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<p>O OFÍCIO DAS PANELEIRAS DE GOIABEIRAS</p><p>DISCIPLINA: Registros do Patrimônio Imaterial</p><p>Introdução</p><p>Registrado como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil em 20 de dezembro de 2002</p><p>e como Patrimônio Cultural Imaterial do Espírito Santo em 7 de março de 2024, o ofício das</p><p>paneleiras de Goiabeiras é uma atividade que diz respeito à produção de panelas de barro para</p><p>a preparação de pratos típicos capixabas, como a moqueca e a torta capixaba. Composto</p><p>majoritariamente por mulheres, constitui de um saber repassado de mãe para filha por</p><p>gerações sucessivas, no âmbito familiar e comunitário.</p><p>A solicitação desse registro, que tinha na disputa pelo barreiro e na defesa da</p><p>matéria-prima sua principal motivação para salvaguardar o bem cultural e seus detentores,</p><p>partiu das próprias artesãs. No final da década de 1980, algumas senhoras artesãs reuniram-se</p><p>com os poderes públicos municipais, primeiramente com técnicos da secretaria de ação social,</p><p>reivindicando ações de apoio ao artesanato tradicionalmente produzido naquela localidade.</p><p>Nesse processo, as paneleiras foram angariando alguns apoios e também travando combates,</p><p>seja para impedir a construção de um aterro sanitário no barreiro, seja para garantir melhores</p><p>condições de trabalho com a construção de um galpão.</p><p>Sobre seu passado, a história e pré-história das paneleiras de Goiabeiras representam</p><p>uma das tradições artesanais mais emblemáticas do país, enraizada em um profundo legado</p><p>cultural e histórico. Como apontado e descrito no dossiê, essa produção de panelas de barro é</p><p>uma tradição que remonta a tempos pré-coloniais e é fortemente associada às populações</p><p>indígenas que habitavam a região do Espírito Santo antes da chegada dos europeus. Essas</p><p>comunidades indígenas Tupi já dominavam técnicas de cerâmica que foram preservadas e</p><p>aprimoradas ao longo dos séculos, deixando um importante legado arqueológico a respeito</p><p>dos nativos da região desde tempos pré-históricos. No entanto, com a colonização portuguesa,</p><p>um sincretismo cultural incorporou técnicas europeias ao artesanato indígena, mas o processo</p><p>de fabricação das panelas permaneceu bastante fiel às suas raízes originárias.</p><p>Por fim, fazendo-se uma análise crítica a partir de uma perspectiva técnica, é</p><p>percebido que o conteúdo histórico do dossiê deixa a desejar em alguns aspectos. Além de</p><p>informações muito objetivas e enxutas, a bibliografia usada nessa pesquisa histórica poderia</p><p>ter ultrapassado os limites de “simples notas” e incorporado o texto em si, trazendo mais</p><p>credibilidade e carga informacional.</p><p>Sobre a parte iconográfica, para além de dois registros do processo da construção das</p><p>panelas sendo realizado – que poderiam ter sido melhor aproveitados em outra seção – e dois</p><p>registros do material arqueológico encontrado nas proximidades do aeroporto de Goiabeiras, o</p><p>texto não se encontra tão enriquecido com imagens quanto deveria. Foi percebida a falta de</p><p>ilustrações das comunidades indígenas originárias mencionadas e um mapa de sua localização</p><p>aproximada por meio de pesquisas histórico-arqueológicas, bem como alguns registros</p><p>fotográficos da região do próprio sítio arqueológico.</p><p>Em conclusão, apesar das lacunas presentes no texto e na iconografia dessa seção, as</p><p>principais informações foram abordadas, de forma coerente e bem escritas, trazendo à luz a</p><p>necessária noção de que tanto a história quanto a pré-história das paneleiras de Goiabeiras</p><p>revelam uma rica tradição que vai além do simples ato de moldar o barro. Ela é um</p><p>testemunho da resiliência cultural e da capacidade das comunidades de manter viva sua</p><p>herança, apesar dos desafios impostos pela modernidade.</p><p>1. Etapas de produção</p><p>1.1. Locais</p><p>a. Manguezal</p><p>O manguezal serve como fonte de alimentos e de lazer para os moradores da</p><p>região. Nele, os chamados casqueiros retiram a casca do mangue-vermelho, uma</p><p>espécie de árvore nativa do local. O material é utilizado para fazer a tintura de tanino,</p><p>com que pintam e impermeabilizam a panela. Sempre na maré baixa, entram no</p><p>mangue de canoa, escolhem a árvore e retiram a casca do tronco. Cada casqueiro</p><p>extrai cerca de 15 latas de casca por dia, vendida socada ou inteira, que são levadas</p><p>através do canal, onde encostam as canoas na beira do galpão para vendê-las. Para</p><p>obter a tinta, a casca é macerada e posta na água durante alguns dias, transformando-se</p><p>em tanino. Em favor do meio ambiente, atualmente é permitida a retirada de uma</p><p>parcela do anel da casca, permitindo assim a recomposição da espécie.</p><p>b. O barreiro</p><p>Lugar de onde é retirado o principal material para fazer as panelas: a argila do</p><p>Vale do Mulembá. Dada a composição arenosa típica do local, não encontrada em</p><p>outros lugares, as panelas têm menor ocorrência de rachaduras, maior rapidez de</p><p>secagem e aquecimento mais rápido e maior resistência ao fogo, impedindo que</p><p>estourem com o calor. As próprias paneleiras podem fazer a retirada ou adquirir a</p><p>matéria prima de tiradores. Nos últimos anos, para garantir a continuidade do acesso</p><p>ao material, foi necessária uma regularização da exploração do barreiro, submetendo-o</p><p>a legislações ambientais e minerais para obtenção de licença para a extração de argila.</p><p>c. Galpão</p><p>Implantado em 1987 e inaugurado em 1991 pela Prefeitura de Vitória, o atual</p><p>Galpão da Associação das Paneleiras foi construído para substituir o primeiro local,</p><p>que era constantemente alagado com as variações da maré. O espaço tem uma área</p><p>coberta de 432m2 projetada para abrigar as matérias-primas, mesas de trabalho e</p><p>depósitos e bancadas para os produtos prontos. Do lado de fora do galpão fica o</p><p>terreno em que acontece a queima das panelas. Atualmente, trabalham ali cerca de 60</p><p>pessoas, que prestam serviço em todo o processo de fazer das panelas, o que acabou</p><p>tornando o galpão um espaço pequeno, para suprir toda a demanda das paneleiras de</p><p>trabalhadores e visitantes que recebe. Além do galpão, há paneleiras que exercem o</p><p>ofício em suas próprias casas. E pontos de comercialização fora de Goiabeiras estão</p><p>no mercado da Vila Rubim, em uma rede regional de supermercados, na loja de um</p><p>artesão, na Avenida do Aeroporto e no próprio aeroporto.</p><p>1.2. Instrumentos</p><p>a. Cuia - É feito de um pedaço de cuité, um fruto parecido com a cabaça, é</p><p>utilizada para dar forma curva às panelas, abrindo e puxando a massa.</p><p>b. Arco - Uma chapa metálica em curva, usada para tirar o excesso de barro e</p><p>dar acabamento na superfície da panela.</p><p>c. Pedra (Seixo rolado) - Usada para alisar e polir as panelas depois de secas.</p><p>d. Pinça - Feito de galho comprido com dois ganchos na ponta, usado para</p><p>retirar as panelas ainda quentes da queima.</p><p>e. Vassourinha - feita de galhos de muxinga, planta rasteira e nativa, resistente</p><p>ao calor e impacto, é usada para bater a tintura (tanino) no final do processo.</p><p>1.3. Trabalhadores e procedimentos</p><p>a. Tiradores de barro - No vale do Mulembá, o tirador experimenta o barro com</p><p>os dedos para ver se está bom, então escava e retira o barro, que é molhado,</p><p>pisado e dividido em bolas de cerca de 15 kg. As bolas são transportadas em</p><p>caminhões até o local de trabalho.</p><p>b. Casqueiro - Coletor da casca do mangue-vermelho. Vai até o manguezal, que</p><p>só é acessível de canoa, e retira a casca da árvore, enche latas ou sacos e leva</p><p>até Goiabeiras, onde vende o material. No último levantamento, apenas quatro</p><p>pessoas exerciam esse trabalho.</p><p>c. Escolhedor de barro - O escolhedor faz a limpeza do barro, pisando nas bolas</p><p>e molhando para retirar as impurezas. Parentes homens ou auxiliares pagos</p><p>realizam essa tarefa para as paneleiras.</p><p>d. Paneleira - Mestra do ofício, domina todas as etapas da produção, conhece a</p><p>matéria prima e os procedimentos técnicos, a modelagem com as mãos e</p><p>depois com a cuia, puxa e levanta o bojo, definindo a concavidade e espessura</p><p>e o arco tira os excessos. As alças são feitas com roletes de barro e fixadas com</p><p>os dedos e fixadas com água. Após esse processo as panelas são postas para</p><p>secar até o dia seguinte, quando será trabalhado</p><p>o fundo, que está chato, nesse</p><p>processo ele é arredondado com a remoção de excessos com o arco. Algumas</p><p>delas têm auxiliares nos primeiros e últimos processos. E são as responsáveis</p><p>pelo processo de transmissão do saber.</p><p>e. Alisadora - Faz o polimento da panela depois de seca, utilizando a pedra de</p><p>rio (seixo rolado), alisando as superfícies interna e externa. Após o alisamento</p><p>as panelas são agrupadas para terminar a secagem e serem queimadas. A tarefa</p><p>costuma ser realizada por parentes mulheres ou vizinhas das paneleiras,</p><p>mediante pagamento.</p><p>f. Tirador de panela - Após a queima, o tirador retira as panelas em brasa da</p><p>fogueira com a pinça e deposita, ainda quente, junto a paneleira que irá realizar</p><p>o açoite, processo em que a tintura de tanino é aplicada com vassourinha de</p><p>muxinga nas peças.</p><p>2. Detentores do saber</p><p>Segundo depoimento oral das próprias paneleiras, a tradição de confeccionar panelas de</p><p>barro remonta a cerca de quatrocentos anos, tendo origem indígena, mais especificamente de</p><p>povos Tupi-Guarani e Una. O barro utilizado para exercer este ofício é retirado do Vale do</p><p>Mulembá, região próxima ao bairro de Goiabeiras, onde se localizam os galpões nos quais as</p><p>panelas são moldadas. Por muitos anos, esta região era um local de herdeiros, sendo</p><p>necessária autorização e pagamento para a retirada da matéria-prima, antes de ser cercada pela</p><p>prefeitura. Ainda hoje, é possível encontrar resquícios de panelas confeccionadas há séculos,</p><p>espalhadas pelo Vale e enterradas no solo.</p><p>Em 1987, no entanto, foi fundada a Associação das Paneleiras do bairro de Goiabeiras,</p><p>no município de Vitória, que reúne e organiza a produção de um saber transmitido por várias</p><p>gerações. Muitas das paneleiras em questão aprenderam o seu ofício por meio de suas mães e</p><p>avós, configurando-se como uma atividade artesanal, familiar e de rica importância cultural</p><p>para o estado do Espírito Santo. Por meio da exportação, as panelas de barro chegam às mãos</p><p>de estrangeiros, além de atrair turistas para a região onde são confeccionadas. A princípio, boa</p><p>parte das pessoas que faziam panelas na região eram do sexo feminino, enquanto hoje, por sua</p><p>vez, tem crescido consideravelmente o número de homens no ofício.</p><p>A princípio, boa parte das paneleiras trabalhavam de forma terceirizada, fazendo e</p><p>vendendo panelas para outras paneleiras, em suas casas. Hoje, com a existência da associação,</p><p>as paneleiras podem exercer seu ofício no galpão, caso não possam exercê-lo em seus</p><p>respectivos locais de residência. No que tange ao registro desta prática como patrimônio</p><p>imaterial do estado do Espírito Santo, cabe ressaltar que o ofício das Paneleiras de Goiabeiras</p><p>foi o primeiro bem cultural inscrito no Livro de Registro dos Saberes, em 2002.</p><p>Muitas paneleiras baseiam sua renda somente nesta atividade. Outras, porém, utilizam o</p><p>dinheiro da venda das panelas para complementar a aposentadoria de seus maridos, ou o</p><p>trabalho de seus filhos. Algumas, inclusive, possuem curso superior e já exerceram outros</p><p>trabalhos, mas, ainda assim, não abandonaram o ofício das panelas.</p><p>Cabe citar, como exemplo de utilização das panelas de barro, a moqueca capixaba, que</p><p>fora registrada como patrimônio imaterial do estado do Espírito Santo, estando estreitamente</p><p>relacionada ao ofício das paneleiras, o que demonstra as contribuições culturais e sociais do</p><p>exercício de tal ofício.</p><p>Atualmente, este ofício é responsável pelo sustento de cerca de 120 famílias, as quais</p><p>transmitem esse saber e esta profissão para seus descendentes, preservando, assim, esta</p><p>prática através do tempo.</p><p>Dentro do exercício deste ofício, é considerado o respeito pelo meio ambiente no qual o</p><p>barro é extraído, de modo que a extração do barro e da pigmentação não afete a fauna e a flora</p><p>locais, interferindo o mínimo possível na biodiversidade. Por meio desta preocupação com a</p><p>natureza, os indígenas mantiveram tal prática por séculos, sendo reproduzida hoje pelas</p><p>paneleiras locais. Para retirar a matéria-prima, nos dias atuais, é preciso se identificar como</p><p>membro da associação, medida necessária para a proteção ambiental.</p><p>Segundo dados oficiais, grande parte dos paneleiros possui entre 10 a 30 anos de</p><p>profissão, enquanto uma minoria exerce esse ofício há mais de 30 anos. Outro dado relevante</p><p>é o fato de que, em alguns casos, os auxiliares possuem renda superior à dos paneleiros,</p><p>devido à sofisticação na divisão do trabalho e à terceirização de diversas etapas da produção.</p><p>A maior parte das paneleiras, nos dias atuais, trabalha no galpão, enquanto um número menor</p><p>produz as panelas em suas residências.</p><p>No que diz respeito ao valor das panelas, por sua vez, é algo que varia de acordo com o</p><p>artesão, assim como do tamanho e tipo das panelas, as quais não possuem uma padronização.</p><p>Dentre os desafios enfrentados pelos detentores desse saber, pode-se citar o adoecimento,</p><p>morte ou incapacidade de exercer o ofício, visto que eles não possuem previdência social e</p><p>dependem da renda advinda das panelas.</p><p>3. Programa de salvaguarda e problemas enfrentados</p><p>O caminho para o sucesso das iniciativas de salvaguarda do ofício das Paneleiras de</p><p>Goiabeiras passa pela importância conquistada pela Associação das Paneleiras de Goiabeiras,</p><p>desde a sua criação, em 1987, e pela capacidade deste grupo de construir pontes com o poder</p><p>público, a iniciativa privada e com a sociedade civil. A Associação trabalha numa busca</p><p>constante de valorização da entidade e dos produtos produzidos pelas artesãs, como ícones da</p><p>cultura capixaba.</p><p>Uma das primeiras iniciativas, que permitiu que outras ações viessem a seguir foi a</p><p>construção do galpão da Associação pela Prefeitura Municipal de Vitória, que também é</p><p>responsável pela disponibilização do barro, entregue regularmente no galpão.</p><p>O ofício das Paneleiras se tornou atração turística do Espírito Santo. Há programas de</p><p>visitação ao galpão da Associação e as paneleiras são convidadas a participarem de feiras e</p><p>eventos de turismo, em todo o Brasil.</p><p>Alguns projetos sobre o ofício das Paneleiras têm contribuído para preservação da tradição,</p><p>com atenção aos aspectos ambientais, sociais, mercadológicos e outros e específicos do</p><p>Patrimônio, como o conduzido pelo IPHAN, de acompanhamento dos processos e das</p><p>atividades tradicionais relacionadas ao ofício.</p><p>O esforço de salvaguarda conduzido pelo IPHAN tem três aspectos principais:</p><p>● preservação das fontes de matérias-primas</p><p>● condições de infra-estrutura e de organização das atividades de produção e</p><p>comercialização</p><p>● reconhecimento da participação dos artesãos na economia regional, na busca dos</p><p>correspondentes direitos previdenciários.</p><p>Desafios</p><p>As alterações nas condições tradicionais da prática do ofício das paneleiras, como o aumento</p><p>da demanda turística pelo produto ou a disponibilidade de matéria prima são desafios</p><p>importantes para a salvaguarda. No entanto, pontos críticos tem sido mapeados e tratadas pelo</p><p>poder público, como a garantia do cumprimento da legislação ambiental, a possibilidade de</p><p>esgotamento das matérias primas, a urbanização acelerada da comunidade onde vivem as</p><p>famílias artesãs, o fortalecimento da Associação das Paneleiras e a manutenção da sua</p><p>estrutura e as questões que impactam a comercialização, como certificação de origem,</p><p>formação de preço, embalagem e transporte do produto.</p><p>O caráter vivo do patrimônio imaterial define a necessidade de constante acompanhamento</p><p>das mudanças sociais, econômicas e culturais que possam interferir no ofício das Paneleiras</p><p>de Goiabeiras, para garantir a continuidade do bem registrado e o manejo correto dos planos</p><p>de salvaguarda, em conjunto com as artesãs.</p><p>As iniciativas previstas pelo IPHAN e as intervenções junto a outros órgãos públicos e a</p><p>iniciativa privada são majoritariamente focados na garantia das condições primárias e nos</p><p>aspectos da comercialização. Embora não haja destaque para nenhuma iniciativa de</p><p>transmissão do saber, é possível supor que quanto mais valorizado o produto deste</p><p>ofício,</p><p>maiores as chances de novas gerações se interessarem por aprendê-lo e por dar continuidade</p><p>ao legado de suas mães e avós.</p><p>4. Atualidade</p><p>O Ofício das Paneleiras de Goiabeiras (ES), foi revalidado como Patrimônio Cultural</p><p>Imaterial do Brasil em 2021, juntamente com o Frevo (PE) e o Tambor de Crioula (MA). O</p><p>bem teve seu título renovado pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, coordenado</p><p>pelo Iphan.</p><p>Em 2023, foi publicado um Diagnóstico Sociocultural do Ofício das Paneleiras de</p><p>Goiabeiras, atestando algumas das condições da existência e permanência da prática. As</p><p>pesquisas foram realizadas no contexto de revalidação do registro, concluídas em 2015. Para a</p><p>pesquisa, foram realizadas 65 entrevistas, sendo 14 homens e 51 mulheres, com indivíduos</p><p>que ocupavam as funções de mestres do ofício, auxiliares, casqueiros e tiradores de barro. Os</p><p>dados levantados demonstram que o número de homens que atuam de fato como mestres</p><p>artesãos ou auxiliares na modelagem tem crescido, além das funções tradicionalmente</p><p>masculinas de extração das matérias-primas e queima das panelas. A fim de comparação, das</p><p>55 paneleiras cadastradas em 2001, apenas 7 eram homens.</p><p>Atualmente, o Ofício das Paneleiras encontra dificuldades em sua preservação dado o</p><p>caráter não renovável da extração do barro. Segundo o Dossiê de Registro, há uma crença</p><p>compartilhada entre as paneleiras de que “o barro não acaba”, uma vez que a fabricação das</p><p>panelas é uma atividade antiga e que se mantém até hoje. No entanto, dados técnicos apontam</p><p>para o esgotamento do barreiro nos próximos 18 anos, o que tem feito com que as paneleiras</p><p>se conscientizem mais acerca da necessidade de preservação do barreiro.</p><p>Além disso, o ofício é prejudicado pelo baixo rendimento financeiro que as paneleiras</p><p>recebem. Dos entrevistados pelo Diagnóstico Sociocultural, a maior parte das paneleiras</p><p>ganhava abaixo de um salário mínimo ou até 2 mil reais mensais.</p><p>Referências</p><p>SILVA, Filipe Oliveira da; GUIDI, Rebecca Velloso de Luna (orgs.). Ofício das paneleiras</p><p>de Goiabeiras: diagnóstico sociocultural. Vitória: Iphan, 2023.</p><p>Dossiê de registro do Ofício das Paneleiras de Goiabeiras. Iphan, 2002.</p>

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