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AS REDES COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL: UM ESTUDO DE CASO DO PDEOS/ FUNDAÇÃO DOM CABRAL Helena Maria Gomes Queiroz Michelle Queiroz Coelho AS REDES COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL: UM ESTUDO DE CASO DO PDEOS/FUNDAÇÃO DOM CABRAL COELHO, Michelle Queiroz Mestre em Administração, Fundação Dom Cabral michellequeiroz.associado@fdc.org.br QUEIROZ, Helena Maria Gomes Mestre em Administração e Doutoranda em Educação, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais helenaqueiroz@terra.com.br RESUMO: A atuação em rede aparece como uma forte tendência para articulação de soluções que contribuam para o desenvolvimento local integrado. De um lado as organizações do terceiro setor, fortalecidas por um processo de gestão responsável e de outro, empresas de pequeno e médio porte desenvolvendo uma visão clara acerca do investimento social privado. Dois lados de uma mesma comunidade, que hoje trabalham de forma articulada e integrada na região do Jardim Canadá em Nova Lima, Minas Gerais/Brasil. É este o cenário do presente artigo que pretende analisar a metodologia do PDEOS – Projeto de Desenvolvimento de Empresas e Organizações Sociais, iniciativa da Fundação Dom Cabral, envolvendo 06 empresas e 06 organizações sociais de seu entorno. Trata-se de uma pesquisa do tipo descritiva, com abordagem qualitativa, pesquisa bibliográfica e estudo de casos múltiplos. Foram utilizadas técnicas de coleta de dados como análise documental, entrevistas, grupos de discussão e observação participante. Os resultados deste projeto pioneiro apontam no mínimo para duas perspectivas relevantes: a eficácia do trabalho em rede quando precedido da formação responsável de lideranças empresariais e comunitárias; o valor, para além da dimensão financeira, que as dezenas de parcerias desenvolvidas entre os participantes foram capazes de mobilizar. Palavras-chave: Redes. Desenvolvimento Local. Alianças Intersetoriais. Responsabilidade Social 1. INTRODUÇÃO Acreditando em uma proposta que contribuísse de maneira contínua e sistematizada para o desenvolvimento local sustentável da região de seu entorno, a Fundação Dom Cabral desenvolveu o PDEOS – Projeto de Desenvolvimento de Empresas e Organizações Sociais, objeto de estudo da presente pesquisa. Consideramos relevante entender um modelo de atuação que privilegia a articulação em rede entre empresas e organizações sociais de pequeno porte, que adquirem cada vez mais importância em nosso país. Os estudos de projetos desenvolvidos por organizações de grande porte, privados ou não- governamentais, são vastos, mas as experiências com este segmento de pequeno porte ainda são escassas. Além disso, os desafios diversos, como a carência de recursos financeiros, torna imperativo o desenvolvimento de parcerias que superem esta dimensão e faz com que a criatividade dos recursos seja diferenciada. Sendo assim, o objetivo geral do presente artigo é avaliar a metodologia do PDEOS, considerando a perspectiva das empresas e organizações sociais envolvidas. Como objetivos específicos decorrentes estabelecemos: Apresentar um marco teórico consistente sobre responsabilidade social, desenvolvimento sustentável, parcerias, redes intersetoriais e avaliação; Realizar uma avaliação dos processos da iniciativa piloto; Realizar uma avaliação de resultados da iniciativa piloto. Julgamos relevante caracterizar o segmento das empresas e organizações sociais integrantes da rede PDEOS, conforme quadro-resumo a seguir: mailto:michellequeiroz.associado@fdc.org.br mailto:helenaqueiroz@terra.com.br Empresa Segmento A Redução de materiais fugitivos na movimentação de materiais sólidos a granel B Fabricação de equipamentos de raios-x e endoscópios para vídeocirurgia C Soluções em instalação provisória D Desenvolvimento de pisos cimentícios E Fábrica de mobiliário doméstico F Soluções para a Gestão de Resultados e Controle Ambiental Organização Segmento A Atua com espetáculos de dança, teatro e música B Atua com o desenvolvimento de lideranças e fortalecimento de suas comunidades por meio da educação complementar C Contribui, através da arte, para a transformação de pessoas D Contribui para o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes do Jardim Canadá E Promove o ensino público de qualidade através de uma educação de excelência F Contribui para que as crianças e adolescentes em condições de vulnerabilidade social do Jardim Canadá e seu entorno sejam capazes de discernir, decidir e serem protagonistas de suas histórias Quadro 1. Segmentos das empresas e organizações sociais Fonte: elaborado pelas autoras a partir dos dados coletados 2. DESENVOLVIMENTO 2.1 Referencial Teórico Atualmente as organizações necessitam atentar-se não somente a suas responsabilidades econômicas e legais, mas também a sua responsabilidade social. Na década de 90, surge o conceito de Responsabilidade Social Corporativa ou Empresarial como o dever que a empresa tem para com a sociedade, uma vez que, para estabelecer-se e obter lucros, gera desembolsos sociais decorrentes de sua atividade. O conceito de responsabilidade social adotado neste estudo é o apresentado por (Coelho, 2005) e (Coelho, 2007), como a postura ética e transparente que uma organização deve ter, expresso por meio de atos e atitudes que afetem positivamente todos os públicos que com ela se relacionam tais como, governo, comunidade, funcionários, fornecedores, concorrentes e outros, que, de forma direta ou indiretamente, impactam a gestão da organização. A visão de que a responsabilidade social se aplica a todas as organizações surgiu conforme diferentes tipos de organizações, e não apenas as do mundo empresarial, reconheceram que também tinham responsabilidade pelo desenvolvimento sustentável. Nesse contexto, em dezembro de 2010, foi lançada no Brasil, a ABNT NBR ISO 26.000 que apresenta diretrizes sobre responsabilidade social. A ISO 26.000, foi elaborada pelo ISSO/TMB Working Group on Social Responsibility, por meio de um processo multi-partite que envolveu especialistas de mais de 90 países e 40 organizações internacionais ou com ampla atuação regional envolvidas em diferentes aspectos da responsabilidade social. Estes especialistas vieram de seis diferentes grupos: trabalhadores, consumidores, indústria, governo, organizações não governamentais (ONG) e suporte, pesquisa, academia e outros. Além disso, buscou-se um equilíbrio entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, assim como um equilíbrio entre gêneros na elaboração dos grupos. A ISO 26.000 visa ser útil para todos os tipos de organizações nos setores privado, público e sem fins lucrativos, sejam elas grandes ou pequenas, com operações em países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Embora nem todas as partes desta norma tenham a mesma utilidade para todos os tipos de organizações, todos os temas centrais são relevantes para todas as organizações. Como a norma internacional não tem caráter de certificação, outros países no mundo estão desenvolvendo suas próprias normas nacionais com propósito de certificação à luz da ISO 26.000. Neste contexto, o Brasil apresenta a nova ABNT NBR 16.001 e se destaca novamente como um dos primeiros no mundo a adotar essa prática. Lançada em agosto de 2012, a NBR 16.001, aplica-se a todos os tipos e portes de organizações, adequando-se a diferentes condições geográficas, culturais e sociais brasileiras. O atendimento aos requisitos desta Norma não significa que a organização seja socialmente responsável, mas sim que possui um sistema de gestão da responsabilidade social. Esta Norma está fundamentada na metodologia conhecida como PDCA (Plan – Do – Check – Act ou planejar, fazer, verificar e agir). O contexto socioeconômico e político que ora apresenta, impõe constantes desafios às OrganizaçõesNão Governamentais - ONGs, dentre os quais, destacam-se o de gerar resultados, com eficiência e eficácia, o de captar recursos e, em especial, o de atrair e manter pessoas qualificadas e comprometidas, como salienta Fischer (1998). Desta maneira, são pressionadas a desenvolver práticas eficazes na manutenção do compromisso, do senso de missão e da paixão que as movem. Pereira (2006) constata que o Terceiro Setor não é, portanto, nem público nem privado, e que congrega uma legião de entidades que desempenham papel complementar às ações do Estado na esfera social. O grande problema reside, porém, na administração dessas organizações, já que, como não buscam lucros convencionais e dependem de doações, elas precisam determinar sua exata missão e atuação, de maneira a não despender esforços nem capital que não produzam o retorno correspondente. Por esses motivos e pelas características singulares dessas organizações, seus gestores procuram novas alternativas para a gestão organizacional, buscando, na esfera pública e na iniciativa privada, subsídios para sua modernização e atualização gerencial. Levando em conta essa complexidade e a diversidade das organizações sem fins lucrativos, Jadon (2005) cita dois fatores fundamentais que justificam a necessidade de se profissionalizar a gestão social, referindo, antes de tudo, que a expansão do Terceiro Setor é a explicação do surgimento desses fatores. Um deles é o engajamento do setor privado nas questões sociais, por meio do qual, em um primeiro momento, empresas brasileiras e multinacionais iniciaram um processo de atuação nas áreas sociais em parceria com a sociedade civil. O outro fator importante para a necessidade de uma gestão social efetiva é a sustentabilidade, como fim do processo da dependência, ao implicar a necessidade de providências como: diversificar fontes de financiamento; desenvolver projetos de geração de receitas; profissionalizar recursos humanos e voluntariado; atrair membros/sócios das organizações e estratégias de comunicação; buscar paradigmas de avaliação de resultados sociais; e desenvolver uma estrutura gerencial. O autor cita, ainda, que, independentemente da ferramenta de gestão empresarial que se pretenda utilizar na gestão social, torna-se imprescindível uma adaptação da linguagem e dos conceitos. Pesquisa realizada por (Pedrosa et al, 2009), em doze ONGs em Fortaleza, teve como objetivo geral verificar como as mesmas desenvolvem competências gerenciais. Dentre as competências organizacionais consideradas pelos gestores como essenciais ao contexto atual das ONGs, figura como principal, a capacidade da organização em atuar por meio de articulação e mobilização institucional, via atuação em rede, ou seja, é preciso saber mobilizar forças externas em favor do desenvolvimento institucional. Em seguida, aparece como competência organizacional a capacidade de captar, ampliar e diversificar as suas fontes de recursos financeiros. Pode-se afirmar, neste sentido, que as alianças entre as empresas e as organizações da sociedade civil combinam competências, infraestruturas, conhecimentos e esferas de influência de seus respectivos setores, além de contribuir para a geração de inovação social de um modo mais eficaz do que a atuação isolada de qualquer das partes. O setor privado, de modo geral, traz recursos financeiros, conhecimentos de gestão, tecnologia e capacidade logística, enquanto que as organizações do terceiro setor se articulam em redes sociais e traz conhecimentos sobre as necessidades e as dinâmicas das comunidades que representam, além de garantir segurança e licença social para que a empresa possa operar. Cada setor possui competências, aspirações e estilos diferentes, mas é possível juntá-los e obter uma visão comum, de acordo com (Lariú e Berendson 2008). A gestão de políticas públicas e projetos sociais, de acordo com (Teodósio, 2009), passou por transformações e incorporou o discurso da construção de parcerias como um elemento central e essencial para sua efetivação, tendo as organizações da sociedade civil e, mais recentemente, também as empresas, papel relevante nessa dinâmica. Paralelamente às discussões sobre as condições para a concretização de políticas e projetos sociais mais efetivos e eficientes, atores de Estado, empresas e Organizações da Sociedade Civil têm sido levados a repensar e reordenar seus papéis na sociedade contemporânea. Interações entre atores de Estado, organizações da sociedade civil e empresas adquiriram lugar de destaque nas discussões acadêmicas e na formulação de agendas de políticas sociais a partir das últimas décadas. Essas alianças possibilitam um aumento da capacidade de compreensão dos problemas, de encontrar soluções e obter resultados que são superiores ao que um setor seria capaz de alcançar de forma isolada (Lariú e Berendson 2008; Dias, 2012). Projetos e programas similares nas áreas de educação, saúde, lazer ou preservação ambiental podem ser promovidos tanto pelos poderes públicos como pelas empresas privadas e por organizações não-governamentais. Nessas parcerias, conforme (Goldstein, 2007), o fator de diferenciação reside menos na atividade desenvolvida do que na origem dos recursos e nos objetivos por trás da iniciativa. Para a autora, notam-se, cada vez mais, semelhanças na maneira de realizar um diagnóstico preliminar, de elaborar um projeto e de aferir resultados em projetos socioambientais públicos, privados e empresariais. Os interesses em comum e as possibilidades de troca de know-how entre os profissionais dos três setores são cada vez maiores, como se percebe nos eventos em que participam conjuntamente e também nas publicações destinadas a gestores sociais com diferentes inserções institucionais. Para (Goldstein, 2007), existem certamente grandes diferenças, como o fato de que a máquina pública é muito mais lenta e burocrática na aprovação de projetos, ao mesmo tempo que dispõe de uma infra- estrutura pronta e espalhada pelo território nacional; as empresas são normalmente mais ágeis e hábeis na gestão dos projetos, além de terem o costume de cobrar resultados, embora lhes falte o conhecimento direto dos problemas sociais e a familiaridade com as comunidades que as ONGs detêm. Por isso mesmo, a tendência é estabelecer parcerias intersetoriais. As empresas buscam fazer alianças porque as experiências em conjunto têm se mostrado mais eficazes que as individuais, de acordo com Rosa Maria Fischer. Oded Grajew do Instituto Ethos reforça esta importância quando diz que “os projetos sociais precisam de recursos financeiros, econômicos, culturais, tecnológicos e humanos. De forma isolada, essas possibilidades são limitadas, mas na forma de parcerias é possível juntar forças para reduzir as mazelas da população brasileira”. Para que estas parcerias tenham sucesso, é fundamental o papel da avaliação. Ehlers e Calil (2004) defendem que a capacidade de aprendizagem é um dos caminhos mais importantes para o fortalecimento das ONGs. Conforme os autores, é através da adoção de práticas de monitoramento e de avaliação que é possível desencadear aprendizagens individuais e coletivas, cujos reflexos serão observados na gestão. De acordo com (Marino, 1998), a avaliação pode ser conceituada como um processo sistemático de delineamento, obtenção e fornecimento de informações úteis ao julgamento de alternativas de decisão sobre determinado objeto. O autor afirma que o papel da avaliação é construir momentos reflexivos que permitam aos indivíduos a análise da realidade e dos fatos, para daí direcionarem suas ações, aprendendo pela experiência. Assim, sua função transcende à mera questão fiscalizadora ou controladora, abrangendo uma intensa reflexão que deve ser feita com todos os envolvidos no processo. A ideia central, para (Brandão, Paiva e Silva, 2012), é que os processos avaliativos ajudem osenvolvidos a encontrar seus próprios caminhos de aprendizagem e desenvolvimento, e que ampliem o nível de consciência dos empreendedores sociais. Para cumprir estes objetivos, o papel da avaliação precisa transcender a fiscalização ou controle, abrangendo uma intensa reflexão que deve ser feita com todos os envolvidos no processo. 2.2 Metodologia Para alcançar os objetivos propostos pela pesquisa utilizou-se o tipo de pesquisa descritiva, que para (Jung, 2004) tem como finalidade observar, registrar e analisar fenômenos ou sistemas técnicos. A pesquisa descritiva tem como objetivo primordial a descrição das características de determinado fenômeno, onde se possa coletar informações a cerca das opiniões das pessoas, atitudes ou crenças de uma população. (GIL, 1999; SALOMON, 2001; MATIAS-PEREIRA, 2007) A escolha desse tipo de pesquisa se dá pelo fato de descrever as parcerias realizadas entre seis empresas e seis organizações sem fins lucrativos. Os métodos utilizados na pesquisa foram a pesquisa bibliográfica e o estudo de caso. Segundo (Cervo e Bervian, 2002) a pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos. (Oliveira, 2002) compartilha da mesma ideia, pois para ele a pesquisa bibliográfica tem por finalidade conhecer as diferentes formas de contribuição cientifica a cerca de determinado assunto ou fenômeno. Outro método utilizado na pesquisa é o Estudo de Caso, que segundo (Yin, 1999) é possível explicar ou descrever um sistema de produção ou sistema técnico no âmbito particular ou coletivo. Assim, este procedimento é considerado uma importante ferramenta para os pesquisadores que tem por finalidade entender “como” e “porque” funcionam as “coisas”. Para Goldenberg (1999) e Jung (2004), o estudo de caso reúne o maior número de informações detalhadas, por meio de diferentes técnicas de pesquisa, com o objetivo de apreender a totalidade de uma situação e descrever a complexidade de um caso concreto. Visto o tipo e o método de pesquisa, usou-se para analisar os dados coletados a abordagem Qualitativa. A pesquisa qualitativa considera que há uma relação dinâmica, particular, contextual e temporal entre o pesquisador e o objeto de estudo. Por isso, carece de uma interpretação dos fenômenos à luz do contexto, do tempo, dos fatos. Na pesquisa qualitativa, “o pesquisador participa, compreende e interpreta.” (MICHEL, 2009, p. 37) Os instrumentos de pesquisa utilizados foram entrevista, análise documental, grupos de discussão e observação direta. Foram realizadas entrevistas com os proprietários das empresas com os diretores das organizações sociais participantes. Foram analisados documentos das organizações tais como sites, folder institucional, termos de parceria, dentre outros. Foram realizados grupos de discussão com as equipes de cada organização social e empresa participante. 2.3 Análise dos Dados Foram realizados diversos encontros com as organizações sociais e empresas participantes para fortalecimento da Gestão Responsável: Monitorias quinzenais com as organizações sociais parceiras com foco em: o Planejamento Estratégico o Plano de Mobilização de Recursos Monitorias mensais com as empresas parceiras com foco em: o Programa de Investimento Social Privado o Circuito Social Encontros coletivos com foco em: I Encontro da Rede PDEOS Quadro 2. Avaliação de Processos Fonte: elaborado pelas autoras a partir dos dados coletados Durante o evento, realizado em 16/05/2012, cada liderança empresarial e comunitária teve oportunidade de apresentar uma síntese do trabalho desenvolvido até aquele momento. Ao final da manhã, ficaram evidentes as inúmeras oportunidades de parceria entre os participantes. Várias delas já estão se concretizando e serão apresentadas como resultados a seguir. Avaliação de Resultado: Classificamos os resultados do PDEOS a partir das dimensões a seguir: Instrumentos de Gestão: Produtos gerados a partir das monitorias São dois os instrumentos de gestão gerados para as organizações sociais. Isto porque o PDEOS iniciou o trabalho a partir do Planejamento Estratégico por entender que seria inadequado partir para um Plano de Mobilização de Recursos sem ter esta referência institucional claramente definida para cada organização social participante. O quadro 3 a seguir destaca os aspectos que compõe os produtos de cada etapa desta fase do trabalho: Quadro 3. Organizações sociais Fonte: elaborado pelas autoras a partir dos dados coletados O quadro 4 aborda os instrumentos de gestão gerados para as empresas do PDEOS, tendo como foco a configuração dos programas de investimento social de acordo com as especificidades de cada participante: Quadro 4. Empresas Fonte: elaborado pelas autoras a partir dos dados coletados Parcerias: Produto: refere-se às parcerias com recursos financeiros disponibilizados pelas empresas aos projetos sociais das organizações sociais locais. Subproduto: refere-se às parcerias com recursos materiais, físicos, tecnológicos, dentre outros disponibilizados pelas empresas às organizações sociais. Articulações: refere-se às parcerias envolvendo sinergia com outros programas da FDC, além de outras instituições, externas ao PDEOS, mas que surgiram a partir da rede de relacionamentos. Gráfico 1. Resultados Fonte: elaborado pelas autoras a partir dos dados coletados Muitos investidores não se sentem confortáveis em divulgar o valor de seu investimento. Consideramos apenas os investimentos financeiros para cálculo (produto). Vale ressaltar que são empresas de pequeno porte. O gráfico a seguir, tem como referência os valores médios mensais projetados anualmente: Gráfico 2. Resultados Fonte: elaborado pelas autoras a partir dos dados coletados Metodologia O registro da Metodologia PDEOS que está sendo desenvolvido traz aspectos relevantes dentre os quais destacamos: A importância dos registros dos pontos fortes e oportunidades para aprimoramento do projeto piloto; A estratégia para redução de custos do Programa – uma vez sistematizada e validada a metodologia, a composição da carga horária para o acompanhamento das próximas edições poderá ser reduzida e otimizada; A sistematização do conhecimento como patrimônio da FDC; A construção de um Guia Metodológico como diretriz para futuros professores e participantes do Programa. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A avaliação de processos e resultados apresentada apontam no mínimo para duas perspectivas relevantes. Em primeiro lugar a eficácia do trabalho em rede quando precedido da formação responsável de lideranças empresariais e comunitárias. As monitorias realizadas permitiram de um lado que as empresas fossem capazes de desenvolver seus programas de investimento social e as organizações organizarem-se como instituições, através do planejamento estratégico e na sequência tivessem condições de desenvolver seus planos de mobilização de recursos. Isso tornou possível que as articulações fossem feitas de maneira muito mais planejada e profissional. Em segundo lugar, o valor, para além da dimensão financeira, que as dezenas de parcerias desenvolvidas entre os participantes foram capazes de mobilizar. Reflexo disso, o maior volume de parcerias vem da categoria “subproduto”, decorrente de outros tipos de recursos como doação de produtos fabricados pelas empresas aos projetos sociais. Isso demonstra, sobretudo na realidade as pequenas empresas, que é possível contribuir para o desenvolvimento local, independente do porte. Destacamos ainda, a importância do registro da metodologia que está sendo feita pela equipe do projeto, isto permitirá dentro outros resultados, a contribuição para a academia, através de artigos e potencialmentelivros, como estratégia de democratização da produção do conhecimento. É importante reconhecer que toda pesquisa apresenta limitações e, sobretudo no caso de um projeto piloto, os resultados não podem ser generalizados. Apontamos como sugestão de pesquisas futuras: A avaliação da permanência das parcerias desenvolvidas entre os participantes da turma piloto, afim de observar a continuidade do investimento realizado; uma nova edição com a segunda turma de empresas e organizações sociais dos projetos, com objetivo de analisar a tendência do desenvolvimento das parcerias. Finalmente vale destacar que é preciso continuar nesta busca de investigação, analisando iniciativas públicas, privadas e/ou não-governamentais, capazes de ampliar a produção do conhecimento em uma área de gestão que vem construindo e consolidando seus paradigmas próprios. REFERÊNCIAS ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas (2010). NBR ISO 26.000. Diretrizes sobre Responsabilidade Social. Rio de Janeiro: ABNT. ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas (2012). NBR 16.001. Responsabilidade Social – Sistema de Gestão - Requisitos. Rio de Janeiro: ABNT. Brandão, Daniel; Paiva, Mariangela; Silva, Rogério (2012). Avaliação como Oportunidade de Aprendizagem. Recuperado em 31 de Agosto, 2012, de http://www.fonte.org.br/node/154 Cervo, Amado Luiz; Bervian, Pedro Alcino (2002). Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Prentice Hall. xii, 242p. http://www.fonte.org.br/node/154 Coelho, Helena Maria Queiroz (2005). 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