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<p>RESUMO - RECLAMAÇÃO</p><p>JURISPRUDÊNCIA DO DIA</p><p>AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. CONSTITUCIONAL.</p><p>PREVIDENCIÁRIO. SERVIDORES PÚBLICOS MUNICIPAIS</p><p>APOSENTADOS NO ÚLTIMO GRAU DA CARREIRA.</p><p>SUPERVENIÊNCIA DE LEI MUNICIPAL DE REESTRUTURAÇÃO DA</p><p>CARREIRA. PRECEDENTE FIRMADO EM REPERCUSSÃO GERAL.</p><p>RECURSO EXTRAORDINÁRIO 606.199. TEMA 439. AUSÊNCIA DE</p><p>TERATOLOGIA NA DECISÃO ORA RECLAMADA. DECISÃO</p><p>IMPUGNADA QUE SE ENCONTRA EM HARMONIA COM O LEADING</p><p>CASE QUE SE REPUTA VIOLADO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.</p><p>ARTIGO 85 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. INCIDÊNCIA.</p><p>AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.</p><p>1. A reclamação, por expressa determinação constitucional, destina-se a</p><p>preservar a competência desta Suprema Corte e garantir a autoridade de suas</p><p>decisões, ex vi do artigo 102, inciso I, alínea l, da Constituição da República,</p><p>além de salvaguardar o estrito cumprimento dos enunciados de Súmula</p><p>Vinculante, nos termos do artigo 103-A, § 3o da Constituição, incluído pela</p><p>Emenda Constitucional 45/2004. Neste particular, a jurisprudência desta</p><p>Suprema Corte estabeleceu diversas condicionantes para a utilização da</p><p>via reclamatória, de sorte a evitar o desvirtuamento do referido</p><p>instrumento processual. Disso resulta: i) a impossibilidade de se proceder a</p><p>um elastério hermenêutico da competência desta Corte, por estar definida pela</p><p>Constituição Federal em rol numerus clausus; ii) a impossibilidade de</p><p>utilização per saltum da reclamação, suprimindo graus de jurisdição ou outros</p><p>instrumentos processuais adequados; iii) a observância da estrita aderência da</p><p>controvérsia contida no ato reclamado ao conteúdo dos acórdãos desta</p><p>Suprema Corte apontados como paradigma; iv) a inexistência de trânsito em</p><p>julgado do ato jurisdicional reclamado; v) o não revolvimento da moldura</p><p>fática delineada nos autos em que proferida a decisão objurgada, devendo a</p><p>reclamação se ater à prova documental (artigo 988, § 2o, do Código de</p><p>Processo Civil), sob pena de se instaurar nova instrução processual, paralela à</p><p>da demanda de origem. (...)</p><p>(Rcl 33100 AgR, Relator(a): LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em</p><p>29/04/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-093 DIVULG 06-05-2019</p><p>PUBLIC 07-05-2019)</p><p>CONTEXTUALIZAÇÃO</p><p>Na aula de hoje, falaremos sobre a reclamação, a última figura (Capítulo IX)</p><p>contemplada no Título I (Da ordem dos processos e dos processos de</p><p>competência originária dos tribunais) do Livro III (Dos processos nos</p><p>tribunais e dos meios de impugnação das decisões judiciais) da Parte Especial</p><p>do CPC.</p><p>NOÇÕES INICIAIS</p><p>Com o CPC de 2015, a reclamação assumiu grande importância. Além das</p><p>suas funções tradicionais, a reclamação tornou-se o instrumento por</p><p>excelência para garantir a efetividade do sistema de precedentes. Assim, ela</p><p>passou a ser pluridimensional, o que gera alguma dificuldade.</p><p>Ao mesmo tempo, outros aspectos problemáticos apareceram. Os ministros</p><p>das cortes superiores temiam uma enxurrada de reclamações (sobretudo</p><p>porque não temos uma cultura de respeito a precedentes) e, ainda na vacatio</p><p>legis do CPC de 2015, foi editada a Lei no 13.256/2016, que trouxe</p><p>disposições criticáveis.</p><p>Mesmo depois da Lei no 13.256/2016, as cortes superiores, sobretudo o STJ,</p><p>desenvolveram jurisprudência defensiva no tocante à reclamação.</p><p>Dessa forma, a reclamação presta-se a garantir a observância dos precedentes,</p><p>mas tal objetivo só é conseguido em parte, porque muitas decisões, em função</p><p>principalmente da jurisprudência defensiva, acabam por escapar da incidência</p><p>da reclamação.</p><p>A propósito, afirmam Marinoni, Arenhart e Mitidiero:</p><p>Rigorosamente, a reclamação constitui instrumento de tutela da decisão do</p><p>caso concreto. Dito de outro modo: ela não deve ser vista como meio de</p><p>tutela do precedente ou da jurisprudência vinculante. Isso porque semelhante</p><p>modo de ver o seu papel pode ocasionar o fenômeno inverso àquele que se</p><p>pretendeu evitar com a instituição de filtros recursais: o abarrotamento do</p><p>STF e do STJ com reclamações que, per saltum, visam a outorgar força ao</p><p>precedente. Nada obstante, até que as Cortes Supremas, as Cortes de Justiça</p><p>e os juízes de primeiro grau assimilem uma efetiva cultura do precedente</p><p>judicial, é imprescindível que se admita a reclamação com função de outorga</p><p>de eficácia de precedente, ainda que com o temperamento oriundo da</p><p>necessidade de esgotamento da instância ordinária.</p><p>HISTÓRICO</p><p>Início interessante, derivando de criação jurisprudencial.</p><p>Reclamação 141 primeira/SP, rel. Min. Rocha Lagoa, Tribunal Pleno,</p><p>julgamento por maioria em 25/01/1952</p><p>A competência não expressa dos tribunais federais pode ser ampliada por</p><p>construção constitucional. - Vão seria o poder, outorgado ao Supremo</p><p>Tribunal Federal de julgar em recurso extraordinário as causas decididas</p><p>por outros tribunais, se lhe não fora possível fazer prevalecer os seus</p><p>próprios pronunciamentos, acaso desatendidos pelas justiças locais. - A</p><p>criação dum remédio de direito para vindicar o cumprimento fiel das suas</p><p>sentenças, está na vocação do Supremo Tribunal Federal e na amplitude</p><p>constitucional e natural de seus poderes. - Necessária e legitima é assim a</p><p>admissão do processo de Reclamação, como o Supremo Tribunal tem feito. -</p><p>É de ser julgada procedente a Reclamação quando a justiça local deixa de</p><p>atender à decisão do Supremo Tribunal Federal.</p><p>NATUREZA JURÍDICA</p><p>Prevalece atualmente o entendimento de que a reclamação consiste em ação</p><p>constitucional.</p><p>RECLAMAÇÃO. EXECUÇÃO DE DECISÃO TRÂNSITA NESTES</p><p>AUTOS EM 2001. QUATORZE ANOS DE DESCUMPRIMENTO DA</p><p>DETERMINAÇÃO JUDICIAL DESTES AUTOS ORIUNDA DE ÓRGÃO</p><p>FRACIONÁRIO DESTA CORTE. RECONHECIMENTO DO TRÂNSITO.</p><p>POSSIBILIDADE. NATUREZA JURÍDICA DA RECLAMAÇÃO DE</p><p>AÇÃO CONSTITUCIONAL. DESCUMPRIMENTO, PELA UNIÃO, DA</p><p>DECISÃO PROFERIDA NOS AUTOS DO RMS 23.040 E NESTA</p><p>RECLAMAÇÃO. PROCEDÊNCIA. AUTORIDADE RECLAMADA.</p><p>CUMPRIMENTO DA DECISÃO JUDICIAL CONSTANTE DESTES</p><p>AUTOS COM OBSERVÂNCIA DE UM CRONOGRAMA RAZOÁVEL</p><p>CONSIDERADO O ATUAL CENÁRIO DE CRISE ECONÔMICA. 1. A</p><p>Administração Pública, em um Estado Democrático de Direito não detém</p><p>competência para, no âmbito de sua esfera administrativa, reabrir discussão</p><p>sobre matéria que, em seu mérito, transitou em julgado. 2. O Administrador</p><p>Público, no Estado de Legalidade, deve adotar as providências indispensáveis</p><p>para o cumprimento da decisão judicial trânsita que reconheceu o direito em</p><p>favor dos reclamantes. 3. A improcedência da Ação Rescisória 1.685</p><p>desconstitui, por razões lógicas, a liminar nela deferida. 4. In casu,</p><p>insubsistente a liminar que havia suspendido o cumprimento do acórdão</p><p>proferido nesta reclamação, o referido julgado recobra sua “força impositiva</p><p>plena”. 5. Consectariamente, ressoa descabida a tese de que a decisão a ser</p><p>cumprida é, apenas, aquela proferida nos autos do RMS 23.040, havendo, ao</p><p>menos, seis motivos para se chegar a esta conclusão. 5.1. Primeiramente,</p><p>porque a decisão proferida no referido mandado de segurança foi</p><p>complementada pelo decisum dos autos desta Reclamação, que determinou a</p><p>nomeação dos reclamantes, e que, na medida em que não foi objeto de</p><p>qualquer recurso, tampouco de ação rescisória, transitou em julgado, o que</p><p>impede novo debate sobre relação jurídica já decidida. A doutrina e a</p><p>jurisprudência não se afastam da compreensão de que a reclamação é</p><p>uma autêntica ação, e não um recurso ou incidente processual, et pour</p><p>cause, a decisão proferida na mesma pode transitar em julgado.</p><p>Precedente: Rcl 532 AgR, Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES, Tribunal</p><p>Pleno, julgado em 01/08/1996, DJ 20-09-1996). (...)</p><p>(Rcl 1728 CumpSent, Relator(a): LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em</p><p>24/11/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-072 DIVULG 15-04-2016</p><p>PUBLIC 18-04-2016)</p><p>PREVISÃO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988</p><p>Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da</p><p>Constituição, cabendo-lhe:</p><p>I - processar e julgar, originariamente:</p><p>(...)</p><p>l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da</p><p>autoridade de suas decisões;</p><p>Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:</p><p>I - processar e julgar, originariamente:</p><p>(...)</p><p>f) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da</p><p>autoridade</p><p>de suas decisões;</p><p>DISCUSSÃO SOBRE A POSSIBILIDADE DE HAVER RECLAMAÇÃO</p><p>NO ÂMBITO ESTADUAL</p><p>AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 108, INCISO</p><p>VII, ALÍNEA I DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO CEARÁ E ART.</p><p>21, INCISO VI, LETRA J DO REGIMENTO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA</p><p>LOCAL. PREVISÃO, NO ÂMBITO ESTADUAL, DO INSTITUTO DA</p><p>RECLAMAÇÃO. INSTITUTO DE NATUREZA PROCESSUAL</p><p>CONSTITUCIONAL, SITUADO NO ÂMBITO DO DIREITO DE</p><p>PETIÇÃO PREVISTO NO ARTIGO 5o, INCISO XXXIV, ALÍNEA A</p><p>DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO</p><p>ART. 22, INCISO I DA CARTA.</p><p>1. A natureza jurídica da reclamação não é a de um recurso, de uma ação e</p><p>nem de um incidente processual. Situa-se ela no âmbito do direito</p><p>constitucional de petição previsto no artigo 5o, inciso XXXIV da Constituição</p><p>Federal. Em consequência, a sua adoção pelo Estado-membro, pela via</p><p>legislativa local, não implica em invasão da competência privativa da União</p><p>para legislar sobre direito processual (art. 22, I da CF).</p><p>2. A reclamação constitui instrumento que, aplicado no âmbito dos</p><p>Estados-membros, tem como objetivo evitar, no caso de ofensa à</p><p>autoridade de um julgado, o caminho tortuoso e demorado dos recursos</p><p>previstos na legislação processual, inegavelmente inconvenientes quando</p><p>já tem a parte uma decisão definitiva. Visa, também, à preservação da</p><p>competência dos Tribunais de Justiça estaduais, diante de eventual</p><p>usurpação por parte de Juízo ou outro Tribunal local.</p><p>3. A adoção desse instrumento pelos Estados-membros, além de estar em</p><p>sintonia com o princípio da simetria, está em consonância com o princípio</p><p>da efetividade das decisões judiciais.</p><p>4. Ação direta de inconstitucionalidade improcedente.</p><p>(ADI 2212, Relator(a): ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em</p><p>02/10/2003, DJ 14-11-2003 PP-00014 EMENT VOL-02132-13 PP-02403)</p><p>EMENDA CONSTITUCIONAL 45/2004 E RECLAMAÇÃO</p><p>A Emenda Constitucional no 45/2004 – talvez a mais importante para o direito</p><p>processual – trouxe as súmulas vinculantes e, ao mesmo tempo, indicou a</p><p>reclamação como o meio cabível para atacar o ato administrativo ou a decisão</p><p>judicial contrária a qualquer súmula.</p><p>Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação,</p><p>mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões</p><p>sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação</p><p>na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do</p><p>Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas</p><p>federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou</p><p>cancelamento, na forma estabelecida em lei. (Incluído pela Emenda</p><p>Constitucional no 45, de 2004) (Vide Lei no 11.417, de 2006).</p><p>(...)</p><p>§ 3o Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula</p><p>aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo</p><p>Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou</p><p>cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida</p><p>com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso. (Incluído pela Emenda</p><p>Constitucional no 45, de 2004)</p><p>CABIMENTO</p><p>Depois de verificar aspectos constitucionais da reclamação, vejamos a sua</p><p>regulação pelo CPC, iniciando pelo cabimento.</p><p>Art. 988. Caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério Público</p><p>para:</p><p>I - preservar a competência do tribunal;</p><p>II - garantir a autoridade das decisões do tribunal;</p><p>III – garantir a observância de enunciado de súmula vinculante e de decisão do</p><p>Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;</p><p>(Redação dada pela Lei no 13.256, de 2016)</p><p>IV – garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de incidente</p><p>de resolução de demandas repetitivas ou de incidente de assunção de</p><p>competência; (Redação dada pela Lei no 13.256, de 2016)</p><p>(...)</p><p>§ 4o As hipóteses dos incisos III e IV compreendem a aplicação indevida da</p><p>tese jurídica e sua não aplicação aos casos que a ela correspondam.</p><p>Pelo CPC, portanto, três são as funções da reclamação: preservação de</p><p>competência; garantia da autoridade de decisões; e garantia da observância de</p><p>precedentes. As duas primeiras acompanham a reclamação desde que essa</p><p>ferramenta foi concebida. A terceira função veio com a progressiva</p><p>valorização dos precedentes entre nós.</p><p>PRESERVAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL (INCISO I DO</p><p>ART. 988)</p><p>Exemplos: juiz que inadmite apelação (violando o art. 1.010, § 3o, do CPC);</p><p>demandas que são subtraídas da competência originária do STF (prevista no</p><p>art. 102, I, da Constituição).</p><p>GARANTIA DA AUTORIDADE DAS DECISÕES DO TRIBUNAL</p><p>(INCISO II DO ART. 988)</p><p>Exemplo: tribunal local considera inadmissível uma apelação e STJ, em</p><p>recurso especial, entende admissível; processo retorna ao tribunal local e este,</p><p>uma vez mais, proclama a inadmissibilidade de apelação.</p><p>GARANTIA DA OBSERVÂNCIA DE ENUNCIADO DE SÚMULA</p><p>VINCULANTE E DE DECISÃO DO STF EM CONTROLE</p><p>CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE (INCISO III DO</p><p>ART. 988)</p><p>As hipóteses do inciso III já estão presentes há muito em nosso ordenamento:</p><p>Constituição, art. 102</p><p>§ 2o As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal</p><p>Federal, nas ações declaratórias de constitucionalidade de lei ou ato normativo</p><p>federal, produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente</p><p>aos demais órgãos do Poder Judiciário e ao Poder Executivo. (Incluído em §</p><p>1o pela Emenda Constitucional no 3, de 17/03/93)</p><p>§ 2o As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal</p><p>Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de</p><p>constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante,</p><p>relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública</p><p>direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. municipal.</p><p>(Redação dada pela Emenda Constitucional no 45, de 2004)</p><p>Constituição, art. 103-A.</p><p>Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação,</p><p>mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões</p><p>sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação</p><p>na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do</p><p>Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas</p><p>federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou</p><p>cancelamento, na forma estabelecida em lei. (Incluído pela Emenda</p><p>Constitucional no 45, de 2004)</p><p>(...)</p><p>§ 3o Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula</p><p>aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo</p><p>Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou</p><p>cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida</p><p>com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso. (Incluído pela Emenda</p><p>Constitucional no 45, de 2004)</p><p>Somente cabe reclamação se se tratar de súmula vinculante:</p><p>AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. PARADIGMA. SÚMULA</p><p>SEM EFEITOS VINCULANTES. RECLAMAÇÃO. DESCABIMENTO.</p><p>AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.</p><p>I - As razões do agravo regimental são inaptas para desconstituir os</p><p>fundamentos da decisão agravada, que, por isso, se mantêm hígidos.</p><p>II – A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que não cabe</p><p>reclamação por inobservância de súmula do Supremo Tribunal Federal</p><p>destituída de efeito vinculante. Precedentes.</p><p>III - Agravo regimental a que se nega provimento.</p><p>(Rcl 39311 AgR, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma,</p><p>julgado em 27-04-2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-109 DIVULG 04-</p><p>05-2020 PUBLIC 05-05-2020)</p><p>CABE RECLAMAÇÃO CONTRA ATO ADMINISTRATIVO?</p><p>Somente no caso de violação a súmula vinculante, nos termos do § 3o do art.</p><p>103-A da Constituição da República.</p><p>AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. RESOLUÇÃO STJ/GP N.</p><p>15/2022. CRIAÇÃO DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA SEXTA</p><p>REGIÃO. DISTRIBUIÇÃO DE VAGAS DA PRIMEIRA COMPOSIÇÃO E</p><p>FIXAÇÃO DA ORDEM DE ANTIGUIDADE DOS DESEMBARGADORES</p><p>FEDERAIS. RECLAMAÇÃO CONTRA ATO ADMINISTRATIVO.</p><p>IMPOSSIBILIDADE: PRECEDENTES. ALEGADO DESCUMPRIMENTO</p><p>DA DECISÃO PROFERIDA NA AÇÃO DIRETA DE</p><p>INCONSTITUCIONALIDADE N. 2.974:</p><p>INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA</p><p>DE IDENTIDADE MATERIAL. TEORIA DOS MOTIVOS</p><p>DETERMINANTES: INAPLICABILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL AO</p><p>QUAL SE NEGA PROVIMENTO.</p><p>(Rcl 56112 AgR, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em</p><p>09-05-2023, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-s/n DIVULG 10-05-2023</p><p>PUBLIC 11-05-2023)</p><p>GARANTIA DA OBSERVÂNCIA DE ACÓRDÃO PROFERIDO EM</p><p>JULGAMENTO DE INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS</p><p>REPETITIVAS OU DE INCIDENTE DE ASSUNÇÃO DE</p><p>COMPETÊNCIA (INCISO IV DO ART. 988)</p><p>Aqui, sim, uma hipótese recente de reclamação, tendo-se em vista que IRDR e</p><p>IAC foram instituídos pelo CPC de 2015.</p><p>REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE (EMBUTINDO OUTRAS</p><p>HIPÓTESES DE CABIMENTO)</p><p>Art. 988.</p><p>(...)</p><p>§ 5o É inadmissível a reclamação: (Redação dada pela Lei no 13.256, de 2016)</p><p>I – proposta após o trânsito em julgado da decisão reclamada; (Incluído pela</p><p>Lei no 13.256, de 2016)</p><p>II – proposta para garantir a observância de acórdão de recurso extraordinário</p><p>com repercussão geral reconhecida ou de acórdão proferido em julgamento de</p><p>recursos extraordinário ou especial repetitivos, quando não esgotadas as</p><p>instâncias ordinárias. (Incluído pela Lei no 13.256, de 2016)</p><p>Originalmente, o § 5o cuidava apenas da impossibilidade de reclamação após o</p><p>trânsito em julgado da decisão reclamada.</p><p>IMPOSSIBILIDADE APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO</p><p>A reclamação não tem exatamente prazo. O seu limite é o trânsito em julgado</p><p>da decisão reclamada.</p><p>No mesmo sentido do CPC, a Súmula 734 do STF (aprovada em 26/11/2003):</p><p>Não cabe reclamação quando já houver transitado em julgado o ato judicial</p><p>que se alega tenha desrespeitado decisão do Supremo Tribunal Federal.</p><p>Ou seja, a reclamação só pode ser conhecida se não houver trânsito em</p><p>julgado. Outro meio impugnativo, a ação rescisória, só pode ser conhecida se</p><p>houver trânsito em julgado.</p><p>O PROBLEMÁTICO INCISO II DO § 5o DO ART. 988, QUE TRAZ</p><p>OUTRAS HIPÓTESES DE CABIMENTO</p><p>O dispositivo trataria supostamente de uma hipótese de inadmissibilidade da</p><p>reclamação, mas o que faz é exatamente o oposto. Ele estabelece novas</p><p>hipóteses de cabimento para a reclamação, ressalvando apenas a necessidade,</p><p>nessas hipóteses, de esgotamento das instâncias ordinárias (ou seja,</p><p>esgotamento dos recursos da competência dos tribunais estaduais ou</p><p>regionais).</p><p>A JURISPRUDÊNCIA (ALTAMENTE) DEFENSIVA DO STJ</p><p>PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NA RECLAMAÇÃO. ART.</p><p>105, I, F, DA CONSTITUIÇÃO. ART. 988 DO CPC/2015. INTENTO DE</p><p>APLICAÇÃO DE TESE FIRMADA EM RECURSO ESPECIAL</p><p>REPETITIVO NO QUAL OS RECLAMANTES NÃO FORAM PARTES.</p><p>ART. 988, PARÁGRAFO 5o, INCISO II, DO CPC/2015. CONDIÇÃO</p><p>SUPLEMENTAR PARA A ADMISSIBILIDADE DE RECLAMAÇÃO.</p><p>1. Hipótese na qual os reclamantes pretendem fazer valer, em demanda</p><p>pendente quando do ajuizamento da Reclamação, tese fixada pelo STJ no</p><p>julgamento de Recurso Especial Repetitivo em que não foram partes.</p><p>2. A Constituição da República previu o cabimento de reclamação dirigida ao</p><p>STJ "para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas</p><p>decisões" (art. 105, I, "f"). A reclamação para garantir a autoridade das</p><p>decisões da Corte é compreendida como o instrumento destinado a preservar</p><p>aquilo que foi decidido entre aqueles que foram partes no processo.</p><p>3. O CPC/2015 elenca taxativamente as hipóteses de cabimento da</p><p>Reclamação no caput do art. 988, dispositivo legal que teve sua redação</p><p>original alterada pela Lei n. 13.256/2016, com a finalidade de que o</p><p>cabimento da reclamação não fosse tão largo como previsto na redação</p><p>original.</p><p>4. A redação original do caput do art. 988 do CPC previa o cabimento da</p><p>reclamação para garantir a observância de "precedente proferido em</p><p>julgamento de casos repetitivos", ao passo que a redação dada pela Lei n.</p><p>13.256/2016, em lugar disso, previu o cabimento de reclamação para "garantir</p><p>a observância de acórdão proferido em julgamento de incidente de resolução</p><p>de demandas repetitivas". Tal incidente (IRDR) é apenas uma espécie de casos</p><p>repetitivos, não incluindo os Recursos Especiais Repetitivos.</p><p>5. O parágrafo 5o do art. 988 do CPC não traz novas hipóteses de</p><p>cabimento de reclamação, apenas estabelece requisitos para que se</p><p>admita uma reclamação, desde que se esteja diante de uma daquelas</p><p>hipóteses de cabimento previstas no caput, o que não é o caso dos autos.</p><p>Precedentes: AgInt na Rcl 33.871/SC, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas</p><p>Cueva, Segunda Seção, julgado em 14/06/2017, DJe 20/06/2017; AgInt nos</p><p>EDcl na Rcl 32.709/MG, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva,</p><p>Segunda Seção, julgado em 26/04/2017, DJe 02/05/2017; AgInt na Rcl</p><p>31.565/DF, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, Segunda Seção,</p><p>julgado em 08/03/2017, DJe 16/03/2017; AgInt na Rcl 32.939/PR, Rel.</p><p>Ministro Og Fernandes, Primeira Seção, julgado em 22/02/2017, DJe</p><p>02/03/2017; AgInt na Rcl 32.430/SP, Rel. Ministro Francisco Falcão,</p><p>Primeira Seção, julgado em 14/12/2016, DJe 19/12/2016; AgInt na Rcl</p><p>28.688/RJ, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, Segunda Seção, julgado</p><p>em 24/08/2016, DJe 29/08/2016.</p><p>6. Agravo interno não provido.</p><p>(AgInt na Rcl 31.637/PE, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES,</p><p>PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/12/2018, DJe 17/12/2018)</p><p>RECLAMAÇÃO. RECURSO ESPECIAL AO QUAL O TRIBUNAL DE</p><p>ORIGEM NEGOU SEGUIMENTO, COM FUNDAMENTO NA</p><p>CONFORMIDADE ENTRE O ACÓRDÃO RECORRIDO E A</p><p>ORIENTAÇÃO FIRMADA PELO STJ EM RECURSO ESPECIAL</p><p>REPETITIVO (RESP 1.301.989/RS - TEMA 658). INTERPOSIÇÃO DE</p><p>AGRAVO INTERNO NO TRIBUNAL LOCAL. DESPROVIMENTO.</p><p>RECLAMAÇÃO QUE SUSTENTA A INDEVIDA APLICAÇÃO DA TESE,</p><p>POR SE TRATAR DE HIPÓTESE FÁTICA DISTINTA. DESCABIMENTO.</p><p>PETIÇÃO INICIAL. INDEFERIMENTO. EXTINÇÃO DO PROCESSO</p><p>SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO.</p><p>1. Cuida-se de reclamação ajuizada contra acórdão do TJ/SP que, em sede de</p><p>agravo interno, manteve a decisão que negou seguimento ao recurso especial</p><p>interposto pelos reclamantes, em razão da conformidade do acórdão recorrido</p><p>com o entendimento firmado pelo STJ no REsp 1.301.989/RS, julgado sob o</p><p>regime dos recursos especiais repetitivos (Tema 658).</p><p>2. Em sua redação original, o art. 988, IV, do CPC/2015 previa o cabimento</p><p>de reclamação para garantir a observância de precedente proferido em</p><p>julgamento de "casos repetitivos", os quais, conforme o disposto no art. 928</p><p>do Código, abrangem o incidente de resolução de demandas repetitivas</p><p>(IRDR) e os recursos especial e extraordinário repetitivos.</p><p>3. Todavia, ainda no período de vacatio legis do CPC/15, o art. 988, IV, foi</p><p>modificado pela Lei 13.256/2016: a anterior previsão de reclamação para</p><p>garantir a observância de precedente oriundo de "casos repetitivos" foi</p><p>excluída, passando a constar, nas hipóteses de cabimento, apenas o precedente</p><p>oriundo de IRDR, que é espécie daquele.</p><p>4. Houve, portanto, a supressão do cabimento da reclamação para a</p><p>observância de acórdão proferido em recursos especial e extraordinário</p><p>repetitivos, em que pese a mesma Lei 13.256/2016, paradoxalmente, tenha</p><p>acrescentado um pressuposto de admissibilidade - consistente no</p><p>esgotamento das instâncias ordinárias - à hipótese que acabara de excluir.</p><p>5. Sob um aspecto topológico, à luz do disposto no art. 11 da LC 95/98, não há</p><p>coerência e lógica em se afirmar que o parágrafo 5o, II, do art. 988 do CPC,</p><p>com a redação dada pela Lei 13.256/2016, veicularia uma nova hipótese de</p><p>cabimento da reclamação. Estas hipóteses foram elencadas pelos incisos do</p><p>caput, sendo que, por outro lado, o parágrafo se inicia, ele próprio,</p><p>anunciando que trataria de situações de inadmissibilidade da reclamação.</p><p>6. De outro turno, a investigação do contexto jurídico-político em que editada</p><p>a Lei 13.256/2016 revela que, dentre outras questões, a norma efetivamente</p><p>visou ao fim da reclamação dirigida ao STJ e ao STF para o controle da</p><p>aplicação dos acórdãos sobre questões repetitivas, tratando-se de opção de</p><p>política judiciária para desafogar os trabalhos nas Cortes de superposição.</p><p>7. Outrossim, a admissão da reclamação na hipótese em comento atenta</p><p>contra a finalidade da instituição do regime dos recursos especiais</p><p>repetitivos, que surgiu como mecanismo de racionalização da prestação</p><p>jurisdicional do STJ, perante o fenômeno</p><p>social da massificação dos</p><p>litígios.</p><p>8. Nesse regime, o STJ se desincumbe de seu múnus constitucional</p><p>definindo, por uma vez, mediante julgamento por amostragem, a</p><p>interpretação da Lei federal que deve ser obrigatoriamente observada</p><p>pelas instâncias ordinárias. Uma vez uniformizado o direito, é dos juízes e</p><p>Tribunais locais a incumbência de aplicação individualizada da tese</p><p>jurídica em cada caso concreto.</p><p>9. Em tal sistemática, a aplicação em concreto do precedente não está</p><p>imune à revisão, que se dá na via recursal ordinária, até eventualmente</p><p>culminar no julgamento, no âmbito do Tribunal local, do agravo interno</p><p>de que trata o art. 1.030, § 2o, do CPC/15.</p><p>10. Petição inicial da reclamação indeferida, com a extinção do processo sem</p><p>resolução do mérito.</p><p>(Rcl 36.476/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL,</p><p>julgado em 05/02/2020, DJe 06/03/2020)</p><p>Portanto, STJ dá interpretação praticamente contra legem ao (problemático)</p><p>inciso II do § 5o do art. 988, de modo a se livrar do julgamento de</p><p>reclamações.</p><p>JULGADO DO STJ QUE, ENTENDENDO INADMISSÍVEL</p><p>RECLAMAÇÃO, CONSIDEROU POSSÍVEL A UTILIZAÇÃO DE</p><p>MANDADO DE SEGURANÇA</p><p>PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. IMPETRAÇÃO</p><p>CONTRA DECISÃO JUDICIAL. IRRECORRIBILIDADE E</p><p>TERATOLOGIA. EXISTÊNCIA. WRIT. CABIMENTO.</p><p>1. Segundo pacífica orientação jurisprudencial do Superior Tribunal de</p><p>Justiça, "o mandado de segurança contra ato judicial é medida excepcional,</p><p>cabível somente em situações nas quais se pode verificar, de plano, ato</p><p>judicial eivado de ilegalidade, teratologia ou abuso de poder, que importem ao</p><p>paciente irreparável lesão ao seu direito líquido e certo" (AgInt no MS</p><p>24.788/DF, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, Corte Especial, julgado</p><p>em 05/06/2019, DJe 12/06/2019).</p><p>2. Hipótese em que foi impetrado mandado de segurança contra acórdão da</p><p>Corte Especial do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro que</p><p>desproveu agravo regimental e manteve a negativa de seguimento do apelo</p><p>raro, nos termos do art. 534-C, §7o, I, do CPC/1973, por entender que o</p><p>aresto recorrido espelhava tese firmada no STJ em recurso repetitivo.</p><p>3. A Corte de origem extinguiu o writ sem resolução do mérito, sob o</p><p>fundamento de que o impetrante deveria provocar "o Superior Tribunal de</p><p>Justiça pela via do agravo previsto no então vigente art. 544 do Código de</p><p>Processo Civil de 1973."</p><p>4. Na linha da jurisprudência desta Corte, o único recurso possível para</p><p>suscitar eventuais equívocos na aplicação do art. 543-B ou 543-C do</p><p>CPC/1973 é o agravo interno, a ser julgado pelo Tribunal de origem, com</p><p>exclusividade e em caráter definitivo.</p><p>5. A parte recorrente, ora agravada, diante da negativa de seguimento do seu</p><p>apelo especial com fulcro no art. 543-C, § 7o, I, do CPC/1973, agitou o recurso</p><p>cabível, qual seja, o agravo interno/regimental questionando a conformidade</p><p>do acórdão recorrido com a tese recursal julgada sob o rito dos recursos</p><p>repetitivos, mas não teve êxito na pretensão.</p><p>6. A decisão de admissibilidade nada mais tratou senão a conformidade do</p><p>acórdão recorrido com a tese repetitiva; descabe, assim, falar em dupla</p><p>impugnação mediante a interposição conjunta de agravo em recurso especial</p><p>ou mesmo em preclusão pela falta de manejo do agravo do art. 544 do</p><p>CPC/1973.</p><p>7. A irrecorribilidade do acórdão objeto da impetração, que nem sequer</p><p>admite reclamação, como decidido pela Corte Especial (Rcl 36.476/SP,</p><p>Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, julgado em 05/02/2020, DJe</p><p>06/03/2020), evidencia, no caso concreto, situação de exceção a admitir a</p><p>via do mandamus.</p><p>8. O julgado atacado no writ manifesta teratologia no emprego da tese</p><p>repetitiva firmada no REsp 1.105.442/RJ: "é de cinco anos o prazo</p><p>prescricional para o ajuizamento da execução fiscal de cobrança de multa de</p><p>natureza administrativa, contado do momento em que se torna exigível o</p><p>crédito (art. 1o do Decreto n. 20.910/1932)."</p><p>9. Do confronto entre o acórdão recorrido e o recurso especial obstado,</p><p>constata-se que a lide não discutia "a extensão do prazo prescricional da</p><p>pretensão executória da multa administrativa, mas qual seria o seu termo</p><p>inicial, se a data do ajuizamento da ação anulatória, caso em que a opção pela</p><p>via judicial antes do exaurimento da esfera administrativa denotaria que o</p><p>contribuinte abdicou da via administrativa, possível interpretação do parágrafo</p><p>único do art. 38 da Lei n. 6.830/1980, ou o efetivo término do processo</p><p>administrativo, uma vez que nele foi interposto recurso pela Petrobras", como</p><p>bem consignado pelo Ministério Público Federal no parecer lançado aos</p><p>presentes autos.</p><p>10. Caracterizadas a irrecorribilidade e a teratologia do decisum atacado,</p><p>exsurge cabível o uso excepcional da via mandamental.</p><p>11. O indeferimento liminar da inicial do mandamus na origem e a</p><p>impossibilidade de aplicação da teoria da causa madura em sede de</p><p>recurso ordinário (art. 515, § 3o, do CPC/1973) não permitem indagar acerca</p><p>do termo inicial correto para o cômputo do prazo prescricional, mas apenas</p><p>cassar o aresto recorrido e determinar o retorno dos autos para o Tribunal a</p><p>quo processar e julgar o mandado de segurança ali impetrado, como entender</p><p>de direito.</p><p>12. Agravo interno desprovido.</p><p>(AgInt no RMS 53.790/RJ, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA</p><p>TURMA, julgado em 17/05/2021, DJe 26/05/2021)</p><p>COEXISTÊNCIA DE RECURSO E RECLAMAÇÃO</p><p>Art. 988.</p><p>(...)</p><p>§ 6o A inadmissibilidade ou o julgamento do recurso interposto contra a</p><p>decisão proferida pelo órgão reclamado não prejudica a reclamação.</p><p>Ou seja: a) é possível atacar uma decisão simultaneamente por meio de</p><p>recurso e por meio da ação de reclamação; b) a reclamação é autônoma em</p><p>relação ao recurso.</p><p>COMPETÊNCIA</p><p>Art. 988.</p><p>(...)</p><p>§ 1o A reclamação pode ser proposta perante qualquer tribunal, e seu</p><p>julgamento compete ao órgão jurisdicional cuja competência se busca</p><p>preservar ou cuja autoridade se pretenda garantir.</p><p>INSTRUÇÃO E RELATORIA</p><p>Art. 988.</p><p>(...)</p><p>§ 2o A reclamação deverá ser instruída com prova documental e dirigida ao</p><p>presidente do tribunal.</p><p>§ 3o Assim que recebida, a reclamação será autuada e distribuída ao relator do</p><p>processo principal, sempre que possível.</p><p>DESPACHO DA RECLAMAÇÃO PELO RELATOR</p><p>Art. 989. Ao despachar a reclamação, o relator:</p><p>I - requisitará informações da autoridade a quem for imputada a prática do ato</p><p>impugnado, que as prestará no prazo de 10 (dez) dias;</p><p>II - se necessário, ordenará a suspensão do processo ou do ato impugnado</p><p>para evitar dano irreparável;</p><p>III - determinará a citação do beneficiário da decisão impugnada, que terá</p><p>prazo de 15 (quinze) dias para apresentar a sua contestação.</p><p>Inciso III favorece, claramente, o entendimento de que a reclamação consiste</p><p>em ação.</p><p>IMPUGNAÇÃO POR QUALQUER INTERESSADO</p><p>Art. 990. Qualquer interessado poderá impugnar o pedido do reclamante.</p><p>PARTICIPAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO</p><p>Art. 991. Na reclamação que não houver formulado, o Ministério Público terá</p><p>vista do processo por 5 (cinco) dias, após o decurso do prazo para informações</p><p>e para o oferecimento da contestação pelo beneficiário do ato impugnado.</p><p>CONSEQUÊNCIAS DA PROCEDÊNCIA DA RECLAMAÇÃO</p><p>Art. 992. Julgando procedente a reclamação, o tribunal cassará a decisão</p><p>exorbitante de seu julgado ou determinará medida adequada à solução da</p><p>controvérsia.</p><p>IMEDIATO CUMPRIMENTO DA DECISÃO</p><p>Art. 993. O presidente do tribunal determinará o imediato cumprimento da</p><p>decisão, lavrando-se o acórdão posteriormente.</p><p>A RECLAMAÇÃO “ANTIRRECLAMAÇÃO”</p><p>Reclamação 4.374, rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgamento</p><p>por maioria em 18/04/13</p><p>Benefício assistencial de prestação continuada ao idoso e ao deficiente. Art.</p><p>203, V, da Constituição. A Lei de Organização da Assistência Social (LOAS),</p><p>ao regulamentar o art. 203, V, da Constituição da República, estabeleceu</p><p>critérios para que o benefício mensal de um salário mínimo fosse concedido</p><p>aos portadores de deficiência e aos idosos que comprovassem não possuir</p><p>meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. 2.</p><p>Art. 20, § 3o da Lei 8.742/1993 e a declaração de constitucionalidade da</p><p>norma pelo Supremo Tribunal Federal</p><p>na ADI 1.232. Dispõe o art. 20, § 3o, da</p><p>Lei 8.742/93 que “considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa</p><p>portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja</p><p>inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo”. O requisito financeiro</p><p>estabelecido pela lei teve sua constitucionalidade contestada, ao fundamento</p><p>de que permitiria que situações de patente miserabilidade social fossem</p><p>consideradas fora do alcance do benefício assistencial previsto</p><p>constitucionalmente. Ao apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade</p><p>1.232-1/DF, o Supremo Tribunal Federal declarou a constitucionalidade do</p><p>art. 20, § 3o, da LOAS. 3. Reclamação como instrumento de</p><p>(re)interpretação da decisão proferida em controle de constitucionalidade</p><p>abstrato. Preliminarmente, arguido o prejuízo da reclamação, em virtude do</p><p>prévio julgamento dos recursos extraordinários 580.963 e 567.985, o Tribunal,</p><p>por maioria de votos, conheceu da reclamação. O STF, no exercício da</p><p>competência geral de fiscalizar a compatibilidade formal e material de</p><p>qualquer ato normativo com a Constituição, pode declarar a</p><p>inconstitucionalidade, incidentalmente, de normas tidas como fundamento da</p><p>decisão ou do ato que é impugnado na reclamação. Isso decorre da própria</p><p>competência atribuída ao STF para exercer o denominado controle difuso da</p><p>constitucionalidade das leis e dos atos normativos. A oportunidade de</p><p>reapreciação das decisões tomadas em sede de controle abstrato de</p><p>normas tende a surgir com mais naturalidade e de forma mais recorrente</p><p>no âmbito das reclamações. É no juízo hermenêutico típico da reclamação</p><p>– no “balançar de olhos” entre objeto e parâmetro da reclamação – que</p><p>surgirá com maior nitidez a oportunidade para evolução interpretativa</p><p>no controle de constitucionalidade. Com base na alegação de afronta a</p><p>determinada decisão do STF, o Tribunal poderá reapreciar e redefinir o</p><p>conteúdo e o alcance de sua própria decisão. E, inclusive, poderá ir além,</p><p>superando total ou parcialmente a decisão-parâmetro da reclamação, se</p><p>entender que, em virtude de evolução hermenêutica, tal decisão não se</p><p>coaduna mais com a interpretação atual da Constituição. 4. Decisões</p><p>judiciais contrárias aos critérios objetivos preestabelecidos e Processo de</p><p>inconstitucionalização dos critérios definidos pela Lei 8.742/1993. A decisão</p><p>do Supremo Tribunal Federal, entretanto, não pôs termo à controvérsia quanto</p><p>à aplicação em concreto do critério da renda familiar per capita estabelecido</p><p>pela LOAS. Como a lei permaneceu inalterada, elaboraram-se maneiras de</p><p>contornar o critério objetivo e único estipulado pela LOAS e avaliar o real</p><p>estado de miserabilidade social das famílias com entes idosos ou deficientes.</p><p>Paralelamente, foram editadas leis que estabeleceram critérios mais elásticos</p><p>para concessão de outros benefícios assistenciais, tais como: a Lei</p><p>10.836/2004, que criou o Bolsa Família; a Lei 10.689/2003, que instituiu o</p><p>Programa Nacional de Acesso à Alimentação; a Lei 10.219/01, que criou o</p><p>Bolsa Escola; a Lei 9.533/97, que autoriza o Poder Executivo a conceder</p><p>apoio financeiro a municípios que instituírem programas de garantia de renda</p><p>mínima associados a ações socioeducativas. O Supremo Tribunal Federal, em</p><p>decisões monocráticas, passou a rever anteriores posicionamentos acerca da</p><p>intransponibilidade dos critérios objetivos. Verificou-se a ocorrência do</p><p>processo de inconstitucionalização decorrente de notórias mudanças fáticas</p><p>(políticas, econômicas e sociais) e jurídicas (sucessivas modificações</p><p>legislativas dos patamares econômicos utilizados como critérios de concessão</p><p>de outros benefícios assistenciais por parte do Estado brasileiro). 5.</p><p>Declaração de inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do</p><p>art. 20, § 3o, da Lei 8.742/1993. 6. Reclamação constitucional julgada</p><p>improcedente</p><p>QUESTIONÁRIO</p><p>- Como foi criada e se estabeleceu a reclamação no Brasil?</p><p>- Quais os objetivos primordiais da reclamação em seu formato mais</p><p>tradicional entre nós?</p><p>- O CPC veio ampliar ou reduzir a utilização da reclamação?</p><p>- A reclamação tem algum prazo ou limite temporal?</p><p>- Poderia dar um exemplo de reclamação visando à preservação de</p><p>competência?</p><p>- Por que especialmente a jurisprudência do STJ é considerada defensiva no</p><p>tocante aos casos de reclamação?</p><p>- A reclamação pode ser utilizada não para garantir a observância de</p><p>determinado precedente, mas sim para reformular o precedente?</p>

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