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<p>Como construir uma vida próspera através do design.</p><p>Os designers criam mundos e resolvem problemas usando o design thinking, ou</p><p>pensamento de design. Olhe ao redor de seu escritório ou de sua casa, para seu</p><p>smartphone ou para a cadeira onde você está sentado: tudo em nossas vidas foi</p><p>projetado por alguém. E cada projeto começa com um problema que um</p><p>designer ou uma equipe de designers procura resolver.</p><p>O mesmo pensamento responsável pela tecnologia que nos cerca, por produtos</p><p>incríveis e espaços inusitados, pode ser usado para projetar e construir sua</p><p>carreira e sua vida, uma vida de realizações e alegria, sem nunca perder de</p><p>vista a possibilidade da surpresa.</p><p>Baseado nas aulas dos designers Bill Burnett e Dave Evans, O design da sua vida</p><p>é a versão em livro de um dos cursos eletivos mais disputados na Universidade</p><p>de Stanford, na Califórnia, procurado por alunos novatos, profissionais já</p><p>estabelecidos em suas carreiras e diletantes em busca de novas possibilidades.</p><p>Aqui, Burnett e Evans refinaram os exercícios praticados em sala de aula para</p><p>torná-los mais eficientes e realizáveis, em um método simples que irá ensiná-lo</p><p>a usar ferramentas básicas do design para projetar uma vida criativa e</p><p>produtiva.</p><p>Usando histórias reais e técnicas comprovadas, você aprenderá a construir seu</p><p>caminho para uma vida gratificante, aperfeiçoada por um design de sua própria</p><p>criação. Porque uma vida bem projetada significa uma vida bem vivida.</p><p>E</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Um Projeto de Vida</p><p>llen gostava de pedras. Gostava de colecioná-las, classificá-las e</p><p>categorizá-las por tamanho e formato ou por tipo e cor. Após dois anos de</p><p>ciclo básico em uma universidade renomada, chegou a hora de escolher a</p><p>especialização. Ellen não tinha a menor ideia do que queria fazer da vida ou do</p><p>que queria ser quando crescesse, mas era hora de escolher. A geologia parecia</p><p>ser a melhor opção no momento. Afinal de contas, ela gostava muito mesmo de</p><p>pedras.</p><p>Os pais de Ellen se orgulhavam da filha – estudante de geologia, futura</p><p>geóloga. Quando se formou, Ellen voltou a morar na casa deles e fez uns bicos</p><p>cuidando de crianças e passeando com cachorros para ganhar algum dinheiro.</p><p>Seus pais não entendiam nada. Era isso que ela fazia quando estava na escola,</p><p>mas eles pagaram caro pela faculdade e agora se perguntavam quando a filha</p><p>iria se transformar magicamente em geóloga. Quando começaria sua carreira?</p><p>Era para isso que Ellen tinha estudado e era o que deveria fazer.</p><p>O problema era que Ellen tinha decidido que não queria ser geóloga. Ela não</p><p>tinha interesse em dedicar seu tempo ao estudo dos processos, das estruturas e</p><p>da história da terra. Também não estava interessada no trabalho de campo nem</p><p>em trabalhar para empresas de recursos naturais ou agências ambientais. Ela</p><p>não gostava de fazer mapeamento nem de escrever relatórios. Tinha escolhido a</p><p>geologia por falta de opção melhor e porque gostava de pedras. Mas, agora, com</p><p>o diploma nas mãos e pais frustrados no seu pé, Ellen não tinha absolutamente</p><p>a menor ideia de como conseguir um emprego, nem do que deveria fazer pelo</p><p>resto da vida.</p><p>Se os anos de faculdade tivessem sido os melhores da sua vida, como todo</p><p>mundo disse que seria, Ellen só tinha como piorar. Ela não sabia que estava</p><p>longe de ser a única pessoa no mundo a não querer trabalhar em seu campo de</p><p>formação. Na verdade, nos Estados Unidos, só 27% dos egressos das</p><p>universidades atuam em carreiras relacionadas à sua área de formação. A noção</p><p>de que o curso que se escolhe na universidade determina o resto da vida – e que</p><p>a época da faculdade é a melhor da vida toda (antes de uma existência</p><p>entediante de trabalho duro) – é o que chamamos de crença disfuncional – os</p><p>mitos que impedem muitas pessoas de projetar a vida que querem para si.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Crença Disfuncional: Seu diploma determina a sua carreira.</p><p>Reformulação: Três quartos de todos os norte-americanos com curso superior</p><p>acabam não trabalhando em carreiras relacionadas às suas áreas de formação.</p><p>Com trinta e poucos anos, Janine estava começando a aproveitar os</p><p>resultados de décadas de dedicação. Ela entrou cedo no mundo corporativo e</p><p>conquistou seu lugar ao sol. Formou-se em direito em uma universidade de</p><p>elite, começou a trabalhar em um escritório de advocacia que atuava em casos</p><p>importantes e influentes e estava realmente a caminho de “se dar bem”. Tudo</p><p>na vida de Janine – faculdade, casamento, carreira – tinha ocorrido exatamente</p><p>como o planejado. Com força de vontade e muito trabalho, ela havia</p><p>conquistado tudo o que queria. Sua vida era puro sucesso e realização.</p><p>Mas Janine tinha um segredo.</p><p>Algumas vezes, quando chegava em casa após um dia de trabalho em um dos</p><p>escritórios mais respeitados e reconhecidos do Vale do Silício, Janine sentava na</p><p>varanda, contemplava as luzes da cidade e chorava. Ela tinha tudo que achava</p><p>que deveria ter na vida, tudo que achava que queria, mas se sentia</p><p>profundamente infeliz. Sabia que deveria estar em êxtase com a vida que</p><p>construíra para si, mas não estava nem perto disso.</p><p>Janine achava que havia algo de errado com ela. Quem acorda todos os dias</p><p>para um dia de sucesso e vai dormir todas as noites com o estômago</p><p>embrulhado, sentindo que falta alguma coisa, que algo se perdeu ao longo do</p><p>caminho? O que você faz quando tem tudo e nada ao mesmo tempo? Assim</p><p>como Ellen, Janine também tinha uma crença disfuncional. Ela acreditava que</p><p>seria feliz se entrasse no jogo pra valer e conquistasse todos os prêmios. E ela</p><p>também não está sozinha. Apenas nos Estados Unidos, dois terços dos</p><p>trabalhadores estão infelizes com seus empregos. E 15% realmente detestam</p><p>seu trabalho.</p><p>Crença Disfuncional: Se for bem-sucedido, você será feliz.</p><p>Reformulação: A verdadeira felicidade ocorre quando você projeta uma vida que</p><p>funciona para você.</p><p>Donald ganhara dinheiro. Ele trabalhava havia trinta anos no mesmo emprego.</p><p>Sua casa estava quase quitada, todos os seus filhos tinham diplomas</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>universitários, os seus fundos de aposentadoria estavam garantidos. Ele tinha</p><p>uma carreira e uma vida sólidas: acordava, ia trabalhar, pagava as contas,</p><p>voltava para casa e dormia. Acordava no dia seguinte e fazia tudo de novo. Era a</p><p>mesma rotina, dia após dia.</p><p>Durante anos, todos os dias, Donald se perguntava a mesma coisa. Ele</p><p>carregava essa dúvida para a lanchonete, para a mesa de jantar, para a igreja e</p><p>até mesmo para o balcão do bar, onde umas doses de uísque aquietavam o</p><p>problema. Mas sempre voltava. Por quase uma década, a pergunta o acordava às</p><p>duas da manhã e o encarava no espelho do banheiro: “Por que diabos estou</p><p>fazendo isso?” O cara que o encarava no espelho nunca conseguiu lhe dar uma</p><p>boa resposta. A crença disfuncional de Donald era parecida com a de Janine,</p><p>mas ele guardava a sua havia muito mais tempo – uma vida de trabalho</p><p>responsável e bem-sucedido deveria deixá-lo feliz. Seria o suficiente? Mas</p><p>Donald tinha mais uma crença disfuncional: a de que não poderia parar de fazer</p><p>o que sempre fizera. Se ao menos o cara no espelho tivesse lhe dito que não</p><p>estava sozinho e que não precisava continuar a fazer a mesma coisa de sempre.</p><p>Nos Estados Unidos, mais de 31 milhões de pessoas com idade entre 44 e 70</p><p>anos desejam uma “carreira bis” – um trabalho que combina significado pessoal,</p><p>renda contínua e impacto social. Alguns desses 31 milhões de pessoas</p><p>encontraram suas novas carreiras, mas muitas outras não têm ideia de por onde</p><p>começar e temem que seja tarde demais para fazer grandes mudanças.</p><p>Crença Disfuncional: É tarde demais.</p><p>Reformulação: Nunca é tarde demais para projetar uma vida que ame.</p><p>Três pessoas. Três grandes problemas.</p><p>Designers</p><p>acho que deveria. Eu recito uma</p><p>afirmação todas as manhãs, o que mudou completamente a minha perspectiva</p><p>de vida. Tenho participado de um grupo de homens desde que meu filho nasceu</p><p>(há vinte e um anos), e esses homens têm sido meus guias e companheiros em</p><p>muitas jornadas espirituais. Classifico a minha saúde como “meio tanque”.</p><p>Seu Indicador de Trabalho</p><p>Faça uma lista de todas as maneiras em que “trabalha” e depois “meça” a sua vida</p><p>de trabalho no total. Supomos que há coisas na sua lista pelas quais é</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>remunerado, o que inclui o seu emprego regular, seu segundo emprego se o</p><p>primeiro não é suficiente e ainda qualquer trabalho de consultoria ou</p><p>assessoramento que faça etc. Se for o caso, inclua também trabalho voluntário em</p><p>alguma organização. Se você trabalha no lar, como Debbie, lembre-se de que</p><p>cozinhar para a família, cuidar dos filhos ou dos pais idosos e fazer faxina são</p><p>formas de “trabalho”.</p><p>Trabalho</p><p>O exemplo de Bill:</p><p>Trabalho: Eu trabalho em Stanford e faço alguma consultoria privada, ministro</p><p>workshops de projeto de vida, estou no conselho administrativo da VOZ, uma</p><p>start-up socialmente responsável (trabalho não remunerado).</p><p>Seu Indicador de Lazer</p><p>Lazer é qualquer atividade que gera alegria pelo puro prazer de participar. Pode</p><p>incluir atividades organizadas ou esforços produtivos, mas só se for por diversão e</p><p>não por mérito. Nós afirmamos que todas as vidas precisam de algum lazer e que</p><p>garantir que exista algum lazer em seu dia a dia é um passo indispensável no seu</p><p>projeto de vida. Faça rapidamente uma lista das formas como se dedica ao lazer e</p><p>preencha o indicador no painel: você está um quarto, metade, três quartos ou</p><p>completamente cheio?</p><p>Lazer</p><p>O exemplo de Bill:</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Lazer: Minha forma de relaxar é cozinhar para os amigos e dar grandes jantares</p><p>ao ar livre – mas é só isso.</p><p>(Aliás, Bill considera isto como sendo uma luz vermelha no seu painel.)</p><p>Seu Indicador de Amor</p><p>Nós achamos que o amor faz o mundo girar, e, quando não o temos, nosso mundo</p><p>não é tão brilhante e colorido. Também achamos que temos que dar atenção ao</p><p>amor e que ele vem em uma ampla variedade de formas. Nosso relacionamento</p><p>primário é nossa principal fonte de amor, filhos tipicamente vêm a seguir e,</p><p>depois, é uma enxurrada de pessoas e animais de estimação e comunidades e tudo</p><p>o mais que seja o objeto do nosso afeto. É fundamental sentir-se amado pelos</p><p>outros como nós os amamos – tem que ser recíproco. Para onde flui o amor na sua</p><p>vida, de você e dos outros? Faça uma lista e depois encha o seu indicador.</p><p>Amor</p><p>O exemplo de Bill:</p><p>Amor: O amor aparece em muitos lugares na minha vida. Eu amo minha mulher,</p><p>meus filhos, meus pais, meus irmãos e minha irmã, e esse amor é retribuído por</p><p>eles todos à sua maneira. Eu amo arte, pintura em especial, que me toca como</p><p>nada mais; amo a música em todas as suas formas – me faz feliz e me faz chorar.</p><p>Eu amo os grandes espaços do mundo, naturais ou artificiais, que me deixam</p><p>completamente sem palavras.</p><p>Uma olhada nas luzes do painel de Bill indica a falta de lazer e algumas</p><p>questões com a saúde física. Estas “luzes vermelhas” são indicativas de áreas às</p><p>quais Bill precisa ficar atento.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>PAINEL DE CONTROLE DO BILL com "LUZES VERMELHAS" no LAZER e na SAÚDE</p><p>Então, Como Vão as Coisas Mesmo?</p><p>Saber o estado atual do seu painel de saúde/trabalho/lazer/amor proporciona</p><p>um quadro e alguns dados a respeito de você, tudo num lugar só. Só você sabe o</p><p>que é e o que não é bom o suficiente – pelo menos agora.</p><p>Depois de mais alguns capítulos e mais algumas ferramentas e ideias, você</p><p>pode querer voltar ao painel e verificar os indicadores mais uma vez para ver se</p><p>algo poderá ser mudado. Como o design de vida é um processo interativo de</p><p>experimentação e protótipos, há várias rampas de acesso ao longo da via. Se</p><p>você começar a pensar como um designer, vai notar que a vida nunca está</p><p>terminada. O trabalho nunca está terminado. O lazer nunca está terminado. O</p><p>amor e a saúde nunca estão terminados. Só terminamos de projetar nossas</p><p>vidas quando morremos. Até lá, estamos envolvidos numa iteração constante do</p><p>próximo grande projeto: a vida como a conhecemos. Portanto, as perguntas</p><p>permanecem: você está feliz com o que as luzes indicam no painel em cada uma</p><p>destas áreas? Você as estudou honestamente? Existem áreas que precisam de</p><p>ação? Você encontrou algum dos seus problemas perversos? É possível, mesmo</p><p>tão cedo no processo. Se você acha que sim, verifique primeiro se não está na</p><p>presença de um problema gravitacional. Pergunte-se se o problema é acionável.</p><p>Procure também alguma expressão de equilíbrio e proporcionalidade em seu</p><p>painel – muito importante em design – sem imaginar que há simetria ou</p><p>equilíbrio perfeitos entre todas as áreas em sua vida. É pouco provável que</p><p>saúde, trabalho, lazer e amor se dividam perfeitamente em quatro partes. Mas</p><p>quando a vida está realmente desequilibrada pode haver um problema.</p><p>Bill notou que o seu indicador de lazer estava bem baixo. Como está o seu?</p><p>Seu indicador de lazer está quase vazio e o de trabalho totalmente cheio? E o</p><p>amor? E a saúde? Como vão a sua saúde mental e a espiritual? Você já deve</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>estar entendendo quais áreas da vida precisam de um pouco de design ou</p><p>inovação.</p><p>Ao começar a pensar como um designer, lembre-se do seguinte: é impossível</p><p>fazer previsão. O corolário desse pensamento também é importante: quando</p><p>você criar algo, muda o futuro possível.</p><p>Procure assimilar esta ideia.</p><p>Criar algo muda o futuro possível.</p><p>Então, embora não seja possível conhecer o seu futuro ou criar um ótimo</p><p>projeto de vida antes de começar, ao menos você tem uma boa ideia do seu</p><p>ponto de partida. Agora é hora de apontar a direção certa para a jornada à</p><p>frente. Para isso, você precisará de uma bússola.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Experimente</p><p>Painel de Saúde/Trabalho/Lazer/Amor</p><p>1. Escreva algumas frases sobre o estado das coisas em cada uma destas áreas.</p><p>2. Anote onde está (0 a cheio) em cada indicador.</p><p>3. Pense se existe um problema de design que você gostaria de abordar em alguma</p><p>dessas áreas.</p><p>4. Agora avalie se o seu “problema” é gravitacional.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>T</p><p>2</p><p>Construindo Uma Bússola</p><p>emos só três perguntas para você:</p><p>Qual é o seu nome?</p><p>Qual é a sua busca?</p><p>Qual é a velocidade média de uma andorinha voando sem carga?</p><p>Se você é como a maior parte das pessoas, é provável que tenha sido fácil</p><p>responder duas dessas três perguntas. Todos nós sabemos como nos</p><p>chamamos, e uma simples busca no Google pode dar-nos a outra resposta – 39</p><p>quilômetros por hora. (Para todos os fãs do filme Monty Python: Em busca do</p><p>cálice sagrado, essa é a velocidade da andorinha europeia.)</p><p>Portanto, vamos falar sobre a pergunta que é um pouco mais difícil: qual é a</p><p>sua busca? Não é difícil imaginar que, se somássemos todas as horas passadas</p><p>tentando entender a vida, para alguns de nós seria mais tempo do que as horas</p><p>passadas vivendo a vida. Vivendo. Mesmo. A. Vida.</p><p>Todos nós sabemos nos preocupar com nossa própria vida, analisar nossa</p><p>vida e até especular sobre nossa vida. Preocupação, análise e especulação não</p><p>são as melhores ferramentas e, em algum momento da vida, muitos de nós</p><p>acabamos perdidos e confusos ao usá-las. Elas tendem a nos prender em ciclos</p><p>infinitos, passando semanas, meses ou anos sentados naquele sofá (ou a uma</p><p>mesa ou num relacionamento) tentando descobrir o que fazer a seguir. É como</p><p>se a vida fosse um grande e elaborado projeto de artesanato, mas só um grupo</p><p>seleto recebesse o manual de instruções.</p><p>Isso não é projetar a vida.</p><p>Isso é enlouquecer com a vida.</p><p>Estamos aqui para mudar isso.</p><p>E as perguntas que estamos fazendo no fim das contas são as mesmas que os</p><p>gregos começaram a perguntar no século V a.C. e que continuamos a perguntar</p><p>desde então: o que é uma boa vida? Como defini-la? Como vivê-la? Através dos</p><p>tempos, as pessoas têm feito as mesmas perguntas:</p><p>Por que estou aqui?</p><p>O que estou fazendo?</p><p>Por que isso importa?</p><p>Qual é o meu propósito?</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Qual é o sentido de tudo?</p><p>O design de vida é uma forma de descobrir suas próprias respostas para estas</p><p>questões eternas, para descobrir sua própria boa vida. As respostas de Dave</p><p>para “Por que estou aqui?”, “O que estou fazendo?” e “Por que isso importa?”</p><p>vão ser diferentes das respostas de Bill, e nossas respostas serão diferentes das</p><p>suas. Mas vamos todos fazer as mesmas perguntas. E todos podemos encontrar</p><p>as respostas para a nossa vida.</p><p>No capítulo passado, você respondeu a uma das nossas perguntas favoritas –</p><p>“Como vão as coisas?” –, uma pergunta que fazemos sempre nos atendimentos a</p><p>alunos. Se você preencheu o painel do seu projeto de vida, você agora sabe onde</p><p>os indicadores estão cheios e onde estão vazios, e saber o que há no seu painel é</p><p>o primeiro passo para projetar a sua vida.</p><p>O próximo passo é construir a sua bússola.</p><p>Construindo Sua Bússola</p><p>Você precisa de duas coisas para construir a sua bússola – uma Visão de</p><p>Trabalho e uma Visão de Vida. Primeiro, temos que saber qual o significado de</p><p>trabalho para você. Para que serve? Por que o faz? O que faz o bom trabalho ser</p><p>bom? Se você encontrar e puder articular a sua filosofia de trabalho (o motivo e</p><p>a razão de trabalhar), provavelmente não vai permitir que outros projetem sua</p><p>vida por você. Desenvolver a sua própria Visão de Trabalho é um componente</p><p>da bússola em construção, a Visão de Vida é o outro.</p><p>Visão de Vida pode soar um pouco grandioso, mas não é – todo mundo tem</p><p>uma Visão de Vida. Pode ser que você não a tenha articulado antes, mas, se você</p><p>está vivo, ela existe. A Visão de Vida é simplesmente a sua noção de como</p><p>funciona o mundo. O que confere significado à vida? O que torna sua vida</p><p>valiosa? O que faz a vida valer a pena? Como a sua vida se relaciona com sua</p><p>família, sua comunidade e o mundo? O que fama, dinheiro e conquistas pessoais</p><p>têm a ver com uma vida satisfatória? Qual a importância da experiência, do</p><p>crescimento e das realizações em sua vida?</p><p>Quando tiver escrito sua Visão de Trabalho e sua Visão de Vida e completado</p><p>o simples exercício que segue, você terá a sua bússola e estará no caminho para</p><p>uma vida bem projetada. Não se preocupe, nós sabemos que a Visão de</p><p>Trabalho e a Visão de Vida irão mudar. É óbvio que as duas serão</p><p>substancialmente distintas na adolescência, na faculdade e na vida adulta. O</p><p>ponto é que você não precisa saber tudo para o resto da vida – você só tem que</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>criar a bússola baseado no que a vida é para você agora.</p><p>Parker Palmer, um renomado reformador educacional e autor do livro Let</p><p>Your Life Speak [Deixe a sua vida falar], diz que em um determinado momento</p><p>notou que estava fazendo o nobre trabalho de viver a vida de outra pessoa.</p><p>Parker estava imitando seus grandes heróis, Martin Luther King Jr. e Gandhi,</p><p>ambos grandes líderes da justiça social dos anos 1950 e 1960. Porque</p><p>valorizava os sentimentos e objetivos desses homens, Parker definiu seu</p><p>caminho no mundo pela bússola deles, não pela própria, e trabalhou muito para</p><p>mudar o sistema educacional de dentro para fora. Fez doutorado na UC</p><p>Berkeley e estava prestes a atingir sua meta de tornar-se um respeitável reitor</p><p>universitário. Estava tudo certo, tudo bem, mas Parker detestava aquilo. Ele</p><p>concluiu que poderia ser inspirado por pessoas como Martin Luther King e</p><p>Gandhi, mas isso não significava que precisava trilhar os mesmos caminhos de</p><p>seus ídolos. Ele acabou transformando sua vida como um escritor e pensador –</p><p>ainda trabalhando nas mesmas metas, porém de uma forma mais autêntica.</p><p>Existem muitas vozes poderosas pelo mundo e muitas vozes poderosas na</p><p>nossa cabeça, todas nos dizendo o que fazer e quem ser. E, porque existem</p><p>muitos modelos de como a vida deve ser vivida, todos corremos o risco, feito</p><p>Parker, de acidentalmente usar a bússola de outras pessoas e viver a vida</p><p>alheia. A melhor maneira de evitar isso é articular claramente nossas Visões de</p><p>Trabalho e de Vida para podermos construir a nossa própria bússola particular.</p><p>A nossa meta para a sua vida é bem simples: coerência. Uma vida coerente é</p><p>uma vivida de tal maneira que você pode claramente ligar os pontos entre três</p><p>coisas:</p><p>Quem você é</p><p>No que acredita</p><p>O que está fazendo</p><p>Por exemplo, se na sua Visão de Vida você acredita em deixar o planeta um</p><p>lugar melhor para as próximas gerações e trabalha para uma corporação</p><p>gigante que está poluindo o planeta (mas por um ótimo salário), haverá uma</p><p>falta de coerência entre aquilo em que acredita e seu trabalho, resultando em</p><p>muita frustração e tristeza. Quase todo mundo tem que fazer concessões ao</p><p>longo da vida, incluindo algumas de que talvez não gostem. Se a sua Visão de</p><p>Vida diz que a arte é a única coisa que vale a pena buscar e sua Visão de</p><p>Trabalho diz que é crucial ganhar dinheiro o suficiente para que nada falte aos</p><p>seus filhos, você vai ter que abrir mão de valores da sua Visão de Vida enquanto</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>tiver crianças dependentes em casa. Mas isso não será um problema, porque é</p><p>uma decisão consciente que permite que você mantenha o rumo e a coerência.</p><p>Viver com coerência não significa que tudo está sempre na mais perfeita ordem,</p><p>só que você está vivendo em alinhamento com seus valores e que não sacrificou</p><p>a sua integridade pelo caminho. Quando você tem uma boa bússola para guiá-lo,</p><p>adquire o poder de fazer este tipo de acordo consigo próprio. Se você pode ver</p><p>as ligações entre quem você é, aquilo em que acredita e o que faz, saberá</p><p>quando está no rumo certo, quando há tensão, quando são necessárias</p><p>concessões cuidadosas e quando precisa de um grande ajuste de curso. A</p><p>experiência com nossos alunos nos mostrou que a capacidade de ligar estes três</p><p>pontos amplifica a identidade e ajuda a criar mais significado e maior satisfação</p><p>na vida.</p><p>Portanto, chegou a hora de construir a bússola e preparar a sua busca. Neste</p><p>momento a busca é simples (e não é o Cálice Sagrado): sua busca é projetar a</p><p>sua vida. Todos queremos as mesmas coisas – uma vida longa e saudável, um</p><p>trabalho do qual gostemos e que achemos importante, relacionamentos com</p><p>afeto e importância e uma porção de coisas boas no meio do caminho –, mas</p><p>pensamos em obtê-las de maneiras muito diferentes.</p><p>Reflexão Sobre a Visão de Trabalho</p><p>Escreva uma breve reflexão sobre a sua Visão de Trabalho. Não queremos um</p><p>artigo acadêmico (você continua não sendo avaliado), mas realmente queremos</p><p>que escreva, não só pense. Demora só uma meia hora. Tente fazê-lo em 250</p><p>palavras, é menos do que uma página digitada.</p><p>Uma Visão de Trabalho deve falar de assuntos cruciais ligados ao que é o</p><p>trabalho e ao que ele significa para você. Não é apenas uma lista das coisas que</p><p>quer no trabalho, mas uma declaração geral da sua perspectiva profissional. É a</p><p>sua opinião sobre o que merece ser considerado bom trabalho. Uma Visão de</p><p>Trabalho poderá abordar, por exemplo, as seguintes questões:</p><p>Por que trabalhar?</p><p>Para que serve o trabalho?</p><p>O que significa o trabalho?</p><p>Qual a ligação do trabalho com o indivíduo, os outros, a sociedade?</p><p>O que define um bom trabalho que vale a pena?</p><p>O que o dinheiro tem a ver com isso?</p><p>O que a experiência, o crescimento e as realizações pessoais têm a ver com isso?</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Nos anos que passamos ajudando as pessoas com este exercício, notamos que</p><p>uma Visão de Trabalho</p><p>é uma ideia bem inovadora para a maioria das pessoas.</p><p>Reparamos também que quando ficam emperradas neste exercício é porque só</p><p>estão descrevendo o que procuram em uma função ou em um trabalho</p><p>específico, o que é só uma descrição de emprego. Para este exercício não nos</p><p>interessa qual trabalho deseja fazer, mas o motivo por que trabalha.</p><p>O que estamos procurando é a sua filosofia de trabalho – para que serve, o</p><p>que significa. Isto será essencialmente o seu manifesto de trabalho. Ao utilizar o</p><p>termo “trabalho”, estamos falando da definição mais ampla, não só o seu cargo</p><p>ou o que faz para ganhar dinheiro. Trabalho é frequentemente o maior</p><p>componente das horas que passamos acordados e, ao longo da vida, exige mais</p><p>atenção e energia do que qualquer outra atividade. Por isso, sugerimos que pare</p><p>para refletir sobre o que significam para você trabalho e vocação (e talvez o que</p><p>você espera que signifiquem para os outros também).</p><p>Visões de Trabalho podem variar muito no que abordam e como incorporam</p><p>questões diferentes, tais como servir aos outros e ao mundo, dinheiro e padrão</p><p>de vida, e crescimento, aprendizado, aptidões e talentos. Todos estes elementos</p><p>podem ser parte da equação. Queremos que você fale do que considera</p><p>importante. Não é necessário falar de servir aos outros ou fazer qualquer</p><p>ligação explícita com questões sociais. Porém, Martin Seligman,[1] o criador da</p><p>psicologia positiva, descobriu que as pessoas que fazem uma conexão explícita</p><p>entre o seu trabalho e algo socialmente significativo para elas têm maior</p><p>tendência a encontrar satisfação e são mais capazes de adaptar-se às inevitáveis</p><p>tensões e concessões relacionadas a trabalhar para ganhar a vida. Como os</p><p>alunos costumam nos dizer que anseiam por um trabalho satisfatório e</p><p>importante, encorajamos você a explorar as perguntas formuladas na seção</p><p>Reflexão Sobre a Visão de Trabalho e escrever a sua Visão de Trabalho. Sua</p><p>bússola não estará completa sem ela.</p><p>Reflexão Sobre a Visão de Vida</p><p>Exatamente como fez com a Visão de Trabalho, faça o favor de escrever uma</p><p>reflexão sobre a sua Visão de Vida. Isto também não deverá levar mais de meia</p><p>hora e umas 250 palavras. A seguir estão algumas perguntas frequentemente</p><p>respondidas em uma Visão de Vida para você começar. O principal é escrever as</p><p>definições e perspectivas que são cruciais para dar uma base ao seu</p><p>entendimento da vida. A sua Visão de Vida define seus “assuntos de maior</p><p>preocupação”, aquilo a que dá mais importância.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Por que estamos aqui?</p><p>Qual o significado ou o propósito da vida?</p><p>Qual a relação entre o indivíduo e os outros?</p><p>Qual a relação com a família, a nação e o resto do mundo?</p><p>O que é o bem e o que é o mal?</p><p>Há um poder mais elevado, Deus ou algo transcendente, e, se sim, como isto</p><p>impacta a sua vida?</p><p>Que papéis têm alegria, tristeza, justiça, injustiça, amor, paz e discórdia na vida?</p><p>Entendemos que estas perguntas estão um pouco filosóficas demais e que</p><p>mencionamos a palavra com D. Alguns leitores não acharão Deus um assunto</p><p>pertinente; outros gostariam que disséssemos que é o assunto mais importante.</p><p>Mas você já deve ter reparado que os valores do design são neutros e que não</p><p>tomamos partido.</p><p>As perguntas, incluindo aquelas sobre Deus ou espiritualidade, são</p><p>formuladas para provocar o seu pensamento, mas você decide a quais deseja</p><p>tentar responder. Não são tópicos de discussão para debates políticos nem</p><p>religiosos, não há respostas erradas – não há Visões de Vida erradas. O único</p><p>jeito de errar é nem tentar. Além disso, se mantenha curioso e pense como um</p><p>designer. Responda às perguntas que fazem sentido para você, desenvolva as</p><p>suas próprias e veja o que descobre.</p><p>Escreva as suas respostas.</p><p>Preparar. Apontar. Já!</p><p>Coerência e Integração: Visão de Trabalho/Visão de Vida</p><p>Leia sua Visão de Trabalho e sua Visão de Vida e escreva alguns pensamentos</p><p>sobre as seguintes perguntas (pedimos o favor de responder a cada uma delas):</p><p>Onde suas opiniões sobre trabalho e vida se complementam?</p><p>Onde entram em conflito?</p><p>Uma conduz a outra? Como?</p><p>Por favor, separe um momento para escrever o que pensa sobre as suas duas</p><p>visões. Nossos estudantes dizem que é nesta etapa que aparecem os grandes</p><p>momentos “eureca”; portanto, leve esta parte do exercício a sério e pense um</p><p>pouco na integração das duas visões. Na maior parte dos casos, essa reflexão</p><p>resultará em alguma edição de uma ou de ambas as visões. Ao estar com a Visão</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>de Trabalho e Visão de Vida em harmonia, você aumenta sua própria clareza e</p><p>capacidade de viver uma vida significativa e coerente, na qual aquilo que você é,</p><p>no que acredita e o que faz estão alinhados. Quando a sua bússola é precisa,</p><p>você nunca perde o rumo por muito tempo.</p><p>O Verdadeiro Norte</p><p>Agora você está com a Visão de Trabalho e a Visão de Vida articuladas e</p><p>integradas. Em última análise, o que essas duas visões fazem é determinar o seu</p><p>Verdadeiro Norte. Elas criam a sua bússola. Elas o ajudarão a saber quando você</p><p>está no caminho certo ou perdido. A qualquer momento você pode avaliar onde</p><p>está em relação ao seu Verdadeiro Norte. É raro que as pessoas velejem em uma</p><p>linda linha reta por suas lindas vidas, sempre lindas. Na verdade, como todo</p><p>marinheiro sabe, você não pode traçar um curso em uma única linha reta – você</p><p>ruma de acordo com o que os ventos e as condições permitem. Em rota para o</p><p>Verdadeiro Norte, você pode velejar em um sentido, depois em outra direção e</p><p>depois de volta pelo outro lado. Às vezes você navega perto da linha costeira</p><p>para evitar mares bravios, adaptando-se às necessidades. Outras vezes as</p><p>tempestades caem e você fica totalmente perdido ou o barco inteiro naufraga.</p><p>Estas são as vezes em que compensa ter a Visão de Trabalho e a Visão de Vida</p><p>ao alcance para a sua própria orientação. Todas as vezes que começar a sentir</p><p>que a vida não está funcionando ou que você está passando por um período de</p><p>grandes transições, é bom calibrar a bússola. Nós fazemos isso pelo menos uma</p><p>vez por ano.</p><p>Troque os pneus.</p><p>Troque a pilha do detector de fumaça.</p><p>Verifique duas vezes a Visão de Trabalho e a Visão de Vida e certifique-se de</p><p>que estão em alinhamento.</p><p>Sempre que estiver mudando a sua situação, perseguindo algo novo ou se</p><p>perguntando o que está fazendo em um emprego qualquer, pare. Antes de tudo,</p><p>é uma boa ideia verificar a bússola e orientar-se. Agora que você tem a bússola,</p><p>é hora de “encontrar o seu rumo”.</p><p>Afinal de contas, é uma busca.</p><p>Crença Disfuncional: Eu deveria saber para onde ir!</p><p>Reformulação: Eu nem sempre sei para onde vou, mas posso sempre saber se estou</p><p>indo na direção certa.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Experimente</p><p>Visão de Trabalho e Visão de Vida</p><p>1. Escreva uma curta reflexão sobre a sua Visão de Trabalho. Deverá levar cerca de</p><p>meia hora. Tenha como objetivo 250 palavras – menos do que uma página digitada.</p><p>2. Escreva uma curta reflexão sobre a sua Visão de Vida. Também não deverá levar</p><p>mais de meia hora e 250 palavras.</p><p>3. Releia as suas Visões de Vida e Trabalho e responda a cada uma destas perguntas:</p><p>a. Onde as suas visões se complementam?</p><p>b. Onde entram em conflito?</p><p>c. Uma conduz a outra? Como?</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>M</p><p>3</p><p>Achando Seu Caminho</p><p>ichael estava feliz. Um cara popular vivendo numa pequena cidade</p><p>universitária na Califórnia, ele praticava esportes, saía com os amigos e</p><p>aproveitava a vida despreocupada dos caras populares que praticam esportes e</p><p>saem com os amigos. Michael não passava muito tempo pensando nem</p><p>planejando o futuro. Ele só fazia o que aparecia à sua frente, e a vida parecia</p><p>funcionar direito. Sua mãe, entretanto, tinha planos. Muitos planos. Ela planejou</p><p>a ida de Michael para a faculdade, escolheu</p><p>onde ele deveria estudar e até o</p><p>curso que ele deveria fazer: Michael foi para a Cal Poly em San Luis Obispo,</p><p>onde se formou em engenharia civil. Michael não estava particularmente</p><p>interessado em ser um engenheiro civil, simplesmente seguindo o plano da</p><p>mamãe.</p><p>Ele foi bem na faculdade e se formou. Michael então se apaixonou por Skylar,</p><p>que estava se formando também e de mudança para Amsterdã para trabalhar</p><p>como consultora corporativa. Michael seguiu Skylar e conseguiu um ótimo</p><p>emprego de engenheiro civil em Amsterdã, onde fez um trabalho decente.</p><p>Michael estava mais uma vez alegremente seguindo o rumo que foi escolhido</p><p>para ele, e nem uma só vez parou para considerar o que queria fazer ou quem</p><p>queria ser. Nunca havia articulado as suas Visões de Vida e Trabalho e sempre</p><p>havia deixado outros guiarem seu caminho e determinarem sua direção. Até ali</p><p>tudo havia funcionado bem.</p><p>Depois de Amsterdã, Michael voltou para a Califórnia com Skylar (agora sua</p><p>esposa), que encontrou um ótimo emprego do qual gostava muito. Michael foi</p><p>trabalhar em uma firma de engenharia civil ali perto. Foi então que os</p><p>problemas começaram. Ele estava fazendo tudo que um engenheiro civil</p><p>respeitável faz, mas estava entediado, agitado e infeliz. Sua tristeza repentina o</p><p>confundiu. Não fazia ideia do que fazer ou aonde ir. Pela primeira vez na vida,</p><p>seu plano não estava funcionando e, sem direção, Michael sentiu-se totalmente</p><p>perdido.</p><p>Crença Disfuncional: Trabalho não deve dar prazer; é por isso que é chamado</p><p>trabalho.</p><p>Reformulação: Prazer é um guia para encontrar o trabalho certo para você.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Muita gente dava conselhos a Michael. Alguns amigos sugeriram que</p><p>começasse a sua própria empresa de engenharia civil, achando que seu</p><p>problema era trabalhar para um chefe. Seu sogro disse: “Você é um cara</p><p>esperto. É um engenheiro, sabe bem de matemática. Devia trabalhar com</p><p>finanças. Deveria ser um corretor de bolsa.” Michael pensou em todas as</p><p>sugestões e começou a calcular como poderia largar o emprego e voltar à</p><p>faculdade para estudar finanças. Considerou todas estas opções porque,</p><p>francamente, não sabia exatamente qual era o problema. Teria falhado como</p><p>engenheiro civil? Teria a engenharia civil falhado com ele? Será que ele deveria</p><p>só aguentar? Afinal de contas, era só um emprego, certo?</p><p>Errado.</p><p>Achando Seu Caminho</p><p>Achar o caminho é a antiga arte de entender para onde se está indo quando não</p><p>se sabe o destino. Para achar o caminho você precisa de uma bússola e uma</p><p>direção. Não um mapa, mas uma direção. Pense nos exploradores americanos</p><p>Lewis & Clark. Eles não tinham mapas quando Jefferson os contratou para</p><p>explorar o território adquirido na compra da Louisiana e encontrar um caminho</p><p>para o Pacífico. Enquanto achavam seu caminho para o oceano, eles mapearam</p><p>a rota (140 mapas, exatamente). Encontrar o caminho na vida não é muito</p><p>diferente. Como não há só um destino na vida, você não pode programar o GPS e</p><p>obter as instruções de como chegar lá. O que pode fazer é prestar atenção aos</p><p>indícios e seguir o melhor caminho com as ferramentas ao seu dispor. Nós</p><p>achamos que as primeiras pistas são engajamento e energia.</p><p>Engajamento</p><p>A engenharia civil não falhou com Michael. Ele apenas não estava prestando</p><p>atenção à sua vida, só sabia que algo ali não estava funcionando direito. Aos 34</p><p>anos de idade, Michael não sabia do que gostava e do que não gostava. Quando</p><p>ele veio pedir nossa ajuda, estava prestes a virar a carreira e a vida de cabeça</p><p>para baixo sem a menor razão. Pedimos que passasse algumas semanas fazendo</p><p>um simples exercício de registro no final de cada dia de trabalho. Michael</p><p>anotava quando se sentia entediado, agitado ou infeliz durante o dia de trabalho</p><p>e também o que tinha feito exatamente durante esses períodos (quando não</p><p>estava participando). Ele também escrevia quando se encontrava motivado,</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>concentrado e satisfeito no trabalho e o que fazia exatamente nesses momentos</p><p>(quando estava participando). Michael trabalhou no que chamamos de Diário</p><p>dos Bons Momentos.</p><p>Por que pedimos ao Michael que fizesse isso (sim, vamos pedir que você faça</p><p>o mesmo)? Porque queríamos que ele pegasse a si próprio em flagrante quando</p><p>estava se divertindo. Quando você descobre em quais atividades você sempre</p><p>tem prazer em participar, você está entendendo e articulando algo que pode ter</p><p>imensa utilidade no seu trabalho de design de vida. Lembre-se que os designers</p><p>têm a tendência para agir, o que é outra forma de dizer que prestamos muita</p><p>atenção em fazer as coisas, não só pensar sobre elas. Registrar quando está ou</p><p>não está energizado e engajado vai ajudá-lo a prestar atenção no que faz e</p><p>descobrir aquilo que funciona para você.</p><p>Fluxo: Engajamento Total</p><p>Fluxo é a versão bombada do engajamento. É o estado de espírito no qual o</p><p>tempo parece parar, você se encontra totalmente imerso numa atividade, e o</p><p>desafio daquela determinada atividade corresponde à sua habilidade –</p><p>portanto, não fica entediado por ser fácil demais ou estressado por ser muito</p><p>difícil. As pessoas descrevem este estágio de engajamento como “eufórico”,</p><p>“uma onda incrível” e “legal pra caramba”. O fluxo foi “descoberto” pelo</p><p>professor Mihaly Csikszentmihalyi, que pesquisa este fenômeno desde os anos</p><p>1970. Ele descobriu o estado de fluxo estudando as atividades detalhadas das</p><p>rotinas de milhares de pessoas, sendo assim capaz de isolar este tipo especial de</p><p>engajamento intenso.[1]</p><p>Dizem que o fluxo faz as pessoas se sentirem da seguinte forma:</p><p>Totalmente envolvidas na atividade.</p><p>Eufóricas ou em êxtase.</p><p>Certas do que fazer e como fazê-lo com enorme clareza interior.</p><p>Inteiramente calmas e em paz.</p><p>Achando que o tempo parou ou desapareceu por completo.</p><p>O fluxo pode ocorrer durante quase todas as atividades mentais ou físicas e</p><p>frequentemente quando ambas se combinam. Dave entra em fluxo ao editar os</p><p>detalhes de um plano de aula ou velejando, guiando o barco segundo o vento.</p><p>Bill admite ser viciado no fluxo e acha que aconselhar alunos, desenhar no seu</p><p>caderno de ideias ou cortar cebolas com sua faca preferida são momentos mais</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>propícios ao fluxo. É daquelas experiências qualitativas difíceis de descrever</p><p>que você terá que identificar por si mesmo. Como o estágio final do</p><p>engajamento pessoal, as experiências de fluxo ocupam um lugar especial no</p><p>projeto da sua vida. Então é importante se habituar a registrá-las no seu Diário</p><p>dos Bons Momentos.</p><p>O fluxo é a brincadeira dos adultos. No painel do design de vida nós avaliamos</p><p>saúde, trabalho, lazer e amor. O elemento que achamos mais difícil nas nossas</p><p>rotinas atribuladas é o lazer. Talvez você ache que todo mundo tem</p><p>responsabilidades demais para ter tempo para lazer. Claro, podemos nos</p><p>esforçar para fazer coisas de que gostamos no trabalho e nas tarefas</p><p>domésticas, mas, sejamos sinceros, é trabalho, não lazer. Talvez. Talvez não. O</p><p>fluxo é uma chave para o que chamamos de brincadeira de adultos, e uma</p><p>carreira realmente satisfatória envolve muitos estados de fluxo. A essência do</p><p>lazer é você estar totalmente imerso na alegria de fazer o que está fazendo sem</p><p>a distração da preocupação com o resultado. Quando estamos no fluxo, é</p><p>exatamente o que está acontecendo: estamos totalmente presentes no que</p><p>fazemos, tão presentes que nem notamos o tempo passar. Visto desta forma,</p><p>devemos nos esforçar para que o fluxo seja uma parte integral da nossa vida de</p><p>trabalho (e vida de casa, vida de exercícios, vida amorosa... você faz uma ideia).</p><p>Energia</p><p>Depois do engajamento, o segundo indício para achar o caminho</p><p>é a energia.</p><p>Seres humanos, como todos os seres vivos, precisam de energia para viver e</p><p>crescer. Homens e mulheres costumavam gastar a maior parte da energia em</p><p>tarefas físicas. Durante a maior parte da história humana, homens e mulheres</p><p>trabalharam para caçar e coletar, criar filhos e plantar – a maior parte do seu</p><p>tempo era consumida por intenso trabalho físico.</p><p>Nos dias de hoje, muitos de nós somos trabalhadores do conhecimento e é</p><p>nosso cérebro que faz o esforço. O cérebro é um órgão que consome muita</p><p>energia: das duas mil calorias que consumimos em média diariamente,</p><p>quinhentas vão para manter o cérebro funcionando. É espantoso: o cérebro</p><p>representa mais ou menos dois por cento do nosso peso físico e ainda assim</p><p>toma 25% da energia que consumimos diariamente. Não surpreende que a</p><p>maneira em que investimos nossa atenção é crucial para que sintamos alta ou</p><p>baixa energia.[2]</p><p>Nós participamos de atividades físicas e mentais o dia inteiro. Algumas</p><p>atividades alimentam a nossa energia, outras a sugam; queremos registrar estes</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>fluxos de energia como parte do exercício no Diário dos Bons Momentos.</p><p>Quando souber para onde vai sua energia a cada semana, você pode começar a</p><p>reformular atividades para aumentar sua vitalidade. Lembre-se, o design de</p><p>vida serve para aproveitar melhor sua vida atual, não só para criar uma vida</p><p>completamente nova. Mesmo se perguntas sobre alguma grande mudança na</p><p>vida sejam o que o trouxe a este livro, grande parte do design de vida é dirigida</p><p>a ajustar e aperfeiçoar a sua vida atual, sem a necessidade de fazer grandes</p><p>mudanças estruturais, como procurar outro emprego, mudar de cidade ou</p><p>voltar para a faculdade.</p><p>Você deve estar pensando: “Registrar meu nível de energia não é a mesma</p><p>coisa que registrar meu nível de engajamento?” Sim e não. Sim, altos níveis de</p><p>engajamento frequentemente coincidem com altos níveis de energia, mas não</p><p>necessariamente. Um colega de Dave, um brilhante engenheiro de computação,</p><p>gostava de participar de discussões em que defendia seu ponto de vista, porque</p><p>o fazia pensar com mais rapidez. Ele era ótimo nisso e muitas vezes pediram-lhe</p><p>no trabalho que argumentasse por eles. Porém, notou que o engajamento nestas</p><p>discussões deixava-o completamente exausto, mesmo quando “ganhava”. Ele</p><p>não era uma pessoa competitiva e embora na hora fosse divertido ser mais</p><p>esperto do que os outros sentia-se mal no final. A energia tem o poder especial</p><p>de ser também negativa – algumas atividades podem gastar o que é vital em nós</p><p>e nos deixar exaustos, sem saber enfrentar o que vem a seguir. O tédio é um</p><p>grande desperdício de energia, mas é muito mais fácil se recuperar do tédio do</p><p>que de não ter energia alguma, portanto é importante prestar atenção</p><p>especificamente aos seus níveis de energia.</p><p>Alegria</p><p>Após trabalhar no Diário dos Bons Momentos e prestar atenção a quando</p><p>participava, quando estava no fluxo e o que o dava energia, Michael descobriu</p><p>que amava seu trabalho de engenharia civil quando trabalhava em problemas</p><p>difíceis e complexos. O que o deixava triste e exausto era lidar com</p><p>personalidades difíceis, ter dificuldade para se comunicar ou desempenhar</p><p>outras tarefas administrativas e distrações que não tinham nada a ver com o</p><p>trabalho elaborado de engenharia.</p><p>O resultado final foi que, pela primeira vez na sua vida, Michael prestou muita</p><p>atenção ao que realmente funcionava para ele. Os resultados eram incríveis.</p><p>Simplesmente por descobrir quando estava feliz no emprego e o que fazia</p><p>oscilar seus níveis de energia, Michael chegou à conclusão de que na verdade</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>gostava muito de engenharia civil. Eram as relações interpessoais, as propostas</p><p>escritas e as negociações de dinheiro que ele detestava. Só tinha que encontrar</p><p>um jeito de transformar seu trabalho para fazer mais do que gostava e menos</p><p>do que detestava. Em vez de estudar administração (o que provavelmente teria</p><p>sido um desastre bem caro), Michael decidiu investir mais na engenharia.</p><p>Acabou entrando num programa de Ph.D. e agora é um engenheiro civil e</p><p>estrutural de alto nível, que passa a maior parte do seu tempo sozinho,</p><p>trabalhando nos tipos de problemas complexos de engenharia que o deixam</p><p>realmente muito feliz. E ele se tornou tão tecnicamente valioso que ninguém o</p><p>pede mais para fazer as tarefas administrativas. Nos bons dias, ele volta para</p><p>casa com mais energia do que quando saiu pela manhã. É uma maneira</p><p>excelente de trabalhar.</p><p>Aqui vai outro elemento fundamental para achar caminho na vida: siga a</p><p>alegria; siga o que o faz participar e o motiva, o que lhe faz sentir-se vivo. Muita</p><p>gente aprendeu que trabalho é sempre difícil e que precisamos aguentar o</p><p>sofrimento. Bem, há aspectos em qualquer trabalho ou carreira que são difíceis</p><p>e chatos, mas, se a maioria do que faz no trabalho não o faz sentir-se vivo, então</p><p>aquilo o está matando. Afinal de contas, é a sua carreira e você passa muito</p><p>tempo dedicando-se a ela – calculamos que de 90 mil a 125 mil horas durante a</p><p>vida inteira. Então, se sua carreira não for divertida, um pedaço enorme da sua</p><p>vida vai ser um saco.</p><p>Agora, o que faz o trabalho divertido? Não é o que parece óbvio. Não é uma</p><p>interminável festa no escritório. Não é um salário alto. Não são várias semanas</p><p>de férias pagas. O trabalho é divertido quando você aproveita suas qualidades e</p><p>está profundamente engajado e energizado pelo que está fazendo.</p><p>Vamos Falar Sobre Objetivo?</p><p>Nessa etapa, muitas vezes nos perguntam: “Bem, é tudo muito bom, mas onde</p><p>objetivo e missão entram nisto? Há mais na vida que apenas participar e ter</p><p>energia. Eu quero trabalhar em algo que me interesse, que seja importante.”</p><p>Concordamos inteiramente. É por isso que mencionamos a construção da sua</p><p>bússola (suas Visões de Trabalho e de Vida integradas) no Capítulo 2. Como já</p><p>sugerimos, é crucial para você avaliar o quanto seu trabalho combina com seus</p><p>valores e prioridades – quão coerente é seu trabalho com aquilo que você é e no</p><p>que acredita. Não estamos sugerindo uma vida unicamente concentrada em</p><p>engajamento e níveis de energia. Estamos sugerindo que a atenção concentrada</p><p>em engajamento e energia pode fornecer indícios úteis para achar o caminho à</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>frente. O design de vida consiste em toda uma série de ideias e ferramentas que</p><p>funcionam flexivelmente em conjunto. Nós daremos muitas sugestões, mas no</p><p>fim é você quem decide no que se concentrar e em como organizar seu projeto</p><p>de vida. Agora vamos começar o seu Diário dos Bons Momentos.</p><p>Exercício do Diário dos Bons Momentos</p><p>Vamos pedir para você fazer um Diário dos Bons Momentos, como fez Michael.</p><p>Só que o jeito de construir o diário é com você. Você pode escrever tudo à mão</p><p>em um diário encadernado ou usar um fichário com folhas soltas ou até mesmo</p><p>digitar no computador (embora recomendemos com veemência que o faça à</p><p>mão, para poder desenhar também). O mais importante é que escreva</p><p>regularmente no diário; o formato do qual você gostar mais e que for usar com</p><p>mais frequência é o mais recomendado.</p><p>Há dois elementos no Diário dos Bons Momentos:</p><p>Registro de Atividades (para anotar no que participo e o que me dá energia)</p><p>Reflexões (para descobrir o que estou aprendendo)</p><p>O Registro de Atividades é simples: uma lista das suas principais atividades,</p><p>indicando seu engajamento e seus níveis de energia .</p><p>Recomendamos que escreva todos os dias no Registro de Atividades para captar</p><p>o máximo possível de informações úteis. Se for mais fácil não escrever todos os</p><p>dias, tudo bem, mas registre as atividades pelo menos duas vezes por semana.</p><p>Se estiver usando um fichário, pode usar os</p><p>modelos no fim deste capítulo, que</p><p>tem os indicadores de engajamento e energia (também</p><p>disponíveis para baixar no site www.designingyour.life). Você também pode</p><p>desenhar indicadores (ou os símbolos que preferir para indicar engajamento e</p><p>energia) no seu diário. Faça o que funciona para você, mas ponha a informação</p><p>no papel.</p><p>Todos nós somos motivados por atividades diferentes no trabalho. A sua</p><p>função é descobrir quais o motivam o mais especificamente possível. Vai</p><p>demorar um pouco até você pegar o jeito, porque a maior parte das pessoas</p><p>nunca prestou atenção a este tipo de coisa. Às vezes chegamos em casa no fim</p><p>do dia dizendo “Hoje foi ótimo” ou “Hoje foi péssimo”, mas raramente</p><p>analisamos muito os detalhes do que contribuiu para estas experiências. O dia é</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>http://www.designingyour.life/</p><p>feito de muitos momentos, alguns ótimos, outros péssimos, outros neutros. Seu</p><p>trabalho consiste em explorar os detalhes do seu dia e se pegar no ato de se</p><p>divertir.</p><p>O segundo elemento do Diário dos Bons Momentos é a reflexão: reler seu</p><p>Registro de Atividades reparando em tendências, ideias, surpresas, tudo o que</p><p>possa servir de pista para ver o que funciona e não funciona para você.</p><p>Recomendamos que faça o Registro de Atividades por três semanas pelo menos</p><p>ou qualquer outro período de tempo de que precisa para captar os vários tipos</p><p>de atividades que surgem em sua atual situação (algumas atividades podem não</p><p>acontecer toda semana). Então recomendamos que você faça a sua reflexão no</p><p>Diário dos Bons Momentos uma vez por semana para que se baseie em mais do</p><p>que apenas uma única experiência de cada atividade.</p><p>Escreva sua reflexão semanal nas páginas em branco do Diário dos Bons</p><p>Momentos.</p><p>Nós incluímos uma página retirada de um dos Registros de Atividades mais</p><p>recentes do Diário dos Bons Momentos de Bill.</p><p>A reflexão de Bill incluía as seguintes observações:</p><p>Notou que sua aula de desenho e as horas de escritório criavam</p><p>consistentemente estados de fluxo e que dar aulas e sair para encontros</p><p>românticos eram atividades que retornavam mais energia do que consumiam.</p><p>Dar mais importância a estas atividades certamente seria uma maneira de</p><p>energizar sua semana. As reuniões semanais de professores na faculdade às</p><p>vezes são interessantes, às vezes não. Então ele desenhou duas setas no seu</p><p>diagrama de energia. Não ficou surpreso ao ver que reuniões sobre orçamento</p><p>gastavam toda a energia do seu dia – nunca havia gostado muito do lado fiscal</p><p>das coisas (mesmo sabendo que é fundamental).</p><p>Bill ajustou sua agenda para cercar as atividades menos motivadoras com</p><p>outras mais interessantes e para se recompensar quando completasse tarefas</p><p>de “energia negativa”. A melhor maneira de lidar com as atividades de energia</p><p>negativa é assegurar-se de que se encontra bem descansado e tem as reservas</p><p>de energia necessária para fazê-las direito. Do contrário, você poderá ter que</p><p>repeti-las, custando-lhe mais energia do que deveria.</p><p>Bill ficou surpreso com o fato de que orientar os alunos de mestrado, aqueles</p><p>com quem passa a maior parte do tempo e de quem mais gosta, sugasse tanto a</p><p>sua energia. Depois de refletir um pouco sobre o assunto descobriu duas coisas:</p><p>(1) ele estava tentando dar aulas num ambiente negativo (um estúdio</p><p>barulhento) e (2) sua orientação não era eficiente – os alunos não estavam</p><p>entendendo. Essas duas observações resultaram numa reestruturação do</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>ambiente onde ele dava aulas nas terças à noite (trocou de sala) e numa</p><p>mudança na estrutura de ensino. Ele passou a reunir grupos pequenos, em vez</p><p>de se encontrar individualmente com cada aluno, para que pudessem se ajudar</p><p>durante essas interações. Essas mudanças funcionaram tão bem que poucas</p><p>semanas mais tarde ele estava entrando regularmente no fluxo durante as</p><p>aulas. O tempo dedicado ao orçamento ainda era muito chato, mas era uma</p><p>parte pequena do trabalho e os momentos de fluxo no ensino o tornaram mais</p><p>suportável.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Bill estava usando o Diário dos Bons Momentos basicamente para melhorar o</p><p>seu design de vida. Michael fez o exercício em busca de que caminho estratégico</p><p>tomar na sua carreira. Os dois tinham objetivos diferentes e chegaram a</p><p>resultados diferentes, mas usaram exatamente a mesma técnica: prestar muita</p><p>atenção ao engajamento e aos níveis de energia.</p><p>Dando Zoom: Chegando na Parte Boa</p><p>Depois de umas duas semanas, quando você já tiver uma quantidade razoável</p><p>de anotações no seu Diário dos Bons Momentos e começar a notar umas coisas</p><p>interessantes, é hora de ir mais a fundo e levar o exercício a outro nível.</p><p>Normalmente, depois de pegar o jeito de prestar mais atenção aos seus dias,</p><p>você começa a notar que alguns dos seus registros podiam ser mais específicos:</p><p>você precisa dar um zoom para ver a imagem com mais clareza. A ideia é tentar</p><p>ser o mais preciso possível; quanto mais claro for a respeito do que está</p><p>funcionando ou não para você, melhor será para encontrar a direção no seu</p><p>caminho. Por exemplo: o que você inicialmente registrou como “Reunião de</p><p>Pessoal – Hoje gostei, que milagre!” poderá, depois de uma releitura, ser mais</p><p>corretamente registrado como “Reunião de Pessoal – Foi ótimo quando</p><p>reformulei o que Jon falou e todo mundo disse ‘Ahhh, é isso!’”. Essa versão mais</p><p>precisa conta algo muito mais útil sobre qual atividade ou comportamento</p><p>específico o motiva, abrindo o caminho para desenvolver maior</p><p>autoconsciência. Quando suas anotações têm esse nível de detalhe, suas</p><p>reflexões são mais profundas. Ao escrever suas reflexões no registro sobre</p><p>aquela reunião de pessoal, você pode se perguntar: “O que me motivou mais foi</p><p>reformular com talento o comentário do Jon (articulando bem certinho) ou</p><p>facilitar o consenso entre a equipe (por ser o cara que fez o momento unificador</p><p>de ‘Agora entendemos!’ acontecer?)?” Se você concluir que a reformulação foi</p><p>realmente o melhor momento daquela reunião, esta revelação importante pode</p><p>ajudá-lo a ficar de olho em oportunidades de criação de conteúdo em vez de</p><p>oportunidades de facilitação de grupos. Aprofunde-se nesse tipo de observação</p><p>e reflexão o quanto lhe for útil (mas não precisa ir além disso, senão vai ficar</p><p>atolado em seu próprio diário).</p><p>AEIOU</p><p>Chegar a grandes revelações nas reflexões do seu Diário dos Bons Momentos</p><p>nem sempre é fácil; portanto, aqui está uma ferramenta que os designers usam</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>para observações precisas e detalhadas para encorajar a curiosidade. É o</p><p>método AEIOU,[3] que apresenta cinco conjuntos de perguntas que você pode</p><p>usar quando refletir em seu Registro de Atividades:</p><p>Atividades: O que você estava fazendo? Era uma atividade estruturada ou não?</p><p>Você tinha um papel específico a desempenhar (líder de equipe) ou era só um</p><p>participante (na reunião)?</p><p>Espaço: O ambiente tem um profundo efeito em nosso estado emocional. Você se</p><p>sente de uma forma num estádio de futebol e de outra numa catedral. Repare</p><p>onde estava quando se envolveu em determinada atividade. Que tipo de lugar</p><p>era, como você se sentiu?</p><p>Interações: Com o que estava interagindo – pessoas ou máquinas? Houve um</p><p>novo tipo de interação ou um com o qual estava familiarizado? Era formal ou</p><p>informal?</p><p>Objetos: Você estava interagindo com objetos ou aparelhos – iPads ou celulares,</p><p>tacos de hóquei ou barcos a vela? Quais os objetos que fizeram com que você se</p><p>sentisse engajado?</p><p>Usuários: Quem mais estava lá e que papel desempenharam para fazer com que a</p><p>experiência fosse positiva ou negativa?</p><p>Usar o AEIOU pode realmente ajudá-lo a se aprofundar para descobrir</p><p>especificamente o que está ou não funcionando para você. Aqui estão dois</p><p>exemplos:</p><p>Lydia é uma escritora profissional. Ela trabalha ajudando especialistas a</p><p>documentar procedimentos em manuais e chegou à conclusão de que</p><p>detestava trabalhar com gente, porque se sentia péssima após as reuniões e</p><p>ótima quando escrevia o dia inteiro. Estava pensando como poderia ganhar a</p><p>vida sem nunca mais ir a uma reunião na vida quando criou seu Diário dos</p><p>Bons Momentos e usou o método AEIOU. Quando se aprofundou nas</p><p>reflexões, notou que gostava de gente, sim – quando se encontrava com só</p><p>umas duas pessoas para focar na escrita ou para pensar em novos projetos e</p><p>ideias (atividades). Ela detestava reuniões de planejamento, prazos e</p><p>estratégia ou qualquer reunião com mais de seis pessoas, porque não</p><p>conseguia acompanhar todos os pontos de vista diferentes (espaço). Ela</p><p>constatou que era apenas uma trabalhadora intensa e focada e que sua</p><p>intensidade podia ser nutrida ou frustrada por outras pessoas (usuários),</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>dependendo da forma de colaboração (interações).</p><p>Basra adorava o ensino superior. Não importava o que fizesse, se fosse no</p><p>campus da universidade ela ficava feliz (espaço). Então foi trabalhar na</p><p>universidade onde tinha estudado. Por cinco ou seis anos, estava contente em</p><p>fazer qualquer coisa, de angariar fundos a orientar novos alunos (atividade).</p><p>Aí tudo começou a perder a graça e ela temia que seu caso de amor com o</p><p>ensino tivesse chegado ao fim. Fez então um Diário dos Bons Momentos e</p><p>constatou que ainda amava a universidade, mas estava no emprego errado. Se</p><p>aproximando dos 30 anos, só o espaço de trabalho já não bastava: a posição</p><p>era o importante agora. Havia aceitado uma promoção que a transferia dos</p><p>assuntos estudantis – e de muitas interações interessantes com alunos – para</p><p>assuntos jurídicos – e muitas reuniões com administradores e advogados</p><p>(usuários) e papelada (objetos). Ela entendeu o problema e aceitou um</p><p>pequeno rebaixamento profissional para trabalhar no escritório de</p><p>alojamentos, onde poderia ter outra vez interações de uma natureza mais</p><p>construtiva e lidar com menos burocracia.</p><p>Ao escrever suas reflexões no Diário dos Bons Momentos, tente usar o</p><p>método AEIOU para aprender mais com suas observações. É importante</p><p>registrar qualquer coisa sem se julgar – não há sentimentos certos ou errados</p><p>sobre a sua experiência. É importante saber que este tipo de informação vai ser</p><p>incrivelmente útil no design da sua vida.</p><p>O Cume da Montanha</p><p>O passado também é uma ótima fonte de reflexões, especialmente suas</p><p>experiências mais marcantes, o “cume da montanha”. Essas experiências do</p><p>nosso passado, mesmo do passado longínquo, podem ser reveladoras. Dedique</p><p>tempo para refletir sobre memórias passadas de experiências excepcionais de</p><p>trabalho e registre no Diário dos Bons Momentos para ver o que pode encontrar</p><p>durante a reflexão. Você se apegou a essas memórias por boas razões. Você</p><p>pode fazer uma lista dessas experiências ou escrevê-las como história ou</p><p>narrativa. Pode ser divertido colocar em palavras aquela fantástica vez em que</p><p>esteve na equipe que planejou o que ainda é lembrado como a “Top Mega</p><p>Blaster Reunião de Vendas” ou quando escreveu o manual de procedimentos</p><p>que ainda é passado aos novos escritores como modelo de excelência. Anotar a</p><p>narrativa das suas experiências marcantes irá facilitar extrair daquelas</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>histórias as atividades que mais o motivaram a encontrar ideias que podem ser</p><p>aplicadas hoje.</p><p>Utilizar as experiências passadas é especialmente útil se você não está em</p><p>uma situação que se preste a um exercício produtivo no Diário dos Bons</p><p>Momentos, como uma situação de desemprego. Também é útil se você está</p><p>começando a sua vida profissional e ainda não tem muita experiência. Se for</p><p>esse o caso, pense em atividades que tenha feito em outras áreas (mesmo muito</p><p>antigas), quando sua vida parecia funcionar bem. Um Diário dos Bons</p><p>Momentos histórico sobre projetos passados na faculdade, em trabalho</p><p>voluntário, em colônias de férias, tudo em que você tenha estado engajado pode</p><p>ser útil. Ao olhar para trás, tome cuidado com a história revisionista – elogiar</p><p>demais os bons momentos e criticar demais os ruins. Tente ser honesto.</p><p>Aproveite a Jornada</p><p>Essa nova maneira de observar ajudará a guiá-lo e a encontrar o que virá a</p><p>seguir na vida. Feito Lewis & Clark, você está começando a mapear algum</p><p>território desbravado e a ver novas possibilidades no território à frente. Você</p><p>está passando de um nível de consciência a outro, realmente explorando como</p><p>você (não sua mãe, seu pai, seu patrão ou seu cônjuge) se sente. Você começou a</p><p>encontrar o caminho – saindo de onde estava para o próximo lugar possível.</p><p>Armado com sua bússola e suas ideias no Diário dos Bons Momentos, você pode</p><p>encontrar um ótimo caminho.</p><p>Michael encontrou o caminho.</p><p>Lewis e Clark encontraram seus caminhos.</p><p>Você também pode encontrar o seu caminho.</p><p>O próximo passo é produzir todas as opções possíveis para poder</p><p>experimentar e fazer protótipos.</p><p>Para isso, vamos precisar mapear a mente.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Experimente</p><p>Diário dos Bons Momentos</p><p>1. Complete um registro diário das suas atividades, usando o modelo da próxima</p><p>página (ou seu próprio caderno). Registre quando estiver motivado e/ou energizado</p><p>e o que estava fazendo nesses momentos. Tente fazê-lo diariamente ou pelo menos</p><p>duas vezes por semana.</p><p>2. Continue este registro diário por três semanas.</p><p>3. Ao final de cada semana, anote suas reflexões – fique atento a quais atividades são</p><p>motivadoras e energizantes e quais não são.</p><p>4. Existem surpresas em suas reflexões?</p><p>5. Aprofunde-se e tente ser ainda mais específico sobre o que o motiva e energiza.</p><p>6. Utilize o método AEIOU como apoio às suas reflexões.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>G</p><p>4</p><p>Desempacar</p><p>rant estava empacado. Ele trabalhava para uma das principais empresas</p><p>de locação de automóveis do país e ao fazer o Diário dos Bons Momentos</p><p>descobriu que estava gastando a maior parte dos dias em atividades que não o</p><p>motivavam nem o energizavam. Detestava ter que lidar com o mau humor dos</p><p>fregueses. Não gostava de preencher infindáveis contratos padronizados. Tinha</p><p>total aversão a recitar o mesmo roteiro todos os dias. Não gostava de ter que</p><p>vender cada vez mais coisas aos clientes. O que ele mais odiava era sentir-se</p><p>inútil, como se não tivesse importância. Não queria ser uma peça pequena e</p><p>desimportante na gigante máquina corporativa. Grant queria trabalhar onde</p><p>pudesse deixar a sua marca e ter influência. Ele queria que o que fizesse fosse</p><p>importante para alguém, quem quer que fosse.</p><p>Grant não detestava completamente seu trabalho, mas não conseguia se</p><p>lembrar de uma única vez em que tivesse experimentado qualquer coisa</p><p>parecida com o estado de fluxo. O trabalho era chato e entediante. Ele ficava de</p><p>olho no relógio. Esperava o cheque a cada semana. Mal podia esperar pelos fins</p><p>de semana e ficava triste quando terminavam. Os únicos momentos em que</p><p>gostava do que fazia era quando fazia trilhas na floresta, jogava basquete com</p><p>amigos ou ajudava os sobrinhos com os deveres de casa.</p><p>Nada disso pagava as contas.</p><p>Grant estava para ser promovido a gerente da loja e isso o fez se sentir ainda</p><p>mais empacado. Nunca tinha sonhado em trabalhar para uma agência de</p><p>aluguel de carros, mas, não importava o quanto pensasse a respeito, não</p><p>conseguia encontrar uma ideia realista de carreira diferente. Ele nem fazia ideia</p><p>de como começar. Gostaria de ser, claro, um cantor de rock ou uma estrela</p><p>de</p><p>beisebol da primeira divisão, mas ele não cantava nem tocava um instrumento e</p><p>tinha parado de jogar beisebol aos 12 anos. Formado em literatura na</p><p>faculdade, aceitou o primeiro emprego que pagava mais que o salário mínimo e</p><p>acabou preso nessa armadilha. Grant não queria resignar-se a alugar carros</p><p>para o resto da vida, mas sentia que não havia mais opções. “Tem gente mesmo</p><p>sem sorte”, pensou. “Tem gente que não está mesmo destinada a deixar a sua</p><p>marca.”</p><p>Ele se sentia derrotado, pois tinha pensado que só podia fazer o que sempre</p><p>tinha feito – e porque ele não estava pensando como um designer. Os designers</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>sabem que a primeira ideia nunca é a que cola. Designers sabem que quando</p><p>você tem muitas opções escolhe melhor. Muita gente se sente como Grant: fica</p><p>emperrada tentando fazer a sua primeira ideia funcionar.</p><p>Grant precisava começar a pensar como um designer.</p><p>Crença Disfuncional: Estou empacado.</p><p>Reformulação: Nunca estou empacado, pois posso produzir uma porção de ideias.</p><p>Sharon é uma assistente jurídica que trabalhava para um escritório de</p><p>advocacia de prestígio em Boston, até que foi demitida. Agora ela passa seis</p><p>horas por dia na internet procurando trabalho. É o que ela tem feito há mais de</p><p>um ano. Está completamente desmoralizada; qualquer resquício de autoestima</p><p>evaporou há muito. Na verdade, ser uma assistente jurídica não tinha sido o seu</p><p>primeiro objetivo – era o seu plano B. Ela estudou administração, mas a</p><p>economia estava em crise quando se formou em 2009. Sharon não conseguia</p><p>encontrar trabalho como executiva de marketing, o que tinha ouvido falar que</p><p>era a “coisa certa” a fazer com um MBA. Como tantos, ela achava que fazer a</p><p>“coisa certa” a faria feliz. Mas Sharon não estava nem remotamente feliz. A</p><p>verdade é que ela não fazia a mínima ideia do que realmente queria na</p><p>faculdade, e essa falta de interesse genuíno era provavelmente aparente para</p><p>quem a entrevistava. Ela havia passado muito tempo tentando fazer a coisa</p><p>certa em vez de fazer o que era certo para si. Após um ano procurando</p><p>emprego, ela achava que tinha ficado sem opções. Ela se sentiu derrotada. Mas</p><p>Sharon não estava sem opções – ela só não tinha pensado em muitas opções</p><p>reais.</p><p>Crença Disfuncional: Tenho que encontrar a ideia certa.</p><p>Reformulação: Preciso de muitas ideias para poder explorar possibilidades</p><p>diferentes para o meu futuro.</p><p>Sem saber o que fazer além de continuar a fazer o que estava fazendo, Sharon,</p><p>assim como Grant, estava empacada.</p><p>Em geral as pessoas fazem o mesmo que Sharon quando precisam de emprego:</p><p>procuram nos Classificados uma vaga que acham que podem preencher. É uma</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>das piores maneiras de se conseguir trabalho e, na verdade, a que tem menor</p><p>probabilidade de dar certo (discutiremos esse fenômeno em detalhe no</p><p>Capítulo 7). Essa maneira de pensar não é pensamento de design, é só tentar se</p><p>agarrar ao que está ao alcance, e é pouco provável que resulte em satisfação no</p><p>longo prazo. Se tiver filhos para sustentar, não conseguir pagar o aluguel e</p><p>estiver devendo muito dinheiro a um cara chamado Louie, então sem dúvida</p><p>aceite qualquer trabalho que conseguir arranjar. Mas quando a onça volta para</p><p>a toca, é hora de achar caminho para trabalhos que você realmente queira. E</p><p>não se preocupe quando empacar. Designers empacam o tempo todo. Esses</p><p>momentos podem ser boas bases para a criatividade. Quando você pensa como</p><p>um designer, sabe como imaginar muitas opções para muitos futuros possíveis.</p><p>É simples: você não tem como saber o que quer até saber o que poderá</p><p>querer, portanto você precisa produzir muitas ideias e possibilidades.</p><p>Aceite o problema.</p><p>Empaque.</p><p>Supere e tenha muitas ideias!</p><p>Imagine</p><p>Vamos pedir-lhe que saia dos limites do realismo e se aventure pelo vasto</p><p>mundo do “que posso querer”. É hora de aceitar que está empacado. Grant</p><p>empacou. Sharon empacou. Todos nós empacamos em algumas áreas da vida. É</p><p>então que precisamos imaginar, conceber novas ideias. Ideias loucas. Ideias</p><p>exageradas. Você vai aprender a ter mais ideias do que parece possível. Tanta</p><p>gente empaca perseguindo a primeira ideia, ou a ideia perfeita, ou aquela</p><p>grande ideia que vai resolver o problema, que vai ser a resposta, que vai ser a</p><p>salvação de quem está empacado. É muita pressão. Achar que só há uma ideia lá</p><p>fora conduz a muita pressão e indecisão.</p><p>“Não tenho certeza.”</p><p>“Não quero pisar na bola.”</p><p>“Preciso fazer isso direito.”</p><p>“Se eu tivesse uma ideia melhor (a certa, milagrosa), tudo daria certo.”</p><p>Vamos parar aqui mesmo, para sermos os primeiros a dizer algo incrível:</p><p>tudo vai dar certo.</p><p>Mesmo.</p><p>Aqueles que têm a sorte de viver em um mundo moderno com acesso a certo</p><p>grau de escolha, liberdade, mobilidade, educação e tecnologia passam o tempo</p><p>imersos em um sistema obcecado por otimização. Sempre há a necessidade de</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>uma ideia melhor, uma maneira melhor – até a melhor de todas as maneiras.</p><p>Este tipo de mentalidade é bastante perigoso para o design de vida. A verdade é</p><p>que todos temos mais de uma vida em nós. Quando perguntamos aos alunos</p><p>“quantas vidas existem em você?”, a resposta média foi 3,4. Aceitar essa ideia –</p><p>de que há vários ótimos projetos para a sua vida, mesmo que você só possa</p><p>viver um deles – é um sentimento bastante libertador. Não há uma única ideia</p><p>para a sua vida, mas muitas vidas em que você poderia viver feliz e</p><p>produtivamente (não importa qual a sua idade), e há muitos caminhos</p><p>diferentes a seguir conduzindo a cada uma dessas vidas produtivas, incríveis e</p><p>diferentes. Faça então as contas: somando tudo isso, você pode ter um monte de</p><p>ideias possíveis. E nós lhe daremos as ferramentas para produzir tais ideias.</p><p>As quantidades têm as suas próprias qualidades. No design de vida, mais é</p><p>melhor, porque ter mais ideias significa ter acesso a ideias melhores, e ideias</p><p>melhores conduzem a um design melhor. Expandir seu raciocínio melhora a sua</p><p>capacidade de imaginação e permite maior inovação. Se você passa por várias</p><p>ideias, tem mais chances de esbarrar em algo que pode ser bem energizante, o</p><p>que aumenta suas chances de criar algo de que realmente goste e que tenha</p><p>sucesso. Mais ideias também levam a mais revelações.</p><p>Designers adoram imaginar com liberdade, sem restrições. Adoram as ideias</p><p>loucas tanto quanto adoram as sensatas. Por quê? Muitas pessoas pensam que</p><p>os designers são esquisitos e preferem coisas estranhas porque são modernos,</p><p>de vanguarda e vivem de óculos escuros, boinas, sapatos descolados e comem</p><p>nos restaurantes mais famosos. Pode ser até verdade, mas não é a questão.</p><p>Designers aprendem a ter muitas ideias estranhas porque sabem que o</p><p>principal inimigo da criatividade é o julgamento. Nossos cérebros estão tão</p><p>programados para criticar, encontrar problemas e julgar que espanta qualquer</p><p>ideia que surja. Temos que parar de julgar e silenciar o crítico interno se</p><p>queremos encontrar todas as nossas ideias. Se não, podemos ter algumas boas</p><p>ideias, mas a maioria será perdida – ideias presas, silenciosas, atrás do muro de</p><p>julgamento que nosso córtex pré-frontal ergueu para nos salvar de cometer</p><p>erros e pagar mico. Nós adoramos o córtex pré-frontal e não saímos de casa sem</p><p>ele, mas não queremos que tome as nossas ideias como reféns antes da hora. Se</p><p>conseguirmos nos jogar no espaço das ideias loucas, saberemos que superamos</p><p>os julgamentos precipitados. Pode ser que a gente não escolha as ideias loucas</p><p>(na verdade, raramente as escolhemos), mas frequentemente passamos para</p><p>outro plano criativo depois de ter ideias loucas, onde podemos enxergar</p><p>possibilidades novas e inovadoras com grande potencial</p><p>de sucesso.</p><p>Então vamos enlouquecer.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Muitas vezes nossos alunos acham esta parte do processo a mais empolgante,</p><p>envolvente e divertida. Quem não gosta de produzir um monte de grandes</p><p>ideias bizarras? Você pode se achar criativo ou não, mas não importa. Lembre-</p><p>se do nosso lema – Você Está Aqui – e prepare-se para trabalhar com qualquer</p><p>nível de criatividade pessoal que você acha que tem agora. Construímos a partir</p><p>daqui. A meta é energizar e expandir sua capacidade de produzir inúmeras</p><p>soluções para a variedade de problemas que irrompem enquanto você está</p><p>ocupado projetando a sua vida.</p><p>Como designer de vida, você precisa dedicar-se a duas filosofias:</p><p>1. Você escolhe melhor quando tem muitas opções boas para escolher.</p><p>2. Você nunca escolhe sua primeira solução para um problema.</p><p>Nossas mentes são geralmente preguiçosas e gostam de se ver livres dos</p><p>problemas o mais rápido possível, então elas envolvem as primeiras ideias em</p><p>um monte de substâncias químicas positivas para fazer-nos “apaixonar” por</p><p>elas. Não se apaixone pela primeira ideia. O relacionamento quase nunca</p><p>funciona. Na maioria das vezes, as nossas primeiras soluções são medianas e</p><p>pouco criativas. Humanos tendem a sugerir primeiro o óbvio. Aprender a usar</p><p>ferramentas excelentes de imaginação pode ajudá-lo a superar esta tendência</p><p>para o óbvio e a motivá-lo a recuperar a confiança criativa.</p><p>Mesmo aqueles que não se acham criativos provavelmente se lembram de</p><p>uma época em que pensavam de outra forma. Talvez fosse o jardim de infância,</p><p>ou o primeiro ou segundo ano do ensino fundamental, quando cantar, dançar e</p><p>desenhar pareciam formas naturais de autoexpressão. Você não tinha baixa</p><p>autoestima, nem estava julgando se os seus desenhos eram arte ou se o seu</p><p>canto era profissional ou se a sua dança merecia atenção alheia. Você se sentia</p><p>livre para criar qualquer forma natural de autoexpressão, sem limites.</p><p>Você também provavelmente se lembra, normalmente em detalhes vívidos,</p><p>da vez em que a professora disse “Você não é artista, não sabe desenhar” ou de</p><p>quando um colega falou “Você dança esquisito” ou um adulto disse “Pare de</p><p>cantar, você está estragando a música”. Ai! Sentimos muito que você tenha</p><p>passado por esses momentos destruidores de criatividade. E esses momentos</p><p>continuaram a ocorrer na escola, onde as regras sociais tomavam a forma da</p><p>repreensão dos adultos. Foi onde aprendemos a conter as diferenças, com medo</p><p>de sermos repreendidos. É impressionante que qualquer vestígio de</p><p>criatividade individual sobreviva a esses anos de crescimento.</p><p>Mas, acredite, a criatividade continua a existir. E vamos ajudar você a</p><p>encontrá-la.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>O Mapeamento da Mente</p><p>A primeira técnica de concepção de ideias que iremos ensinar chama-se</p><p>mapeamento da mente. É uma ótima ferramenta para imaginar sozinho e um</p><p>grande método para desempacar. O mapeamento funciona usando uma simples</p><p>associação de palavras, uma após a outra, para abrir o espaço de ideias e</p><p>produzir novas soluções. A natureza gráfica deste método permite capturar as</p><p>ideias e suas associações automaticamente. Esta técnica ensina a gerar muitas</p><p>ideias e, por ser um método visual, contorna o seu crítico lógico-verbal interno.</p><p>O processo de mapear a mente tem três passos:</p><p>1. Escolher um tópico</p><p>2. Fazer o mapa</p><p>3. Fazer conexões secundárias e criar conceitos (misturar tudo)</p><p>A imagem anterior é o mapa da mente de Grant, feito quando estava preso no</p><p>problema de como encontrar o emprego “perfeito”. Você deve lembrar que as</p><p>únicas experiências positivas que Grant encontrou quando revisou o Diário dos</p><p>Bons Momentos tinham a ver com caminhar na floresta perto da sua casa. Então</p><p>decidiu focar seu mapa nisso. Você pode ver que ele escreveu VIDA AO AR</p><p>LIVRE bem no centro do mapa e desenhou um círculo em volta. É o primeiro</p><p>passo.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>O segundo é fazer o mapa. Para isso, você vai pegar a ideia original e escrever</p><p>cinco ou seis coisas relativas à ideia. Escreva criteriosamente as primeiras</p><p>palavras que lhe vierem à mente. A seguir, repita o processo com as palavras do</p><p>círculo secundário. Desenhe três ou quatro linhas saídas de cada palavra e faça</p><p>uma associação livre de novas palavras ligadas a cada um dos conceitos. As</p><p>palavras que aparecem para você não precisam ter a ver com as palavras ou</p><p>questões no centro, só com a palavra no segundo círculo. Repita o processo até</p><p>pelo menos ter três ou quatro círculos de associações de palavras.</p><p>No exemplo de Grant, ele escreveu viagem, caminhadas, surfar, acampar e</p><p>natureza. Estas coisas estão todas diretamente relacionadas com a sua ideia de</p><p>VIDA AO AR LIVRE. Ele então pegou cada uma destas palavras e criou novos</p><p>ramos de associação de palavras: caminhadas lembravam a Grant as</p><p>montanhas, o que conduziu a exploradores. Viagem levou-o a Havaí, Europa e</p><p>mochilão; Havaí levou a praias tropicais. França, associada com Europa, levou-o</p><p>a crepes, que o levou a Nutella, que, embora interessante, acabou sendo um</p><p>beco sem saída. Mas surfar conduziu-o a praias, que levou a marés, que levou a</p><p>ciclos, bicicletas e corridas. Também levou à Jamaica, por Usain Bolt (o cérebro</p><p>de Grant acabou sendo mais criativo do que ele imaginava), até chegar à ideia</p><p>de lugares exóticos.</p><p>Todo este processo de criar camadas e associações de palavras durou de três</p><p>a cinco minutos; você precisa de um tempo-limite para fazê-lo rapidamente e</p><p>evitar a censura interna. O passo a seguir é destacar algumas coisas que podem</p><p>ser interessantes (ou que chamam atenção) nessa associação aleatória de</p><p>palavras e misturá-las para formar alguns conceitos. Você precisa escolher da</p><p>camada de fora, ou perímetro, do mapa, porque é o que fica a dois ou três</p><p>passos do seu pensamento consciente. Mesmo que a vida ao ar livre tenha</p><p>acabado por levar Grant a corridas de bicicleta e Usain Bolt, no inconsciente</p><p>oculto de Grant tudo isto está ligado ao termo original. Grant destacou palavras</p><p>aleatórias que pareciam interessantes – neste caso, exploradores, praias</p><p>tropicais, piratas, crianças, lugares exóticos e corridas de bicicleta. Então, pegou</p><p>todos estes componentes e misturou-os em uma ou duas ideias possíveis.</p><p>Seria possível arranjar um emprego de meio período em uma colônia de</p><p>férias para crianças que gostam de estar ao ar livre? Melhor ainda: em um</p><p>Acampamento de Piratas na praia? E se aceitasse a promoção que lhe</p><p>ofereceram, mas com a condição de ser transferido para um escritório perto da</p><p>praia (procurou e viu que a empresa tinha um escritório em Santa Cruz, na</p><p>Califórnia – oba!)? Ou, melhor ainda, em algum lugar realmente exótico, como o</p><p>Havaí, onde poderia ser um instrutor de surfe para crianças (parece que a</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>empresa também tem um escritório por lá). E talvez, se aceitasse a promoção,</p><p>teria dinheiro suficiente para trabalhar uma semana de quatro dias para ter</p><p>tempo de explorar essas novas ideias.</p><p>Isso é inovação.</p><p>Grant não está mais empacado. Na verdade, ele tem tantas boas ideias que</p><p>nem sabe o que fazer com elas. E, mais importante, está começando a achar que</p><p>a questão não é encontrar o trabalho perfeito, mas, sim, “aperfeiçoar” o trabalho</p><p>que ele tem. Parece que vale a pena trabalhar para uma multinacional de</p><p>locação de automóveis com filiais pelo mundo todo. Fazer o mapa da mente fez</p><p>com que Grant entendesse que ele tem mais com o que trabalhar do que</p><p>supunha e que pode utilizar seu emprego atual como trampolim para suas</p><p>próximas decisões.</p><p>É importante se lembrar de não censurar as palavras. Por isso sugerimos que</p><p>faça o exercício com rapidez.</p><p>Escreva as primeiras palavras que venham à</p><p>mente. Se você se censura, limita o potencial para gerar ideias novas e originais.</p><p>David Kelley, o fundador da d.school, diz que você tem que passar pelas ideias</p><p>loucas para chegar às boas ideias acionáveis. Portanto, não tenha medo de</p><p>pensar em coisas malucas. Ideias assim podem servir de base para algo</p><p>realmente novo e prático. Você deve também criar o seu mapa mental numa</p><p>folha de papel bem grande. Você está procurando um monte de ideias, então</p><p>faça seu mapa o maior e mais visual possível. Saia e arranje uma cartolina ou</p><p>um quadro branco e tenha grandes ideias.</p><p>Quanto maiores, melhores.</p><p>Problemas-Âncora: A Versão Bombada de Estar Empacado</p><p>Existe uma categoria de problemas, aqueles que não querem ir embora, que</p><p>chamamos de problemas-âncora. Como uma âncora física, eles nos mantêm</p><p>presos a um lugar com os movimentos restritos. Eles nos empacam, como Grant</p><p>e Sharon empacaram em suas carreiras. Se vamos praticar um bom design de</p><p>vida, é importante saber quando estamos lidando com um desses problemas.</p><p>Dave estava com um problema desses, mas não tinha a ver com sua carreira,</p><p>como no caso de Sharon e Grant; seu problema estava mais perto de casa. Veja</p><p>só, Dave é um cara que adora oficinas. Seu pai (Dave III) era um artesão incrível</p><p>e tinha uma oficina fantástica, então claro que Dave tinha que ter um oficina</p><p>fantástica também. Mas Dave era menos um artesão e mais um cara de</p><p>consertos; portanto, não precisava de uma oficina igual à do pai. O que</p><p>significava que, com planejamento cuidadoso e manutenção, Dave foi capaz de</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>fazer a tacada do século em sua garagem: uma tremenda oficina com espaço</p><p>para estacionar carros.</p><p>Não julgue os sonhos de Dave.</p><p>Ele adorava aquilo e se pudesse ficaria com a garagem para o resto da vida.</p><p>No entanto, ele se mudou para a praia e, na mudança, descobriu que tinha um</p><p>quinto do espaço que tinha antes. E aí se viu em meio a um problemão, um</p><p>problema âncora que durou anos.</p><p>Nos primeiros anos, Dave precisou alugar três armazéns para guardar suas</p><p>coisas, além de encher a garagem na casa de praia. Com o tempo, ele acabou</p><p>conseguindo se livrar dos armazéns alugados, mas a última pilha de sucata</p><p>nunca saiu da garagem. Quanto a montar direito a nova oficina... bem, melhor</p><p>nem perguntar. Dave convive com o “Grande Desastre Americano da Garagem”</p><p>há mais de cinco anos e naturalmente já se acostumou até demais. Todo verão</p><p>ele promete limpar tudo e preparar a oficina, mas sempre acaba desistindo,</p><p>sobrecarregado. Embora tenha a visão de sua antiga garagem, quase perfeita,</p><p>teme nunca chegar lá. Sempre começa a limpeza da garagem com a melhor das</p><p>intenções: remove a primeira camada de peças de bicicleta e videocassetes, mas</p><p>aí fica desencorajado com a pilha ameaçadora e se distrai com algo mais fácil,</p><p>como trocar o alternador na camionete. O faz-tudo ataca outra vez. E aí já é</p><p>Natal, com todas aquelas caixas saindo do sótão e... ah, esquece.</p><p>Dave está ancorado ao problema porque está ancorado à única solução que</p><p>ele está preparado para aceitar: um combo perfeito de garagem e oficina. Mas</p><p>fazer isso daria tanto trabalho que ele nem chega a tentar, então todo mundo</p><p>tem que se virar entre os obstáculos da garagem, enquanto o sol e o sal da praia</p><p>desbotam a pintura dos carros estacionados na rua.</p><p>A única maneira de Dave se desancorar desse estado imóvel é reformular a</p><p>sua situação e prototipar um pouquinho. Ele poderia:</p><p>1. Reformular para que a meta seja só uma bancada e espaço para guardar bicicletas e</p><p>material de acampamento.</p><p>2. Reformular para só precisar de um armazém alugado (para o resto da vida) e comprar a</p><p>garagem de volta a cem dólares por mês.</p><p>3. Ter consciência do processo e dividir o trabalho em projetos menores: (a) doar velhos</p><p>livros e discos, (b) reduzir para somente quatro bicicletas, (c) tirar as caixas do chão, (d)</p><p>limpar a bancada de detritos dos velhos projetos.</p><p>A grande mudança aqui é livrar-se da imagem da garagem perfeita e imaginar</p><p>um resultado diferente ou os passos no processo. Se Dave mantiver a velha</p><p>imagem da sua garagem perfeita (a solução) colada na porta da geladeira da</p><p>mente, não chegará a lugar nenhum, porque é difícil demais. Difícil demais não</p><p>funciona.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Esse não é um problema gravitacional – não é impossível. Só acontece que</p><p>Dave ancorou-se a uma solução que não pode funcionar.</p><p>Melanie dava aulas de sociologia numa pequena faculdade e estava</p><p>impressionada com os campos de inovação e empreendimento social em</p><p>expansão que estavam transformando o que organizações sem fins lucrativos</p><p>podiam alcançar usando ideias vindas do mundo dos negócios e do capital de</p><p>risco. Sabendo que os alunos estavam bastante interessados em novas</p><p>abordagens de impacto social, ela começou a lecionar um curso e a patrocinar</p><p>projetos de inovação social. Correu tudo muito bem, mas queria fazer ainda</p><p>mais. Ela sonhava em causar um impacto duradouro na faculdade e pensou em</p><p>fundar um novo Instituto de Inovação Social.</p><p>Tudo de que precisava eram 15 milhões de dólares para investir e fazer tudo</p><p>da maneira certa. Começou então a tarefa de arrecadar os fundos. Ela</p><p>desenvolveu a sua estratégia e uma apresentação incrível. Os alunos adoraram.</p><p>Os administradores apoiaram. O departamento orçamentário detestou.</p><p>Como a maioria das pequenas universidades, a de Melanie não tinha muito</p><p>dinheiro e tinha dificuldade de continuar funcionando bem. Sua lista de ex-</p><p>alunos não era cheia de bilionários e o departamento orçamentário guardava</p><p>zelosamente seu relacionamento com os principais doadores recrutados pela</p><p>universidade. Melanie recebeu uma longa lista com os nomes dos doadores de</p><p>peso, incluindo individuais e fundações, que ela deveria evitar. Ela estava livre</p><p>para abordar nomes que não constavam na lista, mas só isso.</p><p>Foi um retrocesso e tanto, mas o sonho de Melanie merecia seu tempo, então</p><p>ela partiu para cima. Você imagina o resto. Ela fez contatos e apresentou o</p><p>projeto sem parar por dois anos, sem chegar a lado algum. Conseguiu</p><p>assinaturas para alguns compromissos, mas era pouco. Doadores substanciais</p><p>eram interceptados pelo departamento orçamentário para outras coisas. A meta</p><p>de Melanie continuava totalmente fora de alcance. Sem acesso aos poucos</p><p>doadores estratégicos da faculdade, nunca levantaria os 15 milhões.</p><p>Ela estava empacada. Mas não precisava estar.</p><p>Melanie acreditava que seu problema era arrecadar 15 milhões de dólares</p><p>para financiar seu instituto de inovação social. Mas este não era o seu problema;</p><p>era só a primeira ideia que teve para solucionar seu problema, e ela ficou tão</p><p>ancorada pela ideia que ficou presa ao fracasso. Chegamos a mencionar que ela</p><p>estava ficando deprimida com tanta rejeição, que suas aulas estavam sofrendo</p><p>com a distração da arrecadação de fundos e que seus colegas, já cansados de</p><p>ouvir os lamentos monetários de Melanie, começaram a evitá-la? Veja bem,</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>quando você se ancora a uma solução ruim, as coisas só pioram com o tempo.</p><p>O problema de Melanie era ela querer causar um impacto profundo na</p><p>faculdade através da inovação social – não o financiamento de um instituto. Ela</p><p>cometeu o clássico erro de pular em uma solução rápido demais. Com ajuda,</p><p>Melanie se libertou adotando uma mentalidade de designer, lembrando-se de</p><p>qual era realmente o seu problema e explorando alguns protótipos. Ela notou</p><p>que havia tido a ideia deste instituto (e sua fatura de 15 milhões de dólares)</p><p>sozinha e num só dia, sem nunca ter considerado alternativas. Ela aplicou a</p><p>mentalidade curiosa à situação e continuou com mais investigações</p><p>Adoram Problemas</p><p>Olhe à sua volta. Repare no seu escritório ou na sua casa a cadeira onde está</p><p>sentado, o tablet ou celular que tem na mão. Tudo ao nosso redor foi criado por</p><p>alguém. E todas as criações começaram com um problema. O problema de</p><p>precisar carregar uma mala de CDs para ouvir muita música é a razão pela qual</p><p>você pode escutar três mil faixas em um minúsculo objeto quadrado no bolso de</p><p>sua camisa. É por causa de um problema que seu telefone cabe perfeitamente na</p><p>palma da sua mão, ou que a bateria do seu laptop aguenta por cinco horas, ou</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>que o som do seu despertador é de passarinhos piando. O som irritante de um</p><p>despertador pode parecer insignificante, mas foi suficiente para aqueles que</p><p>não queriam começar o seu dia com o som desagradável de um despertador</p><p>tradicional. Problemas são a razão pela qual casas têm água corrente e</p><p>isolamento térmico. A canalização foi criada por causa de um problema. Escovas</p><p>de dente foram criadas por causa de um problema. Cadeiras foram inventadas</p><p>porque alguém, em algum lugar, quis resolver um problema bem sério: sentar-</p><p>se em pedra causa dor no traseiro.</p><p>Há uma diferença entre problemas de design e de engenharia. Nós dois,</p><p>autores deste livro, temos diplomas em engenharia, uma boa maneira de</p><p>resolver um problema se você tiver muitos dados e a certeza de uma solução</p><p>ideal. Bill trabalhou no projeto das dobradiças dos primeiros laptops da Apple e</p><p>a solução que ele e sua equipe encontraram fez destes laptops os mais</p><p>confiáveis do mercado. A solução exigiu muitos protótipos e muitos testes</p><p>semelhantes ao processo de design, mas o objetivo de criar dobradiças que</p><p>durariam cinco anos (ou que pudessem abrir e fechar dez mil vezes) era claro, e</p><p>sua equipe testou várias soluções mecânicas até que conseguiram o que</p><p>planejavam. Uma vez feito isso, a solução poderia ser reproduzida milhões de</p><p>vezes. Foi um bom problema de engenharia.</p><p>Compare isso com o problema de criar o primeiro laptop com o mouse</p><p>embutido. Construir um laptop que precisava estar ligado a um mouse externo</p><p>era inaceitável, já que os computadores da Apple dependiam do mouse para</p><p>fazer quase tudo. O problema aqui era de design. Não havia precedentes para</p><p>orientar o design, nem um objetivo fixo ou predeterminado, só muitas ideias</p><p>surgindo pelo laboratório. Foram feitos vários testes diferentes, mas nada</p><p>funcionava. Foi então que apareceu um engenheiro chamado Jon Krakower. Jon</p><p>tinha andado às voltas com trackballs[*] em miniatura e teve a ideia estranha de</p><p>empurrar o teclado do laptop para mais perto da tela, deixando um espaço para</p><p>o pequeno dispositivo de cursor. Essa acabou sendo a grande descoberta que</p><p>todos esperavam e faz parte do visual dos computadores da Apple desde então.</p><p>[1]</p><p>A estética, ou o visual das coisas, é outro exemplo óbvio de um problema sem</p><p>solução determinada no qual os designers podem trabalhar. Por exemplo,</p><p>existem muitos carros esportivos de alto desempenho no mundo e todos</p><p>parecem igualmente velozes, mas um Porsche e uma Ferrari são muito</p><p>diferentes. Ambos são excelentes construções, ambos contêm peças quase</p><p>idênticas, mas trazem um apelo estético completamente distinto. Os designers</p><p>de cada empresa tomam extremo cuidado com cada curva e cada linha, cada</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>farol e grade, mas tomam decisões bastante diferentes. Cada empresa trabalha à</p><p>sua maneira: uma Ferrari tem o visual impetuoso italiano e o Porsche, uma</p><p>sensibilidade exata e germânica. Os designers passam anos estudando a estética</p><p>para fazer estes produtos industriais parecerem uma escultura móvel. É por</p><p>isso, de certo forma, que a estética é o maior problema do design. A estética</p><p>envolve emoções humanas – e nós descobrimos que o pensamento de design é o</p><p>melhor recurso pra resolver problemas quando se trata de emoções humanas.</p><p>Ao encararmos o problema de ajudar nossos alunos a terminar a faculdade e</p><p>entrar na vida adulta produtivos e felizes – para tentarem descobrir o que raios</p><p>fazer da vida –, sabíamos que o pensamento de design seria a melhor maneira</p><p>de resolver esse problema específico. Projetar a vida não envolve um objetivo</p><p>claro, como criar dobradiças que durem cinco anos ou construir uma ponte</p><p>gigantesca e segura; esses problemas são de engenharia: é possível obter dados</p><p>concretos e desenvolver a melhor solução.</p><p>Quando você deseja um resultado (um laptop realmente portátil, um carro</p><p>esportivo com design sensual ou uma vida bem projetada), mas não encontra</p><p>uma solução clara, deve buscar ideias malucas, experimentar o inusitado,</p><p>improvisar e continuar a construir o caminho em frente até aparecer algo que</p><p>funcione. Você reconhece a solução ao encontrá-la, seja ela as linhas</p><p>harmoniosas de uma Ferrari ou o design ultraportátil de um MacBook Air. Um</p><p>grande design nasce de uma forma que não se pode resolver com equações,</p><p>planilhas e análise de dados. Tem um visual e uma sensação únicos, uma linda</p><p>estética que te atrai.</p><p>Sua vida bem projetada terá um visual e uma sensação únicos também, e o</p><p>pensamento de design irá ajudá-lo a resolver os problemas de design da sua</p><p>própria vida. Tudo que torna nosso cotidiano mais fácil, mais produtivo e mais</p><p>prazeroso foi criado por causa de um problema e também porque um designer</p><p>ou uma equipe de designers em algum canto do mundo buscou resolver o</p><p>problema. Os espaços em que vivemos, trabalhamos e relaxamos foram todos</p><p>projetados para melhorar nossas vidas, nosso trabalho e nosso lazer. Em</p><p>qualquer lugar do nosso mundo externo, vemos o que acontece quando</p><p>designers atacam problemas.</p><p>Vemos os resultados do pensamento de design.</p><p>E você verá os resultados do pensamento de design em sua própria vida.</p><p>Design não existe apenas para criar coisas bacanas, como computadores e</p><p>Ferraris; ele também funciona para criar uma vida bacana. Você pode usar o</p><p>pensamento de design para criar uma vida significativa, alegre e satisfatória.</p><p>Não importa quem você é ou foi, no que trabalha ou trabalhou, quão jovem ou</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>velho você é – você pode usar a mesma lógica usada para criar as tecnologias, os</p><p>produtos e os espaços mais incríveis para projetar a sua carreira e a sua vida.</p><p>Uma vida bem projetada é uma vida geradora: é constantemente criativa,</p><p>produtiva, dinâmica, está sempre evoluindo e as surpresas são sempre possíveis.</p><p>Você ganha mais do que gasta com ela. Há muito mais do que uma rotina</p><p>repetitiva em uma vida bem projetada.</p><p>Como Nós Sabemos?</p><p>Tudo começou com um almoço.</p><p>Na verdade, tudo começou quando estudávamos na Universidade de</p><p>Stanford, na década de 1970 (Dave um pouco antes que Bill). Foi lá que Bill</p><p>descobriu o design de produto e a empolgante trajetória profissional que o</p><p>curso abria. Quando criança, ele costumava desenhar carros e aviões debaixo da</p><p>máquina de costura de sua avó, e só se formou em design de produto porque</p><p>descobriu (para sua enorme surpresa) que havia pessoas no mundo que faziam</p><p>esse tipo de coisa todos os dias, e eram chamadas designers. Como diretor</p><p>executivo do Departamento de Design em Stanford, Bill ainda está desenhando</p><p>e construindo coisas (já saiu de baixo da máquina de costura), dirigindo os</p><p>programas de graduação e pós-graduação em design e ensinando na d.school</p><p>(The Hasso Plattner Institute of Design, um centro multidisciplinar de inovação</p><p>em Stanford, onde todas as aulas são baseadas no processo de pensamento de</p><p>design). Bill também trabalhou em start-ups e em grandes empresas, incluindo</p><p>sete anos na Apple, projetando laptops premiados (e aquelas dobradiças), além</p><p>de vários anos na indústria de brinquedos,</p><p>antes de</p><p>encontrar exatamente o que tentava fazer.</p><p>Ela decidiu formular uma pergunta interessante e falar com muitas pessoas</p><p>no campus. Ela começou a entrevistar líderes do campus, perguntando: “De que</p><p>maneira a inovação social pode integrar a nossa faculdade e por onde devemos</p><p>começar?” Ela teve um monte de ótimas conversas e ideias. As pessoas</p><p>sugeriram dormitórios temáticos, programação alternativa nos feriados,</p><p>estágios de férias e um novo currículo de projetos de trabalhos de conclusão de</p><p>curso. Havia muitas maneiras de causar um impacto institucional na faculdade</p><p>sem ter que começar (e financiar) um novo instituto. Claro, o instituto seria</p><p>muito mais bacana e maior e mais sexy e talvez gerasse ainda mais impacto,</p><p>mas era quase impossível. As outras ideias eram muito mais baratas e também</p><p>envolviam mais apoiadores novos, portanto Melanie não estava mais sozinha no</p><p>campus. Ela formou uma equipe que juntava alunos e professores e eles</p><p>resolveram que um dormitório com o tema de inovação social era a melhor</p><p>ideia.</p><p>Então fizeram o protótipo. Primeiro veio um levantamento de todos os</p><p>dormitórios temáticos para ver o que funcionava ou não. No processo, eles se</p><p>reuniram com alunos que gostaram da nova ideia. A equipe convidou esses</p><p>alunos para formar um clube no campus como um primeiro passo. O clube</p><p>funcionou por dois anos para testar projetos, infiltrar a ideia dentro da cultura</p><p>do campus e criar credibilidade. Em seguida, quatro membros do clube</p><p>candidataram-se conjuntamente para serem assistentes residentes no mesmo</p><p>dormitório e obtiveram permissão do administrador do dormitório para</p><p>começar um programa piloto de inovação social no ano seguinte. Correu tudo</p><p>perfeitamente e o programa foi renovado no ano seguinte. No ano subsequente,</p><p>o dormitório foi oficialmente escolhido para o programa de inovação social,</p><p>Melanie tornou-se orientadora do dormitório, e o vice-presidente do</p><p>alojamento estudantil tornou-se o mais ferrenho defensor do programa.</p><p>Ao reformular o problema, usando curiosidade, protótipos e um pouco de</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>colaboração radical, Melanie causou uma mudança permanente na cultura do</p><p>campus e no sistema de alojamentos. Ela criou um impacto duradouro na</p><p>instituição sem ter que financiar um instituto.</p><p>John também tinha um problema-âncora. Ele sonhava em descer o Grand</p><p>Canyon de mula desde que ouvira falar dessa viagem quando era escoteiro e</p><p>prometeu a si mesmo que o faria um dia. Aí a vida atrapalhou seus planos: ele</p><p>tinha que começar uma carreira e uma família. Sem problema – ele faria a</p><p>viagem com a mulher e os filhos e criaria uma fantástica memória de família.</p><p>Mas, quando chegou a hora em que John podia pagar aquelas férias para a sua</p><p>família de cinco, ele havia crescido também em tamanho e agora pesava 100kg.</p><p>O limite de peso para o passageiro da mula era de 80kg. A cada primavera</p><p>durante cinco anos, John entrava numa dieta para tentar baixar o peso para 79</p><p>quilos e poder fazer a viagem no verão. Um ano foi até 96, outro ano, 94. Uma</p><p>vez foi até 93 (bem... 95, completamente vestido, com uma garrafa d’água). Seus</p><p>filhos estavam ficando mais velhos e já tinham planos diferentes que não</p><p>envolviam passar três dias com os pais montados em mulas. Nunca aconteceu.</p><p>Essa memória de família não existe.</p><p>John ancorou-se à sua ideia de solução. Tinham que ser levados por mulas. Se</p><p>ele desse um passo atrás e reconhecesse que esta solução, embora não</p><p>impossível, estava levando muito tempo para se realizar e não tinha boas</p><p>chances de sucesso, poderia tê-la salvado. Ele poderia ter reformulado a ideia</p><p>de “Fazer a Grande Viagem do Grand Canyon de Mula” a “Ver o Grand Canyon</p><p>Todo”. Havia muitas maneiras diferentes de fazê-lo – helicóptero, canoa, a pé. As</p><p>chances que John tinha em treinar com sucesso para a subida e descida na trilha</p><p>era dez vezes melhor que suas chances de fazer a balança chegar aos 80kg.</p><p>A moral das histórias de Dave, Melanie e John é esta: não transforme um</p><p>problema factível num problema-âncora ao se agarrar irrevogavelmente a algo</p><p>que não funciona. Reformule a solução para outras possibilidades, faça</p><p>protótipos dessas ideias (por exemplo, faça passeios-teste) e se solte.</p><p>Problemas-âncora nos empacam porque só conseguimos enxergar uma solução</p><p>– aquela que já conhecemos e que não funciona. Problemas-âncora não dizem</p><p>respeito somente à nossa abordagem atual e fracassada. Na verdade, dizem</p><p>respeito ao medo de que, não importa o que tentemos, nada mais funciona, e aí</p><p>teremos de admitir que estamos permanentemente empacados – ou seja,</p><p>estamos ferrados – e é melhor estar empacado do que ferrado. Às vezes é mais</p><p>confortável se agarrar à nossa abordagem familiar e fracassada do que arriscar</p><p>um fracasso ainda maior tentando grandes mudanças que achamos necessárias</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>para eliminá-lo. Este é um comportamento humano paradoxal, porém comum.</p><p>As mudanças são sempre incertas e não há garantia de sucesso, não importa o</p><p>quanto você tente. Ser medroso faz sentido. A maneira de avançar é reduzir o</p><p>risco (e o medo) de fracassar criando uma série de protótipos para testar as</p><p>águas. Tudo bem se falharem – devem falhar –, mas protótipos bem projetados</p><p>podem ensinar muito sobre o futuro.</p><p>Os protótipos reduzem a sua ansiedade, propõem questões interessantes e</p><p>proporcionam dados sobre o potencial da mudança que você quer realizar. Um</p><p>dos princípios de pensamento em design é querer “fracassar logo e seguir</p><p>adiante”. Quando você empacar em um problema-âncora, tente reformular o</p><p>desafio como uma exploração de possibilidades (em vez de tentar resolver seu</p><p>enorme problema num único e miraculoso passo) e experimente criar uma</p><p>série de protótipos pequenos e seguros da modificação que deseja. Isso deve</p><p>ajudar a largar a âncora e levar uma abordagem mais criativa para o problema.</p><p>Falaremos mais de protótipos no Capítulo 6.</p><p>Antes de deixar o tópico dos problemas-âncora de lado, precisamos explicar</p><p>como esses diferem dos problemas de gravidade mencionados no Capítulo 1.</p><p>São dois tipos de problemas bastante desagradáveis que mantêm gente atolada,</p><p>mas diferem em natureza. O problema-âncora é um problema real, apenas</p><p>difícil. É acionável – porém nos prendemos a ele por tanto tempo ou tantas</p><p>vezes que nos parece intransponível (que é a razão pela qual tal problema</p><p>precisa ser reformulado e reaberto com novas ideias, depois diminuído de</p><p>tamanho por meio de protótipos). Problemas de gravidade não são problemas</p><p>de verdade. São circunstâncias que você não pode mudar. Não existe solução</p><p>para um problema gravitacional – somente aceitação e redirecionamento. Você</p><p>não pode desafiar as leis da natureza, nem viver num mundo onde poetas</p><p>ganham um milhão de dólares por ano. Os designers de vida sabem que, se um</p><p>problema não é acionável, não pode ser resolvido. Designers podem ser</p><p>talentosos em reformulação e invenção, mas sabem que não podem confrontar</p><p>as leis da natureza ou do mercado.</p><p>Estamos aqui para desemperrá-lo.</p><p>Queremos que tenha um monte de ideias e opiniões.</p><p>Quando você tem muitas ideias, pode construir protótipos da sua vida e testá-</p><p>los. É o que fazem os designers de vida.</p><p>Mapeamento da Mente Com Seu Diário dos Bons</p><p>Momentos</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Se você ainda não fez seu Diário dos Bons Momentos no último capítulo, por</p><p>favor, volte e faça-o agora; vai precisar dele para este exercício. Iremos criar</p><p>três mapas da mente distintos, cada um com pelo menos três ou quatro</p><p>camadas e uma dúzia de elementos no perímetro externo do anel.</p><p>Mapa da Mente 1 – Engajamento</p><p>No seu Diário dos Bons Momentos,</p><p>escolha uma das áreas de maior interesse</p><p>para você ou uma atividade durante a qual você participou com afinco (ex.:</p><p>fazer o orçamento ou apresentar uma nova ideia) e coloque-a no centro do</p><p>mapa. Depois desenhe um monte de conceitos e palavras interligadas, usando a</p><p>técnica de mapeamento da mente.</p><p>Mapa da Mente 2 – Energia</p><p>No seu Diário dos Bons Momentos, escolha algo que realmente dá energia no</p><p>trabalho e na vida (ex.: aulas de arte, dar retorno aos colegas, plano de saúde,</p><p>manter as coisas funcionando direito) e use para mapear a mente.</p><p>Mapa da Mente 3 – Fluxo</p><p>No seu Diário dos Bons Momentos, escolha uma das experiências de fluxo,</p><p>ponha a experiência no centro do mapa e complete o mapeamento deste estado</p><p>(ex.: falar para um grupo grande ou pensar em ideias criativas).</p><p>Agora que você fez estes três mapas da mente, vamos inventar uma vida</p><p>interessante, se não necessariamente prática, para cada um.</p><p>1. Olhe para o círculo externo de cada um dos seus mapas e escolha três elementos</p><p>díspares que chamem a sua atenção. Você saberá quais são intuitivamente.</p><p>2. Agora, tente combinar estes três itens em uma possível descrição de emprego que você</p><p>acharia divertido e interessante e que seria útil para outras pessoas (não precisa ser</p><p>algo prático ou interessante para muita gente ou empregadores).</p><p>3. Dê um nome ao seu cargo e faça um esboço num guardanapo de papel (um rápido</p><p>desenho do que é visualmente), como o que mostramos aqui. Por exemplo, quando</p><p>Grant (que estava definhando na agência de aluguel de automóveis) fez este exercício</p><p>baseado nas vezes em que estava engajado na vida (passeando na floresta, jogando</p><p>beisebol, ajudando os sobrinhos), acabou desenhando um esboço de si no comando de</p><p>um Acampamento de Piratas Surfistas para Crianças.</p><p>4. Faça este exercício três vezes – uma para cada um de seus mapas da mente –</p><p>certificando-se de que são diferentes um do outro.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>E Agora?</p><p>Você deve estar pensando: “Isso é ótimo! Essas são mesmo ideias muito bacanas</p><p>que posso com certeza utilizar!” Se for assim, ótimo, mas não é garantido e nem</p><p>é o que costuma acontecer.</p><p>Ou... você pode ter completado a tarefa e agora dizer a si mesmo: “Bem, que</p><p>besteira! Qual é o propósito de produzir essa quantidade absurda de ideias sem</p><p>sentido?” Se isso é você, então não aproveitou o exercício como deveria. O</p><p>objetivo todo era deixar o julgamento de lado e acalmar o seu crítico interno. Se</p><p>não acalmou, você provavelmente achou o exercício meio besta. Se é o caso,</p><p>bem-vindo ao clube de pessoas espertas e modernas tentando fazer o que é</p><p>certo (que é obter a resposta certa imediatamente). Dê outra olhada no seu</p><p>trabalho e tente vê-lo por outro lado, ou volte e tente de novo alguns dias</p><p>depois.</p><p>Ou você agora pode estar pensando: “Bem, foi muito divertido e interessante,</p><p>mas não sei bem o que estou aprendendo com isto.” Se isso parece com você,</p><p>está indo muito bem. O objetivo deste exercício não é produzir um resultado</p><p>específico; é deixar a sua mente viajar e imaginar sem julgamentos. Ao fazer o</p><p>exercício até o fim, chegando a imaginar como combinar elementos em funções</p><p>ou tarefas surpreendentes, você passou com sucesso da necessidade de resolver</p><p>problemas (o que fazer?) para a área do pensamento de design (o que posso</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>imaginar?). Agora você está trabalhando com mentalidade de designer e está</p><p>pondo no papel um monte de ideias importantes num formato criativo.</p><p>É hora de começar a tarefa de inovar três vidas alternativas reais.</p><p>É hora para os seus Planos de Odisseia.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Experimente</p><p>Mapear a Mente</p><p>1. Releia o seu Diário dos Bons Momentos e observe atividades nas quais esteve</p><p>engajado, energizado e no fluxo.</p><p>2. Escolha uma atividade em que esteve engajado, uma atividade que tenha lhe</p><p>deixado altamente energizado, e algo que o deixou em estado de fluxo e desenhe</p><p>três mapas mentais, um para cada atividade.</p><p>3. Olhe para o círculo externo de cada mapa, escolha três coisas que lhe chamem a</p><p>atenção e crie uma descrição de trabalho para elas.</p><p>4. Crie um cargo para cada descrição de trabalho e faça um esboço num guardanapo</p><p>de papel.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>V</p><p>5</p><p>Projete Suas Vidas</p><p>ocê é uma legião. Cada um de nós é muitos. A vida que você está vivendo</p><p>agora é apenas uma de muitas vidas que viverá. Não, não estamos falando</p><p>de reencarnação ou nada que tenha implicações religiosas. A verdade nua e crua</p><p>é que você vai viver muitas vidas diferentes em uma vida só. Se você não está</p><p>muito confortável com a vida que vive atualmente, não se preocupe: o design de</p><p>vida lhe dá segundas chances frequentemente. Você pode recomeçar em</p><p>qualquer ponto, em qualquer hora. É sempre permitido ser café com leite.</p><p>Trabalhando com adultos de várias idades, descobrimos que as pessoas</p><p>erram (independentemente de idade, educação ou carreira) ao pensar que só</p><p>precisam ter um plano para as suas vidas e tudo será tranquilo. Se fizerem a</p><p>escolha certa (a melhor, verdadeira, única escolha), eles terão uma planta do que</p><p>serão, do que farão e como viverão. É uma abordagem careta de vida, mas, na</p><p>verdade, a vida é mais abstrata, aberta a muitas interpretações.</p><p>Chung estava estressado. Ele havia estudado muito em todos os seus anos na</p><p>UC Berkeley e estava se formando com destaque. Ele queria fazer pós-</p><p>graduação mais tarde, mas antes queria ter alguma experiência na sua profissão</p><p>de escolha para aproveitar ao máximo a pós-graduação e começar a carreira</p><p>rapidamente. Para manter as suas opções em aberto, Chung candidatou-se a</p><p>seis estágios diferentes, variando de um a três anos de duração. Então algo</p><p>terrível aconteceu: ele passou para quatro dos seis estágios, incluindo suas três</p><p>escolhas prioritárias. O terrível não foi passar, foi o que aconteceu depois:</p><p>indecisão total. Ele não fazia ideia do que fazer ou de como resolver o clássico</p><p>problema de não saber o que fazer.</p><p>Ele estava totalmente despreparado para passar nas três opções principais e,</p><p>para exacerbar o problema, elas eram completamente diferentes uma da outra.</p><p>Uma era ensinar na Ásia rural, outra era trabalhar com assistência legal para</p><p>uma ONG belga contra escravidão e outra era fazer pesquisas num centro de</p><p>saúde em Washington D.C. Eram todas ótimas, mas qual escolher?</p><p>Chung sabia que essa era uma decisão incrivelmente crucial, porque o estágio</p><p>determinaria sua pós-gradução, e a pós-graduação direcionaria sua carreira e</p><p>aquele seria o seu caminho na vida. Se ele não acertasse, arriscaria acabar com</p><p>uma vida de segunda categoria. Mas ele não sabia qual era a primeira. Ele não</p><p>sabia qual era a melhor.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Chung estava cometendo um erro muito comum. Achava que havia uma</p><p>maneira perfeita de viver e que precisava saber qual era ou estaria escolhendo</p><p>uma opção pior. Não é verdade. Nós todos temos energia, talento e interesse</p><p>suficientes para viver muitos tipos diferentes de vida, todas as quais com o</p><p>potencial de ser autênticas, interessantes e produtivas. Perguntar qual vida é</p><p>melhor é besteira, como perguntar se é melhor ter mãos ou pés.</p><p>Quando Chung chegou ao nosso escritório, Dave perguntou: “Se você está</p><p>tendo tanta dificuldade para escolher, tem certeza de que precisa? Você gostaria</p><p>de fazer os três estágios, um depois do outro?” Chung respondeu: “Adoraria!</p><p>Mas posso? Como vão me deixar fazer os três?”</p><p>“É só perguntar. Não custa nada perguntar.”</p><p>Ele perguntou e, para sua enorme surpresa, duas das organizações podiam</p><p>esperar, ou seja, ele poderia fazer os três estágios nos próximos cinco anos se</p><p>quisesse.</p><p>Chung entendeu, finalmente, que a razão pela qual não</p><p>conseguia decidir qual</p><p>era o melhor estágio era que um não era melhor que o outro. Havia três</p><p>possibilidades ótimas e totalmente diferentes à sua frente. Neste momento da</p><p>sua vida, ele podia experimentar os três – e foi o que fez.</p><p>Claro, o que acabou acontecendo foi algo que Chung nunca havia imaginado</p><p>de todo. Durante seu primeiro estágio, o de dois anos, ele manteve contato com</p><p>seus amigos de faculdade, conversando por Skype com regularidade. Depois de</p><p>uns nove meses, todos eles estavam descontentes e desiludidos com a vida pós-</p><p>faculdade, exceto Chung. Não era muita surpresa. Deixar a universidade é bem</p><p>estressante e o próprio Chung estava tendo certas dificuldades no trabalho, mas</p><p>era diferente do que todos os outros sentiam. Chung havia aprendido design de</p><p>vida. Ele tinha ferramentas que podia usar e aceitava que havia mais de um</p><p>caminho feliz que podia seguir. Seus amigos não tinham esta confiança, então</p><p>Chung começou a ajudar cada um a descobrir o que fazer. Ele adorava fazer</p><p>aquilo. Na verdade, ele adorava tanto, que decidiu investigar como podia</p><p>prestar este tipo de assistência em tempo integral. Imediatamente após o</p><p>primeiro estágio, cancelou os dois seguintes e entrou na pós-graduação para</p><p>estudar orientação vocacional. Depois de finalmente aceitar que havia ao menos</p><p>três grandes carreiras que poderia viver, ele descobriu uma quarta. É o tipo de</p><p>coisa que acontece quando se para de tentar “acertar” e se começa a projetar o</p><p>caminho em frente.</p><p>Crença Disfuncional: Eu preciso descobrir a melhor vida possível, fazer um plano e</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>executá-lo.</p><p>Reformulação: Existem várias vidas (e planos) ótimas em mim e eu posso escolher</p><p>com qual construir meu caminho.</p><p>Assuma Suas Diferentes Personalidades</p><p>Uma das formas mais poderosas de projetar a sua vida é projetar as suas vidas.</p><p>Não, não batemos com a cabeça e não foi um erro de digitação. Vamos pedir que</p><p>você imagine e ponha no papel três versões diferentes dos próximos cinco anos</p><p>da sua vida. Isso é o que chamamos de Planos de Odisseia. Sabemos que você</p><p>tem ao menos três possibilidades viáveis e profundamente distintas, quer que</p><p>três variações interessantes dos seus próximos cinco anos apareçam</p><p>imediatamente na sua cabeça ou não. Todos nós temos. Todas as milhares de</p><p>pessoas com quem trabalhamos provaram que estamos corretos. Todos nós</p><p>levamos muitas vidas dentro de nós. Certamente sempre temos três ao mesmo</p><p>tempo. Evidentemente, só podemos ver uma de cada vez, mas queremos</p><p>imaginar muitas variações para escolher de forma produtiva e criativa. Pode</p><p>parecer uma tarefa assustadora imaginar três planos diferentes, mas você</p><p>consegue. Todos aqueles com quem trabalhamos conseguiram, então você</p><p>também consegue. Talvez já tenha um plano preferido em mente. Tudo bem.</p><p>Você pode até estar comprometido com um plano já em andamento. Tudo bem,</p><p>também. Mesmo assim, você ainda precisa desenvolver três Planos de Odisseia</p><p>alternativos. Sério. Algumas das pessoas que mais aproveitaram este exercício</p><p>foram aquelas que já entraram nele com todas as respostas do Verdadeiro Plano</p><p>no lugar. O mérito de conceber vários protótipos paralelos (como estes três</p><p>Planos de Odisseia) foi confirmado por pesquisas da Pós-Graduação em</p><p>Educação de Stanford. Uma equipe encabeçada pelo professor Dan Schwartz</p><p>avaliou dois grupos.[1] Um começou com três ideias em paralelo, o que resultou</p><p>em mais duas ideias a caminho da ideia final. O segundo time começou uma</p><p>ideia que foi repetida quatro vezes. Cada equipe gerou cinco etapas de ideias,</p><p>mas o time das paralelas obteve resultados bem melhores – produzindo mais</p><p>ideias e resultados finais claramente melhores. O time que começou com só uma</p><p>ideia acabou refinando a mesma ideia repetidamente, sem inovar. A conclusão é</p><p>que se sua mente começa com várias ideias em paralelo não está comprometida</p><p>cedo demais com um só caminho e permanece mais aberta e capaz de receber e</p><p>conceber mais ideias inovadoras. Os designers sempre souberam disso – não se</p><p>pode começar com uma só ideia, senão você acaba empacado nela.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Tente não pensar em seus Planos de Odisseia como “Plano A, Plano B e Plano</p><p>C”, dos quais A é o melhor plano, B é um plano razoável e C é o plano que você</p><p>não quer, mas que aceitaria como tolerável se fosse realmente necessário.</p><p>Todos os Planos de Odisseia são Planos A porque são realmente possíveis e</p><p>realmente a sua cara. Planos de Odisseia são esboços de possibilidades que</p><p>podem animar a sua imaginação e ajudar a escolher a direção que realmente</p><p>tomará para começar os próximos protótipos e a próxima vida.</p><p>Não se preocupe quanto a escolher qual vida alternativa irá viver. Temos</p><p>ótimas ideias e ferramentas para a difícil tarefa da “escolha” e as discutiremos</p><p>no Capítulo 9. O critério de selecionar o que virá a seguir poderá se basear em</p><p>recursos disponíveis (proximidade, tempo, dinheiro), coerência (como a</p><p>alternativa se relaciona com sua Visão de Vida e Visão de Trabalho), nível de</p><p>convicção (você acha que pode fazê-lo?) e o quanto você gosta do plano. Mas</p><p>temos que começar do começo: é preciso desenvolver as alternativas primeiro.</p><p>Tantas Vidas, Tão Pouco Tempo</p><p>Chamamos de Planos de Odisseia porque a vida é uma odisseia – uma jornada</p><p>aventureira para o futuro com esperanças e objetivos, ajudantes, amantes e</p><p>antagonistas, surpresas e imprevistos, tudo se desenrolando da maneira que</p><p>planejamos no começo e que tecemos no caminho. Homero[2] contou a antiga</p><p>história de Odisseu como metáfora para esta vida-como-aventura. Portanto,</p><p>agora queremos dedicar tempo para imaginar as diversas maneiras que você</p><p>pode começar o próximo capítulo da jornada da sua vida – a sua busca.</p><p>Queremos que você crie três planos diferentes para os próximos cinco anos</p><p>da sua vida. Por que cinco anos? Porque dois anos é muito pouco (ficamos</p><p>nervosos quando não pensamos em tudo do que precisamos) e sete anos é</p><p>muito tempo (sabemos que as circunstâncias vão mudar até lá). Na verdade, se</p><p>você ouvir as histórias que as pessoas contam, a maior parte das vidas é vivida</p><p>como uma série de períodos encadeados de dois a quatro anos. Mesmo os</p><p>maiores períodos de mais importância (os anos criando os filhos) são divididos</p><p>em etapas distintas de dois a quatro anos: os anos de bebê, os anos de pré-</p><p>primário, a pré-adolescência, os anos em que eles não falam com a gente,</p><p>também conhecidos como a adolescência. Cinco anos cobrem um bom período</p><p>de quatro com um ano extra de reserva. Depois de fazermos este exercício</p><p>milhares de vezes com pessoas de todas as idades, estamos convencidos de que</p><p>cinco anos são a medida certa. Experimente.</p><p>Gostaríamos de insistir que (já que não iremos dar notas ao seu dever de</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>casa) crie três versões de você próprio que sejam bem diferentes uma da outra.</p><p>Os três planos lhe darão escolhas reais (uma lista de três parece muito maior</p><p>que uma de dois) e irão alongar seus músculos criativos o bastante para você</p><p>saber que não optou pela resposta óbvia. Queremos que produza três</p><p>alternativas bem diferentes – não três variações de um tema. Viver em uma</p><p>comunidade no Vermont e viver num kibutz em Israel não são duas</p><p>alternativas; são duas versões da mesma alternativa. Procure encontrar três</p><p>ideias realmente distintas.</p><p>Sabemos que você pode fazê-lo, pois vimos milhares de pessoas concluindo a</p><p>tarefa com sucesso, incluindo aquelas que começaram a coisa toda convencidas</p><p>de que nunca poderiam produzir três ideias alternativas sobre quais vidas</p><p>poderiam viver. Se você é uma destas pessoas, aqui vai uma maneira de criar</p><p>rapidamente “três versões da minha vida”.</p><p>Vida Um – Aquilo Que Você Faz. Seu primeiro plano é centrado em volta do que já</p><p>tem em mente – das duas, uma: ou uma projeção futura da sua vida atual, ou</p><p>aquela ideia que você vem criando já há um tempo. Esta é a ideia que você já</p><p>tem – é boa e merece atenção neste exercício.</p><p>Vida Dois – Aquilo Que Você Faria Se a Coisa Um De Repente Desaparecesse.</p><p>Acontece. Alguns tipos de trabalho chegam ao fim. Ninguém mais faz chicotes</p><p>para carruagens nem navegadores de internet. O primeiro está fora de época e o</p><p>segundo vem grátis com o seu sistema operacional, portanto, chicotes de</p><p>carruagem e browsers de internet não são boas opções de carreira. Imagine que</p><p>sua primeira ideia de vida acaba de repente ou deixa de ser uma opção. O que</p><p>faria? Você precisa se sustentar. Você não pode ficar sem fazer nada. O que</p><p>faria? Se você é como a maioria das pessoas com quem temos falado e força a</p><p>imaginação a acreditar que você tem que ganhar a vida fazendo outra coisa,</p><p>você consegue pensar em algo.</p><p>Vida Três – Aquilo que você Faria ou a Vida que Viveria se Dinheiro ou Imagem não</p><p>Fossem Obstáculos. Se você soubesse que poderia ganhar um dinheiro decente</p><p>com isso e que ninguém iria rir ou julgar, o que você faria? Não estamos dizendo</p><p>que você de repente vai poder se sustentar com isso e não prometemos que</p><p>ninguém vá rir (embora raramente o façam), mas imaginar esta alternativa</p><p>pode ser uma parte bastante útil da exploração do seu design de vida.</p><p>Dave estava falando recentemente com um aluno de MBA que estava</p><p>convencido de que não tinha três ideias sobre a sua vida.</p><p>“Então, o que você vai fazer?”, Dave perguntou ao jovem MBA.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>“Quero fazer consultoria de gestão.”</p><p>“Muito bem, é a sua Vida Um”, respondeu Dave. “Mas sabe o quê? Todos os</p><p>CEOs no mundo se juntaram e concluíram que eles não obtiveram bons</p><p>resultados com aqueles bilhões de dólares gastos em consultoria, por isso</p><p>decidiram que iriam parar de comprar o serviço. A consultoria acabou de</p><p>morrer. E agora?”</p><p>O MBA estava em choque. “O quê? Nenhuma consultoria mesmo?”</p><p>“Não, nenhuma. Você tem que fazer outra coisa. O que vai ser?”</p><p>“Bem, se eu não puder fazer a consultoria, acho que gostaria de trabalhar em</p><p>estratégia ou marketing em uma grande empresa de mídia.”</p><p>“Ótimo! É a sua Vida Dois!”</p><p>Quando foi perguntado o que faria se dinheiro ou imagem não fossem</p><p>obstáculos e após terem lhe garantido de que ninguém iria rir ou julgar, o jovem</p><p>propôs sua Vida Três.</p><p>“Bem, eu gostaria de entrar no negócio de distribuição de vinho. Sempre me</p><p>pareceu um pouco bobo, mas francamente acho fascinante e adoraria tentar.”</p><p>“Ok”, disse Dave, “estas são as suas três vidas.”</p><p>Tivemos um diálogo parecido com pessoas que estavam presas em uma única</p><p>ideia para a vida. Se você não consegue pensar em três ideias rapidamente,</p><p>experimente essa abordagem para pensar em sua Vida Um, Vida Dois e Vida</p><p>Três, e você possivelmente terá mais ideias do que precisa.</p><p>Não empaque. Não pense demais. Mas faça mesmo.</p><p>É um exercício que mudará a sua vida.</p><p>Literalmente.</p><p>Planejamento de Odisseia 101</p><p>Crie três versões alternativas dos próximos cinco anos da sua vida. Cada uma</p><p>deve incluir:</p><p>1. Uma linha de tempo gráfica/visual. Inclua eventos pessoais também, não só de carreira</p><p>– você quer se casar, treinar para ser campeão de CrossFit ou aprender como entortar</p><p>colheres com poderes mentais?</p><p>2. Um título de seis palavras para cada opção descrevendo a essência desta alternativa.</p><p>3. Perguntas que esta alternativa está fazendo – de preferência duas ou três. Um bom</p><p>designer sempre formula perguntas para testar suposições e revelar novas</p><p>perspectivas. Em cada linha do tempo em potencial, você investigará possibilidades</p><p>diferentes e aprenderá coisas diferentes sobre você e o mundo. Que tipo de coisas você</p><p>vai querer testar e explorar em cada versão alternativa da sua vida?</p><p>4. Um painel no qual pode medir:</p><p>a. Recursos (você tem os recursos objetivos – tempo, dinheiro, conhecimento, contatos</p><p>– que precisa fazer para seu plano vingar?)</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>b. Interesse (você está quente, frio ou morno em relação ao seu plano?)</p><p>c. Confiança (você está confiante ou um pouco incerto quanto ao sucesso do plano?)</p><p>d. Coerência (o plano faz sentido? E é consistente com a sua Visão de Trabalho e Visão</p><p>de Vida?)</p><p>Considerações possíveis</p><p>Geografia – onde você irá morar?</p><p>Que experiência/aprendizado ganhará?</p><p>Quais impactos/resultados desta alternativa? Como será a vida? Você se vê em</p><p>qual cargo, indústria ou empresa?</p><p>Outras ideias</p><p>Tenha em mente outras coisas, além de carreira e dinheiro. Ainda que essas sejam</p><p>importantes, mesmo centrais, para a direção decisiva de seus próximos anos, há</p><p>outros elementos cruciais para os quais a atenção é necessária.</p><p>Qualquer das considerações listadas pode ser um ponto de partida para a formação</p><p>das suas vidas alternativas dos próximos cinco anos. Se você empacar, tente fazer</p><p>um mapa da mente a partir de alguma das considerações de design listadas. Não</p><p>pense demais sobre esse exercício e não deixe de fazê-lo.</p><p>Para nós, os Planos de Odisseia podem definir coisas importantes ainda por</p><p>fazer em nossas vidas e ajudar-nos a lembrar os sonhos esquecidos. Aquele</p><p>astronauta de 12 anos de idade que você foi um dia ainda está lá. Seja curioso a</p><p>respeito do que mais pode descobrir. Tente fazer um destes planos pelo menos</p><p>um pouquinho doido. Mesmo sendo algo que você nunca faria em sã</p><p>consciência, ponha no papel a sua ideia mais louca e absurda. Talvez seja doar</p><p>todas as suas posses e viver fora do radar no Alasca ou na Índia. Talvez seja</p><p>fazer aulas de atuação e tentar o sucesso em Hollywood. Talvez seja tornar-se</p><p>um exímio skatista ou dedicar sua vida a esportes radicais. Ou talvez seja</p><p>pesquisar sobre aquele tio-avô há tanto tempo perdido e preencher as lacunas</p><p>na árvore genealógica da família. Você poderá querer fazer planos alternativos</p><p>para diferentes áreas da sua vida: alternativas para a carreira, para o amor, para</p><p>a saúde ou para o lazer. Ou pode tentar combinar estes elementos. A única</p><p>maneira de errar é não fazer nada.</p><p>As Muitas Vidas de Martha</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>O que se segue é um exemplo de três Planos de Odisseia de uma participante em</p><p>uma das nossas Oficinas de Metade de Carreira. Martha era uma executiva de</p><p>tecnologia que estava procurando algo mais significativo para a segunda</p><p>metade de sua vida. Ela pensou em três planos bem diferentes para o futuro,</p><p>todos arriscados e inovadores, mas todos envolvendo algum tipo de projeto</p><p>comunitário.</p><p>Seus três planos eram: começar sua própria empresa de tecnologia, tornar-se</p><p>CEO de uma ONG para ajudar crianças em situações de risco e abrir um bar</p><p>simpático e divertido em Haight-Ashbury, em São Francisco, onde morava.</p><p>Repare que cada exemplo tem um título de seis palavras descrevendo o plano,</p><p>um painel com quatro indicadores (nós gostamos muito de painéis) e as três</p><p>perguntas feitas pelo plano.</p><p>Exemplo 1</p><p>Título: “Aposta Total no Vale do Silício”</p><p>Perguntas</p><p>1. “Tenho o que é preciso para ser uma empreendedora?”</p><p>2. “A minha ideia é boa o suficiente?”</p><p>3. “Sou capaz de conseguir investidores?”</p><p>Exemplo 2</p><p>Título: “Usando o Que Sei – Ajudando Crianças!”</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Perguntas</p><p>1. “Será que minhas habilidades servirão para o mundo das ONGs?”</p><p>2. “Será que poderei ajudar crianças em situação de risco com uma ONG?”</p><p>3. “Será importante?”</p><p>Exemplo 3</p><p>Título: “Criando Comunidades – Um Copo Por Vez!”</p><p>Perguntas</p><p>1. “Estou preparada para assumir tantos riscos?”</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>2. “Poderei criar uma comunidade real com um bar?”</p><p>3. “Vai dar dinheiro?”</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Exercício do Plano de Odisseia</p><p>Agora, complete</p><p>três planos alternativos de cinco anos, um em cada uma das</p><p>folhas disponíveis aqui (também disponíveis para baixar no site</p><p>www.designingyour.life).</p><p>Compartilhando as Três Versões de Você</p><p>Vamos pedir que você compartilhe suas alternativas de Planos de Odisseia. Não</p><p>fique histérico. Há uma enorme mágica em ter três versões de você.</p><p>Principalmente te ajuda a compreender que não há uma só resposta correta</p><p>para o que lhe espera a seguir. Considere qual alternativa obtém as melhores</p><p>avaliações em recursos, carisma, confiança e coerência. Qual versão de você lhe</p><p>dá aquela sensação gostosa, animada e excitante? Qual versão parece exaustiva?</p><p>A melhor maneira de interagir com suas alternativas é compartilhando-as em</p><p>voz alta com um grupo de amigos – idealmente com sua equipe de Design de</p><p>Vida (veja o Capítulo 11 para mais informações sobre equipes e comunidade)</p><p>ou o grupo com quem lê este livro, como sugerimos na Apresentação. A forma</p><p>mais divertida e eficiente de passar pelo processo do design de vida é fazê-lo</p><p>num grupo de três a seis pessoas. Pode funcionar perfeitamente também se a</p><p>única pessoa fazendo o design de vida é você, mas um grupo é melhor, com</p><p>todos fazendo o trabalho e apoiando o design de vida um do outro. Pode ser</p><p>mais fácil do que você pensa encontrar duas a cinco pessoas que aceitem fazer</p><p>isto com você. Basta dar o livro de presente para alguns interessados, marcar</p><p>encontros para discuti-lo e ver o que podem encontrar. Pode ser surpreendente.</p><p>Não estamos falando isso para vender mais livros (embora o editor fique feliz</p><p>com mais vendas!), é só uma forma fácil de começar a conversa.</p><p>De qualquer maneira, quer você forme um Time de Design de Vida que se</p><p>encontre regularmente ou não, é bom apresentar seus Planos de Odisseia a um</p><p>grupo de amigos para obter retornos e ideias. O melhor é convidar quem faça</p><p>perguntas válidas, mas não ofereça críticas nem conselhos não requisitados. As</p><p>regras básicas para ouvir são essas: diga aos seus ouvintes para não criticar,</p><p>julgar nem aconselhar. Você quer que recebam, reflitam, amplifiquem. Encontre</p><p>duas a cinco pessoas próximas que vão aparecer sem falta para uma tarde</p><p>dedicada a ajudá-lo a projetar a sua vida (ou quem estiver querendo ler este</p><p>capítulo, no mínimo). Quando for hora para perguntas, “fale mais sobre...” é uma</p><p>ótima abordagem que faz a pergunta soar encorajadora. Se você realmente não</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>http://www.designingyour.life/</p><p>quer ou não consegue encontrar um grupo com quem compartilhar, então faça</p><p>um vídeo de você apresentando seu Plano de Odisseia e veja como se não fosse</p><p>o autor – veja o que tem a dizer e anote as suas ideias.</p><p>Design de vida é questão de produzir opções e este exercício de projetar</p><p>múltiplas vidas o guiará até o que virá a seguir. Você não está projetando o resto</p><p>da sua vida; está projetando o próximo passo. Cada possível versão de você</p><p>envolve surpresas e escolhas, cada uma com consequências identificáveis e não</p><p>intencionais. Este exercício não é tanto para encontrar respostas, mas sim para</p><p>aceitar e explorar as perguntas, ser curioso a respeito das possibilidades.</p><p>Lembre-se, há diversas e grandes vidas dentro de você.</p><p>Você é uma legião.</p><p>E você escolhe qual protótipo vai começar a trabalhar a seguir.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Experimente</p><p>Plano de Odisseia</p><p>1. Crie três planos alternativos de cinco anos, usando o modelo apresentado.</p><p>2. Dê a cada alternativa um título descritivo de seis palavras e anote três perguntas</p><p>que surgem desta versão de você.</p><p>3. Complete cada indicador no painel – classificando cada alternativa em recursos,</p><p>carisma, confiança e coerência.</p><p>4. Apresente o plano a outra pessoa, a um grupo ou a seu time de Design de Vida.</p><p>Anote como cada alternativa o energiza.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>C</p><p>6</p><p>Prototipagem</p><p>lara precisava remodelar a sua vida. Depois de 35 anos construindo uma</p><p>carreira de sucesso como diretora de vendas no mundo da alta tecnologia,</p><p>não aguentava mais. Tudo o que Clara sabia era que queria uma vida que não</p><p>exigisse uma quota de vendas a cada trimestre. Na verdade, ela não queria ouvir</p><p>as palavras “quota de vendas” nunca mais. Muitos dos seus amigos passaram os</p><p>últimos vinte anos desenvolvendo interesses paralelos – hobbies que estavam</p><p>transformando em profissões, interesses criativos que estavam perseguindo em</p><p>tempo integral e trabalho voluntário que trazia significado e propósito. Todos</p><p>os seus amigos pareciam estar deixando as suas carreiras profissionais para</p><p>dedicar-se a outra coisa, mas Clara não tinha outra coisa. Tinha passado a maior</p><p>parte da vida criando os filhos como mãe solo e desenvolvendo a carreira em</p><p>vendas. Os filhos já eram adultos agora, a carreira estava chegando ao fim e</p><p>Clara não fazia ideia de por onde começar ou do que aconteceria a seguir. Então</p><p>lhe demos uma ajuda para que começasse exatamente onde estava e projetasse</p><p>seu caminho para frente.</p><p>Os amigos de Clara vieram com muitas sugestões para ela, e a maioria</p><p>concordava que o importante era “Entrar na onda! Se você não tem uma boa</p><p>ideia, escolha qualquer coisa e vá nessa. Você é muito jovem para desistir agora.</p><p>O que quer que faça, não fique entediada em casa – mergulhe de cabeça e</p><p>comprometa-se com algo”. Esse foi um conselho fácil de dar, já que todos sabiam</p><p>ao menos como iriam investir seu tempo. Clara, não. Então, por onde começar?</p><p>Ela tomou uma grande decisão. Reconheceu que “faça algo” era um bom</p><p>conselho, mas “mergulhe de cabeça e comprometa-se com qualquer coisa” era</p><p>um conselho ruim, porque ela poderia facilmente entregar-se demais à coisa</p><p>errada. O que precisava fazer era encontrar um jeito de experimentar coisas</p><p>sem se comprometer com elas cedo demais. Ela queria fazer um test-drive com</p><p>algumas possibilidades, adquirir alguma experiência real, mas queria fazê-lo</p><p>com água pelos joelhos, não pelo pescoço.</p><p>Mesmo que não tivesse uma meta específica em mente para sua “carreira</p><p>bis”, Clara tinha uma possível área de interesse. Foi uma das primeiras</p><p>mulheres a vender mainframes na IBM e há muito tempo se considerava</p><p>feminista. Ela raciocinou: “Tudo bem, ainda há uma questão em que vale a pena</p><p>trabalhar – vamos procurar algo que tenha a ver com ajudar as mulheres.”</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Daquele momento em diante, estava ativamente pesquisando abordagens para</p><p>ajudar mulheres e ficando de olho em coisas que podia tentar. Algumas</p><p>semanas depois, estava na igreja assistindo a uma mulher conduzir uma</p><p>palestra sobre mediação e comunicação não violenta e como estas técnicas</p><p>estavam sendo usadas para ajudar mães com crianças delinquentes e mulheres</p><p>maltratadas em situações de violência doméstica. Clara se apresentou à mulher</p><p>e começou a fazer perguntas sobre o seu trabalho. Por causa das perguntas</p><p>interessantes, foi convidada para assistir às aulas de treinamento em mediação.</p><p>Eram só umas poucas horas por semana, e mesmo se ela passasse no teste final</p><p>não haveria obrigação. Então ela o fez para experimentar o que seria fazer</p><p>mediação para mulheres com problemas. Fez o curso e recebeu um certificado</p><p>de mediação.</p><p>Surgiu então uma oportunidade para um trabalho bastante difícil que</p><p>oferecia serviços de mediação para jovens no sistema de justiça. Só havia</p><p>fundos disponíveis para um ano, portanto, não podiam prometer por quanto</p><p>tempo o trabalho iria durar, mas para Clara estava ótimo. Ela faria mediações</p><p>nos tribunais, nas escolas, com os pais e filhos, e também produziria uma</p><p>alternativa ao encarceramento de menores em risco. Era um lugar difícil para</p><p>começar, mas Clara descobriu que suas décadas lidando com vendedores</p><p>complicados no mundo da tecnologia poderiam torná-la uma</p><p>boa negociadora e</p><p>uma natural solucionadora de problemas. Além disso, as mães de muitos dos</p><p>réus juvenis eram mães solo e ela tinha um lugar especial no coração para</p><p>aquelas mães batalhadoras. Clara se viu surpreendentemente atraída pela</p><p>oferta. Estava pronta para experimentar – mas só por meio-período e até o final</p><p>do ano. Ela ainda estava explorando.</p><p>Clara continuou procurando maneiras de se envolver em questões ligadas às</p><p>mulheres e descobriu a Fundação de Mulheres da Califórnia (Women’s</p><p>Foundation of California, WFC). A WFC não fazia nada por conta própria, mas</p><p>financiava outras ONGs que estavam voltadas para uma variedade de assuntos</p><p>ligados à justiça social da mulher. Era uma posição vantajosa para o seu projeto</p><p>de exploração e experiências, então ela entrou em contato com a organização. O</p><p>trabalho de mediação de Clara impressionou a liderança da WFC e ela foi</p><p>convidada a trabalhar com eles. Durante os três anos que passou servindo a</p><p>esta fundação, aprendeu sobre redação de concessão de fundos e doações a</p><p>entidades sem fins lucrativos e também aprendeu muito sobre 27 outras</p><p>organizações que estavam trabalhando na resolução de problemas sociais em</p><p>sua região.</p><p>Ao longo do caminho, Clara descobriu que não queria permanecer ligada ao</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>sistema legal como mediadora (apesar da importância do trabalho), mas que se</p><p>sentia cada vez mais atraída pelo tópico dos moradores de rua, problema que</p><p>atinge as mulheres com especial intensidade. Através do WFC, ela conheceu um</p><p>filantropo que era o maior benfeitor de abrigos para moradores de rua na sua</p><p>cidade. Ele convidou Clara para se tornar um membro do conselho diretor do</p><p>abrigo e foi neste momento que ela sentiu que havia encontrado sua “carreira</p><p>bis”. Clara aceitou a oferta e largou todo o resto. Agora ela é uma defensora dos</p><p>moradores de rua na sua cidade e está preparando um modelo para solução do</p><p>problema em nível local e nacional.</p><p>Clara não começou planejando trabalhar com os moradores de rua. Sabendo</p><p>que não havia encontrado uma missão específica para dirigir seus passos, criou</p><p>uma série de pequenas e ilustrativas experiências e participações para projetar</p><p>seu caminho. O processo para se tornar uma “defensora dos moradores de rua”</p><p>(o que, por sinal, tornou-se a sua paixão) não seguiu uma linha reta. Ela</p><p>projetou a vida que está vivendo, passo a passo, pensando como um designer,</p><p>construindo seu caminho por meio de pequenos experimentos: protótipos. Ela</p><p>acreditava que, se continuasse com encontros práticos e cuidadosamente</p><p>selecionados, encontraria o caminho.</p><p>Fez aulas de mediação. Trabalhou com menores no sistema de justiça. Juntou-</p><p>se à fundação de mulheres. Aprendeu sobre o mundo das ONGs. Participou do</p><p>conselho diretor do centro de moradores de rua. Trabalhando, conhecendo</p><p>pessoas e escolhendo explorar suas opções por meio de experiências práticas,</p><p>em vez de lendo, pensando ou refletindo em seu diário sobre o que deveria ou</p><p>poderia fazer, Clara encontrou sua “carreira bis”. Ela só foi capaz de descobrir</p><p>um futuro até ali desconhecido e inimaginável por meio do design de vida. Clara</p><p>conseguiu, e você também consegue.</p><p>Crença Disfuncional: Se eu pesquisar detalhadamente as melhores informações</p><p>sobre todos os aspectos do meu plano, ficarei bem.</p><p>Reformulação: Eu deveria construir protótipos para explorar questões sobre as</p><p>minhas alternativas.</p><p>Prototipagem – Como e Por Quê</p><p>“Construir é pensar” é uma frase que se ouve bastante no Departamento de</p><p>Design de Stanford. Quando esta ideia é acoplada com a tendência para ação,</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>muitos pensamentos e construções acontecem. Se você perguntar para as</p><p>pessoas o que elas estão fazendo, responderão que estão construindo</p><p>protótipos. Talvez estejam testando novas ideias para produtos, novas</p><p>experiências de consumo ou novos serviços. Em Stanford acreditamos que tudo</p><p>pode ser transformado em protótipo, de objetos físicos a políticas públicas.</p><p>Protótipos são tão cruciais para pensamento de design que pode valer a pena</p><p>pausar para certificar-nos de que compreendemos o porquê de prototipar tão</p><p>bem quanto o “como”.</p><p>Quando você está tentando resolver um problema, qualquer problema,</p><p>geralmente começa com o que sabe sobre o problema: começa com informação.</p><p>Você precisa de dados suficientes para poder entender o que causa o quê e o</p><p>que é provável que aconteça quando outra coisa acontece.</p><p>Infelizmente, quando você está projetando a sua vida, não dispõe de muitas</p><p>informações, especialmente de dados confiáveis sobre o seu futuro. Você</p><p>precisa aceitar que este é o tipo de problema confuso no qual a causalidade não</p><p>funciona. Felizmente, os designers encontraram uma maneira de pegar o futuro</p><p>de jeito com protótipos.</p><p>Quando usamos o termo “prototipagem” em pensamento de design, não</p><p>falamos de criar algo para verificar se a sua solução é a certa. Não é para criar</p><p>uma representação do design acabado, nem produzir uma coisa só (designers</p><p>fazem um monte de protótipos, nunca apenas um protótipo). Os protótipos do</p><p>design de vida servem para fazer boas perguntas, exteriorizar as suposições e</p><p>tendências latentes, reiterar rapidamente e impulsionar o caminho que</p><p>queremos experimentar.</p><p>Protótipos devem ser projetados para que levantem uma questão e obtenham</p><p>dados sobre alguma coisa em que se esteja interessado. Bons protótipos isolam</p><p>um aspecto do problema e projetam uma experiência que permite que você</p><p>“experimente” uma determinada versão de um futuro potencialmente</p><p>interessante. Protótipos ajudam a visualizar alternativas de uma forma bastante</p><p>experimental, o que permite que você imagine seu futuro como se já o estivesse</p><p>vivendo. Criar novas experiências por meio de protótipos dá a oportunidade de</p><p>entender como seria uma nova carreira, mesmo se for só por uma hora ou por</p><p>um dia. Protótipos ajudam a envolver outros logo e a formar uma comunidade</p><p>de gente interessada em sua jornada e em seu design de vida. Protótipos são</p><p>uma ótima maneira de puxarmos conversa, e, em geral, uma coisa leva à outra.</p><p>Protótipos frequentemente se transformam em oportunidades inesperadas. Por</p><p>fim, protótipos permitem que você tente e falhe logo, sem investir demais em</p><p>um caminho sem ter informações suficientes.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Nossa filosofia torna sempre possível prototipar o foco do seu interesse. A</p><p>melhor maneira de começar é manter seus primeiros protótipos bem simples. O</p><p>objetivo é isolar uma variável e desenhar um protótipo que responda àquela</p><p>determinada questão. Use o que está disponível ou que você pode pedir e esteja</p><p>preparado para reiterar prontamente. Lembre que um protótipo não é um</p><p>experimento de pensamento; deve incluir uma experiência física no mundo. Os</p><p>dados necessários para tomar boas decisões se encontram no mundo real e</p><p>prototipar é a melhor forma de engajar aquele mundo e extrair a informação</p><p>necessária para seguir adiante.</p><p>Prototipar é também construir empatias e entendimentos. Nosso processo de</p><p>prototipagem precisa inevitavelmente de colaboração, de trabalho com outros.</p><p>Todo mundo está numa jornada, e seus encontros-protótipo com outros irão</p><p>revelar os designs de vida dos outros e lhe darão ideias para a sua própria vida.</p><p>Portanto, prototipamos para formular boas perguntas, criar experiências,</p><p>revelar suposições, falhar rapidamente, apanhar o futuro de surpresa e</p><p>construir empatia para nós e para os outros. Quando você aceita que é mesmo a</p><p>única maneira de encontrar a informação de que precisa, prototipar passa a</p><p>constituir uma parte integral do seu processo de design de vida. Não só é</p><p>verdade que prototipagem é uma boa ideia; também é verdade que não</p><p>prototipar é uma ideia ruim e muito custosa.</p><p>Devagar e Sempre</p><p>Elise não precisava prototipar – ela queria agir. Depois de passar anos</p><p>trabalhando em departamentos de recursos humanos de grandes empresas,</p><p>sentia-se pronta para fazer uma mudança. Uma mudança grande. Agora. Ela</p><p>adorava comida, especialmente italiana, e tinha adorado as experiências que</p><p>tivera nos pequenos cafés e mercados da Toscana. Seu sonho era gerenciar uma</p><p>grande delicatéssen italiana com um pequeno café em seu interior que servisse</p><p>um café maravilhoso e autêntica comida toscana. Ela decidiu ir em frente. Tinha</p><p>dinheiro suficiente para começar, juntou todas as receitas necessárias,</p><p>pesquisou o melhor local para um negócio perto de casa e conseguiu. Alugou</p><p>um espaço, renovou-o totalmente, abasteceu-o com os melhores produtos, e a</p><p>inauguração teve grande fanfarra. Deu um trabalho enorme e foi um sucesso</p><p>estrondoso. Todos adoraram. Ela estava mais ativa do que nunca. E logo, logo</p><p>estava se sentindo péssima.</p><p>Ela não fez nenhum protótipo da ideia. Ela não foi descobrindo o futuro, caiu</p><p>de paraquedas no meio dele. Ela não havia experimentado o que seria trabalhar</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>num café todos os dias. Não havia pensado no fato de que trabalhar num café</p><p>não era o mesmo que ir a um café ou planejar um café. Aprendeu que era uma</p><p>ótima designer de cafés e administradora de projetos de renovação e péssima</p><p>gerente de delicatéssen. Ela não tinha prazer em contratar pessoal</p><p>(constantemente), ou cuidar do inventário, ou encomendar estoque, isto sem</p><p>falar em manutenção e limpeza. Ela estava presa nesta loja de sucesso e não</p><p>sabia o que fazer. Finalmente, vendeu o negócio e começou a trabalhar com</p><p>design de restaurantes, mas chegou lá por uma via muito dolorosa.</p><p>Como podia ter feito o protótipo da ideia? Ela poderia ter tentado serviços de</p><p>bufê primeiro – um negócio fácil de abrir e fechar (sem aluguel, com poucos</p><p>funcionários, superportátil, sem horário regular). Poderia ter arranjado</p><p>trabalho servindo mesas numa delicatéssen italiana para ver como era o</p><p>aspecto difícil da coisa toda, além de planejar menus sensuais. Ela poderia ter</p><p>entrevistado seis donos de delicatéssens, três felizes e três menos felizes, para</p><p>ver com qual dos dois grupos se identificava mais. Encontramos Elise depois,</p><p>quando ela foi fazer uma Oficina de Design de Vida conosco. Acabada a oficina,</p><p>ela se lamentava: “Poxa, se eu tivesse tomado o caminho mais lento dos</p><p>protótipos, teria ganhado muito mais tempo!” Então, sim, mesmo que esteja</p><p>com pressa, recomendamos que faça o protótipo de suas ideias de vida. Sempre</p><p>obterá um design melhor e evitará muitos aborrecimentos e perdas de tempo.</p><p>Conversas-Protótipo – Entrevista de Design de Vida</p><p>Depois de se comprometer com a prototipagem do design de vida, como fazê-</p><p>lo? A forma mais simples de protótipo é a conversa. Iremos descrever uma</p><p>forma específica de prototipar por conversa, que chamamos de Entrevista do</p><p>Design de Vida.</p><p>Uma Entrevista de Design de Vida é extraordinariamente simples. Significa</p><p>captar a história de alguém. Não de qualquer um e nem uma história qualquer,</p><p>claro. O propósito é falar com alguém que faz e vive o que você está</p><p>contemplando fazer ou tem experiência prática e conhecimento na área sobre a</p><p>qual você está curioso. E a história que você procura é a história individual de</p><p>como a pessoa chegou a fazer aquilo que faz ou adquiriu a perícia que tem e</p><p>como é mesmo fazer o que ela faz.</p><p>Você quer ouvir o que a pessoa que faz o que você poderá fazer um dia adora</p><p>ou detesta no trabalho. Você quer saber como a pessoa passa seus dias e então</p><p>você quer ver se pode se imaginar fazendo este trabalho – e gostando de fazê-lo</p><p>– por meses e anos sem fim. Além de perguntar às pessoas sobre seus trabalhos</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>e vidas, você também será capaz de descobrir como chegaram lá – seu plano de</p><p>carreira. A maioria das pessoas fracassa não por falta de talento, mas por falta</p><p>de imaginação. Você pode obter muitas informações no ato de sentar-se com</p><p>alguém e ouvir sua história. Isto é a Entrevista de Design de Vida. Clara teve</p><p>muitas conversas do tipo, o que a ajudou muito. Elisa não teve quase nenhuma,</p><p>o que lhe custou imensamente.</p><p>A primeira coisa a saber sobre a Entrevista de Design de Vida é o que ela não</p><p>é: uma entrevista de emprego. Se você reparar no meio de uma Entrevista de</p><p>Design de Vida que está respondendo perguntas ou falando ao seu respeito em</p><p>vez de obter a história da pessoa com que está, pare e volte. Isto é crucial. Se a</p><p>pessoa com quem está falando percebe incorretamente que o encontro é uma</p><p>entrevista de emprego, então é um desastre, e sua entrevista falhou ou falhará.</p><p>É uma questão de mentalidade. Pense no seguinte: quando alguém acha que</p><p>você está procurando trabalho, a primeira coisa que tem em mente, na verdade,</p><p>não tem nada a ver com você. Ele está pensando: “Temos uma vaga para</p><p>oferecer?” Geralmente a resposta é não. Então, na maioria das vezes em que</p><p>você está tentando marcar uma reunião e a outra pessoa pensa que você quer</p><p>um emprego, você recebe o “não”. Pode parecer uma rejeição fria e presunçosa,</p><p>mas é na verdade o gesto de apoio mais gentil que alguém pode fazer. Se de fato</p><p>você está buscando emprego e aquela pessoa não tem o que oferecer ou não é</p><p>influente no processo de contratação, o melhor que ela pode fazer por você é</p><p>liberá-lo para encontrar outra oportunidade que seja realmente útil para você.</p><p>Não parece um ato de bondade (e a maioria das pessoas não encara a rejeição</p><p>muito bem), mas é de fato.</p><p>Se a resposta à primeira pergunta for “Sim, temos uma vaga”, então a segunda</p><p>pergunta é “Ela se encaixa aqui?”. A mentalidade em uma entrevista de emprego</p><p>é de crítica e julgamento e esta não é a mentalidade que procuramos se estamos</p><p>atrás de uma história interessante e uma ligação pessoal.</p><p>Na verdade, a Entrevista de Design de Vida não é realmente uma “entrevista”,</p><p>só uma conversa. Então, quando estiver tentando marcar um encontro com</p><p>alguém, não use o termo “entrevista” porque a pessoa irá supor que o que tem</p><p>em mente é uma entrevista de emprego (a não ser que você seja um jornalista, o</p><p>que também deixará a pessoa nervosa, por outros motivos). Tudo o que você</p><p>está fazendo aqui é identificar pessoas que estão trabalhando atualmente nas</p><p>coisas que você tem interesse em fazer e cujas histórias você quer ouvir. É</p><p>muito mais fácil do que parece. Assim que você determina que Anna é uma boa</p><p>pessoa fazendo um trabalho muito interessante, vocês têm algo em comum:</p><p>ambos acham que ela e o que ela faz são assuntos incríveis! A essência do</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>pedido desta conversa é: “Olá, Anna, que bom entrar em contato com você. John</p><p>disse que você era a pessoa com que eu precisava falar. Estou muito</p><p>impressionada com o que conheço do seu trabalho e adoraria ouvir a sua</p><p>história. Será que você teria 30 minutos disponíveis para um café, no lugar e na</p><p>hora que forem mais convenientes para você, para que eu possa saber um</p><p>pouco mais sobre a sua experiência?” É mais ou menos isso, mesmo. (E sim, é</p><p>importante mencionar John, o respeitado amigo e colega de Anna, se for</p><p>possível. John é o sujeito cuja referência fez toda a diferença no seu encontro</p><p>com Anna e no interesse dela em tomar um café com você. Existem muitas</p><p>Annas no mundo que aceitarão o café mesmo sem a referência de John, mas</p><p>funciona bem melhor com uma referência. Falaremos mais sobre referências no</p><p>Capítulo 8. Chama-se rede de contatos. Sim, você precisa disso para fazer o</p><p>design de vida eficientemente. Falaremos no assunto mais adiante.)</p><p>Experiências de Prototipagem</p><p>Conversas-protótipo são ótimas, incrivelmente informativas e fáceis</p><p>de</p><p>encontrar. Mas você vai querer mais do que apenas histórias para obter dados</p><p>na produção do seu design de vida. Você quer realmente experimentar o que é –</p><p>observando os outros trabalhando ou, melhor ainda, fazendo você mesmo.</p><p>Experiências-protótipo nos permitem aprender por meio de um encontro direto</p><p>com uma possível versão futura de nós. Esta versão experimental pode incluir</p><p>seguir de perto um profissional que você gostaria de ser (visitando o emprego</p><p>de um amigo) ou uma semana em um projeto exploratório criado por você, sem</p><p>remuneração, ou um estágio de três meses (um estágio de três meses</p><p>obviamente requer um investimento mais substancial e maior compromisso).</p><p>Se você já conduziu uma boa quantidade de conversas-protótipo usando o</p><p>sistema de Entrevistas de Design de Vida, então deve ter encontrado gente pelo</p><p>caminho que você gostaria de observar ou seguir de perto. Então esta variedade</p><p>de protótipos deve ser-lhe bem acessível. Você só precisa pedir – e, não esqueça,</p><p>pessoas adoram ser úteis. A maior parte das pessoas com quem trabalhamos se</p><p>surpreende com o grau de sucesso dessas Entrevistas de Design de Vida. As</p><p>pessoas com quem se encontram parecem gostar imensamente de fazê-las.</p><p>Pedir para seguir alguém de perto é uma proposta muito maior que meia hora</p><p>num café, mas, depois de uma dúzia de conversas-protótipo, você estará</p><p>preparado para fazer um pedido maior. Tente – mesmo que tenha que tentar</p><p>mais de uma vez. Há muito o que aprender aqui.</p><p>Criar experiências-protótipo práticas, nas quais você realmente faz e não</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>somente ouve ou vê, é um desafio ainda maior. Mas vale muito o esforço de</p><p>botar as mãos na massa e realmente descobrir como você se encaixa em algo.</p><p>Você não compraria um carro sem testá-lo primeiro, compraria? Mas fazemos</p><p>isso o tempo todo com mudanças de emprego e de vida. Parece absurdo quando</p><p>paramos para refletir. Pense em todas as nossas ideias que Elise poderia ter</p><p>tentado antes de tornar-se proprietária e abrir uma delicatéssen – coisas como</p><p>abrir um serviço de bufês ou procurar um emprego temporário servindo</p><p>mesas? Estes são os tipos de ideias que você deve buscar. Conceber este tipo de</p><p>experiências-protótipo é um verdadeiro trabalho de design e vai exigir a</p><p>produção de montes de ideias. Portanto, agora é uma boa hora de apresentar o</p><p>brainstorming, uma técnica colaborativa para encontrar montes de ideias.</p><p>Vamos nessa.</p><p>Brainstorming para Prototipagem</p><p>Releia os Planos de Odisseia que fez no capítulo passado. Tomara que tenham</p><p>acendido a centelha de algumas versões futuras de você que gostaria de</p><p>explorar e que agora você tenha questões que precisam de resposta. Como será</p><p>trabalhar para uma empresa menor depois de anos em uma empresa enorme?</p><p>Qual será a diferença entre gerenciar uma fazenda orgânica e passar um verão</p><p>trabalhando numa fazenda como voluntário? O que os vendedores fazem o dia</p><p>inteiro mesmo? Preste atenção na versão coerente, agradável e empolgante, e</p><p>que você tem alguma confiança que pode fazer, do seu Plano de Odisseia. Quais</p><p>são as suas perguntas? O que gostaria de entender melhor ao prototipar a sua</p><p>experiência?</p><p>Esse é o desafio a que nos vamos dirigir ao prototipar algumas ideias por</p><p>meio do brainstorming.</p><p>Todo mundo já fez algo chamado brainstorming. É um termo usado e abusado</p><p>para descrever tudo, desde um exercício estruturado de criatividade até sentar</p><p>à volta da mesa trocando ideias. Brainstorming, uma técnica de produção de</p><p>ideias criativas e fora dos parâmetros convencionais, foi apresentado por Alex</p><p>Osborn em Applied Imagination, um livro publicado em 1953. Ele descreveu um</p><p>método de gerar ideias baseado em duas regras: gerar uma grande quantidade</p><p>de ideias sem se preocupar com qualidade e deixar o julgamento de lado para</p><p>que os participantes não censurem as ideias. Desde essa primeira descrição,</p><p>brainstorming tornou-se uma forma popular de gerar ideias e inovações e</p><p>assumiu muitas formas, mas todas ainda obedecem às duas regras de Osborn.</p><p>A forma mais comum é o brainstorming em grupo. Um grupo de indivíduos,</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>geralmente de quatro a seis, se reúne, seleciona uma pergunta central ou</p><p>problema para abordar e passa um período de 20 minutos a uma hora gerando</p><p>a maior quantidade possível de ideias para resolver o problema formulado na</p><p>pergunta central. A meta é produzir ideias que possam ser prototipadas e</p><p>testadas no mundo real.</p><p>O brainstorming requer um grupo de pessoas com vontade de ajudar e que</p><p>tem alguma prática com a técnica. Não é fácil encontrar bons brainstormers,</p><p>mas, uma vez que você conta com um bom grupo, pode fazer bastante</p><p>progresso gerando boas ideias que quer prototipar. Como os grandes músicos</p><p>de jazz improvisam, bons brainstormers aprendem a concentrar-se em um</p><p>tópico, mas podem também se desprender, agir com rapidez e improvisar,</p><p>produzindo ideias verdadeiramente originais. É preciso prática e atenção, mas</p><p>no instante em que você começar a dominar a técnica do brainstorming no</p><p>design de vida, nunca mais ficará sem ideias.</p><p>O brainstorming no design de vida tem quatro etapas e uma abordagem bem</p><p>estruturada para o surgimento de ideias prototipáveis. Geralmente, se você é o</p><p>facilitador que reúne todo o grupo, já deve ter enquadrado o tópico do</p><p>brainstorming. É preciso um time de pelo menos três e no máximo seis</p><p>integrantes voluntários. Quando o grupo se encontrar, a sessão deve proceder</p><p>como se segue:</p><p>1. Formulando Uma Boa Pergunta</p><p>É importante formular uma boa pergunta para uma sessão de brainstorming. O</p><p>facilitador utiliza o processo de produzir a pergunta como uma forma de focar a</p><p>energia do grupo. Para formular uma pergunta, o facilitador deverá estar ciente</p><p>de certas diretrizes.</p><p>Se a pergunta não é aberta, você não obterá resultados muito interessantes</p><p>nem muito volume. Aqui, nós tendemos a começar as nossas sessões de</p><p>brainstorming com a frase “Em quantas maneiras podemos pensar para...” para</p><p>assegurar-nos de que não limitamos a potencial produção de ideias. Clara</p><p>poderia ter organizado a sua sessão de brainstorming em torno da pergunta:</p><p>“Em quantas maneiras podemos pensar para viver a experiência de causar um</p><p>impacto no empoderamento da mulher?” Antes de entrar na pós-graduação,</p><p>Chung poderia ter convocado uma sessão de brainstorming com a pergunta:</p><p>“Quais são as funções do orientador vocacional e quais encontros podemos</p><p>imaginar que revelarão o que realmente significa fazer cada uma dessas</p><p>funções?”</p><p>Você também precisa ter cuidado para não incluir a sua solução</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>acidentalmente na pergunta. Isso acontece o tempo todo com alguns clientes de</p><p>Bill. Querem fazer o brainstorming com “dez novas maneiras de construir uma</p><p>escada para o armazém”. Não é uma boa forma de fazer a pergunta, porque uma</p><p>escada é a solução (e eles só querem dez ideias). Uma melhor formulação seria</p><p>pôr o foco na função da escada: “Quantas maneiras podemos pensar para... dar</p><p>às pessoas acesso aos lugares altos?” ou “Em quantas maneiras podemos pensar</p><p>para conseguir mobilidade tridimensional no armazém?” Estas perguntas não</p><p>supõem que escadas são a única maneira de resolver o problema e abrem o</p><p>espaço para respostas mais criativas (drones, talvez?).</p><p>Também tome cuidado para não formular a pergunta de forma tão ampla que</p><p>possa perder o significado. Nós, por vezes, nos sentamos em sessões de</p><p>brainstorming cuja pergunta é: “Em quantas formas podemos pensar para...</p><p>fazer Bob feliz?” Esta pergunta vaga é falha por duas razões: para começar,</p><p>“felicidade” quer dizer muitas coisas diversas para diferentes pessoas. E a</p><p>psicologia positiva nos diz que felicidade é</p><p>dependente de contexto; portanto,</p><p>sem um contexto – tal como trabalho ou vida social –, ninguém sabe por onde</p><p>começar. Sem algum tipo de limitação, essas sessões de brainstorming tendem a</p><p>gerar ideias que não são nem prototipáveis nem satisfatórias.</p><p>Na maior parte do tempo, quando nos dizem que “o nosso brainstorming não</p><p>funcionou”, descobrimos que formularam uma pergunta ruim: que já tinha</p><p>suposta uma solução ou que era tão vaga que não conseguiu tração para gerar</p><p>ideias. Fique de olho nisso quando começarem nossas quatro etapas de</p><p>brainstorming.</p><p>2. Aquecendo</p><p>As pessoas precisam de uma transição do seu dia de trabalho cheio e agitado</p><p>para um estado de atenção criativa e relaxada se pretendem fazer um bom</p><p>trabalho com o brainstorming. Para isso, precisam de apoio e de uma atividade</p><p>transicional que as leve do cérebro analítico/crítico para o cérebro</p><p>inclusivo/imparcial. É um problema de mente e corpo, sendo necessário um</p><p>pouco de prática para pegar o jeito da transição. Um bom facilitador toma a</p><p>liderança e assegura que todos estão aquecidos e sentindo-se criativos. Isso é</p><p>essencial se o brainstorming vai precisar de energia criativa a fim de gerar</p><p>muitas ideias.</p><p>Você pode visitar nosso site (www.designingyour.life) para uma lista de</p><p>exercícios e jogos de improvisação que usamos frequentemente com nossos</p><p>alunos. Aqui vai uma ideia rápida que sempre funciona: dar a cada um no seu</p><p>grupo de brainstorming um pote de massa de modelar. Bill ama massa de</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>modelar desde seus dias na empresa de brinquedos Kenner Products. É um</p><p>material mágico que transforma adultos em crianças novamente. Se seus</p><p>brainstormers brincarem com massinha enquanto estiverem no processo de</p><p>brainstorming, garantimos a você mais e melhores ideias.</p><p>3. O Brainstorming em Si</p><p>Como mencionamos antes, as sessões de brainstorming precisam ser facilitadas.</p><p>O facilitador prepara a sala e certifica-se de que há canetas e blocos de papel</p><p>para cada participante e que o espaço é silencioso e confortável. O facilitador</p><p>também ajuda a formular a questão, administra a preparação, assegura que</p><p>tudo o que é dito é gravado e gerencia as regras.</p><p>Recomendamos que todos os participantes tenham suas próprias canetas e</p><p>blocos de notas e anotem as suas ideias. Dessa forma, o grupo não é limitado</p><p>pela rapidez com que o facilitador pode registrar as ideias e há menos chance de</p><p>se perder uma ideia com excelente potencial.</p><p>As Regras do Brainstorming</p><p>1. Vá pela quantidade, não pela qualidade.</p><p>2. Evite julgamento e não censure ideias.</p><p>3. Construa em cima das ideias dos outros.</p><p>4. Estimule ideias estranhas.</p><p>A regra do “Vá pela quantidade, não pela qualidade” é útil para determinar</p><p>um objetivo comum para o grupo e passa aquela energia positiva. Uma boa</p><p>equipe de brainstorming está sempre borbulhando com ideias e raramente há</p><p>uma pausa no rendimento.</p><p>Utilizamos a regra do “Evite julgamento e não censure ideias” para garantir</p><p>que a sessão de brainstorming seja um lugar seguro para falar qualquer ideia</p><p>louca que venha à cabeça. As pessoas temem ser julgadas por ideias que</p><p>parecem bobas e o temor afasta a criatividade. Esta regra assegura que isso não</p><p>aconteça.</p><p>Recomendamos que “Construa em cima das ideias dos outros” da mesma</p><p>forma que um solista de um quarteto de jazz improvisa a partir das ideias</p><p>musicais do solista antes dele. Queremos usar a criatividade coletiva do grupo e</p><p>essa regra incentiva a interação criativa.</p><p>Queremos que “Estimule ideias estranhas” não porque as ideias estranhas</p><p>são úteis por si sós (raramente são usadas na seleção final), mas porque</p><p>precisamos sair dos limites típicos do pensamento. Quando você pensa fora da</p><p>caixa e passa algum tempo no País das Maravilhas, as ideias que seguem</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>tendem a ser mais inovadoras e originais. Ideias estranhas muitas vezes contêm</p><p>as sementes de ideias mais úteis para o protótipo.</p><p>4. Nomeando e Enquadrando os Resultados</p><p>Esta talvez seja a parte mais importante de uma sessão de brainstorming e é a</p><p>atividade que a maioria dos grupos deixa de fora. Talvez tirem uma foto com o</p><p>celular de sua parede cheia de notas adesivas, comemorem e saiam da sala. O</p><p>problema com isto é que a informação na parede é bem frágil e, se não é</p><p>processada imediatamente, a frescura das ideias e de suas interligações pode se</p><p>perder. Mais tarde, os participantes frequentemente sentem que nada</p><p>aconteceu e não conseguem lembrar o que o brainstorming realizou.</p><p>Ideias devem ser contadas – você deve ser capaz de dizer: “Tivemos 141</p><p>ideias.” Agrupe ideias semelhantes por assunto ou categoria, dê um nome a</p><p>essas categorias e enquadre os resultados com referência à pergunta focal</p><p>original. Cada categoria única deve receber um nome descritivo e muitas vezes</p><p>engraçado que capta a essência desse grupo de ideias. Em seguida, vote. Votar é</p><p>importante, e deve ser feito em silêncio, para que as pessoas não influenciem</p><p>umas às outras. Nós gostamos de usar pontos coloridos para votar e também de</p><p>usar categorias como:</p><p>Ideia mais excitante</p><p>Aquilo que faríamos se dinheiro não fosse impedimento</p><p>O azarão – provavelmente não funciona, mas se funcionasse...</p><p>Mais provável de resultar em uma ótima vida</p><p>Se pudéssemos ignorar as leis da física...</p><p>Quando acabar a votação, as seleções são discutidas e potencialmente</p><p>reagrupadas e enquadradas outra vez; então se decide o que prototipar</p><p>primeiro.</p><p>No final do nosso processo de quatro etapas, o objetivo é poder dizer algo</p><p>como “Tivemos 141 ideias agrupadas em seis categorias e, baseados em nossa</p><p>pergunta central, selecionamos oito boas ideias para prototipar; depois</p><p>priorizamos a lista, e nosso primeiro protótipo é...”. Muitas vezes é possível se</p><p>afastar só um pouco de uma das ideias estranhas para transformá-la em uma</p><p>ótima ideia. Digamos que o brainstorming de Clara teve a louca ideia de “reunir-</p><p>se com cem doadores experientes para ONGs ligados à mulher”. Clara pode ter</p><p>sentido que cem reuniões eram mais do que ela conseguiria fazer, mas a ideia</p><p>de ganhar acesso a muita experiência e sabedoria era atraente e daí surgiu a</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>ideia de procurar um grupo de doadores, o que é exatamente o que ela</p><p>encontrou na Fundação de Mulheres da Califórnia (Women’s Foundation of</p><p>California).</p><p>Se você seguir as quatro etapas e obtiver resultados como este, seu</p><p>brainstorming de design valerá mais que a pena. O processo irá gerar energia e</p><p>impulso para o seu objetivo de produzir algumas experiências-protótipo para</p><p>explorar. Será também um exercício a que você poderá recorrer sempre que</p><p>precisar de algumas ideias novas, apoio da comunidade ou apenas um pouco</p><p>mais de diversão em sua vida com pessoas nas quais você confia.</p><p>Uma ótima maneira de fazer isso seria combinar a apresentação de seu Plano</p><p>de Odisseia (discutida no Capítulo 5) com uma sessão de brainstorming de</p><p>protótipos. Será mais fácil para seus colaboradores se forem não só capazes de</p><p>lhe dar retorno, mas também contribuir diretamente para o seu projeto de vida</p><p>com ideias e possibilidades acionáveis de protótipos.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Experimente</p><p>Protótipos</p><p>1. Reveja seus três Planos de Odisseia e as perguntas que anotou para cada um.</p><p>2. Faça uma lista de conversas-protótipo que podem ajudar a responder às perguntas.</p><p>3. Faça uma lista de experiências-protótipo que podem ajudar a responder às</p><p>perguntas.</p><p>4. Se você está empacado e se juntou a um bom grupo, faça uma sessão de</p><p>brainstorming. Não tem uma equipe? Experimente o mapeamento da mente.</p><p>5. Construa os seus protótipos procurando ativamente experiências</p><p>e Entrevistas de</p><p>Design de Vida.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>S</p><p>7</p><p>Como Não Conseguir Um Emprego</p><p>teve Jobs e Bill Gates nunca preencheram currículos, nem foram a feiras de</p><p>emprego e nem sofreram para encontrar o tom perfeito para a primeira</p><p>frase perfeita da carta de apresentação perfeita. A perfeição não faz parte do</p><p>design de vida e certamente não há nada perfeito no modelo americano padrão</p><p>que 90% dos candidatos usam para procurar emprego – uma técnica que alguns</p><p>dizem ter uma taxa de sucesso de menos de cinco por cento. Isso mesmo, 90%</p><p>das pessoas usam um método que talvez só funcione 5% do tempo.</p><p>Kurt tinha acabado de completar uma pesquisa de dois anos depois do</p><p>mestrado em design em Stanford – seu segundo mestrado, além do que já tinha</p><p>feito em arquitetura sustentável na Universidade de Yale – quando sua esposa,</p><p>Sandy, engravidou. Eles decidiram, então, se mudar do Vale do Silício para</p><p>Atlanta, na Geórgia, para começar a família perto dos pais de Sandy. Kurt estava</p><p>finalmente pronto para usar todos aqueles lindos e novos diplomas para</p><p>conseguir uma carreira que ele adoraria e que pagaria suas contas. Kurt sabia</p><p>pensar como um designer, mas, ao chegar na Geórgia, sentiu que precisava</p><p>provar para si (e para sua esposa e seus sogros) que estava falando sério sobre</p><p>conseguir um emprego logo. Então colocou a mão na massa: ele fez o dever de</p><p>casa, procurou com cuidado ofertas de trabalho na área que se encaixavam bem</p><p>em seu currículo, identificou as ofertas mais viáveis e mandou seu currículo</p><p>para 38 vagas, com 38 cartas de apresentação diferentes.</p><p>Ele esperava ter que mandar recrutadores embora de tantas ofertas que</p><p>receberia, mas não foi bem assim. Das 38 ofertas, Kurt recebeu oito e-mails de</p><p>rejeição e nem teve notícia das outras trinta. Sem entrevistas, propostas ou</p><p>retornos. Ele estava desanimado, desencorajado e muito preocupado com como</p><p>sustentaria o bebê que estava chegando. Se isso aconteceu com um cara</p><p>formado em Yale e Stanford, como ficam os reles mortais?</p><p>A primeira abordagem de Kurt é o que a maioria das pessoas faz o que nós</p><p>chamamos de modelo padrão de procura de emprego. Você faz uma busca nos</p><p>sites especializados ou direto nos sites das empresas, lê a descrição das vagas,</p><p>decide se é o trabalho “perfeito” para você, envia seu currículo e uma carta de</p><p>apresentação e espera que um gerente de pessoal o chame para uma entrevista.</p><p>E continua esperando.</p><p>E esperando.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Ainda esperando.</p><p>O problema é que 52% dos empregadores admitem que não respondem nem</p><p>a metade dos candidatos.[1]</p><p>Esse modelo padrão falha com tanta frequência porque é um modelo baseado</p><p>na ideia equivocada de que seu trabalho perfeito está lá esperando por você.</p><p>Usando a Internet</p><p>A ideia de que a internet é a fonte principal de empregos é muito difundida, mas</p><p>é só mais uma crença disfuncional. Essa crença disfuncional em particular pode</p><p>conduzir a muita frustração, agregada a uma boa dose de desmoralização.</p><p>A maioria dos grandes empregos – aqueles que caem na categoria de trabalho</p><p>dos sonhos – nunca são listados publicamente. Os trabalhos mais interessantes</p><p>em start-ups – nas empresas que serão um dia o próximo Google ou Apple –</p><p>nunca são publicados na internet antes de serem preenchidos. Empresas com</p><p>menos de 50 funcionários e sem departamentos de recursos humanos são</p><p>muitas vezes lugares interessantes para trabalhar, mas não postam vagas</p><p>regularmente. As grandes empresas costumam publicar só internamente suas</p><p>vagas mais interessantes, invisíveis para a maioria dos candidatos. Muitas</p><p>outras vagas só são publicadas depois que não foram preenchidas pelo boca a</p><p>boca ou pelas redes sociais. Você não vai encontrar as melhores vagas na</p><p>internet, independentemente do que o irmão do amigo de um primo lhe disse</p><p>sobre como encontrou seu emprego.</p><p>Procurar emprego na internet exige muito tempo para elaborar uma boa</p><p>carta de apresentação, ajustar o currículo para se encaixar em uma vaga</p><p>específica e gerenciar e acompanhar dezenas de aplicativos e sites. E, depois de</p><p>tanto tempo e trabalho, tudo que você recebe de volta é silêncio. Silêncio</p><p>ensurdecedor. O retorno positivo é tão raro na busca de emprego pela internet</p><p>que uma atividade já desagradável (procurar um emprego) fica ainda pior. Usar</p><p>a internet como o único método de encontrar emprego chega a ser masoquista.</p><p>Não recomendamos usar a internet como o principal método de procurar</p><p>emprego, mas há milhares de trabalhos publicados on-line toda semana. Se você</p><p>insiste em tentar encontrar opções de trabalho na internet, temos algumas dicas</p><p>para melhorar as chances de a pesquisa ser mais produtiva.</p><p>Entendendo as Descrições de Vaga</p><p>É preciso dar a todos os gerentes de recursos humanos do mundo algum crédito</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>aqui: eles têm boas intenções. É só o processo que não funciona direito. Como</p><p>publicidade, entrevistas e contratações são repetidas centenas de vezes por ano</p><p>em empresas de médio a grande porte, não podem tomar muito tempo.</p><p>Ninguém quer perder um bom candidato; por isso, as empresas publicam</p><p>ofertas de emprego na internet com descrições bastante genéricas, procurando</p><p>o máximo de candidatos possível. E, lembre-se, toda essa atividade de</p><p>contratação ocorre para além do trabalho regular do gerente de recursos</p><p>humanos; portanto, a divulgação de ofertas de trabalho frequentemente não</p><p>tem o tempo e a atenção que merece.</p><p>Quantas vezes você achou que seu currículo era perfeito para uma vaga, se</p><p>candidatou e não recebeu resposta alguma, nem uma confirmação de que o</p><p>currículo foi recebido? Se você entender duas coisas sobre esse processo de um</p><p>ponto de vista mais informado, fará mais sentido e doerá um pouco menos.</p><p>1. A descrição do cargo no site normalmente não é escrita pelo gerente de</p><p>contratação ou por alguém que realmente entende o trabalho.</p><p>2. A descrição da vaga quase nunca reflete o que é preciso para ter sucesso no</p><p>emprego.</p><p>Para mostrar o que queremos dizer, vamos examinar alguns componentes</p><p>copiados ou inspirados em descrições de trabalho que encontramos na internet.</p><p>A maior parte das publicações terá duas ou três seções que tentarão descrever o</p><p>que a empresa busca.</p><p>Seção 1: A Apresentação</p><p>Este é o cabeçalho da oferta de emprego, cujo conteúdo frequentemente</p><p>aparece assim:</p><p>Empresa X está procurando um candidato</p><p>(para a posição X) com o seguinte perfil:</p><p>Boas habilidades de comunicação escrita e verbal</p><p>Forte capacidade analítica</p><p>Excelente habilidade no planejamento de negócios e relatórios</p><p>Alta motivação e criatividade</p><p>Capacidade demonstrada em conciliar prioridades simultâneas e prosseguir com</p><p>rapidez</p><p>Iniciativa forte, tendência para agir e atenção meticulosa aos detalhes</p><p>Experiência no mercado e inovação</p><p>Paixão pelo atendimento aos clientes</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Essas qualificações profissionais para emprego são tão generalizadas que não</p><p>dizem nada sobre o trabalho. São atributos (não são habilidades) de qualquer</p><p>bom funcionário. Também é quase impossível se fazer uma triagem apenas</p><p>olhando para um currículo.</p><p>Seção 2: Habilidades</p><p>A seção de atributos genéricos é tipicamente seguida por uma seção com uma</p><p>lista extremamente detalhada de requisitos educacionais e habilidades.</p><p>Os candidatos excelentes para o emprego</p><p>terão a seguinte experiência:</p><p>Um bacharelado, mestrado ou doutorado com dez anos de experiência (fazendo</p><p>exatamente o que fazemos em nossa empresa)</p><p>Cinco a dez anos de experiência (com algum software proprietário desconhecido</p><p>que ainda usamos)</p><p>Três a cinco anos de experiência (com alguma tarefa desconhecida e específica</p><p>que somente as pessoas que trabalham aqui sabem como fazer)</p><p>Essa parte da descrição do trabalho</p><p>projetando bonecos de Star Wars.</p><p>Bill sabe a sorte que teve em descobrir o design de produto e um caminho de</p><p>carreira alegre e satisfatório tão cedo. Em nossos trajetos de ensino, nós dois</p><p>compreendemos quão raro isto é para os alunos, mesmo em Stanford.</p><p>Diferentemente de Bill, quando Dave era universitário, ele não fazia ideia do</p><p>que queria fazer. Não se deu bem no curso de biologia (falaremos sobre isso</p><p>mais tarde) e acabou se formando em engenharia mecânica – honestamente,</p><p>por falta de uma ideia melhor. Durante a faculdade, nunca encontrou uma boa</p><p>ajuda para responder à pergunta “Como descubro o que eu quero fazer da</p><p>vida?”. Finalmente, conseguiu descobrir sua vocação – pelo caminho mais difícil</p><p>– e há mais de trinta anos trabalha com liderança executiva e consultoria de</p><p>gestão na área da alta tecnologia. Ele gerenciou a produção do primeiro mouse</p><p>e dos projetos iniciais de impressão a laser na Apple, foi cofundador da</p><p>Electronic Arts e ajudou muitos jovens empresários a encontrar seu caminho.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Depois de um início bastante complicado, sua carreira evoluiu</p><p>maravilhosamente – mas Dave sempre soube que tinha sido muito mais difícil</p><p>do que precisava ser.</p><p>Mesmo que nós dois tenhamos começado carreiras e famílias, continuamos a</p><p>manter um olho no trabalho com estudantes. Bill estava em Stanford, onde</p><p>aconselhou centenas de estudantes que o procuravam em seu escritório, sem</p><p>saber o que fazer da vida depois da formatura. Dave era professor na UC</p><p>Berkeley, onde havia desenvolvido um curso chamado Como Encontrar Sua</p><p>Vocação (também conhecido como: Será este o seu Chamado?), que ministrou</p><p>catorze vezes ao longo de oito anos. Ainda assim, desejava fazer mais em</p><p>Stanford. Ao longo do caminho, ele e Bill tinham se encontrado várias vezes nos</p><p>negócios e pessoalmente. Dave soube que Bill havia acabado de aceitar o cargo</p><p>de diretor executivo do Departamento de Design em Stanford, que Dave</p><p>conhecia bem. Ocorreu a Dave que as exigências multidisciplinares de um</p><p>designer provavelmente colocariam uma enorme pressão sobre os estudantes:</p><p>tentar conceber uma carreira autêntica e pessoalmente satisfatória, mas</p><p>também comercialmente viável. Ele decidiu convidar Bill para almoçar e</p><p>conversar sobre suas ideias, só para ver no que iria dar. Se corresse bem, talvez</p><p>pudessem conversar mais vezes sobre o assunto e talvez em mais ou menos um</p><p>ano algo podia nascer dali.</p><p>E foi assim que tudo começou: em um almoço.</p><p>Cinco minutos depois de começado o almoço, o negócio estava feito.</p><p>Decidimos que iríamos nos associar e levar um novo curso para Stanford para</p><p>aplicar o pensamento de design na vida pós-faculdade – primeiro para alunos</p><p>de design e, se tudo corresse bem, para todos os alunos da universidade.</p><p>O curso se tornou uma das disciplinas eletivas mais concorridas em Stanford.</p><p>Quando nos perguntam o que fazemos em Stanford, às vezes respondemos</p><p>com nossa explicação profissional cuidadosamente trabalhada: “Damos cursos</p><p>em Stanford que ajudam qualquer aluno a aplicar os inovadores princípios do</p><p>pensamento de design às complexidades de projetar sua própria vida durante e</p><p>depois da universidade.” E, é claro, eles sempre respondem: “Ótimo! O que é</p><p>isso?”</p><p>E nós geralmente respondemos: “Nós ensinamos como usar o design para</p><p>descobrir o que você quer ser quando crescer.” Então, nesse ponto, quase todos</p><p>perguntam: “Ah! Posso fazer esse curso?” Durante anos tivemos que responder</p><p>não para todos que não fossem um dos 16 mil alunos da Universidade de</p><p>Stanford. Finalmente, esse já não é mais o caso. Oferecemos workshops sobre</p><p>como projetar a sua vida a todos (www.designingyour.life) e escrevemos este</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>http://www.designingyour.life/</p><p>livro para que você não precise ir a Stanford para ter uma vida bem projetada.</p><p>Mas você precisa estar disposto a se perguntar algumas coisas. Algumas</p><p>coisas bem difíceis.</p><p>Designers Também Amam Perguntas</p><p>Como Donald, que encarava o espelho todas as noites e se perguntava “Por que</p><p>diabos estou fazendo isso?”, todo mundo enfrenta perguntas parecidas sobre a</p><p>vida, o trabalho e seu significado e propósito no mundo.</p><p>Como faço para encontrar um emprego de que goste ou até adore?</p><p>Como posso construir uma carreira que me dê um bom dinheiro?</p><p>Como equilibro carreira e família?</p><p>Como posso fazer alguma diferença no mundo?</p><p>Como posso ser magro, sexy e fabulosamente rico?</p><p>Podemos ajudá-lo a responder a todas essas perguntas – menos a última.</p><p>Todos nós tivemos que responder à pergunta “O que você quer ser quando</p><p>crescer?”. Esta é a questão fundamental da vida – aos quinze ou aos cinquenta</p><p>anos de idade. Designers amam perguntas, mas o que eles adoram mesmo é</p><p>reformulá-las.</p><p>Reformular é uma das habilidades mais importantes de um designer. Muitas</p><p>inovações notáveis começam em uma reformulação. No pensamento de design</p><p>sempre dizemos: “Não comece com o problema, comece com as pessoas,</p><p>comece com a empatia.” Quando temos empatia com quem irá usar os nossos</p><p>produtos, nós definimos o nosso ponto de vista, pensamos em ideias e</p><p>começamos a prototipar para descobrir o que ainda não sabemos sobre o</p><p>problema. Isso geralmente resulta em uma reformulação, às vezes também</p><p>chamada de pivô. Uma reformulação é quando obtemos novas informações</p><p>sobre o problema, reafirmamos o nosso ponto de vista e começamos a pensar e</p><p>prototipar novamente. Começamos achando que estamos projetando um</p><p>produto (uma nova mistura de café e um novo modelo de máquina de café) e</p><p>reformulamos quando percebemos que na verdade estamos transformando a</p><p>experiência do café (Starbucks). Ou, para tentar provocar um impacto na</p><p>pobreza, paramos de emprestar dinheiro à classe rica em um país (como faz o</p><p>Banco Mundial) e começamos a emprestar dinheiro a pessoas consideradas</p><p>pobres demais para pagar de volta (microcrédito e o Banco Grameen). Ou a</p><p>equipe da Apple produz o iPad, uma reformulação completa do nosso conceito</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>de computação portátil.</p><p>No design de vida, nós reformulamos muito. A maior reformulação é que a</p><p>vida não pode ser perfeitamente planejada, que não há apenas uma solução e</p><p>que isso é uma coisa boa. Há muitos projetos para a sua vida, todos cheios de</p><p>esperança para o tipo de realidade criativa e complexa que faz a vida valer a</p><p>pena. Sua vida não é uma coisa, é uma experiência; o divertido é projetar e</p><p>aproveitar essa experiência.</p><p>A reformulação para a pergunta “O que você quer ser quando crescer?” é esta:</p><p>“Em quem ou no que você quer crescer?” A vida é toda sobre crescimento e</p><p>mudança. Não é estática. Não se trata de um destino. Não se trata de responder</p><p>à pergunta de uma vez por todas e parar por aí. Ninguém sabe o que quer ser.</p><p>Mesmo aqueles que marcaram o xis no quadradinho para médico, advogado ou</p><p>engenheiro. Estas são apenas orientações vagas para um caminho de vida. Há</p><p>muitas perguntas que persistem em cada etapa do percurso. O que as pessoas</p><p>precisam é de um processo – um processo de design – para descobrir o que</p><p>querem, quem querem se tornar e como criar uma vida que possam amar.</p><p>Bem-Vindo ao Design de Vida</p><p>O design de vida é o futuro. É o que vai ajudar Ellen a ir da faculdade para o seu</p><p>primeiro emprego. É o que vai ajudar Janine a passar da vida que ela deveria ter</p><p>para a vida que ela quer. É o que vai ajudar Donald a encontrar a resposta para</p><p>as perguntas que o mantêm acordado à noite. Os designers imaginam coisas que</p><p>ainda não existem e depois as constroem – e então o mundo muda. Você pode</p><p>fazer isso em sua própria vida. Você pode imaginar uma carreira e uma vida que</p><p>não existem; você pode construir o seu futuro eu, e sua vida vai mudar. Se a sua</p><p>vida é praticamente</p><p>é sempre baseada nas habilidades do</p><p>funcionário anterior; é histórico. Não leva em conta a possibilidade de que o</p><p>trabalho mudará no futuro ou que os conhecimentos muito específicos exigidos</p><p>serão irrelevantes daqui a seis meses, quando a empresa mudar de uma</p><p>plataforma de software para outra. Também não leva em conta o fato de que</p><p>procedimentos e métodos operacionais evoluem constantemente em qualquer</p><p>empresa saudável em fase de crescimento.</p><p>Seção 3: “O que Faz o Candidato Especial”</p><p>Espere, ainda não acabamos. Nossa parte preferida nas descrições de vaga é</p><p>onde o gerente de recursos humanos acidentalmente decide deixar a verdade</p><p>escapar nas descrições e adiciona qualificações como:</p><p>Esta função não é para os fracos, e somente aqueles com um histórico comprovado</p><p>de sucesso devem se candidatar.</p><p>Chamamos esse aviso de “Você teria que ser louco para aceitar este trabalho”.</p><p>O significado real é: “Este trabalho é uma droga e somente as pessoas que têm</p><p>um histórico comprovado de sobreviverem a trabalhos péssimos devem se</p><p>candidatar.”</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Buscando: super-heróis com capacidade de produzir quantidades absurdas de</p><p>trabalho com prazos ridiculamente apertados.</p><p>Leia-se: “Este trabalho é impossível e ninguém consegue fazê-lo.”</p><p>Além da sua habilidade para criar soluções elegantes e inspiradoras, você é</p><p>criterioso e persuasivo quando analisa e discute estratégia com os colegas.</p><p>Chamamos esse pedido de “fantasia”. Nunca conhecemos um candidato a</p><p>emprego que não se achasse criterioso e persuasivo, elegante e inspirador. É</p><p>bom que pensemos em nós mesmos dessa forma, mas não é de muita ajuda</p><p>quando você está selecionando candidatos.</p><p>Mais uma vez, não inventamos nada disso. Nós tiramos essas palavras</p><p>diretamente dos maiores sites de emprego. Não achamos que é uma forma</p><p>muito inteligente de as empresas agirem – é improvável que estas descrições só</p><p>atraiam os melhores candidatos. Mas, dito isso, há maneiras de melhorar suas</p><p>chances de usar as ofertas de trabalho na internet para encontrar um emprego</p><p>quando você sabe como essas coisas são criadas.</p><p>Encaixe Antes de Sobressair</p><p>Para ser considerado para uma entrevista, o seu currículo precisa parar na pilha</p><p>de papéis de alguém. Portanto, o trabalho número um é se “encaixar”. Não</p><p>significa que você deva dizer algo sobre si que não é verdade; significa que, se</p><p>você quiser ser descoberto, você precisa se descrever nas mesmas palavras</p><p>usadas pela empresa. Também significa que você não deve falar sobre suas</p><p>incríveis habilidades multidisciplinares ainda, porque só vai confundir a</p><p>avaliação do “encaixe”.</p><p>A maioria das empresas de porte médio a grande que usam a internet para</p><p>coletar currículos os armazenam em um banco de dados do departamento de</p><p>recursos humanos. O gerente de contratação nunca vê o original. Seu currículo</p><p>será “descoberto” em uma pesquisa no banco de dados, cujas palavras-chave</p><p>mais usadas serão tiradas da descrição da vaga. Então, para que a chance de ser</p><p>descoberto aumente, use as mesmas palavras usadas por eles na primeira parte</p><p>da descrição da vaga.</p><p>As habilidades específicas que estão sendo publicadas como necessárias são</p><p>importantes, mas muitas vezes não constituem o fator determinante para a</p><p>contratação. Lembre-se: as descrições são escritas do ponto de vista do trabalho</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>atual, e não do futuro. Se você tem essas habilidades, ótimo – adicione-as ao seu</p><p>currículo, palavra por palavra. Se você não tiver, liste habilidades bem</p><p>específicas e semelhantes. Encontre formas de descrever as habilidades que</p><p>possam surgir em uma pesquisa baseada na descrição do cargo.</p><p>Finalmente, na fase de “seleção de candidatos” do processo de contratação, a</p><p>procura é por habilidades. Ao chegar à entrevista, você precisa ter cuidado para</p><p>criar uma boa história de “encaixe”. Se você quer entrar em um time de futebol</p><p>e o treinador técnico precisa de um atacante, então é o que ele está procurando.</p><p>Não um goleiro, não um zagueiro. Agora não é a hora de falar sobre colecionar</p><p>figurinhas de futebol, saber tudo sobre o esporte ou do seu hobby de fazer bolos</p><p>em forma de bola de futebol. Você só deve falar sobre ataque. Na fase de</p><p>triagem do processo, não fale sobre seus outros talentos surpreendentes ou</p><p>sobre as habilidades que não fazem parte da descrição. Você vai parecer pouco</p><p>focado e pode soar como se não estivesse interessado no trabalho. Pior ainda,</p><p>você pode parecer um mau ouvinte, porque ele vai pensar que você está</p><p>respondendo a uma pergunta que não foi feita. Haverá uma hora para “se</p><p>destacar” mais tarde no processo, mas, se você tentar fazê-lo no início, será</p><p>eliminado da lista de candidatos.</p><p>Aqui está um resumo de dicas para tornar sua estratégia de busca de</p><p>emprego na internet mais eficaz:</p><p>Dica 1: Escreva seu currículo empregando as mesmas palavras da descrição da oferta</p><p>de emprego. Diga “boas habilidades de comunicação escrita e verbal”, não “sou</p><p>um bom escritor e me comunico bem”; diga “paixão pelos clientes” e não</p><p>“atitude voltada para o cliente”. Você melhorará sua chance de ser descoberto</p><p>em uma pesquisa. E seja generoso, agora não é a hora da modéstia. Afinal, quem</p><p>não é “muito motivado” e “criativo”?</p><p>Dica 2: Se você tem uma habilidade específica que é exigida, coloque-a em seu</p><p>currículo exatamente da forma como está descrita na oferta de emprego. Se você não</p><p>possui aquela habilidade, encontre uma maneira de descrever suas habilidades</p><p>utilizando as mesmas palavras que serão encontradas numa busca.</p><p>Dica 3: Concentre seu currículo no emprego descrito. Mesmo que a descrição da</p><p>vaga não seja muito precisa, isso aumentará a chance de seu currículo aparecer</p><p>em uma pesquisa. Por isso, ponha o foco nas habilidades que você pode oferecer</p><p>à empresa, usando as palavras da própria empresa sempre que for possível.</p><p>Concentre-se no que você pode fazer por eles, não na razão pela qual este</p><p>trabalho funciona para você. Não pareça muito generalista ou multidisciplinar</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>no seu currículo ou na primeira entrevista, só se preocupe em responder às</p><p>necessidades da empresa. Depois de ter assegurado ao empregador que você</p><p>possui as habilidades necessárias, pode impressioná-los com a sua</p><p>profundidade. É assim que você “se destaca”.</p><p>Dica 4: Sempre leve uma cópia bonita e impressa de seu currículo para uma entrevista.</p><p>Será provavelmente a primeira vez que alguém vai ver o cuidado que você teve</p><p>em projetar a danada dessa coisa.</p><p>Existem mais algumas coisas de que você precisa estar ciente caso queira</p><p>pesquisar empregos com segurança na internet. Tendo isso em mente, pode</p><p>poupar centenas de horas em buscas infrutíferas por trabalho.</p><p>A Síndrome da Descrição</p><p>do Superemprego</p><p>Em nossa experiência, é bastante comum encontrar exigências para empregos</p><p>que nem quem está atualmente trabalhando naquela função satisfaz. Esse tipo</p><p>de fantasia gerencial é uma síndrome que afeta a maioria das grandes</p><p>empresas. O processo é mais ou menos assim:</p><p>Jane (a funcionária que pediu demissão) era uma ótima gerente de programa,</p><p>mas, rapaz, eu gostaria que ela tivesse sido melhor em X, Y e Z. Agora que ela se</p><p>foi, vamos postar um emprego para uma “Super Jane” e listar tudo que Jane</p><p>costumava fazer e tudo que queríamos que ela tivesse feito e cruzar os dedos.</p><p>A descrição do superemprego é postada, currículos são selecionados nos</p><p>bancos de dados e os candidatos são entrevistados por telefone. As entrevistas</p><p>presenciais são marcadas e candidato após candidato é entrevistado e rejeitado</p><p>porque não são uma “Super Jane”. Isso é especialmente verdade porque</p><p>ninguém que se encaixa na descrição do novo trabalho</p><p>vai aceitar o salário que</p><p>Jane recebia. Processos de entrevista como este estão essencialmente</p><p>quebrados: cansam tanto a equipe de entrevista quanto os candidatos e</p><p>ninguém é contratado.</p><p>Como um candidato a emprego, você certamente deseja descobrir o mais</p><p>cedo possível se está envolvido em um processo de entrevista assim.</p><p>Uma maneira é fazer alguma pesquisa e descobrir há quanto tempo aquilo foi</p><p>publicado. Em um bom mercado de trabalho, uma oferta de emprego nunca</p><p>deve estar aberta por mais de quatro semanas (seis no máximo).</p><p>Outra é descobrir quantas pessoas já foram entrevistadas. Ambos os dados</p><p>darão uma noção do que está acontecendo nos bastidores. É</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>surpreendentemente fácil descobrir isso – basta perguntar a algum dos</p><p>entrevistadores. Se eles estão nessa situação, sabem que algo está errado, estão</p><p>frustrados e provavelmente lhe dirão. E possivelmente até confessarão querer</p><p>deixar a empresa. Isso acontece com mais frequência do que você imagina!</p><p>Em nossa experiência, se mais de oito pessoas passaram pelo processo e</p><p>nenhuma decisão foi tomada, algo está errado. Este é um sinal de que a</p><p>companhia talvez não seja um ótimo lugar para trabalhar e que talvez seja</p><p>melhor você dar o fora o mais rápido possível.</p><p>A Síndrome do Trabalho-Fantasma</p><p>Esta é outra coisa para ficar de olho. Muitas empresas têm uma regra indicando</p><p>que, antes de poder contratar alguém para um trabalho, é preciso postar a</p><p>descrição do trabalho, supostamente para garantir que os melhores candidatos</p><p>sejam identificados e contratados. No entanto, muitas vezes os gerentes já</p><p>selecionaram um candidato interno ou externo que querem contratar para o</p><p>trabalho. Bons em contornar as burocracias, escrevem uma descrição de</p><p>trabalho bem detalhada que combina exatamente com o currículo de seu</p><p>candidato, postam a descrição “fantasma” de trabalho, esperam as duas</p><p>semanas necessárias, fazem algumas entrevistas e depois contratam a pessoa</p><p>que quiseram desde o começo. Como a descrição foi escrita para corresponder</p><p>ao candidato pré-selecionado, o gerente de contratação pode “provar” que eles</p><p>contrataram a pessoa mais qualificada.</p><p>Essas ofertas de “trabalho” nunca existiram. Mas você pode ter visto uma e se</p><p>candidatado, pensando que era real, e nunca ter tido notícias da empresa. Ou,</p><p>pior, eles desperdiçaram seu tempo com uma entrevista superficial que não deu</p><p>em nada. Uma maneira de saber se isso está acontecendo é ver quanto tempo as</p><p>descrições de cargos permanecem postadas no site de uma empresa. Se estão</p><p>indo e vindo a cada semana ou duas, pode ser por isso.</p><p>Aviso: Empresas Bacanas e “Falsos Positivos”</p><p>Há uma questão específica para prestar atenção se você está se candidatando a</p><p>uma empresa bacana, uma empresa quente, crescente e bem-sucedida onde</p><p>todo mundo quer trabalhar. Aqui no Vale do Silício, é o Google, a Apple, o</p><p>Facebook e o Twitter – você talvez tenha ouvido falar. Empresas bacanas</p><p>podem ser encontradas em todas as indústrias saudáveis e você provavelmente</p><p>reconhece aquelas nas indústrias que acha interessantes. O problema é um</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>excesso de oferta não só de candidatos qualificados, mas de candidatos</p><p>realmente ótimos. Essas empresas têm muito mais candidatos excelentes do</p><p>que vagas. Consequentemente, as empresas bacanas não se preocupam em não</p><p>conseguir contratar pessoas fantásticas, seu único medo é que possam contratar</p><p>um candidato ruim. Se uma empresa erra e acha que alguém é bom candidato</p><p>quando é apenas médio, constitui um “falso positivo”, o que é um pesadelo de</p><p>contratação.</p><p>Uma contratação ruim é incrivelmente cara e dolorosa. É difícil demitir</p><p>empregados hoje em dia (processos trabalhistas estão em alta) e, depois disso,</p><p>você ainda tem que passar por todo o processo de contratação de novo.</p><p>Enquanto isso, o trabalho importante para o qual você os contratou não está</p><p>sendo feito, as agendas estão atrasadas, o dinheiro está sendo perdido e... a lista</p><p>não tem fim. As empresas farão de tudo para evitar falsos positivos na</p><p>contratação. Isso inclui ser bastante tolerante com falsos negativos – achar que</p><p>alguém é um candidato ruim quando, na realidade, é um ótimo candidato.</p><p>Deixar um ótimo candidato de fora sem querer não custa nada a uma empresa</p><p>bacana: eles têm um monte de bons candidatos, por isso, cometer o erro de</p><p>perder alguns bons no filtro de contratação é mais perdoável do que contratar</p><p>um candidato ruim. Portanto, os processos de contratação de empresas bacanas</p><p>são às vezes bastante severos. Candidatos ótimos são rejeitados com frequência</p><p>e nem sabem por quê. Isso pode acontecer com você. Essas empresas muitas</p><p>vezes conseguem encontrar pessoas que realmente são quase exatamente como</p><p>aquilo que a oferta absurda de trabalho está pedindo (eu sei que dissemos que</p><p>isso não acontece na realidade, mas as empresas bacanas distorcem a</p><p>realidade). Então se você, como candidato, não está alinhado com as</p><p>características listadas no perfil desejado pela empresa ou até alguns dias</p><p>atrasado na candidatura, talvez não tenha mesmo nenhuma chance, mesmo que</p><p>seja um ótimo candidato e uma grande aquisição para a empresa. Eles não se</p><p>importam. Eles não precisam. Não é maldade, só uma decisão de negócios</p><p>inteligente, necessária por conta da popularidade e do sucesso desse tipo de</p><p>empresa.</p><p>Este é um problema de gravidade: não tem jeito. Se quiser ir atrás de uma</p><p>dessas empresas bacanas, terá que jogar o jogo delas, seguir suas regras e</p><p>torcer para ter o que precisa para se dar bem. Lembre-se, elas querem contratar</p><p>ótimos candidatos e a empresa pode ser um excelente lugar para trabalhar caso</p><p>consiga ser contratado. Se desejar trabalhar em uma empresa de alto nível,</p><p>realmente fará diferença entrar em contato com pessoas dentro dessa empresa,</p><p>usando as conversas-protótipo que discutimos. Uma conexão pessoal pode</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>ajudá-lo muito. Você ainda terá que passar pelo filtro do processo de</p><p>contratação, mas terá alguma ajuda. Não estamos dizendo que não deva tentar –</p><p>muitos funcionários dessas empresas adoram o que fazem lá; por isso, pode</p><p>valer o esforço. Porém seja brutalmente honesto consigo mesmo sobre suas</p><p>chances e caveat emptor.</p><p>Como Deveria Ser</p><p>Uma coisa que você pode ter notado é a conspícua ausência suspeita das</p><p>descrições de vaga que são assim:</p><p>Procurando candidatos que gostariam de conectar sua Visão de Trabalho à sua</p><p>Visão de Vida.</p><p>Estamos procurando candidatos que acreditam que o bom trabalho se encontra</p><p>através do exercício adequado dos seus pontos mais fortes.</p><p>Procuramos candidatos com integridade, capacidade de aprender rapidamente e</p><p>muita motivação intrínseca; podemos ensinar o resto.</p><p>No nosso mundo perfeito funcionaria desta maneira.</p><p>Então, é assim: Empresas postam estas descrições de vaga tortuosas que não</p><p>descrevem nada de útil sobre a função para o potencial funcionário. Depois</p><p>cercam essas descrições de comentários ridículos sobre super-heróis e</p><p>coragem. Nenhuma das descrições que encontramos quando pesquisamos na</p><p>internet parecia abordar qualquer das questões que estamos discutindo. Não se</p><p>dirigiram às questões mais profundas do por que trabalhamos ou qual o</p><p>propósito do trabalho. É surpreendente que alguém queira se candidatar a</p><p>qualquer um desses empregos.</p><p>Lembre-se, designers de vida não trabalham em problemas de gravidade. Não</p><p>vamos “consertar” as ofertas de emprego na internet. Mas não se preocupe.</p><p>Mesmo que as descrições postadas na internet sejam praticamente inúteis,</p><p>ainda representam um ponto de partida</p><p>em potencial na sua conversa com as</p><p>instituições que representam.</p><p>A consciência é a chave para o design da vida e isso é verdade especialmente</p><p>quando você está projetando sua carreira. Se você estiver ciente do processo</p><p>envolvido na contratação, na redação de descrições de cargos, na leitura de</p><p>currículos e nas entrevistas (do ponto de vista do contratante), sua taxa de</p><p>sucesso vai aumentar bastante. A empatia é um elemento fundamental no</p><p>pensamento de design, e ter empatia e compreensão pelo pobre gerente de</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>recursos humanos enterrado em currículos irá ajudá-lo a saber como criar uma</p><p>busca mais produtiva. Eficácia na contratação envolve uma simples mas</p><p>importante reformulação de design.</p><p>Crença Disfuncional: Você deve manter o foco em sua necessidade de encontrar um</p><p>emprego.</p><p>Reformulação: Você deve manter o foco na necessidade do gerente em encontrar a</p><p>pessoa certa.</p><p>A conclusão é que não há nenhum trabalho perfeito onde você se encaixe</p><p>perfeitamente, mas você pode tornar muitos trabalhos suficientemente</p><p>perfeitos.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>S</p><p>8</p><p>Projetando o Emprego dos Sonhos</p><p>Crença Disfuncional: Meu emprego dos sonhos está lá me esperando.</p><p>Reformulação: Você projeta seu emprego ideal através de um processo de busca</p><p>ativa e de cocriação.</p><p>e o seu trabalho ideal não está esperando por você na porta da frente</p><p>quando chegar em casa, onde vai encontrá-lo? Em primeiro lugar,</p><p>devemos esclarecer que não há trabalho ideal. Não há unicórnios. Nem almoço</p><p>grátis. O que você pode encontrar são trabalhos interessantes em organizações</p><p>de valor povoadas por pessoas dedicadas e trabalhadoras tentando fazer um</p><p>trabalho honesto. Há bons empregos em bons lugares com bons colegas de</p><p>trabalho e há pelo menos alguns bons empregos que você pode fazer bem o</p><p>suficiente para os aperfeiçoar a ponto de amá-los. Esses são os “trabalhos</p><p>ideais” que podemos ajudá-lo a encontrar, mas quase todos estão invisíveis para</p><p>você agora, pois são parte de um mercado de trabalho escondido.</p><p>Como dissemos antes, não recomendamos procurar emprego na internet. Na</p><p>verdade, apenas 20% de todos os empregos disponíveis nos Estados Unidos são</p><p>publicados na internet – ou postados em qualquer outro lugar, para falar a</p><p>verdade –, o que indica o que esperar no resto do mundo. Isso quer dizer que</p><p>80%, um total de quatro a cada cinco empregos no mercado, não estão</p><p>disponíveis pelo modelo padrão de busca de trabalho. É um número</p><p>impressionante. Não admira que tanta gente se sinta frustrada e rejeitada</p><p>quando busca emprego.</p><p>Como entrar nesse mercado de trabalho oculto? Bem, não tem como.</p><p>Ninguém entra. Não existe entrar no mercado de trabalho oculto. O mercado de</p><p>trabalho oculto é o mercado de trabalho aberto apenas para pessoas que já</p><p>estão conectadas na rede de profissionais em que esse trabalho existe. É um</p><p>jogo de conhecidos e é quase impossível entrar nessa rede como candidato a</p><p>emprego. Mas é muito possível entrar na rede como um curioso sinceramente</p><p>interessado procurando uma história (não um emprego). É assim que funciona.</p><p>É uma ótima coincidência que a melhor técnica para descobrir que trabalho</p><p>quer seguir (Entrevistas de Design de Vida, como discutido no Capítulo 6) é</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>exatamente a melhor, senão a única, maneira de entrar no mercado de trabalho</p><p>oculto em sua área de interesse quando você souber o que quer. Kurt – aquele</p><p>com mestrado de Yale e Stanford e 38 cartas de apresentação cuidadosamente</p><p>formuladas sem qualquer resultado – ficou desanimado por sua falta de sucesso</p><p>com os métodos tradicionais. Percebendo que era hora de aplicar o pensamento</p><p>de design à busca de emprego, Kurt parou de se candidatar e passou a fazer</p><p>entrevistas. Conduziu 56 conversas-protótipo autênticas com pessoas com</p><p>quem estava genuinamente interessado em se encontrar. Essas 56 conversas</p><p>resultaram em sete ofertas diferentes de trabalho de qualidade e um trabalho</p><p>ideal (de verdade, não de fantasia) que conseguiu. Ele agora trabalha em tempo</p><p>integral para uma empresa com seus horários flexíveis, um trajeto curto para o</p><p>serviço, dinheiro decente e um emprego que é significativo para ele no campo</p><p>do design ambientalmente sustentável. E teve acesso às oportunidades que</p><p>produziram essas sete ofertas não pedindo emprego, mas pedindo histórias de</p><p>vida a 56 pessoas.</p><p>Lembre-se, tudo o que você está procurando com uma Entrevista de Design</p><p>de Vida (funcionando como uma conversa-protótipo) é aprender sobre um tipo</p><p>particular de trabalho ou função para ajudá-lo, se quiser, em uma data</p><p>posterior, a obter um emprego nessa área. Ao conduzir a conversa, você</p><p>realmente não está atrás do emprego – está atrás da história. “Mas espere um</p><p>minuto”, você diz. “Você acabou de me contar como Kurt conseguiu sete ofertas</p><p>de suas 56 Entrevistas de Design de Vida. Como isso aconteceu? Como é que a</p><p>história se transforma em conseguir o emprego?” Boa pergunta. Importante. A</p><p>resposta é surpreendentemente simples.</p><p>Na maioria das vezes, a pessoa com quem você fala faz isso por você. “Kurt,</p><p>você parece muito interessado no que fazemos aqui, e pelo que você disse até</p><p>agora parece que você tem talentos que poderíamos usar. Você já pensou em</p><p>trabalhar em algum lugar como este?”</p><p>Mais da metade das vezes, quando a abordagem que estamos recomendando</p><p>resulta em uma oferta, você não precisa pedir – a outra pessoa dá o primeiro</p><p>passo. E, se não o fizerem, você pode fazer uma pergunta que vai transformar a</p><p>sua conversa-protótipo em uma busca por um emprego.</p><p>“Quanto mais eu aprendo sobre XYZ Ambiental e quanto mais pessoas eu</p><p>encontro aqui, mais fascinante fica tudo. Gostaria de saber, Allen, que passos</p><p>seriam necessários para alguém como eu se tornar parte desta organização?”</p><p>É isso aí. Assim que você perguntar “Que passos seriam necessários para</p><p>alguém como eu se tornar parte desta organização?”, Allen sabe que é hora de</p><p>mudar de marcha e começar a pensar criticamente sobre você como candidato.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Significa que ele vai começar a usar o lado de julgamento do cérebro, mas tudo</p><p>bem. Tem que acontecer mais cedo ou mais tarde. Então quando chegar o</p><p>momento certo, vá em frente!</p><p>Atenção para não dizer: “Uau, este lugar é ótimo! Você tem vagas?” Pelas</p><p>razões já mencionadas, a resposta provavelmente será “Não”. “Que passos</p><p>seriam necessários...” é uma pergunta aberta (sem sim ou não) e permite</p><p>possibilidades muito além do que está disponível no momento. Se você está</p><p>perguntando isso a alguém como Allen, com quem já estabeleceu uma conexão e</p><p>ganhou alguma consideração, podemos esperar que ele dê a você uma sincera</p><p>resposta de apoio. Em alguns casos, Allen pode até dizer: “Não, não temos nada</p><p>agora por aqui, mas acho que você tem tudo a ver com uma das nossas</p><p>empresas associadas. Você conhece alguém no Espaço Verde? Acho que você</p><p>gostaria de ver o que eles estão fazendo.”</p><p>Acontece o tempo todo.</p><p>Por falar nisso, em seis dos sete lugares dos quais Kurt recebeu ofertas, ele</p><p>não precisou perguntar sobre vagas disponíveis. Ele só ouviu as histórias das</p><p>pessoas que entrevistou e todas fizeram a oferta a ele. Só uma das ofertas era</p><p>para uma vaga publicada – todas as outras eram parte do mercado de trabalho</p><p>oculto. A oferta publicada foi a que acabou aceitando. Mas foi publicada depois</p><p>de ele já ter conduzido uma Entrevista de Design de Vida com o CEO, que foi tão</p><p>bem que, no momento em que a oferta foi publicada, ele já estava praticamente</p><p>contratado.</p><p>Ah, mais um pequeno detalhe sobre a história de Kurt. A entrevista final com</p><p>a empresa onde ele trabalha agora foi com cinco membros</p><p>do conselho</p><p>administrativo. A sua primeira pergunta foi: “Acha que pode ser eficiente no</p><p>estabelecimento de parcerias na comunidade de arquitetura sustentável por</p><p>aqui? Afinal, você acabou de mudar-se para a Geórgia.” Olhando ao redor da</p><p>mesa, Kurt teve a feliz surpresa de reconhecer três dos cinco membros do</p><p>conselho como pessoas com as quais já tinha tomado café. Ele respondeu: “Bem,</p><p>eu já consegui chegar a três de vocês. Eu ficaria feliz em continuar fazendo esse</p><p>tipo de trabalho em nome desta organização.” Sim – ele arrasou na entrevista.</p><p>Mas antes disso teve que conseguir muitos contatos.</p><p>Gente: A Outra Rede Mundial</p><p>Quando Kurt realmente se esforçou para marcar muitas conversas-protótipo,</p><p>ele teve que entrar em contato com vários tipos de gente para conseguir</p><p>conexões e referências daqueles que precisava conhecer. Para conseguir essas</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>referências, Kurt teve que trabalhar com seus contatos: teve que falar com seus</p><p>contatos e com os contatos deles e até com desconhecidos que identificou on-</p><p>line. Então ele perguntou a essas pessoas com quem ele deveria estar falando,</p><p>que histórias ele deveria estar ouvindo se quisesse aprender mais sobre</p><p>arquitetura sustentável na área de Atlanta. Foi difícil. Não era exatamente a</p><p>parte favorita de Kurt no processo (na verdade, não é a parte favorita de</p><p>ninguém), mas funcionou. E é inteiramente necessário.</p><p>Muita gente tem aversão instantânea à noção de “contatos”. Eles pensam em</p><p>pessoas espertalhonas e egoístas que manipulam os outros para conseguir</p><p>coisas que não merecem ou trapaceiros fingindo que se importam com alguém</p><p>para usá-lo para chegar a outra pessoa. Essas imagens negativas são poderosas</p><p>e reforçadas por muitos personagens em filmes e romances, assim como por</p><p>muitas pessoas que conhecemos ou das quais ouvimos falar. A boa notícia é que,</p><p>embora estes estereótipos tenham exemplos na vida real, eles são, de longe, a</p><p>minoria. Vamos ver se podemos facilitar as coisas para você ao reformular o</p><p>conceito.</p><p>Crença Disfuncional: Usar contatos é só se aproveitar das pessoas – é nojento.</p><p>Reformulação: Usar contatos é como pedir direções.</p><p>Pense na última vez em que você esteve andando pela rua em sua cidade e</p><p>um carro desconhecido parou lentamente ao seu lado. A janela desceu e o</p><p>passageiro se inclinou para você com um olhar óbvio de angústia. Agora,</p><p>dependendo de onde você mora, seu primeiro instinto pode ter sido se</p><p>esconder, correr gritando ou sacar seu spray de pimenta, mas para a maioria de</p><p>nós a primeira reação seria oferecer ajuda.</p><p>A pessoa no carro está perdida e precisa saber o caminho para o café mais</p><p>próximo, a rampa de acesso à autoestrada, o parque de diversões ou a loja de</p><p>antiguidades. O que você faz? Bem, a maioria de nós lhe dará direções se puder.</p><p>Nós sempre ajudamos. Talvez pergunte algo sobre a sua cidade, outros lugares</p><p>que pode querer visitar, como é o serviço no café ao qual está indo. Ela vai</p><p>embora e você segue o seu caminho. Como você se sente quando ela parte com</p><p>as direções e informações que você lhe deu? Você se sente usado? Você ficou</p><p>ofendido por não ligar de volta no dia seguinte ou se tornar sua amiga no</p><p>Facebook ou por ela se importar mais em ir ao café mais próximo do que se</p><p>preocupar com você? Claro que não. Vocês não são amigos. Vocês não entraram</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>em um relacionamento. Você se sente bem por ter ajudado outro ser humano.</p><p>Vários estudos confirmam isso – a maioria de nós gosta de ser útil, está no</p><p>nosso DNA. Somos criaturas sociais e ajudar uns aos outros é uma das coisas</p><p>que mais gostamos de fazer.</p><p>Kurt não conhecia bem a indústria de arquitetura sustentável em Atlanta.</p><p>Talvez você não conheça bem a comunidade de nanotecnologia em Hong Kong,</p><p>a turma da cerveja artesanal em Wichita ou o sindicato de enfermagem em</p><p>Seattle. O que deve fazer? Pedir orientação a alguém do local. Pedir referências</p><p>de pessoas cujas histórias podem te ajudar é simplesmente o equivalente</p><p>profissional de pedir orientação a quem conhece o local. Então vá em frente,</p><p>peça direções. Não. É. Nada. Demais.</p><p>Quando falamos de “rede” de contatos, estamos falando de um substantivo,</p><p>não um verbo: o objetivo não é formar a rede, mas participar da rede.</p><p>Simplificando, significa apenas entrar em uma determinada comunidade que</p><p>está tendo uma discussão em particular (como a comunidade de arquitetura</p><p>sustentável). Cada domínio do esforço humano é sustentado por uma rede de</p><p>relações entre as pessoas. Pessoas reais. Essa teia é o tecido que sustenta,</p><p>contém e retém essa parte da sociedade. A rede de Stanford, da qual fazemos</p><p>parte, sustenta Stanford. A rede do Vale do Silício é a comunidade informal da</p><p>galera da costa oeste dos Estados Unidos que permite que o empreendedorismo</p><p>tecnológico floresça. A maioria das pessoas tem uma rede de contatos</p><p>profissionais (de colegas) e uma rede de contatos pessoais (de amigos e</p><p>familiares). A maneira mais comum de as pessoas serem apresentadas a redes</p><p>profissionais é através de referências das redes pessoais. Isso não é favoritismo,</p><p>só comportamento comunitário. O uso de redes pessoais ou profissionais para</p><p>incluir pessoas novas na conversa de uma comunidade é uma coisa boa. A rede</p><p>existe para apoiar a comunidade de quem está trabalhando – e é a única</p><p>maneira de acessar o mercado de trabalho oculto.</p><p>Falando da internet, parece que ela pode transformar mesmo sua busca por</p><p>trabalho no que diz respeito a contatos. Não use a internet para encontrar vagas</p><p>de emprego on-line, mas para entrar em contato com as pessoas cujas histórias</p><p>você quer ouvir. Bella, uma de nossas alunas formada há alguns anos, acaba de</p><p>ligar para nos dizer o quão feliz ela estava e como essa abordagem tinha</p><p>funcionado bem. Ela descobriu com sucesso o que queria fazer (investimento de</p><p>impacto no mundo em desenvolvimento) e com isso projetou seu caminho para</p><p>três grandes ofertas nesse campo, incluindo a que ela aceitou, de uma empresa</p><p>de elite de que nunca tinha ouvido antes – e isto só levou 200 conversas para</p><p>realizar. Duzentas. Em apenas seis meses. Sério.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Bella contou que foi capaz de encontrar e entrar em contato com mais de</p><p>metade dessas 200 pessoas usando o Google e o LinkedIn. Claro que ela</p><p>pesquisou indivíduos e organizações e usou seus contatos para conseguir</p><p>referências pessoais sempre que pôde, mas usar de forma inteligente as</p><p>ferramentas da internet fez uma diferença enorme. O LinkedIn transformou</p><p>completamente nossa capacidade de encontrar as pessoas que estamos</p><p>procurando. Existem muitos livros e programas on-line para ensiná-lo a ser</p><p>eficaz usando essas ferramentas (alguns das melhores são oferecidos pelo</p><p>próprio LinkedIn). Use-os. E, se você se tornar um astro do LinkedIn e do</p><p>Google, a internet pode fazer diferença para você e não será mais o buraco</p><p>negro no qual perde seu currículo.</p><p>Concentre-se nas Ofertas – Não nos Empregos</p><p>Todos os anos, a Associação Nacional de Faculdades e Empresas (National</p><p>Association of Colleges and Employers, NACE), uma ONG estabelecida em 1956,</p><p>compila dados sobre novos formandos e empregos, como o salário médio de</p><p>recém-formados, o que os melhores recrutadores estão procurando e também o</p><p>que os formados relatam como as prioridades determinantes quando se trata de</p><p>emprego. Adivinhe qual foi a primeira consideração da turma de formandos de</p><p>2014 ao procurar emprego?[1]</p><p>A natureza do trabalho.</p><p>Salário e a simpatia dos colegas de trabalho vêm em segundo e terceiro lugar</p><p>para completar essa trinca completamente disfuncional de quem busca</p><p>trabalho.</p><p>O problema com este cenário é que não há como saber a verdadeira “natureza</p><p>do trabalho” antes de começar. É impossível. Visto que tantas descrições de</p><p>trabalho são disfuncionais e imprecisas, a maioria das pessoas descarta o</p><p>trabalho antes mesmo de terem se candidatado (e antes que saibam ao certo o</p><p>que estão rejeitando). É um problema insuportável do ovo e da galinha que</p><p>pode reduzir muito suas oportunidades potenciais. É por isso que a</p><p>reformulação mais importante quando se está projetando sua carreira é esta:</p><p>você nunca procura um emprego, você procura uma oferta.</p><p>Crença Disfuncional: Estou à procura de emprego.</p><p>Reformulação: Estou atrás de uma quantidade de ofertas.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Agora, isso pode não parecer uma grande distinção no início, mas é crucial.</p><p>Muda tudo – os trabalhos que você considera, como você aborda cartas de</p><p>apresentação e currículos, como você entrevista, como fecha o negócio e,</p><p>finalmente, como encontra as oportunidades que está procurando. O maior</p><p>impacto desta reformulação é na sua mentalidade. Você passa de uma pessoa</p><p>decidindo se aceita ou não esta oferta (sobre a qual você não sabe nada) para</p><p>uma pessoa que está curiosa para descobrir que tipo de oferta interessante</p><p>pode encontrar nessa organização. Você passa do julgamento para a exploração,</p><p>do negativo para o positivo – e isso faz uma enorme diferença.</p><p>Quando você está procurando um emprego, seu foco está naquele emprego, e</p><p>seu comportamento gira em torno de convencer a instituição a contratá-lo e</p><p>transmitir que aquele é o seu trabalho perfeito, absoluto que você nasceu</p><p>querendo. Você tem que convencer os encarregados de preencher a posição que</p><p>você e a descrição do trabalho são o ajuste perfeito (casamento de conto de</p><p>fadas, um não pode viver sem o outro, têm que estar juntos para sempre). Como</p><p>você não sabe muito sobre a natureza do trabalho, tem que fingir entusiasmo</p><p>para fazer este processo funcionar. Em outras palavras, você mente ou não se</p><p>candidata.</p><p>E ninguém gosta de mentir.</p><p>Mas quando você está procurando uma oferta em vez de um trabalho –</p><p>quando seu objetivo muda de conseguir um emprego para conseguir o máximo</p><p>possível de ofertas de emprego – tudo muda. Você não precisa ser enganoso.</p><p>Você pode ser genuinamente curioso sobre o trabalho, porque é totalmente</p><p>verdade que você gostaria de ter a oportunidade de avaliar a oferta. Não é uma</p><p>questão de semântica; é uma questão de autenticidade. Quando você reformula</p><p>a pesquisa de trabalho em uma pesquisa de oferta, você acaba ficando mais</p><p>autêntico, enérgico, persistente e brincalhão enquanto corre atrás de sua</p><p>próxima posição ou oportunidade. E, ironicamente, isso acaba aumentando suas</p><p>chances de conseguir a oferta. As pessoas não contratam currículos; elas</p><p>contratam pessoas. Pessoas de quem elas gostam. Pessoas que são</p><p>interessantes. E você sabe quais tipos de pessoas atraem mais o nosso interesse</p><p>(seja para um encontro romântico ou para um emprego)? As que demonstram</p><p>mais interesse em nós.</p><p>Isso remonta à curiosidade – uma das atitudes mais importantes do design de</p><p>vida. Se você está procurando seu primeiro emprego, mudando de carreira ou</p><p>escolhendo uma carreira bis, você tem que ser genuinamente curioso. É para</p><p>isso que servem as conversas e experiências-protótipo: para estar aberto e</p><p>curioso com as possibilidades. Chamamos isso de perseguir maravilhas latentes,</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>o que significa você se perguntar: “Haverá 20% de chance de que algo que me</p><p>interessa esteja acontecendo em algum lugar nesta organização? Ou uma</p><p>chance de 10%?” Se a resposta for sim, você não quer descobrir o que é? É claro</p><p>que sim! Esse desejo de descobrir permite que você demonstre uma curiosidade</p><p>genuína e uma vontade de ir atrás das maravilhas latentes em uma organização</p><p>que você poderia ter descartado desnecessariamente por achar que não</p><p>combinava com você.</p><p>Você não tem como saber a natureza do trabalho até que tenha investigado</p><p>mais, até que tenha ido atrás da oferta. Você não tem como saber só por meio de</p><p>uma descrição de trabalho incompleta. Você não tem como saber baseado em</p><p>noções preconcebidas sobre como é fazer esse trabalho ou trabalhar para essa</p><p>empresa.</p><p>Você raramente sabe muito sobre um trabalho antes de receber a oferta,</p><p>portanto vá atrás de todas as ofertas possíveis. Tudo que você precisa é a</p><p>possibilidade de que uma delas combine com você. É isso, só uma possibilidade.</p><p>E talvez um dia, quando a NACE fizer o seu estudo anual sobre o que os</p><p>formandos universitários procuram em um emprego, a primeira coisa não será</p><p>a natureza do trabalho. Será a maravilha latente. Será mais possibilidades do</p><p>que pressuposição.</p><p>O Conto de Fadas do Emprego Encantado</p><p>Kurt estabeleceu conversas genuínas e encontrou um bom emprego que</p><p>conseguiu transformar em um ótimo emprego. Você pode fazer o mesmo.</p><p>Sabemos que é difícil. Sabemos que dá muito trabalho e às vezes é assustador.</p><p>Mas também é incrivelmente interessante e a única maneira que conhecemos</p><p>de entrar no mercado oculto de trabalho. Até certo ponto, é também um jogo de</p><p>números – quanto mais contatos você fizer, mais protótipos você executar, mais</p><p>oportunidades se transformarão em ofertas.</p><p>Considere as alternativas.</p><p>Trinta e oito pedidos de emprego e nenhuma oferta.</p><p>Cinquenta e seis conversas e uma grande rede de contatos profissionais.</p><p>De qual abordagem você gosta mais? Agora é com você.</p><p>É mais do que possível usar o pensamento de design para encontrar o seu</p><p>primeiro emprego, transformar seu trabalho atual, projetar seu próximo</p><p>trabalho e criar uma carreira que integra sua Visão de Trabalho e sua Visão de</p><p>Vida. Na realidade, nós recomendamos que o faça, porque não há nenhuma Fada</p><p>Madrinha do Trabalho vindo salvá-lo. A ideia de que o emprego dos seus sonhos</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>já existe, prontinho, apenas esperando por você, é um conto de fadas.</p><p>Você projeta um emprego “realmente fantástico e inacreditavelmente</p><p>próximo de um sonho” do mesmo jeito que você projeta sua vida – pensando</p><p>como um designer, gerando opções, executando protótipos e fazendo as</p><p>melhores escolhas possíveis.</p><p>E aprendendo a viver com essas escolhas.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>P</p><p>9</p><p>Escolhendo Ser Feliz</p><p>rojetar uma carreira e uma vida não depende só de muitas opções e boas</p><p>alternativas, como já discutimos, mas também da capacidade de fazer boas</p><p>escolhas e viver as escolhas com confiança, o que significa que você as aceita e</p><p>não duvida do que escolheu. Não importa onde você começou, em que fase da</p><p>vida e da carreira você está, quão boas ou ruins você acha suas circunstâncias,</p><p>apostaríamos todo nosso dinheiro que há um objetivo comum que todo mundo</p><p>tem na vida que projeta:</p><p>Felicidade.</p><p>Quem não quer ser feliz? Queremos ser felizes, queremos que nossos alunos</p><p>sejam felizes e queremos que você seja feliz.</p><p>No design de vida, felicidade significa que você escolhe ser feliz.</p><p>Escolher a felicidade não significa estalar os dedos três vezes e fazer um</p><p>desejo. O segredo para a felicidade no design de vida não é fazer a escolha certa;</p><p>é aprender a escolher bem.</p><p>Você pode fazer todo o trabalho no design de vida – imaginar, prototipar e</p><p>agir –, o que leva a alguns planos de design de vida alternativos bem legais, mas</p><p>isso não garante que será feliz e terá tudo aquilo que deseja. Talvez você acabe</p><p>feliz, tendo tudo o que quer, talvez não. Dizemos “talvez” porque ser feliz e</p><p>conseguir o que você quer não é questão de riscos futuros e incógnitas ou</p><p>escolher as alternativas certas; é questão de como você escolhe e vive com suas</p><p>escolhas depois que elas estão feitas. Todo o seu trabalho árduo pode ser</p><p>desfeito por uma má escolha. Não tanto</p><p>por fazer a escolha errada (é um risco,</p><p>mas, honestamente, não tão grande, e geralmente tem volta), mas por pensar da</p><p>forma errada sobre sua escolha. Adotar um processo de escolha bom, saudável e</p><p>inteligente é imperativo a um resultado feliz. Muitas pessoas usam um modelo</p><p>de escolha que as separa das suas epifanias mais importantes e as impede de</p><p>ficar feliz com suas escolhas depois de feitas. Vemos isso o tempo todo e</p><p>estudos concordam: muita gente garante um resultado infeliz pela forma como</p><p>aborda este passo fundamental do design – a escolha.</p><p>Crença Disfuncional: Para ser feliz, preciso fazer a escolha certa.</p><p>Reformulação: Não há escolha certa – só boas escolhas.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Por outro lado, escolher bem garante um resultado feliz e vital e prepara para</p><p>mais opções e um futuro melhor.</p><p>O Processo de Escolha do Design de Vida</p><p>No design de vida, o processo de escolha tem quatro etapas. Primeiro, você</p><p>reúne e cria algumas opções, depois você reduz a lista às suas principais</p><p>alternativas, então você finalmente escolhe e depois, por último, mas não menos</p><p>importante, você... sofre com aquela escolha. Sofre pensando se fez a coisa certa.</p><p>Na verdade, incentivamos você a passar incontáveis horas, dias, meses ou até</p><p>mesmo décadas sofrendo.</p><p>Brincadeira! É possível perder anos sofrendo com as escolhas que fizeram,</p><p>mas o sofrimento é um desperdício. Claro que não queremos que você sofra e</p><p>isso não é a quarta etapa do processo de escolha no design de vida.</p><p>A quarta etapa do processo é deixar de lado as opções desnecessárias e seguir</p><p>em frente, aceitando inteiramente a nossa escolha para que possamos</p><p>aproveitá-la ao máximo.</p><p>Precisamos entender cada uma dessas etapas para perceber a diferença</p><p>importante entre uma boa escolha, que tem resultados mais positivos e mais</p><p>perspectivas, além de uma má escolha que nos predestina a uma experiência</p><p>infeliz.</p><p>Etapa 1: Reunir e Criar Opções</p><p>Reunir e criar opções é o que discutimos ao longo deste livro. Chegar a boas</p><p>conclusões, explorar opções sobre onde se envolver com o mundo e prototipar</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>experiências são as maneiras que seu processo de design de vida usa para gerar</p><p>ideias, alternativas e opções viáveis que você pode seguir (sempre, é claro, com</p><p>uma mentalidade curiosa pela qual você está procurando maravilhas latentes e</p><p>abordada com uma tendência à ação versus pensar demais antes de agir). Não</p><p>vamos gastar mais tempo aqui com a criação de opções, além de pedir</p><p>(novamente) para que escreva as suas Visões de Trabalho e de Vida, criar</p><p>mapas da mente, fazer as suas três alternativas do Plano de Odisseia, e criar</p><p>conversas e experiências-protótipo. Você pode usar esses recursos para criar</p><p>opções em qualquer área da vida.</p><p>Etapa 2: Reduzir a Lista</p><p>Algumas pessoas acham que não têm alternativas o suficiente (se é que têm</p><p>alguma). Outras, como a maioria dos designers, acham que têm alternativas</p><p>demais. Se você tem poucas, então volte para todas as sugestões que já fizemos</p><p>(Etapa Um) e invista o tempo necessário para cultivar mais ideias e opções.</p><p>Pode levar semanas ou meses para formar uma lista de que você realmente</p><p>goste, o que é justo. Afinal, é a sua vida que estamos projetando aqui e isso não</p><p>vai acontecer da noite para o dia.</p><p>Agora, quando tiver uma lista robusta de opções, provavelmente você terá</p><p>dificuldades com tantas possibilidades. Ver e rever todas as ideias que teve e</p><p>todas as sugestões que recebeu e tudo o que poderia fazer com a vida... pode ser</p><p>meio assustador. Você não consegue escolher – ou pelo menos não com</p><p>confiança –; então acha que fez algo errado. Você não deve ter trabalhado o</p><p>suficiente ou ter entendido suas opções bem o bastante. “Se eu tivesse melhores</p><p>informações e uma imagem mais clara dessas opções, saberia qual delas</p><p>escolher.” E lá vai você fazer mais pesquisa, entrevista e prototipagem. Mas não</p><p>funciona. Não funciona porque, embora a falta de informação possa ser um</p><p>problema real, geralmente não é a questão central. Quando nos aproximamos</p><p>de uma decisão importante, em geral já fizemos nosso dever de casa. Podemos</p><p>não saber tudo o que há para saber – na verdade, toda a nossa investigação</p><p>torna mais evidente o que não sabemos, portanto, mais pesquisas podem</p><p>mesmo ser úteis –, mas não é esse o problema. Se você é como a maioria, o</p><p>motivo pelo qual seu processo de escolha está empacado não é falta de</p><p>conhecimento – é o tamanho da sua lista e sua relação com todas essas opções.</p><p>Podemos deixar este ponto mais claro observando as pessoas comprando</p><p>geleia.</p><p>A professora Sheena Iyengar, da Columbia Business School, é uma psicóloga e</p><p>economista especializada em tomadas de decisão. Seu famoso “estudo da geleia”</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>foi feito usando geleias especiais em uma mercearia. Uma semana, os</p><p>pesquisadores montaram uma mesa na loja para exibir seis tipos diferentes de</p><p>geleia (com sabores atraentes, como kiwi com laranja e morango com lavanda).</p><p>Observaram então o comportamento dos fregueses: quem parou para olhar e,</p><p>daqueles que pararam, quem realmente comprou um pote. Na primeira semana,</p><p>com seis geleias em exibição, 40% dos compradores pararam para ver as seis</p><p>geleias e cerca de um terço deles comprou um pote – mais ou menos 13% dos</p><p>compradores.</p><p>Algumas semanas depois, na mesma loja e pelo mesmo intervalo de tempo,</p><p>eles voltaram com 24 geleias. Desta vez, 60% dos compradores na loja pararam,</p><p>um aumento de 50% em relação às seis geleias! Mas com 24 potes na vitrine</p><p>apenas 3% dos compradores adquiriram uma.</p><p>O que essa pesquisa nos diz? Primeiro, que adoramos ter várias opções</p><p>(“Opa! 24 geleias?! Vamos dar uma olhada!”). E, segundo, que não sabemos lidar</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>com muitas delas (“Bem... são tantas... não sei escolher, vamos só comprar um</p><p>pouco de queijo”). Na verdade, a maioria das pessoas só consegue escolher</p><p>efetivamente três a cinco opções. Se o número de alternativas aumenta, nossa</p><p>capacidade de escolha começa a diminuir – e, se aumenta demais, nossa</p><p>capacidade congela completamente. É só como funciona nosso cérebro. Somos</p><p>atraídos pelas alternativas e nossa cultura moderna quase idolatra opções.</p><p>Tenha muitas opções! Mantenha suas opções abertas! Não fique trancado! Nós</p><p>ouvimos esse tipo de pensamento o tempo todo e parece fazer sentido, é</p><p>totalmente possível ter opções demais. E, se você ainda leva em conta a internet</p><p>e o fato de que agora podemos estar cientes aparentemente de todas as ideias e</p><p>atividades em segundos no Google, a maioria de nós está sofrendo um ataque</p><p>pandêmico de excesso de alternativas.</p><p>A chave é reformular sua opinião sobre opções, percebendo que, se você tem</p><p>muitas, você realmente não tem nenhuma. Se você congelar na frente de sua</p><p>assustadora lista de possibilidades, então, na verdade, você não tem opções.</p><p>Lembre-se de que as opções só têm valor quando escolhidas e efetuadas. Muitas</p><p>vezes ensinamos aos nossos alunos que quando uma opção cresce torna-se uma</p><p>escolha. Assim, quando você tem 24 opções de geleia, você na verdade não tem</p><p>opções. Quando você entende que, ao fazer escolhas, 24 é igual a zero (e, rapaz,</p><p>é difícil acreditar quando você gosta das suas opções e trabalhou tanto para</p><p>encontrá-las), você está livre para tomar o próximo passo: redução.</p><p>Afinal, o que fazer com tantas opções? É simples: livre-se de algumas. Em</p><p>primeiro lugar, se muitas das suas opções se agruparem em categorias, você</p><p>pode dividir a lista em outras menores, o que pode ajudar a encontrar a melhor</p><p>opção de cada categoria. Mas, finalmente, você se encontrará de novo com</p><p>opções demais e precisará se livrar de muita</p><p>geleia. Como? Basta riscá-la da</p><p>lista.</p><p>Se você tem uma lista de 12 opções, risque sete, refaça a sua lista com as</p><p>cinco restantes e prossiga para a terceira etapa.</p><p>Nossos estudantes e clientes ficam histéricos com essa ideia.</p><p>“Você não pode simplesmente riscar as opções!”</p><p>“E se eu riscar a opção errada?”</p><p>Entendemos. Mas estamos falando sério – risque as opções. Lembre-se: se</p><p>você tem muitas opções, você não tem nenhuma, então você não tem nada a</p><p>perder. E você não vai cortar a opção errada. Chamamos isso de Efeito Pizza-</p><p>Churrasco. Todos nós já passamos por isso. Ed enfia a cabeça em seu escritório</p><p>e diz: “Oi, Paula, vamos sair para almoçar. Quer vir?”</p><p>“Quero!”</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>“Estamos entre pizza e churrasco... você tem alguma preferência?”</p><p>“Ah, tanto faz!”</p><p>“Ok, vamos comer uma pizza então.”</p><p>“Não, espere. Eu quero churrasco!”</p><p>Nessa situação, quando você deu sua primeira resposta (“tanto faz”), você</p><p>achava que estava falando sério. Você não sabia que tinha uma preferência até</p><p>que uma decisão não desejada ocorresse como um fato consumado. Só depois de</p><p>a escolha ter sido feita você se deu conta de sua preferência. Portanto, você não</p><p>tem nada a perder encurtando a sua lista de opções. Se eliminar as erradas,</p><p>saberá imediatamente. Você pode ter que chegar a ponto de eliminar sete das</p><p>12 opções e fazer uma lista nova de apenas cinco antes de se dar conta, mas, se</p><p>estiver errado, saberá logo. Confie em nós quando dizemos que você pode</p><p>confiar em si mesmo. E se você achar que não consegue escolher entre as cinco</p><p>últimas alternativas verifique qual de duas razões bem diferentes pode explicar.</p><p>O motivo mais comum é que você ainda está sofrendo por perder as sete outras</p><p>opções e não quer deixá-las de lado. Se for o caso, então faça o que precisa para</p><p>encurtar sua lista. Queime a lista das sete que rejeitou, faça uma pausa de um ou</p><p>dois dias e volte à sua lista de cinco e a trate como a lista (não a lista encurtada),</p><p>mas vá tocando em frente. Se, no entanto, você não consegue escolher da sua</p><p>lista de cinco porque realmente não tem preferência ou vê diferenças</p><p>significativas entre elas, então já ganhou! Você acabou de descobrir que está em</p><p>uma situação impossível de perder. Isso significa que todas as cinco opções são</p><p>estrategicamente válidas para você, sem diferença real. Todas funcionam, o que</p><p>deixa você escolher com base em considerações secundárias (o caminho é mais</p><p>rápido, o logotipo é legal, a história será mais legal de contar em festas).</p><p>O ponto é que você quer sair da loja com um pouco de geleia.</p><p>Etapa 3: Escolha com Discernimento</p><p>Feito o trabalho preliminar de reunir e reduzir (e, sim, você precisa reunir</p><p>muitas opções no início, mesmo considerando o excesso de escolhas, porque aí</p><p>você estará escolhendo da melhor lista), começa a parte difícil: o processo de</p><p>escolha.</p><p>Para se escolher bem, precisamos entender como funciona o cérebro durante</p><p>o processo de escolha. De onde vêm as boas escolhas e como sabemos quando</p><p>sabemos? Felizmente, estamos agora vivendo em uma era de progresso sem</p><p>precedentes na pesquisa cerebral e estamos aprendendo muito sobre como</p><p>pensamos, lembramos e decidimos. Em 1990, John Mayer e Peter Salovey</p><p>escreveram o influente artigo acadêmico que lançou o conceito de “inteligência</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>emocional” e propôs que, para alcançar sucesso e felicidade, nosso QE é tão</p><p>importante quanto nosso QI, e às vezes ainda mais importante, ao medir a nossa</p><p>inteligência cognitiva.[1] Em 1995, Dan Goleman, um escritor de ciência do New</p><p>York Times, popularizou essas ideias em seu livro Emotional Intelligence e um</p><p>fenômeno cultural foi lançado.[2] “Inteligência emocional” é uma expressão que</p><p>todo mundo já ouviu e respeita, mas pouca gente entende plenamente o que</p><p>significa e menos gente ainda sabe aproveitar o conceito.</p><p>O que acontece é que a parte do cérebro que está trabalhando para nos</p><p>ajudar a fazer as melhores escolhas são os gânglios basais. É parte do antigo</p><p>cérebro basal, portanto é desligado dos nossos centros verbais e não se</p><p>comunica por palavras. A comunicação é emocional e por meio de conexões</p><p>com os intestinos – por isso sentimos visceralmente. Goleman chama as</p><p>memórias que informam a função de guiar a escolha no cérebro de “sabedoria</p><p>das emoções”. Por essa expressão ele se refere às experiências armazenadas</p><p>daquilo que funcionou ou não na vida e o que aproveitamos daí para avaliar</p><p>uma decisão. Nossa própria sabedoria nos é então disponibilizada por meio de</p><p>emoções (como sentimentos) e do intestino (como resposta física, visceral).</p><p>Portanto, a fim de tomarmos uma boa decisão, precisamos de acesso aos nossos</p><p>sentimentos e reações viscerais às alternativas.</p><p>Lembre-se da resposta padrão e de empacar numa decisão: preciso de mais</p><p>informações! Dá para ver agora que disso é exatamente o que não precisamos. É</p><p>o nosso cérebro barulhento falando sem parar enquanto tentam cogitar o</p><p>caminho de uma boa decisão que está atrapalhando a influência das nossas</p><p>sensações viscerais. É muito importante ter boas informações disponíveis –</p><p>pesquisar muito, anotar muito, fazer planilhas e comparações e falar com</p><p>especialistas. Mas, ao terminar o trabalho – liderado pelo córtex pré-frontal do</p><p>cérebro, responsável pelas funções executivas de codificação, listagem e</p><p>categorização –, precisamos de acesso a esse centro de sabedoria onde nosso</p><p>conhecimento emocional bem informado pode nos ajudar a discernir as</p><p>melhores escolhas.</p><p>Definimos como discernimento a tomada de decisão que emprega mais de</p><p>uma forma de conhecimento. Nós usamos principalmente o conhecimento</p><p>cognitivo – o conhecimento bom, objetivo, informado, o tipo de saber que dá a</p><p>nota mais alta na escola. Mas também temos outras formas de conhecimento,</p><p>incluindo as formas afetivas de conhecimento intuitivo, espiritual e emocional.</p><p>Acrescente ainda o conhecimento social (com os outros) e o conhecimento</p><p>sinestésico (no corpo). Uma amiga de Dave, uma terapeuta incrivelmente</p><p>qualificada, sempre sabia quando estava chegando à questão importante com</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>um cliente: seu joelho esquerdo começava a doer. Ela não sabia por que era o</p><p>joelho esquerdo, mas depois de anos de prática passou a confiar no que o joelho</p><p>tinha para lhe dizer. Porque ela aprendeu a ouvir o joelho, foi capaz de tomar</p><p>melhores decisões e servir melhor seus clientes.</p><p>A chave para a Etapa Três é tomar decisões com discernimento, usando mais</p><p>de uma forma de conhecimento e, especialmente, não se restringindo ao</p><p>julgamento cognitivo, que é informado, mas não confiável por si só. Também</p><p>não estamos sugerindo tomar apenas decisões emocionais. Todos nós sabemos</p><p>exemplos de emoções gerando problemas (embora geralmente essas sejam</p><p>emoções de impulso, o que é bem diferente). Então não estamos dizendo para</p><p>trocar o cérebro pelo coração ou pelas vísceras. Estamos convidando você a</p><p>integrar todas as suas faculdades decisórias, deixando algum espaço para que as</p><p>formas emocionais e intuitivas de conhecimento possam surgir durante o</p><p>processo.</p><p>Em outras palavras, não se esqueça de ouvir o joelho, os intestinos e o</p><p>coração.</p><p>Fazer isso exige que você eduque e amadureça seu acesso e sua consciência</p><p>das vias de conhecimento emocional/intuitivo/espiritual (ou como quer que</p><p>você chame esses aspectos afetivos da humanidade). Há séculos, o caminho</p><p>mais frequentemente recomendado para tal maturidade é o de práticas</p><p>pessoais, como manter um diário, orar, praticar exercícios espirituais,</p><p>meditação e práticas físicas integradas, como ioga ou Tai Chi.</p><p>Nós não temos o espaço nem o conhecimento necessário</p><p>para treiná-lo na</p><p>formação de seu conjunto de práticas pessoais, mas incentivamos você a fazê-lo.</p><p>A razão por que essas práticas funcionam para melhorar o acesso à maior</p><p>sabedoria para discernir uma boa decisão tem a ver precisamente com a</p><p>natureza dessas ideias. Formas emocionais, intuitivas e espirituais de</p><p>conhecimento geralmente são sutis, silenciosas, mesmo tímidas. Raramente as</p><p>pessoas têm acesso à sabedoria mais profunda correndo para entregar um</p><p>trabalho no prazo, batendo papo ou mexendo no computador. É mais calmo,</p><p>mais silencioso. Essas práticas são apenas isso – práticas. Nós praticamos</p><p>regularmente, entra mês, sai mês, especialmente de férias, quando não há</p><p>pressão para trabalhar e podemos nos concentrar apenas em treinar e ganhar</p><p>força e equilíbrio. A hora de ganhar maturidade pela prática não é nas decisões</p><p>de campeonato, quando as coisas são estressantes e exigentes. Tomadas de</p><p>decisão são estressantes; portanto, o melhor momento para se preparar para</p><p>uma boa escolha é quando não há escolha em jogo. Aí é que você pode investir</p><p>em sua inteligência emocional e maturidade espiritual para que esses músculos</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>estejam fortes e treinados para a hora da decisão.</p><p>O melhor momento de se preparar para a Etapa Três é meses ou anos antes</p><p>da escolha. Isso significa que o melhor momento é agora – hoje é o melhor dia</p><p>para começar esse investimento.</p><p>Aqui está uma técnica específica que você pode tentar e que enfatiza o acesso</p><p>à sabedoria de suas emoções: grokkar.</p><p>Grokkando</p><p>No clássico de ficção científica dos anos 1960 Um estranho numa terra estranha</p><p>(Stranger in a Strange Land), Robert Heinlein inventou a palavra “grok” para</p><p>descrever uma forma de conhecimento que os marcianos empregam. Significa</p><p>entender algo de maneira tão profunda e completa que você sente uma</p><p>comunhão com aquilo. Devido à sua raridade, os marcianos não só sabem o que</p><p>é água ou bebem água – eles grokkam água. Agora grok entrou em uso cultural</p><p>mais comum: “Eu grokkei” é como um “eu saquei”. Nada mais. É a versão</p><p>bombada do “eu saquei”.</p><p>Quando você finalmente começa a fazer uma escolha de sua lista reduzida de</p><p>alternativas, já avaliou cognitivamente as questões, contemplou emocional e</p><p>meditativamente as alternativas, pode ser hora de grokkar. Para grokkar uma</p><p>escolha, você não pensa sobre ela – você se torna ela. Digamos que você tem</p><p>três alternativas. Selecione qualquer uma delas e não pense mais nisso. Escolha</p><p>pensar nos próximos três dias que você é a pessoa que tomou a decisão de</p><p>selecionar a Alternativa A. Esta é a sua realidade agora. Quando você escova os</p><p>dentes pela manhã, faz isso por ter selecionado a Alternativa A. Quando você</p><p>está parado com seu carro no sinal vermelho, está esperando para seguir o</p><p>caminho que escolheu com a Alternativa A. Você pode dizer coisas para outras</p><p>pessoas sobre isso – como “Pois é, vou me mudar para Pequim em maio!” –, mas</p><p>talvez prefira não dizer, porque essas declarações podem causar confusão mais</p><p>tarde. Mas você entendeu a ideia: você só vai viver em sua cabeça como a</p><p>pessoa na realidade da Alternativa A. Você não está pensando sobre a</p><p>Alternativa A do ponto de vista da sua realidade atual de tomador de decisões.</p><p>Você está vivendo calmamente como aquele que escolheu A. Depois de um a</p><p>três dias (quanto tempo for necessário pra você, como preferir), tire pelo menos</p><p>um ou dois dias de folga para zerar e voltar ao normal. Depois faça a mesma</p><p>coisa com a Alternativa B, seguido de outro período de descanso, e depois com a</p><p>Alternativa C. Então mais um descanso e, finalmente, uma reflexão cuidadosa</p><p>sobre como foram essas experiências e quais destas pessoas você mais gostaria</p><p>de ser. Esta técnica não é garantida (nenhuma técnica é garantida), mas você</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>pode ver como a intenção aqui é permitir que suas formas alternativas de</p><p>conhecimento – emocional, espiritual, social, intuitiva – tenham algum espaço</p><p>para se expressar a você e, assim, complementar o conhecimento cognitivo e</p><p>avaliador que, se você é como a maioria, é a forma dominante e mais confiável</p><p>de pensar e escolher.</p><p>Etapa 4: Sofrer Seguir em Frente</p><p>Antes de discutir o passo de deixar para lá, é importante explicar, pelo menos</p><p>por alto, por que a Etapa Quatro não é “sofrer”. Sofrer é mais ou menos assim:</p><p>“Será que fiz a coisa certa?”</p><p>“Tenho certeza de que esta é mesmo a melhor decisão?”</p><p>“E se eu tivesse escolhido a opção quatro?”</p><p>“Será que eu posso voltar e fazer de novo?”</p><p>Se você não faz ideia do que estamos falando aqui, considere-se</p><p>excepcionalmente sortudo, agradeça a seus pais por um bom DNA de química</p><p>cerebral e pule esta parte. Mas, se você é como a maioria de nós, estas são</p><p>perguntas conhecidas. Ouvimos muitos gemidos de reconhecimento quando</p><p>dizemos: “E o último passo é... Sofrer sem parar sobre a decisão!” Esses gemidos</p><p>são um sinal de nossa humanidade compartilhada nessa experiência decisória.</p><p>A razão pela qual estamos sofrendo é que nos preocupamos com nossas vidas e</p><p>com a vida dos outros. Essas decisões são importantes e queremos fazer o nosso</p><p>melhor para dar ao futuro sua melhor chance possível. Queremos tomar boas</p><p>decisões, mas é claro que não temos como saber de imediato se deu certo:</p><p>surpresas estão sempre presentes e ninguém pode fazer previsões com</p><p>precisão. Então, como vencemos essa agonia pós-decisória?</p><p>Acontece que nossa mentalidade para tomar uma boa decisão é tão</p><p>importante quanto a decisão que tomamos. Parece óbvio que a melhor maneira</p><p>de ficar feliz com uma escolha é fazer a melhor escolha – óbvio, mas impossível.</p><p>Você não pode fazer “a melhor escolha”, porque você não pode saber qual foi a</p><p>melhor escolha até que todas as consequências tenham ocorrido. Você pode se</p><p>empenhar em fazer a melhor escolha possível, dado o que conhece no momento,</p><p>mas, se o seu objetivo é “fazer a melhor escolha”, você não será capaz de saber</p><p>de imediato se isso aconteceu. Sua incapacidade de saber o mantém focado na</p><p>dúvida de se fez ou não a coisa certa, ensaiando as alternativas que não foram</p><p>escolhidas. Isso é o que chamamos de sofrer. E toda essa angústia drena a</p><p>satisfação da escolha que você fez e o distrai de seguir em frente com a decisão</p><p>tomada.</p><p>Dan Gilbert, de Harvard, olhou para essa área e demonstrou o efeito de deixar</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>suas opções de lado em um estudo avaliando as decisões tomadas por um grupo</p><p>de pessoas sobre diferentes pinturas de Monet.[3] Ele pediu que classificassem</p><p>cinco obras diferentes de Monet, numerando-as de acordo com sua ordem de</p><p>preferência. Ele então disse que os quadros classificados como três e quatro</p><p>pelos participantes tinham cópias extras que os indivíduos podiam levar para</p><p>casa. Claro, a maioria das pessoas levou o que tinham classificado como número</p><p>três. Então, curiosamente, os experimentadores disseram a algumas das</p><p>pessoas que podiam trocar o que levaram por outro mais tarde, se quisessem, e</p><p>a outras disseram que qualquer pintura que escolhessem levar para casa seria a</p><p>definitiva – sem troca.</p><p>Após algumas semanas, os experimentadores voltaram aos participantes.</p><p>Quem tinha sido informado de que podia trocar sua cópia – mesmo que não o</p><p>tivesse feito –, ficou menos feliz com sua escolha do que as pessoas que</p><p>escolheram o mesmo quadro, mas tinham sido informadas de que a escolha era</p><p>irreversível. Acontece que a reversibilidade não é propícia para estabelecer</p><p>felicidade com uma decisão. Aparentemente, só o convite para reconsiderar e</p><p>“manter as opções abertas” nos faz duvidar das nossas escolhas e desvalorizá-</p><p>las.</p><p>Mas espere... fica ainda pior. Em seu livro O Paradoxo da Escolha (The</p><p>Paradox of Choice), o pesquisador</p><p>Barry Schwartz nos informa que essa</p><p>característica irritante de como nosso cérebro lida com decisões vai ainda mais</p><p>longe.[4] Quando tomamos uma decisão a partir de muitas opções ou mesmo só</p><p>achando que existem muitas outras opções que nem conhecemos, ficamos</p><p>menos felizes com a nossa escolha. O problema aqui não é apenas as opções que</p><p>tivemos e não escolhemos (opções que “mantivemos em aberto”), mas também</p><p>aquela montanha de alternativas que nem sequer deu tempo de verificar. A</p><p>percepção de que há milhões de possibilidades que poderiam ser ótimas, mas</p><p>nem chegamos a considerar, é uma força poderosa contra estar em paz com o</p><p>nosso processo de escolha; mesmo se não sabemos o que era, deve existir uma</p><p>opção melhor por aí e nós a perdemos. No mundo globalizado e conectado há</p><p>sempre um milhão de opções. Então somos mais propensos à infelicidade com</p><p>as nossas escolhas do que qualquer outra geração na história.</p><p>Sorte nossa!</p><p>A chave é lembrar que escolhas imaginárias não existem de verdade, pois não</p><p>são acionáveis. Não estamos tentando viver uma vida de fantasia; estamos</p><p>tentando projetar uma vida real e possível. Se nos encarregarmos de saber tudo</p><p>sobre nossas decisões e conhecer todas as opções possíveis (o que temos que</p><p>fazer, claro, se estivermos atrás da “melhor escolha”), nunca chegaremos a uma</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>decisão. No design de vida sabemos que existem inúmeras possibilidades, mas</p><p>esse fato não nos atrapalha. Nós temos prazer em explorar algumas</p><p>possibilidades e agir, começando com uma escolha. Só podemos construir nosso</p><p>caminho por meio da ação. Por isso, vamos ficar cada vez melhores na</p><p>construção se ficarmos cada vez melhores em deixar de lado as opções</p><p>desnecessárias. (E você agora tem a segurança de saber que sempre poderá</p><p>encontrar mais opções, como encontrou estas.) Isso é fundamental para</p><p>escolher a felicidade e para estar feliz com nossas escolhas.</p><p>Quando em dúvida... abra mão e siga em frente.</p><p>É simples assim.</p><p>Não estamos sugerindo que você finja que não sabe de nada sobre os</p><p>caminhos ignorados ou dizendo que nunca mais vai descobrir algo no meio do</p><p>caminho e decidir voltar para fazer uma mudança. O que estamos dizendo é que</p><p>há uma maneira mais inteligente de prosseguir que aumentará</p><p>significativamente sua capacidade de obter sucesso na implementação de suas</p><p>escolhas e de continuar a jornada feliz e satisfeito.</p><p>Faça-se o favor de arrumar muitas opções e reduzir a lista para um tamanho</p><p>conciso e prático (cinco no máximo); faça a melhor escolha possível, dados o</p><p>tempo e os recursos disponíveis, e siga em frente. Observe que, se você estiver</p><p>fazendo isso com repetição de protótipos, você não tem muito em jogo e será</p><p>capaz de fazer ajustes enquanto progride antes de atingir um investimento</p><p>realmente significativo. E quando fizer uma escolha aceite-a e siga com ela.</p><p>Quando as perguntas agonizantes surgirem, expulse os pensamentos e</p><p>direcione a sua energia para viver em harmonia com as decisões tomadas.</p><p>Preste atenção e aprenda enquanto progride, é claro, mas não fique com o olhar</p><p>fixo no espelho retrovisor do arrependimento decisório.</p><p>Esse processo de desapego baseia-se principalmente em disciplina pessoal.</p><p>Mantenha à mão seu reformulado entendimento do processo de tomadas de</p><p>decisão e certifique-se de vencer a discussão interna quando há a tentação de</p><p>relembrar e remoer. Coloque em prática o apoio de que precisa para se manter</p><p>firme – encontre um colaborador ou uma equipe de design de vida que o ajude a</p><p>lembrar por que fez a sua escolha ou escolhas; anote no diário a sua decisão</p><p>para reler quando estiver confuso. Descubra o que funciona para que você</p><p>possa desfrutar plenamente de suas escolhas.</p><p>Crença Disfuncional: Felicidade é ter tudo.</p><p>Reformulação: Felicidade é abrir mão do que você não precisa.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Abrir Mão Agarrando</p><p>Andy era um dos melhores alunos da faculdade de medicina. Exceto que ele não</p><p>era realmente um aluno de medicina, mas de saúde pública ou de</p><p>empreendedorismo de tecnologia médica. Andy tinha duas ideias principais</p><p>sobre seu futuro e uma de reserva, tudo em resposta à mesma grande missão:</p><p>consertar o sistema de saúde.</p><p>Andy conseguia vislumbrar que o sistema de saúde precisava de uma reforma</p><p>maciça, com aumentos significativos nos cuidados preventivos e na gestão do</p><p>bem-estar para tentar consertar os custos econômicos desproporcionais da</p><p>saúde e a inacessibilidade da medicina para todos que não são ricos. Ele achava</p><p>que havia duas maneiras de causar impacto mais eficaz. Poderia tornar-se um</p><p>influente consultor de políticas públicas de saúde ou poderia se tornar um</p><p>empresário de tecnologia médica. Embora estivesse fora de moda entre seus</p><p>amigos considerar um envolvimento no governo e no setor público, Andy via</p><p>que só os poucos que comandavam os controles principais dos cuidados</p><p>médicos estariam em uma posição de causar mudanças profundas. No que diz</p><p>respeito à tecnologia médica, ele sabia que havia muita coisa acontecendo nessa</p><p>esfera e a nova tecnologia poderia estimular mudanças de comportamento que</p><p>poderiam obter tração mais rapidamente, já que se moviam à velocidade do</p><p>mercado e não da política.</p><p>Seu plano reserva era “ser só um médico”. Parecia engraçado falar assim,</p><p>dado quão respeitado o nobre papel de médico é em nossa sociedade e</p><p>especialmente em sua enorme família asiática, mas foi assim mesmo que ele</p><p>disse. Não estava sendo desdenhoso, estava sendo honesto. Seu plano reserva</p><p>era uma rede de segurança no caso de não encontrar um jeito de causar um</p><p>vasto impacto social e precisar redirecionar seus esforços a uma área de ação</p><p>menor. Ele achava que um médico poderia causar um impacto individual dentro</p><p>da sua clínica e possivelmente até mesmo nos hospitais da região. Talvez esse</p><p>fosse um caminho para oferecer um exemplo positivo do que seria um melhor</p><p>sistema de saúde.</p><p>Qual caminho escolher? Na verdade, essa não foi a decisão difícil para ele.</p><p>Andy estava convencido de que a rota política era a mais interessante e</p><p>potencialmente impactante a seguir. A escolha difícil era como fazê-lo. Deveria</p><p>ir direto da faculdade para o mestrado em saúde pública e depois seguir direto</p><p>para Washington? Ou se formar como médico residente e só depois fazer o</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>mestrado? Andy sabia que na cultura médica os doutores são reverenciados e</p><p>seus conselhos sobre todas as coisas médicas têm muito mais peso do que os</p><p>dos não médicos. Ele realmente não acreditava que formar-se em medicina o</p><p>tornaria um político mais inteligente ou mais eficiente, mas ele realmente</p><p>queria fazer a diferença e estava disposto a considerar os oito a dez anos que</p><p>levaria para aumentar sua credibilidade, da faculdade à residência.</p><p>Essa foi uma decisão difícil para ele. Dez anos eram um tempo incrivelmente</p><p>longo para esperar para começar o que ele queria fazer.</p><p>E Andy continuou dando voltas e voltas em sua cabeça, mas não conseguia</p><p>acertar em uma escolha que ele achava boa. Assim que ele decidia entrar logo</p><p>no mestrado, ele dizia: “Mas... se eles não me ouvirem, essa vantagem para</p><p>começar não vai ajudar em nada!” E logo que decidia continuar a formação em</p><p>medicina dizia: “Mas... dez anos é muito tempo para esperar... quem sabe o que</p><p>acontecerá até lá?” Andy vivia às voltas com isso. Ele disse que sentia que seu</p><p>cérebro estava numa roda para hamsters, correndo a noite inteira sem parar.</p><p>Andy parou de pensar na decisão e grokkou. Ao fazê-lo, ele descobriu que o</p><p>Andy Médico se sentia melhor do que o Andy do Mestrado. Enquanto</p><p>caminhava por aí como um cara se tornando um médico, Andy Médico se sentia</p><p>preocupado com aqueles dez anos,</p><p>mas depois pensava: “Sim, é muito tempo.</p><p>Mas estou realmente comprometido com este objetivo de impactar o sistema de</p><p>saúde. Eu sei que o caminho que estou tomando significa que estou fazendo</p><p>tudo que posso para me preparar e dar o melhor de mim. Os problemas ainda</p><p>serão imensos daqui a uma década, não vou perder isso. Eu só não acho que</p><p>poderia viver comigo mesmo se não fizesse o meu melhor.” Em contraste,</p><p>quando se fez a pergunta “e se ninguém me levar a sério sem um diploma</p><p>médico?” ao Andy do Mestrado, ele não soube o que responder; tudo o que</p><p>podia fazer era se sentir mal.</p><p>Por isso optou por terminar a formação em medicina e dedicar os próximos</p><p>dez anos da sua vida para tornar-se um médico licenciado, quase unicamente</p><p>para poder ser um legislador de maior credibilidade no futuro. Ok, escolha feita,</p><p>missão cumprida. Certo?</p><p>Errado.</p><p>Andy ainda tinha que implementar a etapa quatro – abrir mão e seguir em</p><p>frente. Ele rapidamente percebeu por que demos esse nome para o quarto</p><p>passo: o segredo para abrir mão é seguir em frente. Simplesmente deixar para</p><p>lá é incrivelmente difícil – alguns diriam que é impossível. Por exemplo, pense</p><p>em qualquer coisa, exceto um cavalo azul. O que quer que faça, não pense sobre</p><p>ou veja um cavalo azul. Nenhum cavalo azul manchado. Nenhum unicórnio azul.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Nenhum pônei azul com uma sela listrada vermelha e branca e uma fita rosa na</p><p>cauda.</p><p>Por favor, continuem a não visualizar um cavalo azul nos próximos 60</p><p>segundos.</p><p>Certo, como foi? Se você é como todo mundo que a gente conhece, foi</p><p>atropelado por um tropel de cavalos azuis. Esse é o problema em deixar para lá</p><p>– é mais uma inação do que uma ação, e seu cérebro odeia inação, como a</p><p>natureza abomina o vácuo. Portanto, a chave para deixar algo de lado é seguir</p><p>em frente e pegar outra coisa. Coloque sua atenção em algo, não tire.</p><p>Como Andy iria abrir mão da ansiedade e da distração de achar que estava</p><p>jogando fora dez anos da sua vida? Como ele iria apagar todas aquelas imagens</p><p>de começar seu mestrado em saúde pública em apenas dois anos e correr pelos</p><p>salões do Congresso, tornando-se uma nova estrela política, um especialista no</p><p>sistema de saúde? Andy percebeu que a saída era para dentro e perguntou a si</p><p>mesmo: “Como posso seguir em frente e assumir a incumbência de me tornar</p><p>um médico?”</p><p>Logo que fez isso, ele percebeu que sua escolha de Andy Médico lhe trazia um</p><p>plano reserva de graça – tornar-se um médico. Ele sabia que os alunos de fato</p><p>começam a praticar medicina nos primeiros anos de treinamento e que todos os</p><p>anos de residência são passados fazendo trabalho clínico. Que tipo de</p><p>especialidade seria mais relevante para a política da saúde pública? Que escolas</p><p>de medicina teriam os laços mais fortes com Washington e um programa de</p><p>mestrado afiliado? Que instituições lhe ensinariam mais: uma clínica local? Um</p><p>grande hospital? Cidades pequenas? Cidades grandes? Assim que ele começou a</p><p>entender o que sua formação médica poderia contribuir e como poderia</p><p>aproveitar isso ao máximo, teve toneladas de ideias e questões interessantes</p><p>para perseguir. Imaginando uma maneira de seguir seu caminho em frente, deu</p><p>à sua mente permissão para abrir mão da dúvida. E ele pensou em muitas</p><p>conversas-protótipo e experiências-protótipo relacionadas com a política de</p><p>saúde na sua função de estudante de medicina e médico residente.</p><p>Andy era um aluno excelente.</p><p>Acabou a Roda de Hamsters</p><p>Designers não sofrem. Eles não sonham com o que poderia ter sido. Eles não</p><p>giram na roda. E não desperdiçam o futuro esperando um passado melhor. Os</p><p>designers da vida veem aventura em qualquer vida que estejam construindo e</p><p>vivendo atualmente. É assim que você escolhe ser feliz.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>E, realmente, há alguma outra escolha?</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>I</p><p>10</p><p>Imunidade ao Fracasso</p><p>magine que há uma vacina que pode impedi-lo de falhar. Apenas uma</p><p>pequena injeção, e sua vida com certeza se desenrolaria exatamente como</p><p>planejada – nada mais do que o suave velejar e sucesso após o sucesso, tão</p><p>longe quanto a vista pode ver. Uma vida inteira sem fracasso soa ótima, né?</p><p>Parece ótimo viver sem decepções, sem contratempos, sem problemas e sem</p><p>perda ou tristeza. Ninguém gosta de fracasso. É terrível – aquela sensação</p><p>horrível de estômago embrulhado, o peso pesado da derrota que faz seu peito</p><p>sentir-se como se estivesse sendo esmagado.</p><p>Quem não quer ser imune ao fracasso?</p><p>Infelizmente, não há vacina e é impossível deixar de falhar. Mas é possível ser</p><p>imune ao fracasso. Não queremos dizer que você será capaz de evitar a</p><p>experiência de coisas não funcionarem da maneira que você esperava, mas você</p><p>pode se tornar imune à grande maioria dos sentimentos negativos de fracasso</p><p>que sobrecarregam sua vida desnecessariamente. Se você usar as ideias e</p><p>ferramentas de que temos falado até agora, reduzirá a taxa de fracasso, o que é</p><p>ótimo, mas estamos atrás de algo muito mais valioso do que apenas a redução</p><p>de falhas. Estamos atrás da imunidade ao fracasso.</p><p>Experimentamos um monte de coisas diferentes no caminho para projetar</p><p>uma vida que vale a pena viver. Usando a curiosidade, saímos pela vida e</p><p>conhecemos pessoas interessantes. Colaboramos radicalmente com amigos e</p><p>familiares e prototipamos engajamentos significativos com o mundo. E ao longo</p><p>de toda essa jornada de design de vida, familiarizamo-nos com a mentalidade da</p><p>tendência para agir, e sempre que estivermos em dúvida sabemos que é hora de</p><p>fazer algo.</p><p>Ao longo de tudo, você tem desenvolvido algo positivo que psicólogos como</p><p>Angela Duckworth chamam de perseverança.[1] Os estudos de Duckworth sobre</p><p>a perseverança e o autocontrole demonstram que a perseverança é uma melhor</p><p>medida de potencial sucesso do que o QI. A imunidade ao fracasso dá a você</p><p>perseverança de sobra.</p><p>É importante pensar em nós mesmos como designers de vida curiosos e</p><p>orientados para a ação e que gostam de fazer protótipos para “construir o nosso</p><p>caminho”. Mas, quando você aplica esta abordagem para projetar sua vida, você</p><p>vai falhar. Na verdade, você vai “falhar de propósito” mais com esta abordagem</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>do que com qualquer outra. Então é importante entender o que significa</p><p>“fracasso” em nosso processo e como alcançar o que chamamos de imunidade</p><p>em relação a ele.</p><p>O medo do fracasso é motivo de grande preocupação na vida das pessoas.</p><p>Parece estar relacionado a uma percepção fundamental daquilo que as pessoas</p><p>definem como uma vida boa ou ruim. Ela foi um sucesso (eba, que bom!). Ele foi</p><p>um fracasso (eca, que ruim!). Quando você pensa desse jeito, claro que ninguém</p><p>quer ser um fracasso. Imaginamos que em nosso funeral haverá algum juiz (ou</p><p>algum comitê imaginário) que julgará se conseguimos ter sucesso ou se</p><p>acabamos fracassando.</p><p>Felizmente, se você está projetando a sua vida, nunca pode ser um fracasso.</p><p>Você pode experimentar alguns protótipos e participações que não atingem</p><p>seus objetivos (que “falham”), mas lembre-se de que eles foram projetados para</p><p>que você pudesse aprender certas coisas. Quando você começa a projetar sua</p><p>vida e viver o processo criativo de um design de vida, você não tem como falhar;</p><p>você só tem como progredir e aprender com os diferentes tipos de experiências</p><p>que tanto o fracasso quanto o sucesso têm para oferecer.</p><p>Fracasso Infinito</p><p>Acreditamos que agora você entenda que a prototipagem para projetar sua vida</p><p>é uma ótima maneira de ter sucesso mais cedo (nas coisas grandes e</p><p>importantes) ao fracassar com mais frequência (em experiências menores de</p><p>aprendizado e de baixa exposição). Depois de ter feito este ciclo de reiteração</p><p>de protótipo várias vezes, você realmente começa</p><p>perfeita como está, o design de vida vai ajudar a torná-la</p><p>uma versão ainda melhor da vida que você já ama viver.</p><p>Quando você pensa como um designer, quando você está disposto a fazer as</p><p>perguntas, quando você percebe que a vida sempre se trata de conceber algo</p><p>que nunca existiu antes, então sua vida pode brilhar de uma forma que você</p><p>nunca imaginou. Quer dizer, se você gosta de brilhar. Afinal, é o seu design.</p><p>O Que Nós Sabemos?</p><p>No Departamento de Design de Stanford, ensinamos o pensamento de design e</p><p>o design de vida a mais de mil alunos. E vamos confessar um segredo: nenhum</p><p>aluno levou bomba em nosso curso. Na verdade, é impossível se dar mal. Temos</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>mais de 60 anos de experiência combinada de ensino e já ensinamos esta</p><p>abordagem para alunos do ensino médio, universitários, mestrandos,</p><p>doutorandos, gente de vinte e poucos anos, executivos no meio da carreira e</p><p>aposentados atrás de uma carreira “bis”.</p><p>Como professores, sempre garantimos aos nossos alunos “atendimento</p><p>vitalício”. Isso significa que, se fizer uma matéria conosco, estaremos sempre</p><p>disponíveis para você. Ponto final. Vários alunos voltaram a nos procurar ao</p><p>longo dos anos, depois de formados, e eles contaram como as ferramentas,</p><p>ideias e mentalidades que lhes ensinamos fizeram diferença em suas vidas.</p><p>Estamos bastante esperançosos – e, francamente, bem confiantes – de que essas</p><p>ideias poderão fazer a diferença para você também.</p><p>Mas não precisa acreditar na gente. Stanford é um lugar muito rigoroso.</p><p>Embora nossas historinhas sejam legais, não têm muito valor acadêmico. Para</p><p>falar com autoridade, são necessários dados. O nosso é um dos poucos cursos de</p><p>pensamento de design que foram cientificamente estudados e provaram fazer a</p><p>diferença para os alunos em uma série de medidas importantes. Dois</p><p>doutorandos fizeram suas dissertações sobre o curso e o que concluíram foi</p><p>muito empolgante.[2] Eles descobriram que aqueles que vieram às nossas aulas</p><p>eram mais capazes de planejar e ir atrás da carreira que realmente queriam.</p><p>Eles tinham menos crenças disfuncionais (aquelas malditas ideias que impedem</p><p>mudanças e que simplesmente não são verdade) e uma maior capacidade de</p><p>produzir novas ideias para o seu projeto de vida (aumentando sua capacidade</p><p>de ideação). Todas essas medidas foram “estatisticamente significativas”, o que,</p><p>em linguagem leiga, quer dizer que as ideias e exercícios que apresentamos em</p><p>nosso curso – e neste livro – provaram-se eficazes e podem ajudá-lo a descobrir</p><p>o que quer e mostrar-lhe como chegar lá.</p><p>Mesmo assim, vamos ser perfeitamente claros desde o início. Ciência ou não,</p><p>tudo isso é altamente pessoal. Podemos oferecer algumas ferramentas, algumas</p><p>ideias, alguns exercícios, mas não podemos dar-lhe tudo. Não podemos dar-lhe</p><p>suas próprias ideias, mudar sua perspectiva nem fornecer incontáveis</p><p>momentos “eureca” em dez etapas fáceis. O que podemos dizer é que, se você</p><p>realmente usar as ferramentas que apresentamos aqui e fizer os exercícios de</p><p>design de vida, vai gerar as ideias que precisa ter. Porque a grande verdade é a</p><p>seguinte: existem muitas versões de você e elas estão todas “certas”. E o design</p><p>de vida vai ajudá-lo a viver qualquer versão de você que esteja passando no</p><p>cinema mais próximo. Lembre-se, não existem respostas erradas e você não</p><p>precisa passar em uma prova. Sugerimos que faça alguns dos exercícios deste</p><p>livro, mas não tem gabarito no final para dizer como foi o seu desempenho.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Adicionamos uma recapitulação dos exercícios no final de cada capítulo –</p><p>quadros que dizem “Experimente” – porque sugerimos que você, bem...</p><p>experimente. É isso que os designers fazem. Nós não estamos comparando</p><p>ninguém, e você também não deve se comparar com ninguém. Estamos aqui</p><p>para criar com você. Pense em nós como parte da sua equipe de design pessoal.</p><p>Na verdade, sugerimos que você saia e consiga logo uma equipe de design –</p><p>um grupo de pessoas que lerão o livro e farão os exercícios com você, uma</p><p>equipe colaborativa de apoio na busca por uma vida bem projetada. Falaremos</p><p>disso mais adiante no livro e sinta-se livre para lê-lo primeiro, sozinho. Muitas</p><p>pessoas pensam que os designers são gênios solitários, trabalhando isolados e</p><p>esperando um lampejo de inspiração para mostrar-lhes a solução de seu</p><p>problema de design. Nada está mais longe da verdade. Pode haver problemas,</p><p>como o design de uma cadeira ou um novo conjunto de blocos para crianças,</p><p>que são simples o suficiente para um indivíduo, mas, no mundo muito técnico</p><p>de hoje, quase todos os problemas precisam de toda uma equipe de design. O</p><p>pensamento de design vai além e sugere que os melhores resultados advêm da</p><p>colaboração radical, que parte do princípio de que pessoas com origens muito</p><p>diferentes trarão suas idiossincráticas experiências técnicas e humanas à</p><p>equipe. Isso aumenta a chance de que o grupo tenha empatia por aqueles que</p><p>vão usar o que eles estão projetando e que a colisão de diferentes origens gere</p><p>soluções verdadeiramente únicas.</p><p>Isso é sempre provado em turmas da d.school em Stanford, onde os</p><p>estudantes de pós-graduação criam equipes de alunos de administração, direito,</p><p>engenharia, educação e medicina que aparecem com soluções inovadoras o</p><p>tempo todo. A cola que une essas equipes é o pensamento de design, a</p><p>abordagem com enfoque humano que tira proveito das origens diversas para</p><p>incentivar colaboração e criatividade. Em geral, nenhum dos alunos entende de</p><p>design quando se matricula em nossas aulas, então todas as equipes têm</p><p>dificuldade para serem produtivas no início. Eles têm que aprender as</p><p>habilidades do designer, especialmente a colaboração radical e a consciência do</p><p>processo. Quando isso acontece, os alunos descobrem que suas capacidades</p><p>como equipe superam de longe o que podem fazer sozinhos e, com isso, sua</p><p>confiança criativa explode. Centenas de projetos estudantis e empresas</p><p>inovadoras, como D-Rev e Embrace,[3] vieram desse processo, provando que a</p><p>colaboração criativa é a maneira de fazer design nos dias de hoje.</p><p>Então seja o gênio criativo do design de sua vida; apenas não ache que precisa</p><p>ser um daqueles gênios solitários.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Pense Como Um Designer</p><p>Para que possa projetar sua vida, você precisa aprender a pensar como um</p><p>designer. Vamos explicar algumas maneiras simples de fazer isso, mas primeiro</p><p>você deve entender uma premissa importante: os designers não pensam no</p><p>caminho que vão seguir, eles criam o caminho. Isso significa que você não ficará</p><p>sonhando com um monte de fantasias divertidas que não têm nada a ver com o</p><p>mundo ou com quem você é. Você irá construir coisas (nós as chamamos de</p><p>protótipos), fazer experiências e divertir-se ao longo do processo.</p><p>Deseja mudar de carreira? Este livro irá ajudá-lo a fazer essa transformação,</p><p>mas isso não será feito com você sentado, tentando decidir o que mudar. Nós</p><p>vamos ajudá-lo a pensar como um designer e a construir o seu futuro, protótipo</p><p>por protótipo. Iremos auxiliá-lo a encarar os desafios de projetar a sua própria</p><p>vida com o mesmo tipo de curiosidade e criatividade que resultaram na</p><p>invenção da prensa tipográfica, da lâmpada elétrica e da internet.</p><p>O foco principal deste livro é em empregos e carreiras, porque, convenhamos,</p><p>passamos a maior parte do tempo no trabalho. O trabalho pode ser uma fonte</p><p>diária de alegria e significado ou um interminável desperdício de horas gastas</p><p>tentando se forçar a aguentar até a chegada do fim de semana. Uma vida bem</p><p>projetada não é uma vida de labuta. Você não foi colocado neste mundo para</p><p>trabalhar oito horas por dia em um emprego que odeia até morrer.</p><p>Embora o</p><p>a gostar do processo de</p><p>aprendizagem por meio de encontros-protótipo que outros poderiam chamar</p><p>de fracasso. Por exemplo, no dia anterior à primeira aula da nossa maior turma,</p><p>Dave fez uma grande mudança em um dos exercícios para a aula daquele dia.</p><p>Ele tinha uma ideia e só queria fazer uma experiência. Nem sequer teve tempo</p><p>de contar a Bill, que soube ao mesmo tempo que os estudantes. Depois que Dave</p><p>anunciou o exercício (nunca antes tentado) e quando os alunos começaram a</p><p>trabalhar, Bill se aproximou de Dave e disse: “Isso é ótimo! Adoro que você</p><p>esteja disposto a falhar miseravelmente na frente de 80 alunos! Não faço ideia</p><p>se esse exercício vai funcionar, mas eu gostei muito do jeito que você está</p><p>prototipando!” Dave e Bill passaram a confiar no processo de design de vida tão</p><p>completamente que nunca precisaram mais falar sobre o jeito certo de planejar</p><p>as aulas. Quando você pega o jeito de abordar as coisas com pensamento de</p><p>design, você acaba pensando de forma diferente sobre tudo.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Esse é o primeiro nível de imunidade ao fracasso – usar a tendência a agir,</p><p>falhar rápido e ter tanta clareza na curva de aprendizado de um fracasso a</p><p>ponto de não doer (e, claro, você aprende rapidamente e vai incorporando</p><p>melhorias). A propósito, o exercício na aula correu muito bem, mas decidimos</p><p>dispensá-lo de qualquer forma e manter a versão anterior porque demonstrou</p><p>mais eficácia. Um sucesso!</p><p>Há outro nível de imunidade ao fracasso que chamamos de grande imunidade</p><p>ao fracasso, que vem de compreender a grande reformulação do pensamento de</p><p>design. Você está preparado? Projetar sua vida é na verdade o que a vida é,</p><p>porque a vida é um processo, não um resultado.</p><p>Se você entender isso, você entendeu tudo.</p><p>Crença Disfuncional: Nós julgamos a vida pelo resultado.</p><p>Reformulação: A vida é um processo, não um resultado.</p><p>Estamos sempre crescendo do presente para o futuro e, portanto, sempre</p><p>mudando. A cada mudança vem um novo design. A vida não é um resultado, é</p><p>mais como uma dança. O design da vida é apenas uma boa coreografia de passos</p><p>de dança. A vida nunca está pronta (até acabar) e o design de vida nunca está</p><p>pronto (até você estar).</p><p>O filósofo James Carse escreveu um livro interessante, Jogos Finitos & Infinitos</p><p>(Finite and Infinite Games).[2] Nele, Carse identifica quase tudo o que fazemos na</p><p>vida como um jogo finito, que jogamos pelas regras para poder ganhar, ou um</p><p>jogo infinito, que jogamos com as regras pela alegria de poder continuar a jogar.</p><p>Tirar 10 em química é um jogo finito. Aprender como o mundo é construído e</p><p>como você se encaixa nele é um jogo infinito. Treinar seu filho para ganhar o</p><p>concurso de ortografia é um jogo finito. Dar ao seu filho a confiança de que você</p><p>o ama incondicionalmente é um jogo infinito. A vida está cheia dos dois tipos de</p><p>jogo. (Por jogos não queremos dizer algo trivial ou infantil. Neste contexto,</p><p>significa simplesmente como agimos no mundo e qual a importância que damos</p><p>às nossas ações.) Todo mundo está jogando jogos finitos e infinitos o tempo</p><p>todo. Um tipo de jogo não é melhor do que o outro. O beisebol é um jogo</p><p>divertido, mas não funciona sem regras, vencedores e perdedores. O amor é um</p><p>jogo infinito – quando jogado bem, continua para sempre e todo mundo joga</p><p>para mantê-lo.</p><p>Então, o que isso tem a ver a respeito do design de vida? Só isso: quando você</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>lembra que está constantemente jogando o jogo infinito de se tornar cada vez</p><p>mais você mesmo e projetar a expressão desse espantoso você no mundo, não</p><p>tem como falhar. Com a mentalidade de jogo infinito, você não é apenas bom em</p><p>reduzir as falhas – está verdadeiramente imune ao fracasso. Claro, sentirá dores</p><p>e perdas ou sérios contratempos, mas nada disso o fará uma pessoa menor e</p><p>não experimentará esses contratempos como um “fracasso” existencial do qual</p><p>não pode se recuperar.</p><p>Ser e Fazer</p><p>Por milênios, as pessoas têm sofrido com a dificuldade de equilibrar o nosso</p><p>foco em nós mesmos como seres humanos (que é mais prevalente nas culturas</p><p>orientais) ou como feitos humanos (que é mais prevalente nas culturas</p><p>ocidentais). Ser ou fazer? O verdadeiro eu interior, ou o ocupado e bem-</p><p>sucedido eu exterior? Qual é? O design de vida acha que isso é uma falsa</p><p>dicotomia. Visto que a vida é um problema perverso que nunca “resolvemos”,</p><p>apenas nos concentramos em viver melhor nossas vidas, construir o caminho a</p><p>seguir. Este diagrama é, achamos, uma maneira melhor de imaginar o processo:</p><p>Ao projetar sua vida, você começa com quem você é (Capítulos 1, 2 e 3). Aí</p><p>você tem muitas ideias (em vez de esperar para ter a ideia do século), tenta</p><p>fazer algumas coisas (Capítulos 4, 5 e 6) e faz a melhor escolha possível</p><p>(Capítulo 8). Enquanto você faz isso tudo, incluindo escolhas que definirão o seu</p><p>caminho por uns anos, você amadurece vários atributos da sua personalidade e</p><p>identidade que são nutridos e utilizados nessas experiências – você torna-se</p><p>mais você mesmo. Dessa forma, você energiza um ciclo de crescimento muito</p><p>produtivo, evoluindo naturalmente do ser para o fazer e para o tornar-se. Então</p><p>tudo se repete, quando esta versão de você (seu novo ser), que é mais-como-</p><p>você, dá o próximo passo de fazer, e aí por adiante.</p><p>Todos os capítulos da vida – tanto os maravilhosamente vitoriosos quanto os</p><p>dolorosamente difíceis e decepcionantes – mantêm este ciclo de crescimento</p><p>rodando se tivermos a mentalidade certa. Desta maneira de ver e experimentar</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>as coisas, você estará sempre tendo sucesso no jogo infinito de descobrir e</p><p>engajar a sua própria vida no mundo.</p><p>E essa mentalidade é uma dose enorme da nossa vacina de imunidade ao</p><p>fracasso.</p><p>Crença Disfuncional: A vida é um jogo finito, com vencedores e perdedores.</p><p>Reformulação: A vida é um jogo infinito, sem vencedores ou perdedores.</p><p>Talvez você esteja pensando que isso soa bem, mas no mundo real não é tão</p><p>simples. Acreditamos (e já vimos nos outros e vivemos nós mesmos) que você</p><p>realmente pode reformular fracassos de tal forma a transformar os</p><p>contratempos e ter uma vida mais feliz e gratificante. Não é só nossa ladainha</p><p>de pensamento positivo, é uma ferramenta imperativa para o design de vida.</p><p>O fracasso é apenas a matéria-prima do sucesso. Nós todos pisamos na bola,</p><p>temos fraquezas, temos dores de crescimento. E todos nós temos pelo menos</p><p>uma história de uma ocasião em que reformulamos uma falha em particular, em</p><p>que mudamos a nossa perspectiva, e vimos como um fracasso acabou sendo a</p><p>melhor coisa que já nos aconteceu.</p><p>Todos temos histórias de redenção. Uma vida perfeitamente planejada que</p><p>nunca surpreende nem desafia é uma vida perfeitamente chata, não uma vida</p><p>bem projetada.</p><p>Abrace as falhas, as fraquezas, os enormes problemas e todas as coisas que</p><p>aconteceram sobre as quais você não tem o menor controle. Elas são o que</p><p>fazem a vida valer a pena.</p><p>Basta perguntar ao Reed.</p><p>Ganhar, Perder e Ganhar</p><p>Reed sempre quis participar do grêmio da escola, então começou a se</p><p>candidatar assim que pôde, no quinto ano. Perdeu. Ele concorreu no sexto ano e</p><p>perdeu de novo. Ele se candidatou todos os anos, às vezes duas vezes por ano, e</p><p>perdeu todas as vezes. Até o final do segundo ano do ensino médio, ele</p><p>concorreu para algum cargo do grêmio e perdeu 13 vezes seguidas. Durante seu</p><p>último ano do ensino médio, ele decidiu se candidatar mais uma vez para</p><p>presidente do grêmio.</p><p>Ao longo dos anos, os pais de Reed assistiram com agonia ao acúmulo de</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>derrotas. Depois de quatro ou cinco tentativas, eles começaram a se preocupar</p><p>quando Reed anunciava que ia concorrer de novo. Eles eram inteligentes o</p><p>suficiente</p><p>para não o desencorajar, mas no fundo desejavam que ele deixasse</p><p>para lá e parasse o sofrimento. Não aguentavam vê-lo passando por todos esses</p><p>fracassos. Mas Reed não se importava. Claro que ele odiava perder, mas não ia</p><p>mudar de ideia. Ele sabia que se continuasse aprenderia o que estava fazendo</p><p>de errado e finalmente ganharia – ou pelo menos aprenderia um pouco mais.</p><p>Em sua cabeça, o fracasso era só parte do processo. Perder ficou cada vez</p><p>menos doloroso, o que lhe permitiu correr riscos para ver se novas abordagens</p><p>poderiam funcionar. Deu-lhe coragem de tentar outras coisas: esportes, atuar</p><p>no teatro. A maioria das tentativas não funcionou, mas algumas deram certo.</p><p>Embora estivesse encantado com seus sucessos, estaria tranquilo se também</p><p>tivesse falhado nessas. Fracassar tantas vezes o liberou cada vez mais para</p><p>concentrar suas energias em fazer as melhores campanhas que pudesse. Cada</p><p>fracasso era uma lição, então quando concorria, nunca se preocupava em</p><p>perder. Quando finalmente ganhou e se tornou presidente do grêmio no último</p><p>ano, estava emocionado, mas o ponto não é que ele finalmente tenha ganhado –</p><p>o ponto é que ele tenha continuado concorrendo.</p><p>Acabou sendo uma lição mais valiosa do que ele achava que seria.</p><p>Aos 22 anos, para quem visse de fora, Reed parecia finalmente estar</p><p>vencendo na vida. Escoteiro. Presidente da turma. Zagueiro. Aluno de faculdade</p><p>de prestígio. Campeão do grupo e remo. Quando se formou em economia na</p><p>faculdade, sua vida parecia encaminhada para sucesso e mais sucesso.</p><p>Conseguiu um emprego em uma empresa importante e, nos primeiros anos, sua</p><p>nova carreira estava indo muito bem.</p><p>Ele viajava muito a trabalho e, durante uma viagem de negócios para o</p><p>Centro-Oeste dos EUA, Reed notou um estranho nódulo logo abaixo de seu</p><p>pescoço. Ele foi a uma clínica local em seu horário de almoço e, quando</p><p>embarcou em seu voo de volta, três dias depois, o médico tinha confirmado seus</p><p>piores receios: estava com a doença de Hodgkin, um câncer linfático. Quando</p><p>chegou em casa, imediatamente começou a quimioterapia.</p><p>Câncer aos 25 anos não fazia parte do projeto da vida de Reed. Mas agora era</p><p>parte de sua vida.</p><p>Uma vida de experiências com o fracasso tinha dado resultado. Reed foi capaz</p><p>de aceitar a realidade de sua situação muito rápido e colocar todas as suas</p><p>energias em melhorar. Ele não ficou atolado perguntando “por que eu?”, nem</p><p>acreditava que tinha fracassado em cuidar da sua saúde. Ele estava muito</p><p>ocupado preparando e usando outra campanha – desta vez, uma campanha</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>para vencer o câncer. No próximo ano, ele não estaria avançando em sua</p><p>carreira de consultoria econômica, como havia planejado; estava passando por</p><p>cirurgia, radiação e quimioterapia. Ele também estava aprendendo, ainda muito</p><p>jovem sobre a fragilidade da vida.</p><p>Terminado seu tratamento e com o câncer em remissão, Reed não tinha ideia</p><p>do que fazer a seguir. Na verdade, ele tinha – uma ideia um tanto louca. Havia</p><p>um pequeno item em seu Plano de Odisseia que ele não tinha começado a</p><p>prototipar: tirar um ano sabático e ser um vagabundo de esqui. Ele estava em</p><p>conflito. Um rapaz tradicional no caminho para o sucesso não fica um ano</p><p>esquiando e sem fazer mais nada.</p><p>Reed, no entanto, não era mais um escoteiro bonzinho. Ele tinha acabado de</p><p>lutar uma guerra contra o câncer e, mesmo sabendo que o plano inteligente</p><p>seria voltar e refazer a carreira e que mais um ano sem trabalhar poderia</p><p>arruinar seu currículo e, consequentemente, a sua vida, Reed decidiu que queria</p><p>viver a vida, não apenas planejá-la.</p><p>Ele teve algumas conversas-protótipo com empresários antes de tomar sua</p><p>decisão, porque queria aprender como os futuros diretores de RH poderiam</p><p>interpretar essa decisão ao examinar seu currículo, e concluiu que poderia arcar</p><p>com o risco e que o tipo de pessoa com que gostaria que trabalhar veria sua</p><p>aventura de esqui pós-câncer como demonstração de ousadia, não de</p><p>irresponsabilidade. Quanto a como outras pessoas iriam vê-lo – bem, era</p><p>problema delas. O ponto principal não era que Reed tinha “conseguido vencer o</p><p>câncer”, mas que tenha sido capaz de desfrutar da imunidade ao fracasso</p><p>durante o processo, o que lhe permitiu dirigir sua energia de forma produtiva e</p><p>aprender coisas que poderia usar mais tarde. Ao transformar seu problema em</p><p>uma vantagem, foi capaz de projetar a melhor vida possível em face da</p><p>adversidade. Isso é, de longe, muito melhor do que estar desesperadamente</p><p>confuso sobre a razão das coisas ruins acontecerem.</p><p>A imunidade ao fracasso que Reed começara a aprender na quinta série</p><p>sempre vinha à calhar. Alguns anos mais tarde, Reed decidiu ir em busca de seu</p><p>trabalho dos sonhos em uma franquia esportiva profissional: um time da liga de</p><p>futebol americano NFL. Embora ele não tivesse nenhuma conexão familiar</p><p>naquele mundo, ele tinha conhecido um cara na faculdade que hoje em dia era</p><p>um dos executivos mais promissores da NFL e estava lentamente construindo</p><p>uma rede de contatos no mundo dos esportes através de conversas-protótipo.</p><p>Ele fez algumas buscas por trabalho no mercado. A pior coisa que poderia</p><p>acontecer era ser rejeitado, mas, como a rejeição não era mais um elemento</p><p>assustador para ele, o que custava tentar?</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Quando suas tentativas de trabalhar na NFL falharam, ele deixou para lá e</p><p>redirecionou rapidamente seus esforços para o plano seguinte, alternativo.</p><p>Mais de um ano depois, ele finalmente teve a chance de candidatar-se a um</p><p>trabalho de negociação de contratos de jogadores para um time da NFL. Contra</p><p>dezenas de outros candidatos, muitos dos quais tinham experiência na</p><p>indústria, ele chegou entre os dois últimos e perdeu – não conseguiu o emprego.</p><p>Essa realmente doeu, mas, mais uma vez, ele redirecionou com diligência seus</p><p>esforços para um plano alternativo e conseguiu um emprego em gestão</p><p>financeira, trabalhando para uma grande empresa.</p><p>Mas não desistiu dos esportes. Apesar de ser rejeitado, ele continuou a</p><p>prototipagem dessa carreira. Ficou em contato com os executivos da NFL e</p><p>passou centenas de horas a desenvolver modelos inovadores de análise</p><p>esportiva que mostrava aos executivos de vez em quando. Esse não era o</p><p>comportamento normal das pessoas que perdem emprego. E, sim, ele acabou</p><p>sendo contratado por esse mesmo time da NFL para um trabalho melhor do que</p><p>aquele a que tinha se candidatado originalmente.</p><p>Ele trabalhou lá por uns três anos até decidir que a área de esportes</p><p>profissionais não era realmente onde queria estar – ele “falhou” novamente.</p><p>Então passou para uma start-up de saúde, com a certeza de que, se isso não</p><p>funcionasse, a próxima coisa – ou, senão, a coisa depois dessa – funcionaria.</p><p>Reed agora está completamente imune ao fracasso. Não está protegido da dor</p><p>pessoal e da perda do fracasso, mas imune a ser desinformado pelo fracasso –</p><p>nunca acredita que é um fracasso ou que o fracasso o define ou, de fato, que os</p><p>seus fracassos foram falhas. Os seus fracassos o educam da mesma maneira que</p><p>os seus sucessos o fazem. Prefere o sucesso, mas vai segurando o que der e vier</p><p>e continua fracassando no caminho.</p><p>Encontrar Reed hoje em dia é encontrar o que aparenta ser em todos os</p><p>aspectos um jovem muito bem-sucedido e contente. Ele está felizmente casado</p><p>com uma moça bonita e tem um querido bebê de três anos de idade. Ele é alto,</p><p>bonito e saudável. Ele e sua esposa acabaram de comprar sua primeira casa e</p><p>ele está indo bem numa grande e jovem empresa, trabalhando com testes</p><p>genéticos e cuidados de saúde. Reed está certamente desfrutando de todos</p><p>os</p><p>seus sucessos recentes, mas não pensa nesses termos. Ele é principalmente</p><p>grato e sabe que sua vida estar indo bem tem mais a ver com sua mentalidade</p><p>do que com o seu atual nível de sucesso.</p><p>Essa é a verdadeira razão pela qual Reed está obtendo sucesso na vida.</p><p>Exercício de Reformulação de Fracasso</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>É fácil descrever o objetivo distante de alcançar imunidade ao fracasso, mas</p><p>chegar lá é outra questão. Aqui está um exercício para ajudá-lo a fazer</p><p>exatamente isso – a reformulação de fracasso. O fracasso é a matéria-prima do</p><p>sucesso, e a reformulação do fracasso é um processo de conversão da matéria-</p><p>prima em crescimento real. É um simples exercício de três passos:</p><p>1. Registre seus fracassos.</p><p>2. Categorize seus fracassos.</p><p>3. Identifique os sinais de crescimento.</p><p>Registre Seus Fracassos</p><p>Basta escrever quando tiver feito besteira. Você pode fazer isso pensando na</p><p>última semana, no último mês, no último ano ou fazer uma Lista dos Maiores</p><p>Fracassos de Todos os Tempos. Qualquer período de tempo funciona. Se você</p><p>quiser criar o hábito de converter seus fracassos em crescimento, então</p><p>sugerimos que você faça isso uma ou duas vezes por mês até estabelecer uma</p><p>nova maneira de pensar. Reformular é um hábito saudável que leva à</p><p>imunidade ao fracasso.</p><p>Categorize Seus Fracassos</p><p>É útil classificar os fracassos em três tipos a fim de que você possa identificar</p><p>mais facilmente onde está o potencial de crescimento.</p><p>Erros são apenas isso – besteiras simples em coisas que você normalmente</p><p>faz direito. Não que você não possa fazer melhor. Você costuma fazer essas</p><p>coisas bem, então você realmente não precisa aprender nada aqui – você</p><p>simplesmente errou. A melhor resposta aqui é reconhecer o erro, pedir</p><p>desculpas conforme o necessário e seguir em frente.</p><p>Fraquezas são falhas que acontecem por causa de erros persistentes. Estes</p><p>são erros que você comete repetidamente. Você conhece bem a origem desses</p><p>fracassos. São velhos amigos seus. Você provavelmente já trabalhou para</p><p>corrigi-los e já melhoraram tanto quanto você acha que podem e você tenta</p><p>evitar ser apanhado por essas fraquezas, mas elas acontecem. Não estamos</p><p>sugerindo que você se renda e aceite um desempenho medíocre, mas estamos</p><p>sugerindo que não há muita vantagem em tentar mudar quem você é. Fica a seu</p><p>critério, é claro, mas algumas falhas são apenas parte de sua formação, e sua</p><p>melhor estratégia é evitar as situações que afetariam em vez de melhorá-las.</p><p>Oportunidades de crescimento são os fracassos que não precisavam acontecer</p><p>ou pelo menos não precisam acontecer na próxima vez. A causa destes erros é</p><p>identificável e há uma solução disponível. Queremos prestar atenção aqui em</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>vez de nos distrair com o baixo retorno de gastar tempo demais em outros tipos</p><p>de fracasso.</p><p>Identifique os Sinais de Crescimento</p><p>Algum dos fracassos de oportunidades de crescimento oferece um convite para</p><p>uma melhoria real? O que há para aprender aqui? O que deu errado (o fator</p><p>crítico do fracasso)? O que poderia ser feito de forma diferente na próxima vez</p><p>(o fator crítico do sucesso)? Procure um sinal para captar aquilo que poderia</p><p>mudar as coisas da próxima vez. Anote e coloque em prática. É isso aí – uma</p><p>simples reformulação.</p><p>Aqui estão alguns exemplos do registro quase infinito dos fracassos de Dave:</p><p>Dave realmente perdeu o aniversário de sua filha Lisa. Por exatamente uma</p><p>semana. Ele não se lembra muito bem desse tipo de coisa (uma fraqueza), então</p><p>ele usa seu calendário para lembrar. Mas um ano ele acidentalmente escreveu</p><p>na semana errada. Planejou cuidadosamente um agradável jantar fora com ela –</p><p>sete dias após seu aniversário. Conseguiu ficar no escuro durante toda a semana</p><p>por estar na estrada. Erro total. Erro esquisito. Não vai acontecer de novo. Outro</p><p>erro terrível foi o de ser roubado. Enquanto a casa estava sendo fumigada por</p><p>causa de cupins, Dave e sua esposa tiveram que se mudar por três dias, durante</p><p>os quais uns ladrões invadiram a casa e roubaram tudo de valor. Foi terrível. O</p><p>que ele fez de errado? Ele não contratou um guarda particular para vigiar a casa</p><p>por três dias. Mas quem faz uma coisa dessas? A polícia disse que era uma</p><p>situação muito estranha (a maioria dos ladrões não está lá muito disposta a ser</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>fumigada com veneno só para roubar um aparelho de TV) e todos os amigos de</p><p>Dave haviam feito a fumigação sem sequer ouvir sobre a contratação de um</p><p>guarda. Embora o fracasso tivesse sido evitável, era tão incomum que ele o</p><p>aceitou como um mero erro. Enorme, doloroso e caro, mas apenas um erro.</p><p>Então ele teve que virar a noite (de novo) para finalizar o orçamento que</p><p>precisava entregar no dia seguinte. Dave é um procrastinador famoso. Ele é</p><p>cheio de truques para resolver essa persistente falha, mas só funcionam 7% das</p><p>vezes. Ele aprendeu a evitar a fraqueza dela a maior parte do tempo e apenas a</p><p>viver com ela o resto do tempo. Quase nunca perde um prazo – porém,</p><p>frequentemente fica acordado até tarde terminando seus projetos. Grande</p><p>coisa. Aparentemente não há muito para aprender aqui. É aquele negócio: você</p><p>sabe que não deve, mas continua a fazer a mesma coisa sempre. É seu ponto</p><p>fraco.</p><p>Dave ficou muito surpreso ao falar ao telefone com uma cliente</p><p>recentemente. Ele tinha iniciado a conversa com uma pergunta de marketing</p><p>sobre o projeto em que estavam trabalhando, quando a cliente perdeu a</p><p>paciência e começou a gritar. Dave ficou arrasado. Ele não sabia que o</p><p>engenheiro principal no projeto tinha se demitido e tudo estava caindo aos</p><p>pedaços. Embora fosse a razão programada para o telefonema, sua longa</p><p>pergunta inicial sobre marketing era agora irrelevante, e a cliente estava furiosa</p><p>por estar perdendo seu tempo. Esse não é o tipo de erro que Dave está</p><p>acostumado a fazer. Ele é realmente muito bom na gestão de clientes e fala ao</p><p>telefone algumas dúzias de horas por semana. Então o que aconteceu dessa vez?</p><p>Enquanto pensava sobre isso, percebeu que o erro foi entrar direto no assunto</p><p>programado sem perguntar como estavam as coisas antes. Quase todos os</p><p>telefonemas de Dave são programados com um tópico específico num horário</p><p>apertado. Ele geralmente obtém grande sucesso quando começa a falar sobre o</p><p>assunto principal imediatamente, mas agora ele percebeu que nunca faz isso</p><p>quando encontra os clientes pessoalmente.</p><p>Em uma reunião ao vivo, ele começa com um papo leve para saber como vai a</p><p>pessoa e quais são as notícias desde seu último contato e sempre confirma os</p><p>tópicos da conversa em questão antes de começar a trabalhar. Ele muitas vezes</p><p>descobre notícias importantes durante essa conversa inicial, mas parou de fazer</p><p>isso ao telefone há algum tempo para economizar tempo. Ignorar esse papo era</p><p>claramente um risco – ele só não tinha sido pego no ato até agora. A ideia era</p><p>clara – fazer uma rápida introdução para checar como vão as coisas, mesmo</p><p>durante os telefonemas. Isso leva apenas alguns segundos e pode fazer uma</p><p>enorme diferença.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Dave precisou de menos tempo para analisar essas cinco falhas do que o</p><p>tempo que você, leitor, levou para ler sobre elas. Esse exercício não é difícil, mas</p><p>pode trazer grandes recompensas. Se Dave tivesse terminado aquele</p><p>telefonema malsucedido com a cliente dizendo “Putz! Qual é o problema dela,</p><p>afinal?”, ele não teria aprendido nada e ainda estaria correndo o risco de repetir</p><p>o erro. Da mesma forma, se ele não pensasse sobre a razão daquele roubo</p><p>terrível ou o que o levou a perder o dia do aniversário da sua filha, ele ainda</p><p>estaria se culpando desnecessariamente sobre essas situações –</p><p>sem nenhum</p><p>fim produtivo.</p><p>Uma pequena reformulação de fracasso pode ser um passo gigantesco na</p><p>construção da sua imunidade ao fracasso. Experimente.</p><p>Não Lute Contra a Realidade</p><p>Mesmo se você tiver o trabalho e a vida que sempre desejou, as coisas ainda</p><p>podem dar errado. Designers sabem muito sobre quando as coisas não</p><p>funcionam como o planejado. Quando você passa a entender quem você é, faz o</p><p>projeto da sua vida e depois vai vivê-la, não há como falhar, não significando</p><p>que você não vai tropeçar ou que um determinado protótipo sempre funcionará</p><p>como esperado. Mas a imunidade ao fracasso vem de saber que mesmo um</p><p>protótipo que não funcionou ainda dá informações valiosas sobre o estado do</p><p>mundo aqui – no seu novo ponto de partida. Quando os obstáculos aparecem,</p><p>quando o seu progresso se descarrila, quando o protótipo muda</p><p>inesperadamente, o design de vida permite transformar absolutamente</p><p>qualquer mudança, retrocesso ou surpresa em algo que possa contribuir para</p><p>quem você está se tornando, pessoal e profissionalmente.</p><p>Os designers de vida não lutam contra a realidade. Eles ganham enorme</p><p>poder projetando seu caminho de qualquer jeito. No design de vida não há</p><p>escolhas erradas, não há remorsos. Existem apenas protótipos, alguns que dão</p><p>certo e outros que dão errado. Alguns dos nossos maiores aprendizados vêm de</p><p>um protótipo falhado, porque assim sabemos o que construir de forma</p><p>diferente na próxima vez. A vida não é ganhar e perder; é aprender e jogar o</p><p>jogo infinito. Quando abordamos as nossas vidas como designers, estamos</p><p>constantemente curiosos para descobrir o que vai acontecer a seguir.</p><p>A única questão que permanece é aquela que todos ouvimos em um ou outro</p><p>momento: o que você faria se soubesse que não seria possível fracassar?</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Experimente</p><p>Reformulando Fracassos</p><p>1. Use a planilha abaixo (ou baixe em www.designingyour.life) para pensar na última</p><p>semana (ou mês, ou ano) e registrar seus fracassos.</p><p>2. Categorize-os como erros, fraquezas ou oportunidades de crescimento.</p><p>3. Identifique suas ideias de crescimento.</p><p>4. Nutra o hábito de converter fracassos em crescimento uma ou duas vezes por mês.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>http://www.designingyour.life/</p><p>T</p><p>11</p><p>Montando Uma Equipe</p><p>odos os grandes projetos de design chegaram aonde chegaram por causa</p><p>da equipe que construiu o projeto, produto ou edifício. Os designers</p><p>acreditam na colaboração radical, porque a verdadeira genialidade vem de um</p><p>processo colaborativo. Nós projetamos nossas vidas em colaboração e conexão</p><p>com os outros, porque o grupo é sempre mais forte do que o indivíduo. Simples,</p><p>não?</p><p>Crença Disfuncional: É a minha vida, tenho que projetá-la eu mesmo.</p><p>Reformulação: Você vive e projeta a sua vida em colaboração com outros.</p><p>Quando você projeta sua vida, você está envolvido em um ato de cocriação.</p><p>Quando você usa o pensamento de design, a mentalidade é completamente</p><p>diferente de “desenvolvimento de carreira” ou “planejamento estratégico” ou</p><p>mesmo “treino de vida”. Uma diferença fundamental é o papel da comunidade.</p><p>Se você é o único arquiteto de seu futuro brilhante, então você pensa na ideia</p><p>toda e a concretiza heroicamente – tudo diz respeito a você. A questão do design</p><p>de vida é a sua vida, não só você – diz respeito a todos nós. Quando dizemos que</p><p>não podemos fazer isso sozinhos, não queremos dizer que queremos estar</p><p>sozinhos, mas não damos conta; então, precisamos de ajuda. O que queremos</p><p>dizer é que o design de vida é intrinsecamente um esforço comunal. Quando</p><p>você está andando um ou dois passos de cada vez para construir (não resolver)</p><p>o seu trajeto, o processo precisa contar com a contribuição e participação de</p><p>outros. As ideias e oportunidades que você projeta não são apenas</p><p>apresentadas a você por outras pessoas em seu nome – elas são cocriadas por</p><p>você em colaboração com toda a comunidade de participantes com quem você</p><p>interage na vida. Todas as pessoas que você encontrar ou com quem você</p><p>participar, prototipar ou conversar ao longo do caminho fazem parte da sua</p><p>comunidade de design, quer elas pensem dessa forma ou não. Algumas pessoas</p><p>particularmente importantes serão seus principais colaboradores e</p><p>participarão de forma crucial e contínua no seu design de vida, mas todas as</p><p>pessoas são importantes.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Todas elas.</p><p>A cocriação é um aspecto integral do ponto de vista do design e é a razão</p><p>fundamental pela qual o pensamento de design funciona. O seu design de vida</p><p>não está em você, está no mundo, onde será descoberto e cocriado por você e</p><p>por outros. As ideias, possibilidades, papéis e formas que você vai acabar</p><p>vivendo realmente não existem em nenhum lugar do universo neste momento</p><p>enquanto você lê isto. Todos estão esperando para ser inventados, e a matéria-</p><p>prima para inventá-los se encontra no mundo e, ainda mais importante, no</p><p>coração, na cabeça e nas ações dos outros – muitos dos quais você ainda nem</p><p>conheceu. Uma grande razão por que muitas abordagens tradicionais para este</p><p>tipo de trabalho dão errado é que são baseadas na falsa percepção de que você</p><p>(e você sozinho) sabe as respostas, tem os recursos e sabe a paixão certa a</p><p>seguir para ter tudo o que quer. Você sabe de qual tipo de pensamento estamos</p><p>falando aqui – aquele que diz que você deve definir alguns bons objetivos e ir</p><p>encará-los. Parece até papo de vestiário em intervalo de jogo: “Vai nessa! Você</p><p>consegue!”</p><p>A gente acha isso uma loucura.</p><p>Pense em Ellen, Janine e Donald da nossa apresentação. Eles tinham</p><p>objetivos. Janine e Donald tinham conseguido realizar muitos deles e com</p><p>bastante sucesso. Mas ambos estavam perdidos em seus próprios caminhos –</p><p>perguntando-se por que não estavam felizes com suas escolhas, perguntando-se</p><p>para qual direção seguir e como fazer a fim de que realmente viver suas vidas</p><p>fizesse sentido. E todos os três acreditavam que tinham que resolver tudo</p><p>sozinhos. Eles não estavam projetando suas vidas e não estavam usando uma</p><p>equipe.</p><p>Se você se encontrar sozinho em frente ao espelho tentando resolver ou</p><p>descobrir a sua vida, esperando para agir até ter certeza das respostas corretas,</p><p>vai esperar por muito tempo.</p><p>Afaste-se do espelho e olhe para as pessoas ao seu redor. Se você estiver</p><p>fazendo o trabalho e os exercícios sugeridos ao longo deste livro, você já</p><p>interagiu com um monte de pessoas – muitas das quais acabou de conhecer.</p><p>Você conversou com os outros honestamente sobre sua situação atual, seus</p><p>valores, sua Visão de Trabalho e sua Visão de Vida. Você identificou grupos e</p><p>indivíduos que fazem parte de atividades que lhe interessam em seu Diário dos</p><p>Bons Momentos. Você provavelmente teve alguns ajudantes para imaginar ou</p><p>oferecer opinião sobre seus planos de vida alternativa. As pessoas aparecem em</p><p>cada um de seus protótipos como colaboradores, participantes e informantes.</p><p>Pode ser que você não tenha pensado em todas essas pessoas como parte de sua</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>equipe. Talvez tenha pensado nelas só como gente que estava lá quando você</p><p>estava fazendo ou experimentando coisas.</p><p>Você precisa entender: elas fazem parte da sua equipe.</p><p>Identificando Sua Equipe</p><p>Todos os participantes no esforço do seu design de vida, de uma forma ou de</p><p>outra, devem ser considerados parte de sua equipe, mas existem diferentes</p><p>funções a desempenhar e seria útil nomeá-las. E, sim, claro, alguns indivíduos</p><p>aparecerão em mais de uma categoria:</p><p>Apoiadores. Os apoiadores vêm em todos os sabores, idades, proximidades e</p><p>tamanhos. São aqueles a quem recorrer, que você sabe que se preocupam com</p><p>sua vida – pessoas próximas o suficiente para que o seu encorajamento e as</p><p>suas opiniões sejam</p><p>realmente úteis. A maioria dos seus apoiadores são pessoas</p><p>que você vê como amigos, mas nem todos os amigos são apoiadores e alguns</p><p>apoiadores não são amigos (eles estão disponíveis para o design de vida, mas</p><p>você não sai com eles). Quantos forem os apoiadores você tem se deve em</p><p>grande parte à sua personalidade – o grupo pode variar de dois ou três a</p><p>cinquenta ou mesmo cem.</p><p>Participantes. São os participantes ativos em seu projeto de vida –</p><p>especialmente em seu protótipos e projetos profissionais e vocacionais. Essas</p><p>são as pessoas com quem você realmente produz, seus colegas de trabalho no</p><p>sentido clássico.</p><p>Íntimos. Os íntimos incluem familiares e seus amigos mais próximos. Essas são</p><p>provavelmente as pessoas mais diretamente afetadas por seu design de vida e,</p><p>quer estejam ativamente envolvidas no projeto ou não, são as pessoas mais</p><p>influentes nele. Nós o encorajamos, pelo menos, a manter seus íntimos</p><p>informados, se não diretamente envolvidos, em seu trabalho de design de vida.</p><p>Essas pessoas são grande parte de sua vida; por isso, não podemos deixá-las de</p><p>fora. A função que podem desempenhar nos processos de imaginação,</p><p>planejamento e prototipagem pode ser complicada. Alguns deles podem ser</p><p>próximos demais. Alguns podem ter uma preferência tão estabelecida por um</p><p>determinado resultado que não são objetivos. E, claro, alguns são os melhores</p><p>ajudantes que você poderia pedir. Tudo o que estamos pedindo é que você</p><p>reconheça a importância dessas pessoas e descubra um papel eficaz e</p><p>apropriado para elas. Tente evitar o erro de deixá-las completamente por fora</p><p>até o fim. Isso raramente funciona bem, por muitas razões que você</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>provavelmente pode imaginar. Surpreender sua esposa com o fato de que você</p><p>está prototipando viver fora do sistema por um ano não vai pegar bem.</p><p>A Equipe. As pessoas que compõem a equipe são aquelas com quem você está</p><p>compartilhando os detalhes de seu projeto de design de vida e que o</p><p>acompanharão ao longo desse projeto em intervalos regulares. Os candidatos</p><p>mais prováveis para sua equipe são aqueles que você convidou para apresentar</p><p>e discutir seus três Planos de Odisseia.</p><p>Você precisa de um grupo de pessoas para caminhar ao seu lado enquanto</p><p>você faz o seu design de vida. Eles não têm que ser seus melhores amigos. Eles</p><p>só precisam estar dispostos a aparecer, ser atenciosos e reflexivos, respeitar e</p><p>cuidar do processo sem dar um monte de respostas e conselhos.</p><p>Você sabe de quem a gente está falando; já deve estar pensando em algumas</p><p>opções. Uma equipe saudável é de três a seis pessoas, incluindo você;</p><p>idealmente, sua equipe seria de três a cinco pessoas. Só uma pessoa pode ser</p><p>um grande parceiro ou um amigo a quem prestar contas, mas duas pessoas</p><p>fazem um par, não uma equipe. Em um par, há sempre um orador e um ouvinte.</p><p>Cem por cento da resposta ao que é dito recai nos ombros da outra pessoa. Um</p><p>par não cria uma diversidade suficiente de opinião para o tipo de colaboração</p><p>de que você precisa.</p><p>Quando há três pessoas num círculo, uma dinâmica bem mais ativa está em</p><p>jogo e uma conversa mais ampla pode acontecer. O processo continua até talvez</p><p>seis pessoas, e então começa a mudar novamente. Além de seis pessoas há um</p><p>tempo limitado para cada participante falar. Quem fala em seguida, torna-se</p><p>uma questão. Como o tempo de todos é limitado e ouvimos menos de cada</p><p>pessoa, os papéis começam a se formar: Ann se torna a mais prática, Theo está</p><p>sempre defendendo o seu lado criativo. Em equipes maiores, cada pessoa fica</p><p>presa a um personagem e a conversa encolhe. Então, mais uma vez, tente</p><p>construir uma equipe de três a cinco pessoas para uma dinâmica melhor e</p><p>contribuições mais inovadoras (e basta uma pizza extragrande para todo</p><p>mundo, o que sempre ajuda).</p><p>Funções e Regras da Equipe</p><p>Em primeiro lugar, mantenha tudo simples. O foco da equipe é apoiar um design</p><p>de vida efetivo – nada mais e nada menos. Os membros da equipe não são seus</p><p>terapeutas, seus conselheiros financeiros ou seus gurus espirituais. São os</p><p>cocriadores do seu projeto de vida. O único papel que realmente precisa ser</p><p>definido é o de facilitador da equipe – a pessoa que organiza as reuniões.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Geralmente, é você. É melhor se você dirigir a programação e as comunicações</p><p>e, dessa forma, você pode ter certeza de que a equipe está nos trilhos e não</p><p>fazendo demais ou muito pouco. Mas você pode pedir a outro membro para</p><p>facilitar as reuniões ou o cargo pode ser rotativo. Realmente não importa,</p><p>contanto que alguém esteja sempre mantendo o olho no relógio, na agenda e na</p><p>conversa.</p><p>Essa última parte – a conversa – é a mais importante. O papel é ser um</p><p>facilitador, não um chefe, um árbitro ou um “líder”. Você não precisa de nada</p><p>disso. Você só precisa que alguém participe da conversa e também preste</p><p>atenção em como está indo – certificando-se de que todos são ouvidos e que as</p><p>ideias e sugestões principais não ficam perdidas no barulho, além de ajudar a</p><p>equipe a determinar que caminho seguir quando vários problemas ou</p><p>considerações surgem de uma vez (o que acontece muito). No que diz respeito</p><p>às regras, usamos apenas quatro em nossas equipes de Stanford (que</p><p>chamamos de seções).</p><p>Mantenha tudo:</p><p>1. Respeitoso</p><p>2. Confidencial</p><p>3. Participativo (não precisa se segurar)</p><p>4. Generativo (construtivo, não cético ou crítico)</p><p>Chamando Todos os Mentores</p><p>Os mentores desempenham um papel muito especial na sua comunidade ou</p><p>equipe de design de vida. Nem todos que leem este livro tiveram acesso a uma</p><p>boa experiência de mentoria, porém, alguns de vocês tiveram e nós pedimos a</p><p>todos que tentem encontrá-la. Seu esforço no design de vida será melhor se</p><p>você tiver alguns mentores que participem com você. O conceito de mentoria</p><p>tem se popularizado muito nos últimos anos e aqui estão algumas coisas que</p><p>descobrimos sobre mentoria que têm sido muito úteis para os nossos</p><p>estudantes e clientes.</p><p>Aconselhamento e Conselho. Fazemos uma clara distinção entre conselho e</p><p>aconselhamento. “Aconselhamento” é quando alguém está tentando ajudar você</p><p>a descobrir o que você está pensando. “Conselho” é quando alguém está dizendo</p><p>a você o que pensa. Felizmente, há um modo muito fácil de diferenciar as duas</p><p>situações.</p><p>Quando alguém diz “Bem... se eu fosse você, eu iria blá-blá-blá” – qualquer</p><p>momento em que você ouve “se eu fosse você” –, você está obtendo um</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>conselho. Quando alguém diz “se eu fosse você”, o que realmente quer dizer é:</p><p>“Se você fosse eu.” Essa é a função do conselho: dizer para você fazer em sua</p><p>vida o que o conselheiro faria em sua situação. Bem, isso é ótimo se você for</p><p>idêntico à pessoa que dá o conselho. Se vocês são gêmeos, vá nessa. Caso</p><p>contrário, nós raramente damos conselhos a pessoas idênticas a nós. É bom</p><p>receber conselho – só é preciso ter muito cuidado ao aceitá-lo. Se você está</p><p>recebendo conselho, tente descobrir quais são os principais valores, prioridades</p><p>e pontos de vista do conselheiro e quais experiências moldaram a evolução de</p><p>sua convicção sobre esse conselho.</p><p>Conhecemos um médico de pronto-socorro que dá a todo mundo o mesmo</p><p>conselho enfático: “Nunca ande de moto – você vai virar logo um doador de</p><p>órgãos!” Isso é um conselho muito compreensível e racional vindo de uma</p><p>pessoa que já viu muitas vítimas de acidentes de moto entrarem no hospital,</p><p>muitas delas mortas por lesões cerebrais. Mas nós também conhecemos um</p><p>artista cujas inspirações para suas pinturas a óleo muito bem-sucedidas vêm</p><p>todas de seus encontros próximos durante viagens</p><p>de motocicleta pelos Estados</p><p>Unidos – ele percorre cerca de 48 mil quilômetros por ano há 30 anos. Ele está</p><p>convencido de que a melhor maneira de ver o mundo e conhecer as pessoas</p><p>nele é na parte de trás de uma motocicleta (uma velha Harley-Davidson clássica,</p><p>de preferência). Ambos têm razão: as motocicletas são muito mais perigosas do</p><p>que os carros. Motociclismo é uma ótima maneira de ver o campo e conhecer</p><p>pessoas. Ambos são verdadeiros. O importante é como esse conselho se</p><p>relaciona com você?</p><p>Boas opiniões vêm de pessoas que têm experiência incontestável. Você quer</p><p>um especialista para ajudá-lo com o imposto de renda ou para saber se você</p><p>deve passar por cirurgia ou precisa apenas de fisioterapia para seu problema de</p><p>joelho. Não há conselheiros especialistas para sua vida. As pessoas às vezes</p><p>dizem: “Eu aceitei um conselho ruim.” Isso provavelmente não é verdade; elas</p><p>só receberam conselhos que não se encaixam em sua situação. Muitas pessoas</p><p>estarão prontas para dar conselhos sobre a sua vida. Tenha muito cuidado com</p><p>isso.</p><p>O aconselhamento é inteiramente diferente. O aconselhamento é sempre útil.</p><p>Você sempre pode ser mais claro em seu próprio pensamento. Você sempre</p><p>pode compreender melhor sua própria sabedoria e percepção. Encontrar</p><p>alguém que possa dar-lhe um bom aconselhamento e que regularmente o deixa</p><p>em um estado mental mais claro e mais estável é uma grande vantagem. É assim</p><p>que bons mentores brilham. Nós diríamos que todas as mentorias legítimas são</p><p>centradas em aconselhamento. O aconselhamento começa invariavelmente com</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>várias perguntas destinadas a compreender exatamente o que você está</p><p>dizendo e pelo que você está passando. Bons conselheiros podem parecer fazer</p><p>a mesma pergunta mais de uma vez, de diferentes pontos de vista, para ter</p><p>certeza de que eles estão entendendo. Muitas vezes tentam resumir ou</p><p>reafirmar algo que você disse e perguntam: “Entendi direito?” Essa abordagem</p><p>mostra que eles estão focados em você, não em si mesmos.</p><p>O valor da experiência de vida dos mentores quando eles estão aconselhando</p><p>não vem de pegar exemplos de fatos nem respostas que eles saibam, mas de</p><p>acessar a amplitude de sua experiência e sua objetividade, fatores que auxiliam</p><p>no processo de ajudar você a ver a sua própria realidade de uma nova maneira.</p><p>Os bons mentores passam a maior parte do tempo ouvindo e só depois</p><p>oferecem possíveis reformulações da sua situação que lhe permitirão ter novas</p><p>ideias e compreender as respostas que irão funcionar para você.</p><p>Claro, este é apenas o nosso conselho.</p><p>Discernimento. Falamos sobre o discernimento no Capítulo 9 quando</p><p>discutimos a tomada de boas decisões empregando múltiplas maneiras de</p><p>saber. Mentores podem contribuir para o seu processo de discernimento</p><p>quando for fazer escolhas. Decisões importantes raramente são fáceis e existem</p><p>muitas questões concorrentes e trocas de considerações que conspiram para</p><p>fazer muito barulho em sua cabeça. Quando você tem um cérebro barulhento, é</p><p>um ótimo momento para se conectar com um mentor que pode aconselhá-lo. O</p><p>mentor pode ouvi-lo desabafar tudo que está dentro de você e ajudá-lo a dar</p><p>sentido a tudo, separando as coisas importantes, as coisas pequenas e as coisas</p><p>irrelevantes. Um bom mentor fará isso com algum cuidado e até mesmo alguma</p><p>trepidação. Classificar e priorizar questões muitas vezes chega perto de apontar</p><p>alguém na direção de uma escolha preferida. Um bom mentor vai evitar dizer a</p><p>você o que deve fazer ou pelo menos será explicitamente cauteloso sobre os</p><p>riscos de influenciá-lo. Ele poderia dizer: “Bem, olhe, eu realmente não estou</p><p>tentando dizer que eu acho que a coisa certa é aceitar aquela promoção e</p><p>mudar-se para Pequim por um ano, mas eu notei que todas as vezes que você</p><p>fala sobre a China, você se ilumina e sorri. Você notou isso? Se for assim, você</p><p>provavelmente devia dar uma olhada. Não estou dizendo para ir para a China;</p><p>só acho que é algo em que vale a pena pensar.”</p><p>A Visão Longa e a Visão Local. Os mentores vêm sob várias formas. Algumas</p><p>pessoas têm a sorte de encontrar um mentor de vida inteira, alguém que</p><p>realmente se preocupa com suas vidas e está comprometido em caminhar com</p><p>elas durante toda a sua jornada durante anos e anos. Mas esse não é o único tipo</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>de mentor valioso. Você pode encontrar mentores especializados (paternidade,</p><p>finanças, espiritualidade etc.) e mentores sazonais (passando pela gravidez,</p><p>lidando com o seu primeiro papel de gestão, cuidando dos pais idosos, mudando</p><p>para a Costa Rica). Realmente não há regras aqui – basta estar atento para</p><p>pessoas que podem fornecer assistência de mentores para você.</p><p>Bom, você provavelmente está se perguntando onde vai encontrar todos</p><p>esses grandes mentores (se não está, então pule essa parte, você é um dos</p><p>sortudos que estão bem abastecidos de mentores). Sugerimos que há mais</p><p>pessoas capazes de dar boas orientações de mentor do que há bons mentores.</p><p>Há muitas pessoas com uma significativa experiência de vida e a disposição de</p><p>ouvir e dar aconselhamento (não apenas conselhos), mas muitas delas não</p><p>pensam em si mesmas como mentores ou não são qualificadas na prática de</p><p>orientar uma conversa. Não é que essas pessoas não sejam mentores, elas</p><p>simplesmente não são o que chamamos de mestres mentores.</p><p>Esse é o lugar em que um bom aprendiz entra em cena. Você não precisa de</p><p>mestres mentores completos. Claro que os mestres mentores são ótimos e, se</p><p>você tem alguns, agarre-se neles. Mas tudo do que você realmente precisa são</p><p>pessoas capazes e de quem você pode extrair uma contribuição vinda de um</p><p>mentor. É surpreendentemente fácil de fazer: você só tem que iniciar. Quando</p><p>identificar alguém que você pense que pode servir como mentor, encontre um</p><p>jeito de passar algum tempo com a pessoa e direcionar a conversa para as áreas</p><p>em que você quer ajuda. Especificamente, não pergunte o que ela faria, mas use</p><p>suas ideias e experiências para tentar ajudá-lo a resolver o seu próprio</p><p>raciocínio.</p><p>“Oi, Harold. Eu realmente aprecio a maneira como você e Louise criaram seus</p><p>filhos e, francamente, tudo isso de ser pai me assusta um bocado. O que acha de</p><p>eu convidar você para um café e ouvir as suas histórias sobre isso uma hora</p><p>dessas?”</p><p>Naturalmente, Harold vai dizer que sim (e, claro, essa abordagem é</p><p>surpreendentemente parecida com a forma como montamos uma conversa-</p><p>protótipo no Capítulo 6). Quando vocês se reunirem, depois de Harold contar</p><p>alguns dos momentos afetuosos e alguns dos momentos assustadores dos quais</p><p>ele se lembra, você só pergunta: “Acho que você poderia me ajudar com uma</p><p>coisa. Tem uma situação confusa com Skippy, e Lucy e eu não sabemos bem o</p><p>que fazer. Se eu disser o que temos em mente, talvez você pudesse me ajudar ao</p><p>ouvir alguns pensamentos sobre o assunto, que tal? Acho que o Skippy é bem</p><p>diferente dos seus filhos, mas você tem um ouvido experiente de pai e talvez</p><p>pudesse me ajudar a identificar as coisas mais importantes nessa minha</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>situação.”</p><p>Esse pode ser um papel diferente do que Harold está acostumado, mas ele vai</p><p>dar o seu melhor e provavelmente vai fazer tudo muito bem. Se ele entrar com</p><p>conselhos, ouça com respeito e volte para o pedido. Ele provavelmente vai</p><p>entender; se não, nada foi perdido e você pode tentar outra pessoa. Desta forma,</p><p>você pode construir seu próprio círculo de mentores sem ter que esperar que</p><p>um grande mentor apareça no horizonte.</p><p>Além da Equipe e Rumo à Comunidade</p><p>Se você é como a maioria das pessoas com quem trabalhamos, saberá que o</p><p>tempo passado com sua equipe de Design de Vida e com colaboradores é</p><p>estimulante e</p><p>revigorante. O tipo de apoio sincero e respeitoso que esperamos</p><p>que você receba é ótimo para formar hábitos. Há algo incrivelmente especial em</p><p>fazer parte de uma comunidade. É como os seres humanos devem viver.</p><p>Comunidade é mais do que compartilhar recursos ou sair de vez em quando.</p><p>É estar presente e investir na criação contínua das vidas uns dos outros. Estar</p><p>nesse tipo de comunidade é uma ótima maneira de viver, o que recomendamos</p><p>como uma prática contínua, não apenas ao fazer grandes planos ou começar</p><p>coisas novas.</p><p>Identificar quais as práticas sustentáveis que vão ajudá-lo a crescer e</p><p>desfrutar de uma vida bem projetada é parte importante da fórmula, e a</p><p>comunidade é uma prática que recomendamos bastante.</p><p>Então, o que exatamente queremos dizer com uma “comunidade” quando</p><p>estamos falando de uma experiência contínua, não apenas a sua equipe</p><p>específica de Design de Vida? Era uma vez, a maioria das pessoas encontrava-se</p><p>organicamente localizada em uma comunidade. Foram criados em uma igreja</p><p>ou em uma tradição de fé. Faziam parte de uma grande família estendida que se</p><p>reunia ativa e regularmente e de formas particulares. Podem ter sido</p><p>participantes em uma carreira, como os militares, ou uma ocupação, como o</p><p>montanhismo, que manteve uma comunidade unida com isso. Mas hoje a</p><p>maioria das pessoas não tem uma comunidade pronta – um lugar para onde</p><p>retornar regularmente em que possam ter esse tipo de conversa de vida. Para</p><p>encontrar uma “comunidade” como pretendemos, você estará procurando um</p><p>grupo de pessoas que se encaixe na maioria dos seguintes atributos:</p><p>Objetivos Similares. Comunidades saudáveis têm um objetivo além de só se</p><p>reunir. A comunidade de Dave existe para que se tornem pessoas de maior</p><p>integridade em viver a sua fé em todos os aspectos de suas vidas. A comunidade</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>de Bill se reúne para apoiar-se mutuamente, tornando-se melhores pais e</p><p>homens mais autênticos. As comunidades mais eficazes têm uma missão</p><p>explícita que as mantêm dirigidas e em movimento. É muito mais fácil manter o</p><p>movimento se você está se movendo em direção a algo. As comunidades, tanto</p><p>de Bill quanto de Dave, participam de vários tipos de atividade – sociais,</p><p>recreativas e afins –, mas há sempre aquela Estrela-Guia trazendo-as de volta ao</p><p>“porque estamos aqui”.</p><p>Reuniões Regulares. Quer a comunidade se reúna com regularidade</p><p>semanalmente, mensalmente ou por trimestre, deverá reunir-se com frequência</p><p>suficiente para manter uma conversa na qual os membros possam retomar</p><p>onde eles deixaram sem ter que sempre começar tudo outra vez. A verdadeira</p><p>intenção é que a participação na comunidade se torne uma prática em si</p><p>mesma. A comunidade não tem apenas um propósito específico de se engajar</p><p>num projeto ou terminar a leitura de um livro juntos – reúne-se porque seus</p><p>participantes concordam que uma vida vivida em comunidade constitui um</p><p>melhor design de vida e por isso continuam. Nenhum de nós poderia ter</p><p>chegado às vidas que vivemos se não fosse pela prática contínua deste tipo de</p><p>comunidade.</p><p>Terreno em Comum. Se possível, além de objetivos similares, é útil partilhar</p><p>outro terreno. Isto acontece geralmente na forma de valores ou pontos de vista.</p><p>No grupo de discussão de pais de Bill, a maioria dos homens compartilha a</p><p>esperança de ser melhores pais do que eles próprios tinham tido; eles estão</p><p>comprometidos com a honestidade total (há uma regra contra enrolação); e</p><p>todos eles estão dispostos a tentar coisas novas e “fazer o trabalho”, incluindo</p><p>exercícios loucos – como pedir a alguém para fazer-se de morto e ficar falando</p><p>sobre ele como se estivessem em seu funeral. Desde que você esteja vivo, nunca</p><p>é tarde demais para rever o conteúdo potencial da sua elegia; então cada</p><p>membro ouve e pode então decidir se gosta de quem ele se tornou ou não. Este</p><p>terreno compartilhado explícito mantém o grupo unido e a conversa em</p><p>andamento e atua como um meio de estabelecer prioridades e questões</p><p>mediadoras à medida que fazem a jornada juntos. Mesmo que um afeto</p><p>compartilhado (“todo mundo se dar bem”) e uma vontade de participar sejam</p><p>suficientes para começar, raramente vemos isso como suficiente para manter as</p><p>pessoas juntas por muito tempo.</p><p>Conhecer e Ser Conhecido. Alguns grupos são voltados para o conteúdo ou o</p><p>processo e alguns para as pessoas. Estamos falando de uma comunidade que é,</p><p>pelo menos em grande parte, voltada para as pessoas. Você pode estar em um</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>ótimo clube de leitura, onde as pessoas leem tudo e aparecem preparadas para</p><p>reflexivas discussões sobre a escrita, a narrativa e o estado da sociedade civil,</p><p>além de um pouco de vinho para acompanhar, e todos vocês realmente</p><p>gostando uns dos outros; isso é ótimo. Mas isso não é uma comunidade no</p><p>sentido que queremos. É realmente ótima – não nos interprete mal. Tem um</p><p>propósito (discussões literárias inteligentes), terreno em comum (ler romances</p><p>nos abre a mente e nos torna mais interessantes e considerados) e se reúne</p><p>regularmente (primeira terça-feira do mês), mas não estamos envolvidos na</p><p>vida de outras pessoas e realmente não precisamos conhecer uns aos outros</p><p>para fazer a comunidade funcionar. Esse ótimo clube literário provavelmente</p><p>não seria o lugar para ter essa conversa. Uma comunidade não precisa ser</p><p>composta inteiramente de íntimos, mas deve haver algum nível de revelação</p><p>pessoal sobre o que cada pessoa está fazendo e como vão as coisas.</p><p>O que torna uma comunidade eficaz não é ser feita de pessoas com a perícia</p><p>ou as informações adequadas. O que a faz funcionar são pessoas com intenções</p><p>e presença adequadas. É muito útil estar com pessoas que estão tentando ligar</p><p>os pontos e viver em coerência com elas mesmas e com o mundo de uma forma</p><p>ética. Se aproximar de um dentista que está trabalhando sinceramente para</p><p>transformar-se no melhor de si é mais encorajador e impactante, apesar de você</p><p>não ter interesse algum em odontologia, do que estar numa comunidade com</p><p>alguém que tenha exatamente os mesmos interesses e aspirações de carreira</p><p>como você, mas que não está sinceramente presente e honestamente engajado</p><p>com suas experiências de esperança e luta. Você não precisa que todos se</p><p>dispam emocionalmente, mas quer um grupo no qual você estará indo para ser</p><p>conhecido e para conhecer outros em um patamar onde irão se sentir juntos,</p><p>todos no mesmo barco.</p><p>Aqui está uma maneira de testar o que queremos dizer. Pense nos diferentes</p><p>grupos de que participou ao longo dos anos. Você provavelmente poderia</p><p>pensar nos grupos em que as pessoas falam de ideias sobre as suas vidas e</p><p>grupos em que as pessoas realmente falam sobre as suas vidas. É a diferença</p><p>entre comentaristas e participantes. Você procura uma comunidade de</p><p>participantes.</p><p>A nossa esperança para este livro é que o ajude a encontrar ou criar tal</p><p>comunidade. Claro, aproveite para lê-lo em seu próximo clube de leitura. Mas</p><p>depois procure aqueles que estão dispostos a seguir esta jornada com você. O</p><p>design de vida é uma viagem, mas realmente não é lá muito divertido viajar</p><p>sozinho.</p><p>Por agora, queremos que você saiba que o consideramos membro de nossa</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>equipe e o convidamos a fazer parte da nossa comunidade.</p><p>Descubra como no site www.designingyour.life.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Experimente</p><p>Montando Uma Equipe</p><p>1. Faça uma lista de três a cinco pessoas que podem ser uma parte de sua equipe de</p><p>Design de Vida. Pense em seus apoiadores, seus íntimos, seus mentores ou</p><p>possíveis mentores. Idealmente, serão de três a cinco pessoas também</p><p>ativamente</p><p>engajadas em projetar suas vidas.</p><p>2. Certifique-se de que todos têm um exemplar do livro (ou compre livros para todos)</p><p>para que todos os membros de sua equipe entendam como funciona o design de</p><p>vida e saibam as funções e regras da equipe.</p><p>3. Concorde em se reunir regular e ativamente para cocriar uma vida bem projetada</p><p>como comunidade.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>C</p><p>CONCLUSÃO</p><p>Uma Vida Bem Projetada</p><p>omo é uma vida bem projetada e equilibrada? Imagine um dia cortado em</p><p>partes perfeitamente iguais, como as fatias de uma torta – uma fatia para</p><p>a carreira, uma fatia para a saúde, uma fatia para a família e amigos, uma fatia</p><p>para o lazer e a diversão. Qual é a sua torta perfeita? Nós todos sabemos as</p><p>áreas de nossas vidas que precisam de um pouco mais de tempo e esforço e</p><p>poderiam se beneficiar de um pouco mais do pensamento de design e menos</p><p>preocupação, ruminação e dúvidas.</p><p>Quanto do seu dia de hoje você passou realmente se divertindo? Avançando</p><p>sua carreira? Cultivando seus relacionamentos? Cuidando da sua saúde?</p><p>Prototipando o que virá a seguir? Como realmente é a sua torta?</p><p>Vamos contar um segredo: não existe torta perfeita. É praticamente</p><p>impossível se dedicar igualmente a todas as áreas de sua vida que são</p><p>importantes para você todos os dias.</p><p>Equilíbrio acontece ao longo do tempo.</p><p>Design de vida acontece ao longo do tempo.</p><p>Bill Gates, o homem mais rico do mundo em 2015, não conseguiu esse</p><p>caminho de vida por ter equilibrado trabalho e amor todos os dias. Quando</p><p>lançou o Microsoft Windows em 1985 e tornou a empresa pública em 1986,</p><p>ninguém o teria chamado de filantropo fazendo o bem pelo mundo. E em 1998</p><p>ele provavelmente não estava dividindo o seu dia igualmente entre nutrir</p><p>relacionamentos e se defender de acusações de abuso do poder de monopólio.</p><p>O equilíbrio é um mito e causa muita dor e mágoa na maioria de nós.</p><p>Como dissemos antes, não lutamos contra a realidade; viver na realidade</p><p>significa ver e aceitar onde você está agora. Design de vida significa realmente</p><p>ser capaz de responder à pergunta: “Como é que vão as coisas?”</p><p>É possível projetar sua vida para que, no seu velório, digam: “No geral, ele</p><p>teve uma torta com as fatias bem distribuídas.”</p><p>Ok, talvez você não queira que digam exatamente isso no velório, mas deu</p><p>para entender. Sabemos que não queremos que alguém se levante no nosso</p><p>velório para dizer “Dave tinha excelentes habilidades de escrita e de</p><p>comunicação verbal” ou “Bill realmente demonstrou grande capacidade ao</p><p>conciliar prioridades concorrentes e avançar rapidamente”. A vida é mais do</p><p>que um salário e desempenho no trabalho. Todos nós queremos saber que</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>somos importantes para alguém. Todos queremos saber que nosso trabalho</p><p>contribuiu para o mundo. Todos queremos saber que um dia amamos e vivemos</p><p>o melhor que pudemos, com o máximo de propósito e significado possível e que</p><p>foi divertidíssimo fazê-lo.</p><p>E você só entende isso em retrospecto, porque uma vida bem projetada não é</p><p>um substantivo – é um verbo (tecnicamente não é um verbo, mas você sabe o</p><p>que queremos dizer).</p><p>Crença Disfuncional: Terminei de projetar minha vida; o mais difícil está feito e</p><p>tudo vai ser ótimo.</p><p>Reformulação: Você nunca termina de projetar sua vida – a vida é um projeto</p><p>infinito e alegre de construir o seu caminho.</p><p>Alguns de vocês estão lendo este livro para melhorar uma vida que já está muito</p><p>boa; outros estão lendo este livro como parte de uma transição que escolheram</p><p>ou que a realidade escolheu. Você tem planos importantes para concretizar,</p><p>você tem opções para escolher, e, quando fizer isso, a sua vida será muito</p><p>diferente do que costumava ser. Nesse sentido, seu novo design estará ativo e o</p><p>design antigo ficará para trás – e essa mudança é realmente enorme. Dá mesmo</p><p>para sentir. Mas seu design de vida não acabou.</p><p>Então, buscar seu caminho é como você encontrou a sua entrada no projeto</p><p>de vida que quer viver, é também a maneira de vivê-lo. Continue construindo o</p><p>caminho. O design não é apenas uma técnica para resolver problemas e</p><p>projetos, é um estilo de vida. Uma das razões do pensamento de design</p><p>funcionar tão bem em nossas aulas de Design de Vida e na consultoria é a sua</p><p>humanidade. Em 1963, quando a Universidade de Stanford implementou o</p><p>curso de design, foi com a abordagem única de conceber o design “centrado no</p><p>ser humano” (Human-Centered Design – HCD). Na época, essa foi uma mudança</p><p>significativa em relação às metodologias clássicas de design, que eram</p><p>centradas em perícia, arte, engenharia ou manufatura. E o trabalho de</p><p>desenvolver a metodologia de design de Stanford fez um ótimo trabalho de</p><p>manter a humanidade no centro das coisas. Como sua vida é uma empreitada</p><p>decididamente humana, faz sentido que um design centrado na condição</p><p>humana também se aplique.</p><p>Além disso, no design de vida, apenas nos interessa a questão de como</p><p>projetará sua vida – não que vida você deve viver ou porque uma vida é melhor</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>do que outra.</p><p>O nosso amigo Tim se formou na faculdade com um diploma em engenharia e</p><p>foi trabalhar no Vale do Silício. Seu primeiro emprego era projetando</p><p>microprocessadores de ponta em uma start-up promissora e acelerada.</p><p>Entretanto, após sua primeira concepção de design ter sido cancelada, Tim</p><p>reavaliou todas aquelas longas noites e finais de semana trabalhando e chegou à</p><p>conclusão de que o trabalho não iria ser mesmo o foco principal de sua vida. Ele</p><p>valorizava muito mais o lazer e o amor e percebeu que precisava fazer algumas</p><p>mudanças.</p><p>Mudou de emprego para uma empresa mais madura, subiu para uma</p><p>confortável posição sênior e ficou lá mesmo. Está no mesmo cargo há quase 20</p><p>anos, se tornou um respeitado guru técnico em sua empresa e vive recusando</p><p>promoções e o dinheiro que vem com elas.</p><p>“Você tem que ganhar dinheiro suficiente para pagar as suas contas e ter o de</p><p>que você precisa”, diz Tim. No seu caso, isso significa sustentar a família,</p><p>garantir que seus filhos tenham acesso a uma ótima educação e ter uma casa</p><p>agradável em Berkeley. “Depois disso, qual é o propósito? Prefiro ter mais</p><p>diversão e mais amigos. Dinheiro, promoções e mais responsabilidade não me</p><p>motivam. O propósito de ter um boa vida é ser feliz, não trabalhar.”</p><p>O projeto de vida do Tim está funcionando e ele é um dos caras mais</p><p>equilibrados que conhecemos. É um ótimo pai e o centro de uma vibrante vida</p><p>social, tem muitos amigos, toca música quase toda semana, tem o seu próprio</p><p>blog de bebidas, no qual ele promove suas invenções de coquetéis, lê muito e é</p><p>uma das pessoas mais felizes que conhecemos. Seu painel de</p><p>saúde/trabalho/lazer/amor está cheio de luzes verdes e ele planeja mantê-las</p><p>assim. E ele é um grande exemplo de uma vida com um design bem pensado em</p><p>que o trabalho não é a coisa mais importante.</p><p>Perturbando a Vida</p><p>Algumas das reformulações que oferecemos podem ser perturbadoras;</p><p>desaprender coisas é muitas vezes mais difícil e mais importante do que</p><p>aprendê-las. Mas podemos apostar que nada do que você aprendeu ou</p><p>desaprendeu em sua jornada conosco por este livro – por mais que tenha sido</p><p>óbvio ou perturbador ou esclarecedor – irá realmente transformá-lo em uma</p><p>pessoa diferente. Nós esperamos que só fará você ser mais como você. É isso</p><p>que o bom design sempre faz: ele libera o melhor do que já estava lá esperando</p><p>para ser encontrado e revelado. Desde a fundação, nossa metodologia de design</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>é e tem sido sempre um processo explicitamente humano que é aplicado de</p><p>forma iterativa, e postulamos que oferece não só uma abordagem inovadora de</p><p>conceber</p><p>a vida que se deseja, como uma maneira de vivê-la também. O que nos</p><p>leva de volta às cinco mentalidades.</p><p>Apresentamos a ideia de design de vida neste livro dizendo que há cinco</p><p>coisas simples que você precisa fazer: (1) ser curioso (curiosidade), (2)</p><p>experimentar coisas (tendência à ação), (3) reformular problemas</p><p>(reformulação), (4) saber que é um processo (consciência) e (5) pedir ajuda</p><p>(colaboração radical). Nós lembramos estas mentalidades ao longo do livro</p><p>enquanto percorremos as várias ideias e ferramentas que constituem o design</p><p>de vida.</p><p>Você pode aplicar algumas das cinco mentalidades praticamente em qualquer</p><p>lugar, em qualquer hora. As oportunidades de viver com curiosidade ou fazer</p><p>experimentos são inacabáveis. Nós aplicamos um exercício em nossas aulas no</p><p>qual fazemos nossos alunos identificarem duas ou três coisas em seu projeto de</p><p>vida em que eles estejam atolados, coisas que não estão indo a lugar nenhum.</p><p>Então lhes pedimos para refletir por quatro minutos sobre esse problema com</p><p>os outros dois alunos, que os ajudam a aplicar qualquer das cinco mentalidades</p><p>como uma maneira de se desemperrar. Como “ser curioso” pode ajudá-lo a</p><p>superar o medo de falar com a professora que ganhou um Prêmio Nobel? Bem...</p><p>você poderia: perguntar a outros três alunos que se reuniram com ela sobre o</p><p>que eles falaram e como foi a conversa; ver se ela menciona sua própria</p><p>experiência universitária em algum artigo ou entrevista e se ela aos 20 anos</p><p>parece com você na mesma idade; descobrir se ela já fracassou terrivelmente</p><p>em algum projeto (e sobre o que era) para fazê-la parecer mais humana e</p><p>menos assustadora. E assim por diante. Quando fazemos isso, vemos que aplicar</p><p>qualquer das mentalidades pode ajudá-lo a se soltar e tentar alguns próximos</p><p>passos. O mesmo se aplica para a vida bem vivida da qual você está querendo</p><p>participar agora. Aqui ficam alguns lembretes para cada uma das mentalidades.</p><p>Seja curioso. Tudo pode ser interessante. A curiosidade infinita é crucial para</p><p>uma vida bem projetada. Nada é chato para todo mundo (nem declarar imposto</p><p>de renda ou lavar a louça).</p><p>O que alguém interessado nisto gostaria de saber?</p><p>Como funciona?</p><p>Por que eles fazem isso dessa maneira?</p><p>Como costumavam fazer isso?</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>O que os especialistas neste campo discutem e por quê?</p><p>Qual é a coisa mais interessante acontecendo aqui?</p><p>O que não entendo sobre o que está acontecendo aqui?</p><p>Como eu poderia descobrir?</p><p>Experimente. Com uma tendência para a ação, não há mais nada disso de estar</p><p>atolado – nada de preocupação, de analisar, de ponderar ou de tentar resolver o</p><p>caminho. Apenas aja.</p><p>Como podemos tentar isso antes do dia terminar?</p><p>Sobre o que gostaríamos de saber mais?</p><p>O que posso fazer para responder a isso?</p><p>Que tipo de coisas são acionáveis e, se nós tentarmos, o que podemos aprender?</p><p>Reformule Problemas. A reformulação é uma mudança de perspectiva e quase</p><p>qualquer problema de design merece uma mudança de perspectiva.</p><p>Que perspectiva eu realmente tenho?</p><p>De onde estou vindo agora?</p><p>Que outras perspectivas poderiam ter outras pessoas? Nomeie-as e então</p><p>descreva o problema a partir da perspectiva delas, não da sua.</p><p>Reescreva seu problema usando algum dos seguintes modelos de</p><p>reformulação: seu problema na verdade é muito pequeno. Muito fácil de</p><p>corrigir. Uma oportunidade mais do que um problema. Algo que você pode</p><p>simplesmente ignorar inteiramente. Algo que você não entende ainda. Não é seu</p><p>problema. E como ficará um ano depois?</p><p>Saiba Que é um Processo. A consciência do processo significa que você não fica</p><p>mais frustrado nem perdido e que você nunca desiste.</p><p>Quais são todos os passos atrás de você e na sua frente que você pode imaginar?</p><p>O que você está pensando é mesmo pertinente à etapa em que você está agora?</p><p>Você está na etapa certa ou você está adiantado ou atrasado?</p><p>O que acontece se você não pensar mais de um passo à frente?</p><p>Qual é a pior coisa que pode acontecer? Quão provável é que isso aconteça e o</p><p>que você faria se acontecesse?</p><p>Qual é a melhor coisa que pode acontecer?</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Escreva todas as perguntas, preocupações, ideias e esperanças que você tem</p><p>e depois se pergunte se sabe o que fazer em seguida. Sente-se diferente agora?</p><p>Peça Ajuda. A colaboração radical significa que você não está sozinho no</p><p>processo. Encontre um colega com quem você possa conversar sobre o que está</p><p>acontecendo agora. Conte a essa pessoa a sua situação por cinco minutos e peça</p><p>cinco minutos de retorno e discussão. Como você se sente agora</p><p>(independentemente do que ouviu como resposta, só por falar com alguém)? Há</p><p>muitas maneiras de começar a colaboração:</p><p>Monte uma equipe.</p><p>Crie uma comunidade.</p><p>Quais são os diferentes grupos envolvidos no que você está trabalhando? Você</p><p>está conectado e conversando com todos eles? Se não, mãos à obra.</p><p>Mantenha um diário em que você possa anotar as perguntas a quem você quer</p><p>pedir ajuda e mantenha-o acessível. Semanalmente, identifique algumas</p><p>pessoas que podem ajudá-lo com algumas das anotações no diário e entre em</p><p>contato. Anote no diário as respostas e resultados dos seus ajudantes.</p><p>Encontre um mentor.</p><p>Ligue para a sua mãe (ela adoraria ouvir a sua voz, você sabe que sim).</p><p>Se você tentar manter as mentalidades como orientação ativa para entender</p><p>como você está vivendo e usá-las como parte de sua implementação de design</p><p>de vida e do seu processo de inovação, você vai pegar o jeito muito rápido. É</p><p>uma lista simples e não é preciso quase nenhum esforço para trazer essas</p><p>mentalidades à tona do seu pensamento e ver se elas podem servi-lo. Num curto</p><p>prazo, você adotará o uso de mentalidades naturais e orgânicas como parte de</p><p>seu próprio caminho.</p><p>Só Mais Duas Coisas</p><p>Além das cinco mentalidades, há mais duas coisas às quais você precisa</p><p>particularmente prestar atenção para viver sua vida bem projetada: sua bússola</p><p>e suas práticas. Sua bússola são aquelas grandes ideias de organização das suas</p><p>Visões de Trabalho e de Vida. Estas, junto com seus valores, fornecem a</p><p>fundação para a sua resposta a “Como vão as coisas?”. Elas lhe informam se</p><p>você está no caminho certo ou se está descompassado com você mesmo.</p><p>Determinam se você está vivendo uma vida coerente, em que quem você é, no</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>que acredita e o que você está fazendo estão em um alinhamento adequado.</p><p>Quando falamos com nossos alunos dois, três, cinco ou mais anos após terem se</p><p>formado e deixado a nossa turma, a bússola é um dos exercícios para os quais</p><p>eles continuam voltando. A maioria de nós sabe que nossas opiniões principais</p><p>sobre estas questões permanecem bastante constantes, mas os específicos, as</p><p>nuanças e as prioridades mudam e é muito útil ficar atento a isso. A melhor</p><p>maneira de saber o que você realmente pensa e valoriza sobre as grandes</p><p>questões da vida é perguntar a si mesmo e ver o que você tem a dizer.</p><p>Convidamos você a revisitar sua bússola pelo menos anualmente e (re)calibrá-</p><p>la. Isto irá ajudá-lo a revitalizar a criação de significado em sua vida.</p><p>Talvez a recomendação mais importante para sustentar uma vida bem</p><p>projetada é se comprometer e investir em algumas práticas pessoais das</p><p>variedades que descrevemos no Capítulo 9. Em nossas próprias vidas, nós dois</p><p>diríamos que nosso crescimento nessa área – o refinamento e a participação</p><p>disciplinada nas práticas – foi a coisa mais revigorante que já fizemos. Embora a</p><p>apreciação do valor dessas práticas (ioga, meditação, escrita/leitura de poesia,</p><p>oração etc.) esteja ganhando terreno, ela continua a ser uma área de grande</p><p>fraqueza, especialmente numa sociedade moderna. As culturas orientais</p><p>tradicionais são melhores nisso, mas, francamente, quase nenhuma cultura</p><p>moderna se sobressai</p><p>ali. A boa notícia é que até mesmo um pequeno esforço</p><p>pode trazer grandes resultados. Ao educar suas emoções e amadurecer o seu</p><p>discernimento por meio de tais práticas, você estará colhendo enormes</p><p>benefícios que são acessíveis quase diariamente.</p><p>Por exemplo, Bill se vê nutrido por uma meditação matinal (feita enquanto se</p><p>barbeia) e pela afirmação diária em seu painel de saúde: “Eu vivo no melhor de</p><p>todos os mundos possíveis. Tudo o que faço hoje, eu escolho fazer.” E então ele</p><p>repassa mentalmente tudo que fará naquele dia e lembra que todas essas coisas</p><p>são coisas que ele coloca lá, e então as escolhe de novo antes de começar o dia.</p><p>Ele também dedica tempo significativo cada semana à pintura e ao desenho</p><p>para animar seu cérebro criativo e experimentar a alegria pura da coisa. E ele</p><p>faz pelo menos uma refeição complexa, ou até gourmet, por semana, para fazer</p><p>algo criativo que pode partilhar com os outros.</p><p>Dave busca passar ao menos 20 minutos por dia em meditação silenciosa</p><p>(tecnicamente “oração centralizadora”) para se centrar no amor de Deus. Ele</p><p>também lê poesia pelo menos uma vez por semana, tentando aprender a sentir</p><p>o poema em seu corpo, não apenas lê-lo em sua cabeça. Confia em sua esposa</p><p>erudita, Claudia, para indicar leituras, já que ele habilmente projetou um</p><p>casamento com um cônjuge muito mais inteligente. E ele renuncia à velocidade</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>e emoção do ciclismo de estrada como exercício semanal para caminhar nas</p><p>colinas por pelo menos seis quilômetros com Claudia e os cães e para se</p><p>tranquilizar e ver a natureza mais intimamente.</p><p>Essas são algumas das coisas que fazemos, mas esperamos que você construa</p><p>e faça o protótipo do seu próprio conjunto de práticas para descobrir o que</p><p>funciona para ajudá-lo a viver a sua própria bem projetada vida.</p><p>Então, Como Vão as Coisas?</p><p>No início deste livro, nós apresentamos Ellen, que gostava de rochas, Janine, a</p><p>advogada à deriva, e Donald, o gerente perdido. Como o design de vida mudou a</p><p>maneira que eles usavam para responder à difícil pergunta de “como vão as</p><p>coisas?” para a forma como eles respondem agora?</p><p>Ellen sabia que não queria ser geóloga, mas também sabia que amava</p><p>algumas partes do que aprendeu na escola, especialmente a organização e</p><p>catalogação que vêm com o treino do geólogo. E ela ainda gostava de pedras,</p><p>especialmente as gemas finas usadas em joias. Então decidiu ficar boa em ser</p><p>sortuda e começou as Entrevistas do Design de Vida. Ela descobriu que</p><p>empregos de gerenciamento de projetos exigem que os candidatos se</p><p>destaquem na organização e categorização de tarefas e pessoas. Isso parecia</p><p>combinar com ela. Depois de mais algumas entrevistas, ela entrou em contato</p><p>com uma start-up que estava fazendo, entre outras coisas, leilões de joias on-</p><p>line. Seu amor pelas “pedras” e seu talento organizacional vieram à tona na</p><p>conversa, e sua curiosidade sobre a empresa realmente se destacou. A</p><p>Entrevista do Projeto de Vida rapidamente se transformou em uma entrevista</p><p>de emprego. Dois anos e várias promoções mais tarde, ela agora é a gerente de</p><p>contas para tudo que a empresa faz nos seus leilões de alta moda.</p><p>Janine realmente trabalhou na sua bússola e desenvolveu práticas pessoais</p><p>que a ajudaram a reconhecer e confiar na sua própria voz. Ela descobriu que a</p><p>razão pela qual o diário se tornara tão importante para ela era que é escritora –</p><p>poeta, na verdade. Depois de trabalhar na sua escrita como hobby por um</p><p>tempo, ela e o seu marido decidiram que era hora de ela “ir fundo”, e então</p><p>entrou em um mestrado de poesia. Começou agora uma nova (e frugal) vida</p><p>como oradora, escritora e poeta.</p><p>Donald usou a mentalidade da curiosidade para reformular sua queixa de</p><p>“por que diabos eu estou fazendo isso?”. Com uma nova pergunta, “o que é tão</p><p>interessante por lá que mantém todas essas pessoas vindo e voltando a esta</p><p>empresa dia após dia?”, ele fez muitas entrevistas com seus colegas, procurando</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>os que estavam realmente se divertindo e descobrindo o que diabos estavam</p><p>fazendo lá. Quando ele combinou suas percepções dessas histórias com os</p><p>resultados do seu Diário dos Bons Momentos, o padrão era claro. A maneira de</p><p>retomar energia era voltar a se concentrar nas pessoas. Ele descobriu que não</p><p>estava no lugar errado, estava apenas no estado de espírito errado. Ele tinha</p><p>ficado tão preocupado com o quê e o como do sucesso do negócio e das</p><p>responsabilidades familiares que tinha esquecido completamente o porquê e o</p><p>quem. Ele se reinventou sem ter que mudar nada sobre sua situação.</p><p>Reformular seu trabalho de “terminar o trabalho” para “criar uma cultura</p><p>dinâmica onde meus funcionários amam seu trabalho” foi transformador.</p><p>Nem Ellen, nem Janine, nem Donald (nem Clara, Elise, Kurt, Chung ou...)</p><p>usaram todas as ferramentas, mas todos eles encararam o desafio, desatolaram-</p><p>se e construíram seu caminho. Somos gratos por conhecê-los e ter feito uma</p><p>pequena parte de suas vidas.</p><p>Sabemos que escrever um livro chamado O design da sua vida dá a cada um</p><p>de nós a oportunidade de ser um exemplo vivo de como as coisas funcionam ou</p><p>de ser um grande hipócrita. Cada um de nós colocou essas ideias e ferramentas</p><p>para trabalhar diariamente e estamos constantemente prototipando novas</p><p>maneiras de pensar e novas maneiras de viver em uma vida bem projetada. Nós</p><p>compartilhamos com você algumas de nossas práticas diárias e o incentivamos</p><p>a ir ao nosso site (www.designingyour.life) para uma lista completa de práticas</p><p>diárias que você pode experimentar.</p><p>Nossas vidas estão em constante evolução – de engenheiros a consultores, a</p><p>professores, a autores – e a cada passo da jornada estamos constantemente</p><p>gratos e perpetuamente curiosos para ver como será nossa vida bem projetada</p><p>da próxima vez.</p><p>Ao longo deste livro compartilhamos com você as histórias de muitas pessoas</p><p>com quem trabalhamos e aprendemos no caminho. Embora nem todo mundo</p><p>esteja “vivendo o sonho”, podemos dizer com confiança que cada um de nossos</p><p>colaboradores que implementou pelo menos algumas dessas ferramentas e</p><p>ideias, senão todas, realmente progrediu de formas que nenhum deles tinha</p><p>experimentado antes.</p><p>Temos uma colaboração longa e radical com milhares de estudantes e</p><p>clientes que embarcaram nesta jornada do design de vida conosco e esperamos</p><p>colaborar com você.</p><p>Esperamos que você nos conte como está indo e, mais importante, esperamos</p><p>que você seja capaz de responder “como vão as coisas?” satisfatoriamente para</p><p>você mesmo.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>O design de vida é, em última instância, uma transformação no modo de ver e</p><p>viver a vida. O resultado final de uma vida bem projetada é uma vida bem</p><p>vivida.</p><p>E, realmente, o que mais poderíamos esperar?</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Notas</p><p>Introdução: Um Projeto de Vida</p><p>1. Jon Krakower, inventor da configuração do notebook Apple, ver patente europeia EP 0515664 B1,</p><p>computador portátil com teclado integrado, dispositivo de controle de cursor e descanso para as mãos</p><p>e Artemis March, Apple PowerBook (A): Design Quality and Time to Market, Design Management</p><p>Institute Case Study 9-994-023 (Boston: Design Management Institute Press, 1994).</p><p>2. Lindsay Oishi, “Enhancing Career Development Agency in Emerging Adulthood: An Intervention Using</p><p>Design Thinking”, tese de doutorado, Graduate School of Education, Universidade de Stanford, 2012.</p><p>TS Reilly, “Designing Life: Studies of Emerging Adult Development”, tese de doutorado, Graduate</p><p>School of Education, Universidade de Stanford, 2013.</p><p>3. Para saber mais sobre essas empresas, visite http://embraceglobal.org e https://d-rev.org.</p><p>4. William</p><p>parágrafo anterior possa soar um tanto melodramático, muitas</p><p>pessoas descrevem suas vidas exatamente assim. Mesmo aqueles que têm a</p><p>sorte de encontrar uma carreira que amam frequentemente se veem frustrados</p><p>e têm dificuldade de criar uma vida equilibrada. É hora de pensar de outro jeito</p><p>sobre tudo.</p><p>O pensamento de design envolve algumas atitudes bem simples. Este livro lhe</p><p>ensinará a identificá-las e usá-las para projetar sua vida.</p><p>As cinco atitudes que irá aprender para projetar sua vida são: curiosidade,</p><p>propensão para ação, reformulação, consciência e colaboração radical. Essas são</p><p>as suas ferramentas de design e, com elas, poderá construir o que quiser –</p><p>inclusive uma vida que ame.</p><p>Seja curioso. A curiosidade torna tudo novo, convida à exploração e faz com que</p><p>qualquer coisa fique mais divertida. E, acima de tudo, a curiosidade irá ajudá-lo</p><p>a “ser ótimo em ter sorte”. Ela é a razão pela qual algumas pessoas veem</p><p>oportunidades em todos os lugares.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Experimente. Quando você tem propensão para ação, está comprometido em</p><p>construir o seu caminho dali por diante. Não tem aquela de sentar no banco dos</p><p>reservas e ficar pensando no que irá fazer, o lance aqui é entrar em campo e</p><p>jogar. Os designers experimentam e testam as coisas. Criam protótipo atrás de</p><p>protótipo, fracassando com frequência, até encontrarem aquilo que funciona e</p><p>resolve o problema. Algumas vezes, eles se dão conta de que o problema é</p><p>inteiramente diferente do que achavam que era. Os designers aceitam as</p><p>mudanças. Eles não são apegados a um objetivo em particular, porque estão</p><p>sempre focados no que irá acontecer a seguir e não em qual será o resultado</p><p>final.</p><p>Reformule os problemas. A reformulação é como os designers saem de impasses.</p><p>Além disso, a reformulação garante que eles estão tratando do problema certo.</p><p>O design de vida envolve algumas reformulações principais que permitem que</p><p>você dê um passo para trás, examine seus vieses e desenvolva novos espaços de</p><p>solução. Ao longo deste livro, iremos reformular crenças disfuncionais que</p><p>impedem as pessoas de alcançar as carreiras e as vidas que desejam.</p><p>Reformular é essencial para encontrar os problemas e as soluções certos.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Saiba que é um processo. Todos sabemos que a vida pode ficar confusa. Às vezes</p><p>parece que, para cada passo adiante, você dá dois para trás. Saiba que, ao longo</p><p>desse processo, você cometerá erros e jogará fora protótipos. Uma parte muito</p><p>importante do processo é abrir mão das coisas – da sua ideia inicial e daquela</p><p>solução boa, mas não brilhante. Projetos incríveis podem nascer do caos. A mola</p><p>de brinquedo Slinky teve sua origem no caos, assim como também o Teflon, a</p><p>Super Bonder, a massinha de modelar. Nenhuma dessas coisas existiria se um</p><p>designer não tivesse errado feio. Quando aprende a pensar como um designer,</p><p>você aprende a ter consciência do processo. O design de vida é uma jornada;</p><p>liberte-se da meta final, concentre-se no processo e veja o que acontece a seguir.</p><p>Peça ajuda. A última habilidade do pensamento de design talvez seja a mais</p><p>importante, especialmente quando se trata de projetar a sua vida: é a</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>colaboração radical. É simples: significa que você não está sozinho. Os melhores</p><p>designers sabem que os grandes designs exigem colaboração radical, precisam</p><p>de uma equipe. Um pintor pode criar uma obra de arte sozinho em uma praia</p><p>deserta, mas um designer não consegue criar um iPhone sozinho, seja numa</p><p>praia deserta ou em qualquer outro lugar. E a sua vida está muito mais para um</p><p>grande design do que para uma obra de arte, portanto, você também não</p><p>conseguirá criá-la sozinho. Você não precisa conceber um projeto de vida</p><p>brilhante por conta própria. O design é um processo colaborativo e muitas das</p><p>melhores ideias virão de outras pessoas. Você precisa apenas perguntar e saber</p><p>quais as perguntas certas a fazer. Neste livro, você irá aprender a usar mentores</p><p>e comunidades de apoio para ajudá-lo a criar o seu projeto de vida. Quando</p><p>pede ajuda ao mundo, o mundo lhe estende as mãos de volta. E isso muda tudo.</p><p>Em outras palavras, o design de vida, como todo e qualquer design, é um</p><p>esporte coletivo.</p><p>A Antipaixão é a Nossa Paixão</p><p>Muitas pessoas seguem a crença disfuncional de que só precisam encontrar</p><p>aquilo que desperta sua paixão. Sabendo qual é sua paixão, tudo vai dar certo,</p><p>como por mágica. Nós não gostamos dessa noção por uma razão muito boa: a</p><p>maioria das pessoas não sabe qual é a sua paixão.</p><p>O nosso colega William Damon, diretor do Centro de Adolescência de</p><p>Stanford, descobriu que só um em cada cinco jovens entre as idades de 12 e 26</p><p>anos tem uma noção clara de que caminho querem ir, do que querem conseguir</p><p>na vida e do porquê.[4] A nossa experiência sugere também que 80% das</p><p>pessoas – de qualquer idade – não sabem ao certo o que as apaixona.</p><p>Portanto, as conversas com os orientadores vocacionais frequentemente são</p><p>assim:</p><p>Orientador Vocacional: “O que mais o apaixona?”</p><p>Candidato a Emprego: “Não faço ideia.”</p><p>Orientador Vocacional: “Bem, volte quando souber.”</p><p>Alguns orientadores vocacionais submetem os participantes a testes para</p><p>avaliar seus interesses e pontos fortes ou para sondar suas habilidades, mas</p><p>todo mundo que fez um desses testes sabe que as conclusões frequentemente</p><p>não são nada conclusivas. Além do mais, não é útil saber que você pode ser um</p><p>piloto, um engenheiro ou um ascensorista. Portanto, não somos muito</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>apaixonados por encontrar sua paixão – na verdade, acreditamos que as</p><p>pessoas precisam de tempo para desenvolvê-la. As pesquisas mostram que,</p><p>para a maioria das pessoas, a paixão aparece após experimentarem algo de que</p><p>gostam e adquirirem alguma destreza no assunto, não antes. Em suma: a paixão</p><p>é o resultado, não a causa, de um bom projeto de vida.</p><p>A maioria dessas pessoas não é apaixonada por uma única coisa, um</p><p>motivador que guia todas as decisões de suas vidas e incute cada momento com</p><p>propósito e significado. Se você descobriu que estudar os hábitos de</p><p>acasalamento e a evolução de moluscos do período Cambriano até o presente é</p><p>o seu propósito na vida, parabéns. Charles Darwin passou 39 anos estudando</p><p>minhocas; parabéns para ele. O que não parabenizamos é o método de projeto</p><p>de vida que exclui 80% da população. Na verdade, a maioria das pessoas se</p><p>entusiasma por muitas coisas diferentes e a única maneira de saber o que</p><p>querem seguir é prototipar algumas vidas possíveis, experimentá-las e</p><p>entender o que realmente faz sentido. Falamos sério aqui: você não precisa</p><p>saber qual é a sua paixão para projetar a vida que ama. Quando souber como</p><p>prototipar a jornada adiante, você estará a caminho de descobrir o que</p><p>realmente ama, tendo ou não uma paixão.</p><p>Uma Vida Bem Projetada</p><p>Uma vida bem projetada é uma vida que faz sentido. É uma vida na qual quem</p><p>você é, aquilo em que acredita e o que pratica são alinhados. Quando tem uma</p><p>vida bem projetada e alguém lhe pergunta como vão as coisas, você tem a</p><p>resposta. Pode dizer àquela pessoa que sua vida vai muito bem e pode explicar</p><p>como e por quê. Uma vida bem projetada é um maravilhoso portfólio de</p><p>experiências, de aventuras, de fracassos que lhe ensinaram lições valiosas, de</p><p>dificuldades que o fortaleceram e o ajudaram a se conhecer melhor e de</p><p>realizações e conquistas. Vale a pena enfatizar que os fracassos e as tribulações</p><p>fazem parte de cada vida, mesmo aquelas bem projetadas.</p><p>Vamos ajudá-lo a entender o que significa uma vida bem projetada para você.</p><p>Nossos alunos e clientes dizem que é bem divertido. Também dizem que é cheio</p><p>de surpresas. Podemos assegurar</p><p>Damon, The Path to Purpose: How Young People Find Their Calling in Life (Nova York: Free</p><p>Press, 2009).</p><p>2. Construindo Uma Bússola</p><p>1. Nós tiramos muitas de nossas ideias e exercícios do trabalho do movimento da psicologia positiva e</p><p>especialmente da obra de Martin Seligman. A noção de que “as pessoas que podem fazer uma conexão</p><p>explícita entre seu trabalho e algo socialmente significativo para elas são mais propensas a encontrar</p><p>satisfação e são mais capazes de se adaptar às inevitáveis tensões e compromissos que vêm com o</p><p>trabalho no mundo” é uma das ideias mais importantes do livro de Seligman Flourishing: A Visionary</p><p>New Understanding of Happiness and Well-Being (Nova York: Atria Books, 2012).</p><p>3. Achando o Seu Caminho</p><p>1. Para mais informações sobre o conceito de fluxo, veja Flow: The Psychology of Optimal Experience por</p><p>Mihaly Csikszentmihalyi (Nova York Harper Perennial, 2008).</p><p>2. Veja a palestra de Suzana Herculano-Houzel no TED Talk, “What is so special about the human brain”</p><p>https://www.ted.com/talks/suzana_herculano_houzel_what_is_so_special_about_the_human_brain e</p><p>Nikhil Swaminathan, “Why Does the Brain Needs so Much Power?” Scientific American, 29 de abril de</p><p>2008, http://www.scientificamerican.com/article/why-does-the-brain-need-s/.</p><p>3. A estrutura AEIOU vem de Dev Patnaik, Needfinding: Design Research and Planning (Amazon’s</p><p>CreateSpace Plataforma de Publicações Independentes, 2013).</p><p>5. Projete Suas Vidas</p><p>1. Steven P. Dow, Alana Glassco, Jonathan Kass, Melissa Schwarz, Daniel L. Schwartz e Scott R. Klemmer,</p><p>“Parallel Prototyping Leads to Better Design Results, More Divergence, and Increased Self-Efficacy”</p><p>ACM Transactions on Computer-Human Interactions 17, no. 4 (dez. 2010).</p><p>2. Além de Homero e dos gregos, pedimos emprestado o termo “Anos de Odisseia” de David Brooks,</p><p>notável colunista do New York Times. Em sua coluna de 9 de outubro de 2007, Brooks descrevia as</p><p>novas realidades dos americanos de 22 a 35 anos de idade ao dizer: “Com um pouco de imaginação é</p><p>possível mesmo para baby boomers entender o que é estar no meio dos anos de odisseia [itálicos</p><p>adicionados]. É possível ver este período de improvisação como uma resposta sensata às condições</p><p>atuais.” David Brooks, “The Odyssey Years,” The Opinion Pages, New York Times October 9, 2007,</p><p>http://www.nytimes.com/2007/10/09/opinion/09brooks.html?_r=0.</p><p>7. Como Não Conseguir Um Emprego</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>1. A partir de um relatório de 2015, The Recruitment Power Shift: How Candidates are Powering the</p><p>Economy, no CareerBuilder, que pode ser encontrado em</p><p>http://careerbuildercommunications.com/candidatebehavior/.</p><p>8. Projetando o Emprego dos Sonhos</p><p>1. https://test.naceweb.org/press/faq.aspx.</p><p>9. Escolhendo Ser Feliz</p><p>1. Peter Salovey e John D. Mayer, “Emotional Intelligence”, Imagination, Cognition and Personality 9</p><p>(1990): 185-211.</p><p>2. Dan Goleman é o autor de Emotional Intelligence (Nova York: Bantam, 1995) e da sequência Social</p><p>Intelligence: The New Science of Human Relationships (Nova York: Bantam, 2006) de onde extraímos a</p><p>noção da “sabedoria das emoções”. Para um interessante e informativo resumo destas ideias, acesse a</p><p>página de Palestras de Inteligência Social de Dan em https://www.youtube.com/watch?v=-</p><p>hoo_dIOP8k</p><p>3. Para saber mais sobre as ideias de Dan Gilbert sobre “sintetizar a felicidade” assista a sua Palestra TED</p><p>“The Surprising Science of Happiness”</p><p>http://www.ted.com/talks/dan_gilbert_asks_why_are_we_happy e leia Stumbling on Happiness (Nova</p><p>York: Knopf, 2006).</p><p>4. Para saber mais sobre as ideias de Barry Schwartz sobre escolhas, assista a sua Palestra TED, ”The</p><p>Paradox of Choice?” https://www.ted.com/talks/barry_schwartz_on_the_paradox_of_choice?</p><p>language=en.</p><p>10. Imunidade ao Fracasso</p><p>1. Os estudos de Angela Duckworth sobre a perseverança e o autocontrole estão resumidos em um ótimo</p><p>artigo: Daniel J. Tomasulo, “Grit: What Is It and Do You Have It?” Psychology Today, 8 de janeiro de</p><p>2014, https://www.psychologytoday.com/blog/the-healing/201401/grit-what-is-it-and-do-you-</p><p>have-it.</p><p>2. James P. Carse, Finite and Infinite Games (Nova York: Free Press, 1986).</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Os Autores</p><p>Bill Burnett é diretor do curso de graduação e pós-graduação em design em</p><p>Stanford. Em seu currículo, constam os projetos do premiado Powerbook da</p><p>Apple e dos action figures da franquia Star Wars da Hasbro, além de diversas</p><p>patentes mecânicas e de design.</p><p>Dave Evans é professor adjunto do curso de Design de Produto da Stanford e foi</p><p>um dos cofundadores da Electronic Arts, após uma passagem pela Apple. Além</p><p>de sua carreira acadêmica, Evans também presta consultoria para diversas</p><p>empresas start-up da Internet.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Introdução: Um Projeto de Vida</p><p>1. Comece de Onde Está</p><p>2. Construindo Uma Bússola</p><p>3. Achando Seu Caminho</p><p>4. Desempacar</p><p>5. Projete Suas Vidas</p><p>6. Prototipagem</p><p>7. Como Não Conseguir Um Emprego</p><p>8. Projetando o Emprego dos Sonhos</p><p>9. Escolhendo Ser Feliz</p><p>10. Imunidade ao Fracasso</p><p>11. Montando Uma Equipe</p><p>Conclusão: Uma Vida Bem Projetada</p><p>Notas</p><p>Os Autores</p><p>que às vezes estará bem longe da sua zona de</p><p>conforto. Vamos fazer pedidos que podem parecer estranhos ou pelo menos</p><p>diferentes do que lhe foi ensinado lá no passado.</p><p>Curiosidade</p><p>Propensão para Ação</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Reformulação</p><p>Consciência</p><p>Colaboração Radical</p><p>O que acontece quando você faz isso tudo? O que acontece quando você se</p><p>engaja no projeto de vida? Na verdade, algo bem extraordinário acontece. As</p><p>coisas que deseja começam a aparecer em sua vida. Você começa a ouvir falar</p><p>de oportunidades de emprego com as quais andava sonhando. Pessoas com</p><p>quem você quer se encontrar por acaso estão na sua cidade. O que está</p><p>acontecendo? Para começo de conversa, é aquela coisa de “ser bom de sorte”</p><p>que mencionamos antes, uma soma de curiosidade e consciência e uma</p><p>consequência do uso das cinco habilidades. Além disso, o processo de</p><p>descoberta de quem você é e do que deseja tem um efeito extraordinário em sua</p><p>vida. Precisará de esforço e ação, sem dúvida, mas, surpreendentemente,</p><p>parecerá que todos estão conspirando para ajudá-lo. E, por ter consciência do</p><p>processo, você irá se divertir muito ao longo do caminho.</p><p>Estaremos com você durante todo o processo para guiá-lo, para desafiá-lo. Nós</p><p>lhe daremos as ideias e ferramentas de que necessita para projetar sua</p><p>trajetória. Vamos ajudá-lo a encontrar seu próximo emprego. Sua próxima</p><p>carreira. Sua próxima mudança. Vamos ajudá-lo a projetar sua vida: uma vida</p><p>que ama.</p><p>* A trackball é um periférico de entrada semelhante ao mouse. Nele, o usuário deve manipular uma</p><p>esfera para mover o cursor na tela. (N. da T.)</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>O Design</p><p>da Sua Vida</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>H</p><p>1</p><p>Comece de Onde Está</p><p>á uma placa no estúdio de design em Stanford que diz Você Está Aqui.</p><p>Nossos alunos adoram essa placa. É um tanto esclarecedora. Não importa</p><p>de onde você veio, aonde pensa ir, qual a carreira ou o emprego que seguiu ou</p><p>acha que deveria seguir. Você não está atrasado ou adiantado. O pensamento de</p><p>design pode ajudá-lo a construir seu caminho de qualquer ponto de partida,</p><p>independentemente de qual problema de design você está enfrentando. No</p><p>entanto, antes de descobrir em qual direção seguir, você precisa saber onde está</p><p>situado e quais problemas de design está tentando resolver. Como já</p><p>demonstramos, designers adoram problemas, e, quando pensa como um</p><p>designer, você aborda os problemas com uma mentalidade totalmente</p><p>diferente. Designers adoram o que chamam de problemas perversos. Não são</p><p>“perversos” por serem malignos ou fundamentalmente ruins, mas por serem</p><p>resistentes a uma solução. Encaremos: você não está lendo este livro por ter as</p><p>respostas, por estar no seu emprego ideal e ter uma vida com mais propósito e</p><p>significado do que pode imaginar. Em algum lugar, em alguma área da sua vida,</p><p>você está emperrado.</p><p>Você tem um problema perverso.</p><p>E este é um maravilhoso ponto de partida.</p><p>Encontrar Problema + Resolver Problema = Vida Bem Projetada</p><p>No pensamento de design, nós colocamos tanta ênfase na busca do problema</p><p>quanto em sua solução. Afinal de contas, que sentido faz trabalhar no problema</p><p>errado? Salientamos isso porque na verdade não é tão fácil assim entender</p><p>quais são os nossos problemas. Às vezes achamos que precisamos de um novo</p><p>patrão ou um novo emprego, mas com frequência não sabemos o que funciona</p><p>ou não em nossas vidas. Muitas vezes abordamos os problemas como se fossem</p><p>casos de adição ou subtração. Queremos adquirir algo (adicionar) ou perder</p><p>algo (subtrair). Queremos adquirir um emprego melhor, mais dinheiro, mais</p><p>sucesso, mais equilíbrio ou perder dez quilos, infelicidade, dor. Ou podemos ter</p><p>só uma vaga sensação de descontentamento, ou de querermos algo a mais ou</p><p>algo diferente.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Normalmente, definimos nosso problema pela carência de algo, mas nem</p><p>sempre. A questão é a seguinte:</p><p>Você tem problemas.</p><p>Seus amigos têm problemas.</p><p>Todos nós temos problemas.</p><p>Às vezes esses problemas têm a ver com trabalho, às vezes com a família, a</p><p>saúde, o amor, o dinheiro ou qualquer combinação dessas coisas. Às vezes</p><p>nossos problemas parecem tão complicados que nem tentamos resolvê-los.</p><p>Vamos vivendo com eles, como um colega de quarto irritante de quem nos</p><p>queixamos, mas que não conseguimos despejar. Os nossos problemas se tornam</p><p>a nossa história, e podemos ficar presos nas histórias. Decidir quais problemas</p><p>resolver é uma das decisões mais importantes que você pode tomar, porque é</p><p>possível perder anos (ou a vida inteira) no problema errado.</p><p>Dave teve um problema uma vez. Ok, ele teve muitos problemas e</p><p>poderíamos até dizer que este livro inteiro foi inspirado na sua espantosa</p><p>inépcia, mas este problema em particular o prendeu por anos.</p><p>Dave começou a estudar em Stanford no curso de biologia, mas percebeu logo</p><p>que não só detestava biologia, como também estava indo horrivelmente mal. Ele</p><p>tinha acabado a escola acreditando que seu destino seria o de biólogo marinho</p><p>pesquisador de campo. Havia duas pessoas responsáveis por esta versão</p><p>particular do sonho de Dave: Jacques Cousteau e a sra. Strauss.</p><p>Cousteau foi seu herói de infância. Ele assistiu a todos os episódios de O</p><p>mundo submarino de Jacques Cousteau e secretamente imaginava que tinha sido</p><p>ele o inventor do tanque respiratório Aqua-Lung, não Jacques. Dave também</p><p>gostava muito de focas, tanto que acabou achando que a coisa mais legal do</p><p>mundo seria ser pago para trabalhar com focas. Ele também queria saber se as</p><p>focas acasalavam no mar ou em terra (só com o nascimento do Google muitos</p><p>anos depois é que ele aprendeu que a maioria das espécies acasala em terra).</p><p>Sua segunda razão para tornar-se biólogo marinho tinha a ver com a sra.</p><p>Strauss, sua professora de biologia no ensino médio. Dave ia bem em todas as</p><p>matérias da escola, mas biologia era a sua disciplina favorita. Por quê? Porque a</p><p>sra. Strauss era sua professora favorita. Ela fazia a biologia parecer muito</p><p>interessante; era uma ótima professora. Mas Dave percebeu erroneamente uma</p><p>correlação entre o ensino competente e a matéria do seu interesse. Se o seu</p><p>professor de educação física fosse tão bom quanto a sra. Strauss, Dave acabaria</p><p>pensando que o seu destino seria pendurar um apito no pescoço e defender a</p><p>prática do jogo de queimado no escritório.</p><p>Portanto, a união profana entre Jacques Cousteau e a sra. Strauss acabou</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>custando a Dave dois anos de esforço no problema errado. O problema que ele</p><p>pensou estar resolvendo era o de como tornar-se um biólogo marinho ou, mais</p><p>concretamente, como herdar o Calypso de Cousteau, quando este morresse.</p><p>Dave começou a faculdade com a firme convicção de que seu futuro estava na</p><p>biologia marinha; mas, como Stanford não tinha um curso específico de biologia</p><p>marinha, ele decidiu estudar biologia no geral. Detestou. Na época, as aulas de</p><p>biologia consistiam principalmente de bioquímica e biologia molecular. Os</p><p>estudantes de medicina estavam arrasando na aula, mas Dave não. Estava sendo</p><p>destruído academicamente, assim como estava destruindo seu sonho de um dia</p><p>ser pago para brincar com as focas e falar com um sotaque francês.</p><p>Ele decidiu então que, para resolver este problema de detestar biologia e ter</p><p>notas horríveis, tudo de que precisava fazer era praticar um pouco de ciência</p><p>verdadeira: a pesquisa em um laboratório de biologia o aproximaria dos hábitos</p><p>de acasalamento das focas. Arranjou um jeito de participar de uma pesquisa de</p><p>RNA, mas na prática só limpava tubos de testes. Era terrivelmente maçante e ele</p><p>se sentia ainda pior.</p><p>Trimestre atrás de trimestre, os monitores de biologia e os técnicos de</p><p>laboratório lhe</p><p>perguntavam por que estava se formando em biologia. Dave</p><p>então começava a falar sobre Cousteau, a sra. Strauss e as focas, mas eles o</p><p>interrompiam para dizer: “Você não é bom em biologia. Você nem gosta disso.</p><p>Você só faz reclamar e encher o saco. Você devia largar. Você devia mudar de</p><p>curso. Você só é bom em discutir, talvez você devesse virar advogado.”</p><p>Apesar de um tsunâmi de reações negativas, Dave persistiu, continuando a</p><p>trabalhar no “problema” de melhorar as notas em biologia, porque tinha uma</p><p>ideia fixa sobre seu destino. Estava tão concentrado na questão que jamais</p><p>encarou o verdadeiro problema: que ele não deveria estudar biologia e que esta</p><p>sua ideia de destino estava errada desde o princípio.</p><p>Nossa experiência, tendo passado horas atendendo os alunos, mostra que as</p><p>pessoas perdem muito tempo no problema errado. Com sorte, se darão muito</p><p>mal logo e serão obrigadas pelas circunstâncias a trabalhar em problemas</p><p>melhores. Se tiverem pouca sorte e forem espertas, terão sucesso – o que</p><p>chamaremos de sucesso desastroso – e acordarão dez anos depois se</p><p>perguntando como chegaram aqui e por que são assim tão infelizes.</p><p>O fracasso de Dave como biólogo marinho foi tão profundo que ele não teve</p><p>outra saída senão admitir a derrota e mudar de curso. Foram dois anos e meio</p><p>para lidar com um problema que ficou bem claro aos demais após duas</p><p>semanas. Finalmente, transferiu a matrícula para engenharia mecânica, onde</p><p>teve sucesso e foi feliz.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Ainda guarda, no entanto, a esperança de um dia poder brincar com as focas.</p><p>A Mentalidade do Iniciante</p><p>Se Dave soubesse pensar como um designer ainda na escola, teria abordado o</p><p>problema do seu curso universitário com uma mentalidade de iniciante. Em vez</p><p>de supor que sabia as respostas antes de formular as perguntas, ele teria sido</p><p>curioso. Ele teria entrevistado alguns biólogos marinhos para saber o que</p><p>exatamente fazem esses biólogos. Ele teria ido ao Hopkins Marine Station de</p><p>Stanford, perto do campus da faculdade, e perguntado como trabalhar em</p><p>biologia marinha com um diploma em bioquímica. Ele teria tentado coisas</p><p>novas. Por exemplo, poderia ter passado algum tempo em mar aberto e</p><p>descobrir se era mesmo como o que via na televisão. Poderia ter sido voluntário</p><p>em um navio de pesquisa, até mesmo ter passado algum tempo perto de focas</p><p>na vida real. Em vez disso, começou a faculdade com a cabeça feita e acabou</p><p>aprendendo da maneira mais difícil que talvez a sua primeira ideia não tivesse</p><p>sido a melhor.</p><p>Não é assim com todo mundo? Com que frequência nos apaixonamos por</p><p>nossa primeira ideia e depois nos recusamos a abandoná-la, mesmo que dê</p><p>muito errado? Mais importante, será boa ideia deixar que a nossa versão de</p><p>dezessete anos, empolgada mas equivocada, determine o que faremos para o</p><p>resto de nossas vidas? E agora? Quantas vezes apostamos na nossa primeira</p><p>ideia sem fazer as perguntas necessárias, achando que sabemos as respostas?</p><p>Com que frequência paramos para pensar se estamos trabalhando no problema</p><p>certo?</p><p>“Eu preciso de um emprego melhor” não é a solução se o problema é “Não</p><p>estou feliz trabalhando e prefiro ficar em casa com as crianças”. Cuidado com</p><p>começar a trabalhar em um ótimo problema que não é o problema certo, não é o</p><p>seu problema. Você não resolve um problema de casamento no escritório ou um</p><p>problema de trabalho com uma nova dieta. Parece óbvio, mas, como Dave,</p><p>podemos perder muito tempo trabalhando no problema errado.</p><p>Temos também a tendência a nos prender ao que chamamos de problemas</p><p>gravitacionais.</p><p>“Estou com este grande problema e não sei o que fazer a respeito.”</p><p>“Poxa, Jane, qual é o problema?”</p><p>“É a gravidade.”</p><p>“Gravidade?”</p><p>“É – está me deixando maluca! Sinto-me cada vez mais pesada. Estou com</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>dificuldade para pedalar a bicicleta em subidas. Está sempre assim, não vai</p><p>embora. Não sei o que fazer. Você pode me ajudar?”</p><p>Este exemplo pode parecer bobo, mas ouvimos versões diferentes destas</p><p>“questões gravitacionais” o tempo todo.</p><p>“Poetas não ganham dinheiro suficiente em nossa cultura. Não são</p><p>respeitados como deveriam. O que posso fazer?”</p><p>“A empresa para a qual trabalho é da mesma família há cinco gerações. De</p><p>jeito nenhum eu, vindo de fora, posso me tornar um executivo. O que posso</p><p>fazer?”</p><p>“Estou desempregado há cinco anos. Vai ser bem mais difícil conseguir um</p><p>emprego e isso é injusto. O que posso fazer?”</p><p>“Eu quero voltar para a faculdade para estudar medicina, mas isso leva uns</p><p>dez anos, e não quero investir tanto tempo nesta altura da minha vida. O que</p><p>posso fazer?”</p><p>Estes são todos problemas gravitacionais, ou seja, não são problemas reais.</p><p>Por quê? Porque se não é acionável não é um problema. Vamos repetir. Se não é</p><p>acionável, não é um problema. É uma situação, uma circunstância, um fato da</p><p>vida. Pode ser chato, mas, como a gravidade, não é um problema que se possa</p><p>resolver.</p><p>Aqui vai uma dica que vai lhe economizar bastante tempo: meses, anos,</p><p>décadas. Tem a ver com a realidade. As pessoas lutam contra a realidade. Lutam</p><p>com unhas e dentes com toda sua energia. E todas as vezes que discutem ou</p><p>brigam com a realidade, a realidade vence. Não se pode ser mais esperto do que</p><p>ela. Não se pode enganá-la. Não se pode dobrá-la à nossa vontade.</p><p>Nem agora, nem nunca.</p><p>Um Anúncio de Interesse Público Sobre Gravidade e</p><p>Serviço Público</p><p>Você já ouviu a expressão “Não se pode lutar contra o sistema”? É o velho ditado</p><p>dos problemas de gravidade. Todo mundo sabe que não se pode lutar contra o</p><p>sistema. Você pode responder: “Ei! Claro que pode! Martin Luther King lutou</p><p>contra o sistema. O meu amigo Phil lutou contra o sistema. Precisamos de mais</p><p>gente lutando contra o sistema, não menos! Você está nos dizendo para desistir</p><p>dos problemas difíceis?”</p><p>Você levanta uma questão pertinente. Portanto, é importante explicar como</p><p>lidar com o que chamamos problemas de gravidade. Lembre-se de que o nosso</p><p>objetivo é evitar que você fique preso a algo que não seja acionável. Quando</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>você fica atolado num problema de gravidade, fica atolado permanentemente,</p><p>porque não há nada que você possa fazer – e designers são, principalmente,</p><p>pessoas que fazem.</p><p>Reconhecer duas variações de problemas gravitacionais: os totalmente não</p><p>acionáveis (como a própria gravidade) e os funcionalmente não acionáveis</p><p>(como a receita anual média de um poeta em tempo integral). Alguns de vocês</p><p>estão tentando decidir se a coisa que os emperra é um problema de gravidade</p><p>não acionável ou só um problema muito difícil que exige esforço e sacrifício,</p><p>tem muita chance de dar errado, mas vale a pena. Vamos olhar para este tópico</p><p>difícil examinando cada problema de gravidade mencionado anteriormente.</p><p>Pedalar Contra a Gravidade. Não se pode mudar a gravidade. Seria preciso</p><p>reposicionar a órbita da Terra, o que é uma proposta insana. Esqueça.</p><p>Simplesmente aceite. Ao aceitar, você se liberta para contornar aquela situação</p><p>e trabalhar em algo que seja acionável. A ciclista poderia investir numa bicicleta</p><p>ultraleve. Ela poderia tentar perder algum peso. Ela poderia aprender as</p><p>últimas técnicas para tornar as subidas mais eficientes (parece que pedalar</p><p>rápido nas marchas mais baixas é mais fácil e requer mais resistência do que</p><p>força, o que é mais fácil de acumular).</p><p>O Salário do Poeta. Para mudar o salário médio dos poetas, você precisa alterar o</p><p>mercado da poesia e fazer as pessoas comprarem mais poemas ou pagarem</p><p>mais para obtê-los. Bem, você pode tentar. Você pode escrever cartas louvando</p><p>a poesia e enviá-las às editoras. Ou ir porta a porta convidando</p><p>as pessoas para</p><p>um sarau de poesia no seu bar favorito. É um tiro no escuro. Embora possa</p><p>trabalhar neste “problema” de um modo que não é possível com a gravidade,</p><p>recomendamos que você o aceite como uma situação não acionável. Se você</p><p>aceitar, sua atenção estará livre para trabalhar em outras soluções para outros</p><p>problemas.</p><p>Cinco Anos Procurando Emprego. As estatísticas não falham neste caso. Se você</p><p>está desempregado há muito tempo, a tarefa de conseguir um novo emprego</p><p>será cada vez mais difícil. Pesquisas comparando currículos idênticos, com a</p><p>única diferença sendo a duração do desemprego, deixam claro que as empresas</p><p>costumam evitar pessoas que estão há muito tempo desempregadas –</p><p>aparentemente concluindo, sem fundamento, que se outros não o contrataram</p><p>até então foi por uma boa razão. Este é um problema de gravidade. Você não</p><p>pode mudar a impressão dos empregadores. Já que você não pode mudar como</p><p>eles pensam, que tal mudar como você se apresenta a eles? Você pode trabalhar</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>como voluntário e fazer uma lista de realizações profissionais significantes sem</p><p>precisar entrar em detalhes de quão pouco ganhou até mais tarde. Você pode</p><p>identificar postos nas indústrias onde há menos discriminação pela idade.</p><p>(Dave é grato por ter entrado no campo da educação já mais tarde na vida.</p><p>Agora sua idade é vista como uma fonte de sabedoria, e não como uma tentativa</p><p>de se passar por especialista em marketing com clientes com metade da sua</p><p>idade, cientes de que ele não pertence à era digital e que na realidade já não</p><p>“saca” mais nada.) Mesmo perante as mais assustadoras realidades, você tem</p><p>sempre alguma liberdade a aproveitar. Saiba qual é e entre em ação em vez de</p><p>lutar contra a gravidade.</p><p>O Estranho no Negócio da Família. Então, nos últimos 132 anos, ninguém cujo</p><p>sobrenome não era Fiddleslurp exerceu um cargo executivo na companhia, mas</p><p>parece que finalmente chegou a hora e você está certo de ser quem dará este</p><p>passo. Trabalhando com afinco e paciência, em até cinco anos aquele título de</p><p>vice-presidente será seu. Tudo bem, você pode investir esses cinco anos, mas,</p><p>por favor, saiba que não há qualquer indicação de que seu objetivo será</p><p>alcançado. A decisão é sua, mas pode valer mais a pena comprar um bilhete de</p><p>loteria. Você tem outras opções. Pode escolher uma empresa que não seja</p><p>administrada por uma única família. Mas você gosta da cidade, as crianças estão</p><p>felizes na escola local. Tudo bem, então reconheça as vantagens de aceitar a</p><p>situação. Reformule o legado familiar da empresa como sua fonte de</p><p>estabilidade profissional, com um salário decente, numa firma confiável.</p><p>Sabendo que você não terá que aumentar suas responsabilidades com todos os</p><p>ajustes causados por intermináveis promoções, você será capaz de aprender o</p><p>trabalho tão bem que o fará em 35 horas por semana, resultando em um ótimo</p><p>equilíbrio entre trabalho e vida (e tempo para escrever mais poesia!). Talvez</p><p>você esteja procurando mais valor em vez de mais autoridade. Se for o caso,</p><p>você pode encontrar uma nova função ou oferta capaz de aumentar os lucros da</p><p>empresa e se tornar um especialista – a pessoa a quem consultar – naquele</p><p>departamento. Você será sempre um gerente, nunca o vice-presidente, mas,</p><p>como responsável por tanto valor, pode ser o gerente mais bem pago da</p><p>empresa. Quem precisa de títulos se a compensação é satisfatória?</p><p>Dez Anos Para Ser Médico. Mais uma vez, este é um problema real de gravidade –</p><p>a menos que você queira começar o seu projeto de vida pela reforma do sistema</p><p>de ensino médico (o que é muito difícil, já que possui um diploma em medicina).</p><p>Não, nós também não entraríamos nessa. O que você pode fazer é mudar a sua</p><p>maneira de pensar e ter em mente que já no segundo ano de faculdade se</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>começa a tratar pacientes e “praticar medicina”. A maior parte da prática</p><p>médica nos hospitais é feita pelos residentes – os estagiários que terminaram a</p><p>faculdade obtiveram seus diplomas e agora trabalham como aprendizes nas</p><p>enfermarias. Se você não pode mudar a sua vida (por causa da gravidade), você</p><p>pode mudar a forma de pensar. Ou pode escolher um caminho diferente: ser um</p><p>assistente médico e fazer o que muitos médicos fazem por uma fração do custo</p><p>e tempo de treinamento. Ou entrar no campo do bem-estar e da segurança de</p><p>saúde, dirigindo programas de prevenção para uma companhia de seguros</p><p>progressista e, portanto, fazendo uma diferença no campo da saúde sem estar</p><p>no lado do cuidado clínico do paciente.</p><p>O segredo consiste em não ficar atolado naquilo em que você não tem a</p><p>menor chance de sucesso. Nós apoiamos objetivos agressivos que mudem o</p><p>mundo. Lute, sim, por favor, contra o sistema. Oponha-se à injustiça. Lute pelos</p><p>direitos da mulher. Cultive a justiça alimentar. Resolva o problema dos</p><p>moradores de rua. Combata o aquecimento global. Mas seja esperto. Se você</p><p>abrir a cabeça o suficiente para aceitar a realidade, estará livre para reformular</p><p>um problema acionável e projetar uma maneira de participar de coisas que</p><p>realmente importam para você e que podem até funcionar. É isso o que</p><p>procuramos aqui: queremos dar-lhe a melhor oportunidade para viver da</p><p>maneira que deseja, aproveitar esta vida, e talvez até fazer uma diferença no</p><p>mundo enquanto isso. Vamos ajudá-lo a criar o melhor projeto de vida</p><p>disponível na sua realidade, não em um mundo de ficção com poetas ricos e</p><p>menos gravidade.</p><p>A única resposta a um problema gravitacional é a aceitação. É por aí que</p><p>todos os bons designers começam. É a fase do “Você Está Aqui”. É por isso que</p><p>você começa de onde está. Não de onde você deseja estar. Não de onde você</p><p>pensa que deveria estar. Mas exatamente onde está.</p><p>A Avaliação do Design de Vida</p><p>Para começar de onde estamos, precisamos classificar a vida em algumas áreas:</p><p>saúde, trabalho, lazer e amor. Como já dissemos, o enfoque será mais no</p><p>trabalho, mas você não será capaz de compreender como projetar o design do</p><p>seu trabalho até entender como este cabe no resto da sua vida. Portanto, para</p><p>começar de onde estamos, temos que saber onde estamos. Para isso, fazemos</p><p>um balanço da nossa situação, fazendo o nosso próprio inventário para</p><p>avaliação. É uma forma de obter uma caracterização articulada de onde estamos</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>e responder à pergunta antiga “Como vão as coisas?”. Mas primeiro temos que</p><p>definir as áreas que irão fundamentar a sua resposta.</p><p>Saúde. Desde os primórdios da civilização, pessoas responsáveis reconhecem as</p><p>vantagens de cuidar da saúde. E por “saúde” queremos dizer estar bem de</p><p>cabeça, corpo e espírito – saúde mental, saúde física e saúde emocional. A</p><p>importância relativa de cada um destes aspectos depende de você. Como mede</p><p>a própria saúde nestas áreas fica por sua conta. Mas, quando descobrir como</p><p>define “saúde”, precisa prestar atenção nela. O quão saudável você é terá um</p><p>peso significativo na sua avaliação de qualidade de vida para responder como</p><p>vão as coisas.</p><p>Trabalho. Por “trabalho” queremos dizer a sua participação na grande aventura</p><p>da humanidade no planeta. Você pode ou não estar sendo pago por isso, mas é o</p><p>que você “faz”. Se você não for financeiramente independente, normalmente</p><p>você é pago por pelo menos parte do seu “trabalho”. Não restrinja de forma</p><p>alguma o conceito de trabalho somente àquele que lhe paga um salário. A maior</p><p>parte das pessoas tem mais de uma forma de trabalho.</p><p>Lazer. Lazer é só alegria. Se você observar crianças brincando (estamos falando</p><p>aqui mais sobre elas sujarem as mãos de lama do que competirem em</p><p>campeonatos</p><p>de futebol), você verá o tipo de lazer de que estamos falando.</p><p>Lazer é qualquer ação que lhe proporciona alegria. Certamente pode incluir</p><p>atividades organizadas, competitivas e produtivas, mas só quando é feito “pela</p><p>alegria de fazer”. Quando uma atividade é feita para vencer, para avançar, para</p><p>realizar – mesmo que seja “divertido” fazê-lo –, não é mais lazer. Pode ser algo</p><p>maravilhoso, mas ainda assim não é lazer. A questão aqui é o que lhe traz</p><p>alegria simplesmente por fazer.</p><p>Amor. Todos sabem o que é o amor. E todos sabem quando o sentem ou não. O</p><p>amor faz o mundo girar, e quando falta parece que o nosso mundo não está tão</p><p>emocionante. Não vamos tentar definir o amor (seja como for, você tem sua</p><p>própria ideia sobre o assunto), nem temos fórmulas para encontrar o seu</p><p>verdadeiro amor (há muitos livros sobre o assunto), mas sabemos que devemos</p><p>prestar atenção no tema. O amor vem numa vasta gama de tipos, do afeto à</p><p>comunidade ao erotismo, e em uma série de fontes, de pais e amigos a colegas e</p><p>amantes, mas todos têm esse aspecto pessoal, a sensação de ligação. Quem são</p><p>as pessoas da sua vida e como o amor está fluindo de você aos outros e deles</p><p>para você?</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Então – Como Vão as Coisas?</p><p>Não há avaliação nem julgamento que nós (ou qualquer outra pessoa) possamos</p><p>fazer da sua vida nessas quatro áreas. Todos precisamos remodelar pelo menos</p><p>um desses aspectos da vida. Consciência e curiosidade são as atitudes de design</p><p>de que você precisa para começar a construir seu caminho.</p><p>O exercício abaixo vai ajudá-lo a descobrir onde está e qual problema de</p><p>design gostaria de atacar. Você não tem como saber aonde ir sem antes saber</p><p>onde está.</p><p>Não tem mesmo, é sério.</p><p>Faça o exercício.</p><p>É a razão da placa Você Está Aqui.</p><p>O Painel de Saúde/Trabalho/Lazer/Amor</p><p>Uma maneira de fazer o balanço da sua situação atual, seu “Você Está Aqui”, é</p><p>focar no que chamamos de painel de saúde/trabalho/lazer/amor, como as luzes</p><p>do painel do seu carro. Essas luzes dão informações sobre o estado do seu</p><p>carro: Há gasolina suficiente para completar a viagem? Há óleo no motor para</p><p>que funcione normalmente? Estará superaquecendo e prestes a enguiçar? Da</p><p>mesma forma, o painel STLA lhe dirá algo sobre as quatro coisas que lhe dão</p><p>energia e enfoque para a sua jornada e mantêm a sua vida funcionando</p><p>normalmente.</p><p>Crença Disfuncional: Eu já deveria saber para onde vou.</p><p>Reformulação: Você não tem como saber para onde vai sem saber onde está.</p><p>Pedimos que você faça um balanço do seu estado de saúde e das maneiras</p><p>como trabalha, brinca e ama. A saúde está na base do diagrama porque, bem,</p><p>quando você não está bem de saúde, nada mais na sua vida funciona direito.</p><p>Trabalho, lazer e amor ficam por cima de saúde e representam as três áreas de</p><p>atenção que achamos ser importantes. Queremos enfatizar que não há</p><p>equilíbrio perfeito entre estas áreas. Nós todos temos misturas diferentes de</p><p>saúde, trabalho, lazer e amor em épocas distintas das nossas vidas. Um jovem</p><p>solteiro recém-formado na faculdade pode ter saúde física em abundância,</p><p>muito trabalho e lazer, mas não ter ainda um relacionamento romântico</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>significativo. Um jovem casal com filhos vai ter bastante lazer, mas de forma</p><p>diferente de quando ainda não tinham filhos. E, à medida que envelhecemos, a</p><p>saúde vai se tornando uma preocupação maior. Haverá uma mistura adequada</p><p>para você, que você saberá qual é em qualquer estágio da vida.</p><p>Quando você pensar sobre a saúde, sugerimos que faça mais do que uma</p><p>consulta de rotina no médico. Uma vida bem projetada é apoiada por um físico</p><p>saudável, uma mente ativa e frequentemente, embora não sempre, por alguma</p><p>forma de prática espiritual. E por “espiritual” não queremos necessariamente</p><p>dizer “religiosa”: chamamos de espiritual qualquer prática que seja baseada em</p><p>algo em que acreditemos ser maior que nós mesmos. Repetindo, não há um</p><p>equilíbrio perfeito objetivo entre estas áreas distintas, somente uma impressão</p><p>pessoal e subjetiva de que “tenho o suficiente” ou “está faltando algo”.</p><p>Mesmo que um equilíbrio perfeito não seja o nosso objetivo, uma olhada</p><p>neste diagrama pode às vezes nos alertar de que algo está errado. Como uma luz</p><p>de emergência no painel do carro, o diagrama pode servir como indicador de</p><p>que é hora de encostar o carro para ver o que há de errado.</p><p>Por exemplo, Fred, um empresário que conhecemos, deu uma olhada no</p><p>painel e notou que as categorias de lazer e saúde estavam quase vazias. Seu</p><p>painel de instrumentos estava assim:</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>PAINEL DE CONTROLE DO FRED</p><p>Fred tinha tomado cuidado em destinar tempo para a sua mulher e a família –</p><p>start-ups podem causar problemas em relacionamentos –; portanto gostou do</p><p>que viu no indicador do amor. Estava disposto a deixar de lado o tempo de</p><p>lazer, porque estava metido até o pescoço em sua empresa; portanto, a falta de</p><p>equilíbrio não o incomodava tanto assim. No entanto, a avaliação ajudou-o a</p><p>entender que tinha abusado principalmente da saúde, onde piscava uma luz</p><p>vermelha no painel. “Para ser um empresário de alto desempenho e sucesso,</p><p>especialmente com o nível de estresse de começar uma start-up, não posso me</p><p>dar ao luxo de adoecer. Preciso cuidar da minha saúde, especialmente agora.”</p><p>Fred fez umas mudanças: contratou um personal trainer, começou a malhar três</p><p>vezes por semana e assumiu o compromisso de escutar um áudio-livro de</p><p>conteúdo intelectual ou espiritualmente estimulante por semana no caminho</p><p>para o trabalho. Ele relata que sua eficiência no trabalho aumentou e que ficou</p><p>muito mais satisfeito com o trabalho e a vida com esta nova combinação.</p><p>PAINEL DE CONTROLE DA DEBBIE</p><p>Debbie, uma gerente de produtos da Apple que recentemente parou de</p><p>trabalhar para cuidar dos filhos gêmeos, ficou surpresa ao achar seu painel</p><p>reconfortante. “Achava que, já que não estava mais ‘trabalhando’, tinha perdido</p><p>a minha identidade de trabalho. Compreendi então que se eu desse o valor</p><p>apropriado ao trabalho que estava fazendo por meus filhos e pela minha casa</p><p>estaria trabalhando até mais do que antes. E tenho cuidado bastante da minha</p><p>mente e do meu corpo para garantir que eu desfrute muito tempo de qualidade</p><p>com os gêmeos. Esse painel de instrumentos valida a minha escolha de parar de</p><p>trabalhar por dinheiro enquanto meus filhos forem pequenos.”</p><p>Essas foram as histórias de Fred e Debbie. Agora vamos começar com o seu</p><p>painel de instrumentos.</p><p>Clube SPA</p><p>outubro•2020</p><p>Seu Indicador de Saúde</p><p>Como já dissemos, estar saudável para nós significa estar bem não apenas</p><p>fisicamente – é necessário levar em consideração também a mente e o espírito. A</p><p>importância relativa de cada área depende inteiramente de você. Faça uma</p><p>rápida avaliação da sua saúde e preencha o seu indicador: você está um quarto,</p><p>metade, três quartos ou completamente cheio? (Bill também encheu os seus</p><p>indicadores do painel como exemplo para referência.)</p><p>A maneira como você classifica a sua saúde influirá significativamente na forma</p><p>como você avalia a qualidade de sua vida e naquilo que você gostaria de redefinir</p><p>daqui para a frente.</p><p>Saúde</p><p>O exemplo de Bill:</p><p>Saúde: O estado geral da saúde está bom, fiz um check-up completo</p><p>recentemente. Estou com o colesterol um pouco alto, deveria perder uns sete</p><p>quilos para chegar ao meu peso ideal, não tenho feito exercícios, estou fora de</p><p>forma e fico sem fôlego se preciso correr para pegar o ônibus. Leio e escrevo</p><p>sobre a minha filosofia de vida, trabalho e amor; leio sobre as mais recentes</p><p>pesquisas sobre a mente e sobre a ligação entre corpo e mente, mas estou</p><p>perdendo a memória mais rápido do que</p>