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<p>RESENHA CRÍTICA DO FILME MUCIZE</p><p>Apesar de o território da Turquia ocupar a parte oriental da Europa (por exemplo, a cidade de Istambul e até a capital do país, Ancara), boa parte das terras turcas se situa no extremo ocidente da Ásia (por exemplo toda a região mais montanhosa, chamada de península da Anatólia) – daí a Turquia comumente ser referida como um país da Eurásia. Inclusive, é nessa região de montanhas ao leste, mais pontualmente no povoado de Palu, situado na província de Elaziğ, que se passa a história de Mucize (palavra turca que significa “milagre”).</p><p>OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO PÓS-GOLPE MILITAR</p><p>Grande parte da narrativa de Mucize se passa nos primeiros anos da década de 1960, período em que a Turquia sofreu um golpe militar – mais um de tantos ocorridos no período da Guerra Fria e com a anuência, quando não colaboração direta, dos EUA – e seu primeiro-ministro, Adnan Menderes, o primeiro eleito democraticamente no país, foi deposto, preso e executado junto com outros membros do seu governo. Em uma das cenas do filme, quando o professor Mahir vai solicitar junto ao governante da região onde Palu se situa investimentos para a construção de uma escola, a informação do golpe é trazida à tona, permitindo, assim, à audiência situar historicamente a narrativa.</p><p>Entre os temas presentes no filme, e destacados nas conversas do Cine Debate, foi citado, com ênfase, o papel transformador da educação, em especial a maneira como o professor Mahir integra Aziz às atividades da escola, que até então era visto como um jovem incapaz e sem qualquer autonomia para desempenhar as atividades sociais típicas de pessoas adultas da comunidade.</p><p>A inclusão de Aziz, o reconhecimento de suas potencialidades, de sua capacidade de aprender e, consequentemente, as profundas mudanças em sua vida e na dinâmica social do povoado de Palu são o ponto alto do filme.</p><p>Entre os temas presentes no filme, e destacados nas conversas do Cine Debate, foi citado, com ênfase, o papel transformador da educação, em especial a maneira como o professor Mahir integra Aziz às atividades da escola, que até então era visto como um jovem incapaz e sem qualquer autonomia para desempenhar as atividades sociais típicas de pessoas adultas da comunidade.</p><p>A história de Mucize parece se basear na noção de que a educação tem um caráter humanizador e que os educadores são agentes ou sujeitos de transformação social. Portanto, é um presente apropriado para o mês em que se comemora o "dia dos professores" em um país onde discursos extremistas, carregados de tintas do fascismo, vem demonizando a profissão há anos.</p><p>Além disso, foi discutido sobre a condição clínica de Aziz e a causa de todos os seus problemas de desenvolvimento motor. De qualquer forma, Mucize, que provavelmente não por acaso significa "milagre", demonstra a extraordinária mudança de Aziz a partir do momento em que alguém, no caso do professor Mahir, vê nele um potencial de aprendizado.</p><p>OPRESSÃO ÀS MULHERES É TRAÇO COMUM EM MUITAS CULTURAS</p><p>Segundo tema importante observado na discussão foi o do papel da mulher na sociedade. Em um país muçulmano dos anos 60, em um vilarejo isolado e aferrado a tradições antigas, as mulheres da região de Palu são “meras” serviçais de seus maridos. Os casamentos são arranjados, cabendo às mulheres apenas a missão de escolher as noivas de seus filhos. O professor Aziz, mais bem informado e oriundo de uma cidade mais moderna, questiona, por exemplo, o fato de as meninas do povoado não poderem estudar, e barganha com os líderes da comunidade que sua presença como professor no local estaria condicionada à abertura dessa possibilidade, o que acaba sendo aceito sem maiores contestações. Apesar desse pequeno avanço no sentido da igualdade, o filme mostra com muita objetividade o caráter de “propriedade” das mulheres, que podem ser oferecidas, dadas, de uma comunidade para a outra, sem que elas mesmas possam opinar a respeito de seus próprios destinos.</p><p>Mucize se move facilmente entre o cômico e o dramático, e tem um forte apelo emocional. Isso é reforçado pela trilha sonora, que, embora não seja original, é usada com sucesso para causar emoções na audiência não é por acaso que muitas pessoas no Cine Debate choraram em momentos do filme.</p><p>Adicionalmente, Mucize também ensina outra lição. Além da luta contra o preconceito, o filme enaltece a profissão dos professores, algo que cada vez é menos valorizada no Brasil. É muito bonito o respeito dos moradores e a alegria das crianças diante do professor Mahir. Na verdade, esse personagem fictício se inspira em grandes professores da história turca, merecedores de toda essa reverência, como Mustafa Kemal Atatürk, mencionado pelo protagonista. Enfatiza o poder transformador da educação mesmo nos regimes ditatoriais.</p><p>O diretor quis mostrar que: sempre existe a possibilidade de mudança, mesmo que haja preconceito? E que talvez em um ambiente sem preconceito a pessoa pode se recuperar.</p><p>O filme é cheio de bons sentimentos. As vestimentas são belíssimas, a fotografia encanta. Mostra um retrato da cultura local, o que se torna bem interessante. Mas por vezes se torna apelativo e nos faz chorar. Filme agradável mesmo com os exageros.</p><p>Estamos relatando, mais uma vez, o papel de um professor não somente pelo lado didático pedagógico, mas como um agente transformador. Ele é o milagre do amor que consegue mudar algumas coisas em um lugarejo tão distante. Este ou qualquer outro professor é o esteio do mundo. Foi Mahir que abriu as portas para Aziz. O professor foi a revolução para que o milagre acontecesse.</p><p>O filme mostra diversas situações onde pessoas com deficiência sofrem com suas limitações, mas também mostra que o amor supera obstáculos inimagináveis. Extremamente motivador.</p><p>A ideia é que as experiências do Cine Debate sejam cada vez mais inclusivas e voltadas para abarcar toda a riqueza e variedade que o ser humano é capaz de produzir, com a mente aberta para a diferença, a diversidade e a maioria que existem em universo.</p>