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<p>DIREITOS DAS</p><p>PESSOAS COM</p><p>DEFICIÊNCIA</p><p>Unidade: Parte Geral −</p><p>Disposições preliminares</p><p>Sumário</p><p>PARTE GERAL – DISPOSIÇÕES PRELIMINARES ---------------------- 3</p><p>1. Disposições gerais ------------------------------------------------------3</p><p>2. As pessoas com deficiência no âmbito da normativa internacional --5</p><p>3. Conceito de pessoa com deficiência – uma visão emancipatória -- 12</p><p>4. A curatela e sua nova configuração --------------------------------- 15</p><p>5. Da igualdade e da não discriminação ------------------------------- 17</p><p>6. Do art. 6º do Estatuto da Pessoa com Deficiência ------------------ 20</p><p>7. Reflexos do Estatuto da Pessoa com Deficiência no Código Civil -- 23</p><p>8. Reflexos eleitorais do Estatuto da Pessoa com Deficiência --------- 30</p><p>9. Do atendimento prioritário no âmbito do Estatuto da Pessoa</p><p>com Deficiência ---------------------------------------------------------- 32</p><p>RESUMO DA UNIDADE ------------------------------------------------34</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS -------------------------------------37</p><p>3www.cursoenfase.com.br</p><p>PARTE GERAL − DISPOSIÇÕES PRELIMINARES</p><p>DIREITOS DAS PESSOAS</p><p>COM DEFICIÊNCIA</p><p>PARTE GERAL – DISPOSIÇÕES PRELIMINARES</p><p>Caro(a) leitor(a), estudaremos nesta unidade os direitos das pessoas com deficiência</p><p>e os principais avanços em termos de legislação nacional e internacional.</p><p>Para além da Constituição Federal de 1988 (CF/1988) existem inúmeras leis</p><p>infraconstitucionais que tratam da efetivação da inclusão das pessoas com deficiência no</p><p>âmbito escolar, familiar e na sociedade de modo geral. Contudo, para fins de concurso</p><p>público, não se faz necessário esgotar a temática, voltando a atenção para as legislações</p><p>de maior importância.</p><p>Estudaremos, portanto, de maneira pontual, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com</p><p>Deficiência, bem como os diplomas relacionados, como a CF/1988, a Lei nº 10.048/2000,</p><p>que trata da prioridade no atendimento, a Lei nº 10.098/2000, que dispõe sobre</p><p>acessibilidade e os tratados e convenções internacionais assinados pelo Brasil.</p><p>Cumpre destacar que a Lei nº 13.146/2015, também conhecida como Estatuto da</p><p>Pessoa com Deficiência, representa um grande avanço quanto aos direitos da pessoa</p><p>com deficiência e é organizado em um conjunto de direitos específicos, com normas</p><p>relativas a acessibilidade, ciência e tecnologia, além da parte final que apresenta</p><p>dispositivos alterados pelo Estatuto em outras leis.</p><p>1. Disposições gerais</p><p>A CF/1988 instituiu como fundamentos da República a cidadania e a dignidade da</p><p>pessoa humana e, como um de seus objetivos principais, a promoção do bem de todos,</p><p>sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de</p><p>discriminação.</p><p>Da mesma forma garante a igualdade e o direito à educação, permitindo o</p><p>desenvolvimento pleno do indivíduo, seu preparo para o exercício da cidadania e sua</p><p>qualificação para o trabalho.</p><p>Além das garantias e dos direitos elencados, certos grupos da sociedade, como as</p><p>pessoas com deficiência, demandam, por sua própria condição, uma proteção específica</p><p>e indispensável para que possam se integrar à sociedade, dela participando em condições</p><p>de igualdade com os demais.</p><p>Dessa forma, objetivando a existência de uma sociedade inclusiva, bem como alcançar</p><p>a verdadeira igualdade estabelecida na Magna Carta, a legislação infraconstitucional</p><p>normatizou alguns direitos às pessoas com deficiência.</p><p>4</p><p>DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA</p><p>www.cursoenfase.com.br</p><p>A Lei nº 13.146/2015, que instituiu a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com</p><p>Deficiência (também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência), detalha</p><p>as regras a serem observadas para a garantia do exercício dos direitos das pessoas</p><p>com deficiência no país, organiza direitos e deveres que se encontravam dispersos</p><p>em outras leis, decretos e portarias, e regulamenta limites e condições, outorgando</p><p>responsabilidades para cada ator na consolidação de uma sociedade inclusiva.</p><p>Vale salientar que as pessoas com deficiência têm seus direitos garantidos</p><p>especialmente nos arts. 7º, inciso XXXI, 37, inciso VIII, 203, incisos IV e V, 208, inciso</p><p>III, 227, §§ 1º, inciso II, e 2º, e 244 da CF/1988.</p><p>Assim, também, verifica-se a previsão de direitos e garantias na Convenção sobre</p><p>os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova</p><p>Iorque, em 30 de março de 2007, e ratificados pelo Congresso Nacional por meio do</p><p>Decreto Legislativo nº 186/2008 – Tratado de Nova Iorque promulgado por meio</p><p>do Decreto Executivo nº 6.949/2009, bem como no Tratado de Marraqueche, promulgado</p><p>recentemente por meio do Decreto nº 9.522/2018, e que trata da facilitação do acesso</p><p>a obras publicadas às pessoas cegas, com deficiência visual ou com outras dificuldades</p><p>para ter acesso a texto impresso.</p><p>Destaque-se, leitor(a), que a Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência,</p><p>até pouco tempo atrás, era a única convenção internacional de direitos humanos</p><p>votada de acordo com o procedimento do § 3º do art. 5º da CF/1988 (equivalência a</p><p>emenda constitucional).</p><p>No entanto, o supramencionado Tratado de Marraqueche, assinado pelo governo</p><p>brasileiro, em 27 de junho de 2013, na cidade de Marraqueche (Marrocos), também foi</p><p>aprovado de acordo com o rito do § 3º do art. 5º.</p><p>Assim, tanto a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu</p><p>Protocolo Facultativo como o Tratado de Marraqueche são os únicos documentos</p><p>internacionais com status de norma constitucional no Brasil atualmente.</p><p>Outrossim, a Lei nº 13.146/2015 promoveu significativas alterações no Código Civil</p><p>(CC), na Lei nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor – CDC), trazendo, ainda,</p><p>dispositivos envolvendo a Lei nº 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente</p><p>– ECA), as legislações previdenciárias (Leis nºs 8.212/1991 e 8.213/1991), na Lei</p><p>nº 4.737/1965 (Código Eleitoral), entre outros.</p><p>Nos termos do art. 1º, a lei tem como finalidade promover o exercício de direitos</p><p>e liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão</p><p>social e cidadania.</p><p>Os fundamentos constitucionais da lei são: dignidade da pessoa humana (art. 1º,</p><p>inciso III, CF); objetivos da República: redução das desigualdades e promoção do bem</p><p>de todos sem preconceitos (art. 3º, CF) e a igualdade (art. 5º, CF).</p><p>A concepção de pessoa com deficiência, muito semelhante à concepção positivada</p><p>na Convenção, está expressa no art. 2º da Lei Brasileira de Inclusão (LBI): “aquela que</p><p>tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o</p><p>5www.cursoenfase.com.br</p><p>PARTE GERAL − DISPOSIÇÕES PRELIMINARES</p><p>qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e</p><p>efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”.</p><p>Caro(a) leitor(a), veja a seguir as principais novidades apresentadas pela Lei</p><p>nº 13.146/2015:</p><p>a) Alterou-se profundamente a teoria da incapacidade civil.</p><p>b) Promoção da autonomia e autodeterminação da pessoa com incapacidade.</p><p>c) Proteção da pessoa com deficiência (prioridade é o item b).</p><p>Além disso, revela o art. 2º, §§ 1º e 2º, do Estatuto que “a avaliação da deficiência,</p><p>quando necessária, será biopsicossocial, realizada por equipe multidisciplinar e</p><p>interdisciplinar e considerará:</p><p>I – os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo;</p><p>II – os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;</p><p>III – a limitação no desempenho de atividades;</p><p>IV – a restrição de participação.</p><p>§ 2º O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da deficiência” (Grifo</p><p>nosso.)</p><p>A avaliação biopsicossocial será realizada de forma a integrar a análise médica ao</p><p>olhar social a partir de uma equipe multidisciplinar, isto é, através de uma avaliação</p><p>que considera aspectos que circundam a deficiência, para além de dados médicos,</p><p>revelando-se como superação do modelo meramente biológico.</p><p>Este é o panorama geral envolvendo os direitos das pessoas com deficiência.</p><p>Vejamos em seguida o tratamento</p><p>de</p><p>oportunidades, observado o seguinte:</p><p>I – participação em organizações não governamentais</p><p>relacionadas à vida pública e à política do País e em atividades</p><p>e administração de partidos políticos;</p><p>II – formação de organizações para representar a pessoa com</p><p>deficiência em todos os níveis;</p><p>III – participação da pessoa com deficiência em organizações</p><p>que a representem. (Grifos nossos.)</p><p>Cumpre salientar que não há restrição ao voto por parte das pessoas com deficiência,</p><p>nem mesmo àquelas em situação de curatela.</p><p>Inclusive, a Lei nº 13.146/2015 afirma expressamente que a definição de curatela</p><p>não alcança, entre outros direitos, o voto.</p><p>32</p><p>DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA</p><p>www.cursoenfase.com.br</p><p>9. Do atendimento prioritário no âmbito do Estatuto da Pessoa com</p><p>Deficiência</p><p>A necessidade de atendimento prioritário advém da percepção de que as pessoas</p><p>com deficiência dispendem muito mais energia e esforço em atividades básicas do</p><p>cotidiano do que uma pessoa sem limitação funcional alguma.</p><p>O art. 9º da LBI trata desse atendimento prioritário para fins de proteção e socorro,</p><p>atendimento em todas as instituições e serviços de atendimento ao público, como em</p><p>supermercados, bancos, clínicas, lotéricas, lojas.</p><p>O artigo mencionado tem fundamento na legislação infraconstitucional (Lei</p><p>nº 10.048/2000, art. 1º) que dispõe que as pessoas portadoras de deficiência, os</p><p>idosos com idade igual ou superior a 60 anos, os obesos, as gestantes, as lactantes e</p><p>as pessoas acompanhadas por crianças de colo gozarão de atendimento prioritário.</p><p>Além disso, prevê a prioridade no atendimento para disponibilização de pontos de</p><p>parada, estações e terminais de transporte coletivo de passageiros e garantia de segurança</p><p>no embarque e desembarque, e no acesso a informações e disponibilidade de recursos</p><p>de comunicações acessíveis, como, por exemplo, versões em Braille e texto com fonte</p><p>ampliada de material impresso, dentre outros, de acordo com a necessidade de cada</p><p>pessoa.</p><p>Vejamos:</p><p>Art. 9º A pessoa com deficiência tem direito a receber</p><p>atendimento prioritário, sobretudo com a finalidade de:</p><p>I – proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;</p><p>II – atendimento em todas as instituições e serviços de</p><p>atendimento ao público;</p><p>III – disponibilização de recursos, tanto humanos quanto</p><p>tecnológicos, que garantam atendimento em igualdade de</p><p>condições com as demais pessoas;</p><p>IV – disponibilização de pontos de parada, estações e terminais</p><p>acessíveis de transporte coletivo de passageiros e garantia de</p><p>segurança no embarque e no desembarque;</p><p>V – acesso a informações e disponibilização de recursos de</p><p>comunicação acessíveis;</p><p>VI – recebimento de restituição de imposto de renda;</p><p>VII – tramitação processual e procedimentos judiciais</p><p>e administrativos em que for parte ou interessada, em</p><p>todos os atos e diligências.</p><p>33www.cursoenfase.com.br</p><p>PARTE GERAL − DISPOSIÇÕES PRELIMINARES</p><p>§ 1º Os direitos previstos neste artigo são extensivos</p><p>ao acompanhante da pessoa com deficiência ou ao seu</p><p>atendente pessoal, exceto quanto ao disposto nos incisos VI</p><p>e VII deste artigo.</p><p>§ 2º Nos serviços de emergência públicos e privados, a</p><p>prioridade conferida por esta Lei é condicionada aos protocolos</p><p>de atendimento médico. (Grifos nossos.)</p><p>Cumpre destacar a grande importância na prioridade da tramitação processual</p><p>e procedimentos judiciais e administrativos. Até então, só havia regra expressa</p><p>nesse sentido para procedimentos administrativos.</p><p>Por fim, observa-se que a leitura atenta do estatuto é de grande valia para a assimilação</p><p>dos conceitos, pois temos observado que as questões de concursos públicos gravitam</p><p>em torno da redação literal dos artigos.</p><p>34</p><p>DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA</p><p>www.cursoenfase.com.br</p><p>RESUMO DA UNIDADE</p><p>PARTE GERAL − DISPOSIÇÕES PRELIMINARES</p><p>1. Disposições gerais</p><p>Dez anos após a pactuação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com</p><p>Deficiência e do seu Protocolo Facultativo, adotados pela 61ª sessão da Assembleia</p><p>Geral da Organização das Nações Unidas, em 2006, entra em vigor a LBI, também</p><p>conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência – Lei nº 13.146/2015.</p><p>Consolidando princípios e diretrizes do tratado de direitos humanos do sistema global</p><p>de proteção da ONU, o estatuto pormenoriza as regras que deverão ser observadas</p><p>pera a garantia do exercício dos direitos das pessoas com deficiência no país.</p><p>2. As pessoas com deficiência no âmbito da normativa internacional</p><p>1971: Declaração de Direitos do Deficiente Mental.</p><p>1975: Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes.</p><p>1981: Ano Internacional das Pessoas Deficientes.</p><p>1982: Programa de Ação Mundial para as Pessoas Deficientes.</p><p>1983: Convenção sobre Reabilitação Profissional e Emprego de Pessoas Deficientes.</p><p>1990: Execução do Programa de Ação Mundial para as Pessoas com Deficiência</p><p>1993: Normas para Equiparação de Oportunidades para Pessoas com Deficiência.</p><p>1999: Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de</p><p>Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência (Convenção da Guatemala).</p><p>2002: Congresso Europeu de Pessoas com Deficiência.</p><p>2007: Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência</p><p>(Convenção de Nova Iorque).</p><p>2013: Tratado de Marraqueche.</p><p>3. Conceito de pessoa com deficiência – uma visão emancipatória</p><p>A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, portanto, trouxe um</p><p>novo conceito de pessoa com deficiência, reconhecendo, em seu preâmbulo, que</p><p>tal conceito está em constante evolução, devendo ser analisado e atualizado de acordo</p><p>com cada contexto histórico.</p><p>Define, então, pessoas com deficiência da seguinte maneira: “pessoas com deficiência</p><p>são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental,</p><p>intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem</p><p>obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de</p><p>condições com as demais pessoas” (art. 1º) (grifos nossos).</p><p>4. A curatela e sua nova configuração</p><p>O novo modelo garante à pessoa com deficiência, como regra, o direito ao exercício de</p><p>sua capacidade civil em igualdade de condições com as demais pessoas, podendo ser</p><p>adotada a tomada de decisão apoiada e até mesmo a curatela, quando necessárias, esta</p><p>última como medida de proteção de caráter extraordinário, sempre proporcional</p><p>às necessidades e às circunstâncias de cada pessoa e pelo menor tempo possível.</p><p>35www.cursoenfase.com.br</p><p>PARTE GERAL − DISPOSIÇÕES PRELIMINARES</p><p>5. Da igualdade e da não discriminação</p><p>A LBI reitera o compromisso constitucional de combate a qualquer tipo de discriminação</p><p>e traz da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência a conceituação de</p><p>discriminação por motivo da deficiência, sendo “toda forma de distinção, restrição ou</p><p>exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir</p><p>ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais</p><p>de pessoa com deficiência” (art. 4º, § 1º).</p><p>6. Do art. 6º do Estatuto da Pessoa com Deficiência</p><p>A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, em seu art. 23, item 1,</p><p>a, revela que os Estados-Partes deverão tomar medidas efetivas e apropriadas a fim</p><p>de eliminar a discriminação contra pessoas com deficiência, em todos os aspectos</p><p>relativos a casamento, família, paternidade e relacionamentos, em igualdade</p><p>de condições com as demais pessoas, de modo a assegurar, inclusive, que seja</p><p>reconhecido o direito das pessoas com deficiência, em idade de contrair matrimônio,</p><p>de casar-se e estabelecer família, com base no livre e pleno consentimento dos</p><p>pretendentes.</p><p>Este é o principal fundamento do art. 6º da LBI, assim como o § 3 do art. 226, da</p><p>CF/1988, que reconhece a união estável entre o homem e a mulher como entidade</p><p>familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.</p><p>7. Reflexos do Estatuto da Pessoa com Deficiência no Código Civil</p><p>Diversos dispositivos do CC foram alterados pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência</p><p>para fins de adequação entre as leis. São eles: arts. 3º, 4º, 228, 1.518, 1.548, 1.550,</p><p>1.557, entre outros.</p><p>8. Reflexos eleitorais do Estatuto da Pessoa com Deficiência</p><p>O art. 76 da LBI exige o desenvolvimento de novas estratégias e tecnologias voltadas</p><p>ao fortalecimento da vida civil das pessoas com deficiência, com a finalidade de</p><p>desenvolver de maneira plena sua autonomia política. Esse dispositivo representa</p><p>mais um avanço, vez que revoluciona a concepção sobre os limites e possibilidades</p><p>de participação das pessoas com deficiência na construção e desenvolvimento da</p><p>sociedade na qual vivemos.</p><p>9. Do atendimento prioritário no âmbito do</p><p>Estatuto da Pessoa com Deficiência</p><p>A necessidade de atendimento prioritário advém da percepção de que as pessoas</p><p>com deficiência dispendem muito mais energia e esforço em atividades básicas do</p><p>cotidiano do que uma pessoa sem limitação funcional alguma.</p><p>Art. 9º A pessoa com deficiência tem direito a receber atendimento prioritário,</p><p>sobretudo com a finalidade de:</p><p>I – proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;</p><p>II – atendimento em todas as instituições e serviços de atendimento ao público;</p><p>III – disponibilização de recursos, tanto humanos quanto tecnológicos, que garantam</p><p>atendimento em igualdade de condições com as demais pessoas;</p><p>36</p><p>DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA</p><p>www.cursoenfase.com.br</p><p>IV – disponibilização de pontos de parada, estações e terminais acessíveis de transporte</p><p>coletivo de passageiros e garantia de segurança no embarque e no desembarque;</p><p>V – acesso a informações e disponibilização de recursos de comunicação acessíveis;</p><p>VI – recebimento de restituição de imposto de renda;</p><p>VII – tramitação processual e procedimentos judiciais e administrativos em que for</p><p>parte ou interessada, em todos os atos e diligências.</p><p>§ 1º Os direitos previstos neste artigo são extensivos ao acompanhante da pessoa</p><p>com deficiência ou ao seu atendente pessoal, exceto quanto ao disposto nos incisos</p><p>VI e VII deste artigo.</p><p>§ 2º Nos serviços de emergência públicos e privados, a prioridade conferida por esta</p><p>Lei é condicionada aos protocolos de atendimento médico.</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</p><p>A CONVENÇÃO de Nova Iorque e o (des)compromisso do seu intérprete: o paradigma</p><p>inclusivo na óptica do STF. Disponível em: <http://www.unicap.br/tede//tde_arquivos/4/</p><p>TDE-2016-03-21T132518Z-829/Publico/ivna_cavalcanti_feliciano.pdf>. Acesso em: 10</p><p>dez. 2018.</p><p>ANTONIO, Thays. A interdição dos direitos civis, frente ao estatuto da</p><p>pessoa com deficiência. 14 setembro 2018. <https://www.migalhas.com.br/</p><p>dePeso/16,MI287451,51045-A+interdicao+dos+direitos+civis+frente+ao+estatuto+d</p><p>a+pessoa+com>. Acesso em 12 fev. 2019.</p><p>A CONVENÇÃO de Nova Iorque e o estatuto da pessoa com deficiência: ordenamento</p><p>brasileiro e políticas públicas. Disponível em: <http://conteudojuridico.com.br/artigo,a-</p><p>convencao-de-nova-iorque-e-o-estatuto-da-pessoa-com-deficiencia-ordenamento-</p><p>brasileiro-e-politicas-publicas,57368.html>. Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>FARIAS, Cristiano Chaves de; CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Estatuto</p><p>da pessoa com deficiência comentado artigo por artigo. 3. ed. Salvador: Juspodivm, 2018.</p><p>dado às pessoas com deficiência pela normativa</p><p>internacional.</p><p>2. As pessoas com deficiência no âmbito da normativa internacional</p><p>Como forma de reação às atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial,</p><p>surgiu o direito internacional dos direitos humanos, ocasião em que a preocupação era</p><p>a valorização da dignidade humana.</p><p>Apesar de a guerra ter deixado um enorme contingente de pessoas deficientes, houve</p><p>pouco progresso no ramo de proteção e promoção dos direitos dessas pessoas à época.</p><p>Somente no ano de 1971 foi promulgada uma declaração específica voltada a pessoas com</p><p>deficiência. Por meio da Resolução nº 2.896 da Assembleia Geral da Organização das</p><p>Nações Unidas (ONU), a Declaração de Direitos do Deficiente Mental foi instituída.</p><p>Referido documento não ofereceu grande benefício ou avanço, pois, por estar</p><p>sustentada no modelo médico de deficiência, trazia muitas ideias preconceituosas e</p><p>discriminatórias.</p><p>Posteriormente, em 1975, mediante a Resolução nº 3.447, também da Assembleia</p><p>Geral da ONU, foi promulgada a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes que,</p><p>precipuamente, procurou estabelecer quem seriam as pessoas tidas como deficientes.</p><p>6</p><p>DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA</p><p>www.cursoenfase.com.br</p><p>Logo em sua primeira disposição revela que “o termo ‘pessoas deficientes’ refere-se a</p><p>qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades</p><p>de uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência, congênita ou</p><p>não, em suas capacidades físicas ou mentais”.</p><p>Em seguida, o ano de 1981 foi eleito pela ONU como o Ano Internacional das</p><p>Pessoas Deficientes de modo a dar visibilidade à causa, reiterando o compromisso de</p><p>participação plena e reafirmando a igualdade das pessoas deficientes.</p><p>Já no ano de 1982 a ONU criou o Programa de Ação Mundial para as Pessoas</p><p>Deficientes. O primeiro item do programa apresenta os seus objetivos, quais sejam,</p><p>“promover medidas eficazes para a prevenção da deficiência e para a reabilitação e</p><p>a realização dos objetivos de ‘igualdade’ e ‘participação plena’ das pessoas deficientes</p><p>na vida social e no desenvolvimento”.</p><p>Isso significa oportunidades iguais às de toda a população, e uma participação</p><p>equitativa na melhoria das condições de vida resultante do desenvolvimento social e</p><p>econômico.</p><p>A Organização Internacional do Trabalho (OIT), no ano de 1983, criou a Convenção</p><p>sobre Reabilitação Profissional e Emprego de Pessoas Deficientes, por meio da</p><p>qual se estabeleceu que a finalidade da reabilitação profissional é permitir que a pessoa</p><p>deficiente obtenha e conserve um emprego e progrida no mesmo, e que se promova,</p><p>assim, a integração ou a reintegração dessa pessoa na sociedade (art. 1º, § 2º).</p><p>Posteriormente, no ano de 1990, houve a proposta, por meio da Resolução nº 45/1991</p><p>da ONU, de executar o Programa de Ação Mundial para as Pessoas com Deficiência, com</p><p>a finalidade de sair do plano de conscientização populacional para a efetiva ação acerca</p><p>do tema.</p><p>O objetivo era, ainda, concluir o projeto de criação de uma sociedade inclusiva, para</p><p>todos, por volta do ano de 2010. Veja o que apresentam o primeiro e o segundo itens</p><p>da Resolução:</p><p>1. Enfatiza a necessidade de atingir os objetivos estabelecidos na agenda de ações</p><p>até o fim da Década das Pessoas com Deficiência das Nações Unidas e além da Década,</p><p>bem como o esboço preliminar de uma estratégia de longo prazo até 2000 e além desse</p><p>ano: uma sociedade para todos, conforme consta no relatório do Secretário-Geral sobre</p><p>o estudo de viabilidade dos meios alternativos para marcar o fim da Década;</p><p>2. Convida os Países Membros, as agências especializadas e outros órgãos e</p><p>organizações do sistema das Nações Unidas e as organizações intergovernamentais e as</p><p>não-governamentais a implementarem a agenda de ações e o esboço preliminar, bem</p><p>como a utilizarem esses documentos como diretrizes e estímulos para a preparação de:</p><p>(a) Agendas de ações nacionais, regionais e internacionais voltadas à montagem</p><p>de bem focalizadas atividades em todos os níveis para beneficiar pessoas com</p><p>deficiência, de tal forma que as agendas estejam em conformidade com a cultura,</p><p>os costumes, as tradições, o nível de desenvolvimento socioeconômico e as</p><p>restrições de recursos de cada país;</p><p>7www.cursoenfase.com.br</p><p>PARTE GERAL − DISPOSIÇÕES PRELIMINARES</p><p>(b) Planos estratégicos de longo prazo com precisos alvos a serem atingidos nas</p><p>áreas de prevenção, reabilitação e equiparação de oportunidades por volta do ano</p><p>2000;</p><p>Ademais, no ano de 1993, foram adotadas pela ONU, por meio da Resolução nº 48/96,</p><p>as Normas para Equiparação de Oportunidades para Pessoas com Deficiência,</p><p>cujo objetivo era elaborar as regras gerais sobre igualdade de oportunidades para</p><p>tais pessoas e requisitar a participação dos estados no desenvolvimento de programas</p><p>nacionais de promoção das medidas. Vejamos.</p><p>Cumprindo o disposto na resolução 1990/26 do Conselho Económico e Social, e</p><p>baseando-se nas medidas concretas cuja adopção se impõe para que as pessoas com</p><p>deficiências alcancem um estatuto de igualdade em relação às demais, enumeradas</p><p>em pormenor no Programa de Ação Mundial, aprovaram as Regras Gerais sobre a</p><p>Igualdade de Oportunidades para Pessoas com Deficiências, que adiante se enunciam,</p><p>com os objetivos de:</p><p>(a) Pôr em relevo que todas as medidas na área da deficiência pressupõem um</p><p>conhecimento e uma experiência suficientes acerca das condições e necessidades</p><p>específicas das pessoas com deficiências;</p><p>(b) Destacar que o processo mediante o qual cada um dos aspectos da</p><p>organização social é tornado acessível a todos constitui um objetivo fundamental</p><p>do desenvolvimento socioeconômico;</p><p>(c) Assinalar aspectos cruciais das políticas sociais na área da deficiência,</p><p>incluindo, quando oportuno, o fomento ativo da cooperação técnica e económica;</p><p>(d) Oferecer modelos para o processo de decisão política necessário à realização</p><p>de igualdade de oportunidades, tendo em conta a existência de uma grande</p><p>diversidade de níveis económicos e técnicos, assim como o facto de esse processo</p><p>dever refletir um profundo conhecimento do contexto cultural em que se desenvolve</p><p>e o papel fundamental que as pessoas com deficiências nele desempenham;</p><p>(e) Propor a criação de mecanismos nacionais destinados a estabelecer uma</p><p>colaboração estreita entre os Estados, os órgãos do sistema das Nações Unidas,</p><p>outras entidades intergovernamentais e as organizações de pessoas com</p><p>deficiências;</p><p>(f) Propor a criação de um mecanismo eficaz de controlo do processo através do</p><p>qual os Estados procuram realizar a igualdade de oportunidades para as pessoas</p><p>com deficiências.</p><p>Além disso, em 1999, a Organização das Nações Unidas promulgou a Convenção</p><p>Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra</p><p>as Pessoas Portadoras de Deficiência (Convenção de Guatemala).</p><p>A Convenção supracitada reafirmou que as pessoas portadoras de deficiência gozam</p><p>dos mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que as outras pessoas e que</p><p>tais direitos, inclusive o direito de não ser submetidas a discriminação com base na</p><p>deficiência, emanam da dignidade e da igualdade que são inerentes a todo ser humano.</p><p>8</p><p>DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA</p><p>www.cursoenfase.com.br</p><p>No mesmo ano de 1999 foi editada a Carta para o Terceiro Milênio da Reabilitação</p><p>Internacional, que buscou colocar os direitos humanos das pessoas com deficiência</p><p>no plano prático, tornando-os realidade. A referida Carta traz a preocupação com</p><p>a reabilitação como objeto de políticas públicas.</p><p>Em momento posterior, em 2002, foi realizado o Congresso Europeu de Pessoas</p><p>com Deficiência, pelo qual se fixou o ano de 2003 como o Ano Europeu das Pessoas com</p><p>Deficiência, com a finalidade de trazer conscientização ao mundo com relação aos 50</p><p>milhões de cidadãos europeus com deficiência naquela época.</p><p>Finalmente, no ano de 2008, o Brasil aprovou, por meio do Decreto Legislativo</p><p>nº 186/2008, a Convenção</p><p>sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, bem</p><p>como seu Protocolo Facultativo. Em seguida, no ano de 2009, foi editado o Decreto</p><p>nº 6.949/2009, que promulgou a Convenção assinada em 30 de março de 2007, em</p><p>Nova Iorque.</p><p>Vale ressaltar que existem tratados e convenções internacionais que, depois de</p><p>promulgados, possuem natureza de norma constitucional. Para tanto é necessário</p><p>que o tratado ou convenção internacional trate sobre direitos humanos e que, depois</p><p>de assinado, seja aprovado em cada casa do Congresso Nacional em dois turnos de</p><p>votação por 3/5 (três quintos) dos votos dos respectivos membros.</p><p>Vejamos o que diz a CF/1988:</p><p>Art. 5º (...)</p><p>§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos</p><p>humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso</p><p>Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos</p><p>respectivos membros, serão equivalentes às emendas</p><p>constitucionais.</p><p>É exatamente esse o caso da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas</p><p>com Deficiência.</p><p>Esta Convenção se revela como um marco para os direitos humanos e representa a</p><p>reafirmação do conteúdo da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) dirigida,</p><p>no entanto, a uma situação específica.</p><p>A Convenção, inicialmente, apresenta seu propósito, definições pertinentes à</p><p>convenção, seus princípios gerais, obrigações gerais e, dentre outros, trata dos</p><p>seguintes temas: igualdade e não discriminação; mulheres com deficiência; crianças</p><p>com deficiência; conscientização; acessibilidade; direito à vida; situações de risco e</p><p>emergências humanitárias; reconhecimento igual perante a lei; acesso à justiça;</p><p>liberdade e segurança; prevenção contra tortura ou tratamentos ou penas cruéis,</p><p>desumanos ou degradantes; prevenção contra a exploração, a violência e o abuso;</p><p>proteção da integridade; liberdade de movimentação e nacionalidade; vida independente</p><p>9www.cursoenfase.com.br</p><p>PARTE GERAL − DISPOSIÇÕES PRELIMINARES</p><p>e inclusão; mobilidade; liberdade de expressão e de opinião e acesso à informação;</p><p>respeito à privacidade, respeito pelo lar e pela família; educação; saúde; habilitação e</p><p>reabilitação; trabalho e emprego; padrão de vida e proteção social; participação na vida</p><p>política e pública; participação na vida cultural e em recreação, lazer e esporte.</p><p>De suma importância destacar que o propósito da Convenção é “promover, proteger</p><p>e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades</p><p>fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua</p><p>dignidade inerente” (art. 1º). (Grifos nossos.)</p><p>Nota-se que a intenção do legislador internacional é demonstrar preocupação muito</p><p>mais com a garantia de que as pessoas com deficiência possam gozar dos direitos</p><p>humanos e de sua liberdade fundamental do que instituir novos direitos.</p><p>Ainda, são princípios norteadores da Convenção:</p><p>• O respeito pela dignidade inerente, a autonomia individual, inclusive a liberdade</p><p>de fazer as próprias escolhas, e a independência das pessoas.</p><p>• A não discriminação.</p><p>• A plena e efetiva participação e inclusão na sociedade.</p><p>• O respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência como</p><p>parte da diversidade humana e da humanidade.</p><p>• A igualdade de oportunidades.</p><p>• A acessibilidade.</p><p>• A igualdade entre o homem e a mulher.</p><p>• O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com deficiência</p><p>e pelo direito das crianças com deficiência de preservar sua identidade.</p><p>Vale salientar que o conceito de pessoa com deficiência, presente no documento</p><p>internacional logo em seu art. 1º, foi positivado no ordenamento jurídico por meio da</p><p>LBI (art. 2º). Senão vejamos.</p><p>Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem</p><p>impedimento de longo prazo de natureza física, mental,</p><p>intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais</p><p>barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na</p><p>sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.</p><p>Houve, portanto, uma uniformização da definição, afastando, de forma definitiva, a</p><p>ideia de que a deficiência se relacionava com incapacidade.</p><p>Além da Convenção apresentada, recentemente, foi publicado o Decreto nº 9.522/2018,</p><p>que promulgou o Tratado de Marraqueche, assinado pelo governo brasileiro em 27</p><p>de junho de 2013 na cidade de Marraqueche (Marrocos), cuja finalidade é facilitar o</p><p>acesso a obras publicadas às pessoas cegas, com deficiência visual ou com</p><p>outras dificuldades para ter acesso ao texto impresso.</p><p>10</p><p>DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA</p><p>www.cursoenfase.com.br</p><p>A matéria veiculada no tratado é claramente atinente aos direitos humanos e a sua</p><p>promulgação representa o resultado da luta pelas pessoas cegas, com deficiência visual</p><p>e outras dificuldades de leitura para ter amplo acesso à cultura, que é um direito de</p><p>todos.</p><p>Busca-se, portanto, pôr em prática mecanismos de inclusão e acessibilidade aos</p><p>benefícios da cultura, das artes e das ciências para tais pessoas.</p><p>A grande relevância deste Tratado é que sua aprovação pelo Congresso Nacional</p><p>se deu de acordo com os requisitos do § 3º do art. 5º da CF/1988, sendo, portanto,</p><p>incorporado ao ordenamento jurídico brasileiro com status de norma constitucional.</p><p>De modo geral, o Tratado de Marraqueche, que possui 22 artigos, aborda os seguintes</p><p>pontos:</p><p>a) Objetivo: o tratado tem por objetivo permitir que possam ter acesso às obras</p><p>públicas as pessoas (“beneficiário”):</p><p>• Cegas.</p><p>• Com deficiência visual.</p><p>• Com outras dificuldades para ter acesso ao texto impresso.</p><p>b) Princípios que fundamentam o tratado:</p><p>• Não discriminação.</p><p>• Igualdade de oportunidades.</p><p>• Acessibilidade.</p><p>• Participação</p><p>• Inclusão plena e efetiva na sociedade.</p><p>c) Principais definições:</p><p>• “Obras”: “significa as obras literárias e artísticas no sentido do Artigo 2.1 da</p><p>Convenção de Berna sobre a Proteção de Obras Literárias e Artísticas, em</p><p>forma de texto, notação e/ou ilustrações conexas, que tenham sido publicadas</p><p>ou tornadas disponíveis publicamente por qualquer meio” (art. 2º, a, Tratado de</p><p>Marraqueche).</p><p>• “Exemplar em formato acessível”: “significa a reprodução de uma obra de uma</p><p>maneira ou forma alternativa que dê aos beneficiários acesso à obra, inclusive</p><p>para permitir que a pessoa tenha acesso de maneira tão prática e cômoda</p><p>como uma pessoa sem deficiência visual ou sem outras dificuldades para ter acesso</p><p>ao texto impresso. O exemplar em formato acessível é utilizado exclusivamente</p><p>por beneficiários e deve respeitar a integridade da obra original, levando em</p><p>devida consideração as alterações necessárias para tornar a obra acessível no</p><p>formato alternativo e as necessidades de acessibilidade dos beneficiários” (art.</p><p>2º, b, Tratado de Marraqueche).</p><p>• “Entidade autorizada”: “significa uma entidade que é autorizada ou reconhecida</p><p>pelo governo para prover aos beneficiários, sem intuito de lucro, educação,</p><p>formação pedagógica, leitura adaptada ou acesso à informação. Inclui, também,</p><p>instituição governamental ou organização sem fins lucrativos que preste os</p><p>11www.cursoenfase.com.br</p><p>PARTE GERAL − DISPOSIÇÕES PRELIMINARES</p><p>mesmos serviços aos beneficiários como uma de suas atividades principais ou</p><p>obrigações institucionais” (art. 2º, c, Tratado de Marraqueche).</p><p>Veja a seguir o quadro que resume a elaboração dos mais recentes documentos</p><p>internacionais que tratam dos direitos das pessoas com deficiência.</p><p>TRATADOS INTERNACIONAIS</p><p>CONVENÇÃO DE NOVA IORQUE</p><p>(e protocolo facultativo) TRATADO DE MARRAQUECHE</p><p>Assinados em Nova Iorque,</p><p>em 30 de março de 2007.</p><p>Assinado em Marraqueche,</p><p>em 27 de junho de 2013.</p><p>Aprovado pelo Congresso Nacional por</p><p>meio do Decreto Legislativo nº 186/2008.</p><p>Aprovado pelo Congresso Nacional por</p><p>meio do Decreto Legislativo nº 261/2015.</p><p>Promulgado pelo Presidente da República</p><p>por meio do Decreto nº 6.949/2009.</p><p>Promulgado pelo Presidente da República</p><p>por meio do Decreto nº 9.522/2018.</p><p>Veja, ainda, a linha do tempo que revela a evolução dos direitos das pessoas com</p><p>deficiência no âmbito da normativa</p><p>internacional.</p><p>TRATADOS INTERNACIONAIS</p><p>LINHA DO TEMPO</p><p>1971 Declaração de Direitos do Deficiente Mental</p><p>1975 Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes</p><p>1981 Ano Internacional das Pessoas Deficientes</p><p>1982 Programa de Ação Mundial para as Pessoas Deficientes</p><p>1983 Convenção sobre Reabilitação Profissional e</p><p>Emprego de Pessoas Deficientes</p><p>1990 Execução do Programa de Ação Mundial para as Pessoas com Deficiência</p><p>1993 Normas para Equiparação de Oportunidades para Pessoas com Deficiência</p><p>1999 Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as</p><p>Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras</p><p>de Deficiência (Convenção da Guatemala)</p><p>2002 Congresso Europeu de Pessoas com Deficiência</p><p>2007 Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas</p><p>com Deficiência (Convenção de Nova Iorque)</p><p>2013 Tratado de Marraqueche</p><p>12</p><p>DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA</p><p>www.cursoenfase.com.br</p><p>3. Conceito de pessoa com deficiência – uma visão emancipatória</p><p>A partir de 2007, a terminologia “pessoa com deficiência” foi promulgada pela</p><p>Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência da ONU e passou</p><p>a ser adotada até os dias atuais. Esse termo tem associado um certo empoderamento,</p><p>tendo em vista que pressupõe o uso do poder pessoal para fazer escolhas, tomar</p><p>decisões e assumir o controle da situação de vida.</p><p>A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,</p><p>portanto, trouxe um novo conceito de pessoa com deficiência, reconhecendo, em seu</p><p>preâmbulo, que tal conceito está em constante evolução, devendo ser analisado e</p><p>atualizado de acordo com cada contexto histórico.</p><p>Define, então, pessoas com deficiência da seguinte maneira: “pessoas com</p><p>deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física,</p><p>mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras,</p><p>podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de</p><p>condições com as demais pessoas” (art. 1º). (Grifos nossos.)</p><p>Nota-se que o conceito apresentado relaciona-se com a ambiência, e não com</p><p>algo inerente à pessoa, pois são as barreiras para o pleno exercício da liberdade e</p><p>da participação em sociedade que caracterizam a deficiência em um indivíduo. Essa</p><p>ideia está contida na alínea “e” do preâmbulo. Vejamos:</p><p>e) Reconhecendo que a deficiência é um conceito em evolução e que a deficiência</p><p>resulta da interação entre pessoas com deficiência e as barreiras devidas às</p><p>atitudes e ao ambiente que impedem a plena e efetiva participação dessas</p><p>pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, (...).</p><p>(Grifos nossos.)</p><p>Vale salientar que não se mostra adequado utilizar a expressão “portador”, pois esse</p><p>termo faz referência a algo que se “porta”, dando a ideia de temporariedade quando, na</p><p>maioria das vezes, trata-se de algo permanente. Ademais, o uso dessa expressão pode</p><p>gerar estigma, tendo em vista que a deficiência passa a ser característica principal do</p><p>indivíduo em detrimento de sua condição humana.</p><p>No mais, também é inadequado o uso do termo “deficiente”, uma vez que, como no</p><p>caso do termo “portador”, acaba reduzindo a pessoa àquela condição.</p><p>As expressões supracitadas, portanto, são incompatíveis com o novo paradigma</p><p>adotado pelo Estado brasileiro ao ratificar a Convenção da ONU sendo, então, apropriado</p><p>utilizar a expressão “pessoa com deficiência”, por se mostrar mais humanizada.</p><p>Apesar de a CF/1988 ainda utilizar a expressão “pessoas portadoras de deficiência”,</p><p>importa saber que se trata de expressão obsoleta e que a deficiência não está no</p><p>indivíduo, mas na sua interação com as barreiras impostas pela sociedade.</p><p>No mais, dispõe o art. 1º da Convenção que as pessoas com deficiência incluem</p><p>aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual</p><p>13www.cursoenfase.com.br</p><p>PARTE GERAL − DISPOSIÇÕES PRELIMINARES</p><p>ou sensorial, que, em interação com uma ou mais barreiras, podem impedir sua plena</p><p>e efetiva participação na sociedade em condições de igualdade com os outros.</p><p>O art. 1º da Convenção dispõe:</p><p>Art. 1º (...)</p><p>Propósito</p><p>O propósito da presente Convenção é promover, proteger e</p><p>assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os direitos</p><p>humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com</p><p>deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente.</p><p>Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos</p><p>de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou</p><p>sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras,</p><p>podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade</p><p>em igualdades de condições com as demais pessoas.</p><p>O caput do art. 2º da Lei nº 13.146/2015 basicamente repete a disposição da</p><p>Convenção da ONU acima mencionada:</p><p>Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem</p><p>impedimento de longo prazo de natureza física, mental,</p><p>intelectual ou sensorial o qual, em interação com uma ou</p><p>mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva</p><p>na sociedade em igualdade de condições com as demais</p><p>pessoas.</p><p>Ainda, há outros conceitos, compatíveis com o que foi apresentado acima, presentes</p><p>na legislação infraconstitucional.</p><p>Vejamos os arts. 3º e 4º do Decreto nº 3.298/1999, que regulamentou a Lei</p><p>nº 7.853/1989, que trata da Política Nacional para a Integração da Pessoa com Deficiência.</p><p>Art. 3º Para os efeitos deste Decreto, considera-se:</p><p>I – deficiência – toda perda ou anormalidade de uma</p><p>estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que</p><p>gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do</p><p>padrão considerado normal para o ser humano;</p><p>II – deficiência permanente – aquela que ocorreu ou se</p><p>estabilizou durante um período de tempo suficiente para não</p><p>permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere,</p><p>apesar de novos tratamentos; e</p><p>14</p><p>DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA</p><p>www.cursoenfase.com.br</p><p>III – incapacidade – uma redução efetiva e acentuada</p><p>da capacidade de integração social, com necessidade de</p><p>equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais</p><p>para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou</p><p>transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal</p><p>e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida.</p><p>(Grifos nossos.)</p><p>Art. 4º É considerada pessoa portadora de deficiência a que se</p><p>enquadra nas seguintes categorias:</p><p>I – deficiência física – alteração completa ou parcial de</p><p>um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o</p><p>comprometimento da função física, apresentando-se sob a</p><p>forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia,</p><p>tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia,</p><p>hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro,</p><p>paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade</p><p>congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as</p><p>que não produzam dificuldades para o desempenho de funções;</p><p>II – deficiência auditiva – perda bilateral, parcial ou total, de</p><p>quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma</p><p>nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz;</p><p>III – deficiência visual – cegueira, na qual a acuidade visual</p><p>é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor</p><p>correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual</p><p>entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica;</p><p>os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em</p><p>ambos os olhos for igual ou menor que 60º; ou a ocorrência</p><p>simultânea de quaisquer das condições anteriores;</p><p>IV – deficiência mental – funcionamento intelectual</p><p>significativamente inferior à média, com manifestação</p><p>antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou</p><p>mais áreas de habilidades adaptativas, tais como:</p><p>a) comunicação;</p><p>b) cuidado pessoal;</p><p>c) habilidades sociais;</p><p>d) utilização dos recursos da comunidade;</p><p>e) saúde e segurança;</p><p>f) habilidades acadêmicas;</p><p>15www.cursoenfase.com.br</p><p>PARTE GERAL − DISPOSIÇÕES PRELIMINARES</p><p>g) lazer; e</p><p>h) trabalho;</p><p>V – deficiência múltipla – associação de duas</p><p>ou mais</p><p>deficiências. (Grifos nossos.)</p><p>Pelo exposto, podemos concluir que a pessoa com deficiência é, antes de mais nada,</p><p>uma pessoa com uma história de vida que lhe confere a realidade de conviver com uma</p><p>deficiência, além de outras experiências de vida, como estrutura familiar, contexto</p><p>sociocultural e nível econômico. E como pessoa, é ela quem vai gerir sua própria vida,</p><p>mesmo que a deficiência gere barreiras.</p><p>4. A curatela e sua nova configuração</p><p>A Lei nº 13.146/2015 alterou substancialmente o CC quanto à capacidade civil das</p><p>pessoas com deficiência, que, até então, eram previstas nos arts. 3º e 4º como absoluta</p><p>ou relativamente incapazes.</p><p>O novo modelo garante à pessoa com deficiência, como regra, o direito ao exercício</p><p>de sua capacidade civil em igualdade de condições com as demais pessoas, podendo ser</p><p>adotada a tomada de decisão apoiada, e até mesmo a curatela, quando necessárias, esta</p><p>última como medida de proteção de caráter extraordinário, sempre proporcional</p><p>às necessidades e às circunstâncias de cada pessoa e pelo menor tempo possível.</p><p>As alterações objetivam a compatibilidade com a normativa internacional que</p><p>trouxe uma nova visão acerca da condição da pessoa com deficiência no meio social em</p><p>que está inserida, assegurando a sua plena capacidade.</p><p>A curatela consiste em um processo judicial no qual o magistrado, assistido por uma</p><p>equipe multiprofissional, analisa as necessidades de uma pessoa adulta para o exercício</p><p>da capacidade civil e decide se ela está apta ou não a praticar atos relacionados a seu</p><p>patrimônio e outros negócios ou se precisará de suporte para tanto.</p><p>Assim, a curatela pode ser pleiteada por pais, tutores, cônjuge ou qualquer parente,</p><p>pelo Ministério Público, nos casos de pessoas com deficiência intelectual ou mental,</p><p>ou pelo próprio interessado.</p><p>Outrossim, o Estatuto da Pessoa com Deficiência alterou de modo substancial o</p><p>art. 1.767 do CC.</p><p>Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela:</p><p>I – aqueles que, por causa transitória ou permanente,</p><p>não puderem exprimir sua vontade; (Redação dada</p><p>pela Lei nº 13.146, de 2015.) (Vigência)</p><p>16</p><p>DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA</p><p>www.cursoenfase.com.br</p><p>II – (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015.)</p><p>(Vigência)</p><p>III – os ébrios habituais e os viciados em tóxico;</p><p>(Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015.) (Vigência)</p><p>IV – (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015.)</p><p>(Vigência)</p><p>V – os pródigos. (Grifos nossos.)</p><p>Foram revogadas as disposições que faziam alusão à natureza da deficiência da</p><p>pessoa, fixando-se nas pessoas que, por causa transitória ou permanente, não possam</p><p>exprimir a sua vontade.</p><p>Nesse sentido, não é mais permitido que qualquer pessoa com deficiência intelectual</p><p>ou mental se sujeite à curatela, a não ser que esteja muito comprometida, impossibilitada</p><p>de exprimir a sua vontade.</p><p>Verifica-se que as outras pessoas também sujeitas à curatela são os ébrios habituais</p><p>(pessoas que ingerem, constantemente, bebida alcoólica ou substância de efeitos</p><p>análogos), os viciados em tóxicos, além dos pródigos.</p><p>O processo de curatela está previsto na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com</p><p>Deficiência nos arts. 84 a 87 e 114, e no Código de Processo Civil (CPC), nos arts. 747</p><p>a 758. Assim, o juiz, seguindo as previsões da Lei nº 13.146/2015, e de acordo com as</p><p>potencialidades da pessoa com deficiência e, ainda, conforme já mencionado, baseado</p><p>na assistência de uma equipe multidisciplinar, fixará os limites da curatela para os atos</p><p>relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial.</p><p>É importante, portanto, que, antes do pedido de curatela, a família se reúna e converse</p><p>com um advogado ou defensor público para compreender as consequências da situação</p><p>da curatela e assim expor ao juiz os motivos, observadas as particularidades da pessoa</p><p>com deficiência, da necessidade de tal medida extraordinária.</p><p>Por fim, decretada a curatela, a pessoa com deficiência é considerada relativamente</p><p>capaz para praticar atos de negócios e patrimoniais e, desse modo, necessitará do apoio</p><p>do curador.</p><p>O curador, frise-se, tem o dever de esclarecer qualquer hipótese relacionada a</p><p>patrimônio e negócios para a pessoa em situação de curatela, levando-a a entender o</p><p>que ocorrerá ao tomar uma decisão sobre a questão e, levando em conta a sua opinião,</p><p>assinará os documentos em conjunto com a pessoa em situação de curatela.</p><p>Cumpre destacar que a curatela, além de dever ser proporcional às necessidades e</p><p>circunstâncias de cada pessoa, deve ser revista sempre que necessário e durar o menor</p><p>tempo possível, podendo, inclusive, cessar a qualquer tempo.</p><p>Ademais, tornou-se lei também a determinação de que a curatela afeta apenas</p><p>os aspectos patrimoniais, mantendo o portador de transtorno mental o controle</p><p>17www.cursoenfase.com.br</p><p>PARTE GERAL − DISPOSIÇÕES PRELIMINARES</p><p>sobre os aspectos existenciais da sua vida, a exemplo do “direito ao próprio corpo, à</p><p>sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto”,</p><p>expressamente apontados no art. 85, § 1º, do Estatuto.</p><p>No mais, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, em seu art. 12,</p><p>exige que a medida protetiva extraordinária de curatela ocorra sem conflito de interesses.</p><p>Assim sendo, no caso de ocorrer discordância entre a vontade da pessoa em situação de</p><p>curatela e o seu curador, a pessoa em situação de curatela por si própria, ou por outra</p><p>pessoa de sua confiança, deve entrar em contato com seu advogado, defensor público</p><p>ou o Ministério Público para rever os termos da curatela.</p><p>Deverá, ainda, ser realizada uma revisão periódica de maneira a verificar se a pessoa</p><p>em situação de curatela adquiriu, ou não, maior autonomia e independência para os atos</p><p>patrimoniais e de negócio. Verificada a maior autonomia da pessoa, poderá ser requerida</p><p>a revisão da curatela ou a opção pela tomada de decisão apoiada, caso necessário.</p><p>5. Da igualdade e da não discriminação</p><p>O princípio da igualdade deve ser estudado em seu duplo enfoque, qual seja, a</p><p>igualdade material e a igualdade formal, que sustenta a análise da igualdade na lei e</p><p>a igualdade perante a lei.</p><p>A igualdade em seu sentido formal, também denominada igualdade perante a lei ou</p><p>igualdade jurídica, consiste no tratamento igualitário conferido pela lei aos indivíduos,</p><p>visando subordinar todos ao crivo da legislação, independentemente de raça, cor, sexo,</p><p>religião ou etnia.</p><p>A igualdade material, dos sujeitos na lei, por sua vez, também denominada</p><p>igualdade substancial ou real, tem como finalidade igualar indivíduos que são</p><p>essencialmente desiguais.</p><p>A partir disso, é possível concluir que a igualdade em seu aspecto substancial objetiva</p><p>corrigir desigualdades presentes na sociedade, tendo em vista que as pessoas são</p><p>desiguais sob as mais diversas perspectivas.</p><p>Outrossim, há grupos de pessoas que são historicamente vulneráveis, como as</p><p>pessoas com deficiência, e que demandam tratamento diferenciado, seja pelo legislador,</p><p>seja pelo aplicador da lei.</p><p>De modo simultâneo a CF/1988, em seu art. 5º, caput, garante a igualdade formal e</p><p>exige a busca pela igualdade substancial. Prevê a chamada cláusula geral do princípio</p><p>da igualdade ou isonomia, cuja finalidade é obstar qualquer forma de discriminação ou</p><p>distinção injustificável entre as pessoas. Vejamos:</p><p>Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de</p><p>qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos</p><p>estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à</p><p>18</p><p>DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA</p><p>www.cursoenfase.com.br</p><p>vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,</p><p>nos termos seguintes.</p><p>Importante também relembrar que um dos objetivos fundamentais da República</p><p>Federativa do Brasil é “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,</p><p>sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (art. 3º, inciso IV, CF).</p><p>No mais, os arts. 4º e 5º da LBI dispõem da seguinte maneira:</p><p>Art. 4º Toda pessoa com</p><p>deficiência tem direito à igualdade de</p><p>oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma</p><p>espécie de discriminação.</p><p>§ 1º Considera-se discriminação em razão da deficiência</p><p>toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por</p><p>ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de</p><p>prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o</p><p>exercício dos direitos e das liberdades fundamentais</p><p>de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de</p><p>adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias</p><p>assistivas.</p><p>§ 2º A pessoa com deficiência não está obrigada à fruição de</p><p>benefícios decorrentes de ação afirmativa. (Grifos nossos.)</p><p>Art. 5º A pessoa com deficiência será protegida de toda</p><p>forma de negligência, discriminação, exploração,</p><p>violência, tortura, crueldade, opressão e tratamento</p><p>desumano ou degradante.</p><p>Parágrafo único. Para os fins da proteção mencionada no caput</p><p>deste artigo, são considerados especialmente vulneráveis a</p><p>criança, o adolescente, a mulher e o idoso, com deficiência.</p><p>(Grifos nossos.)</p><p>Nota-se que o legislador procurou enfatizar a proteção contra a discriminação, tendo</p><p>em vista a condição da pessoa com deficiência que a coloca em posição de suscetibilidade</p><p>a violências.</p><p>O objetivo é estimular a conscientização e a quebra de preconceitos quanto ao fato</p><p>de que a pessoa com deficiência é capaz de assumir o controle de sua própria vida,</p><p>estando em pé de igualdade com todos os outros indivíduos.</p><p>Encontra-se também na Convenção de Nova Iorque o fundamento da questão. Senão,</p><p>vejamos:</p><p>Art. 5º. 1. Os Estados Partes reconhecem que todas as pessoas</p><p>são iguais perante e sob a lei e que fazem jus, sem qualquer</p><p>discriminação, a igual proteção e igual benefício da lei.</p><p>19www.cursoenfase.com.br</p><p>PARTE GERAL − DISPOSIÇÕES PRELIMINARES</p><p>2. Os Estados Partes proibirão qualquer discriminação</p><p>baseada na deficiência e garantirão às pessoas com deficiência</p><p>igual e efetiva proteção legal contra a discriminação por</p><p>qualquer motivo.</p><p>3. A fim de promover a igualdade e eliminar a discriminação,</p><p>os Estados Partes adotarão todas as medidas apropriadas para</p><p>garantir que a adaptação razoável seja oferecida.</p><p>4. Nos termos da presente Convenção, as medidas</p><p>específicas que forem necessárias para acelerar ou alcançar</p><p>a efetiva igualdade das pessoas com deficiência não serão</p><p>consideradas discriminatórias. (Grifos nossos.)</p><p>Ainda, a Convenção define discriminação por motivo de deficiência como “qualquer</p><p>diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, com o propósito ou</p><p>efeito de impedir ou impossibilitar o reconhecimento, o desfrute ou o exercício, em</p><p>igualdade de oportunidades com as demais pessoas, de todos os direitos humanos</p><p>e liberdades fundamentais nos âmbitos político, econômico, social, cultural, civil ou</p><p>qualquer outro. Abrange todas as formas de discriminação, inclusive a recusa de</p><p>adaptação razoável” (art. 2º).</p><p>Além disso, a LBI, evidentemente, criou mecanismos de defesa da igualdade e</p><p>garantias a não discriminação.</p><p>A plena capacidade legal da pessoa com deficiência é outra garantia fundamental</p><p>trazida pelo Estatuto. O art. 6º apresenta um rol de situações relacionadas ao direito de</p><p>escolher e decidir, tais como casar-se, exercer direitos sexuais e reprodutivos, decidir</p><p>sobre o número de filhos e ter acesso a informações adequadas acerca da reprodução e</p><p>planejamento familiar, conservar sua fertilidade, dentre tantas outras situações.</p><p>Esse rol auxilia, inclusive, nos casos em que se avalie a necessidade de interdição</p><p>parcial por conta de aspectos financeiros ou patrimoniais da pessoa com deficiência.</p><p>Na sequência, o art. 7º do Estatuto obriga a todos o dever de comunicar às autoridades</p><p>competentes qualquer forma de ameaça ou de violação aos direitos da pessoa com</p><p>deficiência.</p><p>Do parágrafo único desse artigo, consta a obrigação de juízes e tribunais, ao</p><p>tomarem conhecimento de fatos que caracterizem as violações previstas na lei,</p><p>comunicarem oficialmente o Ministério Público. Saliente-se que o cidadão também pode</p><p>acionar a Defensoria Pública, se em vulnerabilidade social.</p><p>Art. 7º, Estatuto. É dever de todos comunicar à autoridade</p><p>competente qualquer forma de ameaça ou de violação aos</p><p>direitos da pessoa com deficiência.</p><p>Parágrafo único. Se, no exercício de suas funções, os juízes</p><p>e tribunais tiverem conhecimento de fatos que caracterizem</p><p>20</p><p>DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA</p><p>www.cursoenfase.com.br</p><p>as violações previstas nesta Lei, devem remeter peças ao</p><p>Ministério Público para as providências cabíveis.</p><p>Art. 26, Estatuto. Os casos de suspeita ou de confirmação</p><p>de violência praticada contra a pessoa com deficiência serão</p><p>objeto de notificação compulsória pelos serviços de saúde</p><p>públicos e privados à autoridade policial e ao Ministério Público,</p><p>além dos Conselhos dos Direitos da Pessoa com Deficiência.</p><p>Portanto, caso a pessoa com deficiência venha a ser vítima de discriminação deverá</p><p>ela mesma ou seu representante legal procurar uma delegacia de polícia a fim de</p><p>registrar boletim de ocorrência e poderá, ainda, ingressar com ação judicial para obter</p><p>indenização por danos morais.</p><p>6. Do art. 6º do Estatuto da Pessoa com Deficiência</p><p>Vejamos a seguir o que dispõe o art. 6º da LBI:</p><p>Art. 6º A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para:</p><p>I – casar-se e constituir união estável;</p><p>II – exercer direitos sexuais e reprodutivos;</p><p>III – exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações</p><p>adequadas sobre reprodução e planejamento familiar;</p><p>IV – conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;</p><p>V – exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e</p><p>VI – exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou</p><p>adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. (Grifos nossos.)</p><p>A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, em seu art. 23, item 1,</p><p>a, revela que os Estados-Partes deverão tomar medidas efetivas e apropriadas a fim de</p><p>eliminar a discriminação contra pessoas com deficiência, em todos os aspectos relativos</p><p>a casamento, família, paternidade e relacionamentos, em igualdade de condições</p><p>com as demais pessoas, de modo a assegurar, inclusive, que seja reconhecido o direito</p><p>das pessoas com deficiência, em idade de contrair matrimônio, de casar-se e estabelecer</p><p>família, com base no livre e pleno consentimento dos pretendentes.</p><p>Este é o principal fundamento do art. 6º da LBI, assim como o § 3º do art. 226 da</p><p>CF/1988, que reconhece a união estável entre o homem e a mulher como entidade</p><p>familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.</p><p>Tudo isso significa que a pessoa com deficiência, tendo a sua capacidade preservada, e</p><p>podendo manifestar sua vontade de forma livre, pode se casar ou constituir união estável</p><p>em igualdade de condições com as demais pessoas.</p><p>Tal entendimento foi reforçado pela revogação do inciso II do art. 3º do CC pelo</p><p>Estatuto da Pessoa com Deficiência.</p><p>21www.cursoenfase.com.br</p><p>PARTE GERAL − DISPOSIÇÕES PRELIMINARES</p><p>A pessoa com deficiência tem, ainda, o direito de exercer direitos sexuais e reprodutivos.</p><p>Inclusive, o § 4º do art. 18 da LBI reafirma tal direito, dispondo que as ações e os serviços</p><p>de saúde pública destinados à pessoa com deficiência devem assegurar atenção sexual</p><p>e reprodutiva, incluindo o direito à fertilização assistida, conforme segue:</p><p>§ 4º As ações e os serviços de saúde pública destinados à pessoa com deficiência</p><p>devem assegurar:</p><p>VII – atenção sexual e reprodutiva, incluindo o direito à fertilização assistida;</p><p>Além disso, à pessoa com deficiência é assegurado o direito de decidir sobre o</p><p>número de filhos e de ter acesso a informações adequadas acerca de reprodução e</p><p>planejamento familiar. Tal disposição tem fundamento no § 7º do art. 226 da CF/1988,</p><p>que trata da família, bem como no art. 23, item 1, b, da Convenção de Nova Iorque.</p><p>Senão, vejamos:</p><p>Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção</p><p>do Estado.</p><p>(...)</p><p>§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana</p><p>e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre</p><p>decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos</p><p>educacionais e científicos para o exercício desse direito,</p><p>vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições</p><p>oficiais ou privadas. (Grifos nossos.)</p><p>Art. 23. 1. Os Estados Partes tomarão medidas efetivas e</p><p>apropriadas para eliminar a discriminação contra pessoas</p><p>com deficiência, em todos os aspectos relativos a casamento,</p><p>família, paternidade e relacionamentos, em igualdade de</p><p>condições com as demais pessoas, de modo a assegurar que:</p><p>(...)</p><p>b) Sejam reconhecidos os direitos das pessoas com</p><p>deficiência de decidir livre e responsavelmente sobre</p><p>o número de filhos e o espaçamento entre esses filhos</p><p>e de ter acesso a informações adequadas à idade e a</p><p>educação em matéria de reprodução e de planejamento</p><p>familiar, bem como os meios necessários para exercer</p><p>esses direitos. (Grifos nossos.)</p><p>Ademais, é direito conservar a fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória</p><p>cuja previsão se encontra na lei de planejamento familiar (Lei nº 9.263/1996, art. 10,</p><p>§6º) e que sempre careceu de regulamentação legal, foi banida do ordenamento jurídico</p><p>brasileiro pelo inciso IV do art. 6º da Lei nº 13.146/2015.</p><p>22</p><p>DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA</p><p>www.cursoenfase.com.br</p><p>Art. 10. (...) § 6º A esterilização cirúrgica em pessoas</p><p>absolutamente incapazes somente poderá ocorrer mediante</p><p>autorização judicial, regulamentada na forma da Lei.</p><p>Ainda, o já citado art. 23 da Convenção de Nova Iorque, item 1, em sua alínea c,</p><p>revela que as pessoas com deficiência, inclusive crianças, possuem o direito à sua</p><p>fertilidade, em igualdade de condições com as demais pessoas.</p><p>No mais, a pessoa com deficiência tem direito à família e à convivência familiar e</p><p>comunitária. O fundamento de tal dispositivo também está na Convenção Internacional</p><p>sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Senão vejamos.</p><p>Art. 19. Os Estados Partes desta Convenção reconhecem o</p><p>igual direito de todas as pessoas com deficiência de viver na</p><p>comunidade, com a mesma liberdade de escolha que as demais</p><p>pessoas, e tomarão medidas efetivas e apropriadas para</p><p>facilitar às pessoas com deficiência o pleno gozo desse direito</p><p>e sua plena inclusão e participação na comunidade (...).</p><p>Por fim, o art. 6º, inciso VI revela o direito da pessoa com deficiência a guarda, tutela,</p><p>curatela e adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as</p><p>demais pessoas.</p><p>Apesar da deficiência, é plenamente possível que a sua condição mental se mantenha</p><p>intacta, fato que possibilita a prática de todos os atos da vida civil, inclusive os atos</p><p>acima mencionados.</p><p>Quanto a esse tema, revela a Convenção de Nova Iorque que os Estados-Partes deverão</p><p>assegurar os direitos e responsabilidades das pessoas com deficiência, referentes a</p><p>guarda, custódia, curatela e adoção de crianças ou instituições semelhantes, caso esses</p><p>conceitos constem da legislação nacional. Em todos os casos, prevalecerá o superior</p><p>interesse da criança. Os Estados-Partes, ainda, prestarão a devida assistência às pessoas</p><p>com deficiência para que essas pessoas possam exercer suas responsabilidades na</p><p>criação dos filhos.</p><p>Vejamos, a seguir, de modo mais detalhado, os reflexos da LBI no CC.</p><p>7. Reflexos do Estatuto da Pessoa com Deficiência no Código Civil</p><p>A LBI, conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, altera de modo substancial</p><p>a disciplina jurídica brasileira acerca do tema, principalmente no que diz respeito ao</p><p>direito civil.</p><p>Tendo como inspiração a Convenção de Nova Iorque sobre os Direitos das Pessoas</p><p>com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, o Estatuto da Pessoa com Deficiência</p><p>exibe inovações jurídicas condizentes com o tratado internacional, que, conforme</p><p>23www.cursoenfase.com.br</p><p>PARTE GERAL − DISPOSIÇÕES PRELIMINARES</p><p>já vimos, internalizado ao ordenamento interno brasileiro, tem status de emenda</p><p>constitucional.</p><p>Inicialmente, é importante salientar que diversos dispositivos do CC foram alterados</p><p>pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência para fins de adequação entre as leis. São eles:</p><p>arts. 3º, 4º, 228, 1.518, 1.548, 1.550, 1.557, entre outros.</p><p>Atenção!</p><p>As alterações referidas poderão ser cobradas numa prova em direito civil ou então</p><p>em questionamentos sobre a Lei nº 13.146/2015.</p><p>Retomando a ideia do art. 6º do Estatuto, entende-se por capacidade de direito, que</p><p>se confunde com o conceito de personalidade, a aptidão para que a pessoa natural</p><p>torne-se sujeito de direitos e de obrigações na ordem jurídica pátria. A capacidade plena</p><p>é resultado da união entre a capacidade de direito (art. 2º do CC) e a capacidade de</p><p>fato/exercício.</p><p>Sendo assim, o Estatuto dissocia o impedimento da incapacidade para os atos da vida</p><p>civil, evidenciando que deficiência não é sinônimo de incapacidade.</p><p>Observe as relevantes alterações feitas no CC pela LBI:</p><p>Art. 3º, CC São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida</p><p>civil os menores de 16 (dezesseis) anos.</p><p>Atenção!</p><p>O Estatuto revogou os incisos II e III do art. 3º, que incluía como absolutamente</p><p>incapazes os deficientes sem discernimento e os que não podiam exprimir vontade.</p><p>Art. 4º, CC São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:</p><p>(...) II – os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III – aqueles que, por causa</p><p>transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; (...).</p><p>O estatuto alterou os incisos II e III do art. 4º, suprimindo os que por deficiência</p><p>mental tenham discernimento reduzido e os excepcionais, sem desenvolvimento</p><p>mental completo.</p><p>Nesse sentido, vejamos as disposições da Convenção de Nova Iorque quanto a essa</p><p>questão.</p><p>Preâmbulo: n) Reconhecendo a importância, para as pessoas</p><p>com deficiência, de sua autonomia e independência individuais,</p><p>inclusive da liberdade para fazer as próprias escolhas, (...)</p><p>Atenção!</p><p>24</p><p>DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA</p><p>www.cursoenfase.com.br</p><p>Art. 12. Item 1. Os Estados Partes reafirmam que as pessoas</p><p>com deficiência têm o direito de ser reconhecidas em</p><p>qualquer lugar como pessoas perante a lei.</p><p>2. Os Estados Partes reconhecerão que as pessoas com</p><p>deficiência gozam de capacidade legal em igualdade de</p><p>condições com as demais pessoas em todos os aspectos</p><p>da vida.</p><p>3. Os Estados Partes tomarão medidas apropriadas para</p><p>prover o acesso de pessoas com deficiência ao apoio que</p><p>necessitarem no exercício de sua capacidade legal.</p><p>4. Os Estados Partes assegurarão que todas as medidas</p><p>relativas ao exercício da capacidade legal incluam</p><p>salvaguardas apropriadas e efetivas para prevenir</p><p>abusos, em conformidade com o direito internacional</p><p>dos direitos humanos. Essas salvaguardas assegurarão</p><p>que as medidas relativas ao exercício da capacidade</p><p>legal respeitem os direitos, a vontade e as preferências</p><p>da pessoa, sejam isentas de conflito de interesses e de</p><p>influência indevida, sejam proporcionais e apropriadas às</p><p>circunstâncias da pessoa, se apliquem pelo período mais</p><p>curto possível e sejam submetidas à revisão regular por uma</p><p>autoridade ou órgão judiciário competente, independente e</p><p>imparcial. As salvaguardas serão proporcionais ao grau em</p><p>que tais medidas afetarem os direitos e interesses da pessoa.</p><p>(Grifos nossos.)</p><p>Com isso, a Convenção de Nova Iorque estabeleceu um mandamento para que os</p><p>Estados-Partes (signatários) consagrassem a diferença entre “apresentar deficiência” e</p><p>“apresentar incapacidade”.</p><p>Além disso, a LBI revela dois modelos de abordagem da deficiência:</p><p>a) Deficiência sem curatela (possibilidade de autodeterminação).</p><p>b) Deficiência com curatela (destinada aos relativamente incapazes – os que, por</p><p>causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade).</p><p>Assim sendo, a LBI manteve a figura da curatela e reconheceu em seu art. 84, § 1º</p><p>a possibilidade de as pessoas com deficiência submeterem-se à curadoria: “quando</p><p>necessário, a</p><p>pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme a lei”. Ainda,</p><p>nos termos do § 3º do mesmo dispositivo, a curatela deve servir como medida protetiva</p><p>extraordinária e proporcional às necessidades e circunstâncias de cada caso concreto,</p><p>devendo ser aplicada pelo menor prazo possível.</p><p>25www.cursoenfase.com.br</p><p>PARTE GERAL − DISPOSIÇÕES PRELIMINARES</p><p>Atenção!</p><p>O simples fato de uma pessoa ter algum tipo de deficiência (física, mental ou</p><p>intelectual), por si só, não é bastante para caracterizar incapacidade jurídica.</p><p>Nesse contexto exsurge um questionamento: é possível a curadoria de pessoa</p><p>capaz? Sim, revela-se uma nova era de conquista de direitos e emancipação dessa</p><p>camada da população extremamente vulnerável. Exige, assim, uma redefinição de</p><p>papéis e conceitos antigos. Eventual nova definição de incapacidade (somente para</p><p>esses sujeitos de direito) causaria discriminação, o que a lei expressamente veda.</p><p>Assim, o Estatuto inova nessa matéria. Admite, por força do art. 84, § 1º, a interdição</p><p>de pessoa capaz: “quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à</p><p>curatela, conforme a lei”.</p><p>A curatela de pessoa capaz é novidade inusitada na história do Direito brasileiro.</p><p>A orientação do Estatuto é clara, ainda que com a curatela, não temos uma pessoa</p><p>incapaz.</p><p>Dessa forma, com a vigência do Estatuto da Pessoa com Deficiência temos uma nova</p><p>categoria de pessoas capazes: os capazes sob curatela.</p><p>Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao</p><p>exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições</p><p>com as demais pessoas.</p><p>§ 1º Quando necessário, a pessoa com deficiência será</p><p>submetida à curatela, conforme a lei.</p><p>§ 2º É facultada à pessoa com deficiência a adoção de processo</p><p>de tomada de decisão apoiada [inovação].</p><p>§ 3º A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui</p><p>medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades</p><p>e às circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo</p><p>possível.</p><p>§ 4º Os curadores são obrigados a prestar, anualmente,</p><p>contas de sua administração ao juiz, apresentando o balanço</p><p>do respectivo ano.</p><p>Ainda nesse cenário, revelou-se também como fundamental contribuição a introdução</p><p>do mecanismo de tomada de decisão apoiada, prevista no § 2º do art. 84 da LBI, e</p><p>regulamentada, de maneira inicial, pelo art. 1.783-A do CC.</p><p>Art. 1.783-A. A tomada de decisão apoiada é o processo pelo</p><p>qual a pessoa com deficiência elege pelo menos 2 (duas)</p><p>26</p><p>DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA</p><p>www.cursoenfase.com.br</p><p>pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que</p><p>gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada</p><p>de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os</p><p>elementos e informações necessários para que possa exercer</p><p>sua capacidade. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015.)</p><p>(Vigência)</p><p>§ 1º Para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a</p><p>pessoa com deficiência e os apoiadores devem apresentar</p><p>termo em que constem os limites do apoio a ser oferecido</p><p>e os compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de</p><p>vigência do acordo e o respeito à vontade, aos direitos</p><p>e aos interesses da pessoa que devem apoiar. (Incluído</p><p>pela Lei nº 13.146, de 2015.) (Vigência)</p><p>§ 2º O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido</p><p>pela pessoa a ser apoiada, com indicação expressa das</p><p>pessoas aptas a prestarem o apoio previsto no caput deste</p><p>artigo. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015.) (Vigência)</p><p>§ 3º Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de decisão</p><p>apoiada, o juiz, assistido por equipe multidisciplinar, após</p><p>oitiva do Ministério Público, ouvirá pessoalmente o requerente</p><p>e as pessoas que lhe prestarão apoio. (Incluído pela Lei nº</p><p>13.146, de 2015.) (Vigência)</p><p>§ 4º A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e</p><p>efeitos sobre terceiros, sem restrições, desde que esteja</p><p>inserida nos limites do apoio acordado. (Incluído pela Lei</p><p>nº 13.146, de 2015.) (Vigência)</p><p>§ 5º Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha relação</p><p>negocial pode solicitar que os apoiadores contra assinem o</p><p>contrato ou acordo, especificando, por escrito, sua função em</p><p>relação ao apoiado. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015.)</p><p>(Vigência)</p><p>§ 6º Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou</p><p>prejuízo relevante, havendo divergência de opiniões entre a</p><p>pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido o</p><p>Ministério Público, decidir sobre a questão. (Incluído pela Lei</p><p>nº 13.146, de 2015.) (Vigência)</p><p>§ 7º Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão</p><p>indevida ou não adimplir as obrigações assumidas,</p><p>27www.cursoenfase.com.br</p><p>PARTE GERAL − DISPOSIÇÕES PRELIMINARES</p><p>poderá a pessoa apoiada ou qualquer pessoa apresentar</p><p>denúncia ao Ministério Público ou ao juiz. (Incluído pela</p><p>Lei nº 13.146, de 2015.) (Vigência)</p><p>§ 8º Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e</p><p>nomeará, ouvida a pessoa apoiada e se for de seu interesse,</p><p>outra pessoa para prestação de apoio. (Incluído pela Lei nº</p><p>13.146, de 2015.) (Vigência)</p><p>§ 9º A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar</p><p>o término de acordo firmado em processo de tomada de</p><p>decisão apoiada. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015.)</p><p>(Vigência)</p><p>§ 10 O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua</p><p>participação do processo de tomada de decisão apoiada, sendo</p><p>seu desligamento condicionado à manifestação do juiz sobre</p><p>a matéria. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015.) (Vigência)</p><p>§ 11 Aplicam-se à tomada de decisão apoiada, no que</p><p>couber, as disposições referentes à prestação de contas na</p><p>curatela. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015.) (Vigência)</p><p>(Grifos nossos.)</p><p>Observe que a norma parte do reconhecimento de que toda pessoa com deficiência</p><p>deve ter assegurado o direito ao exercício de sua capacidade civil em igualdade de</p><p>condições com as demais pessoas em todos os aspectos da vida e cria um instrumento</p><p>processual eficaz para auxiliar e apoiar a pessoa com deficiência a tomar decisões, que</p><p>dele necessite, o qual conta com um rito próprio ali previsto.</p><p>A tomada de decisão apoiada pode ser conceituada, portanto, como o processo por</p><p>meio do qual a pessoa com deficiência elege pelo menos duas pessoas idôneas,</p><p>com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe</p><p>apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhe os</p><p>elementos e informações necessários para que possa exercer sua capacidade.</p><p>O processo visa, assim, garantir apoio à pessoa com deficiência em suas decisões</p><p>sobre atos da vida civil, e assim ter os dados e informações necessários para o pleno</p><p>exercício de seus direitos.</p><p>É aplicável, portanto, àquelas pessoas que podem manifestar vontade, mas necessitam</p><p>de proteção.</p><p>Privilegia-se, desse modo, o espaço de escolha da pessoa, que pode constituir em</p><p>torno de si uma rede de sujeitos baseada na confiança que neles tem, para auxiliá-lo nos</p><p>atos da vida. Justamente o oposto do que podia antes acontecer, em algumas situações</p><p>de curatela fixadas à revelia e contra os interesses do portador de transtornos mentais.</p><p>28</p><p>DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA</p><p>www.cursoenfase.com.br</p><p>Como novo modelo, muito há que se discutir ainda a seu respeito, mas certamente não</p><p>de modo suficiente no espaço desta unidade.</p><p>Para definição das áreas da vida em que contará com o suporte, a pessoa com</p><p>deficiência e os seus apoiadores (auxiliadores) devem apresentar termo de que constem os</p><p>limites do apoio a ser oferecido e os compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de</p><p>vigência do acordo.</p><p>O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa a ser apoiada,</p><p>com indicação expressa das pessoas aptas a prestarem o apoio. Será elaborado um</p><p>laudo por equipe multidisciplinar e haverá oitiva do Ministério Público e oitiva pessoal</p><p>do requerente, além dos apoiadores.</p><p>Art. 1.783-A. (...) § 3º Antes de se pronunciar sobre o pedido</p><p>de tomada de decisão apoiada, o juiz, assistido por equipe</p><p>multidisciplinar, após oitiva do Ministério Público, ouvirá</p><p>pessoalmente</p><p>o requerente e as pessoas que lhe prestarão</p><p>apoio.</p><p>A tomada de decisão apoiada revela-se, então, como forma de supressão da</p><p>deficiência, para o auxílio à pessoa com deficiência, representando um grande passo para</p><p>a garantia da autonomia e a independência das pessoas com deficiência no exercício de</p><p>sua capacidade.</p><p>Segundo a Lei nº 13.146/2015, a decisão tomada por pessoa apoiada em processo</p><p>regular de tomada de decisão apoiada tem validade e efeitos perante terceiros, sem</p><p>qualquer restrição, se estiver dentro dos limites do apoio.</p><p>O terceiro interessado com quem a pessoa apoiada mantenha relação de negócio</p><p>pode, ainda, solicitar que os apoiadores também assinem o contrato ou o acordo que</p><p>estiverem tratando. Caso determinado negócio jurídico venha a trazer risco ou prejuízo,</p><p>e havendo divergência de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores, o juiz,</p><p>ouvido o Ministério Púbico, decidirá a questão.</p><p>Cumpre destacar que a tomada de decisão apoiada pode cessar a qualquer</p><p>tempo, desde a pessoa apoiada solicite o término do acordo assinado no processo. Além</p><p>disso, o apoiador também pode requerer ao juiz a sua exclusão do processo, sobre o</p><p>qual o juiz deverá se manifestar.</p><p>Reafirmando a amplitude do conceito de capacidade legal, o Estatuto limitou a</p><p>extensão dos efeitos da curatela à prática de atos de natureza patrimonial e negocial,</p><p>conforme disposição do art. 85, de forma a assegurar a liberdade à pessoa com deficiência</p><p>para tomar decisões e agir com autonomia em todas as demais áreas de sua vida.</p><p>Trata-se de uma opção garantista, restritiva.</p><p>Art. 85, Estatuto. A curatela afetará tão somente os atos</p><p>relacionados aos direitos de natureza patrimonial e</p><p>negocial.</p><p>29www.cursoenfase.com.br</p><p>PARTE GERAL − DISPOSIÇÕES PRELIMINARES</p><p>§ 1º A definição da curatela não alcança o direito ao próprio</p><p>corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à</p><p>educação, à saúde, ao trabalho e ao voto.</p><p>§ 2º A curatela constitui medida extraordinária, devendo</p><p>constar da sentença as razões e motivações de sua definição,</p><p>preservados os interesses do curatelado.</p><p>§ 3º No caso de pessoa em situação de institucionalização,</p><p>ao nomear curador, o juiz deve dar preferência a pessoa que</p><p>tenha vínculo de natureza familiar, afetiva ou comunitária com</p><p>o curatelado.</p><p>Em casos de pessoa em situação de institucionalização, a curatela compartilhada</p><p>mostrar-se-ia uma forma de divisão de tarefas e cuidados com a pessoa titular de</p><p>direitos.</p><p>Verifica-se que, com as mudanças trazidas pela lei, a curatela não atinge a prática de</p><p>direitos relativos à sexualidade, ao próprio corpo, matrimônio, privacidade, educação,</p><p>saúde, trabalho e voto, mas apenas os atos que envolvam a formalização de contratos,</p><p>participação em negociações, venda ou compra de bens de qualquer natureza.</p><p>A ação de curatela (ainda prevista com ação de interdição em alguns artigos) é</p><p>o procedimento específico por meio do qual decisão judicial reconhecerá, ou não, a</p><p>incapacidade relativa do sujeito (no caso, pessoa com deficiência) – para aqueles que</p><p>não puderem exprimir sua vontade, na esteira do art. 4º, inciso III, do CC.</p><p>Importante destacar que devido às alterações realizadas pela lei brasileira de inclusão,</p><p>as pessoas elencadas no art. 1.767 do CC (sujeitas à curatela) não são mais declaradas</p><p>inaptas a todos os atos da vida civil, e, dessa maneira, não mais poderão ser nomeados</p><p>curadores para geri-las por inteiro. Em assim sendo, sem respaldo na lei material, fica</p><p>sem sentido e cai por terra as disposições dos artigos 747 e seguintes do CPC, que</p><p>dispõe sobre a ação de interdição (ANTONIO, 2018).</p><p>Vejamos a divisão tripartida da curatela, que dependerá do grau de comprometimento</p><p>apurado no processo:</p><p>a) Curador como representante do relativamente incapaz para todos atos negociais</p><p>da vida civil.</p><p>b) Curador como representante para alguns atos e mero assistente para outros</p><p>(regime misto de curatela).</p><p>c) Tão somente assistente, na hipótese de o curatelado poder praticar todo e qualquer</p><p>ato.</p><p>A sentença, com forte carga argumentativa, deve justificar a curatela para a pessoa</p><p>com deficiência, de acordo com as suas individualidades, afinal, é medida extraordinária</p><p>e proporcional às necessidades e circunstâncias do caso.</p><p>30</p><p>DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA</p><p>www.cursoenfase.com.br</p><p>Nota-se que, com base na LBI, as pessoas com deficiência, ainda que em regime</p><p>de curatela, têm garantido o exercício de sua capacidade legal em relação a todos os</p><p>direitos elencados no § 1º do art. 85, independentemente de condicionantes. É possível,</p><p>portanto, se casar, escolher seus parceiros, decidir se relacionar ou não sexualmente,</p><p>manifestar-se quanto a tratamentos médicos, doação de órgãos e quaisquer outros</p><p>temas que a eles interessem.</p><p>Especificamente em relação ao casamento, previa o art. 1.548 do CC que:</p><p>Art. 1.548. É nulo o casamento contraído:</p><p>I – pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil;</p><p>II – por infringência de impedimento.</p><p>Tendo por base o conceito ampliado de capacidade legal, o art. 114 do Estatuto da</p><p>Pessoa com Deficiência revogou o inciso I do art. 1.548 do CC.</p><p>Logo, não poderá ser eivado de nulidade o casamento contraído por pessoa com</p><p>deficiência. Essa revogação encontra amparo no inciso I do art. 6º do Estatuto,</p><p>que determina que a deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa para</p><p>casar-se e constituir união estável.</p><p>Contudo, foi mantida a anulação do casamento contraído por pessoa incapaz de</p><p>consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento (art. 1.550, inciso IV,</p><p>do CC).</p><p>A contradição é aparente, pois o Estatuto considera válido o casamento realizado</p><p>por pessoa com deficiência, contudo, essa questão não interfere na ressalva, ou seja,</p><p>na anulação do casamento de pessoa incapaz de consentir ou manifestar a sua</p><p>vontade.</p><p>Assim, privilegia-se a igualdade das pessoas com deficiência com as demais ao</p><p>considerá-las capazes, em regra, para a vida civil.</p><p>8. Reflexos eleitorais do Estatuto da Pessoa com Deficiência</p><p>A LBI trouxe, ainda, alguns reflexos no âmbito eleitoral.</p><p>O art. 76 da LBI exige o desenvolvimento de novas estratégias e tecnologias voltadas</p><p>ao fortalecimento da vida civil das pessoas com deficiência, com a finalidade de</p><p>desenvolver de maneira plena sua autonomia política.</p><p>Esse dispositivo representa mais um avanço, vez que revoluciona a concepção sobre</p><p>os limites e possibilidades de participação das pessoas com deficiência na construção</p><p>e desenvolvimento da sociedade na qual vivemos.</p><p>Art. 76. O poder público deve garantir à pessoa com deficiência</p><p>todos os direitos políticos e a oportunidade de exercê-los em</p><p>igualdade de condições com as demais pessoas.</p><p>31www.cursoenfase.com.br</p><p>PARTE GERAL − DISPOSIÇÕES PRELIMINARES</p><p>§ 1º À pessoa com deficiência será assegurado o direito de</p><p>votar e de ser votada, inclusive por meio das seguintes ações:</p><p>I – garantia de que os procedimentos, as instalações,</p><p>os materiais e os equipamentos para votação sejam</p><p>apropriados, acessíveis a todas as pessoas e de fácil</p><p>compreensão e uso, sendo vedada a instalação de seções</p><p>eleitorais exclusivas para a pessoa com deficiência;</p><p>II – incentivo à pessoa com deficiência a candidatar-se</p><p>e a desempenhar quaisquer funções públicas em todos</p><p>os níveis de governo, inclusive por meio do uso de novas</p><p>tecnologias assistivas, quando apropriado;</p><p>III – garantia de que os pronunciamentos oficiais, a propaganda</p><p>eleitoral obrigatória e os debates transmitidos pelas emissoras</p><p>de televisão possuam, pelo menos, os recursos elencados no</p><p>art. 67 desta Lei;</p><p>IV – garantia do livre exercício do direito ao voto e, para tanto,</p><p>sempre que necessário e a seu pedido, permissão para que a</p><p>pessoa com deficiência seja auxiliada na votação por pessoa</p><p>de sua escolha.</p><p>§ 2º O poder público promoverá a participação da pessoa com</p><p>deficiência, inclusive quando institucionalizada, na condução</p><p>das questões públicas, sem discriminação e em igualdade</p>