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<p>Curso de Graduação a Distância</p><p>Noções de</p><p>Direito</p><p>(02 créditos – 40 horas)</p><p>Autor:</p><p>Edson Luiz Xavier</p><p>Revisora:</p><p>Maira Nunes Farias Portugal</p><p>Conteúdo revisado pela equipe da UCDB Virtual</p><p>Universidade Católica Dom Bosco Virtual</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>2</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Missão Salesiana de Mato Grosso</p><p>Universidade Católica Dom Bosco</p><p>Instituição Salesiana de Educação Superior</p><p>Chanceler: Pe. Ricardo Carlos</p><p>Reitor: Pe. José Marinoni</p><p>Pró-Reitora de Graduação e Extensão: Profa. Rúbia Renata Marques</p><p>Diretor da UCDB Virtual: Prof. Jeferson Pistori</p><p>Coordenadora Pedagógica: Profa. Blanca Martín Salvago</p><p>Direitos desta edição reservados à Editora UCDB</p><p>Diretoria de Educação a Distância: (67) 3312-3335</p><p>www.virtual.ucdb.br</p><p>UCDB -Universidade Católica Dom Bosco</p><p>Av. Tamandaré, 6000 Jardim Seminário</p><p>Fone: (67) 3312-3800 Fax: (67) 3312-3302</p><p>CEP 79117-900 Campo Grande – MS</p><p>XAVIER, Edson Luiz.</p><p>Noções do Direito / Edson Luiz Xavier. 3. ed. rev. e atual.</p><p>Campo Grande: UCDB, 2024. 52 p.</p><p>Palavras-chave:</p><p>1. Sociedade. 2. Direito. 3. Justiça. 4. Normas jurídicas.</p><p>5. Processo legislativo.</p><p>0724</p><p>3</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>APRESENTAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO</p><p>Este material foi elaborado pelo professor conteudista sob a orientação da equipe</p><p>multidisciplinar da UCDB Virtual, com o objetivo de lhe fornecer um subsídio didático que</p><p>norteie os conteúdos trabalhados nesta disciplina e que compõe o Projeto Pedagógico do</p><p>seu curso.</p><p>Elementos que integram o material</p><p>Critérios de avaliação: são as informações referentes aos critérios adotados para</p><p>a avaliação (formativa e somativa) e composição da média da disciplina.</p><p>Quadro de Controle de Atividades: trata-se de um quadro para você organizar a</p><p>realização e envio das atividades virtuais. Você pode fazer seu ritmo de estudo, sem ul-</p><p>trapassar o prazo máximo indicado pelo professor.</p><p>Conteúdo Desenvolvido: é o conteúdo da disciplina, com a explanação do pro-</p><p>fessor sobre os diferentes temas objeto de estudo.</p><p>Indicações de Leituras de Aprofundamento: são sugestões para que você</p><p>possa aprofundar no conteúdo. A maioria das leituras sugeridas são links da Internet para</p><p>facilitar seu acesso aos materiais.</p><p>Atividades Virtuais: atividades propostas, que marcarão um ritmo no seu estudo,</p><p>assim como as datas de envio, encontram-se no Ambiente Virtual de Aprendizagem.</p><p>Como tirar o máximo de proveito</p><p>Este material didático é mais um subsídio para seus estudos. Consulte outros</p><p>conteúdos e interaja com os outros participantes. Portanto, não se esqueça de:</p><p>· Interagir com frequência com os colegas e com o professor, usando as ferramentas</p><p>de comunicação e informação do Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA;</p><p>· Usar, além do material em mãos, os outros recursos disponíveis no AVA: aulas</p><p>audiovisuais, videoaulas, fórum de discussão, fórum permanente de cada unidade, etc.;</p><p>· Recorrer à equipe de tutoria sempre que precisar orientação sobre dúvidas quanto</p><p>a calendário, atividades, ferramentas do AVA, e outros;</p><p>· Ter uma rotina que lhe permita estabelecer o ritmo de estudo adequado a suas</p><p>necessidades como estudante, organize o seu tempo;</p><p>· Ter consciência de que você deve ser sujeito ativo no processo de sua aprendiza-</p><p>gem, contando com a ajuda e colaboração de todos.</p><p>4</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Objetivo Geral</p><p>Apresentar ao acadêmico uma pequena reflexão sobre a Introdução ao Estudo do</p><p>Direito, iniciando-o no universo jurídico e possibilitando a compreensão do direito como um</p><p>instrumento de fundamental importância na organização e pacificação da vida coletiva.</p><p>CONTEÚDO PROGRAMÁTICO</p><p>UNIDADE 1 – A INTERFACE ENTRE DIREITO E JUSTIÇA ...................................... 10</p><p>1.1 O Direito como justo ............................................................................................... 10</p><p>1.2 O conceito de justiça ............................................................................................... 13</p><p>1.3 As espécies de justiça: a justiça corretiva, distributiva e a justiça social ....................... 21</p><p>UNIDADE 2 - O DIREITO COMO NORMA JURÍDICA .............................................. 27</p><p>2.1 O conceito de lei e norma jurídica............................................................................. 27</p><p>2.2 Características das normas jurídicas .......................................................................... 29</p><p>2.3 Fontes das normas jurídicas ..................................................................................... 31</p><p>2.4 Interpretação das normas jurídicas ........................................................................... 38</p><p>2.5 Aplicação das normas jurídicas no tempo e no espaço ................................................ 42</p><p>2.6 Direito público e privado .......................................................................................... 49</p><p>REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 51</p><p>Avaliação</p><p>A UCDB Virtual acredita que avaliar é sinônimo de melhorar, isto é, a finalidade da</p><p>avaliação é propiciar oportunidades de ação-reflexão que façam com que você possa</p><p>aprofundar, refletir criticamente, relacionar ideias, etc.</p><p>A UCDB Virtual adota um sistema de avaliação continuada: além das provas no final de</p><p>cada módulo (avaliação somativa), será considerado também o desempenho do aluno ao longo</p><p>de cada disciplina (avaliação formativa), mediante a realização das atividades. Todo o processo</p><p>será avaliado, pois a aprendizagem é processual.</p><p>Para que se possa atingir o objetivo da avaliação formativa, é necessário que as</p><p>atividades sejam realizadas criteriosamente, atendendo ao que se pede e tentando sempre</p><p>exemplificar e argumentar, procurando relacionar a teoria estudada com a prática.</p><p>As atividades devem ser enviadas dentro do prazo estabelecido no calendário de</p><p>cada disciplina.</p><p>5</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Critérios para composição da Média Semestral:</p><p>Para compor a Média Semestral da disciplina, leva-se em conta o desempenho</p><p>atingido na avaliação formativa e na avaliação somativa, isto é, as notas alcançadas nas</p><p>diferentes atividades virtuais e na prova, da seguinte forma: Somatória das notas recebidas</p><p>nas atividades virtuais, somada à nota da prova, dividido por 2.</p><p>Média Semestral: Somatória (Atividades Virtuais) + Nota da Prova / 2</p><p>Assim, se um aluno tirar 7 nas atividades e tiver 5 na prova: MS = 7 + 5 / 2 = 6</p><p>Atenção: o aluno pode conseguir um ponto adicional (Engajamento) na nota das</p><p>atividades virtuais. Para ganhar o ponto do engajamento, o estudante terá que percorrer</p><p>todo o material didático da disciplina (material textual e assistir a todos os vídeos), fazer</p><p>todos os Exercícios e enviar todas as atividades. Antes do lançamento desta nota final, será</p><p>divulgada a média de cada aluno, dando a oportunidade de que os alunos que não tenham</p><p>atingido média igual ou superior a 7,0 possam fazer a Recuperação das Atividades Virtuais.</p><p>Se a Média Semestral for igual ou superior a 4,0 e inferior a 7,0, o aluno ainda</p><p>poderá fazer o Exame Final. A média entre a nota do Exame Final e a Média Semestral</p><p>deverá ser igual ou superior a 5,0 para considerar o aluno aprovado na disciplina.</p><p>Assim, se um aluno tirar 6 na Média Semestral e tiver 5 no Exame Final: MF = 6 + 5</p><p>/ 2 = 5,5 (Aprovado).</p><p>FAÇA O ACOMPANHAMENTO DE SUAS ATIVIDADES</p><p>O quadro abaixo visa ajudá-lo a se organizar na realização das atividades. Faça seu</p><p>cronograma e tenha um controle de suas atividades:</p><p>* Coloque na segunda coluna o prazo em que deve ser enviada a atividade (consulte o</p><p>calendário disponível no ambiente virtual de aprendizagem).</p><p>** Coloque</p><p>dos Deputados, senhor Eduardo Cunha, foi preso e a principal acusação é a de ter</p><p>utilizado de sua influência parlamentar para aprovar ou inserir em lei ou medidas provisórias</p><p>dispositivos que favoreciam determinados grupos empresariais em troca de “pequenas</p><p>contribuições financeiras”.</p><p>- Imperatividade</p><p>A autoridade da norma se impõe não se discute. O seu caráter imperativo significa</p><p>imposição de vontade não mero aconselhamento, porque ela contém um comando,</p><p>determinando um tipo de conduta (fazer ou não fazer) a ser observada por todos. Qual</p><p>seria o poder da norma se ela não fosse a todos imposta? O comando expresso na norma</p><p>por terra cairia se não estivesse revestido dessa autoridade estatal.</p><p>31</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>- Coercibilidade</p><p>Segundo Paulo Nader (2024), a norma jurídica tem como uma de suas características a</p><p>possibilidade da coerção. Como as pessoas são dotadas de liberdade e agem comandadas</p><p>pela vontade, muitas vezes, causam dano ao outro ou até mesmo à coletividade, tornando-</p><p>se imperativo a reparação forçada e até a aplicação de uma sanção jurídica. Nesta</p><p>direção, a coercibilidade possui dois elementos:</p><p>1) Psicológico, que exerce a intimidação por meio das penalidades previstas para a</p><p>hipótese de violação das normas jurídicas;</p><p>2) Material, que é a força propriamente acionada quando o destinatário da regra não</p><p>a cumpre espontaneamente.</p><p>Paulo Nader (2024, p. 81), citando Ihering (2017), afirmava que o Direito, sem a</p><p>coação, “é um fogo que não queima, uma luz que não ilumina” (Grifo nosso).</p><p>Contudo, faz-se necessário destacar que, embora a coercibilidade seja um dos elementos da</p><p>norma jurídica, o homem justo age dentro da legalidade por coação, mas o homem</p><p>virtuoso, que tem consciência de que vive em um espaço coletivo, age por consciência, sem</p><p>necessidade de estar coagido pela lei, mesmo sem conhecimento dela. Agir conforme a lei é</p><p>uma obrigação a todos imposta, mas deixará de sê-lo quando descobrirmos que partilhamos</p><p>do mesmo espaço coletivo (Bittar; Almeida, 2022).</p><p>2.3 Fontes das normas jurídicas</p><p>Inicialmente é preciso considerar que existe uma variedade de conceitos e</p><p>classificações quanto às fontes do direito (Montoro, 2016, p. 372). Neste caso, tomaremos</p><p>como referência principal deste tópico a classificação de Rizzatto Nunes (2013), bem como</p><p>as considerações de Friede e Carlos (2016).</p><p>Segundo Montoro (2016), o significado de fonte está ligado a uma nascente, lugar</p><p>onde nasce o veio do rio. Sem entrar no mérito das diversas teorias sobre a fonte do</p><p>direito, vamos tomar como ponto de partida que a fonte de onde brota o direito é a</p><p>dinâmica da vida do homem em coletividade. O direito é uma exigência da vida em</p><p>grupo, pois é da natureza humana a convivência em coletividade (como já visto na Unidade</p><p>I). Precisamos do outro, e ao relacionar-se com o outro emerge a necessidade estabelecer</p><p>limites.</p><p>As fontes do direito podem ser classificadas (Friede; Carlos, 2016, p. 41), em fontes</p><p>formais e materiais; e ainda, as fontes formais podem ser subdivididas em fontes</p><p>formais estatais (leis, tratados internacionais e jurisprudência); e fontes formais não</p><p>32</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>estatais (costumes, doutrina, princípios gerais do direito, analogia e contratos). Veja o</p><p>quadro abaixo.</p><p>Quadro 1 – Fontes do direito</p><p>Fontes materiais: conjunto de fatores sociais, econômicos, políticos, religiosos,</p><p>morais, etc.</p><p>Fontes formais: estatais e não estatais.</p><p>Fontes formais estatais: leis, tratados</p><p>internacionais e jurisprudência.</p><p>Fontes formais não estatais:</p><p>costumes e doutrina.</p><p>Fonte: Elaboração própria.</p><p>3.3.1 Fontes Materiais</p><p>São os “fatores sociais”, ou seja, o complexo de fatores econômicos, políticos,</p><p>religiosos, morais, técnicos, históricos, geográficos e ideais que influem na elaboração e</p><p>aplicação do Direito. O direito é reflexo da consciência do que é justo em determinado</p><p>momento histórico-cultural de um povo. Assim, a realidade histórica e cultural de um povo é</p><p>o elemento material – a matéria-prima – de onde se extrai o direito.</p><p>2.3.2 Fontes Formais</p><p>É o direito positivado, expresso na letra da lei. Como já visto anteriormente, o direito</p><p>incorpora um ideal de justiça, que por sua vez se materializa na lei. Nessa direção, as fontes</p><p>formais podem ser reconhecidas como Estatais e não Estatais, o que passaremos a expor</p><p>sinteticamente.</p><p>2.3.2.1 Fontes formais estatais</p><p>São: leis, tratados internacionais e jurisprudência.</p><p>Entende-se por legislação toda a ordem normativa de um determinado Estado que</p><p>são denominados de instrumentos primários. Assim, estamos refletindo sobre a principal</p><p>fonte do direito que são a Constituição Federal (e com ela a Emenda Constitucional), a Lei</p><p>Complementar, a Lei Ordinária, a Lei Delegada, a Medida Provisória, o Decreto Legislativo,</p><p>as Resoluções, e instrumentos secundários, representados pelo Decreto Regulamentar,</p><p>pelas Instruções Normativas, Circulares, Portarias, Notificações, Ordens de Serviço, e por</p><p>outros atos normativos.</p><p>É importante ressaltar que existe uma relação hierárquica entre esses instrumentos</p><p>normativos:</p><p>33</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>1º - Constituição/Emendas Constitucionais/Tratados internacionais sobre Direitos</p><p>Humanos;</p><p>2º - Leis Complementares;</p><p>3º - Leis Ordinárias;</p><p>4º - Leis Delegadas;</p><p>5º - Medidas Provisórias;</p><p>6º - Decretos Legislativos;</p><p>7º - Resoluções;</p><p>8º - Decretos Regulamentares;</p><p>9º - Instruções, Portarias, Avisos, Circulares, Ordens Internas etc.</p><p>Podemos ainda, a partir da compreensão de Hans Kelsen (Bittar; Almeida, 2022),</p><p>sobre a hierarquia das normas, propor a seguinte pirâmide:</p><p>Fonte: Elaboração própria.</p><p>- Lei:</p><p>Em sentido jurídico “lei” é a norma escrita, geral e abstrata, aprovada pelo Poder</p><p>Legislativo, sancionada, promulgada e publicada pelo Poder Executivo. De acordo como</p><p>Montoro (2012), três elementos constituem esse conceito:</p><p>a) elemento material: conteúdo da lei, regra de direito geral, abstrata e</p><p>permanente;</p><p>b) elemento formal: vinculada à vontade do legislador;</p><p>c) elemento instrumental: sua forma escrita.</p><p>Outro aspecto relevante, é o chamado “primado da lei”. Dispõe o preâmbulo da</p><p>Declaração Universal dos Direitos do Homem, “é essencial que os direitos do homem sejam</p><p>protegidos pelo império da lei”, na mesma direção prescreve o art. 5º, II, da Constituição</p><p>34</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Federal, “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude</p><p>da lei”. Friede e Carlos (2016), enfatizam o princípio da obrigatoriedade da lei, nos termos</p><p>do art. 3º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: “Ninguém se escusa de</p><p>cumprir a lei, alegando que não a conhece”. Desse modo a lei fixa os parâmetros</p><p>fundamentais de nosso sistema normativo, servindo como primeira, mas não a única, base</p><p>para resolução de uma querela jurídica.</p><p>- Tratados Internacionais</p><p>O tratado internacional é todo acordo formal concluído entre sujeitos de direito</p><p>público internacional, e destinados a produzir seus efeitos jurídicos. Ou ainda, podemos</p><p>considerar um tratado internacional como o acordo resultante da convergência das vontades</p><p>de dois ou mais sujeitos de direito internacional, formalizada num texto escrito, com o</p><p>objetivo de produzir efeitos jurídicos no plano internacional (Oliveira, 2012). Os tratados,</p><p>pactos ou convenções internacionais, são acordos que estabelecem direitos e obrigações</p><p>entre Estados membros da Organização das Nações Unidas (ONU).</p><p>É importante destacar que os tratados internacionais são incorporados ao nosso</p><p>sistema normativo, e quando o tratado for sobre Direitos Humanos serão incorporados com</p><p>o mesmo status de norma constitucional, desde que observados o procedimento de votação</p><p>das emendas constitucionais (art. 5º, § 3º, da CF).</p><p>[...] o</p><p>processo de formação dos tratados tem início com os atos de</p><p>negociação, conclusão e assinatura do tratado, que são da competência do</p><p>órgão do Poder Executivo. A simples assinatura do tratado traduz apenas</p><p>um aceite precário e provisório, não irradiando efeitos jurídicos vinculantes.</p><p>Em seguida, o tratado assinado será apreciado e aprovado pelo Poder</p><p>Legislativo (decreto legislativo) e ratificado pelo Poder Executivo (decreto).</p><p>(OLIVEIRA, 2012, p. 58)</p><p>Nessa direção é importante consignar que os tratados internacionais são de</p><p>fundamental importância para o aperfeiçoamento do sistema normativo brasileiro. Inúmeras</p><p>foram as mudanças positivas provocadas pelo debate internacional, sobretudo em matéria</p><p>de direitos humanos. Como exemplo, podemos citar a alteração feita no texto constitucional</p><p>no parágrafo único do art. 7º da CF, que desde a sua formulação em 1988 trazia uma</p><p>flagrante injustiça ao tratar empregado doméstico de forma inferior ao trabalhador comum.</p><p>Posto que, não reconhecia os mesmos direitos ao empregado doméstico (jornada de</p><p>trabalho de 44h semanais, obrigatoriedade do fundo de garantia, e outros).</p><p>Uma das últimas mudanças provocada pelos tratados internacionais em nosso</p><p>sistema normativo foi a edição da Lei n. 13.146, de 06 de junho de 2015, chamada de</p><p>Estatuto da Pessoa com Deficiência, um marco em nossa legislação, adequando o nosso</p><p>35</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>ordenamento jurídico à Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com</p><p>Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007.</p><p>- Jurisprudência</p><p>A jurisprudência é o resultado do debate jurídico realizado nos tribunais assentados</p><p>em suas decisões. Não podemos nos esquecer existem três figuras importantes no processo</p><p>de administração da justiça, o advogado, o promotor de justiça e o juiz, que preside o</p><p>debate em torno do conflito judicial. A jurisprudência é, em sentido estrito, o conjunto de</p><p>sentenças uniformes, emanadas das inúmeras decisões judiciais de nossos magistrados</p><p>sobre casos semelhantes. Uma decisão isolada, ou seja, uma sentença não forma</p><p>jurisprudência. Objetivamente, uma jurisprudência se constitui a partir de um conjunto de</p><p>decisões que vão na mesma direção, ou popularmente, com o mesmo pano de fundo,</p><p>podendo ser aplicadas a situações jurídicas idênticas. Neste sentido, a jurisprudência só</p><p>pode ser considerada como fonte formal do direito, quando consolida um entendimento</p><p>majoritário em determinada direção (MONTORO, 2016).</p><p>Vejamos, por exemplo, um dos conflitos jurídicos mais acentuados no presente</p><p>momento, a prisão decretada a partir da decisão de segunda instância. Está aparentemente</p><p>pacificado tanto no Superior Tribunal de Justiça como no Supremo Tribunal Federal, mesmo</p><p>que por uma maioria apertada, que não é preciso o réu, condenado em segundo instância,</p><p>esperar o trânsito em julgado da decisão para ser recolhido preso. Uma vez mantida a</p><p>condenação em segunda instância, o condenado deverá iniciar o cumprimento da pena</p><p>imediatamente. Essa polêmica ganha maiores contornos pela confirmação da condenação</p><p>de Luís Inácio Lula da Silva pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Julgados os</p><p>chamados Embargos de Declaração, que não têm o condão de mudar a sentença, apenas</p><p>esclarecer pontos, o Tribunal determinará de imediato o cumprimento da pena pelo ex-</p><p>presidente de acordo com a jurisprudência tanto do STJ como do STF.</p><p>O trabalho da jurisprudência é consolidar entendimentos que vão formando o</p><p>convencimento do julgador. A lei precisa ser aplicada a um caso concreto, e neste processo</p><p>surgem interpretações diversas, que ao longo do tempo vão se cristalizando em</p><p>jurisprudência. Em muitas situações a lei não tem uma resposta ao problema concreto, e é</p><p>a partir do debate jurídico que as respostas vão sendo construídas, e a justa medida vai</p><p>sendo encontrada. Veja por exemplo o caso da anencefalia, muitas mulheres grávidas de</p><p>fetos anencefálicos começaram a pedir judicialmente autorização para “abortar”. O</p><p>problema é que não existe em nosso Código Penal tal previsão, então, pouco a pouco,</p><p>alguns juízes foram concedendo os pedidos e outros não. Até que a celeuma foi proposta ao</p><p>STF em uma ação constitucional chamada de Arguição de Descumprimento de Preceito</p><p>36</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Fundamental (ADPF) n. 54, consolidando o entendimento jurisprudencial na direção do</p><p>reconhecimento do direito da mãe de “interromper a gravidez” caso assim o desejasse.</p><p>Assim, podemos concluir que jurisprudência é conjunto uniforme e constante de</p><p>decisões judiciais superiores, ou seja, de soluções dadas pelos Tribunais sobre determinadas</p><p>matérias (Nader, 2024).</p><p>2.3.2.2 Fontes formais não estatais: costumes e doutrina</p><p>a) Costumes</p><p>Conceito: costume jurídico, direito costumeiro ou direito consuetudinário são</p><p>denominações dadas a um direito estruturado a partir de uma prática habitual da vida</p><p>coletiva observada pelos membros da comunidade como juridicamente obrigatória. Segundo</p><p>Paulo Nader (2024, 144), é o “conjunto de normas de conduta social, criadas</p><p>espontaneamente pelo povo, através do uso reiterado, uniforme e que gera a certeza de</p><p>obrigatoriedade, reconhecidas e impostas pelo Estado”. Nas sociedades mais antigas o</p><p>direito consuetudinário era predominante, pois praticamente não havia leis escritas. É</p><p>somente a partir do Direito Moderno que as normas escritas vão ganhando espaço. Até</p><p>então o direito era uma elaboração coletiva, estruturado ao longo do tempo com base na</p><p>consciência do que é justo de determinada comunidade.</p><p>Pressupostos: o direito costumeiro para ser reconhecido juridicamente pela</p><p>autoridade estatal precisa preencher dois pressupostos: o elemento interno e o elemento</p><p>externo. Em relação ao primeiro, precisa haver a convicção por parte da comunidade de</p><p>sua obrigatoriedade; e, quanto ao segundo, precisa ser praticado ao longo do tempo de</p><p>forma constante e geral, aplicando-se a todos os casos compreendidos naquela espécie.</p><p>Fonte: Friede; Carlos (2016, p. 45)</p><p>37</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Categorias – tendo como referência a lei, os costumes jurídicos podem ser:</p><p>“secundum legem”-se conforma à lei (preceito não contido na norma é</p><p>reconhecido e admitido com eficácia obrigatória);</p><p>“praeter legem” – completa a lei (de cunho supletivo, só intervém na ausência ou</p><p>omissão da lei);</p><p>“contra legem” –se contrapõe à lei (surge como norma contrária à lei), neste caso</p><p>não são aceitos, pelo menos majoritariamente pela autoridade estatal.</p><p>Fonte: Friede; Carlos (2016, p. 46)</p><p>No Direito Civil a aplicação dos costumes é rara. Já no Direito Empresarial, antigo</p><p>Direito Comercial, enseja as mais amplas aplicações e as suas validades são provadas por</p><p>certidões da Junta Comercial. “Os ‘usos’ e ‘costumes’ comerciais mais comuns em uma</p><p>determinada praça são periodicamente reunidos em compilações, pelas Juntas Comerciais, e</p><p>a seguir publicados [...]. A publicação tem por finalidade apenas informar [...]” (Montoro,</p><p>2016, p. 400).</p><p>b) Doutrina</p><p>Podemos inicialmente definir doutrina como sendo o conjunto de conhecimento e</p><p>princípios que fundamentam um sistema religioso, político filosófico ou científico. Dentro do</p><p>universo jurídico as doutrinas são os ensinamentos apreendidos pelos estudiosos do direito</p><p>em seu labor de pensar, estudar, conhecer e interpretar a lei, o direito e o justo.</p><p>Segundo Maynez (apud Montoro, 2016, p. 408), doutrina é o “estudo de caráter</p><p>científico que os juristas realizam a respeito do Direito, seja com o propósito puramente</p><p>especulativo de conhecimento e sistematização, seja com a finalidade prática de interpretar</p><p>as normas jurídicas para sua exata aplicação”. Sem dúvida, o trabalho dos estudiosos do</p><p>direito é de fundamental importância para o trabalho dos operadores do direito. É partir da</p><p>reflexão</p><p>minuciosa sobre o direito e suas fontes é que vamos aperfeiçoando nosso sistema</p><p>normativo.</p><p>38</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>2.4 Interpretação das normas jurídicas</p><p>2.4.1 Conceito</p><p>A arte de interpretar é a de traduzir sentimentos, sentidos, emoções, percepções</p><p>que estão impressos em uma pintura, em uma música, em uma poesia, etc. Em nosso caso,</p><p>esse ofício é reservado a todos os chamados operadores do direito que interpretam a norma</p><p>jurídica. Mas, a letra da lei precisa ser interpretada? Ela não deveria ser clara a fim de</p><p>dispensar o trabalho do intérprete, “in claris cessat interpretatio”. Aqui, estamos com</p><p>Montoro (2016), a norma jurídica sempre tem que ser interpretada, sejam as palavras da lei</p><p>ou de outra norma legal mais claras ou mais obscuras.</p><p>Segundo Carlos Maximiliano (apud Montoro, 2016, p. 422), “interpretar é determinar</p><p>o sentido e o alcance das expressões do direito”. É a reconstituição da racio (razão)</p><p>expressa na letra da lei. Neste sentido, cabe ao operador do direito explicar o significado e o</p><p>alcance atribuído ao texto jurídico. Seja na direção de dar-lhe entendimento, ou suprir-lhes</p><p>as lacunas.</p><p>Interpretar é desvendar o sentido, o significado daquilo que está expresso na</p><p>letra da lei. Quando foi publicada a Lei n. 11.340/06, denominada “Lei Maria da Penha”,</p><p>houve muitas discussões, entre elas, que seria inconstitucional, pois violava o princípio</p><p>expresso no texto constitucional de que todos somos iguais perante a lei (art. 5º, caput, da</p><p>CF). Contudo, se buscarmos compreender o sentido da norma, entender-se-á que a Lei</p><p>Maria da Penha, tem como finalidade dar uma proteção especial à mulher no âmbito</p><p>doméstico, a fim de buscar coibir a violência doméstica muito comum na realidade cultural</p><p>brasileira. Segundo pesquisas do Instituto Datafolha, a cada hora 503 mulheres são</p><p>agredidas no Brasil.</p><p>Mais de 12 mil mulheres são agredidas por dia no Brasil, estima estudo</p><p>Malú Damázio</p><p>A cada hora, 503 mulheres são vítimas de violência no Brasil. Dois terços da população</p><p>presenciaram uma mulher sendo agredida de forma física, verbal ou psicológica no último</p><p>ano. Os números fazem parte de um levantamento feito pelo instituto Datafolha. A</p><p>pesquisa mostra, no Dia Internacional da Mulher, que muito ainda é preciso ser feito para</p><p>garantir que elas tenham direitos preservados e sejam tratadas de forma respeitosa e</p><p>igualitária.</p><p>A pesquisa, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revela que ao</p><p>menos 4,4 milhões de mulheres foram vítimas de agressões físicas no período de um ano.</p><p>A estimativa, porém, é de que até 19,9 milhões possam ter sofrido algum tipo de</p><p>violência nos últimos 12 meses. Os números mostram também que 28,6% das mulheres</p><p>entrevistadas que concordaram em compartilhar experiências pessoais foram efetivamente</p><p>39</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>violentadas [...].</p><p>Disponível em: <http://hojeemdia.com.br/horizontes/cidades/mais-de-12-mil-mulheres-s%C3%A3o-</p><p>agredidas-por-dia-no-brasil-estima-estudo-1.450573>.Acesso em: 22 maio 2024.</p><p>Interpretar é determinar o alcance da aplicação da norma jurídica. A</p><p>questão aqui é medir qual é a abrangência da norma jurídica. Tomando como referência o</p><p>mesmo exemplo acima, outra polêmica que envolveu a Lei Maria da Penha foi quanto à sua</p><p>aplicação ao gênero “masculino”. Depois de inúmeros debates jurídicos e não jurídicos,</p><p>firmou-se entendimento de que ela só se aplica ao gênero feminino e restrito ao ambiente</p><p>doméstico. A Lei busca mais do que proteger o sexo proteger o gênero, resguardando todos</p><p>aqueles que se identificam com o gênero feminino, incluindo os travestis e transexuais.</p><p>Na interpretação da norma, buscar-se-á fixar o seu sentido e o seu alcance prescrito</p><p>em lei (mens legis) ou o sentido e o alcance pretendido pelo legislador (mens legislatoris).</p><p>De acordo com Nunes (2013, p. 301), “não resta dúvida, portanto, que cabe ao intérprete</p><p>buscar fixar o sentido pretendido pela norma jurídica e não o querido pelo legislador: a</p><p>mens legis e não mens legislatoris”.</p><p>Faz-se importante destacar, na perspectiva de Montoro (2016), a importância de</p><p>designar lei em seu sentido mais amplo, como norma jurídica. Pois, esta engloba desde as</p><p>normas constitucionais até as normas contratuais ou testamentárias, de caráter individual e</p><p>que também são objetos de interpretação.</p><p>2.4.2 Formas de interpretação</p><p>Acabamos de estudar que interpretar é fixar o sentido e o alcance da norma jurídica.</p><p>Muito bem! Mas, quais são os instrumentais que o operador do direito (juízes, advogados,</p><p>promotores, tabeliães, delegados e outros) dispõe para fazer essa análise do sentido e do</p><p>alcance da norma jurídica. Aqui tomaremos como referência de nosso trabalho a</p><p>compreensão de Nunes (2013), que estabelece cinco maneiras de buscar a compreensão da</p><p>norma jurídica. Vejamos.</p><p>- Interpretação gramatical</p><p>O foco aqui é a literalidade da letra da lei. É buscar, a partir das palavras que estão</p><p>impressas no texto legal, a sua compreensão. A interpretação se dá a partir da literalidade</p><p>da conexão lógica das palavras que compõe o texto, de sua sintática.</p><p>- Interpretação lógica</p><p>http://hojeemdia.com.br/horizontes/cidades/mais-de-12-mil-mulheres-s%C3%A3o-agredidas-por-dia-no-brasil-estima-estudo-1.450573</p><p>http://hojeemdia.com.br/horizontes/cidades/mais-de-12-mil-mulheres-s%C3%A3o-agredidas-por-dia-no-brasil-estima-estudo-1.450573</p><p>40</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>A preocupação aqui é com a “ratio legis”, ou seja, com a compreensão racional do</p><p>dispositivo legal. Aplica-se, para tanto, a Lógica Formal (silogística), por exemplo, ao buscar</p><p>interpretar o sentido e o alcance da norma podemos partir do pressuposto lógico de que</p><p>“quem pode o mais, pode o menos”, ou ainda, o significado da norma obtido por meio da</p><p>exclusão – do argumento a “contrario sensu”.</p><p>Em uma petição inicial o advogado deve redigir a peça processual com uma</p><p>argumentação lógica. Deve, além de outras formalidades iniciais, construir um raciocínio</p><p>lógico entre a narrativa dos fatos, os fundamentos jurídicos sob os quais se assentam os</p><p>fatos, e, consequentemente, formular os pedidos que entende como decorrentes da relação</p><p>que se estabelece entre os fatos (o acontecido) e os direitos que desses fatos decorreram.</p><p>Neste caso, o desafio do operador do direito é construir um raciocínio lógico dedutivo entre:</p><p>fatos, fundamentos jurídicos, e pedidos. Veja o art. 319 do Código de Processo Civil (CPC).</p><p>Art. 319. A petição inicial indicará:</p><p>[...]</p><p>III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;</p><p>IV - o pedido com as suas especificações;</p><p>[...]</p><p>(BRASIL, 2015) (grifo nosso)</p><p>- Interpretação sistemática ou orgânica</p><p>É uma técnica bastante usada pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF),</p><p>bem como do Superior Tribunal de Justiça (STJ), para verificar o sentido e o alcance da</p><p>norma. Como já observamos acima, as normas jurídicas compreendem desde as normas</p><p>constitucionais até as normas contratuais ou testamentárias, de caráter individual, e que</p><p>também são objetos de interpretações. Esse conjunto forma um todo chamado de sistema</p><p>normativo.</p><p>Muitas vezes, as normas, inclusive as constitucionais, podem apresentar um conflito</p><p>entre elas. Vejamos por exemplo o emprego da leitura orgânica feita pelo STF na Ação</p><p>Direta de Inconstitucionalidade n. 4.424, relatada pelo Ministro Marco Aurélio, em relação à</p><p>interpretação do art. 5º, I, da Constituição Federal, “homens e mulheres são iguais em</p><p>direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”.</p><p>Controle concentrado de constitucionalidade</p><p>No tocante à violência doméstica, há de considerar-se a necessidade da</p><p>intervenção estatal. (...) No caso presente, não bastasse a situação de</p><p>notória desigualdade considerada a mulher, aspecto suficiente a legitimar o</p><p>necessário tratamento normativo desigual, tem-se como base para assim</p><p>se</p><p>proceder a dignidade da pessoa humana – art. 1º, III –, o direito</p><p>fundamental de igualdade – art. 5º, I – e a previsão pedagógica segundo a</p><p>qual a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e</p><p>liberdades fundamentais – art. 5º, XLI. A legislação ordinária protetiva está</p><p>41</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>em fina sintonia com a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas</p><p>de Violência contra a Mulher, no que revela a exigência de os Estados</p><p>adotarem medidas especiais destinadas a acelerar o processo de construção</p><p>de um ambiente onde haja real igualdade entre os gêneros. Há também de</p><p>se ressaltar a harmonia dos preceitos com a Convenção Interamericana</p><p>para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher – a Convenção</p><p>de Belém do Pará –, no que mostra ser a violência contra a mulher uma</p><p>ofensa aos direitos humanos e a consequência de relações de poder</p><p>historicamente desiguais entre os sexos. (...) Procede às inteiras o pedido</p><p>formulado pelo PGR, buscando-se o empréstimo de concretude maior à CF.</p><p>Deve-se dar interpretação conforme à Carta da República aos arts. 12, I;</p><p>16; e 41 da Lei 11.340/2006 – Lei Maria da Penha – no sentido de não se</p><p>aplicar a Lei 9.099/1995 aos crimes glosados pela lei ora discutida,</p><p>assentando-se que, em se tratando de lesões corporais, mesmo que</p><p>consideradas de natureza leve, praticadas contra a mulher em âmbito</p><p>doméstico, atua-se mediante ação penal pública incondicionada. (...)(...)</p><p>Representa a Lei Maria da Penha elevada expressão da busca das mulheres</p><p>brasileiras por igual consideração e respeito. Protege a dignidade da</p><p>mulher, nos múltiplos aspectos, não somente como um atributo inato, mas</p><p>como fruto da construção realmente livre da própria personalidade.</p><p>Contribui com passos largos no contínuo caminhar destinado a assegurar</p><p>condições mínimas para o amplo desenvolvimento da identidade do gênero</p><p>feminino.</p><p>[ADI 4.424, voto do rel. min. Marco Aurélio, j. 9-2-2012, P, DJE de 1º-8-</p><p>2014.] = ARE 773.765 RG, rel. min. Gilmar Mendes, j. 3-4-2014, P, DJE de</p><p>28-4-2014, Tema 713.</p><p>- Interpretação teleológica</p><p>Como afirma Nunes (2013, p. 316), “a interpretação é teleológica quando considera</p><p>os fins aos quais a norma jurídica se dirige (telos = fim)”. Toda norma ao ser redigida</p><p>objetiva atender às necessidades sociais, econômicas e políticas de uma dada sociedade.</p><p>A norma nasce em um contexto, com fins determinados. Por exemplo, o Estatuto do</p><p>Idoso (Lei n. 10.741/03), o Estatuto da Igualdade Racial (Lei n. 12.288/10), o Estatuto da</p><p>Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/90). São instrumentos normativos que objetivam</p><p>atender às necessidades, respectivamente, do idoso, da comunidade afrodescendente, e da</p><p>criança e do adolescente. Tais diplomas legais têm que ser interpretados a partir dessas</p><p>realidades que objetivam a proteção ampla e integral da pessoa humana com vistas a</p><p>atender o bem comum.</p><p>- Interpretação histórica</p><p>É a fundada em dados históricos que subsidiaram o processo legislativo desde a</p><p>propositura do projeto de lei até a sua aprovação pelo parlamento (projetos de lei, debates,</p><p>pareceres, emendas e outros). De acordo com Nunes (2013, p. 319), a interpretação</p><p>histórica “é a que se preocupa em investigar os antecedentes da norma; como ela surgiu;</p><p>por que surgiu; quais eram as condições sociais do momento em que ela foi criada; quais</p><p>eram as justificativas do projeto; que motivos políticos levaram à sua aprovação etc.”.</p><p>http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=6393143</p><p>http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=5717298</p><p>http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2010.741-2003?OpenDocument</p><p>http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2012.288-2010?OpenDocument</p><p>http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%208.069-1990?OpenDocument</p><p>42</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>2.5 Aplicação das normas jurídicas no tempo e no espaço</p><p>Nada é eterno. O mesmo ocorre com as normas jurídicas, elas nascem e morrem. E,</p><p>ainda, tem seus efeitos limitados a uma determinada região ou território. A legislação</p><p>brasileira, em regra, se aplica dentro do território nacional, embora caibam exceções. O que</p><p>passaremos a estudar agora é o que em linguagem jurídica chamamos de “aplicação das</p><p>normas jurídicas no tempo (vigência) e no espaço (território). Tal regulamentação está</p><p>expressa nos art. 1º e 2º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB).</p><p>2.5.1 Aplicação das normas jurídicas no tempo</p><p>- Vigência da lei</p><p>Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país</p><p>quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.</p><p>§ 1º Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando</p><p>admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.</p><p>§ 2º (Revogado pela Lei n. 12.036, de 2009).</p><p>§ 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu</p><p>texto, destinada à correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos</p><p>anteriores começará a correr da nova publicação.</p><p>§ 4º As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.</p><p>Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que</p><p>outra a modifique ou revogue (Brasil, 2010).</p><p>Como regra geral, nos termos do art. 1º, da LINDB, uma lei começa a vigorar em</p><p>todo território nacional 45 (quarenta e cinco) dias após sua publicação, podendo outro</p><p>prazo ser fixado. A publicação é feita, no caso de lei federal, na imprensa oficial, ou seja, no</p><p>Diário Oficial da União. Cabe também destacar aqui, quevacatio legis é o espaço de tempo</p><p>em que a lei, embora publicada, não produz efeito até o esgotamento do prazo nela</p><p>previsto, que, como vimos é de 45 (quarenta e cinco) dias, em regra.</p><p>Cabe observar aqui também, que o § 1º do art. 1º, da LINDB, faz uma previsão</p><p>temporal diferente em relação à vigência da lei nos territórios estrangeiros, podendo ser</p><p>aplicada somente três meses após sua publicação: “Nos Estados estrangeiros, a</p><p>obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia 3 (três) meses depois de</p><p>oficialmente publicada”.</p><p>Também cabível é a observação do § 3º do referido artigo, em relação às mudanças</p><p>que porventura venham a ocorrer na lei já publicada, mas ainda não vigente, dentro do</p><p>prazo de vacatio legis: “Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12036.htm#art4</p><p>43</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>texto, destinada à correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a</p><p>correr da nova publicação”. Então, se a correção for feita dentro do prazo de vacatio legis,</p><p>ele voltará a ser contado novamente a partir da data da nova publicação.</p><p>É importante destacar também a consideração do § 4º, do mesmo diploma legal, “as</p><p>correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova”. Neste caso, a referência é em</p><p>relação às correções a texto de lei vigente após o esgotamento do prazo de vacatio legis e</p><p>já produzindo seus efeitos. Em sendo assim, o prazo de vacatio deve começar novamente,</p><p>pois a alteração será considerada como lei nova.</p><p>- Revogação da lei</p><p>Feitas essas considerações iniciais sobre a vigência da lei, poder-se-ia perguntar:</p><p>qual é o prazo de vigência de uma lei? Vejamos então o que dispõe o art. 2º e seus</p><p>parágrafos da LINDB.</p><p>Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que</p><p>outra a modifique ou revogue.</p><p>§1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare,</p><p>quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria</p><p>de que tratava a lei anterior.</p><p>§ 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já</p><p>existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.</p><p>§ 3º Salvo disposição</p><p>em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a</p><p>lei revogadora perdido a vigência (Brasil, 2010).</p><p>Da leitura dos dispositivos acima é possível chegar a três conclusões:</p><p>a) em regra a lei não tem vigência temporária;</p><p>b) a lei perde sua vigência porque foi modificada por outra lei;</p><p>c) a lei perde sua vigência porque foi revogada por outra.</p><p>Em relação à vigência temporária da lei, é importante considerar que, em regra, ela</p><p>“é estabelecida em caráter permanente, mas pode ter, em certos casos, eficácia temporária,</p><p>quando o legislador fixa o prazo de sua vigência (por exemplo, concede favores fiscais</p><p>durante 10 anos às indústrias que se instalarem em determinada região) [...]” (Montoro,</p><p>2016, p. 444).</p><p>Agora, quando ocorre a modificação de uma lei por outra, temos configurado a</p><p>chamada revogação parcial, também chamada de “derrogação”, que nada mais é do que a</p><p>revogação parcial de uma lei por outra mais nova.</p><p>A terceira conclusão está relacionada à revogação. Situação prevista em geral nos</p><p>textos legais ao seu final, conforme dispõe a Lei Complementar n. 95/98 que prescreve em</p><p>44</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>seu art. 9º, que a revogação deverá enumerar expressamente, as leis ou disposições legais</p><p>revogadas.</p><p>É importante destacar duas modalidades de revogação: ab-rogação e a</p><p>derrogação. Entende-se por ab-rogação a revogação total de uma lei, em seu todo. Já a</p><p>derrogação, como vista acima, é a revogação parcial de uma lei, consistindo em tornar sem</p><p>efeito uma parte de determinada lei ou norma.</p><p>Nos termos do §1º do art. 2º da LINDB, a revogação pode ainda ser expressa</p><p>ou tácita. Será expressa quando a nova lei assim o declarar, por exemplo, “Revogam-se os</p><p>arts. 315 a 328 e o § 1º do art. 1.605 do Código Civil e as demais disposições em</p><p>contrário”. Será tácita quando a nova lei, mesmo sem revogação expressa, é incompatível</p><p>com a nova lei, e, ainda, quando regular matéria inteiramente contrária à lei anterior.</p><p>Cabe ainda observar, que as normas em sentido geral são revogadas por outra de</p><p>igual hierarquia ou de hierarquia superior. “Assim uma nova Constituição revoga a</p><p>Constituição anterior e todas as leis, regulamentos, portarias etc., que lhe sejam contrários</p><p>e passam a ser ‘inconstitucionais”. Uma lei ordinária revoga as leis anteriores e as normas</p><p>de menor hierarquia, como os regulamentos, portarias e outros preceitos inferiores</p><p>contrários a suas disposições” (Montoro, 2016, p. 446). Prevalece nesse processo a</p><p>hierarquia existente entre as normas, conforme estudado anteriormente.</p><p>Fonte: Friede; Carlos (2016, p. 94)</p><p>- Retroatividade da lei</p><p>Aspecto bastante curioso é o fenômeno da retroatividade da lei no tempo. O assunto</p><p>está balizado pelos art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal, bem como pelo art. 6º e</p><p>parágrafos da LINDB, respectivamente citados abaixo.</p><p>45</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Art. 5º, XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico</p><p>perfeito e a coisa julgada; (CF/88)</p><p>Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico</p><p>perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.</p><p>§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente</p><p>ao tempo em que se efetuou.</p><p>§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou</p><p>alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício</p><p>tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de</p><p>outrem.</p><p>§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já</p><p>não caiba recurso (Brasil, 2010).</p><p>Conceitualmente, retroatividade da lei significa que uma nova lei ao ser publicada</p><p>não só produzirá efeitos pró-futuro, como também atingirá fatos passados. Pese o debate</p><p>jurídico sobre o tema, no Brasil, tanto a Constituição como a Lei de Introdução às Normas</p><p>do Direito Brasileiro (LINDB), são claras em estabelecer os limites da retroatividade da lei.</p><p>Ambas expressam objetivamente que a nova lei não irradiará seus efeitos sobre:</p><p>direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada. A grande preocupação aqui é</p><p>com a segurança jurídica, ou melhor, com a insegurança jurídica que automaticamente</p><p>decorreria se assim não o fosse.</p><p>Entende-se por direito adquirido aquilo que já se incorporou ao patrimônio jurídico</p><p>do sujeito. Tomemos como exemplo a Ação Direta de Inconstitucionalidade de relatoria da</p><p>ministra Carmem Lúcia.</p><p>[...] Em questões previdenciárias, aplicam-se as normas vigentes ao tempo</p><p>da reunião dos requisitos de passagem para a inatividade. Somente os</p><p>servidores públicos que preenchiam os requisitos estabelecidos na EC</p><p>20/1998, durante a vigência das normas por ela fixadas, poderiam reclamar</p><p>a aplicação das normas nela contida, com fundamento no art. 3º da EC</p><p>41/2003. Os servidores públicos, que não tinham completado os requisitos</p><p>para a aposentadoria quando do advento das novas normas constitucionais,</p><p>passaram a ser regidos pelo regime previdenciário estatuído na EC</p><p>41/2003, posteriormente alterada pela EC 47/2005. Ação direta de</p><p>inconstitucionalidade julgada improcedente.</p><p>[ADI 3.104, rel. min. Cármen Lúcia, j. 26-9-2007, P, DJ de 9-11-2007.]</p><p>No julgado acima prevalece o entendimento de que o tempus regitactum, ou seja, os</p><p>servidores públicos que não tinham ao tempo da vigência da nova lei completado os</p><p>requisitos necessários para a aposentadoria, nos termos da antiga norma, não teriam direito</p><p>à mesma. Não constituindo assim, direito adquirido, pois como não haviam preenchido os</p><p>requisitos da norma vigente à época do pedido, apenas tinham expectativa de direito. Hoje,</p><p>no Regime Geral da Previdência, o trabalhador poderá requerer sua aposentadoria com 30</p><p>anos de registro se mulher e 35 anos se homem. Assim, se já tenho 35 anos de contribuição</p><p>(homem) ou 30 anos (mulher), mesmo que seja aprovada a reforma da previdência e as</p><p>http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?id=493832&codigoClasse=504&numero=3104&siglaRecurso=&classe=ADI</p><p>46</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>regras mudem, já tenho direito adquirido, não expectativa de direito, então posso me</p><p>aposentar quando quiser.</p><p>Por ato jurídico perfeito entendemos o ato “já consumado segundo a lei vigente ao</p><p>tempo em que se efetuou” (art. 6º, § 1º, da LINDB). É aquele ato formalizado que</p><p>preencheu todos os requisitos previstos em lei, tornando-se completo, acabado e perfeito.</p><p>Vejamos por exemplo a Súmula Vinculante n. 1 do STF.</p><p>Ofende a garantia constitucional do ato jurídico perfeito a decisão que, sem</p><p>ponderar as circunstâncias do caso concreto, desconsidera a validez e a</p><p>eficácia de acordo constante de termo de adesão instituído pela Lei</p><p>Complementar nº 110/2001.</p><p>Por fim, entende-se coisa julgada como a decisão judicial que transitou em julgado</p><p>e da qual não caiba mais recurso. O ministro do STF Marco Aurélio declarou que a coisa</p><p>julgada, no que revela manifestação do princípio da segurança jurídica, assume a estatura</p><p>de elemento estruturante do Estado Democrático de Direito (RE 881.864 AgR, rel. min.</p><p>Marco Aurélio, j. 18-4-2017, 1ª T, DJE de 10-10-2017).</p><p>A regra em nosso ordenamento jurídico é da irretroatividade do ato normativo nos</p><p>casos de direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada. Aplica-se, por isso,</p><p>como norma imperativa, a todos os ramos do direito privado ou público, a todas as espécies</p><p>de normas – leis, decretos, resoluções, portarias etc. – e a todas as esferas do poder</p><p>público, federal, estadual e municipal, segundo entendimento de nossos doutrinadores.</p><p>Já em relação ao direito penal, a questão da retroatividade da lei tem outros</p><p>parâmetros. Como regra geral, a lei penal não irá retroagir. De modo que a lei nova</p><p>não irradiará seus efeitos aos fatos passados. É o que está previsto no art. 1º do Código</p><p>Penal brasileiro: “Não há crime sem lei anterior que o defina.</p><p>Não há pena sem prévia</p><p>cominação legal”. Se, por exemplo, a posse de droga para consumo não fosse considerada</p><p>crime em relação à legislação de determinado país, e posteriormente o legislador edita nova</p><p>lei criminalizando o porte de droga para o consumo, as situações pretéritas não serão</p><p>atingidas pela nova disposição legal.</p><p>Contudo, no direito penal há uma exceção, a lei retroagirá se for mais favorável</p><p>àquele que foi condenado. Ensina o art. 2º do Código Penal: “Ninguém pode ser punido por</p><p>fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os</p><p>efeitos penais da sentença condenatória”. Assim, mesmo transitado em julgado a decisão</p><p>condenatória, a lei nova irradiará seus efeitos sobre o condenado pretérito, cessando a</p><p>execução das penas e seus efeitos penais. Tomemos como exemplo a situação descrita</p><p>acima de forma contrária, caso a legislação vigente tipifique como crime o porte de droga</p><p>http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13762213</p><p>47</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>para consumo e, a posteriori, uma nova lei é editada descriminalizando tal situação, a lei</p><p>nova retroagirá beneficiando o condenado.</p><p>- Da recepção da lei</p><p>A recepção de uma determinada lei pelo ordenamento jurídico depende estritamente</p><p>da sua compatibilidade com a nova ordem constitucional. Esse fenômeno intitulado de</p><p>“recepção”. Ao se promulgar uma nova Constituição se faz necessário verificar a</p><p>compatibilidade das leis, até então vigentes, com a nova ordem constitucional instituída,</p><p>caso não sejam compatíveis, diremos que tais leis não foram recepcionadas. Neste sentido</p><p>corrobora a compreensão de Friede e Carlos (2016, p. 94).</p><p>[...] a constituição federal ao ser promulgada, instala uma nova ordem</p><p>constitucional no País, sendo certo que as normas jurídicas anteriores, isto</p><p>é, aquelas editadas sob a vigência da Carta precedente, caso sejam</p><p>compatíveis com as novas disposições constitucionais, serão entendidas</p><p>como recepcionadas, ou seja, acolhidas.</p><p>Do fenômeno da repristinação da lei</p><p>O fenômeno da repristinação trata da restauração de uma lei já revogada por outra</p><p>norma. Então, dá-se o fenômeno da repristinação quando uma norma “A” revogada por</p><p>outra “B”, volte a produzir efeitos no ordenamento jurídico, haja vista que a norma “B”,</p><p>causa da revogação da norma “A”, deixou de produzir seus efeitos, operando-se assim a</p><p>repristinação. Entretanto, o fenômeno da repristinação não é aceito em nosso ordenamento</p><p>jurídico, neste caso é necessária a publicação novamente da lei. É isso que está expresso no</p><p>art. 2º, § 3º, da LINDB “Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por</p><p>ter a lei revogadora perdido a vigência”.</p><p>2.5.2 Aplicação das normas jurídicas no espaço</p><p>Por “espaço” entendemos os limites territoriais em que se dará a aplicação da</p><p>norma. No caso do Brasil, as normas que regem a nossa vida coletiva são aplicadas, em</p><p>regra, nos limites territoriais de nossas fronteiras, que compreende as águas territoriais e</p><p>suas respectivas ilhas, os aviões, os navios e as embarcações com bandeira brasileira</p><p>(nacionais), as áreas das embaixadas e consulados, e ainda, o subsolo e a atmosfera. Ou</p><p>seja, é dentro desses espaços que poderemos aplicar o direito brasileiro, evocando o</p><p>chamado “princípio da territorialidade” das normas jurídicas.</p><p>Contudo, com o passar do tempo as fronteiras entre um Estado e outro foram</p><p>ficando mais tênues. As relações internacionais se multiplicaram e o fluxo de pessoas indo</p><p>de uma região para outra aumentou consideravelmente. Diante dessa realidade, as relações</p><p>48</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>jurídicas contemporâneas passaram a admitir, em determinadas circunstâncias, a aplicação</p><p>de leis estrangeiras no território nacional, de modo a melhor atender às necessidades do</p><p>fluxo migratório (NUNES, 2013, p. 266). Assim, a maioria dos Estados passou a adotar o</p><p>“princípio da territorialidade moderada” – entre eles o Brasil.</p><p>A aplicação das normas brasileiras é matéria do Direito Internacional, e está</p><p>regulada pela Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB). Vejamos então os</p><p>aspectos mais relevantes propostos pela lei sobre a matéria.</p><p>- Dos limites – É importante considerar inicialmente que “as leis, atos e sentenças</p><p>de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil,</p><p>quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes” (art. 17 da</p><p>LINDB). Pese termos adotado o princípio da territorialidade moderada, o limite para</p><p>aplicação de qualquer norma dentro do Estado brasileiro, é estar em consonância com o</p><p>nosso sistema normativo.</p><p>- Do regime de bens e obrigações – é regulado pelo princípio da territorialidade</p><p>de onde se encontra os bens e se firma as obrigações (contratos civis, comerciais e</p><p>trabalhistas). O art. 8º da LINDB é o marco regulatório para a questão dos bens, “para</p><p>qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em</p><p>que estiverem situados”. Já o art. 9, do mesmo diploma legal, normatiza as obrigações</p><p>contraídas pelas partes, neste caso, tais relações estarão sujeitas às leis do país em que se</p><p>constituíram.</p><p>- Da pessoa ou do sujeito de direito – a lei que disciplinará o começo e o fim da</p><p>personalidade – o nome e a capacidade das pessoas, os direitos de família –, é a do</p><p>domicílio da pessoa, nos termos do art. 7º da LINDB. Quanto à sucessão do de cujus o art.</p><p>10, do mesmo diploma legal, dispõe que “a sucessão por morte ou por ausência obedece à</p><p>lei do país em que era domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a</p><p>natureza e a situação dos bens”.</p><p>- Do conflito de competências – quem é a autoridade competente para resolver</p><p>os conflitos de competência que emergirem na aplicação do “princípio da territorialidade</p><p>moderada”? Neste sentido, dispõe o art. 12 da Lei de Introdução, “é competente a</p><p>autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser</p><p>cumprida a obrigação”. Então, são dois os critérios para se afirmar a competência de quem</p><p>vai resolver o impasse: domicílio do réu, ou quando a obrigação assumida tenha que ser</p><p>cumprida no Brasil.</p><p>- Da extradição – o instituto não está regulamentado pela LINDB, mas pelo art. 5º,</p><p>LI e LII, da Constituição Federal. A redação do inciso LI é clara ao afirmar que “nenhum</p><p>brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes</p><p>49</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e</p><p>drogas afins, na forma da lei”. Já o inciso LII, regulamenta a extradição de estrangeiro que</p><p>está dentro do território nacional. A questão é muito polêmica, mesmo em relação ao</p><p>entendimento da Suprema Corte, como bem pode ser ilustrato pelo caso do Italiano Cesare</p><p>Battist, ainda não extraditado para Itália. Segundo dispositivo, o governo brasileiro não</p><p>poderá conceder a extradição de nenhum estrangeiro, caso o pedido do Estado de origem</p><p>configure, segundo interpretação do STF, crime político ou de opinião.</p><p>2.6 Direito público e privado</p><p>Ao final desta unidade, o objetivo é dar uma pequena ideia ao acadêmico de quais</p><p>são as ramificações do direito. O direito é um só, enquanto emanado da autoridade estatal,</p><p>porém ao longo dos séculos ele foi se especializando, a fim de atender às mais diferentes</p><p>necessidades do convívio coletivo. Não são poucas as teorias aplicadas na divisão do direito</p><p>positivo. Todavia, sem entrar no mérito do debate doutrinário, vamos adotar o esquema</p><p>clássico da divisão do direito em público e privado.</p><p>Essa divisão foi proposta inicialmente pelos Romanos e perdura até os nossos dias,</p><p>pese as suas limitações. Para os Romanos o direito público está relacionado às coisas do</p><p>Estado, enquanto o direito privado,</p><p>busca regular as relações decorrentes da vida privada</p><p>entre os particulares (Montoro, 2016, p. 457).</p><p>Corroborando nesta direção, Jellinek (Montoro, 2016, p. 458), conforme citação</p><p>abaixo, enfatiza que o Direito Público regula relações do poder Estatal com os demais</p><p>sujeitos de direitos a partir do chamado poder de imperium, ou seja, a norma vai sempre</p><p>ser orientada na direção do princípio da “supremacia do interesse público sobre o</p><p>particular”. Enquanto que o Direito Privado se orienta no sentido de regular as relações</p><p>entre pessoas (físicas ou jurídicas) que estão em situação de igualdade, decorrendo daí uma</p><p>relação de horizontalidade e não de verticalidade.</p><p>[...] que o cerne da questão está em que o Direito Público regula relações</p><p>em que está presente o poder de imperium. Nessas relações, uma das</p><p>partes comanda e outra é subordinada. Já o Direito Privado regula relações</p><p>onde se encontram indivíduos em pé de igualdade, há desse modo certa</p><p>coordenação e não subordinação (Jellinek apud Montoro, 2016, p. 458)</p><p>Em síntese, podemos concluir com Montoro (2016, p. 459), que o Direito Público</p><p>estabelece os parâmetros jurídicos para disciplinar as relações entre o Estado e a sociedade,</p><p>bem como, através de uma ordem jurídica, funda o Estado e estabelece as competências de</p><p>seus respectivos Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), além de elaborar orçamento,</p><p>50</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>fixar impostos etc. Já o Direito Privado, regula as relações jurídicas que emergem da</p><p>convivência coletiva entre os indivíduos da sociedade, como por exemplo, as relações de</p><p>compra e venda, de locação, de empréstimo e dos contratos em geral, bem como o</p><p>casamento, a herança, o início e o fim da personalidade jurídica dos seus membros, entre</p><p>outras coisas.</p><p>Abaixo apresentamos o direito com suas ramificações mais tradicionais (clássicas).</p><p>Fonte: DIAS (2010, p. 23).</p><p>Para finalizar seu estudo, realize os Exercícios 3, 4 e 5 e a</p><p>atividade 3.</p><p>51</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF, 5 de</p><p>outubo de 1988. Disponível em:</p><p><http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 22 maio</p><p>2024.</p><p>______. Decreto Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro,</p><p>RJ, 7 de dezembro de 1940. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm. Acesso em: 22</p><p>maio 2024.</p><p>______. Decreto Lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1942. Dispõe sobre a Lei de</p><p>Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB). Alterado pela Lei n. 12.376, de</p><p>31 de dezembro de 2010. Rio de Janeiro, 04 de setem. 1942. Disponível em:</p><p><http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657compilado.htm>. Acesso em: 22</p><p>maio 2024.</p><p>______. Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da</p><p>pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, DF, 6 de Jul.</p><p>de 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-</p><p>2018/2015/lei/l13146.htm>. Acesso em: 22 maio 2024.</p><p>BITTAR, Eduardo C. B.; ALMEIDA, Assis de. Curso de Filosofia do Direito. 16. ed.</p><p>Barueri [SP]: Atlas, 2022.</p><p>BOBBIO, Norberto; FAIT, Alfredo. Direito e estado no pensamento de Emmanuel</p><p>Kant. Brasília: Universidade de Brasília, 1997.</p><p>BOBBIO, Norberto. O Futuro da Democracia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.</p><p>______. Liberdade e igualdade. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996.</p><p>COMPARATO; Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 12 ed. São</p><p>Paulo: Saraiva, 2019.</p><p>DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 33. ed. São Paulo:</p><p>Saraiva, 2015.</p><p>DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, ONU, 1948.</p><p>DIAS, Antônio Garcia. Noções de direito. Campo Grande: UCDB, 2010.</p><p>DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1999.</p><p>FRIEDE, Reis & CARLOS, André. Lições esquematizadas de introdução ao estudo do</p><p>direito. 4. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos Editora, 2016.</p><p>IHERING, Rudolf Von. A luta pelo direito. 25. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.</p><p>MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do direito. 33. ed. São Paulo: Revista</p><p>dos Tribunais, 2016.</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657compilado.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm</p><p>52</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. 46. ed., rev. e atual. - Rio de Janeiro:</p><p>Forense, 2024.</p><p>NUNES, Rizzatto. Manual de introdução ao estudo do direito. 11. ed. São Paulo:</p><p>Saraiva, 2013.</p><p>OLIVEIRA, Erival da Silva. Direito Constitucional: Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo:</p><p>Revista dos Tribunais, 2012.</p><p>REALE, Miguel. Lições preliminares do direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.</p><p>SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 25. ed. São Paulo:</p><p>Malheiros Editores, 2005.</p><p>na terceira coluna o dia em que você enviou a atividade.</p><p>AVALIAÇÃO PRAZO * DATA DE ENVIO **</p><p>Atividade 1</p><p>Ferramenta: Tarefa</p><p>Atividade 2</p><p>Ferramenta: Tarefa</p><p>Atividade 3</p><p>Ferramenta: Tarefa</p><p>6</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>BOAS VINDAS</p><p>Prezados colegas, saudações de paz e esperança a todos neste momento de grandes</p><p>dificuldades pelas quais passa o povo brasileiro. Não podemos nos esquecer que somos</p><p>parte desta sociedade, e, cada um de nós é responsável em dar a sua contribuição para que</p><p>as coisas melhorem. Todos vocês que estão começando este curso já estão de parabéns.</p><p>São poucos os brasileiros e brasileiras que têm o privilégio de estudar em uma universidade.</p><p>Aproveitem máximo que puderem!</p><p>Cordialmente</p><p>7</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Pré-teste</p><p>A finalidade deste pré-teste é fazer um diagnóstico quanto aos conhecimentos</p><p>prévios que você já tem sobre os assuntos que serão desenvolvidos nesta</p><p>disciplina. Não fique preocupado com a nota, pois não será pontuado.</p><p>1. (FGV, 2018) O Presidente da República apresentou projeto de lei ordinária</p><p>cuja discussão se iniciou no Senado Federal, que o aprovou, seguindo para a</p><p>Câmara dos Deputados. Com a aprovação nesta última Casa, a Mesa do</p><p>Congresso Nacional promulgou a Lei X. Um grupo de Deputados de oposição</p><p>divulgou nota afirmando que o processo legislativo descumpriu a disciplina</p><p>traçada na Constituição da República de 1988. À luz da sistemática</p><p>constitucional, o grupo de Deputados está correto, já que o projeto apresenta</p><p>o(s) seguinte(s) vício(s):</p><p>a) O Presidente da República não tem legitimidade para apresentar projetos de lei ordinária</p><p>fora do regime de urgência constitucional.</p><p>b) A discussão do projeto de lei ordinária deveria ter sido iniciada na Câmara dos</p><p>Deputados, não no Senado Federal, que seria a Casa Revisora.</p><p>c) O Presidente da República não poderia apresentar o projeto e a análise deveria ser</p><p>realizada em sessão conjunta das Casas Legislativas.</p><p>d) Após aprovação do projeto pelas Casas Legislativas, ele deveria ser encaminhado ao</p><p>Presidente da República, não à Mesa do Congresso Nacional.</p><p>e) A discussão deveria ser iniciada na Câmara e o projeto encaminhado ao Presidente da</p><p>República, não à Mesa do Congresso.</p><p>2. (SELECON, 2018) Diversos temas relevantes da pauta política do Congresso</p><p>Nacional exigem a votação de Emenda à Constituição. Nos termos da</p><p>Constituição Federal, a proposta de Emenda Constitucional será discutida e</p><p>votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se</p><p>aprovada se obtiver, em ambos:</p><p>a) Maioria simples dos votos dos respectivos membros.</p><p>b) Maioria absoluta dos votos dos respectivos membros.</p><p>c) Dois terços dos votos dos respectivos membros.</p><p>d) Três quintos dos votos dos respectivos membros.</p><p>3. (FCC, 2017) Suponha que venha a ser editada, sancionada e promulgada lei</p><p>alterando dispositivos do Código Civil. Nesse caso, de acordo com a Lei de</p><p>Introdução às normas do Direito Brasileiro, a nova lei começará a vigorar em</p><p>todo o País, salvo disposição em contrário,</p><p>a) 30 dias depois de oficialmente publicada.</p><p>b) 45 dias depois de oficialmente publicada.</p><p>c) 90 dias depois de oficialmente publicada.</p><p>d) 180 dias depois de oficialmente publicada.</p><p>e) Na data da sua publicação oficial.</p><p>8</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>4. (CONSULPLAN, 2017) No tocante à Lei de Introdução às normas do Direito</p><p>Brasileiro, interprete o caso proposto e assinale a afirmativa juridicamente</p><p>verdadeira. “A Lei nº 8.112/90 previa o direito de licença por assiduidade para os</p><p>servidores federais. Posteriormente, a Lei nº 9.527/97 revogou o referido direito</p><p>e o substitui por um direito à licença para capacitação. Supondo que seja</p><p>aprovada a Lei “X” em 2017 revogando a Lei nº 9.527/97, poder-se-á concluir</p><p>que:</p><p>a) Não existindo disposição em contrário, a Lei “X” terá vigência de cinco anos,</p><p>prescrevendo após este período.</p><p>b) Com a revogação da Lei nº 9.527/97, fica restaurado o direito de licença por assiduidade</p><p>dos servidores federais.</p><p>c) Salvo disposição em contrário, a Lei “X” começa a vigorar quarenta e cinco dias depois</p><p>de oficialmente publicada.</p><p>d) A lei nova, em regra, tem vigência retroativa, cassando as licenças dos servidores</p><p>federais que já se encontravam em gozo do direito.</p><p>5. (CESPE, 2017) Acerca da vigência, aplicação, interpretação e integração das</p><p>leis bem como da sua eficácia no tempo e no espaço, julgue o item a seguir.</p><p>Derrogação é o fenômeno que ocorre quando há revogação total de uma lei.</p><p>Parte superior do formulário</p><p>a) Verdadeiro</p><p>b) Falso</p><p>6. (FCC, 2017) De acordo com a Lei de Introdução às Normas do Direito</p><p>Brasileiro,</p><p>a) Salvo disposição em contrário, a lei começa a vigorar em todo o país imediatamente após</p><p>sua publicação oficial.</p><p>b) As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.</p><p>c) Como regra geral, a lei revogada restaura-se quando a lei revogadora perder a vigência.</p><p>d) Quando a lei for omissa, o juiz decidirá de acordo com a vontade presumida do</p><p>legislador em face da realidade social.</p><p>e) A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, revoga</p><p>ou modifica a lei anterior.</p><p>Submeta o Pré-teste por meio da ferramenta Questionário.</p><p>9</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>O aperfeiçoamento profissional é fundamental para garantir melhores condições no</p><p>mercado de trabalho. Não só no mercado, mas à medida que vamos conhecendo,</p><p>aprendendo e aperfeiçoando nosso conhecimento vamos nos transformando também em</p><p>melhores cidadãos. Este é o maior desafio do processo educativo.</p><p>A disciplina, objeto de nosso estudo, é denominada de Noções do Direito. É uma</p><p>parte introdutória do direito que possibilitará a vocês uma compreensão inicial do Direito.</p><p>Na primeira unidade se busca refletir sobre a “interface entre direito e justiça”. Aqui,</p><p>como para a maioria da doutrina, o direito será entendido como aquilo que é justo. Além do</p><p>conceito de justiça, far-se-á uma reflexão sobre a justiça corretiva, distributiva e social.</p><p>Muito embora, o conceito de direito incorpore um ideal de justiça, não podemos deixar de</p><p>ter presente que o que entendemos por direito e consequentemente justo, é resultado de</p><p>um momento histórico bem definido. Nada impede que em outro tempo e espaço venhamos</p><p>a ter uma compreensão mais ampla do que seja direito e justiça.</p><p>Na segunda unidade o enfoque é mais técnico – “o direito como norma jurídica”. As</p><p>questões abordadas são relativas às características, às fontes e às diferentes formas de</p><p>interpretação das normas jurídicas. Faz-se importante ressaltar que o direito para ter força</p><p>em uma determinada coletividade organizada precisa ser positivado. Somente dentro de um</p><p>Estado organizado é que o direito elevado à condição de norma jurídica poderá ser imposto</p><p>a todos.</p><p>10</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>UNIDADE 1</p><p>A INTERFACE ENTRE DIREITO E JUSTIÇA</p><p>OBJETIVO DA UNIDADE: Compreender a “interface” entre justiça e direito, pois está</p><p>implícito na concepção de direito a ideia de justiça – direito é justiça –, muito embora o</p><p>que se entende por direito, em dado momento do tempo e espaço, não esgota o ideal de</p><p>justiça. O foco da unidade é conduzir a tal entendimento.</p><p>A expressão “interface” não é um termo familiar ao universo jurídico. Todavia, ela</p><p>tem a força de comunicar essa relação intrínseca entre justiça e direito. Seria impensável a</p><p>existência deste sem aquele. É essa relação buscaremos explicar a seguir.</p><p>1.1 O Direito como justo</p><p>Inicialmente, buscar-se-á entender o significado da palavra direito a partir de sua</p><p>origem latina e grega. Os latinos chamavam o direito de “jus” (devido/justo), e não o</p><p>confundiam com a expressão “lex” (lei). No mesmo sentido, advogavam os gregos, que</p><p>segundo eles, o direito (devido/justo)</p><p>era denominado de “dikaion”, e a lei, “nómos”.</p><p>Aqui surge uma distinção importante entre o conceito da palavra direito e lei. Muito</p><p>embora, a ideia de justiça esteja impregnada na expressão latina e grega, não se confunde</p><p>com o direito. O mesmo podemos concluir em relação à lei. Se o direito não se reduz à lei,</p><p>pode-se afirmar que a lei materializa (positiva) o direito, tornando-o parte de um sistema</p><p>normativo que pode ser exigido por todos. A Suprema Corte brasileira tem reconhecido</p><p>vários direitos que não estão positivados, empregando uma interpretação conforme a CF,</p><p>como, por exemplo, a união homoafetiva. Muito embora não tenha sido regulamentado por</p><p>lei, o Supremo Tribunal Federal (STF) já entendeu como um direito. Mas, o que importa no</p><p>momento é ter claro que tanto o direito como a lei devem estar impregnados daquilo que</p><p>convencionamos chamar de “justiça”.</p><p>Sendo assim, poderíamos nos perguntar: por que o direito se identifica com o justo?</p><p>A resposta é simples: a vida em grupo exige que as relações sejam pautadas por um ideal</p><p>de justiça, pelo menos dentro do que chamamos marco civilizatório. É fundamental para a</p><p>paz e harmonia social que as manifestações dos indivíduos, em uma dada coletividade,</p><p>sejam pautadas pelo mínimo de civilidade, que, em nosso caso, chamamos de justiça.</p><p>Aliás, observando o cenário brasileiro, constatamos grandes distorções em nossa</p><p>convivência social, grupos e pessoas poderosas, sobretudo políticos, que deveriam trabalhar</p><p>para o bem comum, colocam-se acima da lei, enlameados em um processo de corrupção</p><p>11</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>sem fim; juízes, promotores, e outros, recebem auxílio moradia de aproximadamente R$</p><p>4.500,00 reais por mês (com residência própria), entre outros penduricalhos – auxílio terno,</p><p>auxílio educação, vale alimentação. Tudo, no exato momento em que o Estado Brasileiro</p><p>não tem recursos para as necessidades básicas da população: saúde, educação, trabalho e</p><p>segurança.</p><p>Neste caos social vale a pena nos questionarmos: da onde vem a violência? Da</p><p>injustiça, ou da falta de justiça. O direito e a lei devem refletir o justo, e quando assim não</p><p>o fizer o direito não será reconhecido como direito e a lei não será reconhecida como justa</p><p>(Montoro, 2016, p. 163).</p><p>A vida em sociedade não pode prescindir do fato de que o homem possui instintos</p><p>primitivos de sobrevivência e é egoísta por natureza. Quanto ao primeiro, no atual momento</p><p>da história da vida humana sobre a terra, já temos condições materiais para superá-lo. Há</p><p>algum tempo, o filósofo e economista Amyrtia Sem e Mahhub Al Haq (2003, p. 03 apud</p><p>Bittar; Almeida, 2022), no relatório de Desenvolvimento Humano de âmbito global do ano</p><p>de 1994, propuseram que os governos implementassem como política pública o conceito de</p><p>“segurança humana”. A partir do qual, qualquer membro de uma determinada sociedade</p><p>teria como direito fundamental o mínimo para sua subsistência (alimentação, saúde,</p><p>educação e segurança).</p><p>[...] a segurança humana consiste em proteger o essencial vital de todas as</p><p>vidas humanas de uma forma que realce as liberdades humanas e as</p><p>plenas realizações do ser humano. Segurança humana significa proteger as</p><p>liberdades fundamentais: liberdades que constituem a essência da vida.</p><p>Significa proteger o ser humano contra as situações e ameaças críticas</p><p>(graves) e onipresentes (generalizadas). Significa utilizar processos que</p><p>tenham como fundamentos as forças e aspirações do ser humano. Significa</p><p>a criação de sistemas políticos, sociais, ambientais, econômicos, militares e</p><p>culturais que, em seu conjunto, ofereçam ao ser humano as pedras</p><p>angulares da sobrevivência, os meios de vida e a dignidade (Sem; Al Haq</p><p>2003, p. 03 apud Bittar; Almeida, 2022, p. 474).</p><p>Mas, a viabilização desse projeto depende fundamentalmente da expansão de</p><p>nossas consciências na direção daquilo que é direito ou não, justo ou não, em relação aos</p><p>membros dessa mesma coletividade. A desigualdade social, tão gritante no Brasil, só pode</p><p>ser resolvida a partir da implementação de uma sociedade que seja minimamente justa.</p><p>Agora, quanto a nossa natureza egoísta é possível que o processo civilizatório seja capaz de</p><p>domesticá-la. Tanto a primeira como a segunda situação, adversárias do processo</p><p>civilizatório, precisam ser harmonizadas com outra exigência da existência humana – a vida</p><p>em coletividade. Nessa direção, o direito e a lei ao incorporarem ideais de justiça são de</p><p>fundamental importância na pavimentação dessa longa caminhada. Podemos afirmar que o</p><p>12</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>processo civilizatório vai se concretizando na medida em que a pessoa humaniza seu espaço</p><p>coletivo, tornando as relações dessa convivência mais justas e fraternas. Lamentavelmente,</p><p>a luta pela sobrevivência nos aprisiona a esses impulsos egoístas, levando-nos a</p><p>desconsiderar as necessidades do outro. Cabe, então, ao direito e à lei incorporadas pelo</p><p>ideal de justiça conduzir a coletividade pelo processo civilizatório (Montoro, 2016, p. 163).</p><p>Segundo Tomás de Aquino, o direito não esgota o sentido da justiça, mas busca a</p><p>sua realização (Bittar; Almeida, 2022). Podemos afirmar que o direito é a materialização da</p><p>consciência de justiça que uma determinada sociedade tem no tempo e espaço. Não é que</p><p>o conceito de justo careça de objetividade, no entanto, o passar do tempo vai despertando</p><p>nossa sensibilidade para outras dimensões da existência humana que outrora não</p><p>percebíamos. Veja, por exemplo, por quanto tempo convivemos com o machismo, com a</p><p>escravidão, com a discriminação de pessoas por sua orientação sexual, e, ainda, por quanto</p><p>tempo teremos que conviver com esses preconceitos, mesmo que já esteja sedimentado em</p><p>nosso ordenamento jurídico (art. 5º, caput, da CF) que “todos são iguais perante a lei, sem</p><p>distinção de qualquer natureza [...]”. Positivar o direito, ou seja, materializá-lo na letra da</p><p>lei, já é difícil, mudar uma cultura levará muito mais tempo.</p><p>O Supremo Tribunal Federal recentemente reconheceu o direito do transgênero de</p><p>alterar sua Certidão de Nascimento, a fim de incluir o seu nome social. Até pouco tempo,</p><p>essa decisão seria impensável. Mas, a nossa consciência do que é justo se expandiu e</p><p>reconhecemos um novo direito, qual seja, uma pessoa transgênera não precisa mais ser</p><p>obrigada a moldar sua identidade pelo seu órgão genital, não que o sexo com o qual a</p><p>pessoa nasceu não seja importante, tão somente não é mais suficiente para definir sua</p><p>identidade como pessoa.</p><p>STF decide que transexuais e transgêneros poderão mudar registro civil sem</p><p>necessidade de cirurgia. Ministros decidiram ainda que não será necessária</p><p>autorização judicial para mudança. 'Temos o direito de ser diferentes em nossa</p><p>pluralidade e nossa forma de ser', disse a presidente da Corte.</p><p>Transexuais podem mudar de nome sem fazer cirurgia, decide Supremo</p><p>O Supremo Tribunal Federal decidiu [...] permitir que transexuais e transgêneros</p><p>possam alterar seu nome no registro civil sem a necessidade de realização de cirurgia de</p><p>mudança de sexo.</p><p>A maioria dos ministros decidiu também que não será preciso autorização judicial para</p><p>que o transexual requisite a alteração no documento, que poderá ser feita em cartório.</p><p>O julgamento havia sido iniciado nesta quarta, mas foi interrompido após o voto de</p><p>seis ministros – Marco Aurélio Mello (relator da ação), Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Luis</p><p>Roberto Barroso, Rosa Weber e Luiz Fux –, todos favoráveis à permissão.</p><p>[...] também votaram nessa direção os ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski,</p><p>Celso de Mello e Carmen Lúcia – Dias Toffoli não participou do julgamento.</p><p>https://g1.globo.com/politica/noticia/maioria-do-stf-vota-a-favor-de-transexual-poder-mudar-registro-civil-sem-necessidade-de-cirurgia.ghtml</p><p>13</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Em seu voto, [...] o relator do caso, ministro Marco</p><p>Aurélio Mello, afirmou que é</p><p>favorável à alteração de nome no registro.</p><p>Ele defendeu que sejam impostos requisitos para isso, como idade mínima de 21 anos e</p><p>diagnóstico médico por equipe multidisciplinar, após no mínimo dois anos de acompanhamento</p><p>conjunto.</p><p>“É inaceitável no estado democrático de direito inviabilizar a alguém a escolha do</p><p>caminho a ser percorrido, obstando-lhe o protagonismo pleno e feliz da própria jornada”,</p><p>afirmou o ministro.</p><p>O ministro Luís Roberto Barroso [...] defendeu que a mudança de nome no registro civil</p><p>seja autorizada mesmo sem a necessidade de autorização judicial.</p><p>“A identidade de gênero não se prova”, disse o ministro, citando decisão da Corte</p><p>Interamericana de Direitos Humanos. “Estou me manifestando no sentido de desnecessidade de</p><p>decisão judicial”, complementou.</p><p>Última ministra a votar [...] a presidente da Corte, Carmen Lúcia, afirmou que "não se</p><p>respeita a honra de alguém se não se respeita a imagem que [essa pessoa] tem".</p><p>“Somos iguais, sim, na nossa dignidade, mas temos o direito de ser diferentes em nossa</p><p>pluralidade e nossa forma de ser”, disse a presidente do STF antes de proferir o resultado.</p><p>Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/stf-decide-que-transexual-podera-mudar-</p><p>registro-civil-sem-necessidade-de-cirurgia.ghtml>. Acesso em: 22 maio 2024.</p><p>Fazendo uma breve síntese, o direito não esgota o ideal de justiça, mas busca a sua</p><p>realização. A lei, por sua vez, é a positivação do direito em um dado sistema normativo.</p><p>Entretanto, a lei não esgota o direito e muito menos o ideal de justiça. Podemos afirmar que</p><p>ao evoluirmos em nosso processo civilizatório, respeitando e promovendo a dignidade da</p><p>pessoa humana, a nossa sensibilidade enquanto indivíduo e grupo vai amadurecendo,</p><p>então, emergem aos nossos olhos novas situações de violência contra a pessoa humana.</p><p>Aquilo que era tolerável e fazíamos inconscientemente, torna-se algo degradante e violento,</p><p>devendo ser reprimido em nossa convivência social. Neste processo, o primeiro momento é</p><p>a tomada consciência (individual e coletiva) e consequentemente a emergência de um novo</p><p>direito, posteriormente, vem a luta para o reconhecimento público desse direito, que</p><p>encontrará seu ápice em sua positivação, ou seja, quando é reconhecido por lei. Todavia, o</p><p>mais difícil é a transformação cultural dos indivíduos que compõem essa coletividade,</p><p>quando não mais devem agir coagidos pela lei, mas por estarem conscientes de que o outro</p><p>também é livre e igual.</p><p>1.2 O conceito de justiça</p><p>O conceito de justiça está relacionado a três formulações diferentes: sentido</p><p>latíssimo; sentido lato; sentido próprio ou estrito. Segundo Montoro (2016, p. 167), justiça</p><p>no sentido latíssimo é uma virtude em geral, pois está enraizada no agir do homem</p><p>honesto; no sentido lato, a justiça é colocada em uma perspectiva social, são virtudes que</p><p>https://g1.globo.com/politica/noticia/stf-decide-que-transexual-podera-mudar-registro-civil-sem-necessidade-de-cirurgia.ghtml</p><p>https://g1.globo.com/politica/noticia/stf-decide-que-transexual-podera-mudar-registro-civil-sem-necessidade-de-cirurgia.ghtml</p><p>14</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>pautam a convivência humana; e, no sentido estrito, a partir da compreensão de Tomás de</p><p>Aquino (Montoro, 2016, p. 167), a justiça consiste em dar a outrem o que lhe é devido,</p><p>segundo uma igualdade simples ou proporcional.</p><p>Nesta etapa da nossa disciplina vamos trabalhar com o conceito de justiça em seu</p><p>sentido próprio ou estrito.</p><p>Visto que, nesta toada, quando se fala em justiça, recentemente a Terceira Turma</p><p>do Superior Tribunal de Justiça publicou uma notícia em que o Direito ao esquecimento não</p><p>justifica obrigação de excluir notícia de site, assim, diante do caso pode se observar que a</p><p>obrigação pode ser conceituada na vertente do poder do justo ou injusto, tendo em vista o</p><p>direito ao esquecimento na questão da interpretação de um direito subjetivo dado ao</p><p>cidadão, a cada pessoa, e lembrando nesta questão que envolve também a observação e</p><p>estudo do princípio da dignidade da pessoa humana, princípio previsto como fundamento no</p><p>artigo 1, III da Constituição Federal. Vejamos:</p><p>DECISÃO - 08/03/2022 08:00 - Direito ao esquecimento não justifica obrigação</p><p>de excluir notícia de site, decide Terceira Turma</p><p>Para a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o direito ao esquecimento –</p><p>incompatível com o ordenamento jurídico brasileiro – não pode servir de justificativa para impor</p><p>exclusão de matéria de site jornalístico. Com base nesse entendimento, por unanimidade, o</p><p>colegiado deu provimento a recurso especial da Editora Globo para negar o pedido de exclusão de</p><p>notícia sobre um homem que foi acusado de se passar por policial para entrar em festa particular.</p><p>Segundo os autos, ele foi preso por dirigir embriagado e apresentar documento falso.</p><p>Condenado em primeiro grau, o réu foi absolvido pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT).</p><p>Para pedir a exclusão das notícias sobre os supostos crimes na internet, ele entrou com ação de</p><p>obrigação de fazer contra três empresas de comunicação. A sentença julgou o pedido procedente. O</p><p>TJMT confirmou a decisão, ao argumento de que o tempo transcorrido – as notícias foram</p><p>publicadas em 2009 – não justifica a manutenção da informação ao alcance do público.</p><p>No recurso especial, a Editora Globo alegou que o direito ao esquecimento não está alinhado</p><p>à legislação brasileira e representa um retrocesso. Defendeu não haver irregularidade na matéria, já</p><p>que apenas informou a prisão do envolvido, e não a existência de condenação, não sendo</p><p>cabível a sua exclusão.</p><p>“A essência da justiça consiste em dar a outrem o</p><p>que lhe é devido, segundo uma igualdade” (Tomás</p><p>de Aquino).</p><p>15</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Conteúdo de interesse público</p><p>Para a relatora, ministra Nancy Andrighi, o direito à liberdade de imprensa não é absoluto,</p><p>devendo sempre ser alicerçado na ética e na boa-fé, sob pena de ser caracterizado como abusivo.</p><p>"O exercício do direito à liberdade de imprensa será considerado legítimo se o conteúdo</p><p>transmitido for verdadeiro, de interesse público e não violar os direitos da personalidade do</p><p>indivíduo noticiado", afirmou a magistrada, com base na jurisprudência da corte.</p><p>A ministra acrescentou que não há necessidade de que os fatos divulgados sejam</p><p>absolutamente incontroversos, mas a liberdade de informação não pode ser exercida com o intuito</p><p>de difamar, injuriar ou caluniar.</p><p>Direito ao esquecimento incompatível com a Constituição</p><p>Nancy Andrighi lembrou que, em algumas oportunidades, a Quarta e a Sexta Turmas do STJ</p><p>se pronunciaram favoravelmente acerca da existência do direito ao esquecimento (HC</p><p>256.210, REsp 1.335.153 e REsp 1.334.097).</p><p>Nesses julgamentos, explicou a relatora, o direito ao esquecimento foi definido como o direito</p><p>de não ser lembrado contra a própria vontade, especificamente em fatos de natureza criminal.</p><p>"Considerando os efeitos jurídicos da passagem do tempo, ponderou-se que o direito estabiliza o</p><p>passado e confere previsibilidade ao futuro por meio de diversos institutos", disse ela.</p><p>Todavia, a ministra observou que, em fevereiro de 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF)</p><p>estabeleceu que o direito ao esquecimento é incompatível com a Constituição Federal (Tema 786), o</p><p>que modificou o entendimento firmado pelo STJ.</p><p>Ao analisar o caso em julgamento, a magistrada destacou que, mesmo tendo o acórdão do</p><p>TJMT reconhecido o direito do apelado ao esquecimento, por causa da absolvição e do tempo</p><p>transcorrido desde a publicação da notícia, a nova orientação do STF deve prevalecer.</p><p>Dessa forma, Nancy Andrighi concluiu que o direito ao esquecimento, "porque incompatível</p><p>com o ordenamento jurídico brasileiro", não é capaz de justificar a atribuição da obrigação de excluir</p><p>a publicação jornalística relativa a fatos verídicos,</p><p>devendo ser afastada a exigência de exclusão da</p><p>notícia imposta à Editora Globo.</p><p>Leia o acórdão do REsp 1.961.581.</p><p>Fonte: https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/08032022-Direito-ao-</p><p>esquecimento-nao-justifica-obrigacao-de-excluir-noticia-de-site--decide-Terceira-Turma.aspx</p><p>1.2.1 Dar ao outrem</p><p>Como pensar a existência humana sem a presença do outro? A existência do outro é</p><p>fundamental não só para minha sobrevivência, mas, sobretudo, para a realização da</p><p>https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1286867&num_registro=201202111500&data=20131213&formato=PDF</p><p>https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1286867&num_registro=201202111500&data=20131213&formato=PDF</p><p>https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1237428&num_registro=201100574280&data=20130910&formato=PDF</p><p>https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=2076785&num_registro=201201449107&data=20220201&formato=PDF</p><p>https://portal.stf.jus.br/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=5091603&numeroProcesso=1010606&classeProcesso=RE&numeroTema=786</p><p>https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=2126961&num_registro=202100929384&data=20211213&formato=PDF</p><p>16</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>humanidade que existe em cada pessoa. E aqui, me refiro ao outro, ou aos outros, não só</p><p>pessoa humana, mas ao próprio planeta como um todo. Neste processo de interação dos</p><p>seres humanos entre si e destes com a própria natureza, não é difícil de perceber que a</p><p>mesma relação de dominação e exploração que marcou a história da humanidade até o</p><p>presente momento, também é a história de dominação exploração do homem sobre a</p><p>natureza.</p><p>Muito embora, ao longo de nossa pequena existência sobre a Terra tenhamos lutado</p><p>para transformar o convívio humano em relações mais justas, ainda estamos em um</p><p>processo embrionário. Algumas sociedades já conseguiram estabelecer relações mais</p><p>equitativas entre seus indivíduos. No entanto, ainda estamos longe de estender esse</p><p>processo civilizatório a outras coletividades, bem como estamos diante de outro grande</p><p>desafio, que é a coexistência de sociedades (Estados) a partir de um ideal de justiça. Ainda,</p><p>parece ser muito difícil tratar, por exemplo, imigrantes como iguais. Se não é fácil tratar</p><p>membros de uma mesma sociedade como igual, imagine indivíduos de outras</p><p>nacionalidades.</p><p>Está enraizada em nossas práticas culturais que o “justo é aquilo que é bom para mim”.</p><p>A medida da justiça, neste caso, não passa pela alteridade, mas pelo individualismo de cada</p><p>um. Deslocar a percepção de que o que é bom ou justo deve ser interpretado a partir de</p><p>uma relação com o outro é um desafio para o processo civilizatório.</p><p>Neste sentido, o processo educativo (formal ou não) tem um papel fundamental. A</p><p>criança desde sua primeira infância precisa ser educada para incorporar em sua existência a</p><p>existência do outro. Desde as pequenas coisas, por exemplo: fulano não fale alto, seu irmão</p><p>está estudando; comprei um para você e outro para seu irmão; o brinquedo não é só para</p><p>você, todos têm que brincar; precisamos economizar, pois sua irmã vai entrar para</p><p>universidade; não jogue papel no chão, contribua com limpeza de sua casa, da escola, das</p><p>ruas...; cuide de seu quintal para que o mosquito da dengue não se espalhe; não fume</p><p>perto de outras pessoas que não têm esse vício, pois você as estará prejudicando;espere, o</p><p>outro também quer falar; e etc. Na verdade, estamos nos esquecendo de pequenas coisas</p><p>que, ao final, se transformam em grandes coisas, como a consciência da existência do</p><p>outro, sem a qual não é possível falar em justiça, muitos menos sermos chamados de</p><p>civilizados.</p><p>1.2.2 O devido</p><p>Entende-se por devido aquilo que está ligado à obrigatoriedade ou exigibilidade a</p><p>partir de uma relação com o outro (Montoro, 2016). Dar ao outro o que é devido é</p><p>17</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>reconhecer que o outro com quem eu convivo também é um sujeito de direitos. Se por um</p><p>lado estou obrigado, por um dever de consciência, a agir levando em conta a ideia de justo</p><p>(devido), por outro lado, caso não o faça, o outro pode exigir uma postura nessa direção.</p><p>É importante destacar que dar a cada um aquilo que lhe corresponde deve se tornar</p><p>um hábito em meio à nossa convivência social. Entende-se por hábito a “reiteração de atos</p><p>voluntários que se destinam à realização de fins” (Bittar; Almeida, 2022, p. 209). Os fins</p><p>aqui estão relacionados com a justiça. Então, nesta perspectiva, o hábito é uma virtude que</p><p>se repete em nosso existir cotidiano. O homem virtuoso é o homem justo. “A justiça tem a</p><p>ver com uma atividade da razão prática, de discernir o meu do seu, e o seu do meu” (Bittar;</p><p>Almeida, 2022, p. 210). No Brasil temos uma péssima tradição em separar o público do</p><p>privado. Vejam como exemplo a notícia publicada pelo “Congresso em Foco” em março de</p><p>2018.</p><p>Cada deputado custa mais de R$ 2 milhões por ano</p><p>Plenário da Câmara: despesas com os 513 deputados chegam a R$ 1 bilhão por</p><p>ano</p><p>Salário de R$ 33.763, auxílio-moradia de R$ 4.253 ou apartamento de graça para morar,</p><p>verba de R$ 101,9 mil para contratar até 25 funcionários, de R$ 30.788,66 a R$ 45.612,53</p><p>por mês para gastar com alimentação, aluguel de veículo e escritório, divulgação do</p><p>mandato, entre outras despesas. Dois salários no primeiro e no último mês da legislatura</p><p>como ajuda de custo, ressarcimento de gastos com médicos.</p><p>Esses são os principais benefícios a que um deputado federal brasileiro tem direito. Entre</p><p>salários e outras benesses atreladas ao mandato, cada um deles custa ao contribuinte R$</p><p>2,14 milhões por ano, ou R$ 179 mil por mês. Somadas as despesas com todos os 513</p><p>integrantes da Câmara, as despesas chegam a R$ 91,8 milhões todo mês. Ou R$ 1,1 bilhão</p><p>por ano.</p><p>Os dados são de levantamento do Congresso em Foco com base nos valores atualizados</p><p>dos benefícios dos parlamentares na Câmara (veja a lista abaixo).</p><p>Veja a tabela de benefícios:</p><p>http://static.congressoemfoco.uol.com.br/2016/03/gastosdeputados500.jpg</p><p>18</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Carros oficiais. São 11 carros para uso dos seguintes deputados: o presidente da</p><p>Câmara; os outros 6 integrantes da Mesa (vice e secretários, mas não os suplentes); o</p><p>procurador parlamentar; a procuradora da Mulher; o ouvidor da Casa; e o presidente do</p><p>Conselho de Ética.</p><p>Disponível em: <http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/cada-deputado-custa-r-2-milhoes-por-</p><p>ano/>. Acesso em: 22 maio 2024.</p><p>1.2.3 Da igualdade</p><p>“A essência da justiça é a igualdade” postula Tomás de Aquino (Montoro, 2016,</p><p>172). Podemos afirmar que uma sociedade justa ou civilizada, é aquela em que os seus</p><p>membros se reconhecem como iguais. Reconhecer-se como um igual é reconhecer que o</p><p>outro tem a mesma liberdade de escolher e se autodeterminar. Tomemos como exemplo o</p><p>machismo, nesse preconceito está enraizada a compreensão de que a mulher não é um</p><p>igual, e dessa forma, não tem a liberdade escolher o que lhe convém. Sem medo de errar,</p><p>diria que ver-se como igual é um dos maiores desafios do mundo contemporâneo.</p><p>A ideia de igualdade deve permear a vida em coletividade. Segundo João XXIII</p><p>(MONTORO, 2016, p. 175), “fundamental é o princípio de que cada ser humano é pessoa,</p><p>isto é, uma natureza dotada de inteligência e vontade livre”. Sejam quais forem as relações</p><p>em um espaço coletivo – indivíduo/indivíduo, sociedade/indivíduo, ou indivíduo/Estado –,</p><p>todas devem ser marcadas por essa dimensão fundamental da natureza humana, somos</p><p>livres e iguais.</p><p>A liberdade e a igualdade são as bases de uma organização social, desconsiderá-las</p><p>no processo civilizatório, é caminhar por uma estrada de violências</p><p>contra a dignidade da</p><p>pessoa humana. É injusto, afirmou Leão XIII (1891, apud MONTORO, 2016, p. 176),</p><p>quando tratam o trabalhador como escravo, quando é de justiça que se respeite nele a</p><p>dignidade do homem. Não somos coisa, nem máquinas, muito menos objetos colocados à</p><p>disposição do lucro. O ser humano não vale o quanto pesa, ou o quanto trabalha, pois o</p><p>que nos distingue enquanto seres humanos não é a força de nossos músculos, mas a nossa</p><p>capacidade de escolher, um dos pilares da dignidade da pessoa humana.</p><p>A partir da Segunda Guerra Mundial fomos consolidando internacionalmente como</p><p>fundamento dos diferentes sistemas normativos o princípio da igualdade, da liberdade e da</p><p>dignidade da pessoa humana. Esses valores passaram a ser declarados como direitos</p><p>humanos fundamentais de todos os povos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos de</p><p>1948 expressa em seu art. 1º: “Todas os seres humanos nascem livres e iguais em</p><p>http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/cada-deputado-custa-r-2-milhoes-por-ano/</p><p>http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/cada-deputado-custa-r-2-milhoes-por-ano/</p><p>19</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos</p><p>outros com espírito de fraternidade”.</p><p>Em síntese, falar sobre justiça é falar sobre igualdade, um dos fundamentos da</p><p>existência humana. O agir da pessoa humana deve ter como medida e referência a</p><p>compreensão de que somos iguais. É a partir dessa premissa que iremos organizar a nossa</p><p>vida coletiva. Sejamos negros, índios, brancos, pardos, pobres ou ricos, algo é inerente a</p><p>todos nós, somos iguais, livres e detentores da mesma dignidade. Pese que a realidade</p><p>histórica na qual estejamos inseridos, na sua grande maioria das vezes, negue tal fato.</p><p>O nosso trabalho enquanto humanidade é no sentido de pavimentar o caminho</p><p>dessa realidade intrínseca da nossa existência. Ninguém poderá dormir em paz neste</p><p>mundo enquanto um ser humano continuar oprimindo o outro. Nenhuma sociedade viverá</p><p>em paz e harmonia enquanto a lógica de sua existência estiver calcada na lógica da</p><p>dominação e exploração de uns sobre os outros e da própria natureza. Cada um de nós</p><p>deve buscar dentro de seu próprio universo (família, trabalho, religião) contribuir neste</p><p>processo de humanização da sociedade, opondo-se frontalmente contra tudo aquilo que as</p><p>negue: “Toda a gente tem a missão e obrigação de esmagar em toda a parte, onde ela se</p><p>erag, a cabeça da hidra que se chama o arbítrio e a ilegalidade (Ihering, 2017).</p><p>Enfim, neste sentido, cabe destacar uma importante decisão da Terceira Turma do</p><p>Superior Tribunal de Justiça (STJ) que estabeleceu a tese fixada pelo Superior Tribunal</p><p>Federal (STF) haja vista as ações de inventário em que ainda não foi proferida</p><p>a sentença de partilha, e mesmo que tenha havido, no curso do processo, decisão que</p><p>excluiu companheiro da sucessão, foi firmada a inconstitucionalidade referente à distinção</p><p>de regimes sucessórios na qual alcança decisão anterior que prejudicou companheira.</p><p>Vejamos:</p><p>DECISÃO</p><p>17/08/2021 09:30</p><p>Inconstitucionalidade da distinção de regimes sucessórios alcança decisão anterior que</p><p>prejudicou companheira</p><p>Ao analisar a modulação dos efeitos do Tema 809 da repercussão geral, a Terceira Turma do</p><p>Superior Tribunal de Justiça (STJ) estabeleceu que a tese fixada pelo Supremo Tribunal Federal</p><p>(STF) se aplica às ações de inventário em que ainda não foi proferida a sentença de partilha, mesmo</p><p>que tenha havido, no curso do processo, decisão que excluiu companheiro da sucessão.</p><p>No precedente do STF, foi declarada a inconstitucionalidade da distinção de regimes</p><p>sucessórios entre cônjuges e companheiros, prevista no artigo 1.790 do Código Civil de 2002.</p><p>http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=4744004&numeroProcesso=878694&classeProcesso=RE&numeroTema=809</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm#art1790</p><p>20</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Entretanto, o STF modulou os efeitos da decisão para aplicá-la "aos processos judiciais em que</p><p>ainda não tenha havido trânsito em julgado da sentença de partilha, assim como às partilhas</p><p>extrajudiciais em que ainda não tenha sido lavrada escritura pública".</p><p>Herdeiros questionaram no STJ a decisão do juízo do inventário que incluiu a companheira de</p><p>seu falecido pai na partilha de um imóvel comprado por ele antes da união estável, pois ela já havia</p><p>sido excluída da divisão desse bem, com base no artigo 1.790 do CC/2002, em decisão anterior ao</p><p>julgamento do STF.</p><p>A decisão do juízo do inventário foi mantida pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos</p><p>Territórios, segundo o qual, com a declaração de inconstitucionalidade do artigo 1.790 pelo STF,</p><p>deveria ser aplicado ao caso o artigo 1.829, inciso I, do Código Civil, admitindo-se a companheira</p><p>como herdeira concorrente na sucessão, inclusive em relação ao imóvel submetido à partilha.</p><p>Para os herdeiros, as decisões que, antes do precedente do STF, aplicaram o artigo 1.790</p><p>do CC/2002 e excluíram o imóvel da concorrência hereditária, estariam acobertadas pela</p><p>imutabilidade decorrente da preclusão e da coisa julgada formal, motivo pelo qual não poderiam</p><p>ser alcançadas pela superveniente declaração de inconstitucionalidade.</p><p>Modulação de efeitos tem interpretação restritiva</p><p>A relatora, ministra Nancy Andrighi, explicou que a lei incompatível com o texto constitucional</p><p>padece do vício de nulidade e, como regra, a declaração da sua inconstitucionalidade produz</p><p>efeitos ex tunc (retroativos). Contudo, ela lembrou que, excepcionalmente – por razões como a</p><p>proteção à boa-fé, tutela da confiança e previsibilidade –, pode ser conferida eficácia prospectiva</p><p>(efeito ex nunc) às decisões que declaram a inconstitucionalidade de lei.</p><p>"As interpretações subsequentes da modulação de efeitos devem ser restritivas, a fim de que</p><p>não haja inadequado acréscimo de conteúdo exatamente sobre aquilo que o intérprete autêntico</p><p>pretendeu, em caráter excepcional, proteger e salvaguardar", ressaltou.</p><p>Segundo Nancy Andrighi, a preocupação do STF, ao modular os efeitos de sua decisão no</p><p>Tema 809, foi a de tutelar a confiança e conferir previsibilidade às relações finalizadas sob as regras</p><p>antigas – isto é, nas ações de inventário concluídas em que foi aplicado o artigo 1.790 do CC/2002.</p><p>Sentença baseada em lei inconstitucional é inexigível</p><p>No caso em análise, a ministra verificou que não houve trânsito em julgado da sentença de</p><p>partilha, mas somente a prolação de decisões sobre a concorrência hereditária de um bem</p><p>específico.</p><p>Para a magistrada, foi lícito ao juízo do inventário rever a decisão que havia excluído a</p><p>companheira do falecido da sucessão hereditária com base no artigo 1.790 do CC/2002, incluindo-a</p><p>na sucessão antes da prolação da sentença de partilha, em virtude do reconhecimento da</p><p>inconstitucionalidade do dispositivo legal pelo STF.</p><p>A relatora lembrou que, desde a reforma promovida pela Lei 11.232/2005, a declaração</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm#art1829I</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11232.htm</p><p>21</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>superveniente de inconstitucionalidade de uma lei pelo STF torna inexigível a sentença baseada nela</p><p>– matéria suscetível de ser arguida na impugnação ao cumprimento de sentença, ou seja, após o</p><p>trânsito em julgado. Por esse motivo, o juízo deve deixar de aplicar a lei inconstitucional antes</p><p>da sentença de partilha, marco temporal eleito pelo STF para modular os efeitos da tese fixada no</p><p>julgamento do Tema 809.</p><p>Leia o acórdão no REsp 1.904.374.</p><p>Fonte:https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/17082021-</p><p>Inconstitucionalidade-da-distincao-de-regimes-sucessorios-alcanca-decisao-anterior-que-prejudicou-</p><p>companheira.aspx. Acesso em:</p><p>01 nov. 2022.</p><p>1.3 As espécies de justiça: a justiça corretiva, distributiva e a justiça social</p><p>“Devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os</p><p>desiguais, na medida de sua desigualdade” (Aristóteles).</p><p>Como já mencionado anteriormente, a temática da justiça está longe de ser um</p><p>consenso. Entretanto, a proposta desta disciplina Introdução ao Direito não é esgotar o</p><p>assunto, mas apresentar os pontos convergentes sobre o tema. Nesta direção, vamos</p><p>trabalhar com a compreensão de Montoro (2016), e de Bittar e Almeida (2022), sobre</p><p>justiça, que encontra em Aristóteles a fundamentação para formulação de seu conceito.</p><p>Segundo Montoro (2016, p. 177), são “três espécies fundamentais de justiça: a</p><p>comutativa, a distributiva e a social (...)”. Na sequência, buscar-se-á apresentá-las de forma</p><p>mais objetiva e contextualizada possível.</p><p>1.3.1 A justiça corretiva: comutativa e reparativa</p><p>A justiça corretiva, designada por Montoro (2016), como comutativa, é a justiça que</p><p>se estabelece a partir das relações dos indivíduos dentro de uma determinada coletividade.</p><p>Nessa relação não há subordinação, pois se dá entre iguais, agindo os indivíduos em</p><p>paridade de direitos e obrigações (Bittar; Almeida, 2022). Estamos falando aqui em relações</p><p>horizontais.</p><p>A preocupação fundamental da justiça corretiva é que as partes envolvidas em uma</p><p>relação não se apropriem daquilo que é do outro, e, se assim o fizer, sua obrigação é por</p><p>justiça garantir ao outro seu status quo anterior. Segundo Bittar e Almeida (2022), o justo</p><p>corretivo se divide em duas partes: o justo particular comutativo e o justo particular</p><p>reparativo.</p><p>https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=2040232&num_registro=202001437688&data=20210415&peticao_numero=-1&formato=PDF</p><p>https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/17082021-Inconstitucionalidade-da-distincao-de-regimes-sucessorios-alcanca-decisao-anterior-que-prejudicou-companheira.aspx</p><p>https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/17082021-Inconstitucionalidade-da-distincao-de-regimes-sucessorios-alcanca-decisao-anterior-que-prejudicou-companheira.aspx</p><p>https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/17082021-Inconstitucionalidade-da-distincao-de-regimes-sucessorios-alcanca-decisao-anterior-que-prejudicou-companheira.aspx</p><p>https://kdfrases.com/frase/120428</p><p>https://kdfrases.com/frase/120428</p><p>22</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>a) Justo particular comutativo: É uma espécie de justiça aplicável nas relações</p><p>contratuais entre particulares, como por exemplo, nas relações de compra e venda, locação,</p><p>empréstimo e depósito. Essas relações são caracterizadas pela liberalidade que os</p><p>envolvidos têm para fazer acordos e contratos. Aqui prevalece a expressão popular “um</p><p>negócio só é bom quando ambas as partes saem satisfeitas”. De modo que quando no</p><p>pactuado uma das partes foi favorecida, cria-se um desequilíbrio, devendo-se por justiça ser</p><p>restabelecida a igualdade entre as partes, ou melhor, o reequilíbrio do que voluntariamente</p><p>foi contratado (Bittar; Almeida, 2022).</p><p>b) Justo particular reparativo: Aqui estamos falando de uma espécie de justiça</p><p>reparativa, necessária para resolver as situações involuntárias que emergem na convivência</p><p>em sociedade, por exemplo, um acidente de trânsito. No caso em concreto, a parte que deu</p><p>causa ao acidente deverá reparar o dano ou indenizar a vítima, de modo a restabelecer o</p><p>status quo anterior. Seja reparando ou compensando, é justo que o autor se responsabilize</p><p>por devolver à vítima sua condição anterior ao fato, e, assim não sendo possível, compensá-</p><p>la de maneira mais justa possível, a fim de amenizar o dano causado (Bittar; Almeida,</p><p>2022).</p><p>Em síntese, a justiça corretiva, comutativa ou reparativa objetiva que um particular</p><p>dê ao outro particular aquilo que lhe é devido. Não importa se a obrigação decorra de uma</p><p>relação contratual, ou de uma relação acidental entre particulares. Fato é que na relação</p><p>entre particulares, caracterizadas pela horizontalidade (igualdade das partes), não é justo</p><p>que alguém se aproprie daquilo que é do outro.</p><p>1.3.2 A justiça distributiva</p><p>Na justiça distributiva como o próprio nome já diz, a sociedade dá a cada membro</p><p>de sua coletividade o bem que lhe é devido segundo uma proporcionalidade. Faz-se justiça</p><p>à medida que uma determinada coletividade distribui aos seus membros de forma</p><p>proporcional às suas riquezas. Ônus e bônus, trabalho e riqueza, impostos e isenções</p><p>devem ser partilhados por todos proporcionalmente, levando em conta as desigualdades</p><p>Vamos refletir!</p><p>A honestidade em nossa cultura deveria ser uma virtude, uma prática</p><p>comum dos indivíduos que a compõe. Contudo, vale nos perguntar: será que o</p><p>nosso povo não é honesto? Será que a imagem que temos de uma cultura</p><p>desonesta não construiu muito em função da corrupção de nossa classe política?</p><p>23</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>existentes em seu ambiente coletivo. A notícia abaixo mostra de forma lapidar a inversão do</p><p>que estamos chamando de justiça distributiva.</p><p>2,4% detêm mais da metade das isenções de IR</p><p>Adriana Fernandes e Idiana Tomazelli</p><p>Os 2,4% mais ricos entre os declarantes do Imposto de Renda Pessoa Física [...] detêm R$</p><p>463,87 bilhões em rendimentos isentos de tributação - o equivalente a 55% do total de R$</p><p>844 bilhões que ficaram livres do imposto em 2017. O levantamento feito pelo</p><p>'Estadão/Broadcast' a partir de dados da Receita Federal revela o tamanho das distorções</p><p>na tributação do Imposto de Renda no Brasil.</p><p>A proporção de isenção sobre o rendimento total é maior quanto mais rico é o contribuinte.</p><p>Segundo dados da Receita, quem ganhou mais de R$ 70,4 mil mensais em 2016 teve cerca</p><p>de dois terços da renda isentos de tributação. "Fala-se muito de benefícios como isenção</p><p>de lucros e dividendos, mas não é só o setor privado. Não são só os empresários. É um</p><p>conjunto de benefícios que estão no topo da pirâmide. No funcionalismo há um volume</p><p>enorme de isenções que também são concentradoras de renda", diz Rodrigo Orair,</p><p>especialista em tributação e diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado.</p><p>Disponível em: <https://invest.exame.com/mf/24-dos-declarantes-do-ir-detem-r-463-bi-isentos-de-</p><p>tributacao>. Acesso em: 01 nov. 2022.</p><p>Aqui se impõe a ideia aristotélica de justiça, com a qual abrimos este debate: tratar</p><p>iguais como iguais e os desiguais, na medida de sua desigualdade (Aristóteles, 1979, apud</p><p>Bittar; Almeida, 2022). Nesta perspectiva incorporamos um elemento fundamental ao</p><p>conceito de justiça distributiva, o princípio da proporcionalidade. Ser justo, não é apenas</p><p>distribuir igualmente (aritmeticamente)</p><p>dois pães para cada indivíduo que</p><p>compõe o grupo, mas, antes de fazer a</p><p>divisão, levar em conta se todos</p><p>padecem da mesma necessidade, pois</p><p>há entre nós pessoas que mais</p><p>necessitam. Posto isto, far-se-á a</p><p>distribuição de acordo com a</p><p>necessidade de cada um.</p><p>Fonte: https://bit.ly/2JbVdLi</p><p>Segundo Bobbio (1996, p.32),</p><p>[...] não é supérfluo chamar a atenção para o fato de que, precisamente a</p><p>fim de colocar indivíduos desiguais por nascimento nas mesmas condições</p><p>de partida, pode ser necessário favorecer os mais pobres e desfavorecer os</p><p>24</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>mais ricos, isto é, introduzir artificialmente ou imperativamente,</p><p>discriminações que, de outro modo não existiriam [...].</p><p>Ser justo em um Estado democrático de direito não é apenas dar o mesmo pedaço</p><p>do bolo para cada um, seja ônus ou bônus, mas identificar dentro de cada sociedade</p><p>necessidades mais urgentes e menos urgentes, e, aí sim, repartir o bolo. Só a título de</p><p>exemplificação, abaixo se encontra transcrito uma pequena conclusão a que chegou o</p><p>Relatório da OXFAM de janeiro de 2018.</p><p>O ano passado registrou o maior</p><p>aumento no número de bilionários da história – um novo</p><p>bilionário a cada dois dias. Esse aumento teria sido suficiente para acabar mais de sete</p><p>vezes com a pobreza extrema global. Oitenta e dois por cento de toda a riqueza gerada no</p><p>ano passado ficaram nas mãos do 1% mais ricos e nada ficou com os 50% mais pobres. O</p><p>trabalho insalubre e mal remunerado de muitos garante a riqueza extrema de poucos. As</p><p>mulheres estão nos piores postos de trabalho e quase todos os bilionários do planeta são</p><p>homens. Governos devem criar uma sociedade mais igualitária, priorizando trabalhadores e</p><p>pequenos produtores de alimentos e não os super-ricos e poderosos.</p><p>Disponível em:</p><p><https://casafluminense.org.br/oxfam-relatorio-desigualdade-</p><p>genero/#:~:text=Esse%20aumento%20teria%20sido%20suficiente,a%20riqueza%20extrema%20d</p><p>e%20poucos>. Acesso em: 22 maio 2024.</p><p>Devemos ser honestos e observar que no Brasil, desde a sua colonização, ônus e</p><p>bônus são distribuídos entre os brasileiros de forma desproporcional. Criamos ao longo dos</p><p>séculos uma das sociedades mais desiguais e com privilégios do mundo. Leia o texto, a</p><p>seguir.</p><p>O Brasil gasta mais com funcionalismo que EUA, Portugal e França</p><p>Ariana Carneiro</p><p>Maeli Prado</p><p>Em relatório divulgado [...] o Banco Mundial mostra que os gastos do país com servidores</p><p>(de todas as esferas de governo) alcançaram 13,1% do PIB em 2015 (último dado</p><p>disponível). Há dez anos, o número era de 11,6%, o que colocava o Brasil atrás dos</p><p>europeus. [...]</p><p>Segundo levantamento do Banco Mundial com base nos dados do IBGE, o setor público</p><p>paga em média salários 70% mais elevados do que os pagos pela iniciativa privada formal</p><p>—R$ 44.000 contra R$ 26.000 por ano— e quase três vezes mais do que recebem os</p><p>trabalhadores informais (R$ 16.000 anuais).</p><p>“O governo federal paga salários ainda mais altos. Com base em dados de 2016, os</p><p>militares brasileiros recebem, em média, mais do que o dobro pago pelo setor privado (R$</p><p>https://casafluminense.org.br/oxfam-relatorio-desigualdade-genero/#:~:text=Esse%20aumento%20teria%20sido%20suficiente,a%20riqueza%20extrema%20de%20poucos</p><p>https://casafluminense.org.br/oxfam-relatorio-desigualdade-genero/#:~:text=Esse%20aumento%20teria%20sido%20suficiente,a%20riqueza%20extrema%20de%20poucos</p><p>https://casafluminense.org.br/oxfam-relatorio-desigualdade-genero/#:~:text=Esse%20aumento%20teria%20sido%20suficiente,a%20riqueza%20extrema%20de%20poucos</p><p>25</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>55.000 por ano), e os servidores federais civis ganham cinco vezes mais que trabalhadores</p><p>do setor privado (R$130.000 por ano). A remuneração média por funcionário é</p><p>excepcionalmente alta no Ministério Público Federal (R$ 205.000 por ano), no Poder</p><p>Legislativo R$ 216.000 por ano) e no Poder Judiciário (R$ 236.000 por ano)", compara o</p><p>relatório.</p><p>Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/11/1936903-brasil-gasta-mais-com-</p><p>servidores-do-que-franca-e-eua-diz-banco-mundial.shtml>. Acesso em: 22 maio 2024.</p><p>1.3.3 A justiça social</p><p>Segundo Montoro (2016), a justiça social pode ser conceituada como a virtude pela</p><p>qual os membros de uma dada sociedade dão a esta sua contribuição para o bem comum,</p><p>levando-se em conta uma relação de igualdade proporcional entre os seus membros. Esse</p><p>conceito de justiça realça a importância do papel de cada indivíduo na construção do espaço</p><p>coletivo.</p><p>Como já refletido anteriormente, não somos uma ilha, muito pelo contrário,</p><p>necessitamos do outro. É próprio da natureza humana a vida em grupo. Assim, se somos</p><p>parte de uma coletividade, também somos responsáveis por ela, e é justo cobrar de cada</p><p>indivíduo um agir comprometido com o bem comum dessa mesma coletividade. Se nos</p><p>beneficiamos do todo, é justo devolver ao todo nossa parcela de contribuição.</p><p>O maior problema da justiça social é o individualismo que marcou o século XX. O</p><p>mundo moderno foi educando seus filhos a partir de uma lógica consumista e individualista,</p><p>dentro da qual os indivíduos não conseguem ir além de si mesmos (MONTORO, 2016). As</p><p>razões são inúmeras, mas fato é que o comportamento da coletividade como um todo tem</p><p>muita dificuldade de se inspirar no bem comum.</p><p>A consciência coletiva se encontra em uma profunda crise. Basta observar o trânsito,</p><p>as pessoas conduzem seus veículos como se o trânsito fosse pensado só para elas. As</p><p>pessoas têm o mau hábito de se apropriarem do que é público (de todos) como se delas</p><p>fossem, criamos uma cultura de condescendência com a corrupção, “pegue, porque se você</p><p>não pegar alguém vai pegar”. Nestes dias um Procurador da República fez uma pequena</p><p>reflexão, concluindo que a corrupção é a grande responsável pela violência que assola</p><p>nosso país. Disse, em outras palavras, que o crime organizado na política ao desviar</p><p>dinheiro público para outros fins (interesses privados) mata mais do que os crimes com o</p><p>emprego de arma de fogo. A corrupção na política é o que alimenta a violência na</p><p>sociedade brasileira, pois o dinheiro público, fruto de nossos impostos, quando desviados da</p><p>educação, da saúde, da segurança e da previdência social, matam os sonhos de nossas</p><p>http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/11/1936903-brasil-gasta-mais-com-servidores-do-que-franca-e-eua-diz-banco-mundial.shtml</p><p>http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/11/1936903-brasil-gasta-mais-com-servidores-do-que-franca-e-eua-diz-banco-mundial.shtml</p><p>26</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>crianças e jovens, e fere de morte o sonho dos brasileiros e brasileiras de uma vida mais</p><p>digna.</p><p>É urgente resgatarmos a compreensão de espaços públicos, de cidadania, de</p><p>consciência coletiva, de bem comum. Neste caso, a Escola desempenhará um papel</p><p>fundamental. É dentro dela que nossas crianças e jovens precisam a aprender sobre a</p><p>importância dos indivíduos na construção de seu espaço coletivo, e mais, aprender a ser</p><p>comprometido, responsável, por este espaço. Só assim faremos justiça social, ou seja,</p><p>seremos mais justos e mais comprometidos com a vida em sociedade. Como diz Norberto</p><p>Bobbio (1986), a educação para a cidadania é o único modo de fazer com que um súdito se</p><p>transforme em cidadão.</p><p>Antes de continuar seu estudo, realize os Exercícios 1 e 2 e</p><p>as Atividades 1 e 2.</p><p>Dica de aprofundamento</p><p>BITTAR, Eduardo C. B.; ALMEIDA, Assis de. Curso de Filosofia do Direito. 16.</p><p>ed. – Barueri [SP]: Atlas, 2022.</p><p>27</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>UNIDADE 2</p><p>O DIREITO COMO NORMA JURÍDICA</p><p>OBJETIVO DA UNIDADE: Compreender que o direito para ter força em uma</p><p>determinada coletividade organizada precisa ser positivado, de forma que dentro de um</p><p>Estado organizado, somente o direito elevado à condição de norma jurídica pelo poder</p><p>estatal, é que a todos poderá ser imposto.</p><p>Ao homem é inerente a capacidade racional de deliberação, o que</p><p>lhe permite agir aplicando a razão prática na orientação de sua</p><p>conduta social (Bittar, 2022, p. 164).</p><p>Fundamentalmente veremos agora, que a lei ou a norma é um dos instrumentos</p><p>mais eficientes e eficazes no processo de organização coletiva. É difícil pensar em uma dada</p><p>organização social sem um mínimo de regras que orientem a conduta dos membros da</p><p>sociedade. O homem é um ser racional e como tal age, pensando e estabelecendo leis com</p><p>o fim de tornar a existência em grupo civilizada. E como já vimos anteriormente, civilizado</p><p>aqui não é comer de garfo e faca, mas, e, sobretudo, tratar o outro como igual. Aristóteles,</p><p>ao discorrer sobre o “justo total”, vai defini-lo como a virtude da observância da lei, no</p><p>respeito àquilo que é legítimo e que vige para o bem da comunidade (Bittar; Almeida,</p><p>2022).</p><p>2.1 O conceito de lei e norma jurídica</p><p>Na unidade anterior estudamos o direito como uma forma de materialização de um</p><p>ideal de justiça, ou seja, o direito como a consciência de uma dada sociedade do que é</p><p>justo</p><p>em um determinado tempo e espaço. Agora, passaremos a pensar a lei/norma como a</p><p>concretização do direito, mais especificamente como direito positivado.</p><p>Antes, porém, vamos rapidamente tratar do sentido etimológico do vocábulo “lei”:</p><p>“legere, ligare e eligere”. “Legere”, verbo latino, significa “ler”, neste caso a lei é a norma</p><p>escrita que se “lê”, diferentemente das normas não escritas. “Ligare”, significa “ligar”,</p><p>“obrigar”, “vincular”, o que equivale dizer que a lei “liga, obriga, e vincula” uma pessoa a</p><p>determinadas obrigações coletivas. Por fim, “eligere”, significa, “eleger, escolher”, pois a lei</p><p>é a norma pensada e escolhida pelo legislador como melhor caminha para a pacificação</p><p>social (Montoro, 2016).</p><p>28</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Nessa perspectiva, o significado de lei incorpora esses três verbos latinos: “legere,</p><p>ligare e eligere”. A lei é a norma escrita que vincula o indivíduo a um dado comportamento</p><p>(fazer ou não fazer) escolhido, desejável, pela autoridade legisladora, objetivando o bem</p><p>comum. Então, seja com a denominação de “lei” ou “norma jurídica, estamos nos referindo</p><p>ao conjunto de regramentos que organizam a convivência coletiva. Segundo Nader (2024,</p><p>p. 77), “O Direito Positivo, em todos os sistemas, compõe-se de normas jurídicas, que são</p><p>padrões de conduta ou de organização social impostos pelo Estado, para que seja possível a</p><p>convivência dos homens em sociedade”. Embora pese posições divergentes, trabalharemos</p><p>aqui o conceito de lei e norma como sinônimas fossem.</p><p>Em nosso estudo podemos distinguir dois aspectos relevantes das normas jurídicas</p><p>que as diferenciam das demais regras sociais: o aspecto coercitivo e o aspecto material</p><p>(Montoro, 2016). Vamos entender melhor!</p><p>Primeiramente, quando se afirma que a norma tem uma dimensão coercitiva, está-se</p><p>dizendo que toda organização social (formalmente o Estado), tem o poder de impor aos</p><p>seus membros determinadas obrigações, como por exemplo, o pagamento de impostos.</p><p>Diferentemente das normas morais, as normas jurídicas representam uma coesão externa,</p><p>exercida pelo poder Estatal com o fim de impor determinado comportamento. Já as normas</p><p>morais são internas, dependem para o seu cumprimento da consciência moral de cada</p><p>indivíduo. Miguel Reale (2012, p. 95), ao discorrer sobre a norma jurídica ensina, “o que</p><p>efetivamente caracteriza uma norma jurídica, de qualquer espécie, é o fato de ser uma</p><p>estrutura proposicional enunciativa de uma forma de organização ou de conduta, que deve</p><p>ser seguida de maneira objetiva e obrigatória”.</p><p>Agora, quando nos referimos ao aspecto material da norma, a questão diz</p><p>respeito ao seu conteúdo. Neste caso, a compreensão do que é justo é algo indispensável</p><p>na consideração da norma jurídica. A questão aqui é se a norma implica ou não implica em</p><p>“dar a cada um o que é seu, segundo um critério de igualdade e proporcionalidade”,</p><p>conforme visto anteriormente. Diferentemente do positivismo de Hans Kelsen, para quem o</p><p>conceito de justiça não deve ser levado em conta na ciência do Direito, toda norma ou todo</p><p>sistema normativo que orienta a vida coletiva, deve estar permeado pelo conceito de justiça</p><p>(Bittar; Almeida, 2022). Vale a pena destacar que em nosso sistema normativo temos</p><p>muitas normas que são legais, mas do ponto de vista do que se entende por justo estão</p><p>bem distantes. Vejam por exemplo a notícia abaixo.</p><p>29</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Associação de juízes marca paralisação [...] em defesa do auxílio-moradia</p><p>Decisão é tomada após Ajufe realizar consulta entre associados sobre decisão do STF de</p><p>pautar tema para julgamento no plenário.</p><p>BRASÍLIA - O presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Roberto</p><p>Veloso, anunciou [...], por meio de nota, que os juízes federais farão uma paralisação no</p><p>dia 15 de março, uma semana antes do julgamento previsto no Supremo Tribunal Federal</p><p>(STF) sobre o auxílio-moradia da magistratura.(...)</p><p>AUXÍLIO-MORADIA</p><p>O fato da presidente do STF, Carmen Lúcia, pautar as ações que discutem o pagamento de</p><p>auxílio-moradia a juízes foi seguido de uma forte reação por parte da magistratura. Entre</p><p>as seis ações a serem julgadas no STF estão aquelas em que o ministro Luiz Fux concedeu</p><p>liminares em 2014 para estender o auxílio-moradia, no valor de R$ 4.378, a todos os juízes</p><p>do País.</p><p>Posteriormente, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) regulamentou a</p><p>concessão de auxílio-moradia aos membros do Ministério Público da União e dos Estados.</p><p>Fux levou três anos para liberar as ações para julgamento, o que só fez no fim de 2017.</p><p>Desde então, magistrados têm feito pressão pela manutenção do auxílio.</p><p>Reportagem publicada pelo Estado mostrou que o Fisco deixa de arrecadar R$ 360 milhões</p><p>ao ano em razão do tratamento tributário dado ao auxílio-moradia e a outros</p><p>"penduricalhos" recebidos.</p><p>Disponível em: <http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,associacao-de-juizes-marca-</p><p>paralisacao-para-o-dia-15-em-defesa-do-auxilio-moradia,70002209294>. Acesso em: 01 nov. 2022.</p><p>2.2 Características das normas jurídicas</p><p>A norma jurídica, de acordo com a opinião predominante dos autores, em especial a</p><p>de Paulo Nader (2024), ainda são revestidas das seguintes características: bilateralidade,</p><p>generalidade, abstratividade, e coercibilidade como vimos anteriormente.</p><p>Fonte: Friede; Carlos (2016, p. 60)</p><p>- Bilateralidade</p><p>Em regra, podemos afirmar que para todo direito existe a necessidade de uma</p><p>contraprestação. O Direito é um sistema de normas jurídicas que existe sempre vinculando</p><p>http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,carmen-lucia-marca-para-marco-julgamento-sobre-auxilio-moradia,70002199592</p><p>http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,carmen-lucia-marca-para-marco-julgamento-sobre-auxilio-moradia,70002199592</p><p>http://tudo-sobre.estadao.com.br/auxilio-moradia</p><p>http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,com-auxilios-juizes-deixam-de-pagar-r-360-mi-de-ir,70002185658</p><p>http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,associacao-de-juizes-marca-paralisacao-para-o-dia-15-em-defesa-do-auxilio-moradia,70002209294</p><p>http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,associacao-de-juizes-marca-paralisacao-para-o-dia-15-em-defesa-do-auxilio-moradia,70002209294</p><p>30</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>duas ou mais pessoas, atribuindo direito a uma parte e impondo obrigação à outra. Sempre</p><p>haverá em relação de natureza jurídica um sujeito ativo, portador do Direito subjetivo e</p><p>um sujeito passivo, que possui o dever ou a obrigação jurídica.</p><p>- Generalidade</p><p>Está impressa na lei uma determinação legal que a todos vincula, desde que se</p><p>achem em igual situação jurídica. A norma é preceito de ordem geral, pois não são</p><p>instituídas para atender ao interesse de determinada pessoa, mas sim para orientar o</p><p>comportamento coletivo. Da generalidade da norma resulta o princípio da isonomia: “todos</p><p>são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza [...]”, expresso nocaput do art.</p><p>5º da Constituição Federal.</p><p>- Abstratividade</p><p>Em regra, o conteúdo da norma jurídica é abstrato. Não tem como foco principal</p><p>situações particulares. Imagine você, quantas regras teríamos que instituir para cada</p><p>situação em particular, seria impossível. Assim, o objetivo da norma é descrever situações</p><p>abstratas, como, por exemplo, o crime de furto previsto no art. 155 do Código Penal –</p><p>“Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel” –, ao realizar o “tipo penal”, ou seja,</p><p>ao fazer o que você não deveria ter feito lhe será aplicado uma sanção. A norma jurídica</p><p>sempre irá descrever situações gerais de fazer ou não fazer.</p><p>No Brasil, só para exemplificar, temos um problema muito grave no legislativo que é</p><p>o casuísmo. Não foram poucas as vezes que o parlamento aprovou leis que objetivavam a</p><p>atender os interesses do grupo que estava no poder. Veja o caso do ex-presidente da</p><p>Câmara</p>

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