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<p>Universidade Estadual do Maranhão – UEMA</p><p>Centro de Educação, Ciências Exatas e Naturais – CECEN</p><p>Curso de Licenciatura em Filosofia</p><p>Disciplina História da Filosofia Moderna</p><p>Marco Jose Gomes de Sousa</p><p>20200007582</p><p>São Luís – MA</p><p>2021</p><p>Universidade Estadual do Maranhão – UEMA</p><p>Centro de Educação, Ciências Exatas e Naturais – CECEN</p><p>Curso de Licenciatura em Filosofia</p><p>Disciplina História da Filosofia Moderna</p><p>RESENHA</p><p>O filme Agonia e Exstase conta a relação entre Michelangelo e o papa Júlio II, quando, no século XVI, encomendou a pintura do teto da Capela Sistina, cujo pano de fundo é o movimento humanista e renascentista vigente. O termo humanista segundo Reale e Antiseri (1990, p. 17), nasceu em meados do século XV, para designar professores e cultores que se dedicavam a cultura da gramatica, da retorica, da poesia, da história e da filosofia moral, ou seja, a um tipo de paideia, que visava a educação e formação espiritual do homem. Já o termo Renascimento conforme afirma Reale e Antiseri (1990, p.24) foi talhado na obra de Jacob Burckhardt intitulada A cultura do Renascimento na Itália, nesta obra, o renascimento é apontado como movimento cultural originariamente italiano, dotado de grande fervor individualista sob o ponto de vista prático e teórico, por uma exaltação da vida comum, mundana, por um considerável sensualismo, por um forte sentido histórico, por um naturalismo na filosofia e grande gosto artístico.</p><p>No filme fica patente a relação conturbada entre os dois personagens; mas que, de certo modo, demonstram certa proximidade: mesclada ora com a prepotência papal, balizada na autoridade político-militar e religiosa, ora com a insolência e impetuosidade instintiva do artista. Uma vez “convocado” a prestar serviços à Igreja, Michelangelo reluta, e, em conflito consigo mesmo, e com os próprios interesses, acaba aceitando forçosamente.</p><p>As personagens refletem, ou melhor, representam bem a oposição de pensamento de uma época pujante em ideais contrários ao período que a antecedeu. De um lado, o grande gênio artístico de seu tempo, Buonarotti, como era chamado Michelangelo, celebre nome do movimento cultural, filosófico e artístico originariamente italiano – o Renascimento. Do outro, o Papa Júlio II, um típico herdeiro de um tempo que, pouco a pouco, vai declinando e que expressa ainda alguma força em sentido institucional, ou seja, que, através da Igreja, busca se manter enquanto aglutinador político em contraposição ao fortalecimento paulatino dos reinos e principados que convergem rumo a um distanciamento e maior independência as influencias eclesiásticas.</p><p>Do ponto de vista filosófico, o movimento renascentista não significou necessariamente uma ruptura com os valores cristãos consolidados no mundo medieval, de forma alguma foi uma cisão; na verdade, o que se buscou de fato foi uma certa autonomia na maneira de avaliar as coisas circundantes, a natureza, o homem, a realidade, o mundo, de acordo com Reale e Antiseri (2017, p. 65) se constata que o pensamento renascentista é atravessado por um poderoso anseio de renovação religiosa, a que demonstrou a postura do humanista Erasmo de Roterdã. Com efeito, o que este defendia em seus trabalhos era uma reforma da religiosidade cristã e um retorno a natureza bem criada, voltar às origens, para além dos silogismos complicados e das polemicas criadas pelas disputas escolásticas.</p><p>Semelhante posicionamento de Erasmo pode ser encontrado em sua obra intitulada Elogio da loucura, ainda hoje apreciada por guardar um certo vigor intelectual, em que apresenta uma forma da “loucura” precisamente congênere naqueles tempos, isto é, com muitas facetas com as quais se poderia chegar à uma soma de conclusões sobre o que seja a ambição humana e seus ideais mais profundos, assim, a “loucura” erasmiana é reveladora de “verdades”, em que grande parte da realidade é vista como uma grande comédia, em que os homens em geral não são senão atores, onde todos recitam e cumprem seu papel: no palco, tudo é postiço! Desse modo, nasce nesse conjunto humanista, um anseio por reforma, aperfeiçoamento, e não um rompimento abrupto com os valores cristãos da maneira mais exagerada que se poderia apregoar se se considerasse tal momento histórico de forma apressada. Exemplifica muito bem este caso da autonomia, as considerações feitas pelo filósofo Telésio, que na percepção de Reale e Antiseri (2017, p.113) teria feito uma das tentativas mais audaciosas de encaminhar a física numa estrada rigorosa da pesquisa autônoma, desvinculando-a da metafisica hermético-neoplatônica e dos pressupostos metafísicos aristotélicos.</p><p>E no filme, Michelangelo por várias vezes exprime sua posição diante do Papa, suas considerações de repreensão ao comportamento hipócrita da Igreja ante a moralidade política em que vive seu tempo; colocando-se, sobretudo, na condição de ilustre crítico das decisões tomadas pelo clero que entravam em conflito com os valores cristãos. Mostrando assim, uma considerável autonomia de pensamento com relação aos fatos que se lhe apresentavam contraditórios aos preceitos proclamados pelo clero.</p><p>De igual modo, outra característica renascentista na maneira de pensar de Michelangelo que poderia ser ressaltada é que há nele uma inegável afirmação do valor individualista e notável enfraquecimento da humildade artística que era um preceito pregado pela Igreja, segundo tal preceito, os artistas deveriam não assinar suas obras, deveriam se resignar ao anonimato. Neste sentido, Michelangelo assume uma postura singular desse processo de transição da resignação à um estágio de afirmação e centralização cada vez mais contundente do homem no que tange a realização de suas ambições e de seu direito de realiza-las. O direito individual, nesta visão de mundo, está acima do direito coletivo.</p><p>Outro aspecto importante ressaltado no filme é o resgate dos clássicos, da herança grega e romana, sobretudo o naturalismo grego. A busca pelo equilíbrio, pela beleza, pela perfeição da natureza tanto em forma como em conteúdo, foi um ingrediente motriz do desenvolvimento renascentista. Intenções que eram antes negadas, postadas de lado, agora passam a fazer parte da constituição cultural e da ambição de grandes artistas da importância e envergadura de um Rafael... Em ambos os mestres o uso de cores vivas, a nudez, a sensualidade, atinge seu mais alto grau de afirmação do indivíduo, da humanidade, da vida, da vontade, tamanha a intensidade do realismo retratado por eles nos afrescos, revisitando, contudo, a vida e a religiosidade mundana. Foi dessa maneira que ficou caracterizado esse fenômeno histórico: como um retorno, por meio da cultura, ao gosto antigo, pagão e um desejo peculiar de se afirmar em cada ato da existência, esse interesse particular foi o que os dominou e os moveu sob diversos âmbitos da vida.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>REALE, Giovanne; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Do Humanismo a Kant. 2.ed.São Paulo: Paulus,1990. v. 2.</p><p>_______________________________. FILOSOFIA: IDADE MODERNA. São Paulo: Paulus, 2017.v.2.</p><p>AGONIA E EXSTASE. Carol Reed. EUA.20thCenturyFox.1965.Disponivel em:https://tudohd.pro/agonia-e-extase-1965-assistir-online/ (138 min.). Acesso:14 mai. 2021.</p>