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<p>Disciplina: Introdução ao Antigo Testamento</p><p>Aula 9: Ketûvîm II – Reinterpretando a história de Israel</p><p>Apresentação</p><p>Nesta aula, apresentaremos a reinterpretação da História de Israel na literatura Cronista, de orientação sacerdotal</p><p>(Priesterschrift [P]).</p><p>Abordaremos as linhas gerais do Escrito sacerdotal, e analisaremos 1 Crônicas e 2 Crônicas.</p><p>Objetivos</p><p>Examinar o chamado Escrito sacerdotal (Priesterschrift);</p><p>Esclarecer o livro de I Crônicas;</p><p>Explicar o livro de II Crônicas.</p><p>Escrito sacerdotal (Priesterschrift)</p><p>Os livros de 1 e 2 Crônicas constituem um relato alternativo à história contada nos livros de 2 Samuel e 1-2 Reis, já que</p><p>contêm material que não é encontrado nos livros anteriores e, aparentemente, utiliza algumas fontes adicionais.</p><p>Esse caráter complementar, ainda que restrito, da Obra Cronista é reconhecido na Septuaginta, uma vez que ela recebe o</p><p>título de paralipômena (coisas omitidas ou coisas passadas). Apesar disso, 1 e 2 Crônicas mais do que complementa,</p><p>interpretam a tradição histórica de Israel, sendo livros que estão em diálogo com essa tradição.</p><p> Fragmento da Septuaginta - século I (Fonte: Wikimedia</p><p><https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/12/Lxx_Minorprophets.gif></p><p>)</p><p>O título da Obra Cronista na Bíblia Hebraica é divrei hayamim (os acontecimentos dos dias). O título Crônicas remonta a</p><p>Jerônimo, tradutor da Bíblia para o latim (Vulgata), que se referiu aos livros como Chronicon Totius Divinae Historiae (a</p><p>crônica completa da história divina).</p><p>1 e 2 Crônicas fornecem uma história contínua, que pode ser dividida em três partes:</p><p>1</p><p>1 Crônicas 1-9</p><p>Introdução</p><p>2</p><p>1 Crônicas 10-2 Crônicas 29</p><p>Reinos de Davi e Salomão</p><p>2</p><p>2 Crônicas 10 a 36</p><p>A história de Judá desde a separação das tribos do Norte</p><p>Uma vez que 2 Crônicas conclui com uma referência à restauração dos judeus após o exílio babilônico por Ciro da Pérsia</p><p>(2 Crônicas 36.22-23 = Esdras 1.1-3a), sabe-se que a Obra Cronista só foi completada no período pós-exílico.</p><p></p><p>Assim declaro eu, Ciro, rei da Pérsia:/'O Senhor, o Deus dos céus, deu-me todos os reinos</p><p>da terra e designou-me para construir um templo para ele em Jerusalém, na terra de</p><p>Judá. Quem dentre vocês pertencer ao seu povo vá para Jerusalém, e que o Senhor, o seu</p><p>Deus, esteja com ele.</p><p>2 Crônicas 36.23</p><p>A genealogia da casa de Davi aponta para uma data não superior a 400 a.C. Embora não haja provas conclusivas quanto</p><p>à data, o período persa tardio (início do século IV a.C.) é plausível. Observaremos como a história é influenciada em</p><p>grande medida pelas preocupações de seu tempo.</p><p>1 Crônicas</p><p>O material introdutório de 1 Crônicas 1 a 9 consiste em genealogias extensas que começam em Adão e continuam até</p><p>os tempos pós-exílicos.</p><p>As listas no capítulo inicial derivam principalmente do Gênesis e pressupõem a edição sacerdotal das histórias primitivas</p><p>e patriarcais. Essas listas são condensadas e se adiantam rapidamente para Abraão e seus descendentes.</p><p>O foco principal é nas tribos de Israel.</p><p>Os 12 Filhos de Jacó</p><p>Embora Judá esteja listado em quarto lugar entre os filhos de Jacó, a sua genealogia é apresentada primeiro e ela tem</p><p>maior extensão (2.3-4.23).</p><p>O Cronista reconhece o pecado de Er, mas ignora o episódio de Onã e o encontro de Judá e Tamar.</p><p>Algumas genealogias na lista não têm fonte bíblica: Calebe, filho de Ezron (2.18-24), Jerahmeel (2.25-41) e Calebe</p><p>novamente (2.42-50). Não sabemos se o Cronista derivou essas genealogias de outras fontes.</p><p> Primeira página de 1 Crônicas da Bíblia King James de 161 (Fonte:</p><p>kingjamesbibleonline <http://www.kingjamesbibleonline.org/1611-</p><p>Bible-KJV/2-Kings-Chapter-25-25b-1-Chronicles.jpg> )</p><p>O capítulo 3 é inteiramente dedicado à lista das gerações davídicas. Todos os governantes de Judá estão listados, exceto</p><p>Atalia, a princesa do Norte de Israel que usurpou o trono (2 Reis 11).</p><p>O mais interessante é a continuação da genealogia após o fim da monarquia. Os descendentes de Jeconias são listados</p><p>por sete gerações. Zorobabel, o governador de Judá após a restauração, está listado como o neto de Jeconias. A</p><p>extensão da lista por cinco gerações após Zorobabel coloca a obra em uma data no final do século V a.C.</p><p>Percebe-se que o autor tinha interesse em que a linhagem genealógica davídica</p><p>fosse conhecida e rastreada até o período persa.</p><p>As outras tribos que recebem proeminência nessas genealogias são Levi e Benjamim. Tais tribos permaneceram fiéis à</p><p>linhagem davídica e também foram significativas na restauração do período pós-exílico.</p><p>A linhagem levítica é tratada ao longo de 1 Crônicas 6.1-81. Benjamim também é tratado extensamente em 8.1-40.</p><p>Saul, o primeiro rei de Israel, está listado na genealogia de Benjamim, mas não recebe nenhuma ênfase particular. O</p><p>Cronista volta a Saul, no entanto, no final das genealogias em 9.35-44 — por meio de um aviso, ele prepara o leitor para</p><p>a transição para a narrativa histórica propriamente dita, que começa com a morte de Saul e a ascensão de Davi, no</p><p>capítulo 10.</p><p></p><p>O combate foi ficando cada vez mais violento em torno de Saul, até que os flecheiros o</p><p>alcançaram e feriram gravemente.</p><p>1 Crônicas 10.3</p><p>As tribos restantes são tratadas mais brevemente. A tribo de Simeão do sul e as tribos da Transjordânia (Rúben, Gade e</p><p>a meia tribo de Manassés) são discutidas entre Judá e Levi. As tribos do Norte a Oeste da Jordânia são comprimidas em</p><p>7.1-40. Há alguns problemas nessas genealogias: Zebulom e Dã são suprimidos, ao mesmo tempo em que se registra</p><p>uma genealogia intrusiva e duplicada de Benjamim. No entanto, a inclusão das tribos do Norte mostra que o Cronista</p><p>inclui Israel, mas não o equipara com o estado do Sul de Judá.</p><p> Reino de Israel, Reino de Judá e nações vizinhas. (Fonte: Wikimedia</p><p><https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1e/Kingdoms_of_Israel_and_Judah_map_830-</p><p>pt.svg> )</p><p>A introdução genealógica conclui com uma lista daqueles que retornaram para formar a comunidade pós-exílica de Judá</p><p>(1 Crônicas 9.1-44). Há nomes pertencentes às tribos de Judá, Benjamim, Efraim e Manassés. A maior parte da lista, no</p><p>entanto, é composta de sacerdotes, levitas e vários funcionários do templo. Alusões ao templo assumem grande</p><p>importância na História Cronista.</p><p>A história da Obra Cronista começa com a morte de Saul e o Cronista omite a reação de Davi à morte de Saul, mas</p><p>acrescenta a sua própria avaliação: Saul morreu por sua infidelidade e porque consultou uma necromante ao invés de</p><p>confiar no Senhor.</p><p></p><p>Saul morreu dessa forma porque foi infiel ao Senhor, não foi obediente à palavra do</p><p>Senhor e chegou a consultar uma médium em busca de orientação,/em vez de consultar o</p><p>Senhor. Por isso o Senhor o entregou à morte e deu o reino a Davi, filho de Jessé.</p><p>1 Crônicas 10.13-14</p><p>O Cronista não menciona a guerra civil entre Davi e a casa de Saul, e prossegue diretamente para a unção de Davi como</p><p>rei em Hebrom e a conquista de Jerusalém. Aqui, ele insere uma lista dos funcionários de Davi, expandida em relação à</p><p>fornecida em 2 Samuel 23.</p><p>1 Crônicas 12.1-22 menciona várias pessoas das tribos de Benjamim e Gade que se juntaram a Davi enquanto Saul</p><p>ainda estava vivo, passagem que não tem nenhum paralelo em 1 ou 2 Samuel. Há ainda outras listas mencionando as</p><p>forças de segurança de Davi, que inclui Zadoque, sacerdote, como um jovem guerreiro (12.28).</p><p></p><p>“[...] e Zadoque, um jovem e valente guerreiro, com 22 oficiais de sua família.</p><p>1 Crônicas 12.28</p><p>A decisão de trazer a arca para Jerusalém é relatada com mais detalhes na Obra Cronista do que em 2 Samuel 6. Davi</p><p>decreta que ninguém além dos levitas deve levar a arca. O Cronista fornece listas de sacerdotes e levitas que são</p><p>encarregados dessa tarefa, e também dos cantores e músicos cultuais.</p><p>Davi usava um manto de linho fino e um efode de linho. Tal fato não coincide com a imagem do rei pulando e dançando,</p><p>incorrendo assim no desprezo de sua esposa Mical (ver 2 Samuel 5.20-23). Crônicas omite a queixa de Mical e a rejeição</p><p>de Davi a ela.</p><p></p><p>Comentário</p><p>Percebe-se que a história narrada pelo Cronista é uma história</p><p>seletiva, em que episódios são ampliados e omitidos</p><p>segundo a sensibilidade do seu redator ou redatores.</p><p> Grande triunfo de Davi. Miniaturas com inscrições em latim, persa e judeu-</p><p>persa. Manuscrito medieval conhecido como Bíblia Iluminada de Morgan (por</p><p>volta de 1240 d.C.). – Fonte: themorgan</p><p><http://www.themorgan.org/sites/default/files/styles/collection_image/public/images/collection/m638_39v.j</p><p>itok=H3OBqHTF> .</p><p>O relatório do oráculo de Natã, que promete uma dinastia eterna a Davi, em 1 Crônicas 17, segue de perto 2 Samuel 7.</p><p>No entanto, existem algumas diferenças cruciais:</p><p>Crônicas não diz que o Senhor deu a Davi um descanso (e, portanto, forneceu condições adequadas para a</p><p>construção de um templo).</p><p>Não há menção de castigo em caso de pecado.</p><p>O oráculo conclui com uma promessa enfática de “confirmá-lo na minha casa e no meu reino para sempre, e seu</p><p>trono será estabelecido para sempre” (1 Crônicas 17.14).</p><p></p><p>Comentário</p><p>O uso do pronome da primeira pessoa aqui pode ser significativo. A expressão minha casa, falada por Deus, pode</p><p>ser entendida como o templo. A ligação entre a linhagem davídica ao templo é feita na Obra Cronista de uma forma</p><p>distinta à utilizada em 2 Samuel 7.</p><p>1 Crônicas 18-20 apresenta as guerras feitas por Davi, uma narrativa retirada de 2 Samuel 8,10 e 19-22. Mas há</p><p>omissões importantes na Obra Cronista:</p><p>O episódio inteiro com Bate-Seba (2 Samuel 11-12).</p><p>A violação de Tamar por Amnon e a posterior rebelião de Absalão (2 Samuel 13-19).</p><p>As histórias da bondade de Davi para o filho de Saul, Mefibosete (2 Samuel 9).</p><p>A rebelião de Seba, o benjamita (2 Samuel 20).</p><p>Os salmos de Davi em 2 Samuel 22-23.</p><p></p><p>Comentário</p><p>Há, no Cronista, uma clara tendência para evitar histórias que possam ser consideradas embaraçosas ou que</p><p>possam prejudicar a representação de Davi como um rei ideal.</p><p> Natã admoesta Davi. Pintura de Eugene Siberdt - entre 1866 e 1931.</p><p>(Fonte: Wikimedia</p><p><https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/ee/Eug%C3%A8ne_Siberdt_-</p><p>_The_Prophet_Nathan_rebukes_King_David.jpg> )</p><p>O caso mais célebre de 1 Crônicas é a história do censo de 2 Samuel 24. Várias discrepâncias chamam a atenção.</p><p>2 Samuel</p><p>Em 2 Samuel 24.1, Davi foi incitado pela ira do Senhor.</p><p>Levi e Benjamin não estão incluídos no recenseamento.</p><p>De acordo com 2 Samuel, havia 800 mil soldados em potencial em Israel e 500 mil em Judá.</p><p>Em 2 Samuel, o coração de Davi o acusa imediatamente após o recenseamento.</p><p>×</p><p>1 Crônicas</p><p>Em 1 Crônicas 21:1, é Satanás quem incita Davi a contar o povo.</p><p>Foram contados os levitas de vinte anos para cima.</p><p>Em Crônicas, existem 1.100.000 em todo o Israel.</p><p>Em Crônicas, Deus se desagrada, Israel é atacado e só então Davi se arrepende.</p><p></p><p>Comentário</p><p>A não inclusão de Benjamim e Levi em 2 Samuel pode ser devido à sua associação com Jerusalém, que</p><p>posteriormente foi isento da praga.</p><p>A discrepância na contagem em 1 Crônicas pode ser explicada da seguinte forma: é a soma do número de soldados</p><p>dados em 2 Samuel e 100.000 soldados de cada uma das duas tribos que não foram contadas.</p><p>Tanto em 1 Crônicas quanto em 2 Samuel, a compra de um terreno para a construção do futuro templo é mencionada.</p><p>Em 2 Samuel, Davi comprou o terreno por 50 siclos de prata, um valor bem baixo. Em 1 Crônicas, o preço é inflacionado:</p><p>600 shekels de ouro.</p><p> Mausoléu de Salomão em Jerusalém. (Fonte: Wikimedia</p><p><https://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/c/c9/Mausoleum_of_Nabi_Suleman.JPG></p><p>)</p><p>1</p><p>Os últimos dias de Davi na Obra Cronista são bem distintos do relato de 1 Reis 1 e 2. Não há intriga em torno da</p><p>sucessão. Salomão é o único herdeiro. Em 1 Reis 2, os conselhos de despedida de Davi advertiam seu filho a eliminar</p><p>potenciais inimigos, como Joabe. Em Crônicas, seus pensamentos estão dedicados inteiramente à tarefa de construir o</p><p>templo.</p><p>Davi facilita essa tarefa fornecendo materiais em grande quantidade. As atividades finais de Davi nos capítulos 23 a 29</p><p>não têm paralelo em 2 Samuel e refletem as preocupações do Cronista: Davi garante que o reino esteja totalmente</p><p>organizado antes de passá-lo para Salomão.</p><p>Os levitas e o culto do templo são organizados nos capítulos 23 a 26. 24 mil levitas, seis mil oficiais e juízes, quatro mil</p><p>porteiros e quatro mil músicos são postos para trabalhar, números inflados (1 Crônicas 12.28 diz que 4.600 levitas</p><p>vieram para fazer Davi rei em Hebrom — mas em Esdras 8.15-20, menos de 300 levitas retornaram da Babilônia).</p><p>Há, na Obra Cronista, relatos da organização do clero. Os sacerdotes são divididos em 24 turnos, para se revezarem no</p><p>serviço do templo, um desenvolvimento após o exílio da Babilônia. Os músicos assumem a tarefa de profetizar (1</p><p>Crônicas 25.1), o que mostra que a profecia se tornou parte da liturgia.</p><p></p><p>Além disso, Davi e os capitães do exército separaram para o serviço alguns dos filhos de</p><p>Asafe, e de Hemã, e de Jedutum, que deveriam profetizar com harpas, com saltérios, e</p><p>com címbalos; e o número dos trabalhadores, segundo o seu serviço, era:</p><p>1 Crônicas 25.1</p><p>A organização dos assuntos temporais do reino é descrita brevemente no capítulo 27. Em 1 Crônicas 28, Davi faz um</p><p>discurso aos oficiais reunidos. Ele repete a profecia feita por Natã, designa Salomão como herdeiro escolhido e identifica</p><p>sua principal tarefa como a construção do templo. Ele dá para Salomão o projeto para a edificação do templo. Há aqui</p><p>uma analogia clara com Moisés, que recebe um projeto para a edificação do tabernáculo no livro do Êxodo.</p><p> Planta do templo de Salomão. (Fonte: Wikimedia</p><p><https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/35/SolomonsTemple.png></p><p>)</p><p>Em 1 Crônicas 29, Davi orienta seus súditos a contribuírem com o templo, e dá sua colaboração de seu tesouro pessoal.</p><p>Aqui novamente há uma analogia com o Êxodo, em que as pessoas são convocadas para fazer ofertas para o tabernáculo</p><p>(Êxodo 25.1-7; 35.4-9, 20-29). Davi conclui com uma oração em que ele louva a Deus, agradece a abundância das</p><p>oferendas feitas e ora pelo povo e por Salomão.</p><p>A conclusão de 1 Crônicas consiste de um resumo do reinado de Davi e uma lista de supostas fontes: os registros do</p><p>vidente Samuel, do profeta Natã e de Gade, o vidente. Não há dúvida de que a principal fonte atual foi 2 Samuel. Ao</p><p>afirmar que sua fonte era a obra dos profetas que eram contemporâneos de Davi, o Cronista está fazendo uma forte</p><p>afirmação teológica e, ao mesmo tempo, pleiteia legitimidade para o seu relato.</p><p>2 Crônicas</p><p>2 Crônicas faz, inicialmente, o relato do reinado de Salomão. Tal narrativa é idealizada de forma semelhante à</p><p>relacionada a Davi, e se concentra na construção do templo. A história começa com o pedido de Salomão a Deus: ele</p><p>pede a Yahweh sabedoria.</p><p></p><p>Dá-me sabedoria e conhecimento, para que eu possa liderar esta nação, pois quem pode</p><p>governar este teu grande povo?</p><p>2 Crônicas 1.10</p><p>A escolha de Gibeão é justificada pela afirmação de que a tenda da reunião estava lá (em 1 Reis 3.4, Gibeão era o</p><p>grande lugar alto). Nada é dito sobre a eliminação de seus rivais por Salomão (1 Reis 2). Tampouco há menção ao</p><p>julgamento das duas mulheres que reivindicaram o mesmo filho (1 Reis 3.16-28). Salomão é apresentado em Crônicas</p><p>como um modelo de piedade, tendo dignidade para construir o templo.</p><p>Em 2 Crônicas 2, Salomão volta sua atenção para a construção do templo. Como em 1 Reis, ele faz um acordo com Hirão</p><p>de Tiro para obter suprimentos de madeira e artesãos. De acordo com 1 Reis 9.20-22, Salomão recrutou os amorreus e</p><p>outros povos que foram deixados na terra para o trabalho escravo, mas não escravizou os israelitas. Em 1 Reis 5.13, no</p><p>entanto, lemos que Salomão recrutou para o trabalho forçado trinta mil homens.</p><p> Representação artística da dedicação do templo por Salomão. Pintura de</p><p>James Tissot (1896-1902). (Fonte: Wikimedia</p><p><https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/0a/Tissot_Solomon_Dedicates_the_Temple_at_Jerusalem</p><p>)</p><p>A construção do templo (2 Crônicas 3.1-5.1) é o centro do relato do Cronista sobre Salomão.</p><p></p><p>Então Salomão começou a construir o templo do Senhor em Jerusalém, no monte</p><p>Moriá,</p><p>onde o Senhor havia aparecido a seu pai Davi, na eira de Araúna, o jebuseu, local que</p><p>havia sido providenciado por Davi.</p><p>2 Crônicas 3.1</p><p>Ao contrário do relato Deuteronomista em 1 Reis, o Cronista atribui grande importância à localização do templo. O</p><p>templo é edificado no Monte Moriá, cena do sacrifício de Isaque, e na eira de Ornã, o jebuseu, onde o Senhor apareceu</p><p>para Davi e designou aquele local como lugar para edificação do templo (em 1 Crônicas 21, é o anjo do Senhor que</p><p>aparece para Davi).</p><p>2 Crônicas 5.2-7.22</p><p>Relato da dedicação do templo e introdução da arca.</p><p>2 Crônicas 6.3-11</p><p>Discurso de Salomão após a introdução da arca, abençoando a assembleia e agradecendo a Deus pela realização de</p><p>algumas das promessas feitas a Davi.</p><p>2 Crônicas 6.12-42</p><p>Oração de Salomão, em que ele afirma que o templo não é a morada de Deus, mas o lugar onde as pessoas podem</p><p>trazer suas petições.</p><p>2 Crônicas 7.1-11</p><p>A conclusão das cerimônias.</p><p>Yahweh, ao fim do texto, aparece novamente a Salomão à noite, como aconteceu em Gibeão (7.12-22), confirmando a</p><p>escolha do lugar como uma casa de sacrifício e afirmando que ele estabelecerá o trono de Salomão se for obediente</p><p>como Davi.</p><p>2 Crônicas 8 resume os outros projetos de construção de Salomão. Só aqui se sabe de seu casamento com a filha de</p><p>Faraó.</p><p></p><p>Salomão levou a filha do faraó da Cidade de Davi para o palácio que ele havia construído</p><p>para ela, pois dissera: Minha mulher não deve morar no palácio de Davi, rei de Israel, pois</p><p>os lugares onde entrou a arca do Senhor são sagrados.</p><p>2 Crônicas 8.11</p><p>O capítulo 9 relata a visita da rainha de Sabá e enfatiza a riqueza de Salomão. No entanto, não há menção em Crônicas</p><p>de seu amor pelas mulheres estrangeiras ou pela multidão de suas esposas (1 Reis 11). Como no caso de Davi, o</p><p>Cronista afirma ter extraído sua informação dos escritos dos profetas.</p><p></p><p>Saiba mais</p><p>Leia 1 Reis 10 <https://www.bibliaon.com/1_reis_10/> .</p><p> Roboão. Fragmento da pintura no muro da Câmara do Conselho Municipal</p><p>da Basileia. Pintura de Hans Holbein, o jovem, 1529. (Fonte: Wikimedia</p><p><https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/eb/Rehoboam._Fragment_of_Wall_Painting_from_Basel_</p><p>)</p><p>Em Reis, Yahweh decide dividir o reino de Salomão porque ele se afastou da fidelidade a Deus sob a influência de suas</p><p>muitas esposas. Essa apostasia não é mencionada em Crônicas. O Cronista afirma que o reino se dividiu porque Roboão,</p><p>filho de Salomão, se recusou a aliviar a carga dos seus súditos, mas condena o ato:</p><p></p><p>Então Israel está em rebelião contra a casa de Davi até hoje.</p><p>2 Crônicas 10.18-19</p><p>Apesar dessa afirmação, no entanto, Crônicas não identifica simplesmente Israel com o reino do Norte. 2 Crônicas 11.3</p><p>refere-se a “todo o Israel em Benjamim e Judá”. Depois disso, 2 Crônicas dá pouca atenção ao reino do Norte, exceto na</p><p>medida em que este coloca obstáculos a Judá. O Cronista não compartilha da obsessão do Deuteronômio com o pecado</p><p>de Jeroboão na criação de lugares de culto fora de Jerusalém.</p><p>Os últimos anos de Judá são narrados mais brevemente em Crônicas do que em 2 Reis. A História Deuteronomista</p><p>denunciou os pecados de Manassés (2 Reis 24.3). O Cronista culpou a infidelidade de governantes, sacerdotes e do povo</p><p>na recusa em ouvir os profetas. A profanação e destruição do templo fornece uma conclusão apropriada para a história</p><p>do Cronista. No entanto, o livro termina com uma nota esperançosa, apontando para a restauração sob Ciro da Pérsia. O</p><p>último verso de Crônicas é também o primeiro verso do livro de Esdras.</p><p></p><p>Assim declaro eu, Ciro, rei da Pérsia: 'O Senhor, o Deus dos céus, deu-me todos os reinos</p><p>da terra e designou-me para construir um templo para ele em Jerusalém, na terra de</p><p>Judá. Quem dentre vocês pertencer ao seu povo vá para Jerusa lém, e que o Senhor, o seu</p><p>Deus, esteja com ele.</p><p>2 Crônicas 10.18-19</p><p> Relevo de Ciro publicada em Illustrerad världshistoria utgifven av E. Wallis,</p><p>volume I. (Fonte: Wikimedia</p><p><https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2e/Illustrerad_Verldshistoria_band_I_Ill_058.jpg></p><p>)</p><p>As preocupações centrais de 1 e 2 Crônicas são muito evidentes.</p><p>A aliança com Davi é fundamental, e o Norte de Israel é culpado por não respeitá-la. O foco dessa aliança está no</p><p>templo. O cuidado apropriado do templo é a responsabilidade dos sacerdotes e dos levitas, e o Cronista nunca se cansa</p><p>de enfatizar os papéis do clero. Quando o culto é devidamente mantido e praticado, tudo está bem. A apostasia, a</p><p>adoração de outros deuses e outras irregularidades levam ao desastre.</p><p>Existe um princípio de retribuição na narrativa histórica cronista.</p><p>Obediência</p><p>A morte pacífica de Manassés deve ser explicada por sua conversão.</p><p>Desobediência</p><p>A morte violenta do reformador Josias é evidência da sua insubordinação.</p><p>Os profetas são figuras proeminentes na História Cronista, mas sua função é limitada a lembrar as pessoas o que elas já</p><p>sabem por meio da Torah. Alguns dos profetas são identificados como levitas.</p><p>A música do templo está associada à profecia, e os profetas são creditados na</p><p>compilação de registros históricos.</p><p>O Cronista está preocupado com Israel, que inclui o território do Norte, mas ele mostra pouco interesse no reino do Norte</p><p>e não se preocupa em denunciar sua destruição. Os reis da Judeia são criticados por fazerem alianças com seus</p><p>homólogos do Norte, já que essas alianças levam apenas à apostasia.</p><p></p><p>Saiba mais</p><p>Veja o esboço Básico dos Livros de 1 e 2 Crônicas <galeria/aula9/anexo/a9_doc1.pdf> .</p><p>Atividade</p><p>1. Explique a teoria da Obra Cronista como paraleipoménon, como midrash e como interpretação.</p><p>2. Quais são as três partes que compõem as obras de 1 e 2 Crônicas?</p><p>3. No início da narrativa histórica da Obra Cronista, a morte de Saul, há algumas omissões e acréscimos em relação</p><p>à 2 Samuel. Descreva, em linhas gerais, que omissões e acréscimos são esses.</p><p>4. O livro de 2 Crônicas trata, entre outras coisas, da responsabilidade de Salomão de construir o templo. Assinale a</p><p>alternativa que melhor justifica a razão de Salomão estar apto a cumprir a tarefa de construir o templo de</p><p>Jerusalém.</p><p>a) 2 Crônicas apresenta Salomão como um modelo de sabedoria, tendo condição intelectual para construir o</p><p>templo.</p><p>b) 2 Crônicas apresenta Salomão como um modelo de administração, tendo recursos para construir o templo.</p><p>c) 2 Crônicas apresenta Salomão como um modelo de justiça, tendo condição moral para construir o templo.</p><p>d) 2 Crônicas apresenta Salomão como um modelo de filho, tendo recebido de seu pai a incumbência de construir</p><p>o templo.</p><p>e) 2 Crônicas apresenta Salomão como um modelo de piedade, tendo dignidade para construir o templo.</p><p>Notas</p><p>Satanás</p><p>Em 1 Crônicas, Satanás ainda não é apresentado como o diabo que aparece na crença judaica e cristã posteriores, mas ele é um</p><p>adversário que coloca as pessoas à prova. Nós já o encontramos em Zacarias 3. Sua aparição mais famosa na Bíblia Hebraica</p><p>está no livro de Jó. Nada mais é dito sobre o seu papel aqui.</p><p>Referências</p><p>ALTER, Robert; KERMODE, Frank. Guia literário da Bíblia. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1997.</p><p>GOTTWALD, Norman K. Introdução socioliterária à Bíblia hebraica. 2. ed. São Paulo: Paulus Editora, 1997.</p><p>HILL, Andrew E; WALTON, John H. Panorama do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Acadêmica, 2006.</p><p>SCHMIDT, Werner H. Introdução ao Antigo Testamento. 5. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2013.</p><p>Próximos Passos</p><p>Lendo a Torah em um mundo hostil;</p><p>Gênero apocalíptico;</p><p>Daniel.</p><p>Explore mais</p><p>Saiba mais sobre o gênero literário de 1 e 2 Crônicas <galeria/aula9/anexo/a9_doc2.pdf> .</p><p>1</p>