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<p>1</p><p>CEDERJ - CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA</p><p>DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Curso: Engenharia de Produção</p><p>Disciplina: Gestão da Manutenção</p><p>Conteudistas: José Antonio Assunção Peixoto e</p><p>Leydervan de Souza Xavier</p><p>DI: Vittorio Lo Bianco</p><p>Aula 2: Produção e manutenção: o que vale a pena?</p><p>Meta</p><p>Explorar como a questão de valor participa de todas concepções, práticas, avaliações e</p><p>gestão da manutenção. Neste contexto as produções concretas e simbólicas e sua</p><p>manutenção também serão abordadas.</p><p>Objetivos</p><p>Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:</p><p>1. Compreender como se constrói, socialmente, o valor e as expectativas de</p><p>desempenho das atividades de produção e de manutenção;</p><p>2. Compreender como as percepções de risco interferem na gestão da manutenção;</p><p>3. Discutir as relações entre valor, produção concreta e simbólica e manutenção.</p><p>1.0 INTRODUÇÃO</p><p>Na Aula 1 você pode refletir sobre a natureza das atividades de manutenção e de</p><p>produção e, segundo a abordagem proposta, de como as distinções entre elas são</p><p>convencionais e contextuais. Como você viu, ao final da aula, esta abordagem não altera</p><p>o fato de que, dependendo da organização do trabalho, manutenção e produção serão</p><p>realizadas de forma especializada e com finalidades bem distintas.</p><p>Mas, ao se equipar manutenção e produção, como foi proposto, há implicações práticas</p><p>importantes. Se, no passado, a manutenção, frequentemente, se subordinava à</p><p>2</p><p>produção, de uma forma quase sempre reativa e reparadora, mais recentemente passa</p><p>a ser considerada como uma atividade estratégica para as organizações e para as</p><p>cadeias de suprimentos envolvendo várias organizações, sendo ativa ou pró ativa e</p><p>produtora.</p><p>Ao longo da disciplina você vai verificar isto, por exemplo, na perspectiva de gestão de</p><p>ativos. Particularmente, quando há uma preocupação com a sustentabilidade dos</p><p>processos, esta posição fica ainda mais destacada.</p><p>Assim, a manutenção é um campo de produção de valor para a organização e para os</p><p>sujeitos conscientes fora dela, preocupados com a sociedade e com o mundo da vida.</p><p>Nesta aula, você vai explorar como a questão de valor participa de todas concepções,</p><p>práticas, avaliações e gestão da manutenção. Neste contexto as produções concretas</p><p>e simbólicas e sua manutenção também serão abordadas.</p><p>2.0 CONCEITOS</p><p>Resgatando o conceito de ação, realizada por um sujeito consciente, você se depara</p><p>com a intencionalidade e a reflexividade. Ou seja, tudo que você faz, conscientemente,</p><p>tem uma finalidade e, ao agir e produzir uma transformação, seja o alcance que ela tiver</p><p>nos campos do imaginário, da sociedade e do mundo da vida, você poderá perceber e</p><p>refletir se suas expectativas foram alcançadas. Esta reflexão se constrói sobre os</p><p>conceitos de desempenho e de valor. Vamos entender isso mais profundamente.</p><p>2.1 Valor e desempenho</p><p>Ao se fazer o recorte ou enquadre das organizações em que vive ou com as quais</p><p>interage, você poderá refletir como sua produção impacta na existência delas. Essa</p><p>reflexão, que você usará para conduzir sua vida como cidadão e como profissional, é</p><p>algo que todos os agentes de todas as organizações compartilham, em alguma medida</p><p>de suas consciências e reflexões, e, as próprias organizações, coletivamente, também</p><p>realizam. Para refinar esse conceito é preciso usar outros dois: valor e desempenho.</p><p>Nas interações entre organizações, que sempre constituem uma forma de produção, há</p><p>expectativas quanto às transformações a serem alcançadas por meio das formas de</p><p>produção disponíveis. A intencionalidade da consciência que produziu com uma</p><p>finalidade, esperar alcançar, em alguma medida, aquela finalidade. A comparação ou</p><p>3</p><p>razão entre essas expectativas e os resultados alcançados na produção, em geral,</p><p>corresponde a alguma forma de desempenho ou medida de desempenho.</p><p>Na Fig. 1, a representação explora a interação entre dois sujeitos conscientes que</p><p>refletem sobre o valor de sua produção. Seguindo os moldes usados nas figuras</p><p>anteriores, há objetos abstratos (bloco roxo), privativos dos imaginários (elipse rosa</p><p>tracejada de vermelho) de cada sujeito, que podem ser produzidos (campos das elipses</p><p>azul e verde), como coisa concreta ou uma informação comunicável (bloco azul) e,</p><p>assim, ser compartilhado (intersecção das elipses azul e verde) com outros sujeitos no</p><p>campo da sociedade.</p><p>Na medida que outros sujeitos comparam o objeto produzido, seja informacional ou</p><p>material com o seu próprio objeto imaginário, sobre o qual construiu suas expectativas,</p><p>define-se uma medida de valor.</p><p>A medida de valor, é, também, uma produção e, como um novo objeto (material ou</p><p>informacional), passa a ser compartilhada socialmente pelos sujeitos e poderá ser</p><p>usada na produção de outros objetos, afetando as expectativas futuras e novas formas</p><p>de medição de valor, assim como os próprios sujeitos e as organizações que eles</p><p>compõem</p><p>Figura 1 A construção do valor pelos sujeitos conscientes.</p><p>Nos sítios na internet, quando você clica no gesto de que gostou ou não gostou,</p><p>juntamente com milhares de outros sujeitos, que nunca viu nem vai ver, o valor do</p><p>produto e de seu produtor estão sendo transformados instantaneamente...O quanto</p><p>Sujeito</p><p>consciente</p><p>Sujeito</p><p>consciente</p><p>MÁTERIA</p><p>MUNDO DA VIDA</p><p>TRANSFORMAÇÃO</p><p>AÇÃO</p><p>SOCIEDADE</p><p>ENERGIA</p><p>imaginário imaginário</p><p>MATERIALIDADE</p><p>expectativa</p><p>expectativa</p><p>INFORMAÇÃO</p><p>VALOR VALOR</p><p>4</p><p>você gostou, de que gostou e por que gostou, certamente, diferem do que acham os</p><p>demais, mas na métrica de quantidade de aprovações, isso não conta, pelo menos em</p><p>uma primeira avaliação.</p><p>Como a sobrevivência das organizações depende das transformações e produções</p><p>realizadas, haverá sempre um interesse em alcançar um determinado desempenho e,</p><p>como uma produção sempre pode ser comparada com outra produção, haverá sempre</p><p>uma relatividade percebida por cada sujeito. As fatias de mercado são conquistadas ou</p><p>perdidas assim.</p><p>Lembre-se de que o sujeito pode ser um coletivo de profissionais organizados,</p><p>compondo partes de uma empresa ou “organização”. O valor de um produto, também,</p><p>pode ser construído a partir de um agregado de qualidades percebidas e valorizadas</p><p>pelo sujeito.</p><p>Essa relatividade percebida pode ser considerada a base do valor. Porque todo valor é</p><p>valor relativo, em uma escala própria. Contratos comerciais, normas técnicas,</p><p>legislações são, em essência, acordos ou imposições de valores, conforme o contexto</p><p>social. O que é certo e o que não é. O que é caro e o que é barato. O que é bom ou</p><p>ruim, são exemplos de problemas de valor.</p><p>Qual o valor de sua produção? Isto pode ser respondido por números, em uma escala</p><p>de valores financeiros para remuneração; ou com base em outros conceitos: estou</p><p>satisfeito com ela, ou não estou feliz com o que faço; ela é maravilhosa, mas ninguém</p><p>valoriza o que eu faço!</p><p>Todos os valores são uma forma de construção social, consensual ou não. O valor e o</p><p>desempenho vão ser a base das relações entre as organizações e as formas de</p><p>produção e de manutenção que serão discutidas adiante.</p><p>Sem uma clara percepção de como os valores e o desempenho são percebidos, você</p><p>terá dificuldades nas interações profissionais e pessoais em qualquer organização. E</p><p>não conseguirá planejar, executar, ou gerir qualquer atividade de manutenção em</p><p>sintonia com a organização ou as organizações que demandam ou em que se executa</p><p>a atividade.</p><p>Então, surgem algumas questões: o que tem mais valor (relativo)? Como isto se define</p><p>no Mundo da Vida e nas organizações?</p><p>5</p><p>2.2 Risco, perigo e dano</p><p>Ao projetar uma ação e refletir sobre as expectativas associadas às consequências dela,</p><p>você sabe, por experiência própria, que a realidade concreta pode se afastar da</p><p>realidade imaginada. Assim, há, sempre, alguma distinção</p><p>possível entre o que se</p><p>espera e o que se obtém. Entre elas, está a reação dos outros sujeitos as suas escolhas</p><p>e as diferenças entre eles e os seus valores. Além disto, acontecem coisas não previstas</p><p>ou ainda imprevisíveis, como aquelas que não se conhecia antes de acontecerem.</p><p>No senso comum, as pessoas dizem que toda ação tem riscos... Nesse caso, em geral,</p><p>risco é a possibilidade de algo indesejado acontecer, como um acidente, ou algo que</p><p>constitui prejuízo a alguém. De forma semelhante, as pessoas se referem a uma</p><p>condição perigosa ou arriscada.</p><p>Para uma definição mais formal, você pode considerar as referências da Royal Society</p><p>(1992):</p><p>Risco é: “the combination of the probability, or frequency, of occurrence of a defined</p><p>hazard and the magnitude of the consequence of the occurrence”.</p><p>Aqui, livremente, traduzida como:</p><p>“a combinação da probabilidade, ou da frequência de ocorrência de um perigo definido</p><p>e a intensidade da consequência da ocorrência”</p><p>E, complementarmente, perigo pode ser considerado:</p><p>“the potential to cause harm” and also as “a property or situation that in particular</p><p>circumstances could lead to harm”.</p><p>Aqui, livremente, traduzida como:</p><p>“o potencial para causar danos” e, também, “a propriedade ou situação que, em</p><p>circunstâncias particulares, pode causar danos” (Royal Society, 1992).</p><p>A percepção de risco depende, diretamente, da informação disponível. Assim, o risco</p><p>percebido pode ser muito menor do que o risco calculado a partir de dados estatísticos,</p><p>por exemplo. E, no sentido contrário, por questões particulares, alguém pode sentir</p><p>medo ou perceber riscos de forma mais intensa do que se poderia calcular a partir de</p><p>algum modelo, com as informações disponíveis.</p><p>6</p><p>Você pode associar, agora, os conceitos de valor, risco, perigo e dano a diversos</p><p>contextos importantes para a EP e seu desempenho profissional.</p><p>Assim, diretamente, o sujeito consciente, individual ou coletivo, atribuirá valores</p><p>diferentes para produções que tenham riscos diferentes. Se a vida do sujeito depende</p><p>de alguma produção, seu valor passa a ser o da própria vida, e realizar esta produção</p><p>assume grande valor. Por outro lado, algo que representa risco de morte ao sujeito deve</p><p>ser evitado e o que for possível produzir para isto assume grande valor.</p><p>Nesta correlação de sentidos, agir é sempre correr riscos, refletindo-se sobre a relação</p><p>entre o valor relativo da produção pretendida e dos danos que ela possa gerar ou que</p><p>possam ocorrer se algo não acontecer conforme o esperado.</p><p>Uma das vertentes da Gestão da Manutenção é a que considera a gestão de riscos</p><p>nos processos realizados por uma organização.</p><p>Como cada ação, visando à produção, despende energia e significa trabalho, humano</p><p>ou não, ela ocorrerá pelo valor socialmente reconhecido nesta produção e relacionado</p><p>com seus resultados, conforme as expectativas dos sujeitos sejam mais ou menos</p><p>satisfeitas. Ações serão preferidas a outras em função de seu valor.</p><p>Há, portanto, risco na ação de se produzir, por não se alcançar o desempenho desejado</p><p>que gere retorno. Por outro lado, para se evitar que acidentes e outros fenômenos</p><p>interfiram negativamente na produção, é preciso agir – como na manutenção – o que</p><p>também tem valor relativo e riscos associados, como em qualquer produção. Assim, as</p><p>ações com menor risco serão preferidas em relação as demais.</p><p>O valor é, muitas vezes, pensado em escala financeira ou econômica, como nas</p><p>relações de custo-benefício, investimento-retorno etc. E, o mesmo acontece com o risco,</p><p>mas danos à vida, ao meio ambiente, à cultura, à imagem pessoal ou corporativa,</p><p>dificilmente, ficam bem avaliados, somente, na escala financeira.</p><p>Nas questões contemporâneas de responsabilidade social e de práticas mais</p><p>sustentáveis, cada vez mais presentes na EP, há muito trabalho a ser feito no campo</p><p>dos valores e na gestão de riscos.</p><p>2.3 Organização, entropia e caos.</p><p>7</p><p>As organizações não são, naturalmente, permanentes, ou seja, elas não se mantêm</p><p>inalteradas, por elas mesmas, ao longo do tempo. Isto vale para as ordenações lógicas</p><p>e as organizações sociais.</p><p>Quanto tempo durou aquela última arrumação que você fez em sua gaveta ou bolsa?</p><p>Por que não continua arrumada? Por experiência, você sabe que isso não acontece e,</p><p>se você preza a ordem, precisa manter a arrumação com intervenções periódicas, do</p><p>contrário, vai imperar o caos, em algum tempo.</p><p>Pense, agora, em uma organização como a família ou uma empresa. Se os participantes</p><p>não se ocuparem de cuidar delas, haverá degradação ou desagregação do que se</p><p>considera um todo.</p><p>Pense também no seu organismo. Sem se cuidar você pode ficar doente e mesmo</p><p>“parar de funcionar”.</p><p>Mas por que os processos e as organizações não se mantêm por si mesmos,</p><p>indefinidamente? Por que as coisas se desorganizam? Uma forma de explicar isso é</p><p>usando alguns conceitos que você estudou em Termodinâmica.</p><p>Cada transformação implica em uma perda de energia que não pode ser mais usada</p><p>para uma outra transformação seguinte ou para reverter a transformação realizada. O</p><p>conceito usado para designar esta perda ou indisponibilidade é entropia. A entropia é</p><p>usada para medir o grau de desordem das partículas em condições definidas.</p><p>Assim, se você encerrar uma organização em um espaço isolado de outras fontes de</p><p>energia e deixar que ela realize processos de trabalho, depois de um certo tempo, ela</p><p>não conseguirá mais prosseguir, por não ter mais energia para isso. Haverá desordem</p><p>total. A ausência de qualquer forma de organização ou a incapacidade para produzir</p><p>organização é o caos.</p><p>Para que não alcance um estado caótico, é preciso que a organização renove seu</p><p>estoque de energia e de informação, que precisa vir de fora dela.</p><p>Deste modo, cada organização, por mais que tenha agentes internos responsáveis por</p><p>sua manutenção, precisa de interações com outras organizações para manter seu</p><p>8</p><p>funcionamento. A renovação dos quadros de colaboradores segue a mesma linha</p><p>lógica.</p><p>Veja o caso de seu organismo. Ele dispõe, até certo ponto, de recursos para se manter,</p><p>mas, no caso de acidentes, grandes traumas, infecções graves, é preciso que agentes</p><p>externos atuem para reparar a saúde afetada. Do mesmo modo, apesar de haver</p><p>reservas de energia, sem o ar e os alimentos que vêm de fora do organismo, ele não se</p><p>manteria vivo ao final de uns poucos minutos.</p><p>Veja o caso da Terra. Sem a energia enviada pelo Sol e transformada em diversos</p><p>processos no Mundo da Vida, a vida aqui não seria viável.</p><p>As atividades humanas não produzem nem matéria nem energia, mas podem</p><p>transformar estas entidades, disponíveis na natureza, uma em outra, e vice-versa,</p><p>gerando fluxos das duas capazes de alimentar organizações, se opondo ao aumento da</p><p>entropia, ou se você preferir, do grau de desordem.</p><p>O risco da desordem, parcial ou total, afeta máquinas, edificações, instalações, códigos</p><p>computacionais, circuitos eletrônicos, procedimentos de trabalho e todas as formas de</p><p>organização humanas e naturais.</p><p>Por um lado, sem o fluxo de matéria e energia que se opõe ao aumento da entropia, a</p><p>vida não se sustenta. Por outro, para as organizações sociais sobreviverem, além dos</p><p>fluxos de matéria e de energia, precisam de interação com outras organizações e troca</p><p>de informações e circulação de pessoas. Daí a necessidade e o valor da manutenção,</p><p>quer considerada para um item de uma máquina, quer considerando a organização</p><p>como um item.</p><p>Na Fig.2 a ordem ou organização projetada, privativamente, pelo sujeito se transforma</p><p>(a ação de organizar começa no campo da elipse vermelha de seu imaginário e alcança</p><p>a elipse azul da realidade compartilhável com outros sujeitos) em objeto concreto (bloco</p><p>azul), através de uma produção intencional. Esta produção acontece na intersecção dos</p><p>campos imaginação (rosa) de produção/manutenção (azul), da sociedade (laranja) e do</p><p>ambiente natural (verde). O retângulo externo manutenção pode ser pensado como o</p><p>contexto em que tudo isto acontece, o que se deseja fazer. Mas, essa organização se</p><p>degrada, por força da entropia (setas tracejadas pretas conectando o objeto ao exterior),</p><p>e é preciso que o sujeito faça manutenção de seu produto, com suporte de fluxos e</p><p>matéria, energia e informação provenientes da sociedade e do Mundo da Vida.</p><p>9</p><p>Figura 2 As transformações, a entropia e a manutenção nas organizações.</p><p>Na Fig.2, o sujeito consciente produz (bloco azul associado à produção e bloco amarelo</p><p>associado à manutenção), intencionalmente, e para isso se apropria do que conhece e</p><p>dos materiais e recursos de que dispõe, realizando um trabalho. Primeiro a intenção é</p><p>um projeto, uma linguagem mental. Em seguida, pode ser comunicado a outros sujeitos,</p><p>usando as linguagens e signos disponíveis (idioma, desenhos, modelos etc.). O passo</p><p>seguinte é a materialização do projeto. Observe que projetar, se comunicar e construir</p><p>algo concreto são formas de trabalho em que existem riscos e produção de valor.</p><p>2.4 Fenômeno, consciência, linguagem e representação</p><p>Você já refletiu sobre como o valor de um produto se relaciona ao risco, agora será</p><p>importante explorar uma outra associação: entre valor e símbolo. E, neste caminho,</p><p>Sujeito</p><p>consciente</p><p>Abstração e</p><p>projeto</p><p>Ação</p><p>lógica</p><p>nexo</p><p>tempo</p><p>espaço</p><p>Matéria</p><p>Linguagem</p><p>Energia</p><p>Trabalho</p><p>organizar</p><p>Produção</p><p>Manutenção</p><p>OBJETO DO</p><p>MUNDO DA</p><p>VIDA</p><p>OBJETO DO</p><p>MUNDO DA</p><p>VIDA</p><p>INTENCIONALIDADE</p><p>desorganizar</p><p>Entropia</p><p>Mundo da Vida</p><p>Sociedade</p><p>10</p><p>você poderá refletir sobre a produção e a manutenção (dos valores) dos símbolos,</p><p>vinculados às demais produções. Antes disto, convém apresentar alguns conceitos.</p><p>Um desses conceitos importantes para essa discussão é o de fenômeno. No grego</p><p>fenômeno é o que aparece, o que se apresenta (fazer-se presente). E você perguntará:</p><p>aparece ou se faz presente para quem? Para um agente capaz de perceber, ou de outra</p><p>forma, para uma consciência ou ainda, para um sujeito ou agente consciente e reflexivo.</p><p>Neste contexto, simplificadamente, considera-se a consciência como a capacidade de</p><p>conhecer, de perceber o processo pelo qual se conhece alguma coisa e de refletir sobre</p><p>isso.</p><p>Todo fenômeno que é percebido pela consciência vai ser transformado em uma forma</p><p>de produção que você pode chamar de experiência ou de conhecimento. Contudo, nem</p><p>toda experiência é consciente. Nem sempre você reflete sobre o que acontece ou está</p><p>sentindo.</p><p>A consciência em presença de qualquer fenômeno produz uma representação dele que</p><p>passa a ser a percepção da realidade. Na prática, você lida com a sua representação</p><p>da realidade que, inclusive, pode e costuma ser modificada com o tempo e experiência.</p><p>Quando alguém diz que é representante comercial de uma empresa...obviamente não</p><p>é a própria empresa, mas vai assumir o lugar dela para todas as questões práticas...e</p><p>neste caso passa a ser “a empresa” nas relações com as demais organizações,</p><p>podendo agir e decidir como “uma totalidade substituta da empresa”.</p><p>Os signos, símbolos, desenhos e qualquer forma de linguagem, seja mental, falada ou</p><p>escrita, são formas de representação com que produzimos outras representações. Tudo</p><p>o que você produz tem um valor simbólico, representando outros objetos concretos ou</p><p>abstratos. Uma nota de prova, um diploma, uma aliança de noivado, um uniforme, entre</p><p>tantos outros.</p><p>Você pensou e se lembrou de cenas que representavam, pelo menos para sua</p><p>consciência, o que seria manutenção...Estavam armazenadas na sua memória e você</p><p>produziu associações entre elas e o termo manutenção, atualizando aquelas</p><p>lembranças e formando novas imagens que, agora, representam outro forma de</p><p>entendimento ou de conhecimento.</p><p>11</p><p>A linguagem é uma forma organizada de representação usando signos e as</p><p>representações não deixam de ser processos lógicos, ou formas de organização. Por</p><p>outro lado, as organizações de relações entre pessoas representam o que as pessoas</p><p>pensam e como são capazes de viver e de produzir em dado momento da história.</p><p>Assim, a sociedade é uma representação viva dos valores, do conhecimento e das</p><p>formas de decisão de cada contexto humano. E essa representação é a que produzimos</p><p>para entender nossa forma de vida ou a de outras pessoas em nossa época ou através</p><p>da história.</p><p>Pela mesma linha, as leis são uma representação formal dos valores morais, éticos,</p><p>políticos etc. que um grupo social adota em determinado momento da história.</p><p>Quando você diz que estuda EP, ou que é aluno do CEFET/RJ essas afirmações são</p><p>representações suas. Quando você começou “seu curso” elas, possivelmente, eram</p><p>diferentes das que você usa hoje. Ou, de outra forma, o que era EP para você vem se</p><p>modificando ao longo do tempo, com as contribuições de sua experiência e</p><p>modificações de sua consciência. Ao concluir o curso, seu diploma e CREA vão</p><p>representar para a sociedade sua capacidade e autoridade para agir profissionalmente.</p><p>Com a Gestão da Manutenção vai acontecer a mesma coisa! No mundo da vida, como</p><p>profissional, se suas representações e as de seus pares não coincidirem ou, pelo</p><p>menos, forem reciprocamente compreendidas, as decisões conjuntas se transformarão</p><p>em conflitos e as produções serão muito difíceis ou mesmo inviáveis.</p><p>Os valores são fenômenos, assim como os símbolos. Quando uma marca faz você</p><p>atribuir valores diferentes a seus produtos, tecnicamente equivalentes aos de outras, há</p><p>algo além do concreto sendo percebido por você. Pode-se pensar em um valor</p><p>simbólico.</p><p>Muitos dos esforços de manutenção de instalações, obras de arte, máquinas e museus</p><p>são determinados pelo valor simbólico que possuem.</p><p>Quando muitos soldados se arriscam no campo de batalha para resgatar um único</p><p>combatente ferido ou cercado, o que está sendo salvo? O que justificaria arriscar muitas</p><p>vidas para tentar salvar uma? O que essa vida e esse gesto simbolizam? Essas</p><p>questões são estratégicas para a Gestão da Manutenção e se relacionam à questão de</p><p>valor. Isto porque as relações custo-benefício nem sempre dão conta dos valores</p><p>12</p><p>simbólicos considerados pela organização ou pela sociedade em que ela se insere. Por</p><p>exemplo, será possível responder a pergunta: uma vida vale mais do que várias?</p><p>Nesta perspectiva, toda produção é, também potencialmente, uma produção simbólica,</p><p>o que faz com que o valor percebido esteja associado ao produto concreto, quando</p><p>existe, e o que simboliza para a sociedade. Pelo mesmo motivo, toda manutenção, é</p><p>também potencialmente, uma manutenção de símbolos e do valor associado a eles.</p><p>Muitas vezes, o produto é o suporte material do símbolo, como um diamante raro, pode</p><p>simbolizar riqueza, nobreza. Outras vezes, é o próprio símbolo, como uma bandeira</p><p>nacional, por exemplo (ARAUJO, F.; HANSCH, F; et al, 2009)</p><p>Veja a Fig.3, agora, as produções e os valores simbólicos aparecem associados às</p><p>produções anteriormente discutidas e representadas na Fig.2. Neste caso, tanto no</p><p>campo privativo do imaginário, quanto no campo das interações sociais, para toda</p><p>produção há um valor associado e, também, uma produção simbólica com valores</p><p>próprios. Os valores simbólicos, assim como as produções concretas, podem ser</p><p>compartilhados e definidos por consenso ou acordo, a partir das expectativas e</p><p>percepções dos sujeitos.</p><p>13</p><p>Figura 3 As produções e valores simbólicos no campo das interações sociais.</p><p>As percepções de risco podem ser muito diferentes quando se trata de objeto concreto</p><p>e símbolo. Assim, os valores que vão decidir as estratégias de manutenção,</p><p>possivelmente, podem ser muito diferentes.</p><p>Lembre-se do caso recente do incêndio que destruiu parte da Catedral de Notre Dame</p><p>de Paris ocorrida em 15 de abril de 2019. (CND, 2019). A catedral estava em</p><p>manutenção e, possivelmente, o incêndio aconteceu por causa de algumas falhas nos</p><p>equipamentos usados na reforma.</p><p>Além das considerações financeiras e técnicas, a sociedade francesa representada pelo</p><p>governo e por diversas entidades laicas e religiosas debate, desde então, se a</p><p>reconstrução deve ser integral, preservando-se a originalidade possível, ou se cabe</p><p>introduzir modificações técnicas visando conforto, segurança e outros atributos</p><p>valorizados contemporaneamente.</p><p>A edificação e o que ela simboliza não são o mesmo objeto de manutenção. O risco de</p><p>destruir ou danificar o símbolo nacional francês e da cristandade, pesa com grande valor</p><p>nos projetos e ações que serão tomadas. E, ainda, o risco de a sociedade não aprovar</p><p>os resultados, por mais adequados técnica e financeiramente que sejam, também deve</p><p>estar sendo considerado pelos decisores.</p><p>Na linguagem coloquial, trata-se de saber o que vale à pena ou não fazer neste caso!</p><p>Sujeito</p><p>consciente</p><p>Sujeito</p><p>consciente</p><p>MÁTERIA</p><p>MUNDO DA VIDA</p><p>TRANSFORMAÇÃO</p><p>AÇÃO</p><p>SOCIEDADE</p><p>ENERGIA</p><p>imaginário imaginário</p><p>MATERIALIDADE</p><p>expectativa</p><p>expectativa</p><p>INFORMAÇÃO</p><p>VALOR VALOR</p><p>SÍMBOLO</p><p>SÍMBOLO</p><p>SÍMBOLO</p><p>14</p><p>3.0 ATIVIDADE</p><p>Considere a Fig.9 da Aula 1, em que a saga dos Epesnasaguas é relatada em 8</p><p>cenas.</p><p>1) Na cena 5 parte da tribo discute a construção de um abrigo e, na cena 8 o projeto</p><p>já foi concretizado. Considerando o que foi feito, identifique três possíveis</p><p>expectativas da tribo levadas em consideração na solução adotada e como seu</p><p>valor foi construído pelo grupo. (atende ao objetivo 1);</p><p>2) Você percebe algum risco na cena 1, para a tribo no interior do abrigo? E nas cenas</p><p>3, 4 e 5? Que riscos e perigos você identifica? (atende ao objetivo 2);</p><p>3) Que correlações você estabelece entre a experiência vivida pela tribo e descrita</p><p>nas cenas de 1 a 4 com as atividades desenvolvidas nas cenas 5, 6 e 7? Explore</p><p>as relações entre valor, produção simbólica e concreta e manutenção (atende ao</p><p>objetivo 3).</p><p>Resposta comentada da atividade</p><p>1) A experiência vivida pela tribo e descrita nas oito cenas, é a do colapso do</p><p>abrigo quando este foi atingido por uma tormenta incluindo chuva, vento e</p><p>raios. Muitos morreram e os sobreviventes ficaram desabrigados e expostos</p><p>ao tempo e a outros riscos, como ataques de animais, por exemplo. Assim, a</p><p>segurança contra intempéries parece ser a expectativa de desempenho mais</p><p>importante. Comparando as cenas 1 e 8 pode-se pensar que havia pouco</p><p>espaço no abrigo original em comparação com o novo, mesmo admitindo-se a</p><p>redução da tribo pelas mortes havidas. Assim, o conforto ou um espaço mais</p><p>amplo parecer ter sido outra expectativa; finalmente, na cena 5, os projetistas</p><p>parecem procurar soluções construtiva com os materiais disponíveis e usam o</p><p>piche como ligante entre as pedras. Deste modo, a exequibilidade com os</p><p>materiais e recursos humanos disponíveis para ter sido uma exigência de para</p><p>o projeto e seu processo produtivo.</p><p>2) Na cena 1 as informações descritas não sugerem nenhum perigo;</p><p>especulativamente você poderia pensar na falta de alimentos ou problemas</p><p>com o rio, mas de forma remota;</p><p>3) Há uma mobilização geral para a construção do abrigo, desde o projeto,</p><p>passando pela extração e transporte de material até a montagem final. Esta</p><p>15</p><p>produção, ou manutenção do abrigo destruído, deve ter sido considerada de</p><p>grande valor e por isto valia a pena a participação de grande parte da tribo em</p><p>sua realização. Naturalmente, as experiências de morte, frio e falta de proteção</p><p>descritas nas cenas anteriores levaram a uma percepção coletiva de risco e a</p><p>uma expectativa de desempenho do novo abrigo que permitiram sua</p><p>construção coletiva. Mas o valor do trabalho realizado só pode ser constatado</p><p>com a chegada da estação das chuvas, quando a tribo pode testar seu produto.</p><p>Os valores simbólicos podem ser pensados, por exemplo, no esforço de</p><p>construir um novo abrigo em lugar muito próximo do anterior, usando materiais</p><p>semelhantes, como uma forma de identidade territorial e técnica dos</p><p>Epesnasaguas.</p><p>4. Conclusão</p><p>A manutenção nas organizações não se aplica, apenas, aos itens concretos como</p><p>equipamentos, edificações, instalações ou mesmo organizações como um todo. O</p><p>que está sendo produzido de forma concreta, potencialmente, tem uma</p><p>contrapartida simbólica que é valorizada pela sociedade. A percepção de risco e</p><p>suas representações, assim como as formas de definir valor e desempenho,</p><p>interferem diretamente nas finalidades da produção e da manutenção. No contexto</p><p>contemporâneo, em que compromissos com a responsabilidade social e práticas</p><p>sustentáveis se tornam cada vez mais relevantes, a EP precisa refletir em suas</p><p>práticas o conjunto de valores compatível com essas demandas.</p><p>5. Resumo</p><p>As produções conscientes estão permeadas do sentido de valor e de risco, refletindo as</p><p>expectativas sociais em que acontecem, quando se consideram as ações dos indivíduos</p><p>ou das organizações. São as medidas de valor e de desempenho e as percepções de</p><p>risco, socialmente construídas, que vão mobilizar os esforços de produção e de</p><p>manutenção. Como cada produção material é, potencialmente, uma produção simbólica</p><p>e há, também, valores simbólicos, acontece que a manutenção pode ter como finalidade</p><p>manter ou recuperar um “item simbólico”. O item pode ser o símbolo em si ou ser uma</p><p>espécie de suporte material para o símbolo, como foi comentado o caso da Catedral de</p><p>Notre Dame. Assim, o valor da manutenção não pode ser definido, somente, pelo valor</p><p>do produto concreto, mas deve contemplar o seu valor simbólico. A impermanência das</p><p>coisas do Mundo da Vida e da Sociedade pode ser compreendida pelo conceito de</p><p>entropia, o que leva à necessidade de manutenção de tudo o que existe, sob pena de</p><p>degradação progressiva das formas e dos desempenhos.</p><p>16</p><p>6. Informações sobre a próxima aula</p><p>Na próxima aula você será convidado a explorar a trajetória histórica da produção social</p><p>do conhecimento no campo de organização do trabalho produtivo, usando conceitos</p><p>básicos do pensamento sistêmico como referência. Com isto você poderá compreender</p><p>como a busca por equilíbrio entre estrutura e ação na gestão das organizações se</p><p>relaciona com a produção do conhecimento e, também, como aprendizagem e a busca</p><p>de equilíbrio interagem na produção de mentefatos e artefatos para manutenção da vida</p><p>no cotidiano.</p><p>7. Referências Bibliográficas</p><p>ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5462: Confiabilidade e</p><p>Mantenabilidade. Rio de Janeiro, 1994.</p><p>ARAUJO, F.; HANSCH, F et al. PROJETO PARA A DURABILIDADE BASEADO NAS</p><p>FUNÇÕES ESTÉTICAS E SIMBÓLICAS DO PRODUTO in: XXIX ENCONTRO</p><p>NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO in XXIX ENCONTRO NACIONAL DE</p><p>ENGENHARIA DE PRODUÇÃO. Salvador, Brasil (2009).</p><p>CATEDRAL DE NOTRE DAME. Disponível em</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Inc%C3%AAndio_da_Catedral_de_Notre-Dame_de_Paris.</p><p>Acesso em Dez 2019.</p><p>Royal Society (1992), Risk Analysis, Perception and Management, The Royal Society,</p><p>London.</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Inc%C3%AAndio_da_Catedral_de_Notre-Dame_de_Paris</p>

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