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<p>Livros</p><p>Proféticos</p><p>Professor Esp. Felipe Fernandes</p><p>Reitor</p><p>Prof. Ms. Gilmar de Oliveira</p><p>Diretor de Ensino</p><p>Prof. Ms. Daniel de Lima</p><p>Diretor Financeiro</p><p>Prof. Eduardo Luiz</p><p>Campano Santini</p><p>Diretor Administrativo</p><p>Prof. Ms. Renato Valença Correia</p><p>Secretário Acadêmico</p><p>Tiago Pereira da Silva</p><p>Coord. de Ensino, Pesquisa e</p><p>Extensão - CONPEX</p><p>Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza</p><p>Coordenação Adjunta de Ensino</p><p>Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman</p><p>de Araújo</p><p>Coordenação Adjunta de Pesquisa</p><p>Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme</p><p>Coordenação Adjunta de Extensão</p><p>Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves</p><p>Coordenador NEAD - Núcleo de</p><p>Educação à Distância</p><p>Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal</p><p>Web Designer</p><p>Thiago Azenha</p><p>Revisão Textual</p><p>Kauê Berto</p><p>Projeto Gráfico, Design e</p><p>Diagramação</p><p>Carlos Eduardo Firmino de Oliveira</p><p>2021 by Editora Edufatecie</p><p>Copyright do Texto C 2021 Os autores</p><p>Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie</p><p>O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade</p><p>exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi-</p><p>tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem</p><p>a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP</p><p>F363L Fernandes, Felipe</p><p>Livros proféticos / Felipe Fernandes. Paranavaí: EduFatecie,</p><p>2022.</p><p>85 p. : il. Color.</p><p>1. Bíblia. A.T. Profetas - Introduções. 2. Teologia. 3. Profetas.</p><p>4. Hermenêutica - Religião. I. Centro Universitário Unifatecie.</p><p>II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título.</p><p>CDD: 23 ed. 223.06</p><p>Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577</p><p>UNIFATECIE Unidade 1</p><p>Rua Getúlio Vargas, 333</p><p>Centro, Paranavaí, PR</p><p>(44) 3045-9898</p><p>UNIFATECIE Unidade 2</p><p>Rua Cândido Bertier</p><p>Fortes, 2178, Centro,</p><p>Paranavaí, PR</p><p>(44) 3045-9898</p><p>UNIFATECIE Unidade 3</p><p>Rodovia BR - 376, KM</p><p>102, nº 1000 - Chácara</p><p>Jaraguá , Paranavaí, PR</p><p>(44) 3045-9898</p><p>www.unifatecie.edu.br/site</p><p>As imagens utilizadas neste</p><p>livro foram obtidas a partir</p><p>do site Shutterstock.</p><p>AUTOR</p><p>Professor Carlos Felipe Fernandes</p><p>● É formado no Bacharelado em Teologia pela Unicesumar (2013);</p><p>● Pós graduado em Liderança Pastoral pela Faculdade Teológica Sul Americana –</p><p>Londrina Pr (2016);</p><p>● Pós-graduado em Docência no Ensino Superior e Tecnologias Educacionais e</p><p>Inovação pela Unicesumar (2019);</p><p>● Professor Mediador no curso de Graduação em Teologia na Unicesumar – EAD</p><p>(2020);</p><p>● Atualmente é Orientador dos cursos de pós-graduação das áreas de Educação e</p><p>de Teologia da Unicesumar – EAD.</p><p>CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/1466605796030805</p><p>APRESENTAÇÃO DO MATERIAL</p><p>Olá acadêmico (a), seja bem vindo (a)</p><p>Iniciamos aqui a nossa disciplina “Livros Proféticos”, neste livro e em nossas aulas</p><p>vamos imergir em contextos sociais dos mais diferentes do Oriente Antigo no período bíblico,</p><p>iremos compreender o ministério profético, suas nuances e características especiais nos</p><p>textos bíblicos. Nesta jornada, iremos perpassar em especial os livros do Antigo Testamento.</p><p>Poderemos observar no decorrer como o ministério dos profetas se desenvolveu e quais</p><p>foram principais precursores em diferentes épocas no enredo veterotestamentário.</p><p>Diferente do que estamos habituados a ouvir sobre os profetas, o profetismo teve</p><p>importante papel, não somente no campo religioso, mas foi muito relevante nos campos</p><p>políticos e sociais nas sociedades as quais estavam inseridos. Estudar essa temática é</p><p>um convite à imersão em culturas diversas bem como a embates entre povo e monarquia,</p><p>que mostram como era importante o papel dos profetas nos diferentes contextos aos quais</p><p>estavam inseridos.</p><p>Neste material vamos estudar os principais períodos e marcos históricos dos</p><p>profetas bíblicos suas mensagens e sua vida e abnegação em obediência as ordens e</p><p>profecias dadas por Deus para o povo.</p><p>Então pegue seu livro e vamos embarcar nessa maravilhosa viagem rumo ao</p><p>conhecimento!</p><p>SUMÁRIO</p><p>UNIDADE I ...................................................................................................... 3</p><p>Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>UNIDADE II ................................................................................................... 26</p><p>Profetismo do 8° Século</p><p>UNIDADE III .................................................................................................. 47</p><p>Profetismo do Século 7° e 6° Século</p><p>UNIDADE IV .................................................................................................. 66</p><p>Profetismo do 6° e 5° Século</p><p>3</p><p>Plano de Estudo:</p><p>● Introdução aos profetas;</p><p>● Definindo os tipos de profetas;</p><p>● Formas de Profetismo;</p><p>● Cultura e sociedade no oriente do antigo testamento;</p><p>● O Reino de Israel.</p><p>.</p><p>Objetivos da Aprendizagem:</p><p>● Conceituar quem eram os profetas, seus livros, suas mensagens</p><p>e contextos sociais que estavam inseridos;</p><p>● Compreender os tipos de profetas e as mensagens</p><p>especificas em cada período e contexto;</p><p>● Estabelecer a importância da mensagem profética nos campos</p><p>da religião, política e sociedade dos períodos aos</p><p>quais os profetas estavam inseridos.</p><p>UNIDADE I</p><p>Profetas e</p><p>Profetismo Bíblico</p><p>Professor Esp. Felipe Fernandes</p><p>4UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Dentre as diversas áreas do saber no estudo teológico, a teologia bíblica contempla</p><p>a clivagem dos estudos sobre os profetas e o profetismo. Em nosso objeto de análise desta</p><p>feita, teremos como recorte o profetismo, em especial, no Antigo Testamento.</p><p>Nesta unidade introdutória ao nosso material de estudos vamos conhecer quem</p><p>eram os profetas, seu ministério e suas peculiaridades. Uma análise mais aprofundada do</p><p>ministério destes grandes homens de Deus, de fato, merece a continuidade da pesquisa</p><p>acadêmica. Mas nessa unidade, você leitor, será convidado a viajar ao mundo contextual do</p><p>Oriente Antigo e vamos descobrir juntos os caminhos que formaram e forjaram os profetas</p><p>a serem fiéis à mensagem recebida por Deus, bem como a transmiti-la com coragem e</p><p>ousadia a todos: da monarquia aos plebeus, dos ricos aos pobres, aos Filhos de Deus e</p><p>aos pagãos, a sacerdotes de divindades pagãs, a profetas vendidos e aos falsos profetas.</p><p>Tudo em nome da verdade de Deus e sua vontade ao povo.</p><p>Falei aos profetas, e multipliquei a visão; e pelo ministério dos profetas propus</p><p>símiles (Oséias 12:10)</p><p>5UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>1. INTRODUÇÃO AOS PROFETAS</p><p>Devemos iniciar nossa abordagem desconstruindo a ideia de que os profetas</p><p>atuavam apenas dentro da abrangência do período bíblico. Existem diversos registros</p><p>históricos de profetas e formas de profetismo anteriores aos relatos veterotestamentários.</p><p>Desta forma, o termo “profeta” não é oriundo de Israel, mas do antigo mundo da Bíblia,</p><p>que podemos nominar como o “Antigo Oriente Próximo”. De fato, com a ampla leitura</p><p>dos textos sagrados da Bíblia, o uso do termo profeta ficou comumente relacionado</p><p>exclusivamente ao enredo bíblico, mas que tiveram atuação na vida em sociedade dos</p><p>mesmos períodos no Antigo Testamento.</p><p>No entanto, quando fazemos a clivagem (recorte) da nossa análise da profecia</p><p>bíblica no Antigo Testamento, temos seus matizes próprios, características peculiares que</p><p>exalam a verdade do Deus de Israel. Os profetas comprometidos em proferir as verdades</p><p>de Deus mesmo que suas vidas fossem colocadas em risco, dada à seriedade dos juízos</p><p>e acusações que profetizavam. Isso com ousadia e intrepidez, com as quais as elites não</p><p>estavam habituadas a lidar e nem estavam dispostas a dialogar e compreender. Neste</p><p>contexto, alguns dos profetas do período escreveram suas mensagens proféticas, outros</p><p>não registraram, e desta forma tiveram suas profecias contadas por</p><p>abalizada do profeta, sua forma rebuscada</p><p>de escrita, seu vínculo com a monarquia, sua habilidade como pregador, sua percepção e</p><p>crítica social, sua responsabilidade com sua vocação, sua sinceridade de condição diante</p><p>de Deus, sua autoridade, sua audácia, suas convicções e fidelidade a Deus de fato atribuem</p><p>ao profeta características que de fato o elevam de categoria nos textos bíblicos e de forma</p><p>mais que merecida. Nesta pequena amostragem da vida e obra do profeta as páginas</p><p>deveriam exceder-se mais, nossas laudas são poucas, mas que permaneça em nós leitores</p><p>o desejo pela pesquisa do profeta Isaias.</p><p>38UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 38UNIDADE II Profetismo do 8° Século</p><p>4. OS PROFETAS MIQUÉIAS E JONAS</p><p>4.1 Miquéias</p><p>Neste momento apresentaremos uma síntese sobre a vida e obra do profeta</p><p>Miquéias. Nascido em Moreset, aldeia próxima a Judá, a cerca de 35 quilômetros, o profeta</p><p>teve sua formação em um ambiente bucólico/rural vivenciando as experiências e sabedoria</p><p>destes, mas também vivendo conjuntamente com suas agruras e opressões, principalmente</p><p>advindas de latifundiários (SICRE, 1992). Poucas informações apontam para qual seria a</p><p>profissão do profeta e suas condições sociais, mas certamente seria um homem embainhado</p><p>de simplicidade e dado ao trabalho pesado. Em seu ministério, como afirma Wollf (2003)</p><p>o profeta desempenha um importante papel, sendo já um ancião (zaqen) Miqueias parece</p><p>ter se cansado das injustiças que presenciou ao longo de sua vida e que a incomodarão</p><p>com tais fatos o levantassem como profeta de Deus. Seu ministério foi desenvolvido entre</p><p>os reinados de Joatão, Acaz e Exequias, alinhando-se em alguns aspectos a mensagem</p><p>do profeta Isaias, isso entre os períodos de 740-698 a.C. (SICRE, 1992). Durante esses</p><p>reinados, ao levantar sua denúncia profética Miquéias foi muito incisivo contra os opressores</p><p>dos moradores rurais, com veementes ameaças contra latifundiários que exploravam os</p><p>trabalhadores rurais o ambiente em que Miqueias viveu era marcado por latifúndio, altos</p><p>impostos, aldeias saqueadas, roubos, tra¬balhos forçados e prostituição.</p><p>A mensagem do profeta em aspectos literários, ou seja, sua escrita está basicamente</p><p>nos capítulos inicias de seu texto, mais especialmente nos capítulos 2 e 3, onde o profeta</p><p>de fato é apresentado como um forte promotor de justiça contra as invasões e apropriações</p><p>das casas dos camponeses.</p><p>39UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 39UNIDADE II Profetismo do 8° Século</p><p>A narrativa nos coloca como leitores do livro de Miquéias em um ambiente tenebroso, onde</p><p>os mais fracos, sem condições de qualquer residência ou defesa perdem tudo de forma autoritária.</p><p>Ao abrirmos o livro do profeta Miqueias, deparamo-nos com fortes denúncias e julgamentos</p><p>severos contra as autoridades do seu tempo. À luz de seu sofrimento o profeta acredita que Deus</p><p>não compactua com a realidade notada de injustiça social. Como vemos abaixo:</p><p>Escutem bem, chefes de Jacó, governantes da casa de Israel! Por acaso,</p><p>não é obrigação de vocês conhecer o direito? Inimigos do bem e amantes</p><p>do mal, vocês arrancam a pele das pessoas e a carne de seus ossos. Vocês</p><p>são gente que devora a carne do meu povo e arranca suas peles; quebra</p><p>seus ossos e os faz em pedaços, como um cozido no caldeirão. Depois,</p><p>vocês gritarão a Javé, mas ele não responderá. Nesse tempo, ele esconderá</p><p>o rosto, por causa da maldade que vocês praticaram (Mq 3:1-4).</p><p>Concluímos então que o profeta Miqueias elabora uma espécie de “Teologia da</p><p>Opressão” onde os opressores serão julgados de forma severa pelo próprio e Deus e</p><p>verão em vida as consequências de seus atos injustos e por outro lado os oprimidos serão</p><p>assistidos pelo próprio Deus e libertos da opressão e injustiça de seus opositores. Quanto</p><p>à morte de Miqueias as informações não são concretas, mas o profeta encerra sua carreira</p><p>com uma mensagem de forte embate contra as injustiças ao povo de Deus.</p><p>4.2 Jonas</p><p>O profeta Jonas identificado como “filho de Amitai” no início de seu livro, era</p><p>natural da vila de Gate-Hefer, uma região cosmopolita e com diferentes culturas coabitando</p><p>na vila, fato que pode ter sido preponderante no envio de Jonas Nínive. O nome Jonas</p><p>tem o significado em hebraico de “pomba”, esse significado pode ser dado por seu país</p><p>considerarem Jonas uma criança dócil e pacífica, mas também um contraponto a vocação</p><p>dele como profeta ao enviar uma dura mensagem contra os Nínivitas. A época de Elias já</p><p>havia passado e seu sucessor, Eliseu, tinha morrido durante o reinado do pai de Jeroboão</p><p>II. Embora Jeová tivesse usado esses homens para eliminar a adoração de Baal, Israel</p><p>estava se desviando novamente (HOUSE, 2005). O país estava mais uma vez sob o poder</p><p>de um rei que “fazia o que era mau aos olhos de Jeová” (2 Reis 14:24).</p><p>A ida a Nínive é a peça chave do quebra cabeça da compreensão da vocação profética</p><p>de Jonas. A cidade era capital do reino da Assíria, na margem esquerda do rio Tigre, na</p><p>antiga Mesopotâmia, Nínive, cujo nome significava “bela” (também de dimensões territoriais</p><p>extensas). Jonas então é enviado a Nínive para converter o seu povo e, assim evitar a sua</p><p>destruição (Jonas 3:1-10). Mais tarde, é o profeta Naum que descreve a ruína de Nínive, que</p><p>parece ter sucedido por volta de 612 (a.C).</p><p>40UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 40UNIDADE II Profetismo do 8° Século</p><p>Os Assírios, tradicionalmente tidos como um povo conquistador e cruel foram</p><p>construtores de uma civilização que deixou marcas importantes no mundo antigo, visíveis</p><p>nas suas cidades, como Nínive, Assur e Nimrud. Decaíram a partir do século VII a. C., depois</p><p>de mais de quinze séculos de conquistas e esplendor.</p><p>A ida de Jonas a Nínive, cidade fundada por Oannes, por uma ordem divina, em uma</p><p>leitura inicial pode apresentar-nos características de desobediência e covardia por parte do</p><p>profeta, mas também é inegável notar que Jonas teve papel muito importante na história de</p><p>Israel e na expansão do reinado de Jeroboão II (782 a 753 a.C.) (GARNER, 2012).</p><p>Ao que é notado as palavras do profeta Jonas serviram de grande incentivo as</p><p>investidas progressistas e expansivas de Jeroboão II e a recuperação de territórios que</p><p>estavam em domínio dos sírios trouxe de volta parte da glória de Israel como nos dias</p><p>de Davi e Salomão. Embora fatos históricos se assemelham ao livro e são apresentados</p><p>pelo profeta Jonas, alguns teólogos caracterizam o livro como uma alegoria, uma parábola</p><p>destinada a ensinar algumas lições, como por exemplo que Deus é o senhor de todas as</p><p>nações. (GARNER, 2012, p. 372). Este fato é confrontado por outros historiadores que</p><p>apontam Jesus reafirmando a historicidade Jonas ao afirmar que ele ficou três dias no</p><p>ventre do grande peixe (Cf. Mt.12:40) (BIBLIA JERUSALÉM, 2002), o Cristo entendia a</p><p>história de Jonas como um fato real e que no período do Novo Testamento a narrativa era</p><p>considerada historicamente verídica.</p><p>O profeta mesmo podendo contemplar os efeitos da sua mensagem ficou</p><p>desapontado com o ato de “certa maneira” misericordioso de Deus ao ver que seus ouvintes</p><p>se arrependeram como vemos abaixo no texto de seu livro:</p><p>E Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e</p><p>Deus se arrependeu do mal que tinha anunciado lhes faria, e não o fez. Mas</p><p>isso desagradou extremamente a Jonas, e ele ficou irado. E orou ao Senhor,</p><p>e disse: Ah! Senhor! Não foi esta minha palavra, estando ainda na minha</p><p>terra? Por isso é que me preveni, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus</p><p>compassivo e misericordioso, longânimo e grande em benignidade, e que te</p><p>arrependes do mal (Jn 3:10 e 4:1-2) (BIBLIA JERUSALÉM, 2002).</p><p>Esta sensação de fracasso de Jonas foi para Deus um sucesso na missão do envio</p><p>do profeta, haja vista, é notada a conversão de uma cidade pagã ao arrependimento e volta</p><p>às leis e desígnios de Deus, reafirmando o fato de que Deus é um Senhor de amor, e o</p><p>amor um de seus atributos</p><p>inegociáveis, desejando a salvar todos indistintamente (Jn 4:11)</p><p>(BIBLIA JERUSALÉM, 2002).</p><p>41UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 41UNIDADE II Profetismo do 8° Século</p><p>Quanto à morte do profeta isto é um fato desconhecido, mas a história é, no mínimo</p><p>curiosa, do profeta que tenta fugir de sua vocação e acaba engolido por três dias no ventre</p><p>de um peixe e depois vomitado não pode ser resumida a apenas isso. O trabalho de Deus</p><p>em experiências pessoais com o profeta merece destaque nas leituras, somado a isso a</p><p>coragem de pisar em um território voraz e hostil faz que a coragem esteja acima da tentativa</p><p>de fugir e que a obediência de Jonas esteve acima de sua própria vida.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>A prostituição sagrada em Oséias</p><p>A imagem da prostituição é muito usada na profecia de Oseias. Em geral, as pessoas</p><p>leem e conhecem Oseias como o profeta que se casa com uma mulher de prostituição.</p><p>E Javé é apresentado como o marido que condena sua esposa, neste caso o povo, por</p><p>cometer prostituição. Mas como entender essa linguagem? Que tipo de prostituição</p><p>é cometida? O termo prostituição no livro de Oseias tem vários sentidos: indica</p><p>as relações internacionais proibidas, a corrupção das elites políticas e religiosas</p><p>e a própria religião do Estado — especialmente a religião que incentiva o culto de</p><p>fertilidade praticado nos santuários do rei, chamado de “prostituição sagrada” (cf. Os</p><p>4,12-14). Nas antigas cidades-estados de Canaã, como Tiro dos sidônios (1Rs 16,29-</p><p>34), existem os cultos a Baal oficial (GUSSO, 2003), o Deus da chuva e da fertilidade.</p><p>Nos cultos, além da oferta dos produtos em sinal de agradecimento à divindade pela</p><p>colheita, há também muitos rituais de fertilidade, incluindo a celebração do encontro</p><p>entre Baal e Anat, sua esposa e irmã. Esse encontro é representado por meio de</p><p>relações sexuais entre mulheres e homens escolhidos(as) para serem prostitutos(as)</p><p>sagrados(as) a serviço dos fiéis de Baal. Mas qual a origem do culto a Baal? Uma das</p><p>histórias do povo cananeu sobre as origens de Baal, Deus da chuva e da fertilidade,</p><p>diz o seguinte: Mot, a divindade da esterilidade e da morte, mata Baal. A deusa Anat,</p><p>irmã e esposa de Baal, mata Mot, fazendo Baal retornar à vida. Essa história explica</p><p>o calor e a seca durante os meses de maio a setembro, quando não cai uma gota de</p><p>água sobre a terra de Canaã. É o período em que Baal está morto. Mas o reencontro</p><p>apaixonado e a relação sexual entre Baal e Anat têm força de reiniciar a estação das</p><p>chuvas, em outubro. Em seguida, o próprio Baal entra em combate com Mot, morre</p><p>outra vez e, depois, volta à vida. Esse mito era celebrado anualmente.</p><p>42UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 42UNIDADE II Profetismo do 8° Século</p><p>No tempo de Oseias, nos santuários oficiais há rituais e cultos a Javé oficial com as</p><p>mesmas características do culto a Baal, ou seja, celebrações nas quais se invoca a</p><p>Javé como o Deus da fertilidade, aquele que garante colheita para a terra, cria para os</p><p>animais e filhos e filhas para as famílias. Mas com a crescente necessidade de produtos</p><p>e pessoas para sustentar a política de Israel e o imperialismo da Assíria, sacerdotes e</p><p>agentes do Estado promovem e até convocam filhas e noras para assumirem funções</p><p>reprodutivas nos santuários. Por um lado, a dominação da Assíria sobre Israel implica</p><p>alto pagamento de tributo ao império, em produtos e às vezes em mão de obra. Por</p><p>outro, para concorrer no comércio internacional e sustentar</p><p>um exército que garanta a segurança interna, Israel também necessita de mais produtos</p><p>e mão de obra. Com o objetivo de aumentar a arrecadação, o Estado faz uso da religião.</p><p>A profecia de Oseias condena o uso da religião em vista do enriquecimento das elites</p><p>religiosas e políticas.</p><p>Fonte: TOSELI, C; MARQUES, M.A. Eu não vou castigar suas filhas por se prostituírem. Pia Sociedade</p><p>de São Paulo. 2022. Disponível em: https://www.vidapastoral.com.br/artigos/temas-biblicos/eu-nao-vou-</p><p>-castigar-suas-filhas-por-se-prostituirem-uma-leitura-de-oseias-44-14/. Acesso em: 10 jan. 2022.</p><p>REFLITA</p><p>A obediência tem dois níveis:</p><p>1ª. Temos que obedecer quando Deus diz para fazer!</p><p>2ª. Também temos que obedecer quando Deus diz para não fazer!</p><p>Fonte: Marcelo Rissma, 2020.</p><p>43UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 43UNIDADE II Profetismo do 8° Século</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Nesta unidade, podemos descobrir nuances do profetismo bíblico no 8º Século.</p><p>Nesta unidade viajamos em culturas diversas e com textos no mínimo curiosos, como o</p><p>profeta que se relaciona com uma prostituta, outro que acaba por temor e desobediência na</p><p>boca do peixe e um camponês muito corajoso. Mas também aprendemos juntos que olhar</p><p>desta forma simplória aos profetas destacando de sua vida e obra apenas fatos curiosos</p><p>são de fato perder a riqueza que há nos elementos históricos e culturais que envolviam</p><p>cada profeta. Notar sua luta por causas que lhes envolviam e não se calar antes a injustiças</p><p>cometidas na sociedade de sua época deve ser um agente motivador para o exercício</p><p>de nossa espiritualidade na contemporaneidade, para que possamos nos alinhar mais em</p><p>fidelidade a Deus e seus mandamentos bem como agir na autoridade que ele nos concede</p><p>a denunciar erros que o desagradam. Nossa unidade termina aqui e agora vamos a fundo</p><p>conhecer mais de perto o profetismo do 7º século.</p><p>44UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 44UNIDADE II Profetismo do 8° Século</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>Complementando os conhecimentos em Isaias 61</p><p>Versículos 1-3: O Messias, seu caráter e ofício; 4-9: Suas promessas de bênção</p><p>futura para a sua Igreja; 10,11: A Igreja louva a Deus por suas misericórdias.</p><p>Isaías [61]:1-3. Os profetas tinham o Espírito santo de Deus em todos os momentos;</p><p>Ele lhes ensinava o que falar e fazia com que o dissessem; porém, Cristo sempre tem</p><p>o Espírito sem medida para equipar o homem, de forma que este realize a sua obra. O</p><p>necessitado costuma estar mais disposto a receber o Evangelho (Tg 2.5), e só há proveito</p><p>neste quando é recebido com mansidão. Cristo pregou as boas novas aos pobres de espírito</p><p>quando disse: “Bem-aventurados os mansos”. A expiação de Cristo é aceita. Pelo domínio</p><p>do pecado em nós, estamos atados e submetidos ao poder de Satanás, porém, o Filho está</p><p>pronto para livrar-nos por seu Espírito; e então seremos verdadeiramente livres. O pecado</p><p>e Satanás seriam destruídos e Cristo triunfou sobre eles na cruz. Ainda assim, os filhos dos</p><p>homens que resistem a esta oferta serão tratados como inimigos. Cristo é o Consolador;</p><p>enviado a consolar a todos os que se lamentam e buscam a Ele, e não ao mundo como</p><p>consolo. Ele fará tudo - isto por seu povo, para que abundem em frutos de justiça como</p><p>ramos do plantio de Deus. A misericórdia de Deus, a expiação de Cristo e o Evangelho da</p><p>graça não trazem benefício ao autossuficiente e soberbo. Eles devem ser humilhados e</p><p>guiados pelo Espírito santo a conhecerem o seu próprio caráter, e quão néscios são, para</p><p>ver e sentir a necessidade do Amigo e salvador dos pecadores. sua doutrina contém a boa</p><p>nova para aqueles que se humilham diante de Deus...Isaías [61]:4-9. Aqui há promessas</p><p>para os judeus que retornaram do cativeiro, e que são estendidas a todos os que, pela</p><p>graça, são libertos da escravidão espiritual. Uma alma ímpia é como cidade derribada, sem</p><p>muros, como uma casa em ruínas, porém pelo poder do Evangelho e da graça de Cristo, é</p><p>preparada para ser uma habitação de Deus por meio do Espírito.</p><p>Quando pela graça de Deus alcançamos a santa indiferença no tocante aos assun-</p><p>tos deste mundo, ainda que as nossas mãos estejam ocupadas neles, e o nosso coração</p><p>não está enredado com eles, mas completamente preservado para Deus e para o seu</p><p>serviço, então os filhos da estranha serão os nossos aradores e podadores das nossas</p><p>vides. Ele põe para trabalhar os que o colocaram em liberdade seu trabalho é a liberdade</p><p>perfeita, a maior honra.</p><p>45UNIDADE</p><p>I Profetas e Profetismo Bíblico 45UNIDADE II Profetismo do 8° Século</p><p>Todos os crentes são feitos reis e sacerdotes para o nosso Deus, e sempre devem</p><p>se conduzir como tais. os que têm o Senhor como sua porção têm motivos para dizer que</p><p>possuem um bem valioso, e para regozijarem-se nisto. Na plenitude dos gozos do céu</p><p>receberemos mais do que o dobro por nossos serviços e sofrimentos. Deus ama a verdade</p><p>e odeia toda a injustiça. Não justificará o roubo de ninguém que diga: foi para holocausto;</p><p>esse roubo é mais odioso por ter tal pretexto. Que os filhos de pais santos sejam tais para</p><p>que todos possam ver os frutos de uma boa educação; uma resposta às orações por eles</p><p>no fruto da bênção de Deus.</p><p>Isaías [61]:10,11. No além somente serão vestidos com vestes de salvação aqueles</p><p>que estão cobertos com o manto da justiça de Cristo e, pela santificação do Espírito, têm a</p><p>imagem de Deus renovada em si mesmos. Estas bênçãos brotarão em épocas vindouras</p><p>como surge o fruto da terra. Tão oportuna, continuamente e com grande proveito para a</p><p>humanidade, o Senhor Deus fará com que brotem a justiça e o louvor. Eles se estenderão</p><p>até muito longe; a grande salvação será anunciada e proclamada até aos confins da terra.</p><p>sejamos fervorosos para orar; que o Senhor faça com que a justiça brote entre nós o que</p><p>constitui a excelência e a glória da profissão cristã.</p><p>Fonte: HENRY, MATTEW. Comentário Bíblico. 1ª ed., Rio de Janeiro: CPAD, 2018.</p><p>46UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 46UNIDADE II Profetismo do 8° Século</p><p>MATERIAL COMPLEMENTAR</p><p>LIVRO</p><p>Título: Palavra e Mensagem do Antigo Testamento</p><p>Autor: Org. Josef Schreiner.</p><p>Editora: Paulus/Teológica.</p><p>Sinopse: Com a contribuição de diversos pesquisadores referencias</p><p>do Antigo Testamento como: Luis Alonso Schokel, Lothar Ruppert,</p><p>Friedrich Ziener entre outros essa obra traz 23 contribuições,</p><p>que pretendem apresentar os livros do AT (Antigo Testamento),</p><p>desenvolvendo as linhas mestras do seu querigma. Intencionalmente,</p><p>e quase como um programa, encontra-se no começo um capítulo</p><p>sobre o AT como palavra de Deus e palavra do homem.</p><p>FILME/VÍDEO</p><p>Título: Milagres do Paraíso</p><p>Ano: 2016</p><p>Sinopse: Milagres Do Paraíso é baseado na incrível história</p><p>verdadeira da família Beam. Quando Christy (Jennifer Garner)</p><p>descobre que sua filha de 10 anos, Anna (Kylie Rogers), tem uma</p><p>doença rara e incurável, ela busca incessantemente a cura da</p><p>sua filha. Após Anna sofrer um acidente inesperado, um milagre</p><p>acontece quando ela está prestes a ser salva, surpreendendo</p><p>especialistas, restaurando sua família e inspirando sua comunidade.</p><p>47</p><p>Plano de Estudo:</p><p>● Os profetas Naum e Sofonias;</p><p>● O profeta Jeremias;</p><p>● O profeta Habacuque;</p><p>● O profeta Ezequiel.</p><p>Objetivos da Aprendizagem:</p><p>● Contextualizar o aluno dentro dos períodos históricos da Bíblia;</p><p>● Abordar o profeta em sua vida, obra e missão;</p><p>● Estabelecer a importância da mensagem profética nos</p><p>campos da religião, política e sociedade dos períodos</p><p>aos quais os profetas estavam inseridos.</p><p>UNIDADE III</p><p>Profetismo do</p><p>Século 7° e 6° Século</p><p>Professor Esp. Felipe Fernandes</p><p>48UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Olá acadêmico (a) estamos nesta oportunidade continuando nossa viagem pelos</p><p>profetas bíblicos, espero que você continue animado em conhecer mais culturas e contextos</p><p>que envolviam os profetas. Esta viagem ao mundo contextual dos profetas é muito interes-</p><p>sante e ressalto, vale a pena continuar nossas pesquisas sobre esse tema. Em especial</p><p>nesta unidade, temos profetas como objeto de análise que foram de certa forma referencial</p><p>em seu período de atuação, uns mais temerosos e outros mais audaciosos, mas todos</p><p>atuaram com muita convicção de sua vocação, não se omitiram de ser a voz profética que</p><p>denunciava mazelas sócias dos mais poderosos ante aos mais pobres e atuaram fielmente</p><p>para que a justiça de Deus operasse em meio ao seu povo.</p><p>Será que ao término desta unidade não se levantarão profetas para atuarem em</p><p>nossa sociedade proclamando a verdade de Deus?</p><p>49UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século</p><p>1. OS PROFETAS NAUM E SOFONIAS</p><p>As épocas áureas das profecias bíblicas sofreram também por alguns períodos</p><p>de silêncio sem voz profética, um período de cerca de setenta e cinco anos. Este fato</p><p>geralmente é atribuído pelo longo reinado de Manassés, um homem sanguinário que</p><p>não mediu suas ações aumentando o suplício do povo mais pobre (2Rs 21:16) . Neste</p><p>silêncio profético, não podemos afirmar que não existiram profetas de menor expressão</p><p>literária profetizando, mas de alguma forma sua voz foi suprimida e suas mensagens não</p><p>permaneceram. A exceção se dá ao surgimento do profeta Naum que se tornou o único</p><p>profeta conhecido ao profetizar no período do reinado de Manassés (698-643) em que</p><p>seus poucos registros ele profere condenações a Nínive e também tece críticas as ações</p><p>planejadas do reinado Assírio. É importante destacar que neste período, mudanças do</p><p>governo em sua administração e mudanças também no campo religioso aconteceram,</p><p>mas veremos isso nas análises dos profetas pormenorizadamente.</p><p>Vamos iniciar abordando o profeta Naum, seu nome em hebraico significa</p><p>“consolo”, Naum era profeta e sua cidade natal foi Elkosh/Elcós (HOUSE, 2005) e apensa</p><p>isso se sabe sobre sua origem, até informações mais precisas sobre a cidade se perderam</p><p>ao longo da história. O livro de Naum é um tanto quanto curto o que deixa ainda mais</p><p>complexas as possibilidades de pesquisa para traçar melhor a atuação profética dele.</p><p>Mas uma curiosidade deve ser destacada, muitos estudantes atrelam o nome de Naum ao</p><p>aparecimento na genealogia de Jesus apresentada no evangelho de Lucas (3:25), mas não</p><p>há subsídios para ligar o Naum da genealogia com o Naum de Elcós.</p><p>50UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século</p><p>A profecia de Naum esclarece e estabelece um paralelo melhor ao desafio que Jonas</p><p>se deparou ao entrar em Nínive, pois a cidade estava vivendo em extremo pecado diante</p><p>de Deus, a informação de que a cidade estava imersa em extremas crueldades inclusive</p><p>aos profetas que se levantavam para denunciar os erros dos ninivitas, opressão sem limite,</p><p>cultos a falsos deuses e o afastamento do Senhor e da Sua Palavra. Obviamente, ante a</p><p>complexidade da situação espiritual de Nínive o profeta Naum teve grande colaboração</p><p>no anuncio e nas denúncias de Deus contra aquele povo. A profecia continha expressões</p><p>fortes contra os pecados de Nínive como ao dizer que Deus não toleraria outros deuses</p><p>e age como terrível vingador contra toda idolatria, em outro momento ao dizer que Deus</p><p>demora demais para se irar; é paciente e longânime, mas seu poder é incalculável, eram</p><p>fortes ameaças feitas a uma cidade imponente, poderosa e rica.</p><p>A profecia de Naum se cumpriu nos anos 612 antes de Cristo, acredita-se que ele</p><p>tenha revelado essa sentença de juízo contra Nínive entre 663 e 612 antes de Cristo. Vale</p><p>ainda destacar que a ida de Jonas ocorreu por volta de 100 anos antes do cumprimento da</p><p>profecia de Naum.</p><p>1.1 Sofonias</p><p>Agora conheceremos outro profeta, Sofonias. O nome Sofonias significa “escondido</p><p>de Deus ou quem Deus escondeu”, seu livro é breve e por este motivo, consequentemente,</p><p>temos poucas fontes de pesquisa para ampliar nossa abordagem, mas não se engane, a</p><p>brevidade do livro não pode também diminuir a importância deste profeta. O tema central de</p><p>seu texto pode ser resumido pela frase “o dia do Senhor” e isso em alusão ao juízo de Deus</p><p>ao povo e aos governantes. Sofonias era filho de Cusi, filho de Gidalias, filho de Azarias,</p><p>filho de Ezequiel (SICRE, 1992). Neste caso, Cusi, que significa “etíope”, portanto, filho de</p><p>estrangeiros, mas ele mesmo era judeu, profetizou durante o reinado de Josias (640-609</p><p>AC). Também é o único dentre os Profetas Menores, que é descendente real, pois o mesmo</p><p>é tetraneto do rei Ezequias e isso é uma informação muito importante, pois este fato dava a</p><p>este profeta livre acesso a corte, fato</p><p>que não era muito corriqueiro ao ministério dos profetas</p><p>bíblicos. Seu ministério tem uma data provável como sendo “nos dias de Josias, filho de</p><p>Amom, rei de Judá” (1.1), cerca de 640 a 609 a.C. (II Rs.23:2-1; 23:30 e II Cr.34:1; 35:27)</p><p>a maioria das pesquisas estabelece a data provável dos escritos entre 630 a 627 a.C. Seus</p><p>contemporâneos incluem Jeremias e Naum, pois Sofonias deve ter iniciado seu ministério</p><p>na data provável do ano 625 a.C. De acordo com o arranjo das Escrituras hebraicas, assim</p><p>Sofonias seria o último profeta a escrever antes da ida ao cativeiro. Destacamos também</p><p>que Sofonias foi contemporâneo ao rei Josias e seu parente distante, há uma possibilidade</p><p>plausível que mantinham uma amizade.</p><p>51UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século</p><p>Aproximadamente 100 anos antes de sua profecia, o Reino do Norte (Israel) havia</p><p>sido derrotado e tomado pela Assíria. O povo havia sido levado cativo, e a terra havia sido</p><p>entregue a estrangeiros. Essa tomada dos exércitos da Assíria afetou a Judá politicamente</p><p>e também as suas práticas religiosas, sua vida social e a religião em Judá foram mudadas,</p><p>conduzida para as divindades pagãs, consequentemente aumentando as práticas de artes</p><p>mágicas, videntes e encantadores. A religião astral se torno tão popular, que o rei Manassés,</p><p>construiu altares para adoração do sol, lua, estrelas, signos do zodíaco e todos os astros do</p><p>céu, à entrada da Casa do Senhor (2Rs 23.11) . O paganismo e a corrupção alcançaram o</p><p>seu auge em Judá por volta dos anos 620 a.C. e por este motivo, Sofonias se levanta, seu</p><p>objetivo advertir a nação sobre a condenação e um juízo de Deus que se aproximava na</p><p>mesma medida que as práticas astrais aumentavam também.</p><p>Mesmo coabitando dentro do palácio, os olhos do profeta não deixaram de</p><p>contemplar a condição moral e religiosa do povo em declínio gerando insatisfação no</p><p>profeta. Ele tentou alertar e se fazer ouvido.</p><p>Já no início de seu livro no primeiro capítulo, Sofonias começa bruscamente a</p><p>sua profecia dizendo que o Senhor vai consumir todas as coisas sobre a face da terra. O</p><p>começo avassalador da profecia de juízo vai se abrandando ao decorrer de sua profecia e o</p><p>profeta passa a apresentar as condicionantes especificas a cada povo quanto a juízo futuro</p><p>de Deus. Um aspecto a ser destacado em Sofonias é seu caráter profético messiânico, pois</p><p>o significado do nome de Sofonias “O Senhor Encobriu” conduz ao ministério de Jesus. A</p><p>verdade da Páscoa no Egito, onde aqueles que foram encobertos pela marca de sangue</p><p>nas portas foram protegidos do anjo da morte, é repetida na promessa de Sofonias de onde</p><p>aqueles mansos da Terra que preservaram a justiça de Deus serão encobertos no “Dia da</p><p>ira do Senhor”. Em Colossenses 3:2-3 explica esse aspecto do ministério de Cristo: “Pensai</p><p>nas coisas que são de cima e não na que são terra; porque já estais mortos, e a vossa vida</p><p>está escondida com Cristo em Deus”.</p><p>O dia da ira do Senhor era entendido como uma intervenção de Deus na história,</p><p>quando este vinga seu povo, decide seu destino e o salva. A memória do êxodo é muito</p><p>viva em épocas de dominação estrangeira ou de estados autoritários, por vezes relembrada</p><p>com cânticos. Essa ira seria derramada ante a opressão dos assírios Sofonias tinha grande</p><p>preocupação para com os pobres assim ele se torna na voz profética do povo subjugado.</p><p>Sofonias termina seu livro num tom de esperança e alegria. Apresentando um</p><p>Deus justo, que ouve o clamor dos fracos, levanta-se para fazer o julgamento, depondo os</p><p>poderosos e exaltando os pobres. Sobre a morte do profeta não temos conhecimento de</p><p>fontes seguras sobre o fim de sua trajetória.</p><p>52UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século</p><p>2. O PROFETA JEREMIAS</p><p>Caso o Profeta Sofonias tenha começado a profetizar a partir de 625 a.C., então</p><p>o início de seu ministério coincide com o período em que o ministério do Profeta Jeremias</p><p>também teve início. Estudar e conhecer o ministério profético de Jeremias seja o estudo</p><p>mais prazeroso entre os profetas, isso por um simples fato, Jeremias não só profetizou</p><p>os oráculos de Deus, mas também se permitiu ser conhecido no seu livro, mostrou suas</p><p>emoções, suas dúvidas e suas inquietações pessoais, se mostrou como um profeta acima</p><p>de tudo humano. Antes de apresentarmos a biografia e ações do ministério de Jeremias,</p><p>vamos apresentar uma breve cronologia em forma de esboço proposta por Luis Sicre, para</p><p>que possamos olhar o livro em planos gerais:</p><p>TABELA 1 - ESBOÇO DA PROFECIA DE JEREMIAS</p><p>Ano a.C Ação Referência Bíblica</p><p>625-627 Vocacionamento (Jr 1:4-10)</p><p>627-609 Pregação em Israel (Jr 3:6-13)</p><p>609 Oráculo sobre Joacaz (Jr 22:10-12)</p><p>608 Discurso no templo (Jr 7:1-15 e Cap. 26)</p><p>605 - Oráculo contra o Egito.</p><p>- Discurso sobre a conversão.</p><p>- Redenção e leitura do volume.</p><p>- Palavras de Baruc</p><p>(Jr 46:2-12)</p><p>(Jr 25:1-11)</p><p>(Jr 36)</p><p>(Jr 35)</p><p>53UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século</p><p>598 - Palavras sobre Jeconias.</p><p>- As duas cestas de figos.</p><p>- Carta aos exilados.</p><p>- Oráculo contra Elam.</p><p>(Jr 22:24-30)</p><p>(Jr 24)</p><p>(Jr 29)</p><p>(Jr 29:34-39)</p><p>594-593 - Contra a rebelião.</p><p>- Maldição da Babilônia.</p><p>(Jr 27-28)</p><p>(Jr 28:51-64)</p><p>587-586 - Durante o cerco.</p><p>- Preso no pátio da guarda.</p><p>(Jr 21:1-10)</p><p>(Jr 32;33; 39:15-18)</p><p>586 Depois da queda de Jerusalém Depois da queda de Jerusalém</p><p>Fonte: (SICRE, 1992, p. 286).</p><p>O profeta Jeremias nasceu na cidade de Anatot, a cerca de seis quilômetros de</p><p>Jerusalém, uma pequena aldeia de vida e rotina muito simples, era filho do sacerdote Hilquias,</p><p>sacerdote também em Anatot e provavelmente aos vinte anos de idade foi chamado para o</p><p>ofício profético ente 625 e 627 a.C. Embora sua linhagem fosse sacerdotal Jeremias não</p><p>desempenhou esse ministério Contextualmente, algumas crises permeavam a sociedade</p><p>contemporânea a Jeremias, o reinado de Manassés, ficou caracterizado pela blasfêmia e</p><p>pelo derramamento de sangue inocente. Este cenário caótico trouxe receio ao profeta que</p><p>inicia sua chamada julgando-se incapaz e despreparado para se opor a um estado de poder</p><p>tão sólido e maléfico. Próximo então do ano treze do reinado de Josias o profeta assume sua</p><p>vocação e inicia seu ministério (Jr 3:6). Embora as pesquisas divirjam sobre a data exata</p><p>do início do ministério de Jeremias a maioria dos pesquisadores credita ao ano 609 a.C. o</p><p>início de sua chamada a partir do discurso no templo, mas antes desta estreia no templo,</p><p>um período pré-profético de preparação ocorre com Jeremias durante o reinado de Josias.</p><p>Jeremias teve atuação profética durante o reinado de três Reis Josias, Joaquim e Sedecias.</p><p>O reinado de Josias foi marcado por um período de reconstrução política e religiosa, no início</p><p>de sua chamada Jeremias permanece em Anatot e consegue sentir os efeitos das reformas</p><p>de Josias, a luta contra a idolatria e o sincretismo de certa forma animou Jeremias a ver</p><p>esperança de mudança e isso somado às vezes que o próprio Deus encorajou o profeta a</p><p>se levantar como voz ativa. Então em especial nos capítulos 2 e três de seu livro o profeta</p><p>se levanta especialmente contra os pecados notados por ele, combatidos por Josias e</p><p>repreendidos por Deus. Mesmo ante a essas reformas, a situação do povo permeava um</p><p>profundo desanimo, pois estavam passando necessidades, algumas cidades haviam sido</p><p>despovoadas, a economia não dava sinais de reação e não havia uma coesão política.</p><p>54UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século</p><p>Jeremias retoma essa pauta nos capítulos finais de seu livro (Cap. 30-31) com uma</p><p>mensagem de esperança em que Deus não abandonaria seu povo e que o sofrimento se</p><p>converteria em alegria e também que os tempos de abundância retornariam. No reinado</p><p>de Joaquim (609-598) o cenário sofre fortes mudanças que influenciaram o profeta. Josias</p><p>morre em Megido, a Babilônia vence s egípcios ao comando de Nabucodonosor e prospera</p><p>como potência do mundo da época. Jeremias relaciona essa ascensão e a invasão dos</p><p>babilônios como parte de um possível juízo de</p><p>Deus ante a desobediência de seu povo. Ao</p><p>pronunciar isso Jeremias é preso, açoitado e colocado em prisão (Jr 20:1-6) e ainda preso</p><p>solicita a presença de Bacuc, seu auxiliar, e dita as palavras de uma profecia que fosse lida</p><p>no templo por três vezes, uma ao rei, as autoridades e ao povo, mas Joaquim à medida que</p><p>vai ouvindo a profecia ordena que os volumes escritos fossem queimados, não bastasse</p><p>isso o rei Joaquim prende também a Baruc, mas tanto Baruc como Jeremias conseguem</p><p>fugir da prisão (Jr. 36). Essa situação de perseguição por parte do rei, coloca Jeremias</p><p>em situação vulnerável e parte de suas confissões pessoais de medo ante o ministério</p><p>profético estão relacionadas a esse contexto. Por outro lado, é neste momento também que</p><p>pessoalmente Jeremias aumenta a envergadura de seu ministério profético pois perpassa</p><p>os capítulos cinco, seis e sete de seu livro com fortes acusações e denúncias contra as</p><p>autoridades e povo que se esqueceu de Deus, vaticinando claramente mensagens de juízo</p><p>de Deus a estes.</p><p>No reinado de Sedecias, o contexto conflituoso é abrandando, pelo menos no</p><p>aspecto político. Neste período uma forte junta militar cria uma coesão contra a Babilônia,</p><p>mas Jeremias não coaduna com a ação, pois tinha em mente que a força da Babilônia era</p><p>parte da ação e do juízo de Deus contra os desobedientes, conforme destaca Luiz Sicre:</p><p>O profeta se opõe a coalizão, convicto que Deus entregou o domínio do</p><p>mundo a Nabucodonozor. Para transmitir sua mensagem utiliza a celebre</p><p>ação simbólica do jugo, que provoca um confronto com o profeta Ananias</p><p>(Cap 27-28) (SICRE, 1992 , p. 87).</p><p>Talvez essa instabilidade entre os profetas pesou na decisão de Sedecias em não se</p><p>rebelar contra a Babilônia neste momento, mas rebelou-se cerca de cinco anos depois parando</p><p>de pagar tributos a Nabucodonosor. Próximo a este período Jeremias é preso novamente (Jr</p><p>37:11-16) e corre sérios risco de sofrer a pena capital de morte (Jr 38:1-13 ). Mas Jerusalém</p><p>sucumbe as investidas babilônicas e exatamente em 19 de julho de 586 a.C (SICRE, 1992 )</p><p>sendo invadida. Na invasão a Jerusalém os chefes babilônicos dividem o povo em três grupos,</p><p>os livres, os deportados e os que serão julgados pessoalmente por Nabucodonosor.</p><p>55UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século</p><p>O fato como mencionamos anteriormente que Jeremias parecia Nabucodonosor</p><p>como parte dos desígnios de Deus para o povo serviu como base para um abrandamento</p><p>da pena de Jeremias, ainda preso, então sub a custódia de Nabucodonosor, o profeta e re-</p><p>colocado em liberdade. Um governador provinciano chamado Godolias lidera uma grupo e</p><p>é seguido por Jeremias, onde com eles acampa estes camponeses e vive junto a eles, e em</p><p>um curto período, esse grupo tem sucesso e prosperidade nas colheitas, mas Godolias é</p><p>assassinado, e com este ato, o povo teme e planeja uma fuga a Belém, Jeremias se levanta</p><p>e os aconselha a permanecer, mas o profeta não é ouvido, eles se estabelecem uma região</p><p>chamada Táfnis, dominada por egípcios e o povo recai na idolatria fato condenado também</p><p>por Jeremias o que levou Jeremias a morrer apedrejado pelos seus próprios conterrâneos</p><p>em terras egípcias.</p><p>Por fim, a mensagem de Jeremias sempre foi clara e objetiva, sempre chamando</p><p>o povo a conversão para que tenham a tão sonhada paz e prosperidade, mas não deram</p><p>ouvidos ao profeta, mas Jeremias não se omite e faz severos anúncios e denúncias de</p><p>juízos futuros caso o povo não mudasse. Jeremias foi humano e por vezes em seu livro</p><p>se coloca na mesma condição do povo, sentiu e viveu como eles viveram, mas não se</p><p>acovardou, foi corajoso e intrépido. Venceu as prisões e foi fiel a entregar a mensagem que</p><p>Deus lhe designou.</p><p>56UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século</p><p>3. O PROFETA HABACUQUE</p><p>Sem dúvidas este é um dos profetas que menos informações temos para um</p><p>aparato de pesquisa convincente. Isso principalmente por seu livro pouco nada abordar</p><p>sobre informações e datas (SICRE, 1992). O contexto histórico aponta que seu ministério no</p><p>período em que a Assíria estava em decadência e a Babilônia surgindo como potência. Ele</p><p>teria presenciado o fim do Reino de Judá, quando a Babilônia invadiu e destruiu Jerusalém</p><p>e o templo e deportou o povo para a Babilônia. A partir da leitura do livro uma divisão da</p><p>profecia de Habacuque fica evidente sendo elas em três partes: 1) o grito do profeta contra</p><p>a violência da elite de Judá e contra a Babilônia; 2) cinco “ais” contra os opressores do povo;</p><p>3) Javé é o Senhor da história. Talvez ao fazermos uma análise da forma de abordagem</p><p>de Habacuque, ante a situação que ele contemplava, percebemos que o profeta é alguém</p><p>incomodado com a situação social e que o justo não deve nem pode ser uma pessoa</p><p>passiva dentro da história, mas sujeito ativo e transformador do meio ao qual está inserido.</p><p>A esperança do profeta era uma mudança da situação social, a partir de um retorno</p><p>a vivência pessoal com o Deus cuidador dos seus, deixando transparecer que o justo de</p><p>Deus receberá em troca de sua fidelidade a Deus o cuidado D’Ele (GUNNEWEG, 2005).</p><p>Sua mensagem também é direcionada aos opressores e Habacuque condena a crueldade</p><p>da Babilônia e a violência do seu exército, que trazem sofrimento ao povo. Por fim a</p><p>mensagem de Habacuque pode ser sintetizada na esperança e na justiça de Deus antes</p><p>as opressões dos impérios, em um povo já sofrido pelos ataques, cada vez mais sem sua</p><p>identidade, cultural e religiosa, um povo que perdeu seus familiares e sem esperança de</p><p>que o cenário apresentado sofresse mudança, mas para Habacuque, a justiça de Deus</p><p>seria o ânimo e a esperança que deveria alimentar seu povo.</p><p>57UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século</p><p>4. O PROFETA EZEQUIEL</p><p>Em um povo exilado pelo império Babilônico, surge um judeu celebre e corajoso</p><p>Ezequiel. O nome Ezequiel significa “Deus fortalece”, seu pai Buzi era sacerdote da linhagem</p><p>de Sadoc e atuou no templo de Jerusalém. Ezequiel casou-se e ficou viúvo pouco antes dos</p><p>babilônios tomarem Jerusalém, esta informação é muito importante, pois a leitura de seu livro</p><p>fica clara a desenvoltura com que o profeta apresentava as cerimônias e cultos no templo,</p><p>ser de linhagem sacerdotal lhe permitiu conhecer a fundo a política sacerdotal e do templo.</p><p>Seu livro começa com a clara descrição do chamado e da comissão de Ezequiel</p><p>(GARDNER, 2012) , com um enredo maravilhoso da visão da “Glória do Senhor” e da</p><p>transcendência de Deus (Ez 1:4-28 ) mas isso acompanhada de uma advertência à atalaia</p><p>que não avisava o povo sobre um perigo eminente. Uma possível interpretação deste fato,</p><p>da atalaia (sentinela) não avisar o povo do perigo, seria também uma figura de linguagem</p><p>utilizada pelo profeta para apresentar seu chamado profético. Uma curiosidade nas</p><p>pesquisas sobre a vida do profeta Ezequiel, é que o mesmo, é objeto de pesquisa quanto</p><p>a sua saúde mental, alguns pesquisadores creditam ao profeta algum distúrbio diante de</p><p>alguns fatos curiosos que veremos a seguir. O profeta realizou certos atos a fim de ilustrar</p><p>sua mensagem e suas denúncias como, por exemplo: Apresentar Jerusalém como um</p><p>modelo de sítio (Ez 4:1-3); ficou deitado para o lado esquerdo por 390 dias (GADRNER,</p><p>2012) e depois virou para o esquerdo por 40 dias (Ez 4: 4-17); raspou um terço do cabelo,</p><p>queimou outro terço e jogou um terço ao vento (Ez 5:1-4) e até para a morte de sua esposa</p><p>Ezequiel trouxe um significado profético (Ez 24: 16-27).</p><p>58UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século</p><p>Para o povo exilado a mensagem de juízo vindouro de Deus trouxe ao povo o temor,</p><p>mas também os deixou em estado de alerta, foram chamados de rebeldes pelo profeta o</p><p>que lhes causava estranheza, mas com o passar do tempo, essa expressão caracterizou as</p><p>mensagens de denúncias de Deus em Ezequiel (WOLFF, 2003). Em resumo, essa mensagem</p><p>contra os rebeldes era subentendida de forma clara pelo povo, compreendiam que mesmo em</p><p>meio ao juízo Deus ainda falava com seu</p><p>povo e que mesmo castigados (pelos babilônicos)</p><p>Deus não os abandonaria e estava com os olhos sobre a opressão e o jugo a eles dispensado.</p><p>O império Babilônico destrói a cidade de Jerusalém e seus muros, este fato causa</p><p>furor em Ezequiel e em Deus, e a mensagem de juízo agora também aos babilônicos</p><p>passam a fazer parte do enredo da mensagem de Ezequiel. O profeta se levanta com</p><p>uma série de oráculos condenando a ação opressora e destruidora, assegurando que</p><p>Yahweh se levantaria contra a arrogância de derrubar os muros de Jerusalém. Assim,</p><p>ao passo Ezequiel mantém a sua mensagem de castigo e derrota as objeções de seus</p><p>contemporâneos, mas nada pode salvar Jerusalém neste momento (SICRE, 1992). Por</p><p>exemplo, na alegoria da águia e do cedro (Ez 17:1-10) . Ezequiel denuncia as práticas</p><p>políticas erradas do rei Sedecias, políticas que cada vez mais oprimiam o povo e o ápice</p><p>da crítica do profeta as opressões econômicas e religiosas ao povo e dá em especial no</p><p>capitulo vinte e dois de seu livro. Este é, talvez, o momento mais turbulento da profecia de</p><p>Ezequias e em que as situações contextuais a profecia estão mais confusas, sendo uma</p><p>soma: Nabucodonosor investindo contra Jerusalém, Sedecias errando com suas decisões,</p><p>o povo distante de Deus, fome e falta de trabalho, uma soma fatal e muito complexa de ser</p><p>resolvida ainda mais com um desfecho positivo para o profeta.</p><p>Depois da queda de Jerusalém, Ezequiel direciona sua profecia com mais</p><p>clareza, ainda aos que eram responsáveis pela mesma, sendo cinco grupos: os príncipes,</p><p>sacerdotes, nobres, profetas e latifundiários (usavam trabalho para suprimir o povo). O</p><p>profeta Reconhece também a responsabilidade individual, assim cada um será julgado e</p><p>condenado por Deus segundo os próprios pecados. Ele também responsabiliza os reis</p><p>poderosos por suas injustiças (Ez 34) e anuncia que ele mesmo (Ezequiel) irá ao rastro das</p><p>ovelhas que se perderam (Ez 34: 11-16).</p><p>A profecia então muda de característica, deixa de ter um caráter acusatório de juízo e</p><p>passa a apresentar a esperança que o povo deve ter, assim mesmo em meio aos estranhos, o</p><p>povo deveria manter-se “puro”, isto é, fiel as suas tradições, observando os estatutos e normas</p><p>de Deus, servindo-o em obediência irrestrita e restaurando o culto a Yahweh (GUNNEWEG,</p><p>2005). Um texto constantemente lembrado é o que Ezequiel (Ez 37) é levado até um vale de</p><p>ossos secos e vê como o Senhor lhes restitui à carne, os nervos, a vida.</p><p>59UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século</p><p>E dessa forma, o profeta percebeu que Deus era universal, e estava acima de todas</p><p>as nações. Como final forma do castigo de Israel, o profeta anuncia que o pecado mais duro</p><p>que podia os afligir era a destruição do templo e consequentemente a perda da Glória deste</p><p>templo. Mesmo assim ao final de seu livro no capitulo quarenta e três Ezequiel profetiza a</p><p>construção de um novo templo ao qual voltará à glória do Senhor (Ez 43:1-5).</p><p>Ao longo de 48 capítulos, é possível identificar que Ezequiel foi versátil para</p><p>transmitir a Palavra de Deus, ele utilizou desenhos de um retrato de Jerusalém, ações</p><p>representativas, e até mesmo criatividade na intenção de garantir a atenção do povo, e</p><p>compreensão das mensagens. O profeta se diferencia dos demais, não somente em seu</p><p>conteúdo, mas também quanto a forma de sua mensagem. Uma curiosidade sobre Ezequiel</p><p>é que ele e o profeta Daniel são os únicos personagens, além de Jesus, que foram chamados</p><p>de filho do homem. Ele viu o povo exilado e oprimido, teve compaixão deles, mas também</p><p>não os eximiu de sua responsabilidade quanto à situação a qual estavam expostos, seu</p><p>afastamento de Deus sua irresponsabilidade neste processo. Mas o profeta não somente</p><p>apresentou a doença e as chagas que vivia seu povo, também lhes apresentou o remédio</p><p>para cura destes males, o arrependimento à volta a obediência e ao culto o exclusivo a</p><p>Deus, rejeitando as divindades babilônicas. Ele conseguiu certa autoridade entre o Povo de</p><p>Israel; não deixou de realizar prodígios e milagres e todos os seus gestos tinham um objetivo</p><p>bem preciso: ao profetizar a queda de Jerusalém, exortava o povo e depois, os consolou</p><p>com a promessa da libertação e do retorno à sua amada pátria. Ezequiel foi martirizado</p><p>por um chefe do povo, por ter sido repreendido por idolatria aos deuses babilônicos, assim</p><p>terminou a trajetória deste grande profeta de Deus.</p><p>60UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Império Babilônico</p><p>Por Rainer Souza</p><p>Por volta de 1900 a.C., um novo processo de invasão territorial dizimou a dominação dos</p><p>sumérios e acádios na região mesopotâmica. Dessa vez, os amoritas, povo oriundo da</p><p>região sul do deserto árabe, fundaram uma nova civilização que tinha a Babilônia como sua</p><p>cidade principal. Somente no século XVIII o rei babilônico, Hamurábi, conseguiu pacificar a</p><p>região e instituir o Primeiro Império Babilônico. Sob o seu comando, a cidade da Babilônia se</p><p>transformou em um dos mais prósperos e importantes centros urbanos de toda a Antiguidade.</p><p>Tal importância pode até mesmo ser conferida na Bíblia, onde ocorre uma longa menção</p><p>ao zigurate de Babel, construído em homenagem ao deus Marduk. De fato, são várias as</p><p>construções, estátuas e obras que nos remetem aos tempos áureos desta civilização.</p><p>Além de promover a unificação dos territórios mesopotâmicos, o rei Hamurábi também</p><p>foi imprescindível na elaboração do mais antigo código de leis escrito do mundo. O</p><p>chamado Código de Hamurábi era conhecido por seus vários artigos que tratavam de</p><p>crimes domésticos, comerciais, o direito de herança, falsas acusações e preservação</p><p>das propriedades. A inspiração necessária para que esse conjunto de leis escritas</p><p>fosse elaborado repousa na antiga Lei de Talião, que privilegia o princípio do “olho por</p><p>olho, dente por dente”. Apesar desta influência, as distinções presentes na sociedade</p><p>babilônica também eram levadas em consideração. Com isso, o rigor das punições</p><p>dirigidas a um escravo não era o mesmo imposto a um comerciante. Mesmo promovendo</p><p>tantas conquistas e construindo um Estado bastante organizado, os babilônicos não</p><p>conseguiram resistir a uma onda de invasões que aconteceu após o governo de Hamurábi.</p><p>Ao mesmo tempo em que os hititas e cassitas tomavam parcelas do domínio babilônico,</p><p>outras revoltas que se desenvolviam internamente acabaram abrindo espaço para a</p><p>hegemonia dos reinos rivais. Entre os anos de 1300 e 600 a.C., os mesopotâmicos</p><p>assistiram a dominação assíria, marcada pela violência de sua poderosa engrenagem</p><p>militar. Por volta de 612 a.C., a sublevação dos povos dominados e a ação invasora</p><p>dos amoritas e caldeus instituíram o fim do Império Assírio e a organização do Segundo</p><p>Império Babilônico, também conhecido como Império Neobabilônico. Nesse novo</p><p>contexto, podemos destacar a ação do Imperador Nabucodonosor, que reinou entre os</p><p>anos de 612 e 539 a.C.</p><p>61UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século</p><p>Durante o seu governo, a civilização babilônica vivenciou o auge do desenvolvimento</p><p>arquitetônico, representado pela construção das muralhas que protegiam a cidade, os</p><p>luxuosos palácios e os Jardins Suspensos da Babilônia, admirado como uma das Sete</p><p>Maravilhas do Mundo Antigo. O regime de Nabucodonosor também ficou conhecido pelo</p><p>estabelecimento de novas conquistas territoriais, entre as quais se destacam a região</p><p>sul da Palestina e as fronteiras setentrionais do Egito. Após este governo, os domínios</p><p>babilônicos foram paulatinamente conquistados pelos persas, que eram comandados</p><p>pela batuta política e militar do rei Ciro I.</p><p>Fonte: SOUSA, R.G. Império Babilônico. História do mundo. Disponível em: https://www.historiadomundo.</p><p>com.br/babilonia. Acesso em: 10 nov. 2021.</p><p>REFLITA</p><p>“Não é o suplício que faz o mártir, mas a causa.”</p><p>(Agostinho de Hipona (354 a 430 d.C))</p><p>Fonte: HIPONA , Agostinho de. Frases de teólogos/autores/santoagostinho. O pensador [S.I.] [2010?].</p><p>Disponível em: https://www.pensador.com/frase/NzUzMjYz/. Acesso em: 10 nov. 2021.</p><p>62UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Concluímos aqui mais um passo no nosso trabalho de conhecer melhor os profetas</p><p>e seus contextos. Espero que você leitor possa já ter notado quantos detalhes permeias a</p><p>vida contextual de cada profeta, sua sociedade, seu tempo, a política, suas características</p><p>pessoais e psicológicas entre outros. Todas essas informações são muito importantes para</p><p>que as aplicações hermenêuticas corretas aconteçam. Não conhecer esses elementos,</p><p>como dissemos anteriormente, é empobrecer o conteúdo da mensagem dos profetas. Por</p><p>fim, cada profetas com grande ou pequeno lastro de pesquisa nos convida a um mundo</p><p>particular de onde estavam inseridos. Agora vamos continuar conhecendo mais alguns</p><p>profetas do 6º século e também do 5º século, vamos encarar mais esse desafio?</p><p>Te vejo na próxima unidade!!</p><p>63UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>A TORRE DE BABEL</p><p>Por Dr. Antonio Gasparetto Junior</p><p>A Torre de Babel é um dos contos mais intrigantes da história da humanidade,</p><p>supostamente construída pelos homens que queriam fazer da torre tão alta para alcançar</p><p>os Deuses. Entretanto os Deuses não gostaram da soberba dos homens e derrubaram a</p><p>mesma. Além dessa explicação mítica, o conto serviria para esclarecer a razão de existir</p><p>tantas línguas no mundo. Os indicativos da Torre de Babel começam na bíblia, especialmente</p><p>no Antigo Testamento, livro do Gêneses (FOHERER, 1982). De acordo com este, a torre</p><p>teria sido construída pelos descendentes de Noé na época em que o mundo inteiro falava</p><p>apenas uma língua. Supostamente, a localização da Torre de Babel seria entre os rios Tigre</p><p>e Eufrates, na Mesopotâmia. A soberba dos homens em se empenharem na empreitada</p><p>de alcançar o mundo dos deuses teria causado a fúria de Deus, que, em forma de castigo,</p><p>teria causado uma grande ventania para derrubar a torre e espalhado as pessoas sobre a</p><p>Terra com idiomas diferentes, para confundi-las. Por esse motivo, o mito é entendido hoje</p><p>como uma tentativa dos antepassados de se explicar a existência de tantas línguas no</p><p>mundo. No entanto, há vários estudos que tentam provar de alguma forma a existência de</p><p>tal torre. O mito provavelmente é inspirado na torre do templo de Marduk, que em hebraico</p><p>é Babel e significa “porta de Deus”. No sul da Mesopotâmia há realmente restos de torres</p><p>que fazem alusão à Torre de Babel da bíblia. Babel era a capital do Império Babilônico, foi</p><p>muito rica e poderosa, pois representava um centro político, militar, cultural e econômico do</p><p>mundo antigo, recebendo imigrantes de todas as partes. Grande parte dos arqueólogos faz</p><p>a conexão da Torre de Babel com a queda do templo-torre de Etemananki, na Babilônia,</p><p>que mais tarde seria reconstruído por Nabopolosar e Nabucodonosor II. Esta seria uma</p><p>construção piramidal escalonada que integraria a construção de grandes torres-templo na</p><p>Suméria, chamadas de zigurates.</p><p>Os zigurates representam as maiores construções religiosas construídas,</p><p>funcionavam como portões para a vinda de deuses à Terra. Essa crença esteve presente</p><p>em muitas civilizações desde os primórdios da história. Por haver tantas construções que</p><p>seguiam a crença de chegar aos Deuses, há a hipótese hoje de que a Torre de Babel</p><p>poderia ter sido construída em Eridu, pois neste local o monarca da Terceira Dinastia de Ur,</p><p>Amar-Sim, entre os anos de 2046 e 2037 a. C., tentou construir também um zigurate que</p><p>nunca chegou ao fim. Seguindo essa teoria, a história que teria se encarregado de mudar</p><p>o local da construção tempos mais tarde para a região da Babilônia.</p><p>64UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século</p><p>Na bíblia, nada é dito sobre Deus ter destruído a torre com um grande vento, tal</p><p>ideia é proveniente de relatos no Livro dos Jubileus, em Cornelius Alezandre, Abydenus,</p><p>Flávio Josefo e Oráculos Silibinos. Também não consta no Gênesis referência sobre a</p><p>altura e a largura da torre, mais uma vez são fontes extra canônicas que induzem sobre</p><p>o assunto. A altura continua como objeto de especulação pelos pesquisadores, as ideias</p><p>partem dos registros de que Nabucodonosor mandou construir um zigurate em 560 a.C.</p><p>com 2089 metros de altura e 100 de largura, o que atesta o interesse dos antigos por</p><p>grandes construções. As duas fontes extra canônicas, o Livro dos Jubileus e o Terceiro</p><p>Apocalipse de Baruch, mencionam valores supostos para a altura da Torre de Babel. O</p><p>Livro dos Jubileus diz que a torre teria 5433 cúbitos e 2 palmos, o que seria equivalente a</p><p>2484 metros de altura, quatro vezes mais alta do que as construções mais altas do mundo</p><p>hoje. O valor é realmente muito impressionante e não ganha muito prestígio científico, pois</p><p>os estudiosos dizem que os antigos não teriam condições de desenvolver construções</p><p>com aproximadamente 2,5 quilômetros de altura. Por outro lado, o Terceiro Apocalipse</p><p>de Baruch é mais realista, dizendo que a construção teria 463 cúbitos, equivalente a 212</p><p>metros. Mesmo o valor estando bem abaixo do sugerido no Livro dos Jubileus, já seria uma</p><p>torre mais alta que qualquer construção à época, só superada pela Torre Eiffel em 1889.</p><p>Algo tão alto já repercutiria o suficiente para ser relatado na bíblia e em outros textos.</p><p>Fonte: JUNIOR, A. G. Torre de babel. Info Escola. Disponível em: https://www.</p><p>infoescola.com/civilizacao-da-babilonia/torre-de-babel/. Acesso em 10. nov. 2021.</p><p>65UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século</p><p>MATERIAL COMPLEMENTAR</p><p>LIVRO</p><p>Título: Entendes o que lês?</p><p>Autor: Gordon D. Fee e Douglas Stuart.</p><p>Editora: Edições Vida Nova.</p><p>Sinopse: Este livro é uma ferramenta indispensável ao estudante</p><p>de Teologia, nele barreiras de interpretações são diminuídas com</p><p>uma excelente pesquisa sobre o mundo bíblico e a forma literária</p><p>de cada livro da bíblia. Este é sem dúvida aquele livro que mesmo</p><p>após anos de estudos recorrer a ele será de grande ajuda.</p><p>FILME/VÍDEO</p><p>Título: Escravos da Babilônia</p><p>Ano: 1953.</p><p>Sinopse: Na antiguidade, um judeu ajuda o novo rei persa a ser</p><p>coroado e, em troca, ele conquista a Babilônia e liberta todos os</p><p>escravos judeus.</p><p>• Link de acesso: https://www.apaixonadosporhistoria.com.br/</p><p>filme/914/escravos-da-babilonia-1953</p><p>66</p><p>Plano de Estudo:</p><p>● Os profetas Ageu e Zacarias;</p><p>● O profeta Obadias;</p><p>● O profeta Daniel;</p><p>● Os profetas Malaquias e Joel.</p><p>Objetivos da Aprendizagem:</p><p>● Contextualizar o aluno dentro dos períodos históricos da Bíblia;</p><p>● Abordar o profeta em sua vida, obra e missão;</p><p>● Estabelecer a importância da mensagem profética nos campos</p><p>da religião, política e sociedade dos períodos</p><p>aos quais os profetas estavam inseridos.</p><p>UNIDADE IV</p><p>Profetismo do</p><p>6° e 5° Século</p><p>Professor Esp. Felipe Fernandes</p><p>67UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século</p><p>Estamos quase lá! Chegamos a nossa última unidade e nela vamos continuar nossa</p><p>viagem aos contextos aos quais estavam inseridos, suas dúvidas e situações peculiares</p><p>em que foram levantados como voz de Deus. Espero que esteja acostumado a olhar os</p><p>profetas mais contextualmente, nosso objetivo e fornecer o aparato para a leitura dos textos</p><p>proféticos e não os dirigir em uma leitura pronta e de uma hermenêutica já exaurida. Desta</p><p>forma, quanto mais elementos extratexto você absorver de nosso conteúdo, a sua leitura</p><p>sobre os profetas será ampliada lhe permitindo mais liberdade na leitura. Encerramos agora</p><p>com seis profetas, muito relevantes no período pós-exílico e muitos detalhes aparecem</p><p>nestes profetas que devem e merecem nossa pesquisa, vamos em frente?</p><p>68UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século</p><p>1. OS PROFETAS AGEU E ZACARIAS</p><p>Vamos iniciar nossa unidade IV conhecendo mais sobre o profeta Ageu, embora</p><p>seu livro seja pequeno em volume a mensagem deste profeta é muito relevante para que</p><p>prossigamos conhecendo melhor os contextos dos profetas. O nome Ageu</p><p>significa “fes-</p><p>tivo” do hebraico “hag”. É possível que este nome o tenha sido dado por ele ter nascido</p><p>em algum dia importante das festas judaicas. Isto também pode apontar que seus pais</p><p>eram religiosos e que isso tem interferências na mensagem profética de Ageu. Uma das</p><p>análises possíveis é que o profeta Ageu tenha nascido ainda na Babilônia, e tenha ido</p><p>para Jerusalém após o decreto de 538 ou 537 a.C. emitido por Ciro, rei da Pérsia, o qual</p><p>permitiu que os judeus retornassem à sua terra natal. No início de seu livro o profeta</p><p>parece indicar que o profeta tinha visto Jerusalém antes da destruição do templo e o</p><p>exílio em 586 a.C., o que significa que ele já não era tão jovem, provavelmente Ageu tinha</p><p>mais de 70 anos de idade em Ageu 2.3 ( Biblia Jerusalém, 2002). A partir desses fatos, a</p><p>imagem de Ageu começa a entrar em foco. Desta forma, ele era um homem mais velho</p><p>olhando por trás das glórias de sua nação com certo saudosismo, um profeta imbuído em</p><p>ver o seu povo se levantar das cinzas do exílio e reclamar o seu lugar de direito (SICRE,</p><p>1992). Ageu também foi contemporâneo de Esdras, Neemias e Zacarias.</p><p>A profecia de Ageu pode ser lida de forma dividida em blocos que podem ajudar na</p><p>compreensão da profecia como um todo sendo elas todas devidamente registradas pelo</p><p>próprio profeta e datadas com datas prováveis de: 29 de agosto de 520 a.C. a primeira; a</p><p>segunda em 17 de outubro de 520 a.C.; e as duas últimas em 18 de dezembro de 520 a.C.</p><p>69UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século</p><p>Em resumo são mensagens de encorajamento ao seu povo apontando esperança</p><p>e benção futuras de Deus ao seu povo (GUSSO, 2003). Mantendo a mesma divisão as</p><p>quatro principais mensagens seriam; O chamado de Ageu ao povo para reconstruir o</p><p>Templo, mostrando a importância de abandonarem a negligência em que estavam (Ag</p><p>1:1-15). O profeta Ageu falou sobre o potencial de uma glória maior que haveria no novo</p><p>Templo (Ag 2:1-9). O profeta Ageu ressaltou as bênçãos futuras de Deus para um povo</p><p>que havia se corrompido (Ag 2:10-19). Ageu também profetizou sobre a promessa de Deus</p><p>acerca da vitória de seu povo sobre as nações (GUSSO, 2003). Por fim, sobre a morte do</p><p>profeta temos poucas informações concretas por isso não podemos apontar as causas de</p><p>sua morte, mas o que podemos concluir que Ageu profetizou contra o povo no sentido que</p><p>não deveriam ficar negligentes ante sua situação para com Deus e deveriam se encorajar</p><p>em Yahweh para iniciar a reconstrução do templo e consequentemente restaurar a aliança</p><p>com Deus, Ageu foi sem dúvida um grande instrumento de Deus neste processo.</p><p>1.1 Zacarias</p><p>Poderíamos iniciar nosso texto mencionando Zacarias como o profeta fora de seu</p><p>tempo, isso porque Zacarias, cujo nome significa: o “Senhor lembra”, é o profeta mais</p><p>citado no Novo Testamento, depois de Isaías, e iniciou seu ministério profético no mesmo</p><p>ano de Ageu, 520. Pertencente à tribo de Levi, nascido em Galaad, filho de Baraquias</p><p>e tendo voltado na velhice à Caldeia, na Palestina, Zacarias teria feito muitos prodígios,</p><p>acompanhando-os com profecias de conteúdo apocalíptico e messiânico, como o fim do</p><p>mundo e o duplo juízo divino.</p><p>Este profeta transmite em seu texto aspectos de uma espiritualidade viva, em seu</p><p>texto ele usa de visões e parábolas, anuncia o convite à uma vida consagrada totalmente</p><p>a Deus. Também pode ser chamado de profeta messiânico, isso porque, as suas profecias</p><p>referem-se ao futuro do novo Israel, futuro próximo e futuro messiânico. Zacarias tem um</p><p>texto envolvente, um profeta nato que transpira sua vocação em seu livro e vaticina a profecia</p><p>de forma clara, objetiva e muito sincera. Se por um lado, Ageu aponta a reconstrução do</p><p>templo como restauração, Zacarias amplia e relaciona a restauração a além do campo</p><p>material. Também o profeta Zacarias coloca em evidência o caráter espiritual do novo Israel,</p><p>a sua santidade, realizada progressivamente, ao lado da reconstrução material (HOUSE,</p><p>2005). Essa restauração espiritual será plena com o reino do Messias. Este renascimento</p><p>é fruto do amor de Deus e da sua onipotência para com seu povo.</p><p>70UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século</p><p>Em parte do seu texto, a apresentação de uma profecia messiânica, seu texto</p><p>aponta para o futuro do povo de Deus, anunciando o aparecimento do Messias com três</p><p>imagens: rei, pastor, sofredor. Essas imagens trazem à lembrança Jesus montado num</p><p>jumentinho (rei), bom pastor e morte na cruz (servo sofredor) (SHOKEL, 1988).</p><p>Essas três dimensões messiânicas da profecia de Zacarias são muito relevantes</p><p>e deram de fato um destaque a sua vida e obra ante aos demais profetas menores.</p><p>Também seu livro pode ser divido em três grandes blocos sendo: Os capítulos 1-8: em que</p><p>o autor fala da reconstrução de Jerusalém; capítulos 9-11: Onde Zacarias apresenta um</p><p>projeto de esperança e paz; capítulos 12-14: Profecias que falam do final dos tempos em</p><p>Jerusalém. John D. W. Watts apresenta uma síntese muito clara do livro e dos objetivos</p><p>de Zacarias em suas profecias:</p><p>O tema do livro é o Reino de Deus. Esse tema é apresentado de inúmeras</p><p>e variadas maneiras, sempre relacionado a outros temas. A relação de</p><p>Jerusalém com o reino de Deus é um tópico que aparece ao longo de todo o</p><p>livro. A intenção que o Senhor tem ali de reestabelecer sua morada é a razão</p><p>de reconstruir o templo. A vinda de Deus a Jerusalém e sua morada ali são</p><p>sinais da eleição da cidade. Ela é o tema central daquela ocasião que o profeta</p><p>chama de “aquele dia”. Quando tudo mais estiver sob o juízo final do Senhor,</p><p>Jerusalém permanecerá exaltada e confirmada (WATTS, 1969, p. 311).</p><p>Zacarias em suas profecias relacionando Jerusalém e a presença do próprio Deus,</p><p>tem já um caráter de comprimento de sua profecia com certa brevidade, pois de fato, serão</p><p>cumpridos esses propósitos e em Jerusalém será estabelecida a relação de um só povo</p><p>com o seu Único Deus se cumprirá, o povo servirá ao Senhor como uma nação santa que</p><p>atrai todas as nações a sua capital, cujo será evidente a presença de Deus (HOUSE, 2005).</p><p>Por fim, Zacarias anuncia que chegou o tempo das bênçãos do Senhor para</p><p>com Israel e seu povo. O Templo se encaminha para a reconstrução e estão para serem</p><p>reedificadas Jerusalém e as outras cidades de Judá, enquanto os povos que se alegraram</p><p>com sua destruição serão punidos e sofrerão as penas e os juízos de Deus por seus atos.</p><p>Quanto à causa da morte do profeta, não temos acesso, porém, provavelmente morreu</p><p>muito velho e foi enterrado ao lado do tumulo de Ageu, seu contemporâneo.</p><p>71UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século</p><p>2. O PROFETA OBADIAS</p><p>Trabalhar em prol do outro, ajudá-lo. Esta pode ser uma síntese do trabalho e</p><p>ministério do profeta Obadias. Certamente, esse será o profeta de todo o nosso material</p><p>de estudo com menos informações, mas por outro lado, sua vida e obra são no mínimo</p><p>inspiradoras a nossa fé.</p><p>Obadias ou Abdias em seu livro nos deixou apenas 21 versos ou versículos e por</p><p>ser tão resumido seu livro deixou poucos ferramentais para as pesquisas de cunho histórico</p><p>e arqueológico, tendo como resultado em poucas informações concretas. Obadias não nos</p><p>diz nada sobre o autor de seu texto se foi ele mesmo ou outro escritor em conjunto, exceto</p><p>seu nome, e até essa informação é incerta já Obadias era um nome muito comum no Antigo</p><p>Testamento, e os estudiosos acham que o Obadias que escreveu o livro não é mencionado</p><p>em outros lugares na Bíblia. A dúvida quanto ao nome (Obadias/Abdias) também se dá</p><p>porque vogais podem ser adicionadas para as letras hebraicas em mais de uma maneira,</p><p>então isso pode significar “adorador do Senhor” ou “Servo de Javé”.</p><p>Seu livro aborda a destruição de Edom, nação com muitas características parecidas</p><p>com Israel. Obadias era um nome muito comum no Antigo Testamento, e os estudiosos</p><p>acham que o Obadias que escreveu o livro não é mencionado em outros livros ou textos</p><p>bíblicos (GUNNEWEG, 2005).</p><p>72UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século</p><p>3. O PROFETA DANIEL</p><p>O livro de Daniel foi escrito por volta de 530 a.C. enquanto Daniel vivia na Babilônia.</p><p>O profeta ainda quando adolescente foi levado para a Babilônia em cativeiro, provavelmente</p><p>a escrita do livro se deu quando Daniel tinha por volta de 90 anos. O Profeta Daniel é o autor</p><p>do livro que leva seu nome o qual também significa “Deus é Juiz”. Daniel foi selecionado</p><p>como um dos jovens judeus mais especiais para ser treinado para servir na corte do rei</p><p>Nabucodonosor que foi rei da Babilônia de 605-562 a.C. Daniel viveu na Babilônia durante</p><p>os reinados de Belsazar (cap. 5;7-8), de Dario, filho de Xerxes (cap.6 e 9), e de Ciro,</p><p>rei da Pérsia, que, em 539 a.C., conquistou a Babilônia e se tornou rei do país (cap.10).</p><p>Seguindo esses dados cronológicos, o livro foi escrito depois de 536 a.C. No entanto,</p><p>muitos especialistas bíblicos acham que o livro foi escrito depois da profanação do Templo</p><p>por Antíoco IV Epífises (I e II Macabeus), rei da Síria 174-165 a.C. (SHOEKKEL, 1988).</p><p>Quanto a escrita, maioria dos pesquisadores concorda que a composição final do</p><p>livro se deu no período dos Macabeus. O próprio texto de Daniel dá uma indicação precisa</p><p>neste sentido em especial no capítulo 11 apresentando contextualmente as guerras entre os</p><p>Ptolomeus e Selêucidas que são narradas com riqueza de detalhes, assim como também</p><p>o reinado de Antíoco IV Epífanes (175-164 a.C.) no livro do profeta.</p><p>O ministério profético de Daniel tem seu início destacando seu dom de interpretar</p><p>sonhos, e por sua habilidade de interpretação e inteligência foi promovido a cargos de</p><p>liderança nos governos Babilônico e Persa mesmo durante o cativeiro.</p><p>73UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século</p><p>Na Babilônia, juntamente com outros companheiros com qualidades semelhantes</p><p>a ele eram estudiosos, inteligentes e fies em suas convicções religiosas, Daniel foi educado</p><p>para o serviço no Império Babilônico, sendo instruído sobre a língua e a civilização dos</p><p>caldeus (Dn 1:4). Dentre os companheiros de Daniel na Babilônia, o relato bíblico destaca</p><p>três nomes: Hananias, Misael e Azarias, também conhecidos por seus nomes babilônicos</p><p>Sadraque, Mesaque e Abednego respectivamente. Daniel também recebeu outro nome</p><p>no cativeiro, no caso Beltessazar.</p><p>Uma curiosidade importante de ser destacada se dá pelo fato de que quando o período</p><p>de preparação para Daniel determinado por Nabucodonosor terminou, os jovens foram</p><p>conduzidos à presença do rei. Na ocasião, não foram achados outros jovens tão capazes</p><p>como Daniel, Hananias, Misael e Azarias. O rei lhes interrogou sobre todos os assuntos nos</p><p>quais se exigia conhecimento e sabedoria, e Daniel e seus três amigos se mostraram dez</p><p>vezes mais sábios do que todos os magos e encantadores do Império Babilônico.</p><p>O ministério profético de Daniel tem como grande advento inicialmente interpretando</p><p>os sonhos do rei Nabucodonosor (Dn 2:4). Nabucodonosor havia tido um sonho que lhe</p><p>deixou perturbado, e, convocando os magos, os encantadores, os feiticeiros e os astrólogos,</p><p>pediu-lhes que revelassem não só o significado do sonho, mas o próprio conteúdo do</p><p>sonho, nenhum deste conseguiu êxito na interpretação. Isso fez com que Nabucodonosor</p><p>ordenasse que todos os sábios da Babilônia fossem executados, incluindo Daniel e seus</p><p>amigos. A imagem retratada no sonho do profeta representava quatro impérios mundiais,</p><p>começando no presente e se estendendo ao futuro. As duas interpretações mais aceitas</p><p>são: Babilônico, Medo-Persa, Grego e Romano, ou Babilônico, Persa, Medo e Grego.</p><p>Nas pesquisas arqueológicas nos conhecidos como manuscritos de Qumran</p><p>apresentam fragmentos de um ciclo de Daniel, o qual tem semelhanças com o livro canônico,</p><p>especialmente no capitulo três e quatro do livro que contém a chamada “Oração de Nabônides”,</p><p>encontrada na Caverna IV nas pesquisas que Qumran, onde notamos uma relação com</p><p>os textos Dn 3,31-4,34, com a substituição do nome de Nabônides por Nabucodonosor em</p><p>Daniel. Este fato ajuda-nos a inserir o livro em um contexto histórico muito importante podendo</p><p>ser referenciado em fatos históricos comprovados além do enredo bíblico.</p><p>A passagem do sétimo capitulo do livro de Daniel, em que o profeta é lançado na</p><p>cova dos leões, também é considerada uma etapa do livro profético relevante nas leituras,</p><p>e de fato é, quando mantemos os olhos nas leituras contextuais. O rei Dario nomeou 120</p><p>pessoas responsáveis por administrar o império e colocou três supervisores sobre eles,</p><p>um dos quais era Daniel.</p><p>74UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século</p><p>Durante sua atuação, o profeta se destacou por sua inteligência e sagacidade ante</p><p>a situações controversas, o profeta se destacou tanto como supervisor que Dario planejava</p><p>colocá-lo à frente de todo o governo. Diante disso, os administradores e os outros dois</p><p>supervisores procuraram algum motivo para acusar Daniel em sua conduta, mas nada</p><p>conseguiram, então se mancomunaram contra Daniel e seu rito diário de orações ao Deus</p><p>de Israel. O rei assinou o decreto com o seu selo real. De acordo com a lei dos medos e</p><p>persas, tudo que fosse selado com o selo real não poderia ser jamais alterado. Mesmo ante</p><p>ao decreto e a ciência que seus opositores procuravam aspas em Daniel para condená-lo</p><p>Daniel foi para a sua casa e como de costume entrou no seu quarto, abriu as janelas e orou</p><p>ajoelhado ao seu Deus. Mesmo ante algumas tentativas por parte do rei para livrar Daniel</p><p>da pena cabal, o rei não conseguiu livrar Daniel e mandou que seus guardas o prendessem</p><p>e o jogassem na cova dos leões conforme o édito que ele mesmo havia proclamado.</p><p>Mesmo contra sua vontade a cova foi tapada com uma pedra e o rei a selou com seu anel,</p><p>concretizando assim o possível martírio do profeta. Resumidamente, ao conferir a cova,</p><p>Daniel encontrava-se vivo e jubiloso ante o livramento lhe conferido. O Rei Dario então</p><p>revoga seu édito e agora penaliza os opressores (outros administradores) de Daniel sob</p><p>a mesma pena outrora condenatória a Daniel, mas também com suas mulheres e filhos.</p><p>Todos morrem devorados pelos leões.</p><p>O livro do profeta Daniel, também pode ser caracterizado como um livro profético-</p><p>escatológico, isso porque trata de acontecimentos relacionados ao o fim do mundo e com</p><p>apontamentos apocalípticos. Esses acontecimentos são revelados ao profeta por meio de</p><p>visões e sonhos. O profeta procura explicar ao povo de Deus por que eles estão sendo</p><p>perseguidos e ao mesmo tempo, ele os exorta a serem fiéis a Deus. Pois virá o dia em</p><p>que Deus acabará com o domínio dos pagãos e, mais uma vez, Israel será uma nação</p><p>livre e independente.</p><p>O livro em sua estrutura literária neste aspecto escatológico apresenta uma</p><p>possibilidade de análise do livro como explica Silva e Tada (2012):</p><p>O conteúdo do livro se divide em duas partes. A primeira são histórias a</p><p>respeito de Daniel e dos seus três companheiros, que estavam vivendo</p><p>na Babilônia, para onde haviam sido levados como prisioneiros pelo rei</p><p>Nabucodonosor. Em meio a muitas provações, eles continuaram firmes na</p><p>sua fé em Deus e obedeceram às suas leis. Eles ganharam a aprovação</p><p>do rei, e ele colocou os três amigos de Daniel em cargos muito importantes</p><p>na Província da Babilônia (3.30). Daniel, foi feito a terceira autoridade mais</p><p>importante do reino (5.29;6.28). A segunda, contém as visões de Daniel,</p><p>que tratam de impérios que aparecem e depois desaparecem. Essas visões</p><p>deixam bem claro que os perseguidores serão derrotados e que a vitória final</p><p>será do povo de Deus (SILVA e TADA, 2012, p. 02).</p><p>75UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século</p><p>Em uma divisão, para que possamos compreender melhor seu conteúdo, dividiremos</p><p>o livro, num recorte que se inicia no capítulo 7 e vai até o capítulo 12, em linguagem</p><p>figurada, própria do profetismo-escatológico, o autor divide a história em etapas, mostrando</p><p>o conflito entre as grandes potências. Ressalta que se</p><p>aproxima a última etapa da história:</p><p>o Reino de Deus está para ser implantado; por isso, é preciso ter ânimo e coragem para</p><p>resistir ao opressor, permanecendo fiel, ou seja contém as seguintes visões: capítulo 7 - as</p><p>quatro feras; capítulo 8 - o bode e o carneiro; capítulo 9 - as setenta semanas; capítulos</p><p>10 a 12 - Tempo da cólera e Tempo do fim, além das disputas do Rei do Norte com o Rei</p><p>do Sul. Alguns destes elementos dela reaparecem no Livro de Apocalipse de João (12:3;</p><p>13:1-6; 17:8). Nessa visão, Daniel viu “aquele que sempre existiu” sentado no seu trono, no</p><p>céu, pronto para julgar a humanidade. A explicação das visões dá mais atenção ao quarto</p><p>monstro e especialmente ao chifre, que procurou derrotar o povo de Deus.</p><p>Adentrando a uma pauta relevante no livro do profeta Daniel as setenta semanas</p><p>também merecem observância. No nono capitulo de seu livro (Dn 9:1-19), Daniel confessa</p><p>a Deus seus próprios pecados e os do seu povo. Ele estava preocupado com a profecia de</p><p>Jeremias a respeito dos setenta anos que Jerusalém ficaria arrasada e pediu a Deus que</p><p>restaurasse o Templo. Daniel ainda estava orando quando Deus mandou uma resposta. Em</p><p>linguagem, nem sempre clara e explícita, o anjo Gabriel explica a profecia. O significado da</p><p>semana deve ser apurado. A palavra hebraica é shabua, que literalmente significa “sete”.</p><p>Deste modo, o versículo 24 do nono capítulo afirma simplesmente que “setenta setes estão</p><p>determinados”, e o que são estes “setes” deve ser definido pelo contexto e por outras</p><p>passagens das Escrituras.</p><p>Os judeus tinham um “sete” de anos bem como um “sete” de dias. E essa “semana</p><p>bíblica de anos” era tão conhecida dos judeus quanto uma “semana” de dias. Era, em</p><p>alguns aspectos, até mais importante. Existem vários motivos para acreditar que as “setenta</p><p>semanas” da profecia de Daniel referem-se ao bem conhecido período de “sete” anos.</p><p>Em primeiro lugar, o profeta Daniel estava pensando não apenas sob o aspecto de anos</p><p>em lugar de dias, mas também em um múltiplo exato de “setes” (10 x 7) de anos (1,2).</p><p>Em segundo, Daniel também sabia que a duração do cativeiro babilônico se baseava na</p><p>violação judaica da lei dos anos sabáticos.</p><p>Chegamos então ao final do livro e seu desfecho, ao mencionar o que Daniel</p><p>chama de tempo da cólera/tempo do fim, além das disputas do Rei do Norte com o Rei do</p><p>Sul, se encontram no capítulo 11 e 12. No capítulo 11, o anjo fala a Daniel que o reino da</p><p>Pérsia seria conquistado pelo rei da Grécia; depois da morte deste, o reino seria dividido</p><p>em quatro partes, entregues a quatro reis.</p><p>76UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século</p><p>Em seguida a estes fatos, haveria uma guerra entre a Síria e o Egito, que duraria</p><p>muitos anos (não especifica tempo cronológico). Finalmente, o rei da Síria derrotaria o</p><p>rei do Egito e invadiria Israel, mas no fim seria morto. Ao final por volta do capítulo 12, o</p><p>texto profético caminha para seu fim com a mensagem do anjo anunciado (tempo provável)</p><p>quando viria o fim. Anunciando e conclamando o povo a uma vida de fidelidade a Deus</p><p>nos tempos difíceis sob a garantia de glória nos dias vindouros como resultado de sua</p><p>fidelidade para com Deus.</p><p>O livro do profeta Daniel merece nossa pesquisa, por seu enredo envolvente e dado,</p><p>os nomes e tempos históricos claramente citados e apresentados em seu livro. Como os</p><p>demais livros que apontamos anteriormente, ater-se apenas ao viés profético espiritual pode</p><p>empobrecer as dimensões do texto de Daniel. Este livro abre-nos então muitas possibilidades</p><p>de leituras, podendo ser lido pelo viés critico histórico, pelo viés profético-escatológico, pelo</p><p>viés critico textual, pela historiografia e arqueologia entre outras. A nós, estudantes, cabe-nos</p><p>o desafio de conhecer as diversas leituras apresentadas pelo livro de Daniel.</p><p>77UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século</p><p>4. OS PROFETAS MALAQUIAS E JOEL</p><p>O profeta Malaquias inicia seu ministério setenta anos após Ageu e Zacarias, mas</p><p>mantém sua profecia direcionada a Jerusalém, mesmo com o templo já reconstruído e</p><p>funcionado normalmente (HOUSE, 2005). Embora a reconstrução estivesse concluída</p><p>alguns aspectos das celebrações e da adoração ainda permeavam a superficialidade. O</p><p>livro de Malaquias encerra o livro dos doze profetas ou profetas menores, as pesquisas</p><p>apontam o livro de Malaquias no período de pós-exílio após o auge do domínio persa nos</p><p>dias de Dario I (522-486 a.C.) e como testemunha do declínio com Xerxes, podendo estender</p><p>seu período até Artaxerxes II (404-359/8 a.C.) quando o domínio persa, após um declínio</p><p>esboçava uma pequena reação. O governo de Ciro sobre os territórios antes dominados</p><p>pela Babilônia possibilitou a migração de pessoas, que antes exiladas, poderiam voltar</p><p>às suas origens, fato também contextual a Ageu e Zacarias (SHOEKKEL, 1988), ambos</p><p>estavam sob a liberdade de retorno estabelecida por Ciro.</p><p>O povo em Jerusalém está divido entre os que vieram do exílio e os que haviam</p><p>permanecido em Jerusalém. Malaquias, em sua mensagem, compreende essa conjuntura</p><p>estrutura social, mas defende as instituições de Jerusalém e o crescimento dessas.</p><p>Manifestou descontentamento com a atitude de incredulidade e com o estabelecimento da</p><p>injustiça entre os habitantes de Judá e de Jerusalém. Por esta perspectiva, a palavra de</p><p>Malaquias parece dirigir-se mais propriamente aos habitantes de Jerusalém que retornaram</p><p>do exílio com o desejo de ver restabelecida a glória da capital e do templo.</p><p>78UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século</p><p>Na profecia de Malaquias, o templo e Jerusalém eram vistos como o lugar sagrado</p><p>reconstruído como aliança de restauração cultural-religiosa para os habitantes daquela</p><p>região (KAISER, 2010). Com isso, atendia a forte influência sacerdotal e as esperanças</p><p>proféticas buscando unir os grupos em torno do culto e do templo. Malaquias tem um árduo</p><p>trabalho, talvez o mais difícil entre os profetas incutir na mente do povo que deveria atentar-</p><p>-se a Deus e não a suas diferenças entre grupos, estabelecer a visão teológica de um Israel</p><p>renovado, no seu desejo de amar, honrar e servir ao seu Senhor (HOUSE, 2005).</p><p>O nome Malaquias significa “meu mensageiro” em língua hebraica, e talvez seu</p><p>nome venha tanto a calhar com sua missão, pregar e profetizar a justiça de Deus, um</p><p>mensageiro que veio preparar o povo para se encontrar com Deus, o profeta também</p><p>apresenta um Deus que não muda e não mudou seu padrão de amor mesmo com o povo</p><p>corrompido e exilado em outras terras mostrando um Deus disposto a refazer alianças</p><p>sempre que necessário e por amor e zelo a sua palavra.</p><p>Em seu livro Malaquias conclui a história contada anteriormente pelos profetas</p><p>para o reestabelecimento de Jerusalém e o culto a Yahweh. Ele encerra os períodos de</p><p>dominação social e religiosa de outros povos ante ao povo escolhido de Deus, entre os doze</p><p>profetas, ou profetas menores, se passam trezentos anos e Malaquias fecha esse período</p><p>profético. Sua profecia tem um caráter vislumbrante e alegre ao realçar o futuro profetizado</p><p>pelos profetas anteriores a ele e Malaquias concentra-se em apresentar a intervenção de</p><p>Deus na história em favor do seu remanescente (HOUSE, 2005).</p><p>Por fim, o último dos profetas é alguém dotado de uma sensibilidade maior e</p><p>incumbido da missão de unir o povo e torno de um culto único e solene, não superficial, mas</p><p>pleno e sincero. Malaquias trabalha para apagar marcas psicológicas e religiosas deixadas</p><p>pelos opressores exílicos, que sem piedade descaracterizaram a cultura e a religião em</p><p>Israel, mas Malaquias não se omite e se levanta com autoridade e trabalha firmemente para</p><p>que o desígnio de Deus em unir seu povo novamente entorno do templo e em Jerusalém</p><p>seja cumprido em sua plenitude (KAISER, 2010).</p><p>4.1 Joel</p><p>Ainda no período pós-exílio e após a reconstrução do Templo de Jerusalém,</p><p>o texto do profeta Joel surge com um livro único e com uma característica peculiar, ele</p><p>outros escritores</p><p>através da tradição oral, muito recorrente nas primeiras culturas da Bíblia.</p><p>A profecia bíblica no Antigo Testamento valeu-se dos mais variados gêneros</p><p>literários como poesias, figuras de linguagens, simbolismos proféticos e outros diversos.</p><p>6UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>Houve também neste período, profetas que estavam profetizando por interesses</p><p>políticos, outros por proeminência nas regiões onde viviam, e também profetas que profetizavam</p><p>por ascensão social. No entanto, havia profetas que iniciaram profetizando as verdades de</p><p>Deus (Javé) e corromperam a posteriori. Em oposição a estes, tinham os profetas que estavam</p><p>cabalmente firmados em profetizar somente o que Javé ordenara com coragem, para confrontar</p><p>uma monarquia organizada e impiedosa, que era seu opositor, e que priorizava e protegia os</p><p>mais abastados da sociedade, cuidavam de suas festas e reuniões com seus capatázios, em</p><p>detrimento aos pobres e injustiçados. Estes últimos, por sua vez, sofriam as injustiças por meio</p><p>de impostos duramente cobrados, que aumentavam drasticamente as desigualdades sociais,</p><p>conduzindo a sociedade à miséria sem piedade alguma.</p><p>Neste momento, as profecias contra a monarquia seguiam expondo mazelas sociais</p><p>e o desagravo de Deus diante do cenário exposto passou a inserir os profetas diretamente</p><p>nas questões sociais, bem como, nas questões espirituais às quais o povo também padecia,</p><p>pois o relacionamento do povo com Deus a essa altura estava olvidado (esquecido).</p><p>Os profetas, agora muito mais inseridos em diferentes classes sociais - no</p><p>exército, entre sacerdotes, juízes e latifundiários, e principalmente, com o povo oprimido</p><p>e desesperançado, - passam a ter forte atuação utilizando Javé e seus juízos como</p><p>arma para que esta realidade instalada sofresse mudanças. Para alguns profetas,</p><p>como Jeremias, por exemplo, o embate com a monarquia e suas ofensas aos pobres</p><p>são confrontadas com fortes denúncias das injustiças notadas na vida do povo comum,</p><p>denúncias estas muito corajosas e audaciosas contra os poderes e instituições ligadas à</p><p>monarquia, principalmente quando ressaltamos que a coragem não era um ponto forte no</p><p>início do chamamento deste profeta (Jr 1:7-8). Mesmo assim, diante do cenário repleto de</p><p>desumanidades que o profeta contemplava, Javé o encoraja ao confronto e ele profetiza</p><p>contra a monarquia e as instituições estabelecidas.</p><p>Para os profetas bíblicos, seu comprometimento com Deus e suas profecias estavam</p><p>firmadas na fidelidade à entrega da mensagem verdadeira. A vocação dos verdadeiros profetas</p><p>não contemplava vínculos com grupos ligados às monarquias para abrandamento de suas</p><p>mensagens proféticas, principalmente as mensagens proféticas que vaticinavam juízo ante</p><p>às opressões causadas pelas desigualdades. O compromisso do profeta antes de qualquer</p><p>apontamento era com sua vocação e com os desígnios de Deus para sua vida; estavam</p><p>prontos a colocar suas vidas e suas reputações, se preciso fosse, em favor de Deus. Existia</p><p>um compromisso verdadeiro do profeta com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra.</p><p>7UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>2. DEFININDO OS TIPOS DE PROFETAS</p><p>Nas leituras veterotestamentárias, o ministério profético se apresenta com diversas</p><p>nuances, com contextos e objetivos diferentes em suas profecias. Assim, podemos notar o</p><p>quanto a profecia bíblica torna-se um fenômeno diversificado.</p><p>Ao estudarmos a profecia podemos dividi-la em três grupos de profecias em todo o</p><p>Israel, sendo: Um primeiro grupo que denominamos “profetas do templo e da corte” (Natã</p><p>em Gade, pertencentes à corte de Davi). Um segundo grupo, com profecias mais críticas e</p><p>também mais distantes da corte e do templo (Elias e Eliseu) e, por fim, um terceiro grupo ao</p><p>qual nosso material trará um enfoque maior, os “profetas radicais”, que visavam ao embate</p><p>com a monarquia e à denúncia das mazelas sociais causadas pelo Estado (Amós, Isaías,</p><p>Jeremias, entre outros). A profecia, mesmo em tempos e ambientes distintos, sempre</p><p>apontava a verdade de Javé e sua atenção para com os erros causados por lideranças</p><p>e poderes que, de alguma forma, feriam seu povo e os afastavam da comunhão cúltica</p><p>com Javé. Geralmente em contextos semelhantes a estes, Deus levantava os profetas em</p><p>oposição a estas crises. No entanto, o termo profetas aplicado nas Escrituras perpassa por</p><p>diferentes terminologias. Destas, três descreveremos pormenorizadamente, destacando</p><p>que as terminologias de cada título profético remetem aos atributos e objetivos do profeta.</p><p>Assim sendo, os três títulos são: ro´eh, hozeh e nab’. Há um quarto termo que aparece</p><p>também com frequência no enredo bíblico; ´ish´elohim, “homem de Deus”.</p><p>8UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>Os dois títulos Ro´eh e Hozeh, de forma bem objetiva, apontam para a ideia de vidente</p><p>(Heb. hozeh: “aquele que vê”) que se relaciona na língua hebraica ao termo hazon (Heb. hazon:</p><p>“visão”), ao qual temos uma aproximação com o texto do profeta Isaias 1:1, como veremos:</p><p>“Profecia (Heb. hazon: “visão”) de Isaías, filho de Amós, a respeito de Judá e Jerusalém no</p><p>tempo de Ozias, de Joatão, de Acaz e de Ezequias, rei de Judá” (ISAIAS 1:1, Bíblia Jerusalém).</p><p>Para muitos pesquisadores bíblicos, o ministério profético estava diretamente rela-</p><p>cionado à vidência dos profetas, suas visões sobre os juízos futuros, bem como as verdades</p><p>de Javé a eles reveladas previamente, tendo assim a figura do profeta como um vidente,</p><p>aspecto preponderante, até mesmo quando apresentamos a relação com exemplos de</p><p>profetas arábicos ou também com o profetismo além do cânon bíblico. Isto nota-se também</p><p>nos profetas do Antigo Oriente Médio, na cidade de Mari por exemplo, como veremos a</p><p>diante em nosso livro. A relação do profeta com o termo hozeh (“aquele que vê”) também</p><p>pode ser assemelhada aos nômades patriarcas e no caso de Balaão (Números 22:24). O</p><p>termo ro´eh, por sua vez, tem uma definição próxima ao termo hozeh. Quando o termo</p><p>hozeh designa “aquele que vê” está vinculando-o à vidência, à revelação de algum fato.</p><p>Assim o termo ro´eh, remete-nos a expressão de alguém que pode então penetrar o futuro</p><p>e revelá-lo (Dt 18:21-22), como destaca o Isaltino Gomes Coelho Filho ao exemplificar o</p><p>termo ro´eh “alguém que vê” ao chamado de Jeremias (Jeremias 1:11-12):</p><p>Nem sempre o termo está associado com vidência. Algumas vezes é uma</p><p>interpretação dos eventos ou a compreensão de algo mais profundo numa</p><p>visão comum. Jeremias vê um oleiro fazendo um vaso e compreende a relação</p><p>entre Iahweh e Israel (18.1-4). Vê uma vara de amendoeira florescendo (1.11-</p><p>12) e faz um trocadilho: ele vê uma amendoeira. (shaqed) que soa parecido</p><p>com vigilante. (shoqed). A amendoeira floresce quando capta o aumento da</p><p>umidade do ar. Está pronta para lançar as folhas, novamente. Ela vigia, ela</p><p>shoqed o ar. Assim Deus está shoqed com sua palavra. Ninguém veria isso,</p><p>mas o profeta vê. Ele vê uma panela fervendo, na parte norte (1.13-15). Estava</p><p>vazando. Ele vê a ira de Deus fervendo e pelo norte, de onde vem um inimigo.</p><p>Não tem sentido algum para o homem comum, mas tem para ele. O profeta</p><p>vê o que os outros não vêem. Chamaríamos isso, hoje, de discernimento. Lá</p><p>estão os homens a brincar com o pecado, a sociedade a relaxar seu padrão de</p><p>conduta, a moralidade baixar assustadoramente (COELHO FILHO, 2004, p.03)</p><p>Estes profetas são dotados de um poder sobrenatural e por isso podem também</p><p>ser chamados na bíblia de ´ish’elohim, ou “homem de Deus” (ex. Moisés e Samuel: Dt 33.1;</p><p>1 Sm 9.1-10,16). Outra aparição do uso dessa palavra (ro’eh) está em Amós 7.12, no qual</p><p>Amazias chama Amós de ro’eh: Vai-te, ó vidente (ro’eh), foge para a terra de Judá, e ali</p><p>come o teu pão, e ali profetiza.</p><p>9UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>Outra terminologia hebraica utilizada para distinguir os fenômenos proféticos é o</p><p>uso do termo Nabi’ remetendo à prática da vidência profética. Antonio</p><p>mesmo escreveu seu texto. A data provável de seu livro seria o ano 400 a.C. Uma divisão</p><p>é facilmente notada na leitura dos seus três capítulos sendo: uma primeira parte em que</p><p>temos as invasões de gafanhotos e povos, e em uma segunda cujo profeta descreve a</p><p>resposta de Javé ao povo mediante realizações escatológicas.</p><p>79UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século</p><p>O nome Joel significa “O Senhor é Deus” e ele se identifica como filho de Pethuel</p><p>(GARDNER, 2012), sua familiaridade com expressões e tema vinculados ao templo abrem</p><p>a possibilidade de relacionar o profeta a alguma linhagem sacerdotal ou uma espécie de</p><p>“profeta-sacerdotal” com mensagens diretas e compreensíveis a este grupo em especial.</p><p>Vamos abordar aqui cinco elementos básicos que caracterizam o livro de Joel. A</p><p>primeira é o fato de ser uma das obras com mais detalhes linguísticos do Antigo Testamento,</p><p>demonstrando certa habilidade com a língua hebraica e um vocabulário muito rebuscado.</p><p>Uma segunda peculiaridade é o fato de Joel fazer abertamente alusão ao Espírito Santo em</p><p>seus textos mesmo no Antigo Testamento, servindo de ferramental teológico neste tema.</p><p>A terceira característica é a capacidade de registro, ou senso histórico do profeta Joel. O</p><p>profeta menciona calamidades nacionais como a praga de gafanhotos, seca, fome, incêndios,</p><p>invasões militares opressoras de inimigos, desastres nos céus, e isso relacionado aos</p><p>juízos de Yahweh ante a degradação moral e religiosa do povo. Uma quarta característica</p><p>é a ênfase que Joel da a um Deus agente na história, que age nela diretamente, fato muito</p><p>peculiar a este profeta, um Deus agente e reagente, ora com juízos, ora com avivamento,</p><p>dada as ações responsivas do povo as ordenanças divinas. Por último a quinta característica</p><p>é a estreita comunhão demonstrada entre Deus e o profeta, uma relação intima e mutua um</p><p>profeta muito devotado a Deus e as disciplinas espirituais. Essa relação estreita permitia o</p><p>profeta ter voz ativa e respaldo a conclamar o povo ao arrependimento a nível nacional e</p><p>ser ouvido também neste item podemos somar o fato de que o profeta tinha fortes vínculos</p><p>com os sacerdotes do templo, os escribas e os levitas esse respeito e autoridade muito lhe</p><p>ajudaram em sua vocação. Joel parece ter se alimentado muito dos profetas anteriores.</p><p>Isso, porém, não impediu de forjar seu próprio estilo, com imagens e metáforas originais e</p><p>próprias, demonstrando certo espírito poético e vasto vocabulário hebraico. Para anunciar</p><p>o “dia de Javé”, o profeta usa os fatos catastróficos, que são vistas como sinal precursor</p><p>do julgamento final, quando Deus irá se manifestar, principalmente, contra as nações</p><p>opressoras, mas também com relação a indiferença do povo as ordens de Deus. Por fim, o</p><p>uso destes recursos teve resultado positivo e o profeta teve êxito em sua missão profética.</p><p>Por fim a mensagem de Joel seja uma das compreensíveis em nosso tempo, pois</p><p>o profeta deixa claro em seu texto a necessidade de uma relação íntima com Deus e seus</p><p>mandamentos, um Deus que não está inerte na história, mas que age quando necessário,</p><p>uma mensagem de juízo a que segue indiferente a voz de Deus e uma mensagem de</p><p>avivamento e companhia do Espírito Santo a que manter a berit (aliança) com Deus firme e</p><p>inegociável. Sobre a morte do profeta Joel não temos informações concretas e por isso não</p><p>apontaremos informações sobre essa pauta.</p><p>80UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Isaias andou nu por três anos?</p><p>“Então disse Lahweh: Da mesma maneira que o meu servo Isaías andou três anos nu e des-</p><p>calço, sinal e presságio que diz respeito ao Egito e a Cuch (Isaías 20,3) Bíblia de Jerusalém.</p><p>Como interpretar a nudez do profeta Isaías?</p><p>Prefiro entender como o texto sagrado nos indica. Olhando o texto hebraico, ele é claro,</p><p>fala em nudez. Embora alguns os autores deram um sentido mais brando a nudez, por</p><p>ser em ambiente profético contestatório, o texto na sua interpretação real se impõe. A</p><p>nudez do profeta passa ser um sinal forte e contestador, acusando as alianças com o</p><p>Egito não dariam garantias a Israel. Não estamos no erro assim interpretando. O texto é</p><p>claro e tem gênero profético contestatório.</p><p>Interpretação mais branda</p><p>Alguns autores, por respeito humano ou mesmo moralismo, preferem entender a nudez</p><p>do profeta Isaías, não como uma nudez real, mas que ele usava vestes mais leves. A</p><p>apresentação da nudez de Isaías por 3 anos segundo estes comentaristas era a subs-</p><p>tituição das vestes grossas e sem calçados, usados por profetas normais, por vestes</p><p>mais leves e descalço.</p><p>A bíblia clássica de Antônio Pereira de Figueiredo assim se expressa:</p><p>“Nu – segundo o “usus loquendi”, não quer designar a nudez completa, mas sim o hábito</p><p>ligeiro, no caso presente indica que estava despojado do manto do luto que cobria e descalço”.</p><p>(Bíblia clássica de Antônio Pereira de Figueiredo, volume 7, pág. 30, editora das</p><p>Américas, São Paulo, SP, 1950).</p><p>Isaías andando nu por três anos foi um sinal para o povo de Israel. O povo de Deus</p><p>deveria confiar na proteção divina, como fez até o momento, do que fazer coligação</p><p>imaginando segurança nas horas de infortúnio.</p><p>Fonte: CASONATO, O. D. Isaias andou nu por três anos? Biblia.org [S.I.] [2018]</p><p>Disponível em: https://www.abiblia.org/ver.php?id=10425. Acesso em: 12 nov. 2021.</p><p>REFLITA</p><p>“Deus usa as coisas improváveis, para realizar as impossíveis!”</p><p>Richard Exley.</p><p>Fonte: EXCLEY, Richard. Quando você perde alguém que ama: conforto para aqueles que sofrem. Ed.</p><p>Honor Books. Oklahoma-USA, 1999.</p><p>81UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>É hora de nos despedirmos, pois, nossa jornada ao mundo dos profetas chegou ao</p><p>fim por um momento, até porque devemos sempre continuar nossas pesquisas, sempre nos</p><p>aperfeiçoar. Espero que nesta unidade possamos ter mente com clareza os caminhos de</p><p>Deus para a restauração de seu povo, notamos um Deus zeloso, forte, reconciliador e justo.</p><p>Acompanhamos profetas corajosos, cada um ao seu contexto, vaticinando veementemente</p><p>os oráculos de Deus. Esse legado de fé, por eles deixado deve nos servir de combustível</p><p>e motivação a prosseguir, pois cada profeta nos ensina a confiar cada vez mais em Deus e</p><p>no seu senhorio sobre a história. Sim, Deus não abandona os seus! Homens brilhantes que</p><p>cumpriram com êxito sua vocação.</p><p>82UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>Os 12 Profetas de Aleijadinho</p><p>A arte barroca estava fortemente ligada ao catolicismo, razão pela qual todas as</p><p>criações de Aleijadinho estavam relacionadas a histórias ou figuras bíblicas. Os 12 profetas</p><p>no adro do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, são uma homenagem</p><p>aos profetas citados pela Bíblia, tanto no Antigo como no Novo Testamento. Durante</p><p>dez anos Aleijadinho trabalhou nas estátuas, e em 1804 o seu trabalho chegou ao fim.</p><p>As características dos profetas apontam para as suas contribuições à história cristã. Sem</p><p>contar, é claro, algumas ideias brilhantes e subtis adicionadas pelo escultor genial e a sua</p><p>equipa. É uma pena que as esculturas estejam lentamente a deteriorarem-se tanto por</p><p>ocorrências naturais como por negligência dos habitantes locais. No entanto, as expressões</p><p>faciais e os detalhes das roupas e outros objetos carregados por cada profeta ainda são</p><p>visíveis e distinguíveis. Lá, os quatro principais profetas do Antigo Testamento, Isaías,</p><p>Jeremias, Ezequiel e Daniel, podem ser vistos em tamanho maior ao longo da ala central</p><p>da escadaria. Os oito profetas menores foram escolhidos de acordo com sua importância</p><p>no canon bíblico: Baruque, Oséias, Jona, Joel, Abdias, Amós, Naum e Habacuque.</p><p>Muitas histórias e rumores rodeiam a composição das figuras. Alguns culpam os</p><p>artistas do seu atelier ou da sua deficiência, e outros dizem que é pura genialidade. É um</p><p>facto que a distorção é a questão mais controversa. Se olharmos para as estátuas das</p><p>escadas, a um nível mais</p><p>elevado, elas parecem distorcidas. Se olharmos para eles de um</p><p>ponto de vista mais baixo, como a maioria das pessoas faz, eles parecem normais. Esta é a</p><p>razão pela qual algumas pessoas defendem que a distorção é intencional - assim como as</p><p>formas dramáticas e aberrantes, a tradição do estilo barroco. Uma hipótese curiosa é que</p><p>o profeta Daniel, com o leão a seus pés, foi o único inteiramente feito por Aleijadinho - ele</p><p>destaca-se do grupo pela sua perfeição.</p><p>Fonte: CHAVES, Romara. Os doze profetas de aleijadinho. Itinari.com [out.2019].</p><p>Disponível em: https://www.itinari.com/pt/aleijadinho-s-12-prophets-in-congonhas-minas-</p><p>-gerais-273s. Acesso em: 14 fev. 2022.</p><p>83UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século</p><p>MATERIAL COMPLEMENTAR</p><p>LIVRO</p><p>Título: História social do Antigo Israel</p><p>Autor: Rainer Kessler.</p><p>Editora: Paulus.</p><p>Sinopse: Graças às narrativas bíblicas, a história social do</p><p>antigo Israel nos parece ao mesmo tempo estranha e familiar.</p><p>Disposto a jogar mais luz sobre o tema, Rainer Kessler escreve</p><p>História Social do Antigo Israel, editado por Paulinas. Seu texto</p><p>esclarece de forma bastante didática as estruturas sociais desde</p><p>as primeiras culturas tribais israelitas, a partir do século XII a.C,</p><p>até o período helenista, perpassando mais que mil anos de</p><p>história, fornecendo um esboço para estudantes, pesquisadores</p><p>e todos os que se interessam pelo tema.</p><p>FILME/VÍDEO</p><p>Título: Daniel na cova dos leões</p><p>Ano: 2011.</p><p>Sinopse: Quando os pais de Devin (Isaiah Smith) viajam, o</p><p>menino fica tão triste que não consegue mais fazer suas orações.</p><p>Então, para ajudá-lo a compreender a importância de orar, seu</p><p>avô lhe conta a linda passagem bíblica de Daniel na cova dos</p><p>leões (Daniel 6). Devin recria, em sua imaginação, essa poderosa</p><p>história, a qual fala de um trio de vilões que - para se livrarem</p><p>de Daniel - convencem o rei Dario a assinar um decreto e lançar</p><p>na cova dos leões quem se dobrar em oração. Mesmo assim, o</p><p>destemido Daniel se dobra não apenas uma, mas três vezes por</p><p>dia para orar a Deus. Prepare-se para ver o que a fé e a coragem</p><p>podem fazer a uma vida.</p><p>84</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada: contendo o antigo e o novo testamento. Trad. João</p><p>Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Sociedade Bíblica do Brasil, 1966.</p><p>BÍBLIA. Português. Jerusalém. Nova Edição revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.</p><p>BÍBLIA. Português. Jerusalém. Nova Edição revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.</p><p>Editora Vida Acadêmica, 2012.</p><p>FILHO, Isaltino Gomes Coelho, O profetismo em Israel. Estudo apresentado ao Seminário</p><p>Teológico Batista do Sul do Brasil, em Cabo Frio, agosto de</p><p>FOHRER, G. História da religião de Israel, tradução de Josué Xavier, São Paulo: Edições</p><p>Paulinas, 1982.</p><p>GARDNER, Paul. Quem é quem na bíblia. tradução de Josué Ribeiro. São Paulo: Editora</p><p>Vida Acadêmica, 2012.</p><p>GUNNEWEG, A. H. J., Teologia bíblica do Antigo Testamento. Uma história da religião</p><p>de Israel na perspectiva bíblico-teológica, tradução de Werner Fuchs, São Paulo, Editora</p><p>Teológica/Edições Loyola, 2005.</p><p>GUSSO, Antonio Renato. Panorama Histórico de Israel. Curitiba. AD Santos,2003.</p><p>HOFF, P. O Pentateuco. São Paulo: Vida Nova, 2003.</p><p>HOUSE, R. Paul.; Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Acadêmica, 2005.</p><p>KAISER JR, Walter C.; Pregando e Ensinando a partir do Antigo Testamento. Rio De</p><p>Janeiro: CPAD, 2010.</p><p>KESSLER, Rainer.; História Social do Antigo Israel. São Paulo: Paulinas, 2009.</p><p>85</p><p>RICHARDS, Lawrence. Comentário Bíblico do Professor. 3ª reimp.: São Paulo: Vida</p><p>Acadêmica, 2010.</p><p>SHÖKEL, L. A. Dicionário Bíblico Hebraico-Português. 1ª ed., São Paulo: Paulus, 1997.</p><p>SHÖKEL, L. A.; SICRE, J. L. Os profetas I. Volume I 1ª ed., São Paulo: Paulus, 1988.</p><p>SICRE, José Luis. Profetismo em Israel: O profeta, os profetas e a mensagem. 2ª Edição.</p><p>Petropólis -RJ. Vozes, 1992.</p><p>SILVA, B. M.; TADA, E. T. Estudo sobre a linguagem Visionário-apocalíptica contida na</p><p>narrativa Bíblica Do Livro de Daniel. VI Mostra Interna de Trabalhos de Iniciação Científi-</p><p>ca. Unicesumar. Maringá-PR, 2012.</p><p>WATTS, J. W. Zacarias em comentários Bíblicos. Volume 7. 1ª ed., São Paulo: Vida Nova,</p><p>1969.</p><p>WOLFF, Hans Walter. Bíblia e Antigo Testamento. 3ª ed. São Paulo: Paulus, 2003.</p><p>WOLFF, Hans Walter. Bíblia e Antigo Testamento. 3ª Edição. Paulus, 2003.</p><p>86</p><p>CONCLUSÃO GERAL</p><p>Prezado (a) aluno (a),</p><p>Como foi sua viagem aos contextos sociais e históricos dos profetas? Como foi</p><p>relacionar os contextos as profecias? Espero que você tenha absorvido todas as informações</p><p>necessárias para o aprofundamento de seus estudos sobre os profetas, suas vidas e ministério.</p><p>Em nosso material primamos em buscar e apresentar informações relevantes</p><p>que de alguma forma foram fatores influenciadores aos profetas. A percepção que cada</p><p>profeta tinha sobre sua sociedade, sobre seu povo e sobre a espiritualidade são elementos</p><p>que ampliam a análise da profecia. Os confrontos com as monarquias, os poderosos que</p><p>oprimiam o povo somado a intrepidez e audácia dos profetas nos mostram que foram</p><p>agentes transformadores da sua realidade, não se omitiram ou se esconderam ante as</p><p>mazelas que presenciavam. Mas vale ressaltar que, os profetas também eram homens de</p><p>obediência incondicional a Deus, colocavam sua vida em risco, caso preciso fosse, para</p><p>que fossem oráculos fiéis ao Deus que os havia vocacionado, sem essa fé sem precedentes</p><p>talvez esses profetas teriam sucumbido ante ao poder muito superior da monarquia e a</p><p>forma implacável que perseguiam seus oponentes.</p><p>Nossa apresentação destacou cada profeta facilitando assim que futuramente</p><p>caso se faça necessário você possa recorrer diretamente a pesquisa do nome em foco e</p><p>consiga assim com certa agilidade objetivar seus estudos. Lembre-se que existiam profetas</p><p>diferentes em tempos diferentes e contextos diferentes, mas vaticinando as verdades de</p><p>um Deus único e verdadeiro.</p><p>De agora em diante você já tem acesso a boas referências bibliográficas e</p><p>norteadores de interpretação contextual dos profetas e já pode continuar a viagem sozinho</p><p>(a). Avance, pesquise, acredite em você e faça valer cada vez mais a importância dos</p><p>estudos dos profetas para os dias de hoje.</p><p>+55 (44) 3045 9898</p><p>Rua Getúlio Vargas, 333 - Centro</p><p>CEP 87.702-200 - Paranavaí - PR</p><p>www.unifatecie.edu.br</p><p>UNIDADE I</p><p>Profetas e</p><p>Profetismo Bíblico</p><p>UNIDADE II</p><p>Profetismo do</p><p>8° Século</p><p>UNIDADE III</p><p>Profetismo do</p><p>Século 7° e 6° Século</p><p>UNIDADE IV</p><p>Profetismo do</p><p>6° e 5° Século</p><p>Gunnenweg, teólogo</p><p>protestante holandês e professor do Antigo Testamento, um dos melhores nas referências</p><p>para pesquisa em teologia do A.T., relaciona o uso do termo nabi’ a sua raiz em língua</p><p>hebraica nb’ (“chamar”) neste caso o vocábulo “chamar” no enredo veterotestamentário.</p><p>Para o professor José Luis Sicre, dividia-se o mesmo termo em outras três formas de</p><p>atuação profética, como vemos a seguir: “O verbo demonstrativo de nabi’, que se emprega</p><p>em nifal e hitpael, às vezes com sentidos bem diferentes: (1) “ficar frenético”, (2)“dançar</p><p>ritualmente”, [..] (3) “profetizar”, “cantar” ” (SICRE, 1996, p. 87).</p><p>Seguindo a abordagem de Sicre, essas formas frenéticas, danças e cantos</p><p>proféticos, são ações denominadas de profecia em delírio extático, “estar fora de si”, ou</p><p>seja, em alguns momentos no ato da entrega das profecias os nabi’ eles entravam nesta</p><p>espécie de ação transcendente para exercer seu ministério. Outra característica relevante</p><p>é que os profetas nabi’, ao contrário dos grupos mencionados anteriormente em nosso</p><p>material, podem aparecer no texto bíblico em ações em grupo e reunidos em grupos de</p><p>profetas nabi’ (1Sm 10.10-13; 19.18 2Rs 2.15; 4.38; 6.1; 13.11; 2Rs 2.3.5; Ml 3.5).</p><p>No entanto, relacionar ou definir estritamente que os profetas nabi’ atuavam apenas</p><p>como profetas extáticos ou tinham como características únicas a atuação em grupos pode</p><p>ser um erro, pois o termo nabi’ pode ser aplicado também a profetas de atuação individual,</p><p>provavelmente com uma relação ao termo nabû com possibilidades de aplicação conjunta</p><p>às palavras “chamar”, “anunciar”, “nomear”. Como nos estudos na língua hebraica os</p><p>agentes passivos e ativos da ação interferem nas possibilidades de interpretação e com</p><p>o uso dos termos, não há como afirmar se estes tem sentido no passivo ou ativo nas</p><p>ações proféticas. Desta forma, considerando que o hebraico exprime a ação de profetizar</p><p>no passivo (no sentido de que o profeta recebe e depois transmite a profecia), sugerimos</p><p>então que o termo nabi’ relaciona-se a quem sofre a ação que Deus lhes impunha (ordem</p><p>de profetizar), e consequentemente, a ação do profeta e sua profecia não dependia da</p><p>sua iniciativa ou de quaisquer iniciativas humanas, mas dependia exclusivamente da ação</p><p>divina. Assim, etimologicamente, nabi’ significaria alguém “chamado”, “convocado” para</p><p>uma missão concreta.</p><p>Desta forma, em síntese, devemos manter sempre em mente que os profetas foram</p><p>anunciadores da(s) Palavra(s) de Deus, pois de alguma forma recebiam de forma passiva</p><p>10UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>a mensagem do próprio Deus e a compartilhavam para que os rumos futuros das nações,</p><p>dos povos e das monarquias fossem alinhados aos planos de Deus e sua soberania.</p><p>O profeta em suas diferentes formas de atuação é o “alguém que vê” os rumos da</p><p>história (lembre-se: esse é o significado de ro´eh) e também é um nabi’, ou seja, alguém</p><p>que profetiza/proclama a Palavra de Deus.</p><p>Outro termo utilizado também nas escrituras remete aos profetas na relação de</p><p>mentores, aos quais comumente praticavam uma espécie de relação mestre-discípulo. O</p><p>termo neste caso é o beney há-nebi’im ou Filhos dos profetas. Estes filhos dos profetas, eram</p><p>crianças e adolescentes entregues aos profetas e inseridos nas comunidades de profetas,</p><p>poderiam ficar por longos períodos ou apenas curtas temporadas junto ao seu profeta-mentor.</p><p>Os locais aos quais esses filhos de profetas se agregavam aos profetas eram variáveis,</p><p>podendo ser em cavernas, matas ou casas, com mobília e estilo de vida bem modestos</p><p>afastando-se na maior parte do tempo da vida em sociedade comum (1Rs 20.41; 2Rs 2.23).</p><p>Por fim, outro título profético atribuído nas Escrituras é o ‘ish há-elohim (Homem</p><p>de Deus) vide os textos bíblicos sugeridos (1Rs 17, 18; 13.1,11; 20.28; 2Rs 1.9-18; 4.7; Jz</p><p>13.6.8; 2Cr 25.7,9), título esse concedido dada a comunhão íntima e profunda com Javé.</p><p>Esse tipo de título atribuído estava muito mais relacionado à forma como os pertencentes da</p><p>comunidade dos profetas viam os profetas e as pessoas da sociedade comum aos quais os</p><p>profetas tinham suas relações sociais. O termo ‘ish há-elohim aparece 76 vezes no Antigo</p><p>Testamento e quase na metade das vezes é aplicado a Eliseu. O ‘ish há-elohim é mostrado</p><p>como uma pessoa de confiança de Deus e as pessoas veem isso na sua vida devotada.</p><p>11UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>3. FORMAS DE PROFETISMO</p><p>Existem diversos relatos de profetas e profetismos na história e em especial no Antigo</p><p>Oriente Médio, esse fenômeno religioso se fazia presente em diversas culturas e também</p><p>não se constituiu um fenômeno exclusivo do Javismo (Religião de Javé). Relatos apontam</p><p>que desde a antiga Assíria havia tipos de profecias estáticas, exercidas por sacerdotisas</p><p>no templo de Ishtar. Já quando se trata de relatos equivalentes no Egito, não existe certa</p><p>evidência histórica sobre o aparecimento de profetas. Nas regiões de Canaã há registros de</p><p>profetas e profetismo, mas desta feita muito mais pelos relatos bíblicos do que por relatos</p><p>e pesquisas extrabíblicas (SCHOKEL, 1991). Notamos isso especialmente no relato de 1º</p><p>Reis 18 e 1º Reis 19:26-29. Os cananeus, por exemplo, faziam uso de árvores sagradas,</p><p>(vide o carvalho de Moré, em Gênesis 12.6 - Moreh, em hebraico, significa - mestre), além</p><p>de sonhos e a interpretação dos voos dos pássaros.</p><p>Em especial, em nosso material faremos um recorte das pesquisas no tema que</p><p>remetem a cidade de Mari, antiga cidade da Mesopotâmia (atualmente Tel Hariri), que foi uma</p><p>antiga cidade-estado semítica da Síria e um dos sítios arqueológicos mais importantes na</p><p>Mesopotâmia atualmente. Foram através de pesquisas de cartas de profetas da cidade que</p><p>relações estabelecidas entre as profecias israelitas e profecias no Oriente Próximo Antigo foram</p><p>observadas, em especial na correlação fenomenológica que pode se estabelecer entre ambas.</p><p>12UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>Embora essa correlação tenha sido feita, neste caso ainda se trata de um vasto</p><p>campo de pesquisa para poder estabelecer relações diretas entre os profetismos de Mari</p><p>com quaisquer relações com o profetismo israelita ou com seus profetas. Mas em certo</p><p>ponto as cartas encontradas na cidade de Mari, mencionam as tipologias de oráculos,</p><p>emissários e proclamadores em nome de outro “divino”, com mensagens de alerta e juízos</p><p>vindouros, isso antes de qualquer relato bíblico. Em Mari e em suas cartas, um dos oráculos</p><p>mencionados é chamado de Apilu / Apiltu, que pode ser um correspondente na forma</p><p>participal do verbo “responder”. Essa designação leva-nos a entender que os profetas apilus</p><p>eram homens que davam respostas das divindades às perguntas que os homens faziam.</p><p>No texto abaixo, apresentado por Fohrer, remete a uma destas respostas:</p><p>Fala ao meu senhor: Assim (diz) Mukannishum, teu servo: eu tinha oferecido</p><p>os sacrifícios a Dagan pela vida de meu senhor. O respondente de Dagan de</p><p>Tutal ergueu-se; assim falou ele, a saber: Babilônia, estás ainda disposta?</p><p>Eu te conduzirei para a armadilha... As casas / famílias dos sete parceiros</p><p>e quaisquer que (sejam) suas possessões eu porei nas mãos de Zimrilim</p><p>(FOHRER, 1982, p. 279).</p><p>Nas cartas, vários títulos proféticos mencionados em Mari relacionam-se com o período</p><p>de Zimrilim, rei daquela cidade por volta de 1700 a.C. Os profetas apilus comporiam uma classe</p><p>de homens e mulheres que recebiam alguma ordem da divindade, mantinham relação cúltica</p><p>com os templos das divindades existentes. Relatos apontam também para manifestações</p><p>extáticas (extasiados) com experiências diversas, com presságios futuros e visões e também</p><p>as cartas remetem a profetas apilus que tinham visões. As relações destes tipos de profetas</p><p>(apilus) com os profetas bíblicos está apenas no campo de análise dos fenômenos dentro dos</p><p>tipos de profetismo. A diferença é de simples compreensão, para os profetas bíblicos todos os</p><p>outros profetas</p><p>como nas cartas de Mari eram considerados falsos deuses, os profetas bíblicos</p><p>profetizavam apenas no nome de um Deus, o verdadeiro Deus de Israel.</p><p>Os profetas vinculados às divindades pagãs, por vezes se diferenciavam da sua</p><p>forma de atuação e rituais utilizados em seus atos proféticos, como por exemplo, o uso</p><p>recorrente da lecanomância (leitura do futuro pela figura do azeite derramado numa taça</p><p>sagrada), a hepatoscopia (a leitura do futuro pelos riscos do fígado de animais sacrificados</p><p>aos ídolos). Esses dois rituais são exemplos de atuação profética no paganismo.</p><p>No enredo bíblico temos o exemplo dos cananeus, que consultavam as árvores</p><p>sagradas como oráculo. No profetismo pagão destaca-se também a relação profeta/</p><p>poder, onde as profecias estavam muito mais atreladas a orientação das monarquias em</p><p>futuras batalhas bélicas, declarando-se (os profetas) a favor ou não à entrada do rei em</p><p>determinada pugna com outra nação, a firmar alianças político/comerciais com outras</p><p>nações ou a decisões complexas a serem tomadas, como aconteceu em Gênesis 41,8,</p><p>com adivinhadores e os sábios de Faraó.</p><p>13UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>Por fim, ressalta-se que a diferença fenomenológica nas ações dos profetas pagãos</p><p>para com os profetas Javistas, não se caracteriza o movimento profético como exclusivo ao</p><p>período bíblico do Oriente Médio, mas que de fato profetismos diferentes são registrados em</p><p>textos extrabíblicos e históricos como nas cartas de Mari. Cabe-nos então saber discernir e</p><p>diferenciar os profetas e profetismos, isso porque nas Escrituras temos relatos de profetas</p><p>Javistas (profetas que creem exclusivamente em Javé) com os de profetas pagãos dentro</p><p>do mesmo escrito, merecendo então essa análise de leitura e pesquisa.</p><p>Concluímos assim que o profetismo não pertencia exclusivamente aos textos</p><p>veterotestamentários e cada profeta bíblico atendia especificamente a um termo sobre sua</p><p>forma e atuação profética. Esses profetas compunham um advento registrado na história</p><p>como um todo, isso citado nesta unidade nos registros nas cartas de Mari.</p><p>14UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>4. CULTURA E SOCIEDADE NO ORIENTE DO ANTIGO TESTAMENTO</p><p>Toda análise textual da Bíblia requer do estudante a compreensão e prática de um</p><p>método de análise dos objetos em pesquisa. Dentro dos estudos na Teologia Bíblica diversos</p><p>métodos foram observados, analisados, adaptados ou até mesmo rejeitados pelos estudiosos</p><p>desta área na teologia em diversos tempos da história. Fato é que sempre existirá a necessidade</p><p>de um método para qualquer análise de textos bíblicos que fundamente os resultados</p><p>esperados, seja nas análises de períodos ou fatos bíblicos, assim o método hermenêutico</p><p>é muito importante e não pode ser ignorado. A ausência de um método hermenêutico pode</p><p>conduzir o estudante/pesquisador a equívocos severos, ainda mais em leituras que exigem</p><p>tanto, como as leituras no Antigo Testamento, principalmente nos profetismos. Não respeitar</p><p>o método escolhido e empregado na análise, pode conduzir a deduções nos textos que não</p><p>existem e que não perpassaram o crivo de outras áreas do saber, relacionadas com a teologia</p><p>como arqueologia, história, línguas e outras ciências do saber, trazendo sérios danos aos</p><p>estudos. Por esses e outros motivos os métodos são tão fundamentais.</p><p>Na teologia bíblica, muitos métodos são usados nas análises literárias, culturais e</p><p>linguísticas dos textos: Método Histórico-Crítico, Método Histórico-Crítico-Social, Método His-</p><p>tórico-Gramatical, Método Hermenêutico Contextual, Método Sêmio-Discursivo entre outros</p><p>Nos textos do Antigo Testamento a compreensão das nuances de contextos,</p><p>sejam eles históricos ou culturais, se fazem de muita relevância, pois nos textos do</p><p>Antigo Testamento, mudanças de contextos acontecem entre os textos, justamente pela</p><p>abrangência histórica entre os livros desta parte da Bíblia.</p><p>15UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>Existem questões culturais e gramáticas que se diferem, por exemplo, dos textos</p><p>do Pentateuco para o livro dos Salmos, isso também ocorre nas leituras dos profetas e em</p><p>suas estruturas literárias.</p><p>Temos então, profetas diferentes, em tempos diferentes e em contextos diferentes,</p><p>profetizando as verdades de Deus com objetivos diferentes. Assim, levar em conta os</p><p>contextos de cada profeta torna-se um fator imprescindível para a continuação do nosso</p><p>estudo e veremos isso nas unidades posteriores em nosso livro. As leituras hermenêuticas</p><p>contextuais nestes casos são de grande valia para poder ampliar as percepções da profecia</p><p>e mensurar os efeitos das profecias.</p><p>A hermenêutica contextual é uma vertente do método histórico-gramatical. Esta</p><p>proposta se distingue pelo maior cuidado na análise dos contextos do texto bíblico e da</p><p>época da leitura, algo muito relevante em nossas análises nas próximas unidades, onde</p><p>iremos abordar a formação sociocultural de alguns dos profetas bíblicos. Nesta vertente, a</p><p>leitura e pressupostos da ação profética são vistos sob diversos prismas, não apenas o viés</p><p>teológico da ação dos profetas, mas também os efeitos sociais e fatores socioculturais que</p><p>a mensagem a ser entregue poderia causar. Outro fator a ser ponderado nestes casos são</p><p>os fatores linguísticos e a escrita dos textos de cada profeta, haja vista, como mencionamos</p><p>anteriormente, os profetas tinham formas de escrita que se diferenciavam, bem como,</p><p>elementos socioculturais que interferiam diretamente na escrita e direcionamento das</p><p>mensagens proféticas. Esta informação pode ser confirmada pelo fato de que os profetas</p><p>habitualmente no início de seus escritos se situarem ante aos ambientes que direcionariam</p><p>suas profecias (escritos), colocando-se dentro de um plano histórico, como afirma Hans</p><p>Walter Wolff: “Os profetas são habitualmente introduzidos no começo de seus escritos, e</p><p>identificados pela data e local da atividade. A pessoa histórica do profeta assume importância</p><p>fundamental para a transmissão de sua mensagem” (WOLFF, 2003, p.74-75).</p><p>Este fato é facilmente notado nas leituras proféticas na Bíblia, por exemplo: “A</p><p>palavra de Amós”, “a visão de Isaías” ou “a palavra do Senhor que veio a Oséias”: essas</p><p>são algumas formas dos profetas se identificarem no plano contextual da sociedade de seu</p><p>tempo. Outra forma é situando-se na história como, por exemplo: “No ano que morreu o</p><p>Rei Uzias (Is 6:1)” neste caso que exemplificamos o Rei Uzias, o profeta apresenta dados</p><p>importante sobre seu lugar histórico, pois Uzias foi o 10º rei de Judá e teria começado a</p><p>reinar por volta de 829 a.C até 778 a.C desta forma Isaías coloca sua profecia num plano</p><p>histórico e insere-se como participante deste período para a história da nação.</p><p>16UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>Neste tipo de inclusão na história o profeta consequentemente assume e/ou de-</p><p>monstra a relevância de seu ministério, de sua mensagem. Não apenas no campo da reli-</p><p>gião da época, mas de alguma forma o profeta tenta inserir a sua profecia como elemento</p><p>relevante da vida e sociedade de seu tempo. Por estes e outros motivos que a leitura dos</p><p>textos proféticos exige no hermeneuta uma percepção mais contextual da vida, obra e</p><p>mensagem do profeta. Não proceder desta forma é empobrecer a profecia, que por algu-</p><p>mas vezes custou a vida dos profetas, para que chegasse ao nosso tempo e pudéssemos</p><p>estudá-las com mais profundidade.</p><p>No Antigo Oriente próximo, a vida cotidiana perpassava por diversos estilos, como</p><p>os peregrinos, nômades, sedentários (oposto de nômades), clã fechados, clãs abertos e etc.</p><p>Formas de vida tão diferentes também estavam vinculadas a ambientes bem diferentes. A vida</p><p>nestes períodos tinha ambientes variados, mesmo assim a mensagem dos profetas procura</p><p>em certa medida atender a totalidade da vida, o andar, o comer, o viver, a fé, as opressões</p><p>sofridas pelo povo causadas pelas monarquias, julgamentos, questões agrárias, manejo da</p><p>terra, orientações de guerras, o pensar, o escrever entre outras muitas questões. Os profetas</p><p>em suas mensagens visavam se fazer ouvidos e com as suas mensagens nas mais variadas</p><p>circunstâncias, como forma de que suas profecias fossem vivas e trouxessem vida e esperança</p><p>na vida. Neste momento, convido a cada um para ler com atenção o texto de Isaías 28,23-29,</p><p>em que apresentaremos a amplitude dos objetivos do profeta com a profecia:</p><p>Inclinai os ouvidos, e ouvi a minha voz; atendei bem e ouvi o meu discurso.</p><p>Porventura lavra todo o dia o lavrador, para semear? Ou abre e desterroa todo</p><p>o dia a sua terra? Não é antes assim: quando já tem nivelado a sua superfície,</p><p>então espalha nela ervilhaca, e semeia cominho; ou lança nela do melhor trigo,</p><p>ou cevada escolhida, ou centeio, cada qual no seu lugar? O seu Deus o ensina,</p><p>e o instrui acerca do que há de fazer. Porque a ervilhaca não se trilha com trilho,</p><p>nem sobre o cominho passa roda de carro; mas com uma vara se sacode a</p><p>ervilhaca, e o cominho com um pau. O trigo é esmiuçado, mas não se trilha</p><p>continuamente, nem se esmiúça com as rodas do seu carro, nem se quebra</p><p>com os seus cavaleiros. Até isto procede do Senhor dos Exércitos; porque é</p><p>maravilhoso em conselho e grande em obra (Isaías 28:23-29, BÍBLIA, 2002).</p><p>Nota-se então que o profeta, em sua mensagem, deixa claro sua instrução de</p><p>forma didática aos ouvintes de sua mensagem, um poema didático (Wolff, 2003). Fica</p><p>clara a relação proposta pelo profeta de relacionar a mensagem ao contexto bucólico ao</p><p>qual a maioria de seus ouvintes estava habituada (plantas, cultivar, colher). A profecia</p><p>neste ponto fica relacionada ao contexto para a compressão da mesma, isso é leitura</p><p>contextual da profecia pelo profeta e deve ser feita pelo estudante/pesquisador. Em um</p><p>segundo plano, evidencia que a linguagem bucólica rural é utilizada para apontar o plano</p><p>de Iahweh na nação e nos tempos, apresentando a ação divina no plano da história (Deus</p><p>cuida da história: começo/plantio, meio/cultivo e fim/colheita).</p><p>17UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>Lembramos ainda que o uso da figura bucólica rural era comum aos ensinos</p><p>sapienciais do judaísmo primitivo, como vemos no livro de Quohelet, ou Eclesiastes. Por fim,</p><p>o profeta (Isaías) deixa claro em sua mensagem profética a bondade de Deus em conceder</p><p>conselhos, “profecias pelos profetas”, para que o povo não erre ou transgrida suas leis, sendo</p><p>a obediência aos “conselhos proféticos” um caminho mais seguro ao povo. Este texto em</p><p>análise, é uma breve apresentação de como a profecia não pode ser observada apenas polo</p><p>seu caráter religioso ou espiritual, mas que os profetas se muniam de diversas ferramentas</p><p>para que suas mensagens proféticas pudessem ser vividas e memorizadas pelo povo.</p><p>Na hermenêutica profética o estudante deve sempre levar em consideração que a</p><p>mensagem profética bíblica está relacionada em duas vias: a mensagem divina e os protestos</p><p>ao Estado/Monarquia. Isso porque os Estados israelita e judaíta abandonaram os princípios</p><p>ordenados por Javé, ocasionando assim desequilíbrio social e opressão ao povo. Soma-se</p><p>a este cenário o fato de que esses governantes firmaram alianças com povos aos quais</p><p>não deveriam firmar e prestaram cultos a falsas divindades, fato amplamente condenado</p><p>por Javé. Podemos notar como as mensagens proféticas se relacionavam diretamente às</p><p>opressões do Estado em diversos profetas, como por exemplo, Samuel que, em especial no</p><p>oitavo capítulo de seu primeiro livro, direciona a profecia a uma crítica às ações da monarquia</p><p>e sua forma de governo (1 Sm 8: 11-17). Os profetas Gade e Natã, que estavam vinculados à</p><p>monarquia criticam algumas ações do Estado em detrimento ao povo. Aías, o silonita, é outro</p><p>caso semelhante e apoia uma conspiração contra o Rei Salomão por seu modelo de governo</p><p>econômico. Elias se levanta contra Acabe, filho de Onri, que iniciou seu reinado no 38º ano</p><p>de Asa, rei de Judá e casou-se com Jezabel. O profeta condena as ações governamentais e</p><p>as direções espirituais do governo e sofre forte oposição por profetizar contra Acabe. Outro</p><p>aspecto a ser destacado nestas e em outras relações entre a mensagem profética e o Estado</p><p>pode ser notado nos textos iniciais dos livros proféticos, onde, como vimos anteriormente, o</p><p>profeta se situa na história social para compartilhar sua mensagem profética (Is 1:1; Jr 1:1; Ez</p><p>1:2s; Am 1:1; Mq 1:1; Sf 1:1; Ag 1:1; Zc 1:1).</p><p>As denúncias propostas pelos profetas condenam as ações do Estado e suas</p><p>opressões e o rompimento pelo povo e pelo Estado da aliança feita com Javé. Nos estudos,</p><p>diferir essas ações é muito importante, como também notar em que aspectos a profecia é</p><p>uma crítica estatal, um alerta espiritual ou ambas. Se por um lado, o povo e a monarquia</p><p>seguiam obstinados em seus pecados, por outro clamavam a Deus ação mediante as</p><p>opressões que sofriam.</p><p>18UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>Uma relação de interesse mútuo entre monarquia e povo com olhos nos cuidados</p><p>divinos: de fato, uma relação “interesseira” com Javé. Neste contexto, Deus envia profetas</p><p>seguidamente, que elevam suas mensagens visando o rompimento de um ciclo pecaminoso</p><p>(no âmbito espiritual de suas profecias), bem como o rompimento da opressão dos agentes</p><p>de poder e cultos a falsos deuses.</p><p>Esse conteúdo das mensagens dos profetas aparece e podem ser facilmente</p><p>notados em Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel e Daniel. A complexidade da profecia</p><p>eleva então, o profeta, a uma condição de persona digna de apreço em nossos estudos,</p><p>pois se apresentam hábeis em suas atuações e percepções do rumo de sua sociedade (não</p><p>considerando neste aspecto as profecias messiânicas). Assim, para lermos os profetas é</p><p>indispensável compreendê-los em suas incompatibilidades com a dominação monárquica</p><p>e o afastamento do verdadeiro Deus. O profeta por vezes atuava solitariamente, pois não</p><p>estava comprometido com a política monárquica e seus desmandos. Mas para poder</p><p>permanecer fiel ao chamado divino e à verdade a ser profetizada, permanecia firme e</p><p>isolado até mesmo de seus semelháveis, alimentando o forte interesse de mudar a situação</p><p>espiritual (primeiro plano) e social (em segundo plano) da realidade em que o povo estava</p><p>inserido, mostrando disposição em pagar o caro preço pela verdade.</p><p>19UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>5. O REINO DE ISRAEL</p><p>Neste tópico, vamos apresentar de forma resumida a situação política, econômica,</p><p>social e religiosa do Reino do Norte.</p><p>O Reino de Israel se caracteriza ao longo de sua história no período bíblico por</p><p>grandes instabilidades do governo, sendo que o trono foi tomado a força três vezes</p><p>(GUSSO, 2003). A estabilidade dentro das estruturas de poder foi conseguida apenas</p><p>entre os anos de 885 a 874 a.C., a partir do reinado de Omri, com um governo sólido</p><p>que conseguiu manter Israel com propriedade econômica e políticas internas de paz.</p><p>Mais à frente, Davi e Salomão remodelam este modelo de governo ampliando com uma</p><p>relação mais amena com o Reino do Sul (Judá), fato consolidado no reinado de Acabe,</p><p>ao qual as relações internacionais do Reino do Norte foram se firmando. Essa política</p><p>interna e externa que perdurava desde Omri, termina em Jeú, com um governo autoritário</p><p>ao qual promove brigas e assassinatos internos dentro do Reino. Os efeitos do governo</p><p>violento de Jeú são devastadores a Israel, que acaba por ser invadida por vizinhos mais</p><p>agressivos, causando mortes e instabilidade social e religiosa entre o povo. É então em</p><p>Jeroboão II que a nação ganha novos rumos e o cenário hostil sofre mudança, com o</p><p>Reino gozando de uma prosperidade sem igual (GUSSO, 2003). Por fim, com a invasão</p><p>dos Assírios esse período de prosperidade e paz termina.</p><p>No campo social, os israelitas se viram em meio aos jogos políticos, sendo jogados</p><p>de um lado a outro. Períodos prósperos, tão logo seguidos de massacres em massa e</p><p>guerras perdidas, o que fez também</p><p>que este povo desenvolvesse forte habilidade na</p><p>administração e experiência em confrontos bélicos, mesmo ante as derrotas sofridas por</p><p>nações circunvizinhas.</p><p>20UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>O livro do Reis parece mostrar mais claramente que a situação do povo não era das</p><p>melhores. No reinado de Jeroboão II o comércio volta a ter protagonismo, principalmente</p><p>pelo comércio com os Fenícios, mas com o fim da monarquia encabeçada por Jeroboão</p><p>a crise novamente se instala, guerras e invasões voltam a acontecer e como forma de</p><p>reagir a estas situações e manter o exército armado, os impostos são acrescidos, gerando</p><p>necessidades em uma população que passa a ser explorada por classes superiores e</p><p>pessoas mais ricas. No período, esta situação social é denunciada pelo profeta Amós, com</p><p>duras críticas às castas superiores e à monarquia ostentadora que oprimia o povo. De fato,</p><p>a mensagem de Amós teve ênfase na justiça social.</p><p>No campo religioso, Israel padecia ante aos conflitos políticos que geravam confusão</p><p>no campo religioso, com práticas e cultos aos falsos deuses e abandonando o culto a Javé.</p><p>O ponto mais complexo da crise religiosa foi no período do reinado de Acabe, casado com</p><p>Jezabel, a qual conseguiu introduzir o culto a Baal em Israel. Divindade herdada de seus</p><p>pais, o culto a Baal virou o culto estatal e a religião oficial da monarquia. Acabe mantém o</p><p>culto a Javé como religião civil oficial, apenas nominalmente, pois a religião de Javé correu</p><p>sérios riscos de ser exterminada do Reino do Norte. Levanta-se então Elias, que confronta</p><p>o povo e a monarquia pela quebra da aliança com Javé, profetizando o juízo, caso não</p><p>houvesse restauração do culto. Elias conclama o povo a derribar altares e abandonar o</p><p>culto pagão, ascendendo à ira de Jezabel e complicando a situação religiosa entre povo</p><p>e monarquia. Mas com o apoio do povo, Jeú obtém sucesso em um empreendimento de</p><p>golpe de estado e toma o governo de Israel, tirando das esferas de poder todos que tinham</p><p>vínculos com Jezabel e seus desmandos, destruindo o templo de Baal e matando todos</p><p>os profetas, sacerdotes e sacerdotisas do templo pagão. A ação de Jeú restaura o culto a</p><p>Javé, mas raízes permanecem no povo e o sincretismo passa a coabitar entre o povo, fato</p><p>condenado posteriormente pelos profetas Amós e Oséias. Os profetas destes períodos</p><p>foram: Aías, Elias, Eliseu, Micaías, Jonas, Amós, Oséias e Odede.</p><p>21UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>6. O REINO DE JUDÁ</p><p>Neste tópico vamos apresentar de forma resumida a situação política, econômica,</p><p>social e religiosa do Reino do Sul.</p><p>Na divisão dos reinos o reino de Judá termina relativamente como um reino fraco,</p><p>o que a vistas da política externa, fez com que outros reinos desejassem invadir Judá</p><p>e ampliar seus territórios de domínio e assim exercer maior poder. Susac, Rei do Egito,</p><p>que articulou politicamente a cisão dos reinos, utilizou de suas informações privilegiadas</p><p>e empreendeu contra Judá, invadindo-a e saqueando. Calcula-se que mais de 150</p><p>localidades do reino foram atingidas neste ataque ao Reino do Sul (GUSSO, 2003). Essa</p><p>vulnerabilidade era cada vez mais exposta, o que fez que Judá sofresse ataque por muito</p><p>tempo em sua história, como os ataques da Síria, Assíria, Egito e Babilônia. A relação</p><p>com os seus coirmãos do Reino do Norte não era das fraternais e sofria também com as</p><p>instabilidades do Reino do Norte, também sentidas de alguma forma no Reino do Sul.</p><p>Mas Judá parecia aprender com erros do Reino do Norte e administrava as crises de</p><p>forma mais tranquila internamente (GUSSO, 2003).</p><p>As dinastias não tiveram sucesso no Reino do Norte, o que acarretava pontos</p><p>positivos e negativos. Positivos quando apontamos que os governantes eram atentos ao</p><p>povo e evitavam conflitos diretos para não perder seu poder. Negativos, pois não produziam</p><p>políticas de médio e longo prazo por medo de terem seus mandatos interrompidos por uma</p><p>revolução social e consequentemente uma troca no poder. Entretanto, no reino do Sul, as</p><p>dinastias foram quebradas apenas uma vez, e por pouco tempo, quando Atália, esposa</p><p>estrangeira de Jeorão, assumiu o trono após a morte de Acazias, seu filho, e sem sucessão</p><p>hereditária ao trono, fazendo que ela assumisse o posto mais alto da nação.</p><p>22UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>Mesmo mais fraco que o Reino do Norte na parte econômica, Judá era mais estável,</p><p>mesmo quando oprimida por impostos pesados dos reinos vizinhos, que obtiveram êxito</p><p>em suas invasões comprando assim sua “liberdade”. No reinado de Uzias (791-740 a.C.)</p><p>a economia local cresce, focada inicialmente na agricultura e cultivo de animais. Poços</p><p>de água são cavados em postos estratégicos junto com torres de proteção a produção</p><p>agrícola. Uzias lutou e reconquistou usinas de cobre e ferro em Elate e estabeleceu</p><p>acordos comerciais com o Egito e com a Arábia. Socialmente, a disposição de renda e</p><p>trabalho manteve a população saudável, bem alimentada e as divisões de classes menos</p><p>discrepantes. Mas com o abandono do culto a Javé no reinado de Acabe, o cenário</p><p>equilibrado sofre mudanças e faz com que Isaías e Miquéias profetizem relacionando a</p><p>situação social à crise religiosa.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Atualmente, existe de forma corriqueira uma crise de compreensão sobre a profecia</p><p>bíblica que permeia diversas comunidades de fé, gerando nestes casos afirmações</p><p>equivocadas e interpretações desprendidas de um método de interpretação coerente</p><p>das Escrituras. Conhecer a profecia e o profeta, mas principalmente o contexto em</p><p>que o profeta emitia sua denúncia, é fundamental para uma boa hermenêutica bíblica.</p><p>Os profetas não se esconderam ou eximiram-se de pronunciar a verdade de Deus nos</p><p>contextos históricos e sociais controversos e opressores em que viviam. Mas, pelo</p><p>contrário, profetizaram contra as mazelas sociais e a favor do reestabelecimento da</p><p>religião verdadeira em Javé. Assim, quanto melhor a forma de leitura do conteúdo</p><p>literário profético, melhor serão os impactos em uma espiritualidade bíblica, promovendo</p><p>mudanças em nossos contextos sociais.</p><p>Fonte: O autor (2021).</p><p>23UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>REFLITA</p><p>O verdadeiro profeta anunciava a ruína do poder estatal e religioso, devido ao detrimento</p><p>moral e espiritual desses (Jr 7; 27-28; cf. 1Rs 22). Os verdadeiros profetas não estavam</p><p>comprometidos com a política estatal, mas com a Palavra de Deus. Por isso, considerando</p><p>o fato de que os Estados judaíta e israelita abandonaram os princípios do verdadeiro</p><p>Deus, os profetas anunciaram sem reservas a destruição desses estados por inimigos.</p><p>Fonte: PETERLEVITZ, Luciano R. Introdução ao Profetismo. Revista Theos – Revista de Reflexão Teológica</p><p>da Faculdade Teológica Batista de Campina. Campinas: 5ª Edição, v. 4, n. 1 - Junho de 2008. ISSN: 1908-0215.</p><p>24UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Chegamos ao final deste nosso primeiro encontro com a mensagem dos profetas e</p><p>o profetismo no Antigo Oriente. Neste início, conhecemos a importância de um método que</p><p>analise a profecia dentro de um contexto mais amplo e não apenas com leituras voltadas a</p><p>percepção espiritual da mensagem profética. Vimos também os nomes que caracterizavam</p><p>os profetas e características do profetismo individual dentro dos termos nas línguas originais.</p><p>Prosseguimos então olhando os profetas e suas denúncias contra a monarquia</p><p>e opressão ao povo, conhecemos também as realidades políticas, sociais e religiosas de</p><p>Judá e Israel.</p><p>A partir destas compreensões seguiremos avante, agora conhecendo um pouco</p><p>mais afundo cada profeta e sua mensagem.</p><p>Vamos lá?</p><p>25UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico</p><p>MATERIAL COMPLEMENTAR</p><p>LIVRO</p><p>Título: Teologia do Antigo Testamento</p><p>Autor: Paul R. House.</p><p>Editora: Vida acadêmica.</p><p>Sinopse: Neste material encontramos uma abordagem muito</p><p>completa e detalhada de fatores extrabíblicos que muito colaboram</p><p>nas pesquisas em textos do Antigo</p><p>Testamento, sendo um material</p><p>indispensável aos estudantes de Teologia.</p><p>FILME/VÍDEO</p><p>Título: Israel, a terra do Deus da promessa.</p><p>Ano: 2018.</p><p>Sinopse: Toda a história de Israel é revisitada e analisada pela</p><p>perspectiva dos dias atuais de dez renomados escritores israelenses.</p><p>Conflitos, religião, amor, diferenças e controvérsias: tudo é explorado</p><p>por algumas das mentes mais interessantes do país.</p><p>26</p><p>Plano de Estudo:</p><p>● O profeta Amós;</p><p>● O profeta Oséias;</p><p>● O profeta Isaias;</p><p>● Os profetas Miquéias e Jonas.</p><p>Objetivos da Aprendizagem:</p><p>● Contextualizar o aluno dentro dos períodos históricos da Bíblia;</p><p>● Abordar o profeta em sua vida, obra e missão;</p><p>● Estabelecer a importância da mensagem profética nos campos da religião, política</p><p>e sociedade dos períodos aos quais os profetas estavam inseridos.</p><p>UNIDADE II</p><p>Profetismo do</p><p>8° Século</p><p>Professor Esp. Felipe Fernandes</p><p>27UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 27UNIDADE II Profetismo do 8° Século</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Olá acadêmico (a),</p><p>Iniciamos aqui nossa segunda unidade de estudos de nossa apostila, aqui começa</p><p>nossa imersão na vida, obra e missão dos profetas bíblicos. Nesta unidade vamos conhecer</p><p>nomes importantes da bíblia como Amós, Oséias, Isaías, Miquéias e Jonas. Veremos que</p><p>cada um destes profetas se tem seu destaque e merece muito de nossa dedicação nos</p><p>estudos, pois foram relevantes em seu tempo e sua mensagem profética tem verdades</p><p>que perduram até hoje, com colaborações importantes na vivência da fé e da pesquisa</p><p>acadêmica. Conhecer e aprofundar-se nestes nomes pode elevar sua hermenêutica bíblica</p><p>inserindo a você leitor dentro da mensagem e do contexto da mensagem do profeta. O</p><p>convite está feito... Vamos mergulhar no mundo que viveram estes profetas.</p><p>Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua saída, como a</p><p>alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra. (Oséias</p><p>6:3) (BIBLIA JERUSALÉM, 2002).</p><p>28UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 28UNIDADE II Profetismo do 8° Século</p><p>1. O PROFETA AMÓS</p><p>Sobre a biografia de Amós existem poucos dados sobre sua vida antes da profecia</p><p>com poucas informações históricas sobre ele, neste caso apenas conhecemos seu lugar</p><p>de origem, Técua, uma cidade pequena e importante localizada a dezessete quilômetros de</p><p>Jerusalém e mesmo pregando no Reino do Norte, Amós era judeu. Também sua profissão</p><p>o apresenta como alguém do campo, um pastor (noqued), vaqueiro (bôqer) e plantador</p><p>de sicômoros (um tipo de figo). Algumas pesquisas apontam Amós como um homem do</p><p>campo, mas com posses consideráveis e um viajante inteligente no comercio de animais</p><p>e de suas colheitas, caracterizando como um homem viajado e experiente em sua região,</p><p>estes aspectos tornam sua mensagem mais relevante como veremos a seguir. O profeta não</p><p>alimentava relação com grupos de profetas anteriores e sua vocação profética é levantada</p><p>de forma independente.</p><p>Logo de início em nossos estudos, precisamos estabelecer uma visão panorâmica da</p><p>época do profeta Amós. Inicialmente no século VIII, os profetas de Israel de grande eminência</p><p>inauguram o período conhecido como dos “profetas escritores”, isso pelo fato de terem agora</p><p>suas profecias escritas em registros literários, apenas este fato já nos aponta a importância</p><p>do profeta Amós em seu tempo. A partir de Amós outros profetas também passam a ter tal</p><p>reconhecimento de sua mensagem profética, desta forma cada vez a profecia destes homens</p><p>a estabelecia relações mais profundas com sua sociedade provando que suas mensagens</p><p>vaticinadas causaram impressões importantes em seus ouvintes.</p><p>29UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 29UNIDADE II Profetismo do 8° Século</p><p>O primeiro grande diferencial da profecia de Amós que difere de seus pares anteriores</p><p>a ele se dá pelo fato de que Amós não se enquadraria no grupo de profetas reformistas,</p><p>mas o que eram esses profetas reformistas? Os profetas reformistas anteriores a Amós</p><p>entregavam suas mensagens profetas com moderação contra a monarquia e os poderosos</p><p>de seu tempo, crendo em uma espécie de reforma “mudança” dentro da corte através das</p><p>suas profecias. Estes profetas admitiam falhas nas estruturas de poder, mas criam na solução</p><p>de problemas mesmo que não abandonassem essas estruturas (GUSSO, 2003). Em Amós,</p><p>esse prisma e objeto da mensagem mudam, e o profeta então passa a advertir a todos,</p><p>inclusive poderosos de que essas estruturas de poder estão deterioradas, apodrecidas e</p><p>que não havia restauração ou “reforma”, o apontamento do profeta é uma ruptura completa</p><p>da estrutura uma volta urgente a Deus e sua verdade bem como o arrependimento genuíno,</p><p>caso contrário, Deus não perdoaria o seu povo e nem voltaria a agir em favor deles.</p><p>Essa ruptura no molde da mensagem profética anterior, a Amós teria sido o motivo</p><p>pelo qual a profecia do profeta em menção seria escrita, como forma de que quando a desgraça</p><p>acontecesse, ninguém pudesse dizer que Deus não tinha anunciado (SICRE, 1992). Outro</p><p>indicativo é que os profetas posteriores a Amós também desejassem manter seus escritos</p><p>por dois motivos: prova e contraprova de que Deus havia avisado anteriormente seu povo</p><p>e por Deus ordenar a seus oráculos que registrassem as ordenanças de Deus os seus</p><p>profetas. Neste sentido, a literalidade iniciada em Amós causará impactos fortíssimos ao</p><p>povo por rememorar as palavras de Deus e aos profetas de suas responsabilidades além de</p><p>seu tempo. Neste período (século VIII) mais profetas de relevância comunicam sua profecia</p><p>e ganham notoriedade no enredo bíblico sendo eles: Oséias, Isaías e Miqueias.</p><p>Para podermos contextualizar a profecia de Amós no âmbito social é preciso</p><p>atenção, pois embora junto a outros profetas (Oséias, Isaías e Miqueias) as estruturas</p><p>sociais são muito parecidas, os problemas sociais também, mas o olhar e o enfoque da</p><p>profecia de cada um deles muda e ressalto mesmo em contextos sociais parecidos. Em</p><p>Amós, a riqueza do Estado era reduzida por meio do trabalho dos mais pobres, mas este</p><p>não era o problema para Amós, já que o fato se dava na opressão e nos soldos injustos</p><p>ante o muito trabalho do povo. A supremacia poderosa extraia dos mais pobres sua força de</p><p>trabalho ao extremo, sem a remuneração que lhes permitissem no mínimo a subsistência</p><p>básica em quanto por outro lado os ricos cada vez mais ricos usufruíam de luxos ignorando</p><p>as situações de extrema pobreza do povo. Por este motivo Amós divide a população de</p><p>Samaria em dois grupos: os “oprimidos” e os que “entesouram” (Am 3.9-12).</p><p>30UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 30UNIDADE II Profetismo do 8° Século</p><p>A cidade Samaria está em um caos de opressão tão discrepante que Amós faz um</p><p>convite a seus inimigos mais severos a retornarem a Samaria e contemplarem o tamanho</p><p>desgraça como destaca Sicre (1992):</p><p>Só um público especializado na matéria (em destruir Samaria) é capaz</p><p>de entende-la. Por isso Amós começa convidando os filisteus (Azoto) e</p><p>os egípcios. Para os israelitas esses dois povos são inimigos tradicionais,</p><p>protótipo de opressores. Os egípcios escravizaram Israel antes do êxodo;</p><p>os filisteus, quando se estabeleceram em Canaã. A este público, perito</p><p>em infligir opressão, Amós faz o convite de contemplar o espetáculo da</p><p>opressão (SICRE, 1992, p. 361).</p><p>Por este motivo, como mencionamos na unidade I, que a leitura do contexto agrega</p><p>muito a compreensão de sua profecia, leiamos agora o texto de Amós capitulo três os</p><p>versículos nove e dez:</p><p>Proclamai este oráculo nos palácios de Azot, nos palácios do Egito. Clamai:</p><p>Juntai-vos nos montes da Samaria, e vede quantas desordens há nessa</p><p>cidade, quanta violência se pratica no seu seio! São sabem fazer o que é reto</p><p>- oráculo do Senhor - amontoam em seus palácios “o fruto” de suas violências</p><p>e de seus roubos (Amós 3: 9-10, Bíblia, Versão Católica, 2002 ).</p><p>Amós usa então termos muito severos para expressar à situação vivida dada as</p><p>diferenças sociais explícitas na cidade</p><p>ele as apresenta como mehûmot rabbôt, ou seja,</p><p>grande terror, semelhante ao de guerra. Mas esse cenário apresentado pelo profeta difere-</p><p>se muito caso um visitante casual entrasse em Samaria, pois ele veria uma cidade em</p><p>construção, um grande canteiro de obras luxuosas e portentosas. O luxo esbanjador das</p><p>grandes famílias era facilmente notado trazendo então uma imagem de cidade prospera e</p><p>feliz, mas isso não passa pelos olhos do profeta, vejamos:</p><p>Oráculo do Senhor: Por causa do triplo e do quádruplo crime de Israel, não</p><p>mudarei meu decreto. Porque vendem o justo por dinheiro, e o pobre por um</p><p>par de sandálias, porque esmagam no pó da terra a cabeça do pobre, e trans-</p><p>viam os pequenos, porque o filho e o pai dormem com a mesma jovem, o que</p><p>é uma profanação do meu santo nome, porque se estendem ao pé de cada</p><p>altar sobre vestes recebidas em penhor, e bebem no templo do seu Deus o</p><p>vinho dos que foram multados (Amós 2:6-8, Bíblia, Versão Católica, 2002 ).</p><p>Por fim, é neste caos que Amós se levante para profetizar contra a injustiça notória</p><p>praticada ao povo e a exploração dos mais ricos por dinheiro, mas Amós aponta que Deus</p><p>vê e agirá diante desta situação. O fim da mensagem de Amós é o consolo do céu ao povo</p><p>que tanto foi oprimido, mas com a certeza que Deus viu seu sofrimento, enviou seu profeta</p><p>e agira em favor dos seus, castigando severamente quem não atendeu a voz de Deus.</p><p>31UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 31UNIDADE II Profetismo do 8° Século</p><p>2. O PROFETA OSÉIAS</p><p>Sobre a biografia de Oséias não existem informações concretas de seu lugar de</p><p>nascimento a história não apresenta sem sua data natalícia nem sua data terminal. Temos</p><p>informações de seu pai (Beeri) e de sua esposa (Gomer). O nome Oséias de acordo com</p><p>Gardner (2012) significa em hebraico “ajuda” ou “salvação”, ele então é o único personagem</p><p>com um nome que faz referência ao termo salvação no Antigo Testamento. A árvore</p><p>genealógica com raízes em Oséias se ramifica em seus três filhos, que assim como Oséias</p><p>recebem nome com forte apego simbólico sendo: Jezrael (Deus semeia), Lo-Ruama (que</p><p>significa Sem Compaixão) e Lo-Ami (que significa Não-povo-meu).</p><p>O casamento de Oséias inicialmente é um fato inesperado, uma ordem de Deus</p><p>para que o profeta tomasse para si, Gomer como esposa mesmo sendo ela uma prostituta,</p><p>fato esse que também ganha possibilidades de interpretação dado aos simbolismos que</p><p>envolvem a vida do profeta. Logo no início de seu texto, Gomer engana ao profeta. Posterior</p><p>a este fato, o profeta recebe outra mensagem de Deus que lhe pede que tome outra mulher</p><p>agora e que o profeta cometesse um ato de adultério com ela, fato que foi consumado,</p><p>então o profeta lhe pede uma espécie de celibato e segredo de seu ato (Oséias 3). Nestes</p><p>itens alguns autores diferem, pois creditam a Gomer a posição de meretriz, mas seus atos</p><p>são frutos de uma relação conturbada com o profeta, que levaram atraiçoes mutuas. No</p><p>entanto, Sicre (1992) defende que “essa experiência trágica no casamento serviu a Oséias</p><p>para compreender a relação entre Deus e seu povo”.</p><p>32UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 32UNIDADE II Profetismo do 8° Século</p><p>A mensagem de Oséias tem relações próximas como vimos no tópico anterior, no</p><p>que tange a profecia e sociedade, com um enredo literário dos profetas voltados a uma</p><p>posição de Deus ante as mazelas sociais as quais o povo estava sendo submetido pelos</p><p>poderosos opressores (KESSLER, 2009). Oséias também tem um olhar diferente ao culto</p><p>religioso e sua profecia também contempla críticas ao culto, que os olhos de Oséias era um</p><p>culto superficial e falso (WOLFF, 2003) somado a rituais a outras divindades que não seriam</p><p>o Deus verdadeiro. O culto a Baal instituído por Jeroboão I quando as tribos do Norte e do</p><p>Sul haviam se separado, já havia se tornado em uma espécie de culto cultural, ou prática</p><p>cultural do período Jeroboão I, que colocará em evidencia imagens de ouro maciço (bezerros)</p><p>fazia com que o povo lhes prestasse adoração. Outra modalidade de culto errôneo notado</p><p>por Oséias se dava nas relações bélicas firmadas entre Israel, Egito e Assíria, essa aliança</p><p>tinha como resultado a manutenção do exército Israelita (defasado) fazendo com que o culto</p><p>e práticas e egípcios e assírios fossem aceitas com uma certa normalidade, dividindo ainda</p><p>mais o culto com Javé. Aliança tríplice entre essas nações conduzem o povo de Israel a um</p><p>erro com consequências penosas diante de Deus, como desta Luis Sicre:</p><p>(...) os israelitas correm perigo ao procurar salvação fora de Deus nas</p><p>alianças com Egito e Assíria, grandes potencias militares que podem</p><p>proporcionar cavalos, carros e soldados. [...] O povo corre atrás deles</p><p>esquecendo a Javé (SICRE, 1992, p. 256).</p><p>Diante do erro descomunal do povo em sua relação com Deus, Oséias divide em</p><p>sua profecia-texto sua pregação em três etapas. A primeira apontando pequenos juízos</p><p>de Deus para que seu povo retorne a lei e ao relacionamento estabelecido e esperado por</p><p>Deus, um relacionamento de exclusividade. Nesta primeira, o povo se concertava, mas</p><p>tão logo retornavam aos erros originais e perdiam as bênçãos da obediência a profecia e</p><p>ao profeta (Os 2:9,7; 10-14), assemelhando-se a figura de um casal onde o marido/Deus</p><p>perdoa sua esposa/povo. Num segundo momento de sua pregação, em forma de poesia,</p><p>a mensagem do profeta muda a figura de Deus/esposo para Deus/pai e Israel sendo seu</p><p>filho. Nesta parte Israel/filho se afasta do Deus/pai e prefere os amigos/ Egito-Assíria</p><p>abandonando seus ensinamentos, um protótipo de filho rebelde, pois Israel chega a pedir</p><p>auxílio a Baal ante suas batalhas. Na última etapa de sua pregação, também em poema,</p><p>Oséias inicia com uma exortação, pedindo que o povo se arrependesse e voltasse tão</p><p>logo a Deus e seus preceitos, abandonando os ídolos e falsos deuses já estabelecidos na</p><p>forma de culto cultural na nação, como resultado deste arrependimento da nação Deus a</p><p>curaria, perdoaria e a amaria novamente.</p><p>33UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 33UNIDADE II Profetismo do 8° Século</p><p>Essas mensagens situam-se no período final do reinado de Jeroboão II, sua</p><p>mensagem profética entra em ação logo após o exílio de Amós no reino do Norte. Uma</p><p>crise política se estabelece data a alternância na ocupação do trono, Zacaria filho Jeroboão</p><p>é morto assinado por Selum, que logo em seguida é assinado por Manaém (2 ª Rs 15:8-</p><p>16) (BIBLIA JERUSALÉM, 2002). Manaém tem um início de reinado prospero, mas com a</p><p>ascensão de Teglat-Falasar III ao trono da Assíria, Manaém é rendido e tem que comprar</p><p>sua liberdade ao pagar mil pesos de prata (2ª Rs 15:19-20) (BIBLIA JERUSALÉM, 2002).</p><p>Manaém para resolver o déficit em suas contas aumenta impostos inclusive aos mais ricos</p><p>e sofre forte pressão no trono (GUNNEWEG, 2005). O filho de Manaém, Facéias, assume</p><p>o trono no lugar de seu pai, mas dois anos após sua ascensão ao trono ele é morto. Diante</p><p>de batalhas perdidas aos exércitos de Damasco, então Teglat-Falasar III intervém, ajuda a</p><p>Judá e deporta judeus a Assíria. O povo, agora rendido ante a um opressor mais poderosa,</p><p>fica sem reação e a profecia ganha tons cinzentos quando a esse quadro somasse o</p><p>culto a Baal e o povo literalmente afastado de Deus. Assim concluímos que a mensagem</p><p>do profeta Oséias foi uma mensagem profética entregue ao povo em diferentes formas e</p><p>linguagens, sempre com Deus ansiando de seu povo a compreensão de sua mensagem de</p><p>forma completa. O profeta atende a ordem de Deus e entrega por completo sua mensagem</p><p>tanto para os juízos como para as bênçãos advindas da obediência, mas de fato, o povo de</p><p>coração corrompido e endurecido se afastou da verdade de Javé e colheu as consequências</p><p>deste abandono aos preceitos divinos, sofrendo a duras pagas as consequências de sua</p><p>obstinação em seguir seus próprios conselhos.</p><p>34UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 34UNIDADE II Profetismo do 8° Século</p><p>3. O PROFETA</p><p>ISAIAS</p><p>Neste tópico abordaremos um dos profetas de mais proeminência nos escritos</p><p>veterotestamentários, Isaias. Não existem dados concretos de pesquisa quanto ao seu</p><p>nascimento e educação, mas provavelmente o profeta Isaias tenha nascido e foi educado</p><p>em Jerusalém (GARDNER, 2012). Seu pai chamava-se Amós, mas não podemos afirmar</p><p>uma relação entre o profeta Amós de Técua (SHOKEL e SICRE, 1988 ) o restante de sua</p><p>genealogia segue ainda desconhecida, no entanto, existem suposições de uma relação</p><p>parental com o Rei Uzias (791 a 740 a.C.) isso pelo fato de o profeta ter acesso a corte</p><p>e assuntos a ela relacionada que pessoas comuns não poderiam acessar. Um reforço a</p><p>esta tese se dá pela forma de escrita e literalidade, pois o profeta Isaias tinha consciência</p><p>história de seus escritos e que apontam para valorosa formação acadêmica.</p><p>Sobre a literalidade do profeta Isaias, destaca-se as diferentes formas de escrita</p><p>utilizadas em seu livro e a forma compreensível em que comunicava os oráculos de Deus a</p><p>seu povo. A forma da escrita do livro é esplêndida e rompe em partes com os modelos literários</p><p>do Antigo Testamento até Isaias, para Paul Gardner a escrita de Isaias é “incomparável</p><p>em sua expressão literária” isso pelo uso de seus artifícios retóricos e imagens literárias.</p><p>Esses artifícios retóricos se dão pela facilidade que o profeta tinha de escrever utilizando</p><p>linguagens de guerras, conflitos sociais e vida rural. Somasse a essas ricas características</p><p>um vocabulário muito polido do profeta em sua escrita, fator que reforça a tese anterior de</p><p>um vínculo parental mesmo que distante com a monarquia.</p><p>35UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 35UNIDADE II Profetismo do 8° Século</p><p>Por fim em sua literalidade aspectos devem ser levados em consideração na</p><p>hermenêutica das profecias vaticinadas por Isaias como: Personificação da criação (sol,</p><p>lua, montanhas, arvores...) ele também faz uso de expressões apocalípticas, metáforas,</p><p>sarcasmo, aliterações, jogos de palavras, assonâncias e usa até zombarias em seus escritos</p><p>(Is 14:4-23). Quando falamos do uso destes recursos na língua hebraica um desenho do</p><p>profeta como pregador também começa a surgir, e Isaias ganha o caráter de um pregador</p><p>exímio e talentoso, Isaias pregava não para oferecer às respostas as crises de seu tempo</p><p>e sociedade, mas propunha questionamentos, elemento diferencial a ser destacado como</p><p>orador. Isaias como pregador e profeta mostrava-se em seus escritos também como um</p><p>servo temente, piedoso e devotado e sua vocação profética.</p><p>O chamado de Isaias acontece com ele ainda muito jovem, neste período Isaias</p><p>desfrutava de uma “piedade juvenil”, ou seja, estava próximo de Deus e sabia que seu</p><p>chamado estando alinhado a este relacionamento íntimo certamente lhe trazia grande</p><p>segurança e convicção. Quatro pilares são estabelecidos tanto na profecia como em sua</p><p>vida devocional, são eles: a) A santidade de Deus; b) a consciência do pecado (individual</p><p>e coletivo); c) a necessidade de um juízo (castigo) e por fim d) a esperança de salvação</p><p>em Deus. Isaias casou-se ainda jovem, mas relatos convictos de que era sua esposa ainda</p><p>merecem ser mais apurados, mas deste relacionamento Isaias tem dois filhos Sear Yasub</p><p>(“Um resto há de voltar”) e Maher Salal Has Baz (“Pronto para o saque, preparado para o</p><p>butim”) (SICRE, 1992), esses nomes também reafirmam a devoção completa a Deus pelo</p><p>profeta. Sobre a família e genealogia de Isaias não temos informações ou fontes confiáveis</p><p>para tal, às informações também vagam quanto a data de sua morte.</p><p>A profecia de Isaias no enredo de livro e transmitida pelos copistas da época, colo-</p><p>cam Isaias profetizando em três períodos durante o texto, sendo: no reinado de Joatão, no</p><p>reinado de Acaz e no período de minoridade e maioridade de Ezequiel. Em uma proposta</p><p>de síntese da mensagem do profeta Isaias, podemos dividi-la em dois períodos, sendo um</p><p>período mais voltado aos problemas sociais de seu povo e outro com sua profecia voltada</p><p>a questões mais políticas a partir do ano 734 (SICRE, 1992).</p><p>Em suas ações proféticas o caráter de denúncia do profeta se dá em partes por</p><p>influência do profeta Amós, mesmo estando em estados diferentes (Norte e Sul), mas</p><p>mantendo-se o mesmo viés de crítica, em que apontavam principalmente as classes</p><p>dominantes e as injustiças sociais que causavam.</p><p>36UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 36UNIDADE II Profetismo do 8° Século</p><p>Suas mensagens em oposição a estes fatos alimentavam no profeta a esperança</p><p>de mudança de comportamento dos opressores: “Cessai de praticar o mal, aprendei a fazer</p><p>o bem” (Is 1:17) a mentalidade profética de Isaias vislumbrava essa mudança por parte</p><p>dos opressores. Somando-se a isso a experiência pessoal do profeta ao “ver o trono” é</p><p>um fato marcante no desenvolvimento de sua profecia, e ver como um homem pecador,</p><p>impuro no meio de um povo impuro traz para o profeta uma responsabilidade na mudança</p><p>do cenário ao qual estava inserido e um clamor a obediência primeiramente a Deus, como</p><p>em sua vocação e também em sua mensagem profética. A mensagem do profeta Isaías</p><p>deste modo mesclou repreensões e anúncios de maldições pela infidelidade do povo, com</p><p>conforto e esperança pela restauração futura. Desse modo, o profeta Isaías pregou sobre</p><p>a importância da fidelidade ao Senhor.</p><p>Essa mudança proposta pelo profeta em sua mensagem estabelece em Isaias uma</p><p>nova forma de modus vivendi do povo com Deus, no texto de Isaias fica notório que a conversão</p><p>a mudança de erros cometidos no passado está diretamente atrelada a uma relação integra e</p><p>correta com Deus, para o profeta então, Deus não espera palavras de fidelidade e cultos fiéis,</p><p>mas espera obediência integral por parte dos seus causando assim mudanças na sua vida</p><p>cotidiana, isso seriam frutos de uma conversão a Deus por meio da mensagem profética.</p><p>Isaias também em sua profecia é alimentado de um messianismo, fato que por</p><p>algum tempo de forma corriqueira era chamado de profeta messiânico, isso pelo fato de</p><p>sua mensagem ter forte apego a vinda de um Messias que reestabeleceria a verdade de</p><p>Deus e sua justiça entre o povo. Muitas de suas mensagens com foco em seu tempo</p><p>apontavam apara um futuro próximo e que foram cumpridos no ministério de Jesus (cf. Is</p><p>53:4-6; 2Co 1:15; Hb 9:26 ) (BIBLIA JERUSALÉM, 2002). Outro aspecto que podemos</p><p>incluir a estes fatos se dá ao fato que Isaías apresentou Jesus como “o Servo” que traria</p><p>justiça as nações, que restabeleceria a aliança, iluminaria os gentios (no sentido de prover</p><p>salvação a eles), expiaria o pecado de seu povo e, finalmente, ressuscitaria dos mortos</p><p>(Is 42:1-7; 49:1-7; 52:13-53:12) (BIBLIA JERUSALÉM, 2002). Essa percepção da vinda do</p><p>Messias prometido, fizeram com que o profeta Isaias fosse o profeta mais mencionado no</p><p>Novo Testamento, principalmente quando as pautas direcionavam a pessoa de Jesus e as</p><p>profecias que se cumpriram com perfeição sobre o Messias no Antigo Testamento.</p><p>Sobre a morte do profeta, alguns historiadores apontam que Isaías morreu durante</p><p>o reinado do rei Manassés. Se for esse o caso, por este motivo, o nome de Manassés não</p><p>consta na relação de reis em Isaías 1:1 porque talvez o profeta Isaías já não desempenhasse</p><p>mais nenhuma atividade profética neste período. A tradição também afirma que o profeta</p><p>Isaías sofreu martírio sendo serrado ao meio por ordem do próprio Manassés, mas não há</p><p>muitas evidencias a esse respeito.</p><p>37UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 37UNIDADE II Profetismo do 8° Século</p><p>Caso de fato tenha ocorrido isso com o profeta, então talvez o escritor do livro de</p><p>Hebreus tenha mencionado seu martírio na galeria dos heróis da fé (Hb 11:37) (BIBLIA</p><p>JERUSALÉM, 2002).</p><p>Por fim, o livro de Isaias está repleto de mensagens proféticas ao seu povo com</p><p>vistas ao futuro, isto também pelo fato do livro de Isaias conter dois blocos de textos</p><p>apocalípticos (Cap. 24-27 e 33-35). A formação</p>

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