casos adicionais e óbitos. Nesse sentido, na maioria das vezes, 
a implantação dessas medidas pode anteceder o início da investigação 
farmacoepidemiológica de campo. Supondo um melhor cenário, a adoção das 
medidas de controle seria feita de acordo com os resultados da investigação 
farmacoepidemiológica. No entanto, esse enfoque, inadmissível a partir de uma 
perspectiva de saúde pública, pode comprometer a prevenção de casos 
adicionais e óbitos. Por outro lado, uma ação precipitada, como o fechamento de 
um laboratório farmacêutico, também pode ter efeitos negativos, incluindo 
implicações econômicas e legais para o dono e empregados do estabelecimento. 
Assim, o equilíbrio da responsabilidade na prevenção de novos casos com a 
necessidade de proteger a credibilidade e reputação de uma instituição é o 
grande desafio desse passo da investigação. 
Entre as medidas de controle que podem ser adotadas em surtos de EAM 
estão: 
• suspensão do uso do medicamento suspeito pelos pacientes; e 
• interdição cautelar de lotes do medicamento. 
Tais medidas, com base no princípio da precaução, têm o propósito de 
cessar a exposição da população a riscos, até que seja concluída a investigação. 
 
28 
Antes de estabelecer a estratégia de controle, é necessário conhecer o 
curso do surto, se os casos estão aumentando ou se o surto já foi controlado. A 
partir dessa informação, o objetivo da investigação deve ser definido. A resposta 
a essa questão condicionará o objetivo da investigação. Assim, na primeira 
situação o objetivo será prevenir casos novos com prioridade para a adoção de 
medidas de controle. Caso o surto esteja controlado, o objetivo passa a ser 
prevenir eventos semelhantes no futuro; portanto, a investigação deverá 
centralizar seus esforços principalmente em identificar os fatores de risco que 
contribuíram para a ocorrência do evento. Geralmente, na segunda situação 
descrita anteriormente, pode-se ainda realizar um estudo de avaliação 
econômica do tipo custo-efetividade ou custo-benefício das medidas de controle 
adotadas. Esse estudo pode ser visto como um complemento da informação 
(farmaco) epidemiológica e também como um instrumento para dar credibilidade 
à atuação dos profissionais da vigilância sanitária local. 
 
PASSO 8. Formular hipóteses preliminares 
Uma investigação em farmacoepidemiologia de campo inicia-se, em geral, 
sem hipótese clara e com suposições de conjecturas sobre como as pessoas 
adoeceram. A análise das características de tempo, lugar, pessoa e de 
resultados laboratoriais dos casos possibilita a formulação de hipóteses mais 
consistentes e precisas, que posteriormente poderão ser testadas por meio de 
estudos analíticos. Estes dados foram coletados, em geral, por meio de 
entrevistas com os casos/familiares utilizando-se questionário padronizado. 
Quando as evidências (farmaco) epidemiológicas, clínicas, laboratoriais e 
ambientais são suficientes para apoiar as hipóteses, torna-se desnecessário o 
seu teste formal, pois os fatos estabelecidos são suficientes. Entretanto, quando 
as circunstâncias são menos evidentes, deve-se lançar mão da 
farmacoepidemiologia analítica, cuja característica principal é a utilização de um 
grupo de comparação. Chama a atenção que a formulação de hipóteses é um 
passo crítico em uma investigação de campo. Além disso, é um processo criativo 
que requer a realização de um balanço entre manter uma atitude aberta (por que 
não!) e seguir pistas científicas válidas com o objetivo de minimizar o uso de 
escassos recursos financeiros e humanos. 
 
 
29 
PASSO 9. Realizar uma investigação ambiental: caracterização do 
medicamento suspeito e investigação de rastreabilidade 
Um dado importante em investigação de EAM é a identificação do 
medicamento suspeito. Devem ser coletados dados sobre número do lote, data 
de fabricação e vencimento, empresa produtora, aspecto físico do produto e 
resultado dos procedimentos de controle de qualidade. Outro aspecto 
fundamental é fazer uma revisão dos aspectos operativos relacionados com o 
medicamento suspeito, incluindo avaliação de armazenamento, manipulação do 
produto, uso de diluente, técnica de administração e posologia. 
Outro ponto importante na investigação ambiental é a investigação da 
rastreabilidade do produto, que pode ser definida como o processo utilizado para 
determinar onde ocorreram problemas na cadeia de produção, distribuição e 
comercialização do medicamento implicado no surto. 
A investigação da rastreabilidade começa com informações dos casos e 
se estende de forma retrospectiva. Todos os pontos da produção, distribuição, 
comercialização e uso do medicamento devem ser considerados. Durante a 
investigação podem ser necessárias visitas aos diferentes lugares por onde 
passou o medicamento. Como esse tipo de atividade toma muito tempo da 
equipe, deve-se assegurar que o medicamento em questão está efetivamente 
implicado com o surto. Em geral, as fontes de informações para essa parte da 
investigação são: informação do produto, entrevistas com empregados e 
gerentes, procedimentos escritos, observações e medições diretas, e provas de 
laboratório para o medicamento. Inspeção investigativa - expressão muito 
utilizada pelos profissionais de vigilância sanitária que atuam na área de 
inspeção sanitária - é outro nome dado à investigação ambiental. 
 
PASSO 10. Providenciar a coleta de amostras para laboratório 
Amostras clínicas (sangue, urina, saliva etc.) e do produto suspeito devem 
ser coletadas o mais rápido possível para análise laboratorial. Esses resultados 
podem confirmar os achados (farmaco) epidemiológicos da investigação. Se o 
surto estiver em curso no momento da investigação, os resultados da própria 
investigação poderão conduzir à coleta das amostras a serem enviadas ao 
laboratório. Ressalta-se que devido à demora na obtenção dos resultados 
 
30 
laboratoriais, esse passo torna-se crítico na conclusão final de qualquer 
investigação em farmacoepidemiologia de campo. 
Nas amostras clínicas pode-se proceder a provas bioquímicas, 
toxicológicas e de farmacocinética. Em relação às amostras de produtos, podem 
ser realizadas análises farmacopéicas e de identificação de outras substâncias 
químicas. O ideal é que a coleta de amostras de produtos siga o rito para uma 
análise fiscal, cujos resultados poderão fortalecer os achados (farmaco) 
epidemiológicos. Sempre que o resultado de uma análise fiscal for condenatório 
será imprescindível a investigação das causas dodesvio de qualidade do 
medicamento. 
Não encontrar o agente causal em uma amostra ambiental não descarta 
de maneira conclusiva uma fonte como causa do problema, pois, em parte, a 
amostra coletada e examinada pode não representar a fonte do surto, as 
técnicas laboratoriais podem ser pouco sensíveis, e na lista de produtos 
pesquisada pode não constar a real substância responsável pelo evento. 
Vale ressaltar que a combinação das informações de estudos 
farmacoepidemiológicos, ambiental e laboratorial ajuda a complementar o 
quadro do surto de EAM. 
 
PASSO 11. Testar as hipóteses definidas 
Neste passo, um estudo farmacoepidemiológico analítico deve ser 
realizado para provar as hipóteses estabelecidas. Para isso, deve-se recorrer 
aos estudos de caso-controle ou coorte retrospectiva. O objetivo desses estudos 
é avaliar a relação entre uma exposição e o evento notificado e, desse modo, 
estabelecer uma força de associação. Outros critérios de causalidade 
estabelecidos por Bradford Hill devem ser considerados, como plausibilidade 
biológica, efeito dose-resposta (maior exposição, maior risco para o 
adoecimento) e relação temporal (intervalo entre a exposição e o aparecimento 
do evento). Devem ser formuladas hipóteses adicionais nos casos em que o 
estudo farmacoepidemiológico analítico não tiver encontrado nenhum fator de 
risco associado entre a exposição testada e o evento estudado. Algumas 
possíveis explicações para isso são: 
• exposição pretensamente causal não se encontra entre aquelas 
testadas; 
 
31 
• número pequeno de casos que influencia no poder estatístico do estudo; 
• informação inexata disponibilizada pelos entrevistados devido à falta de 
conhecimento, memória deficiente, entre outras razões; e 
• erros de classificação da exposição. 
PASSO 12. Comunicar os achados 
Terminado o trabalho de campo, é essencial informar os achados da 
investigação às autoridades de saúde, à empresa produtora, ao público 
(incluindo os notificadores do problema) e aos meios de comunicação social. 
Inicialmente deve-se elaborar um relatório com dados preliminares, que deve ser 
apresentado também verbalmente às autoridades locais de saúde na saída da 
equipe do campo. A elaboração de informes e notas técnicas poderá ser 
necessária durante a permanência da equipe no campo. 
Após um prazo máximo pactuado da chegada da equipe do campo, um 
relatório final deve ser preparado com a inclusão das análises complementares, 
divulgado para as autoridades sanitárias. Além disso, a publicação de um 
resumo ampliado da investigação na forma de boletim eletrônico pode ser uma 
estratégia importante de retroalimentação para o sistema de farmacovigilância 
do país e para os meios de comunicação social. Outro ponto importante é 
registrar no sistema de informação em farmacovigilância as principais 
conclusões da investigação. 
 
 
EXEMPLOS DE INVESTIGAÇÃO EM FARMACOEPIDEMIOLOGIA 
DE CAMPO NO BRASIL 
Ainda são poucas as investigações de campo realizadas no país cujo 
objeto de estudo foi o medicamento. 
Embora tenha ocorrido, em geral, a participação da vigilância sanitária 
nessas investigações, apenas a investigação do surto de intoxicação exógena 
com óbitos por ingestão de medicamento manipulado, ocorrido no estado do 
Paraná (Brasil), foi conduzida por representantes da vigilância sanitária, em 
parceria com a vigilância epidemiológica local. 
A principal razão para a existência de poucas investigações de campo 
realizadas pode estar relacionada ao surgimento dessa prática e, 
 
32 
consequentemente, ao acúmulo de experiência voltado para a investigação de 
surtos de doenças. Outra possibilidade é a separação do escopo de atuação das 
vigilâncias sanitária e epidemiológica no país, onde a primeira carece de pessoal 
qualificado para a realização de investigação em farmacoepidemiologia de 
campo. Além disso, as ações que há muito tempo caracterizam a atuação da 
vigilância sanitária no país são, principalmente, o controle, a regulamentação, a 
apreensão, a interdição, o poder de polícia, a fiscalização e a inspeção sanitária. 
As ações de notificação, investigação de casos, monitoramento e divulgação de 
informações caracterizavam, até então, a vigilância epidemiológica no nosso 
país. 
 
 
FARMACOECONOMIA 
Andrade et al. (2007) analisaram a produção científica no Brasil na área 
de economia da saúde, no período de 1999 a 2004, identificando que 
15,2%, em sua maioria na forma de artigos e teses, se referiam 
medicamentos, insumos e assistência farmacêutica, atrás apenas das 
publicações acerca de gestão, financiamento, alocação e equidade 
(47,9%). Os autores ainda classificaram, de forma geral, por tipo de 
estudo encontrando 23,4% para as análises de custo e gastos em 
saúde e 6,1% para as análises de custo-efetividade, a maioria como 
artigos. Mostrando que estudos farmacoeconomicos se sobrepõem 
aos demais, se tornando maioria no contexto das avaliações 
econômicas de saúde. 
A necessidade e a importância das avaliações econômicas no campo da 
saúde tem sido notável, ao buscar o termo farmacoeconomia e 
pharmacoeconomic nas bases de dados, encontrou-se 209 publicações, 
entretanto apenas 70 atenderam os critérios adotados por esta revisão. 
A tabela 2 caracteriza as publicações encontradas com base no tipo de 
avaliação farmacoeconômica e quanto ao assunto. 
 
 
 
 
 
 
33 
Tabela 2: Caracterização das publicações sobre farmacoeconomia. 
Assunto Quantidade % 
Custo-efetividade 30 42,9 
Conceitos, aplicabilidade, importância da 
farmacoeconomia 18 25,7 
Custos das doenças e tratamentos 12 17,1 
Minimização de custos 3 4,3 
Gastos na aquisição de medicamentos 3 4,3 
Outros 4 5,7 
 
A análise do tipo custo-efetividade foi encontrada em 43% das 
publicações revisadas, revelando-se o método mais utilizado. 
De acordo com Secoli et al. (2005), esse tipo de análise é mais utilizado 
porque possibilita o uso, na prática, das unidades de efetividade dos 
ensaios clínicos. Todas as análises de custo-efetividade encontradas 
compararam tratamentos farmacológicos, encontrou-se duas análises 
de minimização de custo e uma análise de custo-utilidade juntamente 
com os estudos de custo-efetividade. 
Um estudo revisou análises farmacoeconômicas das vacinas, e afirmou 
que esses produtos são extremamente custo-efetivos e capazes de gerar mais 
benefícios do que gastos, pois se revelam uma estratégia eficiente na prevenção 
e erradicação de algumas doenças, o autor ainda destaca que as análises 
farmacoeconômicas podem avaliar vacinas específicas como também avaliar 
diferentes estratégias de vacinação (Armstrong, 2007). 
Por ser uma disciplina nova, muitas publicações enfatizam seus 
conceitos, importância e utilidades, correspondendo a cerca de 26% 
das publicações encontradas. Drummond (2000) e Olson et al., (2003) 
se referiram a utilização de modelos econômicos. 
Bombardier & MAETZEL (1999) e Kavanaugh (2006) discutem a 
importância da avaliação dos custos de tratamentos, de novos 
medicamentos. Malone (2005) relaciona a farmacoeconomia com a 
medicina baseada em evidências. 
Para Velásquez (1999) a farmacoeconomia possui 3 objetivos: 
avaliação econômica para o desenvolvimento de novos fármacos, 
avaliação econômica para determinar o preço de produtos e avaliações 
para calcular o reembolso do produto, para o autor, na 
 
34 
farmacoeconomia predomina o interesse comercial da indústria 
farmacêutica. 
Aproximadamente 66% das publicações se referiram às alternativas 
terapêuticas para o tratamento de variadas situações clínicas, custo da doença 
e custo do tratamento. Os estudos sobre o custo e tratamento das doenças 
analisaram os custos diretos da doença ou de suas complicações e destacaram 
o benefício do tratamento com economia dos recursos além de auxiliarem na 
escolha da terapia. 
Conney & Kaston (1999) avaliaram os custos do tratamento da 
agitaçãocom lítio e divalproex, e os problemas relacionados a esses 
medicamentos em idosos de uma instituição geriátrica na Califórnia, 
Estados Unidos, e concluíram que o custo de aquisição de divalproex 
é maior, no entanto o lítio foi responsável por mais eventos adversos, 
provocando hospitalizações e aumento do gasto associado ao 
tratamento das morbidades ocasionadas pelo lítio. 
Encontrou-se apenas 3 estudos de minimização de custos, Cantor et 
al., (2003) e Terres et al., (2003) avaliaram comparativamente duas 
alternativas terapêuticas de eficiência equivalente baseando-se no 
modelo econômico do tipo árvore de decisões. Vicedo et al., (2004) 
também realizou uma análise de minimização de custos onde analisou 
e comparou as prescrições e custos de medicamentos utilizados no 
tratamento da pneumonia comunitária em dois hospitais de Madri, 
Espanha. Todas as análises foram realizadas sob a perspectiva do 
pagador. 
As publicações cujo tema denominou-se “outros” discorreram a respeito 
do ensino de farmacoeconomia, sobre a identificação de publicações, 
associações, sociedades e centros de farmacoeconomia e sobre a qualidade dos 
estudos. 
Shaya & Lyles (2003) redigiram um editorial comentando o artigo de 
Offman et al., (2003) que desenvolveu o instrumento Quality of Health 
Economic Studies (QHES) com a finalidade de classificar e selecionar 
estudos farmacoeconômicos e enfatizam a necessidade de avaliar a 
validade e qualidade desses estudos devido ao aumento de análises 
econômicas no campo da saúde e seu impacto no processo de tomada 
de decisões. Outro estudo avaliou, através de um questionário 
validado, a qualidade de informações sobre farmacoeconomia, a partir 
da análise de páginas da internet de centros e organizações 
 
35 
relacionados a farmacoeconomia na União Europeia, Estados Unidos 
e Canadá (DOMÍNGUEZ-CASTRO & IÑESTA-GARCIA, 2004). 
Três estudos analisaram o gasto na aquisição de medicamentos, 
Grangeiro et al., (2006) analisou o dispêndio para a aquisição de anti-
retrovirais e contesta a sustentabilidade da política de acesso desses 
medicamentos no Brasil, frente ao considerável aumento de gastos 
com anti-retrovirais. 
Já Ferraes & Júnior (2007) avaliaram a estratégia de consórcio na 
aquisição de medicamentos no Paraná, Brasil, como alternativa para 
racionalizar e otimizar recursos concluindo que a constituição do 
Consórcio Paraná Saúde para adquirir medicamentos é uma eficiente 
estratégia de forma que reduz os custos, possibilitando maior cobertura 
das ações de assistência farmacêutica à população. 
Garcia et al., (2003), concluíram que os medicamentos genéricos 
produziram diminuição no custo do tratamento da hipertensão arterial, 
através da análise, sob a perspectiva do Sistema Nacional de Saúde 
da Espanha de dois grupos terapêuticos com consumo elevado. 
 
 
INTERFACE ENTRE ATENÇÃO FARMACÊUTICA E 
FARMACOECONOMIA 
Ao relacionar farmacoeconomia com atenção farmacêutica, percebe-se 
uma consistente conexão entre os dois temas. Os medicamentos têm 
contribuído expressivamente para a redução e da morbidade e mortalidade ao 
longo do século XX, no entanto podem aumentar os custos de uma intervenção 
terapêutica se for mal utilizado (LEITE et al., 2008). 
De acordo com Vieira & Mendes (2007) no Brasil, assim como em 
outros países do mundo, a evolução dos gastos com medicamentos 
tem sido de forma ascendente e preocupante para os cofres públicos, 
comprometendo investimentos em outras áreas da saúde. 
A Canadian Medical Association Journal, 2007, indica que as 
características da população, o sistema de saúde, a evolução técnico 
científica, a indústria farmacêutica e o perfil de usuários e profissionais 
de saúde perfazem os fatores relacionados a essa elevação (Canadian 
Medical Association Journal apud VIEIRA & MENDES, 2007). 
 
36 
Dessa forma pode-se inferir que o aumento de gastos com medicamentos 
está relacionado com o perfil epidemiológico da população, ao aumento do 
consumo e ao uso inadequado, que gera gastos para tratar suas consequências. 
A atenção farmacêutica é uma nova prática em fase de crescimento no 
mundo, e impõe ao farmacêutico a responsabilidade pela farmacoterapia em 
conjunto com o paciente, promovendo o uso correto e racional dos 
medicamentos, minimizando os riscos de falhas na farmacoterapia a partir do 
uso de diversas estratégias, nesse contexto, a farmacoeconomia pode ser uma 
eficiente ferramenta, visto que contribui para a conduta terapêutica, observando 
aspectos clínicos e econômicos, tornando possível a otimização da terapia. 
As publicações sobre farmacoeconomia revisadas, basicamente avaliam 
opções terapêuticas, analisam os custos de doenças e tratamentos e o gasto 
com medicamentos. Apenas duas, das publicações analisadas, se referiram a 
economia que a atenção farmacêutica pode proporcionar, no entanto nenhum 
estudo avaliou o custo-benefício, custo-efetividade e custo-utilidade dos 
resultados da atenção farmacêutica. 
Nos últimos anos, os governos de vários países vêm adotando algumas 
medidas para conter os gastos farmacêuticos, dentre elas está o fortalecimento 
da atenção farmacêutica e a realização de estudos farmacoeconômicos (MOTA, 
2003). 
Segundo Jonhson & Bootmam (1997) a atenção farmacêutica 
ambulatorial pode reduzir em aproximadamente 60% a ocorrência de 
falhas terapêuticas e evitar 45,6 bilhões de dólares com custos diretos 
de saúde. 
Diante do exposto, é necessária uma reorientação da prática farmacêutica 
voltada à otimização da utilização dos medicamentos, uma vez que a atenção 
farmacêutica aliada à farmacoeconomia podem ser ferramentas de grande 
utilidade para diminuir o impacto com os gastos da saúde e melhorar os 
resultados terapêuticos (MOTA, 2003). 
O desperdício de recursos associado aos PRM, juntamente com o 
aumento dos gastos farmacêuticos, desenvolvimento de novos fármacos e pela 
necessidade da escolha do tratamento visando eficiência, eficácia e efetividade, 
impulsionou o surgimento, no campo da economia da saúde, da 
 
37 
farmacoeconomia, uma disciplina aplicada ao estudo econômico dos 
medicamentos, que visa melhorar a utilização de recursos (MOTA, 2003). 
Os estudos farmacoeconômicos comparam alternativas terapêuticas a 
partir da análise de custos e resultados considerando seus riscos e benefícios. 
Possuem ampla utilidade que compreendem desde avaliações de opções 
terapêuticas até a formulação de estratégias de comercialização pelas indústrias 
farmacêuticas. 
As análises farmacoeconômicas requerem o conhecimento de termos 
técnicos específicos como eficiência, efetividade, eficácia, desfechos e custos 
(SECOLI et al., 2005). 
Os custos se referem ao valor de insumos utilizados e podem ser 
classificados em diretos, indiretos e intangíveis. 
Os custos diretos são aqueles diretamente relacionados à assistência a 
saúde, por exemplo, medicamentos, materiais, honorários profissionais entre 
outros. 
Os custos indiretos são relacionados à perda da capacidade produtiva do 
indivíduo frente à morbi-mortalidade, por exemplo, dias de trabalho perdidos e 
incapacidade. 
Os custos intangíveis representam o sofrimento, dor, morte, qualidade de 
vida e são difíceis de serem estimados em valores monetários (SECOLI et al., 
2005). 
Desfechos são os resultados, as consequências da intervenção da saúde 
e podem ser expressos em unidades clínicas, humanísticas e monetárias, 
dependendo da perspectiva da análise. 
Eficácia se refere aos resultados de uma intervenção realizada em meio 
ideal, como nos ensaios clínicos. Já a efetividade se refere aos resultados da 
uma intervenção em condições reais, na prática. A eficiência relaciona custos e 
benefícios de uma intervenção (SECOLI et al., 2005). 
Vários autores relatam quatro tipos de análises farmacoeconômicas: 
Análise de minimização de custos: compara apenas os custos de duas ou 
mais opções que tenhao mesmo efeito sobre a saúde, ou seja, mesma eficácia, 
efetividade, riscos e benefícios, e se elege a alternativa mais econômica 
(GONZALEZ, 1999; HERRERA & DIAZ, 2000; SECOLI et al., 2005; 
GUIMARÃES et al., 2007). 
 
38 
Análise de custo-benefício: avalia os custos e os resultados expressos em 
unidades monetárias, da implementação de um programa sanitário ou de 
tratamentos, sua grande dificuldade é valorar em termos econômicos resultados 
como morte e sofrimento (GONZALEZ, 1999; HERRERA & DIAZ, 2000; SECOLI 
et al., 2005). 
Análise de custo-efetividade: identifica e quantifica os custos e os 
resultados de opções terapêuticas para o alcance do mesmo objetivo onde os 
custos são expressos em unidades monetárias e os resultados em unidades 
clínicas de efetividade, como número de mortes evitadas, complicações 
evitadas, anos de vidas ganhos, entre outras. É o tipo de análise mais utilizada 
na farmacoeconomia (GONZALEZ, 1999; HERRERA & DIAZ, 2000; SECOLI et 
al., 2005; GUIMARÃES et al., 2007). 
Análise de custo-utilidade: avalia intervenções terapêuticas a partir da 
análise de custo, em termos monetários, e os efeitos sobre a saúde são 
expressos pela qualidade de vida, é o tipo de avaliação mais complexa 
(GONZALEZ, 1999; HERRERA & DIAZ, 2000; SECOLI et al., 2005; 
GUIMARÃES et al., 2007). 
A apresentação das definições acerca da farmacoeconomia evidencia a 
diversidade de avaliações que podem ser realizadas, abordando diferentes 
perspectivas, seja da indústria farmacêutica, do financiador, do hospital, do 
profissional de saúde ou da sociedade no processo de intervenção da saúde. 
No exercício da atenção farmacêutica, o farmacêutico pode utilizar dados 
provenientes da farmacoeconomia para otimizar a utilização dos medicamentos 
e promover o seu uso racional com consequente redução dos gastos com a 
saúde, entretanto faz-se necessário mensurar os resultados dessa prática para 
avaliar seu real impacto sob a saúde, sociedade e para os gastos assistenciais. 
 
 
 
 
 
 
39 
FARMACOECONOMIA APLICADA À ONCOLOGIA E A 
MONITORIZAÇÃO DO PACIENTE ONCOLÓGICO 
Os custos com as terapias vêm aumentando, dia a dia, em virtude da 
incorporação de novas tecnologias. 
O mercado vem oferecendo medicamentos ditos “específicos”, mais 
“inteligentes”, com menor toxicidade, mas sobretudo com custo muitas vezes 
inacessível. Paralelos a isso, outros fatores que oneram as terapias contra o 
câncer são “novos medicamentos”, com efeitos semelhantes aos de outros já 
consagrados e utilizadas na prática clínica, entretanto com custos muito 
diferentes, sendo em geral mais caros que aqueles mais antigos. 
A farmacoeconomia é a ferramenta utilizada como ponto de definição 
entre o que é melhor, tomando como base a relação custo-benefício, oferecendo 
subsídios para as escolhas, mediante a necessidade de cada paciente. 
Vale ressaltar que a farmacoeconomia, além de otimizar os recursos 
financeiros, não leva em conta apenas os aspectos econômicos de uma terapia, 
mas acima de tudo, o sucesso dela, contribuindo para uma melhor qualidade de 
vida do paciente. 
O uso irracional de medicamentos, sem conhecimento, informação, 
orientação e sem planejamento, aumenta os riscos de reações indesejáveis e 
pode agravar a doença e comprometer a saúde financeira do hospital. 
O farmacêutico precisa se conscientizar de que a farmácia é uma unidade 
de negócio e que, desta forma, ele também é visto como um empreendedor 
dentro da unidade hospitalar. 
Com a aplicação dos princípios farmacoeconômicos no cotidiano da 
farmácia e, em especial, na área de oncologia, estamos eliminando 
desperdícios, sendo ágeis, competitivos e envolvidos no custo do tratamento. 
A atuação, nessa área do conhecimento, gera a valorização do 
farmacêutico dentro do hospital. Com recursos finitos, temos que cooperar para 
que as melhores escolhas sejam realizadas e as patologias possam ser tratadas 
com a tecnologia mais custo-efetivamente disponível. 
Na área assistencial, cada vez mais, se observa a necessidade da 
existência do farmacêutico com visão e experiência clínica, atuando junto aos 
pacientes no manuseio das reações adversas do tratamento, na toxidade das 
 
40 
drogas, com terapias de suporte, além das terapias complementares 
direcionadas ao câncer. 
A atuação clínica do farmacêutico em oncologia consiste na provisão 
responsável da Pharmacia Brasileira: Como implantar farmacoterapia com o 
propósito de alcançar resultados concretos que melhorem a qualidade de vida 
do paciente. 
Busca encontrar e resolver de maneira sistematizada e documentada 
todos os problemas relacionados com os medicamentos que apareçam no 
transcorrer do tratamento do paciente. 
Além disso, compreende a realização do acompanhamento farmacológico 
do paciente com dois objetivos principais: 
• Responsabilizar-se pelo paciente para que haja sucesso da terapia 
proposta pelo médico; 
• Estar atento para que ao longo do tratamento as reações adversas aos 
medicamentos sejam as mínimas possíveis, e no caso de surgirem, que se possa 
resolvê-las ou minimizá-las, prevenir e corrigir. 
Enfim, é um conceito de prática profissional em que o paciente é o mais 
importante beneficiado das ações do farmacêutico. 
O exercício profissional do farmacêutico passa, hoje, pela concepção 
clínica de sua atividade, sua integração e colaboração com o restante da equipe 
de saúde e o cuidado direto com o paciente. 
A variabilidade enorme de patologias unida à ampla disponibilidade 
terapêutica oferece múltiplas possibilidades de abordagem e resolução de 
problemas relacionados á terapêutica. 
O paciente oncológico, em especial, é diferenciado, pela complexidade da 
terapêutica, além da gravidade da doença, visto que, hoje, o câncer é uma 
doença crônica que, dependendo do acompanhamento, o paciente pode vir a ter 
uma maior sobrevida e melhor qualidade de vida. 
Neste momento, a presença do farmacêutico agrega confiança e 
desenvolve uma relação que vem beneficiar o paciente quanto à adesão ao 
tratamento. Em muitas situações, o paciente com câncer é acompanhado de 
dúvidas, incertezas, temores que, muitas vezes, o levam a abandonar o 
tratamento, sem mesmo tê-lo iniciado. 
 
41 
Muitas ações podem ser desenvolvidas com o objetivo de melhorar o 
resultado da terapia e da qualidade de vida deste paciente, principalmente no 
que diz respeito ao surgimento de reações adversas causadas pela própria 
quimioterapia, e como manuseá-las. 
Citamos, aqui, algumas das orientações fornecidas aos pacientes que 
devem ser acompanhados bem de perto pelo farmacêutico. Esta orientação deve 
ser clara, precisa e mais simples possível, para que o paciente não sinta 
nenhuma dificuldade adicional no tratamento. 
Descrevemos, a seguir, os problemas mais frequentes, decorrentes de 
quimioterapia e que, muitas vezes, incapacitam e aumentam o sofrimento do 
paciente, não só no aspecto fisiológico, mas também psicossocial. 
Terapia de suporte Manejo da náuseas e vômitos Náuseas e vômitos são 
vistos pelos pacientes como efeitos adversos assustadores e particularmente 
desagradáveis da terapia citostática. 
Sua severidade pode até mesmo levar ao término prematuro da terapia. 
Portanto é pertinente prover uma terapia anti-emética eficiente. Seus aspectos 
devem ser considerados no plano de cuidado e comentados na atenção ao 
paciente. 
Por ser uma reação que identifica o problema do paciente, ele muitas 
vezes adia ou se recusa a iniciar o tratamento para que ninguém saiba que ele 
tem câncer. Nesse cenário a atuação multidisciplinar de farmacêuticos, médicos 
e psicólogos poderá ter excelentes resultados sobre a adesão. 
Mucosite Inflamação da mucosa – mucosite – pode ser observada em 
vários locais. 
A mucosite é uma das reações adversas mais frequentes e debilitantes, 
pois em muito compromete o perfil nutricional do paciente. 
Lesões na mucosa podemser muito dolorosas e reduzir 
significativamente a qualidade devida dos pacientes com câncer. 
É uma das responsabilidades do farmacêutico dar recomendações aos 
pacientes sobre profilaxia da mucosite e seu tratamento. 
 
 
 
 
 
42 
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Uma análise retrospectiva conduzida pela Agência de Controle de 
Medicamentos no Reino Unido descobriu que os estudos sobre vigilância pós-
comercialização patrocinados por empresas têm contribuído de forma limitada à 
avaliação da segurança dos medicamentos, em grande parte devido a pesquisas 
inconsistentes e dificuldades de recrutamento. Waller PC, Wood SM, Langman 
MJS, Breckenridge AM, Rawlins MD. Da mesma forma, uma auditoria realizada 
por uma organização de proteção ao consumidor nos Estados Unidos mostra 
que na grande maioria dos casos onde um estudo da Fase IV foi requisitado 
como condição para registro nos Estados Unidos, o requerente não cumpriu as 
obrigações. Sasich LD, Lurie P, Wolfe SM. The Drug Industry’s performance in 
finishing post-marketing research (Phase IV) studies. 
http://www.citizen.org/hrg/Publications/1520.htm 
A quinta ementa da Declaração de Helsinki contém uma nova disposição sobre 
a importância de se fazer com que a elaboração e as descobertas de estudos de 
pesquisas clínicas sejam abertas ao público. Editorial: A fifth amendment for the 
Declaration of Helsinki. Lancet 2000. 356 (9236): 1123. Ela inclui implicitamente 
a comunicação de questões de segurança que surgem durante pesquisas 
clinicas. Isto estimularia maior comunicação entre as agências reguladoras em 
diferentes países, com respeito a preocupações de segurança, levando em 
consideração o melhor gerenciamento dos pacientes e de decisões a serem 
tomadas que minimizariam riscos futuros. Onde há notificação de riscos 
inesperados e graves, a suspensão ou descontinuidade da pesquisa pode ser a 
única opção. 
Meyboom RHB, Egberts ACG, Gribnau FWJ, Hekster YA. Pharmacovigilance in 
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Editorial: Drug-company influence on medical education in USA. Lancet 2000; 
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