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DEONTOLOGIA E LEGISLAÇÃO Lisiane Mezzomo Vigilância sanitária: cultura e sociedade Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir a importância da vigilância em saúde para a sociedade. Relatar a história da vigilância sanitária em nível nacional e mundial. Relacionar as demandas da profissão farmacêutica e as exigências da vigilância sanitária. Introdução Na Idade Antiga, à medida que as populações das cidades aumentavam, os problemas cresciam e tornavam-se complexos. Doenças então desconhe- cidas — como a peste, a cólera, a varíola, a febre tifoide, etc. — marcaram a história. Com o passar do tempo e as populações se aglomerando cada vez mais nas grandes cidades, a preocupação com os processos de transmissão de doenças aumentou. Assim, por volta dos séculos XVII e XVIII na Europa e XVIII e XIX no Brasil, teve início a vigilância sanitária, como resposta a esses problemas da convivência social. As ações de controle das ameaças à saúde individual e coletiva foram se estruturando ao longo do tempo, com base no avanço do conheci- mento e na luta pela promoção e preservação da saúde da população. Assim, a implementação das ações em vigilância sanitária ocorreu para- lelamente à evolução da saúde pública no âmbito nacional e mundial. Neste capítulo, você vai ler sobre a importância da vigilância em saúde para a sociedade, a história da vigilância sanitária em âmbito nacional e mundial, além de relacionar as demandas da profissão farmacêutica e as exigências da vigilância sanitária. Importância da vigilância em saúde O termo vigilância (em inglês, surveillance) foi utilizado pela primeira vez em abril de 1955 pelo Programa Nacional de Vigilância da Poliomielite, junto ao Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos da América (CDC/USA). O termo está historicamente relacionado aos conceitos de saúde e doença vigentes em cada época e lugar, às práticas de atenção aos enfermos e aos mecanismos adotados para impedir a disseminação das doenças. O que é conhecido hoje como vigilância em saúde surgiu no contexto da saúde pública no final de século XIX, com o desenvolvimento da microbiologia e do conhecimento sobre a transmissão das doenças infecciosas. O conceito de vigilância como instrumento de saúde pública objetivou, na época, subsidiar o emprego de medidas oportunas às pessoas como uma alternativa à prática restritiva da quarentena. Seu propósito fundamental era detectar os indivíduos doentes já em seus primeiros sintomas para a rápida instituição do isolamento. A vigilância em saúde constitui um processo contínuo e sistemático de coleta, consolidação, análise e disseminação de dados sobre eventos rela- cionados à saúde, visando ao planejamento e à implementação de medidas de saúde pública para a proteção da saúde da população, para a prevenção e controle de riscos, agravos e doenças, bem como para a promoção da saúde (BRASIL, 2013). Dessa forma, a vigilância em saúde atua mediante um conjunto de ações específicas organizadas por meio da: vigilância sanitária; vigilância epidemiológica; vigilância ambiental em saúde; vigilância em saúde do trabalhador. De acordo com o Ministério da Saúde, a vigilância em saúde é responsável por ações de vigilância, prevenção e controle de doenças transmissíveis, bem como pela vigilância de fatores de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, saúde ambiental e do trabalhador e pela análise de situação de saúde da população brasileira. Essas ações visam à integralidade do cuidado de problemas de saúde individuais e coletivos. Vigilância sanitária: cultura e sociedade2 A Lei Orgânica da Saúde — Lei nº. 8.080, de 19 de setembro de 1990 — traz os seguintes conceitos, que contribuem para a formação da contextualização da vigilância em saúde (BRASIL, 1990): vigilância sanitária — é um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde; vigilância epidemiológica — é um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou a prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle de doenças ou agravos; saúde do trabalhador — é um conjunto de atividades que se destina, por meio das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos a riscos e agravos advindos das condições de trabalho. A vigilância em saúde engloba ao menos três elementos que devem estar integrados (FREITAS, FREITAS, 2005; ESCOLA POLITÉCNICA DE SAÚDE JOAQUIM VENÂNCIO, 2005): a vigilância dos efeitos sobre a saúde, como agravos e doenças, tarefa realizada tradicionalmente pela vigilância epidemiológica; a vigilância de perigos, como os agentes químicos, físicos e biológicos que possam ocasionar doenças e agravos, tarefa tradicionalmente rea- lizada pela vigilância sanitária; a vigilância de exposições por meio do monitoramento da exposição de indivíduos ou grupos populacionais a um agente ambiental ou seus efei- tos clinicamente ainda não aparentes (subclínicos ou pré-clínicos); este último se coloca como o principal desafio para a vigilância ambiental. A vigilância ambiental em saúde engloba um conjunto de ações que propor- ciona o conhecimento e a detecção de qualquer mudança nos fatores determinan- tes e condicionantes do meio ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade de identificar as medidas de prevenção e controle dos fatores de risco ambientais relacionados às doenças ou a outros agravos à saúde (BRASIL, 2002). 3Vigilância sanitária: cultura e sociedade Nesse contexto, é função do Ministério da Saúde coordenar programas de prevenção e controle de: doenças transmissíveis de relevância nacional, como síndrome da imunodeficiência adquirida (aids), dengue, malária e hepatites virais; doenças imunopreveníveis; leishmaniose; hanseníase; tuberculose. Também é função do Ministério da Saúde coordenar o Programa Nacional de Imunizações (PNI), além de: investigar surtos de doenças; coordenar a rede nacional de laboratórios de saúde pública; atuar na gestão de sistemas de informação de mortalidade, agravos de notificação obrigatória e nascidos vivos; realizar inquéritos de fatores de risco; coordenar doenças e agravos não transmissíveis; analisar a situação de saúde, incluindo investigações e inquéritos sobre fatores de risco de doenças não transmissíveis. Assim, a aplicabilidade do conceito de vigilância em saúde é percebida na prática da saúde pública como integralidade, um dos princípios doutrinários do Sistema Único de Saúde (SUS). É um “[...] conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema” (BRASIL, 1990, documento on-line). Para que a integralidade seja possível, é papel da vigilância sanitária observar e analisar permanentemente a situação de saúde da população para propor e articular um conjunto de ações que visam à integralidade da atenção. A Constituição Federal de 1988 estabelece a “[...] saúde como direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988, documento on-line). Assim, cabe à vigilância em saúde a informação e a intervenção que possibilitam a redução de riscos e a promoção da saúde nos territórios, articulando-se às redes de atençãoà saúde. Trata-se de uma função essencial do SUS, que considera os complexos Vigilância sanitária: cultura e sociedade4 fenômenos econômicos, ambientais, sociais e biológicos que determinam o nível e a qualidade da saúde das brasileiras e dos brasileiros, em todas as idades, visando controlar e reduzir riscos (BRASIL, 2017). História da vigilância sanitária em nível nacional e mundial Por séculos, as doenças transmissíveis e a desnutrição foram determinantes para que a expectativa de vida da população fosse em torno de 30 anos. Do século XIV até meados do século XIX, as principais medidas adotadas na saúde pública para conter a peste e outras doenças epidêmicas eram o isolamento e a quarentena (quando viajantes originários de áreas afetadas por determinadas doenças eram detidos por quarenta dias). A literatura médica clássica grega contém diversas referências a graves dores de garganta, que, muitas vezes, terminavam em morte. Por muito tempo, a peste bubônica, ou peste negra, e outras enfermidades assolaram o continente europeu. No século XIV, a Europa presenciou o auge dos surtos de peste negra, causada pela bactéria Yersinia pestis, transmitida por pulgas encontradas em ratos pretos que vivem em cidades. A doença vitimou milhões de vidas por toda a Europa, pelo fato de não se conhecer, nessa época, os antibióticos. Costa e Rozenfeld (2000) destacam a noção de salubridade, que surge no final do século XVIII na França, sendo um conceito marcante na história da vigilância sanitária. O que é salubre favorece a saúde. Essa noção deu origem às ações de higiene pública e de controle do meio com políticas-científicas, que se estabeleceram por meio da criação de institutos de pesquisas e laboratórios de saúde pública. Mais tarde, entre os séculos XIX e XX, com o desenvolvimento científico e tecnológico, passamos a compreender a etiologia das doenças, especialmente, a detecção dos agentes etiológicos, os ciclos epidemiológicos, bem como a prevenção e o controle de doenças por meio de vacinas e combate vetorial. Assim, as ações e as práticas de saúde pública que se ampliaram e passaram a ser organizadas por meio das campanhas sanitárias. 5Vigilância sanitária: cultura e sociedade Na era pré-industrial, foi introduzida mundialmente a legislação sobre a vigilância em saúde pública, adotando-se o conceito de notificação compul- sória de doenças infecciosas. Nesse mesmo período, a vigilância em saúde pública foi entendida como necessária para a política de desenvolvimento das nações (FRANCO NETTO et al., 2017). A partir do último quarto do século XX, a vigilância em saúde foi se tor- nando parte integrante da responsabilidade sanitária dos sistemas nacionais de saúde. Progressivamente, a escala sem precedentes do movimento entre países — realizada por pessoas, bens e mercadorias, amplificada pelo fenô- meno da globalização — resultou na constituição de plataformas globais de vigilância (FRANCO NETTO et al., 2017). A Organização Mundial da Saúde (OMS), logo após a Segunda Guerra, também estimulou o aperfeiçoamento e a intensificação das práticas de controle sanitário no campo da vigilância (FRANCO NETTO et al., 2017). O oficial médico inglês Alexander Fleming voltou da Primeira Guerra com o sonho de pesquisar uma forma de reduzir o sofrimento dos soldados que tinham suas feridas infec- tadas, causando dor e frequentemente um processo mais acelerado em direção à morte. Em 1928, dedicou-se a estudar a bactéria Staphylococcus aureus, responsável pelos abcessos em feridas abertas provocadas por armas de fogo. Decidiu sair de férias, deixando expostos casualmente alguns recipientes de vidro do laboratório com culturas de bactéria, sem supervisão. Isso fez com que, ao retornar, encontrasse um dos frascos sem tampa e com a cultura exposta e contaminada com o mofo da própria atmosfera. Ao observar o interior do frasco, percebeu que onde tinha se formado o fungo não havia a bactéria em atividade. Concluiu que o mofo, oriundo do fungo Penicillium, agia secretando uma substância bactericida. Por acaso, estava criando o primeiro antibiótico da história da humanidade, a penicilina, uma das mais importantes descobertas da história (NOSSA CAPA..., 2009). Construção da vigilância no Brasil No Brasil, os termos inicialmente utilizados com esse signifi cado foram vigi- lância médica e, posteriormente, sanitária. A vigilância sanitária, por sua vez, tinha por objetivo vigiar os comunicantes durante o período de incubação da Vigilância sanitária: cultura e sociedade6 enfermidade a partir da data do último contato com um doente ou do momento em que o comunicante abandonou o local em que se encontrava a fonte de infecção (WALDMAN, 1998). Desde o período da colonização até a década de 1930, a vigilância não apresentava significativa organização institucional e estava centralizada nos grandes centros urbanos. A partir de 1937, foi instituída a Conferência Nacional de Saúde (CNS) como parte da reorganização sanitária nacional, no bojo das competências dos primórdios do Ministério da Saúde, mas só em 1941 foi realizada a 1ª CNS com o objetivo de levantar a situação de saúde no Brasil, buscando organizar os serviços estaduais de saúde. Com a descoberta nos campos de bacteriologia e terapêutica no período compreendido entre as Primeira e Segunda Guerras, houve a necessidade de reestruturação da vigilância sanitária. O Rio de Janeiro, na passagem do século XIX para o século XX, ainda era uma cidade de ruas estreitas e sujas, saneamento precário e foco de doenças, como febre amarela, varíola, tuberculose e peste. Os navios estrangeiros faziam questão de anunciar que não parariam no porto carioca, e os imigrantes recém-chegados da Europa morriam às dezenas de doenças infecciosas. Ao assumir a Presidência da República, Francisco de Paula Rodrigues Alves instituiu como metas governamentais o saneamento e a reurbanização da capital da República e nomeou o médico Oswaldo Cruz para o saneamento. Assim, iniciou-se o programa de saneamento de Oswaldo Cruz. Para combater a peste, ele criou brigadas sanitárias, que cruzavam a cidade espalhando raticidas e mandando remover o lixo. Em seguida, o alvo foram os mosquitos transmissores da febre amarela. Finalmente, restava o combate à varíola, para isso, foi instituída a lei de vacinação obrigatória. A população não acreditava na eficácia da vacina, e os pais de família rejeitavam a exposição das partes do corpo a agentes sanitários do governo. A vacinação obrigatória foi o estopim para que o povo, já profundamente insatisfeito com outras questões políticas da época e insuflado pela imprensa, revoltasse-se. Durante uma semana, o povo enfrentou as forças da polícia e do exército até ser reprimido. O episódio transformou, no período de 10 a 16 de novembro de 1904, a recém-reconstruída cidade do Rio de Janeiro em uma praça de guerra, onde foram erguidas barricadas e ocorreram confrontos generalizados (BRASIL, 2018). 7Vigilância sanitária: cultura e sociedade Em 1975, foi publicada no Brasil a Lei nº. 6.259, de 30 de outubro de 1975, ou Lei de Vigilância Epidemiológica. Essa normativa organizou as ações de vigilância epidemiológica e o PNI, bem como estabeleceu normas relativas à notificação compulsória de doenças (BRASIL, 1975). Com isso, passaram a ser normatizados: as ações relacionadas com controle das doenças transmissíveis; as orientações sobre sua execução quanto à vigilância epidemiológica; a aplicação da notificação compulsória; o programa de imunizações; o atendimento de agravos coletivos à saúde e os decorrentes de cala- midade pública. A cartilha da vacinação elaborada pelo Ministério da Saúde foi preparada para ajudar a esclarecer questões e entender a importância das vacinas, utilizando uma linguagem de fácil compreensão. O material está disponível no link a seguir: https://goo.gl/cpwVDK A Lei de Vigilância Epidemiológica determinou que compete ao Ministérioda Saúde definir a organização e as atribuições dos serviços incumbidos da ação de vigilância epidemiológica, promover a sua implantação e coordenação, além de elaborar o PNI, que define as vacinações, inclusive as de caráter obrigatório, praticadas de modo sistemático e gratuito pelos órgãos e pelas entidades públicas e privadas. Além disso, a Lei de Vigilância Epidemiológica estabeleceu ainda que os casos suspeitos e confirmados das doenças que podem requerer medidas de isolamento ou quarentena — de acordo com o Regulamento Sanitário Internacional e as constantes de relação elaborada pelo Ministério da Saúde — devem ser notificados às autoridades sanitárias, conduta também chamada de notificação compulsória. Vigilância sanitária: cultura e sociedade8 Posteriormente foi publicado o Decreto nº. 79.056, de 30 de dezembro de 1976, que determinou que a coordenação e a supervisão das ações de vigi- lância epidemiológica em todo o território nacional sejam de competência do Ministério da Saúde. Mais tarde, no começo da década de 1980, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tomou o rumo que tem hoje, com o papel de provedora das condições de saúde da população (BRASIL, 1976). As ações de vigilância sanitária, epidemiológica e de saúde do trabalhador passaram a ser competência do SUS, a partir da Constituição Federal de 1988. Com a publicação da Lei Orgânica da Saúde, a vigilância sanitária passou a ser entendia como um conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e da circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, um conceito válido até hoje que abrange: o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, relacionem-se à saúde, compreendidas todas as etapas de processo, da produção ao consumo; o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indi- retamente à saúde. Posteriormente publicada, a Lei nº. 9.782, de 26 de janeiro de 1999, definiu o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e criou a Anvisa no País (BRASIL, 1999). A Anvisa surgiu com a finalidade de promover a proteção à saúde da população pelo controle sanitário da produção e da comercialização de produtos e serviços. A Anvisa incorporou as competências da antiga Secretaria de Vigilância Sanitária, tendo como responsabilidades a formulação e a regulamentação das políticas de regulação sanitária do País, com enfoque no aumento da qualidade dos produtos e dos serviços de saúde ofertados à população. Demandas da profissão farmacêutica e exigências da vigilância sanitária No campo da assistência farmacêutica, os medicamentos são considerados produtos de saúde, úteis para promoção e prevenção da saúde e para a cura de doenças. Como estratégia para regular esse mercado, foi implantada, por meio 9Vigilância sanitária: cultura e sociedade da Lei nº. 9.782/1999, a Anvisa, cuja atribuição é autorizar, fi scalizar e interditar o funcionamento de empresas de fabricação, distribuição e importação dos pro- dutos e da comercialização de medicamentos e/ou outros produtos para a saúde. Assim, devem ser submetidos ao controle e à fiscalização sanitária pela Anvisa, por exemplo: medicamentos de uso humano; as suas substâncias ativas e demais insumos; processos e tecnologias; cosméticos; imunobiológicos e suas substâncias ativas; sangue e hemoderivados. Conforme a Resolução do Conselho Federal de Farmácia (CFF) nº. 539, de 22 de outubro de 2010 (CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA, 2010), que dispõe sobre o exercício profissional, as atribuições privativas e afins do farmacêutico nos órgãos de vigilância sanitária, a fiscalização profissional sanitária e técnica de empresas, estabelecimentos, setores, bem como fórmulas, produtos, processos e métodos farmacêuticos ou de natureza farmacêutica e de responsabilidade privativa do farmacêutico, devendo-se manter supervisão direta, não se permitindo delegação. Conforme a Resolução CFF nº. 539/2010 (CONSELHO FEDERAL DE FERMÁCIA, 2010, documento on-line): Art. 3º É privativa do farmacêutico a fiscalização profissional, técnica e sanitária no tocante a: a) Dispensação, fracionamento e manipulação de medicamentos magistrais, fórmulas magistrais e farmacopeicas; b) manipulação e o fabrico dos medicamentos galênicos e das especialidades farmacêuticas; Vigilância sanitária: cultura e sociedade10 c) estabelecimentos industriais farmacêuticos em que se fabriquem produtos que tenham indicações e/ou ações terapêuticas, anestésicos ou auxiliares de diagnóstico, ou capazes de criar dependência física ou psíquica; d) órgãos, laboratórios, setores ou estabelecimentos farmacêuticos em que se executem controle e/ou inspeção de qualidade, análise prévia, análise de controle e análise fiscal de produtos que tenham destinação terapêutica, anestésica ou auxiliar de diagnósticos ou capazes de determinar dependência física ou psíquica; e) órgãos, laboratórios, setores ou estabelecimentos farmacêuticos em que se pratiquem extração, purificação, controle de qualidade, inspeção de qualidade, análise prévia, análise de controle e análise fiscal de insumos farmacêuticos de origem vegetal, animal e mineral; f) depósitos de produtos farmacêuticos de qualquer natureza; de empresas, estabelecimentos, setores, fórmulas, produtos, processos e métodos farma- cêuticos ou de natureza farmacêutica; g) a elaboração de laudos técnicos e a realização de perícias técnico-legais relacionados com atividades, produtos, fórmulas, processos e métodos far- macêuticos ou de natureza farmacêutica. A Resolução CFF nº. 539/2010, Anexo 1, determina que compete ao far- macêutico o desenvolvimento das seguintes ações, atividades e serviços em vigilância sanitária (CONSELHO FEDERAL DE FERMÁCIA, 2010): informação, educação e comunicação em saúde — compreende a comunicação com a sociedade, as campanhas educativas em vigilância sanitária e a participação nas ações e estratégias que promovam o uso racional de medicamentos e outras tecnologias em serviços de saúde; gestão e gerenciamento em vigilância sanitária — inclui o plane- jamento, a coordenação, o acompanhamento e a avaliação das ações e atividades de vigilância sanitária, bem como a promoção das ações necessárias à apuração da veracidade das reclamações, denúncias, queixas e sugestões dos usuários; instrumentos de gestão — inclui entre eles o cadastro dos estabeleci- mentos, o plano de ação norteador das ações, a estruturação e operacio- nalização das ações em vigilância sanitária, o sistema de informações, a inspeção sanitária, a investigação sanitária de eventos e o monitoramento de produtos e serviços. 11Vigilância sanitária: cultura e sociedade O Quadro 1 apresenta os instrumentos de gestão de competência do far- macêutico no campo da vigilância sanitária. Fonte: Adaptado de Conselho Federal de Farmácia (2010). Inspeção sanitária Avalia o cumprimento da legislação vigente pelos estabelecimentos farmacêuticos, de serviços de saúde e de interesse saúde, de produtos para saúde/correlatos, de cosméticos, de produtos de higiene pessoal, perfumes e saneantes, além de outros de interesse à saúde. Avalia as condições ambientais e de trabalho, dentro dos padrões técnicos estabelecidos na legislação sanitária. Investigação sanitária de eventos Avalia as situações a serem investigadas, como: reações adversas e queixas técnicas; acidentes de trabalho; infecções hospitalares; desvios de qualidade envolvendo toda a cadeia de produtos sujeitos à vigilância sanitária. Monitoramento de produtos e serviços Ações desenvolvidas de forma sistemática, que visam proceder o acompanhamento, a avaliação e o controle, bem como dimensionar riscos, resultados e impactos, em relação a produtos e quaisquer situações de risco, de interesse da vigilância sanitária, dentro dos padrões técnicos estabelecidos nalegislação sanitária. Quadro 1. Instrumentos de gestão de competência do farmacêutico no campo da vigilância sanitária A vigilância de produtos inclui: verificar o cumprimento das boas práticas pelos estabelecimentos; coordenar, supervisionar e controlar as atividades relativas a registro, informações, inspeção, controle de riscos, estabelecimento de normas e padrões, organização de procedimentos técnicos e administrativos a fim de garantir as ações de vigilância sanitária de produtos; propor a concessão de registro, alteração, revalidação, retificação, dis- pensa ou cancelamento para os produtos previstos na legislação sanitária; Vigilância sanitária: cultura e sociedade12 coordenar, fiscalizar, controlar e supervisionar o cumprimento das normas legais e regulamentares pertinentes à vigilância sanitária de produtos; propor concessão, alteração e cancelamento de licença, autorização de funcionamento e autorização especial de funcionamento de empresas de importação, fabricação, exportação, transporte, distribuição, arma- zenagem, embalagem, fracionamento e comercialização de insumos farmacêuticos, medicamentos e de produtos para saúde, cosméticos, produtos de higiene pessoal, perfumes e saneantes; propor a instauração e a análise técnica de processo administrativo para apuração de infrações à legislação sanitária federal, referentes a insumos, medicamentos, produtos para a saúde, cosméticos, produtos de higiene pessoal, perfumes e saneantes; receber, acompanhar e avaliar as notificações de insumos, medicamen- tos, produtos para a saúde, cosméticos, produtos de higiene pessoal, perfumes e saneantes domissanitários; farmacovigilância, cosmetovigilância, hemovigilância e tecnovigilância. A Anvisa disponibiliza uma cartilha de notificações em tecnovigilância, que dá orien- tações e definições dos produtos para a saúde, efeitos adversos e gerência de risco. O material pode ser acessado por meio do link a seguir: https://goo.gl/gQ2akS A vigilância em serviços de saúde abrange: a coordenação e avaliação das ações de vigilância sanitária; a elaboração de normas de procedimentos para o funcionamento dos serviços de saúde; os mecanismos de controle e a avaliação de riscos e eventos adversos das tecnologias em serviços de saúde; a análise, emissão e assinatura de parecer técnico; a disseminação de informações e publicações. 13Vigilância sanitária: cultura e sociedade 1. A vigilância em saúde visa ao planejamento e à implementação de medidas de saúde pública para a proteção da saúde da população, a prevenção e o controle de riscos, agravos e doenças, bem como para a promoção da saúde. Com relação à vigilância em saúde, assinale a afirmativa correta. a) Está inserida somente na atenção básica. b) É realizada somente em estabelecimentos públicos de saúde. c) Objetiva controlar as doenças infectocontagiosas prioritariamente. d) Envolve também a saúde do trabalhador e a vigilância ambiental em saúde. e) Água para consumo humano, ar, acidentes com substâncias perigosas não estão entre as competências da vigilância em saúde. 2. “É o conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual e coletiva. Tem como finalidade recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos”. Sobre o conceito citado, assinale a afirmativa correta. a) Farmacovigilância. b) Vigilância ambiental em saúde. c) Vigilância da saúde do trabalhador. d) Vigilância epidemiológica. e) Vigilância sanitária. 3. A Constituição Federal de 1988, a Lei nº. 6.259/1975, a Lei nº. 8.080/1990 e a Lei nº. 9.782/1999 representaram um marco no contexto histórico da saúde pública no Brasil no sentido de criar e normatizar a vigilância sanitária. Sobre a regulação sanitária em âmbito nacional, assinale a alternativa correta. a) O PNI foi criado pela Lei nº. 9.782/1999, junto com o surgimento da Anvisa. b) A vigilância nutricional e a orientação alimentar e saúde do meio ambiente são determinações da Lei de Vigilância Sanitária. c) A saúde do trabalhador envolve ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, conforme estabelecido na Constituição Federal. d) Com a publicação da Lei nº. 8.080/1990, a vigilância sanitária passa a ser incluída dentro do campo de atuação do SUS. e) A Lei nº. 6.259/1975 definiu o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e criou a Anvisa no País. 4. Sobre as ações de vigilância em saúde, assinale a alternativa correta. a) Coordenação de programas de prevenção e controle de doenças relevantes como as doenças pulmonares. b) Coordenação de doenças e agravos transmissíveis, somente. c) Farmacovigilância. d) Farmacocinética. e) Controle dos distúrbios alimentares na população. Vigilância sanitária: cultura e sociedade14 5. Sobre a atividade privativa do farmacêutico no âmbito da vigilância sanitária, assinale a alternativa correta. a) Inspeção sanitária de estabelecimentos de saúde. b) Informação, comunicação e educação em saúde. c) Autorização de funcionamento das farmácias e drogarias. d) Expedição da autorização de funcionamento e da autorização especial. e) Fiscalização da dispensação de fórmulas magistrais. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/consti- tuicao/constituicao.htm>. 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