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DESIGN DE EMBALAGEM E PDV AULA 2 Prof.ª Milena Maria Rodege Gogola 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, estudaremos os materiais e processos mais comuns utilizados na produção de embalagens: vidro, celulose, papel e papel ondulado, polímeros, metal e materiais inovadores oriundos de diversas fontes alternativas. Por fim, trataremos de ações que melhoram o desempenho ambiental das embalagens ao longo do seu ciclo de vida. CONTEXTUALIZANDO Como vimos anteriormente, é fundamental para o designer de embalagens conhecer os materiais e os processos de fabricação envolvidos no projeto de embalagens, pois eles afetam diretamente o briefing do produto. Existe a necessidade de um bom relacionamento e uma comunicação aberta com o setor produtivo da empresa, fornecedores e terceirizados, para que todos os agentes trabalhem em prol das decisões tomadas na fase de estudo e planejamento do projeto. A escolha do material e do seu acabamento compõe uma fase insubstituível em uma proposta de design de embalagens. A seleção de material e o método de produção da embalagem determinam o caminho que as demais variantes do projeto devem seguir: não sendo apenas uma questão da forma da embalagem. Ela afeta diretamente no manejo, na imagem, no uso do produto, no tipo de impressão gráfica escolhida e no seu descarte, interferindo primeiramente no processo de extração de matéria-prima, seu beneficiamento e produção da embalagem em si, além do seu enchimento, fechamento e transporte. Não podemos deixar de mencionar a importância econômica que a escolha de materiais para embalagens representa no Brasil e no mundo. A FGV realizou um estudo que demonstrou o valor bruto da produção física de embalagens no Brasil em 2019: um total de R$ 80,2 bilhões. O uso dos materiais em embalagens está diretamente ligado a esse valor, pois é possível identificar o quanto cada categorias contribuiu com esse valor. No ano de 2019, as embalagens de vidro e metal se destacaram com os maiores índices de incrementos em sua produção em relação ao ano de 2018, com crescimento de 12,2% e 6,1%, respectivamente justificados pelo aumento de consumo de 3 produtos de alimentos e bebidas. Em se tratando de importações para o mesmo ano, houve um movimento de um total de US$ 631,9 milhões (ABRE, 2019). Além dos aspectos projetuais e econômicos, a escolha de materiais traz consigo um outro de igual importância, alvo de muitas pesquisas recentes no projeto de embalagem: seu desempenho tátil durante o seu uso. Se a embalagem é vista, ela também é sentida. Dessa forma, uma estimulação tátil é associada à percepção visual da embalagem, ampliando a experiência total do consumidor. Essa experiência sensorial complexa interfere na percepção do produto ou marca, associando-os a conceitos intangíveis e tornando-se um fator importante em uma nova compra. Por meio de treinamento e da experiência, os designers podem aprender muito a respeito dos materiais, suas características e métodos de manufatura. Mesmo assim, para que a escolha do material a ser utilizado seja completamente adequada, é essencial contar com a expertise de fornecedores e especialistas. A seguir, veremos as cinco principais categorias de materiais utilizados em produção de embalagens, suas aplicações e seus principais processos de fabricação de embalagens. TEMA 1 – EMBALAGENS DE VIDRO E SEUS PROCESSOS DE PRODUÇÃO O vidro é um dos materiais mais antigos conhecidos pelo homem. Especula-se ter sido descoberto pelos fenícios, quando acenderam uma fogueira na praia e mais tarde descobriram que a areia tinha derretido. Apesar da longa idade do vidro, ele só veio a ser utilizado como embalagem comercial há cerca de 200 anos, como garrafas para bebidas. Os vidros são resultado de uma combinação de óxidos inorgânicos derretidos à alta temperatura, formando uma variedade de objetos rígidos e transparentes. Chamados tecnicamente de líquidos super-resfriados, comportam-se como sólidos à temperatura ambiente. O vidro é popularmente reconhecido pelo seu brilho e por sua transparência, embora existam vidros translúcidos e opacos. Também é um material durável, quimicamente inerte (não reage quimicamente com outros elementos) e é impermeável – ambas características que ainda colaboram para o seu amplo uso em embalagens frente ao avanço tecnológico dos materiais termoplásticos e da versatilidade do alumínio. 4 Os recipientes de vidro podem ser esterilizados, suportam o processamento de alimentos à alta temperatura e podem ser 100% reciclados. As desvantagens do vidro são: seu peso, sua fragilidade a elevadas temperaturas (resiste em torno de 300 a 400 °C) e a choques térmicos. Essa desvantagem pode ser melhorada na utilização da técnica de têmpera, que também colabora para o aumento de sua resistência mecânica. Um recipiente de vidro geralmente passa uma imagem de alta qualidade, por isso são utilizados em alimentos de alto nível, como vinhos e cervejas premium, perfumes e condimentos. Comumente essas embalagens de vidro são reutilizadas no ambiente doméstico. Os ingredientes utilizados na fabricação do vidro são de baixo custo e não mudaram no decorrer dos séculos: o principal é a sílica (areia), com soda e cal em pequenas quantidades. Quando reciclado, o vidro é moído em cacos e refundido, podendo-se acrescentar ou não uma carga da sílica. Para o derretimento e moldagem dos ingredientes, é necessária uma grande quantidade de energia, fato que influencia diretamente no custo econômico e ambiental na produção do vidro. Para reduzir o uso de energia, várias técnicas têm sido desenvolvidas, incluindo a pré-mistura e o pré- aquecimento da matéria-prima, o uso de cacos de vidro (são consideravelmente mais fáceis para amolecer) e o melhor monitoramento e controle dos processos. A indústria do vidro tem concentrado grandes esforços e recursos para incentivar a reciclagem e reúso de recipientes de vidro, por razões econômicas, ambientais e relacionais com o seu público, neste último caso promovendo conceitos importantes a respeito da marca – que passa a estar ligada a uma preocupação da empresa com o meio ambiente – mas também em relação à fidelização do consumidor ao produto. É o exemplo de garrafa de refrigerante retornável, que, quando levada vazia ao estabelecimento de compra, garante um desconto na compra de uma nova garrafa cheia. Um dos maiores problemas na indústria de embalagens de vidro é a sua avaria devido a choques na produção, envase e transporte. Uma das soluções aplicadas atualmente consiste no revestimento externo no recipiente com uma camisa termoencolhível de poliestireno expandido (PS). Como o revestimento é imprimível, é um recurso bastante interessante para ser explorado pelo designer, além de oferecer outros benefícios como aquisição de alguns graus de proteção térmica do produto, a diminuição do barulho durante o envase e um melhor e 5 mais seguro contato para o consumidor ao segurar o recipiente. No caso de quebra, o revestimento ainda previne o espalhamento de cacos de vidro. Quadro 1 – Processos de obtenção de embalagens de vidro Processo Aplicação Prensagem Pratos, copos simples, baixelas, bandejas etc. Sopro Garrafas, jarros e outros recipientes TEMA 2 – EMBALAGENS DE PAPEL E PAPELÃO E SEUS PROCESSOS DE PRODUÇÃO Considerando o volume, a maioria das embalagens fabricadas no Brasil são feitas de papel e papelão, sendo o material mais utilizado em embalagens de consumo até as embalagens de transporte. Por apresentar essa enorme variedade de aplicações, as propriedades físicas desses materiais não podem ser apontadas sem antes discriminar o tipo de papel ou papelão pretendido. Portanto, neste capítulo iremos abordar estes materiais apenas de forma ampla, concentrando-nos na sua fabricação e nos recursosutilizados em design de embalagens. O papel e o papelão são materiais de origem agroflorestal, ou seja, seus insumos são retirados de florestas plantadas de eucalipto e pinus. Depois de a madeira ser cortada e processada para extração da celulose, adiciona-se uma mistura de substâncias minerais (como o caulim, dióxido de titânio e sulfato de bário) e água, formando uma pasta que é colocada para secar ao calor e pressão sobre uma superfície lisa e plana. Depois, passa-se a pasta seca pela calandra, que é um conjunto de rolos metálicos aquecidos, para que a aglutinação das fibras seja fortalecida e enrijecida. Após essa etapa, o papel já pode ser enrolado em bobinas, rolos ou cortado em chapas. O papelão ondulado é uma estrutura formada por dois tipos de estruturas: o miolo e a capa. A capa é fabricada como o papel comum, enquanto o miolo é fabricado em uma máquina denominada onduladeira, em que as ondas são feitas de acordo com o tamanho do cilindro ondulador. As ondas são fixadas a um ou mais elementos planos, por meio de cola aplicada no seu topo. De todas as características do papel e do papelão, a que o designer deve observar com mais cuidado é a direção da distribuição das fibras na chapa ou 6 na bobina. Ela influencia diretamente no processo de corte, vinco e dobra na embalagem. São as fibras que oferecem resistência a rachaduras e ao impacto. O fabricante de papel sempre deverá fornecer essas informações, juntamente com a matéria-prima. Por essa mesma característica, o papel descartado não pode ser reciclado indefinidamente, como o alumínio, já que o comprimento das fibras se reduz durante o processo, a ponto de o papel não oferecer uma performance satisfatória. Pode-se prolongar a sua vida útil adicionando-se material virgem ou outros materiais fibrosos à massa, ou ainda combinando materiais reciclados e virgens em uma estrutura multilaminar. Há muitos anos a indústria de papelão tem produzido miolos a partir de papel reciclado, associado a uma capa de material virgem, para obter resistência satisfatória. Um outro fator que limita o uso do papel reciclado é a presença de tintas de impressão contaminantes, adesivos, laminação polimérica ou metálica entre seus ingredientes. Alimentos, por exemplo, não podem ser embalados diretamente com papéis reciclados que contenham contaminantes Quadro 2 – Processos de obtenção de embalagens de papel Processo Aplicação Vincadeira/dobradeira/coladeira e corte-vinco para papelão Caixas de transporte, acessórios e displays Corte-vinco/dobradeira associadas ou não a impressoras de papel Embalagens, cartuchos, sacos, envelopes TEMA 3 – EMBALAGENS POLIMÉRICAS E SEUS PROCESSOS DE PRODUÇÃO O primeiro plástico foi desenvolvido há pouco mais de 100 anos pelo inventor amador John Wesley Hyatt, para substituir uma carência de marfim. Por meio de experimentos com lã de algodão e ácido nítrico, chegou a um plástico chamado nitrocelulose. Algumas décadas depois, cientistas petroquímicos criaram diversos plásticos novos, que tiveram papel determinante no desfecho da Segunda Guerra Mundial. O polietileno foi utilizado como isolante das linhas elétricas dos radares aéreos das forças aliadas; o nylon substituiu a seda na fabricação de paraquedas; o acrílico foi insumo de janelas de compartimentos de tiro dos 7 tanques; e diferentes combinações de plástico foram utilizadas em capacetes, em substituição aos de metal, que eram mais pesados. Desde então, seu progresso tecnológico vem ocorrendo de forma galopante, associado à invenção de novas utilidades, contribuindo assim para o crescimento exponencial da indústria plástica. Considerado o material mais versátil à disposição de um projetista, por sua facilidade de transformação, em especial, a capacidade de adquirir diferentes formas, texturas e cores, encontra-se presente na maioria das embalagens, em maior ou menor quantidade, e é alvo de constante questionamentos acerca do seu desempenho ambiental, como veremos adiante. O termo plástico é a maneira mais popular e também comercial de se chamar um material polimérico (ou simplesmente polímero). O nome polímero se origina da formação de um conjunto de moléculas (poli) compostas pela repetição de milhares de unidades básicas (meros). Os plásticos apresentam inúmeras propriedades muito interessantes, como baixa densidade, resistência química e capacidade de isolamento elétrico e térmico, transparência e facilidade de impressão e, portanto, podem, com muita facilidade, substituir metais, papel e vidro. Em contrapartida, são tipicamente pouco resistentes a esforços mecânicos, temperaturas elevadas e intempéries. É um material altamente multifuncional e barato na maioria das aplicações em embalagens, e por isso podemos constatar que existe uma dependência humana por produtos plásticos, fato que gerou um problema ambiental grave: verifica-se uma sobrecarga de resíduos plásticos no meio ambiente, sobretudo nos oceanos, local de destino de grande parte dos produtos descartados, onde eles permanecem por décadas ou séculos. Muitas embalagens são formadas por uma complexa combinação de materiais, plásticos e não plásticos, conseguidos por coextrusão, laminação com camadas, pigmentos, lubrificantes e plastificantes. Um exemplo são as embalagens flexíveis de biscoito e de salgadinhos. Não existe uma categoria compatível para o reprocessamento destas embalagens pós-consumo, dificultando a reciclagem. Por isso elas são incineradas, para pelo menos serem fonte de energia para outros processos. Em um projeto, o designer deve compreender que, ao escolher o plástico, nem sempre uma reciclagem viável acompanha a escolha. Por isso deve-se examinar o ciclo de vida da embalagem cuidadosamente, conversar com 8 fornecedores, conhecer os resultados das constantes pesquisas na área e acompanhar as demandas do mercado consumidor. Cabe também aos designers, em conjunto com toda a equipe técnica e administrativa da empresa, pensar e criar novas soluções para amenizar o efeito ambiental do descarte incorreto dos polímeros, apresentando produtos com desempenho igual ou superior, sem que haja degradação do meio ambiente Quadro 3 – Processos de obtenção de embalagens de plástico Processo Aplicação Laminação Bobinas para embalagens flexíveis Vacuum forming Blister, embalagens para produtos eletrônicos, de alimentos, bandejas, kits/produtos promocionais, pratos/copos para festas, descartáveis etc. Injeção Potes, frascos, garrafas etc. Sopro Peças ocas como frascos para indústria de cosméticos, farmacêutica, produtos de limpeza entre outras, bombonas, regadores, reservatórios. Injeção-sopro Peças ocas (geralmente com bocas largas) como frascos mais refinados para indústria de cosmético, farmacêutica, alimentícia, reservatórios, garrafas de refrigerantes e outros recipientes Rotomoldagem Peças ocas, com geometria complexa (formas intrincadas) podendo ser pequenas, médias ou grandes, como displays, embalagens para líquidos etc. TEMA 4 – EMBALAGENS METÁLICAS E SEUS PROCESSOS DE PRODUÇÃO O uso de metais como cobre, ferro e estanho começou a ser significativo apenas nos tempos modernos, apesar de ter sido descoberto na mesma época em que a cerâmica de barro. No início do século XIX, a Marinha Inglesa adotou as latas de estanho. Por volta de 1830, os enlatados começaram a aparecer nas lojas. Essas latas difundiram-se durante a Segunda Guerra Mundial e, devido à demanda, houve um aumento no preço da matéria-prima – a folha de Flandres –, o que levou os produtores de lata a buscar uma solução alternativa, o alumínio, que hoje, 9 juntamente com o aço inoxidável, é o metal mais utilizado em embalagens metálicas. Além de proteger os alimentos dos contaminantes externos, fazendo- os durar pelo menos por três anos, as embalagens metálicasdispensam grandes embalagens secundárias para o transporte. Assim como o vidro, o aço e alumínio, quando reciclados, esses materiais apresentam qualidades comparáveis ao material virgem, e sua separação do fluxo de descarte é relativamente fácil. Ao se fundir e refinar o metal, a maioria dos contaminantes é removida, e as altas temperaturas asseguram a garantia da destruição dos organismos, ajudando na pureza do material para reusá-lo na produção de novas embalagens. Apesar do alto índice de energia requerido para reciclar metal usado, as embalagens de metal são bastante valorizadas pelo fato de que podem se submeter a repetidas reciclagens sem perdas das propriedades. Algumas das desvantagens das embalagens metálicas envolvem corrosão do metal e a deterioração dos alimentos quando a embalagem é avariada, além da impossibilidade de ver o seu conteúdo e a acessibilidade para abri-las. As latas podem ser feitas em duas partes (corpo e tampa – em que o fundo e o corpo formam uma só estrutura sem emendas) ou três partes (com tampa, corpo e fundo). Neste último caso, a lata é feita a partir de folha plana enrolada, com uma pequena dobra em sua boca, para permitir seu fechamento hermético. Esse tipo de fechamento é conhecido como recravação e é feito após o enchimento da lata. O fundo é colocado antes, apertando-se as extremidades para encaixe. As latas ganharam variação de forma nos últimos anos, por meio de cinturas, ondas e volumes, que, aliadas a grafismos inovadores, tornaram-se um gigantesco propulsor de vendas desses produtos. A impressão em latas tem uma dupla função: a de comunicação visual e a de proteção. Durante a impressão do metal, é aplicado um verniz contra a corrosão e oxidação, prevenindo que o metal e produto embalado entrem em contato. Esse processo pode ser feito antes de se tornar um recipiente curvo, ou após a embalagem final. Quadro 4 – Processos para obtenção de embalagens de metal Processo Aplicação Folha de alumínio Latas, blister, selos Folha de Flanders Latas 10 TEMA 5 – MATERIAIS E PROCESSOS INOVADORES As ameaças do desequilíbrio do sistema natural, a contaminação do solo e da água por resíduos e por embalagens descartadas incorretamente e o esgotamento de aterros sanitários impulsionam a pesquisa e o desenvolvimento de soluções mais satisfatórias do ponto de vista da sustentabilidade. Neste tema, vamos conhecer as principais respostas oferecidas pela indústria de embalagens para resolver esse problema. 5.1 Materiais degradáveis Existem dois termos ligados à degradação natural de materiais: biodegradação e oxidegradação. Os materiais biodegradáveis são aqueles que se decompõem integralmente pelo contato com microrganismos (bactérias, fungos e algas) ou pela luz solar. Papel e cartão, por exemplo, em condições ideais, se decompõem e sua massa decomposta enriquece o solo. Uma vez enterrados, na ausência de oxigênio, produzem CO2 e metano, o gás responsável pelo efeito estufa. Por essa razão, os materiais biodegradáveis são desviados de aterros sanitários para locais de compostagem para produzir outros produtos, como turfa e fertilizantes. Os materiais oxidegradáveis são aqueles que contêm aditivos que aceleraram a degradação química do material, processo amplamente utilizado na produção de embalagens plásticas. Nesse caso, o aditivo favorece a microfragmentação do polímero, mas não garante a biodegradação conforme requisitos estabelecidos em normas internacionais, pois seus fragmentos não desaparecem; ao contrário, tornam-se resíduos que podem poluir as águas, o solo e ainda podem ser ingeridos por animais. Seu melhor destino é a coleta seletiva e a reciclagem. Entende-se, assim, que ambos recursos utilizados para a degradação dos materiais são benéficos ao meio ambiente, pois diminuem o volume de massa em aterros sanitários, mas necessitam de forte controle e fiscalização. Atualmente poucos municípios apresentam iniciativas controladas para compostagens, de modo que, infelizmente, os materiais de embalagens domésticas biodegradáveis ainda são depositados em aterros sanitários. 11 5.2 Matéria-prima proveniente de fontes renováveis É toda matéria produzida utilizando-se de recursos que não se esgotam na natureza, pois podem ser produzidas regularmente a partir do cultivo agrícola. O papel e o papelão, por exemplo, são materiais produzidos a partir da plantação de eucalipto, ou seja, são de fontes renováveis de matéria-prima. Outro material que vem ganhando espaço gradativamente no setor de embalagens é o bioplástico, ou plástico verde, oriundo da extração da cana-de- açúcar. Atualmente existem pesquisas com outras fontes renováveis, como milho, batata, mamona, cana-de-açúcar, palha, cascas de frutas; e de resíduos resultantes da degradação dos óleos vegetais e do glicerol produzido como rejeito no processo de refino do biodiesel. O principal plástico produzido com cana-de-açúcar é o polietileno verde, que apresenta as mesmas propriedades que o plástico de origem fóssil, podendo ser aplicado em uma grande variedade de produtos, dos rígidos aos flexíveis. Após o descarte, o bioplástico pode ser 100% reciclado, voltando para a cadeia produtiva inúmeras vezes. Apesar da origem biológica desses plásticos, para ser considerado um bom substituto para os plásticos de origem mineral, é preciso considerar a atuação econômica, ambiental e mercadológica das etapas de desenvolvimento de embalagem, desde o plantio e colheita da matéria-prima até o desempenho no produto final. Boa parte dos bioplásticos já oferece as características desejadas para seu uso contínuo. O grande desafio concentra-se, portanto, no pós-consumo, no que é descartado, pois nem sempre recebe o tratamento adequado ou tem seu reaproveitamento consolidado. 5.3 Logística reversa Um dos principais mecanismos de gestão dos resíduos pós-consumo baseia-se na logística reversa, na qual todos os elos da cadeia de valor têm suas responsabilidades: indústria, governo e consumidores, indo além das questões técnicas e promovendo uma revisão profunda de comportamentos da própria sociedade. A aplicação da logística reversa inicia na indústria, onde embalagens e produtos devem ser fabricados com materiais (e formas) que facilitem sua 12 reutilização ou reciclagem. Cabe também à indústria reciclar os materiais devolvidos pelos consumidores, exigindo-se, dessa forma, a implantação de um sistema de recebimento dos produtos pós-consumo. Isso pode ser feito por meio da disponibilidade de pontos de entrega ou parcerias com cooperativas ou associações de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis. Da parte governamental, as prefeituras precisam estabelecer a coleta seletiva nos municípios por meio da participação organizada de catadores. Essa coleta pode ser feita tanto pelo sistema porta a porta quanto por meio de pontos ou locais de entrega voluntária. Aos consumidores cabe a responsabilidade de separar e dispor os resíduos passíveis de reuso e reciclagem adequadamente para devolução ou coleta seletiva e, se for o caso, entregá-los nos pontos de coleta. É uma prática complexa, que envolve um esforço conjunto de vários atores, mas que vem gerando resultados positivos em relação à economia e ao meio ambiente em vários países. Saiba mais Acesse o link a seguir e assista a um vídeo que mostra como a logística reversa já faz parte da nossa vida: LÓGICA reversa. Instituto Montanari, 8 fev. 2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=RZU-SajRDUk>. Acesso em: 30 abr. 2021. E conheça também um exemplo de sucesso na implementação da logística reversa para embalagens de defensivos agrícolas através do Programa Campo Limpo: SISTEMA campo limpo. Impev Brasil, 21 ago. 2012. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3JL76V7ggYs>. Acesso em: 30 abr.2021. É importante destacar que a Política Nacional de Gestão de Resíduos (PNGR) prevê que o uso da logística reversa deve ser acionado somente após tentar a aplicação de duas outras estratégias: não gerar resíduo, primeiramente, e no uso dos 3Rs, que veremos a seguir. 5.4 Os 3Rs Essa é uma sigla que determina as três possíveis ações pós-consumo para desacelerar o acúmulo indevido do lixo: reduzir, reusar e reciclar. 13 Para que não haja o esgotamento dos recursos naturais, a aplicação dos 3Rs deve ser o fio condutor de toda cadeia produtiva e de consumo, a chamada responsabilidade compartilhada, a qual é regulamentada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e estabelece uma hierarquia para resíduos reaproveitáveis: a prioridade deve ser a redução, pois sua execução é mais simples, barata e com resultados expressivos. Em segundo lugar vem a reutilização, que exige mais insumos e participação. Em último lugar, a reciclagem, pois esta demanda gastos maiores para implementação e operação, podendo não alcançar os resultados esperados. 5.4.1 Redução Ocorre quando o fabricante diminui a quantidade de resíduos durante a produção e o transporte do produto, ou quando o consumidor diminui a quantidade de material lançado no lixo, pensando no resíduo antes mesmo da compra. Por exemplo, há produtos que podem ser comprados a granel, ou em refil, diminuindo a quantidade de embalagens levadas para casa. 5.4.2 Reutilização Entende-se por reutilização a segunda utilização de produtos, ou de alguma de suas partes, evitando seu descarte total ou parcial, prolongando sua vida útil. Às vezes um produto um pouco mais caro tem uma embalagem aproveitável para outros fins. Essa reutilização pode ser proposital quando idealizada no projeto do produto, como nas embalagens que viram brinquedos, com as sandálias feitas a partir de pneus recortados, ou como as embalagens de vidro para requeijão, que, após o consumo do produto, podem ser reutilizadas como copo para bebidas. A reutilização também pode ser exemplificada com a recuperação e lavagem das garrafas de vidro pela empresa fabricante do produto. Existem ainda as empresas que reutilizam componentes de seus produtos sucateados, previamente testados, para a montagem de novos produtos. 14 5.4.3 Reciclagem Tecnicamente, o termo reciclagem não corresponde ao uso que comumente se faz dessa palavra, pois reciclar é transformar algo usado em algo igual, mas novo. O exemplo mais adequado é o da reciclagem das latas de alumínio. Essas embalagens são coletadas após o consumo do seu conteúdo e voltam para indústria que as fabrica. Após a lavagem e esterilização do material, novas latas são produzidas, a partir da moagem e beneficiamento do mesmo material. A reciclagem efetiva está limitada aos fatores econômicos e técnicos, pois existem casos em que o custo para se conseguir tornar o material reciclável é maior do que o custo do material virgem – este é um dos problemas que podem ser resolvidos por meio de incentivos governamentais. Existem também problemas técnicos, como a perda de propriedades de alguns materiais quando submetidos à nova transformação, assim são a maioria dos plásticos, que estão limitados a proporções de aproveitamento de no máximo 30% de material reciclado contra 70% de material virgem. Em contrapartida, outros materiais são bastante valorizados para reciclagem, como o alumínio, cujo custos de reciclagem são inferiores aos do processo de obtenção do material virgem. Como vimos anteriormente, o sistema empregado para facilitar o processo de reciclagem em todo o mundo é a simbologia de identificação do material utilizado para fabricação do produto. Para que o sistema de reciclagem seja efetivo, as partes do produto devem apresentar visivelmente os símbolos referentes aos materiais que foram fabricados, facilitando a triagem. De uma forma geral, o perfil qualitativo dos resíduos sólidos urbanos no Brasil é denominado de lixo pobre, por conter uma baixa parcela de materiais reaproveitáveis. Mas, quando comparado a alguns países desenvolvidos, o Brasil apresenta elevados índices de reciclagem. O país desenvolveu métodos próprios para incrementar essa atividade e o maior engajamento da população pode contribuir ainda mais para o aumento de resíduos reciclados. TROCANDO IDEIAS Você pode relacionar quais processos inovadores para otimização de recursos em embalagens existem em sua rotina? Converse com seus colegas sobre as suas experiências como consumidor e como futuro designer. 15 NA PRÁTICA Pesquise em acervo científico um material inovador e imagine uma aplicação para uma embalagem conceitual. Escreva um briefing para o projeto de embalagem, contendo os seguintes tópicos: • produto a ser embalado (quantidade, características, marca, diferencial); • tipo de embalagem; • material e as justificativas para usá-lo. FINALIZANDO Nesta aula, falamos sobre os principais materiais utilizados em fabricação de embalagens, seus usos e processos. Também abordamos materiais e processos inovadores para otimização de recursos na cadeia produtiva e pós- consumo de produtos, sua importância e limitações. Existem várias iniciativas em andamento, mas seu sucesso depende da participação efetiva de todos os agentes da cadeia de valor. Esse é um assunto que está longe de ser esgotado e que exige constante atualização da parte do designer, devido à sua importância econômica, social e ambiental. 16 REFERÊNCIAS ABRE – Associação Brasileira de Embalagens. Estudo ABRE macroeconômico da embalagem e cadeia de consumo. ABRE, 2019. Disponível em: <https://www.abre.org.br/dados-do- setor/ano2019/#:~:text=No%20ano%20de%202019%20as,%2C6%25%20na% 20segunda%20coloca%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 30 abr. 2021. BRASKEM. O plástico no planeta: o uso consciente torna o mundo mais sustentável. São Paulo: Braskem, 2012. Disponível em: <https://www.braskem.com.br/download/Principal/21103?file=Cartilha_Braskem .pdf>. Acesso em: 30 abr. 2021. HINE, T. The total package: the secret history and hidden meanings of boxes, bottles, cans and other persuasive containers. New York: Little, Brown and Company, 1995. LEFTERI, C. Materiais em Design. 112 materiais para design de produtos. São Paulo: Edgard Blucher Ltda., 2018. LIMA, M. A. M. 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