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<p>1</p><p>MODELOS DE TERAPIA FAMILIAR</p><p>1</p><p>Sumário</p><p>NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 2</p><p>Introdução ........................................................................................................ 3</p><p>Terapia Familiar ............................................................................................... 4</p><p>Tipos de Terapia Familiar ................................................................................ 6</p><p>Modelos de Terapias Familiar.......................................................................... 7</p><p>Funcionamento da Terapia Familiar .............................................................. 11</p><p>Ao final da sessão é comum que a família receba tarefas a serem realizadas</p><p>em casa até a próxima consulta. No início da sessão seguinte, cada membro</p><p>é convidado a resumir os avanços da terapia até o momento e quais as</p><p>mudanças já obtidas. ..................................................................................... 12</p><p>O Surgimento da Terapia Familiar: Ideias Precursoras ................................. 15</p><p>O Campo da Terapia Familiar: Enfoque Sistêmico X Enfoque Psicanalítico . 18</p><p>1.1 O Enfoque Sistêmico ............................................................................ 18</p><p>Escola Transgeracional............................................................................ 22</p><p>7.2 O Enfoque Psicanalítico .......................................................................... 29</p><p>Articulação dos Diferentes Enfoques ............................................................. 30</p><p>Conclusão ...................................................................................................... 33</p><p>10. Referências.............................................................................................. 34</p><p>2</p><p>NOSSA HISTÓRIA</p><p>A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,</p><p>em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-</p><p>Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo</p><p>serviços educacionais em nível superior.</p><p>A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de</p><p>conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação</p><p>no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.</p><p>Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que</p><p>constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de</p><p>publicação ou outras normas de comunicação.</p><p>A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma</p><p>confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base</p><p>profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições</p><p>modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,</p><p>excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.</p><p>3</p><p>Introdução</p><p>Na amplitude da ciência psicológica, entende-se por terapia ou abordagem</p><p>sistêmica um conceito utilizado para se referir aos diferentes segmentos sociais em</p><p>que o sujeito encontra-se inserido, isto é, no contexto familiar, social, escolar,</p><p>comunitário. Nessa perspectiva, esses segmentos se envolvem mutuamente e</p><p>formam um sistema em relação.</p><p>Assim, o trabalho sistêmico pode ser indicado para todas as faixas etárias, e</p><p>visa escutar e acolher o sofrimento psíquico do sujeito ou alguma forma de dificuldade</p><p>emocional nesses contextos sistêmicos. Nesse sentido, o procedimento terapêutico</p><p>pode ser realizado de modo individual, com casais, ou familiar.</p><p>O processo terapêutico tem o objetivo de intervir de modo intenso e por tempo</p><p>limitado, com o intuito modificar o padrão de relacionamento intra ou extrafamiliar.</p><p>Esse trabalho pode ser realizado através de uma reflexão sobre suas questões</p><p>individuais, seus processos de convivência familiar ou com o seu cônjuge. As técnicas</p><p>utilizadas na abordagem sistêmicas são pautadas no aqui e agora, ou seja, no intuito</p><p>de estabelecer uma aliança em terapeuta, e contribuir para a melhoria da</p><p>comunicação nos relacionamentos interpessoais sistêmicos.</p><p>A princípio, o referencial da Terapia Sistêmica pautou-se exclusivamente ao</p><p>atendimento às famílias. Porém, com o desenvolvimento científico, metodológico e</p><p>prático da abordagem, a teoria foi se reestruturando para também compreender o</p><p>funcionamento dos sujeitos em seus contextos individuais, bem como na realização</p><p>da clínica individual.</p><p>4</p><p>Terapia Familiar</p><p>O principal conceito da Terapia Familiar Sistêmica surgiu da contribuição de</p><p>muitos autores e das mais diversas áreas do saber. Nascida na década de 1950, a</p><p>Terapia familiar teve como seus principais precursores: pensadores, assistentes</p><p>sociais e psicólogos, psiquiatras, biólogos, físicos; entre outros. Como exemplo, pode-</p><p>se citar Salvador Minuchin; médico psiquiatra que, com sua visão da família como um</p><p>sistema vivo colocou o sistema familiar e delimitou-o em seus subsistemas.</p><p>Demonstrou assim como sua estrutura impelia resistência à mudança e tendia a</p><p>buscar constantemente a homeostase, ou seja, a estabilidade do sistema. Essas</p><p>iniciativas, no entanto, podem ser consideradas apenas como ações isoladas que só</p><p>posteriormente foram se desenvolvendo. Nichols e Schwartz (2007) definem as</p><p>etapas de desenvolvimento da terapia familiar dizendo que ela nasceu na década de</p><p>1950, cresceu nos anos 1960 e ficou adulta na década de 1970. Portanto, a terapia</p><p>familiar recebeu definições e nomenclaturas mais específicas, como sistêmica,</p><p>estratégica, estrutural, boweniana, experiencial somente a partir da década de 70.</p><p>(NICHOLS; SCHWARTZ, 2007).</p><p>A terapia familiar é uma terapia realizada em grupo de modo a construir e</p><p>desenvolver o diálogo entre os membros familiares e assim auxiliar na resolução de</p><p>problemas e na conquista de relações respeitosas, harmoniosas e saudáveis. A</p><p>terapia familiar surgiu dos problemas da clínica psiquiátrica ligados a certos impasses</p><p>pragmáticos que a realidade cotidiana colocava aos terapeutas. Aparece como um</p><p>recurso diante de realidades inextrincáveis por meio da criação de acontecimentos</p><p>singulares: inscrevendo-se no tempo e no espaço, modificando a evolução da família;</p><p>5</p><p>estabelecendo uma conexão entre a semiologia do corpo e a do espírito; dos modos</p><p>de conduta, emoção e pensamento de microssistemas familiares. A terapia familiar é</p><p>composta por vários modelos, em que cada um deve ser visto como um sistema em</p><p>si mesmo que funcionam como uma espécie de quadro, de guia de leitura e</p><p>intervenção que fixa o objeto de estudo sem se confundir com ele (MIERMONT,</p><p>1994).</p><p>São discutidos problemas como: Conflitos de geração, uso de drogas,</p><p>alcoolismo, discordâncias em relação à criação dos filhos, quadros de depressão,</p><p>bulimia, anorexia e diversos outros podem levar a família a procurar a ajuda do</p><p>terapeuta. O terapeuta familiar pode oferecer uma melhora das interações no interior</p><p>do sistema familiar e fazer um processo de recodificação de mensagens, onde</p><p>possibilita a maior compreensão nas suas comunicações. Também pode facilitar uma</p><p>busca e descoberta de novos caminhos de relação sistêmica, incitar a todos para</p><p>atuarem e descobrirem onde convém introduzir mudanças para favorecer uma</p><p>evolução e um amadurecimento ao paciente identificado e em todo sistema.</p><p>Para Carneiro (1996) a terapia desenvolvida a partir deste enfoque enfatiza a</p><p>mudança no sistema familiar, sobretudo pela reorganização da comunicação entre os</p><p>membros da família. O passado é abandonado como questão central, pois o foco de</p><p>atenção é o modo comunicacional no momento atual. A unidade terapêutica se</p><p>desloca de duas pessoas para três ou mais à medida em que a família é concebida</p><p>como tendo</p><p>uma organização e uma estrutura. É dada uma ênfase a analogias de</p><p>uma parte do sistema com relação a outras partes, de modo que a comunicação</p><p>analógica é mais enfatizada que a digital. Entre os principais objetivos da terapia</p><p>familiar estão:</p><p> Promover o autoconhecimento em nível individual e familiar;</p><p> Compreender a importância do diálogo e do respeito ao outro;</p><p> Reconhecer os padrões que geram os comportamentos;</p><p> Melhorar a comunicação e as relações entre os membros da família;</p><p>6</p><p> Compreender o papel de cada indivíduo no bom funcionamento da dinâmica</p><p>familiar;</p><p> Aumentar a responsabilidade pessoal;</p><p> Favorecer mudanças construtivas de forma a harmonizar o ambiente familiar.</p><p>Tipos de Terapia Familiar</p><p>Como todo tratamento terapêutico, a terapia familiar também possui diversas</p><p>escolas e técnicas que podem direcionar a ação do terapeuta. A mais comum é a</p><p>escola sistêmica, seguida pelas escolas transgeracional, estrutural e estratégica.</p><p>A escola sistêmica vê as relações familiares como um sistema de interações no</p><p>qual a família é tida como mais do que a soma de suas partes e os problemas são</p><p>consequências de falhas nessas interações e não erros individuais.</p><p>A escola transgeracional busca no passado os padrões repetitivos e</p><p>disfuncionais que provocam as relações conflituosas no presente. Assim, há um foco</p><p>grande na estrutura de toda a família e na compreensão de como cada relação se dá</p><p>nesse contexto.</p><p>A escola estrutural busca alterar as posições de cada elemento da família de</p><p>modo a promover reflexões e mudanças na experiência diária. Já a escola estratégica</p><p>tem uma abordagem mais prática e mais limitada a um problema específico na</p><p>dinâmica familiar, buscando identificar os padrões de interação que provocam esse</p><p>conflito.</p><p>7</p><p>A psicoterapia trata problemas psicológicos por meio da fala. Mas para que o</p><p>paciente consiga expor tudo que o aflige ao terapeuta, ele precisa se identificar não</p><p>só com o profissional, mas, também, com seu método que, muitas vezes, pode ser</p><p>incômodo, já que se aprofunda na dor para conseguir aliviá-la. “O mais importante é</p><p>a identificação do paciente com o terapeuta. O vínculo</p><p>bom quer dizer que a terapia está funcionando”, diz</p><p>Juliana Orrico, psicóloga especialista em transtornos</p><p>alimentares pelo HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da</p><p>Faculdade de Medicina da USP).</p><p>E como saber se você precisa ou não de terapia?</p><p>A recomendação é observar se há algum sintoma</p><p>ou comportamento que atrapalha sua rotina pessoal ou</p><p>profissional. Quando o paciente percebe que não está</p><p>dando conta de lidar com as angústias, as frustrações,</p><p>as mudanças de comportamento e com o desconforto</p><p>emocional, aí cabe a ajuda de um terapeuta, tanto para</p><p>uma pessoa quanto para família ou casais. Se você se encaixa no grupo que precisa</p><p>de ajuda, resta saber qual abordagem de psicoterapia tem mais a ver com você.</p><p>Então, veja a seguir os principais tipos e suas características.</p><p>Modelos de Terapias Familiar</p><p>Psicanálise</p><p>O que é: essa é a famosa terapia criada por Sigmund Freud. O médico descobriu que</p><p>muitos sintomas de sofrimento mental desapareciam quando a pessoa acessava</p><p>conteúdos inconscientes da mente. É por isso que nessa técnica, o paciente deita no</p><p>divã e fala abertamente sobre seus pensamentos, fantasias, emoções e sonhos ao</p><p>analista. A ideia é que, ao ouvir o paciente, o profissional proponha significados,</p><p>auxiliando na interpretação e na compreensão do que aqueles pensamentos</p><p>representam. Período de duração: geralmente é longa; pode durar de meses a anos.</p><p>8</p><p>Jungiana</p><p>O que é: também conhecido como psicoterapia analítica,</p><p>esse tipo de abordagem usa os sonhos e seus simbolismos</p><p>como base de tudo. Carl Gustav Jung, criador desse tipo</p><p>de terapia, dizia que cada símbolo do sonho tem um</p><p>significado diferente para cada paciente, então, nesse</p><p>método, o analista ajuda o paciente a acessar o</p><p>inconsciente e a encontrar as respostas de que precisa por</p><p>meio de seus sonhos. Miniaturas na caixa de areia e desenhos ajudam a montar os</p><p>cenários. Período de duração: também costuma durar anos.</p><p>Lacaniana</p><p>O que é: apesar de parecida com a psicanálise,</p><p>costuma ser mais ortodoxa. Cada palavra dita pelo</p><p>paciente é meticulosamente interpretada pelo analista,</p><p>que interrompe a sessão quando achar prudente,</p><p>deixando o paciente refletindo sobre o que foi falado.</p><p>Período de duração: é variável, mas as sessões podem</p><p>durar de dez minutos a duas horas.</p><p>Cognitivo-comportamental</p><p>O que é: essa abordagem avalia o comportamento, ao</p><p>invés do inconsciente. O terapeuta identifica os</p><p>sintomas, analisa o problema e atua sobre os</p><p>pensamentos disfuncionais. Essa terapia acredita que é</p><p>possível modificar a crença distorcida das coisas, por meio de treino e pensamentos</p><p>funcionais. O paciente aprende a reagir aos estímulos do meio. Período de duração:</p><p>costuma ser mais curta e pode durar de 12 a 20 sessões.</p><p>9</p><p>Analítico-Comportamental</p><p>O que é – Ligada ao behaviorismo, a terapia</p><p>monitora e modifica as relações com o ambiente. Trabalha com reforços positivos</p><p>para mudar os comportamentos que atrapalham a vida.</p><p>Para quem é indicado – Funciona bem para quem tem ansiedade, pânico, fobia social,</p><p>depressão, dependência química e problemas de aprendizagem.</p><p>Duração – Até dez sessões de avaliação, sessões semanais de tratamento que</p><p>podem durar de poucos meses há alguns anos, dependendo da gravidade, e três</p><p>encontros de encerramento.</p><p>Psicodrama</p><p>O que é: por meio da encenação, o paciente é</p><p>capaz de enxergar sua história, refletir e trabalhar</p><p>suas angústias a partir de um outro ponto de vista.</p><p>A ideia é que as emoções sejam externadas, para</p><p>que seja mais fácil enxergá-las. Período de</p><p>duração: também é variável.</p><p>10</p><p>Gestalt-terapia</p><p>O que é – Para os gestaltistas, os pacientes</p><p>devem ser analisados em relação ao meio</p><p>em que vivem, amigos, família e trabalho, e</p><p>suas atitudes nesse meio. O terapeuta</p><p>ouve o cliente, mas presta atenção em</p><p>gestos, postura, tom de voz e expressões</p><p>faciais. A terapia é focada no presente.</p><p>Para quem é indicada – Sabe a sensação</p><p>de estar estagnado, entediado? A gestalt-</p><p>terapia acredita que isso é causado por uma relação pouco saudável com o ambiente que</p><p>nos cerca.</p><p>Duração – De meses a anos, conforme a evolução do tratamento.</p><p>Terapia familiar ou de casal</p><p>O que é: essa abordagem enxerga o paciente dentro</p><p>de um sistema, como o meio em que ele vive, a família</p><p>e relações --ou seja, trabalha o indivíduo em seu</p><p>contexto. Pode ser feita individualmente, em casal ou</p><p>em família e é indicada quando há risco de ruptura</p><p>familiar, doenças físicas ou metais graves em algum</p><p>membro da família ou dificuldades sexuais ou de</p><p>comunicação entre casais. Período de duração:</p><p>também é variável.</p><p>11</p><p>EMDR</p><p>O que é – A terapia faz o paciente simular o</p><p>movimento dos olhos durante o sono REM. A ideia</p><p>é que, quando isso acontece, o cérebro consegue</p><p>reconstruir o caminho das memórias ruins de</p><p>eventos traumáticos, que são processados e</p><p>superados.</p><p>Para quem é indicada – Vítimas de acidentes, violência sexual e outros traumas.</p><p>Pessoas com problemas crônicos, como fobias, depressão e até obesidade, também</p><p>podem se beneficiar do método.</p><p>Duração – Poucos meses.</p><p>Funcionamento da Terapia Familiar</p><p>As sessões costumam durar em média 50 a 60 minutos e ocorrerem mensalmente.</p><p>No entanto, isso varia de acordo com a avaliação do terapeuta e da família. Todos os</p><p>membros convidados para a sessão se dispõem em cadeiras, organizadas na forma</p><p>de um círculo, em um ambiente confortável e iluminado. A decoração do ambiente</p><p>tende a ser lúdica e conter brinquedos para que as crianças se sintam mais</p><p>confortáveis.</p><p>12</p><p>Ao final da sessão é comum que a família receba tarefas a serem realizadas</p><p>em casa</p><p>até a próxima consulta. No início da sessão seguinte, cada membro é convidado a</p><p>resumir os avanços da terapia até o momento e quais as mudanças já obtidas.</p><p>O ideal é que todos os membros participem da terapia familiar, mas é compreensível</p><p>que alguns não estejam disponíveis ou que não desejem participar. Dependendo da</p><p>situação, o terapeuta pode indicar a necessidade de algum membro se unir às</p><p>sessões, podendo ser convidado a qualquer momento.</p><p>Características da Terapia</p><p>Na primeira sessão, o profissional explica à família como é o seu trabalho e que papel</p><p>exercerá no acompanhamento psicoterapêutico. Nessa mesma conversa, todos os</p><p>membros da família contam por que decidiram buscar a ajuda profissional, apontando</p><p>suas queixas, problemáticas, conflitos e dificuldades.</p><p>A regularidade das sessões vai depender da necessidade de cada família, podendo</p><p>ser semanais, quinzenais e até mensais. É importante que o que for trabalhado nas</p><p>sessões seja analisado posteriormente pelos membros da família, assim como</p><p>colocadas em práticas as orientações passadas pelo psicólogo.</p><p>São situações muito delicadas e que exigem um profissional treinado. Na terapia</p><p>familiar, o psicólogo terá de lidar com situações como:</p><p> Problemas comportamentais em crianças e adolescentes;</p><p> Luto;</p><p> Depressão e ansiedade;</p><p> Questões LGBT;</p><p> Violência doméstica;</p><p> Infertilidade;</p><p> Conflitos conjugais</p><p> Abuso de substâncias;</p><p> E muitas outras questões delicadas.</p><p>Para tratar estes e outros problemas familiares, o psicólogo deve:</p><p> Observar como as pessoas interagem dentro da unidade familiar;</p><p>13</p><p> Avaliar e resolver problemas de relacionamento;</p><p> Diagnosticar e tratar distúrbios psicológicos dentro de um contexto</p><p>familiar;</p><p> Orientar as pessoas através de crises de transição, como divórcio ou</p><p>morte;</p><p> Destacar padrões relacionais ou comportamentais problemáticos;</p><p> Ajudar a substituir comportamentos disfuncionais por alternativas</p><p>saudáveis;</p><p> Fazer uma abordagem holística (mente-corpo) visando o bem-estar.</p><p>Como atua o terapeuta?</p><p>O psicólogo pode trabalhar sozinho, ou então, ter um parceiro. Nessa conduta,</p><p>chamada de coterapia, o recomendável é que seja um homem e uma mulher, porque,</p><p>se houver dois homens ou duas mulheres pode gerar desconforto.</p><p>Quando o terapeuta detectar momentos de tensão, é necessário fazer uma pausa,</p><p>onde os envolvidos saiam da sala em conjunto. Essa pausa é para que o profissional</p><p>também consiga recuperar sua energia e reestruture a dinâmica.</p><p>Acompanhe como é estruturada uma terapia familiar:</p><p>1ª Sessão</p><p>A primeira sessão, o terapeuta explica a família como será o trabalho dele, e que a</p><p>conversa poderá ser observada através de um espelho, ou então, filmada, deixando</p><p>claro que essas intervenções serão adotadas somente com a autorização dos</p><p>envolvidos.</p><p>O segundo passo é questionar a todos os membros da família quais motivos os</p><p>levaram a procurar ajuda. Aconselha-se que a mãe deixada por última, porque</p><p>geralmente, ela tem mais informações.</p><p>2ª Sessão</p><p>A segunda sessão é realizada quinze dias depois. Esse tempo é necessário para a</p><p>família analisar se vale ou não continuar com a terapia. A decisão deve ser tomada</p><p>em conjunto, levando em consideração a empatia com o (s) terapeuta (s).</p><p>14</p><p>O terapeuta pede que a família faça um retrospecto da sessão anterior. Dessa forma,</p><p>o profissional vê como estão os ânimos, e se as prescrições feitas na primeira sessão</p><p>estão sendo cumpridas.</p><p>As demais sessões</p><p>As futuras sessões são realizadas a cada três semanas ou mensalmente. A</p><p>periodicidade varia conforme de acordo com as características da família, bem como</p><p>sua evolução. Ao longo do processo, o profissional pode estipular etapas de</p><p>manutenção, que podem ser trimestrais ou semestrais.</p><p>Benefícios da Terapia familiar</p><p>A terapia familiar visa resolver problemas e disfunções a fim de que a família possa</p><p>se tornar uma unidade segura para todos os seus membros, gerando bem-estar e</p><p>saúde para todos.</p><p>Nela as famílias podem trabalhar em seus problemas com a orientação de um</p><p>profissional de saúde em um ambiente seguro e controlado. Dentre os principais</p><p>benefícios, podemos enumerar os seguintes:</p><p> Melhora a comunicação aprimorada;</p><p> Ajuda as pessoas a resolverem melhor seus problemas;</p><p> Gera empatia profunda</p><p> Reduz conflito e melhora habilidades de controle da raiva;</p><p> Reúne a família depois de uma crise;</p><p> Cria honestidade entre os membros da família;</p><p> Incute confiança nos membros da família;</p><p> Desenvolve um ambiente familiar de apoio;</p><p> Reduz fontes de tensão e estresse dentro da família;</p><p> Ajuda os membros da família a perdoar um ao outro;</p><p> Resolve conflitos;</p><p> Traz de volta familiares que foram isolados;</p><p> E muitos outros benefícios.</p><p>15</p><p>Além disso, a terapia familiar pode melhorar as habilidades necessárias de</p><p>cada indivíduo para o funcionamento familiar saudável, incluindo</p><p>comunicação, resolução de conflitos e resolução de problemas.</p><p>O Surgimento da Terapia Familiar: Ideias Precursoras</p><p>A terapia familiar evoluiu a partir de uma multiplicidade de influências tendo</p><p>recebido contribuições de diferentes áreas do conhecimento. Desde o início da</p><p>formulação da psicanálise, Freud considerou e ressaltou em seus estudos as relações</p><p>familiares. Em "Fragmento da Análise de um Caso de Histeria" (1905), ele afirma que</p><p>devemos prestar tanto atenção às condições humanas e sociais dos enfermos quanto</p><p>aos dados somáticos e aos sintomas patológicos, ressaltando que o interesse do</p><p>psicanalista deve dirigir-se sobretudo para as relações familiares dos pacientes.</p><p>Freud faz referência à família em vários outros momentos de sua obra. Em</p><p>uma das suas Conferências ele se refere às resistências externas, emergentes das</p><p>circunstâncias do paciente, de seu ambiente, que interferem no processo analítico e</p><p>que podem explicar um grande número de fracassos terapêuticos. Ressalta que,</p><p>muitas vezes, quando a neurose tem relação com os conflitos entre os membros de</p><p>uma família, os membros sadios preferem não prejudicar seus próprios interesses do</p><p>que colaborar na recuperação daquele que está doente. Todavia, apesar da</p><p>preocupação com as relações familiares e da importância que atribui a elas, Freud,</p><p>como sabemos, não desenvolveu uma teoria da família nem tampouco uma técnica</p><p>de atendimento familiar.</p><p>No final da primeira metade do século, após a publicação em 1948, por Norbert</p><p>Wiener do livro Cybernetics, várias ciências começaram a enfatizar os sistemas</p><p>homeostáticos com processos de retroalimentação (feedback) que tornam os</p><p>sistemas autocorretivos. Assim, desenvolvimentos teóricos da Biologia, da</p><p>Sociologia, da Antropologia, da Informática, da Teoria Geral dos Sistemas,</p><p>influenciaram significativamente as primeiras formulações da teoria e da técnica do</p><p>trabalho terapêutico com famílias.</p><p>Na área "psi", podemos ressaltar algumas postulações teóricas de autores que</p><p>colaboram para o surgimento da terapia familiar. Um importante precursor, sem</p><p>16</p><p>dúvida, foi Adler que enfatiza, na sua teoria do desenvolvimento da personalidade, a</p><p>importância dos papéis sociais e das relações entre estes papéis na etiologia da</p><p>patologia. Influenciado pelas teorias de Adler, Sullivan coloca que a doença mental</p><p>tem origem nas relações interpessoais perturbadas e que um entendimento mais</p><p>completo do indivíduo só pode ser alcançado no contexto de sua família e de seus</p><p>grupos sociais. Sullivan coloca, assim, a patologia na relação, na dimensão</p><p>interacional.</p><p>Paralelamente a Sullivan, Frieda Fromm-Reichman estuda a relação mãe-filho</p><p>como possível fonte de patologia e formula o conceito de mãe esquizofrenogênica</p><p>para explicar, em termos etiológicos, a relação do paciente esquizofrênico com sua</p><p>mãe.</p><p>No final da Segunda Guerra, surge o movimento das comunidades</p><p>terapêuticas, proposto por Maxwell-Jones, para</p><p>a reformulação da assistência</p><p>psiquiátrica. O conjunto das relações imediatas do paciente internado passou a ser</p><p>considerado no seu tratamento. A idéia fundamental é que a melhora do quadro</p><p>clínico do paciente vai ocorrer na medida em que ansiedades e conflitos surgidos nas</p><p>relações entre os membros da comunidade hospitalar possam ser trabalhados.</p><p>Em seguida, Pichon-Rivière inclui a família na sua compreensão da doença</p><p>mental e desenvolve a noção de "bode expiatório" como depositário da patologia que</p><p>é de toda a família. Todos estes movimentos, formulações teóricas e novas</p><p>compreensões da patologia propiciaram o surgimento dos primeiros estudos no</p><p>campo da terapia familiar propriamente dita.</p><p>No início da década de 50, ao mesmo tempo em que crescia, a partir da</p><p>produção teórica, a consciência da importância da família no desenvolvimento e na</p><p>manutenção da patologia mental, a prática clínica vigente era regida por regras que</p><p>ressaltavam que o contato com a família do paciente não deveria ser feito.</p><p>Esta situação postergou a divulgação do trabalho clínico inicial com famílias e</p><p>tornou a pesquisa, neste período, o modo mais facilmente aceitável de se atenderem</p><p>famílias, facilitando a aprendizagem sobre seu funcionamento e sobre as</p><p>possibilidades terapêuticas de atendimento conjunto. Assim, os primeiros autores</p><p>17</p><p>importantes na área da terapia familiar, produziram conceitos teóricos relevantes</p><p>sobre estrutura e dinâmica da família, ao longo do desenvolvimento de grandes</p><p>projetos de pesquisa. Esta pesquisa inicial foi realizada com a população</p><p>esquizofrênica, tendo em vista ser a esquizofrenia uma doença frequente, de longa</p><p>duração, com alto índice de reincidência, e muito resistente aos métodos terapêuticos</p><p>vigentes. O problema social dela decorrente justificou a aplicação de verbas públicas</p><p>na investigação desta patologia, o que ocorreu, neste momento, sobretudo nos</p><p>Estados Unidos e na Inglaterra.</p><p>Dentre os vários grupos de pesquisa que se organizaram, o grupo de Gregory</p><p>Bateson, cujo trabalho foi desenvolvido em Palo Alto, tem como resultado, em 1956,</p><p>a primeira publicação na área; o artigo clássico intitulado "Toward a Theory of</p><p>Schizophrenia" onde são postuladas as bases familiares da etiologia da esquizofrenia</p><p>e formulado o conceito de duplo-vínculo. Segundo estes autores, para que tenha lugar</p><p>uma situação de duplo-vínculo é necessária as seguintes condições: duas pessoas</p><p>com um alto nível de envolvimento (em geral a mãe e o seu bebê); um paradoxo</p><p>infringido pela mãe ao bebê que é chamado de "vítima"; a repetição desta experiência</p><p>que passa a ser habitual; a impossibilidade da "vítima" de abandonar o campo, ou</p><p>seja, escapar ao paradoxo.</p><p>Aos poucos, o foco destes estudos, inicialmente voltados para famílias com</p><p>pacientes esquizofrênicas foi se ampliando, abrangendo famílias com pacientes</p><p>neuróticos e eventualmente famílias sem patologias sérias. Os trabalhos mostraram</p><p>que os fenômenos descobertos nas famílias esquizofrênicos eram elementos básicos</p><p>na dinâmica familiar. Constata-se que os mesmos princípios interacionais estavam</p><p>presentes em todas as famílias, embora em graus diferentes. A patologia não</p><p>representava (assim como não representa no indivíduo) uma situação</p><p>qualitativamente diferente, mas uma exacerbação de determinados padrões.</p><p>18</p><p>O Campo da Terapia Familiar: Enfoque Sistêmico X</p><p>Enfoque Psicanalítico</p><p>1.1 O Enfoque Sistêmico</p><p>Os Estados Unidos, que estão agora na terceira geração de terapeutas</p><p>familiares, reclamam para si o pensamento sistêmico no trabalho clínico com famílias.</p><p>A partir da teoria geral dos sistemas e da teoria da comunicação surgiram várias</p><p>escolas de terapia familiar e vários institutos e centros de atendimento e de formação</p><p>foram criados.</p><p>Para os teóricos da comunicação, qualquer comportamento verbal ou não</p><p>verbal, manifestado por uma pessoa - o emissor -em presença de outra - o receptor -</p><p>é comunicação. Ao mesmo tempo que a comunicação transmite uma informação, ela</p><p>define a natureza da relação entre os comunicantes. Estas duas operações</p><p>constituem, respectivamente, os níveis de relato (digital) e de ordem (analógico)</p><p>presentes em qualquer comunicação. Quando estes dois níveis se contradizem,</p><p>temos o paradoxo. A comunicação paradoxal está na origem da patologia familiar.</p><p>A família é vista como um sistema equilibrado e o que mantém este equilíbrio</p><p>são as regras do funcionamento familiar. Quando, por algum motivo, estas regras são</p><p>quebradas, entram em ação meta-regras para restabelecer o equilíbrio perdido.</p><p>A terapia desenvolvida a partir deste enfoque enfatiza a mudança no sistema</p><p>familiar, sobretudo pela reorganização da comunicação entre os membros da família.</p><p>O passado é abandonado como questão central, pois o foco de atenção é o modo</p><p>comunicacional no momento atual. A unidade terapêutica se desloca de duas pessoas</p><p>para três ou mais à medida em que a família é concebida como tendo uma</p><p>organização e uma estrutura. É dada uma ênfase a analogias de uma parte do</p><p>sistema com relação a outras partes, de modo que a comunicação analógica é mais</p><p>enfatizada que a digital.</p><p>Os terapeutas sistêmicos se abstêm de fazer interpretações na medida em que</p><p>assumem que novas experiências - no sentido de um novo comportamento que</p><p>provoque modificações no sistema familiar - é que geram mudanças. Neste sentido</p><p>19</p><p>são usadas prescrições nas sessões terapêuticas para mudar padrões de</p><p>comunicação, e prescrições, fora das sessões, com a preocupação de encorajar uma</p><p>gama mais ampla de comportamentos comunicacionais no grupo familiar. Há uma</p><p>certa concentração no problema presente, mas este não é considerado apenas como</p><p>um sintoma. O comportamento sintomático é visto como uma resposta necessária e</p><p>apropriada ao comportamento comunicativo que o provocou.</p><p>A partir do enfoque sistêmico, várias escolas de terapia familiar se</p><p>desenvolveram, entre elas a Escola Estrutural, a Estratégia, a de Milão e, mais</p><p>recentemente, a Escora Construtivista.</p><p>Escola Estrutural</p><p>Minuchin é o principal teórico da Escola Estrutural e para ele a família é um</p><p>sistema que se define em função dos limites de uma organização hierárquica. O</p><p>sistema familiar diferencia-se e executa suas funções através de seus subsistemas.</p><p>As fronteiras de um subsistema são as regras que definem quem participa de</p><p>cada subsistema e como participa. Para que o funcionamento familiar seja adequado,</p><p>estas fronteiras devem ser nítidas. Quando as fronteiras são difusas, as famílias são</p><p>aglutinadas; fronteiras rígidas caracterizam famílias desligadas. Famílias saudáveis</p><p>emocionalmente possuem fronteiras claras.</p><p>A estrutura não é, para Minuchin (1974), uma entidade imediatamente</p><p>acessível ao observador. É no processo de união com a família que o terapeuta obtém</p><p>os dados. A medida em que a terapia evolui, o terapeuta coloca questões, identifica</p><p>os padrões transacionais e as fronteiras, levanta hipóteses sobre os padrões</p><p>disfuncionais e obtém assim um mapa familiar.</p><p>O terapeuta deve ajudar a transformação do sistema familiar, e para isto ele se</p><p>une à família desempenhando o papel de líder, identifica e avalia a estrutura familiar,</p><p>e cria circunstâncias que permitam a transformação da estrutura. As mudanças</p><p>terapêuticas são alcançadas através das operações reestruturadas, tais como: a</p><p>delimitação de fronteiras, a distribuição de tarefas, o escalonamento do stress e a</p><p>utilização dos sintomas. A terapia estrutural é uma terapia de ação, e o sintoma é</p><p>visto como um recurso do sistema para manter uma determinada estrutura.</p><p>20</p><p>É conhecida por Escola Estrutural a abordagem de terapia familiar sistêmica que tem</p><p>como pressuposto principal a visão da família como sendo um grande sistema, com</p><p>vários subsistemas que interagem entre si e influenciam-se mutuamente. Como</p><p>afirmam Minuchin, Lee e Simon (2008) cada sistema familiar</p><p>engloba vários sistemas.</p><p>Cada indivíduo na família é um subsistema da mesma. Assim percebe-se que a forma</p><p>como a família se relaciona e interage constrói um padrão, uma estrutura.</p><p>Entre cada subsistema existem fronteiras interpessoais que regulam a forma de</p><p>interação entre seus membros, ao mesmo tempo em que há fronteiras maiores que</p><p>regulam as formas como a família se relaciona com o mundo em que está inserida.</p><p>Tais fronteiras podem ser caracterizadas como rígidas, nítidas ou emaranhadas.</p><p>Fronteiras podem ser definidas como limites, regras, padrões e normas existentes</p><p>dentro da família. Diante disso é importante ressaltar:</p><p>(...) que as famílias são organismos sociais estruturados em</p><p>subsistemas separados por fronteiras; que os subsistemas definem as</p><p>funções de seus membros; que os membros das famílias se organizam</p><p>em alianças, afiliações e coalizões; que as famílias se desenvolvem e</p><p>passam por períodos de transição à medida que mudam. (MINUCHIN,</p><p>LEE e SIMON, 2008, p. 24).</p><p>Na visão trazida pela Escola Estrutural, Minuchin (1990) enfatiza que o indivíduo pode</p><p>pertencer a diferentes subsistemas, nos quais adquire diferentes níveis de poder e</p><p>distintas habilidades; que existe uma distinção hierárquica de poder na qual os pais</p><p>têm um nível diferente de poder em relação aos filhos, sendo que a maior autoridade</p><p>tem que estar representada pelo subsistema parental. Acrescenta que, em cada</p><p>subsistema familiar, são apresentadas funções e exigências diferentes para seus</p><p>integrantes, cujo desenvolvimento de habilidades pessoais está relacionado à</p><p>independência de um subsistema em relação ao outro.</p><p>O subsistema conjugal é constituído pelos cônjuges, cujo espaço relacional tem início</p><p>na formação da família: Marido e Esposa. Pouco a pouco, os acordos são</p><p>estabelecidos e novas formas de interagir aparecem; cada cônjuge pode abrir mão</p><p>de certas preferências, perder parte de sua individualidade e ganhar uma pertinência.</p><p>Assim, constitui-se um novo subsistema.</p><p>O subsistema parental é integrado pelos indivíduos responsáveis pelo cuidado com</p><p>os filhos; por outro lado, os filhos aprendem com a autoridade no modelo estabelecido</p><p>21</p><p>e aprendem a contar ou não com o apoio dos pais e, a partir disso, as crianças</p><p>experimentam o estilo com o qual a família trabalha os conflitos, os acordos e</p><p>aprendem a realizar negociações.</p><p>Existem ainda os subsistemas fraternal e filial que surgem da relação entre irmãos e</p><p>desses com seus pais, baseados em regras, configurando a capacitação inicial do</p><p>convívio social interno e externo à família. Essas regras estabelecem uma distinção</p><p>qualitativa entre os subsistemas, quem participa e como participa deles.</p><p>Esses subsistemas ao longo da vida de uma família são temporários e modificáveis</p><p>de acordo com os projetos que se sucedem em um núcleo familiar. Assim percebe-</p><p>se que a forma como a família se relaciona e interage constrói um padrão, uma</p><p>estrutura. Nessa abordagem, o terapeuta deve buscar enxergar os subsistemas e</p><p>suas fronteiras, que estão incorporados à família.</p><p>Nesse enfoque, deve-se lembrar que toda família busca por meio de suas interações</p><p>a homeostase, ou seja, a estabilidade do sistema. Considerando que, no pensamento</p><p>sistêmico, a premissa é de que o todo é maior do que a soma de suas partes; sendo</p><p>fundamental considerar que quando um dos subsistemas muda, todo o sistema</p><p>familiar também é afetado. Isso será válido tanto para mudanças saudáveis quanto</p><p>para as prejudiciais ou patológicas.</p><p>Então pode-se inferir que o objetivo da terapia preconizada pela escola estrutural é</p><p>alterar as fronteiras e realinhar os subsistemas intrafamiliares, buscando uma</p><p>reestruturação para uma melhor interação e comunicação entre os membros</p><p>familiares. E, de forma geral, buscar que as famílias tenham uma estrutura hierárquica</p><p>funcional e efetiva (NICHOLS; SCHWARTZ, 2007).</p><p>Escola Estratégica</p><p>Jay Haley é um dos principais teóricos da Escola Estratégica juntamente com</p><p>Jackson, Bateson, Weakland e Watzlawick.</p><p>Para Haley (1976) o que caracteriza o sistema familiar é a luta pelo poder. Ele</p><p>utiliza o termo estratégico para descrever qualquer terapia em que o terapeuta realiza</p><p>ativamente intervenções para resolver problemas.</p><p>22</p><p>A visão estratégica define o sintoma como expressão metafórica ou analógica</p><p>de um problema representando, ao mesmo tempo, uma forma de solução</p><p>insatisfatória para os membros do sistema em questão.</p><p>Nesta abordagem há uma orientação franca para o sintoma e os problemas</p><p>são vistos como dificuldades interacionais que se desenvolvem através da</p><p>superênfase ou da subênfase nas dificuldades de viver. A resolução dos problemas</p><p>requer a substituição dos padrões interacionais. A abordagem terapêutica é</p><p>pragmática: trabalham-se as interações e evitam-se os porquês.</p><p>O principal objetivo é mudar o comportamento manifesto do paciente. São</p><p>utilizadas instruções paradoxais que consistem em prescrever comportamentos que,</p><p>aparentemente, estão em oposição aos objetivos estabelecidos, mas que visam a</p><p>mudanças em direção a eles. A instrução paradoxal é mais freqüentemente utilizada</p><p>sob a forma de prescrição de sintoma, isto é, encorajando-se aparentemente o</p><p>comportamento sintomático. Para Watzlawick et al (1967) o uso do paradoxo leva à</p><p>substituição do duplo vínculo patogênico por um duplo vínculo terapêutico.</p><p>Escola Transgeracional</p><p>Esta escola tem como um de seus pressupostos que não se deve estudar</p><p>somente a família nuclear. O fato é que a família deve ser compreendida a partir da</p><p>revelação do que aconteceu às gerações que a antecederam (família de origem) e,</p><p>por vezes, ainda estender a visão para a família ampliada (MARTINS; RABINOVICH;</p><p>SILVA, 2008).</p><p>Para Cordioli (2009), a participação da família de origem (pais, irmãos, avós,</p><p>outras figuras significativas) é uma busca para o entendimento de como se dá a</p><p>transmissão dos valores e mitos familiares e, por meio dela, busca-se o fortalecimento</p><p>dos laços emocionais e familiares, bem como facilitar a resolução dos problemas.</p><p>No estudo da complexidade da formação emocional do indivíduo Bowen (1989)</p><p>desenvolveu conceitos importantes para a compreensão do sistema emocional da</p><p>família, entre eles, os conceitos de massa indiferenciada do ego; diferenciação do</p><p>self; processo de projeção familiar; processo de transmissão multigeracional e</p><p>triângulo.</p><p>23</p><p>O conceito de diferenciação se torna o centro de sua teoria, explicada como</p><p>sendo a busca da autonomia familiar na vida adulta que é determinada pelo grau de</p><p>diferenciação do self. Segundo Nichols e Schwartz (2007), a definição de self é a</p><p>separação psicológica do intelecto e das emoções, e a independência do self em</p><p>relação aos outros. Papp (1992) menciona que Bowen (1989) entendia a causa dos</p><p>problemas familiares como estando baseada num conceito de triângulos e graus de</p><p>diferenciação e que seria aí que deveria haver intervenções terapêuticas.</p><p>Na massa de ego familiar indiferenciada o conceito remete ao de fusão ou</p><p>aglutinação. Minuchin (1982) explica referindo ser um estilo transacional</p><p>caracterizado por um sentimento de pertencimento que requer uma máxima renúncia</p><p>de autonomia. Essa força de aglutinação em permanente tensão, exposta aos fatores</p><p>externos que também exercem influência nas relações familiares, existe em todas as</p><p>famílias, em variados graus de intensidade. Com o passar do tempo, enquanto o</p><p>indivíduo vai crescendo, deve ir em direção à maturidade emocional, buscando</p><p>autonomia de sua família de origem, sem a necessidade de com ela romper e sem</p><p>precisar ficar fusionado. (KROM, 2000).</p><p>Os relacionamentos humanos são geridos por duas forças que podem trazer</p><p>equilíbrio a suas relações: individualidade e proximidade. Ambas são necessárias e</p><p>o que pode se tornar um problema é a tendência em manter-se na busca de um dos</p><p>extremos (Nichols E Schwartz, 2007). É na família</p><p>que as crianças podem</p><p>experimentar tanto a proximidade ou pertencimento, quanto a individualidade ou</p><p>diferenciação. Pertencer signica participar, saber-se membro dessa família, partilhar</p><p>as suas crenças, valores, regras, mitos e segredos. Diferenciar refere-se à armação</p><p>de sua singularidade, à sua individuação e ao seu direito de pensar e expressar-se</p><p>independentemente dos valores defendidos por sua família (MARTINS;</p><p>RABINOVICH; SILVA, 2008).</p><p>Alguns desafios podem ocorrer, no entanto, no processo de</p><p>diferenciação. Quando um indivíduo não se indiferencia pode repetir padrões que</p><p>estão sendo transmitidos de geração a geração em sua família, sem dar-se conta da</p><p>carga transgeracional desses comportamentos.</p><p>24</p><p>Na busca por diferenciação, o ‘sair de casa’, para alguns, aparenta ser um sinal</p><p>de amadurecimento e independência, por isso passam a valorizar a individualidade e</p><p>procuram manter-se distantes da família. Mas o que muitas vezes não consideram é</p><p>que o distanciamento físico não é, necessariamente, distanciamento emocional.</p><p>Nesse sentido, Bowen (1989) relatou que, em sua experiência pessoal, por longo</p><p>tempo, confundiu evitação com emancipação, só descobrindo mais tarde que a família</p><p>continua conosco onde quer que estejamos (NICHOLS E SCHWARTZ, 2007).</p><p>[...] as questões emocionais não resolvidas continuam conosco,</p><p>tornando-nos vulneráveis a repetir conflitos que nunca chegamos a</p><p>resolver com nossas famílias. (Nichols e Schwartz, 2007, p. 49).</p><p>Entre as técnicas mais importantes para a Escola Transgeracional,</p><p>destacamos o genograma e a destriangulação que foram mais relevantes à análise</p><p>realizada por este trabalho.</p><p>Genograma é um instrumento terapêutico elaborado por Bowen (1989) que</p><p>tenta representar graficamente as complexas relações familiares, fazendo com que</p><p>se revelem os preceitos e convenções que se perpetuam nas relações daquele grupo</p><p>familiar ao longo das gerações. Mesmo que não produza respostas aos problemas,</p><p>essa técnica possibilita a ampliação das hipóteses, podendo construir o caminho de</p><p>origem da queixa familiar que, muitas vezes, está localizada ao longo de uma linha</p><p>temporal que transcende a vivência presente (KROM, 2000).</p><p>Ao entender-se, como Nichols e Schwartz (2007) fizeram, que era de suma</p><p>importância na teoria boweniana perceber qual é o papel de cada indivíduo nos</p><p>problemas que surgem dentro da família e como eles são repassados</p><p>transgeracionalmente às futuras gerações, logo estaria justificada a relevância da</p><p>utilização do genograma como fundamental ferramenta no atendimento clínico de</p><p>famílias.</p><p>A visualização dos vínculos familiares evidenciada pelo genograma possibilita</p><p>perceber também onde estão localizados os triângulos relacionais. Na perspectiva</p><p>boweniana, há formação de um triângulo relacional quando a tensão entre duas</p><p>pessoas é intensa e busca-se uma terceira pessoa para alívio dessa tensão, o que,</p><p>por consequência, afasta os indivíduos do enfrentamento do problema original.</p><p>25</p><p>A triangulação é uma das formas para dissipar a tensão entre casais</p><p>quando em conflito conjugal: transfere-se essa tensão para um dos</p><p>filhos que, geralmente, apresentará algum sintoma. (Martins,</p><p>Rabinovich e Silva, 2008, p. 182)</p><p>De certa forma, a figura do terapeuta também compõe triângulo relacional por</p><p>se configurar como um terceiro a quem se leva a queixa e a quem os clientes tenderão</p><p>a buscar como aliado em seus conflitos. Por isso, como prática boweniana, os</p><p>terapeutas se esforçam para controlar a própria reatividade e evitar a triangulação.</p><p>(NICHOLS e SCHWARTZ, 2007)</p><p>Por outro lado, a presença do terapeuta como terceira pessoa neutra e objetiva,</p><p>pode ter função de atenuar a energia emocional de uma relação conflituosa.</p><p>Buscando incentivar que cada indivíduo abandone a tendência de culpar o outro e</p><p>que passe a refletir sobre seu papel nas relações interpessoais, o profissional pode</p><p>formar um triângulo terapêutico que promova a destriangulação relacional. A</p><p>mudança de apenas um triângulo familiar pode ter efeito terapêutico sobre todos os</p><p>demais sistemas a que estão ligados (NICHOLS e SCHWARTZ, 2007).</p><p>Escola de Milão</p><p>A principal representante deste grupo é Mara Selvini Palazzoli que, juntamente</p><p>com Boscolo, Ceccin e Prata, fundou em 1967 o Centro para o Estudo da Família.</p><p>Partindo dos mesmos pressupostos teóricos da Escola Estratégica, Palazzoli et al</p><p>(1980) consideram que os problemas que emergem quando os mapas familiares não</p><p>são mais adequados, ou seja, os padrões de comportamento desenvolvidos não são</p><p>mais úteis nas situações atuais. Dada a tendência à homeóstase, os problemas</p><p>surgem quando as regras que governam o sistema são tão rígidas que possibilitam</p><p>padrões de interação repetitivos, homeostáticos e vistos como "pontos nodais" do</p><p>sistema.</p><p>Um princípio terapêutico fundamental para o grupo de Milão é a conotação</p><p>positiva dos comportamentos apresentados pela família. Quando se qualificam como</p><p>positivos os comportamentos sintomáticos, motivados pela tendência homeostática</p><p>do sistema e não os comportamentos.</p><p>26</p><p>Outro tipo de intervenção utilizada pelo grupo de Milão é o ritual familiar, ou</p><p>seja, uma ação ou uma série de ações das quais todos os membros da família são</p><p>levados a participar. A prescrição de um ritual visa evitar o comentário verbal sobre</p><p>as normas que perpetuam o jogo em ação. No ritual familiar novas regras substituem</p><p>tacitamente as regras precedentes. Para elaborar um ritual o terapeuta deve ser</p><p>bastante observador e criativo. O ritual é rigorosamente específico a uma determinada</p><p>família.</p><p>O grupo original da escola de Milão era composto pelos psiquiatras e psicanalistas</p><p>milaneses Mara Selvini Palazzoli, Luigi Boscolo, Gianfranco Cecchin e Giuliana Prata;</p><p>que descreveram um modelo terapêutico para o tratamento de famílias com pessoas</p><p>esquizofrênicas que, tanto pela alta efetividade como pela curta duração, em terapia</p><p>breve superava as abordagens até então conhecidas. Esse grupo de estudiosos</p><p>afastou-se da psicanálise na década de 1970 e dava ênfase ao tratamento da família</p><p>como um todo, dando ênfase ao sistema familiar e seus subsistemas, buscando</p><p>conectar o sintoma ao sistema familiar.</p><p>Existe uma tendência de as famílias resistirem às mudanças, de modo a manter um</p><p>estado constante, denominado homeostase familiar. Mudar pode ter o preço da perda</p><p>desse estado de equilíbrio constante e regular, ainda que esse equilíbrio tenha sido</p><p>encontrado dentro da doença (NICHOLS; SCHWARTZ, 2007).</p><p>Situações que instauram esse tipo de impasse podem gerar a</p><p>necessidade de busca de ajuda terapêutica, como expressado por:</p><p>Mudar ou não mudar pode criar um dilema tão doloroso para a família</p><p>e para os que com ela convivem que uma terapia pode ser</p><p>necessária. Sob essa ótica, fica cheia de significado a frase que é dita</p><p>por Oscar Wilde: Há duas tragédias nesta vida: uma é não conseguir</p><p>o que se quer, a outra é conseguir. (CALIL, 1987, p. 61)</p><p>Quando a família traz sua queixa, a equipe terapêutica buscará encontrar o que está</p><p>tornando essa família disfuncional, podendo ser consideradas disfunções as</p><p>inabilidades de adaptação às mudanças que impedem a família de prosseguir em seu</p><p>ciclo vital. O conceito de ciclo vital está relacionado ao fato de que, na trajetória de</p><p>existência de todas as famílias, há passos normais da vida (nascimentos,</p><p>crescimento, casamentos, etc.) e há também as dificuldades ocasionais como</p><p>doenças, acidentes, desemprego, entre outros. Todas essas etapas podem provocar</p><p>ou exigir grandes mudanças nos relacionamentos pessoais. É importante considerar</p><p>27</p><p>que a decisão sobre as mudanças deve ocorrer no âmbito interno do sistema familiar</p><p>e que, nesse sentido, a atuação dos terapeutas só pode ocorrer de fora para dentro</p><p>e com poucas interferências. (CALIL, 1987).</p><p>Uma ferramenta poderosa nessa abordagem é a conotação positiva,</p><p>que significa um</p><p>resgate das qualidades e competências do outro, em que os terapeutas reforçam na</p><p>família seus pontos fortes. Em geral, as famílias tornam-se especialistas em ver no</p><p>que o outro não é bom, sendo uma tendência humana focar sempre no que é mais</p><p>negativo. A intenção da conotação positiva é a de treinar a família a buscar ver no</p><p>outro o que é bom, reforçando melhoras em um convívio familiar mais harmônico e</p><p>saudável. Sendo assim, a conotação positiva pode ser usada pelo terapeuta como</p><p>uma técnica de dupla função: promover a coesão familiar e evitar a resistência à</p><p>terapia. (COSTA; PENSO, 2008)</p><p>Outras ferramentas foram desenvolvidas para auxiliar as famílias a lidar com as</p><p>mudanças. Papp (1992), por exemplo, desenvolveu e utilizou-se de diversas</p><p>ferramentas para levar a família a perceber como seria o viver depois das mudanças,</p><p>considerando como objetivo principal de toda terapia alcançar a transformação em si.</p><p>Algumas das ferramentas utilizadas por ela foram a escultura de família, coreografia</p><p>de casais, o uso de cerimônia, ritual, paradoxo, metáforas, humor e inversões.</p><p>Uma das técnicas mais marcantes utilizadas é o "coro grego". Nessa técnica, o grupo</p><p>de terapeutas e a família desenvolvem um triângulo terapêutico, em que o grupo</p><p>observa ou por trás de um espelho unidirecional, ou no próprio espaço terapêutico, a</p><p>condução da sessão por um terapeuta e depois este grupo é requisitado a discutir e</p><p>dar um feedback, sempre de forma positiva, como sentiu a família. Assim pode-se</p><p>criar estratégia onde um terapeuta defende uma mudança e seus colegas do grupo</p><p>terapêutico, em contrapartida, defendem outro tipo de mudança, ficando a cargo da</p><p>família eleger quais das mudanças aplicará em sua dinâmica familiar; sempre visando</p><p>o crescimento do sistema familiar. (GERSHONI, 2008).</p><p>A escola de Milão busca na terapia breve um dos fundamentos para o atendimento</p><p>baseada na queixa que a família traz. Matias (2017) sintetiza o procedimento de</p><p>terapia breve explicando que baseia-se em quatro fases conhecidas como: pré-</p><p>sessão, a sessão, a inter-sessão (diagnóstico) e a discussão na pós-sessão. Em</p><p>28</p><p>resumo, as características da terapia breve, além do atendimento semanal ou</p><p>quinzenal por um período de até 10 sessões, são a focalização no problema e nas</p><p>tentativas de solução; a ação do terapeuta com sugestões, em lugar de dar ordens; e</p><p>por último, a proposta de que as mudanças na família deverão ocorrer em casa.</p><p>Escola Construtivista</p><p>No final da década de 70, utilizando os conceitos da cibernética de segunda</p><p>ordem e de sua aplicação aos sistemas sociais, surge a Escola Construtivista. A partir</p><p>da concepção de retroalimentação evolutiva de Prigogine (1979), considera-se que a</p><p>evolução de um sistema ocorre através da combinação de acaso e história em que,</p><p>a cada patamar, surgem novas instabilidades que geram novas ordens, e assim</p><p>sucessivamente. Nesta perspectiva em que os sistemas vivos são considerados como</p><p>hipercomplexos e indeterminados, instabilidade e a crise ganham um novo sentido no</p><p>sistema familiar. A crise não é mais um risco, mas parte do processo de mudanças,</p><p>assim como o sintoma.</p><p>Assim, os terapeutas de família da Escola Construtivista passam a considerar</p><p>a autonomia do sistema familiar partindo do estudo dos sistemas auto-organizados,</p><p>da cibernética de segunda ordem, e dos sistemas autopoéticos postulados por</p><p>Humberto Maturana (1990).</p><p>Ocorre, neste enfoque, uma ruptura entre o sistema familiar/observado e o</p><p>terapeuta/observador. O sistema surge como construção de seus participantes. O</p><p>terapeuta estará interessado não mais no comportamento a ser modificado, mas no</p><p>processo de construção da realidade da família e nos significados gerados no</p><p>sistema. A ênfase é deslocada do que é introduzido no sistema pelo terapeuta para</p><p>aquilo que o sistema permite a ele selecionar e compreender.</p><p>Alguns terapeutas estratégicos podem ser citados como tendo incluído</p><p>posteriormente na sua prática o modo de pensar construtivista; entre eles, os do grupo</p><p>de Milão. Palazzoli et al (1980) estabelecem três princípios indispensáveis ao trabalho</p><p>terapêutico: a formação de uma hipótese, a circularidade e a neutralidade. A hipótese</p><p>formulada deve ser testada ao longo da sessão; se rejeitada, o terapeuta procurará</p><p>29</p><p>outras, baseando-se nos dados obtidos na verificação da primeira hipótese. Todas as</p><p>hipóteses devem ser sistêmicas, ou seja, devem incluir todos os membros da família</p><p>e fornecer uma conjetura que explique a função da relação. A circularidade diz</p><p>respeito à capacidade do terapeuta de conduzir a sessão baseando-se</p><p>nos feedbacks recebidos da família como resposta à informação que solicitou em</p><p>termos relacionais. A neutralidade consiste numa atitude de imparcialidade do</p><p>terapeuta que se alia a cada membro da família, neutralizando qualquer tentativa de</p><p>coalizão ou sedução de qualquer componente do grupo familiar.</p><p>O enfoque construtivista, proposto a partir de uma ótica sistêmica de segunda</p><p>ordem, questiona portanto o poder do terapeuta na terapia familiar e as intervenções</p><p>terapêuticas diretivas. A ênfase não é colocada na pergunta, mas na construção da</p><p>interação e a ação do terapeuta pretende explorar as construções onde surgem os</p><p>problemas.</p><p>7.2 O Enfoque Psicanalítico</p><p>A terapia familiar de enfoque psicanalítico dá ênfase ao passado, à história da</p><p>família tanto como causa de um sintoma, quanto como um meio de transformá-lo. Os</p><p>sintomas são vistos como decorrência de experiências passadas que foram</p><p>recalcadas fora da consciência. O método utilizado, na maior parte das vezes, é</p><p>interpretativo com o objetivo de ajudar os membros da família a tomar consciência do</p><p>comportamento passado, assim como do presente e das relações entre eles.</p><p>Influenciados pelo trabalho estritamente psicanalítico, desenvolvido na Clínica</p><p>Tavistock de Londres, Pincus & Dare (1978) formulam suas hipóteses que</p><p>fundamentam a prática clínica com famílias e casais a partir de um grande interesse</p><p>na trama inconsciente dos sentimentos, desejos, crenças e expectativas que unem</p><p>os membros de uma família entre si e aos passados individuais e familiar.</p><p>Estes autores interessam-se particularmente pelos efeitos dos segredos e dos</p><p>mitos na dinâmica familiar. Ressaltam que os segredos podem pertencer a um</p><p>membro da família, ou serem, tacitamente, compartilhados com outros; ou,</p><p>inconscientemente, endossados pelos membros da família, de geração para geração,</p><p>até se tornarem um mito. Quando um membro da família desafia um segredo familiar,</p><p>30</p><p>a atitude dos outros membros também muda em relação ao segredo, o conluio é</p><p>rompido e novos fatos e fantasias vêm à tona. A partir da prática clínica Pincus & Dare</p><p>mostram como os segredos mais freqüentes e mais cuidadosamente escondidos são</p><p>aqueles que nascem de sentimentos ou fantasias incestuosas.</p><p>O enfoque psicanalítico em terapia familiar é denominado por Ruffiot (1981) de</p><p>grupalista e é inspirado na sua teoria e na sua prática, por uma representação</p><p>fantasmática e grupal do indivíduo no seio de sua família. Assim, Ruffiot formula a</p><p>hipótese de um aparelho psíquico familiar a partir do modelo de aparelho psíquico</p><p>grupai de Kaës (1976). Ele estabelece uma relação entre aparelho psíquico do grupo</p><p>familiar e o aparelho psíquico primitivo do recém-nascido, considerando que a</p><p>natureza do psiquismo primário é o fundamento do psiquismo familiar e de todo</p><p>psiquismo grupai. Esta abordagem se baseia numa escuta do funcionamento da</p><p>fantasmática familiar no aparelho psíquico da família, um inconsciente a várias vozes</p><p>que aparece na associação livre dos membros da família reunidos na sessão.</p><p>Eiguer (1984) postula que a família compõe-se de membros que têm, em</p><p>grupo, formas típicas de funcionamento psíquico inconsciente que se diferenciam do</p><p>funcionamento de cada membro. Ele formula o conceito de</p><p>organizadores grupais</p><p>para explicar os investimentos recíprocos que ocorrem entre os membros da família</p><p>e, ressalta a fantasia original de castração como determinante da definição de</p><p>diferença sexual, derivando daí a delimitação dos papéis de pai, mãe, irmão, irmã.</p><p>Para Eiguer a fantasia original está na base dos vínculos, sendo portanto ativadora</p><p>como os investimentos narcísicos e objetais, e favorecendo o reagrupamento</p><p>interfantasioso.</p><p>Articulação dos Diferentes Enfoques</p><p>O campo da terapia familiar, como vimos, apresenta um panorama muito</p><p>variado e complexo, não contendo um corpo teórico unificador ao qual fazer</p><p>referência.</p><p>Os primeiros estudos que tinham como ponto de partida os trabalhos sobre</p><p>duplo-vínculo realizados pelo grupo de Palo Alto sobre a esquizofrenia estiveram, por</p><p>causa de seu caráter revolucionário, na origem do desenvolvimento de uma oposição</p><p>31</p><p>entre modelo psicanalítico e modelo sistêmico. Estes estudos caracterizavam-se por</p><p>uma abordagem pragmática da realidade, e o modelo de psicanálise ao qual se</p><p>opunham era o modelo econômico de Freud. A verdadeira oposição não estava</p><p>portanto entre psicanálise e teoria sistêmica, ou entre indivíduo e família, mas</p><p>sobretudo entre conteúdos internos e comportamentos expressos.</p><p>Alguns terapeutas de família propõem um trabalho numa abordagem sistêmica</p><p>pura como Palazzoli (1978) e Haley (1976). Outros pretendem trabalhar em terapia</p><p>familiar numa abordagem psicanalítica sem nenhum suporte sistêmico como Eiguer</p><p>(1984) e Ruffiot (1981). Há entretanto autores que tentam fazer uma síntese destas</p><p>duas abordagens, no trabalho com famílias e casais.</p><p>É nesta possibilidade de síntese, de articulação dos dois enfoques, que</p><p>estamos sobretudo interessados. As vezes falta a algumas abordagens psicanalíticas</p><p>conceber a família como uma unidade sistêmica indivisível. É essencial estudar a</p><p>articulação entre o indivíduo e seu grupo familiar levando em conta as descobertas</p><p>mais significativas das abordagens sistêmicas sem se tornar prisioneiro das teorias.</p><p>Na perspectiva sistêmica há uma preocupação com o comportamento e a</p><p>busca de modificá-lo, o que leva a uma desatenção em relação aos processos</p><p>psíquicos subjacentes, enquanto na perspectiva psicanalítica há uma preocupação</p><p>em expressar os desejos inconscientes que estão na origem da disfunção familiar.</p><p>Mas estas duas concepções teóricas e as práticas delas decorrentes não</p><p>podem deixar de considerar que a família e o casal são grupos organizados, auto-</p><p>reguladores, com uma linguagem própria, regras próprias de funcionamento e mitos</p><p>próprios.</p><p>Nicolló (1988) fala de um rigor elástico, quer dizer, de uma atitude que requer</p><p>nas disciplinas psicológicas, a intuição, a subjetividade do observador que são</p><p>insubstituíveis para o conhecimento, quando discute a possibilidade de articulação</p><p>dos enfoques sistêmico e psicanalítico em terapia familiar.</p><p>Lemaire (1984) ressalta a necessidade de uma tríplice chave de leitura, no</p><p>trabalho com família e casal, que passa pelo intrapsíquico, pelo sistêmico-interacional</p><p>e pelo social. Para ele o fato, por exemplo, de o terapeuta conjugal compreender</p><p>32</p><p>psicanaliticamente os fenômenos inconscientes das identificações projetivas que</p><p>estão na base da colusão narcísica do casal, não deve impossibilitá-lo de lançar mão</p><p>de desenvolvimentos teórico-técnicos das teorias sistêmicas. Ele pode, ao mesmo</p><p>tempo, trabalhar sobre a comunicação, as expressões paradoxais, os duplo-vínculos,</p><p>sem ser impedido de levar em conta processos arcaicos inconscientes que estão em</p><p>jogo desde o estabelecimento da relação amorosa.</p><p>Dependendo do tipo de demanda familiar, pode-se escolher um referencial de</p><p>compreensão mais sistêmico ou mais psicanalítico. É importante escolher um quadro</p><p>de pensamento, mas este não deve ser rígido pois também, do nosso ponto de vista,</p><p>a visão sistêmica e a visão psicanalítica não se excluem mutuamente.</p><p>Sem dúvida, consideramos importante a consistência entre teoria e prática, a</p><p>coerência com uma determinada posição epistemológica. Entretanto, dentro de uma</p><p>mesma posição epistemológica, incontáveis modelos de atendimento são possíveis.</p><p>Como ressalta Maturana (1990), há diversos modos de fazer terapia e estes modos</p><p>distintos têm a ver com as distintas características dos terapeutas.</p><p>33</p><p>Conclusão</p><p>Conclui-se que o foco da terapia sistêmica é possibilitar a autonomia ao sujeito,</p><p>despertar a consciência acerca das responsabilidades, das escolhas, e estimular a</p><p>mudança nas pautas disfuncionais. Ao promover uma mudança no sistema familiar,</p><p>muda-se automaticamente o padrão de interações interpessoais nesse contexto.</p><p>Portanto, é necessário à atualização e divulgação desse saber para a promoção de</p><p>um atendimento de qualidade nas relações sistêmicas.</p><p>A terapia familiar procura colocar a família no centro das atenções. As relações</p><p>que se estabelecem em seu meio podem ser a justificação para o problema, ao</p><p>mesmo tempo que pode solucionar a solução mais vantajosa para a sua resolução.</p><p>Por vezes, aquele que se apresenta como perturbado e aquele que não apresenta</p><p>nenhum problema, sendo só o reflexo da família que se insere.</p><p>Para concluir, falar de terapia familiar não é só falar de família e o que acontece</p><p>no seu seio, mas sim mostrar que as interações que vai estabelecendo com o meio</p><p>social e cultural que a rodeia irá exercer influência de modo como os membros irão</p><p>reagir face aos problemas e até com a forma como esses “distúrbios” poderão surgir.</p><p>Trata-se de inserir a família na terapia com responsabilidade das decisões a tomar e</p><p>dos objetivos a alcançar em que o terapeuta deve apenas ser um mediador,</p><p>mostrando a família que ela possui capacidades próprias para a resolução daquilo</p><p>que a perturba.</p><p>34</p><p>10. Referências</p><p>ANDOLFI, Maurizio ET al. Por trás da máscara familiar. Porto Alegre: Artes</p><p>Médicas, 1984.</p><p>BOSCOLO Luigi; CECCHIN Gianfranco; HOFFMAN Lynn; PENN Peggy; A Terapia</p><p>Familiar Sistêmica de Milão. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas, 1993.</p><p>BUCHER, J. S. N. O casal e a família sob novas formas de interação. In Fères-</p><p>Carneiro (Org.), Casal e Família. Entre a tradição e a transformação (pp. 82-95). Rio</p><p>de Janeiro: Nau Editora, 1999.</p><p>CALIL, Vera L. Terapia familiar e de casal. São Paulo: Summus, 1987.</p><p>CARTER, Betty; McGOLDRICK Monica, M. As Mudanças no Ciclo de Vida</p><p>Familiar: uma estrutura para a terapia familiar. 2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas,</p><p>1995.</p><p>CORDIOLI, Aristides Voltado. Psicoterapias: Abordagens atuais:</p><p>Abordagens atuais. Artmed Editora, 2009.</p><p>FERES-CARNEIRO, Terezinha. Família: Diagnóstico e Terapia. Rio de Janeiro: Ed</p><p>Zahar, 1982.</p><p>FOLEY, Vincent. Introdução à Terapia Familiar. 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