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<p>Disciplina: Poderes e Deveres Administrativos</p><p>Modalidade de Curso</p><p>Pós-Graduação</p><p>PODERES E DEVERES</p><p>ADMINISTRATIVOS</p><p>2</p><p>2</p><p>SUMÁRIO</p><p>NOSSA HISTÓRIA .............................................................................................. 3</p><p>1 - CONTROLE JUDICIAL DOS ATOS ADMINISTRATIVOS .................... 4</p><p>1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 4</p><p>1.2. ORIGEM HISTÓRICA DO CONTROLE EXERCIDO PELO PODER</p><p>JUDICIÁRIO ................................................................................................................... 5</p><p>1.3. SISTEMAS ADMINISTRATIVOS ............................................................. 7</p><p>1.4. CONTROLE JUDICIAL SOBRE OS ATOS ADMINISTRATIVOS ...... 9</p><p>1.4.1 - DIREITO ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO CIVIL. SERVIDORES</p><p>DO DETRAN/DF. RECEBIMENTO DE PROVENTOS E VENCIMENTOS NO</p><p>BANCO DE BRASÍLIA - BRB. LEGALIDADE. PRINCÍPIO DA SUPREMACIA</p><p>DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE O PRIVADO. ................................................ 12</p><p>1.4.2 - TRANSPORTE INTERMUNICIPAL. ALTERAÇÃO DE PARADAS.</p><p>ATO DISCRICIONÁRIO. ............................................................................................ 13</p><p>1.5. ATOS SUJEITOS AO CONTROLE DO PODER JUDICIÁRIO ......... 13</p><p>1.6. MEIOS DE CONTROLE DOS ATOS ADMINISTRATIVOS PELO</p><p>PODER JUDICIÁRIO .................................................................................................. 15</p><p>1.7. CONCLUSÃO ........................................................................................... 17</p><p>REFERÊNCIAS ................................................................................................ 18</p><p>3</p><p>3</p><p>NOSSA HISTÓRIA</p><p>A nossa história inicia-se com a ideia visionária e da realização do sonho de um</p><p>grupo de empresários na busca de atender à crescente demanda de cursos de Graduação</p><p>e Pós-Graduação. E assim foi criado o Instituto, como uma entidade capaz de oferecer</p><p>serviços educacionais em nível superior.</p><p>O Instituto tem como objetivo formar cidadão nas diferentes áreas de</p><p>conhecimento, aptos para a inserção em diversos setores profissionais e para a</p><p>participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e assim, colaborar na sua</p><p>formação continuada. Também promover a divulgação de conhecimentos científicos,</p><p>técnicos e culturais, que constituem patrimônio da humanidade, transmitindo e</p><p>propagando os saberes através do ensino, utilizando-se de publicações e/ou outras</p><p>normas de comunicação.</p><p>Tem como missão oferecer qualidade de ensino, conhecimento e cultura, de</p><p>forma confiável e eficiente, para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base</p><p>profissional e ética, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no</p><p>atendimento e valor do serviço oferecido. E dessa forma, conquistar o espaço de uma</p><p>das instituições modelo no país na oferta de cursos de qualidade.</p><p>4</p><p>4</p><p>1 - CONTROLE JUDICIAL DOS ATOS ADMINISTRATIVOS</p><p>1. INTRODUÇÃO</p><p>Reflexão, tendo por base estudo histórico, doutrinário e jurisprudencial, a</p><p>fim de construir uma compreensão mais apurada acerca dos temas que</p><p>envolvem o controle exercido pelo Poder Judiciário em face dos atos</p><p>administrativos levados a cabo pela Administração Pública. São apresentados e</p><p>diferenciados os sistemas contencioso administrativo e de jurisdição única;</p><p>delimitando que é este último que vigora no ordenamento jurídico brasileiro.</p><p>Delineiam-se as espécies de atos administrativos que restam vinculados ao</p><p>controle do Poder Judiciário, quais sejam, os atos administrativos em geral, os</p><p>atos políticos, os atos legislativos e os atos interna corporis; determinando, desta</p><p>mesma forma, quais destes estão submetidos ao controle comum e quais ao</p><p>controle especial exercidos pelo Poder Judiciário. Em sucinta abordagem</p><p>histórica, atesta-se que o controle judicial, que incide sobre os atos</p><p>administrativos, teve sua origem, bem como o próprio Direito Administrativo, nas</p><p>revoluções liberais do século XVIII na Europa. Depreende-se das análises</p><p>doutrinária e jurisprudencial que a autoridade administrativa dispõe do poder</p><p>vinculador e do poder discricionário para a prática de seus atos, bem como que</p><p>é o Poder Judiciário o órgão máximo de controle dos atos administrativos.</p><p>O presente texto tem como objetivo o estudo doutrinário e jurisprudencial</p><p>acerca do controle exercido pelo Poder Judiciário em face dos atos</p><p>administrativos realizados pela Administração Pública. Seu marco inicial consiste</p><p>na análise da origem histórica do controle exercido pelo Poder Judiciário sobre</p><p>os demais poderes e da premissa da conformação ao princípio da legalidade,</p><p>posto que embora o nosso ordenamento jurídico esteja firmado sobre a</p><p>instituição do Estado de Direito, que prevê a separação de poderes, o poder é</p><p>uno e decorre da Constituição, sendo que a ela devem se conformar todos os</p><p>atos emanados pelo Poder Público.</p><p>5</p><p>5</p><p>Nesse cotejo, a diferenciação entre os sistemas do contencioso</p><p>administrativo e da jurisdição única como forma de estabelecer qual o sistema</p><p>adotado como forma de controle sobre os atos administrativos no Brasil é</p><p>providencial para qualquer estudo acerca do tema, figurando entre os objetivos</p><p>secundários dessa breve revisão bibliográfica.</p><p>Igualmente, se busca ainda aferir quais são os atos que se veiculam ao</p><p>controle do Poder Judiciário e ainda a diferenciação entre atos vinculados e atos</p><p>discricionários. Os primeiros se inserem naqueles atos aos quais a lei</p><p>previamente estabelece requisitos para a sua prática, e os últimos tidos como os</p><p>atos aos quais a Administração possui um poder maior de liberdade no que</p><p>concerne a conveniência e oportunidade de sua prática e ainda sobre o seu</p><p>mérito.</p><p>Por fim, busca-se distinguir ainda quais os atos que são sujeitos ao</p><p>controle comum e quais atos são sujeitos ao controle especial pelo Poder</p><p>Judiciário, bem como os meios que podem ser utilizados para tanto, tais com o</p><p>uso do mandado de segurança individual e coletivo, ação declaratória de</p><p>inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade, como forma de</p><p>proteção contra atos de abuso e ilegalidade proferidos pela Administração</p><p>Pública.</p><p>1.2. ORIGEM HISTÓRICA DO CONTROLE EXERCIDO PELO PODER</p><p>JUDICIÁRIO</p><p>O Controle judicial sobre os atos administrativos tem origem, assim como</p><p>o Direito Administrativo, com a formação do Estado de Direito, sendo este</p><p>estruturado sobre a égide do princípio da legalidade e da separação dos</p><p>poderes, princípios estes que têm como objetivo primordial assegurar e</p><p>promover os direitos individuais e coletivos.</p><p>A partir das revoluções liberais do século XVIII que tinham como objetivo</p><p>por fim ao regime absolutista derivado da Idade Média, é formado o chamado</p><p>Estado de Direito. Enquanto durante o absolutismo, o poder era todo instituído</p><p>6</p><p>6</p><p>ao Monarca sendo que a lei era derivada da sua própria vontade e este ainda</p><p>possuía um poder ilimitado para governar; o Estado de Direito assentou suas</p><p>bases nos princípios da legalidade e da separação de poderes, este último</p><p>derivado da teoria defendida por Montesquieu.</p><p>Ainda no absolutismo, a Administração Pública era de responsabilidade</p><p>do Soberano, que possuía poderes ilimitados para administrar os órgãos</p><p>estatais, o povo e todos os outros bens públicos. Por conseguinte, os atos do</p><p>Soberano se sobrepunham inclusive ao controle de qualquer ordenamento</p><p>jurídico, posto que, conforme exposto acima, a sua vontade é que era lei.</p><p>De acordo com a Teoria da Separação dos Poderes, defendida por</p><p>Montesquieu, podemos observar</p><p>a sistematização de três poderes essenciais</p><p>para a formação do Estado, quais sejam: o Poder Legislativo, o Poder Executivo</p><p>e o Poder Judiciário. Assim, o poder, que é uno, estaria sujeito a uma divisão de</p><p>competências para organizar as funções estatais; cada órgão teria funções</p><p>atribuídas que limitariam a centralização de poderes. Ocorre que justamente pelo</p><p>fato de que o poder é uno e deriva da instituição de um Estado, é que podemos</p><p>dizer que não há uma separação absoluta de poderes, visto que a própria</p><p>Constituição Federal Brasileira, logo em seu artigo 2º, expõe que “São poderes</p><p>da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o</p><p>Judiciário”. Ao expor isso o Legislador coloca que cada poder é independente,</p><p>no entanto todos derivam de um poder maior, derivado da instituição de um</p><p>Estado de Direito e que, por isso, eventualmente alguns desses poderes podem</p><p>sofrer algumas interferências como forma de assegurar a harmonia entre eles. É</p><p>o que chamamos de adoção do sistema de freios e contrapesos.</p><p>Dessa forma, constatada a possibilidade de haver controle sobre o</p><p>exercício de alguma das funções desempenhadas por esses três poderes, é</p><p>preciso ressaltar que este se faz, essencialmente, pela busca de um maior</p><p>equilíbrio e harmonia no desempenho das funções estatais, evitando ainda que</p><p>a sobreposição de um poder ao outro, conforme expõe Silva abaixo:</p><p>A harmonia entre os poderes verifica-se primeiramente pelas normas de</p><p>cortesia no trato recíproco e no respeito às prerrogativas e faculdades a que</p><p>7</p><p>7</p><p>mutuamente todos têm direito. De outro lado, cabe assinalar que nem a divisão</p><p>de funções entre os órgãos do poder nem sua independência são absolutas. Há</p><p>interferências, que visam ao estabelecimento de um sistema de freios e</p><p>contrapesos, à busca do equilíbrio necessário à realização do bem da</p><p>coletividade e indispensável para evitar o arbítrio e o desmando de um em</p><p>detrimento do outro e especialmente dos governados”. (SILVA, 2005, p. 110)</p><p>Dessa forma, podemos dizer então que o controle exercido pelo Poder</p><p>Judiciário sobre os atos administrativos tem origem com a instituição do Estado</p><p>de Direito, estruturado principalmente sobre o princípio da separação de poderes</p><p>e sobre o princípio da legalidade, o qual é traduzido na Constituição Federal</p><p>Brasileira em seu artigo 5º, inciso II, que estabelece que “ninguém será obrigado</p><p>a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.</p><p>1.3. SISTEMAS ADMINISTRATIVOS</p><p>Por sistema administrativo entendemos o regime adotado em cada Estado</p><p>para regular as atividades administrativas ilegais praticadas pelo Poder Público</p><p>em qualquer repartição governamental. São basicamente dois os modelos de</p><p>sistemas administrativos: o contencioso administrativo e o sistema de jurisdição</p><p>única.</p><p>O sistema do contencioso administrativo foi desenvolvido na França e se</p><p>espalhou para outros países da Europa, tendo decorrido das revoluções liberais</p><p>que ocorreram no século XVIII. Conforme exposto acima durante a análise da</p><p>teoria desenvolvida por Montesquieu, a Revolução Francesa buscava por fim ao</p><p>antigo regime absolutista e, por conseguinte, a separação dos poderes. Diante</p><p>deste cenário, e ainda o instituído pelas teorias liberais, o controle da</p><p>Administração Pública foi separada do controle da Justiça Comum, o que se</p><p>observa pela instituição da Lei nº 16 de 24/08/1790 na França, a qual estabelecia</p><p>que:</p><p>As funções judiciárias são distintas e permanecerão separadas das</p><p>funções administrativas. Não poderão os juízes, sob pena de prevaricação,</p><p>8</p><p>8</p><p>perturbar, de qualquer maneira, as atividades dos corpos administrativos.</p><p>(Revista de Informação Legislativa, v.16, nº 62, p. 271-280, abr./jun. de 1979)</p><p>Assim, devido à rígida separação de poderes que ocorreu na França, e</p><p>consoante a instituição da lei acima, o controle dos atos administrativos estaria</p><p>exclusivamente reservado à apreciação da jurisdição do contencioso</p><p>administrativo que possui como órgão máximo de fiscalização o Conselho de</p><p>Estado Francês. Dessa forma, à Justiça Comum desse país cabe somente o</p><p>controle dos atos praticados por particulares, mas não dos praticados pela</p><p>Administração.</p><p>Já o sistema de jurisdição única foi desenvolvido na Inglaterra e</p><p>posteriormente foi adotado nos Estados Unidos, Brasil, e outros países que não</p><p>compartilharam do modelo desenvolvido na França, tendo como fundamento que</p><p>todos os litígios, seja os administrativos ou os particulares, sejam julgados por</p><p>um único órgão, ou seja, pelo Poder Judiciário. A formação desse sistema</p><p>também decorreu em virtude das reivindicações do povo contra os privilégios da</p><p>Coroa Inglesa, posto que antes todo o poder, seja de administração ou de</p><p>julgamento, era concentrado nas mãos do Soberano. Logo depois as funções de</p><p>administração passaram a ser exercidas pelo parlamento, no entanto as funções</p><p>de julgamento ainda se encontravam atribuídas ao Monarca com a instituição do</p><p>Tribunal do Rei. Somente posteriormente, com a instituição do Decreto de</p><p>Estabelecimento de 1971 é que temos a separação do Poder Judiciário do Poder</p><p>Real, quando as questões comuns e administrativas passaram a ser julgadas</p><p>por este.</p><p>O Brasil adotou o sistema de jurisdição única, derivado do modelo</p><p>adaptado pelos Estados Unidos, posto que cabe ao Poder judiciário, em caráter</p><p>definitivo, o julgamento dos atos praticados tanto pelos particulares quanto pela</p><p>Administração Pública, e inclusive nas questões que envolvam ambas as partes.</p><p>Nessa mesma linha, Bandeira de Melo expõe que:</p><p>Entre nós, que adotamos, neste particular – e felizmente -, o sistema</p><p>anglo-americano, há unidade de jurisdição, isto é, cabe exclusivamente ao Poder</p><p>Judiciário o exercício pleno da atividade jurisdicional. Ato algum escapa ao</p><p>9</p><p>9</p><p>controle do Judiciário, pois nenhuma ameaça ou lesão de direito pode ser</p><p>subtraída à sua apreciação (art. 5º, XXXV, da Constituição). Assim, todo e</p><p>qualquer comportamento da Administração Pública que se faça gravoso a direito</p><p>pode ser fulminado pelo Poder Judiciário, sem prejuízo das reparações</p><p>patrimoniais cabíveis. (MELO, 2009, p. 86)</p><p>Deste modo, cabe ao Poder Judiciário, portanto, o controle sobre os atos</p><p>administrativos, principalmente em razão da adoção do sistema de jurisdição</p><p>única no Brasil, traduzido no artigo 5º, inciso XXXV, o qual estabelece que “a lei</p><p>não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.</p><p>1.4. CONTROLE JUDICIAL SOBRE OS ATOS ADMINISTRATIVOS</p><p>Conforme exposto anteriormente, o controle judicial sobre os atos</p><p>administrativos tem exigência em razão da ideia de Estado de Direito e do</p><p>sistema de jurisdição única adotado em nosso país.</p><p>Nesse sentido, a Administração Pública deve exercer seus atos em</p><p>conformidade com a Constituição Federal, espelhando-se nela e em busca do</p><p>cumprimento das finalidades expressas nesta, em razão do princípio da</p><p>legalidade. Com efeito, cabe ressaltar aqui que o legislador pátrio achou por bem</p><p>incluí-lo expressamente no dispositivo do inciso II do artigo 5º da Constituição</p><p>Federal Brasileira. Desta forma, nota-se, inclusive, uma distinção entre os atos</p><p>praticados por particulares, para os quais o que a lei não proíbe é permitido, dos</p><p>atos praticados pela Administração, para os quais só poderá fazer aquilo que a</p><p>lei expressamente permitir, em decorrência do princípio da legalidade.</p><p>Em decorrência da veiculação legal aos atos administrativos, podemos</p><p>classificar estes em dois tipos: os atos administrativos vinculados e os atos</p><p>administrativos discricionários.</p><p>Os atos administrativos vinculados são aqueles atos aos quais a lei</p><p>estabelece os requisitos e condições para a sua realização. Ao administrador</p><p>não é dada nenhuma margem de liberdade para a prática do ato uma vez que</p><p>10</p><p>10</p><p>as ações são baseadas em pressupostos estabelecidos pela lei, que vinculam a</p><p>legalidade, eficácia e validade do ato. Caso não sejam atendidos tais requisitos,</p><p>o ato fica submetido ao controle pela própria Administração, ou pelo Poder</p><p>Judiciário.</p><p>De outro lado, os atos discricionários são aqueles aos quais é dada uma</p><p>certa liberdade ao administrador quanto a sua prática, conveniência,</p><p>oportunidade e até mesmo o modo de sua realização. A discricionariedade para</p><p>a prática do ato se faz em razão de que a lei não pode prever uma solução para</p><p>todos os casos e problemas que surgem, daí porque é dada a liberdade para a</p><p>Administração, em faltando a regulamentação legal, praticar seus atos conforme</p><p>a sua conveniência, sempre em prol do interesse público. Da mesma forma</p><p>segue o entendimento de Carvalho Filho:</p><p>A lei não é capaz de traçar rigidamente todas as condutas de um agente</p><p>administrativo. Ainda que procure definir alguns elementos que lhe restringem a</p><p>atuação, o certo é que em várias situações a própria lei lhes oferece a</p><p>possibilidade de valoração da conduta. Nesses casos, pode o agente avaliar a</p><p>conveniência e a oportunidade dos atos que vai praticar na qualidade de</p><p>administrador dos interesses coletivos. (CARVALHO FILHO, 2009, p. 47)</p><p>Vale lembrar que o ato discricionário não deve ser confundido com os atos</p><p>arbitrários, posto que enquanto aqueles são praticados com liberdade devendo</p><p>observar sua conveniência conforme os preceitos legais, os atos arbitrários são</p><p>sempre ilegítimos e, portanto, devem ser invalidados, seja pela Administração</p><p>ou pelo próprio Poder Público.</p><p>Ainda no que concerne ao poder discricionário da Administração Pública,</p><p>vale observar que no que tange o mérito dos atos administrativos, estes se</p><p>consubstanciam com a valoração dos motivos e na escolha do objeto do ato pela</p><p>própria Administração Pública, que se incumbe sobre a conveniência e sobre a</p><p>oportunidade da sua prática. Dessa forma, não há que se falar em mérito nos</p><p>atos administrativos vinculados, posto que estes se traduzem na atuação da</p><p>Administração sobre os ditames legais, mas verifica-se o mérito em relação aos</p><p>atos praticados em decorrência do poder discricionário do administrador.</p><p>11</p><p>11</p><p>Em relação ao controle judicial, temos que todos os atos administrativos</p><p>estão sujeitos ao controle do Poder Judiciário, sejam eles praticados pelo poder</p><p>Executivo, Legislativo ao até mesmo pelo próprio Judiciário, quando realizam</p><p>atividade administrativa. Resta saber, no entanto, de que forma se dá esse</p><p>controle pelo Poder Judiciário. Sobre essa questão, Hely Lopes assevera que:</p><p>É controle a posteriori, unicamente de legalidade, por restrito à verificação</p><p>da conformidade do ato com a norma legal que o rege. Mas é sobretudo um meio</p><p>de preservação de direitos individuais, porque visa a impor a observância da lei</p><p>em cada caso concreto, quando reclamada por seus beneficiários. (MEIRELLES,</p><p>2010, p. 744)</p><p>Dessa forma, podemos dizer que todos os atos administrativos são</p><p>sujeitos à apreciação judicial em razão da observância do princípio da legalidade.</p><p>Por certo, os atos vinculados se sujeitam ao controle do Poder Judiciário por</p><p>serem praticados conforme os requisitos previstos na própria lei, bastando a</p><p>confrontação do ato com a própria lei para aferir se este é válido ou não.</p><p>No que tange aos atos administrativos discricionários é preciso constar</p><p>que estes se sujeitam ao controle do Poder Judiciário em razão dos elementos</p><p>vinculados ao cumprimento dos requisitos da lei, ou seja, sua forma, a</p><p>competência da autoridade que o praticou, sua finalidade e etc. Não poderá, no</p><p>entanto, ser apreciado pelo Poder Judiciário o mérito do ato administrativo, ou</p><p>seja, a valoração de seus motivos, conveniência, eficiência e oportunidade em</p><p>que este foi praticado. Esse tipo de controle compete normalmente à</p><p>Administração, mas não ao Poder Judiciário. Tal ressalva diz respeito ao fato de</p><p>que o Juiz não pode substituir o administrador nas tarefas deste, e ainda sobre</p><p>a conveniência e oportunidade dos atos administrativos praticados em prol do</p><p>interesse público. Corroborando esse entendimento, segue abaixo um julgado</p><p>do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios no qual se pode</p><p>observar o uso do poder discricionário dos agentes administrativos em face aos</p><p>seus servidores:</p><p>12</p><p>12</p><p>1.4.1 - DIREITO ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO CIVIL. SERVIDORES</p><p>DO DETRAN/DF. RECEBIMENTO DE PROVENTOS E VENCIMENTOS NO</p><p>BANCO DE BRASÍLIA - BRB. LEGALIDADE. PRINCÍPIO DA SUPREMACIA</p><p>DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE O PRIVADO.</p><p>1.4.1.1 - Compete ao órgão público, legitimado pelo poder discricionário</p><p>conferido aos entes administrativos, a escolha da instituição financeira para o</p><p>depósito dos vencimentos e proventos de seus servidores.</p><p>1.4.1.2. Não há inconstitucionalidade no art. 144, § 4º, da Lei Orgânica do</p><p>Distrito Federal, que estabelece o lugar e a forma do pagamento da remuneração</p><p>dos servidores públicos do Distrito Federal em razão do exercício de suas</p><p>atividades.</p><p>1.4.1.3. Apelação conhecida, mas não provida. Unânime. (Apelação Cível</p><p>20110111699188 APC TJDFT. Rel. Des. Fátima Rafael. Julgamento em</p><p>19/02/2014).</p><p>Ou seja, pelo julgado supratranscrito temos a observância do princípio da</p><p>legalidade e ainda da supremacia do interesse público sobre o privado, eis que</p><p>o órgão público em questão, no caso o Detran do Distrito Federal, instituído pelo</p><p>poder discricionário que lhe compete, pode escolher livremente, conforme a sua</p><p>conveniência e oportunidade, a instituição financeira que deverá realizar o</p><p>pagamento de seus servidores, sobretudo em virtude do funcionalismo e da</p><p>eficiência dos atos públicos.</p><p>O mesmo entendimento é corroborado pelo Superior Tribunal de Justiça,</p><p>o qual julgou improcedente uma ação ajuizada por um usuário de transportes</p><p>públicos contra o município do Rio de Janeiro por este ter alterado as paradas e</p><p>itinerários de certas linhas de ônibus, conforme o seguinte informe</p><p>jurisprudencial abaixo:</p><p>13</p><p>13</p><p>1.4.2 - TRANSPORTE INTERMUNICIPAL. ALTERAÇÃO DE PARADAS.</p><p>ATO DISCRICIONÁRIO.</p><p>O usuário se insurgia quanto à alteração dos intinerários dos ônibus</p><p>vindos da Baixada Fluminense que, por determinação do Município do Rio de</p><p>Janeiro, não mais trafegam pelo centro da cidade. A Turma, em julgamento</p><p>anterior, entendeu que o usuário tem legitimidade para atacar o ato, por ser o</p><p>destinatário do serviço público e, agora, firmou tratar-se de ato discricionário,</p><p>que sob o aspecto formal não apresenta nenhum defeito, não podendo o</p><p>Judiciário adentrar em suas razões de conveniência. Destacou, também, que o</p><p>Município tinha competência para o ato, apesar deste afetar a região</p><p>metropolitana. (RMS 11.050-RJ, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em</p><p>22/2/2000).</p><p>Assim, por mais que o Poder Judiciário possa exercer o controle sobre os</p><p>atos administrativos, sejam eles vinculados ou discricionários, é preciso ressaltar</p><p>que o Juiz não tem competência para examinar a própria valoração, motivos ou</p><p>o mérito do ato, funções estas atribuídas ao administrador, sob pena de haver</p><p>ofensa ao princípio da separação de poderes.</p><p>1.5. ATOS SUJEITOS AO CONTROLE DO PODER JUDICIÁRIO</p><p>Doutrinariamente, os atos judiciais estão sujeitos ao controle comum e ao</p><p>controle especial.</p><p>Os atos sujeitos ao controle comum são os atos administrativos em geral,</p><p>consoante a instituição do sistema de jurisdição única adotado no Brasil,</p><p>traduzido no inciso XXXV do artigo 5º da Constituição Federal. O objeto de</p><p>controle do Poder Judiciário deve ser sobre a legalidade do ato, sendo</p><p>que lhe é</p><p>vedado qualquer pronunciamento acerca da conveniência, oportunidade,</p><p>motivos ou eficiência deste, posto que dizem respeito ao mérito do ato</p><p>administrativo, que é de controle da própria Administração.</p><p>14</p><p>14</p><p>Nesse sentido, a verificação da legalidade do ato é condição primordial</p><p>para aferir a sua eficácia ou validade e a adequação à norma legal, bem como</p><p>se o ato foi praticado em conformidade com a moral da instituição, para a</p><p>finalidade ao qual se destinava, se foi divulgado em tempo pelo órgão oficial e</p><p>se foi praticado tendo em vista a eficiência do funcionalismo público. Em tal</p><p>verificação podemos aferir a conformação do ato administrativo como os</p><p>princípios constitucionais da Administração Pública, quais sejam: o princípio da</p><p>legalidade, da moralidade, da finalidade, da publicidade e da eficiência. Caso o</p><p>ato foi praticado desviando-se desses princípios, este estará sujeito à</p><p>invalidação pela própria Administração Pública ou pelo Poder Judiciário.</p><p>É de se observar ainda que não somente os atos praticados pela</p><p>Administração serão objeto de controle, mas também as suas omissões quando</p><p>decorrentes de comandos normativos e preceitos constitucionais que deveriam</p><p>ser cumpridos pela Administração Pública.</p><p>Os atos administrativos sujeitos ao controle especial são os atos políticos,</p><p>os atos legislativos e os “interna corporis”.</p><p>Por ato político entende-se aquele ato que é praticado por agentes do</p><p>Governo, no uso de prerrogativas inerentes ao exercício de seus cargos. Apesar</p><p>de estes agentes possuírem maior discricionariedade quando da execução</p><p>destes atos, por se tratar de atos de condução de negócios públicos, estes</p><p>também se encontram sujeitos à apreciação do Poder Judiciário quando dizem</p><p>respeito aos atos cometidos em desconformidade com o interesse coletivo e</p><p>contra o patrimônio público. É o que ocorre, por exemplo, quando alguma</p><p>autoridade pública falta com o dever de probidade, ou seja, quando a conduta</p><p>do administrador não se coaduna com a conduta esperada para tal autoridade.</p><p>Por sua vez, os atos legislativos são essencialmente as leis, enquanto</p><p>normas gerais e abstratas, que também se sujeitam ao controle do Poder</p><p>Judiciário, no entanto não pela via comum, mas sim pela via especial com o uso</p><p>da ação direta de inconstitucionalidade ou com a ação declaratória de</p><p>constitucionalidade. Ou seja, somente pela via especial, com a provocação do</p><p>Supremo Tribunal Federal, é que se poderá declarar qualquer</p><p>15</p><p>15</p><p>inconstitucionalidade sobre leis ou sobre qualquer outro ato normativo. As</p><p>exceções que se fazem a controle pela via especial decorrem das leis e decretos</p><p>com efeitos concretos, ou seja, possuem objeto determinado, que podem ser</p><p>impugnados pela própria Justiça Comum.</p><p>Por fim, os “interna corporis” dizem respeito aos atos praticados pelas</p><p>Câmaras aos quais é negada a apreciação pelo controle da via comum. São os</p><p>atos que dizem respeito as questões ligadas a gestão e funcionamento do</p><p>Plenário das Câmaras, elaboração de regimentos e etc. Sendo assim, se</p><p>encontram sobre o controle judicial as decisões administrativas e as</p><p>deliberações normativas que venham a lesar direitos individuais e coletivos ou</p><p>que não se coadunem com a Constituição.</p><p>1.6. MEIOS DE CONTROLE DOS ATOS ADMINISTRATIVOS PELO</p><p>PODER JUDICIÁRIO</p><p>Constituem-se como meios de controle dos atos administrativos as vias</p><p>processuais da Justiça Comum, com os procedimentos ordinário, sumário e</p><p>especial, os quais podem ser buscados por qualquer pessoa que se sinta lesada</p><p>pela prática dos atos pela Administração Pública, ou ainda que vise à proteção</p><p>dos interesses coletivos ou difusos, tal como é o caso da ação popular ou da</p><p>ação civil pública, e ainda pelo uso da ação direta de inconstitucionalidade ou da</p><p>ação declaratória de constitucionalidade.</p><p>Em caso de abuso ou ato de ilegalidade que atinja direito individual</p><p>praticada pela Administração Pública, quem se sentir lesado poderá impetrar</p><p>mandado de segurança, conforme o que estabelece o inciso LXIX do artigo 5º</p><p>da Constituição Federal Brasileira que dispõe o seguinte: “conceder-se-á</p><p>mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por</p><p>"habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou</p><p>abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício</p><p>de atribuições do Poder Público”. De outro lado, pode ser impetrado mandado</p><p>de segurança coletivo para defesa de interesses referentes aos integrantes de</p><p>16</p><p>16</p><p>partidos políticos, conforme o que dispõe o inciso LXX do artigo 5º da</p><p>Constituição Federal.</p><p>Pode ser impetrado também mandado de injunção quando alguém se</p><p>sentir prejudicado pela falta de alguma norma regulamentadora que torne</p><p>inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais (artigo 5º, inciso</p><p>LXXI) e habeas data para que qualquer pessoa tenha acesso aos registros</p><p>públicos que lhe concernem perante as repartições públicas (artigo 5º, inciso</p><p>LXXII).</p><p>Poderá ser proposta ação direta de inconstitucionalidade para aferir se</p><p>determinada lei se encontra em consonância com os preceitos normativos</p><p>constitucionais (artigo 102, inciso I, alínea “a”), ou a ação declaratória de</p><p>constitucionalidade para que se afaste qualquer dúvida sobre a</p><p>constitucionalidade ou não de determinada lei (artigo 102, inciso I, alínea “a”),</p><p>dentre outras ações ordinárias que podem ser ajuizadas pelo particular em face</p><p>da Administração Pública, tais como ações possessórias, ações monitórias, de</p><p>cobrança e etc.</p><p>Isto posto, estes são alguns meios que podem ser utilizados, tanto pelos</p><p>particulares como por outras entidades, para o controle sobre os atos</p><p>administrativos, chegando até mesmo a invalidação destes.</p><p>17</p><p>17</p><p>1.7. CONCLUSÃO</p><p>O objetivo do presente trabalho foi fazer uma análise doutrinária e</p><p>jurisprudencial acerca do controle exercido pelo Poder Judiciário sobre os atos</p><p>administrativos. Consoante a abordagem utilizada, percebeu-se que o controle</p><p>judicial teve origem, assim como o Direito Administrativo, com a formação do</p><p>Estado de Direito, o qual por sua vez derivou das grandes revoluções liberais</p><p>que ocorrerem no século XVIII na Europa.</p><p>Observou-se, ainda, que no Brasil, diferente dos outros países da Europa,</p><p>o que vigora é o sistema de jurisdição única, ou seja, todo e qualquer ato dever</p><p>ser apreciado pelo Poder Judiciário, conforme o que estabelece o inciso XXXV</p><p>do artigo 5º da Constituição Federal Brasileira.</p><p>No que concerne à atividade administrativa, pudemos observar que a</p><p>autoridade possui o poder vinculador e o poder discricionário para a prática de</p><p>seus atos, sendo que o primeiro decorre expressamente da Lei, a qual</p><p>estabelece requisitos para a sua prática, enquanto que o poder discricionário</p><p>decorre da liberdade que a Administração Pública possui para a prática de</p><p>determinados atos que não são previstos em lei, sendo que tal exigência se</p><p>relaciona com a análise da conveniência e oportunidade para a prática destes</p><p>atos, posto que não se pode confundir os atos discricionários com os atos</p><p>arbitrários, sendo que estes são ilegais e devem ser invalidados pelo Poder</p><p>Judiciário.</p><p>Por fim, com a análise doutrinária e jurisprudencial realizada sobre o</p><p>presente estudo chegamos à conclusão de que o Poder Judiciário é o órgão</p><p>máximo de controle dos atos administrativos, no entanto, este não pode interferir</p><p>em seu mérito, no que concernem as razões e motivos pelos quais estes formam</p><p>praticados, com a ressalva de que estes devem atender aos princípios</p><p>constitucionais da Administração Pública dispostos no artigo 37 da Constituição</p><p>Federal</p><p>Brasileira.</p><p>18</p><p>18</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília. DF:</p><p>Senado Federal. Disponível em: . Acesso em 29 out. 2014.</p><p>BRASIL. Senado Federal: Biblioteca do Senado. Revista de Informação</p><p>Legislativa, v.16, nº 62, p. 271-280, abr./jun. de 1979. Disponível em: . Acesso</p><p>em 30 out. 2014</p><p>BRASIL. Superior Tribunal de Justiça: informativo de</p><p>jurisprudência. Informativo n. 0048 de 21 a 25 de fevereiro de 2000. Disponível</p><p>em: . Acesso em 29 out. 2014.</p><p>BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos</p><p>Territórios. Apelação Cível nº 20110111699188 da 2ª Turma Cível do TJDFT.</p><p>Brasília, DF, 19 de fevereiro de 2014. Disponível em: . Acesso em: 29 out. 2014.</p><p>CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo.</p><p>21. ed. rev. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris Ltda, 2009.</p><p>CUNHA JÚNIOR, Dirley. Curso de direito administrativo. 11. ed. rev.</p><p>Bahia: Editora JusPodivm, 2012.</p><p>MEIRELLES, Hely Lopes. et al. Direito administrativo brasileiro. 36. ed.</p><p>São Paulo: Editora Malheiros, 2010.</p><p>MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo.</p><p>26. ed. rev. São Paulo: Editora Malheiros, 2009.</p><p>PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Direito Administrativo. 27. ed. São</p><p>Paulo: Editora Atlas S.A, 2014.</p><p>SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25.</p><p>ed. rev. São Paulo: Editora Malheiros, 2005.</p>