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<p>PSICOLOGIA PERINATAL</p><p>E DA PARENTALIDADE</p><p>Rafaela de Almeida Schiavo</p><p>(Organizadora)</p><p>V O L U M E 1</p><p>PUBLICAÇÕES MATERONLINE</p><p>Psicologia Perinatal</p><p>e da Parentalidade:</p><p>publicações MaterOnline</p><p>Volume 1</p><p>Rafaela A. Schiavo (Org.)</p><p>Editora Mater Online</p><p>2020</p><p>Instituto MaterOnline</p><p>Psicologia perinatal e da parentalidade [recurso</p><p>eletrônico] / organizadora Rafaela de</p><p>Almeida Schiavo. -- Agudos : MaterOnline, 2020.</p><p>80 p. : il.</p><p>Modo de acesso:</p><p>http://materonline.com.br</p><p>ISBN 978-65-00-02667-2</p><p>1. Psicologia da criança. 2. Parentalidade. I. T. II.</p><p>Schiavo, Rafaela de Almeida, org.</p><p>CDD 136.7</p><p>Ficha catalográfica</p><p>Elaborada por Maria Helena Souza Ronchesel - CRB 8/4029.</p><p>Prefácio</p><p>As autoras dos capítulos deste e-book,</p><p>demonstraram sua competência e qualificação</p><p>para obter o título de Psicólogas Perinatal,</p><p>dissertando cada qual sobre um assunto dentro</p><p>da Psicologia Perinatal que lhe chamou a atenção,</p><p>dedicaram-se e debruçaram-se para pesquisar</p><p>mais afundo sobre o tema dissertado o que</p><p>resultou nos capítulos deste e-book.</p><p>Profa. Dra. Rafaela Almeida Schiavo</p><p>Apresentação</p><p>Este é um e-book com apresentação de três</p><p>trabalhos realizados por Psicólogas</p><p>Perinatal formadas pela Instituto MaterOnline.</p><p>O Instituto MaterOnline tem o</p><p>objetivo de distribuir conteúdos referentes à Saúde</p><p>Mental Materna, levar conhecimento científico de</p><p>qualidade para o maior número de profissionais da</p><p>saúde.</p><p>Esperamos que você possa fazer um bom</p><p>aproveitamento deste e-book.</p><p>Profa. Dra. Rafaela Almeida Schiavo</p><p>Sumário</p><p>Capítulo I</p><p>Importância do atendimento psicológico para</p><p>gestantes na saúde pública...............................................6</p><p>Camila Bach</p><p>Capítulo II</p><p>O luto do bebê ideal.............................................................36</p><p>Adriane Carqueijo dos Santos</p><p>Capítulo III</p><p>Uma reflexão sobre a prevenção ao</p><p>infanticídio.................................................................................73</p><p>Leticya Matos Bazani Figueredo</p><p>IMPORTÂNCIA DO ATENDIMENTO</p><p>PSICOLÓGICO PARA GESTANTES NA</p><p>SAÚDE PÚBLICA</p><p>Camila Bach</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>A gravidez pode ser sobrecarregada por muitos</p><p>transtornos do humor em particular pela depressão.</p><p>Ao contrário do esperado, a literatura e a prática</p><p>com gestantes e puérperas nos mostram que a</p><p>maioria das mulheres, sobretudo as de classe média</p><p>e baixa, encontra na vivência da maternidade algum</p><p>nível de sofrimento psíquico, físico e social no</p><p>período pré e pós-parto. Sabe-se que o período</p><p>gestacional é muito importante na vida da mulher e</p><p>também da família.</p><p>A gravidez é um evento singular e marcante na</p><p>vida da mulher, provocando alterações psicológicas,</p><p>hormonais e físicas que preparam o organismo</p><p>materno para gerar o novo ser. São modificações</p><p>complexas  e  individuais,  que  variam  entre  as</p><p>mulheres e podem propiciar medos, dúvidas,</p><p>Capítulo I</p><p>Página 6</p><p>Psicóloga Perinatal</p><p>angústias  ou  simplesmente  a  curiosidade  de</p><p>saber  o  que  está  acontecendo  com  seu  corpo</p><p>(PICCININI, GOMES, DE NARDI; LOPES, 2008).</p><p>A gestação é um período que envolve grandes</p><p>mudanças biopsicossociais, ou seja, há</p><p>transformações  não  só  no  organismo  da  mulher,</p><p>mas também no seu bem-estar,  o que  altera seu</p><p>psiquismo e o seu papel na família. Por ser um</p><p>período de grande ansiedade, a mulher está mais</p><p>vulnerável ao desenvolvimento de perturbações</p><p>emocionais, sendo essa fase considerada a de</p><p>maior incidência de transtornos psíquicos.</p><p>Normalmente,  nessas  fases, observa-se nas mães</p><p>uma vivência relativamente contínua de tristeza</p><p>ou de diminuição da capacidade de sentir prazer</p><p>(SANTOS, 2001), a qual poderá ser transitória ou irá</p><p>se tornar crônica caso não sejam assistidas</p><p>adequadamente.</p><p>O presente estudo tem como tema: A</p><p>importância do atendimento psicológico para as</p><p>gestantes na saúde pública. Trata-se de um</p><p>trabalho que busca compreender a importância</p><p>do psicólogo nesse contexto. O objetivo geral</p><p>desse artigo é fazer um estudo bibliográfico sobre</p><p>a importância do atendimento psicológico para</p><p>gestantes. E como objetivos específicos:</p><p>A)  Descrever  o  papel  da  família  no</p><p>período gestacional, B) descrever episódios</p><p>depressivos e ansiosos na gestação.</p><p>Página 7</p><p>O PAPEL DA FAMÍLIA NO PERÍODO</p><p>GESTACIONAL</p><p>A gravidez é uma transição que faz parte do</p><p>processo normal de desenvolvimento. Verifica-se a</p><p>mudança de identidade e uma nova dimensão de</p><p>papéis, a mulher passa a ser olhada de uma</p><p>maneira diferente. A grávida além de filha e</p><p>mulher passa a ser mãe. O nascimento de filhos é</p><p>uma das transições mais significativas no curso de</p><p>vida da família, e, apesar de a gravidez ser uma</p><p>situação natural na vida da mulher, os</p><p>sentimentos de ansiedade e as dúvidas quanto às</p><p>consequências físicas e emocionais da gestação</p><p>são comuns nessa etapa (MONTIGNY; LACHARITÈ;</p><p>AMYOT, 2006).</p><p>Considera-se que é nesta fase que o casal</p><p>repensa um retrospecto das suas vidas,</p><p>principalmente da infância. Sentindo-se mais</p><p>angustiados surgindo muitas dúvidas de como</p><p>irão educar o futuro filho. Neste período há muitas</p><p>expectativas sobre o bebê, no sentido de como</p><p>serão enquanto pais. Esse significado é próprio de</p><p>cada um, de acordo com a história de vida</p><p>individual, tanto do pai quanto da mãe</p><p>(MALDONADO, 1990).</p><p>As transformações físicas, emocionais e</p><p>sociais acarretadas pela gestação têm especial</p><p>impacto na vida da mulher, e a maneira como ela</p><p>Página 8</p><p>vivencia essa experiência é importante para a</p><p>própria percepção da gravidez e da maternidade</p><p>(PICCININI; GOMES; NARDI; LOPES, 2008).</p><p>A gravidez é uma fase em que além das</p><p>transformações físicas ocorrido no corpo da mulher,</p><p>na sua mente também ocorrem mudanças</p><p>significativas. Tornando-se muito importante que a</p><p>futura mãe tenha acompanhamento médico pré-</p><p>natal, e também orientações psicológicas e de</p><p>assistência, pois a decisão de ter um filho envolve</p><p>novas atitudes e responsabilidades (MALDONADO,</p><p>2002).</p><p>De acordo com Maldonado (2002) no período</p><p>gestacional é comum a gestante se sentir mais</p><p>ansiosa e ficar mais sensível, pois são mudanças</p><p>muito intensas que estão ocorrendo na sua vida</p><p>física, psíquica e social. Tornando-se um período</p><p>mais difícil quando a gravidez não foi desejada,</p><p>principalmente na ausência paterna.</p><p>Torna-se indispensável o apoio</p><p>familiar, por parte de todos. É</p><p>importante enfatizar que o</p><p>nascimento de um filho é uma</p><p>experiência familiar. Portanto, para</p><p>se atingir o objetivo de oferecer uma</p><p>assistência pré-natal e também no</p><p>período puerpério, é necessário</p><p>pensar não apenas em termos de</p><p>“mulher grávida”, mas sim de</p><p>“família grávida”. (MALDONADO,</p><p>2002 p. 50)</p><p>Página 9</p><p>A mulher nesse processo gravídico deve</p><p>ter o apoio especialmente do parceiro e também</p><p>de toda a família. A parentalidade é uma tarefa</p><p>que necessita preparação tanto da mãe como do</p><p>pai do bebê: o casal precisa se reorganizar para a</p><p>chegada da nova pessoa na família, pois cuidar e</p><p>criar uma criança exige muita responsabilidade.</p><p>O que antes era uma rotina tranquila, agora tem</p><p>diversas mudanças, mesmo que o casal já tenha</p><p>outros filhos (MALDONADO, 1985).</p><p>Quando a família descobre que estão</p><p>“grávidos” ocorrem diversos tipos de emoções</p><p>como: surpresa, alegria e, algumas vezes, medo.</p><p>Outros fatores como o planejamento pessoal e,</p><p>principalmente, o desejo da mulher em relação à</p><p>maternidade contribui para o predomínio da</p><p>vivência de sentimentos positivos, mas quando</p><p>ela não tem o apoio do companheiro ou da</p><p>família, misturam-se sentimentos de</p><p>insegurança e solidão (RAPOPORT; PICCININI,</p><p>2006).</p><p>Segundo Soifer (1992), muitas mulheres</p><p>possuem sentimentos de preocupação e medo</p><p>concernentes à aceitação da gravidez pelo</p><p>parceiro namorado/marido e à prestação de</p><p>apoio pela figura paterna, acreditam que não</p><p>irão ter esse suporte e apoio do parceiro. Elas</p><p>esperam</p><p>de luto.  Rev.</p><p>Bras. Geriatr. Gerontol.,  Rio de Janeiro,  v.14, n.3, p.</p><p>591-599,    2011.</p><p>CONCEIÇÃO, S. C. A Infertilidade no Feminino. IV</p><p>Congresso de Sociologia. Coimbra, 2000.</p><p>DEBRAY, R. Bebes/mães em revolta: tratamentos</p><p>psicanalíticos conjuntos dos desequilíbrios</p><p>psicossomáticos precoces. Porte Alegre: Arte</p><p>Medicas, 1998.</p><p>DIAS, M. e ANDRADE M. Uma escuta psicanalítica</p><p>em neonatologia. In Rosely Gazire Melgaço. A</p><p>ética na atenção com o bebê: Psicanalise, Saúde e</p><p>Educação ( p137-147) São Paulo. Casa do Psicólogo,</p><p>2006.</p><p>DOLTO, F. Destinos de Crianças: adoção, famílias</p><p>de acolhimento, trabalho social. São Paulo: Martins</p><p>Fontes, 1998.</p><p>FONSECA, A., CANAVARRO, M.C. Reações</p><p>parentais ao diagnóstico perinatal de anomalia</p><p>congénita do bebé. Implicações para a</p><p>intervenção dos profissionais de saúde. Psic.,</p><p>Saúde & Doenças, v.11, n.2, p.283-297, 2010.</p><p>Página 67</p><p>FRAIBERG, S., ADELSON, E., SHAPIRO, V. Ghosts</p><p>in the nursery: a psychoanalytic approach to the</p><p>problems of impaired infant-mother</p><p>relationships.  Journal of the American Academy</p><p>of Child Psychiatry, v.14,1975.</p><p>FREUD.S. Ansiedade, dor e luto: um estudo</p><p>autobiográfico, inibições, sintomas e ansiedade,</p><p>análise leiga e outros trabalho 1925. Rio de</p><p>Janeiro: Imago; 1925/2006. v. 20, 1925.</p><p>FREUD, S. Luto e melancolia. Edição Standard</p><p>Brasileira das Obras Psicológicas Completas de</p><p>Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. XIV,</p><p>p. 277-8,1915.</p><p>FREUD, S. A dissolução do complexo de Édipo.</p><p>Edição Standard Rio de Janeiro: Imago 1924/1990.</p><p>FREUD, S. Sobre o narcisismo: Uma introdução.</p><p>Rio de Janeiro: Imago, 1914.</p><p>GOLSE, B., BYDLOWSKI, M. Da transparência</p><p>psíquica à preocupação materna primária: uma via</p><p>de objetalização. In: Corrêa Filho, L., Corrêa Girade,</p><p>M. H. & França, P. (Orgs.).  Novos olhares sobre a</p><p>gestação e a criança até 3 anos: saúde perinatal,</p><p>educação e desenvolvimento do bebê. Brasília:</p><p>L.G.E. Editora, 2002.</p><p>Página 68</p><p>GOMES, A. G., PICCININI, C. A. Malformação no</p><p>bebê e maternidade: Aspectos teóricos e</p><p>clínicos. Psicologia Clínica, Rio de Janeiro v.22, n.1,</p><p>p.15-38, 2010.</p><p>HAMAD, N. A criança adotiva e suas famílias. Rio</p><p>de Janeiro: Cia de Freud, 2002.</p><p>IACONELLI, V. Luto insólito, desmentido e trauma:</p><p>clínica psicanalítica com mães de bebês.  Rev.</p><p>Latinoam. Psicopatol. Fundam.,  São Paulo ,  v.</p><p>10, n. 4, p. 614-623,  2007.</p><p>LACAN, J. Os complexos familiares na formação</p><p>do indivíduo: ensaio de análise de uma função em</p><p>psicologia. Rio de Janeiro: Ed Jorge Zahar,1997.</p><p>LEBOVICI, S.- Maternidade. Em F. Costa (org.).</p><p>Dinâmica das relações conjugais. Porto Alegre:</p><p>Artes Medicas, 1992.</p><p>LEBOVICI, S. O bebê, a mãe e o psicanalista. Porto</p><p>Alegre: Artes Médicas, 1987.</p><p>MALDONADO, M. T., NAHOUM J. C., DICKSTEIN J.</p><p>Nós estamos grávidos- 8° ed. Rio de Janeiro -</p><p>Editora Bloch, 2017.</p><p>Página 69</p><p>MEIRA, A.C. O impacto do nascimento de um</p><p>bebê mal-formado no narcisismo materno.</p><p>(Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica).</p><p>Faculdade de Psicologia, Pontifícia Universidade</p><p>Católica do Rio Grande do Sul. 1997</p><p>MOURA, M. Nascimento do concepto malformado:</p><p>aspectos psicológicos. Femina, n.14, v.7, p.606-612,</p><p>1986.</p><p>OLIVEIRA, D. C. de; ALVARENGA, K. de F.; YAMADA,</p><p>M. O Processo de luto de mães de crianças com</p><p>deficiência auditiva.  Anais..  Bauru: Faculdade de</p><p>Odontologia de Bauru, 2018.</p><p>OSSWALD, W.; RENAUD, M. (coord.) Novos</p><p>Desafios à Bioética. Porto: Porto Editora, p.61-68,</p><p>2001.</p><p>PICCININI, C.A;  GOMES, A. G.; MOREIRA, L. E.,</p><p>LOPES,R. S.  Expectativas e sentimentos da</p><p>gestante em relação ao seu bebê.  Psic.: Teor. e</p><p>Pesq., v.20, n.3, p.223-232, 2004.</p><p>PICCININI, C.A., TUDGE, J.R.H,LOPES.R. S., SPERB,</p><p>T. M.  Estudo longitudinal de Porto Alegre: Da</p><p>gestação à escola.  Projeto de Pesquisa,</p><p>Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto</p><p>Alegre,1998.</p><p>Página 70</p><p>QUAYLE, J. Psicologia em Reprodução Assistida:</p><p>experiências Brasileiras, casa do Psicólogo, São</p><p>Paulo, 2006.</p><p>SANTOS, M. El lado obscuro de la maternidade</p><p>cuando nace um ninõ com discapacidade. In: A.</p><p>Oiberman, (org). Nacer y despues. A portes a la</p><p>psicologia perinatal (p.193-201) Buenos Aires: JCE</p><p>Ediciones, 2005.</p><p>SCHORN, M. Discapacidad, uma mirada distinta,</p><p>uma escucha diferente. Buenos Aires: Lugar</p><p>Editorial, 2002.</p><p>SILVA, M. C. P da. Ser pai, ser mãe/parentalidade:</p><p>um desafio para o terceiro milênio- São Paulo:</p><p>Casa do Psicólogo, 2014</p><p>STERN, D. A constelação da maternidade: o</p><p>panorama da psicoterapia pais bebê; Porto Alegre:</p><p>Artes Médicas, 1997.</p><p>SZEJER, M e STEWART R. Nove meses na vida da</p><p>mulher: uma abordagem psicanalista de gravidez</p><p>e do nascimento. São Paulo: Casa do Psicólogo,</p><p>2002.</p><p>VIANA T.C. Afeto e dor: faces do luto na obra</p><p>freudiana. Rede dos estados gerais da Psicanálise.</p><p>2007.</p><p>Página 71</p><p>ZORNIG, S. M.A-J. Tornar-se pai, tornar-se mãe: o</p><p>processo de construção da parentalidade.  Tempo</p><p>psicanal.,  Rio de Janeiro ,  v. 42,  n. 2,  p. 453-470,</p><p>2010.</p><p>ZORNIG, S. A. J. Transferência na clínica com</p><p>crianças.  Jornal de Psicanálise, São Paulo, v.41,</p><p>n.74,  p. 123-151. SBPS- Sociedade Brasileira de</p><p>Psicanalise -SP, 2009.</p><p>Página 72</p><p>UMA</p><p>REFLEXÃO SOBRE A</p><p>PREVENÇÃO AO INFANTICÍDIO</p><p>Capítulo III</p><p>Leticya Matos Bazani Figueredo</p><p>O infanticídio é um fenômeno pouco</p><p>falado e muito importante pois influencia</p><p>diretamente não só a vida da mulher como de</p><p>toda família. Por conta de toda expectativa da</p><p>sociedade em cima da mulher como mãe, falar</p><p>sobre infanticídio é um Tabu, e isso precisa ser</p><p>mudado, a sociedade precisa estar alerta a esse</p><p>fenômeno e ter mais conhecimento sobre.</p><p>Este texto pretende promover uma</p><p>reflexão sobre a importância da prevenção ao</p><p>infanticídio, por meio da Atenção Psicológica</p><p>Perinatal.</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Psicologia Perinatal</p><p>Psicologia perinatal é uma área pouco</p><p>conhecida e relativamente nova, ela visa examinar</p><p>Página 73</p><p>Psicóloga Perinatal</p><p>Segundo Silva (2013), essa área</p><p>proporciona uma forma de conhecimento acerca</p><p>da gravidez, fazendo com que a mulher esteja</p><p>preparada para a gestação, parto e pós-parto,</p><p>desta forma, evitando estresses que pode</p><p>prejudicar o desenvolvimento do bebê (SCHIAVO,</p><p>2016).</p><p>A atenção psicológica à gestantes pode</p><p>ocorrer de diversas formas, entre elas a que mais</p><p>tem ganhado destaque é o pré-natal psicológico.</p><p>Essa é uma ferramenta criada para a prevenção de</p><p>transtornos que ocorrem no período gestacional e</p><p>no pós-parto (ALMEIDA; ARRAIS, 2016) sendo</p><p>eficaz para a prevenção da depressão pós-parto</p><p>(ARRAIS; ARAÚJO; SCHIAVO, 2019). A depressão</p><p>pós-parto é um dos transtornos que mais podem</p><p>ser relacionados ao infanticídio, quando a mulher</p><p>está em estado grave do transtorno com sintomas</p><p>psicóticos associados (ZIOMKOWSKI;</p><p>LEVANDOWSKI, 2017).</p><p>É uma forma da gestante e os familiares</p><p>se prepararem para as mudanças que a gravidez</p><p>gera, além de ser um ambiente que proporciona</p><p>acolhimento para que a gestante se sinta</p><p>confortável em compartilhar, seus medos, suas</p><p>ansiedades e seus pensamentos acerca do bebê</p><p>e do seu futuro (BORTOLETTI et al., 2007).</p><p>Página 74</p><p>Na fase do puerpério há uma necessidade</p><p>de reorganização e adaptação para a mulher,</p><p>mudanças hormonais, biológicas e psicológicas</p><p>fazem com que está mãe exerça um novo papel</p><p>dentro de seu meio social, a responsabilidade de</p><p>cuidar de alguém indefeso, a privação de</p><p>atividades antes exercidas, isolamento social, a</p><p>reconstrução de sua sexualidade e identidade</p><p>feminina, a mulher passa a viver um momento de</p><p>vulnerabilidade e nesta fase podem surgir os</p><p>transtornos psiquiátricos (CANTILINO et al., 2010).</p><p>Os autores completam dizendo que durante</p><p>o puerpério a mulher pode ser acometida da</p><p>psicose pós-parto, que é considerado um</p><p>transtorno grave. Os sintomas podem surgir</p><p>poucos dias após o parto ou semanas, os sinais</p><p>iniciais presentes neste transtorno são: Humor</p><p>irritável, euforia, agitação, alucinação, logorreia e</p><p>insônia, logo após surge a confusão mental,</p><p>perplexidade e desorganização. Este quadro</p><p>torna-se fator de risco para o infanticídio.</p><p>Gravidez/Puerpério</p><p>Infanticídio</p><p>Nos últimos anos a mídia brasileira têm</p><p>apresentado</p><p>vários casos sobre violência contra</p><p>crianças que terminam com suas mortes,</p><p>praticadas pelos pais ou cuidadores (NUNES, 2014).</p><p>Página 75</p><p>E apesar do infanticídio poder ser cometido</p><p>por qualquer um dos genitores da criança, em</p><p>qualquer fase de seu desenvolvimento, há um</p><p>momento específico em que se tal ato ocorrer a</p><p>mulher poderá receber punições mais brandas.</p><p>Esse momento é chamado de estado puerperal,</p><p>que é um momento em que a mulher passa por</p><p>muitas mudanças estressantes logo em seguida</p><p>ao nascimento do bebê e que tal estresse pode</p><p>levar a mulher ao adoecimento mental.</p><p>Telles, Soroka e Menezes (20188) afirmam</p><p>afirmam que é possível que mães que matam</p><p>seus próprios filhos estejam passando por estado</p><p>depressivo puerperal ou algum transtorno</p><p>psiquiátrico e havendo dúvidas sobre o estado</p><p>mental da mãe o juiz pode solicitar uma perícia</p><p>Para Nucci (2014, p. 589) o</p><p>infanticídio se caracteriza como</p><p>um homicídio privilegiado</p><p>cometido pela mãe contra seu</p><p>filho, nascente ou recém-</p><p>nascido, sob influência do</p><p>estado puerperal. Para o autor</p><p>trata-se de uma hipótese de</p><p>homicídio privilegiado devido à</p><p>autora do delito receber</p><p>tratamento mais brando, ou seja,</p><p>diminuindo a faixa de fixação da</p><p>pena, que é de dois a seis anos</p><p>de detenção.</p><p>Página 76</p><p>para verificar a presença de transtornos, e quando</p><p>são consideradas inimputáveis essas mães</p><p>recebem uma medida de segurança.</p><p>De acordo com Scherer e Scherer (2007)</p><p>não existem no Brasil, e nem na maioria dos</p><p>países, políticas públicas, prevenção ou estratégias</p><p>em relação a cuidados de saúde mental no</p><p>período perinatal.</p><p>Por conta das grandes mudanças geradas</p><p>pela gravidez e o risco do desenvolvimento de</p><p>transtornos do humor e psicoses é preciso</p><p>desenvolver programas onde haja prevenção e</p><p>intervenção de transtornos. O pré-natal</p><p>psicológico é um ótimo meio para que isso</p><p>aconteça.</p><p>É necessário que haja uma equipe</p><p>multiprofissional apta, que conheça as etapas da</p><p>gravidez e os possíveis transtornos que esta possa</p><p>acarretar, para que qualquer sintoma seja</p><p>identificado o mais cedo possível, assim, fazendo</p><p>com que o tratamento seja aplicado mais cedo e</p><p>não cause tantos danos a mãe, bebê e a relação</p><p>entre eles.</p><p>As consultas de pré-natal deveriam ser de</p><p>no mínimo uma vez ao mês, consultas individuais</p><p>para casos que precisam de mais atenção e</p><p>consultas em grupo. Além disso, é indispensável a</p><p>Conclusão</p><p>Página 77</p><p>participação, do pai da criança e da rede de apoio</p><p>da mãe.</p><p>É importante que haja uma psicoeducação</p><p>em relação aos possíveis transtornos gerados pela</p><p>gravidez, desta forma, tanto a mulher e o homem</p><p>quanto sua rede de apoio estarão atentos aos</p><p>sintomas.</p><p>Página 78</p><p>ALMEIDA, Natália Maria de Casto; ARRAIS,</p><p>Alessandra da Rocha. O pré-natal psicológico</p><p>como programa de prevenção á depressão pós-</p><p>parto. Psicologia Ciência Profissão: Brasília. v. 36,</p><p>n. 4, p. 847-863, 2016.</p><p>BORTOLETTI, Fátima Ferreira. et. al. Psicologia na</p><p>prática obstétrica: Abordagem interdisciplinar.</p><p>Barueri. Manole, 2007.</p><p>CANTILINO,Amaury. et. al. Revisão de Literatura:</p><p>Transtornos psiquiátricos no pós-parto. Revista</p><p>Psiquiatria Clínica: São Paulo. v.37, n.6, p. 288-294,</p><p>2010.</p><p>IACONELLI, Vera. Depressão pós-parto, psicose</p><p>pós-parto e tristeza materna. Revista Pediatria</p><p>Moderna: São Paulo. v. 41, n.4, 2005.</p><p>KAPLAN, Harold.; SADOCK, Benjamin. Compêndio</p><p>de psiquiatria. Editora Artes Médicas: Porto Alegre.</p><p>2ª E, p.52, 1990.</p><p>NUCCI, Guilherme. Código Penal Comentado.</p><p>Editora Forense: Rio de Janeiro. 14ª ed, p. 589-615,</p><p>2014.</p><p>Referências bibliográficas</p><p>Página 79</p><p>NUNES, Leticia Homicídio de Crianças e</p><p>Adolescentes Cometidos por Cuidadores.</p><p>Dissertação de mestrado: Universidade Tuiuti do</p><p>Paraná. 133f, 2014.</p><p>SCHERER, Edson; SCHERER, Zeyne. Reflexões</p><p>sobre a assistência de um caso de suspeita de</p><p>infanticídio. Revista Latino Americana de</p><p>Enfermagem: São Paulo. v.15, n. 4, 2007.</p><p>SCHIAVO, R. A. Desenvolvimento infantil:</p><p>Associação com estresse, ansiedade e depressão</p><p>materna, da gestação ao primeiro ano de vida.</p><p>Tese (doutorado), Universidade Estadual Paulista:</p><p>Botucatu, 2016.</p><p>SILVA, Eliana. Gestação e preparo para o parto:</p><p>programas de intervenção. O Mundo da Saúde:</p><p>São Paulo. v. 37, n. 2, p 208-2015, 2013.</p><p>TELLES, Lisieux; SOROKA, Paulo; MENEZES, Ruben.</p><p>Filicídio: de Medéia a Maria. Revista de Psiquiatria</p><p>do Rio Grande do Sul: Porto Alegre. v.30, n.1, p. 81-</p><p>84, 2008.</p><p>ZIONKOSKI, Patrícia; LEVANDOWSKI, Daniela.</p><p>Fatores de risco ao crime de infanticídio: Análise</p><p>de julgamentos do tribunal de justiça do estado</p><p>do Rio Grande do Sul. Pesqui. Prát. Psicossociais:</p><p>São João del-Rei. v.12, n. 2, p. 361-373, 2017.</p><p>Página 80</p><p>que o pai ofereça segurança à</p><p>companheira, sendo necessária à formação de</p><p>Página 10</p><p>um bom vínculo mãe-filho. Sendo assim, o apoio</p><p>conjugal se traduziria pelo carinho, encorajamento</p><p>e assistência recebidos do parceiro.</p><p>Conforme Soifer (1992), a questão financeira</p><p>também incita muitas preocupações e</p><p>sentimentos negativos de medo, insegurança e</p><p>dúvida em relação ao futuro. Algumas gestantes</p><p>sentem que, desde a gravidez, as despesas</p><p>aumentaram por conta das mudanças de seus</p><p>hábitos alimentares. Essas preocupações se</p><p>reforçam com a chegada do bebê e as despesas</p><p>tendem a aumentar consideravelmente.</p><p>Todos os eventos citados constituem-se</p><p>como potencialmente estressores, e devem ser</p><p>contornados para que o vínculo mãe-pai-bebê não</p><p>seja afetado negativamente. Deixando a gestante</p><p>ainda mais ansiosa no período gestacional.</p><p>(SOIFER, 1992).</p><p>No tocante à ambivalência dos sentimentos,</p><p>além da felicidade, o medo também é uma</p><p>sensação que assombra frequentemente as</p><p>grávidas em relação ao processo gestacional, ao</p><p>parto e ao recém-nascido: o medo do</p><p>desconhecido, do que está por vir, apresenta-se de</p><p>forma frequente. Em decorrência desta nova</p><p>situação (gravidez), permeada de sentimentos e</p><p>até sensações nunca antes experienciadas,</p><p>emerge a importância de se prestar à gestante</p><p>apoio informacional, físico e emocional, porquanto</p><p>Página 11</p><p>a maternidade se configura como um fenômeno</p><p>que exige maturidade, conscientização e</p><p>responsabilidade (SOIFER, 1992).</p><p>ASPECTOS</p><p>PSICOLÓGICOS DO PUERPÉRIO</p><p>O puerpério, assim como a gravidez, é um</p><p>período bastante vulnerável à ocorrência de crises,</p><p>ás profundas mudanças desencadeadas pelo</p><p>parto. (MALDONADO, 1985).</p><p>Muitas mulheres que vivenciam o pós-parto</p><p>se veem na situação de ter que deixar coisas</p><p>importantes para elas, para trás, ou se veem na</p><p>situação de ter que por um tempo não mais gozar</p><p>de alguns prazeres, e tal situação pode entristecer</p><p>a mulher, justamente porque nesse momento ela</p><p>faz o luto pela sua vida antiga, pelas coisas que</p><p>sentia prazer em fazer e que por um tempo, não</p><p>poderá mais realizar. (SCHIAVO, 2018a).</p><p>A vivência da maternidade influencia tanto</p><p>positivamente como negativamente nos</p><p>comportamentos, pensamentos e emoções da</p><p>mulher. Se tornar mãe, é experienciar</p><p>comportamentos, pensamentos e emoções</p><p>nunca sentidos antes, e que nem sempre são</p><p>positivos. Tornar-se mãe é também fazer o luto</p><p>por tudo aquilo que é necessário deixar para trás</p><p>mesmo que temporariamente. Muitas vezes essas</p><p>Página 12</p><p>mulheres precisam deixar de lado sua rotina, seus</p><p>afazeres, seu trabalho. Portanto, a maternidade</p><p>pode ser vista como um processo de luto</p><p>(SCHIAVO, 2018a).</p><p>Conforme Kitzinger (1977) o puerpério é</p><p>considerado como um quarto trimestre de</p><p>gravidez, considerando assim um período de</p><p>transição que dura aproximadamente três meses</p><p>após o parto. Nesse período a mulher torna-se</p><p>muito mais sensível, muitas vezes confusas e</p><p>até mesmo desesperadas.</p><p>Na gestação o filho muitas vezes é sentido</p><p>como parte do corpo da mãe e por essa razão o</p><p>nascimento pode ser vivido como uma</p><p>amputação. São comuns na gestação os sonhos</p><p>em que há perda de partes de si próprias, e após o</p><p>parto, a mulher se da conta de que o bebê é</p><p>outra pessoa: torna-se necessário elaborar a perda</p><p>do bebê da fantasia para entrar em contato com o</p><p>bebê real (KITZINGER, 1977).</p><p>A depressão pós-parto tende a ser mais</p><p>intensa quando há uma quebra muito grande da</p><p>expectativa em relação ao bebê, a si própria como</p><p>mãe e ao tipo de vida que se estabelece com a</p><p>presença do filho. Muitas vezes vem o</p><p>desapontamento, desânimo, e a sensação de que</p><p>não era isso que esperava, e a impressão de ser</p><p>incapaz de enfrenar essa nova situação</p><p>(MALDONADO, 1985).</p><p>Página 13</p><p>Ainda segundo Maldonado (1985), o surto</p><p>psicótico pode surgir logo após o parto ou meses</p><p>depois, sem que ninguém perceba alterações</p><p>significativas de conduta durante a gravidez e o</p><p>puerpério imediato. Isso tende a acontecer</p><p>especialmente nos primeiros meses de vida,</p><p>quando o bebê começa a diferenciar-se de modo</p><p>mais marcante e apresentar sinais mais evidentes</p><p>de autonomia, surgindo na mãe à dificuldade de</p><p>reconhecer o filho como diferenciado de si</p><p>mesma, como se fossem um só.</p><p>De acordo com Winnicott (2000 [1956]), a</p><p>preocupação materna primária possibilita que o</p><p>bebê caminhe em direção ao seu</p><p>desenvolvimento, destacando que o centro da</p><p>gravidade do ser não</p><p>se inicia com a criança e sim com a unidade mãe-</p><p>bebê e que este irá se constituir a partir de uma</p><p>sustentação e um manejo geral materno desde a</p><p>gestação. Portanto, no início, o ser se constitui na</p><p>relação com o outro. Com o suporte materno que</p><p>se encontra em preocupação materna primária, a</p><p>mãe se adapta às necessidades de seu filho e ao</p><p>ritmo próprio do bebê.</p><p>Os sintomas de depressão e apreensão</p><p>diante da nova responsabilidade de cuidar de um</p><p>bebê são muito comuns, mas em graus variados,</p><p>na maioria das puérperas, independente da</p><p>estrutura e dinâmica da personalidade.  A falta de</p><p>Página 14</p><p>estruturação do relacionamento também da</p><p>muitas oportunidades de fazer projeções de</p><p>expectativas, em relação ao bebê e a si própria</p><p>como mãe (MALDONADO, 1985).</p><p>Para Maldonado (1985) muitas mulheres</p><p>possuem sentimentos que estimulam a vontade</p><p>de cuidar, nutrir e proteger, identificando-se com</p><p>o bebê, já outras mulheres, assusta-se diante do</p><p>recém-nascido que simboliza uma instintividade</p><p>primitiva e sem controle.</p><p>Assim como a gravidez, o período do</p><p>puerpério exerce um grande impacto no</p><p>parceiro(a), que pode assumir fundamentalmente</p><p>duas posições. Participar ativamente dividindo</p><p>com a mulher e a responsabilidade de cuidar do</p><p>bebê e dando-lhe apoio e encorajamento, ou</p><p>sentir-se marginalizado, na relação mãe/filho e</p><p>sentindo-se rejeitado. Em muitos casos, recorre ao</p><p>mecanismo de fuga, mergulhando no trabalho ou</p><p>em relações extraconjugais (MALDONADO, 1985).</p><p>Os problemas de saúde mental que se</p><p>manifestam no pós-parto, portanto, podem ter</p><p>iniciado já na gestação, entretanto, como vivemos</p><p>em uma cultura onde se propaga a ideia de que a</p><p>gestante está feliz a avaliação da saúde mental da</p><p>gravida é negligenciada. Ao realizar uma avaliação</p><p>do estado emocional da gestante é possível</p><p>identificar o quanto antes se a mulher está</p><p>apresentando alguma alteração emocional e</p><p>Página 15</p><p>realizar uma intervenção, assim evitando que tal,</p><p>assim evitando que tal alteração emocional se</p><p>agrave no pós-parto (SCHIAVO, 2018b).</p><p>ANSIEDADE</p><p>E DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO</p><p>O parto é um período desencadeador de inúmeras</p><p>mudanças intra e interpessoais, e, após o</p><p>nascimento do bebê, essas mudanças aceleram-se</p><p>tanto na família, como na mulher (SOIFER,</p><p>2002).</p><p>Dentre os transtornos depressivos que</p><p>acometem mulheres, está à depressão pós-parto.</p><p>A Depressão pós-parto (DPP), não se difere da</p><p>sintomatologia dos episódios de alterações de</p><p>humor que ocorrem fora do período gestacional</p><p>(CRUZ et al., 2005). A DPP é um dos distúrbios de</p><p>humor que podem acometer as mulheres após o</p><p>parto, o mais leve deles é o Baby blues conhecido</p><p>também como tristeza pós-parto ou melancolia</p><p>da maternidade (CANTILINO; ZAMBALDI; SOUGEY;</p><p>RENNO, 2010).</p><p>Segundo Kaplan e Sadock (1990), o baby</p><p>blues pode ser caracterizado pela alteração de</p><p>humor que acomete cerca de 80% das puérperas</p><p>entre o terceiro e o quinto dia após o parto, e que</p><p>geralmente some com os passar dos dias. Essas</p><p>alterações de humor consistem em sentimentos</p><p>Página 16</p><p>de tristeza, choro, angústia e irritabilidade, e</p><p>ocorre devido às mudanças hormonais, ao</p><p>estresse durante o parto, e ao aumento da</p><p>responsabilidade e expectativas frente à</p><p>maternidade.</p><p>Contudo outras podem apresentar</p><p>transtornos mais graves que podem causar</p><p>incapacidade para o autocuidado e para o cuidado</p><p>dos filhos, como, por exemplo, a Psicose pós-parto,</p><p>sendo considerada a mais grave, e que acomete</p><p>0,1% das mulheres que acabaram de dar à luz, seus</p><p>sintomas aparecem também nos</p><p>primeiros dias</p><p>ou até duas semanas após o nascimento do bebê</p><p>(CANTILINO et al., 2010).</p><p>Ainda segundo esses autores, os primeiros</p><p>sintomas são euforia, irritabilidade e perda do</p><p>sono, para logo em seguida surgirem sintomas</p><p>mais graves como delírios, alucinações, confusão</p><p>mental e surtos psicóticos, sendo a psicose pós-</p><p>parto a grande causa do infanticídio.</p><p>Já a depressão pós-parto refere-se ao</p><p>conjunto de sintomas, geralmente iniciados entre</p><p>a quarta e oitava semana após o parto, alguns</p><p>sintomas são descritos pelo autor como</p><p>irritabilidade, choro, sentimento de desamparo e</p><p>desesperança, falta de energia e motivação,</p><p>desinteresse sexual, transtornos alimentares e do</p><p>sono, incapacidade de lidar com novas situações e</p><p>Página 17</p><p>queixas psicossomáticas (KLAUS; KENNEL; KLAUS,</p><p>2000).</p><p>É essencial, conforme Falcone, Mäder,</p><p>Nascimento, Santos, e Nóbrega (2005) que o</p><p>atendimento as gestantes por parte dos</p><p>profissionais de saúde seja humanizado,</p><p>propiciando a família um cuidado que valorize os</p><p>aspectos inconscientes da maternagem, como as</p><p>emoções e experiências do período. Isso pode</p><p>proporcionar desde a detecção da DPP, como a</p><p>prevenção desta. Nesse sentido, Tostes (2012)</p><p>sugere o Pré-Natal Psicológico (PNP),</p><p>diferentemente dos cursos de gestantes e</p><p>raramente encontrado em serviços de obstetrícia.</p><p>Trata-se de uma modalidade de atendimento</p><p>perinatal, voltada para maior humanização do</p><p>processo gestacional do parto e da construção</p><p>da parentalidade.</p><p>Os transtornos de ansiedade estão entre os</p><p>transtornos psiquiátricos mais frequentes na</p><p>população e os sintomas ansiosos estão entre os</p><p>mais comuns, podendo ser encontrados em</p><p>qualquer pessoa em determinados períodos de</p><p>sua vida. Entretanto, esse tipo de ansiedade pode</p><p>ser patológico quando é desproporcional à</p><p>situação que a desencadeia, ou então quando não</p><p>existe um motivo específico para o seu</p><p>aparecimento, ou pode ser uma resposta</p><p>inadequada à determinada ameaça, em virtude de</p><p>Página 18</p><p>sua intensidade ou duração.</p><p>É de suma importância a identificação</p><p>precisa do episódio de DPP, a qual deve ser</p><p>tratada em uma abordagem multidisciplinar, com</p><p>tratamentos específicos, uma vez que essa</p><p>patologia pode ser muito prejudicial, tanto física</p><p>quanto psiquicamente. Pois, "é necessário que</p><p>esta experiência vivida subjetivamente pela</p><p>mulher, possa ser detectada para ajudá-la no</p><p>processo de reconstrução" (SCHMIDT et al., 2005).</p><p>MATERNIDADE</p><p>E PROCESSO DE LUTO</p><p>Segundo Tortini (2007, p. 297) “A morte de</p><p>um filho antes ou depois do nascimento rompe</p><p>com a ordem natural da vida, assim como</p><p>interrompe os sonhos, as esperanças, as</p><p>expectativas e as esperas existenciais que</p><p>normalmente são depositados na criança que está</p><p>por vir, tornando assim um momento muito</p><p>doloroso para a mãe e também para a família”.</p><p>O processo de luto parental é parte</p><p>integrante do processo de luto familiar, afetando</p><p>todos os outros subsistemas e sendo afetados por</p><p>eles (CASELATTO, 2002 apud SILVA, 2009).</p><p>Na perspectiva parental, não existe uma</p><p>idade menos traumática para a morte de um filho,</p><p>e existem alguns tipos de sentimentos como</p><p>Página 19</p><p>frustração, decepção, revolta, tristeza, culpa e</p><p>choro são comuns aos pais e familiares (SANTOS;</p><p>ROSENBURG; BURALLI, 2004).</p><p>Segundo Iaconelli (2007) o luto de um bebê</p><p>recém-nascido carrega em si um aspecto de</p><p>inerente incomunicabilidade e atrai olhares de</p><p>incompreensão. A morte do filho inverte as</p><p>expectativas das perdas pressupostas na vida -</p><p>morte dos pais, dos mais velhos, deixando os pais</p><p>sem referências temporais. Não há como inscrever</p><p>essa perda no psiquismo, pois ela é</p><p>sistematicamente desautorizada pelo outro. Não</p><p>há como compartilhar desse luto no senso comum</p><p>da modernidade, ficando os pais duplamente</p><p>desamparados: pelo bebê e pelos adultos.</p><p>A morte de uma criança produz uma</p><p>dor intolerável, porque significa a</p><p>frustração de todos os desejos,</p><p>devaneios e fantasias, mas,</p><p>principalmente, a impossibilidade de</p><p>aplicar sua capacidade de ser mãe.</p><p>Segundo a autora, “é uma profunda</p><p>ferida narcísica, de difícil e lenta</p><p>recuperação” (SOIFER, 1992 p. 88).</p><p>Diante de toda repercussão que o luto perinatal</p><p>pode acarretar para os pais, familiares e até</p><p>mesmo a equipe de saúde, é fundamental a</p><p>presença da psicologia. Muitas vezes a equipe de</p><p>saúde evidencia seu despreparo para lidar com a</p><p>Página 20</p><p>dor e a angústia do outro, principalmente pelos</p><p>próprios conflitos que possui na relação com a</p><p>morte (BARTILOTTI, 2007). O psicólogo é o</p><p>profissional que tem preparação para viabilizar a</p><p>expressão do luto.</p><p>ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO NA</p><p>GRAVIDEZ</p><p>O acompanhamento psicológico durante a</p><p>gravidez pode desempenhar um papel</p><p>importante para o bem-estar psicológico da</p><p>grávida, do pai e do casal parental. A gravidez é</p><p>um período em que não só o corpo da mulher</p><p>sofre muitas transformações, mas suas emoções</p><p>também. Estas transformações irão afetar, além</p><p>da vida da própria mulher, também a de</p><p>todas as pessoas envolvidas nesta nova fase, seja</p><p>de seu companheiro, de familiares ou de outros</p><p>filhos já existentes.</p><p>Por isso, além do acompanhamento médico</p><p>pré-natal, estritamente necessário, o</p><p>acompanhamento psicológico é muito</p><p>importante para manter o equilíbrio entre a</p><p>saúde física e emocional, não somente da mãe,</p><p>mas também de toda a família. Conforme</p><p>Campos (1995), o psicólogo não só deve</p><p>diagnosticar e classificar, como tem que</p><p>entender e compreender o que está envolvido na</p><p>Página 21</p><p>queixa e no sintoma, isto é, o que não está</p><p>manifesto.</p><p>A gravidez e o parto são considerados</p><p>eventos fisiológicos na vida das mulheres. No</p><p>entanto podem levar a alterações físicas e</p><p>emocionais, requerendo cuidados por parte da</p><p>família e dos profissionais de saúde que prestam</p><p>assistência pré-natal, justificando a atenção para</p><p>além de um útero grávido (DUARTE; ANDRADE,</p><p>2006).</p><p>Segundo Maldonado (1997) apud Falcone et al.</p><p>(2005) o período gravídico-puerperal é a fase de</p><p>maior incidência de transtornos psíquicos na</p><p>mulher, necessitando de atenção especial para</p><p>manter ou recuperar o bem-estar, e prevenir</p><p>dificuldades futuras para o filho. A intensidade das</p><p>alterações psicológicas dependerá de fatores</p><p>familiares, conjugais, sociais, culturais e da</p><p>personalidade da gestante. A gestante precisa</p><p>estar preparada e consciente das mudanças que</p><p>ocorrerão no seu corpo durante a gravidez para</p><p>viver essa fase com bastante tranquilidade.</p><p>A gestação e o parto são acontecimentos</p><p>que marcam a vida da mulher, podendo ser</p><p>positivos ou negativos, dependendo, entre outros</p><p>fatores, das orientações e dos cuidados recebidos</p><p>nesse período. A mulher preparada durante o pré-</p><p>natal, por meio de informações e orientações</p><p>pertinentes à gestação, parto e puerpério,</p><p>Página 22</p><p>enfrentará estes períodos com maior segurança,</p><p>harmonia e prazer, pois a falta de informação</p><p>pode gerar preocupações desnecessárias e</p><p>expectativas frustradas (FRANCISQUINI et</p><p>al., 2010).</p><p>A gestação gera nos pais sentimentos</p><p>ambivalentes, ao mesmo tempo que sentem-se</p><p>férteis, sentem-se angustiados pelas alterações na</p><p>suas vidas, já que é uma nova fase na vida de</p><p>ambos. A importância do profissional de saúde é</p><p>fazer com que os pais percebam que essa</p><p>ambivalência é natural, fazendo com que a</p><p>angústia e a ansiedade não aumentem (EIZIRIK,</p><p>2001).</p><p>Conforme Campos (1995) tanto o paciente</p><p>quanto sua família necessita ser preparados para a</p><p>internação hospitalar, pois se precisa um tempo</p><p>para a elaboração do processo esclarecendo ao</p><p>paciente e sua família sobre os aspectos da</p><p>hospitalização, a rotina do hospital, o tempo de</p><p>internação, etc.</p><p>Segundo Maldonado (2002) é a partir de</p><p>como o profissional enxerga o cliente, que vai</p><p>estruturar o relacionamento tanto do paciente</p><p>com o psicólogo e do psicólogo com o paciente,</p><p>de dois modos: o modo assimétrico, que é onde o</p><p>profissional se vê superior ao cliente que é</p><p>indefeso, fraco e submisso, ou o modo simétrico,</p><p>onde coloca o profissional e o</p><p>cliente numa</p><p>Página 23</p><p>posição de igualdade, respeito e confiança, essa</p><p>relação simétrica possibilita um desenvolvimento</p><p>emocional para ambos. No atendimento</p><p>psicológico, a função do psicólogo é estar</p><p>presente, e se fazer presente facilitando assim o</p><p>processo do renascimento do cliente</p><p>(MALDONADO, 2002).</p><p>A gestação é um momento permeado por</p><p>significados diversos e distintos segundo as</p><p>singularidades da gestante e de sua família.</p><p>Independentemente das circunstâncias pessoais,</p><p>familiares e sociais que envolvem a mulher</p><p>grávida, esta necessita compartilhar sua história e</p><p>suas percepções e deseja ser acolhida de forma</p><p>integral pelas instituições e profissionais que lhe</p><p>prestam assistência. Com este cuidado, ela passa a</p><p>se sentir fortalecida e consegue construir um</p><p>corpo de conhecimentos relativos à sua condição,</p><p>o que contribui para uma vivência mais plena e</p><p>saudável da gestação, do parto e da maternidade</p><p>(HOGA; REBERTE, 2007).</p><p>Página 24</p><p>O papel do psicólogo na</p><p>maternidade é propiciar um espaço</p><p>de escuta para que a família possa</p><p>nomear e atribuir significados</p><p>àquela situação. A importância</p><p>deste lugar de escuta deve</p><p>ultrapassar as fronteiras do</p><p>contexto hospitalar, os serviços</p><p>psicológicos e sociais devem</p><p>facilitar o caminho para que as</p><p>mulheres possam pedir ajuda para</p><p>lidar com os fragmentos</p><p>(IACONELLI, 2012 p.65).</p><p>Salienta-se que o acompanhamento da</p><p>gestação em um serviço de saúde, por meio das</p><p>consultas de pré-natal é essencial para garantir</p><p>uma gestação saudável e um parto seguro. A</p><p>assistência realizada pelo psicólogo no hospital ou</p><p>no serviço de saúde pública objetiva o alívio</p><p>emocional do paciente e de sua família, onde a</p><p>ajuda implica a mobilização de forças, em que a</p><p>angústia e ansiedade estão presentes (CAMPOS,</p><p>1995).</p><p>Com vista a prestar uma melhor assistência</p><p>à saúde da gestante, o Ministério da Saúde do</p><p>Brasil elaborou, em 1984, o Programa de</p><p>Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), o</p><p>qual incluía ações educativas, preventivas, de</p><p>diagnóstico, tratamento e recuperação,</p><p>englobando a assistência à mulher em clínica</p><p>ginecológica, no pré-natal, parto e puerpério, no</p><p>Página 25</p><p>climatério, em planejamento familiar, doenças</p><p>sexualmente transmissíveis, câncer de colo de</p><p>útero e de mama, além de outras necessidades</p><p>identificadas com suporte no perfil populacional</p><p>das mulheres.</p><p>PSICOLOGIA PERINATAL</p><p>A Psicologia perinatal é uma área da</p><p>psicologia especializada no atendimento</p><p>psicológico da mulher ou do casal tanto na fase</p><p>que antecede a gravidez, assim como no parto e</p><p>no pós-parto (SCHIAVO, 2019).</p><p>A Psicologia Perinatal, proporciona aos pais</p><p>um espaço/momento de reflexão, onde podem</p><p>compreender melhor as diversas mudanças que</p><p>ocorrem em cada fase da gestação, expor suas</p><p>expectativas fantasias, medos e angustias nesse</p><p>momento e em relação ao bebê.</p><p>A psicologia perinatal oferece</p><p>acompanhamento psicológico em gestações de</p><p>risco, casos de infertilidade e tratamentos de</p><p>fertilização, depressão na gestação, baby blues e</p><p>depressão pós-parto. Também auxilia na</p><p>elaboração de eventuais perdas perinatais. Essa</p><p>área de atuação ainda é muito recente e ainda</p><p>existem poucos psicólogos perinatais em nosso</p><p>país. Precisamos que esses psicólogos estejam</p><p>presentes nas unidades de saúde, hospitais,</p><p>maternidades e consultórios particulares, a fim de</p><p>Página 26</p><p>poder ajudar ainda mais essas gestantes que</p><p>estão passando por momentos difíceis durante a</p><p>gestação e pós-parto (JULIANELLI, 2018).</p><p>A psicologia perinatal é uma forma de</p><p>preservar a saúde mental da mãe, assegurando</p><p>seu bem-estar, apoiando-a nesta etapa e</p><p>melhorando sua qualidade de vida. Além disso,</p><p>essa especialidade trabalha a autoestima com o</p><p>objetivo de abordar as dificuldades a partir de</p><p>outra perspectiva.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>A gestação é uma fase importante na vida</p><p>de qualquer mulher e corresponde ao período que</p><p>antecede ao parto. A gravidez é um período que</p><p>envolve grandes mudanças biopsicossociais, ou</p><p>seja, há transformações não só no organismo da</p><p>mulher, mas também no seu bem-estar, o que</p><p>altera seu psiquismo e o seu papel na família. Por</p><p>ser um período de grande ansiedade, a mulher</p><p>está mais vulnerável ao desenvolvimento de</p><p>perturbações emocionais, sendo essa fase</p><p>considerada a de maior incidência de transtornos</p><p>psíquicos. Busca-se então a importância de ter um</p><p>acompanhamento psicológico de qualidade para</p><p>as gestantes na saúde pública, a fim de poderem</p><p>falar sobre o que estão sentindo, sobre seus</p><p>medos, ansiedades e angústias.</p><p>Página 27</p><p>Esse trabalho foi muito importante, pois</p><p>pude observar e estudar mais sobre a psicologia</p><p>perinatal. Percebe-se como é importante dar a</p><p>essas mamães um apoio emocional. Foi um</p><p>trabalho enriquecedor para minha formação</p><p>profissional, é uma área de atuação fantástica e</p><p>muito gratificante.</p><p>Página 28</p><p>BAPTISTA, M. N., Baptista, A. S. D. E, & Oliveira, M.</p><p>G. (2004). Depressão e gênero: Por que as</p><p>mulheres se deprimem mais que os homens?</p><p>Temas Psicologia, 7 (2),143-15. Disponível em:</p><p>http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?</p><p>script=sci_arttext&pid=S1413-</p><p>389X1999000200005&lng=pt&nrm=iso</p><p>BARTILOTTI, M. R. M. B. (2002). Obstetrícia e</p><p>ginecologia: urgências psicológicas. In V. A.</p><p>Angerami-Camon (Org.)Urgências psicológicas no</p><p>hospital. São Paulo: Pioneira Thomson Learning.</p><p>Disponível em:<</p><p>http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?</p><p>script=sci_arttext&pid=S151636872013000300003</p><p>CAMPOS, T. C. P. (1995). Psicologia hospitalar:</p><p>a atuação do psicólogo em hospitais. São Paulo:</p><p>EPU.</p><p>CANTILINO, A., ZAMBALDI, C. F., SOUGEY, E. B., &</p><p>RENNO Jr., J. (2010). Transtornos psiquiátricos no</p><p>pós-parto. Revista de Psiquiatria Clínica, 37(6),</p><p>288-294 Disponível</p><p>em:http://www.scielo.br/scielo.php?</p><p>script=sci_arttext&pid=S0101-</p><p>60832010000600006&lng=en&nrm=iso.</p><p>ISSN 0101-6083</p><p>Referências bibliográficas</p><p>Página 29</p><p>DUARTE, Sebastião J. H. & ANDRADE, Sônia M. O.</p><p>de. (2006). Assistência pré-natal no Programa</p><p>Saúde da Família. Esc. Anna Nery [online], 10(1),</p><p>121-125. Disponível em: <</p><p>http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-</p><p>81452006000100016&script=sci_abstract&tlng=pt></p><p>EIZIRIK, C. L. (Org.). (2001). O ciclo da vida humana:</p><p>uma perspectiva psicodinâmica. Porto Alegre:</p><p>Artmed Editora.</p><p>FALCONE, Vanda. M., MADER, C. V. N.,</p><p>NASCIMENTO, C. F. L., SANTOS, J. M. M., &</p><p>NÓBREGA, F. J. (2005). Atuação multiprofissional e</p><p>a saúde mental de gestantes. Revista de Saúde</p><p>Pública, 39(4), 612-618. Disponível em:</p><p>http://www.scielo.br/scielo.php?</p><p>script=sci_arttext&pid=S0034-89102005000400015</p><p>FALCONE, Vanda M. et al. (2005) Atuação</p><p>multiprofissional e a saúde mental de gestantes.</p><p>Rev. Saúde Pública [online], 39(4), 612-618.</p><p>Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?</p><p>script=sci_arttext&pid=S0034-89102005000400015</p><p>FRANCISQUINI, Andréa R. et al. (2010). Orientações</p><p>recebidas durante a gestação, parto e pós-parto</p><p>por um grupo de puérperas. Revista Ciência</p><p>Cuidado e Saúde, Out/Dez 2010; 9(4): 743-751.</p><p>Página 30</p><p>FILHADO. Ana Virginia de Melo; LEITE. Mirlane</p><p>Gondim; Melo. Laura Pinto de; RODRIGUES. Dafne</p><p>Paiva & SOUSA. Albertina Antonielly Sydney de.</p><p>Sentimentos advindos da maternidade: revelações</p><p>de um grupo de gestantes. Psicologia em estudo.</p><p>vol 14. n1 p. 115-124, jan./mar. 2014. Disponível em:</p><p><http://www.scielo.br/pdf/pe/v19n1/12.pdf></p><p>HOGA, Luiza A. K. & REBERTE, Luciana M. (2007).</p><p>Pesquisa ação como estratégia para desenvolver</p><p>grupo de gestantes: a percepção dos</p><p>participantes. Rev. esc. enfer. USP [online], 41(4),</p><p>559-566. Disponível em:</p><p>http://dx.doi.org/10.1590/S0080-</p><p>62342007000400004</p><p>IACONELLI, V. (2012). O que é psicologia perinatal:</p><p>definição de um campo de estudo e atuação, Área</p><p>de Estudos do Instituto Brasileiro de Psicologia</p><p>Perinatal, disponível em:</p><p><http://www.institutogerar.com.br/></p><p>JULIANELLI, Cristiana. (2018). O que é Psicologia</p><p>Perinatal. Disponível em: <</p><p>https://cristianajulianelli.com.br/psicologia-</p><p>perinatal/></p><p>KAPLAN, H. I., & SADOCK, B. J. (1990). Compêndio</p><p>de Psiquiatria (2a ed.).</p><p>Porto Alegre: Artes Médicas.</p><p>Página 31</p><p>KLAUS, M. H., KENELL, J. H., & KLAUS, P. (2000).</p><p>Vínculo: Construindo as bases para um apego</p><p>seguro e para a independência. Porto Alegre:</p><p>Artmed.</p><p>KROBL, Adriane Diehl, GODOY, Josehen de; LEITE,</p><p>Keila Pamela & MORI, Samantha, Gotardo.</p><p>Depressão na gestação e no pós-parto e a</p><p>responsividade materna nesse contexto.</p><p>Disponível em:</p><p><http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?</p><p>script=sci_arttext&pid=S2177-093X2017000300001></p><p>Rev. Psicol. Saúde vol.9 nº.3 Campo Grande dez.</p><p>2017.</p><p>MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à</p><p>Saúde. Departamento de Atenção Básica. (2012).</p><p>Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília:</p><p>Ministério da Saúde.</p><p>MALDONADO, Maria. Tereza. (2002). Psicologia da</p><p>gravidez: parto e puerpério. 16. ed. São Paulo:</p><p>Saraiva.</p><p>MONTIGNY, F., LACHARITE, C., & AMYOT, E. (2006).</p><p>The transition to fatherhood: the role of formal</p><p>and informal support structures during the post-</p><p>partum. Texto & Contexto de Enfermagem, 15 (4),</p><p>601-609.</p><p>Página 32</p><p>PICCININI, C. A., GOMES, A. G., NARDI, T. D., &</p><p>LOPES, R. S. (2008). Gestação e a constituição da</p><p>maternidade. Psicologia em Estudo. Vol.13 n.1,</p><p>pp.63-72. Disponível em:</p><p>http://www.scielo.br/scielo.php?</p><p>script=sci_abstract&pid=S141373722008000100008</p><p>&lng=en&nrm=iso&tlng=</p><p>SANTOS, A. L. D., Rosenburg, C. P., & Buralli, K. O.</p><p>(2004). Histórias de perdas fetais contadas por</p><p>mulheres: estudo de análise qualitativa. Revista de</p><p>Saúde</p><p>Pública, 38(2), 269-276. Disponível em:</p><p>http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?</p><p>script=sci_arttext&pid=S151636872013000300003</p><p>SOIFER, Raquel. (1992). Psicologia da gravidez,</p><p>parto e puerpério. Trad. por Ilka Valle de Carvalho.</p><p>Porto Alegre, Artes Médicas.</p><p>SCHIAVO, Rafaela de Almeida. (2018a). Tristeza</p><p>pós-parto não é a mesma coisa que depressão</p><p>pós-parto. Disponível em:</p><p>http://www.psicursos.com.br/tristeza-pos-parto-</p><p>nao-e-mesma-coisa-que-depressao-pos-parto/</p><p>SCHIAVO, Rafaela de Almeida. (2018). Presença de</p><p>Sintomas de Ansiedade e Depressão na Gestação.</p><p>Disponível em:</p><p><https://www.sbponline.org.br/2019/05/a-</p><p>expansao-da-psicologia-perinatal-no-brasil Página 33</p><p>SCHMIDT, E. B., PICCOLOTO, N. M., & MÜLLER, M.</p><p>C. (2005). Depressão pós-parto: Fatores de risco e</p><p>repercussões no desenvolvimento infantil. Psico-</p><p>USF, v. 10, n. 1, p. 61-68, jan./jun. 2005. Disponível</p><p>em: < www.scielo.br/pdf/pusf/v10n1/v10n1a08.pdf></p><p>SILVA, D. R. (2009). E a vida continua... o processo</p><p>de luto dos pais após suicídio de um filho.</p><p>Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade</p><p>Católica de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.</p><p>Disponível em:</p><p>http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?</p><p>script=sci_arttext&pid=S151636872013000300003</p><p>TOSTES, N. A. 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Rio</p><p>de Janeiro: Imago.</p><p>Página 35</p><p>Capítulo II</p><p>O LUTO DO BEBÊ IDEAL</p><p>Adriane Carqueijo dos Santos</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Este trabalho trata da conclusão do curso de</p><p>formação em Psicologia Perinatal e da</p><p>Parentalidade, construindo uma reflexão teórica</p><p>bibliográfica dentro da psicanálise, tendo como</p><p>objetivo compreender aspectos que perpassam o</p><p>processo de luto do filho ideal, sendo necessário</p><p>primeiramente compreender a diferenciação do</p><p>filho real para o filho ideal. Levando-se em</p><p>consideração que todos os casais passam pelo</p><p>processo do luto do filho ideal, respeitando a</p><p>singularidade de cada caso.</p><p>A parentalidade por si só desperta interesse</p><p>pela sua complexidade, mas também uma</p><p>inquietação devido às demandas que nos</p><p>deparamos no consultório ou no ambiente</p><p>hospitalar e, dessa demanda, surge a necessidade</p><p>desse trabalho, tendo como objetivo</p><p>compreender, analisar e explicar a complexidade</p><p>de tal processo. Sabemos que a queixa e a</p><p>necessidade de passar pelo luto do filho ideal não</p><p>chega sempre de forma direta, por vezes os pais</p><p>Página 36</p><p>Psicóloga Perinatal</p><p>sequer compreendem que a angústia se dá devido</p><p>a tal processo.</p><p>O trabalho se inicia com a compreensão da</p><p>análise do desejo de ter um filho, pois ao nos</p><p>deparar com tais questões no ambiente perinatal</p><p>psicológico, temos que compreender o que</p><p>motiva esse casal, o desejo de ter um filho,</p><p>atentar-se a todas as nuances, principalmente as</p><p>que não são ditas de forma consciente (SZERJER;</p><p>STEWART, 1997).</p><p>O desejo de ter um filho é um acontecimento</p><p>que, segundo a psicanálise, nos acompanha desde</p><p>muito cedo, acompanhando a constituição do</p><p>psiquismo. Em Totem e Tabu (Freud, 1913), tem-se</p><p>que a constituição do psiquismo se dá a partir do</p><p>desejo dos pais e das primeiras experiências</p><p>sociais, é desse desejo que iremos trabalhar,</p><p>entender que a partir desse desejo se origina o</p><p>filho ideal, que os pais em algum momento terão</p><p>que elaborar a perca, para entrada do filho real.</p><p>Lacan (1995) afirma que a constituição do</p><p>sujeito se estrutura pelos desejos materno e</p><p>paterno, pela posição da criança frente ao desejo,</p><p>ou seja, ocorre por meio dos complexos</p><p>organizadores do psiquismo.</p><p>O momento de transição para a</p><p>parentalidade é de extrema importância para o</p><p>indivíduo, é um momento que gera muitas</p><p>mudanças, físicas, fisiológicas e emocionais.</p><p>Página 37</p><p>No imaginário do casal, são projetados sonhos e</p><p>idealizações a respeito do filho que, por vezes, já se</p><p>tinha imaginado características e aspectos, antes</p><p>mesmo de se ter um casal ou de se tornar</p><p>concreta a gestação. Por meio, dessas</p><p>expectativas se cria um espaço para aceitar esse</p><p>novo membro familiar, criando o lugar desse filho</p><p>ideal.</p><p>A parentalidade pode ser, assim, vista como a</p><p>possibilidade de aceitação e adaptação deste filho</p><p>ideal. Nos pais, será aberto um lugar em</p><p>seu imaginário para chegada desse filho. Existe</p><p>uma distância entre o filho idealizado e o filho real</p><p>e, por isso, faz-se necessário o processo de luto</p><p>desse filho ideal. Porém, pode acontecer algumas</p><p>interferências negativas nesse processo, onde esse</p><p>terceiro pode ter dificuldade para ser incorporado</p><p>ao núcleo familiar.</p><p>A partir dessas proposições, o presente estudo</p><p>teve como objetivo geral de descrever sobre o luto</p><p>do filho idealizado a partir da perspectiva da</p><p>psicanálise.</p><p>É importante a compreensão desse tipo de</p><p>luto, tendo como objetivo um olhar clínico, com</p><p>maior compreensão e com embasamento dentro</p><p>da literatura para ter um atendimento de</p><p>qualidade com uma escuta eficaz para</p><p>se compreender para além do que é dito pelos</p><p>pais e haver eficácia no atendimento.</p><p>Página 38</p><p>Em suma, este trabalho é de grande</p><p>importância social e acadêmica, pois tem como</p><p>pretensão auxiliar a compreender e amparar</p><p>questões estruturais do indivíduo, frente ao</p><p>sofrimento do luto do filho ideal, levando à</p><p>sociedade o conhecimento e também qualidade</p><p>no tratamento, entendendo questões que</p><p>envolvam a parentalidade, que é tão pouco</p><p>discutida.</p><p>O DESEJO DE UM FILHO</p><p>Quando falamos de desejo, para a psicanálise</p><p>não se trata de querer ou algo a ser realizado, mas</p><p>sempre se trata do inconsciente. Nesse sentido,</p><p>Dolto (1998 p.31) define desejo da seguinte</p><p>maneira:</p><p>Em psicanálise, falamos do desejo</p><p>inconsciente, não do desejo de</p><p>querer consciente. O desejo faz viver</p><p>o ser humano em busca da</p><p>afirmação de si, de sua criatividade,</p><p>de alcançar sua potência humana.</p><p>(...) o desejo é o que se fala e nunca é</p><p>satisfeito completamente. É um</p><p>impulso de vida que vai sempre</p><p>longe do que a satisfação</p><p>encontrada.</p><p>Página 39</p><p>O desejo</p><p>por um filho vem antes mesmo da</p><p>gravidez, o casal passa por um processo de se</p><p>imaginar tendo esse filho, pensando em</p><p>características físicas e emocionais, esse processo</p><p>começa antes mesmo de um planejamento real</p><p>de se ter um filho. Pensam como serão como pais,</p><p>o que esse filho representará em suas vidas</p><p>(SZEJER; STEWART, 1997).</p><p>Segundo Maldonado (2017), tal processo é de</p><p>fundamental importância, pois já inicia o processo</p><p>de vinculação dos pais com esse filho, antes</p><p>mesmo da fecundação. Afirma ainda que os</p><p>relacionamentos desses futuros pais com seus</p><p>futuros filhos se iniciam na infância desse adulto,</p><p>podendo ser ilustrado tal desejo nas brincadeiras</p><p>das crianças, tais como brincar de boneca, brincar</p><p>de pai e mãe. Na adolescência alegam que,</p><p>quando forem pais, jamais farão o que seus pais</p><p>fazem, ou que educarão seu filho de forma</p><p>completamente diferente que foi educado.</p><p>Para a psicanálise, o desejo de ter um filho</p><p>reatualiza às fantasias de sua própria infância e do</p><p>tipo de cuidado parental que puderam ter. Como</p><p>indica Stern (1997), as representações parentais</p><p>sobre o bebê se iniciam muito antes de seu</p><p>nascimento e, se pensarmos nas brincadeiras de</p><p>boneca ou nas fantasias das adolescentes, as</p><p>representações maternas e paternas podem</p><p>anteceder longamente à concepção, como já dito</p><p>Página 40</p><p>anteriormente. Dessa forma, o desejo de ter um</p><p>filho não se restringe à gestação e ao nascimento</p><p>de um filho, já que as identificações feitas na</p><p>infância influenciam e determinam a forma como</p><p>cada um de nós poderá exercitar a parentalidade.</p><p>Em 1924, no texto A dissolução do complexo</p><p>de Édipo, Freud sugere que o lugar designado ao</p><p>filho é o resultado de um complicado processo de</p><p>resolução edípica, operações que se diferenciam</p><p>na menina e no menino.</p><p>Na concepção Freudiana, o desejo de ter um</p><p>filho está relacionado, no caso das meninas, ao</p><p>desejo de possuir o pênis que não foi lhe dado por</p><p>sua mãe, tampouco por seu pai.</p><p>O desejo de ter um filho é compreendido</p><p>como o deslizamento do desejo de ter um pênis,</p><p>formando uma equação simbólica bebê-falo. O</p><p>filho viria como uma equivalência simbólica, na</p><p>qual o filho substituiria o falo. Para Freud, a</p><p>maternidade é uma solução aos impasses da</p><p>feminilidade, a resolução do Édipo.</p><p>Em relação ao desejo do filho no pai, Freud</p><p>contextualiza a saída do menino do Édipo.</p><p>Ameaçado pela castração, o menino se identifica</p><p>com o pai e se desvincula do desejo pela mãe.</p><p>Desse modo, adquire atributos paternos que o</p><p>possibilita de ser como o pai no futuro,</p><p>instaurando um lugar para o futuro bebê.</p><p>Página 41</p><p>Maldonado (1990 p.10) afirma que um filho</p><p>pode representar muitas coisas para esses futuros</p><p>pais:</p><p>O filho pode trazer a promessa de dar</p><p>continuidade à existência dos pais;</p><p>pode ser uma oportunidade de</p><p>aprofundar, enriquecer e dar novos</p><p>significados ao vínculo do casal, assim</p><p>como trazer o risco do rompimento e</p><p>maior desencontro no relacionamento</p><p>conjugal, especialmente quando o que</p><p>se busca é a esperança de consolidar</p><p>algo já frágil e precário; às vezes</p><p>esperamos que um filho possa realizar,</p><p>quando crescer, desejos e aspirações</p><p>que não conseguimos satisfazer (...) às</p><p>vezes desejamos como nosso espelho, a</p><p>nossa própria imagem ou aquilo que</p><p>queremos que ela seja.</p><p>O desejo da criança surge do desenvolvimento</p><p>de laços de família, por meio do sentimento e da</p><p>afetividade, do surgimento da noção de infância e</p><p>do despertar da sensibilidade para o</p><p>desenvolvimento da criança, que a coloca no</p><p>centro da família (CONCEIÇÃO, 2000).</p><p>Lacan, em Os complexos familiares na</p><p>formação do Individuo (2002), refere-se à família</p><p>como uma realidade constituída nas relações</p><p>sociais, alegando que a mesma desempenha um</p><p>papel fundamental na transmissão da cultura, na</p><p>primeira educação, no recalque das pulsões e no</p><p>processo de aquisição da linguagem,</p><p>estabelecendo a continuidade psíquica entre as</p><p>gerações. Na família, descrita por Lacan,</p><p>Página 42</p><p>a constituição do sujeito se estrutura pelos desejos</p><p>materno e paterno, pela posição da criança frente</p><p>ao desejo, ou seja, ocorre através dos complexos</p><p>organizadores do psiquismo.</p><p>Desse modo, o desejo de ter um filho faz parte</p><p>de uma cadeia simbólica constitutiva da própria</p><p>identidade do sujeito, ou seja, a cadeia de</p><p>significantes de desejos maternos e paternos,</p><p>inconscientes e conscientes marcam a trama</p><p>simbólica e essa cadeia significante que torna o</p><p>sujeito não ser desejante, inclusive o desejo ter um</p><p>filho.</p><p>O desejo de ser mãe e pai pode, ou não,</p><p>colocar-se para o sujeito, dependendo do</p><p>atravessamento do Édipo e da Castração, que</p><p>pode dar acesso à posição parental. Assim, para a</p><p>psicanálise, estabelece-se uma diferença entre o</p><p>desejo de ter um filho e o desejo de se tornar mãe</p><p>ou pai. O desejo de ter um filho pode ser visto</p><p>como uma solução para a castração, por seu</p><p>estatuto ilusório de completude narcísica</p><p>(ZORNIG, 2010).</p><p>Freud, no texto sobre o Narcisismo (1914),</p><p>sugere que o amor parental nada mais é do que</p><p>um retorno e reprodução do narcisismo dos pais,</p><p>que colocam os filhos no lugar de “sua majestade,</p><p>o bebê”, utilizando da criança para resgatar seu</p><p>próprio narcisismo, como se o amor parental</p><p>servisse como reparação para suturar suas feridas</p><p>Página 43</p><p>narcísicas. Assim, o desejo de ter filho coloca em</p><p>jogo o narcisismo dos pais.</p><p>Hamad (2002 p.82) afirma que:</p><p>(...) obrigar seus pais a fazer o luto</p><p>de suas próprias crianças</p><p>narcísicas, único meio, para ela,</p><p>de existir. O “obrigar” significa</p><p>que seu desejo opera para que os</p><p>pais a acolham sem investimento</p><p>narcísico demais e sem decepção</p><p>ou rejeição demais.</p><p>O narcisismo ilustra a complexidade</p><p>relacionada ao desejo de se ter um filho e a íntima</p><p>ligação que possui com o complexo de Édipo e</p><p>Castração, assim, fazendo-se necessário ter em</p><p>vista a singularidade de cada caso, pois a busca</p><p>por um filho pode mais se relacionar a questões</p><p>narcísicas do que ao próprio desejo de se ter um</p><p>filho.</p><p>A relação do narcisismo pode ainda estar</p><p>ligada à demanda social ou uma forma ilusória de</p><p>mediar os conflitos conjugais, tentativa de sanar</p><p>as feridas narcísicas, entre outras possibilidades.</p><p>Portanto, é necessário o devido cuidado para a</p><p>análise do tema, pois às vezes o enunciado “desejo</p><p>de ter um filho” esconde o verdadeiro desejo, que</p><p>não tem nenhuma correlação em realmente</p><p>desejar ter um filho em si.</p><p>Sendo assim, fica evidente o quanto se</p><p>Página 44</p><p>criam expectativas em torno do desejo de ter um</p><p>filho, seja criando um ideal em relação ao bebê ou</p><p>em relação ao ideal de pais que serão.</p><p>Maldonado (2017 p.12) discorre que “se busca</p><p>um filho perfeito para se valorizar como pais,</p><p>procurando anular falhas e fracassos, ou uma</p><p>tentativa que compensar as falhas dos seus</p><p>próprios pais consigo”, afirma ainda que nós não</p><p>admitimos que esse filho que esteja por vir possa</p><p>ser diferente do que gostaríamos que fosse.</p><p>FILHO IDEAL X FILHO REAL</p><p>Iaconelli (2007 p.616) afirma que a:</p><p>(…) chegada de um bebê, que</p><p>possa se constituir como bebê</p><p>humano, pressupõe sua espera. É</p><p>na antecipação de sua chegada,</p><p>tecida a partir de identificações e</p><p>fantasias, que algo da ordem da</p><p>ambiência psíquica pode ser</p><p>construído para recebê-lo.</p><p>Como vimos no tópico anterior, o bebê</p><p>idealizado acompanha a constituição do sujeito</p><p>desde sua constituição. Idealiza-se esse bebê</p><p>desde sua infância, adolescência e na fase adulta.</p><p>Os pais esperam que o filho seja a sua semelhança</p><p>com comportamentos e a extensão de seu</p><p>narcisismo, até o momento que o sujeito se</p><p>Página 45</p><p>depara com o bebê real. Todo e qualquer bebê</p><p>não contemplará o bebê ideal, que foi idealizado</p><p>por anos e anos.</p><p>Bernard Golse (2002) propõe quatro tipos de</p><p>representações parentais sobre o bebê: a criança</p><p>fantasmática, relacionada à criança que os pais</p><p>individualmente têm em mente a partir de sua</p><p>própria história; a criança imaginária, como uma</p><p>representação menos inconsciente que pertence</p><p>ao casal, como traços imaginados,</p><p>sexo, etc; a</p><p>criança narcísica, ligada à representação de seus</p><p>ideais, de como o filho irá sucedê-los; e a criança</p><p>mítica ou cultural, que se refere a um grupo de</p><p>representações coletivas de uma determinada</p><p>sociedade em um determinado momento. Aqui</p><p>estamos trabalhando apenas o recorte de duas,</p><p>filho ideal e real.</p><p>Para Lebovici (1987), citado por Piccinini,</p><p>Ferrari, Levandowki, Lopes e Nardi (2003), existem</p><p>três bebês, um bebê fantasiado, um bebê</p><p>imaginário e o bebê real, propriamente dito. O</p><p>bebê fantasia é o bebê que acompanha durante</p><p>toda a vida do sujeito, que vem antes mesmo da</p><p>decisão da parentalidade. O bebê imaginário está</p><p>na mente, na imaginação dos pais. O bebê ideal</p><p>seria aquele cujas características correspondem</p><p>àquilo que consideramos o melhor, que obedece a</p><p>todos os padrões de perfeição, tendo como</p><p>origem o próprio mundo interior, baseadas nas</p><p>Página 46</p><p>relações passadas e nas necessidades conscientes</p><p>e inconscientes desses pais, relacionadas com</p><p>aquele bebê.</p><p>Piccinini (2002) diz que, conforme se</p><p>aproxima do parto, o volume e a intensidade</p><p>dessas expectativas diminuem, preparando</p><p>gradualmente os pais para o bebê real.</p><p>Finalmente, o bebê real constitui aquele com que</p><p>os pais são confrontados no momento do parto,</p><p>tendo a perda desse bebê desejado e imaginário.</p><p>Vale ressaltar que, atualmente, com a evolução do</p><p>pré-natal, esse fato pode acontecer ainda na</p><p>gestação.</p><p>O confronto entre o bebê esperado e o</p><p>bebê real, aquele que nasceu, tende a ser, por si</p><p>só, conflituoso. As situações de impossibilidade</p><p>desse bebê real, por infertilização, morte ou</p><p>anomalia se intensificam, devido às feridas</p><p>narcísicas dos pais e o sentimento de serem</p><p>incapazes de produz filhos perfeitos e, assim,</p><p>iniciando a vivência de luto pela perda do bebê</p><p>ideal/imaginário quando se deparam com o bebê</p><p>real.</p><p>Tal dificuldade é uma vivência emocional</p><p>dolorosa e traz prejuízos, inclusive na interação</p><p>como bebê. Podemos compreender que a</p><p>maternidade é um processo que, por si só, já passa</p><p>por vários processos de luto, o lugar social, o corpo</p><p>que não será o mesmo, dualidade da estrutura</p><p>Página 47</p><p>familiar, entre outros.</p><p>Todos e quaisquer pais precisam lidar com o</p><p>luto do bebê ideal, precisam abandonar</p><p>expectativas, fantasias, projeções do filho ideal,</p><p>para receber e acolher o filho real. Mesmo que a</p><p>criança não tenha nenhum problema de saúde, o</p><p>confronto do filho ideal/imaginário com o filho real</p><p>pode gerar sentimento de perca, gerar conflitos</p><p>importantes e, se não elaborados, podem</p><p>influenciar na relação dos pais com esse bebê,</p><p>segundo Lebovici (1992).</p><p>Durante toda a constituição do sujeito,</p><p>simultaneamente constituiu-se a imagem do filho</p><p>ideal. Essa imagem é proveniente de suas próprias</p><p>identificações, aspirações e frustações. Schorn</p><p>(2002) alega que se estabelece uma distância</p><p>entre o que se imagina e deseja, para a realidade.</p><p>Um grande número de projeções futuras tem que</p><p>ser abortadas, tanto em relação a si mesmo,</p><p>quanto ao bebê.</p><p>Durante muito tempo, o pai e a mãe</p><p>constroem uma imagem do seu filho. Essa</p><p>imagem é proveniente de suas próprias</p><p>identificações, aspirações e frustrações (SCHORN</p><p>2002).</p><p>Dias (2006) ressalta que, na medida que</p><p>causa uma fratura no ideal dessa criança, os pais</p><p>desencadeiam sentimentos, entram em um</p><p>estado de desequilibro emocional e atinge tudo</p><p>Página 48</p><p>que se refere aos significantes dos agentes</p><p>parentais, tais como a angústia, o desamparo e a</p><p>incerteza, que tomam conta dessa relação.</p><p>Moura (1986) discorre que o filho é para a</p><p>mãe a reedição da sua própria infância, que torna</p><p>a situação de anormalidade muito dolorosa para</p><p>essa mulher. Os pais precisam admitir uma perda</p><p>narcísica importante, uma vulnerabilidade</p><p>dolorida de autoestima.</p><p>Debray (1988) dispõe que, o choque inicial</p><p>da perda do filho ideal, desencadeia pela</p><p>consciência de que a criança não irá corresponder</p><p>a imagem ideal cultivada. Esses pais precisam</p><p>lidar com o luto desse filho ideal, luto esse que se</p><p>equivale ao luto da morte real, na medida em que,</p><p>além do sofrimento pelo filho ideal e perfeito que</p><p>não existe, precisa também lidar com a criança</p><p>real. Apesar de ser uma perca real, nem sempre</p><p>vem acompanhada com a perda concreta, e sim</p><p>simbólica, pois a criança real não morreu.</p><p>Tais vivências instalam nos pais feridas</p><p>narcísicas, afetando sua autoestima e a forma com</p><p>que o filho foi idealizado, sendo necessário</p><p>elaborar o luto do filho ideal.</p><p>LUTO</p><p>Freud (1915), na obra Luto e Melancolia, refere-</p><p>se à função do luto como uma maneira de libertar o</p><p>indivíduo dos seus vínculos de forma gradual,</p><p>Página 49</p><p>revivendo o passado e lidando com as recordações</p><p>da pessoa falecida. O autor diz ainda que existem</p><p>três critérios que permitiriam distinguir o luto</p><p>normal e o luto patológico.</p><p>Em primeiro lugar, a presença do ódio</p><p>aponta para uma patologia; em segundo lugar, a</p><p>identificação com o objeto perdido só está</p><p>presente no luto patológico, e; em terceiro lugar,</p><p>no luto patológico a libido é transferida para o</p><p>ego, enquanto na forma de luto normal a libido</p><p>seria desviada para um novo objeto de amor.</p><p>Prosseguindo, para que o luto seja realizado,</p><p>existem algumas condições que o psiquismo vai</p><p>concretizando com a ajuda do tempo.</p><p>Entre elas, superinvestimento e posterior</p><p>desinvestimento de cada lembrança que diga</p><p>respeito ao objeto, o teste de realidade, o</p><p>reconhecimento social da dor do sujeito, a</p><p>elaboração da ambivalência. Para Iaconelli (2007)</p><p>isso se relaciona com o luto perinatal. Como vimos,</p><p>a mãe estabelece o vínculo com filho ideal e</p><p>precisa preceder a chegada do bebê real, sendo</p><p>que deste material que emerge a vinculação com</p><p>o filho.</p><p>No texto Luto e Melancolia, Freud nos</p><p>ensina também que “o luto, de modo geral, é a</p><p>reação à perda de um ente querido, à perda de</p><p>alguma abstração que ocupou o lugar de um ente</p><p>querido, como o país, a liberdade ou o ideal de</p><p>Página 50</p><p>alguém, e assim por diante” (1915/2006, pág. 249).</p><p>A consciência da perda que é real está presente</p><p>no luto, havendo ainda um esvaziamento do</p><p>mundo exterior, uma vez que as energias do ego</p><p>são absorvidas durante todo o processo de luto.</p><p>Freud (1925), no texto Ansiedade, dor e luto,</p><p>define que a dor constitui a reação real à perda de</p><p>objeto e representa um sentimento de desprazer</p><p>com caráter específico de dor. Trata-se de um</p><p>caráter que, segundo o autor, não pode ser</p><p>descrito com maior precisão. Quando a catexia de</p><p>anseio – que está concentrada no objeto do qual</p><p>se sente falta ou que está perdido – cria as</p><p>condições econômicas oriundas pela catexia de</p><p>dor – que se encontra concentrada em uma parte</p><p>danificada do corpo, no caso da dor física – surge a</p><p>sensação de dor na esfera mental. O processo de</p><p>luto é, portanto, frequentemente permeado de</p><p>dor, sendo constantemente penoso para o sujeito</p><p>que o vivencia.</p><p>O luto, por sua vez, é resultado da perda de</p><p>um objeto amado, conforme demonstram Arraes</p><p>e Viana (2003 p13)</p><p>Página 51</p><p>Freud revela que o luto diz respeito</p><p>à perda de um objeto de</p><p>investimento pulsional que não é</p><p>necessariamente um ser humano.</p><p>Temos, então, que a noção de luto</p><p>como afeto se faz à partir de uma</p><p>perspectiva descritiva em que se</p><p>leva em consideração o impacto</p><p>ou ressonância emocional que a</p><p>perda de alguém ou algo querido</p><p>pode provocar na vida libidinal. O</p><p>luto seria o afeto que tem sua</p><p>expressão provocada pelo impacto</p><p>da perda.</p><p>Assim, o luto pode ser entendido como um</p><p>afeto que é provocado pelo impacto da perda de</p><p>um objeto de investimento libidinal.</p><p>Quando falamos do luto do filho ideal,</p><p>compreendendo conforme Concentino (2011,</p><p>p.597) alegando que a dimensão de dor envolvida</p><p>no processo de luto que “a dor do luto pode ser</p><p>entendida, então, como a dor de ter de, em certa</p><p>medida, ‘desamar’ o objeto perdido e ‘amar’ outros</p><p>objetos, de ter de abandonar uma posição libidinal</p><p>e criar uma outra”.</p><p>Sendo assim, os pais precisam lidar com o</p><p>luto desse</p><p>bebê ideal, que foi investido de libido</p><p>para, após essa energia libidinal, ficar novamente</p><p>livre, podendo, então, ser reinvestida, agora no</p><p>bebê real.</p><p>Página 52</p><p>Dessa forma, o objeto perdido pode ser</p><p>substituído (Freud15, 1915/2006). Entendemos</p><p>então que o luto é um processo intensamente</p><p>perpassado pela dor, que é consequência da</p><p>perda real de um objeto de grande investimento</p><p>libidinal, seja esse simbólico ou real.</p><p>Arraes e Viana (2003 p.13) segue:</p><p>O luto é um afeto que resulta do</p><p>desligamento ou desinvestimento</p><p>de certa quantidade de energia</p><p>(quantum de afeto) que antes era</p><p>dirigida ao objeto perdido. Assim,</p><p>independentemente da natureza</p><p>do objeto perdido, tal quantidade</p><p>de energia vai assumir uma</p><p>expressão subjetiva de luto. Com a</p><p>perda do objeto amado, o quantum</p><p>de afeto tem de se destacar do</p><p>objeto por meio do “trabalho de</p><p>luto”.</p><p>O luto se refere ao afeto que resulta desse</p><p>processo. Para Freud (1915), o luto refere-se,</p><p>ademais, a uma reação natural, ou seja, a uma</p><p>reação esperada diante da perda de um objeto</p><p>amado.</p><p>Página 53</p><p>Luto do filho ideal e a notícia de</p><p>anormalidade</p><p>Alves (2012) afirma que existem dois tipos</p><p>de morte: concreta e simbólica. A morte concreta</p><p>é quando existe a morte física, real, quando a</p><p>pessoa desaparece. A morte simbólica, ou morte</p><p>em vida, são rupturas que ocorrem durante a vida</p><p>do ser humano. Neste trabalho estamos focando</p><p>essa morte simbólica, a morte desse filho ideal.</p><p>O autor segue dizendo que, quando se</p><p>pensa em ter um filho, logo se projeta esse filho</p><p>ideal, esse filho perfeito e, quando isso não se</p><p>concretiza, surge a morte do filho idealizado, o</p><p>que gera profunda tristeza, medo do futuro,</p><p>frustração e vergonha. Acrescenta ainda que “é</p><p>preciso vivenciar o processo de luto pelo filho que</p><p>foi idealizado, para que seja possível estabelecer</p><p>um vínculo de amor e cuidado com o filho que</p><p>nasceu.” (p.90)</p><p>Os pais, ao desejar um filho, o deseja</p><p>saudável, mas nem sempre isso é possível,</p><p>levando-os a se depararem com a morte desse</p><p>filho idealizado, isso pode acontecer caso</p><p>Página 54</p><p>Ao se deparar com tal realidade, surgem</p><p>sentimentos como angústia, desespero, medo e</p><p>tristeza, apesar de o filho estar lá, não se parece</p><p>nada com filho que foi idealizado.</p><p>Fonseca e Canavarro (2010) afirmam que,</p><p>quando os pais recebem um diagnóstico de</p><p>anormalidade no processo de desenvolvimento do</p><p>feto, existe a perda do filho esperado, perfeito e</p><p>saudável e a necessidade de lidar com o</p><p>ao nascer tenha algum tipo de</p><p>deficiência física, sensorial e/ou</p><p>mental imediatamente percebida;</p><p>durante o desenvolvimento,</p><p>quando as deficiências física,</p><p>sensorial e/ou mental tornam-se</p><p>evidentes; ao nascer ou durante o</p><p>desenvolvimento, ao surgirem</p><p>doenças crônicas, graves e/ou</p><p>estigmatizadas, tais como</p><p>diabetes, cardiopatias, HIV/aids,</p><p>psiquiátricas entre outras; ao</p><p>longo da vida, em casos de</p><p>acidente/violência em que o filho</p><p>se torna deficiente físico, mental</p><p>e/ou sensorial; ao longo da vida,</p><p>caso se torne dependente de</p><p>álcool ou outro tipo de droga</p><p>(ALVES, 2012, p. 90/91).</p><p>Página 55</p><p>Ao se deparar com tal realidade, surgem</p><p>sentimentos como angústia, desespero, medo e</p><p>tristeza, apesar de o filho estar lá, não se parece</p><p>nada com filho que foi idealizado.</p><p>Fonseca e Canavarro (2010) afirmam que,</p><p>quando os pais recebem um diagnóstico de</p><p>anormalidade no processo de desenvolvimento do</p><p>feto, existe a perda do filho esperado, perfeito e</p><p>saudável e a necessidade de lidar com o</p><p>nascimento de um filho com caraterísticas e</p><p>exigências distintas.</p><p>Após esse momento, onde os pais</p><p>recebem o diagnóstico, instala-se a necessidade</p><p>de confronto com um diagnóstico de</p><p>malformação, assim como afirma Barro (2006), um</p><p>dos primeiros trabalhos da parentalidade será</p><p>fazer o luto do bebê idealizado, para poder acolher</p><p>e aceitar o bebê real. Após o diagnóstico, é</p><p>necessária uma reorganização intrapsíquica, pois</p><p>o sujeito é submetido a um conjunto de alterações</p><p>significativas no seu equilíbrio biológico,</p><p>psicológico e social (CANAVARRO, 2001). Os pais</p><p>agora precisam lidar com esse bebê real, passar</p><p>pelo processo de luto do bebê ideal, assim como</p><p>os outros pais, mas se deparam ainda com a</p><p>condição desse filho real. Dias (2006) afirma que,</p><p>em situações do bebê com malformação,</p><p>intensifica-se a discrepância entre o que se</p><p>imaginou e desejou para um filho, e o que a</p><p>Página 56</p><p>realidade evidencia.</p><p>Como já dito anteriormente, a chegada de</p><p>um bebê traz consigo milhares de significantes,</p><p>projeções e, ao se deparar com um bebê com</p><p>anomalia ou deficiência, as crenças e expectativas</p><p>que foi colado no bebê se tornam ameaçadas,</p><p>sendo necessário se adaptar a essa nova realidade,</p><p>mas também elaborar o luto do bebê ideal.</p><p>Além disso, Brazelton e Cramer (1992)</p><p>ressaltam que a vinda de um bebê com</p><p>deficiência pode gerar um colapso da autoestima</p><p>da mãe, pois o filho é visto como o reflexo do</p><p>fracasso maternal, o que coloca em perigo o</p><p>processo de vinculação.</p><p>Segundo os autores, à medida que a mãe</p><p>reconhece a criança, gera frustrações em relação à</p><p>maternidade, desilusão e o confronto com um</p><p>filho que não corresponde à idealização dos pais, é</p><p>ainda mais frustrante e violento – “gerar uma</p><p>criança com algum defeito afeta a autoimagem da</p><p>mãe, que é tomada como um golpe ao seu</p><p>narcisismo”, pois o filho que gerou não é o filho</p><p>dos seus sonhos (MEIRA, 1999 p.22)</p><p>Sendo assim, temos o luto pelo filho ideal,</p><p>pelas expectativas geradas e, ao mesmo tempo, a</p><p>necessidade da aceitação do filho com algumas</p><p>alterações de saúde, não se trata de uma perda</p><p>comum, é um processo que precisa ser</p><p>reconhecido na sua complexidade.</p><p>Página 57</p><p>Percebemos que todo e qualquer pai, ao se</p><p>deparar com o bebê real, desencadeia um</p><p>processo de dor e sofrimento, sendo necessário</p><p>vivenciar o luto desse bebê ideal.</p><p>Alguns impasses na parentalidade que podem</p><p>potencializar esse sofrimento são a</p><p>impossibilidade de ter um filho biológico, busca</p><p>pela adoção, busca pela reprodução assistida,</p><p>ainda assim existindo a impossibilidade de ter</p><p>esse filho, por motivo judicial, financeiro ou até</p><p>mesmo limitação da medicina.</p><p>Outros fatores que potencializam seria a</p><p>perca gestacional, onde esse casal teria que dar</p><p>conta do luto real e do luto ideal, pois nesse caso</p><p>esse casal perderia nos dois campos e, por vezes,</p><p>socialmente tal sofrimento não é reconhecido.</p><p>Temos também as causas de descoberta de</p><p>problemas ou anomalias do feto, ainda na</p><p>gestação. Todos potencializam ainda mais esse</p><p>sofrimento, claro que dentro de uma</p><p>particularidade da situação e dos indivíduos</p><p>envolvidos.</p><p>Apesar de ser um processo de bastante</p><p>sofrimento, para seus familiares morte perinatal e</p><p>malformação são diferentes, pois quando nasce</p><p>uma criança com malformação, existe uma</p><p>necessidade de afeiçoamento a esta, devido aos</p><p>complicados acontecimentos suscitados pela</p><p>continuação da vida da criança e exigências do</p><p>Página 58</p><p>do cuidar dela, a tristeza que é inicialmente</p><p>elevada diminui com o cuidar físico. No outro caso,</p><p>quando a criança real morre, há um “duplo luto”,</p><p>com perda do bebê interno idealizado e do bebê</p><p>externo.</p><p>Pensando em casos de anormalidade ou</p><p>patologias descobertas no período gestacional, o</p><p>processo de luto, que seria normal, vem carregado</p><p>de um sofrimento posterior. Santos (2005) ressalta</p><p>que, quando nos deparamos com malformações,</p><p>remetemos às deficiências nas histórias dos pais,</p><p>aquilo que lhe faltou, não sendo possível reparar</p><p>uma chance de reparar deste faltante, em uma</p><p>situação do filho sem anomalias.</p><p>Nesses casos, temos que ficar atentos a que</p><p>lugar esses pais conseguirão elaborar para o bebê</p><p>real, pois todo e qualquer filho vem de uma</p><p>identificação projetiva, profundezas do</p><p>inconsciente da mãe ou bebê fantasmático,</p><p>imaginário, carregado de expectativas dos meses</p><p>de gestação. Sendo esse bebê ideal que assegura</p><p>os vínculos entre o bebê real, se esse bebê real</p><p>vem carregado de impossibilidade e muito</p><p>distante do bebê ideal, corre o risco</p><p>de não</p><p>estabelecer vínculo com esse sujeito, devido a</p><p>aspectos inconscientes que envolvem</p><p>sentimentos de angústia e culpa.</p><p>Barbosa e colaboradores (2007), ao falar de</p><p>mães com filhos com deficiência, a dificuldade de</p><p>Página 59</p><p>lidar com suas frustrações e com olhares da</p><p>sociedade, afirma que esses pais vivenciam a</p><p>culpa por terem gerado uma criança deficiente,</p><p>gerando sentimentos de atitude e de rejeição para</p><p>esses filhos, tendo uma relação de não aceitação.</p><p>Conclusão</p><p>Como vimos, o lugar ocupado pelo filho,</p><p>no imaginário desses pais, corresponde à trajetória</p><p>e a história da constituição deste núcleo, de seu</p><p>grau adaptativo, da sua capacidade de lidar com a</p><p>realidade e sua maneira particular de trabalhar</p><p>seus segredos, tendo essa diferença entre o filho</p><p>ideal e real. Quanto mais distante for esse filho</p><p>real do filho ideal, maior o impacto no psiquismo</p><p>desses pais, desencadeando uma crise de grandes</p><p>proporções na vida do casal, gerando sentimentos</p><p>persecutórios de rejeição e impotência, entre</p><p>outros.</p><p>O lugar ocupado pelo filho no imaginário</p><p>de um dado núcleo familiar, corresponde à</p><p>trajetória e a história da constituição singular de</p><p>cada um, sendo filhos normais, pais normais, se</p><p>esse filho tiver algum problema, denuncia a</p><p>imperfeição desses pais.</p><p>Há algumas oportunidades onde o filho</p><p>ideal confronta o filho real, como em situações de</p><p>infertilidade, onde se buscar um processo de</p><p>Página 60</p><p>inseminação, adoção, prematuridade do bebê, mal</p><p>formação. Todas são situações que trazem à tona</p><p>o sentimento de impotência e ativa a ferida</p><p>narcísica, pois filhos com problema denunciam o</p><p>problema dos pais. Como dito anteriormente, o</p><p>desejo de ter um filho transcende o filho em si, é</p><p>sempre algo para além do que pode ser dito.</p><p>A impossibilidade de ter um filho por vias</p><p>biológicas, ter um filho real muito distante do filho</p><p>idealizado, trazendo anomalias, patologias e</p><p>síndromes, dificulta a vinculação, não apenas pela</p><p>complexidade que a situação por si só fornece,</p><p>mas também, e mais importante, pela forma com</p><p>que o lugar que esse filho se instaura na dinâmica</p><p>parental, pois como vimos, o desejo de ter um filho</p><p>denuncia muito mais do que é dito.</p><p>Descrevemos uma cadeia simbólica</p><p>constitutiva da própria identidade do sujeito, ou</p><p>seja, a cadeia de significantes de desejos maternos</p><p>e paternos, inconscientes e conscientes, que</p><p>marcam a trama simbólica e a essa cadeia</p><p>significante que torna o sujeito um ser desejante,</p><p>inclusive o desejo de ter um filho. Quando esse</p><p>filho vem junto com o significante, que pode</p><p>representar algo falho, faltante, isso afeta</p><p>diretamente a identidade desses pais, gerando</p><p>feridas narcísicas ainda maiores, que podem</p><p>interferir ou até mesmo impossibilitar a vinculação</p><p>com esse filho.</p><p>Página 61</p><p>O trabalho do psicólogo parental se dá</p><p>exatamente nessa instância, sendo necessária</p><p>uma escuta extremamente eficiente para</p><p>compreender a complexidade da demanda e</p><p>transcender ao que está latente, para trabalhar</p><p>com esses pais questões estruturais deles</p><p>enquanto individuo para possibilitar um lugar</p><p>possível e saudável para esse filho, o qual</p><p>contrapõe o tão desejado filho ideal.</p><p>Freud, em sua teoria sobre o complexo de</p><p>Édipo e Narcisismo, como vimos, discorre sobre o</p><p>processo de constituição da subjetividade,</p><p>principalmente ao destacar como o fator infantil</p><p>permanece no psiquismo do adulto. Em 1914, no</p><p>texto sobre o Narcisismo, sugere que o amor</p><p>parental (desejo por um filho) nada mais é do que</p><p>um retorno e reprodução do narcisismo dos pais,</p><p>que colocam o filho no lugar de "Sua Majestade, o</p><p>Bebê", procurando, através da valorização afetiva</p><p>da criança, resgatar seu próprio narcisismo infantil</p><p>perdido, vendo o filho como uma tentativa de</p><p>reparar, de suturar as feridas narcísicas de seus</p><p>próprios pais. Assim, desejar um filho é trazer à</p><p>tona aspectos do narcisismo desses pais, bem</p><p>como suas lembranças e fantasias sobre suas</p><p>relações objetais primárias, porém ao se</p><p>depararem com a impossibilidade desse filho</p><p>idealizado, reabrem essas feridas narcísicas.</p><p>Página 62</p><p>Lebovici (1987) reforça que os conflitos</p><p>infantis dos pais determinam a natureza das</p><p>identificações da criança e os sintomas</p><p>apresentados pelo bebê e têm a marca da</p><p>problemática parental. Assim, o processo de</p><p>filiação se inicia antes do nascimento do bebê, à</p><p>partir da transmissão consciente e inconsciente da</p><p>história infantil dos pais, de seus conflitos</p><p>inconscientes, da relação com seus próprios pais,</p><p>que colorem sua própria representação sobre a</p><p>parentalidade. Dessa maneira, lidar com a</p><p>problemática de um filho é significar a sua própria</p><p>problemática e se deparar com as feridas</p><p>narcísicas, suas limitações e conflitos.</p><p>Como dito porpor Zornig (2009) parentalidade</p><p>é fortemente marcada pelas fantasias e fantasmas</p><p>parentais, podendo ser exercida de forma criativa</p><p>ou sintomática, tendo a função de transmitir a</p><p>história transgeracional às gerações futuras ou de</p><p>repetir sintomaticamente os segredos e conflitos</p><p>passados. Sendo mais necessária nesses casos,</p><p>que a clínica da psicologia perinatal ajude a</p><p>traduzir junto a esses pais a dificuldade em</p><p>exercerem a função parental de maneira plena, ou</p><p>seja, reconhecendo a dívida simbólica da</p><p>transmissão geracional, sem, no entanto,</p><p>limitarem-se a repetir padrões que desconsiderem</p><p>o tempo presente.</p><p>Esse bebê real traz à tona os medos, sonhos,</p><p>Página 63</p><p>lembranças da própria infância, modelos de pais,</p><p>ou seja, o mundo mental de suas representações,</p><p>assumem o estatuto de uma ancoragem</p><p>fundamental à construção do senso de self do</p><p>sujeito. (Zorning 2010) alega que tais perturbações</p><p>podem contribuir para distúrbios no</p><p>relacionamento pais-bebê e na formação de</p><p>sintomas na primeira infância.</p><p>Dentro do que foi levantado de referências</p><p>teóricas, evidenciou-se a necessidade de uma</p><p>escuta qualificada e atenta, para lidar e trabalhar</p><p>queixas em relação à parentalidade.</p><p>Temos que ter uma escuta qualificada para</p><p>compreender que a perda de um filho, também</p><p>ocorre na perda do filho ideal, de expectativas,</p><p>idealizações, reativa feridas narcísicas e outras</p><p>questões estruturais do indivíduo.</p><p>A impossibilidade de um filho biológico pode</p><p>trazer à tona feridas emocionais, assim como a</p><p>perca gestacional ou até mesmo problemas</p><p>intrauterinos, como malformações, filhos</p><p>prematuros, síndrome de down, entre outros, não</p><p>apenas pela complexidade de cuidados peculiares</p><p>que a própria condição fornece, mas também pela</p><p>necessidade dos pais lidarem com o luto do filho</p><p>ideal, que tais condições impossibilitam de</p><p>realizar.</p><p>Quanto às queixas em relação ao filho, temos</p><p>que observar a necessidade de trabalhar</p><p>Página 64</p><p>conteúdos emocionais que, por vezes, o sujeito</p><p>não conseguirá nomear de forma clara, por isso a</p><p>importância de um pré-natal psicológico com um</p><p>profissional qualificado, que consiga compreender</p><p>para além do que o sujeito consegue nomear</p><p>como causa do sofrimento.</p><p>Página 65</p><p>ALVES, E. G. R. A morte do filho idealizado, O</p><p>Mundo da Saúde, São Paulo, v 36, n.1, p. 90-97,</p><p>2012.</p><p>ARRAES, A. K.  M. A. Viana T.C. O luto na obra</p><p>freudiana: um afeto normal. Pulsional - Rev</p><p>Psicanálise, v.173, n.16, p. 7-17, 2003.</p><p>BARROS, L. O Bebé Nascido em Situação de Risco.</p><p>A unidade de cuidados intensivos de como</p><p>unidade de promoção do desenvolvimento. in: C.</p><p>Canavarro. Psicologia da gravidez e maternidade,</p><p>14, p.235-254, Coimbra: Quarteto Editora, 2006.</p><p>BISCAIA, J. O casal e a fecundidade. In ARCHER, L.;</p><p>BISCAIA, J.; BRAZELTON, B. & CRAMER, B. - As</p><p>primeiras relações. São Paulo: Martins Fontes.</p><p>1992.</p><p>CANAVARRO, M. C. Gravidez e Maternidade –</p><p>representações e tarefas de desenvolvimento. In</p><p>M. C. Canavarro (Ed.), Psicologia da Gravidez e da</p><p>Maternidade (pp. 17- 49). Coimbra: Quarteto, 2001.</p><p>CAVALCANTI, A.K. S.; SAMCZUK, M. L.; BONFIM, T.</p><p>E. - O conceito psicanalítico do luto: uma</p><p>perspectiva a partir de Freud e Klein.  Psicol</p><p>inf., São Paulo, v.17, n.17, p.87-105, 2013.</p><p>Referências bibliográficas</p><p>Página 66</p><p>COCENTINO, J. M. B; VIANA, T de C. A velhice e a</p><p>morte: reflexões sobre o processo</p>

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