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<p>Autoras: Profa. Camila Francis D’Avila e Silva</p><p>Profa. Priscilla Silva Silvestrin</p><p>Colaboradores: Prof. Clovis Chiezzi Seriacopi Ferreira</p><p>Profa. Angélica Carlini</p><p>Ética e</p><p>Legislação Profissional</p><p>Professoras conteudistas: Camila Francis D’Avila e Silva / Priscilla Silva Silvestrin</p><p>Camila Francis D’Avila e Silva</p><p>Mestre em Direitos Fundamentais pelo Centro Universitário Unifieo (2010). Especialista em Direito Civil e Direito</p><p>Processual Civil pelo Centro Universitário Unifieo (2007). Graduada em Direito pela Universidade Paulista (UNIP)</p><p>em 2003. Graduada com habilitação em seguros pela Fundação Escola Nacional de Seguros (Funenseg) em 2003.</p><p>Coordenadora dos cursos de Direito da Faculdade Capital Federal (Fecaf). Advogada e professora universitária de</p><p>Direito na UNIP.</p><p>Priscilla Silva Silvestrin</p><p>Mestre em Ciências Contábeis pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), graduada em Ciências</p><p>Contábeis pela mesma instituição (2014) e em Direito pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das</p><p>Missões (2005).</p><p>Especialista em Direito Público pelo Instituto Damásio de Jesus. Advogada e contadora, foi professora da</p><p>Universidade Salvador (Unifacs), das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) e da Faculdade Capital Federal</p><p>(Fecaf). Atualmente, é professora na área de concursos na LOGGA Cursos Preparatórios e professora universitária da</p><p>Universidade Paulista (UNIP), do Centro Universitário Senac e da Faculdade das Américas (FAM), sendo membro do</p><p>núcleo docente estruturante (NDE) em todas essas instituições. Autora da Editora Saraiva, Sol Editora e pesquisadora</p><p>na área de docência no ensino superior nas áreas de direito e ciência contábil.</p><p>© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou</p><p>quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem</p><p>permissão escrita da Universidade Paulista.</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)</p><p>S586e Silva, Camila Francis D’Avila e.</p><p>Ética e Legislação Profissional / Camila Francis D’Avila e Silva,</p><p>Priscilla Silva Silvestrin. – São Paulo: Editora Sol, 2020.</p><p>92 p., il.</p><p>Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e</p><p>Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.</p><p>1. Ética. 2. Moral. 3. Responsabilidade civil. I. Silva, Camila</p><p>Francis D’Avila e. II. Silvestrin, Priscilla Silva. III. Título.</p><p>681.3</p><p>U508.61 – 20</p><p>Prof. Dr. João Carlos Di Genio</p><p>Reitor</p><p>Prof. Fábio Romeu de Carvalho</p><p>Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças</p><p>Profa. Melânia Dalla Torre</p><p>Vice-Reitora de Unidades Universitárias</p><p>Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez</p><p>Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa</p><p>Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez</p><p>Vice-Reitora de Graduação</p><p>Unip Interativa – EaD</p><p>Profa. Elisabete Brihy</p><p>Prof. Marcello Vannini</p><p>Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar</p><p>Prof. Ivan Daliberto Frugoli</p><p>Material Didático – EaD</p><p>Comissão editorial:</p><p>Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)</p><p>Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)</p><p>Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)</p><p>Apoio:</p><p>Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD</p><p>Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos</p><p>Projeto gráfico:</p><p>Prof. Alexandre Ponzetto</p><p>Revisão:</p><p>Bruno Barros</p><p>Juliana Muscovick</p><p>Sumário</p><p>Ética e Legislação Profissional</p><p>APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7</p><p>INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7</p><p>Unidade I</p><p>1 ÉTICA .......................................................................................................................................................................9</p><p>1.1 Conceito ................................................................................................................................................... 11</p><p>1.2 Breve história da ética ........................................................................................................................ 14</p><p>2 ÉTICA ANTIGA E CONTEMPORÂNEA ........................................................................................................ 17</p><p>2.1 Antiguidade ............................................................................................................................................ 17</p><p>2.2 Contemporaneidade ............................................................................................................................ 20</p><p>2.3 Sócrates, Platão e Aristóteles .......................................................................................................... 20</p><p>2.4 Princípios éticos .................................................................................................................................... 24</p><p>2.4.1 Verdade ....................................................................................................................................................... 24</p><p>2.4.2 Justiça .......................................................................................................................................................... 24</p><p>2.4.3 Amor ............................................................................................................................................................ 25</p><p>2.4.4 Liberdade .................................................................................................................................................... 26</p><p>2.4.5 Igualdade .................................................................................................................................................... 26</p><p>2.4.6 Segurança .................................................................................................................................................. 26</p><p>2.4.7 Solidariedade ............................................................................................................................................ 27</p><p>3 MORAL ................................................................................................................................................................. 27</p><p>3.1 Moral, usos e costumes ...................................................................................................................... 29</p><p>3.2 Consciência moral ................................................................................................................................ 30</p><p>4 VÍCIOS E VIRTUDES ......................................................................................................................................... 32</p><p>4.1 Excelência moral e deficiência moral ........................................................................................... 33</p><p>4.2 Verdade, mentira ou omissão? ........................................................................................................ 34</p><p>Unidade II</p><p>5 ÉTICA PROFISSIONAL DAS EXATAS ........................................................................................................... 40</p><p>6 RESPONSABILIDADE DO ENGENHEIRO .................................................................................................. 41</p><p>7 RELAÇÕES COM O UNIVERSO JURÍDICO ............................................................................................... 43</p><p>7.1 Responsabilidade civil ........................................................................................................................ 45</p><p>7.2 Ação de indenização ........................................................................................................................... 47</p><p>8 REGIME LEGAL .................................................................................................................................................. 54</p><p>8.1 Lei n. 5.194/1966: regulamentação profissional dos engenheiros ..................................</p><p>4Gju96Ri7477do4VAkUpZEQ81jjsmfLhoC0rMQAvD_BwE. Acesso em: 12 ago 2020.</p><p>Leia as afirmativas a seguir:</p><p>I – A percepção da alta incidência de corrupção no Brasil é positiva porque estimula adoção de</p><p>medidas que possam combater essas práticas.</p><p>II – A corrupção é uma prática em 180 países do mundo em maior ou menor grau, o que indica que</p><p>não é possível erradicá-la.</p><p>Assinale a alternativa correta:</p><p>A) I, somente.</p><p>B) II, somente.</p><p>C) I e II estão incorretas.</p><p>D) I está correta e é decorrente de II.</p><p>E) II está correta e é decorrente de I.</p><p>Resposta correta: alternativa C.</p><p>Análise das afirmativas</p><p>I – Afirmativa incorreta.</p><p>Justificativa: a percepção da alta incidência de práticas de corrupção no Brasil não tem sido positiva</p><p>para incentivar medidas que contenham ou punam essas práticas, tanto é verdade que o país já teve</p><p>cinco recuos sequenciais nas colocações ocupando a pior posição da série desde 2012.</p><p>II – Afirmativa incorreta.</p><p>Justificativa: o enunciado da questão não mostra que é impossível erradicar a corrupção, porque não</p><p>se sabe se existem países que tenham atingido o resultado 100, percepção de que o país é muito íntegro.</p><p>54</p><p>8.1.1 Conselhos ................................................................................................................................................... 55</p><p>8.1.2 Do registro profissional ........................................................................................................................ 61</p><p>8.1.3 Das penas ................................................................................................................................................... 62</p><p>8.2 Resolução n. 205/1971: Código de Ética do engenheiro – revogada ............................. 63</p><p>8.3 Resolução n. 1.002/2002: Código de Ética do engenheiro – vigente ............................. 64</p><p>8.3.1 Proclamação ............................................................................................................................................. 64</p><p>8.3.2 Preâmbulo .................................................................................................................................................. 65</p><p>8.3.3 Da identidade das profissões e dos profissionais ....................................................................... 65</p><p>8.3.4 Princípios éticos ...................................................................................................................................... 65</p><p>8.3.5 Dos deveres ............................................................................................................................................... 67</p><p>8.3.6 Das condutas vedadas .......................................................................................................................... 68</p><p>8.3.7 Dos direitos ................................................................................................................................................ 69</p><p>8.3.8 Da infração ética ..................................................................................................................................... 71</p><p>8.3.9 Processo ético disciplinar .................................................................................................................... 72</p><p>8.4 Resolução normativa CFA n. 537/2018: Código de Ética dos</p><p>administradores de empresas ................................................................................................................. 79</p><p>7</p><p>APRESENTAÇÃO</p><p>Diante de um mundo cada vez mais complexo, manter a mente e as condutas retas, observando o que</p><p>é certo e aquilo que atende ao bem social, é um desafio cada vez maior para os cidadãos e os profissionais.</p><p>O objetivo deste livro-texto é proporcionar noções sobre a ética profissional e social e quais são</p><p>os preceitos fundamentais de ordem moral e de convívio, noções essas indispensáveis para o exercício</p><p>profissional na medida em que as discussões éticas ganham destaque em uma sociedade muitas vezes</p><p>esvaziada de valores, que necessita respeitar a técnica e o bem comum, valorizando o coletivo em</p><p>detrimento do individual, a fim de permitir que o benefício geral seja o seu próprio.</p><p>Uma pergunta pode ser pertinente neste momento: Como perceber a atuação da ética na</p><p>realização das atividades profissionais? A resposta é tão ampla quanto as atividades que serão</p><p>desempenhadas profissionalmente.</p><p>Nesta disciplina, será compreendida a importância do conhecimento técnico sobre a ética e de</p><p>identificar, em situações concretas da atividade profissional, ações que devem ser refletidas sob a luz</p><p>do conhecimento ético, de uma maneira prévia à ação. Agindo de maneira ética, o benefício retorna a</p><p>toda a sociedade.</p><p>Ao estudar a ética geral e a ética profissional, deve-se estar consciente da importância da moral e do</p><p>direito, sobretudo na vida profissional, procurando mudanças no mundo profissional contemporâneo,</p><p>afastando as práticas abusivas e ilegais praticadas por muitos, que às vezes causam a falsa impressão de</p><p>que tais atos estariam dentro dos parâmetros da ética.</p><p>É nesse cenário que esperamos que o profissional atue como um agente de transformação social</p><p>dentro da ética, e, ao deparar com seus próprios desafios, estimule o senso de responsabilidade frente ao</p><p>mundo globalizado, agindo com ética e responsabilidade profissional, social e ambiental.</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Esta talvez seja a mais complexa das disciplinas encontradas ao longo do curso. Isso porque ela</p><p>abarca mais do que números, estatísticas, cálculos, métricas, meio ambiente, saúde, legislação ou apenas</p><p>um aspecto da vida das pessoas. Ela contempla tudo. Ela contempla a forma pela qual nos relacionamos</p><p>com as pessoas e em sociedade, como compreendemos a nossa função dentro dessa sociedade e como</p><p>as nossas decisões devem ser éticas, sob pena de atingir valores que consideramos relevantes, como a</p><p>vida, a liberdade, o patrimônio, a honra, a saúde etc.</p><p>Mas como se inicia uma disciplina tão complexa e importante para o desempenho das atividades</p><p>profissionais?</p><p>Depois de saber que essa disciplina tem relação direta com a sociedade e a maneira pela qual</p><p>o profissional é percebido por ela, o primeiro passo é estudar os conceitos que dão sustentação às</p><p>8</p><p>nossas decisões. Mais ou menos como as fundações as quais estamos acostumados. As bases estruturais</p><p>deste assunto se encontram na história da ética geral, passando pelos princípios éticos, os primórdios</p><p>filosóficos de Sócrates, Platão e Aristóteles e as consequentes contribuições desses pensadores para a</p><p>ética contemporânea, além de dominar os conceitos de moral, de usos e costumes.</p><p>O segundo passo é possibilitar que você compreenda a ética profissional e esteja apto a</p><p>apontar a formação na área, discutindo, por meio de exemplos, o que significa uma atuação ética,</p><p>considerando toda a legislação pertinente, em especial a evolução do Código de Ética utilizado na</p><p>área de engenharia.</p><p>O terceiro passo é ilustrar como um profissional pode ser útil socialmente na solução de conflitos</p><p>sociais junto com o Poder Judiciário, ainda que na qualidade de informante. Essa análise fará com</p><p>que possa ser observado como é que se recolhem as informações éticas extraídas dos códigos gerais e</p><p>específicos da sua profissão e se aplicam em situações ou problemas concretos.</p><p>Este livro-texto trata, primeiramente, da ética geral, seus aspectos filosóficos, perspectivas técnicas</p><p>e embasamento teórico para, depois, adentrar na ética profissional da área de engenharia, abordando os</p><p>principais tópicos do Código de Ética, o processo perante o tribunal de ética e as penalidades às quais</p><p>está sujeito o profissional de engenharia infrator.</p><p>Assim, não basta conhecer a teoria, é preciso saber e exercitar os preceitos éticos no dia a dia, em</p><p>especial na vida profissional. Neste livro-texto, serão encontrados diversos exemplos que contextualizam</p><p>a aplicação prática da ética profissional e como a ética se aperfeiçoa nas relações humanas.</p><p>Bons estudos!</p><p>9</p><p>ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL</p><p>Unidade I</p><p>A ética cabe na realização de perícias, na qual o profissional empresta seus conhecimentos para</p><p>que haja uma decisão justa. Cabe ética na elaboração de projetos e obras públicas, que devem atender</p><p>às necessidades sociais acima de quaisquer interesses privados. Existe julgamento ético quando</p><p>o profissional escolhe materiais para utilização em residências, devendo ser seguras e adequadas</p><p>independentemente se populares ou de alto padrão. Há uma decisão ética quando o profissional decide</p><p>orientar as pessoas para que elas usem equipamentos e materiais menos poluentes que atendam às</p><p>regras de sustentabilidade. Há ética quando é feito o descarte adequado dos produtos químicos e ações</p><p>que sejam menos poluidoras e diversas outras ações que envolvem decisões éticas.</p><p>Agora, é possível iniciar os estudos sobre ética refletindo sobre as ações do ser humano em sociedade,</p><p>passando para o conceito de ética e sua história no curso do tempo. A história é importante para</p><p>compreender como a ética era percebida no início e como ela evoluiu até o estágio atual.</p><p>Diversas questões interessantes são tratadas aqui,</p><p>como, por exemplo, a formação dos ditados: “não</p><p>faça aos outros o que não deseja para si” de Kant; “só sei que nada sei” de Sócrates; a lei do “olho por</p><p>olho, dente por dente” do Código de Hamurabi, entre outras.</p><p>Na formação da ética contemporânea, vamos estudar o papel da família, da tradição, das decisões</p><p>coletivas, dos mitos, da filosofia e da inversão de tudo o que se acreditava ser desígnio divino se</p><p>transformar em força da razão humana.</p><p>Depois, estudaremos os princípios da verdade, da justiça, do amor, da liberdade, da igualdade, da</p><p>segurança e da solidariedade como formas de aplicar a ética dentro das nossas relações.</p><p>1 ÉTICA</p><p>Você já pensou em viver absolutamente sozinho ou sozinha? Para você, isso seria um sonho ou um</p><p>pesadelo? Como você se comportaria necessitando buscar tudo por si diretamente na natureza? Essas</p><p>reflexões iniciam os estudos éticos na medida em que trazem para esse contexto os aspectos sociais,</p><p>biológicos e políticos do ser humano.</p><p>Somos seres sociais, que dependem do convívio de outros semelhantes, seja para sua segurança ou</p><p>para seu deleite.</p><p>É fato que nas sociedades mais rudimentares a estrutura social se baseava na necessidade de</p><p>preservação e procriação, necessidade biológica básica para a continuidade da espécie.</p><p>10</p><p>Unidade I</p><p>Com o passar do tempo, as relações sociais se tornaram cada vez mais complexas, uma vez que</p><p>diversos interesses pessoais começam a ser considerados. A sociedade necessita de normas para</p><p>regrar as condutas individuais, permitindo que haja o convívio harmônico entre seus integrantes.</p><p>Aa pirâmide de Maslow (1943) foi elaborada como um instrumento para medir a satisfação das</p><p>pessoas, conforme as regras sociais postas em nossa vida. Ela faz com que possamos compreender um</p><p>pouquinho melhor a nossa relação com o trabalho e com a satisfação. Veja:</p><p>Nível de autorrealização (metamotivação)</p><p>As reclamações podem ser relativas à ineficiência ou imperfeição do mundo para com</p><p>as pessoas de um modo geral, à falta de verdade, à injustiça e à desonestidade. Neste</p><p>nível de necessidade, os desejos estão voltados para a perfeição, para ser aquilo que o</p><p>indivíduo tem potencial para ser.</p><p>Autoestima</p><p>Neste nível, as queixas se referem, em sua maioria, à perda de dignidade, à ameaça ao</p><p>prestígio, à autoestima e à estima vinda dos outros; os desejos estão orientados para</p><p>a realização de alguma coisa, para ter competência, status, reconhecimento, atenção,</p><p>importância, apreciação e necessidade de confiar e de ser alguém no mundo.</p><p>Sociais, de afiliação ou amor</p><p>Reclamações pela falta de amigos no trabalho, pela falta de parceiros românticos, pela</p><p>falta de relações afetivas com outras pessoas de modo geral; por não pertencer a um</p><p>grupo, dentro ou fora da organização, por não ter oportunidade de prestar ajuda aos</p><p>colegas, por não receber ajuda dos companheiros de trabalho.</p><p>Básicas ou nível fisiológico</p><p>Reclamações referentes a perigo de vida, fadiga, fome, sede, más condições de moradia,</p><p>falta de ar devido a problemas de ventilação ou ao tipo de trabalho, falta de conforto</p><p>pessoal, manifestação do desejo de um lugar de trabalho seco e aquecido, uma posição</p><p>mais confortável para o corpo durante o trabalho, boas condições de saúde, melhor</p><p>pagamento. Neste nível, as necessidades são, em sua maioria, multideterminadas, isto é,</p><p>servem de canal para a satisfação de outras necessidades.</p><p>Segurança</p><p>Queixas relativas à segurança e estabilidade no trabalho, ao medo de ser despedido</p><p>arbitrariamente, a não poder planejar o orçamento familiar devido à falta de garantia</p><p>quanto à permanência no trabalho, à arbitrariedade do supervisor com respeito a</p><p>possíveis indignidades às quais o indivíduo tenha que se submeter para se manter no</p><p>trabalho, à própria segurança física com relação a possíveis acidentes no trabalho, a uma</p><p>assistência médica mais eficiente e atuante.</p><p>Figura 1</p><p>Tais regras sociais são baseadas em valores que são introduzidos na sociedade e se alteram com o</p><p>passar do tempo e se moldam com as novas condutas sociais.</p><p>É neste contexto que a ética tem importância.</p><p>11</p><p>ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL</p><p>1.1 Conceito</p><p>Ética deriva da palavra grega éthos, que significa singular, portanto, se trata das ações de um único</p><p>sujeito. Neste sentido, podemos definir que é o conjunto de ações reiteradas do sujeito capaz de moldar</p><p>a sua forma de agir.</p><p>Nas palavras de Eduardo Bittar (2018, p. 625): “define-se ética como sendo a capacidade de ação</p><p>livre e autônoma do indivíduo. Significa, acima de tudo, capacidade de resistência que o indivíduo tem</p><p>em face das externas pressões advindas do meio (inclusive pressões morais ilegítimas)”.</p><p>Portanto, quem realiza tais práticas é o próprio indivíduo, que as incute no seu modo de agir. Assim,</p><p>a pessoa baseia suas decisões e forma de agir nos valores éticos que possui.</p><p>Nesse sentido, podemos dizer que cada um possui sua própria ética e vive norteado por ela.</p><p>Obviamente que os valores éticos da pessoa são influenciados pelo meio, pelas leis, família, religião,</p><p>cultura, entre outros.</p><p>Figura 2</p><p>É certo que nossas emoções também influenciam na nossa maneira de agir e a reagir a estímulos</p><p>externos, vinculando nossas ações. Contudo, não nos convém agir somente com base nas paixões, pois</p><p>podemos ter diversas sanções sociais e legais a partir de nossas práticas.</p><p>Observação</p><p>Paixão é um sentimento humano muito forte, intenso, envolvente, que</p><p>atrai uma pessoa a outra, a algum objeto ou a algum tema.</p><p>12</p><p>Unidade I</p><p>Como vimos, a sociedade se estabelece para o bem dos indivíduos que dela fazem parte e estes, por</p><p>sua vez, renunciam parte da sua liberdade pelos seus benefícios. Assim, o convívio social harmônico</p><p>estabelece mais que normas jurídicas para regrar o comportamento humano social. Há, também, um</p><p>conjunto não escrito de normas que permite que as pessoas possam conviver em harmonia.</p><p>A ética, como ramo da filosofia, estuda as condutas sociais e busca a razão do agir. Entre o estímulo</p><p>e a ação existe um tempo de resposta que o sujeito valida em sua mente a justificativa para a realização</p><p>do ato. O sujeito sopesa o bem e o mal, o certo e errado, assim, de acordo com diversos fatores, como</p><p>visão de mundo, cultura, família, religião, posição social entre outros, toma sua decisão.</p><p>Nem sempre é possível, dada a situação apresentada, sabermos o que seria o correto a se fazer. Nesse</p><p>sentido, Immanuel Kant desenvolveu o imperativo categórico, que podemos definir como o dever de</p><p>todas as pessoas de agirem de acordo com princípios morais e éticos para que sua ação reflita para o</p><p>bem geral, mas que haja reflexão antes do agir.</p><p>Mas quando é que surge um dilema ético? Ele aparece quando uma pessoa é obrigada a decidir</p><p>entre duas opções moralmente válidas, mas elas podem entrar em conflito com os limites estabelecidos</p><p>de uma empresa, família ou até mesmo com o que estiver escrito na lei. Alguns dilemas éticos podem</p><p>envolver: seguir a verdade e ser leal a um amigo, como, por exemplo, não denunciar o colega a um</p><p>superior; ou seguir as leis ou regras versus ter compaixão pela situação de um indivíduo, como, por</p><p>exemplo, presenciar vendedores ambulantes, sem as licenças, nas ruas, entre outras hipóteses.</p><p>Exemplo de aplicação</p><p>O dilema do trem desgovernado (BIRCHAL, 2012).</p><p>Cenário 1: um trem desgovernado, cujo maquinista desmaiou, vai matar cinco pessoas que se</p><p>encontram sobre os trilhos. Um observador pode, acionando uma alavanca, desviá-lo para outro trilho</p><p>sobre o qual se encontra uma pessoa, que vai morrer caso a alavanca seja acionada. O observador deve</p><p>acionar a alavanca?</p><p>Cenário 2: um trem desgovernado, cujo maquinista desmaiou, vai matar cinco pessoas que se</p><p>encontram sobre os trilhos. Um observador que se encontra sobre uma ponte acima dos trilhos percebe</p><p>que se empurrar um homem que pesa 120 Kg, que se encontra a seu lado, o corpo do homem, caindo</p><p>sobre os trilhos, será capaz de fazer parar o trem e salvar as cinco pessoas. O observador deve empurrar</p><p>o homem?</p><p>Em geral, as pessoas respondem sim no primeiro cenário e não no segundo.</p><p>Reflita sobre as razões das justificativas desses julgamentos gerais, no que diz respeito aos</p><p>dilemas éticos.</p><p>13</p><p>ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL</p><p>Um dilema ético difere de um dilema moral porque envolve muito mais do que seguir regras do que</p><p>a consciência, embora a consciência possa certamente levar um indivíduo a considerar violar as regras.</p><p>Os exemplos são vários:</p><p>• Um estagiário descobre que seu chefe estava utilizando produtos de baixa qualidade cobrando do</p><p>cliente produtos de alta qualidade, e ele deve decidir se deve ou não entregá-lo ao cliente.</p><p>• Um médico que se recusa a dar analgésico ou propôr um tratamento mais confortável a um</p><p>paciente terminal.</p><p>• Um professor pede ao representante de turma que forneça seu número de celular para que</p><p>ele possa entrar em contato com eles rapidamente; no entanto, de acordo com a política da</p><p>universidade, os professores não devem ter contato com os alunos por seus telefones.</p><p>• Um funcionário imprime diversos documentos pessoais utilizando o papel e a impressora da</p><p>empresa na qual trabalha.</p><p>• Um jogador de futebol vê o companheiro adversário lesionado no chão, gemendo de dor, em uma</p><p>final de campeonato sem que o árbitro tenha visto o atleta no solo, e chuta a bola para fora para</p><p>ver o companheiro, mesmo do time adversário, atendido.</p><p>Como você percebeu, nem sempre nos é possível, dada a situação apresentada, sabermos o que seria</p><p>o correto a fazer. Nesse sentido, Immanuel Kant desenvolveu o imperativo categórico, que podemos</p><p>definir como o dever de todas as pessoas agirem de acordo com princípios morais e éticos para que sua</p><p>ação reflita para o bem geral, mas que haja reflexão antes do agir.</p><p>Lembrete</p><p>Ética é o conjunto de ações reiteradas do sujeito capaz de moldar a sua</p><p>forma de agir.</p><p>Em outras palavras, se pender dúvida sobre determinada forma de agir temos que universalizar</p><p>as condutas para analisarmos se os resultados serão positivos ou negativos. Se o sujeito dirigindo seu</p><p>veículo está com um papel de bala e não tem lixo para colocar, ele pode pensar em jogar pela janela.</p><p>Mas se o sujeito universalizar a sua conduta, projetando o que aconteceria se todas as pessoas que estão</p><p>dirigindo fizessem o mesmo ato, qual seria o resultado? Caso o resultado seja negativo, indica que deve</p><p>se abster do ato ou prática.</p><p>Neste sentido, o imperativo categórico é dever de toda pessoa em pautar suas ações naquilo que a</p><p>longo prazo traga um benefício social.</p><p>14</p><p>Unidade I</p><p>Observação</p><p>O imperativo categórico é a base da ética kantiana, que propõe uma</p><p>análise dos resultados para validar as condutas, sempre permeado por</p><p>princípios morais e éticos.</p><p>Saiba mais</p><p>O imperativo categórico foi desenvolvido por Immanuel Kant em seu</p><p>livro Fundamentação da metafísica dos costumes, de grande importância</p><p>para a filosofia moderna. Leia:</p><p>KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Martin</p><p>Claret, 2016.</p><p>Em síntese, um imperativo categórico ordena que se cumpra o dever apenas porque é correto fazer</p><p>isso, ou seja, que se aja por dever, sendo imparcial e respeitando os valores absolutos de cada sociedade</p><p>tendendo ao bem comum.</p><p>Repare que grande parte das crises econômicas vivenciadas nos últimos anos teve sua origem</p><p>em consequência de desvios de conduta ética de profissionais de diversas áreas, daí a importância</p><p>do seu estudo.</p><p>1.2 Breve história da ética</p><p>No período medieval, a ética estava arraigada com ideais religiosos, uma vez que a vontade de Deus</p><p>regia a tradição e por consequência todas as regras éticas e morais. Assim, não havia vontade humana,</p><p>senão aquilo que era desígnio divino.</p><p>Apenas para citar como exemplo, a Bíblia apresenta uma forma de imposição normativa a um povo</p><p>oprimido (antigos hebreus) vinda de Deus (em que todo o grupo acreditava), que garantiu a sua sobrevivência</p><p>e coesão por meio de normas autoritárias, rigorosas e incontestáveis. Veja-se o exemplo a seguir:</p><p>1. Agora, pois, ó Israel, ouve os estatutos e os juízos que eu vos ensino, para</p><p>os cumprirdes; para que vivais, e entreis, e possuais a terra que o SENHOR</p><p>Deus de vossos pais vos dá.</p><p>2. Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para</p><p>que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando.</p><p>Os vossos olhos têm visto o que o Senhor fez por causa de Baal-Peor; pois</p><p>a todo o homem que seguiu a Baal-Peor o Senhor teu Deus consumiu do</p><p>meio de ti.</p><p>15</p><p>ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL</p><p>3. Porém vós, que vos achegastes ao Senhor vosso Deus, hoje todos estais vivos.</p><p>4. Vedes aqui vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o</p><p>Senhor meu Deus; para que assim façais no meio da terra a qual ides a herdar.</p><p>5. Guardai-os pois, e cumpri-os, porque isso será a vossa sabedoria e o</p><p>vosso entendimento perante os olhos dos povos, que ouvirão todos estes</p><p>estatutos, e dirão: Este grande povo é nação sábia e entendida.</p><p>Pois, que nação há tão grande, que tenha deuses tão chegados como o</p><p>Senhor nosso Deus, todas as vezes que o invocamos?</p><p>6. E que nação há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como</p><p>toda esta lei que hoje ponho perante vós?</p><p>7. Tão-somente guarda-te a ti mesmo, e guarda bem a tua alma, que não</p><p>te esqueças daquelas coisas que os teus olhos têm visto, e não se apartem</p><p>do teu coração todos os dias da tua vida; e as farás saber a teus filhos, e aos</p><p>filhos de teus filhos (BÍBLIA, Deuteronômio 4:1-7).</p><p>Vê-se claro que a Bíblia serve como balizador de condutas e de imposição, por meio de uma crença</p><p>das ações das pessoas.</p><p>Os primórdios legislativos surgiram na Mesopotâmia e, entre eles, destaca-se o Código de Hamurabi</p><p>(1754 a.C.). Hamurabi foi, antes de tudo, excelente administrador e estrategista. Havia em seu território</p><p>(Babilônia) uma heterogeneidade de pessoas e povos com diferentes línguas, culturas e raças. Para</p><p>alcançar a unificação, Hamurabi utilizou de três elementos: a língua, a religião e o direito.</p><p>Observação</p><p>Conforme o Dicionário Online de Português, babilônia trata-se de</p><p>um substantivo feminino e refere-se a uma metrópole construída sem</p><p>planificação, ou seja, sem planejamento algum. Daí diz-se: o antigo bairro</p><p>virou uma babilônia. Já no sentido figurado, Babel significa a ausência de</p><p>ordem, de regras; grande confusão e desordem. Ainda hoje babilônia é</p><p>sinônimo de devassidão, confusão, desordem, babel. Conforme o aspecto</p><p>histórico, a Babilônia foi uma antiga cidade da região da Mesopotâmia,</p><p>situada entre os rios Eufrates e Tigre, onde atualmente constitui o território</p><p>do Iraque.</p><p>A lei de talião (em latim: lex talionis; lex: lei e talio, de talis: tal, idêntico), também dita pena de</p><p>talião, consiste na rigorosa reciprocidade do crime com a pena em razão dele aplicada. Ocorre que</p><p>essa proporcionalidade ou retaliação desconsidera totalmente razões, circunstâncias ou aspectos da</p><p>ocorrência da violação dos preceitos.</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>A lei de talião funciona de forma simples: se uma pessoa feriu outra, a pessoa que feriu deve ser</p><p>penalizada em grau semelhante. Em interpretações mais suaves, significa que a vítima recebe o valor</p><p>estimado da lesão em compensação. É o que acontece quando a imprensa escuta a família de alguma</p><p>vítima fatal que se conhece a autoria. O familiar responde: “não quero nada, só quero justiça!”. Pode-se</p><p>seguramente substituir a palavra justiça pela palavra vingança, sem prejuízo algum. Essa relação foi</p><p>registrada por Hamurabi, cuja intenção por trás do princípio do olho por olho, dente por dente seria</p><p>restringir a compensação ao valor da perda.</p><p>Com o início da modernidade e a separação entre Igreja e Estado, uma nova concepção das questões</p><p>éticas começou a permear a sociedade, permitindo, ainda que de maneira discreta, certa autonomia</p><p>nos atos e decisões dos indivíduos desvinculados da moral imposta pela igreja. A vontade humana</p><p>assim ganha corpo.</p><p>Figura 3</p><p>O iluminismo trouxe novos ares, fazendo com que a ignorância e escuridão de séculos</p><p>de domínio</p><p>da Igreja agora fossem iluminados pela razão. Esse é o período em que o individualismo surge, e em que</p><p>questões ligadas à igualdade e à universalidade de direitos refletem na sociedade.</p><p>Observação</p><p>No iluminismo, as ideias passaram a ser centradas na razão como principal</p><p>fonte de autoridade e legitimidade, e defendia ideais como liberdade, progresso,</p><p>tolerância, fraternidade, governo constitucional e separação Igreja-Estado.</p><p>Esse é um breve apanhado histórico da ética, que não pretende esgotar o seu nascedouro, que se dá</p><p>no período da Antiguidade e a ética atual, contemporânea, como veremos a seguir.</p><p>17</p><p>ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL</p><p>2 ÉTICA ANTIGA E CONTEMPORÂNEA</p><p>2.1 Antiguidade</p><p>De acordo com Fábio Konder Comparato (2016), as principais características da ética na Antiguidade</p><p>eram: religião, tradição coletividade, desconsideração dos ofícios de mercadores e os técnicos.</p><p>A família ganha importância pela necessidade de se proteger o culto doméstico, que era liderado</p><p>pelo pater familias, ou seja, o patriarca que carregava consigo a identidade, patrimônio e diretrizes de</p><p>conduta de todos os membros da família.</p><p>Quando um membro da família era adotado, ou, no caso da mulher, se casava, eles aderiam</p><p>imediatamente ao nome, culto e condutas da nova família.</p><p>O chefe da família, ou seja, o patriarca, era o próprio sacerdote, que conduzia as práticas litúrgicas</p><p>e ditava o comportamento da família, escravos, empregados e quaisquer pessoas que a ele estavam</p><p>vinculados. Era um poder absoluto, que não permitia a qualquer um dos integrantes desse núcleo agir</p><p>de maneira autônoma, pois não havia margem para a individualidade.</p><p>Esse papel era exercido pelo pai, patriarca, pater, sendo exclusivamente masculino, portanto, não havia</p><p>mulheres. O poder era passado de pai para filho; na falta de filhos, para o parente homem mais próximo.</p><p>Dentro da hierarquia de poder existiam as pessoas sui juris, aquelas que exerciam por si mesmas, os</p><p>seus direitos e representam a unidade da família, por isso poderiam ter outras sob o seu poder. Elas eram</p><p>donas de suas pessoas físicas, de seu patrimônio e não estavam sujeitas a ninguém.</p><p>Já os alieni juris não têm patrimônio, não poderiam celebrar contratos, não poderiam se casar sem</p><p>permissão do pater familias. Estavam sujeitos ao pater, tinham personalidade jurídica, mas não poderiam</p><p>contrair dívidas e nem dar quitação em nome do pater.</p><p>Veja-se o seguinte esquema de uma família romana:</p><p>Marcus</p><p>(pater - sui juris)</p><p>Tullius</p><p>(alieni juris)</p><p>Paulus</p><p>Plinius</p><p>(alieni juris)</p><p>Gaius</p><p>Ovidius</p><p>Terentia</p><p>(mater)</p><p>Tullia</p><p>Flavia</p><p>Cornelia</p><p>Figura 4</p><p>18</p><p>Unidade I</p><p>Mas o que acontecia quando um pater familia morria no direito romano? As pessoas colocadas</p><p>imediatamente sob sua potestas (domínio) tornavam-se sui juris e os homens formavam novas famílias,</p><p>mas agora com a titulação de pater familia.</p><p>No esquema apresentado na figura anterior, caso Marcus (pater familia) viesse a falecer, seriam</p><p>formadas duas novas famílias, uma titulada por Tullius e outra por Plinius e ambos deixariam de ser</p><p>alieni juris para se tornar titular da própria família.</p><p>Lembrete</p><p>O poder era passado de pai para filho; na falta de filhos, para o parente</p><p>homem mais próximo.</p><p>As cidades eram estruturadas como urbe e cidades. Sendo que as urbes eram núcleos que uniam religião</p><p>e política, amplamente frequentados pelas famílias; concentravam os encontros políticos e religiosos.</p><p>Como dito anteriormente, havia predomínio da religião na conduta da Antiguidade, portanto, todos</p><p>os encontros políticos eram envolvidos pelos rituais religiosos, pois não havia essa distinção. A vontade</p><p>dos deuses era predominante nas discussões dos rumos da vida política e social como traço marcante</p><p>da antiguidade da civilização greco-romana.</p><p>Com o início do Período Clássico, a religião continuou presente e determinante para os rumos da</p><p>vida social e política, contudo, não era mais absoluta.</p><p>A assembleia do povo soberano ganhou destaque e sua atribuição era decidir, inclusive, como os</p><p>deuses influenciariam nos processos políticos, nas matérias legislativas e na nomeação dos sacerdotes.</p><p>As decisões coletivas não desconsideravam o papel do divino, mas já não eram a única maneira</p><p>de decidir.</p><p>A tradição ganha importância nesse período em que os usos e costumes da sociedade greco-romana</p><p>eram considerados fundamentos sociais que deveriam ser cumpridos e norteavam a base da vida</p><p>social. Não havia distinção entre vida privada e pública, de modo que toda matéria relacionada à</p><p>vida social era tratada diretamente na pólis, como qualquer outra lei ou regulação.</p><p>Na Antiguidade, as leis emanavam da vontade dos deuses, que se distinguia da modernidade, em</p><p>que eram oriundas da vontade humana, passando de vontade divina para caráter técnico. A caixa de</p><p>Pandora , por exemplo, é um mito grego que justifica a existência dos males do mundo.</p><p>A história se inicia quando Zeus, o deus de todos os deuses, desejava se vingar de Prometeu, que</p><p>concedeu aos homens o conhecimento e o domínio sobre o fogo.</p><p>19</p><p>ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL</p><p>O plano foi de conceder a Epimeteu, irmão de Prometeu, uma mulher (Pandora) com muitas qualidades</p><p>e uma misteriosa caixa, que não deveria ser aberta. Pandora, em razão de sua curiosidade, seduziu</p><p>Epimeteu e abriu a caixa, libertando várias doenças e sentimentos que atormentariam a existência do</p><p>homem no mundo.</p><p>Ao se dar conta do erro que cometera, Pandora se apressou em fechar a caixa, deixando um único</p><p>dom positivo que havia dentro dela: a esperança.</p><p>Esse dom se revestia de asas coloridas e, então, afirmou o seguinte:</p><p>Pode acontecer de virem tempos e momentos em que vocês vão pensar que</p><p>eu desapareci. Mas, sempre, sempre, sempre, quando talvez vocês menos</p><p>sonharem, vão ver o brilho de minhas asas no teto de sua cabanas e algo</p><p>muito bom e belo há de ser dado a vocês no futuro. Confiem em minha</p><p>promessa, pois ela é verdadeira (HAWTHORNE, 2016, p. 152).</p><p>Figura 5</p><p>O monoteísmo hebraico estabelece os primeiros indícios de individualidade pela imposição dos</p><p>dez mandamentos, que trata de condutas individuais que deviam ser observadas pelos hebreus. Já o</p><p>cristianismo amplia essa ideia por considerar todas as pessoas como filhos de Deus e dignos de seu amor.</p><p>As principais religiões monoteístas tinham as regras escritas dadas pelos seus instrumentos de fé,</p><p>como a bíblia, torá e corão. Isso, per si, criava a própria maneira de conduta, impondo o agir ético de</p><p>cada grupo.</p><p>20</p><p>Unidade I</p><p>Portanto, podemos resumir que a ética na Antiguidade é marcada pela sobreposição do coletivo face</p><p>ao individual e pela religião que permeia todas as decisões da vida pública e privada.</p><p>2.2 Contemporaneidade</p><p>A filosofia contemporânea desenvolveu-se a partir final do século XVIII, ainda de forma imprecisa,</p><p>mas tendo como marco a Revolução Francesa, a Revolução Americana e a Revolução Industrial.</p><p>Houve inversão da razão como modo de entender a força humana sobre a natureza e a necessidade</p><p>do meio ambiente em suprir tais demandas.</p><p>O individualismo é ponto marcante, que após as revoluções começa a ter valor em si, munido de</p><p>direitos iguais aos de seus semelhantes a partir de uma nova forma de governar que envolve os cidadãos.</p><p>As declarações de direitos reforçam o poder que as pessoas recebem em serem reconhecidas como</p><p>sujeitos com direitos e partícipes da sociedade, não mais como comandados.</p><p>Assim, a razão passa a ser instrumento de emancipação intelectual que permite contrapor a própria</p><p>razão e desacredita nos modelos apresentados anteriormente, por entender que o domínio do ser</p><p>humano sobre a natureza e sobre a moral não trouxe, senão, consequências desastrosas.</p><p>A ética contemporânea, como ramo da filosofia, clamava por repensar os modelos para que fosse</p><p>construída uma nova sociedade, uma vez que a razão, outrora utilizada para estabelecer condutas éticas</p><p>e morais, não se mostrou suficiente para que os resultados obtidos fossem moralmente</p><p>corretos.</p><p>2.3 Sócrates, Platão e Aristóteles</p><p>A filosofia da Grécia Antiga foi marcada por três grandes figuras ou pensadores: Sócrates, Platão e</p><p>Aristóteles. Eles se diferenciaram dos demais pensadores pela preocupação metafísica, ou procura do</p><p>ser, e pelo interesse político em criar uma pólis justa e que possibilitasse o homem se desenvolver com</p><p>sabedoria. Essa sabedoria era pautada nas decisões coletivas, ou seja, democráticas, especialmente na</p><p>cidade grega de Atenas.</p><p>Sócrates foi um filósofo grego que viveu de 469 a 399 a.C. e teve papel decisivo para a filosofia,</p><p>inaugurando um novo período na filosofia baseado na razão.</p><p>Seu método maiêutico, baseado na ironia e no diálogo, possui como</p><p>finalidade a parturição de ideias, e como inspiração a parturição da vida,</p><p>uma vez que Fenareta, sua mãe, era parteira. Isso porque todo erro é fruto</p><p>da ignorância, e toda virtude é conhecimento; efetuar parturição de ideias é</p><p>tarefa primordial do filósofo, a fim de despertar nas almas o conhecimento</p><p>(BITTAR; ALMEIDA, 2018, p. 100).</p><p>21</p><p>ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL</p><p>Observação</p><p>A maiêutica era uma técnica utilizada por Sócrates para conduzir o</p><p>interlocutor ao conhecimento desejado, pela qual realizava perguntas até</p><p>que o interlocutor encontrasse a solução por meio das respostas.</p><p>Assim, a pessoa reconstrói conceitos para chegar na verdade. Para ele, esse</p><p>parto de ideias conduz o ser humano a um novo estado de despertar.</p><p>Seu pensamento era intensamente ético, tendo como pilares a felicidade e o conhecimento.</p><p>Certa vez, refletindo sobre como alcançar a felicidade, Sócrates se dirige ao Oráculo de Delfos,</p><p>encrustado no Monte Parnaso, e lá foi atendido por uma pitonisa. As pitonisas eram sacerdotisas que</p><p>entravam em transe, provavelmente causado pelos gases que emanavam das rochas, e respondiam</p><p>aos que buscavam por respostas. Ao que, ao ser indagada por Sócrates, respondeu que o segredo da</p><p>felicidade era “conhece-te a ti mesmo”. Assim, ao sair do templo de Apolo, Sócrates escreveu no muro</p><p>do templo a frase que ficou conhecida como sua.</p><p>Ao conhecer a si mesmo, o sujeito teria condições de controlar suas paixões, aflorando a real virtude,</p><p>também chamada de areté, que conduziria à felicidade.</p><p>O conhecimento permite o julgamento daquilo que é certo e errado, em que é necessária sabedoria</p><p>para discernir. Somente a prática baseada no conhecimento leva à felicidade.</p><p>A figura a seguir traz a conotação de que somente é possível conhecer a real filosofia quando o</p><p>indivíduo se volta para si próprio e reconhece as suas limitações, como se em um espelho estivesse.</p><p>Figura 6</p><p>22</p><p>Unidade I</p><p>O conhecimento permite o julgamento daquilo que é certo e errado, em que é necessária sabedoria</p><p>para discernir. Somente a prática baseada no conhecimento leva à felicidade.</p><p>Ademais, Sócrates utiliza sua própria vida como primado ético, reconhecendo os valores da</p><p>coletividade sobre a individualidade, quando foi acusado, preso e julgado por corromper a juventude.</p><p>Ele prefere aceitar a sentença, ainda que não reconheça culpa nas suas ações, do que fugir dela, pois</p><p>reconhecia que a felicidade não dependia do julgamento humano e sim da virtude.</p><p>Platão foi o principal discípulo de Sócrates, que viveu na Grécia em 427-347 a.C., fundador da</p><p>Academia, que era local destinado ao estudo da filosofia.</p><p>A ética platônica baseia-se na virtude (areté), que é o domínio do ímpeto humano e de suas emoções</p><p>frente à alma. Para Platão existem dois mundos: o inteligível, que é perfeito, absoluto e imutável, que</p><p>agrega toda a verdade e deve ser utilizado pelos humanos a fim de buscar fundamentos e ideais para</p><p>aplicar na própria vida; e o sensível, que é imperfeito, relativo e mutável, que é a realidade que se sente,</p><p>na qual não é possível encontrar a verdade absoluta por não se ter conhecimento total dela.</p><p>Figura 7</p><p>Um de seus livros mais importantes se chama A República. Nele se encontra uma metáfora, chamada</p><p>o mito da caverna, também conhecida como alegoria da caverna.</p><p>Nessa história, um grupo de homens está preso, desde o nascimento, no interior de uma caverna,</p><p>de onde se pode ver apenas sombras projetadas por outras pessoas e animais em uma fogueira.</p><p>Assim, a realidade dos prisioneiros se resume às projeções. Até que um dia um dos prisioneiros é</p><p>libertado e descobre que as sombras eram, na verdade, projetadas por outras pessoas e animais, ou</p><p>seja, depara-se com uma realidade muito mais ampla e complexa do que aquela que estava acostumado</p><p>e acreditava ser real.</p><p>23</p><p>ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL</p><p>O ex-prisioneiro encontra-se então em um dilema: voltar à caverna e contar aos seus companheiros</p><p>sobre uma realidade que eles desconheciam e ser julgado como um louco; ou se aventurar no novo</p><p>mundo que acabara de conhecer, aprendendo que tudo o que ele acreditava ser real antes era fruto de</p><p>um engano dos seus sentidos, que são limitados.</p><p>Com essa alegoria, Platão busca apresentar uma hierarquia em graus de conhecimento, partindo</p><p>de um grau menor, que são os conhecimentos obtidos pelos sentidos do corpo – como os vistos de</p><p>dentro da caverna – e aqueles de um grau superior, que é o conhecimento racional – visto no exterior</p><p>da caverna como uma forma de virtude.</p><p>Assim, o bem absoluto é a finalidade de todas as ações, que só pode ser alcançado com a harmonia</p><p>entre conhecimento e virtude. Portanto, é necessário que a todos seja dada a oportunidade por meio da</p><p>educação de encontrar a virtude.</p><p>Por sua vez, Aristóteles, que viveu entre 384 a 322 a.C., fundou o Liceu, um espaço amplo para</p><p>reunião de membros, no qual o filósofo, que era peripatético, poderia ensinar enquanto caminhava.</p><p>Saiba mais</p><p>A série de televisão Merlí conta a história de um professor de filosofia</p><p>que usa de métodos pouco ortodoxos para incentivar seus alunos a</p><p>pensarem livremente.</p><p>Cada episódio se baseia nas ideias de algum pensador ou escola filosófica,</p><p>como os peripatéticos, Sócrates, Aristóteles, Nietzsche ou Schopenhauer,</p><p>que acabam servindo de fio condutor para os acontecimentos da série.</p><p>MERLÍ. Direção: Héctor Lozano. Espanha: TV3, 2015-2018. 40 episódios,</p><p>50 min.</p><p>Seu pensamento se baseia na ética e justiça como virtude. Portanto, a justiça seria a valoração</p><p>do ser humano em reconhecer de que forma um comportamento poderia gerar um resultado</p><p>correto. Assim, aquilo que é considerado justo ou injusto passa pela razão e discernimento humano</p><p>em sopesar dois extremos.</p><p>A justiça como virtude impõe ao indivíduo a tranquilidade de que ser justo ou bom, independemente</p><p>da visão da sociedade quanto a suas decisões, mas da forma com que a decisão foi tomada, ou seja, com</p><p>equidade e discernimento. Agir com justiça é obrigação de todo indivíduo.</p><p>Além da base ética, Aristóteles propôs uma forma de raciocínio baseada em premissas, o que</p><p>chamou de teoria da inferência ou silogismo. Há inferência com duas premissas, sendo cada uma delas</p><p>uma sentença categórica, tendo exatamente um termo em comum, e tendo como conclusão sentença</p><p>categórica, dos quais os termos são aqueles dois termos não compartilhados pelas premissas.</p><p>24</p><p>Unidade I</p><p>O exemplo clássico de raciocínio é o seguinte:</p><p>• Premissa maior: Sócrates é homem.</p><p>• Premissa menor: todo homem é mortal.</p><p>• Conclusão: Sócrates é mortal.</p><p>A principal obra de Aristóteles foi Ética a Nicômaco, composta por dez livros resultados de anotações</p><p>de Nicômaco, que era seu filho. Trata-se de importante diálogo sobre a conduta humana, sua natureza,</p><p>e bem e mal. Nele, Aristóteles, resume que a felicidade é a finalidade da boa ação humana, portanto,</p><p>somente por meio de bons atos que se atinge a plenitude.</p><p>2.4 Princípios éticos</p><p>Os princípios éticos são orientadores da conduta subjetiva, ou seja, visam a finalidade da conduta</p><p>humana. Eles têm caráter axiológico e compõem paradigmas, portanto podem ser considerados normas</p><p>de conduta.</p><p>A dignidade humana é o valor supremo que norteia os princípios éticos, tende a subsidiar os princípios</p><p>de conteúdo, permitindo sua</p><p>interpretação e aplicação. Portanto, qualquer um dos princípios éticos que</p><p>serão estudados está eivado da dignidade humana como valor maior.</p><p>Os princípios éticos estão de uma forma muito orgânica conectados entre si, criando uma unidade.</p><p>São eles:</p><p>2.4.1 Verdade</p><p>Entendemos a verdade sob duas acepções. A fática, consiste na verificação da existência ou ocorrência</p><p>de um fato. Para isto, qualquer documento ou testemunha é o bastante para atestar o fato e logo ele</p><p>se tornará verdade.</p><p>Também a verdade, sob a ótica ética, tem conteúdo mais amplo, estando ligada à concepção de</p><p>lealdade, retidão, fidelidade. Verdade é virtude que nos indica confiança. Que é aquilo que nos vem à</p><p>mente quando pensamos nela.</p><p>Sem verdade, não existem os demais princípios, posto que são interdependentes.</p><p>2.4.2 Justiça</p><p>Note que aqui Justiça está grafado com letra maiúscula, posto que assim a diferenciamos de justiça,</p><p>com letra minúscula, que se trata de órgão ou parte do Poder Judiciário.</p><p>25</p><p>ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL</p><p>A Justiça, como princípio ou ideal ético, é mais conceitual e implica mais em ações e reflexão do</p><p>próprio sujeito do que em algo que se busca. Justiça se faz e não se alcança.</p><p>Nesse ponto, vale recordar os filósofos estudados que tratam do tema. Para Sócrates, a Justiça era</p><p>não fazer aquilo que não se quer que façam a si. Notem a reflexão necessária para que certa conduta</p><p>seja justa.</p><p>Por sua vez, Aristóteles entendia que Justiça era “dar a cada um o que é seu”, demonstrando que está</p><p>relacionada mais ao caráter de equidade ou ao equilíbrio.</p><p>Não há como existir Justiça sem que haja controle das emoções e reflexão profunda.</p><p>2.4.3 Amor</p><p>Dos princípios éticos, é o mais difícil de definir, dada as inúmeras demonstrações. O amor é o</p><p>primeiro elo que nos une à humanidade quando nascemos, quando somos abraçados por nossas mães,</p><p>imediatamente somos arrebatados por sentimento indispensável para nossa sobrevivência. Por outro</p><p>lado, as mães, dada a descarga de um hormônio chamado ocitocina, chamado de hormônio do amor,</p><p>faz com que se apegue ao filho e venha a prover sua subsistência.</p><p>O amor é um elo que une aqueles arrebatados pela paixão, mas também por aqueles cuja paixão não</p><p>mais existe, mas que companhia e companheirismo são indispensáveis para uma vida feliz.</p><p>Há o amor de amigo, que vincula pessoas por vezes ainda mais que os próprios familiares, o que não</p><p>se confunde com amizade, mas o amor desenvolvido em razão dela. Também se ama coisas e animais.</p><p>É possível que o amor se manifeste pela realização de trabalho ou ofício, como pelo simples gesto</p><p>ou ato de fazer o bem.</p><p>O amor é dos sentimentos que mais transcendem ao próprio sujeito, pois é por amar que o sujeito</p><p>renuncia ao de si próprio para doar ao outro. Num sentido ético, é o que nos faz considerar e refletir</p><p>sobre outras pessoas e situações, ainda que não estejamos diretamente ligados a elas.</p><p>Integrando os princípios, Fábio Konder Comparato atesta:</p><p>A grande função social do amor consiste, na verdade, em atuar como fator de</p><p>permanente aperfeiçoamento da justiça. É o impulso constante no sentido</p><p>de uma não acomodação com as formas de justiça existentes; a procura de</p><p>uma ampliação ilimitada do princípio de dar a todos e a cada um o que a</p><p>consciência ética sente como devido (COMPARATO, 2016, p. 538).</p><p>Portanto, somente o engajamento, que é proporcionado pelo amor, torna possível o aprimoramento da</p><p>Justiça, uma vez que esse vínculo não permite nada além daquilo que é justo para o destinatário do amor.</p><p>26</p><p>Unidade I</p><p>2.4.4 Liberdade</p><p>Na Antiguidade, a liberdade era vinculada à vontade dos deuses, portanto, sempre havia um desígnio</p><p>divino que vinculava a livre ação do ser humano.</p><p>Com a filosofia, a liberdade ganhou um caráter ético importante, já que o sujeito devia, através da razão,</p><p>ter liberdade para conduzir seus atos. Com o passar do tempo, a liberdade perdeu seu papel pela supremacia</p><p>da coletividade face ao indivíduo, que somente foi conquistada pelas declarações de direitos.</p><p>Atualmente, além de princípio ético, a liberdade ganha destaque na legislação, status de direito</p><p>fundamental e recebe várias acepções: liberdade de pensamento, locomoção, expressão, professar</p><p>religião, profissional, entre outras.</p><p>É um dos pilares de uma gama de direitos que se eleva à categoria de direitos fundamentais.</p><p>Como valor ético, a liberdade nos diferencia dos demais seres vivos, pois os humanos têm a capacidade</p><p>de discernir e escolher suas condutas.</p><p>2.4.5 Igualdade</p><p>É o equilíbrio que permite que tudo esteja proporcionalmente distribuído igualitariamente. A igualdade</p><p>remonta ao cristianismo, à premissa que Deus ama a todos de forma igual.</p><p>Como princípio, há de ser compreendido por sua essência. O fato de ser um princípio ético não faz</p><p>com que as diferenças desapareçam.</p><p>Todos são diferentes, contudo, essencialmente iguais são seres humanos.</p><p>Para que exista Justiça, é necessária a igualdade e o equilíbrio.</p><p>Como princípio ético que norteia a criação de normas jurídicas, a igualdade é essencial para que se</p><p>estabeleça a igualdade de direitos.</p><p>Isso significa dizer que como as pessoas são diferentes na vida, o direito cria regras para que elas</p><p>possam ser equiparadas em direitos. Por isso a necessidade de diversas leis que tratam de situações</p><p>que possam trazer a igualdade.</p><p>2.4.6 Segurança</p><p>A primeira coisa que nos vem à mente quando lemos segurança é a segurança pessoal, ou seja, a</p><p>manutenção biológica do ser. Sem segurança não há continuidade da espécie, já que abrange proteção,</p><p>cuidado, alimento, tudo isso contra os outros seres humanos e quaisquer outras ameaças.</p><p>De maneira geral, a segurança pessoal, hoje, fica a cargo do Poder Público, que recebe a incumbência</p><p>de zelar de maneira preventiva e repressiva contra qualquer ameaça à vida e ao patrimônio das pessoas.</p><p>27</p><p>ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL</p><p>Nas relações profissionais, segurança se relaciona com confiança e verdade. Os atos profissionais</p><p>sempre devem visar a proteção da vida, propriedade e segurança dos clientes, empregados e colaboradores.</p><p>Como valor ético, a segurança é um modo de agir preservando as pessoa e os vínculos pessoais.</p><p>2.4.7 Solidariedade</p><p>Ganha destaque nas últimas décadas o debate sobre a solidariedade, em especial com o avanço</p><p>das regulações sobre os direitos coletivos. São chamados direitos fundamentais de terceira geração, ou</p><p>direitos transindividuais, por tratarem da categoria de direitos que não pertencem a uma única pessoa,</p><p>mas a todos ao mesmo tempo, como é o caso da proteção do meio ambiente com a finalidade de</p><p>permitir qualidade de vida a todos.</p><p>Sob aspecto ético, enquanto a liberdade e igualdade são destinadas a uma pessoa, a solidariedade</p><p>somente se materializa pela conjugação de atos de diversas pessoas. O bem comum se faz pelos atos</p><p>individuais dos sujeitos que dela integram nesse sentido.</p><p>3 MORAL</p><p>A moral é um ramo da filosofia que estuda o conjunto de regras não jurídicas e os costumes que</p><p>vinculam as ações de determinada sociedade ou grupo social. Essas regras variam dentro de cada núcleo</p><p>social e são baseadas naquilo que o grupo entende como correto ou incorreto.</p><p>Por se tratar de normas espontâneas e informais, oriundas da forma de pensar e dos costumes</p><p>de cada grupo, elas não têm caráter coercitivo, portanto não se aplicam sanções jurídicas para seu</p><p>descumprimento.</p><p>O vocábulo coerção, para Silva (2003) deriva do latim coertio (ação de reprimir), e tem sido aplicado</p><p>no mesmo sentido de coação. Mas em significado mais próprio e técnico jurídico, não sendo de ação</p><p>de reprimir, de refrear, é usado para indicar a punição imposta aos delinquentes, como um atributo da</p><p>justiça. Nesse sentido, não se confunde com o vocábulo correção, ato de corrigir, pois que é tido como</p><p>ato de castigar, extensivo, assim, a toda a sorte de plenas aflitivas.</p><p>A diferença para as normas jurídicas – leis e outros instrumentos normativos – é de que a lei é</p><p>impositiva a todos. Após passar pelo processo legislativo, passa</p><p>para a verificação do Poder Executivo,</p><p>que dará a sanção (aprovação) ou veto (reprovação). Caso seja aprovada, a lei terá um período</p><p>chamado vacatio legis, que é o período que a sociedade se adapta às mudanças da lei e se prepara</p><p>para seu cumprimento.</p><p>Todo esse procedimento faz com que a norma jurídica esteja apta a vigorar, ou seja, torna-se</p><p>obrigatória a todos. São características das leis:</p><p>• Universalidade: se dirige a todas as pessoas, sem distinção.</p><p>28</p><p>Unidade I</p><p>• Imperatividade: é o poder coercitivo, que permite que seu cumprimento seja exigido e no</p><p>descumprimento uma sanção descrita pela própria lei.</p><p>• Autorizamento: no caso de violação que gere dano, autoriza o ressarcimento do prejuízo sofrido.</p><p>Portanto, no caso da lei, dentro do território em que ela vigora, não há escusas para seu</p><p>descumprimento, o que permite a aplicação da pena, que é a forma de coagir o cumprimento da própria</p><p>lei. Em outras palavras, não se pode alegar desconhecimento da lei para não a cumprir.</p><p>Nas normas morais, dada a sua informalidade e composição, não há pena pelo seu descumprimento,</p><p>senão aquela reprovação social, banimento do grupo ou diferença no tratamento.</p><p>Um exemplo é o rodízio municipal de veículos vigente no município de São Paulo. Mesmo que seja</p><p>de outro município, a pessoa estará sujeita ao cumprimento dessa restrição da utilização de veículo,</p><p>conforme a placa e o dia da semana, sob pena de sanção do tipo multa.</p><p>Saiba mais</p><p>Pesquisas indicam a televisão como o meio de comunicação com maior</p><p>abrangência entre a população brasileira. Considerando essa justificativa e a</p><p>necessidade de observação científica para o fenômeno, Renata Caleffi buscou</p><p>compreender qual é o papel do telejornal na construção legislativa brasileira,</p><p>levando em consideração dois importantes instrumentos normativos que</p><p>se transformaram em leis brasileiras: a Lei Seca e a Lei Carolina Dieckmann.</p><p>A pesquisadora também analisou o Projeto de emenda à constituição para a</p><p>redução da maioridade penal. Os objetos empíricos apontados anteriormente</p><p>auxiliam compreender como as estratégias comunicacionais e políticas podem</p><p>interferir na elaboração de políticas públicas no Brasil. Através da tabulação de</p><p>dados no trabalho de Renata, são comparadas a saliência entre a divulgação</p><p>de notícias no Jornal Nacional e a tramitação legislativa no Congresso. Essa</p><p>quantificação é explicada através das teorias da agenda, visibilidade e relações</p><p>de poder, apresentadas na análise dos resultados de pesquisa.</p><p>Acesse a dissertação da pesquisadora em:</p><p>CALEFFI, R. Estratégias políticas de comunicação: o papel do telejornal</p><p>na construção legislativa brasileira (Lei Carolina Dieckmann, Lei Seca e</p><p>Projeto de Emenda Constitucional para a Redução da maioridade penal).</p><p>2015. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Universidade Federal</p><p>do Paraná, Curitiba, 2015. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.</p><p>br/bitstream/handle/1884/37292/R%20-%20D%20-%20RENATA%20</p><p>CALEFFI.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 5 ago. 2020.</p><p>29</p><p>ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL</p><p>Nas normas morais, dada a sua informalidade e sua composição, não há pena pelo seu descumprimento,</p><p>senão aquela reprovação social, banimento do grupo ou diferença no tratamento.</p><p>Nas palavras de Nehemias Domingos de Melo:</p><p>Podemos afirmar que, de certo modo, toda regra do Direito é, no fundo,</p><p>uma regra moral que foi tornada jurídica, mas nem toda regra moral é uma</p><p>regra do Direito. Muitas regras jurídicas, antes de serem jurídicas, foram</p><p>regras de ordem moral. Por óbvio que existem disposições de leis que não</p><p>têm nenhum conteúdo moral (são amorais), como por exemplo, as leis que</p><p>regulam o trânsito ou a leis tributárias, mas isso não quer dizer que elas</p><p>sejam imorais (MELO, 2018, p. 5).</p><p>Portanto, para que seja estabelecida uma lei, se inicia pela demanda social, em geral algo que já</p><p>parece usual para a sociedade, que precisa ser regulada e a ela dada força coercitiva.</p><p>Vamos ver um pouco mais sobre como a moral é composta.</p><p>3.1 Moral, usos e costumes</p><p>A palavra moral decorre do latim moralis, que significa relativo aos costumes. Assim, a moral</p><p>é algo que se constrói ao longo do tempo por grupo de pessoas, que se contrapõe à ética, como</p><p>estudamos, que trata da conduta individual do sujeito. Portanto, a moral é do grupo, ao passo em</p><p>que a ética é do indivíduo.</p><p>A moral surge a partir de condutas reiteradas tomadas pelas pessoas que integram a sociedade,</p><p>fazendo com que aquelas condutas passem a ser usuais e obrigatórias sob a ótica moral.</p><p>Um exemplo clássico de conduta moral são que as pessoas que se tornam religiosas tendem a ter</p><p>uma vida discreta, sem vícios e, de modo geral, regrada. O mesmo pode ser dito dos profissionais da</p><p>saúde quando uma pessoa está adoecida, que prontamente se dispõe a ajudar o doente.</p><p>Assim, é considerada moral a atitude que coaduna com tais premissas morais estabelecidas pela</p><p>sociedade. Enquanto as atitudes imorais serão aquelas não reconhecidas pelo grupo como usuais,</p><p>fugindo das condutas moralmente obrigatórias.</p><p>A moral não abrange toda a sociedade, mas pode ser de regras que pertencem a pequenos grupos</p><p>sociais, como, por exemplo, de determinadas pessoas que professem certa religião, regras morais de uma</p><p>gangue de presidiários de uma penitenciária, regrais morais aplicadas no comércio, entre outros.</p><p>Notem o que forma as regras morais, independemente daquilo que a lei determina, pois até sujeitos</p><p>que praticam ilícitos penais seguem as regras morais do grupo nos quais se identificam. Pela ótica do</p><p>grupo, um ato pode ser considerado moral, perante suas regras, ainda que seja ilícito frente às leis.</p><p>30</p><p>Unidade I</p><p>Desse modo, nem tudo o que é lícito é honesto. Veja-se o caso de um servidor público que é casado</p><p>com outra servidora pública, que juntos dividem a mesma casa em coabitação. Suponha que ambos</p><p>possuam cargos que dão direito a um benefício em dinheiro chamado de auxílio-moradia. Embora</p><p>receber esses valores seja lícito perante a legislação, é moralmente condenável uma vez que o objetivo</p><p>da lei é fazer com que o servidor ou a servidora resida no local da prestação do serviço público.</p><p>O que forma a moral são os costumes, que são os próprios atos repetitivos tomados pela sociedade.</p><p>Os sujeitos identificam nesses atos a aprovação de estarem realizando uma conduta certa dentro</p><p>daquele grupo.</p><p>É muito comum que se confundam os dois termos. Para fixar a diferença, ver o esquema da figura</p><p>a seguir:</p><p>Costumes</p><p>Formadores da moral, necessitam de amplo</p><p>conhecimento dos sujeitos do grupo para</p><p>que se tornem obrigatórios.</p><p>Usos</p><p>Têm um conteúdo menos profundo e</p><p>determinante do que os costumes, pois</p><p>somente validam o ato como usual, aquilo</p><p>que se está acostumado, assim, o sujeito</p><p>facilmente os reconhece.</p><p>Figura 8</p><p>Os costumes são conhecidos e formam a moral, ao passo que os usos são atos corriqueiros, cotidianos.</p><p>3.2 Consciência moral</p><p>Como dissemos anteriormente, uma característica importante para que um costume integre a moral</p><p>é o conhecimento dos sujeitos sobre essas regras. Assim, é a vivência em sociedade que capacita a</p><p>compreender os limites de certo e errado.</p><p>Ou seja, o sujeito vai se moldando ao trato social e para cada um dos grupos que integra (trabalho,</p><p>escola, família etc.) vai absorvendo a moral que acaba fazendo parte de si.</p><p>A consciência moral é a capacidade que o sujeito tem, em se utilizando da razão, de analisar e</p><p>reconhecer o que é moral ou imoral frente a uma situação que se apresenta.</p><p>É, portanto, pela habilidade do sujeito em processar as regras e determinar o certo e errado. Quando</p><p>é possível realizar esse juízo de valor ou juízo moral, a pessoa desenvolve autocontrole emocional.</p><p>31</p><p>ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL</p><p>Mas quais são os aspectos que compõem essa consciência moral que, quando atendida, podem</p><p>desenvolver o autocontrole emocional? Pois bem, são três componentes indissociáveis, a seguir apresentados:</p><p>Razão</p><p>Elemento</p><p>social</p><p>Elemento</p><p>afetivo</p><p>Figura 9</p><p>Como mostrado na figura anterior, a consciência moral tem três componentes:</p><p>• Razão: todos os aspectos da situação ou ato são considerados racionalmente. São análises</p><p>mentais que sopesam valores e princípios morais e éticos para o posicionamento sobre o certo e</p><p>errado. A consciência moral se forma pela decisão livre do sujeito, ou autonomia da vontade, que</p><p>internaliza as questões de ordem moral, analisa-as e decide.</p><p>• Elemento afetivo: o elo e o apreço por determinada pessoa ou coisa podem influenciar na</p><p>consciência moral a ponto de desvirtuar a decisão ou ato do sujeito. Isso porque, dadas as</p><p>situações, há confronto de interesses levados pelo sentimento que se deposita sobre pessoa ou</p><p>bem. Esse sentimento pode ser amor, ódio ou amizade que venha unir as pessoas ou afastá-las.</p><p>• Elemento social: processo de socialização que permite a compreensão e interiorização das</p><p>normas morais em que resta claro para o sujeito diante dos papeis que são desempenhados por</p><p>ele, sobre como deve agir em cada um deles, aquilo que se chama de dever ser.</p><p>Saiba mais</p><p>Para Hans Kelsen, existe diferença entre ser e o dever ser. O ser se</p><p>encontra junto das leis naturais e se apresenta como as coisas são e estão,</p><p>ao passo que o dever ser decorre da organização da vontade humana, de</p><p>como as coisas deveriam ser ou se apresentar. Então, o ser é a conduta</p><p>fática e o dever ser é a conduta esperada.</p><p>Para saber mais, leia:</p><p>KELSEN, H. Teoria pura do direito. 8. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009.</p><p>32</p><p>Unidade I</p><p>4 VÍCIOS E VIRTUDES</p><p>Areté é o termo grego que significa virtude, coragem, excelência, ou seja, tem conteúdo positivo e</p><p>está sempre ligado a situações ou condições que geram o bem ou felicidade.</p><p>Para os Sócrates, essas virtudes eram as condições de se viver bem. Já para Aristóteles, era como</p><p>conquistar o equilíbrio para se viver bem, portanto a virtude estava no meio.</p><p>Os cristãos entendem virtude como a sabedoria para discernir e escolher aquilo que é bom, ao passo</p><p>que para os budistas é o que torna o ser humano bom.</p><p>No prisma moral e ético, virtude é conjunto de atributos que o ser humano carrega, que lhe capacite</p><p>a tomar suas decisões e condutas sempre dentro dos limites morais e éticos. São, portanto, atributos</p><p>positivos como lealdade, honestidade, empatia, entre outros.</p><p>Por outro lado, os vícios se contrapõem às virtudes por serem opostos a elas, são a falha de caráter</p><p>que impede que as ações do indivíduo tenham resultados positivos, uma vez que não permitem ao</p><p>sujeito a análise e julgamento dentro dos ditames morais.</p><p>Figura 10</p><p>As redes sociais vêm cada vez mais tomando o tempo das pessoas. O smartphone se tornou um</p><p>aliado, pois, por meio desse instrumento tecnológico, é possível continuar conectado, conversando,</p><p>se relacionando com amigos, parceiros comerciais e familiares o tempo todo. É evidente que existem</p><p>aspectos positivos nessa relação, mas nem tudo são flores. O vício em redes sociais pode tomar grandes</p><p>proporções e minar a produtividade dos usuários.</p><p>33</p><p>ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL</p><p>Os vícios trazem como consequências resultados negativos e são compostos por pensamentos ou</p><p>hábitos repreensíveis, que tendem ao exagero e por vezes ao descontrole.</p><p>De maneira geral, os vícios confrontam os valores morais sendo reprováveis socialmente, por causarem</p><p>repulsa e aversão social. São exemplos de vícios morais a vaidade (quando excessiva), a desonestidade,</p><p>a infidelidade, os hábitos censuráveis e abusivos (álcool, drogas, sexo), entre outros.</p><p>4.1 Excelência moral e deficiência moral</p><p>A excelência moral é construída a partir das virtudes que a pessoa coleciona e constrói ao longo de</p><p>sua vida. Podemos afirmar que se trata da projeção do próprio caráter, que por sua vez seria o resultado</p><p>de nossos atos.</p><p>O caráter da pessoa precede a ela própria, determina quem ela é a partir do resultado de suas ações</p><p>para a sociedade. A forma com que ela é conhecida, seja profissionalmente, pessoalmente ou para</p><p>qualquer outro papel que a pessoa desenvolva. Induz sua honradez e respeitabilidade, por consequência,</p><p>diversos outros adjetivos que a qualificam como um ser humano melhor e mais confiável.</p><p>Assim, todas as pessoas experimentam ao longo da vida diversos sentimentos em diversas situações,</p><p>mas o sujeito com excelência moral é capaz de separar a emoção que seria característica para aquela</p><p>situação ou senti-la no momento certo, adequado, permitindo que suas decisões sejam mais assertivas</p><p>e eficazes, logo, com melhores resultados.</p><p>Para Aristóteles, a excelência moral somente será alcançada com o meio-termo, ou o equilíbrio.</p><p>É preciso ter virtude para controlar as paixões e alcançar o equilíbrio, dispõe Aristóteles.</p><p>Figura 11</p><p>Na vida real, somos expostos a situações que, pelo nosso envolvimento, sempre afloram as emoções,</p><p>contudo, cabe a cada pessoa escolher o momento e a forma de reagir, uma vez que o julgamento</p><p>determinará o resultado.</p><p>34</p><p>Unidade I</p><p>Por sua vez, a deficiência moral é considerada grande falha de procedimento do sujeito que,</p><p>desprovido de virtude ou de forma intencional, quer o resultado negativo ou desproporcional, seja para</p><p>proveito próprio ou de outrem, seja para seu deleite.</p><p>Os debates sobre deficiência moral passam por questões relevantes e atuais, como é o caso da</p><p>desonestidade de alguns políticos. Veja como um tema espinhoso como este nos remete imediatamente</p><p>à questão que estamos tratando. É apenas um exemplo, mas que demostra como o desajuste do caráter,</p><p>aliado à falta de virtude, pode fazer com que alguém realize atos que têm consequências desastrosas</p><p>para toda sociedade. Tais atos, além de nefastos, são socialmente reprováveis.</p><p>Esse foi só um exemplo, mas agora já há condições de perceber outras tantas situações em que estão</p><p>presentes a excelência moral ou a deficiência moral.</p><p>4.2 Verdade, mentira ou omissão?</p><p>Conforme tratamos anteriormente, o termo verdade é princípio ético basilar, também conhecido</p><p>como ideal ético. Tem diversos significados, contudo, em contraponto aos demais termos, vamos</p><p>analisá-lo de maneira fática.</p><p>A verdade é a existência ou ocorrência de algo, que independe da sua comprovação. Isso quer dizer</p><p>que a verdade é absoluta, ou seja, a verdade será sempre verdade, mesmo que ninguém saiba.</p><p>Aquilo que existe ou ocorreu, ainda que seja visto ou presenciado por diversas pessoas, continua</p><p>único. O que muda não é a verdade, mas as versões sobre ela, já que esta seria a parte mutável sobre a</p><p>verdade, que é a comprovação.</p><p>Uma fala corriqueira é a visão sobre um mesmo copo, com o copo meio cheio ou o copo meio vazio.</p><p>Figura 12 – Copo meio cheio e meio vazio</p><p>35</p><p>ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL</p><p>Há uma realidade (verdade) na imagem do copo. O que está relativizado e há divergência é a versão</p><p>da verdade que, para uma pessoa, o copo pode estar meio vazio e, para outra, meio cheio.</p><p>No direito, a comprovação da existência de algo ou da ocorrência de um fato pode acontecer por</p><p>diversos meios de prova, que ajudam a elucidar a verdade e fazem a relação de causa e efeito.</p><p>Observação</p><p>Prova no critério jurídico é a materialização da comprovação da verdade,</p><p>seja de fato ou coisa. Isso significa que é a forma com que se convence</p><p>alguém, em especial o juiz quando se trata de processo judicial, de quem</p><p>tem razão sobre determinado assunto, ou seja, quem fala a verdade.</p><p>O artigo 212 do Código Civil elenca as espécies de prova admitidas</p><p>para comprovar a existência dos vínculos jurídicos, são elas: confissão,</p><p>documentos, testemunha, presunção e perícia.</p><p>Quase todas estas provas também são aceitas no processo, desde que</p><p>não sejam ilícitas ou obtidas por meio ilícito.</p><p>Já a mentira, é a afirmação errônea, equivocada, enganosa, falsa, que atesta fato inexistente ou</p><p>errado. É o oposto da verdade e, da mesma maneira, tem significado bastante amplo.</p><p>Qualquer afirmação equivocada pode ser considerada mentira. A informação pode ser conhecida</p><p>pelo sujeito ou pode ter suspeita de ser errada.</p><p>Em alguns grupos, a</p>4Gju96Ri7477do4VAkUpZEQ81jjsmfLhoC0rMQAvD_BwE. Acesso em: 12 ago 2020.
Leia as afirmativas a seguir:
I – A percepção da alta incidência de corrupção no Brasil é positiva porque estimula adoção de 
medidas que possam combater essas práticas.
II – A corrupção é uma prática em 180 países do mundo em maior ou menor grau, o que indica que 
não é possível erradicá-la.
Assinale a alternativa correta:
A) I, somente.
B) II, somente.
C) I e II estão incorretas.
D) I está correta e é decorrente de II.
E) II está correta e é decorrente de I.
Resposta correta: alternativa C.
Análise das afirmativas
I – Afirmativa incorreta.
Justificativa: a percepção da alta incidência de práticas de corrupção no Brasil não tem sido positiva 
para incentivar medidas que contenham ou punam essas práticas, tanto é verdade que o país já teve 
cinco recuos sequenciais nas colocações ocupando a pior posição da série desde 2012.
II – Afirmativa incorreta.
Justificativa: o enunciado da questão não mostra que é impossível erradicar a corrupção, porque não 
se sabe se existem países que tenham atingido o resultado 100, percepção de que o país é muito íntegro.

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