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<p>FATURAMENTO E</p><p>AUDITORIA EM</p><p>SAÚDE</p><p>Bárbara Foiato Hein Machado</p><p>Faturamento em saúde</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p> Reconhecer o conceito e a finalidade do serviço de faturamento.</p><p> Explicar as funções pertinentes ao serviço de faturamento.</p><p>��� Descrever o ciclo financeiro de faturamento.</p><p>Introdução</p><p>Devido à complexidade das instituições de saúde, a gestão adequada dos</p><p>recursos financeiros torna-se um elemento-chave para garantir o desem-</p><p>penho eficiente dos serviços. Nesse sentido, o faturamento é uma área</p><p>fundamental nas organizações e tem a importante função de, por meio de</p><p>contas e registros, verificar principalmente a produção, os gastos e os custos</p><p>realizados numa instituição. A atuação dessa área auxilia a identificar garga-</p><p>los e desperdícios, permitindo ao gestor intervir e qualificar os processos.</p><p>Neste capítulo, você vai conhecer os principais conceitos e finalidades</p><p>do serviço de faturamento no âmbito da saúde. Além disso, vai conhecer</p><p>as funções que pertencem a essa área e verificar como o ciclo financeiro</p><p>ocorre nesse contexto.</p><p>1 Serviço de faturamento: definições</p><p>e principais características</p><p>Um dos principais objetivos das organizações é otimizar e reduzir custos. Para</p><p>isso, é necessário realizar o gerenciamento adequado dos processos. Nesse</p><p>contexto, o serviço de faturamento atua, na perspectiva econômica da insti-</p><p>tuição, como um processo que fornece informações sobre a rentabilidade dos</p><p>serviços, permitindo gerir custos e receitas. Assim, o faturamento hospitalar</p><p>permite registrar e organizar as informações relacionadas à produção dos</p><p>serviços, o que se refl ete na emissão de contas da instituição.</p><p>Na área da saúde, quando se fala em produção dos serviços, está em jogo o</p><p>serviço assistencial prestado ao paciente. Portanto, o faturamento necessita das</p><p>informações geradas pelas áreas assistenciais; tais informações normalmente</p><p>estão contidas nos registros do prontuário do paciente. Cabe destacar que, se</p><p>não há registro, presume-se que o procedimento não foi realizado, o que pode</p><p>prejudicar a qualidade da assistência e o cálculo dos gastos (RODRIGUES</p><p>et al., 2018; WELTON et al., 2006). Ou seja, se não houver integração de infor-</p><p>mações entre as áreas assistenciais e o faturamento, a instituição perderá receita.</p><p>De acordo com Mauriz et al. (2012, p. 39), o faturamento funciona “[...] tradu-</p><p>zindo em moeda corrente todas as operações de prestação de serviços assistenciais</p><p>em saúde, materiais e medicamentos, produzindo a conta hospitalar”. Assim,</p><p>além de o faturamento permitir maior controle financeiro, de modo a gerenciar e</p><p>reduzir os custos, ele também monitora a produção da instituição, ou seja, os tipos</p><p>de atendimentos realizados, os medicamentos utilizados, entre diversos outros</p><p>elementos que fazem parte do ciclo do paciente na instituição de saúde. Por isso,</p><p>é necessário utilizar ferramentas rigorosas e eficazes, atentando às informações</p><p>produzidas desde o início até o final da prestação do serviço, incluindo todos os</p><p>insumos que foram utilizados na assistência em saúde (MAURIZ et al., 2012).</p><p>Na Figura 1, a seguir, veja um exemplo simplificado de componentes comumente</p><p>faturados nas contas hospitalares. Gráficos e percentuais como este podem ser</p><p>construídos a partir das informações e dados dos setores.</p><p>Figura 1. Gráfico de distribuição de componentes de contas hospitalares.</p><p>Fonte: Adaptada Morais e Burmester (2017).</p><p>Faturamento em saúde2</p><p>Assim, a informação clara, consistente e adequada é fundamental para</p><p>o serviço de faturamento — tanto no setor público quanto no setor privado.</p><p>Veja o que afirmam Morais e Burmester (2017, p. 87):</p><p>O foco da tecnologia da informação voltada à auditoria em saúde é a obtenção</p><p>de dados e a geração de relatórios analíticos de utilização do sistema; para</p><p>tanto, é preciso que os esquemas de captura de tais informações estejam alo-</p><p>cados, preferencialmente nos locais de atendimento, ou seja, nos prestadores</p><p>de serviços de saúde. Quando o sistema de dados permite o faturamento por</p><p>parte do prestador, o registro do atendimento é mais fiel e, portanto, mais</p><p>confiável. Entretanto, quando o prestador gera seu relatório em método di-</p><p>ferente daquele no qual os elementos são analisados, a informação pode não</p><p>ter a exatidão desejada.</p><p>Portanto, os dados e informações devem ser obtidos de forma segura. No</p><p>caso do Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo, o faturamento dos proce-</p><p>dimentos realizados nos hospitais é definido a partir dos valores e códigos da</p><p>tabela do SUS — Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses, Próteses</p><p>e Materiais Especiais (OPME). Tais valores e códigos advêm do formulário</p><p>de Autorização de Internação Hospitalar (AIH). Esse formulário tem como</p><p>característica o pagamento de valores fixos pelos procedimentos. Ele é composto</p><p>por um conjunto de variáveis, tais como: tipo de paciente, tipo de instituição,</p><p>natureza do evento, tempo de internação, etc. (CINTRA et al., 2013). De acordo</p><p>com Mauriz et al. (2012, p. 40), compete ao faturamento do SUS prestar “[...]</p><p>informações relacionadas a atendimento e procedimentos realizados no âmbito</p><p>da internação hospitalar e ambulatorial, utilizando-se do Sistema de Informações</p><p>Hospitalares (SIH) e do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA)”.</p><p>Outra fonte de informação importante para o faturamento de uma institui-</p><p>ção é o prontuário do paciente. Ele é uma das formas de controle mais antigas</p><p>utilizadas em hospitais e clínicas médicas. Os prontuários variam conforme o</p><p>volume de produção e o tamanho do estabelecimento (MAURIZ et al., 2012;</p><p>WELTON et al., 2006). O prontuário é um instrumento que contém a identifi-</p><p>cação do paciente e informações sobre anamnese, tipo de tratamento utilizado,</p><p>laudos de exames, etc. Ele inclui informações obtidas desde a entrada até a saída</p><p>do paciente, sendo fundamental para o processamento das contas hospitalares.</p><p>No hospital, os diversos processos que compõem as atividades da instituição</p><p>são responsabilidade da gestão interna. A gestão interna busca acompanhar e</p><p>monitorar questões relacionadas ao fornecimento e à entrega de insumos, à</p><p>elaboração de manuais técnicos, à revisão de prontuários, ao monitoramento da</p><p>execução das atividades desenvolvidas, à elaboração de indicadores de avaliação,</p><p>3Faturamento em saúde</p><p>entre outras atividades que contam com a parceria de unidades farmacêuticas,</p><p>de enfermagem, de hotelaria, de vigilância e demais setores do hospital. De</p><p>acordo com Bonacim et al. (2011, documento on-line), a gestão interna “[...]</p><p>tem a finalidade de conferir a precisão e a confiabilidade dos dados contábeis,</p><p>promover a eficiência operacional e encorajar a aderência às políticas adminis-</p><p>trativas prescritas”. Além disso, o controle interno da instituição é importante</p><p>para a gestão eficiente dos recursos, inclusive dos recursos financeiros, visto</p><p>que abrange questões como planejamento orçamentário, custos, relatórios opera-</p><p>cionais, análises estatísticas e, principalmente, auditoria interna (ATTIE, 1998).</p><p>Uma das principais limitações no processo de auditoria interna, portanto,</p><p>trata-se dos gargalos em relação à utilização de sistemas de informação, os</p><p>quais têm a função de integrar e gerenciar os dados da instituição. É comum</p><p>observar, nos serviços de faturamento, por exemplo, a falta de tecnologia na</p><p>gestão da informação, sendo que muitos dos processos são feitos de forma</p><p>manual, ocasionando mais demora, desorganização e maior probabilidade</p><p>de informações erradas ou perdidas. Segundo Oliveira (2019), a qualificação</p><p>do processo de faturamento é importante para reduzir perdas financeiras,</p><p>otimizar prazos e melhorar os processos: “[...] excesso de burocracias, evolu-</p><p>ções médicas incompletas, como falta de assinatura e/ou dados, e delonga na</p><p>entrega do prontuário do setor de faturamento” são “[...] possíveis causas que</p><p>geram atraso ou glosas” (OLIVEIRA, 2019, p. 11).</p><p>Para conhecer melhor as características</p><p>do processo de faturamento na perspectiva da</p><p>qualidade de um hospital, leia o estudo de caso “Faturamento hospitalar sob a lente</p><p>da qualidade total”, de Francisco Carlos Cobaito. Esse estudo está disponível on-line;</p><p>utilize o seu site de buscas preferido para encontrá-lo.</p><p>2 Funções e particularidades do faturamento</p><p>Quando se estuda o faturamento, deve-se compreender alguns conceitos impor-</p><p>tantes, tais como custo, despesa, investimento e perda (MORAIS; BURMESTER,</p><p>2017). O custo é o gasto associado diretamente à produção de bens ou serviços,</p><p>por exemplo, o consumo de materiais no centro cirúrgico. Já as despesas são</p><p>valores que estão indiretamente associados ao bem ou serviço, como é o caso</p><p>Faturamento em saúde4</p><p>de materiais utilizados nos processos administrativos de um hospital. Por sua</p><p>vez, o investimento trata-se de um valor pago que gera ou incrementa a pro-</p><p>dução, aumentando o patrimônio, como a aquisição de sistemas de inteligência</p><p>artifi cial que visam a otimizar os processos. Por fi m, a perda ocorre quando</p><p>o bem ou serviço é consumido de forma inadequada, sem gerar valor, como</p><p>quando determinado medicamento é comprado em excesso, não é utilizado</p><p>em totalidade e acaba tendo sua validade ultrapassada, gerando desperdícios.</p><p>Nesse contexto, uma das maiores metas do setor de faturamento é combater o</p><p>desperdício na instituição de saúde. O desperdício ocorre muitas vezes por meio</p><p>da utilização inadequada de materiais, como no caso de fio cirúrgico aberto e não</p><p>utilizado, e da inadequação nas compras, como no caso de estoques excessivos</p><p>que possuem validade curta. Assim, cabe ao gestor analisar, por meio das contas</p><p>hospitalares, o que é realmente necessário (MORAIS; BURMESTER, 2017).</p><p>Algumas perguntas pertinentes a se fazer são: o serviço de faturamento</p><p>tem produzido informações corretas e confiáveis? Quais são os desperdícios</p><p>que ocorrem na instituição? E quais os padrões de procedimentos? (MORAIS;</p><p>BURMESTER, 2017). Para responder a essas perguntas, é necessário entender</p><p>que o faturamento das instituições depende muito da estrutura institucional.</p><p>Em síntese, é importante avaliar os seguintes itens nas contas hospitalares</p><p>(MORAIS; BURMESTER, 2017):</p><p> serviços básicos;</p><p> serviços diferenciados;</p><p> especialidades médicas disponíveis;</p><p> serviços complementares (diagnóstico por imagem, patologia clínica, etc.);</p><p> recursos físicos;</p><p> recursos humanos;</p><p> organização e funcionamento.</p><p>Assim, de forma geral, tais itens compõem as diárias hospitalares, conside-</p><p>rando honorários médicos, materiais, medicamentos, exames, etc. Com base nisso,</p><p>verifica-se que o faturamento é um serviço que envolve diversas atividades de uma</p><p>instituição, sendo necessária a articulação entre as informações dos diferentes setores.</p><p>Destaca-se, ainda, que a conta hospitalar se inicia a partir do momento em</p><p>que o paciente entra na recepção do hospital, considerando cada atendimento,</p><p>cada tratamento e cada prescrição prestada a ele, informações especialmente</p><p>necessárias ao faturamento e cujo acompanhamento é papel do gestor. Nesse</p><p>contexto, Mauriz et al. (2012, p. 43) apresentam as seguintes sugestões para</p><p>qualificar o processo de faturamento:</p><p>5Faturamento em saúde</p><p>[...] verificar a justificativa e prescrição dos serviços, assinaturas e carimbos da</p><p>equipe multiprofissional; prescrição médica; verificar e manter a integridade</p><p>do prontuário; evitar glosas e suas causas; implantar planilhas: de controle</p><p>de fluxo financeiro; evitar evasão de receitas; implementar sistemas de in-</p><p>formação gerencial capazes, após análise de dados e informações; agregar</p><p>eficiência no processo de faturamento.</p><p>Assim, a análise crítica e a avaliação das informações utilizadas em prontu-</p><p>ários, relatórios e outros documentos são fundamentais para que o faturamento</p><p>dos serviços seja adequado e eficaz (MAURIZ et al., 2012). Além disso, o</p><p>acompanhamento de alguns indicadores, tais como o indicador de determinação</p><p>do Tempo Médio de Permanência (TMP) e o indicador de Taxa de Ocupação</p><p>(TO), também auxilia na qualificação do serviço de faturamento (MORAIS;</p><p>BURMESTER, 2017). O TMP, por exemplo, permite visualizar a média de</p><p>tempo de ocupação de um leito, o que varia conforme o tipo de tratamento/</p><p>procedimento, a resposta do paciente (recuperação) e o nível de resolubilidade.</p><p>Já a TO diz respeito ao cálculo da utilização (total ou parcial) dos recursos</p><p>disponíveis de um setor ou instituição.</p><p>Ainda em relação aos indicadores que auxiliam na gestão do faturamento,</p><p>também é importante avaliar o Valor Médio da Conta (VMC), subdividido</p><p>em SUS, convênios (operadoras de planos de saúde) e particulares. Esse indi-</p><p>cador tem diversas finalidades, podendo auxiliar na indicação de melhorias</p><p>de processos. O Tempo Médio de Faturamento (TMF) e o Tempo Médio de</p><p>Recebimento (TMR) também são indicadores que apontam gargalos nos</p><p>processos e, com isso, podem conduzir a melhorias.</p><p>O TMF mede, em dias, o tempo transcorrido entre a alta do paciente e o</p><p>fechamento da conta. Um TMF muito elevado pode indicar problemas nos</p><p>registros dos prontuários, fazendo com que essa conta fique “pendente”,</p><p>aguardando alguma informação faltante. Já o TMR mede, também em dias, o</p><p>tempo entre o encerramento da conta (e respectivo envio à fonte pagadora) e o</p><p>efetivo recebimento dos valores faturados. Um TMR baixo é o que se almeja</p><p>e pode indicar que a fonte pagadora cumpre os prazos acordados e é uma boa</p><p>parceira para a instituição.</p><p>A relevância e a utilização dos indicadores podem variar conforme a</p><p>estrutura interna e a quantidade de funcionários do setor de faturamento.</p><p>Esses fatores dependem do tipo de clientela atendida, ou seja, se a instituição</p><p>atende pacientes do SUS, de operadoras de planos de saúde e/ou particulares.</p><p>Além disso, é necessário verificar o volume de atendimentos em termos de</p><p>internações, procedimentos ambulatoriais e serviços de diagnóstico. Em fun-</p><p>Faturamento em saúde6</p><p>ção do volume e do tipo de atendimento, muitos hospitais estruturam o setor</p><p>com colaboradores especializados em determinadas funções. Por exemplo,</p><p>um hospital que atende 70% de pacientes do SUS para internações terá uma</p><p>equipe especializada em faturar as contas de internação do SUS.</p><p>Ante as particularidades dos sistemas de saúde e as limitações co-</p><p>mumente encontradas nos serviços de faturamento, é necessário investir</p><p>na qualificação desses serviços. Esse investimento deve estar focado na</p><p>incorporação de tecnologia para otimizar o f luxo de informações (por meio</p><p>de prontuários eletrônicos, por exemplo) e na capacitação das equipes e</p><p>gestores que atuam no setor, tendo em vista a importância do faturamento</p><p>para a instituição de saúde.</p><p>Para conhecer melhor as implicações do treinamento das equipes responsáveis pelo</p><p>faturamento assistencial e comparar resultados, leia o artigo “Treinamento com foco</p><p>no faturamento assistencial: uma inovação no serviço de educação continuada”, de</p><p>Raquel Silva Bicalho Zunta et al.. Esse artigo está disponível on-line; utilize o seu site</p><p>de buscas preferido para encontrá-lo.</p><p>3 O ciclo financeiro do faturamento</p><p>Como você viu anteriormente, o processo de faturamento varia conforme o</p><p>tipo de instituição e de serviço prestado. No SUS, todos os serviços realizados</p><p>(tais como ambulatório, internações, cirurgias e emergência) são contabilizados</p><p>de acordo com a tabela do SUS, que é autorizada por secretarias municipais.</p><p>Assim, os procedimentos e serviços são registrados no prontuário do</p><p>paciente, junto aos códigos da tabela do SUS. Esse procedimento é realizado</p><p>por meio do sistema de gestão da instituição. É importante destacar que o</p><p>faturamento do SUS é realizado por “pacotes”, as AIHs, o que simplifica o</p><p>processo de faturamento, visto que não é necessário faturar cada item, pois</p><p>consultas, medicamentos, alguns exames e procedimentos já estão conta-</p><p>bilizados nesse pacote (OLIVEIRA, 2019). A seguir, veja um exemplo de</p><p>processo de faturamento que ocorre no SUS, num hospital de Minas Gerais</p><p>(OLIVEIRA, 2019):</p><p>7Faturamento em saúde</p><p>1. envio dos prontuários para o setor pelas secretarias;</p><p>2. baixa;</p><p>3. anexação de documentos;</p><p>4. filtro;</p><p>5. codificação;</p><p>6. digitação de conta;</p><p>7. auditoria/autorização;</p><p>8. arquivo.</p><p>De acordo com Oliveira (2019), de forma geral, os funcionários da institui-</p><p>ção responsáveis por encaminhamentos ao setor de faturamento, muitas vezes</p><p>secretárias, enviam o prontuário do paciente dentro de um prazo de sete dias</p><p>após a alta hospitalar. Quando o paciente fica internado por mais tempo, os</p><p>prontuários são enviados até 30 dias depois da internação. Nesse contexto,</p><p>problemas tais como perda, falta de assinaturas e falha na impressão podem</p><p>atrapalhar a eficiência do prontuário.</p><p>A partir disso, ocorre a “baixa” do prontuário no sistema e a anexação dos</p><p>documentos, ou seja, as informações do prontuário físico são transferidas</p><p>para o sistema de gestão da instituição. Nessa etapa, informações escritas de</p><p>forma ilegível e demora na entrega dos prontuários são problemas comuns nos</p><p>serviços de faturamento. Na etapa de filtro, ocorre a leitura do prontuário e a</p><p>identificação dos procedimentos a serem cobrados. Em seguida, é realizada</p><p>a codificação, geralmente por médicos auditores, os quais fazem a leitura do</p><p>prontuário e utilizam os códigos dos procedimentos e da Classificação Inter-</p><p>nacional de Doenças (CID) para a cobrança nas contas hospitalares. Assim</p><p>como outras etapas, esta última também é sujeita a erros, como a seleção de</p><p>um código que não condiz com o procedimento.</p><p>Após a codificação, ocorre a etapa de digitação, em que são transferidos</p><p>os códigos e procedimentos ao sistema do SUS, sendo comum haver erros</p><p>de digitação. Depois da digitação, as informações são revisadas por médicos</p><p>auditores, os quais assinam o documento e o encaminham para a Secretaria</p><p>Municipal de Saúde. Quando o processo é finalmente autorizado, o prontuá-</p><p>rio é direcionado ao setor de arquivo; quando ele não é autorizado (situação</p><p>chamada de “glosa”), o prontuário volta para as etapas anteriores.</p><p>O faturamento realizado no setor privado possui algumas peculiaridades.</p><p>Zunta e Lima (2017) estudaram o ciclo de faturamento de um hospital privado</p><p>em São Paulo. Os autores discutem que “[...] as instituições hospitalares, públicas</p><p>e privadas, que prestam serviços às operadoras de planos de saúde (OPS) têm</p><p>investido na auditoria de contas visando à adequada remuneração do atendimento</p><p>Faturamento em saúde8</p><p>prestado” (ZUNTA; LIMA, 2017, p. 2). De acordo com o mapeamento realizado</p><p>pelos autores, o processo se assemelha ao faturamento descrito anteriormente,</p><p>porém apresenta particularidades em relação às OPS, como você pode ver nas</p><p>etapas do ciclo de faturamento elencadas a seguir (ZUNTA; LIMA, 2017):</p><p>1. a unidade de prestação de serviços de saúde ao paciente realiza lança-</p><p>mento de informações sobre a alta no sistema de gestão da instituição;</p><p>2. o prontuário é organizado e encaminhado ao Serviço de Arquivo Médico</p><p>e Estatística (Same);</p><p>3. após análise do Same, o prontuário é encaminhado ao serviço de</p><p>pré-faturamento;</p><p>4. no setor de pré-faturamento, o prontuário do paciente é confrontado com</p><p>o prontuário financeiro (documento em que são descritas as guias de</p><p>solicitação de internação, os documentos administrativos da instituição</p><p>e o contrato do paciente);</p><p>5. se as informações do prontuário do paciente e do prontuário financeiro</p><p>estiverem de acordo, ambos são encaminhados ao setor de auditoria</p><p>interna, ou são subsidiadas as emissões de Notas Fiscais (NF) que serão</p><p>encaminhadas às OPS;</p><p>6. ambos os prontuários são encaminhados ao setor de coordenação de</p><p>guias, no qual são verificadas possíveis pendências no prontuário</p><p>financeiro;</p><p>7. após a avaliação de ambos os prontuários, eles são encaminhados</p><p>novamente para a auditoria interna, em que o profissional, geralmente</p><p>enfermeiro, compara as informações dos prontuários com a conta</p><p>hospitalar;</p><p>8. o prontuário do paciente, o prontuário financeiro e a conta hospitalar</p><p>são encaminhados para a auditoria da OPS, também chamada de “au-</p><p>ditoria externa”;</p><p>9. a partir da autorização da auditoria externa, os prontuários retornam</p><p>para a auditoria interna, a qual realiza o faturamento, no qual as notas</p><p>fiscais são emitidas e encaminhadas às OPS;</p><p>10. as OPS autorizam os documentos, processo em que ocorre a cobrança</p><p>e o faturamento dos serviços.</p><p>O ciclo de faturamento, portanto, está relacionado ao ciclo de recebimento</p><p>e de pagamento. O tempo de duração de cada ciclo varia conforme a institui-</p><p>ção, as atividades e diversos outros aspectos que podem atrasar ou adiantar</p><p>os processos relacionados ao recebimento e ao pagamento. Um exemplo é</p><p>9Faturamento em saúde</p><p>quando o hospital investe mais tempo no ciclo de recebimento do que no</p><p>ciclo de pagamento, o que ocorre se o paciente fica muito tempo internado,</p><p>ocasionando mais gastos e atrasos na remuneração dos serviços. A seguir,</p><p>observe o fluxo de faturamento e note como ambos os ciclos se desenvolvem</p><p>e interagem. Primeiro, veja o ciclo de recebimento:</p><p>1. internação/atendimento do paciente;</p><p>2. consumo de materiais, medicamentos e OPME, prestação de serviço</p><p>dos profissionais, consumo de alimentos, utilização de equipamentos,</p><p>utilização de hotelaria;</p><p>3. alta/saída do paciente;</p><p>4. faturamento da conta;</p><p>5. auditoria interna da conta;</p><p>6. envio da fatura para o financiador (SUS e OPS);</p><p>7. auditoria externa;</p><p>8. glosa;</p><p>9. contestação da glosa;</p><p>10. pagamento.</p><p>Agora veja como se dá o ciclo de pagamentos:</p><p>1. compra de materiais, medicamentos e OPME;</p><p>2. contratação de profissionais;</p><p>3. compra de insumos para alimentação;</p><p>4. compra e manutenção de equipamentos;</p><p>5. manutenção da estrutura de hotelaria;</p><p>6. pagamento de todos os itens (pagamento de fornecedores, pagamento</p><p>de terceirizados, pagamento de contratos).</p><p>Como você pode notar, o ciclo de recebimento se inicia com a internação</p><p>e o atendimento do paciente, que ocorrem na etapa de primeiro contato dele</p><p>com o serviço de saúde. Nesse momento, são registradas as condições, ne-</p><p>cessidades e demais informações relacionadas ao perfil do paciente e à sua</p><p>situação. Em seguida, conforme as abordagens e tratamentos utilizados, há</p><p>o consumo de materiais e medicamentos, além da prestação de serviços das</p><p>equipes envolvidas no atendimento e no tratamento do paciente. Também</p><p>deve-se considerar a estrutura física que o paciente utiliza, como leito, equi-</p><p>Faturamento em saúde10</p><p>pamentos, utensílios do quarto, etc. Nessa etapa, também se inicia o ciclo de</p><p>pagamento, por meio da compra de materiais, medicamentos, contratação de</p><p>profissionais e pagamentos de diversos itens utilizados pelo paciente. Então,</p><p>quando o tratamento e a internação são bem-sucedidos, o paciente recebe alta,</p><p>concluindo, portanto, a sua conta hospitalar.</p><p>Por meio da conta hospitalar, ocorre o faturamento, processo realizado</p><p>a partir da revisão e da contabilização de cada item e serviço utilizado pelo</p><p>paciente durante sua estadia no hospital. A conta finalizada é encaminhada,</p><p>então, ao serviço de auditoria interna, realizado pela própria equipe do</p><p>hospital. A ideia é que as informações contidas na conta sejam analisadas</p><p>e avaliadas; busca-se principalmente verificar a compatibilidade entre o</p><p>que foi gasto e o que está sendo cobrado. Quando tudo estiver de acordo, a</p><p>fatura da conta hospitalar é enviada ao financiador, ou seja, a quem paga,</p><p>que pode ser tanto o SUS (no caso dos serviços públicos) quanto as OPS (no</p><p>caso dos serviços privados).</p><p>Assim que os financiadores recebem as contas, é realizada uma nova</p><p>auditoria, dessa vez externa. Nessa etapa, um dos principais objetivos é a</p><p>identificação de glosas, ou seja, de erros ou inconsistências nas informações</p><p>recebidas, os quais resultam em rejeição de pagamento — devido a algum</p><p>procedimento inadequado, algum valor equivocado, etc. Conforme a identifi-</p><p>cação de glosas, é estipulado um prazo para contestação, ou seja, os hospitais</p><p>podem se opor a determinada glosa identificada pelo financiador,</p><p>mediante</p><p>uma justificativa dentro de um período preestabelecido. Após o processo de</p><p>contestação, o pagamento pode ser finalmente realizado.</p><p>Observa-se, portanto, que o faturamento nas instituições de saúde é um</p><p>processo complexo, que envolve informações detalhadas e exige organização,</p><p>clareza e rapidez. É necessário que o gestor tenha conhecimento do fluxo</p><p>de faturamento da instituição, acompanhando os indicadores adequados ao</p><p>cumprimento dos objetivos de cada área envolvida e buscando sempre otimizar</p><p>o processo. Tal otimização pode ocorrer tanto por meio da incorporação de</p><p>tecnologia (a qual pode auxiliar na organização e na gestão das informações</p><p>dos prontuários, por exemplo) quanto por meio do treinamento das equipes</p><p>envolvidas (as quais precisam estar aptas a desempenhar suas funções) e da</p><p>adequação da estrutura (o que permite obter mais organização e condições</p><p>favoráveis para as equipes atuarem), entre outras estratégias que variam con-</p><p>forme as necessidades da instituição.</p><p>11Faturamento em saúde</p><p>Para compreender melhor o processo de faturamento do SUS em setores de urgência/</p><p>emergência, leia o estudo de caso “Monitoramento do Faturamento nos Setores</p><p>de Urgência/Emergência no Sistema Único de Saúde: Proposta de um Roteiro para</p><p>Auxiliar o Gestor”, de Chennyfer Dobbins Abi Rached e Denise Mathias. Esse estudo</p><p>está disponível on-line; utilize o seu site de buscas preferido para encontrá-lo.</p><p>ATTIE, W. Auditoria: conceitos e aplicações. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1998.</p><p>BONACIM, C. A. G. et al. A influência da estrutura organizacional nos controles internos</p><p>de uma fundação para pesquisa, prevenção e assistência do câncer do interior paulista.</p><p>Ciênc. Saúde Coletiva, v. 16, n. 5, p. 2635-2642, 2011. Disponível em: https://www.scielo.</p><p>br/pdf/csc/v16n5/a33v16n5.pdf. Acesso em: 30 jul. 2020.</p><p>CINTRA, R. F. et al. A informação do setor de faturamento como suporte à tomada de</p><p>decisão: um estudo de caso no Hospital Universitário da UFGD. Ciênc. Saúde Coletiva,</p><p>v. 18, n. 10, p. 3043-3053, 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/csc/v18n10/</p><p>v18n10a29.pdf. Acesso em: 30 jul. 2020.</p><p>MAURIZ, C. et al. Faturamento hospitalar: um passo a mais. Inova Ação, v. 1, n. 1, p.</p><p>38-44, 2012.</p><p>MORAIS, M. V.; BURMESTER, H. Auditoria em saúde. São Paulo: Saraiva, 2017.</p><p>OLIVEIRA, V. F. Faturamento hospitalar: identificação dos pontos de melhoria para a</p><p>otimização dos processos. 2019. Trabalho de Conclusão do Curso (Especialização</p><p>em Gestão Pública no Setor de Saúde) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo</p><p>Horizonte, 2019.</p><p>RODRIGUES, J. A. R. M. et al. Glosas em contas hospitalares: um desafio à gestão. Rev.</p><p>Bras. Enferm., v. 71, n. 5, p. 2511-2518, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/</p><p>reben/v71n5/pt_0034-7167-reben-71-05-2511.pdf. Acesso em: 30 jul. 2020.</p><p>WELTON, J. M. et al. Hospital nursing costs, billing, and reimbursement. Nurs Econ, v.</p><p>24, n. 5, p. 239-245, 2006.</p><p>ZUNTA, R. S. B.; LIMA, A. F. C. Processo de auditoria e faturamento de contas em hospital</p><p>geral privado: um estudo de caso. Rev. Eletr. Enferm., v. 19, 2017. Disponível em: https://</p><p>revistas.ufg.br/fen/article/view/42082. Acesso em: 30 jul. 2020.</p><p>Faturamento em saúde12</p><p>Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-</p><p>cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a</p><p>rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de</p><p>local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade</p><p>sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.</p><p>Leituras recomendadas</p><p>COBAITO, F. C. Faturamento hospitalar sob a lente da qualidade total. Rev. Gestão em</p><p>Sistemas de Saúde, v. 5, n. 1, p. 52-61, 2016. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/</p><p>servlet/articulo?codigo=5583273. Acesso em: 30 jul. 2020.</p><p>RACHED, C. D. A.; MATHIAS, D. Monitoramento do faturamento nos setores de urgência/</p><p>emergência no sistema único de saúde: proposta de um roteiro para auxiliar o gestor.</p><p>Rev. Gestão em Sistemas de Saúde, v. 7, n. 2, p. 173-188, 2018. Disponível em: http://www.</p><p>revistargss.org.br/ojs/index.php/rgss/article/view/430. Acesso em: 30 jul. 2020.</p><p>ZUNTA, R. S. B. et al. Treinamento com foco no faturamento assistencial: uma inovação</p><p>no serviço de educação continuada. O Mundo da Saúde, v. 30, n. 2, p. 250-255, 2006.</p><p>Disponível em: http://www.saocamilo-sp.br/pdf/mundo_saude/35/treinamento_</p><p>foco_faturamento.pdf. Acesso em: 30 jul. 2020.</p><p>13Faturamento em saúde</p>