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<p>INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE</p><p>Equipe de Elaboração</p><p>Grupo ZAYN Educacional</p><p>Coordenação Geral</p><p>Ana Lúcia Moreira de Jesus</p><p>Gerência Administrativa</p><p>Marco Antônio Gonçalves</p><p>Professor-autor</p><p>Diana Pacheco Laia</p><p>Coordenação de Design Instrucional do Material Didático</p><p>Eliana Antônia de Marques</p><p>Diagramação e Projeto Gráfico</p><p>Cláudio Henrique Gonçalves</p><p>Revisão</p><p>Ana Lúcia Moreira de Jesus</p><p>Mateus Esteves de Oliveira</p><p>GRUPO ZAYN EDUCACIONAL</p><p>Rua Joaquim Pinto Lara, N° 87</p><p>2ºAndar – Centro</p><p>Piracema –MG</p><p>CEP: 35.536-000</p><p>TEL: (31) 3272-6646</p><p>ouvidoria@institutozayn.com.br</p><p>pedagogico1@institutozayn.com.br</p><p>Boas-vindas</p><p>Olá!</p><p>É com grande satisfação que o Grupo ZAYN Educacional agradece por</p><p>escolhê-lo para realizar e/ou dar continuidade aos seus estudos. Nós do ZAYN</p><p>estamos empenhados em oferecer todas as condições para que você alcance</p><p>seus objetivos, rumo a uma formação sólida e completa, ao longo do processo</p><p>de aprendizagem por meio de uma fecunda relação entre instituição e aluno.</p><p>Prezamos por um elenco de valores que colocam o aluno no centro de</p><p>nossas atividades profissionais. Temos a convicção de que o educando é o</p><p>principal agente de sua formação e que, devido a isso, merece um material</p><p>didático atual e completo, que seja capaz de contribuir singularmente em sua</p><p>formação profissional e cidadã. Some-se a isso também, o devido respeito e</p><p>agilidade de nossa parte para atender à sua necessidade.</p><p>Cuidamos para que nosso aluno tenha condições de investir no</p><p>processo de formação continuada de modo independente e eficaz, pautado</p><p>pela assiduidade e compromisso discente.</p><p>Com isso, disponibilizamos uma plataforma moderna capaz de oferecer</p><p>a você total assistência e agilidade da condução das tarefas acadêmicas e, em</p><p>consonância, a interação com nossa equipe de trabalho. De acordo com a</p><p>modalidade de cursos on-line, você terá autonomia para formular seu próprio</p><p>horário de estudo, respeitando os prazos de entrega e observando as</p><p>informações institucionais presentes no seu espaço de aprendizagem virtual.</p><p>Por fim, ao concluir um de nossos cursos de pós-graduação, segunda</p><p>licenciatura, complementação pedagógica e capacitação profissional,</p><p>esperamos que amplie seus horizontes de oportunidades e que tenha</p><p>aprimorado seu conhecimento crítico acerca de temas relevantes ao exercício</p><p>no trabalho e na sociedade que atua. Ademais, agradecemos por seu ingresso</p><p>ao ZAYN e desejamos que você possa colher bons frutos de todo o esforço</p><p>empregado na atualização profissional, além de pleno sucesso na sua</p><p>formação ao longo da vida.</p><p>“A maioria das pessoas não quer</p><p>realmente a liberdade, pois liberdade</p><p>envolve responsabilidade, e a</p><p>maioria das pessoas tem medo de</p><p>responsabilidade”.</p><p>Sigmund Freud</p><p>Organização do conteúdo:</p><p>Prof.ª Diana Pacheco Laia</p><p>INTRODUÇÃO À</p><p>PSICANÁLISE</p><p>GRUPO ZAYN</p><p>EDUCACIONAL</p><p>EMENTA:</p><p>A psicanálise é método terapêutico</p><p>criado por Freud. Assim, na disciplina</p><p>introdução à psicanálise, serão</p><p>estudados conteúdos essenciais para</p><p>a compressão da psicanálise, o que</p><p>envolve sua história e seus principais</p><p>conceitos.</p><p>CONTEÚDO PROGRAMÁTICO</p><p>1. Introdução</p><p>2. A história da psicanálise</p><p>3.Principais conceitos da</p><p>psicanálise 10</p><p>4. O núcleo do método psicanalítico e</p><p>o setting</p><p>5. O tratamento psicanalítico</p><p>Curiosidades</p><p>Homem dos Lobos - Resumo do Caso</p><p>Mito de Narciso em resumo</p><p>Referências</p><p>CARACTERIZAÇÃO DA DISCIPLINA</p><p>Disciplina: INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE</p><p>EMENTA</p><p>A psicanálise é método terapêutico criado por Freud. Assim, na disciplina</p><p>introdução à psicanálise, serão estudados conteúdos essenciais para a</p><p>compressão da psicanálise, o que envolve sua história e seus principais</p><p>conceitos.</p><p>OBJETIVOS</p><p>Compreender o que é a psicanálise, seu surgimento e seus principais</p><p>conceitos.</p><p>CONTEÚDO PROGRAMÁTICO</p><p>1. Introdução</p><p>2. A história da psicanálise</p><p>3. Principais conceitos da psicanálise 10</p><p>4. O núcleo do método psicanalítico e o setting</p><p>5. O tratamento psicanalítico</p><p>Curiosidades</p><p>Homem dos Lobos - Resumo do Caso</p><p>Mito de Narciso em resumo</p><p>Referências</p><p>Sumário</p><p>1. Introdução ..................................................................................................... 7</p><p>2. A história da psicanálise ............................................................................. 8</p><p>3. Principais conceitos da psicanálise ......................................................... 10</p><p>3.1 Consciente, Pré-consciente e Inconsciente ....................................... 10</p><p>3.2 Desenvolvimento psicosexual...............................................................11</p><p>3.3 Complexo de édipo ............................................................................... 12</p><p>3.4 O Ego, o Id e o Superego...................................................................... 12</p><p>3.5 Associação livre .................................................................................... 13</p><p>4. O núcleo do método psicanalítico e o setting ......................................... 14</p><p>5. O tratamento psicanalítico ........................................................................ 15</p><p>5.2 Métodos de Tratamento Psicanalítico ................................................. 16</p><p>5.3 Interpretação dos Sonhos .................................................................... 18</p><p>Curiosidades ................................................................................................... 22</p><p>Homem dos Lobos - Resumo do Caso ......................................................... 22</p><p>Mito de Narciso em resumo ........................................................................... 29</p><p>Referências ..................................................................................................... 31</p><p>7</p><p>INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE</p><p>1. Introdução</p><p>A Psicanálise é uma teoria que estuda a mente humana e uma prática</p><p>terapêutica. Foi fundada por Sigmund Freud entre 1885 e 1939 e continua sendo</p><p>desenvolvida por psicanalistas ao redor do mundo. A psicanálise tem quatro áreas</p><p>principais de aplicação: como uma teoria de como a mente trabalha, como um</p><p>método de tratamento para problemas psíquicos, como um método de pesquisa, e</p><p>como uma forma de observar os fenômenos culturais e sociais, como a literatura,</p><p>arte, cinema, performances, política e grupos (IPA, 2021).</p><p>O objetivo da psicanálise elaborada por Freud buscava tratar desequilíbrios</p><p>psíquicos, sendo a descoberta do inconsciente o seu principal incentivo. A partir de</p><p>então, Freud passou a investigar esse inconsciente tão desconhecido, na tentativa</p><p>de compreender seus mecanismos, originalmente conferindo-lhe uma realidade no</p><p>plano psíquico.</p><p>O principal inspirador de Freud foi o fisiologista Josef Breuer, o qual</p><p>trabalhava com a hipnose, método que marcou profundamente o psicanalista, no</p><p>entanto, mais tarde Breuer deixa a hipnose como forma terapêutica e a troca pela</p><p>livre associação.</p><p>O principal interesse de Freud eram os distúrbios emocionais que, na época,</p><p>eram chamados de ‘histeria’. Além disso, Freud colocava como causa de toda</p><p>perturbação de ordem emocional, as vivências sexuais marcantes de cada indivíduo,</p><p>que por se revelarem perturbadoras, são reprimidas no Inconsciente.</p><p>Ao psicanalista, cabe ouvir e interferir apenas quando necessário, assim que</p><p>observar um momento de ajudar o analisando a trazer para a consciência seus</p><p>desejos reprimidos, deduzidos a partir da livre associação. No geral, o analista deve</p><p>se manter imparcial.</p><p>8</p><p>2. A história da psicanálise</p><p>Freud inaugurou seu consultório em 1886, em Viena, com o objetivo</p><p>de</p><p>atender pacientes com distúrbios nervosos. Sigmund Schlomo Freud nasceu no dia</p><p>6 de maio de 1856, na cidade de Freiberg, na Morávia. Desde criança, os pais de</p><p>Freud dedicavam-lhe tratamento especial em relação aos irmãos. Freud sempre foi</p><p>muito estudioso, tirava notas altas e estudava línguas estrangeiras por conta própria.</p><p>Na adolescência, ele começou a escrever um diário dos seus sonhos.</p><p>Entrou na Faculdade de Medicina da Universidade de Viena em 1873. Depois</p><p>de formar-se, em 1881, queria trabalhar com pesquisa, mas, para juntar dinheiro</p><p>para o seu casamento, escolheu atender em um consultório situado na capital (hoje,</p><p>o Museu Freud de Viena).</p><p>Sigmund Freud morreu em 23 de setembro 1939, na sua casa, em Londres,</p><p>onde hoje funciona o Museu Freud de Londres. Relatos apontam que ele faleceu</p><p>depois que seu médico aplicou-lhe três doses de morfina.</p><p>Sigmund Freud</p><p>Fonte: Revista Galileu</p><p>9</p><p>Inicialmente, Freud recorreu à hipnose como forma terapêutica, mas acabou</p><p>desenvolvendo outra técnica importante para tratar seus pacientes: a chamada</p><p>talking cure, que significa a cura pela fala, que se tornou a base da psicoterapia.</p><p>Com diversos estudos e aplicações sobre a “cura pela palavra”, Freud</p><p>desenvolveu a teoria da psicanálise, em que o objetivo era a compreens��o da mente</p><p>da mente humana, em especial daqueles que tinham sofrimento mental.</p><p>Inicialmente, Freud tratava as “histéricas”, ou seja, mulheres que apresentavam</p><p>vários sintomas, como ansiedade, falta de ar, desmaios, nervosismo, insônia,</p><p>irritabilidade, perda de apetite e uma tendência a causar problemas para a</p><p>sociedade.</p><p>Freud observou, então, que as pessoas que não expressavam seus</p><p>sentimentos ficavam com a mente doente e, ao aplicar técnicas da psicanálise,</p><p>como a livre associação e a interpretação dos sonhos, por exemplo, os pacientes</p><p>eram estimulados a externar seus pensamentos e memórias que causavam as</p><p>neuroses (TANCREDI, 2021).</p><p>Os pacientes ofereciam a Freud livre associações que os levavam de volta a</p><p>experiências infantis reprimidas, desejos e fantasias que haviam resultado em</p><p>conflitos inconscientes; uma vez trazidos à consciência, esses conflitos poderiam ser</p><p>analisados e os sintomas, então, dissolvidos. Freud atendia os pacientes seis vezes</p><p>por semana, ouvindo e respondendo ao que eles lhe diziam enquanto estavam</p><p>deitados em um divã (IPA, 2021).</p><p>10</p><p>3. Principais conceitos da psicanálise</p><p>3.1 Consciente, Pré-consciente e Inconsciente</p><p>Consciente:</p><p>O consciente é tudo aquilo que estamos conscientes no momento, no agora.</p><p>Ele corresponde à menor parte da mente humana. Nele está tudo o que podemos</p><p>perceber e acessar de forma intencional.</p><p>O consciente funciona de acordo com as regras sociais, respeitando tempo e</p><p>espaço, ou seja, por meio dele que se dá a nossa relação com o mundo externo. O</p><p>consciente é a nossa capacidade de perceber e controlar o nosso conteúdo mental</p><p>presente que pode ser percebida e controlada por nós.</p><p>Em resumo, o Consciente responde pelo aspecto racional, por aquilo que</p><p>estamos pensando, pela nossa mente atenta e por nossa relação com o mundo</p><p>exterior a nós. É uma pequena parte da nossa mente, embora acreditemos que seja</p><p>a maior.</p><p>Pré-consciente:</p><p>O pré-consciente se refere àqueles conteúdos que podem chegar ao</p><p>consciente, mas que não permanecem lá o tempo todo. Os conteúdos são</p><p>informações sobre as quais não pensamos, mas que são necessárias para que o</p><p>consciente faça suas funções. Nosso endereço, telefone, nome dos amigos, idade e</p><p>data de nascimento são exemplos.</p><p>É importante lembrar ainda que, apesar de se chamar Pré-consciente, esse</p><p>nível mental pertence ao inconsciente. Podemos pensar no pré-consciente como</p><p>algo que fica entre o inconsciente e o consciente, filtrando as informações que</p><p>passarão de um nível ao outro.</p><p>O pré-consciente não está em um nível recalcado ou interditado, como</p><p>costumam ser os fatos do inconsciente que interessam à psicanálise. Comparando</p><p>com os outros níveis (consciente e inconsciente), o pré-consciente é o menos</p><p>abordado por Freud.</p><p>https://www.psicanaliseclinica.com/pre-consciente/</p><p>11</p><p>Inconsciente:</p><p>Inconsciente se refere a todo aquele conteúdo mental que não está disponível</p><p>para a pessoa em todo momento. Ele é a maior fatia de nossa mente e, para Freud,</p><p>a mais importante. Quase todas as memórias que acreditamos estarem perdidas</p><p>para sempre, como os sentimentos que ignoramos, estão em nosso inconsciente.</p><p>Esse acesso ao inconsciente acontece, muitas vezes, através dos sonhos, dos atos</p><p>falhos e da terapia psicanalítica.</p><p>Para Freud, a reflexão que mais interessa quanto ao inconsciente é vê-lo com</p><p>uma porção de nossa mente que não está acessível de forma clara. O inconsciente</p><p>tem uma linguagem própria. É possível dizer que o inconsciente é baseado na</p><p>pulsão e, em certo sentido, na agressividade e na realização imediata do desejo.</p><p>No nível individual a mente pode criar barreiras e interdições, chamadas</p><p>de recalques ou recalcamentos, para evitar que o desejo se realize ou, no nível</p><p>social, criar leis e regras morais, bem como converter esta energia para atividades</p><p>“úteis” à sociedade, como o trabalho e a arte, processo que Freud chamará</p><p>de sublimação.</p><p>3.2 Desenvolvimento psicossexual</p><p>Freud reconheceu que a maturação progressiva das funções corporais</p><p>centrada nas zonas erógenas (boca, ânus e genitais) ocorre junto com prazeres e</p><p>temores experimentados na relação com os objetos cuidadores, e estes estruturam</p><p>o desenvolvimento da mente da criança (IPA, 2021).</p><p>Para Freud as fases do desenvolvimento são divididas em cinco:</p><p> Fase oral (nascimento a 1 ano): Zona erógena é a boca. Durante a fase oral,</p><p>a principal fonte de interação da criança ocorre através da boca, de modo que o</p><p>reflexo de enraizamento e sucção é especialmente importante. A boca é vital para a</p><p>alimentação, e o bebê recebe prazer da estimulação oral por meio de atividades</p><p>gratificantes como degustação e sucção;</p><p> Fase Anal (1 a 3 anos): Zona erógena é o ânus. Durante o estágio anal,</p><p>Freud acreditava que o foco principal da libido era controlar os movimentos da</p><p>bexiga e do intestino. O principal conflito neste estágio é o treinamento de ir ao</p><p>https://www.psicanaliseclinica.com/recalque-repressao-e-censura-para-a-psicanalise/</p><p>https://www.psicanaliseclinica.com/sublimacao/</p><p>12</p><p>banheiro, em que a criança precisa aprender a controlar suas necessidades</p><p>corporais. Desenvolver esse controle leva a um sentimento de realização e</p><p>independência;</p><p> Fase fálica (3 a 6 anos): Zona erógena são os genitais. Freud sugeriu que</p><p>durante o estágio fálico, o foco primário da libido está nos genitais. Nesta idade, as</p><p>crianças também começam a descobrir as diferenças entre homens e mulheres.</p><p>Freud também acreditava que os meninos começavam a ver seus pais como um</p><p>rival pelos afetos da mãe, nessa fase também ocorre o complexo de édipo;</p><p> Fase de latência (6 anos até a puberdade). Não há zona erógena. O período</p><p>latente é um período de exploração no qual a energia sexual é reprimida ou</p><p>adormecida. Essa energia ainda está presente, mas é sublimada em outras áreas,</p><p>como atividades intelectuais e interações sociais. Esta etapa é importante no</p><p>desenvolvimento de habilidades sociais e de comunicação e autoconfiança;</p><p> Fase genital (puberdade em diante). Zona erógena: genital e as demais,</p><p>secundárias. O início da puberdade faz com que a libido se torne ativa novamente.</p><p>Durante o estágio final do desenvolvimento psicossexual, o indivíduo desenvolve um</p><p>forte interesse sexual pelo sexo oposto. Este estágio começa durante a puberdade,</p><p>mas dura todo o resto da vida de uma pessoa (OPAS, 2018).</p><p>3.3 Complexo de édipo</p><p>A criança na idade de quatro a seis anos passa a tomar consciência da</p><p>natureza sexual da relação de seus pais, em que ela é excluída. Nesse momento,</p><p>surgem sentimentos de ciúmes e rivalidade que tem que ser resolvidos, junto a</p><p>questões de quem é homem e quem é mulher, quem pode amar e casar com quem,</p><p>como são feitos e nascem os bebês, e o que uma criança pode ou não fazer,</p><p>comparada com um adulto. A resolução dessas questões desafiadoras moldará o</p><p>caráter da mente adulta e o Superego (IPA, 2021).</p><p>3.4 O Ego, o Id e o Superego</p><p>13</p><p> Ego: é o principal lugar da consciência, o agente da mente que exerce as</p><p>repressões e integra e consolida vários impulsos e tendências antes que elas sejam</p><p>postas em ação;</p><p> Id é a parte inconsciente da mente, o lugar dos traços de memória</p><p>reprimidos e incognoscíveis da mente inicial;</p><p> Superego é o guia e consciência da mente, um detentor das proibições a</p><p>aderir, e ideais a perseguir (IPA, 2021).</p><p>3.5 Associação livre</p><p>Descreve o surgimento de pensamentos, sentimentos e fantasias quando elas</p><p>não estão inibidas pelas restrições do medo, culpa e vergonha.</p><p>Na primeira sessão de psicanálise, o analista apresenta uma regra ao</p><p>analisando, que deverá guiar o processo terapêutico, como Freud anunciava aos</p><p>seus próprios pacientes: “Diga, pois, tudo que lhe passa pela mente. Comporte-se</p><p>como faria, por exemplo, um passageiro sentado no trem ao lado da janela que</p><p>descreve para seu vizinho de passeio como cambia a paisagem em sua vista. Por</p><p>último, nunca se esqueça que prometeu sinceridade absoluta, e nunca omita algo</p><p>alegando que, por algum motivo, você ache desagradável comunicá-lo” (Freud,</p><p>“Sobre o Início do Tratamento”, 1913, p.136).</p><p>Em “A Interpretação dos Sonhos” Freud reconhece que muitos sonhos</p><p>desafiavam a compreensão simples e eram desprovidos de sentido lógico,</p><p>mas tinham sua própria lógica. Da mesma forma que, quando acordados, a</p><p>associação livre é uma maneira de driblar as defesas do ego e acessar o</p><p>inconsciente, quando estamos dormindo os sonhos reportam medos e</p><p>desejos inconscientes. O sonho o faz de uma maneira figurada, não literal</p><p>(PSICANÁLISE CLÍNICA, 2018).</p><p>A escuta, assim como a fala, tem um lugar central na psicanálise. Assim como</p><p>a fala se baseia na associação livre, a escuta do psicanalista precisa sempre estar</p><p>atenta para realizar conexões. Essas conexões podem trazer insights para o</p><p>paciente compreender a sua condição.</p><p>https://www.psicanaliseclinica.com/tecnica-usada-por-freud-para-ativar-o-inconsciente/</p><p>https://www.psicanaliseclinica.com/tecnica-usada-por-freud-para-ativar-o-inconsciente/</p><p>14</p><p>4. O núcleo do método psicanalítico e o setting</p><p>O método utilizado na Psicanálise é a cura pela fala, que é baseado no</p><p>método da livre associação. Na associação livre paciente é convidado a dizer</p><p>qualquer coisa que venha a sua mente, sem restrições do tipo considerações de</p><p>contexto, sentimentos de vergonha ou culpa e outras objeções. Ao aderir a esta</p><p>regra os processos de pensamento do paciente farão ligações surpreendentes,</p><p>revelarão conexões conscientemente indisponíveis com desejos e defesas, e</p><p>levarão às raízes inconscientes de conflitos até então não resolvidos que moldam as</p><p>situações transferenciais (IPA, 2021).</p><p>Com as associações livres dos pacientes, os analistas irão adentrar a um</p><p>processo mental similar chamado atenção livremente flutuante, pelo qual seguirão</p><p>as comunicações do paciente assim como perceberão - as vezes como se em um</p><p>sonhar acordado - suas próprias associações que emergirão na contratransferência.</p><p>A integração destas várias espécies de informação é um trabalho principalmente</p><p>interno para o analista moldar uma visão das situações transferênciais-</p><p>contratransferenciais que finalmente se agrupam em uma gestalt emergente (uma</p><p>fantasia inconsciente), que pode ser experimentada por ambos, analista e paciente</p><p>(IPA, 2021).</p><p>Transferência é a tendência ubíqua da mente humana a ver e identificar</p><p>novas situações dentro dos moldes das experiências iniciais. Em</p><p>psicanálise a transferência ocorre quando um paciente vê o analista como</p><p>uma figura parental, com quem ele pode re-experimentar os principais</p><p>conflitos ou traumas infantis como se dentro da relação pais-filho original</p><p>(IPA, 2021, p. 4).</p><p>Com o auxílio das intervenções do analista - frequentemente interpretações</p><p>transferenciais do que transpira no aqui e agora da sessão - uma nova compreensão</p><p>do sofrimento do paciente emergirá. A aplicação repetida destes novos insights em</p><p>muitas situações similares, nas quais o mesmo tipo de conflito surge, é o processo</p><p>de elaboração, que torna o paciente cada vez mais capaz de reconhecer os</p><p>processos de pensamento que movimentam seus conflitos. Resolver estes conflitos</p><p>e colocálos em perspectiva, ou em repouso liberará a mente do paciente de velhas</p><p>inibições e abrirá espaço para novas escolhas (IPA, 2021).</p><p>O método descrito anteriormente é melhor aplicado no setting clássico:</p><p>15</p><p>O paciente está confortavelmente deitado no divã, dizendo o que lhe vier à</p><p>mente, sem ser distraído por ver o analista, que usualmente está sentado</p><p>atrás do divã. Isto permite, a ambos parceiros do empreendimento analítico,</p><p>ouvir e refletir completamente acerca do que transpira na sessão: o paciente</p><p>se sentirá imerso em seu mundo interno, reviverá memórias, revisitará</p><p>experiências importantes, falará acerca dos sonhos e criará fantasias, tudo</p><p>isto que, fazendo parte da jornada analítica, lançará novas luzes na vida,</p><p>história e elaborações da mente do paciente. A sessão de análise</p><p>comumente dura de 45 a 50 minutos. Com o objetivo de continuamente</p><p>aprofundar o processo analítico, as sessões de psicanálise preferentemente</p><p>ocorrem em três, quatro ou cinco dias por semana. Uma menor frequência</p><p>de sessões semanais ou o uso da poltrona em lugar do divã poderão às</p><p>vezes ser necessários. Todos os acordos acerca do setting (incluindo os</p><p>horários, o valor da sessão e a política de cancelamentos) serão</p><p>contratados por ambos, paciente e analista, e terão que ser renegociados</p><p>se mudanças forem necessárias. A duração de uma análise é difícil de</p><p>predizer; uma média de três a cinco anos pode ser esperada, embora</p><p>qualquer caso individual possa necessitar de mais ou de menos tempo para</p><p>o encerramento (IPA, 2021, p. 8).</p><p>Paciente e analista são, contudo, livres para a qualquer momento decidir</p><p>interromper ou terminar a análise.</p><p>5. O tratamento psicanalítico</p><p>A psicanálise e a psicoterapia psicanalítica são voltadas para quem se sente</p><p>aprisionado em problemas psíquicos recorrentes que o impedem de experimentar a</p><p>felicidade com seus parceiros, famílias e amigos, assim como sucesso e satisfação</p><p>em seu trabalho e tarefas normais da vida diária.</p><p>Ansiedades, inibições e depressões tendem a ser sinais de conflitos internos,</p><p>que levam a dificuldades nas tarefas comuns o dia a dia do sujeito e, se não</p><p>tratados, podem ter um impacto considerável nas escolhas pessoais e profissionais.</p><p>As causas dos problemas são mais profundas do que a consciência pode alcançar,</p><p>que é o motivo pelo qual não podem ser resolvidos sem psicoterapia.</p><p>Com o auxílio de um analista capacitado o paciente pode obter novos</p><p>conhecimentos (insights) sobre as partes inconscientes destes distúrbios. Conversar</p><p>com um psicanalista levará o paciente a tornar seus conflitos internos cada vez mais</p><p>conscientes (pensamentos e sentimentos, memórias e sonhos), aliviando a dor</p><p>psíquica e promovendo o desenvolvimento da personalidade, além de oferecer uma</p><p>auto-consciência que fortalecerá a confiança do paciente para prosseguir com seus</p><p>16</p><p>objetivos na vida. Estes efeitos positivos da psicanálise deverão durar e levar a</p><p>novos desenvolvimentos mesmo após a análise ter terminado (IPA, 2021).</p><p>Freud em seu consultório</p><p>Fonte: Cultura Genial.</p><p>5.2 Métodos de Tratamento Psicanalítico</p><p> Psicanálise é aplicada de várias maneiras. O tratamento psicanalítico</p><p>clássico (ver acima) foi desenhado para melhor acomodar as capacidades de um</p><p>paciente</p><p>adulto neurótico que está razoavelmente bem adaptado às demandas da</p><p>vida e trabalho. Entretanto, tratamento psicanalítico de alta frequência também é</p><p>utilizado para uma gama maior de psicopatologias (escopo ampliado), como por</p><p>exemplo, transtornos de personalidade borderline e narcisista severa;</p><p> Psicoterapia psicanalítica ou psicodinâmica com adultos é usualmente</p><p>utilizada com frequência menor (uma ou duas sessões por semana) e em uma</p><p>disposição sentada, face a face. Frequentemente seus objetivos são mais focados</p><p>na resolução de um tipo particular de problema (por ex., dificuldades nos</p><p>relacionamentos ou no trabalho), depressão ou transtornos de ansiedade. Embora</p><p>17</p><p>transferências e contratransferências ocorram, como na psicanálise, elas</p><p>frequentemente ficam no background e permanecem não interpretadas, dando</p><p>espaço para dirigir-se a e resolver mais diretamente os problemas da vida do</p><p>paciente. Algumas vezes, ambos participantes em uma psicoterapia psicanalítica</p><p>decidem aprofundar seu trabalho, em um momento posterior do tratamento, e</p><p>embarcam em psicanálise de alta frequência;</p><p> Crianças (da infância em diante) e adolescentes podem experimentar</p><p>problemas duradouros (depressão, ansiedade, insônia, agressão extrema e</p><p>crueldade, pensamento obsessivo, comportamento compulsivo, dificuldades de</p><p>aprendizado, distúrbios alimentares, etc.) que podem pôr em perigo seu</p><p>desenvolvimento psíquico e causar preocupações em seus pais, professores e</p><p>amigos. Para eles, têm sido desenvolvidos métodos de tratamento psicanalítico</p><p>modificados de acordo com a idade (incluindo brincar com bonecos, brinquedos e</p><p>desenhar) que permitem à criança ou adolescente expressar o que os está</p><p>incomodando. Analistas de crianças são especialistas em perceber as porções</p><p>inconscientes das comunicações de seus pacientes e responder a elas de forma</p><p>apropriada, assim ajudando a criança a resolver conflitos e problemas emocionais</p><p>que repousam sob seus sintomas manifestos e interferem com seu posterior</p><p>desenvolvimento emocional;</p><p> Psicodrama psicanalítico foi desenvolvido (principalmente nos EUA e na</p><p>França) para pacientes com inibições massivas, que precisam suporte para</p><p>representar, expressar e elaborar suas dificuldades no sentido de estruturar seu</p><p>mundo interno. O setting inclui um líder ou diretor da representação, que auxilia o</p><p>paciente a sugerir, entrar e desenvolver uma cena (por ex., uma lembrança, um</p><p>sentimento, uma situação ocorrida), que é o material para o trabalho terapêutico. O</p><p>paciente encena com vários co-terapeutas ou atores que assumem papéis atribuídos</p><p>a eles pelo paciente. A função dos co-terapeutas é compreender empaticamente</p><p>estes papéis como partes do paciente (por ex., diferentes lados de um conflito) ou</p><p>seus objetos significativos, e traduzir o significado latente destes papéis</p><p>representando seus processos (principalmente defensivos) inconscientes</p><p>subjacentes. O líder da peça pode interromper e interpretar a cena em qualquer</p><p>ponto. A peça permite o desdobramento de questões anteriormente difíceis para o</p><p>paciente e facilita sua integração e internalização. O objetivo é desenvolver o insight</p><p>18</p><p>do paciente em sua vida interna (pensamentos, sentimentos, fantasias, sonhos e</p><p>conflitos), e estimular sua ativação, assim expandindo o espaço (teatro interno)</p><p>psíquico (intermediário), em que seus vários componentes podem ser considerados</p><p>e compreendidos;</p><p> Psicoterapia psicanalítica de Casais e Família aplica os insights da</p><p>psicanálise para a dinâmica encontrada entre os parceiros de casais e famílias, que</p><p>estão presos em conflitos recorrentes. Com o auxílio de um psicanalista, aspectos</p><p>de posições e transferências incompatíveis, projeções mútuas, e as encenações</p><p>repetidas de fantasias inconscientes, podem ser interpretadas e analisadas,</p><p>considerando as ideias inconscientes que prevalecem a respeito do que o</p><p>casamento e a vida familiar podem ou deve significar, assim aliviando tensões e</p><p>abrindo caminhos para novas escolhas auto-determinadas;</p><p> Grupos psicanalíticos (usualmente com 6 a 9 membros) utilizam-se da</p><p>tendência universal que encontros não estruturados de indivíduos em pequenos ou</p><p>grandes grupos, sem uma tarefa definida, têm de experimentar regressões a níveis</p><p>primitivos de funcionamento psíquico, p. ex., dependência e submissão de um líder</p><p>idealizado ou frustrador, reações agressivas de luta-fuga, pareamentos e cisões em</p><p>subgrupos, assim como defesas contra esses processos. Enquanto alguns grupos</p><p>focam na participação e interação individual, no aqui e agora da dinâmica de grupo,</p><p>outros se dirigem aos processos globais do grupo e à cultura particular que emerge</p><p>através das discussões livremente-flutuantes (equivalente da livre associação). O</p><p>trabalho de grupo psicanalítico pode servir a vários propósitos: há grupos</p><p>psicoterapêuticos, grupos que estimulam o desenvolvimento pessoal, grupos de</p><p>discussão clínica para médicos (Grupos Balint, Conferências-Tavistock), assim como</p><p>grupos que encorajam auto-reflexão e resolução de problemas em organizações</p><p>maiores (IPA, 2021).</p><p>5.3 Interpretação dos Sonhos</p><p>A interpretação dos sonhos foi a obra freudiana utilizada para introduzir o</p><p>público aos procedimentos da psicanálise. A partir dela Freud considerada o sonho e</p><p>sua interpretação como forma de apresentar de modo detalhado não somente os</p><p>fundamentos de sua compreensão da neurose, mas também do que chama</p><p>19</p><p>“aparelho psíquico” de modo geral, como um aparelho regulado por forças dos</p><p>desejos e as oposições que se lhes fazem. É a interpretação dos sonhos a primeira</p><p>formulação desse aparelho em seus sentidos tópico, econômico e dinâmico (CELES,</p><p>2005).</p><p>Interpretar sonhos tem como propósito revelar a fala do paciente no sentido</p><p>que lhe é próprio. Freud opõe a especificidade do trabalho da psicanálise de</p><p>interpretar sonhos à sua interpretação popular. Essa oposição se baseia no</p><p>fundamento de que a psicanálise tem como objetivo revelar o sentido do sonho do</p><p>paciente e não lhe emprestar um sentido que lhe seja externo, ou seja, a psicanálise</p><p>inscreve a própria pessoa que sonha na interpretação do sentido de seu sonho</p><p>(CELES, 2005).</p><p>O sentido do sonho é sempre a figuração da realização de um desejo, ou</p><p>seja, o desejo de um sujeito singular é que constitui o termo da interpretação de um</p><p>sonho. A interpretação tem a finalidade precisa de revelar o desejo individual do</p><p>sujeito, o qual é realizado em cada sonho. O sentido do sonho está na própria</p><p>história daquele que sonha, não fora dela. É pelo fato do sonho revelar as</p><p>intimidades do sonhador que Freud, expondo e interpretando seus próprios sonhos,</p><p>reserva-se o direito de não contar todo o sentido de seus sonhos, de não revelar seu</p><p>termo (CELES, 2005).</p><p>É o analista quem interpreta os sonhos do sujeito. A interpretação do sonho é</p><p>resultado do trabalho da associação livre do sonhador, de sua fala, revelando o que</p><p>essa realmente quer dizer, mas que o analisando não sabia ou não queria saber. O</p><p>trabalho de fala do analista, implicado na interpretação, faz com que o analista</p><p>ocupe uma posição de “espelho vazio”, ou seja, o analista “devolve” o que o</p><p>paciente fala, para que assim o paciente ouça sua própria fala. É o modo de ouvir do</p><p>analista que transforma o discurso do paciente em fala, esta que materializa a falha</p><p>– nos termos de Freud – do discurso consciente. O acolhimento do discurso do</p><p>paciente “como portador de sua singularidade, segundo a regra da associação livre,</p><p>tem por fim fazer o paciente ouvir sua fala; o tratamento psicanalítico pode, então,</p><p>ser interpretado como trabalho de fazer ouvir o que se fala” (CELES, 2005, p. 37).</p><p>20</p><p>6. Escolas de psicanálise</p><p>Além de Freud, alguns outros nomes são importantes para a psicanálise.</p><p>Sendo assim, de acordo com Pimenta (2019), cita-se:</p><p>Lacan: A abordagem lacaniana enfatiza a</p><p>estrutura linguística. O indivíduo é</p><p>formado através da linguagem. O mundo em que vivemos, de acordo com o</p><p>psicanalista, é construído de símbolos e de significantes, conceito que define que</p><p>um objeto, imagem ou situação pode representar outra coisa. O indivíduo, portanto,</p><p>consegue identificar esses símbolos por conta da linguagem. Jacques Lacan (1901-</p><p>1981) também era filósofo, por isso, seu modo de pensar a psicanálise tende a se</p><p>apoiar em conceitos mais filosóficos. A construção do “eu” é formada no interior. O</p><p>que reside no íntimo de cada um tem ligação direta com o exterior. Para</p><p>compreender uma pessoa como um todo, é necessário pensar em ambos os</p><p>aspectos, e não apenas julgá-la sobre uma única ótica. Caso contrário, a análise do</p><p>outro fica incompleta.</p><p>Neste contexto, Lacan estabelece a relação entre o “eu” e o outro, sendo a</p><p>linguagem o instrumento de mediação entre eles.</p><p>Winnicott:</p><p>O foco de Donald Winnicott (1896-1971) é a relação entre a criança e a mãe.</p><p>Segundo ele, todos nós nascemos indefesos, porém, com grande potencial. Para</p><p>que este possa se desenvolver propriamente, o ambiente precisa ser acolhedor e</p><p>garantir a satisfação das necessidades básicas.</p><p>O ambiente familiar, econômico e social são influência direta na formação do</p><p>indivíduo, sendo a mãe o fator principal. O seu relacionamento e interações com o</p><p>bebê são essenciais para que ele cresça bem. Assim, nasce o conceito da “mãe</p><p>suficientemente boa”, referente à figura que satisfaz todas as necessidades e</p><p>carências do bebê.</p><p>Consequentemente, os transtornos mentais seriam resultado tanto de um</p><p>relacionamento defeituoso com a mãe quanto de um ambiente desfavorável.</p><p>21</p><p>A criança não desenvolve apropriadamente o seu lado emocional, resultando</p><p>em uma série de complicações na vida adulta. O ambiente deficiente exerce</p><p>influência até mesmo em bebês recém-nascidos.</p><p>Klein</p><p>Melanie Klein (1882-1960) dedicou-se a estudar a mente das crianças para</p><p>descobrir seus medos, fantasias e angústias.</p><p>Ela desenvolveu a análise do comportamento delas por meio da brincadeira</p><p>para ter acesso ao inconsciente da criança já que a associação livre de Freud</p><p>dificilmente seria usada com indivíduos de pouca idade.</p><p>Diferente de Freud, Klein apontou a agressividade como elemento primordial</p><p>no desenvolvimento da criança em vez dos aspectos sexuais. Este é resultante de</p><p>um ego primitivo existente desde o nascimento.</p><p>Além disso, fundou uma teoria da psicanálise referente às fantasias do</p><p>inconsciente. Estas são elaboradas pelas crianças sobre suas mães, geralmente</p><p>criando uma imagem mais malvada do que a realidade. As fantasias são inatas</p><p>porque representam os instintos mais primitivos da criança.</p><p>Para ter acesso a essas fantasias, o psicanalista precisa inserir o lúdico no</p><p>tratamento com a criança e estimular brincadeiras para encorajar determinados</p><p>comportamentos.</p><p>Bion</p><p>Wilfred Bion (1897-1979) desenvolveu a Teoria do Pensar. O ato de pensar</p><p>surge como uma forma de lidar com a frustração, criando novas realidades para</p><p>satisfazer os desejos não satisfeitos.</p><p>Quando o ódio oriundo da frustração é grande demais para a pessoa</p><p>suportar, este sentimento encontra alívio na descarga imediata por meio de</p><p>agitações motoras.</p><p>Segundo ele, o pensar depende de dois fatores: os pensamentos</p><p>propriamente ditos e a faculdade de pensar. O pensamento vazio acontece quando</p><p>uma preconcepção do indivíduo não é realizada. Consequentemente, a frustração</p><p>https://www.vittude.com/blog/angustia/</p><p>https://www.vittude.com/blog/frustracao-porque-ficamos-frustrados/</p><p>22</p><p>aparece, sendo está definida como uma “ausência”. Logo, a pessoa se abre para um</p><p>universo simbólico construído ao longo de sua existência através de pensamentos e</p><p>interpretações do mundo, de seus sentimentos e das pessoas.</p><p>Neste contexto, o pensamento precede o conhecimento já que o indivíduo cria</p><p>o que não existe ou não conhece (preconcepção).</p><p>Bion também desenvolveu a Teoria do Conhecimento a qual afirma que a</p><p>formação do conhecimento da criança é proporcional à capacidade do ego de tolerar</p><p>a frustração. Desse modo, ela pode criar mecanismos para evitá-la.</p><p>Curiosidades</p><p>Homem dos Lobos - Resumo do Caso</p><p>(September 24, 2017 – Hítala Gomes).</p><p>Relato do caso</p><p>Apresentação</p><p>Em fevereiro de 1910, um jovem rico e russo dirige-se a Freud para ser</p><p>analisado.</p><p>Sua saúde havia se abalado aos 18 anos por uma gonorreia infecciosa, mas</p><p>ele só procura o tratamento aos 23 anos quando já está incapacitado e dependente</p><p>de outras pessoas. Freud percebe que a vida do homem dos lobos havia sido</p><p>marcada por um grave distúrbio neurótico nos primeiros anos de vida, e faz uma</p><p>descrição muito cuidadosa desse período.</p><p>Antes de chegar à Freud o paciente passou um longo período em sanatórios</p><p>alemães, tendo tido o diagnóstico de diversos especialistas de um caso de</p><p>“insanidade – maníaca –depressiva”. Freud despreza este diagnóstico, acredita que</p><p>seria aplicável ao seu pai, que tinha fortes ataques depressivos, mas não para o filho</p><p>com fortes traços de uma neurose obsessiva.</p><p>Freud, então, se dedica a descrição da neurose infantil, baseada nas</p><p>recordações de um adulto, e isso, em alguns momentos geram algumas dúvidas e</p><p>questionamentos dos fatos. Freud defende fielmente a cronologia dos eventos, por</p><p>23</p><p>ter também tido contado com outros familiares, e de algum modo, tendo assim</p><p>comprovado os fatos ocorridos.</p><p>Freud aponta para as dificuldades da análise, que durante muitos anos</p><p>produziu raras mudanças. O paciente demonstrava-se apático, escutava,</p><p>compreendia e permanecia inabordável. Numa tentativa de modificar tal situação</p><p>Freud (2006, p.23) relata:</p><p>Fui obrigado a esperar até que o seu afeiçoamento a mim se tornasse forte o</p><p>suficiente para contrabalancear essa retração, e então jogar um fator contra o outro.</p><p>Determinei – mas não antes que houvesse indícios dignos de confiança que me</p><p>levassem a julgar que chegara o momento certo – que o tratamento seria concluído</p><p>numa determinada data fixa, não importando o quanto houvesse progredido. [...] Sob</p><p>a pressão inexorável desse limite fixado, sua resistência e sua fixação na doença</p><p>cederam e então, num período desproporcionalmente curto, a análise produziu todo</p><p>o material que tornou possível esclarecer as suas inibições e eliminar os seus</p><p>sintomas.</p><p>Histórico familiar</p><p>Os pais casaram jovens e mantinham uma vida casada e feliz até iniciarem as</p><p>doenças. A mãe começou a sofrer distúrbios abdominais e o pai teve os primeiros</p><p>ataques de depressão, que o levaram a se ausentar de casa.</p><p>Tinha uma irmã dois anos mais velha, vivaz, dotada, precocemente maliciosa</p><p>e que desempenhará um papel importante de despertar o homem dos lobos para a</p><p>sexualidade.</p><p>Houve várias rupturas na infância, os pais venderam a granja e se mudaram</p><p>para a cidade; durante o verão seus pais se ausentavam e o sujeito ficava com a</p><p>babá e uma governanta inglesa. Neste período há uma mudança em seu</p><p>comportamento, diziam que ele era doce como uma menina, mas tornou-se inquieto,</p><p>irritável e violento.</p><p>Sua irmã o atormentava muito, sabia que ele tinha medos, e explorava estes</p><p>medos.</p><p>Durante muito tempo ele foi devoto, e era obrigado a rezar antes de dormir</p><p>por um longo período, e fazia uma série interminável de sinal-da-cruz.</p><p>24</p><p>O pai mostrava grande preferência pela irmã, ele se sentia muito desprezado,</p><p>e mais tarde surgira um medo muito grande do pai.</p><p>A irmã quando criança era parecida com um menino, mas teve uma fase</p><p>brilhante intelectualmente, seu pai a admirava bastante. Aos 20 anos começou a</p><p>ficar deprimida, queixando de que não era muito bonita e se afasta do convívio</p><p>social. Numa de suas viagens envenenou-se e morreu bem longe de casa.</p><p>A sedução</p><p>Sua irmã era uma grande competidora e ele sentia-se muito oprimido diante</p><p>dela. Em uma primavera,</p><p>quando o pai estava fora de casa, a irmã havia pegando</p><p>no seu pênis e brincava com ele: “A babá, dizia ela, costumava fazer o mesmo com</p><p>toda a espécie de gente – por exemplo, com o jardineiro: ela mantinha-lhe a cabeça</p><p>em pé e então pegava-lhe nos genitais” (Freud, 2006, p. 32).</p><p>Por não ter afinidade com a irmã, e não vê-la como um objeto de desejo, ele</p><p>passa a se esquivar dela, mas aos três anos, ele tenta ganhar a pessoa de quem</p><p>gostava: sua babá Nanya. Ao se masturbar na frente dela, foi recriminado por uma</p><p>ameaça de surgir uma ferida no lugar do pênis. Surge então a castração enquanto</p><p>uma possibilidade.</p><p>Com a supressão da masturbação, sua vida sexual assumiu um caráter anal-</p><p>sádico, tornou-se um menino irritável, atormentador e gratificava-se ao fazer isso</p><p>com os animais e seres humanos, principalmente a Nanya, como forma de se vingar</p><p>da recusa que encontrara. Mostra-se também cruel com os pequenos animais:</p><p>moscas, besouros e na imaginação fazia também com os grandes animais.</p><p>A partir disso, surgem também algumas fantasias masoquistas que para</p><p>Freud teriam uma relação com o sentimento de culpa.</p><p>Ocorre então uma inversão, da atitude passiva a partir da sedução da irmã, a</p><p>identificação com o pai é substituída pela escolha objetal, o pai era agora seu objeto.</p><p>Com suas rebeldias, tentava forçar castigos e espancamentos pelo pai.</p><p>“Uma criança que se comporta de forma indócil está fazendo uma confissão e</p><p>tentando provocar um castigo. Espera por uma surra como um meio de</p><p>simultaneamente pacificar seu sentimento de culpa e de satisfazer sua tendência</p><p>sexual masoquista”. (Freud, 2006, p.39)</p><p>25</p><p>Seu quarto aniversário foi marcado por um sonho que gerou um estado</p><p>grande de angústia.</p><p>O sonho</p><p>“Sonhei que era noite e que eu estava deitado na cama. (Meu leito tem o pé</p><p>da cama voltado para a janela: em frente da janela havia uma fileira de velhas</p><p>nogueiras. Sei que era inverno quando tive o sonho, e de noite.) De repente, a janela</p><p>abriu-se sozinha e fiquei aterrorizado ao ver que alguns lobos brancos estavam</p><p>sentados na grande nogueira em frente da janela. Havia seis ou sete deles. Os lobos</p><p>eram muito brancos e pareciam-se mais com raposas ou cães pastores, pois tinham</p><p>caudas grandes, como as raposas, e orelhas empinadas, como cães quando</p><p>prestam atenção a algo. Com grande terror, evidentemente de ser comido pelos</p><p>lobos, gritei e acordei” (FREUD, 2006, p. 41).</p><p>Ele relaciona seu sonho de ansiedade ao medo que sempre teve na infância</p><p>da figura de um lobo presente em um livro de contos de fadas o qual a irmã o</p><p>perseguia com esta figura.</p><p>Tal sonho tem forte ligação com a castração, que aqui aparece como uma</p><p>convicção de realidade, não apenas uma possibilidade. Freud conclui que o lobo</p><p>pode ser um substituto do pai, e que teria trazido à tona o temor ao pai, que a partir</p><p>dessa época domina sua vida. O medo de castração pode ter se tornado a força</p><p>motivadora para a transformação do afeto.</p><p>O fato do quadro de ansiedade ter ocorrido à noite durante o sonho o remeteu</p><p>a uma cena que viu quando tinha aproximadamente um ano, que foi a cópula dos</p><p>pais em circunstâncias não habituais, a mãe estava de quatro e o pai sobre ela. Tal</p><p>fato teria ocorrido, pois nesta idade ele sofrera de malária e acordava de madrugada</p><p>por conta da febre, provavelmente numa das vezes em que acordou deparou-se</p><p>com a cena.</p><p>A partir dos 10 anos tinha crises de depressão que se iniciavam sempre à</p><p>tarde e atingiam um ponto culminante por volta das 5 horas. Tal sintoma persistia na</p><p>época do tratamento.</p><p>Freud adotou uma convicção provisória da realidade da cena primária, não</p><p>conseguia saber se ela realmente aconteceu ou se seria uma fantasia, ou ainda, se</p><p>ele viu um coito entre animais e relacionou aos pais. E esta incerteza permanece ao</p><p>26</p><p>longo do caso, sem tirar a importância do fato relatado. Em momento algum Freud</p><p>exclui este relato.</p><p>Nos últimos anos de sua infância, todos os seus tutores e mestres</p><p>desempenharam o papel do pai, com influências tanto para o bem quanto para o</p><p>mal. Aos 10 anos teve um professor de latim cujo nome era Wolf (lobo). O medo</p><p>paralisante em relação a este professor se estendeu a outros. Era, ainda, um medo</p><p>do pai.</p><p>Tal sonho tem também relação com uma história que seu avô sempre</p><p>contava, na qual o lobo sem rabo pediu aos outros para subir em cima dele. “Foi</p><p>esse detalhe que evocou a lembrança do quadro da cena primária” (Freud, 2006, p.</p><p>53)</p><p>E esta cena não desencadeou uma única corrente sexual, mas toda uma</p><p>série, toda a sua vida sexual foi fragmentada por ela.</p><p>Diz Freud (2006, p.56):</p><p>A forma assumida pela ansiedade, o medo de ‘ser devorado pelo lobo’, era</p><p>apenas a transposição (como saberemos, regressiva) do desejo de copular com o</p><p>pai, isto é, de obter satisfação sexual do mesmo modo que sua mãe. Seu último</p><p>objetivo sexual, a atitude passiva em relação ao pai, sucumbiu ao recalque, e em</p><p>seu lugar apareceu o medo ao pai, sob a forma de uma fobia ao lobo.</p><p>Neurose obsessiva</p><p>Aos quatro anos e meio, devido seu estado de irritabilidade e preocupação,</p><p>sua mãe o inseriu na religião e o familiarizou com as histórias da Bíblia. Tal fato fez</p><p>com que os sintomas da ansiedade fossem substituídos por sintomas obsessivos.</p><p>Nesta fase já não há mais traços de fobia de lobos.</p><p>Não se convenceu inicialmente da história sagrada, e era capaz de descobrir</p><p>os pontos fracos da narrativa. “A essa crítica racionalista, porém, em breve juntaram-</p><p>se ruminações e dúvidas, o que nos revela que nele também operavam impulsos</p><p>ocultos”. (Freud, 2006, p.73)</p><p>Mesmo com a aproximação à religião ele não consegue sublimar a sua</p><p>atitude masoquista predominante em relação ao pai. Ele transforma-se em Cristo,</p><p>transformando assim também em um homem. Sua impulsão masoquista encontrou</p><p>27</p><p>um amparo na história da Paixão de Cristo, que por ordem do Pai e em sua honra</p><p>deixou-se maltratar e sacrificar. Nota-se uma atitude homossexual reprimida diante</p><p>de sua dúvida se Cristo teria ou não um traseiro. Tais ruminações se relacionavam</p><p>ao próprio fato dele poder ser usado pelo pai, assim como a mãe na cena primitiva.</p><p>Começou a temer Deus, e a criticá-lo. A resistência a Deus tinha a finalidade</p><p>de conseguir agarrar-se ao pai.</p><p>Por seu pai ter uma doença que o deixava constantemente internado, o</p><p>Homem dos lobos começou a transferir para todos os aleijados, mendigos e gente</p><p>miserável um sentimento de dó, e a necessidade de sempre expirar ao passar diante</p><p>deles.</p><p>Uma de suas obsessões era sempre que visse três montinhos de excremento</p><p>juntos na estrada, tinha que pensar na Santíssima Trindade.</p><p>Aos 10 anos, teve um tutor alemão que exerceu grande influência sobre ele.</p><p>Este tutor não dava nenhum valor às verdades religiosas, o que favoreceu à piedade</p><p>desaparecer junto com a dependência do pai.</p><p>O tutor o desencorajou a fazer maldades com os animais, e de fato ele pôs</p><p>fim a isso. Surgiu assim, uma sublimação do sadismo do paciente.</p><p>Erotismo anal e complexo de castração</p><p>Freud, até então, sempre relacionou o erotismo anal ao tratamento que se dá</p><p>ao dinheiro. Aqui ele demonstra que há também outras significações, não se trata</p><p>apenas do dinheiro.</p><p>O paciente tinha diversas perturbações intestinais, e as fezes haviam tido</p><p>para ele o significado de dinheiro. Esses distúrbios começaram muito cedo, na forma</p><p>mais frequente e normal nas crianças, ou seja, a incontinência.</p><p>Aos quatro anos e meio, durante um período de ansiedade, aconteceu de ter</p><p>sujado as calças, diante da sua vergonha, queixou-se que não poderia continuar a</p><p>viver daquele jeito. Frase que durante a análise é relacionada à mãe do paciente.</p><p>Durante uma ida à estação, com o médico que viera visitá-la ela se lamentou das</p><p>dores e hemorragia e proferiu “não posso mais viver deste jeito”. O episódio ocorrido</p><p>aos quatro anos, demonstra, assim, sua identificação à</p><p>mãe. Colocava-se no lugar</p><p>da mãe e tinha inveja da sua relação com o pai.</p><p>28</p><p>Com a morte da irmã, sentiu um grande alívio, pois, agora o pai (que sempre</p><p>dava dinheiro e atenção à irmã), teria que amar somente a ele.</p><p>Havia no Homem dos lobos duas correntes contrárias, uma que abominava a</p><p>ideia de castração e outra que estava preparada para aceitá-la e consolar-se com a</p><p>feminilidade, como uma compensação.</p><p>Aos 5 anos, ele teve uma alucinação a qual seu dedo estava dependurado,</p><p>preso apenas pela pele.</p><p>“Quando eu tinha cinco anos, estava brincando no jardim perto da babá,</p><p>fazendo cortes com meu canivete na casca de uma das nogueiras que aparecem em</p><p>meu sonho também. De repente, para meu inexprimível terror, notei ter cortado fora</p><p>o dedo mínimo da mão (direita ou esquerda?), de modo que ele se achava</p><p>dependurado, preso apenas pela pele. Não senti dor, mas um grande medo. Não me</p><p>atrevi a dizer nada à babá, que se encontrava a apenas alguns passos de distância,</p><p>mas deixei-me cair sobre o meu assento mais próximo e lá fiquei sentado, incapaz</p><p>de dirigir outro olhar ao meu dedo. Por mim, me acalmei, olhei para ele e vi que</p><p>estava inteiramente ileso” (FREUD, 2006, p.93). Apesar das ameaças de castração</p><p>que recebeu terem vindo das mulheres, foi a castração de seu pai que ele veio a</p><p>temer.</p><p>Surge um novo material</p><p>O paciente lembra-se que em um momento quando tentava apanhar uma</p><p>grande e bonita borboleta com listrar amarelas e enormes asas, foi tomado por um</p><p>grande medo da criatura e fugiu aos gritos.</p><p>Recordou-se então de uma babá que teve chamada Groucha (que em alemão</p><p>significa pera, na granja havia peras grandes com listras amarelas), ficando claro</p><p>que sua lembrança encobridora da caça a borboleta, ocultava outra lembrança com</p><p>a babá.</p><p>A cena que viu, aos dois anos e meio, era da Groucha esfregando o chão, de</p><p>quatro, na mesma postura que a mãe na cena primária. A moça teria se</p><p>transformado em sua mãe, fato que causou uma excitação sexual, em virtude da</p><p>lembrança da imagem dos pais. Diante disso, urinou no chão numa tentativa de</p><p>sedução, e o que aconteceu em seguida, foi uma ameaça de castração.</p><p>29</p><p>Pareceu, então, que seu medo da borboleta era, em todos os aspectos,</p><p>análogo ao medo do lobo; em ambos os casos era um medo de castração, que se</p><p>referia, para começar, à pessoa que primeiro proferiu a ameaça de castração, mas</p><p>depois foi transposta para outra pessoa[...] (Freud, 2006, p.103)</p><p>O desejo de nascer do pai, de ser sexualmente satisfeito pelo pai e de</p><p>presenteá-lo com uma criança completam o círculo da fixação nos pais.</p><p>A todo o momento para o Homem dos Lobos há um conflito entre as</p><p>tendências masculina e feminina. Ao desenvolver a ansiedade na sua infância, o ego</p><p>estaria se protegendo contra a satisfação homossexual, a qual considerava um</p><p>perigo esmagador. E o que se torna consciente é o medo do lobo, não do pai.</p><p>Diz Freud (2006, p.119) “De fato, pode-se dizer que ansiedade que estava</p><p>envolvida na formação dessas fobias era um medo da castração”.</p><p>Freud percebeu, ainda, que uma parte do impulso homossexual foi mantido</p><p>pelo órgão a que estava ligado, isto é, seu intestino, que teria se comportado como</p><p>um órgão histericamente afetado. “O homossexualismo recalcado e inconsciente</p><p>refugiou-se nos intestinos” (FREUD, 2006, p. 119).</p><p>Durante a puberdade surge no paciente uma corrente masculina,</p><p>marcadamente sensual, que se relacionava com a cena de Groucha: uma paixão</p><p>compulsiva que surgia e desaparecia, em acessos repentinos. Houve uma mudança</p><p>em relação as mulheres, conservando-as como seu objeto sexual. Há neste período</p><p>um esforço pela masculinidade. Para Freud, ele adoeceu em consequência de uma</p><p>frustração narcísica.</p><p>Mito de Narciso em resumo</p><p>Há muito tempo, na floresta, passeava Narciso, o filho do sagrado rio</p><p>Kiphissos. Era lindo, porém tinha um modo frio e egoísta de ser. Era muito</p><p>convencido de sua beleza e sabia que não havia no mundo ninguém mais bonito</p><p>que ele.</p><p>Vaidoso, a todos dizia que seu coração jamais seria ferido pelas flechas de</p><p>Eros, filho de Afrodite, pois não se apaixonava por ninguém. As coisas foram assim</p><p>até o dia em que a ninfa Eco o viu e imediatamente se apaixonou por ele. Ela era</p><p>30</p><p>linda, mas não falava; o máximo que conseguia era repetir as últimas sílabas das</p><p>palavras que ouvia.</p><p>Narciso, fingindo-se de desentendido, perguntou:</p><p>– Quem está se escondendo aqui perto de mim?</p><p>– de mim – repetiu a ninfa assustada.</p><p>– Vamos, apareça! – Ordenou. – Quero ver você!</p><p>– ver você! – Repetiu a mesma voz em tom alegre.</p><p>Assim, Eco aproximou-se do rapaz. Mas nem a beleza e nem o misterioso</p><p>brilho nos olhos da ninfa conseguiram amolecer o coração de Narciso.</p><p>– Dê o fora! – Gritou, de repente. – Por acaso pensa que eu nasci para ser</p><p>um da sua espécie? Sua tola!</p><p>– Tola! – Repetiu Eco, fugindo de vergonha.</p><p>A deusa do amor não poderia deixar Narciso impune depois de fazer uma</p><p>coisa daquelas. Resolveu, pois, que ele deveria ser castigado pelo mal que havia</p><p>feito.</p><p>Um dia, quando estava passeando pela floresta, Narciso sentiu sede e quis</p><p>tomar água.</p><p>Imagem: Reprodução</p><p>31</p><p>Ao debruçar-se num lago, viu seu próprio rosto refletido na água. Foi naquele</p><p>momento que Eros atirou uma flecha direto em seu coração. Sem saber que o</p><p>reflexo era de seu próprio rosto, Narciso imediatamente se apaixonou pela imagem.</p><p>Quando se abaixou para beijá-la, seus lábios se encostaram na água e a</p><p>imagem se desfez. A cada nova tentativa, Narciso ia ficando cada vez mais</p><p>desapontado e recusando-se a sair de perto da lagoa. Passou dias e dias sem</p><p>comer nem beber, ficando cada vez mais fraco. Assim, acabou morrendo ali mesmo,</p><p>com o rosto pálido voltado para as águas serenas do lago.</p><p>Esse foi o castigo do belo Narciso, cujo destino foi amar a si próprio.</p><p>Eco ficou chorando ao lado do corpo dele, até que a noite a envolveu. Ao</p><p>despertar, Eco viu que Narciso não estava mais ali, mas em seu lugar havia uma</p><p>bela flor perfumada. Hoje, ela é conhecida pelo nome de “narciso”, a flor da noite.</p><p>Referências</p><p>CELES, Luiz Augusto. Psicanálise é trabalho de fazer falar, e fazer ouvir. São Paulo,</p><p>2005.</p><p>IPA. Sobre a psicanálise. 2021.</p><p>OPAS. As 5 Fases do Desenvolvimento Psicossexual Segundo Freud. 2018.</p><p>PIMENTA, Tatiana. O que é psicanálise: entenda os conceitos e abordagens</p><p>básicas. 2019.</p><p>PSICANÁLISE CLÍNICA. Método da Associação Livre em Psicanálise. 2018.</p><p>TANCREDI, Silvia. Sigmund Freud. Brasil Escola. 2021.</p>