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<p>Imortalidade</p><p>Loraine Boettner</p><p>Copyright @ 2020, de Editora Monergismo</p><p>Publicado originalmente em inglês sob o título</p><p>Immortality</p><p>■</p><p>Todos os direitos em língua portuguesa reservados por</p><p>E������ M���������</p><p>SCRN 712/713, Bloco B, Loja 28 — Ed. Francisco Morato Brasília, DF, Brasil — CEP</p><p>70.760-620</p><p>www.editoramonergismo.com.br</p><p>■</p><p>1ª edição, 2020</p><p>Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto e Fernando de Macedo</p><p>Revisão: Felipe Sabino de Araújo</p><p>I. A morte física</p><p>1. Certeza e realidade da morte</p><p>2. Castigo do pecado</p><p>3. Três espécies de morte: espiritual, física e eterna</p><p>4. O cristão sujeito ainda à morte física</p><p>5. A atitude cristã perante a morte</p><p>6. Comentário de Calvino</p><p>7. A vida de cada qual como um plano consumado</p><p>8. Preparação para a morte</p><p>9. O que acontece na morte</p><p>10. Os cristãos não devem entristecer-se com os que estão sem</p><p>esperança</p><p>11. Orações pelos mortos</p><p>12. Sepultamento ou cremação?</p><p>II. Imortalidade</p><p>1. Exposição da doutrina</p><p>2. A imortalidade nas religiões antigas</p><p>3. A imortalidade como necessária para justificar a ordem moral</p><p>4. A vida presente é incompleta</p><p>5. O argumento da analogia</p><p>6. A imortalidade como ideia inata</p><p>7. A prova não deve ser obtida, nem científica nem filosoficamente</p><p>8. O ensino das Escrituras sobre a imortalidade</p><p>9. Resultados sadios da crença na imortalidade</p><p>III. O estado intermediário</p><p>1. Natureza e fim do estado intermediário</p><p>2. Sheol — Hades</p><p>3. A segunda provação</p><p>4. O sono da alma</p><p>5. Aniquilamento</p><p>6. Purgatório</p><p>7. Espiritismo</p><p>Sobre o livro</p><p>Sobre o autor</p><p>Endossos</p><p>I. A morte física</p><p>1. Certeza e realidade da morte</p><p>A morte e o além são, pela sua própria natureza, mistérios</p><p>insolúveis, a não ser pela revelação dada nas Escrituras. Há da</p><p>parte de muitas pessoas uma tendência natural para evitar qualquer</p><p>discussão séria ou até qualquer pensamento a respeito da morte.</p><p>Todos sabem, no entanto, que, mais tarde ou mais cedo, com o</p><p>decorrer do tempo, terão que passar pela morte. Cada povoação</p><p>tem o seu cemitério. Nada há mais certo a respeito da vida do que</p><p>este fato — a morte. Pode demorar muito a chegar, mas virá, sem</p><p>falta. Tanto a história como a experiência humanas apontam para tal</p><p>conclusão. Há mil e uma provas deste fato na vida daqueles que, à</p><p>nossa volta, têm sido chamado dentre os vivos. Ataques cardíacos e</p><p>outras doenças, acidentes, guerras, incêndios, etc., tudo isso tem</p><p>ceifado muitas vidas. A morte não respeita ninguém. Pode vir a</p><p>qualquer um, novo ou velho, rico ou pobre, santo ou pecador, em</p><p>qualquer altura e em qualquer lugar. E, quando Deus chama,</p><p>ninguém pode fugir, nem desculpar-se, nem tão pouco apresentar</p><p>qualquer álibi.</p><p>A revelação divina afirma solenemente que “aos homens está</p><p>ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo”</p><p>(Hebreus 9.27). Na verdade, a vida é curta, a morte é certa, e a</p><p>eternidade infinita.</p><p>Entramos na jornada da vida com grandes esperanças e ambições</p><p>crescentes. A vida parece cor de rosa; a morte, distante. Ano após</p><p>ano, a vida prossegue o seu rumo normal, suave e serenamente.</p><p>Lemos notícias dos milhares que morrem de fome, na Índia, e de</p><p>outros milhares que morrem afogados, na China; esses lugares,</p><p>porém, são distantes e não conhecemos essas pessoas que</p><p>morrem. Um vizinho, no prédio ao lado, morre. Isso faz-nos parar e</p><p>meditar. Mandamos flores e temos pena da família. Mas, mesmo</p><p>assim, este acontecimento não nos afeta diretamente e logo</p><p>continuamos com o nosso trabalho e nos entregamos às nossas</p><p>diversões. Há dentro de nós uma espécie de sentimento de</p><p>imunidade em relação à tragédia e à morte.</p><p>Mas eis que, repentinamente, desaparece a base do nosso mundo.</p><p>O nosso pai ou a nossa mãe, ou qualquer outra pessoa da família</p><p>ou um amigo, morre, deixando um doloroso vácuo. Tal experiência</p><p>já passou por cada um de nós. Vimos a fisionomia a transformar-se</p><p>e ouvimos, impotentes, o enfraquecer da respiração. Dissemos o</p><p>nosso último adeus e, num momento, o moribundo deixou de nos</p><p>ver e de nos ouvir, penetrando no desconhecido. O corpo que</p><p>estava, talvez, ontem ainda, cheio de vida e animação, jaz, agora,</p><p>perante nós, como um pedaço de barro inanimado. Há pouco ainda,</p><p>aquele a quem amávamos, estava junto de nós, a trabalhar e a falar</p><p>conosco; agora, talvez de repente, foi-se para tão longe, tão longe…</p><p>Quantos pensamentos confusos nos vêm à mente, naquele</p><p>momento, em busca de uma resposta! Nem a razão nem a</p><p>experiência nos podem dar essa resposta. Só a Bíblia tem uma</p><p>resposta para os pensamentos que surgem, confusa e</p><p>insistentemente.</p><p>Em tais momentos é possível que aconteça, como alguém escreveu</p><p>recentemente, que “o pai aflito que perde a sua fé ou a mãe, de</p><p>coração dilacerado, exclamem: que fiz eu para que isso me</p><p>acontecesse? É difícil responder a semelhantes perguntas</p><p>satisfatória e confortadoramente, pela simples razão de que, em tais</p><p>ocasiões, os que as fazem não se encontram num estado normal.</p><p>Um coração assim provado tem dificuldade em ser razoável. Um</p><p>coração dilacerado não quer saber da lógica. Quer conforto e paz.</p><p>Acima de tudo, quer voltar à página anterior, chamar à vida aquele</p><p>que partiu. Isto é impossível. A morte é por demais definitiva! Dela</p><p>não há regresso. Vem para ti e para os teus, como tem vindo para</p><p>milhões de outras pessoas — é um fato inevitável. Talvez venha</p><p>como ladrão de noite, ou talvez se aproxime lentamente depois de</p><p>um aviso inequívoco. Pode vir cedo, na vida, ou depois de longos</p><p>anos de felicidade. Mas tem de vir. A única forma de lhe escapar, é</p><p>nunca ter nascido”.[1]</p><p>As estatísticas dizem-nos que a população do mundo é de cerca de</p><p>2 bilhões e meio (Anuário Estatístico das Nações Unidas, 1954), e</p><p>que morrem, por ano, cerca de 30 milhões de pessoas.[2] Isto quer</p><p>dizer que morre, em média, no mundo, uma pessoa por segundo.</p><p>Pensai bem nisto! Cada vez que o ponteiro dos segundos dum</p><p>relógio anda, alguém morre! Morrem 60 pessoas por minuto, 3.600</p><p>por hora, e 84.000 por dia. E cada uma dessas pessoas, com muito</p><p>poucas exceções, deixa alguém com o coração dilacerado e</p><p>chorando. A tua hora e a minha ainda não chegaram. Mas chegarão</p><p>um dia.</p><p>O apóstolo Pedro descreve esta verdade, com uma eloquência</p><p>melancólica: “Pois toda carne é como a erva, e toda a sua glória,</p><p>como a flor da erva; seca-se a erva, e cai a sua flor; a palavra do</p><p>Senhor, porém, permanece eternamente” (1 Pedro 1.24, 25).</p><p>Poderíamos demonstrar que não só os indivíduos como também as</p><p>nações e as civilizações têm os seus períodos de crescimento e de</p><p>poder e, a seguir, de declínio e esquecimento. A História mostra, de</p><p>forma clara, que uma nação após outra dominou temporariamente,</p><p>na cena mundial, desaparecendo em seguida. A Assíria, a</p><p>Babilônia, a Pérsia, o Egito, a Grécia, Roma, o Império Napoleônico,</p><p>o terceiro Reich — um após outro tiveram os seus dias de glória, e</p><p>tornaram-se em seguida após num nome histórico. Arnold Toynbee,</p><p>na sua grande obra, A Study of History, demonstra que, desde o</p><p>alvor da História até os dias de hoje, houve 21 civilizações</p><p>diferentes, das quais apenas 7 sobrevivem ainda como potências</p><p>mundiais.</p><p>O grande poeta inglês Shelley descreve num dos seus livros umas</p><p>ruínas orientais que têm a seguinte inscrição:</p><p>Chamo-me Ozymandias, rei dos reis;</p><p>Ó poderosos, vede as minhas obras e desesperais!</p><p>E o poeta continua:</p><p>Nada mais resta. E volta do remanescente</p><p>Das colossais ruínas, infinitas e nuas,</p><p>Estendem-se, ao longo, as areias planas e sós.</p><p>2. Castigo do pecado</p><p>A verdade essencial que deveríamos ter em mente, a respeito da</p><p>morte, é que ela é o castigo do pecado. A Bíblia apresenta-nos</p><p>frequentemente esse ensino. Não é apenas o fim natural da vida.</p><p>Conserva o seu terrível domínio sobre nós, e estamos condenados</p><p>a morrer, porque somos pecadores. Quando o homem foi criado, foi</p><p>posto perante uma prova de pura obediência. Foi-lhe ordenado que</p><p>não comesse da árvore da ciência do bem e do mal; e o castigo</p><p>para a desobediência foi-lhe anunciado da seguinte maneira: “No</p><p>dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gênesis 2.17).</p><p>Adão desobedeceu deliberada e voluntariamente ao</p><p>e faremos desenvolver, pois</p><p>nos pertencerão para todo o sempre.</p><p>10. Os cristãos não devem entristecer-se com os que</p><p>estão sem esperança</p><p>É estranho um cristão entregar-se a uma dor imodesta quando um</p><p>ente querido parte, ou mostrar ressentimento contra um ato da</p><p>providência divina. Semelhante conduta não está de acordo com a</p><p>fé que professa. É natural que, em semelhante ocasião, estejamos</p><p>conscientes de um vazio penoso. Sabemos que deixamos de ouvir</p><p>as palavras carinhosas, de amor e úteis daquele que nos deixou. A</p><p>viúva chora agora a perda do seu marido, cuidando dos filhos</p><p>deixados órfãos; os pais sentem a falta da alegria da juventude,</p><p>quando um filho ou uma filha são levados. Choramos a morte dos</p><p>nossos amigos. Não seríamos humanos se não sentíssemos essa</p><p>perda. Mas devemos nos alegrar por sabermos que foram para o lar</p><p>celestial. Quem perde somos nós, e não eles. É apropriado durante</p><p>um funeral cristão. Jesus chorou junto do túmulo de Lázaro. A Bíblia</p><p>aprova o chorar, e o respeito pelos corpos dos que partiram deste</p><p>mundo. As Escrituras autorizam períodos de luto, dependendo do</p><p>caráter e da posição social do falecido. Mas a vestimenta preta, os</p><p>longos véus e os outros sinais tristes de luto, como é costume ver-</p><p>se, isso, sem dúvida, totalmente inapropriado. Acontece que se</p><p>abusa frequentemente do preto nos funerais, e que agimos como</p><p>que possuindo pouca fé. Devemos nos lembrar sempre de que</p><p>apenas sepultamos o corpo e não a alma daquele a quem amamos,</p><p>pois a alma partiu para o Senhor. O mundo deveria ver, muito</p><p>especialmente nos funerais cristãos, as bênçãos da fé. Há uma</p><p>oportunidade especial, nesse momento em que os corações estão</p><p>mais receptivos do que de costume, para testificar do poder</p><p>salvador de Cristo, apontando-o aos outros. As doutrinas cristãs</p><p>acerca da imortalidade da alma, do amor redentor de Deus pelo seu</p><p>povo, e da certeza das recompensas e castigos futuros, podem,</p><p>sem dúvida, ser apresentadas nesse momento com maior eficiência</p><p>do que nunca.</p><p>Dizem que, nos primeiros dias da Igreja, os pagãos ficavam</p><p>espantados perante a calma dos cristãos na hora da morte. Havia</p><p>algo, na maneira nobre e intrépida como sofriam, que a filosofia</p><p>pagã não podia explicar. Essa atitude parecia, então, estranha, e</p><p>ainda parece aos homens deste mundo pois não podem</p><p>compreender como é possível alguém contemplar, mansa e</p><p>calmamente, a morte. Os cristãos, esclarecidos pela Bíblia a</p><p>respeito da morte e das coisas espirituais, não temem a morte. Mas,</p><p>infelizmente, é verdade que muitos santos, fiéis, não receberam</p><p>ensino suficiente a este respeito, ou, pelo menos, não conseguiram</p><p>compreender todo o seu significado, e temem ainda, à maneira do</p><p>mundo, a morte. É nosso dever ajudá-los a alcançar uma maior</p><p>compreensão acerca destas verdades, para que possam possuir</p><p>aquela paz espiritual que, na verdade, deveriam gozar.</p><p>É evidente que é este o ensino apresentado nas Escrituras.</p><p>Escrevendo aos tessalonicenses, Paulo diz: “Não queremos, porém,</p><p>irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para</p><p>não vos entristecerdes como os demais, que não têm esperança”</p><p>(1Ts 4.13). Ao preparar os discípulos para a sua morte, disse Jesus:</p><p>“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o</p><p>mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João</p><p>14.27). E ainda: “Ouvistes que eu vos disse: vou e volto para junto</p><p>de vós. Se me amásseis, alegrar-vos-íeis de que eu vá para o Pai,</p><p>pois o Pai é maior do que eu” (João 14.28). Os discípulos não</p><p>exultaram, devido à sua incompleta compreensão do que estava</p><p>implícito nas palavras de Jesus; tampouco nos é fácil regozijar</p><p>quando alguém a quem amamos morre, ainda que saibamos que</p><p>esse alguém está salvo. Mas não há dúvida de que o Apóstolo João</p><p>― quando, na sua visão apocalíptica, viu uma grande multidão que</p><p>ninguém podia contar, de pé diante do trono, trajando vestidos</p><p>brancos, banhados pelo deslumbrante esplendor da luz inacessível,</p><p>e a ouvir chamar com grande voz, “Ao nosso Deus, que se assenta</p><p>no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação” (Apocalipse 7.10) ―</p><p>não podia ter pena ao saber que os seus amados ali se</p><p>encontravam.</p><p>Mostrar mágoa, em tais momentos, é pecar contra Deus. É, na</p><p>verdade, um desafio ao seu domínio providencial. Mais, significa</p><p>estarmos-nos a afastar de tal maneira, que temos que sofrer</p><p>sozinhos. Semelhantes atitudes criam um grande abismo entre</p><p>Deus e nós. Tampouco devemos fugir deliberadamente da dor,</p><p>procurando perdemo-nos numa orgia de atividades sem nexo. Isto</p><p>seria o mesmo que tomar um narcótico para abrandar a dor,</p><p>conseguindo apenas, na melhor das hipóteses, um alívio</p><p>temporário, mas deixando-nos, afinal de contas, pior do que antes.</p><p>O único meio que o cristão tem para fazer face aos desgostos, é</p><p>enfrentá-los da mesma maneira que o Mestre, calma e</p><p>corajosamente, com a fé implícita de que tudo quanto o nosso Pai</p><p>celestial faz, está bem feito: “A tua vontade seja feita, e não a</p><p>minha”. O que isto tem de sublime é que, mesmo o mais fraco e</p><p>ignorante de todos nós, pode possuir semelhante fé, se deixar</p><p>aberto o canal de comunicação entre ele e o Pai celestial.</p><p>Se morrerem os nossos entes queridos, ficando nós vivos, isto</p><p>significa que Deus tem ainda trabalho para nós fazermos. Quer este</p><p>trabalho seja em proveito dos outros, quer seja para o nosso próprio</p><p>progresso espiritual, Deus espera que nos adaptemos à nossa nova</p><p>situação, e façamos aquilo que é preciso fazer. Nós temos a</p><p>promessa da sua ajuda: “Sejam de ferro e de bronze os teus</p><p>ferrolhos, e, como os teus dias, durará a tua paz” (Deuteronômio</p><p>33.25). Ocupando-nos das tarefas que temos a cumprir, surgem</p><p>interesses novos e, talvez, outros campos de ação, inteiramente</p><p>novos, se nos abrem. É bom recordar, também, que o tempo é mui</p><p>grande remédio, e que, com o decorrer dos dias, ao afastarmo-nos</p><p>cada vez mais dos acontecimentos, a perda, ainda que sempre real,</p><p>torna-se menos dolorosa.</p><p>Embora, do nosso ponto de vista, a perda de um ente querido</p><p>pareça ser uma tragédia, sabemos que para ele, a sua morte foi o</p><p>dia da sua coroação. Sabemos que, mais cedo ou mais tarde,</p><p>teremos que passar pela mesma porta. Com exceção da perda</p><p>pessoal sofrida, devíamos regozijar-nos quando a bênção suprema</p><p>vem para os que amamos: e estar prontos a suportar, por eles ou</p><p>por elas, a solidão e a separação, da mesma maneira que uma mãe</p><p>o faz, quando a sua filha se casa e vai para longe, gozar a felicidade</p><p>do seu novo lar. Os nossos pensamentos são em demasia para</p><p>nosso agrado e derramamos lágrimas apenas por razões egoístas</p><p>que não queríamos ver frustradas. Se pensássemos, realmente, no</p><p>bem dos nossos amigos, teríamos uma face radiante, e regoziajar-</p><p>nos-íamos com a sua promoção para o reino celestial. A melhor</p><p>descrição desta mudança é ainda a das palavras de Paulo:</p><p>“Entretanto, estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo</p><p>e habitar com o Senhor” (2 Coríntios 5.8).</p><p>Além disso, aqueles que morreram, com certeza não quereriam,</p><p>mesmo se isso fosse possível, voltar a este mundo, com todo o seu</p><p>pecado e sofrimento, as suas injustiças e limitações. Regressar a</p><p>este mundo, depois de experimentar, por momentos que seja, a vida</p><p>celestial, estaria tão fora de propósito como o estaria para um</p><p>indivíduo formado uma Universidade, voltar a matricular-se na</p><p>instrução primária, ou para um Presidente dos Estados Unidos</p><p>demitir-se do seu alto posto, para trabalhar como operário ou</p><p>fazendeiro, por ter sido esse o trabalho que fizera na sua juventude.</p><p>Se a nossa visão pudesse ver através do véu que separa este</p><p>mundo do outro, de maneira a podermos compreender a beleza e a</p><p>glória do reino do além, com certeza derramaríamos menos</p><p>lágrimas e alegrar-nos-íamos muitíssimo mais, quando um dos</p><p>nossos queridos fosse para o lar celestial. Cristãos que estão tristes</p><p>e penam neste mundo, são como</p><p>Príncipes recém-nascidos chorando nos berços,</p><p>Desconhecendo que os reinados os esperam!</p><p>Quem escreve estas linhas achou a seguinte ilustração muito útil</p><p>para mostrar qual deveria ser a nossa atitude para com aqueles a</p><p>quem amamos</p><p>e que partem deste mundo. Suponhamos que</p><p>oferecem a uma pessoa da nossa família, ou a uma pessoa nossa</p><p>amiga, uma viagem à volta do mundo, com todas as despesas</p><p>pagas, com todas as acomodações e excursões planejadas,</p><p>juntamente com um grupo de pessoas de bom caráter e amigas.</p><p>Suponhamos que a viagem inclui uma excursão às Montanhas</p><p>Rochosas, e aos Estados da Costa do Pacífico, nos Estados</p><p>Unidos, e uma viagem de avião, ou num cruzeiro de luxo, ao Havaí,</p><p>Japão, Austrália, França e Inglaterra. Semelhante viagem seria um</p><p>grande privilégio. Significaria uma separação temporária, mas sentir-</p><p>nos-íamos felizes, porque o nosso amigo teve tal privilégio e</p><p>ficaríamos ansiosos por o tornarmos a ver, terminada a viagem. A</p><p>morte é, pouco mais ou menos, semelhante: laços pessoais</p><p>quebrados, separação temporária, e, de novo, reunião permanente</p><p>numa terra melhor. Até neste mundo, quando pessoas amigas se</p><p>reúnem, depois de anos de separação, o tempo passado como que</p><p>desaparece, como se não tivesse havido separação.</p><p>Além disso, em ocasião de luto, temos grande conforto na nossa fé</p><p>sabendo que o controle providencial de Deus se estende a todas as</p><p>coisas, e que mesmo as ações perniciosas de homens pecadores</p><p>são previstas, autorizadas e anuladas, para um bem maior. A nossa</p><p>limitada visão não permite, frequentemente, que compreendamos a</p><p>razão por que certos acontecimentos se dão. Mas se pudéssemos</p><p>ver todos os acontecimentos do ponto de vista divino e compreender</p><p>os propósitos de Deus ao fazer com que eles se deem,</p><p>verificaríamos, sem dúvida, que cada acontecimento tem um lugar</p><p>designado no plano divino, como um todo, e que serve para o nosso</p><p>bem. Há, com esse fim, a seguinte declaração do Apóstolo Paulo:</p><p>“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que</p><p>amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu</p><p>propósito” (Romanos 8.28). Estamos prontos a conceder que, agora,</p><p>muitas vezes, não parece ser assim. Segundo o nosso ponto de</p><p>vista, afigura-se-nos, muitas vezes, que mais poderia ser realizado,</p><p>se durássemos mais algum tempo. Mas não há dúvida de que, sob</p><p>o ponto de vida divino, a obra que compete a cada indivíduo fica</p><p>completa antes da sua partida para o além.</p><p>Há alguns anos, o Dr. Clarence E. Macartney afirmou-o com toda a</p><p>clareza, quando, ao falar do controle providencial de Deus, disse:</p><p>“Os chamados infortúnios e adversidades da vida, assumem uma</p><p>cor diferente, quando olhamos para eles por este prisma. É triste</p><p>dizer que certas pessoas, tentando viver de novo as suas vidas,</p><p>segredam para consigo: ‘Se tivesse escolhido outra profissão’, ‘Se</p><p>tivesse seguido outro caminho’, ‘Se tivesse casado com outra</p><p>pessoa’. Tudo isto é fraco e anti-cristão. Tecemos, de certo modo, o</p><p>fio do nosso destino com a nossas próprias mãos, ainda que Deus</p><p>tenha a sua parte. É a parte que Deus tem no nosso destino, e não</p><p>a nossa, que nos dá fé e esperança”.</p><p>Blaise Pascal, famoso matemático e escritor francês, ao escrever a</p><p>um amigo enlutado uma carta extraordinária, em vez de repetir os</p><p>costumados lugares comuns de consolação, confortou-o com esta</p><p>doutrina, dizendo: “Se olharmos para este acontecimento, não como</p><p>o resultado do acaso, não como uma necessidade fatal da natureza,</p><p>mas como um resultado inevitável, justo, santo, dum decreto da</p><p>divina providência, planejado desde a eternidade, para ser</p><p>executado em certo ano, dia e hora, e em determinado lugar, e de</p><p>certa maneira, adoraremos, silenciosa e humildemente, a</p><p>impenetrável elevação dos seus segredos; veneraremos a santidade</p><p>da sua providência; e, unindo a nossa vontade com a do próprio</p><p>Deus, desejaremos com ele, nele e para ele, as coisas que ele quis</p><p>de nós, desde a eternidade”.</p><p>11. Orações pelos mortos</p><p>Cremos que de nada serve orar pelos mortos. Este costume é</p><p>seguido pela Igreja Católica Romana, e está ligado, como resultado</p><p>lógico, com a doutrina do purgatório. A Alta Igreja Anglicana, a meio</p><p>caminho entre as igrejas católica e protestante mais numerosas,</p><p>segue, também o mesmo costume. Mas, praticamente, todas as</p><p>outras igrejas evangélicas o rejeitam.</p><p>As orações pelos mortos implicam que a sua condição ainda não</p><p>está definitivamente fixada, podendo ser melhorada a nosso pedido.</p><p>No entanto, sustentamos que não pode haver nenhuma mudança de</p><p>caráter nem de destino, depois da morte; o que somos, na hora da</p><p>morte, permaneceremos por toda a eternidade. Achamos, neste</p><p>sentido, grande abundância de ensino das Escrituras. Este mundo é</p><p>o único lugar onde existe uma oportunidade para salvação; e,</p><p>quando este período de prova terminar, permanecem, apenas, ou a</p><p>recompensa ou o castigo. Por isso, sustentamos que orações,</p><p>batismos, missas, ou outros ritos, quaisquer que sejam, pelos</p><p>mortos, são supérfluos, vãos e contra o ensino das Escrituras.</p><p>Os mortos justificados, comparecem imediatamente na presença de</p><p>Cristo, num ambiente perfeito de santidade, beleza e glória, em que</p><p>são satisfeitas todas as suas necessidades. Não precisam, portanto,</p><p>que se peça por eles. Não precisam de nada que pudesse ser</p><p>satisfeito pelas nossas orações. A sua condição é a mais perfeita</p><p>possível, até chegar o dia em que nós todos recebemos os nossos</p><p>corpos ressuscitados. Pedir a Deus que mude a condição dos seus</p><p>amados que estão na glória, ou sugerir que não está a fazer o</p><p>bastante por eles, é, para dizer o mínimo, altamente presunçoso,</p><p>ainda que as intenções sejam boas.</p><p>Quanto aos que morreram condenados, a sua condição é, também</p><p>definitiva e irrevogável. Tiveram a sua oportunidade. Pecaram contra</p><p>o seu dia da graça. Foi-lhes retirada, por consequência, a influência</p><p>elevadora e constrangedora do Espírito Santo. É compreensível que</p><p>amigos e parentes que ficaram neste mundo estejam preocupados a</p><p>seu respeito. Mas, qualquer resolução acerca do seu estado depois</p><p>da morte é exclusivamente, prerrogativa de Deus. A santidade e a</p><p>justiça de Deus são garantias suficientes de que, enquanto que</p><p>alguns serão recompensados mais do que merecem, ninguém será</p><p>punido mais do que merece.</p><p>É de grande significação o não haver nas Escrituras qualquer</p><p>exemplo de oração pelos mortos nem qualquer conselho para as</p><p>fazer. Podemos concluir, em face dos muitos conselhos para orar</p><p>por aqueles que estão no mundo, incluindo os nossos inimigos, que</p><p>o silêncio das Escrituras em relação às orações pelos mortos seria</p><p>inexplicável, se elas tivessem algum valor.</p><p>12. Sepultamento ou cremação?</p><p>Que devemos fazer com o corpo? É correto dizer que, afinal de</p><p>contas, aquilo que fazemos com o cadáver, não é assunto de</p><p>importância vital. Não cremos que na ressurreição haja qualquer</p><p>diferença entre aqueles que foram enterrados em sepulturas e</p><p>aqueles cujos corpos foram queimados, ou devorados pelas feras,</p><p>ou afogados no mar, ou despedaçados pelas explosões de bombas.</p><p>Não há dúvida de que os mártires que foram queimados por causa</p><p>da sua fé, e cujas cinzas foram espalhadas ao vento, se erguerão</p><p>na ressurreição e seus corpos não serão, em nada, menos gloriosos</p><p>do que os corpos daqueles que foram sepultados. Não existem</p><p>quaisquer restrições para o poder de Deus. Aquele que criou o</p><p>corpo do pó da terra, pode fazer surgir, de novo, aquele corpo que,</p><p>de qualquer maneira tenha sido desintegrado. Não há necessidade</p><p>de partículas idênticas para a ressurreição. Um marinheiro que</p><p>tenha sido sepultado no mar, ressurgirá, tão infalivelmente como se</p><p>tivesse sido ricamente embalsamado e sepultado em jazigo da</p><p>família.</p><p>Isto, porém, não quer dizer que não haja grande diferença entre</p><p>sepultamento e cremação. Em condições normais, não há dúvida de</p><p>que mostramos muito mais respeito pelos corpos dos nossos entes</p><p>queridos, se os fizermos sepultar sob uma camada de relva verde,</p><p>numa posição de repouso, ou como que dormindo, no melhor</p><p>estado de conservação possível. O corpo é, real e eternamente,</p><p>parte tão integrante do homem, como o é a sua alma; e a</p><p>ressurreição do corpo é uma parte indispensável da sua salvação.</p><p>Não podemos resolver, deliberadamente, pegar no corpo dum ente</p><p>querido, apenas um pouco menos precioso do que a alma que</p><p>encerra, e lançá-lo</p><p>às chamas pare destruição violenta, ainda que</p><p>saibamos que o espírito já partiu. Se atribuímos um valor</p><p>sentimental a uma Bíblia ou a uma peça de vestuário, ou outra</p><p>lembrança qualquer, quanto mais reverentemente deveríamos tratar</p><p>o corpo que tão intimamente relacionado esteve com a pessoa. Não</p><p>interessam os requisitos com que tenha sido feita a cremação, pois</p><p>continua a ter em si, a ideia de violência e de destruição.</p><p>Na Bíblia, o fogo é tipo ou símbolo de destruição, completa e sem</p><p>remédio, condenação própria do pecado. Na oferta sacrificial</p><p>pensava-se que o animal levava os pecados do indivíduo que</p><p>estava sob condenação, e, por isso, era consumido no altar. Em</p><p>alguns casos queimava-se o corpo do criminoso para mostrar a</p><p>enormidade do seu pecado e a severidade da punição. Depois de</p><p>Acã ter provocado a derrota de Israel, por ter trazido “o anátema”</p><p>que Deus proibira, lemos: “Disse Josué: Por que nos conturbaste? O</p><p>Senhor, hoje, te conturbará. E todo o Israel o apedrejou; e, depois</p><p>de apedrejá-los, queimou-os” (Josué 7.25).</p><p>Outro caso semelhante é do Rei Saul. Depois de ter desobedecido a</p><p>Deus, foi derrotado pelos filisteus, morrendo duma morte</p><p>vergonhosa que foi, por assim dizer, um suicídio. Os seus três filhos</p><p>morreram com ele, e os exércitos de Israel fugiram. Os filisteus</p><p>deceparam a cabeça do rei, penduraram as suas armas no templo</p><p>pagão, e “o seu corpo afixaram no muro de Bete-Seã”. Lemos que</p><p>“ouvindo isto os moradores de Jabes-Gileade, o que os filisteus</p><p>fizeram a Saul, todos os homens valentes se levantaram, e</p><p>caminharam toda a noite, e tiraram o corpo de Saul e os corpos de</p><p>seus filhos do muro de Bete-Seã, e, vindo a Jabes, os queimaram”</p><p>(1 Samuel 31.10-12).</p><p>A narrativa mostra que o que fizeram com Saul foi uma medida</p><p>anormal e desesperada. Um comentário da Bíblia diz que “não era</p><p>costume hebraico. Possivelmente, atuaram assim nesta ocasião,</p><p>para evitar mais insultos… O sepultamento era a forma normal de</p><p>funeral hebraico” (Jamieson, Fausset e Brown).</p><p>Devemos reparar, por exemplo, na maneira como o próprio Deus se</p><p>desfez do corpo de Moisés. Lemos que, quando “morreu ali Moisés,</p><p>servo do Senhor, na terra de Moabe, segundo a palavra do Senhor.</p><p>Este o sepultou num vale, na terra de Moabe, defronte de Bete-</p><p>Peor; e ninguém sabe, até hoje, o lugar da sua sepultura”</p><p>(Deuteronômio 34.5, 6). O método usado por Deus foi o</p><p>sepultamento e não a cremação.</p><p>Abraão comprou uma gruta, onde colocou a sua amada Sara. Jacó</p><p>enterrou Lia e Raquel. Abraão, Isaque, Jacó, José, Davi, Salomão,</p><p>etc., foram enterrados.</p><p>No Novo Testamento, existe o mesmo ensino. Temos</p><p>particularmente o exemplo de Jesus, cujo corpo foi carinhosamente</p><p>embalsamado com especiarias preciosas, envolvido num lençol de</p><p>linho puro, e colocado cuidadosamente num túmulo. O precedente</p><p>divino no seu funeral, o sepultamento, e não a cremação do seu</p><p>corpo, deveria ser um exemplo para todos os cristãos. Um cristão</p><p>não precisa de outras razões para o sepultamento além desta. O</p><p>corpo de João Batista foi sepultado, como o foram os corpos de</p><p>todos os santos cuja história conhecemos pelo Novo Testamento.</p><p>Portanto, a cremação não era praticada, nem pelos santos do Antigo</p><p>Testamento, nem pelos do Novo. Tem, pelo contrário, origem pagã.</p><p>Os cristãos primitivos seguiram o costume judaico de sepultar os</p><p>mortos e repudiavam a cremação, que era comum na época do</p><p>Império Romano. Philip Schaff, o historiador cristão, escreveu: “Os</p><p>cristãos primitivos mostraram sempre um carinhoso cuidado para</p><p>com os seus mortos, sob a impressão profunda da comunhão</p><p>permanente dos santos e da futura ressurreição do corpo em glória.</p><p>Isto porque o cristianismo redime tanto a alma como o corpo,</p><p>consagrando este como templo do Espírito Santo. O costume grego</p><p>e romano de incinerar o cadáver repugnava os sentimentos cristãos,</p><p>e à convicção da santidade do corpo”.</p><p>O Dr. Wm. C. Robinson, professor do Seminário Teológico de</p><p>Colúmbia, diz, sobre este assunto:</p><p>Seguindo o costume judaico, os cristãos lavavam o corpo dos</p><p>mortos, envolviam-no em toalhas de linho, embalsamavam-no,</p><p>por vezes e, então, na presença dos pastores, parentes e</p><p>amigos, com orações e cânticos de salmos, lançavam à terra</p><p>os corpos dos seus mortos como uma sementeira para</p><p>ressurreição. Estes funerais realizam-se, em geral, em</p><p>câmaras sepulcrais com nichos quadrados (loculi) nas paredes</p><p>para túmulos. O cadáver era envolvido em panos, sem caixão,</p><p>e as aberturas eram fechadas com tijolos e mármore. As</p><p>catacumbas cristãs, testemunhas visíveis da esperança da</p><p>ressurreição, tiveram grande influência sobre o povo romano.</p><p>De fato, até mesmo Juliano o Apóstata descobriu três causas</p><p>para a rápida propagação do cristianismo: beneficência,</p><p>caridade para com os mortos e honestidade.</p><p>O costume cristão era apoiado por vários textos de 1 e 2 aos</p><p>Coríntios. Opondo-se à fornicação, escreveu o apóstolo:</p><p>“Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito</p><p>Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que</p><p>não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço.</p><p>Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo”. Opondo-se a</p><p>casamentos mistos, com incrédulos, lembrou aos cristãos:</p><p>“Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos? Porque</p><p>nós somos santuário do Deus vivente”. Ao precaver contra</p><p>divis ṍ es na igreja, diz: “Não sabeis que sois santuário de</p><p>Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém</p><p>destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o</p><p>santuário de Deus, que sois vós, é sagrado”. No grande</p><p>capítulo sobre a ressurreição, acha uma analogia entre o</p><p>semear uma semente que germina e se transforma num corpo</p><p>vivo, e a nossa expectativa da ressurreição em incorrupção,</p><p>glória, poder, corpo espiritual.</p><p>E o Dr. Robinson conclui: “Irmãos, pesai estes textos, antes de</p><p>trocar o costume cristão de sepultar os corpos, que são templos do</p><p>Espírito Santo, por um costume que era rejeitado, inteiramente,</p><p>pelos cristãos primitivos. Os túmulos dos santos são santificados</p><p>pelo repousar de Cristo no túmulo; e os corpos dos crentes,</p><p>permanecendo unidos em Cristo, repousam em seus túmulos, até a</p><p>Ressurreição”.[13]</p><p>Podemos pois concluir que a prática da cremação é anticristã, não</p><p>devendo ser usada pelos crentes. Não há qualquer apoio para ela</p><p>nas Escrituras. As igrejas primitivas rejeitaram-na como sendo um</p><p>costume pagão, desonrando o corpo, e sugerindo a negação da</p><p>ressurreição. A maioria dos que hoje em dia a defendem são</p><p>aqueles que, sendo modernistas ou humanistas, pouca ou nenhuma</p><p>fé têm na ressurreição literal do corpo; muitos deles, ou têm</p><p>rejeitado abertamente o cristianismo, ou nunca, na verdade, lhe</p><p>foram leais.</p><p>Embora pareça estranho, as passagens bíblicas apresentadas pelos</p><p>defensores da cremação são as que dizem respeito a Acã e a Saul.</p><p>Estes dois incidentes, porém, sem dúvida, não apoiam a cremação</p><p>como o meio mais reverente e defensável para nos desfazermos do</p><p>corpo dos nossos entes queridos. Os defensores das cremação,</p><p>porém, estão tão desejos de encontrar nas Escrituras um apoio que</p><p>agrade aos crentes, que, na falta de outras, se agarram a estas</p><p>passagens.</p><p>II. Imortalidade</p><p>1. Exposição da doutrina</p><p>“Morrendo o homem, porventura tornará a viver?” (Jó 14.14).</p><p>A resposta a esta pergunta, encontra-se nas seguintes palavras de</p><p>Jesus:</p><p>Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que</p><p>morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá,</p><p>eternamente. (João 11.25, 26)</p><p>Quase não existe outro aspecto do pensamento religioso que</p><p>possua interesse tão vivo e universal como o da vida futura. Este</p><p>problema tem ocupado a mente do homem em todas as épocas, e</p><p>tem-se verificado, invariavelmente, no coração humano, o desejo</p><p>íntimo de se perpetuar para além da morte. Não é, pois, uma</p><p>questão meramente acadêmica, mas é antes um problema que cada</p><p>pessoa necessita de resolver. Há de ser, finalmente, a questão</p><p>suprema para cada um de nós. É um problema que se levanta, em</p><p>princípio, não pelo temor do futuro, mas pelo desejo natural, dado</p><p>por Deus, de entrar nessa vida e destino mais amplos,</p><p>que</p><p>sentimos, instintivamente, estar dentro de nós.</p><p>A palavra geralmente usada para designar a vida de que falamos é</p><p>imortalidade. O que entendemos, precisamente, por esta palavra?</p><p>No seu sentido mais lato,</p><p>Imortalidade é a existência eterna, contínua e consciente</p><p>da alma, depois da morte do corpo.</p><p>O fato de tornarmos a viver, não é, nem mais maravilhoso, nem</p><p>mais misterioso do que o fato de estarmos agora a viver. A</p><p>verdadeira maravilha será, antes, o fato de agora existirmos, depois</p><p>de não termos tido qualquer espécie de existência durante uma</p><p>eternidade passada. Muito mais incrível do que o fato de, existindo</p><p>atualmente, continuarmos a existir é o fato de, não tendo existido,</p><p>agora existirmos. Tampouco é mais maravilhoso continuarmos a</p><p>viver num corpo renovado do que o fato da vida se perpetuar na</p><p>terra por meio do corpo. Estamos familiarizados com este último fato</p><p>e temos a tendência para o julgar natural, rotineiro e lugar comum;</p><p>mas isso não é o torna de maneira nenhuma menos misterioso.</p><p>Em si, a doutrina da imortalidade, nada nos diz a respeito da</p><p>ressurreição do corpo, ou sobre se, na verdade, haverá um corpo</p><p>ressuscitado. Evidentemente, os cristãos acreditam não só que a</p><p>alma continua a existir, mas também que, no tempo próprio, haverá</p><p>a ressurreição dos corpos, de forma a ser-lhes restaurada, de novo,</p><p>a condição normal de seres humanos.</p><p>Permanecendo agora, a olhar para esse corredor escuro, onde,</p><p>mais cedo ou mais tarde, entraremos, perguntamos, como Jó:</p><p>“Morrendo o homem, porventura tornará a viver?”. Em cada funeral</p><p>a que assistimos, pensamos, instintivamente: “O que aconteceu a</p><p>este que acaba de morrer? Onde estará ele agora?”. O instinto</p><p>natural da nossa própria natureza diz-nos que tornaremos a viver, e</p><p>a grande maioria dos homens sempre acreditou numa vida futura.</p><p>A História demonstra que o homem teve sempre um anelo instintivo</p><p>pela imortalidade. As religiões e mitologias antigas, assim como</p><p>todas as religiões modernas, falsas ou verdadeiras, são a expressão</p><p>e o desenvolvimento desta convicção. A crença na imortalidade tem</p><p>muitas formas diversas, entre as várias raças humanas, e tem</p><p>assumido vários graus de força e dignidade. Às vezes, foi pouco</p><p>mais de que uma esperança obscura, um sentimento vago, um</p><p>desejo indefinido, baseados, essencialmente, na ideia de que</p><p>finalmente o bem será recompensado e o mal punido. Mas, duma</p><p>forma ou outra, todas as tribos, povos e nações têm tido essa</p><p>crença.</p><p>O vasto número de livros, revistas, artigos, etc., a tratar deste</p><p>assunto, mostra que a crença na imortalidade ocupa um lugar</p><p>proeminente no pensamento contemporâneo. Parece que a raça</p><p>humana, ao progredir, em vez de superar esta crença, se radica</p><p>nela cada vez mais. E isto é ainda mais notável, se pensarmos que</p><p>há tanta coisa a combatê-la. A inevitabilidade da morte, por</p><p>exemplo, em si, parece que deveria conduzir a desesperar da</p><p>existência do além. Os que vivem vidas pecaminosas, sem dúvida,</p><p>fugiriam dessa vida no além, em que serão levados a julgamento.</p><p>Prefeririam, com certeza, ser aniquilados. Muitos dos que</p><p>experimentam, em suas vidas, uma proporção grande demais das</p><p>misérias deste mundo, gostariam de fugir de outra vida, se possível</p><p>fosse. Devemos admitir que, se a perspectiva da vida futura não</p><p>fosse iluminada pela luz do Evangelho, pouco nela existiria que a</p><p>tornasse atrativa; há nessa perspectiva muita coisa para nos</p><p>tornarmos apreensivos, e, até, amedrontados. Há ainda a</p><p>acrescentar o fato de que ninguém pode apresentar uma prova</p><p>positiva duma vida futura, e de que até os cristãos nutrem, por</p><p>vezes, algumas dúvidas. E, no entanto, a raça humana continua a</p><p>acreditar na imortalidade.</p><p>2. A imortalidade nas religiões antigas</p><p>A religião da antiga Babilônia e da Assíria, segundo a literatura</p><p>antiga da Acádia, tinha muitos hinos, alguns de tino penitencial,</p><p>como os Salmos. Alguns destes hinos têm mais mil anos do que os</p><p>Salmos. Os seus poemas épicos, de tipo religioso, como por</p><p>exemplo, a história da descida de Istas ao Hades, e o poema épico</p><p>de Gilgamesh, em que são narradas várias experiências na região</p><p>das sombras ou no mundo inferior, são testemunhas da crença</p><p>numa vida depois da morte.</p><p>O Livro dos mortos contém alguma da literatura mais antiga do</p><p>mundo. A crença na imortalidade é uma das características mais</p><p>importantes dessa literatura. Os egípcios acreditavam que a alma só</p><p>podia gozar a imortalidade, quando o corpo era conservado. As</p><p>enormes pirâmides e os túmulos cavados nas rochas, na região do</p><p>Nilo, e o cuidadoso embalsamento dos mortos, mostram até que</p><p>ponto chegavam, na conservação do corpo, para o regresso da</p><p>alma. Era dado ao cadáver (ou múmia) um exemplar do Livro dos</p><p>mortos, o papiro em que estava a oração que ele devia recitar e o</p><p>mapa da sua viagem através do mundo indivisível. Falava-se</p><p>mesmo daquele que tinha partido como “o vivo”, e o caixão era a</p><p>“arca do vivente”. A vida no além (especialmente o castigo dos</p><p>ímpios) era descrita em termos vívidos.</p><p>Descobriu-se, há pouco tempo ainda (em junho de 1954) a câmara</p><p>funerária de Faraó Quéops, selada há 5.000 anos; encontrou-se</p><p>nela o barco solar, construído para a sua viagem pelo céu, durante a</p><p>noite, assim como os encantamentos e hinos mágicos (escritos em</p><p>hieróglifos) necessários para o conduzir, são e salvo, na sua viagem</p><p>eterna, na companhia do deus-sol Rã. No Egito, todas as viagens,</p><p>duma parte do país para outra, eram feitas, praticamente, no Nilo, e,</p><p>desde os tempos pré-históricos, os egípcios pensavam que os</p><p>barcos eram o único meio natural para viajar, quer nesta vida, quer</p><p>depois da morte.</p><p>A seguinte explicação, muito interessante, dos barcos solares, foi</p><p>dada por El-Malakh, diretor dos trabalhos arqueológicos do governo</p><p>egípcio:</p><p>Os construtores dos túmulos fizeram os mais fantásticos</p><p>esforços para conservarem os barcos solares, que julgavam</p><p>ser necessários para se juntarem à caravana dos imortais</p><p>congregada em torno de Rã, e para viajarem com ele, na sua</p><p>morte e renascimento diários… Os barcos para o dia eram</p><p>utilizados para viajar com Rã, desde a madrugada, quando</p><p>renascia, até o portão ocidental do mundo inferior, onde morria</p><p>na ocasião do sol posto. Todos os imortais mudavam ali para</p><p>os seus barcos solares noturnos, para a terrível viagem</p><p>noturna através do mundo inferior. Os barcos tinham que</p><p>passar através de doze portões, que representavam as horas,</p><p>em cada tirada da viagem, vinte e quatro ao todo, dizendo o</p><p>nome secreto do deus guardião. Estes nomes secretos eram</p><p>dados às almas boas, depois da morte. Era necessário recitar</p><p>hinos apreciados, assim como encantações, para assegurar o</p><p>salvamento.</p><p>Na Índia, os documentos do hinduísmo e do bramanismo</p><p>registrados no Rigveda, revelam uma crença firme na imortalidade.</p><p>Existem nesta coleção mais de mil hinos, alguns deles datados de</p><p>períodos entre 10 e 15 séculos antes de Cristo. O budismo,</p><p>desenvolvimento posterior do hinduísmo, introduziu a ideia da</p><p>transmigração das almas, segundo a qual a pessoa que morre</p><p>renasce imediatamente, sendo o seu novo estado determinado pelo</p><p>grau de recompensa ou de castigo. O alvo supremo é a união com</p><p>Brama, sendo, nalguns casos, a extinção completa, havendo,</p><p>noutros casos, renascimentos contínuos. Aqueles que são punidos,</p><p>talvez renasçam como escravos, animais, aves, ou até mesmo</p><p>répteis ou insetos. É a isto que se chama transmigração das almas,</p><p>uma ideia muito espalhada, tanto na Índia como na Pérsia. Cansaço</p><p>da existência era uma das características desta crença, sendo a</p><p>extinção completa o único meio de escapar, crença esta que está</p><p>em completa oposição ao cristianismo. Enquanto que o cristianismo</p><p>oferece a bênção da vida eterna no céu, o budismo oferece o que se</p><p>chama a bênção da extinção.</p><p>Na Pérsia, o zoroastrismo apresenta um dualismo em relação a toda</p><p>a natureza. Ormuzd, espírito de bondade e de luz, e Ahriman,</p><p>espírito do mal e das trevas, lutam pelo predomínio. Cada homem</p><p>tem que tomar parte nesta luta. Se escolher o bem, será</p><p>recompensado com a vida eterna. Há muitos absurdos misturados</p><p>com as ideias de</p><p>imortalidade, julgamento, paraíso, inferno,</p><p>restauração da terra, ainda que o sistema pressuponha a vitória final</p><p>do bem sobre o mal.</p><p>Na antiga religião grega acreditava-se em muitos deuses e na vida</p><p>futura. As ideias primitivas a respeito do Hades eram muitos</p><p>obscuras e a vida futura era considerada, em geral, como uma</p><p>repetição muito atenuada da presente vida terrena. Colocavam uma</p><p>moeda de prata na boca do cadáver para pagar o seu bilhete na</p><p>travessia do rio místico.</p><p>Os filósofos sentiram o desejo natural no coração humano de</p><p>alguma espécie de existência para alguém do curto instante que é a</p><p>vida. Falaram, vagamente, a respeito de um mundo inferior e de</p><p>uma possível imortalidade, mas não tinham quaisquer razões de</p><p>segurança.</p><p>Em Roma, os adoradores de Júpiter e de Minerva, consideravam a</p><p>região sombria dos mortos como a região brumosa do túmulo, a</p><p>respeito da qual pouco sabiam, mas em que criam firmemente. Na</p><p>China e no Japão a crença na imortalidade tomou o aspecto de culto</p><p>dos antepassados.</p><p>Os índios americanos colocavam no túmulo dos falecidos um dos</p><p>seus arcos com as respectivas flechas e, por vezes, o seu cavalo,</p><p>de forma a tê-los quando chegassem ao feliz terreno da caça. Os</p><p>noruegueses, forneciam ao herói morto uma armadura e um cavalo</p><p>para o seu passeio triunfal; e, na Groenlândia, a criança esquimó,</p><p>quando morre, recebe um cão que lhe servirá de guia.</p><p>Alguns dos povos orientais ensinavam, e ainda o fazem, uma</p><p>espécie de panteísmo, segundo o qual a alma humana é absorvida</p><p>numa personalidade universal. A filosofia materialista, tanto na</p><p>antiguidade como nos tempos modernos, embora, evidentemente,</p><p>quase se não possa denominar religião, afirma que não há</p><p>sobrevivência da alma depois da morte. Afirmam, não só que, na</p><p>hora da morte, a alma humana é como que a chama de uma vela</p><p>que se apaga, mas também que o homem morre da mesma maneira</p><p>que os animais e as plantas, nada restando senão pó e cinzas. Hoje</p><p>em dia, há poucos materialistas declarados, mas há milhões que o</p><p>são, praticamente; não têm convicções racionais acerca do assunto,</p><p>mas vivem como se a morte fosse o fim de tudo. A atitude perante a</p><p>vida é bem caracterizada pelo mote: “Comamos, bebamos,</p><p>folguemos, porque amanhã morreremos”.</p><p>3. A imortalidade como necessária para justificar a</p><p>ordem moral</p><p>Tem que haver uma vida além-túmulo para que a justiça de Deus</p><p>possa ser sustentada. Há tanto bem que não é recompensado nesta</p><p>vida e tanto mal que não é punido. Se não houvesse outras razões,</p><p>as exigências da justiça de Deus seriam suficientes para provar o</p><p>caso. Doutra forma, a ordem moral do Universo não seria justa.</p><p>Vemos com tanta frequência os maus obterem sucesso,</p><p>conseguirem lucros injustos, possuírem tantos bens deste mundo, e,</p><p>aparentemente, gozarem mais do que os seus vizinhos ou</p><p>companheiros que procuram guardar os mandamentos de Deus,</p><p>para os quais a vida nem sempre é um mar de rosas. Vemos um</p><p>Nero num palácio e um Apóstolo Paulo numa masmorra. Pensemos</p><p>aqueles que escapam a um castigo justo, devido aos seus crimes.</p><p>Pensemos nas injustiças praticadas entre patrões e empregados,</p><p>entre vendedores e compradores. Em muitos lares, os fracos são</p><p>vítimas de crueldades e opressões. Quantas vezes os justos sofrem</p><p>revezes, perdem a saúde e os bens, são oprimidos e perseguidos.</p><p>Quantas vezes tudo isto parece acontecer precisamente àqueles</p><p>que não o merece. De acordo com o ponto de vista deste mundo,</p><p>tudo isto representa uma enorme injustiça. É absurdo pensar que</p><p>aqueles que escapam, nesta vida, a um justo castigo, hão de</p><p>escapar para todo o sempre, ou que as boas obras dos justos nunca</p><p>serão recompensadas.</p><p>A lei inalterável é, antes, “aquilo que o homem semear, isso também</p><p>ceifará”, e, se o não ceifar nesta vida ceifá-lo-á na outra.</p><p>Negar a vida além-túmulo é abrir de par em par a porta a toda a</p><p>espécie de imoralidades e crimes. Se a morte é o fim de tudo, a vida</p><p>neste mundo torna-se uma zombaria; a pessoa que conseguir obter</p><p>para si o maior número de prazeres, sem olhar a meios, é quem tem</p><p>maior êxito, aquele a quem se deve invejar. Como diz o Apóstolo</p><p>Paulo: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta</p><p>vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (1 Coríntios</p><p>15.19).</p><p>A nossa razão revolta-se contra o pensamento de que um sistema</p><p>em que a injustiça e o sofrimento são tão proeminentes, possa ter a</p><p>morte como ponto final. A solução para os pecados e injustiças, e</p><p>para os serviços não recompensados nesta vida, é uma vida futura</p><p>em que haverá um “julgamento vindouro”, como aquele que</p><p>aterrorizou Félix, quando Paulo lhe falou (Atos 24.25) duma vida</p><p>futura, em que a justiça e a santidade serão a ordem de todas as</p><p>coisas. Uma mera extinção do ser, não seria penalidade suficiente</p><p>para o mal, nem tampouco digna recompensa para os justos. Para</p><p>falar francamente, se há um Deus justo, tem que haver uma vida</p><p>futura. Um Deus justo não poderia consentir num sistemas em que</p><p>tanta maldade fica sem punição e tantas boas obras não são</p><p>recompensadas.</p><p>4. A vida presente é incompleta</p><p>Uma outra prova muito forte da imortalidade é o fato desta vida ser</p><p>tão incompleta, mesmo no seu apogeu. A maior parte dos esforços</p><p>humanos parecem ficar sempre incompletos. Muitos dos nossos</p><p>talentos e habilidades nunca se manifestam, e os que se</p><p>manifestam, quase não chegam a alcançar um ponto de grande</p><p>eficiência. Sentimos, instintivamente, que deve haver uma vida</p><p>futura, em que esses talentos atingirão um grau absoluto de</p><p>perfeição, fazendo-se deles o uso conveniente. O pastor, o</p><p>professor, o estadista, o advogado, o cientista, levam uma vida</p><p>inteira a acumular o conhecimento e a experiência que lhes deem a</p><p>possibilidade de serem autoridades na sua especialidade, e eis que</p><p>a sua vida se extingue. Do mesmo modo, o cirurgião, o músico, o</p><p>artista, só atingem o seu auge, depois de uma vida inteira de estudo</p><p>e de prática. Se não houvesse uma outra vida, essas habilidades e</p><p>conhecimentos tão valiosos ficariam perdidos para sempre.</p><p>A vida é demasiadamente curta e limitada para ser o fim dos dons e</p><p>aspirações humanos, divinamente concedidos. Mal acaba a sua</p><p>preparação para uma vida abundante e inteligente, logo bem a hora</p><p>da sua partida. O cientista verdadeiramente grande sente que não</p><p>chega a dominar a centésima parte do conhecimento que é possível</p><p>obter na sua especialidade. Ao examinar o número de livros</p><p>existentes no seu campo, sente que possui, na verdade, apenas</p><p>uma pequena fração desses conhecimentos. Thomas Edison</p><p>afirmou, na sua velhice, que se sentia como um rapazito a brincar</p><p>na praia, apanhando e examinando aqui um seixo, outro além,</p><p>embora a costa e o oceano imensos se estendessem diante dele.</p><p>Quanto mais progredimos na profissão que escolhemos, menor nos</p><p>parece o nosso conhecimento em comparação com o campo vasto</p><p>que se abre diante de nós. Qual é o sábio, digno desse nome, que</p><p>não tenha sentido a insuficiência e as limitações do seu atual</p><p>esforço? Todo o processo de conhecimento e realizações fica</p><p>frustrado, se a imortalidade não for um fato.</p><p>Um homem inteligente e bom não destrói imediatamente a obra</p><p>prima que criou. Suponhamos que um grande artista, depois de ter</p><p>terminado um belo quadro, pegasse numa faca e o cortasse em</p><p>pedaços. Ou que um grande escultor, depois de terminar uma bela</p><p>estátua, agarrasse num martelo e a partisse em pedaços. Não os</p><p>acusaríamos de falta de inteligência, ou de irracionalidade? Sem</p><p>dúvida que um Criador sábio e bom, depois de terminar a sua obra</p><p>prima, o homem, não a destruiria tão depressa. Atribuir semelhante</p><p>ação a Deus, seria atribuir-lhe uma inteligência inferior à que vemos</p><p>nas suas criaturas. Se Deus é sábio e bom, como realmente é, e se</p><p>a vida tem aquele significado que somos levados a crer que tem,</p><p>então não é possível que ela tenha sido criada do vácuo, apenas</p><p>para regressar ao vácuo donde veio.</p><p>Se a vida humana consistisse apenas no tempo que vai desde o</p><p>nascimento até a morte, seria algo truncado e fútil. A coluna</p><p>quebrada, apoiada numa base, mas que não chega a parte alguma,</p><p>é um símbolo adequado</p><p>para exprimir a imperfeição da vida neste</p><p>mundo.</p><p>A vida presente, mesmo no seu apogeu, não satisfaz. Há,</p><p>evidentemente, muitos prazeres; mas são, geralmente, passageiros</p><p>e enganadores. A verdade é que, desde a casa mais rica até à mais</p><p>pobre cabana, todos têm a sua porção de preocupações, temores,</p><p>lutas, labores, doenças e desgostos. O homem, criado à imagem de</p><p>Deus, portanto com possibilidades sem limite, estava com certeza</p><p>destinado a algo melhor do que isto. A não ser a satisfação que se</p><p>recebe por saber que se prestou algum serviço ou que se realizou</p><p>algo valioso, com certeza ninguém, no fim da sua vida, gostaria de</p><p>viver uma segunda vez, se isso significasse ter, exatamente, as</p><p>mesmas experiências. Quem gostaria de viver o seu dia de ontem,</p><p>uma vez mais?</p><p>As crescentes ambições do homem e o seu desejo de uma maior</p><p>liberdade são um sintoma de que ele foi criado para uma vida</p><p>melhor. Quando vemos, por exemplo, uma águia encerrada numa</p><p>gaiola, com as suas asas a arrastar pelo chão, sabemos que essa</p><p>criatura senhoril não foi destinada a viver numa gaiola. O Criador, ao</p><p>dar-lhe as asas poderosas, quis que elas lhe servissem para a</p><p>transportar, através dos espaços infinitos, a grandes alturas. O</p><p>mesmo Criador que destinou a águia para viver no céu aberto,</p><p>também nos criou para uma esfera mais ampla do que aquela em</p><p>que nos encontramos.</p><p>Da mesma maneira que a constituição do peixe implica a existência</p><p>da água como o elemento em que vai viver e movimentar-se, e da</p><p>mesma maneira que a ave implica a existência do ar, também a</p><p>existência da capacidade espiritual e moral do homem implica um</p><p>meio ambiente em que ele possa estar livre para desenvolver e</p><p>aperfeiçoar essas capacidades. Deus, com certeza, não elevou o</p><p>espírito humano a um tão alto ponto de desenvolvimento, para o</p><p>deixar, simplesmente depois, cair no nada. Somo criaturas</p><p>temporais, mas somos destinados à eternidade. Suspiramos por</p><p>essa santidade superior, essa visão mais abundante, essa</p><p>capacidade de ouvir mais perfeita, e esses meios de transporte e</p><p>comunicação mais rápidos. Quão impenetráveis e sem sentido</p><p>devem ser a vida e o destino humanos do homem natural, sem uma</p><p>revelação para o guiar através do labirinto que é este mundo!</p><p>A vida do homem neste mundo é apenas um prelúdio, por assim</p><p>dizer, uma escola preparatória, para lhe dar possibilidades de</p><p>executar a verdadeira tarefa de viver. Há sempre tantas deficiências</p><p>e fracassos evidentes e tantos outros fatores, que sentimos ser</p><p>necessário acrescentar algo para tornar a vida abundante e</p><p>completa. Ao examinarmos, de novo, os nossos erros, enganos e</p><p>oportunidades perdidas, sentimos que mal aprendemos a viver, e</p><p>que, humanamente falando, se pudéssemos tornar a viver as</p><p>nossas vidas, conseguiríamos realizar muito mais coisas. Quanto a</p><p>fazermos o que Deus ordenou, todos nós temos sido “servos</p><p>inúteis”, pois que apenas fizemos, se é que fizemos, o que</p><p>deveríamos ter feito (Lucas 17.10). Somos como que novos recrutas</p><p>do exército, ou mais particularmente, novos cadete na força aérea,</p><p>prejudicando mais do que ajudando, até que o nosso treino seja</p><p>completo de forma a preenchermos o lugar devido no conjunto.</p><p>O túmulo não é, pois, um beco sem saída, mas uma rua aberta,</p><p>conduzindo a uma vida mais abundante, no porvir. A vida que</p><p>vivemos, é apena sum prólogo; a esfera primária da nossa</p><p>existência está no futuro. Só nos é possível alcançar a perfeição</p><p>nesse outro reino, onde não há mais dor, nem morte, e onde o</p><p>progresso é sempre para diante e para cima.</p><p>Evidentemente, devemos ter sempre em mente que, ao dizermos</p><p>estas coisas, estamos a considerar a vida como devia ser vivida,</p><p>com a sua significação espiritual. Para os ímpios, a imortalidade</p><p>significa morte eterna, isto é, separação eterna de Deus. Enquanto</p><p>que o caminho do justo é sempre para a frente e para o alto em</p><p>direção a uma maior bênção e perfeição, o caminho dos ímpios é</p><p>sempre para baixo, para um pecado cada vez mais maior e mais</p><p>terrível. Que pensamento solene é saber que cada criança que</p><p>nasce, neste mundo, é um ser espiritual, que irá viver, para sempre ,</p><p>ou no céu ou então, no inferno!</p><p>5. O argumento da analogia</p><p>Devemos reconhecer, evidentemente, que na lógica formal, o</p><p>argumento da analogia não é uma prova positiva. O fato de duas</p><p>coisas serem semelhantes num aspecto, não é prova, em si, que</p><p>sejam semelhantes noutro. No entanto, uma verdadeira analogia</p><p>oferece um grau elevado de probabilidade, e é um argumento válido</p><p>dentro da sua própria esfera.</p><p>Na natureza, há muitas analogias que apontam, claramente, para</p><p>uma ressurreição e para uma nova vida. Por exemplo, no outono, a</p><p>natureza parece morrer. As folhas caem das árvores e a erva seca.</p><p>A maioria das aves e dos insetos desaparece e, em breve, a terra</p><p>fica coberta de um manto frio de neve e gelo. A vida parece ter</p><p>desaparecido; a morte parece ter vencido, parece dominar. Mas em</p><p>tempo devido, chega a primavera, trazendo consigo calor e vida</p><p>nova. As árvores nuas têm rebentos e folhas novas. As sementes</p><p>enterradas, e que pareciam tão secas e sem vida, germinam;</p><p>aparecem novas plantas e novas flores, belas e perfumadas. A relva</p><p>torna-se verde, as aves regressam e fazem-se ouvir. A larva sai do</p><p>casulo, rude e desagradável à vista, transformando-se ou numa</p><p>linda borboleta ou numa colorida mariposa. Por toda a natureza, o</p><p>estado de adormecimento dá lugar ao estado de crescimento. O que</p><p>parece ter morrido, está, de novo, vivo; a natureza inteira parece</p><p>regozijar-se.</p><p>Qual é o alvo de todo este espetáculo anual? Não será Deus a falar</p><p>ao homem por intermédio da natureza, a respeito duma vida, que</p><p>vem depois da morte, melhor e mais permanente? Não nos diz</p><p>Paulo: “Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno</p><p>poder, como também a sua própria divindade, claramente se</p><p>reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por</p><p>meio das coisas que foram criadas” (Romanos 1.20)? O salmista</p><p>diz: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia</p><p>as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e uma noite</p><p>revela conhecimento a outra noite” (Salmos 19.1-2). Podemos, na</p><p>verdade aprender bastante do livro que é a Natureza, como</p><p>suplemento àquilo que o livro da Revelação divina nos diz.</p><p>Há um axioma científico que afirma que no Universo, nada se perde.</p><p>Aquilo que desaparece duma forma, reaparece doutrina, quer seja</p><p>como matéria, quer seja como energia. Se se queimar um pedaço</p><p>de madeira, este desaparece como tal. O cientista, porém, pode</p><p>provar que cada partícula desse pedaço de maneira continua a</p><p>existir, embora sob forma diferente. Quando uma pessoa morrer,</p><p>também o corpo regressa ao seu elemento, o pó, mas não se perde.</p><p>Esta lei é válida para toda a natureza. Se pois, a matéria do corpo</p><p>humano continua a existir, com certeza a vida, que tem uma</p><p>importância muitíssimo maior, deve continuar, também, a existir, em</p><p>qualquer parte. Sem dúvida, Deus, em sua sabedoria e bondade,</p><p>não iria conservar os elementos inferiores da sua criação e permitir</p><p>que os superiores perecessem.</p><p>6. A imortalidade como ideia inata</p><p>É inexplicável a aspiração natural da humanidade pela continuação</p><p>da existência, se não se basear na realidade. Não se deve pôr de</p><p>lado prontamente uma crença tão antiga e universal. Devemo-nos</p><p>lembrar, nesta conexão, que nem tudo daquilo que sabemos, foi</p><p>recebido através dos nossos sentidos. Há verdades fundamentais ―</p><p>as chamadas verdades inatas ou intuitivas ― que o homem recebe</p><p>quando é criado, ideias que surgem da própria constituição da</p><p>mente, em contraste com outras que são adquiridas pela</p><p>experiência. Estas verdades podem ser aperfeiçoadas, mais tarde,</p><p>pelo conhecimento que provém da experiência, mas, em si, não</p><p>dependem da experiência. A fé em Deus, é uma destas verdades.</p><p>Outra é o sentido moral do bem e do mal. Uma outra, ainda, é esta</p><p>que estamos agora a considerar, a crença numa vida futura, ou seja,</p><p>na imortalidade da alma. Não foi ainda descoberta, em parte</p><p>alguma, nenhuma tribo, mesmo entre os povos mais primitivos, que</p><p>não possuísse estas três crenças</p><p>fundamentais.</p><p>Há ainda outras quatro ideias, associadas, em geral, com estas três,</p><p>e que são necessárias nos processos racionais do homem. Ei-las: a</p><p>noção do tempo, espaço, número, e de causa e feito. Não é</p><p>necessário aprender qualquer delas, nem tão pouco derivam da</p><p>experiência. Onde quer que sejam ignoradas ou negadas, só pode</p><p>surgir a confusão.</p><p>Estas ideias inatas correspondem àquilo a que, no reino animal, é</p><p>conhecido como instinto. Não é necessário, nem se pode ensinar</p><p>um castor a construir um açude num rio; nem é possível ensinar às</p><p>aves a construir os ninhos, ou a emigrar na estação própria, nem à</p><p>abelha a construir o favo, de forma a poder guardar, mais</p><p>eficientemente, o mel. No homem, a presença de ideias inatas, não</p><p>implica que as crianças tenham nascido com estas crenças, mas</p><p>antes, que ao chegar à idade de poderem raciocinar, estas verdades</p><p>são reconhecidas, instintivamente, e podem-se desenvolver em</p><p>sistemas coerentes.</p><p>Como é possível, pois, pode alguém perguntar, haver ateus, ou</p><p>pessoas que parecem não ter uma ideia clara acerca do bem e do</p><p>mal, ou não acreditar na imortalidade da alma? A razão principal</p><p>disto é que o homem deixou de estar no estado de privilégio em que</p><p>foi criado, em que a sua natureza operava normalmente, sendo</p><p>agora vítima do pecado e de raciocínios errôneos. Na sua convicção</p><p>de caído, ele tornou-se inimigo de Deus. Deixou de ter uma</p><p>consciência limpa e sem preconceitos, de maneira a poder avaliar</p><p>os valores morais e espirituais. Não deseja admitir um Criador, ou</p><p>um Legislador moral, nem tampouco reconhecer a possibilidade de</p><p>existência além da morte, em que receberá o castigo dos seus</p><p>pecados. Abandonaria, de boa mente, estas crenças, tentando</p><p>convencer-se a si próprio de que tais coisas não existem. E somente</p><p>depois de ser regenerado pelo Espírito Santo, e de receber um</p><p>princípio novo de vida espiritual, que o homem pode julgar,</p><p>claramente, valores morais e espirituais.</p><p>Que esta é a condição do homem depois da queda, apresentada</p><p>pelas Escrituras, não há dúvida nenhuma. No primeiro capítulo de</p><p>Romanos, Paulo apresenta a profundidade da degradação moral e</p><p>espiritual em que o homem caiu (v. 18 a 32). Em 1 Coríntios 2.14,</p><p>Paulo mostra por que é impossível ao homem caído alcançar, com</p><p>os seus próprios esforços, a verdade espiritual: “Ora, o homem</p><p>natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são</p><p>loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem</p><p>espiritualmente”. O mesmo é apresentado quando diz: “Mas nós</p><p>pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura</p><p>para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus</p><p>como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de</p><p>Deus” (1Co 1.23). E Cristo disse: “Em verdade, em verdade te digo</p><p>que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”</p><p>(João 3.3).</p><p>A segunda razão, menos importante, por que estas verdades</p><p>intuitivas são negadas, é a tendência que há, quando abordadas do</p><p>ponto de vista científico, de aceitar apenas como verdadeiro aquilo</p><p>que pode ser demonstrado cientificamente, ou que pode basear-se</p><p>na experiência. No capítulo seguinte, diremos mais coisas a este</p><p>respeito.</p><p>7. A prova não deve ser obtida, nem científica nem</p><p>filosoficamente</p><p>As estudarmos a imortalidade, não podemos ter, como fontes</p><p>principais de informação nem a Ciência nem a Filosofia. A Ciência</p><p>pode examinar esses fatos apenas do ponto de vista, limitado, do</p><p>mundo material, e apenas aceita o testemunho oriundo dos sentidos</p><p>físicos. É, portanto, incapaz de tratar do problema fundamental, e</p><p>não pode dar qualquer certeza absoluta, nem a favor nem contra a</p><p>imortalidade. Muitos cientistas que são cristãos professos têm</p><p>afirmado a sua fé na imortalidade, enquanto que outros que não</p><p>seguem o cristianismo têm, frequentemente, mostrado inclinação</p><p>para negar que a alma sobrevive depois da morte, ou negam-no</p><p>mesmo redondamente.</p><p>Ninguém pode “provar” nem “demonstrar” a imortalidade por meio</p><p>de experiências científicas por fórmulas matemáticas; como também</p><p>não é possível provar ou demonstrar, desta maneira, a existência de</p><p>Deus. Agimos irrefletidamente, quando exigimos semelhantes</p><p>provas. As chamadas provas racionais podem dar uma forte</p><p>presunção a favor da existência de Deus, ou da imortalidade, sendo,</p><p>em geral, aceitas pelos que já são espiritualmente esclarecidos; mas</p><p>não são demonstração absoluta e, portanto, não são</p><p>suficientemente fortes para convencer a alma não regenerada.</p><p>A razão disto é o fato de os acontecimentos do mundo espiritual não</p><p>poderem ser discernidos pelos sentidos físicos, mas sim</p><p>espiritualmente. Sempre que os sentidos físicos tentam tratar das</p><p>coisas espirituais, vão além dos seus limites legítimos, invadindo um</p><p>campo em que não podem falar com autoridade. O intelecto é,</p><p>também, parte do homem natural, dominado por um preconceito</p><p>contra as coisas morais e espirituais, por causa da Queda, e por</p><p>isso, já não é capaz de interpretar as realidades do mundo</p><p>espiritual, exatamente com os sentidos físicos. As provas da</p><p>imortalidade devem ser, pela natureza do assunto, íntimas e</p><p>subjetivas. O homem do mundo, não regenerado, não as pode ver.</p><p>Aquele que vive uma vida digna da imortalidade, não tem dificuldade</p><p>em crer nela, e a sua convicção crescerá com o seu crescimento na</p><p>graça.</p><p>A física, em si, nada nos pode dizer a respeito da imortalidade, pois</p><p>trata apenas de coisas palpáveis, isto é, de fenômenos do mundo</p><p>físico. A única solução que pode a física apresentar para o problema</p><p>da imortalidade é um profundo silêncio. Nada sabe do mundo</p><p>espiritual, invisível, nem tem maneira de o poder saber. A ciência</p><p>materialista recusa-se frequentemente a admitir que a alma seja um</p><p>princípio vital independente do corpo, até que seja possível</p><p>apresentar provas sensoriais, positivas. Isto é, porém, pedir demais.</p><p>Como o corpo e a alma pertencem a esferas diferentes, é irracional</p><p>procurar provas sensoriais no corpo, como confirmação da realidade</p><p>da alma. Esta posição é tão irracional como a de um cego a negar</p><p>que haja luz, pela razão de a não poder ver. Não é a luz que é</p><p>problemática, mas o fato de ele não possuir o órgão próprio. A</p><p>ciência verdadeira, sem preconceitos, pode apenas declarar que</p><p>não pode dar provas, nem a favor nem contra as coisas espirituais e</p><p>que, pelo que lhe toca, as coisas espirituais devem ser tratadas</p><p>como uma hipótese não verificável.</p><p>Tampouco pode a Filosofia ajudar mais do que a Ciência. Tem que</p><p>trabalhar igualmente dentro dos limites da razão humana e, da</p><p>mesma maneira, não tem fontes de informação fora do próprio</p><p>mundo. Enquanto que a Teologia é a explicação dada por Deus a</p><p>respeito do mundo, da sua origem, fim e destino, por meio de um</p><p>livro inspirado, a Bíblia, a Filosofia é a explicação dada pelo homem</p><p>e, portanto, limitada pelo espírito humano e pelo mundo da matéria.</p><p>Nunca, até hoje, filósofo algum conseguiu resolver o problema do</p><p>universo, nem tampouco foi capaz de encontrar um remédio para o</p><p>pecado.</p><p>A negação da imortalidade, no passado, brotou especialmente da</p><p>parte da filosofia materialista. Isto é verdade, posto que a maioria</p><p>dos que negam a imortalidade não tenham tido qualquer relação</p><p>formal com a filosofia ou conhecimento dela como tal. É evidente</p><p>que, se negarmos a existência de Deus e iniciarmos o nosso</p><p>raciocínio com a premissa de que, no princípio, apenas existiu</p><p>matéria, temos que desistir da concepção dualista do homem: uma</p><p>alma unida a um corpo. Se assim fosse, a atividade mental tornar-</p><p>se-ia apenas uma função do cérebro e terminaria logo que o cérebro</p><p>fosse destruído. Eis a razão por que é importante a questão: “O que</p><p>é o homem?”. É um ser criado, no princípio, à imagem de Deus com</p><p>corpo e alma, destinado à eternidade? Ou é o produto da evolução</p><p>orgânica, surgindo primeiro numa forma simples e desenvolvendo-</p><p>se gradualmente até se tornar no ser consciente e racional que é?</p><p>A solução que dermos a estas questões, determinará grandemente</p><p>o nosso ponto de vista em relação à imortalidade da alma. A</p><p>ilustração típica usada pela filosofia materialista</p><p>para exemplificar os</p><p>fenômenos dos processos racionais no homem, é a de um gerador</p><p>elétrico, produzindo eletricidade: da mesma maneira que o gerador</p><p>produz eletricidade, produz o cérebro pensamento; quando o</p><p>gerador pára, deixa de haver corrente, e quando o corpo morre, a</p><p>alma deixa de existir. Se aceitarmos a premissa da filosofia</p><p>materialista e não aceitarmos Deus como a Causa Primária, o</p><p>Criador, temos que aceitar as suas conclusões, segundo as quais o</p><p>homem é o produto de forças materiais, tendo atingido a sua</p><p>presente situação superior por um processo de evolução orgânica.</p><p>O que entendemos realmente por evolução orgânica? A melhor</p><p>definição científica, é possivelmente dada por Le Conte. Diz ele: “A</p><p>evolução é (1) uma mudança progressiva, contínua, (2) de acordo</p><p>com certas leis, e (3) por meio de forças inerentes”.</p><p>Quase não é necessário dizer que a teoria da evolução aceite, hoje</p><p>em dia, de forma tão vasta, é, não uma teoria científica, mas uma</p><p>teoria filosófica. A ciência lida com fatos, com aquilo que</p><p>conhecemos, como a própria palavra indica ― isto é, com aquilo</p><p>que pode ser demonstrado no laboratório. A filosofia inclui um</p><p>campo mais vasto de teorias e hipóteses. Não existe qualquer prova</p><p>científica de que a vida tenha surgido da matéria morta, nem de que</p><p>uma espécie tenha jamais evoluído para outra; tampouco há</p><p>qualquer prova acerca daquela primitiva condição da qual se diz ter</p><p>vindo o homem. “Falar da evolução do pensamento”, diz Louis T.</p><p>More, “não tem qualquer significado; é uma solução simplista de</p><p>mentes inconscientes. Produza o biologista, no laboratório, uma</p><p>célula viva que não tenha derivado de qualquer outra matéria vida.</p><p>Até criar uma célula viva de matéria inanimada, o biologista</p><p>permanece na mesma categoria que Aristóteles, quando nos diz que</p><p>o pó se transforma em moscas”.[14]</p><p>Vamos citar, para podermos ter uma visão verdadeiramente rara do</p><p>problema da evolução, algumas passagens escritas pelo Dr. C. B.</p><p>McMullen, professor e filósofo, autor de A lógica da evolução. Diz</p><p>ele, num livro a publicar:</p><p>Onde poderemos encontrar uma solução conveniente para os</p><p>problemas que tanto nos preocupam? Sem dúvida que não a</p><p>podemos ter em filosofias contraditórias, aparecidas através</p><p>dos séculos. Trata-se, em geral, de filosofias especializadas, e</p><p>que passaram além dos seus limites.</p><p>Isto passa-se com a filosofia naturalista, defendida por muitos</p><p>cientistas. Na ética, reduziu a moral a simples padrões de</p><p>comportamento baseados em conveniências. Em teologia, deu</p><p>o modernismo, que eliminou o sobrenatural das Escrituras, em</p><p>graus diversos, desde um tanto, nalguns teólogos, até a</p><p>totalidade, noutros.</p><p>Reduzindo a uma fórmula o ponto de vista defendido, em</p><p>geral, pelo cientista materialista ― e desenvolvido, por toda a</p><p>parte, pelos teólogos modernistas ― podemos dizer pouco</p><p>mais ou menos o seguinte: O mundo em que vivemos</p><p>começou por uma nebulosa; ao fim de certo tempo,</p><p>desenvolveu-se uma certa atividade química, e, ao fim de mais</p><p>algum tempo, subiu para o nível da vida das plantas; tornou-se</p><p>consciente com o aparecimento dos animais; e surgiu a</p><p>racionalidade com o homem. Em resumo, aquilo que era</p><p>inicialmente apenas matéria governada pela força física,</p><p>atingiu finalmente inteligência suficiente para produzir arranha-</p><p>céus e bombas atômicas.</p><p>É bom lembrar que numa filosofia materialista não existe lugar</p><p>para o sobrenatural, quer no passado, quer no presente, quer</p><p>no futuro. O homem é independente. O homem é puramente</p><p>um acidente ― nada mais do que um acidente no processo</p><p>cósmico. O materialista não conhece liberdade; e sem</p><p>liberdade não existe responsabilidade. O Bem e o Mal não têm</p><p>significado moral num Universo materialista: foram substituídos</p><p>pela conveniência. A consciência não é mais do que um truque</p><p>da Natureza, adaptada a tornar a vida social possível, e para</p><p>nos salvar da extinção mútua.[15]</p><p>O declínio moral e espiritual que se segue, inevitavelmente, à</p><p>filosofia evolucionista, é resumido nas palavras bem escolhidas de</p><p>William H. Wood: “A luta contra a evolução, e os seus adeptos e</p><p>contra especialmente os que estão dentro do cristianismo, é séria. A</p><p>evolução não só dispensa a fé, como também o Deus da fé. A</p><p>hipótese ‘Deus’ parece não ser necessária. Nega-se a revelação, a</p><p>autoridade das Escrituras é impugnada, os milagres são</p><p>consideradas de nenhum valor, o homem é deposto da alta posição</p><p>que a Bíblia lhe dá passando a ser considerado apenas como um</p><p>nobre animal, e a filosofia aceite é o naturalismo; a liberdade de</p><p>consciência é considerada apenas uma decepção, ainda que hábil,</p><p>e a imortalidade não existe senão para a matéria do corpo humano”.</p><p>[16]</p><p>Passou-se um caso interessante com o crânio de Piltdown,</p><p>descoberto recentemente, e que fora considerado pelos</p><p>evolucionistas, nos últimos quarenta anos, uma relíquia do homem</p><p>pré-histórico de há 100.000 anos. Estes ossos foram encontrados</p><p>numa pedreira, no costa sul da Inglaterra, e estiveram expostos no</p><p>Museu de História Natural de Londres, como uma das primeiras</p><p>provas da teoria da evolução. O Museu publicou, porém, em janeiro</p><p>de 1955, um folheto escrito por doze peritos, que afirmam que o</p><p>maxilar e alguns dos dentes são de um macaco jovem, que foram</p><p>adulterados para se assemelharem a ossos humanos; os</p><p>instrumentos de silex que foram encontrados junto dos ossos, são</p><p>também uma falsificação.</p><p>8. O ensino das Escrituras sobre a imortalidade</p><p>A única fonte segura a respeito da condição da alma depois da</p><p>morte é a Bíblia. O que os filósofos não podem aprofundar e os</p><p>cientistas não sabem explicar, foi revelado por Deus na sua Palavra.</p><p>Há muitas indicações diretas; muita outras informações há que são</p><p>consideradas absolutamente verdadeiras sem necessidade de</p><p>provas. A Bíblia trata, em geral, o problema da imortalidade da alma</p><p>da mesma maneira que trata da existência de Deus: é considerado</p><p>como um postado que não se pode negar. Dá como certo que as</p><p>características da nossa natureza são permanentes, que sempre</p><p>seremos seres inteligentes, e que teremos sempre afeições,</p><p>consciência, vontade. Todas as passagens que tratam da vida</p><p>futura, pressupõem que seremos na vida futura, como hoje somos,</p><p>seres reverentes e sociais, amando a Deus, e amando-nos uns aos</p><p>outros. Isto inclui, necessariamente reconhecimento, comunhão com</p><p>Cristo, com os anjos e com os outros remidos.</p><p>Qual é, pois, o ensino da Bíblia acerca da imortalidade da alma?</p><p>Vejamos, primeiro:</p><p>O Antigo Testamento. Em Gênesis 5.24, lemos: “Andou Enoque com</p><p>Deus e já não era, porque Deus o tomou para si”; e em Hebreus</p><p>11.5, lemos: “Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte;</p><p>não foi achado, porque Deus o trasladara. Pois, antes da sua</p><p>trasladação, obteve testemunho de haver agradado a Deus ―</p><p>Abraão, em Gênesis 25.8; Isaque, Gênesis 35.29; Jacó, Gênesis</p><p>49.33, etc.</p><p>Jó perguntou: “Morrendo o homem, porventura tornará a viver?</p><p>Todos os dias da minha luta esperaria, até que eu fosse substituído”</p><p>(14.14), e respondeu, ele próprio com certa força: “Porque eu sei</p><p>que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra.</p><p>Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne</p><p>verei a Deus” (Jó 19.25, 26).</p><p>Davi, “o doce cantor de Israel”, acreditava na imortalidade da alma,</p><p>pois disse: “Não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás</p><p>que o teu Santo veja corrupção” (Salmos 16.10); no Novo</p><p>Testamento, Pedro usa estas mesmas palavras em relação à</p><p>ressurreição de Cristo (veja Atos 2.31). Davi disse também: “na tua</p><p>presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias</p><p>perpetuamente” (Salmos 16.11); e ainda: “Eu, porém, na justiça</p><p>contemplarei a tua face; quando acordar, eu me satisfarei com a tua</p><p>semelhança” (Salmos 17.15). O salmo 23 ensina a imortalidade e</p><p>descreve-a como um andar pelo vale da sombra da morte, sem</p><p>medo, terminando com a grande certeza de que “habitarei na casa</p><p>do Senhor por longos dias” (v. 6). Em Salmos 73.1-19, o salmista</p><p>(Asaph), aponta para a vida além-túmulo para explicar porque nesta</p><p>vida tantas vezes a virtude não é recompensada, enquanto que o</p><p>ímpio</p><p>prospera tão frequentemente, declarando invejar o arrogante,</p><p>vendo a prosperidade do ímpio, até ao momento em que, indo ao</p><p>Santuário de Deus, viu o fim deles. Os versículos 24 e 25 dizem: “Tu</p><p>me guias com o teu conselho e depois me recebes na glória. Quem</p><p>mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na</p><p>terra”.</p><p>Davi expressou a sua esperança, ao ver o filho morto, com as</p><p>seguintes palavras: “Porém, agora que é morta, por que jejuaria eu?</p><p>Poderei eu fazê-la voltar? Eu irei a ela, porém ela não voltará para</p><p>mim” (2 Samuel 12.23). Salomão acreditava na imortalidade,</p><p>portanto escreveu: “[Deus] também pôs a eternidade no coração do</p><p>homem” (Ec 3.11). E ainda: “e o pó volte à terra, como o era, e o</p><p>espírito volte a Deus, que o deu” (Ec 12.7).</p><p>Os profetas ensinavam claramente a imortalidade. Em Isaías, por</p><p>exemplo, lemos: “Os vossos mortos e também o meu cadáver</p><p>viverão e ressuscitarão; despertai e exultai, os que habitais no pó,</p><p>porque o teu orvalho, ó Deus, será como o orvalho de vida, e a terra</p><p>dará à luz os seus mortos” (Isaías 26.19)</p><p>Daniel disse: “Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão,</p><p>uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno. Os</p><p>que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do</p><p>firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as</p><p>estrelas, sempre e eternamente” (Daniel 12.2-3). E Deus, falando</p><p>através de Oseias, disse: “Eu os remirei do poder do inferno e os</p><p>resgatarei da morte; onde estão, ó morte, as tuas pragas? Onde</p><p>está, ó inferno, a tua destruição?” (Os 13.14).</p><p>O Novo Testamento. Embora a doutrina da imortalidade seja já</p><p>apresentada de forma evidente no Antigo Testamento, é, porém, no</p><p>Novo Testamento que é apresentada de forma completa. De fato,</p><p>parece ver-se quase em cada página. Jesus veio a um povo que</p><p>acreditava na vida eterna. Havia apenas um grupo, os saduceus,</p><p>que, por serem os céticos materialistas do seu tempo, não</p><p>acreditavam nela (veja Mateus 22.23). Jesus realizou, com esse fim,</p><p>a sua obra de redenção. Toda a sua concepção de vida se baseava</p><p>nela. Viveu numa atmosfera impregnada do pensamento da</p><p>eternidade; e a vida no outro mundo era, para ele, tão real como a</p><p>vida no mundo em que vivemos. O seu ensino era de tal forma</p><p>completo e tão avançado em relação ao da antiga dispensação, que</p><p>Paulo podia dizer que fora ele quem “não só destruiu a morte, como</p><p>trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho” (2</p><p>Timóteo 1.10).</p><p>A pergunta de Jó, “morrendo o homem, porventura tornará a viver?”,</p><p>recebeu uma resposta nas palavras de Cristo: “Eu sou a</p><p>ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e</p><p>todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente” (João</p><p>11.25, 26).</p><p>Eis ainda algumas outras afirmações, típicas do Novo Testamento:</p><p>“Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele</p><p>que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não</p><p>tem a vida” (1 João 5.11. 12); “Não vos maravilheis disto, porque</p><p>vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a</p><p>sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da</p><p>vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo”</p><p>(João 5.28, 29); “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que</p><p>deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça,</p><p>mas tenha a vida eterna” (João 3.16); “Na casa de meu Pai há</p><p>muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou</p><p>preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e</p><p>vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais</p><p>vós também” (João 14.2, 3).</p><p>A mais impressionante e decisiva de todas as provas de</p><p>imortalidade, é a ressurreição de Cristo. Ela fornece a prova</p><p>suprema da vida depois da morte. “[Eu sou] aquele que vive; estive</p><p>morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as</p><p>chaves da morte e do inferno” (Apocalipse 1.18). Ele afirmou-se a</p><p>Verdade; e, depois com sua ressurreição, demonstrou que há vida</p><p>para além da tumba. Muitos especulavam, antes de 1492, sobre a</p><p>existência de um continente do outro lado do Atlântico. Estas</p><p>especulações tinham, em si, pouco valor. Mas as provas que</p><p>Colombo trouxe eram totalmente diferentes, pois mostravam que ele</p><p>visitara realmente um novo mundo do outro lado do Oceano. Do</p><p>mesmo modo Cristo forneceu, com a sua ressurreição, a prova mais</p><p>convincente de que a vida continua depois da morte. Muitos</p><p>pensadores tinham afirmado, desde os primórdios, que tem que</p><p>haver uma outra vida. Até mesmo entre os povos pagãos houve</p><p>quem expressasse essa esperança, em várias forma de religião e</p><p>de práticas religiosas. Os maiores filósofos, Sócrates e Platão,</p><p>morreram com a esperança da ressurreição nos seus lábios. Os</p><p>profetas do Antigo Testamento tinha afirmado de forma evidente a</p><p>existência dessa vida. Mas quando Cristo morreu e regressou</p><p>realmente dessa terra do além, ficou o mundo com a prova de que</p><p>as suas esperanças estavam baseadas em fatos reais.</p><p>O ensino de Paulo está, evidentemente, em completa harmonia com</p><p>o de Cristo. “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do</p><p>tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser</p><p>revelada em nós” (Romanos 8.18); “Porque a nossa leve e</p><p>momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória,</p><p>acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se</p><p>veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são</p><p>temporais, e as que se não veem são eternas” (2Co 4, 17, 18).</p><p>“Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já</p><p>agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto</p><p>juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a</p><p>todos quantos amam a sua vinda” (2 Timóteo 4.7, 8). Em 2 Coríntios</p><p>5.1, Paulo compara o corpo com uma moradia, de que nos</p><p>separamos na hora da morte: “Sabemos que, se a nossa casa</p><p>terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um</p><p>edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus”.</p><p>O escritor da Epístola aos Hebreus diz que Abraão tinha fé, pois</p><p>que, quando Deus lhe ordenou que sacrificasse o seu único filho,</p><p>Isaque, em quem todas as suas esperanças se baseavam, ele</p><p>obedeceu, considerando que “Deus era poderoso para até dos</p><p>mortos o ressuscitar” (Hb 11.18). A Bíblia é clara, inequívoca, a</p><p>respeito do ensino de que o homem possui uma alma imortal, e</p><p>viverá para todo o sempre.</p><p>9. Resultados sadios da crença na imortalidade</p><p>Que fonte de alegria e satisfação é, mesmo no mundo em que</p><p>vivemos, a antecipação da vida futura! O crente, quase exausto pelo</p><p>peso dos cuidados e responsabilidades terrenas, pode contemplar, e</p><p>fá-lo com prazer, o lar feliz em que irá viver. Que conforto a</p><p>esperança da imortalidade, traz aos doentes, aos perseguidos, aos</p><p>abandonados, aos anciãos! Podem, na verdade, alegrar-se, ao</p><p>antever a hora alegre em que entrarão no repouso, em que “a dor e</p><p>o suspirar desaparecerão”.</p><p>A antecipação da vida futura não deve ser tal que interfira com a</p><p>nossa fidelidade às nossas tarefas presentes, ou nos faça ficar</p><p>descontentes por continuarmos a viver. O equilíbrio entre estes dois</p><p>motivos alcançado pelo apóstolo Paulo deve ser o ideal. Certa vez,</p><p>foi arrebatado ao terceiro céu e a sua alma ficou cheia com esta</p><p>extraordinária experiência extática de bem-aventurança. Esta sua</p><p>experiência permaneceu com ele durante o resto da sua vida</p><p>terrena, e deu-lhe uma segurança que não podia ser abalada por</p><p>qualquer dificuldade ou perseguição. Ele anelava pela vida celestial,</p><p>mas continuava consciente desse dever urgente a cumprir para com</p><p>os seus contemporâneos: “Ora, de um e outro lado, estou</p><p>constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é</p><p>incomparavelmente melhor. Mas, por vossa causa, é mais</p><p>necessário permanecer na carne” (Filipenses 1.23, 24).</p><p>Todos nós, em circunstâncias normais, gostamos de viver, e</p><p>procuramos conservar a vida tanto quanto nos seja possível. Quer</p><p>na riqueza, quer na necessidade, com saúde ou na doença, na</p><p>alegria ou na dor, consideramos a vida como a nossa riqueza maior,</p><p>e agarramo-nos a ela até o fim. Portanto,</p><p>está bem que, enquanto</p><p>Deus nos der vida, aceitemos com alegria e façamos o que temos a</p><p>fazer, de forma a podermos realizar tanto quanto possível, enquanto</p><p>durar o dia da oportunidade.</p><p>A doutrina da imortalidade torna-nos cientes do que somos, mas</p><p>apenas como residentes temporários neste mundo. Nunca houve</p><p>intenção de nos fazer aqui cidadãos permanentes. paulo diz: “a</p><p>nossa pátria está nos céus” (Fp 3.20). Depois da nossa conversão,</p><p>permaneceremos aqui como testemunhas, para que, testificando,</p><p>cresçamos em graça e santificação, preparando-nos para a vida no</p><p>além. Quanto terminar a tarefa que nos foi destinada, devemos estar</p><p>prontos a responder à chamada para irmos para o reino celestial. A</p><p>nossa recompensa no céu estará em proporção com a fidelidade do</p><p>nosso serviço aqui na terra.</p><p>Onde esta doutrina é ensinada, há a tendência para desenvolver e</p><p>elevar a humanidade. Os homens que foram influenciados por ela,</p><p>visionaram, não só a grandeza da vida eterna, mas também foram</p><p>obrigados a dar um outro significado à vida presente. Apresentar</p><p>como alvo a vida eterna, em que a virtude, a honestidade, a</p><p>santidade, recebem a devida recompensa, é uma grande ajuda, se</p><p>não uma necessidade, para o progresso humano. Podemos também</p><p>indicar que a razão pela qual há tanto pecado e crime desenfreado é</p><p>que os que tais coisas fazem, não acreditam na ressurreição e no</p><p>julgamento final, ou conseguem, pelo menos nos dias que correm,</p><p>afastar de si tais pensamentos. Alguém disse: “Não há nada que</p><p>leve tanto à imoralidade como a descrença na imortalidade”. Se</p><p>deixarmos que alguém acredite que não há vida depois da tumba,</p><p>que não nos vamos encontrar com um Deus justo, esse alguém</p><p>abandonará toda a restrição moral. A sua tendência será, então, a</p><p>de entregar-se às paixões da carne e do espírito e de pisar nos pés</p><p>os direitos das outras pessoas. O temor do castigo não é motivo</p><p>supremo de moralidade, mas é eficiente; onde não existe, em breve</p><p>o crime será perpetrado desenfreadamente. Tampouco basta</p><p>acreditar numa forma atenuada ou espúria da imortalidade, como</p><p>seja a continuação da raça, de geração em geração ou o</p><p>julgamento, para o bem ou para o mal, dado pela posteridade ao</p><p>indivíduo. Afirmar que a raça é imortal, mas que o indivíduo não o é,</p><p>significa negar a única espécie de imortalidade como um valor real.</p><p>Sem dúvida, as árvores e as flores cobrem a terra de geração em</p><p>geração. Mas a questão é que a mesma árvore só vive uma vez e, a</p><p>mesma flor, só floresce uma vez. O indivíduo vive neste mundo uma</p><p>só vez e, se fosse só isso, não haveria para ele imortalidade. Mais,</p><p>a raça, em si, não possui consciência. Só o indivíduo a pode ter.</p><p>Quanto ao julgamento moral que a posteridade dará ao indivíduo,</p><p>evidentemente que os justos merecem mais do que um nome digno,</p><p>e os ímpios mais do que um nome mau. Tampouco está certo o que</p><p>George Elliott expressou no poema que diz:</p><p>Possa eu reunir-me ao coro invisível</p><p>Dos imortais que tornam a viver</p><p>Nas mentes tornadas melhores pela sua presença.</p><p>Sem dúvida, é bom viver na memória e nos corações de uma</p><p>posteridade agradecida. Mas, como acabamos de dizer, isso não é</p><p>imortalidade no sentido preciso da palavra. Se isso fosse tudo, a</p><p>grande maioria não viveria muito tempo. Muito raramente os mortos</p><p>são recordados por um grande número de pessoas. Aqueles que</p><p>sobressaem na história duma nação são, na verdade, muito poucos.</p><p>Além disso, devemos notar que a imortalidade dada pela influência,</p><p>não só diz respeito ao bem como ao mal.</p><p>Não existe uma base segura para a afirmação feita por alguns de</p><p>que a imortalidade do homem implica, também, a imortalidade dos</p><p>animais: ― o cão sendo um ser vivo, é imortal como o seu dono. A</p><p>diferença entre homens e os animais é tal que a imortalidade duns</p><p>parece excluir a dos outros. O homem é um ser consciente e moral.</p><p>Sabe diferenciar entre o bem e o mal. Tem a consciência da</p><p>existência de Deus e da realidade do pecado, quando ofende a</p><p>Deus. Portanto, a sua essência exige uma vida futura em que</p><p>receberá ou a recompensa ou o castigo. Os animais, porém, não</p><p>possuem tais atributos, não têm natureza moral. As suas ações são</p><p>governadas fundamentalmente pelo instinto e pelo hábito. Têm</p><p>consciência, mas não consciência pessoal. Não podem dizer: “eis-</p><p>me aqui”. Não são, pois, seres racionais. As características básicas</p><p>da natureza humana são radicalmente diferentes das dos animais.</p><p>Tudo isto, porém, não quer dizer que no céu não haja vida animal ou</p><p>vegetal. Que seria da terra, se elas não existissem nela? Sem</p><p>dúvida uma parte da glória da nova terra será uma nova vida animal</p><p>e vegetal, que refletirá a beleza desse Reino. A afirmação de Paulo:</p><p>“Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e</p><p>suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós…</p><p>aguardando… a redenção do nosso corpo” (Romanos 8.22, 23)</p><p>parece indicar que as ordens inferiores da Criação sofrem, em</p><p>resultado da queda do homem, e que terão uma parte na glória que</p><p>há de ser revelada. Embora não possamos falar com certeza a este</p><p>respeito, podemos no entanto dizer com segurança que tal como</p><p>neste mundo, em que as gerações de animais e plantas se sucedem</p><p>umas às outras, também na nova terra haverá vida animal e vegetal,</p><p>sem dúvida muito mais luxuriante e variada do que presentemente,</p><p>mas que não reconheceremos os animais e plantas que</p><p>conhecemos aqui.</p><p>Eis a lição prática de tudo quanto foi dito acima: a obrigação de</p><p>cada um é fazer a sua vida digna da imortalidade. É evidente que o</p><p>que é necessário para fazer da imortalidade algo desejável, não é</p><p>uma mera continuação da vida, mas uma melhor qualidade de vida.</p><p>Se há uma vida depois desta, os anos que passamos neste mundo</p><p>são apenas um momento fugaz comparados com a eternidade. A</p><p>duração infinita da eternidade é algo superior àquilo que as nossas</p><p>mentes podem compreender. Até mesmo a vida de Matusalém, que</p><p>viveu 969 anos, é de uma brevidade insignigficante. Torna-se</p><p>evidente que existe algo mais importante do que tornarmo-nos</p><p>poderosos, ou do que rodearmo-nos de conforto, ou do que</p><p>alcançarmos segurança na vida. A vida deve girar em torno da única</p><p>coisa que o homem pode levar consigo, quando deixa a terra ― o</p><p>caráter.</p><p>O famoso cientista inglês professor Huxley, como tantos outros que</p><p>se deixaram absorver pelas coisas materiais, não via qualquer</p><p>esperança no futuro. No seu túmulo, existe a seguinte inscrição:</p><p>Ainda que não haja encontro após a tumba;</p><p>Ainda que tudo seja escuridão, silêncio, repouso;</p><p>Deus dá ainda, aos seus amados, o sono,</p><p>E se um sono infindo, tanto melhor.</p><p>Escuridão ― silêncio ― sono infindo; não há grande consolação</p><p>nestas palavras, exceto para os que quiserem fugir a uma</p><p>consciência culpada. Comparemos com este pensamento o conforto</p><p>que achamos nas palavras de Cristo: “Não se turbe o vosso</p><p>coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu</p><p>Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois</p><p>vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar,</p><p>voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou,</p><p>estejais vós também” (João 14.1-3).</p><p>O retorno ao lar do sr. Valente-pela-Verdade como um bom soldado</p><p>no Progresso do Peregrino de Bunyan é aplicável aqui. Lemos:</p><p>Depois disso surgiram rumores de que o sr. Valente-pela-</p><p>Verdade fora convocado pelo mesmo mensageiro que</p><p>procurara os outros antes dele, e isto recebera como prova de</p><p>que a convocação era verdadeira: “Que seu cântaro se</p><p>quebrou na fonte”. Compreendendo o significado, reuniu os</p><p>amigos e contou o que ouvira. Depois disse: ― Vou para o Pai,</p><p>e apesar de todas as dificuldades para chegar aqui, não me</p><p>arrependo de nenhuma aflição pelas quais passei. A minha</p><p>espada deixo para aquele que me vai suceder na</p><p>peregrinação, e a minha coragem e destreza, àquele que as</p><p>mereça. As minhas marcas e cicatrizes levo comigo para que</p><p>testemunhem a meu favor, confirmando que combati ao lado</p><p>daquele que agora me recompensará.</p><p>Chegando o dia em que ele deveria partir, muitos o</p><p>acompanharam até a margem. Ao entrar nas águas, disse: ―</p><p>Onde está,</p><p>mandamento</p><p>divino e, ao fazê-lo, deixou, na verdade, de obedecer a Deus para</p><p>obedecer a Satanás. Tendo mostrado, assim, não ser súdito leal e</p><p>obediente mas rebelde, não houve outra alternativa senão a de</p><p>sofrer o castigo com que fora ameaçado. A Bíblia mostra, desta</p><p>forma, que a morte é um mal proveniente de pena, isto é, um mal</p><p>infligido de acordo com a lei, como penalidade. Este mesmo ensino</p><p>é apresentado, de novo, pelos profetas: “A alma que pecar, essa</p><p>morrerá” (Ezequiel 18.4); e no Novo Testamento, a morte é atribuída</p><p>à queda de Adão: “Portanto, assim como por um só homem entrou o</p><p>pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte</p><p>passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Romanos</p><p>5.12); “Em Adão, todos morrem” (1 Coríntios 15.22); e também em</p><p>Romanos 6.23: “O salário do pecado é a morte”. A morte não é,</p><p>pois, como afirmam os unitarianos e os modernistas, o resultado de</p><p>uma lei natural. Pelo contrário, se não tivesse havido pecado, não</p><p>haveria morte.</p><p>Muitos gratos deveríamos ser pelo fato de Deus nos ter revelado</p><p>algo a respeito das causas e dos efeitos da morte. É certo que não</p><p>foi revelado tudo quanto seria necessário para satisfazer</p><p>completamente a nossa curiosidade mas, mesmo assim, foi-nos</p><p>revelado o bastante não só para fazer desaparecer, em grande</p><p>escala, os seus aspectos mais misteriosos, como, também, para</p><p>afastar em parte o pavor com ela ligado. Lemos já várias</p><p>explicações da morte, mas parece-nos que não existe nenhuma</p><p>outra tão verdadeira e exata como a que nos é apresentada na</p><p>Bíblia.</p><p>A sentença que foi imposta como resultado do pecado de Adão,</p><p>inclui mais do que a decomposição do corpo. A palavra “morte”,</p><p>usada nas Escrituras como referência às consequências do pecado,</p><p>inclui toda a espécie de mal que é infligido como castigo desse</p><p>pecado: é o oposto da recompensa prometida, isto é, a vida eterna e</p><p>bendita, no céu. Significa, pois, a miséria eterna do inferno (que é,</p><p>igualmente, a sorte dos anjos revoltados ou demônios) e, ainda, o</p><p>antegosto dessas misérias já nos males sofridos nesta vida. A sua</p><p>natureza pode ser vista, em parte, nas consequências do pecado</p><p>sofridas já pela raça humana. Como consequência natural e</p><p>imediata da queda, o pecado tornou-se, em vez da santidade, o</p><p>elemento natural do homem, de tal forma que, na sua condição de</p><p>não regenerado, o homem tenta mesmo evitar o pensamento de</p><p>Deus e das coisas santas. As Escrituras consideram-no “morto” em</p><p>“delitos e pecados” (Efésios 2.1), condição essa em que não pode o</p><p>homem compreender nem apreciar a oferta da redenção pela fé em</p><p>Cristo, da mesma forma que um homem, morto fisicamente, não é</p><p>capaz de ouvir os sons produzidos neste mundo.</p><p>Todo o mundo cristão, protestante, católico ou ortodoxo, tem crido,</p><p>sempre, que, na sua Queda, Adão, o cabeça divinamente designado</p><p>da raça humana, foi o representante de toda ela, tendo trazido esse</p><p>mal, a morte, não só sobre si mesmo, como também sobre toda a</p><p>sua posteridade. O Dr. Charles Hodge apresentou, de forma clara,</p><p>esta correlação, da seguinte maneira:</p><p>Em virtude da união, federal e natural, entre Adão e sua</p><p>posteridade, seu pecado, ainda que sem nenhuma ação por</p><p>parte deles, lhes é imputado de tal maneira que se torna a</p><p>base judicial da penalidade ameaçada contra ele, vinda</p><p>também sobre eles… Imputar pecado, no sentido bíblico e</p><p>teológico, é imputar a culpa do pecado. E por culpa se quer</p><p>dizer não a criminalidade ou a humilhação moral, nem o</p><p>demérito, muito menos a contaminação moral, mas a</p><p>obrigação judicial de satisfazer a justiça.[3]</p><p>Paulo apresenta a doutrina da imputação do pecado de Adão e</p><p>também a doutrina congênere da imputação da justiça de Cristo</p><p>para conosco, quando escreve: “Porque, como, pela desobediência</p><p>de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também,</p><p>por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”</p><p>(Romanos 5.19); e, ainda, em 1 Coríntios 15.22: “ Porque, assim</p><p>como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão</p><p>vivificados em Cristo”.</p><p>De acordo com isto, vemos que até as crianças, que não têm</p><p>pecado pessoal, sofrem, apesar de tudo, a dor e a morte. As</p><p>Escrituras apresentam, pois, com uniformidade, o sofrimento e a</p><p>morte como salário do pecado. Deus seria injusto, se aplicasse o</p><p>castigo àqueles que não são culpados. Como o castigo também é</p><p>sofrido pelas crianças, elas têm que ser culpadas; e, como não</p><p>cometeram, pessoalmente, pecado, devem ser, de acordo com o</p><p>que as Escrituras nos dizem, culpadas do pecado de Adão. Todos</p><p>quantos herdaram de Adão a natureza humana, isto é, todos os</p><p>seus descendentes, estavam nele, do mesmo modo que o fruto</p><p>estava já na semente e tornaram-se pessoas juntamente com ele.</p><p>No sistema de redenção que Deus providenciou, somos remidos por</p><p>Cristo, precisamente da mesma forma que caímos em Adão, isto é,</p><p>somos remidos por um substituto que é como que a nossa cabeça</p><p>federal e o nosso representante e que atua em nosso lugar. É</p><p>verdadeiramente ilógico crer na salvação em Cristo, sem crer,</p><p>também, na queda de Adão.</p><p>O Dr. Louis Berkhof, tratando da relação existente entre o pecado e</p><p>a morte, disse, e muito bem, o seguinte:</p><p>Os pelagianos e os socinianos ensinam que o homem foi</p><p>criado mortal, não meramente no sentido de que ele poderia</p><p>cair presa da morte, mas no sentido de que ele, em virtude da</p><p>sua criação, estava sob a lei da morte, e, no transcurso do</p><p>tempo, estava destinado a morrer. Isto significa que Adão não</p><p>era somente suscetível de morte, mas estava realmente sujeito</p><p>à morte antes de cair. Os defensores deste conceito eram</p><p>movidos primariamente pelo desejo de fugir da prova do</p><p>pecado original extraída do sofrimento e morte das crianças. A</p><p>ciência dos dias atuais parece dar apoio a essa posição</p><p>acentuando o fato de que a morte é lei da matéria organizada,</p><p>visto que esta traz consigo a semente da decadência e da</p><p>dissolução. Alguns dos chamados primeiros pais da Igreja e</p><p>alguns teólogos mais recentes, como Warbuton e Laidlaw,</p><p>assumem a posição de que Adão de fato foi criado mortal, isto</p><p>é, sujeito à lei da dissolução mas que, no caso dele, a lei só foi</p><p>efetiva porque ele pecou. Se tivesse comprovado a sua</p><p>obediência, teria sido exaltado a um estado de imortalidade.</p><p>Seu pecado não produziu nenhuma mudança em seu ser</p><p>constitucional, nesse aspecto, mas, sob a sentença de Deus,</p><p>fê-lo sujeito à lei da morte e o privou da dádiva da</p><p>imortalidade, que poderia ter tido sem experimentar a morte.</p><p>Naturalmente, neste conceito a entrada fatual da morte</p><p>continua tendo caráter penal. É um conceito que encaixaria</p><p>muito bem na posição supralapsária, mas não é exigido por</p><p>esta. Na realidade, essa teoria procura apenas enquadrar os</p><p>fatos revelados na Palavra de Deus nos pronunciamentos da</p><p>ciência, mas mesmo estes não a consideram imperativa.</p><p>Suponhamos que a ciência provasse conclusivamente que a</p><p>morte reinava no mundo vegetal e animal antes da entrada do</p><p>pecado; mesmo então não se seguiria necessariamente que</p><p>ela também prevalecia no mundo dos seres racionais e morais.</p><p>E ainda que ficasse estabelecido sem sombra de dúvida que</p><p>todos os organismos físicos, os humanos inclusive, trazem</p><p>dentro de si as sementes da dissolução, isto ainda não</p><p>provaria que o homem não foi uma exceção à regra, antes da</p><p>Queda. Diremos nós que o absoluto poder de Deus, pelo qual</p><p>o universo foi criado, não era suficiente para manter o homem</p><p>com vida indefinidamente? Além disso devemos ter em mente</p><p>os seguintes dados da Escritura: (1) O homem foi criado à</p><p>imagem de Deus, e isto, em vista das perfeitas condições em</p><p>que a imagem de Deus existiu originariamente, por certo exclui</p><p>a possibilidade de que trouxesse consigo as sementes da</p><p>dissolução e da mortalidade. (2) A morte física não é</p><p>apresentada na Escritura como resultado natural da</p><p>continuidade da condição original do homem, devido ao seu</p><p>fracasso em não conseguir subir às alturas da imortalidade</p><p>pelo caminho da obediência; mas, sim, como resultado da sua</p><p>morte espiritual, Rm 6.23; 5.21; 1Co 15.56; Tg 1.15. (3) As</p><p>expressões bíblicas certamente indicam a morte como uma</p><p>coisa</p><p>ó morte, o teu aguilhão? ― E, avançando para o</p><p>meio do rio, rematou: ― Onde está, ó morte, a tua vitória? (1</p><p>Co 15.55). ― E assim ele cruzou as águas, e sons de</p><p>trombetas o receberam do outro lado.[17]</p><p>No túmulo o que conforta não é o desconsolador pensamento de</p><p>Tolstoi: “Adeus, para sempre”, mas a bela expressão alemã Auf</p><p>wiedersehn ― “Tornar-nos-emos a ver” ― escrita tão</p><p>frequentemente nos túmulos de entes queridos, na Alemanha.</p><p>E com essa esperança imortal de Tennyson:</p><p>Vésper e sol poente,</p><p>E a voz que me convida!</p><p>Da barra não se escute um som plangente</p><p>Na minha despedida,</p><p>Mas tal maré, movendo-se mais doce,</p><p>Sem um rumor se entorne,</p><p>E quem o infindo mar à terra trouxe</p><p>Ao lar retorne.</p><p>Ocaso e o extremo sino,</p><p>E as trevas no porvir!</p><p>Não lamente ninguém por meu destino</p><p>Quando eu partir;</p><p>Pois, conquanto as Fronteiras ultrapasse</p><p>Levado pelo mar,</p><p>Verei o meu Piloto face a face</p><p>Quando a barra cruzar.[18]</p><p>Sim, a vida que vivemos aqui na terra, dará o seu fruto no além. A</p><p>obra que aqui fizermos, fielmente e bem, continuá-la-emos no Além.</p><p>Segundo as palavras de “L’envoi”, de Kipling:</p><p>Quando da terra o último quadro for pintado e</p><p>os tubos estiverem torcidos e secos,</p><p>Quando as velhas cores desmaiarem, e o</p><p>crítico jovem tiver morrido,</p><p>Repousaremos; e, fé, necessitaremos</p><p>e jazeremos uma ou duas idades</p><p>Até que o Mestre de todos os bons trabalhadores venha</p><p>Colocá-los de novo no trabalho!</p><p>E só o Mestre nos louvará, e</p><p>Somente ele nos censurará:</p><p>E ninguém mais trabalhará por dinheiro,</p><p>E ninguém mais trabalhará por fama,</p><p>Mas cada qual pela alegria do trabalho,</p><p>Cada qual na sua própria estrela,</p><p>Desenhará a Coisa como a vir,</p><p>Sim, para o Deus das Coisas, de quem elas são.</p><p>III. O estado intermediário</p><p>1. Natureza e fim do estado intermediário</p><p>Por estado intermediário queremos dizer o estado ou condição em</p><p>que as almas existem, durante o período que vai da morte à</p><p>ressurreição. Todos aqueles que acreditam na ressurreição e no</p><p>juízo final, reconhecem a existência desse estado. As diferenças de</p><p>opinião que existem, são principalmente a respeito da natureza</p><p>desse estado: (1) em especial na controvérsia entre católicos e</p><p>protestantes, sobre se essa existência tem ou não uma natureza</p><p>purgatória; (2) no que diz respeito às Testemunhas de Jeová e aos</p><p>Adventistas do Sétimo Dia, que acreditam no sono da alma no</p><p>período que vai dar morte à ressurreição; (3) e também, alguns há</p><p>que acreditam numa segunda oportunidade ou possibilidade de</p><p>arrependimento, depois da morte.</p><p>A doutrina mantida pelos judeus e pela Igreja Medieval primitiva, era</p><p>de que os crentes estão, depois da morte, num estado de sono,</p><p>semi-consciente, nem feliz nem miserável, esperando a ressurreição</p><p>do corpo. Foi só no Concílio de Florença, em 1439, que a Igreja</p><p>Latina se opôs firmemente a este ponto de vista; mesmo assim,</p><p>essa opinião continuou predominante na Igreja Ortodoxa.</p><p>A Bíblia fala relativamente pouco a respeito do estado intermediário,</p><p>sem dúvida por não ser essa a condição final. A Bíblia não está</p><p>interessada naquilo que é passageiro e temporário, mas sim no</p><p>regresso de Cristo e na nova era que estão começara. É-nos, pois,</p><p>difícil, fazer uma ideia adequada das atividades que caracterizam os</p><p>que se encontram no estado intermediário.</p><p>Há, no entanto, várias passagens das Escrituras que dizem ser um</p><p>estado de existência consciente, tanto para os justos como para os</p><p>ímpios; ― para os justos, alegre; para os ímpios, de sofrimento. Isto</p><p>é especialmente claro na parábola do rico e do Lázaro, em que</p><p>Lázaro é recebido no seio de Abraão e o rico é atormentado pelas</p><p>chamas do inferno. As declarações de Paulo, já citadas</p><p>anteriormente (2 Coríntios 5.8 e Filipenses 1.23), mostram</p><p>claramente que a condição do crente, logo após a morte, é</p><p>preferível à que tem no mundo em que vivemos. Cristo disse na</p><p>cruz, ao ladrão moribundo: “Em verdade te digo que hoje estarás</p><p>comigo no Paraíso” (Lucas 23.43). Para o crente, esse estado</p><p>intermediário significa estar com Cristo no paraíso. A referência de</p><p>Paulo a respeito da visão que teve no início do seu ministério, em</p><p>que, em certa altura, “foi arrebatado ao terceiro céu”, e, noutra, “foi</p><p>arrebatado ao Paraíso” (2 Coríntios 12.2-4), mostra que o Paraíso</p><p>deve ser identificado com o céu. Em Apocalipse 14.13, temos uma</p><p>das referências mais claras a respeito deste estado intermediário:</p><p>“Então, ouvi uma voz do céu, dizendo: Escreve: Bem-aventurados</p><p>os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito,</p><p>para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os</p><p>acompanham”.</p><p>O estado intermediário é um estado de repouso e de felicidade. Isto</p><p>não significa, porém, que a vida ali, ou seja, no céu, vai ser</p><p>caracterizada por ociosidade e inatividade. Longe disso. Em</p><p>primeiro lugar, “repouso”, na linguagem das Escrituras, traz consigo</p><p>a ideia de prazer no labor, ou alegria na realização. Até mesmo</p><p>neste mundo encontramos muitas vezes “repouso” numa mudança</p><p>do trabalho. A atividade dos “santos” deixa de ser “labuta” ou</p><p>“trabalho” no sentido de tarefa cansativa e fastidiosa. No mundo em</p><p>que vivemos, o homem, como caído, está sob a sentença que o</p><p>condenou a ganhar o pão com o suor do rosto (Gênesis 3.19). Muito</p><p>do seu trabalho é mal orientado, monótono, e vazio de sentido. Mas,</p><p>no céu, todas as características desagradáveis são suprimidas e</p><p>surge um rumo novo, com motivos diferentes; e o trabalho torna-se</p><p>num prazer. Tudo deixa de ser feito fundamentalmente em nosso</p><p>proveito, ou em proveito de outras pessoas, passando a ser feito</p><p>para Deus. A vida celestial é uma vida de progresso ininterrupto,</p><p>sempre para mais alto e mais além. Os santos, “se acham diante do</p><p>trono de Deus e o servem de dia e de noite” (Apocalipse 7.15) ―</p><p>servem-no não só com o seu trabalho, mas também com sua</p><p>adoração, sendo possível que o seu templo inclua todo o universo.</p><p>Em segundo lugar, “repouso”, na linguagem das Escrituras, traz</p><p>consigo o significado de libertação de tudo o que é mau ― das</p><p>tentações e ataques do maligno, e de todas as seduções do mundo</p><p>que, tantas vezes, enganam até o povo do Senhor e o fazem</p><p>tropeçar. Satanás é, sem dúvida, mais responsável do que julgamos</p><p>por muitos dos nossos problemas. Só quando nos encontrarmos,</p><p>pela primeira vez, num domínio onde ele não pode chegar,</p><p>poderemos verificar quantas das nossas tentações e dificuldades</p><p>são provocadas pelos seus ataques. Este “repouso” consiste, ainda,</p><p>na liberdade dos cuidados exteriores e das tristezas da vida, dos</p><p>vexames e perplexidades das coisas terrenas.</p><p>Na hora da morte, o crente sai por completo do mundo sensorial, e</p><p>deixa de lhe pertencer, até o dia da ressurreição; nessa altura,</p><p>verificará que o mundo sensorial foi também “libertado do cativeiro</p><p>da corrupção para a liberdade da glória dos filhos de Deus”</p><p>(Romanos 8.21). O crente deixa de andar triste e preocupado com</p><p>as injustiças, violências, oposições e rancores dos ímpios. Deixa de</p><p>haver sofrimento e tristeza. “Nunca mais terão fome, nunca mais</p><p>terão sede… e Deus limpará dos seus olhos toda a lágrima”</p><p>(Apocalipse 7.16, 17). O justo alcança o eterno descanso de todas</p><p>as coisas.</p><p>Os santos que desde Abel até os nossos dias deixaram de ficar ao</p><p>alcance dos homens e dos seus olhos mortais, vivem gloriosamente</p><p>no estado intermediário, no meio do transcendente esplendor do</p><p>Paraíso. Excede o nosso entendimento o que significa estar em</p><p>Cristo, o filho de Deus encarnado, o nosso Amigo íntimo e Irmão</p><p>mais velho, que nos ama tanto que morreu por nós na cruz e que,</p><p>glorificado, está na posse plena dessa glória que tinha com o Pai,</p><p>antes que o mundo fosse criado. Eis a sua oração: “Pai, a minha</p><p>vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me</p><p>deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me</p><p>amaste antes da fundação do mundo” (João 17.24). Se a</p><p>momentânea visão da transfiguração de Jesus glorificado, vista</p><p>através de olhos humanos, foi de tal ordem que obrigou Pedro a</p><p>exclamar: “Senhor, bom é estarmos aqui” (Mateus 17.4), querendo</p><p>construir três tabernáculos,</p><p>de forma a prolongar tão excelsa</p><p>experiência, o que será, então, estar com o Senhor glorificado, no</p><p>Paraíso?</p><p>As Escrituras ensinam que o estado em que o justo entra, na sua</p><p>morte, é um estado consciente, de santidade e felicidade, que a</p><p>ressurreição e o julgamento apenas aumentarão, tornando-o</p><p>permanente. A alma não perderá, com a morte do corpo, a mínima</p><p>parcela do seu poder e do seu conhecimento. Pelo contrário,</p><p>penetrará num plano mais elevado de existência. O primeiro</p><p>resultado, imediato, é que a alma, liberta das limitações terrenas e</p><p>purificada dos últimos vestígios do pecado, vê as suas capacidades</p><p>mentais e espirituais aumentar, tornando-se mais viva e ativa do que</p><p>jamais fora anteriormente.</p><p>A própria natureza de uma alma finita, criada à imagem de Deus,</p><p>consiste em que ela tem capacidade para evoluir infinitamente.</p><p>“Imagem” quer dizer semelhança. O homem é parecido com Deus, é</p><p>diferente do resto da criação, pois é: (1) um ser racional e</p><p>inteligente; (2) um ser moral, com o sentido do bem e do mal; (3)</p><p>santo (assim foi criado, no princípio, e se tornará quando a redenção</p><p>for completa); (4) imortal, pois possui uma alma que viverá para todo</p><p>o sempre; e (5) o dominador da criação inferior. O primeiro homem,</p><p>não só recebeu ordem de tratar do jardim, mas também de “sujeitar”</p><p>a terra (Gênesis 1.27), isto é, de procurar descobrir como poderia</p><p>usar, em seu proveito, os materiais da terra e as forças da natureza.</p><p>O homem continuará, portanto, a crescer em conhecimento e</p><p>sabedoria, e a fortalecer-se, não só durante a presente vida, e</p><p>durante o estado intermediário, mas também através de toda a</p><p>eternidade.</p><p>O crescimento em santidade e conhecimento são, nesta vida</p><p>presente, mesmo no seu apogeu, lentos e vacilantes. Mas, depois</p><p>da morte, as condições são incomparavelmente mais favoráveis.</p><p>Que maravilhosas possibilidades para o crescimento da alma se</p><p>manifestam nesses anos, felizes, abençoados e pacíficos, em íntima</p><p>comunhão com Cristo! O estado intermediário é, pois,</p><p>proeminentemente, um estado de preparação e educação especiais,</p><p>para o supremo serviço no Reino eterno e perfeito. O povo do</p><p>Senhor tornar-se-á, então, senhor sobre muitas coisas, de acordo</p><p>com as suas promessas (Mateus 24.21-23).</p><p>Aqueles que já partiram e estão, agora, no estado intermediário,</p><p>continuam, com certeza, a saber o que se passa neste mundo,</p><p>talvez por meio de visão direta, ou por meio de revelação de Deus</p><p>ou dos anjos, ou através dos que partiram desta vida, depois deles.</p><p>Se temos, neste mundo, meios de comunicação tão eficientes,</p><p>puramente mecânicos, como sejam o telefone, o rádio, a televisão,</p><p>de tal maneira que acontecimentos ocorridos em qualquer parte do</p><p>mundo, podem ser vistos e ouvidos imediatamente noutra parte,</p><p>vamos duvidar de que, nem reino superior, não sejam mais diretos e</p><p>eficientes do que os que estão ao nosso alcance?</p><p>Devemos-nos lembrar de que o estado intermediário, embora seja</p><p>um estado de liberdade do pecado e da dor, e um período de grande</p><p>progresso individual, é, apesar disso, noutros aspectos, um estado</p><p>imperfeito. Esta imperfeição consiste, em primeiro lugar, no fato da</p><p>alma estar separada do corpo, o que, para o gênero humano, é uma</p><p>condição anormal. O corpo, com os seus órgãos dos sentido, é o</p><p>instrumento por meio do qual nos pomos em contato com o mundo</p><p>físico. Enquanto existir a desencarnação, a alma não tem, tanto</p><p>quanto nos é possível saber, nenhum instrumento com que possa</p><p>contactar com o mundo físico ou comunicar com os indivíduos, aqui</p><p>na terra. A imperfeição consiste ainda em que a prometida</p><p>recompensa a ser dada ao povo do Senhor não é concedida, nem à</p><p>hora da morte, nem durante a presente dispensação. Não é a morte</p><p>do crente, mas a Segunda Vinda de Cristo que está designada</p><p>como sendo a oportunidade para a distribuição de recompensas</p><p>pelos trabalhos e sacrifícios desta vida. Paulo disse: “a coroa da</p><p>justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará</p><p>naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos</p><p>amam a sua vinda” (2 Timóteo 4.8). Paulo não recebeu ainda, pois,</p><p>a sua coroa, pois “aquele dia” ainda não chegou. Paulo e todos os</p><p>santos no Paraíso continuam à espera desse dia. Nosso Senhor</p><p>ensinou precisamente o mesmo, quando disse que aqueles que, ao</p><p>fazerem uma festa, convidam os pobres e os necessitados, terão a</p><p>sua recompensa na ressurreição dos justos (Lucas 14.12-14). A</p><p>Bíblia não alia, em parte alguma, a concessão da prometida</p><p>recompensa com a morte do crente. As bênçãos recebidas no</p><p>estado intermediário, embora grandes, devem ser consideradas</p><p>apenas como arras e como uma antecipação das boas coisas que</p><p>estão por vir.</p><p>Portanto, a vida do homem não se divide em dois períodos, como</p><p>tantas vezes se julga, mas em três. Primeiro, o período que vai do</p><p>nascimento até a morte, ou seja, a vida neste mundo, e no corpo</p><p>natural; segundo, a vida entre a morte e a ressurreição, o estado</p><p>intermediário, ou seja, a vida sem corpo; e, terceiro, a vida no corpo</p><p>ressurreto, que é o estado final e eterno.</p><p>Os ímpios, por outro lado, quando morrem, entram imediatamente</p><p>num período de sofrimento consciente, que é aumentado, tornando-</p><p>se permanente, na ressurreição e no julgamento final. Não há</p><p>muitas passagens bíblicas que deem informação a respeito do ímpio</p><p>no estado intermediário. A parábola do rico e Lázaro, de qual já</p><p>falamos, é a mais evidente. É interessante notar que, nesta</p><p>parábola, o rico tinha maior consciência da via no além, do que a</p><p>tem, nesta vida, uma pessoa normal, pois sabia o que se passava</p><p>em três reinos: no seu, naquele em que estavam Abraão e Lázaro, e</p><p>no mundo em que vivemos, onde ainda tinha cinco irmãos. No outro</p><p>mundo, tinha o mesmo caráter que possuirá neste mundo. Não</p><p>houve qualquer falha de memória, nem qualquer mudança de</p><p>personalidade. Aquilo que o homem é, neste mundo, continua a ser</p><p>no outro. Devemos salientar que o rico não foi para o inferno por ser</p><p>rico, mas por ser egoísta e cruel, como se pode ver pelo fato de</p><p>deixar o pobre Lázaro morrer de fome, apesar de possuir em tão</p><p>grande excesso toda a sorte de riquezas e bens; e Lázaro não foi</p><p>para o céu por ser pobre, mas por ser bom. O rico viveu nesta vida</p><p>separado de Deus; não podia deixar de viver do mesmo modo na</p><p>outra vida.</p><p>Este ensino geral é resumido em poucas palavras no Breve</p><p>catecismo e na Confissão de fé de Westminster. Em resposta à</p><p>pergunta: “Que benefícios recebe o crente em Cristo, na sua</p><p>morte?”, o Catecismo responde: “As almas dos crentes são, na hora</p><p>da morte, tornadas perfeitas em santidade e entram imediatamente</p><p>na glória; e os seus corpos, ainda unidos com Cristo, repousam em</p><p>túmulos até a ressurreição”.</p><p>A Confissão de fé de Westminster faz uma afirmação clara a</p><p>respeito dos justos e dos ímpios, quando diz que, com a morte, “as</p><p>almas dos justos, tornando-se perfeitas em santidade, são recebidas</p><p>nos mais altos céus, onde contemplam a face de Deus em luz e</p><p>glória, esperando pela completa redenção dos seus corpos; e as</p><p>almas dos ímpios são lançadas no inferno, onde ficam em tormentos</p><p>e em escuridão profundo, esperando o julgamento do grande dia.</p><p>Além destes dois lugares destinados às almas que partiram dos</p><p>seus corpos, as Escrituras não reconhecem nenhum outro”.</p><p>2. Sheol — Hades</p><p>Sheol é a palavra hebraica usada no Antigo Testamento para</p><p>designar o lugar onde se encontram as almas dos mortos, e Hades</p><p>é a palavra grega que lhe corresponde no Novo Testamento. Tem-se</p><p>discutido muito a respeito do significado preciso destas palavras, e</p><p>ainda hoje há uma diferença apreciável de opiniões, principalmente</p><p>entre eruditos liberais e conservadores.</p><p>Consideremos, em primeiro lugar, a palavra Sheol. É, em si, um</p><p>termo neutro, não indicando nem felicidade nem miséria. Tem</p><p>muitas vezes o significado de túmulo, ou morte, no seu sentido mais</p><p>amplo. É usada com este sentido, por exemplo, quando Jacó,</p><p>chorando seu filho José, que pensava ter sido morto pelas feras,</p><p>disse: “Chorando, descerei a meu filho até à sepultura (Sheol)”</p><p>(Gênesis 37.35); e, outra vez, quando Jacó, com medo que algum</p><p>mal acontecesse a Benjamin, disse: “se lhe sucede algum desastre</p><p>no caminho por onde fordes, fareis descer minhas cãs com tristeza</p><p>à sepultura (Sheol)” (Gênesis 42.38).</p><p>Fala-se tanto na ida dos justos como na ida dos ímpios para o</p><p>Sheol. O salmista diz a respeito do justo: “Que homem há, que viva</p><p>e não veja a morte? Ou que livre a sua alma das garras do sepulcro</p><p>(Sheol)? ” (Salmos 89.48); e “Pois a minha alma está farta de males,</p><p>e a minha vida já se abeira da morte (Sheol)” (Salmos 88.3). Deus,</p><p>falando através do profeta Oseias, disse: “Eu os remirei do poder do</p><p>inferno (Sheol) e os resgatarei da morte; onde estão, ó morte, as</p><p>tuas pragas? Onde está, ó inferno (Sheol), a tua</p><p>destruição?”(13.14). Quanto aos ímpios, diz-se, em relação a Corá e</p><p>seus associados, que “Eles e todos os que lhes pertenciam</p><p>desceram vivos ao abismo (Sheol); a terra os cobriu, e pereceram</p><p>do meio da congregação” (Números 16.33); referindo-se ainda a</p><p>ímpios, a Bíblia diz: “Como ovelhas são postos na sepultura (Sheol);</p><p>a morte é o seu pastor; eles descem diretamente para a cova</p><p>(Sheol), onde a sua formosura se consome” (Salmos 49.14).</p><p>Nalgumas passagens do Antigo Testamento a descida ao Sheol é</p><p>apresentada como um castigo contra os ímpios: “Passam eles os</p><p>seus dias em prosperidade e em paz descem à sepultura (Sheol)”</p><p>(Jó 21.13); “Os perversos serão lançados no inferno (Sheol), e todas</p><p>as nações que se esquecem de Deus” (Salmos 9.17). Advertindo</p><p>contra a mulher estranha, eis o que se diz em Provérbios 7.27: “A</p><p>sua casa é caminho para a sepultura (Sheol) e desce para as</p><p>câmaras da morte.”. Diz-se que a ira de Deus arde naquele lugar:</p><p>“Porque um fogo se acendeu no meu furor e arderá até ao mais</p><p>profundo do inferno (Sheol)” (Deuteronômio 32.22).</p><p>Por outro lado, tanto o Antigo Testamento como o Novo, apresentam</p><p>o estado da morte dos justos como recompensa e felicidade; se,</p><p>pois, tanto o justo como o ímpio vão para o Sheol, a palavra não</p><p>pode trazer consigo necessariamente nem a ideia de recompensa,</p><p>nem a de castigo. Diz-se a respeito dos jutos: “Que eu morra a</p><p>morte dos justos, e o meu fim seja como o dele” (Números 23.10);</p><p>“Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude</p><p>de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente” (Salmos 16.11); e</p><p>“Tu me guias com o teu conselho e depois me recebes na glória”</p><p>(Salmos 73.24).</p><p>Usa-se, por vezes, Sheol, para designar o que temos em mente</p><p>quando falamos do “mundo invisível”, um estado desencarnado,</p><p>mas não inconsciente, do ser. As Escrituras, ao descreverem os</p><p>mortos, falam também muitas vezes deles, como nos parece —</p><p>numa condição de repouso, tendo cessado todos os seus interesses</p><p>e atividades terrenas. Em Eclesiastes 9.10, usa-se a palavra neste</p><p>sentido: “Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as</p><p>tuas forças, porque no além (Sheol), para onde tu vais, não há obra,</p><p>nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma”.</p><p>A teologia liberal contemporânea considera o Sheol do Antigo</p><p>Testamento como um lugar em que não existem distinções morais e,</p><p>portanto, sem bênçãos, por um lado, nem dor, por outro. De acordo</p><p>com este ponto de vista, seria uma espécie de mundo visionário,</p><p>inferior, de inação, escuridão e silêncio. Opondo-se a este ponto de</p><p>vista, diz o Dr. Berkhof: “Hoje em dia, é muito prevalecente a ideia</p><p>de que o termo Sheol, usando no Antigo Testamento, a que</p><p>corresponderia no Novo Testamento o termo Hades, foi adotado da</p><p>noção gentílica de mundo inferior. Sustenta-se que, segundo o</p><p>Antigo e o Novo Testamento, tanto os justos como os ímpios entram,</p><p>na hora da morte, na região vaga, das sombras, terra de</p><p>esquecimento, onde ficam condenados a uma existência que é um</p><p>vago reflexo da vida na terra. O mundo inferior não é, em si, nem</p><p>um lugar para se ser recompensado, nem um lugar de punição. Não</p><p>está dividido em compartimentos, um para os bons e outro para os</p><p>maus, mas é, antes, uma região sem distinções morais. É um lugar</p><p>de consciência enfraquecida, e de inatividade soporíferas, onde a</p><p>vida perdeu todo o seu interesse, e a alegria de viver se transformou</p><p>em tristeza. Alguns são de opinião que o Antigo Testamento</p><p>representa o Sheol como a habitação permanente de todos os</p><p>homens, enquanto que outros pensam que há uma certa esperança</p><p>de fuga para os justos”.[19] Já foi demonstrado suficientemente que</p><p>o ponto de vista liberal de um vago mundo inferior, tem pouco apoio</p><p>nas Escrituras, sendo, de fato, contrário ao ensino geral.</p><p>A palavra inferno nunca aparece nos manuscritos originais do Antigo</p><p>Testamento. No entanto, nas nossas versões modernas, a palavra</p><p>Sheol é traduzida assim várias vezes; por vezes, é traduzida por</p><p>“sepultura”, embora não seja esse o seu significado no original.</p><p>No Novo Testamento, o lugar onde se encontram as almas dos</p><p>mortos, é chamado, em geral, Hades, embora, tal como acontece</p><p>com Sheol, esta palavra não esteja sempre usada com o mesmo</p><p>significado. Significa, por vezes, a condição da morte, ou existência</p><p>desencarnada. Neste sentido, até está escrito que a alma de Jesus</p><p>esteve no Hades. Em Atos 2.31, diz Pedro: “prevendo isto, referiu-se</p><p>à ressurreição de Cristo, que nem foi deixado na morte (Hades),</p><p>nem o seu corpo experimentou corrupção”, isto é, ele não</p><p>permaneceu morto, nem sob o poder da morte, mas ressuscitou.</p><p>Historicamente, a declaração do Credo Apostólico, “ele desceu ao</p><p>inferno”, quer apenas dizer que ele morreu, ou seja, que visitou o</p><p>mundo invisível.</p><p>Nas seguintes passagens do Novo Testamento, as expressões</p><p>Hades e inferno (grego: Gehenna), trazem consigo a ideia de</p><p>castigo: “No inferno, estando em tormentos, levantou os olhos e viu</p><p>ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio” (Lucas 16.23); “Tu,</p><p>Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até ao céu? Descerás até ao</p><p>inferno” (Mateus 11.23); “E quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao</p><p>inferno de fogo” (Mateus 5.22); “Serpentes, raça de víboras! Como</p><p>escapareis da condenação do inferno?”(Mateus 23.33); etc.</p><p>Podemos dizer, em suma, que no Antigo Testamento Sheol significa,</p><p>geralmente, a sepultura, e, algumas vezes, o lugar de castigo,</p><p>enquanto que no Novo Testamento, Hades e inferno significam,</p><p>geralmente, lugar de punição, e, por vezes, a sepultura.</p><p>Podemos, pois, dizer que estas palavras, Sheol e Hades, não são,</p><p>de forma evidente, usadas sempre com o mesmo significado e que,</p><p>portanto, não podem ser traduzidas sempre da mesma maneira,</p><p>quer seja a condição de morte, o túmulo, o lugar das almas que</p><p>partiram, o inferno ou o mundo inferior. Muitos dos melhores</p><p>pensadores, incluindo Vos e Berkhof, afirmam que estas palavras</p><p>não têm sempre o mesmo significado.</p><p>Além disso, seria necessário dizer algo, nesta conexão, a respeito</p><p>das palavras Paraíso e Céu, e também, Limbus Patrum e Limbus</p><p>Infantum.</p><p>A palavra Paraíso, é de origem oriental e significa parques ou</p><p>jardins de prazer; em todo o Novo Testamento, aparece três vezes:</p><p>Lucas 23:43, “Hoje estarás comigo no Paraíso” --- palavras de Jesus</p><p>ao ladrão arrependido; em 2 Coríntios 12:4, em que o Apośtolo</p><p>Paulo, falando de si mesmo, diz que ao homem não é lícito falar”,</p><p>explicando ele, no versículo 2, que fora arrebatado ao terceiro céu; e</p><p>em Apocalipse 2:7, “ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da</p><p>vida, que está no meio do paraíso de Deus”.</p><p>De acordo com estes versículos, Paraíso é, sem dúvida, o Céu. É o</p><p>lugar onde se encontra presentemente Cristo, o lugar em que Ele</p><p>manifesta a Sua presença e a Sua glória. Diz-se, por vezes, que,</p><p>para os remidos, o Paraíso é o céu sem o corpo, ou seja, o céu</p><p>antes da ressurreição. Onde estiver o corpo ressurreto de Cristo, aí</p><p>o Céu. E, visto que o Seu corpo ressuscitado é finito e limitado,</p><p>como o é toda a natureza humana que não está presente em toda a</p><p>parte, mas únicamente num dado lugar, o Céu, tanto pode ser um</p><p>lugar como um estado; um lugar em que os santos são exaltados e</p><p>tão felizes quanto lhes é possível, nesse seu estado de existência.</p><p>Limbus Patrum. A teologia católica afirma que os crentes do Velho</p><p>Testamento, quando morriam, iam para uma região denominada</p><p>Limbus patrum, onde permaneceram</p><p>sem a visão beatífica de Deus,</p><p>mas sem sofrerem, até que Cristo realizou a Sua obra de redenção.</p><p>A palavra limbus é uma palavra latina, significando orla, ou cercania;</p><p>o limbus patrum era um dos vários compartimentos em que,</p><p>primeiro, a teologia judaica, e depois, a teologia dos fins da Idade</p><p>Média, dividiam o mundo invisível. Depois da sua morte na Cruz, e</p><p>enquanto o Seu corpo permaneceu no túmulo, supõe-se que Cristo</p><p>desceu a essa região, libertou as almas ali cativas, levando-as em</p><p>triunfo para os céus.</p><p>Este ponto de vista é inferido de 1 Pedro 3.18-20, onde se lê: “Pois</p><p>também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos</p><p>injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas</p><p>vivificado no espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em</p><p>prisão, os quais, noutro tempo, foram desobedientes quando a</p><p>longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé, enquanto se</p><p>preparava a arca, na qual poucos, a saber, oito pessoas, foram</p><p>salvos, através da água”.</p><p>Eis aqui, sem dúvida, uma passagem difícil de interpretar. E pode-se</p><p>interpretar de forma totalmente diversa, sendo, portanto, uma</p><p>passagem bem frágil para se edificar sobre ela uma doutrina. De</p><p>fato, algumas teorias, verdadeiramente fantásticas, têm surgido com</p><p>a intenção de dizer o que esta passagem ensina. Cremos, porém,</p><p>não ser difícil encontrar uma interpretação correta. Lembremo-nos</p><p>sempre de que, em toda a carreira terrena de Cristo, a sua</p><p>obediência à vontade do Pai era realizada por meio da direção e</p><p>motivação do Santo Espírito. O Espírito Santo desceu sobre a</p><p>Virgem Maria antes de Jesus nascer (Lucas 1.35); o Espírito</p><p>desceu, em forma visível, no momento do seu batismo (Mateus</p><p>3.16); depois do batismo, foi levado pelo Espírito ao deserto onde</p><p>esteve quarenta dias e quarenta noites (Mateus 4.1). Em toda a sua</p><p>carreira na terra, ele foi obediente à vontade do Pai, sob a direção, o</p><p>poder motor, e a unção do Espírito Santo. Em 1 Pedro 3.18, lemos</p><p>que, depois da sua crucificação, foi “vivificado no espírito”. Isto,</p><p>cremos, significa o Espírito Santo. O versículo 19 diz-nos que foi</p><p>neste mesmo Espírito que “também foi e pregou aos espíritos em</p><p>prisão”. O versículo 20, diz-nos: “quando a longanimidade de Deus</p><p>aguardava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca”, ao</p><p>povo o seu tempo. A pregação à qual Pedro se refere, esvanecera-</p><p>se já há muito tempo. Ocorrera quando a arca estava em</p><p>construção; e o mais trágico a esse respeito é que apenas oito</p><p>almas corresponderam a essa pregação. Esses oito, e apenas</p><p>esses se salvaram pela água. Os que recusaram o testemunho do</p><p>Espírito de Cristo, quando falou por intermédio de Noé, eram “os</p><p>espíritos em prisão”, ou seja, que estavam na prisão do pecado, ou</p><p>no inferno, no tempo em que Pedro escreveu, e ainda ali se</p><p>encontram. Não vemos, pois, nesta passagem quaisquer bases para</p><p>a doutrina do limbus patrum. Devemos ainda dizer, porém, que, de</p><p>acordo com a teologia católica, essa religião encontra-se hoje vazia.</p><p>Limbus Infantum. Também, segundo a teologia católica todas as</p><p>crianças não batizadas, de pais gentios ou cristãos não são aceitas</p><p>no Céu, sendo retidos numa região conhecida como limbus</p><p>infantum. Esta doutrina baseia-se em João 3:5 que é interpretado de</p><p>forma a significar que ninguém pode ser salvo, sem ser batizado.</p><p>Isto está intimamente ligado com a doutrina da regeneração pelo</p><p>batismo: a alma é renovada espiritualmente na altura do batismo, e</p><p>todas as pessoas que morrem sem ser batizadas levam consigo a</p><p>culpa do pecado original. Os concílios ecuménicos de Lião e</p><p>Florença, e os cânones do Concílio de Trento declaram de forma</p><p>evidente que a alma das crianças não batizadas vão para esse</p><p>reino. Porém a Igreja Católica Romana nunca definiu a natureza da</p><p>punição, limitando-se a dizer que as crianças não estão salvas.</p><p>Sempre houve certa relutância em dizer que estas crianças estão</p><p>perdidas, de forma que os teólogos Católicos têm diferido imenso a</p><p>respeito da sua condição; talvez a maioria afirme que não há um</p><p>sofrimento real, mas que elas estão simplesmente excluídas das</p><p>bênçãos celestiais. Que contraste com a doutrina geralmente aceita</p><p>pelos protestantes, de que todos os que morrem na infância estão</p><p>salvos!</p><p>3. A segunda provação</p><p>Segundo a teoria da “segunda provação”, ou “segunda</p><p>oportunidade”, aqueles que morreram sem estarem salvos, têm</p><p>outra oportunidade para salvação, na vida futura. A Igreja Cristã,</p><p>quase universalmente, tem sustentado que apenas os que já são</p><p>crentes na hora da morte estão salvos e que não haverá uma</p><p>segunda oportunidade para arrependimento, depois da morte. O</p><p>ponto de vista oposto tem sido defendido apenas por indivíduos ou</p><p>por grupos relativamente pequenos. Nos primeiros séculos, apenas</p><p>Orígenes e alguns místicos tinham esta opinião. No tempo da</p><p>Reforma, alguns dos Anabatistas afirmaram que haveria uma</p><p>segunda oportunidade. Durante o século XIX, alguns teólogos, na</p><p>Alemanha, e na Inglaterra ( o mais importante dos quais foi o</p><p>alemão Schleiermacher), defenderam esta ideia, dando um grande</p><p>impulso a este ensino. Recentemente, a seita conhecida como</p><p>Testemunhas de Jeová, começou a propagá-la, de forma agressiva,</p><p>assim como os Adventistas do Sétimo Dia. Como o modernismo,</p><p>com a sua negação mais ou menos consistente, do sobrenatural no</p><p>Cristianismo se tem tornado mais proeminente, a teoria da “segunda</p><p>provação” tornou-se a doutrina característica dos Universalistas. ( A</p><p>doutrina do Purgatório, no Catolicismo, relacionada com este</p><p>assunto, será discutida noutro capítulo ).</p><p>Entre os que acreditam numa “segunda provação”, há várias</p><p>opiniões sobre se esta oportunidade vai ser oferecida a todos, ou</p><p>apenas a certas categorias de indivíduos.</p><p>Praticamente, todos concordam em que esta oferta será feita a</p><p>todos os que morreram na infância e a todos os pagãos adultos que</p><p>não ouviram, nesta vida, o Evangelho; a tendência geral, porém, é</p><p>torná-la extensiva a todos quantos nunca pensaram a sério nas</p><p>reivindicações de Cristo, ou o rejeitaram. A maior parte daqueles</p><p>que aceitam tal ponto de vista diz que que ninguém, a não ser os</p><p>que resistem obstinadamente, se perderá. Alguns pensam que os</p><p>que não estão salvos passarão por um novo período de preparação,</p><p>sendo este período mais ou menos longo e intenso, de forma que,</p><p>eventualmente, todos os seres humanos se salvarão. Isto é,</p><p>evidentemente, universalismo. Considerando os sofrimentos</p><p>experimentados depois da morte como essencialmente</p><p>disciplinares, e não punitivos ou vingativos.</p><p>O apoio para a teoria da “segunda provação” está baseado mais em</p><p>conjecturas humanitárias, ou em suspeitas sobre o que Deus, no</p><p>seu amor e bondade, deveria fazer e num desejo, facilmente</p><p>compreensível, de alargar a redenção a tantos quantos possível, do</p><p>que em bases encontradas nas Escrituras. A única passagem das</p><p>Escritura se baseiam os que defendem este ponto de vista, é I</p><p>Pedro 3:18-20, em que se diz que Cristo, no período entre a Sua</p><p>morte e a Sua ressurreição, foi ao mundo inferior e pregou aos</p><p>espíritos dos que tinham morrido antes da Sua crucificação,</p><p>oferecendo-lhes salvação pelo sacrifício que acabara de fazer. Já</p><p>apresentamos, no parágrafo anterior, o que pensamos ser a</p><p>interpretação correta destes versículos. Se esta interpretação é</p><p>correta, estes versículos não têm qualquer forma, só podiam ser</p><p>aplicados àqueles que morreram antes da crucificação. Os que</p><p>morreram desde aquela data, em especial os que ouviram o</p><p>Evangelho e O rejeitaram, tiveram uma oportunidade mais que</p><p>excelente. Mas, exegeticamente falando, estes versículos não dão</p><p>qualquer apoio à teoria de que os que recusam o testemunho da</p><p>graça de Deus, neste mundo, ouvirão, de novo, no outro mundo, a</p><p>pregação do Evangelho. A solene realidade é que todos os que</p><p>morrem, na incredulidade, serão condenados eternamente. Nada há</p><p>nas Escrituras que mostre que os tais terão uma segunda</p><p>oportunidade.</p><p>As Escrituras apresentam-nos de maneira uniforme o estados dos</p><p>justos e os ímpios, depois da morte, como definitivo. A passagem</p><p>mais importante nesta conexão é, talvez, a parábola do rico</p><p>e</p><p>Lázaro, em Lucas 16.19-31. “E, além de tudo, está posto um grande</p><p>abismo entre nós e vós, de sorte que os que querem passar daqui</p><p>para vós outros não podem, nem os de lá passar para nós”. Jesus</p><p>deu-nos um aviso solene: “se não crerdes que E� S��, morrereis</p><p>nos vossos pecados” (João 8.24). Cristo declarou, em quatro</p><p>ocasiões diferentes, que depois da rejeição da oportunidade</p><p>concedida neste mundo, “haverá pranto e ranger de dentes”: Mateus</p><p>13.42 (parábola do joio); Mateus 22.13 (parábola das Bodas);</p><p>Mateus 24.51 (parábola dos dois servos); e Mateus 25.30 (parábola</p><p>dos talentos). Esta afirmação, dura como é, indica abertamente a</p><p>miséria absoluta duma condição permanente e, o seu uso repetido,</p><p>mostra a sua preocupação em que nossas mentes ficassem</p><p>profundamente impressionadas. Mostra ainda que ele conhecia a</p><p>inclinação humana para atenuar a antítese absoluta entre salvação</p><p>e perdição, eterna e espiritualmente.</p><p>A teoria da “segunda provação” é refutada pelas passagens em que</p><p>a morte é representada como sendo o momento decisivo pelo qual o</p><p>homem deve esperar estar vigilante. Um dos versículos mais</p><p>notáveis é Hebreus 9:27: “Aos homens está ordenado morrerem</p><p>uma vez, vindo depois disso o juízo”. O fim desta vida e o</p><p>julgamento final são aqui postos em imediata conexão, como se não</p><p>existisse um estado intermediário. O Apóstolo Paulo diz em 2</p><p>Coríntios 5:10: “Porque todos devemos comparecer ante o tribunal</p><p>de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por</p><p>meio do corpo, ou bem, ou mal”; e em 2 Coríntios 6:2: “eis aqui</p><p>agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da Salvação”.,</p><p>Não existe um único versículo na Bíblia que dê um verdadeiro apoio</p><p>à ideia da “segunda provação”. Pelo contrário o ensino constante é,</p><p>antes, que o destino do homem, para bem ou mal, se decide neste</p><p>mundo; aquilo que formos na hora da morte, sê-los-emos</p><p>eternamente. Uma vez passada a fronteira desta vida, não há mais</p><p>regresso, nem chamada. Um grande abismo, intransponível, separa</p><p>os justos dos ímpios, e o estado intermediário não tem qualquer</p><p>valor para preparar para o julgamento final.</p><p>A teoria da “segunda provação” baseia-se na suposição de que</p><p>apenas a rejeição consciente e deliberada de Cristo e do Evangelho</p><p>nos pode condenar. A incredulidade é, evidentemente, um grande</p><p>pecado; não é, porém, a única forma de revolta contra Deus, nem a</p><p>única razão para condenação. Estamos perdidos em resultado da</p><p>queda de Adão. Até sermos regenerados e convertidos, somos</p><p>vítimas, tanto do pecado original, como do pecado pessoal. O</p><p>pecado original é bastante, por isso, para nos condenar, embora a</p><p>sua penalidade não seja tão severa, se se não acrescentasse a do</p><p>pecado atual. Dr. Augustus H. Strong, famoso teólogo batista,</p><p>demonstrou isso claramente da seguinte maneira:</p><p>A teoria de uma segunda provação, recentemente defendida, é</p><p>tão somente o resultado lógico do já mencionado ponto de</p><p>vista defeituoso sobre a vontade, mas é também, em parte,</p><p>uma consequência da negação da antiga doutrina ortodoxa e</p><p>paulina a respeito da unidade orgânica da raça na</p><p>transgressão de Adão. A Nova Escola de Teologia tendeu a</p><p>desviar-se da noção de uma boa prova da humanidade no</p><p>nosso primeiro pai e de um pecado e culpa comuns à raça</p><p>humana nele. Não se pode ver como considera uma boa prova</p><p>para cada indivíduo que, no princípio, pecou; e a conclusão é</p><p>fácil: deve haver uma boa provação para cada indivíduo no</p><p>mundo vindouro. Mas devemos aconselhar os que tomam este</p><p>ponto de vista que voltem à teologia. Admitir uma boa</p><p>provação para toda a raça que já passou e a condição da</p><p>humanidade não mais é a dos simples desafortunados, mas,</p><p>ao invés disso, dos seres culpados e condenados a quem a</p><p>oportunidade presente e até mesmo a atual existência, é</p><p>puramente matéria de graça; muito mais a provisão de uma</p><p>salvação e a sua oferta a qualquer alma humana. O mundo já</p><p>é um lugar de segunda provação; e visto que a segunda</p><p>provação se deve à misericórdia de Deus, nenhuma provação</p><p>depois da morte é necessária para vindicar quer a justiça quer</p><p>a bondade de Deus.[20]</p><p>Uma outra séria objeção à teoria desta futura provação é que</p><p>deprecia a importância da vida presente e que, por assim dizer,</p><p>extingue o zelo missionário. Se houvesse uma outra provação, ou,</p><p>talvez, uma série delas até sermos todos salvos, não teria a mínima</p><p>importância ficarmos justificados ou não perante Deus, nem tão</p><p>pouco levar a mensagem da salvação àqueles que ainda não a</p><p>ouviram. Se houvesse uma outra oportunidade, a necessidade de</p><p>nos arrependemos agora não seria tão urgente. O dever de</p><p>evangelizarmos toda a criatura, para que não pereça, tem sido o</p><p>ponto de vista tradicionalmente cristão. Se a doutrina da segunda</p><p>provação fosse aceite unanimemente, faria descer o nível moral do</p><p>lar, e desencorajaria o movimento missionário.</p><p>4. O sono da alma</p><p>A doutrina do “sono da alma” afirma que a alma permanece</p><p>inconsciente depois da morte, continuando assim até a ressurreição.</p><p>De acordo com esta doutrina, as almas dos mortos dorme nos</p><p>túmulos, isto é, num mundo silencioso em que não há</p><p>conhecimento, consciência ou atividade.</p><p>A ideia do “sono da alma” surgiu, sem dúvida, em parte, do aspecto</p><p>que o corpo tem depois da morte, pois parece adormecido. O corpo</p><p>é colocado, em geral, deitado, e, em especial entre os cristãos,</p><p>toma-se grande cuidado com ele, devido a um sentido especial de</p><p>amor e ternura semelhante ao que se tem por uma criança na cama,</p><p>para dormir. O corpo morto e o corpo adormecido são tão</p><p>semelhantes que se torna natural falar da morte como de um sono</p><p>infindo. Até mesmo os que crêem firmemente na continuação da</p><p>atividade consciente da alma depois da morte, falam, muitas vezes,</p><p>desta maneira. A Bíblia, também, como já foi dito, descreve as</p><p>coisas mais como parecem ser do que como elas são.</p><p>Esta doutrina, como a da segunda provação, é um dos princípios</p><p>que caracterizam as Testemunhas de Jeová e os Adventistas do</p><p>Sétimo Dia. Tem sido mantida por pequenos grupos isolados e</p><p>refutada pelos principais corpos da Igreja Cristã. O professor</p><p>Berkhof diz: “Eusébio refere-se a uma pequena seita da Arábia que</p><p>defendia este ponto de vista. Durante a Idade , havia bastantes</p><p>Psicopaniquianos, e durante a época da Reforma este erro foi</p><p>preconizado por alguns dos Anabatistas. Calvino escreveu até um</p><p>tratado contra eles, intitulado “Psicopaniquia”. No século XIX alguns</p><p>dos Irvingitas, na Inglaterra, sustentava este princípio doutrinário,</p><p>que, hoje em dia, é uma das doutrinas favoritas dos Russelitas. De</p><p>acordo com estes últimos, o corpo e a alma vão para o túmulo,</p><p>estando a alma num estado de sonolência, isto é, realmente num</p><p>estado de não-existência. Aquilo, a que chamam de ressurreição é,</p><p>na verdade, uma nova criação. Durante o Milênio, os ímpios terão</p><p>uma nova oportunidade, mas seŕao aniquilados, se não mostrarem</p><p>durante os primeiros cem anos uma marcada melhoria. Se derem</p><p>durante este perído provas de melhoria no seu viver, a provação</p><p>prosseguirá; termina em aniquilamento, se continuarem</p><p>impenitentes. Não existe nem inferno, nem local algum de tormentos</p><p>eternos”.</p><p>Os Adventistas do Sétimo Dia ilustram esta sua doutrina</p><p>comparando-a com o que acontece quando a lâmpada elétrica é</p><p>desparafusada, de forma a interromper a corrente. A luz apaga-se, e</p><p>assim continua até que a lâmpada é posta de novo em contato com</p><p>a corrente: há, de novo, luz. Um escritor diz: “ a luz do homem, ou</p><p>seja, a sua vida, apaga-se com a morte, e cessa de viver até a sua</p><p>ressurreição”. As Testemunhas de Jeová afirmam igualmente que a</p><p>vida humana cessa completamente durante o período que medeia</p><p>entre a morte e a ressurreição.</p><p>Mas a falácia deste argumento está em que assume aquilo que vai</p><p>ser provado, ou seja, que a alma, como a luz, deixa de existir com a</p><p>morte. Não se apresentam provas para esta suposição, exceto o</p><p>fato de não tornarmos a ver o indivíduo. O fato que os dois casos</p><p>são completamente diferentes. Não é a mesma luz que aparece ao</p><p>haver de novo contato, mas sim outra luz nova, pois que luz é</p><p>continuamente recriada. Por outro</p><p>lado, a alma humana é uma</p><p>realidade contínua e permanente. A alma que é recompensada no</p><p>céu ou punida no inferno, é a mesma que viveu na terra. Se a alma</p><p>deixasse de existir com a morte e fosse criada uma nova alma na</p><p>ressurreição, não seria a mesma alma e, portanto, não poderia ser</p><p>nem recompensada nem punida pelo que a outra alma fizera. Se,</p><p>como foi dito da alma desencarnada, “a sua luz ou vida se apagasse</p><p>com a morte”, não poderia, de forma alguma, ser a mesma alma,</p><p>quando for trazida de novo à vida, na ressurreição. Isto torna-se</p><p>evidente, quando nos lembramos de que uma alma fora do corpo é</p><p>apenas um espírito, uma vida consciente. A característica</p><p>fundamental dum espírito é a vida: não possui qualquer substância</p><p>material que possa conter a sua personalidade. Não é possível a</p><p>existência dum espírito “não-vidente”, visto que a consciência, ou</p><p>seja, a vida é aquilo que constitui um espírito.</p><p>Opondo-nos à doutrina do “sono da alma”, insistimos em que a</p><p>morte não é extinção, mas apenas a separação da alma do corpo.</p><p>Podemos, talvez, perguntar: “Como pode uma pessoa que não</p><p>existe tornar a existir? Em que sentido seria esta pessoa a mesma</p><p>pessoa que viveu anteriormente?’ Quanto aos ímpios, poderíamos</p><p>perguntar: “Por que razão se trariam pecados inexistentes, de novo,</p><p>à vida? Por que se fariam re-existir esses pecadores, com o fim</p><p>único de os fazer cessar de existir outra vez?”</p><p>Os que ensinam o “sono da alma”, baseiam-se principalmente nas</p><p>seguintes referências das Escrituras:</p><p>(1) No Novo Testamento: “Nosso amigo Lázaro adormeceu, mas vou</p><p>para despertá-lo”. Mas, depois Jesus disselhes claramente: “Lázaro</p><p>morreu” (João 11.11, 14). Referindo-se à filha do chefe da sinagoga,</p><p>disse Jesus: “a menina não está morta, mas dorme” (Mateus 9.24).</p><p>O primeiro mártir, Estevão, morreu apedrejado, e é-nos dito que</p><p>“adormeceu” (Atos 7.60). Paulo usa esta expressão em várias</p><p>ocasiões: “Eis aqui vos digo um mistério: na verdade, nem todos</p><p>dormiremos, mas todos seremos transformados” (1 Coríntios 15.51);</p><p>e, “Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que</p><p>já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não</p><p>têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou,</p><p>assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer</p><p>com Ele” ( 1 Tessalonicenses 4.13-14).</p><p>(2) No Antigo Testamento: “Porque os vivos sabem que hão de</p><p>morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco</p><p>terão eles recompensa, porque a sua memória jaz no esquecimento.</p><p>Amor, ódio e inveja para eles já pereceram; para sempre não têm</p><p>eles parte em coisa alguma do que se faz debaixo do sol”</p><p>(Eclesiastes 9.5-6); “Tudo quanto te vier à mão para fazer, fá-lo</p><p>conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais,</p><p>não há obra, nem indústria, nem ciência, nem sabedoria alguma”</p><p>(Eclesiastes 9.10). “Atenta em mim, ouve me ó Senhor meu Deus ;</p><p>alumia os meus olhos para que eu não adormeça na morte” (Salmo</p><p>13.3). “na morte não há lembrança de ti; no sepulcro, quem te</p><p>louvará?” (Salmo 6:5). “Os mortos não louvam ao Senhor, nem os</p><p>que descem ao silêncio” (Salmos 115.17). “Sai-lhes (dos homens) o</p><p>espírito, e eles tornam-se em terra; naquele mesmo dia, perecem os</p><p>seus pensamentos” (Salmos 146.4). Daniel refere-se aqueles “que</p><p>dormem no pó da terra” (12.2).</p><p>Todos estes versículos, porém, não apresentam qualquer</p><p>dificuldade. Deve ficar bem esclarecido para todos que eles</p><p>descrevem o morto apenas do ponto de vista humano, e não como é</p><p>na realidade. A linguagem usada fala apenas de aparências. A</p><p>Bíblia fala, também, dos “quatro cantos da terra” (Apocalipse 20:8),</p><p>dos “confins da terra” (Zacarias 9:10), do levantar e do pôr do sol,</p><p>etc. A pessoa que está morta, parece exteriormente estar</p><p>“repousando”, ou “dormindo”. Não pode nem ouvir, nem falar, nem</p><p>mover-se, nem tomar, de forma alguma, parte nas atividades deste</p><p>mundo. Mas nenhum dos versículos mencionados pretende dar uma</p><p>descrição da pessoa ou das suas atividades no mundo que há de</p><p>vir, nem tão pouco pretende de forma alguma, penetrar nas</p><p>realidades que constituem a morte.</p><p>Todos concordamos, evidentemente, em que o corpo dorme até a</p><p>ressurreição, isto é, fica inconsciente e insensível. O sono de que</p><p>falamos é o do corpo e não o da alma. Aqueles que ensinam a</p><p>doutrina do “sono da alma”, confundem o sono do corpo com o da</p><p>alma. Sempre que as palavras “sono” e “dormir” são usadas em</p><p>conexão com a morte, o contexto mostra claramente que está</p><p>apenas relacionada com o corpo.</p><p>A parábola do rico e de Lázaro que tanto revela a respeito do estado</p><p>intermediário e a que nos referimos tantas vezes, responde</p><p>completamente a este problema. Temos ali a figura de um salvo e a</p><p>de um perdido, logo após a morte. Lázaro estava no seio de Abraão,</p><p>ou seja, no Paraíso, e o rico estava no inferno. Ambos estavam</p><p>completamente acordados e conscientes. Abraão e o rico</p><p>reconheciam-se mutuamente. Falaram um com o outro, e</p><p>recordaram o que se passava na terra. Lázaro sentia-se feliz e</p><p>consolado, enquanto que o rico se sentia miserável e atormentado.</p><p>Como seria possível apresentar melhor a consciência absoluta?</p><p>Que pobre consolação seria para Lázaro estar no seio de Abraão,</p><p>se estivesse inconsciente, como alguns nos querem fazer crer, e</p><p>não soubesse que estava ali? Não vale a pena objetar que se trata</p><p>apenas duma parábola, porquanto as parábolas de Jesus eram fiéis</p><p>à vida e baseadas na realidade. As parábolas do semeador, do filho</p><p>pródigo, da vinha, da figueira, etc. São nos apresentadas porque há,</p><p>na vida real, semeadores, filhos pródigos, vinhas, figueiras, etc.</p><p>Uma parábola, para ter uma utilidade, deve apresentar uma imagem</p><p>realista daquilo que ilustra, pois, de contrário, torna-se enganadora.</p><p>Além disso, estes acontecimentos são narrados como se tivessem</p><p>acontecido nesta terra, isto é, antes do fim do mundo. Foi Jesus</p><p>quem contou as parábolas. Não só reconhecia a realidade, como</p><p>não falava de maneira a enganar os seus ouvintes.</p><p>Mas, além desta parábola, há ainda muitas porções das Escrituras</p><p>para provar que os crentes gozam duma vida consciente com Deus</p><p>e com Cristo, imediatamente após a morte. Jesus disse ao ladrão</p><p>arrependido, na cruz: “Hoje estarás comigo no Paraíso”. Estas</p><p>palavras não lhe dariam conforto, se ele entrasse num estado de</p><p>inconsciência, para só ser acordado pela trombeta, no dia do juízo</p><p>final. Em vez de um longo sono inconsciente, ele ficou com a</p><p>certeza de que, naquele mesmo dia, estaria com Jesus no Paraíso.</p><p>O espírito de Jesus foi imediatamente para o Pai, e o espírito deste</p><p>ladrão arrependido, salvo pela fé, foi com Ele. Mudar a palavra</p><p>“hoje”, como fazem os Adventistas, de modo a ler-se, “Hoje te digo,</p><p>estarás comigo no Paraíso”, é considerado, pelas melhores</p><p>autoridades como completamente inadmissível, forçando o sentido</p><p>da passagem.</p><p>Na cena da transfiguração (Mateus 17.1-8), Moisés e Elias</p><p>apareceram e falaram com Jesus. Não eram almas dormentes</p><p>Moisés morrera havia quinze séculos, e havia muito que o seu corpo</p><p>se misturara com o pó da terra, mas eis que ele aparece vivo e</p><p>consciente. Elias, do mesmo modo, havia muito que fora levado</p><p>deste mundo. Mas ei-lo, de novo, e vivo.</p><p>Nosso Senhor, na sua discussão com os saduceus, recorreu ao</p><p>Antigo Testamento para provar que três homens, Abraão, Isaque e</p><p>Jacó, continuariam a viver gozando de uma vida consciente, em</p><p>comunhão com Deus: “E que os mortos hão de ressuscitar, Moisés</p><p>o indicou no trecho referente à sarça, quando chama ao Senhor o</p><p>Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. Ora, Deus</p><p>não é Deus de mortos, e sim de vivos; porque para ele todos vivem”</p><p>(Lucas 20.37-38. Note-se o uso do presente). Os corpos destes</p><p>homens estavam mortos, mas as suas almas viviam. Lembremo-nos</p><p>de que os anjos, que são espíritos puros, sem conexão com</p><p>qualquer corpo material, não são almas-dormentes. Por que há de</p><p>então pensar-se que as almas dos homens estão a dormir, quando</p><p>separadas do corpo? Era este um dos argumentos dos Fariseus</p><p>contra os seus rivais, os Saduceus materialistas, isto é, a existência</p><p>de anjos é uma</p><p>prova de que os espíritos podem viver, e realmente</p><p>vivem separados do corpo. Os antigos Saduceus diferiam dos que</p><p>hoje defendem a teoria do “Sono da Alma”, em que eram mais</p><p>conscientes, pois negavam qualquer espécie de vida futura, ao</p><p>passo que os de hoje crêem que, depois de um período de</p><p>inconsciência, a alma tornar-se-á de novo consciente, quando na</p><p>ressurreição se unir ao corpo.</p><p>Devemos ter presente que a ressurreição não se refere à alma, mas</p><p>apenas ao corpo. Não é a alma que ressuscita, mas o corpo. Este é</p><p>o ensino da Bíblia, quando, por exemplo, diz que, ao ser crucificado</p><p>Jesus “abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos, que</p><p>dormiam, ressuscitaram” (Mateus 27.52). A alma não precisa da</p><p>ressurreição, pois não morre.</p><p>O mártir Estevão, ao morrer, cheio de inspiração, declarou ver os</p><p>céus abertos e o Filho do Homem à mão direita de Deus, à sua</p><p>espera (Atos 7.56). Estevão não ia, pois, para um estado de “alma</p><p>adormecida”.</p><p>Paulo afirma que o cristão, ao morrer, está imediatamente presente,</p><p>com Cristo: “Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é</p><p>lucro... Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo</p><p>de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor”</p><p>(Filipenses 1:21,23). Isto só pode significar que ele espera estar</p><p>consciente na presença do Senhor, e receber a Sua bênção</p><p>imediatamente. Diz ele, noutro lugar: “enquanto estamos no corpo,</p><p>vivemos ausentes do Senhor...desejamos antes deixar este corpo,</p><p>para habitar com o Senhor” ( 2 Coríntios 5.6, 8). Ele não falaria com</p><p>certeza, deste modo a respeito duma existência inconsciente que é</p><p>na realidade uma não-existência. Que satisfação teria em estar</p><p>inconscientemente “com o Senhor”? Só podemos compreender</p><p>estas palavras se admitirmos que eles esperava estar consciente</p><p>logo a seguir à sua morte. Com o seu desejo ardente de prestar um</p><p>grande serviço às recém-estabelecidas igrejas, preferiria antes</p><p>continuar a viver e a trabalhar, mesmo no meio de grande</p><p>sofrimento, do que morrer, ser a morte fosse apenas o entrar num</p><p>estado de inconsciência e inação. Se não houvesse consciência,</p><p>não haveria qualquer valor em estar com o Senhor.</p><p>O ensino de Paulo é apresentado ainda em 2 Coríntios 5.1-3:</p><p>“Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se</p><p>desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por</p><p>mãos, eterna, nos céus. E, por isso, neste tabernáculo, gememos,</p><p>aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial; se,</p><p>todavia, formos encontrados vestidos e não nus”. Ele mostra aqui,</p><p>de forma evidente, que depois da morte saberia qual a diferença</p><p>que existe entre ter um corpo e não o ter. Ter um corpo é o mesmo</p><p>que estar “vestido”, enquanto que estar fora do corpo dá a sensação</p><p>de “nu”. O nosso corpo é comparado com o vestuário a que nos</p><p>acostumamos, sentindo falta dele quando no-lo tirarem. Por outras</p><p>palavras, Paulo mostra claramente que, depois da sua morte,</p><p>espera saber a diferença entre ter um corpo e o estar</p><p>desencarnado. Uma alma inconsciente não poderia conhecer tal</p><p>diferença.</p><p>Estas e outras passagens ensinam clara e insofismavelmente que a</p><p>alma continua a existir conscientemente no período que vai da</p><p>morte à ressurreição. Não há, pois, qualquer possibilidade de defesa</p><p>para a errônea doutrina do “sono das almas”.</p><p>Os Adventistas afirmam, em defesa da sua doutrina, que nenhum</p><p>dos que já ressuscitaram apresentavam qualquer relato a respeito</p><p>da sua experiência, sendo isto uma indicação de que estavam</p><p>inconsciente enquanto desencarnados. Podemos, porém, replicar</p><p>que este 'é apenas um argumento ad silentium, não tendo neste</p><p>caso qualquer valor, pois que as Escrituras ensinam noutros lugares</p><p>que os que se encontram no estado intermediário, estão</p><p>conscientes. É muito possível que os que ressuscitaram, tivessem</p><p>narrado algo da sua experiência; as suas narrativas, porém, como</p><p>tantos outros acontecimentos e discursos do seu tempo, não foram</p><p>registadas pelos escritores do Novo Testamento. É muito possível</p><p>até que aquilo que foi experimentado por essas pessoas, enquanto</p><p>fora do seu corpo, fosse uma experiência de tal maneira fora do</p><p>comum que não haja linguagem humana que possa exprimir, da</p><p>mesma forma que a linguagem da matemática superior ou fórmulas</p><p>químicas altamente técnicas, são ininteligíveis para todos quantos</p><p>não estudaram, especialmente esses assuntos. Quando, há vários</p><p>anos, Einstein apresentou uma nova teoria sobre a relação entre a</p><p>gravitação e o campo magnético, a sua tese foi publicada nos</p><p>jornais como algo de grande interesse; mas os sinais e símbolos</p><p>usados não tinham qualquer significado para a grande maioria dos</p><p>que leram as notícias. É esta a explicação que Paulo sugeriu em 2</p><p>Coríntios 12:4, quando diz que “foi arrebatado ao Paraíso; e ouviu</p><p>palavras inefáveis, de que ao homem não é lícito falar”.</p><p>À luz de toda esta evidência, temos de concluir que o estado</p><p>intermediário é um estado de consciência e recordação das coisas</p><p>passadas nesta vida. Não existe qualquer razão para crer que os</p><p>justos ou os ímpios entrem na hora da morte, num estado de</p><p>suspensão. A atividade inata que caracteriza a alma, torna por si</p><p>provável que a alma continue consciente, entrando num estado</p><p>preliminar de recompensa ou de punição, como tiver merecido.</p><p>Aqueles que ensinam o “sono da alma” confundem o que se diz</p><p>acerca da alma, a doutrina que resulta desta confusão é desmentida</p><p>pelas Escrituras.</p><p>5. Aniquilamento</p><p>Os mesmos dois grupos que ensinam a segunda provação e o sono</p><p>da alma, as Testemunhas de Jeová e os Adventistas do Sétimo Dia,</p><p>com alguns mais, tomaram igualmente uma atitude agressiva,</p><p>afirmando que, depois do Juízo Final, todos os impenitentes serão</p><p>aniquilados. E por aniquilamento consideram o fim literal do ser.</p><p>Podemos chamar a esta teoria imortalidade condicionada. Em geral,</p><p>defende-se esta teoria afirmando que o homem foi criado mortal e</p><p>que a imortalidade é um dom que Deus confere aos justos, como</p><p>recompensa; no entanto, há alguns que afirmam que o homem foi</p><p>criado imortal, mas que os ímpios são privados deste dom por uma</p><p>ação punitiva de Deus.</p><p>Esta teoria tem sido apresentada principalmente com o fim de</p><p>suavizar, ou fazer mesmo desaparecer as dificuldades envolvidas na</p><p>doutrina do castigo eterno. Alguns crentes ensinam-na, porque,</p><p>pensam que é necessário, por assim dizer, defender o caráter de</p><p>Deus contra a acusação de ser mau e até cruel. Alguns incrédulos</p><p>defendem esta teoria, pensando escapar à realidade do inferno. As</p><p>razões destes são pessoais e egoístas. No seu caso, é o desejo de</p><p>que tal aconteça que origina a sua teoria. Mas o problema está em</p><p>que o aniquilamento quase se não pode considerar como sendo um</p><p>castigo; pelo menos não é um castigo adequado do pecado. Implica</p><p>o fim da existência e, portanto, não só de toda a dor, como também</p><p>de todo o sentimento de culpa e de merecimento do mal. Para</p><p>muitos, o medo ou temor do aniquilamento não seria, em si, nada</p><p>em proporção com a transgressão cometida. Para os cansados da</p><p>vida, e em especial para os que têm uma consciência acusadora, a</p><p>existência do “eu” pode ser até algo de muito desejável. Para os</p><p>tais, seria na realidade uma bênção. Esta teoria, tal como a da</p><p>segunda provação e a do sono da alma, foi sempre atacada pela</p><p>Igreja.</p><p>A Bíblia, em oposição a esta teoria não só não faz a mínima alusão</p><p>a respeito dum fim eventual do castigo dos ímpios, como, pelo</p><p>contrário, afirma com os termos mais fortes, que a sua duração não</p><p>tem fim. Diz “ser eterno”, “perpétuo”. Estas palavras são as mais</p><p>fortes que existem no vocabulário grego. São as mesmas palavras</p><p>que se usam quer para descrever a eternidade de Deus, quer para a</p><p>duração da feliz condição dos justos no céu. “Ora ao Rei dos</p><p>séculos, imortal, invisível, ao único Deus, seja honra e glória para</p><p>todo o sempre” (1 Timóteo 1.17). “Quem ouve a minha palavra e crê</p><p>naquele que me enviou tem a vida eterna” (João 5.24). “Dou-lhes a</p><p>vida eterna” (João 10.28). “O dom gratuito de Deus é a vida eterna”</p><p>(Romanos 6.23). “Então, o Rei dirá também aos que estiverem à</p><p>sua esquerda: Apartai-vos</p><p>de mim, malditos, para o fogo eterno,</p><p>preparado para o diabo e seus anjos... E irão estes para o castigo</p><p>eterno, porém os justos, para a vida eterna” (Mateus 25.41, 46).</p><p>Neste último versículo, usa-se a mesma palavra grega em ambas as</p><p>sentenças. Os ímpios irão “eis kolasin aionion” e os justos “eis zoen</p><p>aionion” ; por esta razão, tem o mesmo significado em ambos os</p><p>casos. A palavra “aionion” usa-se 7 vezes no Novo Testamento,</p><p>sempre com o significado de duração indefinida, infinita, eterna. A</p><p>cena do juízo final em Mateus 25.31-46 implica a existência tanto</p><p>dos justos como dos ímpios. Afirma-se que uns serão abençoados e</p><p>os outros serão punidos. A comparação não teria qualquer valor se</p><p>os ímpios fossem exterminados.</p><p>A teoria do aniquilamento da alma violenta a justiça de Deus. A</p><p>justiça divina requer que o pecado receba o castigo que esteja de</p><p>acordo com o seu crime, e não seja aniquilada. A Bíblia ensina que</p><p>haverá graus de punição para os ímpios — alguns apanharão</p><p>poucos açoites, e outros muitos açoites, mas, em qualquer dos</p><p>casos, o castigo será eterno. Lembremo-nos também de que, com</p><p>todas as limitações suprimidas, o pecador continuará pecando</p><p>infinitamente, desafiando a Deus, e de que um castigo sem fim é a</p><p>pena para o pecador sem fim.</p><p>Os versículos que damos a seguir ensinam, sem sombra de dúvida,</p><p>que o sofrimento dos ímpios não terá fim: “A fumaça do seu</p><p>tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso</p><p>algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua</p><p>imagem e quem quer que receba a marca do seu nome”(Apocalipse</p><p>14.11); “O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de</p><p>fogo e enxofre, onde já se encontram não só a besta como também</p><p>o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, pelos</p><p>séculos dos séculos” (Apocalipse 20.10). O versículo 13 da Epístola</p><p>de Judas refere-se aos ímpios como “estrelas errantes, para as</p><p>quais está eternamente reservado o negrume das trevas”; e o</p><p>versículo 7 diz que os ímpios estão “sofrendo a pena do fogo</p><p>eterno”. Marcos 9.42 diz que o fogo “nunca se apaga”. Daniel afirma</p><p>que “muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para</p><p>a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eternos” (12.2).</p><p>Estes versículos não dizem que os efeitos do castigo são eternos,</p><p>como seria o caso, se o ímpio fosse destruído, mas sim que o</p><p>castigo — “o fogo”, “o castigo”, “o tormento”, “o desprezo”, “o verme”</p><p>— é eterno. Que sentido teria o fato de ser eterno, se o pecador</p><p>deixasse de existir? Se estas expressões não ensinam que o</p><p>castigo dos ímpios continua por toda a eternidade, é difícil ver como</p><p>seria possível ensinar tal fato, usando linguagem humana. Deus não</p><p>destrói os ímpios, sejam eles homens ou anjos, mas faz com que</p><p>eles constituam a maneira de ele mostrar eternamente a sua</p><p>abominação do pecado, visto que a sua santidade e justiça são</p><p>manifestadas nesses castigos.</p><p>Há uma semelhança muito grande entre o destino dos homens e do</p><p>dos anjos caídos, como podemos ver em Mateus 25.41. O Dr. A. A.</p><p>Hodge disse, a este respeito, o seguinte:</p><p>Os demônios pecaram antes de Adão pecar. Desde então,</p><p>durante milhares de anos, Deus os reservou na escuridão, e</p><p>em prisões eternas até o juízo daquele dia (Judas 6). Embora</p><p>estejam castigados por causa do seu pecado, não deixaram de</p><p>existir. Muitos deles até com atividade maligna entre os</p><p>homens, na terra, provam a sua atividade consciente, sob a</p><p>sua situação de condenados. Nenhumas outras palavras</p><p>poderiam melhor do que estas exprimir a ideia de que o Diabo</p><p>será atormentado, conservado em sofrimento consciente, para</p><p>todo o sempre. E os ímpios que estão à mão esquerda do Juiz,</p><p>serão enviados para o mesmo “fogo eterno, preparado para o</p><p>Diabo e os seus anjos”(Mateus 25.41).[21]</p><p>O Dr. Arthur Allen, diretor duma revista publicada na Austrália,</p><p>apresentou recentemente este problema, com as seguintes</p><p>palavras:</p><p>No que diz respeito à nossa existência, fomos criados à</p><p>semelhança dos anjos. Satanás era um anjo que pecou contra</p><p>Deus, mas o seu pecado não fez cessar a sua existência. Ele</p><p>continuou a viver, e tem de viver para todo o sempre. O que</p><p>aconteceu foi que a sua morada e o seu caráter mudaram;</p><p>mas continua a existir da mesma forma. O pecado operou no</p><p>homem uma mudança semelhante. A sua morada mudou, pois</p><p>foi expulso do jardim do Éden e da presença de Deus. O seu</p><p>caráter mudou da luz da pureza para as trevas da corrupção,</p><p>mas o seu ser continuou a ser o mesmo. Os traços</p><p>característicos da sua individualidade continuam a existir, a</p><p>sua personalidade é imortal. Ele iniciou uma existência infinita</p><p>e não pode escolher, tem de continuar sempre a viver. Foi o</p><p>que Cristo revelou no caso de Lázaro. O rico continuou a viver,</p><p>os seus pensamentos e a sua personalidade não foram</p><p>prejudicados pois, por exemplo, falou do inferno a respeito dos</p><p>seus irmãos, “a fim de que não venham também para este</p><p>lugar de tormento”.[22]</p><p>Quando a Bíblia diz que os ímpios têm de “perecer”, ou ser</p><p>“destruídos”, isto não quer dizer que vão ser reduzidos a um estado</p><p>de não existência. Estas palavras têm o significado de uma</p><p>condição perpétua de sofrimento. Um pecador afastado de Jesus, já</p><p>está “perdido”, “destruído”, “arruinado”, sem deixar, no entanto, de</p><p>existir. A morte eterna não é a extinção da existência, mas sim a</p><p>extinção duma existência digna. Isto é apresentado de forma clara</p><p>pelo Dr. Charles Hodge, que diz:</p><p>A palavra morte, quando indica a alma, significa a alienação ou</p><p>separação de Deus; e quando essa separação é final, significa</p><p>morte eterna. Isso é tão claro, que nunca foi posto em dúvida,</p><p>exceto com o propósito de endossar a doutrina da aniquilação</p><p>dos ímpios.</p><p>A mesma observação se aplica ao uso das palavras destruir e</p><p>perecer. Destruir é arruinar. A natureza dessa ruína depende</p><p>da natureza do sujeito do qual ela é predicado. Uma coisa é</p><p>arruinada quando se torna inadequada para uso, quando se</p><p>acha em tal estado que não mais pode corresponder ao fim</p><p>para o qual foi designado. Um navio no mar, desmastreado,</p><p>sem leme, com as laterais bombardeadas, está arruinado,</p><p>porém não aniquilado. Ainda é um navio. Um ser humano se</p><p>destrói quando arruína sua saúde, esbanja sua propriedade,</p><p>avilta seu caráter e se torna sem condição de fazer sua parte</p><p>na vida. Uma alma está completamente e para sempre</p><p>destruída quando é reprovada, alienada de Deus, feita uma</p><p>companhia apropriada somente para os diabos e seus anjos.</p><p>Essa é uma destruição mil vezes mais terrível do que a</p><p>aniquilação.[23]</p><p>As testemunhas de Jeová e os Adventistas do Sétimo Dia ensinam</p><p>que eventualmente todo o mal será abolido. Os homens ímpios, e os</p><p>anjos caídos, incluindo Satanás, serão lançados no “lago de fogo”,</p><p>juntamente com os meios que usavam para alcançar os seus fins:</p><p>tudo será completamente consumido. Quando tudo for destruído, a</p><p>rebelião findará, e Deus fará “um novo céu e uma nova terra”.</p><p>Portanto, de acordo com estas doutrinas, só o Bem ficaria</p><p>finalmente num Universo sem pecado. Este ponto de vista, atrai sem</p><p>dúvida os sentimentos humanos; e gostaríamos que fosse</p><p>verdadeiro. Mas a dificuldade está em que contradiz claramente</p><p>aquilo que a Bíblia ensina.</p><p>Alguns dos que ensinam a teoria do aniquilamento dizem que não</p><p>haverá ressurreição dos ímpios — um outro plano sentimental com</p><p>que concordaríamos, de todo o coração, se nos fosse possível</p><p>organizar o Universo de acordo com os nossos gostos. Para refutar</p><p>esta teoria, basta apenas ler o seguinte: “porque vem a hora em que</p><p>todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que</p><p>fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o</p><p>mal para a ressurreição da condenação” (João 5.28, 29). Foram</p><p>essas as palavras de Paulo ao governador Félix: “haverá</p><p>ressurreição, tanto de justos como de injustos” (Atos 24.15). E</p><p>Daniel disse: “E muitos dos que dormem no pó da terra</p><p>ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e</p><p>desprezo eternos” (12.2).</p><p>Os defensores da teoria do aniquilamento têm relativamente poucos</p><p>adeptos, pois há a consciência, em todos os homens, de que</p><p>a</p><p>morte não é o fim de tudo. A ideia da imortalidade está tão</p><p>profundamente arraigada no espírito humano que a maioria dos</p><p>impenitentes têm medo de morrer, porque estão preocupados, por</p><p>vezes até aterrorizados com a incerteza do que é o Além.</p><p>Nesta conexão devemos ainda chamar a atenção para um outro</p><p>ponto. As Testemunhas de Jeová e os Adventistas do Sétimo Dia</p><p>dizem, em defesa da sua doutrina de aniquilamento, que em parte</p><p>alguma da Bíblia se diz que o homem é imortal, e que só se diz que</p><p>Deus é imortal. Citam, para provar a sua afirmação, 1 Timóteo 6.15,</p><p>16: “O Rei dos reis, e Senhor dos senhores; aquele que tem, ele só,</p><p>a imortalidade”.</p><p>Para responder a isto, temos que reconhecer que, no sentido mais</p><p>estrito e mais elevado, apenas Deus é imortal, visto que só Deus</p><p>existe desde toda a eternidade e existirá para todo o sempre. Ele é</p><p>o único Ser absoluto. Quando, porém, almas humanas são criadas à</p><p>sua imagem, ainda que tenham tido um princípio, não têm fim e são,</p><p>desde esse momento, imortais. Ser imortal significa nunca morrer. O</p><p>corpo humano é mortal, mas a alma, no entanto, é imortal. Em 1</p><p>Coríntios 15.53, 54, diz Paulo: “Porque é necessário que este corpo</p><p>corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se</p><p>revista da imortalidade. E, quando este corpo corruptível se revestir</p><p>de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade,</p><p>então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte</p><p>pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o</p><p>teu aguilhão?”. Jesus disse a Maria: “todo o que vive e crê em mim</p><p>não morrerá, eternamente” (João 11.26). O crente nunca morrer</p><p>espiritualmente, segundo diz Paulo: “Ele vos deu vida, estando vós</p><p>mortos nos vossos delitos e pecados... Mas Deus... estando nós</p><p>mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo”</p><p>(Efésios 2.1-5). O crente sofre a morte física, que é a separação do</p><p>corpo da alma, mas não morrer espiritualmente. O incrédulo não só</p><p>morre fisicamente, mas até já morreu espiritualmente e necessita,</p><p>acima de tudo, de “nascer de novo”, isto é, de ser regenerado e</p><p>receber um novo princípio de vida espiritual. Mas, embora ele esteja</p><p>morto espiritualmente, isto não quer dizer que o seu espírito esteja</p><p>inativo ou inconsciente. Tecnicamente, o termo “imortal”, no sentido</p><p>restrito, nunca é usado para significar o homem, da mesma forma</p><p>que a palavra “Trindade” nunca é usada para significar Deus. Mas</p><p>em qualquer dos casos a verdade fundamental está presente, de</p><p>forma clara. E, o que é mais importante é que, embora as Escrituras</p><p>não usem, ao referir-se ao homem, a palavra imortal, usam a</p><p>palavra vida, que possui uma ideia ainda mais profunda e mais rica.</p><p>Os justos têm vida espiritual, eterna. “Vida”, na linguagem das</p><p>Escrituras, assim como na linguagem teológica, não significa</p><p>fundamentalmente continuação de existência, mas antes uma</p><p>existência espiritual e abundante em associação com Deus; e, do</p><p>mesmo modo, “morte”, na linguagem das Escrituras, assim como na</p><p>teológica, quer dizer, acima de tudo, não o fim da existência, não a</p><p>separação do corpo e do espírito, mas sim separação de Deus.</p><p>6. Purgatório</p><p>A Igreja Católica Romana criou uma doutrina segundo a qual todos</p><p>quantos morrem em paz com a Igreja, mas não são perfeitos, têm</p><p>de padecer sofrimentos penais e purificadores, num lugar</p><p>intermediário conhecido pelo nome de purgatório. Só os crentes que</p><p>tenham alcançado um estado de perfeição cristã é que vão</p><p>imediatamente para o céu. Todos os adultos não batizados e os que</p><p>cometeram, depois do batismo, pecado mortal, vão imediatamente</p><p>para o inferno. A grande massa de cristãos, parcialmente</p><p>santificados, que morrem em comunhão com a Igreja, mas que</p><p>continuam, apesar disso, com alguma espécie de pecado, vão para</p><p>o purgatório, onde sofrem, durante um período mais ou menos</p><p>longo, até que todo o pecado seja expiado; findo o que são</p><p>transladados para o céu.</p><p>A Igreja Católica Romana afirma que o batismo faz desaparecer</p><p>todo o pecado anterior, tanto original como atual, portanto, quem</p><p>morrer logo em seguida, irá diretamente para o céu. Com excepção</p><p>dos mártires cristãos, todos os outros crentes, incluindo até o alto</p><p>clero, têm de ir para o purgatório, a fim de pagar a pena dos</p><p>pecados cometidos depois do batismo. Os sacrifícios feitos pelos</p><p>mártires, principalmente os sofrimentos que concedem honra à</p><p>Igreja, são considerados como um substituto adequado para os</p><p>sofrimentos do purgatório.</p><p>Os sofrimentos no purgatório variam grandemente, em intensidade e</p><p>duração, sendo, em geral, proporcionais à culpa e à impureza, ou</p><p>impenitência, do sofredor. São descritos como sendo, nalguns</p><p>casos, relativamente leves e suaves, durante poucas horas, mas</p><p>sendo, noutros casos, pouco menos do que os sofrimentos do</p><p>inferno, durando até milhares de anos. A única diferença entre o</p><p>sofrimento do purgatório e o do inferno, consiste em haver fim para</p><p>o primeiro, mas não para o segundo. De qualquer forma, terminarão</p><p>com o juízo final. Assim, o purgatório, como o Limbus Patrum, ficará</p><p>vazio, sem vítimas.</p><p>Bellarmino, famoso teólogo católico romano, diz, a respeito da</p><p>intensidade do sofrimento, o seguinte: “As penas do purgatório são</p><p>muito severas, ultrapassando tudo quanto se tenha sofrido neste</p><p>mundo”. O Manual da Sociedade do Purgatório, estabelecida em</p><p>1930 com o imprimatur do Cardeal Hayes, diz: “De acordo com os</p><p>Santos Padres da Igreja, o fogo do purgatório não é diferente do</p><p>fogo do inferno senão na sua duração”. “É o mesmo fogo”, diz S.</p><p>Tomás de Aquino, “que atormenta os réprobos no inferno, e os</p><p>justos no purgatório. O mais pequeno sofrimento no purgatório</p><p>ultrapassa os maiores sofrimentos desta vida. O que torna o fogo do</p><p>inferno mais terrível do que o do purgatório, é a sua duração</p><p>eterna”.</p><p>Segundo parece a Igreja Romana tem-se abstido prudentemente de</p><p>fazer qualquer declaração formal, oficial, a respeito da natureza e</p><p>intensidade do sofrimento do purgatório. Mas a Igreja não deixa, por</p><p>isso, de ser responsável, pois tem autorizado a livre circulação, com</p><p>a sua sanção expressa, ou implícita, de livros que contêm as</p><p>descrições mais terríveis, desde as medidas disciplinares,</p><p>relativamente simples, até o lago ardente com chamas ondulantes</p><p>onde as almas dos impenitentes são mergulhadas. Entre o povo</p><p>católico, estas descrições têm sido usadas pelos sacerdotes, como</p><p>um instrumento de poder aterrorizador. Lembremo-nos do que</p><p>Charles Hodge escreveu a este respeito: “Os pés do tigre, com as</p><p>suas garras recolhidas, são macios como veludo; mas quando estas</p><p>garras se estendem, são instrumentos terríveis, dilacerando e</p><p>matando”.</p><p>A Igreja Católica Romana tem afirmado, em geral, que o período de</p><p>sofrimento no purgatório pode ser encurtado por meio de dádivas</p><p>monetárias, oração dos sacerdotes e missas; estas ofertas, orações</p><p>e missas podem ser oferecidas pela própria pessoa, antes de</p><p>morrer, ou pelos seus parentes e amigos, depois da sua morte. Crê-</p><p>se que o purgatório está sob a jurisdição especial do Papa; e é sua</p><p>prerrogativa, como representante de Cristo na terra, conceder</p><p>indulgências, como achar necessário. Este poder pode ser exercido</p><p>ou diretamente pelo Papa, ou através dos sacerdotes que têm, por</p><p>seu turno, o poder para aliviar, executar ou terminar, os sofrimentos.</p><p>É, naturalmente, impossível que com um poder destes não sejam,</p><p>cometidos abusos, até mesmo pelos melhores homens. Quando</p><p>entregue nas mãos de homens vulgares (e é o que se passa, em</p><p>geral) ou na mão de mercenários, ou ímpios, como frequentemente</p><p>tem acontecido, os abusos tendem a ser enormes. Os males que</p><p>têm surgido desta doutrina, e que são suas consequências</p><p>inevitáveis, mostram, com toda a clareza, que não pode ter origem</p><p>divina.</p><p>Quanto maior reparação se fizer, nesta vida, menos é necessário</p><p>ser expiado no purgatório. Uma das formas mais convenientes e</p><p>aceitáveis, de serviço, é, evidentemente, a oferta de dinheiro e de</p><p>propriedades. O sacerdote tem autorização para aceitar a dádiva e</p><p>para oferecer a oração de forma a aliviar o sofrimento, ou a</p><p>conseguir</p><p>a libertação da alma. A Igreja tem, na realidade,</p><p>principalmente entre pessoas ignorantes e sem educação, vendido a</p><p>salvação a troco de dinheiro, ― não exterior e diretamente, mas</p><p>devido ao resultado prático do sistema.</p><p>Pode-se afirmar com segurança que não há nenhuma outra doutrina</p><p>da Igreja, com possível exceção da confissão auricular, que tenha</p><p>contribuído tanto para perverter o evangelho e para fazer o povo</p><p>escravo do sacerdócio. Milhões de dólares são pagos, todos os</p><p>anos, para se obter alívio desse sofrimento imaginário. Não é</p><p>possível obter números exatos, mas claramente constitui uma fonte</p><p>primária de renda. Ao contrário do que acontece nas igrejas</p><p>protestantes, que publicam regularmente relatórios financeiros</p><p>detalhados, as finanças da Igreja Católica Romana são secretas,</p><p>não se publicando nem balancetes nem orçamentos que mostrem a</p><p>origem do dinheiro recebido, quanto foi recebido, nem como se</p><p>gastou.</p><p>Por vezes, a doutrina do purgatório tem sido chamada “a mina de</p><p>ouro” do sistema sacerdotal, visto ser a origem de tão fabuloso</p><p>rendimento. A Igreja Romana pode dizer, na verdade “deste ofício</p><p>vem a nossa riqueza” (Atos 19.25).</p><p>Uma missão baixa, em benefício de uma alma do purgatório, custa,</p><p>pelo menos, um dólar, uma missa alta custa de 5 a 10 dólares; uma</p><p>missa solene 0(três sacerdotes, cantada) custa de 25 a 35 dólares.</p><p>Os preços variam conforme as dioceses, e segundo as capacidades</p><p>monetárias dos paroquianos. Quantas mais missas forem ditas,</p><p>maior benefício recebe a alma em agonia, dizem eles. As pessoas</p><p>ricas são convencidas, por vezes, a deixar milhares de dólares, de</p><p>forma a que orações e missas sejam ditas perpetuamente em seu</p><p>benefício, depois da morte. A Igreja Católica Romana tem podido,</p><p>não há dúvida, à custa desta doutrina, construir custosas catedrais,</p><p>mosteiros e conventos, até mesmo em regiões onde o povo é</p><p>realmente pobre. Praticamente, por meio deste sistema de doutrina,</p><p>em vários países, tais como a França, a Itália, a Inglaterra, o</p><p>México, etc., uma grande parte da propriedade caiu nas mãos da</p><p>Igreja Católica Romana, e teve de ser confiscada pelo governo, a</p><p>fim de melhorar a situação econômica da nação.</p><p>A doutrina do purgatório apresenta Deus a fazer acepção de</p><p>pessoas, embora a Bíblia diga que ele não faz isso. Como um rico</p><p>pode deixar mais dinheiro para orações e missas, pode sair do</p><p>purgatório e entrar no céu mais depressa do que muitos pobres que</p><p>talvez tenham mais méritos a recomendá-los perante Deus. A Bíblia</p><p>ensina que o julgamento que Deus realiza se baseia apenas no</p><p>caráter, e não em circunstâncias monetárias, em situações ou</p><p>posições sociais. Esta doutrina transforma o arrependimento de</p><p>almas imortais em simples negócio e aproveita as mais queridas</p><p>afeições dos enlutados pelos seus familiares e amigos que partiram,</p><p>para prolongar indefinidamente a influência do sacerdote sobre os</p><p>temores e as esperanças do povo; pois, de outra forma, terminariam</p><p>com a morte. Pessoas que creem sinceramente que terão de sofrer,</p><p>ou que os seus entes queridos estão a sofrer, farão, por assim dizer,</p><p>tudo para alcançar alívio.</p><p>Levanta-se, porém, aqui, uma séria objeção. Se o Papa (ou os</p><p>sacerdotes, em seu nome) têm na verdade poder para executar,</p><p>modificar, ou terminar com os sofrimentos duma alma no purgatório,</p><p>por que não prestam esse serviço, voluntária e gratuitamente, se</p><p>são pessoas bondosas? Por que hão de insistir tanto em receber o</p><p>dinheiro antes de prestarem tal serviço? Se alguém tiver poder e se</p><p>recusar a exercê-lo, excepto a troco de dinheiro, será considerado</p><p>cruel e pouco cristão ― e é-o, na verdade. De acordo com os</p><p>padrões do cristianismo, tal serviço deveria ser prestado gratuita e</p><p>voluntariamente pela Igreja ao seu povo. A insistência na transação</p><p>monetária revela claramente o motivo por que foi inventada tal</p><p>doutrina. A experiência tem mostrado que poucas doutrinas têm</p><p>trazido frutos piores do que esta, em toda a história do cristianismo.</p><p>Basta pensar no que aconteceu nos dias de Tetzel, de Lutero e da</p><p>Reforma.</p><p>Como apenas os santos verdadeiros escapam aos sofrimentos do</p><p>purgatório, esta doutrina dá à morte e ao funeral católico romano um</p><p>aspecto tenebroso e repelente. A morte vista à luz desta doutrina,</p><p>não é, como no protestantismo, a vinda de Cristo para levar os seus</p><p>amados para o Lar celestial, mas a introdução da alma num lugar de</p><p>tortura indizível.</p><p>Afirmamos, em oposição à doutrina do purgatório, que a ideia de</p><p>que qualquer pessoa pode satisfazer a justiça divina, em benefício</p><p>dos pecados dos mortos, é contra as Escrituras e tem uma origem</p><p>pagã. A crença de que é possível ter contacto com os mortos, e de</p><p>que é possível influenciá-los, para bem ou para mal, tem sido um</p><p>elemento essencial de várias religiões pagãs. Quando os Israelitas</p><p>entraram na terra de Canaã, Moisés ordenou-lhes que</p><p>rigorosamente não seguissem os costumes da terra, em fazer</p><p>ofertas ou sacrifícios pelos mortos, nem facilitar o contato com os</p><p>espíritos dos mortos. Em Deuteronômio 26.13, 14 lemos: “Dirás</p><p>perante o Senhor, teu Deus: Tirei de minha casa o que é</p><p>consagrado [objetos de veneração e cultos pagãos] e dei também</p><p>ao levita, e ao estrangeiro, e ao órfão, e à viúva, segundo todos os</p><p>teus mandamentos que me tens ordenado; nada transgredi dos teus</p><p>mandamentos, nem deles me esqueci. Dos dízimos não comi no</p><p>meu luto e deles nada tirei estando imundo, nem deles dei para a</p><p>casa de algum morto; obedeci à voz do Senhor, meu Deus; segundo</p><p>tudo o que me ordenaste, tenho feito”. E, noutro lugar: “Pelos mortos</p><p>não ferireis a vossa carne; nem fareis marca nenhuma sobre vós.</p><p>Eu sou o Senhor” (Levítico 19.28). A prática romana de dar</p><p>presentes aos mortos e fazer-lhes orações ― a Maria e a alguns</p><p>santos ― não está muito longe de tais costumes pagãos.</p><p>É fácil demonstrar que esta doutrina não está de acordo com as</p><p>Escrituras. A Bíblia não diz nada a respeito dum lugar como o</p><p>purgatório. A alma redimida não vai para um lugar entre o céu e a</p><p>terra, mas sim diretamente para o céu: não necessita de purificação</p><p>purgatorial, pois é purificada, não por méritos humanos, mas sim</p><p>pela justiça perfeita de Cristo ― “não tendo justiça própria, que</p><p>procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que</p><p>procede de Deus, baseada na fé”, conforme as palavras de Paulo</p><p>em Filipenses 3.9. Cristo já fez tudo quanto é necessário para a</p><p>nossa salvação. Um pecador só pode ser salvo pela fé na na sua</p><p>obra perfeita, ou jamais o será. A sua morte na cruz é suficiente</p><p>para nos purificar do nosso pecado, não sendo necessária a</p><p>purificação no purgatório. “Aos homens está ordenado morrerem</p><p>uma só vez, vindo, depois disto, o juízo” (Hebreus 9.27), não sendo</p><p>pois necessário um processo purificador, ou uma educação extrema</p><p>para alcançar coisas melhores. Quando Jesus disse ao ladrão na</p><p>cruz: “Hoje estarás comigo no Paraíso”, quis dizer que, quando</p><p>morresse, iria imediatamente para o céu. Paulo não falou do</p><p>purgatório, mas sim de que partir era estar com Cristo, o que era</p><p>muito melhor. Não é possível, mesmo, qualquer mudança, depois da</p><p>morte, de um reino para outro. Os que vão para o lugar de trevas</p><p>exteriores, não podem atravessar dessa esfera para a outra ― “está</p><p>posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que</p><p>querem passar daqui para vós outros não podem, nem os de lá</p><p>passar para nós” (Lucas 16.26).</p><p>Outrossim, como diz Augustus H. Strong:</p><p>O sofrimento não tem poder para reformar. A não ser</p><p>acompanhado por influências renovadoras especiais do</p><p>Espírito Santo, só endurece e amarga a alma. Não temos</p><p>nenhuma evidência escriturística de que se exerçam tais</p><p>influências do Espírito após a morte sobre o ainda</p><p>impenitente;, mas, ao contrário, abundante evidência de que a</p><p>condição moral em que o falecido se encontra é a sua</p><p>condição perene... Para o pecador impenitente e rebelde é</p><p>necessário haver um motivo, não vindo de dentro, mas de fora.</p><p>Deus apresenta tais motivos nesta vida através do seu</p><p>Espírito; mas, finda esta vida, o Espírito de Deus se afasta e</p><p>não se apresenta nenhum motivo para o arrependimento. O</p><p>introduzida no mundo da humanidade pelo pecado, e</p><p>como uma punição positiva pelo pecado, Gn 2.17; 3.19; Rm</p><p>5.12, 17; 6.23; 1Co 15.21; Tg 1.15. (4) A morte não é descrita</p><p>como algo natural na vida do homem, mera falha de um ideal,</p><p>e sim assaz decisivamente como algo alheio e hostil à vida</p><p>humana: é uma expressão da ira divina, Sl 90.7, 11, um</p><p>julgamento, Rm 1.32, uma condenação, Rm 5.16 e uma</p><p>maldição, Gl 3.13, e enche os corações dos filhos dos homens</p><p>de temor e tremor, justamente porque é tida como uma coisa</p><p>antinatural. Tudo isso não significa, porém, que não poderia ter</p><p>havido morte nalgum sentido da palavra no mundo da criação</p><p>inferior, independentemente do pecado, mas, mesmo ali, é</p><p>evidente que a entrada do pecado trouxe um cativeiro de</p><p>corrupção que era estranho à criatura, Rm 8.20-22.[4]</p><p>Que a penalidade com que Adão foi ameaçado não era,</p><p>essencialmente, a morte física, ressalta do fato de ele não ter</p><p>morrido fisicamente senão cerca de 930 anos depois da Queda.</p><p>Mas, no momento preciso em que caiu, morreu espiritualmente. Ele</p><p>morreu da mesma forma que um peixe morre, logo que é tirado da</p><p>água, ou uma planta fenece, quando arrancada do solo. Adão foi</p><p>imediatamente apartado de Deus, expulso do jardim do Éden.</p><p>Mas, mesmo no que diz respeito à morte física, a sentença foi em</p><p>certo sentido cumprida imediatamente. Posto que os nossos</p><p>primeiros pais tivessem ainda vivido muitos anos começaram, desde</p><p>logo, a envelhecer. A vida em sido, desde a Queda, uma marcha</p><p>contínua em direção à sepultura.</p><p>3. Três espécies de morte: espiritual, física e eterna</p><p>1. Morte espiritual é para a alma, a separação ou alienação de</p><p>Deus. É, em princípio, a condição em que se encontram Satanás e</p><p>os demônios; porém, como a queda do homem, neste mundo, é, até</p><p>certo ponto, limitada pela graça comum, o homem não atingiu ainda</p><p>um grau de depravação tão grande como a deles. Foi esta a</p><p>principal penalidade com que Adão foi ameaçado, no jardim do</p><p>Éden. Visto que o homem só pode viver, verdadeiramente, quando</p><p>em comunhão com Deus, a morte espiritual significa a sua ruína</p><p>completa e o agravamento da sua condição. Embora o homem</p><p>possa ainda praticar muitas ações que são, em si, boas, as suas</p><p>obras nunca lhe farão merecer a salvação, pois que não são</p><p>praticadas com motivos justos para com Deus. A morte espiritual,</p><p>como uma fonte envenenada, contamina todo o rio da vida; se não</p><p>fosse a influência restritiva da graça comum, a vida humana normal</p><p>tornar-se-ia um inferno na terra.</p><p>O oposto da morte espiritual é a vida espiritual. Era a ela que Jesus</p><p>se referia, ao falar com Maria, junto do túmulo de Lázaro: “Eu sou a</p><p>ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e</p><p>todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente” (João</p><p>11.25, 26) e, noutro lugar, “quem ouve a minha palavra e crê</p><p>naquele que me enviou tem a vida eterna, e não entra em juízo, mas</p><p>passou da morte para a vida” (João 5.24).</p><p>2. A morte física é a separação da alma do corpo. Esta separação é</p><p>também parte da penalidade pelo pecado, embora, como foi dito na</p><p>seção anterior, não seja a parte mais importante. O homem, ao</p><p>contrário do que aconteceu com os anjos, foi criado com uma</p><p>natureza dupla, uma alma ligada a um corpo. Recebe informações</p><p>por intermédio dos sentidos. O corpo é o órgão pelo qual ele</p><p>estabelece contato com os outros seres humanos e com o mundo</p><p>que o rodeia. Ao morrer, perde esse contato e, pelo que sabemos,</p><p>os espíritos dos que partiram deixam de ter contato com os vivos e</p><p>com o mundo que nos rodeia. Desconhecemos o processo pelo qual</p><p>os anjos (espíritos puros), comunicam entre si; é, talvez, uma</p><p>comunicação direta, sem intermediários, semelhante àquilo a que</p><p>nos referimos quando falamos de transmissão de pensamento ou</p><p>conhecimento intuitivo. De qualquer modo, a Bíblia não dá razão</p><p>para que se acredite que os mortos podem comunicar com os vivos,</p><p>antes pelo contrário. (As alegadas comunicações recebidas por</p><p>intermédio do médium espírita serão discutidas num capítulo</p><p>posterior.)</p><p>Na morte, o corpo humano, que é composto por cerca de 30</p><p>elementos químicos diferentes, volta para a terra donde foi tirado.</p><p>Esta fase da morte foi também conquistada por Cristo, quando</p><p>expiou os pecados do seu povo, pois que os crentes receberão,</p><p>finalmente, um corpo ressuscitado, gloriosamente restaurado.</p><p>3. A morte eterna é a morte espiritual tornada permanente. Segundo</p><p>Berkhof, “esta pode ser considerada como a culminância e a</p><p>consumação da morte espiritual. As restrições do presente</p><p>desaparecem, e a corrupção do pecado tem a sua obra completa. O</p><p>peso total da ira de Deus desce sobre os condenados, e isto</p><p>significa morte no sentido mais terrível da palavra. A condenação</p><p>eterna deles é levada a corresponder ao estado interno das suas</p><p>ímpias almas. Há angústias de consciência e sofrimentos físicos. E</p><p>‘a fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos’ (Ap</p><p>14.11)”.[5]</p><p>A primeira morte é a física, e a ela estão sujeitos todos os seres</p><p>humanos. A segunda morte é espiritual e a ela estão sujeitos</p><p>apenas aqueles que estão sem Cristo. Nesta o indivíduo é separado</p><p>eternamente de Deus; é o resultado do castigo eterno daqueles cujo</p><p>nomes não estão escritos no livro da vida (Apocalipse 20.12-25).</p><p>Referindo-se a um outro assunto, a Bíblia fala dum novo nascimento</p><p>que é, na realidade, um renascimento espiritual: “Importa-vos nascer</p><p>de novo” (João 3.7). Aqueles que nascem uma só vez, fisicamente,</p><p>morrem duas vezes, física e espiritualmente ou eternamente.</p><p>Aqueles que nascem duas vezes, morrem uma única vez,</p><p>fisicamente. Estes últimos são os remidos do Senhor.</p><p>A morte, vista apenas de per si e do ponto de vista humano é,</p><p>segundo diz o Dr. Hodge: “entre todos os acontecimentos, aquele</p><p>que deve ser mais temido”. E prossegue dizendo que:</p><p>Do mesmo modo que o amor pela vida é natural e instintivo,</p><p>também o temor de morte o é. Porém, não só é instintivo como</p><p>também racional. É o fim do único tipo de existência que</p><p>conhecemos ou experimentamos. Os mortos, aparentemente,</p><p>não existem, como não existem aqueles que nunca nasceram.</p><p>A morte implica a perda de tudo quanto possuímos, de todas</p><p>as fontes de prazer a que estamos habituados. Traz consigo a</p><p>quebra de todos os laços sociais, é a separação final entre</p><p>pais e filhos.</p><p>A morte é para os sentidos, aniquilação; porém, para a razão e</p><p>para consciência, não o é. A natureza intelectual e moral do</p><p>homem é tal que todos os homens têm a apreensão ou</p><p>convicção de um estado de existência consciente, após a</p><p>morte. A razão humana não pode, porém, dizer qual a</p><p>natureza desse estado. O facho da ciência e a lâmpada da</p><p>filosofia extinguem-se na sepultura. A alma, na hora da morte,</p><p>penetra no desconhecido, na escuridão, no imenso, no infinito.</p><p>Não são, porém, estas considerações que fazem da morte</p><p>coisa tão temerosa. O aguilhão da morte é o pecado. O</p><p>pecado envolve, necessariamente, culpabilidade, e</p><p>culpabilidade dá ao julgamento um aspecto temeroso. Para os</p><p>condenados, a morte é e tem que ser, o maior dos terrores. Há</p><p>homens tão estúpidos, que morrem como se fossem animais.</p><p>Há outros tão imprudentes que não temem desafiar a Deus,</p><p>para que este faça o pior que pode fazer. Há multidões em tal</p><p>estado de letargia perante a aproximação da morte, que esta</p><p>não lhes causa apreensão. Mas isto não vai mudar os fatos.</p><p>Continua a ser verdade, que, para um pecador irreconciliado</p><p>com Deus, a morte é o mais terrível de todos os</p><p>acontecimentos: só é, porém, assim considerada, na medida</p><p>em que a alma vai sendo devidamente esclarecida.[6]</p><p>Só podemos afastar o terror da morte, quando nos libertamos do</p><p>fardo do pecado. Deus não pode, porém, perdoar pecados, pondo-</p><p>os de lado, como se fossem uma coisa sem grande importância. No</p><p>princípio, ele criou a Lei segundo a qual o salário do pecado é a</p><p>morte. Isto não foi uma simples ameaça. Foi antes, uma afirmação</p><p>da lei moral baseada na sua própria natureza. É, na realidade, um</p><p>traslado da sua natureza, sendo, portanto, imutável e inexorável. As</p><p>exigências da sua lei, são as exigências de sua natureza santa.</p><p>desprazer da alma para com Deus [podemos mesmo dizer o</p><p>ódio do pecador para com Deus] só resulta em queixa e</p><p>resistência.[24]</p><p>Devemos considerar o catolicismo romano, não como um tipo puro,</p><p>mas como um tipo muito deturpado de cristianismo. Tornou-se numa</p><p>espécie de totalitarismo religioso, reivindicando autoridade sobre os</p><p>seus súditos, não só sobre os que leem, ouvem ou fazem nesta</p><p>vida, mas também afirmando autoridade de admitir ou excluir as</p><p>almas do céu, segundo tenham cumprido ou não os mandamentos</p><p>da Igreja no que diz respeito à confissão e à penitência.</p><p>Pretendendo acreditar na autoridade da Bíblia, a Igreja Romana</p><p>po ẽ -lhe a par, como tendo a mesma autoridade, não só uma série</p><p>de livros espúrios, conhecidos como apócrifos, mas também uma</p><p>grande coleção de decretos de Concílios e de proclamações papais,</p><p>sendo em especial destas últimas fontes que deriva a sua doutrina</p><p>do purgatório. Citam três referências das Escrituras, embora</p><p>nenhuma dela esteja na verdade relacionada com a doutrina. Eis-</p><p>las: “Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mateus</p><p>3.11); “Se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse</p><p>mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo” (1 Coríntios</p><p>3.15); e “E compadecei-vos de alguns que estão na dúvida; salvai-</p><p>os, arrebatando-os do fogo” (Judas 22, 23). É, na verdade, um fio</p><p>muito frágil para pendurar tão grande peso.</p><p>No dia seguinte, Judas e seus companheiros foram tirar os</p><p>corpos dos mortos, como era necessário, para depô-los na</p><p>sepultura ao lado de seus pais. Ora, sob a túnica de cada um</p><p>encontraram objetos consagrados aos ídolos de Jânia,</p><p>proibidos aos judeus pela lei: todos, pois, reconheceram que</p><p>fora esta a causa de sua morte. Bendisseram, pois, a mão do</p><p>justo juiz, o Senhor, que faz aparecer as coisas ocultas, e</p><p>puseram-se em oração, para implorar-lhe o perdão completo</p><p>do pecado cometido. O nobre Judas falou à multidão,</p><p>exortando-a a evitar qualquer transgressão, ao ver diante dos</p><p>olhos o mal que havia sucedido aos que foram mortos por</p><p>causa dos pecados. Em seguida, fez uma coleta, enviando a</p><p>Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecesse</p><p>um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir,</p><p>decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não</p><p>julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e</p><p>supérfluo rezar por eles. Mas, se ele acreditava que uma bela</p><p>recompensa aguarda os que morrem piedosamente. (2</p><p>Macabeus 12.39-45)</p><p>Na verdade, estes versículos não ensinam esta doutrina. Provam,</p><p>até demais, mesmo do ponto de vista católico romano, pois ensinam</p><p>a salvação eventual de soldados que morreram em pecado mortal</p><p>de idolatria, o que contradiz uma outra doutrina católica. O Dr. R</p><p>Laid Hariss, comentando esta passagem num opúsculo muito</p><p>interessante intitulado Doutrinas protestantes fundamentais, diz:</p><p>Depois de lermos esta exposição, ficaríamos espantados se</p><p>víssemos alguém que nunca tivesse ouvido falar do purgatório,</p><p>deduzir tal doutrina desta passagem. A palavra “purgatório”</p><p>não aparece. Diz-se apenas que Judas macabeu “foi a</p><p>Jerusalém oferecer sacrifícios pelo pecado”. Diz-se ainda que</p><p>“ele pensou numa ressurreição”. Isso nada diz sobre a</p><p>eventual ajuda a pobres almas para saírem do purgatório para</p><p>o céu, simplesmente tem em conta a ressurreição dos mortos.</p><p>Como é possível construir um argumento em favor do</p><p>purgatório sobre semelhante passagem?</p><p>Como foi dito anteriormente, há muitíssimo pouco revelado nas</p><p>Escrituras a respeito do estado intermediário. Este fato leva a usar</p><p>conjecturas e a imaginação, a fim de completar o quadro que fora</p><p>apenas esboçado nas Escrituras. Vemos, assim, por um lado, a</p><p>doutrina dos Adventistas do Sétimo Dia sobre o sono da alma, no</p><p>período que vai da morte até a ressurreição, e, por outro lado, num</p><p>extremo oposto, a doutrina católica romana do purgatório ― para</p><p>nenhuma, porém, delas existe uma verdadeira prova bíblica.</p><p>O Cardeal Newman, teólogo católico romano, cita este caso como</p><p>um dos exemplos mais flagrantes do “desenvolvimento” duma</p><p>doutrina, a partir duma pequena semente bíblica. Mas, na verdade,</p><p>é o desenvolvimento a partir duma semente que nunca existiu na</p><p>Bíblia ― como se fosse possível fazer nascer um carvalho de uma</p><p>semente de mostarda.</p><p>Em defesa desta doutrina, os católicos romanos dão grande relevo</p><p>ao fato do costume de orar pelos mortos ter surgido muito cedo no</p><p>seio da Igreja. Estas orações, afirma-se pressupõem que os mortos</p><p>necessitam das nossas orações, e que eles não vão diretamente</p><p>para o céu. Mas, como já demonstramos, orar pelos mortos é uma</p><p>prática supersticiosa, sem qualquer fundamento nas Escrituras.</p><p>Sendo uma das primeiras corrupções introduzidas pelo paganismo</p><p>na Igreja, não vale a pena argumentar a partir duma corrupção, para</p><p>defender outra.</p><p>O mais que pode ser dito a favor dessa doutrina é o que se segue:</p><p>O termo “purgar”, de que deriva a palavra purgatório, provém da</p><p>Escritura ― isto é, da Versão do Rei Tiago. Mas os versículos que</p><p>se seguem mostram claramente que o verdadeiro purgatório não</p><p>existe depois da morte, mas sim na vida presente: “Eis que ela</p><p>tocou os teus lábios; a tua iniquidade foi tirada, e perdoado</p><p>[purgado], o teu pecado (Isaías 6.7); “Purifica-me [expurga-me] com</p><p>hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo que a neve”</p><p>(Salmos 51.7); “Assentar-se-á como derretedor e purificador de</p><p>prata; purificará [expurgará] os filhos de Levi e os refinará como</p><p>ouro e como prata; eles trarão ao Senhor justas ofertas” (Malaquias</p><p>3.3); “Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e</p><p>todo o que dá fruto limpa [expurga], para que produza mais fruto</p><p>ainda” (João 15.2). Mas em cada um destes versículos, usa a</p><p>American Standard Version uma outra palavra em lugar de purgar</p><p>(ou expurgar, como melhor fica em português) isto é: perdoar,</p><p>purificar, refinar e limpar.</p><p>O que tem dado à do purgatório alguma aceitação, é o fato de todos</p><p>sermos pecadores, e nenhum de nós conseguir alcançar santidade</p><p>perfeita nesta vida, enquanto que o céu é um lugar de santidade</p><p>perfeita, onde não pode entrar qualquer espécie de mal. Surge, pois,</p><p>naturalmente, a pergunta, de como é que a lama é limpa dos últimos</p><p>resíduos do pecado, antes de entrar no céu? Como esta questão</p><p>trata de algo que está fora do reino da nossa experiência, parece</p><p>racional crer que haja lugar para uma purificação adicional. Mas a</p><p>Bíblia, é em tal caso, a única fonte segura de informação. Um</p><p>exame cuidadoso de todas as passagens bíblicas relacionadas com</p><p>este assunto mostra que há apenas duas moradas: o céu para os</p><p>salvos, e o inferno para os pecadores. Quanto à solução do</p><p>problema de saber como é que o cristão fica preparado para entrar</p><p>no céu, a Bíblia ensina que a perfeita justiça não se consegue por</p><p>processo nenhum, mas, exclusivamente, pela fé em Cristo.</p><p>“Sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei,</p><p>e sim mediante a fé em Cristo Jesus” (Gálatas 2.16). Como diz a</p><p>Confissão de Westminster: “As almas dos crentes tornam-se, à hora</p><p>da morte, perfeitas em santidade”. Se duvidar de que a santidade</p><p>pode ser conseguida num momento, lembremo-nos de que o</p><p>restabelecimento de uma doença é, em geral, um processo, mas</p><p>que, quando Cristo disse: “Quero, sê limpo”, até o leproso ficou</p><p>limpo num momento (Cf. Mateus 8.3).</p><p>História da Doutrina. O embrião de que ia crescer a doutrina do</p><p>purgatório encontra-se na ideia da purificação pelo fogo depois da</p><p>morte, entre os povos antigos, muito antes da nossa era,</p><p>principalmente na Índia e na Pérsia. Era uma ideia familiar aos</p><p>egípcios e, mais tarde, à Grécia e a Roma. Platão aceitou-a dando-</p><p>lhe expressão na sua filosofia. Ensina esse filósofo que a felicidade</p><p>perfeita depois da morte não é possível, até termos feito reparação</p><p>pelos nossos pecados; e que, se eles forem grandes demais, os</p><p>nossos sofrimentos nunca terão fim. Depois das conquistas de</p><p>Alexandre o Grande, a influência grega espalhou-se por todos os</p><p>países da Ásia Ocidental, incluindo a Palestina. Vimos que</p><p>encontrou eco em 2 Macabeus. Os rabinos começaram a ensinar</p><p>que as crianças, oferecendo sacrifício pelos pecados, podiam</p><p>mitigar os sofrimentos dos pais já falecidos. A especulação judaica</p><p>posterior começou a dividir o mundo inferior em duas moradas ― o</p><p>Paraíso, lugar de felicidade, e a Gehenna, lugar de tormento.</p><p>Basta ler a história da igreja para descobrir como esta doutrina se</p><p>desenvolveu lentamente até a sua forma atual. Na era cristã</p><p>primitiva, logo a seguir à idade apostólica, os escritos de Marcião e</p><p>do Pastor de Hermas (século II) apresentam a primeira declaração</p><p>de uma doutrina do purgatório, alegando que Cristo, depois da sua</p><p>morte, foi ao mundo inferior e pregou aos espíritos em prisão (1</p><p>Pedro 3.19), levando-os em triunfo para o céu. Nas liturgias cristãs</p><p>primitivas, aparecem orações pelos mortos, o que implica a doutrina,</p><p>visto a condição dos mortos não ser definitiva. Orígenes, o mais</p><p>culto dos Pais da Igreja (morreu em 254 d.C.), ensinou, em primeiro</p><p>lugar, que haveria uma purificação pelo fogo depois da ressurreição;</p><p>e, em segundo lugar, uma restauração universal, visto que um fogo</p><p>purificador no fim do mundo, restauraria todos os homens e todos os</p><p>anjos no favor de Deus. A concepção sacerdotal do ministério</p><p>cristão foi introduzida possivelmente cerca de 200 d.C., e com ela</p><p>surgiu a ideia de que o sacramento da missa tinha valor para os</p><p>mortos.</p><p>Nas obras de Agostinho de Hipona (morreu em 430 d.C.) aparece,</p><p>pela primeira vez, a doutrina na sua forma definitiva, ainda que ele</p><p>mesmo pusesse em dúvida algumas das suas fases. Foi, porém, só</p><p>no século VI que Gregório Magno lhe deu uma definição formal. Daí</p><p>em diante, a escatologia entrou no que se pode chamar a sua fase</p><p>mitológica, durante o período conhecido como Idade das Trevas. O</p><p>mundo invisível passou a estar dividido em céu, inferno e purgatório.</p><p>A imaginação tentava pintar, tão vividamente quanto possível, a</p><p>topografia e as experiências de cada região. A Reforma Protestante</p><p>varreu essas criações de terror e fantasia, regressando à antítese</p><p>das Escrituras, céu e inferno.</p><p>O parágrafo seguinte escrito pelo Dr. Charles Hodge mostra a</p><p>influência que esta doutrina exerceu na vida e no pensamento de</p><p>todas as camadas sociais durante aquele período:</p><p>Foi, porém, Gregório Magno quem consolidou as vagas e</p><p>conflitantes ideias que circulavam pela Igreja, e deu tal forma à</p><p>doutrina e em tal relação com a disciplina da Igreja, que a</p><p>transformou em eficaz máquina para seu governo e receita.</p><p>Desde esse tempo e através de toda a Idade Média, o</p><p>purgatório tornou-se um dos temas mais destacados e</p><p>constantemente reiterados na instrução pública. Apoderou-se</p><p>solidamente da imaginação do público. O clero, desde o</p><p>superior ao inferior, e as diferentes ordens de monges,</p><p>competiam em zelo para inculcar a doutrina, e nos prodígios</p><p>que relatavam nas aparições espirituais para apoiar a doutrina.</p><p>Contendiam ferozmente pela honra de um poder superior para</p><p>redimir as almas das penas do purgatório. Os franciscanos</p><p>pretendiam que o superior de sua ordem descia anualmente</p><p>ao purgatório para livrar a todos os da irmandade que estavam</p><p>detidos ali. Os carmelitas afirmavam que a Virgem Maria</p><p>prometeria que ninguém que morrera com o escapulário</p><p>carmelita sobre ele jamais de perderia. O cinzel e o lápis do</p><p>artista eram empregados na representação dos horrores do</p><p>purgatório, como meio para impressionar a mente do público.</p><p>Nenhuma classe escapou ao contágio dessa crença; tantos os</p><p>eruditos quanto os ignorantes; os altos e os baixos; os</p><p>soldados e os reclusos; os céticos e os crentes, foram todos</p><p>escravizados. Foi dessa escravidão que a Bíblia, não o</p><p>progresso da ciência, libertou a todos os protestantes.[25]</p><p>E, numa nota, acrescenta: “Toda a experiência demonstra que a</p><p>incredulidade não é proteção contra a superstição. Se os homens</p><p>não creem no racional e verdadeiro, crerão no absurdo e no falso”.</p><p>[26]</p><p>Depois deste longo exame da doutrina do purgatório, chegamos à</p><p>conclusão de que se não encontra na Bíblia, e de que é, antes, uma</p><p>invenção humana e contrária àquilo que a Bíblia ensina. Os nossos</p><p>pecados são purificados, não pelo fogo do purgatório, mas pelo</p><p>sangue de Cristo, o nosso Salvador. “O sangue de Jesus Cristo nos</p><p>purifica de todo pecado” (1 João 1.7), eliminado assim, para todo o</p><p>sempre, a necessidade dum lugar horrível como é o purgatório. Não</p><p>dizemos que qualquer pessoa que acredite no purgatório não possa</p><p>ser cristão. A experiência mostra que tanto os cristãos como os</p><p>incrédulos podem ser, por vezes, inconsistentes, aceitando, talvez</p><p>sem examinar bem, uma doutrina ou uma teoria contrário àquilo que</p><p>a Bíblia ensina e aquilo que o seu coração sabe ser verdadeiro.</p><p>7. Espiritismo</p><p>Um outro assunto que está diretamente relacionado com a natureza</p><p>e a atividade dos espíritos dos mortos no estado intermediário é o</p><p>espiritismo. Segundo o espiritismo, os espíritos dos mortos não só</p><p>podem se comunicar como na verdade se comunicam com os vivos,</p><p>em geral por intermédio de um médium que é sensível às suas</p><p>influências.</p><p>Aquilo que dá ao espiritismo a sua mais forte atração é a pretensa</p><p>possibilidade de receber mensagens dos entes queridos que já</p><p>partiram e, em menor escala, a sua pretensa possibilidade de prever</p><p>acontecimentos vindouros. Está intimamente ligado com</p><p>adivinhação, quiromancia, astrologia, etc. Os seus principais</p><p>patronos são os parentes dos mortos pelo desgosto e aqueles que,</p><p>por uma razão ou por outra, estão angustiados e, ainda, os que</p><p>estão preocupados com aquilo que o futuro possa trazer. Mães com</p><p>o coração dilacerado, viúvas desoladas e órfãos cheios de dor, têm</p><p>procurado uma mensagem direta, um raio de esperança vindo do</p><p>outro mundo, e, nesse momento de dor ou desespero, o espiritismo</p><p>parece oferecer uma solução fácil. Em geral, aqueles que procuram</p><p>os médiuns são pessoas cuja fé cristã é fraca, ou que não são</p><p>cristãs. Em vez de aceitar, com confiança, e agir de acordo com a</p><p>informação mais que suficiente e clara para os que põem a sua</p><p>confiança em Deus, têm tentado receber respostas diretas, por</p><p>intermédio de médiuns espíritas.</p><p>Parece que uma grande maioria dos médiuns são mulheres.</p><p>Geralmente o médium pretende ter domínio particular de um</p><p>determinado espírito que responde a perguntas ou recebe</p><p>informações dos falecidos. Por vezes, o médium pretende ter a</p><p>capacidade de fazer voltar a este mundo os espíritos, em aparições</p><p>pessoais, para serem interrogados diretamente. Milhares de</p><p>pessoas enganadas, em especial nas grandes cidades, pedem pão</p><p>aos médiuns mas recebem em vez disso pedras. Não hesitamos em</p><p>declarar, especialmente fundamentados no ensino das Escrituras,</p><p>que o espiritismo é uma armadilha e uma burla. A única coisa que</p><p>um cristão pode fazer é rejeitar, incondicionalmente, as pretensões</p><p>do espiritismo de revelar o mundo invisível e de fazer voltar os</p><p>espíritos dos mortos.</p><p>Não há nenhuma prova concludente sobre se o médium entra,</p><p>realmente, em contato com esses espíritos.</p><p>O contato, caso exista, é feito com espíritos malignos, ou que</p><p>pretendem dar informação a respeito deles. Há razões para crer que</p><p>todos os fenômenos espíritas são produzidos pelos próprios</p><p>médiuns, ou pelos seus ajudantes. Até os mais famosos médiuns</p><p>têm sido apanhados em fraude, e alguns deles têm sido também</p><p>denunciados como sendo indivíduos moralmente indignos de</p><p>confiança. Se enganam, por vezes, como vamos saber se não</p><p>enganam sempre?</p><p>AS ALMAS DOS MORTOS NÃO PODEM VOLTAR</p><p>A Bíblia ensina que a morte provoca uma quebra completa com tudo</p><p>o que pertence a este mundo. É o que ensinam tanto o Antigo como</p><p>o Novo Testamentos. Jó disse: “Antes que eu vá para o lugar de que</p><p>não voltarei, para a terra das trevas e da sombra da morte” (10.21)</p><p>e, ainda, “aquele que desce à sepultura jamais tornará a subir.</p><p>Nunca mais tornará à sua casa, nem o lugar onde habita o</p><p>conhecerá jamais” (7.9, 10). Davi disse, referindo-se ao seu filho</p><p>que acabara de morrer: “Eu irei a ela, porém ela não voltará para</p><p>mim” (2 Samuel 12.23). Uma das grandes verdades do Novo</p><p>Testamento é que a alma do crente, na sua morte, se torna perfeita</p><p>e vai imediatamente</p><p>para junto do Senhor. Paulo descreve este fato</p><p>da seguinte maneira: “preferindo deixar o corpo e habitar com o</p><p>Senhor” (2 Coríntios 5.8). Na parábola do rico e do Lázaro, o rico ao</p><p>entrar no Hades, cessou de poder comunicar com seus irmãos;</p><p>além disso, esta comunicação não foi autorizada, nem era possível</p><p>em nenhuma circunstância. Os salvos vão para o céu; os perdidos</p><p>vão para o inferno. Não pode haver mais contato com este mundo.</p><p>Os mortos, está escrito, estão “adormecidos” — linguagem figurada</p><p>esta que implica não poderem mais ter contato com a vida terrena,</p><p>sendo-nos, pois, impossível comunicar com eles.</p><p>Não há, em parte alguma da Bíblia, nada que indique que os mortos</p><p>voltam a esta terra, em espírito ou no corpo, exceto quando,</p><p>milagrosamente, o próprio Deus os cá enviar, em missão especial.</p><p>Temos, por exemplo, um caso desses na aparição de Samuel,</p><p>quando Saul consultou a feiticeira de Endor, ou, então, na</p><p>ressurreição de várias pessoas, realizada por Elias, por Eliseu, pelo</p><p>Senhor, pelos apóstolos em seu nome, e na aparição de alguns</p><p>santos logo após a ressurreição de Cristo (veja Mateus 27.52, 53). A</p><p>Bíblia, porém, ensina que, fora dessas interferências divinas, a</p><p>morte provoca uma separação permanente entre os vivos e os</p><p>mortos.</p><p>É PROIBIDO TENTAR SE COMUNICAR COM OS MORTOS</p><p>A Bíblia não só ensina que é impossível aos vivos comunicar com</p><p>os mortos, como proíbe rigorosamente qualquer tentativa de tal</p><p>comunicação. Os mandamentos de Deus, por Moisés, ao povo de</p><p>Israel, quando estava para entrar na Palestina, foram: “Quando</p><p>entrares na terra que o Senhor, teu Deus, te der, não aprenderás a</p><p>fazer conforme as abominações daqueles povos. Não se achará</p><p>entre ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem</p><p>adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; nem</p><p>encantador, nem necromante, nem mágico, nem quem consulte os</p><p>mortos; pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor;</p><p>e por estas abominações o Senhor, teu Deus, os lança de diante de</p><p>ti” (Deuteronômio 18.9-12). “Quando alguém se virar para os</p><p>necromantes e feiticeiros, para se prostituir com eles, eu me voltarei</p><p>contra ele e o eliminarei do meio do seu povo” (Levítico 20.6). Isaías</p><p>repetiu o aviso: “Quando vos disserem: Consultai os necromantes e</p><p>os adivinhos, que chilreiam e murmuram, acaso, não consultará o</p><p>povo ao seu Deus? A favor dos vivos se consultarão os mortos? À</p><p>lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais</p><p>verão a alva” (Isaías 8.19-20). O teste infalível, segundo Isaías, para</p><p>saber diferenciar entre um profeta é: Fala de acordo com a Palavra</p><p>de Deus, de acordo com a “lei e o testemunho”? O que a Bíblia</p><p>chama “espíritos familiares”, é o que os espíritas chamam hoje de</p><p>“guia” — um espírito que, supostamente, informa ou controla o</p><p>médium. Estas exortações bíblicas devem bastar para impedir que</p><p>um crente jamais tente se comunicar com os mortos. A Bíblia é bem</p><p>clara. Os pecados aqui mencionados são os que acompanham a</p><p>idolatria pagã. Os que consultam adivinhos, e os que vão a sessões</p><p>espíritas, para tentarem falar com as almas dos mortos, são</p><p>culpados deste pecado.</p><p>Ouçamos a severa repreensão que Deus deu por intermédio do</p><p>profeta Elias ao apóstata Acazias, rei de Israel: “Porventura, não há</p><p>Deus em Israel, para irdes consultar Baal-Zebube, deus de Ecrom? ”</p><p>(2 Reis 1.3). Que vergonha para aqueles cuja fé deveria estar no</p><p>Deus verdadeiro, o voltarem-se para tais práticas, na sua ignorância</p><p>e impaciência!</p><p>Deus achou por bem dar-nos, na sua Palavra, grande quantidade de</p><p>conhecimentos de confiança a respeito do caminho de salvação, e a</p><p>respeito da vida além-túmulo. A ressurreição de Cristo é</p><p>expressamente destinada a dar ao crente a solução do problema da</p><p>realidade futura. Alguém disse, sabiamente: “Não sei o que o futuro</p><p>tem para mim, mas conheço aquele que retém o futuro”. Por que há</p><p>de um crente ir a cultos falsos e a indivíduos de reputação duvidosa,</p><p>como são os quiromantes, para saber o que lhes reserva o futuro?</p><p>Mesmo, para que ir a tais fontes em busca de informações e ajuda?</p><p>A única razão pela qual os médiuns espiritistas e os quiromantes</p><p>continuam a prosperar é que há quem continue a pagar quantias</p><p>consideráveis pelos seus “serviços”. Isto constitui, em primeiro lugar,</p><p>uma trágica falta de compreensão espiritual; en segundo lugar, a</p><p>completa credulidade dos que os patrocinam; e, em terceiro lugar, a</p><p>superstição de muita gente (até mesmo de muitos que se recusam a</p><p>reconhecê-lo abertamente), que faz com que muitos fenômenos</p><p>pretensamente sobrenaturais pareçam ter um aspecto misterioso</p><p>que, por sua vez, torna simples acreditar que existe alguma verdade</p><p>nas pretensões dos espiritistas.</p><p>O Dr. John R. Rice disse, há tempos, o seguinte: “Devia ser evidente</p><p>a todos quantos pensam um pouco, que os que pretendem adivinhar</p><p>o futuro, são autênticos burlões. Meditemos um pouco. Se um</p><p>adivinho pudesse, na verdade, prever o futuro, que necessidade</p><p>teria de abrir um pequeno e sombrio escritório, e receber dinheiro de</p><p>pobres crédulos, para poder ganhar a sua vida? Se um adivinho</p><p>pudesse predizer o preço das ações, na Bolsa, na semana seguinte,</p><p>ficaria rico num abrir e fechar de olhos. Há muitos banqueiros,</p><p>capitalistas e industriais que pagariam fortunas por informações</p><p>seguras a este respeito. Se pudesse adivinhar o número da sorte</p><p>grande, compraria, decerto, o bilhete com esse número, ganhando</p><p>assim o prêmio. Se houvesse um adivinho que soubesse, na</p><p>verdade, quando ia rebentar a guerra, ou quando os preços iam</p><p>subir ou baixar, ou se ia chover em determinada região num dado</p><p>momento, ganharia rios de dinheiro. Realmente, se um dos que</p><p>pretendem saber o que vai acontecer no futuro o pudesse provar,</p><p>faria milhares de contos com esse seu conhecimento, e não teria o</p><p>negócio modesto e pobre que tem. A quiromancia é um conto do</p><p>vigário, verdadeiramente perverso e criminoso. Todos quantos</p><p>patrocinam esses indivíduos são loucos e estão a encorajar a</p><p>perversidade”.[27]</p><p>DOGMAS DO ESPIRITISMO</p><p>Muitas vezes as reuniões espíritas têm um aspecto religioso.</p><p>Nalguns lugares, existem até “igrejas” onde há leitura das</p><p>Escrituras, música e hinos apropriados, e orações. Tudo isto serve</p><p>para dar uma atmosfera análoga à das igrejas, a fim de desaparecer</p><p>qualquer reserva ou preconceito, da parte dos que são membros</p><p>das igrejas cristãs. O movimento, porém, não só não é cristão, como</p><p>é tendenciosamente anti-cristão, com um aspecto verdadeiramente</p><p>subversivo em relação a todo o cristianismo. Nega, em primeiro</p><p>lugar, a inspiração das Escrituras e tenta rebaixar a Bíblia ao nível</p><p>de outros livros. Nega a divindade de Cristo e apresenta-o como</p><p>(imaginem!) sendo um médium, implicando assim que o seu poder</p><p>sobrenatural é, essencialmente, semelhante ao que o médium, hoje</p><p>em dia, possui! Rejeita vigorosamente a ideia do seu sacrifício como</p><p>satisfação da justiça divina pelo pecado, e afirma que a salvação é</p><p>um assunto de mérito pessoal. Tende, fatalmente, para o</p><p>universalismo. Nega as doutrinas da Trindade e do Espírito Santo, a</p><p>existência do inferno e a personalidade do Diabo fazendo deste um</p><p>princípio abstrato do mal. Um autor afirma: “não há nem Diabo nem</p><p>espíritos malignos”. Exprime-se levianamente sobre a doutrina do</p><p>pecado e a necessidade de perdão.</p><p>A forma de ocultismo mais divulgada e popular é, talvez, a</p><p>astrologia. A astrologia é uma pseudociência que pretende</p><p>interpretar a influência dos astros sobre os acontecimentos</p><p>humanos e, deste modo, predizer o futuro. É uma ficção contrária à</p><p>verdade.</p><p>Há evidentemente a respeito do futuro, muitas coisas que não</p><p>sabemos, pois aprouve a Deus não nos-las revelar, e não temos o</p><p>direito de esquadrinhar um conhecimento que ele nos proibiu. Com</p><p>respeito a conhecimento proibido lembremo-nos de que, antes da</p><p>queda dos nossos primeiros pais, havia, no jardim do Éden, uma</p><p>árvore que possuía um segredo, o segredo do conhecimento do</p><p>bem e do mal, tendo eles sido avisados de que o conhecimento que</p><p>ela dava não era para eles. Perscrutando conhecimento do bem e</p><p>do mal, tornaram-se</p><p>vítimas do mal. Não obstante o aviso,</p><p>resolveram investigar. O resultado foi fatal para a raça humana. A</p><p>sua desobediência inquiridora não lhes serviu para nada; antes, pelo</p><p>contrário, destruiu tudo quanto lhes era querido. Hoje em dia,</p><p>aqueles que suspiram por conhecimento proibidos, conhecimentos</p><p>esses que julgam poder alcançar com os serviços dum médium</p><p>espírita, mostram a sua completa falta de entendimento da verdade</p><p>cristã.</p><p>Na parábola do rico e de Lázaro, lembra-se ao rico que os seus</p><p>irmãos têm os escritos de Moisés e dos Profetas e possuem,</p><p>portanto, todas as fontes de conhecimento necessárias. Nós,</p><p>vivendo na luz do Novo Testamento, temos uma revelação superior,</p><p>e a promessa de que o Espírito Santo nos guiará na verdade, se a</p><p>buscarmos diligentemente. Não necessitamos, sem dúvida, do</p><p>regresso dos mortos para nos informarem a respeito do mundo</p><p>vindouro. Qualquer movimento que afirme que as almas dos que</p><p>partiram podem fazer o que a Bíblia diz que não podem, deve ser</p><p>considerado automaticamente anti-cristão.</p><p>RESULTADOS OBTIDOS COM O USO DA MAGIA</p><p>Não pretendemos conhecer a solução para todos os fenômenos</p><p>espiritistas. Alguns aparecem como verdadeiramente estranhos e,</p><p>até, como sobrenaturais, para um leigo. No entanto, pensamos que,</p><p>em geral, os resultados são obtidos por meio de artes mágicas, isto</p><p>é, leveza de mão, manipulações técnicas, tão rápidas ou tão</p><p>disfarçadas que escapam à vista dos observadores, e que, por mais</p><p>misteriosos que os resultados pareçam para os não-iniciados, são</p><p>obtidos por meios puramente naturais. Temos visto, várias vezes,</p><p>habilidosos ilusionistas enganar o público com um truque após o</p><p>outro; no entanto, não acreditamos que haja algo de sobrenatural</p><p>nos seus sucessos; a maioria deles admitem-no francamente.</p><p>Tem sido divulgada tanta trapaça de médiuns, que, mesmo</p><p>abstraindo da condenação das Escrituras, todo o movimento está</p><p>debaixo de suspeita. O Dr. William E. Biederwolf fez um estudo</p><p>profundo do espiritismo e dos seus métodos e conclui que “nunca</p><p>existiu no mundo tamanho grupo de mentirosos e burlões como a</p><p>maioria dos médiuns, videntes, adivinhos, escribas de lousas,</p><p>intérpretes de mesas, até manipuladores de fantasmas”.[28] As</p><p>condições de atuação que os médiuns exigem, tais como um quarto</p><p>escuro, um grupo selecionado de pessoas, obediência a certas</p><p>instruções, etc., fazem com que seja dificílimo descobrir o logro para</p><p>os que não estão familiarizados com os fenômenos da mágica.</p><p>CONLUIO COM ESPÍRITOS MALIGNOS</p><p>Uma outra explicação dada por alguns dos que estudaram os</p><p>fenômenos espiritistas, é a de que os supostos fenômenos</p><p>sobrenaturais são causados por espíritos malignos. É evidente que</p><p>não podem ser de origem divina, nem produzidos por anjos</p><p>celestiais, pois que as Escrituras os condenam. Sabemos que</p><p>existem espíritos malignos, que têm acesso a este mundo. Isto</p><p>sobressai claramente no Antigo e Novo Testamentos. Um espírito</p><p>maligno apareceu ao rei Saul (1 Samuel 16.14; 18.10); e nos</p><p>profetas que profetizavam perante o rei Acab (1 Reis 22.21-23). Na</p><p>época do Novo Testamento, eram comuns os possessos de</p><p>demônio. Jesus expulsou várias vezes espíritos malignos de vários</p><p>possessos. Havia várias doenças físicas que se atribuiam a</p><p>possessão demoníaca. Lemos, por exemplo: “Então, lhe trouxeram</p><p>um endemoninhado, cego e mudo; e ele o curou, passando o mudo</p><p>a falar e a ver” (Mateus 12.22). Um rapaz epiléptico ficou curado,</p><p>quando o demônio foi expulso (Mateus 17.14-18). Uma mulher que</p><p>esteve curvada durante 18 anos, de maneira tal que não podia</p><p>levantar-se, foi curada, tendo Jesus dito que “convinha livrar deste</p><p>cativeiro… esta filha de Abraão, a quem Satanás trazia presa há</p><p>dezoito anos” (Lucas 13.10-17). O Apóstolo Paulo, escrevendo à</p><p>Igreja em Tessalônica, mostrou o seu desejo de a visitar, e disse que</p><p>tanto ele como Timóteo já várias vezes tinham querido ir, mas,</p><p>acrescentou: “Satanás nos barrou o caminho” (1 Tessalonicenses</p><p>2.18).</p><p>É bem possível que muitas das tentações e desgraças que nos</p><p>acontecem ― doenças, desastres, perda de bens, e, mesmo a</p><p>morte ―, sejam causadas por espíritos malignos ou, até, pelo</p><p>próprio Demônio. Os nossos olhos não os podem ver, porque são</p><p>espíritos absolutamente imateriais. Porém, a sua influência no reino</p><p>espiritual pode ser tão real como o de outras forças do mundo</p><p>material, igualmente invisíveis, como sejam a gravidade, o</p><p>magnetismo, e as ondas da rádio e da televisão. No caso de Jó, o</p><p>Demônio, não se apresentou pessoalmente, mas operou por</p><p>intermédio de forças naturais, isto é, por meio de causas</p><p>secundárias. Os sabeus (bandidos) roubaram os bois de Jó e</p><p>mataram os seus serviços; os relâmpagos mataram as suas</p><p>ovelhas; os caldeus roubaram os seus camelos; um grande vento do</p><p>deserto deitou abaixo a casa em que os seus filhos e suas filhas</p><p>estavam em festa, e matou-os; e o próprio Jó foi vítima de chagas</p><p>dolorosas. Humanamente falando, parece que tudo isso aconteceu</p><p>no curso normal das coisas. É evidente que Jó não tinha ideia</p><p>alguma diferente da de fenômenos naturais. Diz-nos, porém, a</p><p>Escritura que Satanás tinha recebido autorização para tentar Jó por</p><p>meio dessas provas, que para Jó essas provas tinham um aspecto</p><p>disciplinar, e que Satanás não podia tocar em Jó senão quando</p><p>tivesse autorização para tal; e, em tal caso, só lhe podia causar</p><p>males até um certo limite. Se for este o caso com muitas das</p><p>desgraças semelhantes que nos acontecem, podemos estar certos</p><p>de que só nos sobrevirão sob permissão divina, e de que, como</p><p>aconteceu com Jó, elas serão eventualmente dominadas para bem.</p><p>Tudo isto não confirma o espiritismo, pois não existem nenhumas</p><p>provas de que os médiuns, ou quaisquer outras pessoas tenham</p><p>poder de entrar em contato com os espíritos, ou influenciá-los de</p><p>qualquer maneira. Se, porém, os fenômenos são causados, pelo</p><p>menos em parte, pelos espíritos, isto significa que os espíritos que</p><p>se manifestam nas sessões, ou que dão aos médiuns informações</p><p>impossíveis de conseguir por meios humanos normais, não são, de</p><p>maneira alguma, os espíritos dos entes querido, mas os espíritos do</p><p>mundo das trevas e até nalguns casos, o próprio Demônio. De</p><p>qualquer modo, ninguém jamais encontrou o segredo da verdadeira</p><p>felicidade, nem a forma de alcançar sucesso e prosperidade</p><p>permanentes, por meio de médiuns ou adivinhos. Os violentos</p><p>ataques que as Escrituras contêm contra a magia negra, servem</p><p>para preservar a humanidade essas decepções.</p><p>SAUL E A FEITICEIRA DE ENDOR</p><p>O único acontecimento nas Escrituras frequentemente apontado</p><p>pelos espíritas em apoio de sua teoria, segundo a qual é possível</p><p>que os vivos se comuniquem com os mortos, é a visita de Saul à</p><p>feiticeira de Endor. Esse acontecimento é relatado em 1 Samuel</p><p>28.3-25. Cremos, porém, que um exame cuidadoso dessa</p><p>passagem mostrará que, em vez de apoiar a pretensão dos</p><p>espíritas, a refuta, na verdade, categoricamente.</p><p>Recordemos a história. O velho profeta Samuel morrera, Saul, o rei</p><p>de Israel, ia de mal a pior, abandonado por Deus. Os filisteus</p><p>estavam a concentrar contra ele os seus exércitos. As formas</p><p>normais de revelação divina estavam-lhe fechadas, por causa da</p><p>sua deliberada desobediência. “Porém o Senhor não lhe respondeu,</p><p>nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas” (1 Samuel 28.6).</p><p>A iminência da batalha com os filisteus enchia-o de terror e não</p><p>sabia para onde se virar. Pensou em Samuel e desejou</p><p>ardentemente uma palavra dele, como dantes. Ele sabia que os que</p><p>tinham relações com os espíritos familiares possuíam a fama de</p><p>serem capazes de invocar os mortos. Embora Saul, no início do seu</p><p>reinado, tivesse suprimido, sob pena de morte, todos os médiuns,</p><p>feiticeiros, seguidores de magia negra, etc., agora, no seu</p><p>desespero e na sua superstição, procura uma mulher que praticava</p><p>ilegalmente a feitiçaria na cidade de Endor.</p><p>Saul disfarçou-se e foi ter com a mulher. Ela lembrou-lhe que Saul</p><p>proibira semelhantes práticas, sob pena de morte. Porém, depois de</p><p>receber uma promessa solene que não receberia nenhum castigo,</p><p>perguntou: “A quem te farei subir? E disse</p><p>ele: Faze-me subir a</p><p>Samuel”. Saul pediu que fizesse subir a Samuel. E a história</p><p>prossegue:</p><p>Vendo, pois, a mulher a Samuel, gritou com alta voz, e falou a</p><p>Saul, dizendo: Por que me tens enganado? Pois tu mesmo és</p><p>Saul. E o rei lhe disse: Não temas; que é que vês? Então a</p><p>mulher disse a Saul: Vejo deuses que sobem da terra. E lhe</p><p>disse: Como é a sua figura? E disse ela: Vem subindo um</p><p>homem ancião, e está envolto numa capa. Entendendo Saul</p><p>que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra, e se</p><p>prostrou. Samuel disse a Saul: Por que me inquietaste,</p><p>fazendo-me subir? Então disse Saul: Mui angustiado estou,</p><p>porque os filisteus guerreiam contra mim, e Deus se tem</p><p>desviado de mim, e não me responde mais, nem pelo</p><p>ministério dos profetas, nem por sonhos; por isso te chamei a</p><p>ti, para que me faças saber o que hei de fazer.</p><p>Então disse Samuel: Por que, pois, me perguntas a mim, visto</p><p>que o Senhor te tem desamparado, e se tem feito teu inimigo?</p><p>Porque o Senhor tem feito para contigo como pela minha boca</p><p>te disse, e o Senhor tem rasgado o reino da tua mão, e o tem</p><p>dado ao teu próximo, a Davi. Como tu não deste ouvidos à voz</p><p>do Senhor, e não executaste o fervor da sua ira contra</p><p>Amaleque, por isso o Senhor te fez hoje isto. E o Senhor</p><p>entregará também a Israel contigo na mão dos filisteus, e</p><p>amanhã tu e teus filhos estareis comigo; e o arraial de Israel o</p><p>Senhor entregará na mão dos filisteus. E imediatamente Saul</p><p>caiu estendido por terra, e grandemente temeu por causa</p><p>daquelas palavras de Samuel. (1 Samuel 28.12-20)</p><p>Essa é a história. Saul procurou o que podemos chamar um médium</p><p>espírita, e Deus deu-lhe uma mensagem de condenação ― o</p><p>exército seria derrotado, o país saqueado, e ele e os seus filhos</p><p>morreriam. Ao lermos essa história, duas perguntas nos vêm à</p><p>mente:</p><p>1 ― Foi realmente Samuel quem apareceu e falou a Saul?</p><p>2 ― Se foi Samuel, teria a mulher, na verdade, poder para o</p><p>invocar?</p><p>Quanto à primeira pergunta, tudo indica que Samuel apareceu, na</p><p>verdade, e falou com Saul. É-nos contado que a mulher viu Samuel</p><p>(v. 12), que Saul verificou que era Samuel (v. 14), que Samuel falou</p><p>com Saul (v. 15), que Samuel repreendeu severamente a Saul (v.</p><p>20). Afirma-se claramente que Samuel falou com Saul. Toda essa</p><p>história é narrada simples e historicamente, e não há nela qualquer</p><p>indicação de que fosse a mulher ou um espírito maligno</p><p>personificando Samuel.</p><p>Quanto à segunda pergunta, não podemos acreditar que a mulher</p><p>tivesse realmente poder sobre o espírito de Samuel, de forma a</p><p>fazê-lo aparecer, a um aceno seu, a uma chamada sua. Semelhante</p><p>crença seria contrária ao ensino geral das Escrituras a esse</p><p>respeito. Parece evidente que aconteceu algo que nem mesmo a</p><p>mulher esperava que acontecesse. É evidente que ela esperava</p><p>fazer o que costumava fazer ― entrar em transe (real ou</p><p>pretensamente), personificar Samuel, de maneira a enganar os</p><p>consulentes. Mas quando o espírito realmente apareceu, surgindo</p><p>da terra, como visão, terrível na sua majestade, foi ela quem ficou</p><p>mais espantada. Ficou, na verdade, completamente assustada e</p><p>gritou ― “com alta voz”. Se fosse aquilo que pretendia ser, um</p><p>médium capaz de invocar espíritos do túmulo, essa aparição seria</p><p>apenas rotina, e ela já contaria que tal acontecesse. Mas as coisas</p><p>passaram-se de uma maneira diferente do costume, diferentes do</p><p>que ela faria como médium.</p><p>Desde o momento em que Samuel apareceu, a mulher passou a ser</p><p>apenas uma espectadora. Parece evidente que, nesse caso, Deus</p><p>enviou realmente o profeta Samuel e invalidou a sessão, usando-a</p><p>para pronunciar uma sentença contra a deliberada desobediência de</p><p>Saul. Na narrativa paralela de 1 Crônicas 10.13, 14, dá-se especial</p><p>relevo ao fato da desobediência de Saul: “Assim morreu Saul por</p><p>causa da transgressão que cometeu contra o Senhor, por causa da</p><p>palavra do Senhor, a qual não havia guardado; e também porque</p><p>buscou a adivinhadora para a consultar. E não buscou ao Senhor,</p><p>que por isso o matou, e transferiu o reino a Davi, filho de Jessé”.</p><p>Não há dúvida que esse episódio não pode ser tomado das</p><p>Escrituras em apoio do espiritismo.</p><p>Sim, a estrela mais antiga é a de Endor</p><p>É a mais louca de todas elas é.</p><p>Vai direita à casa da feiticeira</p><p>Tal como nos dias de Saul, o Rei.</p><p>Nada, nada mudou, e dores virão</p><p>Aos que vão na estrada para Endor.</p><p>Rudyard Kipling</p><p>ORIGEM DO MOVIMENTO ESPIRITISTA</p><p>Os fenômenos espiritistas, em si, duma forma ou doutra, têm origem</p><p>antiga. O espiritismo moderno, porém, tal como o conhecemos</p><p>agora, começou realmente em 1848 com a família Fox, numa</p><p>modesta casa de campo, em Hydesville, nos Estados Unidos. A</p><p>casa habitada por esta família era considerada pela população uma</p><p>casa “assombrada”. A família foi incomodada durante alguns meses</p><p>por pancadas misteriosas. A Encyclopedia of Biblical, Theological</p><p>and Ecclesiastical Literature de M’Clintock e Strong, dá-nos o</p><p>seguinte relato:</p><p>Em janeiro de 1848, os ruídos transformaram-se em pancadas</p><p>nítidas, à noite, nos quartos, parecendo por vezes vir do porão</p><p>e soando como o bater de um martelo de sapateiro. Estas</p><p>pancadas faziam tremer a mobília e até o soalho. As crianças</p><p>(Margarida com 12 anos e Kate com 9) sentiram um certo</p><p>peso, como de um cão deitado sobre os seus pés, na cama.</p><p>Kate sentiu como que uma mão fria pousar sobre a sua face.</p><p>Por vezes, era puxada a roupa da cama. As cadeiras e a mesa</p><p>de jantar moviam-se do seu lugar. Batiam às portas, soando</p><p>como se alguém estivesse atrá delas, mas, se as abriam de</p><p>repente, não se via ninguém. Na noite de 31 de março de</p><p>1848, as pancadas foram invulgarmente fortes, pelo que o sr.</p><p>Fox examinou se não seria o vento que fazia mover os</p><p>caixilhos. Kate reparou que as pancadas no quarto</p><p>correspondiam exatamente ao barulho feito pelo seu pai com</p><p>os caixilhos. Então, fez repenicar os dedos, e exclamou: “Tu,</p><p>velho Diabo, faz como eu faço?”. Seguiu-se então uma</p><p>pancada. Isto atraiu, imediatamente, a atenção da mãe. “Conta</p><p>até dez”, disse ela. Ouviram-se, distintamente, dez pancadas.</p><p>“Quantos anos tem Margarida?” Doze pancadas. “E Kate?”</p><p>Nove. Responderam ainda a outras perguntas. Quando</p><p>perguntaram se era homem, não houve resposta. Um espírito?</p><p>Uma pancada se fez ouvir. Fizeram-se várias perguntas ao</p><p>espírito, que respondeu por meio de pancadas ser o espírito</p><p>de um vendedor ambulante que fora assassinado, alguns anos</p><p>atrás, pelo locatário de então, John C. Bell, por causa dos seus</p><p>bens. O bufarinheiro nunca mais foi visto, e, quando se</p><p>levantou o soalho, encontraram-se os restos dum corpo</p><p>humano.</p><p>Eis, em resumo, a origem do movimento espiritista moderno. Uma</p><p>irmã mais velha, chamada Lia, tomou conta de Margarida e de Kate,</p><p>adotando-as e apresentando-as em vários palcos. Ambas se</p><p>tornaram médiuns famosas. Durante os anos seguintes o</p><p>movimento cresceu de uma forma espantosa. Um grupo de</p><p>conferencistas assumiu o movimento e o popularizou, tendo se</p><p>espalhado por Nova Iorque, nos estados da Nova Inglaterra, até ao</p><p>oeste de St. Louis, no Canadá, e do outro lado do Atlântico até a</p><p>Inglaterra. Quarenta anos depois, após o movimento ter atraído a</p><p>atenção mundial, as duas irmãs Fox explicaram a maneira como</p><p>produziam os fenômenos espíritas. Reconheceram que os</p><p>resultados conseguidos eram-no por meio de truques e fraudes.</p><p>Repudiaram a sua ligação com o movimento. Margarida organizou</p><p>uma manifestação pública em Nova Iorque, começando assim o</p><p>repúdio:</p><p>Estou aqui nesta noite como uma das fundadoras do</p><p>espiritismo, a fim de o denunciar, como uma mentira completa,</p><p>do começo até o fim, como a pior das superstições, como a</p><p>mais perniciosa blasfêmia jamais conhecida.</p><p>Mas ele não conseguiu ir além. Os seus inimigos, na audiência,</p><p>criaram tamanha desordem que, devido em parte ao cansaço em</p><p>que se encontrava, ela não pôde continuar. Mas um jornal de Nova</p><p>Iorque, o World, publicou a seguinte notícia, com a data de 22 de</p><p>outubro de 1888:</p><p>Se a sua língua perdeu o poder, o mesmo não aconteceu com</p><p>as articulações dos dedos dos pés. Colocaram diante dela</p><p>uma mesa de madeira, com quatro pés curtos, para servir de</p><p>tambor. Tirando o sapato, colocou o pé direito em cima da</p><p>mesa. Toda a audiência ficou completamente silenciosa,</p><p>ouvindo uma série de pancadas, breves e ásperas ― esses</p><p>sons misteriosos que haviam, durante quarenta anos,</p><p>aterrorizado e deixado perplexas centenas de milhares de</p><p>pessoas, nos Estados Unidos e na Europa. Uma comissão</p><p>composta por três médicos, subiu então ao palco e, depois de</p><p>examinar o pé enquanto “batia”, concordou, hesitantemente,</p><p>em que o som era provocado pela articulação do dedo maior</p><p>do pé.[29]</p><p>Charles von Ferguson, autor de um livro que trata de várias seitas</p><p>existentes hoje em dia, dá as seguintes notícias das irmãs Fox no</p><p>período posterior ao repúdio do movimento:</p><p>Kate casou e mais tarde abandonou o espiritismo,</p><p>acompanhando a sua irmã na denúncia de 1888. Um</p><p>investigador, o Dr. Elisha Kent Kane, interessou-se por</p><p>Margarida e tentou que ela abandonasse a “trapalhice” ―</p><p>termo que ele usava frequentemente nas cartas que lhe</p><p>escrevia ― e casasse com ele. Infelizmente para ambos, ele</p><p>era filho duma família rica que se escandalizou com a sua</p><p>paixão por uma das irmãs Fox, e depois de muitas cartas</p><p>apaixonadas, entre um, no Ártico, e a outra, na América,</p><p>tiveram que se contentar com um casamento de direito</p><p>comum. Pouco depois, Kane embarcou para Inglaterra,</p><p>prometendo voltar em breve, para se juntar a sua esposa, mas</p><p>morreu sem que se tivessem encontrado de novo. Margarida</p><p>Fox Kane teve um filho, e encontrou-se sem meios de</p><p>subsistência. Caiu de novo no espiritismo, começando a beber</p><p>muito, e por fim cortou relações com Lia, e uniu-se à Igreja</p><p>Católica Romana. Foi quando regressou a Nova Iorque, vindo</p><p>do estrangeiro, em 1888, que fez a sua surpreendente</p><p>retratação das doutrinas espíritas, apresentando provas</p><p>convincentes da sua fraudulência. Durante 30 anos, antes</p><p>desta sua atitude, viveu num temor constante de Lia.[30]</p><p>A ATITUDE DE HOUDINI PARA COM O ESPIRITISMO</p><p>Há uma outra frase na controvérsia espiritista, que não se deve</p><p>negligenciar e que, segundo o autor destas linhas, é a mais</p><p>importante de todas, com exceção do ensino das Escrituras. Esta</p><p>fase é a atitude tomada para com o espiritismo pelo mais famoso</p><p>dos ilusionistas que jamais existiu, Harry Houdini.</p><p>O que dá um valor particular à opinião de Houdini, é o seu</p><p>insuperável conhecimento de todo o campo da magia e do</p><p>ocultismo, assim como a sua habilidade em mistificar, não só um</p><p>conhecedor do assunto, mas também uma audiência inteira, quando</p><p>crédula. Realizou imensas vezes proezas que o mais cuidadoso dos</p><p>observadores consideraria impossíveis e que outros ilusionistas</p><p>nunca puderam imitar. E, no entanto, não pretendia possuir qualquer</p><p>poder sobrenatural. Insistia, pelo contrário, em que todas as suas</p><p>proezas eram realizadas apenas com meios puramente naturais. E</p><p>isto, afirmava Houdini, é precisamente o que os médiuns fazem.</p><p>Houdini várias vezes expôs médiuns que pretendiam invocar as</p><p>vozes e o espírito dos mortos, por outros meios que não puramente</p><p>físicos. Pertenceu à comissão organizada pela Scientific American</p><p>Magazine, que tinha como missão investigar os fenômenos</p><p>espiritistas; esta revista oferecia 2.500 dólares ao médium que</p><p>conseguisse provar, satisfatoriamente, que ele ― ou ela ― era, na</p><p>verdade, capaz de invocar os espíritos dos mortos. Desafiou</p><p>repetidamente médiuns para debate, perante as suas audiências; os</p><p>seus programas traziam “UM DESAFIO A TODOS OS MÉDIUNS</p><p>DO MUNDO”, para que apresentassem “pretensas manifestações</p><p>psíquicas que eu não possa repetir ou explicar como sendo</p><p>executadas por meio naturais”. Caso perdesse, daria 10.000 dólares</p><p>para fins caritativos. Mas ninguém conseguiu ganhar o prêmio. Após</p><p>um dos seus programas, o jornal News, de Providence, escreveu o</p><p>seguinte comentário: “Houdini conhece vários truques, e conhece-os</p><p>ainda melhor do que os outros burlões espíritas. Dê-se mais poder a</p><p>Houdini, para ser capaz de arruinar os faquires”.</p><p>Houdini foi, durante algum tempo, no começo da sua carreira,</p><p>médium, e sabia como eram produzidas muitas das suas façanhas.</p><p>Ele próprio disse, mais tarde, que não compreendeu quão errado</p><p>andava, vivendo à custa das esperanças e dos temores dos</p><p>enlutados, senão quando sua mãe, a quem muito amava, morreu, e</p><p>ele próprio ficou tolhido pela morte. Foi esta experiência que o fez</p><p>revoltar-se, fortemente, contra o espiritismo. Diz dele, no primeiro</p><p>parágrafo do seu livro A Magician Among The Spirits [Um mágico</p><p>entre os espíritos]:</p><p>Desde o início da minha carreira como ilusionista, de tipo</p><p>misterioso, me tenho interessado pelo espiritismo como algo</p><p>que pertence à categoria dos mistérios, e usei-o como uma</p><p>variante nos meus espetáculos de magia. Associe-me com</p><p>médiuns, tornando-me um deles, e realizei sessões, como</p><p>médium independente, de forma a penetrar nos seus</p><p>segredos. Nessa época, gostava de fazer pasmar os meus</p><p>clientes, mas, ainda que cônscio de fato de os estar a enganar,</p><p>não via ou não compreendia a importância de zombar de</p><p>sentimentos tão sagrados, e o resultado contraproducente que</p><p>se lhe seguia. Era para mim uma paródia. Era um mágico e a</p><p>minha ambição era galardoada, e o meu amor por sensações</p><p>era facilmente satisfeito. Depois de ter mergulhado bem fundo,</p><p>verifiquei a importância de tudo isto. Com a experiência da</p><p>idade, fui levado a verificar a importância de diversões à custa</p><p>do respeito sagrado que o homem normal tem para com os</p><p>seus queridos que partiram deste mundo e, quando eu próprio</p><p>fui atingido por me sentir culpado de tão grande frivolidade;</p><p>verifiquei, pela primeira vez, que estava muito perto do crime.</p><p>Prossegue ele:</p><p>Tem sido a minha principal tarefa inventar e apresentar,</p><p>publicamente, problemas cujos segredos nem sequer os</p><p>ilusionistas mais conceituados conseguiram descobrir, e cujos</p><p>efeitos são considerados como tão inexplicáveis pelos</p><p>cientistas como qualquer maravilha apresentada pelos</p><p>médiuns. O meu testemunho como o “feiticeiro dos feiticeiros”</p><p>qualifica-me para poder penetrar sob a superfície de qualquer</p><p>problema da mágica que me seja apresentado, não sendo pois</p><p>estranho que os meus olhos treinados durante trinta anos de</p><p>experiência das ciências ocultas possam ver esses pretensos</p><p>problemas de um ângulo diferente do leigo e, até, do</p><p>investigador já treinado.</p><p>Juntei uma das maiores bibliotecas do mundo sobre</p><p>fenômenos do ocultismo, espiritismo, mágica, bruxaria,</p><p>demonologia, espíritos malignos, etc.; tenho até livros de 1489;</p><p>duvido que haja alguém no mundo que possua uma biblioteca</p><p>tão completa sobre o espiritismo moderno, mas apesar disso,</p><p>nunca li nada sobre os chamados fenômenos espíritas, que</p><p>me tivesse impressionado como verídico… Não tenho</p><p>investigado apenas desde há alguns dias, semanas ou meses,</p><p>mas sim desde há trinta anos que estudo tais fenômenos, e</p><p>nunca encontrei um único incidente que fosse genuíno. Se</p><p>tivesse aparecido uma única demostração sem mistura com</p><p>que trabalhar, que não cheirasse a fraude, uma única que não</p><p>se pudesse produzir com poderes humanos, isso seria já uma</p><p>base; mas, até agora, tudo quanto investiguei, ou é resultado</p><p>de cérebros iludidos ou daqueles que estavam ativa e</p><p>voluntariamente prontos a acreditar.</p><p>As relações de Houdini com Sir Conan Doyle, de quem era muito</p><p>amigo, foram muito interessantes. Doyle era um escritor inglês que</p><p>por ter perdido um filho durante a Primeira Guerra Mundial, se voltou</p><p>para o espiritismo, tornando-se um dos seus defensores mais</p><p>entusiastas. Doyle estava convencido de que Houdini era um</p><p>médium capaz de atos sobre-humanos. Declarou que Houdini só era</p><p>capaz de executar alguns dos seus truques quando se</p><p>“desmaterializa”, isto é, por meio da dissolução do seu corpo físico e</p><p>“rematerializando-se” de novo, depois. A resposta de Houdini a</p><p>semelhante afirmação foi uma declaração categórica de que</p><p>realizava todas as suas fugas e outras façanhas por meios</p><p>puramente físicos.</p><p>Depois de uma viagem por Inglaterra onde deu várias espectáculos,</p><p>um escritor inglês chamados J. Hewat McKenzie, presidente da</p><p>Faculdade Britânica de Ciências Psíquicas, disse, num livro</p><p>intitulado</p><p>Spirit Intercourse:</p><p>Houdini, conhecido como o Rei da Evasão, que demonstrou</p><p>tão brilhantemente as suas capacidades em palcos públicos,</p><p>possui o poder psíquico (embora o não enuncie) para abrir</p><p>qualquer espécie de fechadura ou ferrolho que lhe</p><p>apresentem. Encerraram-se em celas com barras fortíssimas</p><p>fechadas com várias cadeados, mas sempre conseguiu sair.</p><p>Este talento em abrir portas fechadas à chave é, sem dúvida,</p><p>devido aos seus poderes como médium, e não a qualquer</p><p>manejo mecânico da fechadura. A força necessária para forçar</p><p>um ferrolho é conhecida pelo médium Houdini embora não</p><p>devamos pensar que é este o único meio pelo qual ele pode</p><p>escapar da prisão, pois, por vezes, o seu corpo se</p><p>desmaterializa, e, assim, consegue sair. (p. 107)</p><p>Em resposta, Houdini afirmou:</p><p>Sendo uma das pessoas mais profundamente interessadas</p><p>nestas afirmações, sou, também, a mais capacitada para</p><p>responder a afirmações tão falsas. Na verdade, afirmo que me</p><p>liberto da prisão provocada por cadeias e encerramentos, mas</p><p>afirmo de forma categórica que consigo o que quero apenas</p><p>por meios físicos e não por meios psíquicos. A força</p><p>necessária para forçar os ferrolhos é dada por Houdini como</p><p>sendo o ser humano, e não o médium. Os meus métodos são</p><p>absolutamente naturais, baseando-se nas leis físicas naturais.</p><p>Eu não desmaterializo nem materializo coisa alguma;</p><p>simplesmente controlo o uso dos fenômenos naturais duma</p><p>maneira absolutamente consciente para mim mesmo, e que</p><p>poderia ser absolutamente explicada e compreendida (e até</p><p>repetida) por qualquer pessoa que eu escolhesse para revelar</p><p>os meus segredos. Espero levar os meus segredos para o</p><p>túmulo, visto que não trarão quaisquer vantagens materiais</p><p>para a humanidade, e tornar-se-iam prejudiciais, se fossem</p><p>usados por pessoas menos honestas.[31]</p><p>Houdini apontou para o fato de muitas das maravilhas conseguidas</p><p>pela ciência, como sejam, o rádio, a aviação, o radium (e</p><p>poderíamos, hoje, acrescentar a televisão, o radar, e energia</p><p>atômica) terem sido, antigamente, consideradas como impossíveis</p><p>de realizar, e seriam, consideradas manifestaçṍes sobrenaturais e,</p><p>até, espirituais. O fato de uma coisa parecer misteriosa para</p><p>alguém, não quer necessariamente dizer que seja considerada</p><p>sobrenatural. A respeito de um hábil truque realizado por um</p><p>médium que se julgava estar bem amarrado, disse Houdini: “Há</p><p>trinta anos que faço o mesmo sem a ajuda de nenhum poder</p><p>sobrenatural”.</p><p>As tentativas de médiuns e adivinhos para conseguirem informações</p><p>relacionadas com detalhes de acontecimentos muitos antigos, e</p><p>talvez já esquecidos pelos seus clientes, e a sua hábil apresentação</p><p>dessas informações de modo a dar a impressão de possuírem a</p><p>capacidade de introspecção espiritual, são tão errôneas como os</p><p>seus truques físicos. Por vezes esforçam-se durante dias e até</p><p>semanas para conseguir informações detalhadas de cartas antigas,</p><p>de artigos de jornais, de parentes e amigos velhos. O sucesso dos</p><p>médiuns e quiromantes é ajudado frequentemente pela atitude não</p><p>crítica e até pela fé cega daqueles que os procuram. “Familiares</p><p>desgostosos”, disse Houdini, “agarram-se à mínima palavra que</p><p>possa indicar, ainda que remotamente, que os espíritos que eles</p><p>buscam estão em comunicação com eles. Até o mais pequeno sinal</p><p>que apele para a sua imaginação expectante, afugenta toda a</p><p>prudência normal, e ficam convencidos. Começam, então, a aceitar</p><p>toda a sorte de acontecimentos naturais, como sendo o resultado da</p><p>intervenção do espírito.</p><p>Um dos truques mais famosos de Houdini consistia em encerrar-se</p><p>num cântaro de leite, cheio de água, em que se deixava mergulhar;</p><p>a tampa ficava segura com 3 cadeados e uma corrente. Então,</p><p>ocultava-se o cântaro com uma cortina, e ao fim de 20 segundos,</p><p>quando a audiência ainda não respirava, de espantada, ele aparecia</p><p>por detrás da cortina com as suas roupas ainda encharcadas. Este</p><p>truque consistia no uso dum cântaro em que os rebites que</p><p>seguravam a parede à parte oval superior, tinham sido tirados, e</p><p>substituídos, por outros falsos, de forma a permitir que o cântaro</p><p>pudesse ser manejado do interior; assim, toda a parte superior era</p><p>levantada como uma só peça, e, claro, os cadeados e a cadeia</p><p>ficavam intactos. A parte que se levantava era reposta no seu lugar</p><p>e, quando se levantava a cortina, parecia à audiência e àqueles que</p><p>tinham posto os cadeados e a corrente, que nunca tinha sido aberta.</p><p>Um outro truque muito popular consistia na fuga de um baú que fora</p><p>fechado e atado com cordas ou de uma caixa de madeira que fora</p><p>construída no palco por carpinteiros escolhidos dentre o público. O</p><p>segredo consistia numa parede móvel que caia para o interior.</p><p>Quando este truque era apresentado, construía-se a caixa numa</p><p>noite e a fuga realizava-se na noite seguinte. Findo o programa ele e</p><p>os seus ajudantes punham esse lado falso, de forma tão hábil que,</p><p>na noite seguinte, os carpinteiros que viessem ao palco não podiam</p><p>descobrir que não era a mesma caixa que tinham construído.</p><p>Durante a sua carreira, inventou dezenas de truques, que nunca</p><p>tinham sido antes realizados por ilusionistas. Insistia, porém, sempre</p><p>em que as suas proezas eram realizadas apenas por meios físicos.</p><p>O debate entre Houdini e os espíritas diz respeito, acima de tudo, às</p><p>consequências morais do espiritismo. “O espiritismo”, dizia ele, “toca</p><p>todas das fases da vida e das emoções humanas, deixando na sua</p><p>esteira uma multidão de vítimas cujo estado é frequentemente</p><p>patético, por vezes ridículo, muitas vezes miserável e infeliz, e que</p><p>são sempre enganadas. É para estas consequências do espiritismo,</p><p>tão poucas vezes consideradas, que desejo chamar a atenção do</p><p>leitor”.[32] A qualquer um que esteja interessado numa exposição</p><p>completa e bem documentada dos médiuns, o livro de Houdini, A</p><p>Magician Among The Spirits, é especialmente recomendado.</p><p>Eis as nossas conclusões a respeito do espiritismo:</p><p>(1) É impossível se comunicar com as almas dos mortos.</p><p>(2) A pŕatica espírita é severamente condenada na Bíblia. É,</p><p>portanto, moralmente errado para alguém, em especial para os</p><p>cristãos, ter quaisquer relações com o espiritismo.</p><p>(3) Uma das consequências do espiritismo consiste em desviar as</p><p>pessoas da fé verdadeira em Deus e na sua Palavra.</p><p>(4) Os fenômenos espiritistas que se exibem nas respectivas</p><p>sessões não são realizados por espíritos dos mortos, nem por</p><p>espíritos malignos, mas sim pela fraude e pelo uso habilidoso das</p><p>artes mágicas da parte dos médiuns.</p><p>Sobre o livro</p><p>Este estudo conciso, completo e cheio de esperança sobre a morte</p><p>e a imortalidade aborda várias questões, incluindo: o que acontece</p><p>na morte, a oração pelos mortos, enterro versus cremação, o sono</p><p>da alma, aniquilação, purgatório e vida eterna.</p><p>A morte e o futuro são por sua própria natureza misteriosos. Muitas</p><p>pessoas tendem a evitar uma discussão ou pensamento sério</p><p>acerca da morte, todavia, todos sabem que, no curso normal dos</p><p>eventos, cedo ou tarde, a morte virá. Nada é mais certo que o fato</p><p>da morte — toda a história e experiência humana apontam para</p><p>essa conclusão.</p><p>Este volume lida com a questão da vida após a morte, não</p><p>procedente de um temor do futuro, mas a partir de um desejo</p><p>natural, dado por Deus, de entrar na vida e no destino mais</p><p>abundantes que instintivamente sentimos estar à frente. O livro</p><p>Imortalidade é dividido em três seções: uma sobre a morte física,</p><p>outra sobre imortalidade e a última sobre o estado intermediário. Ao</p><p>longo do livro Boettner discute a terminologia bíblica — tais como</p><p>Sheol e Hades — o purgatório, sono da alma e muito mais. Ele</p><p>também permeia sua narrativa com inúmeras referências bíblicas e</p><p>comentários de teólogos reformados.</p><p>Sobre o autor</p><p>Loraine Boettner (ThB e ThM, Seminário Teológico de Princeton;</p><p>também recebeu os títulos honorários em DD e LittD) é melhor</p><p>conhecido como autor de A doutrina reformada da predestinação, O</p><p>milênio e Catolicismo romano.</p><p>Endossos</p><p>Um livro bem escrito, cuidadosamente documentado, biblicamente</p><p>sólido, apresentado de forma lógica e muito útil.</p><p>Sunday School Board, Southern Baptist</p><p>Convention</p><p>É de duvidar se algum livro já publicado sobre este assunto o trate</p><p>de maneira mais convincente e desafiadora.</p><p>The Southern Presbyterian Journal</p><p>Um livro enriquecedor, saudável e cheio de conforto.</p><p>The Evangelical Christian</p><p>[1] Anônimo, For Those Who Mourn, p. 4.</p><p>[2] Segundo as Nações Unidas, a população mundial chegou a aproximadamente 7,6</p><p>bilhões de pessoas em 2017.</p><p>[3] Charles Hodge, Teologia sistemática, p. 627, 628. Tradução Valter Graciano Martins.</p><p>[4] Berkhof, Teologia sistemática, p. 617-618. Tradução Odayr Olivetti.</p><p>[5] Teologia sistemática, p. 241-242.</p><p>[6] Conference Papers, p. 257.</p><p>[7] Systematic Theology, p. 818, 819.</p><p>[8] The Southern Presbyterian Journal, Jan. 1944.</p><p>[9] Biblical and Theological Studies, p. 490.</p><p>[10] Autor desconhecido.</p><p>[11] Instituições da religião cristã, III, Cap. 9, Sec. 1 a 5.</p><p>[12] The Southern Presbyterian Journal.</p><p>[13] The Southern Presbyterian Journal.</p><p>[14] The Dogma of Evolution, p. 244, 247.</p><p>[15] Aids To Bible Study.</p><p>[16] The Religion of Science, p. 3.</p><p>[17] John Bunyan, A Peregrina (Sã Paulo: Mundo Cristão, 2013). Tradução Eduardo</p><p>Pereira e Ferreira.</p><p>[18] Tradução de Pedro Mohallem.</p><p>[19] Op. cit., p. 681.</p><p>[20] Augustus Hopkins Strong, Teologia sistemática, vol. II (São Paulo: Hagnos, 2003), p.</p><p>861. Tradução Augusto Victorino.</p><p>[21] Pamphlet, Immortality Not Conditional, p. 12.</p><p>[22] The Australian Free Presbyterian, Jan. 15, 1947.</p><p>[23] Charles Hodge, Teologia sistemática, p. 1661-62. Tradução Valter Graciano Martins.</p><p>[24] Augustus Hopkins Strong, Teologia sistemática, vol. II (São Paulo: Hagnos, 2003), p.</p><p>857, 858. Tradução Augusto Victorino.</p><p>[25] Charles Hodge, Teologia sistemática, p. 1587. Tradução Valter Graciano Martins.</p><p>[26] Ibid., nota 74.</p><p>[27] The Sword of the Lord, 24 de setembro de 1954.</p><p>[28] Spiritualism, p. 5.</p><p>[29] Citado por Charles W. Ferguson, em The Confusion of Tongues, p. 26.</p><p>[30] The Confusion of Tongues, p. 25.</p><p>[31] A Magician Among the Spirits, p. 211.</p><p>[32] Op. cit., p. 180.</p><p>I. A morte física</p><p>1. Certeza e realidade da morte</p><p>2. Castigo do pecado</p><p>3. Três espécies de morte: espiritual, física e eterna</p><p>4. O cristão sujeito ainda à morte física</p><p>5. A atitude cristã perante a morte</p><p>6. Comentário de Calvino</p><p>7. A vida de cada qual como um plano consumado</p><p>8. Preparação para a morte</p><p>9. O que acontece na morte</p><p>10. Os cristãos não devem entristecer-se com os que estão sem esperança</p><p>11. Orações pelos mortos</p><p>12. Sepultamento ou cremação?</p><p>II. Imortalidade</p><p>1. Exposição da doutrina</p><p>2. A imortalidade nas religiões antigas</p><p>3. A imortalidade como necessária para justificar a ordem moral</p><p>4. A vida presente é incompleta</p><p>5. O argumento da analogia</p><p>6. A imortalidade como ideia inata</p><p>7. A prova não deve ser obtida, nem científica nem filosoficamente</p><p>8. O ensino das Escrituras sobre a imortalidade</p><p>9. Resultados sadios da crença na imortalidade</p><p>III. O estado intermediário</p><p>1. Natureza e fim do estado intermediário</p><p>2. Sheol — Hades</p><p>3. A segunda provação</p><p>4. O sono da alma</p><p>5. Aniquilamento</p><p>6. Purgatório</p><p>7. Espiritismo</p><p>Sobre o livro</p><p>Sobre o autor</p><p>Endossos</p><p>[1]</p><p>[2]</p><p>[3]</p><p>[4]</p><p>[5]</p><p>[6]</p><p>[7]</p><p>[8]</p><p>[9]</p><p>[10]</p><p>[11]</p><p>[12]</p><p>[13]</p><p>[14]</p><p>[15]</p><p>[16]</p><p>Como podemos, pois, fazer face a estas exigências? Os homens</p><p>têm tentado alcançar a sua própria salvação por meio de sacrifícios,</p><p>por meio do ascetismo, por meio de boas obras e autodisciplina, por</p><p>meio de orações e jejuns e ritos, mas tudo sem qualquer resultado.</p><p>Acontece que, o homem, por si, não pode pagar a dívida do pecado.</p><p>Aquilo, porém, que nós próprios não podemos fazer, já o fez Deus</p><p>por nós. Cristo encarnou como nosso substituto e, para nossa</p><p>salvação, tomou sobre si a nossa natureza humana, tomou nosso</p><p>lugar como transgressor de sua própria lei, e com o seu sacrifício e</p><p>morte na cruz, sofreu o castigo, que nos era devido pelo pecado.</p><p>Chamamos a tudo isto a sua obediência passiva. De igual modo,</p><p>como nosso substituto e com a sua obediência perfeita da lei moral,</p><p>viveu uma vida sem pecado durante os trinta e três anos que esteve</p><p>sobre a terra, conseguindo para nós as bênçãos da vida eterna. A</p><p>isto chamamos a sua obediência ativa. Cada uma das fases da sua</p><p>obra era necessária para a nossa salvação. E, porque ele era Deus</p><p>encarnado e, portanto, uma pessoa de valor e dignidade infinitos, a</p><p>sua obediência à lei e o seu sofrimento tiveram um valor infinito e foi</p><p>por isso o meio usado por Deus para salvar todos quantos lhe</p><p>aprouver chamar para si. A relação moral entre Deus e o seu povo</p><p>foi restaurada desta maneira; em consequência disso, o seu povo é</p><p>purificado do pecado e transformado pelo Espírito Santo, na sua</p><p>imagem.</p><p>Como resultado da redenção operada por Cristo, a morte do corpo</p><p>tornou-se, para o seu povo, a porta para o céu, a passagem pela</p><p>qual se sai do corpo para a presença do Senhor. A morte perdeu o</p><p>seu aguilhão. “Tragada foi a morte pela vitória” (1Co 15.54).</p><p>4. O cristão sujeito ainda à morte física</p><p>Há um outro problema que surge a respeito do sofrimento e morte</p><p>dos crentes: se os seus pecados já estão expiados, por que é</p><p>necessário que morram? Por que é esta parte da pena ainda</p><p>executada? Por que não são trasladados da terra para o céu, de</p><p>maneira semelhante a Enoque e Elias? É evidente que mesmo os</p><p>melhores dentre o povo de Deus sofrem e morrem, sendo os seus</p><p>sofrimentos, por vezes, muito maiores do que os de outros</p><p>indivíduos que são verdadeiramente perversos.</p><p>A resposta está em que a morte que o crente sofre não é,</p><p>rigorosamente falando, penal — isto é, não é um sofrimento infligido</p><p>como castigo do pecado. Todo o castigo dos seus pecados, foi já</p><p>suportado por Cristo. Estes sofrimentos são antes, providências ou</p><p>castigos disciplinares, destinados a fomentar o progresso moral e</p><p>espiritual daqueles que os experimentam. A morte dos crentes serve</p><p>também para avisar todos quantos ainda vivem, de que o dia da sua</p><p>morte se está a aproximar. A morte dos crentes e a dos incrédulos</p><p>talvez pareçam, exteriormente, semelhantes, mas do ponto de vista</p><p>divino, há uma enorme diferença entre as duas.</p><p>O Dr. Robert L. Dabney, famoso teólogo do Sul dos Estados Unidos,</p><p>discutiu este problema duma forma completa. Eis o que escreveu:</p><p>Ainda que os crentes estejam completamente justificados, no</p><p>entanto, de acordo com o plano da graça que Deus se dignou</p><p>adotar, a morte do pecado é necessária como um castigo</p><p>salutar para o bem da alma do crente. Um castigo, ainda que o</p><p>motivo de Deus seja benevolente, não deixa de ser, em si, um</p><p>mal real e natural para o crente, que assim o sente. Deus, ao</p><p>castigar, exerce sábia e bondosamente a sua prerrogativa</p><p>divina de fazer sair o bem do mal. Assim, o castigo é uma</p><p>forma de benefício espiritual, próprio, apenas, para os</p><p>pecadores que são filhos de Deus. Não seria justo, por</p><p>exemplo, que Deus adotasse o castigo, a fim de fazer</p><p>progredir Gabriel — que nunca teve quaisquer culpas — para</p><p>levá-lo a uma condição mais avançada de sagradas</p><p>capacidades e bem-aventurança; e isto porque, onde não há</p><p>culpa, não pode haver sofrimento...</p><p>Uma compensação vicária (como a que Cristo realizou pelo</p><p>seu povo), não tem equivalência comercial ao delito, nem</p><p>constitui valor legal mediante o qual o nosso Divino Criador</p><p>seja justamente obrigado a cancelar toda a nossa dívida. Mas</p><p>aceitação, da parte de Deus, da referida compensação vicária</p><p>com força legal, foi, da sua parte, um ato de graça pura;</p><p>portanto, a aceitação absolve-nos apenas até onde, e não</p><p>mais, Deus se compraz em fazê-lo. (Para apresentar esta</p><p>verdade por outras palavras, podemos dizer que os méritos ou</p><p>frutos do sacrifício de Cristo não são todos oferecidos,</p><p>imediatamente, ao seu povo, mas são repartidos, em tempo</p><p>devido, de acordo com as condições do Pacto de Redenção</p><p>que o Pai e o Filho elaboraram, antes dessa obra de</p><p>Redenção ter sido empreendida.) Sabemos pela sua palavra</p><p>que ele se agradou aceitá-lo deste modo; que não exige ao</p><p>crente que pague mais nenhuma satisfação penal pela lei</p><p>violada. No entanto, será obrigado a sofrer e a receber os</p><p>castigos que ele achar convenientes para o aperfeiçoamento</p><p>do pecador, e de acordo com a sua condição pecaminosa.</p><p>A perspectiva da morte, desde o primeiro dia em que começa</p><p>a perturbar a consciência do pecador, serve para ele alcançar</p><p>uma gravidade sã, por meio das suas convicções, conversões,</p><p>luta cristã, para poder humilhar a sua alma orgulhosa, para</p><p>mortificar a carne, para moderar o seu orgulho, para cultivar a</p><p>sua consciência espiritual. As doenças são meios de</p><p>santificação, por serem anúncios da morte. A tristeza pela</p><p>morte de amigos é uma outra categoria valiosa de sofrimentos</p><p>disciplinares. E, quando o ato final se aproximar, sem dúvida</p><p>sempre que o crente está consciente, a angústia da sua</p><p>aproximação, os pensamentos solenes, e as emoções que</p><p>sugere, são usados, e bem, pelo Espírito Santo, como</p><p>poderosos meios de santificação para preparar a alma,</p><p>rapidamente, para o céu… Uma raça de pecadores tem de ser</p><p>uma raça de mortais; a morte é o único obstáculo</p><p>suficientemente forte para evitar que o mal surja como um</p><p>poder tal que faria a condição humana verdadeiramente</p><p>intolerável...[7]</p><p>Deste modo, embora a doença e a morte continuem a ser, em si,</p><p>males naturais para os justos e sejam temidos por eles, como tais,</p><p>tornam-se, no entanto, na economia da graça, instrumentos do seu</p><p>progresso espiritual e dos melhores interesses do Reino de Deus.</p><p>Para os ímpios, porém, a morte continua a ser uma penalidade,</p><p>como anteriormente. Para eles, significa o fim do seu falso sentido</p><p>de segurança e uma destruição, completa e repentina, à qual não</p><p>podem escapar. Que solidão espantosa deve cair sobre o incrédulo</p><p>que tem de deixar amigos e companhias antigas, neste mundo, para</p><p>entrar sozinho nesse futuro misterioso! Que terrível deve ser</p><p>penetrar no vale da morte sem um Salvador!</p><p>Há ainda um outro a ser recordado em conexão com qualquer dos</p><p>caracteres, penal ou disciplinar, da morte: sendo todos nós</p><p>membros de uma raça decaída, Deus tem o direito soberano de</p><p>infligir essa disciplina ou executar essa penalidade, sempre que o</p><p>ache conveniente. Ele pode — e fá-lo muitas vezes — infligi-lo a</p><p>crianças. Se ele espera, para executar a sentença, até a idade da</p><p>juventude ou até a meia idade ou, talvez, até a velhice, isto é</p><p>puramente um caso de sua misericórdia e da sua graça.</p><p>Independentemente do caráter moral ou dos feitos da pessoa, a vida</p><p>de alguém pode ir-se arrastando, durante anos e anos, em miséria e</p><p>doença, até a morte chegar; enquanto que outro que não é nem</p><p>melhor nem pior, vive rico e com saúde, tendo uma morte fácil. A</p><p>própria desigualdade e irracionalidade da morte, dever-nos-ia</p><p>ensinar a gravidade do nosso pecado e a absoluta soberania de</p><p>Deus, ao executar a pena, sempre que o deseja. Não nos pertence</p><p>dizer quando chegará a nossa hora. Quando alguém parte,</p><p>devemos ficar gratos porque a vida de tantos outros que estavam</p><p>em situação semelhante, foi poupada. É dever nosso estarmos</p><p>preparados para aquele acontecimento, venha ele quando vier,</p><p>sabendo que virá sem falta, mais cedo ou mais tarde.</p><p>5. A atitude cristã perante a morte</p><p>“Então, ouvi uma voz do céu, dizendo: Escreve: Bem-aventurados</p><p>os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito,</p><p>para que descansem das suas</p><p>fadigas, pois as suas obras os</p><p>acompanham” (Apocalipse 14.13).</p><p>“Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de</p><p>partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor”</p><p>(Filipenses 1.23).</p><p>“Temos, portanto, sempre bom ânimo, sabendo que, enquanto no</p><p>corpo, estamos ausentes do Senhor; visto que andamos por fé e</p><p>não pelo que vemos. Entretanto, estamos em plena confiança,</p><p>preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor” (2 Coríntios 5.6-</p><p>8).</p><p>“Preciosa é aos olhos do Senhor a morte dos seus santos” (Salmos</p><p>116.15).</p><p>“Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se</p><p>desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por</p><p>mãos, eterna, nos céus” (2 Coríntios 5.1).</p><p>Na velhice, o apóstolo Paulo escreveu: “Quanto a mim, estou sendo</p><p>já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado.</p><p>Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora</p><p>a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me</p><p>dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos</p><p>quantos amam a sua vinda” (2 Timóteo 4.6-8).</p><p>A morte, longe de representar terror para o verdadeiro cristão, é,</p><p>antes, como que a fronteira entre este mundo e o outro, ou como o</p><p>pórtico pelo qual o seu Senhor entrou para lhe preparar o caminho,</p><p>caminho esse que ele está a trilhar na morte. Está preparado,</p><p>vigilante, sóbrio, sabendo que a sua salvação está segura, e que,</p><p>quando o seu Senhor vier, será para o levar a possuir a sua</p><p>herança. O dia da sua morte torna-se, assim, o dia da sua coroação.</p><p>Esse dia significa a partida de um mundo de pecado e de tristeza,</p><p>de dores e desapontamentos, de labores e dificuldades, para entrar</p><p>num mundo de santidade e bênçãos, de liberdade e êxitos, e de</p><p>comunhão direta com Deus. Em comparação com o mundo em que</p><p>vivemos, o mundo futuro e eterno é bem mais preferível. O contraste</p><p>é, de fato, tão grande que podemos dizer que a vida terrestre não</p><p>tem absolutamente nenhum valor, se a comparamos com a celestial.</p><p>A descrição, tão confortadora, de Paulo, “estamos em plena</p><p>confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor” (2Co</p><p>5.8), parece querer dizer que a morte é uma trasladação do</p><p>tabernáculo terrestre do nosso corpo físico, para uma morada</p><p>celestial. Para Jesus a morte significa o regresso para o Pai: “Agora,</p><p>vou para junto daquele que me enviou” (João 16.5). A morte não é,</p><p>pois, o fim da vida, mas, pelo menos, o início de uma existência bem</p><p>mais maravilhosa e gloriosa do que a que se pode experimentar</p><p>aqui neste mundo. A sepultura deixa de ser um beco sem saída,</p><p>bloqueando todo o progresso humano, para ser vista como uma</p><p>estrada em que o homem avança em direção a um mundo melhor.</p><p>O homem deixa de inquirir acerca dos mortos, já não pensa que os</p><p>seus entes queridos que morreram jazem no caixão ou na sepultura,</p><p>mas sim que partiram, por completo do seu corpo e vivem</p><p>eternamente.</p><p>Comentando as palavras de Paulo a Timóteo acima mencionadas, o</p><p>Dr. Samuel McP. Glasgow, escreve:</p><p>Quão benigna e magnífica, quão gloriosa e radiante é a</p><p>concepção de Paulo acerca da vida no fim da sua carreira e</p><p>seu veredicto a respeito dos derradeiros dias da nossa vida</p><p>terrena! Tem atrás de si uma vida duma atividade quase</p><p>inigualável — viajando, dando, falando, servindo, sofrendo.</p><p>Está agora na prisão. Sente que o fim da sua vida cristã está</p><p>próximo. Para ele, esse fim não tem quaisquer terrores.</p><p>Debaixo de tais circunstâncias, ouvimo-lo dar a opinião de um</p><p>homem avançado em idade a respeito da vida e sobre os seus</p><p>dias derradeiros.[8]</p><p>Há, para o cristão, dois aspectos da morte que se devem ter sempre</p><p>em equilíbrio. Por um lado, a morte transforma-se de tal forma com</p><p>a expiação de Cristo que desapareceu o seu aguilhão e lhe aparece</p><p>agora como o último ato disciplinar, aqui na terra, preparando-o para</p><p>o além. Em muitos casos, a morte eleva aquele que sofre a um</p><p>estado de espírito em que, não só está pronto, como também está</p><p>desejoso de deixar este mundo. Com a expiação feita por Cristo, o</p><p>crente ganha muito mais do que o que perdeu com a queda de</p><p>Adão, porque na encarnação a natureza humana foi, por assim</p><p>dizer, conduzida ao próprio seio da divindade, estabelecendo-se</p><p>uma relação entre Deus e o homem muito mais íntima do que a</p><p>existente entre Deus e os anjos. Por causa desta relação, a vida</p><p>torna-se imensamente mais rica e completa do que era a de Adão,</p><p>antes da queda, pois o seu corpo físico será transformado,</p><p>finalmente, na imagem do corpo glorioso de Cristo. Paulo diz o</p><p>seguinte: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando,</p><p>como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de</p><p>glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o</p><p>Espírito” (2Co 3.18). Em 1 João 3.2, lemos: “Amados, agora, somos</p><p>filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser.</p><p>Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a</p><p>ele, porque haveremos de vê-lo como ele é”.</p><p>Por outro lado, não se deve pensar na morte como sendo, em si,</p><p>uma bênção. Exceção feita do fato de ter sido vencida, para o bem</p><p>em Cristo, a morte é um inimigo, cruel, implacável, trazendo luto e</p><p>miséria aos corações humanos. É uma separação, violenta e</p><p>contrária à natureza, entre o corpo e a alma. É algo que, em</p><p>condições normais, nunca teria entrado no mundo, nem teria sido</p><p>permitida, mas é-o, porque se tornou necessária como castigo do</p><p>pecado. Não é sentimental. Diz-nos que a morte é o castigo do</p><p>pecado, e que a sua imposição sobre a raça humana foi uma terrível</p><p>calamidade. “O último inimigo… é a morte” (1 Coríntios 15.26).</p><p>Quando a alma é separada do corpo e todas as meigas afeições e</p><p>associações queridas são quebradas, numa fração de segundo, até</p><p>mesmo os mais tementes a Deus não podem olhar para essa</p><p>mudança misteriosa sem um sentimento estranho e fantástico. A</p><p>alma sem o corpo está incompleta.</p><p>É esta a opinião apresentada tanto no Antigo Testamento, como no</p><p>Novo. Os santos do Antigo Testamento muitas vezes clamavam a</p><p>Deus contra a morte. Davi falou do “vale da sombra da morte”.</p><p>Paulo descreve-a como sendo um inimigo terrível com um aguilhão</p><p>terrível, como uma víbora. E noutro lugar, escreve: “E não somente</p><p>ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito,</p><p>igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de</p><p>filhos, a redenção do nosso corpo” (Romanos 8.23). É um inimigo</p><p>porque é a obra do Inimigo, Satanás. É de fato a obra maior, a obra</p><p>culminante do Inimigo. É uma invasão inimiga da criação divina pelo</p><p>poder do mal, algo absolutamente contrário à natureza de Deus. Até</p><p>mesmo Cristo, quando estava com a família enlutada, junto do</p><p>túmulo de Lázaro, chorou ao ver a dor dos seus amigos e sentiu na</p><p>sua própria alma o horror desta obra do grande inimigo. Há, porém,</p><p>um remédio, cuja origem é, não humana, mas divina. Cristo pagou</p><p>já pelos seus o preço da redenção, possuindo agora o poder de</p><p>vencer mesmo esta grande calamidade, para o bem deles.</p><p>A morte já não é temida pelo cristão, mas continua a ser uma</p><p>terrível experiência. Paulo exprime algo a este respeito, quando</p><p>compara a perda do corpo pela alma com a nudez do corpo. Em 2</p><p>Coríntios 5.1-4, diz o seguinte: “Sabemos que, se a nossa casa</p><p>terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um</p><p>edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E, por isso,</p><p>neste tabernáculo, gememos, aspirando por sermos revestidos da</p><p>nossa habitação celestial; se, todavia, formos encontrados vestidos</p><p>e não nus. Pois, na verdade, os que estamos neste tabernáculo</p><p>gememos angustiados, não por querermos ser despidos, mas</p><p>revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida”.</p><p>Paulo mostra uma certa inquietação, ou antes, reticência, a respeito</p><p>da entrada num estado de desencarnação. Parece dizer que, se</p><p>pudéssemos receber imediatamente o corpo ressuscitado, isto é,</p><p>sem um estado intermediário, desencarnado, ou seja, um período</p><p>durante o qual a alma está nua, como ele diz, então a mudança</p><p>seria, sem dúvida, bem-vinda. De qualquer maneira, é evidente que,</p><p>de acordo com o seu ensino, o corpo físico, assim como a alma, é</p><p>objeto</p><p>da redenção, sendo, portanto, necessário, tanto para o</p><p>Senhor, como para o crente. Há quem ensine, hoje em dia, a</p><p>heresia que afirma que é apenas a alma que ressuscita. Semelhante</p><p>calamidade, nunca deve ter entrado na mente de Paulo.</p><p>No verso oitavo do capítulo mencionado, Paulo diz o seguinte:</p><p>“preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor”. Por outras</p><p>palavras, ele ensina que, embora a morte seja um mal, no entanto a</p><p>alegria sentida ao entrarmos na presença do Senhor é de tal</p><p>maneira gloriosa e atraente que devíamos estar desejosos e prontos</p><p>a deixar o corpo e a estar com o Senhor, venha a chamada quando</p><p>vier.</p><p>Paulo anela por alívio para as cargas desta vida. O Dr. Benjamin B.</p><p>Warfield afirma a este respeito que:</p><p>O outro mundo é tão glorioso para ele (Paulo) que não śo quer</p><p>como até deseja entrar (“antes”, no v. 8), ainda que “nu” — ele</p><p>desejava deixar este corpo, para habitar com o Senhor. Tal</p><p>como Bunyan e o meigo cantor, Paulo, olhando para além dos</p><p>confins da terra, só pode dizer: “prouvera a Deus que eu já lá</p><p>estivesse”.</p><p>Esta ânsia de alívio da vida terrestre, é repetida em Romanos</p><p>(7.25) e a ardente expectativa da consumação como sendo o</p><p>tragar da corrupção pela incorrupção é atribuída nas palavras</p><p>maravilhosa de Romanos 1.18 ss. a toda a criação inferior. A</p><p>natureza inteira, diz Paulo, está como que com dores de parto,</p><p>na mesma expectativa. E a consumação não só traz consigo o</p><p>alívio para os filhos de Deus que receberam as primícias do</p><p>espírito, na redenção do corpo, como também a libertação e</p><p>renovação de toda a natureza.[9]</p><p>Paulo afirma, ainda, o seguinte: “Ora, de um e outro lado, estou</p><p>constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é</p><p>incomparavelmente melhor. Mas, por vossa causa, é mais</p><p>necessário permanecer na carne” (Filipenses 1. 23, 24). De acordo</p><p>com estas palavras, a nossa atitude perante a morte deveria ser</p><p>esta: enquanto tivermos saúde e forças, devemos querer e, mais, ter</p><p>o desejo de continuar nesta vida e realizar tudo o que nos seja</p><p>possível na extensão do Reino de Deus e, também, no nosso</p><p>próprio crescimento na graça; mas quando a nossa hora chegar,</p><p>devemos estar prontos a partir de boa vontade e alegres. Um</p><p>soldado fiel, quando está no seu posto, resiste a todas as tentativas</p><p>que procurem persuadi-lo a abandonar o posto, e permanece ali até</p><p>acabar de cumprir o seu dever. Mas, logo que o seu dever esteja</p><p>cumprido e receba ordens para se retirar, é com alegria que</p><p>obedece. “Não estou, nem fatigado com o meu trabalho”, escreveu</p><p>Adoniram Judson, o grande missionário batista na Birmânia, “nem</p><p>cansado com este mundo; no entanto, quando Cristo me chamar</p><p>para o Lar celestial, irei com a mesma alegria dum colegial que</p><p>marcha para a escola. A morte não me apanhou de surpresa; sou</p><p>bastante forte em Cristo”.</p><p>Lembramo-nos dum caso que contam a respeito de John Quincy</p><p>Adams. Diz-se que, certo dia, quando tinha já 80 anos, ao passar</p><p>numa rua de Boston, se aproximou dele um amigo que lhe</p><p>perguntou: “Que tal se sente hoje John Quincy Adams?”. O antigo</p><p>presidente dos Estados Unidos respondeu afavelmente:</p><p>Bem, muito obrigado; John Quincy Adams sente-se bem, muito</p><p>bem mesmo. Mas a casa em que vive agora, está-se a tornar</p><p>decrépita. Está a vacilar nos alicerces. O tempo e as estações</p><p>quase a destruíram já. O telhado está velho, as paredes estão</p><p>a cair aos bocados e treme com qualquer vento. A velha casa</p><p>está quase inabitável e parece-me que John Quincy Adams</p><p>tem que mudar dentro de pouco tempo; mas ele, ele sente-se</p><p>muito bem, caro senhor.</p><p>E, dizendo isto, o venerando homem de Estado, apoiando-se muito</p><p>na sua bengala, foi seguindo, lentamente, rua abaixo. Eis mais um</p><p>esclarecimento sobre o significado da morte para um cristão:</p><p>Eis-me numa praia. Um barco, perto de mim, abre as velas</p><p>brancas ao vento e parte em direção ao alto mar. Este barco é</p><p>belo e forte. Fico ali de pé, a contemplá-lo, até que por fim</p><p>parece como que uma pequena mancha, lá longe,</p><p>precisamente no lugar em que o mar e o céu parecem juntar-</p><p>se. Alguém, ao meu lado, diz, nesse momento: —</p><p>“Desapareceu!”. Desapareceu para onde? Desapareceu da</p><p>minha vida, eis tudo. Continua a existir da mesmíssima</p><p>maneira que existia quando partiu de junto de mim; e continua</p><p>tão capaz, como antes, de levar a sua carga ao porto de</p><p>destino. O seu tamanho diminui para mim, nada mais; e,</p><p>precisamente no momento em que alguém diz, ao meu lado</p><p>“desapareceu!”, noutra praia, lá longe, há outros olhos que</p><p>esperam a sua chegada e outras vozes prontas a exclamar,</p><p>“ele aí vem!”; e é assim a morte.[10]</p><p>Na verdade, se somos cristãos, por que havemos de temer a morte?</p><p>Para que havemos de temer o nosso encontro com o Senhor, que</p><p>faz mais por nós e nos ama mais do que ninguém neste mundo?</p><p>Por que havemos de temer entrar numa forma mais elevada de vida</p><p>e de serviço? Infelizmente, até mesmo uma conversa casual com</p><p>pessoas de luto, quando da morte de alguém da família, revela que</p><p>muitos dos que se dizem cristãos, têm esse temor, e têm também as</p><p>noções mais vagas a respeito da condição dos mortos e da vida</p><p>futura. Semelhante coisa não deveria acontecer. Temos uma</p><p>promessa especial que deveria fazer desaparecer esse termo.</p><p>“Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal</p><p>nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me</p><p>consolam.” A morte é, na verdade, uma trasladação de uma fase da</p><p>vida para outra. Longe de assinalar o fim, marca o início de uma</p><p>vida mais abundante e mais maravilhosa do que aquela que jamais</p><p>pode ser conhecida neste mundo. Ainda que podemos ter, agora,</p><p>medo da morte, a experiência de outros demonstra que, quando o</p><p>fim chegar, se somos cristãos, não temeremos.</p><p>“A nossa pátria está nos céus” (Filipenses 3.20). O céu é o nosso</p><p>lar. A vida neste mundo é apenas a escola preparatória, o lugar de</p><p>ensaio, por assim dizer, para ficarmos preparados para a vida</p><p>melhor para onde vamos. Deus não quer que fiquemos satisfeitos</p><p>com a vida deste mundo. Por isso, manda algo de dor, de</p><p>sofrimento, e de contrariedades a cada um dos seus filhos, a fim de</p><p>aumentar a sua expectação e o seu apreço da vida celestial.</p><p>6. Comentário de Calvino</p><p>Calvino escreveu muito a respeito da atitude que o cristão deve</p><p>tomar perante esta vida, perante aquilo que possui e perante a</p><p>morte, vistas as coisas à luz das Escrituras. Os seus comentários</p><p>são dignos de ser citados extensivamente. Diz ele:</p><p>Seja qual for o gênero de tribulação que nos aflija, devemos ter</p><p>sempre em mente este fim: acostumarmo-nos ao desprezo</p><p>pela vida presente, e, por isso, despertarmos para a meditação</p><p>da vida futura. Pois, uma vez que o Senhor sabe muito bem</p><p>até que ponto estamos inclinados pela natureza a um bestial</p><p>amor a este mundo, aplica a medida mais eficaz para afastar-</p><p>nos dele e despertar-nos de nosso torpor, a fim de que não</p><p>nos apeguemos tão tenazmente a tal amor. É certo que não há</p><p>ninguém entre nós que não deseje ser considerado como</p><p>alguém que, no decorrer de toda a vida, aspira à imortalidade</p><p>celestial e se esforça em obtê-la. Pois nos envergonhamos de</p><p>não superar em coisa alguma os animais brutos, cuja condição</p><p>não haveria de ser inferior à nossa em nada se não nos</p><p>restasse a esperança da eternidade depois da morte. Mas, se</p><p>examinares as intenções, as empresas, os atos de cada um de</p><p>nós, não verás ali nada mais que terra. E daí provém nossa</p><p>estupidez, porque nossa mente é embotada pelo vão</p><p>esplendor das riquezas, do poder e das honras, para que não</p><p>veja além. Também o coração é acabrunhado pelo peso da</p><p>avareza, da ambição e do desejo, para que não se erga mais</p><p>alto. Finalmente, nossa alma toda, enredada nos deleites da</p><p>carne, procura sua felicidade na terra. O Senhor, para avançar</p><p>contra esse mal, instrui os seus sobre a vaidade da vida</p><p>presente por meio de constantes exemplos de todas as</p><p>misérias. Assim, para que não se prometam a si mesmos uma</p><p>longa e segura paz nesta vida, Ele permite que muitas vezes</p><p>os homens se vejam atormentados e acossados ou por</p><p>guerras, ou por tumultos, ou por latrocínios, ou ainda por</p><p>outros agravos.</p><p>Para que não almejem com excessiva avidez</p><p>riquezas inconstantes e decrépitas, ou encontrem repouso</p><p>naquelas que possuem, Ele os reduz à indigência, seja pelo</p><p>exílio, seja pela esterilidade da terra, seja pelo incêndio, seja</p><p>por outros meios; ou os mantém na mediocridade. Para que</p><p>não se deleitem com excessiva tranqüilidade nos prazeres</p><p>conjugais, Ele os faz ser atormentados pelo atrevimento das</p><p>esposas, ou os humilha dando-lhes filhos maus, ou os aflige</p><p>pela perda da família. E quando é mais indulgente em todas</p><p>essas coisas, Ele, para que os homens não se encham de</p><p>uma glória insensata ou exultem de confiança, põe-lhes diante</p><p>dos olhos, com doenças e perigos, quão instáveis e vãos são</p><p>todos os bens sujeitos à mortalidade. Assim, somente</p><p>aproveitamos como se deve a disciplina da cruz quando</p><p>aprendemos que esta vida, avaliada em si, é inquieta,</p><p>turbulenta, miserável de várias formas e em nenhum de seus</p><p>aspectos completamente feliz; que todas as coisas que são</p><p>avaliadas como seus bens são incertas, mutáveis, vãs, e vícios</p><p>misturados a muitos males. E disso concluímos que aqui não</p><p>se deve buscar nem esperar mais do que luta; e que devemos</p><p>levantar os olhos para o céu quando pensamos na coroa. Pois</p><p>é certo que nosso espírito não levará a sério o desejo e a</p><p>meditação da vida futura a menos que, antes, tenha sido</p><p>imbuído do desprezo pela vida presente.</p><p>Calvino, no entanto, afirma a seguir que as coisas boas que</p><p>recebemos neste mundo são dádivas de Deus, e que não devemos,</p><p>portanto, ser ingratos.</p><p>Os fiéis acostumar-se-ão a tal desprezo pela vida presente,</p><p>sem, no entanto, nutrir ódio a ela nem ingratidão para com</p><p>Deus. Porque esta vida, por mais que repleta de infinitas</p><p>misérias, consta com razão entre as irrecusáveis bênçãos de</p><p>Deus. Por isso, se não reconhecemos nela nenhum benefício</p><p>de Deus, já somos culpados de grande ingratidão para com</p><p>Ele. Principalmente, ela deve servir de testemunho para os</p><p>fiéis da benevolência divina, uma vez que está toda destinada</p><p>a promover sua salvação. Pois Ele, antes de mostrar-nos</p><p>abertamente a herança da glória eterna, quer declarar que é</p><p>nosso Pai com demonstrações menores, que são os bens que</p><p>nos confere a cada dia. Logo, se esta vida nos serve para</p><p>compreender a bondade de Deus, como lhe teremos</p><p>repugnância, como se não resguardasse uma migalha de</p><p>bem? Devemos, pois, revestir-nos desse sentimento e afeto,</p><p>para a colocarmos entre os dons da divina benignidade, que</p><p>não devem ser jogados fora. Ainda que faltassem testemunhos</p><p>da Escritura (e são muitos e claríssimos), a natureza mesma</p><p>nos exortaria a render ação de graças ao Senhor, porque nos</p><p>criou para sua glória, porque nos concedeu seu usufruto,</p><p>porque nos prodigalizou todas as coisas necessárias para</p><p>protegê-la e conservá-la. E esta razão é ainda maior se</p><p>consideramos que, de certa maneira, somos preparados para</p><p>a glória celestial nesta vida. Pois o Senhor dispôs as coisas de</p><p>tal forma que aqueles que hão de ser coroados no céu</p><p>enfrentam antes disputas na terra, para que não triunfem a</p><p>menos que tenham antes superado as dificuldades da guerra e</p><p>alcançado a vitória. [...]</p><p>[...] Pois é próprio do Senhor determinar o que mais convém à</p><p>sua glória. Portanto, se devemos viver e morrer para o Senhor,</p><p>deixemos a seu arbítrio o limite da morte e da vida, de tal</p><p>forma, no entanto, que sejamos tomados pelo desejo de</p><p>morrer e que sejamos assíduos nesta meditação:</p><p>desprezemos esta vida em nome da imortalidade futura, e</p><p>desejemos renunciar a ela quando aprouver ao Senhor, por</p><p>causa de nossa servidão ao pecado.</p><p>É algo monstruoso que muitos que se jactam de ser cristãos,</p><p>em vez de desejar a morte, são tomados de tal pavor diante</p><p>dela que se põem a tremer à menor menção a ela, como se</p><p>fosse coisa de mau agouro e profundamente infeliz. De fato,</p><p>não se deve estranhar se nosso sentimento natural se</p><p>terrorizar ao ouvir sobre a separação da alma e do corpo. Mas,</p><p>de modo algum, pode-se aceitar que não exista num peito</p><p>cristão a luz da piedade, a qual supera e suprime, com um</p><p>consolo maior, todo e qualquer temor. Pois, se pensarmos que</p><p>este instável, vicioso, corruptível, decrépito, seco, podre</p><p>tabernáculo de nosso corpo é destruído para ser restaurado</p><p>em seguida em uma glória permanente, perfeita, incorruptível</p><p>e celestial, como a fé não nos levará a desejar com ardor</p><p>aquilo que nossa natureza receia? Se pensarmos que somos</p><p>levados de volta pela morte do exílio para a pátria, e que</p><p>habitamos a glória celestial, acaso não conseguiremos aí</p><p>nenhum consolo? [...] Tenhamos, pois, como certo que</p><p>ninguém terá bom proveito na escola de Cristo a menos que</p><p>espere com alegria o dia da morte e da última ressurreição.</p><p>Pois Paulo descreve todos os fiéis com essa marca (2Tt 2.13),</p><p>e é recorrente na Escritura, sempre que ela nos quer propor</p><p>um motivo concreto de alegria, no-la recordar. “Alegrai-vos”,</p><p>diz o Senhor, “levantai vossas cabeças, porque se aproxima</p><p>vossa redenção” (Lc 21.28). É razoável, pergunto, que aquilo</p><p>que o Senhor quis que nos fizesse saltar de felicidade e de</p><p>alegria não gere em nós senão tristeza e consternação? Se é</p><p>assim, por que nos vangloriamos dele, como se ainda fosse</p><p>nosso Mestre? Recobremos então o juízo; e, por mais que isso</p><p>repugne à cega e estúpida cobiça de nossa carne, não</p><p>duvidemos de que esperar o advento do Senhor com nosso</p><p>desejo, e também com gemidos e suspiros, é, entre todas as</p><p>coisas, a mais feliz. Pois virá a nós o Redentor, que, tendo-nos</p><p>tirado deste imenso abismo de todos os males e misérias,</p><p>guiar-nos-á àquela bem-aventurada herança de vida e de sua</p><p>glória.[11]</p><p>7. A vida de cada qual como um plano consumado</p><p>Parece, muitas vezes, que somos levados desta vida, antes que a</p><p>nossa obra esteja completa. Isto verifica-se especialmente quando</p><p>um pai ou uma mãe de família são levados, ou quando um jovem</p><p>prometedor, um guia ou um obreiro cristão morrem. Do ponto de</p><p>vista humano, nenhuma vida parece tão incompleta com a de Jesus,</p><p>pois morreu crucificado, com trinta e três anos apenas. Quão</p><p>desesperadamente necessitava o mundo do seu ensino e da sua</p><p>pregação e dos seus milagres de cura! Quão desesperadamente era</p><p>necessária sua influência na nova igreja! Mas a sua verdadeira obra</p><p>não era aquilo que o espírito humano pensava ser. Na noite anterior</p><p>à sua morte, disse Jesus: “Eu te glorifiquei na terra, consumando a</p><p>obra que me confiaste para fazer” (João 17.4). Ao ser pendurado na</p><p>cruz, morrendo pelos pecados do mundo, disse: “Está consumado”.</p><p>Do ponto de vista humano, parecia que o seu ministério se tinha</p><p>apenas iniciado. Mas do ponto de vista divino, ele tinha completado</p><p>aquilo que viera fazer. O ponto de vista humano era apenas o lado</p><p>exterior de sua obra, que se relacionava com os que estavam à sua</p><p>volta. Mas do ponto de vista divino, ele tinha completado a redenção</p><p>do mundo, a sua verdadeira obra.</p><p>Do ponto de vista humano, quão necessária era às novas igrejas a</p><p>pregação e a direção do apóstolo Paulo! Mas ele, inspirado, podia</p><p>dizer: “completei a carreira”. E quão necessários eram Tiago e</p><p>Estevão na Igreja Primitiva! Nós teríamos dito: “inacabados”; mas</p><p>Deus disse: “consumado”. E quantas vezes, hoje em dia, quando</p><p>morrem um pai ou uma mãe ainda jovens ou um rapaz ou uma</p><p>menina, exclamamos “incompleto”, mas Deus diz “terminado”.</p><p>A consumação da vida, não pode, evidentemente, ser medida</p><p>apenas pelo número de anos vividos. Acontece, muitas vezes que</p><p>pessoas que morreram novas, fizeram mais do que outras que</p><p>viveram longos anos. Até mesmo crianças há que, tendo vivido com</p><p>seus pais alguns dias apenas, ou até mesmo horas, deixam uma</p><p>influência profunda que muda a vida inteira de toda a família. E, sem</p><p>dúvida, do ponto de vista divino, a missão específica para que</p><p>vieram a este mundo, foi cumprida. Não temos o direito nem de tirar</p><p>a vida, prematuramente, nem de insistir na sua prolongação para</p><p>além da marca que Deus determinou.</p><p>Há quem fale do “problema da morte”. Para o cristão tal problema</p><p>não deveria existir, do mesmo modo que não existe o problema de</p><p>flores murchas ou do céu coberto de nuvens. Deus apresenta</p><p>isso</p><p>de forma tão clara, na sua palavra, que não há razões para duvidar.</p><p>Só quando deixamos de pensar sensatamente a respeito da vida, é</p><p>que temos a ideia de que tudo deveria ser um mar de rosas. A morte</p><p>tem sido, sem dúvida, para muitos, uma forma de libertação das</p><p>opressões e dores que se tinham tornado demasiadamente grandes</p><p>para serem suportadas, como, por exemplo, no caso de doentes</p><p>incuráveis ou de anciãos. Para outros, é a forma de fugir ao</p><p>sofrimento ou a desgostos surgidos no último quartel da vida. Por</p><p>causa da constituição do mundo em que vivemos, tem que haver</p><p>sombras e luz, noite e dia, dor e prazer, partida da vida e chegada à</p><p>vida. A vida mais abundante, que é o verdadeiro destino da alma, só</p><p>se pode chegar passando pelas portas da morte.</p><p>Há, ainda, um outro ponto que merece atenção: parece haver a</p><p>crença, bastante espalhada, até mesmo entre os cristãos</p><p>evangélicos, de que é uma desgraça morrer antes da vinda de</p><p>Cristo, e que seria uma bênção especial pertencer à geração que</p><p>há-de habitar a terra e será transladada, quando o Senhor vier. É</p><p>compreensível que haja sempre um certo receio natural da morte.</p><p>Mas a verdade é que aqueles que morrem no Senhor têm o alto e</p><p>inexprimível privilégio de viver e ter comunhão com Cristo, no Reino</p><p>Messiânico. E isto é, sem dúvida, uma experiência preciosíssima</p><p>que, os que estiverem vivos e forem arrebatados na sua vinda, não</p><p>terão o privilégio de experimentar. Deste modo, podemos distinguir</p><p>entre: primeiro, o Reino Messiânico ou Reino de Cristo que está</p><p>relacionado com o tempo; e segundo, o Reino Eterno, que se lhe</p><p>seguirá.</p><p>8. Preparação para a morte</p><p>Como gostaria o leitor de passar o tempo, se soubesse que amanhã</p><p>seria o seu último dia de vida? Teria necessidade de o passar</p><p>implorando o perdão dos pecados, coisa que há muito deveria ter</p><p>feito? É infinitamente melhor, sem dúvida, o arrepender-se à hora da</p><p>morte, do que nunca experimentar arrependimento. Muitos do que</p><p>vão adiando para o último momento o fato de fazer as pazes com</p><p>Deus, acham-se incapazes, nessa ocasião, de arrepender-se. Um</p><p>sábio conselheiro, o Dr. Charles Hodge, disse certa vez: “é</p><p>importante que, quando tivermos de morrer, não tenhamos de fazer</p><p>outra coisa senão morrer”. Tal pessoa pode esperar calmamente a</p><p>chegada da morte, sabendo que os seus pecados estão perdoados</p><p>e que tudo irá pelo melhor.</p><p>Perguntaram, certa vez, a John Wesley: “Se soubesse que iria</p><p>morrer amanhã, como gastaria o tempo?”. A resposta foi a seguinte:</p><p>“Exatamente como o tinha já planejado. Esta noite, pregaria em</p><p>Gloucester e amanhã de manhã, também. Em seguida, iria a</p><p>Tewkesbury, pregaria à tarde e à noite, teria a reunião marcada com</p><p>a Sociedade. Iria, então, para casa do meu amigo Martin, que está à</p><p>minha espera, conversaria, oraria com a família, retirar-me-ia para o</p><p>meu quarto às dez horas, encomendar-me-ia ao meu Pai celestial,</p><p>deitar-me-ia para dormir, e acordaria na glória”.</p><p>O fato de todos morrerem, quer novos, quer velhos, quer justos,</p><p>quer pecadores, deveria fazer com que cada um visse que a sua</p><p>vida é incerta. O cristão devia estar pronto para a vinda, em</p><p>qualquer momento, do seu Senhor. “Por isso, ficai também vós</p><p>apercebidos; porque, à hora em que não cuidais, o Filho do Homem</p><p>virá” (Mateus 24.44). Na parábola das Dez Virgens, cinco preparam-</p><p>se e estavam prontas; cinco desleixaram-se e não estavam prontas.</p><p>“E… chegou o noivo, e as que estavam apercebidas entraram com</p><p>ele para as bodas; e fechou-se a porta. Mais tarde, chegaram as</p><p>virgens néscias, clamando: Senhor, senhor, abre-nos a porta! Mas</p><p>ele respondeu: Em verdade vos digo que não vos conheço. Vigiai,</p><p>pois, porque não sabeis o dia nem a hora” (Mateus 25.10-13).</p><p>De vários lados nos chegam rumores a respeito da maneira como</p><p>têm morrido os justos e os ímpios. Muitos há que se aproximam</p><p>desse acontecimento infinitamente importante, sem uma verdadeira</p><p>compreensão do seu significado; e muitos estão em tal estado físico</p><p>que lhes não é possível pensar com certeza nos seus instantes</p><p>derradeiros. Mas os que fizeram uma decisão a respeito de Cristo, a</p><p>favor ou contra, refletem essa atitude no momento em que a alma</p><p>vai partir. Para o cristão, a morte deveria chegar da mesma forma</p><p>que o crepúsculo vem, com a sua paz e a sua calma. “Que eu morra</p><p>a morte dos justos, e o meu fim seja como o dele” (Nm 23.10b).</p><p>Para os que estão em Cristo, a morte é uma coisa terrível. Para os</p><p>tais, “após a morte, vem o juízo”. Não tendo nada mais substancial</p><p>do que as especulações dos filósofos e dos naturalistas ou das</p><p>meditações dos poetas e dos romancistas, não estão, de forma</p><p>alguma, preparados para fazer face ao futuro. Estes são os</p><p>perdidos. Que outra emoção que não o terror, pode sentir uma</p><p>pessoa, ao ter finalmente a visão da realidade derradeira das</p><p>coisas, surpreendida sem o perdão dos seus pecados, na partida</p><p>para uma eternidade sem Cristo?</p><p>Ouvimos dizer, por vezes, que morrer dum cancro, de tuberculose,</p><p>ou de outra doença que tolha uma pessoa, na cama enfermo, ou</p><p>que a faça sofrer imensamente durante bastante tempo, é uma</p><p>forma terrível de morrer. Pensamos, porém, que, para a maioria das</p><p>pessoas, tal morte, ao contrário do que acontece com a que vem de</p><p>repente, motivada por um ataque de coração, por afogamento ou</p><p>outro desastre, ao menos oferece um período final de preparação,</p><p>tanto em relação ao bem estar espiritual da pessoa, como aos seus</p><p>negócios materiais. O mesmo é igualmente verdadeiro em relação</p><p>aos que atingem uma idade avançada. Como disse alguém:</p><p>É bom que ponderemos um momento,</p><p>Ao sair do mortal revestimento,</p><p>E, na nossa velhice, calmamente,</p><p>A vida terreal nos torne à mente.</p><p>Um dos pensamentos mais penosos a respeito da morte é o ter de</p><p>deixar atrás de nós tanta coisa que prezamos — posições</p><p>alcançadas, posses materiais, êxitos, projetos inacabados, etc. Mas,</p><p>em Apocalipse 14.13, depois de afirmar que são bem-aventurados</p><p>todos quantos morrem no Senhor, e que esses tais descansam dos</p><p>seus trabalhos, está escrito que as suas obras os seguirão. Isto quer</p><p>dizer que toda a boa obra que fizemos irá conosco e pertencer-nos-</p><p>á no além. Até mesmo os nossos bens terrenos, ainda que os não</p><p>possamos levar conosco, nos poderão acompanhar caso tenham</p><p>sido sabiamente investidos na obra do Senhor, trocados, claro, os</p><p>valores temporais por valores celestiais. “Não acumuleis para vós</p><p>outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e</p><p>onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros</p><p>tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões</p><p>não escavam, nem roubam” (Mateus 6. 19-20). Dá-se-nos aqui a</p><p>certeza da posse permanente dos bens. À luz do ensino das</p><p>Escrituras, o único dinheiro que realmente possuímos, é aquele que</p><p>damos, sabiamente. Eis a maneira, de fato a única verdadeira, de</p><p>poder levar conosco aquilo que possuímos. Cristo aconselha-nos a</p><p>que o façamos. Dar e gastar, cristãmente, constitui uma autêntica</p><p>prova de genuína fé.</p><p>A maior parte das pessoas tem relutância em dar séria atenção à</p><p>realidade da morte, até que é forçada a fazê-lo. Isto, porém, não é</p><p>sábio. A Bíblia confunde-nos, frequentemente, com a realidade da</p><p>morte. Lemos nela acerca da carreira de muitos grandes homens.</p><p>Mas, por muito que tenham vivido, lê-se sempre o comentário: “E</p><p>morreram”.</p><p>A morte há de vir, mais cedo ou mais tarde, para cada um de nós.</p><p>Quando chegar, o melhor que temos a fazer é enfrentá-la. Em</p><p>alguns lares, infelizmente, as crianças não recebam qualquer ensino</p><p>sobre o seu significado. O assunto é raramente mencionado e as</p><p>crianças são até, por vezes, proibidas de ir a funerais. Um dia,</p><p>porém, essas crianças serão forçadas a assistir à morte da mãe, do</p><p>pai, dum irmão ou duma irmã, ou até, a enfrentá-la, na sua forma</p><p>mais cruel, nos campos de batalha. Qual será a sua reação? Nada</p><p>há mais certo do que a morte; nada há mais incerto do que a hora a</p><p>que ela virá.</p><p>É, sem dúvida, parte da sabedoria, estar preparado para a morte. A</p><p>psicologia moderna está a demonstrar que a forma mais eficaz de</p><p>lidar com uma situação que prova grande</p><p>mágoa, não é sublimá-la</p><p>ou lançá-la no subconsciente, onde nos continua a importunar e a</p><p>perturbar, mas fazer-lhe face abertamente, discuti-la com outros e,</p><p>tanto quanto possível, tentar compreendê-la. Se tentarmos suprimi-</p><p>la ou ignorá-la, provocará muito maior dano ao nosso espírito, ao</p><p>nosso corpo e à nossa alma. Num artigo recente, o Dr. John R.</p><p>Richardson ilustra este ponto de forma clara. Eis o que ele diz:</p><p>O Dr. John A. Mackenzie, professor de psicologia no Paton</p><p>College, em Nottingham, Inglaterra, no seu livro Almas em</p><p>formação, fala-nos a respeito duma família inglesa que perdeu</p><p>um filho querido na Primeira Guerra Mundial. Estes pais</p><p>ficaram loucos de dor e, com o decorrer dos meses, a mãe</p><p>apanhou uma depressão nervosa. Este seu estado de</p><p>melancolia ameaçava mesmo o seu equilíbrio mental, até que,</p><p>por fim, consultaram Mackenzie. Este perguntou ao pai se</p><p>tinham falado alguma vez a respeito do filho. “Não” — disselhe</p><p>o pai — “é a única coisa de que não falamos”. E confirmou que</p><p>esse assunto nunca entrava nas suas conversas, tentando até</p><p>afastá-lo dos seus próprios pensamentos. Então o Dr.</p><p>Mackenzie disse ao pai que estavam a seguir um rumo errado.</p><p>Obrigou-o a prometer que, em vez de evitar falar a respeito do</p><p>filho, falariam sobre ele, abertamente. Qual foi o resultado? O</p><p>Dr. Mackenzie afirma que houve uma cura completa da alma, e</p><p>um regresso gradual da felicidade. Isto, acrescenta o Dr.</p><p>Richardson, “é apenas uma ilustração do perigo de lançar o</p><p>pensamento da morte para o subconsciente. Se o reprimirmos</p><p>para o subconsciente da nossa personalidade, infestará a</p><p>nossa vida, e, segundo diz o Novo Testamento, estaremos</p><p>toda a nossa vida escravizados pelo medo da morte. Discutir</p><p>sobre a morte não é, de forma alguma, mórbido mas é, pelo</p><p>contrário, saudável; deveríamos aprender a falar dela livre e</p><p>naturalmente, num estado de espírito sadio.[12]</p><p>9. O que acontece na morte</p><p>As Escrituras apresentam a morte, fundamentalmente, como sendo</p><p>a separação da alma e do corpo. “E o pó volte à terra, como o era, e</p><p>o espírito volte a Deus, que o deu” (Eclesiastes 12.7). “Porque,</p><p>assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem</p><p>obras é morta” (Tiago 2.26). A morte é a transição de um reino para</p><p>outro, de uma espécie de vida para outra. Para o cristão, significa a</p><p>expurgação da alma dos últimos vestígios do pecado e a entrada</p><p>nas mansões da luz. O Breve catecismo de Westminster exprime</p><p>isto bem quando, na resposta à pergunta, “Que benefícios recebem</p><p>os crentes em Cristo, na hora da morte?” (Pergunta nº 37), afirma:</p><p>“As almas dos crentes são, na hora da sua morte, tornadas perfeitas</p><p>em santidade e entram imediatamente na glória; e os seus corpos,</p><p>ainda unidos a Cristo, repousam nos seus túmulos, até a</p><p>ressurreição”.</p><p>A vida humana é uma aventura infinda, que continuará o seu curso</p><p>na eternidade. A vida presente é apenas a primeira fase de uma</p><p>longa carreira. Aquilo a que chamamos morte, não é o fim, mas</p><p>apenas a entrada da alma num mundo novo, mais maravilhoso. Esta</p><p>transição é, por sua própria natureza, misteriosa e inspiradora de</p><p>respeito. Alguns têm, já na vida presente, uma longa série de</p><p>aventuras fascinantes e vibrantes, acompanhadas de grandes</p><p>êxitos. Podemos estar certos, porém, de que os primeiros cinco</p><p>minutos depois da morte darão à alma experiências bem mais</p><p>notaveis e espantosas do que nenhuma outra que possa ser tida</p><p>neste mundo. Imaginemos, ainda que debilmente, se pudermos,</p><p>esses primeiros momentos na glória. Veremos, sem dúvida, em</p><p>primeiro lugar, Cristo, o Salvador, aquele cuja obra redentora nos</p><p>deu a salvação, e a quem pertencemos. E não podemos pensar que</p><p>veremos também os nossos entes queridos, cristãos, que partiram</p><p>já deste mundo e que vêm agora receber-nos? Sabemos que eles</p><p>estão com Cristo, pois foi ele mesmo quem disse: “Não se turbe o</p><p>vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa</p><p>de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria</p><p>dito. Pois vou preparar-vos lugar” (João 14.1-2). Na parábola do rico</p><p>e Lázaro, lemos que os anjos levaram Lázaro para um lugar de</p><p>repouso. Isto parece indicar que uma escolta celestial espera pelos</p><p>que são do Senhor na hora da morte, levando-os em triunfo da terra</p><p>para o céu. E isto parece ser muito oportuno, visto que o Senhor,</p><p>com a sua obra redentora, está a libertar almas, uma a uma, do</p><p>reino de Satanás, transportando-as para o reino dos céus, onde</p><p>ficarão para todo o sempre, juntamente com ele e com o seu povo.</p><p>Pensamos, igualmente, na morte como o ir para o Lar, e no céu</p><p>como sendo o nosso Lar eterno. Temos, no Antigo Testamento, a</p><p>seguinte descrição da morte: “Como também quando temeres o que</p><p>é alto, e te espantares no caminho, e te embranqueceres, como</p><p>floresce a amendoeira, e o gafanhoto te for um peso, e te perecer o</p><p>apetite; porque vais à casa eterna, e os pranteadores andem</p><p>rodeando pela praça” (Eclesiastes 12.5). Paulo diz que nós</p><p>“estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar</p><p>com o Senhor” (2 Coríntios 5.8). A característica mais notável do Lar</p><p>celeste é a de ser o lugar onde estão aqueles que nos são queridos.</p><p>É um grande privilégio ir para casa, a restabelecer as nossas</p><p>antigas relações de família. Alguns dos momentos mais felizes na</p><p>nossa vida terrena são aqueles em que voltamos as nossas faces</p><p>na direção do nosso lar. Sem dúvida, muitos de nós temos</p><p>recordações desses inesquecíveis momentos.</p><p>Sabemos muito pouco acerca do que se passa do outro lado da</p><p>tumba, mas podemos estar certos de que, de repente, na hora da</p><p>morte, tudo nos aparecerá numa nova perspectiva. Aquele que é</p><p>chamado, troca o seu conhecimento, relativamente obscuro e</p><p>limitado por uma luz e conhecimentos novos, mais de acordo com a</p><p>sua nova situação. “Porque, agora, vemos como em espelho,</p><p>obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em</p><p>parte; então, conhecerei como também sou conhecido” (1 Coríntios</p><p>13.12). As coisas que considerávamos importantes — negócios,</p><p>colheitas, labuta diária, êxito em agradar aos que nos rodeiam —</p><p>deixam de ter qualquer interesse. Todos os cuidados e problemas</p><p>terrenos são deixados, de repente, para trás. E, sem seu lugar,</p><p>aquelas coisas, a que dávamos menos atenção surgem agora como</p><p>sendo as de maior importância — a nossa atitude para com Cristo, o</p><p>nosso testemunho de Cristo àqueles que nos rodeiam, a nossa vida</p><p>de oração, as razões que impulsionam as nossas atitudes públicas e</p><p>particulares. Veremos então que o mais importante não é quanto se</p><p>fez, ou quanto se deu, mas as razões pelas quais agimos.</p><p>Pensaremos, não em quanto deveríamos ter dado, mas a razão</p><p>porque retivemos para nós tanto dinheiro que pertencia ao Senhor.</p><p>Verificaremos que não possuíamos quaisquer bens, mas todo o</p><p>dinheiro, todas as terras e todos os bens, pertenciam, na verdade,</p><p>ao Senhor, e que éramos mordomos a quem a sua administração</p><p>fora confiada temporariamente.</p><p>Cinco minutos depois de entrarmos no céu, ficaremos inundados de</p><p>verdades que sempre conhecêramos, mas que nunca</p><p>compreendêramos inteiramente. Desejaremos de todo o nosso</p><p>coração poder reaver apenas a centésima parte do tempo que não</p><p>aproveitamos, ou as oportunidades perdidas para o serviço do</p><p>Senhor, e para uma vida melhor, — e não termos levado, em</p><p>campos “brancos para a ceifa”, mais almas à salvação. Gostaríamos</p><p>de ter conseguido um conhecimento mais completo das verdades</p><p>divinas apresentadas na Bíblia, pois que é com esse conhecimento</p><p>que teremos de viver daí em diante; e desejaríamos ter conseguido,</p><p>no estudo da Bíblia, um conhecimento mais amplo dos santos do</p><p>Antigo e do Novo Testamento, em cuja companhia então nos</p><p>encontraremos. Muitos serão, sem dúvida, salvos, “como que pelo</p><p>fogo”, entrando no céu, por assim dizer, falidos, pois que as suas</p><p>obras como a madeira, o feno, ou a palha, terão ardido (1 Coríntios</p><p>3.12-15). Surgirão diante de nós as inúmeras possibilidades da vida</p><p>celestial, e florescerão dentro de nosso ser (criado à imagem de</p><p>Deus), mil e um novos talentos e energias, de que até então não</p><p>suspeitávamos, e que aperfeiçoaremos</p>

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